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666ª reimpressão 2017


Grafia atualizada conforme o Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil a partir de 2009.
Conselho editorial Cylon Gonçalves da Silva; José Galizia Tundisi;
Luis Enrique Sánchez; Paulo Helene; Rozely Ferreira dos Santos;
Teresa Gallotti Florenzano; Doris C. C. K. Kowaltowski
Capa e Projeto gráfico Malu Vallim
Diagramação Allzone Digital Services Limited
Foto da capa Valdir A. Steinke
Ilustrações André Lins
Preparação de textos Felipe Marques
Revisão de textos Gerson Silva e Rafael Mattoso
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Steinke, Ercília Torres
Climatologia fácil / Ercília Torres Steinke. --
São Paulo : Oficina de Textos, 2012.
Bibliografia.
ISBN 978-85-7975-051-9
eISBN: 978-85-7975-206-3
1. Clima 2. Climatologia I. Título.
12-03576CDD-551.6
Índices para catálogo sistemático:
1. Clima : Estudos : Ciências da terra 551.6
Todos os direitos reservados à Oficina de Textos

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-Climatologia fácil, Página de créditos| Ercília Torres
Steinke,https://ebooks.ofitexto.com.br/epubreader/climatologia-fcil

“Seja gente, Pirateie”


-Sujeito aleatório que pirateou esse livro
"AGRADECIMENTOS
A conclusão deste livro devo muito a algumas pessoas, por diferentes razões, e gostaria
de agradecer especialmente:

A todos os alunos que colaboraram com suas perguntas. Foram elas que fizeram nascer a
ideia deste livro.

Ao Departamento de Geografia da Universidade de Brasília pelo apoio profissional.

À Profa. Dra. Maria Ligia Cassol Pinto, da Universidade Estadual de Ponta Grossa
(UEPG); ao meteorologista Mamedes Luis Melo, do Instituto Nacional de Meteorologia
e, em particular, ao Prof. Dr. Luiz Carlos Baldicero Molion, da Universidade Federal de
Alagoas (Ufal), pelas sugestões e contribuições ao texto e por terem sido encorajadores
da efetivação de uma ideia que nasceu muito antes de cada um me permitir partilhar sua
amizade.

Ao desenhista André Lins, pelo belo trabalho de ilustração.

Ao Prof. Dr. Valdir Adilson Steinke, da Universidade de Brasília (UnB), pelas sugestões,
pelo incentivo, por ter sido um interlocutor presente em todas as etapas da elaboração
deste livro e pela alegria de trabalharmos juntos.

Ao meu esposo, Valdir, e a nossa filha, Sarah, pela paciência que tiveram comigo
durante os momentos em que eu estive ausente, preparando este material.
Dedico este livro a minha filha,
Sarah, o meu raio de sol.
APRESENTAÇÃO

Para que serve o estudo Climatologia? Essa é a primeira pergunta que faz a autora deste livro,
destinado a estudantes de qualquer nível. E a resposta a essa pergunta é simples: o clima e os eventos
de tempo interferem nas atividades humanas, como agricultura e gestão de recursos hídricos, e na
segurança do próprio ser humano. Ao longo das eras, há evidências de que civilizações se
desenvolveram e prosperaram durante os períodos quentes e úmidos, os “ótimos climáticos”, sendo os
períodos frios caracterizados por secas, fome, pandemias e guerras. Registros históricos do
desenvolvimento humano datam da metade do Holoceno, período interglacial de clima relativamente
quente, que se instalou após o término da última era glacial, entre 12 mil e 15 mil anos atrás, e que
persiste até os dias de hoje. Nos últimos 7 mil anos, viu-se o surgimento de notórias civilizações, como
os sumérios e os amoritas, na Mesopotâmia, e os egípcios, no nordeste da África. Minoana é um
exemplo de civilização de outro período quente, entre 4 mil e 3 mil anos antes do presente. O Ótimo
Climático Romano, ocorrido entre 400 a.C. e 200 d.C., foi marcado pelo florescimento das civilizações
grega, persa e romana. O clima se resfriou durante os 600 anos seguintes, período seco denominado de
Eras Negras. Nesse período, civilizações como a nazca, por exemplo, desapareceram. Entre cerca de
800 a 1250 d.C., o chamado Período Quente Medieval, as temperaturas voltaram a ficar elevadas, mais
altas que as atuais, e permitiram aos nórdicos (vikings) colonizar as regiões no norte do Canadá e no
sul de uma ilha denominada Groenlândia (Terra Verde), hoje coberta de gelo. As grandes catedrais
europeias também começaram a ser erigidas nesse período de fartura. Nas Américas, também se
desenvolveram astecas, incas e maias. Entre 1350 e 1920, contudo, o clima se resfriou novamente,
chegando a temperaturas de até cerca de 2°C inferiores às de hoje. Esse período foi descrito na
literatura como a Pequena Era Glacial ou Pequena Idade do Gelo (PIG), e o clima frio e seco causou
grandes transtornos sociais e econômicos, particularmente na Europa Ocidental. É possível que as
grandes navegações dos séculos XV e XVI tenham sido forçadas pela PIG, em razão das safras
frustradas que geraram pobreza e fome na Europa. Importantes revoluções político-sociais ocorreram
nesse período, dentre as quais a mais notável foi a Revolução Francesa, em 1789. Após 1920, o clima
começou a se aquecer lentamente e as temperaturas se elevaram, mas ainda continuam sendo inferiores
aos períodos quentes passados. Aliado aos avanços tecnológicos nas diversas áreas do conhecimento, o
clima atual tem trazido uma relativa estabilidade social num mundo globalizado.

Reconhece-se, porém, que estudar o clima da Terra não é tarefa fácil, pois este é muito complexo e tem
variado naturalmente ao longo de sua existência, forçado por agentes, quer externos, como oscilações
das atividades solar e vulcânica, dos parâmetros orbitais terrestres e até de raios cósmicos galácticos,
quer internos, como variação do calor armazenado, da temperatura superficial dos oceanos e da
cobertura de nuvens. Somem-se a essa variação natural os impactos climáticos das atividades de uma
população global que ultrapassou 7 bilhões de seres, alterando parcialmente a superfície continental,
por meio da mudança do uso do solo e da implantação de grandes centros urbanos. O clima não está e
jamais esteve em equilíbrio, estático. É nesse aspecto, o de introduzir os conceitos básicos da Ciência
do Clima, que este livro chama a atenção por seu caráter inovador. Em vez de seguir a estrutura
clássica, ortodoxa, de desfilar um capítulo após o outro, seguindo uma sequência que nem sempre faz
sentido para o leitor e acaba criando resistência ao processo de aprendizagem, a autora partiu de um
princípio pedagógico simples, que foi o de instigar os alunos a levantarem dúvidas e curiosidades sobre
fenômenos e processos climáticos observados no cotidiano. Ao longo de seus 15 anos de dedicação à
árdua missão de transmitir conhecimentos nessa área pouco popular, ela colecionou um conjunto de
perguntas cujas respostas exigem a aplicação dos conceitos da Física do Clima, facilitam o processo
didático e estimulam os alunos a continuar as investigações por conta própria. Considerando que este
seu livro tem caráter introdutório, a autora procurou descrever os processos e os mecanismos do tempo
e do clima de forma simples e direta, sem enveredar por demonstrações rígidas e formulações
matemáticas complexas e monótonas, que, via de regra, desmotivam e afastam os leitores. Perguntas
simples como, por exemplo, “por que a região equatorial é mais quente que a polar?”, levam a
explanações que envolvem a variabilidade da fonte de energia representada pelo Sol, parâmetros
orbitais que governam a distribuição da radiação solar pela superfície do Planeta ao longo dos milênios
e a própria natureza e o caráter das ondas eletromagnéticas que constituem a radiação solar, assim
como sua interação com gases e partículas componentes da atmosfera terrestre. Isso remete a
explicações, por exemplo, sobre a famosa frase “A Terra é azul!”, proferida pelo primeiro astronauta,
Yuri Gagarin; a razão de o Sol ter tons vermelho-alaranjados em seu ocaso; e o porquê de as pessoas
ficarem com queimaduras de pele quando se expõem aos raios solares na praia. Ao comentar por que “a
asa-delta plana nos céus durante muito tempo antes de pousar” e “o gramado amanhece úmido”, a
autora introduz os mecanismos do ciclo hidrológico e de formação de nuvens e chuva, fenômeno
atmosférico essencial para a existência dos seres vivos sobre as regiões continentais. O leitor entende,
também, por que ocorrem tempestades, raios, relâmpagos, trovões e, muitas vezes, granizo e neve. A
discussão sobre as forças que produzem os movimentos atmosféricos elucida ao leitor questionamentos
encontrados nos debates travados entre os filósofos gregos antigos Anaximandro e seu discípulo
Anaxímenes, em 500 a.C., sobre qual seria a origem dos ventos e como ocorriam a evaporação e a
condensação.

Mas foi no Cap. 4, em que apresenta o efeito estufa, e, posteriormente, nas Considerações finais, em
que comenta sobre o aquecimento global antropogênico (AGA), que a autora foi ousada, mostrando
que as hipóteses atuais, muito propaladas e impostas em caráter dogmático pela mídia e por certos
setores internacionais da ONU, como o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na
sigla em inglês), criado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e pelo Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), são hipóteses não comprovadas e não aceitas unanimemente
pela comunidade científica dessa área do conhecimento. Acredito que seja esta a primeira vez que tal
discussão é trazida para um livro didático. Foram apresentados argumentos que indicam ser a atmosfera
terrestre aquecida por baixo, por contato com a superfície terrestre, e esta, por sua vez, aquecida pelos
raios solares (condução de calor). Posteriormente, o ar aquecido é transportado por movimentos
verticais ascendentes (convecção) para camadas superiores da atmosfera. O aquecimento do ar nos
níveis inferiores pela absorção de radiação infravermelha térmica (IV) emitida pela superfície teria um
papel secundário. Portanto, a hipótese crucial do IPCC – o efeito estufa, intensificado pelas emissões de
gás carbônico (CO2) proveniente da queima de combustíveis fósseis (petróleo e carvão mineral), ou
seja, atividades humanas, responsáveis pelo aumento da temperatura média global nos últimos 50 anos
– parece não ter fundamentos científicos sólidos. Ou seja, se todo CO2 for retirado da atmosfera
terrestre, a temperatura do ar próximo à superfície seria praticamente a mesma, já que a concentração
de CO2 é de apenas 0,039% por volume, e sua contribuição, em termos de massa molecular, ínfima
para o aquecimento do ar. Como foi dito, o clima global é controlado por fatores físicos internos e
externos ao Planeta, e não pelo CO2, que, mesmo tendo sua concentração dobrada na atmosfera nos
próximos 80 a 100 anos, não teria capacidade de induzir mudanças climáticas globais, muito menos de
elevar as temperaturas do planeta entre 1,5°C e 5,6°C com relação às atuais, como afirma o IPCC. As
observações dos últimos 15 anos mostram que a temperatura média global está estagnada, embora as
emissões de CO2 continuem a aumentar, fato que contraria a hipótese do AGA defendida pelo IPCC. A
autora, em seus parágrafos finais, coloca muito bem a ideia de que o homem não tem capacidade de
mudar o clima global, mas muda, sim, o clima local (ou microclima) quando modifica o meio ambiente
em que vive, como, por exemplo, ao substituir parte da mata atlântica por uma megalópole como a
cidade de São Paulo. Conclui que a conservação ambiental não deve ser confundida com as mudanças
pelas quais o clima passa. A conservação ambiental é de extrema importância para a sobrevivência da
espécie humana, independentemente de o clima se aquecer ou se resfriar no futuro, ideia que
compartilho plenamente. Sem dúvida, este livro trará uma contribuição notável ao aprendizado da
Ciência do Clima não só para iniciantes, como também fomentará, entre os estudiosos, a discussão
sobre mudanças climáticas serem naturais e/ou antropogênicas e sobre qual será a tendência da
temperatura global nas próximas décadas.

Prof. Luiz Carlos Baldicero Molion, PhD


Meteorologista
PREFÁCIO

– E então, o que você fez hoje, minha querida? Algo divertido?


– Sinceramente, não. (…) Na verdade, passei a maior parte do dia lendo. Meio chato.
– O que você está lendo? (…)
– Sobre o clima.
Dorian parou no meio da pincelada.
– E o que você aprendeu?
– Algumas coisas sobre tempestades. Como as moléculas se formam e se condensam, como as
partículas carregadas descarregam para formar o raio. E também tinha alguma coisa sobre pressão alta
e baixa, mas ainda preciso voltar a ler. É um pouco confuso.

(Mead, 2011, p. 341)

Esta publicação está inserida no âmbito de um projeto desenvolvido no Laboratório de Climatologia


Geográfica (LCGea) do curso de Geografia da Universidade de Brasília (UnB), o projeto Climatologia
Fácil. O projeto surgiu da necessidade de elaborar formas mais agradáveis de ensinar e aprender
Climatologia, pois a maioria dos professores e dos alunos que se deparam com esse tema consideram o
assunto “um pouco confuso” e de difícil compreensão, pela grande abstração que demanda.

Quando comecei a lecionar Climatologia no curso de graduação em Geografia da Universidade de


Brasília, no ano de 1996, observei que os alunos tinham muita resistência à disciplina. Chegavam com
conceitos prontos, muitas vezes revestidos de erros e, além disso, não se interessavam pelos assuntos
por considerá-los muito abstratos. Iniciei, a partir dessa constatação, uma investigação a respeito do
ensino de Climatologia em vários níveis de ensino.

Alguns artigos e produtos didáticos já foram elaborados com o intuito de ajudar a aprender assuntos
relacionados à Climatologia, como os CD-ROMs “Climatologia fácil: uma aula interativa sobre clima”,
“Paisagens terrestres” e “Desastres naturais: enciclopédia interativa”. Esses produtos constituem-se em
aulas interativas para o público do ensino médio e do ensino fundamental. A elaboração dos três CD-
ROMs ocorreu em parceria com o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT),
órgão público federal da administração direta, pertencente à estrutura de unidades de pesquisa do
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Os CDs foram lançados, respectivamente, na 7ª,
na 8ª e na 11ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, evento que ocorre todos os anos em Brasília.

Após anos de investigação direta com os alunos da disciplina Climatologia Geral, do curso de
Geografia da UnB, preparei este novo produto, um documento, em formato de livro, para tentar
transformar a aprendizagem de noções básicas de Climatologia em momentos mais agradáveis.

Este livro foi gerado a partir de uma estratégia de ensino que ainda hoje utilizo para motivar os alunos a
interessarem-se pelo conteúdo do curso. O mecanismo é simples: constitui-se em solicitar aos alunos,
após uma breve explicação da disciplina, que escrevam em uma folha de papel uma pergunta,
curiosidade, algo que gostariam de saber a respeito de tempo e clima.

As perguntas dos alunos são usadas, ao longo do semestre, no início de cada aula, como motivação.
Após concluir o tópico relacionado àquela pergunta, questiono se o aluno que a elaborou ainda
continua com dúvida. Na grande maioria das vezes, a resposta é negativa. Observei que, dessa forma,
os alunos se sentem realmente fundamentais no contexto do processo de aprendizagem e, mais
importante do que isso, começam a se interessar pelos temas de Climatologia e percebem como é
interessante investigar aquilo que está no nosso dia a dia.

Quinze anos depois, reuni em torno de mil perguntas e as classifiquei por temas. Percebi, como era de
se esperar, que a maioria das perguntas estava relacionada ao nosso cotidiano; porém, mais do que isso,
que o tema central das dúvidas dos alunos girava em torno do assunto de clima que estivesse sendo
discutido no momento, principalmente na mídia. No início da investigação, o interesse maior era pelo
fenômeno El Niño; logo depois surgiram as dúvidas a respeito da camada de ozônio, temporada de
furacões de 2006, aquecimento global e, mais recentemente, as chuvas torrenciais e as enchentes delas
derivadas.

Decidi, então, compartilhar essa experiência para ajudar todos aqueles que se interessam por
Climatologia a aprender, de forma mais descomplicada, noções de Climatologia Geral. Para isso,
escrevi este documento sem a preocupação de demonstrar matematicamente os processos e
mecanismos do tempo e do clima. Estes são aqui apresentados e descritos de forma conceitual simples,
buscando esclarecer os seus significados para a nossa vida.

Nesta obra, escolhi uma pergunta de cada tema para iniciar as seções e, a partir daí, segue-se a
explicação, tentando seguir uma sequência lógica e encadeada dos fenômenos, para que os alunos
percebam que, apesar de separados, os assuntos estão conectados uns aos outros.

Espero poder contribuir para que as noções básicas de Climatologia possam ser mais bem
compreendidas por meio de elementos mais próximos de nossa realidade. Quaisquer sugestões ou
comentários, com o intuito de expandir ou melhorar o conteúdo desta publicação, serão muito bem-
vindos.

Ercília Torres Steinke"


SUMÁRIO

1 Para que serve o estudo da Climatologia?


1.1 Climatologia e Meteorologia
1.2 Clima e tempo

2 Os climas mudam?
2.1 O movimento de rotação
2.2 O movimento de translação

3 Por que a temperatura do ar diminui com a altitude?


3.1 Composição da atmosfera
3.2 A estrutura vertical da atmosfera

4 Por que é mais quente na região próxima à linha do equador?


4.1 Natureza da radiação solar
4.2 Distribuição da radiação
4.3 Radiação terrestre
4.4 Radiação atmosférica e efeito estufa
4.5 Balanço de radiação
4.6 Balanço de energia da Terra

5 Qual o mecanismo que faz a asa-delta voar?


5.1 Fatores que influenciam a distribuição horizontal da temperatura do ar
5.2 Distribuição espacial da temperatura média do ar no planeta Terra

6 Por que a grama fica molhada ao amanhecer mesmo que não chova?
6.1 Umidade relativa
6.2 Inversões de temperatura
6.3 Orvalho e nevoeiro
6.4 O que provoca a condensação na atmosfera?
6.5 Precipitação
6.6 Tipos de chuvas
6.7 Distribuição espacial da chuva na Terra

7 É verdade que, na Cidade de La Paz, a água ferve a 90°?


7.1 Ventos
7.2 Efeito da rotação da Terra
7.3 Efeito da força centrífuga
7.4 Efeito do atrito com a superfície

8 Qual a diferença entre furacões e tornados?


8.1 Como se formam os furacões?
8.2 Como se formam os tornados?

9 Como são formados os desertos?


9.1 A circulação atmosférica global
9.2 Célula de Walker
10 O que são as ressacas nas praias e quais fatores as originam?
10.1 As massas de ar
10.2 Frentes
10.3 O fenômeno das ressacas

Considerações finais: uma breve discussão sobre o aquecimento global

Referências bibliográficas

Sobre a autora"
1 – PARA QUE SERVE O ESTUDO DA CLIMATOLOGIA?

Quando aprendemos algo sem saber o porquê, principalmente na escola ou na faculdade, costumamos
atribuir esse “porque” ao fato de a disciplina ser uma obrigação acadêmica, o que se torna, muitas
vezes, apenas algo mais a ser memorizado e depois esquecido.

Porém, quando conseguimos vincular aquilo que aprendemos à nossa realidade, o interesse no assunto
cresce e, segundo Costella (2007, p. 50): “ao substituir esquemas já construídos por reflexões e novas
construções de conceitos, nós somos incentivados a desenvolver um pensamento autônomo que
desperta o desafio e a satisfação do saber que vem da construção”. De fato, ao estudarmos algo que é
por nós vivenciado, são muito maiores as chances de o aprendizado tornar-se mais consequente.

Imagine, por exemplo, o modelo esquemático da circulação geral da atmosfera mostrado na Fig. 1.1,
assunto que demanda bastante abstração por parte de um estudante, pois não podemos olhar pela janela
e identificar as células de circulação atmosféricas (células de Hadley, Ferrel e Polar) da mesma forma
que podemos distinguir as formas de relevo.

Fig. 1.1 Modelo esquemático simplificado da circulação geral da atmosfera


Fonte: adaptado de Lutgens e Tarbuck (1995).
Memorizar os nomes, a posição dos centros planetários de pressão atmosférica (alta polar, baixa
subpolar, alta subtropical e baixa equatorial), células de circulação e ventos planetários (ventos alísios,
ventos de oeste e ventos polares) pode não ser tão difícil, mas certamente, algum tempo depois, você
não se lembrará mais desses nomes. Ao contrário, se você conseguir compreender a gênese e as
características da circulação geral e, mais tarde, sua relação com a diferenciação das paisagens no
planeta Terra, o que é algo concreto e faz parte da realidade, a probabilidade de você não se esquecer
do esquema é bem maior.

A forma escolhida para a abordagem dos assuntos de Climatologia neste livro adota essa perspectiva,
isto é, procura mostrar aos que pretendem aprender noções básicas de Climatologia que, apesar de
complexos, os conceitos não são de difícil compreensão se conseguirmos lançar mão de recursos
didáticos que nos façam transpor a barreira da abstração e nos aproximar da realidade. Além disso,
facilita ter consciência de que vivemos os fenômenos da Climatologia todos os dias da nossa vida, por
exemplo, ao passarmos frio pela manhã e calor à tarde, ao reclamarmos da roupa que não seca no varal
ou ao ficarmos presos em um engarrafamento por causa da chuva torrencial do fim de tarde.

1.1 Climatologia e Meteorologia

Ao longo da história da humanidade, pessoas que necessitavam de informações sobre o tempo e o


clima foram acumulando conhecimentos práticos que permitiram compreender melhor como eles
variavam. Isso ocorreu porque o homem aprendeu a observar o céu, os fenômenos meteorológicos e
suas consequências, procurando as relações entre os fenômenos e estabelecendo algumas leis.

Até algum tempo atrás, o estudo do clima e do tempo era restrito àqueles que trabalhavam diretamente
com o assunto ou aos interessados nas condições climáticas de um lugar para onde viajariam de férias,
por exemplo. Hoje, assuntos relacionados ao clima e ao tempo estão diariamente nas páginas dos
jornais, na televisão e no cinema. Podemos dizer que, após a difusão do tema aquecimento global na
mídia, o assunto tornou-se tão popular a ponto de permear as conversas cotidianas.

Ocorre que entender Climatologia requer a compreensão básica dos controles físicos do clima.
Essencialmente, os fatores astronômicos juntamente com os fatores terrestres determinam a natureza
dos climas na Terra ao longo do tempo. E é a influência combinada desses dois conjuntos de fatores,
conhecidos como fatores do clima, que vai motivar a variação da quantidade de energia solar que chega
à superfície terrestre. Esta, por sua vez, é determinante na configuração das diferenças climáticas no
planeta Terra.

Mas, o que são fatores do clima? Os fatores são agentes causais que condicionam os elementos do
clima (radiação solar, temperatura do ar, umidade do ar, pressão do ar, velocidade e direção do vento,
tipo e quantidade de precipitação). A atuação dos diversos fatores faz com que os elementos do clima,
ou meteorológicos, variem no tempo e no espaço.

Alguns elementos meteorológicos podem atuar também como fatores. A radiação solar, por exemplo,
pode ser considerada tanto um elemento, por ser uma variável que quantifica a disponibilidade de
energia solar na superfície terrestre, como um fator, por condicionar, por exemplo, a temperatura do ar,
a pressão atmosférica e, indiretamente, outros elementos meteorológicos.

Esses elementos e fatores do clima são estudados tanto pela Meteorologia quanto pela Climatologia,
porém existe uma diferença entre elas. Costuma-se definir Meteorologia como a ciência da atmosfera
que está relacionada ao seu estado físico e ao estudo dos fenômenos atmosféricos, principalmente para
a previsão do tempo. A Climatologia, por sua vez, como subdivisão da Geografia Física, preocupa-se
mais em estudar a evolução dos fenômenos atmosféricos e sua espacialização, ou seja, trata do estudo
geográfico dos climas.

O intuito dessa breve explicação é deixar claro que, embora a Climatologia esteja vinculada à
Meteorologia, as duas apresentam diferenças de abordagem, e que esta obra traz os fundamentos
básicos da Climatologia enquanto fenômeno geográfico. Da mesma forma, é importante esclarecer a
diferença entre os termos “tempo” e “clima”, pois muitas confusões conceituais são derivadas do erro
recorrente de pensar que “tempo” seja a mesma coisa que “clima”.

1.2 Clima e tempo

Certamente você já passou por esta experiência: saiu para trabalhar pela manhã sentindo frio. Ao
chegar a hora do almoço, você se desvencilhou de seu casaco, pois estava fazendo o maior calor. Mais
tarde, um colega seu comentou que naquele dia o clima foi muito esquisito, pois de manhã tinha feito
frio e, à tarde, calor.

Esse é só um exemplo de que as pessoas, em geral, não sabem a diferença entre “tempo” e “clima”. Na
grande maioria das vezes, observa-se que, no diálogo cotidiano entre as pessoas e até em textos de
reportagens de jornais, os termos “tempo” e “clima” são utilizados sem distinção. Pode-se citar como
exemplo um trecho de uma matéria jornalística em que isso ocorreu: “Apesar de receiar [sic] as
consequências do clima desértico [grifo nosso], o atleta Klesst Roberto não dispensou sua corrida diária
no parque Sarah Kubitschek” (Baumgratz, 1998, p. 1).

No trecho, percebe-se que a intenção do articulista era dizer que, mesmo durante o período seco em
Brasília (DF), o atleta treinava no parque da cidade. Onde se lê “clima desértico”, deveria ser utilizado
o termo “tempo seco”, pois o DF não apresenta clima desértico, mas sim clima tropical com tempo
seco no inverno, como será visto no Cap. 6.

Por isso, acreditamos que a primeira coisa a ser esclarecida, quando se inicia o estudo da Climatologia,
é a diferença entre os termos “tempo” e “clima”, para que equívocos como o citado anteriormente
deixem de acontecer.

A noção de tempo adotada pelos meteorologistas admite que as combinações dos elementos
meteorológicos sejam instantâneas e ocorram em locais pontuais da superfície da Terra. Para esses
profissionais, o tempo é o “conjunto de valores que, em um dado momento e em um determinado lugar,
caracterizam o estado atmosférico”, como a iminente ocorrência de uma tempestade mostrada na Fig.
1.2.

Já no âmbito da Climatologia estudada como um ramo da Ciência Geográfica, a noção de “tempo” é


mais vasta. Para os geógrafos, o tempo refere-se às combinações que se repetem, nem sempre idênticas,
porém produtoras de sensações fisiológicas semelhantes, conforme indica Pédelaborde (1970), partindo
da aceitação dos pressupostos teóricos de Max Sorre, estudioso que criticou tradicionais conceitos de
tempo e clima.

Essa noção nos leva a adotar outro termo para designar o que entendemos ser o tempo atmosférico: a
noção de “tipos de tempo”. Um tipo de tempo é constituído quando uma combinação de elementos que
se repetem aparece frequentemente – não de modo idêntico, mas com os constituintes muito próximos e
produzindo efeitos praticamente iguais (Pédelaborde, 1970). Segundo Sorre (1951), em cada instante, a
combinação dos elementos meteorológicos forma um conjunto original – o tempo –, e a sucessão dos
tipos de tempo é regida por leis da meteorologia dinâmica, das quais podemos extrair o conhecimento
dos mecanismos da gênese dos climas.

"Fig. 1.2 Para um dado local, o estado da atmosfera pode ser descrito em termos instantâneos, definindo uma
condição atual. Nesse caso, a condição atual é a iminente ocorrência de uma tempestade
Foto: Ian Dias

O termo “clima”, para os meteorologistas, constitui um conjunto de eventos de tempo semelhantes


(tendências), mais ou menos estáveis, que resulta em condições relativamente permanentes, durante um
período de tempo mais longo. Costuma-se conceituar clima como o conjunto de fenômenos
meteorológicos que caracterizam o estado médio da atmosfera em um ponto da superfície terrestre,
como é mostrado no mapa de climas do Brasil segundo a classificação de Arthur Strahler (Fig. 1.3).

Entretanto, para o geógrafo, considerar o clima como sendo o resultado de uma média é transformá-lo
em uma generalização. Por isso, a definição de clima de Sorre (1951, p. 13) é mais apropriada para a
Geografia. O clima passa a ser definido como “o ambiente atmosférico constituído pela série de estados
da atmosfera (estados do tempo) sobre um lugar em sua sucessão habitual”.

O conceito de Sorre (1951) considera os estados da atmosfera em sua totalidade, e não mais o seu
estado médio, englobando toda a série desses estados e a sucessão dos tipos de tempo, inclusive os
tipos atípicos que são mascarados pelas médias. Sant’Anna Neto (2001) chama atenção para o fato de
que Sorre pretendia demonstrar que somente essa perspectiva poderia amparar uma análise geográfica
do clima, interpretando seu dinamismo na dimensão da organização do espaço geográfico e no
cotidiano das diferentes sociedades."
Fig. 1.3 Ilustração que exemplifica a condição média da atmosfera para o Brasil. Os cinco tipos climáticos
identificados por Strahler em 1951 possuem um grau de generalização elevado em relação à grande extensão dos
territórios aos quais são atribuído

Dentro dessa linha, Sorre (1951, p. 22) ainda introduziu os conceitos de “ritmo” e “sucessão” à
definição de clima, atribuindo a este uma propriedade dinâmica e lançando um novo paradigma, que é
o ritmo climático. O ritmo “exprime não mais a distância quantitativa dos valores sucessivos, mas o
retorno mais ou menos regular dos mesmos estados”.

O professor Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, geógrafo brasileiro, foi o precursor da utilização
do paradigma do “ritmo” – o “encadeamento, sucessivo e contínuo, dos estados atmosféricos e suas
articulações tendo em vista o retorno aos mesmos estados” (Sorre, 1951, p. 22) – nos estudos de clima
no Brasil. Depois dele, muitos outros pesquisadores vêm trabalhando com essa abordagem dentro da
Geografia. Para aqueles que tiverem interesse em aprofundar-se no assunto, sugerimos a leitura de
Monteiro (1999), Zavatini (2000) e Sant’Anna Neto (2003).

Agora que você já sabe que os termos “clima” e “tempo” não são sinônimos, não vai mais confundi-los
e cometer o erro de afirmar, quando amanhecer chovendo e a chuva impedir sua ida ao clube, que o
“clima” naquele dia estava péssimo. Na verdade, o que foi péssimo para você foi o tempo; contudo,
certamente algum agricultor gostou da chuva.
2 – OS CLIMAS MUDAM?

Os climas mudam? Essa é uma pergunta recorrente entre as pessoas, principalmente após a divulgação
em massa de notícias a respeito de mudanças climáticas e aquecimento global. E a resposta é sim. Os
climas estão sempre mudando, e isso está relacionado, entre outros, a alguns fatores de ordem
astronômica descritos neste capítulo.

Em primeiro lugar, é preciso compreender que o planeta Terra não possui um clima só. A expressão “o
clima do planeta Terra está mudando”, muito ouvida ultimamente, está incorreta. Isso porque a Terra
não possui apenas um tipo de clima, mas sim inúmeros tipos, que, por sua vez, originam-se da relação
funcional que existe entre a Terra e o Sol.

Essa relação não é estática, pois os movimentos da Terra mudam continuamente a perspectiva
geométrica entre a Terra e o Sol. O fator importante que resulta dessa relação é a variação na incidência
de radiação solar no Planeta. Essa variação pode ocorrer a curto ou a longo prazo. Sendo assim, haverá
variação nos elementos meteorológicos tanto a curto quanto a longo prazo. Vamos iniciar o capítulo
com os movimentos que determinam variações de curto prazo, ou seja, os movimentos de rotação e
translação da Terra.

Compreender com facilidade esses movimentos não é tarefa fácil, uma vez que nos movimentamos
com a Terra e temos a impressão de que ela está parada. Muita observação, dedução e comprovação
tiveram que ser feitas para que os movimentos da Terra hoje conhecidos fossem aceitos.

2.1 O movimento de rotação

O movimento de rotação é aquele em que a Terra gira ao redor de seu próprio eixo, chamado de eixo
terrestre ou eixo polar, que passa pelo seu centro de polo a polo (Fig. 2.1). Esse movimento ocorre de
oeste para leste em um período de 23 horas, 56 minutos e 4 segundos (aproximadamente 24 horas). A
consequência mais importante desse movimento é o fato de parte da Terra ficar voltada para o Sol,
iluminada, enquanto a parte oposta ao Sol fica no escuro, o que determina o surgimento dos dias e das
noites.

