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“Ensina o povo a raciocinar; é este o

meio de o libertar dos tiranos, dos


aventureiros e dos mistificadores”.

“Sê um homem de pensamento, mas


sê um homem de ação. O pensamento
para transformar-se em ação precisa
primeiro transformar-se em sentimento
Ideia que não é sentida é ideia morta. A
ação é forma objetiva de ideias vivas,
oriundas de realidades e criadoras de
novas realidades. Cultiva o ideal, mas
sê realista”.

Plínio Salgado

Urgia o aparecimento de um estudo


dessa natureza que sistematizasse,
direta e coerentemente, a lógica interna
da doutrina integralista, como ensinada
abundantemente pelos teóricos do
nosso Movimento desde 1932. Apesar
do seu caráter de introdução, o texto a
seguir é preterível a iniciantes no
mundo intelectual, por poder apresen-
tar abordagens e discussões que lhes
sejam desconhecidas. Mas, se lido
com atenção, mesmo por estes, poderá
agregar-lhes uma poderosa bagagem
para pesquisa e avaliação dos fatos e
dos conceitos no Brasil e no mundo.
Cremos piamente na ausência de
alternativas para o nosso País que não
passem pela compreensão dessas
ideias aqui expostas.

O Universo e o Homem

O Integralismo, enquanto filosofia, é


uma concepção unitária do Universo,
do Homem e do Estado. Seu entendi-
mento do Universo parte de considerar
“a harmonia de todas as formas e
movimentos”, segundo Plínio Salgado,
“e nós acrescentaremos — do que é
autônomo e do que é determinado”,
comenta-o Félix Contreiras Rodrigues.
É, assim, uma visão total do mundo —
como a conjugação de espaço, matéria,
movimento e tempo — e de suas
expressões. “Procura sempre o com-
plexo das causas, a ação dos múltiplos
fatores, uns relativamente a outros”, diz
Miguel Reale, em seu elucidativo
prefácio à obra “Atualidades de um
mundo antigo”, onde, a partir desse
método, desenvolve um conceito tota-
lista, ou integralista, da História, consi-
derando a relação das ciências naturais
e as psicológicas e a integralidade das
causas e dos fatores do fato histórico.
— Assim, o todo de uma coisa, compre-
endido na composição total de suas
partes e suas relações com o todo, é o
objeto de consideração da filosofia
integralista.
Nesse sentido, o Integralismo rejeita
todas as concepções ideocráticas e
parciais do mundo, que o dobram à sua
maneira, hipertrofiando alguns aspec-
tos do mundo natural e atrofiando ou
eliminando outros, naturais ou sobre-
naturais, incapazes de transpor-se, por
força de seu método, do processo
dissociativo da análise para a agrega-
ção lógica na Síntese. Só da compreen-
são da substância profundamente
parcialista das ideologias é que sere-
mos passíveis de combatê-las, sem
sujeitar-nos ao risco de cair no seu
mesmo erro fundamental, elo unitivo
de tudo o que se tem pensado nos
últimos. séculos, que tão bem coube
para fundamentar práticas na primeira,
na segunda e na terceira posições
políticas. — Contra a concepção moder-
na do reducionismo às causas isoladas
levantamos, magistralmente define o
Prof. Acacio Vaz de Lima Filho, a ine-
xistência de ordem das coisas senão
por “constelações polifatoriais de cau-
sas”.
— O papel integralista, nesse sentido, é
reconstruir através de uma Grande
Síntese filosófica, com uma " herme-
neutica da realidade” a partir do eterno
e verdadeiro sistema aristotélico-
tomista, uma ciência do Todo, que
considere todas as partes do Cosmos
para integrá-las em seu sentido mais
absoluto. As partes, contudo, subordi-
nam-se e se relacionam com o Todo
anterior, sem que sejam capazes de
precedê-lo. Diz N. F. G.: “as partes de
um todo — por exemplo as classes de
um Estado — só podem plenamente
ser bem compreendidas e organizadas
para o bem comum para a sua relação
com o todo. O todo é o ser original,
próprio que não deve ser confundido
com a análise das partes”. — Também
Fairbanks: “O Integralismo dentro da
realidade natural considera a parte no
todo, e não o todo na parte” — “o
integralista é o que vê antes o conjunto,
antes a máquina que o parafuso, antes
o homem ou a planta que a célula
microscópica". — Nisso se subordina a
tese integralista à lição unívoca de
Aristóteles e Euclides: “O todo é maior
que a soma das partes”. São amplas as
consequências a que, com isso, abrem-
se-nos as portas no campo da filosofia,
da sociologia ou da economia política.
— No Direito deu-se frutos: é consensu-
al no meio jurídico brasileiro (e, até
certo ponto, ocidental) a definição do
Direito segundo a Teoria Tridimencio-
nal — ou Integral, como ele próprio a
chamou — de Miguel Reale, desenvolvi-
da no seio do movimento integralista.
Restará, ainda, para superar os vícios
de origem do pensamento moderno,
estender o método integralista a todos
os campos, como constam já desen-
volvimentos abrangentes de aplicação
na história, a economia e a projeção
humana, na pena de Reale, Contreiras
Rodrigues e Plínio, exclusos todos os
demais conceitos à luz do método
integral que apresentaremos ao longo
destas linhas.
“No sistema do mundo, na essência do
cosmos”, disse Plínio Salgado, em “A
Quarta Humanidade”, “não existe nem
‘esquerda’ e nem ‘direita’, e sim condi-
ções de movimentos e processos de
expressão de forças eternas, de um
modo imutável. A Verdade está no
Absoluto do Cosmos, e nós a atingire-
mos, pela concepção integral do
Universo”. — O Absoluto do Cosmos é
o  ens, e a concepção integral trará,
segundo a luz do são realismo de
Aristóteles e Santo Tomás, a adaequa-
tio intellectus et rei. Essa concepção
integral, portanto, não é uma inovação
pliniana, mas um ideal antiquíssimo da
filosofia perene, que o integralismo
restaura concretamente a fim de supe-
rar os particularismos das filosófias
modernas, com tão penosas conse-
quências para a humanidade. — Com
maior autoridade se expressa Plínio
Salgado: “O único sentido totalitário
do Universo é ainda aquele ao qual
nos ligamos: o pensamento de Aristó-
teles”.
O pensador integralista N. F. G. nos
concede a passagem mais sublime
sobre a verdadeira doutrina totalista,
considerada em todos os seus aspec-
tos e consequências, no subjetivo e
objetivo: O jardineiro que cuidasse
apenas das rosas dum jardim, despre-
zando o cuidado das outras flores, não
seria integralista, como não é integra-
lista aquele príncipe de Estado que só
atende aos interesses de um partido,
de uma classe socialmente existente
como parte integrante do todo ou do
universo relativo chamado República”.
— “O jardineiro que cuidasse de todas
as flores e esquecesse do gosto dos
seus patrões quanto à disposição dos
canteiros e alegretes, não seria tam-
bém integralista, como não seria inte-
gralista aquele príncipe que desse car-
ta branca a todos os partidos e classes
sem se importar das finalidades supre-
mas da sociedade, que são superiores
aos partidos e classes ainda que exis-
tissem só para o bem comum destas
classes”. — “O jardineiro, pois, que ti-
vesse presente a variedade total das
flores, seu tempo exato de plantio e
floração, as suas peculiaridades bioló-
gicas, o seu efeito no lugar e no espa-
ço, as suas relações de dependência
do gosto dos patrões e dos proventos
que disso nasceriam para ele prôprio,
seria um verdadeiro integralista,
porque a sua noção de jardim abrange-
ria o todo, o universo, o conjunto de
todos os ‘seres’ do jardim — dos seres
e das suas relações entre si”. —
E, ascendendo em sua narrativa:
“O homem que se deleitasse em saciar
com todos os requintes todos os seus
sentidos e ignorasse crassamente a
