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TESTE DE AVALIAÇÃO DE PORTUGUÊS

Ano letivo 2019-2020

12º ano de escolaridade

6 de fevereiro

Tempo – das 14:25h às 16:15h

Versão 1

ATENÇÃO: Indique o número da versão da prova, no início da folha de respostas.

1
GRUPO I ______________________________________________________
PARTE A
Atente no seguinte poema de um heterónimo pessoano, para responder às instruções com frases
completas e contextualizadas.

NOTAS SOBRE TAVIRA

Cheguei finalmente à vila da minha infância.


Desci do comboio, recordei-me, olhei, vi, comparei.
(Tudo isto levou o espaço de tempo de um olhar cansado).
Tudo é velho onde fui novo.
5 Desde já — outras lojas, e outras frontarias de portadas nos mesmos prédios —
Um automóvel que nunca vi (não os havia antes)
Estagna amarelo escuro ante uma porta entreaberta.
Tudo é velho onde fui novo.
Sim, porque até o mais novo que eu é ser velho o resto.
10 A casa que pintaram de novo é mais velha porque a pintaram de novo.
Paro diante da paisagem, e o que vejo sou eu.
Outrora aqui antevi-me esplendoroso aos 40 anos —
Senhor do mundo —
É aos 41 que desembarco do comboio involuntário.
15 O que conquistei? Nada.
Nada, aliás, tentei a valer conquistar.
Trago o meu tédio e a minha falência fisicamente no pesar-me mais a mala...
De repente avanço seguro, resolutamente.
Passou toda a minha hesitação
20 Esta vila da minha infância é afinal uma cidade estrangeira.
(Estou à vontade, como sempre, perante o estranho, o que me não é nada.)
Sou forasteiro tourist, transeunte.
E claro: é isso que sou.
Até em mim, meu Deus, até em mim.
8-12-1931

Álvaro de Campos – Obra Essencial de Fernando Pessoa. Poesia dos Outros Eus,
edição Richard Zenith, Círculo de Leitores, 2007.  

1. Considere os versos de 1 a 17.


Identifique dois sentimentos evidenciados pelo sujeito poético, referindo o motivo associado a
cada um deles e citando expressões do texto para fundamentar a sua resposta.

2. Comente o valor expressivo da afirmação “Tudo é velho onde fui novo.” (vv. 4 e 8).

3. Na segunda parte do poema (vv. 18 a 24), o sujeito poético afirma “Sou forasteiro tourist,
transeunte.” (v. 22).
Explicite as razões que justificam essa autocaracterização, comprovando a sua resposta com
expressões textuais.

2
PARTE B

Considere, agora, o excerto transcrito do capítulo XVII do romance queirosiano Os Maias (1888), para
também responder às instruções com frases completas e contextualizadas.

- Que diabo de embrulhada é esta que me vem contar o Vilaça? rompeu Carlos, cruzando os braços diante
do Ega, numa voz que apenas de leve tremia.
Ega balbuciou:
- Eu não tive coragem de te dizer...
5 - Mas tenho eu para ouvir!... Que diabo te contou esse homem?
Vilaça ergueu-se imediatamente. […] O procurador, com o lenço na mão, lançou em redor um olhar lento.
Depois espreitou debaixo da mesa. Parecia muito surpreendido. E Carlos seguia com impaciência os passos
tímidos que ele dava pelo quarto, procurando...
- Que é, homem?
10 - O meu chapéu. Imaginei que o tinha posto aqui... Naturalmente ficou lá fora... Bem, se for necessário
alguma coisa...
Mal ele saiu, atirando ainda os olhos inquietos pelos cantos, Carlos fechou violentamente o reposteiro. E
voltando para o Ega, caindo pesadamente numa cadeira:
- Dize lá!
15 […] Mas o reposteiro mexeu de leve - e surdiu de novo a face do Vilaça:
- Peço desculpa, mas é o meu chapéu... Não o acho, havia de jurar que o deixei aqui...
Carlos conteve uma praga. Então Ega procurou também, por trás do sofá, no vão da janela. Carlos,
desesperado, para findar, foi ver entre os cortinados da cama. E Vilaça, escarlate, aflito, esquadrinhava até a
alcova do banho...
20 - Um sumiço assim! Enfim, talvez me esquecesse na antecâmara!... Vou ver outra vez... O que peço é
desculpa.
Os dois ficaram sós. E Ega recomeçou, detalhando como Guimarães, duas ou três vezes nos intervalos, lhe
viera falar de coisas indiferentes, do sarau, de política, do papá Hugo, etc. Depois ele procurara Carlos para
irem um bocado ao Grémio. Terminara por sair com o Cruges. E passavam defronte do Aliança...
25 Novamente o reposteiro franziu, Baptista pediu perdão a suas excelências:
- É o Sr. Vilaça que não acha o chapéu, diz que o deixou aqui...
Carlos ergueu-se furioso, agarrando a cadeira pelas costas como para despachar o Baptista.
- Vai para o diabo tu e o Sr. Vilaça!... Que saia sem chapéu! Dá-lhe o meu! Irra!
Baptista recuou, muito grave.
30 - Vá, acaba lá! exclamou Carlos, recaindo no assento, mais pálido.
E Ega, miudamente, contou a sua longa, terrível conversa com o Guimarães, desde o momento em que o
homem por acaso, já ao despedir-se, já ao estender-lhe a mão, falara da «irmã do Maia».

