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Tendo em vista os Direitos Fundamentais, cujo núcleo se encontra no princípio

da dignidade da pessoa humanal, é de extrema importância que haja um novo ponto de


vista hermenêutico acerca do que define “trabalho digno”, a partir da perspectiva da
existência de um equilíbrio no meio-ambiente laboral, que possibilite que seja seguro,
segundo as normas de saúde e segurança do trabalho (SST), e a jurisprudência, que
tutelam o sub-ramo conhecido como Direito Ambiental do Trabalho.
É necessário esclarecer acerca da natureza jurídica do Direito Ambiental do
Trabalho, pois se trata de um assunto multidisciplinar, com elementos de Direito
Constitucional, do Trabalho, Ambiental, Sanitário, da Seguridade Social, etc. Bem
como de outras ciências, a saber, a Sociologia, a Medicina, Engenharia, Arquitetura,
entre outras. É nítida, então, a demanda de adentrar nas raízes deste sub-ramo do Direito
contemporâneo, em seu “DNA”.
Majoritariamente, na doutrina e na jurisprudência do STF, entende-se que a
natureza da matéria provém essencialmente do Direito do Trabalho (vide ADIn 1.862,
ADIn 1893-9, RE 390.622/PR, RE 447.480/RS etc.). O entendimento do artigo, porém,
visa contestar essa visão, no sentido de que seria uma matéria de Direito Ambiental.
Visto que para que haja a eficácia plena do direito trabalhista – um direito fundamental
de 2° geração – é necessário que haja antes a efetivação do direito ambiental – um
direito fundamental de 3° geração – e seus princípios, também aplicáveis no contexto
laboral, conforme afirma Raimundo Simão de Melo

“O meio ambiente do trabalho não tem natureza jurídica de merodireito


trabalhista (este, sim, de competência exclusiva da União paralegislar)
(...). Ao contrário, trata-se o meio ambiente do trabalho de direito
fundamental do trabalhador, incluindo na nova disciplina conceituada
como Direito Ambiental, com espeque no art. 225 da Constituição, o que
não exclui qualquer dos seus aspectos para efeito da aplicação dos
princípios e preceitos inerentes às questões ambientais, como é o caso
das competências legislativa e material.” (Direito ambiental do trabalho e a
saúde do trabalhador. 5. ed. São Paulo: LTr, 2013.)

Consonante a este entendimento está a própria jurisprudência dos tribunais mais


específicos, tais como o TST e o TRT, fazendo referências aos princípios de direito
ambiental no ambiente laboral:

“RECURSO DE REVISTA. INTERVALO INTRAJORNADA DO ART.


253 DA CLT. RECUPERAÇÃO TÉRMICA. AMBIENTES
ARTIFICIALMENTE FRIOS. SIMILARIDADE COM AS
CÂMARAFRIGORÍFICAS. NÃO CONCESSÃO DAS PAUSAS.
HORAS EXTRAS. 1. O art. 253 da CLT, que assegura intervalos para
recuperação térmica aos empregados que laboram no interior de câmaras
frigoríficas e aos que movimentam mercadorias do ambiente quente ou
normal para o frio e vice-versa, merece interpretação extensiva, ao
influxo não apenas do princípio da proteção, norteador do Direito do
Trabalho como também dos princípios da prevenção do dano ao meio
ambiente – exteriorizado, na esfera trabalhista, no art. 7º, XXII, da Carta
Política –, e da máxima efetividade dos preceitos constitucionais, este
hábil a viabilizar a concretização do direito a um meio ambiente do
trabalho equilibrado, saudável e seguro (CF, arts. 200, caput e inciso
VIII, e 225) e do direito à saúde (CF, arts. 6º e 196), de fundamentalidade
manifesta, dada a importância de que se revestem ‘tanto para o gozo dos
direitos de vida, liberdade e igualdade, quanto para o próprio princípio da
dignidade da pessoa humana’ (SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos
direitos fundamentais. 7. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007).
(...)” (RR 102700-62.2008.5.18.0191, 3ª Turma, Relª Minª Rosa Maria
Weber, DEJT 20.08.2010)

No âmbito da jurisprudência dos TRTs também é possível encontrar precedentes


reconhecendo a aplicação do princípio do desenvolvimento sustentável na dimensão
labor-ambiental:

“(...) DIREITO AMBIENTAL DO TRABALHO. PRINCÍPIO DO


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (...) Um dos princípios basilares do
Direito Ambiental do Trabalho é o princípio do desenvolvimento sustentável,
conformado na tríplice base da equidade social, do desenvolvimento econômico
e na preservação do meio ambiente para as presentes e futuras gerações,
possuindo estreita imbricação com o princípio da prevenção, este referente à
adoção de medidas que evitem os perigos concretos e conhecidos em
determinado ambiente de trabalho.” (TRT da 9ª R., RO 01802-2010-670-09-00-
8, 2ª Turma, Relª Ana Carolina Zaina, DJ 20.08.2013)

Desta forma, conclui-se no artigo que é necessária a discussão acerca de uma


virada hermenêutica do Direito Ambiental do Trabalho, especialmente no âmbito da
Suprema Corte e da doutrina jurídica nacional, que vise buscar tutelar a segurança e
saúde no ambiente laboral, ao efetivar direitos fundamentais de forma mais específica à
matéria.

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