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revisão prática

Brasília-DF
Elaboração

Marcelo Whately Paiva

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO...................................................................................................................................... 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA.................................................................................. 5

Introdução.......................................................................................................................................... 7

unidade I
revisão gramatical e estilística............................................................................................................ 9

Capítulo 1
Texto e Revisão de Texto........................................................................................................ 13

Capítulo 2
Aspectos Importantes em Revisão.......................................................................................... 20

Capítulo 3
Estilo................................................................................................................................... 23

Capítulo 4
Defeitos de um Texto............................................................................................................. 25

unidade II
revisão na prática.............................................................................................................................. 29

Capítulo 5
Revisão de Texto na Escola.................................................................................................... 32

Capítulo 6
Revisão do Texto Técnico....................................................................................................... 35

PARA (NÃO) FINALIZAR.......................................................................................................................... 43

referências ...................................................................................................................................... 44
APRESENTAÇÃO

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários
para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica
e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal,
adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a
serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente
e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios
que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua
caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como
instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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ORGANIZAÇÃO DO CADERNO
DE ESTUDOS E PESQUISA

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma
didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão,
entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas,
também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Pensamentos inseridos no Caderno, para provocar a reflexão sobre a prática


da disciplina.

Para refletir

Questões inseridas para estimulá-lo a pensar a respeito do assunto proposto. Registre


sua visão sem se preocupar com o conteúdo do texto. O importante é verificar
seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. É fundamental que você
reflita sobre as questões propostas. Elas são o ponto de partida de nosso trabalho.

Textos para leitura complementar

Novos textos, trechos de textos referenciais, conceitos de dicionários, exemplos e


sugestões, para lhe apresentar novas visões sobre o tema abordado no texto básico.

Sintetizando e enriquecendo nossas informações

abc
Espaço para você, aluno, fazer uma síntese dos textos e enriquecê-los com sua
contribuição pessoal.

5
Sugestão de leituras, filmes, sites e pesquisas

Aprofundamento das discussões.

Praticando

Atividades sugeridas, no decorrer das leituras, com o objetivo pedagógico de


fortalecer o processo de aprendizagem.

Para (não) finalizar

Texto, ao final do Caderno, com a intenção de instigá-lo a prosseguir com a reflexão.

Referências

Bibliografia consultada na elaboração do Caderno.

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Introdução

Esta disciplina é fundamental para a conclusão do curso. É muito comum encontrarmos regras para a
revisão gramatical e revisão estilística, mas nos sentirmos isolados em nossa atividade profissional por
falta de trocas de experiências. Assim, procuramos organizar um material prático.

Lembro que o material proposto é apenas uma base do que discutiremos em sala de aula. Mais
importante do que o material didático será a capacidade para trocarmos informações sobre os assuntos
abordados aqui.

Um abraço!

Objetivos
»» Ensinar como realizar uma boa revisão de textos em Língua Portuguesa.
»» Desenvolver o conteúdo gramatical e estilístico do participante permitindo a
realização de sua atividade profissional com conhecimento teórico e prática.

»» Reconhecer as falhas de construção e inadequações textuais.


»» Perceber a melhor forma de redigir textos.

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unidade
revisão gramatical e
estilística I
unidade
revisão gramatical e estilística
I
O trabalho de revisão de texto, ao contrário do que se poderia imaginar — por
diversas razões e por estranho que possa parecer —, não é frequentemente
compreendido em sua complexa abrangência operacional e conceitual. É
contraditório, mas verdadeiro, que, mesmo os mais eminentes usuários da
Comunicação Escrita, com as exceções de sempre, desconheçam ou ignorem o
complexo processo de que se reveste uma revisão digna de nome. É claro que a
natureza “invisível” do trabalho e sua própria especificidade (aliás, como qualquer
outra) induzem a esse tipo de comportamento, cujos sinais são muito sintomáticos
para serem negligenciados. É preciso, no mínimo, esclarecer alguns pontos.

O revisor não é exatamente um especialista em gramática. É claro que o


conhecimento gramatical ajuda, é necessário, mas não suficiente. Por quê?
Porque a Revisão exige outras habilidades mais funcionais e pragmáticas que
vão além do que se pensa dela e dos corretores de texto eletrônicos. Em
sua caixa de ferramentas, é preciso aptidões e virtudes como: senso crítico,
capacidade de análise e conferência, ampla visão do funcionamento da língua,
cultura diversificada, concentração, sentido de conveniência, conhecimentos
de Linguística e, naturalmente, um olhar aguçado e a capacidade de usar tais
instrumentos em conjunto ou pontualmente, conforme o contexto gráfico-
-textual em que se mova. Mais que apontar ou “corrigir” pretensos “erros”,
é de trabalhar por adequação e organização de sentidos o grande desafio do
profissional dedicado à Revisão.

Mas aos próprios revisores parece caber uma parcela de responsabilidade pelo
desconhecimento do seu trabalho. É que eles se esquecem de que são interlocutores
e, portanto, com direito à voz ativa e com o dever de dialogar não apenas com os
textos, passivamente, mas, ativamente, com os produtores de texto (redatores em
geral, publicitários, escritores, pesquisadores etc.). Por outro lado, e a propósito, a
prática de trabalhar com a linguagem escrita não deveria (por isso mesmo!) levar os
revisores a se esquecerem do estudo da linguagem oral, cuja complexidade, como
afirmam inúmeros linguistas, é de igual ou maior importância que a escrita.

No Brasil, por motivos que aqui refogem à nossa reflexão, mas todos de ordem
cultural e socioeconômica, a Revisão quase sempre ainda é vista como coisa
menor ou subsidiária, caudatária de uma cultura letrada autossuficiente e cheia de
preconceitos. A arrogância e o autoritarismo reinantes na sociedade transpõem-se

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UNIDADE I |revisão gramatical e estilística

para o domínio do texto: o erro, a falha, a inadequação, a inconsistência de sentido


podem, muitas vezes, ser vistos sob o prisma de uma estratificação social que
privilegia a ignorância e até... se orgulha dela!!! Felizmente, os tempos começam
a mudar e as exigências de Qualidade anunciam que, sem Revisão, resultados de
excelência ficam ameaçados de não acontecerem. Imagem e boa comunicação
ficam comprometidas.

Mais que um serviço de bastidores, a Revisão é um dever e um direito linguístico. Em


sentido lato, é um trabalho de Comunicação como outro qualquer. A “invisibilidade”
da prática não deveria ofuscar a “visibilidade” do conceito. Por isso, é necessário,
pelo menos ainda entre nós, profissionalizar ainda mais essa área “desconhecida”,
lembrada apenas nas resenhas da imprensa e em comentários quase sempre
negativos, quando mostra sua face vulnerável e falível, ou nos momentos amargos
de evitáveis prejuízos.

Paulo Gustavo

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Capítulo 1
Texto e Revisão de Texto

A noção de texto é ampla e ainda aberta a uma definição mais precisa. Grosso modo, pode ser entendido
como manifestação linguística das ideias de um autor, que serão interpretadas pelo leitor, de acordo com
seus conhecimentos linguísticos e culturais. Seu tamanho é variável.

O interesse pelo texto como objeto de estudo gerou vários trabalhos importantes de teóricos da Linguística
Textual, que percorreram fases diversas, cujas características principais eram transpor os limites da frase
descontextualizada da gramática tradicional e ainda incluir os relevantes papéis do autor e do leitor na
construção de textos.

Um texto pode ser escrito ou oral e, em sentido lato, pode ser também não verbal. Todo texto tem que ter
alguns aspectos formais, ou seja, deve ter estrutura e elementos que estabelecem relaçao entre si. Dentro
dos aspectos formais temos a coesão e a coerência, que dão sentido e forma ao texto. "A coesão textual é a
relação, a ligação, a conexão entre as palavras, expressões ou frases do texto”. A coerência está relacionada
com a compreensão, a interpretação do que se diz ou escreve. Um texto precisa ter sentido, isto é, precisa
ter coerência. Embora a coesão não seja condição suficiente para que enunciados se constituam em textos,
são os elementos coesivos que dão a eles maior legibilidade e evidenciam as relações entre seus diversos
componentes, a coerência depende da coesão.

