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NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E

PROCESSO CIVIL

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Olá, meu nome é Juliana Zacarias Fabre Tebaldi. Sou


professora universitária e advogada nas áreas cível,
empresarial e imobiliária. Sou graduada em Direito, pós-
graduada na área de Direito Processual Civil e mestre na
área de Direito Constitucional e Processual. Leciono há
15 anos em cursos de graduação e pós-graduação. Esse
material tem como finalidade contribuir na construção de
conhecimento em Direito, especialmente o Direito Civil e
Processual Civil. Espero que façam um excelente curso e
aproveitem este conteúdo.
Ma. Juliana Zacarias Fabre Tebaldi

NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E


PROCESSO CIVIL

Batatais
Claretiano
2018
© Ação Educacional Claretiana, 2017 – Batatais (SP)
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer
forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição
na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito
do autor e da Ação Educacional Claretiana.

Reitor: Prof. Dr. Pe. Sérgio Ibanor Piva


Vice-Reitor: Prof. Dr. Pe. Cláudio Roberto Fontana Bastos
Pró-Reitor Administrativo: Pe. Luiz Claudemir Botteon
Pró-Reitor de Extensão e Ação Comunitária: Prof. Dr. Pe. Cláudio Roberto Fontana Bastos
Pró-Reitor Acadêmico: Prof. Me. Luís Cláudio de Almeida
Coordenador Geral de EaD: Prof. Me. Evandro Luís Ribeiro

CORPO TÉCNICO EDITORIAL DO MATERIAL DIDÁTICO MEDIACIONAL


Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves
Preparação: Aline de Fátima Guedes • Camila Maria Nardi Matos • Carolina de Andrade Baviera
• Cátia Aparecida Ribeiro • Elaine Aparecida de Lima Moraes • Josiane Marchiori Martins
• Lidiane Maria Magalini • Luciana A. Mani Adami • Luciana dos Santos Sançana de Melo •
Patrícia Alves Veronez Montera • Raquel Baptista Meneses Frata • Simone Rodrigues de Oliveira
Revisão: Eduardo Henrique Marinheiro • Filipi Andrade de Deus Silveira • Rafael Antonio
Morotti • Rodrigo Ferreira Daverni • Vanessa Vergani Machado
Projeto gráfico, diagramação e capa: Bruno do Carmo Bulgarelli • Joice Cristina Micai • Lúcia
Maria de Sousa Ferrão • Luis Antônio Guimarães Toloi • Raphael Fantacini de Oliveira • Tamires
Botta Murakami
Videoaula: André Luís Menari Pereira • Bruna Giovanaz • Marilene Baviera • Renan de Omote
Cardoso

INFORMAÇÕES GERAIS
Cursos: Graduação
Título: Noções de Direito Civil e Processo Civil
Versão: dez./2018
Formato: 15x21 cm
Páginas: 203 páginas
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 9
2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS............................................................................. 13
3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE................................................................ 17
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 18
5. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 18

Unidade 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL


1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 22
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 22
2.1. A LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO............ 23
2.2. PARTE GERAL DO CÓDIGO CIVIL............................................................. 26
2.3. DOS BENS.................................................................................................. 42
2.4. OS NEGÓCIOS JURÍDICOS........................................................................ 48
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 58
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 59
5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 62
6. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 62
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 63

Unidade 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS


1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 67
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 68
2.1. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES...................................................................... 68
2.2. A TEORIA GERAL DOS CONTRATOS......................................................... 74
2.3. DOS CONTRATOS EM ESPÉCIE................................................................. 82
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 91
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 92
5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 94
6. E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 94
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 95
Unidade 3 – DIREITO DAS COISAS
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 99
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 99
2.1. DIREITO DAS COISAS................................................................................ 99
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 139
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 140
5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 143
6. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 143
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 145

Unidade 4 – DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES


1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 149
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 149
2.1. DIREITO DE FAMÍLIA................................................................................ 149
2.2. DIREITO DAS SUCESSÕES......................................................................... 165
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 170
3.1. UNIÃO ESTÁVEL........................................................................................ 170
3.2. DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES......................................................... 171
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 172
5. CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 173
6. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 173
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 174

Unidade 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL


1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 177
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 177
2.1. DIREITO PROCESSUAL CIVIL.................................................................... 177
2.2. FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO......................... 181
2.3. PROCESSO DE CONHECIMENTO............................................................. 183
2.4. RECURSOS................................................................................................. 187
2.5. TUTELAS PROVISÓRIAS............................................................................ 189
2.6. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS................................................................... 190
2.7. AÇÃO DE EXECUÇÃO................................................................................ 195
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 199
3.1. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA............................................................... 199
3.2. DECISÕES LIMINARES.............................................................................. 199
3.3. AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO................................................................. 200
3.4. MUDANÇAS RECENTES NO CPC.............................................................. 200
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 200
5. CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 202
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 203
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Conteúdo
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Pessoas.
Bens. Direitos da Personalidade. Fatos Jurídicos: ato jurídico,
negócio jurídico e ato ilícito. Forma e prova dos negócios
jurídicos. Prescrição e decadência. Teoria geral das obrigações
e contratos. Contratos em espécie. Direito das Coisas. Família e
sucessões. Jurisdição e ação. Sujeitos e atos processuais. Tutelas
provisórias. Formação, suspensão e extinção do processo. Do
processo de conhecimento e do cumprimento de sentença.
Procedimentos especiais. Execução. Recursos.

Bibliografia Básica
FERNANDES, A. C. Direito Civil – Obrigações. Caxias do Sul: Educs, 2010.
GUILHERME, L. F. V. A. Manual de direito civil. Barueri: Manole, 2016.
LISBOA, R. S. Direito Civil de A a Z. Barueri: Manole, 2008.

Bibliografia Complementar
MACHADO, A. C.; CHINELLATO, S. J. (Orgs.). Código Civil Interpretado – Artigo por
Artigo, Parágrafo por Parágrafo. Barueri: Manole, 2013.
PELUSO, C. Código civil comentado: doutrina e jurisprudência. 9. ed. rev. atual. Barueri:
Manole, 2015.
TEBALDI. J. Z. F. Direito Civil: família e sucessões. São Paulo: Manole, 2012.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

É importante saber: _________________________________

Esta obra está dividida, para fins didáticos, em duas partes:


Conteúdo Básico de Referência (CBR): é o referencial teórico e prático que
deverá ser assimilado para aquisição das competências, habilidades e atitudes
necessárias à prática profissional. Portanto, no CBR, estão condensados os
principais conceitos, os princípios, os postulados, as teses, as regras, os
procedimentos e o fundamento ontológico (o que é?) e etiológico (qual sua
origem?) referentes a um campo de saber.
Conteúdo Digital Integrador (CDI): são conteúdos preexistentes,
previamente selecionados nas Bibliotecas Virtuais Universitárias conveniadas
ou disponibilizados em sites acadêmicos confiáveis. São chamados “Conteúdo
Digital Integrador” porque são imprescindíveis para o aprofundamento do
Conteúdo Básico de Referência. Juntos, não apenas privilegiam a convergência
de mídias (vídeos complementares) e a leitura de “navegação” (hipertexto),
como também garantem a abrangência, a densidade e a profundidade dos
temas estudados. Portanto, são conteúdos de estudo obrigatórios, para efeito
de avaliação.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

8 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

1. INTRODUÇÃO
Prezado aluno, seja bem-vindo!
Iniciaremos o estudo de Noções de Direito Civil e Processo
Civil, por meio do qual você obterá as informações necessárias
relacionadas ao embasamento teórico para exercer sua profissão,
estando pronto para as atividades e os desafios que virão.
Nosso principal objetivo, nesta obra, é identificar os
conceitos e os fundamentos necessários para a compreensão
do tema Direito Civil e Processual Civil. Além disso, procuramos
elaborar o conteúdo de forma a oferecer os elementos
necessários para o posicionamento crítico no exercício da
profissão e a tomada de decisões.
Mas o que é o Direito Civil e o Processo Civil?
O Direito Civil é o ramo do Direito que traz as regras
aplicáveis às relações jurídicas privadas, celebradas entre as
pessoas, físicas e jurídicas, e entre elas e seus bens. Já o Processo
Civil é um conjunto de atos e procedimentos concatenados que
devem ser seguidos quando houver a violação de um direito,
proporcionando o exercício de uma pretensão junto ao Poder
Judiciário.
O Código Civil, que está instrumentalizado pela Lei n.
10.406 de 10 de janeiro de 2002, é o diploma normativo aplicável
as relações civis. Ele é dividido em duas partes.
A primeira, chamada de Parte Geral, traz normas gerais
sobre as pessoas físicas e jurídicas, sobre a individualização
destas e os direitos da personalidade, sobre os bens e sobre os
fatos jurídicos, que são os acontecimentos relevantes para o
mundo do direito, dividindo-se entre atos e negócios jurídicos.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 9


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

A segunda parte do Código Civil é chamada de Parte


Especial.
Inicialmente, a Parte Especial trata do direito das obrigações,
ou seja, traz as regras aplicáveis às relações obrigacionais
estabelecidas pelas pessoas, prevendo as espécies de obrigações
e seus efeitos, sua formação, os requisitos e as formas de extinção
das obrigações, tratando, ainda, do inadimplemento contratual,
que nada mais é do que o descumprimento do contrato e os
efeitos gerados ao devedor.
Após as obrigações, o Código Civil normatiza os contratos.
Em um primeiro momento, traz as regras gerais, aplicáveis a todos
os contratos existentes no Código Civil, tratando expressamente
dos princípios contratuais da função social do contrato e da boa-
fé contratual, da formação dos contratos em geral e da extinção,
além de regulamentar os vícios redibitórios e a evicção. Após,
o legislador civil passa a disciplinar os contratos tipificados no
Código Civil, como, por exemplo, o contrato de compra e venda,
a troca ou permuta, a doação, o mútuo, o comodato, o contrato
de transporte, de seguro, de fiança, entre outros.
Os contratos regulados especificamente pelo Código Civil
são chamados de Contratos Típicos ou Nominados. Quando
as partes estabelecem regras diversas daquelas relativas aos
contratos previstos no Código Civil para uma determinada espécie
contratual, afastando-se do modelo adotado pelo legislador civil,
estaremos diante de um contrato atípico, também chamado de
Inominado. De qualquer forma, as regras gerais do contrato
aplicam-se também nessas situações.
Após a regulamentação dos contratos, o legislador passa a
disciplinar o Direito Empresarial, que será objeto de estudo em
outra disciplina.

10 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Na sequência, passa-se a tratar do direito das coisas, cujo


objeto é o estudo da propriedade e da posse. Inicialmente, trata-
se da posse, sua classificação, das formas de aquisição, dos efeitos
e da perda da posse. Após, passa-se ao estudo da propriedade,
tratando-se da aquisição e da perda da propriedade. Além disso,
foram disciplinados os direitos reais, os direitos de vizinhança,
o direito de construir, o condomínio, a superfície, o usufruto, o
uso, a habitação, o penhor, a hipoteca e outros institutos.
Em seguida, o Código Civil passa a disciplinar o direito de
família, iniciando-se pelo casamento, passando pelas relações de
parentesco, pelos regimes de bens, união estável, tutela e curatela
e pela tomada de decisão apoiada, introduzida recentemente no
nosso ordenamento com o advento do Estatuto da Pessoa com
Deficiência (Lei n. 13.146/2015).
Ao final, o legislador passa a disciplinar o direito das
sucessões, iniciando com regras gerais a respeito da sucessão do
falecido por seus herdeiros, passando para as regras da sucessão
legítima, identificando quem são os herdeiros legítimos. Em
seguida, passa o legislador a tratar da sucessão testamentária,
trazendo as normas sobre os testamentos em geral, sobre
a capacidade de testar, sobre as formas de testamento e os
requisitos que devem ser seguidos. Disciplina também o legislador
sobre a possibilidade de deserdação de um herdeiro, bem como
sobre a declaração de indignidade, fatos que geram, na prática,
na impossibilidade de receber herança. Ao final, o Código Civil
traz regras sobre o inventário e a partilha, regulamentando as
formas de divisão de bens entre os herdeiros.
Terminado o estudo do Direito Civil, passaremos a abordar
o Processo Civil, fazendo uma abordagem lógica, tratando dos
principais aspectos relativos ao processo.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 11


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Iniciaremos pelo estudo da jurisdição. Como jurisdição,


podemos entender o poder do Estado de administrar e aplicar
a justiça. Na sequência analisaremos que são os sujeitos que
participam do processo, analisando os atos processuais que
podem ser praticados.
Verificados os sujeitos processuais, analisaremos as
hipóteses em que é possível antecipar provisoriamente as
decisões dentro de um processo, no caso de urgência e quando
há perigo da demora. Nesse passo, serão analisadas as tutelas
provisórias.
Feita essa análise, estudaremos como se forma um
processo, como ele se desenvolve e como pode ser extinto. Serão
analisados o processo de conhecimento, o processo de execução,
as formas de cumprimento de sentença, os procedimentos
especiais, como a consignação em pagamento e os Recursos.
E assim finalizaremos essa obra. Certamente, você
adquirirá os conhecimentos necessários ao exercício da sua
profissão, entrando em contato com conteúdos teóricos que são
necessários à resolução dos problemas que surgirão na prática.
Ressaltamos que todos os conceitos e fundamentos
que veremos são de extrema importância para o exercício da
profissão, necessários à garantia da segurança jurídica nos atos e
negócios jurídicos e nos diversos tipos de negociações, serviços
notarias e de registro.
Prontos para esse desafio?

12 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


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2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS
O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida
e precisa das definições conceituais, possibilitando um bom
domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de
conhecimento dos temas tratados.
1) Norma: em um sentido geral, é a determinação de
conduta, ou seja, de como se comportar. A norma
jurídica possui natureza de norma ética de conduta,
promulgada pela autoridade que detém o poder,
para aprovar ou não seu conteúdo, sujeitando os
destinatários ao cumprimento do que ela determina
(LISBOA, 2008, p. 13).
2) Direito Civil: é a parte do direito voltada ao estudo
das relações privadas, isto é, das relações particulares.
O direito civil regula as obrigações, contratos civis,
a responsabilidade civil, as relações de família e a
sucessão causa mortis.
3) Pessoas: são entidades que detêm personalidade
jurídica, conferida pela lei. As pessoas dividem-se em
pessoas naturais, também chamadas de pessoas físicas
e pessoas jurídicas.
4) Pessoa natural: a pessoa natural é a pessoa física.
Trata-se do ser humano individualmente considerado.
5) Pessoa jurídica: "é toda entidade constituída de forma
solene pela vontade de pessoas físicas ou jurídicas, com
personalidade e patrimônio próprios, cuja finalidade
encontra-se prevista em sua ata constitutiva” (LISBOA,
2008, p. 63). Trata-se de uma organização, constituída
para a execução de uma atividade predeterminada,
com ou sem finalidade lucrativa.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 13


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6) Bens: são os objetos das relações jurídicas. Embora


na teoria não exista diferenciação entre bens e coisas,
o Código Civil não faz essa distinção, sendo ambos
os termos considerados indistintamente. "Os bens
jurídicos em princípio devem ser passíveis de avaliação
pecuniária ou econômica" (MACHADO, 2013, p. 102)
7) Ato jurídico: em sentido estrito, trata-se de conduta
lícita e voluntária, unilateral, que tem finalidade de
adquirir, modificar, resguardar ou extinguir direitos.
8) Negócio jurídico: é a relação estabelecida entre duas
ou mais pessoas com objetivo de adquirir, modificar,
manter ou extinguir direitos. Trata-se de "uma
relação como forma de autorregramento da conduta
das partes, com a finalidade de satisfação de seus
interesses e da consequente transmissão de bens.”
(LISBOA, 2008, p. 94).
9) Obrigações: são deveres assumidos pelas pessoas, por
meio de um ato jurídico ou um negócio jurídico. É a
relação jurídica "da qual credor, devedor e prestação
debitória são elementos; o vínculo que ela indica
constitui-se com vistas a satisfazer o credor, sendo
composto por deveres e poderes que constituem seu
conteúdo" (FERNANDES, 2010, p. 25).
10) Contrato: é o negócio jurídico celebrado pelas partes
para adquirir, modificar, resguardar ou extinguir
direitos. O contrato é a forma de instrumentalizar as
obrigações.
11) Responsabilidade Civil: "a responsabilidade civil
denota uma situação jurídica em que alguém tem
o dever jurídico de indenizar outrem em virtude de
obrigação que decorre de uma dada situação fática." É
tomada como o específico dever de indenizar oriundo

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de um dado fato imputável a um determinado agente”


(FERNANDES, 2010, p. 12).
12) Direitos das coisas ou Direitos reais: é o conjunto de
normas que regulam a relação das pessoas com seus
bens. Alguns doutrinadores denominam os Direitos
reais como Direito das Coisas. Trata-se de relação
em que de um lado temos o proprietário, possuidor,
usufrutuário etc. e de outro lado , como sujeito passivo
(toda a sociedade com exclusão do sujeito ativo). O
objeto dessa relação é a coisa. Os deveres advindos
dessa proteção é a não violação, perturbação ou
invasão do proprietário, possuidor, usufrutuário ou
quem quer que esteja com a coisa.
13) Direito de família: é um conjunto de normas que
regulam as relações familiares, como o casamento,
a união estável, a filiação, os regimes de bens entre
os cônjuges ou companheiros, a adoção, o dever de
prestar alimentos, a tutela e a curatela.
14) Direito das Sucessões: é o "conjunto de normas
que regulam a transmissão de direitos e obrigações
deixados por alguém que vem a falecer. O objeto do
direito das sucessões é, portanto, a transmissão mortis
causa, que ocorre quando uma pessoa assume o lugar
da outra, passando a ser titular dos seus direitos e
obrigações (TEBALDI, 2012, p. 109).
15) Direito Processual Civil: é o conjunto de normas que
regulam a atuação do Poder Judiciário na efetivação
de direitos materiais civis. O Direito Processual Civil
é a parte do sistema normativo, composto por um
conjunto de regras consistentes em princípios e
normas, destinadas a regular a atuação da jurisdição
exercida pelo Estado Juiz, a ação, o processo e os
procedimentos.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 15


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

16) Jurisdição: é a aplicação do Direito pelo Estado para


resolver um caso concreto. "A provocação da jurisdi-
ção é feita pelo exercício do direito de ação, sendo o
processo, o instrumento para deixar assentada a deci-
são em relação àquele caso concreto, tornando-a pú-
blica" (LEITE, 2015).
17) Ação: é o instrumento por meio do qual o Estado exer-
ce a jurisdição. Trata-se de um direito que as pessoas
têm de pedir ao Estado, por meio do Poder Judiciário,
para a resolução de um conflito. "Promovida a ação,
erige para o Estado o dever da prestação jurisdicional,
decidindo de forma fundamentada. O Estado exerce
sua soberania também através da função jurisdicional
(que corresponde aplicar a lei ao caso concreto). A pre-
tensão processual é o conteúdo da ação processual e,
em regra, corresponde a pretensão de direito mate-
rial” (LEITE, 2015).
18) Processo: meio pelo qual a jurisdição é exercida. O
conflito entre sujeitos é a condição necessária, mas
não suficiente, para que incidam as normas do pro-
cesso, somente aplicáveis quando se recorre ao Poder
Judiciário, apresentando-se uma pretensão. Somente
o Estado, representado pelo Poder Judiciário, tem legi-
timação, por meio do processo, aplicar a justiça. Dessa
forma, a finalidade do processo é obter a proteção da
sociedade, de forma justa e eficaz.
19) Procedimento: conjunto de atos que, praticados de
forma lógica e concatenada, proporcionam o exercí-
cio do direito de ação. "Procedimento vem do latim
procedere, que significa ir por diante, andar a frente,
prosseguir. De sua origem visualiza-se seu significado,
o modo de agir processual, a sucessão ordenada de

16 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

atos à disposição para que se consubstancie a tutela


jurídica. Procedimento configura-se na exteriorização
e materialização do processo, podendo assumir diver-
sos modos de ser” (ÁVILA, 2013).

3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE


O Esquema a seguir possibilita uma visão geral dos
conceitos mais importantes deste estudo.

Figura 1 Esquema de Conceitos-chave de Noções de Direito Civil e Processo Civil.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 17


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

4. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
FERNANDES, A. C. Direito Civil – Obrigações. Caxias do Sul: Educs, 2010.

5. E-REFERÊNCIAS
AVILA, C. A. A. Processo e procedimento: as distinções necessárias no contexto do
Estado Democrático de Direito. Disponível em < http://www.ambito-juridico.com.br/
site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12983>. Acesso em: 22 ago.2018.
BEDUSCHI, L. O conceito de ação no Novo Código de Processo Civil. Disponível em
<http://proxy.furb.br/ojs/index.php/juridica/article/view/4599/2983>. Acesso em: 22
ago. 2018.
BRANDÃO, D. V. C. Casamento putativo: um estudo baseado no novo Código
Civil. BuscaLegis. Disponível em: <http://egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/
anexos/9409-9408-1-PB.pdf>. Acesso em: 16 ago. 2018.
BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 5 out. 1988.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
htm>. Acesso em: 8 ago. 2018.
BRASIL. Presidência da República. Emenda Constitucional n. 66, de 13 de julho de
2010. Dá nova redação ao § 6º do art. 226 da Constituição Federal, que dispõe sobre
a dissolubilidade do casamento civil pelo divórcio, suprimindo o requisito de prévia
separação judicial por mais de 1 (um) ano ou de comprovada separação de fato por
mais de 2 (dois) anos. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF,
5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/
Emendas/Emc/emc66.htm>. Acesso em: 16 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 4.591, de 16 de dezembro de 1964. Dispõe
sôbre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 16 dez. 1964. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4591.htm>. Acesso em: 8 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 4.657, de 4 de setembro de 1942. Lei de
Introdução às normas do Direito Brasileiro. (Redação dada pela Lei nº 12.376, de 2010).
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 4 set. 1942. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/Decreto-Lei/Del4657.htm>. Acesso em: 8
ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe
sobre os registros públicos, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República

18 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Federativa do Brasil, Brasília, DF, 31 dez. 1973. Disponível em: <http://www.planalto.


gov.br/ccivil_03/Leis/L6015original.htm>. Acesso em: 8 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 8.009, de 29 de março de 1990. Dispõe sobre a
impenhorabilidade do bem de família. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
Brasília, DF, 29 mar. 2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/
L8009.htm>. Acesso em: 8 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre
o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm>. Acesso em: 16 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 10.257, de 10 julho de 2001. Regulamenta os
arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana
e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF,
10 jul. 2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/
L10257.htm>. Acesso em: 8 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui
o Código Civil. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 10 jan.
2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm>.
Acesso em: 8 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 10.931, de 2 de agosto de 2004. Dispõe sobre
o patrimônio de afetação de incorporações imobiliárias, Letra de Crédito Imobiliário,
Cédula de Crédito Imobiliário, Cédula de Crédito Bancário, altera o Decreto-Lei nº 911,
de 1º de outubro de 1969, as Leis nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964, nº 4.728, de
14 de julho de 1965, e nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, e dá outras providências.
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2 ago, 2004. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.931.htm>.
Acesso em: 8 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 11.804, de 5 de novembro de 2008. Disciplina
o direito a alimentos gravídicos e a forma como ele será exercido e dá outras
providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 5 nov.
2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/
Lei/L11804.htm>. Acesso em: 16 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de
Processo Civil. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 16 mar.
2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivIl_03/_Ato2015-2018/2015/
Lei/L13105.htm>. Acesso em: 8 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 19


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 6 jul. 2015. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm>.
Acesso em: 9 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 13.465, de 11 de julho de 2017. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13465.htm>. Acesso
em: 8 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 24.643, de 10 de julho de 1934. Decreta o
Código de Águas. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 10 jul.
1934. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto/D24643.htm>.
Acesso em: 8 ago. 2018.
BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Recurso Especial: Resp 1183378 – RS
(2010/0036663-8) da 4ª turma do Superior Tribunal de Justiça, Brasília, DF, 01 de
fevereiro de 2012 – Rel. Ministro Luís Felipe Salomão. Disponível em: <https://stj.
jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21285514/recurso-especial-resp-1183378-rs-2010-
0036663-8-stj>. Acesso em: 16 ago. 2018.
CARVALHO NETO, I. A morte presumida como causa de dissolução do casamento.
Revista Justitia. Disponível em: <http://www.revistajustitia.com.br/artigos/b06xc3.
pdf>. Acesso em: 16 ago. 2018.
LEITE, G. O conceito de ação e suas principais modificações do Novo Código de
Processo Civil Brasileiro. Disponível em <https://professoragiseleleite.jusbrasil.com.
br/artigos/180930381/o-conceito-de-acao-e-suas-principais-modificacoes-do-novo-
codigo-de-processo-civil-brasileiro>. Acesso em: 22 ago. 2018.

20 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 1
O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

Objetivos
• Compreender a importância e a finalidade das Normas de Introdução ao
Direito Brasileiro.
• Entender a estrutura do Código Civil.
• Compreender a definição de pessoa natural (pessoa física) e de pessoa
jurídica.
• Identificar as espécies de bens.
• Entender os fatos jurídicos, incluindo o ato, o negócio jurídico, o ato ilícito
e as teorias da responsabilidade civil.
• Compreender os institutos da prescrição e da decadência.

Conteúdos
• Normas de Introdução ao Direito Brasileiro.
• Pessoa natural (pessoa física) e de pessoa jurídica.
• Bens e suas espécies.
• Fatos jurídicos, incluindo o ato, o negócio jurídico, o ato ilícito e as teorias
da responsabilidade civil.
• A prescrição e decadência.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Não se limite a este conteúdo; busque outras informações em sites


confiáveis e/ou nas referências bibliográficas, apresentadas ao final de

21
UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

cada unidade. Lembre-se de que, na modalidade EaD, o engajamento


pessoal é um fator determinante para o seu crescimento intelectual.

2) Busque identificar os principais conceitos apresentados; siga a linha


gradativa dos assuntos até poder observar a evolução do estudo.

3) Não deixe de recorrer aos materiais complementares descritos no


Conteúdo Digital Integrador.

4) Nesta unidade, é importante que você tenha em mãos o Código Civil


(Lei n. 10.406/2002) (BRASIL, 2002). No site da Presidência da República
(www2.planalto.gov.br), clique em legislação. Após, clique em Códigos.
Na lista dos códigos disponíveis, você encontrará o Código Civil. É só clicar
e você terá a íntegra do documento, podendo consultar todos os artigos
mencionados nesta unidade.

1. INTRODUÇÃO
Iniciaremos nosso estudo nesta Unidade 1 analisando o
Direito Civil. Como vimos no Glossário de Conceitos, o Direito
Civil é um conjunto de normas que regulamenta as relações civis,
estabelecidas entre as pessoas e seus bens.
Nas relações civis, aplicam-se as regras constantes no
Código Civil. O Código Civil é dividido em duas partes, quais
sejam: a parte geral e a parte especial. Começaremos o estudo
analisando a Lei de Introdução as Normas do Direito Brasileiro, a
parte geral do Código Civil.

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de
forma sucinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua
compreensão integral, é necessário o aprofundamento pelo
estudo do Conteúdo Digital Integrador.

22 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

2.1. A LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO


BRASILEIRO

A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro foi


introduzida pelo Decreto-lei n. 4.657, de 4 de setembro de 1942,
sendo sua redação alterada posteriormente pela Lei n. 12.376 de
2010 (BRASIL, 1942).
O conteúdo dessa lei versa sobre regras básicas aplicadas
ao sistema normativo brasileiro como um todo. Por esse motivo,
é que devemos fazer a análise dos principais conceitos trazidos
por essa lei, o que, certamente, servirá de subsídio para o estudo
dos temas propostos nesta obra, quais sejam: direito civil e
direito processual civil.
Inicialmente, a lei trata sobre quando uma norma começa
a vigorar no País, ou seja, quando a norma após a edição começa
a valer. Em regra, isso ocorre em quarenta e cinco dias após a
publicação, conforme determina o artigo 1º (BRASIL, 1942).
Já o artigo 2º e parágrafos tratam das regras aplicáveis no
caso de alteração das leis, isto é, no caso de revogação. Nesse
sentido, determina o artigo 2º da lei que "não se destinando à
vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou
revogue" (BRASIL, 1942).
Na sequência, o artigo 3º traz que ninguém pode deixar de
cumprir a lei alegando desconhecimento (BRASIL, 1942).
Já o artigo 4º destina-se ao magistrado que, na ausência
de norma aplicável ao caso levado a julgamento, deverá decidir
de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais do
direito. Sabemos que o sistema normativo, por mais completo
que seja, não é capaz de prever todos os fatos, situações e

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 23


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

ocorrências. Portanto, a analogia, os costumes e os princípios


gerais de direito são meios de integrar o sistema normativo.
A analogia é a aplicação de uma norma que regula uma
determinada situação a outra situação que não tenha lei
específica a ser aplicada. Trata-se da aplicação de uma norma
existente no ordenamento jurídico para um caso em que não há
norma prevista.
Como exemplo da aplicação da analogia, podemos citar a
concessão de pensão por morte ao companheiro sobrevivente
de uma união homoafetiva. Na verdade, antes da possibilidade
do casamento entre pessoas do mesmo sexo e diante dessa
realidade fática, ou seja, da união estável entre pessoas do mesmo
sexo, havendo o falecimento de um dos consortes, por analogia,
o sobrevivente passava a ter o direito de pleitear do Instituto
Nacional do Seguro Social a concessão de pensão por morte.
Ou seja, pega-se a lei existente para a concessão do benefício
aplicável a união ou casal entre homem e mulher e aplica a uma
situação considerada similar, ou seja, a união entre pessoas do
mesmo sexo, favorecendo-se o consorte sobrevivente.
O costume nasce a partir de criação de práticas repetidas
aceitas como comuns pela sociedade. Isso significa que, em
casos semelhantes, as pessoas sempre irão agir da mesma forma.
Diante da repetição, o Direito absorve a prática costumeira como
se fosse norma, exigindo-se, a partir dessa absorção jurídica do
costume, o respeito à prática. Isso significa que o costume passa
a ser aplicado como norma jurídica.
O cheque pós-datado (conhecido como pré-datado) é um
exemplo clássico de aplicação do costume como norma. Com
efeito, a lei determina que o cheque é ordem de pagamento a
vista, ou seja, imediatamente após sua apresentação, deverá

24 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

ser compensado pela instituição financeira se houver fundos.


Entretanto, quando o consumidor paga o fornecedor com um
cheque pós-datado, este deverá respeitar a data convencionada
com o consumidor para a apresentação, sob pena de responder
pelas consequências jurídicas se fizer o depósito antes do dia
combinado. Na verdade, não existe lei reconhecendo a obrigação
de respeito ao cheque pós-datado, mas, como se trata de prática
costumeira dos comerciantes para atrair clientes, passou se a
respeitar referido costume como se fosse norma. O desrespeito
ao costume, nesse caso, poderá dar ensejo à propositura pelo
cliente, prejudicado de uma ação de reparação de danos.
Temos ainda como fonte supletiva da lei os "princípios
gerais do direito", que são ideias fundamentais do direito e
buscam a aplicação da justiça, atendendo aos fins sociais e ao
equilíbrio da relação entre as partes. Isso significa, por exemplo,
que, na ausência de norma, não podendo se aplicar a analogia e
os costumes, o aplicador da lei deve solucionar o caso concreto
de forma que se atinja o equilíbrio entre as partes.
Em complemento, o artigo 5º da lei de introdução às
normas do direito brasileiro (BRASIL, 1942) determina que o
magistrado, aplicador da lei, deverá sempre buscar atender aos
fins sociais da norma e o bem comum da sociedade.
O artigo 6º determina que a lei em vigor terá efeito
imediato a todos, mas deverá respeitar o ato jurídico perfeito, o
direito adquirido e a coisa julgada.
Os parágrafos 1º, 2º e terceiro definem o ato jurídico
perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada da seguinte
forma, respectivamente: "Reputa-se ato jurídico perfeito o já
consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou"
(BRASIL, 1942).

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 25


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

Parágrafo segundo:
Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou
alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do
exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida
inalterável, a arbítrio de outrem. (BRASIL, 1942).

E o parágrafo terceiro: "Chama-se coisa julgada ou caso


julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso" (BRASIL,
1942).
Os dispositivos seguintes tratam da aplicação das regras do
domicílio da pessoa sobre o começo e o fim da personalidade, o
nome, a capacidade e os direitos de família, além da aplicação
das regras sobre os bens, as obrigações contraídas pelas pessoas,
a sucessão no caso de morte ou ausência (artigos 7º ao 19)
(BRASIL, 1942).
Para complementar seu entendimento sobre esse
tema, você deve consultar o Conteúdo Digital Integrador, que
traz indicações de textos para auxiliar na compreensão e no
aprofundamento.
Feita a análise das Normas de Introdução ao Direito
Brasileiro, iniciaremos o estudo da Parte Geral do Código Civil.

2.2. PARTE GERAL DO CÓDIGO CIVIL

O Código Civil, conforme já vimos, é dividido em duas


partes, a geral e a especial. A parte geral traz normas gerais sobre
as pessoas, seus bens e sobre os negócios jurídicos celebrados.
Inicialmente, trataremos das pessoas, físicas e jurídicas.

