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Universidade
de
Brasília
Departamento
de
Música
APOSTILA
DE
LEM-‐1
Prof.
Maico
Lopes
Esta
apostila
foi
organizada
para
fazer
parte
do
material
didático
a
ser
utilizado
na
disciplina
Linguagem
e
Estruturação
Musical
–
1,
reunindo
conteúdo
de
diversas
fontes,
com
o
objetivo
de
apresentar,
de
forma
resumida,
informações,
conceitos
e
discussões
necessários
e
indispensáveis
ao
estudante
de
música.
Índice
Introdução
02
Notação
Musical;
Claves
02
Tempo
Musical
ou
Pulso
09
Teoria
dos
compassos
11
Acento
Métrico
13
Intervalos:
formação,
classificação,
inversão
e
enarmonia
14
Como
fazer
Ditados?
17
Como
treinar
Leitura
?
18
Série
Harmônica:
o
que
é
e
porque
estudar
19
Entendo
o
Sistema
Tonal
através
da
Série
Harmônica
20
Ciclo
das
Quintas
22
Afinação
23
Escalas
24
Armaduras
de
Clave
26
Tons
Vizinhos
28
Modos
Litúrgicos
28
Transposição
30
Funções
Harmônicas
31
Campo
Harmônico
Maior
e
Menor
33
2
UnB
/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
Introdução
Para
alcançarmos
um
maior
entendimento
do
conteúdo
musical,
é
necessário
estarmos
familiarizados
com
os
conceitos
e
simbologias
empregados
na
notação
musical.
Assim,
podemos
desenvolver
o
aprendizado
e
a
prática
da
leitura
musical,
bem
como
desenvolver
nossa
percepção
musical.
O
objetivo
deste
texto
inicial
é
apresentar,
de
forma
resumida,
o
conteúdo
imediatamente
necessário,
os
conceitos
e
os
símbolos
tradicionais
da
escrita
musical,
conhecimentos
indispensáveis
ao
estudante
de
música.
O
estudo
da
percepção
musical
se
divide
em
duas
partes
principais
chamadas
ritmo
e
solfejo.
O
ritmo
engloba
os
aspectos
relacionados
ao
pulso
musical
ou
tempo
e
suas
manipulações,
que
podem
ser
dadas
através
de
compassos,
células
rítmicas,
etc.
Em
outras
palavras,
o
ritmo
se
refere
ao
movimento.
O
Solfejo
é
a
arte
de
cantar
os
intervalos
musicais,
seguindo
as
respectivas
alturas
(graus
da
escala)
e
ritmos
escritos
em
uma
partitura.
Compreende
o
desenvolvimento
da
percepção
das
alturas
dos
sons
e
as
estruturas
formadas
por
elas:
intervalos,
acordes
e
escalas,
dos
quais
são
derivados
todo
o
material
melódico
e
harmônico
da
música.
Notação
Musical
Notação
musical
é
o
conjunto
de
ferramentas
utilizadas
para
representação
gráfica
de
uma
obra
musical.
É
creditada
a
Guido
d'Arezzo1
a
criação
da
notação
musical
como
conhecemos.
Utilizando
as
primeiras
sílabas
do
Hino
a
São
João
Batista,
dentre
outras
coisas,
d'Arezzo
criou
a
solmização
latina:
•
Ut
queant
laxis
•
Resonare
fibris
•
Mira
gestorum
•
Famuli
tuorum
•
Solve
polluti
•
Labii
reatum
•
Sancte
Ioannes2
A
sílaba
“Ut”
foi
substituída
por
“dó”
(de
Dominum),
no
século
XVII,
por
Giovanni
Batista
Doni
(1593-‐1647),
enquanto
que,
somente
no
século
XVIII
a
sílaba
“si”
(iniciais
de
Sanctes
Ioannes
–
São
João)
caiu
no
uso
comum.
Ambas
as
alterações
provavelmente
tiveram
como
objetivo
facilitar
o
canto
pelo
uso
de
sílabas
com
vogais.
Desta
forma
1
Guido
d'Arezzo
nasceu
no
ano
de
920
na
província
de
Arezzo
(Toscana).
Foi
um
monge
na
Catedral
de
Arezzo,
onde
também
era
o
regente
do
coro.
Sua
pauta
de
quatro
linhas
–
o
tetragrama,
aos
poucos
substituiu
o
uso
das
neumas
(representação
gráfica
aproximada
da
música).
Seu
falecimento
ocorreu
no
ano
de
1050.
2
Tradução:
“Para
que
teus
grandes
servos,
possam
ressoar
claramente
a
maravilha
dos
teus
feitos,
limpe
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
chegamos
às
notas
como
conhecemos:
dó,
ré,
mi,
fá,
sol,
lá
e
si.
Em
países
de
cultura
anglo-‐saxã
(Alemanha,
por
exemplo),
a
solmização
latina
não
é
utilizada.
As
notas
são
chamadas
pelas
sete
primeiras
letras
do
alfabeto.
A
esta
prática
dá-‐se
o
nome
de
notação
alfabética:
Solmização
Latina
Dó
Ré
Mi
Fá
Sol
Lá
Si
Notação
Alfabética
C
D
E
F
G
A
B
Para
escrever
as
notas,
a
princípio,
foi
proposta
uma
pauta
com
quatro
linhas
e
três
espaços
(tetragrama),
mas
o
que
de
fato
se
estabeleceu
foi
a
pauta
com
cinco
linhas
e
quatro
espaços
(pentagrama):
Além
destas
cinco
linhas
e
quatro
espaços,
podemos
utilizar
linhas
e
espaços
suplementares:
Na
pauta
ou
pentagrama,
a
notação
é
realizada
representando
as
alturas
(notas)
verticalmente,
e
os
ritmos
horizontalmente:
Para
determinarmos
as
posições
das
notas
na
pauta,
são
utilizados
símbolos
chamados
de
claves.
As
mais
utilizadas
são
as
claves
de
sol,
de
fá,
e
as
claves
de
dó
na
primeira,
terceira
e
quarta
linha.
4
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de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
As
claves
são
utilizadas
para
representar
várias
alturas
diferentes.
As
notas
mais
graves
são
escritas
na
clave
de
fá
e
dó
na
quarta
linha;
as
mais
agudas
na
clave
de
dó
na
primeira
linha;
e
as
notas
na
região
média-‐aguda
e
média-‐grave
escrevemos,
respectivamente,
nas
claves
de
sol
e
dó
na
terceira
linha.
Para
identificar
as
notas
utilizamos
a
numeração
da
escala
geral.
Assim
podemos
entender
a
extensão
dos
instrumentos,
e
nos
referir
com
mais
precisão
às
altura
das
notas.
Na
escrita
para
piano,
geralmente
utilizamos
duas
claves
ligadas
por
uma
chave
'{'
à
esquerda:
a
de
sol
para
a
mão
direita
e
a
de
fá
para
a
mão
esquerda:
O
símbolo
'8va'
acima
da
nota,
significa
que
esta
deverá
ser
tocada
uma
oitava
acima;
abaixo
da
nota,
significa
que
esta
deverá
ser
tocada
uma
oitava
abaixo3.
Todas
as
3
Uma
oitava
é
um
intervalo
entre
duas
notas
“iguais”,
ou
com
mesmo
nome.
Quando
tocamos
uma
sucessão
de
notas
como,
por
exemplo,
dó
–
ré
–
mi
–
fá
–
sol
–
lá
–
si
–
dó,
o
segundo
dó
está
uma
oitava
5
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/Departamento
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Música
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notas
a
partir
do
dó3
pertencem
à
oitava
3:
ré3,
mi3,
fá3,
etc.
Assim
como,
por
exemplo,
todas
as
notas
a
partir
do
dó1
pertencem
à
oitava
1:
ré1,
mi1,
fá1,
etc.
O
dó3
é
também
chamado
de
dó
central
porque
fica
localizado
fisicamente
no
centro
do
teclado
do
piano.
Em
qualquer
oitava,
a
configuração
do
teclado
é
a
mesma:
temos
um
grupo
de
duas
teclas
pretas
e
um
outro
de
três
teclas
pretas,
o
dó
é
sempre
a
primeira
tecla
branca
à
esquerda
do
grupo
de
duas
teclas
pretas:
(Dó)
Vejamos
o
dó3
ou
central
nas
cinco
claves
a
seguir:
Os
números
negativos
(-‐1
e
-‐2)
são
utilizados
porque,
provavelmente,
quando
a
escala
geral
foi
adotada
não
existia
piano,
o
instrumento
de
teclado
predominante
era
o
cravo.
Neste
instrumento,
o
dó
mais
grave
era
o
que
chamamos
de
dó1.
Sendo
assim
era
natural
que
este
recebesse
o
número
'1'
na
escala
geral.
Quando
o
piano
surgiu,
é
possível
que
tenha-‐se
optado
pela
utilização
dos
números
negativos
para
as
oitavas
mais
graves
que
a
oitava
1,
para
não
mudar
a
numeração
que
já
vinha
sendo
utilizada
por
músicos
há
um
longo
período
de
tempo.
É
comum
limitar
o
uso
das
linhas
suplementares,
tanto
superiores
como
inferiores,
a
três
no
máximo.
A
partir
da
terceira
linha
ou
quarto
espaço
suplementar,
recomenda-‐se
o
uso
do
símbolo
'8va'
acima
ou
abaixo
das
notas4,
ou
a
mudança
de
clave.
As
quatro
vozes
do
coral
clássico
utilizam
quatro
claves
específicas
para
cada
uma
das
vozes:
vozes
femininas
acima
do
primeiro,
ele
é
a
oitava
nota
a
partir
da
primeira.
Retomaremos
este
assunto
adiante.
4
Para
alguns
instrumentos,
utilizamos
mais
de
uma
clave,
o
que
pode
ser
uma
solução
para
notas
que
utilizariam
mais
de
três
linhas
ou
quatro
espaços
suplementares.
O
trombone
e
o
violoncelo
são
bons
exemplos
disto,
para
os
quais,
usualmente,
se
escreve
em
clave
de
fá,
mas
pode
ser
utilizada
também
a
clave
de
dó
na
quarta
linha.
6
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/Departamento
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Música
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vozes
masculinas
Voltando
ao
teclado
do
piano
apresentado
anteriormente,
vemos
que
além
das
sete
teclas
brancas
(dó,
ré,
mi,
fá,
sol,
lá
e
si),
temos
ainda
outras
cinco
teclas
pretas,
totalizando
12
teclas
ao
todo
dentro
do
ciclo
de
uma
oitava.
