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SÉRIE REFRIGERAÇÃO E CLIMATIZAÇÃO

TERMODINÂMICA
SÉRIE REFRIGERAÇÃO E CLIMATIZAÇÃO

TERMODINÂMICA
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNI

Robson Braga de Andrade


Presidente

DIRETORIA DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA - DIRET

Rafael Esmeraldo Lucchesi Ramacciotti


Diretor de Educação e Tecnologia

Julio Sergio de Maya Pedrosa Moreira


Diretor Adjunto de Educação e Tecnologia

SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL – SENAI

Conselho Nacional

Robson Braga de Andrade


Presidente do Conselho Nacional

SENAI – Departamento Nacional

Rafael Esmeraldo Lucchesi Ramacciotti


Diretor-Geral

Julio Sergio de Maya Pedrosa Moreira


Diretor Adjunto

Gustavo Leal Sales Filho


Diretor de Operações
SÉRIE REFRIGERAÇÃO E CLIMATIZAÇÃO

TERMODINÂMICA
© 2016. SENAI – Departamento Nacional

© 2016. SENAI – Departamento Regional de Santa Catarina

A reprodução total ou parcial desta publicação por quaisquer meios, seja eletrônico,
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Esta publicação foi elaborada pela equipe da Gerência de Educação e Tecnologia do SENAI
de Santa Catarina, com a coordenação do SENAI Departamento Nacional, para ser utilizada
por todos os Departamentos Regionais do SENAI nos cursos presenciais e a distância.

SENAI Departamento Nacional


Unidade de Educação Profissional e Tecnológica – UNIEP

SENAI Departamento Regional de Santa Catarina


Gerência de Educação e Tecnologia – GEDUT

FICHA CATALOGRÁFICA
FICHA CATALOGRÁFICA

S491t

Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. Departamento Nacional


Termodinâmica / Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.
Departamento Nacional, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.
Departamento Regional de Santa Catarina. - Brasília : SENAI/DN, 2016.
79 p. : il. ; 30 cm. - (Série refrigeração e climatização)

Inclui índice e bibliografia


ISBN 978-85-505-0053-9

1. Termodinâmica. 2. Física I. Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.


Departamento Regional de Santa Catarina II. Título. III. Série.

CDU: 53

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Serviço Nacional de Setor Bancário Norte • Quadra 1 • Bloco C • Edifício Roberto
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Departamento Nacional Fax: (0xx61) 3317-9190 • http://www.senai.br
Lista de ilustrações
Figura 1 - Transformação isocórica.............................................................................................................................17
Figura 2 - Diagrama P x T para transformação isocórica.....................................................................................18
Figura 3 - Transformação isobárica.............................................................................................................................18
Figura 4 - Diagrama V x T para transformação isobárica.....................................................................................18
Figura 5 - Transformação isotérmica .........................................................................................................................19
Figura 6 - Diagrama P x V para transformação isotérmica.................................................................................19
Figura 7 - Processo a pressão constante...................................................................................................................22
Figura 8 - Compressor de ar – aletas e ventoinha para refrigerar o cabeçote............................................23
Figura 9 - Variação de volume......................................................................................................................................24
Figura 10 - Transformação isobárica - primeira lei da termodinâmica .........................................................25
Figura 11 - Diagrama P x T em um processo isocórico .......................................................................................27
Figura 12 - Expansão isobárica.....................................................................................................................................27
Figura 13 - Expansão adiabática .................................................................................................................................28
Figura 14 - Compressão adiabática ...........................................................................................................................29
Figura 15 - Troca espontânea de calor ....................................................................................................................30
Figura 16 - Esquema de uma máquina térmica ....................................................................................................33
Figura 17 - Esquema do ciclo Rankine – ciclo de potência a vapor ...............................................................34
Figura 18 - Esquema de ciclo de refrigeração a vapor ........................................................................................35
Figura 19 - Diagrama T x s - ciclo de refrigeração ideal ......................................................................................35
Figura 20 - Ciclo de refrigeração a gás e diagrama T x h de refrigeração a gás..........................................36
Figura 21 - Máquina de Carnot ...................................................................................................................................37
Figura 22 - Diagrama P x V ciclo de Carnot .............................................................................................................38
Figura 23 - Diagrama simplificado – ciclo refrigeração ......................................................................................44
Figura 24 - Fases no diagrama Pressão x Entalpia ................................................................................................45
Figura 25 - Linhas isoentrópicas no diagrama Pressão x Entalpia ..................................................................46
Figura 26 - Linhas isotérmicas no diagrama Pressão x Entalpia ......................................................................47
Figura 27 - Linhas isocóricas no diagrama Pressão x Entalpia .........................................................................48
Figura 28 - Diagrama P x h do ciclo de refrigeração ............................................................................................50
Figura 29 - Evaporação no ciclo esquemático e no diagrama P x h ..............................................................51
Figura 30 - Compressão no ciclo esquemático e no diagrama P x h..............................................................51
Figura 31 - Condensação no ciclo esquemático e no diagrama P x h............................................................52
Figura 32 - Expansão no ciclo esquemático e no diagrama P x h ...................................................................52
Figura 33 - Transferência de calor por condução .................................................................................................58
Figura 34 - Convecção natural......................................................................................................................................60
Figura 35 - Transferência de calor por radiação ....................................................................................................61
Figura 36 - Balanço de energia em um sistema fechado ...................................................................................62
Figura 37 - Transferência de calor...............................................................................................................................65
Figura 38 - Representação de circuito – cálculo transferência de calor........................................................65
Figura 39 - Trocador de calor de contato direto ...................................................................................................70
Figura 40 - Trocador de calor de contato indireto ................................................................................................71
Figura 41 - Trocador de calor de casco e tubo - contato indireto ...................................................................73
Figura 42 - Trocador de calor a placas - contato indireto ..................................................................................74
Figura 43 - Esquema 1 - trocador de calor operando em contracorrente....................................................75
Figura 44 - Esquema 2 - trocador de calor operando com correntes paralelas..........................................76

Quadro 1 - Transformações gasosas............................................................................................................................17


Quadro 2 - Condição de isolamento...........................................................................................................................63

Tabela 1 - Valores de referência – coeficiente de troca de calor por convecção.........................................59


Sumário
1 Introdução........................................................................................................................................................................11

2 Conceitos fundamentais..............................................................................................................................................15
2.1 Lei dos gases..................................................................................................................................................16
2.2 Energia interna..............................................................................................................................................21
2.3 Trabalho realizado na expansão de um gás ideal............................................................................21
2.4 Primeira lei da termodinâmica................................................................................................................25
2.5 Processos isocórico, isobárico, isotérmico e adiabático.................................................................26
2.6 Segunda lei da termodinâmica...............................................................................................................29
2.7 Processos reversíveis..................................................................................................................................31
2.8 Irreversibilidade dos processos térmicos reais..................................................................................31
2.9 Ciclos de potência.......................................................................................................................................32
2.10 Ciclo de Carnot...........................................................................................................................................37

3 Ciclos de refrigeração no diagrama Pressão X Entalpia....................................................................................43


3.1 Identificação de pontos no diagrama P x h........................................................................................44
3.2 Ciclo teórico do sistema de refrigeração.............................................................................................50

4 Transferência de calor...................................................................................................................................................55
4.1 Mecanismos de transferência de calor ................................................................................................56
4.2 Condução........................................................................................................................................................57
4.3 Convecção .....................................................................................................................................................58
4.4 Radiação..........................................................................................................................................................60
4.5 Fontes de calor: internas, externas........................................................................................................61
4.6 Isolamento térmico em tubos e paredes............................................................................................63
4.7 Avaliação da troca de calor......................................................................................................................64

5 Trocadores de calor........................................................................................................................................................69
5.1 Definição.........................................................................................................................................................70
5.2 Fluxo de calor................................................................................................................................................75
5.3 Coeficiente global de transferência de calor.....................................................................................76
5.4 Seleção e cálculos........................................................................................................................................78
5.5 Profissional de refrigeração e climatização........................................................................................78

Referências...........................................................................................................................................................................81

Minicurrículo do autor.....................................................................................................................................................83

Índice......................................................................................................................................................................................85
Introdução

Seja bem-vindo à Unidade Curricular Termodinâmica. Nesta unidade, você irá desenvolver
capacidades técnicas relacionadas aos processos termodinâmicos aplicados a sistemas de
climatização, tendo como base as normas técnicas, ambientais e de saúde e segurança no
trabalho, além de, neste mesmo contexto, desenvolver capacidades organizativas, sociais e
metodológicas adequadas a diferentes situações profissionais.
A termodinâmica é considerada por alguns autores como um dos assuntos centrais da
ciência, pois está baseada em leis de aplicação universal.
Como você está iniciando seus estudos em busca do sucesso como profissional de
refrigeração e climatização, terá de compreender como esses sistemas se utilizam dos ciclos
dos gases para resfriar e climatizar determinado ambiente ou produto.
A Unidade Curricular de Termodinâmica vem contribuir para a compreensão dos processos
que ocorrem em um sistema, contemplando as características físicas dos fluidos envolvidos,
permitindo a análise de falhas e a elaboração de projetos e sistemas de refrigeração e
climatização.
Dessa forma você estudará, no capítulo 2, os conceitos fundamentais envolvidos, assim
como processos térmicos e de pressão, a lei dos gases e a lei dos gases ideais, compreendendo
o que é e quando se aplica o conceito de energia interna de um fluido, além de também
compreender que a expansão de um gás gera trabalho, seja na forma de troca de energia
térmica entre meios ou mecânicos. Também verá a primeira Lei da Termodinâmica, que trata da
conservação da energia, e a máquina de Carnot. As compreensões destes temas lhe ajudarão a
resolver problemas relacionados ao ciclo de potência e de refrigeração, assim como a segunda
Lei da Termodinâmica, que contextualiza a reversibilidade e a irreversibilidade de processos
térmicos, demonstrando isso em ciclos de potência de máquinas térmicas.
O conceito de entalpia é comum para o técnico de refrigeração e climatização, assim como
a capacidade de análise de performance de um sistema de climatização. Estes temas, que você
verá no capítulo 3, permitem a compreensão e o desenvolvimento da técnica aplicada na
refrigeração, fazendo com que você identifique os principais conceitos da termodinâmica em
gráficos. Conceitos esses que farão parte de sua rotina profissional.
FUNDAMENTOS DE REFRIGERAÇÃO E CLIMATIZAÇÃO
12

No capítulo 4, você vai estudar a maneira com que o calor é transferido, aprenderá a identificar os
mecanismos de transferência de calor e como utilizar esse conhecimento a seu favor em busca de um
sistema mais eficiente.
A ciência da climatização e refrigeração baseia-se na capacidade de transferir energia de um fluido para
outro. Os equipamentos que fazem este trabalho são os trocadores de calor, indispensáveis em qualquer
sistema de climatização, que serão apresentados no capítulo 5.
Não se trata de um assunto fácil ou simples, pois você estudará novos conceitos, que serão aplicados
durante sua carreira profissional e utilizará os conhecimentos adquiridos para se aprimorar tecnicamente,
desenvolvendo sua capacidade de entender e resolver problemas práticos.
Agora você terá a oportunidade de desvendar o comportamento térmico dos gases e da transformação
desses comportamentos em trabalho, além de alguns processos desta ciência tão importante para o
profissional de refrigeração, que é a termodinâmica.
Bons estudos!
Conceitos Fundamentais

Ao iniciar esta Unidade Curricular, entende-se que você já estudou os conceitos de


temperatura, calor, pressão, trabalho, energia e os fundamentos básicos de refrigeração. Você
conhece os conceitos aplicados diretamente em sistemas de refrigeração a compressão de
vapor? Este capítulo tratará, de maneira mais objetiva, estes conceitos.
Serão necessários alguns conhecimentos já vistos, tais como o Sistema Internacional de
Unidades, suas grandezas fundamentais e derivadas, conceitos de pressão, energia, potência,
calor, capacidade térmica, temperatura, entre outros.
A aplicação destes conhecimentos permitirá que você compreenda com maior facilidade os
processos que ocorrem em um ciclo de refrigeração, que serão úteis para a compreensão de
manuais de instalação e manutenção de equipamentos e sistemas de climatização. Finalizando
os estudos deste capítulo, você será capaz de:
a) reconhecer os conceitos fundamentais da termodinâmica;
b) identificar a primeira e a segunda Lei da Termodinâmica;
c) identificar processos de escoamento de ciclos de potência e de refrigeração;
d) fazer a distinção de cada etapa dos processos termodinâmicos.
A partir de agora, você terá a oportunidade de conhecer alguns fundamentos da física
aplicada em gases, como a lei geral dos gases, a lei dos gases ideais, e entender o que é e
quando aplicar o conceito de energia interna de um fluido e também compreender que a
expansão de um gás gera trabalho, estes exemplificados pelo fluido refrigerante.
Bons estudos!
TERMODINÂMICA
16

2.1 LEI DOS GASES

A termodinâmica está fundamentada na Primeira e na Segunda Lei da Termodinâmica, as quais não


tem prova do ponto de vista matemático, mas sua validade é fundamentada na ausência de experimentos
contrários.
A termodinâmica é uma ciência relativamente recente, que nasceu no século XIX, com a necessidade de
descrever a operação de máquinas a vapor e avaliar o seu desempenho. O objetivo de descrever e avaliar
máquinas térmicas é mantido até a atualidade, sendo que a evolução é constante.
Para Ramalho, Ferraro e Soares (1999), a compressibilidade e expansibilidade são as características mais
notáveis dos gases. Assim, gás é um fluido que sofre grandes variações de volume quando submetido a
pressões relativamente pequenas e tende a ocupar todo o espaço que lhe é oferecido.
As características de um gás, quando se trata de seu estado físico, são compostas por três grandezas: o
volume, a pressão e a temperatura, que constituem, então, as variáveis de estado.
Em sistemas de refrigeração, os fluidos estão sujeitos a variações de volume, pressão e temperatura,
alterando assim seu estado físico e proporcionando as variações de energia necessárias para o
funcionamento.
É necessário que o técnico em refrigeração e climatização compreenda os processos de transformações
de estado, que são possíveis somente a partir da variação de ao menos duas das variáveis de estado.

