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TUTORIAL 02

OBJETIVO 01 – DISCUTIR A IMPORTÂNCIA DA ABORDAGEM E SUPORTES ADEQUADOS


AOS FAMILIARES E DOENTES COM PROGNÓSTICO RESERVADO

Principios:

1. Promover o alívio da dor e outros sintomas desagradáveis → escala analgésica,


dispneia, constipação, fadiga, caquexia, delirium, náuseas e vômitos.
2. Afirmar a vida e considerar a morte como um processo normal da vida → evento
natural e esperado na presença de doença ameaçadora da vida, colocando ênfase na vida
que ainda pode ser vivida.
3. Não acelerar nem adiar a morte
4. Integrar os aspectos psicológicos e espirituais no cuidado ao paciente → É mais este
aspecto, o da transcendência, do significado da vida, aliado ou não à religião, que
devemos estar preparados para abordar.
5. Oferecer um sistema de suporte que possibilite o paciente viver tão ativamente
quanto possível, até o momento da sua morte →Viver ativamente, e não simplesmente
viver, nos remete à questão da sobrevida “a qualquer custo”, que esperamos combater.
6. Oferecer sistema de suporte para auxiliar os familiares durante a doença do paciente
e a enfrentar o luto → sentimento de inutilidade, uma vez que o familiar que o cuidava
pode encontrar-se perdido, sem a função de cuidador que exercia. O luto normal é
caracterizado pela aceitação da perda do outro e das mudanças internas e externas,
promovendo a reorganização dos vínculos que ficaram. Já a exacerbação do processo do
luto normal, com sintomas de obsessividade, caracteriza um processo de luto patológico.
Evitar o luto antecipatório dos familiares vendo o paciente.
7. Abordagem multiprofissional para focar as necessidades dos pacientes e seus
familiares, incluindo acompanhamento no luto → Incluir a família no processo do cuidar
compreende estender o cuidado no luto, que pode e deve ser realizado por toda a equipe e
não somente pelo psicólogo. A equipe multiprofissional com seus múltiplos “olhares” e
percepção individual pode realizar este trabalho de forma abrangente.
8. Melhorar a qualidade de vida e influenciar positivamente o curso da doença
9. Deve ser iniciado o mais precocemente possível, juntamente com outras medidas de
prolongamento da vida, como a quimioterapia e a radioterapia e incluir todas as
investigações necessárias para melhor compreender e controlar situações clínicas
estressantes

Comunicação

• Não-verbal → saber ouvir, postura corporal, utilizar toque afetivo.


• Verbal → dizer sempre a verdade, voz suave e com clareza, estimular a verbalização de
medos e angustias.

Aspectos sociais familiares → estresse do cuidador, conflitos familiares,

Cuidados Paliativos são a abordagem do paciente e sua família com doença ameaçadora a vida.
O manejo de dor e outros sintomas, e provisão de suporte psicológico, social e espiritual são
supremos, almejando alcançar a melhor qualidade de vida para pacientes e seus familiares.
Muitos aspectos dos cuidados paliativos são também aplicáveis mais precocemente no curso das
doenças, em conjuntura com demais tratamentos (WHO, 2002). As vantagens dos Cuidados
Paliativos têm sido demonstradas na qualidade do serviço e do cuidado. Outra vantagem
comprovada é o menor custo quando comparado ao tratamento convencional. Temel et al., 2010
demonstraram que os Cuidados Paliativos, quando oferecidos precocemente e corretamente aos
pacientes, melhoram a qualidade de vida, o humor e a sobrevida dos pacientes. Além disso,
Smith et al., 2014 demonstraram significativa redução de custos quando empregados os
Cuidados Paliativos.

• O Cuidado Paliativo não se baseia em protocolos, mas sim em princípios. Não se fala mais
em terminalidade, mas em doença que ameaça a vida. Indica-se o cuidado desde o
diagnóstico, expandindo nosso campo de atuação. Não falaremos também em
impossibilidade de cura, mas na possibilidade ou não de tratamento modificador da
doença, desta forma afastando a ideia de “não ter mais nada a fazer”. Pela primeira vez,
uma abordagem inclui a espiritualidade dentre as dimensões do ser humano. A família é
lembrada, portanto assistida também após a morte do paciente, no período de luto

OBJETIVO 02 – CONCEITURAR EUTANÁSIA, DITANÁSIA E ORTOTANÁSIA

DISTANASIA →

• Morte difícil ou penosa → prolongamento do processo da morte, por meio de tratamento


que apenas prolonga a vida biológica do paciente, sem qualidade de vida e sem dignidade
• Quando há investimento à cura, diante de um caso de incurabilidade, trata-se de agressão
à dignidade dessa pessoa
• Sinônimo de tratamento fútil ou inútil, sem benefícios para a pessoa em sua fase terminal,
prolongando o processo de morrer e não a vida propriamente dita
• Morte prolongada, lenta e, com frequência, acompanhada de sofrimento, dor e agonia.

