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Mountain Mercenaries

Já se passaram dez anos desde que a esposa de Rex, Raven,


desapareceu de um cassino em Las Vegas. Sem nunca perder a
esperança, ele até formou os Mercenários da Montanha para ajudar a
encontrá-la - e a outras esposas, irmãs e filhos desaparecidos. Agora
Rex e sua equipe destemida estão seguindo uma pista para Lima, no
Peru, onde a operação de resgate é maior do que eles imaginavam.

Um dia de cada vez. Esse é o lema de Raven há uma década. Uma


vez mantida em cativeiro por um esquivo traficante de sexo, ela tem uma
vontade indomável de sobreviver. Mas Raven não está pronta para deixar
o Peru. Ela não pode. Ainda não. Porque sua libertação dos bairros tem
consequências devastadoras. Um movimento errado e toda esperança
se perderá em um inferno inimaginável.

Para os Mountain Mercenaries, as apostas foram aumentadas. As


ameaças estão aumentando. Mas Rex não procurou por tanto tempo,
arriscou tanto e veio até aqui para perder Raven novamente.
Dave “Rex” Justice não conseguia ficar parado. Ele e os seis homens
com quem trabalhava há alguns anos, junto com Zara Layne, estavam em
um avião particular a caminho de Lima, Peru.

Ninguém tinha falado muito desde o embarque, provavelmente ainda


em choque ao saber que o homem que eles conheciam como o barman
no The Pit era na realidade o líder dos Mountain Mercenaries. A tensão no
avião era densa como qualquer outra que ele pudesse se lembrar, e sua
equipe tinha definitivamente passado por situações tensas no
passado. Dave sabia que provavelmente deveria dizer algo para aliviar o
clima, mas ele só conseguia pensar em uma coisa. A esposa dele.

Ele a encontrou depois de dez anos agonizantemente longos.

Bem, ele não a encontrou. Irônico, considerando a quantidade de


dinheiro, tempo e esforço que ele gastou procurando por ela.

— Por que você não se senta, Dave. — Gray sugeriu.

Dave o ignorou. Ele não conseguia se sentar. Não conseguia comer,


não conseguia dormir. Saber que estava tão perto de ver sua esposa
novamente o tornava incapaz de fazer qualquer coisa além de andar pelo
curto corredor agitado.

E se ela tivesse desaparecido nos poucos meses desde que Zara a


viu pela última vez?

E se ele tivesse chegado tão perto, apenas para perdê-la


novamente?
O pensamento era repugnante e inaceitável.

— Acho que é hora de você nos contar toda a história sobre Rex e
os Mountain Mercenaries. — Disse Black.

Dave se virou para olhar para os homens que ele recrutou e


contratou e suspirou. Black estava certo, eles mereciam algumas
respostas. Deus sabia que ele estava estressado demais para fazer mais
do que grunhir em resposta, já que eles se recusaram a deixá-lo ir ao Peru
sozinho.

Ele se sentou na beirada de uma das cadeiras de couro do avião e


encarou os homens que ele considerava irmãos. Para eles, no entanto, ele
era simplesmente Dave, o barman. Eles não tinham suspeitado que ele
pudesse ser o evasivo “Rex”, seu recrutador e chefe. Ele foi capaz de
manter os olhos e ouvidos neles porque eles passaram muito tempo no
The Pit, o bar que ele possuía há anos.

Desde que cada um encontrou uma mulher para amar e cuidar, no


entanto, eles passavam cada vez menos tempo no bar, e ele sabia que as
coisas estavam mudando.

Sim. Eles ganharam algumas respostas. Mas depois que Zara, a


noiva de Meat, reconheceu sua Raven de uma foto postada atrás do bar,
Dave não foi capaz de pensar em nada além de chegar até sua esposa.

Suspirando de novo, ele passou a mão pelo cabelo castanho


escuro. Ele não sabia exatamente por onde começar. A última década
tinha sido uma decepção esmagadora após a outra quando se tratava da
busca por Raven, e estar tão perto agora estava literalmente prestes a
deixá-lo louco.

— Como você já sabe, sou o homem que você conhecia como Rex.
— Ele finalmente disse. Seu sotaque sulista era mais pronunciado,
provavelmente porque ele não tinha dormido muito mais do que duas
horas nas últimas vinte e quatro. Ele estivera ocupado organizando um vôo
para o Peru e examinando diferentes cenários sobre como poderia ser o
reencontro com sua esposa há muito perdida.

— Depois que minha esposa desapareceu, os policiais em Las


Vegas fizeram o que puderam para encontrá-la, mas seu tempo e
habilidades eram limitados. Depois que o caso dela foi encerrado, comecei
a aprender o máximo que pude sobre a indústria do tráfico sexual. Eu
vasculhei a internet e rapidamente aprendi exatamente como a
humanidade poderia ser depravada. No processo de procurar minha
esposa, porém, tropecei em outras mulheres desaparecidas... E
filhos. Mas eu não tinha como ajudá-los. Tudo que eu podia fazer era
entregar as informações às autoridades policiais em suas cidades natais e
esperar que eles agissem de acordo. Era frustrante e repugnante. Então
comecei a pensar sobre isso... E se eu reunisse um grupo de homens que
pudesse entrar e resgatar as pessoas que encontrei por meio de minha
pesquisa? E se eu pudesse devolver esposas, irmãs, filhos para suas
famílias? Eu sei o que significaria para mim se alguém tivesse encontrado
Raven e a ajudado a voltar para casa. Por meio de minha pesquisa e de
minha capacidade um tanto estranha de encontrar pessoas, eu já tinha
feito alguns bons contatos no governo e com outras pessoas muito
poderosas. Quando se espalhou o que eu estava fazendo, como estava
rastreando vítimas de sequestro, comecei a receber... Doações. Você não
acreditaria na quantidade de dinheiro que foi jogada em minha
direção. Parentes de pessoas que encontramos, organizações que
defendem os desaparecidos e abusados, todos os tipos de pessoas e
grupos estavam dispostos a doar dinheiro para ajudar a causa. Assim que
percebi que precisava de botas no chão e que simplesmente encontrar
pessoas no computador não era bom o suficiente, comecei a procurar
homens em quem pudesse confiar para resgatar as vítimas indefesas que
encontrei. Pesquisei cada um de vocês e os escolhi a dedo por causa de
seus registros militares e de sua experiência em diferentes áreas. Black,
você é o melhor negociador que já vi. Meat, você, é claro, é um gênio com
computadores. A habilidade de Ro com carros e motores é
incomparável. Gray, sua habilidade de ser invisível nas missões é lendária,
e Ball, você pode superar qualquer pessoa no planeta. Quanto a
Arrow... Você é apenas um durão versátil. Eu precisava do melhor do
melhor, e todos vocês eram isso.

— Então, você queria que nós encontrássemos sua esposa? — Ro


perguntou. — Inferno, Rex... Hã... Dave, nós nem sabíamos sobre sua
esposa até um ano ou mais atrás.

Dave balançou a cabeça. — Sim e não. Quer dizer, se eu a


encontrasse, definitivamente queria que os homens em quem pudesse
confiar fossem buscá-la, mas era mais do que isso. — Ele balançou sua
cabeça. — Acho que preciso voltar ao início.

Sete pares de olhos simplesmente observaram Dave atentamente,


sem interromper, o que ele apreciou.

— O nome da minha esposa é Margaret. Sua família a chama de


Mags. Achei fofo e comecei a chamá-la de MagsPeg. Não parecia se
encaixar nela, então, eventualmente, decidi por Raven. Com seus longos
cabelos negros e seu apelido, combinava. Enfim, há cerca de dez anos,
fomos a Las Vegas para comemorar nosso aniversário de cinco
anos. Estávamos mais apaixonados do que nunca, e já fazia um tempo que
nenhum de nós havia tirado uma folga do trabalho. Eu tinha comprado este
bar um pouco antes de nos conhecermos e trabalhei muitas horas durante
anos para torná-lo um sucesso. Eu adorava, e era bem sucedido, então eu
queria dar minha esposa algo especial. Uma viagem inesquecível. Raven
era uma seguradora. Tínhamos vidas completamente normais e
entediantes, então passar uma semana em Vegas parecia emocionante e
extravagante. Foi em nossa quarta noite lá quando decidimos que, em vez
de ir a outro show, iríamos dar uma olhada em alguns dos clubes populares
e famosos da Strip. Nós dois sabíamos que deveriamos ter cuidado com
nossas bebidas e não perdê-las de vista. Quer dizer, sou bartender - sei
tudo sobre drogas para estupro. Fomos cautelosos, mas também nos
divertimos. Bebendo e gostando de passar o tempo juntos.

Dave fez uma pausa e respirou fundo. Ele odiava pensar sobre
aquela noite, sobre o terror que sentiu. Havia tantas coisas que ele gostaria
de ter feito de forma diferente, e ele passou todos os anos desde que
chutou a própria bunda por ser tão descuidado com a segurança de sua
esposa.

Ele continuou, sabendo que devia isso aos homens ao seu redor.

— Eram cerca de duas da manhã e estávamos em um clube de um


dos cassinos. Raven disse que precisava usar o banheiro. Eu não pensei
nada sobre isso. Eu a beijei e disse que pediria uma rodada enquanto ela
estivesse fora. Ela se virou e me soprou um beijo antes de desaparecer em
uma multidão de pessoas do outro lado do bar, perto dos banheiros. Essa
foi a última vez que a vi. Depois de uns dez minutos, comecei a ficar
preocupado, porque ela normalmente não demora muito, então fui
procurá-la. Havia uma fila para entrar no banheiro, mas nenhuma das
mulheres lá tinha visto Raven. Eu até fiz uma verificação dentro do
banheiro, mas Raven não estava lá. Achei que a tinha perdido por minutos
e voltei para a nossa mesa. Quando ela não voltou depois de alguns
minutos, eu não tinha certeza do que fazer. Liguei para o telefone dela e
foi direto para o correio de voz. Eu me perguntei se ela tinha ficado doente
ou algo assim e tinha voltado para o nosso quarto de hotel. Estupidamente,
saí do bar e caminhei todo o caminho de volta para o nosso hotel, mas
quando cheguei lá, ela não estava no quarto. Eu entrei em pânico
então. Eu não tinha ideia do que fazer. Liguei para a polícia, mas eles riram
muito e disseram que ela provavelmente apareceria em breve. Eu sabia
que algo estava errado, mas não conseguia fazer ninguém acreditar em
mim. Afinal, era Vegas. Os policiais apenas presumiram que Raven estava
bêbada, ou talvez até mesmo tendo um caso selvagem com alguém que
ela conheceu. Só depois de dois dias sem nenhum sinal dela é que os
policiais finalmente me levaram a sério. Mas aí já era tarde demais. Tarde
demais.

Dave respirou fundo para tentar obter algum controle sobre suas
emoções.

— Eles verificaram as câmeras de vigilância? — Meat perguntou.

Dave acenou com a cabeça. — Sim. Ela saiu do banheiro, e um cara


veio até ela e colocou o braço em volta dos ombros dela. Ele se abaixou e
disse algo a ela... E ela saiu do corredor, através da multidão, e saiu direto
pela porta, em direção ao cassino. Ela não gritou por mim ou tentou
sinalizar ninguém de nenhuma forma.

— Então ele a ameaçou. — Presumiu Gray.

— Eu estou supondo que ele disse a ela que algo tinha acontecido
comigo, ou que algo iria acontecer comigo se ela lutasse ou chamasse a
atenção para si mesma. — Dave concordou. Sua voz baixou. — Fiquei
muito chateado com ela por um bom tempo. — Ele admitiu. — Eu sei que
ela provavelmente estava preocupada e assustada, mas olhe para mim. —
Ele abriu os braços. — Eu não sou exatamente o tipo de cara com quem
as pessoas mexem.

Dave sabia que ele era intimidante. Ele era um homem grande. Muito
grande. Seus bíceps eram enormes - ele malhava muito, inclusive naquela
época, e se orgulhava de parecer assustador o suficiente para que as
pessoas pensassem duas vezes antes de mexer com ele. Sua barba atual
deu a ele uma aparência ainda mais selvagem. Entre sua altura, seu
tamanho e sua aparência, as pessoas não costumavam foder com ele. Sua
pele era naturalmente escura e, embora dez anos atrás ele não tivesse a
grande cicatriz que descia ao lado do pescoço, ele ainda era grande e de
aparência cruel.

— A polícia não tinha nenhuma pista? — Zara perguntou baixinho.


Meat tinha argumentado contra sua noiva vir com eles para o Peru,
especialmente porque ela não tinha boas lembranças de seu tempo lá,
mas ela foi inflexível. Ela argumentou que falava espanhol fluentemente, e
eles precisariam que ela falasse com os residentes no bairro onde ela viu
Mags pela última vez. Se Raven tivesse seguido em frente, Zara poderia
falar com pessoas que ela conhecia e, com sorte, descobrir para onde ela
tinha ido. Dave não estava feliz por ter que colocá-la de volta em uma
situação que poderia trazer lembranças dolorosas, mas ele nunca esteve
tão perto de encontrar sua esposa como agora, e ele usaria qualquer ajuda
que pudesse obter se isso significasse resgatar Raven.

Ao longo dos anos, vários policiais, detetives e investigadores


particulares sugeriram que ele seguisse em frente, que sua esposa
provavelmente estava morta, mas Dave recusou. Pode ter sido loucura,
mas ele realmente saberia ou ele sentiria se ela fosse morta. Algo profundo
dentro dele o sentiria instintivamente.

Quando Gray pigarreou, Dave se lembrou de que Zara lhe fizera uma
pergunta.

— Nenhum que realmente foi a lugar nenhum. Não tenho ideia do


que aconteceu com ela. Em um segundo ela estava lá, e no próximo ela
se foi. Mesmo com todas as câmeras em Vegas, ninguém conseguia
rastrear para onde aquele homem a levou. Ele a ajudou a entrar em um
sedan de quatro portas, que estava esperando na frente do hotel, mas as
janelas eram escuras. As placas foram roubadas e ficaram sem saída. A
polícia fez o possível, mas não adiantou. Ela se foi. Puf. Depois de um
tempo, eles tinham outros casos para resolver e, como eu nem morava lá,
não consegui manter sobre os detetives o tipo de pressão que
gostaria. Raven era uma estatística maldita antes de um ano se passar. Os
policiais presumiram que ela estava morta e me incentivaram a continuar
com minha vida. — Dave bufou. — Como se isso fosse possível. Raven
era tudo para mim. Ela era a luz para minha escuridão. Eu não percebi o
quanto ela suavizou minhas arestas até que ela se foi. Eu mantive o The
Pit funcionando, simplesmente porque se ela de alguma forma fugisse de
seus captores, ela saberia para onde ir. Onde me encontrar. Mas depois
que mais um ano se passou, eu sabia que ela não iria aparecer
milagrosamente na minha porta. Caberia a mim encontrá-la. Foi quando
comecei a fazer pesquisas. Aprendi mais do que nunca sobre o tráfico
sexual e exatamente quantas mulheres e crianças são apanhadas em suas
garras todos os anos. Eu olhei para estudos de caso de mulheres que
escaparam e descobri como as operações normalmente
funcionavam. Entrei em contato com alguém pela internet que me ensinou
os meandros do hacking e da vigilância por vídeo. Não dormi muito e
mantive o que estava fazendo em segredo dos poucos amigos que não
desistiram de mim.

— Então, estou curioso. — Ball interrompeu. — Você realmente não


tem nenhuma experiência militar?

Dave balançou a cabeça.

— Como diabos você conseguiu falar sobre táticas e armas, planejar


missões e, basicamente, soar como se tivesse passado toda a sua vida no
exército? — Arrow perguntou.

— Eu te disse. Eu pesquisei muito. — Respondeu Dave. Vendo a


descrença no rosto de todos, ele deu de ombros ligeiramente. — E é por
isso que eu nunca lhes disse quem eu era.

— Você deveria. — Disse Gray, a raiva fácil de ouvir em seu tom.

— Por quê? — Dave atirou de volta. — Então você poderia me


recusar? Pensar menos de mim porque eu não era das Forças
Especiais? Eu precisava que você confiasse em mim. Para me tratar como
um membro valioso da equipe. Se você soubesse que eu sou apenas um
homem desesperado para encontrar sua esposa - e apenas um barman,
para começar - algum de vocês teriam aceitado o emprego?
Um silêncio constrangedor seguiu sua pergunta.

— Exatamente. — Dave disse mais baixinho depois de um


momento. — Eu sei que o que eu fiz foi dissimulado. Mas se tornar o
misterioso e esquivo Rex é a única razão pela qual os Mountain
Mercenaries existem. Deixei as coisas práticas perigosas para vocês, e
desenterrei todas as informações de que vocês precisavam para ter
sucesso. Não vou me desculpar ou implorar por seu perdão. Somos uma
equipe muito boa, e só porque eu não era Delta ou um SEAL ou SAS ou
qualquer outro tipo de supersoldado como vocês eram, não significa que
eu não trabalhei pra caramba para mantê-los seguros todas as vezes que
vocês sairam em uma missão. Eu estive muito atrasado para fazer
conexões e cultivar relacionamentos valiosos. Sim, no início eu apenas
queria que uma equipe entrasse e salvasse as mulheres e crianças que
encontrei durante a caça à minha esposa, apenas para que eu pudesse
dormir à noite, mas os Mountain Mercenaries rapidamente se tornaram
mais do que isso. Vocês se tornaram meus amigos, mesmo sem saber
quem eu era. Eu me preocupei com vocês e orei toda vez que vocês
sairam para que pudesse vê-los novamente.

— Tenho que admitir, não estou muito feliz com tudo o que você fez.
— Disse Meat. — Mas nenhum de nós teria ido junto com qualquer uma
das missões se não confiasse em sua inteligência. Você é um líder e tanto,
apesar de sua falta de treinamento, e eu não posso falar por todos os
outros, mas eu confiaria em você com minha vida, e a vida de minha
mulher, qualquer dia da semana.

— O mesmo aqui. — Admitiu Gray. — Você veio através de uma e


outra vez. Na verdade, é incrível pra caralho que você aprendeu o que
aprendeu por conta própria.

— Concordo. — Disse Ball. — O fato de que você basicamente


aprendeu táticas militares apenas com pesquisa e ganhou tantos
apoiadores quanto você ganhou é um pequeno milagre.
— Assim... Agora que sabemos a verdade, qual é o plano quando
chegarmos ao Peru? — Perguntou Black.

— Especialmente porque você não é militar. — Arrow


acrescentou. — Você pode ser bom em planejar uma missão, mas isso
não se traduz exatamente em um tiro certeiro ou em saber como se infiltrar
na fortaleza do inimigo.

— Concordo. E preciso da sua ajuda mais do que nunca. Eu mal


consigo segurar um pensamento por tempo suficiente para bolar um
plano. Eu adoraria ir para o bairro, pegar Raven e dar o fora, mas depois
de falar com Zara sobre a pessoa que Raven é agora, e saber o que
sabemos sobre o bairro depois da última missão lá, não estou certo de
como isso vai funcionar. — Disse Dave.

— Nós sabemos que o bairro é perigoso pra caralho, e não podemos


entrar lá sendo muito arrogantes. — Disse Meat. — Foi isso que me
colocou em apuros da última vez. Estou pensando em ir até lá e avaliar a
situação. Há uma chance de que Mags nem esteja mais lá.

Os punhos de Dave se cerraram. Raven tinha que estar


lá. Ela precisava estar. Ele não poderia chegar tão perto de encontrá-la,
apenas para falhar agora.

— Não acho que ela teria ido embora. — Zara assegurou-lhes. —


Ela está muito enraizada lá, com as outras mulheres que ela ajuda e tudo.

— Certo. Ok, então vamos entrar, verificar as coisas no bairro e


então você pode falar com sua esposa. — Concluiu Meat. — Se ela estiver
nervosa com você ou não tiver certeza, de querer vir embora... Você vai
ter que falar com ela, eu acho.

Dave riu, mas não foi para entretenimento. — Raven sempre foi
muito difícil de convencer a fazer qualquer coisa que ela não
quisesse. Quer dizer, espero que ela fique loucamente feliz em me ver,
mas acho que há muito mais em sua situação do que sabemos.

— Concordo. — Disse Gray. — Nós vamos te apoiar enquanto você


se encontra com ela, e partiremos daí.

— Não é um grande plano. — Comentou Ro.

Dave encolheu os ombros. — Eu realmente espero que seja uma


coisa fácil de entrar e sair, mas se não for, podemos refinar a medida que
avançamos. Eu mantive o passaporte de Raven atualizado usando uma
foto de progressão de idade que um ex-amigo do FBI fez para mim. Não é
exatamente legal, mas tenho gente suficiente que me deve que foi
esquecido. Isso... E tenho certeza de que ninguém pensou que eu jamais
encontraria Raven e teria uma chance de realmente usá-lo. — Disse Dave.

— Vamos como turistas. — Disse Ball. — Milhares de pessoas fazem


isso todos os anos. Tenho certeza de que ninguém vai examinar seu
passaporte tão de perto.

— Enquanto estivermos lá, eu adoraria ver como encontrar um lugar


para montar uma clínica gratuita. — Zara disse. — Deus sabe o quanto as
pessoas nos bairros poderiam usá-la. E se alguma coisa acontecer, talvez
vocês possam usar isso como um motivo para estarmos lá. Os bairros não
são exatamente um destino turístico típico.

— Ela tem razão. — Meat disse, colocando o braço em volta dela. —


Um esforço humanitário como motivo de nossa visita provavelmente
colocaria muitos olhos sobre nós, mas se a situação for difícil, podemos
descartá-lo como um motivo secundário pelo qual estamos lá.

— Del Rio pode ser um problema para a clínica, no entanto. Ele


gosta de manter as pessoas dependentes e sob seu controle, ao mesmo
tempo em que age como um líder benevolente ajudando os menos
afortunados. Ter uma clínica gratuita pode tirar parte da atenção que ele
anseia. — Disse Zara.

— Porra. Esse cara de novo? — Perguntou Black.

Zara acenou com a cabeça.

Os olhos de Dave se estreitaram. Todos eles sabiam sobre Roberto


del Rio. Ele era um dos piores traficantes de sexo que Dave já havia
conhecido. Ele não tinha moral, nem escrúpulos. Eles aprenderam na
última vez que estiveram no Peru que ele traficava crianças e também
mulheres.

Alguns meses atrás, Dave ficou mais do que feliz em oferecer os


Mountain Mercenaries para ir ao Peru e ajudar em uma missão para salvar
crianças locais destinadas ao comércio sexual em Lima - mas tudo deu
errado. Principalmente porque Del Rio não queria que sua missão tivesse
sucesso. Ele tinha muita influência no país. Desde então, Dave tinha
aprendido que a maioria da força policial, moradores locais e até mesmo
os militares estavam sob seu controle ou sendo pagos para ignorar.

Mas, honestamente, no momento, Dave estava tendo dificuldade em


se preocupar com outra coisa que não fosse Raven. Pelo que Zara havia
dito, Raven odiava Del Rio e não tinha mais nada a ver com ele, então, por
enquanto, Del Rio não era seu objetivo. Encontrar e resgatar a esposa de
Dave era.

Dave se inclinou para frente e disse em um tom um tanto


desesperado: — Sem ofensas Zara, estou feliz em ajudar a montar uma
clínica e subornar quem for necessário, mas meu principal objetivo nesta
viagem é entrar naquele bairro, pegar minha esposa, e dar o fora.

— Provavelmente não será tão fácil. — Zara disse a ele.


Dave acenou com a cabeça. — Eu sei. Raven e eu estamos
separados a mais tempo do que estávamos juntos. Ela passou por um
inferno que nem consigo começar a entender. Mas não vou embora sem
ela. — O último foi dito com um pouco mais de raiva do que ele pretendia,
mas não importava. Ele não deixaria o país sem Raven.

— Ela pode não querer ir embora. — Zara disse calmamente.

Dave cerrou os dentes para impedir que as palavras afiadas que


surgiram em sua mente escapassem.

— A Mags que eu conheço é tão independentes quanto qualquer um


que eu já conheci. — Zara continuou. — Ela é inteligente e não demonstra
muita emoção. Quando ela estava tentando me convencer a contar a Meat
que eu era americana, para compartilhar minha história e fazer com que
ele me levasse de volta para os Estados Unidos, perguntei se ela poderia
vir comigo. Eu sabia sobre o tempo que ela passou trabalhando para Del
Rio, mas para mim, ela era uma colega americana. Ela não parecia muito
feliz por estar aqui, mas quando eu pedi para ela vir comigo, ela balançou
a cabeça e disse que sua vida era no Peru.

As palavras de Zara foram mais dolorosas do que qualquer coisa que


Dave já tinha ouvido.

Ele não tinha ideia de por que Raven não tinha aproveitado a chance
de voltar para os Estados Unidos. De volta para ele.

— Ela está sendo mantida em cativeiro lá? — Ele perguntou.

Zara balançou a cabeça lentamente. — Não que eu saiba. Mas


sempre pensei que algo não estava certo sobre a situação dela. Três dias
por semana, ela sai a maior parte do dia e não diz a ninguém para onde
vai. Mas ela sempre volta ao bairro antes de o sol se pôr. Não vi ninguém
a seguindo e ela não age como se estivesse sendo ameaçada. Bem... Mais
do que qualquer outra pessoa.
— O que você quer dizer? — Meat perguntou, colocando a mão no
joelho de sua noiva.

— Só que a vida de uma mulher no bairro, especialmente sem


marido, não é exatamente um passeio no parque. Sempre tivemos que nos
preocupar com Ruben ou um de seus amigos roubando a comida que
tínhamos conseguido catar, ou... você sabe.

Dave viu cada um dos homens franzir a testa de raiva. Sim, eles
sabiam o que Zara queria dizer. Ela já havia contado tudo sobre Ruben
Martínez e seus amigos do bairro. Zara supôs que ele tivesse vinte e
poucos anos. Ele pensava que não era apenas um presente de Deus para
as mulheres, mas uma espécie de durão intocável. Ele e sua turma
assediaram a todos no bairro e não hesitaram em pegar o que queriam,
usando a força sempre que necessário.

Eles também foram aqueles que bateram em Meat e Black. Cada um


dos Mountain Mercenaries estava esperando ter um encontro com a
gangue, mesmo que apenas por um pequeno troco.

— Tudo o que estou dizendo... — Zara continuou — É que de todas


as mulheres que conheci, Mags é a única que nunca falou em sair do
bairro. Ela simplesmente parecia aceitar sua situação. Todas as outras
sonhavam em encontrar um marido rico o suficiente para ter um lugar para
morar fora do bairro, ou voltar para suas famílias nos países de onde foram
sequestradas antes de trabalhar para Del Rio.

— A vida de Raven não é no Peru. — Afirmou Dave. — É no


Colorado, comigo.

Vendo os olhares inquietos e compassivos que seus amigos estavam


dando a ele, Dave não suportou ficar parado por mais tempo. Ele ficou de
pé e voltou a andar.
Ele não sabia por que Raven não tinha tentado contatá-lo. Ele não
sabia o que ela havia passado nos últimos dez anos, embora pudesse
adivinhar. Mas nada disso importava. Tudo o que importava era que ela
ainda era a mulher que ele amava de todo o coração. Nada que ela fez ou
foi obrigada a fazer ao longo dos anos mudaria isso.

Ele não tinha ideia do que estaria lutando quando finalmente


colocasse os olhos nela novamente, mas ele não estava desistindo de sua
esposa, não depois de todos esses anos.

Impaciente, Dave olhou para o relógio e praguejou. Estava


demorando muito para chegar lá. E cada minuto que passava era mais um
minuto durante o qual Raven poderia escapar de sua vida sem deixar
vestígios. Novamente. Alguém pode machucá-la ou ela poderia ser
sequestrada novamente.

— Estou indo atrás de você, querida. — Ele sussurrou enquanto


caminhava. — Continue esperando até que eu possa chegar lá.
Margaret “Mags” Crawford Justice conteve um gemido enquanto se
mexia na terra compactada da cabana em ruínas que estava dividindo com
outras cinco mulheres. Todas eram pelo menos uma década mais jovens
do que ela, e ela se sentia todos os dias em seus quarenta e dois anos.

A vida certamente não tinha acontecido do jeito que ela esperava,


mas ela tinha que continuar. Um dia de cada vez. Esse tinha sido o seu
lema nos últimos dez anos.

Ela suspirou de decepção por passar o dia todo no bairro com suas
amigas. Não que ela não gostasse de Gabriella e das outras - muito pelo
contrário. Acontece que ela preferia muito as segundas, quartas e sextas-
feiras.

Seu estômago estava vazio, mas isso não era nada incomum. Ela
ficou tão acostumada com as dores da fome quanto com a sujeira e a
sujeira ao seu redor.

Mags rolou e se levantou. Ainda estava escuro, mas ela não tinha
dormido bem ultimamente. Ela se preocupava com sua amiga Zara, que
havia voltado para os Estados Unidos alguns meses atrás. Ela se
preocupava com Maria e as outras mulheres com quem morava. Ela se
preocupava com Ruben e sua gangue de idiotas que patrulhavam o bairro
dia após dia. Ela se preocupou sobre onde elas iriam encontrar comida
suficiente para comer durante o dia...

E ela se preocupava com o marido.

Não era sempre que ela se permitia pensar em Dave, mas por algum
motivo, ela não tinha sido capaz de tirá-lo da cabeça
recentemente. Provavelmente porque Zara havia retornado aos Estados
Unidos.

Como Mags gostaria de ter ido com ela.

Era uma vez, ela teria feito absolutamente qualquer coisa para voltar
para o Colorado, de volta para Dave. Ela teria engolido a profunda
vergonha que sentia por tudo que tinha feito se ao menos pudesse ver o
marido novamente. Ter os braços dele ao redor dela, dizendo que ela
estava segura e amada.

Mas muito tempo já havia se passado. Ela não apenas era uma
pessoa completamente diferente do que costumava ser, e seu marido
provavelmente tinha se mudado e se casado novamente, mas ela
simplesmente não podia ir embora. Lima era sua casa agora, para o bem
ou para o mal.

Ficando o mais quieta que podia, Mags se dirigiu para trás de um


pedaço de metal configurado como uma tela de privacidade tosca e fez
seus negócios em um balde, algo que a teria perturbado dez anos atrás,
mas agora ela nem pensou duas vezes sobre isto. Eles não tinham de
sobra muita comida, e Mags queria chegar rapidamente à padaria para
pegar o pão do dia que era jogado fora todas as manhãs. A loja ficava a
cerca de um quilômetro de distância e ela precisava ir.

Mas primeiro ela fez uma pausa para verificar as outras mulheres,
que ainda estavam dormindo.

Gabriella havia crescido no bairro. Ela era a única peruana nativa de


todas elas. A Teresa e a Bonita eram do Brasil. Carmen disse que era
venezuelana e Maria, do México. Elas eram um bando desorganizado, mas
compartilhavam um vínculo que a maioria das pessoas não conseguia
entender. Com exceção de Gabriella, todas haviam sido “hóspedes” do
Del Río. Elas foram usadas, abusadas e jogadas fora sem pensar duas
vezes quando se tornaram inúteis para ele. Além de Maria, todas elas
aprenderam espanhol depois de serem sequestradas e todos falavam com
sotaques diferentes, mas elas eram capazes de se entender sem
problemas.

Os olhos de Teresa se abriram e Mags se agachou ao lado de sua


cama no chão. — Vou ao padeiro. Estarei de volta assim que puder. —Ela
disse calmamente.

A outra mulher assentiu. — Você quer que eu vá com você?

Mags balançou a cabeça. — Eu ficarei bem. Precisamos de um


pouco de água. Se você e as outras quiserem, talvez você possa fazer a
água correr?

— OK. Nós podemos fazer isso. Mags?

— Sim?

— Você acha que Zara está bem?

Piscando de surpresa, Mags assentiu. — Sim. Por quê?

— Eu não sei. Eu tive um sonho com ela.

— Sonho bom ou sonho ruim? — Mags perguntou.

— Bom. — Teresa disse rapidamente.

— Bem, talvez isso signifique que teremos notícias dela em


breve. Ela disse que, quando voltasse para a América, faria o que pudesse
para mandar uma mensagem assim que estivesse instalada.

— Com sorte. — Disse Teresa. — Vá em frente, antes que seja tarde


demais e alguém pegue o pão.

Mags sorriu e acenou com a cabeça. — Esteja segura enquanto eu


estiver fora. — Ela se levantou e, além de passar a mão rapidamente pelo
cabelo, não pensou duas vezes sobre sua aparência. Seu cabelo estava
oleoso e sujo e tendia a formar nós com bastante facilidade, mas ela não
suportava cortá-lo. Fazia muito mais tempo do que há uma década,
passando pelo meio de suas costas. Ela quebrou e aparou algumas vezes,
mas nunca muito curto.

A memória de como Dave adorava passar os dedos pelos cabelos


dela passou por sua mente. Ele sempre tinha uma mecha na mão. Sempre
que eles estavam sentados um ao lado do outro, quer estivessem sozinhos
em casa ou em um restaurante lotado, ele colocava o braço em volta dela
e passava uma mecha pelos dedos. Ele amava seu cabelo preto como a
meia-noite, e a apelidou de Raven por causa disso.

Ele ficaria chocado ao ver seu cabelo agora. Extremidades


irregulares, gordurosas, cobertas de sujeira, opacas e moles.

Ela costumava ter muito orgulho de sua aparência, mas agora


raramente dava a seu cabelo mais do que um segundo
pensamento. Apenas o suficiente para prendê-lo em um rabo de cavalo na
nuca e mantê-lo longe do rosto.

Ela deslizou para fora da cabana e colocou o pedaço de metal


enrugado que elas usavam como porta de volta no lugar antes de seguir
por um dos becos empoeirados até a saída do bairro. Rezando para não
encontrar Ruben ou qualquer um de seus amigos, ela prendeu a
respiração... E soltou um suspiro alto quando ela conseguiu chegar a uma
das aberturas na parede do lado sul do bairro. Era um pouco cedo para
qualquer um dos valentões que rondavam a área estar de
pé. Provavelmente eles ainda estavam dormindo dos efeitos do álcool que
conseguiram roubar na noite anterior.

Mags enfiou o queixo no peito e tentou parecer o mais modesta


possível enquanto caminhava em direção à padaria. Ela tinha altura média
para uma mulher, embora quando ela caminha-se ao lado de Dave, ela se
sentiu absolutamente minúscula.
Amaldiçoando baixinho com a maneira como seus pensamentos se
voltavam para o marido, Mags respirou fundo. Ela suspeitava que também
estava pensando nele ultimamente por causa dos americanos que
apareceram no bairro alguns meses atrás. Seu marido não era um militar,
mas algo sobre eles a lembrava de Dave. Incluindo sua lealdade e
determinação.

Dave era inteligente. Muito mais inteligente do que qualquer um


acreditava. E com sucesso. Pelo menos, ele tinha sido uma década
atrás. Ele comprou um prédio decadente, manteve o lado de fora com a
mesma aparência - de acordo com as fotos que mostrou a ela quando se
conheceram - e enfeitou o interior do bar, tornando-o confortável e
acolhedor, não tão chique que as pessoas no bairro da classe trabalhadora
se sentiriam intimidadas em parar para tomar uma cerveja depois do
trabalho. Ele tinha sido protetor com seus clientes, insistindo em
acompanhar mulheres solteiras até seus carros e expulsar qualquer um
que ousasse incomodar outro cliente.

Nenhum deles tinha muitos amigos naquela época, mas eles não
precisavam deles, não quando eles tinham um ao outro. As lembranças
deles apenas se preparando para dormir no sofá, assistindo à televisão e
comendo comida para viagem, eram dolorosas o suficiente para que ela
fizesse o possível para empurrar todas as memórias de seu marido para o
fundo de sua mente.

Dave estava fora. Não havia espaço para ele em seu presente... Não
que ele quisesse alguma coisa com ela agora.

Ela chegou ao beco atrás da padaria bem a tempo. Ela viu um dos
funcionários bater a tampa da lata de lixo atrás da loja e voltar para
dentro. Mags correu até o lixo e abriu a tampa. O cheiro de comida
estragada e leite coalhado eram insuportáveis, mas ela estava
acostumada. Não havia muito hoje, mas Mags puxou a sacola de plástico
que ela sempre carregava, só para garantir, e encheu-a com pão
velho. Havia também um pãozinho de canela e, depois de tirar alguns
grãos de café, Mags sabia que Gabriella ficaria maravilhada com ele.

Sabendo que precisava ir, ela silenciosamente fechou a tampa da


lata de lixo e se virou para voltar para o bairro.

Mas ela parou em seu caminho.

Atrás dela estava um menino, provavelmente cerca de oito


anos. Suas bochechas estavam tão magras que parecia que uma brisa
forte iria derrubá-lo. Ela nunca o tinha visto antes, e seu coração
imediatamente se compadeceu dele. Ela gostaria de poder simplesmente
ignorá-lo e seguir seu caminho, mas Mags sabia que ela não podia.

— Olá! — Disse ela em espanhol.

Ele não respondeu e, de fato, deu um passo para longe dela.

— Você está procurando comida aqui?

Ele acenou com a cabeça uma vez.

Sabendo que já tinha retirado a maior parte do pão comestível da


lata de lixo, Mags se ajoelhou no chão, puxou um dos longos pães de sua
bolsa e o estendeu. — Senhor. Pegue isso.

Quando o menino não apareceu, ela disse: — Tudo bem. Eu não vou
te machucar. Você tem família em algum lugar?

Ele deu outro pequeno aceno de cabeça.

— Aposto que eles estão com fome também, hein?

Ele acenou com a cabeça novamente.

— Certo, então vamos, pegue este pão antes que alguém apareça
e decida levá-lo para si.
Com isso, o menino se moveu tão rápido que Mags quase não o
viu. Num segundo ela estava segurando o pão, e no próximo estava sob a
camisa dele e ele se afastou dela mais uma vez. Ela não pôde deixar de
ficar impressionada.

— Assim... Chegue um pouco mais cedo as segundas, quartas e


sextas-feiras, e você terá a lata de lixo só para você e poderá conseguir
muito mais. Estou aqui as terças e quintas e às vezes aos fins de
semana. Vamos compartilhar a recompensa. OK?

Ela sabia que o menino não precisava concordar com ela, mas ele
acenou com a cabeça novamente, então se virou e saiu correndo do beco.

Suspirando, Mags se levantou. O cabelo castanho do menino estava


bagunçado e seu rosto estava coberto de sujeira, como muitas das
pessoas que moravam nos bairros, e ela não pôde deixar de imaginar
como ele poderia ser alguns anos atrás. Antes de perder completamente
a inocência. Antes que a vida nos bairros o mudasse.

Ela não teve que pensar muito, ela adivinhou facilmente pela
aparência dele. Como a emoção de um novo dia pode ter brilhado em seus
olhos, como ele provavelmente sentia grande prazer nas menores coisas.

Mas as crianças tinham que crescer rapidamente nos bairros, e isso


era doloroso e triste.

Sabendo que não poderia demorar, para que outros não


aparecessem e simplesmente pegassem à força o pão que ela e suas
amigas tanto precisavam, Mags respirou fundo e voltou pelo caminho por
onde viera.

Quando ela voltou ao bairro, o sol estava alto. As pessoas estavam


fora de casa e, embora ela conhecesse a maioria delas, os habitantes
locais tendiam a se manter isolados. Principalmente por autopreservação.
Quando ela virou uma esquina para ir para a cabana que
compartilhava com os outros, Mags congelou.

Teresa, Gabriella, Bonita, Carmen e Maria estavam do lado de fora,


com Ruben e Marcus com elas.

Amaldiçoando baixinho, Mags correu em direção a eles.

Ela não tinha exatamente medo da gangue de Ruben, mas também


não era uma idiota. Ela os viu derrubar dois dos americanos com bastante
facilidade, e se eles pudessem fazer isso com eles, eles poderiam
machucar seriamente ou matar ela e suas amigas.

— O que está acontecendo? — Ela perguntou com tanta bravata


quanto ela podia reunir.

— Obrigado pelo café da manhã! — Marcus exclamou enquanto


tentava arrancar o saco plástico da mão dela.

Mags aguentou firme, recusando-se a soltar. Mas Ruben se


aproximou e, com calma e sem hesitação, bateu no rosto dela.

Sua cabeça voou para trás e ela caiu sobre o cóccix no chão.

— O que nós queremos, nós pegamos. — Ruben rosnou. — Se você


quiser continuar morando aqui, precisa pagar suas dívidas.

Mags levou a mão ao rosto e ficou no chão, olhando para ele. Deus,
ela odiava este lugar. Odiava tudo sobre isso.

Fortuno, Eberto e Alfonso saíram da cabana das mulheres


carregando uma panela que Carmen encontrara outro dia, um grande jarro
de água que uma das mulheres provavelmente acabara de puxar de volta
e dois sacos plásticos cheios de outras bugigangas que as mulheres
tinham trabalhado duro para limpar.
— Parece que vocês estão escondendo de nós. — Zombou
Eberto. — Não estamos muito felizes. Se eu fosse você, faria o que
pudesse para nos compensar. Gabriella, que tal? Tenho certeza de que
passar um tempo um a um com Ruben ajudaria muito a amolecê-lo. Talvez
ele até deixasse você guardar algumas das coisas que você coletou com
tanto esmero. Seu lugar está parecendo um pouco esparso.

Mags mordeu a língua para evitar contar a Eberto que idiota ele era,
e declarar que Ruben não colocaria o dedo em Gabriella enquanto ela
estivesse viva e chutando. Não era segredo que o líder do grupo de punks
queria a mulher mais jovem.

Maria ajudou Mags a se levantar, e todas elas olharam para os


homens rindo enquanto eles passeavam pelo beco em direção ao próximo
alvo.

— Você está bem? — Perguntou Bonita.

— Deixe-me ver. — Carmen ordenou, puxando a mão que Mags


usava para cobrir sua bochecha.

— Estou bem. — Mags disse a eles. — Não é nada que eu não tenha
experimentado antes. Venha, vamos ver quais são os danos.

Todas elas entraram na cabana, e Mags queria se enfurecer com a


destruição que encontrou seu olhar.

Alfonso e os outros jogaram tudo para todos os lados. Os estrados


em que dormiam tinham sido cortados com facas, provavelmente para
garantir que não tivessem escondido nada de valioso dentro do material
fino. Eles deixaram as coisas que já estavam quebradas e que não valiam
a pena levar, como algumas canecas e pratos quebrados e algumas
roupas esfarrapadas.
Já fazia um tempo desde que sua cabana fora revistada e saqueada,
mas Mags estava cansada disso. Cansada pra caralho.

E agora todas estavam com fome também. Tudo o que ela queria
fazer era sentar no chão e chorar.

A vida não era justa. Mas ela não tinha tempo ou energia para sentar
e chafurdar. Se elas iam comer, elas tinham que trabalhar.

Mags teve um segundo para agradecer a “ambulância” que usavam


- na verdade, uma bicicleta com um pequeno trailer acoplado - estava
escondida em um beco próximo, disfarçada entre o lixo que havia se
acumulado e nunca foi removido pelos funcionários da cidade. Marcus e
os outros certamente teriam roubado isso delas também.

— Vou pegar a bicicleta e ir para o lixão. — Mags informou às


amigas. — Ver o que posso pegar.

— Eu vou também. — Declarou Gabriella.

— Eu e Bonita veremos se podemos encontrar um canto para


começar. — Disse Carmen.

— E eu vou limpar aqui. — Maria terminou.

— Eu conheço um cara que vai me dar dinheiro. — Declarou Teresa.

Mags balançou a cabeça imediatamente e foi até Teresa. Ela


colocou as mãos nos ombros e capturou seu olhar. Ela era pequena, como
Zara tinha sido, e uma das mulheres mais jovens do grupo. — Não. Vender
seu corpo não é o caminho. Del Rio pode ter nos forçado a fazer isso,
mas não somos mais quem somos.

— O que devemos fazer, então, Mags? — Teresa perguntou com


raiva. — Cada vez que conseguimos algo para facilitar nossas vidas,
Ruben e seus amigos vêm e levam tudo. Não podemos conseguir
empregos e não podemos continuar a catar lixo pelo resto de nossas
vidas. Às vezes acho que as coisas eram mais fáceis com Del Rio, que
deveríamos ter tentado mais para ficar.

Mags balançou a cabeça e apertou os ombros de Teresa. Mas ela


também olhou para as outras enquanto falava. — Mais um dia. — Disse
ela, calmamente, mas com firmeza. — É isso aí. Aproveitamos um dia de
cada vez, só temos que aguentar mais um dia. As coisas vão
melhorar. Sim, teremos alguns contratempos, mas morar aqui só com a
roupa do corpo é melhor do que ser usadas pelo Del Río. Melhor do que
ele vendendo nossos corpos e não nos dando nada em troca.

— Mas tínhamos comida. — Disse Bonita em voz baixa. — E um teto


sobre nossas cabeças que não vazava quando chovia.

— E não precisávamos nos preocupar todos os dias com o fato de


Ruben e seus amigos nos roubarem. — Acrescentou Maria.

— Então, você prefere lidar com os clientes de Del Rio, que pegam
o que gostam, não importa o que você queira? Aqueles que bateram em
nós só porque isso os fez se sentir fortes e poderosos? Os homens que
não se preocuparam em perguntar nossos nomes antes de nos fazerem
despir e ficar de joelhos? Nós nem tínhamos nomes. Éramos apenas
buracos para eles enfiarem seus paus. Sem rosto e sem nome. Eu prefiro
viver aqui, com fome, me molhando quando chover, do que
deixar qualquer homem me tocar novamente. — Mags disse ferozmente.

— Sabemos que você volta lá três dias por semana! — Teresa


respondeu. — Você vai tentar nos dizer que não está recebendo comida e
tratamento especial enquanto está lá?

O peito de Mags imediatamente apertou. Ela não queria falar sobre


isso. Sobre o acordo que ela tinha feito com o próprio diabo. Mas Teresa
e as outras tinham o direito de questioná-la. Ela faria o mesmo se estivesse
no lugar deles. — Eu não vou para o complexo do Del Rio. Ele não está
mais vendendo meu corpo. Eu não como nada. Não
recebo nenhum tratamento especial. Quando eu tenho que vê-lo, ele me
trata como a sujeira na sola de seus sapatos. — Ela os assegurou.

— E ainda assim você vai aonde quer que vá, semana após
semana. Por quê? — Perguntou Bonita.

Mags queria contar a elas. Queria explicar por que ela caminhava
oito quilômetros e voltava para uma casa de propriedade de Del Rio, três
dias por semana. Mas ela não conseguia. Não seria apenas sua vida em
risco se Del Rio descobrisse. Ele disse a ela em termos inequívocos que
se ela contasse a alguém para onde estava indo e o que estava fazendo,
ela se arrependeria. E ela sabia, sem dúvida, que ele manteria sua palavra,
e que ele tinha maneiras de machucá-la que eram mil vezes piores do que
simplesmente permitir que os homens a usassem como quisessem. Ela
não arriscaria. Para ninguém.

— Eu faria qualquer coisa por vocês. — Mags disse a suas únicas


amigas honestamente. — E eu te contaria se pudesse. Mas eu não
posso. Você sabe que Del Rio tem olhos e ouvidos em todos os lugares. Eu
não posso arriscar. Mas juro pela minha honra que não estou recebendo
tratamento especial. Sem comida. Se eu fosse, eu traria de volta aqui e
daria a vocês antes de comer eu mesma.

Ela não achava que as outras iriam desistir, mas finalmente, Carmen,
que tinha sido prisioneira de Del Rio por tanto tempo quanto Mags,
concordou. — Se você diz que não está nos segurando, então eu acredito
em você. Somente... Seja cuidadosa. Del Rio não é confiável. Você sabe
disso. Ele é uma cobra, e fazer qualquer tipo de acordo com ele é perigoso.

— Eu sei. — Mags sussurrou. E ela sabia. Ela sabia muito


bem... Mas era tarde demais.
— Ok, então vamos indo. — Disse Carmen. — Teresa, fica aqui com
a Maria. Será mais seguro. O resto de nós encontrará algo para
comermos. Promessa.

— Esteja segura. — Maria e Teresa disseram ao mesmo tempo.

Todas concordaram e, uma por uma, saíram da cabana e se


dirigiram para seus destinos. Mags saiu antes de Gabriella e esperou no
beco com a bicicleta que ela chegasse. Em dez minutos, ela dobrou a
esquina e, sem uma palavra de protesto, subiu no compartimento secreto
do trailer e se acomodou.

Mags fechou a tampa articulada e certificou-se de que o lixo em cima


estava estrategicamente colocado, de modo que parecia que ela estava
apenas puxando uma carga de plástico e madeira sem valor. — Lá vamos
nós — disse ela a Gabriella.

Não era fácil puxar o trailer com mais de cem libras dentro, e Mags
sentia a cada ano de sua idade, mas não havia ninguém por perto para
fazer o que precisava ser feito.

— Um dia de cada vez. — Ela murmurou. Então, cerrando os dentes


e ignorando a dor nas coxas, ela se dirigiu ao lixão mais próximo.
Dave estava nervoso como o inferno. E impaciente. Ele queria dar o
fora do aeroporto e ir para o bairro o mais rápido possível. Mas eles tiveram
que passar pela alfândega e alugar algumas minivans, o que demorou uma
eternidade. Em seguida, eles ficaram presos em um engarrafamento, o
que irritou o inferno de todos eles. Então, como alguém não tinha
abastecido uma das minivans com gasolina, eles quase quebraram na
rodovia.

Nada estava dando certo, e Dave fez tudo o que pôde para manter
a calma. Quando eles finalmente estavam parando no motel onde ficariam
hospedados, perto do bairro, Dave murmurou: — Se tudo correr bem,
podemos sair desta merda de lugar e voltar para os Estados Unidos pela
manhã.

Zara olhou para Meat perplexa. — Isso é serio?

— Estou supondo.

Ela balançou a cabeça. — Sinto muito, mas eu realmente não acho


que isso vai ser assim. — Zara disse a eles, reiterando a opinião que ela
compartilhou no avião.

— Porque você acha isso? — Meat perguntou.

— Eu não quero ser à chata aqui, mas Dave, sua esposa tem vivido
uma vida completamente diferente por dez anos. Ela nunca contou a
nenhuma de nós sobre sua vida nos Estados Unidos, ou sobre
você. Nenhuma de nós falou muito sobre o que nos trouxe ao bairro, mas
eu conheço Mags... Ela sofreu.
Dave franziu a testa com as palavras de Zara. Ele sabia que ela tinha
sofrido. Nem um dia se passou na última década sem que ele pensasse no
que ela havia passado. E o pensamento de sua linda esposa sofrendo era
o suficiente para fazê-lo querer matar alguém. Mas estar tão perto, mas se
sentir tão longe dela ainda, o estava matando.

— E não, não posso te dizer especificamente como ela sofreu,


porque não sei os detalhes. Mas acho que é óbvio. Certa vez, ela disse
que o único motivo pelo qual teve permissão para deixar o emprego de Del
Rio foi porque ficou velha demais. O desgraçado é na verdade um tanto
exigente com as mulheres que força a trabalhar para ele, razão pela qual
as outras - Teresa, Bonita, Maria e Carmen - também foram expulsas. Não
sei o que aconteceu com elas, mas estão todas muito gratas por terem
sido despedidas. A vida no complexo de Del Rio era um inferno. E não é
algo do qual qualquer mulher possa realmente se recuperar totalmente. Eu
só... — Ela balançou a cabeça. — Eu só não acho que Mags vai dar uma
olhada em você e simplesmente concordar em sair naquele segundo.

Dave odiava quase tudo que Zara acabara de dizer. Ele sabia que
não seria fácil, mas Raven era sua esposa. Eles se amavam. Os cinco anos
em que estiveram casados foram os mais felizes que ele já teve em sua
vida. Por que ela não iria querer dar o fora do Peru depois de tudo que ela
tinha passado e ir para casa com ele? Ele não tinha respostas para essa
pergunta e isso o incomodava.

— Ela está certa. — Disse Arrow. — Eu sei o que minha Morgan


passou, tentando se recuperar de tudo que aconteceu com ela, e se sua
esposa esteve no comércio sexual por anos, ela será uma pessoa
completamente diferente. Ela pode não estar ansiosa, ou mesmo
ser capaz de retomar sua vida juntos.

Dave cerrou os dentes. — Vocês estão sempre na ponta dos pés em


torno do que eu já sei. Eu sei por que minha esposa foi sequestrada. Ela é
linda pra caralho, e algum idiota decidiu que ela seria o complemento
perfeito para seu estábulo de mulheres. Não tenho dúvidas de que ela foi
estuprada e abusada durante anos. Não sei ao certo o que aconteceu
entre a hora em que ela foi tirada de mim e quando ela apareceu no bairro,
mas o que você não está entendendo é que eu não dou à mínima. Jurei
estar com ela na riqueza e na pobreza. Pela doença e saúde. Para amá-la
até que a morte nos separasse. E, caramba, a morte não nos separou e
eu a amo tanto hoje quanto naquele dia, dez anos atrás, quando ela foi
arrancada de mim! Amor não é apenas estar com alguém quando as
coisas vão bem. E eu amo Raven. Com tudo que sou. Passei a última
década procurando por ela. Eu também não sou burro. Eu sei que ela não
vai dar uma olhada em mim, jogar seus braços em volta de mim e me
deixar carregá-la para o pôr do sol. Mas não vou esperar mais um minuto
para que ela saiba que estou aqui. Que ela está segura. Que as coisas vão
ficar bem de agora em diante.

— Pelo menos me deixe abordá-la primeiro. — Zara implorou. — Eu


posso explicar o que está acontecendo e que você está aqui para falar
com ela.

Meat disse enfaticamente. — Você não vai voltar para aquele bairro
sozinha. De jeito nenhum.

Zara se virou para encarar seu noivo. — Eu não quis dizer ir


sozinha. Acho que Ruben e sua gangue de idiotas ainda estão por aí, e se
eu os encontrasse sozinha, estaria em apuros. Mas eu realmente acho que
me deixar vê-la, falar com ela a sós enquanto todos vocês esperam por
perto, seria melhor.

— Não suporto a ideia de você voltar para lá. — Meat disse com um
pouco menos de severidade.

— Eu sei, mas pense sobre isso. Se vocês sete aparecerem de uma


vez, exigindo saber onde Mags está, as pessoas vão pirar. Mas se eu
entrar e explicar o que está acontecendo, Dave terá uma chance melhor
de ser capaz de falar com Mags sem que isso se transforme em uma
enorme batalha de vontades. E acredite em mim, Mags é teimosa. Ela
tinha que ser. Além disso... — Ela continuou — As mulheres realmente não
confiam nos homens. Elas não viveram vidas fáceis. Desde o momento em
que acordaram até irem dormir, as pessoas estão tentando roubar o pouco
que têm. Pegar o que eles não querem dar. Todos vocês aparecendo,
parecendo chateados por causa da situação deles, não vai funcionar.

— Por mais que eu não goste, ela tem razão. — disse Arrow.

Zara se virou para Dave. — Eu sei que você quer ver sua esposa e
que é doloroso ter que esperar, mas acredite em mim, é o melhor. Mags é
uma das mulheres mais incríveis que conheço. Ela me ajudou mais do que
eu poderia explicar. Mas ela também está sofrendo. Eu via isso toda vez
que olhava nos olhos dela. Se você aparecer do nada e tentar forçá-la a
sair... É possível que você a perca para sempre. Ela não é a Raven que
você conhecia. Ela é Mags.

— Ela sempre será minha Raven. — Dave argumentou. — E não me


surpreende que ela tenha ajudado você - esse é o tipo de pessoa que ela
é. Mas já se passaram dez anos, Zara. Você pode entender melhor do que
ninguém o quanto preciso vê-la com meus próprios olhos. Para tocá-la.

— Não estou pedindo para você esperar dias. — Disse Zara. —


Apenas algumas horas ou mais. Deixe-me entrar, conversar com minhas
amigas, dizer a elas como vocês são maravilhosos. Facilitar um pouco o
caminho.

— Podemos ir às compras enquanto isso. — Sugeriu Meat. — Não


para suborná-las, mas acho que há coisas que elas poderiam usar.

Zara acenou com a cabeça ansiosamente. — Isso seria


incrível. Posso fazer uma lista. Mas... Ruben e seus comparsas invadem
os barracos o tempo todo. Qualquer coisa que conseguirmos para elas
terá que ser facilmente escondido, então não exagere.
Dave fez o possível para controlar sua impaciência. A coisa de que
ele menos gostou em enviar os Mountain Mercenaries em missões foi à
falta de controle que tinha sobre tantos aspectos. Mesmo não sendo um
soldado, ele odiava simplesmente ficar sentado esperando para ouvir se a
missão foi um sucesso ou não. Ele poderia fazer todas as pesquisas que
quisesse antes de partirem, mas assim que entrassem em cena, a menos
que precisassem de informações ou ajuda de um de seus contatos, ele
pouco podia fazer além de esperar para ouvir sobre o resultado.

Era assim que ele se sentia agora. Ele não queria esperar. Ele queria
ver Raven novamente com seus próprios olhos. Sua pele estava
formigando, ele suava loucamente e ele sentiu como se não a visse neste
segundo, ele iria literalmente implodir.

Mas ele também sabia que Zara estava certa. Eles não podiam
simplesmente aparecer do nada. Sete homens enormes se destacariam
como um polegar ferido no bairro. Eles também assustariam as mulheres,
e a última coisa que ele queria era forçar mais a dor de sua esposa.

— Bem. Mas preciso que você leve algo para ela por mim. Suponho
que ela ficará cética, possivelmente nem mesmo acreditará que estou
realmente aqui. — Dave pegou sua carteira e tirou uma moeda
amassada. Ele carregava com ele todos os dias por dez anos. Ele e Raven
tinham conseguido enquanto estavam em Las Vegas. Logo depois, ela
colocou uma nota de vinte em uma máquina caça-níqueis e ganhou mil
dólares. Ela riu e disse que era tudo por causa da moeda. Que era o
centavo da sorte agora.

Ele o entregou a Zara, e ela olhou para baixo, inspecionando-o, e


então de volta para ele. — Vou me certificar de que ela receba. — Ela disse
suavemente.

Eles saíram da minivan, esperando Black, Ro, Ball e Gray saírem da


sua antes de marchar para o saguão do motel decadente. Depois que
Dave os registrou em vários quartos, Arrow disse: — Devíamos esperar
até o anoitecer. Podemos ser menos notáveis.

Dave queria protestar. Queria dizer a sua equipe que eles iriam
colocar suas merdas em seus quartos e descer para que pudessem
continuar com isso, mas ele sabia que Arrow estava certo.

Ele queria acreditar que Raven daria uma olhada nele e imploraria
para que a levasse para casa. Esperançosamente, esse seria o caso, não
importa o que Zara sugerisse. Ele queria estar fora do país o mais rápido
possível.

A simples ideia de ver Raven, de colocar os braços em volta dela


novamente, era esmagadora. No dia em que ela desapareceu, Dave
perdeu uma parte de si mesmo. Ele ficou louco por um tempo. Louco de
tristeza e raiva. Ele queria ficar calmo agora. Ele estava mais próximo de
sua esposa do que há anos, mas tudo o que podia sentir era uma raiva
renovada por ela ter sido tirada dele e um nervosismo de cortar a garganta
por vê-la.

Enquanto todos eles saíam do saguão para ir para seus quartos e se


preparar para a viagem ao bairro no final da tarde, Dave não pôde deixar
de ficar apreensivo. Parecia que quanto mais ele esperava para ver Raven,
maior a chance de ela simplesmente desaparecer em uma nuvem de
fumaça novamente.

***

Zara saiu do motel algumas horas depois. Ela estava andando um


quarteirão ou mais na frente de Meat, mas ela sabia que ele estava atrás
dela, observando e se certificando de que ela estava segura. Ela sabia que
não iria convencê-lo a deixá-la ir para o bairro sozinha, mas ela foi capaz
de convencê-lo a segui-la à distância.

Quando ela e Meat chegaram ao quarto, ela o convenceu de que


seria uma boa ideia ir para o bairro ainda mais cedo do que haviam
discutido com Dave. Os dois sabiam o quanto o outro homem estava
ansioso para ver Mags, e seria quase impossível segurá-lo se ele a
acompanhasse ao bairro pela primeira vez.

Meat não ficou feliz em enganar o líder dos Mountain Mercenaries,


mas considerando todas as coisas, ele concordou que era um bom plano.

Zara não pôde deixar de lembrar, no entanto, o quão gravemente


Meat se machucou da última vez que esteve no bairro. Ela não se
misturava tão bem como costumava ser, mas ela não tinha dúvidas de que
se alguém a assediasse, Meat estaria ao seu lado em um piscar de
olhos. Ele nunca permitiria que ela enfrentasse um perigo potencial
sozinha. Ela queria ficar brava com isso, insistir que ela poderia fazer isso,
afinal, ela vagou pelas ruas dos bairros por quinze anos sozinha. Mas ela
sabia que isso não faria a menor diferença para Meat. E ela o amava ainda
mais por isso.

Rezando para que ele ficasse nas sombras e passasse


despercebido, ela voltou seus pensamentos para Mags. Ela se sentiu mal
por Dave. Ela realmente fez. Mas ela também tinha que pensar na
amiga. De jeito nenhum ela faria qualquer coisa que causasse dor
emocional à outra mulher. Ela já tinha passado por muita coisa. Embora
Mags fosse inteligente e empática, havia também um poço profundo de
dor que ela mantinha oculta do mundo. Zara reconheceu porque ela nutria
uma dor semelhante. Mas o que causou o sofrimento de Mags,
especificamente, Zara não sabia. Ela nunca se sentiu confortável
perguntando.

Esperançosamente, se reunir com seu marido permitiria que Mags


começasse a se curar.
Os sons e cheiros que assaltaram Zara enquanto ela caminhava em
direção ao bairro eram assustadores e familiares ao mesmo tempo. Era
uma vez, este tinha sido o seu mundo. Apesar de não ter problemas para
navegar, a área agora parecia estranha. Confusa. Não era uma sensação
boa.

Depois de entrar no bairro, ela olhava continuamente nervosa ao


redor enquanto caminhava, aliviada por não ver Ruben ou qualquer um de
seus amigos. A maioria das pessoas ficava dentro de suas cabanas
dormindo durante a parte mais quente do dia. Ela esperava encontrar pelo
menos uma de suas amigas dentro da cabana que todas elas costumavam
compartilhar. Mas era possível que elas tivessem mudado para outro
bairro, outra cabana.

Zara se aproximou da cabana em que estivera alguns meses atrás,


e as memórias ameaçaram dominá-la. Ela bateu de leve no pedaço de
metal corrugado que estava sendo usado como porta e gritou em
espanhol: — Alô? Gabriella? Carmen? Tem alguém aí?

Em segundos, o metal foi empurrado para o lado, e Zara estava


olhando nos olhos de Teresa.

— Madre de Dios. — Disse a outra mulher sem fôlego, depois


desatou a chorar.

Zara abriu caminho para dentro e rapidamente viu que todas, exceto
Mags, estavam lá.

Todas elas começaram a falar e chorar ao mesmo tempo. Vários


minutos se passaram antes que Zara pudesse controlar suas próprias
emoções o suficiente para explicar o que estava acontecendo. Ela voltou
a usar o espanhol com a mesma facilidade com que aprendeu o inglês.

— O que você está fazendo aqui?


— Você não foi para a América?

— Você está bonita!

Zara sorriu para suas amigas. — Dê-me um segundo e eu explicarei


tudo!

Todas se acalmaram, e Zara passou alguns minutos contando-lhes


rapidamente sobre Meat e o Colorado, e sobre seus avós e tio. Quando
ela terminou, todos estavam apenas olhando para ela, incrédulas.

— Eu sou rica. — Ela disse suavemente. — Todos aqueles anos, e


meus avós não tentaram tanto me encontrar. Portanto, decidi usar o
dinheiro para o bem. Eu não preciso de tudo. Estou aqui para ver Daniela
e vocês, e para abrir uma clínica para que pessoas como nós possam
receber cuidados médicos quando precisarmos. E no futuro, eu também
gostaria de abrir um banco de alimentos. — Ela não estava exatamente
mentindo. Ela queria abrir uma clínica, mas esse não era o verdadeiro
motivo de estar ali.

Todas começaram a falar ao mesmo tempo, e Zara só conseguiu


sorrir. Ela sentiu falta dessas mulheres. Elas foram uma parte tão
importante de sua vida por muito tempo. Allye, Morgan e os outros no
Colorado fizeram muito para que ela se sentisse bem-vinda, mas essas
mulheres passaram por muita coisa juntas.

— Espere até Mags ver você! — Gabriella disse empolgada.

— Onde ela está? — Zara perguntou.

— É quarta-feira. — Explicou Carmen.