26 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

As pessoas naturais (pessoas físicas)


As pessoas físicas são as pessoas naturais, os seres
humanos individualmente considerados. Somente as pessoas
naturais podem ser sujeitos de direitos ou obrigações.
O começo da existência da pessoa natural é o nascimento
com vida. Assim que ocorre o nascimento com vida, a pessoa
adquire personalidade jurídica.
A personalidade jurídica é a capacidade de se adquirir
direitos e contrair obrigações, também conhecida como a
capacidade de direito ou capacidade de gozo, nos termos dos
artigos 1º e 2º do Código Civil (BRASIL, 2002).
Os nascituros são os serem já concebidos, mas que ainda
não nasceram. Percebe-se que o Código Civil assegura também
os direitos do nascituro, assegurando-lhes, por exemplo, o direito
de receber uma doação, que irá se concretizar se vierem a nascer
com vida.
Uma pessoa com capacidade de direito pode obter
direitos e contrair obrigações. Todavia, ter direito e poder
contrair obrigações não dá à pessoa a capacidade de exercê-
los pessoalmente. Para que uma pessoa exerça um direito ou
cumpra uma obrigação pessoalmente, é necessário que adquira
a capacidade de fato ou exercício.
A capacidade de fato ou exercício é a possibilidade de a
pessoa exercer por si só seus direitos e obrigações.
Portanto, toda a pessoa que nasce com vida adquire
personalidade jurídica e, consequentemente, capacidade
jurídica. Isso significa que a pessoa pode ter direitos, como, por
exemplo, direito à herança. Todavia, para exercer os direitos que

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 27


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

tem, como, por exemplo, usufruir da herança, deverá adquirir a


capacidade de fato ou exercício.
Quando a pessoa adquire a capacidade de fato ou
exercício? Segundo o Código Civil, a capacidade de fato ou
exercício é adquirida quando cessa a menoridade, o que ocorre
ao se completar 18 anos (BRASIL, 2002).
A pessoa que não tem capacidade de fato ou exercício é
considerada incapaz.
Um incapaz pode exercer seus direitos e obrigações, mas
não por si só. Para exercê-los, é necessário que haja o suprimento
da incapacidade, o que pode ocorrer por meio da representação
ou assistência.
A representação ocorre para os absolutamente incapazes e
a assistência, para os relativamente incapazes.
Os absolutamente incapazes são os menores de 16 anos,
nos termos do artigo 3º do Código Civil: "São absolutamente
incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os
menores de 16 (dezesseis) anos" (BRASIL, 2002).
Os relativamente incapazes estão identificados no artigo
4º do Código Civil e são os seguintes:
I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II – os ébrios habituais e os viciados em tóxico; 
III – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não
puderem exprimir sua vontade;
IV – os pródigos. (BRASIL, 2002).

Os ébrios habituais são as pessoas dependentes de


álcool. Como exemplo de pessoa que por causa transitória ou
permanente não possa exercer sua vontade temos, por exemplo,

28 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

alguém que em decorrência de um acidente esteja hospitalizado


em estado de coma. Os pródigos são as pessoas que se desfazem
do patrimônio sem qualquer critério.
No caso de representação, o representante designado
pela lei pratica o ato em nome do filho. Já na assistência, o
representante legal pratica o ato em conjunto com o filho.
Na prática, em uma compra e venda de imóveis, por
exemplo, é o representante legal que assina a escritura pública
em nome do filho absolutamente incapaz. Se a incapacidade for
relativa, o representante legal assina junto com o relativamente
incapaz.

Emancipação
O Código Civil também prevê a possibilidade de
emancipação, nos termos do artigo 5º do Código Civil (BRASIL,
2002).
A emancipação é a antecipação dos efeitos da maioridade.
Trata-se da antecipação da aquisição da capacidade civil antes da
idade legal.
São três as hipóteses de emancipação: voluntária, judicial
e legal.
A emancipação voluntária é aquela concedida pelos pais,
se o menor tiver 16 anos completos. Está prevista no artigo 5º, §
único do Código Civil. É extrajudicial e deve ser feita no Cartório
de Notas (BRASIL, 2002).
A emancipação voluntária deve ser feita por ambos os pais,
ou por um deles na falta do outro. A impossibilidade de qualquer
dos pais de participar do ato, por se encontrar em local ignorado

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 29


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

ou por outro motivo relevante, deve ser justificada, sendo


necessário, neste caso, autorização judicial para a concessão/
outorga.
A emancipação judicial é aquela que depende de sentença
judicial no caso dos menores colocados sob tutela, desde que eles
já tenham completado 16 anos de idade. Tanto a emancipação
voluntária como a judicial devem ser registradas em livro
próprio do Cartório de Registro Civil da comarca do domicílio do
menor, anotando-se também no assento de nascimento (Lei n.
6.015/1973, artigo 91, § único). Antes do registro, não produz
efeito (BRASIL, 1973).
A emancipação legal é a conferida por lei. Nesse caso, é
a própria norma que determina que alguns fatos emancipam a
pessoa. Os fatos são os seguintes:
1) Casamento válido: menores com 16 anos podem casar
e, uma vez efetivado o casamento, os menores são
emancipados.
2) Exercício de emprego público efetivo: se o menor de
16 anos for aprovado em concurso público efetivo e se
tornar servidor público, ele estará emancipado.
3) Colação de grau em ensino superior: se o menor colar
grau em ensino superior, está emancipado.
4) Estabelecimento civil ou relação de emprego, desde
que gerem economia própria: nesse caso, se o menor
exercer atividade econômica, de forma autônoma ou
como empregado, e essa atividade gerar rendimentos
suficientes para que ele possa viver de forma
independente, a lei o considera emancipado.

30 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

Término da existência da pessoa natural


Somente a morte extingue a existência da pessoa natural.
A seguir, veremos que, juridicamente, temos a morte real e a
morte presumida.

Morte Real
O artigo 6º do Código Civil prevê a morte real. A prova da
morte real faz-se pelo atestado de óbito ou pela justificação,
em caso de catástrofe e não encontro do corpo (Lei n. 6.015/73,
artigo 88) (BRASIL, 1973).
A pessoa natural deixa de existir com sua morte real,
conforme os critérios da Medicina Legal. É a morte cerebral, e
não outra, que extingue a pessoa física. Não se confunde a morte
real com morte aparente, isto é, aquela que a pessoa apresenta
sinais de morte sem ter falecido como, por exemplo, no estado
cataléptico. (LISBOA, 2008, p. 60).
Assim, podemos dizer que o diagnóstico da morte se dá
pela constatação da paralisação da atividade cerebral, circulatória
e respiratória, o que deve ser feito por médico perito.

Morte presumida
A morte presumida poderá ser declarada quando não se
tem o corpo.
Se a pessoa desapareceu sem qualquer causa aparente,
não se pode decretar imediatamente a sua morte. Para que a
morte seja declarada nesses casos, é necessário que as pessoas
legitimadas proponham ação judicial requerendo a declaração
de ausência e a sucessão do falecido. Sem passar por essa
ação, que pode ter duração mínima de 20 anos, não há como

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 31


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

se declarar a morte presumida daquele que desapareceu do seu


domicílio, sem deixar notícia. O procedimento para a declaração
de ausência está regulado no Código Civil, nos artigos 22 a 39
(BRASIL, 2002).
O dispositivo que regula a morte presumida é o artigo 7º
do Código Civil, que determina:
Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de
ausência:
I – se for extremamente provável a morte de quem estava em
perigo de vida;
II – se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro,
não for encontrado até dois anos após o término da guerra.
(BRASIL, 2002)

A declaração de morte presumida nesses casos somente


pode ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações,
devendo a sentença fixar a data provável do falecimento
(parágrafo único do artigo 7º).
Também pode ser declarada a morte presumida:
1) nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão
definitiva (art. 6º, 2ª parte, Código Civil) (BRASIL, 2002);
2) após 10 anos do trânsito em julgado da sentença que
concedeu a abertura da sucessão provisória (art. 37,
CC) (BRASIL, 2002);
3) após 5 anos sem notícias do desaparecido, se este
contava com 80 anos na época do desaparecimento;
4) se a pessoa desaparecer em naufrágio, inundação,
incêndio, terremoto ou qualquer outra catástrofe,
quando estiver provada a sua presença no local do

32 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

desastre e não for possível encontrar-se o cadáver para


exame (Lei n. 6.015/73, artigo 88) (BRASIL, 1973).

Comoriência
A comoriência é a morte simultânea de duas ou mais
pessoas herdeiras ou beneficiárias entre si. Está prevista no artigo
8º do Código Civil (BRASIL, 2002). Para ser aplicado o instituto
da comoriência, é necessário que se preencha os seguintes
requisitos:
• falecimento de dois ou mais indivíduos, na mesma
ocasião, sem se conseguir identificar quem faleceu
primeiro;
• não há a necessidade de o falecimento ocorrer no
mesmo lugar, mas sim na mesma ocasião.
Pelo fato de se considerarem os herdeiros ou beneficiários
mortos ao mesmo tempo, considera-se que não houve tempo
para a efetivação da transmissão de bens entre eles. Portanto,
nesse caso, um não herda do outro. Se se tratar de um casal, os
parentes colaterais de cada um deles ficarão com a quota parte
do patrimônio de cada um deles.
Se for possível verificar qual faleceu antes do outro, não
se aplica a comoriência. Nesse caso, o que viveu um pouco mais
herda a meação do outro e depois transmite tudo aos seus
colaterais.

Registro Civil das Pessoas Naturais


Os principais fatos da vida humana devem ser registrados
publicamente. Nesse sentido, prescrevem o artigo 9º e o 10º do
Código Civil:

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 33


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

Serão registrados em registro público:


I – os nascimentos, casamentos e óbitos;
II – a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz;
III – a interdição por incapacidade absoluta ou relativa;
IV – a sentença declaratória de ausência e de morte presumida.

Far-se-á averbação em registro público:


I – das sentenças que decretarem a nulidade ou anulação do
casamento, o divórcio, a separação judicial e o restabelecimento
da sociedade conjugal;
II – dos atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou
reconhecerem a filiação; (BRASIL, 2002).

Terminado o estudo das pessoas naturais, iniciaremos o


estudo das pessoas jurídicas.

As pessoas jurídicas
As pessoas jurídicas estão reguladas no Código Civil nos
artigos 40 a 52, que traz disposições gerais aplicáveis a todas
as pessoas jurídicas. Nos artigos 53 a 61, temos disciplinadas as
Associações, e nos artigos 62 a 69 temos a regulamentação das
Fundações (BRASIL, 2002).

Definição de pessoa jurídica


Trata-se de um grupo de pessoas ou de patrimônio
reunidos com um objetivo comum, predeterminado, que tem
personalidade própria e considerados sujeitos de direitos e
obrigações.

34 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

Requisitos para a existência da pessoa jurídica


Uma pessoa jurídica existe somente se estiverem presentes
os seguintes requisitos:
1) Vontade humana livre e consciente para a criação
da pessoa jurídica: Para a existência de uma pessoa
jurídica, a pessoa que destinou patrimônio para sua
criação ou as pessoas reunidas para a sua criação
devem manifestar de forma livre e consciente a
vontade de criá-la. Portanto, não existe uma pessoa
jurídica criada através de imposição do Estado ou de
qualquer particular ou entidade privada.
2) Respeito às imposições e às condições legais para
a criação: para a criação da pessoa jurídica, deve-
se respeitar o que a lei determina. Como exemplo,
podemos citar a obrigação legal de se registrar os
atos constitutivos das pessoas jurídicas nos órgãos
competentes. O ato constitutivo da empresa é o
contrato social e deverá ser registrado na Junta
Comercial.
3) Se o objeto da pessoa jurídica for lícito: a finalidade
da pessoa jurídica deve ser permitida por lei. Portanto,
a pessoa jurídica somente pode explorar atividades
permitidas legalmente. Não há como reconhecer a
existência de uma pessoa jurídica que tenha seu objeto
social ilícito ou proibido por lei, até mesmo porque a
autonomia de vontade não chega a esse ponto.

O surgimento da pessoa jurídica


Determina o artigo 45 do Código Civil:

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 35


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado


com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro,
precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do
Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações
por que passar o ato constitutivo. (BRASIL, 2002).

O ato constitutivo da pessoa jurídica é o contrato social


para as sociedades empresariais, que deve ser registrado na
Junta Comercial ou o estatuto social para as sociedades simples,
associações, fundações, entre outras, e que deve ser registrado
no Cartório de Registro das Pessoas Jurídicas competente.
O ato constitutivo, independentemente de ser um contrato
social ou um estatuto social, deve conter obrigatoriamente o que
consta no artigo 46 do Código Civil (BRASIL, 2002).

A representação da pessoa jurídica


A pessoa jurídica, como já visto, desde que devidamente
registrada, adquire personalidade. O fato de a pessoa jurídica ter
personalidade significa que ela tem direitos e possui obrigações
em seu próprio nome.
Tendo personalidade própria, distinta de seus sócios,
"aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção
dos direitos da personalidade" (CC, artigo 52). Assim, estão
protegidas a integridade moral e a imagem da pessoa jurídica
(BRASIL, 2002).
A atuação da pessoa jurídica está limitada no contrato ou
no estatuto social e também pela própria lei. Dessa forma, não
pode a pessoa jurídica praticar atos que extrapolem o objeto
social previsto no ato constitutivo, sob pena de ineficácia desses
atos.

36 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

A pessoa jurídica deve ter um representante nomeado


ou um órgão de representação. O Código Civil dispõe sobre a
representação e a administração da pessoa jurídica nos artigos
de 47 a 49 (BRASIL, 2002).
Em se tratando de pessoa jurídica de direito público
interno, determina o artigo 43 do Código Civil que:
As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente
responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade
causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os
causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.
(BRASIL, 2002).

Trata-se da adoção da teoria da responsabilidade objetiva,


que será mais bem detalhada no estudo do ato ilícito e da
responsabilidade civil.

Classificação da pessoa jurídica


A classificação das pessoas jurídicas nada mais é do que
uma divisão didática por gêneros para facilitar o entendimento.
O Código Civil classifica as pessoas jurídicas nos artigos de
40 a 44 (BRASIL, 2002). O artigo 40 do Código Civil determina que
as pessoas jurídicas dividem-se em:
• pessoas jurídicas de direito público, interno e externo
• pessoas jurídicas de direito privado.
O artigo 41 do Código Civil traz as pessoas jurídicas de
direito público interno, quais sejam:
I – a União;
II – os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
III – os Municípios;
IV – as autarquias;

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 37


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

IV – as autarquias, inclusive as associações públicas;


V – as demais entidades de caráter público criadas por lei (BRASIL,
2002).

As pessoas jurídicas de direito público externo estão


contempladas no artigo 42 do Código Civil, que determina:
São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados
estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito
internacional público. (BRASIL, 2002).

Como exemplo, podemos citar Argentina, Israel, Chile,


México como estados internacionais, e como organismos
internacionais a ONU (Organização das Nações Unidas), a
OMC (Organização Mundial do Comércio), a OIT (Organização
Internacional do Trabalho), entre outros.
O artigo 44 do Código Civil elenca as pessoas jurídicas de
direito privado, que são:
I – as associações
II – as sociedades
III – as fundações
IV – as organizações religiosas
V – os partidos políticos
VI – as empresas individuais de responsabilidade limitada.
(BRASIL, 2002).

Após a análise das pessoas jurídicas, passaremos a estudar


os bens.

Forma de individualização das pessoas


São três as formas de individualização da pessoa, quais
sejam: domicílio, nome e Estado. O domicílio está regulado

38 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

no Código Civil, nos artigos 70 a 78 (BRASIL, 2002). O nome,


disciplinado no Código Civil, nos artigos de 16 a 19 (BRASIL,
2002) e na Lei n. 6.015/1973 (BRASIL, 1973). Com exceção
do Estado Político, que trata da nacionalidade prevista na
Constituição Federal, no artigo 12 (BRASIL, 1988), o Estado não
está disciplinado na legislação.

Do domicílio
Após o Código Civil tratar das pessoas naturais e das pessoas
jurídicas, ele passa a regular o domicílio delas. O domicílio está
regulado no Código Civil, nos artigos de 70 a 78 (BRASIL, 2002).
O domicílio da Pessoa Natural está definido no artigo 70
do Código Civil: "Domicílio civil da pessoa natural é o lugar onde
ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo" (BRASIL,
2002).
O artigo 71 do Código Civil admite a pluralidade de
domicílios. Nesse caso, possuindo a pessoa natural vários
domicílios, ela poderá ser acionada em qualquer um deles.
Poderá também a pessoa natural estabelecer o local de uma das
residências como centro principal de seus negócios. O domicílio
profissional está previsto no artigo 72 do Código Civil (BRASIL,
2002).
O domicílio da pessoa que não possui residência habitual é
o local onde ela for encontrada (Código Civil, artigo 73). Podemos
citar como exemplo de pessoas sem residência habitual os
ciganos, os profissionais de circo e os andarilhos (BRASIL, 2002).
A pessoa natural pode mudar de domicílio. Nos termos do
artigo 74, muda-se o domicílio se a pessoa natural transferir sua
residência com intenção manifesta de o mudar.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 39


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

O domicílio da pessoa jurídica de direito privado é o local


designado como sua sede no estatuto ou contrato social. Se não
houver a designação, o domicílio será o local onde funcionarem
as respectivas diretorias e administrações (Código Civil, artigo
75, inciso IV).
A pessoa jurídica de direito público interno tem por
domicílio a sede de seu governo. Nesse sentido, dispõe o Código
Civil:
Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:
I – da União, o Distrito Federal;
II – dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;
III – do Município, o lugar onde funcione a administração
municipal; (BRASIL, 2002).

O Estado
Trata-se do modo como a pessoa é reconhecida na
sociedade:
• Estado individual (ou físico): é a maneira de ser da
pessoa.
• Estado familiar: é a posição ocupada pela pessoa no
seio da família. Por exemplo: casado ou solteiro, filho,
pai, genro, etc.
• Estado político: “é a qualidade jurídica que advém da
posição do indivíduo na nação. Por exemplo: brasileiro
(nato ou naturalizado) ou estrangeiro.

Direitos da Personalidade
Trata-se de conjunto de características que possui o ser
humano. Pode-se afirmar que direitos da personalidade são

40 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

inerentes à pessoa humana, conservados por ela durante toda a


vida e, em alguns casos, após a morte. É o modo de ser de cada
pessoa e o direito dela se expressar exatamente como é, com
seus atributos e características. Melhor explicando, é o direito
que cada ser humano tem de ser e de se expressar como quiser,
ter suas próprias convicções e os atributos físicos que bem lhe
convier.
A defesa dos direitos da personalidade tem fundamento
na proteção da pessoa imposta pela Constituição Federal. É o
artigo 1º, inciso III da Constituição Federal, que prevê o princípio
da dignidade da pessoa humana que serve como base para
a proteção dos direitos da personalidade. Não há dignidade
se os direitos da personalidade como a vida, a preservação da
intimidade, da vida privada, da honra, do nome, da disposição do
corpo, do nome e da imagem da pessoa não estiverem protegidos
e garantidos a todas as pessoas.
Todas as vezes que houver violação aos direitos da
personalidade, poderá haver a ocorrência de danos morais e
materiais.
A defesa dos direitos personalíssimos em caso de violação
pode ser feita por meio da propositura de ações judiciais. Essas
ações podem ser preventivas ou repressivas. Nesse sentido,
determina o artigo 12 do Código Civil:
Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da
personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de
outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para
requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente,
ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto
grau. (BRASIL, 2002).

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 41


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

As ações preventivas são as medidas cautelares cujo objetivo


é suspender os atos de ofensa aos direitos da personalidade que
estiverem em curso, cessando a ameaça ou a lesão. Em seguida
à medida cautelar, deve-se ajuizar ação principal repressiva
de cunho cominatório requerendo indenização pelos danos
causados.
Outra hipótese é a possibilidade de se propor ação
repressiva, pleiteando-se, liminarmente, a antecipação de tutela
para suspender os atos de ofensa aos direitos da personalidade.
Nesse caso, em vez de a vítima entrar com uma ação cautelar
e depois uma ação repressiva, entrará apenas com uma ação
repressiva, pedindo liminarmente a antecipação de tutela nos
mesmos autos para suspender as violações que ainda estão
ocorrendo.

2.3. DOS BENS

Já estudamos os sujeitos de direito, que são as pessoas


naturais e as pessoas jurídicas. Agora, vamos estudar os bens,
que podem ser objetos de direito.
Os bens estão disciplinados nos artigos de 79 a 103 do
Código Civil. Podem ser definidos como objetos das relações
jurídicas estabelecidas entre as pessoas, sobre as quais recaem
seus direitos.
Trata-se de tudo aquilo que interessa e tem utilidade para
o ser humano, com valoração econômica e com aptidão para ser
objeto de uma relação jurídica.
Na parte especial, o Código Civil, no Livro III, regulamenta
os bens sob a denominação Direito das Coisas. A doutrina
diferencia bem de coisa. No entanto, para o legislador civil, bem

42 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

equivale à coisa, já que no texto da legislação ele utiliza os dois


termos sem fazer qualquer distinção (BRASIL, 2002).

Classificação dos bens


A necessidade de se classificar as várias espécies de bens
decorre do fato de que não se pode aplicar as mesmas normas a
todos. A classificação advém da própria legislação.
No Código Civil, temos a seguinte divisão:
• os bens considerados em si mesmos;
• os bens reciprocamente considerados;
• os bens considerados em relação ao titular do domínio
(BRASIL, 2002).

Bens considerados em si mesmos


Vamos iniciar a análise pelos bens considerados em si
mesmos, que são divididos, de acordo com o Código Civil (BRASIL,
2002), da seguinte forma:
1) Bens imóveis e bens móveis
• Imóveis: são os bens que não podem ser transportados
de um local para o outro, sob pena de destruição da
sua substância. Se a remoção vier a ocorrer, certamente
haverá a destruição do bem. Por exemplo: não consigo
transportar um imóvel residencial de um local para
outro sem destruir sua substância.
• Móveis: são os bens que podem ser removidos de um
lugar para outro, por força própria ou alheia. Os que se
movem por força própria são os animais, conhecidos
como "semoventes". Os que se movem por força alheia
são carro, moto, computador, avião etc.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 43


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

2) Bens fungíveis e bens infungíveis


• Fungíveis: são os bens que podem ser substituídos por
outros do mesmo gênero, qualidade e quantidade. Em
regra, são bens móveis. Exemplo: cereais, peças de
máquinas, dinheiro etc.
• Infungíveis: são as coisas que não podem ser
substituídas por outras. Em geral, são os bens imóveis.
Como exemplo, podemos citar um quadro de Portinari,
uma escultura ou obra de arte, um imóvel residencial
etc.
3) Bens consumíveis e bens inconsumíveis
• Consumíveis: são os bens móveis cujo uso causa
destruição imediata da própria substância; são as coisas
que se exaurem em um só ato, com o primeiro uso,
sendo também assim considerados os bens destinados
à alienação, isto é, colocados à venda. Como exemplo,
temos os alimentos, o dinheiro. Esses bens, depois de
usados ou consumidos, acabam. Um livro guardado em
sua casa é considerado inconsumível, mas disponível
à venda numa prateleira de uma loja é considerado
consumível.
• Inconsumíveis: são os bens que proporcionam reiterada
utilização ao homem, sem destruição da sua substância.
Isto significa que, ao contrário dos bens consumíveis,
poderão ser usados reiteradas vezes. Como exemplo,
podemos citar as roupas, os sapatos, os veículos etc.
4) Bens divisíveis e bens indivisíveis
• Divisíveis: são as coisas que se podem repartir em
frações distintas, de tal modo que mesmo divididas
mantenham a mesma utilidade do todo. Cada parte

44 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

deve ser autônoma e conservar a mesma qualidade do


todo. Exemplo: se repartimos uma saca de café, cada
metade conservará as qualidades do produto, podendo
ter a mesma utilização do todo, pois não ocorrerá
alteração da substância.
• Indivisíveis: são as coisas que não podem ser fracionadas
sem alteração de sua substância, pois, se o forem, ter-
se-á dano, uma vez que perderão sua identidade e seu
valor econômico. Como exemplo de bem indivisível,
podemos citar o cavalo de raça, que, obviamente, não
pode ser dividido.
5) Bens singulares e bens coletivos
• Singulares: são as coisas que, embora reunidas, se
consideram por si só, independentemente das demais.
São consideradas em sua individualidade. As árvores
de um jardim podem ser consideradas por si só,
individualmente. Podem também ser consideradas
coletivamente (o conjunto de árvores de um jardim).
• Coletivos: são as coisas que, sendo compostas de várias
coisas singulares, se consideram em conjunto, formando
um todo. Dividem-se em universalidades de fato ou
universalidades de direito. Universalidade de fato é o
conjunto de bens singulares, corpóreos e homogêneos,
com destinação unitária. Esses bens podem ser objetos
de relação jurídica própria e independente. Como
exemplo, podemos citar a biblioteca, o rebanho, o
jardim, o estabelecimento empresarial, a galeria de
quadros, entre outros. Nota-se que os bens dados como
exemplo podem ser vendidos como um todo. Todavia,
cada bem singular que compõe o bem coletivo pode
ser objeto de relação jurídica própria e independente.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 45


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

Universalidade de direito são bens singulares,


corpóreos e heterogêneos, vistos coletivamente. Os
bens que compõem a universalidade de direito podem
também ser vistos de forma individual. Como exemplo,
podemos citar o patrimônio, a massa falida e a herança.
Terminamos os bens considerados em si mesmos. Agora,
veremos os bens reciprocamente considerados.

Bens reciprocamente considerados


Os bens reciprocamente considerados dividem se em:
1) Bens principais e acessórios
• Principais: são as coisas que existem sobre si, abstrata
ou concretamente. Essa coisa funciona por si só, exerce
sua função e funcionalidade sem depender de outra.
• Acessórios: são as coisas cuja existência supõe a da
principal. Para existir e ter funcionalidade precisa
do principal. O solo é o principal. O acessório é tudo
o que nele se incorporar, como, por exemplo, uma
árvore plantada. Os bens acessórios subdividem-se em:
benfeitorias, frutos e produtos. Benfeitorias são as obras
ou despesas que se fazem em bem móvel ou imóvel para
conservá-lo, melhorá-lo ou embelezá-lo. Subdividem-
se, pois, em necessárias, úteis ou voluptuárias. Frutos
são as utilidades produzidas periodicamente pela coisa;
podem ser naturais (produzidas organicamente pelas
coisas principais naturais, como, por exemplo, a laranja);
industriais, decorrentes da atividade do homem sobre a
natureza, como, por exemplo, a produção de uma fábrica,
e civis, que são as rendas provenientes da utilização de
um bem que uma pessoa concede a outra, como, por

46 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

exemplo, o aluguel. Produtos são as utilidades que se


retiram da coisa, diminuindo-lhe a quantidade, como,
por exemplo, o ouro retirado da mina. Ressalta-se que
os produtos não se reproduzem periodicamente.
Após a análise dos bens reciprocamente considerados,
passaremos àúltima classificação, que tratará dos bens
considerados em relação ao titular do domínio.

Bens considerados em relação ao titular do domínio


Esses bens subdividem-se em bens:
• Públicos: são os bens do domínio nacional pertencentes
às pessoas jurídicas de direito público interno. Nessa
espécie, temos: bens de uso comum do povo, bens de
uso especial e bens dominicais.
• Particulares: são todos os outros bens que não se
enquadram como públicos.

Bem de família
É impenhorável, nos termos da Lei n. 8.009/1990 (BRASIL,
1990). Existem dois regimes legais disciplinando o bem de família.

Regime do Código Civil: previsto nos artigos de 1.711 a 1.722


(BRASIL, 2002)
O regime do Código Civil exige a lavratura de uma escritura
pública ou de um testamento instituindo um bem como sendo
de família e o registro desses documentos. Destina-se até 1/3 do
patrimônio como bem de família. Este regime é aplicado quando
a pessoa tem como patrimônio mais de um imóvel.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 47


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

Regime da Lei n. 8.009/1990 (BRASIL, 1990)


O regime da Lei n. 8.009/90 protege as pessoas que são
proprietárias de um imóvel, utilizado como residência da família,
além dos bens que guarnecem a residência.
Para que um bem seja considerado bem de família e
seja insuscetível de penhora, é necessário que as dívidas que
geraram a penhora sejam anteriores à instituição do bem de
família. Exemplo: se eu estou devendo e, após, adquiro um
imóvel residencial, este não será protegido. Porém, se primeiro
comprei o imóvel residencial e depois adquiri as dívidas, meu
imóvel estará protegido.
A Lei n. 8.009/90 (BRASIL, 1990) prevê exceções à
impenhorabilidade. São elas: a penhora por dívidas relativas
ao próprio imóvel e a possibilidade de penhora do único bem
imóvel daquele que figurar como fiador em contrato de locação.

2.4. OS NEGÓCIOS JURÍDICOS

Vimos anteriormente os bens e sua classificação.


Analisamos também o instituto do bem de família e seus dois
regimes, o legal e o convencional. Passaremos a analisar agora
as definições do ato jurídico e do negócio jurídico. Ao final deste
tópico, verificaremos a extinção dos direitos pela ocorrência da
prescrição e da decadência.
Negócio jurídico é aquele que cria normas que regulam os
interesses das partes, harmonizando as vontades e os interesses
dos contratantes.
Ato jurídico, em sentido estrito, é aquele que gera
consequências jurídicas previstas em lei e não pelas partes

48 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

interessadas. A renúncia é um exemplo de um ato jurídico. Nota-se


que, para que o ato jurídico produza efeitos, não há a necessidade
da aquiescência de outra parte. Também são exemplos de atos
jurídicos a ocupação, o abandono, a transferência de domicílio
etc.
Os requisitos de validade do ato e do negócio jurídico estão
previstos no artigo 104 do Código Civil e são:
I – agente capaz
II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável
III – forma prescrita ou não defesa em lei. (BRASIL, 2002).

Ressalta-se ainda que, aos três requisitos anteriormente


mencionados, deve-se acrescentar a vontade livre e consciente
manifestada pela parte que pratica o ato jurídico ou pelas partes
que celebram o negócio jurídico.

Classificação dos negócios jurídicos


Os critérios utilizados na classificação dos negócios
jurídicos são as vantagens patrimoniais, a manifestação de
vontade e a formalidade dos negócios jurídicos. Vamos à análise
desses critérios.

Quanto às vantagens patrimoniais que produzem


Quanto às vantagens patrimoniais que produzem, os
negócios podem ser dos seguintes tipos:
• Gratuito: é quando só uma das partes obtém benefícios
ou vantagens. Como exemplo, citaremos a doação pura
e o comodato. Portanto, nesse contrato, a parte obtém
benefício ou enriquecimento patrimonial sem qualquer
contraprestação.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 49


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

• Oneroso: nos negócios jurídicos onerosos, ambos os


contratantes têm vantagens e obrigações recíprocas.
Os negócios jurídicos onerosos podem ser:
• Comutativos: se suas prestações forem certas e
determinadas, isto é, quando as partes souberem no
momento da celebração do contrato as vantagens e as
obrigações que terão, em virtude de não haver riscos
em relação à contratação (por exemplo, compra e
venda, locação);
• aleatórios: não há certeza com relação às vantagens e
às obrigações que podem ocorrer. Nesse caso, existe o
risco, que é a essência do negócio jurídico celebrado
(por exemplo, contrato de seguro).

Quanto à manifestação da vontade


Quanto à manifestação da vontade, os negócios podem ser
dos seguintes tipos:
1) Unilateral: os atos unilaterais aperfeiçoam-se apenas
com uma manifestação de vontade; tais atos caminham
na mesma direção, colimando um único objetivo
(testamento, renúncia, confissão, título ao portador).
2) Bilateral: se a declaração de vontade emanar de duas
ou mais pessoas, porém, forem dirigidas em sentido
contrário (os contratos em geral). Os bilaterais podem
ser:
• simples (vantagem para uma parte e ônus para outra
(por exemplo: doação, comodato);
• sinalagmáticos (vantagens e ônus recíprocos (por
exemplo: compra e venda).

50 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

Quanto às formalidades
Quanto às formalidades, os negócios podem ser dos
seguintes tipos:
• Solenes: requerem para sua existência forma especial
prescrita em lei (casamento, compra e venda de bem
imóvel);
• Não solenes: não exigem forma legal para sua efetivação
(compra e venda de coisa móvel).
A partir de agora, passaremos à análise dos atos ilícitos.

Dos atos ilícitos


Pratica ato ilícito, nos termos do artigo 186 do Código Civil,
o indivíduo que, por sua ação ou omissão, age com culpa ou
dolo, provocando dano a outrem (BRASIL, 2002).
O dolo compreende a intenção de o agente causar o dano,
isto é, a vontade direcionada do agente de cometer o ato ilícito.
A culpa é configurada por negligência, imprudência ou
imperícia.
A negligência consiste na desatenção ou no descaso do
agente, que deixa de tomar as medidas adequadas e necessárias
ao cumprimento dos seus deveres. Caracteriza-se por um não
fazer ou deixar de fazer algo (por exemplo: causar um acidente
por falta de manutenção nos freios).
Já a imprudência consiste em agir descuidadamente.
Caracteriza-se por uma ação (por exemplo: dirigir em alta
velocidade).

