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Escoladanca
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INTRODUÇÃO
Este projeto maior foi composto por três subprojetos “Flores e Polinizadores: O
Ensino de Ciências através do Teatro”, “Ciranda da Dança: dançando alegria” e “Criar e
Conhecer: Arte e o Mundo Invisível Dos Microorganismos”
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Alunas do curso de Ciências Biológicas, modalidade Licenciatura, UNESP – Botucatu; Trabalho de conclusão de curso
apresentado em dezembro de 2006.
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Professora junto ao Departamento de Educação, Unesp – Botucatu; orientadora.
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Professora da Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de Botânica, Belo Horizonte;
co-orientadora da aluna Natália Arias Galastri.
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DESENVOLVIMENTO
Por essa razão, o ensino de Ciências não deve consistir apenas em dar
respostas prontas aos alunos, mas em formular questionamentos que estimularão os alunos a
procurarem pelas respostas.
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Projeto desenvolvido pela aluna Natália Arias Galastri, sob orientação da Profa. Dra. Luciana Maria Lunardi Campos e co-
orientação da Profa. Dra. Denise Maria Trombert de Oliveira.
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tentar unir diversas idéias para contentar a todos e a lidar com o individual e com o coletivo, no
momento da interpretação de papéis, da criação da peça, dos ensaios e das críticas.
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alunos podem compreender melhor qual é a sua importância, compreender mais claramente
que cada animal, que cada planta, que nós, seres humanos, que cada elemento da natureza é
igualmente importante; pode-se compreender que a destruição de qualquer um deles promove
desequilíbrios ecológicos que trazem sérias conseqüências para o homem e para o Planeta
Terra.
O projeto teve por objetivos desenvolver atitudes e valores por meio da criação e
apresentação de um teatro; superar a memorização de definições e de classificações sobre
adaptações florais e polinização, sem qualquer sentido para o aluno; promover o saber prático,
de investigação da natureza; compreender a importância dos agentes polinizadores para a
reprodução das plantas e quais as adaptações das flores que foram selecionadas ao longo da
evolução, de modo a existirem estruturas que atraem os mais diferentes tipos de polinizadores.
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escolhessem o nome da peça e os personagens que gostariam de interpretar, escolhessem
qual seria o cenário e os figurinos para que, posteriormente, organizassem esses elementos da
maneira como achassem melhor. Os alunos puderam se expressar da forma como achavam
mais conveniente, foram apenas orientados, auxiliados na construção do teatro, no
posicionamento no palco, com a sonoplastia e quanto ao volume da voz. Foram feitos diversos
ensaios e a cada encontro uma parte do cenário ou do figurino era produzida, de modo que
todos tiveram oportunidades de participar ativamente da construção do teatro.
A motivação dos alunos para o projeto também foi objeto de análise, pois
algumas de suas atitudes chamaram a atenção. Quando encontravam a responsável pela
aplicação do projeto no pátio da escola, sempre vinham cumprimentar, dar um abraço e
perguntavam “Você vai ir hoje na nossa sala?” ou “Vai ter teatro hoje, Natália?” ou no
momento de encerramento das atividades, muitos deles sempre diziam “Fica mais um
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pouquinho” ou “A gente pode terminar?” ou ainda “Quando você volta?”. Essas questões
representavam o interesse que as atividades propostas geravam nas crianças e causavam a
impressão de que os alunos estavam sendo motivados de alguma maneira. No dia em que
fomos provar as roupas para o teatro, ao ver o cenário pronto e montado e no momento da
apresentação, os olhos dos alunos “brilharam” intensamente. Essas situações levaram à
busca de elementos para a compreensão da motivação, que passou a ser compreendida como
mola propulsora da aprendizagem (SISTO et al., 2000), a partir de uma perspectiva
cognitivista, que não desconsidera a relevância dos reforços ambientais, mas enfatiza os