Zara acenou com a cabeça. — Isso mesmo, eu tinha esquecido. —


E ela tinha. Ninguém sabia aonde Mags ia três dias por semana. Ela não
queria falar sobre isso, e todo mundo tinha se acostumado com o fato de
que ela estava fora naqueles dias. Ninguém fez muitas perguntas no bairro.
Zara não tinha planejado ficar no bairro por muito tempo, mas
também não iria embora sem ver e falar com Mags. Ela não podia voltar
para o motel e dizer a Dave que ele teria que esperar até amanhã. Já era
ruim o suficiente ele ter que esperar o resto do dia para ela voltar, mas não
havia como evitar.

Ela também se preocupava com Meat rondando do lado de fora,


cuidando dela, mas ela simplesmente tinha que aceitar que ele poderia
cuidar de si mesmo.

Uma parte dela estava com medo de que as mulheres não


estivessem mais aqui, e ela ficou aliviada que não era o caso. Se fosse,
Zara sabia que Dave teria perdido a cabeça.

— Como vão as coisas aqui? — Zara perguntou. — Ruben e seus


amigos são tão ruins quanto sempre?

Maria franziu a testa. — Pior. No outro dia, eles invadiram e


roubaram ou destruíram quase tudo o que tínhamos.

Olhando ao redor, Zara pôde ver que a cabana estava quase


vazia. Ela balançou a cabeça em frustração. — Eu sinto muito.

Bonita encolheu os ombros. — É o que é.

— Bem, eu tenho boas notícias para você, então. Não voltei apenas
com meu namorado, mas com todos os amigos dele também. E hoje eles
estão comprando. Dei a eles uma lista de coisas que achei que você
poderia usar ou gostaria. Teremos que descobrir uma maneira de
esconder tudo dos valentões de Ruben para que eles não entrem e roubem
você de novo, mas acho que vocês ficarão felizes com o que eles irão
trazer.

E assim, a conversa animada começou novamente.


Zara ficou emocionada ao ver suas amigas tão felizes, mesmo que
fosse momentâneo. A vida não era fácil no bairro, e era incrível poder
retribuir depois de tudo o que fizeram por ela.

Ela não tinha contado a elas que também tinha planos de comprar
uma casa perto de Daniela para onde ela esperava mudar todas - ela
estava guardando essa notícia para mais tarde. Ela não poderia salvar
todos no bairro, mas ela poderia fazer algo pelas mulheres que lhe mostrou
o que era a verdadeira amizade.

Ela conversou com as amigas por pelo menos uma hora, e Zara
sabia que estava ficando tarde. Ela ainda estava preocupada com Meat e
com Dave simplesmente aparecendo do nada se descobrisse que eles o
abandonaram. A última coisa que ela queria era que Mags acidentalmente
trombasse com ele. Ela precisava ser avisada de que ele estava aqui. Mas
uma parte da Zara não queria partir. Ela gostou de se reconectar com
Bonita e Carmen e as outras. Embora ela não sentisse falta de sua antiga
vida, ela sentia falta dessas mulheres.

Bem quando Zara pensou que teria que sair e voltar no dia seguinte
para falar com Mags, o pedaço de metal que cobria a porta deslizou para
trás e Mags estava lá.

Zara rapidamente se levantou e sorriu incerta para a outra


mulher. Ela sempre foi uma espécie de figura materna para ela. Zara
valorizou sua opinião e se importou profundamente com o que Mags
pensava dela.

— Zara? É realmente você? — Mags perguntou.

— Sou eu.

— Venha aqui e me dê um abraço! — Ela pediu.


Zara suspirou de alívio e foi abraçar a mulher mais velha. Ela
cheirava a suor e ao fedor que permeava tudo no bairro, mas Zara mal
percebeu.

— Senti sua falta. — Zara disse suavemente em inglês.

— E eu de você. — Mags respondeu.

— Você não parece tão surpresa em me ver. — Zara observou.

Mags riu, mas o humor não pareceu alcançar seus olhos. Na


verdade, a outra mulher parecia exausta. Mais cansada do que de
costume.

— É porque eu não estou. Há três homens espreitando pelo bairro


que obviamente não pertencem a este lugar. E se não me engano, um
deles é o homem que te levou de volta para os Estados Unidos.

Zara fechou os olhos e soltou um suspiro. Se Mags tinha visto três


homens, isso significava que Dave provavelmente estava por aí em algum
lugar também. — Eu sabia que Meat estava esperando por mim, mas disse
a ele para ficar escondido. — Disse ela.

— Acho que as coisas correram bem com ele? — Mags perguntou.

Sentindo-se tímida, Zara assentiu.

— Bom. Tive boas vibrações dele. — Disse Mags. — Agora, por que
você está aqui?

As outras mulheres começaram a falar ao mesmo tempo, contando


a Mags tudo sobre a clínica que Zara planejava construir e a despensa de
alimentos. Quando elas terminaram, Mags levantou a mão e embalou a
bochecha de Zara. — Você sempre se preocupou com todos que tinham
menos do que você.
Zara agarrou a mão de Mags e segurou com força. — Essa não é a
única razão pela qual estou aqui.

Mags inclinou a cabeça em questão.

Em inglês, Zara disse: — Os amigos de Meat fazem parte de um


grupo que viaja pelo mundo, resgatando mulheres e crianças que estão
sendo abusadas ou sequestradas. A esposa de seu líder desapareceu há
dez anos... E ele passou a última década procurando freneticamente por
ela. Ele contratou meu namorado e os outros para a equipe porque ele não
tinha nenhuma experiência militar.

Com cada palavra que Zara falava, o rosto de Mags ficava cada vez
mais branco, até que parecia que ia desmaiar.

— Eu te reconheci de uma foto que estava atrás do bar no The


Pit. No segundo que Dave soube onde você estava, ele fez arranjos para
vir.

Mags abruptamente caiu no chão. Seus joelhos simplesmente


cederam.

Zara se ajoelhou na frente dela e enfiou a mão no bolso, tirando a


moeda pressionada que Dave tinha dado a ela. Ela o estendeu. — Ele me
disse para dar isso a você, para provar que ele é seu marido.

Mags olhou para o pedaço de cobre como se fosse uma cobra que
arrancaria sua mão se ela tentasse pegá-la.

— Ele está aqui, Mags. E, ao contrário dos meus próprios parentes,


ele nunca parou de tentar encontrar você.

***
Mags olhou para a moeda e as memórias cintilaram em seu cérebro
como se ela estivesse assistindo a um filme antigo. Dave sorrindo com a
reação dela ao ver a máquina destruidora de moedas. Mags enfiou a mão
no bolso em busca de troco... E brincando com ele ao mesmo
tempo. Dizendo que precisavam de um centavo da sorte para ganhar
muito. E eles tinham. Ela se lembrou de como Dave jurou que sempre
carregaria a moeda com ele, antes de enfiá-la no bolso da carteira.

Ela fechou os olhos em desespero. Ela empurrou os pensamentos


de seu marido para os recônditos de sua mente, na maior parte, para sua
própria sanidade e autopreservação. Pensar em Dave e no amor que eles
compartilhavam era extremamente doloroso, era especialmente difícil no
primeiro ano em que se separaram. As coisas que ela foi obrigada a fazer
e suportar foram tão horríveis que qualquer pensamento de como sua vida
costumava ser era pura tortura. Ela não queria se lembrar de como ele a
fazia se sentir bem. Quão especial e amada ela tinha sido. Ela só
conseguia pensar em sobreviver um dia. Então o próximo. E o próximo.

Mas depois de anos mantendo essas memórias afastadas, elas


começaram a voltar sorrateiramente... Particularmente nos últimos anos. E
depois de ver Zara encontrar o amor com seu homem, Mags não
conseguia deixar de pensar em seu marido a muito perdido com ainda
mais frequência, em como as coisas costumavam ser.

E ver aquele centavo na palma da mão de Zara trouxe de volta tantas


lembranças dolorosas que Mags pensou que ela ficaria fisicamente
doente.

— Eu não posso vê-lo. Eu não vou! — Mags sussurrou.

Então o que Zara disse foi absorvido.


Se os homens que espreitavam pelo bairro fossem alguma
indicação, Dave já estava aqui.

Senhor.

Ao mesmo tempo, ela teria ficado em êxtase em vê-lo. Saber que ele
estava aqui para tirá-la do Peru e do que sua vida havia se tornado era
desesperadoramente bom. Mas não mais. Ela não podia partir. Não.

Freneticamente, Mags olhou ao redor da cabana e tentou


pensar. Ela tinha que sair de lá antes que Dave chegasse. Tinha que se
esconder.

As outras olharam para ela com olhos arregalados e confusos. Elas


não entendiam, mas, novamente, elas não sabiam de sua história
inteira. Ela tinha que manter isso quieto. Nem mesmo as mulheres que se
tornaram mais como filhas e irmãs para ela sabiam tudo o que tinha
acontecido com ela.

— Zara? — Uma voz masculina chamou baixinho do outro lado da


frágil peça de metal que usavam como porta.

Mags imediatamente se levantou e recuou. Seu coração batia um


milhão de vezes por minuto, e ela não conseguia ar suficiente nos
pulmões. Ela teria fugido pelos fundos da cabana pela portinha escondida
que elas fizeram só para situações como essa, quando uma saída pela
frente não era possível, mas Maria e Bonita estavam em frente a ela.

Zara deslizou o pedaço de metal de volta, e Mags reconheceu o


homem que eles haviam contrabandeado para fora do bairro alguns meses
atrás. Ele era alto, mas não tão alto quanto seu Dave.

Não. Não, não, não, não!


Mags não conseguia lidar com as memórias de Dave surgindo a
cada dois segundos. Ela mal sobreviveu ao perdê-lo da primeira vez. Ela
não seria capaz de fazer isso um segundo.

Mas então a decisão foi tirada de suas mãos.

Atrás do homem de Zara estavam três outros. Mas Mags só tinha


olhos para um.

Considerando que antes, ela estava respirando muito rápido, agora


ela não podia puxar nem mesmo um pouco de oxigênio.

Quantas noites ela tinha ficado deitada no chão, espancada e


sangrando, orando para ver Dave novamente? Quantas vezes ela jurou
fazer o que fosse preciso para sobreviver até que seu marido pudesse
encontrá-la? Quantas vezes ela desejou estar morta em vez de ter que dar
a outros homens o que ela jurou pertenceria apenas a seu marido?

Muitas vezes para contar.

Ela parou de desejar e esperar por qualquer coisa quando se tratava


de sua própria segurança cerca de cinco anos atrás.

Mas agora, aqui estava ele. O homem que ela amou de todo o
coração. O homem que ela ainda amava, mas não poderia ter. Ele não
deveria estar aqui. Ele deveria ter seguido em frente agora. Encontrado
outra mulher para confortá-lo e amá-lo.

— Raven. — Dave disse em um sussurro quebrado. Então ele deu


um passo em sua direção.

Em pânico, Mags cambaleou freneticamente para trás e encontrou


Gabriella e Teresa, que estavam bem atrás dela. Elas a pegaram antes que
ela pudesse cair no chão.

O olhar no rosto de Dave enquanto ela recuava quase a destruiu.


Ele ficou arrasado.

Ele caiu lentamente de joelhos e abaixou a cabeça como se fosse


muito pesada para seu pescoço sustentá-la. Quando ele olhou para cima
novamente, ela viu muitas emoções em seus olhos. Frustração, medo,
determinação, amor.

Foi o último que quase a matou.

O marido de Zara lançou um olhar envergonhado para a noiva. —


Claramente, fomos seguidos. Tentei detê-lo, para lhe dar mais tempo para
falar com ela. — Disse ele — Mas no segundo em que a viu passando,
não pude detê-lo. Eu o enrolei o máximo possível.

Mags não conseguia desviar do olhar do marido. Seus olhos o


absorvendo. Ele parecia bem. Muito bem. Mas ele mudou. Estava mais
duro. Ela sabia, sem dúvida, que tinha feito isso. Não de propósito, mas o
desaparecimento dela afetou os dois.

Seus bíceps eram tão grandes quanto ela se lembrava. Como ela
gostava de se aninhar contra ele e descansar a cabeça naqueles
braços. Ele poderia levantá-la sem parecer lutar no mínimo. Seu cabelo
tinha mechas grisalhas que não estavam lá da última vez que ela o viu, e
linhas finas cercavam seus olhos e boca. Sua barba também tinha mechas
grisalhas, e isso só o deixava ainda mais sexy para ela.

Mas foi a grande cicatriz que serpenteava por seu pescoço até o
decote de sua camisa que a fez olhar para ele com preocupação. O que
tinha acontecido? A cicatriz era horrível e parecia que provavelmente tinha
chegado muito perto de matá-lo. Como ele conseguiu isso? Alguém tinha
sentado no hospital com ele quando ele se recuperou?

Todos na sala desapareceram enquanto Mags olhava para o homem


que ela nunca pensou que veria novamente. Ela estava muito ciente de
como provavelmente parecia horrível. Ela não lavava o cabelo sabe-se lá
quanto tempo. Ela tinha sujeira sob as unhas e sabia que cheirava mal,
tanto de suor depois de sua longa caminhada hoje, quanto de nunca ter
água limpa para se banhar. Ela estava tão distante da mulher
despreocupada que tinha sido da última vez que vira Dave, que não era
engraçado.

Mas ele não estava olhando para ela com nojo. Mais como
admiração.

Engolindo em seco, Mags desviou o olhar de Dave. Havia três outros


homens de pé na cabana, tornando o espaço já pequeno extremamente
apertado. Havia quatro sacolas perto da porta que obviamente tinham sido
trazidas pelos amigos de Zara.

— Eu gostaria que vocês conhecessem alguns amigos meus. —


Disse Zara em espanhol. — Este é Meat, meu namorado. Ele é aquele que
arrastamos para fora do beco, que eu trouxe para Daniela para
tratamento. Nós... Hum... Estamos morando juntos e eu o amo. Estes são
seus amigos, Arrow e Gray. E esse é... Dave. Eles estão aqui para me
ajudar com o trabalho braçal na clínica.

Mags estava tranquila. Zara não disse mais nada sobre quem Dave
era. Ela não estava pronta.

Ela poderia nunca mais estar pronta.

Suas amigas não eram burras, entretanto. Pela reação dela ao


homem, era óbvio que ele não era apenas mais um amigo de Zara.

Todas as mulheres disseram olá, e o homem que Zara chamava de


Gray se virou, pegou as sacolas e as estendeu.

— Eu disse que dei a eles uma lista de coisas que pensei que vocês
poderiam querer. — Disse Zara. — Teremos que enterrar tudo, ou levar
as coisas para a casa de Daniela para que Ruben e os outros não as
roubem.

Teresa estendeu a mão e pegou uma sacola, e Gabriella e Bonita


fizeram o mesmo. Elas olharam para dentro e seus olhos se arregalaram
quase comicamente.

Mags olhou para Dave... E mais uma vez não conseguia respirar. Ele
não tirou os olhos dela. Era como se ele a estivesse bebendo. Mas em vez
de seu olhar a confortando, ela se sentiu exposta. Nua. Ela sentiu como se
ele pudesse ver através dela seus segredos mais profundos e
sombrios. Coisas das quais ela nunca falaria. Nem para ele nem para
ninguém. Eles eram sua vergonha para carregar.

Zara estava atuando como tradutora, mas Mags não conseguia nem
ouvir o que ela estava dizendo com o som acelerado em seus ouvidos.

Dave não ficou de joelhos. Ele ficou no chão, olhando para ela
atentamente. Mags sabia que se tivesse que aguentar por mais um
segundo, ela ficaria totalmente louca.

— Raven. — Dave disse suavemente. — Eu queria acreditar na


Zara. Queria acreditar que a mulher que ela conhecia como Mags era
realmente você... Mas também não queria ter muitas esperanças. Já me
decepcionei tantas vezes que sabia que não aguentaria mais. Mas é
você. É você mesmo.

Mags olhou para ele sem piscar.

— Eu posso... Você está bem?

Ela queria bufar com isso. Ela estava bem? Não, claro que ela não
estava.

— É muito para processar, Dave. — Disse Arrow, colocando a mão


em seu ombro. — Você precisa dar a ela algum tempo.
— Eu não posso ir. — Dave disse, sua voz falhando. — Eu apenas a
encontrei. Eu não posso ir!

Mags enrijeceu. Ele não podia ficar. Ela tinha que fazê-lo
entender. — Eu não quero você aqui. — Disse ela com a voz mais dura
que conseguiu reunir. Infelizmente, saiu mais como um apelo do que uma
exigência da mulher responsável que ela tinha se tornado ao longo dos
anos.

Ela ficou chocada quando as lágrimas se formaram nos olhos de


Dave e transbordaram de seu rosto. Ele não estendeu a mão para enxugá-
las, simplesmente continuou a olhar para ela.

— Dez anos. — Ele disse suavemente. — Dez anos, vinte e dois


dias, quatro horas e trinta e seis minutos. É há quanto tempo você está
desaparecida. E estive procurando por você a cada segundo desse
tempo. Orei para ouvir sua voz novamente... E a realidade é muito melhor
do que meus sonhos.

Suas palavras acalmaram uma dor que ela não sabia que abrigava e
picou como mil abelhas. Dave obviamente sofreu. O homem que ela
conhecia nunca teria chorado. Principalmente na frente de outras
pessoas. Ela não conseguia falar com o nó na garganta.

— Você deveria ir. Só por esta noite. — Disse Zara. — Mags precisa
de tempo para processar tudo.

Dave abriu a boca para protestar, mas Gray falou antes que
pudesse.

— Parece uma boa ideia. Podemos voltar amanhã.

— Você não vai ficar aqui. — Meat disse a Zara.

— Eu vou ficar bem. — Ela disse a ele suavemente.


— Não.

Mags aprovou o marido de Zara. Ele era protetor e obviamente


preocupado com a segurança dela. Por mais que Zara fosse um produto
do bairro, não era seguro. Nem mesmo para ela.

— Talvez elas possam vir para o motel conosco? — Ela perguntou.

— Se demorarmos muito, Ruben ou outra pessoa pode assumir o


controle de nossa casa. — Disse Maria.

Os ombros de Zara caíram. — Sim.

— Voltaremos na primeira hora da manhã e traremos comida. —


Meat tranquilizou Zara e as outras mulheres. — Se houver alguma coisa
que vocês possam pensar e de que precisem, faremos compras
novamente amanhã e compraremos para vocês. Precisamos visitar
Daniela também.

Todas as mulheres concordaram, e Mags sabia que elas estavam


ansiosas para examinar as sacolas de suprimentos que os homens
trouxeram e falar exatamente sobre o que estava acontecendo.

— Eu não quero ir. — Argumentou Dave.

Meat pos a mão no ombro de Dave e apertou. — Ela precisa de


tempo. — Disse ele calmamente.

Ninguém disse nada por um longo momento.

Então, de joelhos na porta, Dave disse: — Eu te amo, Raven.

Mags se preparou para olhar para ele novamente.

— Eu te amo. Sei o suficiente sobre o que acontece com mulheres


jovens que são levadas sem seu consentimento para saber que sua vida
tem sido um inferno. Mas eu encontrei você - e farei o que for preciso para
provar que agora você está segura. Que meu amor por você não parou
simplesmente porque você se foi.

— As pessoas mudam. — Ela disse suavemente. — Eu não sou a


mulher que você conheceu.

— E eu não sou a mesma pessoa com quem você se casou. —


Retrucou Dave. — Estou mais duro. Mais teimoso. Muito menos
confiante. Mas uma coisa nunca vai mudar, e isso é o quanto você
significa para mim e o quanto eu te amo.

— Eu não te amo mais. — Mag disse rigidamente.

Dave nem mesmo vacilou. — Você irá.

A frustração cresceu dentro dela. Ela precisava que ele fosse


embora. Por que ele não estava ficando bravo? Saindo? Ela tinha muito a
perder se ele não fosse. — Minha vida é aqui no Peru. — Disse ela o mais
severamente que conseguiu. — Eu não vou embora.

Dave a olhou por um longo momento, e Mags se recusou a se


contorcer sob seu escrutínio. Então ele se levantou lentamente, e Mags se
forçou a permanecer firme e não se encolher com a intensidade de seu
olhar. As lágrimas secaram, e um homem muito determinado estava diante
dela agora.

— Não contei aos seus pais que estava indo para o Peru. Eles
tiveram suas esperanças aumentadas muitas vezes e frustradas tantas
vezes. E meus pais sofreram junto comigo. Mas eles não
importam. Ninguém importa além de você. Minha vida está
onde você estiver. — Dave disse sem um traço de irritação ou
insegurança. — Se eu tiver que me mudar para Lima para ficar com você,
eu vou.
Em qualquer outro momento, Mags teria se jogado em seu homem
e implorado para levá-la para longe do bairro. De Lima. Do Peru. Mas ela
não conseguia.

Ela estava no inferno. Era como receber tudo o que seu coração
desejava, mas ela sabia que se ousasse alcançá-lo, poderia perder algo
que amava tão ternamente.

Ela ouviu Gabriella implorando para Zara traduzir o que estava sendo
dito, mas Mags não desviou o olhar de Dave.

— Te amo. — Ele disse suavemente, trazendo suspiros silenciosos


das outras mulheres.

Mags balançou a cabeça teimosamente.

Ela sabia que Dave teria ficado lá a noite toda se seu amigo Gray não
tivesse segurado seu antebraço e o puxado em direção à saída. — Vamos,
Dave. Dê a ela algum espaço. Voltaremos amanhã.

Mags manteve contato visual com Dave até que ele estivesse fora
da cabana e Gray literalmente o arrastou para longe. Ela deixou escapar
um grande suspiro de alívio.

Então o pânico voltou com a mesma rapidez.

Ele voltou.

Ela sabia que ele não pararia até que a fizesse admitir que ainda o
amava. Que ela voltaria para os Estados Unidos com ele. Estava tudo bem
para Zara ter deixado sua vida no Peru para trás, mas Mags não tinha essa
opção.

— Por favor, não corra. — Disse Zara em espanhol antes de sair. —


Prometa que vai ficar e falar com ele.
Mags não concordou ou discordou, mas finalmente Zara suspirou e
disse tchau para o resto das mulheres e deslizou o pedaço de metal pela
entrada.

Todas as outras começaram a bombardeá-la com perguntas, mas


Mags não tinha energia ou vontade para respondê-las. Ela vagou até seu
catre e se deitou. Seu estômago roncou, mas ela o ignorou. Não havia
como ela comer. Agora não.

Bem quando ela se acostumou com a vida que estava levando, algo
apareceu para atrapalhar mais uma vez.

Ela não tinha ideia do que iria fazer. Ela não podia partir, mas
também não queria ficar. Dave aparecendo do nada foi um sonho que se
tornou realidade, mas também a colocou bem no meio de seu pesadelo
pessoal.

Dave pode ter passado a última década tentando resgatar mulheres


em situações como a dela, mas ela não achava que ele pudesse realmente
entender o que ela tinha passado, e não havia nenhuma maneira de ele
ser capaz de chegar a um acordo com as escolhas que ela fez. A vergonha
que sentia todos os dias a envolvia como um cobertor pesado, lenta e
seguramente pesando-a e sufocando-a.

Mas ela sabia que Dave não iria simplesmente dar meia-volta e voltar
para a América em silêncio. Mesmo que ela continuasse a dizer a ele que
ela não o amava mais, não queria nada com ele. Não, ele gostaria de
explicações e respostas. Duas coisas que ele não conseguiria, não se ela
pudesse evitar. A última coisa que ela queria era que ele a olhasse com
nojo, que era o que ele faria se soubesse por que ela não queria ir embora.

A outra razão pela qual ela sabia que ele ficaria era porque Dave
sempre poderia lê-la. Ele sempre parecia saber quando ela não estava
sendo sincera. Ela poderia dizer a ele repetidamente que não o amava,
que ela queria que ele fosse embora, mas ele saberia que ela estava
mentindo. Que ela precisava desesperadamente dele para consertar as
coisas em seu mundo, mesmo que isso fosse impossível.

Enquanto Mags ouvia suas amigas reclamando das coisas que Dave
e seus amigos haviam comprado, uma lágrima rara se formou e
escorregou pelo lado de seu rosto. Nada era fácil no bairro, e a chegada
do único homem que ela amou apenas complicou as coisas. Dez vezes.
Dave voltou para o motel docilmente, mas por dentro estava fazendo
planos. Se Raven pensou por um segundo que ele iria embora sem ela, ela
estava enganada. Ele não tinha procurado por ela por dez anos apenas
para ir embora agora. Ele não sabia o que se passava na cabeça dela, mas
sabia o suficiente sobre as vítimas de tráfico para saber que muitas tinham
sérios problemas psicológicos por causa do que haviam passado.

Mas uma coisa que não estava em questão era se Mags era sua
Raven. Ela era. Ela tinha passado pelo inferno, sofrido mais do que
qualquer um deveria, e tinha rugas em seu rosto para provar isso, mas
para ele, ela ainda era a mulher mais bonita que ele já tinha visto.

Ele não se importava com suas roupas esfarrapadas e sujas, ou a


maneira como seu cabelo estava escorregadio e oleoso contra suas
costas. Com o que ele estava preocupado era a obvia dor profunda que
ele havia visto em seus olhos.

Ele sabia o que provavelmente tinha acontecido com ela ao longo


dos anos. Ela foi vendida como um pedaço de carne e provavelmente foi
usada e abusada por incontáveis homens que só se importavam em gozar.

O pensamento de sua Raven sendo tomada contra sua vontade era


uma pílula difícil de engolir, mas a mulher que ele viu hoje de alguma forma
conseguiu sobreviver a tudo que ela passou, por uma década inteira. E ele
ainda podia ver lampejos da Raven que ele conhecia enterrada em algum
lugar lá dentro.

Mas foi a profunda convicção em seus olhos de que não havia


nenhuma maneira que ele pudesse querê-la agora que o matou. Os
segredos que ela escondeu dele, e de todos ao seu redor, estavam
profundamente enraizados em sua psique. Eles já foram melhores
amigos. Mais perto do que ele esteve de qualquer pessoa em toda a sua
vida. Ela conhecia todas as suas esperanças, medos e sonhos, assim
como ele conhecia os dela. Mas agora havia um abismo entre eles que
parecia tão grande quanto o oceano Pacífico, e isso doía. Muito.

Devia haver uma razão pela qual ela não queria deixar o Peru - e ele
iria descobrir qual era. Ele não tinha brincado. Se ele tivesse que se mudar
para Lima e morar aqui pelo resto da vida para ficar com a esposa, era o
que ele faria.

Ele sabia que ela estava mentindo para ele por algum motivo. Ele
sempre foi capaz de lê-la como um livro. Isso costumava irritá-la e diverti-
lo. Ele não estava mais divertido. Porque ele sabia até a medula dos ossos
que ela não queria ficar no Peru. Ela ansiava por voltar para casa, no
Colorado, mas por algum motivo estava se segurando.

E ele estaria condenado se a deixasse por mais uma noite.

Ele passou dez anos sem saber onde ela estava, sem saber se ela
estava sofrendo ou com fome, e agora que a encontrou, ele não passaria
outra noite longe dela se pudesse evitar.

Dave disse boa noite aos outros e acompanhou Ball até o quarto que
eles dividiam. A equipe conversou do lado de fora no estacionamento para
discutir o que havia acontecido no bairro. Ninguém estava feliz que Raven
não tivesse concordado em voltar para o motel, mas eles estavam um
pouco apaziguados pelo fato de que voltariam pela manhã.

Black, Gray e Meat, com Zara junto para traduzir, iriam ver Daniela
logo de cara. Eles queriam verificar o bairro onde sua casa estava
localizada e conversar com ela sobre o que ela precisava em uma clínica.

Ball tentou conversar um pouco, perguntar sobre Raven, mas Dave


respondeu apenas com alguns grunhidos e encolheu os ombros até que
Ball entendeu a mensagem e desistiu. Dave não estava pronto para falar
sobre Raven ainda. Não até que ele descobrisse o que diabos estava
acontecendo. Foi especialmente frustrante porque ele também não
conseguia usar seus conhecimentos de informática para descobrir. Oh, ele
tinha seu computador com ele, e todas as conexões que ele fez ao longo
dos anos que o ajudariam a investigar, mas nenhum o ajudou a encontrar
Raven durante os últimos dez anos, e mesmo que ele soubesse onde ela
estava agora, nenhuma hablidade de hackear ou pesquisar no mundo o
ajudaria a reconquistar sua esposa.

Ele tinha que falar com Raven, fazer com que ela se abrisse sobre o
que realmente estava acontecendo.

Ele já sabia mais do que queria sobre Roberto del Rio, o homem que
ele agora estava convencido de estar por trás do sequestro de sua
esposa. O idiota tinha uma influência extraordinária em Lima, e não era
segredo que dirigia um puteiro florescente. A polícia havia invadido sua
propriedade mais de uma vez, mas todas as mulheres que encontraram
no passado juraram que elas estavam lá por sua própria vontade. O que
não provava nada além de que elas estavam com medo de contar a
verdade aos policiais ou que a polícia estava sendo paga por Del
Rio. Ambas as perspectivas prováveis.

Dave tentou se consolar com o fato de que Raven não estava no


complexo de Del Rio no momento. Mas isso não o fez se sentir muito
melhor sobre a segurança dela. Não depois de ver onde ela estava
morando. Ele estava bem ciente de como as gangues errantes de homens
como Ruben eram perigosas. Meat e Black eram prova disso.

Depois de seguirem Zara e Meat para o bairro, Dave, Arrow e Gray


examinaram a área durante sua longa espera. Havia vários homens de
aparência desagradável à espreita, e se ele tivesse que adivinhar, Dave
percebeu que eles eram provavelmente os mesmos homens que atacaram
Black e Meat quando eles estiveram lá em sua última missão. Ele não tinha
provas, mas não demorou muito para adivinhar quais caras estavam
tramando algo ruim. Nenhum dos moradores do bairro olhou para eles e,
quando viram os rapazes, ou fugiram em outra direção ou desapareceram
em uma das cabanas mal construídas que ladeavam as vielas.

Dave não deixaria Raven, ou as outras mulheres, desprotegidas por


mais um dia. Raven pode não o querer lá, mas é uma merda difícil. Sua
mera presença no bairro atraiu atenção indesejada para Mags e suas
amigas. Ele não ia deixar nada acontecer com elas, não sob sua
supervisão.

Não só isso, mas ele não tinha certeza absoluta de que Raven não
fugiria. O olhar em seus olhos naquela noite disse que ela queria estar em
qualquer lugar, menos naquela cabana. Dave odiava isso. Ele sempre
jurou que nunca forçaria uma mulher a fazer nada que ela não quisesse...
Mas esta era sua esposa, e ele esperou o que pareceu uma eternidade
para vê-la novamente. Ele não iria deixá-la escapar e se colocar em perigo
apenas para tentar evitá-lo.

Ele esperou até que Ball estivesse no telefone com Everly e disse
enquanto caminhava em direção à porta: — Vou pegar uma Coca na
máquina de venda automática. Quer uma?

Ele odiava enganar o amigo, mas sabia que Ball não permitiria que
ele fosse para o bairro sozinho. E isso era algo que ele tinha que fazer. Ele
pode não ser um ex-soldado das Forças Especiais, mas também não
estava completamente indefeso.

Como Dave esperava, Ball apenas balançou a cabeça, distraído pela


conversa que estava tendo com a namorada. Dave saiu pela porta e foi
para a escada. Em poucos minutos, ele estava caminhando pelas ruas
escuras perto do motel e se dirigia para o bairro. Ele não estava nem um
pouco assustado, ele tinha muita energia reprimida para se preocupar com
alguém o roubando ou atacando.

Na verdade, ele acolheria a perspectiva.


Mas é claro, uma vez que os braços de Dave eram do tamanho das
coxas da maioria das pessoas, qualquer um que estivesse andando por aí
rapidamente andou na outra direção depois que o avistou.

O bairro estava quieto, o cheiro ocasional de fumaça de incêndios


aleatórios flutuando no ar. O céu retumbou com um trovão distante, mas
Dave não achou que deveria chover. Ele facilmente encontrou o beco que
procurava. No escuro, tudo parecia igual, mas ele memorizou onde estava
sua Raven.

Ele sabia que o que estava prestes a fazer não era exatamente a
coisa mais inteligente. Ele estava sozinho, e Ruben ou qualquer outra
pessoa poderia vir até ele e tentar foder com ele, mas do jeito que ele
estava se sentindo agora, ele quase desejou que alguém tentasse
algo. Ele achou que era mais importante deixar qualquer um que estivesse
assistindo saber que as mulheres neste barraco estavam fora dos
limites. Que elas estavam protegidas. Ele poderia se esconder nas
sombras, mas não... Ele queria estar visível, então qualquer idiota local
pensaria duas vezes antes de assediar as mulheres no futuro.

Ele não bateu na porta improvisada. Não trouxe nenhuma atenção


para o fato de que ele estava lá. Ele simplesmente se abaixou até a terra
do lado de fora da cabana em que estivera no início da tarde e deitou-se
paralelo à porta. Ele ouviu as vozes femininas falando baixinho de dentro
da cabana em suas costas, mas não ouviu Raven. Por um segundo, ele se
preocupou que talvez ela tivesse ido embora, mas então ela falou. Ele não
conseguia entender o que ela estava dizendo já que ela estava falando em
espanhol, mas ele reconheceria sua voz em qualquer lugar. Ele sonhou em
ouvir de novo. Raven o provocando sobre alguma piada interna entre os
dois... Ouvi-la dizer que o amava.

Relaxando o melhor que podia na terra compactada, Rex deitou a


cabeça no bíceps e fechou os olhos. Ele não dormia bem nos últimos dez
anos, apenas conseguia dormir um pouco aqui e ali, e não estava prestes
a começar agora. Se alguém passasse, ou de alguma forma ameaçasse o
que era seu, ele acordaria e lidaria com isso.

Ele não tinha encontrado sua amada depois de todo esse tempo
para perdê-la em algum estúpido roubo aleatório. Ela era sua para
proteger, para amar. E mesmo que ela não correspondesse aos
sentimentos dele, mesmo que ele tivesse que fazê-la se apaixonar por ele
novamente, ele não iria deixá-la ao lado.

Não demorou muito quando Dave percebeu que tinha


companhia. Ele se sentou rapidamente...

E viu Ball e Gray parados por perto.

Ele se levantou e foi até os homens. — Voltem para o motel. — Ele


ordenou.

— Foda-se! — Disse Ball balançando a cabeça. — Todos nós


sabíamos que você voltaria aqui. De jeito nenhum, depois de dez anos,
você iria deixá-la fora de sua vista.

Dave encolheu os ombros. — Isso não é problema de vocês.

— Não é problema nosso? — Gray repetiu, soando muito


puto. — Foi isso que você pensou quando Allye foi pega por aquele idiota
que queria mantê-la como uma espécie de aberração secundária? Ou
quando a irmã de Everly foi sequestrada?

Dave rangeu os dentes, mas balançou a cabeça.

— Certo, então por que você pensaria diferente sobre isso? Viemos
aqui para ajudar. É óbvio o quanto Raven significa para você, então você
se esgueirando para colocar sua bunda em risco como se isso não fosse
apenas estúpido, era ofensivo como o inferno.
Dave pensou nas palavras do amigo e soube que estava certo. Após
uma longa pausa, ele hesitantemente tentou explicar seu processo de
pensamento. — Todas as noites nos últimos dez anos, eu dormi ao lado
de um lugar vazio na minha cama. Estando preocupado com o que minha
esposa poderia estar passando e se ela estava com dor. Não consigo
parar de pensar nela chorando por socorro, se perguntando se eu estava
procurando por ela ou não. Tem sido uma tortura. Não tortura física, como
vocês dois sofreram no passado, mas mental. Simplesmente não
posso não estar aqui. A ideia de perdê-la novamente é insuportável. Eu sei
que isso não é tão inteligente. Mas porque ela não aguenta me olhar nos
olhos por mais de alguns segundos de cada vez, e porque ela está
obviamente morrendo de medo de alguma coisa... Talvez de mim... Não
posso segurá-la em meus braços e tranquilizá-la de que tudo ficará
bem. Talvez nunca vá ficar tudo bem para ela - mas de jeito nenhum vou
deixá-la sozinha de novo.

Gray suspirou e Ball assentiu.

— Tudo bem, mas pelo menos deixe um de nós ficar aqui com você.
— Disse Gray em um tom muito menos irritado.

— Eu aprecio isso, mas não. Estou bem. Ninguém vai mexer comigo.
— Disse Dave.

Ball balançou a cabeça novamente. — Desculpe, mas também não.


Você viu o que aconteceu com Black e Meat. Na verdade, aconteceu
exatamente neste mesmo beco. Você deitado aqui sem nenhuma arma é
como acenar uma bandeira vermelha para um touro. Você está chamando
mais atenção e perigo para Raven e as outras mulheres do que se não
estivesse aqui.

As mãos de Dave se fecharam em punhos. Ele não gostou do que


seus amigos estavam dizendo, mas no fundo, ele sabia que eles estavam
certos. — Estou tentando enviar uma mensagem para os idiotas deste
bairro que essas mulheres estão fora dos limites. Além disso... Eu não
posso sair. Simplesmente não posso. — Disse ele.

— Então nem nós. — Disse Gray.

— Não vamos sentar aqui com você, mas vamos assistir das
sombras. — Ball o assegurou. — Gray e eu vamos ficar esta noite, e vamos
trabalhar em uma rotação com o resto da equipe pelo tempo que for
necessário.

Dave engoliu em seco. Ele não esperava isso. Ele se sentiu sozinho
em sua busca para encontrar sua esposa por tanto tempo. Os policiais e
detetives fizeram o possível, mas não tinha sido bom o suficiente, e quando
o tempo suficiente passou e seu caso esfriou, eles simplesmente tiveram
que passar para outros casos.

— O que você está fazendo?

Todos os três homens se viraram com a pergunta - e Dave viu Raven


olhando para fora da cabana na qual ele dormia alguns minutos atrás.

Ele cruzou os braços sobre o peito e disse com sinceridade: —


Estamos elaborando um plano para garantir que você e as outras estejam
seguras à noite.

Sua esposa revirou os olhos e os joelhos de Dave quase


dobraram. Ele tinha se esquecido do lado atrevido dela. Como ele poderia
ter esquecido? Ela costumava fazer isso o tempo todo. Rolar os olhos para
ele quando ele estava sendo superprotetor demais, ou apenas por ser
bobo. Vê-la fazer isso agora deu a ele um vislumbre da mulher que ele
costumava conhecer, e o encheu de esperança de que ela ainda estava
dentro da casca exterior surrada que ela vestiu para lidar com os
pesadelos que ela tinha passado.
— Não precisamos que você traga esse tipo de atenção para nós.
— Raven disse brevemente. — Apenas saia.

— Não vai acontecer. — Disse Dave, caminhando lentamente em


direção a ela. Ele não queria assustá-la, mas queria que ela soubesse que
ele não iria a lugar nenhum.

— Sério, Dave, vá embora. Você vai fazer Ruben e seus amigos se


perguntarem que diabos você está guardando. Eles ficarão curiosos o
suficiente para invadir novamente e roubar o que você e seus amigos
trouxeram hoje.

— Novamente? — Dave perguntou em um tom baixo e furioso.

Raven pareceu perceber o que ela disse e rapidamente desviou o


olhar dele.

Ele fez o possível para controlar sua raiva. — Eu não posso ir. — Ele
disse a ela honestamente. — Eu perdi você uma vez porque tirei meus
olhos de você. Aprendi minha lição e não vou fazer de novo.

— Eu não sou uma criança de quatro anos, Dave. — Disse Raven. —


Sou uma mulher adulta que aprendeu muito sobre o mundo na última
década. Eu posso cuidar de mim mesma.

Com essas palavras, a cabeça de Dave caiu e ele ergueu a mão para
esfregar a nuca. Ele odiava tudo sobre isso. Tudo isso. Ele tinha imaginado
seu reencontro tantas vezes, e nenhuma vez Raven não ficou feliz em vê-
lo. Em todos os cenários que ele tinha imaginado, ela sorriu para ele e
saltou em seus braços. Ele estava lutando e completamente fora de seu
elemento, e ele não gostou nem um pouco.

— Eu não posso ir. — Dave sussurrou.

Sem outra palavra, Raven fechou a porta de metal e o som dela se


fechando fez a bile subir na garganta de Dave. Ele se forçou a recuar e
endireitou os ombros. Ela pode não ficar feliz com ele, mas não
importa. Ele estava ficando.

Ele sabia que se ele encontrasse sua esposa, eles teriam uma difícil
batalha para voltar ao casal que tinham sido antes. Que ela teria
demônios. Mas Dave percebeu agora que ele ingenuamente pensou que
seu amor iria magicamente faze-la superá-los. Que ela ficaria tão feliz em
vê-lo quanto ele estava.

O fato de ela parecer irritada por ele estar ali doía loucamente.

Mas isso não o fez querer ir embora. Tudo o que fez foi tornar sua
determinação de chegar ao fundo do que estava acontecendo ainda mais
forte. Ele amava Raven, e ela ainda o amava. Ele podia sentir isso. Via isso
em seus olhos. Mas ela estava se segurando.

Talvez ela estivesse com vergonha. Talvez ela realmente tivesse se


apaixonado por ele, apesar do que ele pensou ter visto em seus olhos. Mas
isso não importa. Ele faria o que fosse necessário para fazê-la se apaixonar
por ele novamente. Ele precisava dela. Não era nada sem ela.

Dave se acomodou no chão em frente à porta da cabana e observou


Ball e Gray desaparecerem nas sombras do bairro. Seria uma longa noite,
mas Dave sabia que não era nada comparado ao que sua esposa havia
sofrido. Ele dormiria no chão duro todas as noites pelo resto de sua vida
se isso significasse manter Raven segura.

***

— Eles vão realmente ficar lá fora a noite toda? — Teresa perguntou


incrédula depois que Mags fechou a porta e voltou para seu catre.
— Aparentemente. — Ela murmurou.

— Você está brava. — Observou Carmen. — Por quê?

— Porque tudo o que ele vai fazer é chamar a atenção para


nós. Ruben e seus amigos vão pensar que temos algo valioso aqui. —
Mags disse bufando.

Carmen continuou a encará-la até Mags ficar um pouco na


defensiva. — O que?

— Este homem é seu marido, sim? — Carmen perguntou.

Sabendo que as outras mulheres estavam ouvindo atentamente,


Mags simplesmente assentiu.

— E ele não vê você há mais de dez anos?

Mags acenou com a cabeça novamente.

— Não entendo por que você está tão chateada. — Continuou


Carmen. — Por tudo que tenho visto, ele e seus amigos parecem ser
bons. Não é verdade?

Não querendo que Carmen ou as outras pensassem mal de Dave,


Mags imediatamente balançou a cabeça. — Sim é verdade. É
apenas... Dormir fora de nossa cabana é como acenar um letreiro de néon
que diz: 'Venha nos roubar!'

— Eu sei que sou a mais nova... — Disse Gabriella. — E não tenho


tanta experiência quanto vocês. Mas nasci e cresci no bairro e nunca vi
um homem fazer o que seu marido está fazendo. A maioria está mais
preocupado em encontrar álcool ou em tentar encontrar uma maneira de
ganhar dinheiro. E eu vi a maneira como ele estava olhando para você
hoje.
Mags não queria perguntar, mas não conseguiu se conter. — E
como foi isso?

— Como se você fosse um milagre ambulante e falante. Zara disse


que está procurando por você há dez anos. Que ele nunca parou. Ele até
enviou seus amigos a diferentes países para fazerem o que pudessem para
ajudar mulheres e crianças. Não entendo por que você não está feliz por
tê-lo aqui.

Mags não conseguia explicar. Como Gabriella entenderia a


vergonha que sentia até a medula dos ossos?

Todos esses anos depois, Mags ainda não conseguia deixar de


pensar que ela deveria ter feito algo diferente quando foi levada pela
primeira vez. Ela lutou muito naqueles primeiros dias. Era um maníaco
absoluto - quando ela não estava drogada e nocauteada. Sempre que
alguém se aproximava dela, ela atacava, fazia tudo o que podia para tentar
fugir. Mas talvez ela devesse ter sido mais dócil. Se ela tivesse, talvez seus
sequestradores a tivessem deixado ir. Talvez ela não tivesse sido tirada do
país. Talvez isso tivesse mudado a trajetória de sua vida.

Quando ela percebeu seu destino, era tarde demais. Ela estava no
Peru e escondida no complexo de Del Río. Levou vários meses para
“treiná-la” para seu novo papel, e Mags não conseguia se livrar da
desgraça que sentia por finalmente ceder, não lutar mais.

Como ela poderia admitir para o amor de sua vida que ela tinha sido
espancada até que ela deixou outros homens fazerem o que quisessem
com ela - e ela não lutou contra eles? Que ela fingiu desfrutar de suas mãos
em seu corpo, o mesmo corpo que ele passou muitas noites reverenciando
com suas mãos e boca?

O ponto principal era que ela não podia.


E ela sabia que ele nunca seria capaz de perdoar o que acontecera
há cinco anos. Ele não entenderia. De jeito nenhum.

— É complicado. — Ela finalmente disse a Gabriella.

— Bem, estou feliz que ele esteja aí. — Disse Maria com firmeza. —
Eu posso dormir esta noite e não tenho que me preocupar com Ruben,
Marcus, Fortuno, ou qualquer um dos outros invadindo aqui, pensando que
eles podem ter o que Del Rio tão facilmente vendeu por tanto tempo.

— Eu também. — Admitiu Teresa.

— Eu também. — Interrompeu Bonita.

Todas, exceto Gabriella, haviam pertencido a Del Rio em algum


momento. Mags tinha ficado muito velha para ser desejável por seus
clientes. Teresa e Maria não eram exóticas o suficiente, Carmen tinha
conseguido escapar do complexo, e elas achavam que Del Rio não se
importava, porque ele não se preocupou em enviar seus capangas para
arrastá-la de volta.

E Bonita tinha ficado tão doente que Del Rio presumiu que ela
morreria, e ele literalmente a descartou como se ela fosse um pedaço de
lixo. Daniela a encontrou perto de um dos depósitos de lixo, cuidou de sua
saúde e a apresentou a Mags.

Essas mulheres foram uma tábua de salvação para Mags. Mas ela
não tinha sido completamente honesta com elas, não por muito tempo. Ela
estava guardando um grande segredo. Um segredo que ela achava que
elas não entenderiam ou aprovariam.

Mas se elas se sentissem mais confortáveis com Dave dormindo do


lado de fora de sua porta, protegendo-a, então ela não reclamaria mais. No
fundo - bem no fundo - Mags também estava bem com isso, ele estava
lá. Ela ainda não conseguia acreditar, mas o fato de que ele não tinha
parado de tentar encontrá-la fez seu coração pular e a esperança explodir
dentro de sua alma.

Mags acenou com a cabeça para as amigas e fez uma nota mental
para deixar a cabana pela saída secreta dos fundos bem cedo na manhã
seguinte. Não era um dos dias em que ela viajava milhas e milhas para
cuidar do negócio muito importante que ela cuidou todas as semanas nos
últimos quatro anos e meio. Ela simplesmente não podia estar perto de
Dave. Ele a fez desejar coisas que ela não poderia ter. Ela tinha que se
lembrar de quem ela era. Ela não era mais sua Raven. Suas asas foram
cortadas e ela agora era Mags. Ex-prostituta. Membro pobre do
bairro. Líder de seu pequeno grupo de amigas.

Deitada de costas, Mags apoiou a cabeça no braço e fechou os


olhos. Surpreendentemente, em vez de pensamentos sobre sua vida no
Peru e os abusos que ela sofreu, tudo o que ela conseguia pensar era em
Dave. Uma memória em particular ficou gravada em sua mente e ela se
deixou perder por ela brevemente. Era o aniversário de três anos deles, e
Dave tinha feito tudo para fora, não apenas preparando uma refeição
chique para os dois, mas também preparando uma surpresa.

— Vamos, diga-me para onde estamos indo. — Implorou Raven.

— Não, você só vai ter que esperar. — Disse Dave com uma
risada. Eles estavam em seu carro, e ele segurava a mão dela enquanto
dirigia.

— Eu odeio esperar. — Disse ela com um beicinho.

Dez minutos depois, eles pararam no estacionamento de seu bar,


The Pit.

— Seriamente? Estamos no bar?

Ele deu uma risadinha. — Sim.


— E eu aqui pensando que iria para algum lugar legal. — Ela
reclamou.

Dave deu a volta para o lado dela do carro e pegou sua mão
enquanto ela descia. — Você é uma duvidosa. — Disse ele com um
sorriso. — Quando eu já te decepcionei?

— Nunca. — Disse ela sem hesitar.

— Exatamente. Agora vamos.

Raven seguiu atrás de seu marido e teve tempo para verificar não
apenas sua bunda, mas seus ombros largos e os braços que ela nunca se
cansaria de olhar. Ele era tão forte que a fazia se sentir feminina e delicada
toda vez que estava perto dele. Ela amava como ele podia jogá-la por cima
do ombro ou movê-la exatamente onde queria na cama, sem quebrar um
suor.

Ela também amava algumas das posições mais aventureiras que


eles tentaram, porque ela podia confiar que ele não a largaria.

Dave abriu a porta do bar e fez um gesto para que ela entrasse na
frente dele. Lançando-lhe um sorriso sedutor, ela entrou - e parou com o
que viu.

Alguém pendurou luzes brancas de Natal em toda a parte da frente


do bar. Enquanto ela estava lá, perplexa com a beleza e transformação do
espaço com as luzes piscando, Dave foi até a jukebox e apertou um
botão. A canção do casamento deles encheu o ar ... E tudo o que Raven
pôde fazer foi fechar os olhos e tentar não chorar.

— Dance comigo? — Perguntou Dave.

Raven abriu os olhos e viu seu marido parado na frente dela,


estendendo a mão. Ela o pegou, e ele envolveu seu outro braço em volta
da cintura dela, puxando-a para si até que estivessem colados do quadril
ao peito. Ela deitou a cabeça em seu ombro enquanto eles balançavam
para frente e para trás.

— Não é chique, mas eu não conseguia pensar em nada que eu


quisesse fazer mais do que segurar você em meus braços. Eu não queria
te levar a um show onde estaríamos cercados por estranhos e eu não
poderia beijar você quando quisesse. — Ele disse suavemente.

— Não houve muitos beijos ainda. — Disse Raven com um pequeno


sorriso.

Com os olhos brilhando, Dave se inclinou lentamente e roçou os


lábios nos dela. Uma vez, depois duas.

Sua barba fazia cócegas, mas ela adorava. — Pare de provocar. —


Raven reclamou.

Ela viu suas pupilas dilatarem por apenas um momento antes de sua
cabeça cair, e ele a beijou tão apaixonadamente que seus joelhos
fraquejaram. Mas é claro, Dave não a deixou cair. Ele imediatamente a
pegou no colo, sem interromper o beijo, e a carregou para a sala dos
fundos do bar, onde havia fileiras e mais fileiras de mesas de sinuca. Ele a
colocou na mais próxima e começou a mostrar a ela exatamente o quanto
ele a amava.

Em seguida, ele a levou para seu escritório na sala dos fundos e se


sentou em sua cadeira enquanto ela lhe dava um boquete de outro
mundo. Então ele a levou de volta para o bar com as luzes cintilantes e
dançou com ela por mais uma hora. A certa altura, ele pegou a câmera
Polaroid que mantinha atrás do bar, que usava para tirar fotos de seus
clientes, e enquanto ela ria histericamente, ele a tirou.

Ele orgulhosamente o prendeu atrás do bar e disse a ela que agora,


quando ele estivesse trabalhando, tudo o que ele precisava fazer era se
virar para ver seu lindo rosto sempre que quisesse.
A noite foi mágica. Eles falaram sobre expandir sua família. Ambos
queriam pelo menos dois filhos, mas ela não se importaria com três. Eles
fizeram amor em casa naquela noite sem usar camisinha pela primeira
vez. Com a certeza de que seu amor duraria para sempre e, com sorte,
em um ano, eles estariam expandindo esse amor para incluir um bebê.

Uma lágrima caiu dos olhos de Mags antes que ela pudesse enxugá-
la. Claro, não foi assim que as coisas aconteceram. Não houve bebês,
embora eles tenham tentado muito fazê-los, e ela foi roubada durante o
que tinha sido uma das viagens mais divertidas de sua vida. Ela estava tão
animada para visitar Vegas. Ela nunca teria imaginado que uma viagem
inocente para comemorar seu aniversário terminaria tão horrivelmente.

Mags ouviu atentamente e não ouviu nada de fora de sua


cabana. Ela sabia que Dave não teria partido. Ela se sentiu culpada por ele
estar dormindo ao ar livre na terra dura. Mas também se sentia... Bem. Ela
nunca esperou ver seu marido novamente. Resignou-se a viver o resto de
sua vida aqui no Peru. Ela queria se agarrar a ele, dizer-lhe para levá-la
embora, que ela rezava para vê-lo novamente todos os dias desde que se
separaram. Mas ela não conseguia. Não só ela não era a mesma pessoa
por quem ele se apaixonou, ela tinha... Responsabilidades aqui.

Erguendo a cabeça, Mags olhou ao redor da cabana. Ela mal


conseguia distinguir as outras mulheres, mas sabia que elas estavam
lá. Suspirando, ela deitou a cabeça para baixo. Ver Dave todos os dias a
deixaria fraca. Mais fraca do que ela já estava. Ela não podia deixá-lo
convencê-la a ir com ele... E ela sabia que ele tentaria. Ela amava o homem
com tudo o que tinha... Mas ele não pertencia a este mundo.

Tomando uma das decisões mais difíceis que ela já teve que fazer,
Mags fechou os olhos. Amanhã, ela escaparia pela parte de trás da
cabana mais cedo, antes que Dave acordasse. Ela ficaria longe o dia
todo. Se ele não podia falar com ela, ele não poderia convencê-la a voltar
para o Colorado.
Eventualmente, ele receberia a mensagem e iria embora. Era o
melhor. Para ele e para ela.

Ela se recusou a admitir o quão deprimente era esse pensamento.


Dave suspirou de frustração. Ele estava em Lima por uma semana
inteira, e ele só viu Raven um pequeno punhado de vezes. Ela o estava
evitando - e isso estava começando a irritá-lo. Ele estava tentando ser
paciente, dando a ela espaço para trabalhar com o fato de que ele estava
lá, que ele a tinha encontrado, mas o resultado final era que a recusa dela
em estar em qualquer lugar perto dele o destruiu.

Quando ele imaginou como seria seu reencontro com sua esposa,
em nenhum momento ele pensou que ela não ficaria emocionada. Ele
imaginou que as coisas poderiam ser estranhas, que ela ficaria inquieta,
mas eventualmente ela perceberia o quão sortuda ela tinha sido, e eles
voltariam para o Colorado. Mas é claro que isso estava longe de ser como
as coisas estavam acontecendo, e Dave não sabia o que fazer a respeito.

Ele passou todas as noites desde que chegou dormindo fora da


cabana que Raven chamava de casa. E todas as manhãs, quando uma
das outras mulheres abria a porta de metal, ele descobria que sua esposa
havia escapado para não ter que falar com ele.

As outras mulheres pareciam gostar dele. Mesmo que eles não


pudessem exatamente ter conversas profundas, elas encontraram
maneiras de se comunicar. Os Mountain Mercenaries traziam comida e
água todas as manhãs, e Teresa e as outras mulheres cozinhavam. Elas
riram e sorriram e pareciam genuinamente felizes por tê-los ali. Pelo
contrário, Dave via a esposa apenas alguns minutos todas as noites. Ela
sempre parecia estressada e abatida, e ele queria levá-la para o motel e
forçá-la a falar com ele.
Ele percebeu depois de acordar na primeira manhã que havia um
caminho de volta para fora da cabana, mas em vez de ter um dos outros
caras atrás dela, ele decidiu dar a ela algum espaço para trabalhar com o
que quer que estivesse fodendo com a cabeça dela... Mas agora, vários
dias depois, ele terminou com isso.

Zara veio tomar café da manhã com as mulheres esta manhã -


escoltada por três membros da equipe de Dave, ninguém ficava sozinho
no bairro - e ela alegremente atuava como tradutora. Ela parecia surpresa
e consternada ao saber que Raven tinha ido embora todos os dias daquela
semana. De acordo com as outras mulheres, ela nunca falava sobre onde
estivera, mas era óbvio que ela não estava comendo bem e parecia estar
no fim da linha.

— Como estão progredindo os detalhes sobre a clinica? — Dave


perguntou a Zara quando eles estavam sentados no chão sujo da cabana
comendo.

— Bem. Daniela está emocionada. Diz que há uma casa maior não
muito longe daquela que ela está usando agora que seria perfeita.

Uma ideia atingiu Dave então. — O que vai acontecer com a casa
que ela está usando agora?

Zara encolheu os ombros. — Eu acho que outra pessoa vai se


mudar.

Dave se inclinou na direção dela. — Eu quero comprar isso.

Zara piscou surpresa. — O que?

— Eu quero comprar isso. Teresa, Bonita, Gabriella, Carmen e Maria


podem morar nela. Vai ser mais seguro do que isso. Pelo menos tem uma
porta com fechadura, não tem?
— Eu já estava pensando em comprar uma casa para elas. —
Respondeu Zara.

— Bem, agora você não precisa. Voce pode economizar seu


dinheiro. Ou dê para Daniela para a nova clínica. — Dave disse a ela, sem
recuar.

Zara olhou para ele por um momento, então finalmente concordou.

As outras mulheres olharam entre ele e Zara, tentando acompanhar


a conversa e falhando. Mas quando Dave disse seus nomes, Bonita fez
uma pergunta a Zara.

Ela se virou para elas e respondeu em espanhol.

Todas as cinco mulheres olharam para Dave em choque. Seus olhos


estavam arregalados e a boca de Carmen estava aberta.

— Porque? — Maria perguntou baixinho.

— Por quê? Porque seria mais seguro. — Explicou Dave como


Zara. — Porque nenhuma mulher deve ter medo de fechar os olhos para
dormir à noite. Porque vocês são amigas de Raven. Porque vocês
precisam de uma pausa, e eu posso me dar ao luxo de dar isso a vocês. Eu
não estava lá para ajudar quando você mais precisava, mas posso ajudar
agora, e irei.

Gabriella chorava baixinho, e as outras mulheres pareciam prestes


a desatar a chorar.

Dave ficou feliz em ajudar. Ele não estava fazendo isso para tentar
subornar o afeto de sua esposa. Inferno, ela nem estava dando há ele
tempo para fazer mais do que dizer olá à noite. Mas essas mulheres eram
suas amigas. Elas ajudaram sua Raven e Zara, e isso significava mais para
ele do que qualquer coisa. Ele faria o que fosse necessário para tentar se
certificar de que estavam seguras e em um ambiente saudável.
Antes que alguém pudesse dizer qualquer outra coisa, houve gritos
do lado de fora. De repente, todas as mulheres pareceram apavoradas.

— O que está acontecendo?— Dave perguntou a Zara.

— Ruben. — Ela sussurrou. — Talvez eles não saibam que estamos


aqui.

Mas logo depois que Zara falou, uma voz masculina soou, e Dave
reconheceu o nome de Raven.

Suas mãos se fecharam em punhos e ele se levantou, feliz que o


confronto que ele esperava há muito tempo finalmente estava
acontecendo.

Zara pegou seu telefone, provavelmente para ligar para Meat.

— Fiquem aqui. — Ele ordenou às mulheres, e apontou para o chão


para enfatizar seu ponto, já que elas não podiam entendê-lo.

Ninguém moveu um músculo quando ele deslizou a porta de metal e


saiu. Ele teve tempo para fechar a porta atrás de si. Ele sabia que se as
coisas saíssem do controle, Zara e as outras poderiam sair pelos fundos
da cabana, então ele não estava muito preocupado com elas ficarem
presas dentro do abrigo em ruínas.

Olhando para cima, Dave viu um grupo de homens esguios vestindo


roupas sujas e sorrisos em seus rostos. Devia ser Ruben e alguns de seus
comparsas. Eles eram os valentões do bairro, e a polícia e os militares não
pareciam se importar com o que eles faziam. Zara tinha certeza de que
estavam sendo pagos pela Del Rio para ajudar no rapto de crianças e
mulheres indefesas também. Essa foi uma das razões pelas quais a última
missão dos Mountain Mercenaries em Lima quase falhou
espetacularmente. Esses homens e o grupo militar com o qual
trabalhavam não tinham intenção de permitir que a equipe tivesse sucesso
no resgate das mulheres e crianças que deveriam ser entregues a Del Rio.

Esse pensamento irritou Dave ainda mais. Como se atrevem esses


homens a vender suas próprias coisas para Del Rio? Como eles se
sentiriam se fossem suas esposas ou filhos que fossem vendidos? Então,
novamente, era óbvio que esses valentões não eram casados e,
definitivamente, não tinham filhos que amavam e estimavam. Eles eram
muito cheios de si para se preocupar com alguém, e obviamente ansiavam
pelo poder que vinha de serem tiranos mesquinhos.

Dave estreitou os olhos para os homens. Estes foram os que


machucaram Meat e Black. Ele sentiu em seus ossos. Eles também
atormentaram a esposa e as amigas dela, sem falar nos outros moradores
do bairro. Ele não tinha medo deles, de jeito nenhum. Na verdade, ele
precisava de uma saída útil para sua frustração.

O homem na frente dos outros - Dave presumiu que fosse o próprio


Ruben - disse algo em espanhol, e Dave apenas cruzou os braços sobre o
peito. Ele não precisava saber o que eles estavam dizendo, ele os
entendeu pelo tom deles. Eles não estavam felizes por ele estar aqui e
queriam assustá-lo e fazê-lo ir embora. Bem, merda difícil. Ele não iria
embora sem sua esposa, e já que ela não parecia querer nada com ele,
ele aparentemente ficaria aqui por um longo tempo.

Ele franziu a testa para eles e não recuou, o que pareceu irritá-los
ainda mais. Em vez de ouvir suas palavras, que ele não conseguia
entender de qualquer maneira, Dave se concentrou em sua linguagem
corporal.

Ruben gesticulou para dois dos homens, e eles se espalharam,


tentando encaixá-lo. Dave deixou cair os braços e girou a cabeça,
trabalhando para fora as dobras em seu pescoço por dormir no chão
duro. Ele estava ansioso para a próxima luta. Ele não malhava há algum
tempo, e bater nesses homens ajudaria a amenizar sua frustração e raiva
sobre a situação em que se encontrava. Black e Meat podem ter sido
pegos de surpresa por Ruben e sua gangue alguns meses atrás, mas Dave
estava mais do que pronto.

O homem à sua direita deu o primeiro passo, saltando na direção de


Dave com um grito. Ele segurou um galho de árvore grosso e o balançou
na cabeça. Dave se virou para o golpe, fazendo a arma literalmente
ricochetear em suas costas, antes de virar e agarrar o homem menor pelo
pescoço e acertar seu outro punho em seu rosto. O homem caiu como
uma pedra - e depois disso, a luta começou.

Dave lutou como um possesso. Estas eram as pessoas que estavam


aterrorizando Raven e suas amigas por anos. Eles pensavam que eram os
principais governantes do bairro e não pensavam duas vezes antes de
pegar o que queriam, fosse comida, dinheiro, posses ou mesmo mulheres.

Dave não era um soldado, nunca havia estudado combate corpo a


corpo, mas era um homem forte, dono de um bar e tinha lidado com sua
cota de homens violentos e bêbados. Ele também estava determinado a
ensinar uma lição a esses idiotas. Ele se sentia como se tivesse a força de
dez homens. Cada vez que batia em alguém, ele imaginava que era Del
Rio - ou um dos homens que violou sua esposa.

Ele socou e chutou Ruben e seus amigos, sentindo satisfação com


cada golpe acertado. Sua camisa estava coberta de sangue pelo contato
com a carne vulnerável, e ele sabia que os nós dos dedos estavam
rasgados em pedaços, mas ainda assim ele não parou.

Ele não estava perdendo a luta, mas também não estava ganhando
muito terreno... Principalmente porque assim que ele nocauteasse um dos
punks, outro entraria na briga.

Por quanto tempo Dave lutou, ele não sabia, mas finalmente, com o
canto do olho, ele viu Meat, Ball e Gray correndo pelo beco em sua
direção. Eles estavam patrulhando o bairro e provavelmente foram
alertados pelo telefonema de Zara.

Os reforços chegaram e deram a Dave uma nova explosão de


energia.

Com sua chegada, a vantagem rapidamente se voltou para os


Mountain Mercenaries. Cinco minutos depois, os agressores que
permaneceram de pé fugiram. Havia vários homens deitados
inconscientes na terra a seus pés, e Gray segurava um Ruben
semiconsciente com um aperto inquebrável de seu bíceps.

Dave ouviu a porta de metal atrás dele se abrir e nem se incomodou


em olhar para trás para ver qual das mulheres tinha sido corajosa o
suficiente para se arriscar. Ele caminhou até Ruben, agarrou seu pescoço
com força e o forçou a encontrar seu olhar.