4. Demonstre, apoiando-se em expressões textuais, em que medida a reação de Carlos à revelação


trágica se cruza com um episódio cómico, introduzido pelo comportamento de Vilaça.

5. Complete a afirmação abaixo apresentada, selecionando da tabela a opção adequada a cada


espaço.
Na folha de respostas, registe apenas as letras e o número que corresponde à opção selecionada
em cada um dos casos.

No quinto parágrafo do texto, podemos encontrar uma a) que sugere ao leitor b) _.

a) b)
1. antítese 1. a movimentação discreta de Vilaça no quarto de Carlos.
2. hipérbole 2. a fragilidade de Carlos, tomado pelo desgosto sentido.
3. hipálage 3. o olhar triste do procurador, provocado pelo tratamento de Carlos.
4. perífrase 4. a deslocação silenciosa, mas rápida do procurador no quarto de Carlos.
3
GRUPO II ______________________________________________________
Leia o seguinte artigo noticioso, publicado no jornal digital Observador, no passado dia 14 de
janeiro do corrente ano.

Livros que pertenceram a Fernando Pessoa custaram à Câmara


Municipal de Lisboa 11 mil euros
Em 2019, a Câmara de Lisboa
adquiriu livros da biblioteca
5 particular de Pessoa, em leilões,
por cerca de 11 mil euros. A
autarquia comprou ainda um
conjunto de negativos de
fotografias do poeta.

10 Onze livros que pertenceram à biblioteca particular de Fernando Pessoa, adquiridos pela
Câmara Municipal de Lisboa (CML) no ano passado, custaram cerca de 11 mil euros, adiantou a
autarquia ao Observador. Além destes exemplares, a CML comprou ainda um conjunto de sete
negativos de fotografias do poeta, por 410 euros. As aquisições aconteceram durante dois leilões
organizados pela José F. Vicente Leilões, a 19 de junho e 5 de dezembro, e através do site BestNet.
15 No primeiro leilão, a CML comprou sete exemplares, como já tinha sido noticiado pelo
Observador, entre os quais Bacon vs. Shakespeare, de Edwin A.M. Reed, e uma importante cópia
da Athena - Revista de Arte, com anotações e correções a lápis feitas por Pessoa, fundamentais
para o estudo da obra de Ricardo Reis, heterónimo apresentado no primeiro número desta revista .
Este foi o exemplar que mais dinheiro custou à autarquia da capital — 2.760 euros, já com a
20 comissão do leiloeiro, revelou agora a Câmara de Lisboa –, seguido de An Introduction to the Study
of the Kabalah, de William Wynn Westcott, adquirido por 1.610 euros.
A 5 de dezembro, a CML adquiriu dois outros volumes: Political Theories of the Middle Age,
de Otto Gierke, e Les chansons des rues et des bois, de Victor Hugo. O primeiro tem a assinatura do
poeta na folha de guarda e o segundo uma dedicatória para a mãe, datada de 30 de dezembro de
25 1911. Do conjunto de livros adquiridos neste leilão da José F. Vicente Leilões, o volume da coleção
completa das obras de Hugo foi o mais caro, tendo custado à CML 805,042 euros, valor que inclui a
comissão do leiloeiro. […]
Todas as obras adquiridas “possuíam assinatura de posse de Fernando Pessoa, ou sublinhados e
anotações pela mão do poeta”, frisou a CML, sendo por isso consideradas de interesse nacional. A
30 singularidade da obra deixada por Pessoa, maioritariamente por publicar e distribuída por diferentes
suportes, atribui ao seu espólio documental “um valor cultural único”. “Não se tratando de materiais
acabados ou definitivamente fixados pelo autor, o espólio constitui uma matriz aberta a diferentes
leituras que nem o mais laborioso conjunto de investigações poderá fechar”, refere o decreto que
procedeu à classificação do espólio como tesouro nacional, em 2009. […]
35 Os exemplares comprados vão integrar a coleção da Casa Fernando Pessoa, que tem na sua
posse a maioria dos livros que pertenceu à biblioteca particular do poeta. O Observador
questionou a Câmara de Lisboa sobre o destino dos sete negativos, mas não foi possível obter uma
resposta até à data da publicação deste artigo.

