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Obras

Análises completas e questões

comentadas

Tudo Sobre o PAS UnB

PAS 1

Edição 2021
Apresentação
Carta ao estudante
Futuro (a) estudante da UnB,

Seja bem-vindo (a) ao nosso curso, desejamos que por meio do nosso material didático você consiga obter êxito
no seu objetivo que é ingressar na Universidade de Brasília. Dessa maneira, elaboramos cuidadosamente Obras PAS 1 com
base na Matriz do PAS, este material é resultado de muito trabalho em equipe. Foi coordenado e desenvolvido por uma
eficiente equipe de acadêmicos e professores formados na Universidade de Brasília que conhecem, na prática, o que é fazer
o PAS.

O TSPASUnB foi fundado em 2014. Inicialmente ofertávamos apenas aulas presenciais sobre as obras da etapa 1.
Com o crescimento da demanda, estendemos às etapas 2 e 3, criamos um blog e um site (tspasunb.com), um canal no Youtu-
be, Fanpage, Instagram, grupos no Whatsapp e no Facebook, começamos a sugerir temas de redações e consequentemente
a corrigi-las, criamos simuladores de nota e aprovações. Com isso, o apoio que era apenas offline, posteriormente passou a
ter suporte online. Hoje somamos quase dois milhões de acessos no Tudo Sobre o PAS UnB; temos milhares de seguidores e
já corrigimos milhares de redações. E agora somado a essas estatísticas, eis a Apostila de Análise das Obras, que já faz suces-
so entre estudantes, professores, escolas e cursinhos pré-PAS.

Esperamos que esta apostila seja um diferencial na sua aprovação ao final do subprograma. Bons estudos!

Introdução à Apostila
Todas as obras analisadas nesta apostila estão na Matriz de Referências. Para facilitar o seu estudo, nós dividimos
todas as análises da forma a seguir. Mas, antes, cabe destacar que o estudo das análises das obras contidas nesta apostila
por si só não fará com que o aprendizado esteja completo. Pelo contrário, esta apostila o auxiliará na sistematização das
obras que, usualmente, não são compreendidas sem um apoio especializado. Assim a proposta não é resumir o seu estudo,
mas complementar. Portanto, o contato com as obras se faz extremamente necessário para o melhor aproveitamento do
conteúdo aqui preparado.
• Autor;
• Obra e Contexto;
• Gênero e Estrutura;
• Citações da obra na Matriz;
• Questões anteriores e inéditas com justificativas (na plataforma);
• Dicas de estudo (na plataforma);

Para mais informações, curta a nossa fanpage e nos siga no Instagram, ambos @tudosobreopasunb. Conte
sempre conosco!

EDIÇÃO 2021 - 1ª VERSÃO DIGITAL

Tudo Sobre o PAS UnB

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Nossa Equipe
Produção:
Música
Juliana Galvão

Artes Visuais
Letícia Couto
Camilla Dantas

Cênicas
Beatriz Villas Bôas

Audiovisuais
Isadora Abreu
João Pedro Sales
Bruna Lima
Isabella Félix
Tiago Henrique

Leituras
Tiago Henrique
Andressa Botelho
Bruna Lima

Supervisão de Produção:
Tiago Henrique de Freitas Galvão

Revisão:
Ana Cristina Rodrigues
Eduarda Alicy
Manuela de Castro
Milena Ribeiro

Direção Editorial:
Juliana de Freitas Galvão

Assistente Editorial:
Thiago D. Godoy Fonseca

Produção Gráfica:
Juliana de Freitas Galvão

Direção Geral:
Tiago Henrique de Freitas Galvão
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou
reproduzida - em qualquer meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia,
gravação e etc. - nem apropriada ou estocada em sistema de banco de dados, sem a
expressa autorização do editor.

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Controle de Estudos
Música
Li Estudei Respondi Corrigi
Obra Ouvi Analisei as as Revisei
Assisti Resumi questões questões
Spiritus Sanctus
Orfeu
Cânone em Ré Maior
Bachianas Brasileiras nº 5
Brasiliana
Festa do Divino de Pirenópolis
Boi de Seu Teodoro
Samba House
O Causo do Angelino e Tristeza do Jeca
Zero
Chuva
Meu Cupido é Gari

Artes Visuais
Li Estudei Respondi Corrigi
Obra Ouvi Analisei as as Revisei
Assisti Resumi questões questões
Pirâmides Egípcias
Pirâmides Astecas
Aqueduto Acqua Appia
Partenon
Nefertiti
Discóbolo
Catedral de Notre-Dame de Reims
Escola de Atenas
Susana e os Anciãos
Estruturas Poliédricas
Estruturas Tridimensionais
Teatro Nacional Cláudio Santoro

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Artes Cênicas
Li Estudei Respondi Corrigi
Obra Ouvi Analisei as as Revisei
Assisti Resumi questões questões
A Advogada que Viu Deus, o Diabo e Depois
Voltou para a Terra
Ifigênia em Aulis

Audiovisual
Li Estudei Respondi Corrigi
Obra Ouvi Analisei as as Revisei
Assisti Resumi questões questões
Atlântico Negro - Na Rota dos Orixás
A Rota do Escravo - A Alma da Resistência
O Risco da História Única
O Povo Brasileiro (Parte 1): A Matriz Tupi
Aos Olhos de Uma Criança
La Mujer Sin Miedo
Alta Ansiedade, a Matemática do Caos

Leituras
Li Estudei Respondi Corrigi
Obra Ouvi Analisei as as Revisei
Assisti Resumi questões questões
Apologia de Sócrates
Carta a Meneceu
O Velho da Horta
Poemas Selecionados
Este Mundo de Injustiça Globalizada
Entrevista com Maria Tereza, Ex-Escrava
Oração dos Desesperados
Artigo 5º da Constituição da República
Combate à Terra Seca
Aliança no Fundo do Mar

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Sumário
• Apresentação................................... 1 Artes Cênicas 79
• Nossa Equipe..................................... 2
• Controle de Estudos........................... 3 • Estatística de questões cobradas.......... 81
• Qr Code............................................. 6 • Controle de Desempenho................... 82
• A advogada que viu Deus, o Diabo e
Música 7 depois voltou para a Terra.................. 83
• Ifigênia em Aulis.................................. 87
• Estatística de questões cobradas......... 9
• Controle de Desempenho................. 10 Audiovisuais 91
• Spiritus Sanctus.................................. 11
• Orfeu................................................. 13 • Estatística de questões cobradas........ 93
• Cânone em Ré Maior........................... 16 • Controle de Desempenho.................... 94
• Bachianas Brasileiras nº 5................. 18 • Atlântico Negro - na rota dos Orixás.... 95
• Brasiliana........................................... 21 • A Rota do Escravo - A Alma da Resis-
• Festa do Divino de Pirenópolis............ 24 tência.................................................. 99
• Boi de Seu Teodoro............................ 26 • O Risco da História Única..................... 103
• Samba House..................................... 28 • O Povo Brasileiro (parte 1): A Matriz
• O Causo do Angelino e Tristeza do Je Tupi..................................................... 106
ca....................................................... 30 • Aos olhos de uma criança.................... 109
• Zero................................................... 33 • La mujer sin Miedo.............................. 112
• Chuva................................................ 35 • Alta Ansiedade, a matemática do caos 115
• Meu Cupido é Gari............................ 37
Leituras 125
Artes Visuais 39 • Estatística de questões cobradas.......... 127
• Controle de Desempenho................... 128
• Estatística de questões cobradas......... 41
• Apologia de Sócrates........................... 129
• Controle de Desempenho.................. 42
• Carta a Meneceu................................. 133
• Pirâmides Egípcias............................. 43
• O velho da horta................................. 138
• Pirâmides Astecas.............................. 46
• Poemas Selecionados......................... 140
• Aqueduto Acqua Appia...................... 49
• Este mundo de injustiça globalizada... 142
• Partenon............................................ 52
• Entrevista com Maria Teresa, ex es-
• Nefertiti............................................. 55
crava................................................... 146
• Discóbolo........................................... 58
• Oração dos desesperados................... 150
• Catedral de Notre-Dame de Reims.... 61
• Artigo 5º da Constituição da República
• Escola de Atenas................................ 65 Federativa do Brasil............................
• Susana e os Anciãos........................... 68 154
• Combate à Terra Seca......................... 159
• Estruturas Poliédricas........................ 71 • Aliança no fundo do mar.....................
• Estruturas Tridimensionais................ 74 164
• Teatro Nacional Cláudio Santoro........ 76 • Agradecimentos e Dedicatória.......... 169

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QR Code
Para você acessar as dicas, questões e justificativas sobre cada uma das obras,
preparamos, na plataforma Sofista Learning, um espaço específico para isso! Lá
você encontrará:

• 1 ou mais minissimulados sobre cada uma das obras;


• Os gabaritos e as justificativas de cada uma das questões dos
minissimulados;
• Link para acessar a obra na íntegra, entre outras coisas.

Para ter acesso a esses recursos adicionais, é necessário que você acesse
a plataforma com o mesmo e-mail cadastrado na compra, pois os recursos
adicionais citados acima são exclusivos de quem comprou a apostila digital ou
de quem é usuário premium da Sofista Learning.

Para ir diretamente à Trilha de Estudos de Análise de Obras do PAS 1, aponte a


câmera do seu smartphone para a imagem abaixo e vá direto.

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Música
“Sucesso é a soma de
pequenos esforços
repetidos dia sim, e no
outro também ”.
(Robert Collier)
Gráficos e Estatísticas
OBRAS COBRADAS NA PROVA DESDE 2018

Spiritus Sanctus
Chuva
Orfeu

Cânone em Ré
Maior
Zero
O Causo do Brasiliana
Angelino e
Tristeza do JecaSamba House

OBRAS COBRADAS NA PROVA DESDE 2018

5
4
3
2 2 2
1 1

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Controle de Desempenho
Total Porcentagem
Itens Itens Escore
Obra de
certos errados
de itens
bruto
itens certos
Spiritus Sanctus
Orfeu
Cânone em Ré Maior
Bachianas Brasileiras nº 5
Brasiliana
Festa do Divino de Pirenópolis
Boi de Seu Teodoro
Samba House
O Causo do Angelino e Tristeza do Jeca
Zero
Chuva
Meu cupido é Gari

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Músicas www.sofista.com.br 1ª Etapa - 2021

Spiritus Sanctus - Hildegard Von Bingen

Autora
Hildegard Von Bingen nasceu em 1098, na ci- Obra
dade de Bermersheim vor der Höhe, Alemanha, em uma
família nobre. Aos 3 anos, segundo Vita Sanctae Hilde- Spiritus sanctus vivificans
gardis, teve sua primeira experiência espiritual: Viu uma vita movens omnia,
luz de brilho deslumbrante, que se repetiu ao longo dos et radix est in omni creatura
anos seguintes. ac omnia de inmunditia abluit,
tergens crimina ac ungit vulnera,
Aos 8 anos de idade ficou sob os cuidados de et sic est fulgens ac laudabilis vita,
uma mestra de um pequeno grupo de monjas (nome suscitans et resuscitans
que se dá às mulheres adeptas no monasticismo femi- omnia.
nino). Naquela época as famílias dos nobres tinham o Tradução
costume de enviar seus filhos ainda novos para a for- Espírito Santo vivificante,
mação de cavaleiros e freiras, já que muitos pais prefe- que move todos.
riam isso a deixá-los nas mãos de senhores feudais. Aos És a raiz (origem) de todas criaturas,
poucos,Hildegard foi introduzida no modo de vida dos lavando os pecados,
Beneditinos e, além dos escritos sagrados, aprendeu a inocentando os culpados,
ler e a escrever em latim.
e curando os feridos.
Hildegard viveu por muito tempo como freira, És o luminoso e glorioso, Vida,
mas em 1136, com a morte de sua tutora, ela se tornou que suscita e ressuscita a todos.
superiora do convento. As visões da madre superiora
A obra Spiritus Sanctus VIvificans Vita faz
eram frequentes, e durante uma dessas visões recebeu parte da coletânea Symphonia Armonie cCelestium
a incumbência divina de escrevê-las. O medo a deixou Revelationum (Sinfonia da Harmonia das Revelações
doente, então após a intervenção de seu padre-confes- celestes), a qual foi composta a partir de várias peças
sor, Hildegard finalmente começou a escrever sua obra, individuais (77 canções) de diferentes gêneros e com-
que levou 5 anos para ficar pronta. O livro Scivias foi exa- pilada mais tarde. Essas obras são para uso litúrgico
minado por uma comissão que teve por objetivo avaliar e semi-litúrgico. Os poemas, sempre em latim, são
o caráter dos escritos. A obra foi reconhecida pelo Papa construídos livremente com estrutura estrófica flexí-
Eugênio III como palavras de Deus. vel, ou seja, sempre se adaptando ao texto. A poéti-
ca-musical das obras de Hildegard está ligada aos seus
Tempos depois, Hildegard teve uma visão na
escritos teológicos, sendo a maioria delas inspiradas
qual Deus ordenava a ela que construísse seu próprio
por suas visões.
convento que não fosse sob a mesmas crenças dos be-
neditinos, que ficaram muito insatisfeitos com a decisão. As obras de Hildegard se inserem no con-
Construiu seu convento em Rupertsberg com o auxílio texto do canto gregoriano, um canto litúrgico cujo
do monge Volmar. Conseguiu o apoio do arcebispo de objetivo é conduzir à meditação e unir o homem ao
Mainz e de Frederico Barbarossa, imperador do sacro plano espiritual. A superiora optou por não utilizar
império Romano Germânico, que se tornaram responsá- os recursos harmônicos e rítmicos introduzidos pelos
veis pela segurança do convento de Rupertsberg. polifonistas da Catedral de Notre-Dame, de Paris.
Em seu convento, a madre afrouxou as regras. Suas obras são monofonias: uma só voz, di-
As freiras cantavam canções que ela mesma escrevia. ferente da polifonia, e sem acompanhamento de ins-
Compôs muitas músicas em devoção à Nossa Senhora. trumentos, excetuando as vezes em que são utilizados
Seus trabalhos no hospital e na horta do convento foram harmônicos ou órgão a fim de evitar a desafinação.
essenciais para que a abadessa escrevesse o livro Physi- Também não há compasso definido, e o ritmo é livre.
ca, de ciências naturais, e Causae et Curae, que até hoje Para Hildegard, a música tinha poderes imensos.
é referência da medicina natural. Em 1160, após novas
visões divinas, Hildegard começou a pregar pelas cida- Estrutura
des alemãs, o que era muito incomum para mulheres da-
quela época. Faleceu em 17 de setembro de 1179, e há A obra sacra Spiritus Sanctus Vivificans Vita,
quem diga que teria previsto a própria morte. assim como as demais obras de Hildegard, é monódi-
ca (executada por uma só voz), monofônica, ou seja,

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possui uma melodia (voz), e não é acompanhada por ne- sica, como a música de concerto, exemplificada na Ópe-
nhum instrumento. O único instrumento utilizado é a ra L’Orfeo, de Claudio Monteverdi, ou em Brasiliana, de
voz, e no caso dessa obra, é executada apenas por uma Cláudio Santoro, normalmente executadas em teatros,
voz feminina. Não há repetições. A peça possui muitos como o Teatro Nacional Cláudio Santoro, nos quais é bem
melismas, que ocorre quando várias notas diferentes menos comum se ouvir músicas usadas em manifesta-
são cantadas sobre uma mesma sílaba. ções de cultura popular, como as Boi de Seu Teodoro, da


Festa do Divino de Pirenópolis e as do grupo Patubatê,
este com sua obra Samba House, ou mesmo músicas de
caráter religioso, como Spiritus Sanctus Vivificans Vita,
de Hildegard von Bingen. (Página 26, terceiro parágrafo)
Citações da Obra na Matriz de Referência Materiais
O ser humano como um ser no mundo
Materiais podem ser empregados como fontes
A existência humana pressupõe capacidade sonoras (instrumentos, acústicos, elétricos ou eletrônicos,
para desenvolver a consciência de si e dos outros, da e vozes) para produzir músicas diversas pela combinação
vida e da morte, bem como das múltiplas possibilidades de elementos melódicos, rítmicos e harmônicos de forma
e contingências na sua trajetória. Esse ser humano se de- expressiva e significativa dentro de cada cultura ou grupo
fronta com possibilidades de liberdade e de autonomia socioeconômico e cultural, algo perceptível tanto em mú-
e, em certo sentido, com a busca de autotranscendência, sicas de concerto, como em Bachianas Brasileiras n.º 5, de
aspectos presentes na música Spiritus Sanctus Vivificans Villa-Lobos, e Cânone em Ré Maior, de Johann Pachelbel,
Vita, de Hildegard von Bingen, que traz a participação da ou em músicas como Spiritus Sanctus Vivificans Vita, de
mulher na criação musical na Idade Média, assim como Hildegard von Bingen, Samba House, do grupo Patubatê,
a religiosidade em sua obra. (Página 4, sexto parágrafo) Zero, de Liniker e os Caramelows, e Meu cupido é gari,
de Marília Mendonça. Apesar de não haver um conceito
Energia, equilíbrio e movimento universal acerca do que seja música, sabe-se que o som é
sua matéria-prima. Ele pode ser produzido pela natureza,
Compositores também buscam o equilíbrio es- por instrumentos, pela voz, pelo corpo, e combinado em
tético e formal em suas obras, o que deve ser abordado múltiplas possibilidades. Assim, as músicas são distintas,
considerando-se as referências estéticas da sociedade mas os materiais são os mesmos, como se observa nas
em diferentes lugares e momentos históricos. Esse equi- obras citadas. (Página 27, sexto parágrafo)
líbrio é analisado na fusão de estilos, como se apreende
das músicas Samba House, do grupo Patubatê, Zero, de Questões, Justificativas e Dicas
Liniker e os Caramelows, Bachianas Brasileiras n.º 5, de
Villa-Lobos, e Spiritus Sanctus Vivificans Vita, de Hilde- Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?
gard von Bingen. (Página 17, segundo parágrafo) Clique aqui ou use o QR CODE da página 6.
A formação do mundo ocidental
Anotações e Rascunhos
É necessário confrontar o processo de estudo
científico com o pensamento religioso, com os movimen-
tos de contestação e de ruptura e com os fundamentos
ideológicos da Igreja Católica nos séculos XIV a XVI, assim
como o desenvolvimento de uma mentalidade mercantil-
-capitalista e comercial que ganharia dimensões globais.
A obra de Hildegard von Bingen, Spiritus Sanctus Vivifi-
cans Vita, inscreve-se nesse contexto anterior às tensões
entre Reforma e Contra-Reforma da Igreja. Hildegard foi
pintora, poeta, compositora, cientista, doutora, monja,
filósofa, mística e naturalista, tendo alcançado lugar de
destaque na hierarquia da igreja em uma época em que
as mulheres ainda não podiam se destacar. (Página 21,
segundo parágrafo)

Espaços

Podem-se considerar, ainda, os diferentes es-


paços destinados e consagrados a alguns tipos de mú-

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Orfeu - Monteverdi

Autor
Claudio Monteverdi nasceu em Cremona, Itá- clarando a sua tristeza a todos a quem encontrava pelo
lia, no ano de 1567. Sua carreira musical começou aos caminho, sejam mortais ou imortais.
15 anos, quando publicou seu primeiro motete. Estudou
música em sua cidade natal. Uma boa parte das suas Decidido a ir ao mundo dos mortos para res-
obras foi perdida ao longo do tempo. Foi um dos gran- gatar sua amada, Orfeu toca a sua lira e convence o Ca-
des compositores de madrigais, tendo publicado oito ronte, barqueiro do Hades que carrega a alma dos re-
livros dessas composições. Influenciado pelo ambiente cém-mortos, a guiá-lo pelo inferno. No trajeto enfrenta
religioso de sua cidade, Monteverdi selecionou cuidado- Cérbero, o guardião das portas infernais, ameniza com
samente poesias de caráter moralizante ou devocional. seu doce canto as almas exiladas no submundo, e como-
ve até o próprio Hades com a ajuda de Perséfone, esposa
Aos 17 anos começou a trabalhar para a fa- do deus da morte. Hades permite que Orfeu busque Eu-
mília Gonzaga, onde foi violinista, organista, maestro da rídice, mas com uma condição: Eurídice poderia seguir
corte de Mântua e mestre de capela. Em 1613 se tornou Orfeu de volta ao mundo dos vivos, porém somente se
regente do coro da basílica de São Marcos, na cidade de Orfeu não olhasse para sua amada até estarem nova-
Veneza, em que elevou o nível do coro. Em 1632 orde- mente sob a luz do sol.
nou-se padre após a morte de sua mulher e de outros
membros da sua família. Resistindo com muita dificuldade, Orfeu con-
segue atravessar túneis sombrios sem olhar para sua es-
Faleceu em Veneza, em 29 de novembro de posa, mas ao chegar próximo ao destino final o músico
1643. Recebeu um funeral grandioso na Basílica de São decide olhar para ter certeza de que sua esposa estava
Marcos e foi sepultado na Basílica de Santa Maria Glo- logo atrás. Neste momento, ao desobedecer a condição
riosa dei Frari, onde foi erguido um monumento em sua imposta por Hades, Eurídice grita e parte novamente
homenagem. para o mundo dos mortos. Desesperado, Orfeu perma-
nece sete dias em jejum, se transformando em um ser
Monteverdi definiu a transição do renasci- angustiado. Ao rejeitar incansavelmente outras mulhe-
mento musical para o barroco com a ópera Orfeu, em res, essas ficam furiosas e cortam seu corpo em pedaços.
1607, além de ter sido o compositor mais influente da Orfeu finalmente se uniu à sua esposa, e de seu túmulo
sua época. O barroco vai até a morte de J.S. Bach, em rouxinóis entoavam lindos cantos. Quanto às mulheres
1750, e é caracterizado pelo uso do baixo contínuo, do que o assassinaram, essas foram transformadas em car-
contraponto e da harmonia tonal. Foi durante esse pe- valhos.
ríodo que a música instrumental passa a ter, pela primei-
ra vez, a mesma importância que a música vocal. A estreia da ópera Orfeu de Monteverdi ocor-
reu em 1607. Com música de Monteverdi e libreto de
Obra Alessandro Striggio, Orfeu é considerado um marco para
esse gênero musical, pois foi a primeira grande ópera
A história de Orfeu é um dos mitos mais co- da história. Entre as muitas novidades trazidas por essa
nhecidos. Filho de Calíope e do deus Apolo, Orfeu foi o obra estão a poesia ocupando o primeiro plano, sendo
mais talentoso dos músicos. Seu pai lhe presenteou com empregada simultaneamente com a música, a comple-
uma lira, que ao ser tocada pelas mãos de Orfeu, revela- xidade da encenação, a extensão da peça e o grande
va um som que contagiava e hipnotizava todos com a sua número de personagens. Até aquele momento os madri-
magia, inclusive as feras e os arbustos. Orfeu se apaixo- gais (composição vocal de origem italiana e composição
nou por Eurídice, com quem se casou. estrófica a duas e três vozes sobre temáticas profanas)
criados duravam entre dois a quatro minutos. Desse
Eurídice era muito bela, e sua beleza acabou modo, Monteverdi traz um drama que dura aproxima-
despertando a atenção de Aristeu, filho de Apolo com damente 45 minutos quando recitado, e quando canta-
Cirene, considerado o pioneiro da apicultura e da planta- do dura cerca de uma hora e meia.
ção de oliveiras. Além disso, era adorado como o prote-
tor dos caçadores, pastores e dos rebanhos. No entanto, Segundo Bessa (2013), a primeira versão de
quando a dama comprometida, Eurídice, o rejeitou, logo Orfeu de Monteverdi com libretto em verso escrito por
passou a persegui-la. Enquanto fugia do seu perseguidor, Alessandro Striggio apresenta o mito de acordo com a
Eurídice esbarrou em uma serpente que a picou, provo- versão de Ovídio, isto é, no final Orfeu perde definiti-
cando sua morte. Orfeu sofreu e saiu desesperado de- vamente a sua esposa. Já na segunda reapresentação,

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o personagem é conduzido por Apolo ao Olimpo como
forma de consolo pela perda definitiva de sua amada.

Estrutura Citações da Obra na Matriz de Referência


No final do século XVI, um grupo de músicos O ser humano como um ser no mundo
decidiu estudar a música grega antiga, unindo assim o
drama e a música. Foi quando surgiu a ópera. Além dis- A busca da autocompreensão do ser humano
ao longo da história, sua liberdade e autonomia possível
so, o Madrigal italiano também estava desenvolvendo
como indivíduo e como parte de uma coletividade, o fato
uma combinação entre música e texto. Esse gênero mu-
de sua existência estar constituída também da finitude,
sical pode ter diálogos falados ou não. Os cantores são
a possibilidade de individualização, de vir a ser singular
acompanhados por grupos instrumentais, cuja formação
e próprio, a capacidade de conhecer o mundo em que se
depende apenas do compositor. Utiliza elementos do
situa e de gerar expressões artísticas, bem como a capaci-
teatro e da música, logo a letra da ópera é conhecida
dade de sentir e valorar, são alguns temas que permeiam
como libreto, é comumente cantada.
este objeto de conhecimento e podem ser reconhecidos na
Monteverdi usou em suas obras tanto a polifo- ópera L’Orfeo, de Claudio Monteverdi, bem como no Câ-
nia, duas ou mais vozes (aqui entendida como linha me- none em Ré maior, de Johann Pachelbel. (Página 4, nono
lódica), quanto a monodia, uma única voz (aqui entendi- parágrafo)
da como um solo), a depender apenas das necessidades Tipos e gêneros
dramáticas da sua obra.
As músicas são classificadas em gêneros e estilos
Os personagens da ópera de Monteverdi são: diferentes. A partir de determinados critérios, podem per-
Orfeu (tenor); a música (soprano); Eurídice (soprano); tencer ao gênero concerto, popular, folclórico ou étnico.
a Messaggiera – mensageira (soprano); Sperariza - es- Obras como o Cânone em Ré Maior, de Johann Pachelbel,
perança (soprano); Proserpina – ou Perséfone, que é a L’Orfeo, de Claudio Monteverdi, Bachianas Brasileiras n.º
rainha do submundo - (soprano); Plutone – ou Plutão, 5, de Villa-Lobos, são facilmente classificadas, ao passo
rei do submundo (baixo); Caronte – barqueiro do sub- que a música Chuva, de Jaloo, assim como Zero, de Liniker
mundo (baixo); e Apollo (barítono); Ninfa (soprano); Eco e os Caramelows, tornam a classificação difícil e até mes-
(Tenor); Pastor- ou pastora (contralto); e Espírito (tenor). mo desnecessária. (Página 11, segundo parágrafo)
Basicamente as classificações vocais podem Estruturas
ser entendidas da seguinte maneira:
Na música, a estrutura é percebida e analisada a
• Vozes masculinas: Baixo (voz mais grave), barítono partir da identificação de partes similares e contrastantes
(voz intermediária entre o grave e o agudo [baixo e da obra. As semelhanças e diferenças podem ser apreen-
tenor]) e tenor (voz mais aguda); didas na observação dos parâmetros do som, dos elemen-
• Vozes femininas: Contralto (voz mais grave), mezzo- tos da música, assim como da textura. Isso se exemplifica
-soprano (voz intermediária entre o grave e o agudo na Ópera L’Orfeo, de Claudio Monteverdi, no Cânone em
[contralto e soprano]) e o soprano (voz mais aguda). Ré Maior, de J. Pachelbel, na canção Chuva, de Jaloo, em
O causo do Angelino e Tristeza do Jeca, versão de Paulo
O compositor forneceu para essa obra uma lis- Freire e Inezita Barroso, assim como em Samba House, do
ta com 31 instrumentos, priorizando os instrumentos de grupo Patubatê. (Página 13, terceiro parágrafo)
cordas.
Energia, equilíbrio e movimento
Em Orfeu podemos encontrar 5 atos, ou seja, 5
partes. A obra começa com uma tocata, sendo sucedida O equilíbrio é especialmente importante no ar-
por um prólogo, em que o espírito da música (perso- ranjo e na orquestração de grupos musicais de acor-
nagem) canta sobre o seu poder e apresenta o mito de do com timbres (metais, madeiras, cordas, percussão),
Orfeu, antecedendo o prólogo. No primeiro ato há uma função (solista ou acompanhador) e extensão das vozes
cena pastoral entre Orfeu e a ninfa Eurídice. No segun- (soprano, contralto, tenor, baixo). O movimento de uma
do ato é anunciada a morte de Eurídice. No terceiro ato, música pode ser dado pelo andamento (se uma música
Orfeu chega ao inferno na tentativa de resgatar a espo- é mais rápida ou lenta, dadas as variações entre uma e
sa. Uma sinfonia de metais é utilizada para representar outra) e pelo ritmo, como se evidencia na composição de
a mudança para o inferno. Reencontra sua amada no Cláudio Santoro Brasiliana (sob a regência de Ligia Ama-
quarto ato, mas a perde novamente. No último ato é for- dio), e na Ópera L’Orfeo, de Claudio Monteverdi. (Página
çado a regressar ao mundo dos vivos e após um grande 17, terceiro parágrafo)
lamento é levado por Apolo para o Olimpo.

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Espaços

Podem-se considerar, ainda, os diferentes espa-


ços destinados e consagrados a alguns tipos de música,
como a música de concerto, exemplificada na Ópera L’Or-
feo, de Claudio Monteverdi, ou em Brasiliana, de Cláudio
Santoro, normalmente executadas em teatros, como o
Teatro Nacional Cláudio Santoro, nos quais é bem menos
comum se ouvir músicas usadas em manifestações de cul-
tura popular, como as Boi de Seu Teodoro, da Festa do Di-
vino de Pirenópolis e as do grupo Patubatê, este com sua
obra Samba House, ou mesmo músicas de caráter religio-
so, como Spiritus Sanctus Vivificans Vita, de Hildegard von
Bingen. (Página 26, terceiro parágrafo)

Questões, Justificativas e Dicas


Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?

Clique aqui ou use o QR CODE da página 6.

Anotações e Rascunhos

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Cânone em Ré Maior - Johann Pachelbel

Autor
Johann Pachelbel nasceu em Nuremberg, Ale- As formas populares na Renascença (a canzo-
manha, no ano de 1653. Teve aulas de música com dois na, o ricercar, a tocata, a fantasia) e as variações soma-
músicos locais, e em 1669 ingressou na Universidade de riam em outras formas e novas concepções tais como:a
Altdorf, Viena. Aos 18 anos se tornou organista da igreja fuga, o prelúdio coral, a suíte, a sonata e o concerto. Du-
Lorenzkirche, em que ficou por menos de um ano. Em rante o período barroco, inovações técnicas instrumen-
1670 prosseguiu seus estudos de música no Gymnasium tais foram desenvolvidas , assim como novos instrumen-
Poeticum. tos.

Trabalhou por cinco anos como organista da Estrutura


Catedral de Santo Estevão. Ao se mudar para Erfurt,
Pachelbel trabalhou por 12 anos como organista, pro- O cânone é uma forma de composição cujo
fessor e compositor, lecionando inclusive para Johann tema é iniciado por uma voz, sendo continuamente imi-
Christoph Bach, o irmão mais velho de Johann Sebas- tado pelas outras vozes que a sucedem, normalmente
tian Bach, importante compositor barroco. Ao retornar com uma pequena distância entre as vozes. Essa imita-
a Nuremberg foi indicado como organista da Saint Sebal- ção pode ser a duas, três ou mais vozes, que podem ser
duskirche, onde permaneceu até a sua morte. executadas em uníssono ( nesse caso seria uma repeti-
ção exata das mesmas notas as quais foram executadas
Organista genial na improvisação e na técnica anteriormente) ou em intervalos diferentes (quando as
do contraponto, Pachelbel foi também grande solista de imitações são realizadas a partir de outras notas). A poli-
órgão e cravo. Há quem o considere o músico mais im- fonia aqui existente é derivada de uma linha seguida de
portante de órgão no sul da Alemanha antes de Bach. imitação.
Da música sacra, sua obra conta com cerca de 70 corais
e 95 fugas para o Magnificat. Já a sua obra não litúrgica O Cânone em ré, escrito na tonalidade de
é constituída por tocatas, suítes, motetos, 5 fugas, fan- ré maior, se inicia com a apresentação do baixo, que é
tasias, chaconas, árias e prelúdios, além de música de executado pelo violoncelo. Essa voz não participa da
câmara. Compôs muitas cantatas e prelúdios corais para “imitação”, pois toca apenas as tônicas dos acordes. Em
a igreja luterana, além de várias sonatas para outros ins- seguida, dá-se início à melodia com o primeiro violino.
trumentos. Sua obra mais conhecida é o Cânone em Ré. Encerrada a exposição da melodia do primeiro violino é
então apresentado o segundo violino, o qual imita o que
Importante compositor do período barroco, foi executado pelo primeiro violino. O terceiro violino
Johann Pachelbel morreu aos 53 anos, em 3 de março é apresentado após a exposição da primeira frase pelo
de 1706. segundo violino. Segue a ideia de uma imitação, que é
exatamente o que acontece de forma bem perceptível
Obra no início da obra.
O Cânone em Ré Maior foi originalmente es- As frases musicais são formadas por oito com-
crito para órgão, mas pouco tempo depois foi adaptado passos, essa estrutura é repetida inúmeras vezes ao lon-
pelo próprio compositor para 3 violinos e 1 violoncelo. go da música. O tema é reapresentado várias vezes com
Nessa peça, três violinos tocam o cânone, enquanto um variações. É como se fosse um grande diálogo, dado que
baixo contínuo executa a passagem de fundo de oito apesar de ser em um cânone, em determinado momen-
notas repetidas sucessivamente. O tema é simples e co- to a melodia deixa de ser imitada e passa-se a imitar
meça com notas longas e lentas. À medida que o tema ideias melódicas, rítmicas e timbristicas. As melodias se
é repetido, as notas se tornam mais rápidas e mais orna- contrapõem, gerando intervalos entre as notas que re-
mentadas. forçam a ideia de polifonia.
Na música, o barroco, que vai de aproximada-
mente 1600 até 1750, é caracterizado pelo uso do bai-
xo contínuo, do contraponto e da harmonia tonal. Foi
durante esse período que a música instrumental passa
a ter, pela primeira vez, a mesma importância que a mú-
sica vocal.

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dio Santoro, e no Cânone em Ré Maior, de Pachelbel, que
apresentam estruturas de repetição do som, e em Bachia-
nas Brasileiras n.º 5, de Villa-Lobos. (Página 23, terceiro
Citações da Obra na Matriz de Referência parágrafo)

O ser humano como um ser no mundo Materiais

A busca da autocompreensão do ser humano Materiais podem ser empregados como fontes
ao longo da história, sua liberdade e autonomia possível sonoras (instrumentos, acústicos, elétricos ou eletrônicos,
como indivíduo e como parte de uma coletividade, o fato e vozes) para produzir músicas diversas pela combinação
de sua existência estar constituída também da finitude, de elementos melódicos, rítmicos e harmônicos de forma
a possibilidade de individualização, de vir a ser singular expressiva e significativa dentro de cada cultura ou grupo
e próprio, a capacidade de conhecer o mundo em que se socioeconômico e cultural, algo perceptível tanto em mú-
situa e de gerar expressões artísticas, bem como a capaci- sicas de concerto, como em Bachianas Brasileiras n.º 5, de
dade de sentir e valorar, são alguns temas que permeiam Villa-Lobos, e Cânone em Ré Maior, de Johann Pachelbel,
este objeto de conhecimento e podem ser reconhecidos na ou em músicas como Spiritus Sanctus Vivificans Vita, de
ópera L’Orfeo, de Claudio Monteverdi, bem como no Câ- Hildegard von Bingen, Samba House, do grupo Patubatê,
none em Ré maior, de Johann Pachelbel. (Página 4, nono Zero, de Liniker e os Caramelows, e Meu cupido é gari,
parágrafo) de Marília Mendonça. Apesar de não haver um conceito
universal acerca do que seja música, sabe-se que o som é
Tipos e gêneros sua matéria-prima. Ele pode ser produzido pela natureza,
por instrumentos, pela voz, pelo corpo, e combinado em
As músicas são classificadas em gêneros e es-
múltiplas possibilidades. Assim, as músicas são distintas,
tilos diferentes. A partir de determinados critérios, po-
mas os materiais são os mesmos, como se observa nas
dem pertencer ao gênero concerto, popular, folclórico ou
obras citadas. (Página 27, sexto parágrafo)
étnico. Obras como o Cânone em Ré Maior, de Johann
Pachelbel, L’Orfeo, de Claudio Monteverdi, Bachianas Bra-
sileiras n.º 5, de Villa-Lobos, são facilmente classificadas, Questões, Justificativas e Dicas
ao passo que a música Chuva, de Jaloo, assim como Zero, Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?
de Liniker e os Caramelows, tornam a classificação difícil e
até mesmo desnecessária. (Página 11, segundo parágra- Clique aqui ou use o QR CODE da página 6.
fo)
Anotações e Rascunhos
Estruturas

Na música, a estrutura é percebida e anali-


sada a partir da identificação de partes similares e con-
trastantes da obra. As semelhanças e diferenças podem
ser apreendidas na observação dos parâmetros do som,
dos elementos da música, assim como da textura. Isso
se exemplifica na Ópera L’Orfeo, de Claudio Monteverdi,
no Cânone em Ré Maior, de J. Pachelbel, na canção Chu-
va, de Jaloo, em O causo do Angelino e Tristeza do Jeca,
versão de Paulo Freire e Inezita Barroso, assim como em
Samba House, do grupo Patubatê. (Página 13, terceiro pa-
rágrafo)

Número, grandeza e forma

A escrita tradicional de ritmo, em música, é um


exemplo de aplicação de número, de grandeza e de forma.
A escrita das notas musicais utiliza símbolos e representa-
ções gráficas que indicam valores diferenciados, além de
movimentos de permanência, reincidência ou repetição,
etc. Na música ocidental, a organização dos valores, do
tempo, da forma e dos padrões rítmicos e o agrupamen-
to de compassos, com subdivisões binárias ou ternárias,
são manifestações desses conhecimentos, como se nota
na escrita de obras de concerto, como Brasiliana, de Cláu-

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Bachianas Brasileiras nº 5 - Ária (Cantiga) -
Heitor Villa-Lobos

Autor
Heitor Villa-Lobos nasceu no Rio de Janeiro, Dois anos depois, Villa-Lobos assumiu a direção da Su-
no dia 5 de março de 1887. É considerado por muitos o perintendência de Educação Musical e Artística. Nesse
expoente máximo da música do Modernismo brasileiro. momento, grande parte de sua produção se volta à edu-
Teve suas primeiras aulas de música aos 6 anos de idade, cação musical. Em 1932, torna-se obrigatório o ensino
tendo como primeiro professor o seu pai, Raul Villa-Lo- de canto nas escolas, conhecido como canto orfeônico.
bos. No início da adolescência já tocava violão, clarine- Após um ano, é organizada a orquestra Villa-Lobos.
te e violoncelo com virtuosismo. Aos 19 anos, compôs
suas primeiras obras. Inserido nesse contexto, o contato Ousado como era, Villa proíbe, em 1937, a
com músicos populares de seu tempo e com a música execução do hino nacional após encontrar 59 erros na
tradicional marcaram a sua formação e influenciaram di- forma como era apresentado. É retratado, ao lado de Ge-
retamente as suas obras. Costumava se juntar a grupos túlio Vargas, como um ser egoísta, que só queria elevar
boêmios de choro para tocar violão. sua própria música. O compositor e maestro faleceu no
dia 17 de novembro de 1959.
O compositor nunca se distanciou da música
popular, prova disso é que Villa Lobos resgatou o choro Villa-Lobos, através do choro carioca, da natu-
e reconheceu a sua importância diante da música “im- reza, das influências indígenas, urbanas e rurais, capta e
portada”. Dentro dos choros o compositor fez uma ho- traduz a grandiosidade do Brasil.
menagem à música popular brasileira e ao violão, antes
considerado instrumento de malandro. O choro nº 1 é No documentário “Índio de Casaca’’, dirigido
dedicado à Ernesto Nazareth. O compositor foi também por Roberto Feith, Villa-Lobos é retratado por seus ami-
grande defensor dos músicos populares em relação aos gos como imprevisível, impulsivo, audacioso, criativo
acadêmicos intelectuais. e desconfiado.Compôs mais de 1000 peças e inovou a
música através de texturas e sonoridades. Tentou mudar,
Autodidata, Villa Lobos viajou pelo interior do por meio da música, a forma como os brasileiros viam
Brasil pesquisando os inúmeros estilos musicais do fol- seu país e também a si próprios.
clore, que futuramente viriam a ser inspiração das suas
composições. Era um ‘fantasista’. Conta-se que ele tenha “Nunca na minha vida procurei a cultura, a
participado de excursões na Amazônia para coletar in- erudição, o saber e mesmo a sabedoria nos livros, nas
formações sobre o canto dos povos indígenas, mas não doutrinas, nas teorias, nas formas ortodoxas. Nunca, por
há registros que possam confirmar tais afirmações, as- que o meu livro era o Brasil, não o mapa do Brasil na
sim como não há registros de muitas das viagens que o minha frente, mas a terra do Brasil, onde eu piso, onde
compositor afirmou ter feito. Em 1913, retorna ao Rio de eu sinto, onde eu ando, onde eu percorro.” Transcrição
Janeiro e começa a compor sobre suas pesquisas. Mais da fala de Villa-Lobos no documentário Índio de Casaca
tarde, suas experiências resultariam em uma coletânea (1:45:26).
de canções folclóricas destinadas à educação musical
nas escolas, denominada “O Guia Prático”. Grande parte Obra
das cantigas de rodas hoje conhecidas só chegaram a nós Villa Lobos compôs, entre 1930 e 1945, uma
graças ao trabalho de Villa, que harmonizou e incluiu al- série de nove suítes que intitulou de Bachianas Brasilei-
gumas dessas cantigas no livro O Guia Prático. ras. O primeiro nome, Bachianas, faz referência às suí-
tes barrocas de Johann Sebastian Bach, que serviram de
Villa-Lobos se tornou um dos ícones do Mo-
inspiração para Villa Lobos. O segundo nome faz refe-
dernismo brasileiro, participando da Semana de Arte
rência às canções e danças populares brasileiras, como
Moderna de 1922. No ano seguinte, viajou para a Europa
a quadrilha caipira, modinha e embolada. Cada uma
e só voltou ao Brasil em 1929. Quando retornou ao país,
dessas suítes é formada por 2 a 4 movimentos, e cada
apresentou seu plano de Educação Musical à Secretaria
movimento traz duas denominações: A primeira, que faz
de Educação do Estado de São Paulo.
alusão à tradição europeia de Bach, referindo-se clara-
No ano de 1931, foi responsável por um acon- mente ao andamento e estrutura, como os prelúdios, fu-
tecimento de grande importância na América do Sul: a gas, gigas, entre outros; A segunda refere-se a aspectos
concentração orfeônica chamada “Exortação Cívica”, expressivos, rítmicos e melódicos brasileiros. A estrutura
um coral formado por aproximadamente 12.000 vozes. dos movimentos obedece ao esquema A-B-A, sendo ge-
ralmente mais desenvolvida a parte A. As peças são uma

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homenagem de Villa Lobos às obras do mestre Bach, que Enfeitando a tarde, qual meiga donzela
para o compositor, possuíam caráter pedagógico. Que se apresta e a linda sonhadoramente,
Em anseios d’alma para ficar bela
MANFRINATO, em sua dissertação de mestra- Grita ao céu e a terra toda a Natureza!
do “Bachianas Brasileiras N.4, de Heitor Villa-Lobos: Um Cala a passarada aos seus tristes queixumes
E reflete o mar toda a Sua riqueza...
estudo de Intertextualidade”, cita Dudeque, que afirma
Suave a luz da lua desperta agora
que Villa Lobos, na época em que compôs a série das A cruel saudade que ri e chora!
Bachianas Brasileiras, estava envolvido em projetos de Tarde uma nuvem rósea lenta e transparente
transcrição de algumas obras de Bach. Sobre o espaço, sonhadora e bela!

[...]Em 1938, ele arranjou para orquestra a Fantasia e Fuga A Ária (Cantilena), composta em 1938, possui
n.6 para órgão; e entre 1932 e 1937, ele arranjou vários Pre- forma ternária: A, B, A. A seção “A” é a seção inicial, que
lúdios e Fugas do Cravo Bem Temperado para coro misto.
é seguida por uma seção contrastante “B”, e depois uma
A maioria desses arranjos tinha como objetivo as práticas
orfeônicas iniciadas em 1931, ano que Villa-Lobos assumiu recapitulação da seção “A”.
a direção da SEMA (Superintendência de Educação Musical
e Artística). Ademais, o “Curso de Pedagogia em Música e Esse movimento é iniciado com os violoncelos
Canto Orfeônico” e o “Orfeão dos Professores do Distrito Fe- divididos em dois grupos: o primeiro grupo (primeiro
deral”, em 1932, propiciou o meio para divulgar e executar violoncelo) executa uma melodia friccionando as cordas
estes arranjos, ou melhor, arranjos de uma música imbuída com o arco; o segundo grupo (segundo violoncelo) exe-
de valores artísticos, “folclóricos”, éticos e morais de escopo cuta outra melodia através do pizzicato, uma técnica que
universal (Museu Villa-Lobos, 1972, p. 72-73, 78). As Bachia- consiste em tocar “beliscando”/ pinçando a corda com
nas Brasileiras ainda podem ser vistas como parte de um pro-
os dedos. Em seguida uma melodia é cantada com “oh”
grama de educação musical imposto por Villa Lobos e Getúlio
Vargas.” (DUDEQUE, 2008, p.138 apud MANFRINATO, 2013,
pela soprano, acompanhada pelo primeiro violoncelo,
p. 28) que executa também a mesma melodia. A melodia é
logo então repetida por um violoncelo, enquanto outros
Segundo Arcanjo Júnior, o público brasilei- 6 violoncelos fazem o acompanhamento.
ro, “inculto” musicalmente, não estava preparado para
compreender um compositor tão “erudito”, “civilizado” Na seção B é apresentada uma nova melodia
e complexo quanto Bach. Ainda segundo o autor, as ba- acompanhada pela letra de Ruth Valadares. Não há repe-
chianas brasileiras poderiam ser um instrumento peda- tições nessa seção. Após o fim da seção B, há um retorno
gógico que, misturado à cultura brasileira, produziria o à seção A, mas que dessa vez é executada pela cantora
efeito desejado para uma cultura em desenvolvimento. com bocca chiusa (mmmm), ou melhor , com a boca fe-
Ou seja, a ideia de Villa-Lobos era levar as grandes mas- chada.
sas a apreciarem a música erudita por meio da música
Villa Lobos fez, em 1947, uma versão da Ária
folclórica.
para soprano e violão. No ano seguinte foi feita uma ver-
são da obra completa para piano e soprano.
Estrutura


A Bachiana Brasileira nº 5 foi composta origi-
nalmente para soprano e oito violoncelos. A obra foi es-
treada em 25 de março de 1939 no Rio de Janeiro, com
Citações da Obra na Matriz de Referência
a participação da cantora Ruth Valadares sob a regência
de Villa Lobos. Na época, apenas o primeiro movimento Indivíduo, cultura e identidade
foi apresentado. A obra completa foi estreada em 1947,
em Paris, sob a regência de Villa Lobos. De modo semelhante ao funcionamento dos for-
migueiros, nos diversos grupos humanos há divisão de ta-
A obra é composta por 2 movimentos: refas e desempenho de papéis. Em várias manifestações
populares, como no Boi de Seu Teodoro e na Festa do Divi-
• Ária- (Cantilena), de 1938, com texto de Ruth Vala- no de Pirenópolis, há papéis e tarefas específicas a serem
dares desempenhadas por seus participantes, tal qual ocorre
• Dança- (Martelo), de 1945, com texto de Manuel em músicas eruditas, como em Bachianas Brasileiras n.º
Bandeira 5: Ária, de Heitor Villa-Lobos (1938). (Página 6, terceiro
Ária (Cantilena) parágrafo)

Tarde uma nuvem rósea lenta e transparente. Tipos e gêneros


Sobre o espaço, sonhadora e bela!
Surge no infinito a lua docemente, As músicas são classificadas em gêneros e estilos
diferentes. A partir de determinados critérios, podem per-

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tencer ao gênero concerto, popular, folclórico ou étnico. Questões, Justificativas e Dicas


Obras como o Cânone em Ré Maior, de Johann Pachelbel,
L’Orfeo, de Claudio Monteverdi, Bachianas Brasileiras n.º Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?
5, de Villa-Lobos, são facilmente classificadas, ao passo
que a música Chuva, de Jaloo, assim como Zero, de Liniker Clique aqui ou use o QR CODE da página 6.
e os Caramelows, tornam a classificação difícil e até mes-
mo desnecessária. (Página 11, segundo parágrafo)
Anotações e Rascunhos
Energia, equilíbrio e movimento

Compositores também buscam o equilíbrio es-


tético e formal em suas obras, o que deve ser abordado
considerando-se as referências estéticas da sociedade em
diferentes lugares e momentos históricos. Esse equilíbrio é
analisado na fusão de estilos, como se apreende das músi-
cas Samba House, do grupo Patubatê, Zero, de Liniker e os
Caramelows, Bachianas Brasileiras n.º 5, de Villa-Lobos,
e Spiritus Sanctus Vivificans Vita, de Hildegard von Bin-
gen. (Página 17, segundo parágrafo)

Número, grandeza e forma

A escrita tradicional de ritmo, em música, é um


exemplo de aplicação de número, de grandeza e de forma.
A escrita das notas musicais utiliza símbolos e representa-
ções gráficas que indicam valores diferenciados, além de
movimentos de permanência, reincidência ou repetição,
etc. Na música ocidental, a organização dos valores, do
tempo, da forma e dos padrões rítmicos e o agrupamen-
to de compassos, com subdivisões binárias ou ternárias,
são manifestações desses conhecimentos, como se nota
na escrita de obras de concerto, como Brasiliana, de Cláu-
dio Santoro, e no Cânone em Ré Maior, de Pachelbel, que
apresentam estruturas de repetição do som, e em Bachia-
nas Brasileiras n.º 5, de Villa-Lobos. (Página 23, terceiro
parágrafo)

Materiais

Materiais podem ser empregados como fontes


sonoras (instrumentos, acústicos, elétricos ou eletrônicos,
e vozes) para produzir músicas diversas pela combinação
de elementos melódicos, rítmicos e harmônicos de forma
expressiva e significativa dentro de cada cultura ou grupo
socioeconômico e cultural, algo perceptível tanto em mú-
sicas de concerto, como em Bachianas Brasileiras n.º 5,
de Villa-Lobos, e Cânone em Ré Maior, de Johann Pachel-
bel, ou em músicas como Spiritus Sanctus Vivificans Vita,
de Hildegard von Bingen, Samba House, do grupo Patuba-
tê, Zero, de Liniker e os Caramelows, e Meu cupido é gari,
de Marília Mendonça. Apesar de não haver um conceito
universal acerca do que seja música, sabe-se que o som é
sua matéria-prima. Ele pode ser produzido pela natureza,
por instrumentos, pela voz, pelo corpo, e combinado em
múltiplas possibilidades. Assim, as músicas são distintas,
mas os materiais são os mesmos, como se observa nas
obras citadas. (Página 27, sexto parágrafo)

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Brasiliana - Cláudio Santoro

Autor
Cláudio Franco de Sá Santoro nasceu em 23 saio do primeiro concerto da temporada. O teatro nacio-
de novembro de 1919 em Manaus, Amazonas. Seu pri- nal de Brasília foi batizado com seu nome. O Auditório de
meiro contato com a música se deu em casa, tendo mais Campos de Jordão, em que ocorre o importante Festival
tarde acesso ao violino por intermédio de seu tio. Pouco de inverno, também foi rebatizado com o seu nome. Re-
tempo depois, recebeu auxílio financeiro para estudar cebeu, após a sua morte, o título de Cidadão Honorário
no Conservatório de Música do Rio de Janeiro, e aos 13 de Brasília, e teve sua obra musical tombada pelo Gover-
anos mudou-se para a então capital do Brasil. Aos 17 no do Distrito Federal.
anos, tornou-se professor de violino e harmonia na mes-
ma instituição em que havia se formado. Nessa mesma Regente
década, começa a compor.
Lígia Amadio nasceu em São Paulo, no dia 21
Em 1940 participa da fundação da Orquestra de agosto de 1964. Começou a estudar piano aos cinco
Sinfônica Brasileira, atuando como primeiro violino. No anos de idade. Cursou engenharia antes de estudar no
mesmo período conhece Koellreutter, compositor que Conservatório de Música da Universidade de São Paulo.
introduziu o dodecafonismo no Brasil, com quem teve Bacharel em regência e Mestre em artes pela Unicamp,
aulas. Se juntou ao Grupo Música Viva, criado por Koell- Ligia foi aluna de importantes maestros como Eleazar de
reuter. O grupo buscava combater o nacionalismo folcló- Carvalho e Koelrreutter.
rico, além de propor a criação de uma linguagem musical
Foi regente titular da Orquestra Sinfônica de
universal.
Jundiaí, diretora artística da Orquestra Sinfônica da Uni-
Durante os anos seguintes, as obras de Santo- versidade Estadual de Cuyo, na Argentina, e da Orques-
ro foram fortemente influenciadas pelo dodecafonismo, tra Sinfônica da USP. Tornou-se apresentadora do pro-
um sistema de composição atonal em que se empregam grama “Música e Literatura”, da Rádio MEC, além de ter
os doze sons da escala cromática, conhecido também sido a primeira mulher regente da OSESP e da Orquestra
como serialismo. Nesse mesmo período filiou-se ao par- Sinfônica do Paraná.
tido comunista. Em 1946 recebeu uma bolsa de estudos
Foi a primeira mulher a ganhar o concurso
para estudar em Nova York, mas teve o seu visto negado
de direção orquestral de Tóquio. Foi premiada também
por ser filiado ao PCB. Em 1947 estudou no Conservató-
no 2º Concurso Latino-Americano para Regentes de Or-
rio de Paris. No ano seguinte, participou de um congres-
questra em Santiago do Chile. Além do mais, em 2001
so de compositores em Praga, evento esse que influen-
recebeu o prêmio de Melhor Regente do Ano por sua
ciou a estética e discurso musical de Santoro, que deixa
atuação na OSESP.
de lado a técnica dodecafônica e inicia sua fase naciona-
lista. Desse período são as Paulistanas e a Sinfonia nº4. Lígia já se apresentou pela Alemanha, Japão,
Áustria, Croácia, Eslovênia, Itália, Holanda, Hungria, Re-
Ao retornar para o Brasil, Santoro começa a
pública Tcheca, Rússia, Sérvia e alguns países da América
compor para rádio e cinema, retornando mais tarde à
Latina, entre outros. Sua discografia conta com 11 CDs e
Europa para o congresso de Compositores da URSS. Na
5 DVDs.
década de 50 atua como regente na Europa, e em 1957
funda a Orquestra da Rádio MEC, sendo nomeado maes-
tro. Foi convidado para fundar o curso superior de mú- Obra
sica da Universidade de Brasília, que foi inaugurado em A obra Brasiliana, escrita para orquestra, foi
1964. Durante o período da Ditadura Militar o composi- composta em 1954, durante a fase nacionalista de Cláu-
tor buscou exílio na Alemanha, onde foi convidado pelo dio Santoro.
governo a participar do programa “Artista Residente de
Berlim”. Na década de 60, voltou a utilizar o dodecafo- Segundo o dicionário informal, o termo Brasi-
nismo em suas obras, realizando experiências acústico- liana significa “coleção de obras, publicações e estudos
-visuais. sobre o Brasil; relativo ao Brasil; e que é do Brasil”. San-
toro pesquisou muito a música nacional. Em entrevista
Retorna a Brasília e à UnB como chefe do De- à EBC o maestro Cohen afirmou: “Temos uma fase dele,
partamento de Artes e funda a Orquestra Sinfônica do nacionalista, que é muito importante e traduz os nossos
Teatro nacional, que dirigiu até a sua morte. Faleceu em ritmos. Ele viveu muito tempo fora do Brasil e a sua for-
27 de março de 1989, regendo a orquestra durante o en- mação é muito sólida.”

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O movimento musical nacionalista defendia diferentes de organização social não são necessariamen-
a incorporação de elementos musicais característico do te conflitantes, mas muitas vezes complementares. Tais
Brasil, seja através do ritmo, melodias, idioma, folclore questionamentos podem também se fazer iluminar pelo
ou outras manifestações populares. O nacionalismo bra- vídeo La mujer sin miedo, de Eduardo Galeano. Questio-
sileiro teve início com o movimento da Semana de Arte nar a imagem da mulher no Brasil remete-nos às etnias
Moderna. que nos constituíram (indígenas, africanas e europeias).
Que papéis exercem as mulheres brasileiras? Como a mu-
Estrutura lher se reconhece, por exemplo, nas obras Meu cupido é
gari, de Marília Mendonça, e Brasiliana, sob regência de
Brasiliana possui três movimentos: Ligia Amadio? (Página 10, nono parágrafo)
• 1º movimento – Allegro moderato e deciso (anda- Energia, equilíbrio e movimento
mento musical moderadamente rápido)
O equilíbrio é especialmente importante no
• 2º movimento - Adágio (andamento musical lento) arranjo e na orquestração de grupos musicais de acor-
do com timbres (metais, madeiras, cordas, percussão),
• 3º movimento – Allegro (andamento musical leve e função (solista ou acompanhador) e extensão das vozes
ligeiro) (soprano, contralto, tenor, baixo). O movimento de uma
música pode ser dado pelo andamento (se uma música
A obra foi escrita para os segundos instru-
é mais rápida ou lenta, dadas as variações entre uma e
mentos: Flautas, oboés, clarinetas em Si bemol, fagotes,
outra) e pelo ritmo, como se evidencia na composição de
trompas, trombones, tímpano, percussão, violinos, vio-
Cláudio Santoro Brasiliana (sob a regência de Ligia Ama-
las, violoncelos e contrabaixo acústico.


dio), e na Ópera L’Orfeo, de Claudio Monteverdi. (Página
17, terceiro parágrafo)

Número, grandeza e forma


Citações da Obra na Matriz de Referência A escrita tradicional de ritmo, em música, é um
exemplo de aplicação de número, de grandeza e de forma.
Indivíduo, cultura e identidade
A escrita das notas musicais utiliza símbolos e representa-
O contexto de produção ou performance das ções gráficas que indicam valores diferenciados, além de
músicas O meu cupido é gari, de Marília Mendonça, Zero, movimentos de permanência, reincidência ou repetição,
de Liniker e os Caramelows, e da composição de Cláudio etc. Na música ocidental, a organização dos valores, do
Santoro Brasiliana (sob a regência de Ligia Amadio) pos- tempo, da forma e dos padrões rítmicos e o agrupamen-
sibilitam discutir a construção do homem e da mulher em to de compassos, com subdivisões binárias ou ternárias,
termos culturais. [...] O indivíduo também é sujeito e pro- são manifestações desses conhecimentos, como se nota
duto de um contexto social mais amplo. É um ser histórico na escrita de obras de concerto, como Brasiliana, de Cláu-
inserido no processo de formação das identidades nacio- dio Santoro, e no Cânone em Ré Maior, de Pachelbel, que
nais ocidentais, da identidade brasileira e de suas relações apresentam estruturas de repetição do som, e em Bachia-
com as transformações científicas, culturais, religiosas, nas Brasileiras n.º 5, de Villa-Lobos. (Página 23, terceiro
tecnológicas, artísticas e literárias. A obra Brasiliana, de parágrafo)
Cláudio Santoro, é um exemplo desse embate, pois revela
Espaços
características do nacionalismo em música. Essas trans-
formações e alguns aspectos que contribuem para a com- Podem-se considerar, ainda, os diferentes
preensão do indivíduo como ser social inserido em um espaços destinados e consagrados a alguns tipos de mú-
grupo podem ser observados na leitura de Este mundo da sica, como a música de concerto, exemplificada na Ópe-
injustiça globalizada, de José Saramago, e na Oração dos ra L’Orfeo, de Claudio Monteverdi, ou em Brasiliana, de
desesperados, de Sérgio Vaz. (Página 6, oitavo parágrafo Cláudio Santoro, normalmente executadas em teatros,
e página 7, segundo parágrafo) como o Teatro Nacional Cláudio Santoro, nos quais é bem
menos comum se ouvir músicas usadas em manifestações
Tipos e gêneros
de cultura popular, como as Boi de Seu Teodoro, da Festa
O questionamento do papel do homem e da do Divino de Pirenópolis e as do grupo Patubatê, este com
mulher constitui fato relevante no mundo moderno. A per- sua obra Samba House, ou mesmo músicas de caráter re-
cepção clara da necessidade de se observarem as diferen- ligioso, como Spiritus Sanctus Vivificans Vita, de Hildegard
ças entre os gêneros e respeitá-las, tornando o convívio von Bingen. (Página 26, terceiro parágrafo)
humano mais justo e fraterno, deve constituir importante
objeto de estudo, assim como a percepção de que tipos

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Questões, Justificativas e Dicas


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Anotações e Rascunhos

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Festa do Divino de Pirenópolis

Obra
A Festa do Divino de Pirenópolis, também co- O imperador retrata o rei, a rainha e a corte
nhecida como Festa do Divino Espírito Santo, é conside- portuguesa, que são representados pela coroa, cetro e
rada a manifestação cultural mais tradicional de Pirenó- virgens vestidas de branco. Recebe então as bandeiras e
polis, cidade localizada a aproximadamente 150 km de entrega as lanças aos guerreiros das cavalhadas. Anual-
Brasília. Com duração de aproximadamente 12 dias, a mente é eleito um novo imperador, que segundo a tra-
festa do Divino acontece 50 dias após a Páscoa, na época dição poderia ser qualquer cidadão de qualquer idade.
de Pentecostes, e é composta por autos, danças e outras Hoje o sorteio é restrito aos irmãos da Irmandade do
manifestações artísticas, além de mesclar várias mani- Santíssimo Sacramento. Um dos momentos mais impor-
festações folclóricas. tantes da festa é a Procissão do Divino, em que o impera-
dor, acompanhado pelas virgens, segue até a igreja a fim
Apesar de ser um evento religioso, a festa é de acompanhar o sorteio do próximo imperador. Após
formada também por eventos e expressões profanas, a missa, o imperador retorna à sua casa para distribuir
sendo composta por missas, procissões, novenas, fo- Pãezinhos do Divino e Verônicas de Alfenim, que são ali-
lias, cavalhadas, congadas, dentre outras. Os doze dias mentos típicos da festa, para as virgens.
de festa podem ser divididos, a grosso modo, por nove
dias iniciais, que são predominantemente religiosos, e Além do imperador, outras pessoas da comu-
os três dias finais, os quais são divididos entre eventos nidade possuem responsabilidades especiais, como os
religiosos e profanos. O ritual compreende três fases. A mordomos encarregados da bandeira, mastro e foguei-
primeira dessas fases é a folia, ocorrendo então a con- ra. Como também os foliões, de quem se espera que
vocatória, peditório e extensão pela cidade. O império, percorram as ruas dos bairros e vilas em busca de contri-
segunda fase, é o centro das atenções e assume lugar buições para a festa.
de honra nas novenas e procissões. Por último temos as
cavalhadas, que representam a vitória da fé cristã. Além A festa do Divino é simbolizada pela mandala
disso, são distribuídos alimentos como gesto de carida- de fogo com pomba branca no centro, que representam
de. No dia de Pentecostes, é iniciada as cavalhadas, estas o próprio Espírito Santo e o momento em que desceu
encenam a disputa entre mouros e cristãos. sobre os apóstolos. As cores também ajudam a reforçar
a simbologia do evento: Branco representa a paz e o Es-
O culto ao Espírito Santo já existe desde a an- pírito Santo, enquanto o vermelho significa o sangue de
tiguidade. A festa de pentecostes era a festa judaica de Jesus e as labaredas de fogo.
colheita do trigo. Nesse contexto, de acordo com a bí-
blia, foi em um domingo que os apóstolos de Jesus Cristo A Festa do Divino conta com uma programa-
receberam o Espírito Santo. A festa foi levada à Europa ção diversificada. Na programação temos:
na idade média e instituída em Portugal pela Rainha Isa-
bel no século XIII. • Folia do Divino, em que através da procissão, a comis-
são religiosa percorre casas e fazendas oferecendo as
Durante a colonização, a tradição foi trazida bênçãos do Divino. Recolhem doações e convidam o
ao Brasil pelos portugueses. Seu registro em Pirenópolis público para a Festa;
data o ano de 1819, tendo como primeiro Imperador do • Novenas do Divino Espírito Santo, com repique de si-
Divino o Coronel Joaquim da Costa Teixeira. O papel do nos, queima de fogos, missas, coral, orquestra e toca-
imperador é de angariar fundos, mobilizar a população ta da Banda de Música Phoenix;
para participar da festa e realizar a libertação simbólica • Apresentação de grupos folclóricos, como grupos de
de presos da cidade. Aliás, a casa do imperador se tor- congadas e catiras, na casa do imperador e por toda
na também casa dos devotos do Divino, estes devem ser a cidade;
servidos em qualquer ocasião. A cozinha do imperador • Entrega das lanças pelos cavaleiros ao imperador ao
tem que sercomandada pela esposa, é abastecida atra- final do ensaio;
vés de doações e deve servir refeições ininterruptamen- • Mascarados, em que personagens típicos das cava-
te. lhadas saem às ruas fantasiados;
• Pastorinhas, que é uma releitura de uma peça teatral
Em 1826, o Padre Manuel Amâncio da Luz, toda em bailado tendo como enredo o nascimento
o então imperador, introduziu na festa as Cavalhadas, de Jesus;
além de providenciar uma coroa do Divino. • 20 minutos de queima de fogos;

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• Sorteio do novo imperador, que acontece anualmen- Tipos e gêneros


te;
• Levantamento do mastro de quinze metros com a Ao se considerar os gêneros das linguagens ar-
bandeira do Divino; tísticas nas diversas sociedades e em contextos distintos,
• Cortejo imperial com deslocamento do imperador à é necessário identificá-los, bem como direcionar um olhar
missa ostentando a coroa e cetro imperial; especial para o Brasil, no que se refere às produções que
• Consagração dos juízes de São Benedito com distri- reflitam a diversidade cultural. É importante o reconheci-
buição de doces e salgados, além de missa, cortejo mento de diferenças e semelhanças, significados e signos
e música; entre as manifestações culturais populares dos festejos do
• Consagração do rei e da rainha de Nossa Senhora do Boi de Seu Teodoro e da Festa do Divino de Pirenópolis,
Rosário. Tudo isso ocorre com missa, música, cortejo da mesma forma que o juízo de valor e suas implicações
estéticas e ideológicas nas obras Escola de Atenas, de Ra-
e distribuição de doces e salgados;
fael Sanzio, Suzana e os anciãos, de Artemísia Gentileschi,
• Cavalhadas, encenação da guerra entre mouros e
Discóbolo, de Míron, e Nefertiti, autor desconhecido. (Pá-
cristãos que acontece em três dias. A resolução do
gina 10, sexto parágrafo)
conflito só acontece quando os soldados inimigos se
rendem à cristandade, trocam flores e disputam jo- A formação do mundo ocidental
gos de amizade.
• Dança do Congo, é caracterizada por uma representa- Aspectos das religiões africanas, no Brasil, po-
ção à catequese, mesclando o cristianismo, santos da dem ser reconhecidos na produção do artista plástico
igreja e elementos da cultura africana. São utilizados Mestre Didi, em suas Estruturas tridimensionais, e em
cantos, batuques de tambores enfeitados e maracás. Atlântico Negro – na rota dos Orixás, documentário de


Renato Barbieri, assim como outras religiosidades ances-
trais e populares são exemplificadas nas manifestações
culturais populares dos festejos do Boi de Seu Teodoro e
da Festa do Divino de Pirenópolis, no Centro-Oeste brasi-
Citações da Obra na Matriz de Referência leiro. (Página 21, nono parágrafo)
O ser humano como um ser no mundo Espaços
As preferências musicais são, em certos casos, Podem-se considerar, ainda, os diferentes espa-
referências para o reconhecimento das pessoas e da ex- ços destinados e consagrados a alguns tipos de música,
pressão do que querem ou não ser. Assim, essas escolhas como a música de concerto, exemplificada na Ópera L’Or-
nem sempre se ligam a critérios musicais, mas ao que a feo, de Claudio Monteverdi, ou em Brasiliana, de Cláudio
música pode representar para si ou para o grupo sociocul- Santoro, normalmente executadas em teatros, como o
tural em que se inserem. Essa tendência pode ser observa- Teatro Nacional Cláudio Santoro, nos quais é bem menos
da em Meu cupido é gari, de Marília Mendonça, um tipo comum se ouvir músicas usadas em manifestações de cul-
de música que mistura estilos e traz, para o público urba- tura popular, como as Boi de Seu Teodoro, da Festa do
no, elementos da música de origem rural adaptados para Divino de Pirenópolis e as do grupo Patubatê, este com
padrões de consumo de diversos segmentos de mercado. sua obra Samba House, ou mesmo músicas de caráter re-
Em contraste, O causo do Angelino e Tristeza do Jeca, na ligioso, como Spiritus Sanctus Vivificans Vita, de Hildegard
versão de Paulo Freire e Inezita Barroso, apresenta a cul- von Bingen. (Página 26, terceiro parágrafo)
tura rural em outra forma de expressão artística, assim
como se observa nas manifestações regionais do Boi de
Seu Teodoro e da Festa do Divino de Pirenópolis. (Página
Questões, Justificativas e Dicas
4, quinto parágrafo) Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?

Indivíduo, cultura e identidade Clique aqui ou use o QR CODE da página 6.

De modo semelhante ao funcionamento dos Anotações e Rascunhos


formigueiros, nos diversos grupos humanos há divisão de
tarefas e desempenho de papéis. Em várias manifestações
populares, como no Boi de Seu Teodoro e na Festa do Divi-
no de Pirenópolis, há papéis e tarefas específicas a serem
desempenhadas por seus participantes, tal qual ocorre
em músicas eruditas, como em Bachianas Brasileiras n.º
5: Ária, de Heitor Villa-Lobos (1938). (Página 6, terceiro
parágrafo)

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Boi de Seu Teodoro

Autor
Teodoro Freire nasceu em 1920, no interior do Calemba; e na Bahia, Boi-janeiro. Atualmente a festa
Maranhão. Enquanto menino, já gostava de assistir às folclórica do Bumba-meu-boi mais conhecida é realiza-
festas folclóricas. Aos 12 anos, mudou-se para São Luís da no Amazonas, no Festival Folclórico de Parintins, que
a fim de trabalhar. Permaneceu até 1959, quando foi ao acontece anualmente desde 1965.
Rio de Janeiro em busca de melhores condições de vida.
Por todo o país o boi é feito de madeira, re-
Já no Rio de Janeiro, Teodoro conhece pes- vestido com adereços brilhantes e tecidos bordados. O
soas que eram ligadas ao bumba-meu-boi do Maranhão, “miolo”, nome que se dá ao integrante do grupo que
criando então, na terra do samba, um grupo de bumba- fica embaixo da estrutura de madeira, dá vida ao boi por
-meu-boi. O grupo foi aumentando e um maior número meio da dança.
de pessoas se reunia nos ensaios, contando, inclusive,
com a presença de Luiz Gonzaga em um desses encon- Tradicionalmente a apresentação conta com
tros. um capitão que comanda o espetáculo: o fazendeiro,
Francisco, Catirina, vaqueiros, indígenas e caboclos. Para
Em 1960, por intermédio de Ferreira Gullar, mais, os instrumentos comumente utilizados nas apre-
Teodoro é convidado para trazer o boi do Rio de Janeiro sentações são tambor onça, maracá e matraca.
para o aniversário da capital do país, a recém-construída
Brasília. Teodoro muda-se para Brasília e começa a traba- Todos os anos novas toadas (cantigas) são
lhar na Universidade de Brasília, onde permaneceu por compostas, indumentárias são fabricadas e o boi é bor-
28 anos. Em 1963 é criada a Sociedade Brasiliense de dado - tudo de acordo com o tema escolhido pelo grupo.
Folclore Maranhense em um espaço cedido pela admi- Geralmente essas toadas falam sobre as fases do ritual
nistração do GDF, que hoje é conhecida como Centro de do boi, dos amores e da natureza. Com o boi do Seu Teo-
Tradições Populares de Sobradinho, reconhecido como doro não seria diferente. Muitas das toadas do grupo são
patrimônio imaterial do Distrito Federal. devoções a São João, padroeiro do boi. Já as indumentá-
rias, essas costumam apresentar cores fortes e vibran-
Teodoro Freire faleceu em 2012, após uma pa- tes, além de fitas coloridas.
rada cardíaca. Deixou esposa e 11 filhos, dos quais um
assumiu o grupo de Seu Teodoro. Além do reconheci- O grupo Boi do Seu Teodoro, nome que o gru-
mento do seu trabalho como patrimônio imaterial, Teo- po recebeu em 1976, segue o ritual de vida e morte do
doro recebeu também o título de Comendador da Or- boi também como um calendário. O nascimento do boi,
dem do Mérito Cultural em 2006. ou recomeço, é quando acontecem os primeiros ensaios,
que costumam ser realizados logo após a Quaresma. O
batismo do boi, segunda fase do ciclo, acontece quando
Obra o boi está preparado para se apresentar. Nesse período
O Bumba-meu-boi, festa folclórica tradicional as novas toadas são ensinadas para os brincantes. Já a
do Maranhão, teve origem no século XVII, época em que última fase, conhecida como a morte do boi, acontece
o boi tinha importância simbólica e econômica. A ence- quando os personagens principais ganham vida e entram
nação, que tem influência europeia, indígena e africana, em cena nas apresentações. Ou seja, o grupo começa a
conta a estória de Pai Francisco e Mãe Catirina, um ca- ensaiar no sábado de aleluia e seguem ensaiando todos
sal de escravizados. Catirina, que estava grávida, deseja os sábados até a véspera de São João, quando o boi é
comer a língua do boi e pede a seu esposo. Francisco, batizado.
ao querer ajudar sua mulher, mata o boi mais bonito de
seu patrão. Ao perceber que o boi estava morto, o fa- A Festa do Boi do Seu Teodoro, conhecida tam-
zendeiro convoca pajés e curandeiros com o propósito bém como Festa da morte do gado, acontece anualmen-
de que ressuscitem o boi. Quando é ressuscitado, todos te nos dias 6 a 10 de setembro.
comemoram. É dessa celebração que nasce o Bumba-
-meu-boi. Com a morte de Teodoro, o grupo passou a ser
conduzido pelos familiares e admiradores maranhenses
Existem muitas variações e denominações do DF, contando com cerca de 80 integrantes de todas
para o Bumba-meu-boi: No Pará e Amazonas é conhe- as partes do DF e entorno. Esses integrantes se dividem
cido como Boi-Bumbá; no Pernambuco se chama Boi em várias funções para a composição e ensaio da festa.

