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Eletrônica:

circuitos
analógicos e
digitais
Eletrônica: circuitos
analógicos e digitais

Charles William Polizelli Pereira


Giancarlo Michelino Gaeta Lopes
© 2018 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
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Editorial
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André Augusto de Andrade Ramos
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Lidiane Cristina Vivaldini Olo

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Pereira, Charles William Polizelli


P436e Eletrônica: circuitos analógicos e digitais / Charles
William Polizelli Pereira, Giancarlo Michelino Gaeta Lopes. –
Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017.
192 p.

ISBN 978-85-522-0307-0

1. Circuitos eletrônicos – simulação por computador. I.


Lopes, Giancarlo Michelino Gaeta. II. Título.
CDD 005.3

2018
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
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Sumário

Unidade 1 | Lógica digital 7

Seção 1 - Sistemas numéricos e códigos digitais 10


1.1 | Sistema decimal 10
1.2 | Sistema binário de numeração 12
1.2.1 | Conversão do sistema binário para o decimal 14
1.2.2 | Conversão do sistema decimal para o binário 14
1.3 | Sistema octal de numeração 16
1.3.1 | Conversão do sistema octal para o decimal 17
1.3.2 | Conversão do sistema decimal para o octal 18
1.3.3 | Conversão do sistema octal para o binário 18
1.3.4 | Conversão do sistema binário para o octal 19
1.4 | Sistema hexadecimal de numeração 20
1.4.1 | Conversão do sistema hexadecimal para o binário 21
1.4.2 | Conversão do sistema binário para o hexadecimal 22
1.5 | Codificação 23
1.5.1 | Código BCD 23
1.5.2 | Códigos alfanuméricos – ASCII 24

Seção 2 - Funções lógicas 27


2.1 | Função AND 27
2.2 | Função OR 30
2.3 | Função NOT 32
2.4 | Função NAND 33
2.5 | Função NOR 34
2.6 | Função XOR 35
2.6 | Função XNOR 36

Seção 3 - Funções de várias variáveis 40


3.1 Expressões obtidas a partir de circuitos lógicos 40
3.2 | Circuitos obtidos de expressões lógicas 42
3.3 | Expressões lógicas obtidas a partir da tabela verdade 43

Seção 4 - Álgebra de Boole 48


4.1 | Álgebra de Boole: variáveis e expressões 48
4.2 | Teoremas booleanos de uma variável 49
4.3 | Teoremas booleanos de mais variáveis 50
4.4 | Teoremas De Morgan 52

Unidade 2 | Sistemas digitais 59

Seção 1 - Circuitos Combinacionais 63


1.1 | Equivalência entre blocos lógicos 63
1.1.1 | Porta NOT a partir de porta NAND 63
1.1.2 | Porta NOT a partir de porta NOR 64
1.1.3 | Porta NOR a partir de portas NOT e AND 65
1.1.4 | Porta OR a partir de portas NOT e NAND 66
1.1.5 | Porta NAND a partir de portas NOT e OR 66
1.1.6 | Porta AND a partir de portas NOT e NOR 67
1.2. | Projeto de circuitos combinacionais 67

Seção 2 - Circuitos sequenciais 74


2.1 | Flip-flops 74
2.1.1. | Flip-flop RS 74
2.1.2. | Flip-flop JK 78
2.1.3. | Flip-flop T 80
2.1.4. | Flip-flop D 81
2.2. | Contadores 82
2.2.1. | Contadores assíncronos 82
2.2.2. | Contadores síncronos 85
Unidade 3| Circuitos analógicos e digitais 101

Seção 1 - Amplificadores de potência 105


1.1 Operação classe A 105
1.1.1 Fórmulas de potência da operação classe A 107
1.1.2 Rendimento do amplificador classe A 109
1.2 Operação classe B 110
1.2.1 Funcionamento do circuito push-pull 112
1.2.2 Fórmulas de potência da operação classe B 113
1.2.3 Rendimento do amplificador classe B 115
1.2.4 Polarização do amplificador classe B 116
1.2.5 Dissipadores de calor 118
1.3 Amplificador classe C e D 119

Seção 2 - Comportamento em alta frequência 123


2.1 Conceito de decibel 123
2.2 Banda de frequência 125
2.3 Análise para baixas frequências 127
2.4 Teorema da Capacitância de Miller 132
2.5 Análise para altas frequências 133

Seção 3 - Amplificadores operacionais e diferenciais 137


3.1 Amplificador diferencial 138
3.2 Amplificador operacional 139
3.2.1 Diagrama esquemático do 741 139
3.2.2 Características do amp-op 141
3.2.3 Alimentação do amp-op 143
3.3 Modos de operação do amp-op 143
3.3.1 Sem realimentação 144
3.3.3 Realimentação negativa 144
3.4 Circuitos básicos com amp-ops 145

Unidade 4 | Circuitos eletrônicos e aplicações 153

Seção 1 - Realimentação e circuitos osciladores 156


1.1 Realimentação: conceitos e tipos de conexão 156
1.2 Circuitos práticos de realimentação 159
1.3 Considerações sobre fase e frequência em um amplificador com
realimentação 162
1.4 Operação dos circuitos osciladores 164
1.5 Oscilador de deslocamento de fase 166
1.6 Oscilador em ponte de Wien 167
1.7 Gerador de onda quadrada e triangular 168

Seção 2 - Fontes reguladoras de tensão e corrente 172


2.1 Parâmetros de regulação 172
2.2 Reguladores shunt 173
2.3 Reguladores série 176
2.4 Reguladores lineares integrados 180
Apresentação
Este material didático possui a função de apresentar ao estudante
de engenharia conceitos relacionados à eletrônica digital e analógica.
Assim, é possível dizer que este material condensa fundamentos que
irão permitir a análise e elaboração de circuitos eletrônicos em geral.
Para isso, serão abordados temas que são fundamentais a qualquer
engenheiro, seja ele da área elétrica ou não, aumentando a abrangência
da formação em engenharia.
É esperado que ao final do estudo deste material você seja capaz
de identificar, compreender e analisar circuitos eletrônicos diversos,
que utilizem como componentes principais diodos, transistores,
amplificadores operacionais e também circuitos integrados digitais.
Neste livro, as características básicas de funcionamento dos
dispositivos semicondutores são tratadas de forma resumida. A
abordagem principal se dá no uso de tais componentes em circuitos
práticos e como eles operam dentro do circuito que fazem parte.
Portanto, caso haja dúvidas sobre a operação de um diodo ou
transistor, e também outros elementos básicos de eletrônica, você
pode consultar o livro didático da disciplina de Circuitos elétricos
e instrumentação eletrônica ou algum livro de eletrônica citado nas
referências desse material.
Existem duas vertentes principais no que tange aos conteúdos
abordados nesse material, a da eletrônica digital, tratada nas Unidades
1 e 2 e da eletrônica analógica, estudada nas Unidades 3 e 4. Os
conceitos dessas duas vertentes são muito importantes, pois permitem
que você saiba trabalhar com os circuitos digitais e fazer com que eles
trabalhem em conjunto com os circuitos analógicos.
Na Unidade 1, você é convidado a estudar a lógica digital, na qual
são abordados conceitos como sistemas numéricos, códigos digitais,
funções lógicas, álgebra de Boole, entre outros. Esses assuntos
dão abertura para o estudo da Unidade 2, que trata dos circuitos
combinacionais de forma geral, estudando o processo de simplificação
e projeto. Além disso, a Unidade 2 apresenta conceitos relacionados
aos circuitos sequenciais, que possuem como base os flip-flops.
Já a Unidade 3 trata da eletrônica analógica, trazendo conceitos
relacionados a amplificadores operacionais, amplificadores de potência
e comportamento dos componentes em alta frequência. Conceitos
esses que se complementam aos tratados na Unidade 4, que apresenta
um tópico sobre realimentação e circuitos osciladores e outro tópico
sobre reguladores de tensão e corrente.
Desta forma, você está convidado a estudar estes assuntos que
são de grande importância para sua formação, aprofundando seu
conhecimento em circuitos eletrônicos digitais e analógicos.
Bons estudos!
Unidade 1

Lógica digital

Charles William Polizelli Pereira

Objetivos de aprendizagem
Após o estudo desta unidade, você será capaz de:

• Entender os sistemas de numeração e fazer a conversão


entre esses sistemas.

• Compreender como um computador lê os dados vindos


dos periféricos, como o teclado.

• Conhecer as funções lógicas básicas e as derivações delas.

• Aplicar as portas lógicas em projetos de circuitos digitais.

• Fazer a modelagem da tabela verdade até a implementação


de um circuito lógico.

• Conhecer e aplicar os teoremas de simplificação de circuito,


com a finalidade de otimizar a aplicação de um circuito.
Introdução à unidade
Esta unidade tem como objetivo mostrar o mundo no qual os
computadores atuam, o mundo digital. É de extrema importância
conhecê-lo para entender o comportamento de toda tecnologia
existente hoje. Não seria possível desenvolver cálculos, implementar
sistemas robóticos e de informação se não fosse o mundo digital e a
sua comunicação com o mundo analógico, conhecido como mundo
real.
Nesta primeira unidade, serão apresentados conceitos básicos
que servirão para a compreensão do funcionamento dos mais
diversos sistemas controlados, explorando o conceito por trás dos
microcontroladores e microprocessadores, e a leitura do mundo
real para realizar atividades em computadores e passar o resultado
novamente para esse mundo.
Na primeira seção desta unidade, serão apresentados os principais
sistemas de numeração e como eles são de extrema importância
quando falamos de controladores e processadores. Eles servem como
base na compreensão da forma como os computadores trabalham,
e, uma vez entendido como isso acontece, é possível implementar
diversos projetos utilizando controladores de variados tipos.
Na segunda seção, serão apresentadas as portas lógicas, as quais
são a base para o funcionamento dos controladores e processadores,
além disso, o conhecimento sobre as portas lógicas serve de base para
a lógica de programação em softwares.
Na terceira seção, é apresentada a álgebra booleana, a qual serve
para a modelagem matemática de sistemas de muitas variáveis, além
da sua equivalência entre a tabela verdade, a expressão booleana e o
circuito usando portas lógicas.
Na quarta e última seção, é apresentada a simplificação desses
circuitos lógicos obtidos da modelagem feita dos sistemas, mostrando
os principais teoremas booleanos usados na simplificação dos sistemas
lógicos para uma implementação mais eficiente.
Esperamos que você, aluno, faça bom aproveito dos conceitos
apresentados e que eles possam auxiliá-lo nos projetos de sistemas
digitais.
Seção 1
Sistemas numéricos e códigos digitais
Introdução à seção

Desde a antiguidade, o ser humano tem a necessidade de realizar


contagens. Quantas frutas tem em uma fruteira, ou quantos carros
passam por uma via, ou quanto dinheiro é necessário para comprar
um alimento, ou quantos animais tem em um certo pasto?
Não se sabe ao certo quando surgiram os números, no entanto,
sabemos que sem essa simbologia, que representa quantidades, não
seria possível realizar contagens e nem representar quantidades, não teria
como os sem ela não existiriam os computadores e nem a engenharia.
Desde pequenos temos contato com os números decimais, ou
seja, na base 10. Você sabia que existem outros sistemas numéricos?
Nesta seção, mostraremos que há outras maneiras de representar
quantidades, mas que seguem a mesma lei de formação que
conhecemos para os sistemas decimais.
1.1 Sistema decimal
O sistema decimal é o sistema com o qual temos mais familiaridade,
pois desde a infância aprendemos a contar os objetos com ele. Você já
prestou atenção na lógica com a qual ele trabalha?
O sistema decimal é composto por dez algarismos que são: 0, 1, 2,
3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9. Esse sistema também é conhecido como sistema de
base 10 e é um sistema de valor posicional, ou seja, o valor dos seus
dígitos depende da sua posição. Como exemplo, pegamos o número
234 (duzentos e trinta e quatro), em que o número 2 representa duas
centenas, o número 3 representa três dezenas e o número 4 representa
quatro unidades, ou seja:

200 +
30 +
4+
234

O nosso exemplo, 234, também pode ser representado por soma e


multiplicação de números de base 10:

10 U1 - Circuitos analógicos e digitais


234 = 2 ⋅ 100 + 3 ⋅ 10 + 4 ⋅ 1
234 = 2 ⋅ 102 + 3 ⋅ 101 + 4 ⋅ 100
234 = 200 + 30 +4

O número 234 possui três dígitos, e o primeiro dígito (número


2) possui maior peso em relação ao restante dos dígitos, ou seja, o
número 2 representa um peso maior que o dígito 3 e o dígito 4. O
primeiro dígito (da esquerda para a direita) é o dígito mais significativo,
ou Most Significant Digit (MSD). Já o último dígito, o número 4, é o
menos significativo, ou Least Significant Digit (LSB).
Observando a representação do número 234 por multiplicação e
soma de base 10, pode ser observado que o expoente da base 10 do
número MSB é o maior número dos outros expoentes e o expoente do
LSB é sempre zero. De forma genérica, qualquer número de qualquer
base pode ser representado como mostrado na Equação 1.1.

x = d1 ⋅ (base )n −1 + d 2 ⋅ (base )n − 2 + d3 ⋅ (base )n −3 ... + d n ⋅ (base )0 (1.1)

Na equação, x é um número em uma certa base, d são os dígitos em


uma certa posição e n é o número de dígitos que o número x possui.
Para realizarmos a contagem de um número decimal, começamos
por zero na posição da unidade, contando até nove. Nesse ponto
é somado mais um na posição da dezena e é zerada a unidade,
recomeçando a contagem e seguindo essa lógica até atingir o número
99. Quando se chega nesse número, é somado mais um na unidade,
fazendo com que a unidade seja zerada e soma-se mais um na dezena.
Como a dezena também é nove, zera a dezena e soma mais um na
centena. Segue a Figura 1.1, que mostra essa lógica.

U1 - Circuitos analógicos e digitais 11


Figura 1.1 | Contagem decimal

Fonte: Tocci (2000, p. 5).

Na base 10 observamos que com N dígitos é possível contar até


10N números distintos e que começando do zero, o maior número
possível será sempre igual a 10N − 1.
1.2 Sistema binário de numeração
Assim como o sistema de numeração decimal segue uma lógica
de formação, o sistema binário também segue a mesma lógica,
diferenciando a base, que para o binário é 2.
É bastante difícil implementar um sistema digital com o sistema de
numeração decimal, porque seriam necessários 10 níveis diferentes
para representar uma contagem, portanto, os circuitos digitais foram
implementados utilizando o sistema binário de numeração, no qual
que se tem apenas dois níveis, zero ou um, representando estados
desligados ou ligados, apagados ou acesos.
A lógica do sistema decimal vale também para o sistema binário,
com a diferença de que no binário há apenas dois níveis, ou dois
algarismos. Para melhor entendimento, vamos pegar o número nove
em decimal para a representação em binário.
Fazendo a contagem, podemos montar a Tabela 1.1.

12 U1 - Circuitos analógicos e digitais


Tabela 1.1 | Contagem binária

Fonte: elaborada pelo autor.

A contagem dos números binários ocorre da mesma forma que a


dos números decimais, no entanto, há apenas dois algarismos. Então,
quando a contagem atinge um em uma certa posição, o próximo
número da contagem faz com que aquela posição reinicie a contagem
em zero e soma um na posição seguinte. Observemos a mudança do
número sete em binário para o número oito.

1 1
111
+1
1000

Podemos ler nessa soma, da direita para a esquerda, da seguinte


forma: “um mais um, zero, sobe um; um mais um, zero, sobe um; um
mais um, zero, sobe um e por último um”.
Para representar o número decimal oito em binário são necessários
quatro dígitos binários. Devido ao fato de um número binário ter mais
dígitos do que um número representado na forma decimal, ele pode
ser denominado de acordo com o conjunto desses dígitos. Um dígito
binário recebe o nome de bit (binary digit), o conjunto de 4 bits é
conhecido como nibble e o conjunto de oito bits é chamado de byte,
termo usualmente conhecido na computação.

U1 - Circuitos analógicos e digitais 13


1.2.1 Conversão do sistema binário para o decimal
Como o sistema decimal é o mais conhecido e mais utilizado,
muitas vezes é necessário fazer a conversão de um número binário
para um número decimal.
A técnica utilizada para essa conversão é utilizar a Equação 1.1, em
que x é o resultado em decimal da soma e multiplicação do conjunto
dos números binários. Continuando com o nosso exemplo de número
binário, sabemos que o número 1001 em binário corresponde a nove
em decimal, como visto na Tabela 1.1. Da mesma forma, ele pode ser
representado pelo esquema, de acordo com a posição de cada dígito,
ou seja:

23 22 21 20
1 0 0 1

Substituindo o número 1001 na Equação 1.1, de acordo com o


esquema apresentado, temos a Equação (1.2).

x = 1⋅ (2)4−1 + 0 ⋅ (2)4−2 + 0 ⋅ (2)4−3 + 1⋅ (2)0


(1.2)
x = 1⋅ (2)3 + 0 ⋅ (2)2 + 0 ⋅ (2)1 + 1⋅ (2)0

x = 1⋅ 8 + 0 ⋅ 4 + 0 ⋅ 2 + 1⋅ 1 = 9

1001 2 = 9 10

Mostrando que o número 1001 na base dois corresponde ao


número nove na base dez, como visto na tabela de contagem binária.
1.2.2 Conversão do sistema decimal para o binário
Tão importante quanto a conversão de binário para decimal, o
inverso também é de fundamental importância, pois algumas vezes
é necessário que um valor decimal seja convertido em binário para
que um sistema digital possa realizar operações. Um exemplo se dá
no funcionamento da sua calculadora que utiliza números binários
para a realização de suas operações matemáticas, e depois a própria
calculadora converte esse resultado de binário para decimal de forma

14 U1 - Circuitos analógicos e digitais


a apresentá-lo em um display.
O método mais utilizado para a conversão dos números decimais
para os binários é efetuar divisões sucessivas pela base, no caso do
binário, realizar divisões por dois, utilizando a Equação 1.3.

X 10 Base
(1.3)
Resto Resultado

Em que o dividendo X é o número decimal para o qual se quer o


valor em binário.
O divisor Base é a base para o qual queremos certo número, que,
no caso, para binário, é 2.
O Resto são os dígitos do número convertido, começando do
dígito LSB.
E o Resultado é o próximo número a se realizar a divisão, até que
ele seja 0.
Para melhor exemplificar, vamos continuar com o exemplo do
número 9 10 .

9 10 2
1° resto →1 4

Como o resultado ainda não é igual a 0, as sucessivas divisões


continuam, e o 1° resto obtido será o LSB do número binário requerido.
Fazendo agora a segunda divisão com o resultado obtido:

4 10 2
2° resto →1 2

Continuando até que o resultado seja zero:

2 10 2
3° resto →1 1

U1 - Circuitos analógicos e digitais 15


1 10 2
4° resto →1 0

Quando o resultado atinge o valor zero, o último resto sempre


será um e será tido como o MSB. Apresentando de forma didática os
restos achados, temos na Tabela 1.2 o número binário correspondente
a nove.

Tabela 1.2 | Número 9 10 em binário

MSB LSB
4° resto 3° resto 2° resto 1° resto
1 0 0 1
Fonte: elaborada pelo autor.

Portanto, 9 10 = 1001 2 , como esperado, mostrado na Tabela 1.2.


1.3 Sistema octal de numeração
Ainda há mais dois sistemas de numeração muito importantes na
computação, o sistema octal e o hexadecimal. O sistema octal possui
oito algarismos, ou seja, 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 e é utilizado para representar
um conjunto de bits, ou números binários.
Nos computadores, os números binários podem representar dados
numéricos, ou endereços de memórias, ou códigos de instrução, ou
até mesmo outros códigos alfanuméricos que representam caracteres.
Quando lidamos com uma grande quantidade de bits, é conveniente
representarmos na forma de um conjunto de bits, e é nisso que o
sistema octal é aplicado. Montando a sequência de contagem do
sistema octal, temos a Tabela 1.3.

16 U1 - Circuitos analógicos e digitais


Tabela 1.3 | Contagem em octal

Fonte: elaborada pelo autor.

A lógica de contagem do sistema octal segue a mesma lógica dos


outros sistemas de numeração, sendo possível fazer a conversão de
um sistema para outro. Como o sistema decimal é o que temos mais
familiaridade, de conhecimento comum, a conversão de qualquer
sistema de numeração para o decimal é muito importante e é realizada
conforme apresentaremos a seguir.
1.3.1 Conversão do sistema octal para o decimal
O método mais fácil para a conversão de qualquer sistema de
numeração para o decimal é o conceito básico de formação de um
número, que foi apresentado na Equação 1.1. Vamos pegar o número
16 em octal para converter em decimal, ou na base dez.=

x10 = 1⋅ (8)1 + 6 ⋅ (8)0

x10 = 8 + 6 = 1410

U1 - Circuitos analógicos e digitais 17


Como se pode observar na Tabela 1.3, o número octal 168
corresponde ao número decimal 1410 , e pode ser visto também que
corresponde ao número binário 0011102 . Como chega-se a esse
resultado em binário?
Antes, veremos como fazer a conversão decimal para o octal.
1.3.2 Conversão do sistema decimal para o octal
A conversão do sistema decimal para o qualquer outro sistema
é realizada fazendo a divisão sucessiva apresentada na Equação 1.2.
Continuando com o nosso exemplo de 1410 para se converter em
octal, temos:

14 10 8
1° resto →6 1

1 10 8
2° resto →1 0

Com os valores dos restos, lembrando sempre que a divisão é feita


de forma inteira e não há fracionário, o número é montado de acordo
com a Equação 1.4.

MSB LSB
2° resto 1° resto
(1.4)
1 6

Portanto, 14 10 = 16 8 , como esperado.


1.3.3 Conversão do sistema octal para o binário
O motivo para se usar o sistema octal, com oito algarismos,
é a facilidade da conversão para o sistema binário. Essa transição é
extremamente simples, pois consiste em converter cada dígito octal
em um conjunto de três dígitos binários. Como exemplo, iremos
utilizaremos o número octal 16 8 e o converteremos em binário.
001110
001110
1 6

1 6

11 
66
∴ 168 = 0011102 = 11102
001110

18 U1 - Circuitos analógicos e digitais


Como pode ser visto, a ideia de converter dígito por dígito do sistema
octal faz com que apareça um conjunto de três dígitos no sistema
binário. Isso acontece porque o sistema octal tem oito algarismos (de
0 a 7) e para contar oito algarismos no sistema binário, são necessários
três dígitos, como mostrado na Equação 1.5.

NMÁX = baseDÍGITO −1
(1.5)
3
NMÁX = 2 − 1 = 7

Para fazer a conversão rápida de qualquer número no sistema


octal para o binário, basta apenas conhecer os oito primeiros números
binários, correspondentes de zero a sete.
1.3.4 Conversão do sistema binário para o octal
Para essa conversão, basta seguir o processo inverso da conversão
do octal para o binário, tomando alguns cuidados. Para a transformação
para octal, precisamos separar o número binário em três grupos de
dígitos, a partir da direita. Mostrando como exemplo a conversão do
número 11102 , temos:

2° grupo 1° grupo
1 110

Como se pode observar, separamos primeiramente os três últimos


dígitos e vamos seguindo até não sobrar nenhum dígito binário. No
2° grupo só há um dígito, sabemos que todo zero à esquerda não
influencia no valor final de um número, portanto, completamos o
último grupo com zeros à esquerda, e fazemos a conversão de cada
conjunto de três dígitos em octal, como mostra o esquema:

2° grupo 1° grupo
001 110
1 6

U1 - Circuitos analógicos e digitais 19


Então, 0011102 = 11102 = 168 como apresentado na Tabela 1.3.
1.4 Sistema hexadecimal de numeração
O sistema hexadecimal usa a base 16, ou seja, possui 16 símbolos
possíveis. Como são conhecidos apenas dez números, como contar
até 16 usando apenas um dígito?
O sistema hexadecimal é composto por seis letras que
complementam a contagem. O sistema de contagem do sistema
hexadecimal é apresentado na Tabela 1.4.

Tabela 1.4 | Contagem em octal

Fonte: elaborada pelo autor.

É possível observar que a letra A corresponde à quantidade dez e o


último número possível com um único dígito hexadecimal é o quinze,
que corresponde à letra F, em hexa.
Então, no sistema hexadecimal é possível contar de 0 a 15 com um
único dígito, como mostra a Equação 1.6.

20 U1 - Circuitos analógicos e digitais


NMÁX = 161 − 1 = 15 (1.6)

O sistema hexadecimal é muito utilizado na área de


microprocessadores e no mapeamento de endereços de memórias
dos computadores e dos sistemas digitais, sendo aplicado em projetos
de hardwares e softwares.
Para fazer a conversão do sistema hexadecimal para o sistema
decimal e vice-versa, basta seguir o mesmo processo visto no sistema
de numeração octal e binário. Para a conversão hexadecimal para o
decimal é usado o processo de soma e produto de potências (Equação
1.1), tendo como base o número 16, e para a conversão decimal para o
sistema hexadecimal, são feitas divisões sucessivas até que o quociente
seja zero, em que os restos das divisões será o número hexadecimal
seguindo a ordem de LSB e MSB dada na Equação 1.3, e lembrando
que o número 10 equivale a A, 11 a B, 12 a C, 13 a D, 14 a E e 15 a F,
como mostrado na Tabela 1.4.
1.4.1 Conversão do sistema hexadecimal para o binário
Essa conversão é parecida com a do sistema octal para o binário,
com a diferença de que cada número hexadecimal corresponde a
quatro dígitos binários. Isso ocorre porque o número máximo com um
dígito que o sistema hexadecimal pode contar é até 1510 , e o número
15 corresponde a 11112 . Já para o número 1610 seriam necessários
cinco dígitos binários, logo, há uma relação nos sistemas de contagem
octal e hexadecimal com o sistema binário.
Como exemplo, vamos trabalhar com o número C516 para convertê-
lo em binário. O número C16 corresponde ao número 1310 em decimal,
o qual também corresponde a 10112 em binário. Já o número 516 em
hexadecimal corresponde a 01012 em binário.
Não deve ser esquecido que como cada número hexadecimal
corresponde a quatro dígitos binários, para completar a quantidade de
dígitos devem ser colocados zeros à esquerda até completar os quatro
dígitos, como é possível verificar:
001110

001110

1 6
1 6

CC 55
  ∴ C516 = 101101012
1011 0101

U1 - Circuitos analógicos e digitais 21


Como sugestão, faça a conversão do número C516 em decimal e
depois para o sistema binário e verifique se será o mesmo resultado.
Essa conversão do hexadecimal para o binário pode ser usada
como um passo intermediário para a conversão do hexadecimal para o
octal. Como foi visto, para a conversão do sistema binário para o octal,
basta pegar o número binário em conjunto de três dígitos e convertê-lo
em octal, então, o número C516 em hexadecimal corresponde a 2658
no sistema octal, como pode ser visto na Tabela 1.5.

Tabela 1.5 | Conversão e binário para octal do número C516

3° grupo 2° grupo 1° grupo


010 110 101
2 6 5
Fonte: elaborada pelo autor.

Portanto, C516 corresponde a 0101101012 e a 2658 .


1.4.2 Conversão do sistema binário para o hexadecimal
Para essa conversão, utilizamos a técnica análoga à vista no sistema
octal. Para a conversão de binário em hexadecimal, pega-se um
conjunto de quatro dígitos, começando da direita para a esquerda, e
cada conjunto de quatro dígitos corresponde a um número binário.
Não se pode esquecer que os dígitos faltantes para obter quatro dígitos
precisam ser completados por zeros à esquerda. Observe a conversão
do número 101101012 em hexadecimal, no Quadro 1.1.

Quadro 1.1 | Conversão de binário para hexadecimal do número C516

2° grupo 1° grupo
1011 0101
C 5
Fonte: elaborada pelo autor.

Logo 101101012 = C516 .


Como foi visto, consultando a Tabela 1.4, cada dígito hexa
corresponde a quatro dígitos binários, fazendo com que dois números
hexadecimais correspondam a oito dígitos binários, e um conjunto

22 U1 - Circuitos analógicos e digitais


de oito números binários é conhecido como byte. Os números
hexadecimais muitas vezes representam endereços de memórias, e
esses endereços correspondem a dois dígitos hexadecimais, ou seja,
oito dígitos binários ou um byte. Isso facilita na representação de um
certo endereço que representa um conjunto de dados arquivados na
memória.

Questão para reflexão


Estamos falando de computadores, controladores e processadores. Nos
controladores, a entrada é dada geralmente por sinais elétricos, mas no
caso dos computadores e processadores, as entradas são por letras e
caracteres especiais. Como são representados os caracteres contidos
no teclado, já que o computador é considerado um sistema digital?

A conversão de um sistema de contagem para outro é bastante


utilizada para representar valores a serem lidos pelos sistemas digitais,
através de uma codificação, em que cada código gerado corresponde
a um valor a ser lido. Há vários tipos de códigos e veremos a seguir
alguns deles.
1.5 Codificação
Quando um número ou letra é representado por um conjunto de
caracteres especiais, chamamos essa técnica de codificação. Como
os sistemas digitais conseguem ler apenas os números binários, mas
no mundo real existem 26 letras do alfabeto, símbolos, dez algarismos
de números, essa codificação do mundo real para os sistemas digitais
se faz necessária. Há também outros exemplos de aplicação de
codificação, como o código morse.
A seguir, serão apresentados os códigos mais comuns quando
falamos de sistemas digitais.
1.5.1 Código BCD
A codificação mais utilizada nos sistemas digitais é a Codificação
Binária Pura (BCD). Essa codificação consiste em converter um número
decimal em um conjunto de números binários, de forma a facilitar a
conversão para o sistema decimal, que é o mais conhecido e familiar
para todos.
Para contar um número decimal até o máximo, ou seja, até nove,

U1 - Circuitos analógicos e digitais 23


são necessários quatro dígitos para representar esse número. O
código BCD consiste em pegar um conjunto de quatro dígitos binários
e representar em número decimal de um dígito, o que facilita e é
amplamente utilizado em contagens.
Para ilustrar essa codificação, vamos utilizar o número 95210 em
decimal e convertê-lo em BCD.