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 51


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

A imperícia é a falta de técnica para exercitar uma


determinada função. Como exemplo de imperícia, podemos
citar o erro médico.
Conforme determina o artigo 187 do Código Civil, também
pratica o ato ilícito o agente que age com abuso de direito
(BRASIL, 2002).
O abuso de direito ocorre quando a pessoa, ao exercer um
direito, excede os limites permitidos pela lei, a boa-fé e os bons
costumes, tendo como resultado um dano provocado a outrem.
Por exemplo: o credor, ao cobrar o recebimento do seu crédito,
expõe o devedor a vexame público e utiliza força física para
coagir o devedor a pagar. Nesse caso, existe o direito de receber
o crédito, mas não podia o credor se exceder na cobrança.
O Código Civil impõe àquele que pratica ato ilícito a
obrigação de reparar o dano mediante indenização, por meio
do instituto da responsabilidade civil, conforme o artigo 927 do
Código Civil (BRASIL, 2002).

Teorias da Responsabilidade Civil


A regra, em nosso ordenamento jurídico, é a teoria da
responsabilidade subjetiva, adotada pelo Código Civil nos artigos
186 e 927 (BRASIL, 2002).
A referida teoria está baseada na necessidade de provar a
culpa ou o dolo do causador do dano. Isso significa que a vítima
tem a obrigação de provar que o causador do dano agiu com
culpa ou dolo. Se a vítima não se desincumbir desse dever, ela
não terá seu prejuízo reparado.
Já pela teoria da responsabilidade objetiva, não há
necessidade de a vítima provar a culpa ou o dolo do agente

52 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

causador do dano. A aplicação dessa teoria é exceção e somente


deve ocorrer quando a lei assim determinar, como, por exemplo,
nos casos dos artigos 37, § 6º da Constituição Federal (BRASIL,
1988); artigos 43 e 927, § único do Código Civil (BRASIL, 2002),
entre outros.
Portanto, o que distingue a teoria objetiva da subjetiva é
a existência da culpa, e, como já foi dito, o Código Civil adotou a
teoria da culpa subjetiva (BRASIL, 2002).
A Constituição Federal de 1988 prevê a responsabilidade
objetiva em seu artigo 37, parágrafo 6º (BRASIL, 1988). Referido
dispositivo estende a responsabilização objetiva às pessoas
jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos.
Isso significa que referidas pessoas jurídicas responderão,
independentemente de culpa, por todos os danos causados por
seus agentes.

Da Prescrição e Decadência
A Prescrição está prevista no Código Civil nos artigos de 189
a 206 e a Decadência, nos artigos de 207 a 211 (BRASIL, 2002).

Definição de Prescrição
O direito não socorre quem dorme. Esse é um ditado
extremamente conhecido, que surgiu em virtude da existência
dos institutos jurídicos da prescrição e da decadência. Toda ação
tem um prazo para ser proposta.
Se o interessado deixar passar o prazo sem exercer sua
pretensão, ou seja, sem propor a ação, ocorrerá a prescrição. A
pretensão é o poder de fazer valer um direito em juízo através de
uma ação. Como exemplo, podemos citar o poder do credor de

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 53


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

exigir o pagamento do inadimplente, o poder que o contratante


tem de exigir o cumprimento de um contrato etc.
Assim, podemos definir a prescrição como a extinção de
uma pretensão por meio de uma ação ajuizável, em virtude da
inércia de seu titular durante um determinado lapso temporal
previsto pela lei.
Nesse sentido, dispõe o artigo 189 do Código Civil: "Violado
o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue,
pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206"
(BRASIL, 2002).
Em regra, os prazos para a propositura das mais diversas
ações estão previstos no artigo 206 do Código Civil (BRASIL,
2002). Quando não houver prazo indicado para uma determinada
pretensão no artigo 206, aplica-se o prazo geral previsto no
artigo 205 do Código Civil, que é 10 anos. O início da contagem
do prazo ocorre no momento em que o direito é violado.
Não há que se confundir a prescrição e a decadência, pois
a prescrição visa à extinção da pretensão (da ação) e não de um
direito propriamente dito. Já a decadência extingue um direito.
Para deixar clara a diferença entre os institutos, podemos citar o
exemplo do artigo 882 do Código Civil (BRASIL, 2002).
Extrai-se desse dispositivo que se alguém paga uma dívida
prescrita (caso em que o credor tem o direito, mas não tem
a ação), não poderá pedir a devolução do valor (repetição do
indébito), porque, embora tenha ocorrido a prescrição, o direito
do credor ainda existe. Agora, se o prazo fosse decadencial e não
prescricional, o credor teria perdido o direito e, por esse motivo,
por não mais possuir o direito em virtude da decadência, teria o
devedor o direito de pedir o dinheiro pago de volta.

54 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

As causas impeditivas impedem o início da contagem do


prazo prescricional, não se iniciando a contagem do prazo. As
causas suspensivas suspendem a contagem do um prazo que está
correndo, e o restante do prazo recomeça a ser contado após
a solução da causa que o suspendeu. As causas interruptivas
interrompem a prescrição e, após a interrupção, o prazo é
contado novamente por inteiro (CC, arts. de 202 a 204). (BRASIL,
2002).
A interrupção pode ocorrer apenas uma vez e qualquer
interessado pode promovê-la (artigos 202 e 203) (BRASIL, 2002).
Em regra, a interrupção da prescrição por um credor não vale
para os outros. Como exemplo, tem-se a situação hipotética em
que há seis credores e um devedor, e apenas um credor entra
com ação e pede a citação do devedor. Operada a citação, a
prescrição é interrompida apenas em relação a esse credor que
entrou com a ação. Contra os outros credores que não entraram
com ação, a prescrição continua correndo.
Se houver vários devedores e a prescrição for interrompida
em relação apenas a um deles, os outros não serão prejudicados.
Como exemplo, temos a seguinte situação: um credor entra com
ação em relação a apenas um devedor, mas a dívida tem três
devedores. A prescrição é interrompida apenas em relação ao
devedor acionado. Contra os outros dois devedores, continua
correndo a prescrição. Agora, se a dívida for solidária, a
interrupção sempre aproveita os demais credores.
A possibilidade de se renunciar à prescrição está prevista no
artigo 191 do Código Civil (BRASIL, 2002). A renúncia da prescrição
pode ser efetivada pela parte de quem dela se aproveita, mas
somente depois da consumação do prazo prescricional. Por
exemplo, o prazo para ação de reparação de danos é de 3

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 55


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

anos. Apenas passados os 3 anos é que a prescrição pode ser


renunciada pelo devedor, que é a parte que se aproveitaria da
ocorrência da prescrição. Operada a renúncia, o prazo inicia-se
novamente.
Nos termos que determina o artigo 192 do Código Civil, as
partes não podem alterar os prazos de prescrição. Isso significa
que estas não podem estabelecer contratualmente prazos
diferentes dos que foram estipulados em lei (BRASIL, 2002).
A prescrição poderá ser alegada, em qualquer grau de
jurisdição, pela parte de quem aproveita (CC, artigo 193) (BRASIL,
2002). A prescritibilidade é a regra. A imprescritibilidade a
exceção.
São exemplos de ações imprescritíveis aquelas que versam
sobre: a) a pretensão à divisão da coisa comum (CC, arts. 1.320);
b) os direitos da personalidade (honra, vida, liberdade, intimidade
etc.); c) o estado da pessoa (ex.: filiação).

Definição de decadência
É a extinção do direito, em virtude de seu titular não o
exercer no prazo estabelecido em lei ou no prazo combinado
pelas partes interessadas. O prazo é extintivo do direito. Seu
objeto é o direito. A decadência está prevista no Código Civil,
nos artigos de 207 a 211 (BRASIL, 2002).
Como os prazos de prescrição são aqueles discriminados
nos artigos 205 e 206 do Código Civil, os demais prazos
estabelecidos no Código, em cada caso, são decadenciais (ex.:
arts. 178, 516, 445 e 1.859).
O artigo 207 determina que "salvo disposição legal em
contrário, não se aplicam à decadência as normas que impedem,

56 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

suspendem ou interrompem a prescrição". A única hipótese que


pode impedir o início do prazo prescricional ou interromper o
prazo em curso é a incapacidade absoluta prevista no artigo 3º
do Código Civil (CC, artigo 208) (BRASIL, 2002).
O prazo de decadência legal é aquele previsto em lei,
como, por exemplo, o estabelecido no artigo 178 do Código Civil
(BRASIL, 2002).
A decadência convencional é aquela estipulada pelas
partes. A decadência legal deve ser conhecida de ofício pelo juiz
em qualquer grau ou jurisdição e somente pode ser alegada pela
parte de quem aproveita (CC, artigos 210 e 211) (BRASIL, 2002).
Na próxima unidade, trataremos dos direitos das
obrigações.
ntes de realizar as questões autoavaliativas propostas no
Tópico 4, você deve fazer as leituras dos conteúdos indicados
no Tópico 3. Conteúdo Digital Integrador para aprofundar
seus conhecimentos sobre o tema estudado nesta primeira
Unidade.
Vídeo complementar ________________________________

Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar.


• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique no ícone
Videoaula, localizado na barra superior. Em seguida, selecione o nível
de seu curso (Graduação), a categoria (Disciplinar) e o tipo de vídeo
(Complementar). Por fim, clique no nome da disciplina para abrir a
lista de vídeos.
• Para assistir ao vídeo pelo seu CD, clique no botão “Vídeos”
e selecione: Noções de Direito Civil e Processo Civil – Vídeos
Complementares – Complementar 1.
__________________________________________________

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 57


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição
necessária e indispensável para você compreender integralmente
os conteúdos apresentados nesta unidade.
Os textos a seguir apresentam as mudanças ocorridas no
Código Civil em relação às pessoas naturais. O Estatuto da Pessoa
com Deficiência, Lei n. 13.146/2015 (BRASIL, 2015), trouxe
significativas mudanças a respeito dos absolutamente incapazes
e relativamente incapazes. Confira os artigos esclarecendo as
alterações:
• ALVES, C. Migalhas. Estatuto da pessoa com deficiência
– Principais alterações. Disponível em: <http://www.
migalhas.com.br/dePeso/16,MI235297,51045-Estatu
to+da+pessoa+com+deficiencia+Principais+alteraco
es>. Acesso em: 9 ago. 2018.
• RIBEIRO, M. P. A. Colégio Notarial do Brasil – Conselho
Federal. Estatuto da Pessoa com Deficiência: a revisão
da teoria das incapacidades e os reflexos jurídicos
na ótica do notário e do registrador. Disponível em
<http://www.notariado.org.br/index.php?pG=X19leGl
iZV9ub3RpY2lhcw==&in=NjIyMA>. Acesso em: 9 ago.
2018.
• KOYAMA, D. F. Câmara Paulista para Inclusão da
Pessoa com Deficiência. Os reflexos da lei 13.146/2015
– Estatuto da Pessoa com Deficiência – no sistema
jurídico brasileiro. Disponível em: <https://www.
camarainclusao.com.br/artigos/os-reflexos-da-lei-
13-1462015-estatuto-da-pessoa-com-deficiencia-no-
sistema-juridico-brasileiro/>. Acesso em: 9 ago. 2018.

58 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

Além disso, no vídeo indicado a seguir, você vai


compreender as mudanças trazidas pelo Estatuto no Código
Civil, especialmente, com relação às pessoas absolutamente e
relativamente incapazes. Confira:
• DORNELA, W.; COSTA, C. O Estatuto da Pessoa com
Deficiência. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=iK6YElLwJsQ>. Acesso em: 18 set. 2019.
Sobre os direitos da personalidade, consulte os textos a
seguir para entender a abrangência dos efeitos da violação.
• LEAL, P. L. S. Jusbrasil. Os Direitos da Personalidade na
perspectiva constitucional. Disponível em: <https://
polianelagner.jusbrasil.com.br/artigos/111839893/
os-direitos-da-personalidade-na-perspectiva-
constitucional>. Acesso em: 9 ago. 2018.
• LÔBO, P. L. N. Danos Morais e Direitos da Personalidade.
Disponível em: <http://www.buscalegis.ufsc.br/
revistas/files/journals/2/articles/7843/public/7843-
7842-1-PB.htm>. Acesso em: 9 ago. 2018.
• MEZZOMO, R. I. F. Dano Moral “in re ipsa”. Disponível em:
<http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,dano-
moral-in-re-ipsa,51095.html>. Acesso em: 9 ago. 2018.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos
estudados para sanar as suas dúvidas.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 59


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

1) Assinale a alternativa incorreta.


a) Nem sempre a decretação de ausência é requisito para a declaração
de morte presumida.
b) A emancipação legal é aquela determinada por sentença do juiz,
ouvido o tutor, desde que o tutelado tenha completado 14 anos de
idade.
c) A incapacidade relativa pode ser suprida pela assistência.
d) O índio é considerado, em regra, absolutamente incapaz.

2) No que representa a distinção entre uma sociedade e uma associação:


a) não tem ela qualquer fundamento doutrinário ou legal.
b) elas se distinguem primordialmente pela finalidade.
c) a distinção diz respeito ao número de diretores.
d) a sociedade é sujeita a registro e a associação não o é.
e) embora haja uma certa distinção, não há utilidade prática em estabelecê-la.

3) Tício, com 18 anos de idade, pretende vender um imóvel de sua


propriedade. Para tanto:
a) não precisa comparecer pessoalmente ao ato da lavratura da escritura,
bastando ser assistido por seu representante legal que deverá
comparecer obrigatoriamente.
b) não precisa comparecer pessoalmente ao ato da lavratura da escritura,
bastando ser representado por seu representante legal que deverá
comparecer obrigatoriamente.
c) comparecerá pessoalmente e outorgará a escritura de compra e venda,
sendo-lhe dispensável representação ou assistência.
d) comparecerá pessoalmente ao ato da lavratura da escritura,
outorgando-a, regularmente assistido.
e) não precisa comparecer ao ato da lavratura da escritura, pois será
representado pelo Ministério Público que deverá comparecer
pessoalmente ao ato.

4) Assinale a única alternativa correta.


Inexistem ações imprescritíveis:
a) Quando ocorre uma causa suspensiva da prescrição, o prazo já iniciado
deixa de correr e recomeça a ser contado, do início, após a solução da
causa que o suspendeu.

60 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

b) Quando ocorre uma causa interruptiva da prescrição, o prazo, após o


advento da causa, é contado novamente por inteiro.
c) O protesto é uma causa suspensiva da prescrição.
d) É causa impeditiva do prazo prescricional o ato inequívoco do devedor
que importe reconhecimento do direito.

5) Saltorato, perigoso traficante, pretendendo vender seu veículo, pressiona


Jéferson a adquiri-lo, sob pena de matar Jódison (irmão de Jéferson).
Neste caso:
a) Jéferson poderá requerer a anulação do negócio jurídico celebrado,
com base no art. 156 do CC.
b) Jéferson não poderá requerer a anulação do negócio, pois não teve sua
vida ameaçada.
c) Jéferson poderá requerer a anulação do negócio jurídico celebrado,
com base no art. 157 do CC.
d) Jéferson poderá requerer a anulação do negócio jurídico celebrado,
com base no art. 151 do CC.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões
autoavaliativas propostas:
1) c.

2) b.

3) c.

4) c.

5) d.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 61


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

5. CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final da primeira unidade, na qual você teve
a oportunidade de compreender os conceitos legais sobre o
direito civil, contidos na parte geral e nas obrigações.
Na próxima unidade, iniciaremos a análise do direito
contratual e do direito das coisas.

6. E-REFERÊNCIAS
BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 5 out. 1988.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
htm>. Acesso em: 8 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 4.657, de 4 de setembro de 1942. Lei de
Introdução às normas do Direito Brasileiro. (Redação dada pela Lei nº 12.376, de 2010).
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 4 set. 1942. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/Decreto-Lei/Del4657.htm>. Acesso em: 8
ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe
sobre os registros públicos, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 31 dez. 1973. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/Leis/L6015original.htm>. Acesso em: 8 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 8.009, de 29 de março de 1990. Dispõe
sobre a impenhorabilidade do bem de família. Diário Oficial [da] República Federativa
do Brasil, Brasília, DF, 29 mar. 2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Leis/L8009.htm>. Acesso em: 8 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui
o Código Civil. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 10 jan.
2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm>.
Acesso em: 8 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 6 jul. 2015. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm>.
Acesso em: 9 ago. 2018.

62 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 1 – O CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LISBOA, R. S. Direito Civil de A a Z. Barueri: Manole, 2008.
MACHADO, A. C.; CHINELLATO, S. J. (Orgs.). Código Civil Interpretado – Artigo por
Artigo, Parágrafo por Parágrafo. Barueri: Manole, 2013.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 63


© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL
UNIDADE 2
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

Objetivos
• Compreender o conceito de obrigação.
• Entender os elementos das obrigações.
• Identificar as espécies de obrigações e seus efeitos.
• Compreender os modos de extinção das obrigações.
• Identificar as consequências do inadimplemento das obrigações.
• Analisar as obrigações, suas espécies e a forma de extinção das obrigações.
• Definir contratos.
• Identificar os requisitos do contrato e os princípios contratuais.
• Entender a formação, execução e extinção do contrato.
• Verificar a exceção do contrato não cumprido, as hipóteses de evicção e o
vício redibitório.
• Compreender as formas de extinção do contrato.
• Identificar os contratos em espécie tipificados no Código Civil.

Conteúdos
• Definição, elementos e espécies de obrigação.
• Extinção das obrigações.
• Efeitos do inadimplemento das obrigações.
• Definição de contrato e requisitos do contrato.
• Princípios contratuais.
• Formação dos contratos, contrato de adesão e contrato preliminar.
• Execução do contrato.

65
UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

• Exceção do contrato não cumprido.


• Vícios redibitórios e evicção.
• Extinção dos contratos.
• Contratos tipificados no Código Civil.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Não se limite a este conteúdo; busque outras informações em sites


confiáveis e/ou nas referências bibliográficas, apresentadas ao final de
cada unidade. Lembre-se de que, na modalidade EaD, o engajamento
pessoal é um fator determinante para o seu crescimento intelectual.

2) Busque identificar os principais conceitos apresentados; siga a linha


gradativa dos assuntos até poder observar a evolução do estudo.

3) Não deixe de recorrer aos materiais complementares descritos no


Conteúdo Digital Integrador.

4) Nesta unidade, é importante que você tenha em mãos o Código Civil


(Lei n. 10.406/2002) (BRASIL, 2002). No site da Presidência da República
(www2.planalto.gov.br), clique em legislação. Após, clique em Códigos.
Na lista dos códigos disponíveis, você encontrará o Código Civil. É só clicar
e você terá a íntegra do documento, podendo consultar todos os artigos
mencionados nesta unidade.

5) Além dos artigos mencionados expressamente no material, consulte todos


os artigos do Código Civil relacionados a cada assunto. Como referência,
você encontrará o Código Civil comentado, na íntegra e atualizado, no
site do Planalto. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 18 set. 2018.

66 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

1. INTRODUÇÃO
Após a análise da Introdução às Normas do Direito
Brasileiro e da Parte Geral do Código Civil, iniciaremos, nesta
segunda unidade o estudo da Parte Especial do Código Civil,
começando pelo Direito das Obrigações.
O Direito das Obrigações consiste em normas que regulam
as relações jurídicas entre credores e devedores. Dessa forma,
estudaremos nesta unidade o momento da formação da relação
entre os credores e devedores, as espécies de obrigações que
eles podem assumir um para com o outro, a possibilidade de
transmitir os direitos e obrigações a terceiros e os modos de
extinção das obrigações, sendo o mais comum, o pagamento.
Na sequência, analisaremos a teoria geral dos contratos.
Veremos que o contrato é o instrumento das obrigações, e
quem assume uma obrigação está contratando.
Assim, quais seriam as regras gerais aplicáveis aos
contratos originados de obrigações assumidas pelas partes?
Quais as responsabilidades das partes no cumprimento e o que
ocorre quando há o descumprimento dos contratos? São esses
os temas objeto dessa parte do nosso estudo.
Vistas as regras gerais que se aplicam a todos e quaisquer
contratos, veremos as espécies de contratos trazidos pelo
Código Civil. Isso porque, após tratar das regras gerais sobre
todos os contratos, o legislador civil passa a regular cada um
deles, iniciando-se, por exemplo, pelo contrato de compra e
venda.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 67


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de
forma sucinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua
compreensão integral, é necessário o aprofundamento pelo
estudo do Conteúdo Digital Integrador.

2.1. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

O direito das obrigações regula as relações obrigacionais e


os compromissos estabelecidos entre as pessoas.
A obrigação é um vínculo jurídico que se estabelece
transitoriamente, pois, uma vez cumprida, o vínculo é desfeito.
Quando estabelecida entre uma pessoa perante outra é
composta de três elementos, quais sejam: os sujeitos, o vínculo
e o objeto.

Elementos das obrigações


A obrigação tem dois sujeitos, o ativo, chamado credor, e o
passivo, chamado devedor.
O sujeito ativo, o credor, é o beneficiário da obrigação.
O sujeito passivo, o devedor, é aquele que tem de cumprir a
obrigação.
Tanto o sujeito ativo como o passivo devem estar
identificados para que se saiba quem deve pagar e quem deve
receber.
Além dos sujeitos, a obrigação também é composta pelo
vínculo jurídico. O vínculo jurídico são as regras que ligam os

68 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

sujeitos ao objeto da obrigação. Trata-se de um acordo de


vontades, instrumentalizado por um contrato.

Espécies de obrigações
O objeto da obrigação é a prestação. Na obrigação, as
partes têm sempre prestações a cumprir. A prestação possui três
espécies: a obrigação de dar, a obrigação de fazer e a obrigação
de não fazer.
• Obrigação de dar: na obrigação de dar, o objeto da
prestação é a entrega de uma coisa (como, por exemplo,
dar dinheiro, dar um automóvel) etc. A coisa pode ser
certa ou incerta. A coisa certa é aquela individualizada
e a coisa incerta é aquela que pode ser indicada por sua
qualidade, quantidade e espécie.
• Obrigação de fazer: na obrigação de fazer, o objeto
da prestação é a realização de um serviço. Nesse
caso, trata-se da responsabilidade do devedor de
realizar determinados atos em benefício do credor.
Como exemplo de obrigação de fazer, podemos citar a
contratação de um pintor para pintar um quadro, a de
um técnico para consertar um computador etc.
• Obrigação de não fazer: na obrigação de não fazer, o
objeto da prestação é uma omissão, uma abstenção,
ou seja, um deixar de fazer alguma coisa. Consiste
em uma obrigação assumida pelo devedor de não
praticar determinado ato. Como exemplo, podemos
citar a obrigação que o antigo proprietário de um
estabelecimento empresarial tem de não fazer
concorrência após a venda do estabelecimento
comercial ou a obrigação do químico da fábrica de

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 69


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

refrigerantes, que, após a demissão, se obriga a não


revelar a fórmula do refrigerante.

Extinção das obrigações


As obrigações não são eternas. Uma de suas características
é a transitoriedade. Isso significa que, cumprida a obrigação, ela
estará extinta. Além do pagamento, existem outras formas de
extinção das obrigações, como a prescrição.
Analisaremos, a seguir, as ocorrências que levam à extinção
das obrigações.

Pagamento
O pagamento é um meio de extinção da obrigação. O
pagamento somente pode ser feito ao credor legítimo.
Na obra Código Civil Interpretado, organizada por Antonio
Claudio da Costa Machado, o pagamento é definido como:
Pagamento é a execução voluntária e exata, por parte do
devedor, da prestação devida ao credor, no tempo, forma e
lugar previstos no título constitutivo. Se a obrigação não for
intuitu personae, será indiferente ao credor a pessoa a solver a
prestação – o próprio devedor outra por ele –, pois o que lhe
importa é o pagamento, já que a obrigação se extinguirá com ele.
(MACHADO, 2016, p. 277).

Pode o pagamento ser feito por consignação, que consiste


no depósito judicial do valor quando o credor se recusa a receber
ou quando o credor é desconhecido ou se encontra ausente.
O pagamento também pode ser feito por sub-rogação, que
ocorre quando a dívida é quitada por um codevedor ou por um
interessado, transferindo para ele os direitos decorrentes do
título.

70 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

Pode ocorrer a dação em pagamento, quando o credor


consentir em receber a coisa que não seja em dinheiro,
substituindo a prestação.
A compensação das dívidas do credor e do devedor
também pode ocorrer. Nesse caso, as dívidas tem de ser líquidas
e vencidas.

Novação
Outra forma extinguir a obrigação é a novação, que é
a criação de uma nova obrigação em substituição à obrigação
anterior. Ocorre a novação quando o objeto da obrigação é
substituído, ou quando há substituição do credor ou do devedor.
Nesses casos, surge uma nova relação jurídica, que extingue e
substitui a obrigação anterior.
Como exemplo, imagine a seguinte situação: suponha
que André deva para João a importância de R$ 1.000,00. Pedro,
amigo de André, pede que João o libere da dívida, ficando em
seu lugar como devedor. Nesse caso, podemos dizer que houve
novação, pois a obrigação entre André (antigo devedor) e João
(credor) foi extinta, surgindo uma nova obrigação entre Pedro
(novo devedor) e João.

Remissão
Temos ainda a possibilidade de o credor perdoar a dívida
do devedor. Se o devedor concordar, ocorrerá a remissão da
dívida. A remissão, portanto, é o perdão da dívida e extingue a
obrigação.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 71


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

Descumprimento das obrigações (inadimplemento)


O descumprimento das obrigações é conhecido
tecnicamente por "inadimplemento". O inadimplemento tem
algumas consequências, sendo uma delas a mora. A mora é
um efeito do descumprimento do contrato e ocorre quando o
devedor não cumpre a obrigação ou quando o credor se recusa
a receber. Assim, a mora pode estar relacionada ao devedor e ao
credor.
Podemos dizer que a mora nada mais é do que a “demora”
no cumprimento da obrigação. Se ambos, devedor e credor,
tiverem culpa pelo não cumprimento da obrigação, a mora não
se caracteriza, já que os dois deram causa a ela. Se o credor não
quiser ou não for receber o pagamento conforme contratado, o
devedor estará liberado da responsabilidade pela conservação
da coisa. Se após a tentativa de cumprimento pelo devedor
houver despesas com conservação, o credor em mora deve
ressarcir o devedor das despesas havidas com as despesas pela
conservação da coisa.
O credor em mora não poderá cobrar juros do devedor,
relativo ao período que ele não quis receber a prestação.
Se a culpa da mora for do devedor, ele responderá pelos
prejuízos causados, além de pagar multa e juros se houver
previsão contratual.
O devedor em mora também responderá por caso fortuito
ou de força maior ocorrido durante o atraso.
Outro efeito do descumprimento da obrigação é a aplicação
dos juros moratórios, que são devidos por conta do atraso ou
da demora no pagamento. Se os juros de mora não estiverem
convencionados no contrato ou se estiverem previstos, mas

72 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

sem taxa estipulada, aplica-se o artigo 406 do Código Civil, que


determina que a taxa de juros, quando não prevista, deverá ser a
mesma utilizada pela Fazenda Pública na cobrança dos tributos,
que atualmente é de 1% ao mês.
As partes podem prever também no contrato uma multa
a ser aplicada se houver o descumprimento contratual. O termo
para designar essa multa é cláusula penal.
A cláusula penal é uma espécie de pena que se aplica em
relação à parte que descumpriu o contrato. Trata-se de uma
cláusula acessória e não obrigatória. Isso significa que as partes
podem ou não estipular essa pena no contrato. A vantagem de
se estipular cláusula penal no contrato é prefixar as perdas e os
danos.
Se, por exemplo, uma dívida não for paga no seu vencimento
e se as partes não colocaram cláusula penal no contrato, o Juiz, a
requerimento do credor, deverá fixar a indenização devida pelo
devedor que descumpriu o contrato.
Se a obrigação for cumprida normalmente pelo devedor, a
cláusula penal se extingue.
Temos duas espécies de cláusula penal:
• Cláusula penal moratória: aplica-se em caso de atraso
do devedor no cumprimento da obrigação. Nessa
espécie, o devedor pagará a multa pelo atraso, devendo
também cumprir a obrigação, ou seja, existe a intenção
do devedor em dar continuidade ao cumprimento do
contrato e não o extinguir. Por exemplo, o credor paga
a multa de 10% em caso de atraso no pagamento do
aluguel mais o valor do aluguel (o principal mais o
acessório).

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 73


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

• Cláusula penal compensatória: aplica-se em caso de


descumprimento (inadimplemento) da obrigação pelo
devedor. Nesse caso, o credor demonstra que não
tem mais a intenção de dar continuidade à execução
do contrato, aplicando-se a cláusula penal, que terá o
papel de indenizar o credor antes do descumprimento
contratual.
Finalizado o estudo da parte geral do Código Civil e dos
direitos das obrigações, no próximo tópico iniciaremos a análise
do direito contratual, incluindo a teoria geral dos contratos e os
contratos típicos previstos no Código Civil.

2.2. A TEORIA GERAL DOS CONTRATOS

Após tratar sobre o Direito das Obrigações, o Código Civil


passa a tratar dos Contratos.
Inicialmente, o legislador civil traz regras gerais aplicáveis a
todos os contratos previstos no Código Civil e, subsidiariamente,
aos contratos mercantis, do direito do consumidor, entre outros.
Em seguida, passa o legislador a cuidar dos contratos em
espécie, tipificados no Código Civil.
Vamos iniciar nosso estudo sobre os contratos tratando da
teoria geral e, após, passaremos à análise dos contratos previstos
no Código Civil.

Contrato
Podemos definir contrato como o acordo de duas ou mais
vontades, com objetivo de regular os interesses entre as partes

74 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

que o celebram para adquirir, resguardar, conferir, modificar ou


extinguir relações jurídicas de natureza patrimonial.

Requisitos de validade do contrato


Os requisitos dos contratos em geral estão previstos no
artigo 104 do Código Civil (BRASIL, 2002). São os seguintes:
• Agente capaz.
• Objeto lícito, possível determinado ou determinável.
• Forma prescrita ou não defesa em lei.
Além dos requisitos anteriores, a vontade de celebrar o
contrato deve ser manifestada de forma livre e consciente.
A regra é a liberdade na forma de contratar. Isso significa
que, nos termos do artigo 107 do Código Civil, os contratos
podem ser celebrados verbalmente, por escrito, de forma pública
ou particular, à escolha dos contratantes.
Alguns negócios jurídicos devem estar revestidos de forma
especial, como a compra e venda com valor acima de 30 salários
mínimos, nos termos do artigo 108 do Código Civil (BRASIL,
2002).

Princípios contratuais
A finalidade dos princípios contratuais é nortear os
contratantes na celebração dos contratos e o juiz, quando este
estiver diante de um litígio para solucionar.
Princípio é, portanto, padrão de conduta que pode estar
presente na norma ou se apresentar de forma implícita no
ordenamento jurídico.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 75


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

O direito contratual tem princípios próprios para nortear


as relações contratuais, conforme estudaremos a seguir.

Princípio da Função Social do Contrato


A Função Social do Contrato é um dos princípios mais
importantes do direito contratual e deve nortear toda e qualquer
contratação.
O referido princípio tem como objetivo equilibrar as
relações contratuais, evitando que um contratante se beneficie
em detrimento do outro.
Machado afirma que:
A liberdade de contratar está condicionada ao atendimento
da função social do contrato, que são os fins econômicos e
sociais do contrato, proporcionando uma melhor circulação de
riquezas. Os interesses individuais das partes do contrato devem
ser exercidos em consonância com os interesses sociais, não
podendo apresentar conflitos, pois nessa hipótese prevalecem
os interesses sociais (MACHADO, 2016, p. 342)

Princípio da Boa-fé Contratual


O Princípio da Boa-fé Contratual impõe que as partes ajam
com transparência e lealdade, sem gerar expectativas que não
serão efetivadas em direitos. A boa-fé deve ser aplicada durante
todo o ciclo do contrato, desde as negociações prévias até a
extinção do contrato.
No Código Civil, a boa-fé está prevista nos artigos 113, 187
e 422 (BRASIL, 2002).

76 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

Princípio da Autonomia de Vontade


Trata-se de um princípio basilar do direito civil, em que
as partes têm liberdade para convencionar. Com o advento
dos princípios da função social dos contratos e da boa-fé, esse
princípio vem sendo relativizado em algumas situações que
envolvem o interesse público, já que este sempre deve prevalecer.

Princípio do Consensualismo
Conforme já estudamos, a regra é a forma livre, bastando
o consenso entre as partes. Portanto, para que um contrato se
aperfeiçoe, basta o consenso entre as partes, em regra.
Em algumas situações, o consenso não basta, pois, além
dele, é necessária a tradição, que é a entrega da coisa. Como
exemplo, podemos citar os contratos de comodato e depósito,
em que o contrato somente se aperfeiçoa quando o comodatário
e o depositário recebem a coisa.

Princípio da Força Obrigatória dos Contratos


A partir do momento em que as partes convencionam
direitos e obrigações, essa convenção as obriga. Referido
princípio também é conhecido como pacta sunt servanda, que
significa que as disposições contratuais obrigam as partes.

