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APONTAMENTOS ANTROPOLOGIA - TEMA 1

Bibliografia de apoio: Textos de Antropologia Geral, Lúcio Sousa, Universidade Aberta, 2016/2017


"Antropologia é o estudo da humanidade, em toda a parte e através do tempo, feito com intenção de
produzir conhecimento fiável sobre as populações humanas e o seu comportamento, tendo em conta o
que as torna simultaneamente iguais e diferentes" Batalha,L (2005)
A antropologia não é uma ciência das sociedades longínquas e exóticas, nem mesmo das pequenas
comunidades ou das sociedades simples. Nascida na segunda metade do século XVIII na Europa, nos
primórdios do iluminismo, nasce como sendo uma filosofia da cultura. interessou-se pelo Homem
(άνθρωπος - anthropos) como objeto de estudo (λόγος, logos), no século XIX acompanhou a expansão
colonial, industrial, científica e tecnológica europeia. Nessa época os antropólogos debruçaram-se sobre as
sociedades ditas “primitivas” ou “longínquas” como numa situação de laboratório, para assim
compreenderem a organização “complexa” das suas próprias sociedades. Após a descolonização a
Antropologia regressa aos países de onde partira mas fica também por lá afirmando, num e noutro lado, a
sua pertinência e contemporaneidade.
A antropologia – surgiu e desenvolveu-se com o estudo dos povos sem tradição escrita, obrigando
antropólogos a tentar entender língua, economia, religião, mitologia, leis como partes de um todo e não
como fragmentos estanques tornando-se generalista ao invés de especialistas.
Após a teoria de Darwin (teoria evolucionista-selecção natural), a Antropologia passou a ser pensada como
uma ciência, para enquadrar o homem e suas culturas, assim refere (Sousa pp.9) "num plano contínuo ou
mesmo paralelo ao plano biológico".
A Antropologia como ciência (ciência humana) o ser humano é o objeto de estudo, procura entende-lo,
como ser da natureza, fá- lo privilegiando  um aspeto ou uma dimensão.
A antropologia estuda não as pessoas mas com as pessoas: observação participante é o método por
excelência da antropologia, em que o antropólogo está imerso na sociedade que estuda participando na
vida das pessoas, como qualquer membro da comunidade, o que inclui aprendizagem da língua, etc. (p. 12)

CONCEITOS: Alteridade, etnologia, etnografia, cultura/sociedade, terreno, Observação participante


Alteridade- No estudo da antropologia, a alteridade é o conceito que define a existência do indivíduo a
partir da relação com o outro. A alteridade é a diferença entre o indivíduo dentro da sociedade e o
indivíduo como unidade. Esses dois conceitos só podem existir em função um do outro. Nenhum indivíduo
pode existir senão a partir da visão e do contato com o outro. Não pode haver indivíduo se não houver uma
relação estabelecida entre ele e outro ou outros (a coletividade).
Os conceitos de eu como indivíduo e eu como parte da sociedade são interdependentes; segundo o estudo
da lógica, só se pode construir a individualidade a partir da ideia da coletividade. É essa existência do eu
individual a partir do outro que permite ao homem tentar compreender o mundo através dos olhos de
outro e sensibilizar-se pela experiência alheia a partir desta relação.
O conceito de alteridade é muito importante dentro do estudo da antropologia porque somente através da
experiência de ver-se através dos olhos dos outros é que conseguimos nos compreender. Para conhecer
bem a cultura da própria sociedade é preciso, em primeiro lugar, olhar para ela como uma das
possibilidades de evolução das relações humanas, não a única. Sem essa visão diferente, não seria possível
estudar e entender a própria sociedade.

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Na base da vida do homem em sociedade estão as diferenças. As diferenças só podem ser notadas através
da alteridade.

O "algo completamente diferente" a que se refere Barnard (pag.12) refere-se à alteridade, ao "outro"
como  referência da antropologia. A antropologia estuda especificamente o que é diferente, e que se opõe
à atitude etnocêntrista.
Todas as culturas são etnocêntricas e todas as pessoas são um pouco etnocêntricas, porque a todos causa
estranheza e incómodo o que é diferente. A antropologia e os antropólogos colocam-se no pólo oposto, do
relativismo cultural, ou da alteridade. 
A alteridade cultural é a aceitação da pluralidade humana, de todas as formas de cultura. (Aceitação
científica o facto de existirem sociedades polígamas não implica que eu queira isso para o meu modo de
vida, mas que quero compreender como e porquê surgiram e o que implicam para as pessoas envolvidas).