— Fique longe da minha mulher. — Dave rosnou.

Zara traduziu suas palavras atrás dele. Dave não ficou surpreso ao
saber que foi ela quem saiu da cabana. Ela provavelmente estava
assistindo o tempo todo. Graças a Deus ela foi inteligente o suficiente para
não sair e se juntar a eles, no entanto. Dave a teria protegido ao invés de
se concentrar em bater em alguém que se aproximasse o suficiente para
tocá-lo.

Ruben olhou para Dave.

— Quero dizer. Essas mulheres estão fora dos limites para


você. Agora e sempre. Se você olhar para elas com os olhos vesgos
novamente, você vai se arrepender.

Ruben zombou e disse algo em espanhol.


Zara traduzido. — Você cometeu um erro hoje, gringo. Eu tenho
poder aqui. No segundo que você for embora, as mulheres também
irão. Del Rio vai se certificar disso.

Dave apertou o pescoço de Ruben até que o rosto do outro homem


ficou roxo. — Me escute, e escute bem. — Dave disse em um tom baixo e
mortal. — Sei que você se considera um figurão aqui no bairro, mas tenho
mais poder do que você jamais terá. Tenho amigos em todo o
planeta. Você acha que está seguro porque tem amigos no exército
peruano? Eles não são nada comparados aos meus amigos. Você tem
uma vida muito confortável no bairro, mas posso mandar você e todos os
seus amigos para a prisão com um telefonema. Contanto que você deixe
meus amigos em paz, você pode continuar a ser o grande homem em seu
pequeno mundo. Mas se você olhar para elas da maneira errada, e eu
ouvir sobre isso, você está feito.

Demorou um pouco para Zara traduzir, mas Dave viu o segundo que
suas palavras foram registradas com Ruben. Algumas das bravatas
deixaram o homem. Ele continuou a encarar, mas Dave podia ver a
inquietação em seus olhos.

— E Del Rio é um covarde. Ele se esconde atrás de pessoas


como você, confia em você para fazer o trabalho sujo enquanto ele está
sentado em sua enorme mansão com mais dinheiro do que ele sabe o que
fazer. Você é um idiota por cumprir suas ordens. Ouça com atenção -
meus homens e eu não matamos nenhum de seus amigos hoje, mas não
se engane, se formos atacados novamente, não hesitaremos em fazer o
que precisa ser feito. E aqueles contatos que mencionei? Eles farão com
que fiquemos fora da prisão - então faça sua escolha com cuidado.

No segundo que Zara terminou de traduzir, Dave empurrou Ruben


para longe dele e Gray o deixou ir ao mesmo tempo. Ruben caiu
esparramado no chão e ficou no chão por um longo momento antes de se
levantar e ir embora sem olhar para seus companheiros caídos, ainda
inconscientes na terra.

Zara correu até Meat e colocou os braços em volta dele.

— Onde estão as outras mulheres? — Perguntou Dave.

— Elas saíram pelos fundos. — Disse Zara.

— Por que você não foi também? — Meat repreendeu.

Ela olhou para ele. — Como se eu fosse sair.

Meat balançou a cabeça e revirou os olhos com a resposta teimosa


dela.

Dave balançou as mãos, ignorando a dor que as percorria, e


começou a caminhar pelo beco.

— Onde você vai? — Ball chamou.

— Entrar em contato com alguns de meus contatos. — Disse Dave


sem olhar para trás. — As mulheres precisam sair daqui. Agora. A nova
clínica precisa acontecer agora para que Daniela possa se mudar e as
outras possam ficar com sua casa. Estou cansado de ficar na ponta dos
pés perto de todo mundo. Essa merda acaba hoje - e aquela clínica estará
pronta e funcionando mais cedo ou mais tarde. Não é por isso que viemos,
mas eu serei amaldiçoado se eu deixar as amigas de Raven se defenderem
sozinhas quando nós partirmos.

Ele se desligou dos homens que falavam atrás dele enquanto se


dirigiam para a saída do bairro.

Raven estaria fora o dia todo, como tinha sido sua norma na última
semana, mas Dave não deu mais espaço para ela. Ele precisava dela em
casa. Segura. No Colorado. Ele disse a ela que ficaria no Peru se isso
fosse o que ela queria, mas essa opção não estava mais em questão.

Ele não ia ficar aqui, e nem ela.

Ela estava sozinha por muito tempo, mas isso estava terminado. Ela
era sua esposa. Ele a amava. Eles poderiam resolver todo o resto... Mas
ela tinha que parar de se esconder dele. Esta noite, quando ela
reaparecesse de qualquer esconderijo para onde ela desaparecia todos os
dias, ele se certificaria de que ela soubesse, sem dúvida, o que ele sentia
por ela, e que ele não iria deixá-la afastá-lo mais. Eles poderiam resolver o
que ela estava escondendo.

Nada o afastaria de sua esposa. Nada.


Mags ignorou o rosnar de sua barriga enquanto ela se arrastava pelo
bairro. Ela ficava longe da cabana mais e mais a cada dia porque sentia a
atração por seu marido mais forte a cada segundo que ele ficava. Mesmo
que ela não tivesse passado muito tempo com ele, tudo o que ele fez desde
que explodiu em sua vida a lembrava por que ela o amava tanto.

Ele era protetor e gentil. Leal e forte. Ele mudou, sim, mas,
novamente, ela também. Para ele, no entanto, todas as suas boas
características pareciam ter ficado mais intensas. Dormindo na sujeira do
lado de fora da cabana em que ela estava hospedada? Isso era loucura,
mas nem pareceu pensar duas vezes.

Ela sabia que era apenas uma questão de tempo antes de ceder e
dizer a ele o quanto ainda o amava e o quanto estava assustada. Ela
pensou que se o evitasse por tempo suficiente, ele acabaria recebendo a
mensagem e a deixaria em paz.

Mas ela estava se enganando. Ela sabia que estava. Não havia como
Dave partir. Agora não. Não quando ele a encontrou depois de dez longos
anos. Esse não era o tipo de homem que ele era. Mesmo se ele tivesse se
casado novamente e tivesse uma família, ele ainda faria tudo ao seu
alcance para trazê-la de volta aos Estados Unidos, para se certificar de
que ela estava segura. Mas saber que ele não tinha família, que não havia
mudado, tornava ainda mais óbvio que ele nunca iria deixá-la aqui. Que
ele faria o que fosse necessário para que ela falasse com ele.

Ela estava tão em conflito. A verdade era que ela não queria que
Dave fosse embora... Mas ela não tinha certeza se era corajosa o
suficiente para dizer por que ela tinha que ficar.
O sol havia se posto e o bairro estava escuro, mas ela subiu o beco
até o barraco com facilidade. Estranhamente, ela podia ouvir risos vindos
de algumas das cabanas perto dela. Ela não conseguia se lembrar da
última vez que tinha ouvido felicidade em seu mundo sombrio e
deprimente.

E pensando bem, ela também não tinha visto Ruben ou seus amigos
por perto. Normalmente ela veria pelo menos um deles ao entrar no
bairro. Eles vigiavam todos que entravam e saíam, mas ela não tinha visto
nenhum olhar curioso esta noite.

Um pouco preocupada, Mags passou pela entrada dos fundos da


casa que ela dividia com suas amigas - e parou no meio do caminho.

Dave estava lá. Ele não estava dormindo do lado de fora como na
semana passada. Ele estava sentado no meio do chão jogando cartas com
Gabriella, Maria e Teresa, enquanto Bonita e Carmen estavam sentadas
perto, costurando. Todos sorriam e pareciam estar se divertindo, embora
não conseguissem entender uma palavra do que Dave dizia.

No segundo que o grupo a viu, porém, os sorrisos fugiram de seus


rostos, e elas olharam para ela com preocupação.

— Você está bem? — Carmen perguntou.

— Claro. Por que eu não estaria? — Mags perguntou. Ela não


conseguia parar de olhar para Dave. Seus olhos foram naturalmente
atraídos para ele. E quando ela o examinou de perto na luz fraca, seu
coração parou por apenas um segundo antes de bater em dobro.

Ele estava com um olho roxo e parecia o início de hematomas no


rosto. Seus dedos estavam partidos e era mais do que óbvio que ele
estivera em uma briga.
— O que aconteceu? — Ela perguntou em espanhol, depois em
inglês.

Dave não respondeu, apenas manteve seu olhar intenso sobre ela,
e Mags se sentiu como se estivesse presa ao local.

— Ruben decidiu que não queria assistir mais e atacou Dave. —


Informou Teresa a Mags. — Não ficamos para ver, mas Zara disse que ele
foi incrível. Ele enfrentou Ruben, Eberto e Alfonso sozinho. Então Marcus
e Fortuno e alguns outros se juntaram a nós. Mas Zara chamou seu
homem, e eles vieram correndo. Eles bateram neles, Mags! Foi ótimo!
— As palavras de Teresa foram todas entrelaçadas enquanto ela contava
a história o mais rápido que podia.

Os olhos de Mags percorreram Dave da cabeça aos pés, querendo


ter certeza de que ele realmente estava bem. Ruben era um idiota e um
valentão típico, e quando ele queria, ele definitivamente poderia tornar a
vida um inferno no bairro. Ela não conseguia decidir se o que Dave tinha
feito tornaria as coisas melhores ou piores.

Mas então ela se lembrou da risada que ouviu. Parecia que, por
enquanto, as coisas estavam melhores.

— Precisamos conversar. — Dave disse enquanto se levantava


lentamente.

Mags sempre amou a maneira como seu marido parecia elevar-se


sobre ela. Com os seus 1.90, ele era um homem alto, mas com seus
músculos e força, ele parecia ainda maior. Isso sempre a fez se sentir
segura... Mas depois de tudo que ela passou, seu tamanho a intimidava
agora.

Como se soubesse como ela estava se sentindo, Dave deu um passo


para trás. — Eu não vou machucar você. — Disse ele, lenta e
cuidadosamente.
— Eu sei. — Mags respondeu imediatamente.

Dave balançou a cabeça. — Você obviamente não sabe, se sua


linguagem corporal é alguma indicação.

Forçando-se a relaxar, Mags balançou a cabeça tristemente. — Não


sou a mesma pessoa de dez anos atrás. — Disse ela.

— Nem eu. — Ele respondeu. — Mas meu amor por você não
mudou. Na verdade, acho que cresceu em intensidade. Passei cada
momento dos últimos dez anos procurando por você. Tanto tempo que é
difícil acreditar que você está realmente parada na minha frente. Embora
eu só agora esteja descobrindo que você pode estar aqui fisicamente, mas
mentalmente, você ainda está perdida para mim.

Mags olhou para o homem que ela amava mais do que quase tudo
e sabia que ela o estava machucando. Sabia que isso aconteceria. Essa
foi uma das razões pelas quais ela não tentou entrar em contato com ele
depois que foi dispensada do emprego de Del Rio. Ela estava tão confusa
da cabeça que nem conseguia se lembrar de quem era antes de vir para
o Peru. Sua vida como seguradora e esposa de Dave era tão estranha para
ela quanto sua vida atual teria sido para ela mesma.

— Fale comigo. — Implorou Dave. — Diga-me por que você está me


evitando. Por que você não quer sair daqui? O que é isso? O que a
mantém no Peru?

Não era a hora nem o lugar para ter essa conversa, mas Mags não
sabia o que fazer para impedi-la. As outras mulheres estavam observando
ela e Dave cuidadosamente, suas cabeças indo e voltando enquanto cada
um deles falava. Mesmo que elas não pudessem entender o que estava
sendo dito, a emoção por trás de suas palavras era clara.

Mags balançou a cabeça. Ela não podia contar a ele. Não podia
suportar ver o amor em seus olhos se transformar em nojo.
— Droga, Raven, passei a última década revirando todas as pedras
que pude para encontrar você! Aprendi mais sobre o comércio do sexo do
que jamais quis saber. Eu resgatei centenas de mulheres e crianças e os
reuni com suas famílias. Eu vi alguns florescer depois de voltar para casa,
e outros que não pareciam se aclimatar. Algumas mulheres voltaram à
prostituição quando voltaram simplesmente porque não conseguiam lidar
com isso.

Mags se encolheu.

A voz de Dave suavizou. — Eu sei o que aconteceu com você,


querida. E eu desejo a Deus que não tivesse. Eu quero matar cada filho da
puta que colocou as mãos em você. Mas nada disso muda o que
sinto. Você é minha esposa. A mulher que prometi amar nos bons e nos
maus momentos. E se você acha que eu simplesmente vou me virar e ir
embora, você está se iludindo.

— Você não tem ideia do que eu passei. — Disse ela amargamente.

— Infelizmente, eu sei. — Dave disse tristemente. — Logo depois


que você foi levada... Eles provavelmente ameaçaram a mim e a seus
pais. Você pensou que se fizesse o que eles diziam, você ficaria bem. Eu
pagaria qualquer resgate que eles exigissem e você estaria em casa em
alguns dias. Mas provavelmente eles drogaram você. Quando você
finalmente voltou a si, você estava aqui. Embora você não tivesse ideia de
onde 'aqui' estava. Você foi estuprada repetidamente no primeiro mês ou
dois, e provavelmente lutou como o inferno todas às
vezes. Eventualmente, você percebeu que eu não estava vindo por
você. Que a situação em que você estava era permanente. Depois de um
tempo, ficou mais fácil apenas fazer o que ele mandava. Que você
apanharia menos e talvez até ganhasse mais comida se
obedecesse. Exceto, obedecer corroeu sua alma... Mas você ainda fez
isso de qualquer maneira. Com o passar dos anos, você provavelmente
pensou menos e menos na sua antiga vida, apenas em enfrentar cada
dia. Você pode ter obtido um tratamento melhor por meio de sua
obediência e se estabeleceu em sua vida como escrava e
prisioneira. Então, um dia, você era muito velha ou muito chata para atrair
os clientes. Eles estavam fartos e queriam parceiras mais jovens e
emocionantes. Você foi chutada para o meio-fio sem nenhum lugar para ir
e nenhuma maneira de entrar em contato comigo ou com qualquer outra
pessoa de sua antiga vida. Então você se contentou com o que tinha. Fez
amigos, acomodou-se. Mas, Raven, esta não é mais sua vida. Estou
aqui. Vou te levar para casa, e vamos descobrir como ajudá-la a viver sua
vida novamente.

Mags ficava cada vez mais irritada enquanto Dave falava. Sim, ele
estava mais certo. Assustadoramente certo, na verdade, sobre como a
maior parte de sua vida foi depois que ela foi tomada.

Mas ele estava muito equivocado sobre por que e como ela saiu do
negócio. Del Rio não a havia chutado de forma alguma para o meio-fio,
como ela gostaria que ele tivesse feito. Ela estava tão ligada a ele agora
como na primeira noite em que foi trancada em um quarto em seu
complexo.

Mas foi a narrativa casual de seu marido sobre o pesadelo que ela
viveu que a enfureceu mais. Ter seu próprio inferno pessoal reduzido a
dois minutos de narrativa era deprimente.

Ela supôs que deveria estar feliz por ele não estar falando sem parar
sobre seu inferno pessoal.

— Você pode ter aprendido muito sobre tráfico ao longo dos anos,
mas não sou um de seus casos de caridade. Eu não sou uma vítima. —Ela
sibilou.

— Então fale comigo. — Dave retrucou.

— Você não entenderia.


— Não faça isso. — Disse Dave, parecendo irritado.

Foi a primeira vez que ele falou com ela de alguma forma que
ilustrasse sua frustração e, por algum motivo, Mags preferia. Quase
gostou da ideia de que estava perdendo o controle.

— Não faça o quê? — Ela perguntou.

— Não me exclua. Rezei todas as noites para que amanhã fosse o


dia em que eu encontraria você, e quando Zara te reconheceu naquela
foto, eu finalmente tive um pingo de esperança de que desta vez, eu
realmente encontraria.

— Dave, e se eu não quisesse ser encontrada? Você alguma vez


pensou nisso?

— Não. — Sua resposta foi imediata. — Você queria ser encontrada


tanto quanto eu queria te encontrar. Mas não sei o que você está
escondendo de mim. Eu até perguntei a Zara, e ela disse que não sabia.

— Você interrogou minhas amigas? — Mags perguntou, querendo


gritar para ele largar, deixar pra lá.

— Essa é uma palavra muito dura. Sim, conversei com


elas. Perguntei a elas o que sabiam sobre você e para onde você
desaparece durante o dia. — Seu marido disse sem qualquer traço de
culpa em seu tom. — Mas você tem que saber, eu farei o que for preciso
para descobrir o que está acontecendo e para mantê-la segura.

Dave tinha ficado muito mais teimoso com o passar dos anos. Mags
não se lembrava de ele ter sido tão insistente quando eles se casaram. Ele
era amoroso e não a pressionava quando ela estava mal-humorada ou
simplesmente cansada e não queria falar. Ela achou a persistência dele
frustrante e não sabia como tirá-lo de cima dela. Como fazê-lo sair.

Exceto talvez por uma maneira...


Ela poderia lhe contar a verdade.

Sentindo-se fria e morta por dentro, ela perguntou: — Você quer


saber o que está acontecendo, Dave?

— Sim. — Ele disse imediatamente.

— Você não será capaz de lidar com isso. — Ela o avisou.

— Me teste.

Ele estava tão certo de que nada que ela pudesse dizer o afetaria, e
isso irritou Mags. Ele não tinha ideia do que ela havia passado. Não
importava com quantas outras vítimas ele conversou. Ele não sabia
sobre suas escolhas. Os sacrifícios que ela teve que fazer ao longo dos
anos. Dave achava que sabia tudo sobre tráfico sexual e como o mundo
funcionava - mas ele não sabia o que tinha acontecido com ela.

Ela sabia que parte de sua raiva era porque seu marido tinha
conseguido resgatar centenas de outras mulheres e crianças, mas ele não
tinha encontrado ela. Ele estava aqui basicamente por acidente.

Ela também sabia que seus sentimentos eram irracionais. Era óbvio
que Dave tinha feito tudo o que podia para encontrá-la, que, no fundo, ela
ainda estava lutando para aceitar o modo como sua vida tinha acabado.

Então ela atacou a única pessoa que, apesar de tudo, ainda estava
cem por cento do lado dela.

— Bem. Não fui demitida da operação de Del Rio porque era muito
velha, embora seja esse o caso. Fiz um trato com ele. Um acordo com o
diabo.

Dave se acalmou - e pela primeira vez, ela viu a incerteza invadir seu
olhar. — Que tipo de negócio? — Ele perguntou.
— Prometi que permitiria que ele aumentasse o número de clientes
que atendia todos os dias durante sete meses, em troca de ele me deixar
aposentar.

Dave franziu a testa e engoliu em seco. — E? Tem que haver mais


do que isso. Homens como Del Rio não permitem que seus funcionários
tomem essas decisões.

Ele estava certo. E isso a irritou novamente. — Sim, bem, as


'funcionárias' de Del Rio geralmente não conseguem manter o bebê com o
qual um de seus clientes as engravidou. — Mags respondeu.

Lá. Ela disse isso.

E ela teve exatamente a reação que esperava.

Os olhos de Dave se arregalaram em choque e seu queixo caiu. —


Bebê? — Ele perguntou.

Com a palavra, as outras mulheres se endireitaram e ficaram


boquiabertas com Mags.

Ela as ignorou e manteve o olhar em seu marido. — Sim, Dave. Eu


engravidei. Foi um milagre.

E foi. Ela e Dave haviam tentado por dois anos ter um filho, sem
sorte. Os médicos disseram que havia um problema tanto com a contagem
de esperma de Dave quanto com sua fertilidade. As chances de eles terem
um filho juntos eram extremamente baixas. Isso tinha devastado os dois,
mas depois de alguns anos, eles decidiram tentar a rota de adoção.

Mas então ela foi levada, e foi isso.

— Quando? — Dave sussurrou.


Mags encolheu os ombros. — Del Rio não exige que os clientes
usem preservativo, embora a maioria usasse quando eu
insistia. Aparentemente, um dos homens que pagou pelo privilégio de
estar comigo conseguiu o impossível - mais dinheiro para ele, até meu
nono mês. Você não acreditaria na quantidade de caras que têm fantasias
de ficar com uma garota grávida.

Ela estava sendo deliberadamente grosseira agora. Ela


simplesmente não conseguia parar. Ela queria machucar Dave. E ela não
tinha certeza do por que. Talvez porque ela soube depois dessa conversa,
ele provavelmente voltaria para os Estados Unidos o mais rápido
possível. Ela ficaria sozinha novamente. Não havia como ele querer ficar
com ela depois de ouvir tudo isso. E ela precisava que ele fosse
embora. Precisava parar de pensar no passado e sonhar com um futuro
impossível. Ela era uma ex-prostituta, não importava que ela não quisesse
participar da operação doente de Del Rio em primeiro lugar.

— Então, deixei tantos homens quantos Del Rio quisesse em minha


cama por sete longos meses - e fingi adorar. Quando chegou a hora de eu
ter o bebê, ele me trancou no meu quarto e disse que se eu sobrevivesse
ao nascimento, ele consideraria me deixar ir. Eu estava tão assustada...
Não tinha ideia do que diabos estava fazendo. Mas eu consegui. Meu filho
nasceu e era perfeito, do topo da cabeça às pontas dos pés.

— Onde ele está agora? — Dave perguntou em um tom


assustadoramente moderado.

Essa foi a parte mais difícil de todas. A parte que deixou Mags tão
louca, ela poderia literalmente matar Del Rio com as próprias mãos.

— Del Rio o tem. Ele disse que eu poderia ir embora, mas não
poderia levar meu bebê comigo. Ele o tem em uma casa não muito longe
de seu complexo. Ele está sendo criado por algumas das outras mulheres
que trabalham para Del Rio. Ele também tem alguém o vigiando vinte e
quatro horas por dia. Ele é tão prisioneiro quanto eu, exceto que está
recebendo três refeições saudáveis por dia e está seguro. Del Rio não dá
a mínima para David, mas também não quer que eu o tenha. Ele adora
saber que ainda não posso ir embora, apesar de ter ficado longe dele. Ele
me permite ver meu filho três vezes por semana, as segundas, quartas e
sextas-feiras. Não posso comer nada da comida de lá e não posso levar
nada comigo. Meu filho é a coisa mais importante da minha vida - e
eu não vou deixá-lo. Eu não posso.

Enquanto ela falava, o rosto de Dave ficou tão branco quanto à neve
que costumava cair do lado de fora de sua casa em Colorado
Springs. Fazia dez anos desde que Mags tinha visto neve, mas ela se
lembrou de como era um branco ofuscante depois de uma nova
nevasca. E era exatamente assim que seu marido parecia agora.

— Você o chamou de David? — Ele finalmente perguntou.

Merda!

Mags não pretendia deixar isso escapar.

Relutantemente, ela assentiu. — Eu não tenho ideia de quem é o


pai. Fui engravidada por um das centenas de homens que pagaram a Del
Rio para me foder. — Mags disse claramente. — Mas ele é meu. Dei a ele
meu nome de solteira, Crawford. E não sei como, mas um dia desses vou
tirá-lo de lá e vamos viver uma vida sem Del Rio.

— Quantos anos tem ele?

— Quatro e meio.

O olhar de Mags encontrou o de Dave com firmeza. Ela não tinha


vergonha de seu filho. Não importava como ele foi concebido e o que ela
teve que fazer para mantê-lo. Tudo o que importava era que ele era dela,
e ele era um garotinho lindo e feliz.
Sem outra palavra, Dave baixou o olhar, acenou com a cabeça para
as outras mulheres ainda sentadas no chão olhando para ele e Mags, e se
virou em direção à porta.

Então ele deslizou o pedaço de metal para longe da abertura e saiu,


fechando a porta silenciosamente atrás de si.

O estômago de Mags caiu. Ela imediatamente sentiu como se fosse


vomitar.

Dave fez exatamente o que ela disse a si mesma que queria. Ele foi
embora. Ele não conseguia lidar com o fato de ela ter tido um filho de outro
homem... E ela nunca tinha ficado mais devastada.

— O que acabou de acontecer? — Bonita perguntou com urgência.

— Ele se foi. — Mags disse suavemente em espanhol.

— Vá atrás dele! — Teresa pediu.

Mags balançou a cabeça. — Eu não posso.

— Você tem um bebê? — Gabriella perguntou gentilmente.

Olhando para o membro mais jovem de seu pequeno grupo, Mags


assentiu. — Você entendeu?

Gabriella encolheu os ombros. — Algumas coisas. Eu costumava


ouvir você e Zara conversando, e pego palavras aqui e ali. Onde está seu
filho? Por que você não o tem aqui?

Zara teve vontade de chorar. Queria deitar e soluçar sobre como a


vida era injusta, mas as mulheres reunidas ao redor dela haviam
experimentado tanto sofrimento quanto ela. Em vez disso, sem responder
a Gabriella, ela foi até o fogo, onde havia uma refeição solitária ali perto,
embrulhada em papel alumínio, pronta para ser comida.
Durante a última semana, Dave sempre se certificou de trazer algo
para ela comer todas as noites. Mesmo que ela o estivesse evitando e o
tratando como uma merda, ele ainda cuidava dela.

Ela se sentou e lentamente retirou o papel alumínio.

Fechando os olhos, Mags sentiu seu peito ficar mais apertado. Dave
de alguma forma encontrou seus nuggets de frango e batatas fritas. Tinha
sido sua refeição favorita, e ele costumava provocá-la dizendo que ela se
transformaria em um nugget de frango se não cortasse.

A comida estava morna e um pouco mastigável, mas Mags não


achava que ela já provara pepita melhor em sua vida.

Percebendo que finalmente perdeu o homem que ainda amava de


todo o coração, ela começou a contar a suas amigas a história de como
ela veio a ter um filho.

***

Dave entrou no quarto do motel em que não tinha passado muito


tempo, batendo a porta atrás de si com força suficiente para sacudir a
parede.

Ball sentou-se na cama e perguntou: — Que porra é essa? O que há


de errado? Onde está Raven?

— No bairro. — Dave disse brevemente.

— E as outras?

— Lá também.
— Você veio aqui para trocar de roupa ou algo assim? — Ball
perguntou.

— Não. Estou dormindo aqui esta noite. Arrow ainda está lá de vigia.

— Merda. — Disse Ball, e tirou os pés da beira da cama para calçar


as botas. Ele pegou o telefone e clicou em um nome. Em segundos, ele
estava falando. — Grey, é o Ball. Dave está de volta. Não ... Eu não
sei. Arrow está de olho nas mulheres. Eu vou checar com ele. Sim, eu
aprecio isso. Não, ele não disse, e não tenho certeza se agora é a hora de
perguntar. Ok, encontrarei Ro no corredor. Obrigado. Tchau.

Dave nem mesmo vacilou com a conversa do amigo. Ele estava


entorpecido. Ele se deitou na cama e cobriu os olhos com o braço.

Ele não conseguia tirar o olhar devastado no rosto de Raven de sua


cabeça. Ela soou desafiadora o suficiente, e foi quase casual sobre dizer a
ele com quantos homens ela dormiu, mas ele sabia simplesmente por olhar
para ela que cada um havia comido um pouco de sua alma.

Um bebê. Um filho.

Sua esposa teve um filho.

Ele sabia que era um covarde por ir embora sem dizer uma
palavra. Ela provavelmente nunca o perdoaria por esse erro. Mas, naquele
momento, ele não conseguia entender o fato de que sua Raven tinha um
filho.

Era algo que ele queria tão desesperadamente dar a ela, e ele falhou.

Ele a segurou na noite após a visita ao médico e foi informado de que


uma criança biológica simplesmente não iria acontecer para eles. Ele
estava tão preocupado com ela porque ela não parava de chorar.
Ele passou os últimos dois anos antes de seu sequestro rezando
para que de alguma forma fosse capaz de dar a sua esposa o que ela mais
queria em sua vida - e ele não podia.

Não só isso, mas algum estranho, alguém que não amava Raven,
que não dava a mínima para ela, teve sucesso onde ele falhou.

A dor era tão insuportável que foi difícil para Dave permanecer de
pé.

Ele teria feito qualquer coisa, pago qualquer quantia de dinheiro,


para dar a Raven a criança que ela tanto queria. E em vez disso, ela
encontrou o desejo de seu coração no inferno.

Ele estava tendo dificuldade em processar tudo isso. Ele não deveria
tê-la deixado - ele soube no momento em que fechou a porta dela... Mas
ele precisava de espaço para aceitar o quanto havia falhado com sua
esposa.

Ele não foi capaz de encontrá-la.

Ele não foi capaz de lhe dar um filho.

Parecia que ela estava se dando muito bem sem ele.

Era muito.

— Dave? — Ball disse suavemente. — Estou indo para o bairro. Se


você precisar de alguma coisa, ligue para Gray, ok?

Dave acenou com a cabeça, mas ele não estava realmente


prestando atenção em seu amigo. Ele ainda estava tentando processar o
que acabara de aprender.

Ele foi tão arrogante quando disse à esposa que entendia o que ela
havia passado. Ele não sabia de nada.
Intelectualmente, ele sabia o que havia acontecido com ela. Que ela
foi usada e abusada. Mas emocionalmente, ele não tinha ideia. Ela de boa
vontade se permitiu ser usada para salvar a vida de seu bebê. Ela
provavelmente ficou apavorada quando foi trancada em um quarto para
ter seu filho sozinha. Mas ela tinha feito isso. Ela fez o que foi necessário,
assim como fazia todos os dias desde que fora levada.

Ela não precisava dele para cuidar dela. Para protegê-la. Ela tinha
feito um trabalho incrível sozinha.

Uma criança. Porra.

Quatro e meio. Seu filho tinha quatro anos e meio. Ele estaria falando
e estava em uma idade muito impressionável. As outras mulheres estavam
cuidando dele apropriadamente quando Raven não podia estar com ele? E
por que Del Rio o estava segurando? Qual era o seu plano final? Ele estava
fazendo isso apenas para torturar Raven? Isso era possível, mas por algum
motivo, Dave não pensava assim.

Ele havia feito muitas pesquisas sobre Del Rio e conhecia outros
como ele. O homem não fez nada pela bondade de seu coração. Ele
estava mantendo o filho de Raven por um motivo. E saber que Del Rio não
tinha problemas em traficar crianças, assim como mulheres, não era um
bom presságio para a criança.

Filho de Raven.

David.

Dave endireitou-se na cama, os olhos arregalados olhando para


frente, sem ver nada.

Ela deu ao filho o nome dele.


Ele não estava lá para salvá-la. Não foi capaz de encontrá-la. E, no
entanto, ela ainda tinha nomeado a coisa mais importante em sua vida
depois dele.

A névoa na qual Dave se perdera desde que soube que sua esposa
deu à luz um filho de outro homem começou a se dissipar lentamente. Ele
estava em choque, não estava pensando com clareza.

Ele estremeceu. Ele simplesmente se virou e deixou à cabana


quando ela lhe contou sobre seu filho. Ele deveria ter tomado sua esposa
em seus braços e dito a ela que tudo ficaria bem. Sim, ele precisava
processar o que ela disse a ele, mas ele deveria ter feito isso lá, com
ela. Ele cometeu muitos erros em sua vida, mas deixá-la quando ela
finalmente se abriu para ele foi o maior.

Levantando-se, Dave foi até a mesa e pegou seu laptop. Ele


precisava voltar para Raven e acertar as coisas com ela, se isso fosse
possível, mas primeiro ele tinha muito trabalho a fazer. Ele precisava de
ainda mais informações sobre Del Rio.

E ele precisava entrar em contato com seus contatos para ver se


havia outro passaporte preparado.

Esse seria mais difícil, já que o bebê não tinha nascido nos Estados
Unidos e provavelmente nem havia certidão de nascimento.

O motivo pelo qual Raven não queria deixar o Peru estava claro
como cristal agora. Ele não tinha dúvidas de que ela teria encontrado seu
caminho para fora do país e de volta para ele se não fosse por seu filho. De
jeito nenhum Raven deixaria uma criança inocente nas garras de Del Rio,
especialmente seu próprio filho.

Dave era um idiota. Ele não merecia Raven, mas ele trabalharia duro
pelo resto de sua vida para se certificar de que ela, e David, nunca fossem
desejados por nada.
Ele não pôde deixar de pensar que ele e Raven haviam perdido muito
tempo, mas estava feito. Ela tinha seus motivos para esconder dele a
existência de David, mas agora que ele sabia sobre ele, sabia por que ela
não queria deixar o Peru, ele moveria céus e terras para levar mãe e filho
para casa.

A equipe já estava no país a mais tempo do que ele havia


planejado. Dave tinha pensado que eles chegariam, ele se reuniria com
Raven e partiriam. As coisas estavam mais complicadas agora, mas Dave
não era o manipulador dos Mountain Mercenaries por nada. Ele seria
capaz de descobrir isso também.

Seu primeiro trabalho foi conseguir um passaporte para David


Crawford Justice.

A segunda era tirar a criança de Del Río.

O terceiro estava fazendo tudo ao seu alcance para que sua esposa
o amasse novamente.

Dave fez uma pausa e respirou fundo.

David Justice.

Ele tinha sido um idiota insensível quando soube sobre o filho de


Raven. Ele estava atordoado, ele não podia negar. Ele queria ser o único
a dar um bebê a sua esposa. Ele agiu como um pirralho petulante que não
ganha um pedaço de doce depois do jantar. Mas agora que ele teve um
pouco de tempo para se acostumar com a notícia, ele entendeu que David
era um milagre do caralho.

Dave não se importava com quem era o pai biológico - ele seria o pai
do menino de agora em diante.

Pensar em uma criança com o DNA de Raven lá fora no mundo o


tornava protetor e mais do que um pouco obsessivo. Ninguém e nada o
machucaria. Porque machucar o menino machucaria Raven, e isso era
inaceitável. Ela já tinha passado por bastante inferno em sua vida, e ele
seria condenado se ela passasse mais um minuto se preocupando com o
futuro de seu filho.

Dave desejava voltar direto para o bairro e assegurar a Raven que a


tiraria não apenas do Peru, mas também David. Ele não conseguiu. Ainda
não. Ball, Ro e Arrow manteriam as mulheres seguras enquanto ele
cuidava do que precisava ser feito por seu filho.

Esse pensamento o atingiu com força.

O filho deles.

Quando seu cérebro mudou do filho dela para o deles, ele não teve
certeza. Foi quase instantâneo. Mas agora que o pensamento estava lá,
estava praticamente pronto.

Depois que descobriram que não podiam ter filhos juntos,


conversaram sobre adoção. Eles decidiram que não importava como uma
criança entrava em suas vidas, apenas que seriam mãe e pai. Isso não era
diferente. David pode não ser biologicamente seu, mas Raven o amava, e
ele amava sua esposa. Portanto, a criança agora fazia parte da vida de
Dave. Ponto.

A determinação cresceu dentro dele. Del Rio já havia tirado o


bastante de sua família. Ele não aceitaria isso também.

Ele abriu seu programa de e-mail e disparou uma mensagem rápida


para seu contato, que havia conseguido um passaporte para Raven. Ele
precisava de uma foto e de uma prova de que David era filho biológico de
Raven, mas não tinha dúvidas de que poderia obter as duas. Tirar a
criança da prisão em que estava detido seria mais complicado,
especialmente considerando como as propriedades de Del Rio eram
fortemente protegidas. Mas conhecendo seus Mountain Mercenaries, eles
descobririam algo.

Pela primeira vez desde que se reuniu com Raven, Dave se sentiu
confiante de que eles voltariam a alguma semelhança com o
relacionamento que tinham antes de ela desaparecer. Haveria solavancos
na estrada, mas eles chegariam lá. Juntos.
Mags não tinha certeza do que a acordou.

Ela ficou deitada em seu catre se sacudindo e se virando por muito


tempo antes de finalmente cair no sono na noite anterior. Hoje era sexta-
feira e ela veria David. Seria capaz de ouvir sua risada infantil, ver seu belo
sorriso. Ele foi a única coisa que a ajudou a ir de um dia para o outro.

No entanto, seu coração doía por causa de Dave.

Ela secretamente esperava que ele entendesse de alguma forma, e


quisesse tanto ela quanto seu filho. Ela sabia que era pedir muito. Que
mesmo sendo seu marido, ele nunca seria capaz de aceitar o filho de outro
homem como seu. E depois que ele saiu sem dizer uma palavra, Mags
sabia que ela estava certa. Como algum homem poderia querer estar com
ela depois de ouvir a dura verdade sobre o que ela fez?

Dave era incrível, mas se Mags mal conseguia lidar com o que sua
vida havia se tornado, como poderia?

Suspirando pesadamente, ela começou a se virar - congelando


quando um braço se enrolou em sua cintura e um corpo pressionou suas
costas.

— Sou eu. — Dave sussurrou.

Em vez de enlouquecer e se afastar de terror quando ele a tocou,


algo profundo dentro de Mags instantaneamente se estabeleceu. Como se
seu corpo reconhecesse que Dave não era um inimigo. Ela não estava
completamente confortável com ele a tocando, mas também não se sentia
ameaçada.
Ela costumava ser uma carinhosa, mas desde seu sequestro, a
sensação de um homem se aproximando dela a deixava fisicamente
doente. Ela se sentiu um pouco enjoada no momento, mas não o suficiente
para vomitar o jantar da noite anterior.

— Como você entrou aqui sem ninguém te ouvir? — Ela perguntou,


tentando ignorar os sentimentos despertados pelo homem grande atrás
dela.

— Eu sou muito bom. — Disse Dave com um ligeiro humor em seu


tom. — Agora fique quieta e me escute.

Mags abriu a boca para responder, mas ele não deu a ela a chance
de dizer nada.

— Me desculpe por ter saído como fiz antes. Fiquei


chocado. Inferno, eu estava pasmo. Nunca, em meus sonhos mais loucos,
pensei que uma criança fosse a razão de você não querer deixar o
Peru. Mas assim que voltei para o motel e tive a chance de pensar, percebi
que David é um milagre... Assim como sua mãe. E você estava certa, eu
fui um idiota em dizer que sabia o que você passou. Eu não sei
absolutamente nada. Mas uma coisa que sei é que amo você, Raven. E
não importa quanto tempo leve, vou tirar você e nosso filho daqui e de volta
para casa, onde vocês dois pertencem. Todos nós merecemos um feliz
para sempre e estou determinado a fazer isso acontecer.

Mags não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Ela estava


apenas parcialmente ouvindo, tentando lutar contra a reação de seu corpo
ao tê-lo por perto, mas quando ele começou a falar sobre seu filho,
ela não conseguiu ouvir.

— Nosso filho? — Ela sussurrou.

— Nosso filho. — Dave confirmou.


— Dave... — Ela engasgou, mas ele não tinha terminado.

— Eu quero ir com você hoje. Para vê-lo.

Ela balançou a cabeça violentamente. — Não, você não pode! Del


Rio vai descobrir e não vai me deixar vê-lo mais!

Dave gentilmente a virou para que ela ficasse de costas olhando


para ele.

Mags não conseguiu evitar. Ela entrou em pânico. Há muito tempo


ela não ficava à mercê de um homem, mas algumas coisas simplesmente
não podiam ser esquecidas.

No segundo que ela começou a perder o controle, Dave percebeu o


que estava acontecendo. Ele os rolou suavemente até que ela estivesse
montada em seu estômago.

A mudança de posição fez seu pânico diminuir um pouco. Ela ainda


não estava confortável, ainda se sentia muito vulnerável, mas ele colocou
os braços para cima e para os lados, então não a tocou. Ele não a estava
segurando em cima dele de forma alguma.

— Calma, Raven. Eu não vou te machucar. — Ele disse calmamente.

Buscando no fundo sua bravura, Mags se obrigou a ficar exatamente


onde estava.

Mesmo depois de uma década, depois de todos os homens que não


se importavam nem um pouco com seus sentimentos ou o que ela queria,
ela sabia que Dave não a machucaria. — Você não pode vir comigo. —
Ela reiterou.

— Vou ficar escondido quando chegarmos perto da casa. — Disse


Dave. — Mas eu preciso saber onde David está. Que tipo de guardas
existem, quais serão os obstáculos para tirá-lo de lá. Querida, resgatar
crianças de sequestradores é o que os Mountain Mercenaries e eu
fazemos. Além disso, não suporto ficar longe de você nem mais um dia. Eu
tentei te dar espaço, não te segui, mesmo que tudo dentro de mim
estivesse me dizendo para fazer isso. Por favor. Mesmo se você estiver
dentro de casa, e eu estiver fora, pelo menos estou perto de você.

Mags fechou os olhos e apoiou as palmas das mãos no peito de


Dave. Ele estava tão quente, e ela podia sentir seu coração batendo sob
sua mão. Memórias de fazer amor com ele assim passaram por seu
cérebro antes que ela as cortasse implacavelmente.

Esse era um mundo diferente. Há muito tempo.

— Precisamos conversar. — Disse Dave gentilmente. — Podemos


conversar um pouco enquanto caminhamos, e esta noite quero levá-la de
volta ao meu quarto de motel. Você pode tomar banho e dormir em uma
cama de verdade. Podemos conversar sobre o que você quiser. Vou te
contar tudo sobre The Pit e o que tenho feito desde que você foi
levada. Você não precisa dizer mais nada sobre o que aconteceu com
você nos últimos dez anos se não quiser, mas eu adoraria ouvir tudo sobre
David. Sobre sua primeira palavra, seus primeiros passos, que tipo de
comida ele gosta. Eu perdi muito... E eu só quero saber tudo sobre ele.

— Você ainda tem o The Pit? — Mags perguntou.

— Sim. Isso me manteve são. — Dave admitiu.

— Você vai me contar como você conseguiu isso? — Mags


perguntou, correndo um dedo sobre a grande cicatriz em seu pescoço.

— Eu vou te dizer tudo e qualquer coisa que você quiser saber. —


Disse ele, seus olhos confirmando sua sinceridade.

— Você tem que ficar escondido. — Mags disse a ele, incapaz de


acreditar que ela estava cedendo.
— Eu vou. — Dave disse com confiança.

— E quando chegarmos perto, você não pode andar comigo.

— OK. Mas preciso que você faça algo por mim também.

A barriga de Mags apertou. — O que?

— Eu preciso que você me dê o DNA de David.

Ela franziu o cenho. — Por quê?

— Porque eu preciso provar que ele é seu filho biológico. Eu acredito


em você - não é isso. Só que assim será mais fácil conseguir um
passaporte para ele.

— Um passaporte? Mais fácil?

— Sim, Raven. Deixamos os países em situação difícil antes, sem ter


a documentação adequada, e poderíamos fazer isso com David, mas
como entramos no país oficialmente, com nossos passaportes sendo
carimbados e tudo mais, será mais fácil passar pelos canais oficiais para
que não tenhamos que nos separar de David enquanto viajamos de volta
para casa. Já falei com meu contato, e ele está trabalhando em tudo desde
o seu final, mas aceleraria as coisas se tivéssemos seu DNA.

Mags engoliu em seco. — Você já conversou com alguém?

O rosto de Dave se suavizou. — Sim. Tenho vergonha da minha


reação por você me dizer que tinha um filho, mas tirei minha cabeça da
minha bunda assim que pude.

Mais uma vez, Mags teve vontade de chorar, mas em vez disso
perguntou: — Que tipo de DNA? Não estou autorizada a trazer nada para
dentro ou para fora de casa.
Um músculo em sua mandíbula estremeceu ao ouvir isso, mas ele
simplesmente perguntou: — Que tal um lenço de papel? Você poderia
ajudar David assoar o nariz e depois enfiar o lenço no bolso. Duvido que
alguém se importe com um chumaço ou lenço de papel usado, certo?

Mags balançou a cabeça lentamente. Não, eles não iriam. Era


realmente genial. — Eu posso fazer isso.

— Bom. Você tem permissão para levá-lo para fora?

Ela assentiu. — Só no quintal. E há um guarda armado nos


observando o tempo todo. Também há uma parede de concreto ao redor
do quintal, mas ele pode ir lá e brincar.

— Perfeito. Vou tirar uma foto dele quando você o levar para fora,
então. Se possível, depois que ele correr um pouco, sente-se com ele no
colo, de frente para a parede. Assim, posso dar um zoom em seu rosto
enquanto ele não está em movimento.

Os nervos aumentaram dentro de Mags mais uma vez. — Se você


for pego...

— Eu não vou. — Disse Dave com convicção. — Não vou fazer nada
que nos coloque em risco de deixar o país. — Disse ele. — Confie em mim.

— Eu confio.

— Você confia?

Mags engoliu em seco e assentiu.

Lentamente, uma das mãos de Dave subiu em direção ao rosto dela


e ele espalmou sua bochecha. Mags se apoiou em sua mão.

— Isso aqui é um milagre. — Dave disse suavemente. — Eu queria


acreditar que você estava viva, mas não tinha certeza. Você poderia ter
morrido uma hora depois que eles a levaram e a enterraram em algum
lugar do deserto de Nevada. Mas tive a sensação, no fundo, de que você
estava viva. Eu sonhei contigo. Que você estava sangrando e doendo, e
você me olhou nos olhos e me disse para me apressar e te encontrar. Eu
sinto muito por ter demorado tanto. E eu realmente não tive nada a ver
com isso. Foi tudo Zara. Devo a ela mais do que jamais poderei
pagar. Levei dez anos, mas estou aqui, Raven. E eu não vou a lugar
nenhum.

Mags fechou os olhos, estendeu a mão e agarrou o pulso de


Dave. Ela queria dizer a ele que pode ter sido Zara quem reconheceu sua
foto, mas foi o trabalho incansável de Dave em caçar mulheres e crianças
desaparecidas que os levou para onde estavam agora. Se ele não tivesse
formado os Mountain Mercenaries, não tivesse feito as conexões que
tinha, Zara ainda poderia estar morando no bairro e não teria conhecido
Meat. Não teria voltado para os Estados Unidos.

Tudo estava conectado, e realmente era um milagre que, dentre os


bilhões de pessoas no mundo, ele de alguma forma conseguisse encontrá-
la.

Quanto tempo eles ficaram sentados assim, ela segurando seu pulso
enquanto ele espalmava sua bochecha, Mags não sabia, mas
eventualmente a inquietação que ela sentia por estar montada nele, por
ele tocá-la, desapareceu. Ela sentiu... Algo. Segura.

Fazia dez anos desde que ela se sentia assim, e ela não queria se
mover. Nunca mais.

— A que horas você geralmente sai? — Dave perguntou depois de


um tempo.

— Antes que o sol nasça. — Ela sussurrou.

— Então devemos ir.


Seus olhos se abriram e ela olhou em volta. O interior da cabana
estava mais claro do que quando ela acordou e encontrou Dave atrás dela.

— Não entre em pânico. — Ele disse a ela, firmando-a com uma mão
em sua cintura. — Chegaremos a tempo. Relaxa.

Assentindo, Mags ainda saiu de cima dele. Ele se levantou, pegou


algo no bolso e o estendeu. Ela não conseguia entender o que era e não
estendeu a mão para pegá-lo.

— É uma barra de proteína. Eu tenho algumas delas. Eu ouvi você


dizer que aquele bastardo não permite que você coma enquanto está
lá. Isso é fodidamente errado, então eu peguei alguns desses para ajudar
você a se recuperar. Você pode comer um par enquanto estamos a
caminho.

Era uma coisa tão pequena, mas quanto mais Mags ficava perto de
Dave, mais ela lembrava que ele era assim. Ele sempre fazia coisas
assim. Coisas pequenas nas quais muitas pessoas não pensariam duas
vezes. Mas parecia que nos últimos dez anos, seu respeito e polidez
haviam se transformado em superproteção e tendências de homem das
cavernas. Ela sorriu ligeiramente. Ela não podia negar que era bom.

Ela passou anos no inferno, sem contar com ninguém, sem confiar
em quase ninguém, carregando o fardo de fazer o que ela pensava ser o
melhor para seu filho sozinha. Saber que Dave não apenas ouviu o que ela
disse sobre suas visitas a David, mas também fez algo para tentar tornar
sua vida mais fácil, foi incrível.

Ela pegou a comida e acenou com a cabeça em agradecimento, sem


conseguir colocar em palavras o que se passava em sua cabeça.

Dave acenou com a cabeça em direção à barra de proteína e


esperou. Ela percebeu que ele não iria a lugar nenhum até que ela
comesse. Ela rasgou o lanche. O cheiro de chocolate e manteiga de
amendoim subiu até seu nariz, e sua boca automaticamente começou a
lacrimejar. Ela tinha comido algumas refeições muito boas na semana
anterior... Dave e sua equipe cuidaram muito bem dela no que diz respeito
às refeições. Mas depois de dar uma mordida, ela fechou os olhos e ficou
surpresa com o quanto gostou da barra de proteína.

Ela não tinha comido muita comida saudável dez anos atrás, e por
algum motivo, ela esperava que a barra de proteína fosse horrível. Seca e
sem gosto. Mas o que quer que houvesse nesta era tudo menos ruim. Era
como comer uma barra de chocolate.

Ela abriu os olhos para ver uma expressão que ela nunca tinha visto
no rosto de seu marido antes.

Tristeza e... Orgulho?

Mags não sabia do que se tratava. A tristeza ela entendia, ela era
muito patética. Mas não havia como ele se orgulhar dela por qualquer
coisa que ela fizera durante o tempo em que estiveram separados. Tudo o
que ela conseguiu foi entrar na água e evitar afundar no mar tempestuoso
que se tornou sua existência.

Depois que ela terminou a barra de proteína, Dave enfiou a


embalagem em um dos bolsos de sua calça cargo preta, e eles saíram pela
porta. Mags não percebeu que Ro estava do lado de fora, e era óbvio que
ele havia passado a noite na terra dura, assim como Dave estava
fazendo. Seu marido parou brevemente para agradecer a Ro por ter
passado a noite e contar a ele quais eram seus planos.

— É o dia de Raven visitar David, e eu vou com ela para fazer um


reconhecimento. Estaremos de volta esta tarde.

Ro assentiu. — OK. Vamos nos encontrar com Daniela sobre a


logística de mudar a clínica para um prédio maior. Cuidaremos disso e
vigiaremos as mulheres aqui. Depois de descobrir qual é a situação com
David, podemos conversar sobre nossos próximos passos para tirar todos
nós daqui.

— Tudo bem com a Chloe? — Perguntou Dave.

— Sim. Estou com saudades dela.

Dave colocou a mão no ombro de Ro. — Eu sei. Com alguma sorte,


estaremos fora daqui mais cedo ou mais tarde.

— Não estava reclamando. — Observou Ro. — Tenha cuidado


hoje. Não deixe ninguém ver você espreitando pela casa. Se eles
souberem que algo está acontecendo, eles podem aumentar a segurança,
e esse é um problema de que não precisamos.

— Eu não vou. Mais tarde.

— Mais tarde.

Ficou óbvio entre a noite anterior e agora, os amigos de Dave foram


informados sobre David. Mags deveria ter ficado chateada com isso,
especialmente depois de ter que manter o segredo por tanto tempo, mas
no momento, ela não podia se importar com nada além de chegar ao filho.

A interação entre Ro e Dave foi interessante. Ela sabia que seu


marido estava encarregado dos outros homens até onde o grupo ia. Mas
ela não sabia como essas dinâmicas funcionavam. Dave nunca tinha
estado no exército, e ela não sabia ao certo por que eles voluntariamente
seguiram seu exemplo. Mas tudo o que ela viu entre Ro e Dave foi
respeito. Do tipo que não vinha de força bruta ou intimidação, como ela
testemunhava todos os dias dos homens de Del Rio.

Não pela primeira vez, Mags realmente entendeu que o que Dave
havia dito estava certo. Ele não era o mesmo homem que tinha sido.
Ele sempre foi protetor com ela, mas agora ele era ainda mais. Ele
não a tocou enquanto caminhavam, mas seu olhar estava constantemente
se movendo de um lado para o outro, como se procurasse perigo. Quando
chegaram à calçada fora do bairro, ele insistiu para que ela caminhasse
junto ao muro, em vez da rua. Ele estendeu o braço para impedir que
alguém que passasse a tocasse. E quando uma bicicleta veio na direção
deles um pouco rápido demais, ele deu um passo à frente e se colocou
entre ela e o ciclista.

Nos últimos dez anos, ninguém a tratou com delicadeza. Ela parecia
mais um objeto do que uma pessoa viva, respirando. Ela era uma forma de
ganhar dinheiro, uma escrava de Del Rio, e ela tinha que fazer tudo o que
ele disse para ela fazer se quisesse viver. Mesmo depois de ser expulsa de
seu complexo, ela não estava livre. Ela teve que seguir a linha para
proteger seu filho. Ela vasculhou latas de lixo em busca de comida e sumiu
no fundo para escapar do interesse de homens como Ruben.

A saudade atingiu Mags com força então. Ela desejou que a vida
tivesse sido diferente. Desejou ter sido capaz de ver seu marido mudar e
crescer nos últimos dez anos, como casais normais. Mas, para ser honesta
consigo mesma, gostava do homem que parecia que Dave era. Um pouco
áspero nas bordas, um pouco focado internamente, mas ainda gentil,
protetor e leal aos amigos. Ela não perdeu como ele perguntou sobre
Chloe, que ela presumiu ser a namorada ou esposa de Ro.

A caminhada até a casa onde David estava sendo criado não parecia
tão longa hoje quanto no passado. Ela e Dave não conversavam muito,
mas apenas tê-lo ali, procurando por problemas, permitia que ela relaxasse
e não ficasse tão nervosa. A caminhada era de cerca de cinco milhas, mas
ela nunca se importou. Ela andaria o dobro disso se isso significasse ser
capaz de ver seu filho.

Quando chegaram a meia milha da casa onde David morava, Mags


relutantemente se virou para Dave. — Eu preciso ir sozinha daqui.
Ele franziu a testa, mas acenou com a cabeça. Puxando outra barra
de proteína, ele disse: — Coma isso antes de chegar lá. Não gosto da ideia
de você ficar com fome.

Mags queria chorar enquanto olhava para a comida, mas se


controlou. Ela pegou e enfiou em um dos bolsos. Ela comeria assim que
começasse a andar novamente. Ela não podia entrar com isso nela. Ela
sempre era revistada, tanto entrando quanto saindo de casa.

— E pegue isso. — Dave estendeu um maço de lenços de papel. —


Eles não deveriam se importar que você os tenha no bolso.

Alcançando-os, Mags prendeu a respiração quando Dave


gentilmente segurou sua mão. — Tenha cuidado. — Ele sussurrou. — Eu
sei que você já faz isso há um tempo e é uma adulta, mas não posso deixar
de me preocupar com você e David. Não posso te perder de novo. Isso
iria me destruir. Não faça nada incomum que chame atenção para
você. Estamos na reta final e, se tudo correr bem, poderemos todos estar
de volta aos Estados Unidos em alguns dias. Se você agir de forma
diferente, alguém pode pensar que algo está acontecendo. Del Rio está
por perto quando você está lá?

Mags queria discutir. Queria dizer a Dave que ela não concordara
em voltar para os Estados Unidos com ele. Ele estava agindo como se
fosse uma conclusão precipitada.

Mas o fato é que Mags queria ir para casa mais do que qualquer
coisa. Ela queria ver neve novamente. Queria respirar o cheiro do bar de
Dave. Queria mostrar a David que a vida não era apenas ter que seguir
ordens e ser manso e quieto o tempo todo. Ela queria ser livre. Queria que
seu filho ficasse livre para rir e chorar sem se preocupar em ser
repreendido por falar muito alto. Queria vê-lo correr sem se importar no
mundo. Ele era muito quieto para uma criança de quase cinco anos. Muito
crescido.
As palavras de Dave também a fizeram derreter um pouco por
dentro. Já fazia muito tempo que ninguém se preocupava com ela, e o fato
de ele incluir David em sua preocupação era um milagre aos olhos
dela. Ela nunca pensou que ele seria mau com o menino, mas para ele
abraçar voluntariamente o filho de outro homem, estar cem por cento
comprometido chamando-o de “nosso filho”, não era algo que ela poderia
ter sonhado em sua forma mais selvagem de fantasias.

Lembrando-se de sua pergunta sobre Del Rio, Mags disse: — Ele


não costuma estar aqui nos dias que estou. Às vezes, ele aparece apenas
para me lembrar que é ele quem está permitindo que eu veja meu filho,
mas David disse algumas coisas que me fazem pensar que Del Rio
aparece para visitá-lo quando eu não estou lá.

— Tudo certo. Se acontecer de ele vir hoje, apenas faça o que você
costuma fazer. Estou trabalhando em algumas coisas que espero dar
certo, mas, por enquanto, não queremos avisá-lo de que algo está
diferente.

Mags olhou para ele. — Em que você está trabalhando?

— Eu te conto mais tarde. Não há tempo agora, e não quero que


você se preocupe com nada além de garantir que nosso filho tenha um
bom dia com sua mãe. OK?

Foi uma boa resposta, embora não tenha amenizado suas


preocupações.

Movendo-se lentamente, Dave se inclinou e beijou Mags


suavemente na testa. — Eu te amo, Raven. Sei que pode ser estranho me
ouvir dizer isso, mas não consigo evitar. Eu te amei desde o dia em que te
conheci, e amarei até o dia que eu morrer. Eu nunca faria nada para
colocar você ou nosso filho em perigo. Apenas saiba que estou aqui e
assistindo. Vou esperar por você esta tarde aqui mesmo. OK?
— Ok. — Ela disse suavemente. Ela passou os últimos dez anos sem
absolutamente nenhum afeto. Apenas suportando os homens fazendo o
que queriam, quando queriam. A suave carícia de Dave parecia o paraíso.

Ela se virou e caminhou em direção a casa onde seu filho estava


esperando. Ele conhecia sua rotina tão bem quanto ela, e ela sabia que
ele ansiava por suas visitas. Ele era muito jovem para entender por que só
conseguia vê-la alguns dias por semana, e Mags estava ciente de que não
demoraria muito para que Del Rio mudasse seu arranjo. Ele tinha insinuado
na última vez que ela o viu, e isso a assustou pra caralho.

Ela estava com medo de que Del Rio tivesse decidido fazer seu filho
trabalhar para ele.

Ela encontraria uma maneira de matar Del Rio antes de permitir que
ele vendesse David como ele a vendeu.

Empurrando o pensamento para o fundo de sua mente, ela se


concentrou em comer a barra de proteína que Dave havia lhe dado e fazer
o seu caminho em segurança para a casa. A casa não ficava em uma área
ótima e, no passado, ela sempre caminhava o mais rápido que podia para
tentar evitar os homens que procuravam encrenca, mas hoje ela sabia com
total certeza que estava segura. Simplesmente porque Dave estava lá em
algum lugar, cuidando dela.

Foi um pouco assustador a rapidez com que ela encontrou conforto


na presença de Dave. Mas ela se sentiu sozinha por tanto tempo que saber
que ela não era mais era a melhor sensação do mundo.
Mags observou David correr pelo pequeno quintal cercado chutando
uma velha bola de futebol. Ele ficou muito feliz em vê-la, como de costume,
e ver seu rostinho rechonchudo a fez se sentir cem por cento melhor.

Como não havia outras crianças na casa, ele costumava brincar


sozinho. Ele geralmente não era tão enérgico, mas ela adorava ver
isso. Ela odiava que ele tivesse que ficar dentro de casa a maior parte do
tempo.

Ela não reconheceu a mulher que a acompanhou ao quarto de David


depois que ela foi revistada por dois dos homens de Del Rio na chegada,
mas isso não foi exatamente uma surpresa. As mulheres entravam e saíam
da pequena casa com freqüência. Provavelmente, David não se apegou
muito a nenhuma delas e vice-versa. Del Rio pode ser um idiota, mas não
era estúpido. As mulheres provavelmente gostaram da pausa do complexo
principal e, se ficassem muito amistosas com ela ou com o filho, era
possível que tentassem ajudá-la a tirar o filho de lá. Del Rio não arriscaria
seu desaparecimento para sempre.

Ela nunca tinha prestado muita atenção aos homens que a


observaram e a David no passado. Eles estavam sempre lá, assim como
estavam no complexo principal. Frequentemente eram muito liberais com
as mãos quando a revistavam. Ela sempre tolerou porque não tinha outra
escolha. Mas hoje, seus dedos apertando seus seios sob o pretexto de se
certificar de que ela não tinha escondido nada no sutiã de algodão barato
que estava usando fez sua pele arrepiar. E quando um deles manteve os
dedos entre as pernas dela por muito tempo, ela o empurrou e disse que
não trabalhava mais para Del Rio.
O homem zombou e informou que ela sempre estaria trabalhando
para Del Rio. Quando ela desviou o olhar, ele riu, como se soubesse que
a havia atingido.

Perdida em seus pensamentos, Mags não percebeu que David tinha


se cansado de brincar com a bola e vagou de volta para onde ela estava
sentada. Ele subiu em seu colo e descansou sua cabecinha contra seu
seio. Mags passou os braços em volta dele e o abraçou. Ele não tomava
banho há alguns dias, ela podia dizer, mas ela ainda podia sentir seu cheiro
de menino sob a sujeira e suor.

Ela não tinha visto nenhum sinal de Dave, mas também não queria
parecer muito interessada na parede. Parados no pátio, havia dois homens
segurando rifles, e a última coisa que ela queria era que eles
suspeitassem. Ela só esperava que Dave conseguisse tirar a foto de que
precisava para o passaporte de David sem ser visto. Ela estava nervosa e
ansiosa e odiava isso.

— Teve o suficiente de brincar com a bola? — Ela perguntou a David


suavemente. Mags falava inglês com seu filho desde que ele saiu de seu
ventre e, como resultado, ele era bilíngue.

— Sí. Conte-me uma história, mamãe. — Implorou o filho.

— O que você quer ouvir desta vez, mijo?

— A história do Papá.

Mags sorriu. — Tem certeza que não quer que eu conte


uma nova história? Talvez sobre um pirata e uma princesa?

David balançou a cabeça. — Não. Papá.

Pela primeira vez, Mags não se sentiu triste ao pensar em Dave. Ela
contava a David histórias sobre seu “pai” desde que ele tinha idade
suficiente para entendê-la. Ela não havia pensado que ele conheceria
Dave, mas se sentiu melhor dando a seu filho um modelo a ser
seguido. Deus sabia que os homens que andavam pela casa não eram o
tipo de homem que ela queria que ele imitasse. Mas agora, com a
possibilidade de que ele pudesse conhecer Dave, Mags quase se sentiu
tonta.

— Mas primeiro me diga como ele é. — David exigiu, como fazia


todas as vezes que falavam dele.

— Ele é grande. Alto e musculoso. Seus braços são tão grandes


quanto troncos de árvore, e ele é mais alto do que a parede que cerca este
quintal. — Mags disse com carinho. — Ele tem uma cicatriz que desce do
pescoço até a gola da camisa. Isso o faz parecer assustador, mas para
aqueles que ele ama, ele é o homem mais protetor e gentil que você já
conheceu.

— Cicatriz? — David perguntou com uma ruga na testa. — Você


nunca me disse isso antes. Como ele conseguiu isso?

Mags piscou. Claro que ela não havia descrito isso no passado,
porque ela não sabia sobre isso. — Sim, bebê. É muito grande.

— Machucou?

— Tenho certeza que sim.

— Você beijou e deixou melhor?

Mags sentiu as lágrimas brotarem em seus olhos, mas as fechou e


se recusou a deixá-las cair. — Se eu estivesse lá quando ele conseguiu,
eu teria feito isso. — Disse ela ao filho.

— Aposto que ele colocou um band-aid nele. Se eu raspasse meu


joelho, ele me traria um band-aid? — Perguntou David.
Mags sorriu e abraçou seu filho com mais força. — Sim. Não só isso,
mas ele o pegaria e o carregaria para uma cadeira. Ele soprava para fazer
com que se sentisse melhor, e se você chorasse, ele não iria repreendê-
lo. Ele simplesmente te abraçaria até que a dor passasse. — Mags sabia
exatamente o que seu filho queria ouvir. Ele não recebia nenhum amor das
mulheres e homens que encontrava diariamente, e ela sabia quando ele
estava com medo ou ferido, e quando chorava, gritavam em vez de
tranquilizá-lo. Ele quase não chorava mais, e ela sabia que era porque ele
foi abusado quando o fez.

— Onde está o papai agora?

Eles já haviam passado por isso muitas vezes também. Ela poderia
ter contado a verdade a David hoje, que seu papá estava no Peru e logo
estaria levando os dois para casa nos Estados Unidos, mas ela não queria
que ele acidentalmente deixasse escapar essa informação em sua
empolgação. A última coisa que ela queria era Del Rio sabendo de uma
tentativa de fuga. E ela não achava que Dave mudaria de ideia sobre levar
ela e seu filho de volta para o Colorado, mas apenas no caso de ele mudar,
ela não queria desapontar David.