A rotação em torno de seu próprio eixo faz com que todas as partes do planeta Terra, exceto os polos,
se movam em círculo ao redor do eixo terrestre. Embora a velocidade linear de sua rotação varie com a
latitude, a velocidade angular é constante, isto é, a variação do ângulo com o tempo (360° em 24 horas
= 15° por hora) é constante em um dado local. A razão pela qual não experimentamos sensação de
movimento é a primeira Lei de Newton (inércia), uma vez que estamos em cima de um sistema girante,
a Terra, e nos deslocamos com ela.
Fig. 2.1 A Terra gira de oeste para leste em um eixo de rotação que é inclinado em relação à vertical ao plano da
eclíptica, em que se localizam o Sol e os planetas

O movimento de rotação da Terra em torno de seu próprio eixo determina uma variação natural diária
de insolação na superfície terrestre, que, por sua vez, faz com que qualquer local da Terra experimente
uma variação diária em suas condições meteorológicas, especialmente na temperatura do ar, na
umidade e nos ventos. Esse movimento nos dá a sensação de que é o Sol que está se movimentando, o
que chamamos de movimento aparente do Sol no sentido leste-oeste.

A variação nas condições de tempo atmosférico ao longo de um dia (que o movimento de rotação
produz) é sentida por nós. Tomemos como exemplo a rotina diária de uma pessoa que mora em Brasília
e se desloca para o trabalho a pé. No mês de agosto, ao sair de casa, pela manhã bem cedo, sente frio.
Na hora do almoço, quando volta para casa, o Sol está alto e ela sente calor. No fim do dia, a
caminhada torna-se agradável, pois volta a esfriar. Essa variação na temperatura do ar foi regida,
primariamente, pela incidência diferenciada de radiação solar ao longo do dia. Isso prova que sentimos
as consequências da variação diária de recebimento de energia solar na superfície do nosso planeta.
2.2 O movimento de translação

Ao mesmo tempo que a Terra realiza o movimento de rotação, ela gira ao redor do Sol. Esse
movimento é chamado de translação. A órbita (nome dado à trajetória dos planetas em torno do Sol) da
Terra é completada em 365 dias, 5 horas e 48 minutos (aproximadamente um ano) e tem, hoje, um
formato oval, chamado de elipse. Não devemos esquecer que o eixo da Terra possui uma inclinação em
relação à sua órbita (atualmente de 23°,5’) e que essa inclinação, juntamente com o movimento de
translação, determina uma variação natural anual de insolação na superfície terrestre que dá origem às
estações do ano, isto é, determina uma variação nas condições de tempo atmosférico ao longo de um
ano. Essa variação anual das condições meteorológicas também é facilmente percebida pelas pessoas,
particularmente por quem vive fora dos trópicos.

As Figs. 2.2 e 2.3 apresentam esquemas representativos do movimento de translação da Terra com a
mudança no círculo de iluminação solar e as estações do ano sob a perspectiva dos polos Norte e Sul,
respectivamente. Observe a inclinação e o paralelismo do eixo terrestre em relação à mudança das
estações.

Em função do movimento de translação e da inclinação do eixo terrestre em relação à perpendicular ao


plano definido pela órbita da Terra (plano da eclíptica), em determinados momentos do ano um
hemisfério recebe mais energia solar que o outro. Em outros momentos, porém, os dois hemisférios
recebem aproximadamente o mesmo fluxo de radiação solar.

O hemisfério Sul inclina-se para longe do Sol durante o nosso inverno e em direção ao Sol durante o
nosso verão. Isso significa que o ângulo de elevação do Sol acima do horizonte, também conhecido
como altura do Sol, para uma dada hora do dia, varia ao longo do ano. No hemisfério de verão, as
alturas do Sol são maiores, os dias são mais longos e há mais radiação solar. No hemisfério de inverno,
as alturas do Sol são menores, os dias são mais curtos e há menos radiação solar.
Fig. 2.2 “Vista de cima” da marcha das estações do ano sob a perspectiva do polo Norte
Fonte: adaptado de Trewartha e Horn (1968).
Fig. 2.3 “Vista de cima” da marcha das estações do ano sob a perspectiva do polo Sul

Fonte: adaptado de Trewartha e Horn (1968).


Fig. 2.4 Solstício de verão no hemisfério Sul (e de inverno no hemisfério Norte) – ocorre normalmente no dia 21
ou 22/12, sendo esse o início do verão. Nessa data, o fotoperíodo é mais longo no hemisfério Sul (>12h) e mais
curto no hemisfério Norte (<12h). Na linha do equador, fotoperíodo é igual a 12h

Fig. 2.5 Solstício de inverno no hemisfério Sul (e de verão no hemisfério Norte) – ocorre normalmente no dia
22/6, sendo esse o início do inverno. Nessa data, o fotoperíodo é mais longo no hemisfério Norte (>12h) e mais
curto no hemisfério Sul (<12h). Na linha do equador, fotoperíodo é igual a 12h
Os dias em que os dois hemisférios recebem o mesmo fluxo de radiação solar denominam-se dias dos
equinócios (Fig. 2.6). Nessas datas, os raios verticais do Sol atingem a latitude 0°, ou seja, o equador.
Os equinócios ocorrem nos dias 21 ou 22 de março, sendo esse o início do outono no hemisfério Sul e
da primavera no hemisfério Norte. Nos dias 22 ou 23 de setembro, ocorre o outro equinócio e se dá o
início da primavera no hemisfério Sul e do outono no hemisfério Norte. Nessas datas, o fotoperíodo é
igual a 12 horas em todas as latitudes do globo terrestre. As datas especiais não são fixas por causa dos
anos bissextos. As datas dos solstícios e equinócios variam de ano para ano pelo fato de o período de
translação não ser exatamente 365 dias e dar origem aos anos bissextos.

Fig. 2.6 Equinócios – ocorrem em média nos dias 21/3 (equinócio de outono no hemisfério Sul), sendo esse o
início do outono, e 23/9 (equinócio de primavera no hemisfério Sul), e é nessa data o início da primavera. Nessas
datas, o fotoperíodo é igual a 12h em todas as latitudes do globo terrestre

Assim, os movimentos de rotação e translação da Terra constituem-se em importantes fatores que


condicionam os elementos do clima, fazendo com que estes variem no tempo, tanto na escala diária
como na escala anual, o que corresponde a uma variação natural do recebimento de energia solar em
curto prazo. Porém, existem variações de longo prazo que não podemos acompanhar e nem sentir os
seus efeitos. Essas variações estão associadas a outros parâmetros planetários que serão descritos a
seguir.

Como visto anteriormente, os movimentos de rotação e translação determinam uma variação de


insolação (diária e anual, respectivamente) que é facilmente percebida por nós ao longo da nossa vida.
Os demais movimentos cíclicos que a Terra executa geram efeitos praticamente imperceptíveis para os
seres humanos (que possuem uma vida média de 70 anos). Isso porque esses movimentos levam muito
tempo para se completarem. Todavia, são de grande importância para o entendimento das variações dos
climas: embora pouco afetem o fluxo de energia solar que incide na superfície terrestre, mudam
bastante a sua distribuição, o que exerce uma crucial influência sobre os controles climáticos do
Planeta.

Os parâmetros orbitais que você vai estudar agora se constituem em importantes fatores que fazem com
que as condições meteorológicas mudem com o tempo, porém não mais na escala diária e anual, e sim
na escala de milhares de anos, o que corresponde a uma variação natural de recebimento de energia
solar de longo prazo.

Esses parâmetros foram estudados por Milutin Milankovitch, em 1920, para explicar as causas dos
períodos glaciais. Sua teoria, que ficou conhecida como Ciclos de Milankovitch, presumia que a
radiação solar que incide sobre a Terra dependeria de parâmetros astronômicos.

O primeiro parâmetro é chamado de “excentricidade da órbita da Terra” e corresponde à natureza


irregular da forma da órbita da Terra, variando de 0 a 0,067 (Fig. 2.7). Isso significa que o formato da
órbita da Terra muda, de elipsoidal para quase circular, em um período de, aproximadamente, 100 mil
anos. Essa mudança, regular e previsível, do formato da órbita da Terra, ocorre em função de um
complexo jogo de forças gravitacionais entre os planetas do Sistema Solar. Equivale a uma variação
natural do recebimento de energia em longo prazo. Segundo Suguio (1999), quanto maior for o valor
desse parâmetro, maiores as diferenças de duração e intensidade da insolação entre o verão e o inverno.

Fig. 2.7 Representação esquemática da excentricidade da órbita terrestre


O segundo parâmetro orbital é conhecido como “obliquidade da eclíptica”. É a variação no ângulo de inclinação
do eixo de rotação terrestre em relação ao plano da órbita (Fig. 2.8). Atualmente esse ângulo é de 23,5°, mas
pode variar de 21,5° a 24,5°, com um ciclo de 40 a 41 mil anos (Aragão, 2009).
Fig. 2.8 Representação esquemática da obliquidade com relação à eclíptica

As variações da obliquidade afetam os gradientes térmicos latitudinais. Por exemplo, o aumento da


inclinação do eixo terrestre aumentaria a energia solar recebida nas altas latitudes no verão e diminuiria
o gradiente de temperatura do ar nas baixas latitudes, reduzindo os contrastes equador-polo. Mas,
quando a inclinação é pequena, as diferenças sazonais ficam mais acentuadas, com maior transporte de
calor do equador para os polos. Também equivale a uma variação natural do recebimento de energia em
longo prazo.

Antes de conhecer o terceiro parâmetro, a “precessão dos equinócios”, lembre-se de que a interseção da
eclíptica com o plano do equador é a linha dos equinócios. A interseção da linha dos equinócios com a
eclíptica gera dois pontos, que correspondem ao equinócio de primavera e ao equinócio de outono.
Embora as datas dos solstícios e dos equinócios sejam quase constantes ao longo de uma vida humana,
a orientação da inclinação da Terra em relação aos outros astros varia durante milênios. Isso ocorre em
decorrência da força gravitacional do Sol e da Lua sobre a convexidade equatorial da Terra. Como
consequência, a Terra oscila lentamente como se fosse um pião, fazendo com que os círculos polares
desenhem um cone com um ângulo de 23,5° no espaço (Fig. 2.9). Esse movimento, chamado de
precessão, tem uma periodicidade de 19 mil a 23 mil anos.

O movimento de precessão da Terra é conhecido também como precessão dos equinócios porque, por
causa dele, os equinócios se deslocam ao longo da eclíptica no sentido de ir ao encontro do Sol,
fazendo com que os dias dos equinócios aconteçam, a cada ano, em momentos um pouco diferentes. O
acúmulo dessas diferenças se reflete nas mudanças nas datas da passagem do Sol pelas constelações.

Assim, a precessão constitui-se na oscilação da Terra em seu eixo, como um pião cambaleante. Disso
decorre que, a cada 19-23 mil anos, aproximadamente, a inclinação do planeta Terra muda, fazendo
com que o hemisfério Sul, por exemplo, fique, alternadamente, mais perto e mais longe do Sol.
Atualmente, o inverno no hemisfério Sul ocorre no afélio (ponto da órbita em que a distância do Sol é a
máxima possível), enquanto seu verão ocorre no periélio (ponto da órbita em que a distância do Sol é a
mínima possível). Em cerca de 10.500 anos, a situação estará invertida e, em cerca de 21 mil anos, o
ciclo se completará. Da mesma forma que os outros dois movimentos, esse também equivale a uma
variação natural do recebimento de energia em longo prazo.
Fig. 2.9 Representação esquemática da precessão dos equinócios

Quando os três ciclos de Milankovitch são superpostos, com as suas diferentes periodicidades e
intensidades, são produzidas variações complexas entre o fluxo de radiação solar interceptado em cada
latitude e em cada estação do ano, produzindo períodos mais quentes alternados com períodos mais
frios na Terra.

Observa-se, assim, que os parâmetros orbitais descritos estão sempre se modificando: variam não só a
distância entre a Terra e o Sol, como também a inclinação em relação ao plano da eclíptica e a
orientação no espaço do eixo terrestre. Esses três parâmetros obedecem a ciclos de períodos diferentes,
e as mudanças descritas fazem com que haja variação na quantidade de energia que chega do Sol, o que
causa resfriamento e aquecimento natural da Terra.

De acordo com Maruyama (2009), com o progresso tecnológico, foi possível interpretar os registros
baseados em amostras de depósitos do assoalho submarino, e mostrou-se a quase concordância entre as
mudanças paleoclimáticas e os prognósticos de mudanças de Milankovitch. Segundo esse mesmo autor,
não há dúvidas de que os movimentos aqui descritos interferem nas mudanças climáticas do sistema
Terra-atmosfera. Se associados a outros fenômenos, como os ciclos de manchas solares (Leroux, 2010)
e as modificações na composição da atmosfera terrestre, desencadeiam glaciações, interglaciações e
mudança nos climas. Sendo assim, os climas do planeta Terra sempre estiveram em constante mudança
e vão continuar mudando naturalmente.

Essas variações afetam de modo complexo as trocas de calor entre as várias latitudes, assim como a
circulação geral da atmosfera, que, como veremos no Cap. 9, é primordial para a dinâmica do tempo e
do clima na Terra.
3 – POR QUE A TEMPERATURA DO AR DIMINUI COM A ALTITUDE?

Certa vez um aluno fez a seguinte pergunta: se o topo de uma montanha está mais perto do Sol do que a
sua base, então por que faz mais frio no alto das montanhas do que ao nível do mar? Bem, para
responder a essa pergunta, primeiro é necessário conhecer a atmosfera para, depois, estudar como ela é
aquecida.

A atmosfera circunda completamente a Terra e está presa a ela pela atração gravitacional. Portanto, a
atmosfera acompanha a Terra em seus movimentos. Ela possui importância inegável quando tratamos
da sua interação com as outras esferas da Terra.

3.1 Composição da atmosfera

Entre os gases que entram na composição da fina camada da atmosfera, destacam-se o nitrogênio, o
oxigênio e o argônio, que têm seus volumes constantes, espacial e temporalmente. Esses gases, porém,
influenciam minimamente o tempo e o clima.

Ao contrário, outros gases presentes na atmosfera, embora em quantidades variáveis, exercem grande
influência no tempo e no clima. O vapor d’água, por exemplo, determina a quantidade de umidade na
atmosfera, que será a fonte para a formação das nuvens e da chuva. Além disso, está ligado com o
armazenamento, o movimento e a liberação de energia térmica. A quantidade de vapor d’água pode
variar de muito pouca, em regiões áridas, até cerca de 3 a 4% (Ayoade, 1986) da massa total da
atmosfera, na região tropical, onde é gerada a maior parte da chuva na Terra.

O ozônio (O3) concentra-se entre as altitudes de 15 a 35 km da atmosfera, tendo baixo conteúdo nas
regiões do equador, porém elevado conteúdo nas proximidades dos polos. Esse gás forma-se sob
influência do fluxo de radiação ultravioleta (UV), que é maior nas regiões equatoriais. Na presença da
UV, as moléculas do gás oxigênio se rompem , e os átomos separados se combinam entre si, formando
o ozônio (O + O2 → O3).

Como o fluxo de UV é pequeno nas regiões de latitudes altas por causa do ângulo solar, há pouca
formação de O3 nessas latitudes. Entretanto, o transporte de O3 pelos ventos estratosféricos faz com
que as concentrações de O3 sejam maiores nessas latitudes do que nas tropicais.

O dióxido de carbono (CO2) tem origem principalmente pela ação bioquímica de organismos vivos que
vivem nos oceanos e nos continentes (vegetação e solos), e pela desmineralização das rochas calcárias.
A fotossíntese ajuda a manter o equilíbrio da concentração de CO2, removendo-o cerca de 3% por ano.
Mas são os oceanos os principais reservatórios de carbono do sistema climático (Odum, 1988).

Outros gases fazem parte da composição da atmosfera, mas o nitrogênio, o oxigênio e o argônio
compõem praticamente a totalidade da atmosfera, como mostra a Tab. 3.1.
Além dos gases relacionados na Tab 3.1, o ar atmosférico sempre contém vapor d’água, variando sua
quantidade conforme a temperatura, região, estação do ano etc. Esse vapor mistura-se com o ar
atmosférico e passa a fazer parte de sua composição. Também há quantidades variáveis de aerossóis na
atmosfera. Aerossóis são partículas de poeira em suspensão, fumaça, matéria orgânica, sal marinho,
entre outros, cuja procedência tanto é natural como decorrente das atividades humanas.

Tão importante quanto conhecermos a composição da atmosfera é termos em mente que a presença
desses gases possui uma função. Veremos no Cap. 4 que os gases presentes na atmosfera e as nuvens
promovem uma atenuação da energia que vem do Sol em direção ao nosso planeta.

3.2 A estrutura vertical da atmosfera

Esta seção trata das características gerais da atmosfera na sua extensão vertical com relação aos
padrões de temperatura, pressão e composição.

Vamos iniciar pela variação da temperatura. Há algum tempo, pensava-se que a temperatura do ar
diminuía com a altitude ao longo de toda a atmosfera. Hoje sabemos que não é assim. Na verdade, o
padrão vertical da temperatura na atmosfera é complexo e formado por uma intercalação de camadas
quentes e frias (Fig. 3.1).

A camada mais baixa da atmosfera é denominada troposfera. Contém cerca de 90% da massa de gases
de toda a atmosfera e praticamente a totalidade do vapor d’água e dos aerossóis. E é em função da
presença do vapor d’água que esta é considerada a camada da atmosfera que estabelece as condições do
tempo, sendo de importância direta ao homem e outros seres vivos. Também é conhecida como
atmosfera geográfica.
Fig. 3.1 Perfil vertical da atmosfera, de acordo com as mudanças da temperatura

Nessa camada, a temperatura do ar diminui com a altitude porque o ar absorve pouca radiação solar.
Um grande porcentual da energia emitida pelo Sol é absorvido pela superfície terrestre antes de ser
repassado para a atmosfera. Como o ar não é um bom condutor de calor, a temperatura cai conforme
nos afastamos da superfície. A taxa média de diminuição da temperatura do ar é de 6,5°C/km. Essa taxa
é chamada de gradiente ambiental.

O limite superior da troposfera é denominado tropopausa. Caracteriza-se pela condição de inversão


térmica, o que limita as atividades do tempo atmosférico, ou seja, a tropopausa é a “tampa” da
troposfera. A altura da tropopausa varia de acordo com a temperatura, o lugar e a época do ano, mas
observa-se que sua altitude é mais elevada no equador, aproximadamente 18 km, em decorrência do
aquecimento e das correntes convectivas de ar quente. Nos polos, em função das baixas temperaturas,
ela se apresenta mais baixa, em torno de 8 km (McKnight; Hess, 2002).

A estratosfera é a segunda camada da atmosfera. Estende-se desde a tropopausa até cerca de 50 km


acima da superfície terrestre. Nessa camada, a temperatura permanece quase constante por uns 20 km e
depois aumenta com a altitude, pois a produção de ozônio absorve radiação UV, resultando em um forte
aquecimento de sua parte superior. Lembre-se de que a maior concentração de ozônio encontra-se em
torno de 25 km, embora o ozônio seja formado entre 40 e 50 km. É na estratosfera que se localiza a
chamada camada de ozônio.

A estratosfera contém pouco ou nenhum vapor d’água, e nela há ocorrência marcante de mudanças
sazonais, provavelmente ligadas às mudanças de temperatura e à circulação na troposfera. O limite
superior dessa camada é denominado estratopausa, evidenciada por uma inversão de temperatura.

A atmosfera superior ainda é pouco explorada, se comparada à atmosfera inferior. Localiza-se a partir
da estratopausa até onde a atmosfera terrestre se funde com a atmosfera solar (ou heliosfera).
Geralmente são reconhecidas as camadas denominadas de mesosfera, termosfera e exosfera.

Na mesosfera (de 50 a 80 km), a temperatura diminui com a altitude até alcançar níveis mínimos de
toda a atmosfera, cerca de 100°C negativos, aos 80 km, altitude onde se situa a mesopausa.

Já na termosfera (de 80 a ± 800 km), a temperatura aumenta com a altitude, pois vários átomos e
moléculas absorvem radiação UV extrema, sendo o processo de absorção realizado, segundo Godoy e
Walker (1975), por fotoionização (ionização de moléculas e átomos provocada pela radiação). Nessa
camada, a atmosfera é muito rarefeita, já que a densidade do ar é muito baixa. Acima de 100 km, a
atmosfera é fortemente afetada pelos raios X, além da radiação UV, provocando a ionização ou
carregamento elétrico, além de ser uma região de alta densidade de elétrons, também chamada de
ionosfera. É nessa camada que ocorrem os fenômenos das auroras polares.

As auroras polares são formadas da seguinte forma: o Sol emite um fluxo de partículas carregadas de
prótons e elétrons que viajam pelo espaço a uma velocidade de até 2 milhões de km/h (Time Life Abril
Coleções, 1995) e formam uma nuvem de plasma, conhecida como “vento solar”. Quando o vento solar
se aproxima da Terra, as partículas são capturadas pelo campo magnético terrestre. Elas descrevem
trajetórias espiraladas ao longo das linhas do campo magnético da Terra, movendo-se para a frente e
para trás entre os polos magnéticos sul e norte. Esses elétrons e prótons aprisionados constituem os
chamados “cinturões radioativos de Van Allen”. Algumas partículas acompanham o campo magnético
da Terra em direção aos polos geomagnéticos, penetrando na ionosfera, onde colidem com átomos e
moléculas de oxigênio e nitrogênio, que são temporariamente energizados. Quando esses átomos e
moléculas retornam do seu estado energético excitado, emitem energia na forma de luz, o que constitui
as auroras boreal, no hemisfério Norte, e austral, no hemisfério Sul.

A termosfera não possui limite superior definido. Ela vai se misturando gradualmente com a região
conhecida como exosfera, parte exterior da atmosfera e muito tênue, que vai desaparecendo aos poucos
na heliosfera.

A composição da atmosfera também varia com a altitude, mantendo a razão de mistura dos gases
uniforme com a altura.
No capítulo seguinte, veremos como a atmosfera influencia a gênese dos climas. Em primeiro lugar, é
necessário lembrar que os climas são o resultado de uma relação funcional entre a Terra e o Sol. A
atmosfera interfere nesse processo por meio dos processos de atenuação da radiação solar que chega à
superfície terrestre.
4 – POR QUE É MAIS QUENTE NA REGIÃO PRÓXIMA À LINHA DO EQUADOR?

Pense em uma cena típica de inverno. Para muitos, a primeira coisa que vem à cabeça são crianças
fazendo bonecos de neve nas cidades frias de países do hemisfério Norte. Porém, em certas regiões
próximas da linha do equador, imaginar essa cena não é possível, pois o inverno é quente. Na verdade,
a região mais quente da Terra é chamada de equador térmico e pode ser definida como a linha que une
os pontos cujas temperaturas médias são as mais elevadas do globo. Em decorrência da distribuição
desigual de terras e oceanos nos dois hemisférios, o equador térmico não coincide exatamente com o
geográfico, mas apresenta posição média a cerca de 5° de latitude norte. Nessa região, não se registra
sazonalidade térmica, ou seja, o calor é permanente. Essa diferença climática tem uma explicação
astronômica que está relacionada à incidência de radiação solar na Terra. Vamos ver como isso
funciona.

O Sol é a única fonte importante de energia para a atmosfera terrestre. As outras estrelas também
irradiam energia, porém estão muito longe para afetar a Terra. Compreender o papel da radiação solar
na diferenciação climática do Planeta requer que você compreenda três pontos fundamentais: a
natureza da energia emitida pelo Sol; o efeito da radiação solar no sistema Terra-atmosfera; e as
mudanças que a radiação solar sofre ao atravessar a atmosfera.

4.1 Natureza da radiação solar

Costuma-se definir radiação, ou energia radiante, como a energia que se propaga no vácuo, isto é, sem
a necessidade de um meio material de propagação. A energia radiante do Sol é a principal fonte de
energia para o aquecimento do ar e para a dinâmica dos ecossistemas. Essa energia é um tipo de
radiação eletromagnética (REM). Entende-se por radiação eletromagnética a energia que possui um
componente elétrico e outro magnético, e é emitida em forma de onda por toda substância que não
esteja na temperatura de zero absoluto (Ferreira, 2006).

Uma onda eletromagnética pode ser caracterizada por sua amplitude, sua frequência de oscilação e seu
comprimento. A Fig. 4.1 ilustra o padrão de repetição da onda.

A crista e o cavado representam, respectivamente, o deslocamento máximo ascendente e o


deslocamento máximo descendente da onda. A amplitude mede a magnitude da onda e se refere ao
tamanho do deslocamento que nela acontece. O comprimento da onda é a distância entre as cristas ou
os cavados sucessivos da onda (λ), que pode ser medida em micrômetros (μm) (1 micrômetro é 1.000
vezes menor que 1 milímetro). O número de ondas que passa por um determinado ponto em um dado
período de tempo define a frequência da onda (f), que é diretamente proporcional à velocidade (c) de
propagação da radiação (λf = c).
Fig. 4.1 Características de uma onda eletromagnética

No vácuo, toda onda eletromagnética se propaga com a velocidade da luz, ou seja, cerca de 300.000
km/s, e, na atmosfera terrestre, com uma velocidade muito próxima a essa, como, por exemplo, as
comunicações com satélites e as ondas de celular.

Os tipos de radiação eletromagnética podem ser classificados com base no seu comprimento de onda
(λ). O espectro eletromagnético é constituído por esses vários tipos de radiação em ordem crescente de
comprimento de onda (λ) (Fig. 4.2).

O espectro eletromagnético é contínuo. Tem início com as ondas de menor comprimento de onda, como
os raios gama, e termina com aquelas de maior comprimento de onda, como as de rádio e TV. Cada
faixa do espectro recebe nomes diferentes em função de sua utilidade e seus efeitos. Nossos olhos
detectam uma pequena faixa do espectro eletromagnético chamada de faixa do visível, enquanto
sentimos outra parte do espectro em forma de calor. Essa parte é conhecida como radiação
infravermelha.
Fig. 4.2 Espectro eletromagnético com o espectro da radiação solar em destaque
Fonte: adaptado de Ferreira (2006).

Para a Climatologia, três faixas do espectro eletromagnético possuem importância: a faixa de


comprimento de onda inferior a 0,38 μm (comprimento de onda menor que o da luz violeta), chamada
de ultravioleta (UV), cujas ondas são produzidas pelo Sol e muito curtas para serem detectadas pelo
olho humano; a faixa do visível (0,38 μm ≤ λ ≤ 0,76 μm), esta sim, sensível ao olho humano; e a faixa
de comprimento de onda superior a 0,76 μm, por apresentar frequência menor que a da luz vermelha, é
conhecida como faixa do infravermelho, onda que também não pode ser captada pelo olho humano por
ser muito longa. Essas três faixas, juntas, constituem praticamente todo o espectro da radiação solar,
destacado na Fig. 4.2.

Por sua vez, o espectro da radiação solar pode ser dividido em dois grandes grupos, utilizando-se a
radiação emitida pelo Sol como referência para essa divisão. Por convenção, os comprimentos de onda
maiores que 4 μm são denominados de radiação de onda longa, enquanto o espectro de comprimento de
onda menor que 4 μm é chamado de onda curta. Por ser um corpo extremamente quente, o Sol emite
radiação em comprimentos de onda menores que 4 μm. Assim, convencionou-se dizer que o Sol emite
radiação em ondas curtas.

Do total de energia emitida pelo Sol, boa parte da radiação UV é usada na formação da camada de
ozônio na estratosfera. Assim, os raios ultravioleta de menor comprimento de onda não alcançam a
superfície terrestre, onde poderiam causar graves danos à maioria dos organismos vivos ou mesmo
extinguir a vida.
Mais de 45% da radiação solar que chega ao nosso planeta encontra-se na parte visível do seu espectro.
O olho humano evoluiu para tirar o máximo proveito dessa parte mais abundante da radiação solar, pois
uma grande proporção da energia que vem do Sol chega como luz visível (Tubelis; Nascimento, 1980).
Dentro dessa faixa, a visão humana consegue distinguir as seguintes cores: violeta, índigo, azul, verde,
amarela, laranja e vermelha. É importante ressaltar que não há limites rígidos entre as cores. A
transição entre cores vizinhas ocorre de maneira gradual, como se pode verificar em um arco-íris.

O restante de emissão de energia pelo Sol está dividido entre 9% no ultravioleta e 46% na porção de
onda curta da faixa do infravermelho solar.

4.2 Distribuição da radiação


O fluxo de radiação incidente sobre o topo da atmosfera da Terra não é simétrico e depende,
principalmente, de três fatores: latitude, período do ano e período do dia. Para fins didáticos,
consideraremos a latitude como a materialização da esfericidade da Terra. O fluxo de radiação solar
recebida depende da altura do Sol (ângulo formado entre o raio solar incidente e a superfície horizontal
local). Como a Terra é curva, a altura do Sol varia com a latitude, como mostra a Fig. 4.3.

Fig. 4.3 Variação da altura do Sol com a latitude. Quanto maior o ângulo formado entre o raio solar incidente e a
superfície horizontal, maior a concentração de energia

Em primeiro lugar, a altura do Sol, com relação ao horizonte, influencia de duas formas o fluxo da
radiação solar (quantidade de energia que atinge uma área unitária por unidade de tempo, medida em
W/m2): quanto maior a altura do Sol, tanto mais concentrada será a intensidade da radiação por
unidade de área (fluxo), conforme a Fig. 4.4; e quanto menor a altura solar, mais espalhada e menos
intensa será a radiação (Fig. 4.5). A altura do Sol diminui com a latitude por causa da forma esférica da
Terra.

Fig. 4.4 Variações na altura do Sol causam variações no fluxo de energia solar que atinge a Terra. Quanto maior
a altura, como na linha do equador, maior a energia recebida, ou seja, quando os raios solares atingem a Terra
verticalmente, eles são mais concentrados

Fig. 4.5 Quanto menor a altura do Sol, como nos polos, mais espalhada e menos intensa é a radiação
Em segundo lugar, a altura do Sol influencia a interação da radiação solar com a atmosfera. Trataremos
dessa questão mais à frente.

O fluxo de radiação recebido em determinado local é também afetado pelo período do ano. Como já foi
visto, as estações são decorrentes da inclinação do eixo de rotação da Terra em relação à perpendicular
ao plano definido pela órbita da Terra (plano da eclíptica). Essa inclinação faz com que a orientação da
Terra em relação ao Sol mude continuamente enquanto a Terra gira em torno do Sol, o que dura,
aproximadamente, um ano.

A duração do dia também afeta o fluxo de radiação recebido em determinado local. Ela varia com a
latitude e com a estação do ano. No equador, dias e noites têm duração quase igual durante o ano. A
duração do dia aumenta ou diminui com a latitude, dependendo da estação.

Não podemos esquecer que o fluxo de energia solar que chega no topo da atmosfera também tem
relação com a energia total emitida pelo Sol, que, por sua vez, relaciona-se com o ciclo das manchas
solares. As manchas solares são regiões na superfície do Sol (fotosfera) com campos magnéticos
intensos, que são escuras porque são mais frias e emitem bem menos radiação que o restante da
superfície solar. Observações mostraram que as manchas escuras surgem e praticamente desaparecem
em um ciclo de, em média, 11 anos (Leroux, 2010). O número de manchas presentes está diretamente
relacionado com o nível de atividade do ciclo. Nos períodos de atividade mais elevada, conhecidos
como máximos solares, as manchas solares aparecem, enquanto nos períodos de atividades mais baixas,
denominados de mínimos solares, as manchas solares desaparecem.

Os fatores descritos anteriormente produzem um padrão de recebimento de energia solar. Porém, esse
padrão é alterado sobre a superfície terrestre em razão da presença da atmosfera terrestre.