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Atlântico Negro – na rota dos Orixás, documentário de
Renato Barbieri, assim como outras religiosidades ances-
trais e populares são exemplificadas nas manifestações
Citações da Obra na Matriz de Referência culturais populares dos festejos do Boi de Seu Teodoro e
da Festa do Divino de Pirenópolis, no Centro-Oeste brasi-
O ser humano como um ser no mundo leiro. (Página 21, nono parágrafo e página 22)
As preferências musicais são, em certos casos, Espaços
referências para o reconhecimento das pessoas e da ex-
pressão do que querem ou não ser. Assim, essas escolhas Podem-se considerar, ainda, os diferentes espa-
nem sempre se ligam a critérios musicais, mas ao que a ços destinados e consagrados a alguns tipos de música,
música poderepresentar para si ou para o grupo sociocul- como a música de concerto, exemplificada na Ópera L’Or-
tural em que se inserem. feo, de Claudio Monteverdi, ou em Brasiliana, de Cláudio
Santoro, normalmente executadas em teatros, como o
Essa tendência pode ser observada em Meu Teatro Nacional Cláudio Santoro, nos quais é bem menos
cupido é gari, de Marília Mendonça, um tipo de música comum se ouvir músicas usadas em manifestações de cul-
que mistura estilos e traz, para o público urbano, elemen- tura popular, como as Boi de Seu Teodoro, da Festa do
tos da música de origem rural adaptados para padrões de Divino de Pirenópolis e as do grupo Patubatê, este com
consumo de diversos segmentos de mercado. Em contras- sua obra Samba House, ou mesmo músicas de caráter re-
te, O causo do Angelino e Tristeza do Jeca, na versão de ligioso, como Spiritus Sanctus Vivificans Vita, de Hildegard
Paulo Freire e Inezita Barroso, apresenta a cultura rural von Bingen. (Página 26, terceiro parágrafo)
em outra forma de expressão artística, assim como se ob-
serva nas manifestações regionais do Boi de Seu Teodoro
e da Festa do Divino de Pirenópolis. (Página 4, quinto pa- Questões, Justificativas e Dicas
rágrafo) Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?
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formigueiros, nos diversos grupos humanos há divisão de
ta-refas e desempenho de papéis. Em várias manifesta-
ções populares, como no Boi de Seu Teodoro e na Festa
do Divino de Pirenópolis, há papéis e tarefas específicas
a serem desempenhadas por seus participantes, tal qual
ocorre em músicas eruditas, como em Bachianas Brasi-
leiras n.º 5: Ária, de Heitor Villa-Lobos (1938). (Página 6,
terceiro parágrafo)

Tipos e gêneros

Ao se considerando os gêneros das linguagens


artísticas nas diversas sociedades e em contextos distin-
tos, é necessário identificá-los, bem como direcionar um
olhar especial para o Brasil, no que se refere às produções
que reflitam a diversidade cultural. É importante o reco-
nhecimento de diferenças e semelhanças, significados e
signos entre as manifestações culturais populares dos
festejos do Boi de Seu Teodoro e da Festa do Divino de
Pirenópolis, da mesma forma que o juízo de valor e suas
implicações estéticas e ideológicas nas obras Escola de
Atenas, de Rafael Sanzio, Suzana e os anciãos, de Arte-
mísia Gentileschi, Discóbolo, de Míron, e Nefertiti, autor
desconhecido. (Página 10, sexto parágrafo)

A formação do mundo ocidental

Aspectos das religiões africanas, no Brasil, po-


dem ser reconhecidos na produção do artista plástico
Mestre Didi, em suas Estruturas tridimensionais, e em

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Samba House - Patubatê

Autor
O grupo Patubatê é formado por Fred Ma- Estrutura
galhães, Fernando Mazomi, DJ Leandrônik, Gustavo
Lavoura e Pablo Maia. O grupo criado em 1999 possui Com arranjos de Dj Raffa e DJ Leandrônik, a obra
influência dos trabalhos de Hermeto Pascoal e dos gru- Samba House tem duração de 3 minutos e 56 segundos.
pos norte-americanos Stomp (um grupo de dança que São utilizados sintetizadores, sampler para o cavaquinho
utiliza o corpo e objetos comuns para criar performan- (gravado previamente), bateria eletrônica, baixo sinteti-
ces percussivas) e Blue Man Group (grupo que incorpora zado, repique, surdo, caixa, surdão e violino. Essa peça é
a percussão experimental e a comédia em suas perfor- instrumental, isso significa que não há canto.
mances).
Os instrumentos de percussão utilizados são
De Brasília, o grupo utiliza materiais recicláveis característicos do samba:
e sucata como instrumentos, unindo a sustentabilidade,
arte e cultura. Além disto, os timbres são obtidos de di- • Repique é um tambor de pele tocado com uma ba-
ferentes fontes sonoras como alumínio, plástico, zinco e queta em uma das mãos e com a outra mão direta-
madeira. O grupo de som e movimento valoriza ritmos mente sobre a pele. É frequentemente utilizado para
brasileiros em suas performances, tais como: o baião, anunciar “deixas”/”entradas” para o grupo. Tem som
samba, maracatu, tambor de crioula, capoeira, carimbó, agudo.
ciranda e ijexá, mesclando sempre com a música ele- • Surdo é um tambor de grande dimensão e som grave.
trônica. Costuma ser feito de madeira ou metal e sua princi-
pal função no samba é a marcação o tempo. Nessa
Durante a turnê do primeiro DVD, o grupo Pa- obra, o grupo utiliza um tonel de plástico grande cor-
tubatê se apresentou nos Estados Unidos, China, Polô- tado como um surdo e um tonel de plástico grande
nia, Espanha e em alguns países do continente africano. como surdão.
O DVD, intitulado Ruído Sonoro, foi produzido no Estádio • Caixa é um tambor pequeno de som médio a agudo.
Mané Garrincha durante as obras para a Copa do Mun- Produz um som repicado e no samba costuma exe-
do. O grupo afirma que “é bom mostrar um pouco da cutar a batida característica. Nessa obra foi utilizada
cultura brasileira para que, por meio da música, outros uma lata de banha como caixa.
possam descobrir a riqueza de ritmos que o Brasil tem.”
São percebidas três seções. A primeira seção,
O grupo Patubatê ministra oficinas em que ou seção A, é a seção inicial que é executada com auxílio
ensinam os espectadores a construir instrumentos al- dos samplers e do cavaquinho. Na seção B, não há pre-
ternativos com materiais recicláveis, além de ensinar a sença do cavaquinho, só dos instrumentos percussivos,
tocar ritmos brasileiros. Os shows do grupo são sempre que apenas complementam e em alguns casos reprodu-
de grande impacto visual e sonoro. zem os ritmos executados pelo repique. Na seção C, o
violino é introduzido.


Obra
A performance Samba House faz parte do DVD
Ruído Sonoro, lançado em 2012. Tem como cenário o Es-
tádio Mané Garrincha, que na época estava em obras. Citações da Obra na Matriz de Referência
Logo no início do videoclipe, aparecem alguns cinegra-
Estruturas
fistas, maquinistas e eletricistas, todos vestidos com os
trajes de segurança da obra, jogando futebol dentro do Na música, a estrutura é percebida e anali-
estádio. Surgem então 4 percussionistas, 1 DJ e 1 sambis- sada a partir da identificação de partes similares e con-
ta no cenário de obras. trastantes da obra. As semelhanças e diferenças podem
ser apreendidas na observação dos parâmetros do som,
Segundo Bruno Bastos, o diretor do DVD, esses dos elementos da música, assim como da textura. Isso se
profissionais representam os “operários do som”. O dire- exemplifica na Ópera L’Orfeo, de Claudio Monteverdi, no
tor acrescenta ainda que foi uma maneira que encontrou Cânone em Ré Maior, de J. Pachelbel, na canção Chuva, de
para homenagear os trabalhadores, pois sempre admi- Jaloo, em O causo do Angelino e Tristeza do Jeca, versão
rou grandes construções e os seres humanos que as tor-
nam possíveis.

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de Paulo Freire e Inezita Barroso, assim como em Samba mas os materiais são os mesmos, como se observa nas
House, do grupo Patubatê. (Página 13, terceiro parágra- obras citadas. (Página 27, sexto parágrafo)
fo)

Energia, equilíbrio e movimento


Questões, Justificativas e Dicas
Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?
Compositores também buscam o equilíbrio es-
tético e formal em suas obras, o que deve ser abordado Clique aqui ou use o QR CODE da página 6.
considerando-se as referências estéticas da sociedade em
diferentes lugares e momentos históricos. Esse equilíbrio é Anotações e Rascunhos
analisado na fusão de estilos, como se apreende das músi-
cas Samba House, do grupo Patubatê, Zero, de Liniker e os
Caramelows, Bachianas Brasileiras n.º 5, de Villa-Lobos, e
Spiritus Sanctus Vivificans Vita, de Hildegard von Bingen.
(Página 17, segundo parágrafo)

Número, grandeza e forma

Se fôssemos representar graficamente os sons


de uma música popular, como Chuva, de Jaloo, e Samba
House, do grupo Patubatê, provavelmente exploraríamos
a relação de duração e recorrência de padrões rítmicos e
poderíamos criar variadas formas de expressões rítmicas.
(Página 23, quarto parágrafo)

Espaços

Podem-se considerar, ainda, os diferentes espa-


ços destinados e consagrados a alguns tipos de música,
como a música de concerto, exemplificada na Ópera L’Or-
feo, de Claudio Monteverdi, ou em Brasiliana, de Cláudio
Santoro, normalmente executadas em teatros, como o
Teatro Nacional Cláudio Santoro, nos quais é bem menos
comum se ouvir músicas usadas em manifestações de cul-
tura popular, como as Boi de Seu Teodoro, da Festa do Di-
vino de Pirenópolis e as do grupo Patubatê, este com sua
obra Samba House, ou mesmo músicas de caráter religio-
so, como Spiritus Sanctus Vivificans Vita, de Hildegard von
Bingen. (Página 26, terceiro parágrafo)

Materiais

Materiais podem ser empregados como fontes


sonoras (instrumentos, acústicos, elétricos ou eletrônicos,
e vozes) para produzir músicas diversas pela combinação
de elementos melódicos, rítmicos e harmônicos de forma
expressiva e significativa dentro de cada cultura ou grupo
socioeconômico e cultural, algo perceptível tanto em mú-
sicas de concerto, como em Bachianas Brasileiras n.º 5, de
Villa-Lobos, e Cânone em Ré Maior, de Johann Pachelbel,
ou em músicas como Spiritus Sanctus Vivificans Vita, de
Hildegard von Bingen, Samba House, do grupo Patubatê,
Zero, de Liniker e os Caramelows, e Meu cupido é gari,
de Marília Mendonça. Apesar de não haver um conceito
universal acerca do que seja música, sabe-se que o som é
sua matéria-prima. Ele pode ser produzido pela natureza,
por instrumentos, pela voz, pelo corpo, e combinado em
múltiplas possibilidades. Assim, as músicas são distintas,

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O causo do Angelino e Tristeza do Jeca -
versão com Paulo Freire e Inezita Barroso

Intérpretes
Paulo Freire Depois disso, foi convidado pela produção do
programa “Viola minha Viola” para fazer a trilha sonora
Paulo de Oliveira Freire nasceu em 1º de abril de abertura do programa. Em seu site o músico escre-
de 1957, em São Paulo. Aos 14 anos, começou a tocar veu: “Tudo que envolve a Inezita Barroso, vou correndo
violão por influência do seu irmão, e em 1973 começa a fazer, pela fundamental importância que ela tem para a
estudar guitarra no Centro Livre de Aprendizagem Musi- cultura brasileira. Eta programa que eu gosto!”
cal após largar a faculdade de jornalismo. Aprende viola
com Manoel de Oliveira (mestre Manelim) ao se mudar Participou do Boca do Céu - Encontro Inter-
para a região do rio Urucuia, Minas Gerais. Retorna a São nacional de Contadores de História nos anos de 2010,
Paulo e começa a se aperfeiçoar no violão. Nos anos se- 2012, 2014 e 2016. O CD lançado em 2013, intitulado
guintes, estuda em Paris com o violonista uruguaio Be- “Alto Grande”, apresentou causos musicados. Em 2017
tho Davezac. Estudou desde o violão clássico até a mú- foi o curador da exposição “Ocupação Inezita Barroso”,
sica caipira. organizado pelo Itaú Cultural. O músico segue fazendo
apresentações e realizando oficinas por todo o Brasil.
De volta ao Brasil, criou trilhas sonoras para
seriados da Rede Globo e também para o programa Glo- Inezita Barroso
bo Rural. Em 1995 realizou uma turnê de viola-solo pela
Europa, apresentando-se em festivais na Bélgica e Ho- Ignez Magdalena Aranha de Lima nasceu em
landa. 4 de março de 1925, em São Paulo. Conhecida como
Inezita Barroso, quando criança sempre esteve cercada
Freire, que escrevia desde os 13 anos de ida- por diversos estilos musicais que mais tarde a influencia-
de, lançou, na década de 90, três livros: “O canto dos riam. O seu amor pela música caipira se desenvolveu no
passos”, publicado em 1988; “Zé Quinha e Zé Cão, Vai interior de São Paulo, na fazenda da família, onde apren-
ouvindo...”, publicado em 1993; e a biografia “Eu nasci deu as principais canções populares da época ouvindo as
naquela serra”, que conta a história dos compositores modas de viola.
paulistas Angelino de Oliveira, Raul Torres e Serrinha.
Inclui ainda, a história da música caipira até a sua trans- O pai de Inezita, ao ver o interesse da filha pela
formação no gênero sertanejo. música, contratou um professor de Piano. Inezita se in-
teressava mesmo era pelo violão, mas naquela época o
O primeiro disco foi lançado em 1995, em con- violão era instrumento exclusivo para homens e associa-
sequência disso, recebeu o prêmio Sharp de revelação do a vagabundos e malandros. Depois de muita insistên-
instrumental. O segundo cd, de 1998, é uma mistura de cia é que os pais a colocaram para ter aulas com uma
músicas e contos, que acabaria virando uma marca do professora de violão.
trabalho do músico. Integrou a Orquestra Popular de Câ-
mara e o grupo ANIMA. Em julho de 2000, ficou pronto Formou-se em Biblioteconomia na USP, assim
o CD “Lambe-Lambe”, o qual segundo o próprio artista, percorreu o interior do país a fim de resgatar histórias
são retratos (versão tocada dos causos escritos) em for- e canções. Anos depois foi convidada a dar aulas sobre
ma de causos de pessoas que ele admira. De 2000 até folclore na Unifai e Unicapital tendo recebido, anos mais
2002, Freire dividiu uma coluna na revista Globo Rural tarde, o título de doutora Honoris Causa em folclore pela
com o seu amigo também violeiro Roberto Corrêa. Universidade de Lisboa. Se tornou uma das grandes in-
centivadoras da “música de raiz”.
Em 2002 participou do projeto Sonora Brasil,
onde visitou 36 cidades de oito estados brasileiros. Des- Sua carreira televisiva começou na TV Record,
sa viagem foi criado o CD Esbrangente, lançado em 2003. em que foi a primeira cantora contratada, passando por
No mesmo ano, lançou os CDs “Brincadeira de Viola” e outras emissoras até ser convidada para apresentar o
“Vai ouvindo”. Em 2006 foi convidado pelo programa programa Viola, Minha Viola na TV Cultura, chegando a
Globo Rural a contar causos. No ano seguinte, lançou o gravar mais de 1500 edições do programa. Como apre-
CD “Redemoinho”, este contou com onze músicas instru- sentadora, recebeu em seu palco figuras importantes da
mentais e um causo. Escreveu também um livro infantil música de raiz, como Chitãozinho e Xororó, Sérgio Reis,
chamado “O Céu das crianças”, lançado em 2008. Tião Carreiro e Pardinho, Tonico e Tinoco, entre outros.
Já na rádio, Inezita trabalhou na Record, USP e Rádio Cul-

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tura, no qual apresentou o programa Estrela da Manhã que aquela música o acompanha dia e noite, de repente
por 10 anos. também começa a chorar.

Sua enorme discografia conta com aproxima- A Tristeza do Jeca, composta em 1918 por An-
damente 80 discos. A cantora, radialista, atriz e folcloris- gelino de Oliveira e regravada por muitos cantores, já
ta faleceu em 8 de março de 2015, vítima de insuficiên- anuncia em seu título do que se trata a canção. Conta
cia respiratória. Foi uma das cantoras brasileiras mais a tristeza de um personagem, o Jeca, que expõe a sua
premiadas e em 2014 foi escolhida para ocupar uma das própria condição na canção, manifestando assim a sua
cadeiras da Academia Paulista de Letras. dor, tristeza e saudade.

Obra A versão de Paulo Freire e Inezita Barroso foi


gravada em 2014, no programa Viola, Minha Viola da TV
Tristeza do Jeca Cultura. Tanto o causo, contado por Freire, quanto a can-
ção Tristeza do Jeca estão carregados de vocábulos do
Nestes verso tão singelo
Minha bela, meu amor
dialeto “caipira” como: “mecê”, “baruião” e “fai”. Além
Pra você quero contar da ausência do “r” no final de algumas palavras, como
O meu sofrer e a minha dor em “sofrê” e “dô”.
Eu sô que nem sabiá
Quando canta é só tristeza Estrutura
Desde o gaio onde ele está
Enquanto conta o causo do Angelino, Freire
Nesta viola eu canto e gemo de verdade é acompanhado pela viola. Após o causo dá-se início à
Cada toada representa uma saudade música Tristeza do Jeca, interpretada por Inezita Barroso
e acompanhada por Freire no canto e violão. Os demais
Eu nasci naquela serra
instrumentos utilizados são acordeão, contrabaixo elé-
Num ranchinho beira chão
Tudo cheio de buraco trico, viola, outro violão, viola de cocho e percussão.
Donde a lua fai clarão
Quando chega a madrugada Conhecida como toada, essa peça de com-
Lá no mato a passarada passo quaternário é composta por duas seções: A e B.
Principia um baruião A seção A é sempre apresentada com uma letra diferen-
te, embora a melodia permaneça a mesma. Enquanto a
Nesta viola eu canto e gemo de verdade seção B não é modificada em nenhuma das repetições.
Cada toada representa uma saudade Seguindo essa lógica, a música tem a seguinte estrutura:
A, B, A, B, A, B.


Vou parar com a minha viola já não posso mai cantar
Pois o jeca quando canta tem vontade de chorar
O choro que vai caindo
Devagá vai se sumindo, como as água vão pro mar

Nesta viola eu canto e gemo de verdade Citações da Obra na Matriz de Referência


Cada toada representa uma saudade
O ser humano como um ser no mundo
O causo do Angelino conta a história de An-
gelino, que está viajando de trem com a sua família de As preferências musicais são, em certos casos,
Ribeirão Preto (SP) para Botucatu (SP). Se sentia muito referências para o reconhecimento das pessoas e da ex-
agoniado, pois estava deixando para trás o seu emprego pressão do que querem ou não ser. Assim, essas escolhas
como escrivão da polícia para tentar abrir um consultório nem sempre se ligam a critérios musicais, mas ao que a
de dentista na nova cidade. Angelino ficava remoendo música pode representar para si ou para o grupo sociocul-
se valeria a pena trocar o certo pelo duvidoso. No meio tural em que se inserem.
do caminho, o trem fez uma parada em Mainrique (SP)
e ao desembarcar, Angelino encontra um trabalhador Essa tendência pode ser observada em Meu
assobiando uma canção enquanto leva as malas. Nes- cupido é gari, de Marília Mendonça, um tipo de música
se momento Freire toca “Tristezas do Jeca” na viola. Ao que mistura estilos e traz, para o público urbano, elemen-
tos da música de origem rural adaptados para padrões de
se aproximar do rapaz, Angelino então pergunta se ele
consumo de diversos segmentos de mercado. Em contras-
sabe de quem é aquela música, prontamente o homem
te, O causo do Angelino e Tristeza do Jeca, na versão de
responde: “Claro que sei, é de Angelino de Oliveira, um
Paulo Freire e Inezita Barroso, apresenta a cultura rural
caboclo bom lá de Botucatu”. Angelino, emocionado, se
em outra forma de expressão artística, assim como se ob-
apresenta e começa a chorar. O trabalhador conta a ele
serva nas manifestações regionais do Boi de Seu Teodoro

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e da Festa do Divino de Pirenópolis. (Página 4, quinto pa- Anotações e Rascunhos


rágrafo)

Indivíduo, cultura e identidade

As relações entre indivíduo, cultura e identida-


de podem, ainda, ser contextualizadas a partir da análise
das escolhas musicais. Essas escolhas estão diretamente
ligadas à construção da identidade do indivíduo e relacio-
nadas ao contexto sociocultural e geográfico assim como,
simbolicamente, aos grupos com os quais se quer ou não
se identificar, como se apreende em O causo do Angelino
e Tristeza do Jeca, na interpretação de Paulo Freire e Ine-
zita Barroso, e na composição Chuva, de Jaloo, na qual é
possível discutir sobre a interação entre o meio ambiente
e a sociedade. (Página 7, primeiro parágrafo)

Tipos e gêneros

O gênero é constituído — além das normas e


das convenções a ele referentes — por um conjunto de
codificações que revelam o tipo de discurso que o texto
exemplifica, como se observa no O causo do Angelino e
Tristeza do Jeca, na versão de Paulo Freire e Inezita Bar-
roso, e na Entrevista com Maria Teresa, ex-escrava, feita
em 1973 por Antônio José do Espírito Santo e apresentada
na revista Geledés, em dezembro de 2014. [...] Os gêneros
musicais associam-se marcadamente a tipologias sociais
e constituem um retrato do modo de ser de indivíduos,
como, por exemplo, de um lado, O causo do Angelino e
Tristeza do Jeca, na versão de Paulo Freire e Inezita Bar-
roso, representando uma cultura interiorana, e, de outro
lado, Meu cupido é gari, de Marília Mendonça, represen-
tando uma cultura urbana contemporânea. (Página 9,
quinto parágrafo e página 10, sétimo parágrafo)

Estruturas

Na música, a estrutura é percebida e anali-


sada a partir da identificação de partes similares e con-
trastantes da obra. As semelhanças e diferenças podem
ser apreendidas na observação dos parâmetros do som,
dos elementos da música, assim como da textura. Isso se
exemplifica na Ópera L’Orfeo, de Claudio Monteverdi, no
Cânone em Ré Maior, de J. Pachelbel, na canção Chuva, de
Jaloo, em O causo do Angelino e Tristeza do Jeca, versão
de Paulo Freire e Inezita Barroso, assim como em Samba
House, do grupo Patubatê. (Página 13, terceiro parágrafo)  

Questões, Justificativas e Dicas


Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?

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Zero - Liniker e os Caramelows

Autor
Liniker de Barros Ferreira Campos nasceu em 3 Obra
de julho de 1995 no município de Araraquara. De família
de músicos, o que foi fundamental para sua formação, A gente fica mordido, não fica?
Dente, lábio, teu jeito de olhar
Liniker cresceu ouvindo soul e samba-rock. Apesar de ter Me lembro do beijo em teu pescoço
demonstrado talento para o canto, só começou a cantar Do meu toque grosso, com medo de te transpassar
na adolescência, época em que começou também a to- E transpassei
car violão e a compor.
Peguei até o que era mais normal de nós
Ao ingressar na Escola Livre de Teatro, em E coube tudo na malinha de mão do meu coração
2014, Liniker passou a se entender como mulher trans,
Deixa eu bagunçar você
em revista a Marie Clarie quando perguntada “Em que Deixa eu bagunçar você
momento entendeu que era mulher?”, a cantora respon-
deu “Acho que sempre soube. O que custei a entender é O single Zero, lançado em 2015, acumula hoje
que podia ser outras coisas, ter outro corpo. Começou mais de 16 milhões de visualizações. Liniker publicou na
com o meu encontro com a [cantora] Linn da Quebrada. fanpage do grupo que a música Zero foi inspirada nas
Em 2014, a gente fazia escola livre de teatro em Santo baladas que cresceu ouvindo em sua casa: “Zero nas-
André e morava juntas. Muito estudiosa e sempre com o ceu. Nasceu do que era mais normal de nós, e do que
corpo em experimentação, ela foi me fazendo entender me transpassava naquele momento. Foi natural, numa
que “ok, tudo o que pensava em Araraquara pode sair manhã de sol, tudo o que dizia respeito à ela, surgiu na
para fora”.” Sua voz – ora rouca, ora limpa; ora grave, imensidão branca do papel e a história se fez ali. Essa
ora aguda – foi constantemente comparada à voz de Tim música é inspirada nas baladas que eu cresci ouvindo em
Maia, e segundo a revista O Tempo, formata uma black casa, que tinham aquele swing gostoso que envolvia a
music brasileira, mas é recheada de elementos do pop. gente e deixava o coração mole. Pra dançar a dois, a três,
a quatro, para embalar corações, pra ouvir no fone de
Em 2015 formou, a banda Liniker e os Carame- ouvido, no rádio no último volume, com vocês, Zero!”
lows, lançando o primeiro EP, intitulado Cru, em 30 de
julho do mesmo ano, com o primeiro single, Zero, e mais
duas músicas. O álbum de estreia do grupo foi lançado Estrutura
em 2016, e foi gravado através de um financiamento co- A canção é composta por 3 estrofes curtas,
letivo dos fãs por meio do Catarse. Intitulado de Remon- que são repetidas exaustivamente por 6 minutos e 32
ta, o álbum teve repercussão internacional. segundos. A seção A tem início com a frase “A gente fica
mordido, não fica?”. “Peguei até o que era mais normal
O grupo, que mescla ritmos como o black mu-
de nós” dá início à seção B. Já a seção C é composta ape-
sic e o R&B/soul com MPB, já fez shows por todo o Brasil
nas pela frase “Deixa eu bagunçar você”, que é repetida
e também pela Europa. As letras cantadas pelo grupo fa-
inúmeras vezes. As partes seguem então a seguinte se-
lam sobre amor e relações humanas. O grupo recebeu o
quência: A, A, A, B, B, A, A, B, B, C, C, C, C.
Prêmio Multishow de Música Brasileira na categoria de
grupo revelação. A instrumentação fica por conta do baixo, gui-
tarra, bateria e trombone. Liniker conta também com
Em 2020, após lançarem um EP e dois álbuns
Bárbara Rosa, Ekena Monteiro e Renata Santos no ba-
(Remonta em 2016 e Goela Abaixo em 2019), o grupo
cking vocal. A música é iniciada com a parte “A” cantada
Liniker e os caramelows anunciaram a separação para
à capella, ou seja, sem acompanhamento instrumental.
seguirem projetos independentes. A formação original
No final dessa parte A os instrumentos entram, executa-
contava com a cantora Liniker no vocal, Rafael Barone
do uma sequência harmônica de dois acordes. O efeito
no baixo, William Zaharanszki na guitarra, Pericles Zua-
gerado por essa sequência harmônica traz a ideia de es-
non na bateria, Fernando TRZ no teclado, Eder Araújo no
tabilização e conforto pelo reconhecimento do que será
saxofone, Márcio Bortoloti no trompete, Marja Lenski na
executado logo em seguida.
percussão e Renata Éssis no backing vocal.
Gonçalves (2017), em seu artigo Uma Leitura
Comunicacional das Mediações da Canção na Contem-
poraneidade, uma Leitura de “Zero”, de Liniker, afirma

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que na música Zero haveria “uma lógica de produção de diferentes lugares e momentos históricos. Esse equilíbrio é
um hit, máxima expressão da música voltada ao consu- analisado na fusão de estilos, como se apreende das músi-
mo. “Uma canção se torna hit por sua composição de fá- cas Samba House, do grupo Patubatê, Zero, de Liniker e os
cil e rápida assimilação. É possível encontrar aspectos de Caramelows, Bachianas Brasileiras n.º 5, de Villa-Lobos, e
hit na canção de Liniker e os Caramelows, já que é uma Spiritus Sanctus Vivificans Vita, de Hildegard von Bingen.
canção daquelas que “gruda na cabeça”, seja pela har- (Página 17, segundo parágrafo)
monia simples de apenas dois acordes, seja pelo “swing
gostoso”, como classificado por Liniker, ou pelas estrofes Materiais
curtas e repetitivas.


Materiais podem ser empregados como fontes
sonoras (instrumentos, acústicos, elétricos ou eletrônicos,
e vozes) para produzir músicas diversas pela combinação
de elementos melódicos, rítmicos e harmônicos de forma
Citações da Obra na Matriz de Referência expressiva e significativa dentro de cada cultura ou grupo
socioeconômico e cultural, algo perceptível tanto em mú-
Indivíduo, cultura e identidade sicas de concerto, como em Bachianas Brasileiras n.º 5, de
Villa-Lobos, e Cânone em Ré Maior, de Johann Pachelbel,
O contexto de produção ou performance das ou em músicas como Spiritus Sanctus Vivificans Vita, de
músicas O meu cupido é gari, de Marília Mendonça, Zero, Hildegard von Bingen, Samba House, do grupo Patubatê,
de Liniker e os Caramelows, e da composição de Cláudio Zero, de Liniker e os Caramelows, e Meu cupido é gari,
Santoro Brasiliana (sob a regência de Ligia Amadio) pos- de Marília Mendonça. Apesar de não haver um conceito
sibilitam discutir a construção do homem e da mulher em universal acerca do que seja música, sabe-se que o som é
termos culturais. [...] Os indivíduos compartilham valores, sua matéria-prima. Ele pode ser produzido pela natureza,
sentimentos, símbolos, ideias e representações sociais por instrumentos, pela voz, pelo corpo, e combinado em
que tendem a influenciar suas ações e que colaboram múltiplas possibilidades. Assim, as músicas são distintas,
para a formação de identidades individuais e coletivas. A mas os materiais são os mesmos, como se observa nas
construção de ideias, de valores e de representações so- obras citadas. (Página 27, sexto parágrafo)
bre si mesmo, sobre os outros e sobre o mundo é parte
do complexo processo no qual cada um participa como Questões, Justificativas e Dicas
pessoa. Dessa forma, a possibilidade de formar ideias a
respeito de classe, gênero e raça em que o indivíduo se Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?
insere é, ainda, uma oportunidade para se pensar em
Clique aqui ou use o QR CODE da página 6.
conceitos mais abrangentes, como ser humano e huma-
nidade, o que se observa na música Zero, de Liniker e os
Caramelows, e na música Chuva, de Jaloo. Essa ampliação
Anotações e Rascunhos
na visão de si e na percepção de mundo, relacionada a
este objeto de conhecimento, permite julgar a pertinência
de opções técnicas, sociais, éticas e políticas na tomada
de decisões, bem como confrontar possíveis soluções para
uma situação-problema. (Página 6, oitavo parágrafo e
página 7, sétimo parágrafo)

Tipos e gêneros

As músicas são classificadas em gêneros e esti-


los diferentes. A partir de determinados critérios, podem
pertencer ao gênero concerto, popular, folclórico ou étni-
co. Obras como o Cânone em Ré Maior, de Johann Pachel-
bel, L’Orfeo, de Claudio Monteverdi, Bachianas Brasileiras
n.º 5, de Villa-Lobos, são facilmente classificadas, ao pas-
so que a música Chuva, de Jaloo, assim como Zero, de Li-
niker e os Caramelows, tornam a classificação difícil e até
mesmo desnecessária. (Página 11, segundo parágrafo)

Energia, equilíbrio e movimento

Compositores também buscam o equilíbrio es-


tético e formal em suas obras, o que deve ser abordado
considerando-se as referências estéticas da sociedade em

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Chuva - Jaloo

Autor
Jaime Melo Júnior nasceu na cidade de Casta- E a gravidade da atmosfera
nhal, interior do Pará, em 6 de setembro de 1987. Em Faz pressão que nem panela
2010, o cantor, compositor, produtor e DJ começou a Quando vai chover bem muito
Você vem para o meu mundo
fazer remixes, mashups e covers, entrando em cena na
E eu te conto como acontece a chuva
nova música eletrônica brasileira. Ficou conhecido por E eu te conto como acontece a chuva
fazer o hit Wreckin Ball, de Miley Cyrus, virar “Bai Bai”.
Aos poucos conquistou a cena alternativa do Pará com Chuva molha, molha, cai
composições autorais. Chuva chove, chove, sai
Chuva molha, molha, vem
Em 2015 lançou o primeiro single do seu Chuva, chuva
primeiro álbum, intitulado “Ah! Dor”, que logo ganhou
O ciclo d’agua é uma dança eterna!
videoclipe. Seu primeiro álbum, intitulado “#1”, foi lan-
çado no mesmo mês. O álbum possui 12 músicas, onde Oh,lua lua luar
são encontrados elementos do pop, indie, eletrônica e Me leva contigo pra passear
tecnobrega, além de uma mistura não-convencional de Oh,lua lua luar.
regionalismo e modernidade. Em 2017, Jaloo se apre-
sentou no Palco Axé do festival Lollapalooza Brasil. An- A música Chuva faz parte do álbum de estreia
tes apenas DJ e produtor, Jaloo afirma que nunca se lançado em 2016. O clipe Chuva foi gravado na área rural
considerou cantor. Acrescenta ainda: “Eu acho ‘artista’ de Campos de Jordão, em São Paulo, e publicado em 15
melhor, porque abraça todo o cuidado que eu tenho em de setembro de 2016. Dirigido pelo próprio artista, no
diversos sentidos, inclusive na voz”. início do clipe é possível ouvir sons de água e de floresta.

As obras de Jaloo se aproximam muito do tec- O artista aparece dançando com roupas esvoa-
nobrega, que é tradicionalmente paraense. O cantor tem çantes no meio da floresta. Seu figurino explora peças
também como referência a MPB, indie e a música ele- que frequentemente são associadas ao gênero feminino,
trônica sueca. Jaloo está ligado à produção fonográfica como o top e short curto, o que pode ser encarado como
independente, uma vez que não se adapta totalmente uma quebra de estereótipos associados à masculinida-
aos padrões da música tecnobrega. de. Vale ressaltar que além de dirigir o próprio clipe, Ja-
loo também desenhou seu próprio figurino, em parceria
Ligado ao movimento LGBT, Jaloo ressalta em com Vitor Nunes. Ocupando o centro da tela, os movi-
seu estilo pessoal e nos figurinos dos seus shows a esté- mentos dançados por Jaloo remetem aos movimentos
tica andrógena. Seus traços indígenas e corte de cabelo do Tai Chi Chuan e do karatê. Os movimentos acompa-
são combinados aos seus figurinos autênticos e repre- nham o ritmo da melodia e da letra, que descreve o ciclo
sentativos: “Se as pessoas estranham alguém por causa da água.
do corte de cabelo dela, não são pessoas com quem eu
quero conviver.”. Jaloo tem parceria com a Skol Music, Estrutura
projeto da marca Skol que tem como objetivo promover
artistas iniciantes e de produção independente e inseri- A música começa com sons de água e folhas
-los no mainstream. ao vento, seguidos pelo ritmo eletrônico e depois pela
letra. Samplers e sintetizadores são utilizados na exe-
Obra cução dessa obra, isto é, não são usados instrumentos
acústicos. No final da música há um pequeno trecho ins-
Ar quente vai subir trumental do carimbó, ritmo paraense, o qual é acom-
Ar frio vai descer
panhado pela letra “Oh,lua lua luar, me leva contigo pra
Vapor que vem do mar
Geleiras vão derreter passear, oh,lua lua luar.”
O vento vai soprar
Tudo pode acontecer Nessa música encontramos 4 seções: A pri-
As nuvens vão se condensar meira começa com “Ar quente vai subir”; “Porque quan-
E, depois, vão dissolver do o sol aquece a Terra” dá início à segunda seção; a ter-
ceira seção começa em “Chuva molha, molha, cai”; e a
Porque quando o sol aquece a Terra última é o pequeno trecho do carimbó, que tem início
Muita água se libera

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pouco antes de “Oh lua, lua,luar”. A música tem então a exemplifica na Ópera L’Orfeo, de Claudio Monteverdi, no
seguinte sequência: A, B, C, C, A, B, C, C, D, D. Cânone em Ré Maior, de J. Pachelbel, na canção Chuva, de


Jaloo, em O causo do Angelino e Tristeza do Jeca, versão
de Paulo Freire e Inezita Barroso, assim como em Samba
House, do grupo Patubatê. (Página 13, terceiro parágrafo)

Citações da Obra na Matriz de Referência Ambiente

Indivíduo, cultura e identidade Portanto, é importante neste objeto a aborda-


gem dos problemas ambientais urbanos. O ritmo de cres-
As relações entre indivíduo, cultura e identida- cimento das cidades, a distribuição do fenômeno urbano
de podem, ainda, ser contextualizadas a partir da análise pelos continentes, o desenvolvimento das metrópoles mo-
das escolhas musicais. Essas escolhas estão diretamente dernas e a expansão da urbanização configuram o am-
ligadas à construção da identidade do indivíduo e relacio- biente que mais expressa a intervenção humana no meio
nadas ao contexto sociocultural e geográfico assim como, natural. Alguns desses aspectos são observados na leitura
simbolicamente, aos grupos com os quais se quer ou não de Este mundo da injustiça globalizada, de José Sarama-
se identificar, como se apreende em O causo do Angelino e go. Nas cidades, a expressiva diminuição da vegetação, a
Tristeza do Jeca, na interpretação de Paulo Freire e Inezita movimentação de massas de terra, as edificações, a cana-
Barroso, e na composição Chuva, de Jaloo, na qual é pos- lização dos rios e o lançamento de poluentes na atmosfe-
sível discutir sobre a interação entre o meio ambiente e a ra e nos cursos de água causaram diversos efeitos sobre
sociedade. [...] Os indivíduos compartilham valores, sen- todos os aspectos do ambiente. A música Chuva, de Jaloo,
timentos, símbolos, ideias e representações sociais que trata de um importante ciclo que vem sofrendo grandes
tendem a influenciar suas ações e que colaboram para a impactos, o que tem causado efeitos desastrosos em vá-
formação de identidades individuais e coletivas. A cons- rias partes do mundo. Esses efeitos afetam não apenas o
trução de ideias, de valores e de representações sobre si ambiente urbano, mas também a saúde de seus habitan-
mesmo, sobre os outros e sobre o mundo é parte do com- tes. (Página 18, quinto parágrafo)
plexo processo no qual cada um participa como pessoa.
Dessa forma, a possibilidade de formar ideias a respeito Número, grandeza e forma
de classe, gênero e raça em que o indivíduo se insere é,
ainda, uma oportunidade para se pensar em conceitos Se fôssemos representar graficamente os sons
mais abrangentes, como ser humano e humanidade, o de uma música popular, como Chuva, de Jaloo, e Samba
que se observa na música Zero, de Liniker e os Carame- House, do grupo Patubatê, provavelmente exploraríamos
lows, e na música Chuva, de Jaloo. Essa ampliação na vi- a relação de duração e recorrência de padrões rítmicos e
são de si e na percepção de mundo, relacionada a este poderíamos criar variadas formas de expressões rítmicas.
objeto de conhecimento, permite julgar a pertinência de (Página 23, quarto parágrafo)
opções técnicas, sociais, éticas e políticas na tomada de
decisões, bem como confrontar possíveis soluções para Espaços
uma situação-problema. (Página 7, primeiro e sétimo pa-
É possível ampliar as possibilidades de debates
rágrafos)
e reflexões acerca das transformações do lugar onde vive-
Tipos e gêneros mos. A partir da análise crítica de uma situação-proble-
ma presente, é importante buscar elaborar propostas de
As músicas são classificadas em gêneros e esti- intervenção na realidade comprometidas com a ética e a
los diferentes. A partir de determinados critérios, podem cidadania, incluindo-se preocupações relativas à diversi-
pertencer ao gênero concerto, popular, folclórico ou étni- dade sociocultural, aos problemas ambientais, políticos e
co. Obras como o Cânone em Ré Maior, de Johann Pachel- econômicos inerentes ao nosso modo de produção, como
bel, L’Orfeo, de Claudio Monteverdi, Bachianas Brasileiras expressa a música Chuva, de Jaloo. (Página 25, sexto pa-
n.º 5, de Villa-Lobos, são facilmente classificadas, ao pas- rágrafo)
so que a música Chuva, de Jaloo, assim como Zero, de Li-
niker e os Caramelows, tornam a classificação difícil e até Questões, Justificativas e Dicas
mesmo desnecessária. (Página 11, segundo parágrafo)
Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?
Estruturas
Clique aqui ou use o QR CODE da página 6.
Na música, a estrutura é percebida e anali-
sada a partir da identificação de partes similares e con-
trastantes da obra. As semelhanças e diferenças podem
ser apreendidas na observação dos parâmetros do som,
dos elementos da música, assim como da textura. Isso se

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Meu Cupido é Gari - Marília Mendonça

Autor
”Hoje me sinto preparada pra levar a verdade pra todos os meus ou-
vintes. A Marilia Mendonça canta hoje o cotidiano, o dia a dia. Hoje
Obra
eu faço o que eu amo. E sinceramente, tudo que eu espero é que as
pessoas se encontrem, se achem nas minhas músicas, e sintam como se O meu cupido é gari
fossem delas.” - Marília Mendonça Só me traz lixo
Lixo, lixo, você é prova disso
Marília Dias Mendonça nasceu em Cristianó- Lixo, lixo, você é prova disso
polis, Goiás, no dia 22 de julho de 1995. Atualmente a
cantora, compositora e instrumentista é também conhe- Esse cupido é cego
cida como a “rainha da sofrência”. Formado pela junção Tá demitido
das palavras “sofrimento” e “carência”, sofrência é um Sua flecha não tem ponta
E nem sentido
neologismo da língua portuguesa que possui significado
Cupido amador
parecido com a expressão “dor de cotovelo”, tema recor- Uma decepção me trouxe um amor
rente nas músicas de Marília Mendonça. Faleceu em 5 Encomendado do lixão
de novembro de 2021, aos 26 anos, em decorrência de
um acidente de avião. Não me tratou bem
Não me deu valor
Marília sempre viveu em Goiânia e seu primei- Será que eu mereço esse tipo de amor?
ro contato com a música foi através da igreja. Começou Só decepção pro meu coração
a compor aos 12 anos de idade. Anos mais tarde suas Cupido inconsequente
composições a fariam se destacar no mundo sertanejo. Sem rumo, sem direção
“Minha herança”, gravada em 2009 pela dupla João Neto
e Frederico, foi uma das primeiras composições de Marí- A obra Meu cupido é Gari, escrita por Vinícius
lia. Compôs também outras canções que fizeram sucesso Poeta e Júnior Gomes, faz parte do DVD “Marília Men-
nas vozes de outros artistas como, por exemplo: “É com donça ao vivo”, gravado em 2016. Mediante essa músi-
ela que eu estou” e “Casei de novo”, de Cristiano Araújo; ca, que possui tom de desabafo, o eu-lírico acusa o seu
e “Cuida bem dela”, de Henrique e Juliano, entre outras. cupido de ser amador por ter lançado uma flecha sem
ponta e ter acertado alguém que lhe fez mal. Questiona
Sua estreia como cantora aconteceu em 2015,
ainda se merece esse tipo de amor. Além disso, podemos
ao dividir palco com a dupla Henrique e Juliano. Ainda
inferir que não é a primeira vez que o cupido fracassa em
no mesmo ano, Marília gravou o seu primeiro DVD: Ma-
trazer o que o eu-lírico pensa que merece.
rília Mendonça ao Vivo. Com direção musical de Eduardo
Pepato, o álbum foi lançado pela gravadora Som Livre
É importante lembrar que o cupido, deus ro-
em diversos formatos, logo alcançando o topo das para-
mano do amor, é sempre representado pela figura de um
das brasileiras.
menino que possui asas e sai disparando flechas no cora-
O segundo DVD, Realidade, lançou músicas ção das pessoas a fim de formar casais. Segundo a mito-
inéditas, das quais muitas viraram hits. Marília despon- logia grega, quem fosse atingido com a flecha do cupido
tou rapidamente no universo da música sertaneja, alcan- seria tomado por amor ou paixão. Ou seja, o resultado
çando marcas como 3 bilhões de visualizações e mais de de ser atingido por uma flecha do “deus do amor” deve-
5 milhões de inscritos em seu canal oficial do Youtube. ria ser positivo e trazer felicidade.
Conquistou, em 2017, o posto de artista brasileira mais
ouvida do Youtube. Marília apresenta em suas obras a O cupido é muito citado em poemas e músi-
valorização da figura feminina e a ideia de autonomia do cas, mas nem sempre positivamente. Aqui, assim como
próprio corpo. em “Estúpido Cupido” de Celly Campello, o personagem
é criticado pelo seu amadorismo e fracasso. O eu-lírico
Durante muito tempo, o sertanejo universitá- diz que seu cupido é cego, por essa razão sua flechada só
rio foi representado na maioria dos casos por cantores trouxe decepção. Lembramos então que o cupido é mui-
masculinos. Entretanto, houve nos últimos anos uma tas vezes descrito como um menino que dispara flechas
ascensão de mulheres no universo sertanejo, especifica- de olhos vendados.
mente no sertanejo universitário. A exemplo disso cita-
mos Marília Mendonça, Nayara Azevedo, Maiara e Ma-
raísa, Simone e Simaria, dentre outras, que contribuíram Estrutura
também com a temática do ponto de vista da mulher em O arrocha, gênero musical influenciado pela
suas músicas. música brega e romântica, ganhou destaque nas rádios

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baianas em 2004. O ritmo proveniente das serestas é e Inezita Barroso, representando uma cultura interiorana,
considerado um segmento da música sertaneja. e, de outro lado, Meu cupido é gari, de Marília Mendonça,
representando uma cultura urbana contemporânea. [...]
A introdução da música é feita pela sanfona O questionamento do papel do homem e da mulher cons-
(que introduz a melodia) e bateria. Piano, violão, baixo e titui fato relevante no mundo moderno. A percepção clara
instrumentos percussivos também são utilizados para a da necessidade de se observarem as diferenças entre os
execução da música. gêneros e respeitá-las, tornando o convívio humano mais
justo e fraterno, deve constituir importante objeto de es-
Quanto às seções da música, temos um refrão tudo, assim como a percepção de que tipos diferentes de
e duas estrofes, que são cantadas continuamente: “O organização social não são necessariamente conflitantes,
meu cupido é gari, só me traz lixo” é a parte A; “Esse mas muitas vezes complementares. Tais questionamentos
cupido é cego, ta demitido...” dá início à parte B; “Não podem também se fazer iluminar pelo vídeo La mujer sin
me tratou bem, não me deu valor...” é a parte C. Temos miedo, de Eduardo Galeano. Questionar a imagem da mu-
então: A, B, C, A, A, B, C, A, A, A, A. Melhor dizendo, as lher no Brasil remete-nos às etnias que nos constituíram
seções A, B, C, A (nessa sequência) são executadas duas (indígenas, africanas e europeias). Que papéis exercem as
vezes. Ao final a seção A é repetida mais 3 vezes. mulheres brasileiras? Como a mulher se reconhece, por


exemplo, nas obras Meu cupido é gari, de Marília Men-
donça, e Brasiliana, sob regência de Ligia Amadio? (Pági-
na 10, sétimo e nono parágrafos)
Citações da Obra na Matriz de Referência Materiais
O ser humano como um ser no mundo Materiais podem ser empregados como fontes
sonoras (instrumentos, acústicos, elétricos ou eletrônicos,
As preferências musicais são, em certos casos, e vozes) para produzir músicas diversas pela combinação
referências para o reconhecimento das pessoas e da ex- de elementos melódicos, rítmicos e harmônicos de forma
pressão do que querem ou não ser. Assim, essas escolhas expressiva e significativa dentro de cada cultura ou grupo
nem sempre se ligam a critérios musicais, mas ao que a socioeconômico e cultural, algo perceptível tanto em mú-
música poderepresentar para si ou para o grupo sociocul- sicas de concerto, como em Bachianas Brasileiras n.º 5, de
tural em que se inserem. Villa-Lobos, e Cânone em Ré Maior, de Johann Pachelbel,
ou em músicas como Spiritus Sanctus Vivificans Vita, de
Essa tendência pode ser observada em Meu
Hildegard von Bingen, Samba House, do grupo Patubatê,
cupido é gari, de Marília Mendonça, um tipo de música
Zero, de Liniker e os Caramelows, e Meu cupido é gari,
que mistura estilos e traz, para o público urbano, elemen-
de Marília Mendonça. Apesar de não haver um conceito
tos da música de origem rural adaptados para padrões de
universal acerca do que seja música, sabe-se que o som é
consumo de diversos segmentos de mercado. Em contras-
sua matéria-prima. Ele pode ser produzido pela natureza,
te, O causo do Angelino e Tristeza do Jeca, na versão de
por instrumentos, pela voz, pelo corpo, e combinado em
Paulo Freire e Inezita Barroso, apresenta a cultura rural
múltiplas possibilidades. Assim, as músicas são distintas,
em outra forma de expressão artística, assim como se ob-
mas os materiais são os mesmos, como se observa nas
serva nas manifestações regionais do Boi de Seu Teodoro
obras citadas. (Página 27, sexto parágrafo)
e da Festa do Divino de Pirenópolis. (Página 4, quinto pa-
rágrafo)
Questões, Justificativas e Dicas
Indivíduo, cultura e identidade
Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?
O contexto de produção ou performance das
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músicas O meu cupido é gari, de Marília Mendonça, Zero,
de Liniker e os Caramelows, e da composição de Cláudio Anotações e Rascunhos
Santoro Brasiliana (sob a regência de Ligia Amadio) pos-
sibilitam discutir a construção do homem e da mulher em
termos culturais. (Página 6, oitavo parágrafo)

Tipos e gêneros

Os gêneros musicais associam-se marcadamen-


te a tipologias sociais e constituem um retrato do modo de
ser de indivíduos, como, por exemplo, de um lado, O causo
do Angelino e Tristeza do Jeca, na versão de Paulo Freire

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Artes
Visuais
“A sorte favorece a mente
preparada ”.
(Louis Pasteur)
Gráficos e Estatísticas
OBRAS COBRADAS NA PROVA DESDE 2018

Pirâmides
Teatro Nacional
Egípcias
Cláudio Santoro Pirâmides
Astecas

Discóbolo
Partenon

Nefertiti

OBRAS COBRADAS NA PROVA DESDE


2018

3 3 3
2 2
1

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Controle de Desempenho
Total Porcentagem
Itens Itens Escore
Obra de
certos errados
de itens
bruto
itens certos
Pirâmides Egípcias
Pirâmides Astecas
Aqueduto Acqua Appia
Partenon
Nefertiti
Discóbolo
Catedral de Notre-Dame de Reims
Escola de Atenas
Susana e os Anciãos
Estruturas Poliédricas
Estruturas Tridimensionais
Teatro Nacional Cláudio Santoro

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Pirâmides Egípcias

Contextualização
A edificação das pirâmides teve início no Anti- jar, fiscalizar e controlar a economia. Por isso, sabiam ler
go Império, período que o Egito abrigava uma civilização e escrever e eram eles que anotavam os feitos do faraó
luxuosa e dominante. O período das construções perma- durante o seu reinado. Estes textos seriam colocados nos
neceu até o século IV d.c, mas seu auge é datado entre seus túmulos quando morressem.
a Terceira e a Sexta dinastia. O Egito desse período vivia
estabilidade e prosperidade. Na sociedade egípcia, as mulheres tinham uma
posição de prestígio. Podiam exercer qualquer função
política, econômica ou social em igualdade com os ho-
mens de sua categoria social. Isto significava, inclusive,
que poderiam ser faraós, como foi o caso de Cleópatra.

Na escrita, a sociedade egípcia desenvolveu a


escrita pelos hieróglifos. Estes eram figuras de animais,
partes do corpo ou objetos do cotidiano que eram utili-
zados para registrar a história, os textos religiosos, a eco-
nomia do reino, etc.

A principal arte desenvolvida no Egito Antigo


foi a arquitetura. Profundamente marcada pela religio-
sidade, as construções voltaram-se principalmente para
Pirâmides do Egito. Internet: <www.todamateria.com.br>
a edificação de grandes templos como os de Karnac, Lu-
xor, Abu-Simbel e as célebres pirâmides de Gizé, que ser-
Ficha Técnica viam de túmulos aos faraós, entre as quais se destacam
Ano de produção: 2686 a.c. a IV d.c Quéops, Quéfren e Miquerinos.
Técnica: Arquitetura
Período ou movimento artístico que pertence: Egito A pintura egípcia era muito peculiar, pois repre-
Antigo sentava o corpo de frente, mas a cabeça estava sempre
Principal tema abordado: Túmulo para faraós. de perfil, caso o retratado estivesse de pé. No entanto, se
Localização: Egito estivesse sentado, tanto o corpo como a cabeça estariam
de perfil. Pintavam-se as paredes dos palácios, templos e
especialmente, as tumbas destinadas aos faraós. A pintu-
Contextualização ra representava cenas familiares e do cotidiano do reino,
A antiga sociedade egípcia era estamental, ou como procissões, nascimento e morte, mas também, o
seja, não havia mobilidade social. cultivo e a colheita. Hoje, as pinturas nos permitem re-
construir o dia a dia dos egípcios.
No topo da sociedade encontrava-se o Faraó e
sua imensidão de parentes. O faraó era venerado como O rio Nilo era responsável por mover a eco-
um verdadeiro deus, pois era considerado como o inter- nomia, pois após as cheias, quando a terra estava fértil,
mediário entre os seres humanos e as demais divinda- plantavam-se trigo, cevada, frutas, legumes, linho, papi-
des. Por isso, era uma monarquia teocrática, ou seja, um ro e algodão. De igual maneira, o Nilo servia para pes-
governo baseado nas ideias religiosas. ca e garantia a unidade política ao antigo Egito, porque
era uma via utilizada para comunicar os dois pontos do
Abaixo do faraó e de sua família vinham as território. Para melhor aproveitar o rendimento do ter-
camadas privilegiadas como sacerdotes, nobres e fun- reno, os egípcios desenvolveram sistemas de medida e
cionários. Na base da pirâmide social egípcia estavam contagem. Afinal, os impostos eram pagos conforme o
os não privilegiados que eram artesãos, camponeses, tamanho da área cultivada e era preciso anotar com exa-
escravos e soldados. tidão as quantidades cobradas. A terra pertencia ao fa-
raó e os camponeses eram obrigados a dar parte de seus
Os sacerdotes formavam, junto com os no- produtos para o Estado em troca do direito de cultivar o
bres, a corte real. Tanto a nobreza como o sacerdócio solo. No entanto, a construção de diques, reservatórios e
eram hereditários compondo a elite militar e latifundiá- canais de irrigação era tarefa do Estado, que empregava
ria. Os escribas estavam a serviço do Estado para plane- tanto mão de obra livre quanto escrava para fazê-lo.

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Obra As esfinges egípcias também são trabalhos


arquitetônicos populares do Egito antigo. Comumente
Os faraós acreditavam que eram deuses vivos, representadas com corpo de leão e cabeça de humano
por isso precisavam de cuidados específicos ao morrer, (normalmente faraós), as esfinges serviam como um
pois, em sua crença, a alma permanecia no interior do símbolo de proteção.
corpo sem vida. O corpo do faraó era preservado e mu-
mificado além de permanecer envolto de tudo o que lhe A construção das pirâmides egípcias exigiu
era valioso em vida e que provavelmente precisaria após muito conhecimento matemático e força bruta. Existem
a morte como, por exemplo: seus órgãos, suas joias, te- muitas teorias que explicam como os egípcios consegui-
souros e alimentos. A complexidade de suas construções ram transportar as pedras que pesavam toneladas, mas
surpreende pela beleza e mistério que as envolve. Atual- ainda há muitas controvérsias. Existem especulações de
mente são mais de 100 pirâmides descobertas e iden- todos os gêneros em torno da elevação da construção,
tificadas, estando a maioria delas datadas do Antigo e entre elas uma rampa de terra e cascalho com escoras
Médio Império. laterais; uma rampa em forma de ziguezague em torno
da pirâmide, que é a mais conhecida nos dias de hoje;
Em 2950 a.c as tumbas eram chamadas de máquinas com um sistema de guindaste ou gangorra; e
“mastabas”, uma espécie de pioneira para as primeiras um conjunto de rampas que permitissem que as pedras
pirâmides. A península de Gizé é um dos mais célebres e girassem 90°.
influentes complexos arquitetônicos do mundo. Até o sé-
culo XIV, a pirâmide de Quéops foi a construção mais alta O formato das pirâmides também é um as-
do planeta, sendo superada pela Catedral de Lincoln, na pecto intrigante dos monumentos. Seu formato permi-
Inglaterra. te que resistam à força dos ventos do deserto e conse-
quentemente reduza o efeito da erosão, o que explica
A pirâmide do faraó Djoser, considerada a pri- se manterem de pé há quatro milênios. No entanto, o
meira pirâmide erguida no Egito, pertence à III dinastia, que deu origem ao formato piramidal ainda é tema de
período em que foram construídas as pirâmides mais pesquisa de muitos estudiosos. Dentre as muitas teorias,
antigas. Sua estrutura é conhecida como pirâmide de acredita-se que os povos se inspiraram no formato de
degraus, também chamada de escalonada. Conta com a construções rochosas naturais. Há quem acredite que a
entrada, câmara mortuária, espaço para tumbas secun- pirâmide simboliza a luz solar e o formato piramidal re-
dárias e um espaço para celebração, além de algumas presenta a primeira montanha que traria ordem ao caos,
galerias subterrâneas. ou mesmo que seja uma seta em ascensão aos céus de
forma a facilitar o contato com os deuses.


Durante a IV dinastia, foi erguida a grande pi-
râmide de Gizé, também conhecida como a pirâmide de
Quéops, uma das construções mais ousadas do antigo
Egito. Medindo 146 metros de altura e com uma base
quadrangular de 230 metros, a pirâmide é classificada Citações da Obra na Matriz de Referência
como uma das sete maravilhas do mundo antigo. Seu
interior é composto pela entrada, câmara da rainha, câ- Indivíduo, cultura e identidade
mara do rei, grande galeria. Contém ainda um espaço
vazio com mais de 30 metros de largura e 8 de altura É importante destacar que as pessoas podem
descoberto em 2017. desempenhar o papel de artistas e, então, tanto elas como
suas criações têm repercussão na formação da identida-
Ao lado da pirâmide de Quéops existem duas de cultural do grupo. Indivíduos deixam registros de suas
outras pirâmides: a de Quéfren, filho de Quéops, e a pi- criações nas mais diversas sociedades e culturas. Vale re-
râmide de Miquerinos, filho de Quéfren. Essa é a menor meter àqueles dos períodos pré-colombianos, da Antigui-
das três construções, medindo 65 metros de altura e 105 dade Clássica e da Idade Média, com as construções das
metros de base. Além das três principais, o complexo de Pirâmides Astecas e Egípcias, do Partenon, na Acrópole de
Gizé reserva mais algumas pirâmides menores que eram Atenas, do Aqueduto Acqua Appia, da Catedral de Notre-
destinadas às rainhas. -Dame de Reims, bem como as esculturas Nefertiti, autor
desconhecido, Discóbolo, de Míron, ou obras atuais, como
Uma outra pirâmide popular e a terceira maior as Estruturas Tridimensionais, de Mestre Didi, ou as Es-
do Egito é a pirâmide vermelha, que é chamada assim truturas Poliédricas, de Maurits Escher. (Página 6, décimo
pela coloração da sua superfície. Está localizada na ne- primeiro parágrafo)
crópole de Dahshur e conta com 140 metros de altura
Estruturas
e 220 metros de base, assim como a piramide curvada,
ambas construídas na IV disnastia no reinado de Snefru. A arquitetura geralmente se submete às mes-
mas determinações, notadamente quando há preferência

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por estruturas angulares. Nesse sentido, é importante Número, grandeza e forma


conhecer as formas arquitetônicas do Teatro Nacional
Cláudio Santoro, edifício de Oscar Niemeyer, em Brasília, O uso da geometria em produções artísticas
que se configura como presença sólida na paisagem da possibilita o emprego dos conceitos de equilíbrio, ritmo, si-
cidade, e os azulejos do artista Athos Bulcão presentes em metria, perspectiva e profundidade, aplicados, por exem-
várias construções e na decoração de edifícios da cidade. plo, nas esculturas Discóbolo, de Míron, e Nefertiti, autor
É importante fazer uma análise das Pirâmides Astecas, no desconhecido, na pintura Escola de Atenas, de Rafael San-
México, assim como das Pirâmides Egípcias, e compara- zio, e na concepção arquitetônica do Teatro Nacional, em
ção com o Teatro Nacional, em Brasília, considerando-se Brasília, nas Pirâmides Egípcias e Astecas, no Partenon e
aspectos estéticos e funcionais. (Página 12, décimo pri- na Catedral de Notre-Dame de Reims, na França. (Página
meiro parágrafo) 24, terceiro parágrafo)

Energia, equilíbrio e movimento Espaços

A ideia de energia, equilíbrio e movimento pode Entre as questões relacionadas aos espaços,
ser percebida artisticamente em obras como Discóbolo, de destacam-se algumas vinculadas às perspectivas acerca
Míron, em que o artista representa a força necessária fei- de distinções entre espaços públicos e privados, profanos
ta por um homem para lançar um disco, e nas estruturas e sagrados, como se observa nas obras Apologia de Só-
arquitetônicas das mais diversas civilizações, tais como as crates, de Platão, e Carta a Meneceu, de Epicuro, assim
Pirâmides Astecas e Egípcias, o Partenon, na Acrópole de como nas edificações das Pirâmides Astecas, das Pirâmi-
Atenas, a Catedral de Notre-Dame de Reims, na França, e des Egípcias, do Aqueduto Acqua Appia, em Roma, na Ca-
o Aqueduto Acqua Appia, que trazem significativas contri- tedral de Notre-Dame de Reims, localizada na França, e
buições para pensar a respeito desses aspectos, principal- do Partenon, na Acrópole de Atenas. (Página 26, primeiro
mente, de equilíbrio. (Página 16, quinto parágrafo) parágrafo)

Ambiente Materiais

É bem recente a presença humana na Terra, se Vale destacar a importância da identificação


considerada a idade desta. No entanto, em alguns perío- dos materiais e das técnicas de linguagens artísticas de-
dos, houve mudanças entre os modos de produção, na senvolvidas a partir deles, de acordo com as funções nos
interrelação dos povos, na urbanização e na alteração contextos socioculturais, científicos e tecnológicos. Nessa
dos fluxos de energia para que fossem criadas novas si- perspectiva, é significativo entender a utilização de mate-
tuações, chegando-se a modificar de forma drástica o riais naturais na criação, em diversas técnicas de pintura,
ambiente terrestre. Diversas construções ainda possíveis de desenho, de escultura e em estruturas arquitetônicas e
de ser vistas demonstram a capacidade adaptativa do ho- tridimensionais. Analisa-se a semelhança de materiais uti-
mem, como as Pirâmides Egípcias (2.600 a.C.) e as Pirâ- lizados em técnicas diferentes, como nas Estruturas tridi-
mides Astecas (século XIV). A arte e a engenharia também mensionais, de Mestre Didi. São avaliados também resul-
foram primordiais para as cidades, seja na Grécia, com tados expressivos, equilíbrio e durabilidade nas obras de
o Partenon, construído antes de 440 a.C., ou em Roma, artes visuais, como nas Estruturas poliédricas, de Escher,
com o Aqueduto Acqua Appia, construído mais de 300 na escultura Nefertiti (autor desconhecido) e Discóbolo, de
anos a.C., ou na França, com a Catedral de Notre-Dame Míron, ou, ainda, em obras arquitetônicas, como nas Pirâ-
de Reims, construída no século XII. A relação do homem mides Astecas, no México, nas Pirâmides Egípcias ou no
com o ambiente era, originalmente, indissociável da reli- Teatro Nacional, projetado por Oscar Niemeyer. (Página
giosidade, como mostrado em Ifigênia em Áulis, quando o 28, primeiro parágrafo)
fim das tormentas é relacionado à vontade dos deuses. O
aprimoramento de técnicas, contudo, contribui tanto para Questões, Justificativas e Dicas
atividades adaptativas no ambiente, quanto destrutivas
deste. (Página 18, segundo parágrafo) Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?

A formação do mundo ocidental Clique aqui ou use o QR CODE da página 6.

A escultura Nefertiti, autor desconhecido, as


Pirâmides Egípcias, o Partenon, na Acrópole de Atenas,
de Fídias, Ictinos e Calicrates, e o Aqueduto Acqua Appia,
construído por Agripa, são exemplos de obras que teste-
munham a riqueza dos conhecimentos presentes na Anti-
guidade. (Página 20, segundo parágrafo)

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Pirâmides Astecas

Autoria
Os povos astecas formaram um imponente im- Ficha Técnica
pério, que durante o início do século XVI chegou a contar
com mais de 500 cidades com milhões de habitantes ao Ano de produção: Entre séculos XIII e XIV
todo. Sua principal atividade econômica era a agricultu- Técnica: Pedras
ra, que permitiu com que os astecas se transformassem Dimensões: até 60m de altura e 250 km²
numa grandiosa civilização. Principal tema abordado: Rituais religiosos
Localização: México
Por ser uma cultura voltada aos confrontos,
a sociedade asteca era controlada por uma elite militar. Obra
O imperador comandava e era líder de todos exércitos,
As pirâmides astecas, de forma geral, tinham
além de exercer as funções políticas juntamente com
a função de abrigar rituais religiosos dedicados aos deu-
outro líder, o qual era destinado ao poder de legislação,
ses. Tais celebrações tinham o intuito de glorificação dos
execução de obras e distribuição de alimentos.
deuses, presenteando-os com sacrifícios humanos na
É possível destacar, dentro da sociedade as- esperança de que a felicidade das entidades concedesse
teca, vários grupos sociais: militares e sacerdotes, que boas colheitas e boa fortuna ao povo. Para os astecas, se
pertenciam à elite; comerciantes e artesãos, que faziam não houvesse ofertas, o sol não nasceria e o universo se
parte de uma classe intermediária; camponeses, os quais apagaria. Ou seja, as pirâmides constituíam apenas uma
pertenciam à posição social hierárquica mais baixa; e os forma de elevar-se até uma área alta, a fim de que ficas-
escravos, que eram obtidos por meio das guerras. A ca- sem mais perto do céu.
mada mais baixa da sociedade era sempre obrigada a
Feita por construtores e artesãos, ao contrário
trabalhar para o imperador quando este os convocava
das pirâmides do Egito, as pirâmides dos povos pré-co-
para trabalhar em obras públicas.
lombianos tinham formato de tronco de pirâmide com
Os astecas, assim como os maias, estabelece- bases quase quadrangulares, escada dupla íngreme,
ram um calendário que organizava a contagem de tem- comprida e larga, de modo que no topo havia uma pla-
po, além do sistema da escrita e da matemática. taforma com uma pedra, local determinado para a rea-
lização de diversos cultos e sacrifícios. Dessa forma, as
A medicina deste povo era integrada junta- pirâmides eram decoradas ainda com figuras de animais
mente com a cultura e religião. Dentro de suas festivida- simbólicos.
des, havia também sacrifícios humanos e atos antropo-
fágicos para glorificar os deuses. A mais conhecida dessas pirâmides, Templo
Maior, foi descoberta no México em 1970. O grande mo-
Muitas das pirâmides astecas construídas en- numento foi construído aproximadamente em 1375 e
tre os séculos XIII e XIV eram feitas com a finalidade de foi finalizado em 1487. Essa construção tinha cerca de
realizar a celebração de rituais religiosos. 60 metros de altura e uma área equivalente a 250 km².
As principais celebrações realizadas lá eram sacrifícios
humanos em massa e mais de 3 mil astecas foram ofe-
recidos em sacrifício para o deus sol Huitizilopchtli. Acre-
dita-se que o Templo Maior tenha sido destruído com a
invasão dos espanhóis e deixado em ruínas por volta de
1521.

Pirâmides astecas. Internet: <viajarpelomundo.com>



Citações da Obra na Matriz de Referência
Indivíduo, cultura e identidade

É importante destacar que as pessoas podem


desempenhar o papel de artistas e, então, tanto elas como
suas criações têm repercussão na formação da identida-

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de cultural do grupo. Indivíduos deixam registros de suas giosidade, como mostrado em Ifigênia em Áulis, quando o
criações nas mais diversas sociedades e culturas. Vale fim das tormentas é relacionado à vontade dos deuses. O
remeter àqueles dos períodos pré-colombianos, da Anti- aprimoramento de técnicas, contudo, contribui tanto para
guidade Clássica e da Idade Média, com as construções atividades adaptativas no ambiente, quanto destrutivas
das Pirâmides Astecas e Egípcias, do Partenon, na Acró- deste. (Página 18, segundo parágrafo)
pole de Atenas, do Aqueduto Acqua Appia, da Catedral de
Notre-Dame de Reims, bem como as esculturas Nefertiti, A formação do mundo ocidental
autor desconhecido, Discóbolo, de Míron, ou obras atuais,
como as Estruturas Tridimensionais, de Mestre Didi, ou as Na América pré-colombiana, destaca-se a im-
Estruturas Poliédricas, de Maurits Escher. (Página 6, déci- portância das diferentes formas de organização — políti-
mo primeiro parágrafo) ca, social, econômica e territorial dos diversos povos indí-
genas da região Andina e da América Central. Tornam-se
Estruturas relevantes as relações entre os aspectos da vida cotidiana
e a religiosidade, como se pode refletir a partir das Pirâmi-
A arquitetura geralmente se submete às mes- des Astecas. Há manifestações artísticas na produção de
mas determinações, notadamente quando há preferência objetos sacros e utilitários encontrados em diversos sítios
por estruturas angulares. Nesse sentido, é importante arqueológicos de nosso território. (Página 21, sexto pará-
conhecer as formas arquitetônicas do Teatro Nacional grafo)
Cláudio Santoro, edifício de Oscar Niemeyer, em Brasília,
que se configura como presença sólida na paisagem da Número, grandeza e forma
cidade, e os azulejos do artista Athos Bulcão presentes em
várias construções e na decoração de edifícios da cidade. O uso da geometria em produções artísticas
É importante fazer uma análise das Pirâmides Astecas, no possibilita o emprego dos conceitos de equilíbrio, ritmo, si-
México, assim como das Pirâmides Egípcias, e compara- metria, perspectiva e profundidade, aplicados, por exem-
ção com o Teatro Nacional, em Brasília, considerando-se plo, nas esculturas Discóbolo, de Míron, e Nefertiti, autor
aspectos estéticos e funcionais. (Página 12, décimo pri- desconhecido, na pintura Escola de Atenas, de Rafael San-
meiro parágrafo) zio, e na concepção arquitetônica do Teatro Nacional, em
Brasília, nas Pirâmides Egípcias e Astecas, no Partenon e
Energia, equilíbrio e movimento na Catedral de Notre-Dame de Reims, na França. (Página
24, terceiro parágrafo)
A ideia de energia, equilíbrio e movimento pode
ser percebida artisticamente em obras como Discóbolo, de Espaços
Míron, em que o artista representa a força necessária fei-
ta por um homem para lançar um disco, e nas estruturas Entre as questões relacionadas aos espaços,
arquitetônicas das mais diversas civilizações, tais como as destacam-se algumas vinculadas às perspectivas acerca
Pirâmides Astecas e Egípcias, o Partenon, na Acrópole de de distinções entre espaços públicos e privados, profanos
Atenas, a Catedral de Notre-Dame de Reims, na França, e e sagrados, como se observa nas obras Apologia de Só-
o Aqueduto Acqua Appia, que trazem significativas contri- crates, de Platão, e Carta a Meneceu, de Epicuro, assim
buições para pensar a respeito desses aspectos, principal- como nas edificações das Pirâmides Astecas, das Pirâmi-
mente, de equilíbrio. (Página 16, quinto parágrafo) des Egípcias, do Aqueduto Acqua Appia, em Roma, na Ca-
tedral de Notre-Dame de Reims, localizada na França, e
Ambiente do Partenon, na Acrópole de Atenas. (Página 26, primeiro
parágrafo)
É bem recente a presença humana na Terra, se
considerada a idade desta. No entanto, em alguns perío- Materiais
dos, houve mudanças entre os modos de produção, na
interrelação dos povos, na urbanização e na alteração Vale destacar a importância da identificação
dos fluxos de energia para que fossem criadas novas si- dos materiais e das técnicas de linguagens artísticas de-
tuações, chegando-se a modificar de forma drástica o senvolvidas a partir deles, de acordo com as funções nos
ambiente terrestre. Diversas construções ainda possíveis contextos socioculturais, científicos e tecnológicos. Nessa
de ser vistas demonstram a capacidade adaptativa do ho- perspectiva, é significativo entender a utilização de mate-
mem, como as Pirâmides Egípcias (2.600 a.C.) e as Pirâmi- riais naturais na criação, em diversas técnicas de pintura,
des Astecas (século XIV). A arte e a engenharia também de desenho, de escultura e em estruturas arquitetônicas e
foram primordiais para as cidades, seja na Grécia, com tridimensionais. Analisa-se a semelhança de materiais uti-
o Partenon, construído antes de 440 a.C., ou em Roma, lizados em técnicas diferentes, como nas Estruturas tridi-
com o Aqueduto Acqua Appia, construído mais de 300 mensionais, de Mestre Didi. São avaliados também resul-
anos a.C., ou na França, com a Catedral de Notre-Dame tados expressivos, equilíbrio e durabilidade nas obras de
de Reims, construída no século XII. A relação do homem artes visuais, como nas Estruturas poliédricas, de Escher,
com o ambiente era, originalmente, indissociável da reli- na escultura Nefertiti (autor desconhecido) e Discóbolo, de

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Míron, ou, ainda, em obras arquitetônicas, como nas Pi-


râmides Astecas, no México, nas Pirâmides Egípcias ou no
Teatro Nacional, projetado por Oscar Niemeyer. (Página
28, primeiro parágrafo)

Questões, Justificativas e Dicas


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Anotações e Rascunhos

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Aqueduto Acqua Appia

Contextualização
Os avanços conquistados pela civilização ro-
mana tornam sua história fascinante. Uma característica
marcante da cultura romana está na arquitetura.