Credita-‐se
a
J.
S.
Bach5
a
criação
do
sistema
temperado
–
divisão
da
oitava
em
12
partes
iguais,
tradicionalmente
utilizada
na
música
ocidental.
Dó
Ré
Mi
Fá
Sol
Lá
Si
Observando
o
teclado
acima,
vemos
que
entre
as
notas:
Dó
e
Ré;
Ré
e
Mi;
Fá
e
Sol;
Sol
e
Lá;
Lá
e
Si;
temos
uma
tecla
preta.
Dividindo-‐se
a
oitava
em
doze
partes
iguais,
cada
tecla
corresponde
a
cada
uma
dessas
doze
partes.
Estas
partes
são
chamadas
de
semitom,
e
a
cada
dois
semitons,
temos
um
tom.
Logo,
entre
as
notas
dó
e
ré,
temos
um
tom
inteiro:
um
semitom
entre
dó
e
a
tecla
preta
a
seguir,
e
mais
um
semitom
entre
a
tecla
preta
e
a
nota
ré.
Então,
como
se
chama
essa
nota
da
tecla
preta
entre
o
dó
e
o
ré?
Podemos
chamá-‐la
por
dois
nomes
diferentes:
se
estivermos
subindo
do
dó
para
a
tecla
preta,
chamamos
de
dó
sustenido;
se
estivermos
descendo
do
ré
para
a
tecla
preta,
chamamos
de
ré
bemol.
5
Compositor alemão nascido em Eisenach, Thuringia em 21 de março de 1685, e falecido em Leipzig
28 de julho de 1750.
7
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/Departamento
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LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
Chamamos
de
enarmonia
quando
temos
a
mesma
nota
com
dois
nomes
diferentes.
O
mesmo
podemos
fazer
com
todas
as
demais
notas:
Entre
as
notas
mi
e
fá;
si
e
dó
não
temos
nenhuma
outra
tecla,
logo,
em
ambos
os
casos,
essas
notas
mantêm
entre
si
uma
relação
de
semitom.
Esta
relação
entre
as
notas
é
chamada
de
intervalo
musical,
ou
simplesmente
intervalo.
Consequentemente,
se
for
feita
uma
alteração
ascendente
nas
notas
mi
e
si,
teremos,
por
enarmonia,
as
notas
fá
e
dó:
Da
mesma
forma,
se
alterarmos
descendentemente
as
notas
fá
e
dó,
teremos,
por
enarmonia,
as
notas
mi
e
fá:
Assim
temos
todas
as
notas
do
conjunto
de
notas
que
chamamos
de
escala
cromática:
Existem
ainda
outros
três
sinais
de
alteração:
dobrado
sustenido;
dobrado
bemol
e
bequadro.
O
dobrado
sustenido,
como
o
nome
já
sugere,
implica
numa
alteração
dobrada
do
sustenido:
ao
invés
de
ascender
a
nota
um
semitom,
ele
altera
a
nota
em
um
tom
inteiro:
8
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Da
mesma
forma,
o
dobrado
bemol
altera
a
nota
em
um
tom
descendente:
Por
último,
temos
o
sinal
que
anula
qualquer
alteração
–
o
bequadro.
Qualquer
nota
que
tenha
sofrido
alteração
por
meio
de
bemol
ou
sustenido
(inclusive
os
dobrados),
tem
a
alteração
cancelada
pelo
símbolo
do
bequadro.
O
bequadro
não
sobe
ou
desce
a
nota
um
semitom,
ele
anula
qualquer
que
seja
a
alteração
-‐
a
nota
bequadro
é
a
tecla
branca.
No
caso
de
uma
nota
dobrado
sustenido
ou
dobrado
bemol
que
passe
a
ser
sustenido
ou
bemol,
deve-‐se
utilizar
os
símbolos
correspondentes
da
alteração
(sustenido
ou
bemol).
9
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/Departamento
de
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LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
Tempo
Musical
ou
Pulso
Vimos
que
as
claves
são
utilizadas,
juntamente
com
a
pauta,
para
representar
as
alturas
das
notas
musicais.
A
duração
dessas
notas,
ou
do
silêncio,
não
é
determinada
de
forma
absoluta
(segundos,
ou
frações
de
segundos).
Para
precisar
a
duração
dos
sons
e
das
pausas
na
notação
musical,
tomamos
como
referência
uma
“pulsação”
que
percebemos
na
música.
Chamamos
essa
pulsação
de
tempo
musical
ou
pulso.
O
andamento
é
a
variação
de
velocidade
do
pulso
e
pode
ser
medido
com
o
auxílio
do
metrônomo
–
um
aparelho
que
marca
um
pulso
constante
medido
em
bpm
(batidas
por
minuto).
Utilizando
o
pulso
como
referência,
em
qualquer
que
seja
o
andamento,
é
possível
escrever
na
pauta
a
duração
de
cada
nota
ou
pausas,
através
de
símbolos
chamados
de
figuras
musicais,
que
representam
durações
de
tempo
baseadas
nas
relações
entre
o
pulso
e
as
próprias
figuras.
Os
valores
positivos
são
os
de
produção
de
som,
os
negativos
são
de
ausência
de
som,
ou
silêncio.
10
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LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
Uma
vez
que
as
figuras
musicais
não
têm
uma
duração
absoluta
em
segundos,
por
exemplo,
utilizamos
relatividades
de
tempo
baseada
em
razões
de
valores
entre
as
figuras,
presentadas
através
de
frações.
A
semibreve,
que
é
a
maior
das
figuras
que
utilizamos6 ,
recebe
o
número
1,
dentro
dela
(no
mesmo
espaço
de
tempo
de
sua
duração)
cabem
duas
mínimas
(1/2),
quatro
semínimas
(1/4),
oito
colcheias
(1/8),
etc.
Com
as
figuras
musicais
e
suas
respectivas
pausas,
é
possível
determinar
a
duração
das
notas
na
pauta.
Para
isso,
atribuímos
a
uma
figura
o
valor
de
unidade
–
essa
6
Na
notação
atual.
Em
sistemas
de
notação
mais
antigos
existiam
notas
de
maior
valor
como
a
breve
e
a
longa.
11
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LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
determinada
figura
passa
a
ter
a
mesma
duração
de
um
pulso,
e
as
demais
têm
sua
duração
definida
pela
razão
entre
elas
e
a
figura
que
foi
escolhida
como
pulso.
Exemplo:
se
dissermos
que
a
semínima
é
a
unidade
de
tempo,
ou
seja,
ela
é
a
figura
que
representa
a
duração
de
um
pulso,
logo
a
mínima
terá
a
duração
de
dois
pulsos,
a
semibreve
de
quatro
pulsos,
a
colcheia
de
meio
pulso
(duas
notas
por
tempo),
etc.
Desta
forma,
basta
saber
a
razão
entre
as
figuras
que
já
será
possível
representar
na
pauta
diversos
ritmos.
Por
questões
de
melhor
organização
da
partitura,
as
hastes
das
figuras
musicais
deverão
ser
escritas
para
cima
quando
estiverem
escritas
até
a
terceira
linha.
Da
terceira
linha
para
baixo,
as
hastes
deverão
ser
escritas
para
cima:
Teoria
dos
Compassos
Ao
observarmos
o
pulso
de
uma
determinada
música,
podemos
perceber
que
há
um
agrupamento
dos
pulsos,
como
um
ciclo
que
se
repete.
Os
agrupamentos
mais
comuns
na
música
ocidental
tradicional
são
ciclos
de
dois,
três
ou
quatro
pulsos
se
repetindo.
Esses
ciclos,
ou
agrupamentos
regulares
de
tempo
são
a
organização
do
ritmo
no
espaço
temporal
e
se
define
através
do
que
chamamos
de
compasso
musical.
O
compasso
geralmente
é
representado
por
uma
fração
logo
ao
lado
da
clave.
Exemplo:
A
fórmula
de
compasso
é
constituída
de
uma
fração
que
representa
a
maneira
que
os
ritmos
de
determinada
música
estão
agrupados.
o
numerador
da
fração
da
fórmula
de
compasso
corresponde
à
quantidade
de
figuras
rítmicas
presentes
em
cada
compasso.
No
caso
do
exemplo
acima,
trata-‐se
de
um
compasso
binário,
ou
seja,
de
dois
tempos.
o
denominador
representa
qual
figura
musical
será
a
unidade
de
tempo
deste
compasso.
Dependendo
da
unidade
de
tempo,
poderemos
ter
um
compasso
simples
ou
composto.
A
Unidade
de
Tempo
é
a
figura
musical
que
sozinha
preenche
um
tempo
do
compasso
(ou
uma
pulsação).
A
Unidade
de
Compasso
é
a
figura
musical
que
sozinha
ou
em
junção
com
outro
valor
preenche
o
compasso
inteiro.
Os
compassos
simples
são
aqueles
que
sua
unidade
de
tempo
subdivide-‐se
de
maneira
regular,
de
acordo
com
as
razões
de
dobro
e
metade
das
figuras
musicais.
Os
compassos
compostos
são
aqueles
nos
quais
a
unidade
de
tempo
subdivide-‐se
de
maneira
irregular.
A
figura
seguinte
representa
uma
fórmula
de
compasso
simples
que
nos
diz
que
o
compasso
tem
a
duração
de
4
figuras
número
4
(semínima).
Isto
é,
a
unidade
de
tempo
12
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/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
é
a
semínima
e
são
necessárias
quatro
semínimas
para
preencher
o
compasso
inteiro.
Uma
única
figura
que
apresenta
a
mesma
duração
de
quatro
semínimas
é
a
semibreve,
sendo
assim,
a
unidade
de
compasso
é
a
semibreve.
Neste
exemplo,
a
unidade
de
tempo
permanece
a
semínima,
mas
a
unidade
de
compasso
mudou.
Uma
única
figura
que
preencha
o
compasso
será
a
mínima
pontuada.
Os
compassos
simples
são
aqueles
em
que
as
unidades
de
tempo
são
figuras
simples
(figuras
não
pontuadas)
e
os
compostos
são
aqueles
em
que
as
unidades
de
tempo
são
figuras
compostas
(pontuadas).