A radiação solar, ao atravessar a atmosfera terrestre, interage com seus componentes e é atenuada pelos
processos de reflexão e absorção (por certos constituintes atmosféricos), bem como pelo processo de
espalhamento (também conhecido como dispersão) realizado pelas partículas da atmosfera, tais como
as moléculas dos gases e impurezas.

O que determina se a radiação será absorvida, espalhada ou refletida depende, em grande parte, do
comprimento de onda da energia que está sendo transportada, assim como do tamanho e da natureza
das partículas nas quais a radiação incide.

Segundo Ferreira (2006), o espalhamento é o resultado do processo de interação em que a energia é


desviada da sua trajetória normal, sem modificação do comprimento de onda. Os gases e aerossóis
presentes na atmosfera podem causar espalhamento da radiação, dispersando-a em todas as direções. A
radiação solar que é espalhada chama-se radiação difusa e é responsável pela claridade do céu durante
o dia e pela iluminação de áreas que não recebem iluminação direta do Sol.

As características do espalhamento dependem, em grande parte, do tamanho das moléculas. Em


decorrência do seu pequeno tamanho e estrutura, as minúsculas moléculas de ar na atmosfera difundem
melhor as ondas com pequenos comprimentos de onda, tais como o azul e o violeta. Isso é a base para
explicar a cor azul do céu. Como foi visto anteriormente, grande parte da radiação solar está contida na
faixa espectral do visível, e como a luz azul tem comprimento de onda menor que a luz vermelha,
aquela é mais espalhada que esta. Assim, o céu, longe do disco do Sol, parece ter a cor azul; entretanto,
se não existisse atmosfera, não haveria espalhamento da luz e o céu seria negro, a cor do espaço
exterior.

Ao observarmos o espectro da luz visível, verificamos que a luz violeta tem um comprimento de onda
menor que o da luz azul. Partindo do princípio de que as moléculas da atmosfera difundem melhor as
ondas com pequenos comprimentos de onda, por que o céu não tem a cor violeta? Segundo Grimm
(1999), a resposta está no fato de que a energia contida na faixa do violeta é muito menor que a contida
na faixa do azul, e porque o olho humano é muito mais sensível à luz azul do que à luz violeta.

Você conhece o dito popular “pôr do sol avermelhado é sinal de bom tempo no dia seguinte”? Segundo
Maia e Maia (2010), os ditos populares relacionados à previsão do tempo e do clima são frutos de
observação empírica e repassados de geração para geração. Muitas vezes são comprovados
cientificamente, como é o caso do que se refere ao pôr do sol avermelhado.

A explicação é simples: quando o Sol se aproxima do horizonte (na aurora e no crepúsculo), a radiação
solar tem de atravessar um caminho maior da atmosfera e colide, na sua parte mais baixa, com
obstáculos como poeira, pequenos cristais de sal e poluição. Essas partículas espalham as faixas das
luzes laranja e vermelha, avermelhando gradativamente o horizonte (embora o resto do céu continue
azul).

Esse fenômeno pode ser bem observado em condições de inverno, nas quais a inversão térmica de
subsidência (assunto tratado no Cap. 6) retém a poeira e a poluição do ar perto da superfície, o que
torna o pôr do sol ainda mais vermelho que o habitual, como é o caso da Fig. 4.6. Como o inverno,
principalmente na Região Centro-Oeste do Brasil, é caracterizado por um período de seca, podemos
dizer que esse dito popular é verdadeiro, pois o tempo do dia seguinte a um pôr do sol vermelho
frequentemente é de céu claro, ou seja, tempo bom. Quando a radiação é espalhada por partículas cujos
raios se aproximam ou excedem em aproximadamente até oito vezes o comprimento de onda da
radiação, o espalhamento não depende do comprimento de onda. A radiação é espalhada igualmente em
todos os comprimentos de onda. Partículas que compõem as nuvens (pequenos cristais de gelo ou
gotículas de água) e a maior parte dos aerossóis atmosféricos espalham a luz do Sol dessa maneira. É
por isso que as nuvens parecem brancas, e quando a atmosfera contém grande concentração de
aerossóis, o céu inteiro mostra-se esbranquiçado.
Fig. 4.6 Pôr do sol em um dia de inverno de 1999, em Brasília (DF)
Foto: Valdir A. Steinke

Por sua vez, a absorção é um processo de interação por meio do qual a radiação solar é convertida em
outro tipo de energia – no caso, calor. Quando uma molécula de gás absorve radiação, essa energia é
transformada em movimento molecular interno, e sua temperatura aumenta. Sendo assim, os gases
(bons absorvedores da radiação disponível) exercem papel fundamental no aquecimento da atmosfera.

A energia solar pode, ainda, ser refletida pelas moléculas de gases, aerossóis, cristais de gelo e
gotículas de água suspensos na atmosfera. A reflexão é a habilidade que um alvo tem de repelir as
ondas eletromagnéticas sem alteração dele próprio ou da onda.

A reflexão é o processo físico oposto à absorção. Um alvo que é um bom absorvedor é um péssimo
refletor, e vice-versa. De acordo com McKnight e Hess (2002), um simples exemplo desse princípio é a
existência de neve acumulada em um dia quente e ensolarado. Para derreter, a neve deve absorver a
energia do Sol. Embora a temperatura do ar possa estar bem acima de zero grau, a neve não derrete
rapidamente porque sua superfície branca reflete de volta mais de 90% da energia solar que incide
sobre ela.

Vimos que o fluxo de radiação incidente sobre o topo da atmosfera da Terra não é simétrico e depende
de três fatores: latitude, período do ano e período do dia. Lembremos que a altura do Sol influencia a
interação da radiação solar com a atmosfera. Se a altura do Sol decresce, o percurso dos raios solares
através da atmosfera cresce, como mostra a Fig. 4.7, e a radiação solar sofre maior atenuação pelos
processos de absorção, reflexão ou espalhamento, o que reduz sua intensidade na superfície.
4.3 Radiação terrestre

A radiação solar atinge a superfície terrestre de forma desigual, dependendo da latitude, dia do ano,
duração e hora do dia. Ao atingir a superfície terrestre, a radiação solar, dependendo das características
da superfície e do ângulo de incidência do raio solar, será mais absorvida ou mais refletida. A relação
entre o fluxo de radiação refletido e o total de radiação incidente em uma superfície é chamada de
albedo. O albedo varia de acordo com as propriedades do objeto e é dado em valor porcentual, de 0 a
100. A água limpa tem pouca capacidade de refletir a radiação incidente, razão pela qual possui um
baixo albedo. A neve, por sua vez, reflete quase toda a energia que recebe e, por isso, possui um albedo
elevado, da mesma forma que a areia.

Fig. 4.7 Variação da altura do Sol com a latitude. Se a altura do Sol for pequena, os raios que atingem a Terra
percorrerão distância maior na atmosfera

No Cap. 3, foi mencionado que a atmosfera é aquecida a partir da superfície terrestre, e não pelo Sol,
diretamente. Isso ocorre porque, na superfície, a radiação solar absorvida é transformada em energia
térmica, que a aquece e, assim, ela se torna uma fonte de radiação de ondas longas, pois a maior parte
da radiação emitida pela Terra encontra-se na faixa espectral do infravermelho, ou seja, calor. Essa
energia é conhecida como radiação terrestre e está representada graficamente na Fig. 4.8 pelas setas
vermelhas contínuas.

A radiação terrestre também pode ser chamada de radiação noturna, pois ela é a principal fonte
radiativa de energia à noite. Vale lembrar, contudo, que a radiação infravermelha não é somente
terrestre, uma vez que o Sol e a atmosfera também irradiam energia nessa faixa espectral. Além disso, a
emissão de energia proveniente da superfície terrestre ocorre tanto durante o dia quanto à noite. Ela só
predomina durante a noite porque, nesse período, não existe radiação solar (Ayoade, 1986).

Fig. 4.8 Radiação terrestre, representada graficamente pelas setas vermelhas contínuas. O processo de
aquecimento da atmosfera é indireto: o Sol aquece a superfície terrestre e o calor irradiado aquece a atmosfera

Como já foi visto, a intensidade da incidência da radiação solar diminui do equador em direção aos
polos em função de diversos fatores. Como a emissão de radiação terrestre depende da incidência de
radiação solar, verifica-se, de forma geral, que os valores mais elevados de radiação terrestre são
registrados no equador térmico. Isso significa que a região do planeta Terra em que é produzido mais
calor para aquecer o ar é a região das latitudes baixas. Essa é a explicação astronômica para afirmarmos
que nas proximidades da linha do equador as temperaturas são mais elevadas.

Assim, o calor que aquece o ar vem da Terra, ou seja, não é o Sol, diretamente, que aquece o ar, mas
sim a energia, em forma de calor, que a superfície da Terra emite (respeitando-se os fatores de
variação). A atmosfera, portanto, é aquecida a partir da superfície terrestre.

Essa explicação também serve para responder a uma pergunta interessante: já que o calor vem da
superfície, por que, ao se expor ao Sol, uma pessoa queima a parte do corpo virada para o Sol, e não a
parte virada para a superfície? A resposta é simples: porque a queimadura solar é causada pela radiação
UV proveniente do Sol, e não pela radiação infravermelha proveniente da superfície. Quando tomamos
sol, a radiação UV, que tem comprimento de onda muito pequeno, atravessa a epiderme (camada mais
superficial da pele) e atinge as células responsáveis pela divisão celular da nossa pele. Essa radiação
UV alcança o núcleo das células da pele e atinge diretamente o código genético. Esse estímulo faz com
que o organismo desencadeie mecanismos de defesa e produza melanina para evitar que os raios UV
danifiquem mais células da pele.
4.4 Radiação atmosférica e efeito estufa

Como a superfície terrestre, a atmosfera também absorve e emite energia. Quando a atmosfera absorve
radiação terrestre, ela se aquece e irradia essa energia para cima e para baixo, a qual é novamente
absorvida pela Terra. Portanto, a superfície da Terra é continuamente abastecida, não só com radiação
proveniente do Sol, mas também da atmosfera.

Enquanto a atmosfera admite a passagem de cerca de 50% da radiação solar (de ondas curtas), permite
que apenas uma fração da radiação terrestre (de ondas longas) saia para o espaço. De acordo com
Leroux (2010, p. 86), “o vapor d’água representa 95% da totalidade dos gases que absorvem a radiação
terrestre”.

Assim, o ar se aquece e emite radiação infravermelha (IV) em todas as direções, como todo corpo
material quente, inclusive para baixo, em direção à superfície terrestre. Essa energia que volta para a
Terra é chamada de contrarradiação, e o efeito que causa essa contrarradiação é chamado por Fleagle e
Businger (1980) de “efeito atmosférico”. Esse efeito é assim chamado por ser comparado ao que ocorre
nas casas de vegetação (estufa de plantas = greenhouse), nas quais a radiação solar atravessa os painéis
de vidro, mas a radiação infravermelha terrestre emitida dentro da estufa não consegue passar pelo
vidro, que a absorve por lhe ser opaco e a impede de escapar para o ambiente exterior à estufa. Esse
seria o fenômeno responsável pelo aumento da temperatura do ar dentro da estufa.

Todavia, vários autores, como Moran (1974), Fleagle e Businger (1980), Gerlich e Tscheuschner (2009)
e Leroux (2010), para citar alguns, acreditam ser incorreto o uso do termo “efeito estufa”, porque a
analogia com a casa de vegetação não é completa. Os autores afirmam que a atmosfera e a casa de
vidro não são diretamente comparáveis, pois a estufa retém o calor em função da ausência de
convecção, em vez de fazê-lo por meio de efeitos de absorção e reemissão de energia, como Robert W.
Wood já havia apontado em 1909 (Leroux, 2010).

Embora a atmosfera e a casa de vegetação não sejam comparáveis, Leroux (2010) chama a atenção
para o fato de que o termo “efeito estufa” já foi incorporado ao vocabulário em detrimento do termo
mais apropriado, que seria “efeito atmosférico”, sendo muito tarde para corrigir a expressão.

Entretanto, nem todos os estudiosos do clima concordam com essas afirmações. A absorção de onda de
radiação infravermelha térmica (emitida pela superfície aquecida) pelo CO2 não ocorre em todo o
espectro IV, e sim em algumas faixas ou bandas de absorção seletivas, principalmente nas faixas ou
bandas de 4 mícrons e 15 mícrons, sendo esta última a mais importante para o balanço radiativo do
Planeta. Absorção de radiação IV nessas bandas se dá por vibração e rotação da molécula de CO2
quando é atingida por um fóton IV. Segundo Molion (2011), vibração e rotação são movimentos
mecânicos, e a energia cinética resultante é transferida para as outras moléculas que compõem a
mistura de gases denominada “ar” por meio de choques e atrito. Para cada molécula de CO2, existem
cerca de 2.700 moléculas de outros gases (N2, O2 e Ar) que interagem e se chocam com a molécula de
CO2, de modo que o fóton IV absorvido é convertido em calor e contribui para aquecer o ar. Porém,
essa contribuição é muito pequena, indetectável pela instrumentação existente hoje, pois a concentração
de CO2 é ínfima quando comparada com a desses outros gases.

Molion (2011) afirma que, se retirássemos todo CO2 existente na atmosfera, a temperatura do ar seria a
mesma que observamos nas condições presentes, e considera que o conceito de efeito estufa, assim
como seu nome, tenham de ser revisados, pois o CO2 absorve radiação IV, mas não tem condições de
“reemitir” a radiação IV absorvida que foi gasta por choques e atrito com as outras moléculas. Para ele,
a radiação IV, emitida da atmosfera para a superfície, isto é, a contrarradiação, é resultante da emissão
da massa de ar como um todo, e não apenas dos gases de efeito estufa (vapor d’água, CO2 e metano),
cuja contribuição seria insignificante, em razão das suas baixas concentrações na atmosfera terrestre.

Sendo assim, os processos físicos responsáveis pelo aquecimento do ar junto à superfície seriam a
condução de calor e a convecção do ar transportando calor sensível e calor latente para as camadas
superiores da atmosfera. A absorção de radiação pelos gases de efeito estufa teria um papel minoritário.
As nuvens atuam na geração da contrarradiação formando barreiras contra a perda de parte da radiação
terrestre para o espaço. Uma grossa camada de nuvens, por exemplo, pode absorver a maior parte da
radiação terrestre e reirradiá-la de volta. Isso explica por que em noites secas e claras a superfície se
resfria bem mais do que em noites com nuvens. Mas, por sua vez, as nuvens também restringem o
fluxo de radiação solar que alcança a superfície da Terra.

Nos trópicos, a temperatura do ar próximo à superfície depende basicamente da cobertura de nuvens e


da chuva. Segundo Molion (2011), o ciclo hidrológico é o termostato da superfície. Quando o tempo
está nublado e chuvoso, a temperatura geralmente diminui, porque a cobertura de nuvens funciona
como um guarda-sol, refletindo a radiação solar de volta para o espaço exterior em sua parte superior.
Ao mesmo tempo, a evaporação da água da chuva “rouba” calor da superfície e resfria o ar. Quando
não há nuvens e chuva, ocorre o contrário: sem o “guarda-sol”, mais radiação solar atinge a superfície,
aquecendo-a, e como não existe água da chuva para evaporar, a energia solar é utilizada quase que
exclusivamente para aquecer o ar (calor sensível).

4.5 Balanço de radiação

A diferença entre os fluxos totais da radiação incidente e da radiação “perdida” (emitida e/ou refletida)
por uma superfície – medida, normalmente, em plano horizontal – é chamada de balanço ou saldo de
radiação, que representa a energia disponível aos processos físicos e biológicos que ocorrem na
superfície terrestre.

O balanço ou saldo de radiação em uma superfície qualquer tende a ser positivo de dia, pois os fluxos
de radiação incidente (global e atmosférico) são maiores que as frações refletidas e emitidas. Durante a
noite, ocorre o contrário, isto é, o balanço ou saldo de radiação é negativo, pois, uma vez que não existe
mais radiação solar incidindo na superfície terrestre, o fluxo incidente passa a ser apenas atmosférico e
a energia emitida pela superfície passa a ser superior a ele. No Cap. 5 veremos como os processos de
transferência de calor ocorrem durante o dia e à noite.

Essas variações diárias dos termos do balanço de radiação ocorrem, então, em função da trajetória
diária do Sol. Podemos representar graficamente esses comportamentos utilizando um diagrama de
fluxos de radiação observados sobre a floresta amazônica próxima a Manaus, elaborado por André et
al. (1988) (Fig. 4.9): durante o período em que o Sol está acima do horizonte, a radiação solar global
(radiação de onda curta incidente do Sol e da atmosfera) é absorvida pela superfície. A perda de
radiação de onda longa da superfície terrestre é negativa durante todo o dia e maior por volta das 13h,
horário em que a temperatura da superfície é máxima. Esse balanço de radiação da superfície terrestre
governa o aquecimento e o resfriamento do ar e condiciona a sua temperatura.
Fig. 4.9 Variação diária dos fluxos de radiação sobre a floresta amazônica próxima a Manaus para um dia com
baixa nebulosidade (estação chuvosa). Rn: saldo de radiação; L: saldo de radiação de onda longa; S↓: radiação
solar global
Fonte: adaptado de André et al. (1988).

No decorrer do ano como um todo, o balanço de radiação da superfície terrestre é positivo, e as


variações estacionais ocorrem em função da variação da altura do Sol. Porém, o balanço de radiação da
atmosfera é negativo. Assim, para que a superfície da Terra não se aqueça e a atmosfera não se resfrie,
a energia excedente da superfície terrestre é transferida para a atmosfera para repor o déficit. Essa troca
de energia ocorre na direção vertical, principalmente pelos processos de evaporação da água, condução
do calor e convecção térmica. A condução e a convecção serão tratadas no Cap. 5.

Para o sistema Terra-atmosfera como um todo, admite-se que o balanço de radiação seja positivo nas
latitudes baixas, que recebem mais energia do que perdem, e negativo nos polos, que perdem mais
energia do que recebem. Essa condição é equilibrada por meio da troca de calor entre os trópicos e os
polos. Essa troca horizontal ocorre, então, para não permitir que os trópicos se tornem mais quentes e
os polos, mais frios, e seus mecanismos de troca são as massas de ar e as correntes oceânicas.

Na verdade, esse padrão geral é mais complexo e tem consequências na circulação geral da atmosfera,
como veremos no Cap. 9.
4.6 Balanço de energia da Terra
O balanço de radiação difere do balanço de energia uma vez que o primeiro tem por finalidade
quantificar a fração da radiação efetivamente disponível em um ecossistema, enquanto o segundo diz
respeito ao destino dado a essa energia radiante.

Como você já sabe, a radiação solar, ao atravessar a atmosfera, sofre os processos de reflexão, difusão e
absorção. Esse fato promove a atenuação da energia solar que atinge o topo da atmosfera (1.368 W/m2
– constante solar) considerado como o total de energia que entra no sistema Terra-atmosfera, ou seja,
100%.

Uma parte da radiação solar atinge a superfície diretamente e é denominada de radiação solar direta
(Qd); outra parte atinge a superfície após a difusão e é denominada de radiação solar difusa (Qc). Esses
dois fluxos de radiação representam o total de radiação que atinge a Terra, que é a chamada radiação
solar global (Qg).

Acompanhe a descrição da Fig. 4.10, que representa um modelo simplificado do balanço de energia.

Considere o fluxo de energia solar incidente no sistema Terra-atmosfera como sendo 100 unidades.
Dessas 100 unidades de energia inicial que entram no sistema, são devolvidas também 100 unidades de
energia, fazendo com que o balanço global de energia se apresente em equilíbrio. Vamos ver como isso
é possível.
Fig. 4.10 Modelo simplificado do balanço global de energia

Das 100 unidades de energia solar incidentes, 24 são absorvidas na atmosfera, das quais 3 são
absorvidas pelas nuvens e 21 são absorvidas pelos componentes da atmosfera.

O total devolvido para o espaço contabiliza 31 unidades. Esse montante é conhecido como albedo
planetário. Ele compreende a reflexão pelas nuvens (23 unidades), a reflexão pela superfície terrestre (4
unidades) e o espalhamento pelos componentes da atmosfera (4 unidades).

A superfície terrestre absorve 45 unidades, das quais 24 correspondem à radiação direta (parcela de
energia radiante que chega à superfície terrestre sem atenuação) e 21 correspondem à radiação difusa
(parcela de energia radiante espalhada pelas nuvens e pelas moléculas da atmosfera).

As 45 unidades de energia (radiação de ondas curtas) absorvidas pela superfície terrestre são
compensadas pela emissão de radiação de onda longa, bem como por processos convectivos, na forma
de calor latente e calor sensível.

A superfície terrestre emite 113 unidades de energia (em ondas longas), das quais 107 são absorvidas
pela atmosfera e as 6 unidades restantes se perdem diretamente para o espaço. Em outras palavras, a
superfície terrestre perde para o espaço 6 unidades das 113 emitidas, mas as 107 que foram absorvidas
ficam à disposição da atmosfera.
A atmosfera, por sua vez, emite um total de 160 unidades de radiação, chamada de radiação
atmosférica, das quais 63 se perdem para o espaço e 97 são absorvidas pela superfície terrestre. Essa
energia que retorna para a Terra é chamada de contrarradiação.

Até aqui se observa que a superfície terrestre absorveu 142 unidades (45 da radiação solar direta + 97
da radiação atmosférica) e emitiu 113 unidades, o que corresponde a um saldo positivo de 29 unidades
(142 – 113 = 29). Nesse caso, a superfície aparentemente absorve mais energia do que emite.

Esse excedente de 29 unidades é equilibrado pelas 29 unidades perdidas pela superfície terrestre (23 de
calor latente + 6 de calor sensível = 29) para a atmosfera pelos processos de evaporação e convecção.
Se esse excedente se mantivesse, ele seria responsável por um constante aquecimento da superfície,
fato que não se verifica.

Observe que a soma dos fluxos de calor latente e calor sensível supera a emissão da radiação IV menos
a contrarradiação. Isso é uma prova de que o aquecimento do ar se dá mais por condução e calor
sensível e latente, e menos por absorção de radiação.

Por sua vez, a atmosfera absorveu 131 unidades (24 da absorção da radiação solar + 107 da radiação
terrestre) e emitiu 160 unidades, o que corresponde a um saldo negativo de 29 unidades (131 – 160 = –
29). Nesse caso, a atmosfera aparentemente emite mais energia do que absorve.

Esse déficit de 29 unidades é equilibrado pelas 29 ganhas pelos processos convectivos (23 de calor
latente + 6 de calor sensível = 29). Se esse déficit se mantivesse, ele seria responsável por um constante
resfriamento da atmosfera, fato que também não se verifica.

Sendo assim, das 100 unidades de energia inicial que entram no sistema Terra-atmosfera, são
devolvidas para o espaço 31 unidades (–23 –4 –4 = –31) na parte das ondas curtas e 69 unidades (–6 –
63 = –69) na parte das ondas longas.

Ao se considerar as perdas finais, tem-se –31 –69 = –100, ou seja, das 100 unidades que entraram, 100
unidades foram devolvidas, totalizando a contabilização do balanço em zero, ou seja, em equilíbrio.

Leroux (2010) lembra que o equilíbrio do balanço de radiação depende diretamente das transferências
de calor por convecção da superfície para níveis mais altos, sobretudo por intermédio do ciclo da água,
transferindo o calor latente de evaporação e liberando-o na formação das nuvens. O balanço global de
energia vale para o sistema Terra-atmosfera, mantendo sua temperatura média aproximadamente
constante, porém não é aplicado para cada latitude separadamente.
5 – QUAL O MECANISMO QUE FAZ A ASA-DELTA VOAR?

Imagine planar a alguns milhares de metros de altura. Embora o ar, nessa altitude, seja muito frio, a
vista é interessante. Para viver a experiência do voo livre com asa-delta, o piloto deve buscar por
correntes de ar ascendentes, chamadas de termais ou térmicas, para manter-se nas alturas por horas. A
térmica, nada mais é do que uma imensa bolha de ar quente subindo na atmosfera. Antes de aprender
como ela é produzida, vejamos como o calor é transferido da superfície para a atmosfera.

Lembre-se de que o aquecimento e o resfriamento do ar são governados pelo balanço de radiação da


superfície terrestre. Uma vez o que o calor foi armazenado na superfície, o que depende das
características de cada superfície, ele será transferido para o ar a fim de aquecê-lo.

Há três mecanismos conhecidos para essa transferência de calor: radiação, condução e convecção. A
radiação é o processo de transferência de calor a distância, sem o contato direto entre os corpos, em
meios rarefeitos e por meio de ondas eletromagnéticas (REM). Como a radiação é a única que pode
ocorrer no espaço vazio, esta é a principal forma pela qual o sistema Terra-atmosfera recebe energia do
Sol e libera energia para o espaço.

A condução de calor ocorre dentro de uma substância ou entre substâncias que estão em contato físico
direto. Tomemos como exemplo a experiência clássica de colocar a extremidade de uma barra de ferro
em uma chama. As moléculas do ferro nessa extremidade absorverão calor; essa energia fará as
moléculas vibrarem mais rapidamente e se chocarem com as moléculas vizinhas, transferindo-lhes a
energia. Essas moléculas vizinhas, por sua vez, passarão adiante a energia calorífica, de modo que ela
será conduzida ao longo da barra para a extremidade fria. Observe que, na condução, o calor passa de
molécula a molécula, ou seja, bem lentamente.

Na condução, o calor flui do ponto das temperaturas mais altas para o ponto das temperaturas mais
baixas. Cada substância tem uma capacidade diferente para conduzir o calor. Os metais, por exemplo,
são excelentes condutores; o ar, porém, é um péssimo condutor de calor, razão pela qual a condução só
é importante entre a superfície da Terra e o ar diretamente em contato com a superfície. A Fig. 5.1
mostra uma representação esquemática da condução.

A convecção térmica consiste na transferência de calor dentro do ar por meio de movimentos da massa
do próprio ar. O calor ganho na camada mais baixa da atmosfera por meio de radiação ou condução é
mais frequentemente transferido para o ar por convecção. Esta ocorre como consequência de diferenças
na densidade do ar. A massa de ar aquecida não sobe inteiramente. Em vez disso, grandes bolhas de ar
sobem através da atmosfera. O motivo pelo qual isso ocorre é que a superfície terrestre não é
uniformemente aquecida. O ar que está acima de um local mais aquecido torna-se mais quente e menos
denso que o ar vizinho; forma-se, assim, a grande bolha que sobe como um balão de ar quente. Essa
bolha de ar quente é a chamada térmica. O ar mais frio afunda, entra em contato com a superfície, é
aquecido novamente e o processo se repete em uma circulação convectiva. A Fig. 5.2 mostra uma
representação esquemática da convecção.
Fig. 5.1 Representação esquemática do processo de condução

Fig. 5.2 Representação esquemática do processo de convecção térmica

Uma asa-delta, uma vez nas alturas, pode subir com as térmicas. Os pilotos de asa-delta experientes
podem decolar de uma rampa ou de um topo de montanha e voar por horas. Eles procuram pelas
térmicas encontradas sobre lugares que recebam bastante incidência solar. Às vezes, você pode
localizar essas correntes ao observar os pássaros.
No Estado de Goiás, existe um local muito apropriado para a prática de asa-delta: a rampa do vale do
Paranã. Essa rampa está localizada a aproximadamente 90 km do centro de Brasília e a 1.300 metros do
nível do mar. A temporada de voo começa em julho e vai até o início de setembro, pois é a época em
que não chove e as térmicas são bastante fortes. A Fig. 5.3 representa o trajeto dos pilotos da região do
vale do Paranã até a área central de Brasília.

A circulação convectiva do ar transporta calor verticalmente da superfície da Terra para a atmosfera,


sendo também responsável, em termos globais, pela redistribuição de calor das regiões equatoriais para
os polos. O calor é também transportado horizontalmente na atmosfera por meio do vento. O calor
transportado pelos processos combinados de condução e convecção é conhecido como calor sensível, e
entra na contabilização do balanço de energia da Terra, como foi visto no Cap. 4.

Fig. 5.3 Trajeto dos pilotos de asa-delta do vale do Paranã até a área central de Brasília, a Esplanada dos
Ministérios (croqui sem escala)

Logo após o amanhecer, a superfície começa a se aquecer com a crescente absorção da energia solar. Se
o ar estiver relativamente calmo, a condução rapidamente transfere calor da superfície para a camada
de ar próxima. O ar aquecido sobe na atmosfera e é substituído por ar frio. Esse é o início de um
processo de convecção livre que vai sucessivamente aquecendo o ar, a convecção térmica, também
conhecida como difusão turbulenta, ocasionada pelos movimentos turbulentos do ar na atmosfera, que
transportam, além do calor, o vapor d’água, o gás carbônico, os poluentes etc. Esse movimento
convectivo é consequência do balanço positivo de radiação da superfície.

O calor transferido da superfície para a atmosfera aquece o ar e altera a sua temperatura, que, nesse
caso, é a representação da quantidade de calor que o ar possui.

Em termos temporais, trabalha-se com valores de temperatura do ar em tempo instantâneo, real, valores
médios, máximos e mínimos. As temperaturas máximas e mínimas correspondem, respectivamente, ao
maior e ao menor valor registrado no período considerado, que pode ser diário, semanal, mensal,
sazonal, anual etc. A amplitude térmica de um determinado lugar expressa a diferença entre as
temperaturas máxima e mínima.

A temperatura do ar de um mesmo lugar está sujeita a dois tipos de variação: regulares e irregulares.
Você já sabe que as variações regulares diárias, por exemplo, ocorrem como consequência da sucessão
de dias e noites, isto é, da variação diária de recebimento de energia solar.

De forma geral, a temperatura do ar se eleva desde o nascer do sol até as primeiras horas da tarde (entre
13h e 14h), diminuindo até o nascer do sol do próximo dia (em torno das 5h e 6h). Apesar da noção
comum de que a maior temperatura do ar ocorre ao meio-dia, isso não é verdade. A maior temperatura
do ar, a 2 m de altura, é registrada cerca de duas horas depois do registro da maior incidência solar, que
é ao meio-dia solar. Durante o início da tarde, a superfície recebe um fluxo constante de radiação de
ondas longas da baixa atmosfera (efeito atmosférico). Quando esse fluxo de radiação atinge um
máximo, ocorrem as temperaturas mais elevadas.

Essa variação diária se altera de acordo com fatores como: estação e mês do ano, latitude, altitude,
presença de nuvens em suas diferentes formas, vegetação e condições topográficas do lugar. Por sua
vez, as variações irregulares da temperatura do ar são causadas por ventos fortes, chuvas ou até
nevoeiros.

5.1 Fatores que influenciam a distribuição horizontal da temperatura do ar


A temperatura do ar que ocorre em qualquer local é essencialmente resultado do saldo de radiação
disponível. Já foi visto que o saldo de radiação depende dos ganhos de energia solar e terrestre; a
energia disponível é, então, usada para a transferência de calor sensível e evaporação (calor latente). O
montante de energia líquida, ou seja, o resultado e a disponibilidade dessa energia na superfície variam
de acordo com alguns fatores, que incluem latitude (intensidade da radiação), propriedades da
superfície, posição geográfica e altitude.

Lembremos que, em consequência dos valores elevados de altura do Sol, na faixa tropical há um
excedente de energia que, por sua vez, aquece o ar. O mesmo não ocorre nas faixas latitudinais
subtropicais e polares, onde, em valores médios, a incidência solar e a emissão terrestre possuem
baixos valores, o que determina déficit de energia e frio.

A natureza das superfícies também é um fator significativo, pois ela determina os valores de albedo. Se
o albedo for elevado, menos radiação será absorvida pela superfície para a elevação de sua temperatura.
Como o aquecimento da superfície da Terra controla o aquecimento do ar sobrejacente, para entender
as variações nas temperaturas do ar, é necessário examinar as propriedades das várias superfícies, que
refletem e absorvem energia solar de maneira distinta. O maior contraste é observado entre as
superfícies terrestres e aquáticas. Aquelas se aquecem e se resfriam mais rapidamente que estas.
Variações nas temperaturas do ar são, portanto, muito maiores sobre as superfícies terrestres do que
sobre a água.

