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Respostas a frequência

Grupo I
1- Distinga tratado-lei de tratado-contrato
Os tratados têm sido objeto de múltiplas classificações, algumas das quais já ultrapassadas pela doutrina
mais moderna. Falamos aqui dos Tratados-leis e tratados contratos, sendo certo que esta classificação,
consagrada pela tradição, não tem presentemente o valor que outrora lhe foi atribuído.
No tratado-lei dá-se a criação de uma regra de direito pela vontade conforme das partes.
No tratado-contrato as vontades são divergentes, não surgindo assim a criação de uma regra geral de
direito, mas a estipulação recíproca das respetivas prestações e contraprestações. Esta classificação tem uma
certa analogia com os termos correspondentes no direito interno.
Modernamente reconhece-se porém, que esta classificação apresenta apenas um valor tendencial. Não
é absolutamente rigorosa, pois há tratados híbridos, difíceis de enquadrar, com elementos de uma e outra
classificação. Assim, mais do que uma classificação de tratados, é uma classificação de estipulações contidas
nos tratados.
Contudo, o carater normativo do tratado é um dos elementos da definição de um conceito de grande
importância no estudo da teoria dos tratados.
Para certo setor da doutrina, à dicotomia tratado-lei/tratado-contrato juntar-se-ia uma terceira
categoria, o tratado-constituição.
Esta qualificação seria reservada ao tratado que institui uma Organização Internacional, e por isso
contem as regras fundamentais que regem aquela Organização. No caso por exemplo da Organização das
Nações Unidas, fala-se na Carta da Organização como “Constituição da Comunidade Internacional” porque ela
mais do que enunciar as regras básicas da ONU, define os princípios jurídicos fundamentais da Comunidade
Internacional.
4- Regras deliberação do Conselho de Segurança
Composição
O Conselho de Segurança da ONU (CSNU), desde a alteração da Carta em 1965, é composto por 15
membros: 5 permanentes e 10 não-permanentes, que são eleitos para mandatos de dois anos pela Assembleia
Geral. Segundo o nº 1 do artigo 23º da Carta das Nações Unidas, os Membros Permanentes do Conselho de
Segurança são: Estados Unidos da América, Federação Russa (que substituiu a União das repúblicas Socialistas
Soviéticas – USSR), França, Reino Unido e República Popular da China. Em 2018, os membros não-
permanentes do Conselho de Segurança (juntamente com o ano em que termina o seu mandato) são: Bolívia
(2018), Cazaquistão (2018), Costa do Marfim (2019); Etiópia (2018), Guiné Equatorial (2019), Koweit (2019),
Países Baixos (2018), Perú (2019), Polónia (2019) e Suécia (2018).
Todos os anos, a Assembleia Geral elege 5 membros não-permanentes (do total dos 10) para um
mandato de dois anos. De acordo com a Resolução da Assembleia Geral 1991 (XVIII) de 17 de dezembro de
1963, os 10 assentos não-permanentes são distribuídos regionalmente da seguinte forma: 5 para os Grupos
dos Estados Africanos e dos Estados Asiáticos; 1 para o Grupo dos Estados da Europa de Leste; 2 para o Grupo
da América Latina e Estados das Caraíbas; e 2 para o Grupo dos Estados da Europa Ocidental e outros Estados.
Organização e funcionamento
Embora as Regras de Procedimento do CSNU consagrem uma preferência por sessões públicas, mais de
metade das reuniões decorrem à porta fechada. Ao longo dos anos o Conselho desenvolveu os seguintes
formatos de reunião:
• Consultas: os membros do CSNU reúnem em privado para discutir uma temática e/ou negociar
uma resolução;
• Adoção: os membros do CS reúnem publicamente para adotar (ou rejeitar) uma resolução. Pode
ou não haver declarações de voto;
• Debate: os membros do CS reúnem publicamente para debater uma questão. Membros com
interesse na questão são convidados a participar, para além das partes diretamente envolvidas
que têm direito a participar.
• Debate Aberto: todos os Estados-membros da ONU podem assistir e participar no debate.
• Briefing: relato público ao CSNU por parte elementos do Secretariado ou Representantes Especiais
do Secretário-Geral sobre diferentes situações na agenda do Conselho.
