Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FOZ DO IGUAÇU
2008
2
FOZ DO IGUAÇU
3
2008
RESUMO
ABSTRACT
Um olhar introdutório
com todos, indistintamente. No entanto, foi possível perceber também que, embora
haja um discurso teórico inovador, a prática continua conservadora. Poucos
assumem o compromisso de adaptar a aprendizagem de acordo com a necessidade
dos alunos na comunidade escolar, para que estes se sintam bem vindos, seguros e
alcancem êxitos.
Quanto ao perfil da maioria dos alunos que freqüenta as Salas de Recursos,
pelas respostas dos professores entrevistados e pelos relatos da avaliação do
processo de implementação do material didático, no 1º semestre de 2008,
constatou-se que: “têm condições sócio-econômica baixa”; “alguns são
descendentes do Paraguai sem nenhum domínio do Português”; “alguns residem no
meio rural com pouco acesso à cultura letrada”; “todos têm um histórico de uma,
duas ou três repetências”; “o nível de escolaridade da maioria dos pais é Ensino
Fundamental incompleto”.
Nas avaliações psicoeducacionais, realizadas por psicólogos e pedagogos,
estes alunos foram diagnosticados com indicativos de “deficiência intelectual ou
transtornos funcionais específicos ”. Considerando este diagnóstico, os professores
da classe comum, juntamente com o professor especializado e a equipe técnico-
pedagógica da escola, com a autorização dos pais ou responsáveis, encaminham os
avaliados ao serviço de apoio especializado em contra-turno, com a finalidade de
complementar com atividades diferenciadas, a defasagem do aluno no seu percurso
escolar, para que estes possam obter sucesso e, desta forma, sejam removidas as
barreiras de aprendizagem na classe comum. É importante mencionar que este
encaminhamento não dispensa o professor da série que o aluno freqüenta, a inserir
no seu planejamento propostas de flexibilização e adaptação curricular, conforme as
possibilidades deste estudante.
Desta forma, os alunos considerados especiais são então encaminhados
para a Sala de Recursos, sem que se tenha desenvolvido um trabalho na sala de
aula que atenda às diferenças individuais e às necessidades trazidas por esses
alunos, o que contraria a proposta das Diretrizes Curriculares da Rede Pública de
Educação Básica do Estado do Paraná.
O apoio pedagógico em contra-turno, geralmente, prioriza o reforço dos
conteúdos dados em sala de aula em detrimento de um trabalho com a leitura
significativa e a compreensão e registros de textos escritos, que responderiam mais
adequadamente às necessidades maiores dos alunos que, conforme foi observado,
estavam mais relacionadas às dificuldades em relação à leitura e à escrita, em todas
13
as disciplinas.
Este perfil nos alerta para a necessidade do desenvolvimento de ações que
levem em conta as diferenças entre a cultura privilegiada pela escola e a cultura
destes alunos, para que sejam desenvolvidas práticas que contribuam para que
estes mantenham e desenvolvam sua competência cultural, experienciem o sucesso
e desenvolvam uma consciência crítica que lhes possibilite desafiar a naturalização
da ordem existente.
Diante deste enfoque que requer uma reflexão mais aguçada do professor
sobre a condição social do aluno e levando em conta os questionamentos dos
professores do ensino comum entrevistados, ainda ficou evidente que todos
reconhecem o direito dos alunos à inclusão com qualidade, respeitam as diferenças,
mas se sentem perplexos, despreparados e inseguros para trabalhar com as
dificuldades, principalmente em relação à compreensão da leitura e da escrita, o que
motivou o desenvolvimento deste projeto, como já mencionado.
É importante lembrar que, conforme nos alerta Kleiman (s.d.) e também
Abreu (2001), a leitura se configura essencialmente como um processo social, em
que autor e leitor, situados sócio-historicamente, constroem sentidos que refletem
tanto o contexto social imediato como o mundo social mais amplo. No entanto, o que
se percebe no contexto escolar, salvo raras exceções, é que a leitura e a escrita são
tratadas, geralmente, como questões individuais, o que leva à classificação das
dificuldades dos alunos como “erros”, “desvios”, “distúrbios” que só os especialistas
podem resolver, conforme argumentam os professores.
Para garantir um trabalho com a leitura e a escrita como práticas sociais é
que se propôs um encaminhamento metodológico por meio de “Seqüências
Didáticas”, fundamentadas na concepção de linguagem como forma de interação
sócio-cultural, que orienta também as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná
(2006, p.20), e segundo a qual se reconhece o homem como ser humano que
interage e troca experiências, “compreende a realidade em que está inserido e
percebe o seu papel como participante da sociedade”. Nessa perspectiva sócio-
interacionista de ensino-aprendizagem, o professor pode contribuir para promover a
inserção social do aluno, oportunizando-lhe perceber a relação concreta do ensino-
aprendizagem com a vida. Para Padilha (2005,p.19), “as relações concretas de vida
acontecem nas práticas discursivas – ações humanas integradas em ações
significativas”.
