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A responsabilidade das organizações no âmbito da

sustentabilidade

De ano para ano podemos assistir a uma deterioração do meio ambiente, seja pelo
desaparecimento de inúmeras espécies de plantas e animais ou pelas alterações climáticas. A
verdade é que o efeito acumulado se reveste de gravidade suficiente ao ponto de fazer com
que a sociedade em geral comece a adotar soluções para combater este problema.

Para conseguir atenuar as consequências do desastre ambiental que estamos a viver é


necessário o esforço e contribuição de todos. As empresas devem ser as primeiras a tomar a
iniciativa pois são consideradas um dos maiores poluidores. Segundo um artigo do jornal
Público, há vinte empresas que são responsáveis por “um terço das emissões de carbono”
lançadas entre 1965 e 2017.

A primeira consciencialização da sociedade surgiu em 1972 quando se deu a


Conferência de Estocolmo promovidas pelas Nações Unidas, a primeira grande conferência
sobre a proteção e melhoria do ambiente promovida pelas Nações Unidas. Na década de 80
deu-se o acidente de Chernobly e Exxon Valdez que foi quando se deu a constatação da
destruição da camada de ozono. Ao longo da década de 90 ocorrem várias conferências onde
se estabelecer metas atingir e onde a gestão ambiental e certificação ambiental assumem
importância. Em 2015 ocorreu o acordo mais importante, Acordo de Paris onde 195 países se
comprometeram a reduzir o aquecimento global.

2015 também ficará na história como o ano da definição da Agenda 2030, constituída
por 17 objetivos de desenvolvimento sustentável. Uma “agenda alargada e ambiciosa que
aborda várias dimensões do desenvolvimento sustentável: sócio, económico, ambiental, e que
promove a paz, a justiça e instituições eficazes” - ONU

O maior desafio quando se trata de tentar resolver a questão ambiental, é o de


conciliar o crescimento económico com a preservação ambiental. Alguns acionistas ainda se
regem pela teoria neoclássica em que a única responsabilidade da empresa é utilizar os seus
recursos com o objetivo de aumentar os lucros.

“Embora a sua obrigação primeira seja a obtenção de lucros, as empresas podem, ao


mesmo tempo, contribuir para o cumprimento de objetivos sociais e ambientais mediante a
integração da responsabilidade social, enquanto investimento estratégico, no núcleo da sua
estratégia empresarial, nos seus instrumentos de gestão e nas suas operações.” (Livro verde,
Comissão Europeia, 2011).

Com a teoria dos stakeholders, existe uma necessidade de responder aos interesses
dos diferentes stakeholders que também tem interessa nas atividades e decisões das empresa.
Há necessidade de responder aos diferentes stakeholders e quanto mais importantes estes
forem para a criação de valor da empresa, mais necessário se torna ir ao encontro dos seus
interesses

É cada vez mais importante que as empresas tenham uma política ambiental assente
em ação preventiva, assim a Contabilidade ganha uma nova função: “fornecer dados para a
gestão e conservação do meio ambiente” – Relatório de projeto submetido para satisfação
parcial dos requisitos do grau de Mestre em Engenharia do Ambiente.
Contabilidade da gestão ambiental

Definição

A contabilidade da gestão também denominada de contabilidade analítica pretende


apurar os resultados de cada atividade, avaliando as estruturas de custos e de proveitos. Nesta
contabilidade os respetivos custos podem ser identificados e imputados a produtos e a centros
de custos.

A contabilidade de gestão ambiental começou a ser um meio para identificar e analisar


separadamente os aspetos ambientais e os custos a eles associados. Segundo o artigo em
análise, como esta contabilidade tem em conta as preocupações ambientais no processo de
tomada de decisões, também pode acabar pode desenvolver indicadores de “desempenho
financeiro e ambiental para o processo de benchmarking.”