Diversos tipos de construção exerceram pa-


péis fundamentais na qualidade de vida dos romanos.
Dentre essas construções estão os templos, compostos
por cela (estrutura central do templo que comportava a
estátua da divindade), o pórtico (local coberto à entrada
do templo), a escadaria e pódio (arena); os teatros, que
se assemelhavam às construções desenvolvidas pelos
gregos; o Panteon, templo reservado a todos os Deuses;
a Basílica, construção administrativa e judicial; o Coliseu, Aquedutos Romanos. Internet: <www.beira.pt>

utilizado para luta de gladiadores; os aquedutos, que


forneciam água para a cidade; o circus maximus, utiliza-
do para as atividades esportivas; o mercado de Trajano,
composto por diversas lojas; e as residências (domus),
habitação unifamiliar com pátio interno e decorado com
pinturas.

Os materiais utilizados no sistema construti- Aquedutos Romanos. Internet: <historiaartearquitetura.wordpress.com>


vo variavam entre tijolos, pedra, madeira e argamassa
(cal + areia + pozolana) para escoramentos e paredes,
enquanto para os arcos e abóbadas há uso de concreto
Ficha Técnica
sem ferros e pequenas pedras. Ano de produção: 312 a.c
Técnica: Arquitetura
A engenharia dos Aquedutos da época roma- Dimensões: 16,4 km de extensão
na permitia que a maioria fosse subterrâneo, evitando o Período ou movimento artístico que pertence: Roma
acumulo de detritos de animais, a fim de manter a água antiga
livre de doenças e protegidos de ataques inimigos. Seus Principal tema abordado: Construção que fornecia água
arcos eram funcionais e desempenhavam o papel de sus- potável para a cidade de Roma.
tentar com mais eficiência o aqueduto. A água era movi- Localização: Roma, Itália
da apenas pela gravidade, no entanto, algumas depres-
sões forçavam o uso do chamado sifão invertido. Além Obra
disso, o sistema contava com uma eficiente estratégia de
manutenção, que mantinha os vasos limpos e livres de A construção dos aquedutos romanos transfor-
vazamentos. mou a história da arquitetura e da engenharia no ociden-
te, o que comprova o indiscutível domínio da tecnologia
empregada nas construções da Roma Antiga. Os aquedu-
tos foram construídos com o propósito de fornecer água
potável à sua população de forma a distribui-la por um
vasto território, possibilitando a edificação de um pode-
roso império, trazendo qualidade de vida à população
romana.

Os romanos tinham um avançado sistema de


abastecimento, que permitia dividir os dutos de água
potável dos de água não potável, de modo a otimizar o
consumo. Porém, o esgoto era atirado sem tratamento
ao rio Tibre. O abastecimento de água era oferecido a
quartéis militares, casas de banho e moradias particula-
Aquedutos Romanos. Internet: <www.Infoescola.com>

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res, enquanto as de menor qualidade, não potável, eram nominar trabalho tanto umas quanto outras atividades?
direcionadas aos jogos e limpeza de rua. Construções como a Catedral de Notre-Dame de Reims,
na França, o Aqueduto Acqua Appia, o Partenon, na Acró-
Nas construções romanas foram utilizados pole de Atenas, e o Teatro Nacional, de Oscar Niemeyer,
concreto, cimento vulcânico, tijolos e pedras. Os aque- exemplificam características particulares das socieda-
dutos eram capazes de captar a água nas nascentes das des humanas. [...] É importante destacar que as pessoas
regiões que formam o Castelli Romani, ou mesmo de podem desempenhar o papel de artistas e, então, tanto
represas. Essa água era coletada por meio de veios li- elas como suas criações têm repercussão na formação da
gados a pequenos túneis. O atrito gerado não permitia identidade cultural do grupo. Indivíduos deixam registros
que a água percorresse caminhos íngremes, já que essa de suas criações nas mais diversas sociedades e culturas.
façanha deterioraria o canal com o passar do tempo. Por Vale remeter àqueles dos períodos pré-colombianos, da
isso, grande parte dos aquedutos percorria a superfície Antiguidade Clássica e da Idade Média, com as constru-
de forma a seguir os relevos do solo. No caso de se depa- ções das Pirâmides Astecas e Egípcias, do Partenon, na
rar com uma serra durante o curso da água, um túnel era Acrópole de Atenas, do Aqueduto Acqua Appia, da Cate-
construído para solucionar o problema, da mesma forma dral de Notre-Dame de Reims, bem como as esculturas
que se encontrasse um vale no meio do caminho, a so- Nefertiti, autor desconhecido, Discóbolo, de Míron, ou
lução se dava por meio da construção de uma ponte ar- obras atuais, como as Estruturas Tridimensionais, de Mes-
queada. A água percorria seu trajeto até deparar-se com tre Didi, ou as Estruturas Poliédricas, de Maurits Escher.
um castellum (tipo de tanque de distribuição) que ficava (Página 6, primeiro, segundo e décimo primeiro parágra-
localizado nos arredores da cidade, onde a partir daque- fos)
le ponto ramificava para um castellum secundário, que
Energia, equilíbrio e movimento
continuava se ramificando até as casas e locais comuns.
A ideia de energia, equilíbrio e movimento pode
O primeiro aqueduto romano a ser construído
ser percebida artisticamente em obras como Discóbolo, de
foi o Acqua Appia, por Ápio Cláudio em 312 a.c. A água
Míron, em que o artista representa a força necessária fei-
avançava cerca de 16,4 km pelo oriente de Roma até
ta por um homem para lançar um disco, e nas estruturas
despejar-se no Fórum Boário. Atualmente os arcos dos
arquitetônicas das mais diversas civilizações, tais como as
aquedutos podem ser vistos ao passar por dentro da ci-
Pirâmides Astecas e Egípcias, o Partenon, na Acrópole de
dade. Ainda por cima, a água utilizada na região continua
Atenas, a Catedral de Notre-Dame de Reims, na França, e
alimentada por esses aquedutos. Diversas dessas cons-
o Aqueduto Acqua Appia, que trazem significativas con-
truções são vistas em ruínas, tendo sido afetadas pela tribuições para pensar a respeito desses aspectos, prin-
ação do tempo e também destruídas por tribos bárbaras cipalmente, de equilíbrio. (Página 16, quinto parágrafo)
que desejavam invadir e dominar Roma. Cortar a água
da cidade era uma estratégia infalível, uma vez que for- Ambiente
çava muitos indivíduos a fugir.
É bem recente a presença humana na Terra, se
Uma das curiosidades do sistema de canali- considerada a idade desta. No entanto, em alguns perío-
zação é o uso do chumbo. Grande parte dos recipien- dos, houve mudanças entre os modos de produção, na
tes, dutos, ligamentos e utensílios da época utilizavam interrelação dos povos, na urbanização e na alteração
chumbo, material cumulativo no organismo e causador dos fluxos de energia para que fossem criadas novas si-
de grande parte das doenças existentes na Roma antiga. tuações, chegando-se a modificar de forma drástica o
O envenenamento por chumbo causava anemia, consti- ambiente terrestre. Diversas construções ainda possíveis
pação intestinal, falta de apetite, danos no fígado e dis- de ser vistas demonstram a capacidade adaptativa do ho-
túrbio no sistema nervoso. mem, como as Pirâmides Egípcias (2.600 a.C.) e as Pirâmi-


des Astecas (século XIV). A arte e a engenharia também
foram primordiais para as cidades, seja na Grécia, com
o Partenon, construído antes de 440 a.C., ou em Roma,
com o Aqueduto Acqua Appia, construído mais de 300
Citações da Obra na Matriz de Referência anos a.C., ou na França, com a Catedral de Notre-Dame
de Reims, construída no século XII. A relação do homem
Indivíduo, cultura e identidade com o ambiente era, originalmente, indissociável da reli-
giosidade, como mostrado em Ifigênia em Áulis, quando o
Nós, assim como as formigas, as abelhas e vá-
fim das tormentas é relacionado à vontade dos deuses. O
rios outros animais, dependemos da vida em grupo para
aprimoramento de técnicas, contudo, contribui tanto para
sobrevivermos como espécie. Mas o que diferencia as
atividades adaptativas no ambiente, quanto destrutivas
atividades por nós empreendidas, visando à sobrevivên-
deste. (Página 18, segundo parágrafo)
cia, das desenvolvidas por outros animais? É correto de-

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A formação do mundo ocidental

A escultura Nefertiti, autor desconhecido, as


Pirâmides Egípcias, o Partenon, na Acrópole de Atenas,
de Fídias, Ictinos e Calicrates, e o Aqueduto Acqua Appia,
construído por Agripa, são exemplos de obras que teste-
munham a riqueza dos conhecimentos presentes na Anti-
guidade. (Página 20, segundo parágrafo)

Espaços

Entre as questões relacionadas aos espaços,


destacam-se algumas vinculadas às perspectivas acerca
de distinções entre espaços públicos e privados, profanos
e sagrados, como se observa nas obras Apologia de Só-
crates, de Platão, e Carta a Meneceu, de Epicuro, assim
como nas edificações das Pirâmides Astecas, das Pirâmi-
des Egípcias, do Aqueduto Acqua Appia, em Roma, na
Catedral de Notre-Dame de Reims, localizada na França, e
do Partenon, na Acrópole de Atenas. (Página 26, primeiro
parágrafo)

Materiais

Trabalhando com materiais, a humanidade


desenvolveu as ciências, as artes e promoveu interações
culturais. As produções humanas como a Catedral de No-
tre-Dame de Reims, na França, o Aqueduto Acqua Appia,
em Roma, e o Partenon, na Acrópole de Atenas, ilustram
formas de materialização das ideias por meio de constru-
ções. (Página 27, quarto parágrafo)

Questões, Justificativas e Dicas


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Partenon

Autoria e Contextualização
O Partenon foi projetado por Fídias, conside- Obra
rado o maior escultor da antiguidade, e Ictino e Calígra-
tes, arquitetos do século V a.c. A construção foi feita em O Partenon de Atenas desvenda a magnifi-
substituição a um antigo templo destruído por uma inva- cência da cultura grega, suas potencialidades, suas ten-
são persa durante a reconstrução de Atenas. dências de construção, os padrões desenvolvidos e a
tecnologia, que serviu como modelo para as civilizações
O templo Partenon permaneceu intocado até futuras. A construção está localizada no ponto mais alto
o século V, quando foi convertido em um templo cris- da Acrópole de Atenas e é caracterizada por uma fusão
tão oferecido a Santa Sofia e sucessivamente à Virgem de estilos. Construída em um período de transição, seu
Maria, fato que proporcionou prejuízos e danificações exterior contempla o estilo dórico (coluna com simplici-
às estruturas da construção. Em 1687, quando já era dade da forma e estilo rígido, não apresenta base e pos-
uma mesquita turca, houve um acidente com uma ex- sui capitel de filetes), enquanto os adornos e colunas do
plosão de pólvora que danificou ainda mais a estrutura. interior são de características jônicas (coluna de capitel
As obras de arte e esculturas presentes no local sofre- ornado com duas volutas laterais e base simples).
ram danos ou foram transportadas a diferentes destinos,
principalmente durante os séculos XVIII e XIX, gerando O material utilizado no templo foi em grande
uma grande polêmica na época. Algumas ruínas e escul- parte o mármore pentélico, encontrado no monte Pen-
turas permanecem conservadas no Museu da Acrópole, télico ao nordeste de Atenas, e usado nas construções e
no Museu Britânico e no Museu do Louvre. Já no século esculturas da antiguidade. O templo possui tonalidade
XXI, o governo da Grécia iniciou um projeto de recupera- branca com nuance amarelada e, ao todo, é composto
ção das esculturas removidas do Partenon, porém, sem por aproximadamente 13400 pedras. A construção é for-
sucesso. mada por uma galeria de colunas (peristilo). Conta com 8
colunas na fachada frontal e 17 colunas em cada lateral.
O templo atualmente é consagrado como um O corpo central é dividido em três ambientes: o pronaos,
símbolo autêntico da cultura antiga e essencial para es- o naos ou cella e o opistódomo.
tudos históricos e científicos de uma civilização que trou-
xe contribuições valiosas para a humanidade. O tesouro da Liga de Delos confidenciado a Ate-
nas permanecia protegido no opistódomo, enquanto o
interior da pronaos e naos (salão mais importante do
templo) era recoberto por um friso no estilo jônico com
159 metros de extensão, que recobria a parte superior
externa da parede. O naos contemplava uma colossal es-
tátua de ouro e marfim da deusa Atena para culto. A es-
tátua esculpida em 438 a.c e de 11,5 metros de altura foi
feita por Fídias, considerado o maior escultor grego do
período clássico. Atenas, que está em pé, utiliza alguns
adereços, bem como túnica, lança, capacete e escudo.
No centro do escudo, há uma representação da Medusa.
Atualmente a estátua encontra-se desaparecida, porém
ainda é possível encontrar versões replicadas em recons-
Partenon. Internet: <www.dicaseuropa.com.br> truções gráficas ou mesmo algumas cópias em museus.
Essa estátua foi nomeada de Athena Parthenos.
Ficha Técnica O pronaos e o opistódomo estendem-se so-
Ano de produção: 447 - 432 a.c bre um pórtico de seis colunas e a cobertura do tem-
Técnica: Arquitetura plo formava o frontão triangular (arremate triangular
Dimensões: 69,5 x 30,85 metros da arquitetura greco-romana que embeleza a fachada
Período ou movimento artístico que pertence: Grécia do edifício). Os relevos que decoravam sua extremidade
Antiga usavam cores como o vermelho, azul e dourado em seus
Principal tema abordado: Templo dedicado à Deusa adornos. O friso dos frontões representa quatro lendas
Atena bélicas: na fachada meridional a luta dos Centauros con-
Localização: Acrópole de Atenas, Grécia tra os Lápitas; na fachada ocidental, a luta dos gregos

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contra as Amazonas; na fachada setentrional, a tomada Energia, equilíbrio e movimento


de Tróia; e na fachada oriental, a luta dos Deuses con-
tra Gigantes. No frontão leste, estão presentes cenas do A ideia de energia, equilíbrio e movimento pode
nascimento de Atena, saindo da cabeça de seu pai, Zeus. ser percebida artisticamente em obras como Discóbolo, de
Já no frontão oeste é representada a disputa da Ática por Míron, em que o artista representa a força necessária fei-
Atena e Poseidon. Esses detalhes revelam que além de ta por um homem para lançar um disco, e nas estruturas
um artefato arquitetônico, o templo é uma ilustre produ- arquitetônicas das mais diversas civilizações, tais como as
ção artística. Sua estética é baseada nas formas geomé- Pirâmides Astecas e Egípcias, o Partenon, na Acrópole de
tricas a fim de exaltar toda a racionalidade da arquitetu- Atenas, a Catedral de Notre-Dame de Reims, na França, e
ra clássica. Além das colunas externas, colunas internas o Aqueduto Acqua Appia, que trazem significativas contri-
também eram vistas em torno da figura de adoração da buições para pensar a respeito desses aspectos, principal-
mente, de equilíbrio. (Página 16, quinto parágrafo)
naos.
Ambiente
Posto isso, muitos artifícios arquitetônicos fo-
ram utilizados para causar a impressão de perfeição e É bem recente a presença humana na Terra, se
harmonia na construção do templo, entre eles o êntasis, considerada a idade desta. No entanto, em alguns perío-
uma técnica usada para reduzir a ilusão óptica provoca- dos, houve mudanças entre os modos de produção, na
da numa coluna (ou outra estrutura similar) quando as interrelação dos povos, na urbanização e na alteração
duas linhas paralelas parecem encurvar para dentro. A dos fluxos de energia para que fossem criadas novas si-
construção do templo do Partenon pode possuir inúme- tuações, chegando-se a modificar de forma drástica o
ras leituras e significados, tais como a representação de ambiente terrestre. Diversas construções ainda possíveis
seu povo através das colunas, os pórticos simbolizando de ser vistas demonstram a capacidade adaptativa do ho-
os órgãos do tear (um símbolo das moradias gregas), in- mem, como as Pirâmides Egípcias (2.600 a.C.) e as Pirâmi-
cluindo ainda o engrossamento das colunas pelas enta- des Astecas (século XIV). A arte e a engenharia também
sis. foram primordiais para as cidades, seja na Grécia, com


o Partenon, construído antes de 440 a.C., ou em Roma,
com o Aqueduto Acqua Appia, construído mais de 300
anos a.C., ou na França, com a Catedral de Notre-Dame
de Reims, construída no século XII. A relação do homem
Citações da Obra na Matriz de Referência com o ambiente era, originalmente, indissociável da reli-
Indivíduo, cultura e identidade giosidade, como mostrado em Ifigênia em Áulis, quando o
fim das tormentas é relacionado à vontade dos deuses. O
Nós, assim como as formigas, as abelhas e vá- aprimoramento de técnicas, contudo, contribui tanto para
rios outros animais, dependemos da vida em grupo para atividades adaptativas no ambiente, quanto destrutivas
sobrevivermos como espécie. Mas o que diferencia as ati- deste. (Página 18, segundo parágrafo)
vidades por nós empreendidas, visando à sobrevivência,
das desenvolvidas por outros animais? É correto denomi- A formação do mundo ocidental
nar trabalho tanto umas quanto outras atividades? Cons- A escultura Nefertiti, autor desconhecido, as
truções como a Catedral de Notre-Dame de Reims, na Pirâmides Egípcias, o Partenon, na Acrópole de Atenas,
França, o Aqueduto Acqua Appia, o Partenon, na Acrópole de Fídias, Ictinos e Calicrates, e o Aqueduto Acqua Appia,
de Atenas, e o Teatro Nacional, de Oscar Niemeyer, exem- construído por Agripa, são exemplos de obras que teste-
plificam características particulares das sociedades hu- munham a riqueza dos conhecimentos presentes na Anti-
manas. [...] É importante destacar que as pessoas podem guidade. (Página 20, segundo parágrafo)
desempenhar o papel de artistas e, então, tanto elas como
suas criações têm repercussão na formação da identida- Número, grandeza e forma
de cultural do grupo. Indivíduos deixam registros de suas
criações nas mais diversas sociedades e culturas. Vale re- O uso da geometria em produções artísticas
meter àqueles dos períodos pré-colombianos, da Antigui- possibilita o emprego dos conceitos de equilíbrio, ritmo, si-
dade Clássica e da Idade Média, com as construções das metria, perspectiva e profundidade, aplicados, por exem-
Pirâmides Astecas e Egípcias, do Partenon, na Acrópole de plo, nas esculturas Discóbolo, de Míron, e Nefertiti, autor
Atenas, do Aqueduto Acqua Appia, da Catedral de Notre- desconhecido, na pintura Escola de Atenas, de Rafael San-
-Dame de Reims, bem como as esculturas Nefertiti, autor zio, e na concepção arquitetônica do Teatro Nacional, em
desconhecido, Discóbolo, de Míron, ou obras atuais, como Brasília, nas Pirâmides Egípcias e Astecas, no Partenon e
as Estruturas Tridimensionais, de Mestre Didi, ou as Estru- na Catedral de Notre-Dame de Reims, na França. (Página
turas Poliédricas, de Maurits Escher. (Página 6, primeiro, 24, terceiro parágrafo)
segundo e décimo primeiro parágrafos)

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Espaços

Entre as questões relacionadas aos espaços,


destacam-se algumas vinculadas às perspectivas acerca
de distinções entre espaços públicos e privados, profanos
e sagrados, como se observa nas obras Apologia de Só-
crates, de Platão, e Carta a Meneceu, de Epicuro, assim
como nas edificações das Pirâmides Astecas, das Pirâmi-
des Egípcias, do Aqueduto Acqua Appia, em Roma, na Ca-
tedral de Notre-Dame de Reims, localizada na França, e
do Partenon, na Acrópole de Atenas. (Página 26, primeiro
parágrafo)

Materiais

Trabalhando com materiais, a humanidade


desenvolveu as ciências, as artes e promoveu interações
culturais. As produções humanas como a Catedral de No-
tre-Dame de Reims, na França, o Aqueduto Acqua Appia,
em Roma, e o Partenon, na Acrópole de Atenas, ilustram
formas de materialização das ideias por meio de constru-
ções. (Página 27, quarto parágrafo)

Questões, Justificativas e Dicas


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Nefertiti

Contextualização
O período Amarna, que perdurou durante a encontra-se as tumbas de nobres e faraós do Egito anti-
segunda metade da 18ª dinastia, é marcado pelo novo go. Parte das características que se acredita encontrar na
sistema organizacional e religioso proposto pelo Faraó múmia de Nefertiti são as orelhas com dois furos (símbo-
Akhenaton, conhecido como “o faraó herege”, em que o lo de vaidade na época e tido somente por mulheres da
culto politeísta egípcio é substituído pelo monoteísmo. A mais alta nobreza), cabeça raspada (a cabeça precisava
partir de então, a adoração a Athon, o rei-sol, conhecida ser rapada para evitar acumulo de parasitas e para com-
como Atonismo, era a única forma de culto. A elevação portar a coroa real) e braços dobrados (faraós e rainhas
de Athon interferiu em todos os setores da vida egíp- tinham o direito de serem sepultados nessa posição e se-
cia: Os sacerdotes e altos funcionários ganharam mais gurando um cetro real).
influência e o Faraó viu-se obrigado a dividir o topo da
hierarquia. Em meio a essas circunstâncias, ganha espa-
ço Nefertiti, a esposa principal do faraó Akhenaton, que
conquistou posição ativa no regime e é lembrada como
uma das mais importantes figuras egípcias. O culto ar-
maniano apresenta uma nova tríade divina que inclui o
casal real. Dessa forma, Nefertiti seria a filha de Athon,
e o casal era um representante legítimo do Deus para o
povo. Assim sendo, as preces da população egípcia deve-
riam ser ofertadas diretamente a ela, transformando-a
em uma figura quase intocável.

Nefertiti teve seis filhas com Akhenaton: Me-


ritaton, Mecketaton, Ankhesenpaton, Neferneferuaton,
Neferneferuré e Setepenré. No entanto, é pouco prová-
vel que tenha gerado um homem e por isso imagina-se
que tenha sido a madrasta de Tutankamon, sucessor do
trono de Akhenaton e supostamente filho de uma das
outras esposas. As conclusões são embasadas nas re-
presentações da família real em que o casal aparece so-
mente com as filhas. Todavia se eles tivessem gerado um
filho, as imagens concederiam grande destaque a esse
feito.

Apesar de confirmações históricas da sua


existência, a vida de Nefertiti é composta por inúmeros
mistérios. Há teorias que confirmam sua sobrevivência Nefertiti. Internet: <www.commons.wikimedia.org>

após a morte do marido e atestam que por isso há a


possibilidade de ela ter reinado sozinha sobre o Egito, Ficha Técnica
imitando uma figura masculina. Outra dessas teorias diz
Ano de produção: Novo Império Egípcio, VIII Dinastia
que a rainha passou a não ser mais adorada e acabou
(cerca de 1350 a.C)
exilada da família real, desaparecendo ou mesmo sendo
Autor desconhecido
assassinada por sacerdotes que defendiam o politeísmo.
Técnica: Escultura
É possível constatar que Nefertiti foi uma mulher de po-
Dimensões: 48 cm de altura
der e influência, fato que é legitimado através de uma
Principal tema abordado: Representação da rainha Ne-
imagem gravada em pedra, na qual a figura de Nefertiti
fertiti
aparece golpeando um opositor com uma maça, símbolo
Localização: Berlim, Alemanha
que remetia à força para os antigos egípcios.

Ainda hoje, a múmia de Nefertiti nunca foi Obra


encontrada, e alguns arqueólogos e historiadores acre- Nefertiti tornou-se mundialmente conhecida
ditam que ela permanece no Vale dos Reis, local onde por seu busto, que é considerado uma das obras primas

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da arte egípcia. Ela costumava ser representada na posi-
ção de uma mulher forte e poderosa. Carrega o legado
de uma das mais belas mulheres da história. O seu nome
significa “a mais bela chegou”. Citações da Obra na Matriz de Referência
O ser humano como um ser no mundo
Essa peça de autor desconhecido encontra-se
em Berlim, na Alemanha. O busto foi encontrado em 6 Diferentes maneiras de os seres humanos se
de dezembro de 1912, por arqueólogos alemães sob a li- perceberem ou se representarem podem ser discutidas
derança do Egiptólogo Ludwig Borchardt. Escavada onde com base nas artes visuais, como podem ser percebidas
foi a oficina do escultor da realeza e um dos artistas mais nas pinturas Susana e os anciãos, de Artemísia Gentiles-
renomado do período Armana, conhecido como Tutmo- chi, Escola de Atenas, de Rafael Sanzio, bem como nas
se. Dessa maneira, a escultura foi encontrada em exce- esculturas Discóbolo, de Míron, e Nefertiti, de autor des-
lentes condições, carecendo apenas da pupila esquerda conhecido. (Página 4, terceiro parágrafo)
nos olhos e fragmentos das orelhas, embora haja a com-
provação de que nunca foram colocados. Indivíduo, cultura e identidade

Através das escavações na casa de Tutmose, É importante destacar que as pessoas podem
foi possível compreender como as esculturas foram pro- desempenhar o papel de artistas e, então, tanto elas como
duzidas e as peculiaridades de trabalhos artísticos do suas criações têm repercussão na formação da identida-
período. Uma dessas peculiaridades é a preferência pela de cultural do grupo. Indivíduos deixam registros de suas
mistura de atributos realistas e estilizados, no sentido de criações nas mais diversas sociedades e culturas. Vale re-
dar personalidade a cada indivíduo de maneiras especi- meter àqueles dos períodos pré-colombianos, da Antigui-
ficas, com refinamentos individuais, porém ainda com o dade Clássica e da Idade Média, com as construções das
estilo da arte egípcia. Os instrumentos de trabalho con- Pirâmides Astecas e Egípcias, do Partenon, na Acrópole de
sistiam em ferramentas de pedra sólida ou bronze, dado Atenas, do Aqueduto Acqua Appia, da Catedral de Notre-
que o ferro endurecido ainda não era explorado. -Dame de Reims, bem como as esculturas Nefertiti, autor
desconhecido, Discóbolo, de Míron, ou obras atuais, como
Uma peculiaridade importante encontrada na as Estruturas Tridimensionais, de Mestre Didi, ou as Es-
peça está no tom de pele: A representação tem um tom truturas Poliédricas, de Maurits Escher. (Página 6, décimo
bronzeado de nuance amarelada enquanto as demais primeiro parágrafo)
esculturas possuem tonalidades rosadas, aspecto parti-
cular da arte egípcia. O estilo armaniano da escultura é Tipos e gêneros
percebido nas formas, como lábios grossos, sorriso deli-
Ao se considerando os gêneros das linguagens
neado, maçãs do rosto marcadas, pescoço estilizado e as
artísticas nas diversas sociedades e em contextos distin-
formas suaves que permeiam sobre os traços da escul-
tos, é necessário identificá-los, bem como direcionar um
tura. A coroa azulada perdeu o brilho e a tonalidade, no
olhar especial para o Brasil, no que se refere às produções
entanto o entalhe permanece em boas condições, sem que reflitam a diversidade cultural. É importante o reco-
nenhuma erosão aparente. A faixa que sustenta a coroa nhecimento de diferenças e semelhanças, significados e
imita o ouro, assim como outros adornos. signos entre as manifestações culturais populares dos
festejos do Boi de Seu Teodoro e da Festa do Divino de
Portanto, a escultura passou por muitos pro-
Pirenópolis, da mesma forma que o juízo de valor e suas
cessos ao ser fabricada. Em 2009, através de estudos,
implicações estéticas e ideológicas nas obras Escola de
descobriram uma segunda face escondida sobre uma
Atenas, de Rafael Sanzio, Suzana e os anciãos, de Arte-
camada superior de gesso, que tinha uma forma menos
mísia Gentileschi, Discóbolo, de Míron, e Nefertiti, autor
idealizada, com maçãs do rosto menos proeminentes,
desconhecido. (Página 10, sexto parágrafo)
algumas rugas e nariz com algumas imperfeições. A ca-
mada superior indica uma aproximação dos ideais es- Estruturas
téticos da época. Acredita-se que a obra nunca tenha
sido terminada pois sua beleza poderia causar inveja aos A produção artística é vinculada às possibilida-
deuses. des dos materiais, como os utilizados nas esculturas Dis-
cóbolo, de Míron, e Nefertiti, autor desconhecido, bem
como nas Estruturas Tridimensionais, do Mestre Didi, e
nas Estruturas Poliédricas, de Maurits Escher. (Página 12,
décimo parágrafo)

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A formação do mundo ocidental

A escultura Nefertiti, autor desconhecido, as


Pirâmides Egípcias, o Partenon, na Acrópole de Atenas,
de Fídias, Ictinos e Calicrates, e o Aqueduto Acqua Appia,
construído por Agripa, são exemplos de obras que teste-
munham a riqueza dos conhecimentos presentes na Anti-
guidade. (Página 20, segundo parágrafo)

Número, grandeza e forma

O uso da geometria em produções artísticas


possibilita o emprego dos conceitos de equilíbrio, ritmo, si-
metria, perspectiva e profundidade, aplicados, por exem-
plo, nas esculturas Discóbolo, de Míron, e Nefertiti, autor
desconhecido, na pintura Escola de Atenas, de Rafael San-
zio, e na concepção arquitetônica do Teatro Nacional, em
Brasília, nas Pirâmides Egípcias e Astecas, no Partenon e
na Catedral de Notre-Dame de Reims, na França. (Página
24, terceiro parágrafo)

Materiais

Vale destacar a importância da identificação


dos materiais e das técnicas de linguagens artísticas de-
senvolvidas a partir deles, de acordo com as funções nos
contextos socioculturais, científicos e tecnológicos. Nessa
perspectiva, é significativo entender a utilização de mate-
riais naturais na criação, em diversas técnicas de pintura,
de desenho, de escultura e em estruturas arquitetônicas
e tridimensionais. Analisa-se a semelhança de materiais
utilizados em técnicas diferentes, como nas Estruturas tri-
dimensionais, de Mestre Didi. São avaliados também re-
sultados expressivos, equilíbrio e durabilidade nas obras
de artes visuais, como nas Estruturas poliédricas, de Es-
cher, na escultura Nefertiti (autor desconhecido) e Discó-
bolo, de Míron, ou, ainda, em obras arquitetônicas, como
nas Pirâmides Astecas, no México, nas Pirâmides Egípcias
ou no Teatro Nacional, projetado por Oscar Niemeyer.
(Página 28, primeiro parágrafo)

Questões, Justificativas e Dicas


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Discóbolo - Mirón

Autoria
Míron, um dos grandes escultores de seu tem- Ficha Técnica
po, nasceu em Beócia, mas obteve a cidadania Ateniense.
Foi em Atenas que desenvolveu grande parte dos seus Ano de produção: 450 a.C
trabalhos durante os anos 470 e 440 a.C, aproximada- Técnica: Escultura
mente. Ele foi o mais velho entre os três mais famosos Dimensões: 1,55 m de altura
artistas Gregos da idade de Ouro de Atenas: Míron, Fídias Período ou movimento artístico que pertence: Arte gre-
e Policleto. ga
Principal tema abordado: Representação de um atleta
Ele viveu o apogeu da Atenas Clássica, um mo- lançador de discos durante o movimento de arremesso.
mento em que a cidade era liderada por Péricles durante Localização: (Uma das cópias romanas encontra-se em
as guerras persas e do Peloponeso. Atenas tinha a repu- Munique, Alemanha).
tação de centro cultural do mundo por promover intensa-
mente a arte e a literatura. Obra
Fontes literárias atribuem numerosas obras de A escultura Discóbolo, ou lançador de discos,
arte a Míron, porém, dentre todas as obras, geralmente é uma das mais famosas esculturas gregas, sendo a está-
heroicas e atléticas associadas à sua produção, apenas tua mais popular de um atleta em ação. A obra foi escul-
três apresentam legitimidade e são conhecidas por in- pida pela primeira vez durante o período clássico grego,
termédio de cópias romanas. Essas obras são O Discóbo- no entanto, a original não resistiu ao tempo. Hoje restam
lo, o grupo de Atena e Marsyas e os Anadumenos. Essas apenas cópias do período romano feitas em mármore.
produções destacam o estilo emblemático de Míron, pois
retratam o movimento do corpo e demonstram equilíbrio Míron tinha predileção pelo bronze, pois suas
e vitalidade. características maleáveis permitiam que a obra adquiris-
se um movimento dinâmico sem terminar com rachadu-
Míron era considerado um artista à frente de ras. As particularidades são detalhes mais minuciosos
seu tempo por querer superar as características de mode- de natureza realista, maior resistência à ação do tempo
los escultóricos arcaicos. Usufruiu de sua fama ainda em e facilidade no transporte.
vida e serviu de influência para diversos artistas devido ao
seu intenso realismo. O processo de criação de uma estátua em
bronze é conhecido como cera perdida. A produção co-
meça a partir de uma escultura em argila em tamanho
real, a partir dela é confeccionado um molde e aplicada
uma camada interna de cera ao molde, que será subs-
tituído pelo metal no processo conhecido como fundi-
ção. Logo após o período de resfriamento, é feita a des-
moldagem e algumas correções da fundição até chegar
ao acabamento final, em que há polimento e adição de
materiais que oxidam a peça para proteção e alcance da
tonalidade desejada pelo artista.

O Discóbolo de Míron retrata um atleta de lan-


çamento de discos, uma das etapas do pentatlo (conjun-
to de cinco modalidades atléticas praticadas pelos anti-
gos gregos composto por corrida, salto, lançamento de
dardo, arremesso de discos e luta). O escultor retrata
um momento de imobilidade do atleta, este está con-
centrado na sua atividade em um conjunto perfeito de
harmonia e equilíbrio. O artista buscou transmitir o vigor
e equilíbrio do corpo de anatomia perfeita.

A simetria do corpo é arquitetada e as propor-


ções dos membros evidenciam os músculos em busca da
Discóbolo de Míron. Internet: <www.imagexia.com>

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perfeição inalcançável, significando assim a característi- Tipos e gêneros


ca do legado da arte grega para a humanidade: a busca
pelo ideal de beleza. Ao se considerando os gêneros das linguagens
artísticas nas diversas sociedades e em contextos distintos,
O atleta encontra-se com o braço voltado para é necessário identificá-los, bem como direcionar um olhar
trás, enquanto sua mão segura o disco para onde a ca- especial para o Brasil, no que se refere às produções que
beça é direcionada. Existem versões de cabeças viradas reflitam a diversidade cultural. É importante o reconheci-
para cima e para baixo. O rosto tem a expressão rela- mento de diferenças e semelhanças, significados e signos
xada se comparado à força que o atleta deveria exercer entre as manifestações culturais populares dos festejos do
naquele instante. O peso do corpo está todo sobre o pé Boi de Seu Teodoro e da Festa do Divino de Pirenópolis, da
direito, e a partir do seu corpo nu é possível observar a mesma forma que o juízo de valor e suas implicações es-
forma como os músculos são flexionados e os ângulos téticas e ideológicas nas obras Escola de Atenas, de Rafael
acentuados. Sanzio, Suzana e os anciãos, de Artemísia Gentileschi, Dis-
cóbolo, de Míron, e Nefertiti, autor desconhecido. (Página
Atualmente existem muitas versões do Discó- 10, sexto parágrafo)
bolo. A primeira cópia foi encontrada em Roma duran-
te o século XVIII, e isso gerou um amplo interesse dos Estruturas
neoclássicos quanto à cultura do corpo e representações
A produção artística é vinculada às possibilida-
perfeitas dos músculos e movimentos.
des dos materiais, como os utilizados nas esculturas Dis-
Atualmente o Discóbolo é o símbolo oficial do cóbolo, de Míron, e Nefertiti, autor desconhecido, bem
profissional de Educação Física do Brasil, sendo adotado como nas Estruturas Tridimensionais, do Mestre Didi, e
pela CONFEF em 2002. nas Estruturas Poliédricas, de Maurits Escher. (Página 12,


décimo parágrafo)

Energia, equilíbrio e movimento

A ideia de energia, equilíbrio e movimento pode


Citações da Obra na Matriz de Referência ser percebida artisticamente em obras como Discóbolo, de
O ser humano como um ser no mundo Míron, em que o artista representa a força necessária fei-
ta por um homem para lançar um disco, e nas estruturas
Diferentes maneiras de os seres humanos se arquitetônicas das mais diversas civilizações, tais como as
perceberem ou se representarem podem ser discutidas Pirâmides Astecas e Egípcias, o Partenon, na Acrópole de
com base nas artes visuais, como podem ser percebidas Atenas, a Catedral de Notre-Dame de Reims, na França, e
nas pinturas Susana e os anciãos, de Artemísia Gentiles- o Aqueduto Acqua Appia, que trazem significativas contri-
chi, Escola de Atenas, de Rafael Sanzio, bem como nas buições para pensar a respeito desses aspectos, principal-
esculturas Discóbolo, de Míron, e Nefertiti, de autor des- mente, de equilíbrio. (Página 16, quinto parágrafo)
conhecido. (Página 4, terceiro parágrafo)
Número, grandeza e forma
Indivíduo, cultura e identidade
O uso da geometria em produções artísticas
É importante destacar que as pessoas podem possibilita o emprego dos conceitos de equilíbrio, ritmo, si-
desempenhar o papel de artistas e, então, tanto elas como metria, perspectiva e profundidade, aplicados, por exem-
suas criações têm repercussão na formação da identida- plo, nas esculturas Discóbolo, de Míron, e Nefertiti, autor
de cultural do grupo. Indivíduos deixam registros de suas desconhecido, na pintura Escola de Atenas, de Rafael San-
criações nas mais diversas sociedades e culturas. Vale re- zio, e na concepção arquitetônica do Teatro Nacional, em
meter àqueles dos períodos pré-colombianos, da Antigui- Brasília, nas Pirâmides Egípcias e Astecas, no Partenon e
dade Clássica e da Idade Média, com as construções das na Catedral de Notre-Dame de Reims, na França. (Página
Pirâmides Astecas e Egípcias, do Partenon, na Acrópole 24, terceiro parágrafo)
de Atenas, do Aqueduto Acqua Appia, da Catedral de No-
tre-Dame de Reims, bem como as esculturas Nefertiti, au- Materiais
tor desconhecido, Discóbolo, de Míron, ou obras atuais,
Vale destacar a importância da identificação
como as Estruturas Tridimensionais, de Mestre Didi, ou as
dos materiais e das técnicas de linguagens artísticas de-
Estruturas Poliédricas, de Maurits Escher. (Página 6, déci-
senvolvidas a partir deles, de acordo com as funções nos
mo primeiro parágrafo)
contextos socioculturais, científicos e tecnológicos. Nessa
perspectiva, é significativo entender a utilização de mate-
riais naturais na criação, em diversas técnicas de pintura,
de desenho, de escultura e em estruturas arquitetônicas

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e tridimensionais. Analisa-se a semelhança de materiais


utilizados em técnicas diferentes, como nas Estruturas tri-
dimensionais, de Mestre Didi. São avaliados também re-
sultados expressivos, equilíbrio e durabilidade nas obras
de artes visuais, como nas Estruturas poliédricas, de Es-
cher, na escultura Nefertiti (autor desconhecido) e Discó-
bolo, de Míron, ou, ainda, em obras arquitetônicas, como
nas Pirâmides Astecas, no México, nas Pirâmides Egípcias
ou no Teatro Nacional, projetado por Oscar Niemeyer.
(Página 28, primeiro parágrafo)

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Catedral de Notre-Dame de Reims

Contextualização
A catedral de Notre-Dame de Reims, que é dedi-
cada à Nossa Senhora, está localizada na cidade de Rei-
ms, na Região de Champange, famosa pela produção do
vinho espumante. Reims foi, nos tempos romanos, um
importante centro comercial, já que era rica em vinhos,
madeira, carne e lã.

Reims foi também sede do bispado de Cham-


pagne e o local de batismo do rei dos francos Clóvis I
no ano 496. Na época do batismo havia uma pequena
igreja, também consagrada a Nossa Senhora, que hoje
é o local onde se encontra a Notre-Dame de Reims. A
igreja cresceu e se transformou em catedral e palco de Catedral Notre-Dame de Reims. Internet: <www.beminparisblog.com>
coroação de vários reis da França, no entanto, em 1211,
foi incendiada. Mesmo com esse trágico acontecimento, Ficha Técnica
Reims tornou-se a cidade dos reis, o local onde os mo-
narcas adquiriam o trono da França. Ano de produção: 1211
Técnica: Arquitetura
Área construída: 6.650 m²
Dimensões: 149,17 metros de comprimento e 87 metros
de altura até o campanário.
Período ou movimento artístico que pertence: Arte Gó-
tica
Principal tema abordado: Catedral cristã
Localização: Reims, França.

Obra
Em 1211, no mesmo ano do incêndio, as cons-
truções da nova catedral tiveram início sob as ordens do
arcebispo Aubrey de Humbert. A fachada principal e os
pórticos (nome que se dá ao local coberto na entrada
de um edifício) foram concluídos, respectivamente, em
1252 e 1256. Já a fachada até o nível da Galeria dos Reis
foi finalizada por Robert de Coucy, em 1299.

Em 1429 foi realizada a cerimônia de coroação


de Carlos VII. Este contexto é marcado pela Guerra dos
Cem Anos (1337 – 1453) que teve Joana D’arc como
proeminente combatente e posteriormente, famosa
Catedral Notre-Dame de Reims. Internet: <www.catedraismedievais.blogspot.com>
personalidade histórica, canonizada em 1920, na época,
entretanto, a jovem acabou queimada em praça pública
acusada de feitiçaria.

A Guerra dos Cem anos e a grande peste de 1348


culminaram em atrasos no projeto da construção da Ca-
tedral. Em 1481 o telhado pegou fogo, mas com ajuda da
realeza o trabalho foi finalizado. Como forma de agrade-
cimento, foi decidido que o telhado seria decorado com
flor-de-lis, um símbolo associado à monarquia francesa,
especialmente ligado com o rei da França. Durante a Re-
Vitrais Notre-Dame de Reims. Internet: <www.beminparisblog.com>

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volução Francesa, a flor-de-lis foi removida após uma Em 1991 a catedral foi classificada pela UNESCO
campanha de supressão de símbolos reais em edifícios. como patrimônio mundial. Sua importância se dá não
somente pela sua arquitetura e obras ali presentes, mas
Foi somente 300 anos após a data de início da também pelo papel primordial que desempenhou na
construção que a catedral tomou a aparência que tem história da França durante mais de 1000 anos ao acolher
hoje, apesar das torres permanecerem incompletas. Em trinta e três coroações.
1516, quando finalmente completa, a nave tinha 139
metros de comprimento, 13 metros de largura e 35 me- Estilo Gótico
tros de altura. Já a catedral, essa possui 149,17 metros
de comprimento e altura de 87 metros até o campanário. A Arte Gótica foi um estilo artístico que se ma-
nifestou na arquitetura, com a construção de catedrais,
No projeto original, foi prevista a construção de e se difundiu para a escultura e pintura. Esse estilo se
sete torres, mas apenas duas torres foram construídas. desenvolveu na Europa, especificamente na França, na
Essa obra da arquitetura gótica foi construída sobre uma última fase da Idade Média, em um período em que
planta em cruz latina e possui quatro capelas as quais ocorriam grandes transformações como: a superação da
circundam a nave. Seus pilares, além de serem belos sociedade feudal, formação de novos centros de poder,
elementos decorativos que simbolizam a elegância da primeiras monarquias, e outros.
catedral, também suportam a estrutura do edifício per-
mitindo que fossem construídas aberturas mais largas a A Arte gótica se desenvolveu em um contexto
fim de que a luz passe através dos vitrais. oposto ao estilo anteriormente evidenciado na Idade
Média – a Arte Romântica. Dentre as principais caracte-
Durante a primeira guerra mundial, também co- rísticas da arte gótica estão: Temas religiosos, verticali-
nhecida como Grande Guerra, a catedral foi bombardea- dade das construções, naturalismo, simbolismo, religio-
da por tropas alemãs, que visavam desmoralizar a po- sidade, iluminação natural, planta arquitetônica com
pulação francesa por meio da destruição de um símbolo formato de cruz latina, entre outros.
histórico. A abóboda (cobertura encurvada, cuja forma é
obtida pela rotação de um arco em torno de um eixo ver- Os arquitetos góticos desejavam ver seus edi-
tical) foi gravemente danificada. Em 1919 deu-se início, fícios próximos ao céu. As paredes das catedrais eram
com financiamento privado, a um extenso trabalho de grossas e as colunas e pilares sustentavam as grandes
reconstrução que só foi finalizado em 1937. abóbodas. Os arcobotantes (construção em forma de
meio arco, erguida na parte exterior dos edifícios na ar-
Ainda hoje é possível observar alguns vitrais que quitetura gótica para apoiar as paredes e repartir o peso
datam do século XVIII, apesar das várias destruições que das paredes e colunas) permitiam aumentar a exposição
o edifício sofreu. Com a reconstrução foram colocados à luz. Na parte externa, as paredes eram cobertas por
vitrais contemporâneos, dentre eles algumas obras de esculturas, estas desempenhavam o papel de escoar a
Marc Chagall. O artista bielorusso, juntamente com Si- água.
mon-Marq, contribuiu com três vitrais que cobrem uma
superfície de 75 m², com 10 metros de altura. A junção de elementos arquitetônicos verti-
cais, as colunas, rosáceas e abóbodas unidos à vivacida-
Inaugurados em 1974, os vitrais combinam as de dos vitrais garantem a magnificência da construção,
tonalidades dos vitrais medievais (azuis) com desenhos ao contrário da arquitetura romântica, que tinha o obje-
modernos, conservando a harmonia das cores. Na ja- tivo de construir catedrais escuras e fechadas para pro-
nela central são retratadas as histórias de Abrãao e os porcionar a sensação de proteção divina.
instantes finais da vida de Cristo na terra, combinando o
Antigo e o Novo testamento e faz alusão ao sacrifício de Os vitrais são uma solução dada pela arquite-
Abraão e o sacrifício de Cristo. É possível perceber tam- tura gótica, pois permitia a substituição de paredes só-
bém profetas anunciando a vinda de Cristo e a rosácea, lidas por pilares preenchidos de vidro. Ao todo existem
que representa o Espírito Santo. mais de duzentos vitrais concebidos ao longo da história,
mas além da função arquitetônica eles tiveram um papel
Notre Dame de Reims é conhecida também por didático na época, dado que grande parte dos fiéis não
suas muitas estátuas, sendo considerado o edifício reli- sabia ler, e os desenhos formados no vidro narravam as
gioso com a maior quantidade de estátuas do mundo. Lá histórias bíblicas. A monumentalidade presente em seu
é possível encontrar a obra Anjo Risonho, que é o emble- interior eleva sua afirmação de contato ao céu.
ma da cidade de Reims. Há, também, finas tapeçarias, a
pia batismal de Clóvis, estátuas de seus sucessores e um
portal central dedicado à Virgem Maria o qual possui um
vitral em forma de rosácea.

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Ambiente

É bem recente a presença humana na Terra, se


Citações da Obra na Matriz de Referência considerada a idade desta. No entanto, em alguns perío-
dos, houve mudanças entre os modos de produção, na
Indivíduo, cultura e identidade interrelação dos povos, na urbanização e na alteração
dos fluxos de energia para que fossem criadas novas si-
Nós, assim como as formigas, as abelhas e vá- tuações, chegando-se a modificar de forma drástica o
rios outros animais, dependemos da vida em grupo para ambiente terrestre. Diversas construções ainda possíveis
sobrevivermos como espécie. Mas o que diferencia as ati- de ser vistas demonstram a capacidade adaptativa do ho-
vidades por nós empreendidas, visando à sobrevivência, mem, como as Pirâmides Egípcias (2.600 a.C.) e as Pirâmi-
das desenvolvidas por outros animais? É correto denomi- des Astecas (século XIV). A arte e a engenharia também
nar trabalho tanto umas quanto outras atividades? foram primordiais para as cidades, seja na Grécia, com
o Partenon, construído antes de 440 a.C., ou em Roma,
Construções como a Catedral de Notre-Dame
com o Aqueduto Acqua Appia, construído mais de 300
de Reims, na França, o Aqueduto Acqua Appia, o Parte-
anos a.C., ou na França, com a Catedral de Notre-Dame
non, na Acrópole de Atenas, e o Teatro Nacional, de Oscar
de Reims, construída no século XII. A relação do homem
Niemeyer, exemplificam características particulares das
com o ambiente era, originalmente, indissociável da reli-
sociedades humanas. [...] É importante destacar que as
giosidade, como mostrado em Ifigênia em Áulis, quando o
pessoas podem desempenhar o papel de artistas e, então,
fim das tormentas é relacionado à vontade dos deuses. O
tanto elas como suas criações têm repercussão na forma-
aprimoramento de técnicas, contudo, contribui tanto para
ção da identidade cultural do grupo. Indivíduos deixam
atividades adaptativas no ambiente, quanto destrutivas
registros de suas criações nas mais diversas sociedades
deste. (Página 18, segundo parágrafo)
e culturas. Vale remeter àqueles dos períodos pré-colom-
bianos, da Antiguidade Clássica e da Idade Média, com Número, grandeza e forma
as construções das Pirâmides Astecas e Egípcias, do Par-
tenon, na Acrópole de Atenas, do Aqueduto Acqua Appia, O uso da geometria em produções artísticas
da Catedral de Notre-Dame de Reims, bem como as es- possibilita o emprego dos conceitos de equilíbrio, ritmo, si-
culturas Nefertiti, autor desconhecido, Discóbolo, de Mí- metria, perspectiva e profundidade, aplicados, por exem-
ron, ou obras atuais, como as Estruturas Tridimensionais, plo, nas esculturas Discóbolo, de Míron, e Nefertiti, autor
de Mestre Didi, ou as Estruturas Poliédricas, de Maurits desconhecido, na pintura Escola de Atenas, de Rafael San-
Escher. (Página 6, primeiro, segundo e décimo primeiro zio, e na concepção arquitetônica do Teatro Nacional, em
parágrafos) Brasília, nas Pirâmides Egípcias e Astecas, no Partenon e
na Catedral de Notre-Dame de Reims, na França. (Página
Estruturas 24, terceiro parágrafo)
As estruturas geradas pelas formas estéticas Espaços
exigem uma interlocução que leve ao entendimento da ex-
pressividade e do nível de interação criados pelo poder da Entre as questões relacionadas aos espaços,
imagem, pois elas provocam reflexões e conhecimentos destacam-se algumas vinculadas às perspectivas acerca
do ser humano e de sua cultura, a exemplo da Catedral de de distinções entre espaços públicos e privados, profanos
Notre-Dame de Reims (século XII, França), que, decorada e sagrados, como se observa nas obras Apologia de Só-
com vitrais, possibilita discutir esses aspectos no âmbito crates, de Platão, e Carta a Meneceu, de Epicuro, assim
das cidades. (Página 13, primeiro parágrafo) como nas edificações das Pirâmides Astecas, das Pirâmi-
des Egípcias, do Aqueduto Acqua Appia, em Roma, na Ca-
Energia, equilíbrio e movimento tedral de Notre-Dame de Reims, localizada na França, e
do Partenon, na Acrópole de Atenas. (Página 26, primeiro
A ideia de energia, equilíbrio e movimento pode
parágrafo)
ser percebida artisticamente em obras como Discóbolo, de
Míron, em que o artista representa a força necessária fei- Materiais
ta por um homem para lançar um disco, e nas estruturas
arquitetônicas das mais diversas civilizações, tais como as Trabalhando com materiais, a humanidade
Pirâmides Astecas e Egípcias, o Partenon, na Acrópole de desenvolveu as ciências, as artes e promoveu interações
Atenas, a Catedral de Notre-Dame de Reims, na França, e culturais. As produções humanas como a Catedral de No-
o Aqueduto Acqua Appia, que trazem significativas contri- tre-Dame de Reims, na França, o Aqueduto Acqua Appia,
buições para pensar a respeito desses aspectos, principal- em Roma, e o Partenon, na Acrópole de Atenas, ilustram
mente, de equilíbrio. (Página 16, quinto parágrafo) formas de materialização das ideias por meio de constru-
ções. (Página 27, quarto parágrafo)

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Escola de Atenas - Rafael Sanzio

Autor
Em 6 de abril de 1483 nascia um dos grandes Obra
mestres do Alto Renascimento: Rafael Sanzio, conhecido
apenas como Rafael. Nascido em Urbino, na Itália, aos 17 O Afresco A escola de Atenas é uma das mais
anos ele já era apreciado como um mestre, recebendo, famosas obras de Rafael. De tamanho monumental, o
ao longo da vida, valorosas encomendas. afresco é visto acima da altura da cabeça em uma das
paredes da Stanza Della Segnatura, que possui teto abo-
Em princípio o artista aprendeu os ofícios com badado.
seu pai Giovanni, que exercia a profissão de pintor e
poeta, mas com o passar do tempo tornou-se frequen- A Stanza Della Segnatura (sala da assinatura) é
tador do ateliê de Perugino. Entretanto, foi somente a uma prestigiada sala de um conjunto de aposentos par-
partir do contato com Michelangelo e Leonardo da Vin- ticulares decorados pelo artista Rafael Sanzio. Essa sala
ci (tríade que dominou o alto renascimento) que Rafael se encontra no Palácio do Vaticano e ficou conhecida por
acrescentou técnicas do período às suas obras como, por ser utilizada como sede de audiências papais, mas tam-
exemplo, o chiaroscuro (claro-escuro) e o sfumato (esfu- bém empregada como biblioteca e escritório particular
mado). do Papa, onde se assinava decretos da corte eclesiástica.

Rafael fez trabalhos importantes para os Papas Júlio II A encomenda do Afresco foi realizada pelo
e Leão X. Além dos afrescos de Stanza Della Segnatura, Papa Júlio II, este ficou conhecido por ser um patroci-
assumiu projetos como arquiteto das obras do Vaticano nador da arte renascentista, o qual também convidou
como a basílica de São Pedro, em que a planta de inspi- Michelangelo para a pintura do teto da Capela Sistina.
ração grega foi substituída por um design longitudinal, e Rafael ficou responsável pelo adornamento de quatro
as tapeçarias da Capela Sistina, que constam como suas grandiosas salas (stanze), estendendo o trabalho sob o
principais criações. No entanto, em 1520, Rafael foi víti- legado de Leão X, sucessor de Júlio II. Rafael morreu an-
ma de uma febre que o levou à morte no mesmo dia em tes de finalizar as quatro salas.
que completaria 37 anos de idade.
As quatro paredes da sala são divididas em
quatro temas diferentes, são eles: filosofia, poesia, teolo-
gia e direito. A obra A Escola de Atenas é a representante
da filosofia e retrata os principais sábios e grandes filóso-
fos clássicos em um encontro ilustre e utópico. O afresco
da parede oposta é chamado A discussão do Santíssimo
Sacramento ou Disputa, além dos outros dois chamados
Justiça e Parnaso.

Um aspecto fundamental da composição de A


Escola de Atenas consiste na colocação central de dois
importantes filósofos gregos: Platão, um representante
da perspectiva racionalista e Aristóteles, que construiu
Escola de Atenas. Internet: <www.culturagenial.com> suas concepções a partir de uma noção empirista. Duas
escolas de pensamentos opostos se encontram lado a
Ficha Técnica lado em diálogo.
Ano de produção: 1509-1511 O cenário arquitetônico da obra possui traços
Técnica: Afresco majestosos e imponentes com profundidade espacial
Dimensões: 500 x 770 cm e características grandiosas, tais como: um templo de
Período ou movimento artístico que pertence: Alto Re- paredes e tetos ornamentados, constituídos pela sime-
nascimento tria no estilo clássico, além de toda gestualidade serena
Principal tema abordado: Encontro fictício de filósofos das figuras que se unem para compor uma obra prima
e sábios. do renascimento, na representação de um ideal clássico
Localização: Vaticano da busca do conhecimento. O cenário foi inspirado no
projeto de Donato Bramante para a Basílica Papal de São
Pedro. Em vista disso, a cena utiliza de recursos técnicos

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em sua execução como, por exemplo, os arcos centrais, com base nas artes visuais, como podem ser percebidas
que mantêm uma aparência de profundidade e o centro nas pinturas Susana e os anciãos, de Artemísia Gentiles-
da imagem, que consiste nos filósofos gregos Platão e chi, Escola de Atenas, de Rafael Sanzio, bem como nas
Aristóteles. Para o centro, o artista utilizou linhas verti- esculturas Discóbolo, de Míron, e Nefertiti, de autor des-
cais, horizontais e inclinadas em perfeita simetria com a conhecido. (Página 4, terceiro parágrafo)
composição dos elementos do afresco.
Indivíduo, cultura e identidade
Em um passeio visual pela obra, é possível per- Ressalta-se a importância da identificação e da
ceber elementos importantes que fazem parte das inú- comparação dos gêneros nas artes visuais, relacionando-
meras personalidades representadas. A título de exem- -se estética e aspectos sociais, como se percebe na contra-
plo, há a figura de Heráclito em primeiro plano na parte posição dos movimentos artísticos do Renascimento, com
central. O personagem apresenta uma linguagem cor- a obra Escola de Atenas, de Rafael Sanzio, e do Barroco,
poral melancólica, assim como era conhecido o filósofo com a obra Susana e os anciãos, de Artemísia Gentileschi.
pré-socrático - filósofo chorão -. Para retratar Heráclito, (Página 7, quarto parágrafo)
Rafael buscou homenagear Michelangelo ao utilizá-lo
como modelo. Tipos e gêneros

Outro personagem é Diógenes, polêmico re- Ao se considerar os gêneros das linguagens ar-
presentante da filosofia que decidiu viver na pobreza e tísticas nas diversas sociedades e em contextos distintos,
é necessário identificá-los, bem como direcionar um olhar
em muitos casos é representado como um mendigo. No
especial para o Brasil, no que se refere às produções que
entanto, Rafael escolheu colocá-lo em uma posição de
reflitam a diversidade cultural. É importante o reconheci-
destaque, trajando menos roupas que os demais e com mento de diferenças e semelhanças, significados e signos
a expressão concentrada em uma leitura. entre as manifestações culturais populares dos festejos do
Boi de Seu Teodoro e da Festa do Divino de Pirenópolis, da
Outros personagens da obra também são re- mesma forma que o juízo de valor e suas implicações esté-
tratos como Platão, que tem a aparência de Leonardo ticas e ideológicas nas obras Escola de Atenas, de Rafael
da Vinci, e Euclides, que se parece com Bramante. Teve Sanzio, Suzana e os anciãos, de Artemísia Gentileschi, Dis-
como objetivo salientar a junção entre o passado e fu- cóbolo, de Míron, e Nefertiti, autor desconhecido. (Página
turo. 10, sexto parágrafo)

Pitágoras também faz parte da obra, ficando à Estruturas


direita em primeiro plano, em que aparenta testar ideias
e teorias enquanto é assistido por um grupo de apren- Nas produções visuais, são importantes a iden-
dizes. No mesmo momento, Euclides aparece no lado tificação dos elementos estruturantes da imagem (ponto,
oposto, inclinado e demostrando um exercício matemá- linha, plano, espaço e cor) e a utilização deles na compo-
tico, também rodeado por um grupo de pessoas. Entre o sição visual, além do reconhecimento dos efeitos intelec-
tuais, simbólicos e expressivos encontrados nas pinturas
grupo da esquerda com um elmo na cabeça, é possível
Escola de Atenas, de Rafael Sanzio, e Suzana e os anciãos,
localizar a representação de Alexandre o Grande, Rei da de Artemísia Gentileschi. (Página 13, segundo parágrafo)
macedônia, que escuta atentamente os ensinamentos
de Sócrates. A formação do mundo ocidental

Por fim, Rafael teve a oportunidade de unir É importante considerar o Renascimento como
grandes personalidades e criar diálogos que não existi- um momento da transição do teocentrismo medieval para
ram. Sendo assim, ilustrou Zoroastro, um profeta Per- o antropocentrismo moderno, como é possível observar
sa, em diálogo com Ptolomeu, cientista grego autor de na pintura Escola de Atenas, de Rafael Sanzio. Entre as
A grande síntese, que pregava o geocentrismo (a terra pinturas do período Barroco, a temática da religião pode
como centro do universo). Ambos aparecem com as ser pensada sob distintas perspectivas, dentre as quais se
mãos ocupadas: Ptolomeu segura a Terra enquanto Zo- destaca a de Artemísia Gentileschi, ilustrada na obra Su-
roastro mantém em sua mão uma esfera celeste. sana e os anciãos. (Página 21, quarto parágrafo)


Número, grandeza e forma

O uso da geometria em produções artísticas


possibilita o emprego dos conceitos de equilíbrio, ritmo, si-
Citações da Obra na Matriz de Referência metria, perspectiva e profundidade, aplicados, por exem-
O ser humano como um ser no mundo plo, nas esculturas Discóbolo, de Míron, e Nefertiti, autor
desconhecido, na pintura Escola de Atenas, de Rafael San-
Diferentes maneiras de os seres humanos se zio, e na concepção arquitetônica do Teatro Nacional, em
perceberem ou se representarem podem ser discutidas

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Brasília, nas Pirâmides Egípcias e Astecas, no Partenon e


na Catedral de Notre-Dame de Reims, na França. (Página
24, terceiro parágrafo)

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Susana e os anciãos - Artemísia

Autoria
Artemísia Gentileschi, artista Italiana nascida Com o passar dos anos, suas obras demons-
em Roma (1593-1656), foi a primeira artista a ser aceita travam maior maturidade artística e conquistaram para
na Academia de Belas Artes de Florença, na Itália, por a artista reconhecimento e boa reputação em toda a Eu-
onde também passaram Michelangelo e Galileu Galilei. ropa. Em 1630, a artista fixou-se em Nápoles com sua
família e permaneceu até seus últimos dias, quando foi
Artemísia foi uma pintora barroca que expri- acometida por uma praga, falecendo em 1656.
miu em seus projetos toda a dramaticidade e o intenso
contraste cromático característicos do período, unido
a um realismo acadêmico e uma forte influência dos
trabalhos de Caravaggio. Dentre seus trabalhos, a figu-
ra de personagens femininas em papel de heroína era
frequente, além de temas trágicos com uma abordagem
naturalista.

Primogênita da família e única filha mulher do


pintor toscano Orazio Gentileschi, Artemísia começou a
pintar no ateliê do seu pai, que mais tarde contratou o
pintor Agostinho de Tassi para dar aulas para a jovem.
Agostinho de Tassi mudou-se para Roma a fim de apro-
veitar as oportunidades trazidas para artistas na época.
Recebeu trabalhos junto a Gentileschi e fazia parte do
convívio da família. Foi então que Tassi aproveitou-se da
liberdade para violentar Artemísia, que na época tinha
dezoito anos.

Seu pai, por medo dos rumores de escândalo


e com receio de que a filha nunca recuperasse sua “dig-
nidade” perante a sociedade, tentou organizar o casa-
mento entre a filha e o agressor. Porém, contra todos os
valores da época, Artemísia recusou-se, até que anos de-
pois venceu o processo do qual Agostinho nunca chegou
a cumprir o tempo total da pena. Pouco tempo depois a
Susana e os anciãos. Internet: <www.wikipedia.com>
artista foi prometida em casamento a Pierantonio Stiat-
tesi, também pintor. O casal se mudou para Florença,
onde tiveram duas filhas que também se tornaram pin- Ficha Técnica
toras por influência da mãe. Ano de produção: 1610
Técnica: Óleo sobre tela
As obras de Artemísia ganharam reconheci- Dimensões: 1,7m x 1,21m
mento na atualidade pela sua perspectiva feminina. A Período ou movimento artístico que pertence: Barroco
artista retratou figuras femininas fortes tanto da mito- Principal tema abordado: Representação da história
logia quanto da bíblia. Sua obra Susana e os Anciãos, de bíblica Suzana e Os Anciãos.
1610, traz uma compreensão diferenciada da cena que Localização: Pommersfelden, Alemanha
antes foi representada por diversos artistas. Era comum
a figura de Susana aparecer como uma mulher fútil e Obra
mundana, porém Artemísia traz a perspectiva do medo e
vulnerabilidade para a obra, que por sua qualidade artís- A história de Susana e os anciãos já foi repre-
tica foi questionada por ter sido produzida somente pela sentada inúmeras vezes e por artistas diferentes durante
artista. O quadro foi produzido mesmo antes da artista a história da arte. Faz parte do primeiro testamento bí-
ser vítima de estupro, após essa agressão sua posição blico e encontra-se no Livro de Daniel, capítulo 13 para
tornou-se ainda mais crítica. a igreja católica e para a igreja ortodoxa oriental. Para os

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protestantes a história é considerada apócrifa, ou seja, solicitam a ela silêncio enquanto tramam seus pro-
tem origem duvidosa. jetos de luxúria.

De acordo com a bíblia, Susana, a bela esposa Toda a teatralidade da cena é um recur-
judia de Joaquim, habitava uma casa com um formoso e so da artista para destacar o comportamento e as
amplo jardim. Dois homens anciãos que frequentavam a atitudes dos personagens, não somente retratar o
casa a desejavam em segredo. Um dia, enquanto tomava momento em que Susana sofre o abuso. Aliás, a
seu banho no jardim e após dispensar as damas de com- obra é composta de diversos dualismos, como as
panhia que a rodeavam para que fechassem os portões, características do barroco -beleza x grotesco -, pelo
Susana percebeu que os homens a espreitavam e então contraste entre juventude e velhice, o prazer ver-
foi atacada por eles. No entanto, enquanto ela recusava sus dor, e o desejo sentido pelos anciãos versus a
se entregar a eles, os anciãos a chantagearam dizendo repulsa de Susana.


que se não cedesse seria acusada por adultério e execu-
tada por promiscuidade.

Mesmo sabendo o que poderia acontecer, Su-


sana não cede e é acusada de traição. Mesmo sem ter Citações da Obra na Matriz de Referên-
como se defender das acusações, Susana ora para que cia
Deus intervenha por ela. Foi então que um jovem cha-
mado Daniel intervém e propõe que os anciãos sejam O ser humano como um ser no mundo
interrogados separadamente. Durante o interrogatório
Diferentes maneiras de os seres huma-
é pedido a eles que dissessem o nome da árvore onde
nos se perceberem ou se representarem podem ser
Susana cometeu o adultério. Nesse momento os anciãos
discutidas com base nas artes visuais, como podem
caíram em contradição e a mentira foi descoberta. Eles ser percebidas nas pinturas Susana e os anciãos, de
foram condenados e Susana foi inocentada. Artemísia Gentileschi, Escola de Atenas, de Rafael
Sanzio, bem como nas esculturas Discóbolo, de Mí-
Posto isso, das várias possibilidades possíveis
ron, e Nefertiti, de autor desconhecido. (Página 4,
para a representação da história, a mais estimada retrata
terceiro parágrafo)
o momento em que Susana é atacada, enfatizando o nu
feminino, enquanto algumas outras concentram-se na Indivíduo, cultura e identidade
dramaticidade da cena. Dentre alguns artistas que ence-
nam a história estão: Tintoretto (1560), Jacopo Bassano Ressalta-se a importância da identifica-
(1571), Guido Reni (1620), Anthony Van Dyck (c.1621), ção e da comparação dos gêneros nas artes visuais,
Guido Cagnacci (século XVII), Sebastiano Ricci (1713), relacionando-se estética e aspectos sociais, como se
Giovanni Battista Tiepolo (c.1720-1722), além de Arte- percebe na contraposição dos movimentos artísti-
mísia Gentileschi, que foi uma das artistas que retratou cos do Renascimento, com a obra Escola de Atenas,
o assédio dos anciãos. de Rafael Sanzio, e do Barroco, com a obra Susana
e os anciãos, de Artemísia Gentileschi. (Página 7,
A obra de Artemísia é composta pela imagem quarto parágrafo)
dos três personagens em primeiro plano e desprovida
de paisagem. A composição dos personagens é feita de Tipos e gêneros
forma triangular. Os dois anciãos dispõem o corpo sobre
o de Susana, enquanto ela age com uma expressão de Ao se considerando os gêneros das lin-
repulsa, tanto no rosto quanto no movimento dos bra- guagens artísticas nas diversas sociedades e em
ços. O cenário é composto apenas pelo banco de pedras contextos distintos, é necessário identificá-los, bem
em que Susana aparece sentada, pois de acordo com a como direcionar um olhar especial para o Brasil, no
artista, um cenário acabaria distraindo o espectador da que se refere às produções que reflitam a diversida-
mensagem principal da pintura. de cultural. É importante o reconhecimento de dife-
renças e semelhanças, significados e signos entre as
As cores vivas e o uso da luz atraem a atenção manifestações culturais populares dos festejos do
do espectador para o desdobrar da cena. Além disso, a Boi de Seu Teodoro e da Festa do Divino de Pirenó-
artista deixa evidente a dramaticidade dos personagens polis, da mesma forma que o juízo de valor e suas
por meio do realismo dos gestos violentos e pelo deses- implicações estéticas e ideológicas nas obras Escola
pero da protagonista em contraste com a indiferença dos de Atenas, de Rafael Sanzio, Suzana e os anciãos,
dois homens. Suzana aparece com muita expressivida- de Artemísia Gentileschi, Discóbolo, de Míron, e Ne-
de, transpondo sentimento de pavor e recusa mediante fertiti, autor desconhecido. (Página 10, sexto pará-
gestos intensos e feição dramática, já os algozes apenas grafo)

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Estruturas

Nas produções visuais, são importantes a iden-


tificação dos elementos estruturantes da imagem (ponto,
linha, plano, espaço e cor) e a utilização deles na compo-
sição visual, além do reconhecimento dos efeitos intelec-
tuais, simbólicos e expressivos encontrados nas pinturas
Escola de Atenas, de Rafael Sanzio, e Suzana e os anciãos,
de Artemísia Gentileschi. (Página 13, segundo parágrafo)

A formação do mundo ocidental

É importante considerar o Renascimento como


um momento da transição do teocentrismo medieval para
o antropocentrismo moderno, como é possível observar
na pintura Escola de Atenas, de Rafael Sanzio. Entre as
pinturas do período Barroco, a temática da religião pode
ser pensada sob distintas perspectivas, dentre as quais se
destaca a de Artemísia Gentileschi, ilustrada na obra Su-
sana e os anciãos. (Página 21, quarto parágrafo)

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Estruturas Poliédricas - Maurits Escher

Autor
Maurits Cornelis Escher, nascido em 17 de ju-
nho de 1898 em Leeuwarden, Países Baixos, foi um dos
mais renomados artistas gráficos do século XX. Aos 5
anos se mudou com a família para Arnhem e morou ali
na maior parte da sua juventude. Após cursar uma sema-
na na Escola de Arquitetura e Artes Decorativas, Escher
decidiu que queria estudar artes gráficas.