Exemplos
de
compassos
compostos:
Apesar
do
compasso
6/8
indicar
a
duração
de
6
figuras
número
8
(seis
colcheias),
a
sua
subdivisão
métrica
é
binária.
Portanto,
a
unidade
de
tempo
é
representada
na
forma
binária.
As
unidades
de
tempo
dos
compassos
compostos
são
figuras
pontuadas.
Quando
uma
figura
vem
seguida
de
um
ponto
à
sua
direita,
significa
que
sua
duração
foi
acrescida
de
mais
a
metade
do
seu
valor.
Exemplo:
Existem
ainda
a
classificação
de
compassos
regulares
e
compassos
irregulares.
Os
compassos
regulares
são
aqueles
que
possuem
métrica
simétrica
e
podem
ser
divididos
em
binários,
ternários
e
quaternários.
Em
outras
palavras,
qualquer
compasso
que
possa
ser
subdividido
em
2,
3
ou
4
pulsos
é
um
compasso
regular:
13
UnB
/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
Compassos
irregulares
que
são
aqueles
que
não
possuem
uma
unidade
de
tempo
definida,
pois
sua
subdivisão
interna
não
corresponde
às
subdivisões
regulares
de
2,
3
ou
4
tempos.
As
métricas
5/4,
5/8,
7/8
e
várias
outras
são
junções
de
métricas
regulares.
O
5/4,
por
exemplo,
é
a
justaposição
de
um
2/4
com
um
¾,
ou
vice-‐versa.
O
7/8
pode
ser
uma
combinação
de
3/8
+
2/8
+
2/8
ou
2/8
+
3/8
+
2/8,
ou
2/8
+
2/8
+
3/8
ou
ainda
4/8
+
3/8
e
assim
por
diante,
de
tantas
maneiras
quanto
for
possível
dividir
em
unidades
binárias,
ternárias
e
quaternárias.
O
símbolo
utilizado
para
delimitar
o
início
e
o
final
de
um
determinado
compasso
é
a
barra
de
compasso.
Geralmente,
as
barras
simples
são
utilizadas
para
separação
entre
os
compassos;
a
barra
dupla
serve
para
indicar
o
fim
de
um
trecho
e
o
início
de
outro
dentro
da
mesma
música;
e
a
barra
final,
naturalmente,
é
utilizada
para
indicar
o
final
de
uma
partitura.
As
ligaduras
entre
notas
iguais,
por
exemplo,
nos
permitem
“somar”
as
durações
de
notas
que
começam
num
compasso
e
terminam
em
outro:
Acento
métrico
Ao
ouvir
sons
que
se
repetem
em
intervalos
regulares,
nosso
ouvido
tende
a
perceber
agrupamentos
regulares
e
dá
mais
importância
a
certos
sons
do
que
outros,
mesmo
que
estes
sejam
idênticos.
Ao
executamos
uma
música,
os
tempos
dos
compassos
obedecem
a
determinadas
acentuações.
Esta
espécie
de
acento
é
chamada
de
acento
métrico.
Na
prática,
utilizamos
este
recurso
para
reconhecer
o
modo
em
que
o
compasso
está
organizado,
ou
seja,
se
sua
configuração
é
binária,
ternária,
etc.
E
conseguimos
distinguir
14
UnB
/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
isto
porque
o
primeiro
tempo
do
compasso
sempre
será
forte,
então
ouvindo
a
pulsação,
definimos
o
compasso.
Já
determinamos
que
a
música
está
dividida
em
tempos,
no
entanto,
os
tempos,
por
sua
vez,
também
são
divididos,
o
que
chamamos
de
partes
de
tempos,
ou
simplesmente
subdivisão.
Em
outras
palavras,
dividimos
os
compassos
em
acentuações
fortes
e
fracas
e
estas
ainda
são
divididas
em
fortes
e
fracas,
como
no
exemplo
a
seguir:
Cada
movimento
é
constituído
de
duas
fases:
impulso
ou
ARSIS
e
apoio
ou
THESIS.
O
impulso
é
a
manifestação
de
energia,
tendendo
a
durar
o
menos
possível,
enquanto
que
o
apoio
se
identifica
com
o
repouso,
tendendo
durar
mais.
A
síncope
é
o
deslocamento
das
acentuações
naturais,
fazendo
com
que
a
acentuação
métrica
estabelecida
pela
fórmula
de
compasso
seja
alterada
momentaneamente.
O
ritmo
sincopado
apresenta
notas
no
tempo
fraco
ou
parte
fraca
do
tempo,
também
chamado
de
contratempo.
Quando
falamos
em
“acentuação”,
diferente
da
gramática,
estamos
nos
referindo
à
intensidade
empregada
na
execução
do
instrumento,
ou
seja,
o
ato
de
tocar
mais
forte
ou
mais
fraco.
Intervalos
Na
linguagem
musical,
intervalo
é
a
distância
que
separa
dois
sons.
Acusticamente
falando,
o
intervalos
entre
dois
sons
(ou
notas,
ou
alturas)
é
a
diferença
entre
suas
frequências.
No
estudo
da
harmonia,
o
conceito
de
intervalo
é
fundamental,
pois
é
a
unidade
construtiva
do
acorde.
Os
intervalos
são
classificados
de
acordo
com
o
tipo
e
com
a
qualidade.
De
acordo
com
o
tipo,
eles
podem
ser:
• Harmônicos
(quando
as
notas
são
tocadas
simultaneamente)
ou
Melódicos
(quando
as
notas
são
tocas
sucessivamente);
• Ascendentes
ou
Descendentes
(de
acordo
com
a
direção);
15
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/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
• Simples:
menores
que
uma
oitava
-‐
incluindo
a
própria
oitava
-‐
ou
Compostos:
maiores
que
uma
oitava
-‐
na
prática,
não
excede
duas
oitavas;
• De
acordo
com
sua
extensão:
uníssono,
segunda,
terça,
quarta,
quinta,
sexta,
sétima
e
oitava
(dentro
dos
simples);
e:
nona,
décima,
décima
primeira,
décima
segunda,
décima
terceira,
décima
quarta
e
décima
quinta
(oitava
dupla)
-‐
(dentro
dos
compostos);
• Consonantes
e
Dissonantes:
a
definição
de
consonâncias
e
dissonâncias
variou
durante
os
diferentes
períodos
históricos
da
música
ocidental.
Atualmente,
no
estudo
da
harmonia,
é
consensual
classificar
os
intervalos
de
oitava,
quinta,
terça
e
sexta
como
consonantes,
os
de
segunda
e
sétima
(bem
como
todos
os
aumentados
e
diminutos)
como
dissonantes
e
os
de
quarta
e
trítono
a
classificação
de
intervalos
ambíguos,
ou
seja,
podem
consonantes
ou
dissonantes,
de
acordo
com
o
contexto
harmônico.
Ex.
Nos
contrapontos
a
4
vozes,
se
o
intervalo
estiver
nas
vozes
intermediárias,
é
considerado
consonância.
De
acordo
com
a
qualidade:
O
semitom
(ou
intervalo
de
segunda
menor),
é
o
menor
intervalo
utilizado
na
música
ocidental,
tornando-‐o
a
unidade
de
medida
intervalar.7
Sendo
assim,
a
qualidade
de
um
intervalo
é
estabelecida
pelo
número
de
semitons
que
separam
as
notas
que
o
formam.
Nome
do
Intervalo
Símbolo
(tipo/qualidade)
Nº
de
semitons
Uníssono
(justo)
1
0
Segunda
menor
2m
1
Segunda
maior
2M
2
7
O
uníssono,
que
para
muitos
nem
é
considerado
um
intervalo,
é
na
verdade
um
mesmo
som
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Terça
menor
3m
3
Terça
maior
3M
4
Quarta
justa
4J
5
Quarta
aumentada
4A
6
Quinta
diminuta
5
o 6
Quinta
justa
5J
7
Quinta
aumentada
5A
8
Sexta
menor
6m
8
Sexta
maior
6M
9
Sétima
menor
7m
ou
7
10
Sétima
maior
7M
11
Oitava
(justa)
8
12
Na
prática
musical,
intervalos
de
2a,
3a,
6a
e
7a
podem
ser
maiores
e
menores
(com
exceção
da
sétima
que
pode
ser
diminuta);
Uníssonos,
8a,
4a
e
5a
podem
ser
justos,
diminutos
e
aumentados
(uníssono
e
8a
só
serão
justos,
4a
só
será
justa
e
aumentada).
No
caso
dos
intervalos
compostos
teríamos
a
sequencia
dos
intervalos
simples
correspondentes:
9m/9M
(derivado
de
2m/2M),
10m/10M
(derivado
de
3m/3M)
e
etc.
Inversão
intervalar:
a
inversão
de
um
intervalo
pode
ser
definida
como
o
seu
complemento
para
uma
oitava.
Em
outras
palavras,
é
o
quanto
falta
ao
intervalo
para
completar
uma
oitava.
O
processo
de
inversão
pode
ser
feito
de
duas
maneiras:
a) A
nota
mais
aguda
realiza
um
salto
de
oitava
descendente;
b) A
nota
mais
grave
salta
uma
oitava
acima.
Observações:
1. A
soma
dos
tipos
de
um
intervalo
e
sua
inversão
é
sempre
igual
a
nove.
2. A
qualidade
da
inversão
também
é
invertida
em
relação
à
qualidade
do
intervalo
original;
ou
seja:
a) todo
intervalo
maior,
quando
invertido,
se
torna
menor;
b) todo
intervalo
menor,
quando
invertido,
se
torna
maior;
c) todo
intervalo
aumentado,
quando
invertido,
se
torna
diminuto;
d) todo
intervalo
diminuto,
quando
invertido,
se
torna
aumentado;
17
UnB
/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
e) todo
intervalo
justo,
permanece
justo.
A
partir
destas
observações
podemos
fazer
a
seguinte
tabela:
Intervalo
Inversão
1J
ou
uníssono
8J
2m
7M
2M
7m
3m
6M
3M
6m
4J
5J
4A
5o
5o
4A
5J
4J
Considerando
apenas
os
números
de
semitons,
encontramos
algumas
repetições
como
4A
/
5dim
ou
5A/
6m.
Estes
intervalos
são
classificados
como
enarmônicos:
possuem
nomes
diferentes,
porém
mesmo
som.