existência das suas faculdades espiri-
tuais, intelectuais e volitivas não seria
universalista, mas partidista — e dos
piores. Assim também seria partidista
aquele príncipe que facultasse toda a
abundância material de bens aos súdi-
tos, negligenciando o valor espiritual
ou prescindindo dos imperativos mora-
is da alma humana. O homem que se
deleitasse na análise de suas potênci-
as intelectuais, no seu rico funciona-
mento para alcançar a verdade, que
conhecesse perfeitamente todo o me-
canismo lógico do espírito humano, a
sua potência abstrativa, as leis e os
últimos princípios do conhecimento, da
evidência e da verdade, ainda seria um
homem imperfeito, um falso integralis-
ta, porque toda a filosofia não passa de
um logro duma ilusão perigosa quando
não integra ou não totaliza ser humano
na interdependência do bem e da ver-
dade de quadro de sua origem e do seu
fim”. — “E assim não seria integralista
aquele político, aquele príncipe que
fizesse as suas leis sob o imperativo
imediato das exigências do povo, dos
partidos e das classes, desprezando as
suas relações orgânicas com o ‘todo’
da sociedade, ‘todo’ que. reclama a
integração nas finalidades últimas dum
imperativo absoluto, independente dos
interesses relativos dos partidos e das
classes”. Prossegue, então, o autor,
condenando como “místicos do diabo”
todos aqueles apartados do " verdadei-
ro integralismo” que, buscando atingir o
Absoluto, são “condenados ao insuces-
so pela fragilidade do último anel que
fecha o ‘todo’ do sistema. São aqueles
que reclamam o Absoluto, mas que o
diluem nas sombras nebulosas de um
apersonalismo misterioso, sem contor-
nos precisos, um deus desconhecido
ou pressentido com arrepios agnósti-
cos, variáveis, subjetivos com tintu-
ras de iodo asiático”. — É inseparável
a essência pessoal divina da concep-
ção integral do Universo. “O integralis-
mo descobre na pesquisa do todo
as relações que ultrapassam o reino
do ser puramente natural e procura
integrá-lo, alargá-lo e completá-lo no
mundo sobrenatural. Só na luz do
Ser sobrenatural se compreende
o último sentido do ser natural. Só
então o todo não admite interstícios
vazios e repousa a inteligência no
gozo puro da verdade” . E a Deus
se deve, portanto, destinar a ordena-
ção social, porquanto é o Fim Último
do Homem a que se dirige a socie-
dade. Sendo Ele a Eterna Verdade, só
ele pode ser a régua a determinar
todos os nossos construtos. Explican-
do Plínio Salgado a filosofia integralis-
ta, faz ressaltar que, oferecendo-nos
uma concepção do mundo e do
Homem, esta concebe “tudo se origi-
nando em Deus e com finalidade
traçada pelo Criador”. Porque a apreen-
são das coisas, na pena de Contreiras
Rodrigues, a partir de uma concepção
integral do conhecimento, se opera
segundo uma tríplice distinção de
juízos, dos quais são dois de realidade
e um de finalidade. — Estende Fairban-
ks essa matéria, politicamente: “essa
compreensão do Estado há de ser
teísta e monoteísta, pois à maneira da
Escola de Pitágoras, compreende Deus
como unidade, criando o homem à sua
semelhança, uno em essência, mas
vário nos seus acidentes. A sociedade
humana gera na sua organização júridi-
ca, o Estado semelhante ao homem
— uno na essência soberana e variado
na autonomia das várias formas aci-
dentais”. — Daí que Plínio Salgado
anuncie, sucintamente:. “O Estado
Integral é o Estado que vem de Cristo,
age por Cristo e vai para Cristo”.
Partindo desse princípio realista e
totalista das coisas, o Integralismo
atinge o campo antropológico, de onde
virão todas as bases para o estudo da
Sociedade. Todas as concepções poli-
ticas partem primeiramente de um
conceito prévio do Homem: o Integra-
lismo, por sua segura concepção do
Universo, é o único capaz de atingir,
numa sequência lógica, uma segura
concepção da Pessoa Humana. Ele
reconhece uma multiforme personali-
dade humana: material, racional e
espiritual, em ligação interdependente
de um e outro. É, mais uma vez, apesar
da maior apreciação que lhe damos,
uma extensão, conforme a Boécio, do
pensamento de Aristóteles, que reco-
nhecia no homem a conjugação do
bruto e do racional. Não pode, assim, o
Integralismo reduzir o Homem a uma
mera deformidade parcial segundo
uma dessas naturezas ou aspirações
que se conjugam em sua personalida-
de. O mesmo princípio pelo qual apre-
ciamos o Universo, na relação entre o
todo e as partes, o aplicamos, por
questão lógica, ao particular humano,
que é um todo em si mesmo — como o
são os seus órgãos em relação às suas
células, e o seu corpo em relação aos
seus órgãos, cujo elo é melhor ressal-
tado pela. biotipologia moderna. Nis-
so destacou-se com fervor a pena do
Dr. Alexis Carrel, no clássico  L’homme,
cet inconnu, em sua análise científica
das deformações ideológica do ho-
mem e da necessidade de uma síntese
total das nossas atividades fisiológicas
e psíquicas, segundo uma clara orien-
tação metodológica e visando a instau-
ração de um humanismo sem parcia-
lismos. — No entanto, constituído co-
mo um todo, a tendência (apesar da
imprecisão do termo) espiritual do
Homem exerce primazia sobre todas
as outras, porque é sua aproximação a
Deus, a Cuja imagem e semelhança foi
feito para reinar sobre o mundo. E não
há totalidade que não implique uma
ideia de hierarquia interna, na ciência
experimental, na filosofia nem na so-
ciedade. — Anunciando o humanismo,
é-nos forçoso insurgi-lo contra todos
os vícios consequentes do Renasci-
mento, que, condenando o Homem à
autossuficiência, condenou-o, por fim,
demonstra-nos Berdyaev, à Natureza —
porque, em sua profunda essência
espiritual (e aqui somos nós a intervir),
incapaz de voltar-se a si mesmo por-
que psicologicamente produzido para o
que lhe é exterior, o Homem rebaixou
sua submissão ao Céu para subordi-
nar-se, em atitude negativa, à Terra — à
Natureza, portanto. E, daí, desde a ele-
vação do Homem, todos os males do
naturalismo, na origem de todas as
maiores teorias da filosofia, da socie-
dade, da economia e da política hoje.
Foi a descensão do Homem, ligado ao
superior, para voltar-se ao inferior.
Explica Le Goff, remetendo ao verda-
deiro humanismo, que “repousará sem-
pre sobre a relação entre o homem e
Deus”, como aceito pelo cristianismo
medieval: “De um lado, o homem é
objeto de uma promessa de salvação,
quer dizer, de um retorno a Deus. É a
doutrina do  reditus, do retorno, tão
importante em Tomás de Aquino. E o
homem se torna de certa maneira o
centro do mundo, criado por Deus e
prometido à salvação. De outro lado, o
homem em si mesmo não é fonte de
nenhum valor. Todos os valores vêm
de Deus. E só pela obediência e pelo
amor a Deus o homem fará seu destino
crescer num sentido positivo e será
salvo”. — Esse Homem que disseca-
mos atrás sofre modernamente amea-
ças contra a integridade de todas as
suas realidades, mas muito particular-
mente em sua realidade moral, a mais
importante de todas elas — através,
sobretudo, das manifestações daquilo
que denunciamos como o  espírito
burguês, fonte de todos os males ho-
diernos. É dever do integralista assegu-
rar o Homem Integral nas aspirações
de seu multíplice comportamento
contra a sua desconstrução. Despren-
didos de parcialismos, mas sem nos
esquecer das hierarquias no Todo,
ligamo-nos a todos os problemas que
devem ser resolvidos, sem pecar por
desconsideração. Daí a orientação
manifesta de nosso programa político:
“dar ao homem elementos para que ele
realize as suas justas aspirações
materiais, intelectuais e morais”.
Política e Sociedade