EUTANASIA:

• Atualmente, é entendida como uma prática para abreviar a vida, a fim de aliviar ou evitar
sofrimento para os pacientes.
o Eutanásia ativa — Ato deliberado de provocar a morte sem sofrimento do paciente,
por fins humanitários (por exemplo, utilizando uma injeção letal);
o Eutanásia passiva — Quando a morte ocorre por omissão proposital em se iniciar
uma ação médica que garantiria a perpetuação da sobrevida (por exemplo, deixar
de se iniciar aminas vasoativas no caso de choque não responsivo à reposição
volêmica);
o Eutanásia de duplo efeito — Nos casos em que a morte é acelerada como
consequência de ações médicas não visando ao êxito letal, mas sim, ao alívio do
sofrimento de um paciente (por exemplo, emprego de morfina para controle da dor,
gerando, secundariamente, depressão respiratória e óbito).

ORTOTANASIA:

• Morte correta – orto: certo; thanatos: morte


• Traduz a morte desejável, na qual não ocorre o prolongamento da vida artificialmente,
através de procedimentos que acarretam aumento do sofrimento, o que altera o processo
natural do morrer.
• Morte sem sofrimento, que dispensa a utilização de métodos desproporcionais de
prolongamento da vida, tais como ventilação artificial ou outros procedimentos invasivos.
• A finalidade primordial é não promover o adiamento da morte, sem, entretanto, provocá-la;
é evitar a utilização de procedimentos que aviltem a dignidade humana na finitude da vida.
• Tem como grande desafio o resgate da dignidade do ser humano em seu processo final,
onde há um compromisso com a promoção do bem-estar da pessoa em fase terminal.

SUICÍDIO ASSISTIDO:

• Enquanto na eutanásia um terceiro age e desta ação advém, diretamente, a morte; no


suicídio assistido, a morte não decorre diretamente da ação de terceiro, sendo uma
consequência de uma atitude do próprio paciente, sob a assistência de um terceiro
o Assistência esta que pode compreender uma orientação, auxilio ou apenas a
observação deste terceiro

OBJETIVO 03 – DISCUTIR O PARECER DO CFM PARA DISTANÁSIA

OBJETIVO 04 – DIFERENCIAR MORTE ENCEFÁLICA DE ESTADO VEGETATIVO


PERSISTENTE

COMA:

• Falência dos mecanismos normais de manutenção do estado de consciência


• “É um estado em que o indivíduo não demonstra conhecimento de si próprio e do
ambiente, caracterizado pela ausência ou extrema diminuição do nível de alerta
comportamental (nível de consciência), permanecendo não responsivo aos estímulos
internos e externos, com os olhos fechados, e que decorre de lesão ou disfunção do
sistema reticular ascendente, de lesão difusa do córtex cerebral ou de ambas”.
• Estado grave de coma profundo, prolongado, onde existem ainda algumas poucas
atividades ou respostas neurológicas reflexas, tem sido denominada de estado vegetativo
persistente (Jennett). Deste estado de coma profundo, onde em geral só as funções
vegetativas estão presentes, poucas vezes o paciente pode ter, depois de algumas
semanas ou meses, algum grau de recuperação do estado vegetativo, mas mesmo assim,
quase sempre com graves seqüelas. Neste estado de coma profundo ou vegetativo
persistente, mantém-se algumas atividades reflexas, vegetativas, de atividade elétrica
encefálica e alguma atividade respiratória, podendo o paciente assim permanecer não
reversível por meses ou anos, terminando com a morte.
• Se o estado de coma será ou não reversível, é apenas um prognóstico estatístico,
estabelecido pela adequada ou inadequada resposta neurológica do encéfalo (cérebro,
cerebelo e tronco cerebral) e as alterações clínicas gerais, como oxigenação, pressão
arterial, função renal, pulmonar, etc. Quanto mais dias se passe em coma profundo, pior o
prognóstico estatístico. Após 3 ou 4 semanas, a chance de permanecer vegetativo é
bastante considerável estatisticamente.
• Nas situações de coma irreversível ou EVP existe ainda algum grau de funcionamento do
tronco cerebral, com uma lesão severa e difusa dos hemisférios cerebrais. Nesta situação
o paciente deixa de ter vida voluntária, mantendo-se as funções básicas do organismo, tais
como, ciclo de sono e vigília e reatividade a estímulos. Esta situação difere da ME, pois no
EVP existe ainda vida na pessoa acometida