Por
isso,
na
análise
dos
intervalos,
primeiro
devemos
evidenciar
o
tipo
(segunda,
sétima,
quarta,
etc)
e
depois
a
qualidade
(contar
os
semitons
que
separam
as
notas
envolvidas),
evitando
confusões
na
nomeação
dos
acordes.
Por
exemplo:
No
exemplo
acima,
ambos
os
intervalos
possuem
oito
semitons,
porém
tipos
diferentes:
em
(a)
temos
uma
5a,
em
(b)
uma
6a.
Assim,
os
intervalos
enarmônicos
de
5A
de
6m,
embora
soem
idênticos,
são
resultantes
de
situações
harmônicas
diferentes
e
possuem
identidade
próprias.
Chamamos
de
enarmonia
quando
temos
a
mesma
altura,
ou
nota,
com
dois
nomes
diferentes.
A
escolha
de
qual
maneira
grafar
na
partitura
depende
de
questões
como
tonalidade
da
música,
movimento
ascendente
ou
descendente,
facilidade
para
leitura,
entre
outros.
Como
treinar
ditado?
Os
ditados
servem
para
avaliar
a
percepção
auditiva
de
cada
pessoa,
ou
seja,
saber
se
ela
é
capaz
de
identificar
os
ritmos
e
as
alturas
(nome
das
notas)
que
está
ouvindo.
O
desenvolvimento
da
percepção
requer
treinamento
e
é
indispensável
ao
músico,
pois
através
dela
desenvolvemos
a
afinação
e
o
senso
de
ritmo.
Um
exercício
de
ditado
significa
identificar
os
padrões
rítmicos
e
melódicos
que
se
ouve
e
escrevê-‐los
no
pentagrama.
Basicamente,
os
ditados
podem
ser
rítmicos
(só
18
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/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
padrões
rítmicos),
melódicos
(alturas
das
notas
e
acidentes)
e
mistos
(vozes
rítmicas
e
melódicas
simultâneas).
Uma
boa
dica
é,
antes
de
mais
nada,
identificar
a
métrica
e
a
fórmula
de
compasso,
pois
só
assim
será
possível
distribuir
os
ritmos
e
as
alturas
no
pentagrama.
Quando
o
ditado
for
melódico,
sempre
será
tocado
o
Lá
como
referência.
Através
da
associação
auditiva
e
da
classificação
dos
intervalos,
compare
o
som
do
Lá
com
a
primeira
altura
tocada
no
ditado.
Em
seguida
identifique
a
tonalidade.
Como
treinar
Leitura
?
Não
somente
na
sua
rotina
de
estudos,
mas
também
na
vida
profissional,
o
músico
se
depara
frequentemente
com
a
necessidade
de
ler
partituras
à
primeira
vista.
Para
alcançarmos
o
sucesso
na
leitura
à
primeira
vista,
é
imprescindível
ler
música
corretamente.
A
leitura
pode
ser
estudada
de
maneira
sistemática
e
podemos
condicionar
nosso
cérebro
a
pensar
flexivelmente,
transitando
pelos
diferentes
padrões
que
podemos
encontrar
na
escrita,
sejam
eles
melódicos,
rítmicos
ou
harmônicos.
Reconhecer
padrões
como
grupos
de
notas,
motivos,
figuras
e
suas
repetições,
escalas,
arpejos,
contornos
melódicos,
harmonias
intrínsecas,
ritmos
que
se
repetem
dentre
outros,
auxiliam
no
processo
de
leitura
de
uma
partitura.
Uma
boa
leitura
também
depende
da
sua
habilidade
com
seu
instrumento.
Uma
escala,
por
exemplo,
deve
ser
reconhecida
rapidamente
uma
vez
que
você
a
tenha
“debaixo
dos
dedos”
no
seu
instrumento,
uma
vez
que
ela
é
a
representação
gráfica
de
um
movimento
mecânico
que
você
já
executa.
Além
disso,
o
desenho
de
uma
escala
é
diferente
de
um
arpejo,
que
é
diferente
de
uma
sequencia
de
intervalos
de
segunda,
ou
quintas.
Nos
intervalos
de
terça,
por
exemplo,
as
notas
sempre
estarão
localizadas
nos
espaços
ou
nas
linhas.
Leitura
musical
é
uma
atividade
racional
e
objetiva:
identificar
os
sinais
que
estão
escritos
em
uma
partitura.
Para
tal,
subentendesse
que
o
músico
esteja
familiarizado
com
a
linguagem
e
com
os
sinais
utilizados.
A
partir
disso,
boa
parte
do
sucesso
da
leitura
à
primeira
vista
depende
também
da
memória
–
ainda
que
pareça
controverso
falar
de
memória
em
uma
atividade
que
teoricamente
precisa
ser
executada
sem
consulta
prévia.
Na
leitura
à
primeira
vista
de
uma
obra
musical
o
instrumentista
utiliza
a
memória
de
curto
prazo
para
memorizar
os
dados
da
partitura
e
ao
mesmo
tempo,
a
de
longo
prazo
para
rememorar
e
comparar
os
dados
recebidos
com
aqueles
que
já
sabe.
Exigir
uma
avaliação
de
leitura
à
primeira
vista
em
processos
seletivos
para
empregos
é
uma
situação
extremamente
comum
e
sempre
é
dado
algum
tempo
para
que
o
candidato
observe
a
partitura.
Pois
bem,
o
que
fazer
nesse
tempo
?
Todos
os
sinais
gráficos
na
partitura
devem
ser
observados
com
atenção
antes
de
se
tocar
a
primeira
nota.
Questões
tão
importantes
quantos
as
notas
certas
são
o
andamento,
a
dinâmica,
a
tonalidade,
a
fórmula
de
compasso
(para
saber
o
acento
19
UnB
/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
métrico),
os
sinais
de
articulação.
Para
desenvolver
uma
boa
leitura
à
primeira
vista,
precisamos
condicionar
nosso
cérebro
a
receber
informações
novas
com
frequência
para
treiná-‐lo
a
identificar
os
padrões
e
reproduzi-‐los.
Uma
boa
forma
de
treinamento
é
ler
partituras
novas
a
cada
dia,
direcionando
uma
parte
do
seu
estudo
diária
para
treinamento
de
leitura.
Série
Harmônica:
o
que
é
e
por
que
estudar
O
estudo
e
entendimento
da
Série
Harmônica
teve
sua
origem
no
século
VI
antes
de
Cristo
com
as
experiências
feitas
pelo
filósofo
e
matemático
grego
Pitágoras.
Pela
suas
descobertas
foi
possível
estabelecer
uma
relação
direta
entre
melodia
e
harmonia,
além
de
gerar
conceitos
e
definições
que
são
utilizados
até
os
dias
atuais.
Pitágoras
afirmou
que
qualquer
som
para
ser
musical
teria
que
ter
altura
definida,
emitido
por
um
instrumento
ou
por
fonte
natural,
resultando
em
uma
vibração
ondulatória
regular.
Essa
vibração
é
composta
pelo
som
gerador
(1ª
nota)
e
outros
sons
definidos
de
intensidade
menor
e
frequência
mais
aguda,
chamados
de
sons
harmônicos
ou
série
harmônica.
Ou
seja,
um
determinado
som
fundamental,
de
qualquer
frequência,
gera
uma
quantidade
infinita
de
harmônicos
que
sempre
estarão
dispostos
numa
ordem
constante.
Em
acústica
e
telecomunicações,
uma
harmônica
de
uma
onda
é
uma
frequência
específica
de
vibração
que
tem
a
propriedade
de
causar
o
fenômeno
da
ressonância.
Essas
frequências
recebem
o
nome
de
frequências
de
ressonância.
Por
definição,
a
frequência
que
causa
a
primeira
ressonância
de
uma
onda
é
chamada
de
frequência
fundamental,
e
dela
provêm
os
demais
harmônicos.
Os
harmônicos
têm
uma
forte
aplicação
na
música,
pois
eles
definem
as
frequências
do
som
(uma
onda
mecânica
longitudinal)
audível
que
correspondem
às
notas
da
escala
musical
(mais
precisamente,
às
notas
do
que
chamamos
série
harmônica).
Partindo-‐se
da
frequência
fundamental,
é
possível
obter
n
frequências,
cada
uma
delas
correspondente
à
frequência
de
determinada
nota
musical
da
série.
Por
esse
motivo,
o
conjunto
de
todos
os
modos
de
oscilação
possíveis
é
chamado
de
série
harmônica.
As
duas
principais
circunstâncias
em
que
os
harmônicos
são
visualizados
mais
facilmente
são
no
comportamento
de
cordas
vibrantes
e
de
ondas
em
tubos
sonoros.
Isso
se
dá
pelo
fato
de,
em
casos
com
esses,
a
onda
encontrar-‐se
limitada
a
um
espaço
fixo,
o
que
provoca
reflexões
e
interferências.
Esse
é
o
princípio
das
ondas
estacionárias,
correspondentes
ao
estudo
dos
harmônicos,
formadas
por
interferência
de
ondas
que
se
propagam
em
sentidos
opostos.
Tomando
como
exemplo
uma
corda
de
determinado
comprimento
e
presa
nas
duas
extremidades,
pode-‐se
facilmente
observar
o
comportamento
estacionário
da
onda
ao
provocar
uma
instabilidade
na
corda.
A
onda
criada
propaga-‐se
pela
corda
até
atingir
as
extremidades,
e
então,
é
refletida,
provocando
interferência
com
ela
própria.
20
UnB
/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
Nas
figuras
a
seguir,
podemos
observar
as
ondas
isoladas
e
sobrepostas.
O
mesmo
comportamento
pode
ser
observado
ao
colocar
uma
coluna
de
ar
em
vibração,
dentro
de
um
tubo,
por
exemplo,
ainda
que
haja
uma
ou
duas
extremidades
abertas.
Porém,
a
onda
continua
sendo
refletida
na
extremidade
do
tubo,
mesmo
que
não
de
forma
completa.
E,
da
mesma
forma,
ao
interferir
com
a
outra
onda,
o
som
resultante
pode
entrar
em
ressonância
ao
se
formar
uma
onda
estacionária,
apenas
em
determinadas
frequências.
É
possível
gerar
uma
série
a
partir
de
qualquer
nota
musical.
Geralmente
são
escolhidas
as
notas
mais
graves,
de
frequência
menor,
o
que
faz
sentido,
pois,
ao
escolher
uma
nota
de
frequência
baixa
como
som
gerador,
teremos
uma
grande
gama
de
sons
gerados
a
partir
dele,
com
frequências
mais
altas
(múltiplos
inteiros
do
primeiro
som).
