Você está na página 1de 19

República de Moçambique

Conselho Constitucional

Ao
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
DO BRASIL

Brasília

Nos termos da alínea a) da Cláusula Quarta do Acordo assinado em Brasília em 24 de


Novembro de 2006, para repositório de Jurisprudência Constitucional com a sigla
RJC/CPLP, junto se remete os seguintes documentos:

1. Acórdão n.º 01/CC/2007 de 19 de Março


2. Deliberação n.º 01/CC/2007 de 12 de Abril
Anexos:

1. Acórdão n.º 01/CC/2007 de 19 de Março

a) Sumário

Recorrente: Carlos Alexandre dos Reis

Recorrido: Assembleia da República

I- A perda de mandato de deputado à Assembleia da República com fundamento nas


alíneas d) e e) do artigo 8 do Estatuto do Deputado aprovado pela Lei n.º 3/2004, de 21
de Janeiro, deliberada pela Comissão Permanente da Assembleia da República, deve ser
considerada como equivalendo a uma sanção disciplinar aplicada ao deputado.

II- Da referida deliberação e na vigência da Constituição de 1990, o deputado podia


recorrer para o Plenário da Assembleia da República, nos termos do n.º 6 do artigo 27
do Estatuto do Deputado.

III- Nos termos das alíneas a) e k) do artigo 195 da Constituição de 2004, deve entender-
se que, em matéria de mandato dos deputados, a Comissão Permanente da Assembleia
da República decide em primeira instância e que, a partir da data da entrada em vigor
da mesma Constituição, das suas decisões passou a caber recurso para o Conselho
Constitucional.

IV- Tendo o recorrente solicitado, em recurso, reexame da decisão de perda de mandato


de deputado, a Assembleia da República, na sua resposta à impugnação, não se
pronunciou sobre esta alegação, nem dos autos consta algo que comprove que tenha sido
efectuada notificação ao interessado. A omissão de tal notificação ao recorrente
constitui uma irregularidade em face do disposto no n.º2 do artigo 253 da Constituição
da República.
b) Texto

Processo: n.º 01/CC/2007

Acordam os Juizes do Conselho Constitucional:

I. Relatório

1. Pedido

Em 16 de Fevereiro de 2007, Carlos Alexandre dos Reis apresentou ao Conselho


Constitucional um pedido de impugnação da deliberação da Comissão Permanente da
Assembleia da República, tomada em 15 de Novembro de 2004, que determinou a perda
do seu mandato de deputado, com fundamento na inscrição em partido diferente daquele
pelo qual foi eleito.

2. Fundamentos do pedido

2.1. O pedido de impugnação da deliberação vem, em resumo, fundamentado nos


seguintes termos:

a) O recorrente foi eleito deputado à Assembleia da República nas eleições


legislativas ocorridas em 1999 às quais concorreu como candidato da
Coligação Renamo – União Eleitoral, que resultou de um acordo de coligação
entre o partido Renamo e um grupo de dez partidos que incluía o partido
Unamo, presidido pelo recorrente;

b) O partido Unamo e o Partido Partonamo coligaram-se formando a coligação


denominada MBG com vista a concorrer, em 2004, às eleições gerais pelo
círculo eleitoral da Zambézia “situação que a verificar-se só produziria
efeitos na VI Legislatura”;
c) Não se inscreveu nem assumiu funções em Partido diferente daquele pelo
qual foi eleito, continuando a ser membro do Partido Unamo;

d) O espírito da Lei não é o de impedir a candidatura de deputados por outras


listas no fim dos mandatos;

e) Não existe no Estatuto do Deputado nenhuma disposição que impeça o


deputado de se candidatar à legislatura seguinte nem a Lei Eleitoral prevê
incompatibilidade ou inelegibilidade que possa fundamentar a decisão
recorrida da Comissão Permanente da Assembleia da República;

f) Há antecedentes na história da Assembleia da República de integração de um


deputado de uma coligação em nova lista durante o período eleitoral;

g) O partido Renamo nas eleições de 1999 decidiu concorrer como coligação,


criando a Renamo-União Eleitoral, o que demonstra tratar-se de duas
entidades jurídicas distintas;