Estado vegetativo ocorre quando o cérebro (a parte do cérebro que controla o pensamento e o
comportamento) não funciona mais, mas o hipotálamo e o tronco cerebral (as partes do cérebro
que controlam as funções vitais, tais como ciclos de sono, temperatura corporal, respiração,
pressão arterial, frequência cardíaca e consciência) continuam a funcionar. Assim, as pessoas
abrem os olhos e parecem acordadas, mas de outra forma não respondem a estímulos de forma
significativa.

• As pessoas em estado vegetativo conseguem abrir os olhos, mas não conseguem falar ou
fazer coisas que requeiram pensamento ou intenção consciente, e não têm consciência de
si próprias nem de seu ambiente
• O estado vegetativo é raro. Tradicionalmente, um estado vegetativo tem sido considerado
um transtorno de longa duração (crônico). Ou seja, se à primeira vista uma pessoa estiver,
aparentemente, em
estado vegetativo,
mas recuperar
alguma função
mental (cognitiva)
em algumas
semanas, essa
pessoa nunca
esteve em um
estado vegetativo.
• Um estado
vegetativo que
dura mais de um
mês é considerado
um estado
vegetativo
persistente. As
pessoas com um
estado vegetativo
persistente raramente recuperam qualquer função mental ou capacidade de interagir com o
ambiente de forma significativa.
• Em termos de desenvolvimento temporal, designa-se o estado vegetativo o quadro clínico
inicial, estado vegetativo continuado quando o quadro persiste pelo menos 4 semanas e
estado vegetativo persistente quando as alterações neurológicas persistem por mais de 3
meses após anoxia cerebral e 12 meses na sequência de traumatismo craniano.

MORTE ENCEFÁLICA:

• Todos os pacientes em morte encefálica estão em parada respiratória e só o auxílio da


respiração mecânica permite mantê-los até por alguns dias nesta condição, pois, sem a
oxigenação respiratória haveria parada cardíaca em horas ou minutos.
• Neste estado, o paciente não tem mais nenhuma atividade cerebral (encefálica) e o seu
diagnóstico traduz uma condição irreversível, ou seja, o paciente está cientificamente e
irreversivelmente morto, porque mesmo que se utilize todas as terapêuticas e
procedimentos possíveis, ele terminará em parada cardíaca. Por este fato, o estado de
morte encefálica, um critério científico de irreversibilidade da morte, permite desligar os
suportes de vida utilizados até aquele momento e retirar ou não órgãos para transplante,
porque o paciente embora com batimento cardíaco está morto.
• procedimentos para a determinação da morte encefálica devem ser iniciados em todos os
pacientes que apresentem coma não perceptivo, ausência de reatividade supraespinhal e
apneia persistente.
• O quadro clínico do paciente também deve apresentar todos os seguintes pré-requisitos:
presença de lesão encefálica de causa conhecida e irreversível; ausência de fatores
tratáveis que confundiriam o diagnóstico; tratamento e observação no hospital pelo período
mínimo de seis horas; temperatura corporal superior a 35º graus; e saturação arterial de
acordo com critérios estabelecidos pela Resolução. No caso de crianças, os parâmetros
são um pouco diferentes, com um período de observação maior.
• Além do exame clínico, que deve ser realizado por dois médicos diferentes, com um
intervalo mínimo de uma hora entre o primeiro e o segundo, o paciente deve ser submetido
a um teste de apneia e a exames complementares. “É obrigatória a realização desses
exames para que seja demonstrada, de forma inequívoca, a ausência de perfusão
sanguínea ou de atividade elétrica ou metabólica encefálica e, também, para que se tenha
uma confirmação documental da situação”, explica Hideraldo Cabeça.
o Esses exames podem ser a angiografia cerebral, o eletroencefalograma, o doppler
transcraniano e a cintilografia. O laudo deve ser assinado por profissional com
comprovada experiência e capacitação para a realização desse tipo de exame.
o O paciente também deve ser submetido a um teste de apneia, que estimula o centro
respiratório de forma máxima. É necessária a realização de um único teste
• Ausência definitiva de função no encéfalo, persistindo porém o funcionamento de alguns
órgãos espontaneamente ou com auxílio de aparelhos e drogas.
o Diagnóstico de certeza da cessação irreversível de todas as funções do encéfalo
(cérebro, cerebelo e tronco cerebral).
• A partir da constatação da ME na UTI, deixa de existir a pessoa e passa a existir apenas
um cadáver, mantido com vários aparelhos e drogas para sustentar funcionante alguns
órgãos, até o desligamento destes suportes para transplante ou não, ou a inexorável
parada cardíaca.