Princípio da Relatividade dos Efeitos do Contrato


Os contratos geram efeitos, em regra, apenas em relação
às partes contratantes.
Esses são os princípios contratuais mais importantes do
direito contratual.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 77


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

Formação dos contratos


O contrato forma-se, produz efeitos e se extingue. A
vontade de contratar é externada por meio de proposta, também
chamada de oferta.
As regras relativas à proposta estão no Código Civil, nos
artigos de 427 a 435 (BRASIL, 2002).
Quem faz a proposta é chamado de proponente ou
policitante. Quem a recebe é chamado de oblato.
A proposta vincula o proponente. Isso significa que, uma
vez aceita, deverá ser cumprida.

Contrato de adesão
Contrato de adesão é aquele em que não há liberdade para
negociação do conteúdo. O proponente oferece as condições e
o oblato aceita ou não, sem o direito de negociar. Ou adere ou
não adere.

Contrato preliminar
É um contrato preparatório a um contrato principal e
definitivo. No contrato preliminar, as partes convencionam um
compromisso de futuramente celebrar o contrato principal.
O contrato preliminar pode ser celebrado por meio
de instrumento particular. O definitivo deverá cumprir a
determinação legal. No caso do artigo 108 do Código Civil, as
partes deverão celebrá-lo por meio de instrumento público. As
regras do contrato preliminar estão no Código Civil, nos artigos
de 462 a 466 (BRASIL, 2002).

78 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

A fase de execução contratual


Durante a execução do contrato, alguns problemas podem
surgir. A seguir, estudaremos algumas situações relativas aos
problemas ocorridos durante a execução contratual.

Exceção do contrato não cumprido


Nenhum contratante pode cobrar a prestação do outro se
ainda não cumpriu sua parte no contrato. Se isso vier a ocorrer,
a parte de quem está se exigindo algo pode alegar a "exceção do
contrato não cumprido", também conhecida como "exceptio non
adimpleti contractus”.
Machado afirma que:
[...] Nos contratos bilaterais cada um dos contratantes assume
simultânea e reciprocamente direitos e obrigações. Nesses
contratos, nenhum dos contratantes, antes de cumprir a
sua obrigação ou satisfazer sua prestação, poderá exigir o
adimplemento da outra, sem que tenha cumprido sua prestação,
poderá ser recusada por meio da denominada exceptio non
adimpleti contractus [...] (MACHADO, 2016, p. 378).

Trata-se de uma espécie de defesa daquele que é cobrado


pelo outro contratante sem que este tenha cumprido a sua
parte. Na compra e venda, por exemplo, somente posso exigir a
coisa depois de pagar o preço. Portanto, se eu vier a exigir a coisa
antes de pagar o preço, a outra parte poderá alegar a exceção
do contrato não cumprido prevista no artigo 476 do Código Civil
(BRASIL, 2002).

Vícios redibitórios
Os vícios redibitórios são defeitos ou problemas verificados
na coisa após sua aquisição.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 79


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

Uma vez constatados os vícios redibitórios, as partes


podem:
• Desfazer o negócio celebrado, devolvendo a coisa e
recebendo a importância que pagou por ela de volta.
• Ficar com a coisa, recebendo um abatimento no preço
proporcional ao vício constatado.
As regras sobre o vício redibitório estão no Código Civil,
nos artigos de 441 a 446 (BRASIL, 2002).

Evicção
A evicção é uma garantia que o comprador tem em caso de
perda do bem em virtude de ação judicial, que reconhece que o
bem é de terceiro.
Como exemplo, podemos citar a seguinte situação: A
vende uma casa para B. Após a venda, C entra na justiça e prova
que a casa que A dizia ser dele é de sua propriedade. Assim, C
consegue demonstrar que é o verdadeiro proprietário do bem.
A venda feita por A para B deve ser desfeita e o bem deverá ser
entregue ao seu verdadeiro dono, no caso, C.
As partes na evicção são as seguintes:
• Alienante: aquele que vendeu o bem que não era seu.
• Evicto: o que comprou o bem.
• Evictor: o verdadeiro proprietário, que reivindica o bem.

Extinção dos contratos


No direito, as relações jurídicas assumidas pelas partes
originam obrigações que são instrumentalizadas, geralmente,
por contratos. O curso normal de um contrato é o nascimento,

80 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

que ocorre com a manifestação livre de vontade das partes


em celebrar um determinado negócio jurídico, a execução do
contrato e, após a sua execução, a extinção deste instrumento,
com a cessação dos seus efeitos. Esse é o curso natural dos
contratos.
Ocorre que nem sempre um contrato segue seu curso
natural. No meio do caminho, as partes podem, por exemplo,
descumpri-lo, dando causa à resilição, ou seja, distratar um
contrato. E são diversas as formas de se extinguir um contrato,
as quais veremos a partir de agora.
1) Resolução contratual (Código Civil, artigos 474 e
475): quando uma das partes descumpre o contrato,
a parte prejudicada pode pleitear a resolução
contratual, mesmo que no contrato não haja uma
cláusula resolutiva expressa. Assim, pode-se dizer
a parte prejudicada pode pleitear a rescisão em
virtude de descumprimento contratual ainda que esta
possibilidade não esteja prevista em contrato.
2) Resolução contratual por onerosidade excessiva:
nos contratos de execução continuada, ou seja,
naqueles em que a execução contratual se alonga,
como por exemplo a locação, se a prestação de um
dos contratantes se tornar excessivamente onerosa,
havendo vantagens para apenas um dos contratantes
em virtude de acontecimentos extraordinários e
imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do
contrato. Trata-se do que os estudiosos chamam de
teoria da imprevisão, também conhecida como "reb
sic stantibus".

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 81


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

3) Resilição contratual: é a extinção do contrato


em virtude da vontade de uma das partes ou de
ambas. Quando a vontade é de ambas, a resilição é
denominada de distrato (Código Civil, artigo 472)
(BRASIL, 2002). Quando a vontade de extinguir o
contrato é de uma das partes, denominamos denúncia
unilateral do contrato (Código Civil, artigo 473). A
denúncia unilateral ocorrerá sem aplicação de pena
se o contrato não tiver prazo e multa estipulada. A
resilição não ocorre em virtude de descumprimento
contratual. Nessa hipótese, temos a resolução e não
a resilição, também chamada por muitos de rescisão
contratual.
4) Rescisão contratual: a rescisão contratual decorre da
existência de lesão e estado de perigo. Ambos são
vícios de vontade, que já estudamos na Unidade 1, ao
tratar dos defeitos do negócio jurídico.
Na prática, é comum chamar qualquer espécie de extinção
contratual de rescisão. Todavia, são institutos tecnicamente
diferentes.
Vimos os principais aspectos da teoria geral dos contratos.
Agora, identificaremos os contratos em espécie e as respectivas
normas aplicáveis.

2.3. DOS CONTRATOS EM ESPÉCIE

Os contratos em espécie estão regulados logo após as


disposições gerais aplicadas a todos os contratos. Vamos a eles.

82 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

Contrato de compra e venda


É um contrato em que uma pessoa, o vendedor, se obriga a
transferir a outra, chamada de comprador, o domínio de um bem
mediante pagamento do preço estabelecido.
O contrato de compra e venda produz efeitos meramente
obrigacionais, conferindo aos contraentes um direito pessoal,
não operando, por si só, a transferência da propriedade.
Para que ocorra a transferência da propriedade, é
necessário que:
• para os bens móveis, deve ocorrer a tradição, ou seja, a
efetiva entrega da coisa;
• para os bens imóveis, é necessário que o negócio seja
realizado por instrumento público.
A compra e venda está prevista no Código Civil, nos artigos
de 481 a 532 (BRASIL, 2002).

Contrato de troca ou permuta


Troca ou permuta é o contrato pelo qual as partes se
obrigam a dar uma coisa em troca de outra que não seja dinheiro.
Está regulada no Código Civil, no artigo 533 (BRASIL, 2002). Vale
ressaltar que se aplicam a esse contrato as regras da compra e
venda.

Contrato estimatório
Esse contrato é mais conhecido como contrato de venda
em consignação. Nessa modalidade, o consignante entrega
bens móveis ao consignatário, que fica autorizado a vendê-
los, pagando o preço ajustado ou devolvendo o bem no prazo
estipulado. Não há transferência de propriedade quando ocorrer

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 83


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

a entrega para a venda. Esse contrato está previsto no Código


Civil, nos artigos de 534 a 537 (BRASIL, 2002).

Contrato de doação
A doação é o contrato em que uma pessoa, por mera
liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens
para o patrimônio de outra. Essa é a doação pura e simples.
O doador pode impor ao donatário a execução de um
encargo. O encargo é uma obrigação. Essa espécie de doação
é considerada onerosa, pois atribui uma incumbência imposta
pelo doador em relação ao donatário. Como exemplo, podemos
citar a doação de uma determinada área com o encargo de se
fazer uma escola nas proximidades.
A doação está prevista no Código Civil, nos artigos de 538
a 564 (BRASIL, 2002).

Contrato de locação
É o contrato pelo qual uma das partes, mediante
remuneração, se obriga a ceder a outra, por tempo determinado
ou não, o uso de coisa não fungível, mediante remuneração.
O Código Civil não trata da locação de imóveis urbanos,
pois essa é contemplada pela Lei n. 8.245/1990, conhecida como
Lei de Locação. No Código Civil, a locação está regulada nos
artigos de 565 a 578 (BRASIL, 2002).

Contrato de empréstimo
O empréstimo é o contrato pelo qual uma pessoa entrega
a outra, gratuitamente, uma coisa, para que dela se sirva,

84 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

com a obrigação de restituição. Temos duas modalidades de


empréstimo, quais sejam:
• Comodato: é o empréstimo de bens infungíveis, que
se aperfeiçoa com a tradição. No Código Civil, está
disciplinado nos artigos de 586 a 592 (BRASIL, 2002).
• Mútuo: é o empréstimo de bens fungíveis. O devedor
deve devolver bem do mesmo gênero, qualidade e
quantidade. No Código Civil, as regras do mútuo estão
nos artigos de 586 a 592 (BRASIL, 2002).
Vimos, ao estudar a Unidade 1, que bem fungível é aquele
que pode ser substituído por outro com as mesmas características,
qualidade e quantidade, como, por exemplo, dinheiro. Já bem
infungível é aquele que não pode ser substituído, pois tem
qualidades insubstituíveis, como por exemplo um cavalo de
corrida campeão e puro sangue.

Contrato de prestação de serviço


No contrato de prestação de serviço, contrata-se a
execução de um serviço. A diferença entre prestação de serviços
e empreitada é que aqui se contrata um serviço, e na empreitada
se contrata uma obra. A prestação de serviços, quando não
estiverem presentes os requisitos da relação de emprego, está
no Código Civil, nos artigos de 593 a 609 (BRASIL, 2002).

Contrato de empreitada
No contrato de empreitada, o dono de uma obra contrata
um profissional para sua execução. Na empreitada, contrata-
se o resultado, ou seja, a obra finalizada, independentemente

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 85


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

do tempo de duração. No Código Civil, a empreitada está nos


artigos de 610 a 626 (BRASIL, 2002).

Contrato de depósito
É o contrato pelo qual um dos contraentes (depositário)
recebe do outro (depositante) um bem móvel, obrigando-se a
guardá-lo, temporária e gratuitamente, para restituí-lo quando
lhe for exigido. No Código Civil, o depósito está nos artigos de
627 a 652 (BRASIL, 2002).

Contrato de mandato
É o contrato pelo qual alguém (mandatário ou procurador)
recebe de outrem (mandante) poderes para, em seu nome,
praticar atos ou administrar bens. A procuração é o instrumento
do mandato. Trata-se de uma forma de representação, em que o
mandatário representará o mandante. Está regulado nos artigos
de 653 a 692 do Código Civil (BRASIL, 2002).

Contrato de comissão
O contrato de comissão tem por objeto a contratação de
uma pessoa para que ela adquira ou venda bens em nome do
contratante. O comitente é a pessoa que contrata e o comissário
é o contratado para comprar e vender bens móveis a terceiros.
O comissário age em nome próprio, é ele quem aparece perante
terceiros, mas seguindo ordens do comitente. Pela incumbência,
recebe o comissário uma comissão. O comissário não é
obrigado a divulgar o nome do proponente, podendo omitir
essa informação, pois ele se apresenta para negociar em nome
próprio. Esse contrato está previsto no Código Civil, nos artigos
de 693 a 709 (BRASIL, 2002).

86 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

Contrato de agência ou distribuição


Esse contrato também é conhecido como contrato de
representação. O objeto do contrato é a negociação pelo
representante de produtos do proponente, identificando-o e
recebendo remuneração pelo serviço. O representante comercial
age em nome do representante, ao contrário do comitente, visto
no contrato anterior, que age em nome próprio. Esse contrato
está previsto no Código Civil, nos artigos de 710 a 721 (BRASIL,
2002).

Contrato de corretagem
Nos termos do artigo 722, "Pelo contrato de corretagem,
uma pessoa, obriga-se a obter para a segunda um ou mais
negócios, conforme as instruções recebidas" (BRASIL, 2002). A
função do corretor é apenas intermediar o negócio, aproximando
as partes que desejam negociar. A corretagem está no Código
Civil, nos artigos de 722 a 729 (BRASIL, 2002). A corretagem com
a finalidade de intermediação imobiliária tem regulamentação
própria.

Contrato de transporte
É aquele em que uma pessoa ou empresa se obriga,
mediante retribuição, a transportar, de um local para
outro, pessoas ou coisas animadas ou inanimadas. Temos o
transportador e o passageiro (viajante) ou expedidor (remetente).
A regulamentação está no Código Civil, nos artigos de 730 a 756
(BRASIL, 2002).
Há dois tipos de transporte:

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 87


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

• Transporte de coisas (animadas ou inanimadas) ou


de mercadorias: é aquele em que o expedidor entrega
a coisa, animada ou inanimada, ou a mercadoria ao
transportador para que, mediante pagamento de
frete, seja remetido a outra pessoa, o destinatário ou
consignatário, em local diverso daquele em que a coisa
foi recebida.
• Transporte de pessoas: é aquele em que o transportador
se obriga a remover uma pessoa e sua bagagem de um
local para outro, mediante remuneração.

Contrato de seguro
É aquele pelo qual uma das partes, o segurador, que deve
ser uma sociedade anônima legalmente autorizada, nos termos
da lei, se obriga, mediante o pagamento de um prêmio, a pagar
uma indenização em virtude da ocorrência de um sinistro.
Temos as seguintes espécies de seguro:
• seguro de dano: contrato pelo qual uma empresa
especializada obriga-se a pagar uma indenização
mediante o pagamento de um valor denominado prêmio
se acontecer algum infortúnio previsto no contrato que
gere dano ao segurado.
• seguro de pessoa: que se divide em seguro de vida e
seguro de saúde. No seguro de saúde, serão devidas
indenizações quando o contratante necessitar de
algum serviço relacionado à saúde. Seu objetivo é
garantir a cobertura médica e hospitalar em caso de
enfermidades dos contratantes. No seguro de vida,
contrata-se o pagamento de uma indenização no caso
de morte ou invalidez, que será paga à pessoa indicada
pelo contratante como beneficiária.

88 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

No Código Civil, o contrato de seguro está previsto nos


artigos de 757 a 802 (BRASIL, 2002).

Contrato de constituição de renda


A constituição de renda é um contrato em que se estabelece
um pagamento periódico de uma prestação para alguém. Os
titulares desse contrato podem ser duas pessoas: o censuário ou
rendeiro, que terá o encargo de pagar certa renda ou prestação
periódica, ou seja, será o devedor, e o censuísta ou instituidor,
que é o credor da renda. Esse recebimento pode ser temporário
ou vitalício, mas não pode passar a vida do credor. Essa é uma
constituição de renda gratuita, com intuito de ajudar alguém.
Pode-se constituir renda em favor de um parente que precisa de
ajuda financeira, por exemplo.
Todavia, a constituição de renda pode ser onerosa. Um
exemplo disso é quando uma pessoa transfere um bem seu a
outra pessoa sob a condição de receber o pagamento de uma
importância mensal a ela própria ou a um terceiro. Percebe-
se que nesse exemplo também houve a constituição de renda,
porém, de maneira onerosa. Nesse sentido, determina o artigo
809 do Código Civil: "os bens dados em compensação da renda,
caem, desde a tradição, no domínio da pessoa que por aquela se
obrigou" (BRASIL, 2002).
A previsão da constituição de renda está no Código Civil,
nos artigos de 803 a 813 (BRASIL, 2002).

Contrato de fiança
Fiança é uma espécie de garantia. O contrato de fiança é
aquele que contém promessa feita por uma ou mais pessoas,

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 89


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

chamados de fiadores, com o intuito de garantir ou satisfazer a


obrigação de um devedor, chamado de afiançado, se este não
a cumprir, assegurando ao credor o seu efetivo cumprimento.
No Código Civil, a fiança está nos artigos de 818 a 836 (BRASIL,
2002).

Transação
É um negócio jurídico bilateral, consistente em um acordo
pelo qual as partes interessadas fazem concessões mútuas,
previnem ou extinguem obrigações litigiosas ou duvidosas. No
Código Civil, está prevista nos artigos de 840 a 850 (BRASIL,
2002).

Compromisso
O compromisso é o acordo realizado entre as partes para
se estabelecer o modo de solução de conflito, caso ele surja.
Trata-se da previsão de como solucionar o conflito.
O compromisso pode estabelecer que o conflito
será resolvido judicialmente ou por meio da arbitragem. O
compromisso pode ser judicial ou extrajudicial e está previsto no
Código Civil, nos artigos de 851 a 853 (BRASIL, 2002).

Antes de realizar as questões autoavaliativas, faça as


leituras indicadas no Tópico 3. Conteúdo Digital Integrador,
para se aprofundar mais nos assuntos aqui tratados.

90 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

Vídeo complementar ––––––––––––––––––––––––––––––––


Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar.
• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique no ícone
Videoaula, localizado na barra superior. Em seguida, selecione o nível
de seu curso (Graduação), a categoria (Disciplinar) e o tipo de vídeo
(Complementar). Por fim, clique no nome da disciplina para abrir a
lista de vídeos.
• Para assistir ao vídeo pelo seu CD, clique no botão “Vídeos”
e selecione: Noções de Direito Civil e Processo Civil – Vídeos
Complementares – Complementar 2.
__________________________________________________

3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição
necessária e indispensável para você compreender integralmente
os conteúdos apresentados nesta unidade.
Os textos a seguir apresentam informações sobre a
interpretação dos contratos, analisando os princípios contratuais.
Confira os artigos com informações sobre os princípios
contratuais.
• BUSNELLO, S. J. O princípio da função social do contrato
enunciado no artigo 421 do Código Civil brasileiro.
Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 17, n. 3154,
19 fev. 2012. Disponível em: <https://jus.com.br/
artigos/21129>. Acesso em: 13 ago. 2018.
• REALI, M. Função social do contrato. Disponível em:
<http://www.miguelreale.com.br/artigos/funsoccont.
htm>. Acesso em: 13 ago. 2018.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 91


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

• SABER DIREITO. Teoria Geral dos Contratos. Aula 1 –


Parte 1. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=C1f2RSNiKu4>. Acesso em: 18 set. 2018.
• VAZ, B. Direito das Obrigações: obrigação de dar, fazer
e não fazer. Disponível em: <https://barbarav.jusbrasil.
com.br/artigos/247476351/direito-das-obrigacoes-
obrigacao-de-dar-fazer-e-nao-fazer>. Acesso em: 13
ago. 2018.
• VENOSA, S. S. A boa-fé contratual no novo Código Civil.
Migalhas. Disponível em: <http://www.migalhas.com.
br/dePeso/16,MI931,101048-A+boafe+contratual+no+
novo+Codigo+Civil>. Acesso em: 13 ago. 2018.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos
estudados para sanar as suas dúvidas.
1) (OAB-MS/2002 – 72º Exame de Ordem): O credor da coisa certa:
a) Pode ser obrigado a receber outra, ainda que mais valiosa.
b) Pode aceitar outra coisa, desde que haja abatimento do preço.
c) Pode aceitar receber outro bem, mas sempre que estiver de acordo com
as condições preestabelecidas no negócio jurídico.
d) Não pode ser obrigado a receber outra, ainda que mais valiosa.

2) (VUNESP – 2007 – Juiz Substituto-SP): Indique a assertiva claramente


errônea:
a) A presunção de estarem solvidas prestações periódicas, decorrente da
quitação da última, é relativa.
b) Designados dois ou mais lugares de pagamento, cabe ao devedor
escolher entre eles.

92 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

c) O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida,


ainda que mais valiosa.
d) O pagamento feito cientemente a credor incapaz de quitar somente é
válido se o devedor provar que em benefício dele efetivamente reverteu.

3) (TRT – 15ª Região/2013): Recente matéria divulgada pelo Superior Tribunal


de Justiça afirma que um dos princípios fundamentais do direito privado é
o da boa-fé objetiva e que tal orientação não está limitada a determinado
ramo do direito, mas escoa por todo o ordenamento jurídico. Diante dessa
orientação, aponte a assertiva incorreta:
a) Na hipótese de livre oferecimento de imóvel, bem de família, como
garantia hipotecária, o imóvel não pode ser descaracterizado como
bem de família, mantendo-se a impenhorabilidade em relação à dívida
afiançada.
b) O princípio da boa-fé objetiva pode ser utilizado como cláusula geral
para controle das cláusulas abusivas.
c) É dever da instituição financeira a exibição de documento requerido
por cliente bancário, independentemente de a relação se basear em
contrato de mútuo ou financiamento.
d) No contrato de comodato, o comodatário fica obrigado ao pagamento
de aluguel ao comodante, a partir da constituição em mora para
restituição do imóvel emprestado. O arbitramento, realizado de forma
unilateral pelo comodante, ainda que não respeite a média de mercado,
deve observar os princípios da razoabilidade e da boa-fé objetiva.
e) Ofende os princípios da confiança e da cooperação a decisão unilateral
da seguradora de romper o contrato de seguro, que vem sendo renovado
há longo período.

4) (ESAF – PGFN/2007): O princípio pelo qual a liberdade contratual deverá


estar voltada à solidariedade, à justiça social, à livre-iniciativa, ao progresso
social, à livre circulação de bens e serviços, à produção de riquezas, aos
valores sociais, econômicos e morais é o:
a) do consensualismo.
b) do equilíbrio contratual.
c) da boa-fé objetiva.
d) da relatividade dos efeitos do negócio jurídico contratual.
e) da função social do contrato.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 93


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

5) No caso da obrigação de dar coisa certa:


a) Se a coisa se perder, sem culpa do devedor, este responderá pelo
equivalente.
b) Se a coisa se deteriorar, sem culpa do devedor, este poderá aceitar a
coisa no estado em que se acha.
c) Se a coisa se perder, com culpa do devedor, este responderá também
por perdas e danos.
d) Até a tradição, pertence ao devedor a coisa, excluídos os acréscimos.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões
autoavaliativas propostas:
1) d.

2) b.

3) a.

4) e.

5) c.

5. CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final da segunda unidade, na qual você teve
a oportunidade analisar as obrigações, a teoria geral do contrato
e os contratos em espécies. Na próxima unidade, veremos os
direitos das coisas.

6. E-REFERÊNCIAS
BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 5 out. 1988.

94 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E CONTRATOS

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.


htm>. Acesso em: 8 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui
o Código Civil. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 10 jan.
2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm>.
Acesso em: 8 ago. 2018.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GUILHERME, L. F. V. A. Manual de direito civil. Barueri: Manole, 2016. (Biblioteca
Digital Pearson).
LISBOA, R. S. Direito Civil de A a Z. Barueri: Manole, 2008. (Biblioteca Digital Pearson).
MACHADO, C. (Org.); CHINELLATO, S. J. (Coord.).Código civil interpretado: artigo
por artigo, parágrafo por parágrafo. 9. ed. Barueri: Manole, 2016. (Biblioteca Digital
Pearson).
PELUSO, C. Código civil comentado: doutrina e jurisprudência. 9. ed. rev. atual. Barueri:
Manole, 2015. (Biblioteca Digital Pearson).

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 95


© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL
UNIDADE 3
DIREITO DAS COISAS

Objetivos
• Compreender a definição de posse e propriedade.
• Identificar os modos de aquisição da posse e da propriedade.
• Entender a usucapião como forma de aquisição da propriedade.
• Compreender o condomínio.
• Identificar os direitos e deveres dos vizinhos.
• Entender os direitos reais sobre as coisas alheias.

Conteúdos
• Posse: aquisição e perda.
• Propriedade: aquisição e perda.
• Usucapião.
• Condomínio.
• Direitos de Vizinhança.
• Direitos reais sobre coisas alheias.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Não se limite a este conteúdo; busque outras informações em sites


confiáveis e/ou nas referências bibliográficas, apresentadas ao final de
cada unidade. Lembre-se de que, na modalidade EaD, o engajamento
pessoal é um fator determinante para o seu crescimento intelectual.

97
UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

2) Busque identificar os principais conceitos apresentados; siga a linha


gradativa dos assuntos até poder observar a evolução do estudo.

3) Não deixe de recorrer aos materiais complementares descritos no


Conteúdo Digital Integrador.

4) Nesta unidade, é importante que você tenha em mãos o Código Civil


(Lei n. 10.406/2002) (BRASIL, 2002). No site da Presidência da República
(www2.planalto.gov.br), clique em legislação. Após, clique em Códigos.
Na lista dos códigos disponíveis, você encontrará o Código Civil. É só clicar
e você terá a íntegra do documento, podendo consultar todos os artigos
mencionados nesta unidade.

98 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

1. INTRODUÇÃO
Na Unidade 2, verificamos o direito das obrigações e os
contratos, analisando a teoria geral dos contratos e os contratos
em espécie. Nessa unidade, analisaremos o Direito das Coisas,
analisando os aspectos relacionados à posse e à propriedade e
os direitos reais em geral.

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de
forma sucinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua
compreensão integral, é necessário o aprofundamento pelo
estudo do Conteúdo Digital Integrador.

2.1. DIREITO DAS COISAS

O direito das coisas também é chamado de direitos reais.


Trata-se de um conjunto das normas que disciplinam as relações
jurídicas relativas aos bens, materiais ou imateriais, que podem
ser apropriadas pelo homem.
Sobre as características dos direitos reais, Alexandre Cortez
Fernandes afirma:
O direito real tem como característica preponderante constituir-
se num poder direto ou indireto que um sujeito exerce sobre um
determinado objeto. Dessa forma, diz-se que os direitos reais
recaem sobre a coisa [...]. (2010, p. 18).

Para evidenciar a diferença de direitos reais e direitos


pessoais, vale ressaltar que: "em relação aos direitos pessoais,
como afirmado, percebe-se a presença de um vínculo jurídico

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 99


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

entre as partes, ou seja, os direitos pessoais recaem sobre a


relação humana" (FERNANDES, 2010, p. 2.010).
O objeto do direito das coisas é a posse e a propriedade
que o homem pode estabelecer em relação aos bens, corpóreos
e incorpóreos. Regula também o direito das coisas, os direitos
reais sobre coisas alheias, tanto os de gozo (enfiteuse, superfície,
servidão, usufruto, uso e habitação) como os de garantia (penhor,
anticrese, hipoteca e propriedade fiduciária) e, ainda, os de
aquisição (direito do promitente comprador).
Está regulado no Código Civil, nos artigos de 1.196 a 1.510
(BRASIL, 2002).
Vamos iniciar nosso estudo analisando a posse.

Posse
O Código Civil adota a teoria de Lhering, nos termos do
artigo 1.196, que diz: “considera-se possuidor todo aquele que
tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes
inerentes à propriedade” (BRASIL, 2002). Pode-se afirmar,
portanto, que se considera possuidor aquele se apresenta em
relação à coisa possuída como se proprietário fosse.
O locatário (inquilino) apresenta-se nessa condição de
possuidor, por isso não é considerado proprietário, mas sim mero
possuidor em decorrência do contrato de locação que firmou.
Se ele se apresentar como dono e comprovar que age
como se dono fosse, poderá vir a ser considerado proprietário se
conseguir êxito em uma ação de usucapião, por exemplo.

100 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

Espécies de posse
A posse pode ter características diferentes, podendo ser
dividida em várias espécies, identificadas e explicadas a seguir.
1) Posse direta e posse indireta: quando a posse pertence
a quem não é o proprietário da coisa, a posse pode ser
direta e indireta. Tem posse direta aquele que possui
materialmente a coisa. Como exemplo podemos citar
o locatário e o usufrutuário. A posse indireta é daquele
que não está com a coisa, mas é seu proprietário.
Como exemplo, podemos citar o locador, que é dono
do imóvel locado, mas quem possui o imóvel durante a
locação é o locatário.
2) Posse justa e posse injusta: a posse justa é aquela
adquirida sem violência, de maneira que não seja
clandestina nem precária, conforme determina o artigo
1.200 do Código Civil (BRASIL, 2002). Já a posse injusta
é aquela obtida com violência, de maneira clandestina
ou precária.
3) Posse violenta: é aquela adquirida mediante força.
4) Posse clandestina: é a aquela que se adquire
ocultamente, sem publicidade.
5) Posse precária: é a que se origina do abuso de confiança
por quem recebe a posse, que tem a obrigação de
devolvê-la, mas se recusa a fazê-lo.
Ao tratar de posse violenta, clandestina ou precária, é
importante ressaltar o conteúdo do "Princípio da continuidade
do caráter da posse", que está no artigo 1.203 do Código
Civil: “salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o
mesmo caráter com que foi adquirida” (BRASIL, 2002). Isso
significa que se a aquisição foi violenta, clandestina ou precária,

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 101


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

essa característica acompanhará a posse na mão dos novos


possuidores considerados sucessores.
6) Posse de boa e de má-fé: possuidor com boa-
fé é aquele que desconhece qualquer vício ou
impedimento para adquirir a coisa. Ele subjetivamente
entende que a coisa lhe pertence, pois não conhece
nenhum fato contrário a isso. O artigo 1.201 do Código
Civil determina: "É de boa-fé a posse, se o possuidor
ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição
da coisa" (BRASIL, 2002). Já o possuidor de má-fé tem
conhecimento que sua posse se encontra viciada pela
violência, clandestinidade ou precariedade). O artigo
1.202 do Código Civil afirma: "A posse de boa-fé só
perde este caráter no caso e desde o momento em que
as circunstâncias façam presumir que o possuidor não
ignora que possui indevidamente" (BRASIL, 2002).
Possuidor com boa-fé é aquele que desconhece
qualquer vício ou impedimento para adquirir a coisa.
Ele subjetivamente entende que a coisa lhe pertence,
pois não conhece nenhum fato contrário a isso. O
artigo 1.201 do Código Civil determina: "É de boa-fé
a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo
que impede a aquisição da coisa" (BRASIL, 2002).
Já o possuidor de má-fé tem conhecimento que
sua posse se encontra viciada pela violência,
clandestinidade ou precariedade). O artigo 1.202
do Código Civil afirma "A posse de boa-fé só perde
este caráter no caso e desde o momento em que as
circunstâncias façam presumir que o possuidor não
ignora que possui indevidamente" (BRASIL, 2002).

102 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

7) Posse jurídica e detenção: tem posse jurídica aquele


que possui a documentação dela, ou seja, documento
dizendo que ele é possuidor. Já o detentor não tem
documentação de que ele é possuidor e está na posse
em nome de terceiro, que dá ordens e instruções
ao detentor. Como exemplo de detenção, temos os
administradores de fazendas.
8) Posse por interdito e posse por usucapião: a posse
obtida por meio dos interditos é aquela obtida por
meio dos interditos. Os interditos possessórios são
as ações judiciais que o possuidor pode se utilizar
quando houver ofensa ou ameaça à sua posse. Como
exemplo de interditos, temos as ações judiciais de
manutenção de posse, de reintegração de posse e o
interdito proibitório. A posse adquirida por meio da
usucapião é aquela que ocorre pela posse prolongada
do possuidor da coisa como se sua fosse, obedecidos
os demais requisitos legais.
9) Posse nova e posse velha: encontra-se em posse nova
o possuidor que está a menos de ano e dia na posse e
em posse velha aquele que está há mais de ano e dia
na posse. Essa distinção é relevante, na prática, pois,
aquele que está na posse nova e for importunado,
poderá pedir liminar contra os ameaçadores de sua
posse. Já aquele que está na posse velha não pode
pedir, tem de esperar o fim do processo judicial.
10) Composse: a composse é a posse comum de duas
ou mais pessoas que possuem uma coisa sem
divisão (Código Civil, artigo 1.199). Nesse caso, cada
compossuidor possui apenas a parte ideal da coisa
(BRASIL, 2002).

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 103


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

Modos de adquirir a posse


A posse é adquirida desde o momento em que se torna
possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes
inerentes à propriedade (CC, art. 1.204) (BRASIL, 2002).
Os modos de aquisição da posse dividem-se em originários
e derivados:
• Aquisição originária: adquire a posse de maneira
originária aquele que possui a coisa sem a ocorrência
da transferência da coisa por um terceiro. Daí o termo
aquisição originária. Como exemplo, podemos citar a
ocupação. Pode-se dizer que na ocupação a pessoa que
passa a ser possuidor não a comprou, não a ganhou,
ou seja, a posse não foi passada por terceira pessoa.
Trata-se, dessa forma, de ato unilateral. Nesse caso,
não existe vínculo com possuidor anterior, pois não há
possuidor anterior, apresentando-se a posse despida de
vícios para o possuidor original.
• Já na aquisição derivada a posse ocorre em virtude
da transmissão de um terceiro, ou seja, de um sujeito
a outro. Aqui todas as características da posse são
transmitidas. Por exemplo, se a posse do possuidor
anterior era violenta e ele a transfere, o vício transfere-
se também.