— Ele está nos Estados Unidos. Veja, mamãe se perdeu. E


o papai está procurando o máximo que pode para nos encontrar. E
quando ele o fizer, iremos viver felizes para sempre com ele.

David olhou para ela. — Você ficou com medo quando se perdeu?

— Sim, baby, eu estava. Às vezes ainda estou. Mas você sabe o que
me faz continuar?

— O que?

— Saber que amanhã é um novo dia. Eu só tenho que passar um dia


de cada vez. E um dia desses eu vou acordar, e o papai vai estar aqui e
vai nos levar pra casa.
— E todos nós podemos viver juntos? Você não terá que sair no final
do dia? — Perguntou David.

Sua pergunta quase partiu seu coração, mas Mags fez o possível
para manter a voz neutra. — Sim, bebê. Vamos todos morar na mesma
casa juntos. Teremos toda a comida que quisermos e você terá uma
tonelada de amigos para brincar. Jantaremos juntos e colocarei você na
cama todas as noites. — Mags queria chorar. Ela tinha contado a seu filho
o mesmo conto de fadas durante toda a sua vida, mas hoje foi a primeira
vez que ela acreditou que poderia se tornar realidade.

— Terei que tirar fotos com ele?

Mags franziu a testa. Essa era uma nova questão. — O que você
quer dizer? Qual tipo de imagens? Quem tira fotos com você agora?

David encolheu os ombros, mas ela podia sentir a tensão repentina


em seus ombros pequenos e na maneira como ele pressionou a cabeça
com mais força contra o peito. — Del Rio vem aqui, mamãe. Com outro
homem. Brincamos nus e del Rio tira fotos. Eu não gosto disso, mas eu
preciso. — Sua voz baixou quando ele admitiu: — Eu disse não uma vez e
não consegui comer por um bom tempo. Del Rio me disse que bons
meninos fazem o que os adultos dizem. — Então ele olhou para ela e
sussurrou: — Ele disse que você não virá me ver se eu for um menino mau.

Mags sentiu como se fosse explodir. Ela estava indignada,


assustada e apavorada.

Del Rio estava treinando seu filho para fazer tudo o que seus clientes
pedófilos doentes queriam que ele fizesse.

Ela segurou a cabeça de David com as mãos e o olhou nos olhos. —


Seu corpo é seu. — Disse ela com a voz trêmula, fazendo o possível para
manter a calma. — Ninguém tem permissão para tocar em você sem sua
permissão. Eu não me importo se eles são adultos ou não. E ninguém vai
me manter longe de você, mijo. Serei sempre sua mãe e não vou deixar
ninguém nos separar. OK?

David concordou. — Ok.

— Você pode me dizer a verdade. Aquele homem tocou em você


quando você tirou a roupa? — Mags não tinha certeza se queria saber a
resposta.

— Ele ficou ao meu lado nas fotos, então eu sentei em seu colo.

Mags respirou fundo. Ela ocasionalmente vira crianças ao redor do


complexo, mas como David não estava sendo mantido lá, ela esperava e
rezava para que ele pudesse ter escapado de seu destino. Mas, no fundo,
ela sempre soube que havia um motivo para Del Rio não deixá-la sair do
Peru com o filho.

Ela queria matá-lo com as próprias mãos.

Ela olhou nos olhos de David mais uma vez e disse gentilmente: —
Eu te amo. Mais do que tudo neste mundo. Não importa quantos anos
tenhamos ou o que aconteça no futuro, sempre vou te amar. Me ouviu?

— Sim, mamãe. Você vai me contar a história de como você e papai


se conheceram agora? — Perguntou David.

Parecia que ele não estava visivelmente traumatizado com o que Del
Rio tinha feito, mas era apenas uma questão de tempo antes que as coisas
fossem além das fotos nuas.

Ele se virou no colo dela e olhou para o quintal, e Mags abaixou o


queixo até pousar na cabecinha do filho. Então ela começou a contar a ele
a mesma história que ele já ouvira inúmeras vezes.

— Seu pai comprou um prédio e ligou para onde eu trabalhava para


fazer um seguro. Era meu trabalho inspecioná-lo para ter certeza de que
seria seguro deixar as pessoas entrarem. Quando cheguei lá, estava
nervosa porque não era na parte mais segura da cidade e eu estava
sozinha. Saí do meu carro e seu pai saiu do prédio.

— E você estava com medo! — David interrompeu.

Mags riu. — Sim, eu estava.

— Porque o Papá é grande. Grande o suficiente para levantar carros


e bater em bandidos! — David disse com entusiasmo.

Mags achou que Dave iria tirar um pontapé da imaginação de


David. — Exatamente. Ele veio para fora e eu estava com medo de ficar
perto dele. Mas ele percebeu e fez questão de não chegar muito
perto. Isso me fez sentir melhor. Na verdade, quando inspecionei o exterior
do prédio, ele ficou na porta da frente, olhando para se certificar de que
ninguém mais viesse e me incomodasse, mas também mantendo
distância. Ele abriu a porta para mim quando eu tive que entrar e
perguntou se eu queria algo gelado para beber. Depois que terminei de
verificar se o prédio estava seguro, conversamos mais um pouco. Ele era
engraçado e me fez sentir confortável. Ele perguntou se eu queria ir a um
encontro e eu disse que sim.

— E você foi a um restaurante onde comprou um bife e ele comprou


peixe! — David recitou alegremente.

— Está certo. E conversamos a noite toda. E no final do encontro,


eu não estava mais preocupada com o quão grande ele era. Eu sabia que
ele não me machucaria. — Disse Mags.

David se virou novamente e olhou para ela. — Só porque alguém é


grande e malvado não significa que eles vão te machucar.

— Exatamente. E por outro lado, alguém que é pequeno e magro


pode ser capaz de machucar você muito mais do que alguém maior.
— Mãe?

— Sim, baby?

— Por que algumas pessoas são más e outras não?

Mags não deveria ter ficado surpresa com a pergunta do filho. Ele
podia ter apenas quatro anos e meio, mas não tinha o lar mais estável ou
amoroso. Ela fizera o possível para cobri-lo de amor e afeto, mas não
conseguia controlar o que as outras pessoas que o estavam criando
faziam. E, infelizmente, eles estavam perto dele mais do que ela. — Eu não
sei. Alguns provavelmente nasceram assim. Outros aprendem como ser
maus observando as pessoas ao seu redor. Outros são gananciosos e
farão o que puderem para conseguir dinheiro.

— Eu não quero ser mau. — Disse David suavemente.

— Você não é. — Mags o acalmou.

— Às vezes fico muito bravo por dentro. — Admitiu o filho. — Sinto


sua falta quando você não está aqui, e as outras senhoras que cuidam de
mim não se importam se estou com fome ou se eu me machuco, não como
você. E isso me deixa louco. Eu quero bater nelas!

Mags suspirou de frustração. — Obrigado por ser honesto, David. É


importante não mentir. E eu sinto muito que elas te tratem assim. Vai ser
difícil para você entender, mas às vezes as pessoas fazem coisas porque
não têm escolha. Alguém está fazendo com que sejam assim. Ou estão
sofrendo tanto por dentro que não têm energia para se preocupar com
mais ninguém. Eles estão simplesmente tentando chegar ao amanhã. Um
dia de cada vez.

Seu filho pensou na resposta dela por um momento, então acenou


com a cabeça. — Como quando Del Rio chega e grita com todo mundo, e
eles têm que fazer o que ele diz.
Mags enrijeceu. — Ele vem muito? — Ela perguntou, querendo
saber quanto tempo ela e Dave teriam para tirar seu filho.

David encolheu os ombros. Ambos ficaram em silêncio por um ou


dois minutos. Então ele perguntou baixinho: — Você acha que o papai vai
nos encontrar em breve?

— Tenho certeza disso. — Mags não pôde deixar de dizer. No


passado, ela sempre tentou ser otimista, mas com cautela, não querendo
criar esperanças no menino. Mas agora que Dave estava aqui, e parecia
pronto para levar ela e seu filho de volta para os Estados Unidos, ela não
podia deixar de dar a David algo pelo qual ansiar.

— Você acha que ele vai gostar de mim?

— Oh, doce garoto, é claro que ele vai. Por que ele não iria?

David encolheu os ombros novamente.

— Olhe para mim. — Mags ordenou ao filho. Ela esperou até que ele
olhou para ela com seus grandes olhos azuis. Ela gostava de pensar que
ele se parecia mais com ela do que com quem quer que fosse seu pai
biológico. Ele tinha cabelos pretos e olhos azuis como ela. Ele até tinha
uma covinha em uma bochecha, assim como ela. Antes de ele nascer,
Mags temeu que olhar para ele a lembrasse do inferno que ela viveu, mas
o oposto era verdade. A primeira vez que ela o segurou em seus braços,
ela se apaixonou. Imediato e consumidor. Ela não se importava como ele
foi concebido, apenas que ele estava vivo e saudável... E dela.

— Você é um garotinho incrível. Você é inteligente, bonito e


compassivo. Por que o Papá não gostaria de você?

— Del Rio me chama de bastardo. Ele diz que a única maneira de


alguém me amar é se eu fizer o que eles mandam. O que ele me diz para
fazer.
Mags queria gritar. Del Rio não tinha o direito de dizer uma coisa
dessas ao filho!

Houve um tempo em que ela ficou feliz por ter tido um filho em vez
de uma filha, pensando que ele estaria a salvo de Del Rio e de seu negócio
de tráfico sexual. Mas estava muito claro que não era o caso. Ela estava
se iludindo, pensando que o vil chefão não tinha interesse em seu filho.

Por cima do cadáver, ela deixaria qualquer um tocar em David. Não


mais do que já tinham. De jeito nenhum. Ela morreria tentando salvá-lo
desse destino.

— Não dê ouvidos a ele. — Disse ela um pouco mais furiosa do que


pretendia. Ela fez o possível para controlar sua raiva. — Ele está errado. E
você tem vontade própria. — Ela bateu em sua cabecinha com o dedo. —
Você é inteligente e pode pensar por si mesmo. Se alguém lhe disser para
fazer algo que você sabe que é perigoso ou errado, você não precisa fazer
isso. Mas é o seguinte... Às vezes na vida, você pode descobrir que deve
fazer algo que não quer fazer. Isso não faz de você uma pessoa má. Se
alguém está obrigando você a fazer isso, eles são os maus. Você
não. Compreende?

David acenou com a cabeça, mas Mags ainda podia ver a dor e
confusão em seus olhos.

— Eu te amo, David. Você é a melhor coisa que me aconteceu. Eu


não mudaria um dia da minha vida se isso significasse que você não estaria
aqui comigo. Me ouviu?

— Sim, mamãe.

— Quero dizer. Tive que fazer algumas coisas das quais me


envergonho, mas nunca terei vergonha de chamá-lo de meu filho. Não
importa o que o futuro reserva. Você sempre mantém a cabeça erguida e
sabe que é David Justice. Você é inteligente e importante.
Ele jogou os braços em volta do pescoço e enterrou a cabeça em
seu ombro. Ele não estava chorando, mas os dois estavam bastante
emocionados. Mags só queria pegá-lo e carregá-lo porta afora, mas sabia
que não podia.

Ela já odiava Del Rio com tudo nela, mas naquele momento, sabendo
o que ele estava tentando fazer com seu filho, ela jurou vê-lo morto.

Ela se afastou e pegou a cabecinha de David nas mãos mais uma


vez. Ela olhou em seus olhos azuis e disse: — O mundo às vezes é
assustador e confuso. Mas não importa o que aconteça desse dia em
diante, saiba que sua mãe te ama. Se você se perder, eu vou te
encontrar. Se alguém te machucar, estarei lá para fazer você se sentir
melhor. Se você tiver que fazer algo que não quer, ainda vou te amar. Tudo
o que você precisa fazer é esperar até amanhã. Um dia de cada vez, ok,
baby?

— Tudo bem, mamãe. E o papá? Ele vai me amar também?

Dois dias atrás, Mags não saberia como responder a sua


pergunta. Hoje, ela poderia responder com confiança. —
Sim, mijo , Papá ama muito e vai fazer o que puder para mantê-lo
seguro. Você pode confiar nele com sua vida, ele nunca vai te machucar.
Nunca.

David concordou.

Uma porta se abriu atrás deles e uma mulher disse indiferente: — É


hora de o menino comer.

A hora das refeições geralmente era uma tortura para Mags. No


passado, ela estava com tanta fome que seu estômago doía fisicamente
quando ela olhava para a comida na mesa que ela não tinha permissão
para tocar. Mas desde que Dave a encontrou, ele se certificou que ela
tivesse muito o que comer. E as barras de proteína que ele deu a ela
naquela manhã significavam que ela nem estava com fome agora.

Não que ela pudesse ter forçado qualquer coisa pelos lábios de
qualquer maneira... Não depois de ouvir o que Del Rio estava preparando
seu filho para fazer.

Grata pelo fato de ser capaz de se sentar durante o almoço sem


David ter que ouvir seu estômago roncar, ela se levantou e segurou a mão
do filho enquanto eles voltavam para casa. Era uma prisão para os dois,
mas por enquanto, ela estava feliz por ele não ter percebido.

***

Deixar o filho foi mais difícil do que o normal naquela


tarde. Normalmente Mags poderia racionalizar consigo mesma que o veria
novamente em alguns dias, mas depois de saber que Del Rio tinha estado
visitando a casa e tirando fotos de seu filho, e tentando encher sua cabeça
de lixo, ela ficou ainda mais relutante em deixar.

Mas é claro que ela não tinha escolha. Às cinco horas, um dos
homens de Del Rio disse que era hora de ir embora. Ela segurou o filho um
pouco mais do que o normal e o lembrou de que ele era inteligente e do
quanto ela o amava. Ela foi escoltada até a porta, e o som das fechaduras
se encaixando atrás dela a fez estremecer. Ela queria se virar, bater na
porta e exigir que soltassem seu filho. Pega-lo e sair correndo o mais
rápido que puder. Mas é claro que ela não poderia fazer isso.

Envolvendo os braços em volta de si mesma, Mags se virou e


caminhou pela calçada em direção a onde ela havia deixado Dave naquela
manhã. Ele disse que estaria esperando por ela, e pela primeira vez em
muito tempo, ela precisava de alguém para segurá-la. Para dizer a ela que
tudo ficaria bem. Para compartilhar o fardo da sucção que era sua
vida. Normalmente, ela permanecia estoica sobre a maneira como as
coisas eram e as dificuldades que suportou, mas com a chegada de Dave
e a esperança que ele despertou dentro dela, ela não estava mais contente
em seguir o status quo. Ela também não podia se dar ao luxo,
considerando os planos de Del Rio para o filho.

Ela sentiu como se houvesse uma nuvem negra em torno dela, e


quanto mais ela tentava ignorá-la, mais ela iria consumi-la. Algo ruim
estava chegando. Já estava aqui. Ela podia sentir em seus ossos. O que
tornou mais difícil do que nunca deixar David.

Virando uma esquina, Mags engasgou de surpresa e medo ao quicar


em alguém. Ela teria caído no chão, mas quem ela encontrou a agarrou
pelos braços. Ela lutou por uma fração de segundo antes de registrar que
era Dave quem a segurava.

No momento em que ela percebeu quem era, ela relaxou e ele


colocou o braço em volta da cintura dela, colando-a ao seu lado enquanto
caminhavam. Ele não disse nada, simplesmente a conduziu em direção a
uma minivan próxima. Ela subiu e reconheceu Ball, que estava ao volante.

Assim que a porta foi fechada, o carro começou a andar.

— Você está bem? — Ball perguntou.

— Na verdade, não. — Disse ela, fazendo o possível para controlar


suas emoções e a necessidade de ser abraçada pelo marido. Ela
estremeceu quando percebeu que Dave estava colocando o cinto de
segurança em seu colo e prendendo-o. Fazia tanto tempo desde que ela
andou em um veículo que ela nem pensou em colocar o cinto de
segurança.
Ele então puxou outra barra de proteína e entregou a ela antes de
colocar o cinto de segurança no lugar.

— Certo, como você pode estar bem? — Dave disse com raiva. —
Aquele idiota trancou seu filho e só permite que você o veja três dias por
semana. E o fato de ele sequestrar crianças dos bairros para vendê-las
não é um bom presságio para David.

Ela olhou de Dave para Ball nervosamente, sem saber se queria falar
sobre o que ela percebia ser suas maiores fraquezas - ou seja, que ela não
tinha ideia de como salvar seu filho de um destino pior que a morte - na
frente do outro homem.

— Esse idiota não vai colocar um dedo em seu filho. — Disse Ball
laconicamente do banco da frente. Suas palavras a deixaram à
vontade. Ele estava obviamente zangado, mas não com ela. Com a
situação. Zangado por ela e seu filho estarem separados e ele ser mantido
como refém por Del Río.

Raiva em nome de David, ela podia lidar.

Ela olhou para Dave preocupada. — David disse algumas coisas


hoje que me apavoraram.

Dave coloca a mão sobre a dela no pano. — Tudo certo. Falaremos


sobre isso quando chegarmos ao motel.

— Oh! E eu consegui o lenço como você queria. — Mags disse a


ele, começando a alcançar em seu bolso com a mão livre.

— Bom. Deixe por enquanto. Daremos a Gray quando chegarmos


ao motel. Ele vai passar a noite para o meu contato nos Estados Unidos.

Mags assentiu e deu uma mordida na barra de proteína. O gosto era


delicioso e ajudou a conter a fome, que começava a voltar depois de não
comer desde aquela manhã. — Você conseguiu tirar uma foto? — Ela
perguntou depois que ela engoliu um pedaço.

Dave acenou com a cabeça. Ele não falava muito, o que a deixava
nervosa.

— Foi tudo bem? Tentei mantê-lo do lado de fora o máximo


possível. Eu também tentei procurar você, mas não quis ser óbvia.

— Você foi perfeita. — Disse Dave, levantando a mão dela e beijando


as costas dela.

— O que há de errado? — Ela sussurrou.

— Nada.

Ela mordeu o lábio. Algo estava definitivamente errado. Ela não via
Dave há anos, mas no tempo em que esteve perto dele na última semana
ou assim, ela começou a ler seu humor com bastante facilidade. E algo
definitivamente não estava certo no momento.

Ela ficou quieta pelo resto da viagem de volta ao motel. Era incrível
não ter que andar os oito quilômetros até o bairro, ela não podia negar. Ball
parou em um estacionamento nos fundos do motel, e ela não ficou
realmente surpresa ao ver Gray já lá, esperando por eles.

Dave a ajudou a sair da minivan e segurou sua mão quando ela


estava ao lado dela.

— Dê o lenço para ele. — Disse Dave, parecendo um pouco mais


calmo do que na van.

Mags enfiou a mão no bolso e tirou o lenço de papel usado que David
tinha assoado antes. Não muito a enojava depois de tudo que ela tinha
visto e feito, mas por algum motivo, meleca ainda a faziam querer vomitar.
Ela o segurou por um canto enquanto o colocava em um saco
plástico que Gray estendeu.

Rindo, Gray disse: — Para mim, é vômito. Eu posso lidar com merda,
saliva, sangue e qualquer outra coisa que o corpo humano possa
expelir... Exceto para vômito. Isso me faz querer vomitar todas às vezes.

— Como você está lidando com cuspe de bebê? — Dave perguntou


com um leve sorriso.

Gray fez uma careta. — Estou lidando com isso bem. Quero dizer,
quando ele arrota depois de comer, é basicamente apenas leite, então não
é tão nojento.

— Você terá um grande problema quando Darby pegar uma gripe.


— Disse Ball com uma risada. Ele não havia se movido do banco do
motorista, e era óbvio que ele iria levar Gray a algum lugar para que
pudesse enviar o lenço.

— Não. Allye e eu já fizemos um acordo. Vou trocar as fraldas


sempre que estiver em casa pelo tempo que eu precisar, e ela vai cuidar
de qualquer vômito que possa acontecer. — Gray disse com um sorriso e
uma piscadela. Então ficou sóbrio. — Como está David?

Mags se encolheu. Ela não estava acostumada a falar sobre seu filho
tão abertamente. Inferno, antes de hoje, nenhuma das mulheres com
quem ela vivia sabia sobre ele. — Ele está bem.

— Vi as fotos que Dave enviou. Ele é adorável... E a imagem cuspida


de sua mãe. — Disse Gray. Em seguida, ergueu o queixo de Dave e subiu
no lado do passageiro da minivan.

Dave não lhe deu chance de responder, apenas a puxou em direção


à porta do motel.
Ainda se sentindo desconfortável, Mags deixou Dave conduzi-la
pelas escadas até o segundo andar e para um quarto ao lado da
escada. Ele abriu a porta e segurou-a aberta, gesticulando para que ela
entrasse primeiro. Ela o fez e, à primeira vista, o quarto não era nada
especial. Tinha duas camas queen size, uma pequena televisão em uma
cômoda e uma mesa e cadeira ainda menores no canto.

Dave foi até uma bolsa no chão e a jogou no colchão. Tinha algum
tipo de fechadura biométrica e Dave usou o dedo para destrancá-la. Ele
puxou um laptop e colocou a bolsa de volta no chão.

Mags ficou no meio da sala se sentindo pouco à vontade. Pela


primeira vez, ela estava perfeitamente ciente de como ela deveria
parecer... E cheirar. A higiene pessoal não era algo em que ela pensasse
muito, simplesmente porque não tinha os meios ou a capacidade de fazer
muito a respeito.

Mas ficar no quarto limpo do motel, vendo Dave se acomodar na


colcha limpa, tornou dolorosamente óbvio que ela estava suja. Ela não
sabia o que fazer, onde sentar, o que dizer. Ela se sentia extremamente
estranha, o que ela odiava.

Dave havia aberto o computador e estava ocupado clicando nas


teclas. Ele nem olhou para cima quando disse: — Se você quiser, pode ir
tomar banho. Tem sabão e outras coisas lá.

Deus, como ela queria tomar aquele banho. Fazia muito tempo que
Mags não conseguia tomar um banho quente... E não se preocupar com
quem pode querer se juntar a ela e o que eles podem querer fazer com
ela.

Mesmo assim, ela hesitou. — Achei que íamos conversar. — Disse


ela.
Dave ergueu os olhos então - e Mags quase cambaleou para trás ao
ver a expressão em seus olhos. O desejo era fácil de ver. Mas foi a
frustração e agonia que realmente a atingiu.

— Há tantas coisas que quero fazer por você, Raven. Eu quero te


alimentar. Vestir você. Dar a você um lugar seguro para curar. Quero
que meus amigos sejam seus amigos e quero dar ao nosso filho o conforto
e a segurança que ele tem perdido. E mais do que tudo, eu quero te
abraçar. — Ele suspirou profundamente. — Mas eu sei de todas essas
coisas, as únicas que eu posso fazer no momento são alimentar e vestir
você. Pedi a Ball para pegar algumas coisas que achei que você gostaria
de usar hoje e elas estão no banheiro, no balcão. Eu adivinhei os
tamanhos. Não tenha pressa. Vou levá-la de volta ao bairro a qualquer
hora se quiser ir - você não é uma prisioneira aqui. Mas espero que depois
do banho você fique e... Fale. Apenas falar. Ball disse que iria dormir com
um dos outros esta noite. Você não precisa ter medo de ficar sozinha
comigo. Vamos apenas conversar.

— Não estou com medo de você. — Disse Mags. Havia muito mais
no que ele acabara de dizer, mas ela não conseguia pensar em tudo sem
querer chorar. Então ela se concentrou nas coisas mais simples. — Tenho
certeza de que tudo o que Ball tem está bom, mas prefiro colocar minhas
próprias coisas de volta.

— Se quiser, pode lavá-las no chuveiro e usar as coisas novas


enquanto suas roupas estão secando. Então você pode mudar de volta
para elas... Antes de você ir.

Era óbvio o quão difíceis essas últimas palavras foram para Dave. —
Não é que eu não queira usar o que Ball deu para mim. — Ela tentou
explicar. — É que estou mais confortável com minhas próprias coisas.

Ele assentiu. — Eu sei. Vá em frente, querida. Não tenha


pressa. Preciso enviar essas fotos e falar com alguns de meus contatos.
Mags sabia que ela o desapontou. E ela odiava isso.

Então, algo a atingiu pela primeira vez. — Meus pais sabem?

Dave inclinou a cabeça enquanto a estudava. Mags tinha esquecido


como ele faria isso quando estava pensando no que dizer. Era uma das
milhões e uma das coisas que ela amava nele... E ela se esqueceu disso. A
tristeza ameaçou dominá-la.

— Sabem que você foi encontrada? Sim. Mandei um e-mail na


segunda noite em que estive aqui. Eles estão ansiosos para ver e falar com
você, e eu disse a eles que teriam que esperar você estar pronta. Aclimatar
de volta à sua antiga vida levará algum tempo. Mas eles estão em contato
desde então.

— Você não contou a eles sobre David? — Ela perguntou.

— Não. Não é meu trabalho.

— Mas você contou aos seus amigos.

Dave acenou com a cabeça. — Eu fiz. Porque preciso da ajuda deles


para tirá-lo do país. Depois de ver onde Del Rio o está prendendo, não vai
ser tão fácil quanto eu esperava. Duvido que possamos simplesmente
entrar naquela casa e tirá-lo de lá.

Mags acenou com a cabeça, concordando.

— Certo. Então eu tive que contar a eles. Eles tinham que saber que
não é mais uma questão de esperar que você se sinta confortável vindo
comigo. Temos que resgatar uma criança. Nosso filho.

A maneira como ele continuava reivindicando David como seu


ameaçava desfazer Mags. — Tenho medo de perguntar o que pensam de
mim. Ou você ainda quer ficar comigo, sabendo que tive um filho com
outra pessoa.
Dave colocou seu laptop de lado e caminhou lentamente em direção
a ela. Ele ficou perto, mas não a tocou. — Raven, eles entendem. Eles
trabalham em casos de tráfico há anos. Eles sabem exatamente como as
coisas funcionam e as consequências delas. Você quer saber o que eles
pensam de você? Eles estão impressionados pra caralho, é isso. Você é
incrível. Forte como o inferno. De alguma forma, você conseguiu manter
sua humanidade e compaixão mesmo depois do que foi feito a você. Eles
sabem que David é seu filho e agora também é meu. Nós cuidamos dos
nossos. Ponto. Não haverá perguntas incômodas que você terá que
responder, e cada um deles protegerá David como se fosse deles. Você
tem minha palavra.

E com isso, as lágrimas se formaram, não importa o quanto ela


tentasse contê-las. Ela tinha ficado com medo por si mesma muitas vezes,
mas saber que David tinha a proteção de cada um dos homens grandes e
fortes que tinham vindo ao Peru especificamente para procurá-la fez Mags
se sentir mais emocionada do que ela conseguia se lembrar em muito
tempo.

Dave levantou uma mão e usou o polegar para limpar lentamente as


lágrimas de sua bochecha. — Você não está mais sozinha, Raven. Você
tem uma grande família agora. Eles são um pé no saco às vezes, e muito
intrometidos, mas são leais e ferozmente protetores uns dos outros. — Ele
gesticulou para o banheiro. — Eu tenho autoridade para dizer que a água
neste motel é agradável e quente, e você pode tomar banho o quanto
quiser, e não vai acabar.

Mags fez o possível para sorrir. — Zara? — Ela perguntou.

Dave devolveu o sorriso. — Sim. Meat disse que ela ficou lá tanto
tempo da primeira vez, que seus dedos estavam enrugados o suficiente
para ele pensar que nunca se recuperariam.

Ela sabia que ele estava brincando e o apreciou por tentar aliviar o
clima.
— Você sempre foi tão linda. — Dave disse do nada. — Mas eu não
tinha ideia do que era beleza até te ver com nosso filho hoje. Ele é perfeito,
Raven. Tão fodidamente perfeito, quase não consegui respirar quando vi
vocês dois sentados juntos.

E assim, Mags estava chorando de novo.

— Eu juro pela minha vida que vou tirar vocês dois daqui. Del Rio
não passará de uma memória ruim, e vou passar o resto dos meus dias
garantindo que você e nosso filho tenham tudo que seus corações
desejam.

Tudo que Mags podia fazer era necessário. Ela não conseguia mais
vê-lo em meio às lágrimas, então cegamente se virou para o banheiro.

Ela precisava ficar longe dele e de suas belas palavras. Ela precisava
de tempo para se recompor. Como se percebesse que ela estava à beira
de um colapso, Dave a deixou ir sem dizer uma palavra.

Mags fechou a porta do banheiro e não se preocupou em trancá-


la. Ver a pilha de roupas no balcão a fez chorar ainda mais. Ela abriu a
torneira do chuveiro e, quando atingiu a temperatura perfeita, entrou na
banheira totalmente vestida. Levantando o rosto para o spray, ela deixou
suas lágrimas caírem quentes e rápidas.
Dave queria se chutar. Ele não tinha a intenção de fazê-la chorar. Ele
simplesmente não conseguia evitar dizer a ela o quão tocado ele tinha sido,
vendo ela e David juntos. No segundo em que pôs os olhos no menino,
Dave se apaixonou. Ele podia ver facilmente as feições de sua esposa em
David, e testemunhar o amor óbvio que eles tinham um pelo outro o fez
jurar naquele momento e ali que faria o que fosse necessário para mantê-
los seguros.

O fato de ela ter tido um filho biológico era um milagre. Eles estavam
prontos para adotar e amariam qualquer criança que tivessem a sorte de
receber em sua casa, mas ver um menino que se parecia tanto com Raven
foi uma bênção. As circunstâncias de seu nascimento nada tiveram a ver
com a criança que ele era hoje. Dave ainda queria matar todos que
ousaram tocar em sua esposa, mas ver David o fez perceber que, na
escuridão, sempre havia alguma luz.

Ele não sabia que nem ele nem Raven eram as mesmas pessoas que
eram há dez anos, mas vê-la com seu filho realmente martelou esse
fato. Não eram apenas os dois, eles agora tinham um pequeno humano
para proteger. O que Dave queria não importava mais. Sua vida seria se
certificar de que as necessidades de seu filho e de sua esposa fossem
atendidas - que eles estivessem seguros de que eram amados e seguros.

E agora, David estava tudo menos seguro. Isso ficou óbvio depois
de ver até que ponto Del Rio tinha ido para abrigá-lo. Havia guardas
armados patrulhando a casa, e a cada segundo que David e Raven
estavam no quintal, havia olhos sobre eles. Era estranho que Del Rio
mantivesse uma única criança trancada atrás do que basicamente
equivalia a grades de prisão.
As razões pelas quais Del Rio poderia fazer tal coisa eram
impensáveis e repulsivas, mas pouco surpreendiam Dave. Os Mountain
Mercenaries foram enviados ao Peru em primeiro lugar por causa do
tráfico de crianças.

Como resultado de seu reconhecimento hoje, Dave percebeu que


não seria tão fácil quanto ele esperava recuperar o que era seu por
direito. E ele sabia, sem pensar duas vezes, que Davi era dele.

Ele conseguiu as fotos de que precisava para o passaporte do


menino, e muito mais, mas tirá-lo de casa era outra coisa. Ele ligou para
Gray e os outros enquanto Raven estava visitando seu filho, e eles tiveram
uma mini sessão de brainstorming sobre o que fazer, mas nada certo foi
decidido.

Embora Dave quisesse matar qualquer um que o mantivesse


afastado do filho e que o mantivesse afastado da mãe, não foi tão fácil. Os
Mountain Mercenaries geralmente não matam a menos que seja
absolutamente necessário. Eles não eram assassinos contratados. De
modo nenhum. Seu objetivo principal era resgatar mulheres e crianças
daqueles que as oprimiam.

Parecia que eles provavelmente teriam que sequestrar seu filho, o


que era uma merda. Dave odiava ter que traumatizar a criança, e ter os
Mountain Mercenaries invadindo a casa onde ele estava sendo mantido
provavelmente faria exatamente isso, mas não era como se Del Rio fosse
desistir do menino voluntariamente.

Quanto mais Dave pensava nisso, mais ele sabia que Del Rio tinha
um plano para David. Ele não sabia o que era, apenas que era horrível. O
homem decidiu criar David separadamente dos outros filhos que ele
sequestrou dos barrios ou tirou de suas mulheres, e havia um motivo.
Ele deve ter ficado perdido em sua cabeça por mais tempo do que
pensava, porque a próxima coisa que Dave percebeu, a porta do banheiro
rangeu ao se abrir, e então Raven estava lá.

Seu cabelo caiu contra suas costas. Ainda estava úmido, mas as
pontas estavam começando a secar, enrolando levemente. Seu rosto
estava rosa do calor do chuveiro. Ela vestiu as roupas que Ball comprou -
um par de leggings e uma camiseta bege com uma grande lhama nela... A
ideia de piada do outro homem.

Se Dave fechasse os olhos, ele poderia imaginá-la exatamente da


mesma maneira quando eles estavam de férias em Vegas. Ela saiu do
banheiro vestindo nada além de uma camiseta branca. Ela sorriu
timidamente para ele e torceu o dedo provocativamente, chamando-o para
mais perto.

O cheiro do sabonete do motel pairava no ar, fazendo-o desejar ter


dito a Ball para pegar algo florido para ela se banhar.

Ela parecia hesitante e insegura, o que Dave odiava. Ela costumava


ser tão segura de si mesma e de sua sexualidade. Ela o tinha enrolado em
seu dedo mindinho, e os dois ficaram mais do que felizes com isso.

Dave deu um tapinha no colchão ao lado dele na cama queen-


size. — Venha sentar, Raven.

Ela caminhou lentamente em direção a ele, sentando-se


cautelosamente na cama, mas tão longe dele quanto ela podia ficar. Isso
incomodou Dave mais do que ele queria admitir, mas ele não deixou seus
sentimentos transparecerem em seu rosto. A última coisa que ele queria
era deixar Raven desconfortável. Só o fato de ela estar ali já era um grande
passo. Ela poderia ter voltado direto para o bairro para dormir com os
amigos em vez de concordar em vir para o motel.
— É estranho ouvir você me chamar de Raven. — Ela admitiu
suavemente.

Dave sorriu. — Eu sei, mas é isso que você é para mim. Minha
Raven.

— Ela se foi. — Disse Raven. — Mags tomou o lugar dela.

Dave balançou a cabeça. Ela não se foi. Ela está aí. No fundo, talvez,
mas ela está lá.

Sua esposa apenas olhou para ele. Então, mudando de assunto, ela
perguntou: — Você vai me dizer como você conseguiu a cicatriz?

Suspirando, Dave desviou o olhar dela pela primeira vez. Ele não se
importava de contar a ela, mas esperava que começassem com uma
conversa fiada primeiro. Tocando a cicatriz nodosa em seu pescoço, Dave
tentou pensar em um bom lugar para começar.

— Você não precisa falar sobre isso se te deixar desconfortável.

— Eu sou um livro aberto para você, Raven. — Dave disse a ela,


voltando-se para encontrar seu olhar. — Fiz coisas na última década das
quais não me orgulho, mas não mudaria nada se isso significasse que não
estaria sentado aqui com você neste segundo.

Raven piscou surpresa, mas então assentiu e se moveu para colocar


as pernas sob as cobertas. Vê-la ficar confortável fez algo em Dave relaxar
um pouco. Ela não parecia estar pronta para pular e sair. Ele falaria a noite
toda se isso significasse mantê-la ao seu lado.

— Os primeiros meses depois de você desaparecer... Não foram


bons. — Ele disse hesitantemente. — E eu sei que é ridículo para mim dizer
isso, considerando o que você estava passando. Eu estar triste, confuso e
com raiva parece mesquinho em comparação.
Ela se inclinou e colocou a mão em seu braço. — Eu não posso
imaginar o que você passou. — Ela disse suavemente. — Quer dizer, eu
não estava exatamente no Club Med. Mas ter-me lá em um segundo e ido
no próximo foi terrível para você.

— Foi um inferno. — Disse Dave. — Inferno absoluto. Não


conseguia parar de pensar no que você pode estar passando. Querendo
saber se você estava viva ou morta... E se estivesse viva, você estava se
perguntando por que ninguém apareceu para salvá-la? Eu fiquei um pouco
louco. Fiz várias viagens de volta a Las Vegas e basicamente assediei a
polícia. Quando ficou óbvio que eles não podiam fazer nada mais do que
já fizeram para te encontrar, eu meio que perdi o controle. Decidi que se
eles não iriam sair do controle e encontrar você, eu teria que fazer isso
sozinho. O que não era justo com eles. Eles foram acima e além para
rastreá-la, mas você parecia ter desaparecido no ar. Então eu coloquei na
minha cabeça que uma gangue local de motociclistas tinha levado você e
estava mantendo você como refém em um de seus complexos.

Ele parou de falar, lembrando o quão baixo ele tinha afundado para
tentar se infiltrar no Vegas Panthers Motorcycle Club.

A mão de Raven passou de seu braço até sua mão. Ela entrelaçou
os dedos nos dele e apertou.

Dave olhou para suas mãos entrelaçadas, e a bola de ódio que ele
segurou dentro dele por dez longos anos pareceu quebrar em mil pedaços
e simplesmente se dissolver.

Ter sua esposa de volta com ele, tocando-o voluntariamente,


tentando confortá- lo quando ele deveria fazer tudo ao seu alcance para
cuidar dela... Ele se esqueceu do poder que ela sempre teve sobre
ele. Como com apenas um toque, ela poderia fazê-lo derreter.

— Eu fiz algumas coisas das quais não me orgulho, mas nunca matei
ninguém. Eu passei mais de um mês saindo e bebendo com os homens no
MC. Certa noite estávamos em um bar e, enquanto eu bebia, comecei a
pensar em você. Eu estava chateado e frustrado. Eu perdi um mês da
minha vida tentando me infiltrar na gangue e descobrir se eles estavam
envolvidos com tráfico sexual, e tudo que eu consegui por meus esforços
foi uma forte dor de cabeça todas as manhãs. Eu sabia que ninguém
confiava em mim e não conseguia mais lidar com isso.

— O que você fez? — Raven perguntou suavemente.

— Eu confrontei o presidente do clube. Encarei o rosto dele e exigiu


saber onde você estava. Vamos apenas dizer que ele não ficou muito feliz
por eu não ser quem eu retratei ser, ou que eu tinha visto na cara dele. Seu
Sargento de Armas e VP me levaram para trás e me deram uma surra de
merda. Eles pensaram que eu era de uma gangue rival que estava
tentando obter informações sobre os Vegas Panthers. Eles me deixaram
como lembrança.

Mais uma vez, Dave tocou a cicatriz em seu pescoço. Desceu da


gola de sua camisa até o topo de seu peito. Ele teve muita sorte por eles
não terem realmente querido matá-lo. Se tivessem, ele teria sangrado em
minutos.

— Eu soube então que tinha que mudar minha tática. Depois de ser
suturado, fui para casa em Colorado Springs e coloquei toda minha
energia em aprender como usar a web a meu favor. Eu precisava ver se
conseguia rastreá-la eletronicamente. Aprendi como coletar informações
sobre quase qualquer grupo ou indivíduo invadindo suas contas bancárias,
redes sociais, e-mail, registros telefônicos ou seguindo-os para invadir
câmeras de trânsito, até mesmo câmeras de segurança doméstica.

— Como você se juntou aos seus amigos? — Raven perguntou.

Seus olhos estavam focados em seu rosto e ela realmente parecia


fascinada.
— Depois de um tempo, comecei a descobrir sobre outras mulheres
que foram sequestradas. Encontrei histórias sobre crianças que foram
tiradas do país por seus pais que não tinham a custódia. Eu não tinha
encontrado você, mas me deparei com outras redes de traficantes. Outras
mulheres que eram esposa, irmã, filha, amiga de alguém. Eu não poderia
simplesmente deixá-las sofrer, não quando eu sabia onde elas estavam e
o que estavam passando. Mas depois da minha tentativa malfadada de
fazer as coisas sozinho, eu sabia que nunca seria capaz de realizar um
resgate completo. Assim... Eu hackeei alguns bancos de dados militares.

— Puta merda, isso não é perigoso?— Raven perguntou, apertando


sua mão.

Nada parecia melhor do que a mão dela na dele. Dave acenou com
a cabeça. — Sim, se eu tivesse sido pego, estaria na merda, mas tive
sorte. Pesquisei registros de alguns dos mais condecorados soldados e
marinheiros das Forças Especiais. Se eu fosse enviá-los para situações
perigosas, precisava saber que eles poderiam se virar sozinhos. Eu não
queria que eles soubessem quem eu era, no entanto. Quero dizer, quem
concordaria em trabalhar para um proprietário de bar operário que nunca
foi militar? Então, eu convenci todos eles a virem ao The Pit para uma
'entrevista'. Eles ficaram putos quando 'Rex' nunca apareceu, mas o que
eles não perceberam é que eu já sabia que eles poderiam fazer o
trabalho. Era a química entre eles que estava em questão. Eu queria um
grupo de homens que se protegessem sem questionar. Que poderiam
trabalhar juntos nas situações mais estressantes.

— E eles podiam. — Raven concluiu.

— Sim. Eles se uniram sobre sua irritação por eu nunca ter


aparecido e jogaram sinuca e conversaram a noite toda. Antes de
partirem, eu sabia que eles eram a equipe de que eu precisava.

— Como você conseguiu pagá-los?


Dave encolheu os ombros. — Investimentos e sorte. Conheci
algumas pessoas na web que me ensinaram a versão do mercado de
ações da contagem de cartas. Demorou um pouco, mas quando comecei
a ganhar dinheiro, as coisas tornaram-se uma bola de neve. Também
houve doações ao longo dos anos. — Ele apertou a mão de Raven. —
Dinheiro não é problema. Posso cuidar de você e de David e dar tudo o
que você sempre quis. Atualmente moro em um pequeno apartamento
não muito longe do The Pit, mas posso comprar um terreno e construir a
casa dos seus sonhos.

— Eu não preciso de muito. — Raven disse suavemente. — A única


coisa que quero é estar segura e que David possa correr, jogar e ser livre.

— Combinado. — Dave disse imediatamente. Após um momento de


hesitação, ele perguntou: — Você pode me dizer o que aconteceu? Não
necessariamente os detalhes, apenas no geral? Se nada mais, mesmo que
tenha sido uma década atrás, pode me ajudar a entender mais
completamente como a rede opera e como ela visa às mulheres, para que
eu possa fazer o meu melhor para impedi-los.

Mags sabia que a pergunta estava chegando. Mas, estranhamente,


ela sentiu como se pudesse compartilhar com Dave. Ela não tinha falado
sobre como foi levada ou o que aconteceu com alguém em dez anos. Ela
manteve tudo engarrafado dentro. Mas depois de ouvir até onde Dave
tinha ido para tentar encontrá-la, de alguma forma isso a fez sentir...
Segura. Ele não tinha simplesmente encolhido os ombros e continuado
com sua vida enquanto ela estava sofrendo.

Ele estava sofrendo tanto quanto ela... De uma maneira diferente,


sim, mas a agonia estava lá do mesmo jeito. Ela olhou para a cicatriz em
seu pescoço e estremeceu. Ele teve sorte. A cicatriz era profunda e
nodosa, e ele poderia ter sangrado.

Ambos tiveram sorte.


Mags sabia que algumas pessoas pensariam que ela era
louca. Como ela poderia ter sorte depois de ser sequestrada e forçada ao
comércio do sexo? Ela estava viva, era assim. E ela teve um filho lindo e
inocente como resultado. Isso em si já era um milagre. E de alguma forma,
por meio de uma série de eventos que ela nunca entenderia, seu marido
estava aqui neste segundo. Ela estava segurando sua mão. E ele estava
olhando para ela com tanto amor e respeito quanto ele tinha por ela dez
anos atrás.

Em todas as suas fantasias, ela nunca pensou que Dave ainda


pudesse amá-la depois de tudo o que tinha acontecido com ela. Mas aqui
estava ele. Sentado ao lado dela, ainda provando com cada palavra que
saía de sua boca que ele era tão dedicado a ela hoje quanto o havia sido
há uma década.

Sim, ela teve sorte. Ela sabia melhor do que a maioria quantas
mulheres morreram no cativeiro. Elas não tiveram a chance de ver suas
famílias e entes queridos novamente. Elas foram usadas e abusadas até
desistirem.

— Se você não puder, eu entenderei. — Dave disse suavemente


quando o silêncio se estendeu.

— Eu tinha acabado de ir ao banheiro e acabado de sair do banheiro.


— Mags disse, começando sua história. — Um homem veio até mim e
colocou o braço em volta dos meus ombros. Ele era forte e, embora eu
tentasse me afastar dele, não consegui. Ele disse que se eu não fosse com
ele, seu parceiro mataria você. Eu estava confusa e com medo e não sabia
o que fazer. Antes que eu percebesse, fui conduzida para fora do clube e
estava sendo empurrada através do cassino. Ele me acompanhou até um
carro pela porta da frente do hotel e me empurrou para dentro. Havia três
outros homens lá, e não importa quantas vezes eu perguntasse o que eles
queriam e onde você estava, ninguém me respondia. Não sei até que
ponto dirigimos, mas não foi muito longe, acho que não. Fui levada para
uma casa e um porão. Eles me jogaram em uma caixa de cachorro e a
trancaram.

Mags ouviu Dave respirar fundo, mas não olhou para ele, sabendo
que precisava contar a história toda. Ela se concentrou em suas mãos
entrelaçadas ao invés. Ver os dedos grandes e calejados de seu marido
enrolados em torno dos dela a manteve com os pés no chão.

— Não facilitei as coisas para eles. — Lembra ela. — Eu gritei e gritei


e exigi que me soltassem. Acho que se cansaram de me ouvir e alguém
desceu e atirou em mim com uma espécie de dardo. Não me lembro muito
da viagem para fora do país, mas me lembro de voltar uma vez e ver um
enorme trailer. Eles estavam carregando a mim e a algumas outras gaiolas
com outras mulheres dentro delas, atrás de uma divisória oculta. Presumo
que foi assim que nos tiraram do país e entraram no México.

Quando finalmente acordei totalmente, estava em um quarto e meus


braços estavam acorrentados a uma cama. Fazia muito tempo que não
comia e estava desidratada, mas aquela primeira noite me ensinou o que
estava por vir. Não me lembro quantos homens entraram no meu quarto
naquela noite. Eu pensei que se eu permanecesse sem resposta, eles
parariam, não querendo estar com uma mulher que simplesmente estava
deitada lá inerte. Mas eles não fizeram. Pareceram horas depois, mas
provavelmente foi muito menos do que isso quando Del Rio entrou em meu
quarto. Foi a primeira vez que o encontrei. Eu estava deitada na cama nua,
morrendo de medo e sofrendo. Ele me disse que agora eu pertencia a ele,
e meu trabalho era fazer os homens que vinham me ver felizes. Se o
fizesse, eventualmente teria um pouco mais de liberdade para me mover,
conversar com outras pessoas, comer. Se continuasse a ser um pé no
saco, ficaria acorrentada à cama e receberia apenas alguns restos de
comida por dia. De qualquer forma, eu seria forçada a abrir minhas pernas
para quem viesse me ver.
Mags falou mais rápido. Ela podia sentir a tensão e a fúria vindo de
seu marido. Ela não podia culpá-lo. Mas ela precisava contar a
ele. Precisava que ele soubesse o que havia acontecido com ela e no que
ele estava se metendo. Se ele decidisse que não conseguiria lidar com
isso, ela precisava saber agora, antes de voltar para os Estados Unidos.

— Eu lutei depois disso. Recusando-me a simplesmente deitar e


aceitar o que estava acontecendo comigo. Mas, eventualmente, eu
quebrei. Eu estava faminta. Um cliente entrou em meu quarto com uma
maçã. Apenas uma. Mas ele levantou e disse que se eu o deixasse me
levar sem lutar, ele daria para mim. — Lágrimas se formaram em seus
olhos ao se lembrar da humilhação. — Eu estava com tanta fome... Eu
concordei. — Ela admitiu suavemente. — Achei que se não tivesse sido
encontrada àquela altura, talvez nunca o fosse. Eu não tive escolha. Se eu
quisesse viver, precisava me ajustar à minha nova situação. Então, da
próxima vez que Del Rio veio me ver, eu disse a ele que faria o que ele
quisesse. Nunca vou esquecer o sorriso no rosto dele. Ele sabia que tinha
me quebrado. Ele tinha feito isso uma e outra vez com centenas, talvez
milhares de mulheres, e ele detinha todo o poder.

— Olhe para mim. — Disse Dave em um tom que Raven não


conseguiu ler.

Ela não queria, mas finalmente olhou para ele, esperando ver raiva
ou desgosto em seu belo rosto. Mas o que ela viu quando olhou em seus
olhos a surpreendeu.

— Estou incrivelmente indignado com o que aconteceu com


você. Mas também estou incrivelmente orgulhoso.

— Como você pode ser? Você não ouviu o que eu fiz? O que
eu fiz voluntariamente?

— Você não fez nada voluntariamente. — Disse Dave sem


hesitação. — Só porque você parou de resistir fisicamente, não significa
que você gostou ou quis. Você fez o que tinha que fazer para permanecer
viva. Nós dois sabemos que se você continuasse a lutar, estaria morta
agora. Del Rio não teria nenhum problema em deixar você morrer de
fome. Ele não tem consciência. Você era apenas uma coisa para ele. Mas
você sabe o que? Você ganhou. Ele pensou que quebrou você, mas não o
fez. Ele te fez mais forte. Você está aqui. Você tem um grupo de amigas
que faria qualquer coisa por você e você tem um filho maravilhoso. Foda-
se ele.

Mags não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Dave deveria


estar louco. Deveria estar chateado com ela por não lutar mais. Mas em
vez disso, ele a estava elogiando. Ela não conseguia entender isso. — Eu
sei que você deve estar se perguntando por que eu não tentei entrar em
contato com você depois que saí. — Disse ela hesitante.

Dave balançou a cabeça imediatamente. — Não, eu entendo.

Mags estava cética. — Você entende?

— Sim. Quando Zara voltou para o Colorado, demorou um pouco


para se aclimatar. Quando ela estava pronta, ela deu uma entrevista
coletiva para responder algumas das perguntas sobre onde ela esteve por
quinze anos. Um dos repórteres teve a coragem de perguntar por que ela
não se esforçava mais para dizer a alguém quem ela era. Para obter
ajuda. Ela não perdeu o controle, mas cortou aquele repórter em pedaços
com sua resposta.

— O que ela disse? — Mags perguntou.

— Não me lembro das palavras exatas, mas o que ela disse em alto
e bom som foi que ela fez o melhor que pôde com o conhecimento e os
recursos que tinha na época. Ela era uma criança. Morrendo de medo e
tentando sobreviver em um mundo estranho em que foi jogada sem aviso
ou preparação. E ela garantiu que todos entendessem que a pergunta era
ofensiva. Podemos questionar suas decisões o quanto quisermos, mas o
resultado é que não estávamos lá. Não sabemos o que ela estava
passando e, portanto, não podemos fazer isso. E agora que sei sobre
David, entendo ainda mais suas decisões.

— Eu não poderia deixá-lo. — Mags sussurrou. — Ele é inocente em


tudo. Se eu o deixasse, estaria jogando-o para os lobos. Ninguém cuidaria
dele como eu. Ninguém diria que ele era inteligente e forte.

— Entendo. — Disse Dave.

Mags olhou para suas mãos entrelaçadas mais uma vez. — E... Eu
estava envergonhada. Não tinha ideia se você seguiu em frente e
encontrou outra pessoa. Não queria voltar para sua vida se você fosse feliz
e se casasse novamente. E eu realmente não gostei do que tive que fazer
para sobreviver.

— Eu não estive com ninguém desde a última noite que passamos


juntos em Vegas. — Disse Dave.

Suas palavras foram semelhantes a uma bomba sendo lançada na


sala.

Os olhos de Mags se voltaram para ele. — O que?

— Eu não toquei em outra mulher desde que você desapareceu. —


Dave esclareceu.

— Mas... Já se passaram dez anos!

— Eu sei. Como eu poderia fazer amor com outra pessoa quando


tudo que eu queria era você? Eu não sabia se você estava viva ou morta,
mas não importava. Se eu tivesse tocado em outra pessoa, teria me
sentido como se estivesse te traindo. E prefiro arrancar meu pau do que
desonrá-la dessa maneira.

— Dave... — Mags sussurrou, oprimida.


— Ouça-me agora, Raven. — Disse Dave. — Eu faria qualquer coisa
por você. Qualquer coisa. Enfrentar um clube de motociclistas enfurecido,
aprender tudo que puder sobre a dark web e hacking, contratar ex-homens
das Forças Especiais para caçar e encontrar mulheres e crianças
desaparecidas na esperança de que algum dia, uma delas possa ser
você. Eu até morreria se isso significasse que você e nosso filho poderiam
sobreviver. Desistir do sexo não foi nada no âmbito do que eu perdi,
querida.

Movendo-se lentamente, Mags chegou mais perto de seu marido e


descansou a cabeça contra ele. Ele se mexeu até que seu braço estivesse
sobre o ombro dela. Ela ficou tensa, não se sentindo confortável por estar
presa sob seu braço, mas quando ele não a agarrou ou fez qualquer coisa
que a deixasse nervosa, ela lentamente relaxou.

Sua mente estava girando com tudo que ela aprendeu esta
noite. Não só o marido dela não se esqueceu dela, ele mudou
completamente sua vida, mudou quem ele era, para tentar encontrá-la. Ela
se arrependeu de não ter tentado entrar em contato com ele no momento
em que Del Rio a expulsou de seu complexo sem um sol peruano em seu
nome. Mas ela não podia mudar o passado. Ela ainda estava com
vergonha do que foi forçada a fazer, mas de alguma forma, sentada com
Dave neste motel, limpa do banho e deitada na cama mais macia que ela
esteve em uma década, a vergonha parecia menor.

Ela não podia acreditar que Dave não esteve com outra mulher
durante todo o tempo que ela esteve fora. Ela não teria ficado chateada se
ele tivesse - a vida continuava, ela sabia disso tão bem quanto qualquer
pessoa. Mas o fato de que ele se absteve apenas provou quão profunda
era sua devoção.

Por um momento, uma centelha de esperança brilhou em seu


peito. Haveria uma chance de eles poderem retomar de onde pararam dez
anos atrás?
Mas então a realidade apareceu.

— Não tenho certeza se quero fazer sexo novamente. — Ela


sussurrou.

O braço de Dave apertou em torno dela brevemente em uma


espécie de abraço de lado. — Eu não dou a mínima para isso. Fiquei sem
ele por dez anos e consegui muito bem usar minha mão quando realmente
preciso gozar. Não te amo por causa do sexo, querida. Eu te amo
por você. Tudo que eu quero é você de volta na minha vida. Você é o
suficiente do jeito que você é. E, honestamente, não te culpo nem um
pouco. Se eu tivesse passado pelo que você passou, também não gostaria
de ser tocado. O fato de você estar aqui comigo, me deixando sentar ao
seu lado, é um milagre. Aquele pelo qual orei todos os dias nos últimos dez
anos. Vamos abrir nosso caminho para um novo relacionamento, juntos.

Gah! Ela sempre soube que seu marido era incrível, mas ela havia
esquecido o quanto. — Você acha que vai continuar com os Mountain
Mercenaries? — Ela perguntou depois de um minuto.

— Sim. — Dave disse sem hesitação. — Eu encontrei você, mas isso


não significa que não existam outras mulheres lá fora que precisam ser
resgatadas. Elas têm entes queridos que desejam desesperadamente
saber o que aconteceu com elas. Onde elas estão. Não posso abandoná-
las agora que encontrei você. Eu simplesmente não posso.

Mags não se preocupou em enxugar as lágrimas que caíram de seus


olhos, encharcando o tecido de algodão da camisa de Dave.

— E mais do que isso, estive pensando... Não faz muito sentido dar
a casa antiga de Daniela para Maria, Carmen, Bonita e Teresa.

Mags ficou imóvel. — Por quê?


— Porque elas deveriam poder ir para casa se quiserem. De volta ao
Brasil, Venezuela e México. Elas têm famílias, assim como você. Posso
entrar em contato com seus parentes e informá-los que estão vivas.

Merda, Mags iria enlouquecer de novo. Ela conseguiu dizer: — E


Gabriella?

— Ela nasceu no bairro, né? Pensei que se ela quisesse e você


concordasse, talvez ela pudesse voltar para o Colorado conosco. Pode ser
bom para você ter alguém com você, além da Zara, desta parte da sua
vida. Alguém positivo.

E facilmente, Mags se apaixonou perdidamente pela segunda vez


por seu marido.

— Gostaria disso. E eu acho que ela também vai. — Ela conseguiu


dizer.

— Bom.

— Qual é o próximo passo? — Ela perguntou.

— Eu preciso entrar em contato com meu contato e dizer a ele que


estamos adicionando outra pessoa ao nosso grupo de viagem. Ela vai
precisar de um visto e terei de engraxar algumas rodas com meus contatos
no Departamento de Estado. E levar os outros de volta para seus países
de origem não será um passeio no parque, mas acho que posso subornar
alguns funcionários aqui no Peru para que isso aconteça com bastante
facilidade.

— E David? — Mags perguntou nervosamente.

— Isso é um pouco mais complicado, mas eu juro, não vamos


embora sem ele.
Mags tinha mais um milhão de perguntas, mas estava
exausta. Emocionalmente e fisicamente. E ela estava mais confortável do
que ela poderia se lembrar de estar a muito tempo. O braço de Dave ao
redor dela não parecia ameaçador. Parecia seguro. Ela podia ouvir seu
coração batendo sob o peito, e quando ele se mexeu para se deitar, ela
não entrou em pânico.

Movendo-se com ele, ela se deitou sob as cobertas enquanto ele


ficava por cima. A cabeça dela estava em seu peito largo, e um flashback
de dormir dessa maneira exata com ele, exceto que ambos estavam nus,
girou em sua cabeça.

Segura. Nos braços de Dave, ela estava segura.

Seus olhos se fecharam e ela adormeceu em segundos.

***

Dave ficou o mais imóvel possível e simplesmente memorizou a


sensação de ter sua esposa em seus braços. Ele não podia acreditar que
ela estava deixando ele segurá-la assim. Ele se sentia como se fosse Natal
e todos os outros feriados reunidos em um.

Ele passou a última década sonhando com este exato momento, de


ter Raven em seus braços, a salvo, e a realidade era muito melhor do que
suas fantasias.

Ela tinha passado pelo inferno. Inferno absoluto. Ele não conseguia
nem começar a processá-lo. Mas ele não podia. Ele estava tão orgulhoso
quanto podia dela. Ela sobreviveu. De alguma forma, milagrosamente,
sobreviveu. Dave odiava que ela tivesse vergonha, mas ele passaria o
resto de sua vida certificando-se de que ela soubesse o quanto ele a
amava e quão orgulhoso ele estava.

Era inacreditável que ela realmente estivesse aqui. Que ele a estava
segurando. Ele sempre soube que sua esposa era durona, mas depois de
ouvir sua história, e depois de saber que ela havia dado à luz a seu filho
sozinha, ele ficou ainda mais impressionado. Além de tudo, ela fez tudo o
que podia para proteger David também - não era uma tarefa fácil quando
alguém como Del Rio estava controlando cada segundo das atividades do
dia-a-dia do menino.

Dave estava mais do que pronto para tirar a esposa e o filho deste
país e voltar para casa no Colorado. Infelizmente, eles precisaram esperar
até terem o passaporte de David. Eles haviam entrado no país fingindo ser
turistas e, embora pudesse parecer estranho ter mais duas pessoas
voltando para casa com eles - três, se Gabriella também fosse -, ainda
poderia funcionar, especialmente se subornassem os funcionários da
alfândega no aeroporto.

Primeiro, eles teriam que bolar um plano para tirar David da casa
onde estava preso. Dave não queria matar as pessoas que o estavam
guardando, se isso fosse evitável. As mulheres certamente estavam sob o
domínio de Del Rio e apenas fazendo o que era necessário para sobreviver.

Del Rio tinha mais gente no bolso do que não, e havia uma chance,
se ele soubesse do plano de conseguir um passaporte para David e levá-
lo para fora do país, ele faria algo para atrasar o processo.

Parecia cada vez mais que a única escolha que tinham era invadir a
casa onde Del Rio estava mantendo David. Mas não havia como dizer o
que os homens e mulheres que estavam de guarda sobre o menino foram
instruídos a fazer se algo assim acontecesse. Se alguma coisa
acontecesse com David, Raven não sobreviveria. Ele sabia disso com
certeza.
Dave faria o que fosse necessário para levar David de volta aos
Estados Unidos em segurança. Não importava se ele tivesse que perder
toda a sua dignidade e implorar ao chefe da maior facção do tráfico sexual
da América do Sul que o deixasse levar o menino. Ele faria isso. A coisa
mais importante era levar Raven e David para casa. Não importa o que
custasse.

Por mais que quisesse ligar para sua equipe e invadir a casa esta
noite, ele sabia que precisavam esperar até que tivessem a papelada oficial
para tirar seu filho do país. Enquanto Del Rio era um idiota que abusava de
crianças, David morava na casa há quatro anos e meio. Eles não tinham
nenhuma evidência de que Del Rio faria um movimento na próxima semana
ou assim. Eles estariam melhor fazendo o reconhecimento, planejando o
ataque a casa e fazendo os preparativos para dar o fora do país assim que
tivessem David em suas mãos. E eles não podiam fazer nada que pudesse
deixar Del Rio suspeitando enquanto isso.

O chefão poderia já saber que alguém estava na cidade, andando


por Mags, mas com um pouco de sorte, demoraria um pouco para
descobrir quem eles eram.

Se ele soubesse que os Mountain Mercenaries estavam de volta e


que eles tinham uma conexão com a mãe de David, as coisas poderiam
ficar feias rapidamente.

Desejando poder acenar uma varinha mágica e ter sua esposa e filho
abrigados em segurança em sua casa em Colorado Springs, Dave sabia
que deveria se levantar e continuar enviando e-mails para seus contatos
para colocar as coisas em movimento para devolver os amigos de Raven
às suas famílias. Mas enquanto sua esposa estivesse dormindo em seus
braços, ele não moveria um músculo. Ele estimava isso. Ele sabia que isso
poderia nunca mais ter acontecido.
Fechando os olhos, Dave inalou o aroma limpo e ensaboado de
Raven em sua própria alma. Ninguém iria machucá-la novamente. Ele
morreria antes que isso acontecesse.
Mags passou os dias seguintes conhecendo o marido
novamente. Ele era muito parecido com ela, mas muito mais. Ele era
perspicaz e compassivo, mais do que quando eles estavam juntos.

Ela tinha ido ver David mais quatro vezes, só que agora Dave a
deixou e a pegou para que ela não precisasse andar os dezesseis
quilômetros. Ela sabia que seu marido e sua equipe estavam ocupados
reunindo informações sobre o que quer que estivessem planejando em
relação a seu filho, mas ela nunca os viu enquanto estava com David, e ele
não compartilhou nenhum desses detalhes com ela.

Eles avisaram Teresa, Bonita, Carmen, e Maria sobre os planos para


ajudá-las a chegar em casa, e todas as quatro mulheres tinham sido
sobrecarregadas com gratidão. Dave havia anotado seus nomes,
endereços, datas de nascimento e tudo o mais que precisava não apenas
para encontrar suas famílias - ou amigos, no caso de Bonita, cuja própria
família a vendeu para Del Rio - mas para conseguir a papelada necessária
para tirar as mulheres do Peru. Mags observou enquanto ele fazia o que
fazia de melhor... Usar o computador para obter informações e fazer as
coisas acontecerem.

Gabriella também ficou pasma quando Mags perguntou se ela queria


ir para os Estados Unidos com ela e o resto dos Mountain Mercenaries. Ela
concordou imediatamente. Mais tarde, ela disse a Mags que estava
morrendo de medo, mas que não havia mais nada para ela no Peru e que
queria uma chance de ter uma vida melhor para si mesma.

Mags tinha pensado que as noites seriam difíceis, dormindo no


quarto de motel com Dave, mas, surpreendentemente, ela dormiu melhor
do que em uma década. Aninhada contra ele, no colchão mais macio que
ela sentia em anos, o cheiro de seu marido em seu nariz... Mags não teve
nenhum problema para dormir.

Hoje, enquanto os amigos de Zara e Dave finalizavam os detalhes


da nova clínica que ela financiava, Dave decidiu levar Mags para
Miraflores. Era a parte mais turística de Lima. Ela ficaria contente em ficar
no quarto do motel o dia todo, mas ele disse que queria deixá-la com
algumas boas lembranças do Peru.

Foi gentil da parte dele. Ela sabia que ele estava apenas tentando
manter sua mente longe do fato de que eles ainda estavam esperando a
papelada para ela e as outras chegarem. E mais importante... Ela
suspeitava que eles ainda não haviam descoberto a melhor maneira de
tirar David das garras de Del Rio.

No momento, Dave estava na sala ao lado conversando com seus


amigos sobre isso. Suas vozes começaram abafadas, mas quanto mais o
tempo passava, mais alto ficavam. A frustração e a raiva que ela podia
ouvir do outro cômodo a deixavam nervosa, e ela estava feliz por haver
uma parede entre eles.

