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EM FOCO

Como seria nosso mundo se Jesus não tivesse vindo?


Jean-Michel Castaing - publicado em 27/03/23

Reconhecer nossa dívida para com o cristianismo não é apenas uma


questão de coração, mas também de honestidade intelectual  

E m nossa época – marcada pelo relativismo e pelo ceticismo – os semi-


inteligentes reinam sem grandes problemas sobre a opinião pública. Possuindo
conhecimento suficiente para se considerarem legítimos para opinar sobre tudo, eles,
no entanto, permanecem cegos por suas paixões e apaixonados demais por si mesmos
para reconhecer os limites de seus julgamentos. Por isso, ignoram a dívida abissal que
nosso mundo contraiu com o cristianismo.

O homem ocidental médio parece uma criança mimada que bateu a porta da casa dos
pais e que, como o filho pródigo da parábola evangélica, recebe sua parte na herança
sem uma palavra de agradecimento.

Um alimento para o pensamento de crianças mimadas

Nesse contexto, lições de moral seriam contraproducentes. Por outro lado, há um


exercício que os cristãos poderiam sugerir a essas pessoas ditas espertas: adivinhar
como seria nossa sociedade se a fé da Igreja não tivesse irrigado nossas mentes por dois
milênios. Essa é uma tarefa árdua para a qual entram em jogo inúmeros parâmetros,
mas é adequada para estimular a sagacidade dos semiqualificados.

Em que estado espiritual estaríamos se as


divindades sangrentas do paganismo, reflexos
de nosso fascínio pela força e pelo sucesso,
tivessem permanecido como objeto de nossa
adoração?

Em que estado estaria nosso mundo se Cristo não tivesse vindo nos ensinar o
cuidado com os humildes, os pequenos, o perdão das ofensas, o amor aos inimigos, a
dignidade dos pobres e excluídos? Quais seriam os nossos ídolos – diante dos quais
teríamos nos ajoelhado – se Cristo não tivesse proposto à nossa adoração um Deus-
Pai pronto a abandonar o que Ele tem de mais caro (o seu próprio Filho) para ir em
busca dos perdidos?

Em que estado espiritual estaríamos se as divindades sangrentas do paganismo,


reflexos de nosso fascínio pela força e pelo sucesso, tivessem permanecido como
objeto de nossa adoração? 

Uma contribuição decisiva para o avanço das mulheres

Os seguidores de Jesus devem relembrar a dívida de nosso mundo para com a fé


cristã. Mas não é para eles se vangloriarem: eles têm apenas uma parte muito
pequena nisso. Todo o crédito vai para a Santíssima Trindade. É o Pai que decidiu
buscar sua ovelha perdida, seus filhos. Para isso, Ele instruiu Seu Filho a nos trazer
de volta em Seus ombros. Os Evangelhos nos dizem como foi dura, perigosa e cara a
missão! Não é inútil enfatizar esta dimensão da nossa fé diante dos que nos são
próximos. 

E, caso provoquemos neles exasperação, o que é compreensível, visto que um


devedor raramente aprecia ter suas dívidas repostas em sua memória, poderíamos
sempre propor à consideração deles a pergunta: Você já pensou sobre como
seria o nosso mundo se Jesus Cristo não tivesse vindo? A conversa poderia
continuar, por exemplo, sobre o tema da contribuição, única na história, do
cristianismo para a promoção da condição feminina.

Considere a atitude de Jesus para com as mulheres. Toda a Bíblia deve ser


mencionada! O Cântico dos Cânticos, por exemplo, faz uma mulher falar na
primeira pessoa pela primeira vez na história. As figuras femininas do Antigo
Testamento protagonizam: Rebeca, Ester, Judite, Sara e Abigail – entre outras.

Honestidade intelectual
A história da Igreja não é exceção. Pela condição religiosa, as mulheres se libertaram
dos poderes que as escravizaram na história. Pense na Rainha Santa Radegunda
(520-587) que, fugindo de Clotário, seu marido que assassinou seu irmão, fundou o
mosteiro de Santa Cruz, perto de Poitiers, e encontrou em sua fé a força para
enfrentar as forças políticas de seu tempo.

Além disso, alegar que o cristianismo escravizou mulheres é um absurdo absoluto.


Jesus impediu um feminicídio (Jo 8, 2-11)! Por onde o cristianismo penetrou, a
condição feminina progrediu. 

Decididamente, é hora de nosso tempo reconhecer sua dívida para com o


cristianismo. Não é apenas uma questão de coração, mas também de honestidade
intelectual.   

Como seria o mundo se Jesus não tivesse estendido suas mãos misericordiosas aos pecadores?

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Tags: CRISTIANISMO MULHER RELIGIÃO

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