É justamente por isso que a posição geográfica em relação aos grandes corpos d’água também
influencia a temperatura do ar, em razão das diferenças básicas nas propriedades térmicas das
superfícies terrestres e aquáticas. Essas diferenças promovem os efeitos da continentalidade e da
maritimidade.

Como a água tem capacidade calorífica maior, ou seja, retém calor por mais tempo que o continente, a
temperatura do ar nas regiões litorâneas se mantém praticamente constante, pois de dia, enquanto ainda
está quente, a água absorve o calor do Sol, e à noite a irradiação lenta do calor absorvido pela massa de
água faz com que o ar em torno dela se aqueça, o que não deixa a temperatura do ar cair muito. Essa é a
maritimidade. Regiões que estão expostas a esse efeito possuem baixa amplitude térmica anual e diurna
(pouca variação da temperatura ao longo do ano, e entre a temperatura de dia e de noite) e invernos
menos rigorosos.

O efeito contrário é conhecido como continentalidade. Quanto mais distante do litoral (ou mais no
interior dos continentes), maior é a amplitude térmica de determinado lugar. Isso significa que, por
causa da rapidez com que a superfície terrestre irradia calor, os invernos são mais rigorosos e a
diferença de temperatura entre o dia e a noite também é grande.

O relevo possui efeito atenuador sobre a temperatura do ar. A diferença de média anual de temperatura
do ar entre uma cidade localizada a uma altitude de 950 m e que apresenta temperatura média de 16°C,
e outra cidade próxima, localizada a uma altitude de 5 m e com temperatura média de 22°C, pode ser
explicada pela diferença das altitudes. Esse fato decorre, em parte, da diminuição vertical média da
temperatura na troposfera (gradiente ambiental) e, em parte, da absorção e reirradiação da energia solar
pela superfície terrestre.

Os ventos e as correntes oceânicas também são fatores de variação da temperatura do ar. A


movimentação do ar pode compensar ou mesmo se sobrepor à influência da radiação solar sobre a
temperatura do ar, podendo, por exemplo, causar a queda da temperatura no início de tarde, com a
chegada de uma frente fria. Da mesma forma, correntes oceânicas quentes que se dirigem para os polos
possuem efeito moderador do frio. Um exemplo é a Corrente do Atlântico Norte, a qual, por ser uma
extensão da Corrente do Golfo, que é quente, leva águas quentes até altas latitudes da Europa Ocidental
e mantém as temperaturas mais altas do que seria esperado para aquelas latitudes.

5.2 Distribuição espacial da temperatura média do ar no planeta Terra


A distribuição espacial da temperatura do ar é representada graficamente por meio de isolinhas,
chamadas isotermas. Uma isolinha é uma linha que une pontos de mesmo valor. Ao conjunto de
isolinhas desenhadas sobre um mapa é dado o nome de mapa de isolinhas. No caso da temperatura do
ar, esse mapa é denominado de mapa de isotermas.

Em um mapa de isotermas do planeta Terra é possível verificar que a influência dos fatores de
distribuição horizontal da temperatura do ar (descritos anteriormente) determina uma série de
características. Observa-se, por exemplo, o efeito da incidência diferenciada da radiação solar em
função da latitude. As isotermas mostram um decréscimo de temperatura dos trópicos para os polos.
Esse decréscimo da temperatura do ar é modificado pelo efeito do aquecimento diferencial da terra e da
água e pelas mudanças sazonais na posição do Sol em relação a essas superfícies.
No hemisfério Sul, as isotermas são mais ou menos paralelas e espaçadas, pois há muito mais água do
que terra. No hemisfério Norte, elas apresentam amplos desvios sobre os continentes, entre julho
(verão) e janeiro (inverno).

Correntes oceânicas quentes promovem desvios nas isotermas para os polos, enquanto correntes frias
causam desvios para o equador. Por exemplo, na costa leste do nordeste do Brasil, em Maceió, latitude
de 10°, a temperatura média é 26°C, pois a cidade é banhada pela corrente do Brasil, que é quente. Na
costa oeste da América do Sul, praticamente na mesma latitude, Callao, no Peru, apresenta uma
temperatura média de 19°C, pois é influenciada pela corrente de Humboldt, que é fria.

Pode-se ainda verificar que a variação anual da temperatura do ar é menor nas proximidades do
equador, pois há pouca variação na duração do dia e a altura do Sol é elevada. Nas latitudes médias,
porém, isso não ocorre, pois a amplitude do ciclo anual de temperatura do ar é bem maior. Além disso,
a presença de terra e água também afeta essa amplitude, especialmente fora dos trópicos.
6 – POR QUE A GRAMA FICA MOLHADA AO AMANHECER MESMO QUE NÃO
CHOVA?

Em uma manhã de frio, você já deve ter se deparado com o jardim da sua casa todo molhado, sem, de
fato, haver chovido. É o orvalho. Ele é um dos hidrometeoros de superfície mais comuns de se
identificar.

Entende-se por hidrometeoro um meteoro constituído por um conjunto de partículas de água, na fase
líquida ou sólida, em queda livre ou em suspensão na atmosfera, levantadas da superfície terrestre pelo
vento ou depositadas sobre objetos, na superfície ou no ar. Os hidrometeoros de superfície mais
comuns são: orvalho, geada, névoa e nevoeiro; e os de altitude são: nuvem, chuva, chuvisco, neve,
granizo e saraiva. Sua formação tem relação com a umidade do ar.

A umidade do ar é resultado da evaporação e da evapotranspiração (termo utilizado para descrever o


processo combinado de evaporação do solo com a transpiração das plantas) que ocorrem na superfície
terrestre, sendo utilizada para descrever a quantidade de vapor d’água presente na atmosfera. É o
componente mais importante na determinação do tempo e do clima. A quantidade de vapor d’água na
atmosfera diminui com a altitude (tornando-se quase desprezível acima de 10.000 m) e pode variar de
traços, nas regiões áridas, até um máximo de 4%, nas áreas úmidas (Marin; Assad; Pilau, 2008).

O vapor d’água é muito importante, e as razões que justificam essa importância são muitas. As
principais são: o vapor d’água é a origem de todas as formas de condensação e precipitação;
desempenha papel de regulador térmico no sistema Terra-atmosfera, pois absorve tanto a radiação solar
quanto a terrestre; contém calor latente que é liberado no momento da condensação (importante fonte
de energia para a circulação atmosférica); sua quantidade e sua distribuição vertical na atmosfera
afetam diretamente a estabilidade do ar; influencia as taxas de evaporação e evapotranspiração; e é o
único gás atmosférico que constantemente muda de fase.

O vapor d’água é um importante fator de influência na temperatura sentida pela pele humana. Quando
o ar está mais úmido, em dias quentes, o calor torna-se menos tolerável, já que a umidade retarda a
transpiração cutânea. Em dias frios, ocorre o oposto, pois o frio se torna mais penetrante e difícil de ser
suportado em dias de umidade elevada, uma vez que as roupas se tornam condutoras, favorecendo o
resfriamento do corpo (Mourão, 1988).

O ar recebe umidade por meio da evaporação da água das superfícies terrestres e aquáticas e da
transpiração das plantas. A evaporação é a passagem da fase líquida para a gasosa, que ocorre
lentamente na superfície dos líquidos. Esse processo envolve o escape das moléculas para o ar, mas
nem todas as moléculas de um líquido possuem a mesma energia cinética. A maioria não tem energia
suficiente para mudar de fase. No entanto, algumas têm energia muito maior. Quando uma dessas
moléculas atinge a superfície, ela pode sair da fase líquida e passar para a fase gasosa. É assim que
acontece o processo da evaporação.

A evaporação acontece a qualquer temperatura; porém, temperaturas mais elevadas fazem as moléculas
se moverem mais rapidamente e colidirem com mais força. O impacto de tais colisões próximo à
superfície da água, por exemplo, fornece energia suficiente para que as moléculas escapem da água
para o ar adjacente.
A energia absorvida pelo escape das moléculas é armazenada como calor latente de vaporização e
liberada como calor latente de condensação quando o vapor d’água se torna água líquida novamente, na
formação de nuvens e chuva. Pelo fato de o calor deixar a água como calor latente nas moléculas que
evaporaram, a água que restou se resfria. Esse processo é conhecido como resfriamento evaporativo.

O resfriamento evaporativo é uma prática utilizada há muito tempo para criar um ambiente mais
agradável em dias muito quentes. Um bom exemplo de uso desse processo é pendurar panos molhados
nas janelas, na direção dos ventos dominantes em ambientes fechados. Outro exemplo de resfriamento
evaporativo muito usado – neste caso, para esfriar água – é a moringa de barro para guardar água
potável. A evaporação da água pela parede porosa mantém a água da moringa fresca por muito tempo.
O suor também é um exemplo de resfriamento evaporativo. Em dias de calor, a natureza controla a
temperatura do corpo humano eliminando milhares de gotículas de água pelos poros, as quais, ao
evaporarem, esfriam o corpo.

A rapidez com que a água evapora depende de vários fatores. Em primeiro lugar, do tamanho da área
de evaporação. Um prato cheio de água evaporará mais depressa do que um copo de água com a
mesma quantidade, porque a água no prato tem maior superfície pela qual as moléculas podem escapar.
Em segundo lugar, da temperatura reinante. Um aumento de temperatura faz as moléculas se moverem
mais depressa e, assim, passarem mais facilmente pela camada superficial da água e escapar para o ar.
Em terceiro lugar, da pressão atmosférica. As moléculas de água que atravessam a camada superficial
podem chocar-se com moléculas do ar e recuar para o líquido. O ar atua como uma cobertura que se
opõe à evaporação. A rapidez de evaporação diminui quando a pressão atmosférica aumenta. Em quarto
lugar, do grau de umidade do ar. Ele exerce influência sobre a taxa de evaporação porque é esse fator
que determina a capacidade do ar de conservar umidade. Quanto menor a umidade, maior a
evaporação, ou seja, a rapidez da evaporação diminui quando a umidade do ar aumenta. E, em quinto
lugar, do vento. O vento desloca o ar úmido que está sobre a superfície na qual ocorre a evaporação.
Esse ar deslocado é substituído por ar fresco e relativamente seco, mantendo o processo de evaporação.

A distribuição da evaporação no globo terrestre depende do papel do suprimento de energia e da


disponibilidade de água na determinação das taxas de evaporação. Assim, é de se esperar que a
evaporação seja maior sobre os oceanos do que sobre as superfícies terrestres, e maior nas baixas
latitudes (com maiores temperaturas) do que nas médias e altas.

Ao ocorrer a evaporação, o vapor d’água é armazenado na atmosfera. Podemos expressar a quantidade


de vapor d’água no ar de diversas maneiras. Os índices de umidade mais utilizados são:

*umidade absoluta – é definida como a massa de vapor d’água presente na atmosfera por unidade de
volume, em gramas por centímetro cúbico (g/cm3);

*umidade específica – representa a massa de vapor d’água por quilograma de ar (g/kg);

*razão de mistura – mostra a massa de vapor d’água por massa de ar seco (g/kg);

*temperatura de ponto de orvalho – temperatura na qual ocorrerá a saturação do ar se este esfriar-se a


uma pressão constante, sem aumento ou diminuição da concentração do vapor d’água;

*pressão de vapor – pressão exercida pelas moléculas do vapor d’água no ar;


*umidade relativa – significa, em termos simplificados, quanto de água na forma de vapor existe na
atmosfera, com relação ao total máximo que poderia existir, na temperatura observada em dado
momento.

A umidade absoluta decresce rapidamente com a altitude e tende a aumentar com a temperatura do ar,
sendo mais elevada durante as horas mais quentes dos dias de calor. Estudos sobre a distribuição da
umidade absoluta na superfície terrestre permitem constatar que sua quantidade é maior na faixa
equatorial, em virtude da temperatura elevada, resultando em valores de chuva mais elevados.

O ar úmido é menos denso, mais leve que o ar seco e permite que uma bolha úmida seja mais
facilmente alçada na atmosfera. O peso molecular ou mol do ar seco é aproximadamente de 29 g, pois é
constituído basicamente de 78% de N2 (mol = 14 g) e 21% de O2 (mol = 32 g). O mol do vapor d’água
(H2O) é igual a 18 g. Então, quando são substituídas moléculas de ar seco, que pesam mais, por
moléculas de vapor d’água, que pesam menos, a mistura de ar úmido fica menos pesada. Assim, menos
calor é necessário para fazer o ar úmido subir, produzir nuvens e chuva.

Entretanto, a umidade absoluta não é a medida de umidade do ar mais utilizada, pois não retrata com
precisão a real quantidade de vapor existente no ar, uma vez que o ar muda de volume ao subir e ao
descer na atmosfera.

A umidade relativa é a medida mais popular para representar a presença de vapor d’água no ar. Ela
expressa uma relação de proporção entre a quantidade de vapor d’água existente em certo volume de ar,
a uma determinada temperatura do ar, e a quantidade máxima que o mesmo volume de ar poderia
conter, à mesma temperatura do ar. Vejamos, a seguir, qual a importância da umidade relativa do ar
para a formação das chuvas e como ela nos afeta.

6.1 Umidade relativa


Todas as moléculas de uma parcela de ar contribuem para a pressão atmosférica. Cada subconjunto de
moléculas (nitrogênio, oxigênio, água etc.) exerce uma pressão parcial. Como o vapor d’água é um gás,
ele também contribui com um valor de pressão parcial, conhecido como pressão de vapor (e),
aumentando ou diminuindo a pressão atmosférica. Essa pressão é de grande importância para muitos
fenômenos meteorológicos, pois, em conjunto com outros fatores como temperatura do ar, vento etc.,
determina a taxa de evaporação da água líquida. Quando a pressão de vapor (e) atinge seu valor
máximo possível para uma determinada temperatura do ar, diz-se que o ar está saturado de umidade,
ou, em outras palavras, que o ar está cheio de vapor. Tem-se, portanto, a pressão de vapor de saturação
(es).

A temperatura que o ar deve atingir para que ocorra a saturação, quando o nível de umidade é
constante, é chamada de temperatura do ponto de orvalho. Ela deve ser comparada com a temperatura
do ar livre para se determinar as condições de umidade.

Veremos no item 6.4 (“O que provoca a condensação na atmosfera?”) que, na atmosfera, se o ar for
resfriado abaixo do seu ponto de orvalho, ocorrerá condensação, quando parte do vapor d’água se torna
líquida. A capacidade do ar de reter vapor d’água, porém, diminui com o decréscimo da temperatura do
ar. Isso significa que o resfriamento do ar é a forma para se atingir a saturação e, daí, a condensação.

A umidade relativa é a razão entre a pressão de vapor (e) e a pressão de vapor de saturação (es). É
indicada normalmente em porcentagem: UR = 100 x e/es. Essa expressão mostra que a umidade
relativa atinge 100% quando o ar está saturado (e = es). Fisicamente, a umidade relativa representa a
fração da umidade máxima possível que já se encontra preenchida.

Assim, quando você ouve no noticiário a informação de que a umidade relativa do ar está em 70%, por
exemplo, significa que o ar tem, naquele momento, 70 partes de vapor d’água das 100 possíveis. A
umidade relativa indica, assim, quão próximo o ar está da saturação, e não, diretamente, a real
quantidade de vapor d’água existente no ar.

6.1.1 Comportamento diário da umidade relativa do ar


Pela manhã, em decorrência do aumento da temperatura, ocorre evaporação e a pressão de vapor real
aumenta até atingir o máximo no início da tarde, ficando constante posteriormente. Como você viu no
Cap. 5, a temperatura do ar é mínima antes do nascer do sol, atinge seu valor máximo cerca de duas
horas após o meio-dia local e, em seguida, começa a decrescer.

A pressão de vapor de saturação (es), que é função apenas da temperatura do ar, também apresenta um
máximo e um mínimo nos mesmos horários que a temperatura do ar. A umidade relativa, que é a razão
entre a pressão de vapor atual (e) e a pressão de vapor de saturação (es), consequentemente tem seu
mínimo quando a temperatura do ar é máxima, uma vez que (es) é máxima, e vice-versa. Para haver
saturação do ar, este precisa, antes, resfriar-se.

Observe que (es) encontra-se no denominador da fração que define a umidade relativa (e/es). Como
(es) só depende da temperatura, à medida que a temperatura do ar começa a cair no final da tarde, (es)
também diminui até se tornar igual a (e), ou seja,

atingindo 100%. Portanto, a umidade relativa do ar é inversamente proporcional à temperatura do ar.

Esse fato pode ser verificado na Fig. 6.1, que mostra o comportamento da temperatura do ar e da
umidade relativa do ar ao longo do dia 5 de setembro de 2011, um dia muito seco em Brasília (DF).
Observe que a umidade relativa do ar, no período da tarde, alcançou o valor de 10%. Durante a noite,
em decorrência da diminuição da temperatura do ar, a umidade relativa aumentou até valores próximos
de 50%.
Fig. 6.1 Gráfico do comportamento da temperatura do ar e da umidade relativa do ar ao longo do dia 5 de
setembro de 2011, em Brasília (DF)
Fonte dos dados: Estação Meteorológica Brasília/Inmet – Monitoramento das estações convencionais.

Acreditamos ser oportuno, nesse momento, comentarmos a respeito de um erro muito comum cometido
pelas pessoas, inclusive jornalistas, a respeito dos baixos valores de umidade relativa do ar registrados
no Distrito Federal, no período de inverno. Esses valores ocorrem durante o período seco, mais
precisamente nos meses de agosto e setembro, e fazem com que a região seja, erroneamente,
comparada com desertos.

Steinke (2004) mostrou que a contribuição da imprensa, nesse caso, tem sido negativa, uma vez que
insiste em atribuir, incorretamente, ao clima do Distrito Federal, características de climas áridos ou de
desertos, como se pode observar nos trechos transcritos abaixo:

A umidade às 13h do domingo caiu para 18% – o menor índice já registrado foi de 11% no dia 15 de
setembro de 1994. Umidade próxima à do deserto do Saara [grifo nosso], que nas piores horas chega a
10% […]. (Bonvakiades, 1997, p. 1).

No deserto nosso de cada dia, ontem foi o dia mais seco do ano. Exatos 12% de umidade por volta das
16h, registrou o Inmet. Algo parecido com a aridez do deserto africano do Saara [grifo nosso] […].
(Lima, 1999, p. 1).

O clima árido [grifo nosso] favorece os focos de incêndio e três regiões do DF sofrem com as
queimadas […]. (Tourinho, 2004, p. 26).

As expressões grifadas constituem um tipo de informação que é assimilada como verdade pela maioria
da população, e o clima do Distrito Federal nada tem de desértico. Segundo Mendonça e Danni-
Oliveira (2007), o clima do Distrito Federal denomina-se tropical úmido-seco, isto é, apresenta um
período em que predomina um tempo seco e outro, um tempo chuvoso. O total médio de precipitação
anual em Brasília alcança 1.500 mm, embora concentrados nos meses de outubro a abril.
Os desertos são ambientes de extremos. Um deles é a brusca mudança de temperatura entre dias muito
quentes e noites muito frias. Outro se refere à precipitação, praticamente ausente e irregular
(McKnight; Hess, 2002). A seca é a característica principal de um deserto. São lugares áridos,
independentemente de serem quentes ou frios, de apresentarem relevo plano ou acidentado, ou de
serem recobertos por estruturas rochosas ou areia. A areia está intimamente associada à ideia de
deserto, mas cobre apenas 20% dos territórios classificados como tal. As plantas e os animais que
vivem nos desertos têm uma característica comum: a habilidade de sobreviver com pouca água.

Essa descrição não representa em nada o ambiente do Distrito Federal, ou seja, a região não se
enquadra em nenhuma das características apontadas como próprias de desertos. Mesmo o fato de os
valores de umidade relativa do ar alcançarem valores muito baixos na época da estiagem não permite
que a região seja comparada com os desertos. No deserto do Saara, por exemplo, é comum a umidade
relativa chegar a menos de 10%, com temperaturas acima de 45°C.

No Distrito Federal, porém, o que se verifica são picos de baixa umidade relativa do ar que duram, no
máximo, duas horas por dia, entre 15h e 17h, com temperaturas menores que 35°C. Ou seja, valores
baixos em determinado dia e hora, o que não significa que em todos os dias de inverno esse valor seja
alcançado, nem mesmo em todos os anos.

Portanto, lembre-se de que é incorreto comparar as condições climáticas do Distrito Federal, ou mesmo
da Região Centro-Oeste, com as de um deserto, e, da mesma forma, afirmar que o clima do Distrito
Federal é seco ou mesmo árido.

O ser humano é muito sensível à variação da umidade do ar, isso porque a pele humana elimina, por
meio da transpiração, a água que o organismo produz. Quando a umidade relativa do ar está em 100%
(ar lotado de vapor), o suor tem dificuldade de evaporar, o que faz com que o tempo pareça muito mais
quente que a temperatura real do ar. Caso a umidade relativa esteja baixa, sentimos que a temperatura
do ar está menor que a temperatura real, porque nosso suor evapora facilmente e o nosso corpo se
resfria. Essa situação é perigosa para a nossa saúde, pois pode provocar desidratação. Por isso, os
médicos recomendam evitar a prática de exercícios físicos nas horas mais quentes do dia, ou seja, nas
horas de menor umidade relativa do ar.
"Fig. 6.2 Representação esquemática do processo de resfriamento por expansão adiabática
Fonte: adaptado de Time Life Abril Coleções (1995).

Quando os instrumentos indicam umidade relativa de 100%, isso quer dizer que o ar está totalmente
saturado com vapor d’água e, àquela temperatura, ele não pode mais absorver vapor d’água. Como
você verá no item 6.4 (“O que provoca a condensação na atmosfera?”), quando a umidade relativa do
ar está em torno de 100%, ocorre a condensação, ou seja, a formação das nuvens, e, se as condições
permitirem, a ocorrência de chuva. Isso não significa, porém, que a umidade relativa do ar deva ser de
100% para que chova – basta que seja 100% onde as nuvens estão se formando.

Como já foi mencionado, para que a saturação seja atingida é preciso que o ar se resfrie. Vamos ver
como isso acontece.

O movimento vertical do ar em grandes parcelas, as térmicas, é de fundamental importância para a


formação das nuvens, a qual envolve alterações na densidade do ar que levam a mudanças de
temperatura sem que haja perda ou ganho de energia com o ar adjacente. A Fig. 6.2 representa essa
situação. À medida que o ar quente sobe, em grandes bolhas, encontra níveis em que a pressão
atmosférica é menor, e ele se expande. Ao se expandir, sua temperatura diminui, porque a mesma
quantidade de calor tem que ser distribuída por um volume maior de ar. Esse processo é conhecido
como resfriamento por expansão adiabática, pois a temperatura do ar da bolha decresceu sem trocar
calor com o ar adjacente. Esse é o único tipo de resfriamento que pode formar as nuvens em altitude.

As taxas de variação vertical da temperatura do ar com a altitude (TVVT) são denominadas de taxa
adiabática seca e taxa adiabática saturada. A primeira corresponde à diminuição de aproximadamente
10°C a cada quilômetro, até ocorrer a condensação, e não deve ser confundida com o gradiente
ambiental médio, que é 6,5°C por quilômetro. As contínuas quedas na temperatura levarão à
condensação quando a temperatura do ponto de orvalho do volume de ar for atingida. Na condensação,
há liberação de calor latente, absorvido na evaporação da água, no início do processo, o que diminuirá
o índice de queda da temperatura no volume de ar em ascensão. O ar, então, se resfriará mais devagar.
Chamamos essa variação de taxa pseudoadiabática ou adiabática saturada. A taxa adiabática saturada
não é constante como a taxa adiabática seca. Ela varia com a temperatura e com a umidade. A Fig. 6.3
mostra uma comparação hipotética entre os três gradientes.

Nesse ponto, é pertinente tratar da estabilidade e da instabilidade do ar. A ascensão de uma parcela de
ar irá depender das condições atmosféricas. Isso explica por que em alguns dias ocorre a formação
intensa de nuvens pelo processo convectivo e, em outros, não. Quando as condições atmosféricas
favorecem a formação dos movimentos ascendentes e, consequentemente, a formação de nuvens,
dizemos que a atmosfera está “instável”, ao passo que, sob condições desfavoráveis à formação de
nuvens, a atmosfera é dita “estável”.

Observe os dois diagramas da Fig. 6.4 para entender por que em alguns dias ocorre a formação de
nuvens pelo processo convectivo. Uma bolha de ar é usada para testar a instabilidade e a estabilidade
do ar. A temperatura do ar circundante é representada pelas linhas pontilhadas. As linhas contínuas
representam a bolha de ar. Suponha que, em ambos os casos, a temperatura junto à superfície seja
30°C. Nos dois casos, a bolha de ar permanece insaturada e sua temperatura decresce à taxa de 10°C
por quilômetro. Se o ar ambiente tiver uma TVVT de 7°C por quilômetro (menor que a taxa adiabática
seca), a atmosfera será considerada “estável” (Fig. 6.4A), pois a bolha, ao subir, vai apresentar
temperaturas mais baixas que o ar circundante. Isso significa que, se o ar for forçado a subir por algum
processo físico, ele será sempre mais frio e mais denso que o ar circundante. Desse modo, tenderá a
retornar à sua posição anterior.
Fig. 6.3 No lado direito da ilustração encontra-se a diminuição normal da temperatura do ar com a
altura dentro da troposfera, o gradiente ambiental, que é 6,5°C a cada quilômetro. No lado esquerdo, o
ar ascendente resfria-se, primeiro, à taxa de 10°C a cada quilômetro, o que representa a taxa adiabática
seca. Acima do nível de condensação, o ar continua a subir e se resfriar, mas a taxa de resfriamento é
reduzida a um valor inferior a 6°C por quilômetro, o que corresponde à taxa adiabática saturada
Fig. 6.4 Esquema hipotético de condição atmosférica estável (A) e instável (B). Notar que a TVVT da bolha de
ar permanece fixa nos dois perfis: 10°C/km

Ao contrário, se a TVVT for de 12°C por quilômetro (maior que a taxa adiabática seca), a atmosfera
será considerada “instável” (Fig. 6.4B), pois a bolha de ar, em uma dada altura, terá temperaturas mais
elevadas ao subir. O ar será sempre mais quente que o ar circundante. A característica do ar instável é
sua tendência de continuar subindo (convecção) a partir de sua posição original, uma vez iniciado o
movimento. Essa convecção livre leva à formação de nuvens.

6.2 Inversões de temperatura


Você já sabe que, na troposfera, a temperatura do ar decresce sempre que subimos. Em certas
circunstâncias, podem existir camadas da troposfera em que, ao contrário, a temperatura do ar aumente
com a altura, gerando o fenômeno conhecido como inversão de temperatura ou, simplesmente, inversão
térmica. Ou seja, a palavra “inversão” vem do fato de a temperatura inverter de sinal e, ao invés de
diminuir, aumentar com a altura. Trata-se de uma condição meteorológica que ocorre quando uma
camada de ar quente (mais leve) se sobrepõe a uma camada de ar frio (mais pesado), oferecendo
resistência aos movimentos de ar ascendentes e inibindo a formação de nuvens. Inversões de
temperatura são relativamente comuns na troposfera, mas geralmente são de curta duração e de
profundidade limitada. Esse fenômeno pode ocorrer perto da superfície terrestre ou em níveis mais
elevados.

Os tipos de inversão podem ser classificados em: inversão por radiação, advecção, de fundo de vale,
subsidência e frontal. Os dois últimos tipos ocorrem na troposfera em altura acima da superfície.

A inversão térmica por radiação, que se caracteriza pela perda de calor da superfície para o espaço
exterior, principalmente durante o inverno, em noites de céu claro, é de grande interesse. Nesse
processo, o ar adjacente à superfície se resfria e adquire estabilidade, condições essas que contribuem,
por exemplo, para intensificar a poluição do ar. A inversão por radiação é o tipo mais comum desse
fenômeno. Resulta do rápido resfriamento radiativo da superfície terrestre durante a noite,
principalmente em situações de ventos fracos e sem a presença de nuvens. A superfície perde energia
por emissão de radiação IV, resfriando o ar próximo à superfície, enquanto o ar acima se mantém mais
aquecido. Com isso, pode haver a formação de nevoeiro de radiação se o ar contiver umidade
suficiente, ou, caso o ar contenha baixa umidade, a formação de geada. Inversões por radiação são
fenômenos típicos do inverno.

A inversão à superfície por advecção também é comum em noites claras de inverno, quando há
transporte horizontal de ar quente sobre uma superfície fria que, por contato, resfria o ar pela base, o
que pode originar o nevoeiro de advecção.

As cidades que estão localizadas em fundos de vales podem ser afetadas por um tipo de inversão
conhecido como inversão de fundo de vale, que é causada pela descida do ar frio do topo dos morros
em direção ao fundo do vale, durante a noite. Assim, o ar mais frio se mantém no fundo do vale e força
o ar mais quente a subir.

A inversão de subsidência, que é um tipo de inversão de temperatura, em geral, acima da superfície, é


resultante dos movimentos de ar descendentes. Esse tipo de inversão está associado a áreas de altas
pressões atmosféricas em escala planetária na superfície da Terra, ou a áreas anticiclonais (regiões onde
se localizam os ramos descendentes da Célula de Hadley-Walker) em torno de 30° de latitude nos dois
hemisférios. Voltaremos a esse assunto no Cap. 9.

Esse fluxo de ar subsidente se aquece por sofrer compressão adiabática e, em uma dada altura, sua
temperatura se torna superior à do ar subjacente, formando uma camada de ar estratificada em que a
temperatura de sua base é inferior à de seu topo. É o movimento subsidente e a inversão psicrotérmica
(psicro = umidade e térmica = temperatura) associada que provocam o aumento da pressão atmosférica
na superfície. Essa inversão de subsidência está presente sobre os oceanos subtropicais e é conhecida
por “inversão dos alísios” (Molion; Bernardo, 2002). Uma característica da inversão dos alísios é a
baixa umidade relativa no topo da inversão, inferior a 20%, quando comparada com a da base, que
pode ser superior a 90%, e ocorrer a formação de nuvens estratiformes ou cúmulos de tempo bom (Fig.
6.5). É por isso que foi dito que a inversão térmica inibe a formação de nuvens, pois, mesmo que
tenhamos plumas térmicas, ou termais, capazes de romper localmente a inversão, as nuvens não se
formarão por causa da baixa umidade relativa do ar acima da inversão térmica. Em regiões em que a
superfície do terreno é elevada, o ar seco descendente pode chegar à superfície. Esse é o caso do
Centro-Oeste e de Brasília (DF), pois, durante o inverno, o centro do anticiclone do Atlântico Sul se
aproxima do continente e o ar subsidente chega à superfície (1.000 m de altitude) com baixa umidade
relativa.

A entrada de uma frente fria em uma região pode originar outro tipo de inversão em altura: a inversão
frontal. Ela ocorre quando duas massas de ar com características diferentes se encontram e o ar quente
é forçado a subir sobre o ar frio, ficando em cima dele. Forma-se, assim, uma camada de ar que
dificulta a convecção livre para as camadas mais altas da atmosfera.
Temperatura (°C)
Fig. 6.5 (A) Representação gráfica da camada de inversão psicrotérmica. Esse termo é utilizado porque, ao
penetrar na camada de inversão, as termais não produzem nuvens, pois a umidade relativa é baixa (inferior a
20%) e diminui a concentração de vapor d’água, impedindo sua condensação; (B) Representação gráfica da
circulação de Hadley-Walker e da inversão psicrotérmica dos alísios, isto é, movimento subsidente e inversão
psicrotérmica associada, produzidos pelo deslocamento do ramo ascendente da célula de Hadley-Walker para a
Amazônia, o que causa pressão mais alta e a estação seca sobre a maior parte do Brasil Central
Fonte: adaptado de Molion (2007).

Os fenômenos de inversão de temperatura influenciam o tempo e o clima. Uma inversão, por exemplo,
apresenta resistência aos movimentos de ar verticais e diminui muito a possibilidade de formação de
precipitação. Por isso, as regiões de altas pressões ou anticiclones subtropicais são áridas. Conti (2011)
ressalta que, em qualquer caso, o ar relativamente mais frio, acumulado junto à superfície, favorece a
concentração de poluentes nas áreas urbanas, pois cria condições para a sua estagnação, já que a
inversão, geralmente associada a ventos fracos, limita a dispersão vertical dos poluentes.