in https://observador.pt/2020/01/14/livros-que-pertenceram-a-fernando-
pessoa-custaram-a-camara-municipal-de-lisboa-11-mil-euros/ (adaptado e com supressões)

4
1. Selecione a melhor alínea para completar as frases de cada item.

1.1. O facto noticiado no artigo

(A) constitui-se como absoluta novidade editorial à data da publicação no jornal.


(B) teve tratamento noticioso anterior à edição do dia 14 de janeiro.
(C) corresponde a uma transação levada a cabo no ano em curso.
(D) ocorreu na primeira metade do ano transato.

1.2. A aquisição feita pela Câmara Municipal de Lisboa

(A) permitiu a consideração da obra pessoana enquanto tesouro de interesse nacional.


(B) representa uma contribuição relevante para o fundo documental da autarquia.
(C) assume um interesse fulcral por ser exclusivamente constituída por obras pessoanas.
(D) contribui para o enriquecimento da coleção da Casa Fernanda Pessoa.

1.3. A frase “A autarquia comprou ainda um conjunto de negativos de fotografias do poeta” (ll. 6-9) apresenta valor aspetual

(A) perfetivo.
(B) imperfetivo.
(C) genérico.
(D) iterativo.

1.4. Na linha 20, o advérbio “agora” é representativo de referência deítica

(A) associada ao momento de leitura do texto.


(B) relacionada com o tempo da aquisição da obra pessoana.
(C) focada no momento do pagamento da comissão ao leiloeiro por parte da Câmara de Lisboa.
(D) relativa ao momento próximo da produção e edição do artigo noticioso.

1.5. O determinante possessivo “seu” (l. 31) tem como antecedente textual

(A) “Pessoa” (l. 30).


(B) “obra deixada por Pessoa” (l. 30).
(C) “CML” (Câmara Municipal de Lisboa) (l. 29).
(D) “diferentes suportes” (ll. 30-31).

2. Focalize a sua atenção no parágrafo final do texto lido.

2.1. Indique o tipo e o valor associados à modalidade presente na frase “Os exemplares comprados vão
integrar a coleção da Casa Fernando Pessoa” (l. 35).

2.2. Classifique o tipo de subordinada em “ que pertenceu à biblioteca particular do poeta” (l. 36).

2.3. Identifique a função sintática dos dois constituintes sublinhados na sequência “não foi possível obter uma
resposta até à data da publicação deste artigo” (ll. 37-38).
5
GRUPO III ______________________________________________________

Num dos seus textos, Bernardo Soares escreve a seguinte opinião:


“Agir, eis a inteligência verdadeira”.

Produza um texto argumentativo, com 200 a 300 palavras, no qual apresente uma reflexão pessoal
e assuma a sua posição relativamente à necessidade de ação para transformar a sociedade e/ou ultrapassar
obstáculos.

Deve apoiar-se em dois argumentos, sustentados em dois exemplos da atualidade.

Observação: Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados, há que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
− um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

FIM

COTAÇÕES

Grupo Item
Cotação (em pontos)
I 1. 2. 3. 4. 5. ---- ---- ---- 100
23 23 23 23 8
II 1.1. 1.2. 1.3. 1.4. 1.5. 2.1. 2.2. 2.3. 50
6 6 6 6 6 6 6 8
III Item único 50
Tota TOTAL 200
l

Os Professores

Dulce Braz
João Paulo Reis
Sílvia Brandão
Vítor Oliveira

Bom trabalho!

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