Ela descaradamente ouviu a conversa deles. Eles estavam falando


sobre o filho dela e tudo o que tivesse a ver com ele, tinha a ver com ela.

Ela finalmente contou a Dave na noite anterior o que David havia dito
sobre as fotos que Del Rio estava tirando, e ele mal conteve sua raiva.

Seu marido tinha sido muito cuidadoso para não deixar suas
emoções fugirem do controle ao seu redor. Ele fez o possível para ser doce
e tranquilo, mas depois de ouvir sobre o que foi feito com David, ela pôde
ver a raiva brilhando em seus olhos, irradiando de todo o seu corpo. Em
vez de ficar com medo, isso a tranquilizou. Ela queria que Dave ficasse
bravo. Queria que ele fizesse o que fosse necessário para afastar David da
situação. O Senhor sabia que ela não tinha sido capaz de fazer isso
sozinha, então ela aceitaria toda a ajuda que pudesse conseguir.
— Sei que você acha que é uma opção, mas não é uma boa ideia.
— Disse Ball em voz alta na outra sala.

— A única outra opção é assustar meu filho pra caralho. —


Argumentou Dave. — E eu tenho que considerar qualquer outra alternativa
que evite isso.

— Você tem sido nosso manipulador por anos. — Disse outra


pessoa. Mags não sabia quem era. — E você pregou uma e outra vez que
somos uma equipe. Entramos e saímos juntos, então por que você está
insistindo tanto nisso agora?

— Há situações em que às vezes é necessário que apenas uma


pessoa entre. — Disse Dave.

— Como quando? — Ro perguntou. Mags sabia que era ele por


causa de seu sotaque.

— Como quando Gray subiu naquele barco e encontrou Allye. —


Dave disparou de volta. — Como quando Arrow teve que se separar do
resto do time na República Dominicana para manter Morgan
segura. Quando Black entrou naquele prédio em chamas para pegar
Harlow.

Houve silêncio por um instante, então alguém disse: — Esses são


casos completamente diferentes.

— Não, eles não são. — Dave disse acaloradamente.

— Besteira. Gray não entrou naquele barco esperando encontrar


uma prisioneira. Se soubéssemos que Allye estava lá, o plano teria sido
muito diferente. Arrow não queria se separar da equipe, fomos forçados a
nos separar por causa das circunstâncias. E Black não entrou em um
prédio em chamas... Ele pegou aquelas crianças de fora. Seus exemplos
são uma merda, e você sabe disso.
Mags prendeu a respiração enquanto ouvia atentamente.

— E quanto ao fato de você não estar treinado? — Alguém


perguntou. — A última coisa que você quer é estragar a missão mais
importante da sua vida, porque você não confia na equipe com a qual
confiou por anos, apenas quando somos mais necessários.

Mags estremeceu. Nos últimos dias, ela teve a impressão de que


Dave se sentia um tanto em desvantagem por causa de sua falta de
habilidades militares, mas pelo que ela viu, ele era perfeitamente
competente de qualquer maneira.

— Essa é uma das principais razões pelas quais Rex nasceu. —


disse Dave a seus amigos. — Eu sabia que você teria problemas em
aceitar pedidos de Dave, o barman. Mas o negócio é o seguinte - eu sei o
que estou fazendo. Prestei atenção ao longo dos anos. Eu estudei. E eu
tenho uma motivação nesta missão que nenhum de vocês tem. David
é meu filho e Raven é minha esposa. Eu nunca faria nada para colocar
nenhum deles em perigo. Eu sei onde estão meus pontos fortes e fracos. E
se qualquer um de vocês tentar entrar lá e falar com aquele idiota, ele verá
através de você em um piscar de olhos. Ele saberá que você é
militar. Todos vocês têm um ar sobre vocês.

— E você não acha que ele vai ver que você se importa um pouco
demais com o menino? — Alguém perguntou.

— Eu posso fazê-lo ver o que eu quero que ele veja. — Dave


insistiu. Sua voz perdeu um pouco o tom, mas ele ainda falava alto quando
disse: — Não sou um idiota, sei o que está em jogo aqui. Eu também sei
que se eu estragar tudo, vocês estarão lá para tirar minha família do país.

— É claro que vamos. — Disse Ro.


— Você não vai sozinho. — Ball rosnou. — Eu ouço o que você está
dizendo sobre ser sua família em jogo, mas entrar sozinho não é inteligente
- e você sabe disso.

Houve uma longa pausa antes de Mags ouvir Dave falar


novamente. — Perder David destruiria Raven. Eu a perdi uma vez e não
estou disposto a perdê-la uma segunda vez. Eu ficaria feliz em me
sacrificar para tirar David de Del Rio.

— Nós sabemos que você ficaria. — Ro disse a ele. — Mas você


não precisa. É por isso que você formou os Mountains Mercenaries. Para
situações exatamente como esta. Assim que recebermos a notícia de que
o passaporte de David foi processado e está pronto para ser enviado, nós
o tiraremos de lá.

Mags não ouviu a resposta de Dave, mas ouviu a porta ao lado sendo
aberta e ficou tensa, esperando que Dave voltasse para seu próprio
quarto, onde ela o esperava.

Em segundos, ele estava lá.

— Você está bem? — A pergunta saiu dela sem pensar. — Isso soou
intenso.

— Malditas paredes finas como papel. — Dave murmurou, então ele


veio em direção a ela. Ele se ajoelhou na frente de onde ela estava sentada
na cama, com cuidado para não pressioná-la ou tocá-la. — Nós vamos
tirar David daqui. OK?

Ela estudou seus olhos e não viu nenhuma dúvida. Sem


hesitação. Ela precisava de sua força e confiança mais do que ela estava
disposta a admitir. — OK.

— Bom. Agora, que tal sairmos. Você está pronta para bancar a
turista por um tempo?
Ela estava no Peru há uma década e nem uma vez pensou em ter
um dia despreocupado. O que ela realmente queria fazer era ver seu filho,
mas como isso estava fora de questão, ela assentiu.

Dave se levantou e estendeu a mão, esperando por ela tocar


nele. Era uma das mil e uma coisas que ela apreciava e amava nele. Ele
nunca a apressou. Nunca a forçou a fazer nada que ela não quisesse. Ela
sabia que se dissesse que queria ficar no motel, eles ficariam. Se ela
dissesse que queria sair para o bairro, ele concordaria e ficaria com ela
para se certificar de que estava segura. A única coisa que ele não faria era
deixá-la se colocar em perigo. Não para David, não para ele.

Ela estava determinada a manter Dave à distância. Ela não tinha


certeza se poderia retomar de onde eles pararam naquele dia em Las
Vegas. Mas a cada dia, a cada hora que ela passava com ele, suas defesas
estavam desmoronando. Ela gostou do homem que ele se
tornou. Muito. Ela precisava de sua dureza e força externa para continuar.

Ela estendeu a mão e colocou a palma na dele, e arrepios surgiram


em seus braços quando ele fechou a mão em torno dela e apertou
levemente.

***

Horas depois, Mags caminhava de mãos dadas com Dave por um


parque em Miraflores. A área estava repleta de turistas e moradores locais
tentando vender seus produtos. As pessoas imploraram, tanto quanto ela
fez mais vezes do que podia contar. Mas mesmo que eles estivessem
cercados por pessoas, ela não estava nervosa, como geralmente estava.
Seu marido a levou até um banco na sombra, e eles observaram as
pessoas por alguns minutos antes de ele puxar um pedaço de papel do
bolso e entregá-lo a ela.

Confusa, Mags perguntou: — O que é isso?

— Abra e veja.

Lentamente, Mags desdobrou o pedaço de papel e olhou para as


palavras digitadas lá em confusão. Então o que ela estava vendo foi
registrado. — Oh meu Deus. — Ela sussurrou.

— Sabe, outro dia eu pedi mais detalhes sobre o nascimento de


David. — disse Dave. — Eu não estava apenas curioso, embora esteja
faminto por qualquer detalhe que você possa me contar sobre ele. Eu
precisava saber para conseguir isso. — Ele acenou com a cabeça para o
papel.

Mags estava olhando a certidão de nascimento de seu filho. Um que


Dave obviamente havia descoberto uma maneira de fazer, porque Del Rio
certamente não se preocupou em registrar o nascimento de seu filho. Seu
nome estava lá, junto com seu peso - que Mags teve que adivinhar - e o
endereço de Daniela no Peru estava listado como o dela. Mas não foi isso
que a fez quase hiperventilar.

Dave havia se colocado como pai.

— Eu sei que foi presunçoso da minha parte. — Disse ele como se


pudesse ler sua mente. — Mas eu não queria deixar em branco. Nós
conversamos sobre ter filhos, e é algo que sempre me arrependi de nunca
termos feito acontecer. Eu nem o conheci ainda, mas eu o amo,
simplesmente porque ele é uma parte de você. Eu me preocupo com ele
assim como você nos dias em que não pode ir vê-lo, e não suporto a ideia
de que algo aconteça com ele. Saber o que Del Rio planejou me dá
vontade de matar qualquer um que se atreva a olhar para ele. Sim, ter meu
nome na certidão de nascimento torna mais fácil para meu contato
conseguir um passaporte para ele, mas não dou a mínima para isso. Se
você preferir deixar meu nome fora e que eu oficialmente o adote quando
voltarmos para os Estados Unidos, eu posso fazer isso também.

— Não! — Mags praticamente gritou. — Quero dizer, isso é


bom. Esta é a coisa mais incrível que alguém já fez por mim.

Dave levantou a mão e espalmou suavemente o lado do rosto


dela. — Eu te amo, querida. Sinto muito por ter demorado tanto para te
encontrar.

Ela balançou a cabeça. — O fato de você nunca desistir significa


mais para mim do que você jamais saberá.

— Como se eu fosse parar de procurar. — Dave disse balançando


a cabeça. — Não importa quanto custou ou quanto tempo demorou, eu
nunca teria parado até que encontrasse você, ou seu corpo.

Mags acreditou nele. Ela olhou para o homem que ela nunca pensou
que veria novamente, e todas as razões pelas quais ela se apaixonou por
ele em primeiro lugar encheram sua cabeça. O tempo tinha sido bom para
ele. Ele tinha um pouco de cinza trançado através de seus cabelos
castanhos escuros e sua barba agora, e mais rugas em seu rosto, mas ele
ainda estava tão bonito quanto no dia do casamento. Ela sempre amou o
quão forte ele era, e o tamanho de seu corpo a fazia se sentir ainda mais
segura sentada em um parque no meio de Miraflores.

Enquanto ela o estudava, ele se moveu. Ele belisca um joelho aos


pés dela e enfia a mão no bolso. Ele puxou um anel e o ergueu entre
eles. — Margaret Crawford Justice, você me daria à honra de se casar
novamente? Somos duas pessoas diferentes do que éramos há quinze
anos, quando fiz isso pela primeira vez. Mais velho e esperançosamente
mais sábio. Definitivamente mais cínico e cauteloso. Eu te amo. Sempre te
amei e sempre te amarei. Prometo cuidar melhor de você desta vez e
sempre me esforçarei para ser o tipo de homem de que você e nosso filho
possam se orgulhar.

Mags fechou os olhos e colocou a mão sobre o coração, como se


isso pudesse diminuir a batida frenética em seu peito. Ela queria dizer
sim. Deus, como ela queria. Mas ela tinha que ter certeza de que ele sabia
no que estava se metendo.

Quando ela abriu os olhos e olhou nos dele, odiou ver a insegurança
ali. — Eu tenho pesadelos. — Ela admitiu. — E provavelmente serei a mãe
mais superprotetora de todas. Não gosto de grandes multidões e tenho
dificuldade em confiar nas pessoas. Eu não preciso de muito. Eu sobrevivi
ao longo dos anos com nada além de alguns restos de comida para comer
por dia e um telhado de metal de baixa qualidade sobre minha
cabeça. Não me importo com dinheiro ou prestígio, mas não tenho certeza
se serei capaz de ser uma esposa de verdade para você. Eu tenho alguns
problemas reais de intimidade. Não só isso, mas provavelmente direi a
coisa errada para a pessoa errada e deixarei você envergonhado...

Sua voz sumiu. Havia um milhão de outras coisas em que ela não
conseguia pensar agora que poderiam fazer com que ele repensasse sua
proposta, mas se ela estivesse sendo honesta consigo mesma, ela queria
aquele anel em seu dedo. Seu conjunto de casamento original estava
faltando em seu dedo quando ela acordou acorrentada a uma cama aqui
no Peru, e ela daria qualquer coisa para tê-lo de volta. Mas ter Dave
colocado o diamante cintilante em seu dedo foi um milagre que ela nunca
ousou sonhar que aconteceria.

— Se você tiver um pesadelo, eu vou te abraçar até que se


dissipar. E você não será mais protetora do que eu com nosso filho. Eu não
gosto de multidões, e não haverá mais um dia em sua vida em que você
tenha que ficar sem, seja comida, abrigo ou amor. E acredite em mim, eu
disse mais do que minha cota de coisas embaraçosas para as pessoas
erradas. Certa vez, disse ao presidente dos Estados Unidos que não dava
a mínima para sua agenda, que estava mais preocupado em encontrar
algumas das milhares de mulheres e crianças desaparecidas com as quais
o governo parecia não se importar.

Os olhos de Mags se arregalaram. — Você fez?

Dave acenou com a cabeça. — Sim. Mas ele apenas riu e prometeu
investir meio milhão de dólares para renovar o esforço para encontrar
crianças desaparecidas. Case-se novamente comigo, Raven. Por favor.

— Sim. — Não havia mais nada que ela pudesse ter dito.

Dave pegou a mão dela e colocou suavemente o anel em seu dedo.

— Quando você conseguiu isso? — Ela perguntou.

— Ontem, quando você estava com David.

Mags não conseguia tirar os olhos do diamante. Era simples. Não


era chamativo de forma alguma. Era provavelmente apenas meio quilate
ou mais, baixo em um ambiente tradicional. Ela olhou nos olhos castanhos
de Dave. — Eu te amo. — Ela sussurrou. — Eu nunca pensei que teria a
chance de dizer isso a você de novo.

Dave se levantou e se sentou ao lado dela no banco mais uma


vez. Ele ergueu um braço, então hesitou.

Fazendo algo que não fazia há anos, Mags se inclinou para frente e
colocou os dois braços ao redor dele. Ela colocou a cabeça em seu peito
e segurou-o tão firmemente quanto pôde. Ela sentiu Dave retribuir o
abraço e, em vez de fazê-la se sentir presa e em pânico, os braços dele
não pareciam nada além de reconfortantes.

Ela teve o pensamento esperançoso de que talvez, apenas talvez,


com seu marido, ela pudesse desfrutar de ser íntima com um homem
novamente. Hoje não. E não amanhã. Mas talvez algum dia.
— Eu te amo muito, Raven. Eu sei que isso é um milagre, e eu juro
que nunca vou tomar você ou nosso amor como garantidos.

Ela o abraçou com mais força e ergueu os olhos. — Quando


podemos voltar para casa no Colorado? — Ela perguntou.

Um olhar de frustração passou por seu rosto antes de limpá-lo. —


Não tenho certeza. O passaporte de David está demorando mais do que
deveria para ser processado, e a última coisa que queremos é avisar Del
Rio e ter ele ou a polícia e os militares que serão pagos em nosso encalço
até que possamos partir. Eu gostaria de te mandar para casa com Zara
e...

— Não — Mags disse enfaticamente, endireitando-se e olhando para


ele.

— Mas...

— Eu não estou saindo daqui sem David. — Ela disse a ele.

Dave suspirou. — Achei que essa seria sua resposta — Disse ele
sem parecer muito chateado.

— Se você sabia, por que sugeriu isso? — Ela perguntou.

— Porque eu esperava. Quero você o mais longe possível de Del


Rio, onde você estará segura.

— Eu não estava segura em Vegas. — Apontou Mags.

— Touché! — Disse Dave.

— Então qual é o plano? Eu sei que você tem conversado com seus
amigos sobre isso. Discutindo sobre isso.

Dave desviou o olhar dela então, e Mags se sentiu inquieta pela


primeira vez.
— Provavelmente teremos que invadir a casa em que ele está. Eu
sei, eu sei. — Ele disse rapidamente quando Mags abriu a boca para
protestar. — Não é o ideal. A última coisa que quero fazer é assustar
David, mas Del Rio não vai nos deixar entrar e tirá-lo de lá. Ele tem muitas
pessoas protegendo ele e a casa, e ele gastou muito dinheiro ao longo dos
anos criando-o. Ele não vai querer perder seu investimento.

Mags odiava pensar em seu filho dessa maneira, mas ela sabia que
Dave estava certo. Del Rio já havia começado a tentar doutrinar seu filho,
dizendo-lhe que as crianças obedeciam aos adultos, não importa o que
eles falassem, tirando fotos. Era apenas uma questão de tempo até que
ele fizesse o impensável.

— Você só precisa saber que estou fazendo tudo que posso para
tirar todos nós daqui o mais rápido possível. E agora que temos sua
certidão de nascimento, espero que as coisas aconteçam muito mais
rápido. Se tudo correr bem, voltaremos para o Colorado como uma família
em breve.

— E se nem tudo correr bem? — Mags perguntou.

— Então você e David ainda estarão voltando para o Colorado.

— Não faça nada que vai te machucar ou ter problemas. — Disse


ela, olhando para ele. — Eu não posso voltar sem você.

Dave colocou as mãos nos ombros dela e a virou mais para ele. —
Você pode e você vai. Eu preciso de você segura, Raven. Você e nosso
filho.

— E eu preciso de você. — Mags atirou de volta. — Ser morto não


é a resposta aqui.

— Eu não vou morrer. — Disse Dave calmamente. — Eu sou um filho


da puta difícil de matar.
Os olhos de Mags piscaram para a cicatriz em seu pescoço antes
que ela encontrasse seu olhar novamente. — Me prometa que você não
vai fazer nada estúpido.

— Eu prometo. — Ele disse imediatamente. — Estúpido seria iniciar


um incidente internacional e fazer com que eu e o resto dos Mountain
Mercenaries fossemos jogados em uma prisão peruana. Não vai
acontecer.

Mags não conseguia nem imaginar isso. Ela se inclinou lentamente


e apoiou a testa no peito de Dave. Suas mãos agarraram seus enormes
bíceps enquanto ela dizia, — Eu não posso ter te encontrado de novo,
apenas para te perder tão cedo.

— Você não vai. — Ele prometeu. — Agora, vamos, precisamos


voltar ao motel para encontrar os caras. Estamos tendo um jantar de
comemoração esta noite.

— Estamos? — Mags perguntou, deixando Dave ajudá-la a se


levantar. Eles começaram a caminhar na direção de onde ele havia
estacionado a minivan antes, e ele assentiu.

— Sim.

— Para quê?

— Nosso reengajamento, eu sendo pai, você sendo resgatada,


Gabriella voltando para os Estados Unidos conosco, o resgate iminente de
nosso filho, o reencontro das outras mulheres com suas famílias, a compra
da nova clínica e apenas a vida em geral.

Tudo isso parecia incrível para Mags. — Nós vamos sair?

— Não. Estamos todos nos enfiando no quarto de Gray. A comida


deve ser entregue por volta das seis, e precisamos ir ao bairro buscar as
meninas. Zara vai trazer Daniela com ela.
— Todo mundo vai estar lá?

— Sim. É por isso que eu disse que estamos nos enfiando no quarto
de Gray. — Dave disse com uma risada. — Pensamos em sair, mas a
logística de mantê-las seguras seria difícil. Então, estamos recebendo uma
porrada de comida e vamos sentar, conversar e rir como uma grande
família feliz. Acha que alguém vai se importar?

— Se importar? Absolutamente não. Honestamente, estamos todas


acostumadas a se ajustar e nos amontoar em um espaço pequeno. —
Disse Mags.

— Bom.

Enquanto caminhavam juntos em direção ao veículo, a cabeça de


Dave girava constantemente, certificando-se de que ela estava segura. De
vez em quando, seu polegar roçava o anel que ele colocara em seu dedo,
e Mags podia ver a ponta da certidão de nascimento de David saindo do
bolso da camisa onde ele a escondeu. Sua vida dera uma queda drástica
de oitenta em apenas duas semanas, e Mags mal podia acreditar.

Mas ela hesitou em abraçá-lo totalmente, por causa da vida que ela
levava por tanto tempo. Se havia uma coisa que ela sabia acima de tudo,
era que justamente quando você pensava que a vida estava indo
perfeitamente, uma bola curva poderia ser jogada em você, bagunçando
tudo.

Mags esperava e rezava para que ela estivesse errada desta


vez. Tanto ela quanto Dave, e também o pequeno David, já haviam
passado pelo bastante.

***
Mais tarde naquela noite, Dave se sentou no chão ao lado de Mags
no quarto de motel de Gray e tentou memorizar o momento.

Antes dessa viagem ao Peru, ele estava preocupado com o que seus
amigos pensariam quando descobrissem que o barman que os servia no
The Pit era na verdade seu manipulador, Rex. Ele realmente não pretendia
manter isso em segredo por tanto tempo, mas uma vez que as coisas
começaram, parecia mais fácil manter o status quo.

Felizmente, tudo entre eles até agora tinha sido muito bom. Houve
um pouco de tensão enquanto seus homens discordavam da melhor
maneira de tirar David das mãos de Del Rio e voltar para os Estados
Unidos, mas fora isso, Dave não conseguia sentir nenhum tipo de
hesitação ou desconfiança. Eles não pareciam se importar que ele não
tivesse sido militar. Aparentemente, ele provou a si mesmo o suficiente no
passado, o que foi um alívio.

Zara estava sentada no colo de Meat em uma das camas, traduzindo


enquanto conversavam com Teresa, Bonita e Carmen. Ro e Gray estavam
sentados perto de Gabriella e ensinando-lhe um pouco de inglês, enquanto
ela lhes ensinava palavras básicas em espanhol. Arrow tinha saído há
cerca de cinco minutos para ligar para sua esposa e se certificar de que
ela e o bebê Calinda estavam bem. Black e Ball estavam sentados perto
de Dave e Mags, que estava traduzindo para Maria e Daniela.

Recipientes vazios de comida estavam empilhados perto da lata de


lixo, e as sobras já haviam sido embaladas para as mulheres levarem com
elas quando saíssem.

Dave não largou a mão de Raven e estava simplesmente gostando


de mergulhar na vibração relaxada da sala, que ele sabia ser um
presente. Ele também não conseguia tirar os olhos do anel que colocara
em seu dedo antes. Ele sentiu falta de ver seu anel lá.
Quando ele sentiu Raven enrijecer ao lado dele, Dave percebeu que
ele não estava prestando atenção. Repreendendo-se mentalmente, ele
endireitou o corpo e olhou em volta para ver o que afligia sua esposa.

Ele percebeu que a maior parte da sala tinha ficado em silêncio, e


todos estavam olhando para Raven. — O que? — Ele disse um pouco
asperamente.

— Está tudo bem. — Disse Raven, apertando sua mão. — Maria


apenas perguntou por que eu nunca disse a elas que tinha um filho.

— Não é problema delas. — Disse ele.

Raven negou com a cabeça. — Na verdade, é. Elas são minhas


amigas. Eu deveria ter confiado nelas.

Ela se virou para Maria e os outros e começou a explicar em


espanhol, enquanto Zara traduzia baixinho para os homens.

— Quando Del Rio me expulsou de seu complexo, fiquei ao mesmo


tempo aliviada e apavorada. Ele não me deixou levar David comigo e,
embora eu estivesse feliz por estar aposentada da vida que ele me forçou,
não queria ir embora sem meu filho. Mas ele não me deu escolha. Ele me
disse que estaria me observando, e se eu fizesse qualquer coisa para
tentar tirar o menino dele, eu me arrependeria.

— Todos nós sabemos que Del Rio é um idiota do mais alto nível,
alguém que não teve problemas em sequestrar crianças, mas por que ele
iria querer tanto segurar David, especialmente em uma casa basicamente
só para ele? — Arrow perguntou. Ele voltou do telefonema e estava
encostado em uma das paredes.

Raven suspirou. — Eu nunca vi outra mulher grávida no complexo,


ou qualquer bebê, mas ocasionalmente havia crianças por perto. Quando
uma mulher desapareceu por meses e voltou de repente, houve rumores
de que Del Rio as escondeu até que tivessem seus bebês. Algumas
voltaram, mas nunca disseram uma palavra sobre onde estiveram ou pelo
que passaram. Nenhuma de nós queria perguntar a elas porque era óbvio
que elas estavam traumatizadas. Quando eu engravidei, no começo ele
ficou chateado. Eu sei que ele estava ganhando um bom dinheiro
comigo. Ele me disse que um médico viria ao complexo para 'cuidar do
problema'. Eu chorei e implorei para ele me deixar ficar com meu bebê. Fiz
um acordo com ele de que faria tudo o que os clientes quisessem, quantas
vezes por dia ele quisesse, se Del Rio apenas me deixasse ficar com ele.

Raven engoliu em seco, e quando as outras quatro mulheres que


tinham sido usadas por Del Rio se reuniram em torno dela, Dave se
levantou e lhes deu algum espaço. Todas colocaram as mãos em apoio à
esposa, e isso pareceu dar força a todas enquanto ela continuava
contando sua história.

— Muitos homens pensaram que seria... Interessante fazer sexo


com uma mulher grávida. Del Rio não me mandou para outra parte do
complexo até que eu realmente comecei a aparecer e fosse óbvio que eu
estava grávida. Eu estava muito ocupada e, quando chegou a hora de dar
à luz, Del Rio me trancou em um quarto e disse que se eu fosse ter meu
filho, teria que fazer isso sozinha.

Carmen fez um barulho áspero. — E se houvesse complicações?

Raven encolheu os ombros. — Então nós dois teríamos morrido.


— Ela disse isso sem qualquer inflexão em sua voz. Para ela, era o que
era, mas para Dave, isso fez sua raiva contra o monstro que era a chamado
de Del Rio ainda maior.

— De qualquer forma, eu tive David e Del Rio me expulsou de


casa. Ainda não tenho certeza do por que, considerando que outras
mulheres tiveram filhos e continuaram trabalhando. Ele levou David para
uma de suas casas menores e só me permitiu vê-lo três vezes por
semana. Fiquei ainda mais confusa sobre por que ele estava permitindo
que eu visse meu filho, já que ele não me deixou sair com ele, mas não
ousei perguntar. Eu o amamentei por tanto tempo quanto pude, mas
eventualmente ele teve que ser colocado em fórmula, já que eu não estava
lá o suficiente para alimentá-lo com o que ele precisava. Eu não poderia
falar sobre ele. — Raven disse a suas amigas com tristeza. — Se Del Rio
descobrisse, não sei o que ele teria feito com meu filho.

— Nós entendemos. — Disse Maria gentilmente. — Qualquer uma


de nós teria feito à mesma coisa.

Carmen parecia claramente desconfortável. Então ela deixou


escapar: — Eu ouvi um bebê uma vez.

Todos se viraram para olhar para ela quando Zara traduziu.

— Onde? — Dave perguntou quando ninguém disse nada.

— No complexo. Eu estava trancada em meu quarto e não podia


investigar, não que eu fosse de qualquer maneira, mas estava deitada na
minha cama e ouvi o que sabia ser um bebê chorando. Fiquei confusa
porque, como Raven disse, não tínhamos visto nenhuma mulher grávida.

Raven olhou para Dave, e ele podia ver a agonia em seus olhos. —
Quantos outros bebês você acha que existem por aí? — Ela sussurrou. —
Sendo criados por Del Rio para algum propósito horrível?

Dave não queria nem pensar nisso, mas não podia mentir para a
esposa. Ele assentiu. — Eu não sei. Mas eu suponho que provavelmente
vários. Ele está traficando crianças há pelo menos alguns anos.

— Onde eles estão? — Ela perguntou, mais para si mesma do que


para qualquer outra pessoa. — Eles estão sendo mantidos no
complexo? Por que ele não manteve David lá também?
— Talvez ele tenha deixado outras levarem seus bebês com elas. —
Ele não acreditou nisso por um segundo, mas disse para tirar um pouco
da angústia dos olhos de sua mulher.

— Ou talvez eles estejam sendo criados da mesma maneira que seu


filho. — Gray disse calmamente.

— As fotos... — Raven sussurrou.

— Que fotos? — Arrow perguntou.

Raven fechou os olhos e balançou a cabeça.

Dave respondeu por ela. — Raven disse que David disse a ela que
Del Rio o tinha visitado com outro homem, e ele tirou fotos dos dois sem
roupas.

As palavras soaram ainda mais obscenas quando explicadas ao


grupo.

— Porra. — Arrow murmurou.

Os outros homens na sala também praguejaram baixinho.

— Não podemos mais esperar. — Disse Dave. — Precisamos tirar


meu filho daquela casa e voltar para os Estados Unidos, onde ele estará
seguro.

— Concordo. — Disse Gray.

— Absolutamente. — Black murmurou.

Dave não queria pensar em Del Rio e seus planos para David, e
possivelmente outras crianças que ele havia escondido pela cidade. Eles
conversaram sobre o que iriam fazer e, embora nada tivesse sido definido
em pedra, ele sabia que o tempo tinha se esgotado. Eles não podiam
arriscar que Del Rio decidisse fazer mais do que tirar fotos. Ele encontrou
sua esposa e seu filho, bem a tempo.

— Vocês podem me perdoar? — Raven perguntou às outras


mulheres na sala. — Eu teria te contado se pudesse.

Um coro de sí soou na sala enquanto todas diziam sim, é claro que


elas a perdoaram.

— Ninguém deveria ter tanto controle sobre o sistema reprodutivo


de uma mulher. — Disse Daniela, e Zara traduziu. — Eu vejo isso o tempo
todo... Mulheres cujos homens se recusam a usar preservativos e têm
bebê após bebê. Eles não podem alimentar as famílias que têm e, ainda
assim, não podem fazer nada para impedir que suas famílias cresçam. E
há os homens que batem nas mulheres na esperança de que
abortem. Essa é apenas uma das razões pelas quais estou animada com
a clínica... Posso dar às mulheres mais opções quando se trata de
assuntos familiares. O controle da natalidade e a saúde pré-natal estão
faltando aqui. — Ela olhou para Zara. — Muito obrigado, criança, por
tornar isso possível. Meu país não foi bom para você, e você não tem
nenhuma razão para querer retribuir de forma alguma, e ainda assim é. —
Os olhos de Daniela se encheram de lágrimas. — Saúde.

A essa altura, a maioria das mulheres na sala tinha lágrimas nos


olhos, mas Dave só estava preocupado com sua esposa. Raven parecia
emocionada, mas não completamente devastado, com o que ele poderia
viver. Ela negava o que Del Rio planejara para David ou tentava não pensar
nisso. Ele suspeitou do último. A esposa dele não era estúpida, mas ela
tinha passado por muita coisa e, considerando que ela não podia fazer
nada para ajudar o filho, se estressar com a situação não ajudaria.

Ele não estava disposto a ficar parado e deixar uma conversa


continuar que estava assustando Raven, mas porque ela parecia estar
bem, ele tentou relaxar.
— Como vai você? — Gray perguntou ao lado dele.

Dave não tirou os olhos de sua esposa. — Eu estou bem.

— Não. Como vai você? — Gray perguntou novamente,


deliberadamente enunciando cada palavra.

Dave se virou para olhar para ele e ergueu uma sobrancelha.

— Você não esteve longe de seu bar em... Não sei quanto
tempo. Você encontrou sua esposa, que está desaparecida há uma
década, e quase ao mesmo tempo descobriu que ela teve um filho. Um
filho que você reivindicou para si mesmo. Não só isso, mas você teve que
digerir muito sobre o que Raven passou enquanto estava desaparecida. E
agora, ao invés de voltar para casa com sua família, você está preso aqui
enquanto tentamos descobrir o que diabos Del Rio está fazendo e como
tirar seu filho dele sem causar um incidente internacional. Então, estou
perguntando se você está bem.

Dave acenou com a cabeça. — Estou bem.

Foi a vez de Gray levantar uma sobrancelha cética.

— Eu não estou exatamente feliz. Estou farto de ficar sentado


esperando o passaporte de David e quero meu filho
resgatado. Agora. Mas minha esposa está sentada bem aqui na frente dos
meus olhos, e isso é um milagre do caralho. Então, estou lidando.

— Teremos seu passaporte amanhã. — Gray o lembrou.

— Eu sei. — Dave disse impaciente. — Mas eu sinto como se


houvesse um enorme relógio sobre minha cabeça, e cada segundo que
passa ecoa em minha mente.

— Nós vamos pegar seu filho. — Disse Gray. — Não importa o que
aconteça, vamos tirá-lo das garras de Del Rio.
Dave voltou a olhar para Raven. Ele não podia passar mais de um ou
dois minutos sem ver como ela estava. As outras mulheres voltaram para
onde estavam sentadas na cama e no chão, satisfeitas porque a amiga
ficaria bem. Mas ele tinha a sensação de que demoraria muito até que
ele se sentisse confortável estando longe dela, deixando-a fora de sua
vista, especialmente em público. — Estou com medo. — Dave admitiu ao
amigo.

— Eu ficaria preocupado se você não estivesse. — Respondeu Gray.

— Eu não gosto de arriscar nenhum de vocês. Vocês não são


apenas minha equipe, mas também meus amigos. A última coisa que
quero é assustar o inferno fora do meu filho envolvendo-o em um tiroteio,
mas eu sei que você e os outros farão o que puderem para evitar isso. E
todos vocês têm mulheres esperando por vocês, e eu não quero ter que
dizer a nenhuma delas que o amor de suas vidas não está voltando para
casa.

— O objetivo desta equipe é levar mulheres e crianças sequestradas


para casa. E seu filho está sendo mantido como refém. Sim, ele pode estar
em uma bela casa e não acorrentado, mas ele está sendo mantido
prisioneiro da mesma forma. — Gray insistiu. — Não vamos correr mais
riscos do que qualquer outro, mas estamos todos mais investidos
agora. David é um dos nossos.

Dave inalou profundamente. Ele odiava o que eles planejaram até


agora. Para invadir a pequena casa e matar qualquer um que se
interpusesse entre eles e David. Mas ele não estava disposto a esperar
mais, uma vez que os passaportes estavam em suas mãos. Especialmente
depois de ouvir os boatos sobre outros bebês. Del Rio era o diabo, e tudo
o que ele planejou para David era pura maldade.

— Obrigado. — Dave finalmente disse a Gray, querendo dizer essas


duas palavras até sua alma.
— Acho que ainda não te agradeci. — Disse Black a Raven.

— Pelo o quê? — Raven perguntou.

— Por salvar Meat. E por estar disposta a se arriscar para salvar


minha pele se minha equipe não tivesse vindo atrás de mim quando o
fizeram.

Black estava se referindo à missão anterior, quando ele e Meat se


separaram do resto da equipe, e Ruben e seus amigos os pularam. Eles
provavelmente teriam matado os dois Mountain Mercenaries se Zara e
suas amigas não tivessem arrastado Meat para longe, e se o time não
tivesse encontrado Black quando eles encontraram.

Raven encolheu os ombros. — Você estava lá para tentar ajudar,


não machucar. Era o mínimo que podíamos fazer.

Black englobou todas as mulheres em seu olhar enquanto dizia: —


Em nossa linha de trabalho, é fácil ser cínico e pensar o pior da
humanidade. Vemos o pior do pior, por isso é bom ver pessoas que,
mesmo quando as probabilidades estão contra elas e não têm nada a
ganhar, ainda estão dispostas a ajudar. Obrigado.

Raven acenou com a cabeça, e as outras mulheres coraram quando


Zara traduziu para elas.

— Então, vocês são todos casados ou têm namoradas, certo?


— Raven perguntou.

Dave vagou de volta para onde ela estava sentada no chão e


abaixou-se no tapete para se sentar ao lado dela. Parecia que seu coração
ia explodir quando ela estendeu a mão e segurou sua mão. Cada vez que
ela o tocou voluntariamente desde que se reuniram, Dave se sentiu como
se tivesse acabado de ganhar na loteria. Ele fez o possível para prestar
atenção à conversa que estava acontecendo ao seu redor, e não à
sensação e ao cheiro de sua esposa ao lado dele. Ele tinha sonhado com
esse momento mais vezes do que podia contar, e era difícil acreditar que
realmente estava ali.

— Sim. — Gray respondeu. — O nome da minha esposa é Allye. Ela


era uma dançarina profissional em San Francisco. Nós nos conhecemos
quando o barco em que ela estava afundou e ficamos presos no meio do
oceano juntos.

As sobrancelhas de Raven se ergueram. — Seriamente?

— Seriamente. Ela havia sido tirada da rua e entregue ao homem


que a comprou, mas eu interferi nisso. Infelizmente, ele colocou as mãos
nela mais tarde de qualquer maneira.

— Mas você a encontrou? — Raven perguntou sem fôlego.

— Nós a encontramos. — Gray confirmou. — Ela agora ensina


dança para crianças com necessidades especiais em Colorado Springs, e
acabamos de ter nosso primeiro filho, Darby James.

Raven se voltou para os outros homens. Eles entenderam a dica. Um


por um, eles contaram a ela as histórias bem abreviadas de como haviam
conhecido suas próprias mulheres.

— Chloe foi mantida prisioneira pelo irmão. Eu a encontrei... e decidi


ficar com ela. — Ro disse sucintamente.

— Morgan Byrd foi uma das pessoas desaparecidas mais famosas


nos Estados Unidos. Nós a encontramos durante uma missão na
República Dominicana. — Disse Arrow. — E você sabe que ela
recentemente teve nossa filha, Calinda.

— Eu conheci Harlow quando estávamos no colégio. — Disse


Black. — Ela é chef e estava trabalhando em um abrigo para mulheres
quando um desenvolvedor estava colocando forte - e ilegal - pressão sobre
o proprietário para vender. Ele acabou colocando fogo no abrigo, e Harlow
teve que pular de uma janela do terceiro andar para escapar.

— Eu ajudei Everly a encontrar sua irmã, que tinha sido


sequestrada. Nós pensamos que era uma quadrilha de tráfico sexual, mas
acabou sendo apenas um homem louco que estava procurando sua
próxima esposa... Que ele queria manter acorrentada em sua casa pelos
próximos vinte anos. — Explicou Ball.

Os olhos de Raven estavam enormes em seu rosto, assim como as


outras mulheres quando Zara terminou de compartilhar as histórias dos
homens.

— E você conhece a história de Meat, e sobre como nos


conhecemos. — Disse Zara com uma risada. — Salvei-o, mas quando
alguém do meu passado decidiu que queria o meu dinheiro, ele teve que
resgatar-se.

— Vocês certamente não levam vidas chatas. — Brincou Raven.

— Com exceção de talvez Black, todos nós encontramos o amor de


nossas vidas por causa de seu marido. — Disse Gray.

— Não, embora eu não tenha conhecido Harlow durante uma


missão, eu não teria ido para o abrigo de mulheres para ajudar na
autodefesa se eu não fosse um Mountain Mercenary. — Disse Black. —
Eu nem estaria em Colorado Springs.

— Verdade. Ok, então, como resultado de Rex e sua determinação


obstinada de fazer o que fosse necessário para encontrar você, todos nós
encontramos as mulheres que nos tornam completos. — Gray corrigiu.

Dave sentiu Raven olhando para ele e se virou para olhá-la. Ela
estava olhando para ele com um olhar que ele não conseguiu interpretar.
Todas as outras mulheres na sala começaram a falar ao mesmo
tempo. Era óbvio que elas ficaram impressionadas e tocadas pelas
histórias de como os homens conheceram suas mulheres. O clima era feliz
e Dave adorava simplesmente sair com seus homens assim. Ele não teve
muitas chances de fazer isso no passado, já que ele era simplesmente o
barman. Estar no meio do grupo e ser incluído era bom.

Mas, sentado ao lado de sua esposa, que ele


honestamente tinha começado a pensar que nunca veria outra vez, foi a
cereja no topo do bolo. Ele estava feliz por seus amigos por terem
encontrado mulheres para amar, mas ele estava ainda mais emocionado
por si mesmo.

A única coisa que o separava de uma vida longa e bela - o que restou
dela - com sua esposa e filho era Del Rio. E sair do Peru.

Não muito depois de todos os homens terem contado suas histórias,


a festa começou a se separar. Daniela disse que precisava voltar antes
que fosse tarde demais, e as outras mulheres concordaram. Elas não
tinham problemas com Ruben e seus amigos desde o encontro da gangue
com Dave, mas ninguém queria abusar da sorte. Black e Ro iriam escoltá-
las de volta à cabana e ficar de guarda durante a noite. Ball e Gray se
certificariam de que Daniela voltasse para sua casa em segurança
também.

Todos disseram boa noite, e Dave acompanhou Raven até o quarto


que estavam compartilhando. Ela se preparou para dormir no banheiro, e
Dave tirou a camisa e a calça. Ele se enfiou embaixo do edredom, mas
continuou em cima do lençol. Raven saiu do banheiro e subiu na cama. Ela
não disse nada sobre ele não estar vestindo uma camisa, mas ele viu a
hesitação em seus movimentos.

— Eu posso colocá-la de volta se você quiser. — Disse Dave


gentilmente.
Ela respirou fundo, então balançou a cabeça um pouco
desesperadamente. — Não. Está tudo bem.

— Venha aqui. — Disse Dave, e estendeu o braço.

Ela hesitantemente se aproximou dele, e ele percebeu no segundo


que ela percebeu que ainda havia um lençol entre seus corpos. Ele odiava
o alívio que podia ver nos olhos dela, mas lembrou a si mesmo que eles só
se reuniram por algumas semanas. Isso não era tempo o suficiente para
apagar as memórias de outros homens e as coisas que eles fizeram a ela.

Ela cuidadosamente pousou a cabeça em seu ombro nu, e ele


suspirou de alívio quando o braço dela lentamente passou por sua
cintura. A cabeça de Raven se ergueu ligeiramente e Dave sabia que ela
estava olhando para a cicatriz em seu peito. O corte da faca do membro
do clube de motos tinha se arrastado pelo pescoço e parado logo acima
do mamilo.

— Quem cuidou de você depois que isso aconteceu? — Ela


perguntou baixinho.

— Eu fiz. Eu saí do hospital o mais rápido possível, mas não antes de


o detetive responsável pelo seu caso ler o ato de rebelião e me dizer para
dar o fora de sua cidade. Fui para casa em Colorado Springs e voltei ao
trabalho. Tanto no The Pit quanto na busca na Internet por qualquer
vestígio de você.

— Eu odeio que eu não estava lá.

Dave deu uma risadinha.

Ela olhou para ele. — Do que você está rindo? Nada é engraçado.

— É um pouco engraçado. — Ele respondeu. — Raven, se você


estivesse lá, eu nunca teria me machucado em primeiro lugar, já que
peguei esta pequena lembrança enquanto procurava por você.
Ela bufou e abaixou a cabeça. — Eu só não gosto de pensar em você
sofrendo.

Dave ficou sério imediatamente. — E eu sinto o mesmo por você. Eu


faria qualquer coisa para voltar no tempo e tomar decisões diferentes
naquela viagem a Las Vegas. Mas não podemos. Nós apenas temos que
seguir em frente. Um dia de cada vez.

Ela se assustou ligeiramente e levantou a cabeça mais uma vez. —


Por que você disse isso?

— Digo o que?

— Um dia de cada vez.

Dave encolheu os ombros. — É o que eu dizia a mim mesmo todas


as noites quando ia para a cama. Isso eu tinha que levar cada dia conforme
chegava. Um por vez. Não conseguia pensar na próxima semana, ou no
próximo ano, ou nos próximos cinco anos sem você. Disse a mim mesmo
que tudo o que precisava fazer era aguentar mais um dia. Qualquer outra
coisa parecia demais. Demasiado tempo.

— É assim que eu superei tudo também. — Ela confessou. — Todos


os dias em que fui mantida em cativeiro, disse a mim mesma que só
precisava aguentar mais um dia. E quando eu morava no bairro e estava
com tanta fome que ficava tonta e com medo de Ruben e de todos os
outros, agüentei pensando que tudo que eu tinha que fazer era passar o
dia. Que amanhã seria melhor.

— Eu te amo. — Dave sussurrou. — Mesmo quando estávamos


separados, estávamos na mesma sintonia.

Ela não respondeu as palavras, mas deitou a cabeça de volta no


peito dele. Simplesmente sentir a respiração quente dela contra sua pele
o fez se sentir menos nervoso. Ele realmente tinha Raven aqui com ele. Ela
estava viva. Ela era um milagre. Seu milagre.

— Amanhã, depois de deixar você para ver David, espero poder


pegar o passaporte dele. Não vai demorar muito até que tudo isso fique
para trás e estejamos em casa. — Disse ele, sabendo que a mudança de
assunto era um pouco chocante, mas ele não queria que ela adormecesse
antes de dizer a ela que seu esperançosamente, tempo no Peru estaria
chegando ao fim.

Eles ficaram em silêncio por alguns minutos. Dave pensou que


Raven estava dormindo quando ela disse: — Eu sonhei com isso, você
sabe.

— O que?

— Isto. Deitada com você na cama. Você brincando com meu


cabelo. Nunca pensei que isso fosse acontecer.

— É real. Sou real.

— Eu sei. Obrigado, Dave. Obrigado por me encontrar e me amar.

— Vá dormir, querida. Amanhã estaremos um dia mais perto de


voltar para casa e viver o resto de nossas vidas em paz e felicidade com
nosso filho.

Ele queria se desculpar mais uma vez por ter demorado tanto para
encontrá-la. Por tudo que ela passou, mas ele manteve as palavras para
si mesmo. No fundo, ele sabia que tinha feito tudo que podia para
encontrá-la, mas ainda irritava que ela tivesse sofrido por dez anos
infernais.

Ele sentiu a exalação feliz em sua pele quando ela suspirou. Então
ela ficou sem ossos em seus braços enquanto ela sucumbia ao sono.
Dave não dormiu. Ele memorizou a sensação de sua esposa em
seus braços e como o cabelo dela parecia espalhado por seu ombro e
braço.

Amanhã, com sorte, seria o ponto de inflexão no limbo em que


estavam presos. Ele pegaria o passaporte do menino e ele e sua equipe
planejariam a invasão a casa onde David estava sendo detido. Então eles
estariam a caminho de casa - ou a merda teria atingido o ventilador. Ele
esperava pelo primeiro, mas sabia que se o último acontecesse, os
Mountain Mercenaries tomariam conta dos seus.

Eles não podiam mais se dar ao luxo de esperar. Ele não estava
disposto a arriscar o bem-estar mental e a saúde de seu filho se del Rio
decidisse agir de acordo com quaisquer planos perversos que ele tinha
para ele.

Ele caiu em um sono inquieto, sabendo que o amanhã poderia mudar


a vida de sua família para sempre, de uma forma ou de outra.
— Não fique nervosa. — Dave disse a Raven enquanto estacionava
ao lado da estrada onde ele normalmente a deixava antes de vê-la
caminhar em direção a casa onde David estava morando.

— Eu não posso evitar. — Ela disse a ele, mordendo o lábio. — Cada


vez que venho aqui, temo entrar e ouvir que ele se foi. Que Del Rio o levou
de novo.

Dave odiava isso por sua esposa. Ele odiava a demora em libertar o
menino e levá-los de volta para os Estados Unidos. — Espero que da
próxima vez que viermos a esta casa, seja para pegar David e trazê-lo para
casa. — Disse ele honestamente.

— Eu também. — Raven sussurrou.

— Olhe para mim. — Dave ordenou suavemente.

Sua esposa virou a cabeça, e ele não pôde deixar de ficar


maravilhado de novo por estar realmente sentado ao lado dela. Ainda era
difícil de acreditar, depois de todo esse tempo. — Vou levar nosso filho
para casa. Onde o ensinaremos a amar LEGOs e a rir quando ele deixa
seus brinquedos espalhados pela casa para que tropecemos. Vamos levá-
lo para acampar... Mostrar a ele como fazer s'mores. Vamos ter um futuro
juntos. Nós os três.

Ele observou enquanto Raven relaxava visivelmente. — OK.

— OK. Seja cuidadosa. Não faça nem diga nada a David ou a


qualquer outra pessoa que possa levantar suspeitas.

— Eu não vou.
— Você comeu o suficiente esta manhã? Você vai ficar bem até esta
noite, quando eu voltar e buscá-la? — Perguntou Dave.

Os lábios de Raven se contraíram. — Eu tive bastante. — Ela disse


a ele. — Você me fez comer a última barra de proteína, e agora acho que
vou explodir.

— Você precisa das calorias. Matar você de fome é apenas mais


uma marca negra na alma de Del Rio. — Ele estendeu a mão e ela colocou
a dela na dele. Dave levou-o à boca e beijou a palma da mão dela. — Eu
te amo. Isso vai acabar logo.

— Ok. — Ela disse a ele, a emoção fácil de ver em seus olhos. Ela
estava oprimida e assustada, mas por baixo de tudo isso, ele viu uma
crença nele que esperava ser capaz de cumprir.

Ele observou enquanto ela estendia a mão e abria a porta. Ela fechou
sem dizer mais nada e desceu a calçada em direção à pequena
casa. Dave queria deixá-la mais perto, então ela não precisava andar
tanto, mas ele sabia que era mais seguro ficar a pelo menos oitocentos
metros de distância para não levantar suspeitas.

Ele ainda estava olhando para a calçada alguns momentos depois


que Raven tinha desaparecido, pensando em sua próxima nomeação na
embaixada dos EUA para pegar o passaporte de David e a invasão que
sua equipe estava planejando para aquela noite...

Quando o vidro da janela ao lado de sua cabeça se estilhaçou de


repente.

Recuando para longe dos cacos, Dave não estava preparado para
dois homens entrarem pela janela e puxá-lo fisicamente para fora. Eles
eram fortes e Dave lutou como um homem possesso. Ele conseguiu dar
algumas lambidas antes que um dos homens empurrasse uma pistola
contra sua cabeça.
— Pare de lutar ou vou explodir seus miolos bem aqui. — O homem
rosnou.

Dave congelou.

Porra. Ele sabia que poderia pegar esses idiotas - havia apenas
quatro deles, em comparação com a meia dúzia ou mais que ele enfrentou
no bairro - mas nem mesmo ele poderia vencer uma bala. E ele precisava
viver. Por Raven. Por seu filho. Ele não conseguia libertá-los do túmulo.

Levantando as mãos em sinal de rendição, Dave memorizou os


rostos dos idiotas que o cercavam. Ele se certificaria de que
pagassem. Junto com qualquer outra pessoa que estivesse entre ele e sua
família.

— Não é tão difícil agora, é? — Um dos homens perguntou, pouco


antes de algo bater com força na nuca de Dave.

Um segundo ele estava olhando para os homens e decidindo


mentalmente como iria matá-los, e no próximo, tudo escureceu.

***

Dave acordou na parte de trás de um carro, espremido entre dois


homens, um dos quais apontava uma pistola para a cabeça, embora não
estivesse em condições de lutar e todos sabiam disso. Suas mãos estavam
presas atrás dele e ele estava com uma forte dor de cabeça. Dave queria
vomitar, mas conseguiu manter a bile baixa.

Ele olhou para o enorme complexo de onde o carro se


aproximava. Dave reconheceu imediatamente. Ele passou muitas horas
estudando o lugar a partir de fotos de satélite. A casa em si era cercada
por vários acres de grama verde exuberante e uma parede de tijolos de
três metros.

Uma vez, Dave teve a idéia de abordar este lugar sozinho, mas sua
equipe o convenceu do contrário.

Agora parecia que ele teria a chance de falar cara a cara com o
homem que sozinho tentou arruinar a vida dele e de Raven.

Dave teve que presumir que alguém relatou tê-lo visto em Del
Rio. Ou talvez ele tivesse alguém seguindo Raven para mantê-la sob
controle. De qualquer forma, ele tinha certeza de que Del Rio sabia que os
Mountain Mercenaries estavam na cidade - e o homem não estava feliz
com isso. O fato de Dave ter sido sequestrado não era um bom presságio
para ele.

Ele tentou rever tudo o que sabia sobre del Rio. Com ele, o dinheiro
falava. Tudo o que o homem faz era para obter lucro. O dinheiro era o que
fazia seu mundo girar. E se dinheiro era o que custava para tirar David de
suas garras, então era o que Dave ofereceria. Se tivesse a chance, ele
compraria David do homem sem um momento de hesitação.

Ele se forçou a não pensar em Raven sendo repetidamente


estuprada em algum lugar da grande casa à sua frente. Ou olhando pela
janela para o lindo gramado e desejando que ela estivesse em outro
lugar. Era muito doloroso. Tão orgulhoso de sua esposa quanto estava,
Dave ainda tinha muita raiva reprimida fervendo sob sua pele. Alguém
pagaria pelo que sua esposa havia passado, e esse alguém seria o próprio
Del Rio. De alguma forma, o homem pagaria.

Olhando para cima quando o carro parou, Dave estudou as janelas,


mas todos haviam fechado as cortinas. Ele não tinha ideia se havia
mulheres atrás daquelas cortinas. Prisioneiros que sofriam abusos e
estupros dia após dia, sem esperança de resgate. Havia mais
americanos? Mais mulheres como Bonita, Carmen e as outras?
Ele sabia que era provável, e o pensamento era abominável, mas
Dave tinha que se concentrar no motivo pelo qual ele estava ali.

Aguente firme, ele implorou silenciosamente aos cativos. Eu


prometo que vou enviar ajuda. Você só tem que aguentar um pouco mais.

Dave se sentiu culpado por não ser capaz de fazer nada certo neste
segundo pelas mulheres que poderiam estar presas lá dentro, vivendo uma
vida que nunca poderiam ter sonhado em seus piores pesadelos. Mas, no
momento, ele não estava nem em posição de ajudar a si mesmo.

Ele foi arrastado para fora do carro e quase caiu de joelhos na


garagem. O mundo girou e Dave sentiu uma gota do que supôs ser sangue
escorrendo pela nuca. O que quer que tenha sido atingido causou algum
dano, mas ele estava vivo.

Não matá-lo de uma vez seria a queda de Del Rio.

— Como você me encontrou? — Ele perguntou aos homens quase


arrastando-o em direção à enorme casa.

— Temos muitas maneiras. — Disse o homem que segurava a


arma. — Del Rio é um deus por aqui. Se você pensava que você e seus
amigos estavam passando despercebidos, vocês realmente são
americanos estúpidos. Temos olhos e ouvidos em todos os lugares.

Droga. Dave e os outros haviam especulado em mais de uma


ocasião sobre por que Del Rio não tinha enviado seus capangas atrás
deles. Eles permaneceram vigilantes, apenas no caso, mas o idiota
esperou para agarrá-lo quando ele estava sozinho e sem apoio. Foi um
erro estúpido da parte de Dave deixar Raven sem ninguém de sua equipe
com ele.

Ele foi conduzido escada acima, dois corredores abaixo, passando


pelo menos uma dúzia de portas, todas fechadas, até uma grande
biblioteca. Havia estantes de livros ao longo das paredes direita e
esquerda e uma grande janela atrás da enorme mesa que ficava no meio
da sala. Não havia nada na superfície de madeira polida. Uma única
cadeira de madeira de encosto reto estava em frente à mesa, e um guarda
gesticulou para ela com sua arma enquanto outro cortava as restrições
dos pulsos de Dave.

Ele se sentou onde foi instruído. Era sentar ou cair, e a última coisa
que ele queria fazer era se tornar mais vulnerável.

Por mais que Dave odiasse estar nesta casa, nesta prisão, ele não
estava exatamente chateado por finalmente poder falar com Del Rio.

Pelo menos, ele esperava que fosse o que estava para acontecer.

Ele não teve que esperar muito para descobrir.

A porta se abriu, fazendo um estrondo alto ao atingir a parede, e


Dave se sacudiu na cadeira. O movimento sacudiu sua cabeça já dolorida,
mas ele fez o possível para não mostrar de forma alguma o quanto estava
sofrendo.

Três homens entraram na sala. Dois vestidos de preto e o terceiro


era o próprio Del Rio. Era óbvio que Dave não seria capaz de matar Del
Rio naquele momento. Não ultrapassado em número de sete para
um. Mas sua hora estava chegando. Mesmo que Dave não pudesse ser o
único a puxar o gatilho e matar o homem, ele sabia que seria feito.

Dave havia descoberto algumas fotos de Del Rio na internet, mas


nenhuma conseguiu capturar o mal que parecia emanar do próprio ser do
homem. Ele não era terrivelmente alto, provavelmente em torno de
1.70. Ele tinha cabelos castanhos e olhos castanhos. Sua pele era escura
e enrugada. Dizia-se que Del Rio tinha cinquenta e poucos anos e, olhando
para ele, Dave teve que concordar com essa suposição. Ele usava uma
calça jeans, um coldre com uma pistola em volta da cintura e uma camisa
de botão vermelha escura de manga comprida, e ele caminhava com uma
arrogância que vinha de anos de arrogância e de fazer o que queria.

Ele contornou a mesa e se sentou na cadeira. Um guarda ficou


parado junto à porta e o outro se acomodou perto do canto traseiro da
mesa, perto de Del Río. Os quatro homens que arrastaram Dave escada
acima permaneceram, todos de pé ao redor de sua cadeira. A pistola não
estava mais sendo apontada para a cabeça de Dave, mas ele sabia sem
dúvida que, se fizesse um movimento errado, teria uma bala no cérebro
mais rápido do que conseguiria levantar a mão para se proteger.

Com as próprias mãos atrás da cabeça, Del Rio se recostou como


se não se importasse com o mundo. — Quem é você e por que está aqui?
— Del Rio perguntou em inglês.

Dave não sabia se o homem podia entender ou falar inglês, embora


tivesse um palpite de que sim. Um homem não chegou a ter tanto poder
quanto Del Rio sem saber como ameaçar as pessoas em mais de um
idioma. Ele não ficaria surpreso se o idiota soubesse outras línguas
também.

Também era uma pergunta idiota. Del Rio sabia exatamente quem
ele era e por que estava ali, pelo menos em parte.

— Estou aqui para pegar de volta o que você roubou de mim. —


Dave disse a ele sem rodeios, imaginando que o homem gostaria que ele
fosse direto ao ponto.

Del Rio encolheu os ombros. — Sua mulher me rendeu muito


dinheiro no passado, mas ela não tem mais utilidade para mim. — Disse
ele preguiçosamente. — Eu não estava preocupado que você estivesse
transando com ela e suas amigas. Mas agora ela trouxe problemas... E é
hora de ela desaparecer.
Isso irritou Dave ainda mais. Raven era mais que um meio para um
fim, e ele definitivamente não gostava da ameaça de Del Rio. — Então me
deixe ir, e deixaremos o Peru para nunca mais voltar. — Dave disse a
ele. — Na verdade, estávamos planejando partir amanhã, então se você
apenas me deixar, posso terminar de fazer meus planos e estaremos fora
daqui.

Del Rio deu uma risadinha. — Acho que não. — Disse ele
ameaçadoramente. — Especialmente quando você parece ter planos de
levar o que não pertence a você.

Os olhos de Dave se estreitaram. — O menino é mais meu filho do


que você jamais saberá.

— É o seguinte. — Disse Del Rio. — Eu tenho planos para aquele


menino.

— Foda-se você e seus planos. — Dave rosnou.

Mas o outro homem não se ofendeu. Ele riu e se inclinou para frente,
apoiando os cotovelos na mesa à sua frente. — Mas você não perguntou
quais eram os meus planos.

— Eu sei tudo sobre você e seus planos de merda. — Dave disse a


ele.

— Eu não acho que você sabe tanto quanto pensa que sabe. Você
sabe sobre o esconderijo que possuo, cheio até a borda com filhos
bastardos das prostitutas que trabalham para mim? Pelo que o governo
sabe, é um orfanato e eu sou um anjo para essas crianças pobres e
indesejadas. Eu ajudo a encontrar casas onde serão muito amadas pelo
tempo que suas novas famílias quiserem.

O rosto de Dave não traiu nada. Ele se recusou a mostrar um pouco


de desgosto para com o homem mau à sua frente.
— Nenhuma resposta para isso, hein? — Perguntou Del Rio. —
Então que tal isso - eu decidi manter o pequeno David para mim.

Ao ouvir isso, Dave não pôde deixar de se encolher um pouco.

Mas Del Rio viu e sorriu ainda mais. — Vou precisar de um sucessor
algum dia. Alguém para me substituir quando eu decidir me aposentar. E
David, com seus impressionantes olhos azuis e sua adorável covinha, era
lindo demais para eu desistir. Então eu o poupei da vida que aqueles outros
pirralhos vivem. Ele teve a melhor educação que o dinheiro pode
comprar. Ele será educado, e eu até permiti que sua mãe visitasse, para
ensiná-lo inglês... Uma habilidade tão útil para ter na minha linha de
trabalho, você não acha? Mas é hora de seu mimo acabar. Ele precisa
crescer. Ele está começando a aprender que estou no comando. Em
breve, vou apresentá-lo às alegrias do prazer sexual. Ele aprenderá
rapidamente que fazer exatamente o que eu digo será melhor para ele do
que lutar. Eu não tenho meu próprio brinquedo há um bom tempo, e estou
ansioso para prepará-lo para me agradar - e só a mim.

Dave se sentiu mal, seu estômago revirando violentamente. Del Rio


não estava apenas planejando abusar de seu filho, mas também o
prepararia para ser tão mau quanto ele.

Todos sabiam que Del Rio era mau, que usava e abusava de
mulheres e crianças, mas isso era demais.

Não vai acontecer. De jeito nenhum.

— Vejo que esse tipo de coisa não é sua perversão, que não é nem
aqui nem lá. — Del Rio continuou com um sorriso malicioso. — Por muito
tempo, simplesmente peguei o que queria... Trabalhadores para minha
propriedade aqui, mas também crianças para vender ao comprador mais
exigente. Mas descobri que é muito mais fácil arrebatar mulheres do que
crianças. As pessoas se preocupam mais com os pequenos. Mas então
percebi que tinha minha própria fábrica de bebês bem aqui, sob meu
teto! Tem sido mais lucrativo do que você jamais poderia imaginar.

— Eu posso pagar. — Disse Dave ao homem. — O que você


quiser. Para o menino.

— Você não estava ouvindo? — Del Rio perguntou friamente. — Eu


não quero o seu dinheiro. Eu quero o menino. Ele será meu brinquedo,
depois meu sucessor. Vou treiná-lo para ser ainda mais implacável do que
eu. Ele acabará assumindo o controle do meu império, e o nome Del Rio
será falado com medo e reverência nas próximas décadas.

— Por quê? — Dave perguntou com nojo. — Por que fazer


isso? Existem muitas mulheres que estão realmente dispostas a trabalhar
no comércio do sexo. As mulheres que você mantém trancadas aqui têm
famílias que as amam. Elas tiveram vidas antes de você tão
implacavelmente as separou de tudo que elas conhecem.

— Porque eu posso. — Disse Del Rio simplesmente. — Porque as


mulheres são nojentas. Elas abrirão as pernas para qualquer um, desde
que isso lhes dê o que desejam. Dinheiro, comida, prestígio. Elas
não são nada. Os homens são superiores em todos os aspectos e as
mulheres precisam aprender isso.

Dave não teve resposta. O homem sentado tão calmamente à sua


frente estava louco. Não só isso, mas ele não tinha um osso compassivo
em seu corpo.

— Não vou deixar você levar meu sucessor, meu filho , para longe
de mim. — Del Rio concluiu, erguendo o queixo.

Dave viu o sinal sutil para um dos homens que estavam atrás dele,
mas antes que pudesse fazer alguma coisa a respeito, uma arma de
choque foi cravada em seu lado.
Soltando um grito alto, Dave não conseguiu controlar seus
músculos. Ele caiu da cadeira no chão, e ainda assim o homem segurou o
dispositivo contra ele. Correntes elétricas percorriam seu corpo e tudo que
Dave podia fazer era convulsionar no tapete caro.

Del Rio se levantou, a cadeira que ele estava rangendo com seus
movimentos, e se aproximou enquanto Dave se contorcia de dor a seus
pés. Ele não podia se defender. Não pude fazer nada além de assistir
enquanto Del Rio dizia algo aos guardas. Então, sem olhar para trás, o
mais notório e malvado traficante de sexo que Dave já cruzou se virou e
saiu da biblioteca, seus dois guarda-costas o seguindo sem qualquer tipo
de expressão em seus rostos.

Os homens que o agarraram do carro na rua falaram entre si, depois


olharam para ele. Um puxou uma faca, e Dave estremeceu quando ela
brilhou nas luzes brilhantes da sala.

Dave fechou os olhos quando um homem pressionou a Taser contra


seu corpo novamente, tornando-o fisicamente incapaz de se proteger.

O outro homem puxou a cabeça de Dave para trás, expondo seu


pescoço.