Revisão de Texto
Define-se a revisão de texto como a interferência no texto visando à sua melhoria. Essas mudanças podem
atingir palavras, frases ou parágrafos e ocorrem por cortes, inclusões, inversões ou deslocamentos. A
pessoa encarregada dessa tarefa é chamada de revisor de textos, cujo papel é verificar, com o editor da
matéria, orientador ou coautores, se há erros de ortografia, se a matéria está corretamente direcionada
aos fatos citados, entre outros. Tratando-se de um processo de autorrevisão, as mudanças são feitas pelo
próprio autor sem a ajuda de colega ou do revisor.

O revisor exerce uma função essencial nas profissões de Jornalismo e Editoração, nas quais a revisão
é parte do processo de elaboração do produto final (jornal, revista ou livro), bem como na finalização
do trabalho acadêmico. No entanto, muitas empresas jornalísticas reduziram ou mesmo eliminaram as
equipes de revisores após a introdução da informática nas redações, como se os corretores ortográficos
pudessem suprir sua falta – o que está longe de ocorrer. Raro também é que as instituições de ensino e
pesquisa estejam dotadas de revisores de textos.

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UNIDADE I |revisão gramatical e estilística

Todo texto deve ser submetido a diversas fases de revisão; as primeiras e a última pelo próprio autor,
mas outras pessoas devem revisar o trabalho para que os diversos tipos de problemas sejam reduzidos ao
mínimo.

O autor, devido à sua familiaridade com o assunto e proximidade ao texto, quase sempre comete lapsos
e equívocos que ele próprio não identifica em sucessivas leituras de seu trabalho. Mesmo os orientadores
acadêmicos, formalmente responsáveis pelo acompanhamento da produção, pelos mesmos motivos,
estão sujeitos a tais enganos e lapsos.

Os revisores profissionais trabalham melhor se o texto lhes for entregue “pronto”, inteiro, de forma que
depois de revisado não sofra mais modificações. A última fase será a conferência por parte do autor das
interferências do revisor, para verificar se suas intenções e ideias foram corretamente interpretadas.

O trabalho do revisor de texto profissional


Garantir que um documento escrito esteja claro nem sempre é óbvio. Muitas vezes as ideias são boas, mas
aparecem mal formuladas. É aí que entra o revisor de texto, para garantir a clareza das ideias expostas.

Além disso, o trabalho deste profissional pode garantir a coerência na construção de um documento, por
meio de sugestões de acordo com o conteúdo do que foi escrito.

A grande qualidade de um bom revisor de texto profissional é o respeito ao estilo de quem elaborou o
texto – seja o mesmo um trabalho acadêmico, um projeto, um folder ou um manual.

O revisor de texto profissional deve levar em conta a correção ortográfica e a coerência, mas jamais
modificar as características, a maneira de expressar-se de um autor.

Além da correta escrita das palavras e da boa estruturação textual, deve-se ponderar o contexto de quem
escreveu, o conteúdo escrito e a quem se dirige o texto.

Revisor de texto: profissional multidisciplinar


É comum a associação da imagem do revisor de texto profissional a trabalhos acadêmicos e livros, apenas.
E isso não é verdadeiro, pois essa atividade está ligada à produção e veiculação de todo e qualquer tipo
de documento.

Dessa forma, flyers, folders, cardápios, textos farmacêuticos ou manuais têm a mesma importância que
textos jornalísticos, teses, dissertações e monografias, no trabalho do revisor de texto profissional.

O objetivo será sempre o mesmo, independentemente do que é escrito, quer dizer, garantir a clareza e a
coerência textual, conseguir transmitir a ideia do autor da melhor e mais correta forma possível.

Logo, o conteúdo específico de um revisor de texto profissional sempre será aquele sobre o qual ele
trabalha no momento, e que pode variar da produção literária ao manual técnico de uma máquina,
passando pelo flyer de uma festa ou o folder de uma empresa publicitária. O importante é que tudo esteja
claro, interessante e de acordo com as normas da Língua Portuguesa.
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| UNIDADE I
revisão gramatical e estilística

Primeira revisão
Para alguns, confunde-se com o copidesque (em inglês, copy desk) ou com preparação de texto (em inglês,
revision); aponta incoerências, repetições, uso incorreto da língua e falta de normalização. Normalmente,
inclui mecanismos eletrônicos de verificação da ortografia e sintaxe. Em alguns casos, inclui a formatação
de texto, inclusive em se tratando de trabalho acadêmico, quando serão obedecidas normas da ABNT,
Vancouver, APA, ISO, por exemplo, ou as normas da própria instituição ou veículo a que se destina o texto.
Nessa fase é comum e aconselhável a interação com autor ou autores, bem com editores, orientadores e
outros responsáveis pelo texto.

Revisão Ortográfica
Escrever pode ser uma guerra, entre o autor e as palavras. O resultado dessa luta
pode ser um texto vazio e insignificante para quem o lê. Esse fato não significa
que o autor não esteja empenhado ou que desconheça as normas gramaticais.
Normalmente, as dificuldades surgem quando defronta com a modalidade culta e
escrita.

Objetivo

Adequar o texto aos padrões da variedade formal da Língua Portuguesa, tornando-o


adequado ao uso. Alguns dos aspectos analisados: ortografia, símbolos e siglas,
pontuação, acento denotativo da crase e aspas.

Observação: A revisão não interfere no “estilo” do seu texto. Não ocorrem


alterações no significado. Fazemos apenas as retificações necessárias dentro dos
padrões gramaticais vigentes.

Revisão estrutural

Objetivo: Analisar a intenção, a função e a disposição dos elementos ou partes


do texto. A forma como esses elementos se relacionam entre si e, caso haja
necessidade, reestruturá-los a fim de tornar o texto mais adequado a cada intenção,
modalidade, categoria, público-alvo ou tipologia textual.

Serão analisados os seguintes aspectos.

a. Contribuem para a eficácia comunicativa: coesão e coerência (precisão,


unidade e harmonia vocabular), consistência na argumentação, persuasão
de opinião, expressividade e naturalidade, uso de vocabulário ou
linguagem adequada a cada tipo de modalidade textual, uso de eufemismos
para suavizar a linguagem, uso de linguagem dinâmica e incisiva,
concisão textual, laconismo (unidade e precisão no desenvolvimento
da ideia central), propriedade (conhecimento e domínio do assunto),
paragrafação (uso e desenvolvimento adequado dos tópicos frasais).

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UNIDADE I |revisão gramatical e estilística

b. Contribuem para a ineficácia comunicativa: repetições de ideias ou de


termos desnecessários, vagueza de expressões e de ideias, linguagem
antiquada e incoerente, inadequação no uso de estrangeirismos e
neologismos, estilo pomposo (linguagem obscura e complexa), uso
de gírias e de palavras de baixo calão, preconceitos e estereótipos,
má distribuição e desenvolvimento dos tópicos frasais, prolixidade e
redundância, atropelamento de ideias, superfluidade ou dilatamento
de ideias, obscuridade e incompreensão, excesso de pormenores,
desperdício de palavras ou sinais, falta de concisão textual, digressões
inconvenientes (fuga do assunto), ladainha, exagero no uso das
conjunções coordenativas, períodos excessivamente longos e cansativos,
estilo truncado (separação de orações subordinadas por meio de ponto
final), uso exagerado de frases justapostas, intercaladas ou parentéticas,
linguagem monótona, falta de criatividade e originalidade, uso de frases
muito curtas e independentes, falta de ritmo, vícios de linguagem
(barbarismos, hiatos, ecos, cacófatos, colisão, arcaísmos, pleonasmos
viciosos, solecismos e ambiguidades).

Observações: A reestruturação textual será realizada somente quando solicitada


pelo cliente. Nesse caso, ocorrerá simultaneamente à revisão gramatical e
ortográfica; para que possa ser executada com eficiência e precisão é necessário
que o cliente indique, com clareza, a intenção do texto e o público-alvo a quem
se dirige; a reestruturação textual é extremamente complexa, pois compreende a
retomada do contexto e o exame minucioso de cada período; considerando o nível
de profundidade dessa análise, poderão ocorrer modificações no “estilo” para que
haja uma maior aproximação às intenções do autor; a disponibilidade de tempo
para a execução desse serviço deverá ser bem maior do que o dispendido à revisão
gramatical e ortográfica.