Escher foi aluno de Samuel Jessurun de Mes-


quita1, que o encorajou a continuar com seus trabalhos
de linogravura2. Após terminar seus estudos, Escher
morou em Roma, Suíça e Bélgica, e em 1941 voltou aos
Países Baixos. Durante desse período, o artista consolida
suas habilidades e dedica-se às artes gráficas.

Conhecer as mais variadas culturas permitiu Convex and Concave. Internet: <www.mcescher.com>

que Escher entrasse em contato com a arte geométrica


muçulmana, que era bastante utilizada na fabricação de Ficha Técnica
azulejos. A arte muçulmana, por não admitir represen-
tações, é voltada para figuras e formas padronizadas. O Ano de produção: a partir de 1922
artista fascinou-se pela utilização da geometria e transfi- Técnica: Desenho e gravura
guração de figuras geométricas. Escher inovou ao substi- Principal tema abordado: Estruturas geométricas
tuir as formas geométricas nuas por imagens concretas,
principalmente da natureza, e ao fazer essas imagens Obra
evoluírem, ao invés de se repetirem com o mesmo pa- Uma das coisas mais incríveis que a arte pode
drão estático. proporcionar é a construção daquilo que muitas vezes
está na nossa imaginação e pode ser considerado impos-
Conhecido como o artista das construções
sível. Em seus desenhos, Escher explorava as mais diver-
impossíveis, Escher produziu mais de 400 litografias3,
sas possibilidades de construir estruturas impossíveis de
xilogravuras e gravuras no geral, além de milhares de es-
existirem no mundo real que conhecemos.
boços e desenhos. Em suas obras, nota-se que o artista
gostava de retratar a arquitetura, mudança de perspec- O artista, em suas obras, desafiava as leis da
tiva, ilusão de ótica e criação de lugares impossíveis. En- física, relatividade e tudo o que o olho humano pode di-
tre suas principais características estão a exploração do zer que é impossível de se ver. Além das impossibilidades
infinito e as metamorfoses, estas foram geradas pela re- físicas de suas estruturas arquitetônicas, o desenhista
petição de padrões geométricos. Todas as suas criações também explora ao máximo o uso não-convencional de
merecem uma segunda olhada, já que possuem impre- polígonos4, fazendo pequenas mudanças no desenho
visíveis efeitos de ilusão de ótica. Escher faleceu aos 73 sem alterar o formato original da figura. Criou-se tam-
anos em Hilversum, no ano de 1972. bém por meio de poucos traços peixes, homens e aves.
Gostava de brincar de representar o espaço, que é tridi-
mensional, num plano bidimensional como a folha de pa-
pel, para formar representações distorcidas e paradoxos.

Em sua obra “Sky and Water” existem duas for-


mas que se complementam na ausência da outra: a de
um pássaro e de um peixe. O autor utiliza de polígonos
em sua forma mais rústica no meio da estrutura, numa
1. Samuel Jessurun de Mesquita foi um artista holandês conhecido pelas suas
xilogravuras, litografias e meios-tons, que tendem a representar explorações
do infinito e padrões geométricos.
2. A linogravura é um tipo de gravura que se obtém escavando o linó-
leo.
3. Tipo de gravura cuja técnica de gravura envolve a criação de marcas (ou
desenhos) sobre uma matriz (pedra calcária) com um lápis gorduroso. A
Day and Night. Internet: <www.mcescher.com> base dessa técnica é o princípio da repulsão entre água e óleo.
4. Polígonos são figuras fechadas formadas por segmentos de reta.

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faixa de transição entre branco e preto. A primeira forma Estruturas


em preto é a de um pássaro, na qual há mais detalhes. À
medida que a quantidade de figuras aumenta, o espaço A produção artística é vinculada às possibilida-
entre elas se estreita, proporcionando o aparecimento des dos materiais, como os utilizados nas esculturas Dis-
de uma nova figura que ocupa o espaço negativo entre cóbolo, de Míron, e Nefertiti, autor desconhecido, bem
as figuras pretas. Essa nova figura que aparece em de- como nas Estruturas Tridimensionais, do Mestre Didi, e
trimento da ausência das outras é um peixe, que vai se nas Estruturas Poliédricas, de Maurits Escher. (Página
detalhando conforme se afasta dos pássaros. 12, décimo parágrafo)

É possível notar esse jogo de claros e escuros Número, grandeza e forma


com o auxílio de formas geométricas e polígonos nas
obras de M. Escher. Os padrões numéricos, não só em sequências
numéricas, mas também em formas geométricas, são
Um outro exemplo da característica citada é aspectos que têm importância, assim como as sequên-
“Day and Night”, que representa a mesma cidade em cias, entre as quais se destacam a progressão aritméti-
duas versões do mesmo plano, sendo uma durante o dia ca, a progressão geométrica e a de Fibonacci, associa-
e a outra durante a noite. Além das duas cidades, o artis- das aos conceitos de simetria, de média e de função,
ta cria um plano xadrez entre as duas e, a partir dos qua- relacionando-os à determinação de leis de formação. A
drados pretos e brancos da malha, vai transformando-os sequência de Fibonacci e a razão áurea estão presentes
a partir da repetição e distorção em pássaros pretos e nos efeitos de harmonia alcançados com a combinação
brancos que voam em sentidos opostos: os brancos vão de arte e ciência, identificados na produção artística
para o lado da cidade que representa a noite e os pretos do holandês Murítius Cornélius Escher, 1898/1972. Seu
vão para o lado da cidade que representa o dia. trabalho de precisão na construção de estruturas polié-
dricas, cujas formas fundamentam-se em números, pro-
Escher usa o jogo de xadrez em muitos de seus duziram imagens ilusórias cuja estética inquestionável é
desenhos, sempre trazendo novas formas de transfor- admirada pelos matemáticos.
mar polígonos e criar uma composição visual que vai
além da realidade usando preto e branco. Os polígonos regulares e as relações métricas


e trigonométricas dos triângulos retângulos são aborda-
dos no estudo dos poliedros. A geometria dos poliedros
trata de conceitos relativos às figuras planas correspon-
dentes às interseções de um plano com um ou mais des-
Citações da Obra na Matriz de Referência ses sólidos, de conceitos de paralelismo e perpendicula-
rismo no espaço, de posições relativas de pontos, retas e
Indivíduo, cultura e identidade
planos localizados em poliedros, de cálculo de áreas das
É importante destacar que as pessoas podem superfícies das faces, de volumes de prismas e pirâmides.
desempenhar o papel de artistas e, então, tanto elas (Página 23, sexto e sétimo parágrafos)
como suas criações têm repercussão na formação da
Materiais
identidade cultural do grupo. Indivíduos deixam registros
de suas criações nas mais diversas sociedades e cultu- Vale destacar a importância da identificação
ras. Vale remeter àqueles dos períodos pré-colombianos, dos materiais e das técnicas de linguagens artísticas
da Antiguidade Clássica e da Idade Média [...] ou obras desenvolvidas a partir deles, de acordo com as funções
atuais, como as Estruturas Tridimensionais, de Mestre nos contextos socioculturais, científicos e tecnológicos.
Didi, ou as Estruturas Poliédricas, de Maurits Escher. Nessa perspectiva, é significativo entender a utilização
(Página 6, décimo primeiro parágrafo) de materiais naturais na criação, em diversas técnicas
de pintura, de desenho, de escultura e em estruturas ar-
Tipos e gêneros
quitetônicas e tridimensionais. Analisa-se a semelhança
Este objeto de conhecimento proporciona o de materiais utilizados em técnicas diferentes, como nas
estudo dos tipos de figuras geométricas — os poliedros. Estruturas tridimensionais, de Mestre Didi. São avaliados
Nesses sólidos, destacam-se as relações métricas entre também resultados expressivos, equilíbrio e durabilidade
os elementos e as aplicações de suas formas. É necessá- nas obras de artes visuais, como nas Estruturas polié-
rio perceber os diversos tipos de interação possíveis en- dricas, de Escher, na escultura Nefertiti (autor desconhe-
tre dois ou mais desses sólidos e, também, de um deles cido) e Discóbolo, de Míron, ou, ainda, em obras arqui-
com planos que se interceptam. Obras como as Estrutu- tetônicas, como nas Pirâmides Astecas, no México, nas
ras Poliédricas, de Maurits Escher, evidenciam esses as- Pirâmides Egípcias ou no Teatro Nacional, projetado por
pectos. (Página 10, oitavo parágrafo) Oscar Niemeyer. (Página 28, primeiro parágrafo)

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Questões, Justificativas e Dicas


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Anotações e Rascunhos

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Estruturas Tridimensionais - Mestre Didi

Autor
Deoscóredes Maximiliano dos Santos, ou
como é conhecido, Mestre Didi, foi escultor e escritor
afro-brasileiro. Nascido em 1917 em Salvador, Bahia,
desde a infância o artista manipulava materiais e obje-
tos ritualísticos que faziam parte do culto dos orixás. Foi
também sacerdote da tradição afro-brasileira e Supremo
Sacerdote do culto de Obaluiayê.

Foi ao assumir o cargo de sacerdote do culto


Obaluaiyê que Mestre Didi assumiu a incumbência de
confeccionar os objetos ritualísticos dos orixás do pan-
teão da terra.

Os trabalhos de Mestre Didi sempre tiveram


uma temática relacionada com a natureza, terra e enti-
dades responsáveis pela manutenção do equilíbrio na-
tural, de acordo com ele, Mãe Terra-Lama, representada
pela orixá Nanã. As obras de Mestre Didi tinham uma Estruturas Tridimensionais. Internet: <www.itaucultural.com>

estética sempre ligada com seu próprio universo íntimo,


no qual a ancestralidade exerce um papel fundamental. Ficha Técnica
As raízes africanas se misturam com a naturalidade baia-
Técnica: Técnica mista, normalmente com materiais
na, o que marca em seus trabalhos uma rica temática e
orgânicos
inspiração mítica. Dito isso, é notória uma forte ligação
Dimensões: Entre 50 e 200 cm de altura
exotérica de suas crenças e experiências com o sagrado
Principal tema abordado: Cultura afro-brasileira
por meio de simbologias.

Contou com mais de 70 exposições, individuais Obra


e coletivas, pelo mundo durante sua vida. Atualmen- Uma parte significativa da formação popula-
te suas obras fazem parte do acervo do Museu Picasso cional brasileira, no que diz respeito às origens no perío-
(Paris) e do MAM do Rio de Janeiro e Salvador. Confec- do de solidificação cultural do Brasil colônia, são oriun-
cionou ainda quatro obras em dimensões monumentais das da África. Os africanos trouxeram, além do próprio
que se encontram expostas, sendo três delas em Salva- corpo, a sua cultura, uma vez que é impossível separar
dor e uma em São Paulo. Sua primeira exposição oficial completamente o sujeito de seu contexto sociocultu-
aconteceu em 1964, na Galeria Ralf, em Salvador. No ral. Esta cultura, rica em tradições, consolidou-se aqui e
mesmo ano expôs individualmente no Rio de Janeiro. hoje faz parte de nossas raízes miscigenadas. A expres-
sividade dos rituais estão presentes até os dias de hoje,
Em 1999 tornou-se Dr. Honoris Causa pela principalmente na Bahia, lugar onde Mestre Didi nasceu
Universidade Federal da Bahia. Sua produção artística já (1917) e morreu (2013).
possuiu várias rotulações, sendo associada às artes po-
pular, folclórica e também utilitária, até que a categoria A arte de Mestre Didi é composta por uma sé-
arte afro-brasileira se instituiu como campo específico rie de estruturas tridimensionais que representam, de
da arte brasileira. muitas formas, a cultura africana. Assim os materiais ma-
nipulados, os objetos escolhidos, cores e formatos con-
tribuem para a expressividade cujo tema normalmente
se relaciona às entidades sagradas, unindo a produção
artística à prática religiosa.

Os orixás que inspiram as obras de Mestre Didi


normalmente são associados às forças e elementos na-
turais, característica que fica evidente na escolha de uso
dos materiais pelo artista. É possível encontrar em suas
obras conchas de búzios, palha de palmeiras e outros
Estruturas Tridimensionais. Internet: <www.itaucultural.com>
materiais encontrados na natureza.

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Gabriela Deziderio, em sua dissertação A Construção de uma Materiais


cateregoria arte afrobrasileira: um estudo da trajétoria ar-
tística de Mestre Didi, afirma que “o que as obras de Mestre Vale destacar a importância da identificação
Didi representam é a memória do seu povo, no entanto quan- dos materiais e das técnicas de linguagens artísticas de-
do as cria, Didi insere nelas elementos de sua imaginação, o
que faz com que estas obras dialoguem com o seu tempo”.
senvolvidas a partir deles, de acordo com as funções nos
A autora acrescenta ainda que “há presente nestes objetos, contextos socioculturais, científicos e tecnológicos. Nessa
nestas imagens que foram criadas a partir de objetos ritua- perspectiva, é significativo entender a utilização de mate-
lísticos, mas para um contexto que não é o religioso, um elo riais naturais na criação, em diversas técnicas de pintura,
entre o passado e o presente, o que é um convite para uma de desenho, de escultura e em estruturas arquitetônicas
reflexão sobre o conceito de imagens dialéticas”.
e tridimensionais. Analisa-se a semelhança de materiais
Ou seja, as obras do Mestre Didi não só preser- utilizados em técnicas diferentes, como nas Estruturas
tridimensionais, de Mestre Didi. São avaliados também
vam o passado, mas também interagem com o presente
resultados expressivos, equilíbrio e durabilidade nas
na medida em que o artista escolhe dar novo sentido e
funções aos objetos ritualísticos. obras de artes visuais, como nas Estruturas poliédricas,


de Escher, na escultura Nefertiti (autor desconhecido) e
Discóbolo, de Míron, ou, ainda, em obras arquitetônicas,
como nas Pirâmides Astecas, no México, nas Pirâmides
Egípcias ou no Teatro Nacional, projetado por Oscar Nie-
Citações da Obra na Matriz de Referência meyer. (Página 28, primeiro parágrafo)

Indivíduo, cultura e identidade Questões, Justificativas e Dicas


É importante destacar que as pessoas podem Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?
desempenhar o papel de artistas e, então, tanto elas
como suas criações têm repercussão na formação da Clique aqui ou use o QR CODE da página 6.
identidade cultural do grupo. Indivíduos deixam registros
de suas criações nas mais diversas sociedades e culturas. Anotações e Rascunhos
Vale remeter àqueles dos períodos pré-colombianos, da
Antiguidade Clássica e da Idade Média, com as constru-
ções das Pirâmides Astecas e Egípcias, do Partenon, na
Acrópole de Atenas, do Aqueduto Acqua Appia, da Ca-
tedral de Notre-Dame de Reims, bem como as escultu-
ras Nefertiti, autor desconhecido, Discóbolo, de Míron,
ou obras atuais, como as Estruturas Tridimensionais, de
Mestre Didi, ou as Estruturas Poliédricas, de Maurits Es-
cher. (Página 6, décimo primeiro parágrafo)

Estruturas

A produção artística é vinculada às possibilida-


des dos materiais, como os utilizados nas esculturas Dis-
cóbolo, de Míron, e Nefertiti, autor desconhecido, bem
como nas Estruturas Tridimensionais, do Mestre Didi, e
nas Estruturas Poliédricas, de Maurits Escher. (Página 12,
décimo parágrafo)

A formação do mundo ocidental

Aspectos das religiões africanas, no Brasil, po-


dem ser reconhecidos na produção do artista plástico
Mestre Didi, em suas Estruturas tridimensionais, e em
Atlântico Negro – na rota dos Orixás, documentário de
Renato Barbieri, assim como outras religiosidades ances-
trais e populares são exemplificadas nas manifestações
culturais populares dos festejos do Boi de Seu Teodoro e
da Festa do Divino de Pirenópolis, no Centro-Oeste brasi-
leiro. (Página 21, nono parágrafo)

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Teatro Nacional - Oscar Niemeyer

Autor
Um dos mais importantes arquitetos brasilei- Ficha Técnica
ros da história, Niemeyer foi internacionalmente consa-
grado no século XX. Nasceu no Rio de Janeiro em 1907 Ano de produção: 1966
e estudou na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Dimensões: 43.000 m²
Janeiro. Em 1935 iniciou sua vida profissional na área de Localização: Brasília, DF
engenharia e arquitetura no escritório de Lúcio Costa,
ajudando a desenvolver vários projetos, inclusive do Mi- Obra
nistério da Educação e Saúde.
O Teatro Nacional Cláudio Santoro foi projeta-
Niemeyer viajou a vários países e participou do por Oscar Niemeyer, a construção ficou pronta em 30
de diversos projetos pelo mundo. Foi convidado pelo de janeiro de 1961. Inicialmente foi chamado de Teatro
presidente JK em 1956 para projetar a nova capital. Foi Nacional de Brasília, porém a partir de 1989 passou a
nomeado diretor do Departamento de Urbanismo e Ar- ser chamado de Teatro Nacional Cláudio Santoro, em
quitetura da Novacap. Executou os projetos do Palácio homenagem ao compositor e fundador da orquestra do
do Planalto, STF, Palácio da Alvorada, Congresso Nacio- teatro, que surgiu em 1979. A sala Martins Pena ficou
nal e muitos outros edifícios importantes. pronta apenas em 1966, sendo palco para grandes es-
petáculos até o ano de 1981, quando foi fechada para
Lecionou na Universidade de Brasília, mas de- reformas. A estrutura conta com uma forma de pirâmide
mitiu-se em 1965 com mais de 200 professores em pro- irregular e contém vitrais e uma composição de cubos de
testo contra ações do governo militar. Até o final de sua concreto criada por Athos Bulcão.
vida, Niemeyer desenvolveu uma série extensa de proje-
tos pelo mundo, e até hoje é reconhecido como um dos Localizado próximo à Rodoviária do Plano Pi-
mais incríveis arquitetos da modernidade. loto- DF, o Teatro Nacional possui 46 metros de altura,
136 metros de lateral, 95 metros na fachada oeste e 45
metros na fachada leste. O intuito da construção era
atender todas as demandas do público do plano pilo-
to, contendo salas que comportassem grandes plateias
para todos os tipos de espetáculos. A localização se deu
pela praticidade e acessibilidade. Segundo o projeto de
Niemeyer, o teatro deveria comportar, dentro da mesma
estrutura, teatros de ópera e comédia.

Com forma piramidal, o Teatro nacional é re-


vestido por um painel de blocos de concreto em forma-
tos de paralelepípedos nas fachadas laterais. Esse pai-
nel foi criado por Athos Bulcão, e proporcionam leveza
Teatro Nacional. Internet: <www.tripadvisor.com>
quando em contato com a luz do sol, e peso com a som-
bra. Acredita-se que Niemeyer havia dito ao artista que
o Teatro Nacional precisaria ter aspecto sólido, pesado e
ao mesmo tempo leve. Além do painel externo, há ou-
tras obras de Athos Bulcão no Teatro Nacional.

O teatro é formado pela Sala Villa-Lobos (que


com capacidade de 1407 lugares é a principal sala do tea-
tro e a única sala de ópera e ballet de Brasília), o Foyer
da Sala Villa Lobos (que leva ao mezanino), Sala Martins
Penna (com capacidade de 407 lugares), foyer da Sala
Martins Penna, Sala Alberto Nepomuceno (com capa-
cidade de 95 lugares), Espaço Cultural Dercy Gonçalves
(onde inicialmente seria um restaurante panorâmico) e
Teatro Nacional. Internet: <www.tripadvisor.com> o Anexo do Teatro Nacional.

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No ano de 2014, o Teatro Nacional iniciou uma Espaços


longa reforma que não pôde ser concluída pela falta de
verbas e falta de priorização do governo em relação à Podem-se considerar, ainda, os diferentes espa-
cultura em Brasília. A baixa movimentação das pessoas ços destinados e consagrados a alguns tipos de música,
e falta de segurança no local fez com que houvesse ali como a música de concerto, exemplificada na Ópera L’Or-
um ponto frequente para uso de drogas. Por enquanto o feo, de Claudio Monteverdi, ou em Brasiliana, de Cláudio
Teatro Nacional continua fechado, mas há previsões de Santoro, normalmente executadas em teatros, como o
que a finalização das obras aconteça nos próximos anos. Teatro Nacional Cláudio Santoro, nos quais é bem me-


nos comum se ouvir músicas usadas em manifestações de
cultura popular, como as Boi de Seu Teodoro, da Festa do
Divino de Pirenópolis e as do grupo Patubatê, este com
sua obra Samba House, ou mesmo músicas de caráter re-
Citações da Obra na Matriz de Referência ligioso, como Spiritus Sanctus Vivificans Vita, de Hildegard
von Bingen. (Página 26, terceiro parágrafo)
Indivíduo, cultura e identidade
Materiais
Nós, assim como as formigas, as abelhas e vá-
rios outros animais, dependemos da vida em grupo para Vale destacar a importância da identificação
sobrevivermos como espécie. Mas o que diferencia as dos materiais e das técnicas de linguagens artísticas de-
atividades por nós empreendidas, visando à sobrevivên- senvolvidas a partir deles, de acordo com as funções nos
cia, das desenvolvidas por outros animais? É correto de- contextos socioculturais, científicos e tecnológicos. Nessa
nominar trabalho tanto umas quanto outras atividades? perspectiva, é significativo entender a utilização de mate-
Construções como a Catedral de Notre-Dame de Reims, riais naturais na criação, em diversas técnicas de pintura,
na França, o Aqueduto Acqua Appia, o Partenon, na Acró- de desenho, de escultura e em estruturas arquitetônicas e
pole de Atenas, e o Teatro Nacional, de Oscar Niemeyer, tridimensionais. Analisa-se a semelhança de materiais uti-
exemplificam características particulares das sociedades lizados em técnicas diferentes, como nas Estruturas tridi-
humanas. (Página 6, primeiro e segundo parágrafos) mensionais, de Mestre Didi. São avaliados também resul-
tados expressivos, equilíbrio e durabilidade nas obras de
Estruturas artes visuais, como nas Estruturas poliédricas, de Escher,
na escultura Nefertiti (autor desconhecido) e Discóbolo, de
A arquitetura geralmente se submete às mes- Míron, ou, ainda, em obras arquitetônicas, como nas Pirâ-
mas determinações, notadamente quando há preferência mides Astecas, no México, nas Pirâmides Egípcias ou no
por estruturas angulares. Nesse sentido, é importante Teatro Nacional, projetado por Oscar Niemeyer. (Página
conhecer as formas arquitetônicas do Teatro Nacional 28, primeiro parágrafo)
Cláudio Santoro, edifício de Oscar Niemeyer, em Brasília,
que se configura como presença sólida na paisagem da Questões, Justificativas e Dicas
cidade, e os azulejos do artista Athos Bulcão presentes em
várias construções e na decoração de edifícios da cidade. Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?
É importante fazer uma análise das Pirâmides Astecas, no
México, assim como das Pirâmides Egípcias, e compara- Clique aqui ou use o QR CODE da página 6.
ção com o Teatro Nacional, em Brasília, considerando-se
aspectos estéticos e funcionais. (Página 12, décimo pri- Anotações e Rascunhos
meiro parágrafo)

Número, grandeza e forma

O uso da geometria em produções artísticas


possibilita o emprego dos conceitos de equilíbrio, ritmo, si-
metria, perspectiva e profundidade, aplicados, por exem-
plo, nas esculturas Discóbolo, de Míron, e Nefertiti, autor
desconhecido, na pintura Escola de Atenas, de Rafael San-
zio, e na concepção arquitetônica do Teatro Nacional, em
Brasília, nas Pirâmides Egípcias e Astecas, no Partenon e
na Catedral de Notre-Dame de Reims, na França. (Página
24, terceiro parágrafo)

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Artes
Cênicas
“O segredo do sucesso é
a constância do objetivo ”.
(Benjamin Disraeli)
Gráficos e Estatísticas
OBRAS COBRADAS NA PROVA DESDE 2018

Ifigênia em Aulis

A advogada que
viu Deus, o Diabo
e depois voltou
para a Terra

OBRAS COBRADAS NA PROVA DESDE


2018

10
5

A ADVOGADA QUE VIU IFIGÊNIA EM AULIS


DEUS, O DIABO E
DEPOIS VOLTOU PARA A
TERRA

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Controle de Desempenho
Total Porcentagem
Itens Itens Escore
Obra de
certos errados
de itens
bruto
itens certos
A Advogada que Viu Deus, o Diabo e
Depois Voltou para a Terra
Ifigênia em Aulis

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A advogada que viu Deus, o Diabo e
depois voltou para a Terra - Grupo G7

Autoria e Contextualização
A companhia G7 possui quatro integrantes fi- Brasil: as ações judiciais, um julgamento penal, os tribu-
xos, sendo eles: Benetti Mendes, Felipe Gracindo, Frede- nais federais e até mesmo o exame da OAB. Além do
rico Braga e Rodolfo Cordón. Atuam nos palcos brasilien- mais, a obra discute sobre o percurso da carreira de um
ses juntos há mais de dez anos, e foi com a peça “Como bacharel em Direito.
passar em concurso público” que receberam credibilida-
de nacional. Em uma mistura detalhada de humor com Obra
críticas sociais, o grupo se mantém até hoje com mais de
10 espetáculos feitos. O enredo da obra é a saga da advogada em
conseguir a nulidade do contrato que o ministro Jeová
Os próprios atores escrevem as peças teatrais, fez com o Diabo. Contudo, o percurso que ela precisa
em processo colaborativo, o que lhes dá nuances únicas fazer para conseguir o objetivo levanta reflexões sobre
no jeito que fazem teatro. Atrelado a isso, o grupo faz o poder judiciário brasileiro, com foco no trabalho dos
pesquisas teórica e de campo para escrever os textos. advogados. Para a meta ser atingida, há muitas barreiras
No caso de “A advogada que viu Deus, o Diabo e depois burocráticas legais que ela tem de lidar, inclusive julgar
voltou para a terra”, os atores leram livros sobre o tema, o caso bíblico de homicídio de Caim. Vejamos, cena por
entrevistaram grandes advogados, ex-ministros do STF e cena, ou artigo por artigo, o desenrolar dessa comédia.
outros profissionais da área jurídica para compor a his-
tória. Além disso, dois integrantes são formados em Di- Artigo 1
reito, Rodolfo Cordón e Frederico Braga, o que auxiliou A advogada Maria Vitória é chamada com ur-
na criação da obra. gência pelo ministro, que teme que a sua morte esteja
A obra analisada já tinha sido apresentada em próxima, por ter feito um pacto com o diabo.No texto,
2003, mas em 2011 o grupo decidiu adaptar totalmente todavia, notamos que o pacto em si é usado muitas ve-
a peça para o novo contexto político-social que se encon- zes como uma metáfora para contratos e documentos.
trava o país. Apesar da companhia ser formada apenas Além disso, é entendido como um elo com o mito fáusti-
por homens, o grupo optou por criar uma protagonista co, texto que inspirou a obra. Nele, o pacto significa a ob-
feminina, a advogada Maria Vitória, como representação tenção de poder, glória e dinheiro. O medo do ministro,
do movimento de emancipação feminino. Nesse cenário, portanto, não deveria ser da morte, mas sim do homem
foi em primeiro de janeiro de 2011 que Dilma Rousseff que ele se tornou em consequência desses ganhos.
tornou-se a primeira mulher presidente do Brasil. Nesse Em “Carta a Meneceu”, de Epicuro, há duas
ano, também foram presenciadas algumas grandes po- pequenas passagens que explicam bem isso: “[...]a maio-
lêmicas ligadas ao STF (Supremo Tribunal Federal), ins- ria das pessoas ora foge da morte como se fosse o maior
tância parodiada na peça, e ao ex-ministro da casa civil, dos males[...]”. “É tolo, portanto, quem diz ter medo da
Antônio Palocci. A primeira diz respeito à anulação da lei morte, não porque a chegada desta lhe trará sofrimento,
da ficha limpa para as eleições gerais do ano de 2010 e a mas porque o aflige a própria espera[...]”.
segunda sobre a renúncia de Palocci após suposto envol-
vimento em escândalos de corrupção. Artigo 2

Gênero e Estrutura O inferno é representado como uma corpora-


ção burocrática, composto por três protocolos. O come-
O texto teatral, na própria estrutura, já se dife-
ço da cena é a advogada tentando resolver o mais rápido
rencia de outros pelas palavras utilizadas para identificar
possível a anulação do documento, mas percebe que há
as cenas, chamadas de “artigos”, e o sumário, chamado
várias barreiras que a impedem.
de “índex”. Isso para ambientalizar o espectador/leitor
ao contexto jurídico/legal. Quando Maria Vitória finalmente consegue
persuadir o protocolo 3 de lhe dar a perícia e o protocolo
Quanto ao gênero teatral, a peça se localiza
2 de carimbar o contrato, o protocolo 1 tenta dificultar
em um contexto pós-dramático e se relaciona com a co-
ainda a análise do processo. Mas, mesmo após a aten-
média, o que dá espaço para as diversas críticas sobre
dente ceder e olhar os papéis, ela diz que lá não é o lugar
a atual situação política do Brasil, como na maioria das
que se resolve, pois como se trata de um pacto com o
peças do Grupo G7. O que muda é o ponto de vista que
Diabo, este tem foro privilegiado. Então, ela terá que ir
a peça abordará, neste caso, sob o espectro jurídico do

Tudo Sobre o PAS UnB 83

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ao Supremo Tribunal Celestial, no céu. Porém ela deve Artigo 5


fazer o Exame da Ordem Celestial para entrar lá.
Trata-se do julgamento de Caim. Nesta parte,
Os trocadilhos com o Supremo Tribunal Fede- o texto faz a representação de um julgamento penal, em
ral e o Exame da Ordem dos Advogados são um gatilho que o réu é Caim, o advogado de acusação é Santo Agos-
para criticar tanto o sistema judiciário brasileiro quanto tinho, o juiz é Jesus e a advogada é a representante da
o processo para se tornar advogado. defesa de Caim. A partir desta cena, vemos fisicamente
o julgamento acontecer e com ele todas as formalidades.
Artigo 3 Contudo, vários interesses se manifestam implicitamen-
te. Como exemplo, é o motivo pelo qual a advogada acei-
Nesta terceira cena, mostra o que está por trás ta ser a defesa do réu, com a pré-condição, imposta por
do colarinho dos advogados. Na primeira parte, temos Jesus, de absolvê-lo.
São Pedro como um professor que estimula os bacharéis
a não desistirem de terem uma carta na Ordem Celestial Artigo 6
(a OAB). Depois, o santo chama um dos estudantes que
tentou e ainda tenta ser o primeiro advogado da ordem. Finalmente o julgamento principal se inicia.
O personagem Gabriel tem o semblante típico de um es- Questões morais e valores éticos são colocados em cena
tudante de direito de Brasília. Usam Gabriel não apenas para responder às perguntas “o que somos e o que po-
como exemplo de um estagiário comum de direito, mas demos, nós, seres humanos?”, retiradas da matriz de re-
aproveitam para fazer piadas com o trânsito de Brasília, ferência do PAS 1.
e consequentemente, com o Detran. De forma exagera-
da e cômica, Gabriel conta que está há 8 anos tentan- Quando realiza a defesa, Maria Vitória faz
do passar na Ordem Celestial. São Pedro o interrompe questão de mencionar o cargo do réu, a importante po-
e passa para os alunos uma questão muito semelhante sição social que ocupa e o fato de ele ser um homem da
às que são cobradas no exame. Mas percebemos que o justiça. Contudo, o Diabo rebate com alegações do que o
teor da pergunta é bem simples e nada muito específica ministro faz na prática com o cargo dele. “O seu cliente
sobre direito, o que é uma crítica às questões elaboradas faz uso do direito, mas nunca aplicou a verdadeira justi-
pela OAB. Para finalizar a cena, Pedro Paulo e Matheus ça”; “nunca se preocupou com a dor e com o sofrimento
cantam a música “aprova-me”, em que nos versos, cla- dos humildes que procuram os tribunais”.
mam pela ajuda de Deus para conseguirem fazer uma
boa redação, a etapa em que os candidatos da OAB sen- Em um panorama geral, vemos as pessoas
tem mais dificuldade. com cargos políticos importantes como corruptos, ne-
potistas, possuidores de facilidades em todos os meios
Artigo 4 sociais. Portanto, a questão é: como o ministro pode
julgar os “injustiçados”?, como o texto se refere, se ele
Antes da cena inicial do quarto artigo, há uma mesmo não se identifica com eles. Isso vai além dessa in-
micro cena que mostra Moisés prestes a anunciar os dagação, em termos legais, fica claro no texto que os me-
mandamentos de Deus. Porém, por estar muito bêba- canismos judiciais são utilizados quando convém a um
do, ele deixa uma das pedras caírem e então sobram 10 certo grupo social, o que contraria um dos artigos mais
mandamentos de 20. Ela é uma preparação da cena que importantes da constituição: artigo 5 da Constituição de
estaria por vir, que trata justamente de extravio de docu- 1988 (Matriz Referência PAS): “Todos são iguais perante
mento por questões não conhecidas ou omitidas. a lei, sem distinção de qualquer natureza garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a in-
Agora, sim, na cena do quarto artigo, é o mo- violabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,
mento em que a advogada encontra com Jesus. De for- à segurança e à propriedade…”
ma rimada, Jesus explica que, para o capeta ser citado
na ação, o judiciário do céu deve mandar uma carta pre- Até mesmo no nome do ministro há uma crí-
catória para um juiz do inferno. Porém, no caminho, o tica que, como o nome será repetido, ela também será.
documento é extraviado, perdido. “Jeová Pereira Mente (de vez em quando). Apesar da
advogada pedir a nulidade do contrato com argumentos
No nosso sistema judiciário, esta cena é uma de que Satã coagiu Jeová a assinar, a defesa de Maria
forma de expor um caminho frouxo, e, novamente, buro- Vitória é controversa. Isso porque ela anula um contrato
crático para a nulidade de um contrato. Porém, Jesus fala de pertencimento de alma com outro da mesma gênese.
que se a advogada julgar o caso mais antigo existente, O que nos faz voltar a pergunta “o que podemos, nós,
ele levaria o capeta para o céu. seres humanos?”.

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Na cena, fica claro que se você é alguém com Tipos e gêneros


um cargo político de alta hierarquia, pode-se tudo, até
mesmo confrontar e vencer o Diabo. A recepção da ação dramática ocorre de diver-
sas formas no processo de interação. A identificação e a
Artigo 7 classificação das formas teatrais acontecem por meio da
compreensão de um conjunto de convenções e de normas
Após ter conquistado tudo, a advogada, de que diferenciam e reconhecem as linguagens estéticas
volta à terra, percebe que ela é muito mais feliz sem as dos gêneros (trágico e cômico), exemplificadas nas peças
glórias que o direito a trouxe. Neste ponto, percebemos Ifigênia em Áulis, de Eurípedes, e A advogada que viu
a saída dela de uma realidade afogada em competitivi- Deus, o Diabo e depois voltou para a Terra, do grupo G7.
dade, éticas profissionais frágeis, em facilidades para uns (Página 11, terceiro parágrafo)
e burocracia para uma vida dedicada a família. A mudan-
ça da personagem é enfatizada ainda quando o ministro Estruturas
está para entregar o pagamento a ela, mas Maria Vitória
No teatro, essa relação é feita a partir da per-
o recusa e diz que precisa voltar para o aniversário do fi-
cepção do texto encenado, o que permite a compreensão
lho (conexão com o prólogo da festa, que era um aniver-
dos significados e a identificação entre palco e plateia,
sário infantil). Já o ministro, mesmo quando a advogada
relação observada nas obras Ifigênia em Áulis, de Eurípe-
cita Beatriz, ele se emociona sutilmente, mas já entrega
des, e A advogada que viu Deus, o Diabo e depois voltou
o pagamento pelo trabalho e sai de cena, sem mudanças
para a Terra, do grupo G7. A estrutura pode indicar que as
na vida cotidiana.
partes constituintes de um texto são organizadas de for-
ma a produzir o sentido do todo. Espera-se, então, que se
Alguns Aspectos Teatrais distingam vários sistemas na representação teatral — a
1. Quebra da quarta parede: interação direta e constante ação, os personagens, as relações de espaço e de tempo,
com a plateia; a configuração da cena e, em sentido amplo, a linguagem
2. Focos de luz nas três partes da plateia (direita, centro dramática. (Página 13, quarto e quinto parágrafos)
e esquerda), interação.
3. Plateia como instituições burocráticas. Energia e oscilações
4. Atores posicionados em cada seção no Artigo 2; Nas Ciências Humanas, os conceitos de equilí-
5. As rubricas são feitas para indicar o que será feito,ou brio e de movimento estão ligados a permanências e rup-
seja: onde ocorreu, qual música deve ser usada, qual a turas, mudanças e desigualdades nas formações históri-
ambientalização da cena; cas, culturais e sociais, algo que é mostrado, por exemplo,
6. A plateia é sempre colocada como parte de um grupo em O povo brasileiro (parte I): a matriz Tupi — documen-
de pessoas específicas, como clientes à espera de serem tário de Isa G. Ferraz. Assim, torna-se importante discutir,
atendidos no inferno; almas no céu; bacharéis de direito; no processo de construção do mundo ocidental, questões
7. Os 4 atores se revezam para fazer o papel da advoga- relativas às leis, como ocorre nas obras Ifigênia em Áulis,
da, isso se chama “coringar” personagem; de Eurípedes, Apologia de Sócrates, de Platão, e Carta a
8. A forma rimada que o personagem Jesus fala serve Meneceu, de Epicuro, que podem ser lidas e contrastadas
tanto para dar dinâmica a peça quanto para fazer um hu- com os textos do Artigo 5.º da Constituição da República


mor musicado. Federativa do Brasil de 1988, Este mundo da injustiça glo-
balizada, de José Saramago, Oração dos desesperados, de
Sérgio Vaz, e com a palestra O risco da história única, de
Chimamanda Adichie. Nesse sentido, a peça A advoga-
Citações da Obra na Matriz de Referência  da que viu Deus, o Diabo e depois voltou para a Terra,
do grupo G7, debate a subversão da ordem e a busca do
O ser humano como um ser que pergunta e quer saber equilíbrio jurídico da sociedade, questionando as formas
pelas quais é buscado. De maneira análoga, algumas
Essas obras permitem ampliar a discussão
bases em que se equilibra nossa estrutura social podem
do assunto e problematizam tanto a existência humana
ser questionadas a partir do vídeo La mujer sin miedo, de
quanto as concepções de mundo, de modo a facilitar o
Eduardo Galeano. (Página 25, terceiro parágrafo)
julgamento da pertinência de opções éticas, sociais e polí-
ticas na tomada de decisões. A comédia A advogada que Ambiente
viu Deus, o Diabo e depois voltou para a Terra, do grupo
de teatro G7, pode ilustrar essas questões com humor (Pá- Em contraposição, a peça A advogada que viu
gina 3, quarto parágrafo) Deus, o Diabo e depois voltou para a Terra, do grupo G7,
propõe um espaço sobrenatural para grande parte de sua
ação, evidenciando como o ser humano está condicionado
a viver em um ambiente sujeito a tempo e espaço, con-

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forme enunciado por Isaac Newton. (Página 19, quinto Anotações e Rascunhos
parágrafo)

A formação do mundo ocidental contemporâneo

A peça A advogada que viu Deus, o Diabo e


depois voltou para a Terra, do grupo G7, faz uma obser-
vação cômica da influência judaico-cristã na forma de
pensar ocidental, chegando a escalar Santo Agostinho
como promotor público, em referência às inovações que
o pensador trouxe ao pensamento jurídico. (Página 20,
terceiro parágrafo)

Espaços

No teatro, a noção de espaço pode ser usada


em vários aspectos relacionados ao texto e à representa-
ção. Graças à sua propriedade de signo, oscila entre o es-
paço significante (cênico) e o espaço significado (dramáti-
co). O cênico é o que se percebe concretamente, o espaço
real do palco onde evoluem os atores, quer se restrinja ao
espaço propriamente dito da área cênica, quer evolua no
meio do público. O espaço dramático é aquele em que se
fala o texto, é o espaço abstrato, em movimento contínuo,
em que a construção se dá a partir da imaginação do es-
pectador, guiado pelas indicações do texto, aspectos esses
que podem ser percebidos nas peças Ifigênia em Áulis, de
Eurípedes, e A advogada que viu Deus, o Diabo e depois
voltou para a Terra, do grupo G7. (Página 26, segundo
parágrafo)

Materiais

No teatro, os materiais — além deles, o cor-


po do ator, os efeitos visuais e sonoros, o texto falado ou
mesmo o completo silêncio, a ausência de luz — podem
ser apresentados sob vários tipos e formas, destinados a
ilustrar, sugerir ou servir de quadro para a ação. Esses as-
pectos podem ser reconhecidos na peça Ifigênia em Áulis,
de Eurípedes. Nessa obra, objetos e formas, corpos em
movimento, luz e som — compreendidos estritamente nos
seus aspectos artísticos —, figurino, cenário e maquiagem
representam o papel de materiais veiculados em uma
cena teatral. Esses elementos também estão presentes na
montagem da peça A Advogada que viu Deus, o Diabo
e depois voltou para a Terra, do grupo G7 (Página 27,
quarto parágrafo)

Questões, Justificativas e Dicas


Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?

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Ifigênia em Áulis - Eurípedes

Autoria
Ifigênia em Áulis é da autoria de Eurípides, Helena: Esposa de Menelau e irmã de Clitemnestra. Foi
que, segundo Aristóteles, foi o melhor autor trágico do raptada/fugiu com Páris para Troia. Este episódio deu iní-
período. Acredita-se que o autor tenha nascido em Sa- cio à guerra de Troia.
lamina, por volta do ano 480 a.C. Apesar de não ter tido
tanto reconhecimento quanto Sófocles e Ésquilo, é o au- Aquiles: Foi um grandioso herói da Grécia que participou
tor mais popular atualmente no campo das tragédias da da guerra de Troia.
época. Supõe-se que ele tenha escrito por volta de 90
peças, mas temos conhecimento de apenas 17 tragédias Velho: Servo da família de Agamemnom e Clitemnestra.
na íntegra. Aparece muitas vezes como ouvinte dos planos do rei.

Os mitos gregos relatados nas peças são utiliza- Personagens que apenas são citados na trama:
dos pelo autor para nos apresentar os diversos conflitos Hermíone: Filha única de Menelau e Helena.
psicológicos das personagens. Eles pairam normalmen-
te entre dois aspectos: a dúvida e a decisão. Os Deuses Páris: Um dos filhos mais novos do Rei Príamo e da Rai-
aparecem nas tragédias euripidianas normalmente no nha Hécuba. Deu início à guerra de Troia, que durou mais
final, para cessar o conflito principal da peça. Frequente- ou menos 10 anos.
mente, os primeiros versos das peças servem para situar
o leitor do enredo que será mostrado. Contextualização e Enredo
A peça faz parte do que se chama de “ciclo
Tragédia Grega troiano”, um conjunto de obras escritas sobre as lendas
A tragédia era o gênero teatral mais popular e os mitos gregos. “Ifigênia em Áulis”, junto com “As ba-
na Grécia Antiga. Segundo Aristóteles, ela consiste na cantes” e “Fenícias” compõem uma trilogia. A guerra de
imitação de uma ação nobre e completa por si só, além Troia se iniciou com o rapto de Helena, esposa de Mene-
de apresentar uma série de conflitos durante o enre- lau, e constitui o ciclo citado. Desse modo, este episódio
do. O gênero teatral é composto por personagens de é o contexto da peça analisada.
alta hierarquia como: heróis, reis, guerreiros e Deuses
mitológicos gregos. O enredo da tragédia normalmente A obra teatral tem como único cenário o acam-
mostrava a luta de algum herói/heroína contra o próprio pamento dos gregos à espera de bons ventos para se-
destino. O final tem como principal característica, na guirem com as naus até as terras troianas para resgata-
maioria das tragédias, a morte desses personagens por rem Helena, raptada por Páris. Porém, o adivinho Calcas
tentarem conseguir o que almejam. prevê que Agamêmnon, chefe da expedição, deveria
sacrificar Ifigênia, sua filha, à Deusa Ártemis para que
os gregos conseguissem chegar em Troia. A partir daí se
Personagens ramificam diversos conflitos psicológicos das persona-
Agamêmnom: Conhecido por ser um herói grego e um gens. Primeiro porque Helena se apaixonou por Páris, o
dos maiores reis de Micenas. É o irmão mais velho de que levanta o questionamento se ela realmente precisa
Menelau. Foi casado com Clitemnestra e, juntos, tiveram ser resgatada. Porém, se ela será salva, porque Ifigênia,
quatro filhos: três mulheres (Ifigênia, Electra, Crisotê- filha de Agamêmnon, irmão de Menelau, foi escolhida
mis) e um homem (Orestes). para ser sacrificada e não Hermíone, filha de Menelau
e Helena?; depois, a escolha de Agamêmnon em sacrifi-
Clitemnestra: Mulher de Agamêmnon, referida muitas car a filha ou não: se ele cometesse o ato, agiria em prol
vezes também como “filha de Leda”. É irmã gêmea não- do coletivo, caso não o fizesse, priorizaria as vontades
-idêntica de Helena. individuais dele. Por último, quando Ifigênia descobre o
plano do pai e, apesar de relutar no começo, assume o
Ifigênia: Filha mais velha do casal Agamêmnon e Clitem- sacrifício como responsabilidade e o entende como ato
nestra. para a futura glória da Grécia.
Orestes: Irmão mais novo de Ifigênia. A partir desse cenário, há uma relação que po-
Menelau: Foi um glorioso rei de Esparta. Casou-se com demos fazer entre a peça teatral e a obra La Mujer Sin
a bela Helena, e, juntos, tiveram uma única filha: Her- Miedo, de Eduardo Galeano, é o questionamento que o
míone. último faz acerca do feminicídio. Agamêmnon decidiu

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sacrificar a filha por considerá-la sua propriedade, sua realizado. Estas razões exercem fortes pressões no julga-
prole? Ou ele a matou por medo? Medo de não encon- mento do pai da jovem.
trar outra maneira de rogar por ventos, ou ainda, medo
de Ártemis, Deusa poderosa? Discussão entre Agamêmnon e Clitemnestra - Na tenda
de Agamêmnon, Clitemnestra exige saber o histórico de
Análise da Peça por Episódios Aquiles, suposto pretendente para casar com Ifigênia. Ela
comenta sobre o sacrifício preparatório para as bodas da
1º Diálogo entre o rei Agamêmnon e o Velho - A peça filha. A utilização dessa celebração, dentre tantas outras
já se inicia com um grande conflito psicológico que per- que poderiam ser citadas, foi utilizada para aumentar a
durará na trama inteira: a decisão de Agamêmnon em tensão da cena e da trama, justamente pelo nome do
sacrificar ou não sua filha. Como é comum nas peças ato. Agamêmnon, então, pede que Clitemnestra retor-
de Eurípides, o chefe da expedição nos situa do que irá ne a Argos, porque ele quer conduzir as celebrações do
acontecer, o que está acontecendo e de ações feitas re- casamento. É perceptível nesta passagem que ele está
centemente. Ele diz que mandou uma carta para Clime- disposto a tudo, até mesmo a romper com tradições
nestra, sua esposa, para trazer Ifigênia ao acampamento importantes, para realizar o que ele prometeu à Deusa.
com o falso pretexto de casá-la com Aquiles. Contudo, Sua esposa, irritada, não concorda e muito menos com-
Agamêmnon escreve outra mensagem para adiar a ceri- preende o motivo da declaração do marido.
mônia. Na verdade, Agamêmnon, arrependido de levar
o sacrifício adiante, decide querer poupar a vida da filha. Diálogo entre Clitemnestra e Aquiles - Quando ele sai da
tenda, Aquiles entra em cena e, em uma conversa estra-
Discussão entre O Velho, Agamêmnon e Menelau - No nha com Clitemnestra, ele descobre que foi prometido à
começo da cena, o Velho discute com Menelau por este filha dela, sem o mínimo consentimento, enquanto que
ter aberto a segunda carta sem permissão. Ao descobrir ela passa a saber sobre o plano maquiavélico de seu es-
que a carta tinha autoria de Agamêmnon, Menelau acu- poso. Aos prantos, Clitemnestra implora a Aquiles para
sa o irmão de não cumprir com sua palavra, de indeciso salvar Ifigênia do terrível destino, mas o guerreiro a pede
e de injusto. Menelau usa a ambição do irmão de que- para tentar persuadir seu marido a voltar com a decisão,
rer conquistar mais títulos para convencer o irmão a não antes que mais alguém interfira no conflito. Climnestra
mandar a carta. Ele ainda usa o desejo de Agamêmnon obedece, mas não encontrou seu marido pelo acampa-
de tornar-se líder das navegações, e que isso só poderia mento. Não há a cena da busca de Climnestra pelo ma-
se concretizar com o sacrifício de sua filha. Em sua de- rido, ela apenas anuncia que não o achou para o coro e
fesa, Agamêmnon, acusa Menelau de louco, por querer afirma que Ifigênia já sabe dos planos do pai.
reconquistar Helena, sua mulher, mesmo depois da trai-
ção e do abandono dela. Na peça, cada personagem tem Decisão final de Ifigênia - Após a longa súplica de Ifigê-
que lidar com as crises individuais, e muitas vezes, pen- nia e de Orestes ao pai para ele poupar a vida da jovem,
sar em como estas atingem o coletivo, tendo em vista os soldados de Aquiles já sabem da condição para a volta
o ambiente bélico que se encontram. Como a carta não dos ventos e exigem o sacrifício da jovem. Aquiles, em
chega à Micenas, Ifigênia e Clitemnestra seguem viagem seguida, diz que lutará contra os soldados para salvar a
ao acampamento. vida de Ifigênia, pois é vontade dele que a jovem viva.
Porém, Ifigênia decide em optar pela morte com a fala
Chegada da família de Agamêmnon - É seguida do en- de que irá abdicar da vida para o coletivo, e se conforta
contro de Clitemnestra, Ifigênia e do pai: ele ao mesmo em pensar na glória póstuma que terá. Na fala da jovem,
tempo que está extremamente feliz, não consegue dis- entende-se que um filho não é colocado no mundo para
farçar a angústia; Ifigênia está muito contente em ver o se voltar somente à família. Ele deve servir à comuni-
pai mas percebe que algo o preocupa. O encontro dos dade em que vive, resignando das vontades individuais
dois e a alegria de Ifigênia em ver o pai, só acentua a quando estas são prejudiciais para o coletivo. Ifigênia
tristeza do desastre que acontecerá. toma a decisão de se entregar ao sacrifício também para
não contrariar a vontade da deusa Ártemis.
Reconciliação dos Irmãos - Após a chegada de Ifigênia,
Menelau pede desculpas a Agamêmnon sobre o que Juras de Aquiles e ida de Ifigênia ao Templo de Ártemis
disse antes. O irmão tenta se colocar no lugar do outro - Após essa fala, Aquiles demonstra a vontade verdadei-
e reconhece o egoísmo que seria fazer Agamêmnon de- ra de casar-se com ela, por ter mostrado tamanha cora-
cidir tirar a vida da própria filha para a felicidade dele. gem em realizar o ato. O guerreiro aguardará a jovem
Ele passa a admitir também que a causa da briga com o no templo de Ártemis, para impedir o sacrifício, caso Ifi-
irmão mais velho era Helena. Porém, apesar da mudança gênia decida o contrário na hora. Ifigenia decide ir sem
de atitude de Menelau, o irmão mais velho diz que o sa- Clitemnestra, para evitar grandes emoções ou possíveis
crifício terá de acontecer. Isso porque a decisão depende conflitos. Ela é escoltada para lá e sai de cena.
dos motivos pelos quais ele acredita que o ato deve ser

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Um mensageiro relata o que ocorreu a Clitemnestra em 1973 por Antônio José do Espírito Santo e apresentada
- Clitemnestra esperava já as más notícias, mas o men- na revista Geledés, em dezembro de 2014. É importante
sageiro relata detalhadamente o que ocorreu. Ele conta ressaltar que a personagem título da peça Ifigênia em Áu-
que quando o gladio (espada) atingiu a jovem, em seu lis opta pela morte para salvar a coletividade. (Página 5,
lugar surgiu uma corça. O mensageiro atribuiu o milagre primeiro parágrafo)
a obra dos deuses, piedosos e reconhecedores da injus-
tiça, por serem seres superiores. E ainda conclui dizendo Indivíduo, Cultura e Identidade
que, agora, a deusa Ártemis está contente e deixará os
Em Ifigênia em Áulis, de Eurípedes, alguns perso-
soldados seguirem viagem. Mesmo assim, a mão da jo-
nagens não se ajustam a determinada norma e, por isso,
vem continua desolada por que não sabe onde sua filha
são submetidos a um conjunto de sanções simbólicas e
está. físicas evidentes em diversas passagens. Aspectos dessa
tragédia são relevantes e atuais para se refletir sobre in-
Despedida de Agamêmnon à Clitemnestra - Agamêm-
divíduo, cultura e sociedade. (Página 6, sétimo parágrafo)
non, no entanto, entra muito contente pois tem a certeza
de que a filha está entre os deuses. Ele rapidamente se Tipos e gêneros
despede de Clitemnestra para dar continuidade a expe-
dição, e diz que irá reencontrá-la após vencida a guerra A recepção da ação dramática ocorre de diver-
de Troia. O coro, nas palavras finais da peça, comemora sas formas no processo de interação. A identificação e a
a felicidade de Agamêmnon e ainda a vitória da guerra, classificação das formas teatrais acontecem por meio da
que já é considerada gloriosa pelos gregos. compreensão de um conjunto de convenções e de normas
que diferenciam e reconhecem as linguagens estéticas
Aspectos Teatrais dos gêneros (trágico e cômico), exemplificadas nas peças
Ifigênia em Áulis, de Eurípedes, e A advogada que viu
• A peça inteira tem apenas um cenário: o acampa- Deus, o Diabo e depois voltou para a Terra, do grupo G7.
mento dos gregos à espera de bons ventos para se- (Página 11, terceiro parágrafo)
guirem a viagem até Troia;
• Coro: Indica passagens de tempo, relata feitos glorio- Estruturas
sos do passado, nos situa na cena;
• Corifeu: é um representante do coro para se comuni- Sem a pretensão de exaurir as inúmeras possi-
car com a plateia. Aparece como principal defensor bilidades que se apresentam no campo das diversas ações
das atitudes e das palavras do personagem Agamêm- espetaculares, a comunicação teatral se dá no envolvi-
non; mento dos elementos referentes à estrutura dramática,
• As melhores tragédias gregas normalmente eram identificados, principalmente, em ação, espaço, persona-
gem e público. Por meio desse arcabouço, a ação cênica
apresentadas em festivais em celebração ao Deus
se desenvolve em um processo interativo entre todos os
Dionísio;
elementos da cena e dá forma ao espetáculo.
• Os motivos da ira de Ártemis contra Agamêmnon são
contados em outras peças. Uma delas é “Agamêm- No teatro, essa relação é feita a partir da per-
non”, de Ésquilo, em que mostra que o rei matou um cepção do texto encenado, o que permite a compreensão
animal sagrado de Ártemis e ainda esnobou a Deusa;


dos significados e a identificação entre palco e plateia,
relação observada nas obras Ifigênia em Áulis, de Eurípe-
des, e A advogada que viu Deus, o Diabo e depois voltou
para a Terra, do grupo G7. A estrutura pode indicar que as
 Citações da Obra na Matriz de Referência partes constituintes de um texto são organizadas de for-
ma a produzir o sentido do todo. Espera-se, então, que se
O ser humano como um ser que pergunta e quer saber distingam vários sistemas na representação teatral — a
ação, os personagens, as relações de espaço e de tempo,
A reflexão sobre o ser humano como um ser no a configuração da cena e, em sentido amplo, a linguagem
mundo, ser singular e autodeterminante, pode, ainda, ser dramática. (Página 13, quarto e quinto parágrafos)
desenvolvida a partir de conceitos fundamentais como
condição humana, situações-limite, vida, morte, existên- Energia, Equilíbrio e Movimento
cia, essência, natureza, cultura, liberdade, comportamen-
tos, condicionamentos, escolhas, consciência, afetividade, Nas Ciências Humanas, os conceitos de equilí-
sensibilidade, criatividade, racionalidade, maioridade, brio e de movimento estão ligados a permanências e rup-
responsabilidade, alteridade, autonomia, projeto de vida, turas, mudanças e desigualdades nas formações históri-
mundo, presentes em obras como La mujer sin miedo, de cas, culturais e sociais, algo que é mostrado, por exemplo,
Eduardo Galeano, a tragédia Ifigênia em Áulis, de Eurípi- em O povo brasileiro (parte I): a matriz Tupi — documen-
des, e a Entrevista com Maria Teresa, ex-escrava — feita tário de Isa G. Ferraz. Assim, torna-se importante discutir,

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no processo de construção do mundo ocidental, questões real do palco onde evoluem os atores, quer se restrinja ao
relativas às leis, como ocorre nas obras Ifigênia em Áulis, espaço propriamente dito da área cênica, quer evolua no
de Eurípedes, Apologia de Sócrates, de Platão, e Carta a meio do público. O espaço dramático é aquele em que se
Meneceu, de Epicuro, que podem ser lidas e contrastadas fala o texto, é o espaço abstrato, em movimento contínuo,
com os textos do Artigo 5.º da Constituição da República em que a construção se dá a partir da imaginação do es-
Federativa do Brasil de 1988, Este mundo da injustiça glo- pectador, guiado pelas indicações do texto, aspectos esses
balizada, de José Saramago, Oração dos desesperados, de que podem ser percebidos nas peças Ifigênia em Áulis, de
Sérgio Vaz, e com a palestra O risco da história única, de Eurípedes, e A advogada que viu Deus, o Diabo e depois
Chimamanda Adichie. Nesse sentido, a peça A advogada voltou para a Terra, do grupo G7. (Página 26, segundo
que viu Deus, o Diabo e depois voltou para a Terra, do gru- parágrafo)
po G7, debate a subversão da ordem e a busca do equilí-
brio jurídico da sociedade, questionando as formas pelas Materiais
quais é buscado. De maneira análoga, algumas bases em
que se equilibra nossa estrutura social podem ser questio- No teatro, os materiais — além deles, o cor-
nadas a partir do vídeo La mujer sin miedo, de Eduardo po do ator, os efeitos visuais e sonoros, o texto falado ou
Galeano. (Página 16, sexto parágrafo) mesmo o completo silêncio, a ausência de luz — podem
ser apresentados sob vários tipos e formas, destinados a
Ambiente ilustrar, sugerir ou servir de quadro para a ação. Esses as-
pectos podem ser reconhecidos na peça Ifigênia em Áulis,
É bem recente a presença humana na Terra, se de Eurípedes. Nessa obra, objetos e formas, corpos em
considerada a idade desta. No entanto, em alguns perío- movimento, luz e som — compreendidos estritamente nos
dos, houve mudanças entre os modos de produção, na seus aspectos artísticos —, figurino, cenário e maquiagem
interrelação dos povos, na urbanização e na alteração representam o papel de materiais veiculados em uma
dos fluxos de energia para que fossem criadas novas si- cena teatral. Esses elementos também estão presentes na
tuações, chegando-se a modificar de forma drástica o montagem da peça A Advogada que viu Deus, o Diabo e
ambiente terrestre. Diversas construções ainda possíveis depois voltou para a Terra, do grupo G7. (Página 27, quar-
de ser vistas demonstram a capacidade adaptativa do ho- to parágrafo)
mem, como as Pirâmides Egípcias (2.600 a.C.) e as Pirâmi-
des Astecas (século XIV). A arte e a engenharia também Questões, Justificativas e Dicas
foram primordiais para as cidades, seja na Grécia, com
o Partenon, construído antes de 440 a.C., ou em Roma, Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?
com o Aqueduto Acqua Appia, construído mais de 300
Clique aqui ou use o QR CODE da página 6.
anos a.C., ou na França, com a Catedral de Notre-Dame
de Reims, construída no século XII. A relação do homem Anotações e Rascunhos
com o ambiente era, originalmente, indissociável da reli-
giosidade, como mostrado em Ifigênia em Áulis, quando
o fim das tormentas é relacionado à vontade dos deuses.
O aprimoramento de técnicas, contudo, contribui tanto
para atividades adaptativas no ambiente, quanto destru-
tivas deste. (Página 18, segundo parágrafo)

A formação do mundo ocidental contemporâneo

Assim, este objeto de conhecimento orienta-se


para a compreensão dos elementos de continuidade e de
ruptura na formação das sociedades nas dimensões so-
ciais, econômicas, culturais, políticas e territoriais da Eu-
ropa Ocidental. Na peça Ifigênia em Áulis, de Eurípedes,
é possível observar a discussão de algumas dessas ideias
em crise desde a Grécia antiga. (Página 20, oitavo pará-
grafo)

Espaços

No teatro, a noção de espaço pode ser usada


em vários aspectos relacionados ao texto e à representa-
ção. Graças à sua propriedade de signo, oscila entre o es-
paço significante (cênico) e o espaço significado (dramáti-
co). O cênico é o que se percebe concretamente, o espaço

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“Sorte é o que acontece
quando a preparação
encontra a oportunidade”.
(Elmer Letterman)
Gráficos e Estatísticas
OBRAS COBRADAS NA PROVA DESDE 2018

Atlântico Negro -
na rota dos
Orixás
O Risco da
História Única
Aos olhos de
uma criança

OBRAS COBRADAS NA PROVA DESDE


2018

14

5
2

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Controle de Desempenho
Total Porcentagem
Itens Itens Escore
Obra de
certos errados
de itens
bruto
itens certos
Atlântico Negro - na Rota dos Orixás
A Rota do Escravo - A Alma da Resistência
O Risco da História Única
O Povo Brasileiro (parte 1): A Matriz Tupi
Aos Olhos de Uma Criança
La Mujer Sin Miedo
Alta Ansiedade, a Matemática do Caos

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Atlântico Negro - na Rota dos Orixás
- Renato Barbieri e Victor Lombardi

Autoria e Contextualização
Atlântico Negro - Na Rota dos Orixás é o pri- do filme com falas enriquecedoras, que ajudam a cons-
meiro documentário da série Atlântico Negro, dirigido truir a história documentada.
por Renato Barbieri com o apoio do historiador Victor
Leonardi. O documentário é um relato realista das rela- Após a cena, transportamo-nos para Abo-
ções entre Brasil e África, e procura desmistificar a ima- mey, cidade de Benin, antiga capital do extinto Reino
gem do continente africano tomado por fome e pobreza. de Daomé. A cidade era rodeada por uma muralha de
No decorrer de 53 minutos, o filme relata a influência argila com uma circunferência estimada em nove quilô-
africana na formação cultural e religiosa brasileira, mais metros, construída para proteger os palácios reais, que
especificamente de grupos e comunidades do litoral de hoje fazem parte do Patrimônio Mundial da UNESCO. Os
Benim, de onde milhares de negros cruzaram o Oceano palácios eram feitos de barro e foram construídos pelos
Atlântico para o Brasil na condição de escravizados. povos Fon entre meados do século XVII e final do século
XIX. Em novembro de 1892, Daomé foi incendiada por
O Benim foi o país da África que mais exportou tropas coloniais francesas que reconstruíram a cidade e
escravizados para o Brasil para trabalhar nas minas de a conectaram com o mundo moderno por meio de estra-
ouro e nas lavouras de café. Em 1888, com a validação das de ferro.
da Lei Áurea, inúmeros ex-escravizados retornaram ao
Benin e se fixaram na cidade de Uidá, que era um dos A representação do Reino de Daomé, que é
centros de comércio de escravizados para o continente uma demonstração clara da inteligência, habilidade e
americano. Estes “afro-brasileiros” são chamados de técnica do povo africano ao construir palácios e mura-
Agudás e representam entre 5% e 10% da população lhas de tamanha complexidade, sendo essa uma das ten-
atual do país. tativas do filme de desconstruir imagens etnocêntricas e
de senso comum acerca da África. A ideia de um territó-
O documentário é impecável ao captar as se- rio que vive em guerras constantes e em um cenário de
melhanças culturais, em especial entre as religiões, mú- fome e miséria, é desmistificada ao mostrar parte da vas-
sica e gastronomia dos dois países. Nem a língua local es- ta história africana e a diversidade cultural deste enorme
capa, haja vista que a mesma é caracterizada por versões continente.
arcaicas do português “brasileiro”. Os “afro-brasileiros”
de Benin possuem nomes como Souza, Silva e Almeida, Logo em seguida, somos apresentados à reli-
fazem desfiles de Carnaval e se reúnem para comer uma gião que cultua os Orixás, o Candomblé, praticada pelos
boa feijoada com frequência. Um dos principais marca- Agudás, povo descendente dos antigos escravizados do
dores da identidade dos Agudás é o tom de pele, fre- Brasil que retornaram ao Benin no século XIX. A religiosi-
quentemente mais claro, em virtude dos processos de dade é de extrema importância para entender a ligação
miscigenação entre os nativos africanos, portugueses e entre estes dois países. O Candomblé traduz bem essa
brasileiros. relação de intercâmbios culturais. Esta é uma religião
originária do continente africano, a qual era praticada
Ficha Técnica pelos escravizados nas senzalas brasileiras, resistindo
até os dias atuais, mesmo com ataques racistas resultan-
Ano: 1998 tes de uma visão preconceituosa e estereotipada de um
Gênero: Documentário povo que tenta apagar as raízes dessa longa e complexa
Direção: Renato Barbieri história.
Pesquisa: Victor Leonardi
Duração: 54 min Ainda, o filme conta como o tráfico negreiro
Classificação indicativa: Livre trouxe 4 milhões de escravos para o Brasil. Mas é na casa
das Minas, em São Luís, que a história se fixa com o ob-
Obra jetivo de procurar fatos sobre a criação do terreiro com a
O filme se inicia com uma mensagem do Pai vinda de uma escrava que poderia ser Rainha Nan Agon-
Euclides, babalorixá da Casa Fanti Ashanti até 2015, ano time, viúva do Rei Agonglô, de Daomé. O comércio de es-
de sua morte, em São Luís do Maranhão, para o amigo cravizados africanos deixava os portos do Reino de Dao-
Vodunon Avimanjenon, chefe do templo de Avimanje mé em direção a São Luís do Maranhão trazendo, além
em Uidá. Tal mensagem é complementada no decorrer de dor e sofrimento, a riqueza da memória guardada nas
diversas identidades africanas. O filme permite que com-

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preendamos a relação direta que envolve as práticas cul- Além de transmitir informação, o documen-
turais entre os continentes. Tal relação é marcada pela tário também transmite sentimentos. Sentimento de
dupla travessia no Atlântico, primeiro na condição de es- pertencimento, de perda, de sofrimento e de orgulho.
cravizados dentro do navio negreiro e, 350 anos depois, Ademais, o registro nos proporciona uma reflexão so-
na condição de libertos de volta ao seu país de origem. bre como estamos tratando as raízes da cultura do Benin
deixada no Brasil e de como esses resquícios históricos
A obra de Renato Barbieri é responsável por foram fundamentais para a resistência negra.


expor essa profunda relação cultural entre povos que
jamais se viram, mas que cujas histórias estão conecta-
das. Há ainda um sentimento de pertencimento que foi
perdido nas águas do Atlântico, oceano que afasta e ao
mesmo tempo aproxima e liberta. Como uma espécie de Citações da Obra na Matriz de Referência
manifesto, Atlântico Negro - Na Rota dos Orixás navega
até o continente Africano e clama a necessidade de um O ser humano como um ser no mundo
diálogo com países que possuem uma afinidade histórica
Os filmes Atlântico negro – na rota dos Orixás,
e cultural com o Brasil, mas que por séculos sofreram
de Renato Barbieri, A rota do escravo: a alma da resistên-
as consequências do racismo epistemológico, do apa-
cia (Slave Route: The Soul of Resistance) — documentário
gamento histórico e do genocídio físico e cultural. Estes
produzido pela Unesco e dublado pelo Centro de Infor-
efeitos impediram a construção de uma relação entre mação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC) —, Alta
povos que compartilham diversos aspectos sociocultu- ansiedade, a matemática do caos (High Anxieties: The
rais, políticos e históricos. Mathematics of Chaos) — documentário da BBC, de Da-
vid Malone & Mark Tanner — e Aos olhos de uma criança
“Eu considero que esta história é a história de
— videoclipe da canção de Emicida que integra a trilha
duas crianças que foram separadas. E que nunca mais
sonora de O menino e o mundo — apresentam elemen-
se viram. Cada um deles teve filhos e esses filhos nun-
tos para a compreensão da relação do ser humano com o
ca se viram. Mas um dia, uma ocasião foi dada a seus
meio ambiente, contextualizada em abordagens éticas e
descendentes para se encontrarem. Esse encontro seria
existenciais que exigem avaliação e permitem confrontar
algo inexplicável. Sua alegria seria inestimável e nós nem
possíveis soluções para situações e problemas humanos
poderíamos qualificá-la. É alguma coisa extraordinária”,
contemporâneos. (Página 4, quinto parágrafo)
diz Adjahô Houmasse, sumo-sacerdote vodum, na tenta-
tiva de sintetizar a mensagem do filme. Indivíduo, cultura e identidade

Gênero A palestra O risco da história única, de Chima-


manda Adichie, apresenta algumas faces da distribuição
O gênero da obra é documentário de média desigual na sociedade humana. Desigualdade também
duração, com pouco menos de uma hora. É uma obra explícita nas imagens de Atlântico negro – na rota dos
para todos os públicos, tanto por causa da importância Orixás, de Renato Barbieri, e em A rota do escravo: a
cultural e histórica que um documentário como este car- alma da resistência (Slave Route: The Soul of Resistan-
rega quanto pela sua importância na reconstrução do ce) — documentário produzido pela Unesco. (Páginas 6,
imaginágio cultural brasileiro que se difere do que está sexto parágrafo). Obras como Atlântico Negro – na rota
presente nos livros didáticos de história. O média-me- dos Orixás — documentário, de Renato Barbieri e Victor
tragem permite que nos aprofundemos no processo de Lombardi — e O povo brasileiro (parte I): a matriz Tupi
formação cultural e religiosa do Brasil, nos afastando da — documentário, de Isa G. Ferraz — possibilitam pen-
ideia de que há uma única cultura africana, a qual se re- sar problemas relativos a outros aspectos, com distintas
lacionaria inteiramente com o Brasil, e nos aproximan- questões relativas a ser branco, ser negro ou ser indígena
do da compreensão da imensa diversidade cultural que no Brasil. (Páginas 6, nono parágrafo).
tange o continente africano. É importante que tenhamos
esse tipo de informação porque foram etnias específicas Estruturas
que nos influenciaram e foram influenciadas. O roteiro
Considerando-se essas ideias, é necessário
do filme é construído pelo historiador Victor Leonardi,
compreender o modo como se articulam dominação,
que rompe com uma visão superficial acerca da cone-
hegemonia cultural, religiosa, econômica, militar e polí-
xão entre Brasil e África e insere novos elementos a esta
tica nos mais diferentes grupos humanos, nos tempos e
história, visando uma aproximação com a realidade da
nos espaços, o que pode ser discutido a partir dos filmes
forma como esses processos históricos de trocas cultu-
Atlântico Negro – na rota dos Orixás, de Renato Barbieri,
rais aconteceram. A rota do escravo: a alma da resistência (Slave Route: The
Soul of Resistance), e Aos olhos de uma criança — video-
clipe de Emicida. (Página 12, quarto parágrafo)

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Energia, equilíbrio e movimento xás, nas passagens acerca das tentativas de dominação
e de resistência culturais. (Página 21, quinto parágrafo)
Outro aspecto que visa a colaborar para melho-
rar as condições da vida humana diz respeito à conscien- Além disso, é indispensável a abordagem dos
tização de como se estabelecem as relações necessárias elementos relativos à história dos diversos povos africa-
para a manutenção dos equilíbrios físico, biológico e emo- nos, às características dessa imigração e sua influência
cional. Essa busca por equilíbrio pode ser discutida com no processo de formação do sistema colonial na América
base no documentário Alta ansiedade, a matemática do Ibérica, particularmente no Brasil, como problematiza o
caos (High Anxieties: The Mathematics of Chaos) e nos poema Oração dos Desesperados, de Sérgio Vaz. Devem-
filmes Atlântico negro – na rota dos Orixás, de Renato -se valorizar, portanto, as heranças materiais, culturais
Barbieri, e A rota do escravo: a alma da resistência (Slave e, sobretudo, intelectuais africanas (elementos ligados a
Route: The Soul of Resistance). (Página 17, primeiro pa- técnicas de agricultura, mineração e metalurgia), assim
rágrafo) como a influência da religiosidade e da musicalidade na
formação cultural brasileira, ou seja, como se operou o
Ambiente sincretismo religioso entre as culturas indígenas, africa-
nas e europeias. Essas questões são abordadas no docu-
Cabe, ainda, perceber a relevância das relações mentário Atlântico Negro – na rota dos Orixás. (Página
harmônicas e desarmônicas, intra e interespecíficas, que 21, oitavo parágrafo)
se estabelecem entre os seres e na diversidade de relações
em diferentes circunstâncias e momentos históricos, le- Aspectos das religiões africanas, no Brasil, po-
vando-se em conta a dinâmica das populações humanas. dem ser reconhecidos na produção do artista plástico
Sobre esse aspecto, vale lembrar que os documentários A Mestre Didi, em suas Estruturas tridimensionais, e em
rota do escravo: a alma da resistência e Atlântico Negro Atlântico Negro – na rota dos Orixás, documentário de
– na rota dos Orixás se referem a questões importantes Renato Barbieri, assim como outras religiosidades ances-
sobre as formas significativas da composição populacio- trais e populares são exemplificadas nas manifestações
nal mundial e também de aspectos significativos do Brasil, culturais populares dos festejos do Boi de Seu Teodoro e
como especificamente trata o documentário O povo Brasi- da Festa do Divino de Pirenópolis, no Centro-Oeste brasi-
leiro: a matriz Tupi. Muitas destas relações geram impac- leiro. (Página 21, nono parágrafo)
to conflitivo entre as ações humanas, em grandes propor-
ções, como apontam o texto Oração dos desesperados, de Espaços
Sérgio Vaz, o vídeo La mujer sin miedo, de Eduardo Ga-
leano, e, ainda, a palestra O risco da história única, de A sugestão da leitura do Artigo 5.º da Constitui-
Chimamanda Adichie. (Página 19, quarto parágrafo) ção da República Federativa do Brasil de 1988 e das obras
Atlântico negro – na rota dos Orixás, de Renato Barbie-
Formação do mundo ocidental ri, Oração dos desesperados, de Sérgio Vaz, e A rota do
escravo: a alma da resistência (Slave Route: The Soul of
Para compreender as particularidades e a di- Resistance) — documentário produzido pela Unesco e du-
versidade da nossa formação, é necessário buscar as ge- blado pelo Centro de Informação das Nações Unidas para
nealogias dos diversos grupos étnico-sociais constituido- o Brasil (UNIC) — complementam esforços para pensar o
res da sociedade brasileira e suas contribuições para as Brasil, sua formação socio-histórica e espacial e todas as
múltiplas áreas do conhecimento — não limitadas à re- desigualdades vinculadas a esses processos. (Página 25,
produção de informações pautadas, exclusivamente, em sétimo parágrafo).
referenciais eurocêntricos. A Entrevista com Maria Teresa,
ex-escrava (1973), realizada por Antonio José do Espírito Materiais
Santo, possibilita pensar essas particularidades, assim
como o documentário Atlântico Negro – na rota dos Ori- As disputas por recursos materiais constituem
xás, que propõe reflexões acerca de importantes contri- permanência na história ocidental, provocam rupturas
buições culturais africanas para a formação da múltipla e — guerras, conflitos e exploração nas sociedades e en-
plural sociedade brasileira. (Página 20, quinto parágrafo) tre povos. O poema Oração dos desesperados, de Sérgio
Vaz, expressa aspectos críticos relacionados a essa per-
Complementa, ainda, este objeto a compreen- cepção, também presentes nos documentários A rota do
são dos processos pelos quais passaram as sociedades escravo: a alma da resistência (Slave Route: The Soul of
nativas do continente americano e africano, com a inter- Resistance), produzido pela Unesco e dublado pelo Centro
ferência dos europeus, além do conhecimento de aspectos de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC),
relativos à constituição dos sistemas de poder, como se e Atlântico Negro – na rota dos Orixás, de Renato Bar-
desenvolvem os conflitos e de que forma os agentes so- bieri. No período de expansão marítima europeia, o foco
ciais se comportam nesses cenários — aspectos aborda- voltava-se para as diferenças entre as culturas materiais
dos no documentário Atlântico Negro – na rota dos Ori- dos povos africanos, europeus e indígenas, algo que pode,

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também, ser observado em O povo brasileiro (parte I): a


matriz Tupi — documentário de Isa G. Ferraz. (Página 27,
segundo parágrafo)

Questões, Justificativas e Dicas


Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?