Recusando-se a fechar os olhos, Dave olhou para o homem mais


próximo a ele, mesmo enquanto lutava contra os efeitos paralisantes da
corrente que fluía por seu corpo.

Ele pensou em Raven. Ela ficaria muito chateada quando ele nunca
mais voltasse para buscá-la.

Del Rio era a encarnação do diabo. E Dave era apenas um


homem. Um homem desesperado que queria fazer o que fosse necessário
para aliviar a agonia nos olhos de sua mulher... Mas agora ele nunca teria
a chance.
Dave não tinha ideia de que horas eram quando a consciência
voltou. Ele estava deitado no que supôs ser o porta-malas de um
carro. Levantando a mão, ele tocou seu pescoço e estremeceu quando
sentiu umidade lá.

Mas ele estava vivo. O que quer que tenha acontecido enquanto ele
estava inconsciente, não foi letal. Ou os homens eram incompetentes ou
planejavam torturá-lo ainda mais quando chegassem ao destino.

O carro diminuiu a velocidade, parou e Dave fechou os olhos,


decidindo reunir o máximo de informações possível sobre sua situação
antes de agir. Um fedor diferente de tudo que ele já havia sentido antes
flutuava em suas narinas, mas ele não se moveu ou reagiu de outra forma.

A tampa do porta-malas se levantou e ele ouviu dois homens


conversando em espanhol. Depois de alguns minutos, Dave sentiu mãos
sobre ele. Ele manteve seu corpo mole, tornando seu peso morto difícil de
mover. Os homens grunhiram e praguejaram enquanto faziam o possível
para tirá-lo do porta-malas do carro. Ele manteve os músculos relaxados e
conseguiu conter um gemido quando eles finalmente o puxaram pela
borda do porta malas e deixaram a gravidade fazer o resto do
trabalho. Sua cabeça bateu no chão com força quando ele rolou para fora
do carro.

Houve mais discussão entre os homens, então cada um agarrou um


de seus tornozelos e tentou arrastá-lo para algum lugar. O terreno que
estava sendo rebocado era acidentado e úmido. Cheirava a uma
combinação de carne podre e fezes humanas. Mas ele ainda não se
moveu.

Com um último grunhido de um dos homens, eles soltaram seus


tornozelos, e suas pernas caíram frouxamente no chão mais uma
vez. Dave estava se preparando para saltar e lutar...
Mas nada aconteceu.

Quando pareceu que os homens estavam se afastando, Dave


arriscou abrir os olhos e semicerrar os olhos para verificar sua situação.

Se os homens estivessem voltando para o carro para pegar uma


arma ou algo assim, ele teria que se mover... mas ele hesitou. Ele queria
pular e atacá-los, então roubar o carro, mas ele se sentia tonto e enjoado,
provavelmente pela perda de sangue e a maneira como eles o encheram
de corrente elétrica.

Enquanto ele debatia se tinha força para um ataque furtivo, Dave


assistiu incrédulo enquanto eles ligavam o carro e iam embora.

Eles eram idiotas. Presunçosos e muito confiantes de que eles o


mataram, ou que ele eventualmente morreria de tudo o que eles já fizeram.

Eles deveriam ter se certificado de que terminaram o trabalho que


lhes foi atribuído.

Era um pensamento estúpido, mas Dave sabia que seus Mountain


Mercenaries nunca teriam cometido um erro tão colossal. Eles não eram
assassinos, como ele dizia com frequência, mas se fossem forçados a
matar alguém em sua missão para libertar um prisioneiro, eles fariam o
trabalho de forma totalmente segura.

Gemendo, Dave conseguiu virar para o lado. Ele levou a mão ao


pescoço novamente e aplicou pressão no ferimento de faca que encontrou
lá. De alguma forma, os idiotas conseguiram tentar mata-lo quando ele
estava deitado indefeso no chão, incapaz de se defender. O novo corte
era perpendicular ao ferimento que ele recebeu anos antes. Dave só podia
imaginar o que a nova cicatriz faria com sua aparência já um tanto
assustadora, mas ele dificilmente poderia se preocupar com isso
agora. Tudo o que ele conseguia pensar era dar o fora de onde quer que
estivesse e resgatar seu filho.
Abrindo os olhos totalmente, Dave viu que tinha sido jogado no que
só poderia ser chamado de lixão. Até onde a vista alcançava, havia montes
de lixo. O fedor era horrível, mas enquanto ele estivesse vivo, ele teria uma
chance de lutar. Os pássaros voaram acima, procurando o que quer que
pudessem encontrar para comer, e os sons de seus grasnados eram altos
na atmosfera silenciosa.

Dave tentou ficar de joelhos, mas o mundo girava loucamente ao


redor dele. Amaldiçoando, ele caiu de cara na lama. Rolando de costas,
ele ficou lá, tentando se orientar e recuperar as forças.

Ele tinha que ir para a cidade. Voltar para Raven. Tinha que resgatar
seu filho antes que Del Rio pudesse movê-lo ou executar seu plano. Ele
também precisava descobrir onde esse ‘orfanato’ estava localizado, as
outras crianças não mereciam o que Del Rio havia planejado para elas
mais do que David.

O que começou como uma simples viagem para encontrar sua


esposa e trazê-la de volta para casa se tornou mais complicado do que
qualquer coisa que Dave poderia ter imaginado.

Mas não importa. Resgatar mulheres e crianças era o que os


Mountain Mercenaries faziam, e não importava quanto tempo levasse ou
quanta burocracia eles tivessem que ultrapassar, Del Rio não iria vencer
esta batalha. David voltaria para casa com ele, e Del Rio lamentaria o dia
em que ele fodeu com sua família.

Mas primeiro...

Dave fechou os olhos. Primeiro ele descansaria um minuto e


recuperaria as forças. Então ele se levantaria, encontraria o caminho de
volta para a cidade, resgataria seu filho e daria o fora do Peru.
Mags caminhou pelo quarto de Gray impacientemente. Eram seis da
tarde e Dave não havia voltado para buscá-la na reunião com David. Ela
andou todo o caminho de volta para o motel, esperando encontrá-lo lá...
Esperando Dave se desculpar por ter sido detido por suas outras
tarefas. Mas não havia sinal dele quando ela chegou.

Gray nem percebeu que Dave estava desaparecido até que ela
voltou para o motel e explicou que ele não a havia buscado.

Zara estava na sala com Mags, junto com Ro e Ball. Os outros


estavam em outra sala, aparentemente falando sobre quais seriam seus
próximos passos e como encontrar Dave.

— Ele me disse que pegaria o passaporte de David e, com sorte,


amanhã estaríamos fora daqui. — Disse Mags. — O que
aconteceu? Onde ele está? David não está mais seguro?

— Não entre em pânico. — Disse Ro em uma voz calma demais para


a paz de espírito de Mags.

— Não entre em pânico? — Ela perguntou, ficando frenética. —


Como não posso? Meu marido conseguiu me encontrar depois de todo
esse tempo e por algum milagre aceitou o fato de eu ter um filho que não
é dele. E agora ele está desaparecido. Isso é ruim, Ro. Muito ruim, Del Rio
é literalmente louco. Se ele colocou as mãos em Dave, todos que amo
estão em perigo.

— Dave pode não ser um soldado, mas ele tem bons instintos. —
Ball disse a ela. — Mesmo se ele se encontrar em uma situação que deu
errado, ele será capaz de se livrar dela.
— Não se alguém atirar na cabeça dele! — Mags exclamou
histericamente.

Ro se aproximou dela, pegou sua mão e a conduziu até uma das


camas. Ele a sentou no colchão e se ajoelhou na frente dela. — Eu sei que
você não esteve conosco por tanto tempo, mas acredite em mim quando
digo que estamos fazendo tudo o que podemos para encontrá-lo e dar-lhe
apoio.

— Você sabe onde ele está? — Mags perguntou.

Ro balançou a cabeça. — Não. Mas Dave é inteligente. Inferno, ele


nos ajudou a planejar centenas de missões. Se ele estiver com problemas,
ele encontrará uma maneira de sair disso.

Ela respirou fundo. — Então, qual é o plano nesse meio


tempo? Sentar aqui e esperar Dave voltar?

Surpreendentemente, Ro sorriu.

Mags franziu a testa para ele.

— Desculpe, amor, eu só... Eu posso ver por que Dave está louco
para você. Você é o tipo de pessoa direta, assim como ele. De qualquer
forma, o plano é encontrar Dave, pegar seu filho e dar o fora deste país.

Ela nem sequer esboçou um sorriso. — Quando?

Ro se levantou e, em seguida, Ball estava na frente dela. — Meat


está entrando em contato com nossos contatos aqui no país para
conseguir armas adicionais. Temos algumas, mas precisamos de mais
poder de fogo. Iremos à embaixada e veremos se Dave chegou lá esta
manhã. Do contrário, conseguiremos o passaporte de David, junto com o
seu e o das outras mulheres também. O plano é ter nossas merdas prontas
para ir, assim que encontrarmos Dave e pegarmos seu filho, e assim
podemos ir para o aeroporto. Alugamos um avião e ele está pronto para
partir. Nós apenas temos que dar a eles um tempo, e eles estarão lá para
nos pegar e nos levar para casa.

Mags franziu a testa. — Um jato particular? De quem?

— Não importa. Os Mountain Mercenaries têm muitos amigos nos


Estados Unidos. Amigos em posições importantes que estão mais do que
dispostos a nos emprestar um avião, se isso significar nos colocar em
dívida. Meat está fazendo tudo o que pode para encontrar Dave esta noite,
mas mesmo que não o encontremos, queremos entrar e buscar David
amanhã. Paramos de esperar.

Ela respirou fundo e sentiu Zara apertar seu ombro. — Amanhã?

— Sim. Iremos ao amanhecer, quando provavelmente haverá menos


pessoas por perto. Podemos segurá-lo e ir embora sem disparar nenhum
tiro. Mas mesmo se houver, não vamos embora sem seu filho.

— Mas e quanto a Dave? — Ela sussurrou, dividida entre estar


emocionada por finalmente ter seu filho e agonia por não saber o destino
de seu marido.

— Se não o encontrarmos quando trouxermos você e David de volta


aqui, você, seu filho, Gabriella, Zara e metade da equipe irão para o
aeroporto com as outras mulheres, e você vai voar para fora daqui. Os
outros três de nós ficarão até encontrarmos Dave.

Mags balançou a cabeça. — Não, eu não quero ir sem ele.

— Mags... — Zara disse ternamente. — Você precisa levar David


para o Colorado. Del Rio não pode tocá-lo lá. Quanto mais tempo você
ficar aqui, maior a chance de ele ser encontrado e levado novamente. E
Dave chutaria nossas bundas se não fizéssemos tudo ao nosso alcance
para levar você para casa, com ou sem ele.
Os ombros de Mags caíram. — Deus, que escolha horrível de se
fazer. Seu filho ou marido?

— Mags. — Disse Ball suavemente — Olhe para mim.

Mags olhou para os intensos olhos azuis do homem. — Dave é um


de nós. Nosso time. Inferno, ele é nosso líder. Ele esteve lá para nós
inúmeras vezes. Mesmo sem estar fisicamente nas missões, ele ainda
está lá. Ele está atrasado, certificando-se de que temos as informações de
que precisamos e detonando quando necessário. Não vamos embora sem
ele. Dou-lhe minha palavra, como um Mountain Mercenarie, de que
traremos seu marido para sua casa. OK?

Mags concordou relutantemente. Ela não gostou, mas tinha que


confiar que os homens de Dave sabiam o que estavam fazendo.

— Bom. Agora, você não tocou em seu jantar. Você sabe que Dave
não ficaria feliz se você não comesse. Então, por favor, tente comer
alguma coisa. Não quero que seu marido me machuque se voltar e achar
que não cuidamos de você.

Isso fez Mags sorrir um pouco. Ela se virou para sorrir para Zara
também, então respirou fundo. Enquanto Ro entregava a ela um sanduíche
e uma lata de refrigerante, ela pensou consigo mesma: É melhor você não
estar morto, Dave. Seu filho e eu precisamos muito de você.

***

Dave sentiu como se a morte estivesse animada. Os cabelos de seu


nariz provavelmente estavam queimados pelos odores horríveis que
vinham das pilhas de lixo ao seu redor. Ele não tinha ideia de que horas
eram, mas um brilho veio da lua minguante, com apenas um toque de luz
para indicar a aproximação do nascer do sol.

Considerando que havia sido raptado na manhã anterior e depois


jogado fora enquanto o sol estava alto no céu, ele sabia que havia passado
horas desmaiado.

Cada vez que ele virava a cabeça, uma dor surda o percorria do
corte em seu pescoço. Estendendo a mão, Dave sondou o ferimento com
cautela. Ele não tinha um espelho, mas pelo que ele poderia dizer, parecia
bem raso, e o sangramento quase parou. A faca era cega como a merda
ou o cara que a empunhava era um maldito novato em cortar gargantas.

Sua camisa ainda estava úmida na frente e pegajosa de sangue, mas


ele estava vivo. Del Rio tinha fodido tudo. Ele deveria ter se certificado de
que seus companheiros o mataram.

Dave se sentou lentamente, testando seu equilíbrio, e olhou em


volta.

Sua cabeça latejava e ele se sentia um pouco fraco, mas percebeu


que era por causa da perda de sangue e desidratação. Ele ainda estava
com suas roupas e sapatos, mas não havia nada em seus bolsos, e tanto
a bainha que estava em seu tornozelo quanto à faca que estava dentro
dela haviam sumido. Dave ficou irritado por um momento até que olhou em
volta. Ele estava cercado por lixo, incluindo quilômetros de vidro quebrado,
várias hastes de metal... Ele até avistou uma faca de carne quebrada e
torta. Ele tinha muitas armas para escolher.

Percebendo que também ainda usava o cinto, Dave sorriu. Ele o


comprou de um site de viagens anos atrás. Tinha um bolso interno com
zíper conveniente e escondido, onde ele guardou um pouco de dinheiro,
só para garantir.
Sentindo-se melhor sabendo que não estaria desarmado e tudo o
que tinha a fazer era andar até conseguir sinalizar um táxi, Dave se pôs de
pé lenta e cuidadosamente. Depois de alguns segundos, ele respirou
fundo e percebeu que se sentia muito bem por quase ter sido
morto... Novamente.

Ele teve muita sorte, mas em vez de se sentir triunfante por ter
sobrevivido, ele estava ficando mais irritado a cada segundo. Ele tinha uma
esposa e um filho em quem pensar agora - e ele tinha fodido tudo. Ele
deveria ter sido mais observador. Deveria saber que Del Rio descobriria
sobre ele e faria algo para proteger o que considerava seus
‘investimentos’. Ele colocou um grande alvo em seu filho, e possivelmente
em Raven também.

Ele precisava voltar para a cidade e para sua equipe. Mas, mais
importante, ele precisava chegar até seu filho antes que ele fosse
transferido ou ainda mais abusado por Del Río.

Pensar nos planos de Del Rio fez a dor em seu pescoço


diminuir. Tudo o que restou foi à determinação de tirar o filho do país e
voltar para o Colorado, onde ele estaria seguro. Ele tomaria providências
para cuidar da operação de Del Rio assim que estivessem em segurança
e fora de seu alcance.

Então Dave e Raven poderiam finalmente começar sua vida como


uma família, como sempre sonharam.

Um som o tirou de sua névoa de raiva. Dave olhou na direção de


onde vinha e viu um farol solitário vindo em direção ao aterro. Uma
motocicleta ou scooter.

Sorrindo, Dave se abaixou e pegou o que provavelmente costumava


ser um cachimbo da pia da cozinha, bem como a faca torta que ele vira
antes. Ele se moveu o mais rápido e silenciosamente possível para longe
de onde havia acordado e se escondeu atrás de uma pilha de lixo
podre. Ele nem mesmo sentiu o fedor. Ele estava completamente focado
no homem vindo em direção ao depósito de lixo.

O homem estacionou a grande scooter - e Dave o reconheceu


imediatamente. Era o guarda que pareceu tão alegre quanto seu amigo
quando o abateram, aquele que cortou seu pescoço.

Furioso, ele sabia que poderia facilmente acabar com a vida deste
homem aqui e agora e não sentir um pingo de remorso... Mas ele não
iria. Dave não era um assassino.

Mas isso não significa que ele não poderia ferir o homem da mesma
maneira que ele tinha machucado ele.

Ele mudou o controle da faca, imaginando exatamente o que estava


prestes a fazer. Dave não sabia por que o homem havia retornado,
possivelmente para ter certeza de que ele estava morto, mas ele não iria
olhar um cavalo de presente na boca. Ele teve uma chance de se vingar e,
com sorte, uma maneira de sair do depósito de lixo. Ele também não tinha
ideia de onde o outro guarda estava ou se ele se juntaria ao amigo para
terminar o trabalho que deveriam ter feito antes.

O homem foi direto para o local onde ele e seu amigo deixaram Dave
no início da tarde. Quando ele não o encontrou, ele rosnou algo com raiva
em espanhol.

Dave rapidamente se esgueirou por trás dele e passou um braço em


volta da garganta do homem menor antes mesmo de perceber que não
estava sozinho.

— Surpresa, idiota. — Dave sibilou, sem se importar que o homem


não pudesse entender.
O guarda lutou para se controlar, mas Dave não estava disposto a
deixar o homem levar a melhor. Ele pressionou a faca na garganta do cara
e rapidamente o cortou de orelha a orelha.

O homem de Del Rio gritou e se debateu em seu aperto, tornando o


corte mais profundo do que Dave havia planejado. Ele só queria assustar
o homem, dar-lhe uma cicatriz que o lembrasse para sempre do americano
que ele deveria ter matado, mas não o fez. As mãos do homem voaram
para sua garganta enquanto Dave o girava. Antes que ele pudesse se
defender, Dave plantou um punho duro em seu rosto. Ele caiu como uma
rocha.

O homem estava inconsciente na mesma pilha de merda e lixo em


que havia deixado Dave mais cedo. Procurando rapidamente nos bolsos,
Dave pegou o pouco dinheiro que encontrou, junto com as chaves da
scooter. Então ele se levantou, cuspiu no homem e deu as costas sem um
segundo olhar. Ele não estava muito preocupado com o cara. Se ele
sangrou, ele sangrou... Ele não era sua preocupação. Apenas sua esposa
e filho importavam agora.

Dave não tinha ideia de onde ele estava, ou como diabos voltar para
o motel, mas ele descobriria. O céu já estava clareando, e quanto mais ele
demorava em voltar para Raven e chegar a David, mais perigo eles
corriam.

Dave tinha um mau pressentimento de que tinha acordado a besta,


e havia uma possibilidade de Del Rio já ter movido seu filho. O pensamento
fez seu sangue gelar, mas só fortaleceu sua determinação. Ninguém fodeu
com o líder dos Mountain Mercenaries. Ninguém.

***
Mags estava nervosa. Já era de manhã e ainda não havia sinal de
Dave. Mas era hora de ela ir ver o filho.

A equipe de Dave estava planejando um ataque matinal a casa onde


David estava detido. Ela não estava feliz que seu filho provavelmente
ficaria traumatizado por essencialmente ser sequestrado da casa que ele
viveu em toda a sua vida, mas tirá-lo de Del Rio era vital.

Hoje não era um dos dias agendados para visitar David. Ia bater à
porta com a desculpa de que alguém do bairro a informara de que Del Rio
exigia sua presença em casa. Quando a porta fosse aberta para ela, a
equipe invadiria a casa e resgataria seu filho.

Eles estavam todos enfiados na minivan restante, todos os sete, e


Black tinha acabado de dizer a ela para agir como se nada estivesse
errado e fazer o que ela pudesse para não levantar qualquer suspeita. A
equipe provavelmente poderia entrar na casa mesmo que a porta não
estivesse aberta para ela, mas demoraria mais, e os capangas de Del Rio
lá dentro poderiam usar esse tempo para machucar David.

— Alguma pergunta? — Perguntou Black.

Ela balançou a cabeça. — Não.

— Ok, apenas fique calma. Você e David ficarão bem. Eu juro. —


Disse ele.

Mags apreciou sua garantia. Eles estavam obviamente tensos e


pareciam perigosos como o inferno, mas ela se sentia segura perto
deles. Por um segundo, ela desejou poder ficar na van, mas então respirou
fundo e endireitou os ombros. David morreria de medo se ela não estivesse
lá e ele fosse agarrado por homens estranhos. Ela tinha que mantê-lo
calmo.
— Eu cuido disso. — Disse ela, mais para si mesma do que para os
outros, mas é claro que todos a ouviram de qualquer maneira.

— Pode crer.

— Claro que você vai.

— Foda-se, sim.

Mags não pôde deixar de sorrir com suas respostas. Ela gostava
desses homens. Eles eram um pouco rudes, mas obviamente amavam
suas namoradas e esposas e não tinham medo de fazer o que tinha que
ser feito para manter aqueles que eram mais vulneráveis em segurança.

Ela saiu da van e desceu a rua meia milha em direção à casa em que
David morava. Ela sabia que os amigos do marido a estavam seguindo a
uma distância segura e discreta. Isso a fez se sentir não tão sozinha e
aumentou sua coragem. Ela poderia fazer isso. Ela estava fazendo
isso. Ela tinha sido complacente por muito tempo. Era hora de retomar sua
vida e a de seu filho enquanto ela estava nisso. A preocupação com o
marido ainda martelava na nuca, mas, no momento, ela precisava se
concentrar em David. Ela odiava ter que escolher, mas sabia que ele
também lhe diria para colocar David em primeiro lugar.

Ela caminhou até o portão na frente da casa e tocou a campainha,


esperando alguém responder e repassando em sua cabeça o discurso
preparado. Quando nada aconteceu, Mags franziu a testa e apertou o
botão mais uma vez.

Vários minutos depois, ela ainda estava do lado de fora do portão


trancado. Ninguém atendeu ao toque da campainha.

A inquietação floresceu em sua barriga, e ela apertou o botão


freneticamente novamente e novamente. Como ninguém respondeu, ela
espiou por entre as barras de ferro forjado do portão e gritou em espanhol:
— Alô? Tem alguém aí?

Ela não viu nenhum movimento na casa. Nenhuma luz estava acesa
e ela não viu fumaça saindo da chaminé.

Desesperada agora, ela agarrou as barras e puxou.

Para sua surpresa, o portão se moveu.

Olhando para baixo, Mags percebeu que não estava trancado. Ela a
abriu, o pavor a enchendo quando ela se abriu com facilidade.

Ela deu um passo em direção a casa, ansiosa para ver o que diabos
estava acontecendo, mas alguém agarrou seu braço.

Em pânico, Mags girou e apontou seu punho para aproximadamente


onde ela imaginou que a cabeça da pessoa estaria.

Gray segurou o punho dela na palma da mão. — Calma, Raven, sou


só eu.

— Gray! Ninguém está respondendo. — Mags gritou. — Eles


deveriam estar aqui!

— Eu sei. Estamos nisso. Fique calma.

Fique calma? Como diabos ela poderia ficar calma? Primeiro Dave
havia desaparecido, e agora parecia que David também tinha
sumido. Mags fez o possível para controlar seu pânico crescente. Gray
acenou com a cabeça para alguém atrás dela, e ela mal se encolheu
quando sentiu outra pessoa segurar seu braço. Duas semanas atrás, ela
teria surtado se alguém a tivesse agarrado como aqueles homens estavam
fazendo, mas ela sabia que seu marido confiava neles com sua vida. Ela
não tinha medo deles. No momento, ela estava com mais medo pelo filho.
Era Meat ao seu lado agora. Quando ela olhou para trás, Gray havia
desaparecido.

— Onde ele foi? — Ela sussurrou.

— Gray é um fantasma. — Meat respondeu, como se eles


estivessem simplesmente tendo uma conversa normal em um dia normal.
— De todos nós, ele tem a habilidade mais estranha de se misturar ao
ambiente e não ser visto. O que é estranho, considerando o quão alto ele
é, mas é verdade.

Ele a puxou para fora da rua e apenas dentro do portão, então eles
não poderiam ser vistos por pessoas aleatórias passando. Ele moveu sua
mão para a mão dela e agarrou. Deveria ter sido estranho, de mãos dadas
com um homem que não era seu marido, mas no momento, Mags teria
qualquer conforto que pudesse obter.

— Os outros vão entrar e ver o que está acontecendo. — Meat disse


suavemente. — Se David estiver lá, eles vão trazê-lo para você.

Se ele estivesse lá. Ela olhou para o homem grande parado ao lado
dela. — Oh Deus, Meat, ele tem que estar lá.

— Shhhhhh , Raven. Não peça problemas emprestados. — Então


ele olhou para ela. — Eu juro para você aqui e agora, se ele foi movido,
nós o encontraremos.

Todo mundo dizia isso a ela, mas ela não tinha ideia de como eles
iriam fazer sobre isso. Pensamentos de Zara e de como ela estava sozinha
no Peru desde tenra idade passaram pela cabeça de Mags.

Como se pudesse ler sua mente, Meat disse: — Ele não terá que
crescer sem sua mãe. Eu te dou minha palavra.

Sem dúvida, a melhor decisão que Mags tomou em anos foi resgatar
esse homem quando ele estava quebrado e sangrando no barrio. Ela não
sabia muito sobre ele então, tudo o que ela sabia era que ele sofrera uma
emboscada e fora ferido enquanto ele e sua equipe estavam em Lima para
resgatar crianças.

Ela poderia ter ignorado o que Ruben e sua gangue estavam fazendo
fora de sua cabana. Ela poderia ter dito a suas amigas para ficarem quietas
e não se envolverem. Ela perdeu a fé na ideia de que tudo aconteceu por
uma razão. Como ela podia acreditar que havia uma razão para ela ser
sequestrada e mantida contra sua vontade e obrigada a fazer coisas vis?

Mas ficar contra a parede, observando e esperando os homens de


seu marido saírem de casa, esperançosamente com seu filho, fez sua
crença voltar mais forte do que nunca. Sim, ela viveu no inferno, mas ela
tinha um filho. Ela sempre quis um filho e, embora não o tivesse recebido
do jeito que gostaria, ele ainda estava aqui, e ela o amava mais do que
poderia ter imaginado quando sonhou em ser mãe. Não só isso, mas seu
marido a encontrou.

E o mesmo homem cuja vida ela ajudou a salvar estava ao lado dela
agora, jurando que, se seu filho estivesse desaparecido, ele o
encontraria. Foi quase o suficiente para fazê-la chorar.

Eles assistiram em silêncio enquanto as luzes acendiam e apagavam


na casa. Então os homens lentamente saíram pela porta da frente como
se fossem os donos do lugar.

A respiração de Mags ficou presa na garganta.

Arrow foi o primeiro a alcançá-la e a Meat. — Está vazio. Não tem


ninguém lá.

— Ninguém? — Mags perguntou.

— Ninguém. — Arrow disse a ela, sua expressão cheia de simpatia.


Sentindo-se tonta, Mags fechou os olhos. Ela sentiu mãos pousarem
em seus ombros e seus olhos se abriram imediatamente. Ela não gostava
de se sentir fechada, mas não moveu um músculo.

— Eles não partiram há muito tempo. — Disse Arrow. — Havia uma


xícara de chá na mesa que ainda estava morna. Seja o que for que Del Rio
planejou, acho que leva tempo. E tudo sobre esta casa vazia parece um
trabalho urgente, então ele não vai fazer nada com David
imediatamente. Temos tempo para rastrear Del Rio fisicamente e
online. Vamos encontrar seu filho.

Parecia que os homens de seu marido estavam todos na mesma


página. Eles continuaram a tranquilizá-la de que encontrariam seu filho e
seu marido. E ela precisava ouvir.

Então Meat, ainda segurando a mão dela, a levou para fora do pátio
e de volta para a van. Mags não se lembrava de realmente entrar na van
ou dirigir de volta para o motel. Ela só percebeu onde estava quando Zara
a pegou nos braços e a abraçou com força, de volta ao quarto onde ela e
Dave estavam hospedados.

As coisas ficaram confusas depois disso. Todos os homens se


reuniram na sala, não a deixando ficar sozinha nem por um segundo. Meat
estava curvado sobre seu computador, clicando rapidamente nas teclas,
e os outros falavam baixinho em um canto, obviamente planejando seus
próximos passos. Maria, Gabriella e as outras mulheres entravam e saíam,
mexendo nela e tentando tranquilizá-la.

Era quase meio-dia quando a porta do quarto se abriu de repente.

Mags saltou e três dos rapazes imediatamente pularam e ficaram


entre a porta e onde ela estava sentada em uma cadeira contra a
parede. Seus instintos de proteção a teriam tranquilizado em qualquer
outro momento, mas quando ela ouviu Black inspirar profundamente e
dizer — Dave! — Ela saltou sobre seus pés.
Ela abriu caminho entre os homens e olhou para o marido sem
acreditar.

Seu cabelo estava desgrenhado e ele cheirava absolutamente


horrível. Mas foi o sangue cobrindo a frente de sua camisa que a deixou
ofegante de horror.

— Porra, cara, você está bem? — Ball perguntou.

— Onde diabos você estava? — Gray latiu.

— Sente-se antes de cair. — Acrescentou Black.

Mas Dave ignorou seus amigos. Ele só tinha olhos para Mags.

Ela prendeu a respiração enquanto ele caminhava em sua


direção. Ela nunca teve medo de seu marido antes, mas por apenas um
segundo, o olhar em seus olhos a deixou absolutamente apavorada. O
homem engraçado e gentil com quem ela se reaprendeu nas últimas duas
semanas se foi.

Em seu lugar estava um guerreiro. Um soldado puto, absolutamente


furioso.

Ele caminhou até ela e ficou a centímetros de distância. Mags teve


que esticar o pescoço para manter o contato visual. — David se foi. — ela
sussurrou para o único homem que ela já amou. — Fomos buscá-lo hoje,
mas quando chegamos lá, a casa estava vazia.

Um músculo na mandíbula de Dave pulsou. — Del Rio vai se


arrepender de foder com minha família. Juro por Deus, ele vai saber
exatamente quem arruinou sua vida e por quê.

As palavras de Dave eram vazias e frias, mas Mags podia ver o ódio
queimando em seus olhos.
— Tudo bem. — Disse ela, querendo acalmá-lo, mas sem saber
realmente como.

Sem desviar o olhar dela, ele disse: — Meat, preciso que você
verifique as contas bancárias de Del Rio em busca de grandes
depósitos. Ele tem uma casa cheia de crianças em algum lugar que ele
está passando por um orfanato. Precisamos rastrear quaisquer depósitos
e obter nossos contatos aqui no Peru para seguir as trilhas. Garantir que
eles vão levar a ricos idiotas de alto escalão que de repente adquiriram
filhos que alegam ter adotado.

— Supondo que eles não estão fazendo isso pela bondade de seus
corações. — Gray murmurou.

— Não. — Dave disse categoricamente. — Eles os compraram de


Del Rio para viver suas fantasias sexuais pervertidas.

O coração de Mags estava acelarado. Muitos já sabiam que Del Rio


estava traficando crianças, mas as informações sobre o ‘orfanato’ eram
um novo nível de maldade.

— Estou cuidando disso. — Disse Meat de algum lugar atrás


deles. —Alguma ideia de quantos?

— Nenhuma pista. Mas acho que é um número muito alto. Meninas


e meninos. Também precisamos encontrar o chamado orfanato. Impedir
que outras crianças sejam vendidas.

Meat acenou com a cabeça, mas não respondeu. Ele já estava


ocupado clicando em seu teclado.

— As coisas pareciam caóticas na casa onde David foi mantido. —


Disse Gray em um tom controlado, mas acalorado. — Estamos supondo
que a merda aconteceu rápido. Provavelmente por causa do que
aconteceu com você. O que aconteceu?
— Del Rio entrou em pânico. — Disse Dave. — Que não é típico
dele.

— Sim. — Gray concordou.

— Eu estou supondo que ele escondeu meu filho em algum


lugar. Talvez com as outras crianças... Pelo menos por enquanto. Duvido
que ele se arrisque a levar David para seu complexo enquanto os Mountain
Mercenaries ainda estão na cidade. — E se possível, Mags viu ainda mais
determinação nos olhos de seu homem. — Sairemos esta noite, assim que
tivermos qualquer informação sobre onde Del Rio escondeu essas
crianças... E esperançosamente David.

Os homens concordaram, e todos, exceto Meat, se dirigiram para a


porta.

— Zara? — Perguntou Dave.

— Sim?

— Você pode entrar em contato com Daniela? Eu preciso que ela


coloque seus ouvidos no chão sobre qualquer coisa que tenha a ver com
crianças desconhecidas aparecendo de repente em áreas onde nunca
estiveram antes, apenas no caso de Meat não conseguir encontrar nada.

— Ok, mas Dave? Ela pode vir aqui para olhar para você primeiro?
— Zara perguntou.

Mags viu a confusão no rosto de seu marido e ele finalmente desviou


o olhar dela para Zara. — Por quê?

— Você está coberto de sangue e acho que ainda está sangrando


— Zara disse suavemente.

— Eu estou bem. — Dave disse em um tom desdenhoso e se virou


para Mags.
— Mas...

— Eu cuido disso. — disse Mags com firmeza, colocando a mão no


bíceps de Dave. Ela se sentiu mais forte agora que seu marido estava de
volta e ela podia tocá-lo. Não era como se ela não tivesse acreditado nos
outros quando eles disseram que encontrariam David, mas ela sabia sem
dúvida que Dave viraria cada pedra para trazê-lo de volta para ela. Ele
tinha encontrado ela, ele encontraria seu filho.

— Se você tem certeza. — Zara disse em um tom que dizia


que ela tinha tudo menos isso. Então ela se virou e se dirigiu para a porta.

Mags mal ouviu a porta se fechando atrás de Zara antes de Dave


pegar a mão dela e entrelaçar os dedos com os dela. Ele a rebocou em
direção ao banheiro.

— Dave? — Meat gritou antes de lá chegarem.

— Sim?

— O que aconteceu exatamente?

Dave começou a andar novamente. — Encontre algo para mim e


explicarei tudo mais tarde, quando todos estiverem de volta.

Aparentemente, isso era tudo que Dave estava disposto a dizer ao


amigo, porque ele entrou no banheiro, ainda segurando a mão de Mags, e
fechou a porta atrás de si.

Ele a puxou em sua direção enquanto se sentava no assento do vaso


sanitário. Então ele largou a mão e se inclinou para frente até que sua testa
estivesse descansando em sua barriga.

Surpresa, Mags não reagiu imediatamente. Não foi até que ela sentiu
Dave respirar fundo, que ela perguntou suavemente — Dave?
— Sinto muito. — Ele sussurrou.

— Sobre o que?

— Eu deveria ter visto os caras se aproximando de mim. Foi um


movimento de novato deixá-los me ultrapassar depois que eu deixei você.

Mags mal conseguia respirar. — Homens de Del Rio?

— Sim. Ele é um filho da puta frio. — Dave disse sem levantar a


cabeça. — Eu estava desesperado o suficiente para oferecer comprar
nosso filho dele, mas por mais que ele adore dinheiro, ele queria me ver
sofrer mais.

Dave olhou para cima então, e Mags estremeceu ao ver o corte em


seu pescoço escorrendo um pouco de sangue.

— Ele tem planos horríveis para ele. — Disse o marido em uma voz
tão furiosa que ela deveria estar com medo. Mas porque ele estava
reagindo ao filho deles sendo colocado em perigo, ela não tinha medo
dele. — Ele quer criá-lo para ser seu substituto. Contaminar nosso filho e
transforma-lo em um monstro.

Mags respirou fundo, colocando a mão sobre a boca. Ela sabia que
Del Rio era mau... Mas ela não tinha ideia do que ele estava planejando
para David. Doía fisicamente pensar que ele tinha planos de transformar
seu terno e amoroso filho em um bastardo frio e sem coração.

— Mas ele cometeu um erro. — Disse Dave.

— Como assim? — Mags sussurrou.

— Ele fodeu com os Mountain Mercenaries. Vamos encontrar cada


uma dessas crianças, afastá-las dele e arruinar toda a sua organização no
processo. E tirar David de suas garras. Ele nunca será como Del
Rio. Nunca.
Mags acreditou em cada palavra que seu marido disse. A convicção
e a confiança eram fáceis de ouvir em sua voz. Ela ainda estava morrendo
de medo porque seu filho estava lá fora em algum lugar, mas ela acreditava
em seu Dave. Ele faria o que pudesse para trazer seu filho de volta para
ela. Vê-lo tão chateado, coberto de sangue e cheirando como alguém que
literalmente foi arrastado por uma pilha de merda, vomitando ódio contra
o homem que fez o possível para arruinar a vida dela e estando tão
confiante de que iria cair, a fez acreditar nele ainda mais.

Engolindo em seco, ela levou as mãos aos botões da camisa de


Dave. Ela lentamente começou a desfazê-los, um por um.

Antes de ela chegar ao último, Dave pegou as mãos dela e disse: —


Vá esperar na sala. Vou tomar banho e sair em cinco minutos.

Ela balançou a cabeça. — Não. Deixe-me ver o seu ferimento.

— Está tudo bem.

Mags balançou a cabeça. — Cale a boca, Dave. Não está nada


bem. Você está sangrando por toda parte. Vou dar uma olhada e me
certificar de que suas entranhas não vão vazar pelo pescoço. Então você
pode ir salvar nosso filho e chutar alguns traseiros. Tudo certo?

Surpreendentemente, o ódio e a escuridão em seus olhos piscaram


e depois desapareceram completamente. Ele estava de volta à aparência
do marido gentil e amoroso com quem ela estava se reaproximando nas
últimas semanas.

— Ok, Raven. Faça o que você precisa fazer.

— Eu vou. — Ela bufou, então gentilmente tirou a camisa de seus


ombros. Ela tinha estado bem perto de seu peito nu enquanto ela dormia
contra ele, mas por alguma razão isso parecia diferente. Seus peitorais
flexionaram quando ela olhou para ele, e Mags se forçou a olhar para o
pescoço dele. Era uma bagunça sangrenta. Ela pegou uma das toalhas de
rosto, estremecendo porque sabia que estava prestes a estragá-la
manchando-a com o sangue do marido.

— Espere. — Disse ele. — Deixe-me pular no chuveiro e lavar a


maior parte do sangue e do fedor primeiro. — Sem esperar que ela
respondesse, ele se levantou, forçando Mags a dar um passo para trás. Ela
viu quando ele desabotoou as calças e baixou o zíper. Ele se virou de
costas para ela e empurrou o material de seu corpo.

Mags prendeu a respiração com a visão da perfeição absoluta


exibida na frente dela. Dave era uma década mais velho do que a última
vez que o vira, mas ainda estava em forma. Ele ainda tinha a pequena
covinha na parte inferior de sua espinha pela qual ela sempre o
provocava. Suas coxas eram grandes e musculosas, e até mesmo sua
bunda ainda estava tonificada.

Ele se inclinou e abriu a torneira do chuveiro. Ele começou a entrar


na banheira, ainda de cueca.

Mags sabia que ele tinha feito isso por causa dela. Ele não a
pressionaria a fazer nada que ela não quisesse, incluindo olhar para seu
corpo nu.

Mas, pela primeira vez em anos, ela não tinha medo de um


homem. Não estava com medo de ver seu pau. Seu marido era
perfeitamente proporcionado... Por toda parte.

Ele era um homem grande e, se algum dia levantasse a mão para


ela, poderia machucá-la gravemente. Ele poderia dominá-la, segurá-la e
fazer o que quisesse.

Mas ele não queria.


Ela apostaria não apenas sua vida, mas a vida de seu filho, nesse
fato.

A certeza cresceu dentro dela até que ela não queria nada mais do
que sentir os braços de Dave ao redor dela. Senti-lo acima dela, olhando
para ela com ternura enquanto faziam amor.

Ela usou suas memórias preciosas como uma fuga quando foi
obrigada a fazer coisas com outros homens. E agora, ela tinha seu lindo e
terno marido de volta. Passaram-se anos desde que ela fez sexo, e uma
década desde que ela fez amor. Ela não estava pronta para pular de volta
na sela, por assim dizer, mas pela primeira vez, ela percebeu que queria a
intimidade que uma vez teve com seu marido. Ela queria ficar na cama
com ele por horas e simplesmente explorar. Queria sentir a euforia que ela
só sentiu com ele. Queria mostrar a ele o quanto ela o amava.

Sentindo-se mais forte do que ela conseguia se lembrar em muito


tempo, Mags tirou a camisa pela cabeça. Ela puxou as calças nas pernas
e respirou fundo. Deixando sua calcinha e sutiã, ela puxou a cortina e
entrou no chuveiro.

A expressão no rosto de Dave era de descrença e esperança, tudo


ao mesmo tempo. Ele manteve os olhos no rosto dela enquanto
perguntava: — Tem certeza?

Mags assentiu. — Eu preciso ter certeza de que você não vai


sangrar até a morte aqui. Dê-me o sabonete e eu limpo suas costas. Você
fede. — Ela sorriu ligeiramente e estendeu a mão que só tremia um pouco.

Dave colocou o sabonete em sua mão e se virou para encarar a


água. Ele ergueu a cabeça e deixou a água atingir a parte superior do
peito.

Mags sabia que a água quente tinha que machucar o ferimento em


seu pescoço, mas ele nem mesmo estremeceu. Ela ensaboou o sabão e
começou a lavar o marido. Mesmo isso trouxe de volta memórias. Boas
memorias. Deles rindo e brincando juntos no chuveiro em Vegas, curtindo
a intimidade.

Quando ela terminou com suas costas, ele se virou e colocou as


mãos atrás da cabeça, mostrando-lhe sem palavras que não a tocaria sem
permissão.

Mags fez o possível para limpar seu peito e pernas rapidamente, sem
deixá-lo saber o quão difícil isso era para ela. Mas ele sabia de qualquer
maneira. Quando ela se endireitou e estendeu o sabonete para ele, ele
sussurrou: — Estou maravilhado com você, Raven. Sempre soube que
você era forte, mas nunca soube o quanto até essa viagem. Você vai me
deixar retribuir o favor? Eu juro que você pode confiar em mim.

Engolindo em seco, Mags assentiu. Ela precisava olhar para seu


ferimento e descobrir se ele precisava de pontos, e os dois precisavam
encontrar seu filho, mas neste momento, em sua pequena bolha, ela
precisava provar para ele e para si mesma que Del Rio não quebrou ela
permanentemente.

Como se pudesse ler sua mente, Dave disse: — Mais tarde, quando
não precisarmos sair procurando por nosso filho, quero fazer isso de
novo. Não ter pressa. Mostrar o quanto você significa para mim.

Mags engoliu em seco e acenou com a cabeça mais uma vez.

Ela se virou e deu as costas para Dave, imaginando que seria mais
fácil se ele começasse por aí. Ele rapidamente a ensaboou, suas mãos
massageando seus ombros brevemente enquanto a lavava. Ele beliscou e
pegou cada um dos pés dela em suas mãos e os lavou completamente. As
mãos dele em suas panturrilhas quase fizeram seus joelhos
cederem. Então ele estava de pé mais uma vez.

Ela virou-se para encara-lo.


Muito gentilmente, Dave ensaboou seu pescoço, depois cada
braço. Ele então belisca mais uma vez e lava a frente das pernas dela. Ele
ensaboou as mãos novamente e colocou a barra de sabão em uma
pequena borda do chuveiro. Suas mãos tocaram sua cintura, e ele
acariciou suavemente sua barriga e laterais, tomando cuidado para não se
afastar muito para o norte ou para o sul. Depois que ele terminou, ele
mudou até que a água a atingiu e enxaguou as bolhas.

A lavagem foi rápida e eficiente, mas ainda delicada e amorosa. Era


uma dicotomia, assim como era.

Enquanto Mags observava o sabão escorrer pelo ralo, parecia um


novo começo. Fora com o velho e com o novo. Este era seu marido. Um
homem que ela amava de todo o coração. Um homem que nunca parou
de procurá-la quando a maioria das pessoas teria presumido que ela já
estava morta. Um homem que nunca pararia de procurar até encontrar o
filho e trazê-lo para casa.

Ela não tinha visto o lado bravo do Mountain Mercenarie até que ele
entrou pela porta um pouco atrás, mas estranhamente, isso não a
assustou, isso a confortou. Del Rio era implacável, e seu marido precisava
ser tão implacável, ou mais, se quisesse mantê-la e seu filho seguras.

Respirando fundo, ela gentilmente tocou o queixo de Dave. — Olhe


para cima. Deixe-me ver.

Ele fez o que ela ordenou, outra coisa que fez Mags perceber até a
medula dos ossos que ela estava segura com este homem. Ele era maior
do que ela. Mais forte. E, no entanto, ele estava fazendo o que ela pedia,
tornando-se vulnerável a ela. Era uma sensação inebriante.

A ferida em seu pescoço não parecia tão ruim agora que ele não
estava coberto de sangue. Felizmente foi raso. Ela percebeu que algumas
bandagens de borboleta seriam suficientes para fechá-lo por enquanto. O
corte foi da direita para a esquerda, mas, pela graça de Deus, não foi
profundo o suficiente para cortar sua jugular ou para Dave sangrar
muito. Ela tocou a borda da ferida com um dedo, nem mesmo querendo
pensar sobre o quão perto ele esteve de morrer.

Os olhos de Dave se fecharam e ele perguntou: — Posso te abraçar?


— Ele não se moveu um centímetro, não a pressionou ou tentou influenciá-
la.

Sem dizer uma palavra, Mags se aproximou de seu marido e colocou


os braços em volta de sua cintura. Ela deitou a cabeça em seu peito e
prendeu a respiração, esperando o pânico crescer dentro dela por estar
tão perto de um homem.

Milagrosamente, ela não sentiu nada além de contentamento.

Os braços de Dave lentamente envolveram sua cintura e ele a puxou


ainda mais perto. Ela podia sentir seu corpo duro contra o dela, mas
novamente, ela não estava com medo ou enojada. Não sentiu a menor
necessidade de se afastar dele. Na verdade, ela queria se aproximar.

Pela primeira vez em dez anos, Mags se sentiu verdadeiramente


segura. E a centelha de esperança que se formou enquanto ela o deixava
lavá-la cresceu ainda mais. Ela estava em seus braços e não estava
apavorada. Não estava repelida. Na verdade, ela sentiu seus mamilos
endurecerem, como se seu corpo se lembrasse do tipo de prazer que só
seu marido poderia lhe dar.

Quanto tempo eles ficaram assim, ela não tinha certeza, mas
eventualmente, Dave se afastou.

— Obrigado por isso, Raven. — Ele passou a mão amorosamente


pelos cabelos dela. — Por mais que eu desejasse que pudéssemos ficar
aqui para sempre, tenho trabalho a fazer.

Ela assentiu.
— Ele não é tão inteligente quanto pensa que é, querida.

Mags acenou com a cabeça novamente. O que mais ela poderia


fazer?

Dave desligou a água e puxou a cortina do chuveiro. Ele pegou uma


toalha e entregou a ela. Então ele segurou a mão dela enquanto ela
cuidadosamente saía da banheira. Só então Dave pegou uma toalha para
si. Ele a enrolou na cintura e puxou a cueca, tomando cuidado para não
se expor a ela. — Espere aqui. Preciso pegar algumas roupas para me
trocar e vou trazer algo de volta.

Mags acenou com a cabeça e estremeceu quando ele abriu a porta


e o ar frio da sala flutuou para o banheiro quente e cheio de vapor. Ele
voltou em segundos, fechando a porta atrás de si.

Ele deu as costas para ela e se vestiu rapidamente, enquanto Mags


fazia o mesmo. Ela não tinha medo de que ele se virasse e desse uma
olhada nela enquanto ela estava despida. Ele era seu marido. Ele tinha
visto cada centímetro dela, e ela não estava exatamente escondendo nada
dele no chuveiro. Suas roupas de baixo brancas de algodão eram
praticamente transparentes quando molhadas, mas ele ainda lhe deu a
cortesia de ficar de costas.

Depois que eles estavam vestidos, Mags deu outra olhada em seu
pescoço, balançando a cabeça com a sorte que ele teve, tão grata que o
idiota que o machucou por ter sido incompetente. Dave trouxe um kit de
primeiros socorros que eles compraram para Daniela que ela ainda não
havia levado para a clínica. Ela desinfetou o corte e colocou quatro
bandagens em forma de borboleta sobre a ferida, juntando a pele para
ajudar na cicatrização.

Ficando na ponta dos pés, Mags beijou suavemente a última


bandagem antes de se afastar para olhar para ele.
Então, bem diante de seus olhos, Dave, seu terno e gentil marido
lentamente desapareceu - e Rex, o líder durão dos Mountain Mercenaries,
tomou seu lugar.

— Eu preciso falar com Meat. — Disse ele. — Vamos.

Mags o seguiu para fora da sala e não se importou nem um pouco


quando seu foco mudou enquanto ele caminhava até onde Meat estava
sentado e perguntou: — O que você encontrou?

Mags se sentou na cama, puxou os joelhos até o peito e observou


enquanto o homem que ela amava fazia o que aparentemente fazia de
melhor... Rastrear seu filho desaparecido.
Estava ficando tarde, o sol já havia se posto. Meat trabalhou durante
toda a tarde e noite rastreando a casa onde Del Rio escondeu as crianças,
e eles estavam quase descobrindo quando o telefone tocou. Dave piscou
com irritação. Ele estava ficando cada vez mais ansioso para encontrar
David antes que Del Rio tivesse tempo de escondê-lo em algum lugar em
que não o encontrassem por anos.

Meat clicou no botão de resposta e o colocou no viva-voz. — Meat.

— Este é o Black. Eu preciso de Raven no bairro. Agora.

— Por quê? — Dave latiu, não querendo Raven em qualquer lugar,


exceto onde ela estava, segura ao lado dele no motel.

— Porque ela fala espanhol e precisamos de um tradutor. — Disse


Black secamente. — A menos que Zara esteja lá e possa vir em seu lugar.

— Ela ainda está com Daniela e as outras. E aí? — Meat perguntou.

— Quando saímos mais cedo, fomos buscar os passaportes, depois


decidimos ir ao bairro, só para ver se a nossa presença deixava alguém
nervoso o suficiente para falar, quando vimos aquele babaca do
Ruben. Nós o agarramos e ele começou a jorrar. Eu não tinha certeza do
que ele estava dizendo... Mas ele disse o nome de David. Estamos na
cabana em que as mulheres moravam e preciso de alguém para traduzir
quando eu o interrogar.

Raven se levantou e já estava calçando os sapatos.

— Deixe-me falar com ela primeiro. — Disse Dave a Black. Ele


estava bem ciente das habilidades de interrogatório do homem. E embora
ele nunca tivesse matado ninguém ao questioná-los como um Mountain
Mercenarie - pelo menos, Dave não achava que ele tinha - ele não era
exatamente o Sr. Cara Legal também. Ele não queria que Raven tivesse
que lidar com esse tipo de violência. Ele também não estava animado em
colocar Raven em qualquer lugar perto de Ruben novamente, embora
precisasse de suas habilidades de falar espanhol.

— Você sabe que eu não perguntaria, mas ele disse o nome do seu
filho. — Disse Black com urgência. — Ele estava sorrindo, como se
soubesse algo que nós não sabemos.

— Espere aí. — Disse Dave, e rapidamente explicou um pouco sobre


as técnicas de Black para sua esposa.

— Estou indo. — Disse Raven, levantando-se. Ela parecia ansiosa,


mas determinada. — E, sério, eu não me importo de assistir Ruben levar
uma surra dele. Ele merece uma já faz tempo.

— Se ficar muito pesado, apenas diga uma palavra, e eu a trarei de


volta aqui.

Ela assentiu.

— Quero dizer. Black é bom no que faz. — Dave disse a ela. —


Provavelmente um pouco bom demais.

— Eu entendo, Dave. Mas se você acha que vou ficar enjoada por
Ruben ter se machucado, você está errado. Se ele sabe alguma coisa
sobre onde David está e não quer nos contar, não me importo com o que
aconteça com ele.

Dave amava a bravura de sua esposa, mas ainda não a queria perto
da violência que ele sabia que Black distribuiria para Ruben se
necessário. — Tudo bem, mas se as coisas ficarem muito intensas, eu
estou reservando o direito de tirar você dessa merda.
Raven sorriu e Dave prendeu a respiração quando ela estendeu a
mão para ele. Nas três semanas desde que ele a encontrou, não era
comum que ela saísse de seu caminho para tocá-lo. Mas ele estava tão
feliz quanto poderia estar nas atuais circunstâncias, pois eles chegaram a
um ponto de viragem após o banho. Quando a mão quente dela espalmou
suavemente o lado de seu rosto, Dave fechou os olhos de contentamento
e satisfação.

Sua voz era baixa enquanto falava. — Eu nunca tentaria entrar em


contato com você. Isso me rasgou por dentro, mas pensei que você estaria
melhor sem mim. Não achei que você fosse capaz de ignorar o que eu tive
que fazer para sobreviver. Não achei que você gostaria de me aceitar de
volta. Mas mais do que isso, eu sabia que nunca seria capaz de deixar
David. Sim, ele foi concebido da pior maneira possível, mas eu o amo. Eu
morreria para protegê-lo. E embora eu soubesse que você teria sido um
ótimo pai, não achei justo pedir-lhe que aceitasse uma criança cujo pai eu
nem sabia nomear. Mas... Eu percebo agora... Eu estava errada e sinto
muito. Sinto muito. Se eu tivesse tentado falar com você logo depois que
Del Rio me expulsou, talvez você não tivesse perdido os primeiros passos
de David, suas primeiras palavras. Ou seu primeiro sorriso.

Dave estendeu a mão e segurou a mão de Raven. Ele virou a cabeça


e beijou a palma antes de colocá-la de volta em sua bochecha, com a mão
segurando-a ali. — Eu morreria para proteger você e nosso filho. —
Prometeu Dave. Os olhos dela se encheram de lágrimas, mas ele
continuou. — Eu aceito David por causa de quem é sua mãe. Porque você
o ama. Todos aqueles anos atrás, quando falamos sobre nossas
esperanças e sonhos para nossos filhos, percebi que faria qualquer coisa
para fazer de você uma mãe. In vitro, um substituto, adoção... Não
importava. Eu soube então que você seria uma mãe incrível, e a prova está
bem na minha frente. Eu te amo, Raven. Eu te amo por causa de sua força,
sua proteção e sua capacidade de continuar, não importa o que
aconteça. Estou maravilhado com você e com tudo que você
superou. Vou passar o resto dos meus dias fazendo tudo ao meu alcance
para protegê-la da merda que a vida tem a oferecer. E isso inclui protegê-
la do tipo de violência que os Mountain Mercenaries às vezes usam para
obter resultados. OK?

Dave sabia que suas palavras eram apressadas e que ele tinha
saltado loucamente de um assunto para outro, mas sua mente estava
zumbindo com as emoções. Amor por sua esposa. Alívio por ela estar
viva. Ódio por Del Rio. E preocupação com o filho. Ele pode ter encontrado
Raven, mas se alguma coisa acontecesse ao garotinho a quem ela deu
todo o seu amor nos últimos quatro anos e meio, ele a perderia
novamente. E ele não estava disposto a deixá-la escapar por entre os
dedos. De jeito nenhum.

— Tudo bem. — Disse Raven.

— Você está pronto para ir, Meat? — Dave perguntou mais alto, sem
tirar os olhos de Raven.

— Pronto. — Meat confirmou.

Lentamente, para não assustá-la, Dave se inclinou para frente e


beijou suavemente a testa de Raven. Ela suspirou e olhou para ele depois
que ele se afastou. Parecia que ela queria dizer algo, mas Meat abriu a
porta do quarto e o momento se perdeu.

Dave segurou a mão de Raven e os conduziu para fora da porta. Ro


e Ball estavam no corredor esperando por eles. Ou Black ligou para eles
mais cedo ou Meat os notificou através de seu computador. O grupo saiu
do prédio em direção ao bairro.

Dave odiava aquele lugar. Odiava pensar em Raven passando pelo


menos um segundo morando lá. Era deprimente e sujo. Não era seguro
nem para os habitantes locais, mas ele estava orgulhoso de sua esposa
por tirar o melhor proveito da situação impossível em que ela se
encontrava.
Eles passaram pela entrada na parede de blocos de concreto e se
dirigiram para a cabana em que Raven e as outras cinco mulheres viviam,
seis quando Zara estava lá, e quando eles entraram, Dave não ficou muito
surpreso com o que viu .

Ruben estava sentado em uma cadeira de madeira frágil, seus


tornozelos e pulsos presos por algum tipo de barbante ou corda. Sua
cabeça estava baixa, e ele tinha sangue saindo de seu nariz e o que
parecia ser dois olhos negros se formando. Black obviamente já tinha
começado a se certificou de que Ruben sabia quem estava no comando.

No segundo que Ruben viu Raven, seus olhos se estreitaram e ele


começou a falar rapidamente.

Os olhos de Raven se arregalaram e ela deu um passo para trás,


encontrando Dave. Ele colocou a mão em seu ombro para firmá-la e
fisicamente a viu endireitar os ombros.

— O que ele está dizendo? — Perguntou Dave.

— Nada importante.

Black caminhou até ela e ficou tão perto que Dave a sentiu
pressionada contra ele enquanto olhava para o rosto de seu amigo.

— Não é assim que isso vai funcionar. — Disse Black


calmamente. — Você precisa nos dizer exatamente o que ele diz. Todas
as palavras. Você não pode deixar nada de fora.

— Eu entendo, mas tudo o que ele estava dizendo era uma merda
para me irritar. Ele disse que já era hora de eu chegar aqui, que não é uma
orgia sem uma mulher para enfiar o pau.

Dave enrijeceu com as palavras grosseiras. Ele ficou feliz em ver os


outros na sala ficarem irritados quando ouviram o que Ruben havia dito.
Black se virou para o homem na cadeira e disse: — Sim. Agora a
diversão pode começar.

Raven traduziu e Dave viu uma pitada de medo nos olhos do


valentão.

— O que você me disse quando te encontramos antes? — Black


perguntou a Ruben.

Foi um pouco estranho ter que esperar Raven traduzir, mas ela o fez
sem hesitação, e todos rapidamente se acostumaram com as idas e vindas
afetadas.

— Foda-se. — Disse Ruben.

— Não, não foi isso que você disse. Que tal algum incentivo para
lembrar? — Black perguntou, então Raven não deu muito tempo para
traduzir antes que seu punho acertasse seu nariz.

Ruben uivou e tentou se curvar para se proteger, mas não conseguia


se mover muito com as cordas que o prendiam.

— Agora vamos tentar de novo. O que você disse sobre David?

— Eu disse que você nunca vai encontrar a porra do pirralho. —


Ruben cuspiu, o ódio fácil de ouvir em seu tom antes mesmo de Raven
traduzir.

Dave observou Black interrogar Ruben com um olhar um tanto


imparcial. Ele estava mais preocupado com Raven e como ela estava
lidando com a violência acontecendo bem na frente dela. Ele manteve a
mão na cintura dela e, à medida que os minutos passavam, ele podia sentir
que ela ficava tensa cada vez que Ruben se recusava a responder, e Black
ou um dos outros distribuía um pouco de incentivo. Ela estava suando e
estremecia cada vez que um de seus homens se aproximava de seu
surpreendentemente teimoso cativo.
Ruben era estúpido pra caralho, ou ainda tinha mais medo de Del
Rio do que eles. Ele supôs que realmente não importava, porque
eventualmente Black o quebraria. Faria com que ele contasse tudo o que
queriam saber sobre David e del Río.

Quando Black foi até os escassos suprimentos de cozinha na


cabana e pegou uma faca, Dave disse: — Espere um segundo.

Raven ficou ainda mais tensa, se isso era possível, e começou a


tremer em seus braços. Dave a virou até que ela estivesse de costas para
Ruben. Ele ergueu o queixo dela e segurou a cabeça dela nas mãos. Ela
estava respirando um pouco rápido demais e ele podia ver o estresse em
seus olhos. Quando ela estendeu a mão e agarrou seus pulsos, cravando
as unhas em sua carne, ele quis arrastá-la para fora da cabana e de volta
ao motel e abraçá-la como fizera no chuveiro. Mas eles tinham que fazer
isso. Nenhum deles teve escolha. Fodido Del Rio.

— Olhe para mim, Raven. — Disse ele.

— Eu estou. — Ela sussurrou.

— Concentre-se em mim. — Ele ordenou suavemente. — Você


pode traduzir sem olhar o que está acontecendo atrás de você.

Ela engoliu em seco e acenou com a cabeça, o alívio fácil de ver em


seus olhos.

Dave não desviou o olhar de sua esposa quando disse: — Ok,


continue, Black.

— Você parece ser bastante popular com as mulheres por aqui. —


Black falou lentamente. — Embora eu esteja supondo que seja mais
porque você pega o que quer em vez de cortejar alguém. Eu sugiro que
você nos diga o que queremos saber se você quiser manter seu pau.
Raven traduziu alto o suficiente para Ruben ouvir, mas ela não tirou
os olhos de Dave.

— É isso. — Ele murmurou suavemente. — Você está indo bem.

Ruben gemeu e cuspiu uma enxurrada de palavras. — Tire essa


coisa de cima de mim! Não estou te dizendo merda nenhuma!

— O problema do meu amigo aqui. — Disse Arrow a Ruben. — É


que ele não é jogador de pôquer. Principalmente porque ele não pode
mentir para salvar sua vida.

— Essa faca não parece muito afiada. — Disse Ball, juntando-se à


provocação. — Essa filha da puta não vai cortar muito bem. Talvez você
deva ver se consegue afiá-la antes de cortar qualquer coisa.

Com o canto do olho, Dave viu Black segurando a faca como se


tentasse decidir se ele achava que iria funcionar ou não.

— Eu acho que vai servir. Pode demorar mais para cortar a carne,
mas como um pau não tem osso, vai funcionar.

Isso pareceu funcionar. Ruben começou a balbuciar. — Não sei de


nada com certeza! Apenas o que meu amigo me disse. Ele mente muito,
então ele poderia estar apenas tentando se parecer legal ou algo assim.

— O que seu amigo disse? — Black perguntou em um tom baixo.

A voz de Raven não vacilou enquanto ela continuava a traduzir.

— No bairro onde ele mora, teve muita agitação porque o Del Rio
veio visitar. Ele foi para a casa de uma senhora que mora lá. Ele tinha um
filho com ele, o arrastava atrás dele. O garoto tentou chutar Del Rio e fugir,
mas deu um tapa nele e disse para ele se comportar ou nunca mais veria
a mãe. Ele conversou com a velha por um tempo, depois foi embora... Sem
a criança. O boato é que ele está pagando a mulher para cuidar do
pirralho, e todo mundo está puto com isso.

— Por que eles estão loucos? — Ro perguntou.

— Porque Del Rio costuma conversar com muita gente nas visitas,
dá dinheiro para informações, mas dessa vez não deu. Todo mundo sabe
que ele provavelmente pagou muito dinheiro à velha vadia. Dinheiro que
eles querem.

— O quê mais? — Perguntou Black.

— Nada, é isso!

Houve um som de tecido se rasgando e Ruben soltou um grito


agudo. Dave sabia que Black tinha apenas cortado as calças do homem,
mas pela maneira como Ruben reagiu, qualquer pessoa que estivesse
ouvindo pensaria que ele estava mortalmente ferido.

As pupilas de Raven dilataram e ela agarrou seus pulsos com mais


força.

— Calma, querida. Ele apenas cortou as calças. Isso é tudo.

Ela assentiu e Dave ficou hipnotizado por seus olhos azuis


tempestuosos. — Aguente firme, só um pouco mais. Você está indo muito
bem.

— Pronta para mais? — Gray perguntou a Raven baixinho ao lado


dela.

Ela assentiu com a cabeça, mas não tirou o olhar de Dave.

— Não poderíamos fazer isso sem você. — Elogiou Gray. — Isso não
é fácil, mas você está indo muito bem.
As palavras de seu amigo pareceram encorajar Raven um pouco. Ele
não gostava da situação, mas não poderia estar mais orgulhoso de Raven
se ela tivesse ganhado o Prêmio Nobel da Paz.

— Certo. — Disse Black em um tom ameaçador para Ruben. —


Então você tem um amigo que afirma que Del Rio trouxe uma criança para
seu bairro. Como você sabia que o nome dele era David? O que você não
está nos dizendo?

— Estou te contando tudo! — Ruben lamentou.

Mais farfalhar soou nas costas de Raven, e Dave pôde ver por sua
visão periférica que Black havia cortado a camisa de Ruben dessa vez. Ele
segurou a ponta da faca em um de seus mamilos e pressionou. Uma gota
de sangue se formou e cresceu rapidamente, até pingar no peito de
Ruben.

— Pare! Pelo amor de Deus, pare! Vou te contar! — Ruben


gritou. — Meu amigo foi até a cabana da velha para ver o que estava
acontecendo e talvez tentar tirar algum dinheiro dela. O garoto tinha uma
corrente em volta do tornozelo e estava sentado contra a parede,
chorando. Ele pegou um pouco de dinheiro e bateu na velha senhora até
que ela disse que o nome do garoto era David, mas ela não sabia de mais
nada. Quanto tempo ele ficaria lá ou o que Del Rio queria com ele.

