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EM FOCO

A Virgem Maria poderia ter dito não ao plano de Deus?


Morgane Afif - publicado em 27/03/23

Maria era realmente livre para aceitar o projeto de Deus para ela?
Ela poderia ter dito não a Deus quando o anjo Gabriel foi visitá-la?

“Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra.”

(Lc 1, 38)

A resposta de Maria ao anjo Gabriel, que veio anunciar-lhe que dela nasceria o
filho de Deus, foi definitiva. À vontade do Senhor, Maria responde com o “fiat”,
o sim completo e irrevogável. Mas ela realmente tinha escolha? 

“‘Deus enviou o seu Filho’ (GI 4, 4). Mas, para Lhe ‘formar um corpo’, quis a livre
cooperação duma criatura. Para isso, desde toda a eternidade, Deus escolheu, para
ser a Mãe do seu Filho, uma filha de Israel, uma jovem judia de Nazaré, na Galileia,
‘virgem que era noiva de um homem da casa de David, chamado José. O nome da
virgem era Maria’ (Lc 1, 26-27)”.

CIC, 488

Então Maria foi predestinada para se tornar a Mãe do Salvador. Essa predestinação, ou


seja, o fato de ter sido, literalmente, “reservada antecipadamente”, por tudo isso a
privou de sua liberdade? 

Assim o esclarece o dogma da Imaculada Conceição, proclamado em 1854 pelo Papa Pio


IX na sua bula IneffabilisDeus: “A Santíssima Virgem Maria foi, no primeiro momento
de sua concepção, por uma graça e favor singular de Deus Todo-Poderoso, em vista dos
méritos de Jesus Cristo Salvador da raça humana, preservada intacta de toda mancha
de pecado original.”
Portanto, Maria, desde o ventre, esteve inteiramente voltada para o Senhor e entregue à
Sua vontade. Assim, Maria consentiu livremente com a vontade de Deus durante
a Anunciação.

“O Pai das misericórdias quis que a aceitação, por parte da que Ele predestinara
para Mãe, precedesse a Encarnação, para que, assim como uma mulher contribuiu
para a morte, também outra mulher contribuísse para a vida”.

CIC, 488

“Eis a serva do Senhor”


A atitude fundamental da Ancilla Domini (serva do Senhor) perpassa todos os
momentos da sua relação com Jesus, desde a alegria até à cruz. É através da aceitação
total e incomensurável da vontade divina que Maria abraça o projeto de Deus.

 Isso é parcialmente justificado por Gertrud von Le Fort em Die ewige Frau [A Mulher
Eterna] que examina o papel simbólico das mulheres: “Onde quer que haja auto-
sacrifício, vê-se irradiar o mistério da mulher eterna”.

Além disso, “ao anunciar que daria à luz ‘o Filho do Altíssimo’ sem conhecer um
homem, em virtude do Espírito Santo (cf. Lc 1, 28-37 ), Maria respondeu com ‘a
obediência da fé’, certa de que “para Deus nada é impossível”.

 Assim, dando o seu consentimento à palavra de Deus, Maria tornou-se Mãe de Jesus e,
desposando de todo o coração, sem que nenhum pecado a contivesse, entregou-se
inteiramente à pessoa e à obra do seu Filho. 

O “fiat” mariano, um perfeito “sim” dirigido a Deus

O “fiat” de Maria não é outro senão o “sim” perfeito, que significa em hebraico [‫]אמן‬
o Amém da verdade provada. É também a sutura onde a fraqueza do gênero humano
adere total e misteriosamente à força divina. 

Essa aceitação se desenvolve no silêncio da Virgem que “guarda tudo isso no coração”
( Lc 2, 51). Maria procede da Salvação divina, e é pelo seu “sim” que o Filho de Deus se
faz carne. Liberta do pecado original que a escraviza e impede de se entregar totalmente
a Deus, Maria pode entregar-se inteiramente ao convite do Senhor para participar, na
sua carne, no mistério da Salvação. É precisamente essa liberdade, isto é, esta união
perfeita com o Criador, que a torna livre, inteiramente livre, para aceitar ou recusar
aderir à Sua Vontade. 

E é precisamente porque Maria é livre que ela pode, consequentemente, pronunciar o


seu “fiat ”, pois só é livre quem se entrega a Deus. Isso é o que justifica o fato de ela
abraçar total e irrevogavelmente o desígnio do Senhor, mesmo ao pé da Cruz,
oferecendo também o seu Filho pela Salvação do mundo.

A Anunciação à Santíssima Virgem Maria.

Renata Sedmakova | Shutterstock

Tags: ANUNCIAÇÃO BÍBLIA CATECISMO MARIA NOSSA SENHORA

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