Assim, estes três termos- alteridade, etnocentrismo e relativismo cultural são conceitos a fixar.

Reflexividade – No centro da Antropologia está a necessidade ou curiosidade em compreender o Outro, o


que não faz somente com que possamos adquirir dados sobre este, mas também refletir sobre o Nós,
essencial para um diálogo intercultural. Esta relação entre o Outro e o Nós desenvolve-se numa dicotomia:
Diferenças – Semelhanças.
Legitimidade das culturas – A importância de se aprender com outras culturas como o caso dos “indios”
que persistem como fontes de saber e de estudo, uma vez que estão inseridos em sociedades em que são
parte integrante delas, independentemente das condições em que vivam.
Especificidades da Antropologia: A emergência da Antropologia como ciência, ocorre em meados do sec.
XIX no contexto específico das soc. Europeia e Americana. Os 1ºs Antropólogos distribuíam a sua atenção
por todos os temas trabalhados no âmbito da Antropologia, numa perspetiva evolucionista. Ao
institucionalizar-se na academia, começam a a sair os 1s º profissionais com experiencia de terreno e com
interesse em compreender as Soc. Contemporâneas e as suas dinâmicas, em vez de apenas especularem
sobre como estas se teriam desenvolvido. Dá-se assim início a 2 facetas:
Especializações regionais ou de área (regiões do globo ou grupos específicos como Africa, ciganos, etc) e
Especificações teóricas (Estudo de um tema em particular ou abordagem especifica, como etnicidade,
Antropologia Aplicada, económica, etc).
2.1. Cinco campos de estudo da Investigação (TEMA 1)
Na sua dimensão mais geral a Antropologia engloba um conjunto de campos de investigação, em que se
destacam cinco áreas principais:
1) A antropologia biológica ( tb antes designada antropologia física) – Que estuda as variações dos
carateres biológicos do homem no espaço e no tempo. Interessa-se pelas relações entre o património
genético humano e o meio geográfico e social, considera os fatores culturais que influenciaram o
crescimento e as transformações pelas quais passam os indivíduos desde a sua conceção biológica até á
sua maturidade
2) A antropologia pré-histórica (ou Antropologia) – Que estuda o homem através dos vestígios materiais e
de todos os traços da sua atividade passada. Está ligada à Arqueologia e tem como objetivo reconstituir
historicamente sociedades desaparecidas, descobrindo as suas técnicas e organizações socias como as suas