Clique aqui ou use o QR CODE da página 6.

Anotações e Rascunhos

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A Rota do Escravo: A Alma da Resistência

Autoria e Contextualização
A obra A rota do escravo: a alma da resistên- O segundo personagem se chama Moussa.
cia foi um trabalho financiado pelo governo da Bulgária, Estava próximo de passar por um ritual que o tornaria
produzido pela UNESCO (Organização das Nações Unidas um grande guerreiro, quando sua aldeia foi alvo de um
para a Educação, a Ciência e a Cultura) e dirigido por Ta- ataque no meio da noite. Foram capturados e tratados
bué Nguma e Nil Viasnoff. Concluído em 2013, foi dubla- como se fossem animais e também arrancados de sua
do pelo Centro de Informação das Nações Unidas para o terra natal pelo tráfico negreiro. Moussa foi alvo de uma
Brasil (UNIC). operação de castração para desempenhar o ofício para o
qual seria vendido, mas acabou não sobrevivendo. Mui-
Obra tas pessoas capturadas para serem escravizadas mor-
riam ou eram assassinadas antes mesmo de chegarem
O documentário A rota do escravo: a alma da aos destinos finais.
resistência foi produzido pela UNESCO (Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e Outra personagem, Lala, foi capturada no
pretende explicar o movimento de diáspora que, devido reino do Congo e traficada em um navio negreiro. Ela
ao processo de tráfico atlântico para abastecer países narra as condições desumanas a que ela e outras pes-
escravocratas a partir do Século XVI, levou milhões de soas foram submetidas. As viagens poderiam durar de
africanos a migrarem forçadamente para outros conti- um mês a um mês e meio, e todos os dias eram dias de
nentes. muita agonia e violência. Em um momento de sua fala,
Lala narra o estupro que ela e outras meninas sofreram.
A escravidão sempre existiu. A palavra escravo Vistas como propriedade, as mulheres negras escraviza-
vem de eslavo, um povo europeu que foi bastante es- das não tinham direito a seus próprios corpos. Era como
cravizado durante a idade média. Porém, hoje em dia, se seus corpos estivessem sempre à disposição dos ho-
associamos diretamente à escravidão moderna, da qual mens brancos, e por isso foram brutalmente estupradas
foram vítimas principalmente os africanos. E é exata- ao longo dos vários séculos de escravidão. Logo a ex-
mente esse momento da história um ponto chave para ploração também era sexual e não se restringia apenas
entendermos as desigualdades da sociedade atual. à força de trabalho. No Brasil, a grande quantidade de
estupros gerou um processo de miscigenação extrema-
A fim de explicar o comércio de pessoas que mente violento e conflituoso em que os filhos bastardos
alimentou a escravidão moderna, foi feita a criação de de homens brancos com mulheres escravizadas ainda
personagens fictícios baseados em relatos verídicos pro- foram considerados cativos1.
duzidos durante a escravidão moderna, tanto de pessoas
que foram escravizadas quanto de pessoas que escravi- As condições precárias em que africanos ho-
zaram. mens, mulheres e crianças eram armazenados nos na-
vios negreiros formavam um ambiente propício a pro-
Brooks, o primeiro personagem, foi um co- liferação de doenças. Em ambientes úmidos, abafados,
merciante de escravos na Inglaterra. Ao iniciar sua escuros, superlotados, em que predominava a violência,
fala, aponta para a necessidade de redução do preço cerca de 20 a 30% dessas pessoas morriam ainda nos na-
da produção de açúcar, produto muito desejado pelos vios negreiros. Segundo o relato de Lala, depois de qua-
europeus, mas até então muito caro. Os comerciantes se duas semanas de viagem, estourou uma revolta no
europeus saíam de seus portos com os navios cheios de navio em que estava sendo transportada. Mesmo com
armas e artigos de luxo. Nas costas da África, trocavam a desvantagem de não possuírem armas, conseguiram
seus artigos por pessoas africanas aprisionadas as quais derrotar os traficantes de escravos e tomar o controle do
eram consideradas mercadorias. Nas Américas, vendiam navio. Infelizmente, não conseguiram guiar de volta para
essas pessoas como escravizadas para abastecer a mão África. Morreram em alto mar, mas a violência da escra-
de obra nas lavouras dessas regiões. Nesse momento, vidão provocou grande alívio de terem morrido livres.
já se abasteciam com açúcar para voltar para a Europa.
Nesse movimento conhecido como Comércio Triangular, Monsieur Mace foi um colono na ilha de Bour-
sociedades inteiras enriqueceram às custas da explora- bon, proprietário de uma fazenda produtora de açúcar e
ção e escravização de pessoas africanas. Os traficantes café. Possuindo 182 escravos, conta como faz para con-
de escravizados foram aqueles que mais enriqueceram
durante a escravidão moderna, já que esse comércio era 1 Cativo é aquele que perdeu sua liberdade, o mesmo que
a base da economia colonial. escravo.

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dicioná-los ao trabalho. Acreditava que os negros eram auxílio da fuga de outras pessoas escravizadas de várias
naturalmente preguiçosos, em razão disso precisava uti- maneiras, fazendo com que sua comunidade crescesse
lizar métodos violentos para controlá-los. Para justificar cada vez mais. A pressão foi tamanha, que a Inglaterra
tamanha violência, durante todo o século XIX, o ocidente foi obrigada a assinar um tratado reconhecendo sua li-
criou uma série de teorias ditas científicas que aponta- berdade. Aqui no Brasil, tivemos o exemplo da formação
vam a existência de uma hierarquia racial. Ou seja, havia de Quilombos, organizações sociais parecidas cujo maior
uma escala que media a “civilidade” de cada povo ba- nome foi o Quilombo dos Palmares.
seado na cor de sua pele e em outros aspectos fenotí-
picos. Nesta escala, inventada com o fim de dominação, Devido às pressões dos movimentos abolicio-
em que os brancos estavam no topo e, portanto, eram nistas e dos próprios escravizados, por meio de fugas,
superiores, e os negros africanos seriam inferiores. De- revoltas e resistências diárias à escravidão, mas princi-
vido a essa “inferioridade” natural (primeiro legitimada palmente das necessidades econômicas que o sistema
por argumentos religiosos e, mais tarde, por argumentos capitalista possuía para continuar em expansão através
biológicos), poderiam ser escravizados e tratados como do crescimento de um mercado consumidor, um a um,
mercadorias. Assim como os animais, eram vistos fisica- os Estados foram obrigados a abolirem a escravidão. In-
mente como fortes e mentalmente como incapazes. felizmente, aqueles que eram donos de escravos rece-
beram indenizações por suas “perdas”, já que à época,
As punições, extremamente violentas, eram ser despossuído de seus escravizados era considerado,
usadas de forma exemplar. Deveriam ser feitas para pela elite econômica e política branca, um “ataque aos
que todos e todas vissem e, de certa forma, também se direitos de propriedade e de liberdade individual”. Po-
sentissem castigados. Monsieur afirmava que todo esse rém, aqueles que foram as vítimas do sistema nada re-
controle violento era o resultado de seu sucesso, até que ceberam.
uma revolta organizada pelas pessoas escravizadas des-
truiu toda a sua fazenda. A resistência à escravidão se dava no cotidia-
no. Por meio da negação do trabalho, a formulação de
Juan, uma criança, nasceu em Cuba já escravi- estratégias de sobrevivência e, principalmente, pela ne-
zado. Sua mãe havia sido vendida e seu pai, após tentar gação da condição de objeto a que eram submetidos e
fugir várias vezes, foi enforcado. Sua jornada de traba- a afirmação de sua condição humana. A resistência cul-
lho era extensa e começava logo às seis da manhã, junto tural demonstrava isso no dia a dia por meio da música,
com outros escravizados, nas plantações de cana. Apesar capoeira, religião, da resistência quilombola e criação
de serem tratados como animais, o pai de Juan o ensi- de laços entre si. Negaram ao longo dos séculos de es-
nou a nunca esquecer o que ele era: um ser humano. cravidão o que as teorias racistas diziam, mostrando na
Aqui está uma das dimensões mais forte da resistência prática que não eram animais destinados ao trabalho ou
negra à escravidão. O ato de se manter humanizado em incapazes de pensar e elaborar estratégias para reivindi-
um sistema que diz que essas pessoas são coisas é bas- car a liberdade e seus direitos.
tante revolucionário.
É preciso lembrar que a proibição da escravi-
Geralmente lembramos somente do trabalho dão não significou que a prática deixou de existir. Neste
escravo desempenhado nas lavouras, porém essas pes- momento, ainda existem homens, mulheres e crianças
soas escravizadas desempenhavam funções em vários sendo tratadas como mercadorias. Atualmente, existem
setores da sociedade escravocrata. O próprio Juan tra- várias instituições que lutam pelo fim do trabalho análo-
balhava também na casa grande, na moenda e, quando go ao escravo, inclusive no Brasil. A escravidão foi aboli-
não era época de colheita, era alugado para trabalhar da, mas deixou um cenário de racismo e desigualdades
em minas de ouro. A exploração se dava em espaços e sociais cuja luta pelo fim deve ser um compromisso de
dimensões diferentes. Essas pessoas sequestradas na toda a sociedade.
África contribuíram com suas culturas em vários aspec-
tos da sociedade ocidental, com técnicas na agricultura, Gênero e estrutura
mineração, metalurgia, construção, navegação e etc.
A rota do escravo: a alma da resistência é uma
Nani, outra personagem, tinha origem no produção audiovisual em formato de documentário,
império Ashanti. Foi capturada ainda criança para ser com cerca de 35 minutos de duração. Com uma narrati-
escravizada nas Índias Orientais. Desde então pensava va simples e leve, a obra é perfeitamente acessível a um
em fugir. Na lavoura, seu amigo aproveitou uma opor- público diverso.
tunidade para golpear o capitão do mato e vários deles
Por ser um documentário, há um compromis-
fugirem. Encontraram um lugar estratégico e formaram
so educativo com a realidade. A metodologia utilizada
uma comunidade, que viviam da agricultura, da criação
é bastante interessante, pois cria vários personagens
de animais e coleta de alimentos. Passaram a atuar no
fictícios para narrar suas histórias, que, por sua vez, são

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baseadas em relatos extraídos de fontes e trabalhos his- fontes. Diante disso, deve-se estabelecer a relação entre
toriográficos. Dessa forma, ao personificar os relatos, a o consumo energético, os impactos ambientais, a distri-
produção consegue aproximar essa realidade ao teles- buição desigual dos recursos energéticos no mundo e a
pectador, que consequentemente cria mais empatia pe- importância dos fluxos internacionais de energia — nem
las histórias contadas. sempre os maiores produtores são os maiores consumi-


dores e vice-versa. As obras A rota do escravo: a alma
da resistência (Slave Route: The Soul of Resistance),
documentário produzido pela Unesco, Alta ansiedade, a
matemática do caos (High Anxieties: The Mathematics of
Citações da Obra na Matriz de Referência Chaos), documentário de David Malone & Mark Tanner, e
Aos olhos de uma criança, videoclipe de Emicida, parte da
O ser humano como ser no mundo trilha sonora de O menino e o mundo, auxiliam a discus-
são desse tema. (Página 16, segundo parágrafo)
Os filmes Atlântico negro – na rota dos Orixás,
de Renato Barbieri, A rota do escravo: a alma da resis- Outro aspecto que visa a colaborar para me-
tência (Slave Route: The Soul of Resistance) — documen- lhorar as condições da vida humana diz respeito à cons-
tário produzido pela Unesco e dublado pelo Centro de In- cientização de como se estabelecem as relações necessá-
formação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC) —, Alta rias para a manutenção dos equilíbrios físico, biológico e
ansiedade, a matemática do caos (High Anxieties: The emocional. Essa busca por equilíbrio pode ser discutida
Mathematics of Chaos) — documentário da BBC, de Da- com base no documentário Alta ansiedade, a matemáti-
vid Malone & Mark Tanner — e Aos olhos de uma criança ca do caos (High Anxieties: The Mathematics of Chaos) e
— videoclipe da canção de Emicida que integra a trilha nos filmes Atlântico negro – na rota dos Orixás, de Renato
sonora de O menino e o mundo — apresentam elemen- Barbieri, e A rota do escravo: a alma da resistência (Sla-
tos para a compreensão da relação do ser humano com o ve Route: The Soul of Resistance). (Página 17, primeiro
meio ambiente, contextualizada em abordagens éticas e parágrafo)
existenciais que exigem avaliação e permitem confrontar
possíveis soluções para situações e problemas humanos Ambiente
contemporâneos. (Página 4, segundo parágrafo)
Cabe, ainda, perceber a relevância das relações
Indivíduo, cultura e identidade harmônicas e desarmônicas, intra e interespecíficas, que
se estabelecem entre os seres e na diversidade de relações
A palestra O risco da história única, de Chima- em diferentes circunstâncias e momentos históricos, le-
manda Adichie, apresenta algumas faces da distribuição vando-se em conta a dinâmica das populações humanas.
desigual na sociedade humana. Desigualdade também Sobre esse aspecto, vale lembrar que os documentários A
explícita nas imagens de Atlântico negro – na rota dos Ori- rota do escravo: a alma da resistência e Atlântico Negro
xás, de Renato Barbieri, e em A rota do escravo: a alma – na rota dos Orixás se referem a questões importantes
da resistência (Slave Route: The Soul of Resistance) — sobre as formas significativas da composição populacio-
documentário produzido pela Unesco. (Página 6, quinto nal mundial e também de aspectos significativos do Brasil,
parágrafo) como especificamente trata o documentário O povo Brasi-
leiro: a matriz Tupi. Muitas destas relações geram impac-
Estruturas to conflitivo entre as ações humanas, em grandes propor-
ções, como apontam o texto Oração dos desesperados, de
Considerando-se essas ideias, é necessário
Sérgio Vaz, o vídeo La mujer sin miedo, de Eduardo Ga-
compreender o modo como se articulam dominação,
leano, e, ainda, a palestra O risco da história única, de
hegemonia cultural, religiosa, econômica, militar e polí-
Chimamanda Adichie. (Página 19, quarto parágrafo)
tica nos mais diferentes grupos humanos, nos tempos e
nos espaços, o que pode ser discutido a partir dos filmes A formação do mundo ocidental
Atlântico Negro – na rota dos Orixás, de Renato Barbieri,
A rota do escravo: a alma da resistência (Slave Route: Obras audiovisuais como O risco da histórica
The Soul of Resistance), e Aos olhos de uma criança — vi- única, palestra da escritora Chimamanda Adichie, e A
deoclipe de Emicida (Página 12, quarto parágrafo) rota do escravo: a alma da resistência, documentário
produzido pela Unesco, contribuem para discutir diversos
Energia, equilíbrio e movimentos aspectos abordados neste objeto de conhecimento, como
a incorporação das Américas sob a lógica do colonialismo
A importância do estudo da energia no decor-
ibérico e a exploração escravista praticada na parte atlân-
rer da História e a ampliação da capacidade produtiva das
tica da África (Página 20, quarto parágrafo)
sociedades tiveram como contrapartida o aumento do
consumo de energia e a contínua incorporação de novas

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Espaços

A sugestão da leitura do Artigo 5.º da Constitui-


ção da República Federativa do Brasil de 1988 e das obras
Atlântico negro – na rota dos Orixás, de Renato Barbie-
ri, Oração dos desesperados, de Sérgio Vaz, e A rota do
escravo: a alma da resistência (Slave Route: The Soul of
Resistance) — documentário produzido pela Unesco e du-
blado pelo Centro de Informação das Nações Unidas para
o Brasil (UNIC) — complementam esforços para pensar o
Brasil, sua formação socio-histórica e espacial e todas as
desigualdades vinculadas a esses processos. (Página 25,
sétimo parágrafo)

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Anotações e Rascunhos

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O risco da história única – Chimamanda
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Adichie

Autoria
Chimamanda Adichie nasceu na cidade Enu- realidade dos africanos, pois os personagens estrangei-
gu, capital do estado de Enugu, localizado na Nigéria, em ros possuem desejos como, por exemplo, um dia ensola-
1977, e se mudou para os Estados Unidos com 19 anos rado, algo habitual para uma criança africana.
para estudar na Universidade Drexen, na Filadélfia.
Apesar disso, o contato que os ocidentais pos-
É uma escritora de romances que, em sua suem com as histórias e realidades africanas é muito es-
maioria se passam em países africanos, sendo a autora casso. As notícias desenham a África como um continen-
de obras como “Meio sol amarelo” e “Hibisco roxo”. Re- te atrasado, pobre e miserável, habitado por selvagens.
cebeu prêmios como o Wright Legacy Award, em 2004, o Através disso, ocorrem situações como a que Chimaman-
Commowealth Writers Prize, em 2005 e em 2008 foi con- da passou, na qual sua colega de quarto se surpreende
siderada a Jovem do ano pelo Future Award. Suas obras com o perfeito inglês falado por ela, sendo que a Nigé-
são permeadas por temas como o feminismo, questões ria foi colônia da Inglaterra até 1960 e, como uma das
raciais e familiares, ficando conhecida com suas pales- consequências, passou a ter o inglês como língua oficial.
tras para o grupo TED (Technology, Entertainment and Todavia, mesmo com exemplos como esse, ainda, as pes-
Desing) e o seu ativismo feminista. soas colocam no esquecimento eventos que delinearam
o atual contexto social, político e econômico da África
Ficha Técnica contemporânea, como o comércio transatlântico de es-
cravizados e o colonialismo.
Ano: 2009
Gênero: Palestra/Conferência Além do episódio do falar inglês “perfeito”, ela
Direção: TED (Technology, Entertainment and Desing) ainda relata que a tal colega de quarto a pediu para co-
Classificação indicativa: Livre locar suas músicas tribais e tentou ensiná-la como usar
um fogão. Com esse contexto, desenvolve-se uma situa-
Obra ção na qual a colega age pautada na piedade, devido à
formação de um imaginário negativo acerca da África.
“O perigo da história única” é um vídeo de 18
minutos transmitido e realizado pelo grupo TED, no qual Então, após ter passado vários anos nos EUA como uma afri-
Chimamanda, através de experiências que viveu, de- cana, eu comecei a entender a reação de minha colega para
monstra o perigo que reside quando conhecemos ape- comigo. Se eu não tivesse crescido na Nigéria e se tudo que
nas uma versão de uma história. A autora e palestrante eu conhecesse sobre a África viesse das imagens populares,
também explica como o modo que uma história é rela- eu também pensaria que a África fosse um lugar de lindas
tada, quem a conta, a ordem em que os fatos são apre- paisagens, lindos animais e pessoas incompreensíveis, lutan-
do guerras sem sentido, morrendo de pobreza e AIDS, inca-
sentados e até mesmo as palavras escolhidas modificam
pazes de falar por elas mesmas e esperando serem salvos por
a impressão passada. um estrangeiro branco e gentil. Eu veria os africanos do mes-
mo jeito que eu, quando criança, havia visto a família de Fide.
Logo no início, ela informa que os primeiros
romances que teve contato eram livros britânicos e ame- Ao analisar uma situação de sua infância, em
ricanos com protagonistas brancos. Uma consequência que um menino chamado Fide vai morar com sua famí-
da colonização inglesa na Nigéria iniciada no fim do sé- lia, ela percebe que teve uma postura semelhante a de
culo XIX, onde durante o período – e mesmo depois da sua colega de quarto, isto é, se viu com mesmas atitudes
independência – havia uma intensa doutrinação de na- que a colega teve ao seu respeito. O sentimento era de
tureza europeia e branca dentro das escolas nigerianas. piedade, porque sua mãe ao apresentar o menino apre-
Seguindo essa ideia, eram designados para as crianças a sentou-lhe como “um menino pobre”, sendo que esta, a
leitura de livros de ficção, biografias e revistas inglesas, única versão apresentada, foi a considerada verdadeira.
para que, dessa forma, se estabelecessem os princípios
da metrópole e, assim, legitimar seu domínio. É esse o risco que Chimamanda observa nas
histórias únicas, pois quando não apreciamos uma outra
Entretanto, foi essa literatura britânica que versão, acabamos por considerar o que nos é apresen-
influenciou a consolidação da moderna literatura afri- tado como verdadeiro. Melhor dizendo, desconsidera-se
cana. Segundo Chimamanda, a grande questão não é a as outras narrativas que podem existir das mais diversas
extinção dessa literatura estrangeira, e, sim, a inserção formas. Sejam elas pela ordem em que os fatos são apre-
de livros que apresentem histórias que são tangíveis à sentados, ou pelas seleções de palavras para apresentar

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uma história, já que os adjetivos escolhidos para fazer
tal apresentação dizem muito sobre o posicionamento
do autor.
Citações da Obra na Matriz de Referência
Por conta disso, quando se trata de África, a
perspectiva adotada é a da catástrofe, pobreza e fome, Indivíduo, cultura e identidade
pois essas são as notícias que chegam ao público em ge-
A palestra O risco da história única, de Chima-
ral. Além disso, escritores clássicos com John Lock, Ki-
manda Adichie, apresenta algumas faces da distribuição
pling e Hegel foram responsáveis por criar uma tradição
desigual na sociedade humana. Desigualdade também
no Ocidente de um olhar maldoso para a África. Ade-
explícita nas imagens de Atlântico negro – na rota dos
mais, Adichie relata: “devido ao poder cultural e econô- Orixás, de Renato Barbieri, e em A rota do escravo: a alma
mico da América, eu tinha muitas histórias sobre a Amé- da resistência (Slave Route: The Soul of Resistance) — do-
rica. Eu havia lido Tyler, Updike, Steinbeck e Gaitskill. Eu cumentário produzido pela Unesco. (Página 6, quinto pa-
não tinha uma única história sobre a África.” A grande rágrafo)
questão que se instala é apresentar apenas o lado ruim
da história. Estruturas

Contexto A discussão a respeito do perfil demográfico dos


diferentes grupos de países suscita reflexões acerca das
A Nigéria, país onde Chimamanda Adichie nas- diferenças socioeconômicas e culturais no cenário inter-
ceu e cresceu até se mudar para os Estados Unidos, foi nacional em transição e da transformação das estruturas
colônia da Inglaterra até 1960, quando conquistou sua produtiva e ocupacional. O conhecimento dessas estrutu-
independência. O imperialismo (ou neocolonialismo) ras possibilita novas questões e delineamentos de outras
se caracterizou, a partir do século XIX, como uma apro- prioridades, o que pode ser discutido a partir da palestra
priação das terras e de recursos de diversos países do O risco da história única, de Chimamanda Adichie, e do
mundo, além da tentativa de apagamento cultural dos documentário O povo brasileiro (parte I): a matriz Tupi, de
nativos, que os colocou na posição de tutelados, sendo Isa G. Ferraz. (Página 12, sexto parágrafo)
que o colonizador via seus enviados como professores
benevolentes que o povo em questão necessita. Esse Um primeiro olhar para a instância de concreti-
processo histórico foi fortemente guiado pelas teorias zação da língua em funcionamento — o texto — costuma
raciais e de evolucionismo cultural/social. Tais teorias, ser atribuição do que se faz sob o nome de leitura e inter-
criadas em países europeus, tentavam provar cientifi- pretação. Nessa aproximação inicial, é importante que os
camente uma pré-disposição natural dos povos brancos fatores que constroem o texto sejam recuperados. Assim,
à evolução, esta que deveria ser levada para os povos as construções linguísticas, em geral, constituem portas
das mais diversas etnias e culturas de outras partes do para o acesso à construção do conhecimento e à comuni-
mundo, os quais seriam naturalmente pré-dispostos à cação. E, como tal, só podem ser plenamente compreen-
“selvageria” e à “barbárie”. Isso tudo com o objetivo de didas em uso, ou seja, ao integrarem texto e contexto,
dominação econômica e política. Estes são pressupostos para que as experiências dos leitores se articulem com as
básicos que norteiam o imperialismo. Entretanto, a for- experiências de leitura propostas pelo texto e construam-
ma como cada potência agiu foi diferente. -se significados relevantes no processo linguístico. Desse
modo, é possível não apenas compreender o mundo e os
O império britânico, para dominar suas colô- outros, como também compreender nossas experiências
nias, optou pelo chamado “protetorado britânico”, no e nossa inserção nesse mundo de palavras escritas, como
qual a intenção era se aproximar de forma diplomática mostra a palestra O risco da história única, de Chima-
com os líderes locais e assim alcançar seus interesses, manda Adichie. (Página 14, primeiro parágrafo)
como a busca pela matéria prima. Por conseguinte, a
língua inglesa passou a ser ensinada na escolas desde o Energia, equilíbrio e movimentos
período elementar em detrimento das linguagens nati- Nas Ciências Humanas, os conceitos de equilí-
vas, da mesma forma como a cultura cristã ocidental foi brio e de movimento estão ligados a permanências e rup-
difundida através das instituições sociais. Isso demons- turas, mudanças e desigualdades nas formações históri-
tra como foi imposto ao redor do mundo, distanciando cas, culturais e sociais, algo que é mostrado, por exemplo,
os povos originários de suas culturas. Além disso, datas em O povo brasileiro (parte I): a matriz Tupi — documen-
comemorativas na metrópole passaram a ser adotadas tário de Isa G. Ferraz. Assim, torna-se importante discutir,
pela colônia, como o aniversário da rainha Vitória. no processo de construção do mundo ocidental, questões
relativas às leis, como ocorre nas obras Ifigênia em Áulis,
de Eurípedes, Apologia de Sócrates, de Platão, e Carta a
Meneceu, de Epicuro, que podem ser lidas e contrastadas

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com os textos do Artigo 5.º da Constituição da República


Federativa do Brasil de 1988, Este mundo da injustiça glo-
balizada, de José Saramago, Oração dos desesperados, de
Sérgio Vaz, e com a palestra O risco da história única, de
Chimamanda Adichie. Nesse sentido, a peça A advogada
que viu Deus, o Diabo e depois voltou para a Terra, do gru-
po G7, debate a subversão da ordem e a busca do equilí-
brio jurídico da sociedade, questionando as formas pelas
quais é buscado. De maneira análoga, algumas bases em
que se equilibra nossa estrutura social podem ser questio-
nadas a partir do vídeo La mujer sin miedo, de Eduardo
Galeano. (Página 16, sexto parágrafo)

Questões, Justificativas e Dicas


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O Povo Brasileiro (parte I): a matriz Tupi -
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Isa G. Ferraz

Autoria e Contextualização
Isa Grinspum Ferraz é uma socióloga e cineas- parte da América. A partir da união destes três povos,
ta brasileira nascida no ano de 1958, em Pernambuco. Darcy Ribeiro tenta responder questões sobre quem é o
Formada em Ciências Sociais e Filosofia na USP (Univer- povo brasileiro.
sidade de São Paulo), trabalha desde a década de 1980
com produções audiovisuais. A obra de Isa Grinspum Ferraz é uma tentativa
de maior difusão de O povo brasileiro por meio de uma
É sobrinha de Carlos Marighella, membro linguagem mais acessível, o audiovisual. Dividida em 10
do partido comunista que lutou contra o Estado Novo capítulos, temos uma série em formato de documentá-
(1937 - 1945) de Getúlio Vargas e o Regime Militar (1964 rio esmiuçando os argumentos de Darcy Ribeiro.
- 1985), sendo assassinado em 1969. Em 2012, dirigiu o
documentário Marighella, contando a história de seu tio. Nesta 1ª Etapa do PAS, temos como referên-
cia o primeiro capítulo do documentário, sobre a matriz
Foi a partir da década de 1990 que começou a Tupi. É extremamente importante que, além do estudo
trabalhar com Darcy Ribeiro, escrevendo e dirigindo um desta análise, o episódio seja assistido de forma comple-
programa exibido na antiga Rede Manchete. Ainda na- ta, somente assim haverá plena compreensão do que a
quela década, dirigiu a série O Povo Brasileiro, baseada Matriz exige no que diz respeito à obra.
na obra de mesmo título de Darcy Ribeiro.
A narrativa se inicia apontando a presença
Darcy Ribeiro foi um grande intelectual brasi- desses povos antes da colonização portuguesa. É impor-
leiro, nascido em 1922 no estado de Minas Gerais. Em tante lembrar que os portugueses não foram os primei-
1997, faleceu em Brasília. Antropólogo de formação, foi ros a chegar aqui. Estudos indicam que há pouco mais
um grande estudioso sobre os povos indígenas do terri- de 10 mil anos esses povos já habitavam este território.
tório brasileiro e da educação. No momento da invasão portuguesa, em 1500, estima-
-se que aqui viviam cerca de cinco milhões de pessoas.
Juntamente com Anísio Teixeira, foi responsá- Estas pessoas passaram a ser chamadas de índios pelos
vel pela idealização e criação da Universidade de Brasília, portugueses.
além da Universidade Estadual do Norte Fluminense. Foi
ministro da Educação durante parte do governo de João Os Tupis não são um povo, mas um tronco lin-
Goulart, mas, devido à perseguição política e intelectual guístico. Ou seja, há vários povos que falam línguas de-
do Regime Militar Brasileiro (1964 - 1985), foi obrigado a rivadas do Tupi. Esses povos ocuparam boa parte do ter-
se exilar no Uruguai. ritório que seria colonizado por Portugal e eram muito
diversificados entre si. Atualmente passaram por várias
Ao retornar do exílio político, continuou a mudanças sociais e políticas, mas há grupos que perma-
atuar em prol da educação no Brasil. Foi idealizador de necem com essas características. Como habitam a região
projetos em torno da educação integral e atuou como há milhares de anos, conhecem muito bem o território,
responsável pelo projeto de Lei que deu origem à Lei de as plantas e os animais daqui. Ademais, vale destacar a
Diretrizes e Bases da Educação Brasileira de 1996, que singularidade da relação dos povos de matriz tupi com
ainda hoje regulamenta a educação no Brasil. o meio ambiente. Desde os períodos mais remotos eles
dominam o uso de ervas para medicina e possuem gran-
Obra des habilidades técnicas de fabricação das mais diversas
Baseado no livro de mesmo título do autor ferramentas para suas atividades. Esses povos sempre
Darcy Ribeiro, O Povo Brasileiro é um documentário divi- viveram de forma simbiótica e íntima com o seu ambien-
dido em três partes. Em seu livro, Darcy Ribeiro pretende te. Ou seja, possuem a visão de que a natureza não per-
explicar o sentido e a formação da sociedade brasileira. tence a eles; eles pertencem à natureza. Assim, a agricul-
Para isso, atribui a origem a três povos originais e distin- tura que praticam não causa danos ao seu espaço: este
tos, chamadas de matrizes. é manejado de forma a tornar aquele solo cada vez mais
fértil e próspero. Suas necessidades coletivas não são
As matrizes são: a indígena, esta já habitava atendidas se o ambiente que vivem for degradado, mas
as terras que seriam colonizadas; a africana, povos se- sim se for cultivado. Há estudos arqueológicos que indi-
questrados pelo tráfico negreiro e aqui escravizados; e a cam, inclusive, que a floresta Amazônica só é tão densa
portuguesa, os brancos que conquistaram e colonizaram e vasta devido à intervenção sustentável dos povos in-

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dígenas por milhares de anos no bioma, conhecimentos as mulheres se ocupavam com atividades manuais como
estes que permanecem e resistem até a atualidade, pos- tecelagem, cuidado da roça e no preparo da comida. Em
suindo cada vez mais importância socioambiental. contrapartida, a liberdade sexual era grande. A homos-
sexualidade era comum e não havia a preocupação de
Atualmente esses povos podem viver tanto se fazer dela um segredo. Apesar da infidelidade femi-
em cidades quanto em aldeias de tamanho variado. À nina ser duramente punida, o divórcio poderia ser fei-
época da colonização estas continham de quatro a oito to facilmente. Atualmente muitas dessas características
malocas de grande tamanho (às vezes com mais de cem permanecem, e muitas outras se transformaram com o
metros de comprimento) em que poderiam viver até 600 contato e com as tentativas frequentes do Estado e das
pessoas. As malocas também são espaço de convivência instituições religiosas de apagamento da cultura desses
onde as atividades são exercidas. A noção de proprie- povos. Portanto, ainda contam com práticas específicas
dade se diferencia da que temos em uma sociedade ca- de espiritualidade, de trabalho e produção artística, de
pitalista. Ou seja, não havia uma noção de propriedade organização política e econômica, etc., que não necessa-
privada, mas sim coletiva. Tudo era de todos e tudo era riamente permaneceram idênticas à época pré-colonial,
dividido, não havia furtos. Essas noções passaram por mas que também não foram totalmente apagadas. Hoje
transformações e adaptações devido às missões da igre- em dia é forte o movimento de resgate dessas caracte-
ja e ao indigenismo do Estado, que tinham – e ainda têm rísticas culturais que por muitos anos foram desrespeita-
-- como objetivo inserir essas pessoas na “cultura nacio- das, com o objetivo de reafirmação étnica, identitária e,
nal”. Apesar disso, atualmente há muitos movimentos consequentemente, de luta política.
de resgate desses aspectos culturais marcantes e funda-
mentais para os povos indígenas. Herdamos dos indígenas vários hábitos e for-
mas de sobreviver nessas terras, como o uso de ervas e
Essa noção de coletividade incluía e inclui frutos medicinais, nossa alimentação, nossa língua, que
tanto bens materiais quanto conhecimento. Por isso, os conta com muitas palavras do tronco linguístico Tupi e
mais velhos possuem o papel fundamental nessas cultu- nossa arte. Porém, a mais importante dessas heranças
ras de ensinar os mais novos por meio da tradição. A au- é a possibilidade e necessidade de integração pacífica e
toridade, em alguns povos da matriz Tupi, é exercida de amistosa com a natureza.
forma carismática e no comércio de pequenos favores.
Por último, lembramos que os povos indígenas
Os Tupinambás, povo que entrou em contato não devem ser vistos como figuras estáticas no passa-
direto com os portugueses à época da colonização, fo- do da sociedade brasileira. Hoje, apesar do extermínio
ram inicialmente caracterizados principalmente como que ocorreu ao longo de toda a colonização e formação
um povo de guerra e de festa. A festa, dança e a música do Estado brasileiro, temos a presença de mais de 254
eram atividades extremamente valorizadas. Mas a maior povos indígenas, falantes de mais de 150 línguas dife-
valorização era dada à guerra, esta que possuía carac- rentes, situados em 716 terras indígenas em todo o ter-
terísticas totalmente diferentes da guerra para os euro- ritório nacional.
peus. Entre si, eram amigáveis. Em relação aos inimigos,
estavam sempre preparados para a guerra, instituição Gênero
em que havia muito respeito e ética por trás. Aqueles
que foram vencidos poderiam ser escravizados ou apri- Temos aqui um documentário dividido em dez
sionados e depois devorados em uma cerimônia antro- episódios. O episódio I, sobre a matriz Tupi, tem cerca
pofágica ritualística. Toda a guerra fazia parte também de 26 minutos e segue uma narrativa leve, facilmente
de um ritual extremamente complexo. acompanhada pelo público. Alterna a fala de especialis-
tas sobre o assunto, assim como o próprio Darcy Ribeiro,
Isso porque o mundo religioso dos povos tupis com personalidades como Chico Buarque.
estava diretamente ligado ao mundo físico. Não havia
uma distinção clara entre o mundo espiritual e o mun- A parte visual do documentário também é
do físico. Muitas destas dicotomizações do real com as muito interessante, pois contém uma série de imagens
quais estamos adaptados hoje foram importadas pelos como vídeos, gravuras e fotos de povos indígenas atuais
europeus. Havia um espírito presente em cada atividade ou não, realizando as atividades que vão sendo narradas
exercida e em cada ser vivo. Da mesma forma, trabalho pelos entrevistados, além de mapas retratando o territó-
e arte não estão separados, mas imersos e diluídos nas rio ocupado pelos Tupis.
mesmas práticas.
A trilha sonora também é digna de ser men-
A divisão sexual das atividades era nítida desde cionada, já que faz referência à musicalidade que tra-
os primeiros anos de vida. Homens eram treinados para dicionalmente é relacionada aos povos indígenas. Logo,
atividades que giravam em torno da guerra, enquanto é mais uma linguagem que auxilia o entendimento da

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cultura de uma das matrizes de formação do povo bra- Brasileiro: a matriz Tupi. Muitas destas relações geram
sileiro. impacto conflitivo entre as ações humanas, em grandes


proporções, como apontam o texto Oração dos deses-
perados, de Sérgio Vaz, o vídeo La mujer sin miedo, de
Eduardo Galeano, e, ainda, a palestra O risco da história
única, de Chimamanda Adichie. (Página 19, parágrafo 4)
Citações da Obra na Matriz de Referência
A formação do mundo ocidental
Indivíduo, cultura e identidade
No Brasil, ressalta-se a organização dos di-
Obras como Atlântico Negro – na rota dos Orixás
versos povos indígenas no período pré- ocidentalização
— documentário, de Renato Barbieri e Victor Lombardi —
(anterior à invasão portuguesa e ao processo de ociden-
e O povo brasileiro (parte I): a matriz Tupi — documentá-
talização), sua territorialidade, seus modos de vida, sua
rio, de Isa G. Ferraz — possibilitam pensar problemas re-
cosmovisão, sua religiosidade, seus hábitos alimentares
lativos a outros aspectos, com distintas questões relativas
e sua cultura material, como mostra o documentário O
a ser branco, ser negro ou ser indígena no Brasil. O uso
povo brasileiro (parte I): a matriz tupi, de Isa Ferraz. (Pá-
metodológico de técnicas de entrevista, observação e pes-
gina 21, parágrafo 7)
quisa de campo pode ampliar a compreensão de aspectos
relevantes sobre essas questões e levar a pensar como Materiais
o encontro com a diversidade artística, cultural, étnica,
religiosa e com as diferenças de orientação sexual e de As disputas por recursos materiais constituem
gênero pode interferir na constituição dessas identidades. permanência na história ocidental, provocam rupturas
(Página 6, parágrafos 9 e 10) — guerras, conflitos e exploração nas sociedades e en-
tre povos. O poema Oração dos desesperados, de Sérgio
Estruturas Vaz, expressa aspectos críticos relacionados a essa per-
cepção, também presentes nos documentários A rota do
A discussão a respeito do perfil demográfico dos
escravo: a alma da resistência (Slave Route: The Soul of
diferentes grupos de países suscita reflexões acerca das
Resistance), produzido pela Unesco e dublado pelo Centro
diferenças socioeconômicas e culturais no cenário inter-
de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC), e
nacional em transição e da transformação das estruturas
Atlântico Negro – na rota dos Orixás, de Renato Barbieri.
produtiva e ocupacional. O conhecimento dessas estrutu-
No período de expansão marítima europeia, o foco volta-
ras possibilita novas questões e delineamentos de outras
va-se para as diferenças entre as culturas materiais dos
prioridades, o que pode ser discutido a partir da palestra
povos africanos, europeus e indígenas, algo que pode,
O risco da história única, de Chimamanda Adichie, e do
também, ser observado em O povo brasileiro (parte I): a
documentário O povo brasileiro (parte I): a matriz Tupi,
matriz Tupi — documentário de Isa G. Ferraz (Página 27,
de Isa G. Ferraz. (Página 12, parágrafo 6)
parágrafo 2)
Energia, equilíbrio e movimentos
Questões, Justificativas e Dicas
Nas Ciências Humanas, os conceitos de equilí-
Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?
brio e de movimento estão ligados a permanências e rup-
turas, mudanças e desigualdades nas formações históri- Clique aqui ou use o QR CODE da página 6.
cas, culturais e sociais, algo que é mostrado, por exemplo,
em O povo brasileiro (parte I): a matriz Tupi — documen- Anotações e Rascunhos
tário de Isa G. Ferraz. (Página 16, parágrafo 6)

Ambiente

Cabe, ainda, perceber a relevância das relações


harmônicas e desarmônicas, intra e interespecíficas, que
se estabelecem entre os seres e na diversidade de relações
em diferentes circunstâncias e momentos históricos, le-
vando-se em conta a dinâmica das populações humanas.
Sobre esse aspecto, vale lembrar que os documentários A
rota do escravo: a alma da resistência e Atlântico Negro
– na rota dos Orixás se referem a questões importantes
sobre as formas significativas da composição populacio-
nal mundial e também de aspectos significativos do Bra-
sil, como especificamente trata o documentário O povo

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Aos olhos de uma criança - Emicida

Autor
Leandro Roque de Oliveira, mais conhecido As duas primeiras estrofes da música repetem
como Emicida, nasceu em São Paulo, no dia 17 de agosto ‘’menino, mundo, mundo, menino’’ e o primeiro verso
de 1985. Sua carreira como MC começou nas batalhas da terceira estrofe já evidencia a redução do menino
de rima improvisadas, logo Emicida chamou atenção por frente a um mundo tão grande, tão intenso e agitado.
seu talento. Seu nome artístico, Emicida, é uma junção Veja a seguir análises de trecho da obra:
das palavras ‘’MC’’ e ‘’homicida’’, pois suas rimas eram
consideradas mortais para seus adversários. Sua carreira “Selva de pedra, menino microscópico”
como músico se iniciou em 2008, com o lançamento do Esse trecho mostra como a cidade, tida como
single ‘’Triunfo’’, mesmo nome dado ao seu DVD de 10 uma selva de pedra, cheia de perigos e mazelas, bem
anos de trabalho, lançado em 2018. como seu fluxo intenso de pessoas e informações torna
Emicida é um artista negro e periférico, e suas esse menino microscópico, pequeno diante de tudo que
experiências pessoais são projetadas nas suas manifes- ocorre ao seu redor. O interessante é perceber como as
tações artísticas. Músicas que tratam da desigualdade imagens e a letra da música se complementam na lei-
racial e social compõem a maioria de suas produções. A tura total. Mesmo que a música expresse essa relação
escolha desse artista para interpretar a trilha sonora do indivíduo x sociedade urbanizada capitalista, a leitura
longa O Menino e o Mundo foi muito bem pensada, já dessa sociedade inteira parte da visão desse menino. A
que o filme trata justamente das desigualdades sociais importância da inocência da infância é fundamental para
do mundo urbanizado, uma experiência vivenciada por entender as alegorias do clipe e em como esse mundo
Emicida. assusta e encanta o garoto.

Para além de músico, Emicida também é pro- Outro aspecto importante a ser ressaltado
dutor e tem sua própria marca de roupas. Um exemplo nesse videoclipe é um processo de urbanização aliado ao
de homem negro bem-sucedido, o artista entende que êxodo rural. De início, parece que a família vive no inte-
ainda, infelizmente, é uma exceção nesse mundo desi- rior e o pai deixa sua moradia e família em busca de em-
gual e utiliza de sua posição para ampliar a inserção de prego em uma cidade grande. As condições de trabalho
outras pessoas negras nesses espaços. escassas e a desigualdade social são temas latentes da
música e do filme. Muitas famílias brasileiras se encon-
tram em situações muito parecidas com as mostradas na
Obra
obra, o que atribui muita veracidade para o filme, ainda
Aos olhos de uma criança é a principal músi- que sua linguagem seja tão lúdica.
ca que compõe a trilha sonora do longa O Menino e o
Mundo, animação brasileira de 2013. Escrita e dirigida A desigualdade social, aliada às condições de
por Alê Abreu, concorreu ao Oscar de melhor filme de trabalho escassas e degradantes, obriga muitas famílias
animação em 2016. A canção é interpretada por Emicida a se separarem em um processo de buscar sustento para
e Drik Barbosa no backing vocal. O longa trata da história si e para os demais. Os laços afetivos acabam ficando em
de um menino, pertencente a uma família pobre, que segundo plano, pois a sobrevivência é um dos fatores
presencia seu pai indo embora em busca de emprego em mais importantes de um mundo capitalista, sobretudo
um local distante. O filme não possui uma narrativa ver- para famílias de baixa renda que são marginalizadas co-
bal, o que reforça sua linguagem lúdica, pois a narrativa tidianamente. Essa desigualdade, entre classe trabalha-
se dá pelas experiências da criança. dora e classe empregadora, está evidente na letra da
música. Vejamos:
O videoclipe de Aos olhos de uma criança fun-
ciona como uma espécie de trailer da obra, uma vez que “Fadiga pra nóis, para eles férias”
conta com trechos do longa-metragem e com a música, Esse trecho enfatiza uma relação de classe que
que, de certa forma, explica o que está se passando na já foi explicada por Karl Marx: as diferenças entre as for-
tela. O clipe é repleto de cores e formatos lúdicos que mas de vida da classe proletária e dos donos dos meios
nem sempre correspondem à realidade vista nas cidades de produção. Trazendo para o contexto contemporâneo
urbanizadas. Mas cabe lembrar que a perspectiva que brasileiro, é muito fácil observar essa relação entre os
nos é apresentada é a de uma criança que, indo atrás donos das empresas e o trabalhador operário. A jornada
do pai que foi trabalhar, acaba tendo contato com esse de trabalho exaustiva enfrentada pela classe proletária
mundo urbanizado e caótico. do país é o que sustenta a elite econômica brasileira, que

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não precisa trabalhar da mesma forma e que tem sua resistir a essa sociedade que força a racionalização contí-
vida preenchida por outras atividades que não o traba- nua e não deixa espaço para o subjetivo lúdico e afetivo.
lho. É a fadiga da classe trabalhadora, o trabalho cotidia-
no e pesado que fornece o necessário para as férias e o Para além de um retrato da sociedade brasi-
descanso da elite econômica que não precisa vender sua leira, Aos olhos de uma criança é, também, um alerta
força de trabalho. para as desigualdades sociais, condições de trabalho e
rompimento da infância de nossas crianças.
E o último aspecto, talvez o mais relevante
dessa análise, é o do olhar infantil dessa realidade desi- Gênero/Estrutura
gual. Há o questionamento: existe espaço para a infância
A obra Aos olhos de uma criança se trata de
numa sociedade capitalista? A saudade do pai que teve
uma produção audiovisual, um videoclipe que alia a
que ir trabalhar faz com que uma criança se aventure em
trilha sonora ao efeito visual da obra. As linguagens se
um mundo que não foi pensado para ela e que não per-
complementam e só funcionam quando abordadas de
mite que sua infância seja assegurada e protegida. Posto
forma coletiva. As imagens utilizadas no clipe fazem par-
isso, o capitalismo estimula o individualismo, a ideia de
te do longa-metragem O Menino e o Mundo, e foram es-
meritocracia submete-nos à competição o tempo todo
colhidas para contextualizar a obra, como uma espécie
uns com os outros, não existe uma ideia de coletivo, de
de trailer, que tem sua história contada também pela
cuidado com o próximo. Se essa relação já se mostra
letra da música.


problemática em um mundo adulto, com a inserção das
crianças nesses ambientes, a violência só se mostra mais
cruel e excludente.
Muito se fala da importância de uma estrutura
Citações da Obra na Matriz de Referência
familiar para o desenvolvimento da criança, mas não se
permite que essa estrutura exista em famílias de baixa O ser humano como um ser no mundo
renda. A razão de tal fato se dá devido aos trabalhado-
res, pertencentes a essas famílias, precisarem sair de Os filmes Atlântico negro – na rota dos Orixás,
seus estados para enfrentar jornadas cada vez maiores de Renato Barbieri, A rota do escravo: a alma da resistên-
de trabalho. Nesse contexto, como uma sociedade que cia (Slave Route: The Soul of Resistance) — documentário
cobra a presença dos pais no desenvolvimento do filho produzido pela Unesco e dublado pelo Centro de Informa-
também retira os responsáveis do cotidiano dessa crian- ção das Nações Unidas para o Brasil (UNIC) —, Alta an-
ça? Sendo que os responsáveis necessitam sustentar siedade, a matemática do caos (High Anxieties: The Ma-
economicamente a família. thematics of Chaos) — documentário da BBC, de David
Malone & Mark Tanner — e Aos olhos de uma criança
A solidão das crianças, filhas da classe traba- — videoclipe da canção de Emicida que integra a trilha
lhadora, ocasiona a abdicação da infância. Atrelado a sonora de O menino e o mundo — apresentam elemen-
essa ideia, Emicida possui em seu álbum um repertório o tos para a compreensão da relação do ser humano com o
qual retrata sua historicidade: meio ambiente, contextualizada em abordagens éticas e
existenciais que exigem avaliação e permitem confrontar
Era um cômodo incômodo
possíveis soluções para situações e problemas humanos
Sujo como o dragão de komodo
Úmido, eu homem da casa contemporâneos. (Página 4, parágrafo 2)
Aos seis anos
Indivíduo, cultura e identidade
A infância foi um conceito inventado para res- Entre os humanos, a divisão de tarefas gera de-
guardar o direito da criança de ser criança, porém, não é sigualdade na apropriação dos resultados, ou seja, renda
possível ver esse direito sendo de fato aplicado quando e aquisição de bens em qualidade e quantidade distintas,
permitimos que uma sociedade tão desigual exista. A de- como é possível perceber no videoclipe Aos olhos de uma
sigualdade social provoca a separação do seio familiar, e criança, de Emicida, parte da trilha sonora de O menino e
isso colabora para a emancipação das crianças, tornan- o mundo. (Página 6, parágrafo 4)
do-as adultizadas. Estas passam a ter preocupações per-
tencentes ao mundo adulto. Estruturas

O videoclipe procura mostrar justamente a di- Um conceito de estrutura amplamente difundi-


cotomia existente entre a inocência do olhar infantil e o do é o que designa um conjunto de elementos solidários
mundo do capitalismo feroz, que não tem espaço para entre si ou de elementos cujas partes são funções umas
essa inocência. A forma de perceber o mundo ao seu re- das outras, já que cada um dos componentes se relaciona
dor, para o menino da obra, é quase que uma forma de com os demais e com a totalidade. Assim, os membros do

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todo se entrelaçam de tal forma que não há independên- com uso intensivo das terras em constante avanço sobre
cia de um em relação aos outros. os diversos biomas.
Portanto, para que se apreenda uma es- O exercício dessas técnicas provocou fragmen-
trutura, são necessárias a significação e a res- tação ecossistêmica, desmatamento, poluição ambiental
significação contínuas que possibilitem rela- e erosão, fenômenos que quebram a teia alimentar dos
ções de múltiplas naturezas ou configurações ecossistemas. Esses temas podem ser vistos a partir do do-
individuais, sociais, econômicas e culturais, para que se cumentário Alta ansiedade, a matemática do caos (High
proceda à análise contextualizada de cada parte ou ob- Anxieties: The Mathematics of Chaos), de David Malone
jeto. & Mark Tanner. Uma dimensão visual do que é o impacto
urbano pode ser notado no videoclipe Aos olhos de uma
Considerando-se essas ideias, é necessário criança, de Emicida, parte da trilha sonora de O menino e
compreender o modo como se articulam dominação, o mundo. (Página 18, parágrafos 3 e 4)
hegemonia cultural, religiosa, econômica, militar e polí-
tica nos mais diferentes grupos humanos, nos tempos e Espaços
nos espaços, o que pode ser discutido a partir dos filmes
Atlântico Negro – na rota dos Orixás, de Renato Barbieri, A divisão do trabalho aliada ao desenvolvimen-
A rota do escravo: a alma da resistência (Slave Route: The to da ciência e tecnologia (maquinários, domínio gradual
Soul of Resistance), e Aos olhos de uma criança — video- das fontes de energia, meios de transporte) permitiram a
clipe de Emicida. (Página 12, parágrafos 2,3 e 4) expansão do modo de produção capitalista. Os sistemas
técnicos, cada vez mais eficazes para a produção, permi-
Energia, equilíbrio e movimento tem a expansão da divisão internacional do trabalho e o
desenvolvimento ininterrupto da Ciência e Tecnologia, em
A importância do estudo da energia no decorrer um processo de transformação cada vez mais acelerado
da História e a ampliação da capacidade produtiva das do chamado meio técnico. As paisagens modificam-se
sociedades tiveram como contrapartida o aumento do rapidamente, até chegarmos ao meio técnico-científico
consumo de energia e a contínua incorporação de novas e informacional, caracterizado pelo intenso domínio das
fontes. Diante disso, deve-se estabelecer a relação entre ciências e tecnologias, especialmente dos meios de comu-
o consumo energético, os impactos ambientais, a distri- nicação e informação, e pela forte presença dos processos
buição desigual dos recursos energéticos no mundo e a de mundialização.
importância dos fluxos internacionais de energia — nem
sempre os maiores produtores são os maiores consumi- Essa perspectiva para pensar o espaço geográ-
dores e vice-versa. As obras A rota do escravo: a alma da fico aponta para uma acumulação desigual de tempos e
resistência (Slave Route: The Soul of Resistance), docu- ultrapassa as fronteiras políticas de cidades, estados e
mentário produzido pela Unesco, Alta ansiedade, a ma- países. Os fatos e processos históricos permanecem no
temática do caos (High Anxieties: The Mathematics of espaço geográfico, modificado de maneira ininterrupta e
Chaos), documentário de David Malone & Mark Tanner, e cotidiana pelos humanos. Essa complexa noção pode ser
Aos olhos de uma criança, videoclipe de Emicida, parte da melhor apreendida a partir de obras como Alta ansieda-
trilha sonora de O menino e o mundo, auxiliam a discus- de, a matemática do caos (High Anxieties: The Mathema-
são desse tema. (Página 16, parágrafo 2) tics of Chaos) - documentário deDavid Malone & Mark
Tanner produzido pela BBC —, Aos olhos de uma criança
Ambiente — videoclipe de Emicida, parte da trilha sonora de O me-
Pode ser atribuída à expansão industrial a cria- nino e o mundo — e Este mundo da injustiça globalizada,
ção de um cenário de forte impacto ambiental. Os cen- de José Saramago. (Página 25, parágrafos 4 e 5).
tros urbanos se ampliaram e transformaram profunda-
mente as relações sociais. O crescimento sistemático da Questões, Justificativas e Dicas
produção de mercadorias, a partir do século XVIII, passou Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?
a exigir cada vez mais matérias-primas, fontes de ener-
gia, infraestruturas de produção e circulação, levando Clique aqui ou use o QR CODE da página 6.
ao avanço do uso e da ocupação das diversas paisagens
naturais do mundo e, consequentemente, provocando im-
pactos ambientais e problemas sociais de diversas ordens.
Também como parte desse processo está a ca-
pitalização do campo com a modernização da agricultura
na maioria dos países. Neles, as áreas dedicadas ao culti-
vo passaram a consumidoras de insumos agrícolas e ado-
taram o sistema de irrigação e práticas de monocultura

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La mujer sin miedo - Eduardo Galeano

Autor
Eduardo Hughes Galeano (1940 – 2015) foi pou de tratar em sua obra sobre as relações sociais no
um escritor e jornalista nascido no Uruguai que produ- contexto brasileiro e colocar como agente principal do
ziu durante sua vida mais de quarenta obras ficcionais, patriarcado o homem branco proprietário, sua perspec-
jornalísticas, políticas e históricas. Com um papel políti- tiva acabou consolidando essa leitura de Brasil, o que
co durante o golpe militar, que ocorreu no Uruguai em apresenta fatos que aproximam as suas ideias das mui-
1973, o escritor foi pressionado a deixar o país e se exilar tas verdades sobre a história nacional.
na Espanha, só retornou a Montevidéu em 1985. Essa
trajetória já demonstra sua preocupação em se posicio- O sistema patriarcal consiste em subordinar
nar contra regimes totalitários e excludentes, bem como todas as relações familiares e sociais à figura masculi-
ações políticas e sociais que atuam de forma a perpetuar na, à figura do pai. Segundo Freyre, no contexto da Casa
as desigualdades existentes. Grande, o homem branco era proprietário da terra e de
tudo aquilo que existia dentro de seu território, o que
Considerado um indivíduo transgressor, Ga- incluía não só os indivíduos escravizados, mas sua mu-
leano construía contranarrativas que davam visibilidade lher e filhos. Apesar dessa leitura deixar de fora várias
para causas e pessoas marginalizadas. nuances, é evidente que representa o ideal de muitos
homens, que se veem, e se consideram, como proprietá-
Obra rios de tudo que está em seu ‘’território’’.

A obra La Mujer Sin Miedo é uma produção Na estrutura patriarcal, quem mantém os
audiovisual que consiste na filmagem da fala de Eduardo membros da família é o pai, seja como proprietário de
Hughes Galeano sobre a violência doméstica e a morte pessoas escravizadas, como no período colonial, seja
de mulheres por seus companheiros masculinos. O texto pelo trabalho assalariado. Essa estrutura é naturalizada
proclamado no vídeo é o seguinte: por muitas pessoas, ou seja, é vista como algo comum e
até mesmo biológico. Um exemplo disso é pensar a mu-
“Hay criminales que proclaman tan campantes ‘la lher como uma cuidadora nata, dona-de-casa e mãe, e o
maté porque era mía’, así no más, como si fuera cosa de sentido
pai como uma figura naturalmente forte, que trabalha e
común y justo de toda justicia y derecho de propiedad privada,
que hace al hombre dueño de la mujer. Pero ninguno, ninguno,
traz o dinheiro para dentro do ambiente familiar.
ni el más macho de los supermachos tiene la valentía de confe-
sar ‘la maté por miedo’, porque al fin y al cabo el miedo de la Essa estrutura consolidou não só a mulher
mujer a la violencia del hombre es el espejo del miedo del hom- branca como propriedade, mas também a mulher negra
bre a la mujer sin miedo” e indígena, que tiveram, durante todo o período colonial,
seus corpos tidos como propriedade do homem branco
Tradução colonizador. Existem várias diferenças de percepção so-
bre essas mulheres dentro da sociedade brasileira, espa-
‘’Há criminosos que proclamam ‘matei porque ela
ços de privilégio e de marginalização, mas ainda assim, a
era minha’’, assim mesmo, como se fosse uma questão de sen-
so comum e justiça e direito à propriedade privada, que faz do
opressão da figura masculina branca consolidada no Bra-
homem dono da mulher. Mas nenhum, nenhum, nem mesmo sil colônia age sobre todas, ainda que de forma distinta.
o mais macho dos supermachos, tem a coragem de confessar
‘Matei-a por medo’, porque no fim das contas, o medo das mu- Mas, essa estrutura não é a única possível, e
lheres à violência dos homens é o espelho do medo dos homens as mulheres vêm mostrando isso desde sempre. A au-
às mulheres sem medo’’ tonomia das mulheres sempre existiu e essa autonomia
balança as estruturas do sistema patriarcal. Mulheres
A transcrição do que foi falado não faz jus à que trabalham, estudam, são mães solo1, ou escolhem
obra na sua integridade, tornando importante assistir ao não ser mães, estão mostrando que suas famílias e seus
vídeo, pois a entonação e expressões faciais compõem o corpos não são propriedade de ninguém.
quadro de crítica feita por Eduardo Galeano à sociedade
patriarcal. Essas mulheres provocam, no sentido de in-
comodar, uma vez que retiram os privilégios do patriar-
A ideia da sociedade patriarcal foi consolidada cado, forçando-os ir contra aquilo que muitos homens
no Brasil, com a publicação da obra Casa Grande & Sen- acreditam ser um direito seu, o de dominar, de ditar os
zala, de Gilberto Freyre. É evidente que não foi Freyre limites da existência de sua companheira. Os homens,
que inventou o sistema patriarcal, mas o autor se ocu-
1. Mães que criam seus filhos sozinhas, sem a presença da figura paterna.

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que se beneficiam com o patriarcado e não querem seu sificação textual ou artística. Assim como existem tipos
fim, têm medo das mulheres que agem fora dele. Como de textos, há tipos de organização social, tipos de figuras
dominar uma mulher que não se submete mais a essa geométricas, tipos/modalidades de linguagem. Diferentes
dominação? É isso que a obra La Mujer Sin Miedo trans- formas de vida podem revelar, em sua organização, ele-
mite: de como a violência física, a morte dessas mulhe- mentos para pensar essas questões, como se depreende
res, é na verdade um reflexo do medo covarde de certos do artigo Aliança no fundo do mar, de Carlos Fioravan-
homens de lidar com mulheres independentes e autô- ti, publicado na Revista FAPESP, edição 258, de agosto de
nomas. O medo de abrir mão dos seus privilégios, de ver 2017. De maneira semelhante, as relações entre pessoas
a mulher em pé de igualdade, respeitar suas escolhas e de diferentes gêneros podem ser discutidas a partir do ví-
posicionamentos, assusta aos homens, porque não fo- deo La mujer sin miedo, de Eduardo Galeano. (Página 9,
ram ensinados a lidar com uma mulher assim. Esses ho- parágrafo 1)
mens, ameaçados, assustam as mulheres para voltar a
O questionamento do papel do homem e da
controlá-las.
mulher constitui fato relevante no mundo moderno. A
percepção clara da necessidade de se observarem as
Gênero/Estrutura diferenças entre os gêneros e respeitá-las, tornando o
A obra La Mujer Sin Miedo se configura como convívio humano mais justo e fraterno, deve constituir
um poema. Essa classificação se justifica pela estética importante objeto de estudo, assim como a percepção
dos versos que são ditos durante o vídeo e a forma como de que tipos diferentes de organização social não são
são proclamados. necessariamente conflitantes, mas muitas vezes com-


plementares. Tais questionamentos podem também se
fazer iluminar pelo vídeo La mujer sin miedo, de Eduar-
do Galeano. Questionar a imagem da mulher no Brasil
remete-nos às etnias que nos constituíram (indígenas,
Citações da Obra na Matriz de Referência africanas e europeias). Que papéis exercem as mulheres
brasileiras? Como a mulher se reconhece, por exemplo,
O ser humano como um ser no mundo nas obras Meu cupido é gari, de Marília Mendonça, e
Brasiliana, sob regência de Ligia Amadio? (Página 11, pa-
A reflexão sobre o ser humano como um ser no
rágrafo 1)
mundo, ser singular e autodeterminante, pode, ainda, ser
desenvolvida a partir de conceitos fundamentais como Estruturas
condição humana, situações-limite, vida, morte, existên-
cia, essência, natureza, cultura, liberdade, comportamen- Há estruturas lógicas preponderantes no pen-
tos, condicionamentos, escolhas, consciência, afetividade, samento. O raciocínio possibilita a articulação de ideias,
sensibilidade, criatividade, racionalidade, maioridade, a aceitação do novo e a compreensão de que as estrutu-
responsabilidade, alteridade, autonomia, projeto de vida, ras sociais não são tão rígidas como em princípio possam
mundo, presentes em obras como La mujer sin miedo, de parecer. O entendimento da constituição das diferentes
Eduardo Galeano, a tragédia Ifigênia em Áulis, de Eurípi- estruturas socioeconômicas, culturais e políticas vigentes
des, e a Entrevista com Maria Teresa, ex-escrava — feita passa pela comparação entre elas, localizando-as no es-
em 1973 por Antônio José do Espírito Santo e apresentada paço e no tempo. Essa percepção pode ser avaliada nas
na revista Geledés, em dezembro de 2014. É importante obras Apologia de Sócrates, de Platão, e Carta a Meneceu,
ressaltar que a personagem título da peça Ifigênia em Áu- de Epicuro, assim como no vídeo La mujer sin miedo, de
lis opta pela morte para salvar a coletividade. (Página 5, Eduardo Galeano. (Página 12, parágrafo 8)
parágrafo 2)
Energia, equilíbrio e movimento
Indivíduo, cultura e identidade
Nas Ciências Humanas, os conceitos de equilí-
Nos grupos humanos, o indivíduo desenvolve brio e de movimento estão ligados a permanências e rup-
papéis de acordo com normas, regras e valores. No Artigo turas, mudanças e desigualdades nas formações históri-
5º da Constituição da República Federativa do Brasil de cas, culturais e sociais, algo que é mostrado, por exemplo,
1988, bem como nas obras Apologia de Sócrates, de Pla- em O povo brasileiro (parte I): a matriz Tupi — documen-
tão, La mujer sin miedo, de Eduardo Galeano, e Carta a tário de Isa G. Ferraz. Assim, torna-se importante discutir,
Menelau, de Epicuro, há uma série de elementos para se no processo de construção do mundo ocidental, questões
pensar a respeito desses aspectos. (Página 6, parágrafo 6) relativas às leis, como ocorre nas obras Ifigênia em Áulis,
de Eurípedes, Apologia de Sócrates, de Platão, e Carta a
Tipos e gêneros Meneceu, de Epicuro, que podem ser lidas e contrastadas
com os textos do Artigo 5.º da Constituição da República
Entende-se o termo gênero de várias formas.
Federativa do Brasil de 1988, Este mundo da injustiça glo-
Por exemplo, gênero como distinção de sexo, como clas-
balizada, de José Saramago, Oração dos desesperados, de

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Sérgio Vaz, e com a palestra O risco da história única, de


Chimamanda Adichie. Nesse sentido, a peça A advogada
que viu Deus, o Diabo e depois voltou para a Terra, do gru-
po G7, debate a subversão da ordem e a busca do equilí-
brio jurídico da sociedade, questionando as formas pelas
quais é buscado. De maneira análoga, algumas bases em
que se equilibra nossa estrutura social podem ser questio-
nadas a partir do vídeo La mujer sin miedo, de Eduardo
Galeano. (Página 17, parágrafo 1)

Ambiente

Cabe, ainda, perceber a relevância das relações


harmônicas e desarmônicas, intra e interespecíficas, que
se estabelecem entre os seres e na diversidade de relações
em diferentes circunstâncias e momentos históricos, le-
vando-se em conta a dinâmica das populações humanas.
Sobre esse aspecto, vale lembrar que os documentários A
rota do escravo: a alma da resistência e Atlântico Negro
– na rota dos Orixás se referem a questões importantes
sobre as formas significativas da composição populacio-
nal mundial e também de aspectos significativos do Brasil,
como especificamente trata o documentário O povo Brasi-
leiro: a matriz Tupi. Muitas destas relações geram impac-
to conflitivo entre as ações humanas, em grandes propor-
ções, como apontam o texto Oração dos desesperados,
de Sérgio Vaz, o vídeo La mujer sin miedo, de Eduardo
Galeano, e, ainda, a palestra O risco da história única, de
Chimamanda Adichie. (Página 19, parágrafo 5)

Questões, Justificativas e Dicas


Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?

Clique aqui ou use o QR CODE da página 6.

Anotações e Rascunhos

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Alta Ansiedade, a Matemática do Caos -
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David Malone & Mark Tanner

Autoria e Contextualização
Alta Ansiedade – A Matemática do Caos (ou é composto por diversos especialistas que discutem a
High Anxieties: The Mathematics of Chaos) é um docu- teoria do caos nestas áreas.
mentário originalmente feito em inglês pela rede de te-
levisão BBC, dirigido por David Malone e Mark Tanner. Teoria do Caos
Ele foi ao ar mundialmente em 2008, posteriormente
Para compreender melhor as ideias transmiti-
dublado e transmitido no Brasil pela rede de televisão
das no documentário, é primordial entender o conceito
estatal TV Escola/MEC.
da Teoria do Caos.
O documentário é uma tentativa de examinar
A Teoria do Caos é uma linha de pensamento
a maneira como as descobertas operadas na matemática
que se ocupa em estudar as formas aleatórias e impre-
do século passado abalaram a visão de mundo naquele
visíveis dos sistemas complexos e dinâmicos, conhecidos
momento. Inicialmente o mundo era visto como um lo-
como sistemas dinâmicos não lineares, ou seja, a teo-
cal seguro, controlável e previsível. Com as novas investi-
ria afirma que uma pequena mudança no início de um
gações, foi desenvolvida uma nova visão sobre o mundo,
evento qualquer pode trazer consequências enormes e
e essa nova visão trouxe uma perspectiva de incertezas
absolutamente desconhecidas no futuro. A partir deste
e ansiedades. Para tratar disso, o documentário faz um
estudo, percebe-se que o caos possui um padrão e uma
resumo de séculos de evolução da matemática, desde
tendência própria e analisável, a qual se traduz, parado-
Newton, Laplace a Henri Poincaré.
xalmente, uma desordem organizada por meio de equa-
É um longa essencialmente didático, informa- ções matemáticas.
tivo e extremamente pertinente, pelo fato de nos mos-
Assim, a aplicação prática da Teoria do Caos
trar fundamentos científicos para as origens das incerte-
permitiu o avanço nos estudos de vários campos da so-
zas cotidianas.
ciedade como: a compreensão de fenômenos meteoro-
O documentário é recomendado para os cria- lógicos, variações na bolsa de valores, desenvolvimento
dores e formuladores de políticas públicas e de planeja- das populações, entre outros.
mentos econômicos, bem como áreas afins, já que trata
da impossibilidade matemática de fazer previsões eco- Ficha Técnica
nômicas a longo prazo. Entretanto, o público-alvo não se
Ano: 2008
restringe aos citados anteriormente, mas também aos
Gênero: Documentário
cientistas, governantes e cidadãos comuns, ou seja, é in-
Direção: David Malone e Mark Tanner
dicado a todos que têm curiosidade a respeito do futuro
Duração: 59 min
da humanidade.
Classificação indicativa: Livre
Ao longo do documentário é possível perceber
que conceitos como “efeito borboleta”, “caos”, “desor-
Obra
dem”, “ponto de virada” e “instabilidade” são vocábulos Como se trata de uma obra de fácil compreen-
que, nos últimos 40 anos, passaram do âmbito da mate- são e autoexplicativa, será transcrita na íntegra. Ressal-
mática para os vários domínios da vida em sociedade e ta-se a necessidade de assistir ao documentário, já que
do meio ambiente. as imagens são parte essencial na transmissão das ideias.