“A concepção do Estado e da socieda-


de está ligada à concepção do próprio
Universo”, ensina Plínio Salgado. —
Derivando de uma segura concepção
do Universo uma segura concepção do
Homem, o Integralismo parte deste
Homem como o sujeito político para a
construção de um seguro conceito de
Estado, surgindo, segundo Contreiras
Rodrigues, de “uma síntese sociológica
criadora de uma ordem também sinté-
tica (de um fato histórico mais perfeito
que os anteriores)”.

O Homem Integral é o alicerce do Esta-


do Integral. Sendo Integral, e, como tal,
cívico — isto é, segundo entidade da
Razão — , moral e econômico, este
homem exerce trabalho, fruto unitário
de cada aspecto daquela tríplice reali-
dade antropológica. — Não há disso-
ciação possível entre um e outro: o
Trabalho só existe enquanto atividade
intrinsecamente humana, conforme
sua integral tríplice aspiração, e é, para
a Pessoa, uma necessidade inelutável,
um direito e um dever, ensinam-nos a
Doutrina Social da Igreja Católica e os
Evangelhos.
O Integralismo considera o Trabalho,
fonte a um só tempo de coesão social,
prosperidade material e dignificação
moral, como “fonte de todos os direitos
públicos e privados” ( “Concepção
Integralista do Trabalho”). Toma, por-
tanto, o trabalho honesto do Homem
como o fundamento de toda a sua
arquitetura política e social. Esse con-
ceito de Trabalho é um conceito, já não
puramente material, como o dos fisio-
cratas e marxistas, mas espiritual, co-
mo dispêndio de energia direcionado
finalisticamente. É tomado, de maneira
mais particular, segundo Plínio Salgado
(“Direitos e Deveres do Homem”) 1°
como expressão da liberdade humana;
2° da capacidade criadora do Homem;
3° como meio pelo qual o Homem visa
um bem temporal objetivando um dom
sobrenatural”. O Trabalho assim conce-
bido assume alta significância por
derivar da alta dignificação da Pessoa
Humana, alicerce primeiro da Socieda-
de e do Estado.