Disponível em: <http://www.estudopronto.com/revisao_ortografica_texto.htm>

Segunda revisão
Verifica uniformidade e constância temporal e pessoal das formas verbais, vícios de eufonia, linguagem
oral ou desconhecimento etimológico, clareza, ordenação sintática e hierarquização das ideias.
Verificação “final” de todos os aspectos linguísticos, metodicamente, conferindo os diferentes aspectos
na seguinte ordem:

»» erros de digitação, ortografia, pontuação e concordância não detectáveis pelos


revisores eletrônicos;

»» uniformidade e constância temporal e pessoal;


»» vícios decorrentes da linguagem oral ou desconhecimento etimológico;

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| UNIDADE I
revisão gramatical e estilística

»» vícios de eufonia (cacófatos e outros);


»» ordenação sintática e hierarquização das ideias.

Revisão do material já diagramado


Um revisor lê a obra já diagramada em formato de página (em inglês, proofreading), checando não só erros
de português como inconsistências de tipologia, espaços a mais ou a menos, numerações, “caminhos de
rato”, “viúvas”, “forcas” e similares problemas de paginação.

Revisão acadêmica
Revisão de teses, dissertações, monografias, artigos, comunicações e trabalhos acadêmicos em geral.
Normalmente, requer a interferência de profissional habituado ao jargão universitário, familiarizado com
as normas e objetivos do texto científico.

Revisão técnica
Inclui interferência crítica feita por um profissional com qualificação acadêmica no objeto do trabalho,
proporcionando ao autor a tranquilidade de uma opinião externa e descomprometida com o conteúdo
do texto e com a sua produção, sendo um importante recurso para os autores que trabalham distantes de
seus orientadores formais.

Revisão final
No jargão dos revisores, conhecida como “cata piolho” e outras expressões do gênero. Refere-se à última
leitura do texto, antes do esgotamento do prazo para entrega. Verifica todas as questões remanescentes; e
sempre haverá mais a ser revisado, enquanto houver tempo.

Primeira etapa
O português não é uma língua simples, possui regras complicadas, difíceis de aplicar. Além do mais, a
rapidez com que as informações chegam, atualmente, é cada vez maior, não havendo muito tempo para
que o autor de um texto verifique seus erros. Assim, todo e qualquer conteúdo publicado merece uma
revisão de texto.

A primeira etapa da revisão de texto é a correção ortográfica e gramatical, pois, muitas vezes, a repetição
de uma palavra passa despercebida, como também pequenos erros ortográficos, de conjugação verbal ou
de emprego de determinadas palavras e expressões.

Essa modalidade de revisão de texto é etapa fundamental, uma vez que elimina vícios de linguagem e dá
clareza às ideias apresentadas, além de fazer a adequação às normas da ABNT.

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UNIDADE I |revisão gramatical e estilística

Quadro 1 – Formatação primária

Ocorrência Justificativa Interferência

Duplo parágrafo Tentativa de formatar o parágrafo, dando Substituir parágrafo duplo por simples.
espaços.

Múltiplos espaços entre as Erro na digitação ou movimentação de palavras Localizar e substituir espaços duplos por
palavras ou grupos. simples.

Espaços antes ou depois de Mais comumente por erro de digitação. Localizar e substituir os espaços excedentes.
marcas de parágrafo

Espaços antes de sinais de Mais comumente por erro de digitação. Localizar e substituir os espaços excedentes.
pontuação

Uso de hífen entre as palavras Os autores não conhecem a diferença entre Localizar e substituir adequadamente.
hífen, vírgula inglesa e travessão.

Segunda etapa
Corrige os erros mais comuns, os que ocorrem em abundância em quase todos os textos. Tais erros devem
ser procurados de forma sistemática ao longo do trabalho. O quadro seguinte exemplifica as ocorrências
típicas e os procedimentos.

Quadro 2 – Erros comuns

Ocorrência Justificativa Interferência

Um, uma Abuso de pronomes e artigos indefinidos. Excluir supérfluos.

Mais do que... Uso inadequado de comparativo. Excluir “do’’.

Aonde, onde Impropriedades: regência e/ou inadequação. Substituir um pelo outro ou adequar.

Do / da Impropriedade no emprego da preposição no Substituir por “de o / de a”.


sujeito.

Nível de... Impropriedade no emprego em sentido figurado, Substituir pelo advérbio correspondente ou
ou como locução adverbial expletiva. suprimir, segundo o caso.

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| UNIDADE I
revisão gramatical e estilística

Revisão gramatical: clareza e coerência para o texto


A produção de todo e qualquer texto deve levar em conta os princípios e as regras da língua. O português,
por exemplo, nem sempre apresenta regras simples, embora essas sejam necessárias para um texto bem
estruturado e claro.

Muitas vezes, o processo de criação textual acaba ignorando detalhes que podem comprometer todo o
texto produzido. Assim, a revisão gramatical torna-se imprescindível, garantindo a clareza e a coerência
do que se escreve.

Revisão gramatical: as variações linguísticas sempre devem


ser levadas em conta
Há ainda o raciocínio de que a revisão gramatical pode tornar um texto enfadonho e árido, visando
apenas à boa aplicação de regras precisas. E isso não é verdadeiro, uma vez que a língua é dinâmica, bem
como toda a produção de textos.

Dessa forma, a revisão gramatical atenta para as variações linguísticas, sejam elas regionais, específicas de
uma época, faixa etária ou representativas de determinada área do conhecimento, com seu vocabulário
próprio.

Ou seja, as regras gramaticais são válidas para todas as formas de expressão, mas também devem estar
coerentes no texto produzido, de acordo com as características próprias dele.

Existe a linguagem denominada padrão, mas isso não significa que todas as outras estejam incorretas.
Logo, a revisão gramatical leva em conta as variações linguísticas e busca a clareza e a coerência específicas
de cada texto, considerando o estilo do autor e o tema abordado.

Revisão gramatical: importância do contexto e dos objetivos


da produção textual
Afinal, a forma não deve ser o único aspecto levado em conta em um determinado texto, mas seu conjunto.
Às vezes boas ideias acabam por passar despercebidas, simplesmente porque a forma de exprimi-las não
atingiu os leitores. Ou ainda, muitos textos trazem as regras gramaticais corretamente aplicadas, mas as
frases parecem vazias, sem sentido algum.

A revisão gramatical também ajuda a eliminar determinados vícios de linguagem que muitos textos
acadêmicos ou técnicos apresentam. O mesmo ocorre com campanhas publicitárias ou mesmo descrição
de determinado produto ou serviço. Seja qual for o objetivo que pretenda atingir – informar, descrever,
vender, apresentar, divertir etc. – o texto deve estar bem estruturado e coerente com sua função.

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Capítulo 2
Aspectos Importantes em Revisão

Clareza
Clareza é a qualidade do que é inteligível, facilmente compreensível. É preciso que o pensamento de quem
comunica também esteja claro, com as ideias ordenadas, a pontuação correta, as palavras bem dispostas
na frase, as intercalações reduzidas a um mínimo e a precisão vocabular.

A indispensável releitura do texto contribui para obtenção da clareza. A ocorrência de trechos obscuros
e de erros gramaticais em textos oficiais provém principalmente da falta da releitura, que torna possível
sua correção.

Além disso, a falsa ideia de que “escreve bem quem escreve difícil” também contribui para a obscuridade
do texto. Ora, quem escreve difícil dificilmente é compreendido. Cada palavra dessa natureza é um
tropeço para a leitura e só pode desvalorizar o que se escreve.

»» Alguns preceitos para a redação de textos claros:


a. utilizar, preferencialmente, a ordem direta ou lógica (sujeito, verbo,
complementos); às vezes essa ordem precisa ser alterada em benefício da própria
clareza;

b. usar as palavras e as expressões em seu sentido mais comum;

c. evitar períodos com negativas múltiplas;

d. transformar as orações negativas em positivas, sempre que possível;

e. buscar a uniformidade do tempo verbal em todo o texto;

f. escolher com cuidado o vocabulário, evitando o jargão técnico;

g. evitar neologismos (palavras, frases ou expressões novas, ou palavras antigas


com sentidos novos), preciosismos (delicadeza ou sutileza excessiva no escrever)
e regionalismos;

h. utilizar palavras ou expressões de língua estrangeira somente quando


indispensável.

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| UNIDADE I
revisão gramatical e estilística

Coesão
O termo coesão pode ser conceituado como a união íntima das partes de um todo. Assim, o texto coeso
é aquele em que as palavras, as orações, os períodos e os parágrafos estão interligados e coerentemente
dispostos.

Às vezes, o cuidado com a estrutura do parágrafo pode induzir ao equívoco de encará-lo como redação
autônoma, bastante em si mesmo. Apesar de ser uma unidade lógica completa (começo, meio e fim), não
pode estar solto do restante do texto.