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produções culturais e artísticas. O antropólogo da pré história e o arqueólogo efetuam o trabalho de
campo recolhendo pessoalmente os objetos do solo.
3) A antropologia linguística – A língua faz parte integrante do património cultural de uma sociedade, é o
aspeto mais importante da cultura humana, uma chave para a compreensão dos outros aspetos.
O passo + importante dos antropólogos “ quando se propõem estudar “outra cultura, é aprender a língua” (
Batalha, 2004:31), pois esta permite compreender como os homens pensam, o que vivem, e o que
experienciam, conhecendo assim as suas categorias psicoafectivas e psicocognitivas, que constitui o campo
especifico da Etnolinguística.
4) A antropologia psicológica – Estuda o Homem mais no domínio estrito da psicologia e da psicanalise,
enquanto observação e estudo dos comportamentos conscientes e inconscientes dos seres humanos, sem
o qual não seria possível a analise do homem na sua totalidade e diversidade.
5) A antropologia social e cultural – Envolve o estudo detalhado das diferentes sociedades humanas, do
universo da atividade social e cultural do ser humano no seio da sociedade, onde o seu objeto específico é
a análise dos modos de produção e circulação da economia, técnicas materiais e culturais, organização
politica, jurídica e social, da religião, dos sistemas de conhecimento, da língua, dos comportamentos e
criações artísticas de uma sociedade. A recolha de informação é feita através de observação participante,
para além da análise de documentação; tem tb uma componentes da Antropologia Histórica no que
respeita á recolha e análise de artefactos. A antropologia cultural é a denominação + comum nos EUA
enquanto na no Reino Unido e outros países é a Antropologia social.
A antropologia social e cultural é uma especialidade que recorre constantemente à integração de
diferentes saberes. O estudo da sociedade sob uma perspetiva de totalidade e integradora distingue-se das
outras abordagens e perspetivas, destacando-se assim o seu caracter holístico.
A Antropologia e em particular a Antropologia Social e Cultural têm uma interdisciplinaridade com outras
ciências  de natureza social (seguindo Barnard 2006, 8-9):
Sociologia – Ambas estão interessadas no estudo da sociedade; difere no facto da Antropologia social dar
enfase ás diferentes culturas, com 1 visão de comparação e 1 perspetiva intercultural.
Psicologia – A Antropologia Social tem uma afinidade com a Psicologia, tendo interesse no estudo da
relação entre a cultura e a personalidade.
Ciência política – A Antropologia Social partilha o interesse com o estudo das relações de poder
Geografia – A relação da Antropologia Social com a Geografia tem como interesse comum os padrões de
fixação humana e os contactos culturais, sendo a ecologia cultural por vezes considerada 1 parte da
Antropologia.
Economia – A relevância do tema nas sociedades estudadas levou á criação da Antropologia Económica.
Educação – Afinidade sobretudo numa abordagem multicultural, e estudos comparativos de sistemas
educacionais.
Historia – Adquiriu um papel importante, essencialmente a historia oral;
Arte - Relevante devido aos seus aspetos sociais
ANTROPOLOGIA – ETNOLOGIA – ETNOGRAFIA
São consideradas etapas da Investigação em Antropologia:
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Etnografia – Estudo dos usos e costumes dos povos primitivos (finais sec. XIX inicio sec. XX). A sua essência
é a aprendizagem do modo de vida do nativo, através da pratica em conjunto e de partilha com o próprio e
NÃO a mera recolha de informação, tratando as pessoas como parceiros de interação e não como “ objetos
de estudo”.
Corresponde á fase da investigação no terreno, recolha de informação através da OBSERVAÇÃO
PARTICIPANTE que consiste em ficar vários meses num lugar a estudar a vida de 1 grupo de pessoas ou
pequena sociedade. A permanência do Etnógrafo (Antropólogo na sua função de recolha de informação)
inserido no grupo humano, garante informação em 1ª mão que de outro modo não era possível recolher
(além de recolher informação, questiona, filma, fotografa, os diferentes aspetos da vida social do grupo.

Etnologia- Corresponde a uma primeira fase de comparação e síntese de dados num âmbito regional,
interpretando a e analisando a informação etnográfica. A etnologia procura comparar a informação
etnográfica recolhida em diversos locais e sociedades para demonstrar e comparar a diversidade de
elementos culturais.

Antropologia social ou cultural- última fase de síntese global, de modo a evidenciar a especificidade da
cultura ou sub-cultura investigada.

Cultura- Modos de vida específicos e diferentes. "O que nos ocupa em Antropologia é a construção de
cultura e não a cultura real. A construção de cultura apresenta a cultura real com a precisão que a
metodologia científica permite". PAG.28 Textos Antropologia
Edward Taylor no final do séc. XVIII definiu Culture como “ tomado em seu amplo sentido etnográfico, é
este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra
capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”
Características da Cultura – Entre as características da cultura, vários autores identificaram as seguintes:

 A Cultura é partilhada – A cultura não pode existir sem sociedade, ela é apreendida socialmente e
nem tudo é uniforme dentro de uma cultura.
 A cultura é apreendida – Através da aprendizagem social, mais do que da herdada biologicamente,
nomeadamente através da linguagem.
 A cultura baseia-se em símbolos – A cultura é transmitida através de ideias, emoções e desejos
expressos através da linguagem e é através desta que os humanos transmitem cultura de uma
geração para outra pela experiencia cumulativa partilhada.
A capacidade para criar símbolos e o pensamento simbólico são exclusivamente da raça humana.
Um símbolo é aquilo que representa algo, está em lugar de alguma coisa e esta conexão pode ser
simbolizada de forma diferente segundo as culturas.
 A Cultura é integrada – Todos os aspetos da cultura funcionam como um todo integrado, a
mudança que ocorra numa parte de uma cultura normalmente afeta outras partes. È necessário
que uma cultura tenha o seu grau de harmonia, no entanto, não se exige uma harmonia completa.
 A Cultura é geral e especifica – A capacidade para a cultura é partilhada pelos seres humanos sendo
esta um carater inclusivo, no entanto, as pessoas vivem em culturas com modos de vida específicos
e diferentes, com características homogéneas, uniformes e de harmonia, mas também com
condicionantes ecológicos e socio históricos particulares.
 A cultura é uma estratégia – As pessoas podem manipular e interpretar a mesma regra de modos
diferentes utilizando a sua cultura de forma criativa ou como forma de resistência.
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 Neste pressuposto, podemos dizer que a cultura é produtora de mudanças e conflito, é um
processo e um conjunto de estratégias.
 A Cultura é dinâmica e continua - Devido ao contacto e mudanças ocorridas, mas o seu crescimento
não é uniforme.

