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“Ensaio sobre a Cegueira”

UC: Técnicas de Negociação e Gestão Comportamental


Reflexão Individual Escrita sobre “Ensaio da Cegueira” de José
Saramago
Letícia da Costa Meira, 23533
Gestão 3ºano Turno A
2021-2022
O ensaio sobre a cegueira é um filme bastante intenso que nos deixa a refletir na vida
e no impacto que cada um de nós pode ter na sociedade.

É de conhecimento geral que o contexto social influência e é também influenciado


pelo comportamento individual. O contexto em que estamos envolvidos vai ser determinante
na tomada de decisões, mas o que também acontece é que as nossas atitudes vão também
influenciar o comportamento social.

Na minha opinião, este ponto sobre a sociedade está bem explícito no filme que serve
de base a esta reflexão individual. Quando as personagens se encontram todas na espécie de
quarentena podemos verificar dois comportamentos diferentes. De um lado temos uma líder
calma, pacífica e disposta a tudo para os ajudar fazendo com que esse lado seja o reflexo das
suas atitudes. E do outro temos um líder agressivo, sem compaixão nem piedade criando um
ambiente pesado nessas celas.

Com estes conflitos de personalidades e apesar de naquele espaço terem todos o


mesmo objetivo (sobreviver enquanto não recuperam a visão) o relacionamento entre as
pessoas tornou-se complicados. Deparámo-nos muitas vezes com estas situações no dia-a-dia
e ainda mais complicadas pois nunca sabemos qual o objetivo das pessoas que nos rodeiam.

O relacionamento entre pessoas tornou-se um problema com o aparecimento do


covid-19, as pessoas tornaram-se mais desconfiadas e começaram elas mesmas a cortar
relações com a sociedade à sua volta. A obrigatoriedade da máscara criou também um
distanciamento entre pessoas dificultando até o reconhecimento destas criando assim uma
barreira.

Refletido neste filme vemos também o quão egoísta o ser humano é quando se
encontra em situações desconhecidas. Por exemplo todos eles lutavam por uma cama e pela
sua comida sem demonstrar compaixão para com aqueles que não a tinham. O mesmo
aconteceu no início da pandemia, como ninguém sabia o que iria acontecer ao abastecimento
dos supermercados, a população foi a correr a estes fazendo questão de levar todos os bens
essenciais sem pensar no resto das pessoas que iria a seguir.

S. McIntyre em 2007 ao realizar a análise psicológica sobre: “Como as pessoas gerem o


conflito nas organizações: Estratégias individuais negociais”, definiu como conflito “o processo
que começa quando uma das partes percebe que a outra parte a afectou de forma negativa”,
se refletirmos sobre esta frase conseguimos concluir que muitas vezes nos encontramos em
conflitos mesmo sem termos essa noção. Durante o nosso quotidiano somos muitas vezes
afetados por outras partes de uma forma negativa criando assim pequenos conflitos. O mesmo
aconteceu durante o desenrolar do filme quando uma das celas decidiu assumir a liderança
tomando a posse de toda a comida e assim afetar de forma negativa as restantes pessoas. No
mesmo texto, o autor sugere duas formas de resolver estas questões: através da negociação
ou introduzir uma terceira parte. No filme não foi possível resolver de nenhuma destas formas
pois primeiro não havia uma terceira parte para introduzir e a negociação não era uma opção.

Para a resolução de conflitos ou de situações desconhecidas, surge a necessidade de


emergir novas lideranças. Para decidir como vai acontecer a liderança, não damos
necessariamente prioridade à hierarquia social, é mais relevante estabelecer como líder
alguém que tenha conhecimento sobre o ambiente em volta ou outra vantagem. Na situação
real do covid-19, para decidir o rumo do país e as medidas restritivas, a liderança pertenceu ao
ministério da saúde e não ao Presidente da República que apresenta um grau de hierarquia
social superior.
Quando acontece uma epidemia, as hierarquias sociais são metidas de lado e não se
considera relevante aspetos como: cultura, raça ou religião. A epidemia do covid-19 que
vivemos foi uma prova disso pois qualquer pessoa corria o mesmo risco de ser afetada e
ninguém tinha um tratamento privilegiado. O que pode surgir é a necessidade construir novas
hierarquias sociais, por exemplo, como já foi referido anteriormente, com o covid-19 o
ministério da saúde ganhou maior voz e as decisões tomadas pelo primeiro-ministro tinham
em grande consideração a opinião desta

Durante o filme que serve de apoio a esta reflexão, quando os primeiros doentes
começam a chegar, surge a necessidade de alguém tomar o poder, ser um líder. O médico
devido à vantagem de ter a sua mulher com total visão decidiu oferecer-se para ser o líder.
Como os restantes doentes não sabiam desta vantagem, não concordaram de imediato com a
escolha pois eram da opinião que ali ninguém era superior e que este não deveria ter
privilégios apenas porque era médico.

No desenrolar do filme, com os líderes estabelecidos e a rivalidade já criada devido às


diferenças lideranças estabelecidas, um dos grupos decide assumir o poder. Michel Focault, no
seu livro Sociedade e cultura 1, no capítulo de O sujeito e o Poder, define como poder “aquele
que exercemos sobre as coisas e que dá capacidade de modificá-las, utilizá-las, consumi-las ou
destruí-las”. Analisando este pequeno excerto podemos confirmar que um dos grupos assumiu
o poder, estes tinham total controlo das refeições e poderiam fazer o que bem entendessem
com estas. Este assalto ao poder gerou bastante revolta pois o que estava em causa era um
bem essencial.

Podemos considerar este ato um ataque à burocracia. Max Weber um do principal


teórico da sociologia, define burocracia como “a estruturação formal da organização,
permitindo, dessa forma, organizar as atividades humanas para a realização de objetivos
comuns no longo prazo”. Portanto, analisando detalhadamente o filme podemos afirmar que
a localização estava organizada segundo uma burocracia.

Ao realizar a reflexão final sobre todo o filme, retiramos uma conclusão bastante
importante, numa situação em que são todos cegos, é que realmente vemos a realidade dos
que nos rodeiam. Inclusive durante a quarentena é descrevido subtilmente um romance, em
que nem lhes interessa o aspeto físico um do outro pois já estão apaixonados pelas suas
pessoas.

Outra reflexão que surge ao realizar a comparação com a epidemia que ainda vivemos
atualmente, é que apesar da situação do covid nos colocar também mais vulneráveis e mais
isolados do mundo, temos um estado protege. Na epidemia da cegueira os doentes são
simplesmente abandonados pelo governo em situações precárias e sujeitos a violência sexual.

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