Dave gentilmente cuidou do rosto de Raven com os polegares,


querendo acalmá-la de qualquer maneira que pudesse. Ele odiava que ela
estivesse ali ouvindo Ruben cuspir sua sujeira. Odiava ter que ouvir sobre
o que seu filho estava passando. Queria ir até Ruben e matá-lo. Mas Raven
precisava dele exatamente onde estava. E se a escolha era estar lá para
sua esposa ou exigir vingança, ele escolheria Raven todas às vezes.

— O garoto perguntou se meu amigo conhecia sua mãe,


Mags. Disse que ficaria preocupada com ele quando fosse visitar sua casa
e ele não estivesse. Disse que ele estava perdido e que ela estaria
procurando por ele. — Ruben continuou.

— Ele está preocupado comigo. — Raven sussurrou depois de


traduzir as palavras do outro homem, as lágrimas enchendo seus olhos.

— Claro que ele está. — Dave disse a ela. — Ele te ama.

— Onde fica o bairro onde seu amigo mora? — Perguntou Black.

Quando Ruben não respondeu, Raven ficou tensa nos braços de


Dave.

— Espere um pouco mais. — Ele acalmou. — Quase lá.

— Eu perguntei, onde fica o bairro onde seu amigo mora? — Black


repetiu em um tom mortal.

Desta vez não houve barulho enquanto Black andava atrás de Ruben
e beliscava. Sem uma palavra de aviso, ele agarrou uma das mãos de
Ruben e, usando a faca cega, cortou a ponta de um dos dedos míndinhos
do homem.

O grito que saiu de Ruben foi penetrante em sua intensidade.

— Pare! Pare! Vou te contar! Fica a alguns quilômetros a oeste


daqui. Eu posso te levar até lá! — Ruben gritou.

— Basta nos dizer exatamente onde está. — Ball disse a ele. —


Exatamente.

Nos minutos seguintes, entre soluços, Ruben deu instruções


explícitas sobre como chegar ao bairro onde David estava supostamente
localizado e qual cabana pertencia à velha. O bairro era maior do que
aquele em que estavam agora e tinha o dobro de casas, segundo
Ruben. Ela se apoiava em um conjunto habitacional e era cercada por uma
cerca de concreto de quatro metros, separando os que têm dos que não
têm.

Dave sabia que eles tinham o que precisavam de Ruben. Ele baixou
as mãos e pegou as de Raven. Ele se encaminhou para a porta com ela
quando Black o parou. — Só um segundo, Dave. Preciso que Raven
traduza mais uma coisa para mim.

Odiando isso, Dave parou e acenou com a cabeça de qualquer


maneira. Ele sabia que Raven protestaria se ele tentasse arrastá-la para
fora da cabana. Ela era altruísta e estava ansiosa para ajudar de qualquer
maneira que pudesse. Ele não podia tirar isso dela, não importava o quanto
ele quisesse envolvê-la em algodão e escondê-la de toda a feiura do
mundo. Ela era mais forte do que isso. Ela provava isso todos os dias, e
ele seria um idiota se não a tratasse como a guerreira que ela era.

Dave passa o braço em volta da cintura da esposa, mantendo-a de


costas para a sala.

— Você estragou tudo quando atacou a mim e ao meu amigo Meat.


— Disse Black a Ruben enquanto Raven traduzia. — Veja, meus amigos e
eu odeiamos valentões. E é isso que você é. Você não tem nenhum
problema em ser duro com aqueles que acha que são mais fracos do que
você, como mulheres, crianças e idosos, mas quando se trata de se
levantar como um homem, você se dobra como um bebê. Seus dias de
bullying acabaram, Ruben. Você e todos os seus amigos. Vamos ter
certeza, antes de tudo, de que você não possa se forçar a uma mulher
nunca mais.

— Não corte meu pau! — Ruben gritou.

— Não vou. — Disse Black calmamente. — Mas vou me certificar


de que levará muito tempo antes que você seja capaz de fazer outra coisa
senão urinar. E não se preocupe em ir aos postos de saúde por aqui,
porque garanto que nenhum vai te ajudar. A segunda coisa que meus
amigos e eu vamos fazer é garantir que Del Rio saiba o que aconteceu aqui
hoje. Como seu amigo estava falando alto e se gabando do que viu - e
como você nos deu todas as informações de que precisávamos para
encontrar o menino.

— Não. Não Não! — Ruben gritou. — Por favor, não. Ele vai me
matar!

Black encolheu os ombros. — Não é problema meu, é? É chato ter


outra pessoa tomando decisões para sua vida, não é?

Ball acenou para Dave, deixando-o saber que Black havia terminado
de falar, e Dave devolveu o gesto. Ele rapidamente conduziu Raven para
fora da cabana...

E parou em seu caminho com a visão que os saudou.

Parecia que metade do bairro estava reunido no beco fora da


cabana. Por um segundo, ficou tenso... Mas então algumas das mulheres
avançaram, conversando com Raven. Ele podia ver seus sorrisos sob a luz
fraca de algumas fogueiras próximas. Quando ele não captou nenhuma
vibração negativa ou hostil, e quando sua esposa não pareceu assustada,
ele tirou o braço da cintura dela.

Ela caminhou lentamente pelo grupo, falando baixinho. Dave ficou


logo atrás dela, pronto para protegê-la se necessário, mas ele não
precisava se preocupar. A multidão que estava ouvindo o que estava
acontecendo atrás da porta de metal estava obviamente feliz com isso.

Meat e Ro estavam seguindo de perto atrás de Dave, e a maioria das


pessoas, depois que falaram com Raven, agradeceu aos três também.

Sons de ‘Gracias’ e ‘Dios los bendiga’ ecoaram ao redor deles


enquanto eles se dirigiam para a saída do bairro.
— Eles estão dizendo Obrigado e Deus os abençoe. — Raven disse
baixinho depois que eles deixaram o grupo para trás.

— Eu percebi. — Dave disse com um pequeno sorriso. Ele queria


parar e abraçá-la. Tranquiliza-la de que logo teriam David de volta com
eles, mas não havia tempo. Agora que eles tinham uma pista de onde seu
filho estava, ele precisava mobilizar os Mountain Mercenaries e fazer um
plano.

Os homens e mulheres que ouviram o interrogatório pareceram


satisfeitos, mas bastava um deles escapulir para informar Del Rio do
ocorrido.

Dave cometeu um erro uma vez ao não resgatar David no mesmo


dia em que soube dele. Ele não iria estragar uma segunda vez.

— Então podemos ir buscar David esta noite? — Ela perguntou. —


Agora que sabemos onde ele está?

Dave os apressou em direção à saída do bairro e ao motel. Ele olhou


para Meat e Ro, em seguida, disse: — Primeiro de tudo, nós não vamos a
lugar nenhum. De jeito nenhum eu te levaria para aquele bairro.

— Mas...

Dave a interrompeu. — Não. Sem desculpas. Sei que você quer


estar lá, mas juro pela minha vida que nunca mais farei nada para colocá-
la em perigo. Tenho muita culpa por não cuidar melhor de você em Vegas,
e você vai ter que aturar que eu seja excessivamente protetor. Em
segundo lugar, você é minha esposa, não um membro da minha
equipe. Essa é uma linha difícil para mim. O que eu faço como líder dos
Mountain Mercenaries não toca em você. Nunca. Sei que isso me faz
parecer um idiota, mas preciso saber que você está bem. Não poderei
funcionar se estiver preocupado com onde você está e se você está
bem. Eu preciso que você fique no motel enquanto eu faço isso, Raven. Se
David estiver lá, eu o trarei de volta para você. Eu prometo.

Ele observou enquanto Raven lutava entre a necessidade de


argumentar para estar lá para seu filho e seu desejo de dar a ele o que ele
precisava. Ele ficou completamente humilhado quando ela respirou fundo
e assentiu.

— Eu te amo. — Ele sussurrou.

— Eu também te amo. — Ela respondeu.

— E para responder a sua pergunta anterior, vamos com certeza


pegar nosso filho esta noite. Não vou deixá-lo nas mãos daquele bastardo
nem um segundo a mais do que o necessário. Meat vai ficar no motel com
você e tomar as providências finais para levar as outras mulheres ao
aeroporto. Estou mais do que pronto para fazer isso e voltar para casa.

— E quanto às outras crianças?

— Meat continuará a fazer o que pode para encontrá-los


também. Ele estava perto de rastreá-los antes de deixarmos o motel. Não
os deixaremos indefesos. Sei que não parece, mas tem gente aqui em
Lima que se preocupa com essas crianças. Meat obterá as informações
de que precisam para tirá-los e, com sorte, colocá-los nas casas de
pessoas que os tratem bem. — Disse Dave a ela.

— Bom — Raven disse suavemente.

Dave amava a ternura de Raven. Ela estava apavorada por seu


próprio filho, mas ela ainda tinha compaixão pelas outras crianças que
ainda estavam lá, perdidas e sozinhas. Ele colocou o braço em volta de
Raven e a segurou perto de seu lado enquanto eles rapidamente voltavam
para o motel.
Era quase meia-noite, mas Dave não se sentia nem um pouco
cansado. Meat concordou em ficar e cuidar de Raven e resolver as pontas
soltas enquanto a equipe se dirigia para recuperar David,
esperançosamente.

Dave sabia que demoraria um pouco para Gray e os outros voltarem


do bairro, mas assim que chegassem, voltariam para encontrar David. Ele
estava levando seu filho de volta esta noite.
Dave ficou atrás de cinco dos seis homens em quem confiava com
sua vida e esperou o sinal de Gray para sair.

Não foi fácil convencer Raven a ficar no motel com Zara, as outras
mulheres e Meat. Ele não queria deixá-las lá sozinhas, caso Del Rio
soubesse onde eles estavam hospedados e decidisse ir atrás delas só para
ser ainda mais idiota.

Daniela também apareceu no motel para dar seu apoio. Dave


gostava da médica agressiva. No começo, ele não sabia o que pensar
dela. Ela era um pouco brusca e ele não tinha certeza se gostava ou
aprovava algum deles. Mas depois de conhecê-la e ouvir sobre como seu
próprio marido e filho foram mortos em um levante em um bairro, ele
entendeu de onde vinha um pouco de seu distanciamento.

Meat rastreou duas casas que provavelmente mantinham as


crianças que Del Rio afirmava estar mantendo em cativeiro para ‘adoções’
de clientes. As equipes peruanas confiáveis que Dave conseguira
contratar planejavam atacar as duas casas ao mesmo tempo naquela
noite. Ele ainda estava procurando os nomes e endereços de qualquer
pessoa que pudesse ter comprado uma criança para que as autoridades
pudessem rastreá-la mais tarde.

Agora era hora de ir buscar David. Meat tinha feito um


reconhecimento sobre o bairro onde David estava supostamente detido e
percebeu que era o maior e mais lotado de todos os bairros locais.

Havia apenas dez deles prontos para entrar no bairro - seis Mountain
Mercenaries e quatro membros adicionais de uma divisão de elite da força
policial peruana - contra o que eram literalmente milhares de pessoas que
viviam no barrio. Eles não tinham ideia de quantos estavam trabalhando
para Del Rio, ou se o homem já havia movido David novamente antes que
eles pudessem chegar lá. Mas com sorte, já que eles partiram em uma
hora e meia depois de descobrirem onde David estava sendo mantido, ele
ainda estaria exatamente onde Del Rio o havia deixado.

Dave estava permitindo que seus homens liderassem, mas se


recusou a ficar no motel ou no carro. Ele estava usando um rádio, como
todos eles, e ficaria em segundo plano, mas ele estaria lá de qualquer
jeito. Ele precisava estar lá. Para colocar os braços em volta do filho e
assegurar-lhe de que ele estava bem.

Enquanto todos faziam verificações de rádio antes de entrar no


bairro, Gray deslizou até ele.

— Você está bem?

Dave acenou com a cabeça uma vez.

— Tudo bem, estamos saindo em dois minutos. Você conhece o


plano?

Dave tentou não ficar irritado com o amigo. — Sim, eu conheço o


plano, porra. Eu ajudei a fazer a maldita coisa. E eu conheço os planos B,
C, D e E também. Eu entendo, sou um estranho aqui, mas não se esqueça
de quem planejou a maioria das outras operações em que você
esteve. Não sou um Joe Shmoe da rua aqui. — Ele olhou para Gray e o
fixou com um olhar intenso. — A questão é que, se algo der errado, vou
pegar David e dar o fora com o Dodge.

Gray acenou com a cabeça. — Bom. Podemos cuidar de qualquer


problema no bairro. E se Del Rio aparecer com qualquer tipo de poder de
fogo, vamos segurá-lo enquanto você tira David de lá. Os residentes
construíram uma escada improvisada para subir e passar pela parede dos
fundos. Você pega David e desaparece no bairro atrás do barrio. Espero
que Del Rio não apareça de jeito nenhum, mas se ele aparecer... Quem
sabe quanto tempo ele pode procurar por você? Temos que presumir que
seria por um tempo, porque ele não gosta de perder. Vocês dois se
agacham e se deitam. Vamos voltar para o motel, pegar as mulheres e
voltar para te encontrar. Fique escondido e não se arrisque. Usaremos o
dispositivo de rastreamento em seu rádio para chegar perto. Não importa
o que aconteça, não volte para o bairro.

— Eu não sou um idiota. — Dave disse a ele. — Você sabe que eu


me debrucei sobre as imagens de satélite deste bairro. Eu sei exatamente
aonde vou com David para ficar escondido até que a barra esteja limpa.

Gray sorriu e balançou a cabeça. — Desculpe. Eu ainda tenho


dificuldade em compreender que você é realmente Rex.

Dave relaxou. — Eu sei que não tenho a experiência que você tem,
mas isso é pessoal para mim. Eu não vou estragar tudo.

— Eu sei que você não vai. — Gray disse a ele. — Eu confio em


você.

Suas palavras significaram o mundo para Dave. Ele não percebeu o


quanto ele queria e precisava da aprovação de seus homens. Uma coisa
era confiar em Rex, mas outra totalmente diferente era confiar em Dave.

Os dois pausaram a conversa para ouvir a conversa em seus fones


de ouvido sobre como a equipe estava pronta para começar em um
minuto.

— Eu não sei onde você encontrou os homens peruanos que estão


nos ajudando hoje, mas eles são fodidamente durões. — Disse Gray.

— Eles são. — Dave concordou. Ele fez conexões em praticamente


todos os países do mundo, e estava grato por ter encontrado alguns
homens que não foram corrompidos por Del Rio para ajudá-lo. Eles iriam
salvar inúmeras crianças de um destino pior do que a morte em breve, e
em apenas mais alguns minutos, eles o ajudariam a resgatar seu próprio
filho. Dave iria conhecer o filho de Raven, o filho deles, pela primeira vez
dentro de alguns minutos. Ele estava nervoso, mas calmo ao mesmo
tempo.

Havia apenas quatro homens peruanos com eles, mas todos


concordaram, já que se tratava de um furo e pronto, e com sorte não uma
batalha em grande escala, os dez seriam adequados para a missão.

Depois que eles limparam tudo para entrar no bairro de quatro


entradas diferentes ao redor da parede de blocos de concreto, e os outros
se dispersaram, Gray disse rapidamente: — Nós vamos encontrá-lo,
Dave. Espere até eu dar sinal verde para você, quando chegarmos à
cabana da velha. OK?

Ele não gostou, mas Dave assentiu mesmo assim. Ele entendeu que
seus homens o estavam protegendo. Se David estivesse morto, ou se a
missão fosse para o lado, eles não queriam que ele visse seu filho naquela
condição, ou o colocasse diretamente na linha de fogo no caso de um
tiroteio militar.

Ele e Gray entraram no bairro e rapidamente seguiram em direção


ao lado noroeste do acampamento, para onde Ruben alegou que David
fora trazido. Em alguns aspectos, este bairro era o mesmo que Raven viveu
por anos. Lixo por toda parte e o cheiro de fogueiras permeavam o ar. Mas
foi o olhar cauteloso e desconfiado nos olhos da maioria dos residentes
por quem eles passaram que deu a Dave motivo de preocupação.

Essas não eram pessoas que se contentavam em sobreviver com o


que tinham. Eram homens, mulheres e crianças mais duros e
cansados. Ninguém fez nenhum movimento para detê-los enquanto
caminhavam, mas era óbvio que se algo acontecesse, ninguém estaria
disposto a ajudar, como Raven e suas amigas ajudaram Black e Meat
alguns meses atrás.
— Alvo à vista. — Disse uma voz no ouvido de Dave. Ele olhou para
cima e percebeu que Gray havia falado, e eles estavam se aproximando
do fim de uma fileira de barracos decadentes feitos de tudo o que os
residentes conseguiam colocar as mãos.

— Aproximando-se do leste. — Outra voz disse em seu ouvido.

Dave nem se incomodou em procurar os outros pares que se


aproximavam. Ro e Arrow estavam posicionados perto da parede frontal
do bairro, procurando por problemas em qualquer forma que pudessem
chegar e protegendo seu flanco. Black e Ball foram emparelhados com um
de seus colegas peruanos e convergiram para a cabana, junto com os
outros.

Dave teve visão de túnel enquanto olhava para o pedaço de metal


puxado pela abertura da cabana. Ele orou mais do que orou em sua vida
para que David estivesse lá dentro... E que estivesse bem. Ele sabia, pelo
interrogatório de Ruben, que havia sido esbofeteado por Del Rio, e lembrar
isso fez as mãos de Dave se fecharem. Ele queria matar qualquer um que
ousasse machucar uma criança. Seu filho.

— Calma, Dave. — Disse Gray, colocando a mão em seu ombro. —


Espere mais três minutos.

Dave balançou a cabeça e observou Black e seu parceiro peruano


caminharem em silêncio até a cabana. Depois de contar até três, Black
puxou o metal de volta e o outro homem entrou na sala.

Ball e três outros peruanos seguiram logo atrás deles.

Houve algumas palavras altas faladas em espanhol, mas nenhum


grito de angústia ou medo. Dave não tinha certeza se eram boas ou más
notícias. Em segundos, ele ouviu Black dizer — Limpo. — Através do rádio,
e Dave estava se movendo antes mesmo que ele pensasse sobre isso.
Ele seguiu logo atrás de Gray, e eles se espremeram na cabana de
um cômodo já muito lotada.

Olhando ao redor da sala, Dave viu que era bastante típico, tanto
quanto os alojamentos em um bairro eram. Chão de terra, banheiras
usadas como pia, louça suja, um balde usado como banheiro.

Quando ele entrou na sala em uma fração de segundo, seu olhar


parou na estaca de ferro no chão com uma corrente presa a ela. Ele seguiu
a corrente...

E respirou fundo quando viu um par de pequenos olhos azuis


olhando para ele por trás de uma grande caixa.

Ele sabia sobre a corrente pelo interrogatório de Ruben, mas vê-la


em primeira mão e saber que era seu filho preso a essa corrente quase o
fez perder o juízo.

Mantendo seu temperamento sob controle pela pele dos dentes,


Dave caminhou até a estaca no chão e, usando força bruta, puxou-a para
fora da terra compactada. Seus músculos se contraíram, mas em
segundos, a corrente escorregou da base da estaca e caiu no chão com
um estrondo alto.

Ele largou a estaca e se virou para a criança. Para sua surpresa, em


vez de persuadir o menino a sair de trás da caixa, a criança já estava
parada ao lado dele. Ele tinha cabelo escuro bagunçado e uma contusão
em uma das bochechas. Ele estava vestindo shorts e uma camiseta e
estava coberto de sujeira. E Dave nunca tinha visto nada mais bonito em
sua vida.

Então o menino chocou Dave e de todos os outros na sala,


levantando os braços e gritando: — Papá!
Instintivamente, Dave deu um passo à frente e se abaixou para pegar
o menino. — David? — Ele perguntou.

A criança sorriu, embora fosse um pouco insegura. — Cadê


a mamãe? Você a encontrou também?

— Ele fala inglês. — Disse Black surpreso.

— Raven disse que ela o ensinou. — Dave ouviu Gray explicar.

— Sim, mas eu pensei que ele provavelmente sabia apenas algumas


palavras aqui e ali. — Respondeu Black.

Dave se desligou deles, todo o seu foco no menino em seus braços.

— Sua mãe está segura. Vamos levá-lo até ela agora. Você está
bem? Tá doendo em algum lugar? — Perguntou Dave.

David balançou a cabeça. — Não, papai. Estou bem agora que você
está aqui.

— Como você sabe quem eu sou? — Dave perguntou, quando Black


avançou com um alicate para cortar a algema da perna do menino.

— Mamãe me disse como você é. No segundo em que te vi, eu


soube. Ela disse que estávamos perdidos e que você estava nos
procurando e que um dia nos encontraria. Fiquei assustado quando Del
Rio veio e me tirou de minha casa porque não sabia como você me
encontraria. Mas você fez!

Dave teve vontade de chorar. Queria sentar no chão ali mesmo e


chorar como um bebê. Raven falou sobre ele para seu filho. Disse a ele
como ele era e assegurou-lhe que estava procurando por eles.

Ela não tinha nenhuma razão para acreditar que o veria novamente,
e ela certamente não tinha ideia se ele aceitaria David por causa de como
ele nasceu, e ainda assim ela disse a seu filho que ele era seu papá. A
intensidade de suas emoções era quase demais para superar.

Ele examinou o menino e não conseguia entender o quanto ele se


parecia com sua mãe. De seus olhos azuis a seu cabelo preto, ele era um
mini Raven. Ele parecia bastante saudável, embora um pouco magro
demais para o gosto de Dave. Ele queria colocá-lo no chão e correr as
mãos sobre seu corpinho para se certificar de que não se machucara em
lugar nenhum, mas literalmente não podia suportar deixá-lo ir nem mesmo
pelos poucos minutos que levaria para examiná-lo.

Black finalmente teve a algema cortada do tornozelo de David, e


Dave sentiu as perninhas do menino envolverem sua cintura e
apertarem. Seus braços envolveram seu pescoço e ele segurou
firme. Quase desesperadamente. Dave envolveu ambos os braços ao
redor da criança preciosa e o segurou ainda mais perto de seu peito. Ele
pode não ter estado lá nos primeiros quatro anos e meio do menino, mas
ele estaria lá pelos próximos cinquenta.

Os olhos de David se arregalaram quando ele moveu suas


mãozinhas para um dos bíceps de seu papai e apertou.

— Eles são tão grandes quanto às árvores do meu quintal! — Ele


exclamou.

Dave ouviu um de seus amigos rir, mas não conseguia tirar os olhos
do pacote precioso. Era difícil acreditar que ele estava ali segurando o filho
de Raven. Não houve nenhum pensamento sobre o plano, apenas total
admiração. Raven deu à luz um bebê que atualmente estava em seus
braços. Nada poderia tê-lo preparado para o nível de emoção que sentia
neste momento.

Então, eles ouviram Ro dizer com urgência através de seus rádios:


— Caramba. Há três SUVs se aproximando da frente do bairro, rápido.
— Porra! — Gray murmurou.

Dave virou a cabeça e viu a equipe local de homens conversando


com a mulher mais velha que estava na cabana quando eles entraram. Ela
gesticulava com as mãos, os olhos arregalados de terror.

— Foda-me. — Disse Arrow pelo rádio. — É Del Rio. — Informou a


todos. — Alguém deve ter avisado a ele que estamos aqui. Ele está usando
uma porra de um terno quando está um milhão de graus e andando por aí
como se fosse um maldito rei ou algo assim.

Todos na cabana sabiam que seu tempo havia acabado.

— Quantos homens estão com ele? — Gray perguntou a Ro e Arrow.

— Pelo menos uma dúzia. E eles estão se espalhando. Vocês não


vão conseguir sair do jeito que entraram. Passe para o Plano B. — Ro
ordenou.

Sem outra palavra para a mulher que provavelmente não teve


escolha a não ser abrigar seu filho, Dave se virou e deixou a cabana com
David nos braços. Ele sabia que a equipe peruana garantiria que a mulher
estivesse segura, caso Del Rio quisesse se vingar dela por permitir que
David fosse levado embora.

Ele estava bem ciente do progresso de Del Rio e seus homens


enquanto se dirigiam para a cabana, por causa do golpe a golpe que
estava recebendo pelo rádio em seu ouvido. Os homens não estavam se
movendo com muita pressa. Ficou claro que eles pensavam que Dave não
tinha chance de escapar do bairro com David. Bastardos arrogantes. A
maioria dos moradores havia desaparecido em seus barracos, sem querer
a atenção de Del Rio ou de seus homens.
— Aqui está o que vai acontecer a seguir. — Disse Dave ao pequeno
David. — Eu preciso que você me segure o mais forte que puder. Não
importa o que aconteça não me solte. Compreendido?

— Sim, papá. Vamos ver a mamãe?

— Sim. — Dave disse a ele. — Mas Del Rio está aqui e precisamos
ficar longe dele.

Com a menção de Del Rio, o rosto de David empalideceu e seus


braços se apertaram quase dolorosamente em volta do pescoço de
Dave. Ele disse quase desesperadamente: — Ele vai me levar?

— Não. — Dave imediatamente o tranquilizou enquanto ele abria


caminho pelos barracos próximos. Ele se dirigia para a parede na parte de
trás, onde ele e David esperançosamente poderiam desaparecer na noite.

— Mas ele disse que se eu fugisse, ele mataria mamãe.

— Ele não vai tocar em um fio de cabelo da cabeça da sua mãe. Eu


prometo. — Dave disse a ele. Era uma ameaça de merda, já que David
estava acorrentado ao chão. Del Rio estava apenas afirmando seu
controle sobre o menino e continuando a assustá-lo.

— Mas ele disse que eu pertencia a ele. Que tenho que fazer tudo o
que ele me mandar, caso contrário, nunca mais a verei. — Sua vozinha
estremeceu. — Talvez eu deva apenas ficar.

O coração de Dave quase se partiu, mas ao mesmo tempo ele


estava incrivelmente orgulhoso. David era altruísta e estava disposto a
fazer o que fosse necessário para manter sua mãe segura. — Não vamos
ficar aqui e sua mãe está segura. — Ele assegurou ao menino, acelerando
o passo. — Eu te dou minha palavra. Lembre-se de que tudo o que você
precisa fazer é se segurar em mim. OK? Entrelace seus dedos atrás do
meu pescoço. Bom, assim mesmo. Você pode aguentar se eu não tiver
meus braços ao seu redor? — Perguntou Dave.

Quando David assentiu, Dave o testou, estendendo os braços ao


lado do corpo como um avião. David apertou as pernas em volta da cintura
e os braços se travaram, mantendo-o exatamente onde estava ao seu
lado.

— Bom trabalho. — Elogiou Dave, passando o braço pelo garotinho


mais uma vez. — Você é muito forte.

David deu-lhe um pequeno sorriso, e um rubor apareceu em suas


pequenas bochechas. Deus, ninguém além de Raven o elogiou?

Mas Dave sabia a resposta para isso, e ele jurou naquele momento
e ali, se certificar de que David sabia o quão incrível ele era.

— Se vocês não estão em movimento, precisam ir embora. —


Advertiu Arrow pelo rádio.

— Estamos nos movendo, aproximando-nos da parede do fundo. —


Disse Dave ao rádio. Então ele se dirigiu ao filho mais uma vez. — David,
os homens que estavam na cabana comigo são meus
amigos. Seus amigos. Se algo acontecer e nós nos separarmos, você
confia neles e em mais ninguém. Compreendido?

David concordou.

— Seus nomes são Ball, Gray e Black. Eu sei, são nomes


engraçados, mas eles vão te ajudar se necessário.

— Eles conhecem a minha mamá?

— Sim. E nosso outro amigo, Meat, está com ela agora, garantindo
que ela esteja segura. Arrow e Ro, mais dois amigos, também estão
esperando nas proximidades. Você não está mais sozinho,
Champ. Entendido?

— Champ?

Dave não pôde deixar de sorrir. — Sim, é um apelido. Está tudo


bem?

David assentiu com entusiasmo. — Mamá disse que você a chama


de Raven, embora o nome dela seja Margaret. E vovô e vovó a chamam
de Mags. Nunca tive um apelido!

— Agora você tem, Champ. — Dave disse a ele enquanto seu olhar
varria o bairro estranhamente escuro e silencioso ao redor deles. — É hora
de ficar quieto e se segurar agora. Não importa o que.

— Tudo bem, papai. — Sussurrou David.

Cada vez que ouvia aquele nome sair da boca de seu filho, Dave se
apaixonava cada vez mais, e isso o deixava ainda mais determinado a tirar
ele e Raven do Peru.

Hiper alerta e ainda ouvindo o progresso que Del Rio e seus homens
estavam fazendo em direção à cabana a partir dos relatórios que ele
estava recebendo através de seu fone de ouvido, Dave foi direto para a
escadaria tosca que os residentes haviam construído no canto dos fundos
do bairro, para que pudessem facilmente subir e atravessar a parede de
blocos de concreto que os separa do bairro mais agradável do outro lado.

Ele viu Ball e Gray se aproximando depois que ele estava no topo da
parede, e eles imediatamente começaram a desmontar a escada. Ele
esperava que não demorasse muito, já que era feito de caixas, paletes e
qualquer outro lixo que os residentes conseguiram recolher, mas a pilha
era imensa.
O topo da parede tinha cerca de sessenta centímetros de largura,
mas Dave não teve problemas em manter o equilíbrio. Ele podia ser um
homem grande, mas era ágil - e carregava a coisa mais preciosa de sua
vida. Havia uma queda de seis metros do outro lado, por causa da colina
em que o bairro foi construído, mas a cerca de sessenta metros abaixo da
parede havia uma grande encosta que chegava a ela, levando os seis
metros para baixo para apenas oito. Caminhar ao longo do topo era a parte
mais perigosa do plano. Eles estavam expostos e não havia onde se
esconder. Os outros homens tinham um plano para ir até sua localização
e se espalhar ao redor deles, mas se Del Rio quisesse sacar uma arma e
atirar, eles seriam alvos fáceis.

Mas Dave tinha quase certeza de que o homem não faria isso. Ele
era convencido, e matá-lo rapidamente não seria satisfatório o
suficiente. Dave teve a sensação de que, no segundo Del Rio, percebesse
quem ele era, e que sobrevivera apenas para superá-lo, ele desejaria uma
retribuição individual.

Ele também estava apostando que o idiota não iria querer prejudicar
seu investimento... David. Ele tinha muitos planos para o menino, e não era
provável que mandasse seus homens atirarem em nenhum deles.

Pelo menos, Dave estava contando com isso.

Ele começou a andar, chegando à metade do caminho para seu


destino quando os homens de Del Rio o avistaram e correram em sua
direção com suas armas em punho. Dave teve tempo de dizer a seus
homens que tinha sido localizado e levar suas bundas a sua localização
para mitigar a ameaça quando Del Rio gritou.

— Pare aí, ou vou mandar meus homens atirarem!

Vendo o quanto mais longe ele tinha que ir, Dave sabia que poderia
chegar onde precisava com cinco ou seis passos rápidos. Mas não havia
como arriscar que David levasse um tiro. Ele precisava da cobertura de
sua equipe para que pudesse percorrer os últimos cinco metros ou mais
com relativa segurança.

Ele se virou para encarar o homem que fez de sua vida um inferno
nos últimos dez anos.

Del Rio olhou para ele com fúria absoluta. — Você! — Ele exclamou.

— Eu. — Dave confirmou, apertando os olhos para a luz brilhando


em seus olhos que alguém estava usando para iluminá-lo na parede.

— Eu disse ao meu homem para ter certeza de que você estava


morto. Eu deveria saber quando ele não voltou que ele falhou. — Disse Del
Rio em desgosto.

— Eu não estou morto. — Dave disse a ele categoricamente.

Em um instante, a raiva desapareceu de seu tom e a arrogância


voltou. — Não importa. Você não vai se safar com meu filho. — Disse Del
Rio, enquanto colocava o paletó e, distraidamente, limpava a sujeira da
frente.

— Como diabos eu não vou. — Dave gritou. Ele ouviu seus homens
pelo rádio dizendo que estariam lá em vinte segundos. Tempo suficiente
para dizer a Del Rio o que pensava dele antes que pudesse sair de lá com
o filho. David o segurava com firmeza e tinha a cabeça enterrada no
pescoço.

Apertando um braço em volta da cintura do menino, Dave não deu


tempo a Del Rio para dizer mais nada.

— Eu planejei dar a você uma morte rápida e fácil. Não vou deixar
você viver para continuar a arruinar a vida de mulheres e crianças como
se elas não fossem nada além de sujeira sob seus sapatos. Mas agora,
vou garantir que você sofra uma dor infinita antes de morrer. Para cada
mulher que você forçou a uma vida que ela não queria. Por cada criança
que perdeu a mãe e por cada criança que você roubou de sua família e foi
forçada a fazer coisas que nenhuma pessoa sã permitiria, você pagará.

Del Rio riu. — E como você pretende fazer isso? — Ele perguntou. —
Você é o único cercado sem saída. Você não tem ideia de quanto poder
eu tenho neste país. Eu possuo o governo, os militares, a polícia. Até as
pessoas neste buraco de merda trabalham para mim! Não há nenhum
lugar para onde você possa ir e nenhum lugar onde possa se
esconder. Apenas me dê o menino e eu irei me certificar de que sua morte
seja rápida.

— Isso é o que há de errado com pessoas como você. Você se acha


invencível. Novidades, Roberto, você não é.

Dave viu que o uso de seu primeiro nome o irritou. Del Rio adorava
ser conhecido pelo sobrenome. Amava o medo que atingia o coração de
seus conterrâneos.

Dez segundos.

— Eu vou matar você. — Del Rio rosnou. — Depois, vou encontrar


sua mulher, trazê-la de volta para minha casa e oferecê-la de graça para
quem quiser. Talvez eu a leve para os bairros e permita que qualquer um
e todos dêem sua chance sem dar a porra de um sol em troca! Você fodeu
não só com ela, mas com qualquer pessoa com quem ela se relaciona
também. Eles vão todos pagar por sua interferência!

Dave não mordeu a isca, mas sentiu David tremendo contra ele e
ficou aliviado porque a conversa estava quase acabando. Seus homens
convergiriam para Del Rio e seus capangas e, em segundos, todo o inferno
iria explodir. — O problema de estar por cima é que você tem um longo
caminho a percorrer. — Ele fez uma saudação zombeteira ao homem no
chão embaixo dele. — Adeus, Roberto. Eu nunca vou te ver novamente,
mas você estará constantemente olhando por cima do ombro. Karma é
uma vadia - e ela está vindo atrás de você.
No segundo em que as últimas palavras saíram de sua boca, ele
ouviu seus Mountain Mercenaries gritando no que parecia ser de todas as
direções. Dizendo aos homens para baixarem as armas. A luz que havia
sido apontada para Dave desapareceu quando os homens de Del Rio
começaram a se proteger de repente, mergulhando-o de volta na
escuridão.

Dave voltou sua atenção para a parede, caminhando com confiança


e rapidamente em direção ao seu destino. Ele ouviu Del Rio gritando
ordens para seus homens, mas toda a atenção de Dave estava em seus
pés e saindo da parede. — Pronto, Champ? — Ele perguntou a seu filho
enquanto ele se movia para a posição. Ele se sentou na beira da parede
de costas para o bairro, com os pés balançando do outro lado.

— Eu tenho você, filho. Você confia em mim? — Dave perguntou


quando o menino não respondeu. Ele apertou seu braço ao redor de David
e o segurou com força contra seu corpo.

— Si.

— Bom. Feche os olhos e se segure.

Ele esperou até que os olhinhos de David se fechassem e ele


apertasse as pernas e os braços ao redor dele mais uma vez. Então Dave
empurrou a parede e saltou.

A aterrissagem doeu um pouco, mas Dave dobrou os joelhos e


absorveu a maior parte do impacto com as pernas. Ele tropeçou e teve
que usar a outra mão para se equilibrar quando começou a cair, mas se
conteve. De jeito nenhum ele iria cair com o filho nos braços. Isso
assustaria o menino até a morte e poderia machucá-lo no processo. Dave
morreria antes de fazer qualquer coisa que pudesse machucar seu filho
depois de tudo que ele passou.
Ele subiu e desceu correndo a colina assim que recuperou o
equilíbrio, sem ousar olhar para trás. Ele ouviu mais gritos vindos da
direção do bairro e em seu fone de ouvido, mas não parou nem diminuiu a
velocidade, desligando-se das vozes. Era óbvio que eles não tinham
adivinhado que ele iria pular do outro lado da parede. Del Rio era
convencido o suficiente para acreditar que Dave teria que simplesmente
se render.

Não está acontecendo.

Tendo estudado as imagens de satélite da área até que as


conhecesse de cor, Dave sabia exatamente para onde estava indo e onde
se esconderia. Del Rio era arrogante. Ele não desistiria facilmente, mas os
Mountain Mercenaries manteriam ele e seus homens ocupados até que
Dave pudesse desaparecer com David e se esconder até de manhã.

Ele sabia que sua equipe era boa, mas o bairro era um território
desconhecido, mesmo que eles estudassem as fotos de vigilância. Del Rio
e seus homens estavam muito mais confortáveis lá. Era provável que Del
Rio pudesse escapar, mas Dave não estava preocupado. Como ele disse
ao homem, ele teria seu próprio um dia. Dave se certificaria disso.

Ele odiava que Raven ficasse frenética de preocupação quando ele


não retornasse imediatamente com seu filho. As próximas horas seriam
desconfortáveis, mas sua equipe viria buscá-los assim que possível e eles
estariam voltando para os Estados Unidos, então tudo valeria a pena.

As vozes de seus homens agora estalavam em seu fone de ouvido,


e quanto mais ele se afastava da parede, mais estática havia. Os rádios
foram feitos para curto alcance. Todos sabiam que havia a possibilidade
de perder contato, então Dave não se preocupou. O plano foi traçado e
seus homens poderiam cuidar de si mesmos.

— Ele estava realmente bravo. — O garotinho sussurrou depois que


eles se afastaram do muro do barrio e entraram no bairro.
Dave não diminuiu a velocidade enquanto caminhava rapidamente
em direção à primeira rua. As casas eram próximas umas das outras e as
mais altas tinham apenas dois andares. Havia centenas de casas no bairro
e, embora fosse mais bonito do que o bairro, ainda era pobre. Seria mais
difícil se esconder em um bairro nobre. Del Rio viria procurá-lo,
especialmente depois que Dave tivesse levado o melhor dele, insultado e
ameaçado o homem. Ele não podia deixar isso passar, não quando vários
de seus homens tinham ouvido. Ele pareceria fraco.

Mas Dave não deu à mínima. Deixaria Del Rio procurá-lo. Ele não o
encontraria.

Sua equipe e os peruanos matariam Del Rio, se tivessem a chance,


e se eles falhassem, Dave suspeitava que seus homens ficariam
putos. Mas o que eles não sabiam é que del Rio ainda
pagaria... Eventualmente. Ele esperava que o homem passasse algum
tempo se perguntando quando e onde o retorno ocorreria. Ele queria que
ele ficasse paranóico e mais preocupado com sua própria segurança do
que tramas para vender crianças e sequestrar mais mulheres.

Mas se isso não acontecesse e Del Rio ignorasse suas ameaças, o


carma ainda aconteceria um dia. Dave se certificaria disso.

— Ele estava bravo. — Dave disse ao filho. — Mas não vai nos
encontrar. Vamos nos esconder, depois vamos buscar sua mãe e voltar
para casa.

A cabeça de David levantou-se de seu ombro enquanto ele o


encarava. — Promete?

— Prometo. — Dave disse imediatamente.

— Del Rio disse que se eu fosse embora, ele mataria mamãe. —


Lembrou David com medo.
Dave estava furioso com a tortura mental que Del Rio infligiu a este
precioso menino. Sabendo que isso era importante e que ele precisava
resolver isso neste segundo, Dave correu entre duas casas e se
agachou. David abaixou os pés e se levantou, mordendo o lábio inferior
com incerteza.

Dave colocou as mãos nos ombros de David e o olhou nos olhos


enquanto ele falava. — Del Rio é um homem mau, Champ. Ele é mau e um
valentão. Ele não se importa se machuca outras pessoas. Não tenho
dúvidas de que ele estava dizendo a verdade, que falava sério. Mas ele
não pode machucar sua mãe se não conseguir encontrá-la. E acredite em
mim quando digo que ele nunca vai encontrá-la. Ou você. Hoje foi a última
vez que você vai ver aquele homem, e a última vez que ele vai te ver. Ele
não será capaz de machucar nenhum de vocês porque nós iremos
embora.

— Mas ele disse que não havia nenhum lugar onde eu pudesse me
esconder! — David argumentou.

Franzindo a testa, Dave perguntou: — O que mais ele disse a


você? Que outras coisas maldosas ele disse que feriram seus
sentimentos? Quero ouvir tudo isso para garantir que ele estava errado.

Demorou um segundo, mas então David começou a falar. —


Quando perguntei se eu poderia ir à escola, ele disse que seria uma perda
de dinheiro porque eu era estúpido. Ele me disse que eu era feio e meus
olhos tinham uma cor engraçada. Eu tinha que fazer tudo o que ele me
disse, já que eu era burro e não poderia trabalhar e ganhar dinheiro
sozinho. Eu chorei na frente dele uma vez, porque ele me bateu e doeu, e
ele me chamou de bebê chorão.

A cabeça de David caiu e ele olhou para o chão enquanto


calmamente admitia a próxima coisa. — Mamãe disse que você estava
procurando por nós, mas não achei que nos encontraria a tempo. Quando
tive que sentar no colo do amigo de Del Rio sem minhas roupas, ele me
disse que em breve, o homem seria meu novo amigo e me levaria para
casa com ele, e se eu não fizesse o que ele mandasse, se eu não o
deixasse tocar em mim, que ele mataria minha mãe. — Ele olhou para
Dave então. — Seus amigos vão me obrigar a fazer isso?

Dave queria voltar no tempo vinte minutos e ordenar que Gray


colocasse uma bala no cérebro de Del Rio no segundo em que o visse, e
malditas sejam as consequências. Quer ele tivesse planejado ficar com
David ou vendê-lo para algum outro pedófilo doente, o resultado teria sido
o mesmo.

Ele respirou fundo e balançou a cabeça. — Não,


Champ. Nunca. Ninguém tem permissão para tocar em você sem sua
permissão. Ninguém. Compreende?

O menino não parecia convencido.

— Sua mamá está bem. Ela está segura. Dou-lhe a minha palavra
de papá.

David parecia querer tanto acreditar nele.

Dave sabia que eles tinham que continuar seu caminho. Ele pegou
seu filho e começou a andar mais uma vez. — Eu sei que isso é difícil de
entender, mas saiba que Del Rio é um homem mau. Ele usa suas palavras
para fazer com que outras pessoas façam o que ele quer. Ele usa os
punhos para machucar as pessoas também, mas se você diz algo com
frequência suficiente, você pode começar a acreditar. — Ele olhou para o
filho. — Você não é estúpido, Champ. Na verdade, você é um dos meninos
mais inteligentes que já conheci.

David não disse nada.

— Você conhece duas línguas. Não falo nem entendo espanhol e


você pode. Na verdade, nenhum dos meus amigos com quem você me viu
hoje entende espanhol, então você já é mais inteligente desse jeito do que
nós.

— Realmente? — Perguntou David.

— Sério. — Dave o tranquilizou. — E você com certeza não fala


como qualquer criança de quatro anos que eu já conheci. Você também
não fugiu quando me viu e meus amigos. Você sabia quem eu era, embora
nunca tivéssemos nos conhecido.

— Mamãe me disse como você era.

— Certo, e você se lembrou. Isso é inteligente. — Dave continuou


seu elogio enquanto caminhava rapidamente pelas ruas do bairro,
procurando o prédio que ele avaliou nas imagens de satélite.

Ele sentiu David acenar com a cabeça, em seguida, levou a mão ao


ferimento na garganta de Dave. — Você tem um boo-boo.

Demoraria um pouco para Dave se acostumar com a maneira como


seu filho mudava rapidamente de assunto, e ele percebeu que mal podia
esperar para saber tudo sobre o menino em seus braços. Ele tinha muito
que pôr em dia. Quatro anos e meio no valor. — Eu tenho. — Disse ele.

— Parece que dói.

Dave encolheu os ombros. — Há dor e, em seguida, não doi mais.

David parecia compreensivelmente confuso.

— Às vezes, ficar com uma lasca, uma bolha ou uma raspagem no


joelho não dói tanto quanto uma dor que vem do coração. — Disse
Dave. — Quando sua mãe se perdeu... Meu coração doeu. Eu estava tão
triste que não me importava em comer ou dormir, ou se me cortava
enquanto cortava vegetais para o jantar. A dor no meu coração pela perda
da sua mãe foi muito pior do que qualquer dor na carne.
David acenou com a cabeça sabiamente. — Como
quando mamãe teve que ir embora quando nosso dia acabou. Eu não
gostei disso. Todo mundo foi mau e gritou comigo. Tive que ficar no meu
quarto e só tinha um pouco de arroz para comer. Então mamãe voltaria e
eu ficaria feliz por um tempo. — Seu dedo suavemente traçou a ferida no
pescoço de Dave mais uma vez. — Mas... Você está bem, certo? Você
não vai perder mamãe e eu de novo, vai?

— Não. Você e sua mãe nunca mais se perderão. E eu vou ficar


bem. Obrigado por se preocupar comigo.

David acenou com a cabeça e se inclinou para descansar a cabeça


no peito do pai mais uma vez.

O coração de Dave parecia que ia explodir. Ele entendeu agora


melhor do que nunca porque Raven não tentou contatá-lo. Ele disse a ela
que entendia, mas não realmente. Agora, segurando David em seus
braços e sentindo como ele confiava completamente nele, e como ele era
o único responsável pelo bem-estar do garotinho, Dave sabia que faria o
que fosse necessário para mantê-lo seguro. E se ele estava sentindo isso
depois de conhecê-lo por tão pouco tempo, ele também sabia que Raven
o sentia cem vezes mais profundamente.

Seu amor por sua esposa e pelo menino aninhado em seus braços
era quase esmagador. Ele faria qualquer coisa para proteger os
dois. Qualquer coisa.

Depois de caminhar por mais dez minutos, Dave começou a ficar


preocupado. Ele começou a ouvir gritos e veículos à distância, e ele sabia
que precisava encontrar seu esconderijo, imediatamente.

Bem quando ele pensou que tinha se perdido, ou que as imagens de


satélite estavam erradas, Dave dobrou uma esquina e viu o que estava
procurando.
Ele havia chegado aos limites do bairro e as casas estavam um
pouco mais degradadas. Não eram nada parecidos com os do bairro que
acabaram de deixar, mas era óbvio que os proprietários não tinham os
meios, ou o desejo, de cuidar deles como as outras casas. Olhando ao
redor para se certificar de que não havia ninguém por perto, Dave correu
pelo gramado até uma das casas no meio de uma longa fileira. Não havia
cercas entre os pátios e ele contornou os fundos.

Sorrindo ao ver o que procurava, Dave disse: — Ok, Champ, vou


precisar que você me segure com muita força. Preciso das duas mãos e
não serei capaz de segurar você.

Os olhos de David se arregalaram. — Você vai subir lá?

— Sim — Dave disse a ele, olhando a árvore que crescia perto da


casa. — Você já subiu em uma árvore antes?

David balançou a cabeça. — Não. Eu não tive permissão para


isso. E a única vez que eu saía era quando mamãe estava lá.

— Estou feliz por compartilhar sua primeira escalada em árvore com


você, então. — Disse Dave. — Acha que pode se segurar em mim?

— Si.

— Tudo certo. Se você sentir que está escorregando, é só me avisar,


e vamos parar e nos reajustar.

Dave não hesitou. Ele estendeu a mão, agarrou o galho mais baixo
da árvore e começou a escalar. Ele era um homem grande, e a árvore era
um pouco mais esquelética do que parecia nas fotos de satélite, mas em
minutos, ele estava avançando em um dos galhos maiores em direção ao
telhado da casa próxima.

David era como um macaquinho, agarrado a ele como se tivesse


nascido para isso.
Quando ele estava longe o suficiente, Dave respirou fundo e
saltou. Ele pousou exatamente onde estava mirando, embora seu
equilíbrio estivesse desequilibrado com o peso extra de seu filho em seu
peito. Ele começou a cair, mas dobrou os joelhos e girou até cair de costas
em vez de em cima de David.

Fechando os olhos de alívio, ele ouviu uma risadinha silenciosa.

Olhando para cima, Dave viu seu filho escarranchado em seu peito,
rindo. — Foi divertido! — Ele disse empolgado.

Mais aliviado do que poderia dizer que o menino não estava


morrendo de medo, Dave sorriu de volta. — Foi, hein?

— Uh-huh... Podemos fazer de novo?

— Estou velho, Champ. Eu preciso descansar um pouco. Tudo


bem?

David concordou.

Envolvendo o braço em volta do menino, Dave se sentou e correu


em direção ao meio do telhado.

Uma das razões pelas quais escolheu esta casa foi por causa da
árvore e do fácil acesso ao telhado plano. O outro motivo era a quantidade
de coisas que os donos tinham guardado lá. Caixas, recipientes de metal,
um grande ar-condicionado e uma lona cobrindo algo. Dave sabia que eles
poderiam ficar no telhado por algumas horas, embora esperasse que sua
equipe chegasse lá muito mais cedo. A lona, junto com o outro lixo, daria
a eles um lugar para se esconder de Del Rio e seus capangas, se fosse
necessário.

Segurando o filho, Dave ficou aliviado por haver espaço para eles se
esconderem entre as caixas sob a lona sem precisar mover nada. Ele
recuou até encostar-se a uma caixa e sorriu para o menino.
— Papai?

— Sim, filho?

— Eu estou com fome.

Dave sorriu de novo, feliz por poder fazer algo a respeito. Ele enfiou
a mão em um dos bolsos da calça e tirou uma barra de proteína. — Não é
muito excitante, mas eu tenho alguns desses que vão nos ajudar até que
possamos sair daqui e conseguir algo mais satisfatório.

David olhou para o bar com desconfiança. — O que é isso?

— Uma barra de proteína. É bom, eu prometo.

O nariz do garotinho enrugou, mas quando foi desembrulhado e o


cheiro de chocolate o atingiu, seus olhos se arregalaram e ele puxou seu
olhar para cima de Dave. — Chocolate?

— Sim, e manteiga de amendoim. Você não é alérgico a amendoim,


é?

Mas David não estava ouvindo. Seus olhos caíram para encarar a
barra como se ele tivesse medo dele.

— O que há de errado? — Perguntou Dave.

— Para mim? — Perguntou David.

— Sim, Champ. Para voce.

Ele olhou nos olhos de Dave mais uma vez. — Eu não tenho
permissão para doces.

O coração de Dave apertou com força, mas ele se obrigou a manter


a calma. — Não é doce, Champ. Quer dizer, tem chocolate, mas é para
energia e calorias. Além disso, as regras que você tinha que seguir quando
estava hospedado na casa do Del Rio não se aplicam mais. Faremos novas
regras. Vá em frente, pegue. — Ele insistiu.

Mas o garotinho não pegou a comida.

Dave quebrou um pequeno pedaço da barra de proteína e estendeu-


o. — Aqui está, filho. Eu prometo que está tudo bem.

Muito lentamente, David estendeu a mão para um pequeno pedaço


de barra de proteína. Ele o levou ao nariz e o cheirou. Então sua pequena
língua saiu, e ele lambeu a granola e o chocolate com cuidado. Seus olhos
se iluminaram e ele enfiou a mordida na boca. Ele mastigou por um longo
tempo, como se tentasse tirar cada pedacinho do sabor da comida antes
de finalmente engolir.

— Gosta disso? — Perguntou Dave.

David concordou. Ele não pegou o resto da barra de proteína, mas


a olhou com avidez.

Pelos próximos minutos, Dave quebrou peça após peça e entregou


ao filho. Observar o quão ansioso ele comia, e a quantidade de prazer que
ele sentia com a guloseima simples, foi comovente e doloroso ao mesmo
tempo.

Quando a barra de proteína acabou, David sorriu e olhou para ele. —


Essa foi a melhor coisa que eu já comi.

— Você já comeu chocolate e manteiga de amendoim antes? —


Perguntou Dave.

O menino acenou com a cabeça. — Uma vez. Certo ano,


mamãe trouxe um doce para mim no Natal. Eu não tinha permissão para
receber doces ou presentes de Natal, mas mamãe disse que o Papai Noel
a encontrou e deixou os doces para mim. Estava esmagado, mas quando
estávamos do lado de fora, pudemos comê-lo sem ninguém ver. Foi muito
bom.

Este menino o estava matando. E com cada palavra que saía de sua
boca, Dave se lembrava de quanto sua esposa e filho haviam sofrido, e o
que eles perderam. Mas de alguma forma, eles sobreviveram há quase
cinco anos e saíram do outro lado compassivos e amorosos. Eles eram um
milagre. Seus milagres.

— Eu tenho mais algumas dessas barras de proteína que podemos


comer mais tarde, se ficarmos com fome. — Disse ele em uma voz
embargada pela emoção. Ele pigarreou e disse: — Quando chegarmos ao
Colorado, nos Estados Unidos, o que você quer comer na primeira refeição
em sua nova casa?

Os olhos do menino ficaram grandes. — Quer dizer que eu posso


escolher?

— Sim, David, você pode ter o que quiser.

Ele pareceu animado por um segundo, então olhou para baixo


hesitantemente.

Dave colocou um dedo sob o queixo e pediu-lhe que olhasse para


cima. Quando o fez, Dave perguntou: — O que há de errado? Tudo bem,
você pode ser honesto comigo. Não vou ficar chateado com nada que
você me diga.

— Mamá vai comer com a gente também? Não quero comer na


frente dela se ela também não puder comer. Ela age como se não se
importasse, mas ouço seu estômago fazendo ruídos de fome, e isso me
deixa triste.

Os sacrifícios que Raven fez por seu filho fizeram o coração de Dave
quase explodir. — Sua mãe nunca mais vai ficar com fome. Ela pode
comer quando quiser e o que quiser. E isso vale para você também,
Champ.

— Podemos comer juntos? — Perguntou David.

— Sim. Na verdade, comeremos juntos como uma família tanto


quanto possível. Pode haver algumas noites em que não poderei estar em
casa para jantar com vocês dois, mas prometo aqui e agora fazer o meu
melhor para estar lá o mais rápido possível.

Os olhos de David brilharam. — Eu te amo, papai.

Seu peito doeu ao ouvir as palavras do filho. — E eu te amo,


Champ. Agora, o que você quer comer quando voltarmos com sua mãe?

David virou os olhos grandes e azuis para Dave. — Arroz con


pollo. E a favorita da mamãe é pollo empanada.

Ele deu uma risadinha. — Você pode traduzir isso para mim,
Champ? Lembre-se, eu não falo espanhol.

— Arroz com frango para mim é frango... — Sua testa franzida. —


Não sei o que é empanada em inglês.

— Eu vou descobrir. — Dave assegurou-lhe.

Só então, eles ouviram um carro dirigindo na estrada. Estava se


movendo muito devagar, e os dois podiam ouvir homens falando alto em
espanhol.

Os olhos de David se arregalaram e ele estendeu a mão e colocou o


dedo mínimo nos lábios de Dave.

Assentindo, Dave agarrou a mão do filho na sua e beijou-a de forma


tranquilizadora. Não ficou surpreso que os homens de Del Rio estivessem
procurando por eles. Ele esperava por isso. Mas foi por isso que ele
escolheu esta casa. Olhando da estrada, não parecia haver nenhuma
maneira de chegar ao telhado. A árvore em que escalaram não era muito
mais alta que a casa, e ninguém pensaria que um homem tão grande
quanto Dave seria capaz de usá-la para chegar ao telhado.

O SUV continuou seu caminho, mas Dave sabia que a ameaça não
tinha desaparecido. Eles precisavam ser pacientes e ficar
parados. Eventualmente, os homens de Del Rio seriam chamados depois
de presumir que ele havia escapado.

Sussurrando, ele elogiou seu filho. — Bom trabalho em ficar quieto,


Champ.

Quando David enrubesceu e desviou o olhar dele, Dave mais uma


vez jurou elogiar o menino tanto quanto possível. Ele tinha muito ódio
dirigido a ele em sua curta vida. Ele precisava saber que era capaz e
inteligente, porque ele era.

Eles conversaram um pouco, depois David perguntou: — Quando


chegarmos em casa... Você acha que... Posso ir para a escola?

Dave acenou com a cabeça. — Claro, Champ. Por que não você
poderia?

Ele encolheu os ombros pequenos. — Porque eu sou estúpido. E


ninguém quer ser meu amigo.

Odiando Del Rio mais a cada palavra que saía da boca de seu filho,
Dave disse: — Já superamos isso, Champ. Você não é estúpido. De modo
nenhum. E por que ninguém gostaria de ser seu amigo?

— Porque eu sou um bastardo.

Dave estremeceu ao ouvir a palavra rude saindo da boca da criança


inocente.
— O que quer dizer bastardo, papai?

Controlando sua fúria pelo dano mental que Del Rio tinha infligido,
Dave desejou que Raven estivesse ali. Ela saberia exatamente o que dizer
para tranquilizar seu filho. Ele estava improvisando e se sentia
completamente fora de seu alcance naquele momento. — Acho que você
vai ter muitos amigos para contar, Champ. — Dave o tranquilizou. — Você
é um bom menino. Amigável. Atencioso e inteligente. Por que alguém não
gostaria de ser seu amigo?

Dave sabia que precisava ser cuidadoso ao explicar. David ainda


não tinha nem cinco anos, mas já tinha ouvido a palavra e, por
ser inteligente, sabia que era algum tipo de insulto. A última coisa que ele
queria era que seu filho pensasse que ele era menos que qualquer outra
pessoa. — E bastardo é uma palavra maldosa que os valentões usam para
tentar fazer outra pessoa se sentir mal.

— Mas o que é isso? — David perguntou, não desistindo.

Dave pensou rápido e decidiu contar a verdade... Classificar isso


outra maneira. — Um bastardo é alguém cuja mãe e pai não são casados
quando nascem. E já que sua mãe e eu éramos casados quando você
nasceu, você não é.

O alívio no rosto de David teria deixado Dave de joelhos se ele


estivesse de pé.

— Então eu não sou um bastardo?

— Não, filho, você não é. Você é David Justice, filho de Margaret e


Dave Justice.

Seus olhos se arregalaram. — Seu nome é Dave?

— Na verdade, é David. Mas todos os meus amigos me chamam de


Dave.
— Temos o mesmo nome! — David exclamou.

Dave assentiu, sorrindo enquanto os olhos do filho se enchiam de


orgulho. Ele abraçou a criança pequena e perguntou: — Você conseguiu
dormir antes de aparecermos para resgatá-lo?

David balançou a cabeça. — Eu estava assustado. A velha não quis


falar comigo. Eu também estava com fome.

Deitado, Dave acomodou o filho no peito até que ambos estivessem


confortáveis. — Você não precisa ter medo agora, filho. Estou aqui e
garantirei que você esteja seguro. Feche os olhos e tire uma
soneca. Quando você acordar, você pode comer outra barra de proteína.

— Não estou cansado, papai. — Disse David, bocejando muito.

Sorrindo, Dave disse: — Tudo bem, Champ. Você fica aí deitado de


olhos fechados, e eu vou te contar histórias, ok?

— OK.

Então, deitado no topo do telhado de uma pessoa qualquer no meio


de Lima, enquanto o homem mais vil da terra os caçava, Dave segurou
seu filho enquanto ele lhe contava histórias de como seria sua nova vida
no Colorado. Mesmo depois que pequenos roncos saíram da boca do
pequeno David, ele continuou falando, assegurando ao filho que ele era
inteligente e amado, e que nunca se machucaria novamente se pudesse
evitar.

Dave não estava nem um pouco cansado. Ele estava ligado. Ele se
preocupava com Raven e o que ela estava pensando desde que ele não
voltou. Ele sabia que seus amigos cuidariam dela e a assegurariam de que
ele e David estavam bem. Mas ele também sabia que ela não descansaria
até que visse seu bebê com seus próprios olhos. Viu que estava livre de
Del Rio de uma vez por todas.
Sussurrando, ele disse: — Espere aí, querida. Só mais um
pouquinho. Espere.
— O que você quer dizer com eles não estão aqui? — Mags
perguntou semi-histérica quando todos voltaram para o motel. Todos,
menos seu marido e filho.

— Não entre em pânico. — Gray ordenou. — Eles estão bem.

— Mas eles não estão aqui! — Ela praticamente gritou. — E você


disse que Del Rio estava lá? Oh meu Deus, ele chegou até David antes de
você chegar lá? Dave foi procurá-lo?

— Não. Respire fundo, Raven. — Arrow ordenou enquanto pegava


as mãos dela e gentilmente a guiava para a beira da cama que ela estava
compartilhando com Dave.

— Tudo saiu de acordo com o plano. — Arrow disse a ela.

— Qual plano? A, B, C ou D? — Mags perguntou sarcástica. Assim


que as palavras saíram de sua boca, ela se arrependeu. Ela estava sendo
uma cadela com os mesmos homens que entraram no país para resgatá-
la.

Mas, surpreendentemente, Arrow e os outros simplesmente riram.

— Ela é definitivamente a esposa de Dave. — Ball disse com uma


risada.

— Plano B. — Arrow disse a ela. — Encontramos David bem onde


Ruben disse que estaria...

— E ele estava bem? — Mags perguntou, interrompendo.


— Ele estava bem. Ele estava acorrentado ao chão, mas com
exceção de alguns hematomas, ele saiu ileso.

Mags suspirou de alívio. — Então o que?

— Então o plano B foi colocado em ação porque Del Rio apareceu


no bairro — disse Ro.

Mags ficou tensa, mas se obrigou a manter a calma. Nenhum dos


homens ao redor dela estava pirando, então isso significava que David
estava bem. Pelo menos, foi o que ela disse a si mesma.

Ball retomou a história a partir daí. — Sabíamos pelas fotos de


satélite que os moradores haviam construído um atalho para fora do bairro
ao longo da parede dos fundos. Dave subiu no muro com David e
destruímos o acesso antes que Del Rio e seus homens
chegassem. Quando perceberam o que Dave estava tramando, era tarde
demais para chegar até eles. Ele e Del Rio trocaram algumas palavras
enquanto todos nós nos posicionávamos para protegê-los, e Dave
desapareceu por cima do muro. Ambos estão se escondendo até que
possamos chegar lá para buscá-los e chegar ao aeroporto.

— Estamos saindo? — Mags perguntou.

— Porra, sim, estamos indo embora. — Acrescentou Meat. — Já


estamos aqui há muito tempo, não acha?

Mags assentiu. Ela estava morrendo de medo de que seu marido e


filho estivessem em algum lugar da cidade sendo caçados por Del Rio e
seus homens. — E agora?

— Agora nos certificamos de que você e as outras estão prontas


para ir. — Disse Arrow. — Você, Zara e Gabriella deveriam se despedir de
Daniela, Bonita, Carmen, Maria e Teresa.

— Estamos deixando elas? — Zara perguntou ao lado de Meat.


— Não — Meat a tranquilizou. — Vamos levar as mulheres ao
aeroporto esta noite. O mais breve possível. Pegamos seus passaportes
hoje e arranjamos passagens em voos noturnos para seus respectivos
países. Elas estarão sendo esperadas do outro lado por amigos ou
familiares. Você, Gabriella e Mags irão para o aeroporto comigo e Black
também, e embarcarão no avião que está esperando por nós. Os outros
irão buscar Dave e David e nos encontrar lá.

Mags queria protestar. Queria insistir para que ela fosse com os
outros pegar o filho, mas manteve a boca fechada. Eles já haviam feito
muito por ela, e a última coisa que ela queria era fazer algo que pudesse
atrapalhar o resgate de seu filho. Estragar a chance de sair do Peru de
uma vez por todas. Ela estava mais perto do que nunca de voltar para casa
e estava petrificada de que algo aconteceria e ela acabaria de volta ao
complexo de Del Rio.

— E quanto a Del Rio? — Zara perguntou. — Vocês cuidaram dele


hoje?

Gray balançou a cabeça. — Não. Ele conseguiu escapar do bairro


com alguns de seus guardas. Presumimos que ele está procurando por
Dave neste segundo.

— Por que você não o matou? — Zara perguntou.

Antes que qualquer um dos outros pudesse dizer qualquer coisa,


Mags falou. — Porque eles não são como ele.

Zara franziu a testa. — Mas ele precisa morrer. — Ela insistiu. — Ele
arruinou tantas vidas. Eu não entendo.

