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Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro

Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro

História da Matemática - Gabarito AD01


Questão 1 [1,5 pts]: A Mesopotâmia é uma região entre os rios Tigre e Eufrates que é conhecida
hoje como Iraque. Desta área geográfica Babilonia foi uma importante cidade.

Os documentos que permitem estabelecer o esplendor dessa civilização são as tabuletas de argila
cozida escrita com caracteres cuneiformes (em forma de cunha). Já foram encontradas cerca de
500.000 tabuletas (!) a partir dos meados do século XIX. Dessas quase 400 foram identificadas como
estritamente matemáticas. Nessas tabuletas de caráter matemático é presente a primorosa habilidade
de concepção dos problemas, bem como a elegância das soluções propostas. A cultura matemática
mesopotâmica caracteriza-se pelo desenvolvimento do cálculo aritmético, que nela atinge o mais alto
grau de evolução na antiguidade. Seu esplendor se firma graças aos sentidos de ordem e de método,
que lhe dará um caráter cientı́fico. Esse cálculo aritmético permeava questões aritméticas, cálculos
de valores aproximados, problemas algébricos bem como geométricos.

Algumas dessas tabletas eram destinadas a escolares e caracterizam a mais remota documentação
de problemas com caráter didático que se tem notı́cia.

Antes de apresentar o número na Mesopotâmia, vamos definir sistema de numeração posicional.


Nesse sistema, depois de se escolher uma base b, adotam-se uma quantidade b de sı́mbolos básicos
tal que o maior deles é menor do que o sı́mbolo que identifica a base b. Assim qualquer número N
pode ser escrito de maneira única na forma

N = an bn + an−1 bn−1 + · · · + a2 b2 + a1 b1 + a0

com ai ≥ 0, ai < b e i = 0, 1, 2, · · · , n. Também ai pertence a um conjunto com um número b de


sı́mbolos menores, em termos de valor, do que a base b. Por isso representamos o número N na base
b pela seqüência de sı́mbolos an an−1 · · · a1 a0 . Daı́, um sı́mbolo em qualquer número dado representa
um múltiplo de alguma potência da base b, potência essa que depende da posição ocupada pelo sı́mbo-
lo básico.

O número na Mesopotâmia

Pelas observações fundamentadas nas tabletas, pode-se concluir que o sistema de numeração posi-
cional adotado era o sexagesimal (base b = 60 – o mais antigo que se conhece).

A seguir você tem um quadro completo dos números cuneiformes de 1 à 19, um quadro para 10, 20,
30, 40, 50 e 60 e um exemplo de um número cuneiforme maior do que 60 (Não se sabe como os
Babilonios desenvolveram o sistema sexagesimal. Existem várias hipóteses. Uma delas seria porque
seu sistema de pesos e medidas foi baseado em 60, isto é, a maior unidade é 60 vezes a menor).
História da Matemática Gabarito AD01 2

1 2 3 4 5

PSfrag replacements
6 7 8 9 10

11 12 13

14 15 16

17 18 19

PSfrag replacements
10 20 30

40 50 60

Exemplo:

PSfrag replacements

1 25 46 19

= 308.779

1, 25, 46, 19 dá 1 × 603 + 25 × 602 + 46 × 60 + 19 = 308.779


no sistema decimal (base b = 10).
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(i) A que números no sistema decimal correspondem as seqüências abaixo


PSfrag replacements
a) 1, 15
b) 14, 43, 21 1
2
do sistema de numeração babilônico (sexagesimal)?
3
4
(ii) Escreva-os em caracteres cuneiformes.
5
6
Solução: 7
8
(i) 1, 15 corresponde no sistema decimal 75 e 14, 43, 21 corresponde no sistema decimal 53001.
9
10
(ii) Em caracteres cuneiformes:
11
12
13
14
15
16
17
18
19
Questão 2 [2,0 pts]: Aprendemos atravé do papiro de Rhind (de cerca de 1650 a.C. – Rhind,
sobrenome do egiptólogo escocês Alexandre Rhind que o encontrou em 1858) qua os antigos egı́pcios
expressavam todas as frações como somas de frações unitárias distintas, isto é, frações da forma n1 ,
n ∈ Z+ . Isto se deve ao fato de que eles admitiam um só numerador: 1 (com excessão das frações
2
3
e 34 que tinham sı́mbolos próprios). Eles escreviam, por exemplo,

2 1 1
= +
9 6 18
3 1 1 1
= + + .
7 3 11 231
Em 1880, o matemático inglês James Sylvester provou que qualquer fração própria ab (mdc (a, b) = 1)
pode ser escrita como uma soma de frações unitárias distintas. Ele nos mostra que
a 1 aq − b
= +
b q bq

onde 1q é a maior fração unitária menor do que ab e aq−b


bq
é uma fração própria que por sua vez pode
ser escrita como uma soma de frações unitárias distintas (caso ela não seja uma fração unitária).

