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CURSO PREPARATÓRIO PEDRO GOMES

PROFESSOR: JUANIL BARROS - GEO-MT


APOSTILA 02- MATO GROSSO NO CONTEXTO DA INTEGRAÇÃO
NACIONAL

MATO GROSSO NO CONTEXTO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL

Para entender as mudanças que aconteceram Aos poucos, a produção, tanto agrícola como
no espaço geográfico mato-grossense após 1930, industrial, poderá ir fazendo frente em proporção
quando Getúlio Vargas assume o poder federal, é cada vez maior às solicitações do consumo (...). A
necessário situarmos o que acontecia no Brasil na indústria vai progressivamente substituindo com
década de 1920, período que antecedeu a seus produtos a importação anterior de quase tudo
Revolução de 1930. que diz respeito a artigos de consumo imediato, isto
Pode-se dizer que até a década de 1930 é, as manufaturas leves. (IANNI, 1986, p. 29-30)
vigorou no Brasil o sistema produtivo baseado numa Conforme podemos observar, novas forças
economia primário-exportadora. Exemplificando: começam a fazer parte do espaço econômico
todas as fases de desenvolvimento econômico brasileiro na passagem da década de 1920/30. É o
tinham como carro-chefe um único produto de momento em que, através de um golpe de Estado,
exportação como é o caso do pau-brasil, do açúcar, assume a Presidência da República o gaúcho
do ouro e do café. A base da economia era Getúlio Vargas. A ascensão de Vargas ao poder
representada por um produto produzido e/ou representou a derrota parcial das oligarquias e do
extraído no setor primário (agricultura e modelo econômico primário-exportador. Passa-se a
extrativismo) com aceitação no mercado externo. articular um novo projeto econômico para o Brasil,
Toda vez que o principal produto de exportação comandado pelas forças políticas da burguesia
entrava em declínio, a economia do País entrava em urbana. As ações políticas do governo de Getúlio
crise, diminuindo imediatamente a capacidade de Vargas contribuem nesse sentido, porque tiveram
importação de mercadorias essenciais ao como objetivos:
abastecimento do mercado interno. O crescimento  consolidar o desenvolvimento do capitalismo
econômico era totalmente dependente do através da expansão das indústrias
desempenho verificado no setor que produzia para nacionais e internacionais;
o mercado externo.  romper com o isolamento dos espaços
O Brasil era obrigado a conviver com crises regionais, integrando esses espaços à
constantes em seu desempenho econômico, economia nacional através do povoamento
evidenciando a fragilidade de uma economia que do Oeste brasileiro (Marcha para o Oeste) e
estava intimamente atrelada às oscilações do setor constituir um importante mercado
de mercado externo,# como era o caso das crises consumidor dos produtos industriais.
do café, principal produto de exportação desde a
segunda metade do século XIX até a década de Para implementar a política de integração
1930. econômico-territorial, o Governo Federal lançou
Em toda a década de 20 (marcada por crises mão de leis e decretos, criando uma série de órgãos
na produção do café), houve a formação de uma públicos (Institutos, Departamentos, Conselhos...)
classe média próspera que aos poucos ia que passaram a coordenar e dirigir o funcionamento
acumulando capitais através da comercialização de da economia. As ações do Governo de Vargas
produtos ligados ao mundo do café. Isso contribuiu promoveram a melhoria nos meios de comunicação,
para a formação (nas cidades) de um mercado nos transportes, na educação e na saúde. Também
interno com poder de consumo considerável. Por foi criada a legislação trabalhista que regulamentou
outro lado, foi se formando uma mão-de-obra as relações entre capital e trabalho através da
disponível, constituída de migrantes que deixavam Consolidação das Leis do Trabalho - CLT,
as fazendas de café nas épocas de crise, para se instituindo o salário mínimo, o pagamento de férias
transformar em operários nas cidades. Além disso, e o FGTS, entre outros.
havia sido implantada toda uma infraestrutura Essas medidas, na verdade, foram tomadas
ferroviária nas regiões cafeeiras, facilitando para para que houvesse um bom "relacionamento” entre
que as matérias-primas também chegassem às exploradores (capital) e explorados (trabalhadores),
indústrias que começavam a instalar-se no país. facilitando assim a expansão do capitalismo
O caráter dessa indústria infante foi assim industrial no Brasil.
descrito: A indústria de bens de consumo foi se
concentrando no Sudeste e constituiu-se no carro-
Indústria infante - indústria que está iniciando chefe que impulsionou a economia brasileira desse
suas atividades. está se estruturando. período (1930-1945).