Para que esse desligamento não ocorra, temos de trabalhar com mecanismos de ligação entre os parágrafos.
A utilização desses mecanismos chama-se transição ou coesão.

A transição não é necessariamente feita por partículas ou expressões. Ela pode ocorrer, por exemplo, com
a utilização do mesmo sujeito da oração precedente. O importante nos mecanismos de transição é manter
a fluência do texto.

Exemplos de algumas partículas e expressões de transição: da mesma forma, aliás, também, mas, por
fim, pouco depois, pelo contrário, assim, enquanto isso, além disso, a propósito, em primeiro lugar, no
entanto, finalmente, em resumo, portanto, por isso, em seguida, então, já que, ora, daí, dessa forma, além
do mais.

Concisão
A concisão consiste em expressar com um mínimo de palavras um máximo de informações, desde que
não se abuse da síntese a tal ponto que a ideia se torne incompreensível. Afinal, o tempo é precioso,
e quanto menos se rechear a frase com adjetivos, imagens, pormenores desnecessários ou perífrases
(rodeios de palavras), mais o leitor se sentirá respeitado.

Para que se redija um texto conciso, é fundamental que se tenha, além de conhecimento do assunto sobre
o qual se escreve, o tempo necessário para revisá-lo depois de pronto. É nessa revisão que muitas vezes se
percebem eventuais redundâncias ou repetições desnecessárias de ideias. Veja-se, por exemplo, o seguinte
texto:

A partir desta década, o número cada vez maior e, por isso mesmo, mais alarmante
de desempregados, problema que aflige principalmente os países em desenvolvimento,
tem alarmado as autoridades governamentais, guardiãs perenes do bem-estar social,
principalmente pelas consequências adversas que tal fato gera na sociedade, desde o
aumento da mortalidade infantil por desnutrição aguda até o crescimento da violência
urbana que aterroriza a família, esteio e célula-mater da sociedade.

21
UNIDADE I |revisão gramatical e estilística

Se esse mesmo trecho for reescrito sem a carga informativa desnecessária, obtém-se um texto conciso e
não prolixo:

O número cada vez maior de desempregados tem alarmado as autoridades


governamentais, pelas consequências adversas que tal fato gera na sociedade, desde o
aumento da mortalidade infantil por desnutrição aguda até o crescimento da violência
urbana.

Vê-se, assim, como é importante o texto enxuto. Economizar palavras traz benefícios ao texto: o primeiro
é errar menos; o segundo, poupar tempo; o terceiro, respeitar a paciência do leitor. Pode-se adotar como
regra não dizer mais nem menos do que precisa ser dito. Isso não significa fazer breves todas as frases,
nem evitar todo o detalhe, nem tratar os temas apenas na superfície; significa apenas que cada palavra é
importante.

Correção gramatical
Correção gramatical é a utilização do padrão culto de linguagem, ou seja, é escrever sem desrespeitar os
fatos particulares da língua e as regras apropriadas para o seu perfeito uso. As incorreções gramaticais
desmerecem o redator e põem em dúvida sua autoridade para falar sobre qualquer assunto.

Além disso, conhecer a própria língua não é privilégio de gramáticos, senão dever de todos aqueles que
dela se utilizam. É erro de consequências imprevisíveis acreditar que só os escritores profissionais têm
a obrigação de saber escrever. Saber escrever a própria língua faz parte dos deveres cívicos. A língua é a
mais viva expressão da nacionalidade.

22
Capítulo 3
Estilo

Tudo que o ser humano faz tem a marca de sua individualidade. Essa maneira
pessoal de as pessoas expressarem-se, dentro de uma determinada época, por
meio da música, da literatura, da pintura, da escultura é o que se chama estilo. Em
relação ao ato de redigir, estilo é, portanto, a maneira peculiar de cada escritor
expressar os seus pensamentos.

Qualidades da harmonia e da polidez


As qualidades tradicionalmente conhecidas da expressão verbal — a clareza, a coesão, a concisão, a
correção gramatical, a harmonia, a polidez — adquirem proeminência indiscutível na redação. A clareza,
a coesão, a concisão e a correção gramatical já foram comentadas nos tópicos anteriores; resta fazer breves
observações a respeito da harmonia e da polidez.

Harmonia
Uma mensagem é harmoniosa quando é elegante, ou seja, quando soa bem aos nossos ouvidos. Muitos
fatores prejudicam a harmonia na redação oficial, tais como:

a. a aliteração (repetição do mesmo fonema): Na certeza de que seria bem-sucedido,


o sucessor fez a seguinte asserção (aliteração do fonema s);

b. a emenda de vogais (ou hiatismo): Obedeça à autoridade;

c. a cacofonia (encontro de sílabas em que a malícia descobre um novo termo com


sentido torpe ou ridículo): Dê-me já aquela garrafa;

d. a rima: O diretor chamou, com muita dor, o assessor, dizendo-lhe que, embora
reconhecendo ser o mesmo trabalhador, não lhe poderia fazer esse favor;

e. a repetição excessiva de palavras: O presidente da nossa empresa é primo do


presidente daquela transportadora, sendo um presidente muito ativo;

f. o excesso de “que”: Solicitei-lhe que me remetesse o parecer que me prometera a fim


de que eu pudesse concluir a análise que me fora solicitada.

23
UNIDADE I |revisão gramatical e estilística

Polidez
O texto polido revela civilidade, cortesia. A finalidade, especialmente nas correspondências oficiais, é
impressionar o destinatário de forma favorável, evitando frases grosseiras ou insultuosas, expressando
respeito sem rebaixamento próprio. Expressar consideração pelo outro, sem ao mesmo tempo rebaixar-se,
por vezes até compensa falhas nas outras qualidades fundamentais do texto antes examinadas.

Correspondência é contato humano e, como tal, deve ser pautada pelos mesmos princípios de convivência
pacífica da vida social.

24
Capítulo 4
Defeitos de um Texto

Cacófato (ou cacofonia)


É o som desagradável, ou a palavra obscena, proveniente da união das sílabas finais de uma palavra com
as iniciais da seguinte: Metalúrgica gaúcha espera crescer 40%. Eva e Adão. Ela trina muito bem. Uma
prima minha. Dê-me já. Só haverá cacofonia quando a palavra produzida for torpe, obscena, ridícula. É
infundado o exagerado escrúpulo de quem diz haver cacófato em por cada, ela tinha, só linha. Citem-se,
a propósito, os dizeres de Rui Barbosa: “Se a ideia de ‘porta’, suscitada em ‘por tal’, irrita a cacofatomania
desses críticos... outras locuções vernáculas têm de ser, como essa, refugadas”.

Chavão
É lugar comum, clichê. É o que se faz, se diz ou se escreve por costume. De tanto ser repetido, o chavão
perde a força original, envelhece o texto. Recorrer a eles poderá denotar falta de imaginação, preguiça ou
pobreza vocabular. Por isso, deve-se procurar evitá-los. Exemplos: a cada dia que passa, a olhos vistos,
abrir com chave de ouro, acertar os ponteiros, ao apagar das luzes.

Pleonasmo
Indica redundância de expressão, ou seja, repetição de uma mesma ideia, mediante palavras diferentes.
Quando a repetição de ideia não traz nenhuma energia à expressão, o pleonasmo passa a ser vício,
devendo, nesse caso, ser evitado. Exemplos de pleonasmos indesejáveis. Exemplo: Vi com meus próprios
olhos.

Problemas na construção de frases


A clareza e a concisão na forma escrita são alcançadas principalmente pela construção adequada da
frase. Alguns problemas mais frequentemente encontrados na construção de frases dizem respeito à
utilização do sujeito da oração como complemento, à ambiguidade da ideia expressa, à elaboração de
falsos paralelismos e aos erros de comparação, conforme exemplificado a seguir.

25
UNIDADE I |revisão gramatical e estilística

»» Uso indevido do sujeito como complemento


Sujeito é o ser de quem se fala ou que executa a ação enunciada na oração. Ele
pode ter complemento, mas não ser complemento. Devem ser evitadas, portanto,
construções como algumas construções.

Errado: É tempo dos eleitores votarem.

Certo: É tempo de os eleitores votarem.

Errado: Antes desses requisitos serem cumpridos...

Certo: Antes de esses requisitos serem cumpridos...

Errado: Apesar da Assessoria ter informado em tempo...

Certo: Apesar de a Assessoria ter informado em tempo...