FIQUE Quando se muda a pressão de um gás, altera-se o volume e a sua temperatura, ou


ALERTA seja, altera-se seu estado físico.

Tendo certa quantidade de gás em um sistema, é impossível a variação de apenas uma variável,
isto é, quando variar uma, necessariamente pelo menos outra deverá se alterar. Pode-se classificar as
transformações em que uma das variáveis é constante, como isocórica1, isobárica2 e isotérmica3, conforme
apresentado no quadro a seguir.

1 É o nome dado à transformação de um gás em que seu volume (córico=corpo) se mantém constante (iso=igual).
2 Refere-se à pressão constante.
3 Refere-se à temperatura constante.
2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS
17

VARIÁVEL DE ESTADO
TEMPERATURA
VOLUME (V) PRESSÃO (P)
(T)

Isocórica Constante Variável Variável


Transformação

Isobárica Variável Constante Variável

Isotérmica Variável Variável Constante

Quadro 1 - Transformações gasosas


Fonte: do Autor (2016)

Para Ramalho, Ferraro e Soares (1999), na transformação Isocórica, o volume é mantido, sendo alteradas
temperatura e a pressão. Sendo assim, volume é constante, a pressão e a temperatura absoluta de um gás
relacionam-se pela fórmula a seguir.

A figura seguinte apresenta a transformação isocórica.

Aumento da Diminuição da
Ana Cristina de Borba (2016)

temperatura temperatura

Figura 1 - Transformação isocórica


Fonte: adaptado de Fogaça (2015)

Perceba na figura anterior que os pesos em cima dos cilindros representam a pressão e, portanto, quanto
mais pesos maior é a pressão que está sendo exercida pelo gás. É possível perceber também na figura, a
seguir, que em uma transformação isocórica, a pressão é diretamente proporcional à temperatura.
TERMODINÂMICA
18

P (atm)

12

Ana Cristina de Borba (2016)


3

0
100 200 300 400 T (k)
Figura 2 - Diagrama P x T para transformação isocórica
Fonte: adaptado de Fogaça (2015)

Para a transformação isobárica, a pressão é mantida, variando temperatura e volume (RAMALHO;


FERRARO; SOARES, 1999). Observe, a seguir, que a figura Transformação Isobárica e o gráfico Diagrama V x
T para transformação isobárica demonstram uma variação em Volume e Temperatura.

Transformação
Ana Cristina de Borba (2016)

Estado Inicial: Estado Final:


T1 T2 = 2 T1
P1 P2 = P1
V1 V2 = 2 V1
Figura 3 - Transformação isobárica
Fonte: adaptado de Fogaça (2015)

V (Volume)
Vf
Ana Cristina de Borba (2016)

Vi

0 Ti Tf T (Temperatura) (K)
Figura 4 - Diagrama V x T para transformação isobárica
Fonte: adaptado de Toffoli (2015)
2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS
19

E, na transformação isotérmica, a temperatura é mantida, variando volume e pressão (RAMALHO;


FERRARO; SOARES, 1999). Observe, a seguir, que a figura Transformação Isotérmica e o gráfico Diagrama P
x V para transformação Isotérmica apresentam a variação de volume e pressão.

P1, V1

Ana Cristina de Borba (2016)


P2, V2
P3, V3

P1 . V1 = P2 . V2 = P3 . V3
Figura 5 - Transformação isotérmica
Fonte: adaptado de Ramalho, Ferraro e Soares (1999)

P (Pressão)
Pi
Ana Cristina de Borba (2016)

Pf

0 Vi Vf V (Volume)
Figura 6 - Diagrama P x V para transformação isotérmica
Fonte: adaptado de Toffoli (2015)

Para se entender os cálculos e afirmações sobre os gases e seus comportamentos, é necessário utilizar-
-se de um conceito que não está presente na natureza, ou seja, o conceito de gás ideal ou perfeito.
Ramalho, Ferraro e Soares (1999) afirmam que gás ideal ou perfeito é um gás hipotético cujas moléculas
não apresentam volume próprio e que não sofre mudança de fase, estando sempre na fase gasosa.
Segundo essa lei, uma massa de gás inicialmente definida pelas variáveis de estado, P1, V1 e T1, ao
sofrer uma transformação, passa a ter as variáveis de estado, P2, V2 e T2, que caracterizam o estado final do
gás. Essas variáveis obedecem à seguinte relação:
TERMODINÂMICA
20

Pela equação anterior, é possível observar que a pressão, o volume e a temperatura variam no decorrer
da transformação gasosa.
É importante este entendimento, uma vez que, para cálculos, o técnico em refrigeração e climatização
deve ser capaz de analisar o comportamento de um gás ideal.

James Prescott Joule (1818-1889), notável físico inglês, estudou a natureza da


CURIOSI corrente elétrica e realizou vários experimentos na área do calor. Joule teve contato
DADES com grandes físicos ao longo de sua vida, mas é considerado autodidata. Foi ele que
estabeleceu a lei de Joule (primeira Lei da Termodinâmica).

A seguir, acompanhe os exemplos da aplicação da Lei dos gases em suas transformações.


1 - Calcule a variação de volume sofrida por um gás que ocupa inicialmente o volume de 10 litros a 25°C,
quando sua temperatura se eleva isobaricamente para 160°C.

2 – Um recipiente fechado (transformação isocórica) que resiste até a pressão de 3,5 kgf/cm² contém um
gás ideal sob pressão de 1,2 kgf/cm² e temperatura 27°C. Desprezando a dilatação térmica do recipiente,
calcule a máxima temperatura que o gás pode atingir.

Agora, prossiga com seus estudos e estude a energia4 interna.

4 Propriedade do sistema que lhe permite realizar trabalho.


2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS
21

2.2 ENERGIA INTERNA

Vários tipos de energia manifestam-se nas partículas de sistemas, e a soma de todos os tipos de energia
é o que se conhece como Energia Interna do Sistema.
Para Dossat (2004), descreve-se a energia como a capacidade de realizar trabalho. A quantidade de
energia requerida para executar uma determinada quantidade de trabalho é sempre igual à quantidade
de trabalho realizado. De forma similar, a quantidade de energia que um corpo possui é sempre igual à
quantidade de trabalho que pode realizar. Nem todas as energias são térmicas. Segundo Ieno e Negro
(2004), um sistema termodinâmico envolve três formas de energia, relacionadas com a velocidade, com a
posição em relação a um plano de referência e com a temperatura.
Ao fornecer energia térmica a um corpo (aquecimento), provoca-se a variação da energia interna do
mesmo. Os princípios da termodinâmica estão fundamentados nesta variação de energia.
Para Ramalho, Ferraro e Soares (1999), a energia total de um sistema é composta de duas parcelas: a
energia externa e a energia interna.
a) Energia externa: relações do sistema com o meio exterior. Energia cinética e energia potencial.
b) Energia interna: relaciona-se com as condições intrínsecas5. Para gases, corresponde à energia
térmica que se associa ao movimento de agitação térmica das moléculas, à energia potencial de
configuração e às energias cinéticas atômico-nucleares.
Segundo Dossat (2004), as moléculas de um material qualquer podem possuir energia tanto potencial
quanto cinética. A energia interna total do material é a soma das energias cinética e potencial internos.
Ramalho, Ferraro e Soares (1999) afirmam que não se mede diretamente a energia interna (u) de um
sistema. No entanto, é importante conhecer a variação de energia interna (∆u) do sistema durante um
processo termodinâmico.
Muitos materiais, sob condições de pressão e temperatura apropriadas, podem existir em qualquer
estado físico. A quantidade de energia apresentada pelas moléculas de material determina não somente a
temperatura, mas também o estado físico no momento (DOSSAT, 2004).
Você conhece o trabalho realizado na expansão de um gás ideal? Na próxima seção, este assunto será
abordado.

2.3 TRABALHO REALIZADO NA EXPANSÃO DE UM GÁS IDEAL

Para Dossat (2004), é executado trabalho mecânico quando uma força, atuando sobre um corpo, o
movimenta por determinada distância.

5 Condições internas, aquilo que está dentro, que faz parte do interior. Intrínseco - Que está no interior de uma coisa e lhe é próprio
ou essencial.
TERMODINÂMICA
22

Ainda segundo Dossat (2004), sempre que um material experimentar uma mudança de volume, realizará
um trabalho. Se o volume do material aumenta, o trabalho é realizado pelo material. Se o volume diminui,
o trabalho é efetuado sobre o material.
Observe, na figura, a seguir, o exemplo de um determinado peso de gás contido em um cilindro
equipado com um pistão móvel.

Pistão

Pistão
perfeitamente
ajustado sem
atrito Mudança
no volume

Pistão

Mudança
P= 10 kgf/cm2 P = 10 kgf/cm2
no volume
T = 25 0C T = 50 0C Pistão
V = 1 litro V = 2 litros
P = 10 kgf/cm2
T = 12,5 0C
V = 0,5 litros

Ana Cristina de Borba (2016)


Adição Calor
de calor extraído
(a) (b) (c)

Figura 7 - Processo a pressão constante


Fonte: adaptado de Dossat (2004)

Ao aquecer o gás, eleva-se a sua temperatura e este dilata, empurrando o pistão para cima, contra a
pressão atmosférica (ver figura anterior (a) e (b)). Pode-se observar o trabalho no deslocamento do pistão,
sendo o resultado da dilatação do gás, ou seja, o elemento que efetua trabalho é o gás ao se dilatar.
Dossat (2004) afirma que, para efetuar trabalho, é necessária energia. Na figura (b), a energia requerida
para realizar o trabalho é fornecida pelo gás ao ser aquecido por uma fonte externa. Mas, também é
possível que o gás realize trabalho às custas de sua própria energia, não necessitando de fonte externa,
pois, ao se dilatar, ele efetua trabalho, sendo que sua energia cinética interna (temperatura) diminui em
uma quantidade igual à quantidade de energia necessária para realizar trabalho.
2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS
23

Ainda para Dossat (2004), quando um gás é comprimido (observe a figura (c)), uma quantidade de
trabalho deve ser efetuada sobre o gás, de modo que a quantidade de energia igual à quantidade de
trabalho será cedida às moléculas do gás durante o processo de compressão, e a temperatura aumentará
em proporção à quantidade de trabalho efetuado. O aumento da temperatura no gás, conforme vai sendo
comprimido, é um fenômeno comum e pode ser verificado ao tocar o cabeçote de um compressor de ar.
Na figura, a seguir, visualize um exemplo de compressor de ar.

Baloncici (2016)
Figura 8 - Compressor de ar – aletas e ventoinha para refrigerar o cabeçote
Fonte: Thinkstock (2016)

Para Ramalho, Ferraro e Soares (1999), o trabalho realizado no deslocamento do pistão, com pressão
constante, pode ser calculado a partir da equação a seguir.

No SI (Sistema Internacional de Unidades), trabalho é representado pela letra grega “ ” (Tau) e tem
como unidade de medida J (Joule), sendo o resultado da multiplicação da Pressão (P) em N/m² (1 N/m² =
1 Pa) e Volume V em m³.
O trabalho é uma grandeza algébrica e assume, no caso, o sinal da variação de volume: .
Segundo Ramalho, Ferraro e Soares (1999), numa expansão, a variação de volume é positiva e, portanto,
o trabalho realizado é positivo. Como o trabalho representa uma transferência de energia, o gás, ao se
expandir, está perdendo energia, embora esteja também recebendo energia sob a forma de calor da fonte
térmica.
Numa compressão, a variação de volume é negativa e, portanto, o trabalho realizado é negativo. Assim,
quando um gás é comprimido, está recebendo energia do meio exterior.
TERMODINÂMICA
24

Observe, na figura, a seguir, um exemplo de variação de volume.

Ana Cristina de Borba (2016)


P2 J 5 bar
P1 = 5 bar V2 = 1,2 m3
V1 = 0,5 m3

Figura 9 - Variação de volume


Fonte: do autor (2016)

Para exemplificar o trabalho realizado por um gás, veja os cálculos abaixo.


Onde:

Usando a fórmula, tem-se:

Percebe-se, a partir do resultado da equação anterior, que, como o cálculo final do trabalho é positivo,
trata-se de uma expansão.

Na Internet, existem diversas fontes de informação gratuitas para o profissional


de refrigeração, inclusive com a formação de grupos, que lhe permitirão aumentar
SAIBA sua rede de contatos e, por intermédio de fóruns de discussões, melhorar sua
MAIS persuasão. Informações bastante úteis são compartilhadas aos membros do Clube da
Refrigeração no site: www.clubedarefrigeracao.com.br.

Você, futuro profissional de climatização, será desafiado a selecionar equipamentos para diversas
finalidades e aplicar conceitos como trabalho e energia, na busca do equilíbrio ideal e custo-benefício para
atender seus clientes, que precisam ser compreendidos.
Na próxima seção, será abordada a primeira Lei da Termodinâmica.
2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS
25

2.4 PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA

Os estudos das relações entre quantidades de calor trocadas e os trabalhos realizados num processo
físico é base da Termodinâmica, que se baseia em teorias descritas e aprimoradas por cientistas ao longo
da história do desenvolvimento humano.
Todo sistema de climatização é planejado, baseando-se em princípios termodinâmicos. Como fazer a
instalação e a manutenção destes sistemas sem compreender estes princípios ou leis?
Para Ramalho, Ferraro e Soares (1999), num processo termodinâmico sofrido por um gás, há dois tipos
de trocas energéticas com o meio exterior: o calor trocado (Q) e o trabalho realizado ( ).
Para Potter e Scott (2006), a primeira Lei da Termodinâmica é geralmente denominada Lei de Conservação
de Energia, definindo que o calor efetivo transmitido é igual ao trabalho efetivo realizado para um sistema,
perfazendo um ciclo. A figura, a seguir, exibe a transformação isobárica da primeira Lei da Termodinâmica.