OBJETIVO 05 – CONHECER OS ASPECTOS LEGAIS DO TESTAMENTO VITAL

→ Documento escrito no qual uma pessoa dispõe acerca da sua vontade quanto aos cuidados
médicos que pretende receber quando perca a capacidade de exprimir seus desejos, ou se
encontrar em estado de incapacidade que não possa decidir por si.

• A declaração escrita em documento particular, com firma reconhecida é, possivelmente, a


forma que garante maior segurança jurídica.
• Do ponto de vista médico é recomendável que o testamento vital seja anexado ao
prontuário médico.
• Caso não exista documento anterior, mas o paciente declare ao médico seu desejo, a
declaração deverá ser informada no prontuário. Assinada pelo paciente, estará fundado o
testamento vital.
• Hipóteses de orientações antecipadas são, exemplificativamente:
o A recusa de tratamento médico e limitação consentida de tratamento;
o A retirada de suporte vital (RSV) → a suspensão de mecanismos artificiais de
manutenção da vida, como os sistemas de hidratação e de nutrição artificiais e/ou o
sistema de ventilação mecânica;
o A não-oferta de suporte vital (NSV) → por sua vez, significa o não-emprego desses
mecanismos.
o Ordem de não-ressuscitação ou de não-reanimação (ONR)
Resolução CFM n. 1931/2009: em pelo menos duas passagens impõe o dever de e garante ao
médico a liberdade para acatar os desejos dos pacientes em relação às terapias a serem
adotadas em si – Sendo vedado ao médico:

• Art. 24. Deixar de garantir ao paciente o exercício do direito de decidir livremente sobre
sua pessoa ou seu bem estar, bem como exercer sua autoridade para limitá-lo.
• Art. 41. Abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante
legal. Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cuidados
paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou
obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua
impossibilidade, a de seu representante legal.

Delas se extrai que há permissão legal para que os médicos acatem os desígnios dos pacientes –
no que aqui é mais pertinente – manifestados em seus testamentos vitais, à exceção explícita da
eutanásia, que não é uma das possíveis hipóteses a serem trazidas por um testamento vital.

CFM Resolução 1.995/2012: Trata-se do ato normativo vigente na legislação brasileira sobre
testamento vital, formulada a partir da competência atribuída aos Conselhos de Medicina pela Lei
nº 3.268/57.

• Logo na introdução de sua exposição de motivos, extrai-se que previsões acerca de


disposições antecipadas de vontade do paciente não foram incluídas no Código de Ética
Médica. A autonomia do paciente, no entanto, ensejou a iniciativa da resolução.
• A Resolução CFM nº 1.995/2012 define que, quando o paciente manifestar um conjunto de
desejos, de forma expressa e prévia, o médico levará em conta sua vontade em momento
de incapacidade de se expressar livremente. Há previsão de prevalência da vontade do
paciente, quando manifestada nos moldes anteriormente expostos, em detrimento de
parecer não médico ou da vontade de familiares.
o Art. 1º Definir diretivas antecipadas de vontade como o conjunto de desejos, prévia
e expressamente manifestados pelo paciente, sobre cuidados e tratamentos que
quer, ou não, receber no momento em que estiver incapacitado de expressar, livre e
autonomamente, sua vontade.
o Art. 2º Nas decisões sobre cuidados e tratamentos de pacientes que se encontram
incapazes de comunicar-se, ou de expressar de maneira livre e independente suas
vontades, o médico levará em consideração suas diretivas antecipadas de vontade.
▪ § 1º Caso o paciente tenha designado um representante para tal fim, suas
informações serão levadas em consideração pelo médico.
▪ § 2º O médico deixará de levar em consideração as diretivas antecipadas de
vontade do paciente ou representante que, em sua análise, estiverem em
desacordo com os preceitos ditados pelo Código de Ética Médica.
▪ § 3º As diretivas antecipadas do paciente prevalecerão sobre qualquer outro
parecer não médico, inclusive sobre os desejos dos familiares.
▪ § 4º O médico registrará, no prontuário, as diretivas antecipadas de vontade
que lhes foram diretamente comunicadas pelo paciente.
▪ § 5º Não sendo conhecidas as diretivas antecipadas de vontade do paciente,
nem havendo representante designado, familiares disponíveis ou falta de
consenso entre estes, o médico recorrerá ao Comitê de Bioética da
instituição, caso exista, ou, na falta deste, à Comissão de Ética Médica do
hospital ou ao Conselho Regional e Federal de Medicina para fundamentar
sua decisão sobre conflitos éticos, quando entender esta medida necessária
e conveniente.