- A ideia dos universais de cultura (p. 30);

-Conceitos de etnocentrismo e relativismo cultural (pp. 30-32);

Componentes da cultura – Marconi e Presotto, apresentam de forma sucinta os componentes que


constituem a cultura:
Conhecimento – Todas as culturas possuem conhecimentos que são transmitidos de geração em geração.
São geralmente conhecimentos práticos.
Crenças – É “ a aceitação como verdadeira de uma preposição comprovada ou não cientificamente.
Consiste numa atitude mental do individuo, que serve de base á ação voluntaria. Embora intelectual,
possui conotação emocional.
Existem 3 tipos de crenças:
Pessoais: Aceite por um individuo como certas, apesar das crenças dos demais
Declaradas: Aparenta aceitar como verdadeiras, no seu comportamento público, e que menciona-as
apenas para defender ou justificar as suas ações perante os outros
Públicas: Os membros de um grupo concordam, aceitam e declaram como suas crenças comuns.
Valores – O valor expressa sentimentos e incentiva e orienta o comportamento humano. Segundo as
autoras existem dois elementos no valor: Um EMOCIONAL e outro IDEACIONAL.
Os valores variam de acordo com a importância que os membros da sociedade lhe atribuem pelo que é
difícil a sua medição mas reconhecida a sua existência.
Símbolos – Símbolos são os significados atribuídos a algo, em determinados contextos culturais, a pessoas
coisas ou ideias. Os significados podem ser:
Arbitrários – Na medida em que não têm relação obrigatória com as propriedades físicas dos
fenómenos que os recebem.
Partilhados – Quando o símbolo tem o mesmo significado para diferentes culturas ou para uma
sociedade em particular.
Referenciais – Quando os símbolos se referem a algo específico.
Para analisar a cultura foram desenvolvidos os conceitos de TRAÇOS, COMPLEXOS e PADRÕES CULTURAIS
Traços culturais – São os elementos menores que permitem a descrição da cultura que se pode isolar no
comportamento cultural.
Os traços podem ser materiais (objetos) ou não materiais (atitudes, comunicação, habilidades)
Complexos culturais – Pode ser um grupo de características culturais interligadas, encontrado numa ares
cultural, uma vez que cada cultura engloba um numero variável de complexos culturais. Exemplo: O

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CARNAVAL, com os diferentes traços interligados: carros alegóricos, musica, dança, desfile, organização,
etc.
Padrões culturais – Existem padrões de comportamento distintos em todas as sociedades, pois estas não
são completamente homogéneas, como por exemplo no caso do género e da idade. O comportamento dos
indivíduos é influenciado por padrões culturais embora os indivíduos possam alterar padres e praticas pré
estabelecidas.
Configurações culturais – Consiste na integração dos diferentes traços e complexos de uma cultura, é uma
qualidade específica que tem a sua origem no inter-relacionamento das partes que constituem uma
cultura.
Áreas culturais – São territórios geográficos onde as culturas se assemelham e os indivíduos compartilham
os mesmos padrões de comportamento.
Sub cultura- è considerada como um meio peculiar de vida de um grupo menor, dentro de uma sociedade.
Enculturação – è um processo comum a todas as culturas e sociedades e consiste na aprendizagem da
língua e cultura de um povo.
Universais de cultura – São formas comuns de práticas culturais, modos de pensar e de comportamentos
que são idênticos (exemplo: as formas de cumprimentos são variadas, mas todas manifestam uma forma
de estabelecer uma relação).
Outros exemplos:
 A linguagem
 A vivência em grupos sociais, como a família, e a partilha de alimentos.
 O tabu do incesto (regra que proíbe as relações sexuais e o casamento entre parentes próximos).
 O etnocentrismo cultural
 A família

