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Gênero, corpo e sexualidade nos livros para a infância

XAVIER FILHA, Constantina. Gênero, corpo e sexualidade nos livros para a


infância. Educ. rev., Curitiba ,  n. spe-1, p. 153-169,    2014 .Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S010440602014000500011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em:
12 Mar.  2017. 

O artigo vai trazer um relato do crescimento das publicações sobre gênero,


corpo, sexualidade, diferenças e diversidades nas últimas décadas na literatura
infantil, especialmente de livros. Tendo como ponto de partida uma pesquisa
bibliográfica de aproximadamente 18 livros publicados a partir de 1999, o estudo
ressalta a importância destes enquanto artefatos culturais e consequentemente
instrumentos educativos acerca de “formas de ser” masculino e feminino, promotora
de certas identidades, estabelecidas a partir do conceito da forma “adequada” e
“normal” de se viver a sexualidade, a feminilidade e a masculinidade. Assim sendo, o
presente artigo vai demonstrar o efeito pedagógico desses livros.

O artigo se revela pertinente à pesquisa sobre a sexualidade na infância, visto


que expressa os aspectos presentes nessa literatura que muitas vezes extrapola os
conteúdos curriculares presentes nas escolas.

O artigo em sua análise é norteado pelas ideias foucaultianas sobre os


dispositivos de subjetivação, o que nos é muito interessante para a análise destas
publicações dentro do projeto de pesquisa, ressaltando a dimensão intersubjetiva no
processo de subjetivação através dos jogos que se estabelecem em relação às
práticas coercitivas, retirando o sujeito, no caso a criança, de um lugar de
passividade frente às forças externas.

Nesse processo o artigo revela as características mais comuns entre essas


obras, destacando-se a adoção de uma linguagem impositiva e normativa a respeito
da sexualidade da infância. Aqui um ponto importante trazido pelo texto também,
refere-se ao impacto pedagógico não apenas em crianças, mas, em adultos
também.

O estudo demonstra que frente a temática sobre sexualidade e gênero, esses


livros têm como principal fonte de apoio as ciências biológicas, médicas,
psicológicas e religiosas, sendo que a criança ao ser colocada enquanto objeto de
conhecimento encontra-se em um lugar de esquadrinhamento, medida, estudo,
hierarquizada e homogeneizada, criando-se assim o rótulo da criança “normal”.
Estabelece-se dessa forma um manual de autoanálise frente as condutas
consideradas normais, com vistas a construção de uma identidade.

Há um aumento editorial a partir de segunda metade do século XX da


temática abordada, trazendo a heterossexualidade como a única e desejável
possibilidade de constituição da identidade sexual.

Outra informação significativa trazida pela a autora para o projeto de


pesquisa, é a forma recorrente como nessa literatura infantil o corpo feminino é
apresentado ligado a procriação, o corpo reprodutivo como dado natural, desejado e
esperado. Tanto o corpo feminino como masculino é visto de forma fragmentada,
desvinculados do prazer, lançando bases para a ideia de uma infância assexuada,
que precisa ser educada, evitando-se problemas futuros.

O artigo também informa sobre as mudanças atuais na literatura que saem de


um campo mais pedagógico e se abre para um diálogo, onde a criança se torna
mais participativa, sexuada, que questiona a vida, incluindo a sua sexualidade.

Segundo o artigo, na maioria dos livros a homossexualidade ainda é pouco


presente, a violência sexual e o autoerotismo pouco expressivos, destacando-se as
seguintes características e elementos comuns: a utilização da infantilização pra
explicar a prática sexual e a concepção; tendência a explicar a sexualidade através
de argumentos biológicos, essencialistas e universalistas; modelo familiar patriarcal
e nuclear; informações e conceitos distantes da realidade das crianças; visibilidade
dominante para o gênero masculino; relação de passividade e submissão do gênero
feminino.

O artigo destaca o fato de que a literatura analisada é um produto


sociocultural expressos através de teorias, conceitos, pressupostos teóricos e
científicos, discursos científicos, religiosos, psicológicos e etc.

A pesquisa sugere a possibilidade da própria criança ir atrás de ajuda, de se


proteger e buscar seus próprios direitos em caso de violência.

O artigo conclui que a literatura poderia produzir forma imaginativas de


produção de subjetividade, meios de diálogo com o público leitor, brincar de novos
jeitos e vivências que promovam práticas de liberdade na dimensão do ser menino e
ser menina.

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