19
(i) Expresse como uma soma de frações unitárias distintas.
20
1 1 1 1 1
(ii) Mostre que + + + + é a maior fração própria que pode ser escrita usando 5 frações
2 3 7 43 1807
unitárias distintas.

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Solução:

(i) Invertamos 19
: 20 ∼
= 1, 05 < 2. Daı́
20 19

19 1
>
20 2

1
.
q
Temos que:
19 1 9
− = (fração própria não-unitária).
20 2 |{z}
20
aq−b
bq

Repetindo o raciocı́nio acima temos:


20 ∼ 9 1
= 2, 22 < 3 ⇒ >
9 20 3
9 1 7
− = (fração própria não-unitária).
20 3 60
Temos até agora que
19 1 1 7
= + + .
20 2 3 60
7
Utilizando o raciocı́nio acima para 60
temos:

60 ∼ 7 1
= 8, 57 < 9 ⇒ >
7 60 9
7 1 1
− = (fração unitária).
60 9 180
Finalmente
19 1 1 1 1
= + + + .
20 2 3 9 180

(ii) Temos que


1 1 5
+ = < 1.
2 3 6
1
Se adicionarmos 6
a esta soma obtemos:

1 1 1 6
+ + = =1
2 3 6 6
que não é uma fração própria.

Assim, devemos ter


1 1 1 21 + 14 + 6 41
+ + = = < 1.
2 3 7 42 42
Continuando com este raciocı́nio temos:
1 1 1 1 21 + 14 + 6 + 1 42
+ + + = = =1
2 3 7 42 42 42
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que não é uma fração própria. Logo,


1 1 1 1 1805
+ + + = < 1.
2 3 7 43 1806
Finalmente, como
1 1 1 1 1 1806
+ + + + = =1
2 3 7 43 1806 1806
não é uma fração própria, temos que:
1 1 1 1 1
+ + + + <1
2 3 7 43 1807
é a maior fração própria que pode ser escrita usando 5 frações unitárias distintas.

Questão 3 [1,5 pts]: Um conhecido e importante teorema de Tales diz que se AC é o diâmetro
de um cı́rculo e B é um ponto na circunferência do cı́rculo (outro qualquer diferente de A e C),
então < ABC é um ângulo reto (este teorema era de conhecimento dos babilônios cerca de 1400
anos antes).

Prove o inverso deste teorema: Se A, B e C são pontos sobre a circunferência de um cı́rculo e, o


< ABC é reto, então AC é o diâmetro.

Solução: Sabemos que todo ângulo inscrito em um cı́rculo B


(com vértice na circunferência desse cı́rculo) tem por me- AB̂C = 900

dida a metade do arco compreendido entre seus lados.


Da figura temos que o arco AC mede 1800 .PSfrag Daı́, oreplacements
arco
AC é uma semicircunferência e, então, o segmento AC é A C
o diâmetro. O

Uma outra solução seria:


B
C
Solução: Sejam A, B e C ∈ C tal que AB̂C = 900 .
replacements Formemos o triângulo ABC. Este triângulo é retângulo em
B. Sabemos que sua hipotenusa AC tem por comprimento
A C
I o dobro do comprimento da mediana de B. Daı́, I é o
centro da circunferência C (que circunscreve o triângulo
retângulo ABC). Por conseguinte, AC (hipotenusa do
triângulo retângulo) é o diâmetro da circunferência.

Questão 4 [2,5 pts]:

(i) Mostre que 496 é um número perfeito utilizando o teorema 36 apresentado por Euclides no
Livro IX dos Elementos que está na Unidade 4 – texto 11.2.
(ii) Qual é o quarto número perfeito?
(iii) Prove que todo número perfeito é triangular.

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Solução:

(i) Temos que: 


496 = 25−1 25 − 1 (terceiro número perfeito).
| {z }
primo

(o primeiro e o segundo são obtidos com m = 2 e m = 3, respectivamente).

