COMO LIDAR COM AS DEMANDAS MAIS PROFUNDAS DA VIDA?
I – NÃO TRATÁ-LAS DE MODO SUPERFICIAL
Quando Jesus faz à aquela mulher a proposta lhe dar água viva, ela coloca uma impossibilidade que diz respeito à profundidade do poço. Aquela mulher não está simplesmente falando da profundidade do poço de água, ela está falando do buraco profundo que existe dentro da sua própria alma. Ela está falando do seu próprio mundo interno. A profundidade do poço era proporcional à profundidade de seu vazio existencial. Ela está falando de si mesmo e da ineficiência dos instrumentos que ela tem utilizado em sua história para encontrar aquilo que possa lhe dar sentido e realização na vida. A sensação de vazio é a mesma de todos aqueles que muitas vezes de alguma forma passam a vida tentando dar conta de alguma coisa que possa de fato preencher a sua vida. Esse texto nos fala de nossas necessidades mais profundas, que não podem ser trabalhadas na dimensão de uma visão superficial sobre a vida. Quantas vezes estamos lidando com demandas tão profundas da vida de maneira superficial e simplistas? A vida em sua complexidade requer de nós respostas que não sejam pautadas em relações superficiais, simplistas e reducionistas, mas, que contemple toda sua dimensão complexa e profunda.
II – ENCONTRANDO DENTRO DE SI TODAS AS FORÇAS NECESSÁRIAS PARA
VIDA Há uma questão no texto que se apresenta na diferença entre a água do poço que era buscada por aquela mulher, e a água da fonte prometida por Jesus. Há uma tensionamento e diferenciação entre o poço e a fonte referida por Jesus, que remetem aos mecanismos pelos quais escolhemos para lidar com as necessidades mais profundas das nossas vidas. Os poços dessa época tinham que se descer a pé, a água não tinha pressão para chegar a superfície. A água do poço é uma água da superfície, parada, que precisa de um fator externo para que ela chegue até a superfície. Quais foram os mecanismos buscados por aquela mulher para lidar com sua incompletude? Em primeiro lugar a própria religião foi um instrumento buscado para tentar preencher seu vazio existencial Em segundo ela busca na própria relação com o outro, algo que pudesse dar conta de sua condição existencial como ser faltante. O que Jesus propõe é que algo seja construído a partir de uma relação que promova na vida daquela mulher uma autonomia que a leve a encontrar dentro de si mesmo tudo que de fato é fundamental e essencial como força de vida sem uma dependência de fatores externos. Aquela mulher pode agora encontrar dentro de si mesma tudo que supostamente não havia encontrado nas relações afetivas e religiosas, o amor que tanto precisava. A mulher samaritana acreditando que suas respostas estariam pura e simplesmente na vida sexual, pôde então agora entender que de fato há algo muito mais profundo que cada ser humano precisa que é ser amado. O amor que nos preenche por inteiro é sem dúvida o maior impacto dessa relação com a Graça de Cristo e a presença do seu Espírito Santo, que faz jorrar em nós todas as forças de vida. No verso 28 o fato de deixar seu cântaro e ir até a cidade é um ato simbólico de que aquela mulher não precisava mais de algum instrumento para pegar fora, o que já podia ser encontrado dentro dela mesmo. Uma autorrealização construída em uma fonte interior de vida.
III – BUSCANDO UMA VIDA DE RELAÇÃO POTENTE
Quando a fonte da vida é instalada dentro de nós, Jesus nos devolve à vida. Quando a mulher é seduzida pela proposta de Jesus, ela quis única e exclusivamente para si água. Mas a vida é relação e Jesus pediu que ela fosse buscar seu marido. A água viva nos devolve ao mundo, não é preciso se excluir os objetos com os quais nos relacionamos com a vida, o que muda é a nossa relação com eles. Jesus reconhece e valida o desejo e a necessidade daquela mulher de ter um marido, não é negar a importância de ser ter alguém, ou qualquer uma outra coisa, é a mudar a relação com esse outro que deve ser mudada, de um lugar de causa para um lugar de consequência. Ela não se encontra mais no lugar de objeto, passiva na relação com os homens, pois, ela possui uma fonte de vida dentro de si. Porque eu tenho agora uma fonte dentro de mim, eu posso jorrar, eu posso compartilhar e dar água, e não simplesmente tornar o outro o lugar onde eu busco saciar os meus desejos mais profundos em relação a vida. Seus sonhos, seus projetos, a família, o dinheiro e tudo mais não são contraditórios a uma vida no Espírito, quando passamos a dar uma relação diferente a cada um deles em nossa vida como consequência dessa nova relação com Deus em nossas vidas.