h) Os deputados da bancada da Renamo na IV Legislatura candidataram-se às


eleições para a V Legislatura sem que tal tivesse representado violação do
Estatuto do Deputado. Estes deputados deveriam, pela mesma lógica, perder
os seus mandatos à luz do artigo 8, alínea d), do Estatuto do Deputado;

i) O partido Renamo alegou no processo instaurado contra o recorrente que se


tratava de violação do Estatuto do Deputado;

j) Recorreu da decisão tomada pela Comissão Permanente, em 3 de Dezembro


de 2004, ao Presidente da Assembleia da República, não tendo obtido
qualquer resposta, apesar de decorridos já dois anos.
Concluindo, o requerente pede a revogação ou declaração de nulidade da decisão que
determinou a cessação do seu mandato, por forma a que os direitos violados sejam
repostos.

2.2. O requerente juntou ao pedido os documentos seguintes:

a) Cópia do pedido de reexame dirigido ao Presidente da Assembleia da República


(doc.de fls.5,6 e 7 dos autos);

b) Cópia do Boletim da República, I Série, n.º 49, de 8 de Dezembro de 2004 (doc.


de fls.8 dos autos);

c) Cópia do Registo do pacto coligatório denominado Frente Unida para Mudança e


Boa Governação em Moçambique (doc. de fls. 9 a 18 dos autos).

3. Apresentação do pedido, distribuição e notificação da Assembleia da República

3.1 Autuado e registado o pedido, foi ordenada a sua distribuição e, por despacho de
fls.24, mandado dar cumprimento ao disposto no n.º 3 do art.105 da Lei Orgânica do
Conselho Constitucional.

3.2. A Assembleia da República veio, através de documento junto aos autos a fls.31,
invocar irregularidades cometidas no acto de notificação. A relatora considerou nula a
notificação anteriormente efectuada, ordenou nova notificação a realizar cumprindo-se
todas as formalidades legais e fixou um novo prazo, de cinco dias, para a Assembleia da
República responder à impugnação, em conformidade com o disposto no n.º 3 do
artigo105 da Lei Orgânica do Conselho Constitucional.

3.3. Tendo-se verificado irregularidade no patrocínio judiciário, foi o recorrente


notificado para proceder à constituição de advogado nos termos do art. art.47 da Lei
Orgânica do Conselho Constitucional e do art.33 do Código de Processo Civil, o que veio
a ser feito através da junção do documento de fls.44 dos autos.

4. Resposta da Assembleia da República

4.1. O Conselho Constitucional recebeu da Assembleia da República a Resolução n.º


41/2007, de 7 de Março, que aprova o parecer da Comissão dos Assuntos Jurídicos,
Direitos Humanos e de Legalidade relativo à notificação do Conselho Constitucional
sobre o pedido de impugnação, parecer esse anexo à mesma Resolução e que dela ficou a
fazer parte integrante.

O ofício do Presidente da Assembleia da República, a Resolução e os documentos


anexos, foram juntos aos autos a fls. 46 a 98 e extraídas cópias que foram distribuídas aos
Juizes Conselheiros.

A Lei Orgânica do Conselho Constitucional determina, no artigo105, a notificação da


Assembleia da República, para responder à impugnação, mas não obriga este órgão a
responder ao pedido, nem estabelece quaisquer requisitos a que deva obedecer tal
resposta.

As notificações feitas pelo Conselho Constitucional à Assembleia da República destinam-


se, fundamentalmente, a garantir o princípio do contraditório e a permitir a recolha de
informações deste órgão. Não têm carácter cominatório.

Elas possibilitam, contudo, à Assembleia da República conhecer os fundamentos da


impugnação apresentada ao Conselho Constitucional e permitem que a mesma
Assembleia, se o julgar pertinente, transmita ao Conselho Constitucional todas as
informações e documentos que conduzam a um melhor entendimento dos fundamentos
em que baseou as suas deliberações.
Acresce que a Assembleia da República tem, nos termos do art. 5 da Lei Orgânica do
Conselho Constitucional, um dever geral de colaboração com o Conselho Constitucional,
como têm todos os demais órgãos do Estado e quaisquer outras entidades.