Quem pode adquirir a posse?


A posse pode ser adquirida pela própria pessoa que
a pretende ou pelo representante da pessoa que quer ser
possuidora e por terceira pessoa sem mandato, dependendo,
nesse caso, de ratificação (Código Civil, artigo 1.205) (BRASIL,
2002).

104 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

A mera permissão ou tolerância pode converter-se em posse?


Não. Segundo o artigo 1.208 do Código Civil, a mera
tolerância ou permissão não pode se converter em posse,
ressaltando que os atos originalmente violentos ou clandestinos
podem tornar-se posse somente depois de cessada a violência
ou clandestinidade (BRASIL, 2002).

Quando a posse pode ser perdida?


O possuidor perde a posse quando cessar, contra a sua
vontade, o poder sobre a coisa.
Nesse sentido, determina o Código Civil no artigo 1.223:
"Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do
possuidor, o poder sobre o bem [...].” (BRASIL, 2002).

O que o possuidor pode fazer para defender a sua posse?


A posse gera alguns efeitos para o possuidor. Vamos a eles:
1) Legítima defesa: sabemos que a ninguém é dado o
direito de usar a força para se defender diretamente,
tendo de se socorrer do Poder Judiciário para fazer
valer seu direito de defesa. Todavia, temos uma exceção
quando se trata da posse, pois excepcionalmente o
Código Civil faculta ao possuidor, na condição de vítima,
a possibilidade de se defender diretamente, com seus
próprios meios. Nesse sentido, o artigo 1.210 do
Código Civil determina: "O possuidor tem direito a ser
mantido na posse em caso de turbação, restituído no
de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver
justo receio de ser molestado" (BRASIL, 2002). Poderá
o possuidor usar do que o direito chama de "interditos

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 105


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

possessórios", que são tipos de ações judiciais que


podem ser usadas para sua defesa. Os interditos estão
identificados a seguir:
a) Ação de manutenção de posse (CPC/2015, arts.
560 a 566) (BRASIL, 2015).
b) Ação de reintegração de posse (CPC/2015, arts.
560 a 566) (BRASIL, 2015).
c) Interdito proibitório (CPC/2015, arts. 567 e
568) (BRASIL, 2015).
d) Nunciação de obra nova (sem previsão no
CPC/2015; arts. 934 a 940 do CPC/1973)
(BRASIL, 2015).
e) Ação de dano infecto.
f) Ação de imissão na posse (CPC/1939, arts. de
381 a 383) (BRASIL, 2015).
g) Embargos de terceiro senhor e possuidor
(CPC/2015, arts. 674 a 681) (BRASIL, 2015).
Continuando na análise dos efeitos da posse, analisaremos
a seguir o direito do possuidor a receber os frutos, o direito de
indenização e a retenção em face da realização de benfeitorias,
a responsabilidade pela deterioração das coisas e o direito de
adquirir a propriedade pela posse continuada.
2) Direito à percepção dos frutos: perceber os frutos
é recebê-los. Como frutos, podemos entender as
utilidades que a coisa produz periodicamente.

106 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

3) Direito à indenização e de retenção em virtude da


realização de benfeitorias. As benfeitorias são obras
ou despesas realizadas na coisa para sua conservação,
melhoramento ou aumento de utilização e para o
embelezamento. Assim, todas as vezes que o possuidor
faz benfeitorias na coisa, temos de aplicar o disposto
nos artigos 1.219, 1.220 e 1.221, respectivamente
(BRASIL, 2002):
• O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das
benfeitorias necessárias e úteis, bem como, no caso
das voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-
las, quando puder fazê-lo, sem detrimento da coisa,
e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das
benfeitorias necessárias e úteis.
• Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as
benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de
retenção pela importância destas nem o de levantar as
voluptuárias.
• As benfeitorias compensam-se com os danos e só
obrigam ao ressarcimento se ao tempo da evicção ainda
existirem.
O artigo 96 do Código Civil identifica três tipos de
benfeitorias no direito brasileiro, quais sejam voluptuárias, úteis
e necessárias, definindo-as da seguinte forma:
• São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não
aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem
mais agradável ou sejam de elevado valor.
• São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem.
• São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou
evitar que se deteriore.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 107


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

4) Responsabilidade do devedor pela perda ou


deterioração da coisa enquanto esta estiver na sua
posse. O possuidor, quando de boa-fé, somente
responde pela perda da coisa ou por sua deterioração
(estrago) se der causa. Se o possuidor estiver de má-fé,
responderá pela perda ou deterioração da coisa mesmo
que esta ocorra acidentalmente, a não ser que consiga
provar que a coisa se perderia ou estragaria estando
com ele ou com o que se diz legítimo possuidor.
5) Direito de adquirir a propriedade pelo exercício
continuado da posse: terminando a análise dos efeitos
da posse, evidencia-se que aquela pessoa que possuir
a coisa por um longo período de tempo e de forma
continuada poderá adquirir o direito de propriedade
da coisa possuída. Estudaremos mais a fundo essa
possibilidade ao analisarmos a usucapião.

Propriedade
Propriedade é o direito de usar, gozar e dispor de um bem,
corpóreo ou incorpóreo. Além disso, a propriedade dá o direito
de reivindicar a coisa de quem a detenha ou possua de forma
injusta.
1) Usar: pode ser entendido como ocupar. Como exemplo
de uso, podemos citar o proprietário habitando a coisa
ou permitindo que alguém a habite.
2) Gozar ou fruir: é o direito de explorar economicamente
a coisa.
3) Dispor: é o direito de alienar a coisa, ou seja, de dispor
da coisa.

108 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

4) Reivindicar: é o poder que tem o proprietário de


entrar com ação judicial para reaver o bem de quem
injustamente o detenha.

As características da propriedade
A propriedade tem características, as quais estudaremos a
seguir.
1) É absoluta e, por esse motivo, pode ser oponível
contra todos. Isso significa que o proprietário poderá
utilizar da coisa como bem quiser, respeitando apenas
os limites que a lei determina para proteger o interesse
público e não violar direito de terceiros. Vale evidenciar
que a Constituição Federal de 1988 trouxe o princípio
da função social da propriedade, que, de certa forma,
em algumas situações relativiza o caráter absoluto
do direito de propriedade. Como função social da
propriedade, podemos entender que o proprietário
não pode usar a propriedade de modo a causar dano a
terceiros. Se, por exemplo, uma pessoa é proprietária
de um terreno, ela deverá mantê-lo limpo para que
a vegetação não se acumule e incomode terceiros.
Se não mantiver, o Poder Público poderá intervir e
determinar a limpeza do terreno. Portanto, esse é um
caso em que o proprietário não pode dizer o terreno
é dele e, por isso, pode deixá-lo como quiser, pois,
embora proprietário, deve respeito à coletividade, ao
interesse público.
2) Exclusiva: o mesmo bem não pode pertencer com
exclusividade e simultaneamente a duas ou mais
pessoas. Se não houver a exclusividade, admite-se a
propriedade em comum.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 109


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

3) Perpétua: desde que o proprietário não queira se


desfazer da coisa ou que não exista norma determinando
a extinção da propriedade, ela é considerada perpétua,
ou seja, com duração indeterminada.
4) Elástica: a propriedade é elástica porque se contrai
e se dilata. Isso porque é possível ceder um dos
poderes inerentes à propriedade, como a posse.
Quando alugamos uma casa, o proprietário perde
momentaneamente a posse. Nesse caso, podemos
dizer que o direito de propriedade se contraiu.
No término da locação, o direito à posse volta ao
proprietário. Podemos dizer então que o direito a
propriedade se dilatou.

Objeto do direito de propriedade


A propriedade pode ter como objeto bens móveis e
imóveis, corpóreos e incorpóreos.

Como o proprietário pode proteger a propriedade?


Assim como na posse, o proprietário pode fazer uso de ações
judiciais para defender a propriedade. A seguir, identificaremos
essas ações.
1) Ação de reivindicação.
2) Ação declaratória.
3) Ação negatória.
4) Ação de indenização por ato ilícito.
5) Ação de indenização em virtude de acontecimento
natural.

110 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

Como a propriedade imóvel pode ser adquirida?


Temos várias formas de aquisição da propriedade imóvel.
Vamos a elas:
1) Aquisição pelo registro do título: o proprietário
adquire a propriedade por meio da transferência
mediante o registro do título translativo no Cartório de
Registro de Imóveis competente.
2) Aquisição por acessão: trata-se do aumento do
volume ou do valor do bem devido a forças externas.
São formas de acessão:
a) Formação de ilhas: determina o CC que as
ilhas situadas em rios comuns ou particulares
não navegáveis pertencem aos proprietários
ribeirinhos fronteiros (CC, art. 1.249, incisos I a III)
(BRASIL, 2002).
b) Aluvião: conforme o tempo vai passando, o rio
pode ir acumulando terras a uma propriedade,
de forma tão lenta que é muito difícil medir a
quantidade (CC, art. 1.250) (BRASIL, 2002).
c) Avulsão: nesse caso, em decorrência de força
natural e violenta, uma porção de terra se destaca
de um local para acrescer ao outro. A diferença
em relação ao aluvião é que o deslocamento da
terra aqui ocorre bruscamente. Nos termos do
que determina o artigo 19 do Código de Águas
(BRASIL, 1934), verifica-se que ocorre a avulsão
quando a força súbita da corrente arranca uma
parte considerável e reconhecível de um prédio,
arrojando-a sobre outro. Nesse caso, o dono
do prédio que perdeu a porção de terras pode

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 111


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

pedir de volta a parte que perdeu, desde que o


faça dentro de um ano. A retirada pode ser feita
mediante remoção ou, se essa não for possível,
poderá haver indenização paga por quem ganhou
a terra para quem a perdeu.
d) Álveo abandonado: álveo é o leito do rio. No caso
de abandono do leito do rio naturalmente, ou
seja, quando o leito do rio seca naturalmente, o
domínio da área descoberta pelas águas passa a
pertencer aos proprietários ribeirinhos das duas
margens, sem que tenham direito à indenização
os donos dos terrenos por onde as águas abrirem
novo curso (CC, art. 1.252) (BRASIL, 2002). Se o
abandono do álveo for artificial, ou seja, se secam
artificialmente o leito do rio, o prédio ocupado
pelo novo álveo deve ser indenizado e o álveo
abandonado passa a pertencer ao expropriante
para que se compense da despesa feita (Código de
Águas, artigo 27) (BRASIL, 1934).
e) Construções e plantações: são chamadas de
acessões ou acréscimos realizados pelo homem.
Nesse caso, determina o Código Civil que toda
construção ou plantação existente em um terreno
presume-se feita pelo proprietário e à sua custa,
até que se prove o contrário (BRASIL, 2002).
Podemos ainda citar a aquisição por usucapião, que
será vista especificamente no próximo tópico desta unidade,
e a aquisição em decorrência do direito hereditário, que será
analisada na Unidade 4.

112 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

Usucapião
Usucapião é um modo originário de aquisição do domínio,
por meio da posse por um tempo determinado pela lei. Nesse
caso, a posse deve ser mansa e pacífica.

Espécies de usucapião
Analisaremos na sequência a usucapião de bens imóveis.
Ao estudarmos os modos de aquisição da propriedade móvel,
verificaremos a usucapião de bem móvel.

Usucapião de bens imóveis


Conforme já vimos, a usucapião é um modo de aquisição
da propriedade, que ocorre após a posse por um determinado
tempo por alguém que tenha o ânimo de dono. Vamos iniciar a
análise das espécies de usucapião de imóveis.
1) Usucapião extraordinário: está previsto artigo 1.238
do Código Civil (BRASIL, 2002). Essa espécie de
usucapião não depende de justo título e da boa-fé.
Todavia, é necessário:
• a posse pacífica, ininterrupta e exercida com ânimo
de dono, ou seja, acreditando que é dono;
• 15 anos de posse, ou 10 anos se o possuidor
estabeleceu no imóvel sua moradia habitual ou
nela efetuou obras e serviços de caráter produtivo;
• decisão judicial determinando a aquisição por
usucapião, que será registrada no título do imóvel.
2) Usucapião ordinário: está previsto no artigo 1.242 do
Código Civil (BRASIL, 2002). Tem como requisitos:

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 113


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

a) a posse mansa, pacífica e ininterrupta, exercida


com a manifesta intenção de dono;
b) 10 anos de posse, ou 5 anos se o imóvel houver
sido adquirido onerosamente e cujo registro foi
cancelado, desde que o possuidor nele tenha sua
morada ou nele tenha realizado investimentos de
interesse social ou econômico;
c) justo título, ainda que contenha algum vício ou
irregularidade;
d) boa-fé, ou seja, ignorância de problemas ou
defeitos que impeçam sua aquisição;
e) decisão judicial determinando a aquisição por
usucapião.
3) Usucapião urbano: está previsto no artigo 1.240
do Código Civil (BRASIL, 2002), no artigo 183, §§ 1º
a 3º da Constituição Federal (BRASIL, 1988) e no
artigo 9° da Lei n. 10.257/2001 (BRASIL, 2001). Essa
espécie independe de justo título e boa-fé. Todavia,
é necessário:
a) a posse ininterrupta e pacífica, exercida com
ânimo de dono;
b) 5 anos na posse do imóvel;
c) a área do imóvel não pode ultrapassar 250 m2;
d) o possuidor tem de utilizar o imóvel para moradia
ou moradia de sua família;
e) não pode o possuidor ser proprietário de outro
imóvel urbano ou rural;
f) sentença judicial determinando a aquisição por
usucapião.

114 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

4) Usucapião especial, também conhecido como pró-


labore: está previsto nos artigos 1.239 do Código Civil
(BRASIL, 2002) e no artigo 191 da Constituição Federal
(BRASIL, 1988). Esta espécie independe de justo título
e de boa-fé. Para ser decretado, é necessário que:
a) o possuidor não seja proprietário de outro imóvel
rural ou urbano;
b) o possuidor exerça a posse de forma ininterrupta
e sem oposição, com ânimo de dono;
c) a posse seja de 5 anos;
d) o possuidor tenha tornado a área rural produtiva
com seu trabalho ou de sua família;
e) que o possuidor tenha constituído a sua moradia
habitual na área ocupada;
f) que a área não supere a 50 hectares.
5) Usucapião coletivo: está previsto no Estatuto da
Cidade, que é a Lei 10.257/2001, no artigo 10 (BRASIL,
2001). Para ser decretado, é necessário que:
a) a posse seja ininterrupta e pacífica, exercida pelo
possuidor com ânimo de dono;
b) tenha decorrido o prazo de 5 anos;
c) a área seja urbana;
d) a área tenha mais de 250 m2;
e) os possuidores utilizem a área para moradia;
f) a ocupação seja de pessoas de baixa renda;
g) seja impossível a identificação dos terrenos
ocupados por cada possuidor;

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 115


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

h) não sejam os possuidores proprietários de outro


imóvel urbano ou rural;
i) sentença judicial decretando a usucapião.
6) Usucapião especial urbano familiar: está previsto no
art. 1.240-A do Código Civil (BRASIL, 2002) e tem como
requisitos:
a) posse direta ininterrupta, pacífica e com
exclusividade;
b) posse de 2 anos;
c) que imóvel seja urbano e tenha até 250m²;
d) que o imóvel seja de copropriedade de ex-cônjuge
ou ex-companheiro que abandonou o lar;
e) que aquele que ficou no imóvel o utilize para sua
moradia ou de sua família, não podendo ser pro-
prietário de outro imóvel urbano ou rural.

Possibilidade de usucapião extrajudicial


O novo Código de Processo Civil introduziu a possibilidade
de se requerer a decretação de usucapião extrajudicialmente
(BRASIL, 2015).
Com efeito, foi acrescida à Lei de Registros Públicos (Lei
n. 6.015/73) o artigo 216-A, que regula o procedimento do
usucapião a ser requerido perante o oficial de registro de
imóveis (BRASIL, 1973). Em 2017, ocorreu nova alteração por
meio da Lei n. 13.465/2017 (BRASIL, 2017). A lei anterior exigia
que os titulares dos direitos reais confinantes fossem citados
para se manifestar e, caso ficassem em silêncio, a usucapião não

116 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

poderia ser decretada. Agora, se houver notificação e ausência


de oposição por parte dos notificados, uma vez preenchidos os
demais requisitos, poderá ser decretada a usucapião.

Perda da propriedade imóvel


Iniciaremos a seguir o estudo de cada uma das hipóteses
em que pode se perder a propriedade imóvel. As hipóteses
de perda da propriedade estão no artigo 1.275 do Código Civil
(BRASIL, 2002):
Art. 1.275. Além das causas consideradas neste Código, perde-se
a propriedade:
I – por alienação;
II – pela renúncia;
III – por abandono;
IV – por perecimento da coisa;
V – por desapropriação.
Parágrafo único. Nos casos dos incisos I e II, os efeitos da perda
da propriedade imóvel serão subordinados ao registro do título
transmissivo ou do ato renunciativo no Registro de Imóveis.

Vamos ao estudo de cada uma delas:


1) Alienação (CC, art. 1.275, I): alienar o imóvel é transferi-
lo de sua propriedade para outra pessoa. A alienação
pode ocorrer onerosamente, ou seja, paga-se por ela,
como na compra e venda, ou gratuitamente, em que
se transfere o domínio da coisa para outra pessoa sem
nenhuma contraprestação. Em se tratando de bem
imóvel, a alienação, se o valor do imóvel for superior
a 30 salários mínimos, deverá ser feita por meio de
escritura pública e posterior registro no cartório de

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 117


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

imóveis, nos termos do artigo 108, combinado com o


artigo 1.275, parágrafo único (BRASIL, 2002).
2) Renúncia (CC, art. 1.275, II): ocorre a renúncia quando
alguém desiste expressamente de ser proprietário, ou
seja, abre mão do direito que tem sobre a coisa. Percebe-
se que o Código Civil também exige que a renúncia de
alguém à propriedade imóvel seja registrada, conforme
determina o artigo 1.275, parágrafo único (BRASIL,
2002). Não devemos confundir a renúncia com o
abandono. Isso porque, para que ocorra a renúncia,
é necessária uma declaração expressa de vontade do
proprietário no sentido de que não deseja mais ser
proprietário daquele bem. Não há obrigatoriedade
do proprietário de fazer a transferência do bem
renunciado a outra pessoa.
3) Abandono (CC, art. 1.275, III): é a demonstração
de que não se quer mais a coisa por meio de
determinados comportamentos. Não é necessário
dizer, como na renúncia, que não quero o bem. Para
o abandono, basta que se tenha um comportamento
que demonstre isso. Exemplificando: na renúncia, o
proprietário manifesta de modo expresso sua vontade.
No abandono, o proprietário não diz, não escreve,
ou seja, não se manifesta expressamente sobre, mas
apenas larga o que é seu, com intenção de não mais
ter aquele bem em seu patrimônio.
4) Perecimento (CC, art. 1.275, IV): pode se entender
o termo “perecer” como término ou fim. Perece
a propriedade quando ela chega a seu fim. Como
exemplo, podemos citar a situação de uma casa na
beira da praia tomada pelas águas do mar. Nesse

118 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

caso, extingue-se o direito de propriedade por falta de


objeto.
5) Desapropriação (CC, arts. 1.275, V, e 1.228, § 3º, 1a
parte): a desapropriação é um ato do poder público
pelo qual obrigatoriamente retira a propriedade de
alguém para atender a uma necessidade pública, como
exemplo, realizar uma obra, ou por utilidade pública,
como, por exemplo para melhorar vias e logradouros
ou por interesse social, com objetivo de melhorar a
distribuição e fruição da propriedade privada. Como
exemplo de desapropriação por interesse social temos
a construção de casas populares para a população
carente em área desapropriada. O poder público,
quando desapropria, deve indenizar o proprietário que
perdeu a propriedade.
6) Acessão por avulsão (CC, art. 1.251): em virtude de a
avulsão retirar bruscamente uma porção de terra de
alguém, alocando-a em outro lugar, ela também é uma
causa de perda da propriedade. Nesse caso, está se
perdendo a propriedade da porção da terra destacada.
7) Em virtude de ação judicial de execução: nas ações de
execução, permite-se a penhora de bens e posterior
alienação em leilão. Nesse caso, o proprietário pode
perder o bem penhorado. O produto do leilão será
utilizado para pagar a dívida executada.
8) Confisco (CF, art. 243 e p. único; Dec. nº 577/92): se
o proprietário vier a usar a propriedade ilegalmente
fazendo a cultura de plantas psicotrópicas, pode-se
autorizar o confisco, sem o pagamento de indenização.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 119


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

Vimos neste tópico as formas de aquisição e perda da


propriedade imóvel. Agora, vamos estudar os modos de aquisição
e perda da propriedade móvel.

Como se adquire e se perde a propriedade móvel?


Temos as seguintes hipóteses de aquisição e perda:
1) Ocupação: a ocupação é o modo de aquisição de coisa
móvel que não tenha dono em face de ainda não ter
sido apropriada, ou no caso de ter sido abandonada.
2) Usucapião: da mesma forma que a ocupação, trata-
se de um modo de aquisição do domínio, por meio da
posse por um prazo determinado em lei. Com relação
ao bem móvel, temos:
• Usucapião ordinária: ocorre no caso de alguém
possuir como se sua fosse uma coisa móvel,
ininterruptamente e sem oposição, durante 3 anos,
com ânimo de dono. É necessário também ter justo
título e boa-fé.
• Usucapião extraordinária: configura-se quando
alguém tiver a posse ininterrupta e pacífica, por 5
anos, independentemente de justo título e boa-fé.
3) Especificação: ocorre quando alguém, manipulando
matéria-prima de terceiro, obtém produto novo
(exemplo: alguém manufatura couro e obtém um
casaco). A nova espécie pertencerá ao seu criador, que
deverá indenizar o dono da matéria-prima.
4) Confusão, comistão e adjunção:
• Confusão: ocorre quando se misturam coisas
líquidas. Exemplo: rum com refrigerante.

120 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

• Comistão: é o resultado da mistura de coisas sólidas


ou secas. Exemplo: farinha com açúcar.
• Adjunção: dá-se quando há a justaposição de uma
coisa sobre a outra. Não é a mistura, mas a união de
coisas. Exemplo: alça costurada numa bolsa.
Nesses casos, as regras estão contidas nos artigos 1.272 e
1.273 (BRASIL, 2002):
• Após a junção das coisas, seja por confusão,
comistão ou adjunção, se for possível a separação,
cada uma das coisas continuará pertencendo ao
seu respectivo dono (Código Civil, artigo 1.272).
• Se as coisas não puderem ser separadas, seja pela
impossibilidade física ou pelo fato de ser muito
cara a separação, surgirá um condomínio entre os
donos de cada uma delas. Ou seja, ambos serão
proprietários em comum da coisa que surgiu após
a junção.
• Se uma das coisas puder ser considerada como
a principal, por exemplo, um diamante valioso
colocado em um anel de prata, a coisa pertencerá
ao dono do diamante, que é o objeto mais valioso,
devendo este indenizar o outro.
5) Tradição: quando o bem é móvel, a transferência ocorre
com a tradição. Tradição significa a entrega do bem
móvel para o adquirente, com a intenção de transferir o
domínio. Então, em matéria de transferência, funciona
assim:
• Se o bem é imóvel e tem valor superior a 30 salários
mínimos, não basta a tradição para a transferência,
é necessário que se lavre escritura pública

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 121


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

documentando a transferência e, após, se faça o


registro dessa transferência no Cartório de Registro
de Imóveis.
• Se o bem é móvel, não há necessidade de escritura
pública para a transferência, a não ser que as partes
queiram e convencionem dessa forma, bastando a
efetiva entrega dos bens.

Outros modos de perda da propriedade móvel


Da mesma forma que na propriedade imóvel, a propriedade
móvel pode se perder pelos mesmos motivos já estudados, quais
sejam: a alienação, a renúncia, o abandono, o perecimento e a
desapropriação (CC, art. 1.275) (BRASIL, 2002).
Vimos anteriormente as formas de aquisição e perda das
propriedades móveis e imóveis. Na sequência, passaremos a
analisar o condomínio.

Condomínio
O condomínio é uma relação que se estabelece em
relação ao direito de propriedade. Ocorre quando duas ou mais
pessoas são proprietárias do mesmo bem. Exemplo: um imóvel
com propriedade de três irmãos. Nesse caso, a propriedade é
concorrente e simultânea dos três, cada um com sua cota-parte,
podendo usar a coisa toda, nos termos do artigo 1.314 do Código
Civil (BRASIL, 2002). Esse é o condomínio chamado de geral.

Regulamentação do condomínio no Código Civil


O condomínio está normatizado no Código Civil, nos artigos
de 1.314 a 1.358-A (BRASIL, 2002).

122 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

Espécies de condomínio
• Condomínio voluntário: é voluntário o condomínio
quando duas ou mais pessoas adquirem o mesmo bem.
• Condomínio forçado: ocorre sem que os condôminos
tenham propriamente vontade de estabelecer um
condomínio, como, por exemplo, no caso de pessoas
que recebem doação de um mesmo bem.

Quais os direitos e deveres de pessoas que possuem um bem em


condomínio?
1) Os condôminos podem usar livremente a coisa,
respeitando sua destinação. No caso de divergência
entre os condôminos, os impasses serão resolvidos por
meio de votação (vejam artigos de 1.314 e 1.325 do
Código Civil) (BRASIL, 2002).
2) Todos os condôminos tem de pagar as despesas para
a conservação da coisa, conforme estabelece o artigo
1.315 do Código Civil (BRASIL, 2002).
3) Todos os frutos e rendimentos que der a coisa deverão
ser divididos entre os condôminos e o condômino que
gerar prejuízo ou dano deverá repará-lo, conforme
determina o artigo 1.319 do Código Civil (BRASIL,
2002).
4) O condômino que deseja alienar a coisa indivisível,
antes de aliená-la, deverá comunicar os demais
condôminos da intenção, dando preferência a eles.
Agora, se a coisa for divisível, não é necessário dar o
direito de preferência aos demais condôminos. Nesse
sentido, vale evidenciar o que diz o artigo 504 do
Código Civil:

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 123


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua parte


a estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por tanto. (BRASIL,
2002).

5) Se o condômino vender sem comunicar e dar a


preferência para os demais, a consequência desse ato
pode gerar, nos termos do artigo 504:
O condômino, a quem não se der conhecimento da venda,
poderá, depositando o preço, haver para si a parte vendida a
estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob
pena de decadência (BRASIL, 2002).

Como os condôminos devem dividir os frutos e rendimentos da


coisa?
A resposta está no artigo 1.326 do Código Civil, que
determina: "Os frutos da coisa comum, não havendo em contrário
estipulação ou disposição de última vontade, serão partilhados
na proporção dos quinhões" (BRASIL, 2002).
As partes podem estabelecer em comum acordo a divisão
desigual dos quinhões no condomínio e na divisão dos frutos e
rendimentos.

O condômino pode pedir que se estabeleça a divisão da coisa?


Em qualquer momento, faculta-se ao condômino pedir a
divisão ou a alienação da coisa. Alienar é transferir a coisa do
patrimônio próprio a terceiro, por meio de um negócio jurídico,
que pode ser a compra e venda, a doação, a troca etc.
Mas, e se o bem for indivisível, como uma casa de morada,
por exemplo, e houver vários condôminos proprietários? Permite-
se, nesse caso, que um deles imponha a alienação do bem? Sim,
é possível que um imponha a alienação. Nesse caso do exemplo,

124 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

a vontade de um de vender prevalece sobre a vontade dos


demais, dividindo-se o produto da venda. O que pode acontecer
é os demais condôminos se juntarem e comprarem a parte do
condômino que deseja a venda.
Portanto, para alienar, prevalece a vontade daquele que
deseja a alienação, conforme prevê o artigo 1.320 e parágrafos:
Art. 1.320. A todo tempo será lícito ao condômino exigir a divisão
da coisa comum, respondendo o quinhão de cada um pela sua
parte nas despesas da divisão.
§ 1º Podem os condôminos acordar que fique indivisa a coisa
comum por prazo não maior de cinco anos, suscetível de
prorrogação ulterior.
§ 2º Não poderá exceder de cinco anos a indivisão estabelecida
pelo doador ou pelo testador.
§ 3º A requerimento de qualquer interessado e se graves razões o
aconselharem, pode o juiz determinar a divisão da coisa comum
antes do prazo. (BRASIL, 2002).

Se os condôminos tiverem divergência na administração do


condomínio, como resolver?
Ao contrário do que determina o Código Civil com relação
à prevalência de vontade do condômino que deseja alienar a
coisa, ainda que seja minoria, para as questões administrativas
prevalece a vontade da maioria. Como exemplo, se a maioria dos
condôminos resolve alugar imóvel na praia para temporada, essa
vontade deve prevalecer.
Portanto, a vontade de alienação prevalece,
independentemente de a maioria discordar. Com relação à
administração, o que vale é o que a maioria decidir.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 125


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

Administração do condomínio
O condomínio pode ser administrado. As decisões quanto à
administração devem ser tomadas por maioria. O administrador
pode ser um condômino ou um terceiro.
A maior parte das decisões é calculada nos termos do
artigo 1.323 do Código Civil, a seguir:
Art. 1.325. A maioria será calculada pelo valor dos quinhões.
§ 1º As deliberações serão obrigatórias, sendo tomadas por
maioria absoluta.
§ 2º Não sendo possível alcançar maioria absoluta, decidirá o
juiz, a requerimento de qualquer condômino, ouvidos os outros.
§ 3º Havendo dúvida quanto ao valor do quinhão, será este
avaliado judicialmente.

Portanto, não se trata do número de condôminos, mas sim


o valor, a quantidade da coisa.
Apenas serão obrigatórias as decisões que forem tomadas
por maioria absoluta, ou seja, por votos que representem mais
da metade do valor total. Maioria absoluta é mais da metade dos
quinhões.

Extinção do condomínio
Um condomínio pode ser extinto pela divisão da coisa
quando esta for divisível ou pela alienação.

Condomínios especiais
Temos dois condomínios especiais, quais sejam: o
condomínio por meação de paredes, cercas, muros e valas e o
condomínio edifício, os quais veremos a seguir.

126 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

Condomínio por meação de paredes, cercas, muros e valas


É um condomínio forçado em virtude da indivisão
permanente. Trata-se de um condomínio decorrente do direito
de vizinhança. As regras relativas a esse condomínio, nos termos
do artigo 1.327 do Código Civil, são reguladas pelo disposto nos
artigos 1.297, 1.298 e 1.304 a 1.307 do CC (BRASIL, 2002).

Condomínio edifício (ou condomínio em edifício de apartamentos)


É o condomínio em edifícios de apartamentos, loteamentos,
clubes etc.
Está regulamentado no Código Civil (BRASIL, 2002) e na Lei
n. 4.591/64 (BRASIL, 1964), tendo a Lei n. 10.931/04 (BRASIL,
2004) alterado alguns artigos do Código Civil.
Esse condomínio é sui generis, pois nele há a junção de
propriedade plena e propriedade comum. A propriedade plena
ocorre em relação às unidades habitacionais (apartamentos),
por exemplo. Já a propriedade comum ocorre em relação às
áreas comuns dos condomínios, como piscina, playground etc.

Instituição e constituição do condomínio


A instituição do condomínio edilício pode ser feita por ato
entre vivos ou testamento, registrado no Cartório de Registro de
Imóveis.
O artigo 1.332 do Código Civil traz o que deve constar no
ato de instituição (BRASIL, 2002). O ato de instituição constitui
o condomínio. Após, serão estipuladas as regras do condomínio
por meio da convenção.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 127


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

A instituição do condomínio não requer que as obras estejam


prontas, podendo ser realizado sobre prédio por construir. Já a
constituição se opera pela convenção de condomínio e, como
já foi dito, pressupõe a existência de um condomínio. As regras
estão nos artigos 1.333 e 1.334 do Código Civil (BRASIL, 2002).

Direitos e deveres dos condôminos


As regras que estabelecem direitos e deveres dos
condôminos estão nos artigos 1.335 a 1.346 do Código Civil
(BRASIL, 2002) e na Convenção de Condomínio. A convenção é
elaborada pelos próprios condôminos, por escrito, registrada no
Cartório de Registro de Imóveis.

Administração
Quem administra o condomínio é o síndico, que pode
ser pessoa física ou jurídica, condômino ou não, de forma
remunerada ou gratuita. O síndico é escolhido por eleição
realizada pela assembleia.
As regras estão nos artigos sobre a eleição e o exercício da
função do síndico estão nos artigos 1.347, 1.348, 1.350 e 1.355,
CC (BRASIL, 2002).

Extinção do Condomínio
O condomínio pode terminar por:
• perecimento do bem (Código Civil, artigo 1.357);
• por desapropriação do edifício (Código Civil, artigo
1.358) (BRASIL, 2002);
• por venda de todas as unidades a uma só pessoa.