ETNOCENTRISMO – É uma visão do mundo e dos outros de acordo com a qual cada grupo se vê como o
centro de tudo e todos os outros se medem por referencia a ele. Cada grupo fomenta a sua própria
vaidade e o sue orgulho, proclamam a sua superioridade e as suas próprias divindades e descreve com
desprezo dos outros. No plano intelectual pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no
plano afetivo como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc.
O etnocentrismo pode manifestar-se em diferentes níveis; tribo, aldeia, região, nação/estado, minoria
étnica, área cultural, classe ou individuo.
O Problema do etnocentrismo é a intolerância cultural face á diversidade, negligenciando a ALTERIDADE, e
o fechar as portas á curiosidade pelo conhecimento, sendo uma atitude etnocentrista que pode resultar
numa ideologia com praticas racistas.
Trata-se de uma relação entre 2 elementos: o “nós” e os “outros”, se bem que esta dicotomia é
desconsiderada por aquele que detém o poder. A relação que e valorizada é o “nós-motor” que omite e
esquece o outro, justificando assim as suas ações (Descolonização e democratização).
RELATIVISMO CULTURAL – É uma das ideias centrais da Antropologia em oposição ao etnocentrismo.
Como estudar e compreender regimes que praticam o genocídio, o infanticídio, a infibulação feminina e
outras práticas rituais que colidem com os direitos humanos?
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O Antropólogo tem de superar os seus preconceitos, sua própria cultura para poder entender e vivenciar a
cultura do outro. È a aceitação científica de todas as formas de cultura e da pluridade cultural.

SOCIEDADE (Perspetiva Antropológica, Vieira de Castro (2002, 297-298)) – Em sentido geral, a sociedade é
uma condição universal da vida humana pois somos geneticamente predispostos à vida social.
Em sentido particular, uma sociedade é um nome atribuído a um grupo humano, com algumas das
seguintes particularidades: territorialidade, recrutamento essencialmente por reprodução sexual entre os
membros, distintividade cultural, organizados de forma autossuficiente.
A METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO ANTROPOLOGICA (TEMA 1)
“Como poderão analisar (aqui, e depois na parte da evolução da teoria), a antropologia enquanto disciplina
depende muito do que faz, e como o faz: o seu método (a que se junta o com quem faz...como refere
Ingold, citado por Barnard em textos, p. 12:a antropologia não é o mero estudo das pessoas, mas o estudo
com as pessoas.  
E o que tem de especifico? O trabalho de campo, a observação participante são, sem dúvida a "pedra de
toque", que a permitiu individualizar perante outras ciências sociais e se implementar academicamente.
Todavia, os métodos da antropologia não se esgotam nestes métodos, eminentemente qualitativos.
Assim, são apresentados um conjunto de métodos "tradicionais" e outros que são usados mais
recentemente, não só na pesquisa "académica" mas também aplicada (que iremos analisar no Tema 2").  
 
Os métodos de investigação antropológica clássica (segundo Erwin (2000)) dividem-se em:

 Métodos Qualitativos
- Etnografia – fase da investigação no terreno, trabalho de campo que envolve várias etapas iniciais
(processo de escolha do local, entrada num meio social novo e o stress que dai advém, necessidade de
obter permissão para ali permanecer, aceitação pela comunidade. È necessário explicar a presença do
etnógrafo no terreno aos membros da comunidade e estar consciente de alguns fatores: a resposta
pode ser relutante ou inexistente, surgirem resistências ou dificuldades, ganhar a confiança das pessoas
da comunidade e geri-la, familiarizar-se com o local. Pode surgir tb um “choque cultural” por
necessidade de reajustar comportamentos a novos hábitos e modos de agir (linguagem, postura
corporal, costumes). Sugere-se uma pequena exposição escrita com os objetivos da presença do
Antropólogo e do estudo em curso. Esta posição servirá para reafirmar os pressupostos éticos que
devem imperar na relação com a comunidade. Ultrapassado o choque cultural, envolver-se no trabalho
de recolha de dados mais factuais sem ferir suscetibilidades.
No final o Antropólogo retira-se para elaborar relatório e poderá voltar á comunidade para discutir os
pontos do mesmo.
 - Observação participante – É um processo denso e extenuante pois a par da capacidade de observação
é necessária aptidão para descrever o que se observa. Permite-nos dizer o que está a acontecer, pelo
facto de o registo ser presencialmente. A observação pode ser realizada sem que os sujeitos estejam a
par do facto (jardins de infância), ou outra situação como a que ocorre em bares e restaurantes em que
o investigador partilha o espaço mas não é reconhecido pelos sujeitos da observação. Outra forma é
através de um papel auxiliar que permita o convívio com os sujeitos (assistente social numa organização
para refugiados).