Até o final do século XIX, a matemática new- Alta ansiedade, a Matemática do caos
toniana indicava que o mundo era um local previsível, o
qual seguia regras naturais de causa e efeito. Contudo, Sempre tivemos a convicção de que o mundo
novas investigações identificaram que os sistemas natu- é decifrável e, portanto, controlável, porque a matemáti-
rais não eram mecânicos e determinísticos como se pen- ca que governa o mundo nos mostrava isso.
sava, mas caóticos e imprevisíveis.
Mas o que acontece quando essa certeza nos é
Assim as consequências da aplicação destes tirada? Quando a matemática começa a nos dizer que o
conceitos à economia e ao meio ambiente, e a sociedade mundo talvez não seja tão previsível e controlável como
como um todo, são o enfoque do documentário, o qual pensamos um dia, que nossas antigas certezas podem

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estar erradas. E quando os desastres de hoje começam a A matemática de Newton descreve um lugar
criar medos sobre o amanhã? que segue regras claras de causa e efeito, tornando-o
previsível e portanto controlável. Nas mãos de um dos
Há um conhecimento crescente do fato de que o mundo no maiores seguidores de Newton, o matemático francês e
qual vivemos é imprevisível, caótico. (Prof David Ruelle)
ateu Pierre-Simon Laplace, ela se tornou um grupo de
Nós achávamos que podíamos controlar tudo. Agora acha- crenças sobre a natureza de tudo, uma crença quase reli-
mos que não podemos controlar nada. Isso é resultado dessa giosa de que o mundo poderia ser entendido como uma
noção de que o mundo está em caos e nunca sabemos o su- máquina.
ficiente para realmente prever, muito menos controlar. (Prof
Peter Cox) Havia uma forte noção de que o mundo devia ser mecânico
e determinista. David Ruelle é um teórico da física e um dos
De simples padrões da matemática que os con- principais descobridores da matemática do caos. Newton e
trola, está surgindo um desafio à nossa visão de mundo. Laplace viam o mundo como uma máquina e… todo mundo
via, já que eles eram cientistas que queriam ser determinis-
Há uma necessidade humana simples de se ter uma previ- tas. (David Ruelle)
são do futuro. Há um desejo profundo de poder controlar o
futuro e uma profunda relutância em aceitar os avanços mo- Em um mundo mecanicista nada acontece
dernos da matemática que sugerem um alto nível de impre- sem uma causa, nada é inexplicável. Nesse mundo, se
visibilidade fundamental. (Dr. Paul Ormerod) você entendia a matemática, você entendia o mundo.
Tudo era previsível, a ciência podia garantia a segurança
Esses eram nossos sonhos de futuro. Um lugar e progresso.
claro e aberto. O que aconteceu para que nossa visão do
futuro não seja mais clara e sim obscura? Tanto que você podia ter essa visão laplaciana que às vezes
era chamada de visão do universo como máquina onde se
A principal experiência psicológica da ansiedade é um medo pessoas suficientes tivessem o suficiente tudo seria enten-
de que algo terrível vai acontecer, uma apreensão e uma in- dido, porque elas achavam que sabiam como o sistema se
certeza. (Prof Linda Gask) comportava. Elas achavam que tudo se comportava bem no
final. Elas sabiam que desastres aconteciam, sabiam muito
Esse documentário é uma história sobre essa bem disso, mas achavam que a matemática poderia explicar
ansiedade. E sobre a matemática que a criou. isso completamente. (Dra.June Barrow)

Estamos no meio de uma enorme mudança E foi isso que no fim corroborou o otimismo
cultural. Apenas 50 anos atrás, especialistas tinham todo que pareceu tão claro. Mas por baixo da superfície de
o vocabulário para descrever o mundo que hoje parece otimismo de um mundo conquistável e controlável, ha-
bem estranho para nós. Eles falavam em uma economia via uma corrente de preocupação de que talvez o mundo
de comando e controle, em engenharia do clima, plane- não fosse tão domável quanto queríamos acreditar.
jamento central. Ninguém hoje acha que o mundo pode
ser descrito em tais termos. Hoje somos muito mais pro- Bem no coração da mecânica de Newton ha-
pensos para falar em desordem, instabilidade, turbulên- via um problema de que se não pudesse ser resolvido
cia, ponto de virada, efeito borboleta. Esse é o vocabu- colocaria em perigo a crença de que tudo era matema-
lário que veio da matemática para nós nos últimos 50 ticamente previsível. Tinha a ver com uma questão que
anos. É essa matemática que está prestes a alterar total- Newton teria resolvido completamente - as órbitas do
mente o nosso entendimento da natureza fundamental sistema solar.
do mundo em que vivemos, e eu acredito que ela nos dá
A genialidade das equações de Newton é que
um novo vocabulário para falarmos de nossas ansieda-
se você tiver dois corpos, um orbitando ao redor do ou-
des a respeito desse mundo.
tro, como a terra em torno do sol, essas equações de
Olhando para trás, podemos ver o que não era movimento permitem que você diga a exata natureza de
óbvio. Essas descobertas matemáticas um dia destrui- suas órbitas e preveja com precisão onde os corpos es-
riam a visão otimista do mundo e nos deixariam na ansie- tarão em qualquer momento no futuro. O que Newton
dade de hoje. As raízes matemáticas de nossa ansiedade e Laplace dizia é que se você fizer o cálculo pode prever
moderna começaram aqui em Paris, em 1885. A cidade tudo sobre o universo.
se preparava para comemorar a visão otimista de mundo
Já que há uma solução, você pode me dizer, eu queria saber
da ciência e da razão. Houve uma grande exposição para onde aquele corpo vai estar em determinado horário, e pode
celebrar o progresso e a democracia, era o centenário da ser qualquer hora no futuro ou qualquer hora do passado.
República. E acima disso tudo estava a construção mais Eu posso calcular o tempo que você quer a qualquer hora e
alta do mundo, um símbolo de tudo que eles acredita- vou ter uma resposta. Os cálculos vão me dar essencialmen-
vam, um perfeito hino em ferro, uma visão perfeita do te as coordenadas e a velocidade daquele corpo. (Dra.June
mundo racional e ordenado da ciência de Newton. Barrow)

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A mesma matemática que governou a órbita Observando, podemos ver o quanto a desco-
dos planetas também governou o movimento aqui na berta de Poincaré foi incrivelmente previdente, mas na
terra. Esse foi o início da ciência de Newton, onde se dois época o resto do mundo não estava pronto para ouvir.
objetos começam em órbitas quase idênticas, eles po- Todos ainda estavam determinados a acreditar que vi-
dem continuar em órbitas quase idênticas. A diferença viam em um mundo newtoniano, onde até a complexi-
entre elas nunca mudaria. Então, se você soubesse a ór- dade das relações humanas podia ser prevista, e a guer-
bita de um, poderia prever a órbita de outro. E em teoria ra podia acabar no natal. Quando estourou a primeira
tudo bem, na prática o que acontece é que assim que guerra mundial, todos reuniram a sua artilharia que po-
você junta mais um corpo, somente três, de repente, não deria ser construída para seguir seus planos, afinal, os
se pode prever as equações, não se pode prever nada. mesmos matemáticos que previam as órbitas dos pla-
Todo grande matemático, de Newton em diante, espera- netas também comandavam os disparos da artilharia. A
va por aquele dia, em que o chamado problema dos três matemática da balística dizia a eles exatamente onde as
corpos seria resolvido. Mas aí em 1889 o matemático ogivas cairiam.
francês chamado Henri Poincaré descobriu que não ha-
via como prever órbitas. Em alguns casos, não importa o Claro que no início do século XX a balística consistia exata-
mente em mirar um objeto parado. Você podia até atirar por
quanto os caminhos sejam similares no início, se houver
cima de alguma coisa. Então podia não ver no que estava
qualquer diferença, um deles pode seguir um caminho atirando. Para que os matemáticos adivinhassem isso eles
diferente e totalmente inesperado e imprevisível.. Poin- tinham tabela de tiro, ou coisas assim. (Dra.June Barrow)
caré lamentou, pois a previsão se torna impossível.
A magia da ciência é essa previsibilidade das coisas, através
Ele viu algo se comportando de uma maneira que ele não es- da matemática. Ciência não é só provar teoremas. É nos dar
perava e percebeu que tinha a ver com as condições iniciais e algum poder sobre a natureza, sobre o que acontece. A pre-
o que hoje chamamos de suscetibilidade às condições iniciais. visão de um eclipse é um desses poderes. Construir máquinas
E é isso que é inesperado. Se você mudar uma coisinha qual- a vapor também é e a ciência foi inventada em parte para
quer pode ter uma enorme diferença no resultado. Foi aí que isso. (Peter Cox)
ele descobriu o que agora chamamos de caos matemático.
(Dra.June Barrow) A tragédia da guerra foi que, independente
de toda a carnificina, eles acreditavam que havia não
Poincaré enxergou uma profunda verdade en- só uma ciência da balística, mas uma ciência da guerra.
tre os planetas e suas órbitas, o que o incomodou foi per- Uma maneira de prever quantos homens por quilômetro
ceber que esse comportamento imprevisível podia estar de fronte alcançaria o objetivo. Eles achavam que se en-
presente em toda a natureza. Ele percebeu que uma pe-
tendessem a ciência da guerra poderiam controlar seu
quena mudança, não mais que o bater das asas de uma
resultado. Eles simplesmente venceriam o caos. No final,
borboleta, pode ser o suficiente para provocar uma tem-
não estavam lutando uns contra os outros, os dois lados
pestade onde nada foi previsto. Esse era um mundo bem
estavam lutando contra o caos na realidade. No final, o
diferente do mundo de Newton.
caos venceu todos eles, e dez milhões de homens mor-
Acho que o interessante é o fato dele ser ele mesmo. Até Poin- reram.
caré, o maior matemático da época, estava imerso naquela
visão, achando que todas as coisas se encaixam e que tudo A noção de Poincaré de que uma alteração pe-
no final se comportaria adequadamente e ficou horrorizado quena e imperceptível poderia causar uma tempestade
quando descobriu como esses resultados funcionavam para inevitável foi a primeira descoberta a nos dizer que o
que pudéssemos ter o que hoje chamamos de comportamen- mundo é menos previsível e controlável do que gosta-
to caótico. Foi bem chocante para ele. (Dra.June Barrow) ríamos que fosse. Essa é uma das raízes matemáticas da
ansiedade moderna. A segunda foi descoberta na Rússia
A descoberta de Poincaré atingiu a raiz de uma
por Aleksandr Lyapunov, ele estudava a transição da es-
visão de mundo da qual nem ele e nem seus contempo-
tabilidade para a instabilidade nos fluídos, mas fez isso
râneos estavam preparados para abrir mão.
nos grandes levantes da primeira guerra e da revolução
O mundo onde ele vivia e atuava ainda era muito mergu- russa. Aleksandr Lyapunov estudava a maneira como um
lhado naquela visão laplaciana. Esse comportamento muito fluído ou um gás fica turbulento. Era um dos problemas
estranho que ele descobriu foi atenuado pelos críticos. (Dra. mais refratários de toda a física e ele tentava por núme-
June Barrow) ros nessa transição de ordem para o caos. Ele estava ten-
tando entender como os sistemas parecem manter sua
As pessoas não estavam prontas para ouvir ordem, quase resistindo à mudança, mas chegam a um
que seu mundo não era tão ordenado como elas sempre ponto crítico em que parecem passar repentinamente
acreditaram. Então, em 1914, em Sarajevo, uma altera- de tranquilos a turbulentos. Da ordem ao caos. O que
ção tirou todo o funcionamento do mundo de seu curso. agora chamamos de ponto de virada.
Foi uma pequena alteração que iniciou uma tempestade
incontrolável.

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Isso passa da ideia de que o mundo é previsível para a ideia e prosperidade. Começamos a ver o mundo, particular-
de imprevisibilidade mais associada a climática e ambien- mente o mundo humano, e a economia refletida em sua
talmente a essa noção de um ponto de virada. É uma ideia imagem. Não mais um mundo em que tudo pode ficar
de que se você empurra o sistema ele basicamente se move.
fora de controle. Mas um equilíbrio perfeitamente está-
Não se sabe até onde. (Prof. Peter Cox)
vel que tinha a natureza dependente e imutável de uma
O professor Peter Cox é um dos maiores es- máquina. Eles voltaram à física clássica, aos sistemas de
pecialistas em mudanças climáticas no Reino Unido e é equilíbrio, onde pode-se dizer há um limite fixo de atua-
consultor do governo. ção.

Nesse caso, se você imaginar, digamos, que está rolando O professor Paul Ormerod foi diretor de eco-
uma bola para cima de uma montanha. Se você rolar para nomia do centro henley para estimativas durante uma
cima e soltá-la ela vai descer, mas digamos que haja um pico década e hoje é um respeitável escritor e consultor.
na montanha. Você rola até esse ponto e ela pode ir para
qualquer lado. Então, claro, se está no pico de uma monta- Eles usaram a matemática para tentar explicar e racionalizar
nha você pode dar um impulso mínimo e ela vai cair. Há uma uma teoria muito elaborada de como a economia podia real-
relação entre o deslocamento e a força do impulso. Então, mente mover recursos de maneira mais eficiente. Mas eles se
essencialmente, é um sistema instável. (Prof. Peter Cox) concentraram em recursos fixos e num conceito de equilíbrio
que pegaram emprestado da física clássica anterior às desco-
O trabalho de Lyapunov começou a colocar um bertas de Poincaré. (Dr. Paul Ormerod)
número nesse momento de instabilidade. O momento
em que a bola no pico da montanha é empurrada. Quan- Depois de imaginarmos a economia como uma
do a fumaça de repente fica turbulenta. máquina, foi um pequeno passo para acreditarmos que
poderíamos manipulá-la e talvez até controlá-la.
A maioria das pessoas considera que o perigo é cair da mon-
tanha. Isso é equivalente a um ponto de virada, é onde o sis- A ideia de um sistema em equilíbrio se enraizou na defini-
tema muda e você não pode recuar. (Prof. Peter Cox) ção do que era economia não meramente uma economia de
mercado do ocidente, mas também a economia idealizada e
Mas enquanto Lyapunov tentava entender a centralmente funcionando como uma máquina em completo
instabilidade, sua vida se aproximava de um ponto de equilíbrio. (Dr. Paul Ormerod)
virada, quando o caos da revolução russa e da primeira
E por um tempo deu certo, os extraordinários
guerra o atingiram pessoalmente. Dezenas de milhares
anos 20, os carros saíam das linhas de montagem e os
de feridos da guerra voltavam do front e trouxeram com
tratores aravam a terra.
eles uma epidemia de tuberculose. Quando sua esposa
ficou infectada, Lyapunov tentou desesperadamente sal- Uma onda de otimismo fluiu das fábricas e dos
vá-la, mas em 31 de outubro de 1917, ela morreu em campos do novo mundo.
seus braços. Horas depois no mesmo dia ele deu um tiro
em sua cabeça. E parecíamos estar de volta ao controle. Mas
só por um tempo. Podíamos ver o mundo e a economia
Poincaré descobriu que nosso mundo pode como máquinas estáveis, imutáveis e em equilíbrio. Mas
não ser tão previsível e controlável quanto pensávamos. o modelo de mundo que desejávamos e a forma como
O trabalho de Lyapunov colocou número num momento ele realmente era, não eram a mesma coisa.
de transição entre a ordem e o caos e abriu as portas à
ideia moderna do ponto de virada. Eles tinham desco- A imensa fábrica da Fisher Car Body em De-
berto o que seria o início de um novo e profundo en- troit, um dia ela foi parte da aparentemente indestrutí-
tendimento do mundo de que o caos é uma parte do vel indústria automobilística americana. Parte dos bons
sistema, não só do colapso. Mas Lyapunov estava morto. tempos que achávamos que nunca terminariam. Mas em
Poincaré nunca levou seu trabalho adiante e o resto do 1929, eles terminaram.
mundo queria acreditar que o caos e a imprevisibilidade
eram apenas um pesadelo do qual poderíamos acordar. Sem aviso o mundo alcançou não só um, mas
Ficamos no ponto em que um entendimento mais cla- dois pontos de virada. O clima e a economia deram uma
ro surgia, mas não saímos dele. A guerra sacudiu nossa guinada sem causa óbvia, do equilíbrio para o caos. Os
antiga fé e de alguma forma ela precisava ser renovada. pesadelos da grande depressão e da tempestade de
E para fazer isso, um novo ícone de fé precisava ser en- poeira nos atingiram.
contrado.
A grande depressão dos anos 30 foi um problema para a eco-
A linha de montagem de Henry Ford foi esse nomia do equilíbrio. No mercado de trabalho as contratações
e demissões de pessoas não estavam em equilíbrio porque
ícone. Ela se tornou o símbolo e o meio pela qual pode-
uma em cada quatro pessoas não tinha emprego. (Dr. Paul
ríamos tornar o mundo de estabilidade, previsibilidade Ormerod)

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E isso não foi suficiente para abrirmos mão de A velha mágica newtoniana da balística
nossa fé em um mundo de ordem, equilíbrio e controle. se casou com o poder quase divino da era nuclear.
De acordo com a visão de mundo de equilíbrio, nada po- Se pudéssemos controlar este poder, haveria algu-
deria estar de forma inerente, errado ou instável na eco- ma coisa que não poderíamos prever ou controlar?
nomia. As pessoas deveriam ter causado aquele colapso.
É difícil imaginar quais poderiam ser os efeitos da
Mas o argumento básico, que é o mesmo ainda hoje é de bomba atômica na época. Qua algo tão pequeno pu-
que as pessoas em certo sentido não eram vítimas, não eram desse ter um efeito tão terrível e devastador. E pude-
desempregadas porque foram demitidas, elas estavam esco- mos controlar isso para que tivéssemos controle sobre
lhendo isso. É inacreditável, mas é verdade. Elas escolhiam o tudo.
lazer e o desemprego, ao invés do trabalho. Esse foi o centro
da explicação de que as pessoas estavam fazendo uma es- A era nuclear trouxe medos, mas tam-
colha racional entre consumo e lazer. Então essencialmente bém uma sensação de tremendo poder e possibi-
a grande depressão foi um feriado estendido para dezenas lidades.
de milhões de americanos. Mas, certamente, muitos acadê-
micos de economia acabaram vencedores do prêmio nobel Acho que houve um pico de otimismo em relação ao
concordaram com essa teoria. (Dr. Paul Ormerod) que acreditávamos que a ciência e a tecnologia pode-
riam fazer. Provavelmente no meio do século XX, nos
Os especialistas à época achavam impossível anos 50, e eu suspeito que estava associado ao de-
imaginar que a tempestade de poeira e a depressão senvolvimento tecnológico, mas também ao otimismo
eram causadas por instabilidades inerentes ou por pon- cultural que veio depois da segunda guerra mundial.
tos de virada dos próprios sistemas. A ideia era de que a tecnologia resolveria muitos dos
problemas que tínhamos antes. (Prof. Peter Cox)
Não havia pontos de virada. A causa que esco-
Nos anos 50, o futuro seria uma utopia
lhemos foi certamente simples mecânica.
planejada de bulevares amplos e arranhas céus gi-
Acho que quando pensávamos de uma maneira mais linear gantes, onde poderíamos ser felizes e prósperos. E
sobre o mundo tendíamos a olhar para as causas que se en- o motor dessa nova prosperidade, dessa nova cer-
caixavam no resultado. Se você fala em instabilidade, claro, teza era o computador. Como o telescópio nos dei-
temos um lápis equilibrado em sua ponta. Não importa que xou ver os céus e o microscópio nos deixou ver os
brisa sopre nele, algo irá derrubá-lo. Então, você pode dizer, blocos construtores dos ciclos da vida, com com-
bem , este redemoinho específico fez a coisa cair. Mas o que
putador nos deixou ver e talvez controlar outra di-
importa é que ele cairia de qualquer jeito. Era instável. Então,
quando você chega À visão de um mundo com essas bifur- mensão, o futuro. James Lovelock lembra desses
cações, pontos de virada, a casualidade é menos crítica e o tempos estonteantes.
sistema vai mudar. (Prof. Peter Cox)
Havia aquela sensação maravilhosa de certeza, sobre-
Apesar de todo o caos e turbulência dos anos tudo naqueles dias. O futuro é incrível e podemos fazer
todas essas coisas. Foi maravilhoso. Tudo era tão sim-
30, apesar das vidas arruinadas e da miséria, economis-
ples e tão possível, o céu era o limite. (James Lovelock)
tas e cientistas continuaram a ver o mundo como sem-
pre viram. Acreditando que o incontrolável, um dia, es- De repente, podíamos fazer cálculos
taria sob controle. que a mente sozinha nunca pôde fazer. Resolver
problemas que nunca resolvemos. Era só construir
A invenção do computador no final da guer-
um computador maior e até o imprevisível seria
ra, de repente pareceu uma promessa de um nível de
previsível. Nada de tempestades de poeira, agora
entendimento e controle que nunca tivemos. Se a linha
poderíamos prever e controlar o clima. Chega de
de montagem foi o grande ícone dos anos 20, havia um
colapsos econômicos. Com o poder de cálculo do
novo ícone de poder, previsão e controle.
computador, os políticos acreditaram que pode-
Nos anos 40 e 50, tivemos uma ideia deste riam prever e controlar a economia, afetando as
novo ícone em funcionamento quando militares come- vidas de milhões.
çaram a usar a tecnologia secreta que os tinha ajudado Eles acreditavam que finalmente agora com o poder
a vencer a guerra. do computador saberiam a teoria, saberiam das fer-
ramentas estatísticas para entender de uma vez por
O primeiro emprego que a tecnologia teve foi todas como a economia realmente funcionava. Políti-
na antiga tarefa militar de calcular os ângulos, elevações cos acreditavam que essas eram as leis da economia,
e velocidades das tabelas de tiro. Mas, logo, ele foi es- da mesma maneira que há leis na física. Depois dos
sencial a um novo e assustador poder. Não eram somen- traumas nos anos 30 e nas guerras nos anos 40, a eco-
te cálculos para mira e arremesso de bombas. Mas era nomia no ocidente foi espetacularmente bem por um
também a única maneira de fazer os únicos cálculos ne- período bem longo. Foi uma prosperidade sem prece-
cessários para se entender a explosão.

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dentes. Desemprego muito baixo e todos estavam confiantes. Então, se uma borboleta bate ou não suas asas, o efeito vai
(David Ruelle) ser muito pequeno no início. Você não vai notar nada, e de-
pois de um tempo, algumas flutuações no espaço vão mu-
Filmes do governo e de empresas mostravam dar, algumas flutuações na turbulência, e depois, se esperar
confiantes um futuro de equilíbrio, estabilidade, pro- o suficiente, uns seis meses, isso pode ter um efeito enorme.
gresso e prosperidade. Mas ao mesmo tempo em que (David Ruelle)
cientistas tinham confiança na previsão desse futuro
O computador que foi anunciado como o mo-
sem falhas, um meteorologista chamado Edward Lorenz
tor da estabilidade e da certeza, tinha se tornado o mo-
descobriu em 1962 algo radicalmente oposto a isso. En-
tor da instabilidade e da incerteza.
quanto os militares estavam concentrados em tentar
prever o clima usando enormes computadores, Loren- Então o computador nos permitiu explorar coisas, nós jogá-
ce usando um computador de mesa construiu um mo- vamos fora esses termos, sabe, os matemáticos diziam “isso
delo simplificado para enxergar a matemática básica e é muito difícil, vamos imaginar que não é importante, não
ver se o clima tinha padrões escondidos. A descoberta podemos fazer essa parte, então vamos supor que é impor-
de Edward Lorenz surgiu quando ele usou o seu modelo tante”. Você acaba num sistema linear em que reforça a ideia
com um grupo de números e depois de novo com o que de que o mundo é um lugar tranquilo, falando de um modo
geral, em que nada disso acontece, vamos ficar bem só pre-
ele achou que fossem os mesmos números, mas que o
cisamos saber como ele funciona e tudo dará certo. O com-
computador arredondou, tornado-os ligeiramente dife- putador nos permitiu voltar a esses termos, apesar de serem
rentes. termo que Lorenz anteriormente teria jogado fora acabou
que eles mudaram o sistema todo e a sua previsibilidade. É
Ele pôs números que achou que fossem idênticos. Mas os nú- uma demonstração brilhante, uma demonstração acidental
meros iniciais eram diferentes, muito diferentes, então não do caos no sistema. (Prof. Peter Cox)
havia razão para ele acreditar que acabaria em um resultado
diferente. (Dra.June Barrow) A questão era: quanto caos havia no sistema?
Em quantos aspectos da natureza essa nova matemá-
O que Edward Lorenz descobriu foi que peque-
tica se aplica? A turbulência instável do fenômeno na-
nas variações em seus números iniciais ao invés de não
tural existe simplesmente porque ele é complicado?
terem nenhum efeito eles mudavam drasticamente os
Nesse caso, um dia, nós o compreenderíamos? Ou ele é
resultados.
governado por essa suscetibilidade de condições iniciais
As coisas parecem seguir muito bem, e de repente parece que do efeito borboleta? O quanto caótico esperamos que o
tudo se comporta de maneira estranha. E os números não mundo seja?
fazem o que acha que vão fazer. Imagina esses dois trajetos
juntos, eles começam a se aproximarem e de repente chega No final dos anos 60, de repente essas ques-
um ponto em que um deles se afasta. Mas isso aconteceu, o tões pareceram ser bem pertinentes. Nesses tempos
fato de que iria acontecer estava aqui, não estava onde acon- turbulentos, como Liaponov foi levado a estudar a insta-
teceu. (Dra.June Barrow) bilidade durante a revolução russa, o matemático David
Ruelle foi levado a estudar o início da turbulência.
Uma das suposições mais fundamentais de
que todo cientista de Newton em diante tinha era a de Nós propomos que a turbulência hidrodinâmica acontecia
que esse pequeno erro em um sistema grande desapa- onde há essa dependência da suscetibilidade de condições
receria, não tinha consequências, como uma pequena iniciais. Mas isso acontece quase em todos os lugares, acon-
imperfeição em uma única parte de uma longa linha de tece o tempo todo. (David Ruelle)
montagem, não faria diferença significante no resultado
final. Foi essa suposição crítica que o trabalho de Edward Achava-se que a turbulência surgia por causa
Lorenz formou em sua cabeça. da complexidade do fenômeno. Ruelle, através de uma
combinação de experimentos e de matemática, provou
A descoberta acidental de Edward Lorenz teve que a turbulência não era resultado da complexidade do
imensas implicações no mundo real. Ele pôde de repen- fenômeno, mas era causada pela matemática da susceti-
te ver que quando um sistema mudava, não necessaria- bilidade às condições iniciais. O efeito borboleta e a tur-
mente algo tinha o feito mudar naquele momento. Podia bulência estava em todos os lugares.
ser porque as sementes dessa destruição já estivessem
Não foi uma coincidência eu ter me interessado por esse pro-
lá, crescendo devagar, escondidas, o tempo todo na ma-
blema em 1968. Haviam os acontecimentos de maio de 68.
temática. A divergência no sistema era o resultado final Havia uma atmosfera em que estava sendo feita perguntas
numa mudança mínima e imperceptível, ocorrida há que geralmente não eram feitas. Foi o tempo certo porque a
muito tempo. Edward Lorenz redescobriu o que Poinca- matemática estava lá, porque os computadores estavam lá.
ré apenas vislumbrou. Ele chamou de efeito borboleta. E de repente havia uma enorme e interessante experiência
de interação com as pessoas em diferentes disciplinas. (David
Ruelle)

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Matematicamente, a turbulência e o caos fo- eles estariam mais propensos a se tornarem caóticos e
ram estabelecidos e psicologicamente era difícil acredi- turbulentos. E quanto mais se pressionasse o sistema,
tar que o mundo ainda era newtoniano. A linguagem do mais rápido ele giraria e mais caótico ele se tornaria.
caos começava a entrar no nosso vocabulário.
E no mundo real, foi exatamente isso que co-
A noção de caos estava por aí desde a primeira parte do sé- meçou a acontecer. Em 27 de outubro de 1986, os com-
culo XX, antes disso na verdade, mas só foi chamado caos putadores conectavam os sistemas financeiros do mun-
mais tarde. Acho que foi nos anos 70 em que as pessoas real- do em uma única economia global e o moderno mercado
mente entenderam que haviam coisas que eram indicativos
livre nascia.
de coisas que poderíamos ver no mundo. Por isso que nós a
usávamos para dar desculpa para todo tipo de coisa que não Houve uma falta de confiança no planejamento do que viria
poderíamos prever. (Prof. Peter Cox) na ideia de que você poderia descobrir essas relações e logo
muito ceticismo veio dos políticos quanto à ideia de que algu-
No final dos anos 60 e 70, o otimismo dos anos ma forma conseguiríamos quantifficar isso. Então, em certo
50 recuou. Mais uma vez o homem fez o mundo sair do sentido, voltados aos primeiro princípios onde dissemos “va-
controle. Havia um redemoinho social, político, econô- mos deixar isso para os mercados. Os mercados vão de algu-
mico de Paris a Detroit. E enquanto pessoas comuns es- ma forma resolver este problema e não precisamos intervir
tavam chocadas com os eventos, o que foi chocante para nisso”. (David Ruelle)
os especialistas foi o seu fracasso em prevê-los.
O computador permitia que entendêssemos
Foi um choque terrível quando eles não previram, foi muito esse mundo interconectado e ao mesmo tempo também
difícil para eles. As pessoas achavam que entenderiam, mas o construía e o guiava cada vez mais rápido.
isso não aconteceu. No final dos anos 60 seguíamos para os
anos 70 com todas essas leis destruídas de maneira espeta- Então havia uma sensação empírica de que a ideia de deixar
cular, porque não eram leis, eram simplesmente relações es- para o mercado tinha fundamento. Ela não era justificada
tatísticas que serviram para sustentar o mundo por um curto pela teoria do equilíbrio, mas claramente os mercados da-
período de tempo. (David Ruelle) vam grande resultado em termos de prosperidade e aumento
de expectativa de vida. (David Ruelle)
Economistas achavam que tinham entendido
as leis que governam o funcionamento da economia e Esse é o ponto em que os ambientalistas e
achavam que isso dava a eles o poder de prever o que economistas começam a divergir. Porque para os econo-
aconteceria. mistas é tudo maior, mais rápido e global. Eles aprende-
ram a lição de que a economia não era algo de que pu-
E fica claro que as previsões só funcionam quando quase to- dessem controlar. Ao invés disso, eles começaram a vê-la
dos podem fazer uma boa previsão, quando a economia está como um sistema natural que você não deve regular. Ela
estável. Quando ela vai muito bem qualquer um pode fazer
se alimenta da nova ideologia da ideia do livre mercado
uma previsão razoável e podia estar correto no final. As pre-
visões são bem ruins quando há uma grande virada. Quando que declarou que não podemos controlá-lo.
há recessão e o registro dos dados é assustador, a previsão
simplesmente não existe. (David Ruelle) A economia financeira global começou a cres-
cer como nunca, mas sua imprevisibilidade também
A turbulência dos anos 70 convenceu os eco- cresceu.
nomistas e também os ambientalistas de que sua fé na
Do ponto de vista da estabilidade, do controle, da previsibili-
previsão e controle em larga escala estava errada. Aca-
dade, é uma má ideia levar o sistema ao seu limite, aquecer
baram aceitando que não poderiam controlar a eco- a atmosfera, fazer mais, colocar mais complicações na eco-
nomia como não podiam controlar o tempo. A era do nomia. (David Ruelle)
comando e do controle tinha acabado, mas havia uma
segunda parte, mais controversa da matemática, da qual Eu acho que a questão do crescimento evidentemente está
eles discordavam fundamentalmente. no centro da economia. Mas também está no centro do pro-
blema do clima. (Prof. Peter Cox)
Ruelle e outros descobriram que mesmo siste-
Quanto mais você mexer com um sistema não linear, é mais
mas muito simples como pêndulos movidos por motor
provável que ele se torne caótico. (David Ruelle)
ou pêndulos duplos, onde dois osciladores estão conec-
tados podiam chegar a um comportamento caótico alta- No momento em que temos a economia, nos esquecemos do
mente complexo. meio ambiente. Aí vem a mudança ambiental, a mudança cli-
mática. Que é provocada pelo homem, mas que não reage
E agora, enquanto usavam esses sistemas sim- diretamente nele. Isso bate de frente com o funcionamento
ples para explorar mais, começaram a descobrir as re- do mundo e eventualmente com seu crescimento pode ser
gras desse mundo caótico. Eles descobriram que quanto detido com os impactos causados no âmbito do ambiente.
mais conectados e interligados os sistemas se tornassem Porque o ambiente é a fonte da riqueza. (Prof. Peter Cox)

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Ignorando os avisos da nova matemática, nós bem ilista. Ela não dá a sensação para as pessoas de que há
carregamos o sistema com tudo. Os economistas do livre algo que elas possam fazer. (Prof Linda Gask)
mercado nos asseguraram que podíamos simplesmente
deixar os mercados com sua própria aparelhagem e eles O problema com a matemática do caos é que
magicamente encontrariam um equilíbrio natural. ela não nos oferece um novo plano sobre como conse-
guirmos o que queremos. Previsão e controle. Ela tira o
Os modelos empíricos que os economistas usam para fazer que queremos acreditar. Nos nega os velhos ícones de
previsões econômicas e interessam ao público em geral, de salvação, de liberdade através do crecimento e não dos
certa forma eles são retrocessos, são dinossauros dos mo- dá nada de confortante em troca.
delos dos anos 60 quando pareciam funcionar. Eles ainda
buscam até hoje regularidades empíricas que acreditam que Estamos vivendo em um mundo bem menos
irão permitir previsões bem sucedidas à economia. Um esta- previsível e mais instável. Mas a questão é o que quer-
lo, uma pequena dica, e podemos descobrir qual é essa lei. E
meos fazer com isso. Por um lado, os economistas in-
as previsões ainda dependerão dessa aproximação e isso não
funciona agora, nunca vai funcionar. (David Ruelle) sistem que porque não podemos regular e controlar a
economia como achávamos que podíamos, nossa única
Vivemos em um mundo em que cada vez mais se distancia de salvação é obedecer ao mercado e seguir com o cres-
um equilíbrio ou de um estado estático. Você quer ter cresci- cimento. Qualquer outra coisa, eles insistem, levará ao
mento agora; dois, três por cento mais e isso é um crescimen- caos econômico e ao colapso. Por outro lado, os am-
to exponencial. Algo que sabemos que não pode durar para bientalistas dizem que é exatamente esse crescimento
sempre. (David Ruelle)
econômico desenfreado que vai impulsionar os sistemas
Se algo cresce exponencialmente vai quebrar em algum pon- naturais do mundo para o seu próprios caos e colapso.
to. Isso é algo que pode ser previsto com segurança. O pro- Dos quais não haverá volta.
cesso deve acabar em algum lugar. Como vai acabar eu não
sei. Nossos líderes dizem que precisamos de dois ou três por Na maior parte dos últimos 100 anos, apesar
cento de crescimento por ano. E que isso é necessário ao bem de avisos de matemáticos e historiadores, nos recusa-
estar. Claro que pode ser necessário, mas não pode ser man- mos a ver a realidade como ela é. Existe uma imagem ge-
tido para sempre. O crescimento exponencial é basicamente rada pelos matemáticos com essa finalidade. Chama-se
uma coisa linear. O que se diz é que coisas não lineares vão mapa de Liaponov, ele mostra não a realidade ordenada
deter esse crescimento exponencial. Isso, com certeza. (David
e previsível que sempre quisemos, mas uma instável e
Ruelle)
caótica. É o trabalho original de um decendente distante
Por mais de um século, nós não quisemos ou- de Liaponov. Os mapas monstram as regiçoes de instabi-
vir que as promessas de previsão e controle podiam ser lidade e outas de caos do sistema, entre elas há pontos
quebradas. Nem mesmo quisemos admitir a evidência em que o sistema pode ir de um a outro abruptamente.
diante de nossos próprios olhos. Ninguém queria acreditar que a economia partisse de
momentos de glória ao fracasso, mas ela parte. Ninguém
O depósito de livros das escolas públicas de quer acreditar que o clima pode estar se aproximando
Detroit, onde as promessas para as novas gerações fo- de sua própria catástrofe, mas quando isso acontecer ele
ram guardadas. O que aconteceu a elas foram árvores afetará a todos nós, os ricos, os pobres, os culpados e os
crescendo nas ruínas apodrecidas dos sonhos do passa- inocentes.
do.
No sistema climático, há uma ideia de um ponto de virada
Toda a vida é interligada; Estamos presos numa única rede, associado a certo calor impulsionando você montanha aci-
amarrados num único destino. O que afeta diretamente a ma. O lençol de gelo da groelândia vai derreter e sabermos
um, afeta diretamente a todos. Enquanto houver pobreza no que em longo prazo teremos uma elevação de sete metros
mundo, nenhum homem pode ser totalmente rico no mundo, no nível do mar. Em outros pontos de virada, por exemplo,
mesmo se tiver um bihão de dólares. (Martin Luther King) há possibiidade de que a floresta amazônica seja fortemente
afetada pela mudança climática, que pode ser bem rápida,
Hoje aumenta a escala de mudança. E nossa associada a incêndios e coisas assim. Quanto aos sistemas
habilidade de prever diminiu. Não há motivos para nos humanos e sua adaptação, a velocidade ds mudanças é imor-
tante no final. Somos limitados na velocidade de nossas rea-
tornarmos mais ansiosos?
ções. (Prof. Peter Cox)
Eu diria que essas questoes sobre as quais falamos a respeito
da teoria do caos e do efeito borboleta, do aquecimento glo- A questão agora é se temos algum tempo res-
bal e todo esse aquecimento é que causam a ansiedade nas tante para nos iludirmos.
pessoas. Não só as palavras. Isso tem mesmo um impacto em
como as pessoas pensam suas vidas. Tem um efeito no que as James Lovelock é o pai do movimento ambien-
pessoas vão buscar nas suas vidas e em como elas vão dirigir talista, ele teme que ainda hoje não tenhamos aprendi-
seus pensamentos sobre si mesmas, e sobre o que podem ou do as lições da matemática e ainda queiramos acreditar
não controlar. O que me preocupa é que é um vocabilario na previsibildiade e no controle.

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Essa é uma falha dos grandes modelos climáticos que temos dada a imparcialidade necessária a este gênero cinema-
no momento. Todos eles sugerem que se você puder reduzir o tográfico.


dióxido de carbono, trazer de volta, estabilizá-lo em algum ní-
vel, tudo vai ficar bem. Poderemos lidar com a situação. Acho
isso uma loucura. Acho que uma vez que o sistema começou
a escorregar, não há volta. E eu penso nisso nem tanto como
ponto de virada, mas como um declive que fica cada vez mais
íngreme em algum ponto e fica tão íngreme que você não
Citações da Obra na Matriz de Referência
aguenta mais. E o ponto de virada sugere que talvez você
O ser humano como um ser no mundo
possa virá-lo de volta. O declive sugere que não pode, que já
foi longe demais. Se olhar a história do mundo, o clima é mais
Os filmes Atlântico negro – na rota dos Orixás,
ou menos estável em algum ponto. Ou é muito frio como era
na era do gelo e depois chega a um ponto em que escorrega e de Renato Barbieri, A rota do escravo: a alma da resistên-
aí sobe para o nível estável, interglacial. Ela também subiu no cia (Slave Route: The Soul of Resistance) — documentário
passado para outro nível estável. E foi assim, 55 milhões de produzido pela Unesco e dublado pelo Centro de Infor-
anos atrás, quando a mesma quantidade de dióxido de car- mação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC) —, Alta
bono que colocamos entrou na atmosfera e de repente houve ansiedade, a matemática do caos (High Anxieties: The
um salto de cinco graus. Foram 200 mil anos para que tudo Mathematics of Chaos) — documentário da BBC, de Da-
voltasse depois do evento há 55 milhões de anos. E o nível vid Malone & Mark Tanner — e Aos olhos de uma criança
do dióxido de carbono baixasse, mas a temperatura não, ela — videoclipe da canção de Emicida que integra a trilha
ficou alta esse tempo todo. Pelo menos eu acho que se deve
sonora de O menino e o mundo — apresentam elemen-
pensar nisso como uma falsa noção, eu nao posso ter certeza
do que eu digo, mas falo com muita convicção, pois tenho
tos para a compreensão da relação do ser humano com o
receio e estou preocupado. meio ambiente, contextualizada em abordagens éticas e
existenciais que exigem avaliação e permitem confrontar
Não podemos voltar no tempo, não podemos possíveis soluções para situações e problemas humanos
consertar o que já está errado. Ainda estamos a cami- contemporâneos. (Página 4, quarto parágrafo)
nho do caos, mas estamos em uma posição em que há
futuros possíveis, só que dessa vez, tivemos centenas de Estruturas
anos para aprender as lições matemáticas. Talvez dessa Deve-se estimular a curiosidade de exploração
vez possamos fazer o que não pudemos antes: encarar a e de conhecimento de novos cenários no ambiente, para
realidade como ela é, porque esta realidade está diante construir pouco a pouco novos elementos na estrutura
de nós. que habitamos e para resolver problemas, como se vê em
Alta ansiedade, a matemática do caos (High Anxieties:
Gênero The Mathematics of Chaos). (Página 12, quinto parágra-
O gênero desta obra é o documentário. Do- fo)
cumentário é um filme não-ficcional que se caracteriza
Energia, equilíbrio e movimento
pelo compromisso da exploração da realidade. Mas des-
sa afirmação não se deve deduzir que ele representa a A importância do estudo da energia no decorrer
realidade tal como ela é. O documentário, assim como o da História e a ampliação da capacidade produtiva das
cinema de ficção, é uma representação parcial e subjeti- sociedades tiveram como contrapartida o aumento do
va da realidade. consumo de energia e a contínua incorporação de novas
fontes. Diante disso, deve-se estabelecer a relação entre
Dessa maneira, essa obra foi elaborada por
o consumo energético, os impactos ambientais, a distri-
meio do gênero cinematográfico que mais se aproxima
buição desigual dos recursos energéticos no mundo e a
da realidade. Embora tenha como característica trans-
importância dos fluxos internacionais de energia — nem
formar o banal em espetáculo cinematográfico, sem dei- sempre os maiores produtores são os maiores consumi-
xar de ser poético e subjetivo, carrega a marca de seu dores e vice-versa. As obras A rota do escravo: a alma da
autor de alguma forma. Com tais características, é pos- resistência (Slave Route: The Soul of Resistance), docu-
sível perceber um grau altíssimo de imparcialidade dos mentário produzido pela Unesco, Alta ansiedade, a ma-
seus produtores. temática do caos (High Anxieties: The Mathematics of
Chaos), documentário de David Malone & Mark Tanner, e
É importante observar que ao longo do docu-
Aos olhos de uma criança, videoclipe de Emicida, parte da
mentário, a sequência de cenas e os assuntos tratados
trilha sonora de O menino e o mundo, auxiliam a discus-
direcionam o telespectador a reflexões previamente pla-
são desse tema. (Página 16, segundo parágrafo)
nejadas. Às vezes os resultados desses questionamentos
fogem ao controle dos produtores, os quais decorrem Outro aspecto que visa a colaborar para melho-
das indagações propostas inicialmente. Cabe, então, ao rar as condições da vida humana diz respeito à conscien-
estudante decidir ponderar os conceitos apresentados, tização de como se estabelecem as relações necessárias

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para a manutenção dos equilíbrios físico, biológico e emo-


cional. Essa busca por equilíbrio pode ser discutida com
base no documentário Alta ansiedade, a matemática do
caos (High Anxieties: The Mathematics of Chaos) e nos
filmes Atlântico negro – na rota dos Orixás, de Renato
Barbieri, e A rota do escravo: a alma da resistência (Slave
Route: The Soul of Resistance). (Página 17, primeito pa-
rágrafo)

Ambiente

Também como parte desse processo está a capi-


talização do campo com a modernização da agricultura
na maioria dos países. Neles, as áreas dedicadas ao culti-
vo passaram a consumidoras de insumos agrícolas e ado-
taram o sistema de irrigação e práticas de monocultura
com uso intensivo das terras em constante avanço sobre
os diversos biomas. O exercício dessas técnicas provocou
fragmentação ecossistêmica, desmatamento, poluição
ambiental e erosão, fenômenos que quebram a teia ali-
mentar dos ecossistemas. Esses temas podem ser vistos
a partir do documentário Alta ansiedade, a matemática
do caos (High Anxieties: The Mathematics of Chaos), de
David Malone & Mark Tanner. Uma dimensão visual do
que é o impacto urbano pode ser notado no videoclipe Aos
olhos de uma criança, de Emicida, parte da trilha sonora
de O menino e o mundo. (Página 18, quarto parágrafo)

Espaços

Essa perspectiva para pensar o espaço geográfico


aponta para uma acumulação desigual de tempos e ultra-
passa as fronteiras políticas de cidades, estados e países.
Os fatos e processos históricos permanecem no espaço
geográfico, modificado de maneira ininterrupta e cotidia-
na pelos humanos. Essa complexa noção pode ser melhor
apreendida a partir de obras como Alta ansiedade, a ma-
temática do caos (High Anxieties: The Mathematics of
Chaos) — documentário deDavid Malone & Mark Tanner
produzido pela BBC —, Aos olhos de uma criança — video-
clipe de Emicida, parte da trilha sonora de O menino e o
mundo — e Este mundo da injustiça globalizada, de José
Saramago. (Página 25, quinto parágrafo).

Questões, Justificativas e Dicas


Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?

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Anotações e Rascunhos

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Leituras
"Não há sucesso sem
dificuldade ”.
(Sófocles)
Gráficos e Estatísticas
OBRAS COBRADAS NA PROVA DESDE 2018
Aliança no Fundo
do Mar Apologia de
Oração dos Sócrates
Desesperados

Este Mundo de
Injustiça Carta a Meneceu
Globalizada

O Velho da Horta
Poemas
Selecionados

OBRAS COBRADAS NA PROVA DESDE


2018

10 11
8
6
2 2 3

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Controle de Desempenho
Total Porcentagem
Itens Itens Escore
Obra de
certos errados
de itens
bruto
itens certos
Apologia de Sócrates
Carta a Meneceu
O Velho da Horta
Poemas Selecionados
Este Mundo de Injustiça Globalizada
Entrevista com Maria Teresa, Ex-Escrava
Oração dos Desesperados
Artigo 5º da Constituição da República
Combate à Terra Seca
Aliança no Fundo do Mar

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Apologia de Sócrates - Platão

Autoria e contextualização
Platão, cujo nome verdadeiro era Arístocles, Sobre as obras de Platão, podemos citar três
nasceu em Atenas, Grécia, aproximadamente no ano das diversas obras que o filósofo nos deixou: Apologia
427 a.C. É considerado um dos maiores filósofos da an- de Sócrates, em que narra o discurso de defesa de Sócra-
tiguidade e um dos maiores pensadores do ocidente. É tes; O Banquete, que fala sobre o amor; e A República,
um dos autores mais conhecidos e estudados até os dias obra que Platão teoriza sobre a fundação de uma cidade
de hoje. ideal, trata também sobre a ética, a cidadania, levanta
questões sobre a imortalidade da alma e muitos outros
Ele pertencia a uma das famílias mais ricas e temas.
nobres de Atenas e, por isso, recebeu a melhor educação
possível da época desde muito cedo. Estudou leitura e A única forma dos escritos platônicos é o diálo-
escrita, música, pintura, poesia e ginástica, além de ter go, e os personagens dos diálogos tratavam de diversos
sido um atleta que participou dos jogos olímpicos como temas em praticamente todas as áreas da vida, privada
lutador. Mas, por tradição de família, Platão acabou de- ou pública. Entre os principais temas estão a política,
dicando-se à vida pública, na política, mas posteriormen- arte, justiça, vício, virtude, sofrimento, prazer, natureza
te abandonou essa herança de família e resolveu dedi- humana, amor, sabedoria, entre outros.
car-se apenas à filosofia.
A filosofia de Platão traz a “teoria das ideias”,
A sua principal influência foi Sócrates, que, por teoria que afirma que as coisas físicas são meras có-
sua vez, inaugurou o período antropológico, trazendo as pias de formas perfeitas, funciona assim: no mundo das
questões humanas à filosofia. Essa aproximação quase ideias nós temos a forma de uma mesa que é a essên-
custou a vida de Platão, pois Sócrates foi condenado à cia da mesa, e as mesas físicas que existem para nós são
morte, e ele teve que fugir de Atenas, voltando apenas apenas cópias imperfeitas dessa mesa que existe, ver-
12 anos depois, com 40 anos. Durante esse tempo dis- dadeiramente,no mundo das ideias. Essa é a ideia de
tante de sua casa, ele ficou viajando e estudando. Esteve Platão: aquilo que é físico, que nós vemos e tocamos,
em contato com os egípcios, chineses, hindus e judeus, não é a coisa em si. Além disso, Platão é famoso por sua
e com toda essa experiência criou a sua própria filosofia. “teoria da anamnese” (reminiscência), de acordo com a
qual nosso conhecimento não é adquirido mediante a
Ao regressar, fundou a mais famosa e impor- experiência, no entanto esses saberes já eram conheci-
tante escola da antiguidade, a Academia, onde se reu- dos pela alma, mas na ocasião do nascimento nós perde-
niam mestres e discípulos para realizarem debates e mos a memória desses conhecimentos, mas, durante a
discussões filosóficas, com o objetivo de serem recupe- nossa vida, a experiência serve para ativar a memória e
radas as ideias e pensamentos de Sócrates, condenado relembrarmos daquilo que conhecíamos enquanto éra-
injustamente. Em pouco tempo, a Academia se tornou mos almas.
um dos maiores centros culturais da Grécia, tendo rece-
bido políticos e filósofos como Aristóteles, Demóstenes, Obra
Eudoxo de Cnido, Esquines, entre outros. Uma curiosida-
de é que essa instituição ainda existe, de certa forma, na Antes de começar a análise, cabe destacar que
Grécia. Caso você vá até Atenas, poderá visitar as ruínas a leitura da obra integral é essencial para a sua com-
da Academia de Platão. preensão.

Ao contrário do senso comum, a obra Apologia


de Sócrates não foi escrita por Sócrates, mas pelo seu
discípulo, o filósofo Platão. Ele descreve, na sua versão,
como foi o julgamento trágico do seu mestre, que, por
supostamente corromper a juventude, não aceitar os
deuses reconhecidos pelo estado e criar novos deuses,
foi condenado a ingerir um veneno mortal, que o levou
à morte.

A obra é considerada o segundo livro da tetra-


logia formada pelos seguintes diálogos: Eutífron, em que
Academia de Platão. Internet: <www.noticiasanarquistas.noblogs.org>
se vê o filósofo, ainda livre, indo para o tribunal a fim

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de conhecer as acusações do jovem Meleto; a Apologia, situação de extrema pobreza, uma vez que se dedicava
(objeto desta análise) com a descrição do processo de somente à missão de ajudar a cidade.
condenação; o Críton, com a visita de seu amigo mais
querido ao cárcere; e o Fédon, com os últimos instantes Além disso, insistiu na ideia de que foi a sabe-
de vida e o discurso sobre a imortalidade da alma de Só- doria divina que o levou a se confrontar com aqueles que
crates. se diziam sábios sem ser, pois o oráculo de Delfos que
havia afirmado que Sócrates era o homem mais sábio
Assim uma reflexão a ser feita inicialmente de Atenas, e para provar o contrário, o filósofo procurou
para compreender a obra é: se as ideias transmitidas são pessoas influentes e consideradas sábias, com a finalida-
os fatos reais, ou seja, se as palavras realmente foram de de provar que existiam pessoas melhores que ele. No
ditas por Sócrates, ou se são apenas versões de Platão entanto, durante essa investigação, o filósofo descobriu
defendendo o ocorrido com seu mentor. que essas pessoas possuíam, na verdade, um conheci-
mento ilusório. Além de ter obtido essa constatação,
O que está claro, pelo contexto da obra, é que Sócrates arranjou vários inimigos durante sua jornada.
Platão defende a ideia de Sócrates ter sido vítima do po-
der do discurso político, vale dizer que, de acordo com De acordo com Sócrates, ninguém poderia jul-
pensamento platônico, não há superioridade da política gá-lo pela formação de caráter, pois quando os jovens
sobre a filosofia, tanto que Platão, como dito anterior- o acompanhavam em suas argumentações pela cidade,
mente, contrariou a família e seguiu a vida filosófica ao nunca o denunciaram, apenas se tornavam melhores ci-
invés da carreira política. Tempos depois, várias outras dadãos.
apologias de Sócrates foram escritas, por exemplo, por
Xenofonte, pois ele tinha muitos seguidores, mas a que Por fim, quando Sócrates expõe a possibilida-
se acredita ser a mais fiel aos fatos é a escrita por Platão. de de ser inocentado ou condenado, ele salienta que sua
morte não trará perdas a si, porque estava bem com sua
De toda forma, a obra está estruturada sob consciência, mas à cidade, dado que o deus Apolo não
a forma de diálogo entre Sócrates e seus acusadores, enviaria outro Sócrates.
Meleto, Ânito e Lícon. Meleto em especial, é o único
na obra a falar durante a defesa de Sócrates, caindo em Finaliza descrevendo a morte como um sono
contradição sobre a natureza da acusação feita ao filó- profundo ou um lugar onde ele faria companhia aos deu-
sofo, afirmando em certo momento, por exemplo, que ses e amigos que já se foram. Mas sabemos, por vários
este pregava o ateísmo, e, em outro, que acreditava em outros diálogos, que Sócrates acreditava em vida pós-
semideuses. -morte.

O começo da obra é constituído da defesa Por fim, os juízes acusam o filósofo, mas de-
de Sócrates diante do povo grego presente no tribunal. ram a opção dele não morrer em troca de não filosofar
Sabiamente, ele começa desculpando-se pela falta de nunca mais. Em resposta à proposta, Sócrates afirma:
habilidade para falar em tribunais, visto que se encon- “uma vida sem reflexão não vale a pena ser vivida”. Nes-
trava ali, na sua idade, pela primeira vez, demonstrando se sentido, a opção que resta ao filósofo é a de tomar o
que não era um orador, pode-se entender também uma veneno, já que preferiu morrer a abandonar a filosofia.
crítica aos sofistas nesta passagem, que supostamente Sócrates permaneceu fiel às suas convicções e não ad-
compunham belos discursos. Sócrates tinha intenção mitiu renunciar ao que pensou. Deixou claro o quanto
mostrar a verdade, não em falar de forma “enfeitada”. seus interlocutores estavam equivocados, por essa razão
aceitou a morte no lugar de desvirtuar seus conceitos e
A sua estratégia durante toda a discussão foi a viver conforme as leis corrompidas que insistem em o
de ter um discurso o mais ético possível e a de argumen- punir e em o afastar da filosofia.
tar de forma contrária acusação por acusação, expondo
as contradições de seus adversários. Dessa maneira, os A importância de Sócrates é muito grande até
seus argumentos, recheados de ironia, faziam os acusa- os dias de hoje. Ele deu um exemplo ético ao recusar a
dores ficar sem palavras para prosseguir na acusação. oportunidade de fuga dada pelos amigos diante da injus-
ta sentença de morte. Negou abandonar a filosofia, por
A tese defendida por ele, em resposta às acu- fim resignou-se à condenação de beber cicuta (o veneno
sações, é a de que nada mais fazia do que filosofar e a de mortífero). Uma curiosidade é que podemos conhecer a
que não havia quem pudesse se dizer prejudicado com prisão que Sócrates ficou até o dia de sua condenação, a
seu modo de vida. Além disso, dizia que, ao contrário construção continua de pé e fica em Atenas.
dos sofistas que enriqueciam nas praças públicas, não fa-
zia questão de cobrar pela filosofia, e por isso enfrentava

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entre eles Apologia de Sócrates, ou de Epicuro, tal como


Carta a Meneceu, que permanecem atuais e relevantes.
(Página 11, sexto parágrafo)

Estruturas

Há estruturas lógicas preponderantes no pen-


samento. O raciocínio possibilita a articulação de ideias,
a aceitação do novo e a compreensão de que as estrutu-
ras sociais não são tão rígidas como em princípio possam
parecer.

O entendimento da constituição das diferentes


Prisão de Sócrates. Internet: <www.tripadvisor.com.br>
estruturas socioeconômicas, culturais e políticas vigentes
passa pela comparação entre elas, localizando-as no es-
Sócrates deixou marcas de sabedoria e virtude
paço e no tempo. Essa percepção pode ser avaliada nas
na história. Tornou-se figura-chave da Filosofia ao ques-
obras Apologia de Sócrates, de Platão, e Carta a Mene-
tionar a vivência do homem no mundo, propor soluções
ceu, de Epicuro, assim como no vídeo La mujer sin miedo,
racionais de pensamento e defender a verdade como
de Eduardo Galeano. (Página 12, sétimo e oitavo parágra-
princípio fundamental da vida entre os homens.


fos)

Energia, equilíbrio e movimento

Nas Ciências Humanas, os conceitos de equilí-


Citações da Obra na Matriz de Referência brio e de movimento estão ligados a permanências e rup-
turas, mudanças e desigualdades nas formações históri-
O ser humano como um ser no mundo
cas, culturais e sociais, algo que é mostrado, por exemplo,
Nesse sentido, ressaltam-se as contribuições da em O povo brasileiro (parte I): a matriz Tupi —documen-
leitura das obras Apologia de Sócrates, de Platão, e Carta tário de Isa G. Ferraz. Assim, torna-se importante discutir,
a Meneceu, de Epicuro, compreendidas a partir de perío- no processo de construção do mundo ocidental, questões
dos próximos, mas em contextos distintos na história das relativas às leis, como ocorre nas obras Ifigênia em Áulis,
ideias. Essas obras permitem ampliar a discussão do as- de Eurípedes, Apologia de Sócrates, de Platão, e Carta a
sunto e problematizam tanto a existência humana quanto Meneceu, de Epicuro, que podem ser lidas e contrastadas
as concepções de mundo, de modo a facilitar o julgamen- com os textos do Artigo 5.º da Constituição da República
to da pertinência de opções éticas, sociais e políticas na Federativa do Brasil de 1988, Este mundo da injustiça glo-
tomada de decisões. (Página 3, quarto parágrafo) balizada, de José Saramago, Oração dos desesperados, de
Sérgio Vaz, e com a palestra O risco da história única, de
Indivíduo, cultura e sociedade Chimamanda Adichie. Nesse sentido, a peça A advogada
que viu Deus, o Diabo e depois voltou para a Terra, do gru-
Nos grupos humanos, o indivíduo desenvolve po G7, debate a subversão da ordem e a busca do equilí-
papéis de acordo com normas, regras e valores. No Ar- brio jurídico da sociedade, questionando as formas pelas
tigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil quais é buscado. De maneira análoga, algumas bases em
de 1988, bem como nas obras Apologia de Sócrates, de que se equilibra nossa estrutura social podem ser questio-
Platão, La mujer sin miedo, de Eduardo Galeano, e Carta nadas a partir do vídeo La mujer sin miedo, de Eduardo
a Menelau, de Epicuro, há uma série de elementos para Galeano (Páginas 16 e 17, quinto parágrafo)
se pensar a respeito desses aspectos. (Página 6, sexto pa-
rágrafo) A formação do mundo ocidental

Tipos e gêneros Assim, este objeto de conhecimento orienta-se


para a compreensão dos elementos de continuidade e de
A interlocução com o texto escrito supõe o en- ruptura na formação das sociedades nas dimensões so-
tendimento da plurissignificação das linguagens, o conhe- ciais, econômicas, culturais, políticas e territoriais da Eu-
cimento das funções da linguagem e a identificação dos ropa Ocidental. Na peça Ifigênia em Áulis, de Eurípedes,
fatores básicos de textualidade — coesão e coerência. A é possível observar a discussão de algumas dessas ideias
leitura das obras citadas nos vários objetos de conheci- em crise desde a Grécia antiga.
mento oferece experiências com diversos tipos e gêneros
textuais, colabora para a construção dessas noções e pro- A obra Apologia de Sócrates, de Platão, apre-
porciona, ainda, em alguns casos, diferentes leituras de senta uma série de fatores que ampliam a percepção des-
uma mesma obra, como em textos clássicos de Platão, se período grego. Carta a Meneceu, de Epicuro, vincula-se

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ao período helenístico, no qual se inscrevem outras per-


cepções e debates. Diante disso, cabe a análise do pro-
cesso de desagregação do sistema de poder seguinte, o
romano, para a formação das sociedades típicas do feu-
dalismo na Europa, e dos posteriores elementos que leva-
ram à superação desse sistema para a construção do capi-
talismo. É fundamental a compreensão das permanências
e das rupturas nas mentalidades da Europa (imaginário e
representações sociais) nos séculos XV e XVI. (Páginas 20
e 21, sexto e sétimo parágrafos)

Espaços

Entre as questões relacionadas aos espaços,


destacam-se algumas vinculadas às perspectivas acerca
de distinções entre espaços públicos e privados, profanos
e sagrados, como se observa nas obras Apologia de Só-
crates, de Platão, e Carta a Meneceu, de Epicuro, assim
como nas edificações das Pirâmides Astecas, das Pirâmi-
des Egípcias, do Aqueduto Acqua Appia, em Roma, na Ca-
tedral de Notre-Dame de Reims, localizada na França, e
do Partenon, na Acrópole de Atenas. (Página 26, primeiro
parágrafo)

Questões, Justificativas e Dicas


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Anotações e Rascunhos

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Carta a Meneceu - Epicuro

Autoria e contextualização
Carta a Meneceu é uma obra escrita pelo fi- continuidade àquilo que Platão e seus discípulos prega-
lósofo Epicuro. Seu autor costuma ser pouco lembrado, vam, como também afirmou o contrário.
mas é muito relevante, mesmo nos dias atuais. O con-
junto da sua obra é tão influente que diversos e nume- Para Epicuro, o prazer é o único fenômeno ca-
rosos centros epicuristas foram construídos no mundo, paz de trazer o bem estar. No entanto, ao longo das suas
especialmente em Jônia no Egito, tendo como seu maior obras, ele faz uma distinção entre o prazer passageiro e
divulgador Lucrécio. o estável. O primeiro seria a alegria, a felicidade. Já o se-
gundo seria a total ausência de dor, e deve ser buscado
Epicuro fundou o Jardim, assim como Platão por aqueles que se consideram sábios ou almejam ser.
fundou a Academia e Aristóteles fundou o liceu. Além
disso, fundamentou a teoria atomista afirmando que o Por isso, Epicuro aparece na história como o
átomo é o elemento formador de todas as coisas. Por filósofo do prazer. Para ele, o supremo bem está no pra-
fim, fundou aquilo que chamamos de “epicurismo”, zer, e o prazer autêntico é calmo, durável e uma espécie
que é um sistema de pensamento filosófico baseado na de repouso. Pregava: “O sábio deve se afastar dos dese-
identificação do bem soberano como prazer, que é obti- jos impetuosos, cheios de violência e angústia, evitar as
do mediante a prática da virtude. Além disso, há muitos paixões eróticas ou políticas, que são fontes de dor. Os
historiadores que atribuem a ele o título de o primeiro homens devem desembaraçar-se do temor aos deuses
homem a sugerir a teoria darwiniana, pois escreveu um e das ambições, para obter o uso racional e moderado
esboço extraordinariamente moderno da evolução das dos prazeres.”
espécies 2300 anos antes de Darwin escrever a sua teo-
ria. Além disso, a filosofia de Epicuro baseia-se
também no prazer da amizade. Para ele, o homem de-
Descendente de pais atenienses, ele nasceu veria desenvolver o talento de adquirir amigos. “Não
em 341 ou 342 a.C. na ilha de Samos, na Grécia. Come- podeis ser mais felizes do que quando partilhais vossa
çou a estudar filosofia desde jovem e fez parte do perío- felicidade com vossos amigos.” “De todos os prazeres do
do helenístico, ou do helenismo. Epicuro, buscando uma mundo, o maior e o mais duradouro é a amizade.” E pa-
filosofia mais prática, fundou a sua escola, que fazia opo- radoxalmente isso explica o fato dele se considerar um
sição à escola de Platão e ao Liceu de Aristóteles. Com egoísta, doutrina que pregava. Não um egoísmo propria-
isso a escola tinha como diferencial a valorização da rela- mente dito, mas sim de um jeito esclarecido, baseado
ção entre mestres e discípulos. Além de ensinar em Téos, na regra do dar e tomar: “Deveis dar prazer a fim de re-
ensinou em Mitilene, Lampsaca e Atenas, onde faleceu ceber prazer. Não deveis infligir qualquer injúria, se não
em 271 a. C., aos 70 anos de idade, aproximadamente. desejais sofrer qualquer injúria. Vivei e deixai viver, pois
o mais sensível meio de ser egoísta é não ser egoísta.
Entre as suas marcas, está o fato dele ser con- Sereis vosso melhor amigo sendo um bom amigo para
siderado o filósofo do prazer ao passo que é também vis- os outros”.
to como um filósofo pessimista, mas, paradoxalmente,
um pessimista sorridente. Assim, mesmo que muitas vezes seja incorre-
tamente interpretado, Epicuro acreditava que o homem
Sobre as divindades, Epicuro afirmava que não deve cultivar a felicidade da vida simples. Deve aprender
somos filhos de deus, mas enteados da natureza, uma a gozar do pouco que tem e evitar ambicionar demais.
vez que nascemos e vivemos ao acaso e depois da morte Deve ser contente e cultivar um tranquilo senso de hu-
não há outra vida. Sobre a imortalidade, ele não acredi- mor. Deve aprender a sorrir diante das loucas ambições
tava e se perguntava: “Por que temer a morte e os infer- dos amigos, mas também auxiliá-los nas suas necessida-
nos, se a alma não passa de um conjunto de átomos que des. Deve tornar a vida na mais prazerosa experiência
se desintegram com o corpo?” possível.