Qual a relação disso tudo com Mato Grosso? Em Mato Grosso, em toda década de 1960,
Vamos por partes: acelera-se a ocupação da fronteira agrícola,
1º. O espaço mato-grossense encontrava-se mantendo-se a política de colonização. Essa
parcialmente povoado, com uma população política era feita por empresas colonizadoras
dispersa pelo território. Sua porção Norte, particulares que receberam terras devolutas do
que compõe hoje o estado de Mato Grosso, Governo do Estado. As colonizadoras, em sua
tinha como maiores centros urbanos Santo maioria, não conseguiram cumprir o contrato
Antônio do Leverger, Cáceres e Poxoréo. firmado com o Estado, e por isso, em alguns casos,
Nas demais áreas, como as de abandonaram os projetos, devolvendo ao Estado as
Diamantino, Vila Bela e Poconé, entre terras adquiridas.
outras, os núcleos populacionais eram a
própria imagem do marasmo e abandono. Em Mato Grosso, em toda década de 1960, acelera-
Porém, na porção Sul (hoje Mato Grosso do se a ocupação da fronteira agrícola, mantendo-se a
Sul), apesar das dificuldades, existia uma política de colonização. Essa política era feita por
atividade primária melhor desenvolvida, empresas colonizadoras particulares que
contando com boa infraestrutura que era receberam terras devolutas do Governo do Estado.
beneficiada pela proximidade com o
Sudeste. Quer dizer, tinha o estado de Mato
As colônias criadas pelas colonizadoras na
Grosso muito espaço vazio2 para ser
década de 1950-60 eram desorganizadas. Não
ocupado e integrado ao restante da
cumpriam nenhum planejamento que pudesse dar
Economia Nacional.
assistência à saúde, educação, transportes e vida
social às famílias dos colonos. Esses
2º. Por um lado, era necessário garantir o
empreendimentos já nasciam fadados ao fracasso,
abastecimento de alimentos para a
resultando no esvaziamento populacional dessas
população e de matérias-primas para as
colônias. Mesmo assim funcionaram como atrativo
fábricas do Sudeste. Por outro lado, era
a um grande número de migrantes que se dirigiram
necessário constituir um mercado
às terras do Cerrado numa tentativa de melhorar de
consumidor de produtos industrializados.
vida. Por isso, em 1960, Mato Grosso já contava
com uma população de 910.262 habitantes.
Para dar suporte a esse projeto nacional,
inicia-se uma política de colonização em áreas do
Centro-Oeste, através da criação de colônias
agrícolas.
Em Mato Grosso, até a década de 1950, são
criadas as colônias agrícolas de Dourados, Taquari-
Mirim e Ministro João Alberto (hoje Nova
Xavantina); este Estado, a venda de terras ficou a
cargo do Departamento de Terras e Colonização -
DTC, lucrativo órgão público do Estado. Deixou de
funcionar em 1966, retornando em 1976, como
Instituto de Terras do Estado de MT - INTERAAAT,
conforme Decreto Lei n° 775, de 23.11.1976. A
CODEMAT, hoje extinta, também se envolveu com
o comércio de terras mato-grossenses.
Com o incentivo à colonização, o número de A partir de 1964, sob o comando dos governos
habitantes de Mato Grosso, que em 1930 era de militares, nova orientação é dada à ocupação das
349.857, subiu para 423.265 até 1940. E em 1944,0 terras mato-grossenses. O Governo Federal,
Estado já contava com uma população de 449.043 através de incentivos fiscais e crédito facilitado,
habitantes. (AJARA, s.d.) privilegia a instalação de amplos latifúndios, cujos
No período de 1950 a 1960, a industrialização proprietários são, na maioria das vezes,
brasileira caminha a passos largos, atraindo empresários do Centro-Sul.
grandes fluxos migratórios para as cidades. Agora é Esses latifúndios necessitavam de infra-
a vez da siderurgia, da indústria química e das estrutura básica para se desenvolver. Entra em
grandes ‘montadoras automobilísticas acentuarem cena novamente o poder público criando órgãos
o êxodo rural e as desigualdades regionais, específicos para apoiar essas atividades, como é o
forçando o Governo Federal a criar Planos de caso do Banco da Amazônia S/A - BASA;
Desenvolvimento para promover a diminuição Superintendência para o Desenvolvimento do
dessas diferenças e a melhoria em transportes, Centro-Oeste - SUDECO; e Superintendência para
comunicação e no abastecimento de energia - o Desenvolvimento da Amazônia — SUDAM.
suportes fundamentais no desenvolvimento Desmatam-se o Cerrado e a Floresta Amazônica,
industrial. abrem-se estradas (Cuiabá\Porto Velho,
Cuiabá/Santarém...), melhoram as comunicações, indústria nacional (esse aspecto será abordado no
crescem as cidades do Centro-Oeste, e Mato Capítulo 4
Grosso entra na era da modernização da
agricultura, consolidando seu papel de periferia da

FONTE: Ivane Inês Piaia, Geografia de Mato Grosso, 2003

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