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(T)
■s
© C o p y r ig h t 2 0 0 6 O f ic in a d e T e x to s
1a r e im p r e s s ã o 2 0 0 8
2 a r e im p r e s s ã o 2010
3 a r e im p r e s s ã o 2011
A S S IS T Ê N C IA E D IT O R IA L A n a Paula R ib eiro
C A P A M a lu Vallim
D I A G R A M A Ç Ã O A n a K a rin a R. C a e t a n o
F O T O S Luis E n r iq u e S á n c h e s
P R E P A R A Ç Ã O DE F IG U R A S A n a K a rin a R. C a e t a n o e M a lu Vallim
P R O JE T O G R Á F I C O M a lu Vallim
P R E P A R A Ç Ã O DE T E X T O J o n a t h a n B u sa to
R E V IS Ã O DE T E X T O S A n a Paula Ribeiro, Ecila C ia n n i C o sta , M a r ia n a C a stilh o M a r c o a n t o n i o e
V e r a Lucia Q u in t a n i lh a
D a d o s In t e r n a c io n a is de C a t a l o g a ç ã o na P u b lic a ç ã o (CIP)
( C â m a r a Brasileira d o Livro, SP, Brasil) '
S á n c h e z , Luis E n r iq u e
A v a lia ç ã o d e im p a c t o a m b i e n t a l : c o n c e it o s e m é t o d o s /
Luis E n r iq u e S á n c h e z . — S ã o Paulo : O f ic in a d e T ex to s, 2 0 0 8 .
B ib lio g rafia .
ISBN 9 7 8 -8 5 -8 6 2 3 8 -7 9 -6
1. D e s e n v o l v im e n t o s u s t e n t á v e l 2. E d u c a ç ã o a m b i e n t a l
3. Im p a c t o a m b i e n t a l — A v a lia ç ã o 4. Im p a c t o a m b i e n t a l — E s tu d o s
I. T ítu lo
06-8282 C D D -3 3 3 .7 1 4
1.1 A m b ie n te 18
1.3 Poluição 24
1.4 Degradação am b ie n ta l 26
1.5 Im p acto am b ie n ta l 28
1.6 Aspecto am b ie n ta l 32
1.8 Avaliação de im p a c to am b ie n ta l 38
1.9 Recuperação am b ie n ta l 40
1.10 Síntese 42
CAPITULO
O r ig e m e d if u s ã o d a a v a l ia ç ã o de im p a c t o a m b ie n t a l 45
2.1 Origens 46
CAPITULO TRES
Q u a d r o legal e in s t it u c io n a l d a a v a l ia ç ã o de im p a c t o 69
AMBIENTAL NO BRASIL
CAPITULO QUATRO
O PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL E SEUS OBJETIVOS 91
CAPITULO CINCO
Et a p a de t r i a g e m 109
CAPITULO SEIS
D e t e r m in a ç ã o d o esc o po d o es tu d o e f o r m u l a ç ã o de
ALTERNATIVAS
relevantes
6.6 A fo rm u la ç ã o de alte rn a tiva s 152
CAPITULO
Et a p a s d o p l a n e j a m e n t o e d a e l a b o r a ç ã o de u m e s t u d o de
im p a c t o a m b ie n t a l
CAPITULO NOVE
E s tu d o s de base 217
CAPITULO DEZ
P r e v is ã o de im p a c t o s 257
CAPITULO ONZE
A v a l ia ç ã o d a im p o r t â n c ia d o s im p a c t o s 287
CAPÍTULO
P la n o de g estão a m b ie n t a l
CAPÍTULO
C o m u n ic a ç ã o dos resultados
CAPÍTULO
A n á l is e t é c n ic a d o s e s t u d o s a m b ie n t a is
15.1 F u n d a m e n t o s
15.2 0 problem a da qualidade dos estudos am bientais 388
15.3 Ferramentas para análise e avaliação dos estudos a m bie ntais 395
CAPITULO DEZESSEIS
Pa r t ic ip a ç ã o p ú b l ic a
d
403
CAPITULO DEZESSETE
A T O M A D A DE DECISÃO NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO 427
DE IMPACTO AMBIENTAL
17.4 Negociação
435
CAPITULO DEZOITO
A ETAPA DE A C O M PANH AM ENTO NO PROCESSO 4 43
G l o s s á r io 461
A p ê n d ic e A 465
A p ê n d ic e B 470
R e fe r ê n c ia s B ib l io g r á f ic a s 477
APRESEN"-
V in t e a n o s p a ra e s c re v e r u m liv r o n ã o é m u it o . N ã o é e x a g e
ro d iz e r q u e c o m e c e i a e s c r e v ê - lo em j u l h o de 1 9 8 5 , em u m f r i o e
c in z e n t o v e r ã o da t a m b é m c in z e n ta A b e r d e e n , na c o s ta o r ie n t a l da
Escócia. 0 C e n te r f o r E n v ir o n m e n t a l M a n a g e m e n t a n d P la n n in g -
CEMP, da U n iv e rs id a d e de A b e r d e e n , era r e c o n h e c id o p e lo s e m in á r io
in t e r n a c io n a l de d u a s s e m a n a s , q u e t o d o s os a n o s re u n ia , s e m p r e n o
"ve rã o '', e s p e c ia lis ta s de v á r io s países p a ra p a le s tra s , d e b a te s e e x e r
cício s s o b re A v a lia ç ã o de I m p a c t o A m b ie n t a l (AIA). Era u m a e x c e le n te
o p o r t u n i d a d e p a ra q u e m , em p o u c o s meses, p r e te n d ia in ic ia r u m d o u t o
r a d o s o b re esse te m a . Foi u m a lo n g a v ia g e m d e sd e a França, o n d e eu já
era b o ls is ta d o CNPq (C o n s e lh o N a c io n a l de D e s e n v o lv im e n t o C ie n tí f ic o
e T e c n o ló g ic o ), de ô n ib u s , n a v io , t r e m e a té c a ro n a , p o is era p re c is o
e c o n o m iz a r - os o r g a n iz a d o r e s d o s e m in á r io h a v ia m m e o f e r e c id o u m a
bolsa, m as eu te r ia de c h e g a r e m e h o s p e d a r p o r m e u s p r ó p r io s m e io s .
M e u in te re s s e p o r t e m a s a m b ie n t a is v in h a de sd e a g r a d u a ç ã o - p e r í o
d o q u e t a m b é m m e p o s s ib ilit o u as p r im e ir a s e x p e riê n c ia s de c o n v iv ê n c ia
m u lt id is c ip lin a r . Já n o p r im e ir o a n o de u n iv e rs id a d e , in g re sse i n o CEU -
C e n tr o E x c u rs io n is ta U n iv e r s it á r io - , o n d e e s t u d a n t e s de to d a s as áreas
se r e u n ia m para fa z e r c a m in h a d a s , escaladas, m e r g u lh o s e v is it a r c a v e r
nas. Para a lg u n s a d e p to s d o e x c u r s io n is m o , a a t iv id a d e im p lic a v a m ais
q u e r e c re a ç ã o e d e m a n d a v a u m a v e r d a d e ir a in t e r p r e t a ç ã o da n a tu re z a .
L o g o n o te i q u e isso a in d a era in s u fic ie n t e : os b e lo s lu g a re s q u e f r e q ü e n
t á v a m o s e ra m cada v e z m a is a s s e d ia d o s p o r in te re s s e s e c o n ô m ic o s -
im o b iliá r io s , tu r ís tic o s , m in e r á r io s - , c u jo s im p a c t o s ia m se e v id e n c ia n d o .
SENTACAO 3
1.1 A m b i e n t e
0 conceito de “ambiente”, no campo do planejamento e gestão ambiental, é amplo,
multifacetado e maleável. Amplo porque pode incluir tanto a natureza como a socie
dade. Multifacetado porque pode ser apreendido sob diferentes perspectivas. Maleável
porque, ao ser amplo e multifacetado, pode ser reduzido ou ampliado de acordo com
as necessidades do analista ou os interesses dos envolvidos.
CAPÍTU LO
C o n c e it o s e D e - y
No Chile, “meio ambiente” (medio ambiente) é “o sistema global constituído por ele
mentos naturais e artificiais de natureza física, química ou biológica, socioculturais e
suas interações, em permanente modificação pela ação hum ana ou natural e que rege
e condiciona a existência e desenvolvimento da vida em suas múltiplas manifesta
ções” (Ley de Bases dei Medio Ambiente n° 19.300, de 3 de março de 1994, art. 2o, k).
CAPÍTU LO
\ is:;nrc
------» ■-
C o n c e it o s e DEr
ern - i
Até a primeira metade do século XX era quase universal o usp do termo recurso na-
tuxal. Desenvolveram-se disciplinas especializadas, como a Geografia dos Recursos
Naturais
v_
e a Economia\
dos Recursos
l ^
Ambiente
Naturais. Implícita nesse conceito está
* j *
Atmosfera Antroposfera
sobre-explotação dos recursos naturais Hidrosfera
Biosfera
desencadeia diversos processos de_de Pedosfera
gradação ambiental . afetando a própria
Componentes
ou elementos
Relevo Cultura
serviços e as funções essenciais à vida. Ar 9
Aguas
(É nítido, então, que o conceito de
ambiente oscila entre dois_polos: o for Natureza Sociedade
<U
necedor de recursos e o meio de vida,
“CO*
■O .
O
OJ
que são duas faces de uma só realidade. ’ cj Paisagem
0
Ambiente não se define “somente on
cu
1
C
Para Theys (1993), que examinou 03
OO Patrimômio natural Patrimômio cultura
aj
várias classificações, tipologias e defi 4 —'
c
< L)
(i) tentar determ inar as condições de produção do melhor ambiente possível para
o ser humano, renovando sem cessar as formas de apropriação da natureza, ou
(ii) tentar determ inar o que é suportável pela natureza, estabelecendo, portanto,
limites à ação da sociedade.
CAPÍTU:L0
C o n c e ito s e D er
1.2 C u l t u r a e p a t r i m ô n i o c u l t u r a l
Já foi dito anteriormente que as repercussões de um projeto podem ir além de suas
conseqüências ecológicas. Ações hum anas repercutem sobre as pessoas, quer no
plano econômico, quer no social, quer no cultural. 0 reassentamento de um a popu
lação deslocada por um empreendimento pode desfazer toda um a rede de relações
comunitárias, causar o desaparecimento de pontos de encontro ou de referenciais
de memória e, com isso, relegar lendas, mitos ou manifestações da cultura popular
ao esquecimento. Ademais, empreendimentos modernizadores modificam profunda
mente os modos de vida das populações tradicionais, nem sempre preparadas ou
mesmo desejosas dessas modificações.
A palavra “cultura” reflete um a noção muito vasta. Em certo sentido, tudo o que faz
o ser hum ano é cultura. Cultura pode ser entendida como o oposto ou o complemento
da natureza. Cientistas sociais falam em cultura técnica, administradores, em cul-
| tura organizacional. Para se discutir “impacto cultural”, é preciso ter um a definição
operativa de cultura. Bosi (1994) sintetiza o conceito de cultura como “herança de
valores e objetos compartilhada por um grupo hum ano relativamente coeso”. Morin
e Kern (1993, p. 60) a definem como:
Uma m aneira de tra ta r a cultura emprega a noção de“patrimônio cu ltu ral”, que na
atualidade é um conceito muito abrangente, abarcando um sem-número decriações
hum anas, passadas ou presentes. No passado, o conceito de “patrim ônio” lim itava-
se a bens de natureza material que recebiam algum a forma de reconhecimento
oficial, como na locução* “patrimônio histórico”. Modernamente, “patrimônio cul
tu ra l” inclui tam bém bens de natureza imaterial, assim como produtos da cultura
popular. A Constituição brasileira traz um a definição ampla e atual de patrimônio
cultural (art. 216):
Os bens materiais podem ser classificados em móveis ou imóveis. Aqueles são mais
facilmente protegicfos dos impactos que podem advir de projetos de desenvolvimento
devido à sua própria mobilidade (o que não impede, contudo, sua descontextualização,
que já é um impacto). Os bens imóveis constituem sítios de interesse cultural, que
podem ser sítios arqueológicos,'Tirstoricos, religiosos ou naturais. Exemplos de sítios
naturais são cavernas, vulcões, gêiseres, cachoeiras, cânions, sítios paleontológicos
e locais-tipo de formações geológicas. Paisagens, que muitas vezes combinam atri
butos naturais com a interferência do homem, também têm sido enquadradas nessa
categoria. 0 patrimônio genético representado pela biodiversidade também deve ser
considerado como patrimônio cultural, além de natural, pois supõe conhecimento
(científico ou tradicional) que permita seu aproveitamento.
1.3 P o l u i ç ã o
Em países como o Brasil, a incorporação de temas ambientais ao debate público
deu-se anos ou décadas após a inclusão do tema na agenda internacional, e as
primeiras leis que explicitamente visavam à proteção am biental (ou de uma parce
la dele) tratavam principalmente de problemas relativos à poluição. Dito de outra
forma, a partir do momento em que o conceito de ambiente foi paulatinam ente
assimilado à ideia de meio de vida (e, portanto, de -qualidade de vida), e não mais
somente como recurso natural, os problemas então denominados ambientais foram
assimilados à noção de poluição.
Basicamente, poluição é entendida como uma condição do entorno dos seres vivos
(ar, água, solo) que lhes possa ser danosa. As causas da poluição são as atividades
hum anas que, no sentido etimológico, “sujam” o ambiente. Dessa forma, tais ativi
dades devem ser controladas para se evitar ou reduzir a poluição. Já em 1948, os
Estados Unidos contavam com um a Lei de Controle da Poluição das Aguas e a partir
de 1955, com uma Lei de Controle da Poluição do Ar, enquanto, em 1956, o Reino
Unido decretava um a Lei do Ar Limpo.
CAPÍTUt o
C o n c e ito s e D ernig
Tais definições legais são coerentes com o conceito de poluição então vigente (e que
continua atual). Comum a ambas é a conotação n eg a tiva do conceito de poluição.
Outra ideia comum é a associação entre poluição e emissões ou presença de matéria
ou energia. Isso significa que à poluição podem-se correlacionar certas g ra n d eza s
f í s i c a s ou p a râ m e tro s q u ím ico s ou fís ic o - q u ím ic o s , que podem ser medidos e para os
quais podem ser estabelecidos valores de referência, conhecidos como p a d rõ es a m
bientais. São exemplos de poluentes:
# Elementos ou compostos químicos presentes nas águas superficiais ou subterrâ
neas, cujas concentrações podem ser medidas por procedimentos padronizados
(são normalmente expressas em mg/£, pg/f ou ainda ppm) e para alguns dos
quais existem padrões "estabelecidos pela regulamentação.
# Material particulado ou gases potencialmente nocivos presentes na atmosfe
ra, cujas concentrações podem ser medidas por métodos normalizados (são
normalmente expressas em pg/m 3) e para alguns dos quais também existem
padrões estabelecidos pela regulamentação.
# Ruído, medido usualmente em decibéis - dB(A), cujos níveis de pressão sonora
são fixados por textos legais ou normas técnicas.
# Vibrações, medidas, por exemplo, em mm/s, cujos valores são estabelecidos por
normalização técnica.
# Radiações ionizantes, medidas, por exemplo, em Bq/f ou Sievert, que são
tam bém objeto de regulamentação específica.
Essa clareza está ausente na definição de poluição da Lei da Política Nacional do Meio
Ambiente (Lei Federal n° 6.938, de 31 de agosto de 1981): poluição é
I Ao igualar poluição e degradação ambiental, esta lei propõe uma definição muito
ampla e demasiado subjetiva.
Foi por razões como essas, ou seja, porque inúmeras atividades hum anas causam per
turbações ambientais que não se reduzem à emissão de poluentes, que o conceito de
poluição foi sendo ora substituído, ora complementado pelo conceito mais abrangente
de impacto ambiental. Como conseqüência, as políticas ambientais evoluíram.
1.4 D e g r a d a ç ã o a m b i e n t a l
Degradação ambiental é outro termo de conotação claramente negativa. Seu uso na
“moderna literatura ambiental científica e de divulgação é quase sempre ligado a um a
mudança artificial ou perturbação de causa hum ana - é geralmente um a redução
percebida das condições naturais ou do estado de um ambiente” (Johnson et al., 1997,
p. 583). 0 agente causador de degradação ambiental é sempre o ser humano: “pro
cessos naturais não degradam ambientes, apenas causam m udanças” (Idem, p. 584).
■A
{
A degradação de um objeto ou de um sistema é muitas vezes associada à ideia de
perda de qualidade. Degradação ambiental seria, assim, um a perda ou deterioração
da qualidade a m b ie n ta l. A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente define de
gradação ambiental como “alteração adversa das características do meio ambiente”
(art. 3o, inciso II), definição suficientemente ampla para abranger todos os casos de
prejuízo à saúde, à segurança, ao bem -estar das populações, às atividades sociais e
econômicas, à biosfera e às condições estéticas ou sanitárias do meio, que a mesma
lei atribui à poluição.
CAPÍTU LO
7S7Í
C o n c e ito s e D e r * , i OES 27
\
Assim, degradação ambiental jpode ser conceituada como q u a lq u e r alteração adversa
dos processos, f u n ç õ e s ou c o m p o n e n te s a m b ie n ta is, ou como um a alteração adversa
da q u a lid a d e a m b ie n ta l . Em outras palavras, degradação ambiental corresponde a
impacto ambiental negativo.
ambiental. cE E o 3
o n
15 QJ
*ü o 4— *
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industriais e de serviços
4 -»
degradada sintetiza os resultados da 175 a
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degradação do solo, da vegetação e
£
cr muitas vezes das águas. Em que pese
í a relatividade do conceito de degra
cr dação ambiental, a Fig. 1.4 mostra QJ
>
G
Recuperação c:
•CO
CO.
1 . 5 Im p a c to a m b ie n t a l
A locução “impacto ambiental” é encontrada com frequência na imprensa e no dia a
dia. No sentido comum, ela é, na maioria das vezes, associada a algum dano àjnatu-
reza, como a mortandade da fauna silvestre após o vazamento de petróleo no mar ou
em um rio, quando as imagens de aves totalmente negras devido à camada de óleo
que as recobre chocam (ou “impactam”) a opinião pública. Nesse caso, trata-se, indu
bitavelmente, de um impacto ambiental derivado de um a situação indesejada, que é o
vazamento de um a matéria-prima.
Embora essa noção esteja incluída na noção de impacto ambiental, ela dá conta de
apenas um a parte do conceito. Na literatura técnica, há várias definições de impacto
ambiental, quase todas elas largamente concordantes quanto a seus elementos bási
cos, embora formuladas de diferentes maneiras. Alguns exemplos são:
CAPÍTUiLO
C o n c e ito s e D ehnüc OE5 29
A definição adotada por Wathern, na linha do que havia sido proposto por M unn
(1975, p. 22) tem a interessante característica de introduzir a dimensão dinâmica dos
processos do meio ambiente como base de entendimento das alterações ambientais
denominadas impactos (Fig. 1.5). Um exemplo de aplicação desse conceito pode ser
dado com a seguinte situação: suponha um a determinada área ocupada por um a
formação vegetal, que já foi, no passado, alterada por ação do homem, com o corte
seletivo de espécies arbóreas. 0 estado atual da vegetação dessa área pode ser descrito
com a ajuda de diferentes indicadores, como a biomassa por hectare, a densida
de de indivíduos arbóreos de diâmetro acima de um determinado valor ou algum
índice de diversidade de espécies. Se a vegetação foi degradada por ação antrópica
no passado, mas não sofre hoje pressões desse tipo, provavelmente estará em pro
cesso de regeneração natural, ou seja, tenderá, dentro de um certo período (talvez da
ordem de dezenas de anos), a voltar a uma si
tuação próxima à original ou à de clímax. A
descrição da situação atual da área por meio
do uso de algum indicador pode sugerir que
ela tenha pouca importância ecológica -
por abrigar poucos indivíduos arbóreos de
grande porte, por exemplo. Mas com o passar
do tempo, a área deve estar em melhores con
dições do que as atuais, abrigando árvores
maiores e de maior diversidade. De acordo com
o conceito de M unn e Wathern, se um empreen Fig. 1.5 Representação do conceito de im pacto am biental
dimento vier a derrubar a vegetação atual, seu
impacto deveria ser avaliado não comparando
a possível situação futura (área sem vegetação) com a atual, mas comparando duas
situações futuras hipotéticas: aquela sem a presença do empreendimento proposto
com a situação decorrente de sua implantação.
s
1A s normas da
Na prática da avaliação de impacto ambiental, nem sempre é possível empregar esse Organização
conceito, devido à dificuldade de se prever a evolução da qualidadejpnbiental em uma Internacional de
Normalização -
dada área. Nesses casos, que são muito freqüentes, o conceito operacional de impacto ISO (International
ambiental acaba sendo a, diferença entre a provável situação futura de um indicador Organization fo r
ambiental (com o projeto proposto) e sua situação presente. Imagine o problema de ava Standardization)
liar o impacto sobre a qualidade do ar de uma nova fonte de emissão de poluentes: o são traduzidas
e publicadas
cenário de referência para comparação normalmente seria o atual, e não um hipotético pela Associação
cenário futuro, no qual novas fontes contribuiriam para deteriorar a qualidade do ar, Brasileira de
uma vez que essas hipotéticas novas fontes não estão em análise hoje, e, caso venham Normas Técnicas-
ABNT, entidade
a ser consideradas no futuro, será necessário avaliar seu impacto, levando em conta a
privada brasileira
situação do momento futuro. filiada à ISO. As
normas A B N T
Al Uma outra definição de impacto ambiental é dada pela normaVNBR ISO 14.001:i 2004
.
são recojihecidas
pelo governo,
(versão atualizada da primeira norma ISO 14.001, de 1995. Aqui é reproduzida a por intermédio
tradução oficial brasileira da norma internacional.)1: “qualquer modificação do meio do Inmetro -
ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em parte, das atividades, pro- Instituto Brasileiro
dutos ou serviços de uma organização” (item 3.4 da norma). E interessante conhecer de Metrologia,
Normalização
o conceito de impacto ambiental adotado por essa norma porque muitas empresas e e Qualidade
outras organizações têm adotado sistemas de gestão ambiental nela baseados. Sob Industrial.
5 çsc de .^oacto A m biental: conceitos e métodos
Também as leis de diversos países procuraram definir o que entendem por impacto
ambiental. Na legislação portuguesa,
Na legislação finlandesa,
(a) uma mudança on-site ou off-site que o projeto possa causar no ambiente;
(b) um efeito da mudança sobre (i) o bem-estar das pessoas, flora, fauna e ecossis
temas; (ii) patrimônio físico e cultural; (iii) uma estrutura, sítio ou outra coisa que
seja de importância histórica ou arqueológica; (c) um efeito on-site ou off-site de
quaisquer das coisas referidas no parágrafo (b) das atividades desenvolvidas para
0 projeto; (d) uma mudança do projeto que o ambiente possa causar, se a mudança
ou efeito ocorrer dentro ou fora do recinto do projeto.
Salta aos olhos, no caso brasileiro, a impropriedade dessa definição, que felizmente
não é levada ao pé da letra na prática da avaliação de impacto ambiental nem é
tomada em seu sentido restrito na interpretação dos tribunais. Trata-se, na verdade,
de um a definição de poluição, como se observa pela menção a “qualquer forma de
matéria ou energia” como fator responsável pela “alteração das propriedades físi
CAPÍTU LO
C o n c e ito s e D er
Se impacto ambiental é uma alteração do meio ambiente provocada por ação humana,
então é claro que tal alteração pode ser benéfica ou adversa. Mais que isso, um projeto
típico trará diversas alterações, algumas negativas, outras positivas, e isso deverá ser
considerado quando se prepara um estudo de impacto ambiental, embora seja devido
às conseqüências negativas que a lei exige a elaboração desse estudo.
Pode-se, então, postular que o impacto ambiental pode ser causado por um a ação
hum ana que implique:
1. Supressão de certos elementos do ambiente, a exemplo de:
# supressão de componentes do ecossistema, como a vegetação;
# destruição completa de hábitats (por exemplo, aterramento de um mangue);
sção ae . t pacto A m b ie ntal: conceitos e métodos
Impacto ambiental é, claramente, o resultado de uma ação humana, que é a sua causa.
Não se deve, portanto, confundir a causa com a conseqüência. Uma rodovia não é
um impacto ambiental; um a rodovia causa impactos ambientais. Da mesma forma,
um reflorestamento com espécies nativas não é um impacto ambiental benéfico, mas
um a ação (humana) que tem o propósito de atingir certos objetivos ambientais, como
a proteção do solo e dos recursos hídricos ou a recriação do hábitat da vida selvagem.
1.6 A s p e c t o a m b ie n t a l
A série ISO 14.000 é um a fam ília de norm as sobre gestãqjambiental. Começaram a ser
desenvolvidas em 1993, tendo por base um a norma britânica de 1992 e regulam en
tos europeus sobre auditoria e gestão ambiental. A família ISO 14.000 compreende
normas sobre sistemas de gestão, desempenho ambiental, avaliação do ciclo de vida
de produtos (equivalente à avaliação de impactos ambientais de produtos), rotulagem
CAPÍTU LO
C o n c e it o s e D efiniç
A norma ISO 14.001 introduziu o termo aspecto ambiental. Tal termo era desconhecido
dos profissionais envolvidos em avaliação de impacto ambiental, ou era utilizado
com outra conotação. No entanto, devido às normas da série ISO 14.000, passou
lentamente a ser incorporado ao vocabulário de profissionais da indústria e de consul
tores, e chegou também aos órgãos governamentais. A norma NBR ISO 14.001: 2004
assim define aspecto ambiental: “elemento das atividades, produtos ou serviços de
um a organização que pode interagir com o meio ambiente” (item 3.3).
A palavra “aspecto” parece pouco adequada, pois é de uso corrente, mas consta de
um a norma internacional, e por isso é inevitável empregá-la. Uma característica posi
tiva da diferenciação entre aspecto e impacto ambiental adotada pela norma é deixar
claro que a emissão de um poluente não é um impacto ambiental. Impacto é alteração
/
da qualidade ambiental que resulta dessa emissão. E a manifestação no receptor, seja
este um componente do meio físico, biótico ou antrópico. A Fig. 1.6 mostra esquema-
ticamente a relação entre as ações hum anas, os aspectos e os impactos ambientais.
As ações são as causas, os impactos são as conseqüências, enquanto os aspectos am
bientais são os mecanismos ou os processos pelos quais ocorrem as conseqüências.
Aspecto ambiental pode ser entendido como o mecanismo através do qual um a acão
hum ana causa um impa,cto--Ambierttal. Exemplos desta cadeia de relações são dados
no Quadro 1.1.
Evidentemente, um a mesma ação pode levar a vários aspectos ambientais e, por con
seguinte, causar diversos impactos ambientaisTDa mesma forma, um determinado
impacto ambiental pode ter várias causas.
Munn (1975, p. 21), um dos autores pio Ações humanas:
neiros no campo da avaliação de impacto Atividades Aspectos ,A?1 Impactos
ambiental, por sua vez, conceitua efeito Produtos Am bientais Am bientais
ambiental como “um processo (como a Serviços
erosão do solo, a dispersão de poluentes, o
deslocamento de pessoas) que decorre de
um a ação h um ana”. Diferencia-se, assim, Fig. 1.6 Relação entre ações humanas, aspectos e im pactos a m b ‘er
ação de Impacto A m b ie ntal: conceitos e métodos
com detergentes
<v ]
1.7 P r o c e s s o s a m b i e n t a i s
0 ambiente é dinâmico. Fluxos de energia e matéria, teias de relações intra e interes-
pecíficas são algumas das facetas dos processos naturais que ocorrem em qualquer
ecossistema, natural, alterado ou degradado. Uma das maneiras de se estudar os
impactos ambientais é entender como as ações hum anas afetam os processos n atu
rais. Um exemplo pode clarificar esse raciocínio: os processos erosivos.
A erosão é um fenômeno (processo) que afeta toda a superfície da Terra. Sua intensi
dade varia dependendo de fatores, como clima, tipo de solo, declividade e cobertura
vegetal. Em climas úmidos, há a formação de solos espessos e cobertura vegetal que
tende a cobrir toda a superfície; já em climas áridos, a vegetação é mais rala e os
solos mais rasos; nesses casos, a erosão eólica é intensa. Em climas tropicais, ocorrem
chuvas intensas (ou seja, grande quantidade de água em curto período de tempo), de
grande potencial erosivo. Por sua vez, escarpas íngremes estão mais sujeitas à ação
erosiva da chuva do que vertentes suaves. Assim, a erosão natural varia em inten
sidade e pode ser medida em termos de massa de solo perdida por unidade de área
e por intervalo de tempo (t/ha/ano). A ação hum ana interfere no processo erosivo,
CAPÍTU LO
C o n c e ito s e D e r n i 35
0 Quadro 1.2 mostra exemplos de taxas de erosão lam inar no Brasil, em diferentes
locais submetidos a diferentes formas de uso do solo. A perda de solos é medida por
experimentos realizados no campo, e a busca de correlações entre os tipos de uso do
solo e as taxas erosivas tem sido empreendida há décadas. Observa-se claramente
que a floresta atua como principal protetora do solo; quando substituída por pasta
gem, as taxas de erosão são cerca de um a ordem de grandeza (dez vezes) maior; já
quando ocorre a substituição por culturas, 0 processo erosivo é cerca de três ordens
de grandeza (mil vezes) mais inten
so - as taxas de erosão variam muito Q u a d r o 1.2 E s tim a tiv a s de ta xa s de erosão, se g u n d o d ife re n te s c a te g o
de cultura para cultura e depen ria s de uso do solo
dem também das práticas agrícolas T ipo de u s o , lo c a l P e r d a de s o l o C ontexto geo
usadas, como 0 plantio em curvas de
nível, por exemplo. A implantação de Floresta Am azônica 150 V ertente com declividade
loteamentos urbanos e a a E ê r tu r a de prim ária, Roraima de 2 0 %
minas elevam ainda mais as taxas de Latossolo v e rm e lh o -a m a re lo
erosão, um a vez que os solos ficam Pastagem de 1.128 V ertente com declividade
diretamente expostos à ação da água B ra c h ia ria em an tig a de 2 0 % (1)
de chuva e também dos ventos. Por área de floresta Latossolo v e rm e lh o -a m a re lo
tanto, não é correto afirm ar que a prim ária, Roraima
construção de um a estrada, a aber 330 "
Floresta A m azônica ( 1)
tura de um a m ina ou a derrubada prim ária, Rondônia
de um a floresta causam erosão, haja ■ : • .................. ■........................• .....................■ " .v ; " " • _ ..........
lago de várzea de um afluente do rio Áreas urbanas, 170.000 Solos de alteração de filitos,
Madeira, em Rondônia, mostraram Q uadrilátero xistos e itabiritos, bacias (3)
que, entre os anos de 1875 e 1961, a Ferrífero, M inas h id ro g rá fic a s com vertentes
taxa de sedimentação média era de Gerais íngrem es
i
0,12 g/cm2/ano, mas, a partir desse Areas de m ineração, 700.000 Solos de alteração de filitos,
período, com a construção da rodovia Q uadrilátero xistos e itabiritos, bacias (3)
BR-364, 0 desmatamento progressivo Ferrífero, M inas Gerais h idrográficas com vertentes
nessa bacia hidrográfica e a m inera íngremes
ção aluvionar de cassiterita, a taxa
de sedimentação aumentou exponen- (1) Barbosa e Fearnside (2000); (2) Casseti, (1995); (3) Coppedê Jr. e Boechat
(2002)
cialmente para atingir um valor dez
a çã o ae ..r.pacto A m b ie ntal: conceitos e métodos
Vários processos podem ser retardados pela ação humana. Em um a clareira aberta
em um a floresta tropical, o processo denominado sucessão ecológica tende a restabe
lecer a vegetação nativa, primeiro pelo crescimento de espécies arbóreas adaptadas
à intensa luz solar e à tem peratura elevada - as pioneiras - e, em seguida, depois do
sombreamento da área, pelo crescimento de outras espécies adaptadas à sombra e a
temperaturas mais amenas características do solo dessas florestas. A dispersão de se
mentes pelo vento e pelos animais auxilia a regeneração. Todavia, o manejo humano
dessa clareira pode retardar ou mesmo impedir a regeneração, como acontece em caso
CAPÍTU LO
C o n c e ito s e D ern 37
Fornasari Filho et al. (1992) apresentam uma lista de processos do meio físico que
usualmente são alterados por atividades h u manas, alguns dos quais são mostrados no
Quadro 1.3, com alguns processos ecológicos. Além de completar o quadro com deze
nas de outros processos físicos e ecológicos, é possível acrescentar também processos
sociais, formando, dessa maneira, um a base para o entendimento de como as ativi
dades hum anas afetam a dinâmica ambiental. Um processo social frequentemente
induzido por obras de engenharia e outros projetos públicos e privados é a atração
de pessoas em busca de oportunidades de trabalho, verdadeiros fluxos migratórios
postos em m archa pelo mero anúncio de um grande projeto.
ação de Impacto A m biental: conceitos e métodos
Q uadro 1.3 Exemplos de processos ambientais físicos e ecológicos A Fig. 1.11 mostra a relação entre pro
F'zcessos geológicos de superfície cessos e impactos ambientais. A situação
Erosão ambiental atual pode ser exemplificada
M o v im e n ta ç ã o de massa (escorregam entos etc.)
por um a fazenda de criação de bovinos,
A fu n d a m e n to s cársticos M
onde um empreendedor pretende implan
Processos hidrológicos
tar um loteamento; dentre os processos
Transporte de poluentes nas águas
Eutrofização de corpos d'água atuais, pode-se selecionar o processo
A c ú m u lo de poluen te s nos s edim e ntos erosivo, que, atuando sobre os pastos, im
Inundações plica certa perda de solo. A implantação de
Deposição de s edim e ntos em rios e lagos
um loteamento induz um a intensificação
Processos hidrogeologicos dos processos erosivos, devido à abertura
D ifusão de poluentes na água subterrânea de vias e à construção de casas, com
Recarga de aqüíferos
T - AAv • T-AA...’ ... A CM,.: maior exposição do solo à ação das águas
Processos atmosféricos pluviais. Esses processos modificados (no
Transporte e d ifu s ã o de poluentes gasosos exemplo, intensificados) conduzem a um a
Propagação de ondas elásticas
nova situação ambiental, e o impacto
Processos ecológicos ambiental do loteamento, com relação
Biodegradação de m atéria orgânica em corpos d'água
ao processo erosivo, é representado pela
B ioa cu m u lação de m etais pesados
Sucessão ecológica situação futura com o loteamento em
Ciçlagem de n u trie n te s
■■ : s : , . . . . ..
relação à evolução (situação futura) sem
o loteamento. Nesse exemplo, para fins
de simular a situação futura sem o lotea
Supressão de elementos do ambiente mento, pode-se levantar a hipótese que
Inserção de elementos no ambiente esta seria muito semelhante à situação
Sobrecarga
Situação futura do ambiente atual (pastagem), de modo que, nessa hi
Ação proposta
pótese, o impacto pode ser determinado
comparando a provável situação futura
Impacto
ambiental com a situação atual.
CAPÍTU LO
C o n c e ito s e D e = \ ; ç^ m 39
Uma definição sintética é adotada pela International Association for Impact Assess-
ment - IAIA: “avaliação de impacto, simplesmente definida, é o processo de identificar
^ Ri
são. E claro que os livros-texto tom am como pressuposto as legislações que, a p artir
da pioneira lei am ericana d e J 9 6 9 . foram adotadas em grande número de países e
que, como a brasileira, vieram a exigir a aplicação desse instrum ento em determ i
nadas situações. A tais exigências vieram somar-se os procedimentos adotados por
instituições multi ou bilaterais de ajuda ao desenvolvimento e, mais recentemente,
Ig c ação de i r p a c t o A m b ie n ta l: conceitos e métodos
por políticas v o lu n tárias adotadas por algum as empresas. Em todos esses contextos,
a avaliação de impacto am biental g u ard a determ inadas características comuns:
caráter prévio e v ínculo com o processo decisório são atributos essenciais da AIA,
aos quais se j u n ta a necessidade de envolvim ento público nesse processo.
0 caráter prévio e preventivo da AIA predom ina na literatura, mas tam bém se
pode encontrar referências à avaliação de impactos de ações ou eventos passados,
por exemplo, depois de um acidente envolvendo a liberação de algum a substância
química. Embora a noção de impacto ambiental envolvida em tais avaliações seja
fundam entalm ente a mesma daquela da AIA preventiva, o objetivo do estudo não é
o mesmo, nem o foco das investigações. Nesse caso, a preocupação é com os d a n o s
causados, ou seja, os impactos negativos. É claro que tam bém os procedimentos de
investigação são diferentes, pois não se trata de antecipar um a situação futura, mas
de ten tar medir o dano ambiental e, ocasionalmente, de valorar economicamente
as perdas. A Fig. 1.12 representa graficamente essas duas acepções da avaliação de
impacto ambiental.
1.9 R e c u p e r a ç ã o a m b i e n t a l
0 ambiente afetado pela ação h u m an a pode, em certa medida, ser recuperado mediante
ações voltadas para essa finalidade. A recuperação de ambientes ou de ecossistemas
degradados envolve medidas de melhoria do meio físico, por exemplo, a condição do
solo, a fim de que se possa restabelecer a vegetação ou a qualidade da água, a fim de
CAPÍTU LO
C o n c e it o s e D er niç
que as com unidades bióticas possam ser restabelecidas - e medidas de manejo dos
elementos bióticos do ecossistema - como o plantio de mudas de espécies arbóreas ou
a reintrodução da fauna.
Quando se trata de ambientes terrestres, tem -se usado o termo recuperação de áreas
degradadas. A Fig. 1.13 m ostra diferentes entendim entos ou variações do conceito de
recuperação de áreas degradadas. No eixo vertical, representa-se de m aneira q u ali
tativa o grau de perturbação do meio, enquanto o eixo horizontal m ostra um a escala
temporal. A p a rtir de u m a dada condição inicial (não necessariam ente a condição
“orig inal” de um ecossistema, mas a situação inicial para fins de estudo da d egrada
ção), a área analisada passa a um estado de degradação, cuja recuperação requer, na
maioria das vezes, um a intervenção planejada - a recuperação de áreas degradadas.
Vale recordar o conceito de recuperação am biental expresso na Fig. 1.3, que fu n d a
m entalm ente significa dar a um ambiente degradado condições de uso produtivo,
restabelecendo um conjunto de funções ecológicas e econômicas.
Tempo
RecupexaçãjQ_anibienta 1 é um termo
geral que designa a aplicação de téc Recuperação que
nicas de manejo visando tornar um supera a condição
inicial
ambiente degradado apto para um novo Condição
inicial Restauração
uso produtivo, desde que sustentável.
Ação corretiva Reabilitação
Dentre as variantes da recuperação
Remediação
ambiental, a restauração é entendida
como o retorno de uma área degra Condição Atuação natural
dada às condições existentes antes atual
Recuperação
da degradação, com o mesmo senti Abandono espontânea
do que se fala da restauração de bens
Continuidade
culturais, como edifícios históricos. da degradação
Em certas situações, as açõeS de re
cuperação podem levar um ambiente
Grau de perturbação
degradado a um a condição ambiental
melhor do que a situação inicial (mas
Fig. 1.13 D iagram a esquem ático dos objetivos de recuperação de áreas
somente, é claro, quando a condição
degradadas
inicial for a de um ambiente alterado).
Um exemplo é um a área de pastagem
com erosão intensa que passa a ser usada para explotação mineral e em seguida é re
povoada com vegetação nativa para fins de conservação ambiental.
1.10 S ín t e s e
Definir com clareza o significado dos termos que emprega é um a obrigação do profis
sional ambiental. Esse profissional está sempre em contato com leigos e técnicos das
mais diversas áreas e especialidades. A comunicação é um a necessidade indissociável
da atuação profissional na área ambiental. Por outro lado, estabelecer uma terminolo
gia comum é obrigatório para uma comunicação eficaz entre autor e leitor. Ao longo
deste texto, serão adotados os seguintes conceitos:
i # Poluição: introdução no meio ambiente de qualquer forma de matéria_ou energia
/ ^ \ * \
que possa afetar negativamente o homem ou outros organismos. x
\ # Impacto ambiental: alteração da qualidade ambiental que resulta da modificação
de processos naturais ou sociais provocada por ação humana.
# Aspecto ambiental: elemento das atividades, produtos ou serviços de uma orga-
nização que pode interagir como meio ambiente (segundo NBR ISO 14.001:
Í 2004). ^
CAPÍTU
C o n c e ito s e D eh
2.1 O r ig e n s
A sistematização da avaliação de impacto ambiental como atividade obrigatória, a
ser realizada antes da tomada de certas decisões que possam acarretar conseqüências
ambientais negativas, ocorreu nos Estados Unidos em decorrência da lei da política
nacional do meio ambiente daquele país, a National Environmental Policy Act, usual
mente referida pela sigla NEPA. Essa lei foi aprovada pelo Congresso em dezembro de
1969 e entrou em vigor no dia Io de janeiro de 1970, requerendo de “todas as agências
do governo federal” (artigo 102 da lei):
CAPITU
O r ig e m e d if u s ã o d a a v a l ia ç ã o d e im p a c t o a m b i e n
Um dos artífices da NEPA foi o professor de ciência política Lynton Caldwell, convi
dado pelo Senado para assessorar a discussão e a redação do projeto de lei. Segundo
Caldwell (1977, p. 12), para que a política fosse eficaz, dois enfoques eram necessários:
0 primeiro era estabelecer um fundam ento substantivo, “expresso através de declara
ções, resoluções, leis ou diretrizes”; o segundo, fornecer meios para a ação, “sendo que
um aspecto crítico é o m ecanismo para assegurar que a ação tencionada [realmente]
ocorra”. 0 m ecanism o foi ju stam en te o environmental im paet statem ent (EIS), in i
cialmente concebido como u m a “eheeklist de critérios para planejamento am biental”
Caldwell, 1977, p. 12). A inda segundo o depoimento de Caldwell (p. 15), “dentre as
dezenas de projetos de lei sobre política am biental (...) n en h u m era operacional”,
ou seja, n en h u m deles incluía algum m ecanism o para asseg urar a implementação
prática dos princípios retóricos enunciados. D urante os debates de 1969, a ideia de
"avaliar os efeitos (...) sobre o estado do meio am biente” gan ho u força e transform ou-
se na redação da Seção 102 (C) da lei, tran scrita acima. Caldwell (p. 16) afirm a que,
curiosamente, “a exigência de um EIS não provocou debate nem suscitou apoio ou
objeções e x te rn a s”.
>
Foi somente depois da aprovação da lei que suas implicações foram plenamente
zompreendidas: “a NEPA pegou os empresários e os burocratas públicos de surpresa
... e mesmo agências governam entais não a levaram a sério até que os trib un ais come-
: assem a exigir o estrito cum prim ento da exigência do estudo de impacto am biental”
(Caldwell, 1989, p. 27). Diversos foram os questionam entos levados à Justiça, desde
alegações de implementação m eram ente formal da lei por parte das agências até
pura e simplesmente sobre a suposta tomada de decisões sem que a lei fosse levada
em conta. Em dois anos, as agências federais produziram 3.635 estudos de impacto
ambiental, e foram contestadas em 149 ações judiciais. Nove anos mais tarde, j á havia
cerca de 11 mil estudos e nada menos que 1.052 ações na Justiça (Clark, 1997).
Um dos artífices da NEPA foi o professor de ciência política Lynton Caldwell, convi
dado pelo Senado para assessorar a discussão e a redação do projeto de lei. Segundo
Caldwell (1977, p. 12), para que a política fosse eficaz, dois enfoques eram necessários:
o primeiro era estabelecer um fundamento substantivo, “expresso através de declara
ções, resoluções, leis ou diretrizes”; o segundo, fornecer meios para a ação, “sendo que
um aspecto crítico é o mecanismo para assegurar que a ação tencionada [realmente]
ocorra”. 0 mecanismo foi justam ente o environmental impact statem ent (EIS), ini
cialmente concebido como um a “checklist de critérios para planejamento ambiental”
(Caldwell, 1977, p. 12). Ainda segundo o depoimento de Caldwell (p. 15), “dentre as
dezenas de projetos de lei sobre política ambiental (...) nenhum era operacional”,
ou seja, nenhum deles incluía algum mecanismo para assegurar a implementação
prática dos princípios retóricos enunciados. Durante os debates de 1969, a ideia de
“avaliar os efeitos (...) sobre o estado do meio ambiente” ganhou força e transformou-
se na redação da Seção 102 (C) da lei, transcrita acima. Caldwell (p. 16) afirma que,
curiosamente, “a exigência de um EIS não provocou debate nem suscitou apoio ou
objeções externas”.
Foi somente depois da aprovação da lei que suas implicações foram plenamente
compreendidas: “a NEPA pegou os empresários e os burocratas públicos de surpresa
(...) e mesmo agências governamentais não a levaram a sério até que os tribunais come
çassem a exigir o estrito cumprimento da exigência do estudo de impacto ambiental”
(Caldwell, 1989, p. 27). Diversos foram os questionamentos levados à Justiça, desde
alegações de implementação meramente formal da lei por parte das agências até
pura e simplesmente sobre a suposta tomada de decisões sem que a lei fosse levada
em conta. Em dois anos, as agências federais produziram 3.635 estudos de impacto
ambiental, e foram contestadas em 149 ações judiciais. Nove anos mais tarde, já havia
cerca de 11 mil estudos e nada menos que 1.052 ações na Justiça (Clark, 1997).
aspecto mais importante da lei é que ela estabelece novos processos decisórios para
todas as agências do governo federal” (Spensley, 1995, p. 310).
2 .2 D if u s ã o i n t e r n a c i o n a l : o s p a ís e s d e s e n v o l v id o s
Nos países do Norte, a adoção da AIA deveu-se fundam entalm ente à similaridade de
seus problemas ambientais, decorrentes, por sua vez, do estilo de desenvolvimento.
Canadá (1973), Nova Zelândia (1973) e Austrália (1974) estiveram entre os primeiros
países que adotaram políticas determinando que a avaliação dos impactos ambientais
deveria preceder decisões governamentais importantes (Quadro 2.1). Da mesma forma
CAPITU
O r ig e m e d if u s ã o d a a v a l ia ç ã o de im p a c t o a m b i e n ^ B 49
que os Estados Unidos, esses países foram colônias de povoamento britânicas, her
dando um sistema jurídico e político muito semelhante. Por outro lado, a explotação
dos recursos naturais teve um papel historicamente muito importante em todos eles
►
ll\jtr o d u ç ão
C a lifó r n ia , EUA 1970 Lei de Q ualidade A m b ie n ta l da C a lifó rn ia , diversas m o d ific a ç õ e s subsequentes
Nova York, EUA 1978 Lei de Exame da Q ua lid a d e A m b ie n ta l, de 1978, m o d ific a d a em 1987 e 1 9 96
A lb e rta , Canadá 1973 Lei de Conservação e R ecuperação de Terras
O ntá rio, Canadá 1974 Lei de A v a lia ç ã o de Im p a c to A m b ie n ta l, de 1 9 75
Lei sobre as avaliações a m b ie n ta is , de 19 9 0
Quebec, Canadá 1978 M o d ific a ç ã o da Lei sobre a Q u a lid a d e do A m b ie n te (de 1972)
R e g u la m e n to sobre a a valiação de im p a c to a m b ie n ta l, de 1980, m o d ific a d o em 1 9 96
C o lú m b ia 1979 Lei de A m b ie n te e Uso do Solo e o u tra s leis (até 2 0 0 2 não havia processo ú n ic o de
B ritâ nica, AIA, mas d ife re n te s processos criados por diversas leis que e sta b e le c ia m necessi-
Canadá dade de o b te n ç ã o de licenças)
Lei de A v a lia ç ã o A m b ie n ta l de d e ze m b ro de 2 0 0 2
N o rte do 1 9 75 C onvenção da Baía James e do N o rte do Q uebec (este acordo, fir m a d o e n tre os g o v e r
Quebec, Canadá nos do Canadá e do Quebec e as c o m u n id a d e s a u tó c to n e s In u it e Cri, estabelece um
regim e p a rtic u la r de A IA em to d a a porção n o rte do te r r itó r io p ro v in c ia l; os Cri e os
In u it c ria ra m seus p ró p rio s c o m itê s para g e rir o processo de AIA)
Nova Gales do Sul , 1 9 7 4 Princípios e P ro c e d im e n to s para A valiação^de im p a c to A m b ie n ta l da Com issão Esta
A u s trá lia dual de C o n tro le de Poluição, de 1 9 7 4
V ic to ria , 1978 D iretrizes para A v a lia ç ã o A m b ie n ta l, de 1977
A u s trá lia Lei sobre Efeitos A m b ie n ta is , de m a rço de 1978
D iretrizes para A v a lia ç ã o A m b ie n ta l, de 1977
A u s trá lia 1978 Lei de Proteção A m b ie n ta l, m o d ific a d a em 1 9 86
O cidental, A u s trá lia P ro c e d im e n to s A d m in is tr a tiv o s de A v a lia ç ã o de Im p a c to A m b ie n ta l, de 1993
Ilhas Baleares, 1 9 86 D ecreto 4 /1 9 8 6 , sobre im p le m e n ta ç ã o e regulação dos estudos de im p a c to a m b ie n ta l
Espanha
C astilha e Leon, 1994 Lei 8 /1 9 9 4 , sobre A v a lia ç ã o de Im p a c to A m b ie n ta l e A u d ito ria A m b ie n ta l, m o d ific a d a
Espanha pela lei 6 /1 9 9 6
D ecreto 2 0 9 /1 9 9 5 , que aprova o r e g u la m e n to da lei
Fontes: elaborado a p a rtir de diversas fontes, incluindo prospectos editados p o r organismos governam entais, sites governam entais,
Couch (1988), M orrison-Saunders e Bailey (2000) e Palerm (1999).
Já na Europa, entretanto, o modelo americano de AIA não foi bem visto, pelo menos em
um primeiro momento. Os governos sustentavam que suas políticas de planejamento já
levavam em conta a variável ambiental, situação que se oporia à dos Estados Unidos,
pais onde o planejamento tinha pouca tradição. Mesmo assim, depois de cinco anos de
discussão e cerca de 20 minutas (Wathern, 1988b), a Comissão Européia adotou uma
resolução (Diretiva 337/85), de aplicação compulsória por parte dos países-membros
da então Comunidade Econômica Européia (atual União Européia), obrigando-os a
adotar procedimentos formais de AIA como critério de decisão para uma série de em-
preendirhentos considerados capazes de causar significativa degradação ambiental. Na
verdade, a elaboração da diretiva europeia tardou dez anos, uma vez que os estudos
preliminares começaram em 1975.
Para Wathern (1988b), quando finalmente a diretiva foi aprovada, representou grandes
mudanças para aqueles países onde a AIA havia sido praticamente negligenciada nas
políticas públicas - Bélgica, Espanha, Grécia, Itália e Portugal. Os demais países, de
CAPÍTU LO
O r ig e m e d ifu s ã o d a a v a lia ç ã o de im p a c to a m b i e n ^ B 51
CAPÍTU LO
O r i g e m e d i f u s ã o d a a v a l i a ç ã o d e i m p a c t o a m b ie n i
já era bem estabelecida, como Canadá, Austrália e Nova Zelândia, os processos foram
fortalecidos por meio da criação de leis ou da reforma de procedimentos (Quadros 2.1 e
2.2). Assim, não se pode deixar de registrar que a AIA tem passado por um a contínua
evolução, na qual as práticas vêm sendo revistas e novos procedimentos e exigências
são formulados, com base no aprendizado proporcionado por uma avaliação crítica
dos resultados, essencial para o vigor de toda política pública. Um avanço significa
tivo é a avaliação ambiental estratégica, ou avaliação do impacto de políticas, planos
e programas, e não de projetos, obras ou atividades. No entanto, esse tema não será
abordado neste livro.
2.3 D if u s ã o i n t e r n a c i o n a l : o s p a ís e s e m d e s e n v o l v i m e n t o
As razões da difusão internacional da AIA são muitas. Talvez a principal delas seja
que tanto os países ditos desenvolvidos quanto aqueles classificados como em desen
volvimento têm diversos problemas ambientais em comum. Em outras palavras, o
estilo de desenvolvimento adotado engendra formas semelhantes de degradação
ambiental.
U
Em 1972, na época da Conferência de Estocolmo, existiam apenas onze órgãos
ambientais nacionais, a maioria em países industrializados. Em 1981, a situação
havia mudado de forma dramática: contávam-se lOELpaíses, na maioria em
desenvolvimento. Uma nova década se passa, em 19E-1, praticamente todos os
países dispõem de algum tipo de in stitu ição__similar (Monosowski, 1993, p. 3).
Os tribunais dos Estados Unidos julgaram casos decidindo que mesmo as ações
externas do governo federal americano deveriam ser sujeitas à NEPA, afetando,
dessa forma, seus projetos de cooperação para o desenvolvimento e até as atividades
de pesquisa na Antártida, que, coordenadas pelo U.S. National Research Council,
foram consideradas como ações do governo federal que podiam causar significativa
degradação ambiental. Em 1975, quatro ONGs ambientalistas americanas entraram
em um a ação judicial contra a USAID, tencionando obrigá-la a preparar estudos de
impacto ambiental, nos termos da NEPA. Em conseqüência, a USAID foi a primeira
agência de cooperação internacional a aplicar regularmente procedimentos de avalia
ção dos impactos de seus projetos (Horberry, 1988; Runnals, 1986).
DO IS
ação ae Im pacto A m biental: conceitos e métodos
0 documento traz um anexo com uma lista de projetos e programas que mais neces
sitam de avaliações ambientais. Atualmente, as principais agências de cooperação
têm listas próprias e procedimentos mais sofisticados para enquadrar os projetos de
assistência de acordo com o nível de detalhe da avaliação ambiental necessária.
CAPÍTUi LO
O r ig e m e d if u s ã o d a a v a l ia ç ã o de im p a c t o
com as boas práticas internacionais de AIA, e propôs fomentar a capacidade dos países
receptores em avaliar internamente os impactos ambientais. Consequentemente,
não apenas muitos projetos foram avaliados individualmente como foram também
expandidos programas de cooperação voltados especificamente ao fortalecimento
institucional e à formação de recursos humanos envolvidos em avaliação ambiental
nos países em desenvolvimento. Por exemplo, a agência canadense de cooperação
financiou cerca de CAN$ 41 milhões para um Projeto de Desenvolvimento de Gestão
Ambiental na Indonésia, liderado pela Universidade Dalhousie e executado entre
1983 e 1994 por um consórcio de universidades canadenses e indonésias, em colabo
ração com o Ministério do Meio Ambiente da Indonésia. 0 projeto incluiu um grande
componente de capacitação em avaliação de impacto ambiental e a publicação de
guias e diretrizes (Villamere e Nazrudin, 1992).
Uma das principais razões do envolvimento do Banco Mundial foi a pressão exerci
da pelas organizações não governamentais ambientalistas e suas fortes críticas aos
importantes impactos ecológicos e socioculturais dos grandes projetos financiados
pelo Banco (Rich, 1985). Um dos casos sistematicamente citados como um dos piores
exemplos de atuação do Banco foi o empréstimo concedido ao governo brasileiro
para pavimentação da rodovia BR-364, de Cuiabá a Porto Velho, nos anos 1980 -
a obra foi apontada como indutora de um processo perverso de ocupação da região, cau
sando desmatamento indiscriminado e dizimação de grupos indígenas (Lutzemberger,
1985). As críticas tiveram repercussão no Congresso dos Estados Unidos, país que,
por ser o maior acionista do Banco, sempre indicou seu presidente. Os congressistas
convocaram o secretário do Tesouro (equivalente ao ministro da Fazenda) para depor
acerca das ações do Banco e o pressionaram para exigir que fosse dada maior impor
tância aos impactos ambientais dos projetos financiados pelo Banco, como um dos
critérios de concessão de empréstimos (Walsh, 1986).
DO IS
s sçãc je im pacto A m b ie ntal: conceitos e métodos
Assim, muitos países adotaram leis sobre avaliação de impacto ambiental ou introdu
ziram exigências de avaliação de impactos em leis ambientais mais amplas. 0 Quadro
2.3 mostra alguns exemplos. Deve-se destacar o pioneirismo da Colômbia, que já
em 1974 incluiu provisões sobre AIA em seu Código Nacional de Recursos Naturais
Renováveis e de Proteção do Meio Ambiente. 0 artigo 28 desta lei estabelece que:
Atualmente, a maioria dos países em desenvolvimento tem leis nacionais que exigem
a preparação prévia de estudos de impacto ambiental. 0 processo de difusão e con
solidação da AIA continua, mesmo após a adoção de leis nacionais. Assim, em
empréstimos de bancos multilaterais ou doações bilaterais, é freqüente a exigência
de avaliações que podem ultrapassar os requisitos legais nacionais. Pode ser o caso
de se exigir um a avaliação ambiental estratégica ou de se insistir em processos par
ticipativos e de consulta pública que ultrapassem as formalidades previstas em lei.
O r ig e m e d if u s ã o d a a v a l ia ç ã o de im p a c t o a m b :e\ J
R e g u la m e n to de 3 0 de m a io de 2 0 0 0
indonésia 1986 Lei de Provisões Básicas para Gestão A m b ie n ta l, de 1982
R e g u la m e n to 29 de 1986, sobre análise de im p a c to a m b ie n ta l, m o d ific a d o pelo
R e g u la m e n to 51, de 1993 e pelo R e g u la m e n to 27, de 1999, in c lu in d o m e c a
nism os de p a rtic ip a ç ã o pú blica
M alásia 1987 Lei de 1985, que m o d ific a a Lei de Q ua lid a d e A m b ie n ta l (de 1974)
»
D ecreto sobre Q u a lid a d e A m b ie n ta l (A tiv id a d e s C ontroladas), de 1987
A fric a do Sul 1991 A rt. 39 da Lei de M in e ra ç ã o , de 1991
Lei de C onservação A m b ie n ta l, de 1989, e R e g u la m e n to sobre A v a lia ç ã o de Im p a c to
A m b ie n ta l, de 1o de s e te m b ro de 1997, re la tiv o à Lei de Conservação A m b ie n ta i
Tunísia 1991 D ecreto de 13 de m a rço de 1991 sobre os estudos de im p a c to a m b ie n ta l
Bolívia 1992 Lei n° 1.333
D ecreto 2 4 .1 7 6 /9 6
Chile 1994 > Lei de Bases do M e io A m b ie n te , de 3 de m a rço de 1 9 9 4
R e g u la m e n to do S istem a de A v a lia ç ã o de Im p a c to A m b ie n ta l, de 3 de abril de
1997, m o d ific a d o em 7 de d e ze m b ro de 2 0 0 2
U ruguai 1994 Lei 16.246, de 8 de abril de 1992, requ er A IA para a tiv id a d e s p o rtu á ria s
Lei de Prevenção e A v a lia ç ã o de Im p a c to A m b ie n ta l 16.466, de 19 de ja n . de 19 9 4
D ecreto 4 3 5 /9 9 4 , de 21 de s e te m b ro de 1 9 9 4 (re g u la m e n to )
Bangladesh 19 95 Lei de C onservação A m b ie n ta l, de 1995
Regras de Conservação A m b ie n ta l, de 1997
Equador 1999 Lei de Gestão A m b ie n ta l
Texto U n ific a d o de Legislação A m b ie n ta l Secundária
Fontes: elaborado a p a rtir de diversas fontes, incluindo prospectos editados p o r organismos governam entais nacionais, sites
governam entais, Aham m ed e Harvey (2004), M ao e Hills (2002), M emon (2000) e Purnama (2003).
2 .4 A I A E M TR ATADO S IN T E R N A C IO N A IS
Vários Estados promoveram ativamente a difusão internacional da AIA, não apenas
agindo no plano bilateral, como também buscando inseri-la em acordos interna
cionais. Da mesma forma, algumas grandes ONGs internacionais trabalharam para
incluir cláusulas relativas à AIA em tratados internacionais, que vêm se multiplicando
nos últimos anos.
Um grande impulso para a difusão internacional da AIA veio com a Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), a Rio-92. Além
de toda a discussão pública, com grande repercussão na imprensa, suscitada durante
o período preparatório da conferência, um dos documentos resultantes desse encon
tro, a Declaração do Rio, estabelece, em seu princípio 17:
.0
O r i g e m e d i f u s ã o d a a v a l i a ç ã o d e i m p a c t o a m b íen w w
[20.19 (d)]) \
/ y se
Maior desenvolvimento e promoção do uso mais amplo possível das avaliações
de impacto ambiental, inclusive de atividades com os auspícios dos organismos
especializados do sistema das Nações Unidas, e em relação com todo projeto ou
atividade importante de desenvolvimento econômico.
(no Cap. 38 - Arranjos institucionais internacionais, acerca do papel do
Prograrqa das Nações Unidas para o Desenvolvimento [38.22 (i)])
A Declaração do Rio e a Agenda 217 são documentos cuja preparação requereu 1A Agenda 21 é
intensas negociações internacionais, inclusive com a participação de ONGs e outros “um documento
grupos de interesse. A preparação da Conferência do Rio foi um processo muito de normatividade
reduzida, sem
rico, cujos resultados ultrapassam em muito os documentos firmados durante os dias a efetividade de
do evento. Muitos países aprovaram novas leis, prepararam relatórios de qualidade ■'A uma declaração
1
ambiental, e as ONGs estimularam os cidadãos a buscar maior envolvimento nos ! e muito menos
processos decisórios. 0 surgimento de novas leis que requerem a avaliação prévia de de um tratado
ou convenção
impacto ambiental foi um a das conseqüências da Conferência.
internacional”
(Soares, 2003,
v>
Durante o período preparatório da Conferência do Rio e nos anos que se seguiram, p. 67).
novos países incorporaram a AIA em suas legislações, principalmente na América
Latina, na África e na Europa Oriental, a exemplo do Peru em 1990, da Bolívia em
1992, do Chile, do Uruguai e da Nicarágua em 1994, da Tunísia em 1991, da Costa do
Marfim em 1996, da Bulgária em 1992 e da Romênia em 1995 (Quadro 2.3). A
CAPÍTU! LO
O r ig e m e d if u s ã o d a a v a l ia ç ã o d e im p a c t o a m b ie n
PEDE às Partes Contratantes que fortaleçam e consolidem seus esforços para as
segurar que todo projeto, plano, programa e política com potencial de alterar o
caráter ecológico das zonas úmidas incluídas na lista Ramsar ou de impactar ne
gativamente outras zonas úmidas situadas em seu território, sejam submetidos
a procedimentos rigorosos de estudos de impacto, formalizando tais procedi
mentos mediante os ajustes necessários em políticas, legislação, instituições e
organizações.
Outra convenção que inicialmente não fazia menção à AIA, mas incorporou reco
mendações explícitas, é a Convenção sobre a Conservação de Espécies Migratórias
de A nim ais Selvagens, firmada em Bonn, A lem anha, em 1979. A Resolução 7/2 da 7a
COP, realizada em Bonn, em 2002,
URGE às Partes que incluam, quando for relevante, nas avaliações de impacto
ambiental e nas avaliações ambientais estratégicas, a consideração mais com
pleta possível dos efeitos de impedimento à migração [...], dos efeitos transfron-
teiriços às espécies migratórias e dos impactos sobre os padrões migratórios.
Um ponto que não é tratado pelas legislações nacionais é o de que alguns em preen
dimentos podem causar impactos para além das fronteiras. Um tratado internacional
promovido pela Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa, mas aberto
à adesão de países que não sejam membros dessa organização, é a Convenção sobre
Avaliação de Impacto Ambiental em um Contexto Transfronteiriço, conhecida como
Convenção de Espoo, cidade da Finlândia onde foi aprovada em 1991. Trata-se da
primeira convenção multilateral desse tipo, e está em vigor desde 10 de setembro de
1997. A semelhança das leis nacionais sobre AIA, a Convenção estabelece:
% uma lista de atividades às quais se aplica (Anexo I);
& um procedimento a ser seguido;
# a necessidade de que os países potencialmente afetados sejam notificados;
& procedimentos para participação pública em todos os países potencialmente afe
tados;
• um conteúdo mínimo para a documentação do processo de TUA (Anexo II).
ação ce ■Ti pacto A m b ie ntal: conceitos e métodos
Trata-se de projetos de grande porte para um país como o Uruguai. 0 maior deles
prevê investimentos de US$ 1,1 bilhão em uma indústria de celulose e em plantações
de eucaliptos, cuja “influência socioeconômica se estenderá direta ou indiretamente
a todo o Uruguai e mesmo às zonas vizinhas na província argentina de Entre-Rios”
(Botnia, 2004, EIA Summary, p. 95). As duas fábricas localizam-se na pequena cidade
de Fray Bentos, com 22 mil habitantes. 0 presidente argentino pediu que fosse reali
zado um “estudo de impacto ambiental independente” (A. Vidal, “Kirchner pidió a
Uruguay q u cfren e por 90 dias las papeleras”, El Clarín, 2 de março de 2006).
2 .5 A I A n o B r a s il
Os primeiros estudos ambientais preparados no Brasil para alguns grandes projetos
hidrelétricos durante os anos 1970
,i, .
são, em grande parte, um reflexo da influência de
^_
LO
O r ig e m e d if u s ã o d a a v a l ia ç ã o de im p a c t o a m b ie
sido iniciadas no ano anterior. Esse estudo foi realizado por ura único profissional9, °Robert Goodland
que basicamente compilou a informação disponível e identificou os principais im fe z seu douwrado
pactos potenciais. Em seguida, um Plano de Trabalho Integrado para Controle sobre a ecologia do
cerrado brasileiro
Ambiental, de ju n h o de 1978, orientou o subsequente aprofundamento dos estudos,
e fo i coauror de
com vários levantamentos de campo realizados por instituições de pesquisa e a Amazon Jungle:
“adoção de algumas ações de mitigação de impactos negativos” (Monosowski, 1994, Green Hell to Red
p. 127). Segundo esta autora, na ausência de exigência legal para avaliação prévia de Desert?, publicado
impactos ambientais, no Brasil como A
Selva Amazônica:
entre os fatores que m otivaram a realização dos estudos incluem-se a falta de do Inferno Verde
ao Deserto
experiência na implantação de projetos hidrelétricos de grande porte em regiões
Vermelho?, em,
de floresta tropical úmida, a influência de práticas adotadas pelas agências de
uma versão da qual
financiamento internacionais e a pressão da opinião pública nacional e interna
foram suprimidas
cional, em especial da comunidade científica, de grupos ecologistas e de inte menções à atuação
resses locais (p. 127). governamental
e seu papel na
No meio acadêmico, por outro lado, já se iniciavam pesquisas sobre os impactos destruição da
ambientais de grandes projetos, como as barragens no baixo curso do rio Tietê, São floresta amazônica.
(Goodland e Irwin,
Paulo. Tundisi (1978) montou um experimento de muitos anos visando a estabelecer
1975). Mais tarde,
uma linha de base das condições ecológicas antes da construção de dois reservatórios, esse ecólogo fo i
que pudesse ser comparada com as condições após a inundação. Também em 1978 foi um dos primeiros
realizado um seminário sobre os “Efeitos das Grandes Represas no Meio Ambiente e profissionais da
no Desenvolvimento Regional”, e Garcez (1981) contrapôs qualitativamente os “efei área ambiental
contratados pelo
tos benéficos e prejudiciais das grandes barragens”. Banco Mundial
quando da
Foi uma conjunção de fatores internos e externos, ou endógenos e exógenos, na an á reformulação do
lise de Pádua (1991), que propiciou um avanço das políticas ambientais no Brasil e Departamento de
Meio Ambiente, em
acabou levando o Poder Executivo a formular o projeto de lei sobre Política Nacional
1989.
do Meio Ambiente, aprovado-pelo Congresso em 31 de agosto de 1981, e que incluiu a
avaliação de impacto ambiental como um dos instrumentos para atingir os objetivos
dessa lei, que são, entre outros (art. 4o):
# compatibilizar o desenvolvimento econômico e social com a proteção ambiental;
# definir áreas prioritárias de ação governamental;
# estabelecer critérios e padrões de qualidade ambiental e normas para uso e
manejo de recursos ambientais;
# preservar e restaurar os recursos ambientais “com vistas à sua utilização racio
nal e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio
ecológico propício à vida”;
# obrigar o poluidor e o predador a recuperar e/ou indenizar os danos.
0 esforço rendeu poucos frutos, pois até 1983 a Ceca exerceu seu poder de exigir um
relatório de impacto ambiental somente duas vezes e, em ambos os casos, com parcos
resultados. Todavia, os profissionais comprometidos com a AIA conseguiram pôr em
prática, entre 1980 e 1983, um programa de capacitação técnica, com a assistência do
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, que incluiu intercâmbios inter
nacionais e proveu uma sólida formação acerca dos fundamentos e dos métodos de
avaliação de impactos, a ponto de dar ao grupo “um nível de visibilidade e competência
que lhe rendeu respeito e legitimidade” (Wandesforde-Smith e Moreira, 1985, p. 235).
Esse conhecimento teria importância capital alguns anos depois, quando os estudos
de impacto ambiental foram regulamentados no âmbito da legislação federal.
CAPÍTU LO
O r ig e m e d if u s ã o d a a v a l ia ç ã o de im p a c t o a m b i f m M í 65
Segundo esse mesmo autor, que à época era presidente dessa sociedade, a proposta
encam inhada ao Congresso tin ha o seguinte teor:
A parte essa iniciativa pioneira, foi com a aprovação da Lei da Política Nacional do
Meio Ambiente, de 1981, que efetivamente a AIA foi incorporada à legislação bra
sileira, incorporação esta conjfirmada e fortalecida com o art. 225 da Constituição
Federal de 1988:
aplicado. A lei havia dado ao Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) uma
série de atribuições para regulamentá-la e, usando dessa prerrogativa, o Conselho
aprovou sua Resolução 1/86, em 23 de janeiro desse ano, estabelecendo um a série de
requisitos. 0 Conama é composto por representantes do governo federal, de governos
estaduais e de entidades da sociedade civil, incluindo organizações empresariais e
organizações ambientalistas. Alguns conselheiros atuaram ativamente na preparação
da Resolução 1/86. A resolução estabelece:
# uma lista de atividades sujeitas a AIA como condição para licenciamento
ambiental;
# as diretrizes gerais para preparação do estudo de impacto ambiental;
# o conteúdo mínimo do estudo de impacto ambiental;
# o conteúdo mínimo do relatório de impacto ambiental;
# que o estudo deverá ser elaborado por equipe multidisciplinar independente do
empreendedor;
# que as despesas de elaboração do estudo correrão por conta do empreendedor;
# a acessibilidade pública do relatório de impacto ambiental e a possibilidade deste
participar do processo.
LO
O r ig e m e d if u s ã o d a a v a l ia ç ã o de im p a c t o a m b i e ^
A legislação americana não previu o Rima, mas a prática impôs tal necessidade:
o equivalente desse documento é muitas vezes chamado de summary EIS. Outras legis
lações, como a brasileira, também requerem a apresentação de uma versão do EIA
escrita em linguagem não técnica.