9 5 2 (Decimal)
1001 0101 0010 (BCD)

É importante observar que, diferentemente do número binário, o


código BCD possui quatro dígitos binários para cada dígito decimal.
O código BCD utiliza apenas dez estados dos 16 possíveis, ou seja, ele
não utiliza os números 10102 , 10112 , 11002 , 11012 , 11102 e 11112 ,
pois se acontecer, significa que o sistema digital encontrou um erro.
Há também os códigos alfanuméricos, que representam uma letra,
ou caracteres especiais em um código que é possível ser lido pelos
sistemas digitais.
1.5.2 Códigos alfanuméricos – ASCII
Os computadores precisam manipular informações não numéricas,
como letras do alfabeto, sinais de pontuação e outros caracteres
especiais, que são conhecidos como códigos alfanuméricos. Um
código alfanumérico completo consiste em 26 letras maiúsculas, 26
letras minúsculas, dez dígitos numéricos, sete sinais de pontuação e
por volta de 40 outros caracteres, contendo todos os caracteres e
funções encontrados em um teclado de computador.
O código mais utilizado é o código ASCII (American Standard
Code for Information Interchange) que consiste em sete bits e tem
128 codificações possíveis, sendo suficiente para representar todos os
caracteres de um teclado padrão, como pode ser visto na listagem
parcial do código ASCII, mostrado na Tabela 1.6.

24 U1 - Circuitos analógicos e digitais


Tabela 1.6 | Tabela com a listagem parcial do código ASCII.

Fonte: Tocci (2000, p. 22).

A codificação ASCII possui sete bits e um oitavo bit conhecido


como bit de paridade, que tem como função identificar se entre a
transmissão e a recepção de uma informação apresentou algum erro,
que pode ser causado por ruído ou interferência, compondo assim um
conjunto de oito bits, ou um byte.

U1 - Circuitos analógicos e digitais 25


Para saber mais
Lista de Portas Lógicas TTL – 74XXX
Nesse link, são apresentadas todas as portas lógicas da família TTL com o
seu código comercial. Antes de implementar um sistema digital, vale a pena
conhecer os CIs e quais as funções de cada um, para não ter imprevistos
quando o projeto for tirado do papel. Disponível em: <http://www2.feg.
unesp.br/Home/PaginasPessoais/ProfMarceloWendling/lista-de-portas-
logicas.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2017.

Atividades de aprendizagem
1. Os microcontroladores possuem em seu circuito interno estágios
conhecidos como memória, nos quais são armazenados os dados de
instruções, dados para realizar alguma função e os dados que vêm das
entradas. Nos microcontroladores, é reservada uma certa faixa de memória
para guardar as instruções da lógica a ser implementada, via programação.
Os endereços reservados para a implementação dessa lógica são dados
em bytes (oito bits), normalmente em números hexadecimais. Um certo
microcontrolador tem a faixa armazenada para memória de instruções
de 1016 até AF16 . Quantos endereços de memórias de instrução esse
microcontrolador tem? Assinale a alternativa que apresenta essa quantidade.
a) 175 endereços de memórias.
b) 159 endereços de memórias.
c) 176 endereços de memórias.
d) 160 endereços de memórias.
e) 15 endereços de memórias.

2. A representação de um número na base octal possui três dígitos, qual a


quantidade máxima de números que é possível contar com esse número
octal de três dígitos?

26 U1 - Circuitos analógicos e digitais


Seção 2
Funções lógicas
Introdução à seção

O sistema binário, utilizado nos sistemas digitais, pode assumir


apenas dois estados, nível zero e nível um, em que uma saída em
estado zero significa que ela está desligada, ou um aparelho não está
em funcionamento, ou uma chave está aberta. Já quando a saída de
um circuito é um, significa que ela está ligada, o equipamento está em
funcionamento, está em nível alto ou a chave está fechada. Devido
a essa característica, o estado um é complementar ao estado zero e
vice-versa.
Nos circuitos digitais, é apresentado um modo de expressar a ligação
entre entradas e saídas de um circuito lógico, em que a variação de
uma entrada, instantaneamente provoca uma ação na saída, podendo
mudar ou não o seu estado, dependendo da função lógica.
As entradas e as saídas são expressas em forma de letras do
alfabeto, utilizando para as entradas, normalmente, as primeiras letras
do alfabeto (A, B, C, D...), e as saídas são expressas como as últimas
letras (X, Y, W, Z).
Em resumo, são três operações básicas: a função AND (E), a
função OR (OU) e a função NOT (NÃO), que são implementadas por
transistores, diodos e resistores, e normalmente em encapsulamentos
próprios para cada função, em CIs.
Fazendo a combinação entre as operações básicas, surgem outras
funções lógicas, a NAND (NE), a função NOR (NOU), XOR e a função
XNOR. Esses circuitos de funções lógicas também são conhecidos
como portas lógicas, e com elas é possível implementar todas as
expressões booleanas, que são a base dos projetos de sistemas digitais.
2.1 Função AND
A maneira mais didática de se apresentar uma função lógica básica
é fazendo a analogia da operação lógica com circuitos utilizando
lâmpadas. A função AND tem o mesmo comportamento que duas
chaves em série como entradas e uma lâmpada como saída, como
mostra a Figura 1.2.

U1 - Circuitos analógicos e digitais 27


Figura 1.2 | Circuito representando uma porta AND

Fonte: elaborada pelo autor.

Qual a condição necessária para que a lâmpada da Figura 1.2 fique


acessa?
Para cada chave e para a lâmpada há dois estados possíveis,
analisando as situações temos:

Entrada Saída
Chave aberta = nível 0 Lâmpada apagada = nível 0
Chave fechada = nível 1 Lâmpada acessa = nível 1

Para cada entrada são dois níveis possíveis e duas entradas A e B,


então, são quatro possíveis estados da saída (lâmpada) que poderão
acontecer. O número de combinações possíveis é dado por 2N , em
que N é o número de entradas distintas da função, portanto, 22 = 4
estados possíveis. Analisando todas as combinações das entradas,
temos as quatro possibilidades:
• 1ª Possibilidade: se a chave A estiver aberta (nível 0) e a chave
B também estiver aberta (nível 0), não circulará corrente pelo
circuito e a lâmpada S estará apagada (nível 0), então, S = (0
AND 0) = 0.
• 2ª Possibilidade: se a chave A estiver aberta (nível 0), mas a
chave B estiver fechada (nível 1), ainda não circulará corrente
pelo circuito e a lâmpada S estará apagada (nível 0), então, S =
(0 AND 1) = 0.
• 3ª Possibilidade: se a chave A estiver fechada (nível 1), mas a
chave B estiver aberta (nível 0), ainda não circulará corrente
pelo circuito e a lâmpada S estará apagada (nível 0), então, S =
(1 AND 0) = 0.

28 U1 - Circuitos analógicos e digitais


• 4ª Possibilidade: por último, se a chave A estiver fechada
(nível 1) e a chave B também estiver fechada (nível 1) circulará
corrente pelo circuito e a lâmpada S estará acessa (nível 1),
então, S = (1 AND 1) = 1.
Para a lâmpada ficar acessa, ou seja, a saída ser nível 1, a entrada
A e a entrada B precisam estar em nível 1, portanto, A AND B igual
a 1 para a saída ser nível 1. A função AND representa a multiplicação
das entradas ( S = A ⋅ B ), na qual somente quando todas as entradas
(podendo ser duas ou mais) estiverem em nível 1, a saída, então, estará
em nível 1. Quando qualquer entrada for zero, a saída também será
zero, porque a função AND é a multiplicação das entradas e qualquer
número multiplicado por zero sempre será zero.
Uma importante ferramenta para apresentar essas informações
de estados de entrada e saída é uma tabela, conhecida como tabela-
verdade. Ela relaciona todas as combinações possíveis dos níveis
lógicos presentes nas entradas com seus respectivos resultados na
saída (TOCCI, 2000).
Apresentando a função AND na forma de tabela verdade, temos a
Tabela 1.7.

Tabela 1.7 | Tabela verdade da função AND

A B S
0 0 0
0 1 0
1 0 0
1 1 1
Fonte: elaborada pelo autor.

A porta lógica AND possui um símbolo esquemático, podendo


ser apresentada em dois formatos: tanto no formato da norma ANSI,
quanto no formato da norma IEC, como demonstrado na Figura 1.3. O
símbolo mais usual em circuitos digitais é a simbologia da norma ANSI.

U1 - Circuitos analógicos e digitais 29


Figura 1.3 | Simbologia da porta AND

Fonte: elaborada pelo autor.

Esse circuito é comercializado como um circuito encapsulado,


ou CI, e ele pode ter duas, três ou até quatro entradas, mas todas
com apenas uma saída, apresentando a mesma lógica para qualquer
número de entradas.
2.2 Função OR
O circuito OR tem o mesmo comportamento de um circuito de
chaves de entrada paralela, como mostra a Figura 1.4.

Figura 1.4 | Circuito representando uma porta OR

Fonte: elaborada pelo autor.

Observando o circuito da Figura 1.4, é possível responder qual a


combinação das chaves para que a lâmpada fique ligada?
Analisando as condições, temos quatro possibilidades a serem
analisadas.
1ª Possibilidade: se a chave A estiver aberta (nível 0) e a chave B
também estiver aberta (nível 0), não circulará corrente pelo circuito e a
lâmpada S estará apagada (nível 0), então S = (0 OR 0) = 0.
2ª Possibilidade: se a chave A estiver aberta (nível 0), mas a chave B
estiver fechada (nível 1), então circulará corrente pelo circuito, através
da chave B e a lâmpada S estará acessa (nível 1), então, S = (0 OR 1) = 1.

30 U1 - Circuitos analógicos e digitais


3ª Possibilidade: e se a chave A estiver fechada (nível 1), mas a chave
B estiver aberta (nível 0), ainda circulará corrente pelo circuito através
da chave A e a lâmpada S estará acessa (nível 1), então, S = (1 OR 0) = 1.
4ª Possibilidade: por último, se a chave A e a chave B estiverem
fechadas (nível 1), haverá uma corrente pelo circuito e a lâmpada S
estará acessa (nível 1), então, S = (1 OR 1) = 1.
A função OR realiza a soma das entradas, ou seja, S = A + B . Para
que uma porta lógica OR tenha na saída nível 1, é necessário que
qualquer uma das entradas esteja no nível 1. A tabela verdade de uma
função OR é mostrada na Tabela 1.8.

Tabela 1.8 | Tabela verdade da função OR

A B S
0 0 0
0 1 1
1 0 1
1 1 1
Fonte: elaborada pelo autor.

Questão para reflexão


O que acontece no caso de três entradas ou mais estarem em nível um
quando colocado na porta OR? Qual o número obtido na saída?

Como no sistema binário existe somente dois níveis possívies, 0 e 1,


então, quando uma porta lógica tem suas entradas em nível 1, quantas
portas forem, a saída será nível 1, pois na função lógica basta uma das
entradas estarem em nível alto para que a saída fique em nível alto
também.
O símbolo da porta lógica OR é mostrado na Figura 1.5, tanto no
formato da norma ANSI quanto no formato da norma IEC.

U1 - Circuitos analógicos e digitais 31


Figura 1.5 | Simbologia da porta OR

Fonte: elaborada pelo autor.

As portas lógicas OR também são dispostas em um circuito


encapsulado com duas entradas, o CI 7432, mas apenas uma saída.
O 7432 possui quatro portas lógicas OR em seu encapsulamento, de
duas entradas cada porta lógica OR.
2.3 Função NOT
A terceira função lógica básica é a função NOT, que inverte a variável
de entrada, e que pode ser demonstrada por uma chave em paralelo
com a lâmpada, como mostra o circuito da Figura 1.6.

Figura 1.6 | Circuito representando uma porta NOT.

Fonte: elaborada pelo autor.

Ao analisar as possibilidades do comportamento da porta NOT,


temos duas possibilidades por haver apenas uma entrada (Chave A).
1ª Possibilidade: se a chave A estiver aberta (nível 0), a corrente
do circuito circulará pela lâmpada e ela estará acessa (nível 1), então,
S = (NOT 0) = 1.
2ª Possibilidade: se a chave A estiver fechada (nível 1), a corrente
será desviada pelo caminho da chave A por ser um curto, e não
haverá corrente na lâmpada, que ficará apagada (nível 0), então,
S = (NOT 1) = 0.
A porta lógica NOT tem como função colocar na sua saída o inverso
da entrada, e é representada por uma barra encima da entrada: S = A .
A tabela verdade dessa função é dada pela Tabela 1.9.

32 U1 - Circuitos analógicos e digitais


Tabela 1.9 | Tabela verdade da função NOT

A S
0 1
1 0
Fonte: elaborada pelo autor.

O símbolo da porta NOT é mostrado na Figura 1.7, tanto no formato


da norma ANSI, quanto no formato da norma IEC.

Figura 1.7 | Simbologia da porta NOT

Fonte: elaborada pelo autor.

Nos circuitos encapsulados, a função NOT tem uma entrada e uma


saída, podendo conter no mesmo encapsulamento até quatro funções
NOT, o CI 7404.
2.4 Função NAND
Utilizando as funções lógicas básicas, ou seja, AND, OR e NOT é
possível construir algumas portas lógicas que derivam dessas portas,
fazendo combinações. Fazendo a combinação de uma função AND
com a função NOT, é possível construir uma porta lógica conhecida
como NAND, e a operação é semelhante a inversão da função AND. O
circuito NAND é a composição de duas portas, como mostra a Figura
1.8.

Figura 1.8 | Porta NAND: porta AND seguida de uma porta NOT

Fonte: elaborada pelo autor.

O símbolo da porta lógica NAND é mostrado na Figura 1.9.

U1 - Circuitos analógicos e digitais 33


Figura 1.9 | Simbologia da porta NAND

Fonte: elaborada pelo autor.

A equação booleana da função NAND é representada por uma


função AND barrada, ou seja, S = A ⋅ B , e a tabela verdade é dada na
Tabela 1.10.

Tabela 1.10 | Tabela verdade da função NAND

A B NAND
0 0 1
0 1 1
1 0 1
1 1 0
Fonte: elaborada pelo autor.

Pode ser observado que a saída da tabela verdade da porta NAND


é inversa da saída da tabela verdade da porta AND. Nos circuitos
encapsulados já existe a porta NAND, mas é possível montá-la pela
combinação das portas lógicas AND e NOT.
2.5 Função NOR
Ao fazer a combinação da porta lógica OR com a porta lógica NOT,
surge a função NOR, que é o equivalente a inverter a saída de uma
função OR, em que a operação é semelhante às portas lógicas da
Figura 1.10.

Figura 1.10 | Porta NOR: porta OR seguida de uma porta NOT

Fonte: elaborada pelo autor.

Os símbolos da função NOR são mostrados na Figura 1.11.

34 U1 - Circuitos analógicos e digitais


Figura 1.11 | Simbologia da porta NOR

Fonte: elaborada pelo autor.

A equação de uma função NOR é representada pelo complemento


da soma das entradas, indicando a negação da função OR, ou seja,
S = A + B e dessa função surge a tabela verdade da função NOR,
mostrada na Tabela 1.11.

Tabela 1.11 | Tabela verdade da Função NOR

A B NOR
0 0 1
0 1 0
1 0 0
1 1 0
Fonte: elaborada pelo autor.

A tabela verdade da função NOR é complementar à tabela verdade


da função OR, como esperado. Como acontece com a porta NAND,
essa função já vem implementada em circuitos encapsulados, podendo
ter duas, três ou até quatro entradas e uma saída.
2.6 Função XOR
Conhecida também como OU Exclusivo, é uma combinação de
portas lógicas AND, NOT e OR, como está disposto na Figura 1.12.

Figura 1.12 | Circuito equivalente da porta XOR

Fonte: elaborada pelo autor.

U1 - Circuitos analógicos e digitais 35


A função lógica XOR também possui um símbolo específico, dado
na Figura 1.13.

Figura 1.13 | Simbologia da porta lógica XOR

Fonte: elaborada pelo autor.

Tabela 1.11 | Tabela verdade da Função NOR

A B XOR
0 0 0
0 1 1
1 0 1
1 1 0
Fonte: elaborada pelo autor.

Fazendo a análise do circuito da Figura 1.12, a saída da função lógica


XOR é S = A × B + A × B que pode ser abreviada pela Equação 1.7.

S = A ÅB (1.7)

A função XOR possui sempre apenas duas entradas, e a saída é dada


pela Equação 1.7.
2.6 Função XNOR
Chamado também de bloco coincidência, a função XNOR possui
o funcionamento inverso da função XOR, ou seja, a saída estará em
nível alto somente quando as duas entradas forem iguais. A função
XNOR é também uma combinação de portas lógicas AND, OR e NOT,
conforme a disposição mostrada na Figura 1.14.

36 U1 - Circuitos analógicos e digitais


Figura 1.14 | Circuito equivalente da porta XNOR

Fonte: elaborada pelo autor.

A função XNOR possui uma simbologia própria dada pela Figura


1.15.

Figura 1.15 | Simbologia da porta lógica XNOR

Fonte: elaborada pelo autor.

A simbologia da Norma ANSI é a mais comumente utilizada nos


projetos, para todas as portas lógicas já apresentadas.
Pode ser visto na Tabela 1.13 que a tabela verdade da função XNOR
tem o comportamento inverso da função XOR, estará em nível alto
na saída ou quando as duas entradas forem zero ou quando as duas
entradas estiverem em um.

Tabela 1.13 | Tabela verdade da Função XNOR

A B S
0 0 1
0 1 0
1 0 0
1 1 1
Fonte: elaborada pelo autor.

U1 - Circuitos analógicos e digitais 37


O equacionamento que é dado pela função XNOR é S = A × B + A × B
ou de uma forma mais simplificada, a saída de uma função XNOR é
dada pela Equação 1.8.

S = A ÅB (1.8)

Lembrando que uma porta XNOR também possui sempre duas


entradas.

Para saber mais


Universalidade das Portas NAND e NOR
As portas NAND e NOR possuem a propriedade de universalidade, ou
seja, com elas é possível implementar todas as outras portas lógicas.
O vídeo a seguir mostra essa universalidade e a equivalência entre as
portas lógicas. Disponível em: <https://youtu.be/yddX1snQInE>. Acesso
em: 20 ago. 2017.

Atividades de aprendizagem
1. De acordo com as funções lógicas, analise as sentenças:
I. A porta lógica AND pode ter duas, três ou quatro entradas, no entanto, a
porta lógica NOT pode ter apenas uma entrada, e todas têm apenas uma
saída.
II. As portas XOR e XNOR possuem um diferencial em relação às outras
funções, pois são as únicas que permitem mais de duas entradas, enquanto
todas as outras funções permitem apenas uma ou duas entradas.
III. Basta apenas uma das entradas da porta lógica OR estar em nível alto para
que a saída também esteja em nível alto, no entanto, para a saída de uma
porta lógica AND fique em nível alto, é necessário que todas as entradas
estejam em nível alto.
Assinale a alternativa que apresenta a ordem correta de Verdadeiro (V) ou
Falso (F) para as sentenças.
a) I. F; II. F; III. V.
b) I. V; II. V; III. V.
c) I. V; II. F; III. V.
d) I. F; II. V; III. F.
e) I. F; II. V; III. V.

38 U1 - Circuitos analógicos e digitais


2. A empresa onde você está fazendo estágio, precisa de uma lógica de
duas entradas e uma saída que acionará uma lâmpada somente quando as
entradas estiverem em níveis diferentes, ou seja, quando uma entrada for
nível alto e outra entrada for nível baixo, ao mesmo tempo. Qual das portas
lógicas apresentadas nas alternativas você usaria? Assinale a opção correta.
a) AND.
b) NAND.
c) NOR.
d) XNOR.
e) XOR.

U1 - Circuitos analógicos e digitais 39


Seção 3
Funções de várias variáveis
Introdução à seção

Até agora, foram vistos circuitos com duas variáveis. Para analisar
esses circuitos basta a tabela verdade que apresenta todas as
combinações possíveis de entradas e saídas.
Como visto, quando temos N variáveis, o número de combinações
possíveis será 2N . Como vimos, até duas entradas, então, o máximo
de combinação e de linhas da tabela verdade foi de 2N = 22 = 4 ,
mas há sistemas digitais com duas, três, quatro ou vinte entradas, e
como se implementa um circuito com tantas entradas e variáveis de
funcionamento?
Por exemplo, quando uma esteira de produção recebe um produto,
é necessário pesar esse produto e, dependendo do peso, um braço
mecânico é acionado para retirá-lo da linha de produção ou acionar um
motor para continuar, depois é visto o tamanho e suas dimensões e,
dependendo do tamanho, ele precisa seguir três caminhos diferentes,
e, por fim, precisa verificar a cor para que todos dentro da embalagem
tenham a mesma coloração. Cada um desses processos é composto
por sensores, como entradas, e uma combinação de atuadores, como
saídas.
Cada saída depende de uma combinação lógica de entrada, e com
o que foi visto até agora, a implementação se tornaria complexa, já que
cada saída depende de todos os estados possíveis das entradas.
Veremos, nesta seção, expressões lógicas obtidas das portas
lógicas, e depois uma técnica que consiste em obter funções lógicas
analisando a tabela verdade da aplicação final do circuito.
3.1 Expressões obtidas a partir de circuitos lógicos
Todo e qualquer circuito lógico pode ser implementado usando
as três funções lógicas básicas (AND, OR e NOT). Para explicar o
equacionamento de um sistema digital de uma forma didática,
considere o exemplo da Figura 1.16.

40 U1 - Circuitos analógicos e digitais


Figura 1.16 | Exemplo de um circuito lógico

Fonte: elaborada pelo autor.

Para encontrarmos a equação na saída do circuito da Figura 1.16,


começamos da entrada a equacionar de acordo com os blocos
lógicos. Em um primeiro estágio, S1 é a saída da porta NOT da entrada
B, ou seja:

S1= B

A porta S1 é a entrada de uma porta AND junto com a entrada A,


portanto, a saída S2 da porta AND é dada por:

S 2 = S1⋅ A = B ⋅ A

Agora, por último, a saída da porta OR é o estágio final do circuito,


sendo as suas entradas S2 e C, ou seja:

Saída = S 2 + C = B ⋅ A + C

Questão para reflexão


As expressões booleanas fazem operações de multiplicação e soma,
então, dada a equação X = B ⋅ A + C , a sua resolução é equivalente à
expressão X = (B ⋅ A) + C ou equivalente à expressão X = B ⋅ ( A + C ) ?
Justifique.

As regras da álgebra linear valem para essas expressões lógicas, que


consistem em se realizar primeiramente a multiplicação e divisão e só
depois a soma e a subtração.

U1 - Circuitos analógicos e digitais 41


Como foi visto, as portas AND se comportam como multiplicação
das entradas e a função OR se comporta como uma soma das entradas,
portanto, a porta AND tem prioridade sobre a porta OR, e para que uma
certa porta OR tenha prioridade sobre a porta AND, é necessário se
utilizar parênteses para separar a função AND da função OR.
Para não haver problema na resolução final, a cada saída tente
priorizar as expressões com uso dos parênteses.
3.2 Circuitos obtidos de expressões lógicas
Assim como é possível obter uma expressão lógica, ou expressão
booleana a partir de portas lógicas, é possível também projetar um
circuito a partir de uma expressão booleana. Pegando um exemplo de
uma expressão booleana, vamos projetar o circuito por meio de passos
simples. A expressão booleana é dada pela Equação 1.9.

Saída = A ⋅ B ⋅ (C + D ) (1.9)

Primeiramente, é possível verificar que se tem quatro entradas, A,


B, C e D, com duas entradas no parênteses e duas fora do parênteses.
A prioridade da Equação 1.9 é realizar os parênteses primeiro e
depois realizar o restante fora dos parênteses. Com isso, temos o
equacionamento dos parênteses na Figura 1.17.

Figura 1.17 | Parte de um exemplo de circuito lógico

Fonte: elaborada pelo autor.

Continuando na Equação 1.9, a entrada B passa por uma porta NOT,


sendo entrada de uma porta AND, a porta A também é a entrada dessa
porta AND e a saída da porta OR, composta por C e D, é a terceira
entrada da porta AND, onde o circuito final é dado pela Figura 1.18.

42 U1 - Circuitos analógicos e digitais


Figura 1.18 | Exemplo de circuito lógico

Fonte: elaborada pelo autor.

Como observado, usando as portas lógicas básicas, é possível


construir o circuito para qualquer expressão booleana, mas é necessário
fazer em partes e com cuidado para não esquecer nenhuma entrada
ou trocar alguma porta lógica.
No desenho do circuito podem ser colocadas quantas entradas
forem necessárias, no entanto as portas lógicas na forma de CIs,
comercialmente, só têm até quatro entradas. Para fazer uma otimização
de utilização de portas lógicas, é necessário usar ferramentas de
simplificação de circuitos, como será visto na Seção 4.
3.3 Expressões lógicas obtidas a partir da tabela verdade
A tabela verdade é uma ferramenta muito útil para se avaliar a saída
de um circuito lógico em função das combinações das entradas. Ela
não tem limites de entradas a serem analisadas, dando a possibilidade
de modelar qualquer sistema e fazer a implementação por portas
lógicas.
O método mais prático de se obter uma expressão booleana é
obter a equação na forma de soma de produtos, que consiste em
quatro passos, os quais serão demonstrados por um exemplo dado
pela Tabela 1.14.

U1 - Circuitos analógicos e digitais 43


Tabela 1.14 | Exemplo de tabela verdade para conversão em expressão booleana

A B C S
0 0 0 0
0 0 1 1
0 1 0 1
0 1 1 0
1 0 0 0
1 0 1 0
1 1 0 1
1 1 1 0
Fonte: elaborada pelo autor.

As colunas A, B e C são as entradas e a coluna S é a saída da


expressão que queremos obter. Analisando os quatro passos, tem-se.
1° passo: identificar os casos em que a saída está em nível alto, ou
seja, 1.
Na Tabela 1.14, a saída é nível 1 em três casos, quando A = 0 e B = 0
e C = 1, no segundo caso, quando A = 0 e B = 1 e C = 0, e no terceiro
caso, quando A = 1 e B = 1 e C = 0, como mostrado na Tabela 1.15, em
marcação tracejada.

Tabela 1.15 | Marcação em uma tabela verdade das saídas em nível alto

A B C S
0 0 0 0
0 0 1 1
0 1 0 1
0 1 1 0
1 0 0 0
1 0 1 0
1 1 0 1
1 1 1 0
Fonte: elaborada pelo autor.

2° passo: para representar uma expressão booleana em função de


letras, é necessário converter os números binários em letras. Para isso,

44 U1 - Circuitos analógicos e digitais


é adotada a lógica da sentença verdadeira, ou seja, quando a sentença
é verdadeira, ou nível 1, é a letra sem o barrado encima, já quando
a sentença não é verdadeira, nível 0, a letra vem barrada (entrada
inversora).
No exemplo da Tabela 1.16, o primeiro caso é verdadeiro quando
S = A e B e C , no segundo caso, quando S = A e B e C e, por último,
S=A e B eC.

Tabela 1.16 | Conversão em sentença verdadeira da Tabela 1.15

A B C 1

A B C 1

A B C 1
Fonte: elaborada pelo autor.

3° passo: como visto, a saída será verdadeira, ou nível alto, quando


a primeira porta E a segunda porta E a terceira porta, assim por diante,
tiverem o nível lógico dado. Para uma mesma linha da tabela verdade,
as entradas são as variáveis de uma porta AND. Do exemplo, a saída terá
nível 1 quando S = A e B e C , ou seja, S = A AND B AND C . Então,
quando S = A × B × C OU na segunda condição em que S = A × B × C OU
na terceira condição S = A × B × C .
4° passo: para cada linha diferente, as combinações das entradas
servem como entradas de uma função OR, ou seja, S terá nível 1
quando S = A × B × C OR S = A × B × C OR S = A × B × C . Reescrevendo,
temos, finalmente, a Equação 1.10, correspondente à tabela verdade
dada na Tabela 1.14.

S = (A × B × C)+(A × B × C)+(A × B × C) (1.10)

A Equação 1.10 é muito grande para ser implementada na prática,


sendo necessária sua simplificação, e essa será estudada na próxima
seção. Além disso, para o caso de três entradas, a tabela verdade
tem apenas oito linhas, o que ainda dá para se analisar com todas as
condições. Mas como visto, o importante são as condições quando a

U1 - Circuitos analógicos e digitais 45


saída tem nível 1, então, na prática, precisaria apresentar somente as
três linhas, as quais geram a expressão de saída. Para muitas entradas
não é necessário apresentar todas as condições de entrada, mas sim
apenas as condições de entrada para as saídas em nível alto.
Para cada saída S em nível alto, é gerado um termo na combinação
de soma, então, para diversos casos em que a saída tem nível alto, terá
diversos termos como entrada das portas OR. Há algumas técnicas para
fazer a simplificação desses circuitos, algumas seguem a álgebra linear
da matemática clássica, outras simplificações valem porque se está
trabalhando com números binários. Esse campo que trata das técnicas
de simplificação de expressões booleanas é a Álgebra Booleana.

Para saber mais


Partida direta – portas lógicas – simulação do circuito digital
Através desse site é possível aprender uma aplicação muito utilizada
de portas lógicas para fazer ligação de motores. A lógica vale para
qualquer equacionamento booleano. Disponível em: <http://tecnico.
trabalheparasi.com/partida-direta-portas-logicas-simulacao-do-
circuito-digital>. Acesso em: 20 ago. 2017.