6.3 Orvalho e nevoeiro


A ocorrência do orvalho e do nevoeiro também depende de o resfriamento do ar úmido atingir a
condensação. Porém, para a formação de orvalho e nevoeiro, o tipo de resfriamento que ocorre é
chamado de resfriamento por contato. Quando a condensação do vapor se dá por contato entre o ar
quente e úmido e uma superfície fria, há a formação de orvalho. O orvalho forma-se quase ao
amanhecer, deixando as superfícies frias, como a grama e o capô dos carros, recobertas por uma
película de pequenas gotas de água. Mas também pode ocorrer ao anoitecer, em noites muito frias.

Por sua vez, quando o ar se resfria demasiadamente, ocorre a formação de geada. É o processo por
meio do qual cristais de gelo são depositados sobre uma superfície exposta. A geada resulta do fato de
que a temperatura da superfície caiu até próximo de 0°C, havendo a condensação do vapor d’água
sobre a superfície e, em seguida, seu congelamento.

Quando o ar é resfriado à superfície, podem-se formar nevoeiros. Um nevoeiro pode ser definido como
uma massa de minúsculas, porém visíveis, gotículas de água suspensas na atmosfera, próximo ou junto
à superfície da Terra, que podem reduzir bastante a visibilidade horizontal. O nevoeiro também é
conhecido como cerração ou neblina.
Fig. 6.6 Nevoeiro de radiação
Fonte: adaptado de Time Life Abril Coleções (1995).

Podemos identificar três tipos de nevoeiro. Aquele que é formado em noites de céu limpo, quando, ao
se resfriar por perda de radiação infravermelha, a umidade contida no ar se condensa, resultando em
uma nuvem próxima ao solo, é chamado de nevoeiro de radiação (Fig. 6.6). Aquele que ocorre quando
há passagem de ar frio sobre superfícies líquidas mornas, de modo que o contato entre as duas
superfícies gera saturação e condensação, é chamado de nevoeiro de advecção (Fig. 6.7). E há o
nevoeiro de encosta, que ocorre nas vertentes a barlavento das montanhas (parte voltada para os ventos
vindos do oceano), onde o ar úmido é forçado a subir e, pelo processo de resfriamento por expansão
adiabática, se resfria, satura e condensa (Fig. 6.8).
Fig. 6.7 Nevoeiro de advecção
Fonte: adaptado de Time Life Abril Coleções (1995).

Fig. 6.8 Nevoeiro de encosta


Fonte: adaptado de Time Life Abril Coleções (1995).

6.4 O que provoca a condensação na atmosfera?


A condensação é o processo que transforma o vapor d’água na atmosfera em água líquida, formando as
nuvens. Assim, as nuvens resultam dos movimentos de subida do ar quente e úmido que, ao se resfriar,
satura, atinge a temperatura do ponto de orvalho (nível de condensação) e condensa. Enquanto
inúmeros fatores controlam a evaporação, a causa da condensação é, basicamente, o resfriamento do ar.
Conforme já visto, o resfriamento se dá, nesse caso, por expansão adiabática (Fig. 6.9).

A condensação forma gotículas de água com diâmetros que variam de 10 a 100 micrômetros, cada
metro cúbico com cerca de 100 milhões delas, e cristais de gelo, que tendem a ser um pouco maiores
que as gotículas de água.

Fig. 6.9 Esquema representativo de formação da nuvem pelo do processo de resfriamento por expansão
adiabática

Fonte: adaptado de Time Life Abril Coleções (1995).

Para ocorrer a condensação, não basta haver vapor d’água suficiente; é necessário também que exista
uma superfície sólida sobre a qual o vapor se transforme em água. Na atmosfera, as partículas muito
pequenas que fornecem superfícies para condensação, chamadas de núcleos de condensação ou núcleos
higroscópicos, incluem partículas microscópicas de poeira, fogo, sal marinho e até partículas de fósforo
e enxofre.

Uma vez formadas, as nuvens podem ser classificadas de acordo com um sistema semelhante ao usado
para as plantas e os animais, que se baseia na forma que apresentam. A forma das nuvens resulta da
maneira e intensidade com que o ar quente sobe. As nuvens originadas por convecção térmica
apresentam aspecto granuloso, o que corresponde às nuvens da família cúmulo. A subida lenta e
gradual do ar quente gera nuvens do tipo estratificadas, conhecidas como estrato, e as do tipo fibrosas
ou onduladas, chamadas cirro.
Em 1803, Luke Howard, meteorologista inglês, propôs uma classificação das nuvens com base em sua
aparência que reconhece três formas básicas citadas anteriormente:

*cirriformes (cirro): finas e leves, compostas de cristais de gelo;

*estratiformes (estrato): camadas que cobrem todo o céu;

*cumuliformes (cúmulo): arredondadas, com base reta.

"Essas três formas são subclassificadas em dez tipos que, por sua vez, são subdivididos em espécies de
acordo com seu formato externo e estrutura interna. Os nomes dos dez gêneros são derivados das
combinações dos três tipos de nuvens de Howard: cirro, estrato e cúmulo, adquirindo complementação
das palavras ALTO, para nuvens de altitudes médias, e NIMBOS, para nuvens de chuva.

Embora a classificação das nuvens dependa da sua aparência, outro critério é usado no seu
reconhecimento, tendo em vista a relação entre as nuvens e a altitude de sua formação. Categorias de
altitude são baseadas na elevação das bases ou de suas superfícies inferiores. As altitudes das nuvens
variam com a latitude, em razão das diferenças de temperatura e da quantidade de vapor d’água no ar. A
Tab. 6.1 apresenta as faixas de altitude da formação das nuvens."
-Climatologia fácil, 6 Por que a grama fica molhada ao amanhecer mesmo que não chova?| Ercília
Torres Steinke,https://ebooks.ofitexto.com.br/epubreader/climatologia-fcil

*Nuvens altas: correspondem às nuvens do tipo cirro, compostas por cristais de gelo, ou às de forma
mista com prefixo cirro, compostas por cristais de gelo e água super-resfriada. Exemplos: cirro, cirro-
estrato, cirro-cúmulo.

*Nuvens médias: são compostas, na sua maior parte, de água e comumente associadas a mau tempo.
Exemplo: alto-cúmulo, alto-estrato.

*Nuvens baixas: correspondem às cúmulos, estratos e estratos-cúmulos. Pertencem a essa família as


nuvens nimbos-estratos, que são nuvens de chuva geradas a partir das estratos.

A Fig. 6.10 mostra uma representação da classificação das nuvens de acordo com a altura de suas bases
em relação ao nível do solo.

De todos os tipos de nuvens conhecidos, a cúmulo é a mais genérica e de forma inconfundível.


Geralmente é retratada, não só pelas crianças, como flocos de algodão ou couves-flores com a base
achatada. Esse fato gera muita curiosidade nas pessoas e as leva a fazer a seguinte pergunta: por que as
nuvens cúmulos apresentam-se arredondadas, com a base reta? A resposta está na sua formação. Esse
tipo de nuvem é formado pela sobreposição de várias camadas de gotículas de água. A própria palavra
“cúmulo” (do latim cumulus) significa pilha, monte. Lembre-se de que essas nuvens são formadas sob
condições instáveis, em que uma bolha de ar quente, a térmica, em determinando ponto, vira nuvem.
Como esse ponto, que é o nível de condensação, encontra-se em uma altitude bem definida, a base da
nuvem se alinha na mesma altura e se torna reta. O formato irregular das laterais e do topo da nuvem,
por sua vez, é decorrente das novas térmicas que penetram pela base da nuvem. Como a região já está
cheia de gotículas de água, essas novas térmicas se condensam logo acima da primeira camada, e assim
sucessivamente, criando um empilhamento.

Fig. 6.10 Diferentes tipos de nuvens

A aparência branca da nuvem cúmulo decorre do fato de as minúsculas gotículas de água que estão
dentro dela espalharem a luz, conferindo-lhe uma aparência leitosa e difusa. Por sua vez, a escuridão de
uma nuvem cúmulo está associada a três elementos: à observação do lado da nuvem que se encontra na
sombra, à claridade do céu e das outras nuvens, e à quantidade de gotículas de água que a nuvem
contém. Quanto maior o número de gotículas, ou seja, o conteúdo de água líquida, mais escura parecerá
uma nuvem cúmulo quando o Sol estiver por trás dela.

Se houver condições apropriadas, as nuvens cúmulos crescem a partir de sua base, apresentando um
desenvolvimento vertical intenso, até se transformarem em gigantescas nuvens de tempestade, as
cúmulos-nimbos, que, nos trópicos, podem ultrapassar os 18 km de extensão vertical (Barry; Chorley,
2003). Quando pequenas e isoladas, são chamadas de cúmulos de bom tempo e indicam tempo bom;
porém, se evoluem para cúmulos-nimbos, podem trazer chuvas intensas com granizo, raios, relâmpagos
e trovões. São conhecidas, na gíria, por “Cb”.

Vale a pena conhecer um pouco mais sobre as nuvens Cb, uma vez que sua formação característica e
seus efeitos associados despertam muita curiosidade. As Cb são nuvens de tempestade reconhecidas por
sua enorme altura. Com chuvas torrenciais, tempestades de granizo, raios, relâmpagos, vendavais e
tornados, essas nuvens de tempestade podem provocar sérios danos. Não é à toa que os pilotos de
aviões evitam voar perto dessas nuvens enormes. Se não puderem contorná-las, eles a sobrevoam
quando possível, pois as aeronaves, muitas vezes, não conseguem se elevar à altura do topo das Cb.

Segundo Pretor-Pinney (2008), três condições propiciam um ambiente ideal para que uma nuvem Cb
cresça e se torne perigosa. Em primeiro lugar, é preciso que exista um suprimento de ar quente e úmido
(liberação de calor latente) que sirva como fonte de energia para o crescimento vertical da nuvem; em
segundo lugar, os ventos na troposfera, em torno da nuvem, precisam aumentar sua altura na direção do
movimento da nuvem, de modo a estimular sua inclinação para a frente; e, em terceiro lugar, é preciso
haver condições de instabilidade atmosférica.

A Fig. 6.11 mostra as etapas de formação de uma nuvem Cb típica: (A) ao atingir o nível de
condensação, o ar úmido fica saturado e condensa, formando uma nuvem Cb; (B) com fortes correntes
ascendentes, a nuvem Cb se desenvolve verticalmente e as gotículas de água dentro da nuvem crescem
à medida que mais vapor d’água é condensado; (C) quando o topo da nuvem atinge cerca de 6 km e a
temperatura cai para menos de 20°C, a parte de cima da nuvem (topo) fica emplumada e começa a se
transformar, de cúmulo para cúmulo-nimbo; (D) a nuvem ganha forma de torre e a chuva aumenta com
as correntes descentes frias vindas de dentro da nuvem; (E) na fase madura da Cb, o topo atinge a
tropopausa e não se desenvolve mais. A tropopausa é uma inversão de temperatura que oferece
resistência ao crescimento da nuvem. Com a forma de cirro, o topo da nuvem se espalha
horizontalmente e é conhecido por “bigorna”. Nessa fase, as correntes descendentes são fortes e a
chuva cai torrencialmente. O ar torna-se mais frio e as correntes ascendentes começam a enfraquecer.
Logo depois, a nuvem se desfaz gradativamente, restando as nuvens cirros que se formaram na região
superior.

É no topo muito frio da cúmulo-nimbo que se forma o granizo. À medida que os cristais de gelo caem
dentro de uma nuvem contendo gotículas de água resfriadas, estas podem congelar em cima dos cristais
de gelo por um processo de acumulação, formando pedras de gelo. Quando chegam à base da nuvem,
algumas dessas pedras voltam a ser transportadas para o topo da nuvem pelas correntes ascendentes de
ar. Esse ciclo pode repetir-se várias vezes. Quanto mais fortes forem as correntes ascendentes, mais
vezes esse ciclo se repetirá para cada pedra de gelo, e mais ela crescerá. Quando uma pedra de gelo se
torna muito pesada, cai da nuvem – é o granizo.

Os relâmpagos também estão associados a essas nuvens. Ao contrário do que muitos pensam, o
relâmpago não é causado pelo choque de nuvens de tempestade. Trata-se de uma corrente elétrica
muito intensa que ocorre na atmosfera com típica duração de meio segundo e típica trajetória com
comprimento de 5 a 10 km. Ele é consequência do rápido movimento de elétrons de um lugar para
outro, dentro de uma nuvem Cb. Esse movimento é tão rápido que faz o ar ao seu redor iluminar-se,
resultando em um clarão, o relâmpago, e aquecer-se, resultando em um som, que é o trovão. De acordo
com Pinto Jr. (2005), embora os relâmpagos estejam normalmente associados a tormentas, também
podem ocorrer com extensões e intensidades bem menores, em tempestades de neve, tempestades de
areia, durante erupções vulcânicas, ou mesmo em outros tipos de nuvens. Quando a descarga elétrica se
conecta ao solo, é chamada de raio.

Fig. 6.11 Formação das nuvens cúmulos-nimbos (Cb). A forma clássica de uma Cb é uma gigantesca coluna
vertical, de vários quilômetros de altura, que se espalha no topo, assumindo a forma de uma bigorna de ferreiro

Fonte: adaptado de Time Life Abril Coleções (1995).


6.5 Precipitação
A precipitação é a queda de água ou gelo das nuvens, quando a resistência do ar é vencida pelo peso
dos hidrometeoros que compõem a nuvem. Porém, a formação de nuvens não é suficiente para que
ocorra precipitação. A condensação, que gera as nuvens, marca apenas o início do processo. Gotículas
de água, cristais de gelo e gotas de chuva devem ainda ser produzidas.

No início, a maioria das gotas é muito pequena para vencer a barreira das correntes ascendentes de ar
quente e úmido que produzem as nuvens. Aquelas que conseguem cair a alguma distância da base da
nuvem logo se evaporam. As gotas de chuva precisam crescer o suficiente para não serem carregadas
pelas correntes ascendentes do interior das nuvens e, assim, serem capazes de chegar à superfície sem
antes evaporarem completamente.

A chuva é a precipitação, na forma líquida, de gotas d’água de tamanho suficiente para vencer as
correntes ascendentes, que se precipitam quase na vertical. O chuvisco também é precipitação na forma
líquida, mas de microgotículas que caem suavemente das nuvens e são transportadas pelo vento,
reduzindo, muitas vezes, a visibilidade.

O granizo também é um tipo de precipitação, só que sólida. Vimos que, em geral, são gerados em
nuvens cúmulos-nimbos. Essas nuvens, por terem grande desenvolvimento vertical e serem formadas
por correntes ascendentes muito intensas, permitem que as gotículas de água se congelem ao serem
elevadas para partes da nuvem em que as temperaturas se encontram bem abaixo de 0°C. O tamanho da
pedra de gelo, ou seja, do granizo, indica a força dos movimentos de turbulência que o sustentam:
quanto maiores, mais poderosos são os movimentos verticais em seu interior.

A neve, que também é precipitação na forma sólida, consiste na queda de microcristais de gelo,
isolados ou em flocos. Esses cristais normalmente se formam nas nuvens cuja temperatura interna está
entre -20°C e -40°C. Entretanto, só chegarão à superfície como neve se o ar estiver muito frio em todo
o percurso. Se o ar estiver quente, os cristais podem tornar-se vapor d’água outra vez, ou derreter e cair
como chuva. Cada floco de neve tem uma geometria particular, e não existem dois iguais. A sua forma
depende da temperatura, altura e água contida na nuvem. De acordo com a literatura, as formas dos
cristais são divididas em aproximadamente 80 categorias, entre as quais se encontram as formas de
agulhas, prismas, lâminas, hexágonos e colunas.

6.6 Tipos de chuvas


As chuvas são classificadas de acordo com sua gênese, que é resultante do tipo de processo que
controla os movimentos ascendentes geradores das nuvens das quais se precipitam. Elas se diferenciam
em: convectivas, frontais e orográficas.

Chuvas convectivas são formadas pelo processo de convecção térmica. Os movimentos verticais que
caracterizam a convecção resultam do aquecimento do ar úmido, que se expande, ascendendo para
níveis superiores da troposfera. À medida que sobe, ele se resfria adiabaticamente, atinge seu ponto de
saturação, condensa e há a formação de nuvens. As nuvens do tipo cumuliformes são produzidas pelos
movimentos ascendentes de ar que caracterizam a convecção, os quais, junto com o aquecimento do ar
ao longo do dia, tendem a se transformar nas temidas nuvens Cb, responsáveis pelos temporais
tropicais de final de tarde. São chuvas intensas e rápidas (Fig. 6.12).

As chuvas frontais, por sua vez, são as chuvas oriundas da passagem de sistemas frontais conhecidos
como frentes (Fig. 6.13). A intensidade e a duração das chuvas geradas nos sistemas frontais são
influenciadas pelo seu tempo de permanência em um determinado local, bem como pela umidade
contida nas massas de ar que as formam, pelos contrastes de temperatura entre as massas (fria e quente,
quando se encontram) e pela velocidade de deslocamento da frente. São, em geral, chuvas duradouras e
contínuas. Veremos no Cap. 10 como são formadas as frentes.

Fig. 6.12 Representação esquemática da chuva convectiva

As chuvas orográficas ocorrem por uma interferência física do relevo, que atua como uma barreira à
movimentação livre do ar, forçando-o a subir (Fig. 6.14). O ar úmido e quente, soprando geralmente do
oceano em direção ao continente, encontra uma barreira física (o relevo), sobe e resfria-se
adiabaticamente. O resfriamento conduz ao aumento da umidade relativa do ar, podendo atingir a
saturação e possibilitando a formação de nuvens estratiformes e cumuliformes. A vertente da montanha
que recebe a chuva chama-se barlavento. Essas chuvas geralmente são de pequena a média intensidade,
mas de grande duração. A sota-vento da encosta, o ar realiza um movimento subsidente que produz nele
um aquecimento adiabático e a diminuição da umidade relativa. Assim, esse lado da vertente é muito
mais seco e, por isso, chamado de região de sombra de chuva.
"Fig. 6.13 Representação cartográfica de uma frente fria. No destaque, a frente fria está representada em azul
pela linha com dentes de serra. Observar a nebulosidade associada a essa linha
Fonte: CPTEC.

Fig. 6.14 Representação esquemática da chuva orográfica


6.7 Distribuição espacial da chuva na Terra
A distribuição geográfica das chuvas no globo mantém uma forte relação com as zonas de temperatura,
correntes marinhas, ventos oceânicos e com a dinâmica da baixa atmosfera. No equador térmico, onde
há mais calor, os processos de evaporação são marcantes e as correntes oceânicas quentes aquecem o
ar. Assim, formam-se nele as principais zonas chuvosas do globo.

Nas regiões tropicais, as áreas litorâneas orientais dos continentes são mais chuvosas que as
correspondentes ocidentais, pois a elas chegam os ventos quentes e úmidos dos oceanos que
apresentam correntes quentes. Nas zonas costeiras ocidentais sob o predomínio da atuação das
correntes oceânicas frias, há maior estabilidade do ar e, consequentemente, menos chuva.

Como veremos no Cap. 9, as zonas subtropicais têm a distribuição das chuvas controladas pelos
movimentos de descida do ar proveniente da zona de alta pressão a 30°, norte e sul, enquanto as zonas
de latitudes de 60°, nos dois hemisférios, são chuvosas, pois se localizam nas áreas de convergência
dos sistemas frontais subpolares. A partir dessa área em direção aos polos, a chuva decresce de forma
acentuada, como resultado das baixas temperaturas e das altas pressões atmosféricas dos polos.
7 – É VERDADE QUE, NA CIDADE DE LA PAZ, A ÁGUA FERVE A 90°?

Sim, é verdade! E a explicação para esse fato está na variação da pressão atmosférica com a altitude.
No Cap. 3 abordamos esse assunto. É preciso lembrar que, embora a atmosfera seja invisível, ela tem
peso e substância. A massa de ar que recobre o planeta Terra exerce uma pressão sobre a superfície, que
resulta do peso da coluna de ar (massa de ar multiplicada pela aceleração da gravidade) por unidade de
área.

A pressão atmosférica na superfície é cerca de 100 mil N por metro quadrado. A unidade de força
newton (N) corresponde a uma massa de ar de 10 mil quilogramas submetida à aceleração da gravidade
terrestre (∼10 m/s2). Por sua vez, 1 N/m2 é a unidade de pressão denominada pascal (Pa). Os
climatologistas costumam usar, tradicionalmente, a unidade “milibar” (mb), que corresponde a 100 Pa
(1 mb = 100 Pa). Portanto, a pressão na superfície será 100.000 Pa ou 1.000 mb.

Como a coluna atmosférica é mais espessa ou alta a partir do nível médio do mar, a pressão atmosférica
é maior na superfície. À medida que subimos, a coluna de ar – e, portanto, seu peso – diminui, fazendo
com que a pressão atmosférica se reduza. Logo, a pressão diminui com a altura. Fortaleza (CE), por
exemplo, que está localizada ao nível do mar, apresenta pressão atmosférica de 1 atmosfera, isto é, em
torno de 1.010 milibars. Já Brasília (DF), que está localizada a 1.000 m de altitude, apresenta pressão
atmosférica menor, em torno de 887 milibars.

Isso significa que, quanto mais alto, menor a pressão atmosférica. Em La Paz, capital da Bolívia, a
3.600 m de altitude, a pressão cai para 620 milibars. Lá, o ar é rarefeito, e a quantidade de gases,
incluindo o oxigênio, é menor. Como a pressão atmosférica é determinante sobre a temperatura de
transição da água (mudança de estado), a temperatura de ebulição da água (isto é, a temperatura em que
ela passa do estado líquido para vapor), que é 100°C ao nível do mar, fica menor em maiores altitudes,
onde a pressão atmosférica é menor. Em La Paz, a água ferve a 90°C.

Acontece que conhecer a variação da pressão atmosférica não serve apenas para cozinhar; serve
também para que se possa conhecer o deslocamento horizontal do ar próximo à superfície, ou seja, do
vento.

A variação da pressão atmosférica em superfície se dá em função da temperatura do ar e da umidade no


globo. O aquecimento do ar ocasiona a sua expansão e, consequentemente, uma diminuição na pressão
exercida por ele, ou seja, ar quente exerce pouca pressão. As áreas onde predomina o ar quente são
chamadas de baixa pressão; ao contrário, quando o ar se resfria, sua densidade aumenta, tornando-o
mais pesado, o que caracteriza uma área de alta pressão.

A distribuição espacial da pressão atmosférica sobre uma superfície é representada em uma carta de
pressão por meio das isóbaras, linhas que unem pontos de mesma pressão. Toda carta de pressão
mostrará uma distribuição espacial da pressão atmosférica na qual existem regiões de alta e de baixa
pressão. As regiões de alta pressão são representadas na carta sinótica pela letra “A” e as de baixa
pressão, pela letra “B”.

Um mapa ou uma carta em que são representados vários elementos meteorológicos sobre uma área em
um dado horário, isto é, que contenha informações sobre o estado da atmosfera em um determinado
momento, é chamado de carta sinótica ou carta do tempo. Ela nos dá uma síntese das condições de
tempo em uma grande área. A Fig. 7.1 mostra um exemplo de carta sinótica elaborada pelo Centro de
Hidrografia da Marinha do Brasil. Essas cartas são preparadas diariamente e disponibilizadas no site da
Marinha Brasileira para consulta. Observe a identificação dos centros de alta (A) e baixa (B) pressão na
carta.

Para que se possa compreender a dinâmica global de movimentação do ar, é fundamental conhecer as
zonas de pressão atmosférica planetárias. Essas zonas são, a princípio, determinadas pela distribuição
de energia no globo. Assim, na faixa de baixas latitudes, onde se tem elevada concentração de energia
solar, o forte aquecimento leva à expansão do ar, formando um grande campo de baixas pressões. Nos
polos, por sua vez, o déficit de energia (ar frio) possibilita a formação de zonas de altas pressões.

A umidade do ar também é um fator importante para a variação espacial da pressão na superfície.


Portanto, os movimentos verticais de subida e descida do ar na atmosfera são fundamentais para a
compreensão dos campos de pressão em superfície.

Agora você já conseguirá entender o que significa um sistema meteorológico conhecido como sistema
de baixa pressão (B). É uma região na atmosfera onde o ar é quente e leve, razão pela qual realiza um
movimento de ascensão.

Trata-se, portanto, de uma região marcada por correntes de ar ascendentes. Essas correntes permitem a
formação de nuvens e chuva; por isso, uma região de baixa pressão é geralmente caracterizada por mau
tempo (Fig. 7.2).
Fig. 7.1 Exemplo de uma carta sinótica de superfície do dia 12 de fevereiro de 2010, 12:00 UTC – Horário
Universal – (9 horas no Brasil)
Fonte: Marinha do Brasil. Serviço Meteorológico Marinho.

Em um sistema de alta pressão (A), por sua vez, o ar, frio e seco, realiza movimentos de descida, a
partir de uma grande altitude, em direção à superfície, dificultando a formação de nuvens e chuva (Fig.
7.3). Esse movimento é conhecido como corrente subsidente. É por isso que os sistemas de alta pressão
costumam estar associados a céu claro.
7.1 Ventos
Quando ocorre o movimento do ar em relação à superfície terrestre, dizemos que há vento. Esse
movimento existe quando há diferença de pressão atmosférica entre dois pontos, já que o vento sempre
sopra das altas para as baixas zonas de pressão. Por quê? Vamos entender primeiro o significado do
gradiente horizontal da pressão atmosférica.

Fig. 7.2 Representação esquemática de uma área de baixa pressão

Fig. 7.3 Representação esquemática de uma área de alta pressão

Sabendo-se que o aquecimento diferencial da superfície terrestre gera diferenças de pressão


atmosférica, e que a distribuição dessas diferenças é representada espacialmente pelas isóbaras, é
possível identificar para onde a pressão está crescendo. O gradiente horizontal da pressão, representado
pela letra “G”, indica a variação da pressão atmosférica em um dado local, em termos de taxa de
acréscimo, por unidade de distância horizontal, e na direção perpendicular às isóbaras, como pode ser
visto na representação gráfica da Fig. 7.4.

O gradiente de pressão (G) exerce uma força, conhecida como força do gradiente de pressão,
representada pela letra “F”, na mesma direção e no sentido contrário ao gradiente de pressão (G). Essa
força tende a fazer com que o ar se desloque horizontalmente das zonas de maiores pressões para as
zonas de menores pressões. Observe a representação gráfica da força (F) na Fig. 7.5.

É a força do gradiente de pressão (F) que inicia a movimentação horizontal do ar e mantém essa
movimentação, razão pela qual pode ser considerada a força motora da movimentação do ar. É (F) que
faz o ar deslocar-se sempre das zonas de altas pressões atmosféricas (A) para as zonas de baixas
pressões atmosféricas (B). Quanto mais próximas forem as isóbaras, maior será a velocidade do vento,
e quanto maior for a diferença de pressão entre dois pontos, mais intenso será o vento.

Fig. 7.4 Representação gráfica do gradiente horizontal da pressão atmosférica (G). (A) alta pressão; (B) baixa
pressão
Fig. 7.5 Representação gráfica da força do gradiente horizontal da pressão atmosférica (F). (A) alta pressão; (B)
baixa pressão

Bons exemplos para demonstrar esse fato são os ventos locais, como as brisas marinha e terrestre.
Esses ventos decorrem de um gradiente de pressão atmosférica local (G), que se estabelece como
resultado do aquecimento diferencial da superfície com a alternância do dia e da noite.

Durante o dia, a praia (continente) se aquece mais do que a água do mar, o que estabelece um campo de
pressão alta (A) acima do oceano e um campo de pressão baixa (B) acima da superfície terrestre. Como
o vento sempre sopra da zona de alta pressão (A) para a de baixa pressão (B), durante o dia o vento
sopra do mar para a terra, definindo a brisa marinha (Fig. 7.6).

À noite ocorre o contrário, e o vento sopra da terra para o mar, uma vez que, durante a noite, a praia se
resfria mais rapidamente do que a água do mar. Isso estabelece um campo de pressão alta (A) acima da
praia e um campo de pressão baixa (B) acima do oceano. É o que chamamos de brisa terrestre (Fig. 7.7)

A partir do momento em que o ar começa a se movimentar, seu deslocamento sofre a influência do que
chamamos de forças influenciadoras da movimentação do ar. São elas: a força de Coriolis, a força
centrífuga e a força de atrito. Todas essas forças são chamadas de “aparentes” ou “fictícias”, pois só
existem quando o ar está em movimento, que resulta da força do gradiente de pressão, a força
propulsora do ar.
Fig. 7.6 Representação esquemática da brisa marinha

Fig. 7.7 Representação esquemática da brisa terrestre


7.2 Efeito da rotação da Terra
Todos nós sabemos que a expressão “lá onde o vento faz a curva” significa dizer que um lugar é muito
longe. Porém, dependendo do referencial, não deixa de estar correto dizer que o vento faz uma curva, e
o que determina esse fato é a influência da rotação da Terra.

Se a Terra não girasse sobre seu próprio eixo, o ar se movimentaria sempre no sentido da força (F), ou
seja, o vento seguiria uma linha reta. Porém, como a Terra gira de oeste para leste, o deslocamento do
ar sofre influência da rotação.

O cientista que descobriu a influência da rotação da Terra no deslocamento dos corpos próximos à
superfície terrestre foi Gustave-Gaspard Coriolis, em 1835 (Lynch, 2002). Sua descoberta é usada para
explicar por que o ar que circula em torno de um centro de alta (A) ou de baixa pressão (B) apresenta
um deslocamento para direções opostas, dependendo do hemisfério analisado.

Sabe-se que o vento sopra de um ponto de alta para um de baixa pressão. Mas, por que ele
simplesmente não se movimenta em linha reta? Porque sofre o efeito da rotação da Terra. Assim, o que
Coriolis descobriu foi que todos os corpos que se movem em relação à superfície terrestre sofrem
continuamente um desvio na sua trajetória, sem, no entanto, alterarem a sua velocidade. E é o efeito da
rotação da Terra que explica isso. Esse efeito é mais conhecido como efeito de Coriolis, ou força de
Coriolis, que é representada pela letra “D” de deflexão, desvio.

Para poder compreender como ocorre o efeito da rotação da Terra na trajetória dos ventos é preciso
relembrar três princípios. O primeiro assume que a força de Coriolis só age sobre corpos que estão em
movimento. O segundo diz que a força de Coriolis só atua sobre corpos que estão em sistemas girantes
– nós, por exemplo, estamos em um grande sistema girante, que é a Terra. E o terceiro afirma que a
força de Coriolis não existe realmente: não existe, mas parece existir. É uma força aparente ou fictícia.

Com base nesses princípios é que se estabelece que a força de Coriolis atua sobre o vento desviando
continuamente sua trajetória, para a direita no hemisfério Norte e para a esquerda no hemisfério Sul,
qualquer que seja a direção inicial do movimento.

Para demonstrar a existência do efeito de Coriolis, existem inúmeras analogias. Uma das mais fáceis de
executar é apresentada por Varejão-Silva (2000), que sugere a seguinte experiência: faça um disco de
cartolina de 20 cm de diâmetro, que representará o sistema girante. A partir do centro do disco (C),
desenhe uma linha tracejada até um ponto qualquer (1) próximo à borda do disco. Em seguida, fure
com um alfinete o centro do disco (C) e espete-o em uma superfície plana, como uma mesa.
Sustentando uma régua apoiada em algum objeto (um livro, por exemplo), e tocando no alfinete, faça o
disco girar até que a linha tracejada fique exatamente sob a régua, conforme a Fig. 7.8.

A seguir, peça para outra pessoa girar o disco no sentido horário, enquanto você desenha uma linha do
centro do disco (C) para a borda. Para alguém localizado no ponto (1), a linha desenhada pelo lápis será
uma reta; para outra pessoa, localizada no ponto (2), que se move juntamente com o disco, a linha
desenhada pelo lápis será uma curva para a esquerda, como mostra a Fig. 7.9.