O Estado, dessarte, se constitui e dirige


no sentido do Homem e se origina do
seu Trabalho. Disso ocorre que o
Estado deva provir do Trabalho e da
Pessoa, indissociáveis entre si, e a eles
garantir. Para provir do Trabalho e
mesmo da Pessoa enquanto ser multi-
forme, necessita o Estado ser corpora-
tivo, advindo das fontes mesmas do
Homem real e do seu Trabalho; para
a eles garantir, necessita ser forte
e técnico, baseado num conceito
seguro de força.
A sociedade, da qual o Estado Integral
procede, é, como fundamento do nosso
seguro conceito de Estado e como
consequência lógica do nosso seguro
conceito de Homem, uma hierarquia de
grupos naturais, entendidos como
expressões da Pessoa Humana no
Tempo e no Espaço. Esses grupos são
o escudo protetor da integridade das
Pessoas. Só a partir deles é possível
construir uma ordem justa e sadia para
o Homem.
O Trabalho, num Estado integralista,
estará exprimido, em todas as suas
manifestações, nas Corporações, que
se entrosarão no corpo do Estado. —
Vide bem: se entrosarão, porque existi-
rão já previamente, enquanto socieda-
de corporativa. Seu papel no Estado
não é mais do que levar a sociedade ao
Estado, sem o ritmo inverso, de trans-
portar o Estado à sociedade, em pro-
funda rivalidade contemporaneamente.
As Corporações são autarquias da
sociedade realizando a aproximação
federativa entre o Estado e a Nação. Se
hoje não existem, é pelos frutos de um
processo histórico e social, mantendo,
contudo, bases poderosas no fundo da
alma dos povos ocidentais. — Essas
Corporações, em sentido econômico,
reunirão trabalhadores, patrões e téc-
nicos de um determinado ramo ou ciclo
de produção: todo o Trabalho, portanto,
daquele setor, em todas as suas ex-
pressões. São o Estado e a Economia
cujos sujeitos de organização são a
constante. Trabalho, da qual se origi-
nam em fundamento e história. — Mas
o Trabalho, como o Homem, não são
exclusivamente econômicos. São, um e
outro, sobretudo, de natureza espiritu-
al. Por isso a associação fundada no
Trabalho não pode se dirigir somente à
Economia, que é apenas uma das face-
tas da sociedade humana, mas a todas
as manifestações do trabalho, dentre
as quais as culturais, morais e cientifi-
cas. — Reunindo todas as Corporações,
inclusive as não-econômicas, no Esta-
do, o Integralismo garantirá uma repre-
sentação integral  da Nação, oferecen-
do de maneira geral os dados estatisti-
cos disponíveis no disperso complexo
nacional e auto-organizando a socieda-
de segundo os interesses do Todo.
Sem, por ausência do espírito indivi-
dualista da totalidade como soma in-
distinta, acreditar no postulado do equi-
líbrio automático do contato entre con-
trários, o Estado Integral deverá asse-
gurar uma instância superior de poder
público a que remetem todas as partes
corporativas, como já enunciava Key-
nes, mas sem, jamais, andar pelas vias
do corporativismo subordinado  de que
nos fala Mihail Manoilescu, porque
não existe representação no corparati-
vismo integral — tanto no sentido origi-
nário de Manoilescu como no brasilei-
ro, exposto por Gustavo Barroso e Mi-
guel Reale — que não seja de base
corporativa. E isso porque, consideran-
do o Homem e o Estado, o Integralismo
é forçado a considerar, entre os dados
do problema, a História e, por óbvio,
mas que a muitos passa despercebido,
a Sociedade. “A sociedade existe” é a
fórmula com que Oliveira Vianna resu-
me todo o seu pensamento. E não há
homem apartado da sociedade, como
não há homem que não seja um ser
histórico nem sociedade que não seja
o produto de um inapagável processo
histórico. O desenraizamento é, mais
do que apenas as categorias desenrai-
zadas, por si mesmo,. desenraizado da
história e da sociedade. E, mais do que
o Homem e a Sociedade, nunca houve,
recorda Othmar Spann, um Estado
(mesmo os liberais) ao longo da histó-
ria que não tenha sido, ainda que
indiretamente, corporativo, fundamen-
tado em indivíduos enraizados. É, tam-
bém, digno de nota recordar o dado da
contemporânea ação política dos pres-
sure groups. Sem direitos políticos, os
trabalhadores não deixam de agir na
política, ainda que de maneira clandes-
tina, pelo lobby. É porque é por ele que
se expressa o Homem, e é para o
Homem que se dirige o Estado e por
ele é constituído. Associar Estado e
Homem é vinculá-lo ao Trabalho. —
Recordamos assim não só a doutrina
do Direito Natural, mas, com. muito
zelo, o “direito costumeiro”, social,
constituído historicamente, de maneira
orgânica. Esse direito é, sobretudo, a
manifestação social da Tradição, que
orienta o “que-fazer” cotidiano de uma
determinada. sociedade. — E, sem ain-
da nos descuidar da bio-psicologia em
nosso pensamento integral, conjugan-
do história (Espírito) e natureza, a fim
de construir uma saudável democracia,
forçoso é que, contra o igualitarismo
radical, assimilemos, na ponderação do
entrosamento da Pessoa humana no
Estado, a desigualdade natural de to-
dos os indivíduos, considerando-os de
acordo com suas qualidades pessoais
e constitucionais no trabalho orgânico
que une toda a sociedade, segundo o
ordenamento corporativo das coisas. —
Nisso, contudo, subordinados a inequi-
voca lição de Tasso da Silveira, sem
cair no darwinismo: “Haverá, sem
dúvida, uma física, mesmo uma quii-
mica e uma biologia políticas e sociais.
Mas intimamente fundidas a uma rea-
lidade que escapa às determinações
rigorosas e estreitas da ciência natural:
à realidade do espírito, que só pode ser
definida pela consideração da sua
natureza transcendente e da sua
finalidade superior”.
Assim concebido o Estado, de maneira
corporativa, este garantirá legitimidade
suficiente para aplicar um novo concei-
to de força sobre as diversas forças da
sociedade nacional. Dessa maneira,
poderá garantir a dignidade da Pessoa
e a segurança e dignidade do Trabalho.
Esse novo conceito de força, que é o
nosso conceito mesmo do Estado,
enquanto monopólio do uso de força,
considerará as multíplices expressões
da Pessoa no Tempo e no Espaço, a
elas se destinando. Seu papel precípuo
é garantir a integridade e a gravitação,
interdependente e sem choques, de
cada uma dessas expressões. Por isso,
está acima de todas elas, com a incum-
bência de coordená-las e harmonizá-
las sem ferir sua integridade e sua
autonomia próprias. — Considera Fair-
banks: “O Estado há de ser total, inte-
gral, cada célula produzindo para a
totalidade social, e a totalidade social
vigiando o bem-estar de cada célula,
como a parábola bíblica do Bom
Pastor: estão abrigadas as 99 ovelhas?
Pois vamos cuidar de abrigar a centé-
sima tresmalhada”. — “E é coerente
com o que se observa na Natureza.
Meu corpo — a integral de infinitas
células — goza de saúde; de repente,
pequenas células de um dente enfer-
mam, a ramificação do nervo respecti-
vo fica descoberta. A dor transmite-se
ao cérebro. Todo o imenso rebanho
corporal de células sofreu, porque algu-
mas sofreram. Vou ao dentista, isto é,
vou procurar atender às necessidades
das poucas ovelhas tresmalhadas das
células dentárias. Curo-me, todo o
rebanho celular corporal sente-se bem.
Porque nosso organismo não segue a
política do Estado partidário, o conjunto
celular do corpo não dirá às células
doentes: nós estamos bem, vocês se
arrumem.