Caso
a
frequência
fosse
muito
alta
(som
gerador
muito
agudo),
os
sons
gerados
por
ela
seriam
de
frequências
ainda
mais
altas
e,
possivelmente,
já
inaudíveis
ao
ouvido
humano.
Entendendo
o
sistema
tonal
através
da
Série
Harmônica:
a
relação
entre
acústica
e
harmonia
O
conhecimento
da
série
harmônica
permitiu
à
maior
parte
das
civilizações
do
mundo,
dentre
todas
as
frequências
audíveis,
escolher
um
conjunto
reduzido
de
notas
que
soasse
agradável
ao
ouvido.
Portanto,
estabelecer
a
natureza
e
função
dos
intervalos
21
UnB
/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
consonantes
e
dissonantes
é
uma
das
razões
de
se
compreender
a
série
harmônica,
uma
vez
que
dela
são
extraídos
e
justificados
esses
intervalos.
Conhecer
os
princípios
básicos
da
acústica
são
fundamentais
para
a
compreensão
dos
diversos
fenômenos
musicais,
em
especial
na
área
da
Harmonia,
onde
seus
efeitos
são
mais
perceptíveis,
com
consequências
determinantes
para
a
construção
de
toda
sua
teoria.
A
Música
é
feita
de
combinação
de
notas;
por
questões
culturais
e
também
físicas,
nosso
ouvido
aceita
melhor
determinadas
combinações
que
outras.
Ou
seja,
algumas
combinações,
ou
intervalos,
são
mais
ou
menos
agradáveis
de
se
ouvir,
ou
seja,
são
consonantes
ou
dissonantes.
Pitágoras
observou
que
o
segundo
harmônico
(a
nota
com
o
dobro
da
frequência
da
fundamental)
soava
como
se
fosse
a
mesma
nota,
apenas
mais
aguda.
Esta
relação
de
frequências
(F/2F,
ou
2/1
se
considerarmos
os
comprimentos
das
cordas),
que
hoje
chamamos
de
oitava,
é
percebida
como
neutra.
O
próximo
intervalo,
entre
o
segundo
e
o
terceiro
harmônico,
(2F/3F
ou
3/2)
e
atualmente
chamado
de
quinta,
soa
fortemente
consonante.
Os
intervalos
seguintes
obtidos
pela
sucessão
de
frequências
da
série,
são
os
de
4/3
(quarta),
5/4
(terça
maior)
e
6/5
(terça
menor),
sucessivamente
menos
consonantes.
Intervalos
produzidos
por
relações
de
números
muito
grandes,
como
16/15
(segunda
menor)
soam
fortemente
dissonantes.
Quanto
mais
os
Harmônicos
forem
afastados
do
som
fundamental,
mais
dissonante
ele
será.
Todos
estes
intervalos
fazem
parte
dos
modos
da
música
grega
e
da
escala
diatônica
moderna.
O
intervalo
de
quinta,
sobretudo,
por
ser
o
mais
consonante
da
série,
foi
a
base
para
a
construção
da
maior
parte
das
escalas
musicais
existentes
no
mundo.
Qualquer
intervalo
da
série
pode
ser
também
expresso
pela
fração
entre
os
números
inteiros
que
representam
as
frequências
relativas
das
notas
que
o
compõem
(isto
é,
o
intervalo).
Sendo
assim,
teremos:
2/1
para
a
oitava,
3/2
para
a
quinta
justa,
4/3
para
a
quarta
justa,
5/4
para
a
terça
maior,
etc.
Isso
vale
não
só
para
harmônicos/intervalos
adjacentes,
como
para
quaisquer
outros
(por
exemplo,
a
fração
entre
o
oitavo
e
o
quinto
harmônico
–
8/5
–
representa
uma
sexta
menor).
No
campo
da
harmonia,
as
consequências
do
pensamento
acústico
são
importantíssimas,
pois
o
conceito
de
Tonalidade
é
a
principal
consequência
e
a
aplicação
direta
da
série
harmônica.
O
sistema
gravitacional
centrado
na
fundamental/tônica,
que
é
expresso
pela
série,
é
reproduzido
fielmente
nos
princípios
básicos
tonais,
numa
literal
imitação
da
Natureza.
E
o
mais
interessante
de
tudo
é
constatar
que
todas
as
relações
tonais
se
encontram
resumidas
dentro
de
cada
som,
pois
cada
som
(cada
nota)
é
potencialmente
uma
fundamental,
uma
tônica.
O
sistema
tonal
é,
portanto,
corroborado
por
fenômenos
naturais.
Essa
é
a
principal
razão
de
seu
aparecimento
gradual.
A
teoria
veio
muito
depois
da
prática
22
UnB
/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
estabelecida.
No
entanto,
nem
tudo
na
Harmonia
pode
ser
explicado
pela
Física,
apenas
o
que
há
de
mais
básico.
O
princípio
do
acorde
é
claramente
deduzido
numa
simples
visualização
da
parte
inicial
da
série:
os
harmônicos
4,
5
e
6
formam
a
tríade
maior.
Ou
seja,
o
acorde
do
I
grau
–
a
base
de
todo
o
sistema
tonal
–
é
“oferecido”
pela
Natureza.
A
tríade
maior,
tal
qual
aparece
naturalmente
na
série,
acendeu
a
faísca
que
desencadearia
a
criação
do
sistema
harmônico,
assim
como
o
que
aconteceu
com
diversas
outras
descobertas
físicas.
O
Homem
se
encarrega
de
adaptar
às
suas
necessidades
e
desenvolver
de
acordo
com
o
seu
intelecto.
As
relações
tonais
são
também
claramente
percebidas
nos
harmônicos
inicias
da
série:
o
primeiro
som
diferente
da
fundamental
é,
não
por
acaso,
sua
quinta.
Em
termos
funcionais,
justamente
a
nota
que
representa
a
dominante
da
tonalidade
sugerida
pela
fundamental/tônica.
Aí
estão
duas
das
funções
tonais.
A
razão
da
importância
e
da
força
do
movimento
de
4J
ascendente
nas
inter-‐
relações
harmônicas
é
também
explicada
pela
série:
o
intervalo
encontrado
entre
os
harmônicos
3
e
4
fornece
o
modelo
de
“comportamento”
dominante-‐tônica,
ou
tensão-‐
relaxamento.
Isso
quer
dizer
que
a
sensação
de
resolução
que
nos
vem
quando
ouvimos
um
som
sucedido
por
outro
posicionado
uma
4J
acima
tem
raízes
mais
físicas
do
que
culturais.
A
importância
do
tripé
tônica-‐dominante-‐subdominante
sobre
o
qual
é
construída
toda
a
música
ocidental
e
o
embasamento
acústico
que
o
corrobora
são
por
demais
evidentes.
A
partir
deles,
vários
dos
passo
da
evolução
posterior
da
Harmonia
podem
ser
facilmente
visualizados:
a
escala
maior
(resultante
dos
primeiros
cinco
harmônicos
das
séries
dos
sons
tônica,
dominante
e
subdominante),
a
tríade
menor
(através
da
expansão
“artificial”
do
modelo
maior),
as
tétrades
(o
sétimo
harmônico
representa
a
sétima
dominante
acrescentada
sobre
o
acorde
maior),
as
tensões
harmônicas
(correspondentes
aos
números
9,
11
e
13)
etc.
Ciclo
de
5as
Ainda
usando
a
Série
Harmônica
como
base,
podemos
observar
que
o
terceiro
harmônico
é
a
primeira
frequência
diferente
da
fundamental
que
aparece
na
sequencia,
o
intervalo
de
quinta,
primeiro
harmônico
consonante.
Utilizando
a
nota
Dó
como
fundamental,
teremos
a
nota
Sol
como
terceiro
harmônico.
Se
utilizarmos
esse
harmônico
(Sol)
como
uma
nova
fundamental,
encontraremos
um
novo
harmônico
(Ré).
Continuando
essa
sequência,
os
intervalos
de
quintas
aparecerão
na
sequência
Do,
Sol,
Ré,
Lá,
Mi,
Si,
Fá#,
Do#,
Sol#
Ré#,
Lá#
e
Fá
(as
doze
notas
da
escala
cromática).
Qualquer
som
fundamental
irá
gerar
as
doze
notas.
Podemos
organizar
o
ciclo
de
quintas
no
formato
de
um
diagrama
parecido
com
um
relógio.
A
organização
deste
ciclo
permite
a
visualização
clara
da
relação
de
atração
entre
os
acordes
no
sistema
tonal.
Cada
acorde
(I
-‐
função
Tônica)
é
precedido
do
seu
quarto
grau
(IV
-‐
função
Subdominante),
e
seguido
pelo
seu
quinto
grau
(V
-‐
23
UnB
/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
função
Dominante).
Lendo
em
sentido
horário
em
volta
do
ciclo
de
quintas
abaixo,
vemos
que
a
tonalidade
seguinte
se
inicia
no
5o
grau
da
escala
da
tonalidade
anterior.
E
também
pode
ser
útil
na
memorização
das
armaduras
de
clave.
Afinação
A
escala
geral
(conjunto
dos
sons
musicais
–
notas
–
que
o
ouvido
pode
reconhecer)
estabelece
as
oitavas
e
que
cada
nota
tem
sua
respectiva
frequência.
Cada
nota
dentro
de
uma
determinada
oitava
recebe
uma
numeração
que
identifica
a
oitava
a
qual
pertence.
Por
exemplo,
Mi2,
Fá5,
etc.
O
Diapasão
é
um
padrão
de
altura
utilizado
para
conferir
a
afinação
dos
instrumentos
que
foi
adotado
na
Música
Ocidental.
Uma
nota
Lá3,
por
exemplo,
vibra
em
torno
de
430
a
446
vezes
por
segundo
(ou
Hertz
–
Hz
–
que
é
a
unidade
de
medida
para
frequência),
de
acordo
com
o
sistema
de
afinação
utilizado.
A
padronização
para
a
afinação
de
440
Hz
foi
regulamentada
por
um
tratado
internacional
assinado
em
1953,
24
UnB
/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
abandonando
o
padrão
que
permanecia
desde
o
período
Barroco,
com
afinações
em
430
e
435.
Ainda
assim,
algumas
orquestras
adotam
o
diapasão
de
442Hz.