Atividades de aprendizagem
1. Uma máquina de corte de madeira é acionada pela saída X de um circuito
lógico, dado na figura a seguir.

Encontre a equação booleana do circuito de acionamento.

2. Na mesma máquina de corte de madeira, para proteção dos operadores,


foi colocado uma botoeira de emergência, chamada de entrada E, para
que fosse acionada em uma situação de perigo. Quando ela for acionada,

46 U1 - Circuitos analógicos e digitais


a máquina tem que desligar completamente. Para implementar essa lógica,
sabe-se que quando a botoeira estiver em nível alto a máquina para, levando
a saída do circuito a zero, e quando a botoeira estiver desligada, em nível
baixo, a máquina só entra em funcionamento de acordo com a lógica já
existente em seu circuito de acionamento. Faça a implementação desse
novo circuito de acionamento com proteção.

U1 - Circuitos analógicos e digitais 47


Seção 4
Álgebra booleana
Introdução à seção

Até este ponto, foram mostradas expressões conhecidas como


expressões booleanas, mas afinal, de onde vem esse termo? O que é
uma expressão booleana?
George Boole nasceu em 1815 e foi um matemático que trouxe
uma nova visão sobre a lógica e a matemática, e suas relações. Ele
é conhecido como pai da lógica, por ter desenvolvido, em 1845,
um trabalho intitulado An Investigation of the Laws of the Thouht
(Uma investigação das leis do pensamento) que estabeleceu uma
nova álgebra, a álgebra booleana, que é aplicada na construção de
computadores modernos e telefones.
A álgebra booleana é um ramo da matemática que estuda as
proposições e seus valores verdade em vez de variáveis. Ela é um
sistema matemático composto por um conjunto de elementos que
se utiliza somente dois algarismos para representar os números ou as
proposições: o zero e o um. Esse sistema de numeração é chamado
binário – de base 2 – e tem grande utilidade na lógica e na teoria dos
conjuntos.
Como na álgebra linear, a álgebra booleana tem algumas
propriedades válidas para as duas álgebras, mas devido à característica
da álgebra booleana ter apenas dois algarismos, ela possui algumas
propriedades que a álgebra linear não possui, como veremos nesta
seção.
4.1 Álgebra de Boole: variáveis e expressões
Como visto, na álgebra de Boole as variáveis booleanas são
representadas por letras e podem assumir apenas dois valores
distintos, que são zero e um. As expressões booleanas são sentenças
matemáticas que possuem propriedades da álgebra linear e algumas
próprias.
O estudo da álgebra booleana se faz necessário para a simplificar
circuitos lógicos, implementar e projetar circuitos lógicos, respeitar

48 U1 - Circuitos analógicos e digitais


características de projeto para sua implementação e modelar processos
que envolvam a eletrônica e a automação industrial.
A álgebra booleana possui postulados, propriedades matemáticas
e teoremas e identidades que são usados nas simplificações de
expressões e circuitos lógicos, como será apresentado a seguir.
4.2 Teoremas booleanos de uma variável
São oitos os teoremas booleanos de uma variável, que consistem
de uma única variável de entrada, que será denominada A, e a sua saída
depende da função lógica usada. Segue a Tabela 1.17 com os teoremas
de uma variável

Tabela 1.17 | Teoremas de uma variável

A A
(1) A⋅0 = 0 0 (5) A+0= A A
0 0

A A
(2) A ⋅1= A A (6) A + 1= 1 1
1 1
A A
(3) A⋅ A = A A (7) A+A= A A

A A
(4) A⋅ A = 0 0 (8) A + A =1 1

Fonte: elaborada pelo autor.

Os teoremas de (1) a (4) são relacionados à porta AND e os teoremas


de (5) a (8) são relacionados à porta OR, lembrando que a porta AND é
uma multiplicação de suas entradas e a porta OR é uma soma de suas
entradas.
O teorema (1) é uma propriedade matemática no qual todo número
multiplicado por zero, o resultado será sempre zero.
O teorema (2) é outra propriedade matemática que diz que todo
número multiplicado por um sempre será ele mesmo, ou seja, quando
uma das entradas da porta lógica AND for um, a saída será a outra
entrada.
O teorema (3) é uma propriedade booleana, que diz que para
uma variável multiplicada por ela mesma, a saída será essa variável ao
quadrado. Como só são admitidos valores como zero ou um, então,

U1 - Circuitos analógicos e digitais 49


uma porta AND com as duas entradas com a mesma variável, a saída
será igual à entrada.
O teorema (4) preconiza uma variável multiplicada pelo seu inverso,
e a sua saída será igual a zero, pois se a variável A for um, o seu inverso
será zero, e para a variável A igual a zero, o seu inverso será um e toda
variável multiplicada por zero sempre será zero.
O teorema (5) é uma soma de uma variável A por zero, e sua saída
será a própria variável A.
O teorema (6) também é uma soma, só que agora uma soma da
variável A com um, onde a saída será sempre um, independentemente
da variável A.
O teorema (7) é a soma da variável A com ela mesma, como em
binário, é possível ter dois resultados, ou zero ou um, então, a soma de
N variáveis iguais em binário será a própria variável.
O teorema (8) é a soma de uma variável com o seu inverso, e
quando uma entrada da porta OR for um, a outra será zero e vice-versa,
com isso, a soma de uma variável com o seu inverso será sempre um.
Esses são os teoremas com uma única variável de entrada. Agora
serão apresentadas as propriedades e as identidades para quando
houver mais variáveis.
4.3 Teoremas booleanos de mais variáveis
São mais oitos os teoremas booleanos com mais de uma
variável, que fazem uso das propriedades da álgebra linear e algumas
propriedades da álgebra booleana, como segue na Tabela 1.18 com os
teoremas com mais de uma variável.

Tabela 1.18 | Teoremas com mais de uma variável

(9) A+B =B+ A (13) A ⋅ (B + C ) = A ⋅ B + A ⋅ C

(10) A⋅B = B⋅ A (14) ( A + B ) ⋅ (C + D ) = A ⋅ C + B ⋅ C + A ⋅ D + B ⋅ D

(11) A + (B + C ) = ( A + B ) + C = A + B + C (15) A + A⋅B = A

(12) A ⋅ (B ⋅ C ) = ( A ⋅ B ) ⋅ C = A ⋅ B ⋅ C (16) A + A⋅B = A + B


Fonte: elaborada pelo autor.

Os teoremas de (9) a (12) são a propriedade comutativa, em que


não importa a ordem das variáveis A, B e C, o resultado sempre será o
mesmo.

50 U1 - Circuitos analógicos e digitais


Os teoremas (13) e (14) surgem da propriedade distributiva, onde é
possível distribuir um termo para os outros, ou colocá-los em evidência,
o que facilita muito na simplificação de circuitos lógicos.
Os teoremas (15) e (16) não possuem o correspondente na álgebra
linear e para demonstrá-los é necessário substituir as variáveis por todos
os valores possíveis.
Para o teorema (15), analisando os quatro casos obtemos:
1° Caso: para A = 0 e B = 0:

A + A⋅B = A
0 + 0⋅0 = 0
0=0=A

2° Caso: para A = 1 e B = 0:

A + A⋅B = A
1 + 1⋅ 0 = 1
1= 1= A

3° Caso: para A = 0 e B = 1:

A + A⋅B = A
0 + 0 ⋅1= 0
0=0=A

4° Caso: para A = 1 e B = 1:

A + A⋅B = A
1 + 1⋅ 1 = 1
1= 1= A

Agora, fazendo a análise do teorema (16), temos:


1° Caso: para A = 0 e B = 0:

U1 - Circuitos analógicos e digitais 51


A + A⋅B = A + B
0 + 1⋅ 0 = 0 + 0
0= A+B

2° Caso: para A = 1 e B = 0:

A + A⋅B = A + B
1+ 0 ⋅ 0 = 1+ 0
1= A + B

3° Caso: para A = 0 e B = 1:

A + A⋅B = A + B
0 + 1⋅ 1 = 0 + 1
1= A + B

4° Caso: para A = 1 e B = 1:

A + A⋅B = A + B
1+ 0 ⋅ 1 = 1+ 0

1= A + B

Esses 16 teoremas são muito importantes e utilizados na


simplificação e implementação de circuitos lógicos, mas há mais dois
teoremas muito utilizados, os Teoremas De Morgan, que são válidos
apenas para as expressões booleanas.
4.4 Teoremas De Morgan
Dois dos teoremas mais importantes são os teoremas De Morgan,
desenvolvidos pelo matemático Augustus De Morgan, que fez
grandes trabalhos na área da lógica. O primeiro teorema diz que o
complemento do produto é igual à soma dos complementos, como
mostra a Equação 1.11.

52 U1 - Circuitos analógicos e digitais


( A ⋅ B) = A + B (1.11)

Para a demonstração desse teorema da equação (1.11), podemos


colocar na tabela verdade, dado na Tabela 1.19.

Tabela 1.19 | 1° Teorema de De Morgan

A B ( A × B) A+B

0 0 1 1+1
0 1 1 1+0
1 0 1 0+1
1 1 0 0+0
Fonte: elaborada pelo autor.

Esse teorema da Equação 1.11 pode ser aplicado para mais de duas
variáveis, ou seja:

( A ⋅ B ⋅ C ⋅ D... ⋅ N ) = A + B + C + D... + N

Há também o 2° teorema de De Morgan, que diz que o


complemento da soma é igual ao produto dos complementos, como
mostra a Equação 1.12.

( A + B) = A ⋅ B (1.12)

A demonstração do 2° teorema de De Morgan pode também ser


demonstrado pela tabela verdade, como mostra a Tabela 1.20.

U1 - Circuitos analógicos e digitais 53


Tabela 1.20 | 2° Teorema de De Morgan

A B ( A + B) A×B

0 0 1 1× 1

0 1 0 1× 0

1 0 0 0×1

1 1 0 0×0

Fonte: elaborada pelo autor.

Além de conseguir demonstrar por tabela verdade, é possível partir


do 1° teorema e com algumas manipulações matemáticas e teoremas
relacionado à álgebra booleana é possível chegar no segundo teorema
de De Morgan, mostrando, assim, a sua validade. Fica como sugestão
de exercício essa demonstração.
O 2° teorema também pode ser aplicado para mais de duas variáveis:

( A + B + C + D... + N ) = A ⋅ B ⋅ C ⋅ D... ⋅ N

Questão para reflexão


É realmente necessário decorar esses teoremas para fazer a simplificação
de circuitos? E se for esquecido algum teorema ou algum passo?

Além desses teoremas e identidades utilizadas para a simplificação


de circuitos lógicos, há também uma técnica que faz essa simplificação
por meio de Diagramas de Veitch-Karnaugh. Vale a pena conhecer essa
ferramenta e como utilizá-la. Não trabalharemos esta técnica neste livro
didático, no entanto, é possível encontrá-la nos livros referenciados na
bibliografia básica.

54 U1 - Circuitos analógicos e digitais


Para saber mais
Lição 5 – Combinando funções lógicas
O professor Newton, nesse link, mostra um resumo do que foi visto até
aqui, um exemplo de tabela verdade, a sua equivalência em circuito e a
sua expressão booleana. Depois, é realizada a simplificação do circuito
lógico com a ferramenta do Diagrama de Karnaugh. Vale muito a pena
conhecer essa ferramenta de simplificação, pois uma vez entendido
o seu funcionamento, a simplificação dos circuitos lógicos se torna
simples e rápida. Disponível em: <http://www.newtoncbraga.com.
br/index.php/eletronica-digital/94-licao-5-combinando-funcoes-
logicas>. Acesso em: 20 ago. 2017.

Atividades de aprendizagem
1. Dada a equação X = A ⋅ ( A ⋅ B + C ) ⋅ D , faça a simplificação, usando todos
os teoremas possíveis da álgebra booleana:

2. Utilizando o 1° teorema de De Morgan, que diz que o complemento do


produto é igual à soma dos complementos, ou seja, ( A ⋅ B ) = A + B , faça
manipulações algébricas para obter o 2° teorema de De Morgan, ou seja, o
complemento da soma é igual ao produto dos complementos.

Fique ligado
Nessa unidade que está terminando, você conheceu os sistemas
de numeração e tem condições de implementar um sistema próprio,
entendendo como funciona a teoria dos números. Depois, viu as portas
lógicas e algumas de suas aplicações, e foram apresentados sistemas
com diversas variáveis, mostrando alguns mais complexos.
Por último, foram mostradas algumas técnicas para simplificação
desses sistemas complexos, de forma a otimizar a implementação de
circuitos lógicos.

U1 - Circuitos analógicos e digitais 55


Para concluir o estudo da unidade
Esta primeira unidade serve como base para os sistemas digitais. É
muito importante que o conteúdo aqui abordado esteja bem fixado,
pois na continuação deste livro será necessário que você, aluno, tenha
entendido os conceitos básicos estudados.
A facilidade com o conteúdo só vem da prática e familiarização
com aquele assunto, então, use as referências bibliográficas e realize
exercícios, até que você tenha bastante afinidade com o assunto, sem
precisar consultar a teoria.
Bons estudos e esperamos que essa unidade possa lhe auxiliar em
projetos envolvendo sistemas lógicos.

Atividades de aprendizagem da unidade


1. Você decidiu desenvolver um sistema de numeração diferente do
existente, após estudos e pesquisa viu que o sistema de numeração que
atende às suas necessidades é composto por três níveis (0, 1 e 2). Nessa nova
base de três níveis, assinale a alternativa que apresenta o número decimal
que é representado pelo número 0123 :
a) 2310 .
b) 1210 .
c) 510 .
d) 210 .
e) 310 .

2. Em uma aplicação, é necessário utilizar uma porta NAND de quatro


entradas, no entanto, só estão disponíveis para montar essa função lógica
portas AND de duas entradas e portas NOT. Assinale a alternativa que
apresenta a quantidade de cada porta necessária para implementar a função
de uma NAND de quatro entradas:
a) 3 portas AND e 1 NOT.
b) 1 porta AND e 3 portas NOT.
c) 2 portas AND e 2 portas NOT.
d) 4 portas NOT.
e) 2 portas AND e 1 porta NOT.

3. Um sistema foi modelado matematicamente, no qual se obteve a tabela


verdade:

56 U1 - Circuitos analógicos e digitais


A B C D Y
0 0 0 0 1
0 0 0 1 1
0 0 1 0 1
1 0 1 1 1
Fonte: elaborada pelo autor.

Como pode ser observado, a tabela verdade só contém as condições para


a saída em nível alto. Diante disso, assinale a alternativa que apresenta o
equacionamento da expressão booleana da tabela verdade dada:
a) Y = A ⋅ B ⋅ C ⋅ + A ⋅ B ⋅ C ⋅ + A ⋅ B ⋅ C ⋅ + A ⋅ B ⋅ C ⋅ .
b) Y = A ⋅ B ⋅ C ⋅ D + A ⋅ B ⋅ C ⋅ D + A ⋅ B ⋅ C ⋅ D + A ⋅ B ⋅ C ⋅ D .
c) Y = A ⋅⋅C ⋅ D + ⋅B ⋅ C ⋅ D + A ⋅ B ⋅⋅D + A ⋅ B ⋅ C ⋅ D .
d) Y = A ⋅ B ⋅ C ⋅ D + A ⋅ B ⋅ C ⋅ D + A ⋅ B ⋅ C ⋅ D + A ⋅ B ⋅ C ⋅ D .
e) Y = A ⋅ B ⋅ C ⋅ D + A ⋅ B ⋅ C ⋅ D + A ⋅ B ⋅ C ⋅ D + A ⋅ B ⋅ C ⋅ D .

5. A álgebra booleana é muito útil na otimização dos circuitos lógicos


para a implementação física. Foi feita uma simplificação de uma expressão
booleana e desenhado o circuito a seguir.

Fonte: elaborada pelo autor.

Assinale a alternativa que apresenta a expressão booleana do circuito da


figura.
a) Y = B ⋅ [ A ⋅ C + C ⋅ A ⋅ D] .
b) Y = D ⋅ [ A ⋅ C + B ⋅ ( A ⋅ D + A ⋅ D )] .
c) Y = A ⋅ [B ⋅ C + C ⋅ (B ⋅ D + B ⋅ D )] .
d) Y = B ⋅ [ A + C + D ⋅ ( A ⋅ D + A + D )] .
e) Y = B ⋅ ( A ⊕ (C ⋅ D )) .

U1 - Circuitos analógicos e digitais 57


Referências
ARAÚJO, Celso de. Eletrônica digital. São Paulo: Érica, 2014.
CAPUANO, Francisco Gabriel. Sistemas digitais: circuitos combinacionais e sequenciais.
São Paulo: Érica, 2014.
D’AMORE, Roberto. VHDL: descrição e síntese de circuitos digitais. 2. ed. Rio de Janeiro:
LTC, 2012.
FLOYD, Thomas L. Sistemas digitais: fundamentos e aplicações. 9. ed. Porto Alegre:
Bookman, 2007.
IDOETA, Ivan Valeije. Elementos de eletrônica digital. 41. ed. rev. e atual. São Paulo: Érica,
2012.
SZAJNBERG, Mordka. Eletrônica digital: teoria, componentes e aplicações. Rio de
Janeiro: LTC, 2014.
TOCCI, Ronald J.; WIDMER, Neal S. Sistemas digitais: princípios e aplicações. 7. ed. Rio
de Janeiro, LTC, 2000.
TOKHEIM, Roger. Fundamentos de eletrônica digital: sistemas combinacionais: dados
eletrônicos. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
VAHID, Frank. Sistemas digitais: projeto, otimização e HDLs. Porto Alegre: Bookman,
2008.
Unidade 2

Sistemas digitais

Giancarlo Michelino Gaeta Lopes

Objetivos de aprendizagem
Esta unidade tem como objetivo permitir que você tome
conhecimento e saiba projetar sistemas digitais básicos, por meio
do desenvolvimento de circuitos combinacionais e sequenciais.
Em um primeiro momento, o objetivo desta unidade é consolidar
os conhecimentos da primeira unidade, relacionados a sistemas
numéricos, portas lógicas e álgebra booleana. Além disso, são
apresentados os conceitos relacionados à segunda parte dos
sistemas digitais clássicos, que são circuitos sequenciais, baseados
nos flip-flops. Isso permite que você seja capaz de trabalhar com
todos os circuitos de lógica digital mais simples.

Seção 1 | Circuitos combinacionais


Nessa primeira seção, são expostos os conceitos complementares
relacionados aos circuitos combinacionais, que são aqueles baseados nas portas
lógicas. Assim, o objetivo é permitir que você seja capaz de projetar e otimizar tal
tipo de circuito, que servirá como base para o estudo de todos os outros tipos de
sistemas digitais.

Seção 2 | Circuitos sequenciais


A segunda seção desta unidade tem como objetivo apresentar os circuitos
sequenciais, desde os conceitos básicos até o projeto desse tipo de circuitos. Desta
forma, você será capaz de trabalhar com os diversos tipos de flip-flops existentes e
saberá desenvolver circuitos com esse elemento. Também se tem como objetivo,
estudar os circuitos contadores síncronos e assíncronos, que são exemplos de
circuitos sequenciais.
Introdução à unidade
Este material didático possui a função de apresentar ao estudante
de engenharia conceitos relacionados à eletrônica digital e analógica.
Assim, é possível dizer que este material condensa fundamentos que
irão permitir a análise e elaboração de circuitos eletrônicos em geral.
Para isso, serão abordados temas que são fundamentais a qualquer
engenheiro, seja ele da área elétrica ou não, aumentando a abrangência
da formação em engenharia.
É esperado que ao final do estudo deste material você seja capaz
de identificar, compreender e analisar circuitos eletrônicos diversos,
que utilizem como componentes principais diodos, transistores,
amplificadores operacionais e também circuitos integrados digitais.
Neste livro, as características básicas de funcionamento dos
dispositivos semicondutores são tratadas de forma resumida. A
abordagem principal se dá no uso de tais componentes em circuitos
práticos e como eles operam dentro do circuito que fazem parte.
Portanto, caso haja dúvidas sobre a operação de um diodo ou
transistor, e também outros elementos básicos de eletrônica, você
pode consultar o livro didático da disciplina de Circuitos elétricos
e instrumentação eletrônica ou algum livro de eletrônica citado nas
referências desse material.
Existem duas vertentes principais no que tange aos conteúdos
abordados nesse material, a da eletrônica digital, tratada nas Unidades
1 e 2 e da eletrônica analógica, estudada nas Unidades 3 e 4. Os
conceitos dessas duas vertentes são muito importantes, pois permitem
que você saiba trabalhar com os circuitos digitais e fazer com que eles
trabalhem em conjunto com os circuitos analógicos.
Na Unidade 1, você é convidado a estudar a lógica digital, na qual
são abordados conceitos como sistemas numéricos, códigos digitais,
funções lógicas, álgebra de Boole, entre outros. Esses assuntos
dão abertura para o estudo da Unidade 2, que trata dos circuitos
combinacionais de forma geral, estudando o processo de simplificação
e projeto. Além disso, a Unidade 2 apresenta conceitos relacionados
aos circuitos sequenciais, que possuem como base os flip-flops.
Já a Unidade 3 trata da eletrônica analógica, trazendo conceitos
relacionados a amplificadores operacionais, amplificadores de potência
e comportamento dos componentes em alta frequência. Conceitos
esses que se complementam aos tratados na Unidade 4, que apresenta
um tópico sobre realimentação e circuitos osciladores e outro tópico
sobre reguladores de tensão e corrente.
Desta forma, você está convidado a estudar estes assuntos que
são de grande importância para sua formação, aprofundando seu
conhecimento em circuitos eletrônicos digitais e analógicos.
Bons estudos!

62 U2 - Sistemas digitais
Seção 1
Circuitos Combinacionais
Introdução à seção

Nesta seção, você é convidado a conhecer conceitos que mostram


como é possível se obter circuitos equivalentes a algumas portas
lógicas, utilizando outras portas lógicas, por exemplo, se obter uma
porta NOT a partir de uma porta NAND. Assim, é possível otimizar a
quantidade de CIs utilizadas em determinado projeto. Além disso, é
abordado de forma didática o estudo de caso de um projeto de circuito
combinacional.
1.1 Equivalência entre blocos lógicos
Conhecer a equivalência entre blocos lógicos é importante, pois
permite a otimização na montagem dos circuitos digitais, já que os
circuitos integrados possuem uma quantidade fixa de portas lógicas
iguais. Assim, é possível reduzir a quantidade de CIs utilizados,
evitando que componentes fiquem com portas sem uso (IDOETA;
CAPUANO, 2008).
1.1.1 Porta NOT a partir de porta NAND
Para compreender de uma maneira simples como uma porta NOT
pode ser montada a partir de uma porta NAND, está apresentada a
tabela verdade da porta lógica NAND na Tabela 2.1. Nela, percebe-
se que quando as entradas são iguais, a saída se torna o seu inverso,
ou seja, quando ambas as entradas estão em 0, a saída é 1, e quando
as entradas estão em 1, a saída é 0. Isto demonstra que caso as
duas entradas forem interligadas, será formado um inversor. Uma
outra sejam seria manter uma entrada sempre ligada em nível alto,
o que pode ser percebido ao analisar as duas últimas condições da
tabela verdade. Estas duas formas de se obter uma porta lógica NOT
a partir de uma NAND estão apresentadas na Figura 2.1 (IDOETA;
CAPUANO, 2008).

U2 - Sistemas digitais 63
Tabela 2.1 | Tabela verdade da porta lógica NAND

A B S
0 0 1
0 1 1
1 0 1
1 1 0
Fonte: elaborada pelo autor.

Figura 2.1 | Montagens equivalentes à porta NOT utilizando porta NAND

Fonte: elaborada pelo autor.

1.1.2 Porta NOT a partir de porta NOR


Assim como foi feito no caso anterior, para compreender de uma
maneira simples a equivalência de uma porta NOT a partir de uma
NOR, está apresentada a tabela verdade da porta lógica NOR na Tabela
2.2. Nela, percebe-se a mesma situação que o caso anterior, quando
as entradas são iguais, em que a saída se torna o inverso das entradas.
Isso demonstra que caso as duas entradas sejam interligadas, será
formado um inversor. Outra forma seria manter uma entrada sempre
ligada em nível baixo, o que pode ser percebido ao analisar as duas
primeiras condições da tabela verdade. Estas duas formas de se obter
uma porta lógica NOT a partir de uma NOR estão apresentadas na
Figura 2.2 (IDOETA; CAPUANO, 2008).

Tabela 2.2 | Tabela verdade da porta lógica NOR

A B S
0 0 1
0 1 0
1 0 0
1 1 0
Fonte: elaborada pelo autor.

64 U2 - Sistemas digitais
Figura 2.2 | Montagens equivalentes à porta NOT utilizando porta NOR

Fonte: elaborada pelo autor.

1.1.3 Porta NOR a partir de portas NOT e AND


A equivalência de uma porta NOR a partir de uma montagem
com portas NOT e AND pode ser comprovada quando é analisada
a expressão booleana equivalente da porta NOR e se leva em
consideração um dos Teoremas de De Morgan A + B = A ⋅ B . Para
facilitar a visualização da equivalência, pode-se observar a tabela
verdade apresentada na Tabela 2.3, que comprova a relação existente
no Teorema de De Morgan. Como A + B é a expressão equivalente
à porta NOR, pode-se dizer que ela é equivalente à expressão A ⋅ B
. Assim, convertendo a expressão A ⋅ B em circuito lógico, tem-se
dois inversores ligados às entradas de uma porta AND, como pode ser
visto na Figura 2.3, e se chega à equivalência da porta NOR (IDOETA;
CAPUANO, 2008).

Tabela 2.3 |Tabela verdade que comprova a relação A + B = A⋅ B


A B A+ B A⋅ B
0 0 1 1
0 1 0 0
1 0 0 0
1 1 0 0
Fonte: elaborada pelo autor.

Figura 2.3 | Montagem equivalente à porta NOR utilizando portas NOT e AND

Fonte: elaborada pelo autor.

U2 - Sistemas digitais 65
1.1.4 Porta OR a partir de portas NOT e NAND
Tomando como base o caso anterior, com a aplicação de um
inversor na saída de cada um dos circuitos, será obtida a relação
A + B = A ⋅ B , que é equivalente a escrever A + B = A ⋅ B . Observando
a expressão, é perceptível que a parcela A + B representa uma porta
OR, e a parcela A ⋅ B representa uma montagem com dois inversores
ligados nas entradas de uma porta NAND. A equivalência citada está
apresentada de forma gráfica na Figura 2.4 (TOCCI; WIDMER; MOSS,
2011).

Figura 2.4 | Montagem equivalente à porta OR utilizando portas NOT e NAND

Fonte: elaborada pelo autor.

1.1.5 Porta NAND a partir de portas NOT e OR


Esta equivalência pode ser comprovada quando é analisada
a expressão booleana equivalente da porta NAND e se leva em
consideração outro Teorema de De Morgan. Esse teorema mostra
que A ⋅ B = A + B , o que pode ser comprovado se for observada a
tabela verdade apresentada na Tabela 2.4. Dessa forma, como A ⋅ B
é a expressão equivalente à porta NAND, é possível escrever a parcela
A + B em circuito lógico, que resulta em dois inversores ligados às
entradas de uma porta OR. A equivalência citada está apresentada de
forma gráfica na Figura 2.5 (IDOETA; CAPUANO, 2008).

Tabela 2.4 | Tabela verdade que comprova a relação A⋅ B = A + B

A B A⋅ B A+ B
0 0 1 1
0 1 1 1
1 0 1 1
1 1 0 0
Fonte: elaborada pelo autor.

66 U2 - Sistemas digitais
Figura 2.5 | Montagem equivalente à porta NAND utilizando portas NOT e OR

Fonte: elaborada pelo autor.

1.1.6 Porta AND a partir de portas NOT e NOR


Tomando como base a situação anterior, caso for aplicado um
inversor na saída de cada um dos circuitos, será obtida a relação
A ⋅ B = A + B , que é equivalente a escrever A ⋅ B = A + B . Observando
a expressão, é perceptível que a parcela A ⋅ B representa uma porta
AND e a parcela A + B representa uma montagem com dois inversores
ligados nas entradas de uma porta NOR. A equivalência citada está
apresentada de forma gráfica na Figura 2.6 (TOCCI; WIDMER; MOSS,
2011).

Figura 2.6 | Montagem equivalente à porta AND utilizando portas NOT e NOR

Fonte: elaborada pelo autor.

Para saber mais


A equivalência entre portas lógicas é muito utilizada na síntese de
circuitos combinacionais. Veja o vídeo a seguir que comprova por meio
de simulação as equivalências apresentadas na Seção 1.1.
Disponível em: <https://youtu.be/QKrDwoBbcIs>. Acesso em: 16 ago.
2017.