3.1 B r e v e h is t ó r ic o
Pode-se identificar, segundo Monosowski (1989), quatro fases principais na política
ambiental brasileira, que correspondem a diferentes concepções do meio ambiente
e do seu papel nas estratégias de desenvolvimento econômico. Embora elas pratica
mente se sucedam cronologicamente, não há substituição de um a política por outra,
mas, sim, superposição, o que transform a a atual política ambiental brasileira em um
mosaico onde coexistem os conceitos dos anos 1930 com aqueles do final do século
XX. 0 Quadro 3.1 indica os principais marcos dessa evolução, apontando algumas
leis aqui citadas e as instituições do governo federal encarregadas de aplicá-las.
A d m i n i s t r a ç ã o de r e c u r s o s n a t u r a is
Datada dos anos 1930, com a reorganização do Estado brasileiro promovida por Ge-
túlio Vargas e o início de um processo mais intenso de industrialização, a principal
preocupação inerente a essa fase da política ambiental brasileira é racionalizar o uso
e a explotação dos recursos naturais mediante políticas públicas setoriais que regu-
i
Isso não significa que inexistissem iniciativas a fim de disciplinar o uso dos recursos
naturais em território nacional. No final do século XVIII, a Coroa portuguesa editou
medidas para preservar madeiras de lei utilizadas na construção naval, pois “as ins
peções e relatórios indicam que não existia mais madeira adequada por muitas léguas
nas proximidades das vilas maiores” (Dean, 1997, p. 152). É bem conhecido o Alvará
do Rei Dom José, de 9 de ju lh o de 1760, que tenta conter a devastação dos mangues,
empregados em curtumes:
CAPÍTU
Q u a d r o l e g a l e in s t it u c io n a l d a a v a l ia ç ã o d e im p a c t o a m b ie n t a l n o B r
[...] sou servido ordenar que, da publicação desta em diante, se não cortem as
árvores dos mangues que não estiverem já descaídas, debaixo da pena de cinqüenta
mil réis, que será paga da cadeia, onde estarão os culpados por tempo de três meses,
dobrando-se as condenações e o tempo de prisão pelas reincidências [...]
A derrubada das matas para dar lugar a uma agricultura incipiente era percebida por
intelectuais do final do período colonial e do Império como um dos graves entraves ao
desenvolvimento nacional (Pádua, 2002). Hoje o processo seria descrito como a dilapi
dação do capital natural, sem que disso resultasse o crescimento do capital econômico
ou humano. A regulação do acesso e do uso dos recursos naturais, dos quais o Brasil
era rico, seria essencial para colocar o País no rumo do desenvolvimento.
CAPÍTU LO
Q u a d r o l e g a l e in s t it u c io n a l d a a v a l ia ç ã o de im p a c t o a m b ie n t a l n o B
Tais salv ag u ard as atendiam em parte a dem andas de m aior controle do Estado sobre
a desenfreada derrubada de florestas para a contínua expansão das áreas destinadas
a atividades agropecuárias. Nesse sentido, j á se faziam ouvir vozes entre intelectuais
e altos funcionários ainda no período colonial (Pádua, 2002). Em 1934, a realização
da Prim eira Conferência Brasileira de Proteção da Natureza, no Rio de Janeiro, em
defesa da “flora, fauna, sítios e m onum entos n a tu ra is ” (Urban, 1998, p. 88), é um a
expressão ainda tím ida de um m ovim ento associativo com objetivos de proteção
ambiental, como a Sociedade dos Amigos das Árvores.
Não é por coincidência que nesse período se prom ulga a prim eira lei referente à
preservação do patrim ônio histórico, arqueológico e artístico que, aliás, tam bém p ro
move a conservação ambiental:
Equiparam-se aos bens a que se refere o presente artigo e são tam bém sujeitos a
tom bam ento os m onum entos naturais, bem como os sítios e paisagens que im
porte conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pela
natureza ou agenciados pela indústria hum ana.
(Art. I o, par. 2o, Decreto-lei n° 25, de 30/11/1937.)
No entanto, um a característica desse período, com reflexos que p erd uram ainda hoje, é
o tratam ento profundam ente desarticulado dado a essas políticas, aplicadas por órgãos
independentes, vinculados a m inistérios diferentes e, não raras vezes, com objetivos
contraditórios. Assim, aos conflitos legais, ou seja, incompatibilidades e incoerências
entre as leis, sobrepuseram -se conflitos políticos referidos às orientações quanto à
aplicação das leis. Isso é ilustrado pelo conflito entre o Código de M ineração e o Código
Florestal. Enquanto o primeiro estabelecia critérios p ara concessão de autorizações de
pesquisa e lavra m ineral, o segundo estabelecia unidades de conservação, onde toda
explotação de recursos n atu rais era proibida. Todavia, desconhecendo ou desconsi
derando o Código Florestal, o D epartam ento Nacional da Produção Mineral (DNPM)
dava essas autorizações inclusive em áreas de parques nacionais ou estaduais.
ação de Impacto A m b ie ntal: conceitos e métodos
C o n t r o le d a p o l u iç ã o in d u s t r ia l
No início dos anos 1970, alguns recursos naturais, antes abundantes, tornaram-se es
cassos em várias regiões do mundo, inclusive no Brasil. Um exemplo é a bacia do alto
Tamanduateí, na região do ABC paulista, onde se concentram ainda hoje inúmeras in
dústrias. Nessa região, a água estava tão poluída que era imprópria para abastecimento
industrial. Já se notavam também problemas de poluição do ar em grandes cidades.
Por outro lado, havia nessa época todo um contexto internacional que trouxe pela
primeira vez a questão ambiental para o rol das principais preocupações da socieda
de. Alguns países já haviam criado instituições governam entais especializadas em
problemas de poluição, como foi o caso dos Estados Unidos, cuja Environm ental Pro-
tection Agency (EPA) fora criada em 1970. Dentre os eventos marcantes do período,
deve-se mencionar a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano,
realizada em Estocolmo, em 1972. Foi bastante difundida a versão de que a posição
da delegação brasileira nessa conferência caracterizou-se por defender que, se a po
luição era o preço a pagar para o desenvolvimento, então o País receberia de braços
Cabe notar que, além das iniciativas do governo federal, alguns Estados também
começaram a legislar sobre poluição. Esse foi o caso do Rio de Janeiro, por meio do
Decreto-lei n° 134/75, e de São Paulo, por meio da Lei n° 997/76. As políticas estaduais
também criaram instituições, como a Feema - Fundação Estadual de Engenharia
do Meio Ambiente -, criada no Rio de Janeiro em março de 1975, e a Cetesb, hoje
chamada de Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, criada com essa
mesma sigla, mas outro nome, em julho de 1973, sucedendo um centro de pesquisa
também chamado Cetesb e fundado em 1968. Em abril de 1975, a Cetesb incorporou
as atribuições da Superintendência de Saneamento Ambiental da Secretaria da Saúde.
A política federal, assim como suas contrapartidas estaduais, era de cunho essen
cialmente corretivo_e foi formulada para ter um a ap]icaçjLo exclusivamente
tecnoburocrática, ou seja, estava excluída toda forma de participação pública.
Ao público, cabia, no m áximo, o papel de denunciar condutas lesivas à qualidade
ambiental. 0 controle governam ental exercia-se por meio de um a negociação
restrita entre Estado e poluidor.
Era também uma política de alcance territorial restrito às zonas urbanizadas e indus
triais, ficando, portanto, excluída de sua aplicação a maior parte do País, que era
justam ente objeto das políticas desenvolvimentistas governamentais. O interesse
econômico e a visão de curto prazo predominavam mesmo nos raros casos em que
era evocada a proteção da saúde pública, como na fábrica de cimento de Contagem.
P l a n e j a m e n t o t e r r it o r ia l
Datam de meados da década de 1970 os primeiros planos de uso do solo no Brasil,
que procuravam ordenar as formas de ocupação do espaço urbano. Por insufici
ência das políticas anteriores, já se notavam sérios problemas de fornecimento de
água em certas regiões metropolitanas. Assim, em dezembro de 1975, o Estado
de São Paulo, pela Lei n° 898, estabeleceu uma área de proteção doa m ananciais na
Região Metropolitana. Essa lei passou a disciplinar o uso do solo para a proteção de
mananciais, cursos e reservatórios de água e demais recursos hídricos. A Lei Estadual
n° 1.172, de 17 de novembro de 1976, delimitou as áreas de proteção relativas aos
mananciais, cursos e reservatórios de água a que se refere o artigo 2o da Lei n° 898,
impondo normas de restrição de uso do solo em tais áreas e oferecendo providências
correlatas. 0 Decreto.n.° 9.714, de 19 de abril de 1977, aprovou.o Regulamento das Leis
n° 898 e 1.172, que dispõem sobre o disciplinamento do uso do solo para a proteção
aos mananciais da Região Metropolitana da Grande São Paulo.
Isso foi um esboço de atuação preventiva, que, nesse caso, foi malsucedida, pois não
conseguiu evitar a degradação dos mananciais. Da mesma época, datam iniciativas
de zoneamento industrial, em um a perspectiva de separação entre uso de solo
industrial e áreas residenciais. Em 27 de outubro de 1978, a Lei Estadual de São Paulo
n° 1.817 definiu diretrizes para o zoneamento e a localização de indústrias na Região
Metropolitana, visando, entre outros objetivos, “compatibilizar o desenvolvimento
industrial com a melhoria de condições de vida da população e com a preservação do
meio ambiente” (Art Io, III).
f
A Lei Estadual n° 1.817 estabeleceu os objetivos e as diretrizes para o desenvolvimento
industrial metropolitano e disciplinou o zoneamento industrial, a localização, a
classificação e o licenciamento de estabelecimentos industriais na Região Metropoli
tana de São Paulo. Não se trata de licenciamento ambiental no sentido atual do termo
(Res. Conama 237/97), mas do que é denominado “licenciamento metropolitano”, um a
CAPÍTU LO
Q u a d r o l e g a l e in s t it u c io n a l d a a v a l ia ç ã o de im p a c t o a m b ie n t a l n o B
Por outro lado, a Lei n° 10.257, de 10 de julho de 2001 — Estatuto da Cidade —, esta
beleceu um quadro atualizado para a gestão urbana, reforçando dispositivos como
o ordenamento e controle do uso do solo urbano. Dentre os instrumentos de política
urbana, a lei inclui “o estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e o estudo prévio de
impacto de vizinhança (EIV)” (Art. 4o, VI), ressaltando que “os instrumentos mencio
nados neste artigo regem-se pela legislação que lhes é própria, observado o disposto
nesta lei” (Art. 4o, Io).
P o l ít ic a N a c i o n a l d o M eio A m b i e n t e
Um modelo radicalmente novo de política ambiental foi inaugurado com a aprova
ção pelo Congresso Nacional da Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981, que instituiu
a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Essa lei trouxe diversas inovações.
No plano dos instrumentos de ação, instituiu, entre outros, a avaliação de impacto
ambiental e o licenciamento ambiental, até então existente apenas na legislação de
alguns Estados (Quadro 3.2).
Q u a d r o 3 . 2 In s tru m e n to s do P o lític a N a c io n a l do M e io A m b ie n te (segundo o A r t 9 a da Lei 6.9 3 8 /8 1 , m o d ific a d a pelas
Leis 7 .0 0 4 /8 9 e 8 .0 2 8 /9 0 )
I - 0 e s ta b e le c im e n to de padrões da q u a lid a d e a m b ie n ta l.
II - 0 z o n e a m e n to a m b ie n ta l.
III - A a v a lia ç ã o de im p a c to s a m b ie n ta is .
IV - 0 lic e n c ia m e n to e a revisão de a tiv id a d e s e fe tiva ou p o te n c ia lm e n te poluidoras.
V - Os in c e n tiv o s à p ro d u ç ã o e in s ta la ç ã o de e q u ip a m e n to s e à cria ç ã o ou absorção de te c n o lo g ia , v o lta d o s para a
m e lh o ria da q u a lid a d e a m b ie n ta l.
VI - A criação de espaços te r r ito r ia is e s p e c ia lm e n te p ro te g id o s pelo Poder Público Federal, Estadual e M u n ic ip a l, tais
c o m o Áreas de Proteção A m b ie n ta l, de Relevante Interesse Ecológico e Reservas E xtrativistas.
VII - 0 S istem a N a c io n a l de In fo rm a ç õ e s sobre o M e io A m b ie n te .
VIII - 0 C adastro Técnico Federal de A tiv id a d e s e In s tru m e n to s de Defesa A m b ie n ta l.
IX - As p e nalidad es d is c ip lin a re s ou c o m p e n s a tó ria s ao não c u m p r im e n to das m edid as necessárias à preservação ou
correção da de g ra d a çã o a m b ie n ta l.
X - A In s titu iç ã o do R ela tó rio de Q ua lid a d e do M e io A m b ie n te , a ser d iv u lg a d o a n u a lm e n te pelo Ibama.
CAPÍTU LO
Q u a d r o l e g a l e i n s t i t u c i o n a l d a a v a l i a ç ã o de i m p a c t o a m b i e n t a l n o 79
Alguns princípios que hoje podem parecer evidentes e mesmo autoexplicativos não 0
eram quando da discussão da lei, ainda sob 0 regime militar que governou 0 País entre
1964 e 1984. Os grandes projetos de alto impacto ambiental construídos nesse período
foram decididos exclusivamente no âmbito de círculos restritos do poder e, mesmo de
pois de concluídos, 0 acesso a seus documentos era difícil. Fearnside (1989), que analisa
os impactos da barragem de Balbina, construída no rio Uatumã, Amazonas, comen
ta que “muitos relatórios são mais raros que manuscritos medievais copiados à mão”
(p. 418). O direito de acesso à informação avançou muito desde então, e a lei da Política
Nacional do Meio Ambiente foi fundamental para sua consolidação.
3 .2 L i c e n c i a m e n t o a m b i e n t a l
No Brasil, estudos am bientais são exigíveis para obter-se um a autorização gover
nam ental para realizar atividades que utilizem recursos am bientais ou ten ham o
potencial de causar degradação ambiental. Tal autorização, conhecida como li
cença am biental, é um dos instrum entos mais im portantes da política ambiental
pública. Tem caráter preventivo, pois seu emprego visa evitar a ocorrência de
danos ambientais.
Fundamentos ju r íd ic o s
0 licenciamento ambiental é um a das manifestações do poder de polícia do Est ado
< W *£
Com fundamento nesses conceitos, alguns juristas argumentam que a licença ambiental
é, na verdade, uma autorização (Machado, 1993; Mukai, 1992). Como tal, não há direito
“líquido e certo” de um empreendedor obter um a licença ambiental, mas cabe ao agente
público (o órgão licenciador) analisar o projeto pretendido e seus impactos ambientais
para decidir da conveniência ou não de conceder a licença (autorização), e quais con
dições podem ser impostas para que esta seja concedida.
Oliveira (1999) discorda dessa classificação. Para ele, licença ambiental é mesmo uma
licença no sentido jurídico do termo, porém, “é informada pelos princípios do Direito
Ambiental, que fazem a diferença” (p. 37), ao torná-la não definitiva, com prazo de
validade e com condicionantes.
capítuI S E HHHHHHH
Q u a d r o l e g a l e in s t it u c io n a l d a a v a l ia ç ã o de im p a c t o a m b ie n t a l n o B
L i c e n c i a m e n t o a m b i e n t a l n o B r a s il
0 licenciamento ambiental no Brasil começou em alguns Estados, em meados da
década de 1970, e foi incorporado à legislação federal como um dos instrum entos
da Política Nacional do Meio Ambiente.
Trata-se, portanto, não somente de atividades que possam causar poluição ambiental,
mas qualquer forma de degradação, denotando um a evolução no entendimento das
causas da deterioração da qualidade ambiental, que não mais são somente atribuídas
/
à poluição, mas a outras causas oriundas das atividades humanas. E também interes
sante observar, na redação do Artigo 10, que se exige licença ambiental tanto para
a construção e instalação como para a ampliação de estabelecimentos e atividades
já existentes, assim como para seu funcionamento. Desta forma, a lei federal foi
redigida de forma a comportar os estágios de licenciamento já existentes no Rio de
Janeiro e em São Paulo. Finalmente, deve-se tam bém notar que o fechamento ou a
desativação de empreendimentos e atividades Utilizadoras de recursos ambientais ou
capazes de causar degradação ambiental não é objeto de licenciamento ou autoriza
ção governamental. Essa última fase do ciclo de vida dos empreendimentos não era
percebida, no início dos anos 1980, como capaz de causar danos ambientais. Seria
preciso esperar até 2002 para encontrar na legislação ambiental brasileira referências
a obrigações relativas ao encerramento de atividades.
CAPITU
Q u a d r o le g a l e in s t i t u c io n a l d a a v a lia ç ã o de im p a c to a m b ie n t a l n o Br
Não se pode deixar de observar que esse vínculo entre o EIA e a licença foi reforçado
pela Constituição Federal de 1988>
Recursos ambientais e degradação ambiental são termos definidos pela Lei da Política
Nacional do Meio Ambiente.
A Resolução Conama n° 237/97 tam bém estabelece regras para definir a competência
do Poder Público para fins de licenciamento. Licenciamento integra o âmbito da com
petência de comum (Art. 23, VI da Constituição Federal), podendo ser disciplinado
pelos três níveis de governo.
A Lei da PNMA, j á em sua redação original de 1981, havia definido a prim azia dos
Estados para proceder ao licenciamento ambiental, cabendo ao governo federal, re
presentado pelo Ibama, licenciar em caráter supletivo. A alteração da Lei da PNMA
feita pela Lei n° 7.084, de 18 de ju lho de 1989, definiu um campo específico para
o Ibama, que é o licenciamento “de atividades* e obras com significativo impacto
ambiental, e âmbito nacional ou regional” (Art. 10, § 4o, Lei n° 6.938/81). Mas a Reso
lução Conama n° 237/97 tentou delim itar as competências, inclusive dos municípios.
Dessa forma, cabe ao Ibama o licenciamento de “empreendimentos e atividades com
significativo impacto ambiental de âmbito nacional ou regional”:
Na prática, desde a publicação dessa resolução, o Ibam a tem ampliado sua atuação
no licenciamento ambiental em detrimento dos órgãos estaduais. A competência para
licenciar pode ser questionada na Justiça, como tem ocorrido em alguns casos.
A lguns municípios tam bém passaram a conceder licenças ambientais. Compete aos
municípios o licenciamento ambiental de empreendimento e atividades de impacto
CAPÍTU LO
Q u a d r o le g a l e in s t i t u c io n a l d a a v a lia ç ã o de im p a c to a m b ie n t a l n o Br
ambiental local e daquelas que lhe forem delegadas pelo Estado por instrumento legal
ou convênio (Art. 6o, Resolução Conama n° 237/97).
E studo s a m b ie n t a is
A definição dos estudos técnicos necessários ao licenciamento cabe ao órgão licen-
ciador. Todavia, nos casos de empreendimentos que tenham o potencial de causar
degradação significativa, sempre deverá ser exigido o estudo de impacto ambiental,
nos termos do dispositivo constitucional. Diversos tipos de estudos ambientais foram
criados, por diferentes instrum entos legais federais, estaduais ou municipais, com
o intuito de fornecer as informações e análises técnicas para subsidiar o processo
de licenciamento. Além do EIA e seu respectivo Rima, encontram-se denom ina
ções como o plano e relatório de controle ambiental, relatório ambiental preliminar,
diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área degradada e
análise prelim inar de risco (Quadro 3.4). 0 termo “estudos am bientais” foi definido
pela Resolução Conama n° 237/97 para englobar diferentes denominações:
[...] são todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados
à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendi
mento, apresentados como subsídio para a análise da licença requerida, tais como:
relatório ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental
preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área
degradada e análise preliminar de risco.
(Art. I o, Inciso III, Resolução Conama n° 237/97.)
Conama que tratam da questão. E interessante observar, por meio da cronologia das
resoluções citadas, o tipo de projeto que mais atraía a atenção: no início, foram os
empreendimentos do setor elétrico, principalmente usinas hidrelétricas, seguidos de
>
projetos de mineração. Com efeito, quando a Resolução Conama n° 01/86 foi publi
cada, exigindo a apresentação de estudos de impacto ambiental, várias barragens
estavam em construção ou em fase avançada de projeto, quase todas pertencentes a
empresas estatais, e foi preciso clarificar a função do EIA no planejamento. Assim,
a Resolução n° 6/87:
Segundo essa resolução, o estudo de impacto ambiental deve ser apresentado para
obtenção da LP, enquanto, para solicitação da LI, um novo estudo ambiental deve ser
preparado, denominado Projeto Básico Ambiental.
Estudos am b ie n ta is Res. Conam a 237, "são to d o s e quaisquer estudos rela tivo s aos aspectos a m b ie n ta is re
de 19/12/1997 lacionados à localização, instalação, o p eração e a m p lia ç ã o de um a a t iv i
dade ou e m p re e n d im e n to , a p re se ntado c o m o subsídio para a análise da
licença requ erida" (A rt. 1°, III)
Estudo prévio de C o n s titu iç ã o Instalação de obra ou a tiv id a d e p o te n c ia lm e n te causadora de s ig n ific a
im p a c to a m b ie n ta l Federal, A r t. 225,1°, tiv a de g ra d a çã o a m b ie n ta l
IV (1988)
EIA - Estudo de Res. Conam a 1, L ice n c ia m e n to de a tiv id a d e s m o d ific a d o ra s do m eio a m b ie n te e x e m
Im p a c to A m b ie n ta l e de 2 3 /1 /1 9 8 6 plifica das no A r t. 2° da Resolução
Rima - Rei. de
Im p a c to A m b ie n ta l
PBA - Projeto Básico Res. C onam a 6, O b te n çã o de licença de in sta la çã o de e m p re e n d im e n to s do se to r
A m b ie n ta l de 1 6 /9 /1 9 8 7 e lé tric o
PRAD - Plano de D ecreto Federal
/
O b rig a to rie d a d e de ap re se n ta çã o para to d o e m p re e n d im e n to de m in e
Recuperação de Areas n° 97.632, ração: deve ser in c o rp o ra d o ao EIA para novos projetos
Degradadas de 1 0 /4 /1 9 8 9
PCA - Plano de Res. C onam a 9, de O b te n ç ã o de licença de in s ta la ç ã o de e m p re e n d im e n to s de m in e ra
C o n tro le A m b ie n ta l 6 /1 2 /1 9 9 0 ção: "(...) c o n te rá os p ro je to s e x e c u tiv o s de m in im iz a ç ã o dos im p a c to s
a m b ie n ta is (...)"
Res. C onam a 286, O b te n ç ã o de licença de in s ta la ç ã o de e m p re e n d im e n to s de irrig a ç ã o
de 2 0 /8 /2 0 0 1
Res. C onam a 23, O b te n çã o de licença de op eração para p ro d u ç ã o de p e tró le o e gás
de 7 /1 2 /1 9 9 4
RCA - R elatório de Res. C onam a 10, O b te n çã o de licença de in sta la ç ã o de e m p re e n d im e n to s de e x tra ç ã o
C o n tro le A m b ie n ta l de 6 /1 2 /1 9 9 0 de bens m inerais de uso im e d ia to na c o n s tru ç ã o civil
Res. Conam a 23, O bte nção de licença prévia para p e rfu ra ç ã o de
de 7 /1 2 /1 9 9 4 poços de pe tró le o
EVA - Estudo de Res. C onam a 23, O b te n çã o de licença prévia para pesquisa da v ia b ilid a d e e co n ô m ica
V ia b ilid a d e A m b ie n ta l de 7 /1 2 /1 9 9 4 e de um c a m p o p e tro lífe ro
RAA - R elatório de Res. C onam a 23, O btenção de licença de instalação para pe rfu ra çã o de poços de petróleo
A valia ção A m b ie n ta l de 7 /1 2 /1 9 9 4
EVQ - Estudo de Res. C onam a 264, L ice n c ia m e n to de c o p ro c e s s a m e n to de resíduos em fo rn o s de c im e n to
V ia b ilid a d e de Q ueim a de 2 0 / 3 / 2 0 0 0
Plano de Res. C onam a 273, D esativação de postos de c o m b u s tíve is
E ncerram ento de 2 9 /1 1 /2 0 0 0
RAS - R elatório Res. C onam a 279, O b te n çã o de licença prévia de e m p re e n d im e n to s do se to r e lé tric o de
A m b ie n ta l S im p lific a d o de 27 /6 /2 0 0 1 pequeno p o te n cia l de im p a c to a m b ie n ta l
Plano de Emergência Res. C onam a 293, L ice n c ia m e n to de p o rto s organizados, in stalações p o rtu á ria s ou t e r m i
Individual de 12/12/2001 nais, dutos, p la ta fo rm a s e in stalações de apoio
Plano de C o n tin g ê n cia Res. C onam a 316, L ice n c ia m e n to de unidades de tr a ta m e n to té r m ic o de resíduos
Plano de Emergência, de 2 9 /1 0 /2 0 0 2
Plano de D esativação Res. C onam a 316, E n ce rra m e n to de a tiv id a d e s dos sistem as de t r a ta m e n to té r m ic o de
de 2 9 /1 0 /2 0 0 2 resíduos
RAP - R elatório Res. S M A -S P 42, Para in s tr u ir re q u e rim e n to s de lic e n c ia m e n to a m b ie n ta l de e m p re e n d i
A m b ie n ta l P relim inar de 2 9 /1 2 /1 9 9 4 m e n to s que possam causar im p a c to s s ig n ific a tiv o s
EAS - Estudo Res. S M A -S P 54, Para analisar e avaliar as conseqüências a m b ie n ta is de a tiv id a d e s e
A m b ie n ta l S im p lific a d o de 3 0 /1 1 /2 0 0 4 e m p re e n d im e n to s considerados de im p a c to s a m b ie n ta is m u ito pequenos
e não s ig n ific a tiv o s
A ssunto I
Tal fato não se devia a um a inusitada proliferação de novos projetos, mas à busca de
regularização de centenas de empreendimentos que já funcionavam sem as devidas
autorizações do DNPM e mesmo sem licença ambiental nos Estados que já a exigiam.
As duas resoluções do Conama, n° 9/90 e n° 10/90, estipularam a obrigatoriedade da
licença e os documentos necessários para requerê-la. Para solicitação de LP, deveria
ser apresentado um EIA, enquanto para a solicitação da LI, deveria ser preparado um
Plano de Controle Ambiental. A Resolução n° 10/90 abriu a possibilidade de dispensa
de apresentação do EIA, a critério do órgão licenciador, caso em que outro documento
deveria ser apresentado, denominado Relatório de Controle Ambiental.
Observe-se que, por meio das três resoluções citadas, foram criados nada menos que
três novos tipos de estudos técnicos - Projeto Básico Ambiental, Plano de Controle
Ambiental e Relatório de Controle Ambiental -, que a Resolução Conama n° 237/97
viria a denom inar de estudos ambientais.
3 .3 I m p a c t o de v i z i n h a n ç a
0 termo “impacto de vizinhança” é usado para descrever impactos locais em áreas u r
banas, como sobrecarga do sistema viário, saturação da infraestrutura - como redes
de esgotos e de drenagem de águas pluviais -, alterações microclimáticas derivadas
de sombreamento, aumento da frequência e intensidade de inundações devido à im
permeabilização do solo, entre outros. Planos diretores e leis de zoneamento - que
são instrumentos bem difundidos de política urbana - não se mostram suficientes
para “fazer a mediação entre os interesses privados dos empreendedores e o direito à
qualidade urbana daqueles que moram ou transitam em seu entorno” (Rolnik et al.,
2002, p. 198).
CAPÍTU:LO
Q u a d r o l e g a l e i n s t i t u c i o n a l d a a v a l i a ç ã o de i m p a c t o a m b i e n t a l n o Br
3 .4 V is ã o de c o n j u n t o
A legislação ambiental é hoje extraordinariam ente complexa, a ponto de constituir
um ramo especializado do Direito, o Direito Ambiental. As leis e decretos citados
no Quadro 3.1 formam apenas um a pequena parte do corpo legal e normativo em
vigor no País, que inclui também leis estaduais e municipais. A avaliação de impacto
ambiental, que em todo o mundo foi formalizada e se consolidou pela via legal, é
apenas um dos instrumentos empregados para tentar compatibilizar desenvolvimen
to econômico e social com proteção e melhoria da qualidade ambiental, tendo como
ideal o desenvolvimento sustentável.
Quando a AIA foi introduzida no País, j á havia, no plano federal, diversos in stru
mentos legais no campo do meio ambiente - então, a AIA soma-se a um quadro
preexistente, mas o modifica, ao estabelecer, de maneira incontestável, a importância
I dos enfoques preventivos, a prevenção do dano ambiental e a prevenção da degra
dação ambiental. 0 fato de que a qualidade ambiental continue a se deteriorar nos
centros urbanos e nas áreas rurais, de que a perda de biodiversidade prossiga a passo
acelerado, de que a paisagem litorânea se degrade de modo provavelmente irrever-
sivel, entre inúmeros outros problemas ambientais (Ibama 2002; ISA, 2004), apenas
indica que resta muito por fazer, inclusive fortalecer e ampliar o papel da avaliação
de impacto ambiental. '
^ Bn M M M y ..... - ü l m , J1 - ~ *
dos quais terão suas licenças negadas, ao passo que outras somente serão aceitas
mediante modificações substanciais ou na dependência da aceitação de medidas mi-
tigadoras e compensatórias.
CAPÍTU LO V : ■
a;ào oe im pacto A m b ie ntai: conceitos e métodos
CAPÍTl
0 P r o c e s s o de A v a lia ç ã o de Im p a c to A m b ie n t a l e s e u s O b j e t i v ^ B 93
Portanto, u m s i s t e m a d e A I A é 0 m e c a n i s m o l e g a l e i n s t i t u c i o n a l q u e t o r n a o p e r a c i o
n a l 0 p r o c e s s o d e A I A e m u m a d e t e r m i n a d a j u r i s d i ç ã o (um país, um território, um
Estado, um a província, um município ou qualquer outra entidade territorial adm i
nistrativa).
QU
sçso ce t pacto A m b ie ntal: conceitos e métodos
Uma das grandes dificuldades práticas da AIA é fazer com que alternativas de menor
impacto sejam formuladas e analisadas comparativamente às alternativas tradicionais.
Ortolano (1997), ao estudar a resistência cultural dos engenheiros do Corpo de Enge
lEssa agência nheiros do Exército Americano (U.S. Army Corps of Engineers)1 às novas exigências
governamental tem ambientais na análise de projetos, observou mudanças “notáveis” que se seguiram à
a atribuição de
contratação de “centenas de especialistas ambientais” para atender aos requisitos da
projetar e construir
obras civis, sem NEPA. 0 autor constata que alguns desses profissionais, contratados fundamentalmente
relação direta para elaborar EIAs, souberam “influenciar os engenheiros responsáveis pela elabora
com a defesa ou ção de projetos”, encontrando, às vezes, soluções inovadoras. Ortolano concluiu que
outras funções as mudanças “foram extraordinárias, dada a enorme burocracia dominada por enge
eastrenses, como nheiros com uma tradição de construtores, e seus aliados no Congresso, interessados
barragens, obras
em promover novos projetos em suas bases políticas”.
de proteção contra
enchentes, abertura
e conservação de 0 conceito de viabilidade ambiental não é unívoco, como, aliás, também não o é o
vias navegáveis. de viabilidade econômica. Para a análise econômica, um projeto é viável dentro de
determinadas condições presentes, dadas determinadas hipóteses que se faz sobre o
futuro (custos, preços, demandas etc.) e em função do nível de risco aceitável para os
investidores. Para a análise ambiental, um projeto pode ser viável sob determinados
pontos de vista, desde que certas condições sejam observadas (o atendimento a requi
sitos legais, por exemplo). Mas os impactos socioambientais de um projeto (que na
análise econômica são tratados como externalidades) distribuem-se de maneira desi
gual. Os grupos humanos beneficiados por um projeto geralmente não são os mesmos
que suportam as conseqüências negativas - um novo aterro sanitário beneficia toda
a população de um município, mas pode prejudicar os vizinhos; um a usina hidrelé
trica beneficia consumidores residenciais e industriais, porém, prejudica aqueles que
vivem na área de inundação.
CAPÍTU
0 P r o c e s s o d e A v a l i a ç ã o de I m p a c t o A m b i e n t a l e s e u s O B J E n v g j 95
A AIA tem tam bém 0 papel de facilitar a gestão ambiental do futuro em preen
dimento. A aprovação, do projeto implica certos compromissos, assumidos pelo
empreendedor, que são delineados no estudo de impacto ambiental, podendo ser
modificados em virtud e de negociações com os interessados. A m aneira de imple
m entar as medidas mitigadoras e compensatórias, seu cronograma, a participação de
outros atores na qualidade de parceiros
e os indicadores de sucesso podem ser Quadro 4/1 Objetivos da avaliação de impacto ambiental «*d4 \
estabelecidos durante o processo de 1. Assegurar que as considerações ambientais sejam explicitamente
AIA, que não term ina com a aprovação tratadas e incorporadas ao processo decisório
de um a licença, mas continua durante 2. Antecipar, evitar, minimizar ou compensar os efeitos negativos
todo o ciclo de vida do projeto. relevantes biofísicos, sociais e outros
3. Proteger a produtividade e a capacidade dos sistemas naturais,
Para concluir esta seção, o Quadro 4.1 assim como os processos ecológicos que mantêm suas funções
mostra os objetivos da AIA, segundo a 4. Promover o desenvolvimento sustentável e otimizar o uso e as
Associação Internacional de Avaliação oportunidades de gestão de recursos
de Impactos - IAIA. Fonte: IAIA (1999)
4 .2
/
O ORDENAMENTO DO PROCESSO DE AIA
E contra o pano de fundo desses objetivos que deve ser entendido o processo de AIA.
Embora as diferentes jurisdições estabeleçam procedimentos de acordo com suas
particularidades e a legislação vigente, qualquer sistema de avaliação de impacto
ambiental deve obrigatoriamente ter um certo número mínimo de componentes, que
definem como serão executadas certas tarefas obrigatórias. Isso faz com que os sis
temas de AIA vigentes nas mais diversas jurisdições guardem inúmeras semelhanças
entre si. A Fig. 4.1 mostra essas atividades ao representar um esquema genérico de
AIA. Não se trata do processo brasileiro, paulista ou americano, mas de um processo jk
universal. Cada jurisdição pode conceder maior ou menor importância a alguma des
sas atividades, ou até mesmo omitir um a delas, mas, essencialmente, o processo será
sempre muito semelhante.
QU
^ v j— ^ ce m pacto A m b ie ntal: conceitos e métodos
É importante notar que, na hipótese de não ser julgado necessário apresentar um estudo
de impacto ambiental, há outros instrumentos que permitem um controle governa
mental sobre essas atividades e seus impactos ambientais. Assim, o licenciamento
CAPITU
0 P r o c e s s o de A v a l i a ç ã o de I m p a c t o A m b i e n t a l e s e u s O b j e t iv ^ J 97
A p r e s e n t a ç ã o d a pr o po s ta
0 processo tem início quando um a determinada iniciativa, como um projeto ou
um plano, programa ou política (PPP) é apresentada para aprovação ou análise de
uma instância decisória, 110 âmbito de uma organização que possua um mecanismo
institucionalizado de decisão. Essa organização pode ser um a empresa privada, um
organismo financeiro, um a agência de desenvolvimento, ou ainda um órgão gover
namental. Este último é 0 caso mais geral e por isso será usado aqui como modelo de
referência. Normalmente, deve-se descrever a iniciativa em suas linhas gerais, infor
mando a localização de um projeto ou a abrangência de um PPP. Muitas iniciativas
têm baixíssimo potencial de causar impactos ambientais relevantes, enquanto outras, 2Esse princípio
incontestavelmente, serão capazes de causar profundas e duradouras modificações. costuma ser
Como regra geral, a avaliação prévia dos impactos ambientais somente será reali legalmente
estabelecido, por
zada para as iniciativas que tenham 0 potencial de causar impactos significativos2.
exemplo, na Nepa
Na Fig. 4.1, para fins de simplificação, é utilizado 0 termo “proposta” para designar e na Constituição
qualquer ação que possa causar impactos ambientais (significativos ou não), incluindo Federal brasileira
projetos, programas ou políticas. (Art. 225, § 1% IV).
QU
fi ação de n p a c t o Am oientai: conceitos e metooos
3Na literatura de T r ia g e m 3
língua inglesa, essa Trata-se de selecionar, dentre as inúm eras ações hum anas, aquelas que tenham um
etapa é conhecida potencial de causar alterações am bientais significativas. Devido ao conhecim ento
como screening, acum ulado sobre o impacto das ações hum anas, sabe-se de muitos tipos de ações que
termo que também
realm ente têm causado impactos significativos, enquanto outras causam impactos
pode ser traduzido
por classificação, irrelevantes ou têm medidas am plam ente conhecidas de controle dos impactos. Há,
ou ainda porém, um campo interm ediário no qual não são claras as conseqüências que podem
enquadramento. advir de determ inada ação, casos em que um estudo simplificado é necessário para
enquadrá-la em um a das categorias. A triagem resulta em um enquadram ento do
projeto, usualm ente em um a de três categorias: (a) são necessários estudos aprofun
dados; (b) não são necessários estudos aprofundados; (c) há dúvidas sobre o potencial
de causar impactos significativos ou sobre as mqdidas de controle. Os critérios básicos
de enquadram ento costum am ser:
Listas positivas: são listas de projetos para os quais é obrigatória a realização de
um estudo detalhado;
* Listas negativas: são listas de exclusão, que compreendem projetos cujos impactos
são sabidamente pouco significativos ou projetos para os quais é conhecida a
eficácia de medidas, técnicas ou gerenciais, para mitigar os impactos negativos;
Critérios de corte: aplicados tanto para listas positivas como para listas negativas,
» • «
oC
Por exemplo, em um projeto de geração de eletricidade a p artir de combustíveis fós
seis, evidentemente o EIA deverá dar grande atenção aos problemas de qualidade
do ar. Já em um a barragem, certam ente devem receber grande atenção as questões
relativas à qualidade das águas, à existência de remanescentes de vegetação nativa rW -i* * J
rc v
na área de inundação e à presença de populações e atividades hum anas nessa área,
enquanto a qualidade do ar possivelmente seria tratada de m aneira rápida no EIA,
uma vez que os impactos de um a barragem sobre esse elemento são, geralmente, de j
pequena m agnitude e importância.
E laboração d o e s t u d o de im p a c t o a m b i e n t a l
Essa é a atividade, central do processo de avaliação de impacto ambiental, a que
normalmente consome mais tempo e recursos e estabelece as bases para a análise
da viabilidade amhientaLdo empreendimento, O estudo deve ser preparado por um a
equipe composta de profissionais de diferentes áreas, visando determ inar a extensão
e a intensidade dos impactos ambientais que poderá causar e, se necessário, propor
modificações no projeto, de forma a reduzir ou, se possível, elim inar os impactos
negativos. Como os relatórios que descrevem os resultados desses estudos costumam
ser bastante técnicos, é usual preparar um resumo escrito em linguagem simplificada
e destinado a com unicar as principais características do empreendimento e seus
impactos a todos os interessados5. 5AJo Brasil, a
regulamentação
lorna obrigatória
A n á l is e t é c n ic a do e s tu d o de im p a c t o a m b i e n t a l a preparação
0s estudos devem ser analisados por um a terceira parte, norm alm ente a equipe técnica desse documento,
do órgão governam ental encarregado de autorizar o empreendimento - ou a equipe denominado
relatório de
da instituição financeira à qual fQi solicitado um empréstimo para realizar o projeto.
impacto ambiental
- Rima.
Trata-se de verificar sua conform idade aos term os de referência e à regulam entação
ou procedim entos aplicáveis. Trata-se tam bém de verificar se o estudo descreve
adequadam ente o projeto proposto, se analisa devidam ente seus impactos e se
propõe medidas m itigadoras capazes de aten u ar suficientemente os impactos nega
tivos. A análise é feita não somente por equipe multidisciplinar, como tam bém
pode ser interinstitucional, ou seja, podem -se co nsultar diferentes órgãos especia
lizados da adm inistração, como aquele encarregado do patrim ônio cultural, ou o
responsável pela utilização das águas de um a bacia hidrográfica. Normalmente, os
an alistas preocupam -se mais com os aspectos técnicos dos estudos, como o grau
de detalham ento do diagnóstico am biental, os métodos utilizados para a previsão
da m agnitude dos impactos e a adequação das m edidas m itigadoras propostas.
As m anifestações expressas na consulta pública podem ser consideradas e e v e n tu a l
mente incorporadas para fins de análise dos estudos.
C onsulta p ú b l ic a
Desde sua origem, na legislação americana, o processo de ATA compreende mecanismos
formais de consulta aos interessados, incluindo os diretam ente afetados pela decisão,
âçso ce Im pacto A m biental: conceitos e métodos
D ec isão
Os modelos decisórios no processo de AIA são muito variados e estão mais ligados
à tradição política de cada jurisdição que a características intrínsecas da avaliação
de impacto ambiental. Em linhas gerais, a decisão final pode caber (i) à autoridade
ambiental, (ii) à autoridade da área de tutela à qual se subordina o empreendimento
(decisões sobre um projeto florestal, por exemplo, cabem ao ministério responsável
por esse setor), ou (iii) ao governo (por meio de um conselho de ministros ou do chefe
de governo). Há ainda o modelo de decisão colegiada, por meio de um conselho com
participação da sociedade civil - muito usado no Brasil - em que esses colegiados
são subordinados à autoridade ambiental. Três tipos de decisão são possíveis: (i) não
autorizar o empreendimento, (ii) aprová-lo incondicionalmente, ou (iii) aprová-lo com
condições. Cabe ainda retornar a etapas anteriores, solicitando modificações ou a
complementação dos estudos apresentados.
M o n it o r a m e n t o e g e s t ã o a m b ie n t a l
Em seqüência a uma decisão positiva, a implantação do empreendimento deve ser
acompanhada da implementação de todas as medidas visando reduzir, eliminar ou
compensar os impactos negativos, ou potencializar os positivos. 0 mesmo deve ser
observado durante as fases de funcionamento e de desativação e fechamento da obra
ou atividade. A gestão ambiental, lio sentido aqui empregado, corresponde a todas
as atividades que se seguem ao planejamento ambiental e que visam assegurar a
implementação satisfatória do plano. 0 monitoramento é parte essencial das ativi
dades de gestão ambiental e, entre outras funções, deve permitir confirmar ou não
as previsões feitas no estudo de impacto ambiental, constatar se o empreendimento
atende aos requisitos aplicáveis (exigências legais, condições da licença ambiental
e outros compromissos) e, por conseguinte, alertar para a necessidade de ajustes e
correcões.
A gestão ambiental é hoje uma atividade cada vez mais sofisticada e há diversas
ferramentas desenvolvidas para a gestão de empreendimentos e de organizações,
que podem ser conjugadas e integradas à avaliação de impacto ambiental (Sánchez,
2006a), tais como sistemas de gestão ambiental (ISO 14.001), auditorias ambientais
(ISO 19.011) e avaliação de desempenho ambiental (ISO 14.031).
6Na literatura
de língua A companham ento6
inglesa, o termo Tem-se constatado, no mundo todo, várias dificuldades na correta implementação
correspondente é
das medidas propostas pelo estudo de impacto ambiental e adotadas como condições
follow-up.
c a p ít u I S H H H
0 P r o c e s s o d e A v a l i a ç ã o d e I m p a c t o A m b i e n t a l e s e u s O b je t i
D ocum entação
A complexidade do processo de AIA e suas múltiplas atividades tornam necessária
a preparação de grande número de documentos. O Quadro 4.2 fornece um a visão de
conjunto da documentação, tomando por base as exigências brasileiras de licencia
mento ambiental. Dada a relativa autonomia de cada órgão licenciador, à parte o termo
estudo de impacto ambiental, os nomes dados a cada documento dependerão da regu
lamentação em vigor em cada jurisdição. 0 grande número de documentos envolvidos
dá um a ideia do tempo necessário até a obtenção de um a licença ambiental, e também
permite inferir que os custos não são desprezíveis, tanto para o empreendedor como
para o agente público gestor do processo.
a Resolução Conama 1/86. E essa resolução que estabelece a orientação básica para
a preparação de um estudo de impacto ambiental. Ainda que de modo conciso, os
principais elementos do processo cie AIA são tratados nessa norma. Outras resoluções
Conama e regulamentos estaduais e municipais estabelecem requisitos adicionais,
mas os elementos essenciais do processo estão inalterados desde 1986.
Triagem: é feita por meio de uma lista p ositiva (Art. 2o) (outras resoluções do
Conama introduziram outros critérios deflagradores para um EIA, conforme
Cap. 5).
Determinação do escopo: o parágrafo único do Art. 6o estabelece que cabe ao
órgão licenciador definir “instruções adicionais” para a preparação dos estudos
de impacto ambiental, levando em conta “peculiaridades do projeto e caracterís
ticas ambientais da área” (Não há requisitos de procedimento para a definição
da abrangência de um EIA. 0 órgão ambiental pode fazê-lo internamente, sem
nenhum a forma de consulta).
Elaboração do EIA e do R im a: tratada nos Arts. 5o, 6o, 7o, 8o e 9o; a Resolução
estabelece as diretrizes e o conteúdo mínimo dos estudos, e define a respon
sabilidade por sua execução (“equipe multidisciplinar habilitada”) e a quem
são imputados os custos (ao empreendedor).
Análise técnica do EIA: o Art. 10 estabelece que deve haver um prazo para
m anifestação do órgão licenciador, mas não estipula esse prazo.
9 ação de Impacto A m biental: conceitos e métodos
ífc Consulta pública: o Art. 11 determina que o Rima será acessível ao público
e aos órgãos públicos que manifestarem interesse ou tiverem relação direta
com o projeto; os interessados terão um prazo para enviar seus comentários;
poderá ser promovida audiência pública para “informação sobre o projeto e
seus impactos ambientais e discussão do Rima”
Quadro 4.2 Principais documentos técnicos das diversas etapas do processo de avaliação de impacto ambiental
D o c u m e n t o s de e n t r a d a
Memorial descritivo Apresentação Parecer técnico que define o nível de avaliação ambiental
do projeto1 da proposta e o tipo de estudo ambiental necessários
Publicação em jornal anunciando
a intenção de realizar determinada
iniciativa2
Avaliação ambiental Triagem Parecer técnico sobre o nível de avaliação ambiental e o
inicial ou estudo preliminar3 tipo de estudo ambiental necessários
Plano de trabalho Definição da Termos de referência4
abrangência e
conteúdo do EIA
Termos de referência Elaboração do EIA EIA e Rima
e do Rima
EIA Análise técnica Parecer técnico
EIA e Rima Consulta pública Atas de audiência e outros documentos de consulta
Publicação em jornal pública
EIA, estudos complementares, Análise técnica Parecer técnico conclusivo
documentos de consulta pública
EIA, Rima, pareceres técnicos, Decisão Licença prévia5 (ou denegação do pedido de licença)
documentos de consulta pública
Planos de gestão6 Decisão Licença de instalação
Relatórios de implementação Implantação / Licença de operação
do plano de gestão construção
Vários documentos Operação Renovação da licença de operação, relatórios de
monitoramento e desempenho ambientai7
Plano de fechamento8 Desativação Licença de desativação9
N ota: o quadro to m a p o r referência p rin c ip a lm e n te as exigências brasileiras de lic e n c ia m e n to am biental.
1 Exemplos: M CE - M e m o ria l de C aracterização do E m preendim ento (São Paulo), FCE - F orm ulário de C aracterização do Em pre
e nd im ento (M inas Gerais).
2A p u b lica çã o em jo rn a is de grande circulação é um a das form as m ais com uns de a n u n c ia r a in te n çã o de re a liza r um e m preendi
m ento, m as há diversas outras form as de d iv u lg a r essa in fo rm a ç ã o ; a d ivu lg a çã o p e rm ite que o p ú b lico possa se m a n ife s ta r e que,
p o rta n to , as preocupações do p ú b lico possam ser utilizadas com o um c rité rio de triagem .
3 Exemplos: RAP - R elatório A m b ie n ta l P re lim in a r (São Paulo), RAS - R elatório A m b ie n ta l S im plificado, RCA - R elatório de C ontrole
A m b ie n ta l.
4 No Rio de Janeiro, esse d o cu m e n to recebe o nom e de "Instrução Técnica".
5A licença pode in c lu ir condiciona ntes que só a to rn a m válidas se as condições forem cum pridas.
6Exemplos: PBA - Projeto Básico A m b ie n ta l (setor elétrico), PCA - Plano de C ontrole A m b ie n ta l (setor de m ineração).
1 Exem plo: Roda - R elatório de A va lia çã o de Desempenho A m b ie n ta l (M inas Gerais). Em alguns Estados, exige-se rela tó rio s de
a u d ito ria a m b ie n ta l para certas atividades.
8 No Brasil é exigido o Prad - Plano de Recuperação de Áreas Degradadas para em preendim entos de m in eração e planos de desa
tivação p ara algum as categorias de em preendim entos (segundo resoluções do Conama); no Estado de São Paulo, desde dezem bro
de 2 0 0 2 é exigível um p la n o de fe ch a m e n to para certas atividades.
9A in d a não existente no Brasil.
CAPITU
0 P r o c e s s o d e A v a l i a ç ã o de I m p a c t o A m b i e n t a l e s e u s O b j e t i v ^ J 103
em prática. E claro que inúmeras dificuldades surgiriam com a prática, mas a expe
riência então acumulada, os erros e acertos, perm itiriam aperfeiçoá-la.
Como se vê, a Resolução 42/94 tratou de modo ordenado e orgânico os principais ele
mentos do processo genérico de AIA. Outras resoluções, publicadas posteriormente,
detalharam algumas dessas tarefas, como a realização de reuniões públicas de infor
mação e as formalidades de publicação de convocações e anúncios. Todavia, um item
controverso do processo de AIA em São Paulo é o uso do relatório ambiental preli
m inar como estudo ambiental suficiente para nortear o licenciamento ambiental de
vários empreendimentos. Outros problemas são a falta de complementação da lista de
projetos do Artigo 2° da Resolução Conama 1/86 e as deficiências da etapa de acom
panhamento.
.0
0 P r o c e s s o d e A v a l i a ç ã o d e I m p a c t o A m b i e n t a l e s e u s O b je t i 105
Um campo em que cada agência tem Proposta de ação de uma Agência Federal
bastante liberdade é a triagem, sendo co
Etapa Inicial I
mum o emprego de listas positivas e de
listas negativas. Segundo Weiner (1997), Consta da lista de exclusão categórica?
o procedimento de implementação da
Não
Nepa adotado por cada agência “deveria
identificar ações que tipicamente reque Sim
Consta da lista de inclusão
rem um EIA e aqueles que não requerem \
Não
(exclusão categórica)” (p. 77), sendo o en Sim
l
Preparação de um -
quadramento das demais ações resolvido
Environmental Assessment
caso a caso. O enquadramento dos casos r
0 passo seguinte é o scoping, procedim ento obrigatório que frequentem ente inclui
a realização de reuniões públicas, mas que tam bém pode ser baseado no recebi
mento de m anifestações escritas após a divulgação da notice o fin ten t. Por meio do
scoping identificam -se (1) ações, (2) alternativas e (3) impactos a serem abordados
no EIA, cuja análise pode, assim, “concentrar-se nas questões que são verdadeira
mente significativas” (Eccleston, 2000, p. 71).
CAPÍTU LO
0 P r o c e s s o d e A v a l i a ç ã o d e I m p a c t o A m b i e n t a l e s e u s O b je t i
EIA e em sua análise. Após aprovação do EIA, a autoridade decide sobre a aprovação
do projeto, podendo impor condições e requerer a preparação de um plano de gestão
ambiental.
Esses dois exemplos ilustram aquilo que foi afirmado ao início do capítulo acerca
da convergência dos sistemas de avaliação de impacto ambiental. Suas semelhanças
devem-se aos objetivos similares.
3Ç30 ae m pacto A m biental: conceitos e métodos
-Jurisdições Todo sistema de AIA deve definir o universo de ações hum anas (projetos, planos,
t
incluem governos programas) sujeitos ao processo, ou seja, seu campo de aplicação. E intuitivo ou de
nacionais, regionais
bom senso que não se vai exigir um estudo prévio de impacto ambiental de todo
e locais, como é
o caso da União, projeto ou de qualquer intervenção no meio natural, mas o patam ar a partir do qual
dos Estados e dos deveria ser aplicado o processo? 0 conceito-chave aqui é o de impacto significativo.
m unicípios no
Brasil. Organizações
incluem empresas
Todas as jurisdições e organizações1 nas quais a avaliação de impacto ambiental
públicas ou foi adotada estabelecem, de uma forma ou de outra, que esse instrumento de políti
privadas que ca ambiental deverá ser empregado para fundam entar decisões quanto à viabilidade
adotam a avaliação ambiental de obras, atividades e outras iniciativas que possam afetar negativamente
de impacto
am biental em o meio ambiente. Mais precisamente, leis, regulamentos e políticas adotados por essas
suas políticas jurisdições e organizações estabelecem, como parte do processo de AIA, a necessidade
corporativas, assim de preparação de um estudo de impacto ambiental (EIA) antes da tomada de decisões
como organizações
sobre iniciativas que tenham o potencial de causar alterações ambientais significativas.
internacionais
que adotam a
avaliação de Segundo a Constituição Federal Brasileira de 1988, “incumbe ao Poder Público: (...) exi
im pacto ambiental gir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de
como requisito para
significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que
certas decisões
de alocação de se dará publicidade” (Art. 225, IV). Nos Estados Unidos, a Nepa estabelece a necessidade
recursos, como é de preparação de um environmental impact statement para ações que “possam afetar
o caso do Banco significativamente a qualidade do ambiente hum ano” (Seção 102 (C)).
M undial e de
outras instituições
multilaterais. Dessa forma, as primeiras etapas do processo de avaliação de impacto ambiental
implicam um a decisão acerca de quais tipos de projetos ou ações devem ser submetidos
ao processo. Em princípio, todas as ações que possam causar impactos ambientais
significativos devem ser objeto de um estudo de impacto ambiental. Algumas ações
podem passar por um processo mais simples de avaliação de impacto, enquanto outras
dificilmente provocarão algum impacto ambiental digno de nota.
0 Banco Mundial, por exemplo, classifica os projetos que lhe são submetidos em três
categorias, de acordo com seu potencial de impacto2:
zHá urna quarta # Categoria A: projetos que requerem um a avaliação ambientaj completa, pois
categoria, FI, usada
quando o Banco podem causar impactos significativos e irreversíveis.
repassa fu n d o s para # Categoria. B: projetos que, embora não requeiram uma avaliação ambiental
agentes financeiros completa, devem ser objeto de uma análise ambiental simplificada, por meio da
intermediários, m as
seleção de medidas já conhecidas para minimização de impactos, do emprego
essa categoria não
interessa aqui. de tecnologias cujos impactos j á são conhecidos e largamente mitigáveis ou por
meio de outros procedimentos.
# Categoria Ç;. projetos que normalmente não causam impactos ambientais
significativos.
(Política Operacional 0P 4.01, Avaliação Ambiental, janeiro de 1999.)
Um dos problemas mais críticos que devem resolver as regulamentações sobre ava
liação de impacto ambiental é, portanto, aquele da definição operacional a dar ao
termo “significativo”. A resposta a essa questão depende de diversos fatores, dentre os
quais a própria definição que se dá ao termo (e ao instrumento) “avaliação de impacto
ambiental”, as funções e os objetivos que se atribuem ao estudo de impacto ambiental
e a abertura para que sejam realizados estudos ambientais de diferentes graus de
profundidade, segundo o potencial de impacto da proposta em análise.
5.1 0 QUE É IMPACTO SIGNIFICATIVO?
Em primeira análise, significativo é tudo aquilo que tem um significado; é sinônimo
de expressivo. Mas é com o sentido de considerável, suficientemente grande, ou ainda
como importante que deve ser entendida a locução impacto ambiental significativo.
A definição, porém, não resolve o problema, porque impacto significativo é um termo
carregado de subjetividade. E dificilmente poderia ser de outra forma, uma vez que
a importância atribuída pelas pessoas às alterações ambientais chamadas impactos
depende de seu entendimento, de seus valores, de sua percepção.
São muitas as inter-relações entre a fabricação de pão e o meio ambiente. Tudo isso
justificará a realização de um estudo de impacto ambiental antes da abertura de toda
nova padaria?
'E ar.zência legal no lenha, como um a padaria, pague um a tax a para financiar a reposição florestal4, que o
Brasil. trigo seja produzido sem agrotóxicos, que o moinho de farinha não descarregue seus
efluentes líquidos diretamente em um rio5, que os caminhões que entregam a farinha
-Em preendim ento
e a lenha sejam regulados para emitir o mínimo de fumaça preta e outros poluentes
sujeito ao
licenciamento
atmosféricos6, que o term inal portuário que receba o trigo importado tenha licença
ambiental. ambiental7 etc. Pode-se tam bém determinar, por meio de zoneamento municipal, que
padarias não sejam instaladas em determinadas vias ou quadras, ou que ofereçam
6Há normas certo número de vagas de estacionamento aos seus clientes, para citar apenas algu
de emissão mas medidas de gestão ambiental aplicáveis a esse tipo de estabelecimento comercial.
para veículos
*
autom otores e
Já um a usina nuclear é bem mais complexa, entre outras razões porque representa
procedim entos de
inspeção. um risco à saúde e à segurança das pessoas e dos ecossistemas. Também um a grande
barragem causa impactos ambientais radicalmente diferentes daqueles decorrentes
7Terminais de um a padaria, a exemplo de Itaipu, que submergiu um sítio de incomparável beleza
portuários também cênica, as Sete Quedas (Fig. 5.1). Os cidadãos que nasceram no final do século XX e
requerem licença as gerações seguintes foram privados da possibilidade de apreciar uma paisagem de
ambiental.
beleza incomum devido a um a decisão, praticamente irreversível, de construir um a
barragem de uma determinada altura em um determinado local. Trata-se, indubita
velmente, de impacto ambiental significativo, irreversível, permanente, e que afeta
potencialmente toda a população do planeta, presente e futura. Ora, um a decisão
de tam anhas implicações justificaria um a detalhada análise de suas conseqüências
/
0 potencial que tem determinada obra ou ação hum ana de causar alterações ambientais
depende de duas ordens de fatores:
% as solicitações impostas ao meio pela ação ou projeto, ou seja, a sobrecarga^
imposta ao ecossistema, representada pela emissão de poluentes, supressão ou
adição de elementos ao meio;
% a vulnerabilidade do meio, ou seja, o inverso da resiliência, que por sua vez
dependerá do estado de conservação do ambiente e das solicitações impostas
anteriormente e cujos efeitos se acumularam; ou a importância do ambiente
ou do ecossistema — muitas vezes é difícil tornar operacionais os conceitos de
vulnerabilidade ou de resiliência, sendo mais fácil designar tipos de ambiente
que se deseje proteger (devido à sua importância ecológica, valor cultural ou
outro atributo), ou ainda áreas geograficamente delimitadas.
CAPÍTü
E t a p a de T r i a g ü H 113
depende não somente de suas características técnicas Característica ecológica Critério social
Ü ^ B S B B B ic o
114 ^ ^ a l i a ç ã o de Im pacto A m b ie n ta l: conceitos e m étodos
5 .2 C r itér io s e p r o c e d im e n t o s de t r ia g e m
Com o propósito de definir para quais atividades se aplicará a avaliação de impacto
ambiental, a relação teórica solicitação/vulnerabilidade, que define o potencial de
impactos ambientais, deve ser transform ada em um conjunto de critérios práticos
que perm itam en quadrar cada nova proposta em um dos três campos da Fig. 5.2. A
Fig. 5.4 situa o campo de aplicação da AIA dentro do universo das ações antró-
picas. Há três conjuntos, cujos limites são linhas
tracejadas, para indicar a inexistência de fron-
teiras nítidas. 0 sempre crescente conjunto das
%
Conjunto das atividades atividades hum anas, constantem ente ampliado pela
humanas inventividade hum ana, comporta um subconjunto
de atividades que podem afetar o meio ambiente
ou causar algum a forma de impacto negativo ou
* * * .
significativo)
■ ,
E im portante notar que dispensar um projeto da
¥
CAPÍTU
sem pre esses dois critérios são suficientes, sendo necessário lan ç ar mão de alg u m a
forma de análise das singularidades de cada caso.
C l a s s if ic a ç ã o por t ip o de e m p r e e n d im e n t o s
Este critério é operacionalizado por meio do estabelecim ento de listas de
em preendim entos sujeitos à preparação prévia de um estudo de impacto am biental
(cham adas de listas positivas) ou dispensados de tal procedim ento (cham adas de
listas negativas); tais listas podem ser aco m p an h ad as de critérios de porte p ara os
em preendim entos listados. Listas positivas são provavelm ente o m ecanism o m ais co
m um p ara delim itar o cam po de aplicação da AIA. Fazem parte da regulam entação
da União Europeia e da lei federal canadense, m as não co nstam da Nepa nem de seu
regulam ento, que d eix am essa tarefa p ara as agências federais.
Uma lista.po sitiva é a principal ferram enta em pregada pela regulam entação brasi
leira p a ra definir os tipos de em preendim entos sujeitos à apresentação e aprovação
prévia de um estudo de impacto am biental: o artigo 2o da Resolução Conama 1/86
arrola dezessete tipos de em preendim entos, a lg u n s dos quais acom panhados de um
critério de porte. Um exemplo é o inciso XI, “u sin as de geração de eletricidade, q u a l
quer que seja a fonte de energia prim ária, acim a de 10 MW".
A classificação por tipo de em preendim ento tam b ém com porta listas negativas, ig u al
m ente adotadas em v á ria s jurisdições, a exemplo dos Estados Unidos e do Canadá.
Nos EUA, listas negativas são m uito difu n d id as e em pregadas por v á ria s agências
federais, en qu anto no Canadá são in tegran tes do regulam ento da lei federal de a v a
liação am biental.
As ljsfas, tan to positivas como negativas, em bora sejam de fácil aplicação, refletem
u m a classificação prévia genérica do potencial de dano am biental de u m em p reen
dim ento que não leva em conta as condições locais - assim, u m projeto tu rístico em
u m a área litorânea com m anguezais, restingas e ecossistem as diversificados poderá
cau sar im pactos significativos mesmo que ocupe u m a área m uito m enor que 100 ha
(o critério de porte constante da lista positiva brasileira), en quanto um grande
em preendim ento tu rístico em u m a área ru ra l ocupada por pastagens talvez não )
v e n h a a cau sar im pactos significativos.
são Area de
os ecossistemas costeiros” e, “X - Obras e atividades em zonas úmidas, manguezais, Relevante Interesse
lagunas, rios, lagos e estuários conectados com 0 mar, assim como em suas costas ou Ecológico, Floresta
zonas federais”. 0 inciso IX inclui na lista de empreendimentos os de tipo imobiliário, Nacional, Reserva
Extrativista,
enquanto projetos industriais ou de infraestrutura que possam afetar os ambientes Reserva de Fauna,
costeiros j á estão inclusos pelas próprias características desses projetos, 0 que não Reserva de
acontece com os imobiliários, para os quais somente vai se exigir 0 EIA nessa situação. Desenvolvimento
Por sua vez, o inciso X abarca qualquer tipo de empreendimento, desde que situados Sustentável e
Reserva Particular
nos locais especificados. do Patrimônio
Natural.
As características de determinados ambientes são levadas em conta como um critério
de triagem também adotado pela regulamentação brasileira. 0 Decreto Federal
n° 99.556, de Io de outubro de 1990, estabelece a necessidade de preparação de estudo
de impacto ambiental para obras ou empreendimentos potencialmente lesivos ao
patrimônio espeleológico nacional:
/
Q u a d r o 5 . 3 T ip o lo g ia de a m b ie n te s
T ip o s b á s ic o s de a m b ie n t e s
São três os tipos básicos. Conforme já descrito, esses ambientes podem ocorrer simultaneamente em um empreendi
mento, porém não podem ocorrer sobre a mesma superfície, sendo portanto excludentes entre si, para cada porção
da superfície estudada. São os seguintes:
....... . . ■A . y v r a s . g y * :
IBIENTES CONSERVADOS
São ambientes com pouca ou nenhuma alteração antrópica, onde são mais importantes os impactos sobre o meio
biológico. Podem estar em qualquer bioma, inclusive naqueles onde existem maiores restrições quanto ao uso e
ocupação.
T ipo 4 : T ip o l o g ia s e s p e c ia is de a m b ie n t e .^ . | .;
Além dessa classificação, têm-se situações especiais, que podem ser cumulativas entre si ou a qualquer um dos três
tipos de ambientes:
T e rre n o s c á rs tic o s : os terrenos cársticos são aqueles formados pela dissolução das rochas pelas águas, onde ocorrem
cavernas e riôs subterrâneos. São ambientes especialmente sensíveis a impactos sobre as águas e a fauna subterrânea,
ao patrimônio espeleológico e ao patrimônio arqueopaleontológico.
A m b ie n te s a q u á tic o s : refere-se a ambientes costeiros, de rios e de lagos. São ambientes sensíveis a impactos, para
os quais existem leis e normas específicas.
Á re a s de re le v â n c ia d o p a t r im ô n i o n a tu r a l e c u l t u r a l : são ambientes onde ocorrem elementos do patrimônio
natural (picos e/ou monumentos naturais), patrimônio histórico (núcleos históricos, ruínas etc.) ou pré-históricos
(sítios arqueológicos).
r
A re a s de s e n s ib ilid a d e s o c io e c o n ô m ic a : são áreas onde existem municípios e núcleos urbanos com pequena popula
ção e infraestrutura urbana deficientes frente ao porte do empreendimento. Neste caso, a demanda por mão de obra,
associada à indução da migração à área, pode provocar sobrecarga às frágeis estruturas urbanas e sociais.
Á re a s de o c o r r ê n c ia de p o p u la ç õ e s t r a d ic io n a is : são áreas (demarcadas ou não) onde ocorrem populações indíge
nas, remanescentes de quilombos ou outros grupos sociais organizados de forma tradicional e historicamente ligados
a uma região.
Fonte: M in is té rio do M e io A m b ie n te /lb a m a , M a n u a l de N orm as e Procedim entos pa ra Licenciam ento A m b ie n ta l no S e to r de
E xtração M in eral, 2001.
CAPÍTÜ;lo
E ta p a de T riag 119
Esses ambientes especiais podem ser valorizados por sua beleza cênica, por sua biodi
versidade, por sua vulnerabilidade ambiental ou por sua importância cultural, atributos
que não raro se apresentam em conjunto (Figs. 5.5, 5.6 e 5.7). Muitas vezes, esses locais wO inverso também
são áreas protegidas - no Brasil, são chamadas de unidades de conservação - como pode acontecer:
uma área perder
parques nacionais ou áreas de proteção ambiental, onde a legislação pode impedir a
sua proteção legal
realização de determinados empreendimentos. Outras vezes, o reconhecimento da im para dar lugar a um
portância desses locais pode se dar sob outra forma de proteção legal, como leis de projeto de impacto
zoneamento ou de ordenamento territorial. significativo. Foi
o que ocorreu com
Ab'Sáber (1977), ao propor critérios para uma política de preservação de espaços Sete Quedas, que
era um parque
naturais, sugere que se aplique “o princípio da distinção entre paisagens consideradas
nacional desde
banais e paisagens reconhecidamente de exceção (morros testemunhos, topografias 1961 (Pádua e
ruineformes, altos picos rochosos, domos de esfoliação, ‘mares de pedras’, cânions e Coimbra Filho,
furnas, feições cársticas, cavernas e lapas, lajedos dotados de minienclaves ecológicos, 1979, p. 202).
ilhas continentais, promontórios, pontas costeiras e estirâncios de praias)” (p. 6). A esse
critério se somaria a preservação de “amostras significativas de diferentes ecossiste UA Organização
mas”, que é o princípio que atualmente governa a seleção de áreas para unidades de das Nações Unidas
para a Educação,
conservação.
Ciência e Cultura
(Unesco) atribui
Por outro lado, tam bém ocorre que tais locais não gozem de proteção jurídica sufi o título de “sítio
ciente, e a proposição de um projeto de alto potencial de impacto pode ser o estopim do patrimônio
de conflitos inconciliáveis em torno de posições do tipo “ou projeto ou preservação”. m undial” a locais
de excepcional
A região do rio Tatshenshini, na Colúmbia Britânica, fronteira entre o Canadá e o
valor por razões
Alasca, é um desses casos: a área não gozava de proteção legal quando um a empresa históricas, culturais
de mineração pretendeu abrir um a mina de cobre; a proposta deflagrou grande ou naturais.
movimentação de entidades ambientalistas, que acabaram vencendo a batalha. A Outras categorias
autorização para a m ina foi negada e a área foi declarada parque provincial em ju n h o de importância
de 199310. Ao final do ano seguinte, já estava na lista de sítios do patrimônio mundial internacional são
as Reservas da
da Unesco11.
Biosfera, também
sob a égide da
Destino semelhante teve a região m arinha conhecida como Banco de Abrolhos, no Unesco, e os
litoral da Bahia (Fig. 5.8), onde a Agência Nacional de Petróleo retirou de licitação, Sítios Ramsar,
para exploração de petróleo e gás, blocos avaliados como de alta sensibilidade a áreas úmidas
danos ambientais, segundo estudo conduzido por pesquisadores de ONGs e insti de importância
internacional,
tuições públicas. Para fundam entar cientificamente o estudo das áreas sensíveis,
designadas
Marchioro et al. (2005) fizeram um a avaliação ambiental estratégica e sim ularam os nos termos da
possíveis impactos das atividades de prospecção sísmica, perfuração e produção sobre Convenção de
uma vasta área do litoral. Ramsar.
Cl
açào ce mpacto A m b ie ntal: conceitos e métodos
CAPÍTlí 1 0
híbridas”, que combinem o uso de listas
e patamares indicativos com um a análise
caso a caso. André et al. (2003) também
reconhecem ser inevitável alguma for
ma de análise caso a caso, e resumem os
procedimentos de triagem em duas mo
dalidades: por categorias (de projeto, de
localização) e discricionários, ou alguma
combinação de ambos.
Se a discricionariedade é inevitável,
como exercê-la da forma menos arbitrá
ria possível? Uma das respostas é tornar
públicos todos os atos administrativos,
permitindo seu controle judicial e por
parte do público, ampliando a tra n s
parência do processo decisório. Mas se
tal saída pode solucionar o problema
político, não o faz sob o ponto de vista
técnico. Entre a padaria e a usina nuclear
continua a existir vasto campo em que
diferentes projetos podem ou não resultar Fig. 5.8 A rq u ip é la g o de A brolhos, no lito ra l sul da Bahia, p a rte do Parque
em impactos ambientais significativos. N a cio n a l M a rin h o de A brolhos
ação ce Impacto A m biental: conceitos e métodos
A Fig. 5.9 sintetiza os critérios que podem ser adotados, incluindo a manifestação de
interesse e preocupação do público como uma 4as razões que podem determ inar a
necessidade de elaboração de um estudo completo. Para que possa haver tal m anifes
tação é preciso que haja um procedimento que regulamente (a) a divulgação das
intenções do proponente do projeto e (b)
Descrição da proposta as formas e os canais de manifestação do
Atividadade permitida segundo zoneamento público. Tais procedimentos também fa
ou outras normas de uso do solo
zem parte das etapas iniciais do processo
de AIA e formam um a das modalidades
de participação pública neste.
