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SÉRIE METALMECÂNICA - MECÂNICA
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© 2015. SENAI – Departamento Nacional
A reprodução total ou parcial desta publicação por quaisquer meios, seja eletrônico,
mecânico, fotocópia, de gravação ou outros, somente será permitida com prévia autorização,
por escrito, do SENAI.
Esta publicação foi elaborada pela equipe da Gerência de Educação e Tecnologia do SENAI
de Santa Catarina, com a coordenação do SENAI Departamento Nacional, para ser utilizada
por todos os Departamentos Regionais do SENAI nos cursos presenciais e a distância.
FICHA CATALOGRÁFICA
FICHA CATALOGRÁFICA
S491f
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. Departamento Nacional
Fundamentos elétricos / Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.
Departamento Nacional, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.
Departamento Regional de Santa Catarina. - Brasília : SENAI/DN, 2015.
171 p. : il. ; 30 cm. - (Série metalmecânica. Mecânica)
SENAI Sede
Serviço Nacional de Setor Bancário Norte • Quadra 1 • Bloco C • Edifício Roberto
Aprendizagem Industrial Simonsen • 70040-903 • Brasília – DF • Tel.: (0xx61) 3317-9001
Departamento Nacional Fax: (0xx61) 3317-9190 • http://www.senai.br
Lista de ilustrações
Figura 1 - Estrutura atômica..........................................................................................................................................20
Figura 2 - Corrente elétrica............................................................................................................................................23
Figura 3 - Gráficos de corrente contínua..................................................................................................................24
Figura 4 - Gráficos de corrente alternada.................................................................................................................25
Figura 5 - Resistência do condutor.............................................................................................................................26
Figura 6 - Resistor elétrico..............................................................................................................................................28
Figura 7 - Cores no resistor elétrico............................................................................................................................29
Figura 8 - Potênciometro................................................................................................................................................30
Figura 9 - Exemplo de circuito......................................................................................................................................34
Figura 10 - Análise nó b..................................................................................................................................................35
Figura 11 - Exemplo do método das malhas...........................................................................................................36
Figura 12 - Exemplo associação série........................................................................................................................38
Figura 13 - Exemplo associação série 1.....................................................................................................................38
Figura 14 - Exemplo associação paralelo..................................................................................................................40
Figura 15 - Exemplo associação paralelo 1..............................................................................................................42
Figura 16 - Exemplo associação mista.......................................................................................................................43
Figura 17 - Exemplo associação mista 1...................................................................................................................44
Figura 18 - Exemplo associação mista 2...................................................................................................................44
Figura 19 - Exemplo associação mista 3...................................................................................................................45
Figura 20 - Redesenhando circuito misto................................................................................................................46
Figura 21 - Circuito misto 1 redesenhado................................................................................................................46
Figura 22 - Imã: dipolo magnético..............................................................................................................................47
Figura 23 - Comparação entre campos magnéticos............................................................................................49
Figura 24 - Simbologia do Relé....................................................................................................................................50
Figura 25 - Relé..................................................................................................................................................................50
Figura 26 - Esquemático do transformador.............................................................................................................51
Figura 27 - Comparação de condutores................................................................................................................62
Figura 28 - Trifólio...........................................................................................................................................................73
Figura 29 - Características do eletroduto...............................................................................................................74
Figura 30 - Comparação eletrocalha e eletroduto..............................................................................................75
Figura 31 - Equipamento analógico e digital..........................................................................................................84
Figura 32 - Escala analógica..........................................................................................................................................86
Figura 33 - Escala digital.................................................................................................................................................86
Figura 34 - Precisão x Exatidão.....................................................................................................................................87
Figura 35 - Posição dos instrumentos de medição...............................................................................................88
Figura 36 - Classe de isolação dos equipamentos de medição........................................................................89
Figura 37 - Ligação do voltímetro...............................................................................................................................90
Figura 38 - Ligação do amperímetro........................................................................................................................90
Figura 39 - Alicate amperímetro..................................................................................................................................93
Figura 40 - Medição de resistência elétrica............................................................................................................94
Figura 41 - Multímetro....................................................................................................................................................95
Figura 42 - Pintura rupestre...........................................................................................................................................99
Figura 43 - Planta baixa residencial........................................................................................................................ 100
Figura 44 - Desenho artístico e desenho técnico.............................................................................................. 101
Figura 45 - Desenho projetivo e desenho não projetivo................................................................................ 102
Figura 46 - Planta baixa............................................................................................................................................... 103
Figura 47 - Escala gráfica............................................................................................................................................. 104
Figura 48 - Exemplo de planta baixa...................................................................................................................... 108
Figura 49 - Exemplo de projeto elétrico............................................................................................................... 108
Figura 50 - Exemplo de projeto elétrico 1............................................................................................................ 109
Figura 51 - Exemplo de projeto elétrico com identificação dos circuitos................................................. 110
Figura 52 - Diagrama unifilar..................................................................................................................................... 111
Figura 53 - Diagrama multifilar................................................................................................................................. 112
Figura 54 - Margens da folha de desenho............................................................................................................. 114
Figura 55 - Marcações da folha de desenho......................................................................................................... 114
Figura 56 - Dobras da folha A0.................................................................................................................................. 116
Figura 57 - Dobras da folha A1.................................................................................................................................. 117
Figura 58 - Dobras da folha A2.................................................................................................................................. 117
Figura 59 - Dobras da folha A3.................................................................................................................................. 118
Figura 60 - Exemplo de caracteres........................................................................................................................... 119
Figura 61 - Sistematização de informações.......................................................................................................... 125
Figura 62 - Exemplo de diagrama............................................................................................................................ 127
Figura 63 - Segurança do trabalho.......................................................................................................................... 136
Figura 64 - Forno na indústria................................................................................................................................... 138
Figura 65 - Agentes químicos................................................................................................................................... 139
Figura 66 - Agentes biológicos................................................................................................................................. 140
Figura 67 - Agentes ergonômicos............................................................................................................................ 141
Figura 68 - Acidente de trabalho.............................................................................................................................. 147
Figura 69 - Capacete..................................................................................................................................................... 149
Figura 70 - Protetor facia............................................................................................................................................. 150
Figura 71 - Óculos de proteção................................................................................................................................. 151
Figura 72 - Protetor tipo concha e plugue de inserção.................................................................................... 152
Figura 73 - Sapato de segurança.............................................................................................................................. 153
Tabela 1 - Resistividade....................................................................................................................................................26
Tabela 2 - Cores dos resistores.......................................................................................................................................28
Tabela 3 - Capacidade de condução de corrente...................................................................................................66
Tabela 4 - Exemplo de valores de queda de tensão...............................................................................................67
Tabela 5 - Fator de demanda..........................................................................................................................................70
Tabela 6 - Exemplo de tabela...................................................................................................................................... 130
Tabela 7 - Classificação das luvas isolantes............................................................................................................ 152
Tabela 8 - Tempo x chances de reanimação.......................................................................................................... 154
Sumário
1 Introdução.........................................................................................................................................................................15
Referências......................................................................................................................................................................... 173
Índice................................................................................................................................................................................... 179
Introdução
Seja bem-vindo. Neste livro, constituído por nove capítulos você terá a oportunidade de
estudar os conteúdos relacionados aos fundamentos elétricos, especificamente a eletricidade
aplicada a eletrotécnica.
Os conteúdos aqui tratados têm por objetivo favorecer, através dos fundamentos técnicos
e científicos e das capacidades sociais, organizativas e metodológicas aplicáveis à eletrome-
cânica, a construção de uma base consistente que possibilite o pleno desenvolvimento das
competências profissionais adequadas a quem atua nesta área.
No segundo capítulo serão apresentados os principais conceitos sobre tensão, corrente e
resistência elétrica. Também vamos entender o que são circuitos elétricos e como determinar
as grandezas elétricas para os componentes de um circuito. Além disso, conheceremos os fun-
damentos do magnetismo e do eletromagnetismo apresentando, por exemplo, o funciona-
mento do transformador elétrico e como acontece seu funcionamento.
No terceiro capítulo serão abordadas as definições dos materiais, equipamentos e ferramen-
tas aplicados às áreas que envolvem a eletricidade. Neste tópico, vamos ver alguns dispositivos
elétricos e seus processos de instalação e manutenção. É nesse capítulo que vamos entender
como é feito o dimensionamento de condutores elétricos para instalações prediais de baixa
tensão, através dos métodos previstos em norma, e perceber a influência dos métodos de ins-
talação na corrente suportada nos condutores.
Os instrumentos de medição serão apresentados no quarto capítulo. Estes equipamentos
são muito importantes para os profissionais executarem suas atividades de maneira correta e
segura. Vamos conhecer quais são os principais instrumentos utilizados, as grandezas para as
quais foram desenvolvidos e suas características. Também estudaremos os processos de medi-
ção e seus métodos de execução, como também serão apresentados os resultados relativos às
condições da medição.
No quinto capítulo, estudaremos os principais fundamentos do desenho técnico. Sabemos
que o desenho é utilizado há muito tempo para repassar informações que, por outros méto-
dos, seriam difíceis de serem descritas e interpretadas. Vamos entender quais são as caracterís-
ticas e premissas inerentes ao desenho técnico e, especificamente, o desenho técnico elétrico.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
16
Técnico em Eletromecânica
Total 1200h
2.1 MATÉRIA
Certamente, em ocasiões diferentes, você já deve ter ouvido falar sobre matéria. Mas, sabe
definir tecnicamente o que é matéria e quais suas características?
Matéria é tudo aquilo que ocupa um lugar no espaço, podendo ser sólida, líquida ou gasosa.
Toda matéria é composta por moléculas, que, por sua vez, são compostas por átomos.
Acreditava-se que o átomo seria a menor partícula de uma matéria, além de ser indivisível.
O próprio nome significa algo que não pode ser dividido. Após estudos mais detalhados sobre
esse assunto, evidenciou-se que o átomo é formado por partículas ainda menores, conhecidas
por partículas subatômicas. (FALCONE, 2002).
Segundo Martino (1995) a estrutura clássica de um átomo envolve:
a) Elétron: carga negativa localizada na porção mais externa do átomo, chamada eletrosfe-
ra. Essa partícula permanece girando ao redor do núcleo e em seu próprio eixo, denomina-
do movimento orbital.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
20
b) Próton: carga positiva localizada na porção central do átomo, também chamada de núcleo. É ao re-
dor desse núcleo que a trajetória do elétron se desenvolve.
c) Nêutron: carga neutra localizada no núcleo do átomo juntamente com os prótons.
Na imagem, a seguir, você poderá identificar a estrutura de um átomo e a localização das cargas citadas.
Thinkstock ([20--?])
Figura 1 - Estrutura atômica
Conforme pode ser observado na imagem apresentada anteriormente, os elétrons executam uma tra-
jetória concêntrica1 ao núcleo formado por prótons e nêutrons.
Um átomo com a mesma quantidade de prótons e elétrons é chamado de átomo neutro ou natural. Isso
porque, as cargas de sinais opostos (positivas e negativas) se anulam e como resultado tem-se um átomo
eletricamente estável.
A organização dos elétrons ao redor do núcleo ocorre por camadas, e seu nível de energia está direta-
mente relacionado à distância entre esta camada e o núcleo. Quanto mais próximo ao núcleo, mais energia
associada ao elétron. A última camada, mais afastada do núcleo e com menor energia associada, é chama-
da de camada de valência.
Ao receber energia externa, o elétron pode ser deslocado entre camadas, aumentando ou diminuin-
do seu nível de energia. Como consequência desta flexibilidade, alguns elétrons da camada de valência
podem abandonar o átomo e se tornarem elétrons livres. Nessa situação, temos um átomo eletricamente
instável.
Alguns átomos têm a característica de ceder elétrons. Em outros, essa característica se inverte e eles
recebem elétrons. Quando um átomo recebe elétrons, fica com excesso de cargas negativas em relação
às positivas (prótons). Nessas condições, a carga elétrica desse átomo é negativa. Porém, quando o átomo
cede elétrons, ficam com excesso de cargas positivas em relação às negativas, assim permanecendo com
carga elétrica positiva.
A carga elétrica resultante da diferença entre prótons e elétrons é expressa em Coulomb (C). Essa deno-
minação foi uma homenagem a um físico francês chamado Charles Augustin Coulomb.
Por convenção, um Coulomb é equivalente a uma diferença de 6,25x1018 elétrons. Isso quer dizer que
se um material tem carga resultante em um Coulomb positivo, ele tem 6.250.000.000.000.000.000 (seis
quintilhões duzentos e cinquenta quatrilhões) menos elétrons do que prótons.
Já a carga elétrica resultante da diferença de apenas um elétron, também denominada carga elétrica
elementar, é igual a 1,6x10-19C. Assim, pode-se calcular a carga elétrica resultante de um corpo através da
multiplicação do número de elétrons, em excesso ou falta, pela carga elementar.
Quando um número é muito grande ou muito pequeno, usa-se a notação científica ou forma exponen-
cial. Esse artifício reduz a quantidade de zeros apresentada no número facilitando sua escrita. Também
podemos utilizar nesses casos um prefixo matemático. Veja alguns exemplos:
De acordo com a característica atômica de cada material, este será mais ou menos condutor de eletrici-
dade. Levando em consideração essa variação de condução elétrica nos mais diversos materiais, podemos
dividi-los em três classes:
a) Isolante: Os materiais isolantes são aqueles que têm sua última camada de elétrons, camada de
valência, com uma força de atração pelo núcleo muito elevada. Dessa maneira, fica difícil remover elé-
trons desses materiais, portanto difícil de existir elétrons livres.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
22
b) Condutor: Os materiais condutores, ao contrário dos isolantes, têm facilidade em ceder elétrons,
favorecendo o surgimento dos elétrons livres.
c) Semi-condutor: Os semicondutores são aqueles materiais que se encontram entre os isolantes e
condutores. Esses materiais têm características isolantes ou condutoras, dependendo da diferença de
potencial aplicadas a eles.
Quando tratamos de eletricidade, as três classes de materiais apresentadas são de suma importância.
Um dos materiais mais encontrados em uma instalação elétrica é o fio ou cabo elétrico. Esse elemento con-
centra os dois opostos apresentados, o condutor e o isolante. Na porção central de um cabo elétrico temos
o material condutor, aquele que viabiliza a condução elétrica entre dois pontos. Já na sua periferia, encon-
tramos o material isolante, responsável por não permitir condução elétrica entre aquele condutor, aplicado
no núcleo do cabo, e outras partes condutoras próximas, não destinadas à condução de corrente elétrica.
Observe, no quadro a seguir, alguns dos materiais condutores e isolantes encontrados em fiação elétrica.
Agora que já conhecemos as características dos materiais, podemos estudar quais são as grandezas
elétricas existentes e suas características. Acompanhe!
Através do campo eletrostático2 gerado por uma carga, haverá trabalho quando diferentes cargas imer-
sas nele forem induzidas ao movimento. Esse movimento é originado através da força de atração ou repul-
são entre elétrons, carga geradora do campo e demais cargas. Lembre-se de que a repulsão ocorre quando
há cargas de mesma polaridade e atração quando as cargas são de polaridades distintas.
Nesse contexto, quando dois corpos têm cargas com diferentes valores de intensidade, pode-se dizer
que há uma diferença de potencial entre esses corpos. A unidade de medida dessa diferença de potencial,
ou mesmo DDP, é o Volt (V). Outros nomes para essa mesma grandeza elétrica são força eletromotriz (FEM)
ou tensão elétrica, e representamos essa grandeza pelas letras E, U ou V. Rizzoni (2013, p. 20) descreve que
“o trabalho total por unidade de carga associado ao movimento de carga entre dois pontos é chamado de
tensão.”
Para entender melhor a tensão elétrica, vamos compará-la a uma cachoeira. Neste caso, quanto maior a
cachoeira, maior o potencial para a queda da água, e nesse caso, maior a força na queda. A tensão elétrica
é comparada à altura da cachoeira, quanto maior a tensão elétrica, maior o potencial para movimentar os
elétrons.
Quando interligamos dois pontos com diferentes potenciais com um material condutor, provocamos o
deslocamento de elétrons entre o ponto de maior potencial para o de menor. Esse deslocamento é deno-
minado corrente elétrica. Em outras palavras, a corrente elétrica é o deslocamento ordenado de elétrons
livres entre meios de diferentes potenciais. (CAPUANO & MARINO, 2006).
A unidade de medida para essa grandeza elétrica é o Ampère (A) e é representada pela letra I. Quando
movimentamos 1C por um material condutor durante 1s, dizemos que a corrente elétrica desse condutor
é 1A (FALCONE, 2002). Observe, na imagem a seguir, a representação do movimento dos elétrons em um
condutor.
Elétrons em
movimento
Corrente Elétrica Convencional
Condutor Elétrico
Figura 2 - Corrente elétrica
Fonte: do Autor
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
24
A corrente elétrica flui de um polo negativo para um positivo, isso porque são os
FIQUE elétrons (cargas negativas) que se movimentam. Apesar disso, convencionou-se que
ALERTA a corrente flui em sentido oposto, do polo positivo para o negativo, a fim de facilitar
o entendimento desse fenômeno.
Utilizando novamente o exemplo da cachoeira, agora podemos comparar a corrente elétrica à água em
queda. Enquanto a tensão elétrica é comparada com a força que faz com que a água caia na cachoeira, a
corrente elétrica compara-se com o fluxo de água da cachoeira. Quanto maior a força e maior o leito do rio,
mais água cairá da cachoeira. Da mesma forma, na área elétrica, quanto maior a tensão e a condutância3,
maior a corrente elétrica resultante.
I (A) I (A)
t (s) t (s)
(1) (2)
3 Propriedade que um corpo apresenta em relação à sua condução de eletricidade. O inverso de resistência elétrica.
2 ELETRICIDADE APLICADA À ELETROELETRÔNICA
25
Observe, na ilustra anterior, que a corrente elétrica não inverte seu sinal, permanecendo sempre positi-
va e, consequentemente, caracterizando corrente contínua. No gráfico 1, a corrente é caracterizada contí-
nua e constante, já que seu valor também permanece invariável. Já no gráfico 2, a corrente é caracterizada
contínua e pulsante, já que seu valor varia ao longo do tempo entre seu valor mínimo e máximo, porém
não invertendo sua polaridade. O fato da medição de corrente contínua apontar quadrante4 positivo ou
negativo depende exclusivamente dos métodos de medição.
Esse tipo de corrente é utilizada na maioria dos equipamentos eletrônicos, em um tipo específico de
motor elétrico, em sistemas de telecomunicações, em sistemas de controle e sinalização, entre outros.
Ao contrário da corrente contínua, a corrente alternada é aquela em que seu sinal varia ao longo do
tempo, ou seja, o sentido de movimentação dos elétrons no condutor se alterna, conforme demonstrado
na figura a seguir:
I (A) I (A)
t (s) t (s)
Observe nos gráficos que, nesses casos, nos exemplos apresentados em forma de onda de corrente
alternada, o fluxo eletrônico se inverte no decorrer do tempo.
No gráfico 1, encontramos um sinal de corrente alternada senoidal. Já no gráfico 2, há um sinal de cor-
rente alternada quadrada. Esses nomes são designados pela forma geométrica resultante no gráfico de
corrente por tempo. Nessa situação, ao proceder com a medição de corrente alternada, não existe indica-
ção de polaridade, pois o sentido dos elétrons se alterna constantemente.
A forma de onda apresentada no gráfico 1, corrente alternada senoidal, é aquela que encontramos nas
tomadas residenciais ou industriais. Essa forma de onda é a mais utilizada na transmissão e distribuição de
energia elétrica no Brasil.
4 Área do gráfico em que a forma de onda se apresenta. Acima do eixo horizontal, para valores positivos, ou abaixo do eixo horizon-
tal, para valores negativos.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
26
Para entender o conceito de resistência elétrica, vamos primeiro entender o que é resistividade. A resis-
tividade elétrica é a oposição à passagem de corrente elétrica imposta pelo material que a conduzirá. Nes-
se contexto, essa resistividade dependerá do material a ser considerado condutor elétrico e será expressa
em Ohm metro (Ω.m).
Observe, a seguir, os valores mais comuns de resistividade, relacionados por material:
Associada à resistividade, temos a resistência elétrica. Esse termo leva em consideração a resistivida-
de do material e a forma construtiva do componente. Em outras palavras, para determinar a resistência
elétrica de um componente, precisamos levar em consideração a área da passagem da corrente elétrica
através do componente e o seu comprimento, além da própria resistividade do material a ser empregado.
A relação entre esses termos pode ser observada na equação, também denominada segunda lei de Ohm:
l
R=ρx
Jean Carlos Klann (2015)
L
Figura 5 - Resistência do condutor
Fonte: do Autor
2 ELETRICIDADE APLICADA À ELETROELETRÔNICA
27
Onde:
R – Resistência elétrica (Ω)
ρ – Resistividade elétrica (Ω.m)
L – Comprimento (m)
A – Área da seção transversal do componente (m2)
L
R=ρx
Analisando a equação A , podemos observar que a resistência elétrica de um componente
varia não só com a sua resistividade (característica de cada material), mas também leva em consideração
as características construtivas como seção transversal e comprimento. Dessa maneira, conclui-se que pode
haver componentes de materiais diferentes com a mesma resistência elétrica, porém com dimensões dife-
rentes. Acompanhe um exemplo para determinar a resistência elétrica de certo condutor.
Considere que há um cabo elétrico com 150 metros de comprimento alimentando um misturador em
uma indústria alimentícia. O cabo utilizado tem 35mm2 de seção transversal e é composto de cobre. Qual
a resistência elétrica deste condutor?
L
R=ρx
A
R~
= 0,074Ω
Onde:
R – Resistência elétrica (Ω)
ρ – Resistividade elétrica (Ω.m)
L – Comprimento (m)
A – Área da seção transversal do componente (m2)
Por meio desses cálculos, podemos concluir que a resistência elétrica do cabo em questão é de aproxi-
madamente 0,074Ω. Note que o valor de resistividade foi retirado da tabela com os valores estabelecidos
para a resistividade do cobre e o diâmetro do cabo convertido de mm2 para m2, para compor a equação.
O Resistor Elétrico
O componente que tem a característica de se opor à passagem de corrente elétrica é chamado de resis-
tor. Normalmente os resistores, para desempenharem seu papel no circuito elétrico/eletrônico, têm tam-
bém a característica de dissipar energia em forma de calor.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
28
Há diversas aplicações para os resistores elétricos, normalmente com a finalidade de controle de corren-
te nos circuitos ou geração de calor.
Em eletrônica, onde os resistores são largamente utilizados, há uma codificação de cores para facilitar a
identificação do valor de sua resistência, conforme podemos observar na imagem a seguir:
Thinkstock ([20--?])
Para determinar o valor da resistência elétrica desses componentes, podemos utilizar a seguinte tabela
de valores:
Para decifrar quais as características de resistência e tolerância de um resistor elétrico comum para cir-
cuitos eletrônicos, precisamos fazer uma conversão das cores utilizadas para valores numéricos, conforme
apresentado na tabela anterior, como podemos observar na imagem do resistor a seguir.
Thinkstock ([20--?])
13 x100 +/-5%
1300 Ohms +/- 5%
Figura 7 - Cores no resistor elétrico
Neste exemplo, podemos observar como são traduzidas as cores de identificação dos resistores para
seus valores numéricos, aplicando-os, assim, de acordo com a necessidade. Note que, quando surgirem lis-
tras prateadas ou douradas nas extremidades do resistor, essas deverão ser as últimas a serem convertidas,
posicionando esse resistor com essas listras para a direita.
O Potenciômetro
O potenciômetro também tem a característica de se opor à passagem de corrente elétrica, porém, nesse
caso, sua resistência elétrica pode ser ajustada de acordo com a necessidade. Podemos considerar o poten-
ciômetro sendo um resistor com resistência variável.
Em sua especificação, aparecem duas informações importantes. A primeira informa qual a resistência
máxima daquele potenciômetro, e a outra é o tipo de resposta em sua saída: linear ou logarítmica.
Normalmente os potenciômetros têm três terminais. Nesse caso, ao utilizar todos os terminais, haverá
uma divisão de tensão entre cada parcela de resistência do componente. Na medida em que a relação de
resistência entre o terminal central e um dos terminais da extremidade aumenta, a outra relação de resis-
tência diminui na mesma proporção.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
30
Observe, na imagem, a seguir, um exemplo de potenciômetro e como, basicamente, ele varia sua resis-
tência:
Cursor
Resistência
X% Y%
X% de Y% de
Resistência Resistência
100% de Resistência
Figura 8 - Potênciometro
Há outros formatos de potenciômetro existentes, porém os mais comuns são similares ao apresentado,
nos quais a variação da resistência se dá através dos movimentos circulares no eixo do componente.