chamados motivos intrínsecos para a aprendizagem. Dentre os motivos intrínsecos mais
estudados está a realização. De acordo com Sisto et al. (2000, p.154) “o motivo para a
realização desencadeia ações intencionais praticadas pelo próprio sujeito, que demonstram a
competição com um padrão de excelência”. Essa competição interna existente no aluno faz
com que ele mesmo analise seu desempenho e se esforce para fazer cada vez melhor, cada
vez com mais perfeição. Reconhecemos ainda, a presença da auto-estima nos processos
motivacionais das pessoas e a relevância das experiências vivenciadas para o seu
desenvolvimento. Durante todo o processo, as crianças foram elogiadas sempre que possível e
incentivadas a fazer as atividades. Muitas vezes elas diziam que não estavam conseguindo
fazer e, ao invés de fazermos pelos alunos, dizíamos que conseguiriam, que eram capazes e
criativos. Com o passar do projeto, o número de vezes em que os alunos procuravam para
dizer que não conseguiam, diminuiu, o que pode representar uma alteração interna, um
aumento da auto-estima dos alunos, que possibilitou que acreditassem que seriam capazes de
realizar qualquer atividade, passando a fazê-las sem medo de não conseguir. Entendemos,
assim, que o responsável por favorecer a motivação extrínseca aos alunos é o professor. Ele
deve criar novas situações de aula, deve inovar os recursos utilizados, deve explorar novos
ambientes fora da sala de aula, deve alterar a forma de transmissão de conhecimentos, ou
seja, deve criar situações de motivação externa para chegar à motivação interna dos alunos,
para mudar o caráter maçante de sua aula, tanto para ele quanto para os alunos (SISTO et al.,
2000).
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na sala de aula e para avisar à direção da escola, para que, juntos com a assistência social,
possam alterar situações graves a que as crianças estejam sujeitas (FONTANA, 1998). Ao
longo do projeto, reconhecemos a importância do professor ser sensível à forte influência do
ambiente familiar de uma criança em sua conduta escolar e conhecer a realidade de seus
alunos, a forma como eles se relacionam dentro de suas casas para poder ajudá-los a se
sentirem valorizados, cidadãos, partes indispensáveis da sociedade, importantes e capazes.
Mas ressaltamos a necessidade do professor analisar sua interação com os alunos.
O teatro teve como objetivo principal ensinar ciências, mas esperava mudanças
nas crianças, tanto no plano individual quanto no plano coletivo. Todas as atividades possíveis
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de serem realizadas em grupos foram assim desenvolvidas, pois pela expressão coletiva o
aluno adquire uma dimensão social. Eles puderam opinar, dar idéias, participar, discordar,
criticar e criar.
Nas redações elaboradas pelos alunos, verificamos que todos haviam gostado
do projeto. Alguns gostaram porque trabalharam em grupo, outros gostaram de participar do
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teatro, outros de fazer as roupas, as asas dos animais e o cenário, outros ainda gostaram do
momento da apresentação. Muitos disseram que adoraram o seu personagem, adoraram a
história e os ensaios do teatro. Alguns responderam que gostaram das aulas anteriores ao
teatro, pois aprenderam uma “porção de coisas”. As falas da peça também foram muito citadas,
os alunos descreveram o que haviam falado e disseram que haviam gostado muito e um aluno
disse que gostara do passeio à Centroflora (ANIDRO do Brasil). A maioria dos alunos citou
conteúdos que foram desenvolvidos nos encontros, dentre eles estavam: as partes que
constituem as flores; a existência de animais polinizadores e quais eram eles; que os besouros
e os morcegos visitam as flores brancas, os beija-flores visitam flores de variadas cores e as
borboletas preferem as flores vermelhas e amarelas; que a polinização é quando o pólen vai de
uma flor para outra; que não se pode maltratar os animais nem as flores; que os besouros não
enxergam bem, mas têm um olfato muito bom; que as flores tem sépalas, pétalas, a parte
masculina e a parte feminina onde se encontram os óvulos; que a abelha enxerga o ultravioleta
como luz visível; que os beija-flores têm o bico comprido “para alcançar” o néctar presente nas
flores e que a natureza é nossa amiga.