CAPITU
Estudos simplificados servem não somente para enquadrar a proposta entre aquelas
que necessitem de um EIA ou aquelas que podem ser dispensadas desse estudo, mas
atendem também ao objetivo de determ inar as condições em que o projeto pode ser
executado, caso seja isento de apresentação de EIA. Dito de outra forma, os estu
dos preliminares podem ser suficientes para estabelecer as condições particulares de
implantação, funcionamento e desativação de um empreendimento (condicionantes
da licença ambiental), ou seja, aquelas condições que vão além dos requisitos legais
\ automaticamente obrigatórios.
No Estado de São Paulo, essa sistemática foi introduzida pela Resolução SMA 42/94,
regulamentação da Secretaria do Meio Ambiente que disciplinou os procedimentos
de avaliação de impacto ambiental e criou, para o caso de projetos cujo potencial de
impactos não é evidente, um documento para avaliação inicial chamado “relatório
ambiental prelim inar” (RAP). Procedimentos semelhantes de avaliação inicial são
empregados em vários países, como Estados Unidos e Canadá, tema que será explo
rado ainda neste capítulo.
QJ
C dos estudos ambientais de menor alcance que o EIA (es
I (regras particulares) tudos preliminares), justam ente
os únicos dois que dispunham de
Listas negativas------------
Campo de aplicação “fortes sistemas de planejamento de
por tipo e porte
preferencial de regras
de projeto uso do solo” (p. 128), sistemas que
de zoneamento, normas
técnicas etc. (regras gerais) permitem controlar projetos que
causam impactos menos signifi
Importância ou sensibilidade do ambiente cativos, e instituições fortes o
1 EIA sempre necessário
2 EIA desnecessário; aplicam-se outros instrumentos de planejamento ambiental
suficiente para fazer valer as regras
3 Regras de zoneamento impedem a realização de determinados tipos de de zoneamento.
empreendimentos (portanto, não faz sentido preparar um EIA)
4 A necessidade de EIA é determinada por análise caso a caso; estudos preliminares
podem ser suficientes para a tomada de decisão
Em resumo, o Quadro 5.4 sintetiza
í os procedimentos que podem ser
Fig. 5.10 Cam po de aplicação da avaliação de im p a c to a m b ie n ta l e sua relação utilizados para a etapa de triagem
com o u tro s in stru m e n to s de p la n e ja m e n to a m b ie n ta l do processo de avaliação de impacto
CAPÍTU ;L0
ambiental. Cada sistema de AIA pode empregar mais de um procedimento, ou uma
combinação deles.
Q u a d r o 5 . 4 P ro c e d im e n to s de tria g e m p a ra o p rocesso de A IA
A bordagem P r o c e d im e n t o
Por categorias Lista positiva com patamares
Lista negativa com patamares
Lista positiva sem patamares
Lista negativa sem patamares
Lista de recursos ou de áreas importantes ou sensíveis
Discricionária Critérios gerais
Análise caso a caso com avaliação ambiental inicial
Análise caso a caso sem avaliação ambiental inicial
Mista Combinação da abordagem por categorias com a abordagem discricionária
Fonte: André et al. (2003, p. 293).
B a s e p a r a a d e c i s ã o : d e s c r iç ã o d o p r o je t o
Para aplicar os critérios de triagem a cada caso real, a autoridade pública encar
regada do processo de AIA (o órgão licenciador, no Brasil) deve ser informada da
proposta pretendida pelo proponente, usualmente por meio de um documento descri
tivo dessa proposta. Trata-se de um documento que deflagra todo o processo de AIA.
A “apresentação de um a proposta” (Fig. 4.1) é feita com algum “documento de entra
da” (Quadro 4.2), tal como um memorial descritivo do projeto, uma notice o f intent
americana ou um avis de projet canadense. São diferentes denominações (que podem
comportar diferentes formatos e conteúdo) para um documento que deve servir de
base para a decisão quanto à classificação do projeto e exigência de apresentação de
um EIA, ou de outro tipo de estudo ambiental.
De posse desse documento, o analista do órgão ambiental, conforme a Fig. 5.9, pode
1) verificar se a localização proposta é permitida por leis de zoneamento eventualmente
existentes; (2) verificar se há enquadramento em listas positivas ou negativas; 13Para Milaré e
Benjamin (1993,
(3) constatar se houve manifestação dos cidadãos ou de associações; e (4) caso não haja
p. 27), o estudo de
enquadramento automático em listas positivas ou negativas, avaliar se a informação
impacto ambiental,
apresentada é suficiente para um a decisão de enquadramento ou se é necessária uma “por seu alto custo
avaliação ambiental inicial. e complexidade,
deve ser usado
com parcimônia
5 . 3 E s t u d o s p r e l i m i n a r e s em a l g u m a s j u r i s d i ç õ e s s e l e c i o n a d a s
e prudência, de
Tomando por base o princípio de proporcionalidade entre os fins e os meios, diferentes preferência para
jurisdições adotaram diferentes níveis de estudos ambientais: estudos aprofundados os projetos mais
para empreendimentos mais complexos13 e estudos simplificados para empreendi importantes sob a
mentos de menor potencial de causar impactos ambientais significativos. 0 Banco ótica ambientar.
ação ce im pacto A m biental: conceitos e métodos
Para a triagem, “o Banco faz uma análise ambiental preliminar de cada um dos
projetos propostos para determ inar o grau e o tipo apropriado de avaliação ambiental”
(Política Operacional OP 4.01, Avaliação Ambiental, janeiro de 1999).
CAPÍTU L0
E ta p a de T r i a g U M 12 7
estabelece qual dos dois níveis de avaliação ambiental se aplica. São três listas posi
tivas e um a negativa. A lista de exclusão (lista negativa) arrola todos aqueles projetos
para os quais não é necessário realizar um estudo de impacto ambiental. As listas
positivas são: (i) um a lista de inclusão (arrola diversos tipos de projetos submetidos
a avaliação prévia), (ii) um a lista de empreendimentos sujeitos a estudos detalhados
(deve obrigatoriamente ser realizado um estudo de impacto ambiental) e (iii) um a
lista de licenças adm inistrativas cuja concessão é condicionada a um a avaliação de
impacto ambiental. 0 Quadro 5.6 mostra alguns exemplos de atividades incluídas na
lista de estudos detalhados.
(a) e d u c a ç ã o
(b) p la n e ja m e n to f a m ilia r
(c) saúde
(d) n u tr iç ã o
(e) d e s e n v o lv im e n to in s tit u c io n a l
(f) assistência té c n ic a
(g) p ro je to s de recursos h u m a n o s
N o ta : essas lis ta s nâo im p lic a m cla s s ific a çã o a u to m á tic a dos p ro je to s. São u tiliz a d a s apenas co m o g u ia p a ra a u x ilia r na triagem ,
que deve ser fe ita caso a caso u tiliz a n d o o "m e lh o r ju lg a m e n to p ro fis s io n a l", levando em c o n ta o u tro s c rité rio s , e n tre os quais
in c lu e m -s e a lo c a liz a ç ã o do p ro je to , a s e n sib ilid a d e do m eio, questões a m b ie n ta is conside radas a priori sensíveis p a ra o B anco
(com o d e s tru iç ã o de flo re s ta s tro p ic a is e áreas úm idas, p ro je to s que a fe te m os d ire ito s de povos indígen as ou o u tra s m in o ria s
vu ln e rá ve is e o u tra s questões) e a m a g n itu d e dos im p a cto s.
Fonte: O p e ra tio n a l D ire c tiv e 4.01, a n n e x E, O cto b e r 1991.
ação de m pacto A m b ie ntal: conceitos e métodos
Q u a d r o 5 .6 A lguns e m p r e e n d im e n t o s s u je it o s a e s t u d o s de im p a c t o a m b ie n t a l s e g u n d o a l e g is la ç ã o fe d e r a l c a n a d e n s e
4. P r o je to de c o n s tr u ç ã o , d e s a tiv a ç ã o o u fe c h a m e n to :_______________________________________________________________________________
3 5% :_________________________________________________________________________________________________
a) De in s ta la ç ã o de p ro d u ç ã o de aço p rim á rio de um a ca p a cidad e de p ro d u ç ã o de m e ta l igual ou s u p e rio r a
5 .0 0 0 t/d ia
b) De f u n d iç ã o de m e ta is não ferrosos de um a c a p a cid a d e de p ro d u ç ã o igual ou s u p e rio r a 1.000
d) De in sta la ç ã o de fa b ric a ç ã o de p ro d u to s q u ím ic o s de um a c a p a cid a d e de p ro d u ç ã o igual ou s u p e rio r a
2 5 0 .0 0 0 t /a n o
ij De c u r tu m e de um a c a p a cidad e de p ro d u ç ã o igual ou s u p e rio r a 5 0 0 .0 0 0 r m /a n o
I) De in sta la ç ã o de fa b ric a ç ã o de ba te ria s de c h u m b o ________________________________________________________________
23. P r o je to de c o n s tr u ç ã o de base ou in s ta la ç ã o m ilita r , ou de cam po de tr e in a m e n to , ou de t i r o , ou de c e n tr o de te s te s
PARA TREINAMENTO MILITAR, OU TESTES DE ARMAS
2 8 . P rojeto de c o n s t r u ç ã o , d e s a tiv a ç ã o ou f e c h a m e n t o :
a) De canal, eclusa ou estrutura conexa para controlar 0 nível da água nas vias navegáveis existentes
c) De terminal marítimo projetado para receber navios de mais de 25.000 t
2 9 . P rojeto de c o n s t r u ç ã o :
Fonte: Canada G azette/G aze tte du Canada P a rt ll/P a rtie II, vol. 128, n°21, p. 3 .4 0 1 -3 .4 0 9 , O cto ber 19,1994.
CAPÍTU
responsabilidade da agência federal que serve para: (1) brevem ente fornecer evi
dência e análise para d eterm in ar se deve ser preparado um estudo de impacto
am biental ou um relatório de ausência de impacto am biental significativo; (2) ajudar
a agência a aplicar a lei quando não é necessário um estudo de impacto ambiental;
(3) facilitar a preparação do estudo quando ele for necessário”. Também o conteúdo
desses docum entos é definido na regulam entação: “deve incluir um a breve discussão
da necessidade da iniciativa, das alternativas (...), dos impactos am bientais da ação
proposta e suas alternativas e u m a lista de agências e pessoas consultadas”.
Nos dois primeiros anos de aplicação da Nepa, foram preparados 3.635 estudos de
impacto ambiental, ou seja, cerca de 1.800 por ano. Ao final de nove anos, a média
anual de EIAs havia caído para cerca de novecentos, e em meados da década de
1990, entre quatrocentos e quinhentos estudos de impacto am biental federais eram
realizados anualm ente. Em contrapartida, nada menos que 50 mil environmental
assessments são feitos a cada ano (Clark, 1997).
Avaliações preliminares são usadas em muitas outras jurisdições. A lei federal austra
liana adota dois tipos de estudos, o estudo de impacto ambiental (environmental
impact statement) e o relatório ambiental público (public environment report - PER).
Esse documento descreve sucintamente o projeto, apresenta seus impactos ambientais
e as medidas necessárias para proteger o ambiente. 0 PER é requerido quando o projeto
suscita um número relativamente restrito de questões, um a vez que esse estudo pro
picia um “tratam ento seletivo” das implicações ambientais. Todavia, o processo tem
início com a apresentação de uma Notice oflntention, documento que descreve breve
mente o projeto — e deve ser devidamente ilustrado com “mapas, plantas e fotos” —,
apresenta a lista de alternativas que o proponente analisou e indica o “potencial de
impactos ambientais” da alternativa escolhida.
5 .4 S ín t e s e
0s procedimentos e critérios usados para a triagem de ações sujeitas à avaliação de
impacto ambiental são da maior importância para se estruturar um processo efi
caz. De um lado, critérios muito inclusivos delimitam um universo por demais vasto
CAPÍTÜ10
de tipos de propostas que podem dem andar a elaboração de um EIA, ao risco de
banalização e burocratização desse instrum ento. De outro lado, exigir a elabora
ção de um EIA somente em situação excepcional deixa de fora um a vasta gam a de
em preendimentos que podem acarretar impactos adversos significativos. Uma so
lução, empregada em vários países e organizações internacionais, é desenhar um
procedimento que dê lugar a diferentes níveis de avaliação, conforme o potencial de
impacto de cada projeto, dem andando, assim, um a análise prelim inar rápida.
Além da análise preliminar, os critérios mais freqüentes de enquadram ento são listas
positivas e negativas por tipo e porte de projetos, e a im portância ou sensibilidade
ambiental do local. As ações ou empreendimentos não enquadrados na necessidade de
preparação de um EIA, mas que possam causar algum a forma de impacto ambiental,
são regulados e controlados por meio de outros instrum entos de política ambiental
pública, como zoneamento, licenciamento, norm as técnicas e padrões legais.
a ação de Im pacto A m biental: conceitos e métodos
6.1 D e t e r m in a ç ã o d a a b r a n g ê n c ia e do escopo de u m es tu d o de
IMPACTO AMBIENTAL
A experiência prática em avaliação de impacto ambiental tem mostrado que, na
discussão pública de empreendimentos que podem causar significativos impactos
ambientais, o debate geralmente se dá em torno de algumas poucas questões-chave,
que atraem a atenção dos interessados. Por exemplo, na análise de seis casos de
aplicação da AIA no Estado de São Paulo, para empreendimentos que suscitaram
o interesse do público, observou-se que as controvérsias envolviam alguns poucos
pontos críticos (Sánchez, 1995b). Um dos casos estudados foi o projeto de duplicação
da rodovia Fernão Dias, no qual um a grande parte das discussões sobre a viabili
dade e a aceitabilidade do projeto derivaram do fato da rodovia atravessar o Parque
Estadual da Serra da Cantareira e de estimular a ocupação intensiva de uma área de
mananciais, que corresponde às bacias dos rios Atibaia, em São Paulo, e Jaguari, no
sul do Estado de Minas Gerais. Num outro caso muito polêmico, o aterro de resíduos
industriais Brunelli, em Piracicaba, Estado de São Paulo, um dos principais pontos
críticos foi o risco de poluição das águas subterrâneas - a questão foi tão controver
tida que gerou nada menos que sete diferentes pareceres técnicos adicionais ao EIA
(Sánchez et al., 1996).
ambiental, da mesma forma 0 estudo de impacto ambiental deve ser dirigido para a
análise dos impactos significativos.
S
ação de Im pacto A m b ie ntal: conceitos e métodos
Para Tomlinson (1984, p. 186), scoping é um termo usado para “o processo de desen
volver e selecionar alternativas a um a ação proposta e identificar as questões a serem
consideradas em um a avaliação de impacto ambiental”. Para Wood (2000), seu propó
sito é estimular avaliações dirigidas (focused) e a preparação de EIAs mais relevantes
e úteis.
Fuggle et al. (1992) definem scoping como “um procedimento para determ inar a
extensão e a abordagem apropriada para um a avaliação ambiental”, que inclui as
seguintes tarefas:
# envolvimento das autoridades relevantes e das partes interessadas;
# identificação e seleção de alternativas;
# identificação de questões significativas a serem examinadas no estudo ambiental;
# determinação de diretrizes específicas ou termos de referência para o estudo
ambiental.
Nem todas as jurisdições que regulam entaram a AIA incluem em suas regulamentações
um a etapa formal de definição do âmbito ou escopo do EIA - no Brasil, apenas
uns poucos Estados adotam explicitamente esse procedimento. Mesmo assim, é
imprescindível que quem executa um estudo ambiental faça uma seleção das ques
tões relevantes a serem tratadas em profundidade no estudo; de preferência essa
seleção deveria ser feita com base em critérios claros previamente definidos. Dire
trizes da Comissão Européia estabelecem como objetivo do scoping “assegurar que
os estudos ambientais forneçam toda a informação relevante sobre (i) os impactos do
projeto, em particular aqueles mais importantes; (ii) as alternativas ao projeto; (iii)
qualquer outro assunto a ser incluído nos estudos” (European Commission, 2001a).
6 .2 H istó r ic o
A necessidade de inserção de um a etapa formal de scoping no processo de
avaliação de impacto am biental foi percebida j á d u ran te os prim eiros anos de
experiência prática. Estudos excessivam ente longos e detalhados, assim como, ao
contrário, estudos dem asiado sucintos e lacônicos, refletiam a falta de diretrizes
p ara sua condução.
CAPÍTU L O
D e te r m in a ç ã o d o e s c o p o d o e s tu d o e f o r m u la ç ã o de a l t e r n a t H '3 7
0 princípio foi adotado por outras jurisdições, que passaram a exigir, em geral de
maneira formal, a prévia identificação e 0 devido tratamento das questões relevantes
nos estudos ambientais. Hoje, esse princípio faz parte da boa prática de avaliação
ambiental, recomendada em todos os m anuais e obras de referência (Unep, 1996).
Wood (2000) reporta que de um total de 25 países cujos sistemas de AIA foram
examinados para 0 Estudo Internacional sobre a Eficácia da Avaliação de Impacto
S
- çao ae m p a cto A m b ie n ta l: conceitos e m étodos
A m biental (Sadler, 1996), cerca de metade tin h a requisitos específicos sobre procedi
mentos de scoping, e apenas dois não utilizavam n en h u m a forma de scoping.
[...] a p r e p a r a ç ã o d e d ir e t r iz e s c a d a v e z m a is lo n g a s c o n d u z a d o c u m e n t o s m a is
v o lu m o s o s . C o m o o b s e r v a d o v á r ia s v e z e s d u r a n t e as r e u n iõ e s d e t r a b a lh o , as m i
n u ta s d a s d ir e t r iz e s i n v a r i a v e l m e n t e c r e s c e m e m t a m a n h o à m e d id a q u e c ir c u la m
e n t r e v á r ia s a g ê n c ia s g o v e r n a m e n t a is [...]. 0 r e s u lt a d o é q u e e s tu d o s d e im p a c t o
a m b ie n t a l s ã o a g o r a e s c r ito s c o m o o b je t iv o d e a t e n d e r a d e m a n d a s t ã o d iv e r s a s
q u e u m a c o b e r t u r a e x te n s a d e to d a s as q u e s tõ e s p r e c e d e u m e x a m e m a is d ir ig id o ,
p o r é m r ig o r o s o , d a q u e la s q u e p a r e c e m s e r as m a is c r ític a s , (p . 2 1 )
CAPITU
D e t e r m in a ç ã o d o es c o p o d o e s t u d o e f o r m u l a ç ã o de a l t e r n a t : | j :3 9
® d e a c o r d o c o m as le is e d ir e tr iz e s a p lic á v e is a c a d a ju r is d iç ã o ;
• d e m o d o c o n s is te n te c o m as c a r a c te r ís tic a s d a a t iv id a d e p r o p o s ta e a c o n d iç ã o
d o a m b ie n te re c e p to r;
• le v a n d o e m c o n ta as p re o c u p a ç õ e s d a q u e le s a fe ta d o s p e lo p r o je to .
6 .3 P a r t ic ip a ç ã o p ú b l ic a n e s s a e t a p a d o p r o c e s s o
Há todo interesse em envolver o público na etapa de determ inação da abrangência
e escopo dos estudos ambientais. A principal razão é que o conceito de impacto
significativo depende de um a série de fatores, entre os quais a escala de valores
das pessoas ou grupos interessados. Há inúm eros motivos pelos quais as pessoas
valorizam determ inado componente ou elemento ambiental, inclusive razões de
ordem estética ou sentim ental, perfeitam ente válidas quando se discute os im
pactos de um em preendim ento. Um dos primeiros estudos de impacto am biental
realizado em Minas Gerais analisou a ampliação da área de lavra de um a m ina de
fosfato no município de A raxá.
S
EÇ5 ~ de im pacto A m biental: conceitos e métodos
Snell e Cowell (2006, p. 359) referem-se a um “dilema entre duas racionalidades para
o scoping - a precaução e a eficiência do processo decisório”. Enquanto o princípio
da precaução pode incitar a ampliar o leque de questões a serem estudadas, a preo
cupação com os prazos, os custos e com a proporcionalidade entre o detalhamento
dos estudos e o potencial de impactos pode levar justam ente ao contrário, um afuni-
lamento das questões. Enquanto um modelo “tecnocrático” busca resolver a questão
tendo por base somente a eficiência do processo (não desperdiçar recursos que pode
riam ser usados de modo mais produtivo em outra tarefa), um modelo “deliberativo”
busca construir consensos que possam durar até o final da avaliação de impactos.
Indubitavelmente, esses dois polos fundam entam -se em razões de ordem prática, e a
tensão entre ambos deve ser resolvida na prática e, não raro, a cada caso.
CAPÍTU: L O
D e t e r m in a ç ã o do es c o p o d o e s t u d o e f o r m u l a ç ã o de a l t e r n a t
6 .4 T e r m o s de r e fe r ê n c ia
Um dos objetivos do scoping é o de formular diretrizes para a preparação de estudos
ambientais. Dessa forma, esse resultado do exercício de scoping é normalmente
sintetizado em um documento que recebe o nome de termos de referência ou instruções
técnicas. Diferentes jurisdições adotam seus próprios termos. Por exemplo, o Banco
Mundial emprega terms ofreference, e a legislação de Hong Kong usa EIA study brief
Termos de referência podem ser conceituados como as diretrizes para a preparação de
um EIA; um documento que (i) orienta a elaboração de um EIA; (ii) define seu con
teúdo, abrangência, métodos; e (iii) estabelece sua estrutura.
Dois exemplos de termos de referência que estabelecem detalhes do EIA a ser reali
zado são mostrados nos Quadros 6.2 e 6.3. Em ambos são mostrados apenas extratos
de um documento mais extenso. No primeiro exemplo, os termos de referência citam
especificamente algumas espécies de fauna ameaçadas de extinção cuja presença na
ação ae Im pacto A m b ie ntal; conceitos e métodos
área era suspeita, pois levantamentos anteriores em escala regional haviam encon
trado indícios de sua ocorrência. Essas espécies caracterizam-se como componentes
valorizados do ecossistema, conceito apresentado adiante neste capítulo. Nem sempre
os termos de referência chegam a tal nível de detalhe, o que ocorreu aqui devido
à existência de um RAP que precedeu o planejamento do EIA e que, por sua vez,
utilizou dados de um levantamento anterior realizado voluntariamente pela própria
empresa interessada.
Realização de levantamento botânico das diferentes fitofisionomias presentes na área de influência direta; os locais
onde forem realizadas amostragens deverão ser identificados em planta em escala 1:10.000;
M a p e a m e n to das fo rm a ç õ e s ve g e ta is em escala 1 :10.000 e d e te rm in a ç ã o do seu e stágio sucessional;
D e lim ita ç ã o em ca rta 1 :10.000 das áreas de preservação p e rm a n e n te ;
Q u a n tific a ç ã o e q u a lific a ç ã o de q u a is q u e r in te rv e n ç õ e s necessárias para m e lh o ria dos acessos, im p la n ta ç ã o do p á tio
ou q u a is q u e r o u tra s atividades.
Fauna - o es tu d o d a fa u n a n a tiv a in c lu ir á :
O segundo exemplo mostra aspectos dos termos de referência (guidelines) para o EIA
de um grande projeto hidrelétrico no norte do Quebec, Canadá, o projeto Grande
Baleia. Esses termos de referência têm nada menos que 713 tópicos e um a centena de
páginas, fora os anexos, e ilustram os problemas apontados por Beanlands e Duinker
(1983, p. 21), acima citados, de “m inutas das diretrizes [que] invariavelmente cres
cem em tam anho à medida que circulam entre várias agências governamentais”.
Trata-se de um EIA feito em um contexto institucional bastante complexo, um a vez
que se aplicam disposições de nada menos que três diferentes regimes jurídicos e
sistemas de AIA, a saber, o sistema federal canadense e dois sistemas adm inistra
dos pelas “Primeiras Nações”, o termo canadense para designar os descendentes
dos primeiros habitantes do território. Como o documento de orientação para esse
EIA é extremamente longo, somente uns poucos tópicos foram selecionados para o
Quadro 6.3. Talvez a principal característica e a originalidade das diretrizes seja seu
t
Fonte: E va lu a tin g C om m ittee, K a tivik E n viro n m e n ta l Q u a lity Com m ission, Federal R eview C o m m itte e N o rth o f the 5 5 th P aral-
lel, Federal E n viro n m e n ta l A ssessm ent R eview Panei, G uidelines, E n viro n m e n ta l Im p a c t S ta te m e n t fo r the Proposed G reat W hale
H y d ro e le c tric P roject, 1992.
ação de Im pacto A m b ie ntal: conceitos e métodos
refletem práticas de gestão ambiental avançadas para a época, e que somente viriam
a ser difundidas com a publicação das primeiras normas da série ISO 14.000 (0 tema
será abordado no Cap. 17).
0 Quadro 6.4 traz um extrato de termos de referência bastante “abertos”, ou seja, que
basicamente listam os problemas que devem ser tratados, deixando as soluções intei
ramente para o interessado. Esse documento orientou a preparação de um EIA para
um a mina de ferro e um a nova ferrovia no Estado da Austrália Ocidental, situado em
um a zona árida e de baixa densidade populacional, porém habitada por aborígenes.
Notem-se as exigências de consulta pública e, notadamente, uma preocupação com
a possibilidade de fiscalizar e acompanhar a satisfatória implementação das medidas
mitigadoras.
P r o p ó s it o de u m E IA
Q Iu e s t õ e s - c h a v e
A q u e stã o c rític a para a proposta é, p ro v a v e lm e n te , a gestão das a tiv id a d e s m in e ira s e de tra n s p o r te em um enclave
d e n tro do Parque N a cio n a l da Serra H am ersley (...) É, p o rta n to , c rític o que o EIA m o s tre um a co m p re e n s ã o d e ta lh a d a
da paisagem e dos valores sociais da área e se eles estão representados em o u tro s locais. Os valores de conservação
das áreas a serem p e rtu rb a d a s devem ser e x a m in a d o s em d e ta lh e (...)
Neste caso, as q u e s tõ e s -c h a v e d e ve ria m in c lu ir:
• as razões para escolha do local da m ina e do c o rre d o r de tra n s p o rte ;
• flora, fa u n a e ecossistem as;
• paisagem e valores recreativos;
• gestão da água: (1) s u p r im e n to de água sub te rrâ n e a , necessidades de b o m b e a m e n to , zonas de in flu ê n c ia , im p a c to s
na flo ra , fa u n a e c o m u n id a d e s v e g e ta is; (2) d e s a g u a m e n to e eflue ntes, erosão e a sso re a m e n to (...)
C o n s u l t a e p a r t ic ip a ç ã o p ú b l ic a
CAPÍTU LO
D e t e r m in a ç ã o d o es c o p o d o e s tu d o e f o r m u l a ç ã o de a l t e r n a t
tróleo no mar. Nesse caso, os autores do EIA optaram por colocar quase tudo como
estudos individualizados, mas esta não é necessariamente a melhor resposta em todos
os casos; tal estratégia requer atenção especial da equipe coordenadora, não somente
para assegurar coerência entre os diversos estudos especializados, mas também para
integrar as análises e conclusões de cada especialista no estudo principal.
[...] com base na análise do Plano de Trabalho, do RAP [Relatório Ambiental Pre
liminar] e de outras informações constantes do processo, o Daia [Departamento de
Avaliação de Impacto Ambiental] definirá o Termo de Referência (TR), fixando o
prazo para elaboração do EIA e Rima, publicando sua decisão [...]
Note-se que a Resolução Conama 1/86 já estabelecia que cada estudo deve ser objeto
de diretrizes específicas:
Q u a d r o 6 .5 Q uestões re le va n te s em um p ro je to de e x p lo ra ç ã o de p e tró le o
A Chevron Overseas (Namíbia) Ltd. obteve direitos de exploração de petróleo na plataform a co n tin e n ta l da Namíbia. Foi
preparado um EIA para perfuração de poços de exploração de petróleo (ou seja, a fase que precede a perfuração de poços
de produção) na p lata fo rm a c o n tin e n ta l ao largo da costa da Namíbia, no A tlâ n tic o Sul, em local conhecido como Bloco
2.815 (10.000 km 2); o projeto prevê a perfuração de, no mínimo, dois poços, com possibilidade de perfurações adicionais,
dependendo dos resultados.
As questões relevantes foram identificadas em reuniões de tra b a lh o com participação das partes interessadas e afetadas,
e em seguida trabalhadas pelo consultor.
P o l u iç ã o e g e s t ã o de r e s íd u o s |
Q uestões- c h a ve A ções para tratar as q u estõ es - c h a ve
D e rra m a m e n to de óleo M o d e la g e m de dispersão (apêndices A, B e E)
Poluição re s u lta n te de lam as de p e rfu ra ç ã o Estudo Chevron (apêndice C)
O u tra s fo rm a s de p o lu iç ã o D is c u tid o no Cap. 3
Im p a c to s causados p o r ru p tu ra ou deriva de C hevron respeitará to d o s os re q u isito s de segurança m a rítim a e
p la ta fo rm a s (com o colisões c o m navios) c ó d ig o s de c o m u n ic a ç ã o
M eio b io f ís ic o |
Q uestões- cha ve A ções para tratar as q u estõ es- c h a v e
C o n s id e r a ç õ e s le g a is
Q uestões- c h a ve A ções para tratar a s q u estõ es- c h a ve
Q uestões- c ha ve A çõ es p a r a tr a t a r a s q u e s t õ e s - c h a v e
CAPITU
D e t e r m in a ç ã o d o esc o po d o e s tu d o e f o r m u l a ç ã o de a it f r n a t j a C B u ?
Os requisitos legais formam o grupo mais evidente de critérios para selecionar as ques
tões relevantes. Trata-se, indubitavelmente, de questões que o público (a sociedade)
considera relevantes, haja vista que foram incorporadas a leis votadas por parla
mentos ou inseridas em regulamentos decorrentes dessas leis. Alguns exemplos de
requisitos legais existentes na maioria dos países são:
» proteção de espécies da flora e fauna ameaçadas de extinção;
# proteção de ecossistemas que desempenham relevantes funções ecológicas, como
recifes de coral, manguezais e outras áreas úmidas;
t proteção de bens históricos e arqueológicos;
t proteção de elementos do patrimônio natural, como cavernas e paisagens
notáveis;
# proteção de modos de vida tradicionais e outros elementos valorizados da cultura
popular;
tf restrição de atividades em áreas protegidas, como parques nacionais e outras
unidades de conservação;
t restrições ao uso do solo, estabelecidas em zoneamentos, planos diretores e ou
tros instrumentos de planejamento territorial.
Fig. 6.2 D elta do Okavango, B otsuana, um a área úm ida de Fig. 6.3 G rande B arreira de Recifes, A u strá lia . Recifes de c o ra l
im p o rtâ n c ia in te rn a c io n a l (sítio Ramsar), in u n d a d a sa zo n a l- fo rm a m ecossistem as de gra nde riqueza e diversidade b io ló
m ente pela cheia dos rios que o a lim e n ta m . Um dos poucos gicas. Podem ser a fe ta d o s p o r p ro je to s terrestres que alterem
deltas de um rio s itu a d o no in te rio r de um co n tin e n te , a área a qua lid a d e das águas costeiras e p o r em preendim entos m a -
in u n d á v e l a tin g e 18.000 km 2, fo rm a n d o um dos lugares de rí-tim o s , com o p o rto s e p e rfu ra ç õ e s para p e tró le o . Os recifes
/
Fig. 6.4 M a n g u e za l na ilh a do Cardoso, São Paulo, tendo Fig. 6.5 O uidah, Benin, m o n u m e n to co n stru íd o no p o n to
ao fu n d o a M a ta A tlâ n tic a . M anguezais são ecossistem as fin a l da "ro ta dos escravos", em um dos p rin c ip a is p o n to s de
/
costeiros de tra n siçã o entre os am bien te s te rre stre e m arinho, em barque de escravos da A fric a O ciden tal ru m o à A m érica. Os
típicos da zona in te rtro p ic a l. Sua flo ra é a d a p ta d a a c o n d i sítios de im p o rtâ n c ia c u ltu ra l podem te r um s ig n ifica d o p a r ti
ções de s a lin i-d a d e e ao ciclo das m arés. Tidos com o berçários c u la r para cada com unidade
da vida m arinha, esses ecossistem as são valo rizado s p o r sua
im p o rtâ n c ia ecológica, so cia l e econôm ica. C om unidades
iocais (caiçaras) fazem uso d ire to dos recursos do ecossistem a,
ao passo que crescem as dem andas p o r uso tu rístico , re cre a tivo
e e du cativo
CAPÍTU 1 0
DETERMINAÇÃO DO ESCOPO DO ESTUDO E FORMULAÇAO DE ALTERNATfTCvM 149
A n o ç ã o d e m o n u m e n t o h is tó r ic o c o m p r e e n d e a c r ia ç ã o a r q u it e t ô n ic a is o la d a ,
b e m c o m o o s ítio u r b a n o o u r u r a l q u e d á te s te m u n h o d e u m a c iv iliz a ç ã o p a r t ic u
la r , d e u m a e v o lu ç ã o s ig n if ic a t iv a o u d e u m a c o n te c im e n t o h is tó r ic o . E s te n d e -s e
n ã o só às g ra n d e s c ria ç õ e s , m a s t a m b é m às o b ra s m o d e s ta s , q u e te n h a m a d q u ir i
d o , c o m o te m p o , u m a s ig n ific a ç ã o c u lt u r a l (A r t. I o).
Outra declaração emanada do Icomos e que pode ter relevância em AIA é a Declara
ção de Tlaxcala, México, de 1982, sobre a conservação do patrimônio monumental e
revitalização das pequenas aglomerações. Os participantes desse colóquio
1. R e a f ir m a m q u e as p e q u e n a s a g lo m e r a ç õ e s se c o n s titu e m e m re s e rv a s d e m o d o s
de v id a q u e d ã o te s te m u n h o d e n o s s a s c u ltu r a s , c o n s e r v a m u m a e s c a la p r ó p r ia e
p e r s o n a liz a m as re la ç õ e s c o m u n itá r ia s , c o n fe r in d o , a s s im , u m a id e n tid a d e a seus
h a b ita n te s . [...]
3 . [...] a a m b iê n c ia e o p a t r im ô n io a r q u it e t u r a l d as p e q u e n a s z o n a s d e h á b it a t são
b e n s n ã o r e n o v á v e is c u ja c o n s e r v a ç ã o d e v e e x i g i r p r o c e d im e n to s c u id a d o s a m e n te
e s ta b e le c id o s [...]
Vários outros documentos de referência podem ser usados para guiar o planejamento
de um EIA, a exemplo da Recomendação sobre a Conservação dos Bens Culturais
Ameaçados pela Execução de Obras Públicas ou Privadas, adotada pela Conferência
Geral da Unesco celebrada em Paris em 1968 (As referências e citações foram ex traí
das da tradução brasileira publicada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, Cartas Patrimoniais, Brasília, 1995, 343 p.).
A opinião do público compõe outro conjunto de critérios a serem usados para definir
as questões relevantes. Conforme mencionado, a opinião do público pode ser colhida
por diversos meios, como audiências públicas, consultas por escrito, reuniões abertas
ou com pequenos grupos e pesquisas de opinião, dentre outros, e isso independe de
obrigação legal de fazê-lo. Pelo contrário, como visto nos exemplos acima, o propo
nente do projeto deveria ter um interesse em conhecer a opinião dos interessados
antes de seguir adiante com o projeto e com os estudos ambientais. Nos casos em que
o empreendedor não tenha sensibilidade suficiente para realizar essas consultas, cabe
ao consultor explicar e explicitar suas vantagens. Deve-se notar que nem sempre os
canais formais de consulta nessa fase do processo de avaliação de impacto ambiental
são suficientes ou adequados para estabelecer um meio eficaz de comunicação com
as partes interessadas.
c a p ít u :LO
D eterm in ação do escopo do estudo e fo rm ulação de alternati ^ m 151
EIA encomendou vinte estudos especializados para tratar dos temas levantados pelo
público; cada tema é tratado em um relatório independente, mas as conclusões são
integradas em um relatório final. Tal relatório é suficientemente sintético para for
necer um a visão geral do projeto, seus impactos e medidas mitigadoras; aqueles que
necessitam ou se interessam por informações e análises detalhadas são remetidos ao
estudo especializado correspondente.
Em suma, a boa prática internacional da AIA recomenda que a seleção das ques
tões relevantes seja um a etapa formal do processo de avaliação, e que os estudos
ambientais sejam dirigidos para os impactos potencialmente significativos. Os termos
de referência, preparados antes da realização dos estudos ambientais, deveriam orien
tar os estudos de base para que estes coletem os dados necessários para a análise dos
impactos relevantes e ajudem a definir as medidas de gestão que assegurem efetiva
proteção ambiental caso o projeto venha a ser aprovado.
6 .6 A F O R M U L A Ç Ã O DE A L T E R N A T IV A S
Na década de 1970 estavam sendo construídas as primeiras linhas de metrô na cidade
de São Paulo. Uma das principais estações foi projetada para a Praça da República,
no centro da cidade. Com o projeto já bem avançado, veio a público que a construção
implicaria a demolição de um edifício, o colégio Caetano de Campos, que no passado
havia sido um dos mais importantes estabelecimentos públicos de ensino da Capital,
ocupando o mesmo edifício da antiga Escola Normal, um dos importantes prédios
desenhados pelo célebre engenheiro e arquiteto Ramos de Azevedo (Lemos, 1993).
Segundo os engenheiros projetistas, a derrubada desse edifício era “a única alterna
tiva” para a construção de um a estação moderna e funcional, nos moldes requeridos
por um a metrópole.
ÍLO
D eter m in a ção do escopo do estudo e fo rm u lação de alternati
Ross (2000) cita um caso muito interessante, que se passou durante as audiências públi
cas de um projeto de uma indústria de celulose em Alberta, Canadá, no qual a comissão
de avaliação recomendou que o projeto não fosse aprovado até que algumas questões
fossem mais bem elucidadas, especialmente as emissões de compostos organoclorados
no rio Athabasca. Após a divulgação do relatório da comissão, a empresa
O b je tiv o do p ro je to : rem oção e disposição fin a l da e s tru tu ra oceânica d e n o m in a d a B re n t Spar, um a boia cilín d ric a
de 140 m de a ltu ra , 29 m de d iâ m e tro e peso de 15 .5 00 t, d o ta d a de h e lip o n to e a lo ja m e n to s , e c o n te n d o resíduos
perigosos, in c lu in d o fo n te s ra d io a tiv a s n a tu ra is de baixa a tivid ade.
A lte rn a tiv a s consideradas: (1) d e s m a n te la m e n to em terra fir m e ; (2) d e s m a n te la m e n to no m ar; (3) a fu n d a m e n to no
local; (4) reboque e a fu n d a m e n to em águas p ro fu n d a s ; (5) recupe ração e re u tiliz a ç ã o ; (6) m a n u te n ç ã o c o n tín u a e
p e rm a n ê n c ia no local.
A lte r n a tiv a s estudadas em d e ta lh e : (1) d e s m a n te la m e n to em te rra fir m e ; (4) reboque e a fu n d a m e n to em águas
profundas.
A lte r n a tiv a sele ciona da: (4), de vido à m e n o r p ro b a b ilid a d e e m e n o r severidade dos im p a c to s a m b ie n ta is , m e n o r risco
de liberações a c id e n ta is de resíduos, m e n o r risco para os tra b a lh a d o re s e outros.
D e s c o n t a m in a ç ã o d o c a n a l de La c h in e , M o n t r e a l , C a n a d á
cap\i [WBÊÊÊÊSÊÊÊÊSÊÊÊÊÊÊ
D eterm in a ção do escopo do estudo e fo rm u lação de a iie r n a t M m 155
Vários desses problemas podem ser detectados em projetos públicos de vários tipos
que parecem não resolver nenhum problema real, mas criar outros. São projetos
polêmicos que muitas vezes suscitam acalorados debates públicos. O projeto do
governo brasileiro conhecido como “transposição de águas da bacia do rio São Fran
cisco” também padece da maioria dos problemas detectados por Steinemann.
Com a intenção de “assegurar a oferta de água para uma população e uma região que
sofrem com a escassez e a irregularidade das chuvas”5, 0 projeto pretende transferir sEcology Brasil/
uma parte da vazão do rio São Francisco para outras bacias hidrográficas da região Agrar/ JP Meio
do semiárido nordestino, através de um a sucessão de canais e estações de bombea- Ambiente, Relatório
de Impacto
mento. A iniciativa suscitou ásperos debates e resultou em posições aparentemente
Ambiental, Projeto
inconciliáveis, divididas entre aqueles que defendem 0 projeto argum entando por de Integração do
seus benefícios esperados (irrigação e valorização de terras) e aqueles que, ademais de Rio São Francisco
apontar os impactos adversos (redução da vazão do rio, redução da geração de energia com Bacias
elétrica nas usinas existentes a jusante, entre outros), questionam seus próprios ob Hidrográficas
do Nordeste
jetivos, indicando que projetos similares conduziram à concentração fundiária e
Setentrional,
expulsão de pequenos agricultores, tornando, por fim, mais vulneráveis aqueles que Ministério
se pretendia beneficiar. da Integração
Nacional, 2004,
Duas décadas antes do estudo de Steinemann, Shrader-Frechette (1982) já havia p. 9.
chamado a atenção para uma abordagem reducionista e um escopo limitado das
avaliações de impacto, que teria como um a de suas questões mais importantes não
“escolher entre uma tecnologia poluidora A ou B como meio de atingir um objetivo
C, mas 0 de escolher C ou um outro objetivo”. Contudo, “parece duvidoso que as
legislações nacionais (...) tenham 'pretendido abarcar um escopo tão amplo. Tal tipo
de questão depende de decisões propriamente políticas cujo fórum não é 0 processo
de avaliação de impactos” (Sánchez, 1993a, p. 18).
Não se pode deixar de notar, porém, que as objeções do público são muitas vezes des
sa ordem, questionando a própria justificativa ou necessidade do projeto apresentado.
Por exemplo, a ausência de um entendimento prévio sobre a utilização dos recursos
hídricos pode levar a posições antagônicas e inconciliáveis quando é apresentado um
projeto (como é nítido no caso do rio São Francisco). Olivry (1986) estudou casos agu
dos de desentendimento entre 0 público e os proponentes governamentais de projetos
hídricos na França; enquanto estes estavam dispostos a discutir apenas projetos es
pecíficos (barragens), aquele questionava 0 conjunto de projetos e os objetivos de
utilização dos recursos hídricos, impossibilitando 0 diálogo e a negociação.
Se questões desse calibre não forem resolvidas na etapa de scoping, então os projetos
controversos simplesmente adiarão 0 debate para etapas posteriores do processo de
AIA, ou 0 transferirão para os tribunais. Assim, incluir nos termos de referência uma
relação de alternativas a serem tratadas no EIA é, na maior parte dos casos, um a es
tratégia melhor que deixar que alternativas “apareçam” no EIA.
ação ce Im pacto A m b ie ntal: conceitos e métodos
A Nepa desde o início tocou neste ponto fulcral: os estudos têm, obrigatoriamente, que
apresentar alternativas (Seção 102, (C), (iii)), embora, como apontado por Steinemann
(2001), seja a própria agência interessada quem define os objetivos e as justificativas
da ação proposta. Mas nem todas as legislações foram a fundo na questão: na França,
o estudo de impacto deve somente explicitar quais as razões, de ordem ambiental,
que levaram à escolha da alternativa apresentada. No Brasil, o EIA deve “contemplar
todas as alternativas tecnológicas e de localização de projeto, confrontando-as com a
hipótese de não execução do projeto” (Resolução Conama 1/86, art. 5o, I). Nos Estados
Unidos, a obrigatoriedade de considerar alternativas no EIA foi claramente reafirmada
pelos tribunais. Segundo o regulamento da Nepa, o EIA deve:
Fuggle (1992) considera que três questões devam ser consideradas para a identificação
e seleção de alternativas a serem estudadas em um EIA:
# Como as alternativas deveriam ser identificadas?
# Qual é a faixa razoável de alternativas que deveria ser considerada?
# Em qual nível de detalhe deve cada alternativa ser explorada?
CAPÍTUÍLO
D eter m in a çã o do esco po do estudo e fo r m u la çã o de a l t e r n a -
Por fim, há de se destacar que os pontos de vista bastante pessimistas expressos por
autores como Benson (2003) e Shrader-Frechette (1982), acerca da formulação de
alternativas, não encontram eco em muitos autores diretam ente envolvidos na prática
da AIA, como Tomlinson (2003) e Garis (2003), para quem projetistas e proponentes
Linha 230 kv
Chavantes - Jurumim
Alternativa I Alternativa II
Reservatório Reservatório
0 2 4km
Linha 230 kv
Cha.vantes - Jurumim
Década de 1 9 6 0 : Estudos sobre o p o te n c ia l h id re lé tric o d e fin e m três locais para fu tu r a s barragens em um tre c h o de
140 km do rio P aranapanem a.
A n o de 1 9 6 6 : Estudo de v ia b ilid a d e do a p ro v e ita m e n to de Piraju.
Fevereiro de 1991: A p re s e n ta ç ã o de um EIA c o n te n d o três a lte rn a tiv a s lo ca c io n a is ; a a lte rn a tiv a escolhida (a lte rn a
tiv a 1) previa um a b a rrag em a m o n ta n te da cidade de Piraju, o desvio das águas do reservatório através de um tú n e l
a d u t o r até a casa de força, a 17 km a ju s a n te do rio, o c a s io n a n d o um a g ran de redução da vazão na a ltu ra da cidade,
fa to que causaria um a m u d a n ç a d ra m á tic a na paisagem urbana, um a vez que desapareceria a cascata a r tific ia l de
um a a n tig a usina, considerada p a tr im ô n io c u ltu ra l de interesse tu r ís tic o e a m b ie n ta l, e oco rre ria d e te rio ra ç ã o da
q u a lid a d e das águas, pois o esgoto da cidade era lançado, nesse tre c h o , sem n e n h u m tr a ta m e n to .
A b ril de 1991: A to p ú b lic o realiza d o em Piraju, re u n in d o cerca de 6 m il pessoas: "Usina sim, a lte rn a tiv a 1, não".
M a io de 1 9 9 2 : Daia (D e p a rta m e n to de A v a lia ç ã o de Im p a c to A m b ie n ta l) c o m u n ic a a necessidade de re fo rm u la ç ã o
do EIA.
J u lh o de 1 9 9 2 : A em presa c o m u n ic a que passou a p re fe rir u m a a lte rn a tiv a (a lte rn a tiv a 2) que não im p lic a v a a co n s
tru ç ã o do tú n e l de desvio (casa de fo rç a ao lado da barragem ), de fo rm a que não haveria a lte ra ç ã o da vazão do rio,
mas p re te n d ia c o n s tr u ir um a pequena b a rra g e m a ju s a n te da cidade.
D ezem bro de 1 9 9 4 : Consema (Conselho Estadual do M e io A m b ie n te ) aprova novos p ro c e d im e n to s de A IA no Estado
(Resolução 4 2 /1 9 9 4 ).
Ja n e iro de 1 9 9 5 : A p re s e n ta ç ã o de no vo EIA.
Fevereiro de 1 9 9 5 : Daia s o lic ita reelaboraçã o do novo estudo, e n tre o u tro s m o tiv o s , po rq ue não eram an alisad os os
im p a c to s a ju s a n te do e m p r e e n d im e n to nem os im p a c to s da c o n s tru ç ã o da nova b a rrag em de ju s a n te ; adem ais, a
precariedade do d ia g n ó s tic o a m b ie n ta l c o m p ro m e tia a ava lia çã o dos im pactos.
A b ril de 1 9 9 5 : Empresa apresenta Plano de T rab alh o para e la b o ra r um novo EIA.
O u tu b ro de 1 9 9 5 : Daia e m ite te rm o s de referência para o novo EIA.
Ja n e iro de 1 9 9 7 : A p re s e n ta ç ã o do te rc e iro EIA, co m escolha da a lte rn a tiv a 2 m o d ific a d a (s o m e n te a c o n s tru ç ã o da
b a rra g e m de m o n ta n te , com casa de fo rç a j u n t o ao co rp o da b a rra g e m ); a re fo rm a da usina e x is te n te e a b a rra g e m
de ju s a n te são considerado s p ro je to s in d e p e n d e n te s ; um a a lte rn a tiv a 3, a n te rio r m e n te estudada, ta m b é m é descar
tada.
Fevereiro de 1 9 9 8 : Parecer do Daia fa vo rá v e l ao lic e n c ia m e n to do e m p re e n d im e n to .
M a rç o de 1 9 9 8 : D eliberação de C âm ara Técnica do Consem a fa v o rá v e l ao e m p re e n d im e n to .
M a io de 1 9 9 8 : M in is té r io P úblico Federal q u e s tio n a a c o m p e tê n c ia estadu al para licenciar.
M a io de 1 9 9 8 : D eliberação do p le n á rio do Consem a fa v o rá v e l ao e m p r e e n d im e n to e em issão de licença prévia.
D ezem bro de 1 9 9 9 : Emissão de licença de in stalação.
J u n h o de 2 0 0 2 : R e q u e rim e n to de licença de operação.
A g o s to de 2 0 0 2 : E n c h im e n to do reservatório.
Fontes: Carvalho, A lm e id a e Bastos (1998); CNEC, EIA UHE P iraju; R im a UHE Piraju, 1996; Ronza (1997).
CAPÍTU LO
D eter m in a ç ã o do esco po do estudo e fo r m u la ç ã o de a l t f r n a ~ 77 m '5 9
Q uadro C omparativo
C a r a c t e r ís t ic a A l t e r n a t iv a 1 A l t e r n a t iv a 2 A ltern ativa 3
N ú m e r o de b a rra g e n s 1 3 1
P o tê n c ia ( M W ) 150 1 4 6 (a) 160
i
têm aprendido, por experiência própria, que a falta de soluções concretas de proteção
am biental e de medidas para evitar impactos socialm ente inaceitáveis m uitas vezes
impede a realização de projetos, e que não há alternativa exceto a de fo rm u la r uma
alternativa de m enor impacto. Não são poucas as empresas que, ao depararem com
grandes dificuldades na aprovação de seus projetos, tiveram que alterar substancial
m ente seu modo de a tu a r (Ortolano, 1997; Sánchez, 1993a).
6.7 S ín t e s e e p r o b l e m á t ic a
A preparação de um estudo de impacto am biental não pode prescindir de um
planejamento que inclua a determ inação daquilo que é relevante e, portanto, deve ser
analisado em profundidade nos estudos. A qualidade dos EIAs - e, por conseguinte,
a qualidade da decisão que será tom ada - depende de um planejam ento criterioso e
de term os de referência cuidadosam ente preparados, necessariam ente com consulta
pública.
0 scoping significa estabelecer hipóteses, e sem elas não há como ordenar a reali
zação de estudos ambientais. Situa-se provavelmente nessa tarefa um a das maiores
ação ae Im pacto A m biental: conceitos e métodos
CAPÍTÜ LO
= ação cie m pacto A m biental: conceitos e métodos
processo de avaliação de impacto ambiental. E com base nele que serão tomadas as
principais deciso.es..quanto à viabilidade ambiental de um projeto, quanto à necessi
dade de m edjdasjnitigad oras ou cq.mpensatórias e quanto ao tipo e ao alcance dessas
medidas. Dado o caráter público do processo de AIA, é também esse o documento que
servirá de base para as negociações que poderão se estabelecer entre empreendedor,
governo e partes interessadas.
'O termo “estudos Há atualmente no Brasil diversos tipos de estudos ambientais1, incluindo o próprio
ambientais” EIA, o plano de controle ambiental (PCA), o relatório de controle ambiental (RCA) e
f o i introduzido
o relatório ambiental preliminar (RAP), além de estudos de aplicação circunscrita a
form alm ente
pela Resolução certos tipos de empreendimentos, como o plano de recuperação de áreas degradadas
Conama n° 237/97 (Prad), empregado no setor de mineração, e o projeto básico ambiental (PBA), empre
(conforme Cap. 3), gado para projetos do setor elétrico (conforme Quadro 3.4).
mas já era usado
há tempos por
De maneira semelhante, outras jurisdições também lançam mão de diferentes tipos
profissionais do
setor. e formatos de estudos ambientais, requerendo maior ou menor grau de detalhe na
descrição do ambiente afetado ou na análise dos impactos, como o environmental
assessment americano, a notice dHmpact francesa, o screening/étude préalable cana
dense e o scoping report sul-africano, todos eles versões reduzidas ou simplificadas
do estudo de impacto ambiental clássico (conforme Cap. 5).
Todavia, todos esses estudos baseiam-se no formato e nos princípios do EIA, que
será aqui apresentado. Essa metodologia básica para planejamento e elaboração de
um estudo de impacto ambiental pode, portanto, com adaptações, ser utilizada para
[qualquer um dos estudos ambientais.
CAPITU
C IAKAb UU T L A N U A M tN IU b UA tZLABUKAÇAO Db UM ESTUDO DE IMPACTO A M B E \
de cada alternativa podem assim ser comparados a p a rtir de um a base comum (se
ção 11.3), dada pelo estudo de impacto ambiental.
Há duas perspectivas bem diferentes para a elaboração de um EIA, que podem ser c h a
madas de abordagem exaustiva e abordagem dirigida. A abordagem exaustiva Jm sca \
um conhecimento quase enciclopédico do meio e supõe que quanto mais se disponha \
de informação, melhor será a avaliação. Resultam Longos e detalhados estudos de
impacto ambiental, nos quais a descrição das condições atuais — o diagnóstico
ambiental - ocupa a quase totalidade do espaço.
Tal visão é exemplificada pelo que se pode jocosam ente cham ar de “abordagem do
taxonom ista ocupado”, que consiste em ten tar estabelecer listas completas de espécies
de flora e fauna da área de influência do empreendimento em estudo, o que consome
a maior parte do esforço, do tempo e do dinheiro disponíveis para o EIA e desdenha
0 estudo..das relações funcionais, entre os componentes do ecossistema. Isso não
significa que inventários de fauna e flora sejam desnecessários para um a avaliação
de impacto ambiental, mas, simplesmente, que a função de tais levantam entos precisa
ser estabelecida claram ente antes do início de cada estudo - e em muitos casos eles
podem simplesmente não ter utilidade. Outro exemplo comumente encontrado em
EIAs é o das descrições extensas da geologia regional, sem que daí se tire qualquer
inform ação diretam ente utilizável para an alisar os impactos do empreendimento, e
muito menos para gerenciá-lo. 0 mesmo vale para extensas compilações de dados
sociais e econômicos.
Ora, não há nenhum a razão para reu n ir “todos” os dados existentes sobre um
determ inado assunto; o que in te re s s ã ^ reunir os dnd.os_necessários p ara a n alisarmos
impactos do empreendimento, que, na maioria das vezes, não existem e devem ser
levantados. Quanto aos trabalhos de campo, tampouco podem ser a “finalidade” dos
estudos - trabalhos de campo frequentem ente são um meio de coletar previam ente
dados não existentes e necessários para a análise dos impactos. Mais adiante, pode-se
ler no mesmo capítulo desse mesmo EIA: “Foram relacionadas todas as publicações de
interesse, visando a um a avaliação dos estudos existentes, lacunas de informações e
proposições para novos estudos”.
Essa passagem denuncia que faltou direção e coordenação ao EIA. Propor novos
estudos só excepcionalm ente pode ser objetivo de um estudo de impacto ambiental.
Na verdade, o EIA deveria ser organizado de m aneira a coletar os dados necessários e
preencher as lacunas de informação relevantes para an alisar os impactos; se houver
algum a informação im portante, mas não disponível, ela deve ser obtida.
Contrapõe-se a essa visão a abordagem dirig.i.da, que pressupõe que só faz sentido
levan tar dados que serão efetivamente utilizados na análise dos impactos, ou seja,
serão úteis para a tomada de decisões. 0 objetivo é o entendim ento das relações entre
2 ação de Im pacto A m b ie n ta l: conceitos e m étodos
E claro que, para se poder form ular essas hipóteses, é preciso dispor de um m ínimo de
conhecimento da região onde se pretende im plantar o projeto, assim como um conhe
cimento do próprio projeto. Suponha-se o projeto de construção de um a barragem: é
óbvio que se a área a ser inundada é usada como pasto, os impactos prováveis serão
muito diferentes daqueles que adviriam se a área tiver cobertura de vegetação nativa.
/
Tal atividade pode ser denom inada de reconhecimento, e é feita por meio de um a
visita de campo, da visualização de fotografias aéreas ou imagens de satélite, de uma
rápida revisão bibliográfica, de um a consulta aos órgãos públicos que detêm inform a
ções setoriais (como estatísticas socioeconômicas, classificações de uso da terra etc.)
e, se possível, por meio de conversas informais com moradores ou lideranças locais.
0 Quadro 7.1 sintetiza as fontes de informações geralmente empregadas para o reco
nhecimento inicial do sítio e de seu entorno.
CAPÍTU LO
Et a p a s do P l a n e j a m e n t o e d a E l a b o r a ç ã o de u m E s t u d o de I m p a c t o A m b ie n
Assim, com pouco esforço e poucas horas 7AIo Brasil, esses dados podem ser o b tid o s no IBGE - In s titu to B rasileiro de
G eografia e E sta tística e em entidades estaduais, com o a Fundação Seade
de trabalho, é possível realizar um bom
(São Paulo) e a Fundação João P inheiro (M inas Gerais).
planejamento dos estudos a serem execu 2Dados sobre lim ite s de unidades de conservação, zoneam entos e o u tra s
tados. Quase sempre o próprio contexto inform ações, que podem ser o b tid o s em órgãos federais ou estaduais.
comercial dos estudos de impacto
ambiental obriga a tal exercício: é usual
que as empresas e demais entidades que precisam realizar um EIA convidem duas ou
três empresas de consultoria para apresentar propostas técnicas e comerciais. Como
tais propostas envolvem uma descrição do trabalho a ser realizado e um a estimativa
das horas técnicas necessárias (base para cálculo do preço), um nível mínimo de co
nhecimento do projeto proposto e do ambiente possivelmente afetado é imprescindível.
0 termo “plano de trabalho” usado na Fig. 7.1 coincide com o termo usado na regula
mentação em vigor no Estado de São Paulo. No entanto, à parte questões terminológicas
(poder-se-ia empregar “proposta de trabalho”, “proposta técnica”, “plano de execu
ção” ou qualquer outra expressão equivalente), que não são relevantes aqui, o que se
pretende m ostrar com essa figura é um a seqüência lógica e genérica de planejamento
e preparação de um estudo de impacto ambiental. Todo EIA deve ter um a fase de
de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
CAPÍTU .0
Et a p a s d o P l a n e j a m e n t o e d a E l a b o r a ç ã o de u m E s t u d o de I m p a c t o A m b ie n
Caso haja impedimentos legais absolutos, naturalm ente não há porque continuar com
o EIA. Na verdade, essa análise já deve ser feita antecipadamente, em algum tipo
de estudo preliminar de viabilidade ambiental (como um relatório ambienatal preli
m inar ou alguma avalição interna à empresa proponente). Impedimentos absolutos
podem ocorrer em situações de restrições impostas por zoneamento, entre outros, mas
as leis não são imutáveis, e forças políticas e econômicas podem alterar leis e tornar
compatíveis com os requisitos legais empreendimentos que antes eram inviáveis. Isso
não é raro nos casos de empreendimentos considerados como de “utilidade pública”, ;
e já houve casos em que até unidades de conservação de proteção integral foram
alteradas para dar lugar a esse tipo de empreendimento.
Contudo, na maioria das vezes, a legislação apenas impõe restrições parciais, que de
3Como se trata
vem ser conhecidas para assegurar um bom planejamento do projeto. Por exemplo, a de uma nocão
legislação florestal brasileira designa “áreas de preservação perm anente” o entorno de que envolve
nascentes, as margens de rios, os topos de morros, as vertentes de grande declividade apreciável porção
e algumas outras situações. Nesses casos, deve-se fazer um levantamento de todas as de subjetividade,
restrições, cartografar aquelas que têm um a expressão espacial, e buscar respeitar as sua aplicação
prática pode gerar
restrições durante o planejamento do projeto, o que vai exigir uma interação entre a
controvérsias. Porém,
equipe ambiental e a equipe de projeto.
o contexto social,
político e legal em
Usando o exemplo das áreas de preservação permanente, nota-se que certos tipos que se realiza um
de projeto podem respeitar integralmente (ou quase) as restrições, como as linhas de estudo ambiental
transmissão de energia elétrica, cujas torres podem ser localizadas fora dessas áreas é determinante na
e cujo traçado também pode, em larga medida, evitar corte de vegetação nativa. definição do que é
Já uma barragem é necessariamente construída barrando um rio, e portanto é inevi : relevante. Certos tipos
de impactos podem
tável que inunde áreas de preservação permanente.
ser vistos como
muito importantes
As mais freqüentes atividades preparatórias para a elaboração de um estudo de em um lugar, ao
impacto ambiental são mostradas no Quadro 7.3. Note que nem todo EIA demandará passo que sequer
a execução de todas essas tarefas. são reconhecidos em
outros. Não que o
relativismo seja rorc'..
I d e n t if ic a ç ã o p r e l im in a r do s im p a c t o s p r o v á v e is
Há diversas quesrões
A identificação dos impactos ambientais na fase prelim inar consiste na preparação
universalmente
de uma lista das prováveis alterações decorrentes do empreendimento. Nessa fase, valorizadas
não há preocupação com a classificação dos impactos segundo seu grau de im portân (conforme Cap. 5
cia, mas devem ser descartados os impactos irrelevantes3. Normalmente, parte-se de e 6).
S
a a;ãa de pacto Am biental: conceitos e métodos
Documentação cartográfica ou fotografias aéreas costumam ser muito úteis nessa fase,
pois possibilitam uma visão de conjunto do local do empreendimento e seu entorno.
As demais atividades preparatórias tam bém podem fornecer vários elementos úteis
para a identificação preliminar de impactos.
4Em A IA , a
indução, fo rm a de A análise dos impactos do empreendimento sempre será feita com base no estudo das
argumentação que interações possíveis entre as ações ou atividades que compõem o empreendimento e os
vai do particular componentes ou processos do meio ambiente, ou seja, de relações plausíveis de causa
para o geral,
e efeito (conforme Cap. 1). Na etapa inicial, as interações podem ser identificadas a
frequentemente fa z
parte do discurso
partir de:
engajado - a fa vo r analogia com casos similares;
ou contra um experiência e opinião de especialistas (incluindo a equipe ambiental);
> » <
CAPÍTU L0
= s ç 8 3 ce Irr.pacto Ambiental: conceitos e métodos
CLisriro 7.3 i.id a d e s p re p a ra tó ria s usuais p a ra re a liz a ç ã o de um uma descrição do empreendimento pro
es7-jdo de im p a c to a m b ie n ta l posto e de suas alternativas, do estudo
' - L e .a d ia m e n to de bases c a rto g rá fic a s . dos documentos de projeto disponíveis
2 - L e v a n ta m e n to de fo to g r a fia s aéreas. (tais como estudos de viabilidade eco
3 - A q u is iç ã o de fo to g r a fia s aéreas ou im a g e n s de satélite. nômica, estudos de alternativas, projetos
4 - L e v a n ta m e n to p re lim in a r de dados s o c io a m b ie n ta is . ou anteprojetos de engenharia) e de um
5 - L e v a n ta m e n to p r e lim in a r de estudos sobre a região. reconhecimento do local proposto para
6 - C o m p ila ç ã o de dados sobre o p ro je to e e studo dos d o c u m e n to s implantação do empreendimento.
de p ro je to (plantas, m e m o ria is d e scritivo s etc.).
7 - E ntrevistas ou reuniões de tra b a lh o com p ro je tis ta e p ro p o n e n te No reconhecimento é possível identi
para escla re cim e nto s. ficar as mais evidentes características
8 - V isita s a e m p re e n d im e n to s sem elhantes. ambientais que poderão ser afetadas pelo
9 - V is ita de c a m p o para re c o n h e c im e n to da área do p ro je to e projeto; por exemplo, pode-se verificar
e n to rn o . a existência de diferentes tipos de
10- Conversas in fo rm a is na área do p ro je to e e n to rn o . vegetação, as formas de uso do solo e
11- L e v a n ta m e n to e análise da legislação aplicável. as atividades antrópicas realizadas no
1 2 - Id e n tific a ç ã o da equipe necessária. entorno, vias de acesso, características
1 3 - O rç a m e n to para execução dos serviços. físicas do meio, como relevo, solos e rede
hidrográfica, entre outras.
Documentação cartográfica ou fotografias aéreas costumam ser muito úteis nessa fase,
pois possibilitam um a visão de conjunto do local do empreendimento e seu entorno.
As demais atividades preparatórias também podem fornecer vários elementos úteis
para a identificação preliminar de impactos.
4Em A IA , a
indução, fo rm a de A análise dos impactos do empreendimento sempre será feita com base no estudo das
argumentação que interações possíveis entre as ações ou atividades que compõem o empreendimento e os
vai do particular componentes ou processos do meio ambiente, ou seja, de relações plausíveis de causa
para o geral,
e efeito (conforme Cap. 1). Na etapa inicial, as interações podem ser identificadas a
frequentemente fa z
parte do discurso
partir de:
engajado - a fa vo r analogia com casos similares;
ou contra um experiência e opinião de especialistas (incluindo a equipe ambiental);
empreendimento -, # dedução, ou seja, confrontar as principais atividades que compõem o
enquanto a dedução empreendimento com os processos ambientais atuantes no local, inferindo
é o método que guia conseqüências lógicas;
os procedimentos
indução, ou seja, generalizar a partir de fatos ou fenômenos observados4.
analíticos da equipe
multidisciplinar
que realiza o Na prática, caso os profissionais envolvidos nessa etapa não tenh am familiaridade
EIA e da equipe com o tipo de empreendimento que será analisado, é comum se utilizar listas de
de analistas verificação (checklists) e outras listagens de impactos existentes na literatura
dos órgãos técnica. Um especialista no tipo de empreendimento proposto (mesmo que pouco
governamentais. versado em planejamento e gestão ambiental) será capaz, ao lado de um a pessoa
Mas não se deve
experiente em análise de impactos ambientais, de identificar um grande número de
contrapor os
métodos; ambos
impactos prováveis. 0 mesmo ocorrerá se for consultado um cientista que detenha
contribuem para o conhecimento especializado sobre o tipo de ambiente onde se pretende im plantar
conhecimento, que o projeto; por exemplo, para um projeto de m arina em zona de m anguezais, um
é um dos pilares especialista nesse tipo de ecossistema poderá rapidamente preparar uma lista de
da avaliação de vários impactos ambientais potenciais, que posteriormente serão validados, ou não,
impacto ambiental. na seqüência dos estudos.
CAPITU
Et a p a s d o P l a n e j a m e n t o e d a E l a b o r a ç ã o d e u m E s t u d o d e I m p a c t o A m b i e
D e t e r m in a ç ã o do escopo
Dois empreendimentos idênticos localizados em ambientes diferentes resultarão em
diferentes impactos ambientais. Da mesma forma, num mesmo local, dois projetos
distintos poderão ocasionar impactos ambientais bem diferentes; por exemplo, a
monocultura de cana-de-açúcar ou de soja poderá causar impactos mais extensos
que um a mineração, a qual, por sua vez, pode causar impactos de grande intensidade,
porém concentrados em áreas restritas. Em certos locais, um a rodovia pode causar
mais impactos adversos que um gasoduto, ou vice-versa, dependendo das interações
projeto x meio que poderão v ir a se estabelecer.
Por outro lado, sabe-se que os impactos e os riscos ambientais não são percebidos da
mesma forma por pessoas ou grupos sociais diferentes. Por exemplo, o sentimento de
perda ocasionado pela inundação de um cemitério indígena, ou de qualquer outro sí
tio sagrado de um a comunidade, dificilmente poderá ser apreendido em sua plenitude
por pessoas que não façam parte daquele grupo.
Devido a essas duas razões - tanto de ordem científica como de ordem social -,
alguns impactos causados por um determinado empreendimento deverão ser
considerados como mais im portantes que outros e, portanto, deverão receber mais
atenção no estudo de impacto ambiental. Além disso, por razões de ordem prática,
é impossível estudar detalhadam ente todas as interações projeto x meio. Isso eqüi
valeria a um a abordagem exaustiva, que acaba forçosamente redundando num
estudo superficial, um a vez que todo EIA é realizado num contexto de limitação de
recursos e de tempo.
E mais eficaz e mais útil analisar com profundidade três ou quatro questões rele
vantes que descrever com igual superficialidade vinte ou trinta impactos ambientais
abordados genericamente. Ademais, a experiência tem mostrado que, quando um
determinado projeto é submetido a discussão pública do processo de avaliação de
impacto ambiental, somente umas poucas questões críticas atraem a atenção dos
interessados (Sánchez, 1995a).
Como foi visto no Cap. 6, a definição do escopo do estudo é tanto uma etapa do
processo de AIA como uma atividade de planejamento de um estudo ambiental.
Mesmo que não exista uma formalização dessa etapa (que é obrigatória em diversas
jurisdições), é impossível conceber um estudo de impacto ambiental que não contenha
alguma forma de seleção das questões principais - muitas vezes isso se faz de ma-
liação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
neira implícita, mas a desvantagem neste caso é que os critérios de seleção não são
conhecidos do público, e a equipe de analistas não tem conhecimento de suas opiniões.
Nas jurisdições em que o scoping é etapa obrigatória, costuma dar lugar a um docu
mento de orientação para o estudo de impacto ambiental conhecido genericamente
como term os de referência (conforme seções 4.3 e 6.4). Aqui se emprega o termo plano
de trabalho para descrever o documento que resulta da atividade de determinação do
escopo de um estudo, de maneira análoga a um plano de pesquisa para a condução
de trabalhos de investigação científica ou tecnológica (coincidentemente, é também
a expressão empregada no regulamento do Estado de São Paulo - SMA n° 42/94 -,
conforme seção 6.4).
E s t u d o s de b a s e
Os estudos de base têm uma posição central na seqüência de etapas de um EIA. Eles
devem ser organizados de maneira a fornecer as informações necessárias às fases
seguintes do EIA, ou seja, a previsão dos impactos, a avaliação de sua importância
e a elaboração de um plano de gestão ambiental; essas informações, por sua vez,
são definidas em função das duas etapas anteriores, a identificação preliminar dos
impactos potenciais e a seleção das questões mais relevantes.
A realização dos estudos de base é certamente a atividade mais cara e mais demorada
da avaliação de impacto ambiental, e é justam ente por isso que deve ser planejada
cuidadosamente. Depois de definir o tipo de informação que se pretende coletar, o plano
de estudos deve estabelecer as escalas temporal e espacial dos estudos e os métodos de
coleta, a eventual necessidade de análises laboratoriais e os procedimentos ou métodos
de tratamento e interpretação dos dados. Em particular, deve-se definir se serão neces
sários dados primários ou secundários. Estes são dados preexistentes, publicados ou
armazenados em instituições públicas, organismos de pesquisa ou pelo próprio propo
nente do projeto. Dados primários são aqueles levantados especialmente para o estudo
de impacto ambiental, o que demandará trabalhos de campo e, consequentemente,
maior esforço, custo e tempo. A importância de se adotar uma abordagem dirigida
transparece aqui. Caso contrário, a equipe técnica que elabora o EIA estará arriscada
a levantar uma quantidade imensa de dados secundários disponíveis, mas absoluta
mente inúteis ou, pior ainda, inúmeros dados primários que posteriormente não serão
utilizados para a análise dos impactos decorrentes do empreendimento. Infelizmente,
isso é bastante comum em boa parte dos estudos de impacto ambiental.