A potência elétrica é a grandeza que está associada à quantidade de energia dissipada em cada com-
ponente ou circuito. Esse termo está diretamente relacionado à tensão elétrica aplicada àquele circuito e
à corrente elétrica que o percorre. Em um circuito simples, em corrente contínua, a potência elétrica pode
ser determinada através da equação:
P=VxI
Onde:
P – Potência elétrica (W)
V – Tensão elétrica (V)
I – Corrente Elétrica (A)
Dessa maneira, podemos concluir que, quando aumentamos a tensão elétrica aplicada no circuito, bem
como a sua corrente elétrica, aumentamos também a potência dissipada nele.
2 ELETRICIDADE APLICADA À ELETROELETRÔNICA
31
CASOS E RELATOS
Substituição de Equipamento
Na empresa Gama D’Avila, líder na indústria de calçados, houve a necessidade de substituição de
um equipamento responsável pela conformação de seus produtos. Essa troca foi baseada na ne-
cessidade de aumentar o volume de produção e consequentemente aumentar o faturamento da
empresa.
No equipamento antigo, os calçados permaneciam por algumas horas na máquina de conformação
e, com um novo equipamento, alguns minutos são suficientes. Esse novo processo envolve aqueci-
mento e posterior resfriamento dos materiais e, com isso, agiliza o processo de conformação.
Apesar dos benefícios na produção, o novo equipamento tem praticamente o dobro da potência
do seu antecessor, e isso exige a substituição dos condutores e das proteções elétricas, o que pro-
voca também maior consumo de energia elétrica.
No orçamento deste novo equipamento, a substituição dos insumos elétricos não foi considerada.
Agora, depois do alto investimento não previsto, os técnicos da empresa estão conscientes de que
o aumento da potência do equipamento influencia diretamente na corrente elétrica circulando em
seus condutores e proteções, exigindo adequações nos equipamentos.
Nesta seção, analisaremos algumas equações, nomeadas Leis de Ohm, as quais auxiliam nos cálculos
relacionados à eletricidade. Nesse contexto, formularam-se duas equações, denominadas primeira e se-
gunda lei de Ohm.
A primeira lei de Ohm estabelece relação entre tensão, corrente e resistência elétrica de um condutor
ôhmico. Por esta ser a mais popular das duas leis de Ohm, também é chamada apenas de Lei de Ohm.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
32
George Simon Ohm, físico e matemático francês, afirma nessa lei que: “A lei de Ohm é a relação algébri-
ca entre tensão e corrente em um resistor e é medida em ohm no SI5”. (NILSSON; RIEDEL, 2003, p. 22). Essa
constante é a resistência elétrica, com sua unidade de medida, sendo uma referência ao estudioso mencio-
nado, Ohm. A relação citada entre as grandezas está representada nas equações abaixo:
V=RxI .
. . R= V .
. . I= V
I R
(1) (2) (3)
Onde:
R – Resistência elétrica (Ω)
V – Tensão elétrica (V)
I – Corrente elétrica (A)
Quando tratamos de circuitos resistivos, monofásicos e em corrente contínua, podemos utilizar estas
equações. Já quando outros componentes são aplicados no circuito estudado, outras equações devem ser
utilizadas, também baseadas nos estudos de Ohm.
Podemos exemplificar um circuito alimentado com 50V e com resistência de 10Ω. Nesse caso, utilizando
a terceira equação apresentada, teríamos:
l = 50
. .
I= V . . . . I=5A
R 10
Onde:
R – Resistência elétrica (Ω)
V – Tensão elétrica (V)
I – Corrente Elétrica (A)
Neste exemplo, a corrente elétrica do circuito seria de 5A.
5 Sistema internacional.
2 ELETRICIDADE APLICADA À ELETROELETRÔNICA
33
A segunda lei de Ohm, já apresentada no contexto de resistividade, faz relação entre resistência elé-
trica e as características do material aplicado (resistividade, comprimento e área da sua seção transversal),
conforme equação a seguir:
L
R=ρx
A
Onde:
R – Resistência elétrica (Ω)
ρ – Resistividade elétrica (Ω.m)
L – Comprimento (m)
A – Área da seção transversal do componente (m2)
Analise o exemplo: Temos um condutor de 30 metros de comprimento, com 16mm2 de área da sua
seção transversal e apresenta resistência elétrica de 0,5Ω. Qual seria a resistividade do material utilizado
neste condutor?
l . 30 .
R=ρx . . 0,5 = ρ x 1,6 . 10-5 . . ρ~
= 2,67 . 10-7Ω.m
A
Onde:
R – Resistência elétrica (Ω)
ρ – Resistividade elétrica (Ω.m)
l – Comprimento (m)
A – Área da seção transversal do componente (m2)
Note que, aplicando os valores apresentados na equação da segunda lei de Ohm, encontramos o valor
de resistividade em 2,67. 10-7 Ω.m para o material do nosso condutor.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
34
Em circuitos mais complexos, onde é insuficiente utilizar apenas a primeira lei de Ohm para determinar
as suas variáveis, utilizamos também as leis de Kirchhoff.
As leis de Kirchhoff são baseadas no princípio de conservação da carga elétrica, ou seja, em um circuito
fechado, sem considerar dissipações, os potenciais se mantêm iguais, independente das trajetórias exe-
cutadas neste circuito. Para entender melhor as leis citadas, é necessário saber algumas definições, sendo
elas:
a) Nó: é um ponto do circuito que concentra a conexão de, no mínimo, três elementos. Desta maneira,
em um nó, necessariamente, há divisão de corrente elétrica.
b) Ramo: é o segmento do circuito elétrico compreendido entre dois nós consecutivos. Analisando
desta maneira, em um ramo, todos os seus elementos serão percorridos pela mesma corrente elétrica.
c) Malha: é um segmento de circuito que compreende uma trajetória fechada para a corrente elétrica,
ou seja, ao percorrer o caminho de uma malha, a corrente elétrica retorna ao seu ponto de partida.
Observe a imagem a seguir:
A B C
R1 R2
Fonte
R3
R4
Jean Carlos Klann (2015)
D R5 E F
A primeira lei de Kirchhoff, ou também conhecida como lei das correntes ou lei dos nós, afirma que “A
soma algébrica das correntes em um nó de um circuito é sempre nula.” (NILSSON; RIEDEl, 1999, p. 27). Desta
maneira, convencionamos o sentido da corrente elétrica no circuito e consideramos uma corrente elétrica
com sinal positivo quando entra em um nó e com sinal negativo quando sai de um nó. Podemos analisar o
nó B de um circuito na ilustração a seguir. Acompanhe!
IR1 IR2
R1 R2
Figura 10 - Análise nó b
Fonte: do Autor
Analisando o ponto citado, podemos concluir que chega ao nó B uma corrente denominada IR1. Essa
corrente é dividida entre os dois ramos seguintes: IR2 e IR3. Ao determinar esse fluxo de correntes, podemos
concluir que a somatória das correntes que chegam a um nó é igual à somatória das correntes que saem
desse mesmo nó, como no exemplo:
Onde:
IR1 – Corrente elétrica no resistor 1 (A)
IR2 – Corrente elétrica no resistor 2 (A)
IR3 – Corrente elétrica no resistor 3 (A)
Desenvolvendo a mesma análise para o outro nó do circuito, determinaremos outro arranjo, porém
com as mesmas variáveis. O número total de equações diferentes em um circuito se dá pela quantidade de
nós deste circuito menos um. No exemplo citado anteriormente, como há apenas dois nós, há apenas uma
equação possível.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
36
A segunda lei de Kirchhoff, também conhecida como lei das tensões ou lei das malhas, afirma que “A
soma algébrica das tensões em qualquer malha do circuito é sempre nula.” (NILSSON; RIEDEL, 1999, p. 27).
Desta maneira, podemos considerar que, em uma malha, a soma da tensão dos elementos que estão for-
necendo a energia ao circuito é igual a soma da tensão dos elementos que estão utilizando a energia do
circuito.
Observe que a primeira lei de Kirchhoff trata exclusivamente das correntes e a segunda das tensões.
Apesar disso, levando em consideração a lei de Ohm, podemos converter uma variável em outra, incluindo
o valor da resistência na equação.
Tomaremos como base para o exemplo o mesmo circuito já apresentado anteriormente. Neste caso,
foram incluídas as convenções de corrente das malhas e polaridade nos componentes. Observe:
A B C
+ - + -
R1 R2
+ -
Fonte + +
Corrente Corrente
R3
Malha 1 Malha 2 R4
-
- +
-
- +
Jean Carlos Klann (2015)
D R5 E F
Corrente
Malha 3
Figura 11 - Exemplo do método das malhas
Fonte: do Autor
Ao analisar a malha 1 do circuito apresentado, convencionando a corrente que circula em sentido horá-
rio, e aplicando a segunda lei de Kirchhoff, podemos equacionar as tensões da seguinte maneira:
Analisando agora a malha 2 deste mesmo circuito, e considerando novamente que a corrente circula
em sentido horário, temos:
2 ELETRICIDADE APLICADA À ELETROELETRÔNICA
37
Note que, pela convenção da corrente na malha 1, o componente R3 ficou com polarização invertida
em relação à corrente convencionada na malha 2. Neste caso, o comportamento de R3 perante à malha 2 é
similar ao de uma fonte, inclusive é assim que o analisamos para o equacionamento dessa malha. Por fim,
na malha 3, teremos:
Utilizando as leis de Kirchhoff, aliadas à primeira lei de Ohm, conseguimos verificar que muitas das in-
cógnitas dos circuitos podem ser facilmente encontradas, e em alguns casos, mais de um método poderá
ser utilizado.
Estudamos até agora algumas equações que nos auxiliam na identificação das grandezas elétricas em
circuitos extremamente simples. Porém, quando o circuito se torna maior, há mais dificuldade na busca
pelas informações. Além disso, a associação de componentes é algo primordial para trabalhar com elétrica
e eletrônica. Deste modo, é necessário conhecer as técnicas de associação de componentes.
Um circuito elétrico pode ser descrito como a associação de dois ou mais componentes em um caminho
fechado por onde há fluxo de corrente elétrica. A simples ligação de uma lâmpada ou a ligação de uma
máquina extremamente complexa são exemplos de circuitos elétricos existentes. Na sequência, identifica-
remos quais os tipos de circuitos existentes e detalhes de cada um deles, acompanhe!
A associação de componentes que estão dispostos sequencialmente como, por exemplo, em uma “fila
indiana”, é chamada de associação em série, ou também, circuito série. Deste modo, todos os componentes
do circuito têm a mesma corrente elétrica, já que há apenas um caminho para o percurso eletrônico. Neste
tipo de associação, não teremos mais de dois componentes ligados em um mesmo ponto, dessa maneira
não possibilitando a divisão de corrente. Observe o exemplo a seguir:
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
38
3Ω
R1
Fonte 12V
4Ω R3
R5
Analisando este exemplo, podemos concluir que é um circuito de resistores com associação em série.
Observe que há apenas um caminho para o fluxo de corrente elétrica. Para determinar a corrente elétrica
neste circuito, podemos utilizar a primeira lei de Ohm. O problema para isso é: qual valor de resistência
utilizar? Neste caso, como há três resistores associados em série, precisamos calcular o valor equivalente de
resistência neste circuito.
Para circuitos série puramente resistivos, o valor da resistência equivalente é igual à soma dos valores
individuais de resistências. Desta maneira, podemos reduzir o circuito ao seu equivalente, conforme ima-
gem a seguir:
Com essa modificação da representação do circuito, podemos então calcular a corrente do circuito uti-
lizando a primeira lei de Ohm. Observe:
2 ELETRICIDADE APLICADA À ELETROELETRÔNICA
39
V=RXI
12 = 12 X I
I = 1A
Onde:
R – Resistência elétrica (Ω)
V – Tensão elétrica (V)
I – Corrente Elétrica (A)
Agora que já encontramos o valor de corrente elétrica do circuito, podemos encontrar o valor da tensão
elétrica em cada componente? Avaliando o circuito original e sabendo que o valor da corrente elétrica
é de 1A, podemos aplicar a primeira lei de Ohm em cada componente individualmente. Dessa maneira,
teremos que a tensão em cada componente é igual a sua resistência multiplicada pela corrente que o
percorre. Como a corrente que percorre os componentes é igual a 1A, as tensões de R1, R2 e R3 são 3V, 4V
e 5V, respectivamente. Observe:
V1 = R1 x I V2 = R2 x I V3 = R3 x I
V1 = 3 x 1 V2 = 4 x 1 V3 = 5 x 1
V1 = 3V V2 = 4V V3 = 5V
Fonte 12V R1 R2 R3
3Ω 4Ω 5Ω
Neste exemplo, podemos observar três componentes resistivos associados em paralelo. Podemos de-
terminar a corrente de cada componente? Sim, já que temos a tensão aplicada no terminal de cada com-
ponente e o valor de sua resistência. Deste modo, aplicando a primeira lei de Ohm, as correntes para R1, R2
e R3 são, respectivamente, 4A, 3A e 2,4A.
V V I3 = V
I1 = I2 = R3
R1 R2
I1 = 12 I2 = 12 I3 = 12
3 4 5
I1 = 4A I2 = 3A I3 = 2,4A
Agora, para determinar o valor de corrente da fonte, podemos utilizar algumas formas distintas, como,
por exemplo: a primeira lei de Kirchhoff ou a primeira lei de Ohm.
Utilizando o primeiro método, igualamos a corrente da fonte à soma das correntes dos resistores. Desse
modo, encontramos que a corrente da fonte é igual a 9,4A:
IFonte = I1 + I2 + I3
IFonte = 4 + 3 + 2,4
IFonte = 9,4 A
2 ELETRICIDADE APLICADA À ELETROELETRÔNICA
41
Utilizando o segundo método, não conseguimos desenvolver os cálculos sem antes determinar qual o
valor de resistência equivalente para o circuito paralelo. Nessa situação, o inverso da resistência equivalen-
te pode ser obtida pela soma inversa dos valores de resistência, conforme equação a seguir:
1 =
1 + 1 + 1 + ... 1
Req R1 R2 R3 Rn
Onde:
Req – Resistência equivalente (Ω)
R1 – Resistência 1 (Ω)
R2 – Resistência 2 (Ω)
R3 - Resistência 3 (Ω)
Rn – Resistência n (Ω)
Podemos também utilizar outra equação, porém neste caso apenas conseguimos associar duas resis-
tências de uma vez. Caso necessário, a equação poderá ser utilizada mais de uma vez no mesmo circuito
para determinar a resistência equivalente para um número maior de componentes. Observe:
R1 x R2
Req =
R1 + R2
Onde:
Req – Resistência equivalente (Ω)
R1 – Resistência 1 (Ω)
R2 – Resistência 2(Ω)
Calculando o resistor equivalente pelos dois métodos apresentados, encontramos o seguinte:
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
42
Método A Método B
REq 3x4
1 1 + 1 + 1 =
REq
=
5 3+4
3 4
REq =
12
7
1 = 0,7833
REq
REq = 1,714Ω
REq = 1,714 x 5
REq = 1,276Ω 1,714 + 5
REq =
8,57
6,714
REq = 1,276Ω
Dessa maneira, conseguimos determinar o valor de resistência equivalente. Na prática, podemos esco-
lher o método que vamos utilizar. Redesenhando o circuito, temos:
Fonte 12V
1,276Ω Req
Jean Carlos Klann (2015)
Aplicando os conceitos da primeira lei de Ohm, podemos determinar o valor de corrente elétrica sendo
o valor da tensão da fonte dividido pelo valor de resistência equivalente. Assim, a corrente total da fonte é
aproximadamente 9,4A.
Acompanhe:
2 ELETRICIDADE APLICADA À ELETROELETRÔNICA
43
V=RxI
12 = 1,276 x I
I=~ 9,4 A
Em nosso cotidiano, os circuitos em paralelo são os mais encontrados. Quando conectamos vários equi-
pamentos elétricos às tomadas de energia em nossa residência ou no trabalho, estamos conectando essas
cargas em paralelo. Nessas condições, garantimos que a tensão aplicada em cada equipamento será aque-
la fornecida pela concessionária, já a corrente total necessária varia com a quantidade de cargas acionadas
simultaneamente.
Como o próprio nome sugere, os circuitos mistos são aqueles que têm em sua composição circuitos
menores, tanto em série como em paralelo. Nessa situação, parte do circuito estará sujeita às condições
de circuito série, já outra parte estará sujeita àquelas dos circuitos paralelos. Esses circuitos também são
conhecidos como circuitos em série-paralelo (CAPUANO; MARINO, 2006). Observe o circuito a seguir:
R1 R2
1Ω 2Ω
Fonte 12V
3Ω R3
4Ω R4
Jean Carlos Klann (2015)
Esse circuito é considerado um circuito misto, já que em partes é série e em outras é paralelo. Nesse
caso, a associação dos componentes também deve ser feita por partes.
Observando o circuito, notamos que os resistores R2 e R4 estão conectados em série. Portanto, pode-
mos determinar sua resistência equivalente e redesenhar o circuito:
R1
1Ω
Agora, notamos que os resistores R3 e Req1 estão conectados em paralelo. Portanto, podemos calcular
o novo resistor equivalente e redesenhar o circuito. Acompanhe.
R1
Req1 x R3
Req2 =
Req1 + R3
1Ω
6x3
Req2 =
Fonte 12V 6+3
2Ω Req2
18
Req2 =
Jean Carlos Klann (2015)
Req2 = 2Ω
Neste exemplo, notamos novamente que os componentes encontram-se em circuito série. Portanto,
podemos calcular novamente seu equivalente e redesenhar o circuito.
2 ELETRICIDADE APLICADA À ELETROELETRÔNICA
45
Req3 = R1 + Req2
Fonte 12V
3Ω Req3 Req3 = 1 + 2
Enfim, conseguimos chegar ao circuito reduzido. Agora, para determinar a corrente da fonte, basta di-
vidir o valor de sua tensão pelo valor da resistência equivalente do circuito. Nesse caso, a corrente citada é
de 4A. Observe:
V = REq3 x I
12 = 3 x I
I = 4A
Para determinar algum outro valor do circuito (corrente ou tensão), basta redesenhá-lo de maneira in-
versa ao que foi feito, assim utilizando os valores encontrados nos passos anteriores.
Sabendo que a corrente da fonte do nosso exemplo é de 4A, e é essa a corrente circulando pelo resistor
Req2, conseguimos determinar a tensão neste componente: 8V.
V2 = REq2 x I
V2 = 2 x 4
V2 = 8V
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
46
I = 4A
R1 I = 4A
R1
+
1Ω 1Ω
+
V = 8V
2Ω Req2 3Ω R3 6Ω Req1
Agora que já determinamos a tensão no componente R3 e Req1, podemos determinar suas correntes
que são, respectivamente, 2,67A e 1,33A. Observe como ficou nosso circuito:
8 = 3 x I3 8 = 6 x Ieq1
~ 2,67A ~
I3 = Ieq1 = 1,33A
I = 4A I = 4A I = 1,33A
R1 I = 1,33A R1 R2
+
1Ω 1Ω 2Ω
I = 2,67A
I = 2,67A
R3 6Ω Req1 R3 4Ω R4
3Ω 3Ω
Enfim, com a informação de corrente nos componentes R2 e R4, podemos calcular as suas tensões:
2,66V e 5,32V, respectivamente.
2 ELETRICIDADE APLICADA À ELETROELETRÔNICA
47
V2 = R2 x I2 V4 = R4 x I4
V2 = 2 x 1,33 V4 = 4 x 1,33
~ 2,66A
V2 = ~ 5,32V
V4 =
Neste processo, utilizamos a lei de Ohm, porém outras teorias poderiam ser utilizadas como as leis de
Kirchhoff. Cada método de resolução tem pontos positivos e negativos, deste modo temos que identificar
a melhor opção para cada situação.
2.6 MAGNETISMO
Em uma região chamada Magnésia, na Grécia antiga, notou-se uma característica diferenciada em um
tipo de pedra encontrada. Nesse material, percebeu-se a capacidade de atrair materiais ferrosos. A magne-
tita, como foi denominado aquele elemento, também ficou conhecida como imã e sua composição mole-
cular é Fe3O4: óxido de ferro.
O magnetismo é o nome dado ao estudo de materiais magnéticos. Esses materiais são aqueles que têm
características, temporárias ou permanentes, como: capacidade de atração de objetos ferrosos, capacidade
de transferir esta capacidade aos objetos ferrosos e concentrar suas capacidades nas suas extremidades.
(FALCONE, 2002).
Um imã natural é aquele encontrado na natureza já com as características magnéticas intrínsecas6. Já
um imã artificial é aquele cujas características magnéticas foram adquiridas por algum processo de inter-
venção humana, como o atrito com os imãs naturais. Curiosamente os imãs artificiais têm capacidades
superiores aos naturais.
Os imãs são denominados dipolos magnéticos, ou seja, em cada fragmento desse material há dois polos
magnéticos: o polo norte e o polo sul. Observe a imagem:
Thinkstock ([20--?])
6 Características que fazem parte daquele material, ou seja, características que lhe são peculiares.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
48
Na imagem, podemos observar que os polos de um material magnético são separados geometricamen-
te no espaço do material. Para definir qual das extremidades deste elemento é o polo sul ou o norte, utiliza-
-se a técnica de suspensão do elemento através de seu centro de massa7. Ao fazer esse procedimento, o
elemento magnético (imã) se posiciona com o seu polo sul voltado ao polo norte magnético terrestre e seu
polo norte voltado ao polo sul magnético terrestre. Você já ouviu a frase: os opostos se atraem? Pois bem,
isso acontece nessa relação de atração e repulsão entre polos da Terra e do Imã.
Essa mesma técnica de suspensão do material magnético é aplicada às bússolas, instrumento capaz
de determinar a posição geográfica em que nos encontramos. Neste equipamento, uma agulha imantada
(agulha com características magnéticas) permanece livre para girar em seu próprio eixo, estabilizando-se
quando apontada para o norte.
Ao seccionar8 um imã em duas parcelas menores, não conseguimos separar seus polos, um em cada
parcela. Quando a separação acontece, novos polos se formam, fazendo com que os elementos continuem
com suas características originárias: dois polos.
Os imãs e demais materiais magnéticos são utilizados na atualidade para diversas finalidades. Podemos
citar como exemplo, a aplicação dos imãs em motores elétricos, discos rígidos de computadores, caixas de
som, entre outros.
Os imãs artificiais são imantados através de processos que envolvem atrito, indução magnética ou mag-
netização através de corrente elétrica. Há também os processos de desmagnetização, que contemplam
choque mecânico, aquecimento ou campos magnéticos alternados. Utilizando os processos citados, al-
guns materiais podem ser magnetizados ou desmagnetizados, de acordo com a necessidade momentâ-
nea.
Algumas aplicações muito específicas, como modelos de aerogeradores, exigem que seus imãs sejam
magnetizados apenas após sua montagem na aplicação final. Isso porque, nessas aplicações, a força mag-
nética é tão elevada que dificulta, ou até inviabiliza, a montagem dos materiais já magnetizados. Agora
que já estudamos sobre os fenômenos magnéticos, vamos conhecer as possibilidades de interação deste
fenômeno com a eletricidade.
7 Ponto pelo qual, ao suspender o objeto, este se encontrará em equilíbrio, com sua massa devidamente distribuída espacialmente
em relação a esse ponto.
8 Separar, dividir, quebrar.
2 ELETRICIDADE APLICADA À ELETROELETRÔNICA
49
2.6.1 ELETROMAGNETISMO
Como o próprio nome sugere, o eletromagnetismo é o processo de utilização da eletricidade para pro-
dução de campos magnéticos. Como resultado disso, podemos utilizar uma variação de fluxo magnético
resultando em um campo elétrico. A esse processo dá-se o nome de indução eletromagnética.
Ao circular corrente elétrica através de uma bobina condutora, um campo magnético é formado. Esse
campo magnético pode ser comparado ao campo de um imã natural, porém desta vez esse campo pode
ter intensidade e polaridade controlada. O valor absoluto da corrente elétrica que percorre o condutor da
bobina é proporcional ao campo magnético gerado, já o sentido de circulação desta corrente determina a
polaridade da bobina. Outro fator interessante é a possibilidade de ligar ou desligar o campo magnético ao
energizar ou não a sua bobina geradora. Observe na imagem a seguir como isso pode ser feito:
Thinkstock ([20--?])
Na imagem anterior, pudemos observar um condutor elétrico em formato de bobina sendo alimentado
por uma fonte de tensão. Nesse caso, uma corrente elétrica circula através da bobina gerando um campo
magnético, que pode ser comparado ao imã, localizado na parte superior da imagem. Ao inverter os polos
de alimentação da bobina, o campo magnético gerado também se inverte, portanto é necessário inverter
o ímã horizontalmente. Diminuindo a tensão da fonte de alimentação, temos a diminuição da corrente
elétrica. Portanto, o campo magnético gerado também é menor. Nesta situação, temos a comparação com
um imã de menor intensidade.
A utilização de campos magnéticos gerados por eletricidade é bastante grande. Há inúmeros equipa-
mentos que se utilizam desta iteração para seu funcionamento, como por exemplo: solenoides9, motores
elétricos, transformadores, equipamentos de medição, entre outros.