Não há uma ordem hierárquica entre estes diferentes tipos de reunião e elas podem ser usadas em
diferentes combinações e sequências na preparação das decisões do Conselho. Podem também ser precedidas
de reuniões fechadas ao nível de peritos, que preparam os debates entre Embaixadores. Por vezes o CSNU faz
reuniões informais com representantes da sociedade civil - conhecidas como reuniões em 'Fórmula Arria'.
Atribuições e competências
As atribuições do CS resultam da competência deste órgão na manutenção da paz e segurança
internacionais, e apresenta duas categorias essenciais: a regulação de conflitos entre Estados e a luta contra a
agressão. As competências deste órgão desenvolvem-se em três vetores: a supervisão do regime de tutela, na
regulamentação dos armamentos, e na intervenção nos casos de crise politica e militar. Em caso de crise, o CS
exerce a sua ação através da resolução pacífica da situação – recorrendo ao capítulo VI da CNU, tomando as
medidas necessárias para terminar com a ameaça à paz – recorrendo às medidas do capítulo VII da CNU -, ou
executando um arresto do TIJ.
Tomada de decisões
Os Estados membros da ONU têm a mesma qualidade e são vistos dentro da organização como sendo
todos iguais. No entanto, a CNU estabelece uma única distinção entre os Estados no seio do CS, fundada no
direito de veto atribuído às grandes potências.
O CS toma decisões por via da adoção de Resoluções que são vinculativas para todos os membros da
ONU. Quando há acordo entre todos os membros a resolução pode ser adotada por consenso. Quando não há
acordo a resolução é adotada por votação (cada membro tem um voto). Neste caso, são necessários nove
votos favoráveis de entre os quinze membros do CSNU, incluindo os votos favoráveis dos cinco membros
permanentes do CS (refletindo o direito de veto de que estes gozam), ficando deste modo reservado o direito
de veto a cada Estado membro permanente. Para RIBEIRO e FERRO o «…processo de decisão no conselho de
Segurança está (…) decisivamente marcado pelo direito de veto atribuído às grandes potências».
A abstenção dos membros permanentes não é considerada como veto, pelo que não inviabiliza a adoção
de uma resolução.
O direito de veto não se aplica às questões de procedimento, sendo necessário apenas a maioria de
nove membros para que a decisão seja adotada. São consideradas questões procedimentais a aprovação de
um regimento interno, a criação de órgãos subsidiários, o convite a um Estado para participar num debate, e a
inscrição de uma questão na ordem do dia.
Todo o Estado que seja parte interessada numa determinada questão que esteja em discussão
forçosamente terá de se abster aquando da votação, caso tal questão se enquadre no âmbito do capítulo VII
da CNU e do artigo 52º, nº 3, que refere que «…o Conselho de Segurança estimulará o desenvolvimento da
solução pacífica de controvérsias locais mediante os referidos acordos ou entidades regionais, por iniciativa
dos Estados interessados ou a instância do próprio conselho de Segurança».
As Resoluções são sempre adotadas em sessões públicas e o voto não é secreto.
Além das Resoluções o CSNU pode adotar mais dois tipos de documentos:
• Declarações Presidenciais: documentos de natureza mais declaratória, negociados entre todos os
membros e adotados por consenso;
• Comunicados à Imprensa: negociados e adotados do mesmo modo mas com um caráter menos
formal.
Grupo II
4 – Analise as teorias da interpretação dos tratados internacionais e refira fundamentando, qual a solução
consagrada na Convenção de Viena sobre o direito dos tratados e em que medida se pode considerar que
essas regras vinculam também Estados não parte da Convenção.
A determinação da norma contida no tratado faz-se, como em todo o ato jurídico voluntário, pela sua
interpretação.
A principal regra de interpretação é a da boa-fé, segundo a qual os tratados são negócios bona fide e
devem ser interpretados por forma a excluir a fraude. Foi acolhida na Convenção de Viena no artigo 31º, nº 1.
Deste princípio da boa-fé resultam como corolário quatro regras de interpretação:
A primeira é a regra do efeito útil, que exclui que o tratado possa ser interpretado por forma a privá-lo
de efeito prático.
A segunda regra é a de que a interpretação não pode conduzir ao absurdo. Esta regra completa, como
se vê, a primeira.