No âmbito jurídico, o Conselho Nacional de Justiça → formulou, em maio de 2014 o


enunciado n° 37, na I Jornada de Direito da Saúde, no qual dispõe que:

• As diretivas ou declarações antecipadas de vontade que especificam os tratamentos


médicos que o declarante deseja ou não se submeter quando incapacitado de expressar-
se autonomamente, devem ser feitas preferencialmente por escrito, por instrumento
particular, com duas testemunhas, ou público, sem prejuízo de outras formas inequívocas
de manifestação admitidas em direito.
• O testamento vital pode fazer-se em instrumento público, lavrado perante tabelião, ou
instrumento particular registrado no Cartório de Títulos e Documentos. Pode ser mera
declaração, aconselhando-se a presença de duas testemunhas instrumentárias.
O testamento vital é regulamentado em quase toda a Europa, nos Estados Unidos e em alguns
outros países do continente americano, como México, Argentina e Uruguai. No Brasil, ainda não
existe legislação específica sobre o tema, mas isso não significa que o documento não tenha
validade por aqui. A Constituição brasileira contempla os princípios da dignidade da pessoa
humana, da autonomia privada e a proibição constitucional de tratamento desumano.

“Significa dizer que a Lei Maior do Brasil reconhece o direito à vida desde que esta seja digna e
mais, reconhece a autonomia da pessoa. Assim, obrigar uma pessoa a se submeter a um
tratamento que ele não deseja quando este não terá função de lhe devolver uma vida plena é
degradante”

Em outubro de 2012, o Conselho Federal de Medicina aprovou a resolução nº 1995/12 que


permite ao paciente registrar seu testamento vital na ficha médica ou no prontuário. Apesar do
Poder Judiciário ter reconhecido a constitucionalidade da resolução, Luciana pontua que apenas
uma lei específica colocaria fim aos questionamentos sobre a validade do documento, além de
poder regulamentar questões específicas, como o procedimento de registro, prazo de validade e
idade mínima do outorgante.

OBJETIVO 06 – LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE EUTANÁSIA, DISTANÁSIA, ORTOTANÁSIA


E SUICIDIO ASSISTIDO

ORTOTANÁSIA

• Resolução N 1.805/2006 do CFM


o É permitido ao médico limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que
prolonguem a vida do doente em fase terminal de enfermidade grave e incurável,
respeitando a vontade da pessoa, ou de seu representante legal
▪ O médico tem a obrigação de esclarecer ao doente ou representante legal as
modalidades terapêuticas adequadas para cada situação
▪ A decisão referida no caput deve ser fundamentada e registrada no
prontuário.
▪ É assegurado ao doente ou representante legal o direito de solicitar uma
segunda opinião médica.
▪ Em se tratando de doente incapaz, ausente o representante legal, incumbirá
ao médico decidir sobre as medidas mencionadas no caput deste artigo.
• O doente continuará a receber todos os cuidados necessários para aliviar os sintomas que
levam ao sofrimento, assegurada à assistência integral, o conforto físico, psíquico, social,
espiritual, inclusive assegurando a ele o direito da alta hospitalar.
• É vedado ao médico manter os procedimentos que asseguravam o funcionamento dos
órgãos vitais, quando houver sido diagnosticada a morte encefálica em não doador de
órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante, nos termos do disposto
o A decisão mencionada no caput deve ser precedida de comunicação e
esclarecimento sobre a morte encefálica ao representante legal do doente.