Uma questão importante aqui é a definição prévia da área de estudo, ou seja, a área
geográfica onde serão realizados os estudos de base, área que será objeto de coleta
/
CAPÍTUlLO
Et a p a s d o P l a n e j a m e n t o e d a E l a b o r a ç ã o de u m E s t u d o de I m p a c t o A m b ie n E
diagnóstico ambiental - o resultado dos estudos de base norm alm ente irá form ar um
capítulo do EIA denom inado diagnóstico ambiental.
I d e n t if ic a ç ã o e p r e v is ã o d o s im p a c t o s
A nálise dos impactos é um termo que descreve um a seqüência de atividades.
A conclusão dos estudos de base, ao fornecer u m a descrição da situação ambiental na
área de estudo, possibilita que a identificação prelim inar dos impactos - feita no in í
cio do planejamento dos estudos - seja revista à luz de um conhecim ento que a equipe
m ultidisciplinar não possuía naquele momento. Trata-se, portanto, não de um a nova
identificação, mas de um a revisão, atualização ou correção da lista prelim inar de im
pactos, enriquecida com as novas informações geradas ou compiladas pelos estudos
de base.
tificação dos impactos. E por isso que a previsão somente pode ser feita depois de
concluídos os estudos de base, que fornecerão os elementos necessários para que as
previsões sejam devidam ente fundam entadas.
No entanto, nem todos os processos ambientais, e ainda menos os sociais, podem ser
modelados matematicamente, de forma que outras técnicas devem ser empregadas
para a previsão de impactos, dentre as quais encontram -se as experiências e os en
saios de laboratório e de campo, a extrapolação, modelos de simulação com o auxílio
- ação ae Impacto A m b ie ntal: conceitos e métodos
A v a l ia ç ã o dos im p a c t o s
Enquanto a previsão dos impactos informa sobre a m agnitude ou intensidade das
modificações ambientais, a avaliação discorre sobre sua importância ou significânçia..
É importante diferenciar os dois conceitos, já que a avaliação da importância tem uma
subjetividade muito maior que a previsão dos impactos, atividade esta que demanda
conhecimentos especializados e a aplicação do método científico.
Que interpretação dar a esses enunciados? 0 que significam 10 mg/f de zinco num
rio e a destruição do hábitat de um a espécie? No primeiro caso, a interpretação -
ou avaliação de impacto - discutirá o significado daquele rio apresentar aquela
concentração de metal. Isso representa um risco para a saúde de um a comunidade
indígena situada a jusante e que utiliza a água do rio para diversas atividades? 0
metal poderá acumular-se nos tecidos dos peixes desse rio, peixes que fazem parte da
dieta alim entar dessa comunidade, e conferir-lhes características tóxicas?
No segundo caso, a destruição do hábitat de uma espécie que só ocorre naquele local
significará muito provavelmente sua extinção, exceto se ela puder ser introduzida em
hábitat semelhante ou reproduzida em cativeiro, hipóteses possivelmente desconhecidas.
Dado que hoje em dia há um reconhecimento social mundial da importância da biodi-
versidade, tal impacto deveria ser julgado como muito importante. Na verdade, deve ser
tão importante que poderia determinar a recusa da aprovação do projeto.
CAPÍTU LO
Et a p a s d o P l a n e j a m e n t o e d a E l a b o r a ç ã o de u m E s t u d o de I m p a c t o A m b ie n
E evidente que a equipe do EIA estará bem posicionada para em itir seus próprios
ju lg am en to s de valor, um a vez que, em princípio, conhece melhor que ninguém os
possíveis impactos do projeto. Na verdade, deve fazê-lo avaliando a im portância
dos impactos que identificou e previu, mas para isso é necessário que descreva com
clareza os critérios de atribuição de im portância que empregou, de modo que o EIA
possa ser exposto ao escrutínio público e a outras opiniões.
P l a n o de g e s t ã o
A lguns impactos negativos poderão ser aceitáveis se houver medidas capazes de redu
zi-los. Conhecidas como medidas mitigadoras, ou seja, ações que visam a atenu ar os
efeitos negativos do empreendimento, devem ser descritas no EIA. A regulam entação
brasileira, por meio da Resolução Conama 1/86, somente determ ina, explicitamente,
que todo EIA deve incluir a “definição das medidas m itigadoras dos impactos nega
tivos” (Art. 6o, III). Na prática, os EIAs vão além desse requisito mínim o, propondo
outras medidas, ações, iniciativas ou program as que contribuam para m elhorar a
viabilidade am biental do projeto em análise.
Esse conjunto de medidas é aqui cham ado de plano de gestão ambiental, entendido
como “o conjunto de medidas necessárias, em qualquer fase do período de vida do
em preendim ento, para evitar, atenuar ou com pensar os impactos adversos e realçar
ou acentu a r os impactos benéficos”. Trata-se de um plano a ser aplicado (e detalhado,
adaptado ou aperfeiçoado) após a aprovação do projeto, sendo necessário um com
promisso do empreendedor com seu cum primento. Sua implementação e fiscalização
correspondem à fase de acom panham ento do processo de AIA.
Medidas de valorização ou realce dos impactos positivos são m uitas vezes necessárias
para que estes se concretizem em benefício da região onde o em preendim ento será
implantado. Por exemplo, um impacto positivo com um ente citado em estudos de impacto
ambiental é a geração de empregos. No entanto, determ inados em preendim entos
requerem mão de obra especializada nem sempre disponível localmente, necessitando
atrair trabalhadores de fora e, portanto, não criando empregos na região que acolhe o
projeto. Um program a de formação de mão de obra e de qualificação de fornecedores
locais de bens e serviços pode contribuir sobrem aneira para to rn a r realidade os im
pactos benéficos possíveis.
ação oe Im pacto A m b ie ntal: conceitos e métodos
7.3 C u s t o s d o e s t u d o e d o p r o c e s s o de a v a l i a ç ã o de i m p a c t o a m b i e n t a l
Estimar antecipadamente os custos de elaboração do EIA e das demais tarefas
associadas ao processo de AIA é uma demanda freqüente da parte dos proponentes
de projetos públicos ou privados. Infelizmente, há poucos estudos sobre o assunto,
seja porque as empresas mantêm sigilo sobre seus custos, seja porque os itens de custo
podem nem mesmo ser apropriados contabilmente pelas empresas: muitas vezes não
há registros de despesas especificamente imputáveis ao processo de AIA.
CAPÍTU LO
E ta p a s d o P la n e ja m e n to e d a E la b o r a ç ã o de u m E s tu d o de Im p a c to A m b i f n í e M 175
Finalmente, outros com ponentes de custo que não devem ser esquecidos são (i) os estudos
com plem entares e subsequentes, como aqueles que no Brasil podem ser exigidos para
a obtenção das licenças de instalação e de operação, e (ii) os custos da etapa de acom
panham ento, que podem incluir supervisão, auditoria e m onitoram ento ambiental.
Um estudo feito para a Comissão Européia sobre custos e benefícios da A IA 5 avaliou 5EIA in Europe: a
18 casos de EIAs feitos para diferentes tipos de projetos em quatro países da União Study on Costs and
Benefits.
Européia. Suas principais conclusões em relação aos custos são:
# 0 custo de elaboração do EIA corresponde a um a parcela entre 60 e 90% do
custo total do processo de AIA.
® 0 custo do EIA não excede 0,5% do valor do investim ento (custos de capital do
projeto) em 60% dos casos exam inados.
% Custos acima de 1% correspondem a casos de exceção, em geral associados a
“projetos p articu larm en te controvertidos em ambientes sensíveis”, ou a casos
nos quais “a boa prática da AIA não foi seguida”.
& A faixa de variação dos custos da AIA em relação ao valor do investim ento em
cada projeto foi de 0,01 a 2,56%, com a média situando -se em 0,5%.
# Em term os percentuais, os custos são maiores para os projetos que implicam
menores custos de capital.
S
a ação de Im pacto A m biental: conceitos e métodos
Na Africa do Sul, um levantamento feito com 107 companhias que negociavam ações
na bolsa de valores de Joanesburgo constatou que 25°/o delas informaram gastar com
o processo de AIA menos de 1% do valor do investimento em novos projetos, ao
passo que 13% das empresas reportaram gastos entre 2 e 4%; 60% das empresas não
haviam contabilizado essas despesas (Rossouw et ah, 2003).
7.4 S ín t e s e
0 bom entendimento dos objetivos da avaliação de impacto ambiental, assim como
das possibilidades e limites desse instrumento, é essencial para que se possa obter
o m áximo de sua aplicação. Um dos pontos, centrais de um bom estudo de impacto
ambiental é dirigir as atividades para um certo número de questões previamente
definidas como importantes. 0 estudo será estruturado em torno dessas questões
mais relevantes, que direcionarão as atividades de coleta de dados, a análise dos
impactos e a proposição de medidas de gestão. A análise dos impactos é composta
de três atividades distintas: a identificação, a previsão e a avaliação, que podem ser
definidas da seguinte forma:
* Identificação de impactos é a descrição das conseqüências esperadas de um
determinado empreendimento e dos mecanismos pelos quais se dão as relações de
causa e efeito, a partir das ações modificadoras do meio ambiente que compõem
tal empreendimento.
# Previsão de impactos significa fazer hipóteses, técnica e cientificamente
fundamentadas, sobre a magnitude ou intensidade dos impactos ambientais.
# Avaliação dos impactos a atribuição de um qualificativo de importância ou
significância a esses impactos, qualificativo esse sempre referido ao contexto
socioambiental no qual se insere o empreendimento.
CAPÍTU
ação de n p a c to A m biental: conceitos e métodos
Identificar prováveis impactos não é uma tarefa difícil, mas deve ser executada
com discernimento e de maneira sistemática e cuidadosa, de modo a cobrir todas as
possíveis alterações ambientais decorrentes de um empreendimento, mesmo se for
sabido de antemão que algumas dessas alterações serão pouco significativas, ou seja,
que algumas serão muito mais importantes que outras e que, portanto, nem todas
receberão igual atenção nas etapas subsequentes do EIA.
8.1 F o r m u l a n d o h ip ó t e s e s
Identificar impactos prováveis eqüivale a formular hipóteses sobre as modifica
ções ambientais a serem direta ou indiretamente induzidas pelo projeto em análise.
A analogia com situações similares, a experiência dos membros da equipe multidis
ciplinar ou de consultores externos e o emprego conjunto do raciocínio dedutivo e
indutivo são alguns dos métodos empregados para auxiliar na identificação preliminar
dos impactos.
Muito do conhecimento acum ulado sobre impactos ambientais encontra-se tam bém
sistematizado em m anuais e publicações especializadas em avaliação de impacto
am biental1 (por exemplo, World Bank, 1991a, 1991b, 1991c) ou em estudos sobre o ]Roe, Dalal-
estado da arte da análise dos impactos em um determ inado setor ou tipo de atividade. Clayton e Hughes
Este é o caso das barragens. Não somente existem m ilhares de estudos e publicações (1995) compilaram
sobre efeitos am bientais de barragens, como um esforço m ulti-institucional de síntese uma relação de
várias dezenas
foi empreendido por ONGs e bancos de desenvolvimento, com o apoio de alguns
de diretrizes para
governos, com a constituição da Comissão M undial de Barragens. Tal comissão pro
avaliação de
moveu um a ampla discussão m undial sobre os benefícios, os custos, os impactos e os impacto amhiemal
riscos das barragens, e coletou um vasto material analítico, tornan do -o disponível publicadas em
T.\CD, 2000). A lguns exemplos de constatações da Comissão que podem au x iliar a vários países e
realização de futuros EIAs são: por organizações
* Raramente os EIAs são claros quanto à repartição social dos impactos, mesmo internacionais.
que muitos empreendimentos afetem de maneira mais significativa alguns gru
pos sociais em comparação a outros.
^ "Os pobres, outros grupos vulneráveis e as gerações futuras têm mais chance de
arcar com uma parte desproporcional dos custos sociais e ambientais das gran
des barragens sem que recebam uma parcela proporcional (eommensurate) dos
benefícios econômicos” (WCD, 2000).
^ Entre as comunidades afetadas, as disparidades de gênero aumentaram, com
mulheres arcando com uma parte desproporcional dos custos sociais e sendo
frequentemente discriminadas negativamente na partilha dos benefícios.
0 .TO
ação ce mpacto A m b ie ntal: conceitos e métodos
Deve-se ressaltar novamente o papel do coordenador dos estudos, que precisa ser real
mente um profissional da avaliação de impacto ambiental. Enquanto dos especialistas
que compõem a equipe dos consultores externos, espera-se atualização e competência
para tratar dos temas que lhes cabem (além de habilidades comunicativas), ao coorde
nador ou à equipe de coordenação cabe um olhar crítico, abrangente e inclusivo para
produzir um estudo socialmente útil, isto é, que atenda às necessidades e às expecta
tivas do cliente (o proponente do projeto) e demonstre respeito pelas necessidades das
demais partes interessadas (conforme seção 14.1).
CAPÍTU LO
I d e n t if ic a ç ã o d e I m p a
Enfim, há vários cam inhos para se ir formulando hipóteses sobre o provável impacto
do empreendimento, mas após um a investigação inicial, que pode ser muito abran
gente, é preciso começar a sistematizar as hipóteses e transferir informação e
conhecimento para a análise do projeto concreto, cujas características construtivas e
operacionais devem ser plenamente entendidas pela equipe.
8 .2 I d e n t i f i c a ç ã o d a s c a u s a s : a ç õ e s o u a t i v i d a d e s h u m a n a s
Os impactos ambientais decorrem de uma ou de um conjunto de ações ou atividades
hum anas realizadas em um certo local. Um estudo de impacto ambiental pressupõe
que tais ações sejam planejadas, sendo usualm ente descritas por meio de documentos,
como projetos de engenharia, memoriais descritivos, plantas etc. Dessa premissa,
decorre a impossibilidade (ou incoerência) de aplicar a avaliação de impacto ambiental
para a análise de ações não planejadas, como um garimpo, o lançamento clandestino
de resíduos, a construção individual de residências em áreas rurais ou em periferias
urbanas. A equipe encarregada da preparação do estudo ambiental deve ter conhe
cimento de todos os estudos técnicos relevantes que tenham sido produzidos para a
preparação de um projeto, inclusive para alternativas que tenham sido descartadas.
Deve-se, aqui, ter clareza acerca dos conceitos discutidos no Cap. 1. As ações ou
atividades são as causas, enquanto os impactos são as conseqüências sofridas (ou
potencialmente sofridas) pelos receptores ambientais (os recursos ambientais, os
ecossistemas, os seres humanos, a paisagem, o ambiente construído - conforme os
vários termos e conceitos ali discutidos). Os mecanismos ou os processos que ligam
um a causa a um a conseqüência são os efeitos, os aspectos ou processos ambientais,
conforme se prefira empregar um ou outro termo (seções 1.6 e 1.7).
ouTO
ação de Im pacto A m b ie n ta l: conceitos e m étodos
Aquisição de terras
Contratação de serviços de terceiros
Encomenda de máquinas e equipamentos
Construção ou serviços de melhoria das vias de acesso
Implantação de canteiro de obras
Contratação de mão de obra para a construção
Remoção da vegetação
Decapeamento e terraplenagem
Estocagem de solo vegetal
Perfuração de poços e galerias de acesso para minas subterrâneas
Preparação dos locais de disposição de estéreis e de rejeitos
Instalação de linha de transmissão de energia elétrica ou instalação de grupo gerador
Implantação de sistema de captação e armazenamento de água
Construção e montagem das instalações de manuseio e beneficiamento
Construção e montagem das instalações de apoio
Disposição de resíduos sólidos
Implantação de viveiro de mudas
Recrutamento de mão de obra para a fase de operação
Fa s e d e o p e r a ç ã o
Remoção de vegetação
Decapeamento da jazida
Abertura de vias subterrâneas
Drenagem da mina e áreas operacionais
Perfuração e desmonte de rocha
Carregamento e transporte de minério e estéril
Disposição de estéreis
Disposição temporária de solo vegetal
Revegetação e demais atividades de recuperação de áreas degradadas
Estocagem de minério
Britagem e classificação
CAPÍTU!iLO
I dentific aç ão de I m p a 183
Beneficiamento
Secagem dos produtos
Processamento metalúrgico ou químico
Disposição de rejeitos
Estocagem dos produtos
Expedição
Transporte
Estocagem de insumos
Disposição de resíduos sólidos
Manutenção
Aquisição de bens e serviços
F a s e d e d e s a t iv a ç ã o
com preendam todas essas atividades. Listas como essa podem ser usadas diretamente
ou, o que é mais apropriado, servirem de ponto de partida para a equipe m ontar sua
própria lista de ações ou atividades, adequada ao projeto que será analisado. Os Quadros
8.2 a 8.5 apresentam listas similares, respectivamente das ações que costum am ser reali
zadas durante as diferentes etapas do ciclo de vida de barragens para fins de geração de
energia elétrica e durante as etapas de planejamento, construção e operação de rodovias,
aterros de resíduos e linhas de transmissão de energia elétrica. Naturalmente, trata-se
de atividades suscetíveis de modificar o ambiente e de originar impactos significativos.
/
E im portante b u scar o m elhor entendim ento possível do projeto, pois isso será o fu n
dam ento de u m a boa identificação dos impactos. A participação, na equipe, de um
técnico especializado no tipo de projeto analisado é então essencial, mas tam bém é
necessário que os demais membros da equipe com preendam bem as ações tecnológicas
que compõem o em preendim ento. Cada um a dessas ações poderá ocasionar um ou
mais impactos ambientais.
o TO
sção de im pacto A m biental: conceitos e métodos
Estudos hidrológicos
Contratação de pessoal temporário
Levantamentos aerofotogramétricos
Serviços topográficos
Abertura de vias de acesso
Instalação de acampamentos
Estudo da disponibilidade de materiais de construção
Investigações geológico-geotécnicas
Perfuração, abertura de trincheiras e coleta de amostras
Retirada de material para ensaios geológico-geotécnicos
Realização de ensaios de laboratório ou em escala-piloto
Levantamento fundiário
Elaboração de projeto de engenharia
Fase p r e p a r a t ó r ia
Aquisição de terras
Contratação de serviços de terceiros
Construção ou serviços de melhoria das vias de acesso
Ampliação e melhoria da infraestrutura existente
água potável, coleta e tratamento de esgotos etc.)
Decapeamento e terraplenagem da área do canteiro de obras
Estocagem de solo vegetal
Implantação de canteiro de obras
Contratação de mão de obra para a construção
A , - '- ' •• ..
Implantação de alojamentos e vila residencial
Construção de oficinas, pátios de máquinas, galpões de armazenagem
Abertura de áreas de empréstimo e pedreiras
Remoção da vegetação
c iS S s K S
CAPITU
I d e n t if ic a ç3 ã o d e I m p a
Pagamento de indenizações
Desmatamento e limpeza da área de inundação
Fechamento das comportas
Fa s e de o p e r a ç ã o
Todas as etapas do ciclo de vida de um empreendimento devem ser levadas em conta, pois
impactos significativos podem decorrer de ações realizadas em diferentes etapas. Não
há uma forma única para dividir o ciclo de vida de um empreendimento em períodos -
deve-se considerar as características próprias de cada tipo de projeto. A periodização do
ciclo de vida deve ser a mais apropriada para descrever com suficiente detalhe cada um
dos tipos, como exemplificam os Quadros 8.1 a 8.5. Para uma barragem, é conveniente
discriminar uma etapa de enchimento do reservatório, pois alguns impactos importantes
ocorrem especificamente nesse momento. Já para uma mina, não se pode esquecer da
etapa de desativação e fechamento, quando ocorrem impactos socioeconômicos como o
desemprego e a redução da arrecadação tributária municipal, e deve-se preparar medidas
de gestão voltadas para atenuar os impactos remanescentes e programas de recuperação
de áreas degradadas. De qualquer forma, as etapas básicas geralmente consideradas são
planejamento, implantação e operação, ao passo que a importância de planejar as etapas
de desativação e fechamento vem sendo progressivamente reconhecida (Sánchez, 2001).
0 entendimento de cada uma dessas etapas é:
Planejamento: corresponde à execução de estudos técnicos e econômicos e
pode incluir certo número de atividades de investigação ou levantamento de
campo, como serviços de topografia, cadastramento de moradores e sondagens
geológicas ou geotécnicas. Essas atividades podem causar alguns impactos fí
sicos e bióticos; os mais importantes, porém, costumam ser registrados no meio
antrópico.
# Implantação: compreende todas as atividades necessárias para a construção de
instalações ou de preparação para o início do funcionamento, como, por exemplo,
sçso de Im pacto A m b ie ntal: conceitos e métodos
CAPÍTU 10
I d e n t if ic a ç ã o de I m p a 18 7
o
ação ae im pacto A m biental: conceitos e métodos
Serviços de topografia
.......
x&m zm
Abertura de estradas de acesso e de serviço, abertura de helipontos
Investigações geológico-geotécnicas dos locais de construção das torres
Contratação de serviços
Contratação de mão de obra
Aquisição de equipamentos e materiais
Remoção da vegetação na faixa de servidão
Abertura de praças para montagem das estruturas e lançamento dos cabos
- de im p l a n t a ç ã o : c o n s t r u ç ã o
Transmissão de energia
r;r'"-
Inspeções periódicas (terrestres ou aéreas} I
CAPÍTU LO
I d e n t i f ic a ç ã o de I m p a j
Não se deve esquecer de que, no EIA, um capítulo deve ser dedicado à descrição do
empreendimento. Se essa descrição for adequada (a adequação, clareza e suficiência
serão avaliadas pelos analistas técnicos do órgão governam ental encarregado do
licenciamento ambiental), perm itirá que os leitores do estudo (incluindo os analistas)
tirem suas próprias conclusões sobre os impactos potenciais.
bustíveis fósseis. M in a de carvão Duhva, A frica do Sul "energia lim pa", causa ruído, im pactos sobre a paisagem e a avifauna
CAPÍTU
I d e n t if ic a ç ã o de I m p a
Com que g rau de detalhe devem ser descritas as atividades de u m projeto? Quais
atividades podem ser a g ru p a d a s em categorias afins p a ra que a descrição do projeto
não resulte em centen as de p eq u en as tarefa s e procedim entos? Não pode h a v e r u m a
resposta ú n ica a essas questões. A descrição do em preendim en to deve ser tal que
p erm ita sua perfeita com preensão pelos a n a lista s e ta m b é m pelos fu tu ro s leitores
do EIA. Uma dificuldade prática decorre da freqü ente situação de nem m esm o o
em preendedor ou o projetista serem, m u itas vezes, capazes de descrever o projeto em
detalhe, pela simples razão deste não ter sido cla ra m e n te definido qu an do se iniciam
os estudos am bientais. Mas há situações m ais difíceis p a ra o a n a lis ta am biental,
como aquelas que se ap resen tam q u an d o o projeto é m odificado no curso dos estudos
am bientais, de m a n e ira que as tarefa s iniciais da avaliação dos im pactos am bientais
têm de ser refeitas, e m esmo refeitas m ais de u m a vez.
8 . 3 D e s c r iç ã o d a s c o n s e q ü ê n c ia s : a s p e c t o s e im p a c t o s a m b ie n t a is
Os impactos são norm alm ente descritos por meio de enunciados sintéticos, como os
seguintes exemplos de impactos u sualm en te encontrados na construção de barragens:
perda e alteração de hábitats devido ao enchim ento do reservatório;
$ perda de anim ais por afogam ento;
$ proliferação de vetores;
$ destruição de elementos do patrim ônio espeleológico;
% desaparecim ento de locais de encontro da com unidade local;
$ perda de terras agrícolas;
$ aum ento da arrecadação tributária m unicipal;
^ aum ento da dem an da de bens e serviços.
011TO
ja ç ã o de Impacto A m biental: conceitos e métodos
# descrever o sentido das alterações (perda de..., destruição de..., redução de...,
aumento de..., risco de...).
Nesse processo, vão surgindo peculiaridades locais que poderiam não ter ficado
evidentes durante a identificação preliminar. Por exemplo, em um a região carbonífera
CAPITU
I d e n t i f i c a ç ã o de I m p a ^ 193
Este último impacto decorre do efeito de sombra devido à construção de pilha de estéreis
(rochas que não contêm carvão), com conseqüências para a agricultura, j á que na lati
tude de 44°, a b aixa altura do sol sobre 0 horizonte durante os meses de inverno reduz
a insolação dos terrenos agrícolas, que passariam a ficar situados na sombra da pilha.
Neste caso, 0 EIA concluiu que culturas situadas a menos de 70 m da borda da pilha
poderiam ter perda de rendim ento devido à sombra, pela menor tem peratura e maior
ocorrência de geadas decorrentes (esse é um exemplo de previsão da m agnitude de um
impacto e tam bém de determ inação de área de influência do mesmo).
0 TO
ação de Impacto A m biental: conceitos e métodos
CAPÍTU LO
I d e n t if ic a ç ã o de I m p a 195
OüTO
ação de Im pacto A m b ie n ta l: conceitos e m étodos
: - Z7GS Fa s e Fase Fa s e
R e d u çã o d a p re ssã o s o b re a in fr a e s tr u tu r a de sa ú d e
Perda e fra g m e n ta ç ã o de c e rc a de 4 3 0 h a de á re a s co m v e g e ta ç ã o n a tiv a e de
h á b ita ts d a fa u n a te rre s tre
D im in u iç ã o da d iv e rs id a d e da fa u n a te rre s tre
A u m e n t o das a tiv id a d e s de caça e d im in u iç ã o das p o p u la ç õ e s das espécies
c in e g é tic a s
M o d ific a ç ã o d a c o m p o s iç ã o das c o m u n id a d e s b io ló g ic a s a q u á tic a s n a tiv a s
na s b a c ia s re c e p to ra s
R isco de re d u ç ã o d a b io d iv e rs id a d e das c o m u n id a d e s b io ló g ic a s a q u á tic a s
n a tiv a s n a s b a c ia s re c e p to ra s
C o m p r o m e t im e n t o do c o n h e c im e n t o da h is tó ria b io g e o g rá fic a dos g ru p o s
b io ló g ic o s a q u á tic o s n a tiv o s
R isco de in tro d u ç ã o de espécies de p e ix e s p o te n c ia lm e n te d a n in h a s ao h o m e m
n a s b a c ia s re c e p to ra s v
In te rfe rê n c ia s o b re a p e sca n o s a çu d e s re c e p to re s
Risco de p r o life ra ç ã o de v e to re s
O c o rrê n c ia de a c id e n te s c o m a n im a is p e ç o n h e n to s
In s ta b iliz a ç ã o de e n c o s ta s m a r g in a is dos c o rp o s d 'á g u a
In ício ou a c e le ra ç ã o de processos erosivos e c a r r e a m e n to de s e d im e n to s
M o d ific a ç ã o do re g im e flu v ia l da s d re n a g e n s re c e p to ra s
A lte r a ç ã o do c o m p o r t a m e n t o h id r o s s e d im e n to ló g ic o dos c o rp o s d 'á g u a
Risco de e u tr o fiz a ç ã o dos n o vo s re s e rv a tó rio s
M e lh o ria da q u a lid a d e d a á g u a n a s b a c ia s re c e p to ra s
A u m e n t o da recarga flu v ia l dos a q ü ífe ro s
In ício ou a c e le ra ç ã o dos processos de d e s e rtific a ç ã o
M o d if ic a ç ã o do re g im e f lu v ia l do rio São Francisco
R edu ção da g e ra ç ã o de e n e rg ia e lé tric a no rio São Francisco
D im in u iç ã o de re ce ita s m u n ic ip a is
N o ta : Os im p a c to s m ais re le va n te s estão em itá lic o . F onte: a d a p ta d o de E co lo g y B rasil, A grar, JP M e io A m b ie n te , R im a P ro je to de
In te g ra ç ã o do Rio São Francisco com B acias F lid ro g rá fic a s do N o rd e ste S e te n trio n a l, 2 0 0 4 .
8 .4 I m p a c t o s c u m u l a t iv o s
Impactos cum ulativos ou acum ulativos são aqueles que se acum ulam no tempo
ou no espaço, resultando de um a combinação de efeitos decorrentes de um a ou
diversas ações. Uma série de impactos insignificantes pode resultar em significativa
degradação ambiental se concentrados espacialmente ou caso se sucedam no tempo.
capítu!!9 H IIIH [H ÍH |
Identificação de I mpa
Q u a d r o 8 . 8 Im p a c to s a m b ie n ta is de u m p ro je to de p ro d u ç ã o de p e tró le o e g á s n a p la ta fo rm a c o n tin e n ta l
Im pacto s s o b r e o m e io f ís ic o - b ió t ic o
Q u a d r o 8 . 8 Im p a c to s a m b ie n ta is de um p ro je to de p ro d u ç ã o de p e tró le o e gá s n a p la ta fo rm a c o n tin e n ta l
Im pacto s s o b r e o m e io f ís ic o - b ió t ic o
0
liação de Im pacto A m b ie n ta l: conceitos e m étodos
A Resolução Conama 1/86 determ ina que a análise dos impactos inclua suas “proprie
dades cum ulativas e sinérgicas” (Art. 6o, II). A consideração dos impactos cum ulativos
tam bém é requerida pelas regulam entações am ericana e canadense, entre outras. 0
regulam ento da Nepa define impacto cum ulativo como
[...] o impacto que resulta do impacto incrementai da ação [em análise] quando
acrescida de outras ações passadas e presentes e de ações futuras razoavelmente
previsíveis, independentemente de qual agência (Federal ou não) ou pessoa
execute tais ações. Impactos cumulativos podem resultar de ações individual
mente pequenas, mas coletivamente significativas que ocorram em um período de
tempo [Seção 1508.7].
Por sua vez, a lei canadense de avaliação am biental estabelece que os estudos
am bientais devem considerar:
capítuI sH ^H H H H I
I dentificação de I mpa
As conseqüências de ações passadas podem, até certo ponto, ser detectadas por meio
dos estudos de base (que descrevem a situação am biental no m omento de preparação
do EIA), assim como aquelas decorrentes de “outras ações presentes”, mas “ações
f u tu r a s ” são raram en te do conhecim ento do proponente de um projeto privado,
em bora possam ser do conhecim ento do órgão am biental, caso este ten h a recebido
pedidos de licenciam ento de outros projetos situados na mesma área. Assim, em 2002,
o D epartam ento de Avaliação de Impacto A m biental (Daia), da Secretaria do Meio
Am biente do Estado de São Paulo, tin h a em análise, ou recentem ente licenciados,
nada m enos que dezessete em preendim entos localizados na área do porto de Santos,
a m aioria de novos term in a is de cargas. Por ser o único órgão que d isp u n h a de tal
inform ação, som ente o Daia poderia fazer algum a análise que levasse em conta o
acúm ulo de impactos.
Mesmo as co n seq ü ên cias das ações p assad as e presentes sobre a qualidade atu al do
am biente não são u su a lm e n te consideradas nos EIAs, cujos d iag n ó stico s ten dem a
ser descritivos e ra ra m e n te a n a lis a m com alg u m a p ro fu n d id a d e os processos que
le v a ra m à situação neles descrita. McCold e S a u lsb u ry (1996, p. 767) a rg u m e n ta m
que “u s a r o am biente a tu a l como lin h a de base não é apropriado p a ra a avaliação de
im pactos cu m u lativ o s, porque os efeitos das ações p assad as e p resentes são vistos
como p a rte das condições ex isten tes e não como fatores que c o n trib u íra m p a ra
im pactos c u m u la tiv o s”.
TO
I
liação de Im pacto A m b ie ntal: conceitos e métodos
cional ou mesmo legal (acesso a informação de agentes privados), o que leva autores
como Kennet (2000) a argum entar que há limites inerentes ao processo de AIA no
que tange ao tratam ento de impactos cumulativos, e que um a gestão efetiva de efeitos
cumulativos deve ir além do “paradigma da avaliação ambiental” e avançar para o
campo da regulação do uso do solo e da gestão integrada de recursos. Já o segundo
tipo de problemas pode ser resolvido ou minimizado se a identificação de impactos
cumulativos for vista como um a necessidade durante a etapa de identificação de im
pactos potenciais de um projeto. Smith e Spaling (1995, p. 82) sugerem que os métodos
de avaliação de impactos cumulativos geralmente sigam um modelo causai que con
siste de três componentes:
# identificação de fontes de mudanças ambientais cumulativas, que podem ser
distintos tipos de atividades;
# identificação dos caminhos ou processos de acumulação, considerando que
m udanças ambientais acum ulam -se no tempo e no espaço de modo aditivo
ou interativo;
# desenvolvimento de uma tipologia de efeitos cumulativos, considerando que as
mudanças podem ser diferenciadas, em geral de acordo com atributos temporais
ou espaciais. v
Esse esquema não difere, em essência, dos procedimentos que podem ser usados
para identificar impactos ambientais, independentemente de sua cumulaíividade,
conforme será visto na seção seguinte. Cumulatividade e sinergismo referem-se,
respectivamente, à possibilidade de os impactos se somarem ou se multiplicarem.
Para McDonald (2000, p. 299), o caráter aditivo ou cumulativo dos impactos ambien
tais é bem mais comum que o sinergístico; este ocorre quando a ação combinada de
substâncias químicas é maior que a soma dos efeitos individuais, sobre os seres vivos,
dessas substâncias (Moreira, 1992), embora “respostas não-lineares” também possam
ser vistas como um tipo de sinergismo4.
4Segundo McDonald
(2000), o aum ento
da carga de
Uma maneira prática de identificar impactos cumulativos é ordenar uma relação de
sedim entos em rios projetos localizados como exemplificado no Quadro 8.9. É preciso definir, de antemão,
situados em regiões qual a área de abrangência do estudo para que se possa identificar outras atividades
de clima temperado ou projetos cujos impactos possam se acumular aos impactos do projeto em análise.
pode resultar em Esse recorte espacial poderá ser diferente para distintos tipos de impactos.
efeitos deletérios
sobre a população
de peixes que não 8 .5 F e r r a m e n t a s —
são associados de Induzir e/ou deduzir quais serão as conseqüências de uma determinada ação é um a
modo linear à carga das primeiras tarefas do analista ambiental. Felizmente isso pode ser feito a partir de
de sedimentos. Ou
um certo patamar, pois a equipe multidisciplinar pode contar com conhecimento já
seja, ao se buscar
correlacionar a acumulado e sistematizado, assim como buscar analogias em casos similares.
carga de sedim entos
com a população de Há diversos tipos de ferramentas utilizáveis para auxiliar uma equipe na tarefa de
determ inada espécie, identificar os impactos ambientais. Tais instrumentos foram desenvolvidos para
os estoques podem
facilitar o trabalho dos analistas, mas não se trata de “pacotes” acabados. São, na
d im in u ir mais
rapidam ente do que verdade, métodos de trabalho cuja aplicação demanda (i) um razoável domínio dos
o incremento da conceitos subjacentes; (ii) um a compreensão detalhada do projeto analisado e de todos
carga de sedimentos. os seus componentes; e (iii) um razoável entendimento da dinâmica socioambiental
CAPÍTUÍ LO
IDENTIFICAÇÃO DE i M P A l f i M 201
Im p a c to 1
Im p a c to 2 S im S im In d ú s tria de C a n a v ia l R o d o via S im Impacto potencial
degradação direto, outras fe r tiliz a n te s queimadas emissões aumento mente significativo
da qualidade negativo, fontes emissões duas vezes de NOx, das emissões Estudo requer
do ar significativo industriais de F, S02, ao ano CO, HC, de NOx, MP modelagem de
e atividade MP emissões de S02, MP dispersão
agrícola MP, CO,
NOx
Im p a c to n
Fonte: m odificado de Senner e t al. (2002).
do local ou região potencialm ente afetada. Dito de outra forma, para um a boa iden
tificação de impactos é necessário que haja colaboração entre os membros de um a
equipe m ultidisciplinar que inclua cientistas naturais e sociais, assim como enge
nheiros ou outros técnicos que tenham um bom conhecimento do projeto ou do tip.o
de empreendimento analisado.
L is t a s de v e r if ic a ç ã o
Listas de verificação (checklists) são instrum entos bastante práticos e fáceis de usar.
Há diferentes tipos de listas. A lgum as arrolam os impactos mais comuns associados
a certos tipos de empreendimentos, como aquelas incluídas no Livro de Consulta
sobre Avaliação A m biental do Banco Mundial e suas atualizações5, que traz listas dos 5A edição original é
impactos ambientais mais comuns associados a um a grande variedade de projetos. World Bank (1991a,
1991b, 1991c). As
Outras listas indicam os eletfientos ou fatores ambientais potencialmente afetados
atualizações foram
por determinados tipos de projetos, como as indicadas por Fernández-Vítora (2000). feitas na forma de
Um exemplo de lista detalhada de elementos ou fatores ambientais é apresentado no folhetos temáticos,
Quadro 8.10. Essa lista, preparada quando da introdução das exigências de AIA na impressos sob
África do Sul (Department of Environm ental Affairs, 1992), traz nada menos que a denominação
Environmental
328 itens ou características que podem ser afetadas por um projeto ou que podem
Assessment
representar algum a forma de restrição ao mesmo. 0 elevado número explica-se por se Sourcebook
tra ta r de um a lista genérica, não voltada para um a determ inada categoria de projetos. Updates.
Naturalm ente, as características listadas foram selecionadas levando em considera
ção o perfil social e ambiental do País. Para o quadro, foram selecionados alguns
itens relativos a características socioeconômicas, ao uso do solo e aos ecossistemas.
ambiental sejam próximas, não são coincidentes, pois efeito ambiental refere-se a pro
cessos ambientais, ao passo que aspecto ambiental refere-se a atividades, ou processos
tecnológicos. Com a difusão das normas ISO, o termo e o conceito aspecto ambiental
tornam -se cada vez mais conhecidos,
d e ix a n d o a n o ç ã o de efeito ambiental em
Q u a d r o 8 .1 0 E x tra to de lis ta de v e rific a ç ã o de c a ra c te rís tic a s
a m b ie n ta is posição secundária. Os Quadros 8.13 e
8.14 trazem listas similares de impactos
0 p ro je to p ro p o s to poderia te r um im p a c to s ig n ific a tiv o ou poderia
ambientais e de efeitos e aspectos típicos
so fre r a lg u m a restriçã o em relação a a lg u n s dos itens seguintes?
de obras rodoviárias.
6 . C a r a c t e r ís t ic a s s o c io e c o n ô m i c a s do p ú b l ic o a f e t a d o
6.2 S itu a ç ã o e c o n ô m ic a e e m p re g a tíc ia dos gru p o s sociais a fe ta d o s
Canter (1996, p. 87) comenta que lis
Base e co n ô m ic a da área
tas de verificação eram amplamente
D is trib u iç ã o de renda
utilizadas nos Estados Unidos nos pri
In d ú stria local
meiros anos da prática da avaliação de
Taxa e escala de c re s c im e n to do e m p re g o
impacto ambiental, quando vários órgãos
Fuga de m ão de obra dos em preg os a tu a is
governamentais publicaram tais lis
A tra ç ã o de m ão de obra de o u tro s locais
tas. Embora amplamente disponíveis na
P erm anência de pessoas de fo ra após o té r m in o das obras
literatura técnica ou em guias divulga
O p o rtu n id a d e s de tra b a lh o para recém -egressos de escolas
dos por órgãos ambientais, poucas vezes
Tendências de dese m p re go de c u rto e lo n g o prazo
pode-se utilizar uma lista de verificação
6.3 B e m -e s ta r
sem introduzir correções ou adaptações,
In c id ê n c ia de crim e, abuso de drogas ou v io lê n c ia
seja devido às características do proje
N ú m e ro de pessoas s e m - te to
to, seja por causa de condições do meio
A d e q u a ç ã o dos serviços p ú b lic o s
ambiente que não estão adequadamente
A d e q u a ç ã o de serviços sociais c o m o creches e ab rig o s para
c rianças de rua
descritas nas listas preexistentes. Todas
Q u a lid a d e de vida essas listas são genéricas, descrevem
impactos por categorias de projeto e não
4 . USO ATUAL E POTENCIAL DO SOLO E CARACTERÍSTICAS DA PAISAGEM
projetos individuais. São úteis para um a
4.1 C onsiderações gerais aplicáveis a to d o s os p ro je to s
primeira aproximação à identificação
C o m p a tib ilid a d e de usos do solo na área
dos impactos de um projeto específico,
Q ua lid a d e estética da paisagem
principalmente se a equipe não tiver ex
S e n tid o de lu g a r
periência prévia com o tipo de projeto em
Preservação de vistas cênicas e feições va lo riza d a s
análise. Porém, os impactos não são cor
R e vitaliza ção de áreas degradadas
relacionados às suas causas e, tanto para
Necessidade de z o n a s -ta m p ã o para processos n a tu ra is co m o
um a correta análise dos impactos como
erosão costeira, m o v im e n to de dunas e m u d a n ç a s em canais
flu v ia is etc. para comunicar aos leitores do EIA os re
3 . C a r a c t e r ís t ic a s e c o l ó g ic a s d o lo c a l e e n t o r n o
sultados dessa análise, a apresentação de
3.3 C o m u n id a d e s n a tu ra is e s e m in a tu ra is
um a simples lista não satisfaz.
Im p o rtâ n c ia local, regional ou n a cio n a l das c o m u n id a d e s
n a tu ra is (por exem plo, e c o n ô m ic a , c ie n tífic a , c onse rva cionista, M a t r iz e s
e d u ca tiva ) Outra das ferramentas comuns para iden
F u n c io n a m e n to e c o ló g ic o de c o m u n id a d e s n a tu ra is de vido à tificação dos impactos é a matriz. Apesar
d e s tru iç ã o física do h á b ita t, redução do ta m a n h o da c o m u n id a d e , do nome sugerir um operador m ate
q u a lid a d e do flu x o da água subterrâne a, presença ou in tro d u ç ã o mático, as matrizes de identificação de
de espécies e xó tica s invasoras, barreiras ao m o v im e n to ou m i impactos têm esse nome somente devido
gração de a n im a is etc. à sua forma. Na verdade, um a matriz é
Fonte: D epartm ent o f Environm ental A ffa irs (1992). composta de duas listas, dispostas na
CAPITU
Identificação de Impa ^ o t 203
Uma das prim eiras ferram entas no formato de m atrizes propostas para avaliação
de impacto am biental data de 1971 e resulta do trabalho de Leopold et al. (1971), do
0
iiação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
CAPITU
I d e n t if ic a ç ã o d e I m p a
Interferência sobre processos bióticos nos corpos cTágua (e.g. ciclagem de nutrientes)
Soterramento de comunidades bentônicas
Criação de ambientes lênticos
S obre o m e io a n t r ó p ic o
Geração de ruído
Drenagem de águas pluviais
Geração de resíduos sólidos
Risco de poluição da água e do solo com substâncias químicas
Perturbação e afugentamento da fauna (efeito evitação)
Bloqueio ou restrição de movimento através da rodovia (efeito barreira)
Interferência com caminhos e passagens preexistentes
Aumento do tráfego nas vias interconectadas
Adensamento da ocupação nas margens e área de influência
recordação do amplo espectro de ações e impactos ambientais que podem estar relacio
nados às ações propostas”. A matriz tam bém teria um a função de comunicação, pois
serviria como “um resumo do texto da avaliação ambiental” e possibilitaria que “os
vários leitores dos estudos de impacto determinem rapidamente quais são os impactos
considerados significativos e sua importância relativa” (Leopold et al., 1971, p. 1).
Uma das críticas mais usuais à matriz de Leopold e suas congêneres é que representam
o meio ambiente como um conjunto de com partim entos que não se inter-relacionam.
ação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
Desativação e demolição
Preparação dos acessos
Transporte e circulação
Transporte e circulação
Remoção da vegetação
: W ^
s 33 § Espaço agrícola
-C ■ Fig. 1.1 pode ser consultada para um a ■
Espaço flo re s ta l :• :
cn
03 Elem ento p a rtic u la r A Fig. 8.10 mostra outra matriz de identi
da paisagem i : * *ÍV
■£
CL | ■
CAPITU
I d e n t i f ic a ç ã o d e I m p a w t í M 207
Processos erosivos e a s s o re a m e n to
Ecossistemas a q u á tic o s
Características do so lo
cadeia alim entar - como a m atriz em
Tráfego de ve ícu lo s
Pequena in te rfe rê n c ia 03
Produção a g ríco la
Finanças p ú b lica s
“O
Ambiente so n o ro
si não explica tudo isso, a identifica
Qualidade do ar
V e g e ta çã o
“O
meios enunciados apropriados. 03
“D
Relevo
A ções c o m p o n e n te s do ”03
zs
e m p re e n d im e n to a
Uma outra variação é m ostrada na
D iv u lg a ç ã o do e m p re e n d im e n to ju n t o
Fig. 8.11, na qual cada interação é à p o p u la ç ã o local
classificada segundo dois critérios: N e g o c ia çã o de a co rd o s v is a n d o a
a n atu reza do impacto (benéfico ou in d e n iz a ç ã o i
P a g a m e n to das in d e n iza çõ e s
adverso) e um a apreciação subjeti
C o n tra ta ç ã o de serviços de e x tra ç ã o e
va da possibilidade de ocorrência tra n s p o rte de m in é rio
de cada impacto apontado. Esse Serviços de m elhoria nas estradas
é um problema com um e n fre n ta vicinais
do na identificação p relim in ar dos R em oção da c o b e rtu ra v e g e ta l
Im p la n ta ç ã o de siste m a de d re n a g e m
impactos: algu m as conseqüências
Remoção da camada superficial de solo
são certas, mas há grand e dose de E stocagem da ca m a d a de solo
incerteza sobre m uitos impactos, R em oção do c a p e a m e n to e sté ril
que poderão ou não ocorrer. Nessa
matriz, preparada para um relatório
ambiental p relim in ar de um term in al
E xtra çã o do m in é rio p o r escavação
m e câ n ica
C a rre g a m e n to em c a m in h õ e s
1 l
b a s c u la n te s
portuário, há u m a indicação sobre T ra n sp o rte ro d o v iá rio a té a fá b ric a
tal probabilidade. Essa indicação é de a lu m ín io
U
qualquer forma, nesta fase de iden P a g a m e n to de royalties aos
tificação prelim inar, é conveniente p ro p rie tá rio s
Remodelagem da superfície top o g rá fica
apontar o m aior núm ero possível de
Reposição da cam ada superficial de solo
impactos, inclusive aqueles de b aix a
orobabilidade de ocorrência. Fig. 8.10 M a triz de id e n tific a ç ã o de im pactos am bientais. Pequena m ineração
de b a u xita
Um tipo diferente de m atriz é Fonte: P rom iner Projetos S/C Ltda. EIA M inas de B auxita de D ivinolândia. C d. Ce
organizado de modo a m ostrar ra I de M inas, 2001.
'ação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
Ecossistema te rrestre/restin g a
Clima/qualidade do ar/ruíd o
Geologia/recursos m inerais
de ações e um a lista de elementos e/ou
Patrimônio paisagístico
Ecossistema aquático
um a lista de ações (a mesma) e um a lista
Recursos hídricos
Porto de Santos
dos impactos, podendo-se então apontar
Economia local
N atureza do impacto
P (positivo) N (negativo) quais os impactos causados por cada
Possibilidade de ocorrência ação. Essa abordagem pressupõe um
C (certa) - Pr (provável) - In (incerta) entendim ento prévio, anterior, sobre as
P P interações projeto x meio. Na verdade,
Recrutam ento de mão de obra
C C em um EIA pode-se empregar os dois ti
Im plantação e operação do canteiro N N N N/P N P
pos de matriz: primeiro um a matriz ações
de obras e instalações provisórias Pr C Pr Pr Pr Pr
N N N N N N N N x elementos/processos ambientais para
Desm atam ento e limpeza do terreno
Pr Pr C C Pr In C Pr identificar as interações entre o projeto e
Utilização de áreas de N P N N N o me«io, e depois um a m atriz ações x im
em préstim o/jazidas minerais Pr C In In In
pactos para m ostrar as relações de causa
% B ota-fora do m aterial de limpeza N N N N N
£ do terreno e do entulho das obras Pr In In In In e efeito. A Fig. 8.12 mostra um exemplo
B5B
s Im plantação de diques periféricos
N N N de m atriz deste último tipo, e x tra í
Pr Pr Pr do de um estudo de impacto ambiental
<0 Execução de dragagem na área N N
Pr
feito para um a usina hidrelétrica. As
u? entre o canal e o cais Pr
N N colunas indicam os nove impactos sobre
Execução do aterro hidráulico
Pr Pr o meio biótico identificados nesse estudo
B ota-fora do m aterial de N N P
e a matriz m ostra a correlação com as
dragagem não aproveitável Pr Pr C
Im plantação das obras civis N P P atividades do projeto, aqui denom inadas
(cais, pavim. armazéns, tancagem ) Pr C Pr “fatores geradores”.
Dispensa de mão de obra da N N
construção civil C C
No exemplo mostrado na Fig. 8.13,
Fig. 8.11 E xtra to de "m a triz de interação de im pactos", fase de im plantação além das ações e dos impactos, a matriz
de um te rm in a l p o rtu á rio . Fonte: Equipe Umah. RAF Term inal P ortuário do m ostra os m ecanism os por meio dos
Rio Sandi, Empresa Brasileira de Terminais P ortuários S.A., 2000. (N ota: quais eles ocorrem. Ela é composta de
foram extraídas apenas as atividades p e rtine ntes à fase de im plantação dois campos: o da esquerda m ostra as
e listados apenas os respectivos com ponentes am bientais potencialm ente
interações entre ações tecnológicas e
afetados).
processos ambientais, gerando efeitos
am bientais (no sentido proposto por
M unn, 1975); à direita mostra-se, p ara cada efeito, os impactos possíveis. Neste caso,
o meio ambiente não é representado por um a somatória de compartimentos, mas por
processos selecionados em função da influência que as ações podem ter sobre eles.
CAPÍTU LO
I d e n t if ic a ç ã o de I m p a 209
Proliferação de vetores
animais (caça e pesca)
dos aspectos e impactos ambientais mais
significativos.
ícticas à jusante
A Fig. 8.13 difere da Fig. 8.14 apenas
em termos conceituais, naquilo que
concerne à noção de aspecto ambiental Fatores geradores
Divulgação
e à de efeito ambiental. O recurso a ^
Aquisição de terras e
qualquer um desses conceitos é um ■“ benfeitorias
cam inho possível para identificar 2 Recrutamento e contratação
impactos, assim como a busca de rela B de mão de obra
4-*
’™ Exploração de fontes de
de m atriz apresentado na Fig. 8.14 tem ‘ü materiais de empréstimo
potencial de aplicação como ferram enta o. Execução das obras civis
CO
integradora entre a AIA e o SGA. Deposição de material
° excedente em bota-foras
CO
0 Montagem eletromeeânica
D i a g r a m a s de i n t e r a ç ã o ' ICO
Implantação de linha de
Jg
insumos
por meio do qual, a p artir de um a ação,
.0 Desocupação da área a ser
inferem-se seus possíveis impactos am •2 -o submersa
bientais. As Figs. 8.15 a 8.18 mostram - i B Desmatamento e limpeza da
esquemas chamados de diagram as ou «3 área de inundação
L JJ . O ,
Enchimento
redes de interação, que indicam as re
0 Dispensa
?m 1 de mão de obra
lações seqüenciais de causa e efeito O-
<3 Desmobilização do canteiro
(cadeias de impacto) a partir de um a ação de alojamentos
impactante. Na Fig. 8.15 observam-se as ü Retirada de materiais e
q equipamentos
diferentes conseqüências do processo
° ro Operação da usina
de urbanização sobre o processo de O
§ = Fiscalização/manutenção da
escoamento de águas superficiais. A 0 -S faixa de segurança
urbanização tam bém causa outras modi
ficações ambientais, sobre o microclima, Fig. 8.12 E xtrato de "m atriz de identificação de im pactos nom eio biótico".
sobre a fauna e sobre outros processos e Fonte: m odificado de CNEC. EIA da Usina H idrelétrica Piraju, São Paulo, p re
componentes ambientais. Assim, outras parado para a CBA, 1998.
relações poderiam ser acrescentadas
a esse diagrama. A Fig. 8.16 mostra os
efeitos, para o sistema público de saúde, da implantação de um grande projeto que
atraia mão de obra e induza fluxos migratórios. 0 aumento da população local e a
0
liação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
Beneficiamento do m in é rio
Abastecimento de insum os
Aumento da arrecadação
Construção de barragens
tz
Remoção da vegetação lo
Alteração da qualidade
Desconforto a m b ie n ta l
Estocagem de insum os
o <u
Expedição de produtos
Destruição de h á b ita ts
Incremento co m ercial
£ E
CD
X) CO
"O c- O
Lavra do m in é rio ™ wV, 4-*
U
-O
Impacto visual
In fra e s tru tu ra
> CL CD
CL
< n J E
das águas
a q u á tico s
terrestres
trib u tá ria
anim ais
Efeitos a m b i e n t a i s ^ ^
A lte ra çã o da to p o g ra fia
Geração de resíduos sólidos
Geração de e flu e n te s líquidos
A u m e n to da erosão
A u m e n to do assoream ento
Geração de ruídos
A lte raçã o do nível fre á tic o
Geração de poluentes
a tm osfé rico s
Alteração características do solo *
Supressão da vegetação e
h á b ita ts
Dem anda de bens e serviços
Geração de im postos
Tráfego de cam inhões
As figuras representam situações simples, enquanto um projeto real teria várias ações
originando impactos ambientais, de forma que as redes podem resultar em figuras
extremamente complexas e de difícil compreensão. Uma vantagem, contudo, é que
tais redes permitem um bom entendimento das relações entre as ações e os impactos
resultantes, sejam eles diretos ou indiretos, enquanto as matrizes dividem o meio
ambiente em compartimentos estanques, dificultando o entendimento da relação
entre as partes. Os diagramas de interação também possibilitam evidenciar impactos
indiretos de segunda e terceira ordem, e assim sucessivamente, sem limite.
Uma limitação das redes de interação é sua capacidade restrita de representar adequa
damente sistemas complexos caracterizados por relações não lineares de causalidade
e retroalimentações múltiplas. Os exemplos das Figs. 8.15 a 8.17 mostram situações
que, além de lineares e relativamente simples, podem ser delimitadas espacialmente.
Quando se trata de processos sociais e mesmo de muitos processos ecológicos, as
redes de interação podem acarretar uma simplificação exagerada das interações. Um
exemplo extraído de um EIA é mostrado na Fig. 8.18.
tl1 1Atividades/instalações Impactos ambientais
§ *p
r-* f.
Transporte equipamentos/insumos
H> 00
LO ^
Deterioração da qualidade do ar
Redução da disponibilidade
Crescimento da população
Redução do nível de água
<"*h
Disseminação de doenças
Aumento da demanda de
Aspecto não significativo
Degradação do ambiente
Perda líquida de hábitats
Incômodo e desconforto
Escavação a céu aberto
("D N*
Tratamento de minério
Contaminação do solo
Disposição de estéreis
Disposição de rejeitos
cl
n>
águas subterrâneas
águas da superfície
Q Classificação de impactos
Conjunto da mina
Serviços de apoio
o
serviços públicos
2T Sj
3' >n 9 Impacto muito importante
Impacto visual
+ Impacto pouco importante
subterrânea
infecciosas
kJ 3S
construído
aquáticos
r ~ > O
de água
cR '“O
Q
K
Q?
- 5
Aspectos
nCL>
Q A A mA ■ Degradação do solo • $ •
"o
o
n> □ A A Uso p e r c j a de vegetação 9 • •
o ,tArfa .r A A do solo Restrições de uso © o
LO /A A
H) ■ Alteração da topografia 9
-•w
A .. ^ Vazamentos área da mina ■ 4= M$K
"O mciaenies ..
Q
O
A Vazamentos externos • • • ❖
O m M atérias-prim as •
L0
Q □ ■ , sumo Produtos manufaturados •
3
cr A ■ A A
UC I C C U I j U j _
Energia •
r5
:s* A Consumo
§
Agua subterrânea +
f-h ----
Q A A de água Águas superficiais • +
Cò'
A A Emissões Fontes pontuais í ti • © _
*• e> '*
J
8.15 Diagrama de interação indicando as In te n sifica çã o dos
nsequências do processo de urbanização sobre processos erosivos
processos de escoamento das águas superficiais
i
* . , . A u m e n to da q u a n tid a d e
A u m e n to do ca rre a m e n to . , , *,• , M e n o r incidência de luz
, i de partícu la s sólidas
de partícu la s sólidas r solar na coluna d ’água
em suspensão na agua
4
M e n o r produção prim á ria
Deposição de partículas
4
sólidas em cursos d'água
Redução do z o o p lâ n cto n
i 4
S o te rra m e n to de Redução da população
A ssoream ento --------'
com u n id a d e s ben tô n ica s de peixes
1
A u m e n to da fre q u ê n cia e
in tensidade das inundações
CAPÍTU LO
por ou para agências governamentais
americanas, como o Serviço Florestal
(.Forest Service), o Serviço de Pesca e
Vida Selvagem (Fish and Wildlife Ser
vice), o Serviço de Parques Nacionais
(National Parks Service) ou o Depar
tamento de Gestão de Terras Públicas
(Bureau ofLand Management), que lidam
com grandes quantidades de projetos6. Os
três tipos de utensílios expostos nesta se
ção não esgotam a caixa de ferramentas
do analista de impactos ambientais.
0 TO
ilação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
8 .6 C o e r ê n c i a e in t e g r a ç ã o
Um dos desafios da prática da AIA é lograr uma integração das diversas ferramentas
e procedimentos analíticos usados para investigar os processos e os efeitos das intera
ções entre as ações hum anas e os processos naturais e sociais. Métodos desenvolvidos
no âmbito de um a disciplina podem ser eficazes para fornecer explicações plausíveis
dentro de seu campo de investigação, mas nem sempre se consegue estabelecer a
necessária comunicação com outros campos do conhecimento.
Um caminho de integração foi proposto por Slootweg, Vanclay e van Schooten (2001),
utilizando o conceito de “funções da natureza” e dos recursos naturais para servir
às necessidades da sociedade hum ana. Tal conceito foi elaborado por de Groot (1992),
que agrupa as funções em quatro classes:
(1) Funções de produção: suprir a sociedade de recursos naturais, seja como pro
vedora direta (e.g. recursos pesqueiros, combustíveis fósseis), seja como fonte de
recursos manejados pelo homem (e.g., por meio da agricultura).
(2) Funções de regulação: relativas à manutenção do equilíbrio dinâmico dos pro
cessos da biosfera (e.g., captação de carbono, regulação do fluxo hídrico).
(3) Funções de suporte: desempenhadas pelo espaço geográfico como o território
onde se assenta a sociedade; na medida em que são as condições ambientais de
cada porção do território que o tornam mais ou menos adequado para determi
nados usos.
7Slootweg, (4) Funções de informação7: decorrentes do significado que a sociedade atribui à
Vanclay e van natureza ou a certos componentes da paisagem, por sua vez associados a valores
Schooten (2001) culturais de raiz histórica, espiritual ou psicológica, entre outras.
as redenominam
de funções de Nessa perspectiva, a natureza desempenha inúmeras funções, como:
significação.
v> regulação do clima local e global;
regulação do escoamento hídrico superficial e prevenção de inundações;
9SÍ fixação de energia solar e produção de biomassa;
-L V *
CAPITU
I d e n t if ic a ç ã o de I m p a
Slootweg (2005, p. 38) lembra que identificar as funções dos ecossistemas é uma
das diretrizes da cham ada “abordagem ecossistêmica” (ecosystem aproach), enten
dida como “um a estratégia para a gestão integrada do solo, da água e dos recursos
vivos que promova a conservação e o uso sustentável dos recursos de um a m aneira
equitativa”. Outros cam inhos para integração foram propostos por outros autores.
Independentemente do método de trabalho e dos procedimentos empregados para
identificar impactos, é im pqrtante que esta tarefa seja executada de modo rigoroso e
com um a perspectiva multidisciplinar.
8.7. S ín te s e
Para realizar um a identificação apropriada dos prováveis impactos ambientais, há dois
requisitos: (i) o entendimento do projeto (ou plano ou programa) proposto e (ii) um re
conhecimento das principais características do ambiente afetado. Para identificação
prelim inar de impactos ambientais, não é necessário dispor de um conhecimento
detalhado do ambiente potencialm ente afetado. Na verdade, são os impactos que
podem advir das atividades de planejamento, implantação, funcionam ento ou desa
tivação do projeto, plano ou program a analisado que nortearão o prosseguimento do
estudo, ao indicar que tipo de informação sobre o ambiente afetado será necessária
para prever a m agnitude dos impactos, avaliar sua im portância e propor medidas
de gestão com a finalidade de evitar, reduzir ou com pensar os impactos adversos e
m ax im izar os benéficos.
CAPITU
liação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
9.1 F u n d a m e n t o s
Como podem ser definidos os estudos de base? Uma definição genérica é a seguinte:
Levantamentos acerca de alguns componentes e processos selecionados do meio
ambiente que podem ser afetados pela proposta (projeto, plano, programa, política)
em análise.
Esta definição é bem ampla, mas insiste no princípio de que os estudos de base
não podem ser entendidos como qualquer acumulação de informações disponíveis;
antes, devem ter um foco em “componentes e processos selecionados” que possam ser
afetados pela proposta em estudo. Logo, trata-se de coletar e organizar informação
(ou seja, compilar informações existentes ou produzir nova informação) selecionada,
para atender às funções dos estudos de base dentro do EIA.
LO
E s t u d o s de B a s e e D ia g n ó s t ic o A m b
Na prática é raro que um estudo de impacto ambiental atinja esse nível de sofistica
ção, mas o princípio de que a descrição da situação atual deveria tornar possível uma
comparação com a situação depois de implantação do empreendimento é coerente
com o conceito de impacto ambiental da Fig. 1.5.
Logo, os estudos de base não podem se limitar a uma descrição, por mais rigorosa,
completa ou detalhada que seja; seu objetivo não é apenas possibilitar comparações
multitemporais, mas também, e principalmente, permitir que os analistas ambientais <£
façam previsões cientificamente bem fundamentadas sobre a provável situação futura.
NO)
ação ae Impacto Ambiental: conceitos e métodos
O conceito de estudos de base proposto por Beanlands e Duinker (1983) tem outro
ponto importante: aborda componentes ambientais selecionados ou, em outras pa
lavras, componentes valorizados do ecossistema (valued ecosystem components).
Esses autores colocam-se decisivamente contra a abordagem exaustiva, defendendo
a necessidade de elaborar-se um a estratégia para os estudos de base que sejam
articulados com as demais atividades da avaliação de impacto ambiental. M edian
te a seleção dos com ponentes am bientais mais significativos (feita na etapa de
scoping ou seleção das questões relevantes), os estudos am bientais são dirigidos
para elucidar os principais desafios impostos pelo projeto em análise. Para Bean
lands (1993), parte das dificuldades dos primeiros anos da prática da AIA derivava
da tentativa de incluir-se quase tudo em um EIA, resultado de termos de referência
muito pobres. Daí um dos meios para se focalizar os estudos nas questões relevan
tes ser utilizar o conceito de componentes valorizados do ambiente.
9 . 2 O C O N H E C IM E N T O DO M E IO A FE TA D O
Uma das funções dos estudos de base é fornecer dados para confirmar a identificação
preliminar e para a previsão da magnitude dos impactos. Pode-se afirm ar que, quan-
-=~>to mais se conhece sobre um ambiente, maior é a capacidade de prever impactos e,
portanto, de gerenciar o projeto de modo a reduzir os impactos negativos. A Fig. 9.1
10 potencial de ilustra a relação entre o potencial de impacto1 e o grau de conhecimento do ambiente.
impacto é a relação
Quanto menos se sabe, maior é o potencial de um empreendimento causar impactos
entre a solicitação
ambientais significativos, devido, justam ente, ao desconhecimento dos processos am
ou pressão imposta
por um projeto e a bientais, da presença de elementos valorizados do ambiente e da vulnerabilidade ou
vulnerabilidade do da resiliência desse ambiente. Por exemplo, considere-se um empreendimento propos
ambiente afetado, to para um a região com potencialidade de ocorrência de cavernas (região cárstica). A
conforme Cap. 5 única maneira de se saber se o projeto poderá afetar cavernas, e como estas poderão
especialmente
ser afetadas, é verificando se elas existem. Em um primeiro momento, portanto,
Fig. 5.3.
quando o conhecimento é baixo (não se sabe se realmente existem cavernas no local),
é necessário admitir que o potencial de impactos é elevado, ou seja, o empreendi
mento pode causar grandes danos ao patrimônio espeleológico. Somente depois de se
realizar um levantamento pode-se reduzir a incerteza.
Outro ponto ilustrado na Fig. 9.1 é que, quando sabemos pouco acerca das condições
ambientais de um local, qualquer aquisição de conhecimento já representa um
grande avanço 110 sentido de se entender melhor os impactos potenciais do projeto.
No entanto, a p artir de um certo ponto, é preciso um grande esforço de investiga
ção para lograr grandes avanços no conhecimento. Como os estudos ambientais são
CAPÍTU L O
E s t u d o s d e B a s e e D ia g n ó s t ic o A m b i e Zz
0 caso m ostra a ausência do que deveria ser um princípio básico para um bom
diagnóstico ambiental, ou seja, realizar os levantam entos necessários e não fazer
um a compilação de dados disponíveis.
Um outro exemplo ajuda a melhor ilustrar a relação entre dados disponíveis e dados
necessários. No projeto de um a nova fábrica de cimento e m ina de calcário, um dos itens
do diagnóstico am biental era a espeleologia. 0 EIA fez um levantam ento bibliográfico
e verificou que não havia registro de cavernas conhecidas na região, concluindo sobre
.'ação de impacto Ambiental: conceitos e métodos
D e f in iç ã o d a s in f o r m a ç õ e s q u e d e v e m ser l e v a n t a d a s
Em face da exigência de multidisciplinaridade e da vasta gama de impactos possí
veis da maioria dos empreendimentos para os quais são feitos estudos de impacto
ambiental, há um grande risco de que sejam coletadas vastas quantidades de infor
mações irrelevantes, que são aquelas não utilizadas para a previsão e avaliação dos
impactos, nem para a formulação do plano de gestão, e tampouco permitem uma
comparação da situação e.r ante com aquela ex post. Basta consultar um a amostra de
EIAs para encontrar-se boa quantidade e variedade de informações irrelevantes na sua
maioria. A compreensão imperfeita das funções e dos papéis da avaliação de impacto
CAPÍTU LO
E s t u d o s de B a s e e D ia g n ó s t ic o A m b ie J
*
ambiental resulta em u m a tendência para se apresentar inform ações disponíveis em
detrimento das necessárias para a análise dos impactos e, consequentem ente, para a
tom ada de decisões.
Uma vez iniciado o EIA, ainda é possível fazer correções e ajustes, embora, na
m aioria das vezes, m u danças substanciais devam ser ju stificad as perante o cliente
e aprovadas pelos agentes governam entais. Canter (1996, p. 117) recom enda que a
equipe do EIA deixe explícitas as razões para inclusão ou exclusão de elementos ou
fatores am bientais nos estudos de base, sugerindo que se apliquem critérios como:
# scoping: elemento selecionado para os estudos de base por resultar do processo
de seleção das questões relevantes ou constar dos termos de referência;
# trabalhos de campo: elemento incluído por ter sido verificado ou constatado
durante os trabalhos de campo;
$ julg am en to profissional: elemento incluído em razão da apreciação da equipe
multidisciplinar;
# ju lg am en to profissional: elemento excluído por não ser um recurso que possa ser
afetado pelo empreendimento.
íiação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
M étodos de coleta e a n á l is e
0 plano de trab alh o p ara realização dos estudos de base deveria, na m edida do
possível, descrever as m etodologias que serão u tilizadas p ara a coleta das inform ações.
Diversas decisões a serem tom adas aqui influenciarão o resultado dos estudos. Dentre
elas destacam -se as seguintes:
D evem -se levantar dados prim ários ou secundários? Dados secundários são aque
les preexistentes, disponíveis ju n to a diferentes fontes, públicas ou privadas, como
bibliografia, cartografia, relatórios não publicados, bancos de dados de órgãos públi
cos, de organizações não gov ern am en tais e, finalm ente, dados j á obtidos pelo próprio
empreendedor. Dados prim ários são aqueles inéditos, levantados com a finalidade
4[/m erro estratégico específica do estudo de impacto am bien tal4. Em qualquer EIA haverá tanto dados
no planejamento secundários como prim ários. Por exemplo, dados sobre a dem ografia e a econom ia
do EIA da fábrica são geralm ente disponíveis, enqu an to as características de u m a porção de v eg eta
de cimento e mina ção existente na área onde será construído o em preendim ento som ente poderão ser
de calcário citado
conhecidas após lev an tam ento apropriado no campo. Cabe ao especialista que u tili
a nteriormente foi
ter escolhido usar zará os dados to m a r a decisão sobre o tipo de dados que necessita. Por exemplo, na
dados secundários m odelagem da dispersão de poluentes, o especialista poderá info rm ar-se sobre as
para uma situação fontes se cu n d á ria s disponíveis p ara dados sobre variáveis atm osféricas (por exemplo,
que requeria dados em aeroportos ou estações climatológicas governam entais), e então decidir se são ou
primários oriundos não adequados para seu trab alh o de previsão.
de levantamentos
de campo.
D evem -se realizar inventários ou pode-se proceder por am ostragem ? A resposta d ep e n
derá do tipo de dado e de sua relevância para a análise dos impactos. Por exemplo,
nos estudos relativos a u m a barragem , a população h u m a n a que ocupa a área de
inu ndação deverá ser objeto de levan tam en to censitário detalhado, en q u an to p ara
o levantam en to da vegetação n o rm alm en te vai-se proceder por am ostragem — não
se vai m edir e identificar todas as árvores, m as realizar estudos em áreas reduzidas,
segundo determ inados critérios de am ostrag em conhecidos dos profissionais do setor
e que poderão ser extrapolados para a totalidade da área, com um a m argem de erro
definida antecipadam ente.
D evem -se coletar séries temporais ou podem -se realizar am ostragens únicas? N ova
mente, a estratégia dependerá da variável estud ada e de seu com portam ento ao longo
do tempo. Por exemplo, a qualidade da á g u a de um rio, que, em geral, tem variação
sazonal, deveria ser objeto de estudo d u ra n te um certo período, u su a lm e n te um ciclo
hidrológico, mas a c o b e rtu ra vegetal não tem essa variabilidade e m uitas vezes pode
ser estud ada em u m a única c a m p a n h a de campo. No entanto, p a ra o levantam en to
da vegetação podem ser necessárias diversas c a m p a n h a s em um mesmo local, pois
as espécies florescem em diferentes épocas do ano e, às vezes, a identificação de um a
espécie só é possível por interm édio das flores. 0 mesmo vale p ara levantam entos
faunísticos.
A lim itação do tem po dos estudos devido aos interesses do em preendedor em obter sua
aprovação o mais rápido possível nem sempre conduz aos resultados esperados (em
term os de rapidez na obtenção da licença), e tam b ém pode ter repercussões fu tu ras.