128 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

Condomínio em loteamento fechado


Loteamento fechado é um conjunto de casas ou terrenos
fechados por portão de acesso à via pública, protegido por
muro e portaria, que controla a passagem. É fechado em virtude
de as ruas, praças e áreas de lazer pertencerem ao domínio
privado, autorregulamentado por convenção e assembleias
do condomínio. Todavia, se a urbanização for realizada pelo
Município, não há partes ideais no condomínio.

Multipropriedade
Trata-se de um condomínio especial em que os condôminos
dividem a mesma unidade habitacional em frações de tempo
diversas. Nessa hipótese, o proprietário passa a ser titular de um
imóvel, tendo direito de usá-lo em determinado período para
usar e gozar da coisa. Geralmente, é usado em locais destinados
ao lazer.

Shopping centers
Nos shopping centers, cada unidade empresarial é alienada
a um titular, estabelecendo-se um condomínio subordinado a
regras de mercado. Estabelece-se uma convenção condominial
que regerá a relação entre o empreendedor e os proprietários
das unidades comerciais.

Direito de vizinhança
O direito entre vizinhos é regulado pelo Código Civil. Trata-
se de limitações impostas para conciliar o interesse dos vizinhos,
de modo a possibilitar a convivência social.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 129


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

Vizinho não é só aquele que faz divisa. Pode ser considerado


vizinho a pessoa que mora no mesmo quarteirão ou no mesmo
bairro.

Regras do direito de vizinhança


O Código Civil (BRASIL, 2002) traz regras que se aplicam
aos vizinhos. Vamos a elas:
1) Uso normal da propriedade: não se pode usar a
propriedade de forma anormal, ou seja, de forma
nociva a saúde, sossego e segurança dos vizinhos.
2) Das árvores limítrofes: as árvores que estão no meio
dos terrenos de duas pessoas pertencem aos dois
vizinhos. Trata-se de condomínio forçado, conforme
vimos no estudo do condomínio. Pertence ao dono
do terreno a árvore que ali se encontra. Todavia, se
os galhos dessa árvore passarem a divisa, o vizinho
poderá ficar com os frutos que caírem naturalmente,
não podendo derrubá-los. O vizinho pode cortar os
galhos que invadirem sua propriedade.
3) Da passagem forçada: a passagem forçada deve existir
no caso de prédio sem saída ou quando a saída existe,
mas é muito ruim, de modo que acaba impossibilitando
o uso. Nessas condições, o proprietário terá o direito
de pedir para passar pelo terreno do vizinho, pagando
uma indenização. Eis o que consta no artigo 1.285 do
CC sobre a passagem forçada:
O dono do prédio que não tiver acesso a via pública, nascente
ou porto, pode, mediante pagamento de indenização cabal,
constranger o vizinho a lhe dar passagem, cujo rumo será
judicialmente fixado, se necessário. (BRASIL, 2002).

130 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

A passagem forçada deve existir no caso de prédio


sem saída ou quando a saída existe, mas é muito
ruim, de modo que acaba impossibilitando o uso.
Nessas condições, o proprietário terá o direito de
pedir para passar pelo terreno do vizinho, pagando
uma indenização. Eis o que consta no artigo 1.285
sobre a passagem forçada: "O dono do prédio que
não tiver acesso a via pública, nascente ou porto,
pode, mediante pagamento de indenização cabal,
constranger o vizinho a lhe dar passagem, cujo rumo
será judicialmente fixado, se necessário". A passagem
forçada é diferente da servidão predial, já que esta
depende de acordo, enquanto a passagem forçada é
imposta por lei
4) Da passagem de cabos e tubulações: é a obrigação que
um vizinho tem em relação ao outro de deixar passar
em sua propriedade cabos e tubulações subterrâneos.
É possível também a construção de aquedutos para
transporte canalizado de água, nos termos dos artigos
1293 a 1296 do Código Civil (BRASIL, 2002).

Das águas
As águas tratadas no Código Civil são as pluviais (de chuva)
e as águas de nascentes naturais (não captadas).
As regras são as seguintes:
• Sabe-se que as águas correm de cima para baixo. Assim,
nos termos do artigo 1.288:
o dono ou o possuidor do prédio inferior é obrigado a receber
as águas que correm naturalmente do superior, não podendo
realizar obras que embaracem o seu fluxo; porém a condição

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 131


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

natural e anterior do prédio inferior não pode ser agravada por


obras feitas pelo dono ou possuidor do prédio superior. (BRASIL,
2002).

• As águas que passam pelo terreno de alguém podem


ser utilizadas para consumo, mas o curso natural não
pode ser interrompido. O artigo 1.290 diz o seguinte: "O
proprietário de nascente, ou do solo onde caem águas
pluviais, satisfeitas as necessidades de seu consumo,
não pode impedir, ou desviar o curso natural das águas
remanescentes pelos prédios inferiores" (BRASIL, 2002).
• É permitido que se faça barragens para o represamento
de águas da chuva, conforme determina o artigo 1.292:
O proprietário tem direito de construir barragens, açudes, ou
outras obras para represamento de água em seu prédio; se as
águas represadas invadirem prédio alheio, será o seu proprietário
indenizado pelo dano sofrido, deduzido o valor do benefício
obtido. (BRASIL, 2002).

Dos limites entre prédios


Os limites entre os imóveis devem estar estabelecidos
para segurança jurídica. O imóvel pode ser cercado ou murado,
podendo o proprietário dividir as despesas com os vizinhos.
Nesse sentido, determina o artigo 1.297 do Código Civil:
O proprietário tem direito a cercar, murar, valar ou tapar de
qualquer modo o seu prédio, urbano ou rural, e pode constranger
o seu confinante a proceder com ele à demarcação entre os
dois prédios, a aviventar rumos apagados e a renovar marcos
destruídos ou arruinados, repartindo-se proporcionalmente
entre os interessados as respectivas despesas. (BRASIL, 2002).

O custo do muro ou cerca divisória pode ser cobrado via


ação judicial do outro vizinho limítrofe. O parágrafo 1º do artigo

132 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

1.297 do Código Civil determina que os vizinhos são "obrigados,


de conformidade com os costumes da localidade, a concorrer, em
partes iguais, para as despesas de sua construção e conservação"
(BRASIL, 2002).
Se houver dúvida a respeito do limite do imóvel, pode-se
entrar com ação demarcatória.

Do direito de construir
O proprietário do imóvel pode construir em seu terreno.
Nesse sentido, determina o artigo 1.299: "O proprietário pode
levantar em seu terreno as construções que lhe aprouver, salvo
o direito dos vizinhos e os regulamentos administrativos. Os
regulamentos administrativos cabem ao município.
O que não se permite:
1) Despejar águas diretamente no terreno do vizinho,
conforme artigo 1.300 do Código Civil (BRASIL, 2002).
2) Abrir janelas, ou fazer eirado, terraço ou varanda, a
menos de um metro e meio do terreno vizinho (Código
Civil, artigo 1.301) (BRASIL, 2002).
3) Executar chaminés, fogões, fornos ou quaisquer
aparelhos ou depósitos suscetíveis de produzir
infiltrações ou interferências prejudiciais ao vizinho,
conforme Código Civil, artigo 1.308 e parágrafo único)
(BRASIL, 2002).
4) Construir fossa junto de poço de água (Código Civil,
artigo 1.309) (BRASIL, 2002).
5) Executar qualquer obra ou serviço suscetível de
provocar desmoronamento ou deslocação de terra, ou
que comprometa a segurança do prédio vizinho, senão

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 133


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

após haverem sido feitas as obras acautelatórias,


conforme artigo 1.311 do Código Civil (BRASIL, 2002).
Se o vizinho agir de forma irregular, de acordo com o
artigo 1.312 (BRASIL, 2002), poderá ser "obrigado a demolir as
construções feitas, respondendo por perdas e danos" (BRASIL,
2002).
Vale mencionar que se permite a entrada na casa do vizinho
para a realização de obras na sua casa com segurança, conforme
autoriza o artigo 1.313, I e § 1º do Código Civil (BRASIL, 2002).

Direitos reais sobre coisas alheias


O direito real regula a relação estabelecida entre o
proprietário, sujeito ativo, e um sujeito passivo, ou seja, qualquer
pessoa a não ser o titular da propriedade, que deverá respeitar o
direito do proprietário.
Temos os seguintes direitos reais: a propriedade, a
superfície, as servidões, o usufruto, o uso, a habitação, a
usucapião, o direito do promitente comprador do imóvel, o
penhor, a hipoteca, a anticrese, a concessão de uso especial
para fins de moradia e a concessão de direito real de uso. Já
estudamos a propriedade e a usucapião. Agora, estudaremos os
demais direitos reais.
Iniciaremos pelos direitos reais de gozo ou fruição, quais
sejam: superfície, servidões, usufruto, uso e habitação.

Usufruto
É um direito real, em que se confere a uma pessoa a
posse direta da coisa durante determinado tempo. As partes no

134 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

usufruto são: nu-proprietário, que é o proprietário da coisa e o


usufrutuário, que é a pessoa a quem se concede o uso da coisa.
Pode ser objeto do usufruto os bens móveis infungíveis,
os imóveis e o patrimônio de alguém, conforme artigo 1.390 do
Código Civil (BRASIL, 2002).
O usufruto pode ser concedido por lei, por ato jurídico
entre vivos ou causa mortis, por sub-rogação (o bem sobre o
qual incide o usufruto é substituído) e por usucapião.
Extingue-se o usufruto pela morte do usufrutuário, pela
cessação do motivo que deu origem e pela consolidação da
propriedade na pessoa do usufrutuário ou do nu-proprietário.

Uso
O uso é uma espécie de usufruto, mais restrito. Isso porque
o uso, ao contrário do usufruto, é insuscetível de cessão e é
limitado pelas necessidades do usuário e de sua família.
Podem ser objeto os bens móveis infungíveis e os imóveis,
corpóreos e incorpóreos. O uso pode ser constituído por ato
entre vivos ou mortis causa, decisão judicial e usucapião. Não há
a constituição legal.
As causas de extinção do uso são: morte do usufrutuário,
pela cessação do motivo que deu origem e pela consolidação da
propriedade na pessoa de quem usa ou de quem concede o uso.

Habitação
Trata-se do direito real temporário de ocupar gratuitamente
casa alheia com a finalidade de morada pelo seu titular e de sua
família.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 135


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

A habitação pode ser exercida em imóvel (casa ou


apartamento) exclusivamente para moradia, sendo proibido o
uso empresarial.

Superfície
Determina o artigo 1.369 do Código Civil:
O proprietário pode conceder a outrem o direito de construir ou
de plantar em seu terreno, por tempo determinado, mediante
escritura pública devidamente registrada no Cartório de Registro
de Imóveis. (BRASIL, 2002).

Portanto, a superfície é o direito que o proprietário tem de


possibilitar que terceiro construa ou plante em seu terreno, por
tempo determinado e mediante escritura pública.
Agora veremos os direitos reais de garantia, em que
ofertamos a coisa própria em garantia de um débito. Os direitos
reais de garantia são: penhor, hipoteca, anticrese e propriedade
fiduciária.
Inicialmente, podemos definir o direito real de garantia
como aquele que dá ao seu titular o direito de obter o
pagamento de uma dívida executando a garantia se o devedor
ficar inadimplente.

Penhor
Penhor é um direito real que permite a transferência
efetiva de uma coisa móvel, suscetível de alienação, realizada
pelo devedor ou por terceiro ao credor com a finalidade de
garantir o pagamento da dívida.
Pode ser constituído por meio de convenção ou por lei
(vide artigos 1.432 e 1.467 do Código Civil). As regras e espécies

136 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

de penhor estão reguladas no Código Civil nos artigos 1.432 a


1.472 do Código Civil (BRASIL, 2002).
O penhor pode ser extinto com o fim da dívida por meio
do pagamento ou de qualquer outra forma de extinção, pelo
perecimento do objeto empenhado, pela renúncia do credor, com
a confusão e com a adjudicação judicial, a remição ou a venda da
coisa empenhada, feita pelo credor ou por ele autorizada.

Hipoteca
É a garantia constituída por um bem imóvel. Nesse caso um
imóvel é dado em garantia de uma dívida, sem a transferência de
posse, podendo o credor, em caso de inadimplência, promover
sua venda judicial para com o produto da venda quitar a dívida.
É indispensável conferir a publicidade a hipoteca, mediante
o registro no Cartório do lugar do imóvel.
Temos a hipoteca convencional, constituída por um acordo
de vontades, a legal, imposta por lei, e a hipoteca judiciária,
que é aquela que decorre de sentença. Na hipoteca judicial,
quando uma sentença judicial condenar o réu ao pagamento de
prestação consistente em dinheiro ou determinar a conversão
de prestação de fazer, de não fazer ou de dar coisa em prestação
pecuniária, o autor terá direito de garantia real sobre os bens
do vencido, para vendê-los e obter a quantia necessária para a
satisfação da obrigação. Nos termos do Código de Processo Civil
(BRASIL, 2015), a hipoteca judiciária pode conferir para o credor
hipotecário o direito de preferência.
A hipoteca extingue-se pela extinção da obrigação principal,
pelo perecimento da coisa, pela resolução da propriedade, pela
renúncia do credor, pela remição, pela sentença transitada em

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 137


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

julgado que decrete a nulidade da garantia real, pela prescrição


aquisitiva, pela arrematação ou adjudicação, pela consolidação,
pela perempção legal.

Anticrese
Anticrese é o direito real sobre imóvel alheio, em virtude
do qual o credor obtém a posse da coisa, a fim de lhe perceber os
frutos e rendimentos em compensação da dívida (Código Civil,
artigo 1.506) (BRASIL, 2002).
A anticrese depende da tradição, ou seja, da entrega,
recaindo sobre bem imóvel e requer, para sua constituição,
escritura pública e inscrição no Registro Imobiliário.
A anticrese pode ser extinta pelo pagamento da dívida, pelo
término do prazo legal, pelo perecimento do bem anticrético,
pela desapropriação, pela renúncia do anticresista, pela exceção
de outros credores, quando o anticrético não opuser direito de
retenção, pelo resgate do bem dado em anticrese, por ato do
adquirente que, antes do vencimento da dívida, vem pagá-la em
sua totalidade.
Por fim, veremos o direito real de aquisição, qual seja, o
direito do promitente comprador de imóvel.

Contrato preliminar e direito real


A promessa de compra e venda é uma espécie de contrato
preliminar, ou seja, um contrato por meio do qual as partes ou
uma delas se comprometem a celebrar mais tarde um outro
contrato, que será o principal.
O contrato preliminar gera direito real apenas quando é
levado a registro no competente Cartório de Registro de Imóveis.

138 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

Frisa-se que se trata de um direito real distinto da


propriedade, pois o seu titular não detém os atributos de uso,
gozo, disposição e reivindicação que caracterizam os direitos do
proprietário. É por esse motivo que é denominado direito real
de aquisição.
Para tanto, é necessário que a promessa seja irretratável.

Antes de realizar as questões autoavaliativas propostas


no Tópico 4, você deve fazer as leituras indicadas no Tópico
3. Conteúdo Digital Integrador, para aprofundar seu
conhecimento sobre o tema estudado nesta Unidade.

Vídeos complementares _____________________________

Neste momento, é fundamental que você assista aos vídeos complementares.


• Para assistir aos vídeos pela Sala de Aula Virtual, clique na
funcionalidade Videoaulas, localizada na barra superior. Em seguida,
selecione o nível de seu curso (Graduação), a categoria (Disciplinar) e
o tipo de vídeo (Complementar). Por fim, clique no nome da disciplina
para abrir a lista de vídeos.
• Para assistir aos vídeos pelo seu CD, clique na funcionalidade “Vídeos”
e selecione: Direito Civil e Processual Civil – Vídeos Complementares
– Complementar 3 e Complementar 4.
__________________________________________________

3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição
necessária e indispensável para você compreender integralmente
os conteúdos apresentados nesta unidade.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 139


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

Os textos a seguir apresentam informações complementares


sobre a usucapião extrajudicial. Vale a pena ler, em virtude das
recentes alterações legislativas. Vale conferir também o artigo
sobre a diferença entre os direitos pessoais e os direitos reais.
• ALVARES, P. B. A. Novidades sobre a usucapião
extrajudicial depois da Lei n. 13.465/2017 – a justificação
administrativa. Portal do RI. Disponível em <http://
www.portaldori.com.br/2017/08/11/artigo-novidades-
sobre-a-usucapiao-extrajudicial-depois-da-lei-13-
4652017-a-justificacao-administrativa-por-percio-
brasil-alvares/>. Acesso em: 15 ago. 2018.
• BARROS, F. M. P. Usucapião extrajudicial ganha
efetividade prática com a Lei 13.465/3017. Consultor
Jurídico. Disponível em: <https://www.conjur.com.
br/2017-jul-28/felipe-maciel-usucapiao-extrajudicial-
ganha-efetividade-pratica>. Acesso em: 15 ago. 2018.
• LEITE, G. A diferença entre os direitos reais e direitos
pessoais, obrigacionais ou de crédito. Âmbito Jurídico.
com.br. Disponível em <http://www.ambito-juridico.
com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_
leitura&artigo_id=5160>. Acesso em: 15 ago. 2018.
• SABER DIREITO. Usucapião no Novo CPC – Aula
1. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=nwDOS89e18U>. Acesso em: 18 set. 2019.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em

140 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos


estudados para sanar as suas dúvidas.
1) É correto afirmar que o direito do possuidor à indenização por benfeitorias
necessárias depende da espécie da posse? Justifique.

2) Assinale V para afirmações verdadeiras e F para afirmações falsas.


a) (__) O direito do promitente comprador do imóvel trata-se de um
direito real.
b) (__) O direito real de aquisição tem como requisito, para sua
constituição, a irretratabilidade do contrato.
c) (__) O direito do promitente comprador do imóvel tem origem num
contrato preliminar de promessa de compra e venda, que pode ser
celebrado mediante instrumento público ou particular, mas deve ser
registrado no Cartório de Registro de Imóveis.

3) JOÃO, sem justo título, apossou-se de um imóvel urbano de área superior


a 250 metros quadrados, há exatos vinte e dois anos, e sobre ele exerce,
desde então, posse mansa e pacífica, sem ter, contudo, estabelecido no
imóvel sua moradia habitual ou realizado obras ou serviços de caráter
produtivo. Visando à postulação da ação de usucapião, JOÃO foi orientado
a obter diversos documentos e, ao prepará-los, tomou conhecimento de
que o proprietário do imóvel, VICENTE, havia falecido há exatos dez anos,
deixando como únicos herdeiros os filhos PEDRO, MARCOS E AFONSO,
respectivamente com um, três e cinco anos de idade na época de seu
falecimento. Consultado por JOÃO, esclareça seus direitos referentes
à aquisição do imóvel pela usucapião, levando-se em conta apenas as
disposições do CC.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões
autoavaliativas propostas:
1) Não. O direito do possuidor à indenização por benfeitorias necessárias
independe da espécie da posse. Com efeito, tanto o possuidor de boa-fé
quanto o de má-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias,
conforme se depreende dos artigos 1.219 e 1.220 do CC (BRASIL, 2002).

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 141


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

2) Assinale V para afirmações verdadeiras e F para afirmações falsas.


a) (V) O direito do promitente comprador do imóvel trata-se de um
direito real. (CC, 1225, VII) (BRASIL, 2002).
b) (V) O direito real de aquisição tem como requisito, para sua constituição,
a irretratabilidade do contrato. (CC, 1417) (BRASIL, 2002).
c) (V) O direito do promitente comprador do imóvel tem origem num
contrato preliminar de promessa de compra e venda, que pode ser
celebrado mediante instrumento público ou particular, mas deve ser
registrado no Cartório de Registro de Imóveis. (CC, 1417) (BRASIL,
2002).

3) Há 22 anos, João passou a exercer posse sobre um imóvel de propriedade


de Vicente, sem justo título. Verifica-se que sua posse foi contínua, mansa
e pacífica e que o imóvel tem área superior a 250 metros quadrados. Vê-
se, pois, que, a princípio, a situação enquadra-se no disposto no caput do
art. 1.238 do CC, que trata da usucapião extraordinária, não se aplicando
o prescrito no parágrafo único do mesmo dispositivo legal, eis que João
não estabeleceu no imóvel sua moradia habitual nem realizou nele obras
ou serviços de caráter produtivo. Resta, então, apenas a análise do lapso
temporal, que, no caso, é de 15 anos (CC, art. 1.238, caput). Tem-se por
certo que a posse de João teve início em março de 1993 (2015 – 22 = 1993)
e que Vicente, proprietário do imóvel possuído por João, faleceu em março
de 2005 (2015 - 10 = 2005), deixando como únicos herdeiros três filhos
absolutamente incapazes em razão da idade (Pedro, Marcos e Afonso).
Assim, impõe ressaltar o disposto no art. 1.244 do CC (BRASIL, 2002),
segundo o qual se aplicam à usucapião as causas que obstam, suspendem
ou interrompem a prescrição. Destarte, estatui o art. 198, I do CC (BRASIL,
2002) que não corre a prescrição contra os incapazes de que trata o artigo
3º, ou seja, contra os absolutamente incapazes, como é o caso dos filhos
de Vicente (Pedro, Marcos e Afonso), que tinham apenas 1, 3 e 5 anos de
idade quando do falecimento do pai (CC, art. 3º, I) (BRASIL, 2002). É cediço
que referido dispositivo legal apresenta uma causa geralmente impeditiva
do prazo prescricional, isto é, capaz de obstar a prescrição, que, neste caso,
produzirá efeito de suspensiva. Assim, nos moldes dos arts. 1.244, 198, I, e
3º, I, todos do Código Civil, o prazo para a usucapião, que se iniciou contra
Vicente, parou de correr contra seus filhos Pedro, Marcos e Afonso, por
se tratar de pessoas absolutamente incapazes. Tal prazo somente voltará
a correr quando se tornarem relativamente incapazes. Observa-se, então,
que o lapso temporal da posse de João, para efeito de usucapião, conta-se
apenas de março/1993 a março/2005, tendo percorrido, pois, 12 anos.

142 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

Desse modo, não há o que se falar em aquisição da propriedade do imóvel


por João, eis que o lapso temporal de 15 anos, requisito indispensável à
configuração da usucapião, ainda não ocorreu.

5. CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final da terceira unidade, na qual você teve
a oportunidade de compreender os conceitos e aspectos gerais
sobre os direitos das coisas, contidos regulamentados na parte
especial do Código Civil.
Na próxima unidade, iniciaremos a análise do direito de
família e das sucessões.

6. E-REFERÊNCIAS
BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 5 out. 1988.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
htm>. Acesso em: 8 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 4.591, de 16 de dezembro de 1964. Dispõe
sôbre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 16 dez. 1964. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4591.htm>. Acesso em: 8 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe
sobre os registros públicos, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 31 dez. 1973. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/L6015compilada.htm>. Acesso em: 8 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 10.257, de 10 julho de 2001. Regulamenta os
arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana
e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF,
10 jul. 2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/
L10257.htm>. Acesso em: 8 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui
o Código Civil. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 10 jan.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 143


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm>.


Acesso em: 8 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 10.931, de 2 de agosto de 2004. Dispõe sobre
o patrimônio de afetação de incorporações imobiliárias, Letra de Crédito Imobiliário,
Cédula de Crédito Imobiliário, Cédula de Crédito Bancário, altera o Decreto-Lei nº 911,
de 1º de outubro de 1969, as Leis nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964, nº 4.728, de
14 de julho de 1965, e nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, e dá outras providências.
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2 ago, 2004. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.931.htm>.
Acesso em: 8 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de
Processo Civil. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 16 mar.
2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivIl_03/_Ato2015-2018/2015/
Lei/L13105.htm>. Acesso em: 8 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 13.465, de 11 de julho de 2017. Dispõe sobre
a regularização fundiária rural e urbana, sobre a liquidação de créditos concedidos
aos assentados da reforma agrária e sobre a regularização fundiária no âmbito da
Amazônia Legal; institui mecanismos para aprimorar a eficiência dos procedimentos
de alienação de imóveis da União; altera as Leis nos 8.629, de 25 de fevereiro de 1993,
13.001, de 20 de junho de 2014, 11.952, de 25 de junho de 2009, 13.340, de 28 de
setembro de 2016, 8.666, de 21 de junho de 1993, 6.015, de 31 de dezembro de 1973,
12.512, de 14 de outubro de 2011, 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil),
13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), 11.977, de 7 de julho de
2009, 9.514, de 20 de novembro de 1997, 11.124, de 16 de junho de 2005, 6.766, de
19 de dezembro de 1979, 10.257, de 10 de julho de 2001, 12.651, de 25 de maio de
2012, 13.240, de 30 de dezembro de 2015, 9.636, de 15 de maio de 1998, 8.036, de 11
de maio de 1990, 13.139, de 26 de junho de 2015, 11.483, de 31 de maio de 2007, e a
12.712, de 30 de agosto de 2012, a Medida Provisória no 2.220, de 4 de setembro de
2001, e os Decretos-Leis nos 2.398, de 21 de dezembro de 1987, 1.876, de 15 de julho
de 1981, 9.760, de 5 de setembro de 1946, e 3.365, de 21 de junho de 1941; revoga
dispositivos da Lei Complementar no 76, de 6 de julho de 1993, e da Lei no 13.347,
de 10 de outubro de 2016; e dá outras providências. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 jul, 2017. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13465.htm>. Acesso em: 8 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 24.643, de 10 de julho de 1934. Decreta o
Código de Águas. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 10 jul.
1934. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto/D24643.htm>.
Acesso em: 8 ago. 2018.

144 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 3 – DIREITO DAS COISAS

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FERNANDES, A. C. Direito Civil – Obrigações. RS: Educs, 2010. (Biblioteca Digital
Pearson).
MACHADO, C. (Org.); CHINELLATO, S. J. (Coord.). Código civil interpretado: artigo
por artigo, parágrafo por parágrafo. 9. ed. Barueri: Manole, 2016. (Biblioteca Digital
Pearson).
PELUSO, C. Código civil comentado: doutrina e jurisprudência. 9. ed. rev. atual. Barueri:
Manole, 2015. (Biblioteca Digital Pearson).

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 145


© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL
UNIDADE 4
DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

Objetivos
• Definir Direito de Família.
• Compreender o casamento e a união estável.
• Identificar as relações de parentesco.
• Entender o poder familiar.
• Compreender a tutela e a curatela.
• Definir o direito das sucessões.
• Compreender a sucessão legítima e a representação.
• Entender a sucessão testamentária.
• Identificar os indignos de suceder e a deserdação.

Conteúdos
• Casamento e união estável.
• Relações de parentesco.
• Poder familiar.
• Tutela e curatela.
• Definição do Direito das Sucessões.
• Sucessão legítima e representação.
• Sucessão testamentária.
• Os indignos de suceder e a deserdação.

147
UNIDADE 4 –DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Não se limite a este conteúdo; busque outras informações em sites


confiáveis e/ou nas referências bibliográficas, apresentadas ao final de
cada unidade. Lembre-se de que, na modalidade EaD, o engajamento
pessoal é um fator determinante para o seu crescimento intelectual.

2) Busque identificar os principais conceitos apresentados; siga a linha


gradativa dos assuntos até poder observar a evolução do estudo.

3) Não deixe de recorrer aos materiais complementares descritos no


Conteúdo Digital Integrador.

4) Nesta unidade, é importante que você tenha em mãos o Código Civil


(Lei n. 10.406/2002) (BRASIL, 2002). No site da Presidência da República
(www2.planalto.gov.br), clique em legislação. Após, clique em Códigos.
Na lista dos códigos disponíveis, você encontrará o Código Civil. É só clicar
e você terá a íntegra do documento, podendo consultar todos os artigos
mencionados nesta unidade.

148 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 4 – DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

1. INTRODUÇÃO
Na unidade anterior, estudamos o Direito das Coisas,
analisando a posse, a propriedade, a usucapião, o condomínio,
os direitos de vizinhança e outros importantes institutos
relacionados aos direitos reais. Nesta unidade, faremos o estudo
do Direito de Família e Sucessões.

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de
forma sucinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua
compreensão integral, é necessário o aprofundamento pelo
estudo do Conteúdo Digital Integrador.

2.1. DIREITO DE FAMÍLIA

É o direito que regula as relações familiares. Nos termos


da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), família pode
ser entendida como um grupo de pessoas ligadas entre si por
relações pessoais e patrimoniais resultantes do casamento, da
união estável e do parentesco (Constituição Federal, artigo 226,
§ 4º).
As normas do Direito de Família são de ordem pública,
isto é, são obrigatórias, embora o Direito Civil seja um ramo do
direito privado.
Podemos definir o Direito Família como um conjunto de
normas que regulam o casamento, a união estável, a filiação, o
vínculo entre parentes, a tutela e a curatela.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 149


UNIDADE 4 –DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

No Código Civil, o direito de família está regulado nos


artigos de 1.511 a 1.783-A, dividido da seguinte forma:
1) Título I (Direito pessoal): casamento e relações de
parentesco.
2) Título II (Direito patrimonial): regime de bens entre os
cônjuges, alimentos e bem de família.
3) Título III: união estável.
4) Título IV: Tutela, curatela e tomada de decisão apoiada.
O bem de família foi objeto de análise na Unidade 1,
quando tratamos dos bens e suas espécies.

A família
Atualmente, a família tem um conceito amplo e pode
ser compreendida como a relação entre as pessoas unidas
por vínculo jurídico de natureza familiar. Aqui se incluem os
cônjuges ou conviventes em união estável, descendentes, os
ascendentes e os colaterais, incluindo os parentes do cônjuge,
que são chamados de parentes por afinidade ou afins. A proteção
alcança também as chamadas entidades familiares, chamada
de família monoparental, formada, nos termos do artigo 226,
§ 4 da Constituição Federal, por apenas um dos pais e seus
descendentes.
Iniciaremos nosso estudo pelo casamento.

Casamento
Casamento é a união entre duas pessoas com objetivo de
constituir uma vida comum. Atualmente, admite-se o casamento
civil entre pessoas do mesmo sexo. O precedente judicial foi a

150 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 4 – DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

decisão do Superior Tribunal de Justiça, tomada pela 4ª Turma,


no Recurso Especial nº 1183378/RS (BRASIL, 2010).
O casamento é precedido de formalidades legais,
(habilitação para o casamento), cujo objetivo é dar publicidade
ao ato e constatar se não existem impedimentos à realização
do casamento pretendido. O casamento é público.
Pode-se casar por meio de procuração. Trata-se do
casamento por procuração e ocorre quando um dos nubentes
não pode comparecer à cerimônia. São requisitos obrigatórios
do casamento: o consentimento livre e inequívoco e a
realização da celebração perante a pessoa que tenha poderes
para realizá-lo.

Regime de bens
Os cônjuges devem escolher o regime de bens que será
aplicado no casamento antes da celebração, no momento da
habilitação, que é o ato que antecede o casamento.
O regime legal que se aplica, em regra, se as partes não se
opuserem, é o regime da comunhão parcial de bens.
Se os nubentes fizerem a opção por outro regime, eles
devem fazer isso por meio do pacto antenupcial.
Pacto antenupcial é um ajuste, que deve ser feito por
meio de escritura pública, onde as partes estabelecem qual o
regime que estão adotando, lembrando que se o regime for o da
comunhão parcial de bens, não há a necessidade da realização
do pacto.
Os regimes são os seguintes:

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 151


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Comunhão parcial de bens


Neste regime, tudo o que foi adquirido na constância do
casamento pertence a ambos os cônjuges, na proporção de 50%
para cada um. Estão excluídos da comunhão o que pertencia a
cada um dos cônjuges antes do casamento.
Segundo o artigo 1.659 do Código Civil, excluem-se da
comunhão:
I – os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe
sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou
sucessão, e os sub-rogados em seu lugar;
II – os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes
a um dos cônjuges em sub-rogação dos bens particulares;
III – as obrigações anteriores ao casamento;
IV – as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão
em proveito do casal;
V – os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão;
VI – os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;
VII – as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas
semelhantes (BRASIL, 2002).

Comunhão universal de bens


O regime da comunhão universal importa na comunhão
de todos os bens do casal, presentes e futuros. As dívidas
também se comunicam. Para adotar esse regime, é necessária a
formalização do pacto antenupcial.

Separação de bens
Por este regime, cada um dos cônjuges permanece
administrando seus próprios bens, os anteriores ao casamento

152 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 4 – DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

e os adquiridos depois. Deve ser feito, nesse caso, o pacto


antenupcial.
Esse regime pode ser adotado por imposição da lei ou por
convenção das partes.
As hipóteses em que é obrigatório o regime da separação
de bens no casamento estão especificadas no art. 1.641 do CC
(BRASIL, 2002).
Quando a imposição do regime decorrer da lei, não há
necessidade de realização de pacto antenupcial.