No item XXII de seu Capítulo I, que trata dos Princípios Fundamentais da Medicina, o Código de
Ética Médica de 2009 dispõe, expressamente, que “nas situações clínicas irreversíveis e
terminais, o médico evitará a realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos
desnecessários e propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os Cuidados Paliativos
apropriados”. E, depois de proscrever a eutanásia em seu artigo 41, o novo Código de Ética
Médica afirma, também de forma expressa, no parágrafo único desse mesmo dispositivo
normativo, que “nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os
Cuidados Paliativos disponíveis, sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou
obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua
impossibilidade, a de seu representante legal”. Como se vê, atualmente, no âmbito ético da
prática da medicina, está consolidado, às completas, o entendimento de repúdio à “distanásia” e
de total aprovação da “ortotanásia”, cuja prática há de ser estimulada

Para que uma omissão possa ser considerada penalmente relevante, para que um crime
comissivo possa ser praticado por omissão, e, assim, para que um homicídio (comissivo) possa
ser praticado por omissão, é imprescindível que os requisitos do mencionado dispositivo penal
estejam caracterizados: a) possibilidade de agir para evitar o resultado; e b) dever de impedir o
resultado14. Portanto, para praticar um homicídio por omissão, o médico precisa ter a
possibilidade de evitar a morte do paciente e, também, o dever jurídico de agir para evitar essa
morte. Exige-se, pois, possibilidade e dever de evitar o resultado morte.

• O doente é terminal e a enfermidade é incurável; a morte é materialmente inevitável; não


há esperada reversibilidade e não existe possível transitoriedade; logo, nessa situação
restrita e específica, se o médico limita ou suspende procedimentos e tratamentos
destinados exclusivamente a prolongar a vida desse doente, não está praticando uma ação
dirigida a causar a sua morte e não está praticando a “eutanásia”, nem a “eutanásia ativa”
nem a “eutanásia passiva”, mas, apenas e tão somente, está praticando uma omissão de
assistência inútil. E essa omissão não é relevante para o direito penal, diante da
irreversibilidade da doença e da inevitabilidade da morte. Essa é a situação que caracteriza
nitidamente a “ortotanásia”, que não tipifica o crime de homicídio e que não é, portanto,
criminosa.

SUICÍDIO ASSISTIDO
• Instigação e o auxílio ao suicídio, elencado no artigo 122 do Código Penal e o homicídio
em sua modalidade dolosa, previsto no artigo 121 do Código Penal. Deste modo, aquele
que atendendo ao pedido de um doente incurável, provocar-lhe a morte, responderá pelo
crime de homicídio doloso, art. 121, Capítulo I - Dos Crimes Contra a Vida, que estabelece:
o Art. 121. Com efeito, do mesmo modo e pelas mesmas razões já expostas, isto é,
por ser a vida considerada um bem jurídico inviolável, aquele que prestar
assistência ao suicídio será responsabilizado pelo crime de induzimento, instigação
ou auxilio ao suicídio, elencado art. 122, do Código Penal, que determina:
▪ Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para
que o faça:
✓ Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou
reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão
corporal de natureza grave
✓ Aumento de pena I - se o crime é praticado por motivo egoístico ou II -
se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a
capacidade de resistência.
• Como se vê, no “auxílio ao suicídio”, quem causa a ocisão é a própria pessoa, que se mata
com o auxílio indireto de terceiros. Assim, se o médico fornece uma substância letal ao
doente, que a ingere ou a injeta no próprio corpo, morrendo em decorrência dessa prática
(suicídio), a conduta do médico, comissiva, será enquadrada no tipo do artigo 122 do
Código Penal (auxílio ao suicídio).

EUTANÁSIA

• CFM - Resolução n. 1.931/2009, que entrou em vigor em 13 de abril de 2010, por meio da
qual se proíbe a eutanásia, conforme art. 41, e se autoriza a ortotanásia, de acordo com o
parágrafo único do mesmo dispositivo, a saber:
o É vedado ao médico: Art. 41. Abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste
ou de seu representante legal.

Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os
cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou
obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua
impossibilidade, a de seu representante legal.