Esse tipo de Estado, visando assegurar
a integridade da Pessoa Humana, se
destina ao conjunto de pessoas dentro
dos limites de sua Nação. Essa Nação,
que confedera, de maneira familial , as
pessoas com uma determinada identi-
dade sob a impressão das mesmas
tradições históricas, é uma expressão
do Homem no Espaço-Tempo e, portan-
to, um dos seus grupos sociais natura-
is. O Estado Integral é a resultante lógi-
ca e política dessa Nação e, portanto,
seu fiel vanguardeiro. A ele cabe a de-
fesa e o impulsionamento ao desenvol-
vimento do organismo nacional, sem
contentar-se, por isso, com a postura
negativa de espectador, mas, com a
autoridade de erguer-se sobre a socie-
dade organizada e verdadeira, segundo
valores transcendentes, promover, pe-
lo Espírito, a ação positiva e revolucio-
nária — ordenadora, portanto — nos se-
tores da sociedade em desequilíbrio.
Estado estatístico, forte, nacionalista e
profundamente cristão, porque confor-
me a uma filosofia clara: tal a fórmula
política do Integralismo. — Suas máxi-
mas definitivas são estas, segundo
enumeradas por Plínio Salgado: Estado
orgânico, organização corporativa. da
Nação, economia orientada, represen-
tação corporativa, homem integral, rea-
lismo político, harmonia das forças
sociais, finalidade social, princípio da
autoridade, primado do Espírito. — Diri-
gindo-se à Pessoa Humana, ele asse-
gura o terreno mais propício para o seu
culto das virtudes e da religião, en-
quanto ser moral. Concede-lhe o con-
sumo e satisfação material, enquanto
ser econômico. Impõe-lhe normas e
deveres sociais e políticos para com a
comunidade, de origem racional, en-
quanto ser cívico. — Gustavo Barroso
sistematiza: “o Estado não deve ser
somente natural, racional ou ideal, po-
rém ideal, racional e natural, com a
predominância do ideal, mas sem o
esquecimento do natural e do racional".
— “Sobre esse homem [integral] se
deve construir um Estado Integral:
espiritual na afirmação de Deus, da
liberdade e da dignidade da pessoa
humana; racional na sua feição hierár-
quica e disciplinadora; material na sua
organização econômica”.
Administrativamente, segundo o espiri-
to comum de toda a sua doutrina, a
filosofia integralista leva-nos a reco-
nhecer as múltiplas correlações dos
fenômenos sociais e políticos, integra-
dos uns aos outros. Por isso, proclama
que nenhum problema será resolvido
isoladamente, mas todos serão resolvi-
dos juntos, contemporaneamente, em
suas íntimas implicações. É Plínio
Salgado quem ensinava ao País o
método integralista, quando, na posi-
ção de estadista, ocupa-se no Parla-
mento, com as altas questões nacio-
nais: “não há soluções isoladas para
nenhum problema, porquanto, ou
resolvemos todos num planejamento,
ou não resolvemos nenhum. A Nação,
assim como o corpo humano, é consti-
tuída de órgãos, e esses órgãos se
interferem, se intercorrespondem na
harmonia do ritmo vital. É necessário
realmente um planejamento, um largo
planejamento que não descure setores
da vida brasileira hoje abandonados”.
Sistematicamente, expõe Fairbanks:
“Chama-se Integralismo aquela teoria
segundo a qual os problemas adminis-
trativos e políticos são apreciados em
conjunto e na respectiva correlação de
suas intensidades e frequência”, se-
gundo o critério estatístico, na orienta-
ção de Gottfried Achenwall. — É, por
exemplo, o problema do desenvolvi-
mento econômico, desconsiderando a
necessária duplicidade e hierarquia da
agricultura e da indústria, como da
repartição desse desenvolvimento,
quando, pela reforma agrária, ocupan-
do-nos apenas do problema da terra,
deixamos de ter em mente, como é
racionalíssimo, o problema maior do
homem, que trabalhará na terra, e o da
produção, sem o qual não terá sentido
a terra nem o homem. — Foi por essa
doutrina, clara, segura e transparente,
que o movimento integralista esteve
sempre na vanguarda das grandes
soluções nacionais em todos os cam-
pos, algumas adotadas com convicção
pelos nossos sucessivos governantes
e outras mantidas no termo das pro-
postas, o que responsabilizou uma pro-
funda desordem no rumo que segue o
País. Basta remeter à apaixonada dis-
cussão sobre a reforma agrária, em
que, acima de todas as paixões e tac-
ciosismos, o partido integralista apre-
sentou, contrapondo-se às Reformas
de Base do presidente João Goulart, os
projetos da Revolução Agrária (nº 277
e nº 486), que é o maior e mais deta-
lhado, realista e com maior esforço de
produção sistema com o fim de reali-
zar, não bem uma reforma, mas uma
verdadeira revolução no sentido da
( sadia, desideologizada ) distribuição
de terras no Brasil. E seguem-se infini-
tas consequências práticas de método,
como a fórmula política do Estado
Corporativo Integral, constituído de
maneira a sinergizar todos os dados do
problema econômico e social na boa
administração. Assim se poderá conhe-
cer as partes do todo e bem ajusta-lo
à sua satisfação. — Por isso tem razão
Fairbanksb ao expor, didaticamente: “O
Estado anti-integralista ou parcial ensi-
na o contrário [à nossa criteriologia]:
‘governar é abrir rodovias’. O integralis-
ta examinará em tal sentença as corre-
lações estatísticas: quantas rodovias?
Provocando a importação de quantos
automóveis ? Estes gastando quantos
milhões de divisas? E quantas tonela-
das de gasolina? Estas custando quan-
to em dólares ? O conjunto rodovia
automóvel-gasolina quanto custará
orçamentariamente? Será esse conjun-
to apto a fixar populações, formando
cidades, como costumavam fazer as
ferrovias? Que prejuizo a concorrência
da nascente rodovia poderá acarretar
ao capital fixo das velhas ferrovias?
Nada desse aspecto de interações
estatísticas indaga o anti-integralista;
se for médico, irá generalizando casos
particulares, como se o geral se conti-
vesse no particular, e irá aconselhando:
‘só se alimente de leite’ — até que al-
guns pacientes cheguem a fabricar
queijo no estômago; ‘viva só de coalha-
da’. Arranque todos os dentes, se
não quiser ter úlcera no estômago’.
‘Extraiam todas as amígdalas’. — Como
se a natureza houvesse criado órgãos
inúteis. Tudo isso para, tempos depois,
as revistas médicas, onde tais conse-
lhos haviam surgido. desacompanha-
dos de correlações estatísticas, darem
marcha-à-ré e começarem a desacon-
selhar: ‘o leite nem a todos faz bem.
‘Muitos organismos não suportam a
coalhada’. ‘Se as amígdalas fossem
inúteis, a natureza não as teria criado’.
‘Em vez de extrair seus dentes, conser-
ve-os com cuidado’, etc. Que resposta
dará o já desdentado, o já desamigda-
lado a tais tardios conselhos ? O de
mandar o médico estudar Estatística,
isto é, examinar o fenômeno das mo-
léstias como atípicos e de difícil gene-
ralização coletiva e portanto exigindo,
para a generalização, observações em
grandíssimo número. No método indu-
tivo, a pressa em generalizar conduz a
erro”. — Qual outra doutrina é capaz de
dizer esses princípios verdadeiros de
administração pública com tal clareza
e por termos à nossa bagunça, restau-
rando o império da ordem e da harmo-
nia na organização política?
Qual outra é, então, a solução política
ao Brasil, baseada na Verdade, em
conceitos transparentes e passíveis de
interiorização sem recorrer a longas
explicações, porque facilmente assimi-
lável pelo Espírito humano?