A Fig. 9.3 ilustra um exemplo hipotético de m onitoram ento da qualidade das águ as
superficiais, sugerindo que um a estratégia de am o stragem que não leve em conta
capituI I H H H H H H H
E s t u d o s de B a s e e D ia g n ó s t ic o A m b i e 225
A título de exemplo, o Quadro 9.1 indica algumas estratégias usuais para estudos de
base no Brasil. Note-se que os exemplos são apenas ilustrativos, e de modo algum
prescritivos. Procurou-se indicar as características mais freqüentes em estudos de
base para EIAs realizados em>ambientes terrestres.
w
A rea de estudo
Todo planejamento de um estudo ambiental deve estabelecer de antemão a área de
estudo, ou seja, a delimitação do local que será objeto dos diferentes levantamentos,
sejam eles primários ou secundários. A área de estudo poderá variar em função do
tipo de levantamento a ser realizado, e o grau de detalhe de um tipo de levantamento
especializado poderá ser diferente de um levantamento temático.
Uma delimitação m ínim a da área de estudo corresponde à própria área a ser ocupada
pelo empreendimento, usualmente chamada de área diretamente afetada. Trata-se
ia área de implantação e de seus componentes ou instalações auxiliares, em que
pode ocorrer perda da vegetação preexistente, impermeabilização do solo e demais
modificações importantes. Por exemplo, no caso de um a usina hidrelétrica, a área di
retamente afetada compreende a área do reservatório, a área do barramento, da casa
ce força, da subestação elétrica, as áreas ocupadas por acampamentos, vilas residen ._/V
V
ciais e instalações administrativas e de apoio (oficinas, pátios, estacionamentos), assim
::m o os locais de extração de materiais de empréstimo e as áreas de reassentamento
j
ia população.
NOl
___ c liação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
CAPÍTU LO
E s t u d o s de B a s e e D ia g n ó s t ic o A m b i e J
Em determ inadas situações, a área de estudo pode ser maior que a área de influência. —
Por exemplo, em geral, os impactos diretos sobre o patrimônio arqueológico ficam
restritos à área diretam ente afetada ou suas imediações. No entanto, para realizar
levantamentos de potencial arqueológico de um a área, os arqueólogos necessitam
estudar áreas maiores, para entender como os grupos hum anos no passado utiliza
vam os recursos do território que ocupavam.
das atividades humanas. É bem verdade que a dimensão cultural é raramente tratada
nos EIAs, ou então, nos casos de projetos que possam afetar comunidades indígenas, é
tratada em um estudo à parte, desconectado do EIA, como um “laudo antropológico”.
Uma expressão alternativa para “meio antrópico” poderia ser “ambiente hum ano”.
A divisão do ambiente em três meios é artificial, como qualquer outra que se faça, mas
esta não é a única maneira de compartimentar o ambiente total para fins de descrição
e análise. Em outros países, são usados critérios diferentes, como a inclusão da cate
goria “paisagem”, que abarca componentes bióticos, como a vegetação, e elementos
antrópicos, como as formas de uso do solo e a infraestrutura. Outras vezes, agrupa-se
em “meio biofísico” tudo o que diz respeito ao ambiente natural, eom todo o restante
apresentado em um a seção sobre “ambiente hum ano”. Muitos dos termos apresentados
na Fig. 1.2 servem como estrutura para fins de diagnóstico ambiental. 0 Quadro 9.2
mostra exemplos de estrutura do diagnóstico ambiental em alguns EIAs; é interes
sante notar os exemplos nos quais a estrutura geral não abarca um capítulo separado
para o diagnóstico e outro para a análise dos impactos, mas apresenta um a seqüência
de tópicos no qual cada componente ambiental selecionado é primeiro descrito e, em
seguida, tem seus impactos avaliados.
Qualquer divisão do ambiente para fins de análise ou descrição será sempre arbitrária
e não pode ser empregada de modo rígido. A descrição da qualidade das águas
superficiais, por exemplo, pode ser feita por meio de parâmetros físicos e químicos
(temperatura, turbidez, pH, oxigênio dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio
etc.) e, ao mesmo tempo, com parâmetros biológicos (presença de microrganismos,
diversidade de algas, composição das comunidades planctônicas etc.). Logo, como há
elementos do meio físico e do meio biótico, onde enquadrar essa parte do diagnós
tico? Uma alternativa poderia ser a divisão da área de estudo em um mosaico de
ambientes (como ambientes urbanos, rurais, seminaturais, aquáticos etc.) e enquadrar
a descrição da qualidade da água nesta últim a categoria.
Outro exemplo é a descrição das formas de uso do solo, essencial para apreender-se
o contexto em que se insere a proposta analisada. Para fins de descrição estrita das
modalidades de uso e ocupação pela sociedade, a legenda de um mapa de uso do solo
poderá apresentar classes como “área urbana”, “culturas temporárias”, “pastagens”,
“culturas permanentes” e “vegetação nativa”. Todavia, esta últim a classe pode ser ex
pandida para incluir os diferentes tipos de vegetação nativa que podem ser encontrados
na área de estudo, de modo que, ademais de um mapa das formas de uso do espaço,
tem-se também um mapa das formações vegetais identificadas. Tal mapa deveria ser
apresentado na seção correspondente ao meio biótico ou ao meio antrópico?
CAPÍTU
E s t u d o s de B a s e e D ia g n ó s t ic o A m b i e
NOj
ação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
C a r t o g r a f ia
Mapas são essenciais para a representação da maioria das informações produzidas ou
compiladas pelos estudos de base. Ao planejar um EIA, é necessário saber de antemão
qual é a disponibilidade de bases cartográficas e de outros meios de visualização e
representação espacial, como fotografias aéreas e imagens de satélite. 0 ideal é poder
decidir qual a escala dos mapas a serem apresentados no EIA durante seu planeja
mento (requisitos quanto à escala mínima de representação podem ser incorporados
aos termos de referência).
A melhor escala dependerá do tipo de projeto analisado. Projetos lineares como duto-
vias e linhas de transmissão poderão requerer escalas pequenas (por exemplo 1:100.000
O ou 1:200.000) se tiverem dezenas de quilômetros de extensão. Naturalmente, detalhes
i
\
i
podem ser representados em escalas maiores. Projetos pontuais, como aterros de resí
duos e empreendimentos urbanísticos, normalmente devem ter o diagnóstico ambiental
apresentado em escalas como 1:10.000 ou 1:5.000 (sempre sendo possível representar
detalhes em escalas maiores).
5Mapas Um problema prático é que nem sempre se dispõe de bases cartográficas5 oficiais nas
planialtimétricos escalas requeridas. Muitos países fazem seus levantamentos básicos em escala de
(ou seja, que 1:50.000, mas em um país com as dimensões do Brasil essa escala só é disponível
representam o
em parte do território. Mapas em escala 1:25.000 ou 1:10.000 são comuns na Europa,
terreno em duas
mas restritos a poucas regiões no Brasil. Para projetos de médio ou grande porte,
dimensões com
indicação das podem-se produzir mapas topográficos (restituições a partir de fotografias aéreas) es
altitudes por meio peciais para as finalidades do projeto, como é o caso de barragens, rodovias e minas.
de curvas de nível) Nesses casos, é recomendável que a equipe ambiental possa opinar sobre a delimita
sobre os quais ção da área a ser mapeada, pois suas necessidades nem sempre se limitam às áreas
serão representadas mapeadas para fins de projeto de engenharia. Para projetos pontuais, pode-se realizar
as informações
um levantamento topográfico (teodolito ou estação total), mas tais levantamentos
do diagnóstico
ambiental, por raramente são feitos para grandes áreas.
exemplo, um mapa
de uso do solo ou As fotografias aéreas não substituem os mapas porque sempre têm distorções maiores
um mapa geológico. em suas bordas. Já imagens de satélite, por serem tomadas em altitude muito superior
à dos aviões que realizam os levantamentos aerofotogramétricos, têm distorção muito
baixa e podem ser usadas como base planimétrica (ou seja, sem altimetria), desde
que gcorrcferenciadas. Georreferenciamento é o nome que se dá ao procedimento de
amarração de pontos conhecidos e perfeitamente identificáveis na foto ou imagem
a um sistema de coordenadas, de acordo com um a determinada projeção que repre
senta a forma tridimensional aproximadamente elíptica da Terra (figura geométrica
chamada de elipsoide) sobre um a superfície bidimensional (plana). Na atualidade, os
fornecedores de imagens j á oferecem a opção de entregá-la georreferenciada.
CAPÍTU LO
E s t u d o s de B a s e e D ia g n ó s t ic o A v . e e MT*
llnL
 m udança de escala pode afetar (João, 2002): (i) o número de feições mapeadas,
:: a medida de comprimentos e áreas e (iii) a posição das feições no mapa, interferindo,
desta forma, na identificação e na previsão de impactos. A autora mostrou que as
conclusões de um EIA podem depender da escala de trabalho adotada. Em um EIA
de um contorno rodoviário de um a cidade do sul da Inglaterra, a autora constatou
diferenças entre os impactos estimados a p artir de um mapa de escala 1:10.000 e um
ziapa em escala 1:25.000, entre outras para a área de fragmentos florestais afetados,
N0|
'ação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
D renagem
P asto/C am po a n tró p ic o
P la n ta çã o de cana
R e flo re s ta m e n to
M a ta c ilia r
7.516.000
Floresta m e só fila sem idecídua em estágio
in ic ia l de regeneração
Base c a rto g rá fic a : iGC, Folha 0 6 5 /0 8 6 (Serra de São Pedro), escala 1 :10.000, 1979. 400 500m
Uso e o cu p a çã o do solo
P asto/C am po a n tró p ic o
P lantação de cana
R e flo re sta m e n to
M a ta c ilia r
CAPÍTU L0
E s t u d o s d e B a s e e D ia g n ó s t ic o A m b i e 233
Assim, embora não possa haver um a regra universal, é im portan te que, duran te o
planejamento dos estudos de base, a escala de realização de levantam entos e a escala
de representação sejam pensadas com cuidado. Embora erros e deficiências possam
ser, direta ou indiretam ente, atribuíveis a escalas inapropriadas, não se pode descar
tar, como lembra M onm onier (1996), que há v árias m aneiras de “m en tir com m ap as”.
M eio físico
Para muitos projetos de eng enh aria, o meio físico é um suporte - aqui em prega
do tanto no sentido de fundação como no de lugar - ou um recurso a explotar.
.^or isso, m uitas inform ações sobre o meio físico podem ser obtidas em docum entos
de projeto (vazão de rios, propriedades m ecânicas de solos, por exemplo), mas nem
sempre essas inform ações são suficientes, ou mesmo necessárias p ara estudos a m
bientais. Por outro lado, a especialização profissional e o avanço da ciência levaram
í um a tendência de realizar estudos nos quais predo m inam descrições setoriais em
ez de análises integradas. Clima, qualidade do ar, qualidade das ág uas superficiais,
hidrologia das águas superficiais, águas subterrâneas, contam inação dos solos, solos
s:b o ponto de vista agronômico, solos sob o ponto de vista da en g e n h aria e outras
ram as especializações existem para o estudo dos recursos do meio físico.
i
Por essa razão, os estudos sobre o meio físico podem (mas não deveriam) ser muito.
: im partim entados, com seções descritivas e stru tu ra d a s em torno de disciplinas ou
ireas do conhecim ento - Geologia, Geomorfologia, Pedologia, Hidrologia, Hidrogeo-
:gia, Meteorologia e outras - , porém, com pouca ou n e n h u m a integração. Nesses
casos, não é rara a apresentação de m apas tem áticos de escalas diferentes e com
:e-cones territoriais variados.
-dem ais, os estudos do meio físico podem facilm ente perder-se em detalhes irrele-
iztes. Mesmo quando é claro que determ inado tem a (por exemplo, Geologia) deva
3cr tratado nos estudos de base, pode haver um a multiplicidade de enfoques possíveis.
I nem todos são de interesse para os estudos am bientais. No exemplo da Geologia,
: :em a pode ser apresentado como u m a descrição da história geológica da região,
::m o um a discussão sobre as e s tru tu ra s geológicas existentes na área de estudo,
::m o um a descrição das rochas presentes e seus m inerais constituintes, entre outras
3: crdagens possíveis. Porém, cabe..ao coordenador dos estudos am bientais dizer ao
rfcecialista que tipo de inform ação necessita e p ara qual finalidade será-utilizada.
l3cando claros os objetivos, estabelece-se qual o enfoque mais adequado e quais os
~ tcodos para atin g ir os objetivos desejados. Segundo Santos (2004, p. 73), “no Brasil,
::>esar de se reconhecer que o sucesso de u m planejam ento depende dos tem as esco-
: . i o s [para diagnóstico], é muito raro encon trar justificativas sobre sua seleção, e do
: :nreúdo de cada um deles. A prática m ostra que é com um essa decisão se basear na
disponibilidade de dados de e n tra d a ”.
NO]
ação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
CAPITU
E s t u d o s de B a s e e D ia g n ó s t ic o A m b ie 235
Q u a d r o 9 . 3 M a p a s te m á tic o s e m p re g a d o s p a ra d ia g n ó s tic o s a m b ie n ta is 1
C a r t a d a s C o n d i ç õ e s C l i m á t i c a s e H id r o l ó g i c a s
Parâmetros climáticos: pluviometria, insolação, evaporação, temperatura, direção dos ventos.
3arâmetros hidrológicos: hidrografia, açudes e canais, divisores de águas, vazões, qualidade das águas, áreas sujeitas
à inundação.
C arta de S olos
Classificação dos solos: classificação pedológica, potencial, fatores limitantes do uso.
C a r t a G e o l ó g ic a
^ormações superficiais: granulometria, espessura da formação, grau de consolidação.
Substrato rochoso: classificação litológica, nomenclatura estratigráfica, geocronologia._______________________
E ementos estruturais: orientação, mergulho e tipologia do acamamento, foliações, juntas, falhas, eixos de dobras, carac
terização de, discordâncias, lineamentos, zonas de cisalhamento e outras estruturas.
5ecursos minerais: ocorrências, jazidas e minas, classificação dos depósitos minerais.
C a r t a G e o m o r f o l ó g ic a
r ormas do relevo: formas estruturais, erosivas, de modelado fluvial, de litorâneo, cársticas, de antrópico, processos
erosivos.
C a r ta H id r o g e o l ó g ic a
2aracterização dos aqüíferos: litologias e suas classificações quanto à porosidade de fraturam ento, profundidade e
: rodutividade, direção de fluxo das águas subterrâneas, localização dos pontos de captação, identificação de zonas
de recarga, qualidade das águas.
C - r t a d e I n d i c a d o r e s G e o t é c n ic o s
5oios: textura, espessura de material inconsolidado, parâmetros físicos.___________
Vaciços rochosos: origem, grau de alteração, fraturam ento, permeabilidade, descontinuidades.
C a r ta de C o b e r t u r a V egetal
.egetação natural: tipo e classificação das formações vegetais.
Culturas: áreas cultivadas, reflorestadas, abandonadas, pastagens.
C - p ta de U so e O c u p a ç ã o d o S olo
■^eas urbanas: delimitação, tipo de uso urbano, densidade de ocupação, equipamentos.
- — — — - — — ---------------- — — ~ - — — .. — - - . . .
Jsos industriais: instalações industriais, mineração, aterros de resíduos.
: 'eas rurais: culturas permanentes e temporárias, reflorestamento, pastagem.
" ‘raestrutura: rodovias, linhas de transmissão, barragens e açudes.
O con te ú d o é ilu s tra tiv o e não esgota os tem as que podem se r apresentados em fo rm a de cartas.
Fo nte: m o d ific a d o de CPRM (1991).
NO]
liação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
(1) acessibilidade hidráulica de contam inantes à sua zona saturada; (2) capacidade
de atenuação (filtração, diluição, sorção, degradação, precipitação etc.) dos estratos
sotopostos à zona sa tu ra d a ”. Empreendimentos que possam afetar a qualidade das
águas subterrâneas deveriam, preferencialmente, localizar-se em áreas de baixa
vulnerabilidade.
Um exemplo de estudo de vulnerabilidade de aqüíferos pode ser visto na Fig. 9.5, que
mostra o mapeamento realizado para o EIA de um a fábrica de celulose de fibra curta
branqueada e de papel de impressão, situada no Mato Grosso do Sul. Foi utilizado,
em escala local, o mesmo procedimento empregado na confecção do mapa de v u ln e
rabilidade dos aqüíferos do Estado de São Paulo (IG/Cetesb/DAEE, 1997), que leva em
conta três fatores: (1) tipo de aqüífero (confinado, livre etc.); (2) litologia da zona não
saturada (acima da água subterrânea) e (3) profundidade do nível de água subterrânea,
combinando-os por meio de um sistema de pontuação.
A Sondagem
num Isolinha da profundidade do nível
de água subterrânea (inferido)
7,o/7,s Profundidade do nível de água
subterrânea (m)
Extrema
0 6km Fonte: im agem de s a té lite fo rne cid a pela IP-SP0T 10m, 200 5
Projeção U niversal transversa de M e rc a to r
escala original 1:50.000 D atum H o riz o n ta l: SAD -69
L0
E s t u d o s de B a s e e D ia g n ó s t ic o A m b ie
A qualidade das á g u a s é u m dos tem as m ais freqüentes nos diag nósticos am bien-
tais, haja v ista que q uase todos os em p reen d im en to s têm o potencial de a lte ra r a
qualidade das ág u a s superficiais. Há critérios e n o rm as técnicas p a ra coleta e p re
servação de a m o stra s de água, assim como procedim entos p ad ro n izad o s p a ra an álise
química. Há de se o b se rv a r e g aran tir, contudo, requisitos de qualidade dos ser
viços. Nas situações em que a q ualidade da á g u a possa ser u m problem a crítico,
deveriam ser to m ad as precauções como duplicatas de a m o stra s e a escolha de la b o
ratórios certificados. No Brasil, a certificação deve e star de acordo com os critérios e
as n o rm as do In m etro (In stitu to Brasileiro de M etrologia, N orm alização e Qualidade
industrial). É evidente que a m o s ti^ g e n s p o n tu a is pouco in fo rm a m sobre o estado das
rguas, que v a r ia m com fatores como ch u v a s e estações do ano.
No que se refere a ruídos, a maioria dos EIAs deveria incluir o diagnóstico da situação
pré-projeto, um a vez que quase todas as atividades causadoras de impactos ambien
tais significativos são fontes de ruído, se não durante o funcionamento, pelo menos
na etapa de implantação. Deve-se atentar para o uso de decibelímetros devidamente
calibrados, para as diferenças entre o ruído diurno e o noturno e para a identificação
das principais fontes preexistentes. A apresentação da informação em mapa é muito
útil, pois facilita a compreensão por parte do usuário e dos leitores do EIA.
F erram en ta s cada vez mais. u sa d as p ara integração são os sistem as de inform ação
geográfica (SIGs). SIGs são p ro g ra m a s de com putador que p erm item a g u ard a, a
m anipulação, a an álise e a exibição de dados espacialm ente referenciados, e são a
base da ca rto g ra fia digital. Por exemplo, os SIGs p erm item que se faça rapidam ente
a sobreposição de m apas tem áticos. Todavia, como todo sistem a de tra ta m e n to de
dados, os resultados não podem ser m elhores que os dados de en trad a. L ev antam en tos
incom pletos ou inconsistentes não podem lev ar a boas análises, e o u su á rio de u m EIA
não pode se d e ix a r im pressionar por m apas coloridos antes de a n a lis a r seu conteúdo
e os m étodos de elaboração. Como o b se rv am R odríguez-B achiller e Wood (2001,
p. 393), deve-se reco n h ecer que dados de m o n ito ram en to são custosos de coletar, e
em m uitos EIAs os recursos serão dirigidos p ara m o n ito rar locais que p o ssam ser
m ais seriam ente afetados pelo projeto, ao invés de b u sc a r u m a am pla representação
espacial que possa satisfazer os requisitos ideais de u m SIG.
M eio biótico
Os estudos relacionados aos aspectos biológicos ra ra m e n te podem .._p r e s c i n d i r de
Trabalhos de campo. P ara u m estudo de médio a g ra n d e porte, pode ser n ecessá
ria u m a equipe de m ais de u m a dezena de pessoas. Os lev a n ta m e n to s de vegetação
m uitas vezes são feitos por u m a ou duas pessoas, além de au x ilia re s de cam po, m as
os le v a n ta m e n to s de fa u n a d e m a n d a m especialistas nos vários g ru p o s zoológicos,
u su alm en te ornitólogos (aves), m astozoológos (mamíferos), herpetólogos (répteis e
anfíbios) e ictiólogos (peixes), além de, ev en tu alm en te, entom ólogos (insetos) e outros
especialistas. Na prática, é raro e n c o n tra r estudos que considerem os invertebrados.
N orm alm ente, os estudos com eçam por u m lev a n ta m e n to de dados secu nd ários, como
publicações e relatórios oficiais, publicações científicas, teses e dissertações. Sua
ú n alid ad e não é e n c o n tra r info rm açõ es locais (o que só acontece por coincidência,
em poucos casos), m as inform ações de âm bito regional ou su b-regio nal sobre os tipos
re formação vegetal e sobre as com unidades fau nísticas associadas. Tal le v a n ta m e n to
perm ite fo rm ar u m a im agem sobre o que pode ser encontrado no cam po - em condi-
:! e s que, na m aioria das vezes, e n c o n tra m -se an tro p izad a s (alteradas pelo Homem)
m diversos graus Fig. 9.6 - e assim plan ejar com detalhe os tra b a lh o s no terreno.
As inform ações se c u n d á ria s podem e star desatu alizad as, m as a in d a assim serão úteis
i.: possibilitarem que se forme u m q u ad ro sobre quais era m as condições ecológicas
tt região antes que tivessem se acum ulado as p e rtu rb a ç õ e s que form am o cenário
presente. ->
r ; ran (2000, p. 39) su sten ta que, sem dados sobre a b u n d â n c ia de espécies, é “e x tre -
Z r n e n t e difícil a v a lia r a significância dos prováveis im pactos sobre as po p u laçõ es”
liação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
Fig. 9.6 Mosaico paisagístico composto de fragmentos de vegetação nativa e «. (1) Espécies ameaçadas. São aquelas que
áreas antropizados na região do Pontal do Paranapanema, oeste do Estado de constam de alguma lista oficial, em qualquer
São Paulo. Destacam-se a área de tonalidade verde correspondente ao Parque categoria de ameaça, ou que sabidamente
Estadual do M orro do Diabo e o reservatório da barragem de Rosana, em meio estejam em avaliação para possível inclusão
a áreas com predominância de uso agrícola nessas listas.
Fonte: São Paulo [Estado], Secretaria do Meio Ambiente (1998). Carta-lmagem (2) Espécies endêmicas. São aquelas que só
de Satélite. Planta 01, Zoneamento Ecológico-Econômico do Pontal do Para ocorrem em determinado ambiente.
napanema. Escala original 1:250.000, projeção UTM, imagens Landsat TM -5 (3) Espécies características de cada hábitat.
tomadas entre ju lh o e dezembro de 1997, composição colorida 5R, 4G, 3B. São aquelas “usualmente associadas a um
determinado hábitat”; não são necessaria
mente raras e avaliar sua situação (população e distribuição) pode ajudar a medir
o estado de conservação de seu hábitat.
(4) Espécies suscetíveis à fragmentação de hábitats. Predadores situados no topo
da cadeia alimentar, vários pequenos mamíferos, espécies mutualistas, como po-
linizadores e simbiontes, e outras.
Quanto à classificação e ao mapeamento de hábitats (fase I), assim como para avalia
ção de seu estado de conservação, há diversas metodologias, como o “mapeamento çle
biótopos” e o “procedimento de avaliação de hábitats” do Serviço Americano da Pesca
e da Vida Selvagem (USFWS). Um método simples é identificar e mapear as formações
vegetais, descrevendo sua fitofisionomia e, às vezes, associando-as a características
/
CAPITU
E s t u d o s de B a s e e D ia g n ó s t ic o A m b
teológicas e ambientais que não podem ser desconsideradas (Fig. 9.10). Esta é uma
costura que se contrapõe a certos enfoques que tratam com desdém as funções desses
ambientes. Para assegurar consistência e reprodutibilidade nos mapeamentos, assim
como para permitir comparações, Bedê et al. (1997) propõem que se adotem sempre as
mesmas categorias de biótopos na legenda das cartas. Recomendam também que, em
areas rurais, o mapeamento seja executado em escala de 1:10.000 £ apresentado em
'_:25.000. Os biótopos podem ser areais, lineares (cursos d'água, rodovias7, avenidas) 7A vegetação
:u pontuais (aqueles que têm forma e dimensão que não são passíveis de represen que margeia as
tação na escala adotada, porém são dignos de registro devido à sua importância, a rodovias pode
exemplo de paredões rochosos com comunidades florísticas particulares — Fig. 9.11). compor hâbitats
importantes
quando o entorno é
J Habitat Evaluation Procedure (Quadro 9.4) foi desenvolvido para uso em avaliações
deficiente em outros
:e impacto ambiental, ao passo que o mapeamento de biótopos é utilizado em pla- hâbitats (Dawson,
lejamento ambiental de um modo geral. Como toda simplificação da realidade, o 2002, p. 188).
método do USFWS pode ser criticado por diversos pontos fracos, entre eles, a orien-
mção estreita para algumas espécies, a desconsideração da diversidade biológica e o
tesprezo de características de estrutura e função dos ecossistemas (Ortolano, 1984).
Esses e diversos outros métodos de mapeamento da paisagem (Naveh e Lieberman,
E94) partem da identificação e delimitação dos tipos de ambientes existentes em uma
mea de estudo, que é o mínimo que se pode esperar em um diagnóstico ambiental.
Caso exista alguma classificação oficial de vegetação, como ocorre para a Mata
Atlântica, é conveniente (ou mesmo necessário) que o levantamento conclua em
:ue classe se enquadra cada fragmento de vegetação ou cada maciço florestal.
Resolução Conama 10/93 define vegetação primária e secundária da Mata Atlântica,
-rim ária é “aquela vegetação de m áxima expressão local, com grande diversidade
r.ológica, sendo os efeitos das ações antrópicas mínimos, a ponto de não afetar
: çnificativamente suas características originais de estrutura e de espécie” (Art. 2o).
A vegetação secundária é classificada segundo seu estágio de regeneração em inicial,
nedio ou avançado, de acordo com diversos parâmetros.
N0|
. ação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
Fig. 9.10 0 am biente urbano tem biótopos variados, como se observa em Hong Kong, com sua zona
costeira, d istrito com ercial denso e m orros florestados ao fundo
E studos de B ase e D iagnóstico A m bie W B B 243
Q u a d r o 9 . 4 U m m é to d o p a ra a v a lia r 0 e s ta d o de c o n s e rv a ç ã o de h á b ita ts
Z p r o c e d im e n t o de a v a lia ç ã o de h á b it a t s (h a b it a t e v a lu a tio n p ro c e d u re - HEP) é a m p la m e n t e u s a d o em
E As nos E stados U n id o s (C anter, 1 9 9 6 , p. 4 0 0 ) para f in s de d ia g n ó s tic o a m b ie n t a l e de a n á lis e de im p a c -
cds. D e s e n v o lv id o p e lo U.S. Fish a n d W ild life S e rv ic e (USFWS) nos a n o s 1970, e o f ic ia liz a d o em 1 9 8 0 , 0 m é t o d o
: ' e t e n d e a v a lia r 0 e s ta d o de c o n s e rv a ç ã o de a m b ie n t e s para fin s de s u p o r te à f a u n a s ilv e s tre , c o m a a ju d a de in -
: cadores. Seu o b je t iv o é " i m p l e m e n t a r u m p r o c e d im e n t o p a d r o n iz a d o para a v a lia r os im p a c t o s de p r o je to s s o b re
" á o i t a t s te r re s tr e s e a q u á t ic o s c o n tin e n ta is " . A q u a lid a d e d o h á b i t a t para espécies s e le c io n a d a s é o b tid a p o r m e io de
- m “ ín d ic e de a d e q u a b ilid a d e do h á b it a t " , e s t im a d o em u m a escala de 0 a 1, q u e t e n c io n a in d ic a r a c a p a c id a d e de
c o m p o n e n t e s e s s e n cia is d a q u e le a m b ie n t e de a t e n d e r aos r e q u is ito s v it a is de espécies a n im a is s e le c io n a d a s .
I n d ic e é m u lt ip li c a d o pela área de cada h á b it a t , para o b t e r " u n id a d e s de h á b ita ts ". Os trê s passos in ic ia is são
c e f in iç ã o da área de e s tu d o , (ii) d e te r m in a ç ã o do s t ip o s de h á b it a t s e x is te n te s nessa área e (iii) s e le çã o de espécies
z t : nteresse (espécies in d ic a d o ra s ). D eve -se l e v a n t a r a área d is p o n ív e l para cada espécie in d ic a d o r a , ou seja, a q u e la
u e p ro vê c o n d iç õ e s de a b rig o , a lim e n t a ç ã o e r e p ro d u ç ã o da espécie. Os ín d ice s de a d e q u a b ilid a d e são c a lc u la d o s
s e g u n d o " m o d e lo s " d e s e n v o lv id o s para 0 HEP - para u m c e r to n ú m e r o de espécies, 0 USFWS d e s e n v o lv e u fic h a s
i t s c r i t i v a s a c o m p a n h a d a s de g r á fic o s e fu n ç õ e s m a t e m á t ic a s q u e g u ia m 0 u s u á rio na d e te r m in a ç ã o dos índices. Por
e x e m p lo , para u m a ave q u e n e ce ssita de u m a flo r e s ta de c o n ífe ra s c o m o a b rig o d u r a n t e 0 in v e rn o , 0 m o d e lo usa
• a f á v e is c o m o a p o r c e n ta g e m de c o b e r tu r a do s o lo d a da pelas copa s das árvores, 0 e s tá g io s u c e s s io n a l do f r a g m e n t o
~ : restal e a p o r c e n ta g e m da s u p e rfíc ie do s o lo c o b e rta p o r d e t r it o s o r g â n ic o s m a io re s de trê s p o le g a d a s .
*«ota-se q u e ta l p r o c e d im e n t o re q u e r u m c o n h e c im e n t o d e t a lh a d o da b io lo g ia de cada espé cie in d ic a d o r a , para que
assam ser m o n t a d o s os " m o d e lo s " , t a r e f a c o n s id e r a v e lm e n te m a is d ifí c il em e c o s s is te m a s tr o p ic a is .
- c a r t i r da c a r a c te r iz a ç ã o da s it u a ç ã o p r é - p r o je t o , seus im p a c t o s p o d e m ser a v a lia d o s p r o je t a n d o - s e a s itu a ç ã o
* - : u r a de cada h á b i t a t na área de e s tu d o . Se u m a área será p e rd id a p o r causa d o p r o je to ( d e s tr u iç ã o ou f r a g m e n t a ç ã o
: : r á b i t a t ) , as u n id a d e s de h á b it a t s f u t u r a s se rã o m e n o re s d o q u e s e ria m se 0 p r o je to n ã o fosse im p la n t a d o , t i r a n d o -
se aaí u m in d ic a d o r do im p a c t o a m b ie n t a l. Se 0 p r o je to a lt e r a r as c a r a c te r ís tic a s d o h á b i t a t sem m o d if ic a r sua área
q o r e x e m p lo , 0 c o r te s e le tiv o de espécies a rb ó re a s ), 0 ín d ic e de a d e q u a b ilid a d e d e c a irá , 0 q u e t a m b é m po d e se"
-s a d o c o m o in d ic a d o r de im p a c to . A lt e r n a t iv a s t a m b é m p o d e m ser c o m p a r a d a s c o m base no m e s m o c r i t é f o .
E: ~:es: C anter (1996); USFWS (1980) e USFWS Service M anual, 870, FW1.
diciu u c im p d L iu rv m u ic n id i. e u n e c iiu s c m ciu u u s
D IDE LPH IM O R P H IA
D id e lp h id a e
Didelphis albiventris g a m b á , saruê (C; E) CP, SO, M A
Didelphis aurita g a m b á , m u c u ra (C ;E ) CP, SO, M A
XENARTHRA
D asyp o d id a e
Dasypus sp. t a t u - g a li n h a (E;V) CP, SO, M A , MS, CR
Euphractus sexcintus ta tu -p e b a , (A;V) CP, SO, M A
t a t u - p e lu d o
PRI MATES
C ebidae
Callicebus personatus sauá, g u ig ó (A; E; VO) CP, SO, M A , MS, CR A -V U
CARNÍVO RA
C anid a e
Chrysocyon brachyurus lo b o - g u a rá (VF) MA A -V U
Cerdocyon thous c a c h o rro -d o -m a to (VP; E) CP, SO, M A , MS, CR
Pseudalopex vetulus rap o sa -d o -ca m p o (E) CP A -E P
Cervidae
Mazama americana v e a d o - m a te ir o (E; VP) CP
Fonte: Prom iner Projetos S/C Ltda. (2002)
N ota: Foram selecionadas apenas algum as espécies, para fins de ilustração.
A m ostragem : indica o m odo de registro da espécie na área de estudo:
(A) = A vistam ento, (C) = Captura, (VP) = Vestígios-pegadas, (VF) = Vestígios-fezes, (VO) = Vocalização,
(V) = Visualização, (CT) = Camera trap, (E) = Entrevista.
ê
Areas de ocorrência: código dos locais onde foram encontradas evidências de cada espécie.
Am eaça: Classificação de acordo com o Decreto Estadual (São Paulo) n° 42.838, de 4 de fevereiro de
1998:
A-EP = "Em Perigo": espécies que apresentam riscos de extinção em fu tu ro próxim o. Esta situação é
decorrente de grandes alterações am bientais, de s ig n ifica tiva redução p o p u la cio n a l ou ainda de grande
dim inuição da área de distribu ição do táxon em questão, considerando-se um in te rva lo pequeno de
8Plâncton é um tem po (dez anos ou três gerações).
termo usado A -V U = "Vulnerável": espécies que apresentam um a lto risco de extinção a m édio prazo. Esta situação é
para designar decorrente de grandes alterações am bientais preocupantes, da redução p o p u la cio n a l ou ainda da d im i
os organismos nuição da área de distribu ição do taxon em questão, considerando-se um in tervalo pequeno de tem po
aquáticos animais (dez anos ou três gerações).
ou vegetais, PA = "Provavelm ente Am eaçada": estão incluídos aqui todos os táxons que se encontram presum ivel
geralmente
m ente am eaçados de extinção, sendo os dados disponíveis insuficientes para se cheg ara uma conclusão.
microscópicos,
que vivem na
zona superficial Há um campo, porém, em que levantam entos quantitativos ou sem iquantitativos
iluminada eflutuam podem ser feitos sem muita dificuldade, que é o estudo de ecossistemas aquáticos,
passivamente ou particularm ente para bentos e plâncton8. Neste caso, são feitas coletas em diferentes
nadam fracamente.
pontos de rios e lagos (ou em ambiente marinho), as espécies são descritas e, em
Bentos designa o
conjunto de seres seguida, pode-se contar o número de indivíduos de cada espécie, o que permite
que geralmente empregar índices de diversidade. Em condições de ausência de poluição, as com uni
vivem no fundo de dades bentônicas caracterizam -se por um a alta diversidade - ou seja, pela presença
corpos
de grande número de espécies — e reduzido número de indivíduos de cada espécie.
d ’água e têm
baixa mobilidade A maioria das formas de poluição reduz a complexidade do ecossistema, elimi
(Magliocca, 1987). nando as espécies mais sensíveis. Os índices de diversidade permitem com parar as
CAPÍTU LO
E s t u d o s d e B a s e e D i a g n ó s t i c o A m b i e TAL 245
condições ecológicas de diferentes trechos de um rio e tam bém fazer com parações
m ultitem porais.
f c i v e z por essa razão sejam os d iag n ó stico s do meio an tró p ico que não raro apre-
e x te n s a s com pilações de d a d o s .s e c u n d á rio s não u tilizad o s na a n á lis e dos
m ractos. A a b u n d â n c ia (relativa) de dados p re e x iste n te s pode m a s c a r a r a v isão dos
pia r : s necessários. Dados c e n sitário s ou outros são m uito úteis p a ra c o n te x tu a liz a r
« mgião e o local do projeto, m as nem sem pre tra z e m in fo rm ação em escala local,
m u itas vezes é aquela n ecessária p a ra a a n á lis e dos im pactos.
0 usa cursos n a tu rais por parte da população local é outra questão relevante
a ser levantada durante os estudos de base. Se o projeto afetar esses recursos, de
m aneira direta ou indireta, causará um impacto significativo (Fig. 9.12). Um levanta
mento, por meio de entrevistas, questionários ou outros meios, das tipologias de uso
dos recursos (por exemplo, usos da água, usos de recursos faunísticos para alimen
tação, coleta de plantas medicinais, entre outros) é um a das tarefas freqüentes em
EIAs. Krawetz (1991) comenta sobre a utilidade de elaborar-se um “perfil de acesso a
recursos”, mas não apenas os naturais. A autora entende que é necessário conhecer
como as populações afetadas podem dispor de recursos como terra, capital, educação
e treinamento; o perfil é obtido por meio de entrevistas com homens e mulheres.
CAPITU
E s t u d o s de B a s e e D i a g n ó s t i c o A m b i e H ™ 247
1
opinião, sendo tam bém mais cômoda, dem andando menos tempo e recursos e cer
tam ente menos engajamento do analista. Em contraposição, os críticos da segunda
escola a tom am por demasiado subjetiva, levando muitas vezes os analistas a tom ar
partido das populações afetadas, distanciando de um ideal de neutralidade. Wolf
1983) fala de um a “ten são ” entre fins hum anísticos e meios científicos que se reflete
no debate entre objetividade e subjetividade, 0 receio desta últim a conduzindo a um a
'preocupação com métodos de análise quantitativa em um esforço de g a n h a r credibi
lidade” na arena decisória. Burdge (2004) coloca 0 debate nos seguintes termos: um a
-valiação de impacto social participativa ou analítica?
V~o a n t r ó p ic o : c u l t u r a e p a t r im ô n io c u l t u r a l
A la la v ra “cu ltu ra” reflete um a noção muito vasta (conforme seção 1.2). Há diversos
~ : : n e s possíveis para 0 estudo da cultura, como a cultura popular, a cultura de
3t£ísa e a cu ltura erudita. Um recorte útil para estudos socioambientais é 0 conceito
/
i: : itrim ônio cultural. E tam bém um conceito muito abrangente, mas tem funciona-
d ürde, ou seja, pode ser aplicado na tom ada de decisões.
NO!
'ação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
i
Estudo p re p a ra tó rio . Inclui d e fin iç ã o do prob lem a, d e lim ita ç ã o da área de e stu d o e dos g ru p o s de cidadãos p o te n
c ia lm e n te a fe ta d o s ou interessados. Para essa fin a lid a d e podem ser realizadas e n tre v is ta s breves com lideranças ou
re p re s e n ta n te s de gru p o s de interesse. A etapa 1 é c o n c lu íd a com a preparação de um p la n o de pesquisa, no qual
são d e fin id o s os g ru p o s a serem e n tre v is ta d o s e os c rité rio s para escolha in d iv id u a l.
CAPÍTU LO
E studos de B ase e D iagnóstico A mbie
Sítios de rara beleza n atural ou de im portância científica são elementos do patrim ônio
cultural, cuja im portância pode ser reconhecida de modo relativam ente fácil. Certa
mente, a existência de qualquer sítio de interesse cultural (seja ele de âmbito local,
regional, nacional ou internacional) na área de um projeto deve ser registrada no EIA.
Muitos países dispõem de inventários de sítios de interesse n atu ral ou de im portância
científica, mas a inexistência de tal registro não pode ex im ir a equipe m ultidis-
ciplinar do EIA de fazer um a investigação, p articularm ente na área que sofrerá
intervenção direta do projeto. De acordo com a Convenção de Paris, considera-se
patrimônio natural.
Ds patrim ônios histórico e arquitetônico tendem a ser am plam ente valorizados, mas
'.evantamentos dessa categoria patrim onial não devem ficar restritos a m onum entos
ou bens reconhecidos oficialmente. É tam bém preciso estar atento ao patrim ônio
industrial, categoria insuficientem ente reconhecida no País, mas de im portância bem
h rm a d a em vários países.
iiação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
CAPÍTU
J ■
E s t u d o s de B a s e e D i a g n ó s t i c o -
Para projetos que abranjam grandes áreas, como hidrelétricas, aplica-se o levanta
mento amostrai, ao passo que para obras de pequeno porte aplica-se o levantamento
“total” (Caldarelli, 1999). Uma estratégia de amostragem é percorrer a área de estudo
em linhas paralelas (transectsY0 de espaçamento regular; outra estratégia é investigar 10O verbo
as áreas mais prováveis de ocupação, relacionadas às características geomorfológicas significa “cortar
da área de estudo, como a presença de rios, abrigos e elevações topográficas, que transversalmente ”.
Houaiss e Avery
corresponde a um a amostragem estratificada por compartimentos ambientais; na
não registram
turalm ente essas duas estratégias não são excludentes. Os levantamentos também
substantivo
podem ser feitos com base em estratégias sistemáticas, ou seja, “caminhamentos com equivalente em
vistoria de superfície, que podem ou não estar associadas ao emprego de técnicas de português.
subsuperfície (sondagens, tradagens, raspagens) distribuídas regularmente sobre as
linhas de cam inham ento”. Por sua vez, as estratégias oportunísticas incluem levan
tamento de informação oral junto aos moradores locais sobre prováveis ocorrências,
vistoria de pontos de exposição de solo devido a fatores de ordem antrópica (cortes
de estradas, áreas aradas) ou natural (barrancos de rio), e visita a locais de maior
potencial conhecido de ocorrência de sítios (paredões rochosos, abrigos, terraços)
(Caldarelli e Santos, 2000, p. 62).
m p w s s :- ■ .
V A'V •—'--
“" .
NOl
ação de Im pacto A m biental: conceitos e métodos
seguida a importância, dada pelo valor cultural do sítio, deve ser avaliada, o que até
pode dem andar mudanças de projeto para proteger determinados sítios.
Como nos demais levantam entos que compõem os estudos de base, os estudos
arqueológicos começam por compilações de informação existente em arquivos,
museus e publicações. Entrevistas com moradores também podem revelar indícios da
existência de artefatos e os locais de ocorrência.
C A P Í T U lp I ® — ■
Es t u d o s de B a s e e D ia g n ó s t ic o A m b i e
im o stra de 69 EIAs analisados pelo autor, 72% referia-se a “recursos c u ltu ra is”,
intendidos seja como bens tombados ou passíveis de tom bam ento, seja como recursos
arqueológicos.
1 urros elementos tangíveis do patrim ônio cultural devem ser levantados, mas com-
:e te ao especialista decidir o que é relevante de ser mencionado, sempre tendo como
referência os impactos potenciais do projeto. 0 que é relevante, nesse contexto, quase
rempre vai além do espetacular e do que tem reconhecim ento oficial. Relevante é o
: _e tem significado para a com unidade ou aquilo que tem um a função que pode ser
lerd id a ou afetada caso o em preendim ento seja implantado. Um exemplo recorrente é
ü d o pelos cemitérios (Fig. 9.16), lugares cuja função e significado podem ser compre
endidos por indivíduos de outras culturas. A Fig. 9.17 ilustra outro tipo de lugar que
nrstum a ter significado especial para as comunidades, neste caso um a capela locali
zada em área quilombola.
A consideração da cu ltu ra im aterial nos estudos am bientais pode ser norteada pela
-lentificação dos lugares de produção e consum o de cu ltu ra popular, como pontos de
encontro da com unidade. Lam ontagne (1994) recom enda que o registro das práticas
: A turais seja feito com o apoio de cartas topográficas e que inclua, entre outros, a
laraeterização do patrim ônio, das pessoas portadoras de saberes tradicionais e do
espaço físico e social de cada prática.
Fig. 9.16 Cemitério de Santa Isabel, em Mucugê, cidade da Fig. 9.17 Capela de Ivaporunduva, situada às margens do rio
Chapada Diam antina, Bahia, tom bado em 1980 pelo In stitu to Ribeira de Iguape, no sul do Estado de São Paulo, erguida em
do Patrim ônio H istórico e A rtístico N acional uma com unidade quilom bola e situada em local considerado
para construção de uma usina hidrelétrica
9 .5 D esc r iç ão e a n á l is e
A seção precedente não deve dar a entender que o diagnóstico ambiental é uma mera
descrição de componentes ambientais de ym a área previamente delimitada para fins
110 modelo pressão-
de estudos. Como enfatiza a definição adotada de diagnóstico ambiental, trata-se de
estado-resposta é
muito empregado
“descrição e análise”. Infelizmente, a maioria dos EIAs apresenta diagnósticos mais
para o diagnóstico descritivos do que analíticos. Parece haver pouco tempo para um trabalho conjunto
de vários problemas da equipe (ou seja, um trabalho multidisciplinar) de reflexão e síntese sobre o estado
ambientais e para do meio ambiente.
análise de políticas
públicas ambientais
Idealmente, o diagnóstico deveria analisar as principais forças e tendências que con
(a resposta).
tribuem para a degradação ambiental na área de estudo (a pressão), fazer um a síntese
da situação atual do ambiente nessa área (o estado) e discutir as iniciativas em curso
12Cenário, em para reduzir ou reverter a degradação (a resposta)11, tirando algumas conclusões so
planejamento bre as tendências ambientais atuais. Esse desafio, mais um a vez, como é freqüente
estratégico, é “um
em análise de impacto ambiental, requer discernir o significativo do irrelevante,
conjunto formado
pela descrição
estratégia que sempre abre flancos para críticas.
de uma situação
futura e do percurso Esboçar um a síntese da situação atual também possibilita fazer alguma projeção para
coerente que parte o futuro, ainda que este não seja um dos objetivos do diagnóstico ambiental. Pode-
da situação atual se estabelecer, em primeira aproximação, qual seria o cenário tendencial12, isto é,
para lá chegar”
qual será a provável situação futura da área de estudo sem a proposta em análise. A
(Godet, 1983a,
p. 115). “Cenário previsão dos impactos possibilitaria, então, vislum brar uma provável situação futura
tendencial é aquele com tal proposta, de modo que, através de um a comparação dos cenários com e sem
que corresponde projeto, ter-se-ia uma noção de seus impactos ambientais.
ao percurso mais
provável (...),
Essa abordagem é coerente com o conceito de impacto ambiental exposto na
considerando as
tendências inscritas Fig. 1.5, mas há de se reconhecer as grandes dificuldades práticas, além das teóri
em uma situação cas, de aplicar tal conceito ao conjunto de impactos de uma proposta. Não obstante,
de origem” (Godet, para um conjunto limitado de impactos significativos, não é apenas possível como
1983b, p. 111). desejável trabalhar nessa linha.
CAPITU LO
Es t u d o s de B a s e e D ia g n ó s t ic o A m b ie
Dor exemplo, para um projeto que afete diretam ente rem anescentes de vegetação
nativa, não é demasiado complexo fazer projeções da situação fu tu ra com e sem
trojeto. 0 problema é que tais projeções podem ser controversas. Na discussão de um
trojeto de parque temático no litoral sul do Estado de São Paulo, proposto para um a
nrea com rem anescentes de Mata Atlântica, os argum entos, simplificadamente, eram:
1 m antidas as tendências atuais, a vegetação será pau latin am en te degradada devido
a ocupações da área por populações de baix a renda, im pulsionadas por interesses
ezonômicos e políticos; o projeto poderá frear a expansão, g arantind o a preservação
te re n e de um a área apreciável (por meio de condicionantes da licença ambiental,
: : n o a obrigação de m anter u m a reserva p a rtic u la r do patrim ônio natural, ambos
: revistos na legislação); e (2) o proprietário da gleba em que seria im plantado o
tn p re e n d im e n to (que não era o proponente do projeto) tem obrigação legal de zelar
rela integridade dos rem anescentes florestais, e o poder público tem obrigação de
vscalizar o cum prim ento da lei. Nesse debate, não houve consenso sobre o cenário
'rzráencial.
fim, é oportuno lem brar que um diag n ó stico am biental que não, se limite a
zrrições técnicas dos com ponentes e processos, mas inclua u m a análise e um a
rrnrese que facilite sua compreensão, é tam bém um sinal de respeito e consideração
refo leitor. Não se pode esquecer que o usuário do EIA tem direito a um a inform ação
rfira. consistente e suficientemente decodificada. Claro que, ao sintetizar os resul-
rados do diagnóstico ambiental, há o risco de um a simplificação excessiva, portanto
: -jeita a críticas de outros especialistas. É, assim, u m equilíbrio difícil que se busca
gaíiação de Impacto A m b ie ntal: conceitos e métodos
A previsão é um dos passos da análise dos impactos. Ela provê uma descrição
fundam entada e, se possível, quantificada dos impactos identificados no passo ante
rior, identificação esta que, por sua vez, se baseou no diagnóstico ambiental, mesma
atividade que fornece dados para a previsão, cujos resultados serão utilizados para
avaliar a importância dos impactos (o terceiro passo da análise dos impactos), deli
neando medidas para evitar, atenuar ou compensar os impactos adversos. Entendida
dessa forma — conectada às demais atividades essenciais à elaboração de um estudo
de impacto ambiental - , percebe-se que a previsão não é a finalidade desses estudos,
mas um elo de um a corrente em que cada atividade tem um a função: cada atividade
depende da precedente e fornece informações ou conclusões para a subsequente, con
forme a Fig. 10.1.
• Diagnóstico ambientalm
Assim, podem-se formular as funções da previsão de impactos
Prognóstico ambiental como:
# estimar a magnitude (intensidade) dos impactos ambientais;
Medidas mitigadoras ® fornecer informações para a etapa seguinte, avaliação da impor
tância dos impactos;
Fig. 10.1 Encadeamento entre o diagnós # prognosticar a situação futura do ambiente com o projeto em
tico am biental e as medidas m itigadoras, análise;
m ediante o prognóstico am biental
# comparar e selecionar alternativas;
# fornecer subsídios para a definição de medidas mitigadoras.
10.1 P l a n e j a r a p r e v is ã o de im p a c t o s
Definir um roteiro de trabalho para prever impactos faz parte do planejamento de um
EIA. Nem todos os impactos são passíveis de previsão quantitativa, e nem todos são
suficientemente significativos para que se despenda tempo e dinheiro tentando quan
tificá-los, mas todos devem ser satisfatoriamente descritos e qualificados no ELA.
2. Determinar como fazer a previsão, tarefa que pode ser subdividida em duas,
a saber:
# definir materiais e métodos de trabalho (por exemplo, o uso de um modelo, qual
modelo);
CAPITU
P r e v i s ã o de I m p a S E S 259
& justificar as razões da escolha (por exemplo, por ser um método aprovado pelo
órgão regulador, como um modelo de dispersão de poluentes atmosféricos, ou
um método clássico e de emprego universal, como os usados para dimensionar
obras hidráulicas e que dependem de previsões de vazão).
5. A nálise e interpretação: dados brutos são de pouca utilidade para a tomada de deci
sões, e é função do analista interpretar os resultados dentro do contexto da avaliação
ze impacto em curso; nessa interpretação pode ser pertinente discutir as incertezas
ia s previsões e a sensibilidade dos resultados, ou seja: quais seriam os resultados se
rs hipóteses e os pressupostos adotados não se revelarem verdadeiros?
10.2 I n d i c a d o r e s de i m p a c t o s
ÕJma m aneira prática de descrever o com portam ento futuro do meio ambiente
afetado é por meio de indicadores am bientais convenientem ente escolhidos. Indi-
: adores têm uso crescente em planejamento e em gestão ambiental, e são úteis em
“ ârias partes dos estudos de impacto: no diagnóstico, na previsão de impactos e
no monitoramento.
DEZ
aliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
Para Hammond et al. (1995, p. 1), os indicadores ambientais têm duas características
básicas: (i) quantificam informação para que seu significado possa ser apreendido
mais rapidamente e (ii) simplificam informação sobre processos complexos a fim de
CAPÍTÚ LO
P r e v i s ã o de I m p a
Ez _ma enorme quantidade de indicadores e índices ambientais que podem ser utilizados
~ -ALA. Selecionar os indicadores mais adequados é tarefa importante para o analista.
da situação fu tu ra. Finalm ente, para fins de gestão e m onitoram ento am biental, de
verão ju s ta m e n te ser os p arâ m e tro s ou v ariáveis a ser medidos e acom panhados. O
Quadro 10.1 m ostra exemplos de indicadores utilizados p ara descrever a m ag nitud e
de efeitos e im pactos am bientais identificados em um EIA — note que a lg u n s são in-
Aumento das taxas de erosão Superfície afetada (ha), taxa de perda de solo
(t/ha.ano)
Aumento da carga de Contribuição do empreendimento em relação a
sedimentos nos corpos d'água outras fontes situadas na mesma sub-bacia
Alteração da topografia Volumes de solo e rocha movimentados (m3)
hidrográfica
Geração de resíduos sólidos Massa gerada por classe de resíduo (t/ano)
Consumo de água Consumo mensal (m3/ano), vazão consumida em
relação à vazão mínima do rio
Geração de efluentes líquidos Vazão efluente, DBO, DQO, outros
Geração de ruídos Aumento do nível de pressão sonora em relação ao
ruído de fundo preexistente
Geração de material Quantidade emitida para a atmosfera em relação a
particulado outras fontes na região
Geração de gases de combustão Quantidade emitida para a atmosfera em relação a
outras fontes na região
Perda de áreas de cultura e Superfície afetada em relação às áreas cultivadas
pastagem no município ou sub-bacia hidrográfica
Perda de fragmentos de Superfície afetada (ha)
vegetação nativa
Aumento do tráfego de Porcentagem de aumento em relação ao volume
caminhões médio diário de tráfego preexistente
Aumento da demanda de bens Valor das aquisições no mercado local (R$)
e serviços
Geração de impostos e Montante a ser recolhido (R$)
contribuições
Criação de postos de trabalho Número de postos criados
Alteração da qualidade do ar Concentração ambiental do poluente P1
Alteração da qualidade das Concentração ambiental do poluente P2, índice
águas superficiais de qualidade das águas
Alteração da qualidade do solo Superfície afetada (ha)
Impacto visual Dimensões das áreas visíveis, número de pessoas
que potencialmente verão o sítio do projeto
Diminuição da produção Superfície afetada em relação às áreas cultivadas
agrícola no município ou sub-bacia hidrográfica
Incremento nas atividades Massa salarial gasta localmente e montante de
comerciais aquisições de bens e serviços
Aumento da arrecadação Massa tributária em relação à arrecadação
tributária preexistente no município
CAPITU
P r e v i s ã o de I m p a
dicadores absolutos (por exemplo, emissão total), ao passo que outros são relativos a
algum nível preexistente.
Quando o EIA faz distinção entre aspecto (ou efeito) e impacto ambiental, pode-se u sar
indicadores para am bas as categorias, pois geralm ente é mais fácil prever ou estim ar
a m agnitude dos aspectos que dos impactos. 0 Quadro 10.2 traz u m a lista parcial de
indicadores de aspectos am bientais estimados para um projeto de pequena mineração
de bauxita em um a zona ru ral do Estado de São Paulo. Os métodos empregados para
as estim ativas são comentados na seção 10.3.
' 0 . 3 M é t o d o s d e p r e v is ã o d e im p a c t o s
Existe u m a gran de variedade de ferram entas e procedim entos utilizáveis para a
çrevisão de impactos sobre o meio ambiente. Na verdade, m uitas disciplinas cientí-
D
g a lia ç ã o de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
M o d e l o s m a t e m á t ic o s
Modelos são representações simplificadas da realidade. Busca-se um a aproximação
do entendimento de algum fenômeno, por meio da seleção de alguns aspectos mais
relevantes, negligenciando, necessariamente, outros aspectos tidos como menos
im portantes para a análise. Modelos podem ser analógicos (como um a represen
tação em escala reduzida de um estuário ou do relevo), conceituais (descrição
qualitativa dos componentes e das relações de um sistema), ou matemáticos, que são
representações formalizadas mediante um conjunto de equações matemáticas que
descrevem um determinado fenômeno da natureza. Diversos processos ambientais
podem ser modelados dessa forma, principalmente fenômenos físicos e, em certa
medida, processos ecológicos.
Elaborar esses modelos é uma das tarefas dos cientistas, que assim buscam entender
melhor como funcionam os processos naturais. Vários foram desenvolvidos com o
objetivo específico de auxiliar no planejamento e na gestão ambiental, como é o caso
dos modelos de dispersão de poluentes atmosféricos, que correlacionam emissão de
poluentes de um a chaminé, por exemplo, com fatores meteorológicos como intensidade
e direção de ventos e insolação, prevendo as concentrações desses poluentes em vários
pontos situados em diferentes distâncias do local de emissão.
CAPÍTU L0
P r e v is ã o de I m p a 265
Q / 1 fz -h V
\2
X(x, y,z) = exp y exp ----------------
+ exp
1
-------------------------- —
27lGyGzq vPy 2 2 G2 7
1 - a n t o mais c o m p le xa a situação, m a io r o possível erro dos resultados, haja vista que a c o m p le x id a d e da realidade
e : r aduzida no m od e lo por s im p lific a ç õ e s ainda maiores. Na a p licação dos m odelos, c o n tu d o , c o s tu m a -s e selecionar
=5 situações m enos favo rá ve is em te rm o s de dispersão, o que te n d e a dar resultados conservadores. Q uando as
z revisões de m odelos gaussianos são c o m p a ra d a s com resultados de m o n ito ra m e n to , estes ú ltim o s e n c o n tra m -s e
m q u e n t e m e n t e abaixo das previsões (ERL, 1985, p. 79). Hoje e xistem m odelos mais s o fis tica d o s que os gaussianos.
: _ e p e rm ite m , e n tre o u tra s operações, c o m p u ta r o p e rfil v e rtic a l de te m p e ra tu ra e v e lo c id a d e de v e n to acim a cs
*onte (Elsom, 2001, p.163), mas os m odelos gaussianos ainda são bem em preg ados em estudos de im p a c to a m b :er i a
D EZ
aliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
c a p ít i ilg f iiM H K iM M
P r e v i s ã o de I m p a 267
_ = dro 1 0 .5 M o d e la g e m da q u a lid a d e do a r em um p ro je to de ro d o v ia
:'e v is ã o dos im p a c to s sobre a q u a lid a d e do ar de um a rodo via pode ser e x e m p lific a d a com o EIA do tre c h o sul
: -o d o a n e l M e t r o p o lita n o de São Paulo. C om o em o u tra s previsões, há duas etapas, a e s tim a tiv a das emissões e a
zzelagem da dispersão. R e s um ida m e nte, o p ro c e d im e n to u tiliz a d o fo i:
E stim ativa do n ú m e ro de veículos que c o m p õ e m a fr o ta registrada nos m u n ic íp io s da Região M e tr o p o lita n a de
: : Daulo, de a co rd o c o m o ano de fa b ric a ç ã o e o c o m b u s tív e l u tiliz a d o , para os anos 2 0 0 5 , 2 0 10 e 2 0 2 0 . Foram
: 'zados dados disponíveis no D e p a rta m e n to Estadual de T rân sito e na A ssociação N a c io n a l de Fabricantes de
r culos A u to m o to re s .
Estimativa da q u ilo m e tra g e m média anual percorrida pelos veículos, segundo a idade da fro ta c irc u la n te (a d m ite -s e
. e veículos m ais novos c irc u le m mais), usando dados da agência de c o n tro le de p o lu iç ã o a m b ie n ta l Cetesb e da
_ :e d S ta te s E n v iro n m e n ta l P ro te c tio n A g e n c y (USEPA)1.
. E stim ativa dos fa to re s de d e te rio ra ç ã o , que são m u ltip lic a d o re s usados para c a lc u la r as emissões (veículos com
a o r q u ilo m e tra g e m a c u m u la d a e m ite m m ais poluentes), para os anos 2005, 2 0 10 e 2020. Por exem plo, o f a t o r de
ezerioração e n c o n tra d o para emissões de CO em v e ícu lo s com dez anos de uso é 2,33, e n q u a n to para ve ículos com
m ano de uso esse f a t o r é de 1,19. Os fa to re s fo ra m c a lc u la d o s com base em fó rm u la s da USEPA.
Escolha de fa to re s de emissão (FE) para veículos novos. Os FE in d ic a m as emissões poluentes de um veículo
_ :o m o to r em g/km . Para c a lc u la r as emissões esperadas de um veículo, m u ltip lic a -s e seu FE pela distância percorrida,
: rr:gindo-se o resultado pelo f a t o r de deterioração. Os FE p e rm ite m s im p lific a r os cálculos das emissões to ta is de cada
~ cuIo, que dependem , en tre outros, da velocidade desenvolvida, da in clinaçã o da pista, da carga do veículo e do m odo
e conduzir, dependendo ta m b é m do com bustíve l utiliza do. Com o a gasolina brasileira te m 2 2 % de álcool e parte da
" ::a é m ovida com esse com bustível, não se pode e m p re g a r FE disponíveis em fo n te s estrangeiras: a Cetesb2 estabe-
r:e FE válidos para o Brasil. Foram usados fa to re s d iferen te s de acordo com a idade da fro ta , pois a re g u la m e n ta ç ã o
szaoelece m etas de redução de emissões para veículos novos, segundo o ano de fa b ric a ç ã o 3. A lém das emissões de
sses de escap am ento e de evaporação de com bustíveis, fo ra m ta m b é m estim adas as emissões de m a te ria l p a rtic u ia d o
e, do aos pneus (ressuspensão de partículas da pista devido à passagem de veículos). Finalm ente, fo ra m incorporadas
- :ções devidas à velocidade m édia dos veículos, que, por se t r a t a r de uma via expressa, são m aiores que a velocidade
a adotada para a e s tim a tiv a dos FE, que é de 31,5 km/h.
- .A e s tim a tiv a do v o lu m e previsto de trá fe g o fo i fe ita por o u tr o m o d e lo m a te m á tic o , e a m o d e la g e m da q u a lid a d e
: s r a d o to u os m esm os valores usados para o p ro je to rodo viário.
E á lc u lo das ta x a s de e m is s ã o (em g /d ia , a q u a n t id a d e t o t a l de cada p o lu e n t e e m it id a em 2 4 h) para cada
e i - e n t o de r o d o v ia (o v o lu m e de t r á f e g o m u d a ), p o r m e io da m u l t i p l i c a ç ã o do v o lu m e de t r á f e g o d iá r io
t o c o m p r i m e n t o de cada s e g m e n to e p e lo f a t o r de e m is s ã o , c o r r ig id o pela v e lo c id a d e e pela d e te r io r a ç ã o ,
. : o p o n d e r a d o p e lo t i p o de v e í c u lo (leve a á lc o o l, leve a g a s o lin a , pe sa d o a d iesel), para os a n o s 2 0 0 5 , 2 0 1 0
2020.
Seleção de dados m eteorológicos para uso no m odelo de dispersão. Foram utilizados dados coletados no aeroporto
e Congonhas (situado, grosso modo, a p ro x im a d a m e n te 20 km do e m pree ndim ento) nos anos de 1999 e 2000, com
''c n r ia c ã o de hora em hora.
Cálculo das c o n c e n tra ç õ e s fu tu r a s com e m p re g o do m o d e lo In d u s tria l Source C o m p le x S h o rt Term 3 - ISCST 3
esenvolvido pela USEPA, a d e q u a d o para fo n te s lineares (e ta m b é m para o u tro s tip o s de fontes). 0 p ro g ra m a c o m b in a
s zados ho rá rio s (8.760 horas ao ano) de v e lo c id a d e do ve n to , classe de e s ta b ilid a d e a tm o s fé rica , te m p e ra tu ra do
■e a ltu ra da cam ada de m is tu ra que resu lte m na c o n c e n tra ç ã o m á x im a do p o lu e n te no nível do solo, ou seja, a
: r situ a ç ã o possível re s u lta n te dos dados disponíveis. A c o n c e n tra ç ã o re s u lta n te pode ser expressa em m édia de
de 8 h, de 2 4 h ou anual.
-o re s e n ta ç ã o dos resultados em tabe las que in d ic a m as m aiores c o n c e n tra ç õ e s esperadas para cada p o lu e n te
1 Cx, CO, HC, S 0 2, MP), os p o n to s em que o c o rre m e m apas de pequena escala com curvas de is o c o n c e n ira ç ã c
z-am ta m b é m ap re se ntada s previsões de c o n c e n tra ç ã o em sete p o n to s de interesse.
265 ^ ^ a i i a ç ã o de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
'0 . A lg u m a s conclusões são (i) redução das emissões to ta is de p o lu e n te s na região m e tro p o lita n a , d e c o rre n te do
a u m e n to da v e lo c id a d e m édia da fr o ta ; (ii) a créscim o de emissões ao longo do tra ça d o , em relação à situ a ç ã o
p r é - p r o je to ; (iii) a m o d e la g e m de dispersão indica c o n c e n tra ç õ e s m á x im a s para 2010, decrescendo em 2020, sem
ultra p a ssa g e m dos padrões de q u a lid a d e estabelecidos pela legislação; e (iv) as c o n c e n tra ç õ e s m á x im a s lo c a liz a m -s e
ao lo n g o do c a n te iro c e n tra l da rodovia, c a in d o cerca de 6 0 % a um a d is tâ n c ia de 1 km.
Fonte: Fundação Escola de S ociologia e P olítica de São P a u lo , EIA P rogram a R odoanel M a rio Covas. Trecho Sul M o d ifica d o . Estudo
de Im p a c to A m biental, vol. 8, A nexo 4 - R elatório de A valiação da Q ualidade do A r no R odoanel Trechos Oeste e Oeste m ais Sul,
200 4.
1USEPA, U nited States E nvironm ental P rote ction Agency, C o m p ila tio n o f A ir P o llu ta n t Emission Factors - AP 42 - A p p e n d ix H -
F iighw ay M o b ile Source Emission F a cto r Table, 1995.
2Cetesb, C om panhia de Tecnologia de S aneam ento A m biental, R elatório de Q ualidade do A r no Estado de São Paulo 200 3, São
Paulo, 2 00 4, 132 p.
30 P rogram a de C ontrole de Emissões de Veículos A u to m o to re s (Proconve) fo i estabelecido p o r resolução do Conam a de 1986.
E: " .eis de ruído variam contin uam ente. A variação pode ser representada com a ajuda de um
;:*a~eo da porcentagem do tem po em que o NPS se situa em determ inados intervalos. Tal proce-
: ~ e n to perm ite que se determ ine Lx, o NPS que é excedido durante x°/o do tempo. Valores de L10,
e L^o são interpretados com o A/PS de pico, mediano e de fundo, respectivamente. Assim, L90 é
• .ei de pressão sonora ating ido ou ultrapassado durante 9 0 % do tempo.
I -TDO conceito utilizado é o nível sonoro equivalente Leq., o NPS constante que tem a mesma
t * e 'g ia acústica durante um mesmo período de tem po T. 0 nível sonoro equivalente é calculado
z ra v é s de uma fó rm u la baseada no princípio de igual energia:
1 1 T.
Leq = 1 0 .lo g Z t j. 1 0 Li/10 ou Leq = 10.log— J 10L/1°.dt,
100 T o
: ' :e: t ; = intervalo de tem po para o qual o nível sonoro permanece dentro dos lim ites da classe i
- i'e s s o em porcentagem do período de tempo), Lj = nível de pressão sonora correspondente ao
s e r i o médio da classe.
1 é o nível de energia que teria um ruído contínuo estável de mesma duração. Os decibelímetros
~ : : e r n o s j á fazem a integração e podem fornecer valores de para diferentes períodos de tempo
: : ~ c um minuto, uma hora ou um dia, e permitem, assim, um m onitoram ento contínuo dos níveis
: t -,'do. As medições de pressão sonora recebem um fa to r de correção para melhor representar a
: t ': e p ç ã o do ouvido humano, que varia de acordo com a faixa de frequência do ruído. A escala de
: :- d e ra ç ã o "A" é a mais usada. Representa-se essas medidas com o símbolo dB(A).
-: = L-i - 20.log (d2/ d 1), onde: d, = 2 m (ruído na fonte) e L-, = nível de ruído na fonte.
.= o ruído resultante de diversas fo n te s sim ultâneas pode ser calculado com a seguinte fó rm u la :
Modelos m atem áticos para previsão de níveis de ruído utiliza m expressões mais sofisticadas que
=s mostradas e aplicam diferentes fatores de correção para levar em conta as características
~s‘cas da área e a frequência do ruído, uma vez que a atenuação é m aior nas altas frequências.
z:nte: Sánchez (1995c).
DEZ
a lia ç ã o d e Im p a c to A m b ie n ta l: c o n c e ito s e m é to d o s
Por sua vez, as Figs. 10.5 e 10.6 simulam a futura situação com o empreendimento
se constituindo em novo foco de emissão. Conhecidos os ruídos de cada um a das
7497000
7496500
7496000
300m
Base cartográfica: CIDE (Centro de Inform ações e Dados do Rio de Janeiro), 1997, escala original 1:10.000, folhas 217-F, 218-E, 2328-B , 2 3 9 -A
Isolinha s de ruído ;7 § j C urvas de nível V egetação D renagem ç f Edificações 67dBA Nível de ruído diurno medido
CAPÍTU
P re v is ã o de I m p a B B M 271
ebeficia
Cruz da Serca
to t . Vila Santa
! I
: c -n o g rá fica : CiDE (Centro de Inform ações e Dados do Rio de Janeiro), 1997, escala o riginal 1:10.000, folhas 217-F, 218-E, 2328-B , 2 3 9 -A
sc nhas de ruído Curvas de nível Vegetação Drenagem Edificações 67dBA Nível de ruído diurno
Galeria Pilares e salões . 0 . , , fu tu r0 estimacl0
~= _;de , . , , ^ Barreira Vegetal
subterrânea (mina subterrânea) '
' E.5 M apa da provável distribuição dos níveis de ruído diurno após a im plantação de uma m ina subterrânea
te: Schrage (2005).
%
1 : ts e sua distribuição espacial, 0 autor (Schrage, 2005, pp. 57-60) calculou os
a : s futuros em cada um dos pontos receptores, observando os fatores que influen-
c . r - a propagação das ondas sonoras, como presença de barreiras, a partir de um
iziim ento recomendado na literatura técnica que considera diferentes fatores de
aszuação dependentes da frequência do ruído. A Fig. 10.5 mostra a previsão para
- - nernativa de mina subterrânea, estudada em um EIA, e a Fig. 10.6, para a alter-
■Kiva de mina a céu aberto, na qual a distribuição de ruídos é bem diferente. Neste
í— mo caso, a simulação considerou a presença de uma barreira física situada entre
i*ea industrial e 0 bairro situado a sudeste (zona de coloração verde ao norte da
m ia), um a medida mitigadora já incorporada à alternativa de projeto - trata-se de
a pilha de terra resultante de terraplenagem. Esse exemplo também ilustra 0 papel
l i ALA. no planejamento do projeto (seção 4.1). Se não houvesse preocupação com a
a vgação de impactos, a pilha não seria construída. Dentro dessas condições, a etapa
ie análise dos impactos considera o projeto já com as medidas mitigadoras previstas,
: _e corresponde ao projeto submetido para aprovação (medidas mitigadoras adicio-
podem resultar do EIA ou de outras partes do processo de AIA). No caso desse
': : eto, uma mina e usina de beneficiamento de nefelina-sienito em Duque de Caxias,
Eitado do Rio de Janeiro, a obra não foi adiante por razões de viabilidade técnica e
r : : nômica, e 0 EIA não foi apresentado.
aliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
7497000 i
7496500
7496000
Base cartográfica: CIDE (Centro de inform ações e Dados do Rio de Janeiro), 1997, escala original 1:10.000, folhas 217-F, 218-E, 2328-B , 2 3 9 -A
Fig, 10.6 M apa da provável distribuição dos níveis de ruído diurno após a im plantação de uma m ina a céu aberto
Fonte: Laboratório de Controle Am biental, Higiene e Segurança na M ineração (Lacasemin, 2004)..