• O primeiro Código Criminal brasileiro, de 1830, nada dizia sobre eutanásia, e tipificava o
auxílio ao suicídio:
o Art. 198 - Ajudar alguém a suicidar-se ou fornecer-lhe meios para esse fim, com
conhecimento de causa: pena de prisão por dois anos ou seis meses".
o Art. 121 do Código Penal: Matar alguém. Pena - Reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte)
anos.
▪ Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou
moral (...) o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
▪ Não constituiu crime deixar de manter a vida de alguém por meio artificial, se
previamente atestada por dois médicos, a morte como iminente e inevitável, e
desde que já haja consentimento do paciente, ou na sua impossibilidade, de
ascendente, descendente, cônjuge, companheiro ou irmão.
• Nos casos de “eutanásia”, a conduta do agente subsume-se com exação ao tipo
“comissivo” do homicídio. É que, no procedimento eutanásico, o agente pratica uma
conduta de “ação”, pois a morte é causada mediante uma ação, como, por exemplo, no
caso da aplicação de uma injeção letal
• Induvidosamente, portanto, quem pratica a eutanásia “mata alguém”, ou seja, realiza uma
conduta de ação, que se tipifica no artigo 121 do Código Penal. O fato é típico. Trata-se de
homicídio. E, de acordo com o caput do artigo 41 do Código de Ética Médica, a
“eutanásia”, exatamente por ser um homicídio sob o aspecto jurídico-penal, também é
condenável no âmbito ético da medicina
• Trata-se de um “homicídio privilegiado”. Como dispõe o parágrafo único do artigo 121 do
Código Penal, a pena do homicídio pode ser diminuída de um sexto a um terço, se o
agente comete o crime “impelido por relevante valor social ou moral”. Assim, nos casos de
“eutanásia”, no Brasil, pode ocorrer uma diminuição de censura ou de reprovação, mas
haverá crime.

DISTANÁSIA

• No dia 31 de agosto de 2012 o Conselho Federal de Medicina (CFM) aprovou a Resolução


1.995 21, dispondo sobre diretivas antecipadas de vontade. Esta é a primeira
regulamentação sobre a matéria no país, com a qual o CFM segue a tradição de se
posicionar sobre temas bioéticos antes do Poder Legislativo.
• O médico que insistir em manter um tratamento ou qualquer procedimento inócuo,
artificioso, postiço e gravoso para o doente terminal, acometido de uma doença incurável,
expondo-o, assim, à dor e ao sofrimento, contrariando a vontade do paciente ou de seu
representante legal, estará praticando a censurável distanásia, e também estará sujeito a
responder, no âmbito da responsabilidade civil e criminal, pelas lesões corporais22, pelo
constrangimento ilegal23, pela tortura e pelo tratamento cruel que impuser ao paciente e,
também, à sua família.
• O inciso III do artigo 5º da Constituição Federal dispõe, expressamente, que “ninguém será
submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante
• Constituição Federal elegeu a dignidade humana, expressamente, no inciso III de seu
artigo 1º, como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil e do Estado
Democrático de Direito
• Viola os direitos humanos e a dignidade do doente, é ilícita, é inaceitável e pode mesmo
caracterizar uma conduta criminosa
• Paciente tem direito à autonomia, como afirmam a Declaração da Associação Médica
Mundial sobre os Direitos do Paciente26 e a Lei Orgânica da Saúde27, o que implica
reconhecer, também, como corolário do princípio da autonomia, o direito de aceitar ou
recusar tratamentos
• O CEM/2009, além de acolher e estimular a prática da ortotanásia, reprova e censura,
eticamente, a distanásia

É verdade que o artigo 57 do Código de Ética Médica, de 2009, dispõe que o médico não pode
deixar de utilizar todos os meios disponíveis de diagnóstico e tratamento a seu alcance em favor
dos pacientes. Mas, obviamente, tal dever médico não justifica a mantença de procedimentos
inúteis, fúteis e causadores de sofrimento e dor, antes indica a sua ilicitude e a falta de
compromisso ético quando afirma que os procedimentos devem ser empregados “em favor do
paciente”. Na realidade, no que diz respeito ao doente terminal acometido de doença incurável,
diante da impossibilidade terapêutica da cura, não há dever de curar, nem de salvar, mas, sim,
apenas e tão somente, “dever de cuidar”, ou seja, de garantir ao paciente todos os “tratamentos e
Cuidados Paliativos” cabíveis e disponíveis para aliviar a sua dor, proporcionando-lhe condições
para que prossiga, naturalmente, nos lindes do possível, sem sofrimento e sem dor.

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