Pátria e Família

A fórmula de valores políticos pelo qua-


is se bate o integralismo é simples:
Deus, Pátria e Família. — Explica Fair-
banks: “o Estado em nome de Deus,
para a Pátria, pela Família, as necessi-
dades materiais desta atendidas nas
reivindicações profissionais de seus
respectivos chefes”.
A partir de uma filosofia supremamen-
te realista, na ânsia de conhecer todas
as realidades, o Integralismo encontrou
a Pátria e a Família, duas das realida-
des mais imperativas para o Homem e
intimamente ligadas entre si. Contra
elas, realidades naturais e orgânicas,
insurgem-se, sem sucesso. todas as
abstrações. Por isso o grito patriótico
de Nicanor de Carvalho: " o amor da Pá-
tria é tão vigoroso e se acha de tal mo-
do arraigado no espírito dos povos,
que serão baldadas quaisquer medidas
que pretendam extinguir os seus efei-
tos. Experimentem os governos, por
exemplo, a direção dos destinos dos
povos por elementos alienígenas;
abra qualquer país as suas portas às
forças armadas doutro país, cruzando
os braços à invasão e à conquista;
façam-se leis que não anteponham li-
mites à imigração, de modo a haver a
absorção do elemento nacional pelo
estrangeiro, e os resultados de tudo
isso hão de provar de sobejo a existên-
cia do sentimento nacionalista, que ha
de reagir violentamente em defesa
própria”. E, nesse espírito, recorda-nos
Miguel Reale: “Quando em 1914, a
guerra lançou Nações contra Nações,
os trabalhadores seguiram para as
trincheiras. Esquecidos de tudo, per-
doaram a pátria que tinha sido madras-
ta. Assim, em poucos meses, a guerra
resolvia uma questão que havia provo-
cado dezenas de anos de discussões
estéreis: o internacionalismo classista
não passava de um sonho criado pelas
mentes exaltadas de Marx e de Sorel. É
que a Nação é uma realidade perma-
nente, um fato natural, superior à cons-
ciência de classe”.