Pequenos relés, utilizados para acionamento de cargas em circuitos elétricos e eletrônicos, utilizam bo-
binas solenoides para seu funcionamento. O relé é um equipamento que possui uma bobina solenoide e
um conjunto de contatos. Geralmente estes contatos são: contato comum, contato normalmente fechado
(NF), em relação ao comum. E o contato normalmente aberto (NA), em relação ao comum. Estes contatos
ficam nestes estados, aberto e fechado, enquanto o relé está desligado. Ao ligar o relé, os contatos mudam
de estado. Ou seja, o contato aberto se fecha e o contato fechado se abre. A figura abaixo mostra a sim-
bologia do relé.
Figura 25 - Relé
Esta imagem mostra um relé com encapsulamento transparente e é possível ver a bobina e os contatos.
2 ELETRICIDADE APLICADA À ELETROELETRÔNICA
51
Outra importante aplicação que envolve a interação eletromagnética são os transformadores elétricos.
Esses equipamentos utilizam o princípio da variação do campo magnético para resultar em um campo elé-
trico, ou seja, em indução elétrica em outro enrolamento. Basicamente um transformador é formado por
dois enrolamentos (bobinas): o primário e o secundário.
Enrolamento primário: é necessário alimentá-lo, para que esse gere o campo magnético necessário
para a indução desejada. A alimentação desse enrolamento deve, obrigatoriamente, ser feita utilizando-se
de corrente alternada (CA), já que o princípio da indução eletromagnética se baseia na variação de campo
magnético. (CAPUANO; MARINO, 2006).
Ao utilizar a corrente alternada para a alimentação do enrolamento primário do transformador, auto-
maticamente ocorre a variação do campo magnético, de acordo com a forma de onda senoidal aplicada.
Enrolamento secundário: é envolto pelo campo magnético variável gerado pelo primário. Nessa con-
dição, gera-se corrente elétrica no enrolamento, proporcional à relação de transformação do equipamento.
Perceba que é neste enrolamento que a carga é conectada. Observe o transformador a seguir:
Fluxo Corrente
Corrente Magnético IS Secundária
Primária IP +
+
Tensão
Secundária
VS
Tensão
Primária
VP
-
Jean Carlos Klann (2015)
-
do
Núcleo or
n s fo rm ad
Ta
Vpri = Npri =
= =a
Vsec Nsec
Onde:
Vpri – Tensão no enrolamento primário (V).
Vsec – Tensão no enrolamento secundário (V).
Npri – Número de espiras do enrolamento primário.
Nsec – Número de espiras do enrolamento secundário.
a – Relação de transformação.
A partir desta equação, podemos chegar à quantidade de espiras necessárias para os enrolamentos de
um transformador, sabendo as tensões de entrada e saída do equipamento. Além disso, podemos citar três
tipos de transformadores: transformador elevador, transformador abaixador e o transformador isolador.
Acompanhe, no quadro a seguir, a descrição de cada um.
Fornece em seu secundário, tensão superior àquela encontrada no primário. Esse equipamento
Transformador elevador
tem a relação de transformação sempre menor que 1.
Fornece no secundário, tensão sempre inferior à aplicada em seu sistema primário. Desse modo,
Transformador abaixador
sua relação de transformador permanece sempre maior do que 1.
Vpri
= a .
. . a = 127 .. . a~
= 21,17
Vsec 6
Onde:
Vpri – Tensão no enrolamento primário (V).
Vsec – Tensão no enrolamento secundário (V).
a – Relação de transformação.
Ao determinar a relação de transformação, podemos retornar à equação e determinar o número de
espiras.
Onde:
Npri – Número de espiras do enrolamento primário.
Nsec – Número de espiras do enrolamento secundário.
a – Relação de transformação.
Neste caso, é possível concluir que o transformador em questão tem sua relação de transformação apro-
ximadamente 21,17 e a quantidade de espiras no seu enrolamento secundário é aproximadamente 16.
Podemos considerar também que, em um transformador ideal, a potência de entrada é igual a sua po-
tência de saída. Portanto, a potência no enrolamento primário é igual à potência do enrolamento secundá-
rio. Com essa consideração, podemos equacionar:
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
54
Ppri = Psec
Vpri Isec
=
Vsec Ipri
Onde:
Ppri - Potência no enrolamento primário (W).
Psec – Potência no enrolamento secundário (W).
Vpri - Tensão enrolamento primário (V).
Vsec – Tensão no enrolamento secundário (V).
Ipri - Corrente enrolamento primário (A).
Isec – Corrente no enrolamento secundário (A).
Com a relação encontrada, podemos então retornar a equação da relação de transformação e conside-
rar:
Onde:
Vpri – Tensão no enrolamento primário (V).
Vsec – Tensão no enrolamento secundário (V).
Npri – Número de espiras do enrolamento primário.
Nsec – Número de espiras do enrolamento secundário.
Ipri – Corrente enrolamento primário (A).
Isec – Corrente no enrolamento secundário (A).
2 ELETRICIDADE APLICADA À ELETROELETRÔNICA
55
a – Relação de transformação.
Já que a potência de entrada e saída de um transformador ideal é a mesma, mas com tensões diferentes
entre esses circuitos, as correntes nos circuitos primário e secundário também serão diferentes. Por isso,
o enrolamento que tiver menor tensão associada, terá seus condutores com a maior seção transversal,
sendo capaz de suportar a maior corrente circulando através daquele circuito. É possível inclusive notar
nos transformadores das redes de distribuição de energia que os cabos de alimentação de alta tensão são
sempre de menor diâmetro que aqueles utilizados no lado de baixa tensão, para a alimentação da rede de
distribuição secundária.
RECAPITULANDO
Neste capítulo, estudamos alguns itens relacionados à eletricidade, como os conceitos de gran-
dezas elétricas, a análise de circuitos e a associação de componentes, bem como as leis que regem
a área.
Estudamos, por exemplo, que a corrente elétrica é a passagem de elétrons livres por um condutor
elétrico e é impulsionada pela tensão elétrica. Compreendemos também qual a relação entre ten-
são, corrente e resistência elétrica em um determinado circuito e como a alteração de um desses
termos influencia os demais. Além disso, estudamos algumas aplicações envolvendo magnetismo
e eletromagnetismo.
Tudo o que aprendemos neste capítulo servirá de base para os demais estudos envolvendo eletri-
cidade. Estes tópicos são os alicerces do seu conhecimento, que serão aprofundados no decorrer
dos capítulos.
Para um técnico em eletromecânica, é indispensável o conhecimento de atributos e ferramentas
capazes de auxiliá-lo no desenvolvimento de suas atividades profissionais, e são elas que
conheceremos a partir de agora.
Materiais, Ferramentas e Equipamentos
CLASSIFICAÇÃO EXEMPLO
CLASSIFICAÇÃO EXEMPLO
Como estudamos, as ferramentas são aqueles itens que nos auxiliam na realização das atividades, en-
volvendo direta ou indiretamente a energia elétrica.
Há uma infinidade de ferramentas disponíveis, porém vamos conhecer algumas necessárias ao cotidia-
no do profissional envolvido com eletricidade.
Item: Parafusadeira.
Tipo: Elétrica.
Item: Furadeira.
Tipo: Elétrica.
Como em qualquer atividade, precisamos utilizar as ferramentas com o máximo de cuidado para garan-
tir a segurança do trabalhador e aumentar a vida útil desses utensílios. A utilização incorreta pode resultar
em danos, impossibilitando sua utilização. Um exemplo seria danos à isolação de ferramentas isolantes uti-
lizadas em manutenção em linha viva2, uma vez que essa situação traz insegurança à pessoa que a opera,
forçando seu descarte.
Dispositivos elétricos são aqueles que recebem sinais elétricos com a finalidade de executar uma de-
terminada ação. Entre as possíveis ações, podemos ressaltar: comando, proteção, sinalização e regulagem.
Dispositivos elétricos de comando: são aqueles elementos do circuito responsáveis por comutações3,
deste modo, acionando ou não determinado equipamento.
Dentre estes dispositivos, podemos citar:
a) chave sem retenção;
Esse método de manutenção é aquele em que a intervenção é feita para prevenir algum dano à
Manutenção Preventiva: instalação ou a seus operadores. Nesse caso, não se sabe quando ou onde pode ocorrer o dano,
mas a manutenção é feita para evitá-lo.
3 MATERIAIS, FERRAMENTAS E EQUIPAMENTOS
61
Esse processo é aquele em que os gestores de manutenção têm uma previsão de quando e em
que local da instalação pode haver um dano. Dessa maneira, agenda-se a manutenção direciona-
Manutenção Preditiva: da àquela parte da instalação em um período anterior ao previsto. Como a manutenção preven-
tiva, esse processo também é realizado antes de que algo aconteça, porém o que diferencia esses
métodos é o planejamento das atividades através da previsão de ocorrência da falha ou parada.
Nesse caso, algum dano já ocorreu, necessitando de reparos através do processo de manutenção.
Assim, não há como continuar operando sem que a manutenção ocorra e, por esse motivo, os
Manutenção Corretiva:
custos de hora parada são normalmente maiores do que os outros processos onde pode haver o
planejamento de parada.
Quadro 7 - Classificação da manutenção
Fonte: do Autor
Analisando os processos apresentados, podemos dizer que, em se tratando de custos totais, a manu-
tenção preditiva é a menos onerosa. Já a manutenção corretiva é aquela que apresenta o maior custo as-
sociado. Essa comparação pode variar em alguns casos, mas, considerando os custos de hora/máquina em
manutenção, é difícil não estabelecer essa relação.
Os condutores elétricos são os principais elementos de uma instalação elétrica. Esses elementos são
aqueles que propiciam a circulação de corrente de um ponto a outro em um componente, em um circuito,
em uma instalação ou mesmo entre instalações.
O condutor elétrico é usualmente definido como um material metálico, isolado ou não, com a finalidade
de condução da corrente.
Há diversos tipos de condutores elétricos existentes, cada qual para uma finalidade distinta. Acompanhe!
Os condutores elétricos são diferenciados pela sua aplicação. Conheça alguns deles:
a) Fio elétrico: é constituído por um único filamento metálico, isolado ou não, em formato cilíndrico.
b) Cabo elétrico: são conjuntos de fios elétricos, normalmente encordoados, isolados ou não. O cabo
elétrico pode ser constituído por uma ou mais de uma via condutora: cabo multipolar (com mais de
uma via condutora) e cabo unipolar (com apenas uma via condutora). O conjunto de cabos multipola-
res, pode ser isolado ou não, dependendo de sua aplicação.
c) Barramento elétrico: é um condutor rígido, normalmente com seção retangular ou circular. Esses ele-
mentos são usualmente utilizados em quadros elétricos ou subestações.
d) Trilha elétrica: são depósitos metálicos, normalmente cobreados, em uma placa de material isolante.
Esse material é utilizado na indústria eletrônica na confecção de placas eletrônicas.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
62
Em uma instalação elétrica, é comum confundir fio elétrico com cabo elétrico
CURIOSI unipolar. Na prática, consideramos o fio aquele rígido, já o flexível seria o cabo. Em
DADES algumas instalações, a substituição de um pelo outro é aceita, modificando apenas
os métodos utilizados para cada um deles.
A bitola do condutor elétrico é definida como a área de sua seção transversal. Como normalmente o
cálculo para determinação da capacidade de condução de corrente é feito para fios ou cabos, sua seção
transversal é circular, com bitola definida pelo seu diâmetro. Portanto, quanto maior a bitola do condutor
elétrico, maior sua capacidade de condução de corrente.
A capacidade de condução de corrente é uma característica dos condutores que indica qual a corrente
máxima que pode circular nesses condutores sem que eles sejam danificados, ou que danifiquem circuitos
próximos. Normalmente essa capacidade está relacionada à temperatura máxima de trabalho dos condu-
tores em condições normais de operação.
Para determinar a capacidade de condução de corrente de um condutor, sua resistividade e sua seção
transversal são levados em consideração. Quanto maior a resistividade do condutor, ou quanto menor
sua área da seção transversal, maior a resistência desse condutor. Dessa maneira, ao aplicar uma corrente
elétrica, será dissipada energia em forma de calor, com valor diretamente proporcional à sua resistência
elétrica. Como normalmente os condutores elétricos para instalações de baixa tensão são de cobre, as
resistividades são as mesmas, variando apenas suas bitolas.
3 MATERIAIS, FERRAMENTAS E EQUIPAMENTOS
63
Quando tratamos da capacidade de condução de corrente para outros tipos de condutores, o princípio
é o mesmo dos cabos elétricos, com pequenas variações no equacionamento das grandezas, porque as
características construtivas e o formato deles são variados.
O dimensionamento dos condutores elétricos é necessário para garantir o perfeito funcionamento das
instalações que o empregam. Não podemos correr o risco de um incêndio causado por superaquecimento
de um cabo elétrico, por exemplo, e nem danificar um equipamento, porque o alimentamos com menor
tensão do que o especificado. Essas são algumas questões que envolvem diretamente os cálculos de di-
mensionamento.
Para dimensionar um fio ou cabo elétrico, precisamos levar em consideração alguns fatores. São três
métodos básicos: capacidade de condução de corrente, queda de tensão e seção mínima admissível. (FI-
LHO, 2007). A seguir, estudaremos cada um deles.
Pmax = n x Pind .
. . Pmax = 40 x 60 .
. . Pmax = 2400 W
Onde:
Pmax – Potência máxima no circuito (W).
Pind – Potência individual das lâmpadas (W).
n – Número de Lâmpadas.
Com a potência máxima definida, podemos determinar a corrente máxima do circuito:
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
64
.
Imax = Pmax . . . Imax = 2400 . . Imax ~
= 18,9 A
V 127
Onde:
Imax – Corrente máxima do circuito (A).
Pmax – Potência máxima no circuito (W).
V – Tensão de alimentação do circuito (V).
Agora que já se sabe a corrente que circulará nos condutores que estão sendo dimensionados, precisa-
mos conhecer como esses elementos serão instalados. A norma NBR 5410 apresenta os métodos de insta-
lação existentes e padroniza alguns métodos de referência. Veja os métodos mais utilizados:
MÉTODO DE
ESQUEMA ILUSTRATIVO DESCRIÇÃO
REFERÊNCIA
MÉTODO DE
ESQUEMA ILUSTRATIVO DESCRIÇÃO
REFERÊNCIA
Considerando que os condutores da iluminação são cabos unipolares em eletroduto embutido em alve-
naria, no exemplo do dimensionamento dos condutores do sistema de iluminação, o método de referência
a ser utilizado é o B1.
Para poder calcular a temperatura suportada pelo condutor, é preciso saber qual é o material isolante
que reveste o condutor, porque cada um tem características diferentes que influenciam na temperatura
suportada pelo cabo. No exemplo das lâmpadas, consideraremos que o cabo está revestido por polietileno
reticulado (XLPE). De posse dessas informações, é possível consultar a NBR 5410, na tabela de capacidade
de condução de corrente para condutores com essas características.
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10) (11) (12) (13)
Cobre
0,5 7 7 7 7 9 8 9 8 10 9 12 10
0,75 9 9 9 9 11 10 11 10 1 11 15 12
1 11 10 11 10 14 12 13 12 15 14 18 15
4 26 24 25 23 32 28 30 27 36 32 38 31
6 34 31 32 29 41 36 38 34 46 41 47 39
10 46 42 43 39 57 50 52 46 63 57 63 52
16 61 56 57 52 76 68 69 62 85 76 81 67
25 80 73 75 68 101 89 90 80 12 96 104 86
50 119 108 110 99 151 134 133 118 168 144 148 122
Tabela 3 - Capacidade de condução de corrente
Fonte: Adaptado de (ABNT, 2004, p. 109)
Nesta tabela, precisamos nos atentar às colunas relacionadas ao método de referência, o B1, que é o
correto a ser empregado no exemplo das lâmpadas. Com isso, devemos delimitar o número de conduto-
res carregado naquele circuito que, nesse exemplo, consideraremos 2. Observe, na tabela, a seguir, como
determinar esse valor.
De posse dessas informações, basta observar na coluna correta qual a corrente mais próxima superior
àquela encontrada no cálculo da corrente máxima do circuito (18,9 A). Ao observar na tabela com a des-
crição da capacidade de condução de corrente, a corrente imediatamente superior à calculada é de 24 A.
Relacionando a corrente encontrada com o método de referência B1 e com o número de condutores car-
regados naquele circuito (2), encontramos qual a área da seção transversal especificada para o condutor,
no caso, 2,5 mm2.
Dessa maneira, conseguimos dimensionar o condutor correto para aplicação em nosso conjunto de
iluminação pelo método de capacidade de condução de corrente, porém isso não é o suficiente. Outros
métodos também devem ser considerados. Acompanhe, na sequência.
3 MATERIAIS, FERRAMENTAS E EQUIPAMENTOS
67
Com a disseminação da tecnologia, fica cada vez mais comum utilizar aplicativos de
SAIBA smartphones para auxiliar em nossas tarefas diárias. O aplicativo ElectroCalc FREE,
MAIS além de outros atributos, nos auxilia nos cálculos de dimensionamento de cabos
flexíveis. Vale a pena conferir.
b) Queda de Tensão
A norma NBR 5410 padroniza como queda de tensão máxima, em circuitos terminais de baixa tensão,
um valor de 4%. Desta maneira, o valor da tensão medido no ponto de entrega de energia pode ser, no
máximo, 4% a menos do que o valor medido no quadro de distribuição. Em outras situações, a norma prevê
valores de queda de tensão de 5% ou 7%, dependendo da aplicação e o nível de tensão do circuito.
Para calcular a queda de tensão em nosso circuito, precisamos verificar a informação do fabricante dos
condutores sobre qual a taxa de queda de tensão nesse material, normalmente constante em seu catálo-
go. Essa informação encontra-se, normalmente, em V/A.Km (Volt por Ampère Quilômetro). Pelo fato dessa
unidade de medida contemplar a taxa de queda de tensão em quilômetros, as distâncias utilizadas na
equação de queda de tensão também devem aparecer nessa mesma unidade de medida. Vejamos como
essa informação é disponibilizada:
Observando a tabela anterior, constatamos que a queda de tensão nos condutores é de 14,3V/A.Km.
Considerando uma distância de 15 m do quadro de distribuição até as cargas, podemos calcular a porcen-
tagem da queda de tensão (ΔV%). No caso do dimensionamento das lâmpadas, teremos:
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
68
∆ Vtab x L x l 100
∆ V (%) =
V
∆ V (%) = 3,19%
Onde:
∆V(%) – Porcentagem de queda de tensão (%).
∆Vtab – Queda de tensão tabelada (V/A.Km).
L – Comprimento do circuito (Km).
I – Corrente máxima do circuito (A).
V – Tensão nominal circuito (V).
Com esse cálculo, podemos concluir que a queda de tensão do circuito é inferior ao limite estabelecido
pela norma, validando o condutor definido pelo método de condução de corrente. Caso essa validação não
acontecesse, outro condutor, de maior bitola, deveria ser escolhido e o cálculo de queda de tensão refeito
para atender a norma.
CASOS E RELATOS
Erro de dimensionamento
Em uma empresa do ramo de plásticos, o dimensionamento dos condutores era feito de acordo
com os critérios de capacidade de condução de corrente, mas não levavam em consideração os
níveis de queda de tensão.
Em uma determinada situação, após fazer a ligação do equipamento com os cabos dimensionados
pelo método citado, os técnicos de manutenção da empresa notaram que repetidamente queima-
vam componentes daquela máquina e isso era causado pela tensão abaixo da nominal.
Eles descobriram que a tensão abaixo do recomendado tinha sua origem no dimensionamento
dos cabos alimentadores. Naquela situação, a distância da máquina até o painel de distribuição de
energia era de 115 metros, o que explicava a grande queda de tensão evidenciada.
Depois dessa descoberta, os projetistas da empresa passaram a adotar todos os critérios de di-
mensionamento, conforme prescreve a norma, não repetindo o erro nos demais projetos e recal-
culando os circuitos já projetados anteriormente.
3 MATERIAIS, FERRAMENTAS E EQUIPAMENTOS
69
Como a seção do condutor, através dos demais métodos, ficou definida em 2,5 mm2 e esse circuito é
destinado à iluminação, é possível identificar que a seção escolhida é superior àquela mínima estabelecida
pela norma, confirmando que o condutor pode ser utilizado para a esta aplicação. Caso o valor das seções
fossem iguais, ainda assim se daria a confirmação. Se o valor fosse menor do que o mínimo tabelado, apli-
caríamos a seção tabelada aumentando o fator de segurança para o condutor dimensionado.
Agora que já estudamos como dimensionar um condutor elétrico através dos três métodos de dimen-
sionamento, vamos aprender como fazer os cálculos da demanda.
A demanda pode ser definida como sendo a potência de um circuito, ou parte dele, levando em consi-
deração tudo que pode estar ligado simultaneamente. Em outras palavras, a demanda sempre será menor
do que a potência instalada4 no circuito em questão, porém é difícil mensurar o quanto menor. Ela será a
maior potência provável de ser utilizada ao mesmo tempo.
Para se determinar a demanda de uma instalação, é necessário fazer a soma das demandas individuais
de alguns conjuntos de equipamentos e multiplicá-los pelo fator de demanda daquele conjunto. Em am-
biente residencial, usualmente a demanda é calculada através da equação:
Onde:
D – Demanda (W).
Ptug – Potência das tomadas de uso geral (W).
Pilu – Potência da iluminação (W).
FD – Fator de demanda.
Ptue – Potência das tomadas de uso específico (W).
O fator de demanda é variável, e depende do uso que se faz daquela instalação. Apesar disso, algumas
concessionárias de energia disponibilizam tabelas com alguns fatores de demanda usuais. Veja na tabela a
seguir o fator de demanda:
Até 1 0,86
Entre 1 e 2 0,75
Entre 2 e 3 0,66
Entre 3 e 4 0,59
Entre 4 e 5 0,52
Entre 5 e 6 0,45
Entre 6 e 7 0,40
Entre 7 e 8 0,35
Entre 8 e 9 0,31
Entre 9 e 10 0,27
Acima de 10 0,24
Tabela 5 - Fator de demanda
Fonte: Adaptado de (MÜNCHOW; NEVES, [200-?], p. 5)
Vamos analisar um exemplo. Considerando uma residência com 2.000 W de potência instalada de ilu-
minação, 3.200 W de potência instalada de tomadas de uso geral e 4.500 W de tomadas de uso específico,
qual a demanda desse ambiente?
D = 2340 + 4500
D = 6840 W
3 MATERIAIS, FERRAMENTAS E EQUIPAMENTOS
71
Onde:
D – Demanda (W).
Ptug – Potência das tomadas de uso geral (W).
Pilu – Potência da iluminação (W).
FD – Fator de demanda.
Ptue – Potência das tomadas de uso específico (W).
Nesse exemplo, a demanda é de 6.840 W. Portanto, em utilização, a residência não teria mais do que
essa potência ligada em um mesmo período, considerando toda sua potência instalada. Para que precisa-
mos saber esse valor de demanda?
Primeiramente, precisamos do valor da demanda daquela instalação para dimensionar os condutores
de entrada de uma instalação elétrica, que normalmente são os que fazem a ligação do medidor de ener-
gia ao quadro de distribuição. Isso também é necessário para o dimensionamento das proteções elétricas.
Considerando a potência instalada para o dimensionamento dos cabos de entrada da instalação, este
dimensionamento seria exagerado, porque estaríamos admitindo que todos os equipamentos daquela
instalação estariam ligados e em potência nominal, o que não é a realidade. Na maioria das vezes, alguns
equipamentos estão ligados e outros não. Além disso, aqueles que estariam ligados, não necessariamente
estariam dissipando sua potência nominal.
Neste exemplo, fazendo o processo de dimensionamento por capacidade de condução de corrente, o
condutor escolhido seria de 10 mm2. Caso os critérios de demanda não fossem observados, os condutores
seriam de 25 mm2. Note que não utilizando a demanda da unidade consumidora, a instalação seria super-
dimensionada, resultando em desperdício de material.
O superdimensionamento dos condutores não resulta em riscos à instalação ou a seus operadores, po-
rém, ao superdimensionar as proteções de um circuito, estamos reduzindo o nível de segurança da instala-
ção, facilitando a ocorrência de problemas.
Outro ponto a ser observado é o esquema de fornecimento de energia pela concessionária. Depen-
dendo da potência instalada, ela pode ser alimentada por um sistema mono, bi ou trifásico, ou mesmo
indicando a necessidade da unidade de transformação5.
Cada concessionária de energia pode ter seu próprio critério de seleção, mas, como exemplo, podemos
considerar:
Monofásico Até 11
Bifásico Entre 11 e 22
Trifásico Entre 22 e 75
Agora que já estudamos alguns conceitos para o dimensionamento de condutores e o cálculo da de-
manda, vamos então conhecer os tipos de instalações e o quanto interferem neste dimensionamento.