4.2. Assim, e considerando que o parecer anexo à Resolução acima referida e que dela faz
parte integrante, passou a ser a resposta da Assembleia da República à impugnação do
recorrente, apresentam-se, em resumo, as alegações que constam da referida Resolução:

a) De acordo com o Estatuto do Deputado aprovado pela Lei n.º 3/2004, de 25 de


Janeiro, perde o mandato o deputado que se inscreva em partido diferente daquele
pelo qual foi eleito. Este princípio veio a ser acolhido de forma inequívoca nas
disposições conjugadas do n.º2 do artigo 171 e na alínea b) do n.º 2 do artigo 178
da Constituição da República de 2004 que entrou em vigor em 21 de Janeiro de
2005;

b) Não havendo facto superveniente, reiteram-se os argumentos jurídicos


apresentados no parecer n.º11/05, de 5 de Outubro, e no parecer n.º 6/06, de 11 de
Setembro da Comissão dos Assuntos Jurídicos, Direitos Humanos e de
Legalidade da Assembleia da República juntos a fls.73 e seg. e 81 a 83,
respectivamente;

c) A petição enviada ao Conselho Constitucional a 15 de Fevereiro de 2007 é


extemporânea, nos termos do n.º 1 do artigo 104 da Lei n.º 6/2006, de 2 de
Agosto, que estabelece o prazo de 30 dias para a impugnação da deliberação da
Assembleia da República sobre o mandato de deputados, contados a partir da data
em que a mesma foi tomada;

d) A deliberação da Assembleia da República foi tomada no dia 15 de Novembro


de 2004, antes da vigência da Lei n.º 6/2006, de 2 de Agosto;
d) A petição do recorrente deveria ter dado entrada no Conselho Constitucional nos
30 dias subsequentes à entrada em vigor da lei acima referida e, não tendo tal
ocorrido, o pedido em causa é extemporâneo.

II

Fundamentação

Observados todos os procedimentos legais, cumpre decidir:

O recorrente tem legitimidade, nos termos do n.º 2 do art. 104 da Lei Orgânica do
Conselho Constitucional.
O Conselho Constitucional é competente para julgar o presente recurso, nos termos da al.
g) do n.º 2 do art. 244 da Constituição da República e da al. g) do n.º 2 do art.6 da mesma
Lei Orgânica.

Quanto ao pressuposto relativo ao tempo da interposição do recurso, verifica-se que a


deliberação recorrida foi tomada em 15 de Novembro de 2004.
Nessa altura, estavam em vigor a Constituição da República de 1990; o Regimento da
Assembleia da República, aprovado pela Lei n.º 6/2001, de 30 de Abril; o Estatuto do
Deputado, aprovado pela Lei n.º 3/2004, de 21 de Janeiro e a Lei n.º 9/2003, de 22 de
Outubro – a primeira Lei Orgânica do Conselho Constitucional.

Neste quadro constitucional e legal, o Conselho Constitucional não tinha competência


para apreciar recursos das deliberações da Assembleia da República em relação ao
mandato dos deputados.

Assim, nos termos do n.º 3 do art. 8 do Estatuto do Deputado, a perda de mandato de um


deputado devia ser verificada pela Comissão Permanente, anunciada ao Plenário e
publicada no Boletim da República, o que efectivamente se verificou no caso em apreço.
Nos casos em que a perda de mandato configurasse uma sanção disciplinar, da respectiva
decisão caberia recurso para o Plenário da Assembleia da República, nos termos do
disposto no n.º 6 do art. 27 do Estatuto do Deputado.

Atendendo a que, no caso vertente, a perda de mandato teve como fundamento o disposto
nas alíneas d) e e) do art.8 do Estatuto do Deputado, a correspondente deliberação da
Comissão Permanente deve ser considerada como equivalendo a uma sanção disciplinar
aplicada ao deputado.

Consequentemente, o pedido de reexame daquela deliberação, dirigido ao Presidente da


Assembleia da República pelo recorrente, em 3 de Dezembro de 2004, configurou um
recurso ao Plenário da Assembleia da República.
No entanto, na pendência desse recurso, estava a decorrer o processo de eleição da nova
Assembleia da República e entrou em vigor a nova Constituição da República, em 21 de
Janeiro de 2005, a qual veio:

a) Por um lado, atribuir à Comissão Permanente a competência para exercer os


poderes da Assembleia da República relativamente ao mandato dos deputados,
assim como declarar as perdas e renúncias de mandatos dos deputados (als. a) e k)
do artigo 195 da Constituição);

b) Por outro lado, atribuir ao Conselho Constitucional a competência para julgar


as acções que tenham por objecto o contencioso relativo ao mandato dos
deputados (al. g) do n.º 2 do art. 244 da Constituição).