1.2 Projeto de circuitos combinacionais


Os circuitos combinacionais são aqueles em que a saída depende
apenas das entradas, não sendo necessário nenhum estado anterior ou

U2 - Sistemas digitais 67
algum efeito de memória dos circuitos. Estes circuitos são montados
com portas lógicas e utilizados para resolver um problema qualquer,
em que existe a necessidade de determinadas saídas, conforme a
combinação das entradas, justificando a sua nomenclatura (IDOETA;
CAPUANO, 2008).
Um engenheiro que trabalha com circuitos lógicos deve ser capaz
de projetar um circuito combinacional que reflita determinada situação
e resolva o problema conforme suas especificações. Este tópico
apresenta, com um exemplo, a forma em que um circuito de tal tipo
é projetado.
Usualmente o processo de desenvolvimento de um circuito lógico
combinacional possui o seguinte fluxo:
Verificação da situação e determinação dos requisitos de
1. 
projeto.
2. Construção da tabela verdade.
3. Obtenção da expressão simplificada por álgebra booleana ou
mapa de Karnaugh.
4. Obtenção do circuito lógico equivalente.
Para exemplificar o desenvolvimento de um projeto de sistema
combinacional com três variáveis de entrada e três de saída, será
utilizado como exemplo um controlador para um amplificador de
áudio, adaptado do livro de Idoeta e Capuano (2008).
Considere um amplificador de áudio utilizado para reproduzir o
áudio de três equipamentos, um tocador MP3, um toca-CD e um rádio
FM. Os equipamentos devem possuir prioridade de reprodução um
em relação ao outro, conforme a ordem que foram apresentados. O
que indica que caso os três estiverem ligados ou desligados, o que
será reproduzido pelo amplificador será o tocador MP3, pois ele possui
prioridade em relação aos demais. E se, por exemplo, o toca-CD e o
rádio FM estiverem ligados, a conexão a ser feita com o amplificador
será do toca-CD. A Figura 2.7 ilustra essa relação entre os elementos.

68 U2 - Sistemas digitais
Figura 2.7 | Relação de prioridade de ligação ao amplificador

Fonte: elaborada pelo autor.

O amplificador possui três entradas distintas em que cada um


dos sinais pode ser conectado e, internamente, ele realiza a soma
e amplificação do sinal presente nas entradas. Assim, é necessário
projetar a parte lógica de um controlador que possui três chaves
internas, sejam elas eletrônicas ou eletromecânicas, que realizarão a
conexão dos equipamentos ao amplificador. A Figura 2.8 mostra um
diagrama geral do sistema a ser controlado. Como pode ser visto na
figura, cada equipamento possui um sinal que indica se ele está ligado
ou não. Eles são representados por A, B e C, para o tocador MP3, o
toca-CD e o rádio FM, respectivamente. As chaves são representadas
por CH1, CH2 e CH3, para cada um dos equipamentos.

Figura 2.8 | Diagrama geral do sistema a ser controlado

Fonte: elaborada pelo autor.

Considerando as informações que foram apresentadas, tornam-se


necessárias algumas convenções antes de se iniciar a resolução do
problema, são elas:
• As variáveis de entrada do sistema, A, B e C, indicam se

U2 - Sistemas digitais 69
determinado equipamento está ligado, representado por 1, ou
desligado, representado por 0.
• As saídas indicam o estado das chaves, CH1, CH2 e CH3, sendo
elas abertas, interrompendo a conexão do equipamento com
o amplificador, representada por 0, ou fechada, permitindo a
conexão, representada por 1.
• Por lógica, apenas uma chave deve estar ligada a cada instante,
já que, caso duas ou três estejam ligadas, o amplificador
somará os sinais internamente.
Sendo assim, é possível elaborar a tabela verdade relativa ao
problema, que será preenchida posteriormente. A tabela verdade está
apresentada na Tabela 2.5.

Tabela 2.5 | Tabela verdade do exemplo de controle de áudio

Situação A B C CH1 CH2 CH3


1 0 0 0
2 0 0 1
3 0 1 0
4 0 1 1
5 1 0 0
6 1 0 1
7 1 1 0
8 1 1 1
Fonte: elaborada pelo autor.

Observando a Tabela 2.5, verifica-se que existem, no total, oito


situações que devem ser analisadas, permitindo o preenchimento da
tabela. Assim, tem-se:
• Situação 1: nenhum equipamento está ligado. Como o tocador
MP3 possui prioridade, ele será conectado ao amplificador,
resultando em CH1 = 1, CH2 = 0 e CH3 = 0.
• Situação 2: apenas o rádio está ligado, portanto, sua conexão
com o amplificador é feita, resultando em CH1 = 0, CH2 = 0
e CH3 = 1.
Situação 3: apenas o toca-CD está ligado, portanto, sua
• 
conexão com amplificador é feita, resultando em CH1 = 0,

70 U2 - Sistemas digitais
CH2 = 1 e CH3 = 0.
• Situação 4: o toca-CD e o rádio FM estão ligados. Como o
toca-CD possui prioridade, a conexão dele com o amplificador é feita,
resultando em CH1 = 0, CH2 = 1 e CH3 = 0.
• Situação 5: apenas o tocador MP3 está ligado, portanto, sua
conexão com o amplificador é feita, resultando em CH1 = 1,
CH2 = 0 e CH3 = 0.
• Situação 6: o tocador MP3 e o rádio FM estão ligados. Como
o tocador MP3 possui prioridade, a conexão dele com o
amplificador é feita, resultando em CH1 = 1, CH2 = 0 e CH3 =
0.
• Situações 7 e 8: o tocador MP3 está ligado, como ele possui
prioridade sobre os demais, ele será conectado ao amplificador,
independentemente da situação dos demais, resultando em
CH1 = 1, CH2 = 0 e CH3 = 0.
Analisadas todas as situações, é possível preencher a tabela
verdade e prosseguir com a resolução do problema. A tabela verdade
preenchida está apresentada na Tabela 2.6.

Tabela 2.6 | Tabela verdade do exemplo de controle de áudio preenchida

Situação A B C CH1 CH2 CH3


1 0 0 0 1 0 0
2 0 0 1 0 0 1
3 0 1 0 0 1 0
4 0 1 1 0 1 0
5 1 0 0 1 0 0
6 1 0 1 1 0 0
7 1 1 0 1 0 0
8 1 1 1 1 0 0
Fonte: elaborada pelo autor.

Encontrada a tabela verdade para cada uma das três saídas, é


possível encontrar a expressão equivalente a elas. O método utilizado
é por álgebra booleana. Assim, para a saída CH1, tem-se:
CH1 = A ⋅ B ⋅ C + A ⋅ B ⋅ C + A ⋅ B ⋅ C + A ⋅ B ⋅ C + A ⋅ B ⋅ C  Propriedade
distributiva

U2 - Sistemas digitais 71
CH1 = B ⋅ C ⋅ ( A + A) + A ⋅ B ⋅ C + A ⋅ B ⋅ (C + C )  Postulado da adição
CH1 = B ⋅ C + A ⋅ B ⋅ C + A ⋅ B  Propriedade distributiva
CH1 = B ⋅ C + A ⋅ (B ⋅ C + B )  Identidade auxiliar
CH1 = B ⋅ C + A ⋅ (C + B )  Teorema de De Morgan
CH1 = (B + C ) + A ⋅ (B + C )  Identidade auxiliar
CH1 = (B + C ) + A  Teorema de De Mogan

CH1 = B ⋅ C + A .
Realizando a mesma análise para CH2, obtém-se o seguinte
equacionamento:
CH2 = A ⋅ B ⋅ C + A ⋅ B ⋅ C  Propriedade distributiva
CH2 = A ⋅ B ⋅ (C + C )  Postulado da adição
CH 2 = A ⋅ B .

Por fim, como CH3 possui apenas uma situação em que se torna
ativo, a expressão booleana que o descreve é de fácil obtenção:
CH3 = A ⋅ B ⋅ C .
Com isso, é possível projetar o circuito equivalente simplificado que
resolve o problema, conforme está apresentado na Figura 2.9. Para
CH1, as entradas B e C passam por uma porta NOT e são colocadas
nas entradas de uma porta AND. A saída dessa porta AND é somada ao
sinal A por meio de uma porta OR. Já para CH2, o sinal A é invertido por
uma porta NOT e multiplicado com o sinal B por meio de uma porta
AND. Em CH3, são utilizados os sinais de A e B invertidos, juntamente
com o sinal C, nas entradas de uma porta AND. A figura apresentada
ilustra a montagem completa, das três saídas em um mesmo circuito.
Lembrando que o circuito poderia ser otimizado para a utilização de
uma menor diversidade de portas lógicas por meio das equivalências
que foram estudadas na Seção 1.1.

72 U2 - Sistemas digitais
Figura 2.9 | Circuito resultante para o exemplo de controlador do amplificador de
áudio

Fonte: elaborada pelo autor.

Questão para reflexão


Conforme a metodologia de projeto proposta, é possível resolver
qualquer tipo de problema por meio da utilização dos circuitos
combinacionais? Existe alguma limitação relacionada ao tamanho do
circuito?

Atividades de aprendizagem
Considere o projeto de um circuito lógico combinacional que possui três
entradas, A, B e C, em que a saída deverá ir para nível alto somente quando
a maioria das entradas estiver em nível baixo.
1. Elabore a tabela verdade do projeto descrito e assinale a alternativa que
apresenta a expressão simplificada para a saída.
a) S = A ⋅ B + B ⋅ C + B .
b) S = A + A ⋅ C + B ⋅ C .
c) S = A ⋅ B + A ⋅ C + B .
d) S = A ⋅ B + A ⋅ C + B ⋅ C .
e) S = A ⋅ C + B ⋅ C + C .

2. Elabore o circuito equivalente do projeto, conforme a expressão booleana


obtida na questão anterior.

U2 - Sistemas digitais 73
Seção 2
Circuitos sequenciais
Introdução à seção

Até este ponto da disciplina foram estudados os circuitos


combinacionais, que são baseados nas portas lógicas. A partir desse
ponto, se inicia o estudo de uma outra parte, também importante, dos
sistemas digitais clássicos e dos circuitos sequenciais. Pode-se dizer que
tais circuitos são baseados nos flip-flops, que integram o primeiro tópico
dessa seção. Vale ressaltar que os conceitos estudados até aqui servem
como base para os próximos assuntos, tal como circuitos contadores.
Assim, caso haja alguma dúvida sobre o que foi apresentado na primeira
unidade do livro, é importante que os conceitos sejam revisados.
2.1. Flip-flops
Assim como a lógica combinacional possui as portas lógicas, a
lógica sequencial possui os blocos chamados de flip-flops. Estes blocos
são a base dos sistemas sequenciais (IDOETA; CAPUANO, 2008).
Os flip-flops usualmente operam sob o comando de uma sequência
de pulsos, chamada de clock. Desta forma, seu funcionamento está
sempre relacionado a esta sequência, que determina a base de tempo
de operação de tais sistemas.
Geralmente os flip-flops possuem três entradas, duas para as
variáveis e uma para o sinal de clock, e duas saídas, Q e Q , que são
complemento uma da outra. Assim, a saída assume determinado
estado, dependendo da combinação das entradas e do pulso de clock,
permanecendo desta forma até a chegada de um novo pulso (TOCCI;
WIDMER; MOSS, 2011).
2.1.1. Flip-flop RS
Para início da análise do funcionamento dos flip-flops, será
apresentado o mais simples deles, conhecido como RS básico, que
não possui entrada de clock. Este flip-flop, em sua montagem utilizando
portas lógicas, está apresentado na Figura 2.10. Como pode-se
perceber, ele é montado com portas NOT e NAND e possui ligações de
realimentação que fazem com que as saídas sejam recolocadas dentro

74 U2 - Sistemas digitais
do circuito. Com isso, fica claro que o estado das saídas depende de
seus estados anteriores (IDOETA; CAPUANO, 2008).

Figura 2.10 | Flip-flop RS básico montado com portas lógicas

Fonte: elaborada pelo autor.

A análise do funcionamento do circuito da Figura 2.10 pode ser feita


mais facilmente utilizando uma tabela verdade, que está apresentada
na Tabela 2.7. Esta tabela possui três “entradas”, que determinam o
estado da saída, duas delas são as entradas propriamente ditas, S e R,
e a terceira, denominada Qa é o estado anterior da saída Q. A saída é
representada por Qf, ou seja, a saída Q futura.

Tabela 2.7 |Tabela verdade para o flip-flop RS básico

Caso S R Qa Qf
1 0 0 0
2 0 0 1
3 0 1 0
4 0 1 1
5 1 0 0
6 1 0 1
7 1 1 0
8 1 1 1
Fonte: elaborada pelo autor.

Fazendo a análise de cada caso da tabela verdade, a partir da


observação do circuito da Figura 2.10, é possível se obter o estado
futuro da saída Qf :
• Caso 1: neste caso, com as entradas e o estado anterior da
saída iguais a zero, pode-se dizer que o circuito se encontra

U2 - Sistemas digitais 75
em um estado estável, em que a saída futura assumirá
o mesmo estado da saída anterior após a aplicação das
entradas, ou seja, 0.
• Caso 2: também é um caso considerado estável, com a saída
futura resultando em 1.
• Caso 3: outro estado considerado estável. Agora, Qf será 0.
• Caso 4: este caso apresenta uma situação instável. Isto ocorre,
pois a saída Q será alterada para 1, o que obriga a saída Q,
mesmo sendo 1, a ir para 0. Com isso, pode-se dizer que Qf =
0, pois esta condição torna o circuito estável.
• Caso 5: acontece novamente uma situação instável, em que
Q assumirá de forma forçada o valor de 1. Com isso, Qf = 1.
• Caso 6: é um estado estável, resultando em Qf = 1.
• Caso 7: é um estado instável, pois Q deverá assumir 1 de
forma forçada. Contudo, pela análise do circuito, nota-se
que Q também será 1. Assim, este é um caso que não deve
ser permitido nas entradas, por forçar as duas saídas a serem
iguais. Considera-se para esta situação Qf = 1.
• Caso 8: ocorre a mesma situação do caso anterior. Considera-
se Qf = 1.
A análise dos casos permite o preenchimento da tabela verdade,
resultando na Tabela 2.8. Em resumo, observa-se que nos casos 1 e 2,
Qf = Qa , nos casos 3 e 4 que Qf = 0, nos casos 5 e 6 que Qf = 1 e que
os casos 7 e 8 não são permitidos.

Tabela 2.8 | Tabela verdade para o flip-flop RS básico preenchida

Caso S R Qa Qf Qf

1 0 0 0 0 1
2 0 0 1 1 0
3 0 1 0 0 1
4 0 1 1 0 1
5 1 0 0 1 0
6 1 0 1 1 0
7 1 1 0 1 1
8 1 1 1 1 1
Fonte: elaborada pelo autor.

76 U2 - Sistemas digitais
A partir da análise da tabela verdade, é possível delimitar o
funcionamento do flip-flop RS. As duas entradas possuem funções
específicas: a entrada S (set), ao ser acionada faz com que a saída vá
para nível alto; o acionamento da entrada R (reset) faz com que a saída
vá para nível baixo. Assim, este circuito terá as suas saídas alteradas
apenas se ocorrerem mudanças nas variáveis de entrada (IDOETA;
CAPUANO, 2008).
Apresentado o funcionamento do flip-flop RS básico, é possível
inserir um sinal de clock para o controle do circuito. Para isso, as portas
NOT da Figura 2.10 são substituídas por portas NAND, como pode ser
visto na Figura 2.11.

Figura 2.11 | Flip-flop RS montado com portas lógicas

Fonte: elaborada pelo autor.

Pela análise do circuito da Figura 2.11, verifica-se que quando o sinal


de clock estiver em nível baixo, as saídas das portas NAND em que este
sinal está ligado estarão em nível alto. Com isso, o flip-flop se manterá
em seu estado atual, mesmo se o estado das entradas S e R vierem a
mudar. Caso o sinal de clock esteja em nível alto, o funcionamento
será o mesmo do flip-flop básico, já que as portas NAND irão funcionar
como inversores dos sinais S e R. Em suma, pode-se dizer que o flip-
flop funcionará apenas com sinal de clock em nível alto (IDOETA;
CAPUANO, 2008).
A Figura 2.12 apresenta o bloco representativo do flip-flop RS, em
que se pode observar as entradas S (set), R (reset) e CLK (clock), e
também as saídas Q e Q . Em relação ao sinal de clock, na grande
maioria dos casos ele permite que as saídas sejam alteradas somente
quando há uma borda, ou seja, quando o clock passar de 0 para 1 ou

U2 - Sistemas digitais 77
de 1 para 0 as saídas vão se modificar (TOCCI; WIDMER; MOSS, 2011).
Esta característica é chamada por Idoeta e Capuano (2008) de mestre-
escravo. Assim, na Figura 2.12 pode-se considerar que o flip-flop RS
terá a sua saída modificada apenas na subida (01) do sinal de clock.
Desta forma, pode-se entender que, no momento da transição do sinal
de clock, o flip-flop avaliará o estado de suas entradas e modificará ou
não a sua saída. Caso haja modificações nas entradas no período entre
as bordas de subida do sinal clock, elas não serão consideradas. Dessa
forma, nesse caso, vale apenas o estado nas entradas no momento
da borda de detecção do sinal de clock. A Tabela 2.9 apresenta a
tabela-verdade com o funcionamento citado, em que Q0 é o nível de
saída anterior à subida ↑ de clock. Vale ressaltar que para esse caso a
borda de descida ↓ do sinal de clock não produz mudança na saída Q
(TOCCI; WIDMER; MOSS, 2011).

Figura 2.12 | Flip-flop RS

Fonte: elaborada pelo autor.

Tabela 2.9 I Tabela-verdade do flip-flop RS acionado por borda

S R CLK Q Q

0 0 ↑ Q0 Q0

0 1 ↑ 1 0

1 0 ↑ 0 1

1 1 ↑ Ambíguo Ambíguo
Fonte: elaborada pelo autor.

2.1.2. Flip-flop JK
O flip-flop JK possui o seu funcionamento baseado no flip-flop
RS, já que ele é derivado deste elemento. Sua montagem interna está

78 U2 - Sistemas digitais
apresentada na Figura 2.13. Como pode-se perceber, ele é um flip-flop
RS realimentado com portas AND (IDOETA; CAPUANO, 2008).

Figura 2.13 | Montagem interna do flip-flop JK

Fonte: elaborada pelo autor.

A tabela verdade que descreve o circuito da Figura 2.13, quando o


clock está em nível alto, está apresentada na Tabela 2.10. Nela, podemos
perceber que: quando J = K = 0, a saída se torna igual Qa ; quando
J = 0 e K = 1, Qf será igual a zero; quando J = 1 e K = 0, Qf se tornará
igual a 1; e quando J = K = 1, a saída será igual a Qa . O bloco que
representa o flip-flop JK está apresentado na Figura 2.14.

Tabela 2.10 | Tabela verdade para o flip-flop JK

J K Qa Qa S R Qf

0 0 0 1 0 0 0
0 0 1 0 0 0 1
0 1 0 1 0 0 0
0 1 1 0 0 1 0
1 0 0 1 1 0 1
1 0 1 0 0 0 1
1 1 0 1 1 0 1
1 1 1 0 0 1 0
Fonte: elaborada pelo autor.

U2 - Sistemas digitais 79
Figura 2.14 | Flip-flop JK

Fonte: elaborada pelo autor.

O flip-flop JK que está apresentado na Figura 2.14 é o modelo mais


simples e com menos recursos. Desta forma, existem dois elementos
importantes que foram agregados para aumentar as funcionalidades
desse flip-flop. Dois desses elementos são as entradas preset (PR) e
clear (CLR), que se tornam ativas em nível baixo. A entrada preset,
quando ativa, faz com que a saída Q se torne 1. A ativação da entrada
clear força a ida da saída Q para 0. Estas duas entradas funcionam de
forma independente do sinal de clock, não podem estar ativadas em
um mesmo momento e, caso ambas estejam em nível alto, o flip-flop
possui seu funcionamento normal. Assim como foi dito para o flip-flop
RS, as alterações das saídas ocorrem somente quando há uma borda
de subida ou descida do sinal de clock. A Figura 2.15 mostra o flip-flop
JK com entradas preset e clear, acionado na borda de descida do sinal
de clock, o que é representado pelo círculo acoplado à entrada CLK.

Figura 2.15 | Flip-flop JK mestre-escravo com entradas preset e clear

Fonte: elaborada pelo autor.

2.1.3. Flip-flop T
O flip-flop T é montado a partir de um flip-flop JK com as entradas
J e K unidas, de modo que o sinal aplicado a elas será o mesmo. Assim,
as únicas condições possíveis para a saída são: Qf = Qa quando J
= K = T = 0 e Qf = Qa , quando J = K = T = 1. A montagem do flip-

80 U2 - Sistemas digitais
flop T e seu diagrama representativo estão apresentados na Figura 2.16
(IDOETA; CAPUANO, 2008).

Figura 2.16 | Flip-flop T

Fonte: elaborada pelo autor.

2.1.4. Flip-flop D
O flip-flop D é montado a partir de um flip-flop JK com a entrada
K ligada a J por meio de um inversor. A Figura 2.17 ilustra como a
montagem é feita e apresenta o digrama representativo deste flip-flop.
Como não é possível a existência de sinais iguais nas entradas J e K, as
únicas condições possíveis para a saída são: nível baixo quando J = 0,
K = 1 e, portanto, D=0; e nível alto quando J = 1, K = 0, sendo D = 1
(TOCCI; WIDMER; MOSS, 2011).

Figura 2.17 | Flip-flop D

Fonte: elaborada pelo autor

Devido ao seu funcionamento, que permite armazenar o valor da


entrada D, este dispositivo é utilizado na montagem de registradores e
dispositivos de memória.

U2 - Sistemas digitais 81
Questão para reflexão
Após conhecimento de todos os modelos de flip-flop, é possível dizer
que todos os tipos podem ser obtidos a partir de montagens utilizando
o flip-flop JK?

2.2. Contadores
São circuitos lógicos digitais que variam seu estado conforme a
aplicação de pulsos de clock, realizando uma sequência preestabelecida,
que pode ser uma contagem, divisão de frequência, geração de formas
de onda, entre outros. Estes circuitos são divididos em dois tipos, os
síncronos e os assíncronos.
2.2.1. Contadores assíncronos
Nesse tipo de contador, os vários flip-flops utilizados não possuem
o mesmo sinal de clock, de forma que este sinal é aplicado somente
no primeiro dispositivo. Assim, o circuito funciona de forma assíncrona,
ou seja, sem a sincronia do sinal de clock.

Contador de pulsos
O contador de pulsos é um circuito que apresenta nas suas saídas
uma contagem do sistema binário em sequência. O circuito contador
de pulsos com 4 bits, que é montado com flip-flops T mestre-escravo,
está apresentado na Figura 2.18 (IDOETA; CAPUANO, 2008).

Para saber mais


Um contador assíncrono também pode ser montado utilizando flip-
flops JK com as entradas J e K ligadas em nível alto. Para estudar essa
montagem, de 2, 3 e 4 bits, consulte o capítulo 8-1 do livro de FLOYD,
Thomas L. Sistemas digitais: fundamentos e aplicações. 9. ed. Porto
Alegre: Bookman, 2007.

82 U2 - Sistemas digitais
Figura 2.18 | Contador de pulsos de 4 bits

Fonte: elaborada pelo autor.

Quanto ao funcionamento do contador, inicialmente é aplicado


um sinal em clear, forçando todas as saídas para que se tornem zero,
que é a primeira contagem binária existente. Após isso, inicia-se a
aplicação dos pulsos de clock no circuito. Como as entradas de todos
os flip-flops estão ligadas em 1, ao receber o sinal de clock, a sua saída
terá o inverso de seu estado anterior. Contudo, para todos os flip-flops,
exceto o primeiro, a sua entrada de clock está ligada à saída do flip-flop
anterior, devido a isso, é possível estabelecer a contagem.
Assim, com a vinda do primeiro sinal de clock, a saída Q0 vai a
1, contudo, como o segundo flip-flop comuta seu estado somente
na borda de descida, ele permanece em 0. Com o segundo sinal de
clock, a saída Q0 muda de 1 para 0, acionando o segundo flip-flop,
que coloca a saída Q1 em nível alto. Esse processo segue para todos
os flip-flops, até quando Q0 = Q1 = Q2 = Q3 = 1. Nesse momento, ao
receber mais pulso de clock, todas as saídas vão para zero, reiniciando
a contagem.
Um detalhe importante nesse contador é que o bit mais significativo
da contagem é Q3 e o menos significativo é Q0.

Contador de década
Este contador é um circuito que efetua a contagem binária BCD, ou
seja, de 00002 a 10012 . Utilizando um contador de pulsos como base,
é necessário que o circuito seja reiniciado, por meio da aplicação de
um nível lógico baixo nas entradas clear dos flip-flops, no momento
em que a condição 10102 se tornar presente nas saídas. Para isso, é
utilizada uma porta NAND, conforme está apresentado na Figura 2.19,
que mostra a montagem do contador de década (FLOYD, 2007).

U2 - Sistemas digitais 83
Para saber mais
Um contador de década assíncrono também pode ser montado
utilizando flip-flops JK, ligando as entradas J e K em nível alto. Para
estudar essa montagem, consulte o Capítulo 8-1 do livro de FLOYD,
Thomas L. Sistemas digitais: fundamentos e aplicações. 9. ed. Porto
Alegre: Bookman, 2007.

Figura 2.19 | Contador de década

Fonte: elaborada pelo autor.

Nesse circuito, Q0 é LSB e Q3 o MSB. Como pode-se perceber


na Figura 2.19, para a montagem da lógica de reset, foram utilizadas
algumas saídas Q , permitindo que a saída da porta NAND seja nível
baixo quando todas as suas entradas estejam em nível alto na condição
10102 , gerando o sinal para zerar as saídas dos flip-flops.
Contador sequencial de 0 a n
Assim como foi feito para o contador de década, é possível sempre
se montar uma lógica de reset com uma porta lógica NAND para
reiniciar a contagem do circuito. Isso permite que seja feita a contagem
binária até qualquer valor desejado.
Para isso, deve-se selecionar a saída Q ou Q dos flip-flops, que
servirá de entrada para a porta NAND, conforme o número acima do
limite da contagem. Caso o bit respectivo seja um, deve-se selecionar
a saída Q, e caso seja zero, seleciona-se a saída Q . Para exemplificar,
considere que se deseja um contador que realize uma contagem até
4. O estado em que o circuito deve ser zerado é, portanto, o 5 ou 1012 .
Desta forma, deve-se ter como entradas da porta NAND a saída Q do
primeiro e terceiro flip-flops e a saída Q , do segundo. O circuito deste
contador está apresentado na Figura 2.20.

84 U2 - Sistemas digitais
Figura 2.20 | Contador de 0 a 4

Fonte: elaborada pelo autor.

Para todos os contadores apresentados até aqui, caso se deseje


realizar a contagem de forma decrescente, basta realizar a coleta das
saídas Q dos flip-flops.
2.2.2. Contadores síncronos
Quando se utiliza os contadores assíncronos acontecem atrasos
de propagação relacionados a cada um dos flip-flops utilizados.
Assim, como é utilizado mais de um flip-flop, ocorre um acúmulo
desses atrasos, prejudicando o sinal de saída. Desta maneira, pode-se
dizer que nos contadores assíncronos nem todos os flip-flops estão
sincronizados com os pulsos de entrada. Para solucionar este problema
existem os contadores síncronos (TOCCI; WIDMER; MOSS, 2011).
Nos contadores síncronos, as entradas de clock dos vários flip-flops
utilizados estão interligadas. Assim, diferentemente do que acontece
para os contadores assíncronos, todos os elementos recebem o
mesmo sinal de clock.
Para a elaboração desses contadores são utilizados sempre flip-
flops do tipo JK e durante o projeto deve ser analisado em cada estado
como deve ser a combinação das entradas para que a saída seja obtida.
Como já foi apresentado, o flip-flop JK possui quatro combinações que
podem gerar diferentes respostas nas saídas, estas combinações estão
condensadas na Tabela 2.11.

U2 - Sistemas digitais 85
Tabela 2.11 | Tabela verdade do flip-flop JK

J K Qf

0 0 Qa (mantém o estado)

0 1 0 (fixa o nível baixo)


1 0 1 (fixa o nível alto)

1 1 Qa (inverte o estado)
Fonte: elaborada pelo autor.

Assim, a partir da tabela verdade do flip-flop, deve ser elaborada


outra tabela, que relaciona cada um dos estados necessários para a
saída com as entradas J e K. Este processo será ilustrado nos exemplos
de contadores síncronos apresentados a seguir.

Contador síncrono gerador de código binário de 4 bits


Como será feita a contagem de um código binário de 4 bits, são
necessários quatro flip-flops, sendo um para cada bit. A sequência de
contagem a ser utilizada é a binária padrão, indo de 00002 até 11112 e
então, reiniciando a contagem.
Para realizar o projeto desse circuito, deve-se analisar como estão
as entradas de cada flip-flop para cada estado da saída e, assim, gerar
o circuito necessário para que a sequência seja realizável. Para tanto,
considera-se, inicialmente, o contador com as quatro saídas em nível
lógico baixo.
Seguindo a sequência de contagem, após um pulso de clock,
o estado das saídas que estava em 00002 deve ir para 00012 .
Considerando o MSB como sendo o flip-flop Q3 e o LSB como o flip-
flop Q0, pode-se concluir que: Q1, Q2 e Q3 estavam em 0 e devem
permanecer em zero, assim, J = 0 e o estado de K não importa; Q0
estava em 0 e deve ir para 1, assim, J0 = 1 e K0 pode ser 0 ou 1.
Realizando mais uma contagem, ocorre a passagem de 00012
para 00102, gerando as seguintes condições: Q3 e Q2 estavam em 0
e devem permanecer assim, portanto, J = 0 e K pode ser 0 ou 1 para
eles; Q1 estava em 0 e deve ir para 1, resultando em J1 = 1 e K1 não
importa; Q0 estava em 1 e deve ir para 0, acarretando em K0 = 1 e J0
igual a zero ou um.
Fazendo o mesmo procedimento para todas as as contagens,
é possível montar a tabela verdade apresentada na Tabela 2.12, que

86 U2 - Sistemas digitais
descreve a relação entre as saídas e cada uma das entradas. Nesta
tabela, as letras X indicam que o estado não importa, podendo assumir
0 ou 1 e, após o último estado da tabela com as saídas em 11112 , o
estado seguinte considerado foi o 00002 , já que a contagem deve ser
reiniciada.