As instalações elétricas são influenciadas diretamente pelo modo como seus condutores são dispostos.
Ou seja, dependendo de como e onde são dispostos os condutores elétricos, haverá maior ou menor influ-
ência negativa à instalação de maneira geral.
O confinamento de cabos elétricos pode propiciar a elevação de temperatura e confiná-los com cabos
de outros circuitos, o que agravaria a situação. Outra questão a ser observada é que influências eletromag-
néticas6 existem quando circuitos distintos estão posicionados próximos uns aos outros.
Cada método de instalação tem sua particularidade, que pode ser favorável ou não, dependendo de
sua aplicação. A norma da Comissão Internacional de Eletrotécnica, IEC 60364-5-52, define os métodos
utilizados internacionalmente. Para esses casos, suas capacidades de condução de corrente foram testadas
em laboratório e padronizadas. São eles:
a) A1: condutores isolados em eletroduto de seção circular embutido em parede termicamente isolan-
te;
b) A2: cabo multipolar em eletroduto de seção circular embutido em parede termicamente isolante;
c) B1: condutores isolados em eletroduto de seção circular sobre parede de madeira;
d) B2: cabo multipolar em eletroduto de seção circular sobre parede de madeira;
e) C: cabos unipolares ou cabo multipolar sobre parede de madeira;
Apesar de cada método ter características próprias (prós e contras), estudaremos detalhadamente os
mais utilizados atualmente. Siga em frente com seus estudos.
7 Forma gráfica composta por três formas circulares encostadas entre si, em formato de trevo.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
74
O eletroduto é bastante utilizado para a proteção mecânica dos condutores de eletricidade. São esses
materiais que absorvem impactos e resistem a forças mecânicas que, na sua ausência, seriam aplicados
diretamente sobre o condutor elétrico, prejudicando-o.
De acordo com a norma NBR 5410, após a instalação dos eletrodutos, a inserção ou remoção de condu-
tores de seu interior deve acontecer com facilidade. Para tanto, precisamos considerar dois fatores: a taxa
de ocupação e o comprimento.
a) A taxa de ocupação dos eletrodutos, ou seja, a quantidade de espaço ocupado em relação ao total,
não deve exceder a:
1) 53%, quando houver apenas um condutor;
2) 31%, quando houver dois condutores; e
3) 40%, quando houver 3 ou mais condutores.
b) Os eletrodutos não poderão exceder o comprimento de:
1) 15 metros para ambientes internos; e
2) 30 metros para ambientes externos.
Essas distâncias são padronizadas para trechos em linha reta. Para trechos sinuosos, essas distâncias são
ainda menores.
% Livre
Área
Jean Carlos Klann (2015)
útil
% Ocupado
Os eletrodutos aparentes são aqueles possíveis de visualizar, ou mesmo, encostar. Eles se encontram ex-
ternamente às paredes, lajes, pisos, ou divisórias. Este tipo de instalação por eletrodutos aparentes é mais
fácil de instalar e apresentam uma certa flexibilidade, já que é possível acessá-los após a sua montagem.
Entretanto, a estética do ambiente fica prejudicada, já que não integram sua decoração.
Já os eletrodutos embutidos são aqueles que se encontram no interior de paredes, lajes, divisórias, ou
mesmo enterrados. Apesar de serem esteticamente mais indicados, após instalados, apresentam maior
dificuldade de manutenção e possíveis mudanças, porque há maior dificuldade para acessá-los.
3 MATERIAIS, FERRAMENTAS E EQUIPAMENTOS
75
Apesar de ser mais conhecido o eletroduto de seção circular, há também seções quadradas ou retan-
gulares. O material de fabricação destes dutos pode ser de materiais metálicos ou polímeros8, cada um
desenvolvido para uma determinada aplicação.
Há diversas maneiras de utilização dos eletrodutos previstas em norma, porém, de maneira geral, po-
demos considerar:
a) A1 – Quando o material em que o eletroduto estiver embutido for termicamente isolante (conduto-
res isolados ou cabos unipolares);
b) A2 – Quando o material em que o eletroduto estiver embutido for termicamente isolante (cabo
multipolar);
c) B1 – Quando o material em que o eletroduto estiver embutido não for termicamente isolante ou
para eletrodutos aparentes (condutores isolados ou cabos unipolares);
d) B2 – Quando o material em que o eletroduto estiver embutido não for termicamente isolante ou
para eletrodutos aparentes (cabo multipolar);
e) D – Para eletrodutos enterrados.
Lembre-se de conferir na norma brasileira a especificação de cada método e sua similaridade com a
norma internacional. Dessa maneira, evita-se erros de interpretação, reduzindo as divergências no dimen-
sionamento dos condutores isolados ou cabos multipolares.
A eletrocalha é similar ao eletroduto, porque também é uma via por onde fios e cabos elétricos são dis-
postos. O que os diferencia é que a eletrocalha foi desenvolvida especialmente para permanecer aparente
é aberta em uma de suas faces, coberta ou não por uma tampa, ou seja, pode-se acessar o interior delas.
Veja uma comparação:
Thinkstock ([20--?])
De acordo com a NBR 5410, não há orientação quanto à taxa de ocupação máxima nem em relação ao
seu comprimento, porque, ao invés do processo de puxamento9 necessário nos eletrodutos, nas eletroca-
lhas os cabos são apenas depositados, não atritando com os limites do duto e facilitando sua acomodação.
O emprego de eletrocalhas permite uma ventilação melhor dos condutores em relação aos eletrodu-
tos, por esse motivo há maior dissipação de calor e tendência de redução dos problemas relacionados ao
superaquecimento.
A forma construtiva da eletrocalha permite colocar uma quantidade maior de cabos em seu interior, até
porque suas dimensões comerciais são maiores. Nos locais onde é preciso colocar uma grande quantidade
de cabos, esse método é mais indicado do que outros.
A utilização de normas e catálogos técnicos é imprescindível para a área de eletricidade, porque tudo
deve estar padronizado e previsto na legislação vigente.
Nas normas técnicas, podemos encontrar informações padronizadas de como lidar com artigos elétri-
cos (projetar, dimensionar, instalar, executar manutenção etc.). No Brasil, as principais normas são desen-
volvidas pela ABNT10, pelo Ministério do Trabalho e Emprego ou pelas concessionárias de distribuição de
energia.
A ABNT publica normas nacionais de diversas áreas, inclusive da elétrica. As normas publicadas por esse
órgão contemplam tópicos técnicos obrigatórios a nível nacional. Algumas das principais normas relacio-
nadas à área elétrica são:
a) NBR 5410 – Instalações elétricas de baixa tensão;
b) NBR 5419 – Proteção de estruturas contra descargas atmosféricas;
c) NBR 5460 – Sistemas elétricos de potência;
d) NBR 14039 – Instalações elétricas de média tensão.
Para ter acesso às normas publicadas pela ABNT, é necessário comprá-las. Cada norma oferecida tem
um valor equivalente.
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) faz publicações das normas regulamentadoras, conhecidas
como NRs. Essas normas tratam exclusivamente de questões de segurança e são obrigatórias também em
âmbito nacional. As principais NRs aplicadas a área elétrica são:
a) NR 10 – Segurança em instalações e serviços em eletricidade;
b) NR 12 – Segurança no trabalho em máquinas e equipamentos.
Ao contrário das publicações da ABNT, as normas regulamentadoras do MTE são gratuitas e estão dis-
poníveis na própria página deste órgão na internet.
As concessionárias de distribuição de energia também publicam normas técnicas para orientar seus
clientes. Essas normas não são obrigatórias em âmbito nacional, porém os consumidores de cada distribui-
dora precisam se adequar às exigências dela para serem atendidos.
Os catálogos técnicos contêm dados relativos aos produtos utilizados na área elétrica. É muito impor-
tante consultá-los, já que em diversos processos de dimensionamento, instalação ou manutenção, essas
informações são necessárias. Um exemplo disso é o tipo de material isolante empregado nos condutores
elétricos, necessário nos dimensionamentos, conforme estudamos anteriormente.
SAIBA Para saber mais sobre as informações constantes em um catálogo técnico, acesse:
http://www.cobrecom.com.br/catalogo/catalogo-de-produto-cobrecom-2013.pdf.
MAIS Neste endereço, você encontrará um exemplo de catálogo de fios e cabos elétricos.
RECAPITULANDO
Neste capítulo, aprendemos sobre dispositivos elétricos e suas aplicações. Também estudamos al-
gumas das mais importantes ferramentas para o eletricista e como elas auxiliam nas atividades
cotidianas.
Conhecemos as características dos condutores elétricos e os passos para dimensioná-los, de acor-
do com os critérios normativos vigentes. Por fim, estudamos os métodos de instalação para condu-
tores elétricos e as instruções normativas mais importantes dessa área.
Instrumentos de Medição
Neste capítulo, vamos abordar as características dos instrumentos de medição, seus tipos e
onde são aplicados. Conheceremos medidas elétricas, grandezas elétricas e quais equipamen-
tos são necessários para realizar medições.
Em cada processo de medição, alguns critérios devem ser considerados, como, por exem-
plo: tipo de grandeza, ordem da grandeza, tipo de equipamento, escala do equipamento, clas-
se de isolação, entre outros. A escolha errada de um equipamento de medição pode colocar
em risco a saúde do profissional e apresentar valores distorcidos.
Você sabe como realizar medições de grandezas elétricas em um processo de manutenção
industrial? Quais os equipamentos que devem ser aplicados e que cuidados você deve tomar
durante uma medição? Essas dúvidas são comuns na área da eletricidade e na aplicação de ins-
trumentos de medição. Você, como futuro técnico em eletromecânica, realizará medições com
muita frequência. Portanto, fique atento e se aproprie de mais esse conhecimento.
1 Sem cheiro.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
80
As medidas elétricas são obtidas através de um processo chamado medição ou operação de medição.
Esse processo é, basicamente, constituído por submeter um fenômeno físico ao instrumento de medição, e
este o aplica ao seu órgão de percepção. Em resumo, o órgão de percepção dos instrumentos de medidas
são elementos sensores que fazem a conversão do sinal encontrado em um sinal específico capaz de ser
comparado com o padrão.
O padrão para as medidas elétricas é também chamado de grandeza unitária, ou padrão unitário. Quan-
do tratamos de algumas grandezas, como comprimento ou peso, fica fácil de imaginar como são os pa-
drões. Porém, quando tratamos de padrões para grandezas elétricas, é complicado perceber como pode
ser feito o padrão. Vejamos a padronização de algumas das grandezas elétricas:
a) Tensão elétrica: o padrão para tensão elétrica é baseado em um elemento chamado Célula Padrão
de Weston. Esse elemento é constituído por uma pasta de sulfato de mercúrio e cristais de sulfato de
cádmio imersos em uma solução saturada do próprio sulfato de cádmio. Respeitando a concentração
padrão para essa solução e temperatura de 20 °C, tem-se tensão medida de 1,01830 V.
b) Corrente elétrica: a corrente elétrica é padronizada através da força de atração entre dois condu-
tores paralelos, com comprimento infinito e área da seção transversal desprezível. Estando esses dois
condutores separados em 1m, no vácuo, a força resultante entre os condutores é de 2 x 10-7N/m.
4 INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO
81
c) Resistência elétrica: essa grandeza é padronizada em um fio de manganina, liga com cobre, man-
ganês e níquel. Esse filamento é enrolado em forma de bobina e imerso num banho de óleo em tem-
peratura constante. Dependendo do diâmetro do condutor e do seu comprimento, a resistência desse
filamento varia entre 10-4Ω e 106Ω.
SAIBA Para conhecer um pouco mais sobre os padrões de tensão elétrica, acesse: http://
repositorios.inmetro.gov.br/bitstream/10926/733/1/2007_R%C3%A9gisPinheiroLand
MAIS im.pdf
Há uma variedade de grandezas existentes, porém todas são derivadas das chamadas grandezas funda-
mentais. Leia, no quadro, a seguir, as grandezas fundamentais e algumas grandezas derivadas:
Em todas as medições, inclusive das grandezas elétricas, podem ocorrer erros. Acompanhe, a seguir,
alguns exemplos de erros de medição:
a) Erros grosseiros: são aqueles baseados no fator humano, também chamados de erro humano.
Exemplo: leitura incorreta de um valor apresentado ou mesmo posicionamento incorreto do medidor.
Esse erro pode ser evitado com o treinamento dos responsáveis pela medição;
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
82
b) Erros sistemáticos: são baseados no equipamento de medição. Esses erros sempre ocorrem na uti-
lização daquele medidor, naquela situação. Pode ser causado por falta de calibração, bateria fraca e
interferências;
c) Erros constantes: são aqueles que a variação percebida é sempre constante, ou seja, sempre have-
rá a mesma variação. Caso o instrumento registre uma tensão 10V superior à real, sempre haverá essa
mesma distorção;
d) Erros periódicos: esses erros são variáveis, porém seguem algumas regras que os tornam previsí-
veis, como por exemplo, a medição de sinal de corrente alternada “dente de serra” com um medidor não
apropriado;
e) Erro aleatório: erro totalmente variável. Nesse caso, não há regras ou leis em que são baseados;
f) Erros acidentais: esses erros acontecem devido a fatores que não podemos controlar. É a chamada
“falta de sorte”.
Quando os erros são provenientes do equipamento de medição, existem dois processos usados para
correção ou determinação do erro: a aferição e a calibração.
O processo de aferição contempla a comparação do valor medido pelo instrumento em questão e o
valor real da grandeza, indicado por um equipamento confiável. Esse método informa qual é o erro de
medição do equipamento, porém não o corrige.
No processo de calibração, a comparação entre medições também acontece, mas o erro é corrigido,
calibrando o medidor. Os medidores são calibrados assim que fabricados e são comercializados prontos
para utilização. Alguns modelos têm a possibilidade de serem calibrados de acordo com as necessidades
de utilização posteriores, porém outros modelos (os mais simples) não têm essa função.
Há duas maneiras possíveis de expressar a dimensão do erro: o erro absoluto e o erro relativo.
O erro absoluto é a diferença entre o valor medido e o valor real. Dessa maneira, a unidade de medida
desse erro é igual à unidade de medida da grandeza associada à medição. Por exemplo, em uma medição
de tensão, o erro é expresso em unidades de Volts. Observe a equação para a obtenção do erro absoluto:
εab = Vm - Vr
Onde:
ɛab – Erro absoluto.
Vm – Valor medido.
Vr – Valor real.
4 INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO
83
O erro relativo é um número, unitário ou percentual, que expressa o quanto distorcido está o valor me-
dido em relação ao real. Nesse caso, o erro é adimensional e sua compreensão depende exclusivamente da
grandeza real da instalação. Veja como encontrar o erro relativo:
Unitário Percentual
εre = εab εre = εab x 100
ou
Vr Vr
Onde:
ɛre – Erro relativo.
ɛab – Erro absoluto.
Vr – Valor real.
Quando o valor medido é maior que o valor real da grandeza, diz-se que o erro foi cometido por exces-
so. Quando esse valor é menor, chamamos de erro por falta.
Para o fornecedor de um instrumento de medição indicar qual o erro normal e aceitável do seu equipa-
mento, ele informa o fundo de escala2 do equipamento seguido dos valores de erro percentuais máximos,
ou apenas o valor percentual. Acompanhe os exemplos:
a) V = 1000V ± 5% (medição de, no máximo, 1000V com 5% de erro);
b) A = 50A + 2% -5% (medição de, no máximo, 50A com 2% de erro para mais e 5% de erro para menos);
c) Erro = 10% (erro de 10% para mais ou para menos).
Já os equipamentos analógicos são dotados de mostradores com um fundo fixo e um ponteiro móvel,
cuja associação mostra o resultado da medição. Como o resultado depende da posição que o ponteiro
indicar no mostrador, percebemos um elemento que é importante nesses equipamentos: o elemento de
suspensão.
O elemento de suspensão, ou chamado de mecanismo de suspensão, é o que garante a fixação da
parte móvel (ponteiro) à parte fixa com a característica de baixíssimo atrito. Esse processo promove maior
confiabilidade ao equipamento. Os mecanismos mais conhecidos são: por fio, por pivô e por suspensão
magnética.
Thinkstock ([20--?])
Figura 31 - Equipamento analógico e digital
Nestas imagens, podemos notar a diferença entre os medidores analógicos (à esquerda) e os digitais (à
direita). Os medidores também são diferenciados pelo princípio de funcionamento de seus sensores. Dessa
maneira, sua classificação é eletromecânico (analógico) ou eletrônico (digital).
Nessa classificação, o que diferencia os equipamentos é a maneira como os sinais medidos são inter-
pretados. Os equipamentos eletromecânicos executam as medições baseados em campos magnéticos ou
eletromagnéticos. Normalmente, ao ser percorrida por uma corrente, uma bobina interna ao equipamento
produz um campo magnético capaz de movimentar o ponteiro do mostrador.
Nos equipamentos eletrônicos, não há o elemento responsável pela interação magnética. Neste caso,
um circuito eletrônico capaz de executar comparações faz esse papel. O resultado dessa comparação é,
então, apresentado em seu mostrador.
Apesar de ser mais comum encontrar equipamentos eletromecânicos com mostradores analógicos e
equipamentos eletrônicos com mostradores digitais, pelas características construtivas desses modelos, o
contrário também pode ser encontrado, já que pode haver independência entre sistema de medição e
mostrador.
4 INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO
85
Cada instrumento de medida tem determinada característica que define as condições de sua utilização.
A rigidez dielétrica é uma das características dos instrumentos de medição. É a máxima diferença de po-
tencial entre a parte condutora e a carcaça isolante do instrumento. Esse valor de tensão é chamado tensão
de prova ou tensão de ensaio, e é a maior tensão suportada sem que o material dielétrico seja danificado.
Respeitando a rigidez dielétrica4 dos instrumentos de medição, garantimos maior segurança aos indivídu-
os envolvidos na mediação e maior vida útil do equipamento.
Outra característica dos instrumentos de medição é a potência energética consumida. Em cada medi-
ção, para conseguir efetuar as comparações necessárias, certa corrente elétrica percorrerá uma resistência
interna do equipamento. Por esse motivo, dissipará uma quantidade de energia que depende da corrente
e da resistência interna do equipamento. Essa potência dissipada influencia diretamente na eficiência do
equipamento. Quanto maior a quantidade de energia consumida para efetuar a medição, menor a eficiên-
cia do medidor.
A eficiência energética dos medidores é apresentada levando em consideração a perda própria do ins-
trumento. Esse valor equivale à máxima potência dissipada em um determinado calibre, ou seja, conside-
rando o fundo de escala do medidor.
Outra característica dos equipamentos de medição é o registro de dados. Alguns medidores são desen-
volvidos para apenas apresentar instantaneamente os resultados da medição, e, por isso, são chamados de
indicadores. Já os equipamentos registradores, além de efetuar as medições instantâneas, seus resultados
são armazenados em um banco de dados para posterior consulta ou análise. Há também os instrumentos
integradores, em que os valores das medições não são instantâneos, mas sim integrados em um intervalo
de tempo definido pelo seu operador.
A seguir, estudaremos outras características importantes que devem ser observadas ao escolher um
instrumento ou outro.
4.3.1 ESCALA
A escala em um instrumento de medida é a variação pela qual este equipamento está preparado para
executar as medições. Essa variação também é conhecida como Range de medição e indica os valores mí-
nimos e máximos possíveis de medição e suas devidas frações.
A resolução do equipamento é a menor porção de incremento e decremento5 possível deste aparelho,
ou seja, é a menor variação que conseguimos observar no mostrador, seja ele digital ou analógico.
4 Material isolante.
5 Incremento: Parcela a acrescentar. Decremento: Parcela a decrescentar.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
86
Thinkstock ([20--?])
Figura 32 - Escala analógica
Como você pode ver na figura anterior, a escala de medição do equipamento é ajustável. Para saber qual
escala está selecionada, basta observar em qual posição o seletor se encontra. Nesse caso, como o seletor6
está apontando para 1000, no módulo de medição de tensão em corrente contínua, a escala está ajustada
para medições de 200 a 1000V. Para esse equipamento, nessa condição, sua resolução é de 1V. Se a escala
for alterada, sua resolução também será, podendo chegar até 0,001V ou 1mV.
6 Botão localizado no centro do medidor, capaz de selecionar a faixa de medição que se deseja.
4 INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO
87
O conceito de precisão é, por vezes, confundido com o conceito de exatidão. Apesar da semelhança, os
termos se referem a itens distintos.
A precisão de um equipamento é relacionada a variação na reprodução dos resultados das medições,
nas mesmas condições. Quanto mais próximos forem esses resultados, mais preciso é o equipamento de
medição. Equipamentos imprecisos são aqueles que têm variações relativamente elevadas em seus resul-
tados. A precisão do equipamento não está relacionada com o resultado esperado da medição.
Já a exatidão está diretamente relacionada com o resultado esperado na medição. Ao realizar um con-
junto de medições e constatar que a média dessas medições é muito próxima de seu resultado real, dize-
mos que o equipamento é exato. Se forem encontrados valores muito distorcidos, é porque o equipamen-
to é inexato.
Perceba que esses dois conceitos, apesar de apontarem características dos medidores, não são relacio-
nados entre si. Portanto, podemos ter medições exatas e não precisas, e medições precisas e inexatas, ou
mesmo medições precisas e exatas.
Na figura, a seguir, é possível entender melhor a diferença entre esses conceitos.
Patricia Marcílio (2015)
Um bom equipamento de medição é aquele que tem alta taxa de repetitividade em seus resultados e
pequena média de erros. Portanto, um medidor com essas características é preciso e exato.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
88
4.3.3 SENSIBILIDADE
4.3.4 POSIÇÃO
Os instrumentos de medição analógicos, projetados para painéis, devem estar em uma posição ade-
quada para o seu funcionamento. Quando isso não é levado em consideração, erros importantes podem
acontecer.
Normalmente os instrumentos de medição destinados para painéis são instalados na posição vertical.
Apesar disso, há outras possibilidades para essa instalação.
= Posição Vertical
= Posição Horizontal
Jean Carlos Klann (2015)
= Posição Inclinada
(Ângulo depende de X)
X 0
Além das posições horizontal e vertical, também há a possibilidade de instalação dos equipamentos
de maneira inclinada, respeitando a inclinação apontada pelo fabricante no respectivo símbolo, de acordo
com a imagem apresentada.
4 INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO
89
4.3.5 ISOLAÇÃO
Os instrumentos de medição destinados a trabalhos com eletricidade têm classes de isolação que de-
terminam as circunstâncias a que podem ser submetidos. A tensão de isolação, ou mesmo chamada como
tensão de prova, é a maior diferença de potencial aplicada entre a parte interna do equipamento (condu-
tores) e sua parte externa (isolantes).
A classe de isolação do equipamento é representada por uma estrela com um número em seu interior
(1, 2 ou 3). Propositalmente, esse número equivale ao valor da tensão de isolação daquele equipamento,
expressa em KV. (MARTINO, 1995). Em casos onde a estrela aparece desacompanhada do numeral, sua ten-
são de isolação é estabelecida em 500V.
Ao utilizar um instrumento de medição com classe de isolação inferior àquela apresentada no ponto a
ser medido, pode haver dano no equipamento de medição e o operador pode sofrer uma descarga elétrica.
Devido à quantidade de grandezas que precisamos mensurar, temos muitos instrumentos de medição,
cada qual desempenhando seu papel e determinando o valor de uma ou mais grandezas.
A seguir, conheça as características de cada equipamento, bem como sua respectiva grandeza elétrica.
4.4.1 VOLTÍMETRO
O voltímetro é um instrumento desenvolvido para efetuar medições de tensão elétrica. O próprio nome
está associado com a unidade de medida dessa grandeza: o Volt.
A medição através deste instrumento ocorre, obrigatoriamente, em paralelo ao circuito. Seus terminais
devem sempre estar entre os pontos que queremos descobrir, a diferença de potencial. Observe na ima-
gem, a seguir, um exemplo de ligação do voltímetro nos condutores da instalação.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
90
Thinkstock ([20--?])
Figura 37 - Ligação do voltímetro
Um voltímetro ideal tem, internamente, resistência com valor infinito. Isso é necessário para que o ins-
trumento não altere as condições do circuito em que está sendo introduzido. Apesar disso, na prática, não
é possível produzir esse tipo de medidor, mas sim um equipamento com alta resistência interna que mini-
miza ao máximo esse distúrbio. (MARTINO, 1995).
Há voltímetros para medições em corrente contínua e outros para corrente alternada. Por isso, precisa-
mos ficar atentos para aplicá-los somente para o fim a que se destinam.
4.4.2 AMPERÍMETRO
Fase
Neutro
Figura 38 - Ligação do amperímetro
4 INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO
91
Analisando a imagem apresentada, é possível concluir que esse equipamento está medindo a corrente
no condutor fase do circuito, isso porque é essa a corrente que passa através deste medidor.