»» Ambiguidade é a frase ou oração que pode ser tomada em mais de um sentido. Como
a clareza é requisito básico de todo texto oficial, deve-se atentar para as construções
que possam gerar equívocos de compreensão. A ambiguidade decorre, em geral, da
dificuldade de identificar a que palavra se refere um pronome que possui mais de um
antecedente na terceira pessoa. Outro tipo de ambiguidade decorre da dúvida sobre
a que se refere a oração reduzida. Exemplos:

Errado: O Chefe de Gabinete comunicou ao Diretor que ele seria exonerado. (Quem
seria exonerado? O Chefe de Gabinete? O Diretor?).

Claro: O Chefe de Gabinete comunicou a exoneração dele ao Diretor. (O Chefe de


Gabinete foi exonerado.)

Claro: O Chefe de Gabinete comunicou ao Diretor a exoneração deste. (O Diretor


foi exonerado.)

»» Erro de paralelismo é uma das convenções estabelecidas na língua escrita, consiste


em apresentar ideias similares em uma forma gramatical idêntica, o que se chama de
paralelismo. Assim, incorre-se em erro ao conferir forma não paralela a elementos
paralelos. Exemplos:

Errado: Pelo aviso circular recomendou-se às unidades economizar energia e que


elaborassem planos de redução de despesas.

Certo: Pelo aviso circular, recomendou-se às unidades que economizassem energia


e (que) elaborassem planos para redução de despesas.

Certo: Pelo aviso circular, recomendou-se às unidades economizar energia e elaborar


planos para redução de despesas.

26
| UNIDADE I
revisão gramatical e estilística

Errado: No discurso de posse, mostrou determinação, não ser inseguro, inteligência


e ter ambição.

Certo: No discurso de posse, mostrou determinação, segurança, inteligência e


ambição.

Certo: No discurso de posse, mostrou ser determinado e seguro, ter inteligência e


ambição.

»» Erro de comparação é a omissão de certos termos. Ao se fazer uma comparação


deve ser evitada tal omissão, pois compromete a clareza do texto: nem sempre é
possível identificar, pelo contexto, qual o termo omitido. A ausência indevida de um
termo pode impossibilitar o entendimento do sentido que se quer dar a uma frase:

Errado: O salário de um professor é mais baixo do que um médico.

Certo: O salário de um professor é mais baixo do que o salário de um médico.

Certo: O salário de um professor é mais baixo do que o de um médico.

27
unidade
revisão na
prática II
unidade
revisão na prática
II
Uma boa revisão de texto leva em consideração não apenas a forma do texto, com a correção ortográfica
e gramatical, mas também aponta sugestões para aprimorar a estrutura e a coerência do que foi escrito.

Uma ideia deve chegar a seus leitores de forma interessante e inteligível, e ela pode perder o seu sentido se
não for bem expressa. Assim, há a necessidade da segunda fase da revisão de texto: a orientação de texto.

A revisão de texto profissional considera sempre o estilo de quem escreveu, afinal,


as ideias também são expressas por determinadas características e ritmos de
escrita, próprios de cada autor. Uma orientação de texto de qualidade deve ter em
vista esses aspectos, uma vez que o sentido do texto é dado pelo autor, e não pelo
revisor de textos.

31
Capítulo 5
Revisão de Texto na Escola

Ensinar a revisar textos é um conteúdo que deve ser tratado desde as séries iniciais. O aluno precisa
incorporar tais conhecimentos gradativamente, ampliar e fazer uso deles com o objetivo de deixar seus
textos mais comunicativos, ou seja, objetivos na comunicação de ideias. Para isso, é necessário que o
professor:

»» utilize diferentes tipos de textos pertinentes à série, colocando seus alunos em


contato com bons modelos;

»» selecione em qual aspecto da revisão (coerência, ortografia, acentuação ou aspectos


coesivos e de pontuação) o aluno focará a atenção, já que não é possível tratar de
todos os aspectos ao mesmo tempo.

Este plano de aula propõe uma atividade cujo foco é a pontuação. Nem sempre os alunos chegam à
correção plena dentro do que havia sido proposto. Mas o objetivo não é alcançar a perfeição. O que
importa é apresentar questões pertinentes nas situações didáticas, fazendo com que a turma reflita e
avance. Apresentamos a seguir uma sugestão de aula que pode se tornar uma atividade permanente,
desde que se trabalhe com diferentes gêneros textuais a cada aula.

A revisão é um procedimento difícil para escritores iniciantes, pois requer distanciamento do próprio
texto. As crianças, nas séries iniciais, são capazes de corrigir textos produzidos por outras pessoas mas,
em se tratando dos seus próprios, dificilmente fazem uso desse conhecimento. Por isso, é interessante
propor que as crianças comparem seus textos com os produzidos por outras pessoas e os analise em
grupo. Isso deve ser feito em parceria e com quem já sabe fazer uso do procedimento da revisão. O
professor deverá orientar o trabalho lançando questões que façam os alunos refletir e avançar, tais como:

»» onde começa e termina a fala de tal personagem?


»» por que você usou este ponto neste lugar?
»» o trecho pontuado por vocês está fazendo sentido? Explique o sentido desta frase.
»» faz diferença usar a vírgula ou o ponto neste trecho? Por quê? Depois, cada
agrupamento deve apresentar seu texto pontuado. Trata-se de uma ocasião rica para
discutir e refletir, pois certamente surgirão diferentes formas de pontuar. Os alunos
terão oportunidade de argumentar a validade ou não de cada trabalho apresentado.

32
revisão na prática | UNIDADE II

Tradicionalmente, a gramática ensina que a pontuação é um conjunto de sinais que orienta a entonação
da leitura em voz alta. Informações do tipo: "Usem o ponto final quando estiverem cansados. A vírgula
serve para indicar uma paradinha. Usa-se ponto de interrogação para perguntar...", provavelmente, estão
embasadas na história da escrita, quando os livros eram escritos à mão, sem espaços entre as palavras e a
leitura era feita em voz alta. Quem pontuava e dava um sentido ao texto era o leitor.

A prática de leitura silenciosa disseminou-se a partir da produção de livros em escala


industrial [...] Hoje, quando o texto impresso é formatado para ser lido diretamente
pelo olho, sem precisar passar pela sonorização do que está escrito, esta função, de
estreitar o campo das possibilidades de interpretação indicando graficamente as
unidades de processamento e sua hierarquia interna, pertence ao escritor. (PCN –
LÍNGUA PORTUGUESA – MEC/1997).

Pode-se sugerir a seguinte atividade.

Objetivos
Com a atividade descrita a seguir o aluno deve ser capaz de:

»» construir um comportamento revisor em relação a seu próprio texto e ao dos outros;


»» perceberque a pontuação é um recurso utilizado pelo autor para orientar o
entendimento do leitor;

»» constatar que, na maioria das vezes, há mais de uma possibilidade de pontuação;


»» desenvolver a capacidade de argumentação;
»» desenvolver a atitude de colaboração.

Ano

3º ano

Tempo estimado

10 aulas

Material necessário
»» Lousa e giz (ou papel kraft e pincel atômico; ou retroprojetor, transparência e caneta
hidrográfica).

»» Papel e lápis.

33
UNIDADE II | revisão na prática

Desenvolvimento da atividade
Apresente um texto curto sem nenhuma marcação gráfica, como ponto, maiúscula, travessão, parágrafo
etc. Piadas são bastante interessantes para o exercício, desde que os alunos tenham tido contato com esse
tipo de texto.

»» Peça aos alunos para que, em grupos (duplas ou trios), marquem as unidades que
facilitem a sua leitura com algum sinal.

»» Solicite que reescrevam o texto, utilizando a pontuação que julgarem adequada.


»» Socialize para toda a turma as diversas possibilidades apresentadas pelos diferentes
grupos.

»» Discuta essa adequação, o significado e o entendimento do texto pontuado de


diferentes formas.

Avaliação
Durante o desenvolvimento da atividade, é possível avaliar como o aluno:

»» utiliza em outros contextos de produção escrita, os conhecimentos que constrói a


respeito da pontuação (veja o 1º objetivo);

»» usa seus conhecimentos diante do texto para pontuá-lo, a fim de atribuir significado
a ele (veja o 2º e o 3º objetivos);

»» argumenta para defender o seu ponto de vista (veja o 4º objetivo);


»» colabora com o grupo (veja o 5º objetivo).