Tabela 2.12 | Tabela verdade do contador síncrono gerador de código binário de


4 bits
Q3 Q2 Q1 Q0 J3 K3 J2 K2 J1 K1 J0 K0
0 0 0 0 0 X 0 X 0 X 1 X
0 0 0 1 0 X 0 X 1 X X 1
0 0 1 0 0 X 0 X X 0 1 X
0 0 1 1 0 X 1 X X 1 X 1
0 1 0 0 0 X X 0 0 X 1 X
0 1 0 1 0 X X 0 1 X X 1
0 1 1 0 0 X X 0 X 0 1 X
0 1 1 1 1 X X 1 X 1 X 1
1 0 0 0 X 0 0 X 0 X 1 X
1 0 0 1 X 0 0 X 1 X X 1
1 0 1 0 X 0 0 X X 0 1 X
1 0 1 1 X 0 1 X X 1 X 1
1 1 0 0 X 0 X 0 0 X 1 X
1 1 0 1 X 0 X 0 1 X X 1
1 1 1 0 X 0 X 0 X 0 1 X
1 1 1 1 X 1 X 1 X 1 X 1
Fonte: elaborada pelo autor.

Para saber mais


O método de simplificação e obtenção da expressão booleana por
diagramas de Karnaugh pode ser estudado na Unidade 1 da webaula
da disciplina ou no capítulo 3.9 do livro a seguir. Assim, é recomendado
que antes de prosseguir no estudo dos contadores assíncronos você
consulte o assunto indicado.
IDOETA, Ivan Valeije; CAPUANO, Francisco Gabriel. Elementos de
eletrônica digital. 40. ed. São Paulo: Érica, 2008.

U2 - Sistemas digitais 87
Montada a tabela verdade, para obter as expressões simplificadas,
é possível utilizar a álgebra booleana ou os diagramas de Karnaugh.
Neste caso, como existem vários estados de saída com X, que podem
ser considerados 0 ou 1, a resolução fica mais simplificada se forem
utilizados diagramas de Karnaugh. Isso ocorre, pois tal forma de
simplificação visa ao agrupamento do maior número de elementos
possível. Assim, os estados em X podem ser considerados para
os agrupamentos que se tornam maiores, reduzindo a expressão
resultante e, consequentemente, o circuito. As Figuras de 2.21 a 2.28
apresentam os oito diagramas, já com os agrupamentos equivalentes,
referentes a cada uma das entradas dos flip-flops, conforme a tabela
verdade da Tabela 2.12.

Figura 2.21 | Diagrama de Karnaugh para a entrada J3

Q1 Q1

0 0 0 0 Q2
Q3
0 0 1 0
Q2
X X X X
Q3
X X X X Q2

Q0 Q0 Q0

Fonte: elaborada pelo autor.

88 U2 - Sistemas digitais
Figura 2.22 | Diagrama de Karnaugh para a entrada K3

Q1 Q1

X X X X Q2
Q3
X X X X
Q2
0 0 1 0
Q3
0 0 0 0 Q2

Q0 Q0 Q0

Fonte: elaborada pelo autor.

Figura 2.23 | Diagrama de Karnaugh para a entrada J2

Q1 Q1

0 0 1 0 Q2
Q3
X X X X
Q2
X X X X
Q3
0 0 1 0 Q2

Q0 Q0 Q0

Fonte: elaborada pelo autor.

U2 - Sistemas digitais 89
Figura 2.24 | Diagrama de Karnaugh para a entrada K2

Q1 Q3

X X X X Q2
Q2
0 0 1 0
Q3
0 0 1 0
Q2
X X X X Q0

Q0 Q0 Q0

Fonte: elaborada pelo autor.

Figura 2.25 | Diagrama de Karnaugh para a entrada J1

Q1 Q1

0 1 X X Q2
Q3
0 1 X X
Q2
0 1 X X
Q3
0 1 X X Q2

Q0 Q0 Q0

Fonte: elaborada pelo autor.

90 U2 - Sistemas digitais
Figura 2.26 | Diagrama de Karnaugh para a entrada K1

Q1 Q1

X X 1 0 Q2
Q3
X X 1 0
Q2
X X 1 0
Q3
X X 1 0 Q2

Q0 Q0 Q0

Fonte: elaborada pelo autor.

Figura 2.27 | Diagrama de Karnaugh para a entrada J0

Q1 Q1

1 X X 1 Q2
Q3
1 X X 1
Q2
1 X X 1
Q3
1 X X 1 Q2

Q0 Q0 Q0

Fonte: elaborada pelo autor.

U2 - Sistemas digitais 91
2.28 | Diagrama de Karnaugh para a entrada K0

Q1 Q1

X 1 1 X Q2
Q3
X 1 1 X
Q2
X 1 1 X
Q3
X 1 1 X Q2

Q0 Q0 Q0

Fonte: elaborada pelo autor.

A partir dos diagramas, chega-se às expressões equivalentes para


cada uma das entradas dos flip-flops:
• J 3 = K 3 = Q 2 ⋅ Q1⋅ Q0 .
• J 2 = K 2 = Q1⋅ Q0 .
• 1 Q0 .
1 K=
J=
• 0 1.
0 K=
J=
Com isso, é possível montar o circuito sequencial como está
apresentado na figura a seguir.

Figura 2.29 | Circuito equivalente do contador síncrono gerador de código binário


de 4 bits

Fonte: elaborada pelo autor.

92 U2 - Sistemas digitais
A elaboração desse circuito sequencial mostrou que o processo
não é simples, contudo, ele segue sempre o fluxo apresentado. Assim,
caso seja necessário projetar outro circuito contador síncrono, deve-
se seguir os mesmos passos, em que o circuito final será sempre
uma montagem com flip-flops JK e um circuito combinacional que
alimenta as entradas J e K desses flip-flops.

Para saber mais


Inserir textoO projeto de contadores síncronos apresentado neste livro
é muito semelhante ao processo conhecido como máquina de estados.
A diferença é que ele possui passos além daqueles discriminados aqui,
que podem facilitar o desenvolvimento do circuito. Para conhecer essa
metodologia por completo, consulte o capítulo 8-4 do livro:
FLOYD, Thomas L. Sistemas digitais: fundamentos e aplicações. 9. ed.
Porto Alegre: Bookman, 2007.

Atividades de aprendizagem
1. Assinale a alternativa correta sobre flip-flops.
a) Todos os modelos de flip-flops possuem entrada de clock.
b) A entrada preset de um flip-flop faz com que a saída se torne nível alto,
independentemente do sinal de clock.
c) A entrada clear de um flip-flop faz com que a saída se torne nível alto,
independentemente do sinal de clock.
d) No flip-flop mestre-escravo as mudanças na saída podem ocorrer em
qualquer nível do sinal de clock.
e) O flip-flop T pode ser montado a partir de um flip-flop JK com as entradas
J e K ligadas em 1 e 0, respectivamente.

2. Projete um contador assíncrono sequencial que realize uma contagem


de 0 a 6.

Fique ligado
Nesta unidade, foram apresentados os seguintes tópicos:
• Síntese de circuitos combinacionais.
• Equivalência entre blocos lógicos: porta NOT a partir de NAND

U2 - Sistemas digitais 93
e NOR; porta NOR a partir de NOT e AND; porta OR a partir de NOT
e NAND; porta NAND a partir de NOT e OR; e porta AND a partir de
NOT e NOR.
• Conversão de tabela verdade em expressão booleana.
• Simplificação de expressões booleanas.
• Conversão de expressão booleana em circuito lógico.
• Projeto de circuitos combinacionais.
• Funcionamento e características dos flip-flops.
• Flip-flops RS, JK, T e D.
• Sinais de clock, preset e clear em flip-flops.
• Definições e aplicações de contadores com flip-flops.
• Contadores assíncronos: de pulso, década e sequencial.
• Contadores síncronos: gerador de código binário.

Para concluir o estudo da unidade


Ao final do estudo desta unidade é esperado que você tenha
conhecimento e seja capaz de projetar circuitos digitais combinacionais
e sequencias, sabendo trabalhar facilmente com portas lógicas e flip-
flops.
Espera-se também que saiba realizar o desenvolvimento de
contadores síncronos e assíncronos, aplicando o circuito ideal,
conforme a necessidade de projeto, além de saber aliar os conceitos
da lógica combinacional para o desenvolvimento de tais circuitos.
Após os conceitos explorados na primeira unidade e nesta unidade
do livro, juntamente com a Unidade 1 da webaula da disciplina, é
possível dizer que você pode estudar os conceitos essenciais dos
sistemas digitais clássicos e está apto a seguir o estudo desses sistemas,
futuramente.
Nas próximas unidades do livro, em contrapartida ao que foi
apresentado nas primeiras, serão apresentados conceitos relacionados
à eletrônica analógica, que são complementares àqueles vistos na
disciplina de Circuitos Elétricos e Instrumentação Eletrônica.
Bons estudos!

94 U2 - Sistemas digitais
Atividades de aprendizagem da unidade
1. A equivalência entre portas lógicas é muito utilizada para reduzir a
quantidade de portas lógicas diferentes em um circuito combinacional, o
que pode evitar a existência de portas lógicas não utilizadas em um circuito.
Considere o circuito lógico apresentado pela Figura 2.30. Este circuito é
constituído por três tipos de portas lógicas diferentes, contudo, se deseja
montá-lo com apenas um tipo de porta. Assim, assinale a alternativa que
descreve o circuito equivalente utilizando apenas portas lógicas NAND.

Figura 2.30 | Circuito combinacional para a atividade 1

Fonte: elaborada pelo autor.

a)

b)

c)

U2 - Sistemas digitais 95
d)

e)

2. Os contadores síncronos são dispositivos que realizam determinada


contagem predeterminada, em que todos os flip-flops utilizados recebem
um mesmo sinal de clock. Para o projeto desse tipo de circuito sequencial
normalmente é utilizado o processo por máquina de estados em que são
seguidos alguns passos, que facilitam o desenvolvimento. Os passos podem
ser identificados como sendo:
(A) Implementação do contador.
(B) Obtenção das expressões lógicas.
(C) Aplicação da tabela de transições do flip-flop.
(D) Montagem do diagrama de estados.
(E) Montagem da tabela do próximo estado.
(F) Montagem dos mapas de Karnaugh.
Assinale a alternativa que indica a ordem correta que os passos devem ser
realizados para o projeto de um contador síncrono por máquina de estados.
a) C; D; E; B; F; A.
b) D; E; C; F; B; A.
c) D; E; F; C; B; A.
b) C; E; D; F; A; B.
e) D; E; C; A; F; B.

3. Considere um contador binário crescente de quatro bits que pode ser


analisado como máquina de estados, sendo o seu estado atual Q3Q2Q1Q0 = 1001.
Assinale a alternativa que indica qual a condição que deve existir em cada
entrada dos flip-flops JK para garantir que ele vá para o próximo estado

96 U2 - Sistemas digitais
esperado ( Q3Q2Q1Q0 = 1010), quando um novo pulso de clock chegar.
a) J3 = X e K3 = 0; J2 = 1 e K2 = X; J1 = X e K1 = 0; J0 = 1 e K0 = X.
b) J3 = X e K3 = 1; J2 = X e K2 = 0; J1 = 1 e K1 = X; J0 = 0 e K0 = X.
c) J3 = X e K3 = 0; J2 = 0 e K2 = X; J1 = 1 e K1 = X; J0 = X e K0 = 1.
d) J3 = 1 e K3 = X; J2 = 1 e K2 = X; J1 = X e K1 = 1; J0 = X e K0 = 1.
e) J3 = 0 e K3 = X; J2 = 0 e K2 = X; J1 = 0 e K1 = X; J0 = X e K0 = 1.

4. Entre os diversos tipos de flip-flops existentes, aquele que possui o


funcionamento mais simples é o flip-flop D, que em seu modelo básico
possui apenas uma entrada além do clock.
Considerando o sinal de clock e o sinal aplicado na entrada D apresentados
na Figura 2.31, assinale a alternativa que indica a forma de onda encontrada
na saída Q do flip-flop. Considere a saída inicialmente em nível baixo e o
flip-flop disparado na borda de descida do clock.

Figura 2.31 | Sinais de entrada para a atividade 4

Fonte: elaborada pelo autor.

5. O flip-flop JK é um dos modelos de flip-flop mais utilizados na elaboração


de circuitos sequenciais. Neste dispositivo, o valor que será encontrado na
saída depende dos estados das entradas J, K e o estado anterior da saída.
Sobre o funcionamento do flip-flop JK, assinale a alternativa correta.
a) Caso J = 0 e K = 0, o estado encontrado na saída será, necessariamente,
nível baixo quando um pulso de clock for detectado.

U2 - Sistemas digitais 97
b) Caso J = 0 e K = 1, o estado encontrado na saída será, necessariamente,
nível alto quando um pulso de clock for detectado.
c) Caso J = 1 e K = 0, o estado encontrado na saída será mantido quando um
pulso de clock for detectado.
d) Caso J = 1 e K = 0, o estado encontrado na saída será invertido quando
um pulso de clock for detectado.
e) Independentemente de J e K, a saída será sempre nível alto caso não haja
pulsos de clock.

98 U2 - Sistemas digitais
Referências
FLOYD, Thomas L. Sistemas digitais: fundamentos e aplicações. 9. ed. Porto Alegre:
Bookman, 2007.
IDOETA, Ivan Valeije; CAPUANO, Francisco Gabriel. Elementos de eletrônica digital. 40.
ed. São Paulo: Érica, 2008.
TOCCI, Ronald J.; WIDMER, Neal S.; MOSS, Gregory L. Sistemas digitais: princípios e
aplicações. 11. ed. São Paulo: Pearson, 2011.

U2 - Sistemas digitais 99
Unidade 3

Circuitos analógicos e digitais

Charles William Polizelli Pereira

Objetivos de aprendizagem
Após o estudo desta unidade, você será capaz de:

• Conhecer as topologias de amplificadores de potência e


como calcular o seu ganho.

• Identificar as topologias de push-pull, amplificador emissor-


comum e amplificadores classe C e D.

• Conhecer a unidade decibel utilizada na análise de ganho


de potência de amplificadores.

• Entender como os capacitores de acoplamento e de desvio


influenciam na resposta em frequência dos amplificadores.

• Conhecer as capacitâncias parasitas associadas ao transistor,


intereletrodos e dos fios na montagem de circuitos e
entender a influência que essas capacitâncias têm sobre a
resposta em frequência dos amplificadores.

• 
Conhecer o amplificador operacional e o seu circuito
interno.

• Conhecer as características do amplificador operacional e


suas topologias.
Introdução à unidade
Esta unidade é a continuação da análise de transistores de pequenos
sinais, e visa mostrar as topologias de amplificadores de potência
para grandes sinais e a revolução dos circuitos integrados, que foi a
implementação do amplificador operacional. É necessário relembrar as
características dos transistores, mais especificamente do amplificador
emissor-comum para, então, mergulhar nesse novo mundo.
Os amplificadores de potência têm uma vasta utilização em
amplificadores de áudio, sintonização de sinais, fontes reguladas,
transmissores e receptores de sinais, entre outros. Para entender as
limitações e a aplicação de cada topologia, é necessário o estudo
do ganho e da operação de cada classe de amplificador, além da
sua resposta em frequência, fato que define para qual aplicação os
amplificadores devem ser utilizados.
Posteriormente, com o desenvolvimento da eletrônica, foi
desenvolvido a tecnologia de colocar circuitos complexos dentro de
pequenos circuitos integrados, proporcionando a grande revolução
na eletrônica integrada, que foi o desenvolvimento dos amplificadores
operacionais.
Os amplificadores operacionais têm inúmeras aplicações,
estando presentes nos sistemas eletrônicos, no controle industrial,
na instrumentação industrial, na instrumentação médica, nos
computadores analógicos, nos equipamentos de telecomunicações,
em sistemas de aquisição de dados, em equipamentos de áudio, na
eletrônica de potência, entre outras.
Na primeira seção desta unidade, serão apresentadas as principais
topologias dos amplificadores de potência e algumas aplicações, já na
segunda seção, será mostrado como a frequência dos sinais de entrada
influenciam nas respostas das saídas dos amplificadores de potência.
Também será apresentado como acontece esse fenômeno e alguns
métodos para minimizar os efeitos indesejáveis.
Na Seção 3 será apresentado o amplificador operacional, a sua
construção, principais características ideais, além de sua alimentação
e os tipos de realimentação, mostrando as principais topologias de
realimentação negativa.
Esperamos que você, aluno, faça bom proveito dos conceitos
apresentados e que eles possam auxiliá-lo na identificação de falhas, nos
projetos de amplificadores de potência e na implementação física dos
circuitos analógicos.

Seção 1 | Amplificadores de potência


Na Seção 1 veremos os amplificadores de potência de operação classe A, B, C e
D, além disso, serão apresentadas as vantagens e desvantagens de cada topologia,
definindo a sua aplicação.

Seção 2 | Comportamento em alta frequência


Na Seção 2, trabalharemos o ganho de potência logarítmica na forma do
decibel, servindo de base para análise de sistemas mais complexos pelos gráficos
de Bode. Também, será demonstrado como os capacitores de acoplamento e de
desvio influenciam na frequência de corte inferior, e como as capacitâncias parasitas,
a capacitância entre os terminais de entrada e saída do amplificador e a capacitância
que acontece nos fios do circuito, e como eles influenciam na frequência de corte
superior.

Seção 3 | Amplificadores diferenciais e operacionais


Na Seção 3, apresentaremos os amplificadores diferenciais que servem de
entrada para os amplificadores operacionais, elemento de extrema importância na
eletrônica analógica, pois além de diversas aplicações, o seu tamanho é reduzido,
facilitando a sua implementação em diversas aplicações reais.
Seção 1
Amplificadores de potência
Introdução à seção

Quando se fala em amplificadores de pequenos sinais, a potência


dos transistores amplificadores tem meio watt ou menos, mas e para
os casos em que a amplificação é de mais de meio watt?
Os transistores de potência têm a especificação de potência maior
que os transistores para pequenos sinais, e normalmente são utilizados
em conjunto com os transistores de pequenos sinais. Os transistores
de pequenos sinais são utilizados nos estágios iniciais de amplificação,
já que a potência do sinal é baixa. Com a amplificação do sinal, no
estágio final são colocados transistores de alta potência já que a
corrente requerida na saída é alta.
Por exemplo, em um rádio a resistência de carga final no alto-falante
é de 3,2 Ω, como essa resistência é baixa, é necessária uma corrente de
alto valor para acionar essa carga de baixa impedância, necessitando
que o amplificador forneça uma potência de valor alto, implicando no
aumento da temperatura do amplificador e o aumento da potência
que o transistor precisará dissipar.
Essa classe de transistores são conhecida como os transistores de
potência, tem especificação maior que os transistores de pequenos
sinais e as suas topologias ajudam aumentar essa eficiência de
aproveitamento da corrente de alimentação. As principais topologias
são as de classe A, B, C e D.
1.1 Operação classe A
O amplificador classe A tem os seus transistores funcionando na
região ativa em todos os instantes, ou seja, a corrente do coletor opera
nos 360° do ciclo CA. O funcionamento em todo o ciclo de 360°
proporciona que não tenha distorção no sinal de saída do amplificador,
ou seja, todo o sinal na entrada é amplificado na saída, sem “cortes” do
sinal.
No amplificador Emissor-Comum (EC), da Figura 3.1, uma tensão CA
VIN aciona a base, produzindo uma tensão VOUT na saída o amplificador,
com o ganho de tensão dado pela equação (3.1).

U3 - Circuitos analógicos e digitais 105


Figura 3.1 | Amplificador classe A (amplificador emissor-comum)

Fonte: elaborada pelo autor.

rC
Av = − (3.1)
rE'

Em que rC é dado por,

rC = RC || RL

E rE' é dado por,

25mV
rE' =
IE

Agora o ganho de corrente é a razão entre a corrente CA do coletor


e a corrente CA da base, como mostra a equação (3.2):

106 U3 - Circuitos analógicos e digitais


iC
Ai = − (3.2)
ib

No entanto, o ganho de corrente tem seu valor muito próximo ao


ganho β do transistor, podendo ser arredondado para o mesmo valor
sem prejuízos, como mostra a equação (3.3).

Ai @ b (3.3)

1.1.1 Fórmulas de potência da operação classe A


Como visto em circuitos elétricos, a potência é a multiplicação da
tensão pela corrente, ou seja:

P =V ⋅I

Da mesma forma, o ganho de potência é dado pela multiplicação


do ganho de corrente e do ganho de tensão, como mostra a equação
(3.4):

AP = Av ⋅ Ai (3.4)

Os amplificadores de operação classe A são comumente utilizados


em alto-falantes e motores, que são considerados como um resistor
de carga, dissipando uma potência CA, dada por:

VL 2
PL =
RL

Em que PL é a potência CA da carga, VL é a tensão RMS da carga e


RL é a resistência da carga.
Para um sinal senoidal, a tensão de pico e a tensão RMS é relacionada
pela equação (3.5).

0, 707 ⋅ VPP
VL ( RMS ) = 0, 707 ⋅ VP = (3.5)
2

U3 - Circuitos analógicos e digitais 107


Podemos reescrever a equação da potência em função da tensão
de pico a pico, como mostra a equação (3.6)

VPP 2
PL = (3.6)
8 ⋅ RL

A equação (3.6) mostra a potência que o amplificador necessita


fornecer para uma carga, sem ceifar o sinal de entrada. Quando, por
exemplo, aumentamos o volume do aparelho de som e o amplificador
de som não consegue fornecer a potência requerida pelo alto-falante,
o resultado é um ceifamento (corte) do sinal, o qual é percebido pela
distorção e chiado no som que sai do alto falante.
Como foi visto, o transistor precisa da polarização CC, conhecido
como polarização quiescente, para amplificar o sinal CA. Quando é
colocado um sinal CA para ser amplificado, o transistor converte parte
da potência quiescente para a potência do sinal CA, o que faz sentido,
já que o transistor precisa fornecer corrente para a amplificação CA do
sinal.
Pelo transistor, converter parte da potência quiescente em potência
CA, o pior caso que o transistor pode operar em relação à dissipação de
potência, ou seja, a maior potência que ele precisa dissipar, é a potência
quiescente. Nos datasheets dos transistores vêm especificado o valor
máximo de potência a que ele pode ser exposto, e essa potência é
calculada pela equação (3.7).

PDQ = VCEQ ⋅ ICQ (3.7)

Em que PDQ é a potência máxima que o transistor consegue dissipar


sem ser danificado, VCEQ é a tensão quiescente ou ponto de operação
do coletor-emissor e ICQ é a corrente quiescente do coletor.
Essa característica da potência máxima a ser dissipada pelo
transistor é maior quando não há sinal de entrada, fenômeno que
ocorre somente no funcionamento em classe A. Para as outras classes,
que serão estudadas adiante, a potência a ser dissipada no transistor é
maior quando o sinal de entrada está presente.

108 U3 - Circuitos analógicos e digitais


1.1.2 Rendimento do amplificador classe A
O rendimento de um equipamento qualquer é importante, pois
mostra a relação de ganho e perda daquele equipamento ou circuito.
No caso do amplificador classe A, ele é dado pela equação (3.8).

PL (max)
η
h= ×100% (3.8)
PF

Para se avaliar a eficiência de um amplificador classe A, a potência


de saída PL(max) é dada pela potência da carga, dada na equação (3.6). Já
a potência de entrada PF do classe A é dada pela potência que a fonte
de alimentação VCC precisa fornecer para alimentar o transistor para
operar no ponto quiescente, e é dada pela equação (3.9).

PF = VCC ⋅ IF = VCC ⋅ (I1 + I2 ) (3.9)

Em que:

VCC
I1 =
R1 + R2

I2 = ICQ

A corrente que a fonte de alimentação fornece é a soma das


correntes do divisor de tensão ( R1 e R2 ) e do circuito do coletor.
Quanto maior a eficiência de um amplificador, mais ele consegue
converter a potência CC em potência CA e, como todos os resistores
da classe A perdem potência, a eficiência de um amplificador classe A
é em torno de 25%, sendo mais utilizado quando se deseja fornecer
algumas centenas de miliwatts na saída de um sistema.
A operação em classe A é uma maneira comum de polarizar um
transistor em circuitos lineares por ser mais estável e simples, no
entanto, essa não é a maneira mais eficiente de se polarizar o transistor.
Em algumas aplicações alimentadas por bateria, a eficiência baixa faz
com que a autonomia da bateria seja diminuída, precisando usar outra
classe de operação, como os amplificadores classe B.

U3 - Circuitos analógicos e digitais 109


1.2 Operação classe B
Na operação classe B, diferentemente da de classe A, o transistor
fica polarizado somente por meio ciclo do sinal, ou seja, o transistor
conduz corrente apenas em meio ciclo do sinal de entrada. Para que
o amplificador classe B faça a condução em todo o ciclo do sinal,
é necessário a utilização de dois transistores operando em ciclos
opostos. O circuito classe B é mostrado na Figura 3.2.

Figura 3.2 | Seguidor do emissor push-pull classe B

Fonte: elaborada pelo autor.

Como esse circuito tem a característica de empurrar a corrente


de nível alto e puxar a corrente de nível baixo, ele é conhecido como
circuito push-pull.
Fazendo a análise CA do circuito push-pull, obtemos o circuito
equivalente CA dado pela Figura 3.3.

110 U3 - Circuitos analógicos e digitais


Figura 3.3 | Circuito equivalente CA do push-pull

Fonte: elaborada pelo autor.

O ganho de tensão do circuito da Figura 3.3 é dado pela equação


(3.10).

RL
Av = (3.10)
RL + re'

A impedância de entrada e de saída são dadas nas equações (3.11)


e (3.12), respectivamente.

zent = b ⋅ (RL + re' ) (3.11)

rB
zsaída = re' + (3.12)
β
b

O ganho de corrente do push-pull é aproximadamente igual a β,


ou seja:

Ai @ b
β

O ganho de potência do amplificador classe B é dado pela equação


(3.13).

U3 - Circuitos analógicos e digitais 111


RL
AP = Av ⋅ Ai = ⋅ bβ (3.13)
RL + re'

1.2.1 Funcionamento do circuito push-pull


Observando o circuito equivalente de um seguidor de emissor
push-pull na Figura 3.4, supondo que não há polarização nos diodos
emissores dos transistores, a tensão alternada de entrada tem que
aumentar até cerca de 0,7 V para que o diodo base-emissor conduza,
provocando uma distorção na saída, como mostrado na onda de saída
do circuito.

Figura 3.4 | (a) Circuito equivalente de um amplificador classe B; (b) Forma de onda
da saída com distorção de cruzamento (crossover)

Fonte: Malvino (2011, p. 396).

Essa distorção é conhecida como distorção de cruzamento (ou


crossover), pois ocorre na passagem do sinal de positivo para negativo.
Esse fato ocorre nos dois semiciclos, positivo e negativo.
Para a melhoria de operação, é necessário minimizar os efeitos da
distorção de cruzamento que, na prática, é implementado o circuito
da Figura 3.5.

112 U3 - Circuitos analógicos e digitais


Figura 3.5 | Circuito push-pull com simetria complementar usando transistores
Darlington

Fonte: elaborada pelo autor.

A resistência da carga está casada ao circuito devido à baixa


resistência de saída do seguidor do emissor. Além disso, o circuito usa
transistores complementares em conexão Darlington que fornecem
alta corrente e baixa resistência de saída.
1.2.2 Fórmulas de potência da operação classe B
A potência CA de carga do amplificador push-pull é dada pela
equação (3.14).

VPP 2
PL = (3.14)
8 ⋅ RL

U3 - Circuitos analógicos e digitais 113


Essa equação é a mesma da classe A, no entanto, a tensão de pico
a pico é dada por:

VPP = 2 ⋅ VCEQ = VCC

Substituindo na equação (3.14), a potência da carga máxima é dada


pela equação (3.15).

VCEQ 2
PL(max) = (3.15)
2 ⋅ RL

Os transistores do circuito push-pull precisam dissipar a potência


sobre seus terminais. Quando não há carga no circuito amplificador,
a potência dissipada pelos transistores é muito pequena, podendo
ser ignorada. No entanto, quando os transistores estão sujeitos a
um sinal de entrada, eles têm grandes excursões de corrente,
produzindo uma potência muito maior, que no pior caso (quando
o sinal de entrada tem o seu maior valor de tensão) é dada pela
equação (3.16).

VPP 2
PD (max) = (3.16)
40 ⋅ RL

Os transistores usados nos circuitos push-pull precisam de uma


especificação maior que a dada pela equação (3.16).
Observando o circuito da Figura 3.2, a fonte de alimentação VCC
fornece corrente para os resistores de polarização ( I1 >) e para o coletor
do transistor superior ( I2 ), portanto, a corrente total fornecida pela fonte
de tensão VCC é dada por:

IF = I1 + I2

Quando não há sinal de entrada, a corrente de coletor I2 é pequena,


podendo ser ignorada, mas quando há um sinal na entrada, a corrente
da fonte de alimentação aumenta devido ao aumento da corrente do

114 U3 - Circuitos analógicos e digitais


coletor do transistor.
Como o máximo de corrente que pode passar pelo transistor
é dado pela metade da tensão da onda senoidal de entrada (tensão
de pico), lembrando que cada transistor do push-pull conduz apenas
meio ciclo do sinal de entrada, a corrente é dada pelo valor médio da
tensão de meio ciclo da onda senoidal de entrada pela resistência da
carga, como mostra a equação (3.17).

0, 318 ⋅ VCEQ
I2 = (3.17)
RL

Portanto, a potência de entrada, fornecida ao circuito push-pull é


dada pela equação (3.18).