Sendo
assim,
o
Lá
do
Diapasão
possui
440Hz
e
é
utilizado
para
conferir
e
servir
de
parâmetro
para
os
outros
instrumentos.
Portanto,
afinar
significa
colocar
os
instrumentos
vibrando
na
mesma
frequência.
Escalas
Uma
escala
é
um
conjunto
de
alturas
dispostas
em
intervalos
sucessivos
seguindo
um
padrão.
Uma
escala
não
tem
necessariamente
um
número
fixo
de
notas,
podendo
haver
escalas
de
cinco
até
doze
notas.
Vamos
estudar
as
mais
utilizadas
em
nosso
fazer
musical,
que
são
a
Escala
Maior,
e
a
Escala
Menor.
Na
música
ocidental,
a
oitava
é
dividida
em
12
partes
iguais,
chamadas
de
semitons.
Tomando
o
piano
como
exemplo,
um
semitom
é
a
distância
entre
uma
tecla
no
piano
para
a
próxima
tecla,
seja
ela
branca
ou
preta.
Um
tom
inteiro
são
duas
teclas
(pula
a
nota
vizinha
do
teclado
e
vai
para
a
segunda
mais
próxima).
Escala
Maior
O
padrão
de
tons
e
semitons
da
escala
maior
é
o
mesmo
encontrado
nas
teclas
brancas
de
qualquer
nota
Dó
para
a
próxima
Dó
oitava
acima.
Desta
forma,
o
padrão
da
Escala
Maior
fica:
Podemos
ver
que
na
escala
maior
os
semitons
ocorrem
somente
entre
o
3o
e
4o
graus
e
entre
o
7o
e
8o
graus.
Portanto,
para
escrevermos
qualquer
escala
maior,
basta
seguir
esse
padrão
de
T-‐T-‐st-‐T-‐T-‐T-‐st,
começando
a
partir
de
qualquer
nota.
Para
isso,
serão
necessários
os
acidentes
que
se
encontram
nas
armaduras
de
clave.
Os
números
em
cima
dos
nomes
das
notas
na
figura
anterior
correspondem
aos
graus
da
escala.
No
estudo
da
Harmonia
eles
são
classificados
de
acordo
com
suas
funções
harmônicas,
devem
ser
grafados
em
numerais
romanos
e
têm
a
seguinte
nomenclatura:
I
-‐
Tônica
II
-‐
Sobretônica
(subdominante
relativa)
III
-‐
Mediante
(dominante
relativa)
IV
-‐
Subdominante
V
-‐
Dominante
VI
-‐
Submediante
(tônica
relativa)
VII
-‐
Subtônica
ou
Sensível
25
UnB
/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
Escala
Menor
A
escala
menor
possui
três
padrões
de
organização
de
tom
e
semitom,
que
surgiram
de
acordo
com
a
necessidade
e
evolução
da
música
através
da
história.
O
primeiro
padrão
é
o
da
Escala
Menor
Natural.
Recebe
esse
nome
porque
é
descendente
direta
dos
Modos
Gregos
(assim
como
a
escala
maior)
e
porque
não
possui
nenhuma
alteração.
Na
escala
menor
natural,
os
semitons
ocorrem
entre
o
2o
e
3o
graus
e
entre
o
5o
e
6o
graus.
Portanto,
para
escrevermos
qualquer
escala
menor
natural,
basta
seguir
esse
padrão
de
T-‐st-‐T-‐T-‐st-‐T-‐T,
começando
a
partir
de
qualquer
nota
e
fazendo
as
alterações
necessárias
através
dos
acidentes.
Outro
padrão
de
escala
menor
é
a
Escala
Menor
Harmônica.
Esta
escala
surgiu
em
uma
época
de
transição
entre
o
modalismo
e
o
tonalismo.
O
princípio
básico
do
tonalismo
é
a
sensação
de
tensão
e
repouso
percebida
pela
relação
entre
os
acordes
do
V
e
I
graus
(dominante
e
tônica)
e
os
compositores
tinham
a
necessidade
de
afirmar
o
centro
tonal.
Para
alcançar
esse
objetivo
na
estrutura
da
Escala
Menor,
eles
alteraram
ascendentemente
o
sétimo
grau
da
escala
(que
vem
a
ser
o
terceiro
grau
do
acorde
V)
dando
origem
a
uma
nova
escala,
que,
como
o
próprio
nome,
tem
relação
direta
com
a
harmonia.
O
terceiro
padrão
de
escala
menor
é
o
da
Escala
Menor
Melódica.
Esta
escala
surgiu
para
corrigir
um
problema
criado
pela
Escala
Menor
Harmônica.
No
início
da
teoria
musical,
o
principal
instrumento
utilizado
era
a
própria
voz
sendo
acompanhada
por
outros
instrumentos,
ou
somente
à
capela.
Com
o
surgimento
da
Escala
Menor
Harmônica,
gerou-‐se
um
problema
em
relação
ao
sétimo
grau
alterado.
Se
os
cantores
usassem
a
Escala
Menor
Natural
e
os
instrumentos
usassem
a
Escala
Menor
Harmônica
simultaneamente,
haveria
um
choque
de
semitom
(Sol
e
Sol#).
Por
outro
lado,
se
os
cantores
usassem
a
Escala
Menor
Harmônica,
haveria
um
salto
de
1
½
semitom,
de
difícil
execução
por
conta
da
afinação,
pelo
menos
para
época.
A
solução
encontrada
para
manter
a
alteração
do
sétimo
grau,
pelos
motivos
já
explicados,
foi
também
alterar
ascendentemente
o
sexto
grau
da
escala,
dando
origem
à
Escala
Menor
Melódica,
única
e
exclusivamente
por
questões
melódicas.
26
UnB
/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
No
pentagrama,
a
representação
seria
a
seguinte:
Armaduras
de
clave
As
armaduras
de
clave
são
alterações
escritas
entre
a
clave
e
a
fórmula
de
compasso
no
início
da
partitura.
Servem
para
indicar
a
tonalidade
da
música
(quando
se
tratar
de
uma
peça
tonal),
ou
podem
determinar
um
modo
qualquer
utilizado
numa
peça.
Quando
houver
uma
mudança
de
armadura,
as
alterações
anteriores
são
anuladas
com
bequadros
(quando
for
o
caso)
e
a
nova
armadura
é
assinalada
a
seguir:
Além
das
alteração
da
armadura
podem
ocorrer
alterações
momentâneas.
Estas
27
UnB
/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
alterações
também
são
chamadas
de
acidentes:
Os
acidentes
valem
para
todas
as
notas
seguintes
dentro
do
mesmo
compasso,
na
mesma
oitava:
Em
alguns
casos,
para
evitar
dúvidas
na
leitura,
utiliza-‐se
também
os
acidentes
de
precaução:
Note
que
a
alteração
na
última
nota
do
primeiro
compasso,
de
qualquer
forma,
já
não
teria
efeito
no
próximo
compasso,
mas
o
bequadro
(entre
parênteses)
foi
adicionado
mesmo
assim,
para
evitar
qualquer
dúvida.
As
armaduras
de
clave
devem
ser
memorizadas,
não
somente
pelo
número
de
acidentes
envolvidos,
mas
também
a
sua
ordem
e
local
de
escrita
no
pentagrama.
A
ordem
dos
acidentes
para
os
sustenidos
é
Fá-‐Dó-‐Sol-‐Ré-‐Lá-‐Mi-‐Si
e
para
os
bemóis
Si-‐Mi-‐
Lá-‐Ré-‐Sol-‐Dó-‐Fá.
Armaduras
de
Clave
de
Tonalidades
Menores
É
importante
deixar
claro
que
quando
se
fala
de
Tonalidade,
existe
apenas
Maior
e
Menor.
Não
existe
tonalidade
menor
melódica
nem
menor
harmônica.
A
tonalidade
menor
é
uma
só
e
pode-‐se
intercambiar
as
três
escalas.
Portanto,
as
armaduras
de
clave
das
tonalidades
menores
são
encontradas
a
partir
da
escala
Menor
Natural.
Olhando
a
escala
menor
natural
em
Lá
vemos
que
ela
não
possui
nenhum
acidente.
Portanto,
a
armadura
de
clave
da
tonalidade
de
Lá
Menor
não
terá
nenhum
acidente,
assim
como
a
armadura
da
tonalidade
de
Dó
Maior.
Essas
tonalidades
e
escalas
são
chamadas
de
relativas,
porque
compartilham
a
mesma
armadura
de
clave.
Na
escala
maior,
encontramos
seu
relativo
no
sexto
grau.
Na
escala
menor,
encontramos
seu
relativo
no
terceiro
grau.
Escalas
que
compartilham
o
mesmo
primeiro
grau,
como
Lá
maior
e
Lá
Menor,
por
exemplo,
são
chamadas
de
Escalas
Homônimas
No
Ciclo
de
Quintas
podemos
visualizar
os
nomes
das
tonalidades
menores
e
suas
relativas
maiores,
assim
como
suas
armaduras
de
clave.
28
UnB
/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
Tons
vizinhos
Tons
vizinhos
são
aqueles
que
tem
a
mesma
armadura
do
tom
principal
(relativo)
ou
armaduras
com
um
acidente
a
mais
ou
a
menos.
Cada
tom
tem
cinco
tons
vizinhos
sendo
três
diretos
e
dois
indiretos.
Os
tons
vizinhos
diretos
são:
a)
tom
relativo;
b)
tom
do
mesmo
modo
(maior),
encontrado
uma
5J
acima
(Dominante);
c)
tom
do
mesmo
modo
(maior),
encontrado
uma
5J
abaixo
(Subdominante).
Utilizando
a
tonalidade
de
Dó
Maior
como
exemplo,
teremos:
Lá
Menor
(relativo),
Fá
Maior
(1
bemol
a
mais),
Sol
Maior
(1
sustenido
a
mais);
Os
tons
vizinhos
indiretos
são:
a)
tom
relativo
da
Dominante;
b)
tom
relativo
da
Subdominante.
Utilizando
a
tonalidade
de
Dó
Maior
como
exemplo,
teremos:
Ré
Menor
(relativo
de
Fá),
Mi
Menor
(relativo
de
Sol).