Agora veremos como algo semelhante acontece com um objeto que se desloca próximo a um grande
sistema girante: a Terra.
Fig. 7.8 Montagem da experiência. A linha tracejada deve estar exatamente sob a régua
Fonte: adaptado de Varejão-Silva (2000).

Fig. 7.9 Um observador imóvel no ponto 1 diria que o lápis efetuou um movimento retilíneo. Para um
observador localizado no ponto 2, o mesmo movimento parecerá curvo
Fonte: adaptado de Varejão-Silva (2000).

Imagine que uma bola é lançada do polo norte em direção a um ponto fixo no equador. Se a Terra não
girasse, essa bola seguiria uma trajetória sempre acima do mesmo meridiano terrestre. No entanto, a
Terra gira de oeste para leste, dando uma volta em torno de si mesma em um dia. Conforme a bola
avança em direção ao sul, o ponto fixo do equador vai se movendo com a rotação da Terra. Para alguém
que vê tudo de fora da Terra, a bola vai descrever uma trajetória retilínea, como mostra a Fig. 7.10, pois
a trajetória da bola é uma circunferência em um plano fixo, porque a única força sobre ela é a de seu
lançamento.

Por sua vez, a Fig. 7.11 mostra a trajetória da bola vista por alguém que está girando com a Terra. Esse
outro observador vê a bola se desviando para a direita de sua direção de movimento, como se alguma
força a empurrasse para o lado. É a “força de Coriolis”. O mesmo acontece com o deslocamento do
vento.

O efeito de Coriolis é máximo nos polos e nulo no equador (Tubelis; Nascimento, 1980). Grimm
(1999) explica esse fato da seguinte forma: o efeito de Coriolis provém da rotação da Terra sobre seu
eixo, que produz uma rotação do sistema de referência fixo à Terra. Nos polos, onde a superfície é
perpendicular ao eixo terrestre, a rotação faz com que o plano horizontal do nosso sistema de
coordenadas faça uma volta completa em torno do eixo vertical a cada 24 horas. Já no equador, a
superfície da Terra é paralela ao eixo terrestre; como consequência, a superfície não sofre rotação em
torno de um eixo vertical a ela. Logo, no equador, a superfície, sobre a qual o vento sopra, não sofre
rotação em um sentido horizontal.

Fig. 7.10 Representação esquemática da trajetória da bola vista por um observador fora da Terra
Fig. 7.11 Representação esquemática da trajetória da bola vista por alguém que está parado sobre a Terra

Grimm (1999) apresenta uma excelente analogia para demonstrar essa diferença, ao utilizar um poste
vertical situado no polo norte e outro, no equador (Fig. 7.12). Ao longo de um dia, o poste sobre o polo
norte realiza uma rotação completa sobre seu eixo vertical, mas o poste situado no equador não gira
sobre si; apenas coincidirá com sua posição inicial após a volta completa. Os postes localizados entre
os polos e o equador experimentam taxas intermediárias de rotação em torno de seus eixos verticais.
Como a orientação horizontal (rotação em torno de um eixo vertical) da superfície da Terra muda mais
rapidamente nas latitudes altas do que nas latitudes baixas, a força de Coriolis atuará com maior
intensidade em altas latitudes.

Como veremos no Cap. 9, uma das principais consequências da força de Coriolis na atmosfera da Terra
é o movimento dos ventos planetários. Ela é essencial também para a compreensão de fenômenos como
furacões e circulação oceânica, sendo considerada, ainda, na navegação aérea e em lançamentos de
foguetes.

Vale lembrar que, para movimentos cujas escalas de tempo são muito pequenas, comparadas ao período
de rotação da Terra, o efeito de Coriolis é desprezível. Muita gente pensa que, se o efeito de Coriolis
vale para os ciclones e para os redemoinhos das correntes oceânicas, deve valer para os redemoinhos
nas pias dos banheiros, certo? Errado! Nessa pequena escala, a magnitude do efeito de Coriolis é muito
pequena para ter um efeito significativo sobre a direção de rotação, uma vez que a massa de água e a
velocidade do escoamento também são muito pequenas. Sendo tão pequena, a força de Coriolis é
desprezível diante das outras forças que atuam na pia, como o atrito e os efeitos causados pela forma e
textura das paredes da pia, bem como o movimento residual da água.

Fig. 7.12 Representação esquemática da quantidade de rotação de uma superfície horizontal em torno de um eixo
vertical, em várias latitudes, ao longo de um dia
Fonte: adaptado de Grimm (1999).

Quando a força de Coriolis (D) é aplicada de tal forma que é de mesma intensidade, porém em direção
oposta à força do gradiente de pressão (F), o movimento final passa a ser o equilíbrio entre as duas
forças, como mostra a Fig. 7.13. O vento resultante é um vento horizontal, não acelerado, que sopra
paralelamente às isóbaras e é chamado de vento geostrófico (Mendonça; Danni-Oliveira, 2007).
Fig. 7.13 Representação gráfica do vento geostrófico

O vento geostrófico não é um vento real. O vento real só ocorre quando o equilíbrio é encontrado entre
três forças: a força do gradiente de pressão (F), a força de Coriolis (D) e a força centrífuga (C). O vento
geostrófico ocorre em altitudes acima de 600 m. O deslocamento dos ventos em superfície sofre efeitos
geográficos que veremos no item 7.4 (“Efeito do atrito com a superfície”). Vejamos agora como as
outras forças aparentes influenciam o deslocamento do ar.

7.3 Efeito da força centrífuga


As isóbaras não são linhas retas. Elas formam curvas abertas ou círculos concêntricos de alta (A) ou
baixa pressão (B). A forma curva do campo de pressão tende a modificar o vento geostrófico, afetando
sua velocidade, embora a direção continue aproximadamente paralela às isóbaras. É a força centrífuga
(C) que altera o balanço entre a força de Coriolis (D) e a força do gradiente de pressão (F).

Vimos que a força do gradiente de pressão (F) faz o vento deslocar-se perpendicularmente às isóbaras.
Logo que o ar começa a se movimentar, vimos também que a força de Coriolis (D) começa a forçá-lo a
deslocar-se em um movimento curvo. Com a tendência do movimento curvilíneo do ar, tem início a
atuação da força centrífuga (C). Portanto, a resultante da direção do vento passa a ser dada pela ação
das três forças: (F), (D) e (C). O vento gerado é conhecido como vento gradiente.

Na Fig. 7.14, é mostrado o vento gradiente para o deslocamento de ar em torno de centros de baixa (B)
e de alta pressão atmosférica (A). Em torno do centros de baixa pressão (B), também chamados
ciclones, em que a força do gradiente de pressão (F) é dirigida para o centro e a força de Coriolis (D),
para fora, o balanço é atingido entre a força do gradiente de pressão (F) e a soma da força de Coriolis
(D) com a força centrífuga (C). O fluxo resultante, denominado fluxo ciclônico, tem sentido horário no
hemisfério Sul e anti-horário no hemisfério Norte.

Fig. 7.14 Esquema mostrando a direção do vento gradiente (V), que representa um balanço entre a força do
gradiente de pressão (F), a força de Coriolis (D) e a força centrífuga (C), em um centro de alta (A) e baixa (B)
pressão, no hemisfério Sul

Por sua vez, em torno de centros de alta pressão (A), também chamados anticiclones, em que a força do
gradiente de pressão (F) é dirigida para fora e a força de Coriolis (D), para o centro, o balanço é
atingido entre a força de Coriolis (D) e a soma da força do gradiente de pressão (F) com a força
centrífuga (C). O fluxo resultante, denominado fluxo anticiclônico, tem sentido anti-horário no
hemisfério Sul e horário no hemisfério Norte.

7.4 Efeito do atrito com a superfície


Apesar de a força centrífuga (C) ter grande importância no estabelecimento de fluxos curvos em
altitude, na superfície o atrito torna-se mais significativo e é bem mais forte que a força centrífuga (C),
exceto em tornados e furacões.

Próximo à superfície terrestre, o ar que se desloca sofre o efeito do atrito com a superfície. A força de
atrito (A), também uma força aparente, age sempre na mesma direção e no sentido contrário ao
deslocamento do vento. À medida que a velocidade do vento diminui, as forças (D) e (C) diminuem
correspondentemente, pois lhe são proporcionais, enquanto a força (F) permanece constante. A direção
resultante do vento é dada, então, pelo equilíbrio de quatro forças e tenderá para o sentido da força (F),
passando a cortar as isóbaras, e não mais a girar paralelamente a elas.

O pequeno ângulo formado entre a direção do vento e as isóbaras determina que a circulação em um
centro de pressão terá a forma de uma espiral. Assim, em uma região ciclonal, na qual a pressão
decresce para o centro, o vento sopra em espiral e para dentro do centro (Fig. 7.15), ao passo que, em
um anticiclone, o vento sopra em espiral e para fora do centro (Fig. 7.16). Deve-se lembrar que a força
de Coriolis (D) atua sobre o deslocamento do ar, desviando sua trajetória para a direita no hemisfério
Norte e para a esquerda no hemisfério Sul, mas a força do gradiente de pressão (F), que é a força
motora, sempre faz o vento sair da alta e preencher a baixa pressão.

Fig. 7.15 Em qualquer hemisfério, o atrito causa um fluxo resultante para dentro (convergência) em torno de
uma região ciclonal, com o vento cruzando as isóbaras para dentro

Fig. 7.16 Em qualquer hemisfério, o atrito causa um fluxo resultante para fora (divergência) em torno de uma
região anticiclonal, com o vento cruzando as isóbaras para fora
8 – QUAL A DIFERENÇA ENTRE FURACÕES E TORNADOS?
Furacões e tornados são fenômenos da natureza que muito despertam a curiosidade dos estudantes. Em
abril de 2011, a incidência de tornados nos Estados Unidos tornou-se tão intensa e devastadora que já é
considerada uma das piores catástrofes naturais desse país desde a ocorrência do furacão Katrina
(categoria 3), em 2005. Mas, qual é a diferença entre um fenômeno e outro? Muita gente confunde
tornados com furacões, fenômenos conhecidos por sistemas meteorológicos tropicais ou perturbações
tropicais. Vamos começar a explicação da diferença pelos furacões.

Nas regiões tropicais oceânicas, existem movimentos turbilhonários de ar, de grande escala, em torno
de centros de baixa pressão atmosférica (B), que são conhecidos como perturbações tropicais. Segundo
Barry e Chorley (2003), elas são classificadas de acordo com suas escalas espaciais e temporais.
Existem várias categorias de perturbação, desde uma nuvem cúmulo individual até uma perturbação em
que a velocidade dos ventos passa de 119 km/h, o furacão.

Você já deve conhecer um furacão de filmes e desenhos animados: um vento muito forte, acompanhado
de grandes chuvas, e de grandes ondas no litoral. Esse fenômeno da natureza pode ser chamado por três
nomes: furacão, tufão ou ciclone tropical. A diferença é o local onde ele ocorre. Sistemas formados
sobre o Pacífico Noroeste são chamados de tufões; quando ocorrem no Atlântico Norte ou no Pacífico
Nordeste e Sul, recebem o nome de furacões; e quando se formam sobre as águas do Pacífico Sudoeste
e no sudeste do oceano Índico, são conhecidos como ciclones tropicais.

8.1 Como se formam os furacões?


Os furacões nascem em uma região de baixa pressão atmosférica sobre as águas quentes dos oceanos tropicais. À
medida que o Sol aquece a água, o vapor d’água aquecido se eleva, formando várias nuvens de
tempestade, as cúmulos-nimbo. Estas, por sua vez, combinam-se para formar grandes paredes de
nuvens que giram em redemoinhos de baixa pressão, por ação da força de Coriolis (Fig. 8.1).

O vapor d’água oriundo dos oceanos tropicais é o “combustível” para o aumento da força dos ventos ao
redor do centro de baixa pressão, ou seja, à medida que o vapor d’água vai se condensando, calor
latente vai sendo liberado e intensifica os ventos. Quando o centro de baixa pressão se fortalece a ponto
de seus ventos chegarem a 119 km/h, ocorre um furacão. Uma vez formados, os ventos se fortalecem e,
no centro do redemoinho, forma-se um “olho”, que é uma área de céu limpo no centro da tempestade
(Fig. 8.2).
Fig. 8.1 As paredes de nuvens cúmulos-nimbos combinam-se para formar grandes redemoinhos de baixa pressão
Fonte: adaptado de Time Life Abril Coleções (1995).

O furacão desloca-se sobre os oceanos, mas assim que toca o continente, o calor e a umidade
necessários para a sua manutenção tornam-se insuficientes, e começa o seu desaparecimento.

Os furacões são classificados utilizando-se uma escala criada em 1969 pelo engenheiro civil Herbert
Saffir e pelo meteorologista Robert Simpson, então diretor do Centro Nacional de Furacões dos
Estados Unidos (Tominaga; Santoro; Amaral, 2009). Ela ficou conhecida como Escala Saffir-Simpson
(Tab. 8.1), que vai de 1 a 5 e mede a intensidade dos ventos dos furacões, classificados por categorias.
A escala espacial típica de um furacão é 200 a 500 km de diâmetro equivalente.

Muitas pessoas têm questionado sobre a possibilidade de ocorrerem furacões no Brasil. Em princípio,
as condições não são favoráveis. As águas do oceano Atlântico próximo ao Brasil são quentes, mas os
centros de baixa pressão atmosférica (B) que ali se formam não se desenvolvem com força de furacão.
Para isso é preciso mais do que água quente. É preciso que os ventos na altura do topo das nuvens não
sejam muito fortes. Na costa do Brasil, esses ventos são muito fortes e não permitem que um sistema de
baixa pressão (B) se desenvolva. É isso que impede que esses centros, no litoral do Brasil, se
intensifiquem e se transformem em furacões. Também é necessário haver convergência de ventos em
grande escala e capacidade da atmosfera de gerar vórtices, motores da formação das perturbações
tropicais (Nobre, 2002).

Fig. 8.2 Fortalecimento do centro de baixa pressão e aparecimento do “olho”


Fonte: adaptado de Time Life Abril Coleções (1995).

Em 2004, porém, ocorreu um fenômeno climático no litoral de Santa Catarina que foi classificado
como furacão de categoria 2 (Marcelino; Ferreira; Conforte, 2003). Logo que esse fenômeno se
formou, houve muita dificuldade em descobrir do que se tratava. Muitos afirmaram tratar-se de um
ciclone extratropical. E qual é a diferença entre um ciclone extratropical e um furacão?

Os ciclones extratropicais, assim como os furacões, também são centros de baixa pressão atmosférica
(B), porém são formados fora da região tropical, razão pela qual se chamam extratropicais. O ciclone
extratropical é sempre acompanhado de uma frente fria e, apesar de ter forma de espiral, não tem um
formato de círculo, como é o caso de um furacão, e nem a formação de um “olho”. Além disso, ao
contrário dos furacões, seu centro é frio.

Quanto aos estragos, os ciclones extratropicais causam, geralmente, ressacas nas praias,
destelhamentos, queda de árvores e, nos casos mais graves, podem até destruir edifícios mais frágeis.
Os furacões, por sua vez, causam muito mais destruição, por causa da força dos ventos e da quantidade
de água que carregam do mar para dentro do continente.
Apesar de o Brasil não apresentar as condições necessárias para a formação de furacões, segundo
Ferreira (2006), muitos estudiosos concordaram que o “Catarina” foi, sim, um furacão. Para outros,
contudo, o “Catarina” foi apenas um ciclone extratropical, uma baixa pressão desprendida, com escala
espacial pequena, que encontrou águas costeiras aquecidas. Segundo essa corrente de cientistas,
centenas dessas baixas desprendidas se formam de janeiro a março a cerca de 1.000 km a 1.500 km da
costa, mas, em geral, não evoluem por não encontrarem condições oceânicas propícias (liberação de
calor latente).

Todos os furacões que ocorrem nos países voltados para o oceano Atlântico Norte recebem um nome
próprio. O que pouca gente sabe é que o nome de um furacão é escolhido com antecedência. Na
verdade, especialistas elaboraram uma lista de nomes, metade masculinos e metade femininos, que são
repetidos a cada seis anos. O Quadro 8.1 apresenta a lista de nomes que será utilizada até 2016, para os
furacões do Atlântico Norte.

Quando um furacão parece estar se formando sobre o oceano, a lista do ano é consultada para que lhe
seja dado um nome. Esse nome é escolhido por ordem alfabética. Dessa forma, pelo nome,
descobrimos qual número corresponde à letra inicial e podemos saber se aquele é o primeiro, o segundo
ou o terceiro furacão do ano. Se, por acaso, o número de furacões ultrapassar o número de nomes da
lista, serão utilizadas letras do alfabeto grego, como alfa, beta, gama etc., como aconteceu em 2005.

Segundo César Filho (2005), a prática de batizar os furacões com nomes próprios começou há muito
tempo. No passado, os furacões recebiam o nome do santo do dia em que ocorreu, ou do mais próximo.
A partir de 1950, quando os especialistas passaram a identificar o fenômeno por meio das imagens de
satélites, todos os furacões passaram a receber nomes femininos. O primeiro, por exemplo, foi chamado
de Able. Essa prática gerou muita confusão. Os meteorologistas, então, modificaram a regra. Assim,
desde 1979, os nomes se revezam entre femininos e masculinos.
Quando um furacão é devastador, seu nome é retirado da lista para sempre. Desde que começou a ser
usada, 67 nomes já foram retirados da lista. O primeiro a deixar a lista foi Hazel, em 1954, e os últimos
foram Dennis, Katrina, Rita, Wilma e Stan, todos provenientes da violenta temporada de furacões de
2005. Afirma-se que o aquecimento global vai aumentar a frequência de furacões. No passado
ocorreram furacões tão ou mais intensos que os atuais. No site do National Hurricane Center, NOAA
(EUA), encontra-se uma lista de furacões mais letais da história. Nessa lista, vê-se que o pior furacão
ocorrido nos EUA foi em Galveston, Texas, em 8 de setembro de 1900, em que se estimou a perda de
10 mil a 12 mil vidas.

8.2 Como se formam os tornados?


O tornado é uma grande coluna de ar que se estende até o solo, gira muito rápido e muda muito
depressa de lugar. É normalmente visto como uma nuvem em forma de funil que causa estragos por
onde passa. Os tornados são visíveis por causa da poeira e sujeira levantadas do solo e pelo vapor
d’água condensado.

Essa coluna rodopiante de nuvens tem diâmetro característico de 100 a 600 m. Alguns são de poucos
metros de largura e outros excedem 1.600 m. A coluna desloca-se a uma velocidade de 30 a 60 km/h,
mas, dentro funil, o vento pode ultrapassar 450 km/h. Os tornados são os mais destruidores de todos os
fenômenos atmosféricos, embora a área afetada por eles seja pequena (Marcelino, 2003).

O tornado é um fenômeno que tem início na base de uma nuvem cúmulo-nimbo, a “nuvem-mãe” dos
tornados. As Cb, nuvens de tempestades, quando muito grandes, são chamadas de supercélulas. Ao se
desenvolverem, a corrente de ar quente ascendente ganha força, absorvendo mais ar úmido e liberando
calor latente. Quando atinge o topo da troposfera, o ar frio começa a descer, trazendo fortes chuvas com
relâmpagos e trovões (Fig. 8.3).

Um forte vento cruzado atravessa a nuvem, fazendo as correntes de ar girarem em espiral. Forma-se um
vórtice de rotação lenta dentro da nuvem, sugando mais ar úmido para a tempestade, que se intensifica.
Mais compacta, a espiral gira mais rápido, produzindo uma corrente de subida em redemoinho, o
vórtice (Fig. 8.4).

De acordo com Kobiyama et al. (2006), o primeiro sinal do nascimento de um tornado em uma
supercélula é a observação de nuvens giratórias na base da tempestade. Uma nuvem em forma de
parede (Fig. 8.5) forma-se quando as nuvens giratórias descem da nuvem-mãe.

Assim que se forma a corrente em redemoinho, uma nuvem afunilada avança para baixo, girando. À
medida que o tornado fica mais forte, a nuvem-funil fica cada vez maior. Por fim, o funil toca o chão
com força explosiva (Fig. 8.6). Muitos tornados possuem um barulho distinto que pode ser ouvido por
muitos quilômetros, até quando eles não são bem visíveis. Esse som parece ser mais alto quando o
tornado toca o solo. Contudo, nem todos os tornados produzem esse barulho, ou seja, podem
representar um perigo silencioso.
Fig. 8.3 Fortalecimento das nuvens cúmulos-nimbos
Fonte: adaptado de Time Life Abril Coleções (1995).
Fig. 8.4 Formação do vórtice
Fonte: adaptado de Time Life Abril Coleções (1995).
Fig. 8.5 Representação de uma nuvem em forma de parede

Fig. 8.6 Nuvem-funil toca o solo


Fonte: adaptado de Time Life Abril Coleções (1995).
A intensidade dos ventos em um tornado pode chegar até 500 km/h. Por causa da grande dificuldade de
colocar equipamentos de medição no interior dos tornados, utilizam-se estimativas da intensidade do
fenômeno, por meio de medições de radares doppler e de avaliação dos danos em campo. Assim, os
tornados podem ser classificados quanto a sua intensidade e quanto ao tipo de superfície em que
ocorrem: na água são chamados de trombas d’água; na areia, de trombas de areia; e na superfície
terrestre, de tornados. Segundo Marcelino (2003), entre as classificações dos tornados quanto à
intensidade, a escala Fujita ou F-escala é uma das mais aceitas e utilizadas. De acordo com essa escala,
os tornados variam de F0, mais fracos, até F5, os mais destruidores (Tab. 8.2).

Os tornados podem ser observados em todo o mundo, mas a região onde mais ocorrem é no “Corredor
dos Tornados”, uma região dos Estados Unidos em que o fenômeno costuma fazer grandes estragos.
Apesar de ocorrerem em todo o território dos Estados Unidos, é no “corredor”, onde se localizam os
estados do Texas, Oklahoma, Arkansas, Kansas, Missouri, Dakota do Sul, Tennessee, Iowa, Illinois e
Indiana, que são observados com maior frequência. Esse fato ocorre porque nas grandes planícies
localizadas a leste das Montanhas Rochosas, região conhecida como “linha de seca”, o ar quente e
úmido que vem do Golfo do México se encontra com o ar mais fresco e seco proveniente da Califórnia
e do Canadá. Durante a estação dos tornados, de abril a junho, esse encontro de massas de ar diferentes
produz as enormes tempestades que geram os tornados, os quais geralmente são acompanhados por
outros fenômenos atmosféricos, tais como chuvas intensas, descargas elétricas, granizo e vendavais.

"O tornado é, muitas vezes, confundido com o vendaval, principalmente pela falta de conhecimento a
respeito das características dos tornados. Para saber distinguir um do outro, observe as características
do estrago causado. Quando o estrago seguir um caminho mais ou menos definido, o que ocorreu foi
um tornado. O rastro de destruição de um tornado pode variar de dezenas de metros a quilômetros de
extensão. Quando, porém, a destruição causada por ventos abranger uma área muito grande, sem
caminho definido, terá sido um vendaval. Essa diferença é retratada na Fig. 8.7. A destruição provocada
pelos tornados é bastante concentrada e extremamente violenta. O efeito chaminé provoca o
arrastamento das árvores, a destruição das habitações e a elevação, no ar, dos destroços resultantes.
(Kobiyama et al., 2006).

Fig. 8.7 Diferença na destruição provocada por um tornado e por um vendaval


A ocorrência de tornados no Brasil não é novidade. O sul do País está localizado no corredor dos
tornados da América do Sul, uma região que abrange a Argentina, o Paraguai, o Uruguai e as regiões
Sul e Sudeste brasileiras. No entanto, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná são mais propícios à
formação do fenômeno. O choque de massas de ar frio oriundas da Patagônia com massas de ar quente
e úmido que vêm da Amazônia criam as condições ideais para a formação de supercélulas que podem
dar origem a tornados (Marcelino, 2003).

Somente nos últimos anos é que maiores pesquisas sobre esse fenômeno têm sido feitas no Brasil, onde
tornados são frequentemente registrados nas regiões Sul e Sudeste, principalmente em Santa Catarina.
Entretanto, o número de registros poderia ser maior se não houvesse confusão na classificação do
fenômeno. Muitos tornados foram registrados de forma errada como vendaval, ciclone, furacão ou
simplesmente como uma tempestade (Amaral; Gutjahr, 2011).

Você sabia que o primeiro tornado a ser fotografado no Brasil ocorreu em 5 dezembro de 1975? Foram
oficiais da Base Aérea de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, que conseguiram fotografá-lo (Fig. 8.8).
Anos mais tarde, o meteorologista José Soares Lima publicou um dos primeiros trabalhos sobre os
tornados no Brasil (Lima, 1982).

Fig. 8.8 Primeiro tornado registrado no Brasil (reprodução)


Fonte: Meteobrasil.
Para mais informações sobre tornados no Brasil, consulte os trabalhos de Dyer (1986, 1988, 1994);
Silva Dias e Grammelsbacher (1991); Massambani, Carvalho e Vazquez (1992); Antônio (1997);
Cunha (1997); Nechet (2002); Marcelino, Ferreira e Conforte (2003) e Marcelino (2003).
9 – COMO SÃO FORMADOS OS DESERTOS?

Clima quente e seco, solo formado basicamente de areia, e precipitação anual muito baixa. Essas
condições ambientais permitem classificar uma região como desértica. Muitos dos desertos que
conhecemos hoje mantêm essas características, pois se localizam próximo às latitudes de 30° norte e
sul, em áreas de altas pressões atmosféricas conhecidas como altas subtropicais.

Como visto no Cap. 7, nas regiões de alta pressão atmosférica, chamadas de regiões anticiclônicas, o ar
realiza um movimento subsidente. Este, por sua vez, é contrário ao desenvolvimento de nuvens ou à
produção de chuva. Assim, não é nenhuma surpresa que essas regiões anticiclônicas coincidam com a
localização da maioria dos desertos mais importantes do mundo. Para compreender melhor essa
questão, será necessário uma breve explicação a respeito da movimentação da atmosfera.

9.1 A circulação atmosférica global


Como você já sabe, a atmosfera terrestre está em constante movimentação. Esta, por sua vez, origina o
que conhecemos como padrão global de circulação atmosférica, a qual envolve condições
semipermanentes, tanto de pressão atmosférica como de ventos.

Segundo Lynch (2002), um dos primeiros estudos relativos à circulação atmosférica global é atribuído
a Edmund Halley. Sim, aquele mesmo astrônomo inglês que previu a passagem de um cometa no ano
de 1758, o cometa de Halley. O cientista, na década de 1680, elaborou o primeiro mapa
verdadeiramente meteorológico do mundo. Esse mapa constituía-se de uma simples representação
gráfica de ventos oriundos do leste e por ele observados durante uma viagem às Índias. É, na verdade,
um gráfico dos oceanos Índico e Atlântico nas latitudes tropicais, e foi elaborado para mapear os ventos
de leste e as monções (ventos que ocorrem na Ásia e na África e mudam de direção com as estações,
soprando ar úmido do oceano para o continente no verão, e ar seco do continente para o oceano no
inverno), os quais, naquele momento, tinham grande importância para o comércio.

Além do mapa, Halley publicou um artigo, em 1686, no qual descreveu os ventos de leste da seguinte
forma: ele sugeriu que o fluxo desses ventos era criado pelo intenso aquecimento solar no equador.
Halley sabia que o ar quente é leve e sobe, e que isso gera uma área de baixa pressão atmosférica (B).
Para substituir esse ar quente que se elevou, uma porção de ar frio toma o lugar deixado pelo ar quente.
Em escala global, o ar quente seria gerado no equador e o ar frio, nos polos. Haveria, então, um
contínuo ciclo de transferência de calor entre essas duas regiões, como uma grande célula de convecção
térmica, que gera grandes ventos – os ventos alísios –, uma vez que o ar se movimenta das zonas de
altas pressões (polos) para as de baixas pressões (equador).

Halley raciocinou da seguinte forma: levando-se em consideração que a temperatura do ar decrescia em


direção aos polos, seria gerada uma grande zona de pressão baixa (B) no equador e uma grande zona de
pressão alta (A) nos polos. A circulação direta entre equador e polos ocorreria para equilibrar a energia
entre as baixas e as altas latitudes. Contudo, Halley não conseguiu explicar por que os ventos sempre
sopravam do leste em direção ao oeste, como ele mesmo cartografou. O modelo por ele proposto está
esquematicamente mostrado na Fig. 9.1.

O padrão simplificado proposto por Halley só poderia ocorrer se a Terra não girasse em torno de seu
próprio eixo e fosse homogênea em termos de superfície. Porém, sabemos que a Terra não apenas gira
de oeste para leste, como também possui diversos tipos de superfícies.
No ano de 1735, o inglês George Hadley melhorou o modelo de Halley e obteve a resposta para o fato
de os ventos sempre soprarem do leste: a rotação da Terra. Todavia, ainda acreditava que o ar equatorial
mais aquecido subiria e se deslocaria para os polos, onde desceria, se espalharia na superfície e
retornaria ao equador. A circulação, dessa forma, seria direta e apresentaria duas células de convecção
(da mesma forma que Halley apresentou), uma em cada hemisfério.

Fig. 9.1 Padrão de circulação segundo o modelo de Halley de 1686. Circulação térmica com ar quente subindo
na zona de máximo aquecimento em latitudes baixas, produzindo um vento direcionado ao equador, tanto no
hemisfério Norte quanto no hemisfério Sul

Em seu modelo de circulação geral, Hadley sugeriu que, pelo fato de a superfície da Terra girar com
maior velocidade onde sua circunferência é maior, ou seja, no equador, o ar vindo dos polos teria
menor velocidade de rotação e ficaria atrasado em relação ao movimento da Terra à medida que se
aproximasse do equador, parecendo estar chegando a partir da direção leste. Assim, os ventos vindos
dos polos em direção ao equador seriam desviados, originando os ventos alísios de nordeste e de
sudeste. Sabemos, hoje, que o fenômeno que promove um desvio no deslocamento dos ventos é
conhecido como efeito de Coriolis, que só foi descrito matematicamente, como já vimos, 100 anos
depois, em 1835. A Fig. 9.2 mostra o modelo de circulação proposto por Hadley.

O sistema de circulação direta proposto por Hadley ainda é válido com relação às latitudes tropicais,
sendo hoje conhecido como células de Hadley (Fig. 9.3).

Um fato interessante a ser observado é que Hadley, em 1735, não apresentou um novo modelo
conceitual de circulação geral da atmosfera, que levasse em conta a distribuição da pressão segundo
mostra a Fig. 9.4, mas sim aperfeiçoou aquele proposto por Halley, em 1686, quando incorporou os
efeitos da rotação da Terra para explicar a direção dos ventos de leste. Contudo, Halley ainda admitia
que a circulação fosse direta entre equador e polos.

Fig. 9.2 Esquema vertical das células de Hadley. Localizam-se entre o equador e os trópicos, em ambos
os hemisférios. O ar sobe no equador, realiza um movimento subsidente a cerca de 30° norte e sul, e
retorna ao equador, completando a célula
Fig. 9.3 Esquema de circulação de Hadley na superfície. Se não houvesse rotação, o vento sairia da alta pressão
(30°) para a baixa pressão (equador). A força de Coriolis desvia o vento para a direita no hemisfério Norte
(alísios de NE) e para a esquerda no hemisfério Sul (alísios de SE)

Os modelos de Halley, de 1686, e de Hadley, de 1735, simplesmente assumiram que o ar quente sobe
sobre o equador e o ar frio desce sobre os polos. No século XIX, novas observações relacionadas à
distribuição da pressão atmosférica sobre a superfície contradisseram essas ideias. Essas novas
observações levaram à definição do seguinte esquema: supondo que a superfície da Terra fosse
uniforme (ou homogênea), existiriam faixas zonais de alta (A) e baixa (B) pressão atmosférica,
conforme mostra a Fig. 9.4. Essas faixas zonais constituem as grandes zonas planetárias de pressão
atmosférica, e são assim distribuídas:

Há zonas de baixa pressão em torno do equador (baixa equatorial) e das latitudes de 60°, ao norte e ao
sul (baixas subpolares). A zona de baixa pressão em torno do equador é essencialmente de origem
térmica, isto é, causada pelo aquecimento do ar em função da incidência solar. As zonas de baixa
pressão em torno dos 60°, norte e sul, têm origem dinâmica. Elas são causadas pela rotação da Terra,
que força o ar a elevar-se, e pelo deslocamento de massas de ar polar em direção às latitudes mais
baixas, que originam os sistemas frontais e os ciclones extratropicais ou baixas pressões transientes.