PF = VCC ⋅ IF = VCC ⋅ (I1 + I2 ) (3.18)

Em que:

VCC
I1 =
R1 + R2

1.2.3 Rendimento do amplificador classe B


Como foi visto, o rendimento de um amplificador é dado por:

PL (max)
η
h= ×100%
PF

Rearranjando as equações, a eficiência de um circuito push-pull é


dada por:

PL (max) VL2 / 2 ⋅ RL ππ
ηη = ×100% = ×100% = ×100%
PF VCC ⋅ ((2 / π ) ⋅ I ) 4

Pode se verificar que a eficiência vai ser a maior possível quando a


tensão de pico atingir a tensão de alimentação VCC .

U3 - Circuitos analógicos e digitais 115


Dessa forma, podemos ver que a eficiência máxima de um circuito
classe B é dada pela equação (3.19).

ηη = VCC ⋅ π ×100% = 78, 54% ⋅ VCC (3.19)


4

Esse rendimento é muito maior que o máximo rendimento que


o amplificador classe A pode fornecer, que tem, no máximo, uma
eficiência de 25% quando está com acoplamento RC e de, no máximo,
50% quando está com acoplamento por transformador.
1.2.4 Polarização do amplificador classe B
Devido à alta eficiência de um amplificador classe B, ele é
comumente utilizado em amplificadores de áudio, no entanto, foi
visto que pode haver distorção no sinal devido à polarização do diodo
emissor dos transistores.
Uma das técnicas de compensar essa distorção é por meio de
um resistor ajustável, no entanto, a variação de temperatura também
influencia nesse ponto quiescente do transistor. Com o intuito de
melhorar a qualidade das amplificações de áudio, desenvolveu-se
outros tipos de polarização, diferente da polarização por divisor de
tensão.
Uma das técnicas é a polarização por diodo, conhecido também
como Espelho de Corrente, que tem como objetivo compensar a
variação da tensão de polarização do diodo emissor devido à alteração
de temperatura na junção do diodo emissor do transistor.

Figura 3.6 | Polarização por diodo do amplificador classe B

Fonte: elaborada pelo autor.

116 U3 - Circuitos analógicos e digitais


Na Figura 3.6 é apresentado o amplificador push-pull polarizado com
diodo e, devido à essa polarização, qualquer aumento da temperatura
reduz a tensão de polarização dos diodos compensadores. Por exemplo,
se a temperatura aumentar para 35 °C, a tensão de polarização do
diodo vai para 60 mV, como a tensão VBE do transistor também diminui
para 60 mV, a corrente do coletor é mantida e continua constante.
A limitação desse tipo de polarização, por espelho de corrente,
é fazer com que o diodo tenha a sua curva ajustada com a curva
de polarização do transistor. Devido a isso, também são utilizados
transistores nos lugares dos diodos, pois com eles é mais fácil ajustar
a curva de polarização do push-pull, como mostra o circuito da Figura
3.7.

Figura 3.7 | Transistores ligados como diodos

Fonte: elaborada pelo autor.

Esse esquema da Figura 3.7 é normalmente implementado em


circuitos integrados.

Questão para reflexão


Alguns guitarristas, principalmente os mais antigos, preferem
amplificadores de áudio push-pull valvulados do que os transistorizados.
Você sabia que esse fenômeno tem a ver com a distorção de
cruzamento?

U3 - Circuitos analógicos e digitais 117


1.2.5 Dissipadores de calor
Em circuitos de potência, normalmente são vistas algumas placas
de metal sobre os transistores e, em casos extremos, há uma ventoinha
que é acionada toda vez que o circuito é ligado.
Tanto as massas metálicas quanto as ventoinhas têm a função de
dissipar o calor gerado pelo transistor nos amplificadores de potência.
Na Figura 3.8 são mostrados alguns dissipadores.

Figura 3.8 | 
(a) Dissipador de calor por pressão; (b) transistor de potência com
aleta metálica; (c) transistor de potência com o coletor conectado ao
encapsulamento

Fonte: Malvino (2011, p. 417).

A ideia é aumentar a área de contato com o ambiente para que


o calor seja dissipado no ambiente. Na Figura 3.8(a) é mostrado um
dissipador que, em contato com a carapaça do transistor, ajuda a
irradiar o calor devido ao aumento da área de superfície do transistor.
Na Figura 3.8(b) é mostrado uma aleta metálica que constitui um
trajeto para o calor, que pode ser acoplado a um dissipador de potência
ou até mesmo na base metálica do circuito.
Há também o transistor de grande potência mostrado na Figura
3.8(c) em que o coletor é ligado na base metálica do circuito,
aumentando a área de dissipação de calor.
O cálculo para saber qual é o melhor dissipador a ser utilizado
envolve muitas variáveis e leva em conta o material utilizado para a
massa metálica do circuito.

118 U3 - Circuitos analógicos e digitais


1.3 Amplificador classe C e D
Além dos amplificadores classe A e B, que são os mais utilizados,
há outras tipologias de amplificadores comumente encontradas em
circuitos.
O amplificador classe C, embora não seja utilizado em amplificadores
de áudio, é bastante utilizado em circuitos sintonizadores de
comunicação. A Figura 3.9 mostra um amplificador classe C.

Figura 3.9 | Amplificador classe C sintonizado

Fonte: elaborada pelo autor.

Esse circuito fornecerá um ciclo completo do sinal na saída quando


operar na frequência fundamental, ou na frequência de ressonância,
sendo limitado para uso em uma frequência fixa e específica, como
ocorre em circuitos de comunicação. Ele não é utilizado para
amplificadores de potência.
Já o amplificador classe D é projetado para operar com sinais
digitais ou pulsados, conseguindo uma eficiência em torno de 90%,
sendo bastante atraente para a amplificação de sinais de potência.
No entanto, é necessário primeiramente converter qualquer sinal de
entrada em uma forma pulsada. O sinal, após ser amplificado, deve ser
convertido novamente para o sinal analógico original, como mostra o
esquema da Figura 3.10.

U3 - Circuitos analógicos e digitais 119


Figura 3.10 | Diagrama de blocos do amplificador classe D

Gerador de
dente de serra –

Comparador Filtro
Amplificador Vo
passa-baixo
+
Vi

Realimentação

Fonte: Boylestad (1999, p. 500).

O sinal de entrada pode ser convertido em um sinal pulsado por


um comparador de onda dente de serra, que ao comparar o sinal de
entrada Vi, passa pelo comparador e produz o sinal pulsado desejado.
O transistor do amplificador classe D opera na região de corte, que
é mais eficaz quando utilizado os transistores MOSFET (por ter sua
frequência de operação maior quando comparado com um TBJ) e
o circuito utilizado como amplificador classe D é mostrado na Figura
3.11.

Figura 3.11 | Amplificador classe D

Fonte: elaborada pelo autor.

Há também os amplificadores classe E, F e S que são pouco


comuns, pois têm utilidades específicas em circuitos, e não sendo
utilizados como amplificadores de áudio.

120 U3 - Circuitos analógicos e digitais


Para saber mais
Potência RMS ou PMPO
Quando você for comprar um aparelho de som, observe que há duas
potências, a RMS e a PMPO. E aí, qual a mais potente? Qual devo analisar
ao comprar aquele som que vai abalar nas festas? Leia esse artigo e
veja a diferença entre as duas, e faça a melhor escolha. Disponível em:
<http://www.newtoncbraga.com.br/index.php/como-funciona/1656-
art239>. Acesso em: 20 set. 2017.

Atividades de aprendizagem
1. O circuito amplificador emissor-comum, a seguir, apresenta R1 = 10kΩ,
R2 = 2,2k, Rc = 3,6k, Re = 1k, Rg = 1k e RL = 1,5k. Com Vcc = +10V, rE' = 22, 7Ω ,
VPP = 2, 34V , VCEQ = 4, 94V , ICQ = 11 , mA e com um ganho βb = 150 . Calcule
Av , Ai , AP , PL(max) , PD(max) , IF , PF e o rendimento ηh% .

U3 - Circuitos analógicos e digitais 121


2. Dado o circuito seguidor do emissor push-pull, a seguir, para RL = 100Ω e
VCC = 30V com uma corrente de polarização de 1 mA e corrente quiescente
do coletor de 1 mA. Então, calcule o valor de pico a pico, potência máxima
na carga, corrente de alimentação sem sinal e com sinal de entrada e o
rendimento.

122 U3 - Circuitos analógicos e digitais


Seção 2
Comportamento em alta frequência
Introdução à seção

Até aqui, para facilitar o entendimento dos amplificadores, foi


considerado os amplificadores operando na frequência de banda
média, para a qual não há atenuação do sinal advindo dos efeitos
capacitivos dos amplificadores.
No entanto, em um sinal de áudio, o sinal de entrada não tem uma
frequência definida, sendo uma soma de vários sinais senoidais em
várias frequências diferentes.
O que acontece com a saída quando o amplificador não está
projetado para amplificar um sinal em uma frequência específica?
Normalmente as atenuações ocorrem em baixa ou alta frequência.
Sabe quando você está escutando aquela música e em certas frases
se ouve um certo chiado, parecendo que a voz do cantor mudou de
tonalidade, ou quando você está vendo televisão e uma imagem, que
não deveria, fica tremida, parecendo dançar na tela? Então, essa é a
consequência da atenuação na prática, a qual tira a qualidade do sinal
e distorce o sinal na saída.
Como o espectro de frequência é muito grande, e representa todo
o ganho em todas as frequências, poderia se perder detalhes úteis para
identificar falhas, então foi criado um método que é o decibel.
O decibel é uma unidade de potência logarítmica, que vai facilitar a
construção dos gráficos de operação dos amplificadores. Em seguida
são apresentados todos os efeitos capacitivos a que os amplificadores
estão sujeitos.
2.1 Conceito de decibel
O termo decibel é a representação da potência de áudio na base
logaitmica, ou seja, um aumento no nível de potência de 4W para 16W
não vai resultar em um aumento na razão de 16/4 = 4 vezes, mas sim
vai resultar em um aumento em um fator de 2, pois 42 = 16 .
Para essa análise matemátia foi criado o decibel, e o ganho de
potência em decibel é dado pela equação (3.20).

U3 - Circuitos analógicos e digitais 123


P2
GdB = 10 ⋅ log10 (3.20)
P1

Se um sistema, com entrada e saída, tem a resistência de entrada


igual à resistência de saída, a equação do ganho de potência pode ser
dada em função da tensão de entrada V1 e da tensão de saída V2 , como
mostra a equação (3.21).

V2
GdB = 20 ⋅ log10 (3.21)
V1

A maior vantagem da utilização da base logarítmica para se avaliar


o ganho de potência é a sua facilidade na aplicação de estágios em
cascata. Na forma de ganho de tensão, o ganho de um amplificador
em cascata é dado por:

AvT = Av 1 ⋅ Av 2 ⋅ Av 3 ⋅⋅⋅ Avn

Como há uma propriedade logarítmica que diz que o logaritmo de


uma multiplicação resulta na soma dos logaritmos, então, aplicando o
logaritmo na multiplicação do ganho de tensão se chega na equação
(3.22).

GV = 20 ⋅ log10 AvT

GV = GV 1 + GV 2 + GV 3 + ... + GVn (3.22)

Quando se fala em ganho em decibéis, existem alguns ganhos


importantes e eles estão relacionados no Quadro 3.1.

124 U3 - Circuitos analógicos e digitais


Quadro 3.1 | Valores de ganho de tensão e de nível em dB

Ganho de Tensão
VO / VIN Nível em dB

0,5 –6
0,707 –3
1 0
2 6
10 20
40 32
100 40
1000 60
10.000 80
Fonte: elaborado pelo autor.

Observe que o ganho de tensão de 2 corresponde a 6dB, e


uma atenuação no fator de 2, ou seja, e uma atenuação de 0,5, ela
corresponde a – 6dB, em que o valor negativo em dB corresponde à
atenuação do sinal.

Questão para reflexão


Atualmente vem sendo implantada a tecnologia de sinal digital para os
televisores. Você consegue diferenciar, na prática, um sinal analógico de
um sinal digital na televisão? Por que o sinal digital não sofre distorção?

2.2 Banda de frequência


Para entender o funcionamento dos transistores, até agora foi
considerada a banda média de frequências, no entanto, o capacitor
no circuito dos amplificadores possui a sua reatância capacitiva, que
tem o mesmo efeito de uma resistência, só que dependente apenas da
frequência do sinal.
A reatância capacitiva produz uma queda de tensão devido à
corrente que circula sobre o capacitor, e que depende da frequência
do sinal aplicado sobre ele, como mostra a equação (3.23).

1
XC = (3.23)
2⋅π
p ⋅ f ⋅C

U3 - Circuitos analógicos e digitais 125


Devido à essa característica, as curvas de ganho de um amplificador
são divididas em três regiões, como mostra a Figura 3.12.

Figura 3.12 | Ganho versus frequência para amplificadores com acoplamento RC

Baixas Médias frequências


frequências Altas frequências

Fonte: Boylestad (1999, p. 346).

A faixa de operação do transistor, em relação à frequência, deve


ocorrer quando o ganho é horizontal no gráfico da Figura 3.12, ou
estar na banda passante. No entanto, devido ao acoplamento RC dos
amplificadores, ou seja, os capacitores de acoplamento e de desvio,
para uma frequência baixa eles se comportam como um circuito
aberto, pois com a diminuição da frequência, a reatância capacitiva se
aproxima do infinito.
Com o aumento da frequência, a reatância capacitiva vai diminuindo
e o seu comportamento no circuito é de um curto.
Em relação ao ganho do amplificador há um mínimo aceitável
de frequência para que a reatância capacitiva dos capacitores de
acoplamento e desvio não exerçam mais influência no circuito, e isso
ocorre em f1 (frequência de corte inferior).
Para altas frequências, o mesmo fenômeno acontece, só que agora
são as capacitâncias internas dos transistores e dos fios do circuito que
faze, com que haja uma atenuação no sinal amplificado, limitado por
f2 (frequências de corte superior).
As frequências de corte f1 e f2 podem ser chamadas também de
frequência de ângulo, banda ou meia potência. Elas ocorrem quando
o ganho de tensão Vsaída / Vent é de 0,707, que em fatores de ganho
de potência é quando a potência tem o mesmo valor da metade da
potência máxima para uma resistência de 1Ω, como mostra a equação
(3.24).

126 U3 - Circuitos analógicos e digitais


(0, 707)2
P=
1Ω
= 0, 5W (3.24)

A área mais importante do gráfico da Figura 3.12 é a região de banda


passante, ou banda de frequência média, em que o ganho é horizontal.
Essa banda passante é dada pelo intervalo entre f1 e f2 , e essa faixa é
conhecida como largura de banda, como mostra a equação (3.25).

largura de banda (BW) = f2 − f1 (3.25)

Esse gráfico da Figura 3.12 mostra a amplitude do sinal, conhecido


como módulo do ganho, mas os efeitos capacitivos dos circuitos têm
o poder também de alterar a fase, que também depende da frequência
do sinal de entrada. Por exemplo, o amplificador EC de um estágio faz
com que o sinal de saída seja deslocado 180° em relação à entrada.
Esse efeito ocorre como esperado na banda de frequência média,
mas abaixo da frequência mínima de corte e acima da frequência
máxima de corte, o deslocamento poderá ser de um valor diferente do
esperado, como mostra a Figura 3.13.

Figura 3.13 | Curva de fase para um amplificador com acoplamento RC

Fonte: Boylestad (1999, p. 347).

Como a intenção dessa seção é conhecer os efeitos em relação


à frequência e saber como contornar esse fenômeno para que nas
aplicações futuras o circuito tenha a resposta esperada, não será
discutido o deslocamento de fase.
2.3 Análise para baixas frequências
Nas baixas frequências, para os amplificadores utilizando TBJ, quem
determina a frequência de corte é a combinação RC dos capacitores

U3 - Circuitos analógicos e digitais 127


de acoplamento e de desvio, semelhante ao da Figura 3.14 e, por meio
desse circuito é possível determinar a frequência na qual a tensão de
saída é de 0,707V da tensão de entrada.

Figura 3.14 | Combinação RC para definir as frequências de corte

Fonte: elaborada pelo autor.

A tensão de saída é dada pelo divisor de tensão na saída do circuito


RC, ou seja:

R ⋅ Vent
Vsaída =
R + XC

Em que a amplitude é dada por:

R ⋅ Vent
Vsaída =
R 2 + XC 2 (3.26)

No caso de que XC = R pode ser mostrado o valor da tensão de


saída na equação (3.26).

R ⋅ Vent R ⋅ Vent R ⋅ Vent R ⋅ Vent 1


Vsaída = = = = = ⋅ Vent
R 2 + XC 2 R2 + R2 2 ⋅ R2 R⋅ 2 2

Vsaída 1
AV = = = 0, 707 |XC =R (3.27)
Vent 2

A equação (3.26) mostra que quando XC = R , a tensão de saída será


70,7% da tensão de entrada, então:

128 U3 - Circuitos analógicos e digitais


1
XC = =R
2 ⋅ πp ⋅ f ⋅ C

1
f= (3.27)
2⋅π
p ⋅ R ⋅C

A equação (3.27) mostra a frequência em que o ganho de tensão é


de 0,707, definindo a frequência de corte inferior.
Como exemplo, vamos trabalhar com o amplificador mais
utilizado que é o Emissor-Comum da Figura 3.15. Os capacitores de
acoplamento e de desvio são dados pelos CS , CC e CE .

Figura 3.15 | Amplificador TBJ com carga e os capacitores que afetam a frequência
de corte inferior

Fonte: elaborada pelo autor.

Essa análise pode ser usada para qualquer configuração de


amplificador, sendo necessário apenas encontrar a resistência vista
pelos terminais do capacitor, thevenizando o circuito em questão.
Examinando o efeito de cada capacitor, temos:
• CS : como o capacitor CS é colocado na entrada do circuito, o
equivalente RC é dado pela Figura 3.16.

U3 - Circuitos analógicos e digitais 129


Figura 3.16 | Equivalente CA para calcular CS

Fonte: elaborada pelo autor.

A frequência de corte devido ao capacitor de acoplamento CS é


dada pela equação (3.28).

1
fCS = (3.28)
2 ⋅π
p ⋅ (RS + Ri ) ⋅ CS

Em que:

Ri = R1 || R2 || β
b ⋅ re

• CC : agora, o capacitor de acoplamento CC está conectado


entre a saída do elemento ativo (transistor) do amplificador e a carga.
A Figura 3.17 mostra a resistência equivalente total que determina a
frequência de corte inferior devida à CC .

Figura 3.17 | Equivalente CA para calcular CC

Fonte: elaborada pelo autor.

130 U3 - Circuitos analógicos e digitais


A equação (3.29) mostra a frequência de corte relativo ao capacitor
CC .

1 1
fCC = = (3.29)
2 ⋅ p ⋅ (RC + RL ) ⋅ CC 2⋅π
p ⋅ ((RC || rO ) + RL ) ⋅ CC

• CE : por último, no nosso circuito amplificador EC, o capacitor


de desvio CE tem a resistência equivalente, como mostra o circuito da
Figura 3.18.

Figura 3.18 | Equivalente CA para calcular CE

Fonte: elaborada pelo autor.

A frequência de corte devida ao capacitor de desvio CE é dada pela


equação (3.30).

1
fCE = (3.30)
2⋅π
p ⋅ Re ⋅ CE

Em que:

R' 
Re = RE ||  S + re 
 β
b 

RS' = RS || R1 || R2

U3 - Circuitos analógicos e digitais 131


De posse das três frequências, a frequência de corte inferior será
dada pela frequência de maior valor entre as de corte inferior dos
capacitores de acoplamento e desvio, pois se garantirmos que na
maior frequência de corte entre os capacitores é atendido o ganho de
tensão de 0,707, é garantido também que para as outras frequências
seja cumprido essa condição.
2.4 Teorema da Capacitância de Miller
Considerando o amplificador como um elemento com dois
terminais, um de entrada e um de saída, em altas frequências ocorre
um fenômeno que é o aparecimento de uma capacitância CRealimentação
entre os terminais do amplificador, como mostra o esquema da Figura
3.19.

Figura 3.19 | Amplificador com capacitor de realimentação

Fonte: Malvino (2016, p. 597).

Esse capacitor é conhecido como capacitor intereletrodos ou


de realimentação (lembrando que ele não existe no circuito original,
é apenas um fenômeno que acontece para altas frequências), e de
difícil análise. Então, John Miller propôs uma análise que resultou
no Teorema de Miller, que diz que a capacitância entre os terminais
poderia ser refletida em duas capacitâncias, uma na entrada e outra na
saída, como mostra a Figura 3.20 e as equações (3.31) e (3.32).

Figura 3.20 | Circuito equivalente com capacitância Miller

Fonte: Malvino (2016, p. 597).

132 U3 - Circuitos analógicos e digitais


Cin ( M ) = (1− Av ) ⋅ CRealimentação (3.31)

 1
Cout ( M ) = 1−  ⋅ CRealimentação ≅ CRealimentação (3.32)
 Av 

Em que C( M ) é a capacitância de Miller, Av é o ganho de tensão e


CRealimentação é a capacitância entre os terminais de entrada e saída.
A aplicação mais utilizada do teorema de Miller é o amplificador
inversor, pois o ganho é negativo, produzindo uma capacitância
positiva para a entrada e para a saída.
2.5 Análise para altas frequências
Em altas frequências, as capacitâncias que alteram o ganho e
definem a frequência de corte superior são as capacitâncias internas
do transistor ( CBE , CBC e CCE ), as capacitâncias dos fios ( CWi e CWo )
e a capacitância intereletrodos, como mostra o circuito amplificador
Emissor-Comum para altas frequências na Figura 3.21.

Figura 3.21 | Amplificador emissor-comum com as capacitâncias que influenciam a


resposta em altas frequências

Fonte: Boylestad (1999, p. 362).

Para a simplificação na análise, na Figura 3.22 é mostrado o circuito


equivalente CA do amplificador emissor-comum operando em altas
frequências.

U3 - Circuitos analógicos e digitais 133


Figura 3.22 | Amplificador classe A (amplificador emissor-comum)

Fonte: Boylestad (1999, p. 362).

Analisando o circuito, há duas frequências de corte superior, uma da


entrada mostrado na equação (3.33) e uma em relação às capacitâncias
da saída, mostrado na equação (3.36).

1
fHi = (3.33)
2⋅π
p ⋅ RTh1 ⋅ Ci

Em que RTh1 é dado pela equação (3.34) e Ci é dado pela equação


(3.35).

RTh1 = RS || R1 || R2 || Ri (3.34)

Ci = CWi + Cbe + CMi = CWi + Cbe + (1− Av ) ⋅ Cbc (3.35)

Já a frequência em relação às capacitâncias de saída é dada pela


equação (3.36).

1
fHo = (3.36)
2⋅π
p ⋅ RTh 2 ⋅ CO

Em que RTh2 é dado pela equação (3.37) e CO c é dado pela equação


(3.38).

RTh 2 = RC || RL || rO (3.37)

134 U3 - Circuitos analógicos e digitais


CO = CWo + Cce + CMo (3.38)

Diferentemente das capacitâncias que definem a frequência de


corte inferior e podem ter o valor de suas capacitâncias trocado,
dependendo da aplicação, em alta frequência não é possível trocar os
valores das capacitâncias, bastando apenas tomar alguns cuidados nos
projetos.
Os valores das capacitâncias CBE e CBC normalmente são
apresentadas nas folhas de dados dos transistores, e a capacitância CCE
por não apresentar valor significativo que altere o comportamento em
alta frequência, não é apresentado nas folhas de dados.
As capacitâncias intereletrodos dependem do ganho do
amplificador, ao implementar o amplificador em cascata fazem
com que essa capacitância tenha o valor reduzido. Por último, as
capacitâncias decorrentes dos fios do circuito ( CWi e CWo ) podem ter
os seus efeitos reduzidos com a boa prática de montagem de circuitos,
fazendo com que os fios de ligação sejam os mais curtos possíveis.
Obtidas as frequências de corte superior, a frequência que será
considerada será a menor entre os dois valores, pois se para a menor
frequência o ganho já está sendo atenuado, a outra frequência não
afetará a atenuação do amplificador.

Questão para reflexão


Distorção
Inserir – O que você deve saber
texto
Nesse site é apresentado porque se estuda a resposta em frequência
de um amplificador, o que acontece com o sinal de entrada quando
ele opera abaixo da frequência de corte inferior e acima da frequência
de corte superior. Leia sobre esse fenômeno que acontece para assim
solucionar esse problema de distorção em projetos. Disponível em:
<http://www.newtoncbraga.com.br/index.php/eletronica/52-artigos-
diversos/10522-distorcao-o-que-voce-deve-saber-art2411>. Acesso
em: 20 set. 2017.

U3 - Circuitos analógicos e digitais 135


Atividades de aprendizagem
1. O amplificador emissor-comum com polarização por divisor de tensão
dado a seguir, tem um comportamento que depende da frequência de
entrada. Calcule a frequência de corte inferior do ganho de potência do
circuito.

2. Com o mesmo circuito do exercício anterior, calcule a frequência de


corte superior com as seguintes características: CBE = 36 pF , CBC = 4 pF ,
CCE = 1pF , CWi = 6 pF , CWo = 8 pF .

Dados: RS = 1k Ω , R1 = 40k Ω , R2 = 10k Ω , RE = 2k Ω , RC = 4k Ω , RL = 2, 2k Ω ,


CS = 10 µ F , CC = 1µ F , CE = 20 µ F , β = 100 , rO = ∞Ω e VCC = 20V .

136 U3 - Circuitos analógicos e digitais


Seção 3
Amplificadores operacionais e diferenciais
Introdução à seção

Em 1965, na “Fairchild Semiconductor”, foi desenvolvido o primeiro


amplificador operacional, o µA709, fabricado em um encapsulamento
integrado. Essa primeira geração de amplificadores, apesar de ser
amplamente utilizada, possuía algumas desvantagens, sofrendo um
melhoramento com o desenvolvimento do amplificador operacional
µA741.
Pelo fato do µA741 ser barato e de fácil utilização, fabricantes
como a Motorola, National Semiconductor e a Texas Instruments
desenvolveram os seus modelos com a mesma especificação do
primeiro. Com o tempo, se abandonou o prefixo do amplificador
operacional, ficando conhecido apenas como 741, muito utilizado até
nos dias atuais.
Atualmente, há amplificadores operacionais dos mais diversos tipos
e utilizações, mas o funcionamento é basicamente o mesmo do 741,
desenvolvido na década de 1970. Uma vez entendido o funcionamento
e as caraterísticas do 741, é fácil o entendimento das derivações dos
outros amplificadores operacionais. Nesta seção, nos basearemos nas
características do 741, mostrando as características comuns a todos os
amplificadores operacionais.
O amplificador operacional é um componente eletrônico, também
chamado de amp-op, que é composto basicamente por três estágios:
estágio diferencial de entrada, estágio deslocador e amplificador
intermediário e, por fim, estágio acionador de saída.
Para se trabalhar com o amp-op não é necessário um estudo
detalhado do seu circuito interno, já que é uma estrutura bastante
complexa que envolve o conhecimento aprofundado sobre transistores
e seus efeitos na presença de resistores e capacitores, podendo ser
dispensável essa análise. O importante é entender o amplificador
diferencial de entrada e o amplificador de sinais.

U3 - Circuitos analógicos e digitais 137


3.1 Amplificador diferencial
O primeiro bloco do amp-op é o estágio diferencial de entrada,
como mostra a Figura 3.23.

Figura 3.23 | Diagrama de blocos do amplificador operacional

Fonte: Pertence (2015, p. 231).

O amplificador diferencial é utilizado como o estágio de entrada de


um amp-op e determinante as características de entrada consistindo
em um circuito que apresenta uma tensão contínua na saída (VOD ) igual
à diferença de tensão de entrada (VID ) multiplicada por um fator de
ganho (A), como mostra o seu símbolo na Figura 3.24 e a equação
(3.39).

Figura 3.24 | Amplificador diferencial

Fonte: Pertence (2015, p. 230).

Apesar de fazer parte do estágio inicial de um amp-op, o amplificador


diferencial pode ser encontrado na forma de circuito integrado, como
o CA 3000 e MC 1733, pois apresenta diversas aplicações práticas.
O circuito do amplificador diferencial é formado por transistores e
resistores, como mostra a Figura 3.25.

138 U3 - Circuitos analógicos e digitais


Figura 3.25 | Circuito do amplificador diferencial

Entrada Entrada não


invasora invasora

Fonte: Pertence (2015, p. 232).

Na Figura 3.25 é mostrado o circuito que há na entrada dos amp-


op, que possibilita algumas características que fazem dos amp-ops
terem diversas características, as quais veremos a seguir.
3.2 Amplificador operacional
O amp-op é formado por estágios com transistores, diodos,
resistores e capacitores dentro de um circuito integrado e devido à
disposição de cada estágio, esse circuito tem funções únicas, que
serão apresentadas mais adiante.
3.2.1 Diagrama esquemático do 741
Como o µA741 foi um marco no desenvolvimento do amplificador
operacional e é utilizado até hoje em diversas aplicações, na Figura
3.26 é mostrado o circuito equivalente do 741.

U3 - Circuitos analógicos e digitais 139


Figura 3.26 | Diagrama esquemático simplificado do amp-op 741

Fonte: Malvino (2016, p. 671).

O estágio de entrada é um amplificador diferencial que usa


transistores pnp (Q1 e Q2), em seguida, está disposto um espelho
de corrente (Q13 e Q14) que produz uma corrente de cauda no
amplificador diferencial e faz com que seja produzido um CMRR alto.
Esse fato de CMRR (“Common Mode Rejection Ratio” ou em
português Razão de Rejeição do Modo-Comum) ser alto é bom, pois
quanto mais alto for o CMRR do amplificador operacional, menor será
a interferência de um sinal por estática, influência eletromagnética,
entre outros tipos de interferências. No caso do LM741 o CMRR é de
95 dB.
Para se obter um ganho de tensão alto com o amplificador
diferencial, é usado como carga outro espelho de corrente (Q3 e
Q4). A saída do amplificador diferencial, dado pelo Q2, serve como
alimentação de um seguidor de emissor (Q5), em que é elevado o nível
de resistência (impedância) de entrada para não haver o abaixamento
da carga do amplificador diferencial. O sinal que sai de Q5 e vai para Q6
é um acionador classe B.