34
Capítulo 6
Revisão do Texto Técnico

Considerações iniciais
Para um melhor entendimento desse tópico, decidimos definir um conceito importante que se insere no
contexto da revisão de textos: língua padrão ou norma canônica. Língua padrão é o conceito que remete a
um padrão linguístico ideal que se estabeleceu como de uso geral e que se admite como correto. Também
chamado de norma culta, tal padrão é transmitido pela escola e está descrito em dicionários e gramáticas.
O que se chama de língua padrão, contudo, não corresponde à fala de nenhum grupo social (PERINI,
1995). Funciona como uma lei linguística, que determina os usos – orais e escritos – e serve de referência
para a correção das formas linguísticas.

“O uso oral da linguagem tem prevalecido tão fortemente com nossas práticas cotidianas de comunicação,
que os modelos de texto escrito tornam-se cada vez mais distantes” (PERINI-SANTOS, 2005). Diminuir
essa distância, adaptando o texto à norma padrão e aproximando-o da realidade do leitor, é fundamental,
e este papel é desempenhado pelo revisor.

Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, os revisores não são (ou pelo menos não devem ser),
verdadeiros “seguidores” da norma culta padrão, mesmo quando se trata da escrita. Embora seja a língua
padrão a referência para a correção de textos, na revisão destes leva-se em consideração a variação
linguística utilizada naquele determinado ramo mercadológico, a forma de padronização dessa variação
que é socialmente reconhecida pelos usuários daquele texto (gêneros textuais) e, também, o contexto no
qual o mesmo será empregado.

Já não podemos mais examinar a oralidade e a escrita como opostas, mas, sim, como atividades interativas
e complementares no contexto das práticas sociais e culturais (MARCUSCHI, 2003). Marcuschi define
o homem como um ser que fala e não como um ser que escreve, apesar de a escrita ser um bem social
indispensável para que ele possa interagir no dia a dia. Ele também reforça que se deve partir sempre da
oralidade para a escrita, trabalhando as diferenças e semelhanças entre as duas modalidades, visto que o
fim maior do ensino de português “é o pleno domínio e uso de ambas as modalidades nos seus diferentes
níveis”.

Todos os povos têm ou tiveram uma tradição oral, mas poucos, uma tradição escrita. Mesmo para os que
tiveram também a tradição escrita, é importante ressaltar que esta foi sempre posterior à oral. Entretanto,
o fato de uma ser posterior à outra não faz com que nenhuma delas seja mais importante.

35
UNIDADE II | revisão na prática

Revisão de textos
A dificuldade que a maioria das pessoas enfrenta ao redigir um texto, bem como a rapidez com que as
informações chegam até nós, faz com que os autores não tenham preocupação nem tempo para verificarem
seus erros. Isso sem entrar no mérito da falta de clareza e de adequação do texto à sua finalidade. Assim,
hoje é ainda maior a necessidade da revisão de todo e qualquer conteúdo de circulação pública, ou seja,
todo texto merece uma revisão.

Uma das grandes vantagens de se ter um profissional da revisão de textos em uma empresa é exatamente
o fato de este poder flexibilizar o uso da norma culta, adequando a escrita à realidade do ramo de atuação
e contextualizando melhor os conceitos. O conhecimento dos gêneros textuais pertinentes à área em que
se atua é também de fundamental importância, pois, com ele, o revisor pode ter mais critério, antes de
fazer demasiadas intervenções no texto.

Revisão ortográfica e gramatical de textos


A primeira etapa da revisão de textos é a correção ortográfica e gramatical, visto que, muitas vezes, a
repetição de uma palavra em um texto, como também pequenos erros ortográficos, de conjugação verbal
ou de emprego de determinadas palavras e expressões passam despercebidos pelo autor. Evidentemente,
nesse momento, o revisor deve se ater à intencionalidade do autor, já que muitos aparentes “equívocos”
podem ter sido escritos propositalmente. Essa é uma etapa fundamental da revisão, pois elimina vícios de
linguagem e dá clareza às ideias apresentadas.

Orientação de texto
Um bom revisor leva em consideração não apenas os aspectos gramaticais do texto, como a correção
ortográfica e as concordâncias, mas também dá ao autor sugestões para melhorar a semântica do conteúdo,
atentando-se para a estrutura e a coerência do que foi escrito.

O profissional de revisão deve sempre considerar o estilo linguístico de quem escreveu o texto, ou
seja, a maneira peculiar que cada autor possui para expressar seus pensamentos. Tal maneira pode ser
evidenciada por meio de palavras, expressões, construções sintáticas e jargões, muitas vezes identificando
o autor como pertencente a determinada área ou profissão. Uma orientação de texto de qualidade deve
sempre levar em conta, também, o sentido que o autor deseja dar ao texto, afinal, o seu sentido não é,
jamais, definido pelo revisor.

Quem é o revisor de textos?


A função básica deste profissional é ler o texto à procura de incorreções, atuando como um fiscal da língua
e da linguagem. Ele deve corrigir erros sintáticos, ortográficos e de pontuação, além de adequar melhor
os recursos linguísticos. É também responsável pela leitura do texto final impresso, comparando-o com
o seu respectivo original.

36
revisão na prática | UNIDADE II

Além desta função básica de tratar de incorreções ortográficas e gramaticais, o revisor deve estar apto a
trabalhar com textos de diferentes tipos e gêneros, sendo hábil em confrontá-los e em diferenciar os níveis
de língua empregados em cada especificidade. Além disso, deve saber fazer a transposição de um nível
linguístico para outro, de um gênero para outro, atentando para os efeitos de sentido que a pertinência ou
não do nível de língua usado pode provocar e observando que é o contexto que define o gênero do texto
a ser utilizado, bem como o nível de língua mais apropriado.

Por falta de regulamentação, não se exige curso superior específico para o revisor, mas sua função é,
normalmente, desempenhada por quem é graduado em Comunicação Social ou Letras, podendo
trabalhar em uma redação de jornal ou revista, editoras de livros, em empresas de tradução, entre outros.

Antigamente, a norma culta padrão era mais valorizada e, por isso, encontrava-se mais revisores atuando,
uma vez que estes sempre foram “intitulados” como aqueles que prescrevem o que é certo ou errado.

Com o avanço tecnológico, a profissão de revisor tornou-se rara, pois acredita-se (embora muito
equivocadamente) que a revisão de textos possa ser feita por qualquer pessoa que tenha um corretor
ortográfico instalado no computador.

Texto técnico
Observamos que a bibliografia sobre textos técnicos é escassa. De um modo geral, os livros limitam-se a
afirmar que esse tipo de texto se caracteriza pela objetividade, como a definição seguinte de linguagem
técnica:

um uso específico que se circunscreve a uma dada área socioprofissional e que nem
sempre tem uma função prática, visa a obter assentimento das pessoas, dar reforço
para atitudes desejadas, provocar mudanças de opinião ou de comportamento, dar
orientação para novas ações, bem como subsidiar decisões (CINTRA, 1995).

Acreditamos que a redação do texto técnico, por se tratar de um texto não ficcional, deve ter a mesma
“verdade” para escritor e leitor, ou seja, o leitor deve chegar à mesma compreensão de conteúdo que o
escritor intenciona. Diferentemente do texto ficcional (em que a concatenação de ideias pode ficar a cargo
do leitor), no texto técnico, o leitor precisa compreender o conteúdo e não, simplesmente, interpretar o
que lê à sua maneira/ótica particular.

Garcia (1985) e Carvalho (1991) utilizam a expressão "técnico-científico" para designar os textos técnicos
de cunho acadêmico referentes a especialidades de determinado ramo. Entretanto, aqui, denominaremos
a linguagem técnica como aquela dos textos referentes ao funcionamento de máquinas, peças e descrição
de equipamentos, deixando a expressão "linguagem científica" para as publicações de caráter científico,
que não são o nosso objeto de análise neste trabalho. Sendo técnica diferente de ciência – respectivamente
habilidade e conhecimento – podemos distinguir texto técnico de texto científico. Genouvrier e Peytard
(1973, p. 288) diferenciam o saber técnico do saber científico:

Deve-se distinguir terminologia técnica de metalinguística científica: a primeira exerce


um papel de denominação dos ramos ou objetos próprios de uma técnica e estabelece
uma classificação entre os resultados obtidos pela técnica enquanto atividade: a

37
UNIDADE II | revisão na prática

segunda reúne as palavras por meio das quais se designam os conceitos operatórios de
uma pesquisa ou de uma reflexão científica (GENOUVRIER e PEYTARD, 1973).