Regime da participação final dos aquestos


Nesse regime, cada um dos cônjuges tem patrimônio
próprio e cada um administra o seu patrimônio livremente.
No caso de divórcio, haverá a meação dos bens adquiridos na
constância do casamento. As regras desse regime devem estar
no pacto antenupcial. No pacto antenupcial, os cônjuges podem
estabelecer a possibilidade de administração individual dos bens
particulares, sem a necessidade de outorga do outro no caso de
alienação. É um regime que se assemelha à comunhão parcial de
bens, mas neste há uma liberdade maior para que cada cônjuge
administre seu próprio patrimônio. As dívidas contraídas durante
o casamento por um dos cônjuges não se comunicam, salvo se
houver prova de que o outro foi beneficiado.

Dissolução do casamento
O casamento se dissolve, ou seja, se extingue, nas seguintes
hipóteses, conforme estabelece o artigo 1.571 do Código Civil
(BRASIL, 2002):
1) pela morte de um dos cônjuges;

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 153


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2) pela nulidade ou anulação do casamento;


3) pela separação judicial;
4) pelo divórcio.
A separação judicial coloca fim nos deveres conjugais como
coabitação, fidelidade, mútua colaboração, mas não põe fim
ao vínculo patrimonial. Somente o divórcio extingue o vínculo
matrimonial por completo.
Atualmente, o casal pode se divorciar diretamente no
cartório, sem a necessidade de intervenção judicial.
Antes da Emenda Constitucional n. 66/2010 (BRASIL, 2010)
entrar em vigor, o casal somente poderia se divorciar um ano
depois da decretação da separação judicial, ou se comprovasse
que estavam separados de fato há mais de dois anos. Portanto,
tínhamos duas ações: a ação de separação judicial, e, após um
ano, a ação de divórcio.
Após a alteração imposta pela Emenda Constitucional, o
casal pode se divorciar direta e imediatamente, sem a necessidade
de entrar previamente com a ação de separação judicial ou de
comprovar a separação de fato por mais de dois anos.
Os juristas vêm defendendo que, embora a ação de
separação judicial não seja mais obrigatória, ela continua
existindo, agora sem a necessidade de se observar qualquer
prazo.
Com efeito, se a reforma faculta que os cônjuges entrem
com o pedido do divórcio direto independentemente da
duração do casamento, essa possibilidade também deve ser
aplicada à separação judicial consensual. Assim, se o divórcio
pode ser promovido sem observância de qualquer prazo, com
a separação deve ocorrer o mesmo. Esse entendimento está

154 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 4 – DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

fundamentado no fato de a Emenda Constitucional não ter


suprimido expressamente a figura da separação judicial. Dessa
forma, se não houve exclusão expressa da separação do texto
legal, presume-se que ainda continua em vigor.
Desse entendimento, surge a seguinte questão: por que um
casal faria a opção de entrar com duas ações judiciais, primeiro
a separação e depois o divórcio, se agora existe a faculdade de
entrar apenas com o divórcio direto?
A justificativa é a seguinte: na separação, a lei confere
ao casal a possibilidade de reconciliação, apenas informando
esse fato no processo judicial; já no divórcio, essa possibilidade
não existe e, se o casal resolver reatar o relacionamento, será
necessário contrair novo casamento.
Portanto, casais que ainda não estão totalmente seguros
da intenção de pôr fim ao casamento poderiam optar pela
separação em vez do divórcio, pois, somente na primeira, haveria
a possibilidade de reconciliação.

Da proteção da pessoa dos filhos


A proteção da pessoa dos filhos está relacionada à guarda
após o término da relação entre os pais.
A guarda, nos termos do artigo, é o dever a um ou a ambos
os cônjuges de cuidar, proteger e administrar a vida do filho
enquanto durar o poder familiar. O poder familiar, em regra,
extingue-se com a maioridade.

Guarda unilateral e guarda compartilhada


É atribuída a um dos cônjuges, observado o interesse
do filho. O artigo 1.583, parágrafo 1º do Código Civil, a define

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 155


UNIDADE 4 –DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

da seguinte forma: "Compreende-se por guarda unilateral a


atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o substitua"
(BRASIL, 2002).
Já a guarda compartilhada é "a responsabilização conjunta
e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam
sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos
comuns (Código Civil, artigo 1.583, § 1) (BRASIL, 2002).
Conforme dispõe o artigo 1.584, a guarda, unilateral ou
compartilhada, poderá ser:
I – requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por
qualquer deles, em ação autônoma de separação, de divórcio,
de dissolução de união estável ou em medida cautelar;
II – decretada pelo juiz, em atenção a necessidades específicas
do filho, ou em razão da distribuição de tempo necessário ao
convívio deste com o pai e com a mãe. (BRASIL, 2002).

Portanto, a regra passou a ser a guarda compartilhada,


desde que atenda aos interesses do menor, bastando, para tanto,
ser requerida ou decretada pelo juiz.

Antes de realizar as questões autoavaliativas propostas


no Tópico 4, você deve fazer a leitura indicada no Tópico
3.1. Conteúdo Digital Integrador, a fim de aprofundar seus
conhecimentos sobre o União Estável.

Das relações de parentesco


O parentesco entre as pessoas pode ser estabelecido por
meio do vínculo conjugal ou união estável, pela consanguinidade,
em que as pessoas possuem um ancestral comum ou trazem
elementos sanguíneos comuns ou pela afinidade, que é o

156 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 4 – DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

parentesco que a lei impõe em razão do casamento, ligando uma


pessoa aos parentes do seu cônjuge, como, por exemplo, a sogra, o
genro, os cunhados etc. Vamos analisar as espécies de parentesco.

Parente consanguíneo ou natural


Ocorre entre pessoas que descendem de um tronco
ancestral. Essas pessoas são ligadas pelo sangue, em linha reta
ou colateral. Como exemplo, podemos citar pai e filho, primos,
irmãos.

Parentesco afim
Afinidade é um vínculo que se cria por determinação da
lei. O artigo 1.595 do Código Civil determina: “Cada cônjuge ou
companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da
afinidade.” (BRASIL, 2002). Dessa forma, esse parentesco é o
estabelecido entre um dos cônjuges ou companheiros com os
parentes do outro. Limita-se aos ascendentes, descendentes
e aos irmãos do cônjuge ou companheiro. Portanto, se você é
casado, você é parente, por afinidade, dos irmãos e dos pais do
seu cônjuge, por exemplo.

Parentesco civil
O parentesco civil é aquele estabelecido, por exemplo,
entre adotante e adotado. Trata-se do parentesco que não deriva
da consanguinidade ou afinidade.

Parentes em linha reta


São parentes em linha reta os ascendentes dos
descendentes. O artigo 1.591 (BRASIL, 2002) determina: "são

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 157


UNIDADE 4 –DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

parentes em linha reta as pessoas que estão umas para com as


outras na relação de ascendentes e descendentes" (exemplo:
pai, filho, neto – linha descendente – e pai, avô e bisavô – linha
ascendente).

Parentes em linha colateral ou transversal


O artigo 1.592 define os parentes colaterais da seguinte
forma: "são parentes em linha colateral ou transversal, até
o quarto grau, as pessoas provenientes de um só tronco, sem
descenderem uma da outra" (BRASIL, 2002). Para contar, deve-se
identificar o parente ascendente comum, subir até ele e depois
descer até o parente que você deseja identificar. Exemplo: você
é parente de 2º grau do seu irmão. Para saber, você deve subir
até seu pai e descer até seu irmão. Até seu pai conta um grau. Do
seu pai ao seu irmão, mais um grau. O filho do seu irmão, que é
seu sobrinho, é seu parente de terceiro grau.
A relação de parentesco mais importante é a filiação.
As regras sobre a filiação e o reconhecimento dos filhos estão
disciplinadas no Código Civil, nos artigos de 1.596 a 1.617
(BRASIL, 2002). A adoção está regulada nos artigos 1.618 e 1.619
do Código Civil (BRASIL, 2002) e pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente (Lei 8.069/1990) (BRASIL, 1990). Vale evidenciar que
o artigo 41 do Estatuto da Criança e do Adolescente equipara o
filho biológico ao filho adotivo, conferindo os mesmos direitos e
deveres, inclusive sucessório, extinguindo qualquer vínculo com
os pais e parentes biológicos, com exceção dos impedimentos
matrimoniais.
A relação de parentesco pode resultar no dever de prestar
alimentos, conforme veremos no item a seguir.

158 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 4 – DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

Dos alimentos
O artigo 1.694 do Código Civil (BRASIL, 2002) determina
que "podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns
aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo
compatível com a sua condição social, inclusive para atender às
necessidades de sua educação. (BRASIL, 2002).
Ao se fixar alimentos, deve-se levar em conta a capacidade
de quem vai pagá-los e a necessidade de quem vai recebê-los.
Trata-se do binômio necessidade/possibilidade, que sempre
deve ser observado nessa situação.
Os alimentos são necessários para que a pessoa possa
continuar vivendo de modo compatível com sua condição
social, atendendo inclusive às necessidades com a educação do
alimentando.
Os alimentos podem englobar todas as despesas
necessárias à sobrevivência, incluindo além da alimentação, os
valores correspondentes a vestuário, educação, habitação, lazer
e saúde.
Eis o que determina o artigo 1.701 do Código Civil: "A pessoa
obrigada a suprir alimentos poderá pensionar o alimentando, ou
dar-lhe hospedagem e sustento, sem prejuízo do dever de prestar
o necessário à sua educação, quando menor" (BRASIL, 2002).
Temos dois fundamentos para pedir alimentos, que se
fundamentam:
• na solidariedade familiar, que um parente tem em
relação ao outro, independentemente da filiação;
• no dever de sustento dos pais em relação aos filhos;
esse dever decorre do poder familiar que os pais têm
em relação aos filhos.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 159


UNIDADE 4 –DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

Quando o dever de sustento dos pais em relação aos


filhos se extingue em virtude da maioridade, pode surgir o
dever de alimentos alicerçado no parentesco. Por esse dever,
os pais podem pedir alimentos aos filhos e os demais parentes
podem pedir alimentos um em relação aos outros, observado os
requisitos impostos pela lei.
É importante notar que o dever de alimentos dos pais
em relação aos filhos, em regra, vai até a maioridade, e o dever
baseado na solidariedade entre os parentes estende-se até a
extinção da necessidade.

A quem se pode pedir os alimentos em decorrência do


parentesco?
Vimos que os alimentos são devidos pelos pais em relação
aos filhos, com fundamento no poder familiar. Vimos também
que os parentes em necessidade podem pedir alimentos aos
parentes que se encontram em melhores condições financeiras,
baseados no dever de solidariedade.
Nesse sentido, vale evidenciar o que determina o artigo
1.700 do Código Civil: "A obrigação de prestar alimentos
transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art. 1.694”
(BRASIL, 2002).
Nesse caso, o parente em necessidade poderá pedir
alimentos em primeiro lugar ao cônjuge ou companheiro. Se estes
não tiverem condições, podem ser acionados os ascendentes, os
descendentes e os parentes colaterais, nesta ordem. Os parentes
em linha reta, que são os ascendentes e os descendentes, serão
sempre vinculados uns aos outros, sem limites. Na linha colateral,
estão obrigados os parentes até quarto grau.

160 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 4 – DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

Os bisavós, os avós, os pais, filhos e os netos são parentes


em linha reta. Já os irmãos, sobrinhos, primos, sobrinhos-netos
e tios-avós são parentes na linha colateral, também conhecida
como linha transversal.
Vale ressaltar que, em primeiro lugar, se deve pedir
alimentos aos ascendentes. Na falta destes, aos descendentes.
Não havendo descendentes, pode-se pedir aos parentes
colaterais. A ordem tem de ser seguida. Não é possível pedir
primeiro aos filhos, que são descendentes, se a pessoa tiver
ascendentes que são os pais, avós, bisavós com capacidade de
prestar alimentos.
Nesse sentido, veja o que determina o artigo 1.698 do
Código Civil:
Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não
estiver em condições de suportar totalmente o encargo, serão
chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as
pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer
na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra
uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide
(BRASIL, 2002).

No parentesco em linha reta não há limites de graus, ou


seja, todos são considerados parentes infinitamente, até o fim
da existência. Já na linha colateral, há limitação.
Vimos que o pai é o tronco comum, considerado parente
de primeiro grau. Os irmãos são parentes colaterais de segundo
grau. Os sobrinhos, filhos dos irmãos, são de terceiro grau. E os
primos são parentes de 4º grau.
Todavia, a doutrina e a jurisprudência entende que, embora
os parentes de 3º e 4º estejam inclusive aptos a receber herança,
não são obrigados a prestar alimentos, cessando a obrigação
alimentar no segundo grau.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 161


UNIDADE 4 –DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

Revisão dos alimentos


Conforme determina o artigo 1.699 do Código Civil (BRASIL,
2002), se houver mudança na situação financeira de quem paga
os alimentos e de quem recebe, poderá ocorrer a revisão do
valor.

Alimentos gravídicos
Os alimentos gravídicos, embora já fossem considerados
pelos tribunais, foram regulamentados pela Lei n. 11.804/2008
(BRASIL, 2008). Referida lei dá direito à gestante obter os
valores correspondentes às despesas com o parto, alimentação,
assistência médica, entre outras. O objetivo da lei é garantir à
mulher uma gestação saudável.
A gestante pode pleitear os alimentos gravídicos desde a
concepção. Para tanto, não há necessidade de prova absoluta
da paternidade, mas sim de indícios de provas de paternidade,
como prova testemunhal ou outras demonstrações de que havia
um relacionamento amoroso entre a gestante e o suposto pai.
Após o nascimento da criança, os alimentos gravídicos
podem ser convertidos em pensão alimentícia.

Alimentos entre cônjuges e companheiros


Após a dissolução de alimentos, o dever de assistência antes
existido entre os cônjuges ou companheiros não desaparece e
pode ser convertido em obrigação alimentar de um em relação
ao outro, desde que comprovados os requisitos necessidade de
quem pleiteia e possibilidade de quem irá pagar alimentos.
O artigo 1.704 do Código Civil (BRASIL, 2002) afasta
a obrigação alimentar ao cônjuge declarado culpado pela

162 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 4 – DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

separação, com exceção se os alimentos forem necessários à


subsistência e o culpado não tiver meios próprios de suprir os
alimentos nem parentes em condição de prestá-los.

A proteção dos incapazes


Atualmente, temos três modos de proteger as pessoas
incapazes: a tutela, a curatela e a tomada de decisão apoiada.
Vamos ao estudo desses institutos.

A tutela
É uma forma de proteção do menor incapaz que não está
sob o poder familiar, em que se confere a um terceiro os poderes
necessários para tanto. Os menores, em caso de falecimento
dos pais ou em caso de os pais perderem o poder familiar, são
colocados sob tutela. Está regulada no Código Civil, nos artigos
de 1.728 a 1.766 (BRASIL, 2002).
A tutela pode ser legítima, quando a lei define quem será
o tutor, ou testamentária, em que a nomeação do tutor é feita
pelos pais em testamento.
A ordem da tutela legítima é a seguinte, nos termos do
artigo 1.731 (BRASIL, 2002):
• os ascendentes, preferindo o de grau mais próximo ao
mais remoto;
• os irmãos ou os tios, sendo preferido o mais próximo
ao mais remoto e, no mesmo grau, o mais velho ao
mais moço.
O juiz, respeitando o interesse do menor, poderá não seguir
a ordem estabelecida na lei.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 163


UNIDADE 4 –DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

As obrigações do tutor são as seguintes: dirigir a educação


do menor, defendê-lo e prestar-lhe alimentos, podendo ainda
requerer ao juiz providências no sentido de corrigir o menor.
Cabe ainda ao tutor a administração dos bens do menor tutelado,
prestando contas.
A tutela termina quando o menor alcança a maioridade ou
no caso de emancipação.

Curatela
A curatela é a proteção de maiores incapazes. A incapacidade
dos maiores pode ocorrer, por exemplo, por enfermidade ou
doença mental. A curatela está regulada nos artigos de 1.767 a
1.783 (BRASIL, 2002).
O curador sempre será determinado judicialmente em
processo judicial de interdição.
A ação de interdição poderá ser promovida pelos pais,
tutor, cônjuge, parentes em linha reta ou colateral até o quarto
grau, excluído os afins, e pelo Ministério Público.
Aplica-se a curatela os dispositivos legais relativos à tutela.

Tomada de decisão apoiada


O artigo 1.783-A do Código Civil traz a definição da tomada
decisão apoiada como:
o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo
menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha
vínculos e que gozem de sua confiança, pra prestar-lhe apoio na
tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os
elementos e informações necessários para que possa exercer
sua capacidade. (BRASIL, 2002).

164 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 4 – DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

A tomada de decisão apoiada está prevista no Código Civil,


no artigo 1.783-A e seus parágrafos (BRASIL, 2002).
Os apoiadores terão a missão de apoiar o incapaz na
tomada de decisões. Nesse caso, não haverá a interdição total
de sua capacidade.
Os apoiadores deverão assinar um termo em que constem
os limites do apoio que será ofertado, bem como os compromissos
e o prazo de duração.

2.2. DIREITO DAS SUCESSÕES

O direito das sucessões regula a transmissão da herança da


pessoa falecida aos seus herdeiros legítimos ou testamentários.
A herança é o patrimônio que pertencia exclusivamente ao
falecido e que deve ser transferido aos herdeiros, excluindo-se a
meação pertencente ao cônjuge sobrevivente.
A transmissão da herança ocorre no momento da morte.
Isso significa que a sucessão do patrimônio pelo falecido aos
seus herdeiros ocorre no momento da morte.
São duas as espécies de sucessão:
• legítima;
• testamentária.

Sucessão legítima
A sucessão legítima deve ser feita de acordo com o que a lei
estipula. É o Código Civil que disciplina essa espécie de sucessão
nos artigos 1.829 a 1.856 (BRASIL, 2002).

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 165


UNIDADE 4 –DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

Ocorre a sucessão legítima quando o falecido não deixa


testamento. Nesse caso, a lei determina que o patrimônio
seja transmitido em sua totalidade aos herdeiros legítimos do
falecido.
Os herdeiros legítimos estão identificados no Código
Civil, no artigo 1.829. A ordem dos herdeiros legítimos prevista
no artigo 1.829 é denominada ordem de vocação hereditária
(BRASIL, 2002).
A ordem de vocação deve ser seguida sempre que um
falecido deixar herança a ser transmitida aos herdeiros, não
deixando testamento.
Na aplicação da ordem, o mais próximo exclui o mais
remoto. Isso significa que, se houver descendentes e ascendentes,
somente os descendentes receberão, pois se encontram em
primeiro lugar dentro da ordem estabelecida no Código Civil.
Ressalta-se que, em algumas situações, o próprio Código Civil
determina a concorrência no recebimento da herança dos
descendentes com o cônjuge, e deste com os ascendentes.
Dentro da ordem de vocação hereditária, estão os herdeiros
legítimos ou necessários. O Código Civil, no artigo 1.845 (BRASIL,
2002), identifica quem são os herdeiros legítimos ou necessários.
Vejamos:
• os descendentes (filhos, netos, bisnetos ...);
• os ascendentes (pai, avô, bisavô, ...);
• o cônjuge ou companheiro.
Os herdeiros legítimos ou necessários são aqueles que têm
direito a pelos menos metade da herança do falecido.

166 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 4 – DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

Portanto, podemos dizer que a herança do falecido divide-


se em duas partes: parte indisponível e parte disponível.
A parte indisponível, também denominada de legítima,
equivale a 50% da herança e deve ser transferida obrigatoriamente
aos herdeiros necessários, nos termos que determina o artigo
1.846 do Código Civil (BRASIL, 2002).
Já a outra metade, denominada de parte disponível, pode,
por meio de testamento, ser destinada livremente pelo falecido.
Se o falecido não deixar testamento, a parte disponível será
revertida aos herdeiros necessários. Se não houver herdeiros
necessários (descendentes, ascendentes e cônjuge), a herança
deverá ser atribuída aos parentes colaterais (tios, primos etc.).
Não havendo colaterais, a herança é considerada vacante/
jacente, podendo ser destinada ao Poder Público.

Representação
A representação foi tratada no Código Civil, nos artigos de
1.851 a 1.856 (BRASIL, 2002).
O artigo 1.851 do Código Civil determina que: "dá-se o
direito de representação, quando a lei chama certos parentes do
falecido a suceder em todos os direitos, em que ele sucederia,
se vivo fosse" (BRASIL, 2002). Como exemplo, podemos citar a
seguinte situação: Pedro, viúvo, faleceu em 20/09/2017. Ele teve
três filhos, André, Sebastião e Valter. Valter faleceu antes do pai,
deixando um filho, chamado de João.
Como Pedro não tem ascendentes, a herança deverá ser
recebida por seus filhos (descendentes), em partes iguais. O
filho de Valter, que é neto de Pedro, representará o pai morto,
herdando a quota-parte deste, que no caso é equivalente a 1/3
da herança.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 167


UNIDADE 4 –DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

Vale ressaltar que o direito de representação ocorre sempre


na linha reta descendente, mas nunca na ascendente (Código
Civil, artigo 1.852) (BRASIL, 2002). Portanto, somente os netos,
bisnetos de Pedro podem exercer direito de representação, já
que são seus descendentes. Os ascendentes (avô, bisavô etc.)
não possuem essa faculdade.

Sucessão testamentária
A sucessão testamentária está presente nos artigos de
1.857 a 1.990 do Código Civil (BRASIL, 2002). Temos a sucessão
testamentária quando o falecido indica em um testamento as
pessoas que devem receber a parte disponível de sua herança.
Testamento é um "contrato" solene, escrito e registrado
nos termos da lei, em que uma pessoa dispõe acerca de seus
bens e sobre atos de última vontade, para depois de sua morte.
Se existirem, porém, descendentes, ascendentes ou
cônjuge (herdeiros necessários), o testador só poderá dispor da
metade de seus bens, pois a outra metade pertence a eles.
A herança pode ser constituída de legados. Os legados
são bens individualizados que constituem a herança, atribuídos
a um ou a vários legatários. O legado pode ser atribuído
independentemente da qualidade de herdeiro.

Os indignos de suceder e a deserdação


Os herdeiros e os legatários que praticaram atos criminosos
ou ofensivos contra o falecido são considerados indignos de
receber sua herança, ou seja, são excluídos da sucessão.

168 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 4 – DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

As hipóteses de indignidade estão listadas no artigo 1.814


do Código Civil. São considerados indignos aqueles:
I – que houverem sido autores, coautores ou partícipes de
homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja
sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou
descendente;
II – que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da
herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu
cônjuge ou companheiro;
III – que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou
obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens
por última vontade. (BRASIL, 2002).

Os efeitos da exclusão são pessoais. Isso significa que os


descendentes do herdeiro excluído têm o direito de sucedê-lo,
como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão.
A deserdação também é uma forma de excluir da sucessão
os herdeiros necessários. A vontade de deserdar deve ser
manifestada no próprio testamento.
A deserdação é cabível nas mesmas hipóteses da
indignidade e quando o descendente praticar contra o ascendente
as seguintes condutas, previstas nos artigos de 1.961 a 1.965 do
Código Civil:
I – ofensa física
II – injúria grave
III – relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto
IV – desamparo do ascendente em alienação mental ou grave
enfermidade. (BRASIL, 2002).

Os descendentes também podem deserdar os ascendentes nas


mesmas hipóteses. O testador deve mencionar expressamente no testamento
a causa que gerou a deserdação.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 169


UNIDADE 4 –DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

Antes de realizar as questões autoavaliativas propostas


no Tópico 4, você deve fazer as leituras indicados no Tópico
3.2. Conteúdo Digital Integrador, a fim de aprofundar seus
conhecimentos sobre o tema Família e Sucessões.

Vídeo complementar ________________________________

Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar.


• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique na funcionalidade
Videoaulas, localizada na barra superior. Em seguida, selecione o
nível de seu curso (Graduação), a categoria (Disciplinar) e o tipo de
vídeo (Complementar). Por fim, clique no nome da disciplina para
abrir a lista de vídeos.
• Para assistir ao vídeo pelo seu CD, clique na funcionalidade “Vídeos”
e selecione: Direito Civil e Processual Civil – Vídeos Complementares
– Complementar 5.
__________________________________________________

3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição
necessária e indispensável para você compreender integralmente
os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. UNIÃO ESTÁVEL

Na leitura indicada a seguir, o autor aborda a união estável,


prevista no artigo 1723 e seguintes do Código Civil. Confira:
• GUILHERME, L. F. V. A. Manual de Direito Civil. Barueri:
Manole, 2016. (p. 122-125). (Biblioteca Digital Pearson).

170 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 4 – DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

3.2. DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

Os conteúdos a seguir apresentam informações


complementares sobre o direito de família e o direito das
sucessões. Vale a pena conferir, especialmente em virtude
da recente alteração de entendimento do Superior Tribunal
de Justiça, que equiparou os direitos dos companheiros e das
pessoas casadas.
• IBDFAM. STJ faz valer equiparação entre cônjuge e
companheiro em decisão por unanimidade. Disponível
em: <http://www.ibdfam.org.br/noticias/6394>.
Acesso em: 16 ago. 2018.
• FURTADO JR., R. T. DireitoNet. Exclusão da sucessão:
diferenças entre a indignidade e deserdação.
Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/
exibir/8710/Exclusao-da-sucessao-diferencas-entra-
indignidade-e-deserdacao>. Acesso em: 16 ago. 2018.
• MENIN, M. M. Da sucessão legítima. Disponível
em: <http://www.direitorp.usp.br/wp-content/
uploads/2014/11/artigo_marcia_maria_menin.pdf>.
Acesso em: 16 ago. 2018.
• SABER DIREITO. Direito de Família – Aula 1. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=axhMUtxLaB8>.
Acesso em: 18 set. 2018.
• SABER DIREITO. Sucessões – Teoria e Prática – Aula
1. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=FWxFwZfj_jY>. Acesso em: 18 set. 2018.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 171


UNIDADE 4 –DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos
estudados para sanar as suas dúvidas.
1) (OAB, 2011 – VI Exame Unificado): Paulo, maior e capaz, e Eliane, maior
e capaz, casaram-se pelo regime da comunhão parcial de bens no ano de
2004. Nessa ocasião, Paulo já havia herdado, em virtude do falecimento
de seus pais, um lote de ações na Bolsa de Valores, cujo montante
atualizado corresponde a R$ 50.000,00, sendo certo que Eliane, à época,
não possuía bens em seu patrimônio. No ano de 2005, nasceu João, filho
do casal. Em 2006, Paulo vendeu as ações que havia recebido e, com o
produto da venda, comprou um automóvel de igual valor. Em 2007, Paulo
foi contemplado com um prêmio de loteria no valor atualizado de R$
100.000,00, que se mantém depositado em conta bancária. Agora, no ano
de 2017, o casal pretende-se divorciar mediante a lavratura de escritura
pública. Sobre essa situação, responda:
a) Pode o casal divorciar-se no cartório, extrajudicialmente, por meio de
lavratura de escritura pública?
b) A respeito da partilha de bens em caso de divórcio do casal, qual(is)
bem(ns) deve(m) integrar o patrimônio de Eliane e qual(is) bem(ns)
deve(m) integrar o patrimônio de Paulo?

2) (OAB-SP – 130º Exame de Ordem): Quanto à sucessão colateral, é correto


afirmar que
a) deixando o falecido apenas um tio e um sobrinho, a herança se divide
ao meio.
b) a única hipótese de representação será em favor dos filhos de irmãos
do falecido.
c) não há distinção entre irmãos bilaterais ou unilaterais do falecido.
d) o Código prevê a concorrência entre o irmão do falecido e a viúva do
falecido.

172 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 4 – DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões
autoavaliativas propostas:
1) a) Não, de acordo com o artigo 733 do CPC (BRASIL, 2015). Isso porque os
cônjuges possuem um filho menor de idade, o que consiste em empecilho
legal à utilização da via extrajudicial para a decretação do divórcio.
b) Caberá a Eliane perceber metade do prêmio de loteria a título de
meação, na forma do artigo 1.660, inciso II, do CC (BRASIL, 2002). Paulo
terá direito ao automóvel, por ter sido adquirido com o produto da
herança (art. 1.659, inciso I, CC), e também à metade do prêmio de loteria
(artigo 1660, II, CC).

2) b.

5. CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final da quarta unidade, na qual você teve a
oportunidade de compreender os conceitos e os aspectos gerais
sobre o direito de família e sucessões, esgotando o direito civil.
Na próxima unidade, iniciaremos a análise do direito
processual civil. Até lá!

6. E-REFERÊNCIAS
BRANDÃO, D. V. C. BuscaLegis. Casamento putativo: um estudo baseado no novo Código
Civil. Disponível em: <http://egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/9409-
9408-1-PB.pdf>. Acesso em: 16 ago. 2018.
BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 5 out. 1988.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
htm>. Acesso em: 16 ago. 2018.
______. Presidência da República. Emenda Constitucional n. 66, de 13 de julho de
2010. Dá nova redação ao § 6º do art. 226 da Constituição Federal, que dispõe sobre

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 173


UNIDADE 4 –DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

a dissolubilidade do casamento civil pelo divórcio, suprimindo o requisito de prévia


separação judicial por mais de 1 (um) ano ou de comprovada separação de fato por
mais de 2 (dois) anos. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF,
5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/
Emendas/Emc/emc66.htm>. Acesso em: 16 ago. 2018.
_____. Presidência da República. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre
o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm>. Acesso em: 16 ago. 2018
______. Presidência da República. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui
o Código Civil. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 10 jan.
2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm>.
Acesso em: 16 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 11.804, de 5 de novembro de 2008. Disciplina
o direito a alimentos gravídicos e a forma como ele será exercido e dá outras
providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 5 nov.
2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/
Lei/L11804.htm>. Acesso em: 16 ago. 2018.
______. Presidência da República. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de
Processo Civil. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 16 mar.
2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivIl_03/_Ato2015-2018/2015/
Lei/L13105.htm>. Acesso em: 16 ago. 2018.
______. Supremo Tribunal de Justiça. Recurso Especial: Resp 1183378 – RS
(2010/0036663-8) da 4ª turma do Superior Tribunal de Justiça, Brasília, DF, 01 de
fevereiro de 2012 – Rel. Ministro Luís Felipe Salomão. Disponível em: <https://stj.
jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21285514/recurso-especial-resp-1183378-rs-2010-
0036663-8-stj>. Acesso em: 16 ago. 2018.
CARVALHO NETO, I. Revista Justitia. A morte presumida como causa de dissolução do
casamento. Disponível em: <http://www.revistajustitia.com.br/artigos/b06xc3.pdf>.
Acesso em: 16 ago. 2018.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MACHADO, C. (Org.); CHINELLATO, S. J. (Coord.). Código civil interpretado: artigo
por artigo, parágrafo por parágrafo. 9. ed. Barueri: Manole, 2016. (Biblioteca Digital
Pearson).
PELUSO, C. Código civil comentado: doutrina e jurisprudência. 9. ed. rev. atual. Barueri:
Manole, 2015. (Biblioteca Digital Pearson).

174 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 5
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Objetivos
• Conceituar o Direito Processual.
• Explicar jurisdição, processo e ação.
• Entender a formação, suspensão e extinção do processo.
• Compreender o processo de conhecimento e a fase de cumprimento de
sentença.
• Identificar as tutelas provisórias.
• Identificar os procedimentos especiais.
• Compreender a execução e seus aspectos.
• Identificar os recursos e seus principais aspectos.

Conteúdo
• Jurisdição e ação.
• Processo de conhecimento e a fase de cumprimento de sentença.
• Tutelas provisórias.
• Formação, suspensão e extinção do processo.
• Procedimentos especiais.
• Execução.
• Recursos.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

175
UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

1) Não se limite a este conteúdo; busque outras informações em sites


confiáveis e/ou nas referências bibliográficas, apresentadas ao final de
cada unidade. Lembre-se de que, na modalidade EaD, o engajamento
pessoal é um fator determinante para o seu crescimento intelectual.

2) Busque identificar os principais conceitos apresentados; siga a linha


gradativa dos assuntos até poder observar a evolução do estudo.

3) Não deixe de recorrer aos materiais complementares descritos no


Conteúdo Digital Integrador.

4) Nesta unidade, é importante que você tenha em mãos o Código de


Processo Civil (Lei n. 13.105/2015) (BRASIL, 2002). No site da Presidência
da República (www2.planalto.gov.br), clique em legislação. Após, clique
em Códigos. Na lista dos códigos disponíveis, você encontrará o Código
de Processo Civil. É só clicar e você terá a íntegra do documento, podendo
consultar todos os artigos mencionados nesta unidade.

5) Além dos artigos mencionados expressamente no material, consulte todo


o material mencionado nas referências correspondentes a essa unidade.

176 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

1. INTRODUÇÃO
Nesta quinta e última unidade, verificaremos o Direito
Processual Civil e seus principais elementos, como as partes, a
ação e a jurisdição. Analisaremos o procedimento comum e o
cumprimento de sentença, os procedimentos especiais previstos
no Código de Processo Civil (CPC) e o processo de execução.
Estudaremos, por fim, as tutelas provisórias e os recursos. Vamos
lá?

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de
forma sucinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua
compreensão integral, é necessário o aprofundamento pelo
estudo do Conteúdo Digital Integrador.