As zonas de alta pressão ocorrem em torno dos polos (altas polares) e das latitudes de 30°, ao norte e ao
sul (altas subtropicais). A pressão é alta a 90°, norte e sul, em razão da presença do ar extremamente
frio que predomina nessas áreas. As altas pressões das latitudes de 30° ocorrem porque o ar quente que
sai do equador em direção aos polos em altitude se resfria e, nessa latitude, realiza um movimento de
descida, comprimindo-se adiabaticamente contra a superfície, gerando inversão térmica e alta pressão
na superfície.

Veremos mais adiante que essa distribuição de faixas zonais é modificada, pois a Terra não é
homogênea. Observe que o modelo unicelular de circulação em cada hemisfério não se encaixa com a
distribuição das zonas planetárias de pressão mostradas na Fig. 9.4. Para haver uma adequação, seria
necessária a elaboração de um modelo de circulação de três células em cada hemisfério.
Fig. 9.4 Distribuição idealizada das zonas de pressão atmosférica planetárias

Foi William Ferrel que, em 1856, propôs esse novo modelo conceitual para a circulação geral da
atmosfera (Fig. 9.5), baseando-se nas observações descritas anteriormente. Sua proposta, definida como
o primeiro modelo tricelular, foi considerada razoavelmente completa para os maiores sistemas de
ventos observados. Ferrel acreditava que os modelos propostos por Halley e Hadley não estavam
completos, pois na faixa latitudinal entre 30° e 60°, norte e sul (latitudes médias), os ventos não eram
de leste, como se esperava que fossem, segundo os modelos anteriores, mas tinham origem no oeste e
se deslocavam para leste. Outro fato que despertou a investigação de Ferrel foi o relato dos navegantes
a respeito de uma região de calmaria localizada a aproximadamente 30° de latitude norte, que ficou
conhecida como “latitude dos cavalos”.

Segundo Wallace e Hobbs (2006), no início da era das grandes navegações, os navios europeus
enfrentavam muitas calmarias, típicas dos intensos centros de alta pressão da latitude de 30°N. Assim,
com a viagem demorada, a tripulação tinha que decidir, quando a comida acabava, entre comer os
cavalos ou jogá-los no mar para que a embarcação ficasse mais leve e mais rápida. É por isso que essa
região passou a ser chamada de “latitude dos cavalos”.

Os fatos descritos anteriormente sugeririam que a circulação da atmosfera não era realizada por meio
de uma única célula direta de circulação, e sim que existiriam três células de circulação meridional em
cada hemisfério para a tarefa de manter o balanço de calor na Terra – o que, na verdade, melhor se
adequava ao padrão de distribuição das zonas planetárias de pressão atmosférica mostrado na Fig. 9.4.
Assim, no modelo de Ferrel haveria uma célula direta localizada na faixa tropical com ramo ascendente
próximo ao equador e ramo descendente próximo a 30° de latitude norte e sul: a célula de Hadley.
Outra, indireta, que foi chamada de célula de Ferrel, localizada na faixa de latitudes médias com ramo
ascendente próximo aos 60° de latitude e descendente nos 30°; e a célula polar, localizada na região
polar (Fig. 9.5).

Fig. 9.5 Circulação global idealizada no modelo de circulação de três células de Ferrel, 1856

Em resposta aos padrões de distribuição planetária de pressão atmosférica, as seis células de circulação
(três em cada hemisfério) originam seis sistemas de ventos planetários (três em cada hemisfério),
mostrados na Fig. 9.6. As células de Hadley originam os ventos predominantes de leste, conhecidos
como ventos alísios. As células de Ferrel, por sua vez, originam os ventos de oeste e as células polares,
os ventos polares, que também são de leste (Ayoade, 1986).
Fig. 9.6 Circulação global no modelo de três células e seus ventos associados
Fonte: adaptado de Lutgens e Tarbuck (1995).

O padrão de circulação apresentado na Fig. 9.6 pode ser descrito da seguinte forma: na zona entre o
equador e 30° de latitude norte e sul, aproximadamente, a circulação se dirige para o equador na
superfície e para os polos em nível superior, formando a célula de Hadley. O ar quente ascendente no
equador, que libera calor latente na formação de nuvens, fornece a energia para alimentar essa célula.

Quando a circulação em alto nível se dirige para os polos, ela começa a descer em uma zona entre 20° e
35° de latitude norte e sul. O ar subsidente é relativamente seco, pois, ao subir, perde a umidade nas
proximidades do equador. Além disso, o aquecimento adiabático durante a descida reduz ainda mais a
umidade relativa do ar. Consequentemente, essa zona de subsidência é a zona em que se situam os
desertos tropicais. Os ventos geralmente são fracos e variáveis próximo dessas zonas de subsidência,
que configuram zonas de alta pressão subtropicais, no hemisfério Norte e no hemisfério Sul. Do centro
dessas zonas de alta pressão (A), a corrente na superfície se divide em um ramo que segue em direção
aos polos (ventos de oeste) e outro ramo que segue para o equador. Esses ventos são desviados pela
força de Coriolis. No caso do vento em direção ao equador, o desvio promove um componente para
oeste, formando os ventos alísios.

No hemisfério Norte, os alísios vêm de nordeste e no hemisfério Sul, de sudeste. Eles se encontram
próximo ao equador, em uma região de fraco gradiente de pressão atmosférica (G), que constitui a zona
de baixa pressão equatorial. Essa região é conhecida como Zona de Convergência Intertropical, ou seja,
uma zona para a qual convergem os ventos alísios e que fica localizada na região entre os trópicos de
Câncer e Capricórnio, a respeito da qual trataremos mais à frente.
De volta ao modelo de Ferrel, observe que a célula indireta (chamada de célula de Ferrel) possui
sentido oposto ao da célula de Hadley. A corrente na superfície se dirige para os polos e, por causa da
força de Coriolis, os ventos sofrem um desvio, formando os ventos de oeste em latitudes médias, que
são mais variáveis que os ventos alísios. Nessa região, ocorre o encontro dos ventos de oeste (latitudes
médias) com os ventos polares (latitudes altas). A região na qual essas duas correntes de ventos se
encontram é uma região de descontinuidade, ou seja, de separação entre o ar mais frio dos polos e o ar
mais aquecido das latitudes médias. Ela também é conhecida como região de formação de frentes
polares.

Fig. 9.7 Modelo de circulação atmosférica de Rossby, 1941

O modelo apresentado por Ferrel foi aperfeiçoado por outros cientistas, um dos quais foi Carl-Gustav
Rossby. Em 1941, ele propôs um modelo de circulação tricelular, explicando a circulação geral por
meio de combinações e ajustes de forças, mas admitindo que a pressão à superfície do globo se
distribui de forma zonal, com faixas alternadas de baixas e altas pressões atmosféricas,
aproximadamente simétricas em relação ao equador térmico. A novidade desse modelo foi a
incorporação da frente polar, a contínua separação entre o ar polar e o ar originário das áreas
subtropicais de alta pressão (Fig. 9.7). Rossby propôs a eliminação da célula de Ferrel e sua
substituição por movimentos ondulatórios de oeste que seriam constituídos do encontro de massas de ar
de origem polar e de origem tropical, formando sistemas frontais. Esse movimento de oeste foi
chamado de “ondas de Rossby”.

Em 1951, Erick Palmén, baseando-se na ideia de que as trocas de calor ocorrem em etapas, alterou o
modelo tricelular. Segundo Leroux (2010), ele considerou que a zona polar é uma zona de mistura
horizontal e modificou a célula de Ferrel ao incorporar a atuação das correntes de jato polar e
subtropical (fortes ventos que sopram de oeste para leste a velocidades elevadas, entre 8 km e 15 km de
altitude, nos limites entre as células de circulação, nos dois hemisférios). Dessa forma, as células de
circulação estariam conectadas. A Fig. 9.8 mostra o esquema desse modelo.

Fig. 9.8 Modelo de circulação de Palmén, 1951, que mostra a circulação meridional média no inverno do
hemisfério Norte

O modelo descrito de três células é útil, porém muito simplificado, pois descreve apenas a circulação
atmosférica simétrica em relação ao eixo de rotação e independente da longitude, e não é muito mais
satisfatório para explicar os aspectos básicos da circulação em latitudes médias. Contudo, serve para
descrever as características principais da circulação atmosférica de grande escala. Na verdade, os
ventos não são estacionários, e as regiões de altas (A) e baixas (B) pressões atmosféricas não são
contínuas, implicando variações importantes da circulação atmosférica com a longitude. Entre 30° e
60° de latitude, em ambos os hemisférios, os movimentos das altas e baixas pressões alternadas são
para oeste e fazem com que estas sejam estruturas itinerantes ou transientes. Eles constituem ciclones e
anticiclones extratropicais ou ondas de Rossby.
Mais informações a respeito da evolução dos modelos conceituais de circulação geral da atmosfera
podem ser encontradas em Leroux (2010).

A superfície da Terra não é homogênea, e sim basicamente composta de terra e água. Por isso, no
hemisfério Norte, onde há uma proporção maior de terra, a distribuição zonal é substituída por células
semipermanentes de alta (A) e baixa (B) pressão atmosférica. Essa distribuição é, ainda, influenciada
pelas variações sazonais de temperatura do ar, que servem para fortalecer ou enfraquecer as células de
pressão. Como consequência, a configuração dos campos de pressão atmosférica sobre a Terra varia do
verão para o inverno, como se vê na Fig. 9.9.

Durante o inverno, as temperaturas são menores sobre os continentes. Em consequência, os centros de


alta pressão (A) tendem a migrar para os continentes. No verão, as temperaturas são maiores sobre os
continentes e os centros de alta pressão (A) localizam-se, preferencialmente, sobre os oceanos. Além
disso, no mês de julho, todos os sistemas de alta pressão (A) ficam mais intensos, tanto no hemisfério
Norte como no hemisfério Sul. A grande variação, porém, está na Ásia, onde a alta pressão (A) no
inverno (janeiro) é substituída por uma baixa pressão (B) no verão (variação de 30 mb), em razão do
aquecimento continental.

De acordo com Vianello e Alves (1991), a migração sazonal dos centros de pressão é bem visível sobre
o Brasil. No verão predomina um centro de baixa pressão (B) sobre o continente, com ar tropical
quente ascendente, o que produz muita nebulosidade e chuva, caracterizando a estação chuvosa. No
inverno, um centro de alta pressão (A), o Anticiclone do Semipermanente do Atlântico Sul, desloca-se
para o continente, o que configura a estação seca.

De acordo com Philander et al. (1996), a distribuição global dos continentes também influencia os
sistemas de ventos planetários nos trópicos, razão pela qual os ventos alísios não predominam em todas
as regiões tropicais. Isso ocorre por causa da presença dos continentes, principalmente no oceano
Índico. Nessa região, existe uma grande quantidade de terra que envolve o oceano, fazendo com que as
monções que cruzam o equador terrestre (até 40° de latitude norte) predominem sobre os alísios. Na
região dos oceanos Atlântico e Pacífico, onde os continentes têm menor influência, são os ventos
alísios que predominam.
Fig. 9.9 Pressão atmosférica média e ventos médios ao nível do mar, em janeiro e julho (isóbaras em milibars). A
linha contínua representa a localização da Zona de Convergência Intertropical

Fonte: adaptado de Vianello e Alves (1991).

As monções são uma circulação assimétrica que resulta do aquecimento do continente asiático pelo Sol
durante o verão do hemisfério Norte (julho-agosto). Esse aquecimento força movimentos convectivos
sobre o continente e cria uma região de baixa pressão (B). O ar marinho vindo do oceano Índico traz
umidade, que é convertida em chuva. As monções são o principal mecanismo produtor de chuva na
Ásia e se assemelham a uma grande brisa de mar e terra, que responde ao ciclo anual, e não diário.
Durante o verão, sopram do mar para o continente e, durante o inverno, do continente para o oceano.

Os principais campos de pressão atmosférica (baixa pressão = centros ciclonais e alta pressão = centros
anticiclonais) são conhecidos como centros produtores de tempo, ou seja, as áreas que exercem o
controle climático da Terra. Ocorre que, segundo Mendonça e Danni-Oliveira (2007), a distribuição
desses centros produtores de tempo sobre o globo não se apresenta de maneira tão uniforme e regular
como indica a Fig. 9.9. O dinamismo da circulação da atmosfera inclui outras variáveis. Sendo assim, o
esquema apresentado possui apenas uma função didática.

As principais zonas anticiclonais existentes na Terra são cinco, das quais três estão localizadas no
hemisfério Sul e duas no hemisfério Norte (Mendonça; Danni-Oliveira, 2007). São elas:

Para o hemisfério Sul:

*Anticiclone Semipermanente do Atlântico Sul, localizado sobre o oceano Atlântico;

*Anticiclone Semipermanente do Pacífico Sul, localizado sobre o oceano Pacífico; e

*Anticiclone de Mascarenhas, localizado sobre o oceano Índico.

Para o hemisfério Norte:

*Anticiclone dos Açores, localizado sobre o oceano Atlântico; e

*Anticiclone da Califórnia, localizado sobre o oceano Pacífico.

Também existem três zonas ciclonais principais, ou seja, de baixa pressão atmosférica, que, junto com
as zonas anticiclonais e os outros sistemas meteorológicos, controlam os climas da Terra. Vale lembrar,
porém, que outras células de baixa pressão de gênese sazonal podem também se formar sobre os
continentes. As três grandes zonas de baixa pressão são:

*Zona equatorial, onde é formada a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT);

*Zona dos 50°/60° de latitude sul – baixa pressão ou depressão do mar Weddel, localizada sobre o
oceano Atlântico;

*Zona dos 50°/60° de latitude norte – depressão da Islândia, localizada sobre o oceano Atlântico, e
depressão das Aleutas, localizada no oceano Pacífico.

Esses e outros sistemas de circulação são acompanhados por padrões e tipos característicos de tempo, e
causam as variações diárias e semanais no tempo atmosférico.
Fig 9.10 Seção transversal esquemática que mostra as principais zonas de convergência horizontal e ascendência,
e de divergência e subsidência, associadas às características sazonais de precipitação
Fonte: adaptado de McKnight e Hess (2002).

Observe que, na circulação atmosférica global, existe o que chamamos de zonas de convergência e de
divergência. Essas zonas, assim como os centros produtores de tempo, são sistemas meteorológicos que
têm forte influência sobre o tempo e o clima na Terra. A Fig. 9.10 apresenta uma seção transversal
esquemática, do polo norte ao polo sul, com as principais zonas de convergência horizontal e
ascendência, e de divergência e subsidência, juntamente com as características sazonais de
precipitação.
Fig. 9.11 Representação esquemática da Zona de Convergência Intertropical

O encontro dos ventos alísios de nordeste com os de sudeste, na região equatorial, forma o que
conhecemos como Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). Trata-se de um dos mais importantes
sistemas meteorológicos que atua nos trópicos. Pode ser definida como uma grande faixa de baixa
pressão atmosférica onde ocorre a ascendência do ar quente que, por sua vez, gera nuvens e chuva.
Essa faixa de nebulosidade corresponde ao equador térmico do globo terrestre (Fig. 9.11).

A ZCIT transfere calor e umidade dos níveis inferiores da atmosfera das regiões tropicais para os níveis
superiores da troposfera, e daí para as médias e altas latitudes. Ela é decisiva na caracterização das
diferentes condições de tempo e clima nas áreas da região tropical, com enorme influência na chuva
dos trópicos. Essa zona de convergência apresenta um deslocamento norte–sul de acordo com a época
do ano e geralmente corresponde à isoterma de máxima temperatura do ar do globo. Isso faz com que
ela seja considerada como sendo o equador meteorológico.

O deslocamento da ZCIT entre os hemisférios segue a marcha sazonal do Sol. Quando o Sol está no
hemisfério Sul, a ZCIT se localiza nesse hemisfério; quando o Sol se desloca para o hemisfério Norte, a
ZCIT o acompanha. Segundo Ferreira (2006), o movimento norte-sul é maior entre a Ásia e a Austrália,
onde pode variar de 20°S a 30°N. Na parte central e leste do oceano Pacífico, o movimento é limitado,
ficando a ZCIT próxima do equador. No oceano Atlântico, ela fica localizada ao norte do equador, com
sua posição média em torno de 5°N, pois o verão é mais intenso nesse hemisfério. Contudo, sua
posição pode ficar ao sul do equador, com localização média em torno de 2°S. A Fig. 9.12 mostra o
deslocamento médio da ZCIT.
Fig. 9.12 Deslocamento médio norte-sul da ZCIT representado pela linha vermelha

De acordo com a região em que a ZCIT se encontra, são observadas certas diferenças em seu padrão.
Sobre o Atlântico intertropical, a faixa de nuvens usualmente se encontra bem organizada, de forma
mais ou menos contínua. Sobre o Pacífico, porém, isso não costuma ocorrer, em parte por causa da
maior extensão da faixa na direção leste-oeste. Sobre os continentes, o posicionamento da ZCIT não
costuma se delinear tão claramente como sobre os oceanos, em razão da influência da turbulência
gerada pelos movimentos convectivos, e em razão dos efeitos orográficos.

Segundo Uvo e Nobre (1989), o principal fator gerador de chuva na parte norte da Região Nordeste do
Brasil é a proximidade da ZCIT. Por isso, destacam a importância de identificar o período de tempo em
que a ZCIT fica posicionada mais ao sul de sua posição normal. De fato, observações revelam que o
pico de chuva sobre o norte da Região Nordeste ocorre exatamente na época em que a ZCIT atinge suas
posições mais ao sul, nos meses de março e abril.

Na região próxima aos 60° de latitude norte e sul, ocorre o encontro dos ventos de oeste (latitudes
médias) com os ventos polares (latitudes altas). Esse encontro origina uma zona conhecida como frente
polar. Não é propriamente uma zona de convergência como a ZCIT, que é resultante do aquecimento
solar. Nessas latitudes, a convecção, formação de nuvens e tempestades, é resultante da diferença de
densidade entre as massas de ar polar (frio e denso) e as massas de ar tropical, produzindo movimentos
ascendentes e baixa pressão (B) na superfície que, por sua vez, gera a convergência.

Outra zona de convergência que exerce influência no clima e no tempo é a Zona de Convergência do
Atlântico Sul (ZCAS). Os mecanismos de sua formação, porém, são diferentes daqueles da ZCIT e da
frente polar.

Segundo Sanches (2002), a ZCAS é um fenômeno típico de verão na América do Sul. Sua principal
característica é a persistência de uma faixa de nebulosidade orientada no sentido noroeste-sudeste, cuja
área de atuação engloba o centro-sul da Amazônia, regiões Centro-Oeste e Sudeste, centro-sul da
Bahia, norte do Paraná e prolonga-se até o oceano Atlântico. Por causa da sua persistência de alguns
dias, a ZCAS exerce um papel preponderante no regime das chuvas na região atuante, acarretando altos
índices pluviométricos. É por isso que a ZCAS (Fig. 9.13) é considerada uma das principais causas da
estação chuvosa no centro-sul do Brasil, desempenhando um importante papel na ocorrência de
enchentes.

Fig. 9.13 Imagem obtida pelo satélite GOES-12 (canal IR), na qual se pode observar a localização da ZCAS no
dia 22/1/2004
Fonte: Diniz (2004).

Os mecanismos que originam e mantêm a ZCAS ainda não estão totalmente definidos. Contudo,
Liebmann et al. (2004) destacam a importância da convecção tropical tanto na origem como na
manutenção da ZCAS, por meio da liberação de calor latente na região amazônica. Para Molion (2011),
a ZCAS deve ser chamada de Zona de Convergência da América do Sul, pois o continente sul-
americano, e não o Atlântico, é responsável por sua existência. Dois mecanismos atuam conjuntamente
para a sua formação, um termodinâmico (aquecimento continental) e outro dinâmico (deslocamento de
frente polar).

Durante o verão do hemisfério Sul (dezembro-janeiro), a América do Sul é fortemente aquecida pelo
Sol. Forma-se uma região de movimentos ascendentes em toda a troposfera, com divergência de ar
próxima à tropopausa, que foi denominada Alta da Bolívia (AB). Uma vez que a AB se estabelece,
ocorre convergência de ar úmido nos níveis inferiores, próximo à superfície. Um sistema frontal, ou
frente fria, ao se deslocar em direção ao equador, fica ancorado pela AB, formando uma faixa de
precipitação contínua durante vários dias, orientada do NW da Amazônia para o SE do Brasil (Rio de
Janeiro/São Paulo).

Outras zonas de convergência, de acordo com Quadro (1994), são encontradas no Pacífico Sul (Zona de
Convergência do Pacífico Sul – ZCPS) e no Índico Sul (Zona de Convergência do Índico Sul – ZCIS),
sendo que esta última não é tão marcante quanto a ZCAS e a ZCPS. As principais características
comuns entre todas elas são: (a) estendem-se para leste, nas regiões subtropicais, a partir das partes
tropicais específicas de grande atividade convectiva; (b) estão localizadas na fronteira de massas de ar
tropical úmida, em regiões de muita umidade, com geração de instabilidade convectiva.

9.2 Célula de Walker


Até agora, você aprendeu que a circulação atmosférica latitudinal, constituída pelas células
termicamente induzidas (Hadley, Ferrel e Polar) são importantes para a determinação dos padrões
climáticos da Terra. Entretanto, existe uma circulação direta, conhecida como zonal, também
termicamente induzida, disposta ao longo do equador, que se origina do gradiente longitudinal de
temperatura do ar à superfície e que é importante, principalmente, para o clima da região tropical. Ela
ocorre em vários pontos dos oceanos tropicais, mas a região de maior importância para o entendimento
do clima dos trópicos e a sua variabilidade é a definida no oceano Pacífico tropical.

Assim como a circulação da célula de Hadley, a circulação zonal na região tropical transporta energia
das regiões de movimento ascendente, ou seja, baixas pressões (B), para regiões onde há subsidência
do ar, isto é, altas pressões (A). A Fig. 9.14 mostra uma representação esquemática dessa circulação.

Essa diferença de pressão atmosférica que provoca a circulação zonal é atribuída, basicamente, ao
aquecimento diferencial que se verifica entre os continentes e oceanos na região tropical.

Fig. 9.14 Representação esquemática da circulação de Walker. Observar a ascendência nas regiões de
baixa pressão (B) e a subsidência nas regiões de alta pressão (A) atmosférica

Segundo Silva (2000), foi no ano de 1924 que o inglês Gilbert Walker identificou uma grande variação
de pressão atmosférica entre as massas de ar localizadas nas faixas tropicais e subtropicais dos oceanos
Índico e Pacífico. Essa variação indicava que, sempre que um sistema de baixa pressão (centro ciclonal
associado a convecção e chuva) estivesse atuando na região de Darwin, na Austrália, um sistema de alta
pressão (centro anticiclonal associado a subsidência) era detectado na costa do Peru. Esta pode ser
considerada a situação normal da circulação zonal.

Walker observou que, de tempos em tempos, esses sistemas de pressão atmosférica se invertiam entre
as costas da Austrália e do Peru, e que cada vez que a inversão ocorria, significativas mudanças de
tempo eram identificadas em ambas as regiões. Walker chamou essas variações de Oscilação Sul, pois
os dois centros principais, Indonésia/norte da Austrália e costa oeste da América do Sul, estão no
hemisfério Sul.
A intensidade da circulação da célula de Walker é medida pela diferença de pressão ao nível do mar
(PNM) entre o Taiti, no Pacífico Centro-Leste, e Darwin, no norte da Austrália, e foi denominada
Índice de Oscilação Sul (IOS). Se a PNM for mais baixa que a média em Taiti, ou seja, desvio negativo,
ela será mais alta em Darwin, ou seja, desvio positivo. Nesse caso, o IOS é negativo. No caso contrário,
desvio positivo de PNM no Taiti e negativo em Darwin, o IOS será positivo.

Lembre-se de que a configuração dessa célula de circulação não é única e contínua, mas apresenta
movimentos de ar ascendentes (ramos ascendentes) nas regiões de pressão baixa (B), ou seja, nos
centros ciclonais sobre os continentes, e movimentos de ar subsidentes (ramos descendentes) nas
regiões de pressão alta (A), ou seja, nos centros anticiclonais sobre os oceanos (Fig. 9.14).

No caso da costa do Peru (Pacífico Oriental), a célula de Walker apresenta um ramo descendente. A alta
PNM origina-se do ar frio que ali reina influenciado pelas águas frias da corrente de Humboldt, que
provém de camadas mais profundas do mar pela ressurgência marinha. A ressurgência marinha é um
fenômeno oceanográfico caracterizado pelo afloramento de águas profundas, frias e ricas em nutrientes,
em regiões localizadas na costa ocidental dos continentes.

Nas proximidades da Austrália, essa célula apresenta um ramo ascendente que produz grandes massas
de nebulosidade e chuvas. A Fig. 9.15 mostra a representação da situação normal da célula de Walker.

Fig. 9.15 Condições normais da célula de Walker

Com a variação da atuação da corrente fria de Humboldt, os campos de pressão representados na Fig.
9.15 se invertem. Quando o IOS se torna negativo, significa que a PNM diminui na costa do Peru,
associada à interrupção da ressurgência marinha e ao consequente aquecimento das águas. A esse
episódio de desvios positivos de temperatura da superfície do mar (TSM) no Pacífico Oriental, que, em
geral, coincide com IOS negativo, foi dado o nome de El Niño. Como a PNM diminuiu, o gradiente
horizontal de PNM em todo o Pacífico diminui e os ventos alísios se enfraquecem ou até mesmo
invertem de sentido, como representado esquematicamente na Fig. 9.16. O nome El Niño foi atribuído
ao fenômeno pelo fato de seu início normalmente ocorrer nos dias próximos à comemoração do
nascimento do menino Jesus (25 de dezembro), que é chamado El Niño na língua espanhola.

Fig. 9.16 Condições de El Niño

Quando o IOS se torna positivo, significa que a PNM aumenta na costa do Peru, em decorrência do
resfriamento demasiado das águas do Pacífico, e, por conseguinte, diminui na Austrália. Isso aumenta o
gradiente horizontal de PNM em todo o Pacífico e fortalece os alísios, que, por sua vez, intensificam a
ressurgência ou o afloramento de águas frias. O Pacífico Oriental fica dominado por águas mais frias
que o normal, e a esse fenômeno é dado o nome de La Niña. A Fig. 9.17 mostra uma representação
esquemática dessa situação.
Fig. 9.17 Condições de La Niña

Essa condição dinâmica da atmosfera apresenta uma periodicidade e uma duração que dependem do
grau de intensidade dos eventos, que pode ser fraco, moderado ou forte.

Segundo Silva (2000), o fenômeno La Niña é conhecido pelo menos desde os anos 1500, quando o
conquistador espanhol Pizzarro esteve na região combatendo os incas, e também é bem descrito na
atualidade. Contudo, sua origem ainda é controversa. Mendonça e Danni-Oliveira (2007) apresentam as
quatro origens possíveis do fenômeno, cada qual com sua especificidade, desde a teoria oceanográfica,
passando pelas teorias meteorológica e geológica, até a astronômica, e acreditam que todas as teorias
sejam válidas.

Em resumo, IOS negativo (fenômeno atmosférico) está associado, em geral, ao El Niño (fenômeno
oceânico), e IOS positivo, à La Niña (águas mais frias).
10 – O QUE SÃO AS RESSACAS NAS PRAIAS E QUAIS FATORES AS
ORIGINAM?

A chegada de uma frente fria pode provocar ventos muito fortes, os quais, em mar aberto, transportam
ou empurram enormes quantidades de água em direção ao litoral. Impulsionada pelas correntes
marinhas, a massa de água desloca-se com velocidade crescente até encontrar o litoral. Ventos de até 50
km/h, por exemplo, fazem o mar subir, criando ondas de até 4 m. Essas ondas podem devastar a orla
litorânea, alagando e arrancando o asfalto de ruas e avenidas, danificando casas, arrastando pessoas e
transportando toneladas de areia. Essa é a descrição do fenômeno conhecido como ressaca. Por que ela
ocorre? Para responder a essa pergunta, é necessário, primeiro, estudar um pouco da dinâmica das
massas de ar.

Como foi mencionado no Cap. 9, a circulação atmosférica tem sua origem na diferença de temperatura
do ar e de pressão atmosférica entre dois pontos da superfície, ou nos chamados centros produtores de
tempo, conhecidos ainda por zonas anticiclonais e ciclonais. É nas zonas de alta pressão atmosférica
(pressão ao nível do mar – PNM) que as grandes massas de ar têm origem.

10.1 As massas de ar
As massas de ar são sistemas atmosféricos de grande importância para explicar o comportamento do
tempo. Segundo Mendonça e Danni-Oliveira (2007), o conceito de massa de ar é, em geral, impreciso,
por causa da dificuldade de se imaginar a atmosfera dividida em diferentes partes. Porém, em razão da
necessidade de trabalhar esse conceito de uma forma mais didática, assumimos que uma massa de ar é
uma grande porção unitária de ar atmosférico que permaneceu em repouso sobre uma determinada
região continental ou marítima, adquirindo características termodinâmicas próprias de temperatura
(quente ou fria), umidade (úmida ou seca) e pressão atmosférica.

Para que uma massa de ar seja formada, o ar deve permanecer estacionário durante certo tempo sobre
as superfícies homogêneas da Terra, que são as regiões polares recobertas de gelo, as grandes áreas
marinhas quentes ou frias, as regiões de deserto, as regiões de floresta tropical etc. Sobre elas, há a
formação dos grandes centros de PNM alta e baixa associados às massas de ar e influenciados pelas
características da superfície.

A formação de uma massa de ar ocorre nos grandes centros de alta pressão atmosférica (A), ou seja, nas
zonas anticiclonais, tanto nas regiões polares como nas regiões subtropicais do Planeta. Estas são as
principais áreas-fonte de massas de ar e nelas, como já vimos, o tempo é frequentemente estável, sem
chuvas.

Os centros de baixa PNM (B), ou as zonas ciclonais, comuns nas regiões equatoriais e subpolares nos
dois hemisférios, são zonas de atração das massas de ar, e estão sujeitas à formação de frentes, assunto
que veremos mais adiante. Assim, podemos resumir o deslocamento das massas de ar da seguinte
forma: as massas de ar são formadas nos centros de alta PNM (A) e são atraídas pelos centros de baixa
PNM (B).

As principais características termodinâmicas de uma massa de ar são a sua temperatura e a sua


umidade. A posição geográfica de uma massa de ar define sua condição térmica. Dessa forma, as
massas originadas na região equatorial são bem quentes, nas baixas latitudes são quentes, nas médias
latitudes são frias e nas altas latitudes são polares. O teor de umidade de uma massa de ar depende da
natureza da superfície na qual ela se origina, ou seja, uma massa de ar será úmida quando se formar
sobre os oceanos e seca quando se formar sobre o continente. Porém, as características das massas de ar
se modificam lentamente durante os seus deslocamentos.

O ar frio que invade o extremo sul da América do Sul, por exemplo, é oriundo da massa polar marítima
(mP). Essa massa vai se modificando ao longo do seu trajeto. Em seu deslocamento, passa por uma
extensa superfície oceânica, onde adquire bastante umidade. Quando chega à América do Sul, vai
deixando a umidade por onde passa e alcança o Brasil com características secas.

Há quatro tipos básicos de massas de ar, resultantes da combinação entre a temperatura e a umidade do
ar:

*quente e úmida – é formada nas baixas latitudes (zona equatorial-tropical), sobre os oceanos;

*quente e seca – é formada nas baixas latitudes (zona equatorial-tropical), sobre os continentes;

*fria e úmida – é formada nas latitudes médias (zona temperada), sobre os oceanos;

*fria e seca – é formada sobre os continentes nas latitudes médias (zona temperada) e nas altas latitudes
(zona polar).