Apesar da vasta utilização do texto técnico nas empresas – descrição de peças, equipamentos, relatórios
de manutenção, manual de instrução –, percebemos que este não tem recebido a merecida atenção, por
parte da maioria dos elaboradores, divulgadores e usuários.

Mesmo por parte dos estudiosos da língua, observamos pouca bibliografia no que tange à orientação na
hora de elaborar tais textos. Acredita-se que, pelo fato de o texto técnico ter estado sempre relacionado
ao curso técnico, essa modalidade textual não receba a devida importância. Percebemos, também,
que a dificuldade relacionada à especificidade lexical do texto técnico, associada a aspectos histórico-
-educacionais, contribui para esse descaso, uma vez que, como se sabe, o tradicional ensino de redação
tem o objetivo único de preparar o aluno para o exame vestibular. Tendo em vista, porém, os limites deste
trabalho, deixaremos esses aspectos para outra oportunidade.

Apesar de alguns reveses, acreditamos que nossa experiência de cinco anos, no ramo da revisão técnica,
seja válida e, portanto, passível de ser comentada, motivo este que nos levou a tratar, nesse artigo, do tema
relacionado à nossa atividade profissional: revisão do texto técnico de engenharia.

Prática da revisão do texto técnico


O serviço de revisão, como mencionado na introdução, trata-se de algo extremamente importante nas
mais diversas áreas que primam pela qualidade do serviço. Além de ser apresentado sem erros básicos
de ortografia e concordância, é necessário que o texto seja coerente. Estes dois aspectos textuais –
microestrutura e macroestrutura – retratam a qualidade de um texto.

A leitura detalhada de um manual por parte de alguém que não tenha participado da sua elaboração
pode detectar mais facilmente possíveis incoerências e ambiguidades que tenham passado despercebidas
pelo autor. Na revisão, não é fundamental o conhecimento técnico do assunto, que é o que Heinemam
e Viehweger (1991) definem como “Conhecimento Enciclopédico”, também comentado por Ingedore
Kock (2004):

O conhecimento enciclopédico, semântico ou conhecimento de mundo é aquele que se


encontra armazenado na memória de cada indivíduo, quer se trate de conhecimento
do tipo declarativo, constituído por proposições a respeito dos fatos do mundo, quer do
tipo episódico, constituído por “modelos cognitivos” socioculturalmente determinados
e adquiridos por meio da experiência (p. 22).

Trata-se, pois, de um conhecimento amplo relativo a determinada área. Dessa forma, na revisão
macroestrutural do texto, o revisor pode não possuir o conhecimento enciclopédico do assunto, mas,
ainda assim, tornar claros os conceitos e/ou instruções abordados no manual em questão.

O que acontece, normalmente, é que o revisor não possui conhecimento enciclopédico, mas o
linguístico. Assim, na etapa de leitura dos textos, é comum surgirem dúvidas, nem sempre simples
de resolver, já que uma pequena alteração, causada por uma tentativa de acerto (sem conhecimento
enciclopédico), pode gerar algum problema de compreensão por parte, por exemplo, de um operador

38
revisão na prática | UNIDADE II

de máquina que esteja seguindo as instruções de um texto mal revisado. Consequentemente, uma pane
no sistema poderá ocorrer, gerando prejuízo financeiro para a empresa e falha no sistema. A solução
mais coerente é, portanto, o contínuo diálogo e a troca de experiências entre o revisor e o autor do
texto, a fim de evitar contradições.

É claro que o contato com o tema (no caso, o texto técnico de engenharia) e a experiência são aliados
preciosos do revisor que, muitas vezes, economiza tempo para ele e para o autor. Entretanto, humildade
e bom senso são fundamentais em caso de dúvida (por mínima que pareça), devendo o autor ser sempre
consultado. Afinal, se o autor, que é especialista no tema, se utiliza dos conhecimentos do revisor para
agregar qualidade ao seu trabalho, é fundamental que este o faça com competência.

Por meio de entrevistas e dos questionários utilizados para coletar dados referentes ao trabalho/relevância
da revisão em documentos técnicos, um dos engenheiros – funcionário de uma renomada empresa de
Engenharia de Belo Horizonte –, apesar de não considerar o trabalho de revisão relevante, admite que,
algumas vezes, devido a uma redação não muito clara, teve problemas com clientes que não manusearam
bem o sistema, por não compreender a instrução. Provavelmente, se tais manuais tivessem passado por
um revisor, o resultado seria outro, porque o trabalho deste é complementar ao do autor e, caso não
compreendesse o significado de determinada parte do texto, sanaria as dúvidas com o autor, deixando o
texto livre de ambiguidades para o cliente final.

Na nossa prática diária de revisores, deparamo-nos com esta realidade. A grande maioria dos engenheiros
(autores dos manuais técnicos de engenharia) acha desnecessário o trabalho de revisão. Assim, de maneira
geral, eles só procuram esse serviço se houver pressão superior (do seu gerente) ou reclamações externas
(por parte do cliente). Entretanto, quando cede ao serviço de revisão uma vez, o engenheiro parece perder
o receio de confiar o seu texto ao revisor, talvez por certificar-se de que se trata de um trabalho conjunto
e por perceber que o revisor não faz nenhuma alteração considerável sem a sua permissão. O revisor,
no seu papel de mediador entre o autor e o leitor, funciona como um parceiro e não como um corretor
automático. Quase sempre, após a leitura, aparecem sugestões. Nesses casos, a decisão final é sempre do
autor. Apenas correções de gramática e ortografia dispensam a sua aprovação. Cria-se, portanto, um laço
de confiança e integração entre ambos os profissionais, e, a partir de então, os engenheiros passam a usar
o revisor não como um “inimigo”, mas como um aliado e primeiro leitor do seu texto.

Na revisão microestrutural do texto, o revisor se preocupa não com o significado geral, mas com as
pequenas estruturas, corrigindo eventuais erros de gramática e ortografia, eliminando a repetição silábica
e a de estruturas semelhantes e afins.

Não há exemplos concretos de problemas ocorridos com clientes, na aplicação dos sistemas, causados
por erros microestruturais. Entretanto, já houve insatisfação por parte de um cliente, com relação à
estética/qualidade textual. Ainda que o conteúdo estivesse compreensível, as inconsistências gramaticais
o incomodaram deveras. Ele fez reclamações explícitas referentes a um trecho (cerca de três páginas) do
documento que estava “mal escrito e com erros primários”.

Tratava-se, entretanto, de um trecho inserido pelo autor, depois de já haver passado pela revisão. Graças
ao controle rígido que é feito dos arquivos, tínhamos uma cópia do documento original que revisamos,
sem o trecho citado, não caindo sobre nós a responsabilidade do fato. Apesar do constrangimento, o
projeto foi aceito devido à qualidade do conteúdo. Esse acontecimento serviu, para, de alguma forma,
39
UNIDADE II | revisão na prática

valorizar o trabalho do revisor, que é um pouco ingrato em termos de reconhecimento; afinal, ele só é
visível quando há erros; o que foi corrigido e o processo de correção não é “aparente”, mas aquilo que
passa despercebido é suficiente para chamar a atenção do leitor.

Na macroestrutura, pelo fato de envolver a semântica e a coerência textuais, é comum ocorrerem problemas
mais graves decorridos da falta de revisão, como é o caso da interpretação equivocada ou ambígua
de algum item descrito em um manual técnico. A má utilização de equipamentos e/ou softwares, por
exemplo, acarreta desperdício de tempo e de dinheiro. Certa vez, um operador que utilizava um sistema
de combate a incêndio, interpretou, erroneamente, a mensagem apresentada na tela (“Gás Detectado”) e
desativou o sistema, acreditando que havia perigo de fogo. A mensagem, entretanto, só queria indicar a
presença de gás, como também de outros componentes que não apresentavam risco de incêndio.

Naquele software, o risco de incêndio só era sinalizado por meio da mensagem “Gás Confirmado”.
Do ponto de vista linguístico, a dúvida do operador foi pertinente, já que, no campo semântico, essas
duas palavras podem ser sinônimas em diversas situações. Um bom revisor, sendo o primeiro leitor,
provavelmente, sugeriria, nesse programa, uma forma mais clara de expressar tal mensagem.