τ=3J

ΔU = 17 J
Ana Cristina de Borba (2016)

Q = 20 J

Figura 10 - Transformação isobárica - Primeira Lei da Termodinâmica


Fonte: adaptado de Ramalho, Ferraro e Soares (1999)

No exemplo anterior, percebe-se que o gás recebeu do meio exterior uma quantidade de calor Q =
20 J e realizou sobre o meio exterior um trabalho = 3 J, sua energia interna foi acrescida em .
(U=Energia Interna).
Portanto, segundo Ramalho, Ferraro e Soares (1999), sendo Q a quantidade de calor trocada pelo
sistema, o trabalho realizado e a variação de energia interna do sistema, pode-se escrever:

Sendo esta expressão analítica à Primeira Lei da Termodinâmica: a variação da energia interna de um
sistema é dada pela diferença entre o calor trocado com o meio exterior e o trabalho realizado no processo
termodinâmico.
TERMODINÂMICA
26

Potter e Scott (2006) afirmam que um ciclo acontece quando um sistema realiza dois ou mais processos
e retorna para o estado inicial.
Agora que você estudou a primeira Lei da Termodinâmica, vai reexaminar as transformações de um
gás ideal, levando em conta aquilo que a primeira Lei compreende. Compreenda, na próxima seção, os
processos de isocórico, isobárico, isotérmico e adiabático.

2.5 PROCESSOS ISOCÓRICO, ISOBÁRICO, ISOTÉRMICO E ADIABÁTICO

O processo isocórico é aquele que ocorre a volume constante (RAMALHO; FERRARO; SOARES, 1999). O
trabalho realizado é nulo, pois não há variação de volume:

Sendo m a massa do gás e a variação de temperatura, o calor trocado é dado por:

Onde cv é o calor específico a volume constante do gás.


Ao receber calor isocoricamente, o calor recebido vai apenas aumentar a temperatura, pois não há
realização de trabalho.

Para Ramalho, Ferraro e Soares (1999), numa transformação isocórica, a variação da energia interna do
gás é igual à quantidade de calor trocada com o meio exterior. A figura a seguir exibe um diagrama P x T
em um processo isocórico.
2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS
27

p (N/m2)

2.000

Ana Cristina de Borba (2016)


800

0 200 500 T (K)


Figura 11 - Diagrama P x T em um processo isocórico
Fonte: adaptado de Ramalho, Ferraro e Soares (1999)

A transformação ou processo isobárico é aquele que ocorre à pressão constante.


Para um processo à pressão constante, envolvendo um gás ideal, no qual o calor específico é constante,
Potter e Scott (2006) indicam a equação:

Segundo Ramalho, Ferraro e Soares (1999), no processo isobárico, o volume V é diretamente proporcional
à temperatura T. Sendo assim, numa expansão isobárica, o volume e a temperatura aumentam, ocorrendo
também aumento da energia interna do gás.
Pela primeira lei:
Numa expansão isobárica, a quantidade de calor recebida é maior que o trabalho realizado. Veja, a
seguir, a figura expansão isobárica, onde o gás recebe e realiza trabalho .

d
Ana Cristina de Borba (2016)

Figura 12 - Expansão isobárica.


Fonte: adaptado de Ramalho, Ferraro e Soares (1999)
TERMODINÂMICA
28

Para Ramalho, Ferraro e Soares (1999), a transformação ou processo isotérmico é aquele que acontece
em temperatura constante, e, como a temperatura não varia, a variação de energia interna do gás é nula.

Pela primeira lei:


Numa transformação isotérmica, o calor trocado pelo gás com o exterior é igual ao trabalho realizado
no mesmo processo.
Ramalho, Ferraro e Soares (1999) complementam, afirmando que, no processo isotérmico, não há
variação de temperatura, mas há troca de calor.
Para Ramalho, Ferraro e Soares (1999), o gás sofre uma transformação adiabática quando não troca
calor com o meio exterior:

Além disso, os autores afirmam que, numa transformação adiabática, a variação de energia interna é
igual em módulo (valor) e de sinal contrário ao trabalho realizado na transformação.

Observe, na figura, a seguir, o exemplo com gás perfeito em um cilindro termicamente isolado do
exterior e provido de um êmbolo, aumentando e diminuindo o volume do gás. O gás não pode trocar calor
com o ambiente, mas, havendo variação de volume, pode trocar energia com o ambiente na forma de
trabalho (movimento do embolo).

a) Expansão
Ana Cristina de Borba (2016)

1 2
τ >0 U< 0
P V T
Figura 13 - Expansão adiabática
Fonte: adaptado de Ramalho, Ferraro e Soares (1999)
2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS
29

Para Ramalho, Ferraro e Soares (1999), numa expansão adiabática, o trabalho é realizado pelo gás. O
volume aumenta e a temperatura diminui, pois, a energia interna diminui e, em consequência, a pressão
diminui.
A seguir, visualize a figura compreensão adiabática.

b) Compressão

Ana Cristina de Borba (2016)


2 1
τ <0 U> 0
P V T
Figura 14 - Compressão Adiabática
Fonte: adaptado de Ramalho, Ferraro e Soares (1999)

Na compressão adiabática, o volume diminui e a temperatura aumenta, pois a energia interna aumenta
e a pressão aumenta.

Um exemplo de transformação adiabática de gás está no processo de encher uma


CURIOSI bola de futebol. Aumenta-se a pressão, o volume e a temperatura, mas não há troca
DADES de calor com o meio ambiente, devido à rapidez do processo.

Estudada a primeira Lei da Termodinâmica, prossiga com seus estudos, para conhecer a segunda Lei da
Termodinâmica.

2.6 SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA

Quando se analisa a lógica dos acontecimentos ilustrados pela primeira Lei da Termodinâmica, percebe-
-se que as transformações de energia são iguais e a energia total permanece constante, de acordo com o
princípio da conservação de energia.
Exemplo disso é quando o calor passa espontaneamente de um corpo de maior temperatura para outro
de menor temperatura. No entanto, a passagem contrária é altamente improvável. Por isso, entende-se
que ela não ocorre.
Observe, na figura seguinte, que o calor passa espontaneamente do corpo quente para o corpo frio.
TERMODINÂMICA
30

O calor passa de A para B, mas... ... não passa de B para A.

Ellen Cristina Ferreira (2016)


Calor Calor
A B A B
T A > TB TA > TB

Figura 15 - Troca espontânea de calor


Fonte: adaptado de Ramalho, Ferraro e Soares (1999)

Na natureza, a possibilidade de reversibilidade é remota, onde se considera que é impossível.


Para Ramalho, Ferraro e Soares (1999), o comportamento da natureza é assimétrico, e a lei que rege tal
comportamento é a Segunda Lei da Termodinâmica.
A segunda Lei da Termodinâmica apresenta um caráter estatístico, estabelecendo que os sistemas
evoluem espontaneamente, segundo um sentido preferencial, tendendo para um estado de equilíbrio.
Ramalho, Ferraro e Soares (1999) afirmam que, de acordo com a Segunda Lei da Termodinâmica, nas
transformações naturais, a energia se degrada em forma de energia térmica. Outra definição apresentada
por Ramalho, Ferraro e Soares (1999), atribuída a Kelvin e Planck para a Segunda Lei da Termodinâmica, diz
que é impossível construir uma máquina, operando em ciclos, cujo único efeito seja retirar calor de uma
fonte e convertê-lo integralmente em trabalho.
A seguir, leia o casos e relatos.

CASOS E RELATOS

Queimando Poeira
Juca, técnico de refrigeração, foi chamado até a residência de um casal de idosos. A senhora
reclamava de um cheiro de queimado que exalava da parte de trás de sua geladeira.
Ao fazer uma avaliação externa, observando o conjunto motor-compressor, Juca percebeu que
havia muita poeira sobre o conjunto e a dona da casa confirmou que o cheiro de queimado vinha
dali.
Juca, desligou a geladeira da tomada, pediu alguns panos e procedeu com a limpeza.
Ao perceber que os panos estavam sujos com fuligem, a senhora ficou espantada: “O problema da
minha geladeira era sujeira?”
2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS
31

Juca respondeu que, devido ao calor, a poeira aquecia, gerando cheiro de queimado.
Juca prosseguiu com a análise de temperaturas e da verificação do sistema, conforme manutenção
preventiva padrão da empresa, e em seu relatório recomendou a limpeza periódica dos
componentes aparentes da geladeira.

Agora que você estudou a segunda Lei da Termodinâmica, prossiga com seus estudos conheça os
processos reversíveis.

2.7 PROCESSOS REVERSÍVEIS

Para Potter e Scott (2006), um processo reversível é aquele que pode ser revertido e, quando isso ocorrer,
não causa mudança no sistema e nem na vizinhança.
Para que exista a possibilidade de reversibilidade, algumas condições devem ser respeitadas:
a) não há atrito envolvido no processo;
b) a transmissão de calor ocorre promovida por uma diferença de temperatura infinitesimal6;
c) não ocorre expansão não resistida.
A transformação reversível pode se efetuar em ambos os sentidos, de modo que, na volta, o sistema
retorna ao estado inicial, passando pelos mesmos estados intermediários, sem que ocorram variações
definitivas nos corpos que os rodeiam. A seguir, conheça a irreversibilidade dos processos térmicos reais.

2.8 IRREVERSIBILIDADE DOS PROCESSOS TÉRMICOS REAIS

Para Potter e Scott (2006), o atrito (existente em qualquer tipo de movimento ou fluxo) e o fluxo de calor
promovido por uma diferença de temperatura tornam um processo irreversível.
Todos os processos reais apresentam certo grau de irreversibilidade. Em um ciclo de refrigeração,
percebe-se mudanças nas variáveis de estado do fluido refrigerante ao longo do processo, resultantes do
trabalho. Como enunciado pela segunda Lei da Termodinâmica, é impossível construir uma máquina com
total eficiência.

6 Na matemática, um infinitesimal é um número maior que zero em valor absoluto, mas menor que qualquer número real positivo.
TERMODINÂMICA
32

SAIBA Para saber mais sobre entropia, leia o Livro Refrigeração industrial, de W. F. Stoecker e
MAIS J. M. Saiz Jabardo. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher: c2002.

Você conhece os ciclos de potência? Na próxima seção, este assunto será abordado. Prossiga com seus
estudos.

2.9 CICLOS DE POTÊNCIA

Quando um sistema, no caso da refrigeração, um gás, realiza um ciclo, há transformação de calor em


trabalho. Mas, de acordo com a segunda Lei, não é possível a conversão completa de calor em trabalho.
Potter e Scott (2006) referem-se a um dispositivo operando segundo um ciclo termodinâmico como
uma máquina térmica, um motor, uma bomba de calor ou um refrigerador.
a) Motor térmico: máquina térmica, cuja função é realizar trabalho.
b) Bomba de calor: máquina térmica, cuja função é adicionar calor para um corpo.
c) Refrigerador: máquina térmica, cuja função é retirar calor de um corpo.
d) Reservatórios: sistemas que são capazes de fornecer ou receber calor, sem variação na sua
temperatura.
Para Ramalho, Ferraro e Soares (1999), as máquinas térmicas, como a máquina a vapor, foram inventadas
e funcionavam antes que seu princípio teórico fosse estabelecido.

FIQUE Todos os cálculos em termodinâmica devem ser realizados com base em conceitos
já formulados, para se evitar projetar sistemas de refrigeração e climatização
ALERTA deficientes.

Para que uma máquina térmica consiga converter calor em trabalho de modo contínuo, esta deve
operar em ciclo entre duas fontes térmicas, em que uma deverá ser quente e a outra fria.
2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS
33

A seguir, veja o esquema de uma máquina térmica.

Fonte Quente Q1 T1

Ʈ Trabalho

Ellen Cristina Ferreira (2016)


Fonte Fria Q2 T2

Figura 16 - Esquema de uma máquina térmica


Fonte: adaptado de Ramalho, Ferraro e Soares (1999)

A figura anterior representa esquematicamente uma máquina térmica, sendo: o calor retirado da fonte
quente, o trabalho útil obtido e o calor rejeitado à fonte fria.
Potter e Scott (2006) afirmam que o ciclo ideal de Carnot é usado como um modelo com o qual todos os
ciclos reais e todos os outros ciclos ideais são comparados.

Nicolas Leonard Sadi Carnot (1796-1832), pioneiro do estudo da Termodinâmica, era


CURIOSI filho de Lazare Carnot, ministro de Napoleão Bonaparte. Sua obra só foi reconhecida
DADES após a sua morte prematura (aos 36 anos).