Para exemplificar esta compreensão da leitura e escrita como práticas
14
sociais, pode-se citar o exemplo de um aluno das Salas de Recursos que, até
aquele momento, não conseguia escrever de forma que seus professores pudessem
construir um sentido para sua escrita. No entanto, ao ser informado de que os
trabalhos resultantes da seqüência didática seriam expostos no moral durante o
seminário em que os participantes do Projeto aqui descrito estariam presentes, isto
é, haveria leitores ‘reais’ para seu texto, em situações sociais ‘reais’ de uso da
escrita, este apresentou uma escrita totalmente diferente das anteriores, o que nos
sinaliza para a importância de se trabalhar na escola com práticas contextualizadas.
A partir destas constatações, pôde-se entender que as práticas da linguagem
como fenômeno de uma interlocução viva perpassam todas as áreas do agir
humano potencializando, na escola, a perspectiva interdisciplinar. Considerando a
dimensão dialógica da linguagem, Kleiman (1989, p.18) afirma que “estes enfoques
que partem do princípio que linguagem é interação trazem resultados positivos,
válidos, defensáveis”, o que nos alerta para a importância da formação continuada
do professor para que ele possa compreender os fundamentos teóricos, possa
avaliar a situação de seus alunos e possa tomar decisões que levem à mudança,
estabelecendo uma relação indissociável entre teoria/prática. Desta forma, muitas
queixas que aparecem nas entrevistas dos professores – como “os alunos lêem e
escrevem pouco”; “fazem as leituras dos livros didáticos somente quando são
solicitados e escrevem para a realização das tarefas escolares”; “não têm o hábito
de ler os textos até o final”; “geralmente lêem só para responder as questões
programadas para o “Entendimento do Texto”, etc. – poderiam ser evitadas, em
direção a outras possibilidades que garantissem o sucesso escolar destes alunos.
Essas considerações induzem-nos a pensar a proposta das escolas
considerando a diversidade social, econômica e cultural existente em nossa
sociedade, para que se repense a tradicional organização da prática pedagógica,
predominantemente centrada no ensino e não na aprendizagem. Dentre outros
aspectos,
... precisamos de escolas de boa qualidade, acessíveis a todos, que
estimulem e aumentem a participação e reduzam a exclusão de
crianças, adolescentes, jovens e adultos das comunidades escolares,
compreendendo a inclusão como um processo permanente e
dependente de contínua capacitação dos educadores, levando-os a
promover o desenvolvimento pedagógico e organizacional dentro das
escolas regulares. (CARVALHO, 2004, p.88).
número de personagens (Onde vivem? O que fazem?), balões que irão utilizar
(cochicho, fala, pensamento, censura, segredo, grito, medo e outros), as
onomatopéias que expressam os ruídos e um final emocionante para a história.
Dramatizar a história elaborada para os colegas de turma.
Observação: Trabalhar todos os gêneros apresentados na pesquisa.
3. Exploração da Análise Lingüística
Destacar marcas lingüísticas que mostram a intenção do autor para com seu
leitor. Ex.: Você em vez de vocês (construção de uma relação mais próxima);
uso da impessoalidade, etc.
Reler os textos produzidos e identificar os recursos de coesão utilizados (a
ordem das palavras no período, as marcas de gênero e de número, as
preposições, os pronomes pessoais, os tempos verbais, os conectivos
funcionam também como elos coesivos).
Organizar as idéias numa rede de significados e entrelaçar gramaticalmente as
frases e os períodos, estabelecendo a coesão (articulações que estabelecem
relações das idéias).
Explorar a coerência textual, identificando as estruturas básicas para
compreender o funcionamento do texto, lançando perguntas ao texto ( Quem
escreve? Que tipo de texto é? A quem se destina? Onde é veiculado? Qual é o
objetivo? Quais são as idéias principais? Quais são as partes do texto que
apresentam objetivos, conceitos, definições, conclusões? Quais são as
relações entre as partes? )
Elaborar questionamentos que levem o aluno a eleger a palavra que mais
combina com o contexto, que é a mais exata para a idéia que se quer transmitir
(identificação de palavras conhecidas e desconhecidas, mostrando ao aluno que
nossas escolhas não são neutras).
Observar nos textos, estruturas sintáticas e gramaticais relevantes para a
compreensão da leitura (o texto está correto quanto às exigências da língua
padrão ou outras variedades? As transições entre as idéias estão corretas e
claras? Os conectivos são adequados às relações entre as idéias? A divisão de
parágrafos corresponde às unidades de idéias?).
Analisar a linguagem aplicada ao texto (O estilo da linguagem é formal ou
informal? A linguagem está adequada à situação? A opção escolhida tornou o
texto harmonioso ou há oscilações súbitas e inadequadas?).
24
Considerações finais
Em resposta às inúmeras e significativas reflexões sobre o direito de todos à
educação é que se propôs o objetivo deste projeto que foi desenvolver estudos e
discussões sobre concepções, princípios e diretrizes de um sistema educacional
inclusivo, com a finalidade de propiciar ensino diferenciado e de qualidade para
alunos com necessidades educacionais especiais que participam das Salas de
Recursos, focalizando em especial o papel da leitura e escrita no Ensino
Fundamental, o que resultou nas conclusões e avaliações e conclusões realizadas
pelos participantes do projeto e que serão resumidas a seguir.
Primeiramente, os participantes relataram que o roteiro com seqüências
didáticas elaborados e implementados evidenciou-se produtivo para o estudo da
leitura e da escrita como práticas sociais com suas múltiplas funções, mostrando-se
28
Referências Bibliográficas