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- Melissa Freire
Seria o ideal a obra ser um diálogo do autor face a face com o autor ou um diálogo do autor
face a face com o leitor? O autor face o autor, eis a resposta correta. E caso sejas um leitor,
converta-se a um escritor então! Corrija-me, borre-me, rascunhe-me, pincele de sangue meus
cadernos, mas não o ateie à fogueira nem o rasgue. Isso não. Covardia. Medo. Hesitação.
Para se confrontar um livro, é necessário sempre escrever outro livro. É isso o que estou
fazendo, contra eu mesmo.
- Você tem dificuldade em responder o que lhe perguntam, fazer o que lhe
pedem, em verdade, você faz o que tem vontade de fazer, desenvolve ideias
em um parágrafo para logo depois abandoná-las e seguir outra ideia, para logo
adiante abandoná-la. Cita dezenas de autores, avança outra dezena de
conceitos, faz comparações, críticas, mas não as liga nem ao autor nem ao
texto proposto. É difícil para você se focar em um texto, em um autor, porquê
parece muito raso e pequeno para sua ânsia de escrever sobre tudo e sobre
todos. Falta objetivo, falta foco, falta concentração, falta disciplina. Em
realidade tudo o que escreveu serve para qualquer pergunta ou texto que te
solicitarem, porque você não aceita que determinem o que deve fazer. Você
segue seu próprio caminho mesmo que este não te leve ao ponto que deveria
chegar. Você veio aqui para aprender, mesmo que tenha lida muito, você é um
estudante e este é seu papel. Escrever sobre o que já se sabe significa recusar a
aprender. Você recusou a ler o texto, recusou a compreender o autor dentro da
lógica dele e não da sua, se recusou a dialogar com o autor, não se silenciou
quando ele falou, porque estava mais preocupado com o seu próprio
argumento. Daqui para frente você terá direito a quatro páginas de resenha,
não citará nenhum texto que não o cobrado nem nenhum autor há não ser o
solicitado. Vai fazer o terrível exercício de estar só com o autor e apenas um
texto. Extraia o melhor com o mínimo que lhe darei, este é seu desafio.
Quem disse que Deus criou esse universo e que a origem de tudo está no
início?
Afim de compensar um erro, não se deve fazer melhor do que fez, mas
simplesmente fazer o que originalmente deveria ser feito. Um filósofo
completamente anti-racionalista. Espere. Não. Quem é mais racional
pode doer menos o emocional do que quem é demasia emocional e
espiritual. O racionalismo possui um tanto de emoção.
O herói se pergunta:
Não.
- Além de dar voz ao ódio à humanidade e humanismo, por quê não minha mão ter a
mesma marca de “M” da obra de Fritz Lang e a homenagem de Breton?
- Por quê não adicionar um complexo de hipocondria, síndrome de Ganser e transtorno
autoimunológico, que retarda os efeitos de doenças e drogas farmáceas pela minha
pura força de vontade?
- A capacidade de emitir uma ressonância magnética Schumann de escala global que
desencadeia filas anormais de prótons nos organismos que, livres da imantação ao
campo, voltam parasitando seus núcleos, instabilizando-os?
- Previsível, previsível…
- Cabeça, ombros, braços, mãos, pés, pernas… Aumentando os dados até ser
como um dicionário ambulante de anatomia humana. Enquanto os corto,
quando com pouca energia, considerando as articulações, e quando com muita,
sem.
O que diferencia o humano do animal é que este apenas procria e se alimenta. No entanto, o
humano não anda fazendo exatamente o mesmo, quando sob condições tecnologicamente
avançadas que o retrasa ideológica e historicamente? Não faz, se não reduzir a vida à mera, e
somente ela… Vida? Perceba: viver de verdade é viver mais do que a vida, e toda
espiritualidade advém disso.
- O sexo não deve ser em vão, como um desejo a ser saciado, e nada além disso.
Ele, que a purpurina e confete negro grudam em seu couro como as escamas do dragão negro
que desencadeou o eclipse no matrimonial encontro com o Sol jurássico.
Rezo por um mundo possível em que as frases e palavras não existam.
O amor nunca prospera com uma única expressão, mas sucessões de expressões. Os gregos
tinham sete expressões amorosas. Alfabetizado, academicizado, civilizado, adestrado,
humanizado. Nada disso basta para que o amor sobreviva, na verdade ele percalçará muitas
experiências de quase morte onde alucinará manjares e oásis. Afim de que ele viva, a
pergunta a se fazer é: continuas a expressar o que originalmente aspirava a expressar? Nas
línguas em que transitas, a palavra se destruiu apenas gramaticamente e idiomamente, ou
também em significado? Viva em um idioma onde exista a palavra ‘Amor’. Essa é uma lição
que você precisa aprender.