Ao “forçar” a passagem de corrente elétrica através do amperímetro, é ideal que a resistência interna
seja igual a zero. Isso evita quaisquer interferências no circuito medido. Apesar disso, é impossível fabricar
um equipamento ideal. O equipamento real tem baixo valor de resistência interna, porém não a elimina.
Diante da necessidade de medição de correntes superiores ao dimensionamento do equipamento, po-
de-se utilizar um artifício: o resistor shunt. Para isso, precisamos conectar um resistor em paralelo ao medi-
dor, ou seja, um resistor entre os polos do amperímetro. Esse artifício reduz a corrente através do medidor
em proporções conhecidas, fazendo com que seja fácil determinar o valor total da corrente medida. Para
determinar a resistência do resistor shunt, utilizamos a seguinte equação:
RI FD
Rs = ; n =
n-1 Fo
Onde:
RS – Resistência do resistor Shunt (Ω).
RI – Resistência interna do equipamento (Ω).
n – Fator de amplificação.
FD – Fundo de escala desejado (A).
FO – Fundo de escala original (A).
Analise o exemplo a seguir sobre a aplicação do resistor shunt. Você precisa de um amperímetro capaz
de efetuar medições de até 20A, porém o equipamento tem fundo de escala igual a 1A. Nesse equipamen-
to, a resistência interna é de 1Ω. Para essa situação, qual é o valor da resistência shunt a ser empregada?
Para resolver esse problema, precisamos primeiro determinar o fator de amplificação necessário. Ob-
serve:
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
92
FD . .
n = . . n = 20 . . n = 20
Fo 1
Onde:
n – Fator de amplificação.
FD – Fundo de escala desejado (A).
FO – Fundo de escala original (A).
Após determinar o fator de amplificação, podemos determinar a resistência shunt requerida.
RI . 1 . . ~
Rs = . . R = . . R = 1 . . RS = 0,053Ω
n-1 s
20 - 1 s
19
Onde:
RS – Resistência do resistor Shunt (Ω).
RI – Resistência interna do equipamento (Ω).
n – Fator de amplificação.
Com esse exemplo, é possível concluir que, ao conectar um resistor de aproximadamente 0,053Ω aos
terminais do medidor, pode-se desconsiderar o fundo de escala original do medidor e utilizar o novo fun-
do de escala, que é 20A. O seletor do equipamento permanece na posição original, apenas multiplica-se o
resultado da medição por 20, fator de amplificação adotado.
Analisando este exemplo, pode-se perceber que o resistor shunt encontrado não existe comercialmen-
te. Neste caso, pode-se associar diferentes resistores com a finalidade de encontrar uma resistência equiva-
lente com o valor que se deseja. Outra possibilidade é utilizar um resistor com valor de resistência próximo
ao calculado, reaplicando a equação anterior com o objetivo de encontrar o novo fator de amplificação
(com valor de resistência shunt comercial).
Um modelo de amperímetro bastante utilizado é o alicate amperímetro. Esse equipamento utiliza os
princípios do eletromagnetismo para efetuar a medição.
O alicate amperímetro é capaz de envolver o condutor elétrico com sua pinça. Como em um transfor-
mador, a corrente elétrica do condutor induz uma corrente elétrica em um circuito secundário. Essa corren-
te secundária será medida e o resultado será proporcional à corrente do próprio condutor.
Uma vantagem desse equipamento é a ausência de conexão elétrica do equipamento de medição com
a parte de potência dos circuitos medidos. Outra vantagem é a possibilidade de efetuar as medições sem
ter que seccionar o circuito para a instalação das pontas de prova. Observe, na figura, a seguir, o alicate
amperímetro e a sua forma de utilização.
4 INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO
93
Thinkstock ([20--?])
Figura 39 - Alicate amperímetro
4.4.3 OHMÍMETRO
Thinkstock ([20--?])
Figura 40 - Medição de resistência elétrica
Nos exemplos anteriores, é possível perceber que a fração do circuito a ser medido deve estar isolada
dos demais componentes, além do corpo humano. Procedendo desta maneira, outras correntes, ou a fuga
de corrente7 para outros componentes, não existirá, favorecendo assim o processo de medição.
Em alguns casos, esse instrumento não é utilizado para medição de resistência propriamente dita, mas
sim para saber se há curto-circuito ou mesmo circuito aberto. Nessas situações, quando o valor de resis-
tência for igual a zero, considera-se o circuito em curto. Já quando o aparelho apresentar valores máximos,
representado pelo número um, provavelmente o circuito está aberto.
Este equipamento foi desenvolvido para efetuar medições em unidades de Ohm. Para medições de
valores mais altos, com milhares ou milhões de Ohm, esse equipamento não é adequado, uma vez que seu
valor máximo indicará um falso circuito aberto.
4.4.4 MEGÔHMETRO
Esse instrumento tem o mesmo princípio de funcionamento do ohmímetro, mas sua aplicação é dife-
renciada. Enquanto aquele dispositivo é utilizado para medições de baixas resistências, este é empregado
para mensurar altíssimas resistências.
7 Corrente desviada por um caminho de baixa resistência, não normal e não intencional.
4 INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO
95
O ohmímetro utiliza, na maioria dos casos, como fonte de tensão uma bateria de 9V que não é capaz de
fornecer corrente suficiente para um circuito de altas resistências. Nesse caso, o equipamento apresentará
sempre seu valor máximo, dando a entender que o circuito está sempre aberto. Nessa situação, o megô-
metro é indicado, porque funciona como gerador de alta tensão. Com esse atributo, ele é capaz de suprir a
corrente necessária à medição e, assim, efetuá-la com êxito.
4.4.5 MULTÍMETRO
Thinkstock ([20--?])
Figura 41 - Multímetro
Esse equipamento é capaz de efetuar medições de tensão e corrente (contínua ou alternada), bem
como medir resistência, temperatura, frequência, entre outros.
Esses instrumentos de medição são largamente utilizados nos processos de montagem e manutenção
elétrica. Seu conceito e característica construtiva torna-o multifuncional, compacto e leve, evidenciando
suas qualidades de portabilidade e praticidade.
Os multímetros seguem uma classificação internacional por categoriais. Essa classificação informa em
quais locais cada aparelho pode ser utilizado sem colocar o operador do instrumento em risco. A definição
da categoria depende de um fator de perigo relacionado com a quantidade de energia provável incidente.
CATEGORIA APLICAÇÃO
CASOS E RELATOS
Falha na Medição
Na indústria Herval Nobre Alimentos SA havia um colaborador que era responsável pelas manuten-
ções preventivas dos equipamentos. Entre outras atribuições, essa pessoa realizava as medições de
grandezas elétricas (tensão, corrente, potência, entre outras) desses equipamentos com a finali-
dade de identificar e prevenir futuros defeitos.
Certo dia, o colaborador precisou efetuar a medição de tensão elétrica em um motor elétrico que
era utilizado em um misturador de produtos com capacidade para 8 toneladas de matéria-prima.
O equipamento que o colaborador utilizou para fazer as medições foi um multímetro comum, o
mesmo que ele utilizava em outros equipamentos, com tensão máxima de medição indicada em
1000V. Nesse momento, o colaborador não verificou que o motor era alimentado com 2100V. Ao
conectar as ponteiras do medidor no motor elétrico, o medidor foi danificado.
Após esse incidente, o colaborador prestou mais atenção e procurou utilizar sempre o equipamen-
to correto, com níveis de tensão, classe de isolação e demais fatores condizentes com o objetivo da
medição, evitando, assim, outros incidentes ou mesmo acidentes.
RECAPITULANDO
Estudamos, neste capítulo, alguns detalhes sobre o processo de medição de algumas grandezas
elétricas, além de ter observado as características dos medidores. Na medida em que os equipa-
mentos automáticos são disseminados e novas tecnologias são desenvolvidas, é cada vez mais
simples efetuar medições elétricas, sejam elas nos processos de montagem, operação ou mesmo
manutenção das instalações.
Também aprendemos a identificar o equipamento correto para as medições de corrente elétrica,
como também para resistência ou outras grandezas. Conhecemos alguns artifícios para melhorar o
desempenho desses instrumentos, além de garantir a integridade do equipamento e a segurança
do trabalhador.
Desenho Técnico Elétrico
Neste capítulo, vamos estudar o desenho aplicado à área técnica. Cada área utiliza dese-
nhos que apresentam informações relacionadas à sua aplicação, como, por exemplo, as instala-
ções elétricas. Vamos estudar os esquemas unifilares e multifilares que resumem as instalações
elétricas em esquemas de rápida e fácil interpretação.
Também vamos acompanhar a definição de leiaute e as normas vigentes para o desenho
técnico. Você já viu um desenho de um esquema elétrico de uma residência? Sabe o que cada
traço representa e qual a importância das representações esquemáticas e diagramas no mun-
do do trabalho? Você sabia que o desenho é uma das formas de comunicação mais antigas que
existem? Neste capítulo, você descobrirá a resposta para esses e outras questões relacionadas
ao desenho técnico. Bom estudo.
Desde a antiguidade, o desenho era utilizado como uma maneira eficaz de passar uma
mensagem a outro indivíduo, seja ela complexa ou não. Civilizações antigas deixaram suas
marcas através dos desenhos nas paredes de cavernas. Enquanto não havia sequer a noção da
importância da representação gráfica, essas civilizações já as utilizavam em forma de pinturas
rupestres.
Thinkstock ([20--?])
Por meio do desenho é fácil identificar que o autor queria representar uma caçada de um animal com
um arco e flecha. Para descrever essa situação de outra maneira, a comunicação não é tão eficaz.
Através do desenho é possível repassar informações com uma quantidade de detalhes superior a outros
métodos, como por exemplo, a escrita ou mesmo a fala. Há inclusive uma frase bastante conhecida do filó-
sofo chinês Confúcio, que diz: “Uma imagem vale mais que mil palavras”.
Imagine como é complexo transmitir informações sobre as características construtivas de um deter-
minado equipamento. É mais prático apresentá-las através de um desenho (representações, diagramas,
projeções) do que traduzi-las em um texto. Observe, na figura, a seguir, a planta baixa de uma residência.
Thinkstock ([20--?])
Se você tivesse que descrever essa planta baixa da casa sem ter o desenho, será que outra pessoa enten-
deria exatamente como ela é, com todos os seus detalhes?
Note que as representações visuais são indispensáveis e facilitam a compreensão de todos os detalhes.
A seguir, você conhecerá um pouco mais sobre o desenho técnico. Siga em frente com seus estudos!
Por outro lado, quando precisamos repassar informações precisas, onde erros ou divergências são ina-
ceitáveis, utilizamos o desenho técnico. Esse método de representação é aquele onde as informações são
exatas, únicas e invariáveis. Observe a diferença entre desenho técnico e artístico na figura, a seguir.
Thinkstock ([20--?])
Figura 44 - Desenho artístico e desenho técnico
Através das imagens, é possível perceber a diferença entre os dois tipos de desenho. À esquerda, temos
a representação artística de uma casa onde seus traços tratam de esboçar os sentimentos do autor e a har-
monia da imagem. Nesse caso, não há preocupação em repassar informações detalhadas ao observador
do desenho, que apenas o admira. Já à direita, temos a representação técnica de uma casa. No desenho
técnico, os detalhes são importantíssimos e necessários à correta reprodução daquilo que está represen-
tado. Nele, cada detalhe é importante e faz a diferença no processo de entendimento do que está sendo
representado.
Há diversas representações gráficas técnicas existentes, separadas em dois tipos: desenho projetivo e
desenho não projetivo.
Os desenhos projetivos são aqueles que indicam projeções de objetos, instalações, construções, entre
outros, como, por exemplo:
a) desenho mecânico;
b) desenho elétrico;
c) desenho arquitetônico;
d) desenho estrutural.
Nesse tipo de desenho estão incluídos os esboços, representações geométricas, projeções e perspecti-
vas, além de toda a simbologia e dimensões previstas em normas.
Os desenhos não projetivos normalmente representam fluxos, cálculos ou números para facilitar ou
viabilizar seu entendimento, como, por exemplo:
a) gráficos;
b) fluxogramas;
c) processos;
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
102
d) organogramas;
e) esquemas.
Observe, nas figuras, a seguir, a diferença entre os desenhos projetivos e não projetivos:
Thinkstock ([20--?])
Figura 45 - Desenho projetivo e desenho não projetivo
Aqui é possível notar a diferença entre os desenhos projetivos e não projetivos. Na próxima seção, va-
mos estudar como elaborar uma planta baixa.
Planta baixa é a denominação dada para os desenhos que representam as construções. Ela é base para
diversas representações daquela construção, como, por exemplo: a hidráulica, a elétrica, a arquitetônica, a
estrutural, entre outras.
Na planta baixa, a vista apresentada é a superior, excluindo-se toda a parte de cobertura ou demais an-
dares da construção. Dessa maneira, pode-se ver a construção de cima, seccionada a 1,5m do solo.
5 DESENHO TÉCNICO ELÉTRICO
103
Thinkstock ([20--?])
Figura 46 - Planta baixa
Apesar de haver divergências em relação a essa definição, o termo “planta baixa” é conhecido interna-
cionalmente por representar apenas a planta do andar térreo da construção. Para os demais andares, o
termo correto é “planta”. No Brasil, estes termos são confundidos e em geral utilizados em ambos os casos.
Esse desenho é feito em escala à construção que se quer representar. Nela são inseridos símbolos que
representam os objetos que serão instalados na edificação, tornando mais fácil perceber as dimensões do
ambiente. Também existe a inserção de cotas que informam as exatas medidas dos ambientes e algumas
notas explicativas para esclarecer detalhes de difícil representação gráfica ou que não contemplam simbo-
logia padronizada.
Normalmente a planta baixa de uma construção é desenhada por profissionais da área de arquitetura
e/ou engenharia civil. Entretanto, nada impede que outros profissionais as desenhem, como, por exemplo,
profissionais da engenharia elétrica, que se baseiam nessas plantas para seus projetos elétricos prediais, ou
profissionais da engenharia ambiental, que fazem suas representações hidrossanitárias.
Para desenvolver a planta baixa de uma estrutura, temos que seguir alguns passos:
1. Escolher a escala com que se quer trabalhar, estimando o tamanho da edificação e as dimensões da
folha onde o desenho será feito.
2. Desenhar as paredes do edifício utilizando o estilo de linha padronizado na norma NBR 6.492.
3. Representar no desenho as estruturas que se localizam acima de 1,5m, com o estilo de linha adequa-
do.
4. Desenhar as aberturas, esquadrias e parapeitos, todos indicando suas respectivas dimensões, inclu-
sive de altura.
5. Desenhar as louças sanitárias e os demais móveis e utensílios devidamente posicionados na estrutura.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
104
0 50 100 150
m
Patricia Marcílio (2015)
ou
m
0 50 100 150
Figura 47 - Escala gráfica
Fonte: do Autor
1 Repetições de traços, paralelos ou cruzados, utilizados para causar efeitos de preenchimento em um desenho técnico.
5 DESENHO TÉCNICO ELÉTRICO
105
CASOS E RELATOS
Prossiga com sua leitura, pois, a partir de agora, vamos estudar as variações dos desenhos elétricos
existentes.
O desenho elétrico é aquele que apresenta as características do circuito que está sendo representado.
Esse desenho precisa definir o tipo de sistema para o qual foi projetado e apresentar informações comple-
tas referentes a ele.
Em uma instalação predial, por exemplo, o desenho deve apresentar a disposição de condutos elétricos,
fiação elétrica, iluminação, pontos de energia e todas as informações necessárias para o completo enten-
dimento daquela instalação.
Em outras representações, como no caso de esquemáticos de máquinas elétricas ou mesmo instalações
industriais, são apresentados os componentes do circuito, tais como, contadores, motores, disjuntores, fu-
síveis, sensores, e diversos outros dispositivos utilizados.
Sejam em desenhos de instalações prediais ou industriais, diagramas de máquinas ou circuitos eletrô-
nicos, todos possuem símbolos capazes de representar os componentes elétricos do desenho sem deixar
dúvidas.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
106
5.2.1 SIMBOLOGIA
Um desenho técnico necessita de um conjunto de símbolos, porque não é possível que cada desenhista
aplique em seu desenho um símbolo diferente. Essa situação causaria, no mínimo, dúvidas.
SAIBA Vale a pena consultar a NBR 5.444, já que esta norma apresenta os símbolos gráficos
para instalações elétricas prediais. Lá você encontrará várias padronizações utilizadas
MAIS na área elétrica e aprenderá a reconhecer alguns símbolos usuais.
Apesar dos símbolos utilizados nos desenhos elétricos serem padronizados, é imprescindível que cada
representação apresente uma legenda. Isso serve para facilitar a compreensão do que está sendo repassa-
do através do desenho e evitar erros de interpretação. Observe, a seguir, alguns dos símbolos mais utiliza-
dos nos desenhos de plantas elétricas prediais:
Cx. pass.
Cx. pass.
(Dimensões)
(Dimensões)
Condutor
Condutor Eletroduto
Neutro
Terra
Condutor
Condutor
Condutor Esses símbolos representam condutores de eletricidade
FaseRetorno
Condutor Condutor
Neutro
Neutro dentro de um determinado eletroduto em instalações
Terra
Condutor
Condutor Condutor
Retorno
9 Fase prediais. Nesse caso, da esquerda para a direita, estão
Eletroduto Retorno
Condutor
Condutor
Terra
Terra
Condutor
10 Condutor
Fase Quadro parcial de luz embutido.
Fase
São chamados de esquemas elétricos todos os desenhos que representam, de alguma maneira, os cir-
cuitos elétricos. Um projeto elétrico contendo a planta baixa de um edifício e todos seus dispositivos elétri-
cos pode ser chamado de esquema elétrico. Alguns diagramas e circuitos eletrônicos também podem ser
assim denominados, apesar de não disporem de informações de posicionamento e distâncias. Como você
pode notar, a abrangência do termo esquema elétrico é grande. Mas, quais são as representações mais
utilizadas por um técnico em eletromecânica?
Para entender como são feitos os projetos elétricos prediais, vamos a um exemplo. Considere a seguinte
planta baixa:
Thinkstock ([20--?])
Figura 48 - Exemplo de planta baixa
A primeira coisa que precisamos determinar é a posição de cada ponto de iluminação, tomadas e
interruptores, além do próprio painel de distribuição. Neste exemplo, estamos apenas considerando o
posicionamento dos elementos para verificar como seria a representação elétrica dessa instalação e não
outros aspectos exigidos pela NBR 5.410.
Após a definição da posição de cada elemento, é preciso desenhar seu símbolo, para que, ao observar o
desenho, já se saiba o que está posicionado naquele lugar. Observe como ficou o exemplo:
Legenda:
2X20W
2X20W
Tomada Baixa
Tomada Média
2X20W
2X20W
Tomada Alta
Patricia Marcílio (2015)
2X20W
Interruptor
2X20W
2X20W Quadro de Distribuição
Chuveiro
2X20W
2X20W
2X20W
2X20W
2X20W
Patricia Marcílio (2015)
2X20W 2X20W
Chuveiro
O próximo passo é passar a fiação no circuito, indicando quais e quantos condutores serão inseridos nos
eletrodutos. Também podemos fazer a identificação dos circuitos, mas, para isso, precisamos padronizar a
numeração de cada um, para então informá-los no desenho.
A tabela, a seguir, possui a numeração utilizada no exemplo citado anteriormente. Note que no circuito
de iluminação, além da sua numeração, há algumas letras que são utilizadas para identificar os acionamen-
tos. Cada interruptor terá uma letra que será associada às luminárias que serão controladas por eles. Em cir-
cuitos com interruptores duplos (aqueles com duas teclas) haverá uma letra associada a cada acionamento.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
110
CIRCUITO IDENTIFICAÇÃO
Chuveiro 1
Iluminação 3 (a, b, c, d, e, f, g)
Quadro 15 - Identificação dos circuitos
Fonte: do Autor
Agora que já temos a padronização dos circuitos, é preciso desenhá-los. As simbologias dos condutores
fase, neutro, terra e retorno já foram apresentados e serão utilizadas neste exemplo. Após desenhá-las,
vamos indicar a qual circuito se refere e qual o comando e fiação de retorno para a iluminação que este se
refere. Observe como nosso exemplo ficou:
2 3
2 3
2X20W
2X20W
2 2 2
2
2X20W
2
2 3d
3d
3c
2 3
3c
2X20W
3c 2
2X20W
2 2 3 a 3c
2 3
3
1 2 3
3b
3a 2X20W 2 2X20W 1
2
Chuveiro
Apesar desta planta residencial ser reduzida e simples, é possível perceber como fazer uma represen-
tação de um esquema elétrico baseado na planta baixa da edificação. Para as instalações mais complexas,
outros símbolos devem ser utilizados e a quantidade de elementos também aumentará, contudo o méto-
do para sua representação é semelhante. Instalações prediais empresariais também seguem esse padrão
apresentado, ressalvadas algumas particularidades.
Nesse tipo de esquema, a representação dos condutores é igual àquela desenvolvida no projeto basea-
do em planta baixa, o que facilita o entendimento do diagrama unifilar, que analisaremos a partir de agora.
Para iniciar o desenho de um diagrama unifilar de um edifício, é preciso esquematizar o duto que viabili-
za a passagem dos condutores até o quadro de distribuição de força e iluminação. Neste duto são inseridos
os símbolos dos condutores que ali estão, seguidos da informação da área de seção transversal desses mes-
mos cabos. Em função disso, também precisamos representar o próprio quadro de distribuição, apresen-
tado por um retângulo, com bordas pontilhadas, que engloba todos os dispositivos que serão instalados
em seu interior. Precisamos identificá-lo com sua nomenclatura seguido da potência instalada no quadro.
Você sabe quais são os dispositivos encontrados no interior de um quadro de distribuição residencial?
Nele encontramos basicamente os disjuntores termomagnéticos de cada circuito da instalação, o disjuntor
geral da edificação e, em alguns casos, outros acessórios para manobras ou proteções (DRs2, DPSs3, entre
outros).
Ao desenhar os dispositivos inseridos no quadro de distribuição, e as conexões entre eles, podemos
representar os circuitos alimentadores das cargas. Como no circuito de entrada do quadro, cada circuito de
saída é representado por uma linha que liga o quadro de distribuição à carga. Acima da linha, os símbolos
que representam cada condutor são inseridos, seguidos da seção transversal do cabo elétrico.
Ao final, deve-se identificar cada circuito, inclusive com a potência que ali está instalada e a fase utiliza-
da (nos casos de alimentações bifásicas ou trifásicas).
Para facilitar o entendimento, o nosso exemplo não considerará outros dispositivos de proteção além
dos disjuntores termomagnéticos. E, para entender como são dispostos os símbolos representantes dos
condutores elétricos, vamos considerar a alimentação do quadro geral como sendo trifásica e cada circuito
alimentado em esquema monofásico. Observe, na figura, a seguir, um exemplo de diagrama unifiliar dese-
nhado para a instalação do exemplo supracitado:
QD1
(7320 W)
25A
(5400 W)
1 (Chuveiro)
T
4
(320 W)
3 (Iluminação)
T
1.5
2 Utilizado como proteção à fuga de corrente e, por consequência, proteção contra choque elétrico.
3 Utilizado contra sobretensões transitórias provenientes de descargas atmosféricas ou da rede de distribuição de energia elétrica.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
112
Este diagrama corresponde ao circuito projetado. À esquerda, temos o alimentador predial (AL1). Na
sequência, o condutor que alimenta o quadro de distribuição geral da instalação. Também encontramos
o disjuntor geral (40A) e os disjuntores dos circuitos (25, 10 e 10A) distribuídos nesse quadro e a descrição
dos circuitos como potência, condutores e demais informações relevantes.
QD1
Conduto 2”
3#10(10)10mm 2
40 A
25 A
4
Chuveiro 5400 1
10 A
2.5
2 1600 W Tomadas
10 A
1.5
Iluminação 320 w 3
Azul Claro
Vermelho
Preto
R 0
Patricia Marcílio (2015)
S 0
R S T N
T 7320
Total 7320
Verde
A diferença entre um diagrama multifilar e um unifilar é a maneira como o circuito é visualizado. Apesar
de deterem muitas informações sobre as instalações elétricas da construção, não contemplam informa-
ções cruciais de localizações, distâncias e posições, por isso, os desenhos se completam. Para um correto
planejamento elétrico, as duas representações são interessantes, juntamente com a planta baixa da edifi-
cação, com seus elementos elétricos devidamente distribuídos.
5.2.3 LEIAUTE
Leiaute é uma palavra de origem inglesa layout, que significa projeto, design ou mesmo arranjo físico.
Esse mesmo termo é utilizado em diversas áreas, porém com pequenas variações em seu significado.
O termo leiaute possui mais de uma definição quando se trata de desenho técnico. Uma delas se refere
à própria disposição dos elementos gráficos e textuais em uma prancha4 ou folha de desenho e suas pa-
dronizações. Neste sentido, a padronização de leiaute diz respeito às margens, marcas, escalas, referências,
tamanhos, posições, legendas, entre outras.
