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Ensine Seus Filhos" por L.

Michael Morales

Bernardo de Claraval, o doutor da igreja século XII, que escreveu o hino “Ó Cabeça Sagrada, Agora
Ferida”, introduziu seu clássico devocional Sobre o amor de Deus com as seguintes palavras: “Você deseja
que eu lhe diga por que e como Deus deve ser amado. Minha resposta é que o próprio Deus é a razão por
que Ele deve ser amado. Quanto à forma, não deve haver qualquer limite para este amor”. Da mesma forma,
o Shema conduz-nos da contemplação do ser e essência de Deus para o amor a Ele em resposta. Neste
artigo, vamos considerar particularmente o dever (e prazer) dos pais em instruir seus filhos a amar o Senhor
Deus.

Até mesmo esta obrigação parental está enraizada na natureza da unidade de Deus, uma vez que se desdobra
em Sua eternidade. Porque Deus é, como Moisés escreve em outro lugar, “de eternidade a eternidade”,
enquanto a extensão da vida de um homem é como o da grama que cresce rapidamente pela manhã apenas
para ser cortada à tarde (Sl. 90). Desta forma, a única maneira de garantir que nosso amor por Ele “não tenha
limite” é trabalhando de forma geracional: a presente geração anunciando suas obras e falando de suas obras
maravilhosas para a próxima geração (Sl 145:4).

Não só a dignidade de Deus chama por um amor que vá de geração em geração, mas a obra de Deus é
também necessariamente pactual, de modo que todo comando e confissão, incluindo o Shema, é dado para
“tu, e teu filho, e o filho de teu filho” (Dt. 6:2). Isso também pode ser relacionado à eternidade da unidade de
Deus. Seu discurso ao mortal Abraão, por exemplo, inevitavelmente incluiu a frase presumida “e à sua
descendência depois de ti” (Gn 17: 7-8) — frase graciosa, certamente, mas séria também. Mais
objetivamente, o plano de Deus de encher a terra de adoradores é exercido pactualmente, de forma que
“Sede fecundos e multiplicai-vos” (Gn 1:28) se torna algo inseparável de “ensine-os diligentemente” (Dt.
6:7).

Nós encontramos uma bela expressão dessa ideia quando comparamos o chamado de Abraão em seu
objetivo culminante, de abençoar todas as famílias da terra (Gn 12:3), com a posterior declaração do Senhor:
“eu o tenho conhecido, que ele há de ordenar a seus filhos e a sua casa depois dele, para que guardem o
caminho do SENHOR… para que o SENHOR faça vir sobre Abraão o que acerca dele tem falado” (Gn
18:19). Assim, vemos que uma das maneiras mais consistentes pelo qual o propósito de Deus de abençoar
todas as famílias da terra progride é por meio da pequena sala de aula — ou, talvez melhor, da “pequena
igreja” — do lar cristão.

Vejamos brevemente agora a maneira em que Deuteronômio 6:6-7 nos guia a ensinar nossos filhos de forma
diligente.

1 – Em primeiro lugar, ensinar nossos filhos requer tempo. Aqui, temos de rejeitar o mito de que o tempo
de qualidade supera a quantidade de tempo. Ensinar nossos filhos “diligentemente” está definido e elaborado
com base no falar com eles “assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te”
(v. 7). Uma paráfrase legítima seria: “ensine seus filhos em todos os lugares (em casa ou no mundo) e
sempre (de manhã até à noite)”. Precisamos, em outras palavras, viver com os nossos filhos, estar com eles
quando estão em casa ou fora de casa. Esse estilo de vida de instrução regular obriga-nos a ter um
relacionamento com nossos filhos, o que demanda tempo.

2 – Em segundo lugar, o nosso estilo de vida de ensino deve ser genuíno. O fato de que passamos aos
nossos filhos não tanto daquilo em que “acreditamos”, como daquilo que amamos é uma realidade temível.
Um pai pode conduzir sua família no culto familiar diário, mas se as melhores lembranças de seus filhos
com ele são as vaias e gritos durante um jogo de bola, podemos ter certeza de que essas crianças vão crescer
desejando vaiar e gritar durante um jogo de bola com seus filhos (mas não tão convictas sobre a parte
adoração).

Falar das coisas de Deus em sua casa, ao andar pelo caminho, ao deitar-se, e ao levantar-se é uma tarefa
impossível se não surge naturalmente. Isso não significa que a prática surge sem esforço — longe disso—,
contudo, o nosso ensino deve ser sincero, fluindo naturalmente de um coração que ama Deus, um coração
que deseja que Deus seja a maior alegria de nossos filhos. Em outras palavras, se nosso amor por Deus é
genuíno, ele também será consistente — em todos os lugares e sempre.

As advertências do versículo 7 não são, portanto, nada além do que as obras externas do mandamento escrito
no versículo 6: “Estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração”. O nosso amor, sem dúvida, irá
fluir em cada ramo que brotar de nossa árvore genealógica. Isto, levando em conta nossos próprios corações
rebeldes, juntamente com a estranha habilidade que as crianças tem de detectar a hipocrisia, deve levar-nos
aos joelhos, implorando ao Senhor que nos dê o que nos falta e que tão desesperadamente precisamos: um
deleite sincero em Deus, de tal forma que possamos ter prazer em adorá-Lo acima de todas as outras
atrações.

3- Em terceiro lugar, o nosso ensino não somente deve fluir do coração, ele deve ser dirigido ao
coração, saturado com orações pelas almas dos nossos filhos. O amor por Deus e pelas coisas de Deus é o
objetivo; a obediência é a expressão desse amor. Com isto em mente, é especialmente crucial entender que,
além de ser o resumo da lei, o amor é também o seu contexto — filhos de Deus pecam dentro da família de
Deus. Os estatutos, julgamentos e mandamentos de Deuteronômio são definidos no âmbito das relações do
gracioso de Deus: Ele libertou a Israel da casa da servidão, guiou-os através do deserto, e proveu o sistema
de sacrifícios no tabernáculo como um remédio para a sua desobediência, para que cada coração contrito
pudesse encontrar a certeza da reconciliação.

Então, nós ensinamos nossas crianças não apenas a obedecer às leis, mas, por meio dessas leis, ensinamos o
quanto eles (infratores persistentes e dignos de julgamento, assim como nós) foram perdoados — isto é, nós
os ensinamos quão profundamente Deus os amou em Cristo. Visto que o objetivo é que eles amem a Deus, e
visto que, como disse Jesus, aquele que pouco é perdoado pouco ama (Lucas 7:47), nós imprimimos sobre
nossos filhos o quanto fomos perdoados por meio do sacrifício expiatório de Jesus Cristo. Nós também lhes
ensinamos —com ações de graças em nossos corações — que Jesus obedeceu perfeitamente todas as leis de
Deus em nosso lugar, e que a Sua obediência é um presente para nós por meio da fé somente.

Em suma, ensinar nossos filhos de forma diligente significa continuamente fixar os olhos na total suficiência
de Jesus Cristo e no incomparável amor de Deus por nós demonstrado através da cruz.

Reproduzido e traduzido com a permissão de Ligonier Ministries

Traduzido por Arielle Pedrosa

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