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A BELEZA DE RECEBER

E aconteceu que, indo ele a Jerusalém, passou pelo meio de Samaria e da Galiléia; E,
entrando numa certa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez homens leprosos, os quais
pararam de longe; E levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós. E
ele, vendo-os, disse-lhes: Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, indo
eles, ficaram limpos. E um deles, vendo que estava são, voltou glorificando a Deus em
alta voz; E caiu aos seus pés, com o rosto em terra, dando-lhe graças; e este era
samaritano. E, respondendo Jesus, disse: Não foram dez os limpos? E onde estão os
nove?
Não houve quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro? E disse-lhe:
Levanta-te, e vai; a tua fé te salvou.
Lucas 17:11-19

O que pode nos levar a perder a sensibilidade quanto ao valor da gratidão frente a
uma experiência milagrosa?
Estamos passando por um tempo que privilegia a efetividade em detrimento da
afetividade e da estética, estética enquanto beleza da vida.
A gratidão é uma atitude frente a vida que poder reconciliar tanto os benefícios da
efetividade quanto da afetividade e da estética da vida.

I – TORNA A VIDA E OS RELACIONAMENTOS BELOS E SIGNIFICATIVOS


Para o professor de psicologia Robert Emmons da California, a gratidão surge a
partir do reconhecimento do comportamento de alguém que tenha se portado:
a) Onerosa para si mesmo.
b) Valiosa para quem recebeu
c) Intencionalmente
A gratidão é o reconhecimento do valor positivo daquilo que estamos
recebendo
As ideias envolvidas na gratidão relacionam-se ao conceito latino gratia, enquanto
gentileza, generosidade, cortesia.
Mesmo carecendo de maior profundidade, uma visão panorâmica sobre gratidão já
se faz suficiente para encontrarmos os seus benefícios éticos e estéticos a partir dessas
ideias. A gratidão torna tanto a vida como os relacionamentos mais belos.
Contudo, o que a ciência traz atualmente é a compreensão dos benefícios da
gratidão para além de um campo moral, ético e estético, inserindo-os também no campo
biológico e psicológico provenientes da vivência de emoções positivas.
A gratidão torna possível o encontro entre a efetividade e a afetividade. Entre o
belo e o efetivo.
II – ESTÁ NA CAPACIDADE DE SABOREAR CADA MOMENTO
A pergunta de Jesus nos remete a uma questão intrigante nesse texto: onde estão os
nove que foram curados, mas não voltaram?
Onde estamos na dimensão do tempo?
Estavam tão preocupados em cumprir com o rito da lei, e serem reintegrados à
sociedade que não se sentiram motivados a agradecer.
A palavra preocupação fala de um estado de de pré. + ocupação. Ou seja, estavam
já previamente ocupados com algo. A preocupação nos afasta na maioria das vezes da
plenitude do presente.
A ansiedade pode ser um dos fatores que esteja promovendo uma insensibilidade
com a experiência da gratidão e com tantas outras coisas importantes da vida.
Quantas vezes nossas obrigações, a lutas e necessidades cotidianas nos capturam
de uma tal forma, que mesmo elas sendo satisfeitas nos esquecemos inclusive de
agradecer por elas.
Contudo, se a gratidão é uma ação protocolar, sem evidenciar o ato em si, ela se
torna automática e não realça nem a grandeza do gesto e o afeto do instante. O
comportamento automático muitas vezes minimiza o valor dos atos
Faça da gratidão não uma etiqueta ou um mero ato protocolar. Faça da gratidão um
estilo de vida, um ato que capture sua atenção para saborear o presente, ela nos ajuda
na apreciação dos eventos e experiências do dia a dia.

III – ESTAR NA CAPACIDADE DE ENXERGAR O OUTRO


Certamente a alegria, o prazer e a satisfação da cura invadiram o coração daqueles
homens.
Embora, a alegria e a satisfação com nossas necessidades sejam sentimentos
genuínos, elas podem em algum momento promover um excesso de encantamento que nos
faz perder a visão do outro por quem fomos agraciados.
Aqueles homens distantes de Jesus seguiram caminho sem a mínima curiosidade de
saber quem era aquele que operou esse milagre. Quantas pessoas alcançadas pela
misericórdia divina se quer buscam conhecê-lo?
A gratidão pode nos fazer enxergar o outro quando só queremos ver a nós
mesmos. Como Emmons disse, a gratidão é reconhecer o quanto um ato em nossa direção
representa um certo custo para o outro, que muitas vezes não é valorizado frente aos
benefícios que eu alcanço através dos seus atos.
A palavra reconhecimento refere-se a ideia de trazer algo a mente novamente, voltar
atrás para ver e conhecer alguém ou algo que se conheceu anteriormente.
É esta a ideia também implícita no texto, quando a bíblia fala que o samaritano voltou
da sua caminhada, voltou da sua jornada para reconhecer, encontra-se novamente com
Jesus para agradecê-lo.
Vivemos um tempo que a velocidade não nos permiti voltar um pouco atrás. Nem
sempre voltar atrás é retrocesso, voltar a trás inclusive pode trazer evoluções no
sentido de que podemos aprender coisas novas e viver novas experiências a partir de novos
referenciais e perspectivas que não foram percebidas na experiência imediata.

IV – É O ATO DE DAR GLORIA A DEUS


Por fim, Jesus chama a atenção para o fato de que a glória deveria ser dada a Deus.
É verdade que o dogmatismo cristão promoveu uma negação doentia acerca da
potencialidade humana, e hoje precisamos recuperar um pouco da beleza existente em sua
própria natureza, enquanto dádiva divina.
Mas o movimento pendular do humanismo a partir de uma lógica binária trouxe uma
responsabilidade totalitária do homem diante das demandas da vida, ignorando os
diferentes níveis de Realidade e sua coexistência.
Quando encontramos a presença divina coexistindo com o natural, e passamos a
reconhecer que não é apenas o sobrenatural que é um milagre, resgatamos a beleza que
existe na simplicidade e a complexidade da vida.
Tal experiência que compreende a coexistência e a cooperação entre o sagrado e o
humano nos fazem ser mais gratos a Deus.

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