Para enquadrar os desenhos em uma folha, precisamos saber as dimensões e escolher o tamanho mais
adequado do papel para cada situação. No Brasil, utilizamos folhas para desenho em formatos da série “A”.
A orientação da página (horizontal ou vertical) é definida pelo desenhista, independentemente disso, o
tamanho do papel e suas margens não mudam. Observe, na tabela, a seguir, os tamanhos de papel padro-
nizados pela séria “A” e suas respectivas margens:
4 Representação virtual do desenho técnico com todos os seus elementos devidamente posicionados como se estivessem em uma
folha de desenho.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
114
Espaço para
desenho
Quadro Margem
Limite do papel
Veja, na imagem anterior, a localização exata dos elementos em uma folha de desenho. No canto direito
inferior da folha de desenho, há um espaço reservado para a legenda, que deve conter todas as informa-
ções para a identificação do desenho. Estas informações são: número, título, origem, responsável, e outras.
”A legenda deve ter 178 mm de comprimento, nos formatos A4, A3 e A2; e 175 mm, nos formatos A1 e A0.”
(ABNT, 1987, p. 3).
Nos formatos da série “A”, deve-se indicar o centro do desenho com pequenas marcas que são feitas
desde o limite do papel e ultrapassam a linha do quadro. Elas são desenhadas no centro da área de dese-
nho junto às margens superior, inferior, direita, esquerda. Observe, na figura, a seguir, a exata localização
destas marcas:
Patricia Marcílio (2015)
Quando não é possível apresentar o desenho em um dos padrões da série “A”, podemos utilizar o forma-
to especial. Neste caso, a norma recomenda a utilização de dimensões que correspondam a múltiplos ou
submúltiplos do comprimento ou da largura de um dos formatos padrões da série “A”.
O formato básico para desenhos técnicos da série “A”, padronizado como A0,
CURIOSI compreende a um retângulo com 1m2 de área. A cada variação desta série é como se
DADES dividíssemos a anterior em duas. Por exemplo, a folha A1 é metade de uma A0, a A2
é metade da A1, e assim por diante.
A outra definição para leiaute, em se tratando de desenhos técnicos elétricos, é a disposição dos ele-
mentos em uma instalação elétrica e suas simbologias. Dessa maneira, o esquema de distribuição de pon-
tos de iluminação e tomadas, além de outros acessórios inerentes àquela aplicação, incorporam o leiaute
de um projeto.
A disposição do leiaute em um projeto elétrico predial é feita por profissionais da área da elétrica, ar-
quitetura, engenharia civil ou design de interiores. Estes profissionais tem melhores condições de definir
a disposição dos elementos elétricos para integrá-los aos cômodos e harmonizá-los com a estética e a
necessidade dos recintos.
5.2.4 NORMAS
As normas são documentos que estabelecem as diretrizes sobre como cada produto ou serviço deve ser
realizado. Elas englobam um conjunto de indicações capazes de padronizar alguns fatores de qualidade,
utilidade e segurança nas mais diversas áreas.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
116
Esses documentos são desenvolvidos em um consenso entre especialistas de cada área e, após aprova-
dos, são regulamentados por organismos, públicos ou privados, reconhecidos na sua área de atuação. Des-
ta maneira, elas impõem regras para o desenvolvimento das atividades, visando garantir que os processos
sejam realizados de forma adequada e ordenada.
O desenho técnico precisa seguir uma série de normas, sendo que algumas delas são genéricas entre
as áreas da engenharia e outras específicas para desenhos elétricos. Dentre as normas utilizadas em nossa
área, destacam-se:
a) NBR 13.142 – Desenho técnico - Dobramento de cópia
A NBR13.142 determina as diretrizes sobre como dobrar as folhas de desenho dos padrões A0, A1, A2 e
A3. Segundo esta norma, essas folhas devem ser dobradas objetivando um formato final com dimensões
da folha A4. Outra premissa dessa norma é que em todos os casos a legenda deve permanecer aparente.
As dobras devem ser feitas a partir do lado direito, verticalmente, de acordo com as medidas indicadas
pela norma. Observe, nas imagens, a seguir, como realizar as dobras para os padrões de folha citados:
1189
105
247
d
297
841
A0
Jean Carlos Klann (2015)
119,5
297
Legenda
841
105
297
d
594
A1
297
594
105
123
d
420
A2
Patricia Marcílio (2015)
297
Legenda
121 96 96 96 96 185
420
A3
297
Outros formatos de dobramento, não especificados entre estes determinados pela NBR 1.3142, devem
ter o mesmo objetivo destes: legenda visível e dimensões finais do papel A4.
b) NBR 10.068 – Folha de desenho – Leiaute e dimensões
Esta norma especifica o leiaute das folhas de desenho. Dentre suas determinações, encontram-se as me-
didas de margens e legenda, o posicionamento das marcações centrais, a dimensão das folhas e o sistema
de referência por malhas.
c) NBR 8.402 – Execução de carácter para escrita em desenho técnico – procedimento
A NBR 8.402 trata de itens relativos aos caracteres para a escrita nos desenhos técnicos. Essa norma tem
como principais objetivos a legibilidade dos textos em desenho técnico, a sua uniformidade e a adequação
destes ao processo de microfilmagem ou outro processo de reprodução da mídia. Para manter um padrão
neste tipo de escrita, a norma apresenta uma tabela com as dimensões possíveis dos caracteres e a relação
de tamanho e distância entre eles. Observe.
Ao determinar que o texto tenha uma altura “h” para letras maiúsculas, basta utilizar a relação constante
na tabela para determinar as demais medidas necessárias à escrita, ou consultá-la e verificar as equivalên-
cias sugeridas.
5 DESENHO TÉCNICO ELÉTRICO
119
ISO 81 ejAM
h
R f
b
h
Além das dimensões, a norma prevê dois estilos de escrita: a vertical e a inclinada. A imagem apresen-
tada nos mostra um exemplo de escrita vertical. Na escrita inclinada, os caracteres são inclinados 15° para
a direita, em relação aos verticais.
d) NBR 8.403 – Aplicações de linhas em desenhos – Tipos de linhas – Largura das linhas
A NBR 8.403 traz informações referentes às linhas utilizadas nos desenhos técnicos. Ela padroniza a
largura das linhas e seu estilo, além de outras características. Nessa norma, estão descritas informações
sobre qual estilo de linha e espessura são utilizados e em quais situações. Também é nesta norma que as
prioridades de linhas coincidentes são determinadas.
e) NBR 8.196 – Desenho Técnico - Emprego de escalas
Como já estudamos, a NBR 8.196 padroniza a utilização das escalas. Ela informa quais as escalas podem
ser utilizadas e como representa-las, para que o desenho seja corretamente interpretado.
f) NBR 6.492 – Representação de projetos de arquitetura
A NBR 6.492 padroniza a representação dos projetos arquitetônicos que são empregados nos projetos
elétricos prediais. Ela contempla diversos tópicos que viabilizam a representação arquitetônica das estru-
turas. Apesar de que alguns itens também são encontrados em outras normas, esta norma concentra todas
as informações referentes à escala, ao leiaute da folha de desenho e ao dobramento das cópias. Apesar de
a norma ter como público-alvo os arquitetos e engenheiros civis, para conseguirmos entender as represen-
tações utilizadas por eles, é necessário conhecer esta norma.
g) NBR 5.444 – Símbolos gráficos para instalações elétricas prediais
A NBR 5.444 é muito utilizada na área elétrica. Quando utilizamos a norma que rege as instalações
elétricas de baixa tensão, NBR 5.410, ou algumas outras normas, a NBR 5.444 está inserida como utilização
necessária. Não há como desenvolver desenhos técnicos elétricos sem que a NBR 5.444 seja utilizada, pois
ela norteará todo o serviço de representação dos dispositivos elétricos.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
120
SAIBA Para saber mais, consulte as normas para desenho técnico. Lá você encontrará
todas as premissas para o desenvolvimento do desenho e a correta simbologia a ser
MAIS utilizada.
Lembre-se de que seguir as normas que regulamentam o desenho técnico, como também as demais
atividades técnicas, é indispensável para manter os padrões de qualidade e repetitividade dos serviços e
produtos oferecidos.
RECAPITULANDO
Neste capítulo, estudamos os tópicos relacionados aos desenhos técnicos. Aqui você pôde per-
ceber que essa forma de armazenar ou repassar informações é bastante eficaz desde as antigas
civilizações.
Com o desenho, informações complicadas podem ser repassadas com certa facilidade, envolvendo
todos os detalhes necessários à completa intepretação da mensagem. Estudamos também a difer-
ença entre o desenho artístico e o desenho técnico, bem como a definição de leiaute e o que isso
implica nas nossas representações de circuitos elétricos.
Aqui tivemos a oportunidade de verificar como são desenvolvidos os projetos elétricos e quais os
esquemas utilizados para a adequada representação de uma instalação elétrica predial, na qual os
diagramas (unifilar e multifilar) têm papel fundamental.
Por fim, estudamos algumas instruções normativas relacionadas aos desenhos técnicos e aos de-
senhos elétricos. As normas trazem algumas imposições de padronização que objetivam a repeti-
tividade e a ordenação das informações, dessa maneira, viabilizando o adequado entendimento
dos desenhos que as seguem.
Dados e Informações
As seções deste capítulo têm por objetivo auxiliar você, estudante de Eletromecânica, a
selecionar, sistematizar, organizar e apresentar dados e informações, relacionando tais ações
com o seu contexto de trabalho e com os seus objetivos profissionais.
Atualmente, em razão da velocidade com que as informações são disseminadas, necessita-
mos usar procedimentos que garantam a forma de pesquisar e de lidar com os dados e infor-
mações que acessamos em nosso cotidiano pessoal e profissional e, à medida que pesquisa-
mos, tornamo-nos mais responsáveis e envolvidos em nosso processo de aprendizado.
Neste primeiro momento, convém observarmos a diferença entre um dado e uma informa-
ção. Você consegue ter alguma percepção da diferença que há entre eles? Muitas vezes, ambos
são confundidos com conhecimento. Todavia, este último pode ser bem definido como tudo
aquilo que sabemos, percebemos ou compreendemos por meio da razão ou da experiência.
Os dados são a parte mínima das informações, ou seja, são os dados que estruturam
as informações. É a partir dessa ideia que iniciamos este capítulo, pensando que ele deve lhe
ajudar na empreitada de construir a cada dia um novo relacionamento com toda a informação
que cerca o seu universo profissional.
6.1 SELEÇÃO
A seleção de dados e informações é fundamental para que seu curso seja bem aproveitado.
Perceba que, por exemplo, para habilitar-se em eletromecânica, você precisa ter conhecimen-
tos sobre eletricidade, saber quais são os fundamentos de eletrotécnica e as leis relacionadas
ao assunto. Ao estudar as especificidades de tais fundamentos e leis, você deve buscar para o
seu trabalho de seleção as normas vigentes, cujas origens são fontes confiáveis.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
124
Quanto à seleção das leituras, há três condições que não se pode perder de mira: o livro
precisa ser de fácil obtenção no meio em que estamos; é indispensável uma convicção
bem clara do seu valor e utilidade; e a informação que dele queremos extrair deve achar-
se facilmente depreensível1, em vez de emaranhada numa orientação inteiramente es-
tranha à marcha que nos cabe seguir. (CAMARA JÚNIOR, 2010, p. 54).
Thinkstock ([20--?])
A realização de uma seleção de dados e informações por meio da pesquisa normalmente está rela-
cionada à necessidade de embasamento para alguma tomada de decisão, ou mesmo porque existe um
problema no contexto empresarial. Trata-se, portanto, de uma atividade criteriosa, que leva em conta uma
situação que esteja sendo vivenciada com modelos ou ideias coletados para serem comparadas. Pode ser
o conteúdo de um livro ou revista, que apresente uma situação similar, por exemplo. Claro, tal conteúdo
não abordará necessariamente a mesma situação vivenciada naquele momento na empresa, mas poderá
servir como base para que tomemos alguma decisão, por exemplo, comparando uma situação fictícia com
uma situação real.
SAIBA Para saber mais sobre tipos de pesquisa que podem ajudar na seleção de dados e
informações, consulte: SILVA, José Maria da. Apresentação de trabalhos acadêmicos:
MAIS normas e técnicas. RJ: Vozes, 2014.
Para a seleção de dados e informações, é muito importante examinarmos com atenção a sua relevân-
cia e importância, de acordo com o objetivo da nossa pesquisa. Quando estamos realizando esta seleção,
conseguimos analisar criticamente e detectar erros ou informações incompletas ou confusas, que possam
prejudicar nosso trabalho.
1 Que se consegue depreender: 1. Alcançar clareza intelectual a respeito de; entender, perceber, compreender. 2. Tirar por conclu-
são, chegar à conclusão de; inferir, deduzir. (HOUAISS, 2009, p. 617).
6 DADOS E INFORMAÇÕES
125
FIQUE As normas gerais sobre referências bibliográficas são regidas pela ABNT – Associação
ALERTA Brasileira de Normas Técnicas. Entretanto, existem algumas regras opcionais que
permitem às instituições educacionais estabelecer seus próprios critérios.
6.2 SISTEMATIZAÇÃO
Sistematizar é organizar dados, práticas e conceitos; ordenar e classificar a informação ou criticar o pro-
cesso ou ainda aprender com a experiência que resulte numa reflexão e reelaboração do pensamento.
É importante que os dados e informações estejam registrados em textos, desenhos, gráficos ou tabelas,
para que não se percam e possam ser acessados com rapidez e facilidade, auxiliando na tomada de deci-
sões sobre os temas que representam, ou ainda, permitindo, muitas vezes, o surgimento de novas ideias
sobre um determinado assunto.
Observe uma sistematização de informações fictícias estabelecida em um gráfico. No caso, após realizar
levantamento junto aos seus funcionários, um gestor de RH aponta os percentuais relativos ao que eles
mais priorizam com relação à carreira profissional:
Desenvolvimento profissional
24%
35% Equilibrio: vida pessoal e profissional
Patricia Marcílio (2015)
Remuneração e benefícios
6.3 ORGANIZAÇÃO
Para organizar os dados investigados, as informações são buscadas em obras sobre pesquisa científica,
nos quais há orientações para a montagem de questionários, entrevistas, formulários de pesquisa de opi-
nião, incluindo informações sobre o tempo e o tipo de material que precisam ser utilizados.
Os métodos e procedimentos para organizar dados devem ser escolhidos conforme a necessidade, mas
pelo fato de que a tecnologia permite ordenar, buscar e recuperar dados de modo fácil e rápido, não há
dúvida de que se deve fazer uso dessas ferramentas.
Para organizar os dados e informações pesquisadas, também se busca auxílio na metodologia científi-
ca. Os livros dessa área orientam, por meio de métodos e procedimentos, a montagem de questionários,
entrevistas, formulários de pesquisa de opinião, entre outras ferramentas, conforme o tipo de dados e
informações e a própria necessidade em organizá-los.
A organização requer métodos e procedimentos que devem ser escolhidos conforme a necessidade do
registro a ser feito, por exemplo, para verificar o grau de satisfação dos funcionários com relação aos equi-
pamentos de trabalho que usam, pode-se gerar um formulário de pesquisa de opinião por meio do qual
seja possível, após sua aplicação, organizar as informações e posteriormente apresentá-las.
É importante que os dados e informações sejam guardados em meio eletrônico, de modo organizado,
para facilitar o seu acesso sempre que se faça necessário. Nesse sentido, também conta o aspecto de se
resguardar sua segurança, já que o meio eletrônico proporciona maior segurança na manutenção de da-
dos e informações.
CURIOSI O IBM 305 RAMAC – primeiro computador produzido em série, foi lançado em 1956
e permitia a gravação e leitura de dados. Era do tamanho de dois refrigeradores,
DADES consistia de 50 discos de 60 cm de diâmetro e possuía 5 megabytes de capacidade.
Para organizar e facilitar o entendimento dos dados e informações, pode-se utilizar ferramentas cujas
estruturas esquemáticas possam representar as ideias e conceitos elaborados. Convém, então, organizar os
dados e informações em representações gráficas chamadas Mapas Conceituais ou Diagramas, Esquemas
Circulares e Tabelas.
6 DADOS E INFORMAÇÕES
127
Thinkstock ([20--?])
Figura 62 - Exemplo de diagrama
CASOS E RELATOS
Nesse texto, o engenheiro explica que o risco de explosões em instalações que possuem atmos-
feras explosivas depende da conjunção de fatores como: a liberação de gás ou vapor inflamável;
o atingimento do limite mínimo de explosividade; a influência diluidora da ventilação existente
e, finalmente, o surgimento de uma fonte de ignição com energia superior à mínima energia de
ignição dessa atmosfera. Ainda na citada matéria, um dos conselhos do engenheiro refere-se à
instalação de equipamentos elétricos e eletrônicos indicados e adequados, conforme o estudo de
classificação de áreas, que deve ser realizado por profissional especialista da área.
6.4 APRESENTAÇÃO
De acordo com Marconi (2011, p. 185), “Para a apresentação de dados são utilizados cinco procedimen-
tos: série estatística, representação escrita, representação semitabular, tabelas e gráficos.”
Na série estatística os dados são também chamados itens ou termos de série e objeti-
vam mostrar um fato conforme tenha acontecido, com relação ao tempo, lugar, catego-
ria e intensidade, por isso os tipos de série têm os nomes assim definidos:
a) Temporal – a que tempo e seus intervalos se referem os dados. Exemplo: crescimento
em números de uma população numa determinada série cronológica (sequência de
anos);
b) Geográfica – a quais regiões se referem os dados. Exemplo: número das populações
de regiões específicas;
c) Categórica – a que espécies ou categorias se referem os dados. Exemplo: estatura de
alunos em uma classe: quantos são baixos, médios e altos;
d) Ordenada – classifica os dados conforme a intensidade ou modalidade, quantifican-
do-os ou qualificando-os. Exemplo: a ocorrência de estaturas dos alunos em uma classe
e respectiva frequência. (MARCONI, 2011, p. 185).
6 DADOS E INFORMAÇÕES
129
Thinkstock ([20--?])
A representação escrita é aquela em que os dados são apresentados em formato de texto, mais fre-
quente em livros e demais fontes informativas nas quais se discorra sobre determinadas informações, por
exemplo:
A tabela é um modo de representar dados que possuem uma relação e significado entre si. Tais da-
dos aparecem colocados de cima para baixo, formando assim as colunas, e horizontalmente, formando
as linhas. Conforme Marconi (2011 apud Ander-Egg, 1978), a tabela “visa ajudar o investigador para que
distinga semelhanças, diferenças e relações mediante a clareza e o relevo que a distribuição lógica presta
à classificação.”
A elaboração de tabelas deve atender primordialmente a um princípio de economia expressiva. Em
consequência, os dados representados não devem requerer mais explicações que a proporcionada por seu
título e cabeçalhos. Não é adequada a inclusão de textos informativos com longos comentários em uma
tabela, pois ela deve ser suficientemente explícita por si mesma.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
130
Thinkstock ([20--?])
Um gráfico é a representação dos dados com elementos geométricos que “permite uma descrição ime-
diata do fenômeno. Representa uma forma atrativa e expressiva, uma vez que facilita a visão do conjunto
com apenas uma olhada, e possibilita ver o abstrato com facilidade.” (MARCONI, 2011, p. 193). É um recurso
que serve para representar uma questão, um fenômeno, conforme esses possam ser medidos, mensura-
dos, quantificados ou mesmo para ilustrar uma situação em sua forma lógica ou não.
A interpretação correta de gráficos que sirvam de ilustração para textos, notícias, entre outras possibili-
dades, é de suma importância na compreensão de alguns fenômenos, considerando informações qualita-
tivas e quantitativas, espacial e temporal.
Existe uma grande variedade de tipos de gráficos, dentre os quais se destacam os de coluna, em barras,
formato pizza, área, linha e rede.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
132
RECAPITULANDO
Neste capítulo, você estudou a importância de selecionar, sistematizar, organizar e apresentar da-
dos e informações e como esses procedimentos servem para aproximá-lo de seu objetivo profis-
sional e de formação em Eletromecânica.
Inicialmente, foram oportunizados os conceitos básicos e seguimos com orientações sobre se-
leção, sistematização, organização e, finalmente, apresentação de dados e informações, por meio
de tabelas e gráficos que são os métodos mais apropriados para realizar sua exposição.
Os dados e informações, portanto, merecem atenção desde a sua pesquisa ou levantamento até
a sua apresentação final, observando-se com rigor as fontes de pesquisa consultadas e os modos
de apresentação adequados conforme o seu teor e as necessidades de visualização no ambiente.
Segurança no Trabalho
Há atividades que produzem risco a saúde humana. Neste capítulo, serão estudadas as ca-
racterísticas relacionadas à segurança do trabalho, além de identificar métodos de trabalho
mais seguros para não colocar a sua vida e a de outros em risco.
A questão da segurança do trabalho surgiu com o advento da revolução industrial. “As ati-
vidades laborativas nasceram com o homem”, a segurança laboral não. (MICHEL, 2008, p. 38).
Tal fato evidenciou-se quando, após a Revolução Industrial, no século XIX, com o súbito cresci-
mento das atividades industriais, também cresciam os índices de acidentes e doenças relacio-
nados ao trabalho.
Naquela época, os empresários acreditavam que a mão de obra era substituível, entretanto
trocar um operário por outro acarretava no aumento do tempo de produção, por falta de trei-
namento qualificado na operação das máquinas e equipamentos.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
136
Após estudos científicos que se iniciaram na Europa, é que foi possível definir com maior precisão as
condições de trabalho que melhor beneficiariam ao trabalhador. As primeiras mobilizações se deram com
estudiosos, tais como: os médicos Robert Baker (1803-1880) e Charles Turner Thackrakh (1795-1833). Além
desses médicos, envolveram-se na questão escritores como o inglês Edwin Chadwick (1800-1890) e John
Simon (1816-1904), autores de relatórios de condições sanitárias, bem como Bernardino Ramazzini (1633-
1714), “o pai da medicina ocupacional”. (FUNDACENTRO, 2004, p.13).
Thinkstock ([20--?])
Figura 63 - Segurança do trabalho
Conforme Michel (2008), no Brasil, embora a Revolução Industrial tenha se dado tardiamente e em me-
nor escala em comparação com países europeus, também houveram percalços. Apesar de já existirem
regulamentos e órgão nacionais para proteger o trabalhador, como, por exemplo, a Associação Brasileira
para Prevenção de Acidentes — ABPA, fundada em 1941, o Brasil, em 1974, era considerado o campeão
mundial de acidentes do trabalho. É importante citar também a Consolidação das Leis do Trabalho — CLT,
promulgada em 1943, e a criação da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança, Higiene e Medicina
do Trabalho — FUNDACENTRO, em 1966. Não obstante, tais acontecimentos pareceram não ser suficientes
para evitar o elevado número de acidentes de trabalho. Portanto, em 1978, foi promulgada a Portaria n.º
3.214, que aprova as Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Trabalho (NRs). Em 1983,
criou-se o Instituto Nacional de Saúde no Trabalho da Central Única dos Trabalhadores (INST/CUT), em São
Paulo/SP. Já em Brasília/DF, no ano de 1986, realizou-se a 1ª Conferência Nacional de Saúde dos Trabalha-
dores, que forneceu subsídios para a Constituição Federal promulgada em 1988.
Neste sentido, lamenta-se, não apenas na história brasileira, mas mundial, que mudanças significativas
se deram somente após grandes tragédias, como o Desastre de Chernobyl (1986) e a tragédia em Santa
Maria, no Rio Grande do Sul, em 2013, quando centenas de pessoas morreram devido a irregularidades em
uma casa de shows.
Segundo Barsano e Barbosa (2012, p. 21), a segurança do trabalho tem por objetivo “[...] a prevenção de
acidentes, doenças ocupacionais e outras formas de agravos à saúde do profissional [...] é ciência que es-
tuda as possíveis causas dos acidentes e incidentes originados durante a atividade laboral do trabalhador.”
7 SEGURANÇA NO TRABALHO
137
A criação das Normas Regulamentadoras pode ser considerada o principal marco para as mudanças na
área da segurança do trabalho. Inicialmente foram criadas 28 Normas Regulamentadoras. Hoje, contamos
com 36 e outras ainda estão em elaboração.
A missão da segurança do trabalho é prevenir acidentes e garantir a integridade física dos trabalhado-
res, sendo todos responsáveis por sua manutenção.
No ambiente laboral, as pessoas se deparam com processos que, por sua natureza, podem causar danos
à saúde dos trabalhadores. Para o Ministério do Trabalho e Emprego, em sua Norma Regulamentadora n.º
09, são denominados riscos ambientais “os agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes
de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são ca-
pazes de causar danos à saúde do trabalhador.” (BRASIL, 2014, p. 1).
