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João 4,1-30

COMO LIDAR COM AS DEMANDAS MAIS PROFUNDAS DA VIDA?

I – NÃO TRATÁ-LAS DE MODO SUPERFICIAL


Quando Jesus faz à aquela mulher a proposta lhe dar água viva, ela coloca
uma impossibilidade que diz respeito à profundidade do poço.
Aquela mulher não está simplesmente falando da profundidade do poço de
água, ela está falando do buraco profundo que existe dentro da sua própria alma.
Ela está falando do seu próprio mundo interno.
A profundidade do poço era proporcional à profundidade de seu vazio
existencial.
Ela está falando de si mesmo e da ineficiência dos instrumentos que ela tem
utilizado em sua história para encontrar aquilo que possa lhe dar sentido e
realização na vida.
A sensação de vazio é a mesma de todos aqueles que muitas vezes de
alguma forma passam a vida tentando dar conta de alguma coisa que possa de fato
preencher a sua vida.
Esse texto nos fala de nossas necessidades mais profundas, que não podem
ser trabalhadas na dimensão de uma visão superficial sobre a vida.
Quantas vezes estamos lidando com demandas tão profundas da vida de
maneira superficial e simplistas?
A vida em sua complexidade requer de nós respostas que não sejam
pautadas em relações superficiais, simplistas e reducionistas, mas, que contemple
toda sua dimensão complexa e profunda.

II – ENCONTRANDO DENTRO DE SI TODAS AS FORÇAS NECESSÁRIAS PARA


VIDA
Há uma questão no texto que se apresenta na diferença entre a água do poço
que era buscada por aquela mulher, e a água da fonte prometida por Jesus.
Há uma tensionamento e diferenciação entre o poço e a fonte referida por
Jesus, que remetem aos mecanismos pelos quais escolhemos para lidar com as
necessidades mais profundas das nossas vidas.
Os poços dessa época tinham que se descer a pé, a água não tinha pressão
para chegar a superfície. A água do poço é uma água da superfície, parada, que
precisa de um fator externo para que ela chegue até a superfície.
Quais foram os mecanismos buscados por aquela mulher para lidar com sua
incompletude?
Em primeiro lugar a própria religião foi um instrumento buscado para tentar
preencher seu vazio existencial
Em segundo ela busca na própria relação com o outro, algo que pudesse dar
conta de sua condição existencial como ser faltante.
O que Jesus propõe é que algo seja construído a partir de uma relação que
promova na vida daquela mulher uma autonomia que a leve a encontrar dentro de si
mesmo tudo que de fato é fundamental e essencial como força de vida sem uma
dependência de fatores externos.
Aquela mulher pode agora encontrar dentro de si mesma tudo que
supostamente não havia encontrado nas relações afetivas e religiosas, o amor que
tanto precisava.
A mulher samaritana acreditando que suas respostas estariam pura e
simplesmente na vida sexual, pôde então agora entender que de fato há algo muito
mais profundo que cada ser humano precisa que é ser amado.
O amor que nos preenche por inteiro é sem dúvida o maior impacto dessa
relação com a Graça de Cristo e a presença do seu Espírito Santo, que faz jorrar em
nós todas as forças de vida.
No verso 28 o fato de deixar seu cântaro e ir até a cidade é um ato simbólico
de que aquela mulher não precisava mais de algum instrumento para pegar fora, o
que já podia ser encontrado dentro dela mesmo. Uma autorrealização construída em
uma fonte interior de vida.

III – BUSCANDO UMA VIDA DE RELAÇÃO POTENTE


Quando a fonte da vida é instalada dentro de nós, Jesus nos devolve à vida.
Quando a mulher é seduzida pela proposta de Jesus, ela quis única e
exclusivamente para si água.
Mas a vida é relação e Jesus pediu que ela fosse buscar seu marido. A água
viva nos devolve ao mundo, não é preciso se excluir os objetos com os quais nos
relacionamos com a vida, o que muda é a nossa relação com eles.
Jesus reconhece e valida o desejo e a necessidade daquela mulher de ter um
marido, não é negar a importância de ser ter alguém, ou qualquer uma outra coisa, é
a mudar a relação com esse outro que deve ser mudada, de um lugar de causa para
um lugar de consequência.
Ela não se encontra mais no lugar de objeto, passiva na relação com os
homens, pois, ela possui uma fonte de vida dentro de si.
Porque eu tenho agora uma fonte dentro de mim, eu posso jorrar, eu posso
compartilhar e dar água, e não simplesmente tornar o outro o lugar onde eu busco
saciar os meus desejos mais profundos em relação a vida.
Seus sonhos, seus projetos, a família, o dinheiro e tudo mais não são
contraditórios a uma vida no Espírito, quando passamos a dar uma relação diferente
a cada um deles em nossa vida como consequência dessa nova relação com Deus
em nossas vidas.

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