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Outros conjuntos de técnicas que são usados por antropólogos nas suas investigações:
- Grupos focais: são constituídos por 6/12 elementos com interesses, características e conhecimentos
comuns capazes de expor as suas opiniões sobre 1 tema dentro de um tempo limite. Este tipo de
abordagem é uma ferramenta útil e adaptável, é vantajosa em Antropologia Aplicada no levantamento
de necessidades, de impactos sociais e de avaliação de programas, em levantamento de necessidades,
de impactos sociais e de avaliação de programas.
- Grupos Nominais: São uma forma + estruturada de grupos focais com os mesmos princípios e com a
mesma dimensão mas com 1 controlo muito maior de interação dos participantes pelo moderador,
pa<ra obter prioridades e consenso. Permitem ultrapassar dificuldades dos grupos focais, como
rivalidades interpessoais.
Grupo DELPHI (Ou conferencia) – è 1 grupo nominal realizado através do correio ou por meios
informático, anonimo mas interativo. È constituído por cerca de 30 participantes a quem se reconhecem
competências pelos seus conhecimentos e aptidão em comentar de forma adequada a temática da
investigação. São úteis quando os participantes não vivem perto uns dos outros, tem o inconveniente
dos participantes nem sempre conseguirem expor convenientemente de forma escrita as suas opiniões.
- Técnicas de Entrevistas de grupo: a entrevista a informantes qualificados é um dos princípios
essenciais da pesquisa antropológica. A conceito de informante qualificado é objeto de discussão pois
embora seja consensual que ele deva ter um papel que o torne socialmente significativo o mesmo não
se passa relativamente á sua capacidade de analisar a sua condição de vida analiticamente.
 Métodos Quantitativos
 - Indicadores sociais: São números agregados escolhidos para representar tendências e assumidas
como medidas de uma região ou pais e são obtidos através de análises estatísticas relevantes. A saúde e
a habitação são áreas possíveis de análise através de indicadores. A combinação de vários indicadores
permite avaliar os indicadores socioeconómicos como o da pobreza.
 - Questionários – Nos questionários deverem ter em conta os aspetos logísticos (custos) e os aspetos
científicos (validade das observações). Um dos principais desafios da aplicação de um questionário é a
seleção de amostra. Os questionários podem ter dois tipos de amostras:

 Amostras probabilísticas - Aumentam a validade do questionário e permitem a sua


generalização. Este tipo de amostras pretendem assegurar que cada sessão de uma determinada
população esteja representada na amostra.
 Amostras não probabilísticas (aleatórias) – A amostra é feita de forma aleatória dentro de
determinados parâmetros que procuram assegurara representatividade da população. 
RAP´s – Rapid Assessment Procedures (Procedimentos de levantamento rápido) - procuram conciliar a
natureza naturalista da abordagem metodológica com a necessidade de obter dados em contexto de
urgência (quando necessitamos de rapidez na recolha 1 a 6 semanas). Neste tipo de estudo a fiabilidade,
utilidade, viabilidade e prosperidade, são critérios que devem estar presentes.
Segundo Ervin (2000, 195) as metodologias de investigação antropológica dividem-se em:
 Fiabilidade /Utilidade/Viabilidade/Propriedade

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Participation Action Reserch – Pesquisa de ação / intervenção participativa - Segundo Ervin (2000, 200)
as pessoas mais afetadas por um determinado problema devem ser aquelas que mais têm a dizer sobre
ele e têm legitimidade para agir sobre ele, portanto todo o processo de pesquisa será em conjunto com
a comunidade.  Passamos o processo de pesquisa para as mãos das comunidades.

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