Na
tonalidade
de
Lá
Menor,
teremos:
Tons
vizinhos
diretos:
Dó
Maior
(relativo),
Ré
Menor
(1
bemol
a
mais),
Mi
Menor
(1
sustenido
a
mais);
Tons
vizinhos
indiretos:
Fá
Maior
(relativo
de
Ré),
Sol
Maior
(relativo
de
Mi).
Tons
afastados
São
aqueles
que
não
pertencem
ao
grupo
de
tons
vizinhos.
Estão
a
dois
ou
mais
acidentes
de
distância
na
armadura.
Modos
Gregos
A
música
da
antiguidade
grega
e
romana,
assim
como
a
música
da
Idade
média
e
a
música
renascentista
eram
exclusivamente
modais.
A
música
modal
está
presente
também
em
toda
a
música
popular
e
em
toda
a
música
profana
medieval
e
renascentista,
incluindo,
por
exemplo,
o
Trovadorismo.
A
característica
principal
da
música
modal
é
a
presença
constante
da
"nota
centro",
a
qual,
de
certa
forma,
nunca
é
realmente
abandonada:
a
música
modal
gira
em
torno
do
centro.
Assim,
a
música
modal
pura
não
tem
"harmonia"
-‐
no
sentido
de
tríades
e
de
funções
harmônicas
-‐
um
conceito
que
surgiria
séculos
mais
tarde.
A
palavra
“modo”
é
derivada
do
latim
modus
e
um
dos
significados
atribuídos
é
“padrão”.
Os
modos
obedecem
padrões
de
intervalos
que
são
transpostos
de
acordo
com
cada
nota
que
se
inicia
a
escala.
Dividem-‐se
em
autênticos
(ou
primitivos)
e
plagais.
Os
modos
que
conhecemos
e
aplicamos
na
teoria
musical
moderna
não
são
gregos.
São
chamados
de
“gregos”
apenas
por
convenção
e
conveniência:
seus
nomes
(e
suas
constituições)
derivam
dos
modos
utilizados
em
certas
regiões
da
Grécia
clássica.
No
século
VI,
o
Papa
Gregório
de
Matos
utilizou
a
nomenclatura
dos
modos
gregos
e
organizou
os
modos
com
outras
correspondências
intervalares,
gerando
um
novo
sistema
modal.
Ou
seja,
utilizou
emprestada
a
nomenclatura
das
escalas
gregas,
porém
com
estruturas
intervalares
diferentes.
Desde
então
passaram
a
ser
chamados
de
modos
gregorianos,
devido
ao
seu
idealizador,
ou
modos
eclesiásticos
/
modos
litúrgicos.
Esses
modos
recebem
essas
29
UnB
/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
denominações
por
serem
os
modos
usados
na
música
litúrgica
da
Idade
Média,
pois
eram
utilizados
na
prática
do
Canto
Gregoriano.
A
Musica
chamada
Litúrgica
tinha
objetivos
exclusivamente
religiosos
em
contra
partida
à
chamada
música
profana
ou
mundana,
assim
chamada
pelo
Clero
da
época,
que
tinha
por
fim
“apenas”
expressar
os
sentimentos
como
alegria,
tristeza,
saudade
e
outros
aspectos
não
religiosos
da
vida
cotidiana.
Nos
séculos
VIII
-‐
IX,
os
modos
foram
classificados
em
oito
estruturas
diferentes,
divididas
em
quatro
modos
autênticos
-‐
dórico,
frígio,
lídio
e
mixolídio
-‐
e
quatro
modos
plagais
-‐
hipodórico,
hipofrígio,
hipolídio
e
hipomixolídio.
A
nota
que
dava
origem
ao
modo
-‐
que
hoje
chamamos
de
centro
modal
-‐
recebia
o
nome
de
finalis
(a
nota
em
que
a
melodia
deveria
terminar).
Nos
modos
plagais,
a
finalis
encontrava-‐se
uma
quarta
abaixo
em
relação
à
finalis
dos
modos
autênticos.
Vale
ressaltar
que
esse
era
apenas
um
sistema
de
disposição
relativa
de
alturas,
pois
não
existia
ainda
a
definição
das
notas
como
alturas
absolutas.
A
nomeação
das
notas
veio
a
ocorrer
em
pouco
mais
de
dois
séculos
após
a
introdução
dos
oito
modos
no
Canto
Gregoriano.
Embora
as
alturas
continuassem
relativas,
como
exemplos
teríamos:
ré-‐mi-‐fá-‐sol-‐lá-‐si-‐dó
(dórico)
e
lá-‐si-‐dó-‐ré-‐mi-‐fá-‐sol
(hipodórico),
onde
a
nota
Ré
é
a
finalis.
Os
outros
modos
seguiam
o
mesmo
princípio.
Este
sistema
de
oito
modos
permaneceu
em
pleno
uso
até
o
final
do
século
XVI,
atravessando
a
música
monofônica
(única
melodia,
como
eram
os
cantos
primitivos),
o
organum
(nascido
no
final
do
século
IX,
chamado
também
"diafonia",
por
tratar-‐se
de
duas
melodias
interagindo),
a
expansão
da
polifonia
(na
Idade
Média
e
no
período
Renascentista),
culminando
na
"melodia
acompanhada",
conhecida
como
música
homofônica.
A
passagem
do
Renascimento
para
o
Barroco
marcou
também
essa
transição
da
polifonia
(embora
ainda
largamente
usada
e
onde
teve
o
seu
apogeu)
para
a
homofonia,
o
que,
associado
à
redução
dos
oito
modos
utilizados
para
apenas
dois
(maior
e
menor,
exatamente
como
os
conhecemos
hoje),
transcendeu
definitivamente
o
modalismo,
dando
origem
ao
tonalismo.
Para
a
utilização
das
escalas
modais
no
contexto
tonal,
os
modos
autênticos
-‐
dórico,
frígio,
lídio
e
mixolídio
–
permaneceram
ao
passo
que
os
modos
plagais
mudaram
de
nome.
Hipodórico
passou
a
se
chamar
eólio,
o
hipofrígio
passou
a
se
chamar
lócrio
e
o
hipolídio
passou
a
se
chamar
jônico.
Os
modos
jônico
e
eólio
coincidem,
respectivamente,
com
as
escalas
maior
e
menor
naturais
que
conhecemos
do
sistema
tonal.
Cada
uma
das
escalas
modais
possui
uma
diferente
organização
dos
tons
e
semitons
e
podemos
perceber
as
diferenças
entre
os
modos
e
as
escalas
naturais.
Os
intervalos
diferentes
caracterizam
a
sonoridade
de
cada
modo,
são
as
“notas
características”.
Por
exemplo,
a
única
diferença
entre
a
escala
do
modo
Jônico
e
o
modo
Lídio
vai
ser
a
quarta
aumentada.
Dizemos
assim
que
a
quarta
aumentada
é
a
nota
característica
do
modo
lídio.
O
mesmo
raciocínio
vale
para
os
outros
modos,
com
um
30
UnB
/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
pequeno
porém
para
o
lócrio,
que
vai
apresentar
duas
notas
diferentes
da
menor
natural
(eólio).
Consideramos
estas
duas
notas
características,
porém
a
5º
possui
maior
importância
que
a
2m.
O
Modalismo
é
essencialmente
uma
linguagem
melódica.
Sua
utilização
como
forma
de
estruturação
harmônica
tem
sua
origem
como
meio
de
ampliação
do
discurso
tonal
e
da
absorção
de
linguagens
particulares
(tal
como
a
cultura
popular
de
diversos
países)
pelo
sistema
tonal.
O
padrão
T
–
S
–
D
–
T
é
bastante
raro,
mesmo
em
modos
onde
a
sensível
não
se
faz
presente
–
movimento
cadencial
do
baixo
ainda
é
muito
tonal.
O
encadeamento
padrão
do
idioma
modal
segue,
mais
caracteristicamente,
o
esquema
T
–
D
–
S
–
T.
Entretanto,
deve-‐se
ter
e
mente
que
encadeamentos
modais
não
obedecem
a
qualquer
estrutura
funcional.
Não
existe,
portanto,
Tônica,
Subdominante
ou
Dominante.
Ciframos
os
acordes
simplesmente
indicando
em
numerais
romanos
o
grau
a
que
pertencem.
O
interesse
reside
na
cor
mais
ou
menos
“exótica”
que
se
obtém
pelo
usa
das
escalas
modais.
Qualquer
encadeamento
que
soe
como
D7
–
T
deve
ser
evitado.
Transposição
A
Transposição
de
melodias
ou
harmonias
é
uma
ferramenta
importante
tanto
para
o
aprendizado
musical
quanto
para
a
atuação
profissional
no
ensino
e
principalmente
na
performance.
Através
do
estudo
consciente,
o
aluno
desenvolve
padrões
melódicos
e
harmônicos
que
serão
utilizados
na
execução
musical,
além
do
desenvolvimento
auditivo
baseado
no
tonalismo.
A
transposição
pode
ocorrer
através
de
intervalos
ou
da
substituição
de
claves,
cabendo
a
cada
um
utilizar
o
sistema
que
melhor
se
adaptar.
Se
temos,
por
exemplo,
31
UnB
/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
uma
nota
Dó
que
precisa
ser
transposta
uma
terça
maior
superior
(virando
uma
nota
Mi),
podemos
usar
o
padrão
de
terça
maior
e
aplicar
a
todas
as
notas
daquela
melodia,
ou
podemos
substituir
a
clave
de
maneira
que
realize
o
ajuste
necessário
para
que
a
leitura
seja
feita
corretamente.
Nesse
caso,
a
clave
correspondente
seria
a
de
Fá
na
quarta
linha.
Funções
Harmônicas
As
tríades
diatônicas
no
modo
maior
apresentam-‐se
em
três
qualidades:
a) maiores:
I,
IV
e
V;
b) menores:
II,
III
e
VI;
c) diminuta:
VII
Não
por
coincidência,
os
acordes
maiores
são
os
que
definem
as
funções
harmônicas
(tônica,
subdominante
e
dominante),
pois
eles
possuem
todas
as
notas
da
escala
diatônica:
Sendo
assim,
qualquer
melodia
diatônica
pode
ser
harmonizada
somente
com
os
três
acordes
maiores.
A
função
tônica
é
a
mais
importante
de
todas,
pois
resume
a
tonalidade,
representando
repouso,
relaxamento,
estabilidade
tonal.
Todas
as
funções
restantes
(os
demais
graus)
estão
subordinados
hierarquicamente
à
ela
(ao
I
grau).