CAPITU
P r e v i s ã o de I m p a m » » 273
■ M B K ez
g a lia ç ã o de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
dados de períodos curtos de tempo (menos de um ano) e (ii) com dados de outro local,
assumidos como válidos para o ponto de interesse. Os riscos e os benefícios dessas
extrapolações devem ser estimados em cada caso.
C omparação e extrapolação
Outra m aneira de fazer previsões de impactos é por comparação com situações
semelhantes e extrapolação para o caso em análise, levando em conta semelhanças e
diferenças entre a situação existente e aquela que é objeto de previsão.
Diferentes enfoques podem ser utilizados para extrapolações, como (i) ensaios em es-
cala-piloto (efluentes industriais), (ii) ensaios in situ desenvolvidos em condições
similares (vibrações em um a pedreira) e (iii) analogia com casos similares, mantendo-
se a proporcionalidade entre ação e efeito (comparando empreendimentos similares,
porém de porte diferente). Em todos os casos, é importante estabelecer, ainda que de
modo qualitativo, os limites e a confiança em tais previsões.
0 caso das vibrações engendradas pelo desmonte de rocha com explosivos em mi
nerações ou obras de construção civil ilustra o uso de extrapolações a partir de
ensaios de campo in situ. Por meio da detonarão de uma carga explosiva (Fig. 10.8),
ondas de choque propagam-se pelo maciço rochoso e promovem a fragmentação da
rocha, que é o efeito desejado. Porém, energia em excesso, sempre presente na deto
nação, propaga-se pela rocha na forma de ondas elásticas, similares às ondas de som
propagando-se pelo'ar. Essas vibrações podem causar danos a residências e outras
construções, dependendo de sua intensidade. Os indicadores que melhor expressam o
fenômeno são (i) a velocidade de vibração, também chamada velocidade de partícula,
que expressa a velocidade de movimento vertical de uma partícula imaginária na
passagem de uma onda elástica e (ii) a frequência do movimento vibratório. Ambos
dependem, entre outros fatores, da distância do local da detonação e das condições
geológicas do maciço rochoso em que se propagam as vibrações (Sánchez, 1995d).
Não há um modelo universal que permita prever as vibrações se for conhecida a
carga de explosivos e a distância, devido
justam ente a fatores locais ditados pela
geologia. No entanto, há certas simila
ridades entre a propagação de ondas em
maciços constituídos pelo mesmo tipo de
rocha, de modo que estudos realizados
em um local podem, em certa medida,
ser extrapolados para outros. Assim,
pode-se ir a um a mina em atividade e
realizar medições de vibrações, correla
cionando esses dados com a quantidade
de explosivo detonada e a distância entre
a detonação e o local de medição, levan-
tando-se uma equação de propagação
que, a princípio, só é válida para aque
le local, mas que pode, dentro de certos
Fig. 10.8 D etonação de explosivos p ara desm onte de rocha em um a m in a limites, ser extrapolada para outros sítios
Foto do autor, setem bro de 2001
CAPITU
P r e v i s ã o de I m p a 275
zaracterísticas comparáveis. Essa equação pode assim ser utilizada para prever as
ra s vibrações na m ina em projeto, cujos impactos são analisados.
f ~ :edimento sem elhante pode ser usado para estim ar aspectos ambientais a p artir
i " m io s de projeto, como no Quadro 10.8, que mostra um exemplo de projeções de
; tectos ambientais para um projeto de implantação de um loteamento residencial
ãe mto padrão.
I “ paração com casos sem elhantes e extrapolação é tam bém um método que muitas
i m e s é usado pelo público ou por ONGs para criticar projetos ou para apresentar ar-
. . nentos contrários. Com base em experiência pessoal ou observação e análise de
:s semelhantes, impactos podem ser identificados e previstos, com conclusões que
: : bem diferir das projeções governam entais ou dos proponentes.
CAPITU
P r e v i s ã o de I m p a 277
I a mesma forma que o uso de modelagem para previsão de impactos requer cuidados,
U n b é m a extrapolação a partir de casos análogos, seja ela usada pelo proponente do
:~:;eto e seus consultores ou por eventuais opositores e seus consultores, demanda
vinção e uma consideração cuidadosa das semelhanças e distinções entre o problema
t u análise e os análogos que sefvirão de fonte para extrapolação.
I i ^ E R IM E N T O S DE LA B O R A T Ó R IO E DE C A M P O
: : :e-se desenvolver estudos experimentais com vistas à previsão de alguns
im iicio s. Por exemplo, ensaios de laboratório permitirão conhecer as características
: ermeabilidade de um maciço rochoso ou de solo, para o estudo da dispersão de
-rnte no solo e na água subterrânea. Tal abordagem pode ser útil para prever os
■ m e r o s decorrentes da implantação de um aterro sanitário, no qual a possibilidade
itt : Diitaminação da água subterrânea a partir de líquidos percolados é um dos prin-
c m n s impactos. Por intermédio de procedimentos padronizados, coletam-se amostras
at solo e rocha do local em que se pretende implantar o empreendimento; ensaios de
feicratório, também padronizados, determinam a permeabilidade desses materiais,
i - seja, sua capacidade de transm itir — ou reter — água ou um soluto, dada pela
« v : i i a d e de dispersão no meio. Pode-se assim calcular o tempo que a pluma conta-
■r:rante resultante de um eventual vazamento tardará para atingir o lençol freático.
Modelos em escala reduzida podem tam bém ser empregados para sim ular certos
impactos. Por exemplo, pode-se construir modelos físicos de um a zona litorânea
para estudar os processos erosivos decorrentes de intervenções como dragagem ou
construção de um quebra-mar, ou ain-
Q u a d r o 1 0 .9 Área de vegetação afetada por um projeto hipotético da a construção de um a barragem em
T ipo de formação Á rea afetada ( hectares ) um no, que retera os sedimentos que
A lternativa A A lternativa B A lternativa C alim entam um estuário. Na atualidade.
Floresta primária 25,2 15,4 44,0 tais modelos são usados em conjugação
Capoeira em estágio 18,4 14,2 25,4 com modelos digitais.
avançado /
CAPITU
P r e v i s ã o de I m p a
De maneira similar, o impacto visual de uma estrutura pode ser simulado inflando-se
um grande balão e erguendo-o até a altura de um edifício ou de um a chaminé de um a
m tura fábrica, de modo a possibilitar a identificação dos locais de onde tal objeto
seria visível.
J U L G A M E N T O DE ESPECIALISTAS
Esie método pouco formalizado de realizar previsões de impacto baseia-se na capaci-
rade de certos especialistas emitirem estimativas sobre a probabilidade de ocorrência,
a extensão espacial e temporal, e mesmo a m agnitude de certos impactos ambientais.
As opiniões são expressas com base na experiência e conhecimento dos cientistas e
codem, eventualmente, ser formalizadas com a ajuda de um sistema-especialista, um
programa de computador que sistematiza o conhecimento em um determinado ramo
io saber e permite, supostamente, a reprodutibilidade dos resultados.
Modelos conceituais, ou seja, aqueles que não empregam parâm etros mensuráveis,
n a s explicam determ inada situação a partir de sua descrição e contextualização,
rodem ser utilizados por especialistas de algum as disciplinas para auxiliar na
rrevisão de impactos. Por exemplo, em arqueologia, modelos preditivos desse tipo
sido usados para identificar o potencial de existência de recursos arqueológicos
em uma dada área, com base no conhecimento prévio de dados arqueológicos e não
arqueológicos (Kipnis, 1996).
E comum encontrar nos EIAs diferentes tipos de previsões, que podem ser agrupadas
em quatro classes: (i) previsões formais; (ii) previsões baseadas na experiência de
rcofissionais; (iii) extrapolações a partir de casos conhecidos; e ... (iv) puras suposições,
emas infelizmente demasiado comuns. As previsões formais, usualmente derivadas de
madelos matemáticos, não são necessariamente melhores que as previsões feitas por
EZ
r
a lia ç ã o de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
outros métodos. Esses modelos devem ser validados e calibrados para as condições
locais e costumam requerer grandes quantidades de informações para produzir re
sultados confiáveis. Se a calibração não for feita adequadamente e se os dados de
entrada não forem suficientes, os resultados serão pobres. Como se diz no jargão da
modelagem, garbage in, garbage out, ou seja, se entra lixo, sai lixo. As extrapolações,
evidentemente, devem ser cuidadosas, às vezes quase todas as condições parecem
semelhantes, mas um a pequena diferença pode significar a inaplicabilidade dos resul
tados de um lugar em outro. As suposições e especulações são, naturalmente, coisas a
evitar, mas às vezes elas aparecem “disfarçadas” em opiniões de experts; nesses casos,
raramente as afirmações são justificadas, simplesmente “surgem” no meio do EIA sem
conexão com o restante do texto.
Todas as previsões têm certa margem de incerteza associada. 0 ideal seria que as
previsões quantitativas dos EIAs viessem acompanhadas de uma estimativa da
margem de erro, o que é possível algumas vezes em que se empregue modelagem. Um
problema é que muitos usuários dos EIAs não estão preparados para compreender a
noção de incerteza e não estão familiarizados com conceitos probabilísticos.
Já o terceiro ponto reflete um problema muito comum de ordem prática, que são
as mudanças de projeto. Ainda que as legislações em geral requeiram que m udan
ças importantes de projeto sejam comunicadas ao órgão regulador, tais mudanças
CAPÍTU L0
P r e v is ã o de I m p a
~aramente ensejariam um novo EIA. Quando os EIAs são preparados, quase sempre o
irojeto técnico ainda não foi definido em detalhe (felizmente, pois em caso contrário
iincilm ente o processo de AIA poderia contribuir para o planejamento do projeto);
zauitas vezes, os detalhes somente são definidos quando começa a implantação, e eles
podem influenciar os impactos reais.
Era sua revisão sobre o estado da arte da AIA no Canadá, Beanlands e Duinker (1983,
: 56) constataram que menos de metade dos EIAs traziam “previsões reconhecí-
cis". Dentre os estudos retrospectivos, pode-se citar o de Bisset (1984b), feito para
: istro projetos na Grã-Bretanha, cujos EIAs traziam, em conjunto, nada menos que
"51 previsões. Destas, apenas 77 puderam ser verificadas (“auditadas”), das quais o
isiudo constatou que 55 estavam “provavelmente corretas”.
EZ
■
aiiação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
No Brasil, Prado Filho e Souza (2004) analisaram uma amostra de oito EIAs prepara
dos para projetos de mineração em um a região do Estado de Minas Gerais, nos quais
foi identificado um total de 256 impactos. Os autores constataram que a “previsão”
de impactos “se fez quase que exclusivamente de maneira qualitativa, exceto para
alguns impactos como a ocupação de áreas por barragens de rejeitos, as áreas a serem
desmaiadas nos domínios dos empreendimentos (...)” (p. 86), e alguns outros direta
mente relacionados às características dos projetos.
Muitos EIAs podem não identificar impactos triviais, deliberada ou inadvertidam en
te. Isso não é importante quando se trata de impactos triviais ou insignificantes, mas
é grave quando são impactos significativos. A não identificação de impactos signi
ficativos pode ocorrer por dois motivos principais: (i) deficiências de organização
ou de coordenação do EIA e (ii) insuficiência de conhecimento acerca dos processos
ambientais ou acerca das interações entre o projeto e o meio.
Fig. 10.9 Pilha de rocha geradora de ácido, devido à presença de sulfetos. Outro exemplo de impacto não
M ina de urânio de Caldas, M inas Gerais, um dos m uitos locais onde o identificado e não previsto por deficiência
im pacto não fo i previsto quando da preparação do projeto (agosto de 1993) do EIA ocorreu durante a construção da
CAPÍTU 10
P r e v i s ã o de I m p a 283
CAPITU
P r e v is ã o de I m p a
' 0 . 5 A r e a de i n f l u ê n c i a
E somente depois da previsão de impactos que se pode tirar alguma conclusão sobre
1 área de influência do projeto. Se esta é a área geográfica na qual são detectáveis os
mpactos de um projeto, então ela não poderá ser estabelecida de antemão (antes de se
iniciarem os estudos), exceto como hipótese a ser verificada. Assim, um a modelagem
i= qualidade do ar ou da propagação de ruídos poderá dizer até onde se fazem sentir
:s efeitos do projeto, o que vem a ser sua área de influência para fins de avaliação de
mpacto ambiental (o que também é um a hipótese). Se o projeto for implantado, é o
monitoramento ambiental que estabelecerá sua real área de influência, desde que o
crograma de monitoramento seja capaz de discernir as modificações causadas por ele
daquelas que têm outras causas.
Se cada impacto é detectável em uma certa área, então um mesmo projeto terá distintas
rreas de influência, e a área de influência total corresponderá à soma das áreas
5e influência parciais. Entretanto, isso nada diz sobre a importância dos impactos.
Uma fábrica de cimento tem impacto sobre o clima global, pois emite C02, mas seus
liação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
impactos locais podem ser mais significativos. 0 tam anho da área de influência não
é necessariamente um indicativo da importância do impacto ambiental, mas é claro
que, em alguns casos, pode ser.
CAPÍTU 10
A valiação da
I m portância dos
11
a 'ação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
Isso não elimina, contudo, a subjetividade inerente a todo juízo de valor. Antf
pelo contrário, uma das funçõe^ do EIA é justam ente a de permitir que tal 1
de valor — ou seja, essa avaliação —, seja fundamentado em estudos técnicos i
lhados. Não fosse por isso não seria necessário realizar o estudo. Opiniões, as
variadas, poderiam ser emitidas por qualquer interessado e as decisões sobre pr
de investimento voltariam a ser tomadas com base em critérios puramente té
e econômicos, senão políticos. Indubitavelmente, é um paradigma racionalisi
fundamentEf a avaliação de impacto ambiental (Bailey, 1997; Culhane, Fries
Beecher, 1987), mas a inevitabilidade da subjetividade na avaliação deve ser n
nhecida.
Como não é possível eliminar toda subjetividade, é conveniente apontar com cia
no EIA quais julgamentos se baseiam em apreciação pessoal ou opinião do conj
da equipe técnica e quais conclusões derivam de um trabalho cientificamente
damentado. Esta é a principal razão para se fazer a diferenciação mais clara po
entre previsão de impacto, que decorre, principalmente, da aplicação de me
científicos, e avaliação dos impactos, resultado do julgamento de valor de um i:
de pessoas, mesmo que sejam especialistas altamente capacitados.
11.1 C r it é r io s de i m p o r t â n c i a
Todo estudo de impacto ambiental deveria explicitar os critérios de atribuiçã
importância que adota. Expressões como “grande importância” ou “impacto de
porções negligenciáveis” ou, ainda, “impacto m ínim o” são muitas vezes encorir
nesses estudos, mas é óbvio que não significam a mesma coisa para todas as pes:
0 que seria impacto significativo ou importante?
CAPITU
A v a l ia ç ã o d a Im p o r t â n c ia dos Im p a
. n a outra definição de impacto importante poderia ser “aquele que excede os padrões
rmbientais”. Assim, se uma indústria emite poluentes atmosféricos em concentrações
t zuantidades que a qualidade do ar nas imediações estiver fora dos padrões esta-
iclecidos pela legislação para proteção da saúde e da integridade dos ecossistemas,
'i i impacto deveria ser considerado significativo. Certamente, tal critério pode ser
iigam ente utilizado na prática, m as não existem padrões ambientais para todos os
mpactos. Aliás, praticamente só há padrões para poluentes, mas inúmeros impactos
:iibientais guardam pouca ou nenhum a relação com a emissão de poluentes.
I:5i lista contempla critérios de ordem científica e social. Assim, se houver com-
: : rentes do ecossistema ou quaisquer outros elementos que possam ser afetados
: r : empreendimento e que o público considere relevantes, deveriam ser assim con-
s íerados no EIA e no processo decisório, mesmo que não seja essa a opinião dos
especialistas.
Lrckson (1994) sugere outros critérios para avaliar a importância de impactos am-
fckniais:
^ probabilidade de ocorrência (estimativas qualitativas ou quantitativas da proba
bilidade de que o impacto ocorra);
^ magnitude (estimativa qualitativa ou quantitativa do porte ou extensão do im
pacto — o mesmo que previsão da magnitude do impacto);
$ duração (período de tempo que o impacto, se ocorrer, deverá durar);
^ reversibilidade (natural ou por intermédio da ação humana);
^ relevância com respeito às determinações legais (existência de leis locais, nacio
nais ou tratados internacionais que se refiram ao tipo de impacto ou elemento
afetado);
aliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
Glasson, Therivel e Chadwick (1999) sugerem que os critérios para avaliação possam
ser escolhidos entre:
% magnitude do impacto;
# probabilidade de ocorrência do impacto;
# extensão espacial e temporal;
# a possibilidade de recuperação do ambiente afetado;
# a importância do ambiente afetado;
# o nível de preocupação pública;
# repercussões políticas.
Para cada um desses itens há dispositivos legais que caracterizam o interesse s<
em sua conservação. A própria Constituição Federal declara os ecossistemas ante:
mente citados como “patrimônio nacional”, ao mesmo tempo em que afirma que
Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patri:
nio cultural brasileiro”. Outros documentos legais dispõem acerca das condições
conservação e utilização de bens como sítios paleontológicos, cavernas, mangui
e outros elementos constituintes do ambiente. Dispositivos específicos, como Po:
rias e outros atos normativos, estabelecem condições ainda mais específicas, com:
tombamento de determinado bem cultural ou natural ou a declaração de que d
minada espécie é considerada, oficialmente, como ameaçada.
Portanto, impactos que possam atingir algum desses bens ou elementos do amfc
te, considerados protegidos por força legal, devem necessariamente ser conside:
como importantes. 0 mesmo ocorre com impactos que possam afetar espaços
ritoriais protegidos, como unidades de conservação, às quais aplica-se o mi
raciocínio; ou seja, o Poder Público, pela via legal, considera como de interesse
blico a proteção desses espaços e, portanto, quaisquer impactos que os possam a:
deverão ser vistos como de grande importância.
CAPITU
A v a l ia ç ã o da Im p o r t â n c ia dos Im p a 291
CAPÍTU LO
A valiação da I mportância dos I m pa 293
Nem todos esses atributos têm utilidade para discutir a importância de um impacto.
0 caráter benéfico ou adverso de um impacto não tem muita relevância para uma
avaliação da importância dos impactos, pois ambos são de grande ou pequena signi-
ftcância. 0 mesmo se passa com os impactos diretos ou indiretos, mas a Resolução
Conama lembra que sua análise é fundam ental em um estudo de impacto ambiental
e que a etapa de identificação dos impactos não pode passar ao largo dos impactos
indiretos. Para certos empreendimentos, os impactos indiretos podem ser tão ou mais
importantes que os diretos. Por exemplo, a construção de um a rodovia causa inúmeros
impactos diretos, como degradação da qualidade das águas superficiais e perda ou
fragmentação de hâbitats ao longo do seu traçado; no entanto, ao facilitar o acesso
à região servida pela obra, os impactos indiretos poderão ser maiores que os diretos,
como o adensamento populacional, com seus conseqüentes impactos (alteração de
hâbitats, degradação das águas superficiais e subterrâneas etc.); neste exemplo, os
impactos indiretos ocorrem em uma área muito maior que a área influenciada pelos
impactos diretos. 0 propósito de distinguir entre tipos de impactos não é declarar que
um impacto é direto e outro indireto, mas organizar nossa análise de m aneira tal que
assegure que exam inarem os todos os efeitos possíveis das ações hum anas propostas
nos ambientes físico e social, altamente complexos e dinamicamente interconectados.
(Erickson, 1994, p. 12). Tanto a expressão quanto a origem são, portanto, atributos a
serem considerados para a identificação dos impactos, mas não para a avaliação de
sua importância, o mesmo ocorrendo com a escala temporal.
Escala espacial: (i) impactos locais são aqueles cuja abrangência se restrinja
aos limites das áreas do empreendimento; (ii) impacto linear é aquele que se
manifesta ao longo das rodovias de transporte de insumos ou de produtos; (iii
abrangência municipal é usada para os impactos cuja área de influência esteja
relacionada aos limites administrativos municipais; (iv) escala regional é em
pregada para os impactos cuja área de influência ultrapasse as duas categorias
anteriores, podendo incluir todo o território nacional; e (v) escala global para os|
impactos que potencialmente afetem todo o planeta.
(i) o grau pelo qual o projeto pode afetar a saúde ou a segurança pública;
(ii) características particulares do local, como proximidade a recursos historio
ou culturais, parques, áreas de importância agrícola, áreas úmidas, rios de beb
cênica ou áreas ecologicamente críticas;
(iii) o grau pelo qual os efeitos sobre a qualidade do ambiente humano possam
altamente polêmicos;
(iv) o grau pelo qual os possíveis efeitos sobre o ambiente humano são altamerr
incertos ou envolvem riscos únicos ou desconhecidos;
(v) o grau pelo qual a ação pode estabelecer um precedente para ações futu:
com efeitos significativos ou representa uma decisão em princípio acerca de ir
consideração futura;
(vi) se a ação está relacionada a outras ações cujos impactos são individualmei
insignificantes, mas cumulativamente significativos;
(vii) o grau pelo qual a ação pode afetar, de forma adversa, distritos, sítios, esi
das, rodovias ou objetos tombados ou passíveis de tombamento ou pode cau:
]U.S. Department
o f Transportation, perda ou destruição de recursos científicos, culturais ou históricos significativi
Federal Highway (viii) o grau pelo qual a ação pode afetar de forma adversa uma espécie ameaça
Administration, ou seu hábitat;
Technical Advisory: (ix) se a ação ameaça violar uma lei federal, estadual ou municipal ou outros r
Guidance f o r quisitos de proteção do meio ambiente.
preparing and (CEQ Regulations, §1508.27, 20 de novembro de 197!
Processing
environmental A regulamentação geral estabelecida pelo Conselho de Qualidade Ambiental ami
and section 4(f)
ricano foi, em muitos casos, detalhada pelas agências setoriais. 0 Departamento
documents, T
6640.8A, 30 out. Transportes1, por exemplo, estabelece a seguinte recomendação para avaliar a imp'
1987. tância dos impactos de uma rodovia sobre áreas úmidas:
CAPITU
A v a l ia ç ã o d a I m p o r t â n c ia dos I m p a
"im pouco se deve desconsiderar que nem todos os impactos identificados em um EIA
sé: de ocorrência certa, de forma que a probabilidade de ocorrência é, muitas vezes,
i i i a como mais um critério que contribui para a avaliação:
$ Probabilidade de ocorrência: refere-se ao grau de incerteza acerca da ocor
rência de um impacto; os impactos podem ser classificados, por exemplo, de
acordo com a seguinte escala de probabilidade de ocorrência (i) certa, quando
não há incerteza sobre a ocorrência do impacto; (ii) alta, quando, baseado em
casos similares e na observação de projetos semelhantes, estim a-se que é muito
provável que o impacto ocorra; (iii) média, quando é pouco provável que se
manifeste o impacto, mas sua ocorrência não pode ser descartada; (iv) baixa,
quando é muito pouco provável a ocorrência do impacto em questão, mas,
mesmo assim, essa possibilidade não pode ser desprezada.
- -igica por traz desse raciocínio é de que impactos de baixa probabilidade poderiam
: ulgados como menos im portantes que os de alta probabilidade, mas tal raciocínio
sn faz sentido se a probabilidade de ocorrência for de algum a forma associada à
/
n ig n itu d e do impacto (este é o conceito de risco ambiental, conforme Cap. 12). E ne-
: t5sário, então, verificar como os diversos atributos descritivos dos impactos podem
tr combinados para satisfazer aos critérios de im portância.
aliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
11.2 M é t o d o s d e a g r e g a ç ã o
Se há múltiplos critérios para avaliar a importância dos impactos, então se deve de
finir um mecanismo para organizá-los. Alguns critérios poderão ter mais peso que
outros. Na avaliação do rendimento escolar, os professores costumam atribuir notas
ou conceitos aos alunos. As notas são geralmente distribuídas em uma escala numé
rica de 0 a 10, enquanto os conceitos podem ser adjetivos, como “ótimo”, “bom” ou
“ruim ”, ou ainda categorias como letras de A a E. Os impactos de um empreendimento
também podem ser classificados desta maneira, mas geralmente são usados adjetivos
como “impacto significativo” ou “impacto de pouca importância”. Algumas maneiras
práticas de se chegar a esses resultados incluem:
* combinação de atributos;
ponderação de atributos;
análise por critérios múltiplos.
Exemplos desses métodos serão vistos a seguir. É oportuno, porém, relembrar uma
advertência já feita anteriormente neste texto: não há receitas universais em avalia
ção de impacto ambiental. Metodologias deverão ser aplicadas, adaptadas, ou mesmo
criadas, para cada caso. Antes de prosseguir, é também conveniente esclarecer a
terminologia empregada neste capítulo:
Atributo de um impacto (ou de um aspecto) ambiental é uma característica ou
propriedade desse impacto e pode ser usada para descrevê-lo ou qualificá-lo.
como sua expressão, origem e duração, entre outros. 0 termo tem origem la
tina, significando: “aquilo que é próprio de um ser”; “característica, qualitativa
ou quantitativa, que identifica um membro de um conjunto observado” (A.B.H
Ferreira, Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 1986), ou ainda “o qus
é próprio e peculiar a alguém ou a alguma coisa” (A. Houaiss e M.S. Villar.
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 2001).
# Critério de avaliação é um a regra ou um conjunto de regras para avaliar a im
portância de um impacto, conforme se verá nesta seção. A palavra de origina
do grego kritérion, “aquilo que serve de base para comparação, julgamento o_
apreciação” [Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 1986).
C o m b in a ç ã o d e a t r ib u t o s
A forma mais simples de classificar impactos consiste em (i) definir os atributos que
serão utilizados, (ii) estabelecer um a escala para cada um deles e (iii) combiná-los
mediante um conjunto de regras lógicas (o critério de avaliação). Pode-se começar per
um exemplo simples para ilustrar o método: se os atributos escolhidos são magnitude
e reversibilidade, as escalas adotadas poderiam ser:
# Magnitude: pequena, média ou grande.
% Reversibilidade: reversível, irreversível. ^
CAPITU
A v a l ia ç ã o d a I m p o r t â n c ia dos I m p a 297
•**4
impacto irreversível de média magnitude;
* :ií impacto irreversível de grande magnitude.
E óbvio que outras regras podem ser adotadas, como não considerar de grande im
portância todos os impactos irreversíveis, mas somente aqueles de magnitude média
ou grande; neste caso, pequenos impactos, ainda que irreversíveis, teriam média
importância. Como não há, nem pode haver, regra universal, os autores do estudo
ambiental devem especificar claramente quais os critérios adotados. Isso permite que
os leitores possam discordar dos critérios, ou arranjá-los diferentemente.
A combinação pode ser feita com qualquer número de atributos. Por exemplo, o Qua-
iro 11.2 mostra o esquema de combinação de atributos usado em alguns estudos de
impacto ambiental pela Hydro-Québec, um a empresa canadense de geração, tra n s
missão e distribuição de energia elétrica. Nesse exemplo, a escala dos atributos é
:ada por adjetivos que denotam intensidade. Resultados semelhantes poderiam ser
obtidos usando cifras em vez de adjetivos, como será visto a seguir. Três atributos são
combinados: (1) duração do impacto, cuja escala inclui três níveis: (i) momentânea,
ii) temporária, (iii) permanente; (2) extensão espacial do impacto, ou área abrangi-
ia, cuja escala tam bém inclui três níveis: (i) pontual, (ii) local, (iii) regional; e (3)
magnitude ou intensidade do impacto, cuja escala inclui quatro níveis: (i) fraca, (ii)
média, (iii) forte, (iv) muito forte. Os resultados da combinação três a três desses doze
elementos são agrupados em três categorias de importância dos impactos: (i) fraco,
ii) médio, (iii) forte. Conforme mostra o Quadro 11.2, um impacto será avaliado como
forte nas seguintes condições:
magnitude muito forte e duração permanente ou
* magnitude muito forte e duração temporária e abrangência regional ou local ou
* m agnitude muito forte e duração
momentânea e abrangência regio
Quadro 11.2 Critérios para avaliar a importância de impactos
nal ou ambientais
* magnitude forte e duração perm a DURAÇÃO EXTENSÃO MAGNITUDE OU 1
nente ou FRACA MÉDIA FC
magnitude forte e duração tem po
-» » V
A escolha das escalas não deve ser desprezada. É tarefa das mais importantes para
assegurar a coerência e inteligibilidade do trabalho de avaliação. O Quadro 11.3 mos
tra exemplos de definição de escalas para alguns
Quadro 11.3 Exemplos de escalos para atributos de
avaliação de impactos critérios usualmente empregados em estudos de
r
ESPACIAL
impacto ambiental. E possível utilizar escalas nu
m p a c to p o n tu a méricas em vez de escalas qualitativas.
m p a c to local
m p a c to regiona No planejamento de sistemas de gestão ambientai,
m p a c to global também é necessário avaliar a importância dos
TEMPORAL impactos. A norma ISO 14004 sugere atributos
m p a c to im e d ia to que podem ser empregados para avaliação da
m p a c to de m édio ou lo n g o prazo
importância de impactos, como escala espacial,
D uração severidade, probabilidade de ocorrência e dura
Im p a c to te m p o rá rio
ção. (NBR ISO 14.004: 1996, “Sistemas de Gestãn
m p a c to in te r m it e n t e
m p a c to c o n tín u o Ambiental — Diretrizes gerais sobre princípios,
m p a c to p e rm a n e n te sistemas e técnicas de apoio”, item 4.2.2).
Block (1999) apresenta nove atributos que podem ser usados nessa tarefa:
a
Para cada atributo, a autora sugere a utilização de uma escala com cinco graus, d:
mais ao menos intenso, sempre usando números de 5 a 1, respectivamente, com:
mostra o exemplo do Quadro 11.4. A avaliação da significância de cada impacto pode
ser feita por adição ou multiplicação. Como exemplo de aplicação de um a variaçã:
desse procedimento, largamente difundido no planejamento dos sistemas de gestã:
ambiental, o Quadro 11.5 indica os atributos e suas rçspectivas escalas, adotados por
um a empresa do setor petroquímico. Para avaliar a importância de um impacto, três
atributos principais são usados: (a) a existência de um requisito legal; (b) a demand:
ou manifestação de interesse do público (“partes interessadas”, no jargão dos SGA?
CAPITU
A v a l ia ç ã o d a I m p o r t â n c ia dos I m p a 299
e (c) a severidade c^a probabilidade de ocorrência (ou frequência), que são combi-
*=dos de acordo com um a “m atriz de risco”. A classificação final é feita em apenas
ü a s categorias - significativo ou não significativo. Para enquadrar um impacto
: :imo significativo, basta aplicar qualquer um dos três critérios citados anteriormente
• Combinação de atributos por regras lógicas). Esse exemplo mostra como utilizar, de
n a n e ira rápida e simples, alguns dos atributos mais citados na literatura.
3 Política empresarial: apesar de não existir exigência legal, o tema é tratado na política ambiental da em
presa, em algum código de prática que a empresa subscreva.
2 P rática e m p re s a ria l: c o n d u ta u s u a lm e n te a d o ta d a pela em presa ou p o r o u tra s , e m b o ra não c o
d ific a d a .
1 Não há regulamento ou diretriz sobre o assunto.
Fonte: Block (1999, p. 25).
3 onderação de atributos
Boa parte da literatura inicial sobre AIA, isto é, artigos e relatórios publicados durante
:s anos 1970 e início dos anos 1980, ocupou-se de conceber e testar métodos para
:o n d erar atributos diferentes em um a avaliação da im portância dos impactos. Essa
neratura deu origem a várias compilações, das quais pode-se citar Bisset (1984a,
988); Moreira (1993a, 1993b), Shoppley e Fuggle (1984) e Thompson (1990), entre v á
rias outras, como fontes de informação sobre esses métodos e sobre as potencialidades
e os limites de sua aplicação.
-‘onderar atributos é arbitrar entre diferentes alternativas de dar pesos a cada um dos
rrributos selecionados e, em seguida, combiná-los segundo um a função matemática
rredeterm inada. Assim, a principal diferença entre a combinação e a ponderação de
irributos é que, nesta últim a, os atributos são ordenados segundo sua importância
r i r a o critério de avaliação, com os atributos mais im portantes recebendo maiores
pesos. ^
Tal raciocínio permite múltiplas variações. 0 resultado pode ser dado pela soma dos
-fores de cada atributo. Pode-se tam bém decidir que um atributo, como “exigência
egal”, é mais im portante que os demais, dando-lhe peso 2, enquanto os outros têm
:«eso 1; neste caso, a “nota” final refletirá a maior im portância desse atributo (caso de
ZE
230 ^ ^ a i i a ç ã o de I m p a c t o A m b i e n t a l : c o n c e i t o s e m é t o d o s
M édia Provável de o c o rre r/O c o rre u pelo m enos um a vez na em presa (f < 1 vez/ano) c
A lta M u it o provável de o c o rre r/O c o rre m ais de um a ve z/a n o na empresa
(1 v e z /a n o < f < 1 vez/sem estre) 0
M u it o alta Esperado que o c o rra /O c o rre m ais de um a vez p o r sem estre na em presa E
(f > 1 vez/sem estre)
M a tr iz de risco
S e v e r id a d e F r e q u ê n c ia
A B C D E
0
/
/ z
/
V YL V
/
CAPITU
A v a l i a ç ã o d a I m p o r t â n c i a d o s Im p a 301
Q u a d r o 11 .5 (c o n tin u a ç ã o )____________________________________
Uma m a triz para a v a lia r a im p o rtâ n c ia de im p a c to s a m b ie n ta is
<
L /O
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I mpacto z:
CC <LU 0 a
C lasse
0 ZD ^ LU
UQ
Como fica claro no exemplo, 0 resultado da ponderação de atributos não é uma “me
dida” do impacto, no sentido físico de um a “grandeza que possa servir de padrão para
avaliar outras do mesmo gênero”, mas um a apreciação qualitativa da importância do
O ‘“ ‘ O
SJÍ aiiação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
Raciocínios mais sofisticados para as escalas dos atributos são encontrados na litera-
/
tu ra sobre AIA. E o caso das “funções de impacto”, relações que tran sfo rm am o valor
de um determ inado indicador ambiental em um a cifra de um a escala arbitrária de im
pacto. 0 environmental evaluation system , tam bém conhecido como “método Batelle”,
é um a dessas ferram entas (Dee et al., 1973). 0 método parte de um a divisão do meio
ambiente em 74 parâm etros descritivos ou componentes, cobrindo quatro grandes
campos: ecologia, poluição ambiental, paisagem (aestheties) e interesse hum ano. 0
método pressupõe que cada um desses parâm etros, que representa um aspecto da
qualidade ambiental, pode ser expresso em termos numéricos, em um a escala de 0
a 1, respectivam ente ambiente extrem am ente degradado e alta qualidade ambiental.
Cada um dos parâm etros tem um peso e a soma total dos pesos é 1.000. A alocação
dos pesos foi feita por um a comissão de especialistas. Por exemplo, o parâm etro “de
m anda bioquímica de oxigênio” tem peso 25, ao passo que o parâm etro “ruído” tem
peso 4, denotando a im portância relativa desses aspectos de qualidade ambiental. 0
valor de cada parâm etro é convertido no índice de qualidade ambiental entre 0 e 1,
de acordo com um a função que lhe é própria. A Figura 11.2 mostra um exemplo das
funções de conversão. *
A aplicação do método depende dos resultados da etapa de previsão dos impactos. Por
exemplo, se o em preendim ento analisado alterar o ambiente sonoro, o índice de qua
lidade ambiental desse parâm etro será reduzido, o mesmo acontecendo com todos os
demais parâm etros. A qualidade ambiental total é calculada ponderando-se o índice
de qualidade am biental de cada parâm etro individual por seu peso respectivo e so
m ando-se cada índice. A qualidade m áx im a seria 1.000 (quando todos os índices são
iguais a 1). 0 impacto do projeto é avaliado (“medido”) por intermédio de comparação
entre a qualidade ambiental de antes (o diagnóstico) e a
de depois (o prognóstico).
CAPITU
A v a l ia ç ã o d a I m p o r t â n c ia dos Im p a
por exemplo, os parâm etros que descrevem a qualidade da água podem ser agrupados
em um índice de qualidade das águas (IQA), que já integra dez parâm etros usuais de
qualidade, os parâm etros relativos aos ecossistemas aquáticos poderiam ser ag ru p a
dos em índices de diversidade de espécies. Vários parâm etros de outras categorias
tam bém poderiam ser substituídos por parâm etros que representem os elementos
valorizados do ambiente, como a presença de espécies ameaçadas. As funções de
impacto tam bém deveriam ser modificadas, tanto como intuito de refletir os novos
parâm etros usados para a descrição da qualidade ambiental quanto para adaptá-la ao
ambiente afetado pelo projeto. Neste caso, a distribuição dos pesos tam bém deveria
ser refeita, seja pela equipe de analistas que prepara o estudo, seja de comum acordo
com a equipe governam ental incum bida de analisá-lo.
A matriz de Leopold et al. (1971), Fig. 8.8, tam bém foi concebida como um método de
avaliação dos impactos. Neste caso, os autores propõem que, para cada impacto, sua
m agnitude e sua im portância sejam descritos por meio de núm eros inteiros, em um a
escala de 0 a 10.
I caráter pouco formal e m uitas vezes prim ário da etapa de hierarquização e avaliação
ie impactos de muitos EIAs (Ross, M orrison-Saunders e Marshall, 2006) levou alguns
pesquisadores a tentarem aplicar ou adaptar as ferram entas da análise por múltiplos
critérios a esta tarefa da elaboração de um EIA. Simos (1990, p. 48), no entanto,
reconhece o caráter mais acadêmico dessas preocupações, evidenciado por poucas
aplicações a EIAs reais.
O formalismo matemático dos métodos por múltiplos critérios pode ser um a das
zausas que lim itam sua aplicação à análise dos impactos. A avaliação da im portância
ios impactos é um a das partes da preparação de um EIA, no qual é mais necessário o
rrabalho conjunto e integrado da equipe multidisciplinar; a formalização matemática
304 p i p j aliacão de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
pode ser um empecilho a essa integração, possivelmente mais fácil quando a avalia
ção é qualitativa e cada profissional pode utilizar os conceitos que lhes são familiares.
11.3 A n á l i s e e c o m p a r a ç ã o d e a l t e r n a t i v a s
Na preparação de um estudo de impacto ambiental — assim como na aplicação de
outras ferramentas de avaliação de impacto ambiental, como a avaliação do ciclo de
vida de um produto ou a identificação de efeitos e impactos ambientais de um empre
endimento em operação, visando a implantação de um sistema de gestão ambiental —,
o analista se depara com a necessidade de comparar, classificar ou hierarquizar im
pactos de características jpiuito diferentes. Por exemplo, um a opção de traçado de um
trecho de rodovia pode implicar a supressão de 128 ha de um certo tipo de vegeta
ção, enquanto outra opção acarretaria a demolição de 18 casas de um bairro rural
e o secionamento de dez propriedades rurais. Com base nessas informações, como é
possível escolher a alternativa de menor impacto?
Como os casos reais de avaliação de impacto ambiental são muito mais complexos e
envolvem mais variáveis que o caso hipotético acima, pode-se perceber as dificulda
des dessa etapa na preparação de um EIA. Em um tal estudo, sempre há, no mínimo,
duas alternativas em análise: realizar ou não o projeto proposto. A essa configura
ção básica podem-se ju n ta r diferentes situações, como variantes de localização de
componentes do empreendimento ou de sua totalidade, ou diferentes alternativas
tecnológicas. Como o problema é comum a todo processo decisório, encontra-se, em
avaliação de impacto ambiental, inumeráveis tentativas de aplicar ou adaptar ferra
mentas desenvolvidas em outros contextos decisórios, como a análise por critérios
múltiplos ou sistemas de suporte à decisão, que formam um ramo daquela.
Por outro lado, há diversas tentativas de construir um a base comum para compara
2Em contrapartida, ção e mensuração de impactos ambientais. Algumas escolas de pensamento, como
métodos de
a economia ambiental e a economia ecológica, propõem que essa base possa ser o
valoração
econômica valor econômico dos bens afetados ou os custos e benefícios ambientais decorrentes
de impactos de alterações ambientais. Embora haja um bom potencial para aplicação dos instru
encontraram boa mentos desenvolvidos por pesquisadores dessas áreas à avaliação de impactos, a falta
acolhida nas de consenso acerca de seus princípios ou suas modalidades de aplicação dificulta sua
avaliações ex post aplicação a casos reais de estudos de impacto ambiental, e por isso o tema não será
ou avaliações de
explorado aqui2. Na seqüência, esta seção tratará da análise por critérios múltiplos e
danos ambientais
(Fig. 1.12), do uso de SIGs como ferramenta para ponderar atributos.
principalmente
para subsidiar A nálise por critérios múltiplos na seleção de alternativas
ações judiciais Trata-se de procedimentos que visam a agregação de informação de natureza dife
de reparação de
rente sobre alguma base comum, de modo a permitir comparações e simulações de
danos.
CAPITU
A v a l ia ç ã o d a I m p o r t â n c ia d o s I m p a
opções. A lguns desses métodos são muito sofisticados e complexos e podem levar
= um a análise detalhada das v an tag ens e desvantagens das principais alternativas
consideradas. No entanto, encontram -se inum eráveis exemplos de aplicação simplis-
de procedim entos que levam à atribuição de um valor num érico (arbitrário) a um
: t n o impacto - por exemplo a perda de vegetação - e a posterior com paração a outro
impacto, de n atu rez a com pletam ente diferente.
°ara comparar seis altern ativ as de um projeto rodoviário na Holanda, Stolp et al.
1302) u sa ram quatro diferentes “p ersp ectiv as”: a “h u m a n a ”, a “dos cidadãos”, a “eco-
logjca” c a “técnico-econôm ica”. A perspectiva h u m a n a foi desenvolvida a p artir
de docum entos governam entais que estabelecem políticas de qualidade de vida. A
perspectiva dos cidadãos foi construída com a técnica de avaliação dos valores dos
cidadãos (conforme Quadro 9.6). A perspectiva ecológica foi baseada no trabalho
da equipe do EIA, assim como a perspectiva técnico-econôm ica. Um procedim ento
simples de critérios múltiplos foi desenvolvido p ara com parar as alternativas sob
essas quatro perspectivas. Quatro tem as e dez subtem as tratados no EIA receberam
pesos diferentes, segundo cada perspectiva (Quadro 11.7); a soma dos pesos de cada
subtema é sempre igual a 1. Nota-se que, enquanto os cidadãos valorizam elemen-
:ds como “proteção contra ru íd o ”, “ecologia” e “fluidez do tráfego”, a equipe do EIA
aloriza as categorias “água e solo”, “ecologia” e “paisagem ”. Já sob a perspectiva
'tcnico-econôm ica, as categorias mais im portantes são “impactos sobre a atividade
econômica” e “fluidez de tráfego”.
--i alternativas estudadas foram três, cada u m a com duas variantes, ou seja, detalhes
i: zrojeto que podem m odificar seus impactos, e denom inadas “m á x ” e “m ín ”:
^ A l: ampliação e melhoria da autoestrada existente;
^ A2: ampliação e melhoria da autoestrada existente com a construção de uma
nova via; >
55 A3: nova autoestrada, segundo novo traçado.
Os pesos constantes no Quadro 11.7 foram multiplicados, para cada variante, pelo
valor atribuído a cada impacto, dentro de um a escala predeterm inada, resultando
nos e s c o re s totais que podem ser vistos no Quadro 11.8. P reviam ente foi empregado
o seguinte procedim ento: para atribu ir um valor a cada impacto, 17 impactos foram
ordenados segundo sua im po rtância entre 1 e 17; para cada u m a das seis alternativas,
esses impactos receberam um a nota v arian d o entre -2 e +2, nota esta que foi m ultipli
cada por seu núm ero de ordem, resultando em um escore total para cada alternativa,
dado pela som a do produto de cada nota pelo núm ero de ordem. 0 resultado mostra
que a m elhor alternativa sob o ponto de vista técnico-econôm ico não é a m elhor sob
o ponto de v ista ecológico, que, por sua vez, coincide com os pontos de vista hum ano
e dos cidadãos. A alternativa preferida por esses últim os está longe da m elhor sob a
perspectiva técnico-econôm ica, mas ainda é positiva sob a perspectiva econômica.
A1 m á x + 0 ,0 3 + 0 ,1 4 + 0,03 + 0 ,2 9
A1 m ín + 0 ,0 8 + 0 ,1 9 + 0 ,0 5 + 0 ,2 4
( m e lh o r) (m e lh o r) (m e lh o r)
A2 máx - 0,11 -0 ,0 9 -0 ,2 6 + 0 ,2 3
(pior) (pior) (pior)
A 2 m ín -0 ,0 4 + 0 ,0 5 -0 ,1 9 + 0 ,3 8
A3 m áx - 0,01 -0 ,0 2 -0 ,3 5 + 0 ,4 9
(pior) (m e lh o r)
A 3 m ín + 0,01 -0 ,0 8 -0 ,2 7 + 0 ,4 8
F onte: S to p e t al. (2002).
CAPITU
A v a l ia ç ã o d a I m p o r t â n c ia do s I m p a 307
Foram tam bém escolhidos parâm etros operacionais e econômicos com a seguinte
pontuação:
% negociações com terceiros: necessárias = 1; não necessárias = 50
* interferência com navegação: alta = 1; média = 10; grande = 25
custos: baixos = 1; médios = 5; altos = 10
A *»-
I c Tinido este critério, cada alternativa recebeu um a nota, dada pela som a dos p o n t o s
correspondentes (denominada ZaitJ* As pontuações finais foram ordenadas de forma
crescente (Quadro 11.9), da alternativa mais favorável para a menos favorável. Em
seguida, foi calculado um fator de relação {K) p ara cada alternativa, dado pela razão
entre a pontuação total de cada um a delas (ZaitJ e a pontuação da alternativa mais
favorável (Zait. mín)> Que é a disposição oceânica de sedimentos não contaminados.
Por fim, esse fator foi transform ado em um índice de desempenho (Id), dado pela
relação 1/R, que representa um a proporcionalidade entre as alternativas. A pontuação
obtida para um a das alternativas, a disposição em cava submersa, é mostrada no
Quadro 11.10.
Note que esquemas de análises por critérios múltiplos similares ao empregado neste
último caso são, de longe, mais com uns que o trabalho desenvolvido na Holanda por
Stolp et al. (2002), que apresenta um a discussão mais sofisticada e que reconhece os
0
308 ia Iiação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
r f
R e v e r s ib il id a d e
R e v e r s ib il id a d e
R e v e r s ib il id a d e
M a g n it u d e
R e l e v â n c ia
M a g n it u d e
R e l e v â n c ia
M a g n it u d e
R e l e v â n c ia
D uração
D uração
D uração
H id ro lo g ia e d in â m ic a — — _ —
1 1 1 1 4
s u p e rficia l
8 H id ro d in â m ic a 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 12
*u- G eotecnica 1 1 1 1 - - — - 4
O
5V‘ *. ,j í ; *'
A q ü ífe ro s _ ~ — -
__
1 1 1 1 4
Corpos d'água 1 1 25 1 - - - - 1 1 25 50 105
A tm o s fe ra 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 12
yf— A v ifa u n a 1 1 1 1 - — — - 1 1 1 1 8
O
“ Fauna a q u á tic a 1 1 1 1 — — — —
1 1 25 1 32
lZj
^ Flora — — - - * -
| Pesca - - - - - - — — — — -
| Saúde pública - - — - - - — - — — — — —
o Vias p ú blicas — — — — — - - - — — _ — —
CJ
$ N egociações 1 1
P a trim ô n io a rq u e o ló g ic o e — — «.» •— «— m
mm _ — mmm
paisagístico
A b ra n g ê n c ia 1 1
N avegação 10 1 25 26
Custos 5 5 10 20
Tecnologia 1 1 1 3
C a pa citação 1 1 1 3
Reaplicação 10 10
TOTAL 225
Fonte: C onsultoria P aulista de Estudos A m b ie n ta is S/C Ltda. Estudo de Im p a c to A m b ie n ta l, D ragagem do Canal de P iaçagüera e
G erenciam ento dos Passivos A m bie nta is, Cosipa, 2 0 0 5 .
conflitos inerentes a toda atribuição de valor, ao passo que a análise por critérios
múltiplos “tradicional” pressupõe ou tenta formar um consenso — o critério de ava
liação — que na sociedade só existe raramente.
S is t e m a s de in f o r m a ç ã o g e o g r á f ic a n a a n á l is e de a l t e r n a t iv a s
0 uso cada vez mais difundido dos sistemas de informação geográfica (SIG) no plane
jam ento de projetos e na avaliação de impacto ambiental pode trazer embutida a
utilização de critérios arbitrários de atribuição de importância às diferentes variáveis
mapeadas. 0 mesmo exemplo simplista citado no início desta seção, das opções de
traçado rodoviário que podem afetar uma área de vegetação nativa ou um bairro
rural, pode ser novamente citado: na escolha do traçado que menor interferência
CAPITU
A valiação da Importância dos I m p a J J 309
causa nos atributos am bientais escolhidos é preciso dar um peso a cada um desses
atributos (o próprio uso de pesos idênticos já é um critério que deveria ser explícito),
mas diferentes grupos de interesse podem atribyir pesos diferentes a u m a mesma lista
de atributos.
Como pode haver discordância na alocação dos pesos, é conveniente que estes sejam
clara e explicitam ente expostos no EIA. A discordância pode dar-se entre a equipe
m ultidisciplinar que elaborou o EIA e a equipe de análise técnica, ou com terceiros,
como ONGs e consultores de associações. Uma situação como esta ocorreu na discus
são pública de um projeto de duto de derivados de petróleo de São Paulo a Brasília.
Para avaliação am biental do projeto, foram feitas cartas tem áticas e um a divisão da
área de estudo em células quadradas de 2,5 km de lado, na qual foram identificados os
componentes am bientais mais relevantes (Ibrahim, Bartalini e Iram ina, 1995). Foram
selecionados onze temas, visto que cada um recebeu um peso entre 0 e 10. Para cada
xema, foram definidas classes que designam características am bientais que poderiam
ser afetadas pelo em preendim ento, às quais tam bém se atribuíram pesos entre 0 e 10,
este últim o valor representando a m aior fragilidade do ambiente diante do projeto.
Cada célula de 2,5 km de lado apresentava um a única classe para cada um dos temas,
o que configura um a escala pouco detalhada de análise4. Em seguida, foi estimado
o “grau de incom patibilidade” de cada quadrícula p ara receber o em preendim ento 4Como discutido
proposto, dado pela somatória da multiplicação dos pesos de cada tem a pelo peso de na seção 9.4, João
(2002) mostrou que
cada classe, em cada quadrícula. Desta forma, obtém-se o m elhor traçado possível,
a escala adotada
que é dado pela seqüência de quadrículas com o m enor grau de incompatibilidade. afeta os resultados
da análise dos
Como se pode observar, os resultados da aplicação desse procedim ento dependem de impactos, pois
ij escala adotada (o ta m a n h o da quadrícula); (ii) a acurácia das inform ações tem á uma unidade de
terreno com 625 ha
ticas de cada quadrícula; (iii) a escolha dos tem as e a escolha das classes dentro de
(2,5 km x 2,5 km)
cada tema; (iv) os pesos atribuídos a cada tem a e a cada classe; (v) os critérios de
pode ter diferentes
combinação dos atributos. M udando-se cada um desses cinco itens, os resultados classes de uso do
podem ser diferentes. solo, de distâncias
a cursos d’água e
Souza (2000) refez o trabalho do EIA do poliduto para um pequeno trecho, utilizando demais atributos.
um SIG e modificando o ta m a n h o das quadrículas, e obteve um traçado diferente do
310 ^ ^ a l i a ç ã o de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
originalm ente proposto. Ademais, esse autor questionou o local selecionado para a
instalação de um a base de distribuição de combustíveis (uma das “saídas” do duto ao
longo de seu percurso), mostrando que a alternativa escolhida não levou em conta o
grau de incompatibilidade da área e teve o efeito de induzir o traçado do duto sobre
quadrículas de baixa compatibilidade; ao contrário, “a definição prem atura da [lo
calização da] base implicou, nesse caso, em um traçado que se desvia das células ou
pixels que representam menos impactos ambientais, favorecendo interesses do em
preendedor que j á era proprietário da área em questão, em detrimento da definição
do melhor traçado am biental” (p. 84).
W arner e Diab (2002) utilizaram um SIG para escolher o melhor traçado para uma
linha de transm issão na Africa do Sul. Foram selecionados oito temas, os quais
tiveram sua im portância relativa determ inada por meio de comparações de pares, |
respondendo a perguntas como; quanto mais im portante é um tem a (como recursos
culturais) que outro? (por exemplo, uso do solo), um procedimento “subjetivo, porém
quantificado de modo transparente, tornando-o disponível para debate e possível
modificação” (p. 42). Cada tema é dividido em fatores (ou subtemas) e cada um recebe,
também, um peso. Cada fator é, então, multiplicado por seu peso e os resultados são
somados para dar a “adequabilidade” de cada quadrícula em que é dividida a área
de estudo. Naturalm ente é preciso dispor de mapas em escala adequada (neste caso,
1:10.000), de imagens aéreas (neste caso, fotos) e de dados de campo, compilados ou
produzidos durante os estudos de base.
Como no caso do poliduto, o estudo de W arner e Diab (2002) tam bém foi feito após a |
conclusão do EIA e chegou a conclusões diferentes, pois usou critérios de avaliação
distintos. Uma vantagem do uso do SIG, apontada pelos autores, é a possibilidade de
sim ular diversos cenários e v ariar os pesos, simulando a valoração que diferentes
interessados podem dar aos atributos considerados (temas e subtemas). Uma vez u l
trapassada a etapa inicial de m ontar as bases de dados georrefereneiadas e preparar
os mapas para os vários temas, o SIG permite simulações rápidas.
C omparação q u a l it a t iv a
0 reconhecimento da inevitável subjetividade na comparação de alternativas e de que
a classificação da im portância dos impactos depende de um a escala de valores leva
ao uso de procedimentos ainda mais simples e exclusivamente qualitativos. André
_____________________________________________ I
CAPÍTUlSl
A v a l i a ç ã o d a I m p o r t â n c ia d o s I m p a m B M 311
et al. (2003, p. 273) argum entam que a simples apresentação da informação na forma
de um quadro comparativo facilita uma tomada de decisões e a escolha entre as alter
nativas; diante de um quadro sinóptico, cada um avalia a situação utilizando seus
próprios critérios ou seus próprios pesos, como em qualquer decisão que as pessoas
tomam em suas próprias vida.
u.
M
A nálise de
risco
12
aliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
Perguntas do tipo “0 que aconteceria se...” são muitas vezes feitas ao se analisar 1
viabilidade ambiental de um projeto. Os resultados do mau funcionamento do em
preendimento podem ser mais significativos do que os impactos decorrentes de se.
funcionamento normal. São situações que tipificam risco ambiental.
Outros riscos são menos evidentes. Por exemplo, a emissão de efluentes líquid:.
contendo metais pesados ou determinados compostos orgânicos pode represem: -
um a situação de risco, na medida em que esses poluentes poderão acumular-se mr
certos compartimentos do meio físico (como sedimentos ou água subterrânea) e tzr
certos componentes da biota e, em decorrência, causar danos à flora, à fauna e à s=_-
/
CAPÍTU
A n á lis e de 315
afetadas pela doença de Minamata, das quais 143 haviam morrido em conseqüência;
outras 3.454 ainda estavam sendo avaliadas clinicamente. Uma decisão judicial de
1973 condenou a empresa a pagar 0 equivalente a US$ 35 milhões em indenizações
às famílias de 112 vítimas.
12.1 T ip o s de r is c o s a m b i e n t a i s
São muitas as classificações possíveis para os chamados “riscos ambientais”. Tecno
lógicos ou naturais, agudos ou crônicos são algumas das categorias utilizadas para
descrever diferentes tipos de riscos. Seu reconhecimento necessita de um a definição
prévia de qual tipo de risco se pretende identificar.
D
a .ia ç ã o de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
CAPITU
A n á l is e de
Um im portante grupo de pessoas expostas aos riscos são os trabalhadores das in sta
lações perigosas. São tam bém aquelas diretam ente envolvidas com a prevenção de
riscos. Por isso, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) negociou um docu
mento sobre a Prevenção de Acidentes Industriais Ampliados denom inado Convênio
174, que tra z um a definição de acidente tecnológico ampliado:
CAPITU
A n á l is e de
N otas do Q u a d r o 1 2 .1
R = PxC
CAPITU
A n á l is e de
A construção de grandes barragens para fms de geração de energia tem pouco mais
de cinqüenta anos, mas barragens são construídas há séculos. Muitas não resistiram
e romperam. Contabilizam-se algumas centenas de casos importantes de rupturas de
barragens. Esse número não pode, naturalmente, ser avaliado em termos absolutos,
pois há diferentes técnicas construtivas de barragens — que evoluíram em função da
experiência prática, incluindo aquilo que foi aprendido estudando os casos que deram
errado - e diferentes critérios de dimensionamento das estruturas que permitem a
passagem de água - mais de metade dos casos de ruptura devem-se a excesso de
agua nessas estruturas, que, ao não dar vazão, permitem que a água passe sobre o
corpo da barragem, fenômeno chamado de galgamento. Assim, deve-se considerar
que certas barragens representam maior perigo que outras.
Por outro lado, os resultados da ruptura de uma barragem dependem de sua locali
zação e do potencial de danos possíveis. Uma barragem situada a montante de uma
área densamente habitada, por exemplo, terá efeitos graves caso se rompa, enquanto
um a barragem localizada em região de baixa densidade populacional terá efeitos de
menor monta, ou menor magnitude, no que se refere a perdas de vidas hum anas e
danos materiais. Poderá, todavia, ter conseqüências ecológicas importantes.
12.4 E s t u d o s de a n á l i s e de r is c o s
Em um estudo de risco, além de se buscar identificar os perigos e estimar o risco
(ou seja, estimar matematicamente as probabilidades de ocorrência de um evento e
a magnitude das conseqüências), deve-se propor medidas de gerenciamento. Estas
dividem-se em medidas preventivas (visando reduzir as probabilidades de ocorrência
e, por conseguinte, reduzir os riscos) e ações de emergência (medidas a serem toma
das no caso de ocorrência de acidentes).
Os estudos de risco podem ser integrados aos estudos de impacto ambiental ou ser
conduzidos como avaliações separadas do EIA. Esta últim a forma é usada no Estado
de São Paulo, onde cabe à Cetesb exigir e aprovar estudos de análise de risco (EARs).
ao passo que cabe ao Departamento de Avaliação de Impacto Ambiental da Secretaria
2N o Estado de São do Meio Ambiente a análise dos EIAs2.
Paulo, a Cetesb
siste m a tiza os
São exigidos estudos de análise de risco para o licenciamento (instalação ou ampliação,
procedim entos de
análise de risco
de certas indústrias ou outras atividades potencialmente perigosas, e esses estudos
desde os anos 1990. são sistematicamente necessários nos casos de sistemas de dutos de transporte de
Os procedim entos petróleo e seus derivados, gases e outras substâncias químicas e plataformas de pe
fo r a m oficializados tróleo ou gás. Os critérios de classificação das instalações perigosas e a conseqüente
cm agosto dc 2003.
exigência de estudos especializados sobre risco baseiam-se no perigo de um a insta
D iá r io O f ic ia l do
113 (156),
E s ta d o
lação para a comunidade e o meio ambiente circunvizinho, característica que, por
2 0 dc agosto de sua vez, depende diretamente dos tipos de substâncias químicas manipuladas, das
2003, p. 3 4 -4 3 . quantidades envolvidas e da vulnerabilidade do local. A Fig. 12.2 mostra esquemati-
Esse docum ento camente os critérios para exigência de estudos de risco no Estado de São Paulo. Desta
será aqui referido
forma, a triagem de empreendimentos para realização de EARs baseia-se unicamente
como Cetesb (2003).
no fato de que, em determinadas instalações industriais (fontes de poluição), podem
ocorrer acidentes ambientais. A avaliação de risco ainda não se estendeu, institucio-
nalmente, a outras atividades que causem impactos ambientais significativos.
capítuí
A n á l is e de ri
riscos e propor medidas de gestão para reduzi-los, assim como um plano de ação
para situações de emergência. Os principais itens de um tal estudo são (Cetesb, 2003,
p. 35):
% Caracterização do empreendimento e da região. Apresenta-se uma descrição
das instalações e atividades, assim como algumas características importantes
do local, tais como características climáticas e meteorológicas, uso do solo no
entorno do empreendimento, presença de concentrações populacionais e locali
zação de bens a proteger (recursos hídricos, fragmentos florestais etc.).
& Identificação dos perigos e consolidação de cenários de acidentes. Por meio
de procedimentos sistematizados, busca-se identificar possíveis seqüências de
eventos que poderão resultar na liberação acidental de substâncias ou em outro
efeito negativo. Em função, entre outros, da severidade dos danos possíveis,
preparam-se “cenários”, ou seja, situações plausíveis de acidentes. Há várias
técnicas disponíveis para a identificação dos perigos, dentre as quais a análise
prelim inar de perigos (APP), a análise de perigos e operabilidade (Hazop) e a
análise de modos de falhas e efeitos (AMFE).
# Estimativa dos efeitos físicos e análise de vulnerabilidade. Trata-se de uma
previsão das conseqüências ambientais, caso se concretizem os cenários consi
derados para análise. Existem disponíveis diversos modelos matemáticos que
simulam os efeitos de acidentes, como a propagação de uma nuvem de gás, a
explosão de gás inflamável etc. As atividades nesta fase envolvem a estimativa
de quantidades liberadas, o estudo do comportamento da substância imedia
tamente após a liberação (espalhamento de líquido, volatilização de líquido,
dispersão a jato, expansão adiabática de gás pressurizado, explosão de nuvem
de gás ou vapor etc.) e a simulação da dispersão no meio.
# Estimativa de frequências. Trata-se da quantificação das frequências de ocor
rência dos cenários acidentais identificados, com base em dados históricos ou
na opinião de especialistas.1*
# Estimativa e avaliação de riscos. Consiste na estimativa quantitativa, em termos
probabilísticos, do risco ao qual estão expostas as pessoas na área de influência
da instalação.
» Gerenciamento de riscos. Consiste na formulação de diferentes medidas preven
tivas para evitar a ocorrência de acidentes ou reduzir seus efeitos. Inclui-se
também em um plano de gerenciamento de riscos (PGR) a descrição das medi
das a serem tomadas em caso de ocorrência de acidentes, também conhecidas
como Plano de Atendimento a Emergências (PAE). 0 PGR deve descrever todos
os procedimentos propostos e os recursos necessários, concentrando-se nos
aspectos críticos identificados anteriormente e dando prioridade aos cenários
acidentais mais importantes.
Muitas vezes a preparação de um estudo completo de análise de risco pode ser substi
tuída pela preparação de um plano de gerenciamento de riscos. Com isso, evitam-se
as atividades complexas e detalhadas de estimativa das frequências e de simulação
dos efeitos físicos, concentrando os esforços na formulação de medidas para reduzir
os riscos e na preparação de um PAE. Esse plano de gerenciamento de riscos pode
facilmente ser incorporado a um EIA ou a algum documento subsequente no processo
de licenciamento ambiental.
ação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
CAPÍTU LO
A nálise de ri
12.5 F e r r a m e n t a s p a r a a n á l is e de r is c o s
A análise de riscos am bientais teve grande desenvolvimento com a indústria nucle
ar. Acidentes com reatores e outras instalações nucleares são tipicam ente de b aix a
probabilidade de ocorrência, porém de grandes conseqüências.
I dentificação de pewgos
A identificação de perigos é o ponto de p artid a dos estudos de risco. A lguns não vão
além dessa fase, passando para a preparação de um plano de gerenciam ento. Em casos
que requerem análises m ais sofisticadas, estim am -se as frequências de ocorrência de
certos cenários para, em seguida, estim ar os riscos. P ara identificar os perigos, é feita
um a v a rre d u ra da instalação an a lisad a p a r a identificação de eventos iniciadores de
falhas operacionais e posterior quantificação de suas frequências.
CAPITU
Q u ad ro 12.3 Exemplo de planilha de avaliação preliminar de perigos (APP),
Local : Sistema:
R eferência :
DETECÇÃO DE FREQUENCIA
C lassificação de C o m b in a ç ã o de In fo rm a ç ã o C ódigo in te r
a co rd o com c a severidade e c o m p le m e n ta r no, nú m e ro
te g o ria s d e fin i fre quê ncia, ou re c o m e n seqüencial ou
das p revia m e nte, de acordo com dações de o u tr o id e n tifi
c o m o " c a ta s tr ó c rité rio p ré d e - ações cador
fico", "desprezí fin id o preventivas
vel" etc.
M o d e ra d a Baixo Idem 15
G
roJ
-^j
328 HMwaliacão de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
A e e s t im a t iv a de r is c o s
n á l is e d a s c o n s e q ü ê n c ia s
Trata-se da parte quantitativa da avaliação de riscos, mas nem sempre se avança
até esse ponto. A análise das conseqüências é uma simulação de acidentes que per
mite estimar a extensão e a magnitude das conseqüências, o que é feito por meio
de modelos matemáticos específicos para determinado cenário acidental. Para cada
hipótese acidental, deve-se usar procedimentos apropriados de cálculo. Em se tratan
do da liberação de um a substância química, deve-se (Technica, 1988):
# saber a fase (líquida, gasosa ou uma rhistura de líquido e gás);
# estimar a quantidade liberada;
# determinar o comportamento da substância após a liberação (vazamento de
líquido pouco volátil, vazamento de líquido volátil, inflamável, expansivo etc.);
# verificar como se dá a dispersão (nuvem densa, subida de pluma) e se pode haver
incêndio ou explosão;
# determinar os efeitos agudos e crônicos de liberações tóxicas.
A v a l j a ç á o d e r is c o s
A avaliação de riscos, como a avaliação da importância de impactos, implica juízo de
valor. 0 conceito de risco aceitável vem sendo debatido há décadas. Algumas pessoas
são mais propensas a correr ou aceitar riscos, enquanto outras mostram aversão a
situações arriscadas. Seria possível determinar alguma média de aceitabilidade de
risco? Para o ambiente, a dificuldade é maior, pois muitas vezes trata-se de riscos
impostos e não voluntários, e a fonte de risco é a atividade exercida por um terceiro
e não pelo próprio indivíduo.
capítuI R ^^H H H M H
A n á lis e de r i ^ m 329
Os critérios de risco aceitável são estabelecidos tendo como base estimativas quanti
tativas. Assim, por exemplo, Hong Kong, de m aneira similar às outras jurisdições,
estabelece que 0 risco individual máximo aceitável é 10~5, ao passo que 0 risco social
varia entre 10"3 e IO-6, devendo ser mitigado de acordo com 0 conceito de “tão baixo
quanto razoavelmente praticável” (ALARP - As Low as Reasonable Practicable)
(HKEPD, 1997, p. 25).
12.6 P e r c e p ç ã o de r is c o s
Uma das questões mais relevantes dentro da avaliação de impacto ambiental é a ma
neira como diferentes pessoas encaram e se comportam diante de situações de risco.
Sabe-se que há pessoas mais e menos propensas a aceitar riscos, em qualquer área -
por exemplo, a propensão a riscos econômicos em investimentos financeiros, riscos
de vida praticando esportes radicais ou ainda riscos à saúde devido ao uso de tabaco.
A repartição dos riscos e dos benefícios é talvez um dos pontos centrais quando a
instalação de um empreendimento perigoso está em discussão. Na maior parte dos
casos, aqueles que se beneficiam com o empreendimento (empresários, acionistas,
financiadores, fornecedores, empregados) não são aqueles que deverão suportar os
riscos (principalmente a comunidade vizinha), estabelecendo-se, então, um grande
potencial de conflito.
Tais características (entre outras que interferem na percepção dos riscos) devem
necessariamente ser levadas em conta na análise e na discussão sobre os impactos
ambientais de um empreendimento. Elas podem até determinar a aceitação ou não d:
projeto, de modo que o envolvimento público desde suas fases iniciais pode facilita;
muito a comunicação e a eventual aceitação do empreendimento. No Brasil, a ela
boração e a análise de estudos de análise de risco não envolvem nenhum a forma ce
consulta ou comunicação pública, ao contrário dos estudos de impacto ambiental; ca;
a necessidade de integrar os estudos e sua análise técnica. 0 processo de avaliaçã:
de impacto ambiental, por outro lado, representa uma oportunidade de participaçã:
pública na análise e decisão sobre instalações perigosas, e a possibilidade de esta
belecimento de um canal formal de comunicação com as partes interessadas. Esse:
estudos são ferramentas de identificação e análise de riscos agudos, e não de riscos
CAPÍTU LO
A n á l i s e de
Uma das funções da avaliação de impacto ambiental é servir como ferramenta para
planejar a gestão ambiental das ações e iniciativas às quais se aplica. Ao estudar
detalhadamente as principais interações entre a ação proposta e o meio ambiente, a
equipe técnica que elabora o estudo de impacto ambiental está bem posicionada para
formular recomendações que visem à redução dos impactos adversos, realçar os im
pactos benéficos e traçar diretrizes de manejo.
CAPITU
P l a n o de g e s t ã o a m b i e n ^ J 335
-Há três condições para realizar tal potencial. A primeira delas é a preparação cuida
dosa do plano de gestão, devidamente orientado para atenuar os impactos adversos
significativos, para reduzir as lacunas de conhecimento e as incertezas sobre os
impactos reais do projeto.
13.1. C o m p o n e n t e s de u m p l a n o de g e s t ã o
Fostuma-se abrigar sob o termo genérico de “medidas mitigadoras” a designação do
conjunto de ações a serem executadas visando a reduzir os impactos negativos de
um empreendimento. Dentro da perspectiva preventiva que norteia a avaliação de
impacto ambiental, trata-se de antever quais serão os principais impactos negativos
e buscar medidas para evitar que ocorram, ou para reduzir sua m agnitude ou sua
importância.
Esses dois componentes obrigatórios dos EIAs têm em comum o fato de se referirem
a providências que deverão futuram ente ser tomadas caso o projeto seja aprovado;
normalmente as ações propostas e descritas nos estudos ambientais se transform am
em compromisso do empreendedor ou em condições obrigatórias impostas pelo agente
regulador (licenciador).
TR
•• • i> : V.
