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Ever After High – Brasil

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ra uma vez um novo ano escolar, e Raven Queen fazia as

malas. Colocou o novo álbum da Tailor Quick com o som a toda


em seu MirrorPod, enquanto pegava coisas do armário e as jogava
na mala, dançando. A pilha de roupas era toda roxa e preta, então
ela arremessou um par de sandálias prateadas para acrescentar
uma cor.
Raven abriu a janela. O sol se punha no mar de cobre. A última
página do verão se fechava.
– Ei, Ooglot! – ela gritou enquanto erguia a mala no parapeito
de seu quarto, no quarto andar. Deixou-a cair. No pátio abaixo, o
ogro da família a segurou com uma mão azul e acenou para ela.
Ela acenou de volta.
O verão havia sido bom. Sem lição de casa; apenas horas e
horas para ouvir música e ler romances de aventura. Durante
alguns dias por semana ela cuidou dos filhos gêmeos de Cook –
Butternut e Pie –, em troca de montes de doces. Ela e o pai
navegaram em seu pequeno barco descendo a costa para passar
a semana com Pinóquio e sua filha, Cedar Wood. Raven adorou
tomar chá com a Fada de Cabelo Azul, jogar cartas diante da
lareira e ficar acordada até tarde com Cedar, cantando no karaokê
e rindo entre os travesseiros.
Tudo muito legal, mas Raven estava ansiosa para rever as
amigas em Ever After High no seu segundo ano de internato.
Ela se esforçava para não pensar em como seu Dia do Legado
estava a apenas algumas semanas de distância. Desde que
assistira ao Dia do Legado como caloura, ela havia feito o máximo
para esquecê-lo. Naquela época, o futuro parecia bem distante.
Uma sirene berrou, chamando-a para o jantar.
Raven vestiu um suéter quando saiu do quarto. O Castelo
Queen era frio. Havia quartos demais desocupados para se
preocuparem em acender o fogo em todas as lareiras. Quando sua

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mãe governava, o castelo ficava lotado de servos, soldados e


criaturas das sombras. E todos eles vigiavam a jovem Raven,
prontos para dedurá-la para a mãe se a pegassem fazendo algo
gentil.
– Raven – sua mãe diria –, Yop, o Goblin, diz que a viu se
desculpando para um rato por ter pisado em seu rabo. Você deve
parar com esse tipo de comportamento!
– Mas eu não queria pisar no rabo dele – ela responderia.
– Não é isso! É o pedido de desculpas! A Rainha Má nunca se
desculpa por nada. Você precisa aprender isso.
Raven preferia o castelo quase vazio.
Ela caminhou pelo enorme Saguão Principal, sentindo-se como
se tivesse sido engolida por uma baleia. Mostrou a língua para as
sombras e escorregou pelo corrimão da escadaria como fazia
quando criança.
Abriu as enormes portas da sala de jantar e anunciou: –
Cheguei! – anos atrás sua mãe costumava receber centenas de
convidados na mesa de jantar. Hoje, como sempre, os únicos
presentes eram Raven, seu pai, Cook e os filhos de quatro anos de
Cook.
– Raven! – Butternut e Pie disseram em uníssono. Eles tinham
cabelos tão alaranjados quanto a abóbora e rostos redondos
como torta.
– Oi, pequenos Cookzinhos – cumprimentou ela.
– Fiz isto para você – disse Pie, empurrando um pedaço de
papel na mesa. Raven ergueu uma pintura de dedo dela mesma
toda em preto e roxo.
– Sinistro. Obrigada – disse ela.
O pai de Raven, o Rei Bom, beijou sua testa quando ela sentou
ao seu lado. Sua barba aparada começava a ficar grisalha, e o topo
da cabeça estava totalmente careca, como se o cabelo tivesse
aberto espaço para a coroa dourada que ele raramente se dava ao
trabalho de usar. Os olhos eram azuis brilhantes e cintilavam ainda
mais quando ele sorria, o que era frequente.