Aqui recorremos a um popular autor


contemporâneo, de corrente distintissi-
ma da nossa — Yoram Hazony. Em
recente livro de sucesso, Hazony faz
uma distinção fundamental entre dois
conceitos da vida do homem em socie-
dade, feliz em não cair numa moral
parcialista: o Negócio e a Família. Para
ele, ambos contrapõem-se substancial-
mente pelo grau de força dos laços
entre seus membros. As notas caracte-
rísticas de um e de outro são, respecti-
vamente, a liberdade, o cálculo e o
consentimento e a lealdade, a devoção
e a restrição. A família não permite
fundamentar-se, como o negócio — que
vai da empresa ao grupo de trabalho —,
sobre o cálculo, porque seus laços
sustentam-se exclusivamente a partir
da mútua devoção, sem relação com a
eficiência. — Bem o diz Plínio Salgado,
em sua teoria dos “quatro totalitaris-
mos”, que um deles, o capitalista, en-
fraquece o Homem e a Família sobre-
pondo-lhes o conceito de Negócio.
Negócio. Nesse contexto, tanto as
“tribos” quanto a Nação — uma união
característica, peculiar de tribos —
constituem-se de coletividades de  tipo
familial  em maior escala. É a Nação,
diz-nos o Manifesto de Outubro, “uma
grande família”. Também Herder, o
pioneiro das modernas ideações nacio-
nalistas, definia nação como “uma
família extensa com um só caráter
nacional.
A unidade nacional é, ademais, o resul-
tado final de uma longa e importante
evolução social. No Brasil, condições
sociais, econômicas, administrativas e
geopolíticas favoreceram-nos a que já
a tivéssemos desde cedo. — A Nação,
contudo, não é o que se quer dizer, na
divisa, por “Pátria”. A Pátria é uma cate-
goria presente, que se localiza na rela-
ção entre o subjetivo e o objetivo, a
partir do contato entre o Homem e a
paisagem, isto é, sentimental-geográfi-
co. — Nesse contexto, sempre o Ho-
mem esteve inserido em sua Pátria,
segundo o dístico (com maior ou
menor grau de diferenças internas em
cada conceito) “Deus, Pátria e Família”,
proposto como gradação de piedade
na Summa Theologiæ por Santo Tomás
de Aquino. Ainda que subordinada a
diferenças de tempo, espaço e cosmo-
visão, contudo, essa tríade de grada-
ções é uma realidade intríseca ao espí-
rito do Homem em todos os tempos,
incapaz de apartar-se dela, mesmo
quando, na Modernidade, tem ele bus-
cado negar-lhe ponto a ponto — e
criado, então, apenas uma abstrata
variação, novamente, de tempo, espaço
e cosmovisão: Deusa-Razão, Pátria-
Humanidade e Família-Identidade. A-
tento a essa realidade imperativa da
Lei Natural que o Homem, pelo Integra-
lismo, busca fortalecer-lhe na Razão,
fixos os olhos na orientação verdadeira
da Lei Divina, firmando por ela um
conceito integral da vida humana que
se traduza no Direito Positivo ou — dirá
Hayek — na Legislação. — Mas, sobre a
Pátria, ergue-se (no nosso caso) a Na-
ção. Em conceito, ela independe de ter-
ritórios e paisagens. É autônoma tanto
da Pátria quanto do Estado. É um gru-
po, de maneira objetiva — com caracte-
res peculiares, distintos dos demais
—,  a posteriori  assimilado, subjetiva-
mente, pelo Homem. Sem a assimila-
ção — integração — do objetivo no sub-
jetivo não há Nação. Daí um conceito
que nos apresenta Plínio Salgado:
Nação é consciência de diferenciação
( e de destino ) — e concorda com
Francisco Elías de Tejada: unidade de
espírito. A diferenciação é uma realida-
de; a apreensão individual desse
caráter a confirma. — No Brasil, Nação
é Pátria. Desde o princípio, nossos
valores nacionais fundaram-se na
exploração e conservação do território.
Nossa história ergueu-se sobre a
integração de todos os povos na
construção de um certo pedaço de
terra, cujas relações humanas desen-
volveram um caráter próprio de comu-
nidade (Tradição). É diferente, então,
o nosso patriotismo, e deverá sê-lo
o nosso nacionalismo. Aqui, a Nação
possui fatores distintos de unidade
histórica perante os outros agrupa-
mentos nacionais: é, sobretudo, a a-
ção do espaço no tempo. É a relação
telúrica do Homem e do espaço. É,
portanto, um desenvolvimento maior
da Pátria. A Pátria é a Nação. Está aí a
relação coletiva dos conjuntos huma-
nos, formados por homens integrais,
com sua paisagem comum. Diz Plínio
Salgado, referindo-se ao Brasil, que “a
Pátria se confunde de tal modo com a
Nação, que não sei como separá-las na
conceituação política”. — Essa apreen-
são das peculiaridades brasileiras é a
única coisa que pode guiar qualquer
nacionalismo, enquanto racionalização
e salvaguarda da comunidade nacio-
nal. Não nos cabem quaisquer naciona-
lismos importados que se dirijam a
nações fundamentalmente distintas da
nossa. É pelo desenvolvimento lógico
dos dados de que dispomos que
poderemos pensar e legislar o Brasil.
— Daí o caminho pliniano a seguir:
“Nossa consciência coletiva depende
da própria geografia, da ação do sol
amorenando as raças, da luta com a
selva e a comunhão cósmica, e temos
de a ir preparando, também, com o
nosso esforço, em prol da libertação
completa dos preconceitos retardantes
e opressivos das nações velhas”.
A Nação, enquanto corpo, não pode se
desprender de sua alma — a Tradição.
É ela, como o é a memória nos indiví-
duos, o nosso código de “que-fazer”, a
partir do conhecimento prévio do nos-
so ser. Não conhecemos mais sublime
passagem sobre a Tradição do que
aquela do liberal Ortega y Gasset: As
revoluções, tão incontinentes em sua
pressa, hipocritamente generosa, de
proclamar direitos, sempre violaram,
pisotearam e dilaceraram o direito
fundamental do homem, tão funda-
mental que é a própria definição da
sua substância: o direito à continui-
dade. A única diferença radical entre a
história humana e a ‘história natural’ é
que aquela nunca pode começar de
novo. Köhler e outros mostraram como
chimpanzé e o orangotango não se
diferenciam do homem pelo que cha-
mamos, rigorosamente, de inteligência,
e sim porque têm muito menos memó-