336 I j ^ a l i a ç ã o de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
TR
33-3 aliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
e ações não necessariamente articulados entre si e que nem sempre incluem meca
nismos de avaliação. Caso o proponente tencione utilizar um sistema de gestão em
conformidade com a norma NBR ISO 14.001: 2004, então pode ser conveniente que já
durante a preparação do EIA sejam identificados os aspectos e impactos ambientais,
na etapa de identificação dos impactos, e que sejam definidos, na etapa de elaboração
do plano de gestão, os objetivos e as metas ambientais (item 4.3.3 da norma), assim
como programas e procedimentos de gestão ambiental (item 4.3.4 da norma), como
sugerido por Sánchez e Hacking (2002). Evidentemente, objetivos, metas e programas
são sempre sujeitos a revisão, e no caso de um empreendimento ainda em planeja
mento certamente estarão sujeitos a detalhamento, o qual poderá ser feito durante a
preparação dos estudos necessários à etapa seguinte do licenciamento ambiental, a
obtenção da licença de instalação. Os estudos ambientais preparados nessa fase, como
os PCAs, normalmente devem incluir projetos detalhados ou executivos dos compo
nentes do empreendimento e dos sistemas de controle ambiental, podendo também
incluir o detalhamento do sistema de gestão.
1 3 .2 M e d i d a s m i t i g a d o r a s
Ações propostas com a finalidade de reduzir a magnitude ou a importância dos
impactos ambientais adversos são chamadas de medidas mitigadoras ou de atenuação.
Medidas típicas incluem sistemas de redução da emissão de poluentes, como o trata
mento de efluentes líquidos, a instalação de barreiras antirruído e o abatimento das
emissões atmosféricas por meio da instalação de filtros, mas os tipos de medidas
mitigadoras possíveis abrangem um a gama ampla, desde medidas muito simples,
como a instalação de bacias de decantação de águas pluviais para reter partículas
sólidas e evitar seu transporte para os cursos d’água durante a etapa de construção,
até o emprego de técnicas sofisticadas de redução de emissões atmosféricas.
CAPÍTU LO
P l a n o de g e s t ã o a m b i e m H H 339
Evitar impactos adversos deve ser o primeiro objetivo da equipe de projeto. Se houver
colaboração efetiva entre a projetista e a equipe ambiental, muitos impactos poderão
ser prevenidos ou ter menor magnitude. Assim, reduzir ou mesmo evitar a intervenção
em áreas de vegetação nativa pode ser um a condição imposta aos projetistas e pla
nejadores. Um exemplo de como a consideração de diferentes alternativas pode
contribuir para evitar e reduzir certos impactos é dado pelo projeto de construção da
pista descendente da rodovia dos Imigrantes (Figs. 13.2 e 13.3 e Quadro 13.3).
só e a eliminação de um dos
viadutos. Uma melhor carac
terização das características
geomecânicas do maciço ro
choso levou a mudar o traçado
do último túnel, inserindo-o
mais profundamente no maci
ço. Tais mudanças acarretaram
a que a construção da pista
descendente implicasse um
desmatamento quarenta vezes
menor que a construção da
pista ascendente, três déca
— Projeto o rig in a l - 17 viadutos, 10 tú n e is
das antes (Sánchez e Gallardo.
P rojeto revisto no EIA (1988) - 11 viadutos, 5 tú n e is
2005, p. 186), com redução de
Projeto revisto para LI (1999) - 7 viadutos, 4 tú n e is
650 m da extensão dos viadu
. Projeto e xe cu tivo - 6 viadutos, 3 tú n e is
tos e aumento de 2.661 m da
Fig. 13.2 A lte rn a tiv a s de tra ça d o p a ra a p is ta descendente da ro d o via dos Im igrantes, extensão de túneis.
São Paulo
Fonte: G allardo (2004).
Vista ascendente anteriormente construída Trechos em túnel da nova pista Trechos a céu aberto da nova pis3
CAPITU
P lano de gestão ambien H * 341
CAPITU
P lano de gestão ambie 343
TR
344 ^ ^ a l i a ç ã o de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
0 estudo sistemático dos erros e acertos de experiências passadas, com toda certeza, é
a melhor m aneira de avançar no projeto e nas especificações de medidas mitigadoras
eficazes. No setor das rodovias, vários
anos de pesquisas e aplicações permitem
que, em países como França e Holan
da, viadutos para fauna, ou “ecodutos”,
sejam implementados em todos os locais
relevantes e que as faixas de domínio de
várias autopistas sejam manejadas como
corredores e não como barreiras ecológi
cas (Rijkswaterstaat, 1995; Setra, 1993a).
Evidentemente, trata-se, aqui, de impac
tos diretos. As questões suscitadas pelo
efeito i*ndutor à ocupação de áreas servi
das pelas rodovias são de outra natureza.
E o caso do efeito da pavimentação de
rodovias amazônicas sobre as derrubadas
Fig. 13.7 Bacias de contenção ao redor de tanques de arm azenamento de florestas ou do efeito do adensamento
de produtos químicos (à esquerda) e sistemas de tratam ento de efluentes urbano em zonas de proteção aos
(no caso, chorum e de um aterro sanitário) estão entre as medidas correntes mananciais.
de prevenção e correção de im pactos adversos. A terro sanitário instalado na
antiga pedreira M iron, M ontreal, Canadá, onde tam bém funciona uma usina Atualmente, quase todos os seto
term elétrica alim entada pelos gases produzidos no aterro res da atividade econômica já foram
suficientemente estudados para que
se possam prescrever as principais
medidas de mitigação e de prevenção
de impactos adversos (Fig. 13.7 e 13.8),
agrupadas sob a noção de melhores prá
ticas ambientais e as inúmeras variações
do termo, como boas práticas de gestão
ambiental, melhores tecnologias dispo
níveis ou melhores técnicas que não
acarretem custos excessivos. Essas boas
práticas foram compiladas e são conti
nuamente atualizadas por associações
de empresas de um mesmo setor, por
entidades governamentais ambientais
Fig. 13.8 Pequenas bacias de retenção de sedimentos provenientes de áreas ou industriais e também por organiza
de terraplenagem e proteção com gram a de talude em solo, realizada im e ções internacionais. Pode-se citar a série
diatam ente após a conclusão dos trabalhos de escavação, são medidas que publicada pela Agência de Proteção
reduzem a degradação da qualidade das águas superficiais. Construção da Ambiental Australiana sobre gestão
pista descendente da rodovia dos Imigrantes, SP ambiental na mineração (cujo resumo é
CAPITU
P lano de gestão am bien
13.3 P r e v e n ç ã o d e r i s c o s e a t e n d i m e n t o a e m e r g ê n c i a s
A lguns impactos são de ocorrência incerta, mas a incerteza n ã o p o d e de f o r m a
algum a, ser negligenciada na avaliação de impacto ambiental, e muito menos durante
o ciclo de vida do empreendimento.
Da mesma forma que impactos incertos devem ser identificados no estudo de impacto
ambiental, o plano de gestão deve incluir medidas voltadas a eles. Quando o EIA
comporta um estudo detalhado de risco, ou é complementado por um estudo de
análise de risco, isso se torna evidente. 0 estudo de risco proporá um a série de m e
didas de redução e gestão do risco, que n aturalm en te deverão fazer parte do plano
de gestão do empreendimento. Entretanto, mesmo que o projeto não comporte graves
perigos e não seja necessária a preparação de um estudo de risco, a incerteza sobre a
ocorrência de certos impactos (que somente ocorrerão caso certas condições se m a n i
festem) não pode ser usada para ju stificar a ausência de medidas para redução de
riscos. Elas devem, assim, fazer parte do conjunto de medidas mitigadoras.
Para boa parte dos em preendim entos sujeitos ao processo de AIA, não é necessário
um grande detalham ento dos procedim entos de segurança e gerenciam ento de riscos,
346 W ^ a lia ç ã o de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
haja vista que, via de regra, apresentam riscos substancialmente menores que o de
indústrias químicas ou de instalações de transporte e armazenagem de petróleo ou
derivados. Pode assim ser suficiente um a descrição dos procedimentos de prevenção
de riscos e das ações previstas em caso de ocorrência de acidentes.
Tais ações podem ser descritas no Plano de Atendimento a Emergências (PAE). Esse
plano é exigível em certos casos —por exemplo, no Estado de São Paulo é obrigatório
para o licenciamento de empreendimentos sujeitos à apresentação de estudos de
análise de risco ou planos de gerenciamento de riscos, e também para rodovias. Por
outro lado, muitas empresas preparam planos de emergência de forma voluntária.
Vale lembrar que a preparação para atendimento a emergências é item obrigatório de
sistemas de gestão ambiental que sigam as diretrizes da norma NBR ISO 14.001: 2004
e para as empresas que adotam o programa Atuação Responsável® da Associação
Brasileira da Indústria Química (Abiquim).
U
(i) uma descrição dos cenários ou hipóteses acidentais considerados;
(ii) as ações de resposta às situações emergenciais compatíveis com os cenários
acidentais considerados, incluindo os procedimentos de avaliação da situação, a
atuação emergencial (combate a incêndios, isolamento, evacuação, contenção de
vazamentos etc.) e ações de recuperação das áreas afetadas;
(iii) a descrição dos recursos materiais e humanos disponíveis, e os programas de
treinamento e capacitação.
CAPÍTUÍLO
Plano de g e s t ã o a m b ie n l S H 347
13.4 M e d id a s c o m p e n s a t ó r ia s
Alguns impactos ambientais não podem ser evitados. Outros, mesmo que reduzidos
ou mitigados, podem ainda ter magnitude muito elevada. Nessas situações, fala-se
em medidas para compensar os danos ambientais que vierem a ser causados e que
não poderão ser mitigados de modo aceitável. Um exemplo típico é o da perda de um a
porção de vegetação nativa, comum em empreendimentos como rodovias, barragens,
minas e outros. 0 objetivo de m inim izar a perda de hábitats deverá estar presente em
todo EIA de um empreendimento que possa causar tal impacto. Assim, desviar um
trecho de estrada, fazer um túnel, reduzir a altura de um a barragem para diminuir a
348 aliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
Não se trata de indenização monetária, como ocorre, por exemplo, quando um imóvel
é desapropriado por razões de utilidade pública, mas de um a compensação “em
espécie”. Assim, a perda de 38 hectares de cerrado, por exemplo, pode ser compen
sada pela conservação de um a área equivalente ou maior ou pela recuperação da
vegetação de uma área degradada, ou ainda por ambas as medidas.
A lei também manteve o percentual mínimo de 0,5% “dos custos totais previstos para
a implantação do empreendimento” a ser aplicado nessas unidades de conservação,
cabendo ao órgão licenciador eventualmente estabelecer percentual maior, “de acordo
CAPITU
P lano de gestão am bien H ® 349
com o grau de impacto am biental causado”. Não há regra clara para estabelecer 0
m ontante ^ ser empregado na com pensação5. No caso do projeto de construção da 5A aplicação
pista descendente da rodovia dos Imigrantes, em São Paulo, a licença prévia fixou dos recursos da
0 percentual de 2% para ser aplicado em projetos no interior do Parque Estadual da compensação
Serra do Mar, atravessado por essa rodovia. ambiental foi
detalhada na
Resolução Conama
Na Holanda, com relação ao planejamento de rodovias, a compensação ecológica é bem
n° 357, de 5 de
sofisticada. Requerida por lei de 1993, ela deve ser buscada para situações de (i) perda de abril de 2006.
hábitats, (ii) degradação de hábitats devido ao ruído, ilum inação ou poluição das águas; e
iii) isolamento (fragmentação) de hábitats. A área degradada no entorno da rodovia
devido ao efeito do ruído sobre as aves deve ser calculada no estudo de impacto
ambiental e pode atingir até 1 km em áreas florestadas e u ltrap assar 2 km em áreas
abertas (Cuperus et al., 2001). 0 m ontante a ser dedicado à compensação não é esta
belecido a priori, mas 0 custo, evidentemente, depende da estratégia de compensação
a ser empregada e do preço dos terrenos a serem adquiridos, se necessário. A regra
geral é a de compensação na base de um para um (1 ha de compensação para cada
1 ha afetado), 0 que, segundo 0 estudo de Cuperus et al. (2001), é insuficiente para
cobrir todos os danos ecológicos, haja vista que os impactos devido à fragm entação
de hábitats são raram ente quantificados.
caso não seja possível encontrar alternativas p ara evitar essa perda. E permitido
que a compensação seja feita em outro local, situado de preferência na mesma bacia 6Essa é uma
hidrográfica, por meio de ações de restauração ou reabilitação de outras áreas úmidas. grande diferença
0 empreendedor, público ou privado, promove primeiro a recuperação de um a certa conceituai
em relação à
área, que tem sua qualidade ambiental avaliada, 0 que lhe dá direito a créditos, depo
compensação
sitados em um banco hipotético. Em seguida, ao obter a aprovação para seu projeto, ambiental
ele debita créditos dessa conta. Empresas ou instituições que têm vários projetos brasileira, a qual,
podem adicionar e retirar créditos do seu banco, conforme promovem iniciativas vista sob esse
de recuperação de zonas alagadiças e im plem entam seus projetos. Bancos privados ângulo, parece mais
foram criados. Eles com pram terrenos, promovem a restauração de u m a zona alaga- uma taxa ambiental
diça e, em seguida, vendem créditos a empreendedores que deles necessitam. Toda a ser recolhida por
um empreendedor
área recuperada nessa m odalidade deve passar a ter proteção legal que impeça sua
que cause impacto
ulterior degradação ou destruição, seja como propriedade privada, seja tran sferin d o -a
significativo e
para algum ente governam ental com atribuições de conservação am biental (Weems não como um
e Canter, 1995). mecanismo de
reposição, de
>»a A lem anha, a mitigação e a compensação são obrigatórias ^e.\a Lei L eàeiai úe substituição
Conservação da Natureza de 1976, não se lim itando a projetos submetidos à prepa ou mesmo de
indenização
ração de um EIA. Depois de exploradas as opções de evitar impactos adversos e
de funções ou
de m inim izá-los, devem ser consideradas as possibilidades de compensação ditas
componentes
de “recuperação am biental” e de “substituição”, que requerem um a “conexão dire ambientais
ta espacial e funcional” com as funções e os componentes am bientais perdidos6. perdidos.
P l a n o de g e s t ã o a m b ie n
I s program as de reassentam ento v ieram ten tar suprir as deficiências dos esquem as
■adicionais de desapropriação e deslocamento de grupos h u m an o s afetados por g ra n -
íes projetos desenvolvim entistas. Data de 1980 a adoção pelo Banco M undial de
r j a primeira política sobre reassentam ento involuntário, que preconizava um tra ta -
~ento sistemático da questão, levando em conta os impactos sobre as populações
:-~e:amente afetadas. F u ndam ental para essa política era o planejam ento prévio
:: reassentam ento, visand o reproduzir, no novo local, condições sim ilares àquelas
I t-iperim entadas pela população no seu local de origem.
C : :rocedim entos preconizados por essa política eram muito diferentes dos modos de
l a i : então vigentes, e sua aplicação foi dificultada pela resistência dos promotores
l t : : projetos de desenvolvimento, que viam o reassentam ento apenas como custo
p i - d o n a l - o fato de em preendim entos como barragens e rodovias serem m uitas
^zts promovidos por agentes públicos e serem tidos ju rid icam en te como de utilidade
■ p L i l c a fornecia u m a legitimação à tal resistência.
■ r . entanto, em 1980, a política do Banco M undial não fazia mais do que refletir a
■ I " : -letação e a resistência ativa de m uitas com unidades atingidas por projetos que
■ i _: i v a m seu deslocamento. Em vários países em desenvolvim ento surgiam movi-
de protesto aos deslocamentos forçados. No Brasil, a década de 1990 viu
■ K r i i r o MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), que continua opondo-se
■ i : "lo c a m e n to s involuntários de pessoas. Projetos de m enor porte tam bém foram
de contestação por parte das populações diretam ente afetadas. Na cidade de
IS -=ulo, por exemplo, a oposição ao projeto viário u rb an o denom inado “Operação
( f e ~ i l i m a ” teve grande repercussão na im prensa e deu origem a ações judiciais que
Tavam o em preendim ento proposto e suas desapropriações.
liação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
13.5 R e a s s e n t a m e n t o de p o p u la ç õ e s h u m a n a s
Os estudos ambientais de empreendimentos que envolvam o deslocamento de pessoas
devem dedicar uma atenção especial ao programa de reassentamento da população.
No passado, esses projetos somente pagavam indenização pelo valor da propriedade e
das benfeitorias afetadas, como, por exemplo, no caso de desapropriações para fins de
utilidade pública. As pessoas que não tinham título de propriedade - a realidade mais
comum nas zonas rurais dos países em desenvolvimento - eram, na maioria das vezes,
expulsos das terras que ocupavam, em uma atitude autoritária e profundamente injusta.
CAPÍTUi LO
P l a n o de g e s t ã o a m b i e n
Os procedimentos preconizados por essa política eram muito diferentes dos modos de
agir então vigentes, e sua aplicação foi dificultada pela resistência dos promotores
dos projetos de desenvolvimento, que viam o reassentamento apenas como custo
adicional — o fato de empreendimentos como barragens e rodovias serem muitas
vezes promovidos por agentes públicos e serem tidos juridicamente como de utilidade
pública fornecia um a legitimação à tal resistência.
No entanto, em 1980, a política do Banco Mundial não fazia mais do que refletir a
inquietação e a resistência ativa de muitas comunidades atingidas por projetos que
forçavam seu deslocamento. Em vários países em desenvolvimento surgiam movi
mentos de protesto aos deslocamentos forçados. No Brasil, a década de 1990 viu
surgir o MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), que continua opondo-se
a deslocamentos involuntários de pessoas. Projetos de menor porte também foram
objeto de contestação por parte das populações diretamente afetadas. Na cidade de
São Paulo, por exemplo, a oposição ao projeto viário urbano denominado “Operação
Faria Lima” teve grande repercussão na imprensa e deu origem a ações judiciais que
contestavam o empreendimento proposto e suas desapropriações.
aliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
CAPITU
P l a n o de g e s t ã o a m b i e n tHa l B 353
TR
354 aliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
Como qualquer outra medida de gestão visando mitigar ou compensar impactos nega
tivos, as atividades de reassentamento devem ser planejadas previamente de modo
consistente com os princípios adotados, respeitando-se o contexto legal e as regras
tradicionais vigentes nas comunidades afetadas. 0 Quadro 13.6 mostra o conteúdo de
um plano de reassentamento segundo a política de reassentamento do Banco Mundial.
Trata-se de um documento bastante extenso e detalhado, mas a política do Bancc
garante flexibilidade em sua aplicação, deixando claro que alguns dos elementos d:
plano podem ser apresentados de maneira simplificada ou mesmo deixados de lado.
CAPITU
Plano de gestão ambien 355
13.6 M e d id a s de v a l o r i z a ç ã o d o s i m p a c t o s b e n é f ic o s
Os impactos positivos de um empreendimento muitas vezes se manifestam mais no
campo socioeconômico. A criação de empregos e a dinamização da economia lo
cal são frequentemente citados como impactos benéficos na maioria dos EIAs. No
entanto, trata-se muitas vezes de um potencial do que de um impacto de ocorrência
certa. Por exemplo, os empregos criados poderão requerer capacitação técnica não
disponível entre a força de trabalho local e os postos de trabalho acabarão preen
chidos por indivíduos de fora da comunidade que acolhe o empreendimento. Outra
situação comum é a dificuldade das empresas locais atuarem como fornecedoras de
bens e serviços ao novo empreendimento, porque não têm capacidade técnica para
Tal (no caso de bens e serviços de alto conteúdo tecnológico), capacidade gerencial
para fornecer o bem ou serviço na qualidade requerida ou capacidade financeira para
investir no aumento de sua produção e atender à nova demanda.
TR
J a S ia ç ã o de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
Uma outra vertente dos programas voltados a realçar os impactos benéficos mescla-se
com a atuação das empresas na área conhecida como responsabilidade social, que
usualmente envolve iniciativas nas áreas de educação e saúde, de capacitação profis
sional ou de geração de emprego e renda. Programas de educação ambiental ou a
implantação de centros de educação e estudos ambientais (Fig. 13.11] são exemplos
dessas iniciativas; aproveitando a capacidade das empresas em alocar e alavancar
recursos financeiros e humanos, ações voltadas para a conscientização acerca dos
problemas ambientais, para a difusão de conhecimento e para iniciativas de reci
clagem ou de plantio de mudas de espécies nativas estão entre as mais comuns. Tais
programas deveriam, idealmente, incluir os próprios funcionários das empresas e
aqueles das empresas prestadoras de serviços.
13.7 E s t u d o s c o m p l e m e n t a r e s o l
ADICIONAIS
0 planejamento de um projeto de enge
nharia se faz em etapas de progressiv;
Fig. 13.11 Centro de educação am biental construído voluntariam ente pela
detalhamento, partindo-se de um a ideia.
empresa Alcoa em Poços de Caldas, M inas Gerais, no início dos anos!990;
intenção ou conceito até chegar-se a
fo i o pioneiro de uma rede de centros sim ilares m antidos p o r empresas hoje
um projeto executivo ou construtivc
existente no Estado
detalhado. Conforme aumenta o detalha
mento, aumenta o custo de elaboração do
projeto. Nas etapas sucessivas são avaliadas as viabilidades técnica, econômica e
ambiental, cujas conclusões podem levar a modificações do projeto ou ideia original.
Nesse modelo, admite-se que o detalhamento do EIA seja compatível com o grau de
detalhamento do próprio projeto e, como há um a incerteza quanto à sua aprovação
governamental, ele vai sendo detalhado à medida que há bons indicadores de sua
CAPÍTU LO
P l a n o de g estão a m b ie n H ® 357
Considere-se o caso do patrim ônio arqueológico que possa ser afetado por u m a rodovia,
um loteam ento ou u m a barragem . Pode acontecer que o núm ero de sítios arqueológicos
afetados seja b astan te alto, da ordem de dezenas. Ora, o estudo de cada um deles pode
dem and ar anos e pode ter um razoável custo econômico. Não faz sentido estu d ar com
detalhe cada um deles, se houver incerteza acerca da construção do em preendim ento,
já que o impacto somente ocorrerá se o projeto for adiante. Assim, os le v a n ta m e n
tos arqueológicos tam bém são feitos com progressivo grau de aprofundam ento,
podendo-se lim itar em m uitos casos a um simples levantam ento do potencial arq u e
ológico e identificação de possíveis sítios d u ran te a preparação do EIA, seguido de
trabalhos de prospecção e mesmo de escavação (Fig. 13.12) depois de concedida a
licença prévia, mas antes de solicitar a licença de instalação. No caso de um a b a r r a
gem, cujas obras poderão dem orar anos, pode-se então fazer um estudo detalhado da
área que será inu ndada depois de iniciada a construção, mas antes, evidentem ente,
do enchim ento do reservatório.
13.8 P l a n o de m o n i t o r a m e n t o
As previsões de impacto feitas em u m
EIA são sempre hipóteses acerca da res
posta do meio am biente às solicitações
im postas pelo em preendim ento. A v a li
dade dessas hipóteses som ente p oderá ser
confirm ada — ou desm entida - se o p ro
jeto for efetivam ente im plantado e seus
impactos devidam ente monitorados.
Essa é a principal razão p ara a exigência, Fig. 13.12 Escavação arqueológica prévia à a b e rtu ra de um a estrada de
na m aioria das regulam entações, da apre acesso a um a m ina, onde se evidenciam vestígios de m ineração de ouro da
sentação de um plano de m onitoram ento época do Im pério Rom ano (século II d.CJ, em Belm onte, A stúrias, Espanha
TR
aliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
como parte integrante do EIA. Por sua vez, a gestão ambiental não pode prescindir do
monitoramento, que fornece a base de informações sobre o desempenho do empreen
dimento e sobre o comportamento do meio.
O monitoramento ambiental do projeto não deve ser confundido com o controle geral
de qualidade do meio ambiente, feito por órgãos governamentais; deve ser concebido
em função dos impactos identificados e previstos, de modo que possa ser capaz de
distinguir as mudanças induzidas pelo empreendimento daquelas ocasionadas por
outras ações ou por causas naturais.
CAPÍTU LO
P l a n o de g e s t ã o A M B i E N | j ^ | 359
D monitoramento ambiental é, por sua própria essência, dinâmico —com base em seus
resultados, o próprio plano de monitoramento deve ser revisto, ajustado e atualizado.
Este também deve ser ajustado às mudanças pelas quais passa o empreendimento
durante sua vida útil, de modo que o plano proposto nos estudos ambientais é apenas
o ponto de partida para um programa contínuo de monitoramento ambiental que
acompanha todo o ciclo de vida de um empreendimento, e eventualmente perdura
após seu encerramento.
*
13.9 M e d id a s de c a p a c it a ç ã o e g e s t ã o
A existência de programas bem estruturados de gestão ambiental não garante seu
sucesso. Se a aplicação não for conduzida por um a equipe conscientizada e treinada, as
medidas de gestão podem simplesmente não dar certo. Porém, profissionais qualifica
dos são necessários, mas não suficientes para atingir os resultados esperados, pois os
programas não podem depender somente das pessoas; devem ser institucionalizados,
de forma que possam resistir à troca do pessoal envolvido.
Uma das principais falhas dos programas de mitigação de impactos é “dar mais atenção
às medidas de ordem física do que a controles operacionais e gerenciais” (Marshall,
r
2001a, p. 196). E bem conhecido que projetos excelentes podem ser mal implemen
tados. Muitas vezes, o questionamento público de um projeto ou a preocupação dos
analistas dos órgãos governamentais se dá justam ente sobre a capacidade do propo
nente em implementar efetivamente as medidas requeridas para o empreendimento.
Essa questão não pode ser negligenciada ou tratada superficialmente: a capacidade
dos responsáveis pela implementação das medidas de gestão deveria ser demonstrada.
Isso pode ser relativamente simples quando se trata de um a empresa ou organização
que já opera ou já implantou empreendimentos similares e pôde demonstrar bom
desempenho nos casos anteriores, mas, pelo contrário, pode significar um a das
principais barreiras à aceitação de um projeto quando o proponente tem um histórico
ruim de desempenho ambiental.
liação de Im pacto A m biental: conceitos e métodos
Sánchez e Hacking (2002) sugerem que a gestão ambiental deva ser entendida sob três
dimensões: a preventiva, a corretiva e a gestão da capacidade, ou seja, da capacidade
organizacional de gerir um empreendimento respeitando os requisitos ambientais.
Essa dimensão envolve a capacitação das pessoas, a designação de responsabilidades,
a alocação de recursos e a gestão do conhecimento, tarefas para as quais os sistemas
de gestão (da qualidade ambiental ou de saúde e segurança do trabalho) podem ser
ferramentas muito úteis. Quando as organizações dispõem de sistemas de gestão para
cada um desses três componentes, sua fusão em um só resulta no chamado sistema
de gestão integrada.
A experiência prática tem demonstrado que, para que os impactos decorrentes da fase
de implantação de um empreendimento sejam mitigados de modo satisfatório, é da
maior importância que as equipes construtoras tenham plena consciência das impli
cações ambientais de suas atividades e sejam devidamente preparadas e treinadas
para as tarefas que irão executar. Casos brasileiros documentados de comprovado
sucesso na implantação de medidas mitigadoras durante a fase de construção de
projetos de elevado impacto (Sánchez e Gallardo, 2005; Küller e Machado, 1998) mos
tram a importância desse tipo de programa.
LO
P l a n o de g e s t ã o a m b i e n ^ H 361
\
13.10 E s t r u t u r a e c o n t e ú d o d e u m
Fig. 13.13 Dano decorrente da inexistência de program a de gestão
PLANO DE GESTÃO AMBIENTAL
am biental. As causas de condutas desrespeitosas perante o am biente podem
0 plano de gestão costuma ser apresen
ser m últiplas, incluindo baixa capacitação do pessoal operacional e baixa
tado em um capítulo específico do EIA, conscientização dos gerentes. Neste exemplo, a fa lta de orientação clara e
no qual são descritas as medidas propos a inexistência de um procedim ento docum entado para a atividade de troca
tas, apresentados os resultados esperados de óleo lu b rifica n te de equipam entos pesados resultou em contam inação
de sua aplicação e, eventualmente, é do solo
apresentado seu custo estimado. Dois
itens são obrigatórios: o cronograma e a designação do responsável por cada ação.
A atribuição de responsabilidades pode ser um a questão delicada se algumas m e
didas estiverem fora da jurisdição ou do alcance do proponente do projeto. No caso
de projetos privados, algumas medidas necessitam de aprovação governamental, que
nem sempre pode ser garantida no mofriento da apresentação do EIA. No caso de em
preendedores públicos, a competência legal do proponente pode limitar o escopo das
medidas de gestão, ou podem ser necessárias medidas fora do campo de competência
legal da agência proponente.
ã
0 Quadro 13.7 mostra como podem ser sintetizados os programas de gestão decorrentes
do processo de avaliação de impacto ambiental de um empreendimento, enquanto o
Quadro 13.8 mostra como pode ser organizada a descrição de um programa de gestão.
c a p ít i líg g ^ M U M ^ —
P l a n o de g e s t ã o a m b i e n H ® 363
reuniões de conselhos estaduais ou m u Quadro 13.7 Exemplo de quadro sintético descritivo de um plano de
nicipais de meio ambiente ou pareceres gestão ambiental
de órgãos governamentais consultados Im pacto A ç ã o proposta T ip o R esponsável F ic h a d e s c r it iv a
LO
C om unicação
DOS RESULTADOS
liação de Impacto A m b ie ntal: conceitos e métodos
O redator de um estudo de impacto ambiental (ou de algumas partes dele) tem à sua
frente um problema inusitado. Não está escrevendo um relatório técnico que será
somente lido por outros técnicos com formação e nível de conhecimento similar ao
seu. Tampouco está preparando um texto no estilo jornalístico, que poderia ser lido
e compreendido por qualquer pessoa medianamente educada. Os estudos de impacto
ambiental têm um pouco das duas características, mas há ainda outras dificuldades
a serem enfrentadas por quem os redige.
É justam ente essa característica que possibilita que o EIA e o Rima sejam facilitadores
da discussão pública, um potencial instrum ento de inclusão. Amplia-se, assim, o
espectro de participantes implicados no processo de discussão, além do domínio
público sobre temas e questões que antigamente (ou seja, antes da legislação sobre
AIA) ficavam restritos a determinados círculos ou monopólios de interpretação
(conforme seção 17.3).
CAPÍTÚ110
C o m u n ic a ç ã o dos R e s u l t a m B 367
leitor também quer saber quais as técnicas utilizadas para análise dos dados e as j u s
tificativas para as conclusões apresentadas no estudo.
No entanto, muitos leitores dos estudos ambientais não são profissionais do ramo.
Se o estudo e o relatório de impacto ambiental devem servir como base para uma
discussão pública e para o “uso público da razão” (conforme seção 16.2) no processo
decisório, então sua redação e apresentação devem buscar a redução do nível de
ruído e interferência na comunicação. 0 ativista de um a organização não governa
mental poderá estar interessado em um único aspecto particular ou em como o
empreendimento poderá afetar seus interesses — assim, a “Sociedade dos Amigos do
Papagaio-de-cara-roxa” pode querer saber de que maneira o projeto proposto poderá
afetar o hábitat ou as fontes de alimento dessa espécie. Da mesma forma, um grupo
de interesse com outra perspectiva, como a associação comercial local, buscará infor
mações sobre como seus negócios serão afetados pelo projeto. Já a comunidade local
normalmente quer saber de que maneira o empreendimento poderá afetar seu modo
de vida, quantos empregos serão criados ou se haverá transtornos na sua locomoção.
Algumas pessoas têm interesse em saber se sua propriedade está situada nas proxi
midades da área de intervenção, ou se seu acesso será interrompido ou dificultado.
0 Quadro 14.1, adaptado de Page e Skinner (1994), classifica os leitores dos estudos
ambientais em cinco grupos principais, indicando seus respectivos pontos de vista.
Trata-se, evidentemente, de uma divisão esquemática, pois, na prática, as perspec
tivas, os interesses e os pontos de vista se sobrepõem e se mesclam de modo muito
mais intricado que qualquer esquema teórico. No entanto, essa classificação é útil
para identificar que tipo de informação os diferentes leitores vão buscar nos estudos
e, portanto, para orientar os redatores na preparação dos relatórios.
0 analista técnico é aquele cuja principal função é emitir um parecer sobre a quali
dade e suficiência do estudo de impacto ambiental. Essa é tipicamente a atribuição
dos técnicos do órgão ambiental e dos profissionais das instituições governamentais
consultadas pelo órgão licenciador. Seu envolvimento com o processo de AIA e sua
perspectiva de análise é profissional, baseada em sua formação acadêmica e sua
experiência anterior. Ele pode ter lido dezenas de estudos de impacto e pode ter p arti
cipado da preparação de outros tantos; pode também ter trabalhado na construção ou
na operação de um empreendimento similar àquele que está analisando. Seu principal
objetivo, ao ler os estudos, é verificar se os quesitos atinentes à sua especialidade
foram satisfatoriamente atendidos; em caso contrário, formulará exigências para
apresentação de estudos complementares ou para esclarecimento de pontos dúbios.
As informações buscadas por esse tipo de leitor referem-se aos métodos utilizados, às
hipóteses que possam ter sido assumidas para realização dos levantamentos e para
chegar às conclusões sobre o diagnóstico ambiental ou sobre a análise dos impactos,
ou ainda aos bons fundamentos das conclusões (por exemplo, quanto à classificação
dos impactos significativos, quanto à proposição de medidas mitigadoras e sua efi
cácia). Dentro do grupo de analistas, normalmente, encontra-se um especialista no
tipo de projeto apresentado que buscará informações técnicas sobre o projeto e sobre
as medidas mitigadoras, assim como justificativas para as escolhas apresentadas.
Os analistas técnicos formam o grupo que provavelmente lerá o estudo de impacto
ambiental com mais atenção. Para um bom entendimento, esse tipo de leitor não só
C,
368 lE j^ a lia ç ã o de Impacto A m biental: conceitos e métodos
CAPÍTÜ LO
C o m u n ic a ç ã o d o s R esulta 369
0 público, aqui entendido como um conjunto de indivíduos1, busca nos estudos 1Público é
ambientais inform ações sobre como poderá ser afetado pelo projeto. Um vizinho da entendido aqui, em
área de em preendim ento terá interesse em saber se sua propriedade sofrerá algum a um sentido restrito,
como os cidadãos
forma de impacto, se um a nascente poderá secar, se haverá cam inhões passando
que possam se
diante de sua porta ou se sua residência estará sujeita a ruído excessivo. 0 con he interessar por um
cimento dos indivíduos sobre seu local de moradia ou de trabalho pode ser muito empreendimento
mais profundo do que o dos consultores que elaboraram o diagnóstico ambiental, e seus impactos.
embora não sistematizado em bases científicas. Desse modo, inform ações apresen No que se refere à
tadas no EIA podem ser contestadas com base nesse conhecim ento empírico, e isso consulta pública
no processo de
pode influenciar os analistas do órgão ambiental. Muitas vezes, porém, as pessoas
avaliação de
estão interessadas em inform ar-se sobre as conseqüências de um projeto para to impacto ambiental,
mar decisões sobre como agir para preparar-se ou adaptar-se à nova situação que o público é
será criada e o EIA tam bém terá essa função, principalm ente se não houver outros entendido como
veículos de comunicação para inform ar o público. uma categoria
extremamente
ampla, que engloba
Adm inistrador do processo é um termo que designa um a pessoa ou grupo de pessoas
todo e qualquer
com atribuições que v ariam entre jurisdições, pois seu papel e suas funções dependem interessado:
ia lei e de regulamentos. No Brasil, corresponde essencialmente aos dirigentes dos “Público é todo
jrgãos licenciadores. 0 adm inistrador não tem tempo de ler todo o EIA e se baseia no aquele que não é
parecer de um a equipe técnica. Sua principal preocupação é assegurar que todos os [o] empreendedor e
que não participou
requisitos legais sejam atendidos e que os procedimentos adm inistrativos sejam rigo-
da equipe
rrsam ente cumpridos. Se não o forem, o adm inistrador pode ser contestado por isso,
multidisciplinar
até por via judicial. Cabe a ele a responsabilidade de levar aos tomadores de decisão [que elaborou o
um arrazoado sobre as v antagens e os riscos do projeto e de suas alternativas. 0 adm i estudo]” (Machado,
nistrador pode ser contestado por grupos de interesse, se não obrigar o empreendedor 1993, p. 52).
a explorar com nível suficiente de detalhe todas as alternativas razoáveis de localiza
rão e de mitigação. Ele tam bém pode ser questionado por seus superiores hierárquicos,
zm geral políticos sujeitos a pressões provenientes de todos os grupos de interesse, e
ieve prestar contas pelos mais variados problemas percebidos por esses grupos, como
; demora na análise, não ter exigido estudos suficientemente detalhados, não ter
iado a devida atenção a determ inado bem legalmente protegido, privilegiar interesses
:e ambientalistas radicais ao invés das necessidades prementes de desenvolvimento
social e econômico do País e diversos outros pontos de vista conflitantes.
grupo e poderá ter de justificar seu voto junto a suas bases. Os representantes poderão
ler partes do estudo ambiental, em busca de informações selecionadas, mas estão
fundam entalm ente interessados em conhecer os prós e os contras de cada alternativa,
até mesmo da alternativa de não aprovar o projeto.
Por fim, há leitores ocasionais dos estudos ambientais, não referidos no Quadro 13.1,
dentre os quais pode-se destacar pessoas encarregadas da fiscalização dos atos gover
namentais; no Brasil, são os membros do Ministério Público, que podem iniciar ações
judiciais, envolvendo, desta forma, juizes e peritos. Caso haja contestação de uma
decisão já tomada ou em vias de ser tomada, o estudo de impacto ambiental pode ser
detalhadamente revisto à procura de erros e incongruências.
14.2 O b j e t iv o s , c o n t e ú d o s e v e í c u l o s d e c o m u n i c a ç ã o
A comunicação em avaliação de impacto ambiental busca transm itir informação
técnica multidisciplinar a um público variado com interesses específicos distintos.
Além disso, busca convencer as partes interessadas acerca da viabilidade do
empreendimento proposto (isso pressupõe que, se o empreendimento for considerado
internamente como inviável, o projeto nem será submetido à aprovação governa
mental; por outro lado, significa que, se o empreendedor e seus consultores estão
convencidos da viabilidade ambiental do psojeto, tentarão convencer os demais
interessados).
CAPÍTU
C o m u n i c a ç ã o d o s R e s u lt a
I ntrodução
Apresentação básica do empreendimento e resumo de suas características principais
Informação sobre termos de referência ou diretrizes seguidas
Apresentação do estudo, estrutura e conteúdo dos capítulos
I nfo rm ações gerais
Localização e acessos
Apresentação da empresa proponente
Objetivos e justificativas do empreendimento
Histórico do empreendimento e das etapas de licenciamento
Análise da compatibilidade do empreendimento com a legislação incidente
Análise da compatibilidade do empreendimento com planos e programas governamentais
D escrição de em pr een d im en to e suas alternativas
Alternativas consideradas
Critérios de seleção e justificativa de escolha
Atividades e componentes do empreendimento nas etapas de implantação, operação e
desativação
Cronograma do projeto *
D iagnóstico a m b ie n ta l
Descrição da área de estudo
Diagnóstico do meio físico
Diagnóstico do meio biótico
Diagnóstico do meio antrópico
A nálise dos im pactos
Metodologia empregada
Identificação, previsão e avaliação dos impactos ambientais
Síntese do prognóstico ambiental
P lano de gestão a m b ie n ta l
Medidas mitigadoras, compensatórias e de valorização
Plano de recuperação de áreas degradadas
Programa de monitoramento e acompanhamento
Cronograma de implantação
R eferências bibliográficas
E quipe técnica ( in c lu in d o u m parágrafo sobre a q ualificação de cada profissional )
G lossário
A nexos:
Termos de referência do estudo
Mapas, plantas, figuras, fotos
Estudos específicos detalhados
Leis ou trechos de leis citados
Laudos de ensaios e análises
Listas de espécies
Memórias de cálculo e anteprojetos de medidas mitigadoras
Cópias de documentos (como certidões municipais, memorandos de entendimento, atas de
reuniões, registros de audiências ou reuniões públicas etc.)
HO
C o m u n i c a ç ã o d o s R es u lt a
sobre o resumo: Todo estudo de impacto ambiental deve conter um resumo que
o sintetize de modo adequado e exato. 0 resumo deve enfatizar as principais
374 aliação de Im pacto A m biental: conceitos e métodos
Serão tais critérios de clareza cumpridos pela maioria dos estudos ambientais?
14.3 D e f ic iê n c ia s c o m u n s do s r e la tó r io s t é c n ic o s
A dificuldade de boa parte dos engenheiros e cientistas em comunicar-se com um
público leigo é bem conhecida (Barrass, 1979). No caso de estudos multidisciplinares,
o “leigo” pode ser outro engenheiro ou cientista que não domine as técnicas, os
conceitos ou o jargão de um campo do conhecimento que não é o seu.
Erros estratégicos ocorrem devido à parca compreensão das razões pelas quais são
feitos os estudos ambientais e para quem se destinam. Muitos profissionais assumem
- erroneamente — que os relatórios serão lidos apenas por especialistas, esquecendo-
se dos demais grupos de leitores (Quadro 14.1); dentre eles encontram-se aqueles
favoráveis ao projeto, que “esperam que o EIA não apresente nenhum a previsão de
impactos inevitáveis ou indique alternativas mais favoráveis”, e o grupo a priori
contra o projeto, “alerta a qualquer passagem na qual impactos negativos tenham
sua importância menosprezada” (Weiss, 1989, p. 237). Mesmo quando o EIA atende
formalmente ao conteúdo exigido, erros estratégicos podem m arcar o estudo. Weiss
identifica um a tendência comum em engenheiros, cientistas e acadêmicos de “escrever
(divagar) a respeito do assunto”, esquecendo que o EIA deve atender a objetivos de
comunicação, pois, “quanto mais fascinado estiver um autor com o seu tema, maior
o risco de o texto perder o foco e frustrar o leitor”. Talvez a mais típica expressão
dessa fascinação sejam as longas descrições de aspectos regionais que povoam muitos
diagnósticos ambientais.
Esses comentários podem parecer um indulto àqueles que têm a tarefa profissional
de ler e comentar estudos ambientais — e realmente o são. Infelizmente, os analistas
e os críticos de um EIA tam bém têm de se exprim ir por escrito, e os resultados
não são melhores. Basta escolher ao acaso um parecer técnico de análise de um
EIA. Naturalmente há exceções, e há EIAs e Rimas bem redigidos, mas tam bém são
exceções.
Erros estruturais tampouco são raros. Um exemplo desse tipo de erro, provavelmente
resultante de pouco cuidado na redação e revisão, é a seguinte passagem, extraída do
capítulo relativo à análise dos impactos de um estudo de impacto ambiental:
O u tr o s p o n to s , c o m o a u m e n t o do t r á f e g o d e c a m in h õ e s , r is c o d e a c id e n te s d e
t r â n s it o e a t r o p e la m e n t o s , p o d e m s e r c o n s id e r a d o s i r r e le v a n t e s , u m a v e z q u e
s e rá r e s t r it o a u m a u m e n t o p o u c o s i g n i f i c a t i v o d u r a n t e a fa s e d e im p la n t a ç ã o ,
r e f e r e n t e a o t r a n s p o r t e d o s e q u ip a m e n t o s a s e r e m in s t a la d o s n a á r e a .
C,
376 gRJjaliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
1 4 .4 S o l u ç õ e s s im p l e s para r e d u z ir o r u íd o na c o m u n ic a ç ã o e s c r it a
Há inúmeros m anuais de redação e outras obras de referência com recomendações
para um a comunicação escrita eficaz. Se ao menos esses princípios básicos fossem
seguidos, a legibilidade da maioria dos estudos ambientais já seria bastante ampliada.
Alguns autores fornecem sugestões específicas para a preparação de relatórios
ambientais, como Canter (1996), Dorney (1989) e Eccleston (2000).
CAPÍTU 10
C o m u n i c a ç ã o d o s R e s u lt a ^ 377
O fato dos relatórios serem escritos a muitas mãos só dificulta a tarefa de torná-los
coerentes e legíveis. Certamente cabe ao coordenador do estudo dar diretrizes claras
aos especialistas quanto ao estilo e formato de suas contribuições, ainda que muitos
deles acabem não seguindo as orientações. 0 coordenador poderá desempenhar
um papel importante na homogeneização do texto, eliminando as incongruências
mais evidentes e informações contraditórias. Contudo, todo cuidado é pouco para
não alterar as informações factuais, as interpretações e as conclusões dos autores
originais.
I : zieston (2000, p. 155) recomenda que se deveria “envidar todos os esforços para se
até mesmo um a aparência de parcialidade” no texto, chegando a sugerir que se
« n r regue o condicional ao invés do futuro, para deixar claro que nenhum a decisão
■ ainda tomada. Por outro lado,7 em muitos EIAs encontram-se recomendações 3 dos
caviulrores especializados mantidas na forma original, ou seja, como recomendação
svgestão, sem deixar claro se foram efetivamente acatadas pelo empreendedor,
confunde o leitor e o analista. Para maior clareza, termos como deve, deveria ou é
a" : : -Tinte que (referindo-se a medidas de gestão ou à descrição do empreendimento,
C
378 ^ ^ a l i a ç ã o de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
entre outros), devem ser evitados e substituídos por expressões afirmativas do tipo
será executado ou será construído caso o projeto venha a ser aprovado.
Uma estratégia para atender às necessidades dos vários tipos de leitores é prover
ferramentas que perm itam a rápida localização de informações relevantes. Um su
mário detalhado (e evidentemente paginado) é o mínimo que pode ser oferecido,
mas índices remissivos tam bém são de grande valia. Esses índices normalmente são
colocados no final de cada volume e facilitam a localização de informações-chave.
Ilustrar o texto com fotografias tam bém auxilia na compreensão, desde que a
quantidade de fotos não seja excessiva e que elas ten ham legendas autoexplicativas.
Fotografias podem ser facilmente acomodadas ju n to ao texto para não tom ar muito
espaço nem quebrar a seqüência de leitura. Uma boa diagram ação é essencial para
que ilustrações e textos sejam complementares e não haja apresentação de um
contra o outro — evidentemente as fotos e ilustrações devem sempre ser cham a
das no texto, da mesma forma que quadros, tabelas e diagram as, e inseridas o
mais próximo possível do ponto de chamada. Caso haja necessidade ou interesse de
incluir um número elevado de fotos, como de levantam entos faunísticos ou florís-
ticos, ou de comunidades ou propriedades rurais, o mais conveniente é selecionar
poucas fotos representativas para o volume principal e incluir todo o conjunto
como um anexo.
CAPÍTU ILO
C o m u n ic a ç ã o dos R e s u lt a » 379
Nunca é demais lembrar que a qualidade das fotos é tão importante quanto a quali
dade do texto - não se trata somente de resolução ou nitidez (instruções que podem
ser facilmente fornecidas e seguidas para a tomada e a reprodução de fotos digitais),
mas também, e principalmente, de enquadramento, foco nos elementos principais,
contraste, iluminação e todos os demais elementos que fazem um a boa foto. Não se
espera que as fotos de um EIA tenham qualidades artísticas memoráveis, mas “a foto
é como a palavra: uma forma que imediatamente diz algo” (Barthes, 1986, p. 74), e há
de cuidar-se do que se diz em um relatório técnico.
3Na verdade,
Sintetizando as diversas recomendações, algumas regras práticas para a apresentação
trata-se de
de estudos ambientais3 são propostas a seguir: regras práticas
Quanto à estrutura, um bom relatório deve: para facilitar o
conter sumário paginado; ' entendimento de
% conter resumo executivo apontando os principais pontos do estudo; qualquer relatório
& conter resumo por capítulo; técnico.
evitar compartimentação excessiva do texto (ou seja, muitas subdivisões e nume
ração de seções que contenham mais de quatro algarismos);
adotar títulos e subtítulos apropriados;
incluir índices analíticos, lista de siglas, lista de figuras, tabelas e anexos;
* incluir glossário.
Quanto às referências e fontes de documentação, um bom relatório deve:
# citar de forma completa todas as referências bibliográficas utilizadas;
# citar de forma completa todos os relatórios internos e demais relatórios não
publicados, incluindo título, autores, entidade ou setor que o realizou, ano e
demais informações que permitam a localização do documento para consulta e
verificação das informações apresentadas;
* citar sites da Internet consultados, incluindo a data da consulta;
citar entrevistas telefônicas, mencionando pessoa entrevistada e data;
citar correspondências oficiais, informando data, número e órgão emissor.
Quanto ao estilo, um bom relatório deve:
>$ ser conciso sem ser lacônico;
# dar ao leitor informação suficiente para justificar sua conclusão;
evitar jargão técnico e explicar os termos menos usuais;
Ilação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
LO
C o m u n ic a ç ã o dos R esulta! 381
;
Núm ero do ca p ítu lo e
Clara indicação das seções
títu lo resum ido
EIA M in e ra çã o de A rg ila - V ie ira e Pirizal
MEDIDAS 8
( T itu lo do EIA
8.11 AVERBAÇÃO DE RESERVA LEGAL
QUADRO 8.11.1- RESUMO DAS AREAS PROPOSTAS PARA AVERBAÇAO DE RESERVA LEGAL
Quadros num erados, cham ados Reserva Legal (20% ) - Propriedade V ieira - M a trícu la 4.417 48,80
no te x to e relacionados nas Reserva Legal (20% ) - Propriedade Pirizal - M a trícu la 358 29,18
páginas in tro d u tó ria s
Total de averbaçào m ínim a prevista em Lei 77,98
Área to ta l proposta para averbaçào 100,00
A localização da área de averbaçào da Reserva Legal pode ser visualizada na Figura 8.8.2,
apresentada a n te rio rm e n te
\
Fig. 14.1 E xtrato de um a página de um EIA na qual se indicam vários elementos de diagram ação e
apresentação
Fonte: M u ltig e o M eio Am biente, EIA M ineração de A rg ila Vieira e Pirizal, 2004. Reproduzido com
autorização.
C
382 mggaliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
14.6 C o m u n ic a ç ã o c o m o p ú blic o
Várias jurisdições exigem que o estudo de impacto ambiental seja acompanhado
de um “resumo não técnico” ou de outro documento que sintetize as conclusões do
/
nhos de personagens (um adulto e duas crianças) que vão explorando a região e as
implicações do projeto. Um capítulo essencialmente calcado em desenhos artísticos
descreve o empreendimento. Esse foi o segundo estudo de impacto preparado para
o projeto. 0 primeiro foi concluído no início da década de 1990 e chegou a receber
aprovação dos órgãos estaduais do Paraná e de São Paulo, mas um a ação judicial
contestou com sucesso a competência estadual para licenciar e a análise passou para
o Ibama, que não aceitou o primeiro EIA. 0 projeto é controverso.
CAPÍTU 10
iação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
termo inglês
review. ser verificar a conformidade com alguma prática recomendada, como referências
internacionais ou as recomendações de alguma organização internacional.
Uma definição muito simples do que seria um bom EIA é dada por Lee (2000, p. 138):
“é aquele que apresenta, de uma forma apropriada para os usuários, constatações e
conclusões que cubram todas as tarefas da avaliação, empregando métodos apropriados
de coleta de informação, análise e comunicação”. Em outras palavras, um bom EIA é
aquele que tem as qualidades de todos os to n s relatórios técnicos. Portanto, forma e
conteúdo deverão ser analisados.
15.1 Fundamentos
Em cada sistema de AIA, a regulamentação estabelece a quem cabe a responsabili
dade de analisar os estudos. Por exemplo, na legislação brasileira cabe aos órgãos
ambientais licenciadores a análise dos estudos ambientais. Já em outros contextos
de uso da AIA, como sua aplicação por agentes financeiros multilaterais como o
Banco Mundial, a International Finance Corporation (IFC) e o Banco Interamericano
de Desenvolvimento (BID), tal análise cabe à equipe interna de meio ambiente des
sas instituições, com freqüente emprego de consultores externos. Há ainda outros
modelos, adotados em diferentes jurisdições, como o interagency review, previsto na
legislação americana, ou as comissões independentes de avaliação, empregadas no
Canadá e na Holanda.
CAPÍTU LO
A nálise técn ica dos estudos am bien
suficiente para subsidiar a tom ada de decisões sobre o em preendim ento. Em outras
palavras, busca-se determ in ar se o estudo de impacto tem forma e conteúdo satisfa
tórios e adequados.
A análise do conteúdo dos estudos am bientais deve ser feita com base em certos
critérios preestabelecidos, por meio dos quais se avalia a qualidade e a adequação
dos estudos apresentados. 0 ju lg am en to sobre a qualidade dos estudos norm alm ente
é feito com base em um a com paração com aquilo que seria esperado. De um modo
geral, há duas grandes linhas de critérios de comparação: (i) os term os de referência
estabelecidos para o estudo de impacto am biental analisado e (ii) as boas práticas, ou
as melhores práticas adotadas internacionalm ente [best practice).
QUI NZE
388 R QAv
a lia ç ã o de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
Em todos os casos, a análise pode ser feita internamente ou por um a terceira parte
contratada para esse fim. Em geral, espera-se que os órgãos ambientais responsáveis
jodn cíc equipes muftídiscipíúiarçs capacitadas para
realizar a análise técnica. No entanto, mesmo os organismos mais bem aparelhados
em pessoal técnico podem deparar-se com projetos muito complexos ou com situações
que fujam à experiência de sua equipe técnica, ocasiões em que devem lançar mão de
consultores especializados para complementar a capacitação interna.
1 5 .2 0 P R O B L E M A D A Q U A L ID A D E DOS ESTUDOS A M B IE N T A IS
Estudos retrospectivos que visam a um a avaliação crítica de estudos ambientais
e, principalmente, apontar suas deficiências, foram publicados por pesquisadores
c a p ít i
A n á l is e t é c n ic a d o s e s tu d o s a m b ie
de vários países. Uma linha de pesquisa aborda a capacidade preditiva dos EIAs
(conforme seção 10.4), mas tais estudos somente podem ser realizados para projetos
que seguiram adiante e foram implantados, após a aprovação dos estudos. 0 trabalho
clássico de Beanlands e Duinker (1983) não só apontou deficiências recorrentes
em EIAs canadenses, como formulou diversas recomendações que hoje integram o
conjunto de boas práticas de AIA.
Teixeira et al. (1994) revisitaram sete dos dez primeiros Rimas preparados para
2Os primeiros
empreendimentos hidrelétricos no Brasil, entre 1986 e 19882. À época, as grandes
estudos de impacto
barragens eram fortemente questionadas devido à extensão e gravidade de seus eram relatados
impactos ecológicos e sociais e a um histórico de danos irreversíveis, como a in u n somente nos Rimas,
dação das Sete Quedas do rio Paraná (Fig. 5.1), além do deslocamento forçado de inexistindo um
milhares de pessoas sem compensações adequadas. Por tais razões, a empresa es volume denominado
EIA, consoante
tatal Eletrobrás havia preparado um Manual de Estudos de Efeitos Ambientais de
uma interpretação
Sistemas Elétricos, tornado público (Eletrobrás, 1986), cujo conteúdo coincide em textual da
parte com as exigências da Resolução Conama 1/86. 0 manual aborda três tipos de Resolução Conama
empreendimentos — usinas hidrelétricas, usinas termelétricas, linhas de transmissão 1/ 86 .
e subestações —, descrevendo, para cada tipo, requisitos para estudos de planejamento;
no caso das hidrelétricas, há um “plano de levantamentos básicos” e um “plano de
controle ambiental”.
QU NZE
390 j^ ® a lia ç ã o de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
aplicado nos aspectos biológicos ou físicos dos espaços ocupados pelas hidrelé
tricas” (p. 176-177);
# desconsideração dos processos sociais em diagnósticos fortemente descritivos
que enfatizam aspectos demográficos;
# imprecisão de critérios para definir a população atingida e a área afetada ou área
de influência.
/
As deficiências não eram somente dos estudos ambientais, mas, antes deles, dos
projetos de engenharia, concebidos antes que exigências ambientais tivessem se
tornado explícitas. Assim, as barragens propostas para o rio Xingu eram criticadas
devido aos impactos muito significativos que teriam sobre o ambiente natural e sobre
3O caso das as comunidades indígenas (Santos e Andrade, 1988)3. Sem dúvida, há qualidades e
barragens do
deficiências intrínsecas a cada estudo de impacto ambiental, e que estão sob controle
Xingu teve ampla
da equipe multidisciplinar que o prepara, mas se o projeto analisado for de alto
repercussão na
mídia internacional impacto ou afetar recursos muito valorizados, por melhor que seja o EIA, o projeto
(Hildyard, 1989). será severamente criticado. Duas décadas depois, esse problema ainda perdura. Na
A té o presente análise de um EIA, embora se deva diferenciar entre as deficiências do estudo e os
(2006), as problemas do projeto, não há como se fazer uma separação completa.
barragens não
foram construídas,
Na opinião de Moreira (1993a), a prática dos primeiros anos de AIA no Brasil padecia
mas os projetos
foram reformulados de um a série de dificuldades. Entre os problemas atinentes à preparação dos EIAs, a
e novamente autora comenta que
submetidos ao
licenciamento [...] o que mais afeta os estudos são os problemas de coordenação técnica. As
ambiental. empresas de consultoria tendem a tratar a organização dos estudos de impacto
como tratam os trabalhos com que estão mais familiarizadas. 0 coordenador
limita-se a distribuir e cobrar as tarefas, controlar os gastos e os cronogramas e for
necer apoio aos profissionais das diferentes disciplinas, deixando a desejar a inte
gração dos aspectos setoriais do meio ambiente, quase sempre interdependentes.
CAPÍTll LO
A n á l is e t é c n ic a d o s e s t u d o s a m b ie
A percepção de que muitos consultores eram mal qualificados, que não entendiam
os objetivos e muito menos os fundamentos da AIA, e que reduziam sua atividade
a preparar documentos que pudessem facilitar a obtenção de uma licença ambiental
levou ao surgimento da expressão “indústria do Rima”, indicando a preparação em
série de relatórios quase idênticos, embora para projetos distintos.
Parte dos problemas pode ser atribuída a deficiências da etapa de triagem, que levaram
à preparação de uma grande quantidade de EIAs para empreendimentos de impacto
pouco significativo ou, pior, para empreendimentos já em operação há anos, embora
em situação irregular perante a legislação de licenciamento ambiental. Esse problema
foi claramente diagnosticado no Estado de São Paulo para o setor de produção de
areia de construção civil, que nos primeiros anos de aplicação da AIA respondia por
mais da metade dos EIAs protocolizados na Secretaria do Meio Ambiente, em claro
descompasso com sua importância na economia estadual ou seu potencial de causar
impactos adversos. Esses empreendimentos são muito semelhantes entre si, seus
impactos se repetem e podem ser prevenidos e corrigidos com medidas semelhantes,
o que faz que a maior parte de seus problemas ambientais possa ser resolvida com
procedimentos mais simples, mediante a aplicação de normas técnicas.
Libanori e Rodrigues (1993, p. 127) informam que, até setembro de 1991, de um total
de 145 EIAs analisados pelo Departamento de Avaliação de Impacto Ambiental da
Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, 96 eram de empreendimentos
minerários, a maior parte dos quais de extração de areia para uso na construção ci
vil. A extração de areia para fins de construção civil faz parte do rol de atividades
do Art. 2o da Resolução Conama 1/86. Há um debate acerca da aplicação dessa lista, APode-se citar como
havendo os que defendem que ela exemplifica os tipos de empreendimentos cuja im exemplo desse
plantação está sujeita à apresentação prévia do EIA, no sentido de que todos os que tipo de crítica as
ponderações de
constam da lista são obrigatórios, podendo o órgão licenciador exigir o EIA de outras
Fairfax (1978),
atividades não constantes da lista (Machado, 1993). Outros defendem que o caráter para quem a Nepa
exemplificativo da lista faculta ao órgão licenciador exim ir da apresentação do EIA f o i “um desastre
alguns tipos de empreendimentos que constam da lista, mas de impacto pouco signi para o movimento
ficativo (Gouvêa, 1993). Esta última interpretação acabou prevalecendo no Estado de ambientalista
São Paulo (Gouvêa, 1998) e foi resolvida pelo próprio Conama, primeiramente para e para a busca
de uma melhor
atividades de mineração (Resoluções 9 e 10/90) e depois para outros tipos de atividade
qualidade
(Resolução 237/97 e várias outras que se seguiram, conforme Quadro 3.5). ambiental”, por
desviar a atenção
Um certo desapontamento com os primeiros resultados das leis que tornaram obri do “questionamento
gatória a avaliação de impacto ambiental parece quase universal. Há, porém, de se e redefinição
discernir as críticas aos procedimentos, que não estariam atingindo os resultados de poderes e
resp o n sabilidades
esperados e deveriam ser aprimorados, das críticas aos próprios princípios e fun da
das agências
mentos da AIA, que tampouco faltaram 4. Nos primeiros anos de sua aplicação nos governamentais
Estados Unidos, diversos analistas sugeriram que os resultados alcançados estariam para a análise de
muito aquém do esperado, e dentre as razões apontadas tinha grande destaque o documentos”.
QU NZE
AvIaliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
entendim ento de que a maioria dos estudos de impacto ambiental seria de qualidade
sofrível, o que não perm itiria que decisões adequadas fossem tomadas tendo esses
estudos como base. Os críticos sugeriam que os estudos deveriam ser mais científicos,
o que poderia ser alcançado por intermédio de um a revisão pelos pares, fazendo-os
passar por um processo sem elhante ao de uma publicação científica (Schlinder, 1976)
ou submetendo à publicação as pesquisas que serviriam de base a esses estudos
(Loftin, 1976). No entanto, outras opiniões iam no sentido de fortalecer a revisão feita
pelos analistas dos órgãos governam entais - e não a crítica da parte de cientistas - e
o papel do público, tam bém interessado na qualidade dos estudos apresentados e em
seu conteúdo (Auerbach et al., 1976).
Os primeiros anos de aplicação da AIA no Canadá tam bém resultaram em “um alto
nível de fru stração ” dos principais envolvidos (Beanlands, 1993). Na França, as críti
cas centraram -se mais nos procedimentos adm inistrativos e no que era percebido por
muitos como insuficiente independência dos serviços adm inistrativos que analisam
os estudos de impacto, enquanto o conteúdo propriamente dito dos estudos não foi
objeto de discussões aprofundadas.
Esses estudos, que eram cham ados de auditoria da avaliação de impacto ambiental,
tiveram um a segunda conclusão consistente: a de que muitos projetos realmente
implantados eram bastante diferentes daqueles que haviam sido descritos nos estudos
de impacto ambiental, um a situação que, evidentemente, dificulta ou mesmo impede
qualquer comparação entre impactos previstos e impactos reais. As razões dessas
alterações têm a ver com o tempo transcorrido desde o planejamento do projeto e a
preparação do estudo de impacto até sua aprovação e início da construção. As m odifi
cações tam bém estão ligadas ao baixo grau de detalham ento dos projetos quando são
preparados os estudos de impacto ambiental; entre um projeto básico de engenharia -
o estágio em que são muitas vezes feitos os estudos am bientais - e um projeto exe
cutivo, muitas modificações costum am ser introduzidas. Aliás, se um a das funções
do EIA é fazer que as ações hu m an as tenh am o menor impacto possível, então é de
se esperar que haja modificações entre a concepção inicial do projeto e um a versão
A n á l is e t é c n ic a d o s e s t u d o s a , s
No Brasil, onde há poucos estudos sistemáticos, o que se tem são predom inante
mente análises impressionistas, baseadas na percepção de profissionais há anos
envolvidos na preparação ou na análise dos estudos ambientais, testemunhos que
em geral indicam uma melhoria. Todavia, um a compilação ao mesmo tempo abran
gente e detalhada das principais deficiências dos EIAs foi feita por uma equipe de
analistas do Ministério Público Federal (MPF). Estudando um a população de oitenta
EIAs de projetos submetidos a licenciamento federal ou que implicaram, por razões
diversas, o envolvimento do MPF, os autores desse estudo identificaram as falhas
mais freqüentes ou mais grades (MPF, 2004), resumidas no Quadro 15.1.
r
E extensa a lista dos problemas encontrados pelos analistas do MPF nos diagnósticos
ambientais, problemas que envolvem desde questões de ordem metodológica até levan
tamentos incompletos. 0 diagnóstico ambiental é a parte mais facilmente criticável dos
EIAs, haja vista que os inventários sempre podem ser mais detalhados e as análises
mais aprofundadas. Há, portanto, de se estabelecer qual a extensão e o grau de detalhe
dos estudos necessários para fundamentar a análise dos impactos e a proposição de me
didas de gestão, de modo que a análise técnica do EIA tenha como referência esses
requisitos mínimos. Logo, é na etapa de preparação dos termos de referência que devem
ser buscadas as causas das falhas mais comuns dos diagnósticos ambientais, pois é antes
de ter início a preparação propriamente dita do EIA que devem ser definidos os levanta
mentos necessários, a extensão da área de estudo, os métodos empregados e vários outros
parâmetros para orientar o estudo a ser feito. Com termos de referência falhos, grande é
a probabilidade de se encontrar estudos ambientais falhos. Naturalmente, um EIA feito a
partir de excelentes termos de referência também pode ser de má qualidade, concorrendo
para isso outros fatores, como capacitação da equipe e os recursos disponíveis.
Q u a d r o 15.1 D e fic iê n c ia s em e s tu d o s de im p a c to a m b ie n ta l n o B ra s il
Elemento do EIA P r i n c i p a i s d e f ic iê n c ia s
CAPITU
A n á l i s e t é c n ic a d o s e s t u d o s a m b ie n i 395
Por fim, embora se tenha insistido nas deficiências dos estudos ambientais, é óbvio
que grande número deles tem diversos méritos e que muitos possam mesmo ser exce
lentes. Apontar as deficiências certamente indica caminhos para saná-las, enquanto
identificar os pontos fortes contfibui para difundir as boas práticas.
1 5 .3 F e r r a m e n t a s p a r a a n á l is e e a v a l ia ç ã o dos es tu d o s a m b ie n t a is
A análise técnica de um estudo ambiental pode ser facilitada se houver um conjunto
de critérios ou de diretrizes preestabelecidos para orientar o trabalho do analista. Tais
critérios ajudam a reduzir a subjetividade da análise e podem levar a resultados mais
consistentes e reprodutíveis (grupos diferentes de analistas podem chegar às mesmas
conclusões). Unep (1996, p. 509) salienta, apropriadamente, que “a análise consistente e
previsível dos EIAs é importante para o tomador de decisão, para o proponente e para o
público”, ao passo que “a qualidade dos EIAs pode ser melhorada quando o proponente
conhece as expectativas da autoridade pública que gera o processo de AIA”.
QUI NZE
396 Av aliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
dos casos, os impactos adversos sejam mais freqüentes. Para iniciativas cujas conse
qüências prováveis sejam majoritariamente positivas, a fase de triagem deve ter
levado à dispensa de um estudo ambiental.
Para facilitar o trabalho dos analistas, podem ser preparadas previamente listas de
verificação, com a função de orientar a análise. Tais listas contêm um rol dos prin
cipais elementos que devem estar presentes em um estudo de impacto ambiental e
podem também trazer recomendações para sua avaliação. Existem na literatura listas
para verificação formal (para avaliar a aderência ao conteúdo previsto na regula
mentação) e listas para verificação do conteúdo dos estudos de impacto ambiental;
naturalm ente essas duas dimensões podem juntar-se em um a única lista. Listas de
verificação são ferramentas relativamente simples para analisar estudos de impacto
ambiental e têm a vantagem de serem utilizadas por diferentes interessados.
CAPÍTU 10
A n á l is e t é c n ic a d o s e s tu d o s an /E ; e
review package, do nome dos principais autores, esse procedimento foi usado ou
adaptado em inúmeros estudos sobre a qualidade de EIAs (Lee, 2000a). Para fins de
análise, os estudos ambientais são divididos em quatro áreas: (i) descrição do projeto e
do ambiente afetado; (ii) identificação e avaliação de impactos-chave; (iii) consideração
de alternativas e medidas mitigadoras; e (iv) comunicação dos resultados. Cada área é
subdividida em categorias, que por sua vez são subdivididas em subcategorias, estas
com maior grau de detalhe. Por exemplo, a área “identificação e avaliação de impactos-
chave” é composta pelas seguintes categorias: (a) identificação de impactos potenciais;
(b) hierarquização dos impactos; (c) previsão da magnitude dos impactos; (d) avaliação
da importância dos impactos. Já a área “comunicação dos resultados” inclui as seguin
tes categorias: (a) organização e apresentação do EIA; (b) acessibilidade do conteúdo
para não especialistas; (c) impedimento de julgamentos tendenciosos; (d) apresentação
das fontes de dados e métodos de análise utilizados; (e) presença de um resumo não
técnico suficientemente abrangente.
Outra lista de verificação foi desenvolvida pela também inglesa Universidade Oxford-
Brookes (Glasson, Therivel e Chadwick, 1999). A lista é organizada em oito seções,
cada uma delas com itens ou perguntas a serem avaliados segundo uma notação
idêntica (A-F) à de Lee e Colley. As seções são: (i) descrição do projeto; (ii) descrição do
ambiente; (iii) scoping, consulta e identificação de impactos; (iv) previsão e avaliação
de impactos; (v) alternativas; (vi) mitigação e monitoramento; (vii) resumo não téc
nico; (viii) organização e apresentação da informação. 0 total de perguntas contidas
nas oito seções é de 92.
QU NZE
398 iW ^aliacão de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
A EPA também avalia o projeto (ou ação) analisado no EIA. Pode haver um EIA
muito bem feito para um projeto ruim ou que cause muitos impactos significativos.
Inversamente, uma equipe incompetente pode preparar um EIA de péssima qualidade
para um projeto viável e de baixo impacto ambiental. É verdade que se a avaliação
ambiental de um projeto conclui que ele é inviável ambientalmente, o EIA nem seria
apresentado ou o projeto deveria ser modificado até que a avaliação concluísse sua
viabilidade. Na prática, isso pode não acontecer porque alguns empreendedores são
demasiado obtusos para aceitar que a avaliação ambiental possa interferir com “seu”
CAPÍTU
A n á l is e t é c n ic a d o s e s tu d o s a m b ie n 399
projeto ou por acreditar que, mesmo ruim, o projeto possa ser aprovado, talvez pelos
benefícios econômicos que possa gerar ou pelos empregos que criar ou mantiver. Por
isso se justifica a atitude da EPA de atribuir conceitos distintos ao EIA e ao projeto. O
Quadro 15.6 mostra a classificação usada pela EPA.
CAPÍTU 10
A n á l is e t é c n ic a d o s e s t u d o s a m b ie n 401
QUiiNZE
liação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
Bom senso deveria ser exercido também nessa tarefa (Ross, Morrison-Saunders e
Marshall, 2006; Sánchez, 2006a). Contudo, não se deve desconsiderar a possibilidade
de um controle judicial (conforme seção 17.4), ou seja, de questionamentos na Justiça
sobre a decisão tomada, sendo importante, portanto, que as recomendações do pa
recer técnico estejam adequadamente fundam entadas e justificadas - mas isso não
quer dizer que haja necessidade de fazer um longo resumo do EIA.
LO
aliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
1 6 .1 A A M P L IA Ç Ã O D A N O Ç Ã O DE DIREITOS H U M A N O S
0 direito a um ambiente sadio para as presentes e futuras gerações é hoje amplamente
reconhecido, mas essa situação é recente e, claro, o reconhecimento em lei desse
direito não implica automaticamente seu reconhecimento de fato.