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– Tudo nas malas? – perguntou. – Não esqueça de levar um


casaco quente. E galochas. E um guarda-chuva encantado.
– Certo – respondeu Raven. – E não fique enfurnado aqui o ano
todo sem mim. Cook, dê um jeito de ver se ele sai, vai velejar e
pescar.
– Claro. Agora, o jantar. Fiz pato assado – disse Cook
esperançosa, erguendo a travessa.
– Vou querer só um sanduíche de creme de amendoim de
princesa, por favor – Raven respondeu enquanto brincava de se
esconder atrás do guardanapo com Butternut.
Cook revirou os olhos, mas deu a Raven seu sanduíche de
sempre.
– Obrigada – disse Raven, e então estremeceu
automaticamente. Mas a mãe não estava lá para censurá-la por
ser educada.
O pai devia ter notado seu estremecimento, pois colocou uma
mão reconfortante em seu ombro e sorriu.
– Minha carne está fria – reclamou Butternut.
– Posso esquentá-la para você – disse Raven, agitando os
dedos como se estivesse se preparando para lançar um feitiço.
– Não! – Cook e o rei disseram ao mesmo tempo, erguendo-se.
Raven riu.
– Nossa, você me pegou por um instante – o Rei pressionou a
mão no coração e voltou a sentar.
Alguns anos antes, Raven havia tentado requentar a refeição
do pai e acabou botando fogo na mesa inteira. Ela não cometeria
o mesmo erro. Magia negra + boas intenções = catástrofe.
Após o pudim de ameixa, o Rei Bom disse: – Cook, muito
obrigado pelo jantar perfeito. Raven, você...? – ele inclinou a
cabeça na direção da porta.
O estômago de Raven congelou, mas ela o seguiu.
Assim que estavam sozinhos no saguão, ele sussurrou: –
Chegou a hora, Raven. Se preferir não...
– Não, eu vou lá falar com ela.

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– Vou com você – disse ele.


Raven sacudiu a cabeça. Ela tinha quinze anos agora. Tinha
idade suficiente para enfrentar a mãe sozinha.
Raven endireitou os ombros e começou a longa caminhada até
a Ala da Rainha no Outro Lado do Castelo, pela primeira vez no
ano. As cores esmaeciam: paredes de madeira escura, carpetes
escarlates e negros. Pinturas de retrato olhavam para baixo. A
mãe sorrindo. A mãe não sorrindo. O perfil da mãe. Um close do
nariz da mãe. Em um deles, a mãe piscava. Em todos, ela era bela.
Estátuas monstruosas pareciam vigiar Raven enquanto ela
passava. Cortinas farfalhavam onde não havia corrente de ar. A
testa de Raven se arrepiava com o suor frio.
Dois guardas de armadura reluzente se postavam do lado de
fora do antigo quarto de sua mãe, empunhando lanças com
espinhos e bastões mágicos. Eles acenaram com a cabeça
enquanto ela abria a porta.
– Lembre-se – disse um deles –, nunca toque no espelho.
– Eu sei – ela respondeu.
O quarto estava tão cheio de teias de aranha que parecia ter
sido decorado para uma festa por esqueletos. Raven abriu
caminho por meio das teias para a parede mais distante e
arrancou o pano de veludo do espelho. Ela viu seu próprio reflexo
a encarando de volta – longos cabelos negros com reflexos roxos,
sobrancelhas escuras, nariz e queixo fortes. Era estranho ver o
próprio rosto. Ela normalmente evitava se olhar em espelhos.
Contemplar espelhos havia sido o passatempo de sua mãe.
– Espelho, espelho meu – disse ela –, hum... mostre minha
mãe.
O espelho não exigia uma rima para funcionar. Rimar era tão
capítulo passado.
O espelho faiscou, com eletricidade deslizando pela superfície
prateada. Sua mãe apareceu lentamente. Vestia um macacão
listrado. O cabelo escuro preso no topo da cabeça no formato de
uma coroa.

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– Raven, é você? Você está tão... tão linda! – a Rainha Má riu.