140 U3 - Circuitos analógicos e digitais


O último estágio é um seguidor de emissor push-pull classe B (Q9 e
Q10) e os transistores Q11 e Q12 formam um espelho de corrente que
produz uma carga para o acionador classe B.
No circuito da Figura 3.26 é possível verificar que é usado o
acoplamento direto entre todos os estágios, não tendo frequência
de corte inferior, ou seja, o amp-op é um amplificador CC porque ele
opera em todas as frequências desde zero hertz, equivalente a CC.
Devido às diversas aplicações dos amplificadores operacionais, o
circuito visto na Figura 3.26 é montado em encapsulamentos integrados
de alguns centímetros e tem um símbolo esquemático próprio.
3.2.2 Características do amp-op
O amplificador operacional, ou amp-op, é um amplificador CC
de multiestágio com entrada diferencial cujas características são
semelhantes às de um amplificador operacional ideal (PERTENCE,
2015).
O símbolo esquemático do amp-op é mostrado na Figura 3.27, que
possui na entrada a porta negativa – chamada de porta inversora
e a porta positiva - porta não inversora - e uma saída.

Figura 3.27 | Amplificador classe A (amplificador emissor-comum)

Fonte: elaborada pelo autor.

As características ideais de um amp-op são:


• Resistência de entrada infinita.
• Resistência de saída nula.
• Ganho de tensão infinito.
• Resposta de frequência infinita (sinal contínuo a infinitos hertz).
• Insensibilidade à temperatura (drift nulo).

U3 - Circuitos analógicos e digitais 141


A resistência de entrada do amp-op tem uma grande influência na
atenuação do sinal de entrada, em que quanto maior for a resistência de
entrada, menor será a atenuação do sinal de entrada, aproveitando-se o
máximo do sinal a ser amplificado. Isso faz com que o sinal de entrada
não seja alterado pelo circuito interno do amplificador operacional.
Na prática não há a possibilidade de se ter uma resistência infinita, o
que seria o melhor, mas pelas folhas de dados, a resistência de entrada
dos amp-op é da ordem de mega-ohms, e no caso do LM741, da
National Semiconductor, a resistência (ou impedância) de entrada é
de 2MΩ.
Já a resistência de saída precisa ser nula, de forma que todo o sinal
de entrada amplificado seja disposto na saída do amplificador.
Como a finalidade de um amplificador operacional é amplificar um
sinal, o ideal é que o ganho em malha aberta seja infinito, já que os sinais
de entrada geralmente são de baixas amplitudes. Os amp-ops possuem
um ganho alto de tensão, limitado pela sua tensão de alimentação e, em
alguns casos, é possível controlar o ganho pela relação de resistores,
como será mostrado nas topologias de realimentação negativa.
A faixa de frequência também influencia no ganho, em que o ideal é
que o amp-op tenha uma faixa de frequência de ganho infinita, ou seja,
qualquer que seja a frequência do sinal de entrada, o amp-op consiga
amplificar o sinal sem sofrer corte ou atenuação. Na prática, a largura
de faixa de um transistor possui um valor alto e é simbolizado por BW
(bandwidth), que, no caso do LM741, é de 1.5MHz.
A temperatura também é um fator determinante nas características
de um amp-op, provocando alterações nos valores de corrente e de
tensão. Esse fenômeno é chamado de DRIFT, e nos datasheets são
mostradas essas variações. Na variação da corrente, o seu valor é
fornecido em nA/°C e na variação da tensão é fornecido em µV/°C.
O fenômeno DRIFT não é nulo, mas a variação das características
elétricas em relação à temperatura é pequena, podendo ser ignorada
na maioria dos casos.
As características ideais são adotadas para que o entendimento do
amp-op seja simplificado, pois, na maioria dos casos, as características
reais não influenciam no funcionamento quando comparado com um
amplificador operacional ideal.

142 U3 - Circuitos analógicos e digitais


3.2.3 Alimentação do amp-op
Além das portas de entrada e de saída, o amp-op precisa ser
alimentado com uma tensão para operar de acordo com as suas
características. Normalmente, como no caso do 741, os amplificadores
operacionais são alimentados por fontes simétricas, que, na prática,
são formadas por fontes simples, como mostra a Figura 3.28, com os
três esquemas possíveis de uma fonte simétrica.

Figura 3.28 | 
Tipos de ligação de fonte de alimentação de amp-ops: (a) Fonte
simétrica; (b) Tensão de saída limitada por diodo zener; (c) Divisor
resistivo

Fonte: Pertence (2015, p. 13).

Questão para reflexão


Na alimentação de alguns amplificadores operacionais é
utilizada uma fonte simétrica, como no caso do 741. Se
ligarmos esses amplificadores em uma fonte de tensão não
simétrica, aterrando a alimentação negativa, o que poderia
acontecer em sua saída?

3.3 Modos de operação do amp-op


O amplificador operacional opera em três modos: sem
realimentação, realimentação positiva e realimentação negativa. A
realimentação nada tem a ver com a alimentação, não confunda os
conceitos. A realimentação é a relação das entradas e da saída do
amplificador operacional e como o sinal de entrada passa para a saída.

U3 - Circuitos analógicos e digitais 143


3.3.1 Sem realimentação
Esse é o modo conhecido também como operação em malha
aberta e o ganho do amp-op é dado na sua folha de dados. A Figura
3.29 mostra o amp-op em malha aberta

Figura 3.29 | Amplificador operacional sem realimentação

Fonte: elaborada pelo autor.

3.3.2 Realimentação positiva


O termo realimentação significa que a saída está ligada diretamente à
entrada, onde o que acontece na entrada influencia o comportamento
da saída, e essa saída continua influenciando na entrada, mantendo o
sinal na saída com um comportamento constante.
A operação com realimentação é conhecida como operação em
malha fechada, e a realimentação positiva consiste em ligar a saída na
entrada não inversora (+) do amp-op, por meio de resistores, como
mostra a Figura 3.30.

Figura 3.30 | Amplificador operacional com realimentação positiva

Fonte: elaborada pelo autor.

A realimentação positiva leva o circuito à instabilidade, pois uma


pequena mudança na entrada, causa uma mudança brusca na saída.
Na prática, é usado em circuitos osciladores, não trabalhando como
amplificador pelo fato de sua resposta ser não linear.
3.3.3 Realimentação negativa
A realimentação negativa foi proposta pelos irmãos Wright, em 1928,

144 U3 - Circuitos analógicos e digitais


mesmo antes de surgirem os amplificadores operacionais conhecidos
hoje em dia. Na época, essa ideia não foi bem vista pelos cientistas
porque levava à ideia de movimento perpétuo, mas hoje é possível
verificar que a realimentação negativa é uma das ideias mais valiosas
descobertas na eletrônica.
A realimentação negativa é mostrada na Figura 3.31.

Figura 3.31 | Amplificador operacional com realimentação negativa

Fonte: elaborada pelo autor.

As aplicações da realimentação negativa são diversas, nas quais são


possíveis amplificar um sinal, somar sinais, amplificar a diferença de dois
sinais, fazer derivadas e integrações de sinais, filtros ativos, entre outras.
Devido à importância da realimentação negativa dos amp-ops, serão
apresentados os principais circuitos e a sua equação que relaciona a
entrada e a saída no próximo item.
3.4 Circuitos básicos com amp-ops
A realimentação negativa é a operação mais usada pelos
amplificadores operacionais. No Quadro 3.2 são mostradas as
topologias dos amplificadores operacionais com realimentação
negativa.

U3 - Circuitos analógicos e digitais 145


Quadro 3.2 | Circuitos com amplificadores operacionais em realimentação negativa

Topologias de realimentação negativa Equação da saída

Amplificador inversor

R2
Av  
R1

V R
AV  Ro  1  2
Vi Av   Vi 2 R1
Vo
R1
Amplificador não inversor
R2
 R2   R4 Vi 1 R V 
 1  R
Vo V   3 i2 
I2 AV  o  1 R1 2  R3  R4 R3  R4 
R1 I1 R Vi R1
Av   2
R1
 Vi 1 Vi 2 
R2RR 2  R4 Vi 1
V0  R3 Vi 2 
 1
AvV o  R 1 R R2 R
  R R 
V R R
R 1 1   3 4 3 4 
AV  o  1  2somador não in-
Amplificador
Vi R1
versor
 R2   R4 Vi 2 R V 
R VVoo 1R12 Vi2 
R1ViR
 2 i1 
Av   AVV20  
 RR11 R  3 R  R R1  R2 
 RR Vi  R V R V 
4

Vo  1  1 2    4 1i 1  2 3 i 2 
 R1   R3  R4 R3  R4 
1

VoV 
AV 
VoR(t2) R2R-  R
 oV1o 11  2C V4Vii(1Vt )i 2 dtR3RV2 i 2Vi1 
 4R
 R
Vi  V  R1VR1R1  R3R3 R 
4R4 R3R1 R  4R2 

V0 R   i 1  i 2 
Amplificador R1 R2 
somador inversor
dV ( t )
 R2Vo (t )R  V4 i 1-C R  i
Vi 1Vi 2 R3dtVi 2 
1
 1V0V
Vo  R 
o (t)  -
 Vi (t )  dt 
 R R1   R  3R
R C1V R4R2 R
R R3 VR4 
Vo  1  2    4 i 2  2 i 1 
 R1   R3  R4 R1  R2 

V   VR   R dVi(Vt ) R V 
V0 RVoV o (i 1t )1 i -C
2 2 R 
       dt  2 i1 
4 i2

 1 1 RR
R 2 1  
R3  R4 R1  R2 
C R 
Vo (t ) - Vi (t )  dt
Amplificador subtrator

 VR   R1 4  Vi 2V (t )R 2dtVi 1 
V
o  1 
o (t )   -
) R i R  R 
2
R dV Ci (t
R R
Vo (t ) -C 1R  3 4 1 2 
dt

dV ( t )
Vo (t1) -C  R  i
C R 
Vo (t ) - Vi (t )  dt dt

146 U3 - Circuitos analógicos e digitais


dVi (t )
Vo (t ) -C  R 
dt
V V 
  Ri 1   i 2R4 Vi 1
V0 R R V 
Vo  1  R12   R
2  3 i2 
 R1   R 3  R4 R3  R4 

 R   R V R V 
Vo  1  2Vi 1  Vi42  i 2  2 i 1 
V0 R R1R RR3 R4 R1  R2 
Amplificador  integrador
1 2 

1
Vo (t )  - R2 Vi (Rt )4 dt
Vi 2 R V 
Vo  1 C  R    2 i1 
 R1   R3  R4 R1  R2 

dV ( t )
Vo (t ) -C  R1  i
dt
C R 
R Vo (t ) - Vi (t )  dt

Amplificador diferenciador
C
Vi dVi (t )
Vo (t ) -C  R 
Vo dt

Fonte: adaptado de Negrão (2017, p. 188).

Para saber mais


Datasheet do 741
Como o 741 é o amplificador mais conhecido na eletrônica analógica,
vale muito a pena conhecer as suas características internas e sua
resposta às diversas variáveis de entrada. Apesar de estar em inglês esse
datasheet, ele é de fácil interpretação, pois sua apresentação é didática.
Uma sugestão para verificar o quadro com as especificações busque
na coluna UNIT a variável que você quer obter. Disponível em: <http://
www.ti.com/lit/ds/symlink/lm741.pdf>. Acesso em: 20 set. 2017.

Atividades de aprendizagem
1. O amplificador operacional ideal possui algumas características que na
maioria das aplicações podem ser adotadas. Considere as características
e marque quais delas são verdadeiras (V) e quais são falsas (F) para o
amplificador operacional ideal.
I- ( ) Impedância de entrada nula e impedância de saída infinita.
II- ( ) Resposta de frequência infinita.
III- ( ) O ganho se altera com a mudança de temperatura.
IV- ( ) Ganho de tensão infinito em malha aberta.

U3 - Circuitos analógicos e digitais 147


Assinale a alternativa que contempla a sequência correta.
a) V, V, V, F.
b) F, V, F, V.
c) V, F, V, F.
d) F, F, V, F.
e) V, V, F, F.

2. (COPEL – 2017 – adaptada) Os amplificadores operacionais são


dispositivos amplamente utilizados no processamento de sinais analógicos.
Considerando o circuito, em que R1 = 5kΩ e R2 = 1kΩ e que o amplificador
operacional seja ideal, assinale a alternativa que apresenta o ganho de
tensão do amplificador.

a) AV = 6.
b) AV = −3 .
c) AV = 3000 .
d) AV = 14 .
e) AV = 10 .

Fique ligado
Nesta unidade, foi possível verificar o funcionamento dos
amplificadores de potência, conhecer as suas topologias e aplicações.
Além disso, foi mostrado a sua limitação em relação à frequência, a
qual o sinal de entrada está associado.
Por último, foram mostrados os amplificadores diferenciais e os
operacionais, algumas características que são importantes nos projetos
que se utiliza os amplificadores operacionais, além de uma revisão das
topologias de realimentação negativa, servindo como base para a
realimentação positiva que será trabalhada adiante.

148 U3 - Circuitos analógicos e digitais


Para concluir o estudo da unidade
Essa unidade conclui o estudo dos amplificadores com transistor,
mostrando os amplificadores de potência. Esse conteúdo era
necessário para introduzir o conceito de amplificador operacional
que tem diversas aplicações na eletrônica analógica, servindo como
introdução aos estudos de osciladores e de fontes de tensão regulada.
A facilidade com o conteúdo só vem da prática e familiarização
com o assunto, então, use as referências bibliográficas e realize os
exercícios, até adquirir bastante familiaridade com o assunto, sem
precisar consultar a teoria.
Bons estudos, esperamos que esta unidade possa lhe auxiliar em
projetos envolvendo amplificadores.

Atividades de aprendizagem da unidade


1. A CMRR (Razão de Rejeição de Modo-Comum) é dada pela razão entre
o ganho de tensão diferencial do amplificador operacional e o ganho de
tensão de modo-comum do mesmo amplificador. Para um amplificador
com o ganho de tensão diferencial Ad = 8000 e o ganho de tensão e modo
comum AC = 12 Assinale a alternativa que corresponde à CMRR em dB
desse amplificador.
a) CMRR = 666,7 dB.
b) CMRR = 20 dB.
c) CMRR = 85,41 dB.
d) CMRR = 56,48 dB.
e) CMRR = 100 dB.

2. Há diversas topologias de amplificadores operacionais com realimentação


negativa, entre eles há o amplificador inversor, que desloca o sinal de entrada
em 180° na saída. Considerando o amplificador inversor, analise a asserção
e sua justificativa.
I. O amplificador inversor, por deslocar o sinal de entrada em 180° na saída,
na prática, faz com que a saída tenha sinal negativo em relação à entrada.
Então,
II. Para que o sinal de saída seja positivo, é utilizado em sua saída um outro
estágio com amplificador inversor de ganho unitário para inverter novamente
o sinal.

U3 - Circuitos analógicos e digitais 149


a) As asserções I e II são verdadeiras e a II apresenta uma solução para a I.
b) A asserção I é verdadeira, mas a II não apresenta uma solução para a I.
c) A asserção I é falsa e a II é verdadeira I.
d) As asserções I e II são falsas.
e) As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não tem nenhuma ligação com
a asserção I.

3. Um amplificador de áudio com 40W de saída é conectado a um alto-


falante de 10Ω. Assinale a alternativa que apresenta a potência de entrada
quando o ganho de potência for de 25 dB.
a) Pin = 2, 5W .
b) Pin = 126, 5mW .
c) Pin = 2, 5mW .
d) Pin = 38, 38mW .
e) Pin = 898mW .

4. (Consuplan – adaptado) O amplificador operacional ideal possui algumas


características que fazem com que a sua aproximação simplifique as
aplicações em circuitos analógicos. Uma das características é o parâmetro
DRIFT. Assinale a alternativa que apresenta a definição do parâmetro DRIFT
relacionado ao amplificador operacional.
a) É a máxima taxa de variação da tensão de saída por unidade de tempo.
b) É a variação de frequência em função do sinal aplicado na entrada
inversora do amp-op.
c) É a estabilização de corrente de saída do amplificador operacional.
d) É a relação entre a impedância de saída e a impedância de entrada.
e) É a sensibilidade a variações de temperatura do amplificador operacional.

5. De acordo com a topologia e a operação do amplificador de potência,


ele é separado em classes de operação. Considere as duas colunas a seguir,
em que a coluna da direita apresenta a classe do amplificador de potência
e a coluna da esquerda uma característica de uma das classes e faça a
associação entre as colunas.

I. Operação classe A a. ( ) Usado para sinais digitais ou pulsados.


II. Operação classe B b. ( ) Transistor comumente utilizado como emissor-
comum.
III. Operação classe C c. ( ) Utilizado em circuitos ressonantes de comunica-
ção, para sintonizar uma certa frequência.
IV. Operação classe D d. ( ) Conhecido também como push-pull.

150 U3 - Circuitos analógicos e digitais


Assinale a alternativa que apresenta a associação entre as colunas.
a) I.a; II.b; III.c, IV.d.
b) I.b; II.d; III.c, IV.a.
c) I.b; II.a; III.d, IV.c.
d) I.d; II.a; III.c, IV.b.
e) I.c; II.a; III.b, IV.d.

U3 - Circuitos analógicos e digitais 151


Referências
BOGART JR., Theodore F. Dispositivos e circuitos eletrônicos. São Paulo: Makron Books,
2011. v. 1.
BOYLESTAD, Robert; NASHELSKY, Louis. Dispositivos eletrônicos e teoria de circuitos. 6.
ed. Rio de Janeiro: LTC, 1999.
MALVINO, Albert. Eletrônica: diodos, transistores e amplificadores. versão concisa da 7. ed.
Porto Alegre: AMGH, 2011. v. 2.
______. Eletrônica. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. v. 2.
NEGRÃO, Fernando Alves, et al. Circuitos elétricos e instrumentação eletrônica. Londrina:
Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017.
PERTENCE JR, Antonio. Amplificadores operacionais e filtros ativos: eletrônica analógica.
8. ed. Porto Alegre: Bookman, 2015.
RAZAVI, Behzad. Fundamentos de microeletrônica. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017.

152 U3 - Circuitos analógicos e digitais


Unidade 4

Circuitos eletrônicos e
aplicações
Giancarlo Michelino Gaeta Lopes

Objetivos de aprendizagem
Esta unidade tem como objetivo principal permitir que você tome
conhecimento de circuitos eletrônicos complexos, estudando o seu
funcionamento de forma aprofundada e elucidando questões sobre
tais circuitos ainda não estudados. Em um primeiro momento, o
objetivo é compreender os detalhes de funcionamento de circuitos
com realimentação, estudando as diferenças e as características da
realimentação positiva e negativa. A partir da realimentação positiva,
tem-se também o objetivo de estudar o funcionamento de circuitos
osciladores. Em um segundo momento, o objetivo é saber projetar
e diferenciar os diferentes tipos de reguladores de tensão e corrente
existentes.

Seção 1 | Realimentação e circuitos osciladores


Na primeira seção, serão estudados circuitos com realimentação, expondo as
suas características e forma de funcionamento, então, são discutidos conceitos
relacionados à resposta em frequência de tais circuitos, chegando até aos circuitos
osciladores. Serão apresentados, nessa seção, circuitos que utilizam como
componente principal, transistores, JFETs, amplificadores operacionais, entre
outros, permitindo uma abordagem completa do assunto.

Seção 2 | Fontes reguladoras de tensão e corrente


Na segunda seção, você é convidado a estudar circuitos de regulação de tensão
e corrente variados, compreendendo as suas características e funcionamento. O
enfoque da seção é o estudo dos reguladores lineares, que podem estar em série
ou em paralelo com a carga, além de abordar os circuitos integrados reguladores
lineares de tensão. Para instigar o seu aprendizado, são feitas comparações entre
os diversos tipos de circuitos existentes, sempre apresentando melhorias possíveis.
Introdução à unidade
Dentro da eletrônica analógica, um tipo de ligação que é muito
utilizado é a realimentação. Isso pode ser dito principalmente quando
estão sendo abordados os amplificadores operacionais, que foram
objeto de estudo da Unidade 3. Assim, esta unidade faz uma abordagem
mais completa dos conceitos relacionados à realimentação,
apresentando as suas características ligadas ao deslocamento de fase
e resposta em frequência de circuitos com essa topologia, que é algo
ainda não estudado no curso.
A realimentação de um circuito pode ocorrer de duas formas,
sendo positiva ou negativa. Basicamente, os circuitos que possuem
realimentação negativa são utilizados para amplificação de sinais e
aqueles com realimentação positiva têm a operação como osciladores.
As características que fazem com que os funcionamentos sejam assim
descritos são abordadas na Seção 1 desta unidade, portanto, é possível
perceber que o estudo de tais circuitos é importante para que você seja
capaz de projetá-los quando necessário.
Todos os circuitos e sistemas possuem uma fonte de alimentação,
que faz com eles operem e desenvolvam a sua função. Normalmente,
esses sistemas devem ser alimentados com tensões específicas, como
os sistemas digitais, que usualmente operam em 5, 3,3 ou 1,8 V. Assim,
são necessários circuitos que adequem os níveis de tensão disponíveis
para que eles sejam utilizados pelos mais diversos sistemas.
Os responsáveis por esta adequação são os circuitos reguladores
de tensão. Eles são divididos em duas grandes categorias, os lineares e
os chaveados. O enfoque do estudo deste material é nos reguladores
lineares, que são montados em série ou em paralelo com a carga. Desta
forma, são apresentados vários circuitos reguladores e limitadores
de corrente, permitindo que você consiga compreender os seus
funcionamentos e saiba aplicar o circuito ideal para o seu projeto.
A Seção 1 desta unidade apresenta conceitos sobre realimentação
e o estudo de circuitos osciladores e a Seção 2 aborda os reguladores
de tensão e corrente.
Seção 1
Realimentação e circuitos osciladores
Introdução à seção

Nesta seção, você é convidado a estudar circuitos amplificadores


com uma visão diferente, analisando a sua realimentação. A partir
de conceitos de realimentação são feitas considerações sobre as
características desejadas de circuitos amplificadores e sobre fase e
frequência. Considerando conceitos de margem de ganho e margem
de fase, chega-se ao estudo dos circuitos osciladores de forma
aprofundada, permitindo um conhecimento completo do assunto e
possibilitando o projeto de tais circuitos.
1.1 Realimentação: conceitos e tipos de conexão
Uma abordagem prévia sobre a realimentação já foi feita na Unidade
3 deste livro, quando se tratou de amplificadores operacionais. Assim,
é possível dizer que existem dois tipos de realimentação: positiva e
negativa. A realimentação negativa tem como principal característica
o controle do ganho do amplificador. Já a realimentação positiva
permite que o circuito entre em oscilação, possibilitando a geração de
diferentes formas de onda, conforme as ligações forem feitas.
Um diagrama representativo de um amplificador realimentado
pode ser visto na Figura 4.1, na qual é possível identificar o bloco de
amplificação (A), o de realimentação (β) e o de combinação dos sinais,
que possui os sinais + e -. É perceptível que a tensão de entrada do
amplificador (Vi ) é a subtração do sinal de entrada (Vi ) pelo sinal de
realimentação (Vf ), o que caracteriza um circuito de realimentação
negativa. Ainda sobre o diagrama, o bloco de realimentação é
responsável por fornecer uma parcela do sinal de saída (Vo ) ao circuito
de combinação, fechando o ciclo de realimentação (BOYLESTAD;
NASHELSKY, 2013).

156 U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações


Figura 4.1 | Diagrama simplificado de um amplificador realimentado

Sinal de Sinal de
entrada saída

Amplificar realimentado
Fonte: Boylestad e Nashelsky (2013, p. 626).

Sempre que o sinal de realimentação possuir polaridade oposta


ao sinal de entrada, haverá a realimentação negativa. Esse tipo de
realimentação possui algumas vantagens em relação à realimentação
positiva, fazendo com que ele se destaque, são elas (BOYLESTAD;
NASHELSKY, 2013):
• Maior impedância de entrada.
• Ganho de tensão com maior estabilidade.
• Melhora na resposta em frequência.
• Redução na impedância de saída.
• Redução no ruído.
• Linearização da operação.
Existem quatro formas de realizar a conexão do sinal de
realimentação, podendo ser realimentada tanto a tensão quanto a
corrente, seja em série ou em paralelo. Nesses termos, quando se
refere à tensão, trata-se da utilização da tensão de saída, como entrada
para o circuito de realimentação. Para corrente, as definições são
análogas, na qual uma parcela da corrente de saída é desviada para o
circuito de realimentação. As quatro formas de conexão são:
• Realimentação série de tensão.
• Realimentação paralela de tensão.

U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações 157


• Realimentação série de corrente.
• Realimentação paralela de corrente.
Vale ressaltar que as quatro formas de ligação citadas realizam
a realimentação negativa. Isso faz com que os circuitos possuam
ganho controlado por meio de componentes auxiliares (normalmente
resistores), além das outras vantagens já citadas.
A partir das características de cada uma das formas de ligação, sabe-
se que as realimentações em série tendem a aumentar a resistência de
entrada e que as de tensão tendem a diminuir a impedância de saída,
que são as características desejadas para a maioria dos amplificadores
(BOYLESTAD; NASHELSKY, 2013). Portanto, pode-se dizer que a forma
de ligação realimentação série de tensão é mais utilizada. Nesse
tipo de realimentação, uma parcela da tensão de saída do circuito é
realimentada em série com o sinal de entrada, como pode ser visto na
Figura 4.2.

Figura 4.2 | Realimentação série de tensão

Fonte: Boylestad e Nashelsky (2013, p. 627).

Considerando a realimentação série de tensão da Figura 4.2,


havendo sinal de realimentação Vf no circuito, a tensão de entrada no
amplificador pode ser escrita como sendo:

Vi = Vs − Vf

158 U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações


Observando as relações de ganho apresentadas na Figura 4.2, é
possível substituir os valores de Vi e Vf , e obter o ganho do circuito:

Vo
= Vs − β ⋅ Vo
A

Vo = A ⋅ Vs − A ⋅ β ⋅ Vo

(1+ A ⋅ β ) ⋅ Vo = A ⋅ Vs

Vo A
Af = = 4.1
Vs 1 + A ⋅ β

Por mais que os circuitos amplificadores com realimentação possam


ser representados em diagramas, como foi feito até esse ponto, eles
descrevem circuitos montados com componentes eletrônicos. Esses
componentes podem ser amplificadores operacionais, transistores,
JFETs ou outro semicondutor com característica de funcionamento
como amplificador. Assim, após a apresentação dos conceitos básicos
sobre realimentação, é possível prosseguir os estudos tratando dos
circuitos.

Para saber mais


Para conhecer o que são os JFETs e seu funcionamento, consulte o
capítulo 11 do livro Eletrônica – vol. 2.
MALVINO, Albert Paul; BATES, David. Eletrônica. 8. ed. Porto Alegre:
AMGH, 2016. v. 2.

1.2 Circuitos práticos de realimentação


Como foi dito, a rrealimentação série de tensão é uma das mais
utilizadas em circuitos amplificadores, devido ao fato de proporcionar
uma alta impedância de entrada e baixa impedância de saída. Assim, os
circuitos apresentados a seguir possuem esse tipo de realimentação.
O circuito mais simples de realimentação série de tensão é
aquele montado com um amplificador operacional e como ele

U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações 159


possui realimentação negativa, tem topologia de um amplificador
não inversor, como pode ser visto na Figura 4.3. Na figura, a área
demarcada que possui os resistores em seu interior representa o bloco
de realimentação, que possui fator de realimentação dado por:

R2
β=
R1 + R2

O ganho deste circuito, assim como todos de realimentação série


de tensão, pode ser calculado pela Equação 4.1. Nessa equação,
o valor do ganho A será o ganho em malha aberta do amplificador
operacional, normalmente maior que 100.000 vezes. Assim, o valor de
A ⋅ β será muito maior que 1, portanto, o ganho poderá ser aproximado
para:

1 R
Af ≅ = 1+ 1
β R2

Desta forma, se chega ao mesmo ganho obtido para o circuito


amplificador não inversor, estudado na Unidade 3.

Figura 4.3 | Circuito realimentação série de tensão com amplificador operacional

Fonte: Boylestad e Nashelsky (2013, p. 633).

Outra forma de se montar um circuito realimentação série de

160 U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações


tensão é utilizando um transistor bipolar, como pode ser visto na Figura
4.4. Nesse circuito, o sinal de entrada Vs é igual à tensão de entrada do
amplificador Vi . Além disso, a tensão de saída Vo é igual à tensão de
realimentação. Isso faz com que o fator de realimentação seja:

Vo
β= =1
Vf

O ganho A é igual a:

Vo hfe ⋅ IB ⋅ RE hfe ⋅ RE ⋅ (Vs / hie ) hfe ⋅ RE


A= = = =
Vs Vs Vs hie

Em que hfe é o ganho de corrente transistor e hie é a resistência


interna do transistor.
Com isso, o ganho do circuito pode ser calculado como sendo:

A hfe RE / hie hfe RE


Af = = =
1 + A ⋅ β 1 + (1)(hfe RE / hie ) hie + hfe RE

Figura 4.4 | Circuito realimentação série de tensão com transistor

Fonte: Boylestad e Nashelsky (2013, p. 633).