Em face deste novo quadro constitucional, deve entender-se que, em matéria de mandato
dos deputados, a Comissão Permanente passou a decidir em primeira instância e das suas
decisões já não cabe recurso para o Plenário, mas sim para o Conselho Constitucional.
Segundo consta de fls.92 vº dos autos, em 4 de Novembro de 2005 a Comissão
Permanente conheceu do pedido de reexame da sua decisão de 15 de Novembro de 2004,
tendo julgado improcedente a pretensão do recorrente, confirmando, deste modo, a perda
de mandato anteriormente declarada.

Ao proceder deste modo, a Comissão Permanente ignorou que, ao abrigo da nova


Constituição, o Conselho Constitucional passou a ser o Órgão competente para apreciar,
em recurso, matérias desta natureza.

O recorrente alega não ter sido nunca notificado de qualquer decisão relacionada com o
seu pedido de reexame da decisão de perda do mandato e, por sua vez, a Assembleia da
República, na sua resposta à impugnação, não se pronunciou sobre esta alegação nem dos
autos consta algo que comprove que tal notificação haja sido efectivada.

A omissão de notificação de uma decisão desta natureza ao interessado constitui uma


irregularidade em face do disposto no n.º 2 do art. 253 da Constituição da República.

Porém, importa também notar que não se vislumbra nos autos que o recorrente, perante o
prolongado silêncio da Assembleia da República, tenha empreendido alguma diligência
junto daquele Órgão com vista a informar-se sobre a situação do seu pedido, o que revela
uma omissão do dever de diligência razoavelmente exigível em circunstâncias como esta.

Além disso, deve assinalar-se que a partir de 21 de Janeiro de 2005, data da entrada em
vigor da Constituição de 2004, o recorrente passou a ter em seu benefício a possibilidade
de impugnar de imediato a decisão da perda do seu mandato junto do Conselho
Constitucional, ao abrigo do disposto na al. g) do n.º 2 do art. 244 da Constituição, mas
nada fez.

Em 2 de Agosto de 2006, foi publicada e entrou em vigor a nova Lei Orgânica do


Conselho Constitucional, Lei n.º 6/2006 de 2 de Agosto, a qual fixou, no n.º 1 do seu
artigo 104, o prazo de trinta dias para a impugnação das deliberações da Assembleia da
República em matéria do mandado dos deputados, prazo que se conta a partir da data da
deliberação.
Neste contexto, o recorrente não devia ignorar que com a publicação da nova Lei
Orgânica do Conselho Constitucional ficava preenchido o vazio de regras processuais
posterior à entrada em vigor da Constituição de 2004, no tocante à matéria do
contencioso do mandato dos deputados. Isto é, em face da não reacção da Assembleia da
República sobre o seu recurso, era legítimo ao recorrente vir ainda, no prazo de trinta dias
a partir da entrada em vigor da citada Lei Orgânica, interpor recurso da decisão da
Comissão Permanente de 15 de Novembro de 2004, a única de que alega ter
conhecimento.
Contudo, o recorrente fê-lo apenas no dia 16 de Fevereiro de 2007, data que se mostra
manifestamente fora do prazo em que poderia tê-lo feito.

Decidindo:

Nestes termos, o Conselho Constitucional decide não conhecer do recurso da deliberação


da Comissão Permanente da Assembleia da República, de 15 de Novembro de 2004, que
declarou a perda do mandato de deputado do recorrente Carlos Alexandre dos Reis, por
intempestivo.

Sem custas, nos termos do n.º 1 do art. 121 da Lei n.º 6/2006, de 2 de Agosto.

Registe, notifique e publique-se.


Maputo, 19 de Março de 2007-Rui Baltazar dos Santos Alves - Lúcia F.B. Maximiano do
Amaral- Orlando António da Graça - Teodato Mondim da Silva Hunguana - Lúcia da Luz
Ribeiro - João André Ubisse Guenha - Manuel Henrique Franque.
2. Deliberação n.º 01/CC/2007, de 12 de Abril

a) Sumário

I - Ao Conselho Constitucional também cabe, por imperativo dos princípios de


constitucionalidade e de legalidade, a especial responsabilidade de não aplicar normas
ilegais, cuja execução lhe seja exigida, não pactuando com actuações viciadas de
ilegalidade.