2.1. DIREITO PROCESSUAL CIVIL

As regras referentes ao direito processual civil encontram-


se no Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015). O Código de
Processo Civil traz as regras referentes à solução de demandas
cíveis.
O processo civil é formado por uma relação composta
pelos seguintes sujeitos:
• Autor – que é quem propõe a ação judicial.
• Réu – que é a pessoa contra quem a ação judicial é
proposta.
• Juiz – pessoa designada a solucionar o conflito
estabelecido, respeitadas as regras de competência.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 177


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Toda vez que há violação de um direito nasce a possibilidade


de pleitear sua efetivação perante o Poder Judiciário. Assim, se,
por exemplo, num contrato de compra e venda o comprador
não pagar o preço pela coisa adquirida, ele estará violando o
direito do vendedor de receber o preço. Nesse caso, diante da
violação mencionada, o comprador poderá pleitear as perdas e
danos junto ao Poder Judiciário. A ação proposta deverá seguir o
procedimento estabelecido no Código de Processo Civil.
No Processo Civil, como já vimos anteriormente, a parte
que propõe ação judicial é chamada de autora ou requerente.
Já aquele contra quem é proposta a ação é chamada de réu ou
requerido.
O autor faz um pedido para que o Juiz reconheça um direito
que ele entende possuir em relação ao réu. O réu se defende,
alegando, em regra, os fundamentos que demonstram que o
autor não tem ao direito que alega. O Juiz, ao final do processo,
proferirá a sentença, acolhendo ou não o pedido do autor.
Após a sentença, existe a possibilidade de recurso, que
deve ser endereçado ao Tribunal competente (2ª instância),
no prazo de 15 dias. O Tribunal aprecia todas as questões
novamente e pode manter a sentença proferida (improvimento
do recurso) ou modificá-la (provimento do recurso). Existe
também o provimento parcial do recurso, ou seja, quando se
acata parcialmente os pedidos recursais.
Quando não houver mais possibilidade de recorrer, a
decisão transitará em julgado. Com o trânsito em julgado, a
parte que perdeu a ação deve cumprir o que foi determinado na
sentença.

178 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Para conceituar a divisão do processo civil, inicialmente,


trabalharemos com os conceitos de jurisdição, processo e ação.

Antes de realizar as questões autoavaliativas propostas


no Tópico 4, você deve fazer a leitura indicada no Tópico 3.4.
Conteúdo Digital Integrador, para compreender mais sobre
mudanças advindas da Reforma do CPC, em 2015.

Jurisdição
O Estado tem três poderes, quais sejam: o Poder Executivo,
o Poder Legislativo e o Poder Judiciário. A função jurisdicional
cabe ao Poder Judiciário. Podemos entender como jurisdição a
função que o Estado tem de solucionar conflitos e aplicar a lei.
A jurisdição pode ser contenciosa ou voluntária. Na
contenciosa busca-se a composição de um litígio e na voluntária
o objetivo é a integração das partes envolvidas.
A Constituição Federal fixa a jurisdição material da seguinte
forma:
• Jurisdição Comum, que inclui a Justiça Federal e Justiça
Estadual
• Jurisdição Especial, que inclui a Justiça do Trabalho, a
Justiça Eleitoral e a Justiça Militar.

Processo
O processo é um conjunto de atos praticados de forma
ordenada no exercício da função jurisdicional. Os atos de um
processo são chamados de procedimento ou rito e podem ser
entendidos como o caminho que deverá ser percorrido pelos

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 179


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

sujeitos processuais. Os sujeitos do processo são o autor, o


réu e o juiz. O novo CPC fez apenas a divisão entre processo de
conhecimento e processo de execução.

Ação
Podemos definir ação processual como um instrumento
que traduz o agir da pessoa que entende que teve um direito
lesado e quer, por meio do Poder Judiciário, restaurar esse
direito. Esse instrumento chama-se ação.
O nosso Código de Processo Civil adotou a teoria de
Liebmam para definir ação. "Para Liebman, a Ação, como direito
de provocar a Jurisdição, deve ser tida como o direito de provocar
o julgamento do pedido, ou seja, a decisão sobre a lide, ou a
análise do mérito" (BEDUSCHI, p. 8)
Analisados os conceitos de jurisdição, processo e ação,
identificaremos, a partir de agora, os atos correspondentes a
cada sujeito processual. Assim, veremos quais podem ser os atos
das partes, os atos do juiz e os atos dos auxiliares da justiça.

Atos das partes


Conforme já estudado na Unidade 1, quando se trata do
Direito Civil, especificamente ao analisar os negócios jurídicos,
as partes podem, por meio de manifestação de vontade, criar,
modificar, resguardar e extinguir direitos. Isso se aplica também
ao processo, uma vez que, por meio de pedidos, as partes
podem requerer a efetivação de direitos fundamentados em
fatos jurídicos.

180 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Atos do Juiz
No processo civil o Juiz decidirá por meio de sentenças,
decisões interlocutórias e despachos.

Atos dos auxiliares da justiça


Cabe aos auxiliares da justiça dar andamento ao processo,
nos termos do que for decidido pelo Juiz e pedido pelas partes.
Bom, vistas essas informações, daremos continuidade no
estudo da formação suspensão e extinção do processo.

2.2. FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO

O processo se inicia com a propositura da ação, o que


ocorre por meio da distribuição da petição inicial. Nos termos do
artigo 312 do Código de Processo Civil:
Considera-se proposta a ação quando a petição inicial for
protocolada, todavia, a propositura da ação só produz quanto
ao réu os efeitos mencionados no art. 240 depois que for
validamente citado (BRASIL, 2018).

A petição inicial é o pedido inicial feito pelo autor. Na petição


o autor deve indicar qual a sua pretensão e os fundamentos de
fato e de direito que justificam seu pedido.
Proposta a ação, o juiz fará uma primeira análise do
pedido do autor, verificando se está formalmente em ordem.
Neste momento, o juiz pode indeferir o pedido inicial do
autor, se entender que ele não foi feito de modo adequado; se
a inadequação não for tão grave, o juiz pode mandar o autor
emendar (corrigir/adequar) o pedido inicial.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 181


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Se estiver tudo em ordem, o Juiz determina a citação


do réu, para que este tome conhecimento dos fatos alegados,
conferindo-lhe a oportunidade de apresentar a defesa. Realizada
a defesa, o Juiz fará uma nova análise do processo. Nesta análise
o Juiz poderá:
1) Extinguir o processo, sem resolver o mérito da questão,
caso esteja ausente um pressuposto processual ou
uma condição da ação ou outro motivo previsto em lei.
2) Julgar antecipadamente o mérito, o que pode ocorrer
se o juiz entender que já tem elementos suficientes
para proceder ao julgamento ou quando o réu for
revel.
3) Se o Juiz ao analisar o processo verificar que precisa
de outros elementos de prova para julgá-lo, ele deve
marcar audiência de instrução e julgamento, onde será
facultado as partes produzirem outras provas, como,
por exemplo, a prova testemunhal.
4) O Juiz pode antecipar parcialmente o julgamento do
mérito quando um ou mais pedidos formulados pelo
autor se mostrar incontroverso e puder imediatamente
ser analisado.
Após colher as provas na audiência de instrução, que podem
ser provas testemunhais, depoimento pessoal, oitiva de peritos
etc., o juiz deve abrir prazo para as partes se manifestarem em
alegações finais.
Realizadas as alegações finais, o juiz deve proferir a
sentença. Sentença é o ato pelo qual o juiz coloca fim ao processo,
analisando o mérito da questão. Proferida a sentença que julgou
o mérito, a parte vencida pode recorrer através do Recurso de
Apelação.

182 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

As causas de suspensão do processo estão no artigo 313


a 315 do Código de Processo Civil. Como suspensão podemos
entender a paralização da tramitação do processo por um
determinado tempo, até o desaparecimento da causa que gerou
a suspensão.
Já a extinção do processo ocorre com o seu encerramento.
O juiz pode extinguir um processo com julgamento de
mérito, isto é, solucionando a causa, dando ou não razão ao
autor da demanda. Se der razão, a ação será procedente e se
não der, será improcedente. Pode ocorrer de o juiz entender que
o autor tem parte do direito que postula. Nesse caso, a sentença
será parcialmente procedente.
Quando houver um defeito na forma intransponível, o juiz
também poderá decretar a extinção do processo. Entretanto,
nesse caso, o problema ocorrido se deu com relação a defeito na
forma e, por esse motivo, o juiz fica impedido de julgar o mérito
do processo, ou seja, não haverá avaliação do direito.
Como exemplo de extinção por ausência de formalidade
temos a ausência do recolhimento de custas processuais
obrigatórias, a ausência de andamento ao processo, entre
outras. No artigo 485 do CPC estão as causas de julgamento
sem resolução do mérito. Já no artigo 487 estão as causas de
resolução com julgamento do mérito.

2.3. PROCESSO DE CONHECIMENTO

O processo de conhecimento divide-se em procedimento


comum e cumprimento de sentença.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 183


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

O processo comum tem a finalidade de analisar os fatos


trazidos pelas partes, juntamente com as provas produzidas
para, ao final, dizer o direito, ou seja, julgar se o pedido do autor
é procedente ou improcedente, ou seja, se o autor tem razão ou
não. Nos itens abaixo analisaremos as fases e itens que compõem
o processo comum.

Petição inicial
O procedimento comum inicia-se com a petição inicial.
Protocolada a inicial e estando o processo formalmente em ordem,
o juiz determina a intimação do réu para o comparecimento na
audiência de conciliação prevista no artigo 319 do CPC, se houve
solicitação do autor nesse sentido, bem como a citação dos fatos
contra ele aduzidos.
Não havendo solicitação da audiência de conciliação pelo
autor ou se não houver acordo, inicia-se o prazo de apresentação
de defesa pelo réu. Após a apresentação de defesa, se não houver
determinação de efetivação da réplica, o juiz saneará o processo,
designando audiência de instrução e julgamento. Pode ser que
o juiz se sinta apto a efetuar o julgamento por entender que já
existe no processo provas suficientes para tanto.

Antes de realizar as questões autoavaliativas propostas


no Tópico 4, você deve fazer a leitura indicada no Tópico 3.3.
Conteúdo Digital Integrador, para conhecer mais sobre a
audiência de conciliação.

184 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

A defesa do réu
O réu pode apresentar sua defesa alegando problemas
formais em relação ao processo, pedindo que o juiz extinga o
processo sem analisar o direito do autor. Nesse caso, antes de
tratar sobre o direito pleiteado pelo autor, o réu atacará aspectos
formais, ou seja, o tipo de ação proposta ou algum problema
formal em relação ao processo.

Saneamento do processo
O saneamento do processo é uma decisão proferida
pelo juiz após a defesa e quando o processo não é extinto sem
julgamento do mérito por não haver irregularidades formas.
Por meio dessa decisão o juiz determina as correções que
forem necessárias e especifica o que ainda depende de prova.
O artigo 357 do CPC trata do saneamento:
Art. 357. Não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste Capítulo,
deverá o juiz, em decisão de saneamento e de organização do
processo:
I - resolver as questões processuais pendentes, se houver;
II - delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade
probatória, especificando os meios de prova admitidos;
III - definir a distribuição do ônus da prova, observado o art. 373;
IV - delimitar as questões de direito relevantes para a decisão do
mérito;
V - designar, se necessário, audiência de instrução e julgamento
(BRASIL, 2015).

A seguir, continuaremos a análise do processo de


conhecimento, analisando a audiência de instrução e julgamento.
Confira.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 185


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Audiência de instrução e julgamento


A audiência de instrução e julgamento está prevista nos
artigos 358 a 368 do CPC. Trata-se de ato solene, presidido pelo
juiz para a produção de provas.
A ordem da produção de prova oral está no artigo 361 do
CPC.

Alegações finais
No final da instrução, nos termos do artigo 364:
[...] o juiz dará a palavra ao advogado do autor e do réu, bem
como ao membro do Ministério Público, se for o caso de sua
intervenção, sucessivamente, pelo prazo de 20 (vinte) minutos
para cada um, prorrogável por 10 (dez) minutos, a critério do juiz
(BRASIL, 2015).

Essa participação, em que as partes devem tratar das


provas produzidas em audiência, denomina-se alegações finais.

Sentença
Nos termos do artigo 366 do CPC, após a apresentação das
alegações finais, o juiz deverá decidir o processo. A decisão de 1º
grau é chamada de sentença. Trata-se da decisão que resolve o
processo.

Antes de realizar as questões autoavaliativas propostas


no Tópico 4, você deve fazer a leitura indicada no Tópico
3.1. Conteúdo Digital Integrador, que tratam sobre a
fase do Cumprimento de Sentença, para aprofundar seus
conhecimento. Confira!

186 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

2.4. RECURSOS

No processo civil, são cabíveis os seguintes recursos:


apelação, agravo de instrumento, agravo interno, embargos
de declaração, recurso ordinário, recurso especial, recurso
extraordinário, agravo em recurso especial ou extraordinário e
embargos de divergência. Em regra, os prazos de interposição
dos recursos são de 15 dias.
Em primeira instância, cabe apelação das sentenças, agravo
de instrumento das decisões interlocutórias e embargos de
declaração em relação a sentença e as decisões interlocutórias.

Apelação
Cabe apelação da sentença. Os artigos que tratam da
apelação são os seguintes: 1.009 a 1.014 do CPC.

Agravo de instrumento
Cabe o agravo de instrumento em relação as decisões
interlocutórias, que são as decisões proferidas antes da sentença.
Está regulado nos artigos 1.015 a 1.020.

Embargos de declaração
Cabe embargos de declaração quando a decisão proferida
apresenta omissões, contradições ou obscuridade. A previsão está
nos artigos 1.022 a 1.026 do CPC. O prazo desse recurso é de 5 dias.

Recurso Ordinário
As hipóteses de cabimento do recurso ordinário estão no
artigo 1.027 do CPC.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 187


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Agravo interno
Cabe agravo interno de decisões proferidas pelo relator,
dirigido para o órgão colegiado, nos termos do artigo 1.021 do
CPC.

Recurso Especial e Recurso Extraordinário


São recursos que objetivam, em geral, respectivamente, a
defesa da lei infraconstitucional e a defesa do texto constitucional.
O recurso especial é julgado pelo Superior Tribunal de Justiça e
o Recurso Extraordinário pelo Supremo Tribunal Federal. Estão
previstos nos artigos 1.029 a 1.041.

Agravo em recurso especial ou recurso extraordinário


O agravo em recurso especial e o agravo em recurso
extraordinário estão previsto no artigo 994 do CPC e são cabíveis
das decisões que não admitem recurso especial e recurso
extraordinário.

Embargos de divergência
Cabe embargos de divergência de acórdão de órgão
fracionado que, em recurso extraordinário ou especial quando
houver divergência na decisão proferida, nos atermos do artigo
1.043 do CPC.
Bom, vistos esses conceitos, iniciaremos, agora, o estudo
das tutelas provisórias.

188 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

2.5. TUTELAS PROVISÓRIAS

As tutelas podem ser entendidas como uma antecipação


da decisão que poderá ser tomada pelo juiz ao final do processo,
de maneira provisória. São concedidas por meio de liminar.
São dois os tipos de tutelas provisórias:
• Tutela de urgência, que pode ser cautelar ou antecipada.
• Tutela de evidência.

Tutela de urgência
A tutela de urgência também pode ser entendida como
uma providência de urgência requerida por uma das partes ao
juiz. Cabe esse pedido quando, nos termos do artigo 300 do CPC:
• Estiver evidente a probabilidade da existência do direito
pleiteado.
• Houver perigo de dano ou risco ao resultado útil do
processo.
Quando a urgência ocorrer no momento da propositura da
petição inicial, a tutela a ser usada é a antecipada. Já quando há
necessidade de requerimento cautelar, antes da petição inicial, a
tutela será a cautelar.

Tutela de evidência
Conforme prevê o artigo 311 do CPC, a tutela de evidência
é cabível independente da demonstração do perigo de dano ou
resultado útil ao processo, nas seguintes hipóteses:
I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto
propósito protelatório da parte;

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 189


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas


documentalmente e houver tese firmada em julgamento de
casos repetitivos ou em súmula vinculante;
III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova
documental adequada do contrato de depósito, caso em que
será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob
cominação de multa;
IV - a petição inicial for instruída com prova documental
suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu
não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável.
Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o juiz poderá
decidir liminarmente. (BRASIL, 2015, CPC, art. 311).

Observa-se que a tutela de evidência para ser concedida


está vinculada a demonstração do direito pleiteado.
Após o estudo das tutelas, passaremos a analisar os
procedimentos especiais, ou seja, ações com procedimentos
diferentes do comum. Vamos lá!

Antes de realizar as questões autoavaliativas propostas


no Tópico 4, você deve fazer a leitura indicada no Tópico 3.2.
Conteúdo Digital Integrador, sobre as decisões liminares, para
aprofundar seu conhecimento sobre o tema.

2.6. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

Neste tópico faremos a análise dos principais procedimentos


especiais previstos no CPC.
Como vimos, o procedimento comum é a regra e pode ser
usado para a demonstração de um direito. Existem situações em

190 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

que o legislador, dependendo do que a parte quer, disciplina de


forma específica o procedimento para que ela atinja seu objetivo,
de maneira mais simplificada, sem ter que passar por todas as
fases do procedimento comum.
A seguir, veremos as ações de procedimentos especiais
mais comuns.

Ação de exibição de contas


Quando uma pessoa administra os bens de outra, deverá
prestar contas. Isso poderá ser feito por meio da ação de exibição
de contas. Trata-se de procedimento dividido em duas fases. Na
primeira o juiz analisará se a obrigação de exibir contas é cabível
e na segunda a análise recairá sobre as contas exibidas. Está nos
artigos 550 a 553 do CPC.

Ação de consignação em pagamento


É a ação que pode ser proposta pelo devedor quando o
credor se recusa a receber o pagamento. O devedor deposita o
valor ou a coisa devida que entende devido e pede ao juiz que
o libere do pagamento. Assim como em toda e qualquer ação,
o devedor será citado para se manifestar a respeito dos fatos
narrados pelo devedor, o autor da ação.
No CPC esta ação está prevista nos artigos 539 a 549.

Ações possessórias
As ações possessórias têm como objetivo proteger a posse.
Temos as seguintes ações possessórias:
• Reintegração de posse: quando no caso de esbulho, ou
seja, quando ocorrer a perda da posse.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 191


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

• Manutenção de posse: cabível quando houver turbação


da posse, ou seja, quando aparecer algum impedimento
ao exercício pleno da posse.
• Interdito proibitório: pode ser proposto sempre quando
houver uma ameaça a posse, de esbulho ou de turbação.
As ações possessórias são cabíveis desde que o esbulho, o
impedimento ou a ameaça tenha ocorrido a menos de um ano.
Se a ação for proposta após um ano e um dia, não será cabível
ação possessória, devendo o procedimento seguir o rito comum.
As possessórias estão disciplinadas nos artigos 554 a 568 do CPC.

Ação de Inventário
A ação de inventário deve ser proposta pelos sucessores do
falecido para formalizar a transferência dos bens por ele deixados.
O objeto do inventário é a partilha de bens entre os sucessores,
devendo ser efetivada por meio do formal de partilha.
Quando todos os sucessores forem maiores e capazes,
o inventário pode ser feito na forma de arrolamento sumário.
O arrolamento sumário é uma forma mais simplificada do
inventário.
Agora, se houver sucessores incapazes e o falecido tiver
deixado testamento, não se pode usar a forma do arrolamento
sumário. Nesse caso, a forma a ser seguida é a prevista para o
inventário, sem a simplificação do arrolamento sumário.
O procedimento para o inventário está no CPC, nos artigos
610 a 658. Já o arrolamento está nos artigos 659 a 667 do CPC.
Na sequência o legislador traz dispositivos aplicáveis tanto
ao inventário como a partilha (artigos 668 a 673).

192 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Se os herdeiros forem maiores e capazes, o inventário,


na forma de arrolamento sumário poderá ser feito
extrajudicialmente.
Tem legitimidade para requerer a abertura do inventário
o cônjuge ou companheiro do falecido, o herdeiro, o legatário,
o testamenteiro, o cessionário o herdeiro do legatário, o credor
de um dos herdeiros, do legatário ou do autor da herança,
o administrador judicial do herdeiro, do legatário, do autor
da herança ou do cônjuge ou companheiro do supérstite, o
ministério público se houver interesse de incapazes envolvidos e
a fazenda pública se houver interesse.

Embargos de terceiro
Se alguém sofrer constrição ou ameaça de constrição
em um bem que lhe pertence, poderá propor judicialmente os
Embargos de Terceiro.
Se alguém adquire um automóvel e não formaliza a
transferência e por conta de dívidas do vendedor sofrer penhora
no automóvel, poderá entrar com embargos de terceiro para
mostrar que adquiriu o bem regularmente, demonstrando a boa-
fé e a ausência de fraude contra terceiros.
Os embargos de terceiro vêm regulado nos artigos 674 a
681 do CPC.
O próprio legislador definiu os embargos de terceiro no
artigo 674:
Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça
de constrição sobre bens que possua ou sobre os quais tenha
direito incompatível com o ato constritivo, poderá requerer seu
desfazimento ou sua inibição por meio de embargos de terceiro
(BRASIL, 2015).

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 193


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Ação monitória
Segundo o artigo 700 do CPC,
[A] ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar,
com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, ter
direito de exigir do devedor capaz:
I - o pagamento de quantia em dinheiro;
II - a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou
imóvel;
III - o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer
(BRASIL, 2015).

Quando o credor não tem um título executivo apto a entrar


com ação de execução, mas tem prova escrita apta a comprovar
o crédito, ele poderá propor ação monitória.
A questão aqui é entender a diferença entre a ação
monitória e a ação executiva que veremos a seguir.

Ação Monitória e Ação Executiva: diferença


A ação executiva, em tese, tem um procedimento mais
enxuto que proporciona maior rapidez no recebimento do
crédito. Por isso que só pode lançar mão da ação executiva quem
tem um título de crédito.
Títulos de crédito, conforme você estudará em disciplina
relacionada a Direito Empresarial, é aquele que possui certeza
e liquidez quanto ao valor nele constante. Por esse motivo, não
há necessidade do credor discutir a origem do crédito, podendo
executar a dívida consubstanciada no título desde logo.
Entretanto, quando não se possui um título de crédito, mas
há uma prova escrita dele, pode-se postular o recebimento via
ação monitória.

194 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Agora, se há um crédito, mas não há uma prova escrita,


deve-se demonstrar a sua existência e origem lícita para poder
cobrá-lo.
O procedimento da ação monitória está no CPC, nos artigos
700 a 702.
Essas são as principais ações de procedimento especial
prevista no CPC. É importante ressaltar que no novo Código de
Processo Civil não há mais um livro destinado aos procedimentos
especiais como no código anterior. Todavia, as ações de
procedimentos especiais continuam existindo.
Além das que estudamos, existem outras ações previstas
no CPC com rito especial, como por exemplo, a ação de
demarcação de terras particulares, regulada nos artigos 569 a
573 e ação de dissolução parcial de sociedade, nos artigos 599 a
609. Recomendamos a leitura de tais procedimentos.
Agora, passaremos ao estudo do processo de execução.

2.7. AÇÃO DE EXECUÇÃO

No Código de Processo Civil, o processo de execução


vem logo após o processo de conhecimento e cumprimento de
sentença, no livro que trata da parte especial.
É importante lembrar a você, aluno, que o Código de
Processo Civil, assim como o Código Civil é dividido em livros.
A execução está indicada no livro que trata da Parte Especial.
Ela pode ter como objeto um título executivo extrajudicial, como
um título de crédito. Por exemplo, um contrato escrito, desde
que preenchidos os requisitos para que seja considerado um

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 195


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

título executivo. Também é possível se executar uma sentença


judicial, o que chamamos de cumprimento de sentença.
O objeto do nosso estudo é a execução dos títulos
extrajudiciais.
Sobre os procedimentos executórios, dispõe o artigo 771
do Código Civil:
Este Livro regula o procedimento da execução fundada em
título extrajudicial, e suas disposições aplicam-se, também, no
que couber, aos procedimentos especiais de execução, aos atos
executivos realizados no procedimento de cumprimento de
sentença, bem como aos efeitos de atos ou fatos processuais a
que a lei atribuir força executiva (BRASIL, 2015).

Os títulos executivos extrajudiciais estão identificados no


artigo 784 do CPC.
Se o devedor não pagar o título executivo no vencimento,
o credor poderá valer-se da ação executiva.
O devedor, que na ação de execução é chamado de
executado, responderá com todos os seus bens, presentes e
futuros. Eis o teor do artigo 789 nesse sentido: “O devedor
responde com todos os seus bens presentes e futuros para
o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições
estabelecidas em lei” (BRASIL, 2015).
A alienação de bens pelo devedor, após propositura da ação
de execução, para tirar bens do seu patrimônio com objetivo de
impedir a penhora, poderá responder por fraude à execução.
Nesse sentido, o artigo 792 do CPC traz as situações que
são consideradas fraude à execução.
Uma vez configurada a fraude à execução, a alienação
considerada fraudulenta é decretada ineficaz pelo juiz. Antes

196 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

de decretar essa fraude, o juiz deve se dar oportunidade para o


adquirente do bem se manifestar, opondo, inclusive, embargos
de terceiro.
Temos diversas espécies de execução previstas no CPC,
quais sejam:
a) Execução para a entrega de coisa (CPC, artigos 806 a
813).
b) Execução das obrigações de fazer e não fazer (CPC,
artigos 814 a 823).
c) Execução por quantia certa (CPC, artigos 824 a 909).
d) Execução contra a Fazenda Pública (CPC, artigo 910).
e) Execução de alimentos (CPC, artigos 911 a 913).
Vimos até agora como o credor com um título que expressa
uma obrigação líquida e certa pode cobrar seu crédito.
Agora veremos como o devedor pode se defender. O
instrumento processual para a defesa do devedor são os
Embargos de Devedor, também conhecidos como Embargos à
Execução.

Embargos de devedor
Os embargos do devedor são um meio de defesa dos que
constam como devedores ou responsáveis pelos pagamentos
nos títulos de créditos.
O artigo 914 do Código de Processo Civil determina:
"O executado, independentemente de penhora, depósito ou
caução, poderá se opor à execução por meio de embargos"
(BRASIL, 2015).

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 197


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Nos embargos, pode o devedor alegar as matérias de


defesas previstas no artigo 917 do CPC.
Ao invés de se defender, pode o devedor reconhecer a
dívida e requerer o pagamento de forma parcelada, conforme
oportuniza o artigo 916:
No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do exequente
e comprovando o depósito de trinta por cento do valor em
execução, acrescido de custas e de honorários de advogado,
o executado poderá requerer que lhe seja permitido pagar o
restante em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de correção
monetária e de juros de um por cento ao mês (BRASIL, 2015).

Se os embargos forem opostos o juiz deverá apreciá-los,


podendo rejeitá-los liminarmente ou recebe-los, determinando
a citação do embargado, para apresentar a defesa. Poderá
ser marcada audiência de instrução e o juiz deverá decidir os
embargos. As hipóteses de suspensão e extinção da execução
em virtude dos embargos estão elencadas nos artigos 921 a 925
do Código de Processo Civil.

Vídeo complementar ________________________________

Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar.


• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique na funcionalidade
Videoaulas, localizada na barra superior. Em seguida, selecione o
nível de seu curso (Graduação), a categoria (Disciplinar) e o tipo de
vídeo (Complementar). Por fim, clique no nome da disciplina para
abrir a lista de vídeos.
• Para assistir ao vídeo pelo seu CD, clique na funcionalidade “Vídeos”
e selecione: Direito Civil e Processual Civil – Vídeos Complementares
– Complementar 6.
__________________________________________________

198 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


Os conteúdos a seguir apresentam informações importantes
sobre o novo Código de Processo Civil.

3.1. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Na leitura indicada a seguir, você verá a fase de cumprimento


de sentença, utilizada para concretizar o que foi determinado
pelo juiz na sentença. Acesse:
• VEZZONI, M. Direito processual civil. 2. ed. atual.
Barueri: Manole, 2016 [Coleção Sucesso Concursos
Público e OAB/José Roberto Neves Amorim (Coord.)].
(p. 122-125). (Biblioteca Digital Pearson).

3.2. DECISÕES LIMINARES

Na sequência temos uma explicação sobre as tutelas,


que são concedidas por meio de liminares e têm como objetivo
adiantar o resultado que se busca com o processo.
Por exemplo, se quero como resultado final a
regulamentação de visitas, posso pedir antecipadamente que o
juiz me conceda esse direito, mesmo antes do processo se findar.
Confira:
• LUPETTI, B. Como diferenciar as tutelas de urgência e da
evidência no novo CPC. Disponível em: <https://www.
conjur.com.br/2016-fev-03/barbara-lupetti-tutelas-
urgencia-evidencia-cpc>. Acesso em: 22 ago. 2018.

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 199


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

3.3. AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO

Você também poderá compreender mais sobre a


possibilidade da marcação de juiz de uma audiência de conciliação,
que pode ser conduzida por conciliadores especialistas nas
situações apresentadas.
• PETRARCA, C. L.; NASCIMENTO, D. Audiências de
conciliação e mediação no Código de Processo Civil:
mudança de paradigmas. Disponível em <http://www.
migalhas.com.br/dePeso/16,MI239269,101048-Audien
cias+de+conciliacao+e+mediacao+no+Codigo+de+Proc
esso+Civil>. Acesso em: 22 ago. 2018.

3.4. MUDANÇAS RECENTES NO CPC

Por fim, o artigo indicado a seguir é um compilado com as


principais mudanças ocorridas no CPC no ano de 2015. Acesse e
confira:
• SECO, A.; MOREIRA JUNIOR, T. J. As principais
mudanças promovidas pelo novo CPC brasileiro.
Disponível em <http://www.migalhas.com.br/
dePeso/16,MI218680,31047-As+principais+mudancas
+promovidas+pelo+novo+CPC+brasileiro>. Acesso em:
22 ago. 2018.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
1) A ação monitória é procedimento comum ou especial? Quais as hipóteses
de cabimento desta ação? Explique e fundamente.

200 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

2) A audiência de conciliação que passou a ser prevista no Código de Processo


Civil é obrigatória?

3) Qual a finalidade do saneamento do processo e quais as providências que


o juiz pode tomar nesta fase?

Gabarito
1) Não é procedimento comum, sendo considerada procedimento especial.
É cabível nos termos do artigo 700 do CPC:
Ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com
base em prova escrita sem eficácia de título executivo, ter direito
de exigir do devedor capaz:
I - o pagamento de quantia em dinheiro;
II - a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou
imóvel;
III - o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer.

2) Essa audiência é opcional, nos termos do artigo 319, inciso VII. A parte tem
que dizer se quer ou não quer realizá-la. Não será realizada a audiência
quando as duas partes não quiserem ou não se admitir a composição,
conforme determina o artigo 334, § 4º do CPC.

3) O saneamento do processo é uma decisão proferida pelo juiz após a


defesa e quando o processo não é extinto sem julgamento do mérito por
não haver irregularidades formas. Por meio dessa decisão o juiz determina
as correções que forem necessárias e especifica o que ainda depende de
prova. O artigo 357 do CPC trata do saneamento:
Art. 357. Não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste Capítulo,
deverá o juiz, em decisão de saneamento e de organização do
processo:
I - resolver as questões processuais pendentes, se houver;
II - delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade
probatória, especificando os meios de prova admitidos;
III - definir a distribuição do ônus da prova, observado o art. 373;

© NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL 201


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

IV - delimitar as questões de direito relevantes para a decisão do


mérito;
V - designar, se necessário, audiência de instrução e julgamento.

5. CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final de nosso estudo. Aqui, analisamos o
Direito Civil e também o Direito Processual Civil.
Nesta última unidade vimos os aspectos gerais do
Direito Processual, estudando sua definição e sua finalidade.
Vimos também, os conceitos de jurisdição e ação. Além disso,
analisamos o processo de conhecimento, a formação, suspensão
e extinção, o cumprimento de sentença e as tutelas provisórias.
Por fim, verificamos os procedimentos especiais, o processo de
execução e os recursos previstos no Código de Processo Civil.
Aqui você também teve acesso aos conhecimentos
essenciais para o desenvolvimento de sua futura atividade
profissional.
É importante que você se aprofunde nos temas abordados
por meio dos conteúdos indicados no Conteúdo Digital
Integrador. Além disso, leia os artigos de lei indicados e tenha
contato com mais referências bibliográficas sobre cada assunto.
O direito é extremamente instigante e, muitas vezes,
há mais de uma solução para um determinando caso. Estude
e se aprofunde para solucionar as questões que lhe forem
apresentadas da melhor forma possível.

202 © NOÇÕES DE DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL


UNIDADE 5 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponivel em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 17 set.
2018.
BRASIL. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil Brasília.
Disponivel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/
L13105.htm>. Acesso em: 17 set. 2018.
BEDUSCHI, L. O conceito de ação no Novo Código de Processo Civil. Disponível em
<http://proxy.furb.br/ojs/index.php/juridica/article/view/4599/2983>. Acesso em: 22
ago. 2018.
LEITE, G. O conceito de ação e suas principais modificações do Novo Código de
Processo Civil Brasileiro. Disponível em <https://professoragiseleleite.jusbrasil.com.
br/artigos/180930381/o-conceito-de-acao-e-suas-principais-modificacoes-do-novo-
codigo-de-processo-civil-brasileiro>. Acesso em: 22 ago. 2018.

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