Logo as ideias do filósofo são, em outras pa- Obra


lavras, a filosofia da Grécia Antiga em crise. Podemos
afirmar isso pois, Platão, por exemplo, acreditava na vida A carta a Meneceu é uma obra pequena e está
pós morte e tratou sobre a imortalidade da alma em di- dividida em 10 tópicos, que tratam cada um de um tema
versos diálogos. Nesse sentido, Epicuro não só não dá diferente, mas todos têm em comum a busca finalística
pela felicidade. Ao longo desta análise, cada um dos 10

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tópicos será transcrito, dada a importância do contato o prazer. Dessa forma, se dedicar à filosofia é se dedicar
direto com a obra e, principalmente, por se tratar de à busca pela felicidade. O velho, ao se dedicar a essa bus-
uma obra pequena e de fácil compreensão. ca, pode rejuvenescer através da grata recordação das
coisas que já se foram, e o jovem pode envelhecer sem
Primeiro, após sabermos de maneira resumida medo do futuro. Segundo Epicuro, quem acha não ser a
quem foi Epicuro, cabe esclarecer quem foi Meneceu. hora ou que já passou da hora de se dedicar à filosofia,
Existem poucos relatos sobre a pessoa específica de Me- pensa que ainda não chegou ou que já passou a hora de
neceu, mas as informações disponíveis demonstram que ser feliz.
era um dos vários amigos de Epicuro e foi o destinatário
da carta conhecida também como “A Carta Sobre A Feli- Ainda, é interessante notar que o prazer ao
cidade”. A propósito, como se sabe, o filósofo é chama- qual Epicuro faz menção na sua carta é diferente do pra-
do por muitos de o apóstolo da amizade, portanto tinha zer que estamos acostumados a ouvir ou repetir basea-
boas e profundas amizades, com as quais, inclusive, ele do no senso comum. Em outras palavras, não se trata de
praticava o seu característico egoísmo, isto é, gastava realizações baseadas em necessidades efêmeras, passa-
muito tempo desenvolvendo a relação de amizade e geiras, gozadas pelos sentidos, mas de realizações que
muitas vezes orientava seus amigos por meio de cartas, realmente servem para a boa manutenção da vida de
como é o caso do objeto desta análise. maneira esclarecida e contínua. Ao falar do prazer, ele
quer dizer, portanto, sobre uma vida com ausência de
De tudo que Epicuro escreveu, pouca coisa dores e sofrimentos, físicos e no espírito. Ainda sobre o
chegou até nós. Por outro lado, é unânime entre os his- prazer é interessante ressaltar que, às vezes, devemos
toriadores que ele escreveu mais de 300 volumes de tex- preferir um sofrimento com um bom final, do que um
tos, inclusive uma obra chamada “Da Natureza”, de 37 prazer com um final ruim.
volumes. Entretanto, o que temos acesso são apenas 3
cartas que foram direcionadas a seus amigos. A primeira Para alcançar o prazer e viver esta vida, que ele
foi a Heródoto e tratava da física; a segunda a Pítocles, chama de digna de deuses, portanto, faz-se necessário
e tratava da meteorologia e da astronomia; e a terceira uma vida pautada na dedicação à filosofia, na prudência,
foi dirigida a Meneceu, e tratava das concepções sobre na simplicidade, viver sem preocupações com a morte
a vida humana. ou com grandes ambições, sem imputar aos deuses as
coisas boas ou ruins, todavia se responsabilizar por elas,
Supõe-se que a intenção de Epicuro na Carta, deve-se desejar as coisas realmente naturais e necessá-
de fato, era apenas orientar Meneceu sobre como atingir rias, e, assim ser um deus entre os homens. Viver uma
a felicidade, mas o que fez, no final, mesmo sem inten- vida de prazer!
ção, foi prestar conselhos a toda a humanidade.
Por fim, para tratar da felicidade, tema central
A intenção da carta é tratar de um assunto da carta, Epicuro utiliza uma lógica para escrever os 10
fundamental para a filosofia, e para muitos o mais im- tópicos para Meneceu. Ele começa de maneira decres-
portante, que são os métodos de busca pela felicidade e cente, ou seja, dos tópicos mais impactantes para os me-
os métodos de fazê-la durar mais do que apenas um mo- nos impactantes. Começa tratando dos temas que mais
mento. Mas a felicidade é um conceito que se relativizou deixa triste e amedrontado o ser humano (o estudo da
de muitas maneiras desde que Epicuro escreveu sobre. filosofia; os deuses; e a morte) e, após tratar sobre isso,
Portanto, é necessário conceituá-la de acordo com o filó- que pode ser considerado como base para os demais
sofo. Para ele, felicidade é um bem individual e universal tópicos, ele lança conselhos para que Meneceu tivesse
de forma simultânea, isto é, tem um significado duplo, a vida mais cheia de prazer e feliz possível (como saber
mas não contraditório. Individual porque é um bem que viver; os desejos e a tranquilidade de espírito; o prazer; a
pertence ao indivíduo e somente ele pode procurar sua simplicidade; a temperança e prudência; a sabedoria do
própria felicidade, não sendo uma tarefa passível de de- homem e a meditação). Segue cada um.
legação. Universal porque a vontade de ser feliz é um de-
sejo comum a todos os seres humanos, ou seja, se todos O Estudo da Filosofia
os indivíduos a desejam, não se trata de algo individual.
Meneceu
Além disso, ele explica que nunca é tarde ou
cedo demais para se buscar a felicidade. Sobre isso, cabe Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia
observar que a felicidade pode ser sinônimo de saúde enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de ve-
de corpo e espírito, que é alcançada por uma vida pau- lho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou de-
masiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem
tada pela reflexão nos atos, significa dizer que o ato de
afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não che-
filosofar seria procurar agir sempre com prudência, focar
gou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda
naquilo que naturalmente precisamos e encontrar nisso não chegou, ou que já passou a hora de ser feliz. Desse

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modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao velho: Saber Viver


para quem está envelhecendo sentir-se rejuvenescer
através da grata recordação das coisas que já se foram, e Assim como opta pela comida mais saborosa
para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das coi- e não pela mais abundante, do mesmo modo ele colhe
sas que estão por vir; é necessário, portanto, cuidar das os doces frutos de um tempo bem vivido, ainda que
coisas que trazem a felicidade, já que, estando presente, breve. Quem aconselha o jovem a viver bem e o velho
tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la. a morrer bem não passa de um tolo, não só pelo que a
Pratica e cultiva então aqueles ensinamentos que sem- vida tem de agradável para ambos, mas também porque
pre te transmiti, na certeza de que eles constituem os se deve ter exatamente o mesmo cuidado em honesta-
elementos fundamentais para uma vida feliz. mente viver e em honestamente morrer. Mas pior ainda
é aquele que diz: bom seria não ter nascido, mas uma
Os Deuses vez nascido, transpor o mais depressa possível as portas
do Hades. Se ele diz isso com plena convicção, por que
Em primeiro lugar, considerando a divindade não vai desta vida? Pois é livre para fazê-lo, se for esse
como um ente imortal e bem-aventurado, como suge- realmente seu desejo; mas se o disse por brincadeira, foi
re a percepção comum de divindade, não atribuas a ela frívolo em falar de coisas que brincadeira não admitem.
nada que seja incompatível com a sua imortalidade, nem Nunca devemos nos esquecer de que o futuro não é nem
inadequado à sua bem-aventurança; pensa a respeito totalmente nosso, nem totalmente não-nosso, para não
dela tudo que for capaz de conservar-lhe felicidade e sermos obrigados a esperá-lo como se estivesse por vir
imortalidade. Os deuses de fato existem e é evidente o com toda a certeza, nem nos desesperarmos como se
conhecimento que temos deles; já a imagem que deles não estivesse por vir jamais.
faz a maioria das pessoas, essa não existe: as pessoas
não costumam preservar a noção que têm dos deuses. Os Desejos e a Tranquilidade de Espírito
Ímpio não é quem rejeita os deuses em que a maioria
crê, mas sim quem atribui aos deuses os falsos juízos Consideremos também que, dentre os dese-
dessa maioria. Com efeito, os juízos do povo a respei- jos, há os que são naturais e os que são inúteis; dentre
to dos deuses não se baseiam em noções inatas, mas os naturais, há uns que são necessários e outros, ape-
em opiniões falsas. Daí a crença de que eles causam os nas naturais; dentre os necessários, há alguns que são
maiores malefícios aos maus e os maiores benefícios aos fundamentais para a felicidade, outros, para o bem estar
bons. Irmanados pelas suas próprias virtudes, eles só corporal, outros, ainda, para a própria vida. E o conheci-
aceitam a convivência com seus semelhantes e conside- mento seguro dos desejos leva a direcionar toda escolha
ram estranho tudo que seja diferente deles. e toda recusa para a saúde do corpo e para a serenidade
do espírito, visto que esta é a finalidade da vida feliz: em
A Morte razão desse fim praticamos todas as nossas ações, para
nos afastarmos da dor e do medo. Uma vez que tenha-
Acostuma-te à idéia de que a morte para nós mos atingido esse estado, toda a tempestade da alma
não é nada, visto que todo o bem e todo o mal residem se aplaca, e o ser vivo, não tendo que ir em busca de
nas sensações, e a morte é justamente a privação das algo que lhe falta, nem procurar outra coisa a não ser
sensações. A consciência clara de que a morte não sig- o bem da alma e do corpo, estará satisfeito. De fato, só
nifica nada para nós proporciona a fruição da vida efê- sentimos necessidade do prazer quando sofremos sua
mera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eli- ausência; ao contrário, quando não sofremos, essa ne-
minando o desejo de imortalidade. Não existe nada de cessidade não se faz sentir.
terrível na vida para quem está perfeitamente convenci-
do de que não há nada de terrível em deixar de viver. É O Prazer
tolo portanto quem diz ter medo da morte, não porque a
chegada desta lhe trará sofrimento, mas porque o aflige É por essa razão que afirmamos que o prazer
a própria espera: aquilo que não nos perturba quando é o início e o fim de uma vida feliz. Com efeito, nós o
presente não deveria afligir-nos enquanto está sendo identificamos como o bem primeiro e inerente ao ser
esperado. Então, o mais terrível de todos os males, a humano, em razão dele praticamos toda escolha ou re-
morte, não significa nada para nós, justamente porque, cusa, e a ele chegamos escolhendo todo bem de acordo
quando estamos vivos, é a morte que não está presente; com a distinção entre prazer e dor. Embora o prazer seja
ao contrário, quando a morte está presente, nós é que nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos
não estamos. A morte, portanto, não é nada, nem para qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos muitos
os vivos, nem para os mortos, já que para aqueles ela prazeres, quando deles advêm efeitos o mais das vezes
não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. E, no desagradáveis; ao passo que consideramos muitos so-
entanto, a maioria das pessoas ora foge da morte como frimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior
se fosse o maior dos males, ora a deseja como descanso advier depois de suportarmos essas dores por muito
dos males da vida. O sábio, porém, nem desdenha viver, tempo. Portanto, todo prazer constitui um bem por sua
nem teme deixar de viver; viver não é um fardo e não-vi- própria natureza; não obstante isso, nem todos são es-
ver não é um mal. colhidos; do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem

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todas devem ser evitadas. Convém, portanto, avaliar to- sofrimentos leves? Que nega o destino, apresentado por
dos os prazeres e sofrimentos de acordo com o critério alguns como o senhor de tudo, já que as coisas aconte-
dos benefícios e dos danos. Há ocasiões em que utiliza- cem ou por necessidade, ou por acaso, ou por vontade
mos um bem como se fosse um mal e, ao contrário, um nossa; e que a necessidade é incoercível, o acaso, instá-
mal como se fosse um bem. vel, enquanto nossa vontade é livre, razão pela qual nos
acompanham a censura e o louvor? Mais vale aceitar o
A Simplicidade mito dos deuses, do que ser escravo do destino dos na-
turalistas: o mito pelo menos nos oferece a esperança
Consideramos ainda a autossuficiência um do perdão dos deuses através das homenagens que lhes
grande bem; não que devamos nos satisfazer com pou- prestamos, ao passo que o destino é uma necessidade
co, mas para nos contentarmos com esse pouco caso não inexorável. Entendendo que a sorte não é uma divinda-
tenhamos o muito, honestamente convencidos de que de, como a maioria das pessoas acredita (pois um deus
desfrutam melhor a abundância os que menos depen- não faz nada ao acaso), nem algo incerto, o sábio não
dem dela; tudo o que é natural é fácil de conseguir; difícil crê que ela proporcione aos homens nenhum bem ou
é tudo o que é inútil. Os alimentos mais simples propor- nenhum mal que sejam fundamentais para uma vida fe-
cionam o mesmo prazer que as iguarias mais requinta- liz, mas, sim, que dela pode surgir o início de grandes
das, desde que se remova a dor provocada pela falta: bens e de grandes males. A seu ver, é preferível ser de-
pão e água produzem o prazer mais profundo quando in- safortunado e sábio, a ser afortunado e tolo; na prática,
geridos por quem deles necessita. Habituar-se às coisas é melhor que um bom projeto não chegue a bom termo,
simples, a um modo de vida não luxuoso, portanto, não do que chegue a ter êxito um projeto mau.
só é conveniente para a saúde, como ainda proporciona
ao homem os meios para enfrentar corajosamente as Meditação
adversidades da vida: nos períodos em que conseguimos
levar uma existência rica, predispõe o nosso ânimo para Medita, pois, todas essas coisas e muitas ou-
melhor aproveitá-la, e nos prepara para enfrentar sem tras a elas congêneres, dia e noite, contigo mesmo e com
temor as vicissitudes da sorte. teus semelhantes, e nunca mais te sentirás perturbado,
quer acordado, quer dormindo, mas viverás como um
A Temperança e a Prudência deus entre os homens. Porque não se assemelha abso-
lutamente a um mortal o homem que vive entre bens
Quando então dizemos que o fim último é o imortais.


prazer, não nos referimos aos prazeres dos intemperan-
tes ou aos que consistem no gozo dos sentidos, como
acreditam certas pessoas que ignoram o nosso pensa-
mento, ou não concordam com ele, ou o interpretam
erroneamente, mas ao prazer que é ausência de so- Citações da Obra na Matriz de Referência
frimentos físicos e de perturbações da alma. Não são,
pois, bebidas nem banquetes contínuos, nem a posse de O ser humano como um ser no mundo
mulheres e rapazes, nem o sabor dos peixes ou das ou-
tras iguarias de uma mesa farta que tornam doce uma Assim, destacamos as perguntas “o que somos
vida, mas um exame cuidadoso que investigue as cau- e o que podemos, nós, seres humanos?”, a fim de funda-
sas de toda escolha e de toda rejeição e que remova as mentar reflexões vinculadas à existência humana, como
opiniões falsas em virtude das quais uma imensa pertur- um efetivo problema a ser investigado. A filosofia, um
bação toma conta dos espíritos. De todas essas coisas, modo de saber com características particulares, ainda
a prudência é o princípio e o supremo bem, razão pela que não ofereça respostas definitivas para essas pergun-
qual ela é mais preciosa do que a própria filosofia; é dela tas, reflete a respeito delas e, em sua tradição histórica,
que originaram todas as demais virtudes; é ela que nos oferece ricas contribuições para a compreensão da com-
ensina que não existe vida feliz sem prudência, beleza e plexidade da existência humana e pode, com isso, fun-
justiça, e que não existe prudência, beleza e justiça sem damentar a elaboração de propostas de intervenções na
felicidade. Porque as virtudes estão intimamente ligadas realidade.
à felicidade, e a felicidade é inseparável delas.
Nesse sentido, ressaltam-se as contribuições
O Homem Sábio da leitura das obras Apologia de Sócrates, de Platão, e
Na tua opinião, será que pode existir alguém Carta a Meneceu, de Epicuro, compreendidas a partir de
mais feliz do que o sábio, que tem um juízo reverente períodos próximos, mas em contextos distintos na histó-
acerca dos deuses, que se comporta de modo absolu- ria das ideias. Essas obras permitem ampliar a discussão
tamente indiferente perante a morte, que bem com- do assunto e problematizam tanto a existência humana
preende a finalidade da natureza, que discerne que o quanto as concepções de mundo, de modo a facilitar o
bem supremo está nas coisas simples e fáceis de obter, julgamento da pertinência de opções éticas, sociais e polí-
e que o mal supremo ou dura pouco, ou só nos causa ticas na tomada de decisões. (Página 3, terceiro e quarto
parágrafos)

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Tipos e gêneros A formação do mundo ocidental

A interlocução com o texto escrito supõe o en- Assim, este objeto de conhecimento orienta-se
tendimento da plurissignificação das linguagens, o conhe- para a compreensão dos elementos de continuidade e de
cimento das funções da linguagem e a identificação dos ruptura na formação das sociedades nas dimensões so-
fatores básicos de textualidade — coesão e coerência. A ciais, econômicas, culturais, políticas e territoriais da Eu-
leitura das obras citadas nos vários objetos de conheci- ropa Ocidental. Na peça Ifigênia em Áulis, de Eurípedes,
mento oferece experiências com diversos tipos e gêneros é possível observar a discussão de algumas dessas ideias
textuais, colabora para a construção dessas noções e pro- em crise desde a Grécia Antiga.
porciona, ainda, em alguns casos, diferentes leituras de
uma mesma obra, como em textos clássicos de Platão, A obra Apologia de Sócrates, de Platão, apre-
entre eles Apologia de Sócrates, ou de Epicuro, tal como senta uma série de fatores que ampliam a percepção
Carta a Meneceu, que permanecem atuais e relevantes. desse período grego. Carta a Meneceu, de Epicuro, vin-
(Página 11, sexto parágrafo) cula-se ao período helenístico, no qual se inscrevem ou-
tras percepções e debates. Diante disso, cabe a análise do
Estruturas processo de desagregação do sistema de poder seguinte,
o romano, para a formação das sociedades típicas do feu-
Há estruturas lógicas preponderantes no pen- dalismo na Europa, e dos posteriores elementos que leva-
samento. O raciocínio possibilita a articulação de ideias, ram à superação desse sistema para a construção do capi-
a aceitação do novo e a compreensão de que as estrutu- talismo. É fundamental a compreensão das permanências
ras sociais não são tão rígidas como em princípio possam e das rupturas nas mentalidades da Europa (imaginário e
parecer. representações sociais) nos séculos XV e XVI. (Páginas 20
e 21, sexto e sétimo parágrafos)
O entendimento da constituição das diferentes
estruturas socioeconômicas, culturais e políticas vigentes Espaços
passa pela comparação entre elas, localizando-as no es-
paço e no tempo. Essa percepção pode ser avaliada nas Entre as questões relacionadas aos espaços,
obras Apologia de Sócrates, de Platão, e Carta a Mene- destacam-se algumas vinculadas às perspectivas acerca
ceu, de Epicuro, assim como no vídeo La mujer sin miedo, de distinções entre espaços públicos e privados, profanos
de Eduardo Galeano. (Página 12, sétimo e oitavo parágra- e sagrados, como se observa nas obras Apologia de Só-
fos) crates, de Platão, e Carta a Meneceu, de Epicuro, assim
como nas edificações das Pirâmides Astecas, das Pirâmi-
Energia, equilíbrio e movimento des Egípcias, do Aqueduto Acqua Appia, em Roma, na Ca-
tedral de Notre-Dame de Reims, localizada na França, e
Nas Ciências Humanas, os conceitos de equilí- do Partenon, na Acrópole de Atenas. (Página 26, primeiro
brio e de movimento estão ligados a permanências e rup- parágrafo)
turas, mudanças e desigualdades nas formações históri-
cas, culturais e sociais, algo que é mostrado, por exemplo,
em O povo brasileiro (parte I): a matriz Tupi —documen-
Questões, Justificativas e Dicas
tário de Isa G. Ferraz. Assim, torna-se importante discutir, Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?
no processo de construção do mundo ocidental, questões
relativas às leis, como ocorre nas obras Ifigênia em Áulis, Clique aqui ou use o QR CODE da página 6.
de Eurípedes, Apologia de Sócrates, de Platão, e Carta a
Meneceu, de Epicuro, que podem ser lidas e contrastadas Anotações e Rascunhos
com os textos do Artigo 5.º da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, Este mundo da injustiça glo-
balizada, de José Saramago, Oração dos desesperados, de
Sérgio Vaz, e com a palestra O risco da história única, de
Chimamanda Adichie. Nesse sentido, a peça A advogada
que viu Deus, o Diabo e depois voltou para a Terra, do gru-
po G7, debate a subversão da ordem e a busca do equilí-
brio jurídico da sociedade, questionando as formas pelas
quais é buscado. De maneira análoga, algumas bases em
que se equilibra nossa estrutura social podem ser questio-
nadas a partir do vídeo La mujer sin miedo, de Eduardo
Galeano (Páginas 16 e 17, quinto parágrafo)

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O Velho da Horta - Gil Vicente

Autor
Gil Vicente (1465-1536) foi dramaturgo e poe- mo, disposta a zombar do velho, sem quebra da sua
ta português. Nascido em Guimarães, Portugal, é consi- dignidade pessoal.
derado o maior poeta do teatro popular e é criador de
vários autos (mistérios) e farsas (vida cotidiana). Análise

Apesar de Gil Vicente ter vivido em plena épo- Em O Velho da Horta, de 1512, Gil Vicente de-
ca Renascentista - em que o homem estava no centro monstra exímio domínio do diálogo e uma grande capa-
das atenções - ele não se deixou influenciar pela estéti- cidade de desenvolver os personagens, além das ações
ca do Renascentismo. Suas obras resumem as tradições que se aproximam da realidade com comicidade. A farsa
medievais e populares com altas doses de sátiras sociais, é uma peça de teatro escrita em versos.
com elementos ideológicos inovadores, como também
Durante o diálogo que se estabelece entre os
temas ricos pela sua diversidade e lirismo poético.
dois personagens principais, é possível perceber a dife-
O autor escreveu mais de quarenta peças, rença entre os discursos da Moça, que não se deixa en-
tanto em espanhol como em português. A relevância ganar pela lábia do pretendente, nem por sua fortuna,
do teatro vicentino encontra-se na sátira agressiva, por e zomba sarcasticamente do Velho assediador com sua
vezes contrabalanceada com o pensamento cristão. Im- conversa galanteadora e estereotipada. A linguagem da
piedosamente criticou a sociedade de seu tempo, não moça é zombeteira e se contrapõe a do velho. São visões
deixando ninguém de fora: papa, rei, clero, feiticeiras, opostas da realidade: um caso típico de pessoas apaixo-
alcoviteiras, judeus, moças casadoras e agiotas. Vários nadas e o abismo que existe entre a expectativa do ser
tipos de pessoas foram ridicularizados. enamorado e a realidade que o cerca.

Obra Gil Vicente consegue captar as nuances de


uma situação em que beira o ridículo e o ilusório de um
A Moça vai à horta do Velho buscar hortaliças, apaixonado, o qual se deixa levar imprudentemente ao
e este se apaixona perdidamente por ela. O Velho faz amor não correspondido e unilateral que o velho nutre
galanteios à Moça que não se deixa enganar e zomba pela moça. Ela, motivo de seus sonhos, é irônica, sarcás-
do pretendente. Uma alcoviteira, Branca Gil, promete ao tica e retribui ao amor platônico com chacotas.
Velho a posse da jovem amada e, com isso, vai extorquin-
do todo seu dinheiro. Na cena final, o Velho, desconso- A farsa é uma peça de enredo, na qual toda
lado, só, e reduzido à pobreza, gastara tudo o que tinha, a ação é explanada num mesmo cenário (a horta) e os
deixando ao desamparo suas quatro filhas, reconhece o acontecimentos que se realizam fora da cena são refe-
seu engano e se arrepende. A Alcoviteira é açoitada, e a rentes a fatos que vêm de fora. Todos os fatos confluem
Moça casa-se honestamente com um belo rapaz. para uma mesma direção que é o desfecho da peça. Se
desenvolve numa ação sem interrupções e é encadeada
Personagens em torno de um episódio da vida real, que envolve uma
personagem central.
• Parvo – criado do Velho com pouca cultura, limitan-
do-se a chamar-lhe às realidades primárias da vida
(o comer) incapaz de compreender grandes dramas. Contextualização
• Alcoviteira (Branca Gil) – figura pitoresca da baixa A peça mostra o assédio moral, não como um
sociedade peninsular, astuciosa e mistificadora, cuja caso individualizado e isolado no tempo/espaço da con-
moral independe de todas as leis da sensibilidade. temporaneidade, mas sim como um dilema que contém
• Alcaide – antigo oficial de Justiça. fatores sociais, econômicos e culturais, sentido desde a
• Beleguins – agentes de polícia. época renascentista. Diante do exposto, podemos perce-
• Mocinha – personagem que vai até a horta comprar. ber a ironia e o sarcasmo como forma de autopreserva-
• Mulher – à espera do Velho. ção por parte das mulheres.
• Velho – idoso, proprietário de uma horta, apaixona-
-se subitamente por uma jovem compradora.
• Moça – rapariga com certa experiência, já balzaquia-
na, com resposta ao pé da letra, confiante em si mes-

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sobre as formas de estruturação em seu funcionamento
textual. Obras como O velho da horta, de Gil Vicente,
e Poemas Selecionados, de Gregório de Matos, servem
Citações da Obra na Matriz de Referência de referências e exemplos desses aspectos. (Página 13,
oitavo parágrafo)
O ser humano como um ser no mundo
Energia, Equilíbrio e Movimento
São, também, referências de estudo, para pen-
sar e compreender melhor esses aspectos, as obras O ve- Na literatura, como em outras formas de arte,
lho da horta, de Gil Vicente, e Poemas selecionados, de a disposição harmoniosa de elementos expressivos e es-
Gregório de Matos, que trazem certo sentido dramático téticos, com alternância ou repetição de sons, por exem-
a essa perspectiva existencial e expressam na plurissigni- plo, atribui ritmo à linguagem. Especialmente no texto
ficação da linguagem os contextos literários e históricos em verso — às vezes, também, em textos em prosa — a
que ampliam essa discussão. (Página 4, primeiro pará- distribuição e combinação de sons, a regularidade de in-
grafo) tervalos, a acentuação atribuem ritmo ao texto, como se
nota em O velho da horta, de Gil Vicente, e nos Poemas
Indivíduo, cultura e identidade Selecionados, de Gregório de Matos. (Página 17, quarto
parágrafo)
É importante focalizar o indivíduo inserido no
contexto das transformações literárias, sobretudo as A formação do mundo ocidental
desencadeadas nos séculos XVII e XVIII. O texto literário
deve ser apreendido como integrante do contexto cultu- No que diz respeito à construção das culturas
ral de uma época, como instrumento de socialização da ocidentais, devem-se conhecer os elementos constituti-
cultura e da construção da identidade brasileira e como vos das identidades nos diversos Estados Europeus, em
um conjunto de códigos artísticos. Deve ser abordado especial os da Península Ibérica, como expressam as
como recriação subjetiva da realidade. Esses aspectos obras O velho da horta, de Gil Vicente, e Poemas Sele-
podem ser observados nos Poemas Selecionados, de cionados, de Gregório de Matos. (Página 21, primeiro
Gregório de Matos, e em O velho da horta, de Gil Vicen- parágrafo).
te. Na interlocução com esses textos, são importantes o
reconhecimento e a análise de aspectos formais e temá- Número, Grandeza e Forma
ticos, amplamente relacionados aos elementos deste ob-
jeto de conhecimento — indivíduo, cultura e identidade Por sua origem e por suas características, os
—, além de outros objetos de conhecimento (Páginas 7, poemas estão muito ligados à música. Em geral, cada
terceiro parágrafo). palavra tem seu papel não apenas por seu significado,
mas por seu ritmo, pela sua sonoridade, pela forma
Tipos e Gêneros como se relaciona com as outras palavras. Movimento,
ritmo e forma também podem ser observados nas obras
Para que se torne crítico, reflexivo e atuante, O velho da horta, de Gil Vicente, Poemas selecionados,
o indivíduo deverá ser capaz de estabelecer interlocu- de Gregório de Matos, e Oração dos desesperados, de
ção com a diversidade textual que a sociedade produz, Sérgio Vaz. (Página 23, quinto parágrafo)
de forma que possa proceder à análise crítica de textos
em diferentes níveis de compreensão e de interpretação, Questões, Justificativas e Dicas
como construção social, estética e histórica do conhe-
cimento. Obras como O velho da horta, de Gil Vicente, Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?
Poemas Selecionados, de Gregório de Matos, e Combate
Clique aqui ou use o QR CODE da página 6.
à terra seca, de Yuri Vasconcelos, publicada na Revista
FAPESP, edição 248, de outubro de 2016, exemplificam a
diversidade de tipos e de gêneros em épocas diferentes
e com distintos objetivos. (Página 9, quarto parágrafo)

Estruturas

Portanto, a compreensão e a utilização ade-


quada dos sistemas simbólicos que constituem o verná-
culo são, antes de tudo, o reconhecimento do valor social
da linguagem e do papel que ela representa na diversi-
dade de grupos sociais e na legitimação dos saberes es-
colares. Cabem, pois, na abordagem da língua, reflexões

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Poemas Selecionados - Gregório de
Matos

Autor
Poeta do movimento barroco brasileiro, Gre- Pereira Rabelo, biógrafo do poeta. Por isso é temerário
gório de Matos é patrono da cadeira n. 16 da Academia afirmar que toda a obra atribuída a Matos tenha sido
Brasileira de Letras, por escolha do fundador Araripe Ju- realmente escrita por ele mesmo.
nior. Matos nasceu na então capital do Brasil, Salvador
– Bahia, em 20 de dezembro de 1636, numa época de Obra
grande efervescência social, e faleceu em Recife – Per-
nambuco, no ano de 1696. Para compreender a obra de Gregório de Ma-
tos, é essencial que se conheça o contexto histórico no
Filho de pais abastados, estudou Humanida- qual ele está inserido, uma vez que grande parte de sua
des no Colégio dos Jesuítas, transferindo-se depois para obra, principalmente a satírica, faz alusão a duas de suas
Coimbra, onde se formou em Direito. Na Bahia, recebeu maiores referências: o Brasil e Portugal. Os senhores de
do primeiro arcebispo, D. Gaspar Barata, os cargos de vi- engenho e proprietários rurais brasileiros passaram a en-
gário-geral (com ordens menores) e de tesoureiro-mor, frentar uma forte crise econômica no final do século XVII,
mas por não querer completar as ordens eclesiásticas foi Portugal estava em decadência e o sistema escravocrata
deposto. não conseguia mais sustentar a economia da Metrópole.

Apaixonou-se por Maria de Povos, com quem Gregório de Matos, como filho de senhor de
passou a viver com fartura, até ficar na miséria e come- engenho e bacharel em Direito, encontra-se em uma po-
çar a levar uma vida boêmia, satirizando a tudo e a to- sição central desse cenário, com condições de pensar e
dos. O governador João de Alencastre, que antes queria analisar o momento histórico sob diversas perspectivas,
protegê-lo, teve de mandá-lo exilado para Angola, com o e, apesar de ter tido diversos cargos de poder, resolve se
intuito de o afastar da vingança de um sobrinho do seu desligar de tudo e viver à margem da sociedade como
antecessor, Antônio Luís da Câmara Coutinho, por causa um poeta itinerante e levando uma vida boêmia. Ao
das sátiras dirigidas ao tio. Chegou a advogar em Luan- mesmo tempo em que tenta se distanciar da sociedade
da durante o exílio e voltou ao Brasil para prestar um hipócrita que ele condena, o poeta depende da nobreza
serviço ao governador. Estabeleceu-se em Pernambuco e vive às custas de favores deles.
e ali conseguiu fazer-se mais querido que na Bahia, até
falecer. A divisão da obra entre poesias líricas, sacras
e satíricas facilita perceber as idiossincrasias da perso-
Não poupou o governo, o clero e nem a fal- nalidade de Matos, com opiniões ora conservadoras e
sa nobreza com sua inesgotável fonte satírica. Não lhe preconceituosas, mesmo tendo escrito poesias eróticas.
escaparam os padres corruptos, reinos e degredados,
mulatos e emboabas, caramurus, ativistas e novos ricos, Análise
a burguesia improvisada e inautêntica, exploradora da Os poemas selecionados de Gregório de Matos
colônia. Perigoso e mordaz foi apelidado “O Boca do In- são divididos em três partes: poemas religiosos, poemas
ferno”. líricos e poemas satíricos. É importante frisar que o lado
Sua poesia é a maior expressão do Barroco crítico social e a ironia do autor estão sempre presentes.
literário brasileiro. Foi o primeiro poeta a cantar o ele- A parte religiosa é extensa, o autor parece contrito e
mento brasileiro, o tipo local, produto do meio geográfi- arrependido de suas faltas.
co e social. Sua obra contém poesia lírica, sacra, satírica A parte lírica do autor é a de menor interesse,
e erótica. Ao seu tempo, a imprensa estava oficialmente quando comparada com o restante da própria obra. Nela
proibida no Brasil, e sua obra seria expurgada ainda que o autor faz homenagem às suas musas.
fosse publicada na Metrópole, como ocorreu com outros
poetas do período colonial, uma vez que eram satíricas A parte satírica expõe e critica sem nenhum
e pornográficas. Por conta disso, suas poesias corriam de pudor a sociedade da época de todas as classes sociais.
mão em mão, e o governador da Bahia, D. João de Alen- Em outros mais sensuais, faz uso de termos obscenos,
castre, que tanto admirava “as valentias desta musa”, daí vem o apelido de “Boca do Inferno”.
reunia em coleção os versos de Gregório de Matos e
os fazia transcrever em livros especiais. Sobreviveram A linguagem utilizada por Matos é cheia de pa-
também cópias feitas por admiradores, como Manuel radoxos e antíteses, de aproximação de ideias opostas,

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inversões sintáticas, linguagem complexa e rebuscada e Estruturas


de sinestesias.


Portanto, a compreensão e a utilização adequa-
da dos sistemas simbólicos que constituem o vernáculo
são, antes de tudo, o reconhecimento do valor social da
linguagem e do papel que ela representa na diversidade
Citações da Obra na Matriz de Referência de grupos sociais e na legitimação dos saberes escolares.
Cabem, pois, na abordagem da língua, reflexões sobre as
O ser humano como um ser no mundo formas de estruturação em seu funcionamento textual.
Obras como O velho da horta, de Gil Vicente, e Poemas
Questões como “quem sou?”, “quem somos Selecionados, de Gregório de Matos, servem de referên-
nós?”, “o que posso e o que podemos fazer?” encontram cias e exemplos desses aspectos (Página 13, oitavo pará-
no Artigo 5º da Constituição da República Federativa do grafo)
Brasil de 1988 contribuições para a discussão e a com-
preensão do ser humano inserido no mundo e em seu or- Energia, equilíbrio e movimento
denamento jurídico, assim como no texto Este mundo da
injustiça globalizada, de José Saramago. Na literatura, como em outras formas de arte,
a disposição harmoniosa de elementos expressivos e esté-
São, também, referências de estudo, para pen- ticos, com alternância ou repetição de sons, por exemplo,
sar e compreender melhor esses aspectos, as obras O ve- atribui ritmo à linguagem. Especialmente no texto em ver
lho da horta, de Gil Vicente, e Poemas selecionados, de so — às vezes, também, em textos em prosa — a distribui-
Gregório de Matos, que trazem certo sentido dramático ção e combinação de sons, a regularidade de intervalos,
a essa perspectiva existencial e expressam na plurissigni- a acentuação atribuem ritmo ao texto, como se nota em
ficação da linguagem os contextos literários e históricos O velho da horta, de Gil Vicente, e nos Poemas Seleciona-
que ampliam essa discussão. (Página 3 e 4, sétimo e pri- dos, de Gregório de Matos. (Página 17, quarto parágrafo)
meiro parágrafos)
A formação do mundo ocidental
Indivíduo, cultura e identidade
No que diz respeito à construção das culturas
É importante focalizar o indivíduo inserido no ocidentais, devem-se conhecer os elementos constitutivos
contexto das transformações literárias, sobretudo as de- das identidades nos diversos Estados Europeus, em espe-
sencadeadas nos séculos XVII e XVIII. O texto literário deve cial os da Península Ibérica, como expressam as obras O
ser apreendido como integrante do contexto cultural de velho da horta, de Gil Vicente, e Poemas Selecionados, de
uma época, como instrumento de socialização da cultu- Gregório de Matos. (Página 21, primeiro parágrafo)
ra e da construção da identidade brasileira e como um
conjunto de códigos artísticos. Deve ser abordado como Número, grandeza e forma
recriação subjetiva da realidade. Esses aspectos podem
ser observados nos Poemas Selecionados, de Gregório de Por sua origem e por suas características, os
Matos, e em O velho da horta, de Gil Vicente. Na interlocu- poemas estão muito ligados à música. Em geral, cada pa-
ção com esses textos, são importantes o reconhecimento lavra tem seu papel não apenas por seu significado, mas
e a análise de aspectos formais e temáticos, amplamente por seu ritmo, pela sua sonoridade, pela forma como se
relacionados aos elementos deste objeto de conhecimen- relaciona com as outras palavras. Movimento, ritmo e for-
to — indivíduo, cultura e identidade —, além de outros ma também podem ser observados nas obras O velho da
objetos de conhecimento (Página 7, terceiro parágrafo) horta, de Gil Vicente, Poemas selecionados, de Gregório
de Matos, e Oração dos desesperados, de Sérgio Vaz. (Pá-
Tipos e gêneros gina 23, quinto parágrafo)

Para que se torne crítico, reflexivo e atuante, Questões, Justificativas e Dicas


o indivíduo deverá ser capaz de estabelecer interlocução
com a diversidade textual que a sociedade produz, de for- Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?
ma que possa proceder à análise crítica de textos em di-
ferentes níveis de compreensão e de interpretação, como Clique aqui ou use o QR CODE da página 6.
construção social, estética e histórica do conhecimento.
Obras como O velho da horta, de Gil Vicente, Poemas
Selecionados, de Gregório de Matos, e Combate à terra
seca, de Yuri Vasconcelos, publicada na Revista FAPESP,
edição 248, de outubro de 2016, exemplificam a diversi-
dade de tipos e de gêneros em épocas diferentes e com
distintos objetivos. (Página 9, quinto parágrafo)

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Este Mundo de Injustiça Globalizada - José
Saramago

Autor
José Sousa Saramago nasceu na aldeia Azinha- go foi convidado por seu posicionamento político claro,
ga de Ribatejo, no Concelho de Golegã, Portugal, no dia que é a favor de uma sociedade mais justa social e eco-
16 de novembro de 1922. Ele foi considerado a maior ex- nomicamente.
pressão da literatura portuguesa contemporânea. Des-
tacou-se como romancista, contista, teatrólogo, poeta e No ensaio Este Mundo de Injustiça Globaliza-
jornalista português. Recebeu muitos prêmios, mas os da, José Saramago começa narrando a história aconteci-
mais importantes foram o Prêmio Nobel de Literatura e da nos arredores de Florença em meados do século XVI,
o Prêmio Camões. quando um camponês se sente injustiçado com o avanço
da demarcação das terras de um poderoso senhor dentro
Ele era filho de pais analfabetos e campone- das suas, sucedendo na diminuição considerável da sua
ses, e com dois anos de idade saiu do interior de Portu- propriedade. Ele, então, relata que o camponês tentou
gal para se mudar com a família para a capital, Lisboa, acertar os limites da propriedade do poderoso senhor
onde passou boa parte da vida. Apesar disso, por incen- pelo diálogo. Protestou, reclamou, implorou, queixou-se
tivo dos pais, desde criança já tinha o hábito de ler. Em às autoridades e, por fim, ele se viu obrigado a procurar
Lisboa, Saramago estudou somente em escola técnica, pela justiça, na qual continuou sendo injustiçado.
na qual concluiu o curso de serralheiro mecânico, pelo
fato de não ter condições financeiras para o estudo uni- Diante de tal contexto, percebendo que não
versitário. havia meio de conseguir ter justiça, foi até a torre da
igreja e fez dobrar os sinos com um convite a um funeral.
Ao longo de sua vida, antes de se dedicar ex- Então, como de costume, ao tocar do sino, toda a co-
clusivamente à literatura, trabalhou em diversas áreas, munidade foi em direção à igreja. Lá, espantaram-se ao
como serralheiro, mecânico, desenhista industrial, ge- verem uma pessoa que não era o tocador de sinos oficial
rente de editora, funcionário público na área da saúde da comunidade e que não havia nenhum cadáver para
e da Previdência Social, entre outros. Ainda assim, como ser velado. Diante da perplexidade, o camponês injus-
era autodidata, adquiriu muito conhecimento tendo tiçado calmamente convidou a todos para o funeral da
contato com a literatura, filosofia e história. justiça, posto que, segundo ele, a justiça estava morta.

Sua atividade como escritor se iniciou somente Após esse breve relato da história base do seu
em 1947, com o livro Terra do Pecado. No ano de 1991, ensaio, José Saramago continua a tecer comentários so-
José Saramago publicou O Evangelho Segundo Jesus Cris- bre a justiça, o tema central, dizendo que, apesar de ter
to, obra essa que foi censurada pelo governo, o que o sido a única vez que a justiça teve um funeral, ela morre
levou a exilar-se em Lanzarote, Ilhas Canárias (Espanha), todos os dias. “Ela morre aqui, do lado, à porta da nossa
local onde viveu até sua morte, em 18 de junho de 2010, casa, e etc”, e “a cada vez que ela morre, é como se afinal
quando tinha 87 anos. nunca tivesse existido para aqueles que nela tinham con-
fiado, para aqueles que dela esperavam o que da Justiça
Obra todos temos o direito de esperar: justiça, simplesmente
justiça”. Saramago continua dizendo que não se espera
Este mundo da Injustiça Globalizada é um en- aquela “justiça que se envolve em túnicas de teatro e
saio de José Saramago, lido por ele no encerramento do nos confunde com flores de vã retórica judicialista, não
Fórum Social Mundial de 2002 ocorrido em Porto Alegre, a que permitiu que lhe vendassem os olhos e viciassem
no Brasil. O ensaio é apresentado tendo como tema cen- os pesos da balança, não a da espada que sempre corta
tral a discussão sobre as contradições existentes entre a mais para um lado que para o outro, mas uma justiça pe-
democracia e a globalização econômica em curso, e as destre, uma justiça companheira cotidiana dos homens,
consequências desta última, como por exemplo a dificul- uma justiça para quem o justo seria o mais exato e rigo-
dade da justiça e dos valores democráticos se estabele- roso sinônimo do ético, uma justiça que chegasse a ser
cerem de forma plena. tão indispensável à felicidade do espírito como indispen-
sável à vida é o alimento do corpo.”
O Fórum Social Mundial (FSM) é um evento
altermundialista organizado por movimentos sociais de Após essa denúncia feita a respeito da morte
muitos continentes, com objetivo de elaborar alternati- da justiça e do que realmente ela deveria ser, ele faz uma
vas para uma transformação social global. Seu slogan é comparação da finalidade do sino tocado antes com a
“Um outro mundo é possível”. Certamente, José Sarama-

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finalidade do toque do sino anterior, já que, para ele, o Saramago acrescenta ainda que, se não hou-
sino representa um chamado à participação social, à par- ver uma intervenção a tempo, “o rato dos direitos hu-
ticipação da implantação de uma justiça que seja de fato manos acabará por ser implacavelmente devorado pelo
companheira dos homens. gato da globalização econômica”.

Descreve que antes os sinos eram muito mais Por fim, ele começa a falar da democracia que,
eficazes e cumpriam com o seu papel social, visto que, na sua visão, é “um invento milenário de uns atenienses
ao seu toque, as pessoas se juntavam para acudirem ingênuos [...], para os quais significaria um governo do
quaisquer perigos que ameaçassem individual ou cole- povo, pelo povo e para o povo”. Todavia, para ele, não
tivamente a comunidade. Dessa maneira, Saramago de- é essa a realidade. Não que ele discorde daqueles que
fende o uso dos sinos para chamar as pessoas não ape- acreditam na democracia como o meio mais provável de
nas para rituais, mas também para que elas percebam e termos uma consecução plena ou ao menos satisfatória
acudam as catástrofes as quais acontecem diariamente dos direitos humanos, pelo contrário, enfatiza em vários
com a sociedade, não no sentido literal, mas no sentido momentos ao longo do texto a importância deste siste-
figurado, dado que essas catástrofes são causadas pela ma político. No entanto ele acredita que “é verdade que
falta de justiça, pela ganância de alguns poderosos, pela podemos votar, é verdade que podemos, por delegação
usurpação do poder econômico, etc. da partícula da soberania [...] escolher os nossos repre-
sentantes no parlamento [...] mas que é igualmente ver-
Ele menciona que se os sinos forem usados da dade que a ação democrática começa e acaba aí”, pois “o
forma como devem ser usados, “nem um só ser huma- eleitor poderá tirar do poder um governo [...] e pôr outro
no mais morreria de fome ou de tantas doenças que são no seus lugar, mas seu voto não [...] terá qualquer efeito
curáveis para uns, mas não para outros [...] a existência visível sobre a única e real força que governa o mundo
não seria, para mais da metade da população, a conde- [...] o poder econômico”. Ele continua a dizer que “todos
nação terrível que objetivamente tem sido”. sabemos que é assim”, porém por meio de “ uma espé-
cie de automatismo verbal e mental [...] continuamos a
Por fim, sobre os sinos, ele diz que os sinos de falar da democracia como se se tratasse de algo vivo e
atualmente são “os múltiplos movimentos de resistência atuante [...].
e ação social que pugnam pelo estabelecimento de uma
nova justiça distributiva e comutativa [...].” Ele conclui: “Que fazer? [...] tudo se discute
nesse mundo [...] mas o sistema democrático [...] into-
Ele volta a falar sobre a justiça, mas dessa vez cável até a consumação dos séculos, esse não se discute.
afirmando que já temos base sólida para a sua aplicação, ” Continua argumentando que “entre tantas discussões
isto é, temos um código que foi criado há cerca de 50 necessárias ou indispensáveis, é urgente, antes, que se
anos atrás, e, portanto, não há justificativa para a sua nos torne demasiado tarde, promover um debate mun-
morte diária. Ele está falando da tão difícil conquista dial sobre a democracia e as causas da sua decadência,
da humanidade chamada Declaração Universal dos Di- sobre a intervenção dos cidadãos na vida políticas e so-
reitos Humanos (DUDH), que, hoje, está ao “alcance de cial, sobre as relações entre os Estados e o poder eco-
qualquer compreensão”, mas que “vagamente se fala, nômico e financeiro mundial, sobre aquilo que firma e
quando não sistematicamente se silencia”. Por fim, re- aquilo que nega a democracia, sobre o direito à felicida-
lembrando a história do camponês de Florença, ele de e a uma existência digna, sobre as misérias e as espe-
menciona que a DUDH é, hoje, muito mais desprezada ranças da humanidade, ou, falando com menos retórica,
do que os direitos de liberdade e propriedade que foram dos simples seres humanos que a compõem, um por um
usurpados do camponês, ao diminuírem sua proprieda- e todos juntos.”
de, fazendo-se necessárias muito mais, em sentido figu-
rado, celebrações da morte da justiça. E, ao longo do texto, algumas questões são
levantadas, para se entender o que Saramago quer nos
Após exaltar a existência da DUDH, Saramago passar. O que é de fato democracia? Onde estão aqueles
faz algumas críticas aos sindicatos locais , internacionais que deveriam fazer prevalecer a Lei da Justiça? Será que
e aos partidos políticos, que, de acordo com ele, respec- realmente o camponês estava se equivocando? Ou ele
tivamente, são “responsáveis pelo adormecimento so- tinha razão ao falar da morte da Justiça? Qual o papel do
cial decorrente do processo de globalização econômica sino na atualidade? Compreende-se, portanto, a visão
em curso” e estão “anquilosados em fórmulas caducas, de Saramago sobre essa forma de organização política.
alheios ou impotentes para enfrentar as realidades bru- Ao mesmo tempo que possua suas problemáticas, em
tais do mundo atual, fechando os olhos às já evidentes decorrência da expansão da globalização econômica, e
e temíveis ameaças que o futuro está a preparar contra pontos a serem aperfeiçoados para garantir a represen-
aquela dignidade racional e sensível que imaginávamos tação popular, a democracia é fundamental e necessária
ser a surpresa aspiração dos seres humanos”. para assegurar o direito dos cidadãos de se expressarem

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tanto em relação aos seus pontos positivos quanto às Estruturas


suas falhas.
O indivíduo também é sujeito e produto de um
Gênero contexto social mais amplo. É um ser histórico inserido no
processo de formação das identidades nacionais ociden-
O gênero desta obra é o ensaio. O ensaio é tais, da identidade brasileira e de suas relações com as
um texto no padrão formal opinativo em que se expõe transformações científicas, culturais, religiosas, tecnoló-
ideias, críticas, reflexões e impressões pessoais, realizan- gicas, artísticas e literárias. A obra Brasiliana, de Cláudio
do uma avaliação sobre determinado tema. As principais Santoro, é um exemplo desse embate, pois revela caracte-
características do gênero textual ensaio são uma lingua- rísticas do nacionalismo em música. Essas transformações
gem simples, concisa, subjetiva, argumentativa, original, e alguns aspectos que contribuem para a compreensão do
criativa e problematizadora. indivíduo como ser social inserido em um grupo podem
ser observados na leitura de Este mundo da injustiça glo-
Diferente dos textos narrativos e descritivos, o balizada, de José Saramago, e na Oração dos desespera-
ensaio pressupõe interpretação e análise mais profunda dos, de Sérgio Vaz. (Página 17, primeiro parágrafo)
sobre um tema. Logo, o ensaio é um gênero discursivo
argumentativo e expositivo que implica o ato de ensaiar. Energia, equilíbrio e movimento
Ou seja, ele apresenta tentativas de reflexão crítica e
subjetiva (ponto de vista pessoal) num fluxo natural de Nas Ciências Humanas, os conceitos de equilí-
ideias. brio e de movimento estão ligados a permanências e rup-
turas, mudanças e desigualdades nas formações históri-
Os ensaios são textos breves não sistemati- cas, culturais e sociais, algo que é mostrado, por exemplo,
zados de caráter que não possuem um estilo definido. em O povo brasileiro (parte I): a matriz Tupi — documen-
Dependendo do objetivo do ensaio, deve seguir algumas tário de Isa G. Ferraz. Assim, torna-se importante discutir,
formalidades, no entanto, o que não se abre mão é que no processo de construção do mundo ocidental, questões
ele deve conter clareza de ideias e ainda seguir as nor- relativas às leis, como ocorre nas obras Ifigênia em Áulis,
mas padrões da língua. de Eurípedes, Apologia de Sócrates, de Platão, e Carta a


Meneceu, de Epicuro, que podem ser lidas e contrastadas
com os textos do Artigo 5.º da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, Este mundo da injustiça glo-
balizada, de José Saramago, Oração dos desesperados,
Citações da Obra na Matriz de Referência de Sérgio Vaz, e com a palestra O risco da história única,
de Chimamanda Adichie. Nesse sentido, a peça A advo-
O ser humano como um ser no mundo gada que viu Deus, o Diabo e depois voltou para a Terra,
do grupo G7, debate a subversão da ordem e a busca do
Questões como: “Quem sou? ”, “Quem somos
equilíbrio jurídico da sociedade, questionando as formas
nós”? “O que posso e o que podemos fazer? ”, encontram
pelas quais é buscado. De maneira análoga, algumas
no Artigo 5º da Constituição da República Federativa do
bases em que se equilibra nossa estrutura social podem
Brasil de 1988, contribuições para a discussão e a com-
ser questionadas a partir do vídeo La mujer sin miedo, de
preensão do ser humano inserido no mundo e em seu or-
Eduardo Galeano (Página 16, sexto parágrafo)
denamento jurídico, assim como no texto Este mundo da
injustiça globalizada, de José Saramago. (Página 3, séti- Ambiente
mo parágrafo)
Portanto, é importante neste objeto a aborda-
Indivíduo, cultura e identidade gem dos problemas ambientais urbanos. O ritmo de cres-
cimento das cidades, a distribuição do fenômeno urbano
O indivíduo também é sujeito e produto de um
pelos continentes, o desenvolvimento das metrópoles mo-
contexto social mais amplo. É um ser histórico inserido no
dernas e a expansão da urbanização configuram o am-
processo de formação das identidades nacionais ociden-
biente que mais expressa a intervenção humana no meio
tais, da identidade brasileira e de suas relações com as
natural. Alguns desses aspectos são observados na leitura
transformações científicas, culturais, religiosas, tecnoló-
de Este mundo da injustiça globalizada, de José Sarama-
gicas, artísticas e literárias. A obra Brasiliana, de Cláudio
go. Nas cidades, a expressiva diminuição da vegetação, a
Santoro, é um exemplo desse embate, pois revela caracte-
movimentação de massas de terra, as edificações, a cana-
rísticas do nacionalismo em música. Essas transformações
lização dos rios e o lançamento de poluentes na atmosfe-
e alguns aspectos que contribuem para a compreensão do
ra e nos cursos de água causaram diversos efeitos sobre
indivíduo como ser social inserido em um grupo podem
todos os aspectos do ambiente. A música Chuva, de Jaloo,
ser observados na leitura de Este mundo da injustiça glo-
trata de um importante ciclo que vem sofrendo grandes
balizada, de José Saramago, e na Oração dos desespera-
impactos, o que tem causado efeitos desastrosos em vá-
dos, de Sérgio Vaz. (Página 7, segundo parágrafo)

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rias partes do mundo. Esses efeitos afetam não apenas o


ambiente urbano, mas também a saúde de seus habitan-
tes (Página 18, quinto parágrafo)

Espaços

Essa perspectiva para pensar o espaço geográ-


fico aponta para uma acumulação desigual de tempos e
ultrapassa as fronteiras políticas de cidades, estados e
países. Os fatos e processos históricos permanecem no
espaço geográfico, modificado de maneira ininterrupta e
cotidiana pelos humanos. Essa complexa noção pode ser
melhor apreendida a partir de obras como Alta ansieda-
de, a matemática do caos (High Anxieties: The Mathema-
tics of Chaos) — documentário deDavid Malone & Mark
Tanner produzido pela BBC —, Aos olhos de uma criança
— videoclipe de Emicida, parte da trilha sonora de O me-
nino e o mundo — e Este mundo da injustiça globalizada,
de José Saramago. (Página 25, quinto parágrafo)

Questões, Justificativas e Dicas


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Anotações e Rascunhos

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Entrevista com Maria Teresa, ex-escrava,
de Antônio José do Espírito Santo

Autoria e Contextualização
A obra se concentra em Maria Teresa Bento da cesso não foi exclusivo das civilizações europeias, dado
Silva, que foi uma mulher entrevistada pelo grupo Vis- que registros históricos também demonstram que Egito
sungo em 1973. Na época, tinha 117 anos de idade, o e outras civilizações africanas, como a Etiópia, possuíam
que significa que acompanhou, de maneira ocular, im- e se utilizavam de escravizados. Entretanto, é importan-
portantes processos da consolidação do país que temos te ressaltar um aspecto que distingue a forma como a
hoje, inclusive a escravidão, no qual se centra o relato da escravidão se dava na antiguidade e a escravidão que se
entrevista realizada. consolida a partir do século XVI, ou seja, a escravidão
moderna dava centralidade à origem do indivíduo e im-
Se por um lado a entrevista representa uma punha a questão racial como condicionante, justificativa
importante fonte histórica oral para entender a escravi- para a escravização dos humanos.
dão a partir da visão de alguém que a viveu, ao contrário
de outros que se baseavam em registros escritos, por ou- Sendo assim, o motivo não é mais uma ques-
tro, demonstra o quão longa e particularmente cruel foi tão política de guerra e conquista, mas de cor. Essas dis-
o regime escravocrata no Brasil. Portanto, o texto apre- tinções são justificadas, num primeiro momento, pela
senta importantes pontos que direcionam a compreen- igreja e a partir do século XIX, pela ciência, que a partir
são da escravidão não só como um tipo de mão de obra, de experimentos como, por exemplo, a mensuração do
mas também como uma instituição importante para o cérebro branco e negro, busca dar justificativas científi-
contexto social, político e econômico da época, além de cas para a superioridade do homem branco e, portanto,
expor aspectos culturais da vida dos negros escravizados. possuidor de legitimidade para escravizar o negro.

Grupo Vissungo Portugal já mantinha relações comerciais des-


de meados do século XVI com algumas civilizações afri-
O nome Vissungo é originário do idioma an- canas e entre elas, uma das mais importantes para esse
golano, que significa canção, e no contexto brasileiro o tema, o reino do Congo. Com isso, as primeiras trocas co-
termo designava as canções que eram cantadas nas mi- merciais realizadas pelos portugueses e africanos foram
nas antes da abolição da escravidão. O grupo surgiu em realizadas com esse reino, nas quais trocavam-se artigos
1975 e visava, a partir de pesquisas de cunho histórico e de luxo portugueses por manilhas de cobre e marfim
antropológico sobre a cultura negra no Brasil, a compor (Hall, 2017).
a chamada música negra, que, em meio ao surgimento
de movimentos vanguardistas como o MPB e a Tropicá- Nessa época já eram comercializadas pessoas
lia, aparece como um movimento de resistência e como escravizadas, entretanto isso ocorria em menor fre-
representação do Movimento Negro nesse contexto. quência e intensidade que nos séculos posteriores. Por
conseguinte, com a entrada gradual dos portugueses no
Obra Congo, a partir das trocas comercias, as relações foram
se tornando mais concretas, começando, portanto, uma
Um pequeno panorama da escravidão participação maior de Portugal na política africana, na
qual implantou novas técnicas e tecnologias militares,
Para entender a escravidão no Brasil, antes é para assim participar mais ativamente do comércio de
importante ter uma visão ampla desse processo, o qual escravizados.
se consolidou como uma instituição que movimentou a
vida social, política e econômica a partir do final do sé- Com o passar do tempo, Portugal começa a se
culo XVI. expandir para outras civilizações, para além do Congo,
em regiões como Luanda e Angola, e desta última foram
Embora o marco principal desta obra seja a trazidos a maior parte dos escravizados que chegaram
escravidão moderna africana, a escravidão existia desde ao Brasil.
muito antes. Ela aparecia como importante aspecto de
várias civilizações antigas, entre elas a Grécia e Roma. Era O tráfico de escravizados constituiu-se como
um processo quase natural dessas civilizações, pois, após um comércio a mais no contexto do advento das plan-
as frequentes guerras, era comum que o lado vencedor tações de açúcar; tanto a coroa portuguesa como os
transformasse os indivíduos vencidos em escravizados - comerciantes envolvidos lucravam com o processo. A
sendo estes os chamados escravos de guerra. Esse pro- mão-de-obra escravizada de origem africana, portanto,

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foi sendo implementada nas lavouras. A escravidão indí- Comunidades Quilombolas


gena passou a adotar um papel secundário, sem, no en-
tanto, deixar de existir. Em sua maioria, os escravizados Se fugia muita gente? Fugia! Fugia! Chamava Capitão do
eram homens, devido a força física, entretanto, uma par- mato. Procurava eles. O que procurava eles era o Capitão do
Mato.
cela considerável de mulheres começou a ser necessária,
dado que os portugueses cada vez mais se assentavam Coitados! Vinha tudo amarrado, algemado assim, tudo alge-
na colônia e necessitavam de serviços domésticos. Não mado, heim!”(perguntada se lá tinha quilombo, não entende
bastasse o degradante e exaustivo serviço doméstico, es- a pergunta):Em Paraíba tinha tudo. Pra onde eles fugia? Era
sas mulheres eram muitas vezes abusadas sexualmente no mato virgem. Era mais na roça. Paraíba, Campo Verde,
por seus senhores. Boa Vista, Conceição, Santa Teresa. Eu fui criada na fazenda
da Santa Teresa. Era do Visconde de Avellar. Ficavam lá no
O início do século seguinte, XIX, no cenário mato, coitados. As vezes eles vinham, roubavam um porco
do senhor e iam comer no mato. Fazia fogo no mato pra co-
mundial, houve uma grande queda no número de escra-
mer.
vos devido ao “engajamento” da Inglaterra em abolir a
escravidão, baseado na busca em aumentar o mercado No trecho citado, Maria Teresa relata sobre a
consumidor necessário para consolidar a Revolução In- fuga de escravos das fazendas de café, no entanto não
dustrial. Entretanto, ao contrário do que acontecia nos se refere aos termos quilombo ou mocambo, como co-
outros países, o Brasil vivia o ápice da quantidade de mumente os conhecemos, fazendo menção apenas ao
pessoas forçadamente trazidas como escravizados, em processo de fuga. As comunidades quilombolas eram
virtude da alta demanda produção cafeeira. Os avós de formadas mediante a fuga e ocupação de terras pelos
Maria Teresa foram trazidos para terras brasileiras, pro- escravos. A ocupação não era realizada apenas por ins-
venientes de Moçambique, provavelmente nesse con- talação em terras livres, ela era representada por toda
texto, como o autor pontua ao final da entrevista: forma de apropriação de terra pelo escravizado como,
Inhambane de fato se refere a uma vasta região ao norte de
por exemplo, por meio da doação ou ainda a ocupação
Maputo, em Moçambique, no litoral do país, habitada por e formação de quilombos urbanos. A formação dessas
um povo de fenótipo muito característico, já que foi expos- comunidades representa uma forma de resistência por
to, durante muito tempo, às influências gerais das históricas parte dessas pessoas, e como bem elucida Maria Teresa,
relações entre Ásia e África, ocorridas na costa africana do as trocas entre escravizados e quilombolas eram cons-
Oceano Índico, relações estas que produziram, entre outros tantes, o que demonstra que a criação de uma rede de
efeitos, alguma mestiçagem de negros com árabes (cujos in- apoio e resistência.
teresses comerciais penetraram ali antes dos portugueses)
e indianos (que marcaram fortemente o perfil étnico da po-
pulação do Madagascar, por exemplo, ilha muito próxima à
Lei do ventre livre
costa a Moçambique). (Espirito Santo, 2004)
Olhe! Deus soube o que fez. Deus soube o que fez, meu filho!
Eu vi isso tudo, sabe? Esse tempo eu tinha meus 15, 16 anos.
É importante pontuar que Moçambique foi Eu vi muita coisa, né? Eu era Ventre Livre, eles queriam me
durante muito tempo uma região assolada pela retirada bater, eu disse não! Eu sou forra! Eu sou ventre livre, não sou
de pessoas para trabalhar compulsoriamente em outro escrava não! Escravo é minha mãe e meu pai! Queriam me
país, sendo essa situação de verdadeira escravidão tra- bater? Não. Não me batem não!
tada como se fosse o processo legal de “trabalhadores
contratados”, mascarando a situação e ainda era utiliza- A Lei do Ventre Livre de 1781 instituiu que fi-
da pela própria Inglaterra para obter uma mão de obra lhos de escravizadas nasceriam livres, entretanto esses
barata. filhos permaneceram sob a tutela dos senhores até os
21. A lei também expressava que caso o senhor não qui-
Por fim, a escravidão no Brasil só chegou ao sesse permanecer com a tutela da criança poderia, assim
fim, ao menos institucional e formalmente, no ano de que esta fizesse 8 anos, entregá-la aos cuidados do esta-
1888 com a Lei Áurea, que proibiu a escravidão. A proibi- do recebendo indenização por isso. Entretanto, mesmo
ção do trabalho escravo foi sentida de diferentes formas havendo a Lei do Ventre Livre, os filhos dos escravos per-
pelas mais diversas regiões do Brasil. Em São Paulo, ela maneciam morando nas fazendas de café, o que possibi-
foi recebida de uma forma menos impactante em virtu- litava a ocorrência de situações como a que Maria Teresa
de de que desde 1886 houve a entrada da mão de obra relata, ou seja, a manutenção da condição de escravidão
imigrante que dava uma alternativa para suprir os traba- ou a tentativa de assim fazê-lo.
lhos na lavoura. Todavia, tal situação de substituição não
era observada nas lavouras da região do Rio de Janeiro, Jongo
como o Vale do Rio Paraíba, cenário do relato de Maria
Teresa, em que a crise da escravidão provocava a degra- Jongo (ou caxambu), originada na região Con-
dação do ciclo cafeeiro. go-Angola, influenciou a origem do samba. Manifestação
cultural com presença da dança e música, era e ainda

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é praticada por homens e mulheres. O processo se ba- Apresentação: Na apresentação o autor faz um breve
seia na decifração (desatar os pontos) de um “enigma” resumo de Maria Teresa, além de explicar o que se tra-
(pontos) que vai ser apresentado na música. A dança é ta o relato prestado. Ademais, também o local onde foi
conduzida em uma roda, em que os participantes vão publicado (blog Spirito Santo) e onde foi realizada a en-
para o meio a fim de se apresentarem, só quem entra na trevista (Escola de Samba “GRES Arranco de Engenho de
roda são os mais velhos e os mais novos ficavam apenas Dentro”).
observando.
Perguntas e respostas: A transcrição da entrevista em
O Jongo ocorria nas fazendas de café do su- si, no entanto o grupo Vissungo optou por deixar Ma-
deste do país, para divertir os escravizados e os senhores ria Teresa fazer um relato corrido, sem muitos cortes, há
donos da fazenda. Era realizado nos dias de comemora- poucas interrupções por parte dos entrevistadores no
ção dos santos católicos. Como relata Maria Teresa: decorrer da entrevista.


Era um terreiro grande, tocava o caxambu e os brancos vi-
nham e a gente cantava pra eles vê a gente cantar e dançar.
Era só pra eles vê. Que a gente era escravo, tava na fazenda.
O que é que ia fazer? E se não dançasse, ó…! Era sábado e Citações da Obra na Matriz de Referência
domingo. As vezes fazia na festa de São João.
O ser humano como um ser no mundo
Pontos Importantes
A reflexão sobre o ser humano como um ser no
• Maria Teresa devia ser uma escravizada doméstica, mundo, ser singular e autodeterminante, pode, ainda, ser
uma vez que não era incomum o trabalho dos escra- desenvolvida a partir de conceitos fundamentais como
vizados serem designados pelo gênero, sendo as mu- condição humana, situações-limite, vida, morte, existên-
lheres destinadas ao serviço doméstico e os homens cia, essência, natureza, cultura, liberdade, comportamen-
ao trabalho nas plantações. Não obstante, essa não tos, condicionamentos, escolhas, consciência, afetividade,
era a regra, sendo comum mulheres trabalhando na sensibilidade, criatividade, racionalidade, maioridade,
lavoura e homens fazendo serviços domésticos. responsabilidade, alteridade, autonomia, projeto de vida,
• “Escravo” é utilizado como termo de identificação, mundo, presentes em obras como La mujer sin miedo, de
como pode ser visto na passagem: Eu sou ventre li- Eduardo Galeano, a tragédia Ifigênia em Áulis, de Eurípi-
vre, não sou escrava não! Escravo é minha mãe e meu des, e a Entrevista com Maria Teresa, ex-escrava — feita
pai! - A problemática que surge é que a condição de em 1973 por Antônio José do Espírito Santo e apresentada
escravo se naturalizou na sociedade da época. na revista Geledés, em dezembro de 2014. (Páginas 5,
• Os escravizados não tinham direito a ter propriedade, primeiro parágrafo).
e por isso não podiam ter filhos, como Maria Teresa
informa: “a gente morria de medo de fazer filho. De Indivíduo, cultura e identidade
que jeito que a gente vivia? O filho lá… Um dia chega-
A partir de tudo que circunda o indivíduo, seu
va, tirava o filho da gente pra vender”.
comportamento e o dos outros, ele pode perceber-se
• Maria Teresa considerava Deodoro da Fonseca o me-
como inserido em um mundo e participante desse mundo
lhor presidente, entretanto na República da Espada
que foi construído coletivamente, mas que, também, pode
as mulheres não podiam participar da política, ou
ser pensado, questionado e alterado pela presença de no-
seja, não podiam votar.
vas gerações, como se depreende da leitura da Entrevista
com Maria Teresa, ex-escrava, encontrada recentemente
Ficha Técnica por um grupo de estudos africanos. Essa entrevista expõe
Gênero textual: descritivo (relato); informativo-expositi- a proximidade histórica do período da escravidão e o seu
vo (entrevista); impacto sobre a identidade do povo brasileiro. (Páginas 7,
sexto parágrafo).
Estrutura da entrevista: na entrevista apresentada a
transcrição foi conduzida de forma a preservar as mar- Tipos e Gêneros
cas da oralidade, posto que deixou transparecer o jeito
O gênero é constituído — além das normas e
como ela fala e as hesitações próprias da fala. Porém,
das convenções a ele referentes — por um conjunto de
essa tentativa só se restringe a fala, por isso não há uma
codificações que revelam o tipo de discurso que o texto
transcrição dos movimentos e gestos que ela faz durante
exemplifica, como se observa no O causo do Angelino e
a entrevista. Tristeza do Jeca, na versão de Paulo Freire e Inezita Bar-
Manchete: “Entrevista com Maria Teresa, ex-escrava, em roso, e na Entrevista com Maria Teresa, ex-escrava, feita
em 1973 por Antônio José do Espírito Santo e apresenta-
1973”

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da na revista Geledés, em dezembro de 2014. (Página 9,


quinto parágrafo)

A formação do mundo ocidental

Para compreender as particularidades e a diver-


sidade da nossa formação, é necessário buscar as genea-
logias dos diversos grupos étnico-sociais constituidores da
sociedade brasileira e suas contribuições para as múltiplas
áreas do conhecimento — não limitadas à reprodução de
informações pautadas, exclusivamente, em referenciais
eurocêntricos. A Entrevista com Maria Teresa, ex-escra-
va (1973), realizada por Antonio José do Espírito Santo,
possibilita pensar essas particularidades, assim como o
documentário Atlântico Negro – na rota dos Orixás, que
propõe reflexões acerca de importantes contribuições cul-
turais africanas para a formação da múltipla e plural so-
ciedade brasileira. (Página 25, quarto parágrafo)

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Oração dos Desesperados - Sérgio Vaz

Autor
Sérgio Vaz nasceu em Ladainha, Minas Gerais, Que habitam na senzala do silêncio,
no dia 26 de junho de 1964. Ele é um grande cronista, Porque nascer negro é consequência
produtor cultural, poeta brasileiro contemporâneo e um Ser
dos maiores agitadores culturais da atualidade, sendo É consciência
reconhecido, assim, como um dos maiores quilombolas
culturais do país. É conhecido de diversas formas, mas Dói no povo a dor do universo
principalmente como o Poeta da Periferia, pois tem gran- Chibata, faca e corte
de atuação nas comunidades carentes de várias grandes Miséria, morte
cidades brasileiras, em especial de São Paulo. Sob o olhar irônico
De um Deus inverso
Quando tinha 4 anos de idade, juntamente Uma dor que tem cor
com a família, mudou-se para Taboão da Serra, em São Escorre na pele e na boca se cala
Paulo, onde mora até os dias de hoje. Desde criança se- Uma gente livre para o amor
guiu os gostos de leitura do pai. Paradoxalmente, não Mas os pés fincados na senzala.
gostava de poesia, porque achava que era coisa de “fres- Dói na gente a dor que mata
co”. Apenas aos 13 anos que começou a se interessar por Chaga que paralisa o mundo
essa loucura, assim ele dizia. Já adulto, quando servia ao E sob o olhar de um Deus de gravata...
exército, começou a se interessar pela música e arte po- Doença, fome, esgoto, inferno profundo.
pular em geral, da qual não se afastou mais. Dor que humilha, alimenta cegueira
Trevas, violência, tiro no escuro
Em 2000, fundou a Cooperativa Cultural da Pedaço de pau, lar sem muro
Periferia, instituição que até os dias atuais reúne cer- Paraíso do mal
ca de 400 pessoas semanalmente para ouvir e proferir Castelo de madeira.
poesias, esta inaugurou um dos movimentos culturais e Oh! Senhores
sociais mais ativos, um dos mais importantes das perife- Deuses das máquinas,
rias de São Paulo. A partir dessa cooperativa de artistas Das teclas, das perdidas almas.
da periferia, promoveu diversos eventos e movimentos, Do destino e do coração!
como a Chuva de Livros, o Poesia no Ar, o Joelhaço, Cine- Escuta o homem que nasce das lágrimas
ma na Laje e o Sarau da Cooperifa e, o mais importante Do suor, do sangue e do pranto,
deles, em 2007 (inspirado na Semana de Arte Moderna Escuta esse pranto
de 1922) a Semana de Arte Moderna da Periferia. (Que lindo esse povo!)
(Quilombo esse povo!)
Por toda essa atuação militante, foi reconheci- Que vem a galope com voz de trovão
do diversas vezes e em muitos lugares, mas foi em 2009 Pois ele se apega nas armas
que alcançou seu auge, sendo reconhecido pela revista Quando se cansa das páginas
Época como um dos 100 mais influentes brasileiros do Do livro da oração.
ano. Outro destaque de reconhecimento foi quando a
escola de samba Imperatriz do Samba o homenageou O poema Oração dos desesperados tem como
por meio do enredo Sergio Vaz, o poeta da periferia. tema central o contexto de uma parcela significativa da
população brasileira: o negro, principalmente o da peri-
Obra feria. Ele trata de temas sensíveis como identidade indi-
vidual e coletiva, além de denunciar situações históricas
Antes de analisarmos a poesia de Sérgio Vaz,
de preconceito racial e exclusão social, as quais ainda
vale a pena termos contato direto com a obra na sua in-
hoje acontecem.
tegralidade, já que estamos diante de uma obra peque-
na. Segue o texto: Inicialmente, é interessante observar que este
texto foi escrito como retrato da situação atual da popu-
Oração dos desesperados
lação da periferia negra do Brasil, entretanto, poderia ter
Que a pele escura sido, da mesma forma, escrito para retratar a questão da
Não seja escudo para os covardes, população negra do Brasil desde os tempos da coloniza-
ção. Logo, podemos concluir que é uma temática histó-

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rica, cultural e, tratando-se do contexto brasileiro, com ralisado. É um clamor que podemos ouvir de Sérgio Vaz
aplicações atemporais. nesse poema.

Com o poema, Sérgio Vaz objetiva nos mostrar Por fim, após fazer apelos aos próprios negros
e nos direciona a diversas reflexões, por meio do lirismo, da periferia, ele começa a fazer apelos aos deuses, não
sobre o fato de que ainda hoje os negros, especialmente em um sentido literal, mas no sentido figurado. Quando
os da periferia, sofrem reflexos históricos do tratamento ele fala dos deuses, ele fala da sociedade que segrega,
que ganham desde a época da colonização do Brasil, e oprime e silencia ainda mais os negros. Ele denuncia,
que, por isso, a eles faltam condições para viverem uma em sentido figurado, os atuais senhores de escravos, os
vida justa, com as mesmas oportunidades, além, é claro, quais maltratavam, exploravam, e que eram os donos
de viverem sem o enorme preconceito racial que está das almas perdidas, dos destinos e dos corações dos ne-
enraizado na cultura brasileira. gros. Ele está falando do deus inverso; do deus de grava-
ta; do deus da máquina e das teclas.
Sérgio Vaz começa falando sobre identidade
e esse é um dos principais temas do poema. E de iní- E os apelos feitos pelo autor têm intuito dos
cio é possível perceber que ele denuncia a covardia de negros da periferia serem ouvidos, aqueles que cons-
muitos, que, mesmo sendo negros, não assumem a sua cientemente clamam, os quais nascem das lágrimas, do
essência, no entanto se escondem, covardemente, sob a suor e do sangue. Ou seja, refere-se a quem nunca teve
pele escura e continuam a habitar na histórica senzala, a voz e que é lindo, considerado quilombo, além de pos-
qual tem como característica o silêncio, a dor, a miséria, suir voz de trovão e tem coração.
a fome e muitas outras formas de injustiças. Para ele, a
pele negra não é para ser escondida nem silenciada, po- Estrutura
rém atuante bem como consciente da sua essência hu-
mana e titular de direitos, assim como quaisquer outros. O poema é um gênero textual que se modifica
de acordo com os gêneros literários no qual foi desenvol-
Após isso, ele faz uma afirmação de que nas- vido. Não é tarefa fácil dissociar o poema da literatura, já
cer negro é consequência. Com essas palavras, ele quer que este se manifesta utilizando sempre a palavra, ma-
dizer que não existe escape àquele geneticamente pro- téria-prima daquela. Na literatura não há compromisso
veniente da família negra, não há como ser covarde nes- com a objetividade, tampouco com a sintaxe ou com a
se sentido. E, aí, podemos fazer uma observação de que semântica, a palavra pode ser lapidada, dissecada e sub-
ele não está apenas falando sobre a cor, mas também vertida de acordo com as vontades de quem escreve o
sobre os traços corpóreos dos indivíduos, isto é, nascer poema.
negro traz uma série de obrigatoriedades das quais não
há como fugir. Por outro lado, ser negro é uma escolha Dessa forma, apesar do poema ter como ca-
consciente, que ele defende, incentiva e pratica. Para racterística bastante flexibilidade por sua própria natu-
ele, ser negro depende não apenas de traços genéticos, reza, é possível estabelecer parâmetros que nos ajudam
como também atitudes, proatividade, identidade e mili- a compreender o poema como gênero textual e suas
tância. Ele deseja mostrar um negro triunfante, que bus- características formais e estilísticas. Cabe ressaltar que
ca e luta pelos seus sonhos e objetivos. nem todo poema é composto por versos e estrofes, mas
existem poemas em prosa e poemas que aliam elemen-
Vaz continua denunciando as injustiças, mas tos visuais à linguagem verbal, contrariando, assim, a
antes de continuar, cabe evidenciar, ele não o faz de lon- ideia de que o poema deve prender-se a regras como
ge, sim de perto, porque faz questão de viver e morar na métrica ou rimas.
periferia e, mais do que isso, de ser a periferia negra do
Brasil. Por isso, tem propriedade para falar tudo que fala O termo poema deriva de um verbo grego que
nessa obra e em tantas outras. significa “fazer, criar, compor”. Na Grécia Antiga, os gê-
neros literários – épico, lírico e dramático – eram todos
Ele denuncia a dor, a chibata, o corte, a fome considerados poemas. Na literatura contemporânea,
e a morte; a doença, o esgoto, o inferno profundo; tre- os poemas de formas fixas, como o soneto e a sextina
vas, violência e tiros no escuro; pedaços de pau, lar sem (sugerimos estudar essas espécies de poemas) cederam
muro, paraísos do mal. Fala que a dor tem cor e que ali- espaço para formas menos convencionais ou nada con-
menta a cegueira, todavia se cala diante das injustiças. vencionais (sugerimos estudar os poemas concretos),
É possível identificar que, nesse ponto, ele parece não que abandonaram a métrica e adotaram o verso livre,
se conformar com o silêncio dos negros, pois afirma que nos quais a palavra e seus significados são o substrato do
são livres, mas que tem os pés fincados na senzala. Isso, poema e dependem completamente de interpretação
para ele, é uma dor que mata, que deixa o mundo pa- do contexto.