As propriedades termodinâmicas de uma substância são usualmente representadas em diagramas,


que podem ter por ordenada e abscissa, a temperatura e entropia, entalpia e entropia, pressão absoluta
e volume específico ou pressão absoluta e entropia. Essas representações são muito úteis como meio
de apresentar tanto a relação entre as propriedades termodinâmicas como facilitar a visualização dos
processos que ocorrem ao longo das partes do sistema. Observe as figuras seguintes e veja a diferença
entre o ciclo de potência a vapor e o ciclo de refrigeração a vapor. Também são apresentados os diagramas
Temperatura (T) x Entalpia (h), para que você possa identificar o comportamento destas variáveis em cada
uma das etapas do ciclo.
Como auxilio visual para análise do processo do Ciclo de potência a vapor – Ciclo Rankine, visualize, a
seguir, o esquema e diagrama desse ciclo, aplicado como exemplo em usinas termoelétricas.
TERMODINÂMICA
34

Qv 3
Vapor a
alta pressão
T
τT
Caldeira
3 Turbina

Água a
alta pressão 2 4 Vapor a
baixa pressão 2

Ana Cristina de Borba (2016)


1
Bomba 1 4
Condensador
Água a
τB baixa pressão h
Qc a b

Figura 17 - Esquema do Ciclo Rankine – Ciclo de potência a vapor


Fonte: adaptado de Potter e Scott (2006)

Observe que a água entra na bomba (1) como líquido saturado e é comprimida de maneira isentrópica
até a pressão de operação da caldeira. Devido a uma pequena diminuição do volume específico da água,
sua temperatura aumenta levemente durante esse processo de compressão isentrópica.
Forçada por essa compressão, a água penetra na caldeira (2) como um líquido comprimido e sai
como vapor superaquecido em alta pressão (3). A caldeira é um enorme trocador de calor, onde o calor
proveniente dos gases de combustão é transferido para a água essencialmente à pressão constante. Toda
a região onde o vapor é superaquecido, também é chamada de gerador de vapor, incluindo a caldeira.
Esse vapor d’água superaquecido (3) penetra na turbina e se expande de forma isentrópica produzindo
trabalho. No exemplo do esquema anterior, provoca o giro do eixo acoplado a um gerador elétrico.
A pressão e a temperatura do vapor diminuem levemente (4) durante esse processo, até o vapor entrar
no condensador. Nesse estado, o vapor, em geral, é uma mistura de líquido e vapor saturados com uma
temperatura ainda elevada. No condensador (trocador de calor), esse vapor é condensado a uma pressão
constante, rejeitando calor para um meio de resfriamento (lago, rio ou atmosfera). A partir desse momento,
a água sai do condensador como líquido saturado e volta a entrar na bomba completando o ciclo e dando
o reinício a outro ciclo. Para melhor compreensão, a seguir, será apresentado um resumo desse processo
que foi exemplificado nas figuras anteriores.
a) 1 2: Bomba - Compressão isentrópica;
b) 2 3: Caldeira - Fornecimento de calor a pressão constante;
c) 3 4: Turbina – Expansão isentrópica;
d) 4 1: Condensador – Rejeição de calor a pressão constante.
Como auxilio para análise do processo do ciclo de refrigeração a vapor, visualize, na figura, a seguir, o
esquema e diagrama desse ciclo.
2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS
35

Espaço
aquecido T
QA
Condensador
τc
Válvula de Compressor
expansão
Evaporador

Ana Cristina de Borba (2016)


QB
Espaço
h
refrigerado

Figura 18 - Esquema de ciclo de refrigeração a vapor


Fonte: adaptado de Potter e Scott (2006)

O ciclo é realizado por uma série de processos executados sobre e por um fluido de trabalho, chamado
de refrigerante. A geladeira doméstica, por exemplo, e o aparelho de ar-condicionado tipo Split só realizam
a refrigeração ou climatização devido a essa possibilidade do fluido refrigerante executar o ciclo por
compressão de vapor. Em situações ideais, o ciclo é realizado da seguinte forma:
a) 1-2. compressão sem fricção nem transferência de calor;
b) 2-3. rejeições de calor enquanto o fluido mantém uma temperatura constante;
c) 3-4. expansão num motor sem fricção (válvula de expansão) nem transferência a de calor;
d) 4-1. absorções de calor enquanto o fluido refrigerante também mantém uma temperatura constante.
Isso é possível, porque nos processos 1-2 e 3-4 não há fricção. Estes processos são termodinamicamente
reversíveis, se não há transferência de calor; também são processos adiabáticos. E, visto que são
realizados em temperatura constante, são também processos isentrópicos.
Também usando como auxílio para análise do processo do Ciclo de Refrigeração Ideal. Visualize, na
figura, a seguir, o diagrama desse ciclo.

T
Ana Cristina de Borba (2016)

h
Figura 19 - Diagrama T x s - ciclo de refrigeração ideal
Fonte: adaptado de Potter e Scott (2006)
TERMODINÂMICA
36

O ciclo ideal de refrigeração a vapor é semelhante aos ciclos de potência, mas funcionando de modo
reverso. O ciclo inteiro ocorre entre os estados líquido-vapor e é composto por dois processos isobáricos,
e também isotérmicos, intercalados por dois adiabáticos. No ciclo real, ocorrem os seguintes desvios em
relação ao ideal:
a) compressão, com expoente politrópico variável entre os estados 1 e 2;
b) troca de calor, com condensação e perda de pressão entre 2 e 3;
c) expansão, com aumento de entalpia entre 3 e 4;
d) troca de calor, com perda de pressão e superaquecimento entre 4 e 1.
A diferença mais importante do ciclo real em relação ao ideal é na compressão, porque, na prática, a
expansão na válvula pode ser considerada efetivamente isoentálpica e as perdas de pressão no evaporador
e condensador podem ser desprezadas.
É mantido como auxílio para análise do processo do Ciclo de refrigeração a gás. Observe, a seguir, o
esquema e o diagrama desse ciclo.

Trocador T
Qq
de calor

Qq

τc p = constante
Turbina Compressor

Ana Cristina de Borba (2016)


Trocador
de calor
p = constante
Qf
h
Qf

Figura 20 - Ciclo de refrigeração a gás e Diagrama T x h de refrigeração a gás


Fonte: adaptado de Potter e Scott (2006)

É um processo idêntico ao ciclo por compressão a vapor, ou seja, o gás entra em um compressor e pela
compressão sai à alta pressão e temperatura. Depois é resfriado até a temperatura do ambiente, passa
para uma turbina onde é expandido (mas não muda de fase) e finalmente é direcionado para o espaço
refrigerado, retira calor do espaço e depois volta ao início do ciclo. É um ciclo menos eficiente que o de
vapor. Por isso, é pouco usado em refrigeração, mas utilizado nos aviões comerciais na pressurização da
área interna. E também para aplicações criogênicas e liquefação de gases.
Agora que você visualizou os diagramas e cada uma das etapas do ciclo, prossiga com seus estudos e
conheça o Ciclo de Carnot.
2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS
37

2.10 CICLO DE CARNOT

Em um sistema termodinâmico representado por um ciclo de refrigeração, por exemplo, muita energia
é desperdiçada, ou seja, existe uma perda de eficiência.
O engenheiro francês Nicolas Carnot (1796-1832) demonstrou, por meio de uma máquina térmica
teórica, que não seria possível obter um rendimento perfeito, 100%, estabelecendo em um ciclo de
rendimento máximo, que mais tarde passou a ser chamado de Ciclo de Carnot.
Potter e Scott (2006) definem como Máquina de Carnot uma máquina ideal que utiliza processos
reversíveis em seu ciclo de operações. O conceito-chave de que a máquina de Carnot estabelece é o limite
máximo possível de eficiência para qualquer motor real.
Para Potter e Scott (2006), o Ciclo de Carnot é comporto de quatro processos reversíveis:
a) 1 2: expansão isotérmica. O calor é fornecido ao fluido de maneira reversível por um reservatório
de alta temperatura a uma temperatura constante (Tq). O pistão no cilindro é movido e o volume
aumenta.
b) 2 3: expansão adiabática reversível. O cilindro é completamente isolado, de modo que nenhuma
transmissão de calor ocorra durante esse processo reversível. O pistão continua a ser movido com o
volume aumentando.
c) 3 4: compressão isotérmica. O calor é rejeitado pelo fluido de maneira reversível para um reser-
vatório de temperatura baixa a uma temperatura constante (Tf ). O pistão comprime o fluido em
questão com diminuição de volume.
d) 4 1: compressão adiabática reversível. O cilindro é completamente isolado, não permitindo nenhu-
ma transmissão de calor durante esse processo reversível. O pistão continua a comprimir o fluido até
que este atinja o volume, a temperatura e a pressão originais, completando, assim, o ciclo.
Visualize, na figura que segue, a máquina de Carnot.

τ2-3
τ1-2 τ3-4
τ4-1
Ellen Cristina Ferreira (2016)

Qq Qf

Tq Isolante Tf Isolante

1 2 2 3 3 4 4 1
Figura 21 - Máquina de Carnot
Fonte: adaptado de Potter e Scott (2006)
TERMODINÂMICA
38

Observe, na figura, a seguir, o diagrama P x V Ciclo de Carnot.

P (Pressão)

T = constante

Q=0

Ana Cristina de Borba (2016)


Q=0

T = constante

V (Volume)
Figura 22 - Diagrama P x V Ciclo de Carnot
Fonte: adaptado de Potter e Scott (2006)

Para Ramalho, Ferraro e Soares (1999), Carnot demonstrou que, nesse ciclo, as quantidades de calor
trocadas com as fontes quente e fria são proporcionais às respectivas temperaturas absolutas das fontes.
Acompanhe a fórmula a seguir.

O rendimento ( ) de uma máquina térmica que realiza o ciclo de Carnot pode ser expresso por:

A temperatura deve ser expressa em kelvin ( ), por exemplo.


Certa máquina térmica ideal funciona realizando o ciclo de Carnot. Em cada ciclo o trabalho útil fornecido
pela máquina é de 1000 J. Sendo as temperaturas das fontes térmicas 127°C e 27°C, respectivamente,
determine:
2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS
39

a) o rendimento da máquina referida;

b) a quantidade de calor retirada da fonte quente;

c) a quantidade de calor rejeitada para a fonte fria.

Visto o ciclo de Carnot, leia a seguir, o recapitulando, para relembrar alguns assuntos abordados neste
capítulo.
TERMODINÂMICA
40

RECAPITULANDO

Neste capítulo, você teve a oportunidade de reconhecer os conceitos fundamentais da


termodinâmica, identificando os aspectos relacionados à primeira e à segunda Lei da
Termodinâmica, bem como contextualizar os ciclos de potência associados à refrigeração.
Também estudou as transformações gasosas, fundamentais para compreender os processos
de refrigeração, que foram demonstradas por meio de suas equações, que lhe permitirão o
desenvolvimento de cálculos de sistemas de climatização.
Você acabou de conhecer alguns conceitos, a partir de exemplos e teorias, que serão fundamentais
para a compreensão de processos de refrigeração e climatização. Sem o bom reconhecimento dos
conceitos fundamentais da termodinâmica, é difícil compreender o papel de cada componente em
um sistema de refrigeração.
Ciclos de Refrigeração no Diagrama
Pressão X Entalpia

Com os estudos do conteúdo deste capítulo, você terá habilitação técnica para analisar dados
em forma de gráficos e diagramas. Observe que a representação gráfica do ciclo de refrigeração
permite visualizar, de forma simultânea, todas as várias mudanças previstas na condição do
fluido refrigerante durante o processamento do ciclo de refrigeração e climatização.
Você conhece os ciclos de refrigeração? As análises dos ciclos de refrigeração são
importantes para instalação, manutenção e elaboração de projetos de sistemas de refrigeração
e climatização. Os ciclos termodinâmicos de fluidos refrigerantes em equipamentos frigoríficos
por compressão de vapor são representados por diagramas P x h (pressão-entalpia) e diagrama
T x s (temperatura-entropia).
Ao concluir os estudos desta etapa, você poderá:
a) traçar o diagrama pressão x entalpia e diagrama temperatura – entropia dos sistemas de
climatização e refrigeração;
b) identificar os seus principais pontos no gráfico pressão x entalpia e no diagrama T x s, dos
sistemas de refrigeração e climatização;
c) relacionar os ciclos teórico e real do sistema de refrigeração;
d) definir o coeficiente de performance de um ciclo de refrigeração.
A partir de agora, você terá a oportunidade de conhecer diversos temos sobre os ciclos de
refrigeração no diagrama Pressão x Entalpia, que farão diferenças em suas práticas.
Bons estudos!
TERMODINÂMICA
44

3.1 IDENTIFICAÇÃO DE PONTOS NO DIAGRAMA P X H

Para Stoecker e Saiz Jabardo (2002), o diagrama pressão-entalpia é o mais utilizado na correlação
das propriedades termodinâmicas dos refrigerantes. Nesse diagrama, são incluídas as linhas isotérmicas
(temperatura constante), isoentrópicas (entropia1 constante) e isocóricas (volume específico constante).
Veja, a seguir, a figura de um diagrama simplificado – ciclo refrigeração.

Linha de
B
Descarga

Condensador
Linha de Lado de Baixa
Líquido Pressão

Compressor
A
Lado de Alta
Pressão Evaporador
D

Ana Cristina de Borba (2016)


C

Dispositivo de
Expansão

Figura 23 - Diagrama simplificado – ciclo refrigeração


Fonte: adaptado de Gaspodini (2013)

Silva (2003) afirma que a aplicação do diagrama P x h mostra-se conveniente, devido ao fato de trabalhar,
na maioria das vezes, com fluidos que se condensam e vaporizam isobaricamente.
Silva (2003) também afirma que a aplicação do diagrama P x h mostra-se conveniente, devido ao fato de
trabalhar, na maioria das vezes, com fluidos que se condensam e vaporizam isobaricamente. Veja, a seguir,
as figuras do diagrama de pressão x entalpia e representação esquemática da condição de saturação.