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“Ciranda da dança” 2
2
Projeto desenvolvido pela aluna Débora Barbosa Vendramini Costa , sob orientação da Profa. Dra. Luciana Maria Lunardi
Campos
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revelar sentimentos, sensações e emoções. Segundo Laban, (1990) “Quando criamos e nos
expressamos por meio da dança, interpretamos seus ritmos e formas, aprendemos a relacionar
o mundo interior com exterior” (apud MORANDI, 2006, p.72). A dança contribui nesse sentido,
gerando indivíduos capazes de criar com o corpo, interpretá-lo, utilizá-lo como forma de
comunicação e expressão.
Segundo Fux 1983 (apud SANTOS, 2005, p. 5) “dançar faz fluir sensações de
alegria provenientes da forma lúdica de movimentar-se livremente”.
Com tantos benefícios, dançar deveria fazer parte da vida das pessoas desde a
infância, havendo estímulo para que a criança a pratique ou contemple.
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terapêuticos que proporcionam formas de expressar alegria, tristeza e euforia, permitindo que a
criança lide com seus problemas, aumentando seu repertório e possibilitando identificar e
nomear seus próprios sentimentos e pensamentos.
Para Laban (apud MORANDI, 2006, p.80), a criança tem o impulso inato de
realizar movimentos similares aos da dança, sendo ela uma forma natural de expressão. Cabe
à escola levá-la a adquirir consciência dos princípios do movimento, preservando sua
espontaneidade e desenvolvendo a expressão criativa.
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utilizado por razões diferentes, não havendo razões, portanto, para que sejam associadas
somente porque se referem ao movimento humano. De fato, a dança não caracteriza o corpo
como um apanhado de alavancas e articulações, nem possui caráter competitivo, como ocorre
na educação física. A dança busca mais que o desenvolvimento das capacidades motoras da
criança; ela instiga as capacidades imaginativas e criativas, busca as emoções. Assim, à
medida que a dança estimula também a criatividade, a relação entre corpo e mente, a livre
expressão e a socialização, ela se encontra inserida no contexto da arte não estando, portanto,
no contexto da educação física.
Ao contrário do que ocorre na maioria das escolas, o ballet clássico não foi a
modalidade desenvolvida, por ser uma “técnica corporal codificada”, segundo Scarpato (2001),
que exige repetição mecânica, não dando espaço para os alunos pensarem sobre suas ações.
Pensando em trabalhar a criatividade destas crianças, privilegiar movimentos por elas criados,
escolhemos a dança educativa/criativa, tema que hoje é muito discutido como proposta de
inserção da dança na educação.
A aula foi organizada em quatro partes: “hora das novidades”, “hora da dança
sentada”, “hora da dança em pé” e “hora das brincadeiras”, procurando, em cada um desses
momentos, o desenvolvimento de aspectos como: compromisso, responsabilidade,
comunicação, cooperação, entre outros já citados. Essa organização foi decorrente de
experiências próprias como professora de dança e das difundidas pela dança educativa.
Vayer (apud MELO, 1997) diz que o desenvolvimento da criança é resultado das
relações e comunicações que se estabelecem entre seu corpo, as outras pessoas e a realidade
das coisas. Desta forma, a consciência corporal se torna essencial para seu desenvolvimento.
Segundo Le Boulch (apud MELO, 1997) a criança de sete a doze anos já possui consciência
de seu corpo, é capaz de verbalizar suas experiências tônicas e motoras e assim reconhecer
suas capacidades. De fato, as crianças durante os exercícios respeitavam seus limites, sempre
me falando “não consigo mais que isso” ou “ainda posso mais, não está doendo!”.
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organização. Para Vygotsky (2000), a capacidade criativa, juntamente com as demais
capacidades mentais, próprias do ser humano, é constituída graças à interação entre o
indivíduo e o meio social (apud ZANLUCHI; PALANGANA, 2003).
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enfrentamento de novos desafios quantos aos aspectos motores, sociais, afetivos e cognitivos,
responsabilidade, criatividade e cooperação.
Talvez nem todas as crianças queiram continuar a dançar, mas o que importa é
que de alguma forma a dança modificou suas vidas, inserindo conceitos que são primordiais
para o convívio social e para o desenvolvimento pessoal.
E assim...
... A dança se tornou ainda mais bela, a música ainda mais harmoniosa e o
corpo ainda mais leve para dançar!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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