A
função
subdominante
é
percebida
auditivamente
como
um
afastamento
da
área
da
tônica
(ao
contrário
da
aproximação
que
sugere
a
dominante).
Esse
afastamento
funciona
quase
como
uma
tentativa
de
romper
com
o
centro
de
atração
(tônica)
principal
e
gerar
um
novo.
Para
melhor
compreensão,
vamos
analisar
o
seguinte
exemplo:
32
UnB
/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
Na
linha
superior
temos
as
funções
na
tonalidade
de
Dó
maior
e
na
linha
inferior
Sib
maior.
Repare
que
a
tríade
de
função
subdominante
em
Dó
maior
é
exatamente
a
mesma
tríade
com
função
dominante
em
Sib
maior.
A
sensação
de
afastamento
do
IV
em
Dó
maior
se
dá
devido
ao
fato
desta
tríade
corresponder
à
função
dominante
de
uma
outra
tonalidade.
A
função
dominante
pode
ser
considerada
o
reverso
da
função
tônica.
Ela
representa
tensão,
movimento,
instabilidade.
Um
acorde
de
função
dominante
procura
de
todas
as
maneiras
a
sua
resolução
(dirigir-‐se
para
um
acorde
de
função
tônica).
A
origem
desta
força
de
gravidade
é
da
grandeza
da
Acústica
no
que
se
refere
às
relações
dos
harmônicos
com
o
som
fundamental,
dentro
de
sua
respectiva
série
harmônica.
As
funções
estão
correlacionadas
no
sentido
I
–
IV
–
V
–
I.
Ou
seja,
o
a
tônica
(I)
estabelece
o
centro
gravitacional,
a
subdominante
(IV)
se
afasta,
a
dominante
(V)
reaproxima
e
devolve
a
estabilidade
(I).
Os
demais
graus
se
enquadram
como
acordes
secundários
dentre
destas
três
funções.
Esse
enquadramento
se
dá
pelo
número
de
notas
comuns
com
os
graus
principais
correspondentes.
Funções
Graus
Principais
Graus
Secundários
Tônica
I
III,
VI
Subdominante
IV
II,
VI
Dominante
V
VII
O
III
e
VI
graus
são
usados,
geralmente,
quando
se
quer
um
resultado
mais
fraco
da
função,
porém,
eles
não
podem
substituir
o
I
no
início
e
fim
de
uma
música.
O
VII
grau
só
não
pode
ser
utilizado
na
cadência
perfeita
(se
dá
esse
nome
à
cadência
V
–
I
por
ser
composta
pelos
dois
graus
principais
de
suas
respectivas
funções
e
é
aconselhada
ser
utilizada
no
final
das
músicas).
Diferente
do
que
ocorre
nas
outras
funções,
os
acordes
de
II
e
VI
graus
trabalham
em
igualdade
com
o
IV,
inclusive,
sendo
muito
comum
na
música
popular
a
substituição
do
IV
pelo
II.
Quando
utilizamos
tétrades
(adicionando
o
intervalo
de
sétima
às
tríades),
a
necessidade
de
resolução
da
função
dominante
fica
mais
aparente,
devido
ao
intervalo
de
trítono.
Trítono,
derivada
do
termo
grego
para
“três
tons”,
é
um
dos
nomes
que
se
dá
ao
intervalo
de
quarta
aumentada
(ou
quinta
diminuta).
Esse
intervalo
representa
a
essência
da
tensão
harmônica,
o
que
move
a
função
dominante
em
sua
necessidade
de
resolução,
buscando
o
repouso
na
tônica.
33
UnB
/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
Analisando
a
tríade
do
VII
grau,
vemos
que
a
fundamental
e
a
quinta
do
acorde
são,
respectivamente,
o
IV
e
VI
graus
da
escala
(notas
Fá
e
Si).
Estas
notas
estão
à
distância
de
um
semitom
de
notas
pertencentes
ao
acorde
de
tônica
(os
graus
III
e
I
da
escala
–
notas
Mi
e
Dó).
Estas
notas
são
chamadas
de
notas
atrativas,
pois
tem
a
tendência
natural
de
resolver
(são
atraídas
para
as
notas
de
resolução)
buscando
o
menor
caminho
possível.
Combinando-‐as
no
intervalo
de
trítono,
a
instabilidade
harmônica
do
intervalo
aumenta
e
a
resolução
no
menor
caminho
possível
se
dá
no
acorde
de
função
tônica.
É
importante
esclarecer
que
a
nota
do
baixo,
nos
acordes
em
posição
fundamental,
ou
seja,
sem
inversão,
são
a
fundamental
do
acorde.
Só
recebe
o
nome
de
tônica
a
fundamental
do
acorde
do
I
grau.
Campo
Harmônico
Maior
É
o
conjunto
de
acordes
formado
a
partir
das
notas
de
uma
determinada
escala
diatônica
(que
não
tem
nenhuma
alteração).
Esses
acordes
são
extraídos
de
uma
das
quatro
escalas
estruturais:
a
maior,
a
menor,
a
menor
harmônica
e
a
menor
melódica.
Portanto,
cada
escala
possui
seu
campo
harmônico.
Campo
Harmônico
da
Escala
Maior
Ao
estudar
o
campo
harmônico
você
esta
conhecendo
os
acordes
diatônicos,
pois
eles
são
formados
com
as
notas
da
escala
maior.
Os
acordes
formados
no
campo
harmônico
maior
sempre
seguirão
a
ordem:
• 1º
grau:
sempre
maior.
ex:
C
• 2º
grau:
sempre
menor.
ex:
Dm
• 3º
grau:
sempre
menor.
ex:
Em
• 4º
grau:
sempre
maior.
ex:
F
• 5º
grau:
sempre
maior.
ex:
G
• 6º
grau:
sempre
menor.
ex:
Am
• 7º
grau:
sempre
meio-‐diminuto.
ex:
Bm7(b5)
34
UnB
/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
Estrutura
do
campo
harmônico
maior
O
campo
harmônico
maior
de
tríades,
em
qualquer
tonalidade,
obedecerá
a
seguinte
estrutura:
IM
|
IIm
|
IIIm
|
IVM
|
VM
|
VIm
|
VIIm(b5)
C
|
Dm
|
Em
|
F
|
G
|
Am
|
Bm(b5)
Para
montar
o
campo
harmônico
de
tétrades,
basta
adicionar
a
sétima
à
cada
tríade
montada:
I7M
|
IIm7
|
IIIm7
|
IV7M
|
V7
|
VIm7
|
VIIm7(b5)
C
7M
|
Dm7
|
Em7
|
F7M
|
G7
|
Am7
|
Bm7(b5)
Campo
Harmônico
Menor
Os
acordes
formados
no
campo
harmônico
das
escalas
menores
vão
depender
da
escala
formadora
dos
acordes.
Como
já
vimos
anteriormente,
cada
escala
menor
possui
uma
estrutura
diferente,
com
alterações
no
VI
e
VII
que
irão
afetar
diretamente
a
formação
dos
acordes
do
campo
harmônico.
Estrutura
do
campo
harmônico
da
Escala
Menor
Natural
O
campo
harmônico
da
escala
menor
natural
de
tríades,
em
qualquer
tonalidade,
obedecerá
a
seguinte
estrutura:
Im
|
IIm(b5)
|
III
|
IVm
|
Vm
|
VI
|
VII
Am
|
Bm(b5)
|
C
|
Dm
|
Em
|
F
|
G
Para
montar
o
campo
harmônico
de
tétrades,
basta
adicionar
a
sétima
à
cada
tríade
montada:
Im7
|
IIm7(b5)
|
III7M
|
IVm7
|
Vm7
|
VI7M
|
VII7
Am7
|
Bm7(b5)
|
C
7M
|
Dm7
|
Em7
|
F7M
|
G7
35
UnB
/Departamento
de
Música
LEM1-‐ Linguagem e Estruturação Musical -‐ Material Didático Prof. Dr. Maico Lopes
Estrutura
do
campo
harmônico
da
Escala
Menor
Harmônica
O
campo
harmônico
da
escala
menor
harmônica
de
tríades,
em
qualquer
tonalidade,
obedecerá
a
seguinte
estrutura:
Im
|
IIm(b5)
|
III+
|
IVm
|
V
|
VI
|
VIIo
Am
|
Bm(b5)
|
C+
|
Dm
|
E
|
F
|
G#o
Para
montar
o
campo
harmônico
de
tétrades,
basta
adicionar
a
sétima
à
cada
tríade
montada:
Im(7M)
|
IIm7(b5)
|
III7M(#5)
|
IVm7
|
V7
|
VI7M
|
VIIo
Am(7M)
|
Bm7(b5)
|
C7M(#5)
|
Dm7
|
E7
|
F7M
|
G#o
Estrutura
do
campo
harmônico
da
Escala
Menor
Melódica
O
campo
harmônico
da
escala
menor
harmônica
de
tríades,
em
qualquer
tonalidade,
obedecerá
a
seguinte
estrutura:
Im
|
IIm
|
III+
|
IV
|
V
|
VIm(b5)
|
VIIm(b5)
Am
|
Bm
|
C+
|
D
|
E
|
F#m(b5)
|
G#m(b5)
Para
montar
o
campo
harmônico
de
tétrades,
basta
adicionar
a
sétima
à
cada
tríade
montada:
Im(7M)
|
IIm7
|
III7M(#5)
|
IV7
|
V7
|
VIm7(b5)
|
VIIm7(b5)
Am(7M)
|
Bm7
|
C7M(#5)
|
D7
|
E7
|
F#m7(b5)
|
G#m7(b5)
Referencias
bibliográficas:
ALMADA,
Carlos.
Arranjo.
Campinas:
Editora
da
Unicamp.
2000.
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Harmonia
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Campinas:
Editora
da
Unicamp,
2009.
BOFFI,
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historia
da
musica
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Edições
70,
2006.
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Harmonia
–
método
prático.
2a
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Rio
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Janeiro:
Lumiar
Editora,
2006.
HINDEMITH,
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1949.
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Luiz
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A
orquestra
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histórias
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Rio
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GMT
Editores
Ltda.
2000.
SCHOENBERG,
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Funções
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Edição
e
prefácio
Leonard
Stein;
tradução
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Eduardo
Seincman.
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Via
Lettera,
2004.
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Harmonia.
Introdução,
tradução
e
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Marden
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São
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Editora
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2001.