1 É a medida da desordem das partículas em um sistema físico. É uma grandeza utilizada para mensurar a quantidade de energia
que não pode ser mais transformada em trabalho em transformações termodinâmicas.
3 CICLOS DE REFRIGERAÇÃO NO DIAGRAMA PRESSÃO X ENTALPIA
45

Vapor Estado crítico

Líquido

Pressão [kPa]
Líquido subresfriado

Vapor saturado

superaquecido
Vapor
Líquido saturado

Ana Cristina de Borba (2016)


Entalpia [kJ/kg]
a)Representação b) As fases no diagrama Pressão x Entalpia
esquemática da
condição de
saturação
Figura 24 - Fases no diagrama Pressão x Entalpia
Fonte: adaptado de Stoecker e Saiz Jabardo (2002)

As distintas fases do refrigerante no diagrama são caracterizadas por estados situados em regiões
separadas pela linha de saturação.
a) 1ª região de líquido sub-resfriado, à esquerda.
b) 2ª região de vapor úmido (saturado), no envelope.
c) 3ª região de vapor superaquecido, à direita.

FIQUE Cada fluido refrigerante apresenta o seu diagrama Pressão x Entalpia. Muitos destes
são encontrados nos manuais de fabricantes dos sistemas ou obtidos com os
ALERTA fornecedores dos fluidos refrigerantes.

É importante constatar também que no diagrama existem regiões em que a pressão e a temperatura
são constantes (no meio da curva), sendo estas as regiões de mudança de fase.

CURIOSI Os diagramas Pressão x Entalpia só fornecem informações detalhadas da região de


vapor superaquecido. A região de saturação pode ser normalmente coberta por
DADES tabelas, mais precisas que os diagramas.
TERMODINÂMICA
46

A seguir, conheça as linhas da entalpia, entropia (s), temperatura, pressão e volume específico.

LINHAS DE ENTALPIA

São destacadas no diagrama verticalmente. Normalmente apresentadas com valores em unidade de


medida [kJ/kg].
Para Stoecker e Saiz Jabardo (2002), a entalpia é denominada em alguns casos de “conteúdo de calor”,
um nome inadequado sob o ponto de vista termodinâmico. Para Potter e Scott (2006), entalpia é definida
como uma combinação de propriedades. A entalpia é uma propriedade termodinâmica definida pela
relação:

U = energia interna (kJ/kg)


P = pressão (kPa)
v = volume específico (m³/kg)

ENTROPIA (S)

As linhas isoentrópicas na região de vapor superaquecido se estendem no sentido ascendente, com


leve inclinação para a direita.
As linhas isoentrópicas possuem uma aplicação importante na análise de desempenho de ciclos
frigoríficos, em que a compressão admitida ideal consiste de um processo adiabático e reversível, e,
portanto, isoentrópico. Observe, na figura seguinte, as linhas isoentrópicas no diagrama Pressão x Entalpia.

S1 S2 S3 S4 S5
Pressão [kPa]

Ana Cristina de Borba (2016)

S5 > S4 > ... > S1

Entalpia [kJ/kg]
Figura 25 - Linhas isoentrópicas no diagrama Pressão x Entalpia
Fonte: adaptado de Stoecker e Saiz Jabardo (2002)
3 CICLOS DE REFRIGERAÇÃO NO DIAGRAMA PRESSÃO X ENTALPIA
47

TEMPERATURA

As linhas isotérmicas, na região de saturação, são paralelas ao eixo de entalpias, indicando que a
temperatura permanece constante durante a mudança de fase. Na maioria dos diagramas, são mostradas
somente na região de vapor superaquecido, uma vez que nas demais regiões seu valor é conhecido.
Observe, na figura que segue, as linhas isotérmicas no diagrama Pressão x Entalpia.

T1 > T2
Pressão [kPa]

T1
T2

Ana Cristina de Borba (2016)


Entalpia [kJ/kg]
Figura 26 - Linhas isotérmicas no diagrama Pressão x Entalpia
Fonte: adaptado de Stoecker e Saiz Jabardo (2002)

PRESSÃO

A escolha da pressão e entalpia para coordenadas do diagrama tem alguma razão de ser. Se, por
um lado, a pressão é uma das propriedades que caracteriza a operação de um circuito frigorífico, além
de ser facilmente medida, a entalpia é a propriedade que normalmente aparece nos cálculos térmicos
relacionados ao circuito. A pressão é normalmente apresentada em kPa.

VOLUME ESPECÍFICO

As linhas isocóricas (volume específico constante), na região de vapor superaquecido, estendem-se para
a direita no sentido ascendente. A medida que caminha para a direita, o fluido assume o comportamento
de gás perfeito.
TERMODINÂMICA
48

Observe, a seguir, as linhas isocóricas no diagrama Pressão x Entalpia.

Pressão [kPa]

V1

V2

Ana Cristina de Borba (2016)


V2 > V1

Entalpia [kJ/kg]
Figura 27 - Linhas isocóricas no diagrama Pressão x Entalpia
Fonte: adaptado de Stoecker e Saiz Jabardo (2002)

Leia, a seguir, o casos e relatos.

CASOS E RELATOS

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Suzana é uma profissional da área de climatização com vasta experiência. Atualmente é a
responsável pela operação e manutenção da central de climatização de um grande shopping.
Sempre foi uma profissional dedicada, buscando constante atualização e aprimoramento de seus
conhecimentos. Tornando-se referência, foi inclusive convidada para realizar palestras sobre o
assunto.
Após retornar de uma viagem, o diretor do shopping sugeriu que todo o sistema de refrigeração
fosse adaptado para um fluido refrigerante mais eficiente e menos agressivo ao meio ambiente.
Convocou Suzana para fazer a análise da viabilidade, que deveria ser apresentada em forma de
relatório.
Prontamente, Suzana avaliou o diagrama Pressão x Entalpia de seu sistema, confrontando as
informações com aquelas repassadas pelo fornecedor do novo fluido refrigerante. Percebeu, assim,
que seriam necessárias várias adequações físicas, inclusive com a substituição de compressores.
3 CICLOS DE REFRIGERAÇÃO NO DIAGRAMA PRESSÃO X ENTALPIA
49

Suzana mobilizou colegas e fornecedores, definiu e apresentou a situação ideal, e em menos de


uma semana tinha em suas mãos as informações que precisava para a elaboração do relatório,
contemplando estimativa de custos da mudança e tempo necessário para realização da atividade.
Dessa forma, pôde orientar o cliente sobre quais providências deveriam ser tomadas para a
modernização do sistema de climatização. Viu que seu conhecimento sobre termodinâmico foi de
grande utilidade, para chegar ao sistema com o fluido ecologicamente mais correto.

Nos próximos estudos, você conhecerá a maneira de buscar o melhor desempenho de um sistema de
refrigeração e climatização conhecendo o COP2 do ciclo de refrigeração.

COP (COEFICIENTE DE PERFORMANCE) DO CICLO DE REFRIGERAÇÃO

A eficiência de ciclos é normalmente definida como a relação entre a energia útil, que é o objetivo do
ciclo, e a energia que deve ser paga para obtenção do efeito desejado.
Para Ramalho, Ferraro e Soares (1999), o rendimento de uma máquina térmica pode ser expresso por:

Assim como a eficiência de uma máquina frigorífica:

Já os pesquisadores Stoecker e Saiz Jabardo (2002) definem eficiência, denominada de COP, pela
fórmula:

2 É uma definição com as iniciais em inglês para: Coefficient of Performance (coeficiente de performance, ou de desempenho)..
TERMODINÂMICA
50

Agora que já conheceu as linhas da entalpia, entropia(s), temperatura, pressão e volume específico e
COP, estude, na sequência, o ciclo teórico do sistema de refrigeração.

3.2 CICLO TEÓRICO DO SISTEMA DE REFRIGERAÇÃO

No diagrama esquemático, é possível notar que o calor está sendo transportado de uma região de baixa
temperatura para uma de alta temperatura mediante a adição de trabalho. Na figura seguinte, observe o
ciclo ideal no diagrama P x h.

Ana Cristina de Borba (2016)


Figura 28 - Diagrama P x h do ciclo de refrigeração e ciclo de refrigeração
Fonte: adaptado de Ramalho, Ferraro e Soares (1999)

A capacidade frigorífica (Q0) é a quantidade de calor, por unidade de tempo, retirada do ambiente ou
produto que se quer resfriar, que se dá por intermédio do evaporador do sistema frigorífico. Levando-se em
conta que o sistema opera em regime permanente, despreza-se as variações de energia cinética e potencial,
pela primeira Lei da Termodinâmica. A quantidade de calor por unidade de massa de refrigerante retirada
no evaporador é denominada de Efeito Frigorífico (EF) e é um dos parâmetros utilizados na definição do
fluido frigorífico que será empregado em um determinado sistema de refrigeração a ser instalado. Este
processo está demonstrado na figura evaporação no ciclo esquemático e diagrama P x h.
3 CICLOS DE REFRIGERAÇÃO NO DIAGRAMA PRESSÃO X ENTALPIA
51

P C

3 Tc 2
Pc

Evaporador
mf mf
4 1
Po

Ana Cristina de Borba (2016)


Qq 4 To 1
Volume de
Produto Controle

h4 h1 h
Figura 29 - Evaporação no ciclo esquemático e no diagrama P x h
Fonte: adaptado de Dossat (2004)

À quantidade de energia por unidade de tempo, que é obrigatória a ser fornecida ao refrigerante no
compressor, para se obter a elevação de pressão necessária ao ciclo teórico, chama-se de potência teórica
de compressão.
Para esse ciclo, o processo de compressão é adiabático reversível (isentrópico). No sistema de refrigeração
real, o compressor perde calor para o meio ambiente, entretanto, este calor é mínimo, quando analisado
com a energia necessária para se ter o processo de compressão. Este processo você pode identificar a
seguir, na figura compressão no ciclo esquemático e no diagrama P x h.

P C

mf
3 Tc 2
2 Pc

mf
1
Po
4 To 1
Ana Cristina de Borba (2016)

Compressor τc

Volume de h1 h2 h
Controle
Figura 30 - Compressão no ciclo esquemático e no diagrama P x h
Fonte: adaptado de Dossat (2004)
TERMODINÂMICA
52

Como você já estudou, a função do condensador é transferir calor do fluido frigorífico para o meio de
resfriamento do condensador, seja água ou ar. Este fluxo de calor pode ser determinado a partir de um
balanço de energia do volume de controle, considerando-se o regime permanente.
Portanto, o tipo de condensador a ser escolhido para o sistema de refrigeração terá de ser capaz de
rejeitar a taxa de calor calculada, que dependerá da carga térmica do sistema, assim como da potência
de acionamento do compressor. Este processo pode ser identificado na figura condensação no ciclo
esquemático e diagrama P x h.

P C

Meio Externo
3 Tc 2
Qc Pc

3 2
Condensador
mf mf

Po

Ana Cristina de Borba (2016)


4 To 1

Volume de
Controle
h3 h2 h
Figura 31 - Condensação no ciclo esquemático e no diagrama P x h
Fonte: adaptado de Dossat (2004)

Nos dispositivos de expansão, que podem ser de vários tipos e modelos, o processo teórico é adiabático.
Em que, ao se aplicar em regime permanente a primeira Lei da Termodinâmica e se desprezando as
variações de energia cinética e potencial, tem-se que h3 = h4, como você pode observar nos diagramas a
seguir na figura expansão no ciclo esquemático e no diagrama P x h.

P C

mf 3 Tc 2
3 Dispositivo Pc
de Expansão
Ana Cristina de Borba (2016)

Po
4 1
4 Volume de To
mf Controle

h3 = h4 h
Figura 32 - Expansão no ciclo esquemático e no diagrama P x h
Fonte: adaptado de Dossat (2004)
3 CICLOS DE REFRIGERAÇÃO NO DIAGRAMA PRESSÃO X ENTALPIA
53

Agora que você conheceu os ciclos teóricos do sistema de refrigeração, leia o saiba mais, para
complementar o seu estudo.

SAIBA Para compreender melhor estes ciclos e conhecer os principais componentes do


MAIS sistema de refrigeração, suas funções e características, acesse: http://goo.gl/7rP7xq.

A seguir, relembre os conceitos estudados neste capítulo.

RECAPITULANDO

Neste capítulo, você estudou os diagramas e esquemas muito aplicados no cenário da climatização
e refrigeração. Agora você já tem condições de compreender melhor estes diagramas. A correta
compreensão e aplicação dos conhecimentos adquiridos, fará toda a diferença ao traçar diagramas
Pressão x Entalpia e também na identificação de pontos no diagrama e no circuito.
A relação dos ciclos teórico e real de refrigeração vão ajudar você na seleção de equipamentos
na instalação de sistemas e também no diagnóstico para manutenção inteligente em sistemas de
refrigeração e climatização.
O entendimento do ciclo teórico de um sistema permite que você torne o sistema real cada vez
melhor, ou seja, próximo de uma condição ideal.
Assim, sinta-se apto a definir o COP (coeficiente de performance) de sistemas de refrigeração e
climatização, possibilitando a melhoria da eficiência energética, atuando de maneira mais assertiva,
além de deixar seu cliente mais satisfeito.
Transferência de Calor

Compreender a mecânica da mudança de temperatura de fluidos e objetos é fundamental


para que o Técnico em Refrigeração tenha êxito no desenvolvimento de suas atividades, seja
ao diagnosticar um problema ou na elaboração e revisão de projetos de climatização. Você já
ouviu falar em transferência de calor?
Calor é a transferência de energia por meio da fronteira de um sistema em decorrência de
uma diferença de temperatura. Segundo Holman (1983), a transferência de calor é a ciência
que trata de prever a troca de energia que pode haver entre corpos materiais.
Este capítulo vai preparar você para:
a) identificar as formas de transmissão de calor;
b) avaliar a troca de calor entre componente e o meio utilizado;
c) avaliar o isolamento térmico em componentes de sistemas de climatização.
Agora, prossiga com seus estudos, para conhecer diversos temas sobre o tema transferência
de calor.
Bons estudos!
TERMODINÂMICA
56

4.1 MECANISMOS DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR

Potter e Scott (2006) reconhecem que calor e trabalho são energeticamente equivalentes e expressos
em unidades de energia. A transmissão de calor positiva adiciona energia a um sistema e o trabalho positivo
subtrai energia de um sistema.
A transferência de calor acontece quando duas substâncias apresentam temperaturas diferentes. O
calor sempre flui do mais quente para o mais frio. A transferência de calor é rápida quando a diferença
de temperatura é alta. Durante a transferência, a diferença de temperatura é gradualmente reduzida, e a
velocidade da transferência também, encerrando quando as temperaturas são equalizadas. Em geral, está
interessado na taxa de transmissão de calor (J/s = W) ou no fluxo de calor (W/m²).
Teoricamente, a transferência de calor pode ocorrer isoladamente por condução, convecção ou
radiação. No entanto, praticamente, as três formas citadas ocorrem simultaneamente, ficando a critério
do interessado o estudo da possibilidade de serem desprezadas uma ou duas das formas, em função do
problema analisado.