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Portanto, o poema é um gênero textual que Energia, equilíbrio e movimento


apresenta delimitações, tal qual os demais gêneros do
universo literário. Mas para a poesia não existem limi- Nas Ciências Humanas, os conceitos de equilí-
tes, por isso, faz-se necessário estabelecer as diferenças brio e de movimento estão ligados a permanências e rup-
entre o poema e a poesia. A poesia depende da percep- turas, mudanças e desigualdades nas formações históri-
ção de quem lê um poema, de quem observa uma pin- cas, culturais e sociais, algo que é mostrado, por exemplo,
tura, de quem ouve uma música ou assiste a uma peça em O povo brasileiro (parte I): a matriz Tupi — documen-
de teatro ou a um filme. Diferente do poema, que existe tário de Isa G. Ferraz. Assim, torna-se importante discutir,
enquanto gênero textual, a poesia só existe se percebida no processo de construção do mundo ocidental, questões
– e sentida – pelo receptor. relativas às leis, como ocorre nas obras Ifigênia em Áulis,


de Eurípedes, Apologia de Sócrates, de Platão, e Carta a
Meneceu, de Epicuro, que podem ser lidas e contrastadas
com os textos do Artigo 5.º da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, Este mundo da injustiça glo-
Citações da Obra na Matriz de Referência balizada, de José Saramago, Oração dos desesperados,
de Sérgio Vaz, e com a palestra O risco da história única,
O ser humano como um ser no mundo de Chimamanda Adichie. Nesse sentido, a peça A advo-
gada que viu Deus, o Diabo e depois voltou para a Terra,
Entre a plasticidade do mundo e os conjuntos do grupo G7, debate a subversão da ordem e a busca do
de suas possibilidades, os seres humanos despertam para equilíbrio jurídico da sociedade, questionando as formas
um mundo existente e para si mesmos, com a possibilida- pelas quais é buscado. De maneira análoga, algumas
de de se tornar, portanto, responsáveis pelos seus proje- bases em que se equilibra nossa estrutura social podem
tos de vida e pelas intervenções que venham a realizar, no ser questionadas a partir do vídeo La mujer sin miedo, de
intuito de transformar as realidades particulares e coleti- Eduardo Galeano (Página 16, sexto parágrafo)
vas, como se apreende do poema Oração dos desespera-
dos, de Sérgio Vaz. (Página 3, sexto parágrafo) Ambiente

Indivíduo, cultura e identidade Cabe, ainda, perceber a relevância das relações


harmônicas e desarmônicas, intra e interespecíficas, que
O indivíduo também é sujeito e produto de um se estabelecem entre os seres e na diversidade de relações
contexto social mais amplo. É um ser histórico inserido no em diferentes circunstâncias e momentos históricos, le-
processo de formação das identidades nacionais ociden- vando-se em conta a dinâmica das populações humanas.
tais, da identidade brasileira e de suas relações com as Sobre esse aspecto, vale lembrar que os documentários A
transformações científicas, culturais, religiosas, tecnoló- rota do escravo: a alma da resistência e Atlântico Negro
gicas, artísticas e literárias. A obra Brasiliana, de Cláudio – na rota dos Orixás se referem a questões importantes
Santoro, é um exemplo desse embate, pois revela caracte- sobre as formas significativas da composição populacio-
rísticas do nacionalismo em música. Essas transformações nal mundial e também de aspectos significativos do Brasil,
e alguns aspectos que contribuem para a compreensão do como especificamente trata o documentário O povo Brasi-
indivíduo como ser social inserido em um grupo podem leiro: a matriz Tupi. Muitas destas relações geram impac-
ser observados na leitura de Este mundo da injustiça glo- to conflitivo entre as ações humanas, em grandes propor-
balizada, de José Saramago, e na Oração dos desespera- ções, como apontam o texto Oração dos desesperados,
dos, de Sérgio Vaz. (Página 7, segundo parágrafo) de Sérgio Vaz, o vídeo La mujer sin miedo, de Eduardo
Galeano, e, ainda, a palestra O risco da história única, de
Estruturas Chimamanda Adichie (Página 19, quarto parágrafo)
O objetivo da abordagem da língua não se res- A formação do mundo ocidental
tringe ao domínio da norma padrão, uma vez que busca
comportamentos linguísticos conscientemente adequados Além disso, é indispensável a abordagem dos
às variadas situações de uso. O acesso à norma padrão elementos relativos à história dos diversos povos africa-
convive, assim, com o respeito às demais variedades lin- nos, às características dessa imigração e sua influência
guísticas, reconhecendo-se os valores associados a cada no processo de formação do sistema colonial na América
uma das formas de comunicação e de expressão. Obras Ibérica, particularmente no Brasil, como problematiza o
propostas para a leitura nesta etapa, como Este mundo poema Oração dos Desesperados, de Sérgio Vaz. Devem-
da injustiça globalizada, de José Saramago, e Oração dos -se valorizar, portanto, as heranças materiais, culturais
desesperados, de Sérgio Vaz, exemplificam níveis diferen- e, sobretudo, intelectuais africanas (elementos ligados a
tes de elaboração. (Página 14, segundo parágrafo) técnicas de agricultura, mineração e metalurgia), assim
como a influência da religiosidade e da musicalidade na
formação cultural brasileira, ou seja, como se operou o

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sincretismo religioso entre as culturas indígenas, africa-


nas e europeias. Essas questões são abordadas no docu-
mentário Atlântico Negro – na rota dos Orixás. (Página
21, oitavo parágrafo)

Número, grandeza e forma

Por sua origem e por suas características, os


poemas estão muito ligados à música. Em geral, cada pa-
lavra tem seu papel não apenas por seu significado, mas
por seu ritmo, pela sua sonoridade, pela forma como se
relaciona com as outras palavras. Movimento, ritmo e for-
ma também podem ser observados nas obras O velho da
horta, de Gil Vicente, Poemas selecionados, de Gregório
de Matos, e Oração dos desesperados, de Sérgio Vaz. (Pá-
gina 23, quinto parágrafo)

Espaços

A sugestão da leitura de [...] Oração dos deses-


perados, de Sérgio Vaz [...] complementam esforços para
pensar o Brasil, sua formação sócio-histórica e espacial, e
todas as desigualdades vinculadas a estes processos. (Pá-
gina 25, sétimo parágrafo)

Materiais

As disputas por recursos materiais constituem


permanência na história ocidental, provocam rupturas
— guerras, conflitos e exploração nas sociedades e en-
tre povos. O poema Oração dos desesperados, de Sérgio
Vaz, expressa aspectos críticos relacionados a essa per-
cepção, também presentes nos documentários A rota do
escravo: a alma da resistência (Slave Route: The Soul of
Resistance), produzido pela Unesco e dublado pelo Centro
de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC), e
Atlântico Negro – na rota dos Orixás, de Renato Barbieri.
No período de expansão marítima europeia, o foco volta-
va-se para as diferenças entre as culturas materiais dos
povos africanos, europeus e indígenas, algo que pode,
também, ser observado em O povo brasileiro (parte I): a
matriz Tupi — documentário de Isa G. Ferraz. (Página 27,
segundo parágrafo)

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Artigo 5º da Constituição da República Fe-
derativa do Brasil de 1988

Autoria
​​A Constituição Federal de 1988 não tem um Quércia, Mario Covas, Fernando Henrique Cardoso, Luís
autor, ou seja, não existe uma pessoa a quem podemos Inácio Lula da Silva e Franco Montoro, e liderou várias
atribuir a sua autoria. Na verdade, tem centenas ou mi- campanhas em prol da democracia, como a das eleições
lhões de autores, de pessoas que provocaram a origem diretas (Diretas Já). Ele foi o presidente da Assembleia
deste documento que mudou completamente o futuro Nacional Constituinte, o principal articulador para que
do Brasil. Alguns desses autores já não estão mais vivos, a Constituição fosse tão diversificada e tivesse a partici-
mas a maioria deles ainda vive e desfruta dos benefícios pação de tantas vozes da sociedade. Por essa razão, ele
que ela trouxe ao país, sejam eles parlamentares mem- mesmo a chamou de Constituição Cidadã, apelido que
bros da Assembleia Nacional Constituinte ou cidadãos pegou e é citado até os dias de hoje, pois a Constituição
ativistas pela democracia participativa Federal de 1988 teve, de fato, participação popular na
sua elaboração.
Os autores da Constituição Federal de 1988 se
dividem em dois grupos: o das centenas de deputados Contexto
e senadores integrantes da Assembleia Nacional Consti-
tuinte e o grupo dos milhões de cidadãos brasileiros que Ao longo da história, o Brasil teve sete consti-
clamavam e lutavam por uma nova Constituição para o tuições, sendo a primeira data de 1824 e foi outorgada
Brasil, pela volta de uma democracia realmente partici- por D. Pedro 1º durante o Império, e a última de 5 de
pativa. outubro de 1988. Em 1891, após a Proclamação da Re-
pública (1889), foi promulgada a primeira Constituição
Enquanto um grupo ficava pelas ruas promo- Republicana brasileira, que adotou o sistema de governo
vendo debates, protestando e lutando durante o fim do presidencialista, a eleição do chefe de Estado por voto
governo militar e o início do governo Sarney, o outro gru- direto e a divisão entre o Poder Legislativo (Câmara dos
po debatia, negociava e escrevia a Constituição dentro Deputados e Senado Federal), o Poder Executivo e o Po-
do Congresso Nacional. der Judiciário. A partir daí tivemos constituições em di-
versos regimes, tanto democráticos quanto ditatoriais.
Cabe explicar que uma Assembleia Nacional
Constituinte é um instrumento genérico utilizado pelas O texto constitucional foi elaborado a partir de
nações que estão em processo de transição de regime, propostas tanto dos deputados e senadores quanto da
geralmente de um regime ditatorial para um regime de- população, por intermédio de audiências públicas com
mocrático. No caso da ANC do Brasil, tinha a função de representantes de movimentos sociais. Foi a primeira
transformar o país numa nação democrática, a sua com- vez na história do Brasil que a população participou di-
posição era de 559 parlamentares, 487 deputados e 72 retamente da elaboração da sua própria Constituição.
senadores que foram eleitos nas eleições gerais de 1986, E dessa vez foi importante não só porque foi a primei-
essas pessoas acumularam a posição de parlamentares ra, mas também porque rompia com a Constituição de
com a de constituintes. 1967, a que embasou o regime militar e deu legalidade
a atos institucionais trágicos e mortais para milhares de
Ainda sobre a autoria da Constituição, apesar pessoas.
de não ter havido um ou dois autores, alguns dos consti-
tuintes presentes na elaboração do documento se desta- A ideia de uma nova Constituição já estava nos
caram, e, muitos deles, até hoje, são destaques no cená- anseios da população desde o início do regime militar,
rio político nacional. Na verdade, o momento inicial da em 1964, porém após a abertura política, com a eleição
redemocratização do país foi um ponto de partida para a de Tancredo Neves, essa ideia estava se tornando cada
carreira política de vários ativistas sociais, tanto é verda- vez mais real. No entanto, Tancredo morreu antes mes-
de que a maioria dos presidentes que foram eleitos após mo de tomar posse, então José Sarney assumiu a pre-
1988 estava presente na ANC. sidência e sob bastante pressão popular e parlamentar
deu prosseguimento a essa ideia, convocando e instalan-
Um desses constituintes carece de destaque do a Assembleia Nacional Constituinte brasileira.
especial para a prova do PAS, que é Ulysses Guimarães.
Advogado e político, foi um dos principais opositores ao A Assembleia Nacional Constituinte Brasileira
regime militar. Inicialmente apoiou o regime militar, mas era composta por deputados de todos os setores da so-
após um tempo passou a lutar pelo retorno da democra- ciedade e começou oficialmente as suas atividades em
cia. Juntou-se a políticos como Tancredo Neves, Orestes primeiro de fevereiro de 1987, apesar de ter sido convo-

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cada no ano anterior. A sua função era a de representar os daí decorrentes, como, por exemplo: a liberdade de
os milhões de brasileiros que queriam a volta da demo- imprensa, os direitos dos povos quilombolas de viverem
cracia após 21 anos de governo militar. A nova constitui- nas suas terras de origem, o direito à saúde e educação,
ção tinha que ser democrática, mas também deveria ser são exemplos dos direitos que a Constituição resguardou
forte o suficiente para resistir às pressões da instabilida- com muito cuidado, os quais contribuíram para que os
de política que assombrava o Brasil há décadas. direitos fossem garantidos não apenas no papel, mas na
prática também, isto é, de maneira substancial.
Notadamente, 3 grandes grupos foram espe-
cialmente representados nas discussões ao longo dos 20 Muitos criticam a Constituição Federal do Bra-
meses de trabalho da Assembleia Nacional Constituinte sil por ser muito extensa, por ser teórica demais e por
brasileira, a saber: o grupo governista, que objetivava a diversas outras razões, no entanto é unânime entre os
manutenção do sistema presidencialista e a conquista de operadores do direito que é uma das constituições mais
cinco anos de mandato para o presidente Sarney, ambos avançadas do mundo, tanto por ser bem recente, quan-
conquistados; o grupo empresarial, subdividido pelos to pelo seu grau de abrangência, e, consequentemente,
empresários rurais, empresários nacionais e empresá- pela justiça social que ela produz.
rios estrangeiros, o qual planejava evitar avanços na Re-
forma Agrária, garantir a liberdade de mercado, reduzir Apesar disso, ainda cabe destaque para algo
impostos e a interferência do Estado na economia; e o que a Constituição de 1988 fez com excelência, na qual
grupo dos movimentos sociais, destaques para os movi- foi inserida na prática uma das características de quase
mentos MST — Movimento dos Sem-Terra, CUT — Cen- todas as constituições contemporâneas, que é dar um
tral Única dos Trabalhadores, CGT — Confederação Ge- tratamento especial para os direitos e garantias funda-
ral dos Trabalhadores e demais sindicatos, entre outros mentais do cidadão que estiver sob a tutela da República
movimentos os quais foram representados por diversas Federativa do Brasil. Logo, a C.F garante os direitos e
organizações que reuniam assinaturas em todo o territó- deveres individuais e coletivos (objeto desta análise), os
rio nacional e delineavam a transformação do Brasil num direitos sociais, os direitos da nacionalidade, os direitos
país com uma maior justiça social, em que a distribuição políticos e dos partidos políticos.
de renda fosse mais justa e que o princípio da dignidade
da pessoa humana fosse levado em consideração. Vale Sendo assim, estamos diante de uma Cons-
ressaltar que esse princípio já havia sido defendido pela tituição que, de forma positiva, trata de questões im-
Declaração Universal dos Direitos Humanos e foi profun- portantíssimas para o exercício da cidadania por todos
damente adotado na Constituição Federal de 1988. aqueles que o desejarem.

Diante de tal contexto, após longos 20 meses Os direitos individuais e coletivos estão no
de calorosos e irrestritos debates sobre os mais diver- título II, capítulo I, em todo o artigo quinto. No artigo
sos temas possíveis, em cinco de outubro de 1988 surgiu quinto foram colocados os direitos e deveres individuais
a Constituição Federal, a sétima constituição de toda a relacionados à vida, à intimidade, à igualdade, à proprie-
história do país, e a única que foi de fato debatida com dade e à segurança.
a participação de toda a sociedade. Há até mesmo es- Antes de adentrarmos à análise do artigo
pecialistas que dizem que o momento da elaboração da quinto, cabe mencionar que os direitos e garantias fun-
CF 1988 é especialmente único, porque é considerado damentais, individuais e coletivas, têm um histórico de
como um momento único na história do Brasil, pois per- evolução. Eles são divididos cronologicamente em três
mitiu a todos os setores da sociedade a participação na grupos, sendo os direitos civis e políticos da primeira ge-
elaboração do documento que dirigiria toda a socieda- ração; os direitos sociais, econômicos e culturais da se-
de dali para frente, ricos e pobres, negros e brancos, li- gunda; e os direitos difusos e coletivos da terceira.
berais e comunistas, de esquerda e de direita falaram,
discutiram, expuseram suas ideias, brigaram, e, ao final, Os direitos de primeira geração correspondem
votaram de forma livre para a construção do Brasil que a limitações do Estado em relação ao cidadão. Estão no
temos hoje. contexto do início do Estado de Direito e Liberal. São
exemplos o direito à liberdade, propriedade, vida e se-
Obra gurança. Na prática, esses direitos funcionam como uma
prestação negativa do Estado, na qual o cidadão fica pro-
O principal objetivo da Constituição Federal tegido de abusos e arbitrariedades.
de 1988 era o retorno da democracia e, assim, da ga-
rantia dos direitos que tinham sido suprimidos pelo regi- Os direitos de segunda geração correspondem
me militar durante dolorosos 21 anos, podemos citar os à melhora das condições de vida e de trabalho da popu-
direitos sociais, econômicos, políticos, culturais e todos lação. Estão no contexto do início do Estado Social. São

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exemplos a proteção ao trabalho e à velhice. Na práti- não apenas para os brasileiros, mas também para os es-
ca, esses direitos constituem uma prestação positiva, na trangeiros.
qual o Estado não pode se abster de tais obrigações.
A partir da análise apresentada, façamos algu-
Os direitos de terceira geração correspondem mas considerações sobre os principais direitos. Mas an-
aos direitos coletivos. Estão no contexto do Estado De- tes, é fundamental mencionar duas coisas: uma que os
mocrático de Direito. São exemplos a proteção ao meio direitos por serem fundamentais não se confundem com
ambiente, à qualidade de vida saudável, à paz, autode- serem absolutos, pois existem situações que esbarrarão
terminação dos povos e a defesa do consumidor, da in- em outros direitos fundamentais e deverá ter o equilí-
fância e juventude. Esses direitos são denominados tran- brio diante de uma situação concreta para saber qual
sindividuais ou difusos, tratam-se de necessidades que deve ser preservado; e a outra é que os direitos não são
toda a sociedade tem. renunciáveis, ou seja, o titular deles pode até não exer-
cê-lo, todavia em hipótese alguma pode renunciar a sua
Nessa conjuntura, sem tentar esgotar as consi- titularidade.
derações sobre o artigo, vamos à análise.

Como já foi dito, o artigo 5º da Constituição Direito à vida


Federal de 1988 trata das garantias e direitos funda-
mentais que cada cidadão dispõe, especificamente dos O direito à vida é o mais fundamental dentre
direitos e deveres individuais e coletivos. É considerado os direitos, já que sem ele nenhum outro existiria. Ele re-
pela maioria dos constitucionalistas como o artigo mais fere-se à integridade física e moral, ou seja, uma pessoa
importante de toda a Constituição, apesar de não haver não pode ser torturada, exposta a humilhações e nem
hierarquia entre eles. ter sua vida tirada por outra pessoa. A vida deve ser ga-
rantida. E a vida para a Constituição Federal não se res-
Os direitos fundamentais foram surgindo len- tringe às pessoas nascidas, estende-se para aqueles que
tamente, mas todos têm o objetivo único de assegurar ainda estão no útero.
às pessoas a possibilidade de ter uma vida digna, livre
e igualitária. Eles estão por todo o texto constitucional, Direito à Liberdade
mas, de maneira explícita, apenas no artigo 5º.
Este é um dos principais direitos da primeira
O artigo 5º é dividido em 78 incisos, quatro geração, pois foi por meio da liberdade que os demais
parágrafos e o caput. Nele, são garantidos muitos direi- direitos foram conquistados. Hoje, o cidadão tem o di-
tos, contudo os principais são direto à vida, à liberdade, reito de ir e vir, praticar sua religião sem ser censurado
à igualdade, à moradia e à segurança. Também é dado a e expor suas opiniões contra alguém, desde que possua
todo brasileiro, segundo os registros, o direito de exercer argumentos e justificativas para tal. Convém mencionar
os cultos religiosos, seja qual for sua religião; o benefício que a liberdade não é sem restrições, já que existem si-
de trabalho, dentre outros. Por fim, demonstra que todo tuações em que o cidadão não pode ir e vir livremente.
cidadão é livre e pode recorrer à justiça, quando for ne-
cessário, sem sofrer represália. Direito à Igualdade

A Constituição propriamente dita é importan- Garante que todos são iguais perante a lei e,
tíssima para qualquer cidadão, mas o artigo quinto é es- portanto, não devem ocorrer discriminações de qual-
sencial, pois somente assim é possível ter conhecimento quer tipo. Essa igualdade pode ser classificada de duas
sobre os direitos e garantias que se tem e que se pode formas:
exigir do Estado. • Igualdade Formal - quando os indivíduos são trata-
dos de maneira igual perante a lei, tem sentido de
Por ser um artigo demasiadamente grande, que homens e mulheres são classificados em direitos
não será transcrito na íntegra para esta análise, o que e obrigações de acordo com a lei, sem qualquer con-
não exclui a sua leitura, mesmo assim será colocado o sideração sobre as particularidades de cada um.
caput. Vejamos: • Igualdade Material - quando os mais fracos recebem
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer na- um tratamento diferenciado a fim de aproximá-los
tureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros resi- dos mais fortes, ou seja, o Estado deve tratar os po-
dentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, bres, os desiguais, dentre outros grupos, de maneira
à igualdade, à segurança e à propriedade. especial de acordo com a situação. Prevalece o famo-
so ditado: deve-se tratar os iguais de maneira igual e
É possível perceber de imediato que se trata os desiguais de maneira desigual.
de um artigo o qual estende os direitos nele elencados

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Direito à Segurança
Garante a segurança pública para todos. Posto
isso, na lei devem ser definidos os crimes e as penalida- Citações da Obra na Matriz de Referência
des para quem os comete. Essa segurança se refere não
somente a policial, mas a jurídica. Uma pessoa só pode O ser humano como um ser no mundo
ser presa em flagrante ou por ordem judicial, caso con-
trário, a prisão será considerada ilegal. Questões como “quem sou?”, “quem somos
nós?”, “o que posso e o que podemos fazer?” encontram
Direito à Propriedade no Artigo 5º da Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988 contribuições para a discussão e a com-
Os cidadãos têm direito à propriedade particu- preensão do ser humano inserido no mundo e em seu or-
lar. Entretanto, é indispensável lembrar que a proprieda- denamento jurídico, assim como no texto Este mundo da
de não pode ser usada indistintamente, e sim de manei- injustiça globalizada, de José Saramago. (Página 3, séti-
ra que atinja uma finalidade social. mo parágrafo)

Por fim, estamos diante de um artigo que de- Indivíduo, cultura e identidade
monstra para que veio esta nossa constituição. Ela não é
perfeita, não resolve todos os problemas, não está com- Nos grupos humanos, o indivíduo desenvolve
pleta, todavia tem ferramentas suficientes para que a so- papéis de acordo com normas, regras e valores. No Arti-
ciedade decida aonde quer chegar, como quer chegar e go 5º da Constituição da República Federativa do Brasil
de que forma fará para chegar nos seus objetivos, sejam de 1988, bem como nas obras Apologia de Sócrates, de
eles individuais ou coletivos. Platão, La mujer sin miedo, de Eduardo Galeano, e Carta
a Menelau, de Epicuro, há uma série de elementos para
se pensar a respeito desses aspectos. (Página 6, sexto pa-
Gênero e/ou Estrutura rágrafo)
A Constituição Federal de 1988 está dividida
em títulos que se dividem de acordo com as atribuições Energia, equilíbrio e movimento
de seus artigos.  Cada título apresenta artigos referentes
Nas Ciências Humanas, os conceitos de equilí-
a determinada área, ou princípio, para que seja mais fácil
brio e de movimento estão ligados a permanências e rup-
subdividir todas as características que regulamentam a
turas, mudanças e desigualdades nas formações históri-
sociedade brasileira a partir daquele momento. Os títu-
cas, culturais e sociais, algo que é mostrado, por exemplo,
los são:
em O povo brasileiro (parte I): a matriz Tupi — documen-
Título I – Princípios Fundamentais tário de Isa G. Ferraz. Assim, torna-se importante discutir,
no processo de construção do mundo ocidental, questões
Título II – Direitos e Garantias Fundamentais relativas às leis, como ocorre nas obras Ifigênia em Áulis,
de
Título III – Organização do Estado
Eurípedes, Apologia de Sócrates, de Platão, e
Título IV – Organização dos Poderes Carta a Meneceu, de Epicuro, que podem ser lidas e con-
trastadas com os textos do Artigo 5.º da Constituição
Título V – Defesa do Estado e das Instituições Democrá- da República Federativa do Brasil de 1988, Este mundo
ticas da injustiça globalizada, de José Saramago, Oração dos
desesperados, de Sérgio Vaz, e com a palestra O risco da
Título VI – Tributação e Orçamento história única, de Chimamanda Adichie. Nesse sentido, a
peça A advogada que viu Deus, o Diabo e depois voltou
Título VII – Ordem Econômica e Financeira
para a Terra, do grupo G7, debate a subversão da ordem
Título VIII – Ordem Social e a busca do equilíbrio jurídico da sociedade, questionan-
do as formas pelas quais é buscado. De maneira análo-
Título IX – Disposições Constitucionais Gerais ga, algumas bases em que se equilibra nossa estrutura
social podem ser questionadas a partir do vídeo La mujer
sin miedo, de Eduardo Galeano (Páginas 16 e 17, sexto
parágrafo)

Ambiente

Nesta etapa, a reflexão a respeito de ambiente


deve ter como foco a sustentabilidade, pois, como espécie

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e como seres socio-históricos, os humanos muitas vezes


adotam comportamentos e atitudes que devem ser rea-
valiados devido à repercussão que alcançam. Portanto,
somente a viabilização de um desenvolvimento susten-
tável, que considere a produção e o consumo e que pre-
serve a base ecológica e a justiça social pode oferecer
condições dignas para a vida. A leitura do Artigo 5.º da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
pode estimular a reflexão a respeito de princípios funda-
mentais da cidadania e dos direitos humanos. (Página
18, primeiro parágrafo)

Número, grandeza e forma

Inserem-se, ainda, neste objeto de conheci-


mento os problemas de aplicação dos princípios da di-
visibilidade de números inteiros, entre outros em que se
aplicam raciocínios lógicos elementares e os que envol-
vem a matemática financeira — como aplicação de con-
ceitos relativos às progressões geométricas em cálculos
de juros compostos, financiamentos ou prestações — to-
dos necessários para ações comuns da vida cotidiana.
Tornam-se conhecimentos fundamentais na construção
da cidadania na sociedade de consumo, sem os quais
os direitos e as garantias de liberdade civil podem não
ocorrer em sua plenitude. Em relação a esses direitos,
cabe ressaltar a importância da leitura do Artigo 5.º da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
(Páginas 23 e 24, oitavo parágrafo)

Espaços

A sugestão da leitura do Artigo 5.º da Cons-


tituição da República Federativa do Brasil de 1988 e
das obras Atlântico negro – na rota dos Orixás, de Re-
nato Barbieri, Oração dos desesperados, de Sérgio Vaz,
e A rota do escravo: a alma da resistência (Slave Route:
The Soul of Resistance) — documentário produzido pela
Unesco e dublado pelo Centro de Informação das Na-
ções Unidas para o Brasil (UNIC) — complementam es-
forços para pensar o Brasil, sua formação socio-histórica
e espacial e todas as desigualdades vinculadas a esses
processos. (Página 25, sétimo parágrafo)

Questões, Justificativas e Dicas


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Anotações e Rascunhos

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Combate à terra seca, de Yuri Vasconcelos,
publicado na Revista FAPESP

Autoria e Contextualização
A obra é um texto de divulgação científica da Por meio da pesquisa divulgada pela presente
pesquisa de dois autores que, no entanto, tratam apenas obra, é possível perceber uma das várias iniciativas em
de um tema: o combate à terra seca. Quem deu publici- curso que buscam desenvolver tecnologias nesse senti-
dade à pesquisa científica foi o jornalista Yuri Vasconce- do. E é um caso de sucesso, diga-se de passagem. É algo,
los por meio da edição 248 de outubro de 2016 da revis- inclusive, já comercialmente tangível, apesar de que pre-
ta FAPESP. Os autores da pesquisa divulgada são Rodrigo cisa aumentar a escala para se ter uma viabilidade mais
César Sabadini, doutorando à época da pesquisa, e Ag- palpável na vida de pequenos e grandes agricultores que
nieszka Joanna Pawlica Maule, sua orientadora. possam se interessar a fazer uso.

Rodrigo César Sabadini possui graduação em O resultado da pesquisa foi o desenvolvimento


Química pela Universidade Federal de São Carlos (2009), de um hidrogel diferente dos demais disponíveis e utili-
Licenciatura pela Universidade Cruzeiro do Sul (2017) e é zados atualmente no mercado.
doutor em ciências pela Universidade de São Paulo (USP)
(2015). A sua principal atuação é na pesquisa de hidrogé- Hidrogéis são macromoléculas tridimensionais formadas
por polímeros hidrofílicos, os quais são entrecruzados para
is e liberação controlada da solução no solo, dispositivos
manter sua estrutura. Quando expostos a água apresentam
eletrocrômicos, filmes finos e eletrólitos sólidos polimé- grande absorção, porém sem sofrer a dissolução. (SABADINI,
ricos. 2015)

Atualmente, o seu principal enfoque é na pes- Em outras palavras, hidrogéis são uma rede de
quisa de redes poliméricas de macromoléculas naturais polímeros, que, no caso da agricultura, são granulados
financiada pelo CNPq (Conselho Nacional de Desen- para a utilização na mistura com a terra quando do plan-
volvimento Científico e Tecnológico). O seu projeto de tio. Já são largamente utilizados, por isso são importan-
pesquisa propõe a preparação e caracterização de redes tíssimos, já que têm a capacidade de reter água e libe-
poliméricas a partir de polissacarídeos para a possível rá-la para a planta na medida da sua necessidade pelo
aplicação como géis e hidrogéis, matrizes para liberação processo natural de osmose, tanto após chuva ou após
de fármacos, biosensores ou substratos para germinação irrigação.
de sementes.
Ocorre que os hidrogéis usados atualmente
O tema central da obra é a economia no uso têm um impacto negativo sobre a natureza quando a raiz
de água pela agricultura sem perder a eficiência e pro- da planta sulga toda a água, utilizando completamente
dutividade, elementos tão importantes para um país as partículas de granulados depositadas no solo, logo
que tem uma economia tão dependente do campo. A causa problemas no solo, em rios e em outros aspectos
importância da pesquisa também se dá porque a ativi- da natureza, já que os polímeros utilizados são sintéti-
dade agropecuária é a que mais consome água no Brasil. cos. Os polímeros sintéticos são derivados do petróleo
Segundo pesquisa de 2017 do IBGE, este setor produtivo (assim como o plástico) e, como se sabe, seu descarte
responde à 97,4% do consumo total de água no país. gera um impacto bastante negativo para o ecossistema
devido à lentidão do processo de decomposição do ma-
O Brasil é um país de extensão continental e
terial, resultando em séria poluição ambiental.
isso traz muitas coisas boas, mas também carrega con-
sigo algumas adversidades. Enquanto em alguns locais O hidrogel desenvolvido na pesquisa tem
se explora a abundância de água, em outros se sofre como foco quebrar este paradigma, pois utiliza como
por escassez. Não bastasse isso, nos locais em que têm base polímeros naturais e biodegradáveis.Esse é o seu
água suficiente para o uso e plantio, torna-se difícil e, grande diferencial, que, inclusive, rendeu uma patente
muitas vezes, economicamente inviável a manutenção ao seu idealizador.
de cultivo de certas espécies pelo alto custo e frequência
da irrigação, dado que nem sempre as chuvas são sufi- Essa iniciativa faz parte de um movimento de
cientes para o necessário desenvolvimento do plantio. diversas áreas da ciência, em especial da biotecnologia,
Dessa forma, são extremamente urgentes e necessárias de buscar novas formas de fazer as mesmas coisas de
tecnologias que auxiliem na minimização do problema maneira mais eficiente, econômica e ambientalmente
da escassez nos locais que assim se caracterizam, e tam- viável.
bém que aumentem a eficiência nos locais em que se
tem abundância.

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A agricultura moderna tem buscado cada vez mais o aumen- cultura. “A maior parte da pesquisa e desenvolvimento
to na qualidade e produção de alimentos, o que resulta em desses materiais se baseia na utilização de polímeros
um impacto considerável no consumo de água, fertilizantes, sintéticos. A vantagem dos nossos é que eles são biode-
pesticidas, etc. O aumento da população mundial, assim
gradáveis, não deixam resíduos”, explica a química Ag-
como altos preços dos combustíveis fósseis e a escassez de
água são fatores limitantes, o que torna imprescindível a oti- nieszka. “Os sintéticos, além de se acumularem no am-
mização e melhoria dos sistemas de produção agrícolas. biente, por não se degradarem naturalmente, podem ser
lixiviados para rios e cursos d’água. E seus resíduos de
Assim, os hidrogéis de produtos naturais monômeros de acrilatos podem ser tóxicos para o solo e
são uma ótima solução para uma pequena parcela dos os rios.”Lixiviação é o processo de extração de uma subs-
problemas relacionados à água, tanto em regiões com tância (no caso, os acrilatos) de um meio sólido (o solo
abundância – na medida em que serve para utilizar a ir- das lavouras) por sua contínua dissolução. Os hidrogéis
rigação com menor frequência - quanto em regiões com comerciais sintéticos podem reter água por um período
escassez - na medida em que os granulados de hidrogel de três meses a um ano. Segundo Sabadini, ainda não
podem ser amplamente utilizados no plantio e, nas raras foram feitos testes de durabilidade do hidrogel biodegra-
chuvas, podem durar mais tempo na absorção da água dável.
pela planta.
Para tornar realidade o projeto de um novo hi-
Desta maneira, buscando maior eficiência na produção agrí- drogel, Sabadini desenvolveu e testou durante seu dou-
cola, os hidrogéis tornam-se uma boa opção para melhorar o torado várias fórmulas, entre elas uma composta por
aproveitamento e uso de água, assim como de reduzir o uso quitosana e goma gelana. “O processo de obtenção e pu-
de fertilizantes.
rificação da quitosana, extraída da casca de crustáceos, é
Por conseguinte, toda essa incrível pesquisa simples”, diz o pesquisador. A goma gelana, por sua vez,
é o resultado da necessária busca pela sustentabilidade é gerada por bactérias que vivem na raiz de uma planta
em todos os setores da sociedade, visto que durante sé- aquática, chamada elodea. Produzida em meio de cultu-
culos as indústrias exploravam recursos como se fossem ra de laboratório, a goma está disponível comercialmen-
ilimitados e imparáveis. Por essa razão, hoje temos que te e foi escolhida pelo alto poder de absorção de água.
lidar com situações de escassez em vários setores da so-
ciedade, sem falar no encarecimento de produtos escas-
Esponja molhada
sos. Fazem-se necessárias, portanto, mais pesquisas nes- Tanto os hidrogéis sintéticos quanto os natu-
se sentido, já que é possível aplicar a sustentabilidade rais são semelhantes aos usados na fabricação de fral-
em praticamente tudo que se faz na sociedade. das infantis e absorventes íntimos femininos. Na versão
agrícola, os géis podem ter diferentes formatos. Quando
Obra seco, o polímero superabsorvente criado na USP pare-
Combate à terra seca ce caco de plástico pouco maleável. Ao ser molhado,
assemelha-se a uma esponja encharcada. Já o polímero
Um dos desafios da agricultura moderna é gas- hidrorretentor comercial Hydroplan-EB, do grupo fran-
tar menos água no campo sem perder a produtividade, cês SNF, líder mundial na fabricação de poliacrilatos, é
objetivo esse que pode contar com a contribuição tec- um produto granulado, com diferentes tamanhos de
nológica de polímeros com alta capacidade de absorção partículas, que assume a forma de um gel transparente
e retenção de líquidos. O químico Rodrigo César Saba- depois de hidratado. A empresa francesa exporta o pro-
dini desenvolveu durante o seu doutorado no Instituto duto para o Brasil de uma de suas fábricas nos Estados
de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo Unidos. No mundo, as empresas Evonik, Sanyo e Basf
(IQSC-USP), com orientação de Agnieszka Joanna Pawli- também fabricam hidrogéis.
ca Maule, um hidrogel superabsorvente para uso em la-
vouras cultivadas em solos áridos que sofrem com a seca “O gel distribuído pela Hydroplan-EB é um co-
ou em plantações irrigadas, reduzindo o consumo de polímero de acrilato de potássio e acrilamida e funcio-
água. Misturado ao solo, o produto tem capacidade de na como um reservatório junto às raízes, armazenando
absorver grande quantidade de água – da chuva ou da ir- água e o que nela estiver dissolvido, como defensivos e
rigação –, servindo como uma reserva hídrica em perío- fertilizantes”, explica o engenheiro químico Loremberg
dos de estiagem (ver infográfico). O hidrogel ou polímero Fernandes de Moraes, gerente comercial da Hydro-
hidrorretentor é feito a partir de polímeros naturais. A plan-EB. O produto pode absorver de 200 a 400 vezes
pesquisa rendeu um pedido de patente, relacionada à o seu peso e aumentar 100 vezes o tamanho. “As raízes
síntese do produto. da planta captam a água do gel por osmose, da mesma
forma que a capturam do solo.” Moraes destaca que a
Os hidrogéis foram criados nos anos 1950 nos grande vantagem da tecnologia é reduzir a frequência e
Estados Unidos e desde então têm sido usados na agri- o volume de água usado na irrigação. “Se em condições

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normais o agricultor precisa molhar a lavoura a cada dois sementes. Todas os potes receberam a mesma quanti-
dias, com o nosso gel ele repete a operação a cada três dade de água de uma só vez. “Depois de alguns dias foi
ou quatro dias”, afirma Moraes. observada a germinação das sementes que receberam
hidrogel apenas e hidrogel com fertilizante. Nas amos-
“As poliacrilamidas não são degradadas biolo- tras-controle, não houve germinação”, conta Sabadini.
gicamente, por isso, uma vez aplicadas ao solo sofrem
uma paulatina degradação ou dissociação por ação do As primeiras pesquisas no Brasil sobre a tec-
cultivo, dos raios ultravioletas do sol e de um contínuo nologia começaram a ser feitas por volta de 2000. Em
fracionamento, que gira em torno de 10% em solos princípio, os hidrogéis podem ser usados em qualquer
cultivados continuamente por meio dos implementos tipo de cultura agrícola ou florestal e em diferentes tipos
agrícolas”, explica Moraes. “A deterioração do polímero de solo. “Não existe limitação para a aplicação do pro-
ocorreu de forma acelerada. Em experimentos científi- duto, já que a ideia é prolongar a presença de água no
cos, durante três meses, o polímero foi colocado em so- solo ou promover sua fertilização. Mas eles seriam mais
luções que continham sais de cálcio, magnésio e ferro. bem aproveitados em terrenos áridos e arenosos, que
Esse tipo de deterioração também pode acontecer em não têm a capacidade de reter a água”, afirma Agnieszka.
solos adubados anualmente com fertilizantes comple-
tos.” Ele se baseia em estudos publicados na década de A Universidade Federal de Lavras (Ufla), em Mi-
1980, em artigos científicos de Reda Azzam, da Autorida- nas Gerais, desenvolve pesquisas sobre essa tecnologia
de de Energia Atômica, do Egito, e de pesquisadores do desde 2009. O engenheiro-agrônomo Rubens José Gui-
Instituto de Pesquisa em Horticultura, da Austrália, e da marães investiga os benefícios dos hidrogéis sintéticos
Universidade da Califórnia em Los Angeles. em plantações de café. O estudo tem o apoio do Consór-
cio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café, com
O Brasil, de acordo com Moraes, é o segundo sede em Brasília, e deu origem a quatro dissertações de
maior consumidor de hidrogéis para agricultura do mun- mestrado e uma tese de doutorado, que, segundo o pes-
do, atrás apenas dos Estados Unidos, onde o produto é quisador, confirmaram a eficácia do produto. Embora os
usado também em jardins. “Aqui, a principal aplicação hidrogéis sejam uma tecnologia consagrada, é importan-
dos géis superabsorventes é em plantações de eucalipto, te estabelecer parâmetros de seu uso, que varia confor-
que exigem muita água. Estimamos que a demanda do me a cultura, o solo, o clima e as características meteo-
produto pela agricultura gire em torno de 500 toneladas rológicas da região. O estudo também buscou identificar
por ano. Em uma plantação de eucalipto, por exemplo, a granulometria ideal do gel, que é o Hydroplan-EB, a
com cerca de 1.200 pés, são utilizados 1,5 quilo por hec- ser usado em cafezais, além da quantidade do produto
tare. O preço do Hydroplan-EB varia segundo o volume usada em cada pé, entre outras variáveis.
encomendado pelo produtor, mas fica entre R$ 25 e R$
30 o quilo”, esclarece Moraes. “A otimização da água com esse produto pode
ocorrer tanto em regiões de cafeicultura de sequeiro
O alto custo do hidrogel natural à base de [não irrigadas e com baixo índice pluviométrico] quanto
quitosana e goma gelana é, de acordo com Agnieszka em áreas irrigadas. No caso das lavouras de sequeiro, o
Maule, do IQSC-USP, a maior desvantagem da inovação. emprego do polímero pode garantir o ‘pegamento’ das
“Nossa matéria-prima tem um custo elevado em relação mudas enquanto a chuva não vem. Já nas plantações ir-
à dos polímeros sintéticos, cerca de 100 vezes maior. Es- rigadas, os hidrogéis permitem um tempo maior entre
peramos que as matérias-primas naturais tenham uma as irrigações”, esclarece Guimarães. “O produto pode
redução de preço à medida que a demanda por elas au- ser um aliado dos cafeicultores em períodos de estiagem
mentar”, avalia. Antes do início da fabricação comercial, prolongada, reduzindo as perdas.”
o produto ainda precisa passar por testes em pequena
escala. “Normalmente, os testes são desenvolvidos em Os estudos da Ufla mostraram que os pés de
parceria com empresas interessadas na produção ou café que tiveram adição do polímero hidrorretentor
com laboratórios de instituto de tecnologia. ” apresentaram uma evolução 10% maior do que os de-
mais. Outro resultado surpreendente foi o detectado nas
Alface e Café raízes, que cresceram 40% mais que as das plantas que
não receberam o produto. O hidrogel, segundo Guima-
Durante o desenvolvimento do produto, Saba- rães, deve ser utilizado para que o agricultor não perca
dini testou o hidrogel no plantio de alface a fim de avaliar as mudas e sementes plantadas em caso de estiagem.
sua eficácia. Sementes foram colocadas em pequenos Dessa forma o produto é uma garantia que a plantação
potes para germinar em substrato de casca de coco. Em vai prosperar mesmo na falta de chuvas. “O uso dos géis
alguns recipientes foram misturadas amostras de hidro- é uma opção viável porque as plantas têm facilidade em
gel seco e em outros, com fertilizante. Um terceiro lote extrair do polímero a água necessária para sua sobrevi-
foi montado com amostras-controle, somente com as vência. Isso foi evidenciado nos trabalhos que destaca-

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ram a evolução das raízes por dentro dos grânulos do meio de provas (exemplos, comparações, relações de
polímero hidratado, promovendo maior superfície de efeito e causa, resultados de experiências, dados estatís-
contato entre elas, a água e os nutrientes essenciais ao ticos), e uma conclusão.


crescimento da planta”, explica Guimarães.

Segundo o pesquisador, a tecnologia reduziu


a mortalidade dos pés de café e, consequentemente, o
percentual de replantio, uma prática que onera os custos Citações da obra na Matriz de Referência
da produção. “Mas outras tecnologias devem ser igual-
mente incentivadas, como o manejo adequado das plan- O ser humano como um ser no mundo
tas invasoras, a adubação verde, a irrigação localizada,
A perspectiva de um projeto de vida e do en-
entre outras práticas.”
tendimento da atitude existencial como realidades pelas
quais somos responsáveis consubstancia outros aspectos
Gênero e/ou Estrutura relevantes. Alguns relacionados aos projetos orientados
Observa-se que para cada tipo de mensagem para a coletividade, como se depreende do texto Alian-
que um emissor deseja transmitir, ele deve utilizar-se de ça no fundo do mar, de Carlos Fioravanti, publicado na
um gênero textual diferente. Nessa obra, o gênero tex- Revista FAPESP, edição 258, de agosto de 2017. Outros,
tual escolhido foi o de divulgação científica. por sua vez, vinculados a temas e problemas contempo-
râneos de caráter interdisciplinar que dizem respeito à
Um texto de divulgação de artigo científico é economia de água, com o intuito de sanar um problema
um gênero discursivo que transmite uma ideia de uma relevante sofrido por todos, descrito no artigo Combate
esfera específica da ciência para a comunidade em ge- à terra seca, de Yuri Vasconcelos, publicado na Revista
ral, na sua linguagem, ou seja, é por meio dos textos FAPESP, edição 248, de outubro de 2016. (Página 4, séti-
de divulgação científica que a sociedade em geral toma mo parágrafo)
conhecimento das pesquisas realizadas, que estão acon-
tecendo e que vão acontecer. Isso acontece, pois se os Tipos e Gêneros
cientistas fossem utilizar a linguagem científica da pes-
quisa também para a sua divulgação, somente as pes- Para que se torne crítico, reflexivo e atuante,
soas da área específica conseguiriam extrair as ideias o indivíduo deverá ser capaz de estabelecer interlocu-
transmitidas. Assim, para tornar acessível uma pesquisa ção com a diversidade textual que a sociedade produz,
científica, utiliza-se uma linguagem também acessível, de forma que possa proceder à análise crítica de textos
isto é, um texto de divulgação científica. em diferentes níveis de compreensão e de interpretação,
como construção social, estética e histórica do conhe-
Cabe mencionar que a popularização da ciên- cimento. Obras como O velho da horta, de Gil Vicente,
cia se deve a esse tipo de gênero textual. Ele é consi- Poemas Selecionados, de Gregório de Matos, e Combate
derado um dos principais instrumentosque possibilitam à terra seca, de Yuri Vasconcelos, publicada na Revista
tornar mais acessíveis conhecimentos, pesquisas e tec- FAPESP, edição 248, de outubro de 2016, exemplificam a
nologias que têm o potencial de ajudar a vida das pes- diversidade de tipos e de gêneros em épocas diferentes
soas em geral, dando suporte para o desenvolvimento e com distintos objetivos. (Página 9, quarto parágrafo)
econômico e social sustentável.
Estruturas
Um texto de divulgação científica tem algumas
características. Desse modo são caracterizados a presen- Ampliando o estudo e a interação dos seres vi-
ça necessária da impessoalidade, verbos predominante- vos entre si e deles com seu ambiente, é possível chegar
mente no presente do indicativo e na terceira pessoa, às estruturas no âmbito ecológico, categorizando-se os
uma vez que o autor expressa descobertas que fez sem diversos níveis de organização: população, comunidade,
deixar revelar suas marcas pessoais, e a não utilização biomas, biosfera. Por isso, é importante o reconhecimen-
de expressões demasiadamente coloniais, mas também to de que o ecossistema é o ambiente básico de interação
a não utilização de expressões demasiadamente científi- entre os seres vivos, de forma intra ou interespecífica, e
cas. Nesse sentido, trata-se de um texto acessível mes- de que a espécie humana é integrante dessa relação que
mo para quem for leigo no assunto. se dá no tempo e no espaço e na biosfera, pela qual so-
mos responsáveis, por meio do trabalho. As obras Com-
Quanto à estrutura de um texto de divulgação bate à terra seca, de Yuri Vasconcelos, publicada na Re-
científica, não há uma forma rígida. É expositiva e tem a vista FAPESP, edição 248, de outubro de 2016, e Aliança
única finalidade de transmitir conhecimentos de natu- no fundo do mar, de Carlos Fioravanti, publicada na Re-
reza científica a um público mais amplo. Tem uma ideia vista FAPESP, edição 258, de agosto de 2017, apresentam
central (afirmação dos conceitos), desenvolvimento por aspectos que constituem temas imprescindíveis para a

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construção da cidadania que podem estimular o empe- Desde a lascar a pedra (“período da pedra lascada” –
nho cada vez mais ativo na tarefa de garantir situações Paleolítico Superior) a dominar técnicas de plantio, os
de sustentabilidade. (Página 15, terceiro parágrafo) seres humanos começaram a modificar o meio natural.
A transformação, lenta e gradual, do meio natural em
Energia, Equilíbrio e Movimento meio técnico, cada vez mais artificializado, mais instru-
mentalizado, é marcada pelas mudanças nas relações
As formas de utilização da energia ajudam a sociais, especialmente na organização do trabalho. O
compreensão das tecnologias ao longo da História. A artigo Combate à terra seca, de Yuri Vasconcelos, publi-
qualidade de vida de uma sociedade está associada ao cado na Revista FAPESP, edição 248, de outubro de 2016,
acesso às diferentes fontes de energia e ao uso que se traz elementos para uma reflexão acerca das implica-
faz delas. A sociedade deve estar apta a desenvolver tec- ções relacionadas às ciências. Aliança no fundo do mar,
nologias de produção e de utilização de energia, relacio- de Carlos Fioravanti, artigo publicado na Revista FAPESP,
nando-as ao desenvolvimento econômico e tecnológico edição 258, de agosto de 2017, refere aspectos de mu-
e à qualidade de vida, de forma racional, para garantir danças nas relações naturais promovidas pela natureza.
o uso sustentável, que está vinculado a diversas políti- (Página 25, terceiro parágrafo)
cas — tecnológica, energética, organização no espaço e
gestão ambiental. Esses aspectos podem ser discutidos a Materiais
partir da leitura dos artigos presentes nas obras Comba-
te à terra seca, de Yuri Vasconcelos, publicada na Revista Outra característica dos materiais é a possibi-
FAPESP, edição 248, de outubro de 2016, e Aliança no lidade de ser transformados pela natureza e, também,
fundo do mar, de Carlos Fioravanti, publicada na Revista pela ação humana, como ilustra o artigo Combate à ter-
FAPESP, edição 258, de agosto de 2017 (Página 16, pri- ra seca, de Yuri Vasconcelos, da Revista FAPESP, edição
meiro parágrafo) 248, de outubro de 2016, transformações essas que, às
vezes, resultam em efeitos destrutivos. Há transforma-
Ambiente ções que são reações químicas e, nesse caso, interessa o
reconhecimento do princípio da conservação da matéria,
No mundo contemporâneo, em que produção das evidências macroscópicas e da alteração de proprie-
e consumo passam a funcionar em circuito mundial e dades. (Página 28, segundo parágrafo)
provocam pressões sobre o uso dos recursos naturais,
é inevitável a preocupação com aspectos relacionados
ao ambiente. Há várias referências no artigo Combate à Questões, Justificativas e Dicas
terra seca, de autoria de Yuri Vasconcelos, para se pen- Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?
sar e discutir alternativas e suas implicações na perspec-
tiva do desenvolvimento ecologicamente sustentável, do Clique aqui ou use o QR CODE da página 6.
manejo de biomas/ecossistemas, via desmembramentos
científicos. (Página 19, primeiro parágrafo) Anotações e Rascunhos
Número, Grandeza e Forma

A necessidade de conceitos matemáticos leva


a considerar relevante o estudo de indicadores econômi-
cos e sociais, tabelas, índices e gráficos. Exemplo disso
é a cartografia, que, como forma de representação do
espaço, utiliza escalas numéricas e gráficas, imagens e
coordenadas cartesianas aplicadas à gestão de recursos
humanos e naturais. As obras Aliança no fundo do mar,
de Carlos Fioravanti, publicada na Revista FAPESP, edição
258, de agosto de 2017, e Combate à terra seca, de Yuri
Vasconcelos, na Revista FAPESP, edição 248, de outubro
de 2016, exemplificam diversas formas de aplicação des-
ses conhecimentos e possibilitam diferentes leituras dos
dados apresentados. (Página 24, primeiro parágrafo)

Espaços

Pensar a constituição do espaço geográfico


remete ao fato de que os homens começam a transfor-
mação do meio natural a partir do domínio da técnica.

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Aliança no fundo do mar, de Carlos Fiora-
vanti, publicada na Revista FAPESP

Autoria e Contextualização
A obra é um texto de divulgação científica do É interessante notar que nessas estações de
projeto de pesquisa de um grupo de cientistas de diver- limpeza, como a região preservada de Atol das Rocas, os
sas universidades brasileiras. Quem deu publicidade à predadores e as suas presas modificam completamen-
pesquisa científica foi o jornalista Carlos Fioravanti por te a sua relação. A relação se torna apenas de cliente e
meio da edição 258 de agosto de 2017 da revista FAPESP. prestador de serviço ali. Mais interessante ainda é notar
Os autores da pesquisa pertencem a um grupo chamado que, assim que acaba a limpeza, a presa precisa sair de
Rede Sisbiota-Mar, que reúne cerca de 50 integrantes. perto imediatamente sob o risco de ser comida. Entre-
tanto, de maneira natural e evolutiva, está consentido
O Sisbiota-Mar é formado por três grandes entre ambas as partes que ali é um local de trégua na
projetos, que enfocam Ecologia, Evolução e Química relação predador-presa. Além disso, não é tolerado que
Marinha. O projeto Ecologia pesquisa os padrões de pro- os prestadores do serviço saiam da estação de limpeza e
cessos ecológicos da biodiversidade marinha. O projeto os predadores entrem lá com outra intenção que não a
Evolução busca explicar os padrões e processos evoluti- de serem limpos.
vos da biodiversidade ao longo do espaço e do tempo.
O projeto Química Marinha investiga as relações eco- Cabe destaque o fato de que não somente os
lógicas, como a ação de predadores, do ponto de vista peixes maiores comparecem para a limpeza diária, mas
químico. também as tartarugas recebem essa prestação do ser-
viço.
Administrado na UFSC, o Sisbiota-Mar envolve
pesquisadores de outras sete instituições: Universidade Esta relação entre os organismos dos recifes,
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade de chamada de simbiose de limpeza, não é recente, no en-
São Paulo (USP), Universidade Federal Fluminense (UFF), tanto a sua pesquisa na costa brasileira, sim. O que se
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Univer- percebe é que é essencial para a manutenção do ecos-
sidade Federal do Espírito Santo (UFES), Universidade sistema marinho. Pois é uma relação simbiótica em que
Federal do Ceará (UFC) e Universidade Federal Rural de todo mundo sai ganhando: o peixe-limpador enche a
Pernambuco (UFRPE). O projeto tem apoio do Conselho barriga e o contratante do serviço, os predadores, sai
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico limpinho. Além disso, ninguém fica doente, já que a au-
(CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação sência de limpadores deixaria os peixes maiores doen-
do Estado de Santa Catarina (Fapesc), como também há tes e eles mesmos não teriam como se alimentar, o que
parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica e Instituto prejudicaria em forma de cascata outras espécies e teria
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICM- até mesmo potencial de impactar o mercado de frutos
Bio-Ministério do Meio Ambiente). do mar.

Fruto do desdobramento do projeto Ecologia, Assim, pesquisas nesse sentido têm o propó-
a pesquisa divulgada pela presente obra trata da intera- sito de avaliar a importância dos limpadores na saúde
ção diferenciada entre os peixes na ilha Atol das Rocas, a dos recifes e sugerir uma regulamentação da pesca de
267 km de Natal-RN. Lá existe algo curioso, que é o fato peixes ornamentais – posto que os peixes-limpadores
de que peixes maiores e tartarugas vão especificamen- são vistos com frequência em lojas de aquários – dado
te com o fim de se limparem, ou melhor, de serem lim- que é necessário um equilíbrio ecológico no ecossistema
pados. A limpeza é feita por peixes menores e algumas marinho e a permanência dessas espécies é essencial.
espécies de camarão. Assim que a limpeza é feita, saem
imediatamente do local. A propósito, a relação simbiótica entre os lim-
padores e seus clientes relatada na pesquisa levanta a
É comum que a espécie do peixe-limpador discussão sobre as relações ecológicas existentes. Neste
cumpra essa função em vários locais do mundo, inclu- caso, trata-se da protocooperação, que é quando duas
sive sendo utilizado comercialmente para a promoção espécies se beneficiam de uma interação. Como visto, os
de limpeza de aquários, mas, no caso da pesquisa, não limpadores estão se alimentando e os predadores sendo
apenas ela exerce tal tarefa, mas os camarões também. limpos.
Além disso, foi percebido que eles - os camarões e os
peixes-limpadores, possuem algumas características pe- Além protocooperação, a título de início de um
culiares, como, por exemplo os rituais que antecedem a estudo, existem outras relações ecológicas, quais sejam:
limpeza.

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Relações Harmônicas clientes. “Como resultado dessas interações, os clientes


mantêm a saúde e o limpador consegue alimento, mas
Harmônicas intra-específicas: os dois lados tiveram que evoluir até se reconhecerem
e não se atacarem na hora da limpeza”, resume o bió-
1. Colônia logo colombiano Juan Pablo Quimbayo Agreda, pesqui-
2. Sociedade sador da UFSC. Ele integra a Rede Nacional de Pesquisa
em Biodiversidade Marinha (Sisbiota-Mar), que reúne
Harmônicas interespecíficas: 30 pesquisadores de nove instituições, com o propósito
de avaliar a biodiversidade das quatro ilhas oceânicas do
1. Protocooperação Brasil: o atol das Rocas, o arquipélago de Fernando de
Noronha e o de São Pedro e São Paulo e as ilhas de Trin-
2. Mutualismo dade e Martim Vaz.
3. Comensalismo (típico, inquilinismo e epifitismo) “Os peixes-limpadores evoluíram a partir de
outros peixes que comiam pequenos crustáceos e ou-
Relações Desarmônicas
tros invertebrados”, comenta o biólogo Carlos Ferreira,
Desarmônicas intra-específicas: professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e
um dos coordenadores da Sisbiota-Mar. Segundo ele,
1. Competição intra-específica ao se especializarem em comer parasitas, um recurso
alimentar pouco abundante, os peixes que vivem princi-
2. Canibalismo palmente em recifes “evitaram a competição por outros
Desarmônicas interespecíficas: alimentos”.

1. Competição interespecífica Em maio de 2016, sob a orientação de Ferrei-


ra e dos biólogos Sérgio Floeter, da UFSC, e Ivan Sazi-
2. Predatismo ma, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
Quimbayo e os biólogos Lucas Nunes e Renan Ozekoski,
3. Parasitismo também da Sisbiota-Mar, observaram 318 interações de
4. Amensalismo limpeza entre os peixes, em profundidades variando de
1 metro (m) a 5 m, durante 44 horas ao longo de 22 dias.
Portanto, a manutenção das relações ecológi-
cas é fundamental para a existência de um ecossistema Duas espécies exclusivas da região foram as
harmônico e dinâmico. Só assim o fluxo de matéria orgâ- mais atuantes: o bodião-de-noronha (Thalassoma noro-
nica, energia, e muitos outros fatores serão mantidos e nhanum), que atinge 12 cm quando adulto, e o neon-
não apenas os animais serão beneficiados, tal como os -cata-piolho (Elacatinus phthirophagus), de até 4 cm.
humanos, que também, em alguma medida, fazem parte O bodião participou de 75% das faxinas e atendeu ao
dessa cadeia. maior número de espécies de clientes, 18, de um total
de 22 espécies de peixe e uma de tartaruga que procura-
Obra ram os serviços dos limpadores. Em um artigo publicado
em julho deste ano na revista Environmental Biology of
Aliança no fundo do mar Fishes, os biólogos atribuem o número elevado de ses-
sões de limpeza ao fato de a maioria (82%) dos clientes
As águas do atol das Rocas, a 267 quilômetros ser herbívoros; além disso, o bodião era a espécie mais
(km) de Natal, Rio Grande do Norte, abrigam um dos fe- abundante por lá.
nômenos mais chamativos dos recifes, quando os pei-
xes predadores se concedem momentos de trégua e se Os três biólogos observaram comportamentos
submetem à limpeza realizada por outros peixes e ca- peculiares dos peixes-limpadores do atol. Em Fernando
marões. Em um dos levantamentos mais abrangentes já de Noronha, apenas os bodiões jovens se alimentam
realizados no atol, biólogos da Universidade Federal de de parasitas dos outros peixes, mas no atol o hábito se
Santa Catarina (UFSC) identificaram oito espécies limpa- mantém também entre os adultos. No atol, o bodião
doras – seis de peixes e duas de camarões – nessa área evita se aproximar de espécies que poderiam comê-lo.
de conservação biológica, fechada para visitação públi- “Supomos que essa espécie, de algum modo, consegue
ca, com área de 5,5 quilômetros quadrados (km2). identificar as espécies perigosas, provavelmente por um
processo evolutivo que eliminou os imprudentes”, diz
Os peixes-limpadores se especializaram em Quimbayo.
comer parasitas, tecidos doentes ou muco de peixes
maiores e tartarugas, que os especialistas chamam de

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O neon apresentou uma dieta flexível, aban- cional, a área protegida sustenta uma população huma-
donando os hábitos herbívoros de outros lugares para, na crescente e existe uma área fora do parque em que
no atol, saciar-se com vermes, até mesmo arriscando-se são permitidas atividades como a pesca”, observa Fer-
ao se aproximar de clientes carnívoros, como o tuba- reira. Segundo ele, os peixes da área protegida podem
rão-lixa (Ginglymostoma cirratum), que chega a 4 m de nadar para a não protegida, onde são pescados.
comprimento e 100 quilogramas (kg) de peso. Ao redor
da ilha Malpelo, a 400 km a oeste da costa da Colômbia, No arquipélago de São Pedro e São Paulo, a mil
entre agosto de 2010 e abril de 2015, Quimbayo identi- km de Natal, já não há tubarões e os cardumes de atum
ficou cinco espécies de peixe agindo como limpadores, foram bastante reduzidos por causa da pesca excessiva,
nenhuma delas especializada nessa atividade como no segundo Ferreira. Nos últimos anos, a ilha de Trindade,
atol. Em metade (56%) das 120 interações, os clientes a 1,2 mil km a leste de Vitória, capital do Espírito Santo,
eram espécies predadoras, como garoupas, raias e tuba- tem sofrido a ameaça da pesca submarina, “por não ter
rões. nenhum status de proteção”, diz ele. Em agosto deste
ano, na quinta expedição do projeto, a equipe da Sisbio-
Rituais de limpeza ta-Mar pretende voltar a Trindade para fazer o monitora-
mento anual das comunidades de organismos marinhos.
Mais frequentes no início e final do dia, as lim-
pezas podem durar de poucos segundos a vários minu- Gênero e/ou Estrutura
tos. As sessões de limpeza ocorrem em geral em espaços
específicos, as chamadas estações de limpeza, próximas Observa-se que para cada tipo de mensagem
a rochas ou corais, e seguem rituais próprios (ver Pes- que um emissor deseja transmitir, ele deve utilizar-se de
quisa FAPESP no 79). Os clientes entram nas estações um gênero textual diferente. Nessa obra, o gênero tex-
de limpeza e assumem cores mais vivas ou nadam de tual escolhido foi o de divulgação científica.
boca para baixo, indicando que se deixarão limpar e não
Um texto de divulgação de artigo científico é
atacarão. “Eles estão em uma zona de trégua, ninguém
um gênero discursivo que transmite uma ideia de uma
vai comer ninguém”, relata Quimbayo. Ele já viu que os
esfera específica da ciência para a comunidade em ge-
limpadores não devem abusar da sorte para não correr
ral, na sua linguagem, ou seja, é por meio dos textos
o risco de serem comidos durante o serviço. “Se o limpa-
de divulgação científica que a sociedade em geral toma
dor tirar um pedaço de pele ou muco, o cliente pode não
conhecimento das pesquisas realizadas, que estão acon-
gostar e reagir com uma mordida brusca.”
tecendo e que vão acontecer. Isso acontece, pois se os
Dispersas pelas baías e ilhas do mundo, circu- cientistas fossem utilizar a linguagem científica da pes-
lam 208 espécies de peixe-limpador, o equivalente a cer- quisa também para a sua divulgação, somente as pes-
ca de 3% das 6.500 espécies de peixe de recifes e menos soas da área específica conseguiriam extrair as ideias
de 1% do total das 30 mil espécies de peixe, de acordo transmitidas. Assim, para tornar acessível uma pesquisa
com um levantamento coordenado por David Brendan científica, utiliza-se uma linguagem também acessível,
Vaughan, da Universidade James Cook, da Austrália, isto é, um texto de divulgação científica.
publicado em 2016 na revista Fish and Fisheries. Cama-
Cabe mencionar que a popularização da ciên-
rões-limpadores são ainda mais raros. Das 51 espécies
cia se deve a esse tipo de gênero textual. Ele é consi-
já identificadas, duas vivem no atol: Lysmata grabhami,
derado um dos principais instrumentosque possibilitam
com antenas brancas e até 6 cm de comprimento, e Ste-
tornar mais acessíveis conhecimentos, pesquisas e tec-
nopus hispidus, com corpo malhado de branco e verme-
nologias que têm o potencial de ajudar a vida das pes-
lho, antenas brancas e até 10 cm de comprimento. Eles
soas em geral, dando suporte para o desenvolvimento
responderam por apenas 3,7% e 2,7%, respectivamente,
econômico e social sustentável.
de todos os episódios de limpeza registrados e entraram
em ação principalmente quando os peixes-limpadores Um texto de divulgação científica tem algumas
não estavam por perto, como Quimbayo já havia obser- características. Desse modo são caracterizados a presen-
vado em um estudo de 2012 nas ilhas de Cabo Verde e ça necessária da impessoalidade, verbos predominante-
São Tomé, na costa da África. mente no presente do indicativo e na terceira pessoa,
uma vez que o autor expressa descobertas que fez sem
Ilhas em perigo deixar revelar suas marcas pessoais, e a não utilização
de expressões demasiadamente coloniais, mas também
Os levantamentos da Sisbiota-Mar indicaram
a não utilização de expressões demasiadamente científi-
que o atol das Rocas é a mais preservada das quatro ilhas
cas. Nesse sentido, trata-se de um texto acessível mes-
oceânicas brasileiras, por ser uma reserva biológica com
mo para quem for leigo no assunto.
acesso permitido somente a pesquisadores. “Mesmo em
Fernando de Noronha, que possui status de parque na-

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Quanto à estrutura de um texto de divulgação mar, de Carlos Fioravanti, publicada na Revista FAPESP,
científica, não há uma forma rígida. É expositiva e tem a edição 258, de agosto de 2017, apresentam aspectos que
única finalidade de transmitir conhecimentos de natu- constituem temas imprescindíveis para a construção da
reza científica a um público mais amplo. Tem uma ideia cidadania que podem estimular o empenho cada vez mais
central (afirmação dos conceitos), desenvolvimento por ativo na tarefa de garantir situações de sustentabilidade.
meio de provas (exemplos, comparações, relações de (Página 15, terceiro parágrafo)
efeito e causa, resultados de experiências, dados estatís-
ticos), e uma conclusão. Energia, Equilíbrio e Movimento


As formas de utilização da energia ajudam a
compreensão das tecnologias ao longo da História. A qua-
lidade de vida de uma sociedade está associada ao acesso
Citações da obra na Matriz de Referência às diferentes fontes de energia e ao uso que se faz delas.
A sociedade deve estar apta a desenvolver tecnologias de
O ser humano como um ser no mundo produção e de utilização de energia, relacionando-as ao
desenvolvimento econômico e tecnológico e à qualidade
A perspectiva de um projeto de vida e do en- de vida, de forma racional, para garantir o uso sustentá-
tendimento da atitude existencial como realidades pelas vel, que está vinculado a diversas políticas — tecnológica,
quais somos responsáveis consubstancia outros aspectos energética, organização no espaço e gestão ambiental.
relevantes. Alguns relacionados aos projetos orientados Esses aspectos podem ser discutidos a partir da leitura dos
para a coletividade, como se depreende do texto Aliança artigos presentes nas obras Combate à terra seca, de Yuri
no fundo do mar, de Carlos Fioravanti, publicado na Re- Vasconcelos, publicada na Revista FAPESP, edição 248, de
vista FAPESP, edição 258, de agosto de 2017. Outros, por outubro de 2016, e Aliança no fundo do mar, de Carlos
sua vez, vinculados a temas e problemas contemporâneos Fioravanti, publicada na Revista FAPESP, edição 258, de
de caráter interdisciplinar que dizem respeito à economia agosto de 2017. (Página 16, primeiro parágrafo)
de água, com o intuito de sanar um problema relevante
sofrido por todos, descrito no artigo Combate à terra seca, Ambiente
de Yuri Vasconcelos, publicado na Revista FAPESP, edição
248, de outubro de 2016. (Página 4, sétimo parágrafo) É relevante o estudo de patologias relaciona-
das à contaminação do ambiente no meio urbano e rural,
Tipos e Gêneros uma vez que os microrganismos têm importância econô-
mica e social no que se refere ao aspecto ecológico, em
Entende-se o termo gênero de várias formas. virtude do papel que exercem na ciclagem de nutrientes.
Por exemplo, gênero como distinção de sexo, como clas- A relação trófica assume papel importante, pois os seres
sificação textual ou artística. Assim como existem tipos vivos podem ser vistos como unidades energéticas que es-
de textos, há tipos de organização social, tipos de figuras tabelecem um vínculo de troca. Por meio desse vínculo,
geométricas, tipos/modalidades de linguagem. Diferentes torna-se evidente o processo cíclico da matéria nos ecos-
formas de vida podem revelar, em sua organização, ele- sistemas e seus fluxos de energia, considerando-se os ci-
mentos para pensar essas questões, como se depreende clos do nitrogênio, da água, do carbono e do oxigênio e as
do artigo Aliança no fundo do mar, de Carlos Fioravan- relações resultantes dos processos bioenergéticos, como
ti, publicado na Revista FAPESP, edição 258, de agosto de a respiração (aeróbica e anaeróbica), a fotossíntese e a
2017. De maneira semelhante, as relações entre pessoas quimiossíntese, visto que esses se relacionam com os mo-
de diferentes gêneros podem ser discutidas a partir do ví- vimentos de substâncias no ambiente. O artigo Aliança no
deo La mujer. (Página 9, primeiro parágrafo) fundo do Mar, de Carlos Fioravanti, pode contribuir com
reflexões sobre ações de sintonia entre espécies no mar.
Estruturas (Página 19, terceiro parágrafo)
Ampliando o estudo e a interação dos seres vi- Número, Grandeza e Forma
vos entre si e deles com seu ambiente, é possível chegar às
estruturas no âmbito ecológico, categorizando-se os diver- A necessidade de conceitos matemáticos leva a
sos níveis de organização: população, comunidade, bio- considerar relevante o estudo de indicadores econômicos
mas, biosfera. Por isso, é importante o reconhecimento de e sociais, tabelas, índices e gráficos. Exemplo disso é a car-
que o ecossistema é o ambiente básico de interação entre tografia, que, como forma de representação do espaço,
os seres vivos, de forma intra ou interespecífica, e de que utiliza escalas numéricas e gráficas, imagens e coordena-
a espécie humana é integrante dessa relação que se dá no das cartesianas aplicadas à gestão de recursos humanos
tempo e no espaço e na biosfera, pela qual somos respon- e naturais. As obras Aliança no fundo do mar, de Carlos
sáveis, por meio do trabalho. As obras Combate à terra Fioravanti, publicada na Revista FAPESP, edição 258, de
seca, de Yuri Vasconcelos, publicada na Revista FAPESP, agosto de 2017, e Combate à terra seca, de Yuri Vascon-
edição 248, de outubro de 2016, e Aliança no fundo do celos, na Revista FAPESP, edição 248, de outubro de 2016,

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exemplificam diversas formas de aplicação desses co-


nhecimentos e possibilitam diferentes leituras dos dados
apresentados. (Página 24, primeiro parágrafo)

Espaços

Pensar a constituição do espaço geográfico re-


mete ao fato de que os homens começam a transfor-
mação do meio natural a partir do domínio da técnica.
Desde a lascar a pedra (“período da pedra lascada” –
Paleolítico Superior) a dominar técnicas de plantio, os
seres humanos começaram a modificar o meio natural.
A transformação, lenta e gradual, do meio natural em
meio técnico, cada vez mais artificializado, mais instru-
mentalizado, é marcada pelas mudanças nas relações
sociais, especialmente na organização do trabalho. O
artigo Combate à terra seca, de Yuri Vasconcelos, publi-
cado na Revista FAPESP, edição 248, de outubro de 2016,
traz elementos para uma reflexão acerca das implica-
ções relacionadas às ciências. Aliança no fundo do mar,
de Carlos Fioravanti, artigo publicado na Revista FAPESP,
edição 258, de agosto de 2017, refere aspectos de mu-
danças nas relações naturais promovidas pela natureza.
(Página 25, terceiro parágrafo)

Questões, Justificativas e Dicas


Quer acessar as questões, justificativas e dicas desta obra?

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Anotações e Rascunhos

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Dedicatória
Futuro (a) calouro (a) da UnB,

Agradecemos a você por ter adquirido esta apostila. Saiba que você foi nossa inspiração em todas as
etapas de criação deste produto, pois sabemos como é almejar uma vaga na UnB e correr atrás para que isso
aconteça. Temos ciência de que uma boa preparação é o diferencial! Acreditamos nos seus sonhos e queremos te
ajudar a alcançá-los. Sabemos que você é capaz e que, com dedicação e muito estudo, vai alcançar as metas que
estabeleceu para si. Queremos fazer parte dessa linda trajetória que você está percorrendo. Nem sempre serão só
flores, nós sabemos, mas confie no seu potencial. Suas dificuldades não te definem, mas a forma como lida com
essas dificuldades é que faz toda a diferença. Lembre-se disso sempre! Dedicamos a você a citação abaixo:

“Suba o primeiro degrau com fé. Não é necessário que você veja
toda a escada. Apenas dê o primeiro passo.”
– Martin Luther King

Com muito amor e carinho,

Equipe Tudo Sobre o PAS UnB

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