Embora as massas classificadas como continentais sejam quentes e secas, a massa equatorial
continental (mEc), originada sobre o continente, na Amazônia Ocidental, é uma massa quente, porém
úmida. A mEc adquire muita umidade em razão da presença de rios caudalosos e da intensa
evapotranspiração da floresta amazônica.

A variação sazonal da incidência de radiação solar na Terra, associada aos outros fatores da
movimentação do ar, origina a dinâmica das massas de ar sobre sua superfície. Dessa forma, as massas
de ar podem se deslocar por longos trajetos a partir de suas áreas de origem. Isso significa que a
atuação das massas de ar em determinado território varia conforme a estação do ano.

10.2 Frentes
À medida que as massas de ar se deslocam, acabam se encontrando umas com as outras. O resultado do
encontro de massas de ar de características termodinâmicas diferentes dá origem aos sistemas frontais,
também conhecidos como frentes. Podemos definir as frentes como fronteiras entre duas massas de ar
de características diferentes em termos de densidade, temperatura, umidade e pressão. A superfície de
contato entre as duas massas de ar é chamada de superfície frontal.

As frentes se formam principalmente entre as latitudes de 35° e 60°, nos dois hemisférios, onde ocorre
o encontro de massas de ar quente da região intertropical com massas de ar frio das regiões fora dos
trópicos. Dentro dos trópicos, a variável que distingue as massas de ar é a umidade, e sua temperatura é
de menor importância. Como vimos, uma massa de ar mais úmido é mais instável que uma massa de ar
seco, ou seja, a massa úmida é menos densa, mais leve, que a massa seca. Assim, se uma massa de ar
seco penetrar na Amazônia, por exemplo, ela vai originar um sistema frontal, pois a massa de ar local é
mais úmida.

Existem quatro tipos de frente: fria, quente, oclusa e estacionária. O tipo de frente depende da direção
do movimento e das características das massas de ar em contato. Chamamos de frontogênese o
processo de origem das frentes e de frontólise, sua dissipação. Em geral, as frentes se movem de oeste
para leste, mas sua movimentação pode ser modificada pela presença de barreiras orográficas e/ou de
grandes superfícies aquáticas.

10.2.1 Frente fria


Uma frente fria ocorre quando o ar frio, mais denso e mais pesado, de origem polar, empurra o ar
quente para cima e para a frente, fazendo-o deslocar-se verticalmente, conforme a Fig. 10.1.

Ao subir, o ar quente se resfria, satura, condensa, e as nuvens começam a se formar para gerar a chuva.
A subida rápida do ar quente forma nuvens do tipo Cb com chuva associada a relâmpagos e granizo. O
ar posicionado na retaguarda de uma frente fria apresenta uma temperatura mais baixa e é mais denso
que o ar posicionado na vanguarda.

Fig. 10.1 Representação esquemática de uma frente fria, com o conjunto de nuvens associadas, a saber: Ac –
Alto-cúmulo; Cb – Cúmulo-nimbo; Ci – Cirro; Sc – Estrato-cúmulo; Cu – Cúmulo

A aproximação de uma frente fria pode ser percebida a 500-600 km de distância. Isso porque os cirros
são “restos” dos cúmulos-nimbos que se formaram e se dissiparam ao longo do deslocamento do
sistema frontal. Os cirros são os arautos das frentes frias.

As frentes frias tendem a se deslocar na direção polo-equador e, nas cartas do tempo, são indicadas por
uma linha com uma base de triângulos equiláteros, cujos vértices apontam na direção do deslocamento
da frente (Fig. 10.2).

Fig. 10.2 Representação de uma frente fria nas cartas do tempo (linha com dentes de serra)
Com o avanço da frente fria, sua inclinação tende a se tornar mais íngreme, em decorrência da maior
fricção entre o ar e o solo. Nas camadas superiores, o atrito é bem menor e o ar, em altitude, desloca-se
mais rapidamente que em superfície. Analisando-se essa inclinação e a extensão em quilômetros da
área afetada pelo deslocamento de uma frente fria (Fig. 10.3), pode-se concluir que as perturbações
atmosféricas são, de forma geral, restritas e vigorosas.

10.2.2 Frente quente


A frente quente é a interface entre o ar tropical, quente e úmido, e o ar modificado (misturado),
relativamente menos frio e menos úmido, resultante da mistura das massas polar e tropical que se
encontraram antes das atuais. Em geral, as frentes quentes são mais fracas que as frentes frias e
movem-se mais lentamente.
Fig. 10.3 Representação esquemática do deslocamento de uma frente fria. Com o avanço da frente fria, sua
inclinação tende a se tornar mais íngreme em decorrência da fricção entre o ar e o solo. Para melhor
visualização, a escala vertical foi exagerada
Fonte: adaptado de Mcknight e Hess (2002).

As frentes quentes tendem a se deslocar no sentido equador-polo e, nas cartas do tempo, são indicadas
por uma linha com semicírculos apontando na direção do deslocamento da frente (Fig. 10.4). A Fig.
10.5 mostra uma representação esquemática de uma frente quente.

Fig. 10.4 Representação de uma frente quente nas cartas do tempo


Fig. 10.5 Representação esquemática de uma frente quente, (B) baixa pressão

As chuvas que caracterizam a passagem de frentes quentes são contínuas e de pequena intensidade,
acompanhadas pela formação de nevoeiros na superfície. Contudo, atingem maior extensão (300-400
km) do que as chuvas de frentes frias.

A superfície frontal estende-se por cima do ar relativamente frio, que oferece maior resistência ao
deslocamento. Então, o ar mais frio e denso começa a subir, formando uma rampa pouco inclinada,
conforme a Fig. 10.6. Por conta dessa pouca inclinação, as nuvens possuem pouco desenvolvimento
vertical.

O ar localizado na retaguarda de uma frente quente apresenta temperatura mais elevada e mais umidade
que o ar localizado na vanguarda da frente. Quando se está em Brasília, por exemplo, percebe-se a
massa tropical chegar antes da massa polar (frente fria); depois o ar se mistura. Em geral, dificilmente
temos frente quente sobre o Brasil, porque o grau de continentalidade da América do Sul subtropical é
pequeno. As frentes quentes se formam sobre o Atlântico e são mais comuns na América do Norte e na
Eurásia.

10.2.3 Frente oclusa


Frente oclusa é a situação em que a frente fria começa a levantar o ar modificado (menos frio e menos
úmido) ou a levantar a frente quente, e o ar de origem tropical, quente e úmido, é deslocado para cima,
perdendo o contato com a superfície (Fig. 10.7). A frente oclusa é representada graficamente nas cartas
do tempo pela combinação dos símbolos das frentes fria e quente (Fig. 10.8).
Fig. 10.6 Representação esquemática do deslocamento de uma frente quente. Observar a pequena inclinação da
superfície frontal. Para melhor visualização, a escala vertical foi exagerada
Fonte: adaptado de Mcknight e Hess (2002).

Fig. 10.7 Representação esquemática de uma frente oclusa

10.2.4 Frente estacionária


Uma frente estacionária ocorre quando a frente fica quase parada por um longo período, movendo-se
lentamente, e muitas nuvens e chuva são formadas. A frente estacionária também é representada pela
combinação dos símbolos das frentes fria e quente, só que, nesse caso, os símbolos são invertidos (Fig.
10.9).
Fig. 10.8 Representação de uma frente oclusa nas cartas do tempo

Fig. 10.9 Representação de uma frente estacionária nas cartas do tempo

Ao analisar uma carta do tempo, é possível identificar os centros de ação associados às massas de ar, as
frentes e outros sistemas meteorológicos. A análise geográfica sequencial de cartas do tempo é um
poderoso elemento auxiliar da análise do tempo, da mesma forma que uma fotografia aérea o é para a
análise geomorfológica. A diferença existente está nos respectivos ritmos temporais em que se
desenvolvem o modelado terrestre e os mecanismos geradores dos tipos de tempo.

10.3 O fenômeno das ressacas


Agora já podemos falar sobre as ressacas. A ocorrência de ventos fortes nos litorais, que empurram a
água do oceano praia adentro, é atribuída à chegada de uma frente fria. Isso porque, em geral, estão
associados a ela os ciclones extratropicais, como o que ocorreu no dia 25 de setembro de 2006,
mostrado na carta sinótica elaborada pelo Serviço Meteorológico Marinho (Fig. 10.10). No estágio
maduro, esses sistemas apresentam uma espiral de nuvens em torno de um centro de baixa pressão (B),
que pode ser facilmente identificada nas imagens de satélites meteorológicos, como a do ciclone
extratropical do dia 26 de julho de 2010 (Fig. 10.11).
Fig. 10.10 Frente fria associada a um ciclone extratropical que ocorreu no dia 25 de setembro de 2006. Carta
sinótica elaborada às 12:00 UTC - Hora Universal (9 horas no horário de Brasília)
Fonte: Marinha do Brasil. Serviço Meteorológico Marinho.

O aparecimento de ciclones extratropicais associados às frentes frias é comum no litoral sul e sudeste
do Brasil, durante o ano inteiro. Entretanto, tornam-se mais intensos nos meses de inverno, quando o
contraste de temperatura entre o polo sul e o equador é maior, ou seja, gradiente horizontal de
temperatura mais intenso. Na maioria das vezes, seus efeitos são pequenos; entretanto, em alguns
casos, os sistemas de baixa pressão (B) podem ser mais intensos, provocando estragos na faixa costeira,
o que configura uma ressaca. Em regra, os ciclones extratropicais mais fortes costumam acompanhar as
massas de ar polares mais intensas. Foi o caso do ciclone extratropical que atuou no litoral do Brasil
dos dias 26 a 29 de junho de 2006.

Fig. 10.11 Imagem obtida pelo satélite GOES-12 (canal 4), do dia 26 de julho de 2010, 19:30 UTC – Hora
Universal (16:30 horas no horário de Brasília), com a espiral de nuvens do ciclone extratropical em destaque
Fonte: Banco de imagens de satélite do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (CPTEC/INPE).

Acompanhe a descrição das condições do tempo nesse período, realizada por uma empresa prestadora
de serviços em meteorologia, a respeito da chegada de uma frente fria intensa, com forte ciclone
extratropical associado, e formação de ressaca.

Ciclone extratropical trouxe rajadas de vento de 100 km/h para o Rio Grande do Sul. Uma frente fria e
um intenso ciclone extratropical provocaram estragos do Uruguai ao Rio de Janeiro na última semana
de junho. A frente fria de forte atividade começou a se formar ao norte da Província de Buenos Aires e
sobre o Uruguai entre os dias 23 e 24 de junho. Naquele momento, ao norte da frente fria, atuava uma
massa de ar seco e quente que cobria o sul do Brasil e o norte argentino, enquanto ao sul da frente
avançava uma forte massa de ar de origem polar. […] Ao norte do Rio Grande do Sul, os efeitos do
ciclone extratropical se limitaram essencialmente ao mar agitado e à forte ressaca. […] Em
Florianópolis, a ressaca também atingiu balneários do sul da Ilha de Santa Catarina. […] O ciclone
extratropical esteve bem organizado junto à costa sul do Brasil e gerou o swell que resultou nas ondas
elevadas na orla. A imagem de satélite da tarde do dia 26 mostrava o sistema já se afastando do litoral
sul do Brasil, ao mesmo tempo que provocava a grande agitação marítima. [Fig. 10.12]. […] A ressaca
chegou ao litoral do Rio de Janeiro. Ondas de até 3 metros de altura danificaram o mirante do Leblon.
No total, a ressaca trouxe seis toneladas de lixo para as praias do Rio de Janeiro. (MetSul Meteorologia,
2006).
Você deve ter notado no texto acima a palavra swell. Esse termo significa ondulação oceânica e
corresponde a marulho. No mundo do surfe, o swell indica boas condições para a prática do esporte.
Como o atleta depende das ondas do mar para praticar o surfe, constantemente consulta a previsão do
tempo para tentar descobrir os melhores dias para surfar. Quando o swell chega à praia, as ondas
aumentam de tamanho e de força, proporcionando boas condições para a prática do surfe. Um ciclone
extratropical, com ventos intensos e duradouros, é um dos principais fatores que favorecem a formação
do swell. A diferença entre uma onda comum e um swell está no tempo registrado entre a passagem de
duas cristas. Em uma onda comum, esse período é de menos de 10 segundos, e no swell, de
aproximadamente 15 segundos.

Sendo assim, a ressaca nada mais é do que o resultado da ventania gerada por um forte ciclone
extratropical associado à chegada de uma frente fria. Para aqueles que moram no Rio de Janeiro e estão
acostumados a vivenciar esse fenômeno, Santos, Silva e Salvador (2004) esclarecem que a maior
frequência das ondas de ressaca ocorre entre os meses de março e agosto e duram, em média, cinco dias
no litoral do estado. Os autores estudaram os principais problemas provocados pelas ressacas
registradas ao longo de 107 anos nos arquivos do Jornal do Brasil, O Fluminense, O Globo e da
Fundação Biblioteca Nacional.

Fig. 10.12 Imagem de satélite do referido ciclone extratropical do dia 26 de junho de 2006. Horário da
imagem não especificado
Fonte: MetSul Meteorologia (2006).
CONSIDERAÇÕES FINAIS: UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE O
AQUECIMENTO GLOBAL

Desde que iniciei a minha estratégia de ensino utilizando perguntas dos alunos, uma questão que vem
se tornando muito frequente nos últimos anos, mas que não foi objetivo inicial deste livro de caráter
introdutório sobre o clima, é: “O mundo está se aquecendo por culpa das atividades humanas?”. Para
abordar essa problemática, é necessário, primeiro, compreender como o sistema climático funciona.
Isso porque, como foi visto, os climas da Terra são controlados e mudam em função de diferentes
fatores. Portanto, esses fatores devem ser analisados cuidadosamente antes de se afirmar que a causa
básica do aquecimento do sistema climático e suas derivadas alterações é o aumento dos teores de CO2
de origem antrópica.

Embora a finalidade deste livro não seja discutir a fundo essa questão, acredito ser necessário tratar de
algumas questões. Não há dúvida com relação ao fato de que a temperatura média global aumentou nos
últimos 150 anos. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), esse
aquecimento é atribuído, na sua quase totalidade, ao aumento das concentrações de determinados gases
na atmosfera, e o grande culpado do aquecimento global seria o CO2. Além disso, projeta-se que o
aquecimento vá continuar.

Ao contrário, porém, do que é propalado pela mídia, não existe um consenso sobre esse assunto, pois
nem todos os estudiosos do clima concordam com a hipótese de que o CO2 seja o causador da elevação
da temperatura e das alterações climáticas associadas. Alguns defendem o ponto de vista contrário, ou
seja, de que o Planeta caminha para um período de resfriamento. Vamos examinar brevemente esses
dois pontos de vista.

Os climas da Terra sofrem alterações em função de inúmeros fatores; todavia, segundo Tucci (2002), as
definições utilizadas na literatura sobre alterações climáticas diferenciam-se de acordo com a inclusão
dos efeitos antrópicos na identificação da variabilidade. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC, 2001) define mudança climática (climate change) como as mudanças temporais do
clima em razão da variabilidade natural e/ou resultantes de atividades humanas. Entretanto, outros
autores adotam, para o mesmo termo, a definição de mudanças associadas direta ou indiretamente às
atividades humanas que alterem a variabilidade climática natural observada em um determinado
período.

Para a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a evolução do comportamento atmosférico nunca


é igual de um ano para outro, ou mesmo de uma década para outra, podendo-se verificar flutuações a
curto, médio e longo prazos. Por isso, é possível separar várias categorias de variação que, segundo
Conti (2000), vão desde a “mudança climática” – termo mais geral que abrange toda e qualquer
manifestação de inconstância climática, independentemente de sua natureza estatística, escala temporal
ou causas físicas –, passando pela “oscilação climática” – que é uma flutuação na qual a variável tende
a se mover gradual e suavemente entre máximas e mínimas sucessivas –, até a “variabilidade
climática”, maneira pela qual as variáveis climáticas se modificam em um determinado período de
registro, variação expressa por meio de parâmetros estatísticos, como desvio padrão ou coeficiente de
variação.

O fato é que ainda existe muita dificuldade em separar os efeitos das atividades humanas no clima e a
sua variabilidade natural, sobretudo porque o sistema climático é extremamente complexo e sua
dinâmica ainda não é completamente compreendida, por mais que se tenha avançado no conhecimento
sobre o sistema Terra-atmosfera.

A preocupação com o comportamento climático do globo por causa de efeitos antrópicos agravou-se na
década de 1980, com o questionamento sobre o desmatamento das florestas, a redução da camada de
ozônio e a concentração de CO2. Tucci (2002) acredita que o acidente nuclear de Chernobyl foi um
grande divisor desse processo, quando se observou que ações em uma parte da Terra poderiam afetar a
população de outras regiões.

Com base na ideia de que o aumento na quantidade de CO2 produz uma elevação da temperatura da
baixa atmosfera em um modelo de escala logarítmica, vários eventos foram organizados para discutir a
problemática da mudança climática global. Assim, foi criado, em 1988, pelo Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (United Nations Environment Programme - Unep) e pela Organização
Meteorológica Mundial (OMM), o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC na
sigla em inglês), a fim de: (1) avaliar as informações científicas existentes sobre a mudança do clima;
(2) avaliar os impactos ambientais e socioeconômicos da mudança do clima; e (3) formular estratégias
de resposta a esses impactos.

O IPCC é mais conhecido por seus Relatórios de Avaliação, que são amplamente reconhecidos, em
princípio, como as fontes mais confiáveis de informações sobre a mudança do clima. O Primeiro
Relatório de Avaliação do IPCC (AR1) foi finalizado em 1990 e serviu de base para a negociação da
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em 1992 (IPCC, 1990).

Em 1995, o IPCC elaborou o Segundo Relatório de Avaliação (AR2), não apenas atualizando as
informações do AR1 sobre a mesma amplitude de assuntos, mas também incluindo a nova área
temática de questões técnicas relacionadas com os aspectos econômicos da mudança do clima (IPCC,
1995).

No Terceiro Relatório de Avaliação (AR3), anunciado oficialmente em 21 de janeiro de 2001, o IPCC


afirmou que “há novas e mais fortes evidências de que a maior causa do aquecimento global observada
nos últimos 50 anos é atribuível a atividades humanas” (IPCC, 2001). As previsões contidas no AR3,
para os próximos 100 anos (até 2100) foram o aumento da média global da temperatura entre 1,4°C e
5,8°C, o aumento no nível dos mares causado pela expansão térmica dos oceanos e o derretimento das
calotas polares entre 0,09 e 0,88 m.

Publicado em 2007, o Quarto Relatório de Avaliação do IPCC (AR4) apresentou uma revisão da
literatura científica sobre mudanças climáticas publicada desde 2001. Um dos resultados mostrou um
cenário em que foi mantida a composição atmosférica do ano 2000. Segundo esse cenário, a
temperatura continuaria a crescer cerca de 0,1°C por década, nas próximas duas décadas, e chegaria a
estar 0,6°C mais alta no período de 2090 a 2099 em relação a 1980-1999 (IPCC, 2007). O AR4 afirma
também, com mais de 90% de confiabilidade, que a maior parte do aumento de temperatura observado
nos últimos 50 anos foi provocada por atividades humanas.

As ferramentas utilizadas para a investigação das causas do aumento da temperatura no século XX e


das possíveis mudanças climáticas são os chamados Modelos de Clima Global (MCGs). Esses modelos
descrevem a atmosfera de forma global, utilizando equações matemáticas para prescrever as leis físicas
que regem os processos físicos diretos da atmosfera e os de retroalimentação e/ou interação (feedback)
entre os diversos componentes do sistema climático, com a finalidade de simular ou avaliar a resposta
do sistema a um aumento ou diminuição do fluxo de energia, o que os cientistas chamam de forçante
radiativa (FR). Os processos físicos de feedback são mecanismos que aumentam (feedback positivo) ou
reduzem (feedback negativo) a magnitude da resposta do sistema climático para uma dada forçante
radiativa (Molion, 2008)

Oliveira (2008) está entre os cientistas que defendem os MCGs, pois acredita que os modelos
climáticos atuais são bastante confiáveis para fornecer estimativas quantitativas de mudanças futuras.
Ela considera que essa confiança está baseada na excelente fundamentação teórica e na expansão da
base de dados observacionais, do progresso computacional e da possibilidade de comparação entre
diferentes simulações. Molion (2008) discorda e argumenta que a figura 10.27 do próprio AR4 do
IPCC (2007), reproduzida abaixo, mostra que os modelos discordam significativamente entre si a partir
da escala de 3.000 km, quando se passa da escala global para a local. Molion (2008) ressalta, ainda,
que, se os resultados das previsões realizadas pelos MCGs fossem considerados, o aumento de 35% na
concentração de CO2 na atmosfera, observado nos últimos 150 anos, já deveria ter provocado um
incremento na temperatura média da Terra entre 0,5°C e 2°C. Porém, segundo o “Sumário para
Formuladores de Políticas” do AR4 do IPCC, o aumento observado está entre 0,4°C e 0,7°C. O que se
observou é que os desvios da temperatura média global do ar próximo à superfície, com relação à
média do período de 1961-1990, aumentaram cerca de 0,7°C desde 1850. Dessa forma, o aumento de
temperatura está no limite inferior da previsão dos modelos, ou seja, MCGs tendem a superestimar o
aumento de temperatura.
Discordância entre modelos climáticos utilizados pelo IPCC (2007)
Fonte: adaptado de Molion (2008).

Embora exista toda uma credibilidade envolvendo o IPCC, em razão de nele estarem reunidos
cientistas do mundo inteiro, representando diferentes áreas do conhecimento, e que utilizam os MCGs
para as previsões de mudanças climáticas resultantes do aumento da concentração de CO2, é cada vez
maior o número de cientistas que questionam os resultados apresentados nos Relatórios de Avaliação,
tais como Singer e Avery (2007), Alexander (2009), Leroux (2010) e Bell (2011).

Segundo o IPCC (2001), o século XX teria sido o mais quente do milênio, presumivelmente por causa,
em grande parte, da atividade econômica humana (usinas termelétricas, veículos, indústrias),
responsável pela emissão de gases, principalmente o CO2, cujo acúmulo intensificaria o efeito estufa,
com consequente aquecimento global. Existem, porém, argumentos contrários ao aumento da
temperatura e, segundo Molion (1995, 2001, 2008), é provável que os MCGs não sejam adequados
para tais previsões, embora constituam, no presente, as únicas ferramentas disponíveis para esse tipo de
estudo.

Os MCGs utilizados pelo IPCC enfrentam vários questionamentos. Soon e Baliunas, em seu
documento Lições e limites da história do clima, explicam que “cada vez fica mais claro que o registro
principal adotado pelo IPCC apresenta uma tendência a subestimar variações climáticas naturais em
escalas de tempo que vão de várias décadas a um século” (Soon; Baliunas, 2003, p. 18). Essas
afirmações corroboram o que ressalta Maruyama (2009, p. 25) a respeito do fato de os resultados
obtidos das simulações dos MCGs serem “apenas simulações, que não têm todos os dados
importantes”, uma vez que determinados fatores – como a variação dos raios cósmicos e do campo
gravitacional e as relações com atividades solares – são muito complexos e não são quantificáveis, ou
seja, não entram nos cálculos.

Os outros elementos que sustentam a teoria do aquecimento global antropogênico são a série de
temperatura média global dos últimos 150 anos e o aumento na concentração de CO2. Em seus estudos
sobre o tema, Molion (2008) ressalta que existem problemas de representatividade, tanto espacial como
temporal, das séries históricas de temperatura do ar, o que torna difícil sua homogeneização e,
consequentemente, a construção de uma média confiável para o globo. Esse mesmo autor ressalta que,
entre 1920 e 1946, a temperatura aumentou aproximadamente 0,4°C; entre 1947 e 1976, diminuiu cerca
de 0,2°C; e, a partir de 1977, voltou a aumentar aproximadamente 0,4°C. O primeiro período de
aquecimento (1920-1946) coincide com o período em que a atividade solar foi a maior encontrada em
400 anos de dados solares, e a atividade vulcânica foi a mais fraca dos últimos 200 anos. Nesse
período, o albedo planetário diminuiu e a Terra se aqueceu naturalmente. O segundo período de
aquecimento, a partir de 1977, tem causado maior polêmica, pois não foi observado em todas as partes
do mundo, sendo possível até que não tenha sido real, mas sim resultado de outras influências, tais
como mudanças de instrumentos de observação ou a falta de manutenção deles, mudanças no ambiente
circundante à estação meteorológica ou mesmo sua relocação.

Entre essas influências nos registros de termômetros, merece destaque o efeito da urbanização,
materializado principalmente pelo que se conhece como “ilha de calor”. Ela é formada quando a
cobertura vegetal é substituída por asfalto e concreto, característica dos centros urbanos, aumentando a
proporção da energia radiante disponível que é utilizada para aquecer o ar, pois, uma vez que a
vegetação foi retirada, existe pouca água para ser evaporada. Ora, muitas estações meteorológicas estão
localizadas, hoje, dentro de centros urbanos, cujas medições sofrem os efeitos das ilhas de calor,
impossíveis de serem filtrados dos registros. Dessa maneira, é possível que os registros de aumento de
temperatura sejam decorrentes desse tipo de efeito, e não do acréscimo de CO2.

Sobre isso, Maruyama (2009) acredita que a sensibilidade da população ao aquecimento global é muito
influenciada pelo fenômeno da ilha de calor. Isso porque a maior parte da população mundial vive em
cidades, e o calor característico das áreas urbanas, normalmente considerado uma questão independente
pelos estudiosos do clima urbano, acabou relacionado, incorretamente, ao aquecimento global. Ou seja,
as pessoas sentem um aumento da temperatura urbana local, mas esse efeito local não se propaga para a
escala global.

Contudo, estudos devem ser desenvolvidos a fim de investigar as consequências de alterações pontuais
no ambiente, lembrando que tais alterações não significam mudança climática. De fato, segundo
Steinke (2004), a média anual da temperatura do ar para a estação Brasília (Inmet), no período entre
1965 e 2003, apresentou uma tendência de aumento. Porém, desde a sua instalação, essa estação vem
sendo rodeada de áreas urbanas. Assim, essa tendência pode muito bem estar relacionada ao efeito de
uma ilha de calor urbana. Mesmo porque, em estações localizadas em áreas rurais do Distrito Federal,
para o mesmo período, a tendência de aumento não foi identificada.

É importante ressaltar que as previsões de mudanças climáticas associadas às ações do homem se


referem principalmente ao aumento na concentração do CO2. As questões que se colocam são: a
injeção desse gás na atmosfera pela ação do homem promove o aquecimento do Planeta? O aumento da
concentração de CO2 é causado pelas atividades humanas?
Alves (2001) responde à primeira pergunta afirmando que não. O autor explica que a adição de CO2 na
atmosfera pela ação humana corresponde apenas a um mecanismo forçante do aquecimento do Planeta,
o que não significa que o aquecimento terá de ocorrer. O homem não só queima biomassa e
combustíveis fósseis, como também altera a superfície da Terra por meio, por exemplo, das atividades
de urbanização. Tais atividades contribuem para um aumento do albedo do Planeta, o que reduz a
entrada de energia solar no sistema Terra-atmosfera, estabelecendo, assim, um mecanismo climático
forçante ao resfriamento. Se esses dois mecanismos forçantes tiverem a mesma intensidade, por serem
de sentidos opostos, a temperatura do Planeta não se alteraria. Se as intensidades forem diferentes,
poderia haver aquecimento ou resfriamento se todas as demais condições se mantivessem constantes.
Portanto, a adição de CO2 na atmosfera pelo homem não implica, necessariamente, o aquecimento da
Terra.

Para a segunda pergunta, Maruyama (2009) responde afirmando que não há nada que prove que o
aumento da concentração de CO2 seja causado pelas atividades humanas ou mesmo que o CO2 seja o
causador do aquecimento e explica, de forma bem simples e esclarecedora, cada fator que causa as
mudanças climáticas. Molion (2008) também apresenta os mesmos argumentos para afirmar que não há
nenhuma comprovação de que o CO2 armazenado na atmosfera seja originado das emissões antrópicas.
Para esse autor, o grande controlador do CO2 na atmosfera são os oceanos, que cobrem 71% da
superfície terrestre. Conti (2011) mostra que existe um grupo de respeitáveis estudiosos que procuram
demonstrar que o volume de CO2 liberado pelas atividades humanas é pequeno quando comparado às
emissões naturais. Os fluxos naturais de carbono correspondem a 200 bilhões de toneladas por ano,
enquanto o homem emite apenas 7 bilhões de toneladas por ano (3%).

Além disso, vários outros pesquisadores defendem o ponto de vista de que, daqui para a frente, chegará
uma época de resfriamento, que causará a diminuição gradual da temperatura na Terra. Esse
resfriamento está associado à intensidade da atividade do Sol, ao aumento dos raios cósmicos sobre a
Terra, às atividades vulcânicas e à variação da órbita terrestre, entre outros fatores. Segundo Sant’Anna
Neto (2008), a questão central é que, em uma interglaciação, como a que estamos vivenciando e que
está em sua fase final, a história ecológica da Terra tem nos mostrado uma grande variabilidade natural
da amplitude térmica. Em termos de paleoclima, portanto, estamos mais próximos de uma nova era
glacial do que de um aquecimento global.

Sendo assim, uma vez que a complexa variabilidade climática se manifesta em diferentes escalas
espaciais e temporais, que envolvem não somente a atmosfera mas também oceanos e inúmeras
superfícies e suas interações, e uma vez que existem diferentes motivações nos discursos envolvidos na
problemática, é importante observar todos esses elementos antes de afirmar ou refutar a hipótese do
aquecimento global e das mudanças climáticas de origem antrópica como um fato científico
comprovado e resolvido.

Independentemente das controvérsias existentes, nesse momento é fundamental manter e até mesmo
incrementar os movimentos em favor da diminuição da poluição, da conservação da biodivesidade e
das medidas adotadas para controlar as grandes transformações que o homem vem desencadeando, em
um curto prazo, no ambiente. Porém, tais medidas não devem estar baseadas em um discurso
catastrofista, e seria bem melhor que as pessoas conhecessem os argumentos dos dois grupos de
cientistas e procurassem compreender o sistema Terra-atmosfera, pois o que vemos hoje é que até
pessoas sem nenhum conhecimento científico sobre a complexidade do clima tomam partido de um dos
lados, na grande maioria das vezes influenciadas pela mídia. É muito importante não confundir
conservação ambiental com mudanças climáticas.
A conservação ambiental é uma corrente ideológica que prega o amor à natureza, porém aliado ao seu
uso racional e manejo adequado, em que o homem executa um papel de gestor e é parte integrante do
processo. O movimento conservacionista é a base de políticas de desenvolvimento sustentável, ou seja,
aquelas que buscam um modelo de desenvolvimento que promova a qualidade de vida hoje, mas não
destrua os recursos necessários à sobrevivência das gerações futuras. Alguns de seus princípios são:
redução do uso de matérias-primas, maior utilização de energias renováveis, diminuição do
crescimento populacional, combate à fome, alteração nos padrões de consumo, equidade social,
respeito à biodiversidade e inclusão de políticas ambientais no processo de tomada de decisões
econômicas. Sendo assim, a conservação ambiental é essencial para a sobrevivência da espécie humana
no planeta, independentemente de um futuro aquecimento ou resfriamento climático.
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SOBRE A AUTORA

Ercília Torres Steinke possui graduação em Geografia, mestrado em Tecnologia Ambiental e Recursos
Hídricos e doutorado em Ecologia pela Universidade de Brasília (UnB). Trabalha como professora e
pesquisadora do Departamento de Geografia da UnB desde 1996.

Na Universidade de Brasília, também foi fundadora e atualmente coordena o Laboratório de


Climatologia Geográfica (LCGea).

Tem experiência na área de Geografia, com ênfase em Climatologia Geográfica, atuando


principalmente no ensino de Climatologia.

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