Os riscos são divididos em: físicos, químicos e biológicos, entretanto, para alguns autores, agentes ergo-
nômicos e mecânicos também fazem parte deste quadro de substâncias nocivas. A partir de agora, você irá
estudar todos os riscos para entender melhor onde se aplicam.
Os agentes físicos são os que representam as condições físicas do local de trabalho. Segundo a Norma
Regulamentadora n.º 09, agentes físicos são as “diversas formas de energia a que possam estar expostos os
trabalhadores, tais como: ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizan-
tes, radiações não ionizantes, bem como o infrassom e o ultrassom.” (BRASIL, 2014, p. 7).
Analise o seguinte exemplo: um colaborador que trabalha como forneiro em uma indústria metalúrgi-
ca é responsável por abastecer o forno com carga de ferro. A temperatura próxima do equipamento é de
1.700°C. Este colaborador está exposto a esta temperatura nominal? Não, porque a temperatura a que ele
está exposto é da irradiação da temperatura no ambiente de trabalho, que pode variar de 45 a 60°C. Ou
seja, o que o trabalhador sente é a transferência de energia, quando o ambiente de trabalho é bombardea-
do por determinada energia que provoca um aumento na temperatura do local. Nesse caso, se o forno não
estivesse neste local, certamente a temperatura seria menor.
A temperatura nominal é aquela encontrada no ponto gerador de calor. Já a temperatura de irradiação
é a consequência do aquecimento das regiões próximas ao ponto gerador de calor. Em todos os ambientes
que detêm equipamentos com calor envolvido, há irradiação de calor em áreas adjacentes.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
138
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Figura 64 - Forno na indústria
a) Calor
Quando falamos de calor, logo imaginamos um deserto escaldante, porém, na área industrial, estamos
nos referindo à situação térmica, aquela que traz prejuízos à saúde dos trabalhadores. De acordo com a
Norma de Higiene Ocupacional (NHO) nº 06, o calor é cada parte do ciclo de exposição que interfere na car-
ga térmica do local de trabalho. Ele é entendido como tudo que provoca um desconforto ao trabalhador.
Porém, nem tudo que aparenta ser calor realmente é. Para muitas pessoas, qualquer temperatura pode ser
considerada calor, pois sempre está em ambientes com temperatura controlada por um condicionador de
ar. Para este estudo, trata-se de um calor nocivo, aquele que eleva a temperatura interna do corpo huma-
no. Dependendo do tempo de exposição, há maior ou menor valor de temperatura nocivo ao ser humano,
podendo, em alguns casos, se aproximar dos 40°C.
O calor nocivo ao trabalhador pode trazer consequências, como desidratação, tontura, náuseas, e, em
casos mais graves, desmaio.
b) Frio
No Brasil, este é um conceito pouco utilizado, pois vivemos em um país tropical. Porém, algumas or-
ganizações que trabalham com sistemas de armazenamento de perecíveis e demandam a utilização de
câmaras frias, ou equipamentos similares, com temperatura que podem ser prejudiciais à saúde humana,
precisam considerá-lo como um fator de risco à saúde do trabalhador.
O frio pode ser caracterizado pela ausência total ou parcial do calor. Quando uma pessoa esta com frio,
significa que a temperatura externa está muito abaixo da temperatura corporal, logo, a temperatura exter-
na inicia uma operação de resfriamento corporal, “roubando” a temperatura interna do corpo.
As temperaturas extremas contribuem para a ocorrência de doenças do trabalho e, por isso, precisamos
estudá-las, para utilizarmos medidas de controle efetivas para a proteção da vida humana.
7 SEGURANÇA NO TRABALHO
139
Os agentes químicos são todas as substâncias que apresentam características químicas em sua formula-
ção ou composição. Os riscos químicos ocorrem em função da exposição do ser humano a eles, levando em
conta sua concentração, natureza e tempo de exposição. Para muitos especialistas, os agentes químicos
são aqueles que podem causar danos, desde os mais inofensivos, até aqueles que podem causar a morte
do trabalhador, por sua concentração ou pela predisposição individual dos seres humanos.
Um exemplo é o fato de algumas pessoas serem alérgicas a picadas de insetos. Isto se dá pela predis-
posição de cada pessoa, pois alguns nascem com a intolerância ao veneno dos insetos e outras não. Outro
exemplo, é que alguns indivíduos são alérgicos a derivados de leite e outros alimentos, já outros não. Mas,
por que se preocupar com a exposição do trabalhador aos agentes químicos? Há diversos acidentes que
podem ser provocados pela ingestão ou manipulação destes produtos, o que precisa ser minimizado ao
máximo para resguardar a saúde humana.
Os agentes químicos podem ser: as poeiras, as nevoas, os fumos, os gases, os vapores e as neblinas.
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Vivemos rodeados por microrganismos, mas alguns são considerados benéficos aos seres humanos e
outros não. Os agentes biológicos podem ser potencialmente nocivos à saúde humana e que podem estar
mascarados em diversas atividades laborativas das organizações.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
140
Um exemplo deste risco é a alimentação do funcionário no seu local de trabalho. Quando a organização
fornece refeições para o colaborador, precisa tomar muito cuidado com o tipo de alimento que fornece,
bem como com sua preparação. Se eles não forem produzidos com a devida responsabilidade, podem ser
contaminados, podendo causar intoxicações nos colaboradores. A salmonela, por exemplo, é uma bactéria
que ataca o sistema digestivo e provoca uma infeção no indivíduo. São representantes dos agentes bioló-
gicos os vírus, as bactérias, os fungos, protozoários, os bacilos e os parasitas.
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A palavra ergonomia nasceu da junção das palavras Ergon, que significa “trabalho”, e Nomos, que signi-
fica “leis” ou “normas”. A ergonomia define algumas regras para que determinados trabalhos sejam realiza-
dos. Ela pode ser dividida em alguns grupos:
a) Ergonomia de Correção: Tem a finalidade de trocar mobiliários ou máquinas para que os sistemas
de trabalho possam ficar mais rápidos e adequados.
b) Ergonomia de Concepção: Interfere de maneira ampla no projeto do posto de trabalho, das ferra-
mentas, das máquinas ou do sistema de trabalho, organização do trabalho e na capacitação dos cola-
boradores.
c) Ergonomia de conscientização: Trabalha o conceito de capacitação dos colaboradores em relação
a conceitos da ergonomia e dos processos de colaboração com outras disciplinas.
d) Ergonomia Participativa: Atua no processo de verificação dos postos de trabalho e, com a ajuda
do Comitê Interno de Ergonomia (CIE), organiza e orienta os processos de trabalho segundo as normas
vigentes.
7 SEGURANÇA NO TRABALHO
141
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Figura 67 - Agentes ergonômicos
Os agentes ergonômicos estão relacionados a fatores fisiológicos e psicológicos relativos a uma ati-
vidade profissional. Esses agentes podem produzir alterações no organismo e no estado emocional dos
trabalhadores, comprometendo sua saúde, segurança e produtividade.
Os fatores ergonômicos considerados causadores de danos à saúde do trabalhador são: esforço físico
intenso, levantamento e transporte manual de peso excessivo, exigência de postura inadequada, controle
rígido de produtividade, imposição a ritmos excessivos, jornadas de trabalho prolongadas, repetitividade,
iluminação inadequada, ruído e outras situações causadoras de estresse físico e/ou psíquico.
Os agentes mecânicos são aqueles que, pelo contato físico direto ou indireto com o colaborador, po-
dem provocar acidentes. Esses agentes são responsáveis por uma série de lesões nos trabalhadores, inclu-
sive podem causar sua morte.
São os riscos existentes pela falta de organização e segurança do ambiente e/ou dos processos de tra-
balho, em razão da falta de manutenção predial, manutenção de máquinas e equipamentos e falhas de
procedimentos.
As máquinas desprotegidas, pisos defeituosos ou escorregadios e os empilhamentos de materiais irre-
gulares são exemplos de agentes mecânicos que podem provocar:
a) cortes;
b) fraturas;
c) escoriações;
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
142
d) queimaduras;
e) quedas;
f ) perfurações;
g) lesões em geral.
Atualmente, o ser humano é muito dependente da energia elétrica. Ela é indispensável para a conser-
vação dos alimentos, movimentar máquinas e equipamentos etc. Apesar de ser tão importante, há muitos
acidentes que ocorrem, tanto na produção, quanto na distribuição e manutenção desta energia.
Todos os profissionais que trabalham com este produto precisam tomar uma série de precauções para
não sofrerem nenhum tipo de acidente. Os acidentes que acontecem com eletricidade nos ambientes in-
dustriais são os que ocorrem com maior frequência e comprovadamente os que trazem as mais graves
consequências.
Existem normas de segurança que precisam ser seguidas para que tais incidentes não ocorram. Mas,
para que elas sejam eficientes, temos que segui-las adequadamente. Dessa maneira, as pessoas precisam
ser alertadas antecipadamente sobre os riscos existentes. Conhecer os efeitos da eletricidade e as medidas
de segurança é fundamental, porque isso auxilia na prevenção de acidentes.
De acordo com a Norma Regulamentadora n.º10, são considerados riscos elétricos:
a) choque elétrico;
b) arco elétrico;
c) campos eletromagnéticos.
Dentre os riscos elétricos citados, destaca-se o choque elétrico como sendo o mais prejudicial ao ser
humano. Na ocorrência de um acidente envolvendo eletricidade, sendo ele em ambiente residencial ou in-
dustrial, o maior dano está sempre relacionado ao fator humano. Entretanto, também é preciso considerar
os prejuízos financeiros decorrentes de afastamentos, danos às máquinas e aos equipamentos, indeniza-
ções, entre outros.
O arco elétrico pode ser definido com uma descarga elétrica através de um material isolante, como, por
exemplo, o ar. Nessa condição, a energia associada é relativamente alta, produzindo muito calor e prejudi-
cando quem está próximo ao local da ocorrência deste fenômeno. Apesar de haver arco elétrico em baixa
tensão, a grande parcela de ocorrências está relacionada a altas tensões, restringindo, de certa forma, o
público atingido.
7 SEGURANÇA NO TRABALHO
143
Os riscos envolvendo campos eletromagnéticos são menores, porém existentes. Essa ocorrência está
relacionada às altas tensões e à proximidade com certos equipamentos, como por exemplo, transforma-
dores. Quando um corpo está em campo eletromagnético, há a tendência de indução de corrente elétrica.
Esse fenômeno no corpo humano pode resultar em um choque por tensão de passo1. Em outras situações,
quando há algo metálico implantado, ou mesmo em contato, com o ser humano, esse material pode aque-
cer e provocar dores no membro afetado.
A eletricidade é um dos mais perigosos riscos, mais até que o calor, o ruído, as vibrações. Isso porque
essa energia é silenciosa, não tem cheiro e nem cor. Para determinar se um condutor está ou não energi-
zado, é preciso perceber manifestações exteriores, como no caso das lâmpadas ligadas, motores se movi-
mentando, resistências aquecendo, ou mesmo equipamentos de medição indicando a tensão em certo
condutor.
O choque elétrico é definido como a passagem de uma corrente elétrica através do corpo humano
(MARQUES, 2014). Para que esse fenômeno ocorra, é necessário que haja diferença de potencial entre duas
partes do corpo, como, por exemplo, encostar em um condutor energizado com a mão, no qual haverá
diferença de potencial entre a mão e outra parte do corpo, originando a corrente elétrica.
Os tipos mais frequentes de choque elétrico são aqueles em que a corrente elétrica circula de uma mão
a outra, ou mesmo de uma das mãos até a planta de um dos pés (ALCÂNTARA, 2003). As manifestações
relativas ao choque elétrico, dependendo das condições e intensidade da corrente elétrica, podem ser:
formigamento, contrações musculares, queimaduras, ou mesmo, parada cardiorrespiratória. O choque elé-
trico pode ser classificado em:
a) Choque dinâmico – O choque dinâmico é aquele cuja fonte geradora está fornecendo corrente elé-
trica constantemente, como, por exemplo, condutores energizados.
b) Choque estático – O choque estático é decorrente do contato com elementos carregados com car-
gas estáticas. Nesse caso, as cargas são transferidas de um corpo a outro, equilibrando a quantidade
de cargas estáticas entre eles. Logo após esse equilíbrio de cargas, não acontecerá mais o choque, isso
porque não haverá mais a diferença de potencial necessária.
c) Choque direto – O choque direto é aquele cujo fato causador do choque foi o contato com um ele-
mento energizado e desenvolvido para estar energizado, como, por exemplo, o barramento elétrico de
um painel de distribuição.
d) Choque indireto – No choque indireto também há contato com algum elemento energizado, porém
ele não foi desenvolvido para a condução de corrente elétrica. Por exemplo, a carcaça de uma máquina
que foi energizada acidentalmente por uma falha na isolação de um condutor. Nesse caso, o choque
proveniente da carcaça da máquina é indireto.
1 Tensão elétrica entre pernas quando o ser humano encontra-se imerso em campo eletromagnético.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
144
e) Choque por tensão de toque – O choque por tensão de toque é o mais conhecido, porque é aquele
em que a pessoa encosta em algo energizado.
f ) Choque por tensão de passo – O choque por tensão de passo ocorre, principalmente por descargas
atmosféricas ou em ambientes de subestações, quando há potencial no solo. Desta maneira, quanto
mais afastados os pés do indivíduo (maior a distância do passo), também maior a diferença de potencial
entre pés, resultando no choque.
Para entender os efeitos da corrente elétrica, é preciso estudar com mais detalhes a fisiologia humana,
para explicar porque as pessoas morrem ao terem contato com a energia elétrica. Ao circular através do
corpo humano, a corrente elétrica danifica os tecidos, destrói as terminações nervosas e cerebrais, provoca
coágulos sanguíneos e pode paralisar a respiração e a atividade cardíaca.
A exposição do ser humano à corrente elétrica pode ser fatal, como também pode levá-lo a um estado
de inconsciência breve ou prolongada. A eletricidade provoca uma contração na musculatura na propor-
ção de 60 ciclos por segundo, a mesma frequência da corrente alternada que é utilizada nas casas e nas
indústrias (60Hz). É como se você abrisse e fechasse a mão 60 vezes em um segundo. Nessas condições, é
muito difícil, inclusive, gritar para pedir socorro.
A sensibilidade do organismo à passagem de corrente elétrica varia de pessoa para pessoa. Não há um
número exato que determina qual a corrente mínima necessária para provocar formigamento, contrações,
ou mesmo a morte. Cada indivíduo tem uma resistência à passagem de corrente elétrica diferente. Apesar
disso, estima-se alguns valores usuais para determinar a gravidade do choque elétrico: quanto maior a
corrente elétrica circulando no organismo humano, maior também será o dano.
Há três estágios das manifestações do choque elétrico, que são:
a) Limiar de Sensação:
Nesse primeiro estágio, o corpo humano começa a perceber a passagem de corrente elétrica através
dos formigamentos superficiais. Nessas condições, a intensidade da corrente elétrica que circula no orga-
nismo humano se aproxima de 1mA.
b) Limiar de Não Largar:
Quando a intensidade da corrente elétrica se acentua, contrações musculares começam a ocorrer. Nes-
se ponto, o ser humano não consegue mais coordenar suas ações musculares, como, por exemplo, largar
voluntariamente um condutor energizado. Esse segundo estágio, limiar de não largar, ocorre com uma
corrente aproximadamente de 10mA.
7 SEGURANÇA NO TRABALHO
145
Acidente do trabalho ocorre pelo exercício do trabalho ou a serviço de uma empresa. São acidentes
com o segurado empregado, trabalhador avulso, médico residente, bem como com o segurado especial
no exercício de suas atividades, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a
perda ou a redução, temporária ou permanente, da capacidade para o trabalho (GUIA TRABALHISTA, 2014).
Esta modalidade de acidente será caracterizada pelo INSS mediante solicitação do trabalhador em uma
de suas bases de atendimento. A partir do momento que ocorre um acidente do trabalho, o indivíduo de-
verá ser encaminhado para atendimento médico hospitalar, e ser feita a abertura da CAT2. Depois que a CAT
foi emitida, está caracterizado o acidente de trabalho.
Este caminho poderá ser bastante complicado! Existem casos em que as empresas não averbam a soli-
citação do INSS e, consequentemente, não protocolam a CAT, informando ao colaborador que a empresa
não reconhece este acidente como sendo em decorrência do trabalho. Então, quais são os conceitos que
provocam a abertura da CAT para o INSS3?
Considera-se agravo para fins de caracterização técnica pela perícia médica do INSS a “lesão, doença,
transtorno de saúde, distúrbio, disfunção ou síndrome de evolução aguda, subaguda ou crônica, de natu-
reza clínica ou subclínica, inclusive a morte.” Reconhecidos pela perícia médica do INSS, a “incapacidade
para o trabalho e o nexo entre o trabalho e o agravo, serão devidas as prestações acidentárias a que o be-
neficiário tenha direito”, caso contrário, não serão repassadas as prestações. (INSS, 2008).
Mesmo que todo custo do acidente venha do INSS, a responsabilidade civil, criminal e trabalhista ainda
pertence à empresa. Ela tem total responsabilidade perante a atividade a que se propõe executar, e isto
inclui a prestação das devidas melhorias no processo, com o objetivo de que os acidentes não se repitam
em suas dependências.
É de responsabilidade da empresa a comunicação de todos os acidentes ocorridos para a previdência
social em um prazo máximo de 24 horas após o ocorrido, para que as vias de registros sejam mantidas. Em
caso de óbito, a comunicação deve ser imediata, sob pena de multa, que pode variar, dependendo das
circunstâncias do acidente. Desta comunicação, receberão cópia fiel o acidentado ou seus dependentes,
bem como o sindicato a que corresponda a sua categoria.
Na falta de comunicação por parte da empresa, outras pessoas podem formalizar os acidentes, como
por exemplo:
a) o próprio acidentado;
b) os dependentes do acidentado;
c) o sindicato ao qual o acidentado é associado;
d) o médico que o atendeu;
e) qualquer autoridade pública.
O colaborador acidentado terá direito a uma estabilidade de não menos que 12 meses, a contar de seu
efetivo retorno, e em condições de trabalho que não agridam a sua moral e sua condição de trabalho atual.
Caso o trabalhador retorne ao trabalho com alguma limitação ou impedimento, ele deverá ser alocado em
uma função compatível com seu novo estilo de vida.
Nenhum colaborador se acidenta por vontade própria, entretanto muitos se expõe ao risco ou ao peri-
go quando não respeitam as normas de segurança ou insistem em improvisar ferramentas e métodos de
trabalho. Nessas condições, o trabalhador está atraindo para si o risco e acidentes poderão ocorrer.
São considerados acidentes de trabalho, os seguintes casos:
a) doença profissional;
b) doença do trabalho;
c) acidente ligado ao trabalho;
d) acidente de trajeto.
7 SEGURANÇA NO TRABALHO
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Figura 68 - Acidente de trabalho
a) Doença profissional
Doença profissional é aquela que resulta diretamente das condições de trabalho e consta na Lista de
Doenças Profissionais (Decreto Regulamentar n.º 76/2007, de 17 de Julho), ou seja, causa incapacidade
para o exercício da profissão ou morte.
b) Doença do trabalho
Doença do trabalho é qualquer tipo de doença profissional particular a um determinado ramo de ativi-
dade, devendo constar na tabela da Previdência Social.
c) Acidente ligado ao trabalho
Os acidentes ligados ao trabalho correspondem ao número de acidentes cujos processos foram encer-
rados administrativamente pelo INSS, depois de completado o tratamento e indenizados os trabalhadores.
d) Acidente de trajeto
São os acidentes ocorridos no deslocamento entre a residência e o local de trabalho do segurado ou
vice-versa. Também é enquadrado como acidente de trajeto aquele que acontece no percurso para desen-
volver atividades externas à empresa.
Segundo a Norma Regulamentadora n.º 06 (NR 6), equipamento de proteção individual (EPI) é todo
dispositivo utilizado individualmente pelo trabalhador para proteção dos riscos inerentes ao trabalho. A
empresa deve fornecer o EPI sempre que:
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
148
a) Sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de aciden-
tes do trabalho ou de doenças ocupacionais;
b) Enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implantadas;
c) Para atender situações de emergência. (BRASIL, 2014, p. 1).
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Figura 69 - Capacete
4 Revestido de alumínio.
5 Material laminado que compõe os protetores faciais.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
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Figura 70 - Protetor facia
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Figura 71 - Óculos de proteção
e) Proteção auricular
Sempre que efetuamos atividades com máquinas ou equipamentos ruidosos, devemos proteger o ca-
nal auditivo. É importante usar o protetor auricular como prevenção para evitar dor de cabeça, irritabilida-
de e surdez.
Podemos subdividir os protetores auriculares em dois grupos:
a) O protetor tipo concha: é utilizado para proteção dos ouvidos nas atividades e nos locais que apre-
sentem ruídos excessivo, pois seu poder de atenuação pode chegar a 29 dB7. Muitas organizações utili-
zam este modelo de protetor auricular, pois no exercício da atividade se faz necessária a comunicação
entre os colaboradores, e este modelo permite a utilização de um comunicador embutido no equipa-
mento.
b) O plugue de inserção protege o canal auditivo nas atividades e nos locais que apresentem ruídos
excessivos, mas diferente do tipo concha, seu poder de atenuação máximo é de 16 dB. Este protetor é
o mais utilizado nas organizações em geral, pois, além de ter custo reduzido, é de fácil guarda e higie-
nização.
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Figura 72 - Protetor tipo concha e plugue de inserção
A luva isolante deve ser utilizada juntamente com uma luva de cobertura, e essa
FIQUE garantirá resistência suficiente contra furos ou cortes provenientes do trabalho. De
ALERTA qualquer maneira, a luva isolante deve ser testada de acordo com as orientações de
seu fabricante.
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Toda sinalização de segurança tem por objetivo alertar os colaboradores ou visitantes sobre riscos e
perigos no local de trabalho para que tomem a postura adequada e os riscos sejam minimizados.
A sinalização é adotada em locais que apresentam situações perigosas e que colocam em risco a saú-
de humana. Ela deve ser instalada em local visível, ter linguagem objetiva e ser de fácil interpretação. Por
exemplo, na fase inicial de uma construção, existem muitos buracos e, por isso, devem ser sinalizados com
fita zebrada8 para isolá-los e impedir que alguém sofra uma queda.
A sinalização de segurança possui diversos formatos, dentre eles podemos citar:
a) sinais luminosos;
b) sinais sonoros;
c) verbais;
Primeiros socorros são os atendimentos realizados no local do acidente por pessoa treinada para garan-
tia da vida, a integridade física e mental da pessoa que está sendo atendida.
Apesar das técnicas de primeiros socorros se relacionarem em todas as áreas, vamos conhecer as téc-
nicas utilizadas em acidentes de origem elétrica. Como estudado anteriormente, quando ocorre a passa-
gem de corrente elétrica através de órgãos vitais, principalmente o coração, o risco à vida do acidentado é
acentuado.
Um dos grandes riscos envolvendo eletricidade é a parada cardiorrespiratória, ou mesmo a fibrilação
ventricular. Nesse caso, o socorro imediato é primordial. A tabela, a seguir, apresenta a influência do tempo
na chance de salvamento da vítima nessa situação:
CHANCES DE REANIMAÇÃO DA
TEMPO APÓS O ACIDENTE
VÍTMA
1 minuto 95%
2 minutos 90%
3 minutos 75%
4 minutos 50%
7 SEGURANÇA NO TRABALHO
155
CHANCES DE REANIMAÇÃO DA
TEMPO APÓS O ACIDENTE
VÍTMA
5 minutos 25%
6 minutos 1%
8 minutos 0,50%
Tabela 8 - Tempo x chances de reanimação
Fonte: (CORNEAU, 2012, p.40)
SAIBA Para entender melhor as técnicas de primeiros socorros e alguns conceitos que
envolvem essa área, consulte: http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/manuais/
MAIS biosseguranca/manualdeprimeirossocorros.pdf
Em casos de acidente, lembre-se de manter a calma. Não é uma tarefa fácil, porém o desespero prejudi-
ca qualquer ação que se realize. Se possível, chame ajuda imediatamente, porque um profissional acostu-
mado com esse tipo de situação conseguirá prestar os primeiros socorros de maneira mais rápida e eficaz.
Analise o local onde a vítima está: há sistemas energizados próximos? o acidente é de origem elétrica?
você poderá auxiliar de alguma maneira? Não coloque sua vida em risco. Por isso, o socorro deve ser exe-
cutado de maneira segura, não expondo a saúde do resgatista nem de terceiros. Imediatamente após a
rápida avaliação do local, entre em contato com o resgate profissional.
Em alguns casos, além do contato com o serviço de resgate profissional, você precisará iniciar imediata-
mente técnicas de salvamento, como no caso de uma parada cardiorrespiratória, uma das mais graves situ-
ações de atendimento às vítimas de choque elétrico. Nesse caso, o tempo reduz as chances de reanimação
da pessoa acidentada, conforme apresentado na tabela anterior.