II - Foi intenção clara do Decreto n.º 30/2001, de 15 de Outubro, não só afastar a


fórmula de fecho da correspondência oficial que era fixada pelo Decreto n.º 36/89, de 27
de Novembro, como também não a substituir por qualquer outra. Assim sendo, deve
entender-se que, com a revogação do Decreto n.º 36/89, de 27 de Novembro, não se
criou vazio algum.

III - Mesmo que se quisesse admitir a existência de lacuna, haveria de se considerar, à


luz do artigo 71 do Decreto n.º 30/2001, de 15 de Outubro, que o Conselho de Ministros
teria reservado para se a definição dos requisitos a que deve obedecer a elaboração da
correspondência oficial e, consequentemente, competiria àquele órgão estabelecer a
fórmula do fecho da correspondência, como acontecia na vigência do Decreto n.º 36/89,
de 27 de Novembro.

IV – O Conselho Constitucional considera que a Autoridade Nacional da Função


Pública agiu fora das suas atribuições e competências e, por isso, delibera não aplicar a
sua Resolução n.º 1/2007 de 2 de Março, por ilegal.
b) Texto

Deliberam os Juizes do Conselho Constitucional:

No dia 26 de Março de 2007, o Conselho Constitucional recebeu um ofício com o n.º


257/ANFP/GP/2007, assinado pela Presidente da Autoridade Nacional da Função Pública
e dirigido ao Secretário Geral do Conselho Constitucional, com o seguinte teor:

“A Autoridade Nacional da Função Pública, aprovou através da Resolução n.º 001/2007,


de 2 de Março, a fórmula uniforme para o fecho da correspondência oficial.
Havendo necessidade de garantir a sua aplicação uniforme, junto envio a V.Excia alguns
exemplos para os devidos efeitos.”

Ao ofício em referência foram juntos os seguintes documentos:


a) um modelo de Ofício;
b) um modelo de Nota;
c) um modelo de Certidão (ou Certificado);
d) fotocópia do BR, I Série, Número 9, Suplemento, de 2 de Março de 2007, no qual
se encontra publicada a citada Resolução n.º 1/2007, de 2 de Março.

A Resolução n.º 1/2007, de 2 de Março tem o seguinte teor:

<<Pelo Decreto-Lei n.º 37/75, de 15 de Abril, foi adoptada, como forma de


terminar a correspondência oficial, a fórmula “Unidade, Trabalho, Vigilância”,
situação que viria a ser mantida pelo Decreto n.º 36/89, de 27 de Novembro.

Com a revogação do Decreto n.º 36/89, de 27 de Novembro, pelo Decreto n.º


30/2001, de 15 de Outubro, ficou um vazio quanto à fórmula para o fecho da
correspondência oficial.
Nestes termos, havendo necessidade de adopção de uma fórmula que
corresponda à conjuntura sócio-política actual do país, ao abrigo da alínea a),
n.º 1 do artigo 8 do Decreto n.º 40/2006, de 27 de Setembro, a Autoridade
Nacional da Função Pública determina:

Artigo 1. A correspondência oficial passa a terminar com a seguinte fórmula:


Decisão Tomada, Decisão Cumprida.

Artigo 2. A presente Resolução entra em vigor na data da sua publicação.

Aprovada pela Autoridade Nacional da Função Pública, em plenário de 14 de


Fevereiro de 2007.
Publique-se.
A Presidente, Vitória Dias Diogo>>.

O Secretário Geral submeteu esse expediente ao Presidente do Conselho


Constitucional, que considerou dever o assunto ser objecto de apreciação e decisão
em Sessão Plenária deste Conselho.

Assim, em sessão realizada no dia 12 de Abril de 2007, o Conselho Constitucional


apreciou o assunto nos termos seguintes:

II

A Autoridade Nacional da Função Pública, através do Ofício n.º 257/ANFP/GP/2007,


intimou directamente o Conselho Constitucional a aplicar a Resolução n.º 1/2007, de
2 de Março.