Desde meados do século XX, o direito a um ambiente sadio passou a receber reconhe
cimento explícito em leis nacionais e em tratados internacionais. 0 sujeito de direito
10■
não é mais o indivíduo na sua singularidade, mas a coletividade, a nação, os g ru
pos étnicos e regionais; trata-se de direitos de “titularidade coletiva” (Silva-Sánchez,
2000). As declarações de Estocolmo e do Rio de Janeiro, emanadas de conferências
intergovernamentais promovidas pela Organização das Nações Unidas, são marcos
fundam entais na explicitação do direito a um ambiente sadio e ecologicamente equi
librado como um novo direito humano.
Art. 6o da convenção. E neste ponto que esta se relaciona fortemente com a avaliação
de impacto ambiental. As disposições acerca da participação pública preconizadas
nesse artigo aplicam-se quando se trata de autorizar atividades propostas “que
possam ter um efeito im portante sobre o meio am biente”, e que são listadas no Anexo
1 da convenção. Tal anexo nada mais é do que um a lista de atividades que deve
riam ser sujeitas à participação pública antes da tomada de decisões por parte de
autoridades governam entais; logo, é o equivalente de um a lista positiva de projetos a
serem submetidos ao processo de AIA.
Cada Parte velará, no âmbito de sua legislação nacional, para que toda pessoa
que estime que sua solicitação de informações apresentada em consonância com
o artigo 4o tenha sido ignorada, rechaçada abusivamente, em todo ou em parte,
ou insuficientemente levada em conta ou que não tenha sido tratada conforme
as disposições do presente artigo, tenha a possibilidade de apresentar um recurso
perante um órgão judicial ou ante outro órgão independente ou imparcial esta
belecido pela lei.
CAPÍTU !L0
Participação P ú b im M i 407
Entre juristas, há debate acerca de noções como interesse público, interesse coletivo,
interesse social, interesse supraindividual e interesse difuso. Mancuso (1997, p. 73)
defende que “o interesse difuso concerne a um universo maior do que o interesse
coletivo”. Na mesma linha, Milaré (1990, p. 10) conceitua interesses difusos como
“os comuns a um grupo indeterminado ou indeterminável de pessoas”.
1 6 .2 OS V Á R IO S G R A U S DE P A R TICIP A Ç ÃO P Ú B LIC A
Para Webler e Renn (1995), a participação pública pode ser justificada com base em dois
tipos de argumentos. Fundamentalmente, a participação se justificaria por motivos
éticos, como um dos valores centrais da democracia; a participação seria necessária
para fazer valer princípios como a equidade e a justiça. Porém, em contraposição a
uma argumentação ética e normativa, a participação também se justificaria por ra
zões puramente funcionais - nas sociedades contemporâneas, a participação daria
mais legitimidade às decisões, tornaria mais eficiente o processo decisório e facilita
ria a implementação das decisões tomadas.
DEZE:
408 ^ ^ a l i a ç ã o de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
Para o filósofo, a sociedade civil tem capacidade de dar ressonância a tem as próprios
dos domínios da vida privada dos cidadãos, transform ando -os em questões de in te
resse público, tornando-se, assim, um a mediadora entre a vida privada e o sistema
político.
Não se trata disso, ou pelo menos muito raram en te se trata disso. Na maioria das
vezes, a participação pública lim ita-se ao direito de ser inform ado e de ex p rim ir
seus pontos de vista, com a expectativa de que isso influencie a decisão a ser tom ada
pela autoridade competente. Os procedim entos de participação pública, em reali
dade, visam colocar algum a ordem nas discussões e estabelecer canais formais de
expressão da vontade dos cidadãos. A Fig. 16.1 expõe um d iag ram a com as diversas
formas de m anifestação de opinião em um a democracia. À parte os processos t r a
dicionais de participação em u m a democracia representativa, m ediante eleições,
plebiscitos ou referendos, um entendim ento amplo do que é a participação pública
a define como qualquer forma de expressão de pontos de vista dos cidadãos. Tal
expressão pode dar-se de forma autônoma, por meio de m anifestações públicas,
passeatas, atos públicos, abaixo-assinados, cam p an h as de mídia e outras ações,
ou na forma de m anifestação sob convite, na qual as opiniões dos cidadãos são
expostas, registradas e debatidas segundo certas regras previam ente estabelecidas.
HO
P a r t ic ip a ç ã o P ú b l , 409
Assim, usando a tipologia da Fig. 16.1, a participação Possibilidades de expressão cidadã em uma democracia
pública no processo decisório em matéria de meio ambiente
é tratada como uma participação “sob convite”, na qual os
Representação Participação
cidadãos se manifestam no momento apropriado e com base
em informações previamente disseminadas, não obstante Eleições
Para Arnstein, há simulacros de participação apresentados com esse nome, mas que,
na verdade, constituem uma manipulação da opinião pública, às
vezes sob os nomes de educação ou informação. Também os graus 8 Controle
Graus de poder
3 e 4, denominados informação e consulta, não constituiriam um a 7 Delegação
do cidadão
verdadeira participação, haja vista que o público não tem nenhum 6 Parceria
controle sobre a decisão tomada. Mesmo a conciliação constituiria
5 Conciliação
nada mais que uma deferência, um sinal de polidez do tomador de Graus de
4 Consulta
decisão, que convida o público para discutir, mas se reserva o poder deferência
formalidades legais (tokenism) sem perm itir que isso questione os 2 Terapia Graus de não
fundamentos da decisão a ser tomada. Apenas os graus superiores participação
M anipulação
constituiriam a verdadeira participação. Para a autora, na parce
ria existiria um a verdadeira negociação, enquanto na delegação de Fig. 16.2 Escala de graus de participação
poder as decisões seriam tomadas pelos representantes do público. pública nas decisões
Para Arnstein, a participação é a partilha do poder. Fonte: Arnstein, 1969.
liação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
Quando Arnstein publicou esse trabalho, ainda não havia sido iniciada nos EUA a
consulta pública dentro do processo de AIA, e a autora refere-se fundamentalmente
a processos decisórios acerca de outros assuntos de interesse público, como o plane
jam ento territorial e as decisões em matéria de educação, saúde, habitação e direitos
civis. Parenteau (1988) aponta o uso da consulta pública no Canadá como forma de
participação na criação e no planejamento de parques nacionais e na elaboração de
planos de desenvolvimento regional, além da AIA.
Roberts (1995) adota uma escala com sete estágios de participação, desde a persuasão
até a “autodeterminação”, sendo a consulta colocada justam ente no meio do cami
nho, enquanto o “planejamento conjunto” e a “decisão partilhada” se situam em um
degrau imediatamente superior. 0 autor prefere designar a relação com o público no
processo de AIA com um termo abrangente e mais neutro — envolvimento público
—, que se subdivide em consulta e participação. Consulta inclui educação, partilha de
informação e negociação, com o objetivo de tomar melhores decisões. Já participação
significa trazer o público para dentro do processo decisório. Roberts reconhece que a
principal forma de envolvimento público tem sido a consulta e aponta que há razões
pragmáticas para que um a organização busque envolver o público em seu processo
decisório, visto que o envolvimento permitiria evitar problemas, impedir confrontos
e até mesmo obter o apoio e a colaboração dos envolvidos.
se dá no nível da consulta. E verdade que, nesses casos, a autoridade pode tomar uma
decisão contrária à vontade da maioria, mas também é verdade que a participação
maciça e intensa do público interessado pode inviabilizar politicamente uma decisão
contrária a seus interesses. Por exemplo, no início dos anos 1990, uma empresa estatal
de São Paulo, a Cesp, apresentou um projeto de construção de um a usina termelétrica,
que teria como combustível o resíduo viscoso de uma refinaria de petróleo (deno
minado “óleo ultraviscoso”), uma mistura de hidrocarbonetos muito pesados, cuja
queima seria potencialmente muito poluente. Embora os estudos ambientais tivessem
concluído que seriam pequenos e pouco significativos os efeitos sobre a qualidade
do ar, houve forte oposição popular, o que levou a empresa a mudar a localização
do projeto, de Paulínia (onde se situa a refinaria) para Mogi-Mirim, localizada a
algumas dezenas de quilômetros. Nesse local, a população também se mobilizou con
tra o projeto, apesar das iniciativas da empresa de divulgar as supostas vantagens
do empreendimento, até mesmo levando uma comissão de vereadores para visitar
CAPÍTU LO
P a r t ic ip a ç ã o P ú b l .
16.3 O bjetivo s d a c o n s u l t a p ú b l ic a
A consulta pública tem várias funções e serve a múltiplos objetivos no processo de
AIA. A literatura sobre o assunto arrola vários desses objetivos. Entre outros autores,
Ortolano (1997, p. 403) destaca os seguintes:
& aprimorar decisões com potencial de causar impactos em comunidades ou no
meio ambiente;
# possibilitar aos cidadãos a oportunidade de expressar-se e de serem ouvidos;
# possibilitar aos cidadãos a oportunidade de influenciar os resultados;
# avaliar a aceitação pública de um projeto e acrescentar medidas mitigadoras;
# desarmar a oposição da comunidade ao projeto;
# legitimar o processo de decisão;
» atender requisitos legais de participação pública;
iíí desenvolver mecanismos de comunicação em duas vias entre o proponente
do projeto e os cidadãos; identificar as preocupações e os valores do público;
fornecer aos cidadãos informações sobre o projeto; inform ar os responsáveis
pela decisão sobre alternativas e impacto do projeto.
CAPÍTU
Pa r t ic ip a ç ã o P ú b l c a 413
A p re s e n ta ç ã o da proposta D iv u lg a r in te n ç õ e s do p ro p o n e n te e o b je tiv o s do p ro je to
Triagem P e rm itir e v e n tu a is q u e s tio n a m e n to s sobre a classificação do p ro je to em te rm o s
de im p a c to p o te n c ia l e dos e studo s a m b ie n ta is necessários
D e te rm in a ç ã o do escopo do EIA Id e n tific a r grup os interessados
Id e n tific a r e m a p e a r preocupações do p ú b lic o
In c lu ir ou e x c lu ir questões do escopo do EIA
A p r im o r a r os te rm o s de referência
C onsiderar a lte rn a tiv a s ao p ro je to
Preparação do EIA Id e n tific a r e c a ra c te riz a r im p a c to s
D isse m in a r in fo rm a ç ã o sobre m é to d o s de e s tu d o e seus resultad os
In c lu ir no d ia g n ó s tic o a m b ie n ta l o c o n h e c im e n to que a p o p u la ç ã o local te m do
m e io a m b ie n te e a p r o v e itá - lo na análise dos im p a c to s
Id e n tific a r m edid as m itig a d o ra s e c o m p e n s a tó ria s
A nálise té c n ic a C on h e ce r os p o n to s de vista do p ú b lic o para e v e n tu a l consideração e
in c o rp o ra ç ã o ao parecer de análise
Decisão Levar em c o n ta as o p in iõ e s dos interessados
C onsiderar a d is trib u iç ã o social dos ôn us e dos be nefícios do p ro je to c o m o um
dos e le m e n to s da decisão
A c o m p a n h a m e n to C o n t r ib u ir para v e r ific a r o c u m p r im e n t o s a tis fa tó r io de c o m p ro m is s o s e
c o n d ic io n a n te s
P ossibilitar que reclam açõe s possam ser fo r m u la d a s e a te n d id a s
414 §rej|aliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
1 6 .4 F o r m a t o s d e c o n s u l t a p ú b l i c a
No processo de AIA, a consulta pública envolve informação bidirecional (do pro
ponente para o público e vice-versa) com participação e intermediação de um
agente governamental, e envolve negociação entre as partes envolvidas e com o
público interessado. Também há a modalidade de consulta direta voluntária, sem
intermediação governamental. No entanto, quando se trata de obtenção de auto
rização ou licença, a consulta voluntária não substitui a consulta pública oficial,
embora possa complementá-la. Para que possa atingir resultados, a consulta pública
necessita de regras claras (o procedimento de consulta) e de acesso à informação
(cujas regras devem ser definidas em leis e regulamentos). Uma atitude aberta ao
diálogo por parte do empreendedor (e do agente governamental) só pode contribuir,
pois leis, regulamentos e procedimento podem funcionar somente na medida em que
haja engajamento das partes.
c a p ít i if B M IM M ^ M il l ll
P a r t ic ip a ç ã o P ú b lj ! 415
Porém, audiências não são a única técnica para atender a esses objetivos. Aliás,
elas têm muitas limitações, embora sejam valiosos instrum entos para a dem ocra
tização do processo decisório. Parenteau (1988), ao estudar a participação pública
nos processos decisórios ambientais no Canadá, identificou diversas deficiências
ou mesmo limitações estruturais desses processos, fundam entados em audiências
públicas. Para ele, a participação do público é lim itada por alguns “filtros”, fatores
que dificultam ou mesmo impossibilitam um envolvimento pleno.
Não obstante, são as próprias limitações do público geral que justificam o papel de
público esclarecido que assumem muitas ONGs. Não fosse pela atuação de algumas
associações da sociedade civil, como ONGs ambientalistas, entidades profissionais e
associações de moradores, entre outras, o debate público seria empobrecido ou sujeito à
dicotomia há muito ultrapassada e encapsulada no mote “economia x ecologia”.
DEZE
416 M aaaliacão de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
í
Pa r t i c i p a ç ã o P ú b l ^CA» 417
Reuniões em grandes grupos, assim como audiências públicas, não têm um formato
muito bom nem um a dinâmica adequada para informar os interessados sobre o
projeto e sobre as intenções de seu proponente. 0 ideal é que a informação tenha
sido disseminada antecipadamente, por intermédio de diferentes meios (impressos,
audiovisuais etc.)5. 50 Cap. 14
apontou algumas
Em uma reunião pública, o propo'nente do projeto e seu consultor podem fazer uma questões ligadas
à comunicação
exposição sobre o tema, seguida de perguntas e debates, em uma seqüência parecida
no processo de
com a de uma audiência pública. A reunião pode ser muito útil para ouvir as preocupa A IA . Dentre as
ções da comunidade e conhecer suas expectativas em relação ao projeto. Por exemplo, deficiências,
em uma reunião pública promovida por uma empresa de mineração no Estado do nota-se que
Rio de Janeiro, acerca de um novo projeto que previa a abertura de mina de uma raramente o Rima
substância não metálica de uso industrial, diversos moradores vizinhos manifestaram tem valorizada
sua fu nçã o de
suas inquietações em relação ao suprimento de água, já que no bairro mais próximo,
comunicação com o
apesar de situado em zona urbana, as casas eram abastecidas por cacimbas indivi público.
duais e não por rede pública. Como o estudo de impacto ambiental ainda estava em
andamento, os consultores e o proponente decidiram que seria conveniente convidar
algum especialista vinculado a uma universidade pública para realizar um estudo
hidrogeológico independente do EIA. Embora suas conclusões fossem utilizadas
no EIA, esse estudo seria integralmente anexado, para evitar qualquer suspeita de
r
Reuniões públicas tam bém podem ocorrer em clima tenso e altam ente emocional, a
exemplo das audiências públicas, e isso se deve ao fato de que ambas têm dinâm ica
parecida, ainda que a prim eira seja menos formal. Uma alternativa é a realização
de reuniões com pequenos grupos, oficinas ou reuniões de trabalho, que não são
abertas à presença de todos, mas onde a participação se faz sob convite. Lideranças
locais e formadores de opinião podem ser convidados para sessões de informação,
de discussão ou mesmo reuniões visando à negociação de itens como m odifica
ções de projeto ou medidas compensatórias. Embora a autoridade pública sempre
resguarde o direito de decidir, seus representantes podem tam bém estar presentes
e, em certos casos, atu a r como mediadores inform ais de algum conflito real ou
latente. Esse formato de consulta pode ser usado nas mesmas etapas do processo
de AIA que as reuniões públicas.
Diversas ferram entas foram desenvolvidas para estim ular a participação pública
na formulação e avaliação de projetos de desenvolvimento, ultrapassando a noção
de consulta e entrando em graus superiores de participação, como a “parceria”
de A rnstein (1969). Em vez da participação ser um a resposta (ou um a reação) a
um projeto já definido, métodos participativos são usados para gerar, conceber
ou delinear projetos da base para o topo. No método conhecido como “Avaliação
Rural P articipativa” (Participatory Rural Appraisal - PRA) ou “Avaliação Rural
Rápida” (Rapicl Rural Appraisal - RRA), as populações locais coletam e analisam
os próprios dados, ajudadas por facilitadores que organizam discussões em grupos,
auxiliam a desenvolver critérios de classificação e ordenam ento de prioridade, e n
tre outras tarefas. Inúmeros outros métodos de planejamento participativo podem
ser adaptados ou usados parcialm ente em avaliação de impacto ambiental, quase
sempre em um a perspectiva que ultrapassa a simples consulta pública, o que já
QHá muitas fontes está além do escopo deste capítulo6.
sobre métodos
de planejamento
participativo. 1 6 .5 P r o c e d i m e n t o s de c o n s u l t a p ú b l i c a e m a l g u m a s j u r is d iç õ e s
World Bank (1995) Em muitos países — e o Brasil é um deles — a AIA foi pioneira na institucionalização
:raz uma síntese. de procedimentos formais de consulta e participação, como as audiências públicas.
CAPÍTU 10
P a r t ic ip a ç ã o P ú b l CA
d
419
No Estado de São Paulo, por força da Deliberação Consema n° 34/2001, para todos os
projetos que necessitem de estudo de impacto ambiental pelo menos uma audiência
/
Uma audiência pública nunca é deliberativa. Nada se vota nem se decide, um a vez
que a decisão cabe ao órgão licenciador. No entanto, os debates e questionamentos
DEZE:
420 ^ ^ a l i a ç ã o de Im pacto A m biental: conceitos e métodos
CAPITU
Pa r t i c i p a ç ã o P ú b l
1. Um c id a d ã o ou u m a associação re q u e r ao m in is tr o do M e io A m b ie n te a re a liz a ç ã o de um a
a u d iê n c ia p ú b lic a para d is c u tir um p ro je to .
2. Se o p e d id o é a c e ito , o p re s id e n te do E s c ritó rio de A u d iê n c ia s P úblicas A m b ie n ta is (Bape)
n o m e ia u m a c o m is s ã o de c o n s u lta e seu responsável.
3. A re a liz a ç ã o da a u d iê n c ia é p u b lic a d a nos jo r n a is e na In te rn e t.
4. A c o m is s ã o de c o n s u lta realiza re u n iõ e s p re p a ra tó ria s c o m o p r o p o n e n te do p r o je to e com
o re q u e re n te da a u d iê n c ia .
5. R ealização da p rim e ira p a rte da a u d iê n c ia c o m a s e g u in te s e q ü ê n c ia :
- e x p lic a ç õ e s p re lim in a re s (co m issã o de c o n s u lta ):
- e x p la n a ç ã o do re q u e re n te sobre os m o tiv o s da s o lic ita ç ã o de a u d iê n c ia ;
- a p re s e n ta ç ã o do p ro p o n e n te do p ro je to , p r in c ip a lm e n te sobre o EIA;
- d e p o im e n to s de o u tra s pessoas;
- q u e s tõ e s c o lo c a d a s pelo p ú b lic o .
6. E n c a m in h a m e n to de d o c u m e n to s , pareceres ou re la tó rio s dos interessados (até prefeituras).
7. R ealização da se g u n d a p a rte da a u d iê n c ia , co m a s e g u in te s e q ü ê n c ia :
- a lo c u ç ã o dos re p re s e n ta n te s de e n tid a d e s ou c id a d ã o s que a p re s e n ta ra m p re v ia m e n te
d o c u m e n to s ou pareceres ou que desejem se e x p r im ir v e r b a lm e n te ;
- a co m is s ã o de c o n s u lta pode o u v ir ou d ir ig ir p e rg u n ta s ao p r o p o n e n te do p ro je to , ao re q u e
re n te da a u d iê n c ia p ú b lic a ou a q u a lq u e r o u tra pessoa.
8. P reparaçã o do re la tó r io fin a l da c o m is s ã o de c o n s u lta .
9. P u b lic a ç ã o e d iv u lg a ç ã o do re la tó r io fin a l.
Fonte: Règles de Procédure Relatives au D éroulem ent des Audiences Publiques, Q-2, r. 19.
O Bape dispõe de quatro meses para realizar a audiência e preparar seu relatório.
As audiências desenrolam-se em duas partes, com intervalo de 21 dias. Cada parte
pode du rar vários dias, consecutivos ou não (a duração usual é de três a cinco dias).
A primeira parte da audiência tem função informativa. Nela, o proponente apresen
ta o projeto, suas justificativas e seus principais impactos, assim como as medidas
mitigadoras propostas. 0 público pode fazer perguntas sobre o projeto, suas alter
nativas, os estudos realizados, mas a formulação de críticas e opiniões deve ser
deixada para a segunda parte da audiência, e os comissários têm poder de cortar a
palavra dos participantes durante a audiência. Os comissários tam bém questionam
o empreendedor e seu consultor e podem convocar representantes de órgãos públicos
para prestar esclarecimentos. A seqüência de apresentações e de perguntas, os tempos
e a própria disposição dos participantes na sala seguem um a ordem precisa.
Pa r t i c i p a ç ã o P ú b l BCA^ K 423
Pragmatismo e eficiência são ilustrados por Millison e Hettige (2005, p. 40) que, ao
analisarem retrospectivamente projetos financiados pelo Banco Asiático de Desen
volvimento, observam que “o processo de consulta [pública] não foi muito eficaz (...)
[e] resultou em identificação imprópria de impactos, surgimento de expectativas irre
alistas entre as pessoas afetadas e medidas mitigadoras inadequadas”.
Pareceres, opiniões ou quaisquer outros docum entos podem ser en cam inhado s ao Bape
antes da segunda p arte da audiência, quando se estabelece um debate sobre o projeto,
suas justificativas, alternativas, seus impactos diretos e indiretos, sempre mediado
pela comissão, que tam bém nessa parte tem um papel ativo ao dirigir p erg u n tas
não somente ao proponente, mas tam bém aos participantes da audiência. Segundo o
próprio Bape, a divisão da audiência em duas partes é “o que torna original o procedi
mento, que assegura a exatidão e a integralidade da informação, e que perm ite a
despolarização do debate” (Bape, 1994, p. 11).
Tais exemplos ilustram abordagens muito distintas para a consulta pública. Há muitos
outros formatos em uso em outras partes do mundo. Possivelmente, a consulta públi
ca seja a etapa do processo de AIA na qual haja menos convergência internacional,
e os prováveis motivos não são difíceis de entender, pois democracia e tran sp a rên c ia
não são, infelizm ente, valores igualm ente partilhados por todos os povos.
CAPÍTU LO
Pa r t ic ip a ç ã o P ú b i CA 425
Uma vez que se tenha chegado a consensos, todos têm a g anhar se compromis
sos escritos, como memorandos de entendimento, forem firmados, pelo menos entre
algumas das partes envolvidas. 0 passo seguinte será implementar as decisões e
monitorar seus resultados. Não é raro que grupos ou indivíduos inicialmente muito
interessados desapareçam de súbito, ou que novos grupos ou indivíduos venham se
ju n ta r ou apareçam no decorrer ou no final do processo de consulta. Não se trata de
fechar a porta nem de recomeçar a cada mudança, mas de m anter alguma referência
que possibilite o engajamento de novos interessados sem frear o avanço da consulta
e das negociações.
DEZE'
424 í i E N ^ Ç ã 0 de Im pacto A m biental: conceitos e métodos
Nesse caso, o descontentamento popular não teve nenhum a influência sobre o projeto,
mas em outros pode levar a questionamentos por via judicial e a atrasos na implanta
ção. World Bank (1999) recorda que a inadequada identificação de interessados pode
representar custos adicionais para o projeto e também levar informação incompleta ou
incorreta a circular publicamente, criando um clima de hostilidade à proposta.
CAPITU
Av aliação de Im pacto A m b ie n ta l: conceitos e m étodos
Finalmente, não se pode esquecer que outras decisões são tomadas após a aprovação
do projeto, durante sua implantação e, posteriormente, na fase de funcionamento.
Os resultados do m onitoram ento ambiental e dos program as de acom panham ento
podem levar a novas modificações de projeto ou à necessidade de novas medidas
mitigadoras, caso sejam detectados impactos significativos não previstos.
17.1 M o d a l i d a d e s d e p r o c e s s o s d e c is ó r io s
0 poder decisório acerca dos empreendimentos sujeitos ao processo de AIA varia
entre um a jurisdição e outra. Há locais em que a decisão compete a um a autoridade
ambiental; em outros, a competência é de um a autoridade setorial - autoridade cuja
competência abarca um setor da atividade econômica, por exemplo, o setor energético
CAPÍTU LO
A Tom ada de D e c is ã o n o P ro c e s s o de A v a lia ç ã o de Im p a c to A m b i e n ^ M 429
O tomador de decisão político certamente não irá ler a totalidade do estudo de impacto
ambiental, seus anexos e documentos complementares. Sua decisão será baseada em
informações prestadas por assessores e eventualmente em pressões políticas visando
promover interesses quase sempre contraditórios (conforme seção 14.1).
O C A S O A M E R IC A N O
0 caso americano é sempre uma referência nos estudos sobre AIA, devido ao pionei-
rismo da Nepa, a National Environmental Policy Act. Segundo essa lei, são as agências
do governo federal as responsáveis pela condução do processo de AIA e também
as responsáveis pela tomada de decisão1. Estas podem ser as próprias promotoras 1Le/s estaduais
americanas podem
do projeto (principalmente obras públicas), provedoras de fundos ou financiadoras
diferir bastante da
(por exemplo, para a construção de conjuntos habitacionais), ou podem ter atribuição lei federal quanto
de autorizar projetos privados, em*virtude de outras leis. Assim, em muitos casos, o às modalidades
tomador de decisões é o próprio interessado na aprovação e execução do projeto ou de decisão, dentre
programa, característica que propicia severas críticas à lei americana, vista como outras diferenças.
exercendo “influência limitada sobre as decisões” (Ortolano, 1997, p. 325).
Mesmo assim, a Nepa parece ter tido significativa influência sobre a maneira como
os projetos são formulados, e principalmente sobre a transparência do processo deci
sório, dado o caráter público dos documentos que integram o processo de AIA, as
oportunidades de consulta e manifestação públicas, e o controle judicial exercido
pelos tribunais, com sua interpretação muito estrita de que todos os procedimentos
estabelecidos pela Nepa devam ser rigorosamente cumpridos (Kennedy, 1984).
SETE
430 « ü a l i a c ã o de Impacto A m biental: conceitos e métodos
O CASO CANADENSE
0 processo federal canadense é também, essencialmente, de autoavaliação. Cada m inis
tério deve exam inar suas atividades e enquadrá-las segundo os critérios de avaliação
ambiental estabelecidos pela lei —a Lei Canadense de Avaliação Ambiental (Canadian
Environmental Assessment Act, Loi Canadienne d’Evaluation Environnementale, de
1993). Na maior parte dos casos, a decisão é tomada no âmbito de cada “autoridade
responsável”, mas somente após cumprido tc\do o procedimento estabelecido pela
lei e seu regulamento e depois de observadas até as provisões de consulta pública.
/
Segundo a lei canadense, um a decisão somente pode ser tomada após o término da
avaliação ambiental (Art. 13). A decisão quanto à execução do projeto é tomada pela
autoridade responsável (Art. 37), “levando em conta a aplicação das medidas mitiga
doras”. 0 projeto poderá ser aprovado no âmbito da autoridade responsável se “não
for provável que cause efeitos ambientais adversos significativos” ou mesmo “se pu
der causar efeitos ambientais adversos signi ficativos que possam ser justificados nas
circunstâncias”. Em todos os casos, a autoridade responsável deve assegurar que as
medidas mitigadoras sejam aplicadas.
CAPÍTU LO
A Tom ada de D e c is ã o n o P ro c e s s o de A v a lia ç ã o de Im p a c to A m b i f n I M í 431
um relatório público contendo recomendações, que a autoridade responsável, aliás, 2Vale dizer que,
não é obrigada a acatar. Em caso de desacordo, porém, 0 assunto é levado para um a embora prevista
decisão no âmbito do Conselho de Ministros (cabinet) (Wood, 1995). em lei, a mediação
não vem sendo
utilizada.
O CASO HO LANDÊS
Também nos Países Baixos, a autoridade competente para tomar decisões em matéria
ambiental pode ser 0 proponente do projeto (caso de obras públicas), mas uma
decisão provisória é frequentemente modificada como resultado das recomendações
da Comissão de Avaliação de Impacto Ambiental e da participação do público
(Wood, 1995).
0 C A S O FR A N C Ê S
A decisão pela própria parte interessada é também objeto de crítica no sistema francês.
Os estudos de impacto são analisados por serviços administrativos dependentes de
ministérios setoriais, tendo 0 Ministério do Meio Ambiente somente uma participação
restrita. 0 país não é regido por um sistema federativo, mas por um governo central
que atua em subdivisões administrativas denominadas departamentos (départements),
através de um adm inistrador nomeado chamado prefeito [préfet). Esse administrador
432 |R Q a lia ç ã o de Im pacto A m b ie ntal: conceitos e métodos
17.2 M o d e l o d e c is ó r io n o B r a s il
A legislação brasileira atribui inequívoco poder de decisão aos órgãos ambientais.
0 licenciamento ambiental é sempre feito por um órgão (federal, estadual ou municipal)
integrante do Sisnama - Sistema Nacional do Meio Ambiente, introduzido pela Lei
n° 6.938/81, da Política Nacional do Meio Ambiente. A avaliação de impacto ambiental
está integrada ao licenciamento e cabe àquele que licerítia decidir pelo tipo de estudo
ambiental necessário, estabelecer seus procedimentos internos (respeitadas as normas
gerais estabelecidas pela União) e seus critérios de tomada de decisão.
A decisão pode ser tomada diretamente pelo órgão licenciador, como ocorre com o
licenciamento federal (Ibama) em certos Estados, ou por colegiados que contam com
representantes de diferentes segmentos da sociedade civil, além de representantes
governamentais — os conselhos de meio ambiente. Esta última modalidade é usada
em alguns Estados, como São Paulo, Bahia e Minas Gerais, e por diversos municípios.
CAPÍTU'LO
A Tomada de D ecisão no P rocesso de A valiação de Impacto A mbien
17.3 D e c is ã o t é c n i c a o u p o l í t i c a ?
Há uma percepção recorrente em certos círculos de que as decisões baseadas no
processo de AIA seriam muitas vezes tomadas por motivações políticas em vez de
serem baseadas em critérios técnicos. Assim, empresários frequentemente reclamam
que os interesses que se m anifestam com maior visibilidade em audiências públicas
ou aqueles mais “ruidosos” pesam mais na decisão, enquanto associações da
sociedade civil desconfiam que o poder econômico das corporações é muito mais
influente que a pressão popular. Quando há um a disputa polarizada, envolvendo um
campo nitidam ente contrário a um projeto em oposição a outro campo favorável,
parece inevitável que o perdedor lamente que seus argum entos — indiscutivelmente
razoáveis - tenham sido preteridos por razões “políticas”. Até que ponto há fu n d a
mentação em tais queixas? As decisões devem ser tomadas exclusivamente com base
em informações técnicas apresentadas nos estudos ambientais? Devem ser baseadas
/
Nesta seção, a análise ficará restrita à decisão pública, tomada ao final do processo de
AIA, de autorizar ou não a iniciativa proposta. No caso, um agente público é inves
tido do poder decisório, e está obrigado a observar todos os princípios que norteiam
a gestão pública, como a impessoalidade e a moralidade. Ademais, sua decisão esta
rá sujeita ao controle exercido no âmbito da adm inistração pública, até ao controle
judicial. Assim, toda decisão deve ser devidamente motivada e fundam entada. Em
matéria ambiental, o poder público deve tam bém observar outros princípios, como o
da precaução e o da prevenção.
Poucos duvidam que a decisão deva ser racional, mas raram ente há acordo sobre os
princípios e critérios que devam norteá-la. Fundam enta-se em um a racionalidade
econômica ou ecológica? Deve-se privilegiar os benefícios de curto prazo em detri
mento dos custos de longo prazo? Questões de natureza ética - como os direitos das
futuras gerações - devem ser consideradas? (Pearce, 1983).
434 Av aliação de Im p a cto A m b ie n ta l: conceitos e m étodos
Embora o term o “decisão política” seja desconfortável para muitos profissionais que
têm formação técnica ou científica - como é o caso daqueles que preparam os estudos
de impacto ambiental e dos que elaboram os projetos de e n g e n h aria —, não deve ser
assimilado a um a política p artidária ou a alg um a “politicagem ” de interesses m es
quinhos e imediatistas, embora esses aspectos às vezes se apresentem nas decisões.
Mesmo a subjetividade da AIA ou de partes do EIA, tão deplorada por muitos técn i
cos e cientistas naturais, e que é vista como “inevitável” pela maioria dos autores,
aparece, p ara alguns, como um a característica desejável (Wilkins, 2003).
W iklund (2005) entende que o processo de AIA tem grande potencial de fortalecer um
“estilo decisório deliberativo”, entendido como um diálogo não coercitivo que p erm i
te legitim ar as decisões, ao possibilitar que os cidadãos ten h a m suas opiniões ouvidas
e consideradas, o que envolve “buscas coletivas de interesses com uns e negociação
entre interesses privados conflituosos” (p. 284). De fato, o processo de AIA possibilita
que os conflitos, as dem andas e as reivindicações ganhem visibilidade e ressonância
na esfera pública, no sentido atribuído por Haberm as (1984), o de um espaço público
político acessível aos argum entos e ao uso público da razão, em que se torna po s
sível “um a política deliberativa” (Wiklund, 2005). É disso que efetivam ente se trata
quando se deve tom ar decisões sobre projetos que causem impactos significativos,
nas quais os ônus e os benefícios são desigualm ente distribuídos, até entre gerações
presentes e futuras.
Outros autores têm caracterizado a AIA como um a ferram enta ou como um processo
4“Resolver depois de deliberativo que tem potencial de m elhorar o processo decisório em matéria ambiental
exame e discussão’’ (Petts, 2000), ou ainda como um “fórum que promove o discurso” (Wilkins, 2003), o
(Novo Dicionário que, por sua vez, é tido como um “procedimento deliberativo ideal” (Wiklund, 2005).
Aurélio da Língua
Portuguesa,
Os conceitos de deliberação e de democracia deliberativa são empregados por esses autores
1986). “Decidir
com um a conotação mais restrita que o uso vernáculo do verbo deliberar4. Considerando
após reflexão e/
ou co nsu ltas’’ que conflito e desacordo são inerentes à democracia e que têm como causa não apenas
(Dicionário interesses econômicos ou pessoais, mas tam bém razões de natureza moral, Gutm ann e
Houaiss da Língua Thompson (1996, p. 52) afirm am que “a disposição de buscar razões m utuam ente j u s
Portuguesa, 2001).
CAPITU
A T o m a d a de D e c is ã o n o P r o c e s s o de A v a l ia ç ã o de I m p a c t o A m b ie n í H W 435
res decisões se realiza. E estudando esses casos que se pode identificar as condições interesses escusos
e não declarados”,
que contribuem para o sucesso e a eficácia do processo de AIA, de modo a tentar
que busquem uma
reproduzi-las para novos casos. autopromoção que
lhes possa render,
1 7 .4 N e g o c ia ç ã o posteriormente,
alguma vantagem
Se há conflito, deve haver negociação ou, pelo menos, diálogo em torno das
pessoal, ou mesmo
divergências. A negociação é um a característica inerente ao processo de AIA, que ajam a soldo de
aliás, é uma das funções da AIA (Sánchez, 1995a). Há negociação entre consultor concorrentes.
e proponente, e entre ambos e projetista, acerca de características de projeto, como
localização e arranjo físico das instalações (layout), alternativas de mitigação, alter
nativas tecnológicas, possibilidades técnicas e custos para se evitar certos impactos
e muitos outros tópicos. Tais negociações raramente transparecem para os demais
envolvidos no processo de AIA, não são feitas na esfera pública, mas podem ter
grande influência sobre a viabilidade ambiental do empreendimento.
Há, também, negociação entre proponente e consultor com o órgão gestor do processo
de AIA, com relação aos termos de referência do estudo e, em certa medida, muitas
vezes pode haver negociação acerca das complementações necessárias para a completa
análise da viabilidade do projeto. Nesse âmbito, também costumam ocorrer negociações
sobre mitigação e compensação, e pode haver negociação sobre alternativas e modifi
cações de projeto que possam resultar em ganhos ambientais, trazendo para o âmbito
governamental discussões que antes se davam somente na esfera privada.
N egociação direta
6“A Priee on the Ainda que intrínseca ao processo de AIA, a negociação nem sempre é explícita
Priceless”, The
(ou formal), e poucas vezes é estruturada com vistas a atingir um a solução aceitável
Economist, 17 ago.
1991, e Resource para as partes em conflito. As condições comumente apontadas para o início de uma
Assessm ent negociação formal são:
Commission, 1991. % definição clara do conflito;
# que as partes estejam dispostas e prontas para negociar;
# que as partes sejam interdependentes, ou que nenhuma delas possa, unilateral-
mente, atingir seus objetivos.
Gorczynski (1991) entende que há permanente negociação ambiental, mas nem sempre
de caráter formal (atendendo aos requisitos acima). Muitas negociações são informais
e ocorrem até à revelia do proponente do projeto. Quando os conflitos estão am adu
recendo, “seria um erro monumental presumir que nenhum a negociação importante
está acontecendo (...) ambos os lados estão explorando e testando o outro (...) para
ver até onde este é capaz de ir” (p. 14). Em um a negociação formal, o negociador
Gorczynski ironiza que “ambos os lados concederam ao outro a suprema condescen
dência de concordar em negociar”.
“Um pré-requisito de toda negociação é que as partes aceitem negociar. Isso impli
ca o reconhecimento da legitimidade da outra parte” (Sánchez, Silva e Paula, 1993,
p. 489), o que nem sempre é fácil de conseguir. Entretanto, um fator que impulsiona
a negociação é a ameaça de uma disputa judicial, que pode ser longa e, se for até o
fim, resultar em uma parte ganhadora e outra perdedora. Para disputas ambientais, o
leque de opções é muito pobre, um “jogo de soma nula” no qual há necessariamente
um vencedor e seu corolário, o derrotado. A negociação, ao contrário, torna possível
CAPÍTU!L0
A T o m a d a de D e c is ã o n o P r o c esso de A v a l ia ç ã o de I m p a c t o A m b i e n 437
que as partes envolvidas em uma disputa possam ter algum ganho, através de um
“uso produtivo do conflito” (Bape, 1986).
Gorczynski sugere que o negociador sério deve compreender bem o que pensa seu
adversário, mas na negociação formal boas maneiras imperam: “é contraprodutivo e
tolo ridicularizar seu oponente e persistir em distorcer suas posições se ele mostrou a
cortesia e o respeito de concordar em negociar com você” (p. 15). Mas o autor, como
arguto observador, jocosamente traça caricaturas dos principais protagonistas. Como
toda caricatura, as características exacerbadas parecem ajudar a compreender melhor
a personagem: os empreendedores se acham “os verdadeiros heróis deste m undo”,
cujos esforços “criam riqueza e empregos e os incontáveis benefícios da moderna
civilização”; já os ativistas “acreditam estar imbuídos de um a missão divina (...) e
buscam perfeição e pureza e não compromisso e vitória”; engenheiros são uma lástima
DEZESS ETE
438 ^ ^ a l i a ç ã o de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
em negociações “e falam um a linguagem que 99% da raça hum ana não consegue en
tender”, usando somente um dos hemisférios de seu cérebro, o lógico e analítico; eles
e seus colegas cientistas “sentem-se superiores ao restante dos mortais por ter um
conhecimento especial que os demais não têm”; os advogados são como “os pistolei
ros de aluguel do velho Oeste”; já os políticos “não sabem sobre o que estão falando
durante 90% do tempo”; quanto aos jornalistas, devem ser tratados “como pessoas
arm adas” que podem atirar contra você; finalmente, quanto aos burocratas, deve-se
saber por que escolheram esse serviço, já que a maneira de tratá-los vai depender
de sua motivação. Na negociação direta, conhecer o perfil dos interlocutores e saber
antecipar suas jogadas é uma arte.
A negociação com base em interesses visa manter boas relações duradouras; as partes
“educam” as outras sobre suas necessidades, justificam suas posições e tentam, juntas,
encontrar ou desenvolver soluções aceitáveis para todos. A modalidade permite
explorar opções, que são soluções potenciais que atendem a um ou mais interesses.
0 autor chama a negociação sobre interesses de “modelo integrativo ou de ganho
m útuo”, no qual ambas as partes podem sair ganhando. Pode-se gerar várias opções,
avaliar cada um a delas (até que ponto elas atendem aos interesses ou necessidades
das partes) e selecionar as mais viáveis. É tam bém um processo mais demorado e
que pode dem andar recursos, no mínimo o tempo despendido nas negociações e na
preparação para os encontros. A negociação termina, após acordo, com um plano de
implementação.
No mundo real, essas duas modalidades não são escolhidas antes, como se escolhem
as arm as em um duelo cinematográfico. A parte mais experiente pode tentar conduzir
a negociação de um duelo sobre posições para um diálogo sobre interesses. Assim,
CAPITU
A T o m a d a de D e c is ã o n o P ro c e s s o de A v a lia ç ã o de Im p a c to A m b ie m í w M 439
N egociação assistida
A negociação entre partes em conflito pode ser facilitada por meio da participação de
especialistas. Métodos alternativos de resolução de disputas têm sido usados em vários
casos de conflitos ambientais, porém com aparente predominância em situações já
estabelecidas, quando já ocorreram impactos ou danos, ou quando um dano é imi
nente. Uma provável razão para isso decorre do fato dos empreendimentos em fase
de avaliação prévia serem, justam ente, apenas projetos de situações potenciais e não
ainda concretas.
Ao notarem que a maioria dos conflitos que envolvem múltiplas partes e diferentes
questões, como os ambientais, somente se resolvem com ajuda externa, Susskind e
Cruikshank (1987, p. 240) identificam três formas de “negociação assistida”: facili-
tação, mediação e arbitragem não vinculante. A arbitragem não vinculante é uma
categoria diferente da arbitragem comercial. Os contratos privados que estabelecem
o mecanismo de arbitragem para resolução de desavenças estipulam que as decisões
do árbitro são inapeláveis; caso contrário, a arbitragem é ineficaz. Na arbitragem não
vinculante, o árbitro oferece uma opinião sobre como as partes poderiam resolver
sua disputa. Esse é normalmente o “último estágio antes que as partes atravessem a
DEZESí ETE
aliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
fronteira rum o a u m a solução não co nsen su al” (Susskind e C ruikshank, 1987, p. 241).
A mediação não é vinculante.
um processo no qual uma terceira parte, independente e imparcial e que não tem
o poder e a missão de impor uma decisão, ajufla as partes, geralmente o propo
nente de um projeto e cidadãos que requerem uma audiência pública, a resolver
suas desavenças ou a se entenderem acerca de pontos precisos (Bape, 1994, p. 18).
A autoridade que tem o poder de decisão - o órgão licenciador no Brasil - não pode
a tu a r como mediador. Nos Estados Unidos, diversos casos de mediação envolvem a
EPA e outra parte. Para Susskind e C ruikshank (1987, p. 10), “não é realista esperar
que agências adm inistrativas (como a EPA) nos ajudem quando outros m ecanism os
falh am ”, não é sua missão, pois seu papel é fazer cum prir a lei. Susskind e Crui
k sh a n k vão mais longe: “a resolução ad m in istrativ a de disputas públicas tende a
favorecer aqueles que detêm poder de lobby e podem a tu a r nos bastidores da política”.
0 Bape atua como mediador público, mas nos Estados Unidos há muitos casos de m e
diação privada. Sánchez, Silva e Paula (1993) relatam um caso de mediação conduzida
por um a empresa de consultoria ambiental envolvendo um a pedreira e a com un ida
de v izinh a, mas não se tratav a de um novo projeto, e, sim, de um em preendim ento
que funcionava havia mais de 40 anos. A dificuldade de um mediador privado em
um conflito ambiental é ter credibilidade e conquistar a confiança da outra parte, já
que um a delas (normalmente o empreendedor) paga pelos serviços de mediação. Fo
ram feitas v árias reuniões com cada parte, negociando-se um acordo. As partes em
conflito somente se encontraram pessoalm ente quando da assin atu ra do acordo, em
um território neutro, o escritório do consultor-mediador.
0 emprego de qualquer mediação requer adesão voluntária e que o conflito adm ita
possibilidade de compromisso. Ao ser voluntário, n atu ralm en te as partes podem a b a n
donar o processo a qualquer momento. 0 tipo de mediação preconizado pelo Bape é de
interesse porque se aplica ao tipo exato de problema colocado pela tom ada de decisão
no processo de AIA, ou seja, não se trata somente de mediação, no sentido amplo, nem
mesmo de mediação ambiental (aplicada a várias m odalidades de conflitos de cunho
CAPÍTU iLO
A T o m a d a de D e c is ã o n o P ro c e s s o de A v a lia ç ã o de Im p a c to A m b i e n ^ M 441
1 7 .5 M e c a n is m o s de c o ntro le
Cada país introduziu, em sua legislação, alguns mecanismos que permitem à socieda
de exercer certo controle sobre as decisões governamentais. A clássica separação de
poderes, a liberdade de imprensa e, mais modernamente, a fiscalização exercida pelo
Ministério Público são alguns mecanismos de controle democrático. No campo da
avaliação de impacto ambiental, há mecanismos que permitem ao Estado controlar a
qualidade dos estudos de impacto ambiental e mecanismos que permitem à sociedade
exercer certo controle sobre as decisões. Há três tipos de mecanismos principais de
controle:
# Controle administrativo, exercido por uma autoridade governamental encarre
gada de gerir o processo de AIA; tal controle é claramente aplicado durante a
análise técnica dos estudos ambientais, mas está presente em outras partes do
processo, como na formulação dos termos de referência para um ELA.
% Controle do público, exercido por intermédio de processos participativos previstos
pela legislação, como as audiências públicas ou a participação em colegiados,
ou ainda por intermédio do direito dos cidadãos manifestarem livremente suas
opiniões.
# Controle judicial, exercido por intermédio do Poder Judiciário, acionado por
cidadãos, ONGs ou pelo Ministério Público.
Além desses, dois outros mecanismos de controle podem ser exercidos no âmbito do
processo de AIA (Ortolano, Jenkins e Abracosa, 1987):
# Controle instrumental, quando um agente financiador avalia a qualidade dos
estudos e pode exigir modificações de projeto ou complementações dos estudos,
além de acompanhar a implantação do empreendimento por intermédio de
supervisão ou auditoria; bancos de desenvolvimento e agências bilaterais de
cooperação exercem esse tipo de controle.
# Controle profissional, quando códigos de ética ou mesmo procedimentos de
sanção no âmbito de uma categoria profissional têm influência sobre as atitudes
dos profissionais envolvidos na elaboração dos EIAs.
DEZESSETE
442 ^ ^ a l i a ç ã o de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
Na Holanda, o controle judicial é visto por Soppe e Pieters (2002) não somente como
efetivo, mas como capaz de cobrir lacunas da própria lei. A questão com maior
frequência levada aos tribunais é a da necessidade de um EIA, cujos julgamentos
são “rigorosos e usualmente lógicos”, além de “razoavelmente consistentes”, fazendo
da suspensão ou nulidade de um a licença um a sanção suficientemente forte, por
implicar “desperdício de tempo e dinheiro, algo que todo proponente deseja evitar a
todo custo” (p. 30).
CAPÍTÜLO
■
Ü lfe tt!
A companhamento
no P rocesso
■
lação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
18 .1 A IM P O R T Â N C IA D A ETAPA DE A C O M P A N H A M E N T O
A importância da etapa de acompanhamento tem sido cada vez mais reconhecida
por estudiosos e por participantes diretos do processo de AIA, pois não são raras
as ocasiões em que muitos dos compromissos assumidos pelos empreendedores
não são satisfatoriamente cumpridos, chegando às vezes a serem ignorados. Essa é
um a percepção recorrente entre muitos analistas de órgãos governamentais e entre
profissionais que trabalham em ONGs. Estudo realizado por Dias (2001), com uma
amostra representativa de projetos que passaram pelo processo de AIA no Estado de
São Paulo, confirmou tal percepção: ao investigar como se dava a real implemen
tação das medidas mitigadoras, a autora constatou um amplo descolamento entre
o proposto e o realizado. Essa é também um a deficiência frequentemente citada na
literatura. Wood (1995) afirma que a implementação das medidas mitigadoras é fraca
em muitos países em desenvolvimento. Glasson, Therivel e Chadwick (1999, p. 209),
referindo-se principalmente ao Reino Unido, entendem que há muito pouco acompa
nhamento após a implantação dos projetos, e que essa etapa é “provavelmente a mais
fraca em muitos países”. Shepherd (1998, p. 164) assevera que o monitoramento é
pouco praticado nos Estados Unidos; consequentemente é difícil verificar a efetiva
aplicação das medidas mitigadoras. Sadler (1988) sintetiza tais preocupações: “0 p a ra
doxo da avaliação de impacto ambiental, tal como praticada convencionalmente, é
CAPÍTU LO
r\ lim t m u c r A u v jiv im iN n M iv ic i^ iu in u i r u lc jo u uc n v n u t u v ir r v ^ iw a ^ iiv iu ili^ u ã i^ h <+ho
que relativam ente pouca atenção é dada aos efeitos am bientais e sociais que real
mente decorrem de um projeto ou à eficácia das m edidas m itigadoras e de gestão que
são adotadas”.
Essas análises não significam a ausência da fase de acom panham ento, mas indi
cam que tem um peso relativam ente pequeno diante da im portância e dos recursos
despendidos nas etapas pré-aprovação. Isso pode indicar um a excessiva preocupação
com os aspectos formais do processo de AIA em detrim ento de seu conteúdo subs
tantivo. Dito de outra forma, grande atenção é dedicada à preparação de um EIA e à
exigência de que o projeto incorpore um extenso program a de mitigação de impactos,
mas, um a vez aprovado o projeto, há um interesse surpreendentem ente pequeno em
verificar se ele foi realm ente im plantado de acordo com o prescrito e se as medidas
m itigadoras ating iram seus objetivos de proteção ambiental.
No início dos anos 1980, um dos focos das pesquisas a respeito da eficácia da AIA
voltava-se para a qualidade e o acerto das previsões feitas nos estudos de impacto
ambiental. Trabalhos como os de Bisset (1984b), Buckley (1991a, 1991b), Culhane
(1985) e Culhane et al. (1987), conforme seção 10.4, tiveram , basicamente, como con
clusão que m uitas das previsões apresentadas nos estudos não eram passíveis de
verificação, seja por não serem quantitativas, seja pela forma como eram apresenta
das, com deficiências como a falta de indicação da abrangência espacial dos impactos
DE
aliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
Sánchez (1993a) propôs que qualquer julgamento sobre a eficácia da AIA levas
se em conta em que medida sua aplicação teria tido sucesso em promover quatro
papéis complementares: (i) fornecer informação relevante para ajuda à decisão;
(ii) auxiliar na concepção de projetos que minimizem os impactos ambientais
adversos; (iii) funcionar como instrumento de negociação entre as partes interessadas:
(iv) servir de fundamento para gestão ambiental, uma vez aprovado o projeto.
$ transacionais: critérios para aferir em que medida esses objetivos são atingidos
ao m enor custo e no m enor período de tempo possível.
Eiiley, Hobbs e M orrison-S aunders (1992) a rg u m en tam que a utilidade da AIA não
r encontra tan to no acerto das previsões de impacto, mas “no foco na gestão de
uupactos”. Nessa linha de raciocínio, a fase de aco m p an h am en to do processo de AIA
- apontada como um a etapa crítica p ara seu sucesso (Arts, 1998; Arts, Caldwell
e M orrison-Saunders, 2001; Dias e Sánchez, 2001; Gallardo e Sánchez, 2004;
f rrrison-S aunders et al., 2001). Talvez os m ais sólidos arg u m en to s que fu n d am en tam
Tãl afirm ação prendam -se ao fato de que os estudos de impacto tra ta m de situações
irais, no sentido de que são projetos a serem realizados: som ente quando com eçam
í ser implem entados, esses projetos se m aterializam e, portanto, m an ifestam -se tam -
: t n seus impactos. Como visto no Cap. 8, alg u n s im pactos ocorrem d u ran te a fase de
:rcparação do projeto, mas, em boa parte dos casos, os im pactos m ais significativos
:correm após o início da im plantação. Há um a incerteza inerente a m uitas previsões
: t impactos e não são poucos os casos de impactos que não são corretam ente identi
ficados ou previstos pelo EIA (conforme seção 10.4), mas que podem ser corrigidos por
~e:o de m edidas m itigadoras desenvolvidas depois da aprovação do projeto.
sSoiTO
a ação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
1 8.2 I n s t r u m e n t o s p a r a a c o m p a n h a m e n t o
0 termo acompanhamento em avaliação de impacto ambiental [EIA follow-up)
descreve um conjunto de atividades realizadas após a aprovação do empreendimento.
Essas atividades podem ser agrupadas em três categorias: (1) monitoramento,
(2) supervisão, fiscalização ou auditoria, (3) documentação e análise.
CAPÍTU iLO
A Etapa de Acompanhamento no Processo de Avaliação de Impacto AmbifníBIm 449
Ainda segundo USEPA (1989, p. 3-12), há três níveis de aprofundamento para realizar-se
um a inspeção:
f i a ç ã o de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
A demonstração dos resultados costuma ser feita por meio de relatórios que podem
ou não ser divulgados publicamente. 0 conteúdo de um relatório público é ilustrado
no Quadro 18.1, que traz a estrutura de um “balanço de atividades ambientais” anual
preparado pela Hydro-Québec durante a construção da usina hidrelétrica Sainte-Mar-
guerite 3, situada em um afluente da margem esquerda do rio São Lourenço. Vários
exemplares do relatório-síntese foram impressos e distribuídos para os interessados,
além dos documentos protocolizados nos organismos governamentais competentes.
A Etapa de A companhamento no P rocesso de A valiação de Impacto A mbien
biental
Estudo m o rfo s s e d im e n to ló g ic o do e s tu á rio do rio S a in te - M a r g u e r ite
Q ua lid a d e da água
Fauna te rre s tre
A v ifa u n a
U tiliz a ç ã o do te r r itó r io
E conom ia regional
A tu a liz a ç ã o do c o n te x to s o c io e c o n ô m ic o
A v a lia ç ã o dos im p a c to s e c o n ô m ic o s regionais
Eficácia das m edid as de o tim iz a ç ã o das conse q ü ê n cia s e co n ô m ic a s regionais
A spectos sociais [para cada ite m do m o n it o r a m e n to a p re s e n ta m -s e o b jetivos, m é to d o s e
resultados]
,p ro v e ita m e n to de m adeira
A rq u e o lo g ia
D o c u m e n ta ç ã o a u d io v is u a l de cachoeiras e corredeiras
C o n tro le das estradas de acesso
P rogram a de c o m u n ic a ç ã o a m b ie n ta l
O tim iz a ç ã o dos im p a c to s e c o n ô m ic o s
M edidas de V alorização e I ndenização
C om pensação para p o p u la ç ã o a u tó c to n e
A p o io ao d e s e n v o lv im e n to regional e v a lo riz a ç ã o a m b ie n ta l
S u p e rvisão A m b ie n t a l
A utorizações entais
F is c a l iz a ç ã o e s u p e r v is ã o
%
Critérios de triagem podem ser usados para selecionar os em preendim entos que
necessitam de aco m p an h am en to m ais estrito, como inspeções mais freqüentes. A s
sim, o aco m p an h am en to de certos em preendim entos de alto impacto poderia ser feito
por u m a comissão m ista (que será discutida a seguir), ao passo que em preendim entos
triviais (como extração de areia) ficariam sujeitos a u m a fiscalização reg u lar e ro ti
neira. Ademais, as atividades de aco m p an h am en to tam bém podem ser m ais ou menos
intensas segundo a fase do em preendim ento; assim, p ara projetos de in fra e stru tu ra ,
a fase de im plantação co stum a ser crítica e pode provocar grande parte dos impactos
mais significativos, de modo que o aco m p an h am en to geralm ente dem anda m ais a te n
ção nessa fase.
A u t o m o n it o r a m e n t o
mediante esses relatórios. Estes são preparados pelo empreendedor, muitas vezes com
a ajuda de consultores, e, para validá-los, é preciso submetê-los ao crivo do ór
gão fiscalizador ou de uma comissão externa, pois, do contrário, podem ter baixa
credibilidade. O Quadro 18.1 mostrou um exemplo de relato de atividades de acompa
nhamento ambiental durante a etapa de construção de um a usina hidrelétrica. É um
relatório público sintético que apresenta os mais importantes resultados dos trabalhos
realizados durante 0 período; informa quais foram os vários estudos técnicos em a n
damento ou concluídos e onde podem ser consultados.
DE
liação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
Uma comissão mista também foi criada para acompanhamento no caso do aumento
das concentrações de mercúrio nos reservatórios hidrelétricos do norte do Quebec,
Canadá (conforme seção 10.4). Suas funções incluíam 0 seguimento do problema já
identificado nas represas existentes e das medidas preventivas ou compensatórias
para novos empreendimentos. A questão do aumento das concentrações de mercúrio
nas águas e nos tecidos dos peixes era da maior relevância, pois afetava não so
mente a saúde, mas também 0 modo de vida tradicional das comunidades locais (os
Cri), para quem os peixes representam um a parte importante da dieta, e a pesca, um
elemento indissociável da cultura.
Instituições especializadas
Outro arranjo, sofisticado e custoso, tem sido empregado em alguns casos altamente
polêmicos. Trata-se da criação de instituições independentes para acom panhar um
empreendimento. Um dos primeiros casos se deu na Austrália no final dos anos 1970.
Depois de anos de debates que abarcaram todo 0 país, 0 governo federal australiano
decidiu autorizar a abertura de duas minas de urânio no norte, em território federal.
No entanto, as incertezas quanto aos impactos potenciais dos empreendimentos, e
quanto à capacidade das empresas interessadas em controlar esses impactos, motivou
a decisão de criar, através de um a lei de 1978, três instituições para exercer controle 4Uma medida
e monitoramento das novas m inas4. As instituições criadas foram: compensatória fo i a
0 Comitê Coordenador para a Região dos Rios Alligator; criação do Parque
Nacional Kakadu,
# 0 Instituto de Pesquisa da Região dos Rios Alligator;
um dos mais
# a Agência do Cientista Supervisor (Office of the Supervising Scientist) para a importantes da
Região dos Rios Alligator. Austrália e também
designado como
As funções da agência foram definidas como: sítio do patrimônio
# “pesquisar os efeitos das operações de mineração de urânio sobre 0 meio ambiente mundial (Fig 1.1).
CAPÍTU LO
A E t a p a de A c o m p a n h a m e n t o n o P r o c e s s o de A v a l ia ç ã o de I m p a c t o A m b ie n R M I 457
Impacto i
— Aspecto 1
Impacto ii U <03
Como maneira de sanar essas deficiências, pode-se dar mais atenção à elaboração
detalhada de um plano de gestão ambiental, como notado, entre outros autores, por
Goodland e Mercier (1999). Uma solução prática é adotada em Hong Kong, onde os
proponentes devem preparar um “Manual de Monitoramento e Auditoria” para cada
projeto; desse manual deve constar um resumo das recomendações do EIA (HKEPD,
1996). 0 Quadro 18.2, à semelhança do Quadro 13.7, ilustra um a maneira de sintetizar
a transformação das recomendações do EIA e das exigências da licença ambiental em
tarefas passíveis de verificação ou auditoria.
Dias (2001), enfatizando o caráter público do processo de AIA, vai mais longe na
proposta de tradução das condições impostas para o empreendimento, e propõe que
o resultado da etapa decisória deveria ser um “documento de aprovação” do projeto.
Esse documento, diferentemente das licenças atuais, que somente fazem menção
à obrigatoriedade de adoção das “medidas propostas no EIA”, deveria compilar
todas essas medidas em um formato adequado para a etapa de acompanhamento,
facilitando a supervisão, a fiscalização e a auditoria. A esse propósito, Morrison-
Saunders, Baker e Arts (2003) observam que no Estado da Austrália Ocidental os
proponentes devem apresentar, no EIA, um a “lista consolidada de compromissos de
mitigação e monitoramento”, que é usualmente incorporada às condicionantes da
autorização governamental.
CAPÍTU jLO
Quadro 18.2 Registro de requisitos de gestão ambiental para verificação de andamento e atendimento
N úmero T ipo de D e s c r iç ã o Fo n te e R esponsável P razo S it u a ç ã o R e g is t r o de n ã o D ocumentos
DE ORDEM m e d id a DA MEDIDA r e f e r ê n c ia atual c o n f o r m id a d e s c o m p r o b a t ó r io s
&
CAPÍTU LO
GLOSSÁR
A n á l is e de r is c o s
Conjunto de atividades de identificação, estimativa e gerenciamento de risco.
A n á l is e d o s i m p a c t o s
Em um estudo ambiental, designa a atividade de identificar, prever a magnitude e avaliar a
importância dos impactos decorrentes da proposta em estudo.
/
9
A r e a de e s t u d o
Area geográfica na qual são realizados os levantamentos para fins de diagnóstico ambiental.
r
A r e a de i n f l u ê n c i a
Area geográfica na qual são detectáveis os impactos de um projeto.
A specto a m b ie n t a l
Elemento das atividades, produtos ou serviços de uma organização que pode interagir com o
meio ambiente (segundo NBR ISO 14.001:2004).
A t r i b u t o ( de u m im p a c t o )
Característica ou propriedade de um impacto, podendo ser usada para descrevê-lo ou qua-
lificá-lo.
A u d it o r ia a m b ie n t a l
Atividade sistemática, documentada, objetiva e periódica que visa analisar a conformidade
de uma atividade com critérios prescritos.
A v a l ia ç ã o (da im p o r t â n c ia ) dos im p a c t o s
Atribuição de um qualificativo de importância ou significância de um impacto ambiental, qua
lificativo esse sempre referido ao contexto socioambiental onde se insere o empreendimento.
A v a l ia ç ã o de i m p a c t o a m b i e n t a l
Processo de exame das conseqüências futuras de uma ação presente ou proposta.
A v a l ia ç ã o d e r is c o
Processo pelo qual os resultados da análise de riscos são utilizados para a tomada de decisão.
C ampo de a p l i c a ç ã o d a a v a l i a ç ã o de i m p a c t o a m b i e n t a l
Conjunto de ações humanas (atividades, obras, empreendimentos, projetos, planos, progra
mas) sujeitas ao processo de AIA em uma determinada jurisdição.
C ompensação a m b ie n t a l
Substituição de um bem que será perdido, alterado ou descaracterizado por outro, entendido
como equivalente ou que desempenhe função equivalente.
C r it é r io de a v a l i a ç ã o
Regra ou conjunto de regras para avaliar a importância de um impacto.
D egradação a m b ie n t a l
Qualquer alteração adversa dos processos, funções ou componentes ambientais, ou alteração
adversa da qualidade ambiental.
D esempenho a m b ie n t a l
Conjunto de resultados concretos e demonstráveis de proteção ambiental. Resultados do ge
renciamento dos aspectos ambientais de uma organização (segundo ISO 14.031:1999).
liação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos
D iagnóstico ambiental
Descrição das condições ambientais existentes em determ inada área no momento presente.
Descrição e análise da situação atual de uma área de estudo feita por meio de levantamentos
de componentes e processos do meio ambiente físico, biótico e antrópico e de suas interações.
E feito ambiental
Alteração de um processo natural ou social decorrente de um a ação hum ana.
Estudos de base
Levantamentos acerca de alguns componentes e processos selecionados do meio ambiente
que podem ser afetados pela proposta (projeto, plano, programa, política) em análise.
G estão ambiental
Conjunto de medidas de ordem técnica e gerencial que visam a assegurar que o empreendi
mento seja implantado, operado e desativado em coíiformidade com a legislação ambiental e
outras diretrizes relevantes, a fim de m inim izar os riscos ambientais e os impactos adversos,
além de m axim izar os efeitos benéficos.
Identificação de impactos
Descrição das conseqüências esperadas de um determinado projeto e dos mecanismos pelos
quais se dão as relações de causa e efeito, a p artir das ações modificadoras do meio ambiente
que compõem um empreendimento ou outra ação hum ana.
Impacto ambiental
Alteração da qualidade ambiental que resulta da modificação de processos naturais ou so
ciais provocada por ação humana.
Impactos cumulativos
Impactos que se acum ulam no tempo ou no espaço, e resultam de um a combinação de efeitos
decorrentes de um a ou diversas acões.
Impactos diretos
Aqueles que decorrem das atividades ou ações realizadas pelo empreendedor, por empresas
por ele contratadas, ou que por eles possam ser controladas.
Impactos imediatos
Aqueles que ocorrem simultaneamente à ação que os gera.
Impactos indiretos
Aqueles que decorrem de um impacto direto causado pelo projeto em análise, ou seja, são
impactos de segunda ou terceira ordem.
GLOSSAR 10
Impactos irreversíveis
Alterações para as quais há impossibilidade ou dificuldade extrema de retornar à condição
precedente; alterações ambientais que não podem ser corrigidas por iniciativa humana, por
razões de ordem técnica, econômica ou social.
Impactos permanentes
Alterações definitivas do meio ambiente ou alterações que têm duração indefinida (um im
pacto permanente pode ser reversível ou irreversível).
Impactos reversíveis
Alterações do meio ambiente que podem ser corrigidas por iniciativa humana (ações de re
cuperação ambiental).
Impactos temporários
Aqueles que só se manifestam durante uma ou mais fases do projeto, e que cessam quando
de sua desativação; impactos que cessam quando cessa a ação que o causou (a alteração do
ambiente sonoro termina quando cessa a fonte de ruído).
M atriz de impactos
Quadro ou planilha estruturado em linhas e colunas, que pode ser apresentado sob diferentes
formatos, e que mostra correlações entre (1) as ações ou atividades do empreendimento ana
lisado e (2) os componentes ou elementos ambientais, ou entre (1) as ações ou atividades do
empreendimento analisado e (3) os aspectos e/ou impactos ambientais.
M edidas compensatórias
Ações que visam a compensar a perda de um bem ou função que será perdido em decorrência
do projeto em análise.
M edidas mitigadoras
Ações propostas com a finalidade çje reduzir a magnitude ou a importância dos impactos
adversos.
M onitoramento ambiental
Coleta sistemática e periódica de dados previamente selecionados, com o objetivo principal
de verificar o atendimento a requisitos predeterminados.
P erigo
Condição ou situação física com potencial de acarretar conseqüências indesejáveis.
P oluição
Introdução, no meio ambiente, de qualquer forma de matéria ou energia que possa afetar
negativamente o homem ou outros organismos.
P revisão de impactos
Uso de métodos e técnicas para antecipar a m agn itud e ou a intensidade dos impactos
ambientais.
PROGNÓSTICO A M B IE N TA L
Projeção da provável situação futura do ambiente potencialmente afetado, caso a proposta
em análise (projeto, política, plano, programa) seja implementada; tam bém se pode fazer um
prognóstico ambiental considerando que a proposta em análise não seja implementada.
R ecuperação ambiental
Aplicação de técnicas de manejo visando tornar um ambiente degradado apto para um novo
uso produtivo, desde que sustentável.
Risco ambiental
Potencial de ocorrência de efeitos adversos indesejados para a saúde ou vida hum ana, para o
ambiente ou para bens materiais (segundo Society for Risk Analysis).
S ubstância perigosa
Toda substância ou m istura que, em razão de suas propriedades químicas, físicas ou toxico-
lógicas, só ou em combinação com outras, represente um perigo (Convênio OIT 174: 1993).
S upervisão ambiental
Atividade contínua realizada pelo em preendedor ou seu representante, com a finalidade
de verificar o cum prim ento de exigências legais ou co n tratu a is por parte de empreiteiros
e de quaisquer outros contratados p a ra a im plantação, operação ou desativação de um
em preendim ento.
Qualquer verificação do atendim ento de obrigações de natureza contratual, até mesmo o
atendim ento a obrigações legais.
Termos de referência
Diretrizes para a preparação de um EIA.
Um documento que (i) orienta a elaboração de um EIA; (ii) define seu conteúdo, abrangência,
métodos; e (iii) estabelece sua estrutura.
APÊNDICE A 465
G u i a p a r a a n á l i s e t é c n i c a de e s t u d o s d e i m p a c t o a m b i e n t a l
Considera-se que os itens em itálico são fundam entais para o bom entendimento do
projeto e de seus impactos, e por essa razão deverão receber no mínimo conceito “C”,
ou “aceitável”. Deve-se atribuir um conceito a cada um dos quesitos que compõem um
ixem e em, seguida atribuir um conceito geral ao item. No caso de haver apenas um
quesito, o conceito atribuído valerá como conceito do item.
Esse rol de critérios não pretende nem pode substituir uma análise crítica do projeto
apresentado ou a discussão de seus eventuais méritos ou deficiências. Tem como única
finalidade auxiliar o analista em sua leitura do estudo de impacto ambiental e demais
documentos pertinentes. E sempre conveniente que o resultado da análise técnica seja
expresso na forma de um relatório ou parecer técnico expondo as conclusões e princi
pais observações da análise realizada. Não é adequado nem eficaz apresentar somente
uma “nota” ou conceito baseado na aplicação de uma lista de verificação. Há de se
explicar e fundam entar os motivos pelos quais um estudo de impacto ambiental é ju l
gado suficiente ou não. Nessa apreciação, é preciso discernir entre problemas menores
e falhas graves, ou cruciais. Para tanto, um a lista de verificação bem estruturada pode
ser uma ferramenta poderosa para subsidiar um a análise sistemática e rigorosa.
M jE N D IC E A
5.4 Prognóstico da qualidade ambiental E feita uma síntese da qualidade ambiental futura?
futura com e sem o empreendimento
6. P r o g r a m a s de g estã o a m b ie n t a l
6.1 Programas de gestão Medidas mitigadoras são compatíveis com os impactos
causados?
São propostas medidas para todos os impactos relevantes,
diretos e indiretos?
A P E N D IC E M 469
B a n c o M u n d ia l - w w w .w o rld b a n k .o rg
lomo principal agente financeiro internacional, o Banco reconhece a importância da
AIA em seu processo decisório. Suas políticas e procedimentos são disponíveis para
o público. 0 site também traz informação atualizada sobre pedidos de empréstimos e
suas condicionantes ambientais, assim como diversos documentos acerca da aplica
ção da AIA. Destacam-se:
S ites g o v e r n a m e n t a i s
A maioria das agências ambientais envolvidas com avaliação de impacto ambiental
dispõe de sites com informações sobre leis e regulamentos e casos em andamento,
com possibilidade, em algumas delas, de consultar ou copiar estudos ambientais. Em
geral, no Brasil deve-se buscar sob “licenciamento ambiental”.
Documentos da União Européia sobre AIA podem ser encontrados na Diretoria Geral
de Ambiente, setor responsável pela integração das políticas europeias e acompa
nham ento de sua implementação pelos países-membros; a página correspondente,
que indica documentos e estudos disponíveis, é www.ec.europa.eu/environment/
eia, com destaque para guias sobre triagem, scoping e análise de EIAs. Informações
sobre cada país da União Européia devem ser buscadas nos respectivos governos
nacionais e regionais.
APÊNDICE