Para realizar a massagem cardíaca, deve-se aplicar compressões no tórax do acidentado, fazendo com
que haja uma depressão de aproximadamente cinco centímetros. Dessa maneira, consegue-se simular o
funcionamento cardíaco e manter, de maneira bastante rudimentar, a circulação sanguínea. Executa-se
5 ciclos com trinta compressões cada. Entre um ciclo e outro, deve-se verificar se há pulso e continuar a
massagem cardíaca até que os profissionais competentes cheguem ao local. Desde que divulgado o proto-
colo de atendimento a emergências, em 2010, não há mais as respirações artificiais, com exceção daquelas
executadas por profissionais da saúde.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
156
Vale ressaltar que é necessário ter um treinamento específico para realizar os primeiros socorros e en-
tender melhor a fisiologia humana, e, assim, garantir a integridade física da vítima.
O tempo que o socorrista tem para identificar o estado de saúde e prestar os primeiro socorros a uma
vítima é de poucos minutos. Portanto, a agilidade e a perfeição das manobras de socorro são cruciais.
CASOS E RELATOS
Choque no painel
Em uma empresa do ramo de alimentos, havia uma linha responsável por empacotar os produtos.
Certo dia, essa linha parou de funcionar e um de seus operadores se dirigiu ao quadro alimentador
da linha para tentar reestabelecer os trabalhos.
Ao tentar religar um disjuntor que estava desarmado, o operador encostou em um barramento
energizado, levando um choque elétrico que o fez perder a consciência. Os socorristas da própria
empresa demoraram cerca de três minutos para chegar ao local e, ao avaliarem o cenário, con-
cluíram que o operador já não estava mais energizado e permanecia em parada cardiorrespiratória.
O operador foi reanimado em decorrência do rápido e preciso atendimento. Nesse caso, o bom e
rápido atendimento elevou as chances de vida do acidentado!
RECAPITULANDO
Neste capítulo, você estudou a importância da segurança no trabalho para a vida dos trabalhadores.
Teve também a oportunidade de conhecer alguns equipamentos de proteção e quais as reponsa-
bilidades do empregado e do empregador com relação a eles. Além disso, estudou as sinalizações
de segurança utilizadas no ambiente de trabalho e, inclusive, o que fazer na ocorrência de um
acidente.
Agora que já aprendeu o que fazer para garantir um ambiente seguro no trabalho, é o momento de
aplicar esses conhecimentos para minimizar todo e qualquer risco que envolve qualquer atividade
profissional.
Ética
Neste capítulo, estudaremos sobre a ética nos relacionamentos sociais, mais especificamen-
te, sobre como demonstrar atitudes éticas nas ações e nas relações interpessoais no ambiente
de trabalho, de modo a auxiliá-lo em suas ações e possibilitar um condizente comportamento
ético no cotidiano profissional de eletromecânica.
Pensar sobre a importância da ética no atual cenário mundial e nacional é algo bastante
fértil, na medida em que tal atitude demonstra, no mínimo, nosso interesse em nos tornarmos
pessoas sempre melhores, tanto no âmbito pessoal quanto no profissional, já que a ética das
profissões faz parte do contexto sociocultural.
Portanto, partimos do ponto de que a ética profissional tem enorme relação com a ética
social e, por isso mesmo, devemos reconhecer que ambas formam a totalidade da vida huma-
na, em seus diversos meios de vivências e anseios, como o ambiente de trabalho, a família, a
cultura, ideologias, entre outros aspectos que formam a pessoa como um todo.
Antes de dar início ao tema dessa seção, convém observar ao menos uma definição oficial:
A palavra “ética” é originária do grego ethike ou ethikós e refere-se a costumes. De acordo com
Japiassú (1996, p. 93), ética é:
[...] parte da filosofia prática que tem por objetivo elaborar uma reflexão
sobre os problemas fundamentais da moral (finalidade e o sentido da vida
humana, os fundamentos da obrigação e do dever, natureza do bem e do
mal, o valor da consciência moral) [...].
Ao refletirmos sobre essa definição, acabamos por considerar ética sinônimo de moral, to-
davia, há uma importante distinção, no sentido de que a ética é a busca por princípios que
regem a vida baseada na sabedoria filosófica, enquanto que a moral se propõe a ditar as regras
para a conduta social do vivente.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
160
A ética leva à reflexão sobre a importância da justiça e da harmonia comum a todos e o modo pelo qual
se pode alcançá-las. A moral constrói um conjunto de leis e regulamentos que busca assegurar uma vida
comum justa e harmoniosa. A ética nasce da personalidade estruturada de cada indivíduo. A moral resulta
daquilo que o ambiente introjeta1 no indivíduo.
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Japiassú (1996, p. 187) diz que:
Em um sentido amplo, moral é sinônimo de ética como teoria dos valores que regem a
ação ou conduta humana, tendo um caráter normativo ou prescritivo. Em um sentido
mais estrito, a moral diz respeito aos costumes, valores e normas de conduta específicos
de uma sociedade ou cultura, enquanto que a ética considera a ação humana do seu
ponto de vista valorativo e normativo, em um sentido mais genérico e abstrato.
Em outras palavras, são as pessoas que criam as normas e valores. Entretanto, nas sociedades de classes,
as relações sociais por elas estabelecidas se movimentam por necessidades e interesses conflitantes. Por
isso, há a impossibilidade de existirem valores absolutos ou uma compreensão do que seja o bem, adequa-
da ao interesse e necessidade de todos.
O relacionamento social prevê a convivência com os outros. É uma partilha que se faz em vários seg-
mentos da vida: encontramo-nos com os outros para buscar juntos os nossos objetivos, e isso se dá a partir
do próprio lar, no qual convivemos diariamente. Depois, na vida escolar e profissional também nos relacio-
namos e buscamos juntos atingir metas das mais diversas.
No início, buscamos ser aceitos, passamos a participar opinando e depois vamos nos afeiçoando às
pessoas nos espaços em que estejamos convivendo. À medida que aprendemos a conviver, aperfeiçoamos
nossos relacionamentos sociais, porque, ao nos relacionarmos, somos levados a refletir sob um ponto de
vista ético.
Mas, de que maneira a ética influencia nossos relacionamentos? Muitas vezes, individualmente acredi-
tamos que sabemos quais são os valores corretos, que temos o controle de nossas ações de um modo ético.
Entretanto, os valores não são eternos e se modificam à medida que mudam os conceitos. Além disso, é
justamente neste ponto que se destaca a importância da ética, porque é ela que norteará nossa maneira,
nosso modo de lidar com esses novos valores.
FIQUE Você já refletiu sobre como a ética influencia o seu comportamento? Ela lhe parece
ALERTA natural, um dever, uma obrigação, um compromisso? Ela se fundamenta no seu
próprio jeito de ser, na sua maneira de ser?
Em uma de suas palestras sobre ética, o psicanalista Cláudio Cohen (2012) trata alguns conceitos rela-
cionados, para melhor defini-la.
Ao observar o contexto atual, Cohen cita que o órgão mais valorizado na atualidade é o
cérebro. Entretanto, para povos da antiga região romana, como os Etruscos, por exem-
plo, era o fígado, assim como para os gregos era o coração.
Ocorre que, os valores mudam com o passar dos tempos, à medida que acontece o
avanço tecnológico. No caso específico do fígado, a viabilidade de seu transplante pro-
vocou uma mudança de valor e conceito relacionado à morte. Porém, até então, quando
o coração parava não se podia mais realizar o transplante de fígado, pois a morte era
sempre relacionada a parada cardiorrespiratória.
Contudo, ao mudar-se o conceito de morte determinando-o a partir do cérebro, se pas-
sou a fazer transplante do morto para o vivo. Porém, budistas japoneses não aceitavam
nada de pessoas mortas para transplantar. Somente pela evolução da ciência, que tor-
nou possível o transplante entre vivos – no qual se retira um pedaço do fígado de uma
pessoa viva e se implanta em outra – é que passaram a aceitar o procedimento. Nesse
caso, percebe-se clara a influência da religião sobre a ciência, já que na maior parte das
culturas, a morte influencia e define a vida: o modo de viver está baseado no valor que
se dá ao pós-vida.
Os valores, diz o psicanalista, são compostos por tudo aquilo que atende às nossas ne-
cessidades, de acordo com padrões morais e éticos exigidos socialmente. Mas como
sempre surgem novos conceitos, novos valores são formados. Exemplo disso são as
células tronco, a implantação de óvulos: Afinal, tais procedimentos são realmente o que
se pode definir como vida? Em busca de uma resposta, retoma-se a importância da ética
para auxiliar a cada um de nós a lidar com novos valores. (COHEN, 2012.)
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
162
Thinkstock ([20--?])
CURIOSI Você sabia que atualmente a maioria das profissões tem seu próprio código de ética
profissional? Inclusive a ética influencia processos trabalhistas, já que normalmente
DADES o conjunto de normas obrigatórias de uma empresa é por ela regido.
É muito importante que tenhamos claro o fato de que diversas linhas científicas lidam com o agir hu-
mano e que, cada uma, tem seu próprio foco de atuação. Por exemplo, a antropologia vê o ser humano a
partir de seu local de nascimento, sua raça, sua cultura. Já a sociologia enxerga o homem dentro de um
grupo do qual ela participa. A psicologia, por sua vez, busca entender o agir da pessoa naquilo que ela faz,
como ela faz, de modo a levá-la ao autoconhecimento. Enfim, inúmeras são as ciências e cada uma com seu
enfoque, seu objetivo de nos ajudar a viver melhor. Todas, sem dúvida, são necessárias para que possamos
viver a ética.
Em termos de aplicação da ética na atividade profissional, é importante que o indivíduo esteja ciente
dos valores e princípios fundamentais para realizá-las adequadamente. Mas, como se faz isso? Por um lado,
você deve saber quais são seus deveres específicos e, por outro, os direitos que possui ao exercer sua pro-
fissão. Entendemos, então, que a ética profissional é própria da natureza humana, porque, à medida que
ela faz parte de uma equipe de trabalho, precisará seguir uma conduta que beneficie a todos, que permita
o desenvolvimento de cada um e da equipe como um todo.
SAIBA Para saber mais sobre “o comportamento ético nas empresas”, leia o artigo homônimo,
escrito por Sonia Jordão, disponível em: http://www.tecerlideranca.com.br/detalhe.
MAIS php?id=1034
8 ÉTICA
163
CASOS E RELATOS
Somos seres subjetivos, únicos e com experiências múltiplas, que nos tornam cada vez mais conscientes
do que somos, à medida que vivemos. E, esta nossa humanidade caracteriza a responsabilidade por tudo
aquilo que fazemos principalmente às outras pessoas.
Partimos das experiências individuais para as experiências no âmbito social, em variados níveis de rela-
cionamento e consequentes responsabilidades. E quando assumimos nossas responsabilidades com rela-
ção aos outros, estamos incorporando a ideia de justiça ao nosso modo de viver. Porque, ser responsável
denota, sobretudo, ter justiça nas ações praticadas e este critério de justiça está vinculado à ética nas rela-
ções.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
164
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Conforme menciona Guareschi (2009, p. 08),
A ideia de que existe alguém que pode ser justo sozinho é uma fantasia do individual-
ismo, fundamentada na ideologização liberal do ser humano separado de todo o resto,
absoluto (que para Aristóteles é ou um animal, ou um Deus).
As diferenças econômicas em nossa sociedade, cuja ordem democrática não deveria permitir pessoas
passando por privações do que consideramos básico para a existência, como alimentar-se, frequentar es-
cola e vestir-se; a falta de bens e direitos para uma parte da população de um sistema democrático, que
deveria proteger escrupulosamente os direitos fundamentais dos indivíduos e das minorias, nos leva a
uma reflexão essencialmente moral que nos remete à ética.
Thinkstock ([20--?])
Não deliberamos sobre as estações do ano, o movimento dos astros, a forma dos min-
erais ou dos vegetais. Não deliberamos e nem decidimos sobre aquilo que é regido pela
Natureza, isto é, pela necessidade. Mas deliberamos e decidimos sobre tudo aquilo que,
para ser e acontecer, depende de nossa vontade e de nossa ação. Deliberamos sobre o
possível, isto é, sobre aquilo que pode ser ou deixar de ser. (CHAUÍ, 1995, p.439).
8 ÉTICA
165
Afinal, se não temos a liberdade democrática para deixar de nos alimentarmos até chegarmos à morte,
se não podemos prescindir do uso de roupas nos espaços sociais, se não permitimos que as crianças não
frequentem a escola, tais questões de ordem moral – de normas de conduta social, devem nos levar a re-
fletir sobre os motivos pelos quais, em nosso estado democrático, estas mesmas coisas são inacessíveis a
tantas outras pessoas.
Tais reflexões servem para esclarecer que a ética profissional se relaciona com a sociocultural, mas tam-
bém sugere e estabelece um debate filosófico, levanta um questionamento essencial sobre o fundamento
da ética, se ele de fato estaria estabelecido na liberdade consciente de escolher. E, por outro lado, se todos
os indivíduos têm condições de escolher, já que nem sempre estão presentes os valores adequados para a
tomada de decisão.
Pense na possibilidade de uma decisão que precise ser tomada no seu ambiente de trabalho, no seu ofí-
cio como técnico em eletromecânica, algo que envolva a necessidade de uma atitude ética em detrimento
de uma programação de produção, por exemplo. Lembre-se de sempre optar pela coerência e pelo que
não cause prejuízo às pessoas e à instituição. Veja o exemplo de Gallo (2003, p. 79), com relação ao modo
de dirigir, por exemplo, em uma estrada na qual a velocidade limite seja 100 km/h. “Há a liberdade para
obedecer ou não ao que está determinado, a responsabilidade pela escolha, assim como as consequências,
boas ou más, que poderão advir de tal decisão.”
A ética, nesses casos, prevalece não apenas com relação às escolhas, mas também permeia o resultado
desastroso que poderá afetar outras vidas. É nesse sentido, principalmente, que devemos pensar a ética
nas relações sociais: o comprometimento com o bem comum, acima dos interesses individuais, a valori-
zação do trabalho e o estímulo e respeito à capacidade criativa e criadora dos indivíduos que formam as
equipes de trabalho.
RECAPITULANDO
O capítulo sobre ética e ética nos relacionamentos sociais apresentou uma reflexão útil para a sua
atuação profissional, partindo do ponto de vista de que a ética deve pautar as tomadas de de-
cisões, já que estas normalmente afetam as equipes de trabalho.
Observou-se a relação entre a ética profissional e a ética social como pilares permeando os diver-
sos ambientes e anseios do ser humano, a questão moral e a harmonia alcançada pelas regras de
conduta social e o norteamento que a ética nos proporciona para lidar com distintos valores.
Finalmente, vimos que a ética fundamenta a atividade profissional, visto que é preciso seguir uma
conduta favorável ao desenvolvimento de todos os indivíduos de uma equipe de trabalho, com
responsabilidade e ajuste nas ações essencialmente morais e comprometidas com o bem comum.
Resolução de Problemas
Este capítulo trata da “resolução de problemas” e tem por objetivo capacitá-lo no contexto
de sua atividade como técnico em eletromecânica a identificar as orientações que sejam dadas
à equipe de trabalho e demonstrar uma postura cooperativa na busca pela solução de proble-
mas.
De igual maneira, o conteúdo deverá ajudá-lo a demonstrar iniciativa no desenvolvi-
mento das atividades sob sua responsabilidade, bem como identificar diferentes alternativas
de solução para as situações nas quais se façam necessárias.
Já que toda e qualquer atividade está sujeita a fatores que podem complicar ou atrapalhar
o seu desenvolvimento, com maior ou menor grau de intensidade e complexidade, precisa-
mos estar atentos, capacitados e dispostos a buscar adequadas resoluções. Então, sigamos em
frente!
Antes de abordar a questão de identificação de problemas, convém refletir sobre o seu sig-
nificado. De modo geral, pode-se dizer que um problema é alguma situação, ou algo que pre-
cisa ser resolvido, normalmente por meio de uma sequência de ações. Temos uma situação ini-
cial e desejamos atingir um estado final mais adequado e ajustado, e dependendo do âmbito
e aspecto, com um menor custo.
Um problema pode partir do âmbito particular e a sua resolução beneficiar a um grupo
de pessoas. Também pode ser algo que incomoda ou que atrapalha o desenvolvimento de
alguma atividade por uma equipe de trabalho, por exemplo. Pode, também, ser uma questão
matemática, lógica, abstrata. De qualquer modo, a identificação é o primeiro passo para a sua
resolução.
Nem sempre a identificação de um problema é imediata. Por exemplo, uma organização
pode estar adotando um procedimento há algum tempo e não ter a percepção de que ele
seja o causador de um defeito ou desperdício. Como se trata de uma prática diária comum, o
problema pode estar camuflado, justamente por conta de barreiras como o senso comum e a
postura ideológica que impedem a sua identificação.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
168
Existem diversas ferramentas administrativas como 5W2H, Brainstorming, Diagrama de Causa e Efeito,
Análise de Dispersão, FMEA, que são auxiliares na identificação das causas de problemas. Mas, essencial-
mente deve ser identificada a causa de um problema e ser providenciada a sua correção com a maior
brevidade possível.
Nem sempre o que aparentemente é um problema, de fato é: pode acontecer de confundirmos um
problema com a dificuldade em resolver ou em lidar com alguma situação, ou ainda com a dificuldade em
encontrar uma solução para algo. Portanto, para identificarmos um problema, devemos começar com a
observação de seu estado negativo. Na sequência, tratamos de priorizá-lo com relação a outros, aleatórios,
fictícios ou futuros, que podem nos fazer perder o foco do problema principal.
É bastante comum que, devido à atividade diária acelerada nas empresas, problemas do dia a dia nos
impeçam de prestar atenção aos verdadeiros problemas. A redução nas vendas e consequentemente no
resultado da empresa, o aumento dos custos, a perda de produtividade ou de fatias do mercado, a perda
de liquidez, a redução no nível do serviço, a perda da fidelização dos clientes, enfim, inúmeros podem ser
os problemas que se venha a identificar em uma empresa.
Os problemas podem ser identificados e classificados conforme o grau de resolução: os que são mal ou
pouco definidos: não há objetivos claros ou caminhos evidentes de solução; os bem definidos: que têm
objetivos específicos e caminhos de solução claramente definidos.
Convém mencionar que problemas anteriormente tratados de modo superficial passam a atrapalhar na
resolução de situações mais complexas. E, de qualquer maneira, para encontrar alternativas de resolução, é
fundamental a participação de todo o pessoal responsável da empresa para identificar o problema e então
pensar sobre quais as decisões mais ajustadas à situação. Assim como um médico diagnostica uma doença
a partir de sintomas, um membro de uma equipe também pode ser capaz de identificar os problemas reais
que a empresa enfrenta.
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9.2 ALTERNATIVAS DE SOLUÇÃO
Na busca por alternativas de solução, é importante observar se os membros de uma equipe conseguem,
entre si, lidar com conflitos surgidos dos problemas que estão por ser resolvidos, porque isto gerará uma
contribuição real para que as melhores decisões sejam tomadas. Avisos, relatórios de andamento, solução
de problemas, tomadas de decisões e planejamento são atividades comuns de equipes que permitem o
envolvimento em questões para as quais se busca soluções.
Qualquer pessoa implicada em um problema pode envolver-se em um processo de colaboração na
equipe que resulte em uma solução criativa. Afinal, um indivíduo interessado é qualquer pessoa que seja
afetada pelas decisões de uma equipe e deve ser ouvido, inclusive, ser informado sobre o resultado das
ações.
As alternativas para solução de problemas passa pela questão do relacionamento interpessoal, que se
estabelece no local de trabalho, bem como os conflitos dele oriundos, já que cada indivíduo que passa a
fazer parte de uma equipe carrega consigo suas próprias necessidades pessoais e interpessoais, seus inte-
resses, pontos de vista e metodologias próprias para executar um trabalho.
A opinião de Moscovici (2004, p. 145) é a de que,
Para aplicarmos alternativas de solução, devemos analisar detidamente o acontecimento e seu possível
impacto, providenciar o desenvolvimento de uma estratégia de resposta, ou seja, como vamos agir ou qual
ação ou medida corretora iremos tomar, e finalmente, executar ou conduzir as tarefas programadas.
FUNDAMENTOS ELÉTRICOS
170
CASOS E RELATOS
GESTÃO E RESPONSABILIDADE:
Você já deve ter ouvido falar ou mesmo vivenciado diversas situações cujo foco principal tenha
sido a resolução de problemas. Numa empresa, muitas vezes um problema surge de algo aparente-
mente muito simples, como um fio elétrico solto em uma máquina, por exemplo, que acabe por
provocar um curto circuito ou uma descarga elétrica em um funcionário.
É bastante comum gerentes de empresas e empreendimentos mandarem executar serviços que
violam os procedimentos de segurança, normas técnicas ou disposições legais sem o devido con-
hecimento dos riscos que disso resultam. Mas, por que isso acontece? Por que impõem alternativas
de risco a seus empregados? Em geral, isso se dá pelo fato de que não se querer parar a produção.
Ou mesmo, para que, com tal procedimento, aconteça uma redução nos custos daquela atividade.
O fato é que, se da execução da tarefa não resultar nenhum dano ou acidente, as pessoas que
inicialmente foram contra a ideia se sentem reduzidas quanto a sua capacidade de avaliação. Já o
gerente tende a considerar-se pleno de razão por ter adotado tal ideia com sucesso, sem quebra
de produção e com redução de custo. Entretanto, se algo sair errado, quem assumirá a culpa? Será
que a gerência arcará com a responsabilidade ou a colocará sobre os ombros de quem executou a
tarefa? Ou ainda, não culparão a alguém que tenha sido vítima fatal e que assim não tenha como
se defender? Pode acontecer ainda de um serviço mal executado causar graves consequências
futuras, para as quais talvez nem estejam mais presentes gestor e executor. Por isso, cabe ao gestor
buscar sempre soluções e resoluções ajustadas ao conhecimento e experiência de todos os mem-
bros da equipe de trabalho, atribuindo responsabilidades e conferindo a todos os méritos pelos
sucessos das empreitadas.
9 RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
171
As habilidades de uma equipe, tais como, colaboração, consenso e cooperação, representam prescri-
ções que se pode usar para desfazer reações emocionais, confusões e conflitos que podem impedir as
equipes de serem eficientes na busca por alternativas para a resolução de problemas. Efetivamente, só se
pode considerar o problema completamente resolvido quando tenha desaparecido a ameaça ou se tenha
aproveitado a oportunidade para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de projetos e ideias que se apre-
sentavam anteriormente a ele.
RECAPITULANDO
B
Bitola 11, 62
C
Circuito 7, 11, 37, 39, 43, 46, 67, 110
Condutor 22, 67
Condutores 8, 11, 22, 57, 64, 66
Corrente 7, 11, 23, 24, 30, 32, 35, 39, 53, 54, 64, 68, 80, 81, 94, 173, 174
E
Elétrico 27, 99
Eletromagnetismo 11, 49
Elétron 19
Escala 7, 8, 11, 86, 105
Esquemas 108, 126
Ética 12, 16, 159, 175
F
Ferramentas 8, 11, 57, 58, 59
G
Grandeza 80
I
Imã 7, 47, 48
Instalações elétricas 76, 173, 174, 175
Isolante 21
K
Kirchhoff 19, 33, 34, 36, 37, 41, 47
M
Magnetismo 11
Manutenção 16, 60, 61
Misto 43
N
NBR 5410 64, 65, 67, 72, 73, 75, 76, 173
Normas 12, 76, 116, 125, 136, 137, 173
O
Ohm 19, 25, 26, 31, 32, 33, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 47, 81, 93, 94
P
Paralelo 39
Planta baixa 12, 102, 104, 107, 108
Potência 11, 30, 53, 63, 64, 69, 70, 71, 81
Problemas 16, 167, 168
Proteção 76, 148, 149, 150, 151, 152, 173
R
Resistência 7, 25, 26, 27, 32, 33, 39, 41, 42, 81, 92
S
Seção 8, 67, 68, 69
Segurança 76, 77, 129, 135, 136, 173, 174, 176
Semi-condutor 22
Série 37
Shunt 92
Sinalização 174
T
Tensão 22, 30, 32, 39, 51, 52, 53, 54, 64, 67, 68, 80, 81, 143, 152, 174, 176
SENAI – DEPARTAMENTO NACIONAL
UNIDADE DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA – UNIEP
Waldemir Amaro
Gerente
Cleberson Silva
Coordenação do Desenvolvimento dos Livros Didáticos
Lucineia Dacoregio
Morgana Machado Tezza
Coordenação do Projeto
Andréia Silva
Jean Carlos Klann
Julio Cesar Borches
Patrícia Marcílio
Ilustrações, Tratamento de Imagens
Thinkstock
Banco de imagens
i-Comunicação
Projeto Gráfico, Diagramação, Revisão Ortográfica e Gramatical