Confrontado com esta intimação, o Conselho Constitucional considerou dever


verificar a legalidade da referida Resolução.
Não, obviamente, para efeitos de declarar com força obrigatória geral a sua
inconstitucionalidade ou ilegalidade, uma vez que essa apreciação e declaração são
efectuadas mediante solicitação das entidades referidas no n.º 2 do artigo 245 da
Constituição.

Mas ao Conselho Constitucional cabem especiais responsabilidades em matérias de


natureza jurídico-constitucional, como resulta claramente da Constituição da
República que define o Conselho Constitucional como órgão especialmente
vocacionado para administrar a justiça em matérias de natureza jurídico-
constitucional (n.º 1 do artigo 241 da CRM), cabendo-lhe também apreciar e declarar
a inconstitucionalidade das leis e a ilegalidade dos actos normativos dos órgãos do
Estado (alínea a) do n.º 1 do artigo 244, nº1 do artigo 245 e artigo 247, todos da
Constituição).

Por isso, também lhe cabe, por imperativo dos princípios de constitucionalidade e de
legalidade, a especial responsabilidade de não aplicar normas ilegais cuja execução
lhe seja exigida, não pactuando com actuações viciadas de ilegalidade.

III

Importa, antes de apreciar o conteúdo da Resolução n.º 1/2007, de 2 de Março,


considerar os antecedentes históricos da adopção da fórmula de fecho da
correspondência oficial no país.

Com efeito, no período colonial, e por força do disposto no parágrafo 5º do artigo


340 da Reforma Administrativa Ultramarina, aprovada pelo Decreto-Lei n.º 23329, de
15 de Novembro de 1933, toda a correspondência oficial deveria terminar pela
fórmula “A Bem da Nação”.

Esta fórmula, aparentemente inócua, rapidamente passou a estar conotada com o


regime opressivo colonial-fascista. Ela não poderia, portanto, após os Acordos de
Lusaka, continuar a constar da correspondência oficial por constituir, conforme se
refere no preâmbulo do Decreto-Lei n.º 37/75, de 15 de Abril, do Governo de
Transição de Moçambique, referência “de essência colonialista”.

Por isso, o citado Decreto-Lei n.º 37/75, determinou que a correspondência oficial
deveria terminar com a fórmula “Unidade, Trabalho, Vigilância”, fórmula essa que
constituiu palavra de ordem contida na Mensagem do Presidente Samora Moisés
Machel lida na Cerimónia da Tomada de Posse do Governo de Transição de
Moçambique, em 20 de Setembro de 1974.

Isto é, a transformação da palavra de ordem do Presidente da Frente de Libertação de


Moçambique em comando normativo de aplicação geral só se tornou efectiva a partir
da aprovação do mesmo Decreto-Lei, forma que correspondia ao exercício da função
legislativa cometida ao Governo de Transição pela alínea a) do artigo 5 do Acordo de
Lusaka.

Pelo Decreto n.º 36/89, de 27 de Novembro, foi mantida aquela fórmula, como consta
da alínea i) do artigo 9 do mesmo Decreto.

Já na vigência da Constituição da República de 1990, foram aprovadas pelo Decreto


n.º 30/2001, de 15 de Outubro, as Normas de Funcionamento dos Serviços de
Administração Pública e procedeu-se à revogação do Decreto n.º 36/89, de 27 de
Novembro.
IV

Na fundamentação da Resolução n.º 1/2007, de 2 de Março, a Autoridade Nacional da


Função Pública invocou a alínea a) do n.º 1 do artigo 8 do Decreto n.º 40/2006, de 27
de Dezembro, disposição que nada estatui de concreto sobre as suas competências.

Esse fundamento só poderia encontrar-se no artigo 3 ou no artigo 4, disposições que


definem, respectivamente, a missão e as atribuições da Autoridade Nacional da
Função Pública. Porém, a nenhuma dessas disposições foi feita referência naquela
Resolução.

No preâmbulo da Resolução n.º 1/2007, de 2 de Março, alude-se à existência de um


vazio decorrente da revogação do Decreto n.º 36/89, de 27 de Novembro, pelo
Decreto n.º 30/2001, de 15 de Outubro. No entanto, este último diploma não se
limitou a revogar o anterior, que aprovou as Normas de Funcionamento dos Serviços
do Estado, pois aprovou, por sua vez, as Normas de Funcionamento dos Serviços da
Administração Pública.