ria do que nós. Os pobres animais, a
cada manhã, encaram o fato de terem
esquecido quase tudo o que viveram
no dia anterior, e seu intelecto tem que
trabalhar sobre um material mínimo de
experiências. Assim, o tigre de hoje é
idêntico ao de seis mil anos atrás, por-
que cada tigre tem que começar de
novo a ser tigre, como se não tivesse
existido nenhum outro antes. O ho-
mem, ao contrário, graças ao seu poder
de recordar, acumula seu próprio pas-
sado, toma posse dele e o aproveita. O
homem nunca é um primeiro homem:
começa a existir, desde logo, sobre cer-
ta quantia de passado amontoado.
Esse é o tesouro único do homem, seu
privilégio e seu sinal. — Romper a
continuidade com o passado, querer
começar de novo, é aspirar a cair e
plagiar o orangotango. Plínio Salgado
alerta: “Perder a Tradição, para os indi-
víduos, como para os povos, é perder a
memória” — “assim como para o ho-
mem isolado, o caráter é a memória de
cada ato individual e do conjunto dos
atos individuais na sua vida de relação
com outros homens e com o conjunto
social [partes e todo], informando per-
manentemente o ‘fazer’ e o que fazer’
no presente e no futuro, também o
caráter de uma Nação ( a tradião )
consiste  nessa faculdade de lembrar,
de trazer em dia as atitudes pretéritas,
para harmonizar o que foi, o que é e o
que virá, num sentido de afirmação de
personalidade”. — Por isso o integralis-
mo “apresenta, como base do desen-
volvimento e do progresso da nossa
Pátria, a tradicionalidade do nosso
Grupo Nacional”, segundo o Chefe. — E
explica: “As nações sem memória se
deixam conduzir pelos acontecimen-
tos. Rege-as o determinismo brutal dos
frutos. Decide seus destinos a vontade
estranha de outros grupos nacionais
conscientes. A Nação vegetalizada no
pragmatismo dos interesses cotidia-
nos, brutalizada pelos interesses mes-
quinhos do dia a dia, absorvida pelas
exclusivas preocupações materiais do
comércio e da politicagem dos faccio-
sismos estreitos, já não conhece a
maravilhosa e exaltadora conjugação
dos verbos em voz ativa, já não sabe
clamar com força esta palavra: " eu ".
Ensinar a Nação a saber quem é, para
que ela continue a ser é a missão dos
seus condutores. — Precisamos de
homens conscientes para construir-
mos o Brasil consciente. Precisamos
dar sentido à vida brasileira. Sentido
histórico derivando das fontes da His-
tória. Sentido espiritual, superando as
misérias da hora presente, a confusão
prenunciadora da desintegração nacio-
nal, e elevando o nível das preocupa-
ções do nosso grupo huma- no”. —
Tradição, contudo, não recorda-ção
da história. É, bem diríamos, uma
estrada, que nos trouxe do passado
para levar-nos ao Futuro. Recordação
refere-se “a coisas mortas, paralisadas
no pretérito, ao passo que a Tradição é
o próprio espírito dos fatos históricos,
ocorridos no passado, mas vivos no
presente, em renovadas formas de
expressão”. — “A História é corpo; a
Tradição é espírito. O corpo desapare-
ce; o espírito se renova, se atualiza, se
dirige para o futuro”.
Concebendo os homens na integração
dos Grupos Naturais, pauta a Família
todo o nosso programa. Com razão
anunciava Plínio Salgado que, acima de
tudo, “o Integralismo é a Revolução da
Família" — e, como consequência lógi-
ca disso, acrescentaremos nós, torna-
se também a Revolução do Município,
da Propriedade, do Trabalhador e da
Nação. É uma impossibilidade lógica
que seja diferente — “nela encontra-
mos a presença de Deus, a dor do Ho-
mem, o sentimento da Pátria, o princí-
pio da autoridade, a essência da bonda-
de, a grandeza das abnegacões e das
renúncias, a fonte ética perene onde o
Estado haure a sua força e o seu es-
plendor”. E, por isso, como “base do
nosso movimento” — a Família, “é para
defender a família do operário, do co-
merciante, do industrial, do fazendeiro,
do camponês, do comerciário, do mé-
dico, do farmacêutico, do advogado, do
engenheiro, do magistrado, do cientis-
ta, do artista, do professor, do funcio-
nário, do soldado e do marinheiro, con-
tra a desorganização, a prostituição e a
ruína, que desejamos o Estado Forte,
baseado nas forças vivas da Nação”.
Com muita sabedoria escrevia Fairban-
ks: “Decepadas as raízes, a árvore vem
abaixo, como razão natural”. Contra o
totalitarismo capitalista, portanto, que
subordina a vida social aos interesses
materialistas do Negócio, o realismo
integralista levanta a dignidade e poder
dos laços familiares de lealdade, se-
gundo o são conceito moral de Família
— quer dizer, de família-célula de pri-
meiro grau na sociedade — num con-
ceito integral, jusnatural, do masculino
e do feminino. Disso virá, também, a
proteção política, econômica e social à
Família e sua existência, visando a per-
petuação do Homem que vive nela. —
Não é contra o negócio que nos levan-
tamos, mas pela família, como base do
homem que atua no negócio. E, por
isso, chegamos à Nação. — Destarte
não havendo outra doutrina capaz de
conceber a Nação na integralidade de
sua comunidade, formação e valores,
forçoso é que destaquemos nosso
alerta, erguido já há oito décadas: fora
do Integralismo não há Nacionalismo.
Em termos práticos, sem nos apartar
da nossa firme concepção política, li-
vres de todo idealismo vão, proclama-
mos com Plínio Salgado a suma de
toda a nossa plataforma revolucioná-
ria: “Os direitos da Família não passa-
rão de pura proclamação romântica, se
não se relacionarem com os direitos do
Grupo de Trabalho, da Propriedade, do
Município, da Nação e do Estado e, so-
sobretudo, da Religião. Essa é a con-
cepção integral, a concepção integra-
lista do Homem e da Sociedade, sem a
qual não haverá senão unilateralidades
insuficientes, visões parciais que não
resolverão o grave problema dos Direi-
tos Humanos.

ANAUÊ !

Matheus Batista
Suplente de Secretário Geral da Frente
Integralista Brasileira

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