(ii) Com m = 7 obtemos o quarto número perfeito 8768.

(iii) Seja n um número perfeito. Daı́,



n = 2m−1 2m − 1 , m ∈ Z+ , m ≥ 2 .

Mas
2m m 

2m−1 2m − 1
2 −1 =
2

2m 2m − 1
=
2

2 − 1 2m
m
=
2
 m  
2m − 1 2 −1 +1
= .
2
Fazendo t = 2m − 1 com 2m − 1 ∈ Z+ temos

t(t + 1) t2 + t t2 − t
n= = = +t
2 2 2
que é a expressão de um número triangular.

Questão 5 [1,5 pts]:


(i) Desenvolva 13 em fração contı́nua.
Sugestão: Leia a Unidade 3 – texto 7.1 e a Atividade 10 com gabarito.

(ii) A partir do item (i) e da sugestão, procure estabelecer uma construção para o desenvolvimento
em fração contı́nua de um número real.

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Solução:
(i) (Bombelli, 1572) √ √ √
13 = 3+ 13 − 3 (observe que 13 ∼
= 3, 605)

`√ ´ 13 + 3
= 3+ 13 − 3 √
13 + 3
4
= 3+ √
13 + 3
4
= 3+ „ «
4
3+ √ +3
13 + 3
4
= 3+
4
6+ √
13 + 3
4
= 3+
4
6+ „ «
4
3+ √ +3
13 + 3
4
= 3+
4
6+
4
6+ √
13 + 3
4
= 3+
4
6+
4
6+ „ «
4
3+ √ +3
13 + 3
4
= 3+
4
6+
4
6+
4
6+ √
13 + 3
4
= 3+
4
6+
4
6+
4
6+
6 + ···


(ii) Seja x 6∈ Q, x = p , p primo. Podemos escrever x = [x] + x11 , com 0 < x11 < 1 onde
1
x1 = x−[x] > 1 . Para continuar, escrevamos x1 = [x1 ] + x12 , com 0 < x12 < 1 , [x1 ] ≥ 1 onde
1
x2 = x1 −[x 1]
. Este cálculo pode ser repetido infinitamente produzindo em sucessão as equações:

1
x = [x] + , x1 > 1
x1
1
x1 = [x1 ] + , x2 > 1, [x1 ] ≥ 1
x2
1
x2 = [x2 ] + , x3 > 1, [x2 ] ≥ 1
x3
··· ··· ···
1
xn = [xn ] + , xn+1 > 1, [xn ] ≥ 1
xn+1
··· ··· ···

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Finalmente, fazendo as substituições iteradamente obtemos


1 1 1
x = [x] + = [x] + = [x] +
x1 1 1
[x1 ] + [x1 ] +
x2 1
[x2 ] +
x2
1
= [x] +
1
[x1 ] +
1
[x2 ] +
1
[x3 ] +
x4
1
= [x] +
1
[x1 ] +
1
[x2 ] +
1
[x3 ] +
[x4 ] + · · ·

Questão 6 [1,0 pt]: Procure estabelecer aspectos que caracterizem diferenças entre a matemática
grega e a matemática dos outros povos.

Sugestão: Leia a Unidade 2 – texto 5 e a Unidade 3 – textos 6, 7 e 8.

Solução: Com os filósofos gregos da Antigüidade, a Matemática muda de natureza: deixa de ser um
conjunto de técnicas operatórios enunciadas sem justificação evidente, como em outras civilizações
antigas, para ter nos gregos o papel de uma ciência modelo, um terreno onde se pode raciocinar
sobre objetos ideais.

Podemos fazer um quadro para caracterizar as principais diferenças.

matemática egı́pcia/mesopotâmica grega


é concreta e orientada para os pro- é abstrata e essencialmente geomé-
cedimentos de cálculo. Os enuncia- trica. Os enunciados têm caráter
dos são expostos a partir de exem- geral.
plos numéricos.
Os papiros e as tabuletas são con- Nos tratados gregos, encontra-se
tituı́das de listas de casos modelos uma seqüência de teoremas orga-
ou de exemplos tı́picos classificados nizados de modo que é possı́vel
segundo suas aparências demonstrá-los sucessivamente a
partir de postulados.
Os gregos se interessam aos
objetos matemáticos. A existência
e as propriedades desses objetos são
colocados em questão e metodica-
mente explorados.

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