Estas Normas, tal como acontecia com as do diploma revogado, inserem, no artigo
71, regras sobre a elaboração da correspondência oficial.

No estabelecimento das novas regras aproveitou-se o conteúdo do artigo 9 das


Normas anteriores, com excepção do disposto nas alíneas g), h) e i), sendo esta última
alínea a que estatuía a expressão “Unidade, Trabalho, Vigilância” como fórmula de
fecho da correspondência oficial.

Daqui resulta que foi intenção clara do Decreto n.º 30/2001, de 15 de Outubro, não só
afastar a fórmula de fecho da correspondência oficial que era fixada pelo Decreto n.º
36/89, de 27 de Novembro, como também não a substituir por qualquer outra.

Assim sendo, deve entender-se que, com a revogação do Decreto n.º 36/89, de 27 de
Novembro, não se criou vazio algum.

Mesmo que se quisesse admitir a existência de lacuna, haveria de se considerar, à luz


do artigo 71 do Decreto n.º 30/2001, que o Conselho de Ministros teria reservado para
si a definição dos requisitos a que deve obedecer a elaboração da correspondência
oficial e, consequentemente, competiria àquele órgão estabelecer a fórmula do fecho
da correspondência, como acontecia na vigência do Decreto n.º 36/89.
É certo que o n.º 5 do artigo 69 do Decreto n.º 30/2001, deferia ao Conselho Nacional
da Função Pública a competência para aprovar os modelos de correspondência da
Administração Pública.

Contudo, tal disposição não autorizava, de forma alguma, o Conselho Nacional da


Função Pública a estabelecer novas regras sobre a elaboração da correspondência.

No exercício da competência prevista no n.º 5 do artigo 69 do Decreto n.º 30/2001, o


Conselho Nacional da Função Pública cingir-se-ia, tão somente, a inserir nos modelos
que aprovasse as características da correspondência definidas nos artigos 70 e 71 do
mesmo diploma.

Note-se ainda que, no caso em apreço, a Autoridade Nacional da Função Pública não
só reintroduziu uma fórmula de fecho de correspondência como também determinou
a sua aplicação por instituições autónomas e ainda a tornou aplicável a certidões ou
certificados (cujas características estão definidas por lei), o que, a ser taxativamente
aplicado, abrangeria, por exemplo, os certificados ou certidões tal como definidos na
alínea b) do n.º 4 do artigo 69 do Decreto n.º 30/2001, ou seja, os instrumentos que
comprovam o que consta de assentamento ou de processo.

Do exposto, resulta claro que a Autoridade Nacional da Função Pública agiu fora das
suas atribuições e competências, e, consequentemente a Resolução em apreço está
eivada de vício de incompetência, o que a torna nula.

Ademais, a introdução duma fórmula de fecho de correspondência no quadro político-


jurídico criado pela Constituição de 1990, reafirmado e consolidado pela Constituição
de 2004, determina a necessidade de se adoptarem novos procedimentos, mais
consentâneos com o Estado de Direito. Assim, a introdução de uma tal fórmula, a
ocorrer, envolverá sempre juízos de conveniência ou de oportunidade eminentemente
políticos, pelo que deve ser objecto de acto legislativo da Assembleia da República ou
do Governo nos termos do artigo 143 da Constituição.
Decidindo:

Nestes termos, o Conselho Constitucional delibera não aplicar a Resolução n.º


1/2007, de 2 de Março, da Autoridade Nacional da Função Pública, por ilegal.

Dê-se conhecimento da presente deliberação aos órgãos de soberania, ao Procurador-


Geral da República e à Autoridade Nacional da Função Pública.

Publique-se na III Série do Boletim da República, nos termos do n.º 2 do artigo 35 da


Lei n.º 6/2006, de 2 de Agosto.

Maputo, 12 de Abril de 2007-Rui Baltazar dos Santos Alves-Orlando António da


Graça-Teodato Mondim da Silva Hunguana-Lúcia da Luz Ribeiro-João André Ubisse
Guenha-Lúcia F. B. Maximiano do Amaral.

Você também pode gostar