CASOS E RELATOS

Entrando numa fria


Bruno é o responsável pelo controle do sistema de refrigeração em uma indústria de pescados. Ele
foi chamado para verificar o relato de alguns colaboradores do setor de armazenamento: “A câmara
fria não está gelando corretamente!”.
No final do expediente, Bruno tinha a intenção de fazer uma verificação rápida do problema e
repassá-lo para sua equipe do turno seguinte, mas algo deu errado!
Para agilizar o diagnóstico, Bruno foi sozinho até a câmara de estocagem de congelados. Enquanto
ele olhava para o alto, analisando o funcionamento de um evaporador (resfriador de teto), não
percebeu o gelo acumulado no piso e escorregou, torcendo seu tornozelo!
Bruno não tomou as precauções devidas, tinha deixado seu rádio de comunicação no armário, não
se vestiu adequadamente e não observou outros aspectos de segurança. Teve de ficar ali, por 30
minutos, passando frio, até ser socorrido.
As normas de segurança devem ser respeitadas. Para ambientes frios, recomenda-se a análise da
NR15 e da NR36.
4 TRANSFERÊNCIA DE CALOR
57

A seguir, leia o saiba mais, para aprimorar seus conhecimentos.

Para saber mais quanto à refrigeração e climatização em equipamentos relacionados


SAIBA ao setor leiteiro (industrialização, transporte e ordenha do leite), leia: Tetra Pak
MAIS Processing Systems AB. Dairy processing handbook. – Lund – Sweden: Ed. Gösta
Bylund, 1995.

Na próxima seção, você estudará a condução.

4.2 CONDUÇÃO

Para Braga Filho (2004), a transferência de calor por condução, ou condução de calor, é o processo de
troca de energia entre sistemas, ou partes de um mesmo sistema em diferentes temperaturas, que ocorre
pela interação molecular, na qual moléculas de alto nível energético transferem energia a outras de menor
nível energético, gerando uma onda térmica, cuja velocidade de propagação dependa da natureza da
matéria.
A lei básica da transferência de calor por condução é, segundo Braga Filho (2004), baseada nas
observações experimentais de Fourier1. Essa lei afirma que o calor trocado por condução em certa direção
é proporcional à área normal, à direção e ao gradiente de temperaturas na tal direção.
Introduzindo uma constante positiva, chamada Condutividade Térmica, que é uma propriedade
termodinâmica, pode-se escrever:

Onde:
- Taxa de transmissão de calor (J/s = W);
k - Condutividade térmica (W/m.°C);
A - Área (m²);
T - Temperatura;
x - Distância (m).

1 Jean Baptiste Joseph Fourier (1768 - 1830) foi um matemático francês conhecido principalmente pela sua contribuição à análise
matemática do fluxo de calor. Formulou a lei que rege a condução térmica, também conhecida como lei de Fourier.
TERMODINÂMICA
58

A transferência de calor por condução se dá por intermédio da interação entre moléculas adjacentes
de um material e é diretamente proporcional ao potencial da força motriz (que para o caso é a diferença
de temperatura) e inversamente proporcional à resistência do sistema, que, por sua vez, é dependente da
natureza e da geometria do mesmo.
Portanto, transferência de calor por condução ocorre no interior de sólidos, de partícula para partícula.
Cada material apresentará um coeficiente k diferente, é uma propriedade do material, podendo variar
por diversos fatores. O valor k de alguns materiais é facilmente encontrado com os fornecedores do
respectivo material. A seguir, observe um exemplo de transferência de calor por condução.

Barra de metal A extremidade da barra

Ana Cristina de Borba (2016)


fria torna-se quente

Fonte de calor

Figura 33 - Transferência de calor por condução


Fonte: adaptado de Gaspodini (2013)

Na próxima seção, será abordada a convecção.

4.3 CONVECÇÃO

Braga Filho (2004) define a transferência de calor por convecção como sendo o mecanismo de troca de
calor envolvendo contato térmico entre um fluido em movimento relativo e uma superfície.
O movimento do fluido pode ser criado artificialmente, sendo esta a convecção forçada. Ou, se o
escoamento for devido apenas às forças de empuxo2 resultantes das diferenças de massa específica
causadas pela diferença de temperatura, tem-se a convecção natural.
Para Braga Filho (2004), independentemente se a convecção for forçada ou natural, o calor trocado por
convecção é descrito pela lei de resfriamento de Newton:

2 Representa a força resultante exercida pelo fluido sobre um corpo. Como tem sentido oposto à força peso, causa o efeito de
leveza, como um corpo dentro de uma piscina.
4 TRANSFERÊNCIA DE CALOR
59

Onde:
H: coeficiente de troca de calor por convecção [W/m²K];
A: área superficial, ou de contato, entre a superfície e o fluido [m²];
Conforme Braga Filho (2004), o coeficiente de troca de calor por convecção h define uma relação de
proporcionalidade entre o fluxo de calor e a área superficial de troca de calor e a diferença de temperaturas.
Depende, assim, de alguns fatores:
a) natureza do fluido;
b) velocidade relativa do escoamento do fluido;
c) geometria da superfície de contato;
d) acabamento superficial.
Potter e Scott (2006) alertam que o coeficiente de transmissão de calor por convecção não é uma
propriedade do fluido. Observe a tabela a seguir.

SITUAÇÃO FÍSICA H (kW/m².K)


Convecção natural, ar 0,006 – 0,035
Convecção forçada, ar 0,028 – 0,851
Convecção natural, água 0,170 – 1,14
Convecção forçada, água 0,570 – 22,7
Água em ebulição 5,70 – 85
Vapor em condensação 57 - 170
Tabela 1 - Valores de referência – coeficiente de troca de calor por convecção
Fonte: adaptado de Stoecker e Saiz Jabardo (2002)

Os valores para o coeficiente de convecção h normalmente são apresentados em tabelas, pois são
obtidos experimentalmente, ou a partir de cálculos de engenharia (correlação de convecção).
Quando é aquecida, uma porção de um fluido (gás ou líquido) expande, tornando-se menos denso
que o restante. Com isso, a parte ainda fria e mais densa tende a descer, deslocando a porção aquecida
para cima. Com isso, estabelecem-se no fluido correntes denominadas correntes de convecção, que se
encarregam de transportar o calor de um ponto a outro do fluido.
Na refrigeração de um ambiente, o esquema ideal e que produz o máximo de correntes de convecção,
deve prever a entrada do ar frio na parte superior, pois o ar frio (mais denso) desce e o ar quente (menos
denso) sobe.
TERMODINÂMICA
60

A seguir, observe um exemplo de convecção natural.

Ar frio

Ana Cristina de Borba (2016)


Ar quente

Figura 34 - Convecção natural


Fonte: adaptado de Dossat (2004)

Na sequência, leia o destaque curiosidades.

Em trocadores de calor a placas (PHE), a aplicação de placas corrugadas e a elevação


da velocidade no fluxo têm como objetivo elevar o coeficiente de troca térmica por
CURIOSI convecção. A maior parte da comercialização de trocadores de calor à placas está
DADES associada a um sistema que contemple o controle da vazão dos fluidos que trocarão
calor. Por exemplo, os sistemas para água gelada, chamados Chillers.

A seguir, conheça a radiação.

4.4 RADIAÇÃO

Para Weston (2006), a radiação é a energia emitida pela matéria que se encontra a uma temperatura
finita. A energia do campo de radiação é transportada por ondas eletromagnéticas. Enquanto que as
transferências de calor por condução e por convecção necessitam de um meio material, a radiação não
necessita. Na verdade, a transferência de calor por radiação ocorre de forma mais eficiente no vazio (vácuo).
Segundo Braga Filho (2004), o termo radiação é aplicado a muitos processos que envolvem a
transferência de energia por ondas eletromagnéticas. Radiação térmica é definida como a radiação
eletromagnética emitida por um corpo como resultado de sua temperatura. Os aspectos fundamentais
que diferem a transferência de calor por radiação das outras formas é a não necessidade de um meio físico,
e que a transferência de energia é proporcional à quarta potência das temperaturas absolutas dos corpos
envolvidos.
4 TRANSFERÊNCIA DE CALOR
61

Potter e Scott (2006) definem radiação como a transferência de energia por fótons3. A taxa de radiação
emitida por unidade de área de uma superfície é chamada de potência emissiva com unidades em W/
m². Para qualquer temperatura dada, há um valor máximo para a quantidade de radiação que pode ser
emitida. A superfície capaz de emitir este máximo é chamada de corpo negro.
Todo corpo que possua uma temperatura superior ao zero absoluto (0 K), segundo Weston (2006), emite
radiação eletromagnética, o que se chama de radiação térmica.
A seguir, observe, na figura, a propagação do calor do filamento até o vidro da lâmpada, no vácuo, que
representa a transferência de calor por radiação.

Augustcindy (2016)

Figura 35 - Transferência de calor por radiação


Fonte: Thinkstock (2016)

Você sabe diferenciar as fontes de calor internas e externas? Na próxima seção, este assunto será
abordado.

4.5 FONTES DE CALOR: INTERNAS, EXTERNAS

Ao analisar um sistema de climatização, o técnico deve observar aspectos internos e externos ao


ambiente que será climatizado. Caso esteja considerando um ambiente que deve permanecer a baixas
temperaturas, por exemplo, fontes de calor devem ser mensuradas4.
Estas fontes de calor podem ser as mais diversas, desde o sol que bate em uma das paredes, até o
transformador elétrico de uma impressora. Para cálculos e dimensionamentos, você deve ficar atento a
todo tipo de energia térmica que entra ou sai do ambiente em questão.
A análise das fontes de calor na climatização é análoga ao conceito de volume de controle. Para Potter
e Scott (2006), volume de controle é um volume no espaço para o qual ou do qual uma substância escoa.

3 Albert Einstein propôs que a luz é feita de entidades discretas, ou seja, separadas e distintas entre si, com uma energia
proporcional à frequência da onda luminosa: são os fótons.
4 Determinar a medida, calcular. É o mesmo que medir. Mensurável é aquilo que pode ser medido. A determinação da medida tem
como base uma referência de medição padrão, por exemplo, o metro, hectare, psi, bar etc.
TERMODINÂMICA
62

Para Weston (2006), a taxa de entrada de energia, somada à taxa de geração de energia, menos a taxa
de saída de energia de um volume de controle, deve ser igual à taxa de acumulação de energia dentro do
volume de controle. Observe, a seguir, o balanço de energia em um sistema fechado.

Ana Cristina de Borba (2016)


Eg
Volume de E
Ein controle Eout

Figura 36 - Balanço de energia em um sistema fechado


Fonte: adaptado de Weston (2006)

Onde:
Ein : Taxa de entrada de energia (condução, convecção e radiação);
Eout: Taxa de saída de energia (condução, convecção e radiação);
Eg: Taxa de geração, ou consumo de energia;
E : Taxa de acumulação de energia.

Weston (2006) apresenta a síntese de metodologia para análise de situações problema em transferência
de calor, o que é conhecido depois de ler ou estabelecer cuidadosamente a situação problema, de análise
ou projeto, além de mencionar o que se conhece da situação.
a) O que é desconhecido: mencionar claramente o que é necessário para resolver a situação problema.
b) Esquema: desenhar, esboçar um esquema da situação problema.
c) Suposições e considerações: nomear todas aquelas suposições e considerações que simplificam o
tratamento do problema.
d) Propriedades: coletar todas as propriedades físicas e reconhecer sua fonte.
e) Análise: incorporar ao esquema todas as variáveis relevantes da situação problema, identificando as
conhecidas e as incógnitas. Localizar os mecanismos de transferência de calor relevantes. Identificar
o volume e superfície de controle. Coletar os balanços de energia e as equações correspondentes.
Desenvolver as equações o máximo possível, antes de introduzir os valores numéricos. Desenvolver
os cálculos, para obter as incógnitas.
f ) Discussão: explicar claramente as limitações e benefícios de qualidade da solução encontrada.
Possíveis simplificações adicionais ou eliminação de aproximações usadas devem ser discutidas.
Evoluir o grau de confiabilidade da solução. Análise da sensibilidade do sistema, para definir as
variáveis e propriedades que mais interferem na solução.
4 TRANSFERÊNCIA DE CALOR
63

Em sistemas de climatização e refrigeração, o objetivo é promover a troca de energia térmica entre


ambientes ou produtos, porém, em outros, é necessário interromper, ou reduzir a transferência de calor
(energia térmica). Desta maneira, busca-se o isolamento térmico para tornar os sistemas mais eficientes.
A próxima seção aborda o isolamento térmico5 em tubos e paredes.

4.6 ISOLAMENTO TÉRMICO EM TUBOS E PAREDES

Em todo sistema de controle de temperatura de um ambiente, ou de um duto de fluido, existe a


preocupação para manutenção de sua temperatura, melhorando sua eficiência.
A adoção de materiais isolantes para revestir paredes e tubos é pré-requisito para um sistema eficiente.
A seguir, acompanhe as condições de isolamento estabelecidas por Dossat (2004).