O benchmarking, segundo a Comissão Europeia é

“um processo contínuo e sistemático que permite a comparação das performances das
organizações e respetivas funções ou processos face ao que é considerado o melhor nível, visão
não apenas a equiparação dos níveis de performance, mas também a sua superação”

Ou seja, pode ser visto como um instrumento para melhorar a eficiência, tendo outra empresa
como ponto de referência e fazer comparação de resultados e técnicas.

O principal objetivo da contabilidade de gestão ambiental é auxiliar na tomada de


decisões de forma a levar a um melhor desempenho não só financeiro como ambiental.

No presente artigo em análise, o autor faz uma distinção entre dois elementos da
contabilidade de gestão, a que cobre procedimentos físicos, denominada de “physical EMA
(PEMA)” e a que cobre procedimentos monetários, denominada de “monetary EMA (MEMA)”.

A PEMA tem em análise o impacto da empresa no ambiente, como por exemplo a


quantidade de dióxido de carbono emitida para uma certa quantidade de produção. Ou seja,
analisa o procedimento para a utilização de material e energia.

A MEMA quantifica os custos necessários para cumprir os aspetos ambiental, como


por exemplo custos de multas por violação de leis ambientais.

Simplificando, a MEMA diz respeito ao impacto que o ambiente tem sobre o


desempenho financeiro da empresa, e PEMA é sobre efeitos diretos no meio ambiente.
Técnicas da contabilidade de gestão ambiental

As técnicas que vão ser abordadas neste ponto foram desenvolvidas para a contabilidade
de gestão, mas podem facilmente ser adaptáveis ao contexto ambiental.

Custeio Baseado em atividades (ABC)

Este método permite um apuramento de custos na contabilidade que proporciona uma


análise separada pelas diferentes atividades da empresa. O principal objetivo deste método
está em evidenciar os custos mais elevados de cada atividade para que possa ser feita uma
intervenção de melhoria nestas etapas.

Este método permite que as entidades aloquem todos os custos, inclusive ambientais e
são depois direcionados para centros de custo baseado em atividades. Os principais custos a
serem considerados no ABC, segundo o autor, incluem “volume de emissões de resíduos,
toxicidade de emissão e resíduos tratados, impactos ambientais, volume das emissões tratadas
e custos relativos para o tratamento de diferentes tipos de emissões”.

O autor do respetivo artigo afirma que o método ABC tem um papel importante em
descobrir a maior parte dos custos que muitas vezes ficam ofuscados e acabam por ser
reconhecidos como despesas gerais. Esses gastos são geralmente energia, água, eliminação de
resíduos e salários do pessoal ambiental.

Com os custos “ocultos” torna-se mais difícil ter noção dos gastos que estão a ser utilizados
para o meio-ambiente. Assim, o método de ABC ao ter acesso a informação mais precisa irá
contribuir para reduzir o custo total e também apoiar a prevencção da poluição.

Contabilidade de custos de fluxo

A contabilidade de custos de fluxo analisa o fluxo do material e da energia, dando


ênfase na perda de matéria. Neste método a perda de material é tratada como um objeto de
custo e calcula os custos dessa perda e de todos os processamentos associados a essa perda.
Assim com esta técnica é mais fácil identificar em que zona de produção acontece a perda de
eficiência e mais facilmente reparar esse dano.

Incorporando o ambiente nesta técnica, é mais acessível para conseguir uma produção
mais limpa evitando custos desnecessários. Ao conseguirmos perceber diretamente onde
acontece o problema é mais fácil resolvê-lo. Outra vantagem desta técnica é que permite
realizar uma melhor estimativa dos custos necessários para eliminar a geração de resíduos.

Deve-se notar que os resíduos referidos dizem respeito a “todos os materiais que foram
comprados e pagos, mas não foram transformados em produtos comerciáveis”. Podemos
assim falar resíduos sólidos, águas residuais e até nas emissões atmosféricas.
O artigo fornece um exemplo de uma empresa no Japão que ao aplicar este método da
contabilidade de custo de fluxo para identificar os custos de processamento dos resíduos e as
perdas de processos em grandes matérias-primas consegui reduzir os seus custos de forma
significativa.

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