A terceira regra é a dos efeitos implícitos dos tratados, de harmonia com a qual deve entender-se que
foi querido não só o que expressamente se estipulou mas ainda aquilo que for indispensável para a realização
da estipulação.
Finalmente, também pode ser vista como corolário do princípio da boa-fé a regra da interpretação
teleológica, segundo a qual os tratados devem ser interpretados de harmonia com os fins que prosseguem.
Quanto aos métodos da interpretação, têm sido tradicionalmente utilizados o elemento literal (que
atende ao significado usual dos termos do tratado), o elemento sistemático (que se serve do contexto da
norma interpretada), o elemento teleológico (que dá relevância ao objeto do tratado, mas sobretudo, aos fins
por ele visados) e o elemento histórico (que respeita ao enquadramento histórico do tratado mas abrange, de
modo especial, os seus trabalhos preparatórios).
Mais recentemente, e com vista sobretudo a conceder ao tratado uma interpretação mais atualista,
passou-se a atribuir significado também à subsequente prática dos Estados e dos órgãos de Organizações
Internacionais na aplicação do tratado em causa, bem como à mudança das condições sociais que teve lugar
desde a assinatura do tratado: no primeiro sentido inclinam-se o artigo 31º, nº 3, alíneas a) e b) da Convenção
de Viena e o Tribunal Internacional de Justiça; no segundo sentido vai a interpretação que sucessivamente
vem sendo concedida à Convenção Europeia dos Direitos do Homem pela Comissão e pelo Tribunal Europeu
dos Direitos do Homem.
A Convenção de Viena ocupa-se da interpretação dos tratados nos artigos 31º a 33º. As regras aí
definidas parecem que concedem ao intérprete suficiente maleabilidade em função da natureza de cada
tratado concretamente considerado. De facto, embora se parta inevitavelmente do elemento literal (artigo
31º, nº 1), tempera-se o sentido que ele concede à norma interpretada com o que advém do contexto dessa
regra (artigo 31º, nº 1 e 2), do elemento teleológico (artigo 31º, nº 1), e da prática posterior (artigo 31º, nº 3,
alínea b), embora se oriente no mesmo sentido também a alínea a)), levando-se em consideração também,
ainda que a título só complementar, o elemento histórico (artigo 32º). Daí se poder concluir que, embora
partindo de uma interpretação objetiva do tratado, a CV concede ao intérprete os meios necessários para ele a
moderar em função do que foi a vontade real das partes, permitindo inclusive a atualização daquela vontade
através do disposto no citado n.º 3, alínea a), e sobretudo, b) do artigo 31º.
Esta conclusão fica reforçada se atendermos a que, mesmo na sua pureza, o elemento literal pode vir a
ceder perante a consideração do que foi a vontade das partes, por força do que estabelece o nº 4 do citado
artigo 31º “um termo será entendido num sentido particular se estiver estabelecido que tal era a intenção das
partes”.
Quanto aos efeitos dos tratados, no qua às partes contratantes diz respeito, é sabido que a regra
supletiva do artigo 29º da CV é no sentido da aplicação do tratado à totalidade do território dos Estados
partes.
Já quanto a terceiros, podemos dizer que em regra não produzem efeitos, em nome do princípio res
inter alios acta nec nocere nec prodesse potest, concretizado nesta matéria, no princípio pacta tertiis nec
prosunt nec nocente.
Ambos estes princípios foram acolhidos pelo TPJI, no caso Chorzow, e pelo Tribunal Permanente de
Arbitragem, na sentença proferida em 04 de Maio de 1928 na questão da Ilha das Palmas.
Podemos dizer que em matéria de efeitos dos tratados quanto a terceiros, a regra res inter alios acta só
admite as exceções constantes da CV. Essas exceções, bem como a oponibilidade do tratado erga omnes,
exprimem a inclinação para a objetivação do Direito Internacional Convencional, que, tendendo a transforma-
se em Direito Internacional Comum, faz com que dos tratados possam derivar situações oponíveis a terceiros.
Essa tendência foi acolhida, embora com caráter simplesmente pragmático, pelo artigo 2º, nº 6 da Carta das
Nações Unidas, segundo o qual “a Organização fará com que os Estados que não são membros das Nações
Unidas ajam em conformidade com estes princípios, na medida necessária à manutenção da paz e da
segurança internacionais”.

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