CONDIÇÃO ISOLAMENTO PERDA ADMISSÍVEL (W/m²)


Excelente 9,3
Bom 11,63
Aceitável 13,96
Quadro 2 - Condição de isolamento
Fonte: adaptado de Dossat (2004)

Existem diferentes materiais ou configurações que permitem a redução brusca da taxa de transferência
de calor entre o fluido refrigerante no interior de um tubo e o ar ambiente. A prática mais comum é a
adoção de matérias como o poliuretano6 expandido.
Não existe isolamento ideal, porém se busca o equilíbrio econômico da instalação por meio do
dimensionamento da espessura do isolamento e a seleção do material.
Potter e Scott (2006) apresentam a equação para tubos e tanques cilíndricos, as resistências térmicas (R)
por condução:

A seguir, você estudará a avaliação da troca de calor.

5 Propriedade dos materiais em dificultar a transferência de calor.


6 Poliuretano (sigla PU) é um polímero que compreende uma cadeia de unidades orgânicas unidas por ligações uretânicas. É
amplamente usado em espumas rígidas e flexíveis, em elastómeros (Borrachas) duráveis e em adesivos de alto desempenho, em
selantes, em fibras, vedações, tapetes, peças de plástico rígido e tintas.
TERMODINÂMICA
64

4.7 AVALIAÇÃO DA TROCA DE CALOR

Você poderá utilizar destas equações e análises para avaliação de sistemas existentes e no
desenvolvimento de novos projetos. Utilizando-se de variáveis de temperatura e vazão, e conhecendo as
propriedades dos fluidos envolvidos, é possível o cálculo da situação ideal, e confrontar com a realidade.

FIQUE Em algumas situações, os três processos ocorrem ao mesmo tempo. Para realizar
cálculos de troca de calor em situações como essas, normalmente se utiliza uma
ALERTA grandeza chamada Coeficiente Global de Transferência de Calor (u).

Braga Filho (2004) expõe que o coeficiente global de troca de calor é definido pelo inverso da resistência
equivalente do circuito térmico:

Segundo Potter e Scott (2006), por analogia à resistência elétrica em um circuito, pode-se definir
resistências ao fluxo de calor por condução ou convecção, expressa em (m².K/W).

Exemplo:
Caso seja necessário calcular as trocas envolvendo os dois lados de uma parede composta de 3 materiais
e que separa o ambiente interno (T=20°C), do lado externo (T=32°C).
A área de contato é de 30m²;
Material 1 – Reboco (k = 1,15 W/m.K) – 2cm;
Material 2 – Tijolo (k = 1,32 W/m.K) – 20cm;
Material 3 – Isolamento de Poliestireno (k = 0,025 W.m.K) – 5cm;
Adota-se: Coeficiente de Convecção Externo u = 25 W/m².K;
Adota-se: Coeficiente de Convecção Interno u = 7 W/m².K.
4 TRANSFERÊNCIA DE CALOR
65

A seguir, visualize, na figura, a transferência de calor numa parede de tijolos.

Área superficial (As)

Calor trocado
entre lado externo
e interno
Tar interno

Ellen Cristina Ferreira (2016)


Reboco (kr)
Isolante (ki)
Espessura (lr) Tijolo Espessura (li)
Maciço (Kt)
Espessura (lt)
Figura 37 - Transferência de calor
Fonte: adaptado de Silva (2003)

Pode-se fazer a analogia do sistema com um circuito elétrico em série. Observe, a seguir, a Representação
de Circuito – Cálculo transferência de calor.

Tar externo Tar interno

Ana Cristina de Borba (2016)


1 Lr Lt Li 1
hexterno Kr Kt Ki hinterno
Figura 38 - Representação de circuito – cálculo transferência de calor
Fonte: adaptado de Silva (2003)

Assim, define-se o coeficiente global de troca térmica do sistema u:


TERMODINÂMICA
66

Agora, pode-se calcular:

Assim, percebe-se que a quantidade de energia que está sendo transferida pela parede corresponde a
153W.
Agora que você estudou a avaliação da troca de calor, leia o recapitulando, para relembrar os assuntos
abordados neste capítulo.

RECAPITULANDO

Neste capítulo, você estudou os três mecanismos de transferência de calor, permitindo com que
faça a melhor análise de sistemas de climatização e refrigeração possível, identificando cada uma
das formas de transmissão.
A identificação das formas de transmissão de calor irá lhe permitir analisar os sistemas de refrigeração
e climatização com perdas energéticas reduzidas, selecionando materiais e equipamentos de
maneira mais coerente.
Conheceu também que pode ser avaliada a troca de calor entre dois fluidos, ou entre um fluido
e um objeto, possibilitando a análise e posterior tratamento em caso de resultado diferente do
esperado. Algumas informações são necessárias para a correta avaliação, por isso, valores de
referência para água e ar foram apresentados.
A partir dos conceitos estudados neste capítulo, você está apto a selecionar e avaliar, por meio de
cálculos, o isolamento em sistemas de climatização e refrigeração.
Trocadores de Calor

Você conhece os trocadores de calor? Alguns equipamentos em um sistema de refrigeração


tem a função de promover a transferência de energia entre o fluido refrigerante e o ambiente.
Estes são os trocadores de calor.
Do circuito básico, pode-se assumir que Evaporador e Condensador são trocadores de calor.
Portanto, é fundamental que você, Técnico em Refrigeração e Climatização, compreenda o
funcionamento e saiba selecionar o trocador de calor perfeito para seu sistema.
Ao final deste capítulo, você terá subsídios para:
a) identificar e calcular trocadores de calor;
b) realizar o cálculo de diferença média logarítmica de temperatura nos trocadores de calor.
Neste capítulo, também serão abordados alguns aspectos importantes na construção da
sua vida profissional, como autorresponsabilidade e empreendedorismo, a construção da
missão pessoal, os valores do empreendedor: persistência e comprometimento, persuasão
e rede de contatos, a independência e a autoconfiança e a cooperação como ferramenta de
desenvolvimento.
Bons estudos!
TERMODINÂMICA
70

5.1 DEFINIÇÃO

Para Potter e Scott (2006), o trocador de calor é um equipamento importante que tem muitas aplicações.
Os trocadores de calor são utilizados para transmitir energia de um corpo mais quente para um mais frio.
Braga Filho (2004) define trocador de calor como um equipamento com função de transferir energia
térmica entre sistemas ou entre partes de um sistema. Os trocadores podem ser dos seguintes tipos: de
troca direta de energia térmica e de troca indireta de energia térmica. Acompanhe.

TROCA DIRETA DE ENERGIA TÉRMICA

Possuem dois fluidos que entram em contato direto, propiciando que o fluido de maior temperatura
(fluido quente (fq)) ceda calor ao fluido de menor temperatura (fluido frio (ff )). Normalmente, em
comparação aos trocadores de calor de contato indireto, geram taxas de transferência de calor mais
elevadas. Sua construção é mais barata que os de contato indireto. Possuem uma aplicação somente em
sistemas onde o contato direto entre os fluidos seja possível. Como exemplo mais comum, há as torres de
resfriamento. A seguir, observe um trocador de calor de contato direto1.

Tff: saída

Tfq: entrada

Tff: entrada
Tfq: saída
Ana Cristina de Borba (2016)

Figura 39 - Trocador de calor de contato direto


Fonte: adaptado de Gaspodini (2013)

1 Os fluidos se misturam.
5 TROCADOR DE CALOR
71

TROCA INDIRETA DE ENERGIA TÉRMICA

Nestes trocadores, há um transito de calor (energia térmica) contínuo do fluido quente (fq) para o fluido
frio (ff ), por uma parede que evita qualquer contato entre ambos. Sem a mistura (troca de massa) entre os
fluidos participantes, já que cada corrente transita por locais separados. Pode-se citar como exemplos os
trocadores de calor de placa, tubulares (duplo tubo, casco e serpentina e casco e tubos). A seguir, observe
um trocador de calor de contato indireto2.

Tgases saída

Tlíquido saída

Tlíquido entrada Andressa Vieira (2016)

Tgases entrada

Figura 40 - Trocador de calor de contato indireto


Fonte: adaptado de Gaspodini (2013)

Potter e Scott (2006) afirmam que muitos trocadores de calor utilizam condutos de fluxo pelos quais um
fluido entra e sai do equipamento sofrendo variação de temperatura. As quedas de velocidade e pressão
na passagem são ignoradas na transmissão de calor, e a variação de energia potencial é assumida como
zero.
Assumindo que nenhum trabalho ocorre no trocador de calor, a equação da energia resulta em:

2 Os fluidos permanecem separados.


TERMODINÂMICA
72

Onde:
- Vazão mássica do fluido (kg/h);
h - Entalpia do fluido na saída do trocador de calor;
h - Entalpia do fluido na entrada do trocador de calor;
Existem diversos tipos de trocadores de calor. Holman (1983) descreve alguns deles. Acompanhe.

TROCADORES TUBULARES

São geralmente construídos com tubos circulares, existindo uma variação de acordo com o fabricante.
São usados para aplicações de transferência de calor líquido/líquido (uma ou duas fases). Trabalham de
maneira ótima em aplicações de transferência de calor gás/gás, principalmente quando pressões e/ou
temperaturas operacionais são muito altas, em que nenhum outro tipo de trocador pode operar. Estes
trocadores podem ser classificados como carcaça e tubo, tubo duplo e de espiral (serpentina).

TROCADORES DE CARCAÇA E TUBO (CASCO E TUBO – SHELL AND TUBE)

Este trocador é construído com tubos e uma carcaça. Um dos fluidos passa por dentro dos tubos e o
outro pelo espaço entre a carcaça e os tubos.
Existe uma variedade de construções diferentes destes trocadores, dependendo da transferência de
calor desejada, do desempenho, da queda de pressão e dos métodos usados para reduzir tensões térmicas,
prevenir vazamentos, facilidade de limpeza, para conter pressões operacionais e temperaturas altas,
controlar corrosão etc.
Trocadores de carcaça e tubo são os mais usados para quaisquer capacidades e condições operacionais,
tais como pressões e temperaturas altas, atmosferas altamente corrosivas, fluidos muito viscosos, misturas
de multicomponentes etc. Estes são trocadores muito versáteis, feitos de uma variedade de materiais e
tamanhos e são extensivamente usados em processos industriais. A seguir, observe como funciona um
trocador de calor de casco e tubo - contato indireto.
5 TROCADOR DE CALOR
73

T gases saída Carcaça

Tlíquido entrada

Ellen Cristina Ferreira (2016)


Tgases entrada

Tubo
Tlíquido saída
Figura 41 - Trocador de calor de casco e tubo - contato indireto
Fonte: adaptado de Gaspodini (2013)

TROCADOR DE CALOR DE DUPLO TUBO

Este sistema consiste em dois tubos, sendo um de maior e o outro de menor diâmetro. Estes tubos são
montados um dentro do outro, sendo que no de menor bitola (diâmetro) circula o fluido refrigerante e o
de maior bitola circula a água para resfriamento. O fluido refrigerante circula pelo tubo em contra fluxo da
água, ou seja, o fluido vai em um sentido e a água em outro. Este tipo de trocador é aplicado em sistemas
de pequena e média capacidade, pelo fato de ser difícil a sua manutenção e limpeza. Também pode ser
utilizado, como condensador auxiliar em sistemas de condensação a ar, de modo a abaixar a temperatura
do fluido refrigerante em dias muito quentes ou quando o sistema opera a plena carga.

TROCADOR DE CALOR CARCAÇA E SERPENTINA (SHELL AND COIL)

Neste tipo de trocador de calor, o fluido frigorífico escoa por dentro do tubo, que é dobrado em forma
de serpentina, e o líquido circula por fora do mesmo. Devido as dificuldades de limpeza da serpentina,
bem como ao baixo coeficiente global de transferência de calor, não é muito utilizado, restringindo-se
a instalações com refrigerantes halogenados de pequena capacidade ou a resfriadores intermediários
fechados nos sistemas de duplo estágio.
TERMODINÂMICA
74

TROCADOR DE CALOR DE PLACAS

Este tipo de trocador de calor em placas é constituído de uma montagem de placas múltiplas com
espessuras muito finas, geralmente em material de aço inox com espessura em média de 5 mm, e um
afastamento entre placas de 1,5 a 3 mm, valores que alternam conforme o projeto, interligadas por curvas
de tubo soldadas às placas. Pode ser também de placas rebaixadas ou com ranhuras e soldadas entre si, de
modo que as ranhuras formem uma trajetória determinada ao fluxo do refrigerante. Seu funcionamento
é considerado muito eficiente (2500 a 4500 W/m² °C), motivando sua maior utilização nos sistemas de
climatização. O processo de funcionamento consiste na troca térmica entre a água de resfriamento e
o fluido a ser condensado que circulam em contato com as placas em espaços alternados, permitindo
troca de temperatura entre os mesmos. A manutenção é realizada, desmontando as placas para limpeza
e inspeção. Geralmente, este trocador não pode suportar pressões muito altas, comparado ao trocador
tubular equivalente. A seguir, acompanhe a ilustração de um trocador de calor a placas - contato indireto.

Tf s
Tq e

Andressa Vieira (2016)

Tq s
Tf e
Figura 42 - Trocador de calor a placas - contato indireto
Fonte: adaptado de Gaspodini (2013)

Agora que você conheceu os diferentes tipos de trocadores de calor, leia, a seguir, a curiosidade.
5 TROCADOR DE CALOR
75

A crescente tecnologia aplicada a sistemas de fabricação mecânica tem reflexo


direto nos trocadores de calor, que a cada dia são mais eficientes, suportam
CURIOSI pressões mais elevadas, são mais leves etc.
DADES O único fator que a tecnologia ainda não consegue melhorar é a manutenção. A
falta dela gera perda de eficiência e pode causar grandes acidentes com vazamentos
de fluido refrigerante.