A revisão dos manuais técnicos exige agilidade, devido à concorrência (quanto antes entregar, maior é
o prestígio) e ao prazo (o cliente sempre tem urgência em ver o serviço executado). O nosso dia a dia
tem, portanto, este agravante: a urgência. Cada releitura do documento é um momento privilegiado para
corrigir erros e sugerir soluções para os problemas encontrados. Na prática, quase nunca é possível a
realização de releituras (nem pelo próprio revisor nem por terceiros), assim, é preciso concentrar-se ao
máximo durante as revisões, a fim de incorrer no menor número de falhas.

A revisão como auxiliar da qualidade


O trabalho de revisão pode auxiliar na qualidade do serviço, uma vez que as empresas que emitem
documentos primam não só pela qualidade técnica, como também pela estética dos seus textos. Muitas
vezes recebemos documentos elaborados por engenheiros que dizem não sentir tanta necessidade dos
textos serem revisados, mas que, como requisito de qualidade e consequente satisfação do cliente, preferem
nos encaminhar os documentos antes de emiti-los. Um dos engenheiros entrevistados, inclusive, declarou
que sua empresa passou a terceirizar o serviço de revisão, porque, apesar de não poderem manter fixo
um profissional para fazê-lo, a empresa prima pela qualidade e busca certificações referentes à qualidade.

Além do mais, muitos deles perceberam, após participarem de várias licitações em que ATAN esteve
presente, que o diferencial da revisão viabiliza grande impacto, uma vez que os clientes não hesitam em
contratar um serviço que, ainda que possa ser mais caro, transpareça qualidade.

Com a atual preocupação da Certificação da Qualidade, as empresas têm se voltado mais para os aspectos
que contribuem para a obtenção desse certificado. O processo de certificação implica vistorias semestrais
por parte do auditor (“recertificação”), devendo, pois, ser uma constante preocupação da empresa. Não
basta somente atingir um patamar de qualidade, deve-se permanecer nele, para não correr o risco de
perder a certificação.

40
revisão na prática | UNIDADE II

Qualquer serviço, portanto, que auxilie na garantia da qualidade em uma empresa é, a cada dia, mais
valorizado. Nesse sentido, a revisão textual pode ser considerada um dos mais fortes indicativos de
qualidade e, por essa razão, vem ocupando um espaço importante e promissor nas empresas.

De acordo com a nossa pesquisa, a ATAN é pioneira na revisão de textos técnicos de Engenharia. É a única
empresa, entre as que entrevistamos, que possui um setor de revisão de textos formado por profissionais
devidamente registrados e habilitados para tal função.

Para nossa surpresa, não foram poucos os entrevistados que admitiram que o diferencial “revisão de
textos” gera grande impacto aos olhos do cliente. A falta de um setor de revisão em uma empresa de
Engenharia pode gerar sobrecarga para os gerentes, que devem, além de planejar e coordenar, revisar
textos eventualmente mal redigidos. Ser capaz de redigir com correção, clareza e precisão é exigência
indispensável a todos que se acham incumbidos de expressar, por escrito, informação, opinião ou parecer,
quando não, as conclusões de um estudo, o texto de um projeto ou as normas de um serviço. Na prática,
entretanto, percebe-se que isso não acontece na maioria das vezes. Daí a necessidade de recorrer ao
trabalho de revisão.

Parceria entre revisor e autor na nossa prática diária


A linguagem técnica, especificamente a de Engenharia, faz-se a partir dos conhecimentos específicos
que a permeiam. Ainda que de posse de tais conhecimentos, os engenheiros devem adequar a redação
dos textos à finalidade a que estes se propõem, tendo em mente que escrever “bem” não significa
escrever “difícil”.

No exercício da profissão de revisor, atentamos sempre para alguns detalhes que fazem diferença,
como, por exemplo, o de orientar os engenheiros em relação à redação de seus manuais. Sugerimos, por
exemplo, que evitem diversos vícios de linguagem que prejudicam a compreensão final do tema. É muito
importante observar sugerir sem, entretanto, generalizar. Muitas vezes, o que parece incorreção pode ser
proposital e fazer parte do estilo do redator ou do destaque que ele queira dar a algum trecho, como, por
exemplo, o uso de pleonasmos e de adjetivos aparentemente supérfluos.

Revisão Técnica

A redação de manuais técnicos é, muitas vezes, um processo complexo que envolve


muitas pessoas e uma série de etapas, em um período de tempo relativamente
curto. Ainda que a informática contribua para que esse processo se torne mais ágil,
sua complexidade e o avanço incessante da tecnologia exigem do usuário, seja ele o
autor ou a equipe responsável pela revisão, conhecimentos cada vez mais precisos.
Embora indispensável, ela pode dificultar ou atrasar o processo de edição, quando,
por exemplo, várias pessoas usam os mesmos recursos de formas diferentes.

Nesse sentido, pode-se afirmar a grande necessidade de uma padronização


referente à técnica de revisão de textos e de seu controle, que devem ser realizados
por um profissional habilitado e competente para tal função. Entretanto, sabe-se

41
UNIDADE II | revisão na prática

que, apesar da importância dada à qualidade nos dias de hoje, a atividade de revisão
de textos não é considerada essencial nos diversos segmentos mercadológicos,
principalmente naqueles que se julgam puramente “técnicos”.

Entendemos que a escassez de bibliografia sobre o assunto é um dos principais


fatores que contribuem para a falta de legitimidade da profissão de revisor.
Intenciona-se, assim, com este artigo, esclarecer e divulgar conceitos relevantes
ao entendimento do processo de revisão e, também, mostrar como um revisor
(profissional de uma área bem diferente da de Engenharia) pode contribuir
substancialmente para a garantia da qualidade em uma empresa.

Além disso, este artigo não deixa de ser uma tentativa de iniciar uma bibliografia
nesta área, como forma de tentar legitimar e valorizar a profissão. Com a finalidade
de aprofundar mais na importância da revisão de textos e apresentar com mais
clareza a relevância dessa atividade, optamos por fazer um recorte frente aos
diversos tipos de texto e de segmentos mercadológicos. Nossos esclarecimentos
e exemplos foram todos baseados na revisão do texto técnico, no ramo da
Engenharia. Foram feitas pesquisas em empresas de Engenharia, a maioria instalada
em Belo Horizonte, em que foram constatados fatos de extrema relevância para
a área de revisão. Foi elaborado um simples questionário para que os engenheiros
de algumas dessas conceituadas empresas respondessem e também foram feitas
várias entrevistas com os responsáveis pela administração e qualidade destas.

Betania Viana Alves

Claudine Figueiredo Andrada

42
PARA (NÃO) FINALIZAR

Após este estudo, podemos depreender, entre outros aspectos, a necessidade de uma maior conscientização,
por parte das empresas, em relação ao trabalho do revisor. Servindo não apenas como mantenedor da
qualidade e da estética, o revisor funciona também como um mediador entre o autor e o seu público-alvo,
atuando como o primeiro leitor do texto.

Em se tratando da revisão do texto técnico de engenharia, podemos, inclusive, afirmar que, em diversas
situações, além de propiciar aos técnicos uma compreensão clara e inteligível das instruções propostas
em um manual, a revisão serve como um preventivo contra erros operacionais, evitando, na prática,
equívocos que poderiam gerar perda de tempo e de dinheiro para as empresas.

Fica, então, comprovada a grande importância desse profissional (revisor) não só nas áreas que mais
valorizam a linguagem, mas em todas aquelas que utilizam a escrita como meio de comunicação.

Seria, portanto, uma solução plausível e de grande valia a inserção do revisor de textos nos mais diversos
segmentos mercadológicos, de forma a quebrar o paradigma de que a sua atuação é restrita à área de
Humanas. Acreditamos que, dessa forma, além de se estarem abrindo os caminhos para o revisor, a
manutenção da qualidade dos textos seria garantida. Consistiria, pois, em uma via de mão dupla, na qual
áreas distintas se complementariam em busca de sucesso profissional.

Além do trabalho de revisão, que visa à adequação do texto finalizado, outra sugestão válida, que pode e
deve ser analisada em trabalhos futuros, é a reformulação dos currículos das áreas técnicas. A ideia seria
aperfeiçoá-los, incluindo disciplinas que primassem pelos gêneros textuais próprios de cada área.

O revisor licenciado em Letras seria o profissional apto para ministrar essas disciplinas: elaboraria
os currículos adequados, baseado em sua experiência, e saberia como transmitir o conhecimento,
aproveitando-se dos conteúdos gramaticais e didáticos aprendidos na sua formação.

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