– Você vai dar um trabalhão para aquela pirralha branquinha de
lábios rubros!
Raven soltou o cabelo de trás das orelhas, deixando-o cair
sobre metade do rosto.
– Oi, mãe – disse. – Como está, você sabe, a prisão no espelho?
– Bah – a Rainha Má disse com um belo dar de ombros. –
Conte-me todas as fofocas. O que está acontecendo em Ever
After? Eles já descobriram como desfazer meu envenenamento da
loucura do País das Maravilhas? Alguém me copiou e tentou
dominar todos os reinos? Seu pai ainda é uma vergonha
entorpecente de homem?
Raven fechou os punhos. Não zombe do meu pai!, ela queria
gritar. Mas encontrou aqueles olhos escuros no espelho, respirou
fundo e baixou o olhar. Mesmo com a mãe aprisionada bem longe,
ela não ousava retrucar. – Tudo está quase igual ao ano passado.
E ao ano anterior.
– Ah! Viu o que acontece quando eu não estou? Nada. Eu
tornava a vida interessante. Espero que aprenda com isso,
querida. Você tem que ir lá e forçar a vida a ser como você deseja,
como eu fiz.
Sim – respondeu Raven. A mãe certamente tornou sua infância
interessante. Naqueles dias, o castelo estava sempre repleto de
soldados de armadura com espinhos e criaturas que corriam pelas
sombras e sibilavam para ela. O tempo em família com mamãe
incluíra sentar em seu colo enquanto a rainha se reunia com seus
generais e concebia planos para matar, conquistar e governar, ou
passar horas na oficina da masmorra, tossindo com a fumaça e
ajudando a mãe a fazer poções tóxicas e feitiços malignos.
– Então está pronta para o seu Ano do Legado? – perguntou a
rainha. – Pronta para assinar o Livro das Lendas e se comprometer
a seguir meus passos?
Raven deu de ombros.

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– Você deveria estar ansiosa para se tornar a próxima Rainha


Má. Seu legado é de poder, controle e comando! Pense só, você
poderia ter nascido como uma dessas princesas patéticas que têm
que ficar sentadas em uma torre e esperar pelo resgate. Ou pior
ainda, ser enganada e comer uma maçã envenenada.
A rainha soltou uma bela gargalhada. Se fosse possível que
uma risada trouxesse uma lágrima aos seus olhos, era a da Rainha
Má.
– Acho que eu só... eu só...
– O quê? Não gagueje. Pare de se curvar a fale como uma
Queen. Agora, o que estava dizendo?
Raven endireitou a coluna. – Nada. Não importa.
– Não seja tão tímida, Raven. Esta é sua chance de mostrar
àquele povinho “do bem” do que você é feita!
– Certo, vou tentar – e como demonstração de esforço, deu
um pequeno sorriso.
– Estou tão orgulhosa! Oh, sinto sua falta, minha bebezinha
linda – a mãe ergueu a mão, pressionando-a contra o espelho
como se estivesse apenas do outro lado de uma janela. – Deixe-
me tocá-la, mesmo que seja apenas através do vidro.
A mão de Raven se ergueu, quase por vontade própria. Sua
mãe realmente a amava, à sua própria maneira. A esperança era
como um xarope melado e doce demais que ela desejava beber
apenas mais uma vez. Mas Raven deteve a mão antes de tocar o
espelho. Essa não era a prisão espelho verdadeira, que ficava
muito longe e bem trancada. Mas sua mãe era uma feiticeira tão
poderosa que conseguiria pegar a mão de Raven mesmo através
de um portal visual.
– Te amo, mãe – disse Raven –, mas não vou ajudá-la a escapar.
Os olhos da rainha se estreitaram e a mão caiu. – Hunf. Se fosse
tão má quanto a criei para ser, você não hesitaria. Devo dizer,
Raven Queen, estou desapontada com você. Não importa. Vou
observar com interesse para ver o que vai realizar. Você herdou
uma capacidade infinita para a maldade verdadeira e poder de
tirar o fôlego. Não os desperdice – ela se inclinou para tão perto

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que tudo o que Raven podia ver no espelho eram os olhos violeta
profundos da mãe. – Enfeitice-os, Raven.
Raven engoliu em seco. Tudo o que queria era fugir.
O tempo delas acabou, e o espelho se desligou. Em vez do
rosto da mãe, Raven voltou a ver seu próprio rosto. Era notável,
realmente, o quanto se assemelhavam.

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Autora na lista dos mais vendidos do New


York Times, SHANNON HALE soube aos 10
anos que seu destino era se tornar
escritora. Ela vem se envolvendo
profundamente com contos de fadas em
livros encantadores como The goose girl,
Book of a thousand days, Rapunzel’s
revenge e Princess academy, que recebeu
a Honraria Newbery. Com o principesco e
valente escritor Dean Hale, Shannon é
coautora de quatro crianças
encantadoras, que estão livres para seguir
seu próprio destino, desde que estejam
na cama na hora certa.

Este livro é uma obra de ficção. Nomes,


personagens, lugares e acontecimentos
são fruto da imaginação do autor ou são
usados para a ficção. Qualquer
semelhança com fatos reais, locais ou
pessoas, é mera coincidência.

Copyright © 2013 pela Mattel, Inc.


Capa © 2013 Mattel, Inc.
Título original: Ever After High: Apple White’s Story
Tradução: Ligia Arata Barros

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