Na próxima seção, você estudará o fluxo3 de calor.

5.2 FLUXO DE CALOR

Nas figuras esquemáticas dos trocadores de calor, as quais representam um fluido A quente, cede calor
por convenção a uma das superfícies dos tubos do trocador. Logo, esse fluxo de calor (energia térmica) é
passado por condução para a outra superfície dos tubos, posteriormente, é transferido por convecção ao
fluido B frio. Pode-se identificar que esse processo é realizado por toda extensão dos tubos do trocador, ou
seja, por toda sua área. É um processo em que a temperatura normalmente não é constante, logo a taxa de
transferência vai variando ao longo dos tubos, já que ela depende da diferença e da temperatura dos dois
fluidos envolvidos – fluido A e B.
Portando, ao estudar os mecanismos de transferência de calor (energia térmica) em trocadores, sejam
de serpentina água gelada, evaporadores ou condensadores, é preciso usar a diferença de temperatura
logarítmica, que você verá em seguida. As variações de temperatura podem ser consideradas de fluxos
contracorrente e a favor da corrente, conforme exemplificado nas figuras seguintes.

Esquema 1

Temp.

TAE TBS
Fluido B
Fluido A
∆Te
TAS
TAE TAS
TBS
Fluido B ∆Ts Fluido A Fluido A
Ana Cristina de Borba (2016)

TBE Trocador de calor


(contracorrente)

Área Fluido B
Ao Ar TBE
Figura 43 - Trocador de calor operando em contracorrente (Esquema 1)
Fonte: adaptado de Eletrobras (2005)

3 Ato ou efeito de fluir, dar vazão, destino, encaminhar. Curso, corrente, vazão, descarga.
TERMODINÂMICA
76

Esquema 2

Temp.
TAE TBE
Fluido B
Fluido A
∆Te
TAS
∆Ts TAE TAS
TBS
Fluido A Fluido A

Ana Cristina de Borba (2016)


TBE Trocador de calor
Fluido B (correntes paralelas)

Área Fluido B
Ao Ar TBS
Figura 44 - Trocador de calor operando com correntes paralelas (Esquema 2)
Fonte: adaptado de Eletrobras (2005)

Para que exista transferência de calor, é fundamental que exista diferença de


FIQUE temperatura. Quanto maior a diferença de temperatura entre um fluido e outro,
ALERTA maior a taxa de transferência de calor.

A seguir, será abordado o coeficiente global de transferência de calor.

5.3 COEFICIENTE GLOBAL DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR

Para Braga Filho (2004), a troca de calor pode ser representada por:

Onde a taxa de transmissão de calor é obtida por intermédio do coeficiente global de troca térmica, a
área de troca de calor é a temperatura média logarítmica entre os fluidos envolvidos.
5 TROCADOR DE CALOR
77

O valor da temperatura média logarítmica pode ser obtido a partir da aplicação da fórmula:

É uma etapa essencial, porém a mais imprecisa de qualquer análise de trocadores de calor. Este
coeficiente é definido em função da resistência térmica total à transferência de calor entre dois fluidos.

CASOS E RELATOS

E agora, vazou!
João Pedro, técnico de climatização, foi convocado para consertar um pequeno vazamento de
fluido refrigerante em um evaporador (ar-amônia), que foi instalado a 3 semanas em um mercado
de médio porte da sua cidade.
Ao identificar o evaporador, João Pedro, experiente, logo percebeu que o vazamento foi causado,
porque a pressão do sistema é maior do que aquela para a qual o evaporador foi projetado.
Imediatamente, João Pedro isolou o evaporador e procedeu com o preenchimento de uma
Ordem de Serviço que contemplava atividades de toda a equipe e um comunicado para o setor
de aquisições, com a finalidade identificar se a falha na aquisição e instalação do evaporador era
responsabilidade interna ou de terceiros.
O fornecedor, admitindo o erro, procedeu com a substituição do evaporador que foi aplicado de
maneira incorreta.
Problema resolvido! Mas, o trabalho para esvaziar o sistema e o prejuízo em ficar com uma câmara
de estocagem inútil é imensurável. A empresa proprietária do sistema percebeu a importância
de contratar pessoas habilitadas e com os conhecimentos necessários para ter um equipamento
corretamente dimensionado.

A seguir, conheça a seleção e cálculos do coeficiente de troca térmica para projetar o sistema de
refrigeração e climatização.
TERMODINÂMICA
78

5.4 SELEÇÃO E CÁLCULOS

A partir das equações apresentadas anteriormente, você pode perceber a importância do cálculo do
coeficiente de troca térmica para projetar o sistema de refrigeração e climatização corretamente.
É com o coeficiente de troca térmica que você fará a seleção do trocador de calor de maior eficiência,
buscando, junto aos fabricantes, aquele que atende às necessidades de refrigeração e climatização do seu
cliente.

As empresas que produzem trocadores de calor fornecem as variáveis de cálculo para


SAIBA seleção dos sistemas de refrigeração e climatização. Para conhecer alguns fabricantes
MAIS e distribuidores, faça pesquisas em sites dos fabricantes, como: <http://www.
transcalor.com.br/>.

A próxima seção aborda o perfil do profissional de refrigeração e climatização.

5.5 PROFISSIONAL DE REFRIGERAÇÃO E CLIMATIZAÇÃO

A vida profissional de técnico, ou profissional qualificado nas áreas de refrigeração e climatização, pode
ser trilhada de diversas maneiras, mas, sem dúvida, os principais destinos destes profissionais são dois:
empreender e ter seu próprio negócio, ou trilhar uma carreira como colaborador de alguma empresa de
prestação de serviços.
Para ambas as situações, torna-se importante ter-se bom poder de persuasão, ou seja, a capacidade de
passar a outras pessoas que você é um profissional com o perfil adequado para desempenhar as funções
com competência e ética. Uma boa rede de clientes anteriores também pode auxiliar na divulgação dos
trabalhos realizados dentro desta ótica de competência e ética profissional.
Mas, não basta ter uma boa rede de clientes, é necessário interagir com colegas de profissão e/ou de
empresa, pois se deve utilizar a cooperação como ferramenta de desenvolvimento pessoal e profissional.
Talvez esta é a construção da missão pessoal do refrigerista: tornar seu setor cada vez melhor.
O técnico que busca sucesso, atuando como empregado, deve buscar o equilíbrio entre dois fatores:
independência e autoconfiança. Também buscar apresentar ideias e soluções dos problemas de maneira
pontual, demostrando aos seus clientes ou colegas de trabalho confiança em sua capacidade profissional.
Como profissional autônomo, ou empreendedor, você deve ter como foco um comportamento pautado
na ética, sendo consciente que o cliente deposita confiança tanto na pessoa como na sua capacidade
técnica para a solução do problema que hora é apresentado.
A seguir, leia o recapitulando, para relembrar alguns assuntos estudados neste capítulo.
5 TROCADOR DE CALOR
79

RECAPITULANDO

Você estudou, neste capítulo, que os trocadores de calor podem assumir as mais diversas
características construtivas, todas associadas ao regime de trabalho o qual estará submetido,
atendendo a requisitos de pressão, temperatura, viscosidade do fluido e fluxo de calor necessário.
Este capítulo lhe permitiu identificar os trocadores de calor, podendo inclusive calcular a eficiência
de cada um deles, sendo que, para isso, ficou clara a necessidade de se realizar o cálculo da diferença
média logarítmica de temperatura entre os fluidos no trocador de calor.
Também desenvolveu alguns aspectos aplicáveis em sua carreira profissional, como
empreendedorismo, comprometimento, persuasão e cooperação podem atuar como ferramentas
no seu desenvolvimento profissional.
REFERÊNCIAS

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DOSSAT, Roy J. Princípios de refrigeração: teoria, prática, exemplos, problemas, soluções. São
Paulo: Hemus, 2004.
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industrial e comercial. Rio de Janeiro: Eletrobras, 2005. Disponível em: <http://goo.gl/8OV56n>.
Acesso em: 14 mar. 2016.
FOGAÇA, Jennifer Rocha Vargas. Transformação isocórica. 2016. Brasil Escola. Disponível em:
<http://zip.net/bls4ZL>. Acesso em: 29 out. 2015.
______. Exercícios sobre transformação isobárica. Brasil Escola. 2016. Disponível em: <http://zip.
net/bbs5nY>. Acesso em: 29 out. 2015.
GASPODINI, Uórani. Curso de refrigeração industrial: operador de sala de máquinas. Balneário
Camboriú: SENAI/SC, 2013.
HOLMAN, Jack Philip. Transferência de calor. São Paulo: McGraw-Hill, 1983.
IENO, Gilberto; NEGRO, Luiz. Termodinâmica. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004.
POTTER, Merle C.; SCOTT, Elaine P. Termodinâmica. São Paulo: Thomson Learning, 2006.
RAMALHO Júnior, Francisco; FERRARO, Nicolau Gilberto; SOARES, Paulo Antônio de Toledo. Os
fundamentos da física. 7. ed. São Paulo: Moderna, 1999.
SILVA, Jesué Graciliano da. Introdução à tecnologia da refrigeração e da climatização. São Paulo:
Editora ArtLiber, 2003.
STOECKER, W. F.; J. M. SAIZ JABARDO. Refrigeração industrial. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher:
c2002.
TOFFOLI. Leopoldo. Transformação isobárica. 2016. Disponível em: <http://zip.net/bqs6wt>.
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______. Transformação isotérmica. 2016. Disponível em: <http://zip.net/bks5Bc>. Acesso em: 29
out. 2015.
WESTON, Claudio Gelmi. Fundamentos de operaciones unitarias: Serie de Classes em Ingenería
Química. Santiago: Pontifícia Universidad Catolica Chile, 2006.
MINICURRÍCULO DO AUTOR

FELIPPE CESA
É engenheiro de produção mecânica pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (2011), técnico
em mecânica pelo SENAI/SC (2006) e especialista em gerenciamento de projetos pelo SENAC/SC
(2014). Colaborador do SENAI/SC desde 2011, coordenando cursos e atuando como docente em
diversas áreas, merecendo destaque o Curso Técnico em Mecânica e treinamentos de segurança
para operadores de sistemas de refrigeração industrial. Também atua como profissional autônomo
de engenharia, desenvolvedor de projetos mecânicos, térmicos e de fluidos, de eficiência energética
e inspetor de vasos de pressão. Conta com experiência nas áreas de manutenção e operação de
sistemas de refrigeração industrial.
ÍNDICE

A
Adiabático 26, 35, 36, 46, 51, 52, 85

C
Calor 35, 36, 37, 39, 46, 50, 51, 52, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62,63, 64, 65, 66, 69, 70, 71, 72, 73, 74,
75, 76, 77, 78, 79
Ciclo de refrigeração 15, 31, 33, 34, 35, 36, 37, 43, 49, 50
Coeficiente de Performance (COP) 43, 49, 53
Compressor 23, 30, 35, 36, 44, 48, 51, 52
Condensador 34, 35, 36, 44, 52, 69, 73, 75
Condução 56, 57, 58, 60, 62, 63, 64, 75
Convecção 56, 58, 59, 60, 62, 64, 75

D
Diagrama 18, 19, 26, 27, 33, 34, 35, 36, 38, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53

E
Energia 11, 12, 15, 16, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 37, 44, 46, 49, 50, 51, 52, 55, 56, 57,
60, 61, 62, 63, 69, 70, 71, 75
Entalpia 11, 33, 36, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 53, 72
Entropia 32, 33, 43, 44, 46, 50
Evaporador 35, 36, 44, 50, 51, 56, 69, 75, 77

P
Potência 11, 15, 21, 32, 33, 34, 40, 50, 51, 52, 58, 60, 61, 71
Pressão 9, 11, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 25, 27, 29, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 43,44, 45, 46, 47,
48, 49, 50, 51, 53, 71, 72, 77, 78

R
Radiação 56, 60, 61, 62

T
Transferência de Calor 12, 35, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 70, 72, 73, 75, 76, 77
Trocador de Calor 34, 36, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 78, 79

V
Válvula de expansão 35
SENAI – DEPARTAMENTO NACIONAL
UNIDADE DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA – UNIEP

Felipe Esteves Morgado


Gerente Executivo

Luiz Eduardo Leão


Gerente de Tecnologias Educacionais

Fabíola de Luca Coimbra Bomtempo


Coordenação Geral do Desenvolvimento dos Livros Didáticos

Catarina Gama Catão


Apoio Técnico

SENAI – DEPARTAMENTO REGIONAL DE SANTA CATARINA

Mauricio Cappra Pauletti


Diretor técnico

Selma Kovalski
Coordenação do Desenvolvimento dos Livros Didáticos

Felippe Cesa
Elaboração

Adair Teixeira
Revisão Técnica

Daiani Machado
Morgana Machado Tezza
Coordenação do Projeto

Denilza Pereira dos Santos


Design Educacional

Airton Júlio Reiter


Revisão Ortográfica e Gramatical

Ana Cristina de Borba


Andressa Vieira
Ellen Cristina Ferreira
Ilustrações e Tratamento de Imagens

Thinkstock
Banco de imagens

Joaquim Venâncio Lourenço Ribeiro


Paulo Djalma de Souza
Robson Ventura de Oliveira
Wertson da Silva Resende
Comitê Ténico de Avaliação
Ana Cristina de Borba
Diagramação

Airton Julio Reiter


Normalização

Patricia Correa Ciciliano


CRB – 14.1230
Ficha Catalográfica

i-Comunicação
Projeto Gráfico

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