U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações 161


1.3 Considerações sobre fase e frequência em um amplificador
com realimentação
Até este ponto tratamos dos amplificadores com realimentação
negativa. Sabe-se que nos circuitos práticos, tal condição de
realimentação ocorre apenas na faixa central de operação e que o
ganho do amplificador varia conforme a frequência, sendo menor
nas frequências altas do que na banda média. Somando a isso, ocorre
também uma variação do deslocamento de fase com a variação da
frequência (BOYLESTAD; NASHELSKY, 2013).
Como com o aumento da frequência ocorre uma variação do
deslocamento de fase, parte do sinal de realimentação passa a ser
adicionado, e não mais subtraído, do sinal de entrada. Desta forma, é
possível que o amplificador entre em oscilação devido ao efeito causado
pela realimentação positiva, deixando de funcionar como amplificador.
Portanto, os projetos de amplificadores com realimentação devem
visar à estabilidade de funcionamento em todas as frequências. Caso
isso não ocorra, ele entrará em oscilação com a aplicação de um sinal
de frequência diferente daquele da faixa de interesse.
Na determinação da estabilidade em frequência de um amplificador
com realimentação, o deslocamento de fase entre entrada e saída, e
o produto de A ⋅ β são fatores determinantes. Uma das formas mais
utilizadas para analisar a estabilidade é o diagrama de Nyquist, que traça
uma curva do ganho e deslocamento de fase em função da frequência
em um plano complexo.
O critério de Nyquist diz que o amplificador pode ser considerado
instável se a curva do diagrama envolver o ponto -1 e, logicamente, se
isso não acontecer, o amplificador é considerado estável. Para ilustrar
o formato do diagrama e como a determinação da estabilidade é feita,
é possível avaliar as curvas apresentadas na Figura 4.5, que mostra
diagramas de amplificadores quaisquer, com resposta estável (a) e
instável (b).

162 U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações


Figura 4.5 | Diagrama de Nyquist e condições de estabilidade (a) e instabilidade (b)

Fonte: Boylestad e Nashelsky (2013, p. 638).

Para entender melhor o conceito de circundar o ponto -1 no


diagrama de Nyquist, vale ressaltar que essa consideração indica que,
para um deslocamento de fase de 180o entre os sinais de entrada e
saída de um amplificador, o ganho de malha A ⋅ β é maior que 1. Desta
forma, o sinal de realimentação se encontra em fase com o sinal de
entrada e é grande o suficiente para que seja gerado um sinal de entrada
maior que o aplicado ao circuito, fazendo com que o amplificador
entre em oscilação.
A partir da consideração feita para a determinação da estabilidade, é
possível delimitar margens de estabilidade que indicarão a proximidade
do amplificador a condição de instabilidade. Isto quer dizer que se, por
exemplo, determinado amplificador possuir ganho A ⋅ β de 0,96 ele
não será tão estável quanto um outro amplificador com ganho de 0,85
(medidos em 180o). Apesar dos dois amplificadores serem estáveis, um
está mais próximo da instabilidade que o outro, caso haja um aumento
do ganho de malha (BOYLESTAD; NASHELSKY, 2013). Sendo assim, é
possível definir os seguintes termos, que são importantes quando for
tratado dos circuitos osciladores mais a frente:
• Margem de ganho (MG): é o valor do ganho A ⋅ β , em decibéis,
na frequência que o ângulo de fase é 180o. A definição pode
ser entendida mais facilmente observando o diagrama de
Bode, exemplo apresentado na Figura 4.6. Percebe-se que a

U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações 163


margem de ganho é a faixa encontrada na e frequência entre o
cruzamento do ganho por zero e a fase por 180o. Além disso, pode-se
dizer que uma margem de ganho positiva (em dB) indica um sistema
estável. Por outro, lado uma margem de ganho negativa, indica um
sistema instável (OGATA, 2010).
• Margem de fase (MF): é a diferença de 180o menos a magnitude
do ângulo no qual o valor de A ⋅ β é unitário. Esta definição
pode ser observada também na Figura 4.6, que torna igual a
faixa de fase entre a mesma faixa de frequência definida na
margem de ganho (BOYLESTAD; NASHELSKY, 2013).

Figura 4.6 | Diagrama de Bode com as definições de margem de ganho e de fase

Fonte: Boylestad e Nashelsky (2013, p. 638).

1.4 Operação dos circuitos osciladores


Como foi discutido, os circuitos amplificadores com realimentação
negativa, quando estão operando com um sinal de frequência fora
da faixa de operação para o qual foram projetados, passam a ter
características da realimentação positiva e, desta forma, entram em
oscilação. Portanto, quando se deseja montar circuitos osciladores,

164 U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações


pode-se simplesmente montar circuitos com realimentação positiva.
Assim, caso se tenha um circuito realimentado positivamente, com
ganho de malha fechada Af maior que 1 e que satisfaça as condições
de fase, ele terá o seu funcionamento como um oscilador.
Para que um circuito realimentado possua uma oscilação
autossustentável, o chamado critério de Barkhausen deve ser satisfeito.
Esse critério diz que caso A ⋅ β = 1, as oscilações de um circuito serão
mantidas, mesmo com a retirada de um eventual sinal utilizado para
dar início à oscilação.
Na prática, os circuitos osciladores são projetados com A ⋅ β
maior que 1. Isso faz com que o circuito não dependa de nenhum
sinal de entrada para iniciar as oscilações, já que elas iniciarão com a
amplificação do ruído, que está sempre presente. A Figura 4.7 ilustra
como o ruído proporciona uma condição de oscilação de determinado
circuito.

Figura 4.7 | Estabelecimento da oscilação a partir do ruído

Fonte: Boylestad e Nashelsky (2013, p. 639).

Um circuito oscilador pode gerar em sua saída diferentes formas de


onda. As mais comuns são senoidal, quadrada e triangular. Todas elas
são baseadas nos princípios de realimentação que foram apresentados,
que consideram o ganho e o tipo de realimentação, dentre outros
fatores, para que o circuito entre em oscilação. Sendo assim, as
subseções seguintes abordam alguns circuitos osciladores que utilizam
os princípios estudados.

U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações 165


1.5 Oscilador de deslocamento de fase
O oscilador de deslocamento de fase é um circuito que possui
uma malha de realimentação bem característica, montada com vários
resistores e capacitores, que geram um deslocamento de fase total de
180o. Este circuito pode ser montado tendo como elemento principal
um JFET, transistor ou amplificador operacional e gera em sua saída
um sinal senoidal.
A montagem com transistor está apresentada na Figura 4.8.
Analisando a figura, pode-se dizer que o sinal de realimentação é
acoplado ao resistor R ' que está em série com a entrada do estágio
amplificador. A frequência de oscilação do circuito é dada pela seguinte
relação:

1 1
f = ⋅
2π ⋅ R ⋅ C 6 + 4(RC / R )

E para garantir que o ganho de malha seja maior que 1 e que as


oscilações se sustentem, o ganho de corrente do transistor deve
ser:

R R
hfe > 23 + 29 ⋅ + 4⋅ C
RC R

Desta forma, o funcionamento desse circuito depende também da


escolha correta do transistor a ser utilizado.

Figura 4.8 | Circuito oscilador de deslocamento de fase com transistor

Fonte: Boylestad e Nashelsky (2013, p. 641).

166 U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações


Uma outra forma de se montar o oscilador de deslocamento de fase
é com a utilização de um amplificador operacional. Tal montagem está
apresentada na Figura 4.9. Na montagem, o circuito RC de três estágios
gera um fator de atenuação de 1/29, além de gerar o deslocamento de
fase de 180o. Assim, para o funcionamento do circuito, é necessário que
R
o ganho do amplificador, dado por R , seja maior que 29, resultando
f
i

em um ganho de malha superior a 1. A frequência de oscilação do sinal


de oscilação gerado na saída do amplificador operacional é de:

1
f =
2π ⋅ R ⋅ C ⋅ 6

Figura 4.9 | Oscilador de deslocamento de fase com amplificador operacional

Fonte: Boylestad e Nashelsky (2013, p. 642).

1.6 Oscilador em ponte de Wien


O oscilador em ponte de Wien é um dos circuitos mais utilizados
por projetistas de eletrônica quando se deseja gerar uma onda senoidal.
Com isso, ele é considerado o oscilador padrão para frequências
baixas e médias, entre 5 Hz e 1 MHz, sendo largamente utilizado em
equipamentos em que é necessária a geração de sinais de áudio, como
sirenes e alarmes.
Esse oscilador é montado tendo como base um amplificador
operacional, ao qual são ligados resistores e capacitores em formato
de ponte, como pode ser visto na Figura 4.10. Os capacitores (C) e
resistores (R) do circuito são responsáveis por determinar a frequência
de oscilação e, consequentemente, da onda de saída. Já os resistores
R’ e 2R’ formam o caminho para o ganho da realimentação.

U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações 167


Figura 4.10 | Oscilador com ponte de Wien

Fonte: elaborada pelo autor.

No circuito oscilador com ponte de Wien existe tanto a realimentação


positiva quanto a negativa. No caminho da realimentação positiva, entre
a saída e a entrada não inversora, existe um circuito de avanço-atraso,
que realiza a variação da fase do sinal, fazendo com que o circuito
entre em oscilação. Já o caminho da realimentação negativa é feito
por meio de um divisor de tensão, que gera o ganho do amplificador.
Esse ganho deve ser ao menos igual a 2, para que seja garantido um
ganho de malha suficiente para a oscilação do circuito.
A frequência do sinal de saída do oscilador com a ponte de Wien é
dada por:

1
fo = .
2 ⋅π ⋅ R ⋅C

1.7 Gerador de onda quadrada e triangular


Uma onda triangular pode ser obtida aplicando-se a operação
de integração sobre um sinal quadrado. Assim, tendo-se um circuito
oscilador astável qualquer, que gere uma onda quadrada em sua saída,
seguido por um integrador montado com amplificador operacional,
uma onda triangular é obtida.
A montagem de um circuito que gere uma onda quadrada pode
ser feita de várias formas e utilizando diferentes componentes.
Uma das formas mais simples é com o auxílio do CI 555, montado
na configuração astável. Outra forma é com a utilização de um
amplificador operacional como elemento principal, o que se torna

168 U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações


mais interessante quando se utiliza outro amplificador em outra parte
do circuito (integrador).

Para saber mais


Para conhecer o funcionamento do CI 555 e como uma montagem
estável pode ser feita, consulte o capítulo 21-7 e 21-8 do livro Eletrônica
– vol. 2.
MALVINO, Albert Paul; BATES, David. Eletrônica. vol. 2. 8. ed. Porto
Alegre: AMGH, 2016. v. 2.

Sendo assim, a Figura 4.11 mostra um circuito multivibrador astável


montado com amplificador operacional. Este circuito é compacto
e utiliza poucos componentes, mas tem uma desvantagem: a
necessidade de alimentação simétrica.

Figura 4.11 | Multivibrador astável com amplificador operacional

Fonte: elaborada pelo autor.

O funcionamento do multivibrador astável se baseia na comparação


das tensões na entrada inversora e não inversora pelo amplificador
operacional, e principalmente no carregamento e descarregamento
do capacitor C da Figura 4.11. Assim, a frequência do sinal quadrado de
saída pode ser definida como sendo:

U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações 169


1
f =
 2 ⋅ R2 
2 ⋅ RF ⋅ C ⋅ ln  1 +
 R1 

Com o multivibrador astável, basta se adicionar um integrador em


sua saída e assim obter um gerador de onda triangular. Desta forma,
o circuito proposto está apresentado na Figura 4.12. Nesse circuito a
frequência da onda triangular de saída é a mesma do multivibrador
astável e os valores dos componentes do integrador devem ser
escolhidos conforme a frequência de operação do circuito, em que:

10
R ⋅ C1 ≥
f

E o resistor RF1 deve ser ao menos dez vezes maior que o resistor
R. Tais medidas para o integrador são feitas a fim de evitar a saturação
do amplificador operacional e, consequentemente, a distorção do sinal
de saída.

Figura 4.12 | Circuito gerador de onda triangular

Fonte: elaborada pelo autor.

170 U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações


Questão para reflexão
Existe uma outra forma de se gerar uma onda triangular com a utilização
de amplificadores operacionais? Como seria?

Atividades de aprendizagem
1. (BOYLESTAD; NASHELSKY, 2013, p. 633) Calcule o ganho final do
amplificador da figura para um ganho do amp-op de A = 100.000 e
resistências R1 = 1,8 kΩ e R2 = 200 Ω.

1. (BOYLESTAD; NASHELSKY, 2013, p. 633) Calcule a frequência de


ressonância do oscilador em ponte de Wien da figura a seguir.

U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações 171


Seção 2
Fontes reguladoras de tensão e corrente
Introdução à seção

Esta seção tem por objetivo estudar diversos circuitos que realizam
a regulação de tensão e corrente em fontes de alimentação ou outras
aplicações. Assim, estão apresentados diversos circuitos, com diferentes
topologias, que visam obter níveis estáveis de tensão e controle da
corrente. Para tanto, são considerados como básicos conhecimentos
de eletrônica relacionados ao funcionamento de diodos, transistores e
amplificadores operacionais.
2.1 Parâmetros de regulação
Existem basicamente três parâmetros que determinam a qualidade
de um circuito de regulação de tensão: a regulação da carga; regulação
de linha; e resistência de saída.
A regulação de carga indica o quanto a tensão da carga varia
quando a corrente desta aumenta, ou seja, a capacidade da fonte em
manter uma tensão constante, mesmo com o aumento da carga. Por
definição, a regulação de carga é dada por (MALVINO; BATES, 2016):

VNL − VFL
Regulaçãodecarga = × 100%
VFL

Em que, VNL é a tensão de carga sem corrente de carga (a vazio) e


VFL é a tensão de carga com corrente de carga máxima. Desta forma,
pode-se dizer que quanto menor a regulação de carga, melhor é a
regulação que o circuito está realizando.
Já a regulação de linha indica a capacidade do circuito regulador
em manter a sua tensão de carga constante mesmo com uma variação
da tensão de entrada (tensão de linha). O que pode ser expresso
matematicamente como sendo:

172 U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações


VHL − VLL
Regulaçãodelinha = × 100%
VLL

Em que, VHL é a tensão de carga com o máximo valor que a tensão


de linha pode assumir e VLL é a tensão de carga com o mínimo valor
que a tensão de linha pode assumir. Assim, novamente, quanto menor
o valor da regulação de linha, melhor será o circuito regulador.
Por fim, a resistência de saída é a resistência de Thévenin equivalente
do circuito, de modo que quanto menor esse valor de resistência, pior
será a regulação de carga do circuito. Ela pode ser definida como:

VNL − VFL VNL − VFL


Regulaçãodelinha = = × RL
IFL VFL

Em que IFL é a corrente máxima de carga e RL é a resistência da


carga.
As definições que foram apresentadas são importantes, pois
permitem a comparação entre as respostas de cada um dos circuitos
reguladores que estão apresentados nas subseções a seguir.
2.2 Reguladores shunt
Os reguladores de tensão lineares utilizam um dispositivo operando
na região linear para manter a tensão sobre a carga constante. Dentre
esses reguladores existem dois tipos, o shunt (paralelo) e série. Essa
subseção trata dos reguladores shunt, que são aqueles que ficam em
paralelo com a carga.
O regulador shunt mais simples é aquele montado com diodo
Zener, como pode ser visto na Figura 4.13. Lembrando que o diodo
Zener opera na região de ruptura, fazendo com que apareça na carga
uma tensão igual à tensão de Zener. Assim, com a variação da corrente
sobre a carga, há uma variação na corrente que passa pelo Zener a fim
de manter a corrente que passa pelo resistor RS constante.

U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações 173


Figura 4.13 | Regulador shunt com diodo Zener

Fonte: elaborada pelo autor.

No circuito regulador com diodo Zener, a corrente de entrada do


circuito será igual à corrente série que circula pelo resistor RS e pode
ser escrita como sendo:

Vin − Vout
IS =
RS

Assim, quando a tensão de entrada é constante, a corrente de


entrada praticamente não oscila com uma eventual variação da
corrente exigida pela carga. Desta forma, chega-se a uma característica
presente em todos os reguladores shunt, de que uma variação na
corrente sobre a carga praticamente não gera efeito sobre o valor da
corrente de entrada.
Quando há uma grande corrente na carga, a regulação de carga
do circuito da Figura 4.13 aumenta. Isso ocorre, pois o aumento da
corrente IS gera uma maior queda de tensão sobre RS , fazendo com
que a tensão de saída varie. Uma solução para esse problema é o
acréscimo de um transistor no circuito, como está ilustrado na Figura
4.14. Desta forma, a tensão de saída passa a ser a tensão de Zener
somada à tensão VBE do transistor.

174 U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações


Figura 4.14 | Regulador shunt com diodo Zener melhorado

Fonte: elaborada pelo autor.

O grande problema do circuito apresentado na Figura 4.14 é a


dependência da tensão de saída com a tensão VBE do transistor, de
modo que qualquer variação de VBE gera uma variação na tensão de
saída. Sabe-se que a tensão VBE do transistor é sensível a variações de
temperatura, portanto, deve-se buscar uma solução que reduza esse
efeito.
Uma opção para minimizar o efeito de VBE na tensão de saída está
apresentada na Figura 4.15. Nesse circuito, o controle da condução do
transistor é feito pelo amplificador operacional. Ele monitora o valor
de tensão presente na sua entrada não inversora e o compara com
a tensão de referência gerada pelo diodo Zener, que está ligado na
sua entrada inversora. Assim, um aumento na tensão de saída gera
um aumento na tensão presente na entrada não inversora. Com
isso, o amplificador aumenta a condução do transistor, fazendo com
que a corrente sobre RS aumente. Consequentemente, a queda de
tensão sobre RS também aumenta, gerando uma redução na tensão
sobre a carga. Caso haja uma redução na tensão de carga, um
processo semelhante acontece, reduzindo a condução do transistor e
consequentemente, a queda de tensão sobre RS diminui, aumentando
a tensão sobre a carga.

U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações 175


Figura 4.15 | Regulador shunt com realimentação

Fonte: elaborada pelo autor.

Considerando ainda o circuito da Figura 4.15, dado o alto ganho


do amplificador operacional, o efeito indesejado causado por VBE é
eliminado. Com isso, a tensão de saída pode ser escrita como sendo:

R1 + R 2
Vout = × VZ
R1

2.3 Reguladores série


Apesar de terem uma boa regulação de carga, uma grande
desvantagem dos reguladores shunt é a sua baixa eficiência, causada
pela potência consumida pelo resistor série e pelo transistor. A solução
de regulação com maior eficiência (usualmente entre 75% e 95%) são
os reguladores chaveados, que normalmente são baseados em um
CI dedicado. Porém, os reguladores chaveados geram uma grande
quantidade de ruído, produzido pelo chaveamento do transistor
presente no circuito. Assim, ele acaba não sendo utilizado em
aplicações sensíveis a ruídos.
Uma solução de eficiência intermediária entre os reguladores shunt
e os reguladores chaveados são os reguladores série, que possuem
simplicidade de montagem e baixo custo. Assim, esta subseção trata
dos reguladores série, que como o próprio nome diz, o elemento ativo
se encontra em série com a carga.

176 U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações


O regulador série mais básico é o seguidor Zener, que está
apresentado na Figura 4.16. Neste circuito, uma variação da tensão de
linha ou corrente de carga gera uma variação mínima na tensão de
Zener e na tensão base-emissor do transistor, gerando uma pequena
alteração na tensão de saída para grandes variações de tensão de linha
ou corrente de carga.

Figura 4.16 | Regulador série seguidor Zener

Fonte: elaborada pelo autor.

No regulador série seguidor Zener, a corrente de carga é


praticamente igual à corrente de entrada, já que somente uma pequena
parcela de corrente passa pelo resistor RS . Quanto à tensão de saída,
ela é dada pela tensão de Zener, menos a tensão VBE , ou seja:

Vout = VZ − VBE

Uma característica que diferencia um regulador série de um


regulador shunt é o fato de que no série a corrente de entrada varia
conforme a variação da corrente de carga, o que não ocorre no
regulador do tipo shunt, que possui corrente de entrada constante
com a variação da corrente de carga.
Outra montagem de regulador série que pode ser feita é a chamada
de discreta, que faz o uso de dois transistores e está apresentada na
Figura 4.17. Nesse circuito, caso venha a acontecer um aumento na
tensão de saída, consequentemente é gerado um aumento na tensão
presente na base de Q1, produzindo um aumento em sua condução
e fazendo com que a sua tensão coletor-emissor diminua, o que gera

U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações 177


uma redução na tensão da base de Q2 e, portanto, uma redução de
sua condução e aumento da tensão coletor-emissor. Desta forma, o
aumento da tensão de saída é controlado.
A redução da tensão de saída causa um efeito semelhante ao
descrito, havendo uma redução na tensão de base de Q1 e consequente
aumento na tensão de base de Q2, reduzindo sua tensão coletor-
emissor e controlando o abaixamento na tensão sobre a carga.

Figura 4.17 | Regulador série discreto

Fonte: elaborada pelo autor.

Ainda para o regulador série discreto, a sua tensão de saída


dependerá da tensão de Zener e VBE de Q1, como o regulador série
seguidor Zener, mas também da tensão sobre o resistor R2. Escrevendo
matematicamente, tem-se:

R1 + R 2
Vout = (VZ + VBE )
R1

Uma resposta melhorada da regulação série pode ser obtida com


a adição de um amplificador operacional ao circuito. Tal montagem
pode ser observada na Figura 4.18. Nesta configuração, o amplificador
operacional fica responsável por monitorar a tensão de saída por meio
do divisor resistivo formado por R1 e R2, e comparar com a tensão de
Zener, controlando a condução do transistor. Uma vantagem desse
circuito é a tensão de saída não depender do valor de VBE , podendo
ser escrita como:

178 U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações


R1 + R 2
Vout = × VZ 4.2
R1

Figura 4.18 | Regulador série com realimentação

Fonte: elaborada pelo autor.

Os circuitos reguladores série possuem uma desvantagem em


relação aos reguladores shunt que é não possuir proteção contra curto-
circuito. Desta forma, na ocorrência de um curto-circuito na carga,
o transistor de passagem virá a queimar, devido à alta corrente que
passará por ele. Com isso, é usual a utilização de um circuito limitador
de corrente nos reguladores série. Um exemplo de como isso pode
ser feito está ilustrado na Figura 4.19, onde é colocado um resistor de
pequeno valor em série com a saída e é avaliada a queda de tensão
sobre ele.
A limitação de corrente no circuito da Figura 4.19 é feita com o
controle da condução do transistor de passagem (Q2). Quando a
corrente de carga é menor que 600 mA, a tensão sobre R4 é menor
que 0,6 V, permitindo o funcionamento normal do circuito com
realimentação, como descrito anteriormente. Com a corrente de carga
entre 600 e 700 mA, haverá uma tensão sobre R4 entre 0,6 e 0,7 V,
acionando o transistor Q1. Com isso, a corrente de coletor de Q1 passa
sobre R5 e faz com que a tensão na base de Q2 diminua, reduzindo
a sua condução e, consequentemente, a tensão e corrente sobre a
carga. No caso de um curto na carga, há uma condução intensa de

U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações 179


Q1 e uma condução mínima de Q2, protegendo os componentes. A
tensão de saída desse circuito é dada pela Equação 4.2.

Figura 4.19 | Regulador série com realimentação e limitação de corrente

Fonte: elaborada pelo autor.

2.4 Reguladores lineares integrados


A forma mais simples de se obter uma tensão regulada é por meio
dos CIs reguladores lineares. Estes reguladores são componentes
que internamente possuem uma montagem baseada em transistores,
como os exemplos que foram apresentados, permitindo que uma
tensão não regulada aplicada em sua entrada seja regulada. O CIs mais
conhecidos que desempenham essa função são os da linha 78XX.
Cada um dos modelos realiza a regulagem de tensão para determinado
nível. Tomando como exemplo o 7805, ilustrado na Figura 4.20, ele
disponibiliza em sua saída uma tensão regulada em 5 V. Um circuito
exemplo de aplicação está apresentado na Figura 4.21.

Figura 4.20 | Circuito integrado 7805

Fonte: <https://http2.mlstatic.com/D_Q_NP_116001-MLB20258156421_032015-H.jpg>. Acesso em: 3 set. 2017.

180 U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações


Figura 4.21 | Exemplo de circuito com o CI 7805

Fonte: elaborada pelo autor.

Existem aplicações que necessitam de uma regulação de tensão


mais precisa que a encontrada nos reguladores mais comuns como os
da linha 78XX, em que a saída pode variar em até 5%. Tais reguladores
são chamados de reguladores de precisão e utilizados na maioria das
vezes para gerar uma tensão de referência. Um exemplo de CI com
essa característica é o LT1461, que possui uma variação máxima de sua
saída em 0,04 %.

Questão para reflexão


É possível montar um regulador de tensão linear com topologia
diferente das estudadas nesta seção? Como seria?

Para saber mais


Para conhecer o funcionamento e os tipos de reguladores chaveados,
consulte o capítulo 22-6 e 22-7 do livro Eletrônica – vol. 2.
MALVINO, Albert Paul; BATES, David. Eletrônica. 8. ed. Porto Alegre:
AMGH, 2016. v. 2.

Atividades de aprendizagem
1. (Adaptado de: Malvino e Bates (2016, p. 966)) Para o circuito da figura,
calcule o valor da tensão de saída e corrente na carga, para Vin = 15 V, RS =
10 Ω, VZ = 9,1 V, VBE = 0,8 V e RL = 40 Ω.

U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações 181


2. (MALVINO; BATES, 2016, p. 974) Calcule a tensão de saída aproximada
para o circuito apresentado na figura.

Fique ligado
Nesta unidade, foram apresentados os seguintes tópicos:
• Realimentação: conceitos e tipos de conexão.
• Fluxogramas lineares.
• Circuitos práticos de realimentação.
• Considerações sobre fase e frequência em um amplificador
com realimentação.
• Multivibradores e osciladores.

182 U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações


• Operação dos circuitos osciladores.
• Oscilador de deslocamento de fase.
• Oscilador em ponte de Wien.
• Gerador de onda quadrada e triangular.
• Fontes reguladoras de tensão e corrente.
• Parâmetros de regulação.
• Reguladores shunt.
• Reguladores série.
• Reguladores lineares integrados.

Para concluir o estudo da unidade


Ao final do estudo desta unidade, é esperado que você tenha
conhecimento e seja capaz de projetar circuitos com realimentação,
sejam amplificadores ou osciladores.
Espera-se também que saiba realizar o desenvolvimento de
circuitos reguladores de tensão, aplicando o circuito ideal conforme a
necessidade de projeto. Além de saber aliar os conceitos de eletrônica
básica no desenvolvimento de tais circuitos.
Com os conteúdos de eletrônica estudados nesta unidade,
juntamente com aqueles apresentados na Unidade 3, e também
aqueles vistos na disciplina de Circuitos elétricos e instrumentação
eletrônica, é possível dizer que você está apto a desenvolver soluções
básicas de eletrônica, sendo capaz de trabalhar com dispositivos
analógicos e digitais, que foram vistos nas Unidades 1 e 2 deste livro.
Por fim, a partir dos conteúdos estudados neste livro, chega-
se a uma abordagem completa no âmbito de hardware de diversos
dispositivos, abrindo caminho para o estudo do software com uma
maior facilidade de entendimento.
Bons estudos!

U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações 183


Atividades de aprendizagem da unidade
1. Considere a figura a seguir, que ilustra um circuito de realimentação série
de tensão com transistor.

Assinale a alternativa que indica, aproximadamente, o ganho A (ganho de


amplificação) do circuito. Dados: hfe = 120 e hie = 900 Ω .
a) 293,33.
b) 286,66.
c) 298,89.
d) 306,16.
e) 505,05.

2. Considere a figura a seguir que mostra um circuito oscilador.

184 U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações


Assinale a alternativa que indica, aproximadamente, o valor da frequência de
oscilação do sinal senoidal encontrado na saída do amplificador operacional
presente no circuito.
a) 8,16 Hz.
b) 10,65 Hz.
c) 13,82 Hz.
d) 15,65 Hz.
e) 137, 65 Hz.

3. Considere a figura a seguir que mostra um circuito oscilador.

Assinale a alternativa que indica, aproximadamente, o valor da frequência


de oscilação do sinal quadrado encontrado na saída do amplificador
operacional presente no circuito.
a) 3.897 Hz.
b) 3.783 Hz.
c) 4.268 Hz.
d) 4.963 Hz.
e) 5.145 Hz.

U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações 185


4. Considere o circuito regulador apresentado na figura a seguir.

Assinale a alternativa que indica a tensão VOUT encontrada na saída do


circuito. Dado: Tensão de Zener do 1N4733 igual a 5,1 V.
a) 3,142 V.
b) 4,237 V.
c) 5,324 V.
d) 6,521 V.
e) 7,956 V.

5. Considere as afirmativas a seguir sobre os reguladores lineares:


I. Os reguladores shunt são aqueles que ficam em paralelo com a carga.
II. Nos reguladores shunt uma variação na corrente sobre a carga,
praticamente não gera efeito sobre o valor da corrente de entrada.
III. Uma das grandes vantagens dos reguladores shunt é a sua alta eficiência,
próxima a 90% na maioria dos casos.
IV. Nos reguladores série, a corrente de entrada oscila conforme a variação
da corrente de carga.
Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas verdadeiras.
a) Somente I e II.
b) Somente II e III.
c) Somente II, III e IV.
d) Somente I, II e IV.
e) I, II, III e IV.

186 U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações


Referências
BOYLESTAD, Robert L.; NASHELSKY, Louis. Dispositivos eletrônicos e teoria de circuitos.
11. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013.
OGATA, Katsuhiro. Engenharia de controle moderno. 5. ed. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2010.
MALVINO, Albert Paul; BATES, David. Eletrônica. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016.

U4 - Circuitos eletrônicos e aplicações 187

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