Meat beijou o topo da cabeça de Zara. — Honestamente? Todos


nós queríamos, mas Dave nos disse que se não acontecesse, para não
perdermos tempo rastreando-o. Ele prometeu que receberia o que por
tudo que ele fez. Dave tem algo planejado. Eu não sei o quê. Mas seja o
que for, Del Rio não será um problema por muito mais tempo.

— Rex conhece pessoas. — Gray disse calmamente. — Agora que


eu sei que Rex é realmente um barman, é difícil de acreditar. — Ele
sorriu. — Mas já trabalhamos com ele há muito tempo e sempre ficamos
surpresos com as conexões que ele tem. Se alguém pode garantir que Del
Rio receba o que está ganhando, é Rex.

Era difícil para Mags acreditar, também, que seu marido de boas
maneiras era o tipo de homem que os Mountain Mercenaries tinham
conhecido como esse Rex. Mas, novamente, ele sempre foi teimoso e
carismático. Se alguém pudesse reunir uma rede secreta de aliados muito
poderosos e perigosos, todos em busca dela, seria ele.

— Você pode falar com ele agora? — Ela perguntou.

Meat balançou a cabeça. — Nossos rádios são bons apenas para


comunicação em curtas distâncias. Mas estamos rastreando ele. — Ele foi
até seu laptop e o abriu, trazendo-o para que Mags pudesse vê-lo. —
Vê? Esse ponto azul piscando é Dave. Ele está seguro, agachado
exatamente onde planejamos.

Mags olhou para a tela, para o ponto azul que Meat indicava. Não
estava se movendo. Dave estava do lado de fora de um grande bairro que
dava para o bairro onde Ruben alegou que seu filho estava detido. Ela
respirou fundo e assentiu. Dave provou várias vezes que sabia cuidar de
si mesmo e ela confiava que ele cuidaria do filho também.

Sua vida havia mudado tanto em tão pouco tempo que ela ainda
estava se recuperando um pouco. Mas uma coisa permaneceu a mesma
- seu amor e confiança em seu marido. Ela quase se esqueceu do quão
teimoso ele podia ser. Mas nas últimas duas semanas, ele a encontrou,
processou o fato de que ela havia sido estuprada e engravidada por um
estranho e aceitou de braços abertos o bebê que ela teve como
resultado. Ele de alguma forma conseguiu passar pelos escudos que ela
ergueu como um mecanismo de enfrentamento e a fez se sentir segura ao
ser tocada por ele. Dormindo ao lado dele. Mesmo estando quase nua
com ele no chuveiro depois que ele se machucou.

Resumindo, ele realizou um milagre. A fez pensar que talvez, apenas


talvez, com ele ao seu lado, ela seria capaz de voltar para os Estados
Unidos e não ser um caso perdido.

Dentre todas as pessoas do mundo, ela confiava nele e apenas nele


para manter seu filho seguro e trazê-lo de volta para ela.

— Está bem então. Temos muito trabalho a fazer em um curto


espaço de tempo, se todos vamos sair daqui o mais rápido possível.

Ela viu a admiração nos olhos dos homens, e isso a ajudou a se


controlar ainda mais. Seria difícil se despedir das outras mulheres, mas
saber que elas poderiam manter contato e que finalmente estariam a salvo
de Del Rio tornava a tristeza menos dolorosa.

E Gabriella poder ir com ela a deixou muito feliz. Não apenas por sua
amiga, mas por ela também. Não seria fácil se aclimatar de volta a uma
vida normal, mas com Zara, Gabriella e Dave, e é claro, David, seria mais
fácil do que se ela estivesse sozinha.

Depois que a maioria dos homens deixou a sala, Zara veio até ela e
perguntou: — Você está bem?

Surpreendentemente, Mags se sentiu muito bem. Ela estava


preocupada com David e Dave, mas sabia que no fundo eles estavam
bem. Dave não deixaria nada acontecer com seu filho. — Eu estou bem.

— Você está animada para ir para casa?

Mags assentiu. — Sim. E morrendo de medo.


— Eu também estava — Zara compartilhou. — Mas eu estarei lá
para ajudá-la. Você terá Dave também. Seu filho vai mantê-la ocupada,
com compras para ele e matriculando-o na escola. Exceto que tenho
certeza que quando as outras descobrirem sobre ele, você e Dave terão
que implorar para elas pararem de comprar coisas para seu filho.

— Você não falou muito sobre elas. — Disse Mags. — Tenho certeza
de que sou um pouco mais velha do que todas elas. Você acha que... Elas
vão gostar de mim?

— Oh meu Deus! — Zara exclamou — Elas já te amam! Veja, a


coisa é, todas elas passaram por seus próprios tipos de inferno, e pensam
no mundo de Dave. Assim, você não precisa se preocupar com a
aceitação delas. Elas são boas pessoas, Mags.

Mags suspirou. — Estou muito nervosa por ver meus pais. — Ela
admitiu.

Zara estendeu a mão e agarrou a mão de Mags e apertou. — Pelo


que Meat me contou, ele os tem mantido informados sobre o que está
acontecendo aqui. Que Dave te encontrou e que você está viva e bem. Ele
também falou sobre seu neto. Eles estão muito animados, mas também
nervosos. Basta viver um dia de cada vez. OK?

— Eles sabem sobre David? — Mags perguntou, chocada.

Zara acenou com a cabeça. — Eu dei uma bronca em Meat sobre


isso. Não cabia a ele contar a eles. Eu sinto muito.

— Não, está tudo bem. Quer dizer, estou surpresa, mas um pouco
aliviada também. Eu não tinha certeza de como eles reagiriam... Você
sabe, por causa das circunstâncias de seu nascimento.

— Ele é um milagre. — Zara disse calmamente. — Eles sabem disso,


assim como Dave. Sou a pior pessoa para falar com você sobre isso,
desde que era virgem quando conheci Meat, mas posso garantir que
ninguém menospreza você ou seu filho por causa de como ele foi
concebido. Estou maravilhada com você, Mags. Você estava lá para mim
quando eu não tinha mais ninguém. Você foi minha mãe e minha amiga, e
é só nisso que penso quando te vejo. O que você passou apenas a torna
uma mulher guerreira, não alguém para se sentir pena ou
desprezada. Qualquer um que pensa diferente pode se foder.

Mags ficou com os olhos marejados enquanto sua amiga falava, mas
em seu último comentário, ela riu. — Obrigada, Zed. — Ela disse
suavemente, usando o apelido que Zara usara quando fingiu ser um
menino para sua própria segurança no bairro.

— Vamos. Você está no motel há cerca de uma semana, mas acho


que tem mais coisas do que eu trouxe. Também precisamos ter certeza de
que Daniela está bem. A compra de sua nova clínica está progredindo
rapidamente. Vamos pegar a mala que os caras trouxeram para você e
veremos o quanto podemos fazer caber. — Ela apertou sua mão e se
dirigiu para o armário.

Mags assentiu. Zara estava certa. Eles tinham muito o que fazer e as
coisas seriam muito emocionantes quando deixassem as outras
mulheres. Ela preferia ter Dave aqui com ela, dizendo que tudo ficaria bem,
mas ele estava ocupado protegendo seu filho. Então ela teve que puxar
para cima sua calcinha de menina grande e continuar com as coisas aqui.

Fechando os olhos e fazendo uma oração rápida pela segurança de


sua família, Mags se virou e seguiu Zara até o armário.

***
— Conte-me outra história, papai? — Perguntou David.

Dave não tinha ideia de quanto tempo havia passado, mas ainda
estava escuro lá fora. David havia dormido um pouco, depois acordou e
comeu outra barra de proteína com tanto entusiasmo quanto antes. Estava
muito quente sob a lona, mesmo sem o sol brilhar no alto ainda, mas Dave
não se arriscaria a partir. Não até que sua equipe viesse buscá-lo. Ele não
tinha ouvido Del Rio ou seus soldados recentemente, mas isso não
significava que eles não estavam lá fora esperando e assistindo.

— Que tipo de história? — Perguntou Dave.

— A história de como você conheceu mamãe. — Disse David sem


hesitar.

Surpreso com o pedido, Dave não sabia por onde começar.

Felizmente, seu filho o ajudou. — Você comprou um prédio


e mamãe veio dar uma olhada. — Sugeriu David.

Rindo, Dave percebeu que o menino já tinha ouvido a história de seu


primeiro encontro de Raven. Provavelmente várias vezes, se ele não
estava enganado. — Certo, sua mãe veio se certificar de que meu novo
prédio fosse seguro para as pessoas ficarem nele.

— Ela estava nervosa porque você era grande o suficiente para


levantar carros e espancar os bandidos! — David acrescentou com
entusiasmo.

Dave acenou com a cabeça. — Sim. Mas o fato é que, no segundo


em que vi sua mãe, soube que queria que ela se sentisse segura perto de
mim. Eu não queria que ela tivesse medo de mim. Ela estava vestindo uma
calça bege e um lindo top azul escuro que deixava seus olhos ainda mais
azuis. Seu cabelo estava balançando com a brisa, e ela parecia uma
princesa das fadas para mim.
Os olhos de David estavam enormes em seu rosto e ele ouvia com
a respiração suspensa cada palavra que Dave dizia. O garotinho só ouvia
o lado de Raven há anos, e Dave queria ter certeza de que entendia
exatamente o quanto Raven o havia impressionado naquele dia.

— Ela nervosamente mordeu o lábio quando olhou para mim, e pude


ver suas mãos tremendo. E eu odiei isso. Não me importo que algumas
pessoas tenham medo do meu tamanho, mas a última pessoa que eu
queria assustar era sua mãe. Fiz questão de manter distância dela para
não assustá-la ainda mais. Ela teve que andar ao redor do prédio, e eu me
forcei a ficar bem perto da porta para que ela não ficasse nervosa comigo
a seguindo. Eu não queria, no entanto. Eu queria ficar ao lado dela e ter
certeza de que ninguém mais pudesse chegar perto o suficiente para
machucá-la. Não que houvesse alguém por perto que pudesse, mas eu
queria ter certeza.

— Ela era pequena. — Disse David. — Ela estava com medo de


você.

— Eu sei, e isso me machuca aqui. — Disse Dave, colocando a mão


sobre o coração. — Eu não queria que ela tivesse medo de mim. Eu queria
que ela gostasse de mim tanto quanto eu gostava dela. Quando ela
terminou de olhar para o lado de fora do prédio, ela teve que entrar e olhar
também. Ela riu de algo que eu disse, e juro, Champ, me apaixonei por ela
ali mesmo.

— Realmente?

— Sim, realmente. Seus olhos azuis brilharam quando ela riu, e eu


não pude deixar de querer vê-la sorrir todos os dias pelo resto da minha
vida.

— Mamá disse que você era engraçado. — David o informou.


— Eu não sei sobre isso. Tudo o que sei é que pelo menos uma hora
se passou enquanto conversávamos, e então ela teve que ir. Eu perguntei
se ela gostaria de sair para comer comigo mais tarde.

— E ela disse sim! — Disse David, batendo palmas. — E você


comeu peixe e ela um bife!

— Está certo. Nós fizemos. O negócio é o seguinte, Champ, um dia


você vai encontrar a pessoa com quem quer passar o resto da
vida. Aquela com quem você quer ter uma família, e por quem você abriria
mão de tudo que possui, nem que seja para fazê-los felizes. Deve haver
uma faísca, algo sobre essa pessoa que faz você sentir que, se você não
conseguir vê-la ou falar com ela todos os dias, sua vida não será
completa. Foi assim que me senti em relação à sua mãe quando a vi pela
primeira vez. E naquele primeiro encontro, naquele restaurante, eu sabia
que se ela não se casasse comigo, eu não estaria completo. Ela me
completa, sua mãe. Eu nunca a machucaria. Nunca. Podemos brigar e
gritar, mas nunca e nunca colocarei minhas mãos sobre ela com
raiva. Como eu poderia fazer isso com a mulher que é como a outra
metade da minha alma?

Dave esperava começar a desfazer qualquer dano que Del Rio


pudesse ter causado em seu filho, dessensibilizando-o à violência e
desvalorizando as mulheres. Ele não sabia se estava funcionando, mas
David o observava com um olhar extasiado que parecia penetrante em sua
intensidade. — Como você perdeu mamãe?

A pergunta era dolorosa, mas Dave fez uma promessa tácita a si


mesmo e a seu filho naquele momento e ali de nunca mentir para ele. —
Você sabe o que? Ainda não tenho certeza de como a perdi. Mas sei que
foi doloroso. A cada dia da sua partida era mais doloroso do que o
anterior. Eu não sabia onde ela estava ou se ela estava ferida. Eu não sabia
se alguém a estava alimentando ou fazendo com que ela se sentisse
insegura. Eu senti falta dela, Champ. A cada dia, eu sentia mais falta
dela. Meu coração parecia vazio sem ela. Procurei por ela em todos os
lugares. Reuni todos os meus amigos para me ajudar. Demorou muito,
muito tempo, mas finalmente a encontrei. E sabe de uma coisa?

— O que?

— Eu encontrei você também. Você foi uma surpresa, uma das


melhores surpresas da minha vida.

— Eu fui?

— Sim, Champ. Porque eu e sua mãe conversamos muito sobre


querer ter um filho. Queríamos um filho ou filha para amar e completar
nossa família. Mas ela se perdeu antes que pudéssemos fazer isso.

David o estudou e Dave podia ver sua pequena mente girando. —


Eu sei que você não é meu verdadeiro papá. — Disse ele após um longo
momento. — Del Rio disse que mamãe não sabia quem era meu pai
verdadeiro e que ele não queria nada comigo.

Dave coloca o dedo sob o queixo do menino e gentilmente o força a


olhá-lo nos olhos. — Eu sou o seu verdadeiro papá. — Disse ele com
firmeza. — Eu te amo e amo sua mãe. Isso é o que constitui uma
família. Amor. Del Rio não sabe do que está falando. Ele é mau e valentão,
lembra? Seu objetivo na vida é deixar outras pessoas tristes. Eu estaria
aqui se você não fosse meu filho? Se eu não fosse seu papá de verdade?

Ele poderia dizer que o menino estava confuso, mas eventualmente


ele balançou a cabeça.

Dave abaixou a cabeça até que sua testa descansasse contra a de


David. — Encontrar você e sua mãe é um milagre, filho. Não tenho sido
feliz desde o dia em que perdi sua mãe e agora que
encontrei você e ela? Estou duas vezes mais feliz. Vamos para o Colorado
e viveremos felizes para sempre. Você vai para a escola e ficará ainda mais
inteligente do que é agora. Você terá muitos amigos e crescerá para fazer
coisas incríveis. Eu simplesmente sei disso.

— E você sempre será meu papá? Mesmo quando sou ruim? Você
não vai me mandar de volta?

— Não, David. Você nunca mais vai voltar aqui, a menos que
queira. Você é meu filho. Meu. Não vou deixar você ou sua mãe. Nunca. E
você não pode ser mau. Não é possível. Você pode tomar algumas
decisões que não são as certas e pode errar, mas isso não o torna
mau. Compreende?

David concordou.

Sentindo que precisava melhorar o clima, Dave se afastou e disse:


— Então... Sua mãe disse que tem ensinado números para você. Quer me
mostrar o que você aprendeu?

David sorriu tanto que Dave jurou que o ar ao redor deles se


iluminou. — Sim!

— Tudo bem então, Champ. O que é um mais um?

David ergueu as mãos e mostrou um dedo em cada uma. — Dois!

Dave arregalou os olhos e exclamou: — Uau, você é inteligente,


assim como sua mãe disse. — O sorriso no rosto do filho ficou ainda maior,
se isso fosse possível. E Dave jurou que passaria o resto de sua vida
fazendo tudo ao seu alcance para manter aquele sorriso no rosto de seu
filho.

***
Mais ou menos uma hora depois, Dave tirou ele e David de debaixo
da lona. Sua equipe chegaria em breve e ele queria estar preparado. Eles
deitaram de costas, lado a lado, e olharam para as estrelas.

— Não sei muito sobre as constelações. — Desculpou-se Dave com


o filho. — Então não posso apontá-las, mas posso lhe dizer uma coisa que
tenho certeza.

— O que? — Perguntou David.

— As estrelas salvaram minha vida.

— Realmente? Como? — O menino perguntou com admiração.

— Fiquei muito triste por sua mãe estar perdida e por não poder
encontrá-la. Eu simplesmente sabia que ela estava com medo em algum
lugar, e eu não poderia estar lá para ajudá-la. Foi a coisa mais dolorosa
que já experimentei na vida. Fui ao meu bar, aquele onde conheci sua mãe,
e subi no telhado. É plano, muito parecido com o que estamos usando
agora. Deitei-me e olhei para as estrelas, como estamos agora. Eu estava
sentindo muita falta da sua mãe e pedi a ela que me mostrasse um sinal
de que ainda estava viva. Que ela estava bem. E você sabe o que
aconteceu?

— Não. O que? — David perguntou em um tom abafado.

— Uma estrela cadente. Isso é o que. A mais brilhante que já vi. Ele
cruzou o céu bem acima de mim. Então percebi que sua mãe poderia estar
olhando para as mesmas estrelas que eu naquele exato momento. Que ela
pode estar pensando em mim, e é por isso que vi aquela estrela cadente.

— Uau. — David respirou.

— Sim. A partir de então, saí e olhei para as estrelas o máximo que


pude. Me consolou saber que onde quer que sua mãe estivesse, ela estava
olhando para as mesmas estrelas. Isso me fez sentir mais perto dela.
— Mamãe não tinha permissão para ficar comigo quando escurecia,
mas ela me disse uma vez que se eu ficasse com medo, olharia as estrelas
pela minha janela, e isso significava que ela estava pensando em mim. Que
as estrelas brilhando era ela piscando para mim e olhando por cima de
mim. — David disse ao pai.

Dave respirou fundo e fechou os olhos para tentar controlar suas


emoções. Eventualmente, ele abriu os olhos e virou a cabeça para olhar
para o filho. — Quando chegarmos em casa, nós três vamos deitar em
nosso quintal, olhar para as estrelas e nos alegrar por termos nos
encontrado. OK?

— OK. Pai?

— Sim, Champ?

— Estou pronto para ir agora.

Dave riu. — Eu sei. Eu também. Temos que esperar um pouco


mais. Meus amigos, nossos amigos, estarão aqui em breve para nos
buscar.

— Mamãe também vem?

— Não. Mas ela estará no aeroporto, pronta para nos receber. Você
está animado para voar em um avião? — Dave perguntou, querendo
distrair o menino da falta de sua mãe. Ele tinha sido excepcionalmente bom
à noite toda. Sem medo da escuridão e sem reclamar quando estava
entediado. Ele se divertia facilmente e era muito inteligente para sua
idade. Raven tinha feito um trabalho incrível criando-o até agora.

— Sim! — David disse, um pouco alto demais.

— Shhhh , fale baixo, Champ — Dave o avisou.

— Desculpe, pai. Sim, estou muito animado!


Verificando seu relógio, Dave viu que eles tinham apenas uma hora
ou mais até a hora de serem recolhidos. Sair do telhado exigiria a ajuda de
seus homens. Eles cairiam e partiriam rapidamente, sem ninguém saber
que eles estiveram lá em primeiro lugar. Ele estava ansioso para entrar em
contato com a equipe. Ele presumiu que tudo havia corrido de acordo com
o planejado no bairro e que ninguém havia se ferido, mas ele simplesmente
não sabia.

Voltando sua atenção para o filho, Dave fez o possível para conter a
adrenalina. Depois de dez longos anos, estava quase na hora de levar sua
esposa para casa. Ele não podia esperar.
O som do rádio estalando em seu ouvido era um dos melhores sons
que Dave já ouvira. Ele estava mais do que pronto para dar o fora desse
telhado e sair do Peru. David estava dormindo profundamente em seu
peito. Faltava pouco para o amanhecer e havia muito pouco barulho na
vizinhança, e também poucas luzes acesas.

Sentando-se lentamente para não incomodar o menino, Dave


apertou o rádio em seu ouvido, ativando o viva-voz.

— Rex, se você está aí, sua rainha pede a honra de sua presença.

Dave teve vontade de rir. Mas se seus homens trouxeram Raven


para buscá-lo, ele ficaria puto.

— Se minha rainha está aqui, alguém está despedido. — Ele


respondeu suavemente.

Risos o saudaram. — Claro que ela não está, embora ela implora-
se Você e o príncipe estão prontos para ir?

— Sim.

— Estamos aí em cinco minutos. Cambio.

Dave reconheceu a voz de Ball e relaxou um pouco. De toda a sua


equipe, Ball era o melhor piloto. Se a merda batesse no ventilador, ele
sabia sem dúvida que Ball conseguiria levá-los ao aeroporto com rapidez
e segurança.

Muito lentamente, Dave se levantou, surpreso que David nem se


mexeu. Ele tinha o sono mais pesado do mundo ou estava exausto com a
emoção e o estresse de tudo o que havia acontecido. Dave presumiu que
provavelmente era um pouco dos dois. Ele mal podia esperar para
aprender mais sobre seu filho. Para conhecer suas peculiaridades. Ele era
uma pessoa matinal? Será que ele falaria muito sobre o café da manhã ou
ficaria confuso e quieto até que realmente fosse em frente? Qual seria sua
matéria favorita na escola? Ele seria atlético ou mais acadêmico?

Mas as primeiras coisas primeiro. Eles tinham que sair do Peru com
segurança.

Agarrando o peso morto do filho contra o corpo, Dave caminhou


silenciosamente para a lateral da casa. Seria mais fácil descer do telhado
do que subir, porque o plano era que Ball conduzisse a minivan pelo quintal
até a lateral da casa. Dave entregaria seu filho a Gray, já que ele era o mais
alto dos Mountain Mercenaries, que estaria de pé no teto do veículo.

Ele ouviu sua equipe contando os minutos até chegarem, ficando


tenso ao ouvir Ball xingar.

— O que há de errado?

— Temos companhia. — Disse Ball laconicamente. —


Aparentemente, os homens de Del Rio são mais teimosos do que
pensávamos. Eles ainda estão investigando a vizinhança. Vamos ter que
fazer essa coleta rápida.

— Ou eles têm um monte de incentivos sangrentos. — Disse Ro. —


Eu estou supondo que Del Rio disse que se eles voltassem para o
complexo sem Dave ou a criança, eles não viveriam para ver outro dia.

Dave gentilmente sacudiu o menino adormecido para acordá-lo. —


David? Você precisa acordar.

Num segundo David estava morto para o mundo, e no seguinte ele


estava bem acordado e alerta. — O que foi, papai? — Ele perguntou, o
susto fácil de ouvir em sua voz.
— Você está pronto para ir ao aeroporto ver a mamãe? — Perguntou
Dave.

David assentiu com entusiasmo.

Dave explicou rapidamente a situação o melhor que pôde para o


menino. — Você vai ter que ser corajoso por um pouco mais de
tempo. Meus amigos, aqueles que você já conheceu, chegarão em cerca
de um minuto e meio. Eles vão estacionar lá embaixo. — Dave apontou
para o ponto abaixo da borda do telhado onde eles estavam. — Gray,
nosso amigo muito alto, vai subir no carro e ajudá-lo a descer. Você pode
ser corajoso para isso?

David mordeu o lábio e pareceu preocupado. — Voce vem tambem?

— Claro, Champ. Eu estarei bem atrás de você. Mas é muito longe


para eu pular com você em meus braços. Vou ter que te abaixar pela
beirada do telhado. Mas Gray já estará lá. Você vai ficar bem. Eu prometo.

— Ok, pai. Eu posso fazer isso.

— Bom menino. — Elogiou Dave. — Mas vamos ter que fazer isso
muito rápido porque os homens de Del Rio não querem que você volte
para sua mãe. Nós nos escondemos aqui neste telhado na esperança de
que eles desistissem de nos procurar. Voce entende?

David acenou com a cabeça solenemente, e Dave odiava que o


menino entendesse muito bem quais seriam as consequências se eles
fossem pegos. — Nós vamos ficar bem. — Disse ele com firmeza. — Você
acredita em mim?

Demorou um segundo, mas o queixo de David finalmente baixou


uma vez.

Curvando-se, Dave colocou os pés do filho no chão e se agachou


para olhá-lo nos olhos. — Eu não encontrei você e sua mãe depois de todo
esse tempo para te perder novamente. Juro, filho, que em breve você se
encontrará com sua mãe e estaremos todos voltando para os Estados
Unidos.

Pai e filho se encararam por um longo momento até que finalmente


Dave sussurrou: — Tudo bem, papai.

— Faltando vinte segundos. — Disse Ball no ouvido de Dave.

— Você está pronto, Champ? Nossos amigos estão vindo, e eles


estão vindo rápido.

— Pronto! — Disse David, embora sua vozinha tremesse um pouco.

Dave estava furioso com Del Rio. Como se atrevia a causar tanto
medo ao filho! Como ele ousava se sentir como se tivesse o direito de
sequestrar quem ele quisesse por seus planos desprezíveis. O ódio
cresceu dentro de Dave, mas ele o empurrou de volta. Não havia espaço
para nada em sua mente além da missão em mãos. Ele tinha que se
controlar. David e Raven estavam contando com ele.

O tempo diminuiu enquanto Dave esperava sua equipe chegar. Ele


viu a minivan ao mesmo tempo em que ouviu Ball dizer que ele estava
quase lá pelo rádio em seu ouvido. Ele se ajoelhou e se aproximou da
beirada do telhado. — Dê-me suas mãos, Champ. Fique à vontade para
manter os olhos fechados, se quiser. Isso vai acontecer muito rápido. Você
não terá tempo para ficar com medo.

— Eu confio em você, papai. — Disse David.

Mais uma vez, o coração de Dave parecia que ia explodir de orgulho


e amor por este pequeno humano. Ele o conhecia há menos de vinte e
quatro horas, e sabia sobre ele há apenas cerca de duas semanas, mas
ele já era seu mundo inteiro.
Dave observou enquanto Ball mal diminuía a velocidade enquanto
corria em direção a casa. Ele pisou no freio e derrapou a centímetros da
lateral do prédio. No momento em que Dave segurou as mãos de David e
começou a baixá-lo pela beirada do telhado, Gray saltou da van e estava
escalando em cima dela.

— Pronto, Champ? — Dave perguntou quando Gray estava no lugar


para pegar o menino.

David olhou em seus olhos e acenou com a cabeça. — Não estou


com medo, papá. Você não faria nada para me machucar.

Foda-se... Esse garoto.

Dave inclinou a cabeça um pouco para o lado e com os olhos de


Gray. — Pronto?

— Estou com ele, chefe.

Dave não hesitou ou fez uma contagem regressiva. Ele


simplesmente largou as mãos de David e, em dois segundos, estava nos
braços de Gray. Foram os dois segundos mais longos da vida de Dave. Ele
odiava perder o contato com o filho, mesmo pelo pouco tempo que levou
para jogar as pernas para o lado do telhado e se abaixar, pendurado nos
braços. No segundo em que ouviu Gray dizer: — Limpo. — Ele o soltou e
pousou ele mesmo em cima da minivan.

Gray já havia descido com David e estava voltando para o


veículo. Ao ouvir o barulho dos pneus, Dave sabia que eles não tinham
tempo a perder. Eles foram vistos por um dos bandos de homens
itinerantes de Del Rio.

Ele pulou do telhado e se jogou na minivan. Ro bateu a porta atrás


de si, e Ball estava se movendo antes que Dave recuperasse o
equilíbrio. Ele se virou e estendeu a mão para David, e Gray imediatamente
o entregou.

Colocando um braço ao redor de seu filho e apoiando o outro no


banco do passageiro da frente, Dave enviou uma oração silenciosa de
agradecimento pela extração ter ocorrido tão bem. Claro, eles não
estavam fora de perigo ainda.

— Você pode perdê-lo? — Arrow perguntou a Ball do assento ao


lado dele.

— Fácilmente. — Ball murmurou enquanto apagava os faróis e


pisava fundo no acelerador.

Como diabos o homem podia ver qualquer coisa no bairro mal


iluminado, Dave não sabia, mas não estava preocupado. Ball havia se
provado repetidamente quando se tratava de iludir os bandidos. A minivan
em que estavam não era exatamente o veículo mais rápido ou mais
manobrável, mas Ball encontraria uma maneira de fazê-los ficar para trás
e levá-los ao aeroporto com segurança.

Os olhos de David estavam enormes em seu rosto enquanto ele


encarava os outros homens.

— Ei, homenzinho. — Disse Ro. — É bom ver você novamente.

— Você está bem? — Gray perguntou ao garotinho aparentemente


em estado de choque.

Olhando para Dave, que acenou encorajadoramente para ele, David


concordou. — Estou bem, Sr. Gray.

— Você se lembra do meu nome? — Gray perguntou surpreso.

David concordou. — Eu não vejo o Sr.Meat.


— Ele vai nos encontrar no aeroporto. Ele está garantindo que sua
mãe esteja segura até chegarmos lá para ficar com ela. Eu te falei sobre
os outros homens aqui, eles são nossos amigos também. Eles não são
como Del Rio ou seus amigos. Eles não vão te machucar. Nunca. Se você
estiver com medo ou inseguro, pode ir até um deles, e eles o ajudarão e
entrarão em contato comigo ou com sua mãe. OK?

David concordou.

— Bom. Este é o Ro. Ele será fácil de lembrar porque é aquele com
um sotaque engraçado. E esse é Arrow, e Ball é quem dirige.

— Se segurem. — Disse Ball em um tom firme, mas calmo, enquanto


fazia uma curva no que parecia ser duas rodas. Dave apertou o controle
sobre o filho quando a minivan disparou para frente depois de fazer a
curva.

— Todo mundo está no aeroporto? — Dave perguntou a Gray.

O outro homem acenou com a cabeça. — Sim. Todas as mulheres


partiram sem nenhum problema. Gabriella e Zara choraram muitas
lágrimas e prometeram manter contato.

— E Raven? — Perguntou Dave.

— Sólida como uma rocha. — Gray disse a ele, o orgulho fácil de


ouvir em sua voz. — Ela estava triste, mas porque ela passou pelo que elas
passaram, ela estava mais feliz do que chateada por elas irem
embora. Zara disse que elas estavam finalmente livres e que nunca mais
olhariam para trás. Para viver um dia de cada vez.

David concordou. Isso soou como sua Raven.

— E Daniela?
— Ela está segura na clínica e já prometeu fazer o que puder por
qualquer criança que for encontrada. Ela está trabalhando com os homens
das equipes peruanas. Após a fuga de Del Rio do bairro, eles
imediatamente invadiram duas das casas onde ele escondeu algumas
crianças. A equipe e Daniela trabalharão juntas para encontrar as famílias
das crianças ou novos lares. Eles continuarão procurando por
compradores de outras crianças, usando qualquer informação que Meat
pode fornecer.

— Bom. Parece que as coisas correram de acordo com o plano.

Ro pigarreou e Dave se virou para ele. — Sempre não é?

Todos se mexeram em seus assentos quando Ball fez outra curva


fechada. Ele estava dirigindo muito mais rápido do que era seguro, mas
ninguém disse uma palavra enquanto ele fazia o possível para escapar dos
capangas.

— Meat entrou em contato. Ele disse que é uma boa coisa o avião
ter chegado na seção comercial do aeroporto. Um dos contatos com
quem ele está falando no aeroporto disse que há policiais rastejando por
todo o terminal internacional, em busca de um grupo de americanos que
não tem a papelada adequada para deixar o país. Corre o boato de que
um casal está tentando sequestrar uma criança peruana ...

— Foda-se. — Dave jurou - então suspirou. — David, você não me


ouviu dizer isso. É um palavrão, e sua mãe não ficaria feliz se você
começasse a dizer palavras como essa. Ela ficaria muito desapontada.

Surpreendentemente, David deu uma risadinha. —


Tudo bem, papai , não vou contar.

— Obrigado, Champ, eu agradeço. — Então, voltando-se para Ro,


Dave perguntou: — Então, qual é o plano?
— Ball vai nos deixar lá, e nós vamos encontrar um dos mil e um
contatos que você parece ter, e seremos escoltados até o avião onde
todos os outros já estão esperando. Então vamos dar o fora daqui. — Ro
disse sucintamente.

— Como você conhece tantas pessoas, afinal? — Arrow perguntou.

— Virando à esquerda! — Ball chamou.

Todos se prepararam quando Dave disse: — Passei os últimos dez


anos fazendo amigos em lugares importantes. Cada vez que os Mountain
Mercenaries completavam uma missão, eu fazia mais e mais conexões
com pessoas poderosas. Eu chamei muitos marcadores nas últimas duas
semanas, isso é certo.

— Certo. Agradeço cada um de seus contatos. Não teríamos como


conseguir todos aqueles passaportes sem eles. — Disse Arrow.

— Ou resgatar todas aquelas crianças. — Acrescentou Gray.

— Ou trazer este avião particular para cá e estar pronto para partir.


— Finalizou Arrow.

— Se algo der errado no aeroporto, leve David e saia de lá. — disse


Dave, ignorando os elogios de sua equipe. Ele fez o que tinha que ser feito,
e mesmo se ele devesse aos homens que o ajudaram a resgatar sua família
pelo resto de sua vida, ele não se arrependeria.

— Não vamos deixá-lo para trás. — Disse Ball enquanto girava o


volante bruscamente para a direita. — Tudo o que precisamos fazer é
perder esse carro que está nos seguindo e estaremos livres para voltar
para casa.

Dave sabia que não era exatamente verdade. Ele podia ler entre as
palavras de Ro. Del Rio havia mobilizado seu exército e faria o que fosse
necessário para impedi-lo de deixar o país com David e Raven. Ele se
sacrificaria se fosse necessário para se certificar de que eles seriam
capazes de escapar do inferno que estavam vivendo.

Como se pudesse ler sua mente, Gray disse: — Nem pense nisso,
Dave. Estamos todos entrando naquele avião. Não faça nada
estúpido. Sua esposa precisa de você. Sem mencionar esse carinha.

A minivan avançou quando Ball entrou em uma das rodovias ao


redor de Lima. — Vamos cortar as coisas bem fechadas aqui em um
segundo. — Disse ele enquanto ligava o motor. — Esse cara está
provando ser um pouco teimoso. Mas não se preocupe, vou perdê-lo em
apenas um ou dois minutos.

Dave recostou-se no assento e segurou David um pouco mais perto


dele. Ele confiava em Ball com sua vida e a de seu filho, mas não confiava
nos outros motoristas ao redor deles. Felizmente, a rodovia estava
bastante vazia, pois ainda era muito cedo. Mas isso também significava
que quem os estava seguindo poderia segui-los com mais facilidade.

Ninguém disse uma palavra enquanto Ball ziguezagueava para


dentro e para fora do tráfego leve.

Estavam prestes a passar por uma saída quando, no último segundo,


Ball desviou e cortou um caminhão para entrar na rampa de saída. Ele riu
depois de alguns segundos e disse: — Até logo, otário!

— Perdeu ele? — Arrow perguntou.

— Por enquanto. — Ball confirmou.

— Como diabos você sabe onde estamos? — Ro perguntou.

— Estudei mapas da área. — Disse Ball sem pausa. — Você acha


que eu arriscaria atrapalhar essa missão inteira me perdendo?

Ro riu. — Não, mas sempre há uma primeira vez.


— Não comigo. Sou um especialista em estradas. — Ball se
gabou. — Eu nunca vou me perder.

A cabeça de David girava, passando de um homem para o outro


enquanto falavam.

Quinze minutos depois, Ball estava parando no lado comercial do


aeroporto internacional de Lima, do outro lado da cidade. Ele estava
cumprindo o limite de velocidade e não dirigindo como um louco, como
fazia alguns minutos antes.

— Você tem cerca de cinco minutos depois de nos deixar para


estacionar em algum lugar e colocar sua bunda lá dentro. — Disse Gray a
Ball.

A equipe havia discutido em deixar a van bem no meio-fio quando


chegaram ao aeroporto, mas decidiu que isso atrairia mais atenção do que
gostariam.

— Eu sei. Eu tenho isso. Eu estarei lá.

Dave olhou para o filho. — Ok, Champ. Estamos quase lá. Você
pode ser corajoso por um pouco mais de tempo?

O menino acenou com a cabeça. — Não estou com medo, papai.

— Bom. Sua mãe vai ficar muito feliz em ver você! — Dave disse
entusiasmado.

No segundo que Ball parou a minivan, Gray abriu a porta e todos


caminharam rapidamente, mas não muito rápido, em direção à entrada.

Um homem deu um passo à frente assim que eles entraram no


prédio.

— Sr. Justice?
— Quem quer saber? — Arrow perguntou, colocando-se entre Dave
e o homem.

— Um amigo de Rex. — Disse o homem.

Todos relaxaram um pouco e Dave deu um passo à frente. —


Obrigado pela sua ajuda.

O homem assentiu e disse: — Precisamos nos apressar. O avião


está pronto para partir, mas há uma tempestade se formando, e seria
melhor se você tivesse partido antes que ela chegue.

Compreendendo o significado não tão enigmático do homem, Dave


assentiu. Ele se inclinou e pegou David mais uma vez, sabendo que ele
poderia se mover mais rápido se o carregasse.

O grupo começou a caminhar pelo terminal, e o homem que os


encontrou na porta perguntou: — Vocês estão com seus passaportes?

Gray respondeu. — Sim, está tudo em ordem. Temos mais um


membro de nosso grupo chegando. Ele está estacionando o carro.

Levando um telefone celular ao ouvido, o homem acenou com a


cabeça e apertou um botão para ligar para alguém. Ele disse algumas
palavras e desligou. — Ele estará na porta e será escoltado até o avião.

Dave não ficou surpreso quando eles nem mesmo tiveram que
passar por qualquer tipo de segurança. Suas conexões sabiam da
importância de permanecer sob o radar e, obviamente, já haviam
engraxado todas as rodas que precisavam ser engraxadas para tornar sua
partida o mais suave possível.

Sua escolta parou por uma porta e a abriu. Dave viu um avião
particular de tamanho médio esperando a cerca de cem metros na pista. O
motor estava ligado e os degraus baixados.
Suspirando de alívio, mas não completamente confortável ainda - ele
não estaria até que estivessem no ar - ele se virou para o homem e
estendeu sua mão.

Eles apertaram as mãos e Dave disse: — Diga a seu chefe que devo
a ele.

O homem sacudiu a cabeça. — Ele disse que você diria isso e me


pediu para dizer que você está quite agora.

Dave sorriu. — Como está a filha dele?

— Bem. As coisas foram difíceis por um tempo, mas porque você a


encontrou tão rapidamente e a levou para casa, ela vai ficar bem.

Dave sabia que seus amigos estavam ouvindo com grande


interesse, mas ele simplesmente baixou o queixo e disse: — Ótimo. Isso é
ótimo.

— Tenha um bom vôo. — Disse o homem, depois se virou para voltar


ao terminal.

Dave não olhou para trás enquanto se dirigia para o avião. Era como
se pudesse sentir os olhos de Raven sobre ele. Ele sabia que ela
provavelmente estava assustada e preocupada como o inferno.

Ele sentiu como se tivesse uma visão de túnel enquanto caminhava


em direção ao avião. Ele alcançou a escada e subiu dois degraus de cada
vez, piscando enquanto ajustava sua visão do asfalto que se iluminava
rapidamente para o interior brilhante do avião.

Ele ouviu o grito de excitação e alívio de Raven, então ela estava lá.

Ela se jogou nele, envolvendo os braços ao redor dele e do filho ao


mesmo tempo.
— Mãe! — David alegremente exclamou.

Raven não levantou a cabeça, mas a manteve pressionada contra o


ombro de Dave enquanto se agarrava a ambos com força.

Sabendo que sua equipe tinha que entrar no avião atrás dele, Dave
a conduziu para trás até que eles estivessem mais adiante no corredor. Ele
beijou sua têmpora e disse suavemente: — Chegamos. Estamos bem.

Ele sentiu Raven acenar contra ele e respirar fundo. Quando ela
levantou a cabeça, havia lágrimas em seus olhos, mas ela sorriu para
ele. — Oi.

— Oi, linda. Estamos bem.

Então ela se virou para o filho. — Ei amigo.

— Mamá! Veja! É o Papá! Ele nos encontrou!

— Eu vejo isso. — Disse Raven.

— Del Rio me levou para uma casa muito pequena com uma senhora
idosa. Ela não era má, mas também não era muito boa. Então
o papá apareceu com o Sr. Gray e Sr. Black e alguns outros amigos e me
resgataram! Escalamos um muro muito alto e o Papá deixou Del Río
louco. Pulamos da parede e andamos, andamos e andamos. Então
subimos em uma árvore e dormimos no telhado da casa de
alguém! Debaixo de uma lona! Foi divertido. Papai e eu olhamos para as
estrelas e ele me contou histórias. Então ele me deixou cair do telhado, e
nós estávamos em um carro voando aqui e acolá. Sr.Ball estava dirigindo
e papai disse um palavrão. Agora estamos aqui e vamos para os Estados
Unidos! — As palavras de David estavam todas misturadas enquanto ele
fazia o possível para contar tudo o que havia acontecido com ele nas
últimas horas.
— Uau, isso tudo parece muito emocionante. Você estava com
medo? — Raven perguntou.

David balançou a cabeça. — No início. Mas quando o papai chegou,


ele me disse que não ia me machucar e que eu te veria em breve e
poderíamos comer juntos e todos morarmos na mesma casa!

Raven acenou com a cabeça e respirou fundo antes de descansar a


testa contra o peito de Dave mais uma vez.

Ele sabia que ela estava fazendo o possível para manter a


compostura e, embora não gostasse do fato de ela estar chorando,
gostava do fato de que eram lágrimas de felicidade.

— Estou aqui! — Ball disse ao entrar no avião. — Precisamos dar o


fora daqui. Agora.

Os dois comissários de bordo fecharam a porta enquanto Dave


pedia a Raven que se sentasse em uma fileira com David. Ele se inclinou e
beijou o topo de suas cabeças. — Eu volto já. Apertem os cintos de
segurança.

— Está tudo bem? — Raven perguntou, sua voz tremendo.

Dave acenou com a cabeça. — Claro.

Ele se virou para ir embora e Raven segurou sua mão. Ele olhou para
ela e seu coração deu um salto no peito. Ele mal podia acreditar que não
era um sonho. Que ele finalmente a encontrou e eles estavam indo para
casa. Ele apertou a mão dela e se virou para a frente do avião e a cabine
do piloto.

Ele acenou com a cabeça para Zara e Gabriella ao passar por elas
e empurrou sua equipe - que estavam todos ignorando os pobres
comissários de bordo dizendo que eles precisavam se sentar - para chegar
à porta da cabine.
Ele enfiou a cabeça para dentro e disse: — Eu sou Dave Justice. E
embora eu esteja muito feliz em vê-lo, espero como o inferno que você não
se intimide facilmente, porque tenho a sensação de que a merda está
prestes a atingir o ventilador.

O homem da esquerda acenou com a cabeça. Ele provavelmente


estava na casa dos cinquenta ou mais. — Sou o capitão Mark Brown. Esse
é meu copiloto, Porter Hilliard. Nós dois voamos mais de cem missões na
Guerra do Golfo. Sabemos qual é a sua história, senhor, e pode contar
conosco. Sua esposa e filho já passaram por bastante. É hora de todos
vocês voltarem para casa.

Dave acenou com a cabeça para os dois homens, tão feliz quanto
poderia estar por ter dois veteranos de combate no comando.

Mark ergueu a mão e pressionou o fone de ouvido do rádio - e todos


os músculos de seu corpo ficaram tensos. Ele retirou o fone de ouvido e
começou a apertar botões e interruptores. — Você provavelmente deveria
sentar-se e apertar o cinto. Provavelmente será uma decolagem difícil.

Vendo luzes com o canto do olho, Dave olhou para uma das janelas
- e viu um veículo da polícia vindo em sua direção com suas luzes girando.

— Merda. — Ele murmurou. Depois, voltando-se para o piloto,


perguntou: — Podemos decolar se não tivermos autorização?

— Foda-se, sim, nós podemos. — Disse Porter à direita de Dave. Ele


se virou e disse a Meat, que estava bem atrás dele: — As coisas estão
prestes a ficar perigosas. Vá dizer às mulheres para segurarem, e todo
mundo precisa se proteger também.

— Pode deixar. — Meat se virou para ir embora. — E você? — Ele


perguntou a Dave.

— Estarei aí em um segundo. — Dave disse a ele.


Ele assentiu e se apressou em transmitir a informação aos
outros. Antes que ele pudesse sair, Dave o parou colocando a mão em seu
ombro. — Meat?

— Sim?

— Obrigado por cuidar de Raven para mim e por levá-la e as outras


para o avião.

Meat concordou. — Claro. — Então ele se virou e se dirigiu para as


fileiras de assentos.

Dave viu o rosto preocupado de Raven quando ela se inclinou para


o corredor do avião, observando-o. Ele ergueu rapidamente o queixo e
voltou para a cabine.

Eles agora estavam correndo por uma das estradas de acesso à


pista. Ele não conseguia ver atrás de si e perguntou: — Eles estão nos
seguindo?

Mark riu. — Nunca pensei que veria o dia em que um carro da polícia
estivesse perseguindo a porra de um avião, tentando pará-lo. Mas não se
preocupe, não vamos parar. Depois de tudo que ouvi que você e sua
esposa passaram, eles terão que fazer mais do que piscar algumas luzes
para me fazer parar.

— E a liberação? O que eles estão dizendo no rádio? — Dave


perguntou enquanto olhava para Porter, que ainda estava usando um fone
de ouvido.

— Eles não estão felizes, senhor, mas é realmente uma pena que eu
não possa entendê-los muito bem com seu inglês com sotaque. — Ele
piscou. — Eles nos deram a aprovação mais cedo e, no que me diz
respeito, estão apenas garantindo que estamos prontos para prosseguir.
Dave estremeceu. Esses homens estavam colocando suas carreiras
em risco para ele e sua equipe. Ele não esqueceria. Sim, eles estavam lá
porque ele descontou alguns favores enormes que eram devidos a ele,
mas se eles conseguissem tirar este avião do solo e do espaço aéreo
peruano, ele ficaria para sempre em dívida com eles.

Ele ficou atrás dos homens, mal respirando enquanto o capitão


empurrava o manche para frente. A curva no final da estrada para chegar
à pista era acentuada e ele ouviu Gabriella xingar em espanhol atrás
dele. Ele tinha ouvido falar palavrões em espanhol o suficiente desde seu
tempo no Peru para reconhecer sua expressão pelo que era. Ele ainda não
se moveu para se amarrar. Ele não conseguia. Ele estava muito
tenso. Pronto para que algo terrível aconteça para impedi-los de
decolar. Se os lacaios de Del Rio fossem espertos, eles teriam entrado
na frente do avião, não o perseguido por trás.

Com esse pensamento em mente, ele viu os faróis da polícia


acelerando em direção à pista à direita.

O tempo estava quase acabando. Se os veículos conseguissem


chegar à pista antes de decolar, não conseguiriam.

— Yipee-ki-yay, filhos da puta. — Mark murmurou enquanto se


inclinava para frente, acelerando os motores do avião até a potência
máxima.

— Voo três-dois-sete decolando. — Disse Porter no rádio.

Dave se segurou nas costas dos assentos dos pilotos até que seus
dedos ficaram brancos. Ele manteve os olhos nos carros de polícia que se
aproximavam rapidamente. Eles não estavam diminuindo a velocidade e,
se não parassem, todos morreriam em uma bola de fogo de proporções
gigantescas.
— Vamos, vamos. — Mark murmurou enquanto o avião balançava
e estremecia, ganhando mais e mais velocidade enquanto deslizava pela
pista.

Havia pelo menos três carros de polícia vindo da direita e quem sabe
quantos mais atrás do avião. Dave também viu dois Humvees militares
atrás dos carros da polícia. Del Rio convocou a cavalaria com certeza.

Ele sabia que se eles fossem parados e levados sob custódia, ele
nunca veria sua esposa ou filho novamente, e sua equipe, os homens que
ele aprendera a amar e respeitar como irmãos, passariam anos trancados
em uma prisão peruana com Del Rio garantindo que seus casos nunca
fossem aos tribunais. Zara e Gabriella provavelmente também se
tornariam prisioneiras de Del Rio.

E o próprio Dave seria torturado até quase morrer e provavelmente


forçado a assistir sua esposa ser agredida dia após dia, até que os dois
enlouquecessem de dor e impotência.

— Tirem-nos daqui e pagarei pessoalmente a cada um, um bônus


de um milhão de dólares. — Disse Dave aos pilotos.

— Foda-se! — Disse Mark entre os dentes cerrados. — Você não


me ouviu dizer que eu sabia qual era a sua história e que vou te levar para
casa?

O avião tremeu ainda mais quando o piloto o empurrou até seu limite.

Dave prendeu a respiração e não conseguia tirar os olhos das luzes


giratórias que se aproximavam deles, cada vez mais rápido. O avião e os
carros estavam jogando. Um jogo que terminaria com todos eles sendo
mortos se alguém não vacilasse.

Para a sorte deles, o carro da polícia na liderança finalmente se


encolheu.
O motorista pisou no freio pouco antes de o carro entrar em alta
velocidade na pista, bem na frente do avião.

As rodas saíram do chão e Dave viu os homens dos carros pularem


e levantarem os rifles, apontando para o avião.

Era tarde demais. Eles estavam no ar.

Mas eles estavam seguros?

— Dave? — Uma voz perguntou atrás dele.

Estremecendo quando uma mão tocou suas costas, Dave se virou


para ver Raven parada ali. Seu rosto estava pálido e ela tremia. Sem uma
palavra, Dave passou os braços em volta dela e puxou-a para si, virando-
se para frente mais uma vez. Olhando por cima do ombro, ele viu que
David estava sentado com Gray, que estava apontando para fora da
janela, mantendo o menino distraído da decolagem difícil.

Tropeçando um pouco por causa do ângulo íngreme do avião, Dave


apoiou as pernas e usou uma das mãos para agarrar a porta da cabine.

— Eles vão nos derrubar? — Raven perguntou trêmula.

Dave abriu a boca para responder, mas Porter chegou primeiro.

— Não senhora. Eles não ousariam.

Dave não tinha certeza se concordava totalmente com o copiloto,


mas não o contradisse. Ele não conseguia relaxar, no entanto. Não até que
estivessem bem acima do alcance dos mísseis e fora do Peru de uma vez
por todas.

Raven não se afastou. Não tentou fazer com que ele sentasse com
ela. Ela simplesmente encostou a cabeça no peito dele e se segurou.
Ele não tinha ideia de quanto tempo havia passado, mas os
comissários de bordo começaram a caminhar pelo corredor, perguntando
o que todos queriam beber, então ele sabia que estivera parado ali,
olhando pelo para-brisa, por um bom tempo.

Não foi até que Mark, que colocou o fone de ouvido de volta, disse:
— Dez-quatro. O vôo três-dois-sete entrando no espaço aéreo
equatoriano. — Que Dave sentiu seus joelhos fraquejarem.

Ele fechou os olhos e lentamente sentiu-se afundar no chão. Raven


se agarrou a ele todo o caminho e, uma vez que ele estava no chão,
montou em suas pernas e se envolveu em torno dele.

David deve ter estado assistindo, porque ele correu e se


aconchegou nos dois.

Foi então, e só então, com a esposa e o filho nos braços, que Dave
o perdeu.

Ele chorou pela década que perderam. Ele chorou pela dor e
sofrimento que Raven suportou. Ele chorou porque não estava lá para
ajudar a proteger David e não estava lá para seu nascimento.

Mas acima de tudo, ele chorou porque havia feito isso. Ele havia
encontrado Raven. Todo mundo disse que ela se foi e que ele deveria
continuar com sua vida. Mas ele não foi capaz. Sua vida havia parado no
dia em que Raven foi tirada dele e ele poderia finalmente seguir em frente.

Ambos poderiam começar a viver novamente.


Horas depois, depois que o avião pousou no aeroporto de Colorado
Springs, Mags estava nervosa. Dave e os outros garantiram a ela que não
haveria imprensa ali quando eles pousassem. Ninguém sabia sobre ela e
sua provação. No que dizia respeito ao aeroporto, eram apenas um pouso
normal de um avião particular. Eles desembarcariam na pista e
caminhariam para o terminal como qualquer outro viajante.

Ela ficou tão aliviada ao ver David e seu marido entrando no


avião. Ela estava muito preocupada, e embora Meat e Black a tivessem
assegurado repetidamente que as coisas estavam indo de acordo com o
plano e que estavam bem, ela não relaxou até que os viu com seus
próprios olhos.

Depois da decolagem cansativa, sobre a qual Dave havia contado a


ela assim que eles estavam no ar por mais de duas horas, o voo
transcorreu sem intercorrências. David estava tão animado com sua
primeira viagem de avião e passou a maior parte dela com o nariz colado
na janela. Havia tanto que ele precisava aprender sobre o mundo, e agora
ela poderia colocá-lo na escola e dar-lhe tudo que ele tinha sido privado
nos primeiros quatro anos e meio de sua vida.

Mags não tinha ideia do que ela faria consigo mesma, mas Dave a
assegurou de que ela não precisava fazer nada. Ela poderia passar tanto
tempo reajustando a vida nos Estados Unidos quanto precisasse. Ela e
Zara conversaram um pouco sobre como tinha sido difícil para ela se sentir
confortável até mesmo nas tarefas mais fáceis, como fazer compras, e
Mags se sentiu um pouco melhor sabendo que teria Zara e Gabriella para
se apoiar.
Ver seu marido desmoronar quase partiu seu coração. Dave sempre
foi o forte. Um ‘homem’. Então, vê-lo chorar como se nunca fosse parar foi
de partir o coração e revelador ao mesmo tempo. De alguma forma, ela
sabia que ele estava deixando sair todas as emoções que não se permitiu
sentir na última década. Ela ainda se sentia um pouco entorpecida, mas
sabia que também teria seus momentos no futuro próximo.

Mas sentada em seu colo, com seu filho debaixo de um braço e


segurando Dave com o outro, Mags estava exatamente onde ela queria
estar. Dave não a machucaria. Nunca. Ele a protegeria e a David com sua
vida. Ela não tinha ideia se poderia ser uma esposa ‘de verdade’ para ele
novamente, mas ela decidiu naquele momento fazer tudo ao seu alcance
para tentar. Ela iria para o aconselhamento, conversaria com outras
sobreviventes do tráfico sexual e faria o possível para não dar a Del Rio
mais um segundo de poder sobre ela.

Dave se conteve enquanto os outros saíam do avião e se dirigiam ao


terminal. Ele apertou as mãos dos dois pilotos e disse: — Vocês dois
receberão notícias do meu contador muito em breve.

O piloto fez uma careta e disse: — Ficarei feliz em receber um


convite para a festa de aniversário do seu filho ou para a formatura dele,
mas se você me enviar mais alguma coisa, vou ficar puto.

— O mesmo. — Disse o copiloto. — Já falamos sobre


isso. Estávamos fazendo nosso trabalho e, devo dizer, foi muito divertido
brincar de galinha com aqueles idiotas. O único agradecimento de que
preciso são esses dois parados bem aqui, sorrindo como se estivessem
nas nuvens. — Ele acenou para Mags e David.

— Bem. Mas se você precisar de alguma coisa, ligue. — Disse Dave.

— Pode deixar.

— Claro.
E com isso, os dois homens saíram para fazer as verificações do
avião.

Dave a virou para ele e colocou as mãos nos ombros dela. Poucos
dias atrás, isso pode tê-la assustado, mas depois do que aconteceu após
a decolagem, ela viu seu marido sob uma nova luz.

— Eu preciso te dizer antes de você entrar aí... Seus pais estão aqui.

Mags olhou para ele sem acreditar. Ela balançou a cabeça. — Não...
Eu... Eu não tenho certeza sobre isso.

— Querida, confie em mim. Eles estavam tão devastados quanto


eu. Vai correr tudo bem.

Ela não pôde evitar se preocupar. Ela sabia que seus pais já haviam
aprendido sobre seu filho, mas isso não tornava o encontro futuro mais
fácil. Já fazia muito tempo desde que ela via seus pais, e embora ela
quisesse ser a filha que eles conheciam e amavam, ela mudou muito.

— Vai ficar tudo bem. — Dave repetiu, lendo sua mente, inclinando-
se para frente e descansando sua testa contra a dela. — Eles não
poderiam estar mais felizes com David. Eles estão animados para
conhecê-lo, mas mais do que isso, eles só precisam ver você por si
mesmos. Eu os avisei que logo depois que pousamos provavelmente não
foi o melhor momento, mas você conhece seu pai, ele não iria esperar mais
um segundo para vê-la.

Mags estava com medo. Ela sabia que tinha que fazer isso. Inferno,
ela queria ver seus pais. Tinha se preocupado com eles por anos,
imaginando se eles estavam bem, se eles ainda estavam vivos. Ouvir que
eles ainda estavam vivos e indo muito bem foi um grande alívio. Mas vê-
los agora? Certo neste segundo?
— Venha. — Disse Dave, estendendo a mão para David. — Eles
provavelmente estão pirando, pois os outros já estão lá dentro.

Mags o deixou levar seu filho e relaxou um pouco quando ele pegou
a mão dela. Ela olhou para ele. — Você vai estar lá o tempo todo?

— Bem ao seu lado. E se alguém disser algo negativo, o que eu não


acho que vá acontecer, estamos fora de lá.

— OK.

— OK.

Ela apertou a mão dele, desceu a escada estreita e esperou por ele
lá embaixo. Quando ele chegou ao lado dela, ele agarrou sua mão mais
uma vez e disse — Raven?

— Sim?

— Todo mundo vai estar lá também.

Ela soltou uma risada e balançou a cabeça. — Importa-se de


explicar quem é 'todo mundo'?

— Allye, e o filho dela e de Gray, Darby. Chloe, Harlow, Everly e


Morgan, e a filha dela e de Arrow, Calinda.

— Isso é tudo?

Dave encolheu os ombros. — Barbara Ellis, a dona do estúdio de


dança em que Allye trabalha, Nina Scofield e sua mãe, Noah, um dos
bartenders do The Pit. Talvez Carrie, Julia Sue, Melinda, Ann, Lauren e
Bethany. Não ficaria surpresa se Loretta Royster e Edward aparecessem
também. Oh, e claro, Elise, irmã de Everly.

Mags não pôde deixar de balançar a cabeça novamente,


exasperada. — Seriamente? Devo saber quem são todas essas pessoas?
— Não — Dave disse a ela enquanto levava a mão dela à boca e
beijava as costas. — Só estou avisando que haverá uma multidão. Eu meio
que saí da cidade muito rápido quando descobri que Zara conhecia você.

— Então eles estão aqui por você. — Mags disse suavemente. —


Porque eles admiram e se preocupam com você.

— Acho que sim. — Admitiu Dave. — Se isso incomoda você, me


avise, e eu tirarei você e seus pais de lá para que possam conversar com
mais privacidade.

Mags balançou a cabeça. Ela ficou tocada ao ver que tantas


pessoas estavam vindo para apoiar seu marido. Sim, eles provavelmente
estavam felizes por ela estar bem, mas não a conheciam. Eles conheciam
Dave. Ele era importante para eles, e eles queriam ter certeza de que ele
sabia o quanto eles estavam felizes por ele. Para eles. Como ela poderia
ficar chateada com isso?

Dave segurou a porta aberta para ela quando eles chegaram ao


prédio, e ela respirou fundo. Ela sonhou com este momento por dez longos
anos e mal podia acreditar que estava realmente acontecendo.

Eles subiram um lance de escadas e Dave abriu mais uma


porta. Eles entraram no pequeno aeroporto, e Raven teve que sorrir ao ver
como os olhos de David eram grandes. Ele estava absorvendo tudo em
silêncio e com a bela maravilha de uma criança. Ela mal podia esperar para
trazê-lo ao zoológico de Colorado Springs. E o Museu Infantil de Denver. E
um aquário. Havia tantas coisas das quais ele foi privado em seus
primeiros cinco anos, e ela mal podia esperar para compensar tudo por
ele.

Dave disse a ela no avião que achava que David era talentoso. Ele o
achava extremamente inteligente para um garoto de sua idade. Nem
parecia uma criança de quatro anos e meio. Mags já sabia disso... E tinha
se preocupado com isso no passado. David não teve problemas para
aprender inglês e espanhol e dizia palavras com cerca de dez meses de
idade. Ele absorveu tudo o que ela lhe ensinou sobre números, cores e
qualquer outra coisa que ela pudesse pensar para entretê-lo em seus dias
juntos. Ela estava orgulhosa, mas também preocupada com o que isso
significaria para ele no Peru.

Qualquer pensamento sobre seu filho voou de sua cabeça assim que
ela viu o grande grupo de pessoas esperando por eles do outro lado da
segurança. Caminhando lentamente, ela ficou nervosa de repente, e
quase pediu a Dave para tirá-la pela porta dos fundos para que ela não
tivesse que lidar com a festa de boas-vindas.

Mas então ela teve um vislumbre de uma mulher de cabelos


grisalhos no meio da multidão. Ela estava parada ao lado de um homem
alto e mais velho. Ele tinha o braço em volta dos ombros dela, e eles
estavam olhando para Mags como se ela fosse um fantasma. Lágrimas
correram pelo rosto da mulher, e ela parecia devastada e exultante ao
mesmo tempo.

E assim, sua reticência desapareceu.

— Mãe? — Ela sussurrou.

Afastando-se de Dave, ela caminhou mais rápido, os olhos grudados


em sua mãe. Lágrimas se formaram sem que ela percebesse, e ela
começou a correr enquanto se aproximava cada vez mais. Sua mãe se
afastou de seu pai e estendeu os braços.

Mags correu direto para eles. — Mãe! — Ela soluçou quando o


cheiro familiar de lavanda de sua mãe a envolveu, assim como seus
braços.

As duas choravam e Mags não conseguia parar. Ela realmente


estava aqui. Nos braços de sua mãe. Ela não morreu enquanto Mags
estava fora. Na verdade, ela parecia mais forte de alguma forma. Mags se
sentia fraca.

Sua mãe se afastou e colocou as mãos nas bochechas de


Mags. Elas tinham quase a mesma altura, e quando Mags olhou nos olhos
de sua mãe, ela percebeu o quanto eles eram parecidos. — Eu te amo,
mãe. — Ela sussurrou.

— Deixe-me apenas olhar para você. — Justine Crawford gritou


enquanto segurava a cabeça da filha entre as mãos.

— Pare de monopolizá-la. — John Crawford reclamou enquanto


cutucava sua esposa suavemente com o quadril.

Mags riu e olhou para seu pai, e viu que ele tinha lágrimas nos olhos
também. Ela o abraçou com força, superando seu cheiro familiar de
fumaça. Ele só fumava quando estava estressado, e ela supôs que ele
provavelmente esteve muito estressado recentemente. Sua mãe odiava o
hábito e o irritava toda vez que o pegava.

— Ei, Magpie. — Ele disse suavemente enquanto a abraçava.

— Oi, pai. — Ela respondeu, fechando os olhos em contentamento


quando ouviu o apelido que seu pai sempre usava para ela.

Vê-los ainda juntos fez Mags sorrir. Ela sempre soube que eles
tinham um bom relacionamento, e depois de tudo que ela havia passado,
ela queria esse tipo de casamento também. Incapaz de se conter, ela
olhou para trás em busca de Dave.

No segundo em que seus olhos apareceram, ele avançou. Ele estava


parado por perto, pronto para interferir se necessário, assim como havia
prometido que faria.

— Mãe, pai, gostaria que conhecessem meu filho, David.


— Oh minha palavra. — Justine disse baixinho. — Ele se parece
exatamente com você.

Dave se aproximou, apertou a mão do meu pai e virou David para


encará-los. — Champ, estes são a sua avó e o seu avô.

Seus olhos estavam arregalados. Ele olhou para eles, então para sua
mãe, então de volta para Dave. — Realmente?

— Sério. — Dave o tranquilizou.

David se contorceu em seus braços e Dave se inclinou para colocá-


lo no chão. David correu até Justine e colocou os braços em volta da
cintura dela. Ele encostou a cabeça na barriga dela e disse: — Sempre
quis ter uma avó!

Mags viu sua mãe chorar novas lágrimas com o abraço de seu
filho. Então David o soltou e se moveu para ficar na frente de seu pai. Ele
olhou para ele e sorriu. — Oi! Sou David.

— Olá David. Você teve um bom voo?

Era a coisa certa a perguntar.

David concordou alegremente. — Sim! Nunca estive em um


avião. Quase consegui estender a mão e tocar as nuvens! E as montanhas
pareciam tão pequenas, e nós voamos sobre o oceano! E eu tenho que
comer pretzels e o Sr. Meat até me trouxe um pouco de arroz con
pollo para comer, e mamãe teve seu favorito, pollo empanada. Papai e
nossos amigos comeram hambúrgueres. E quando pousamos, o avião
estava indo muito rápido. Entããão! — Ele fez um movimento de swooshing
com a mão para demonstrar exatamente o quão rápido ele pensava que
eles estavam indo.

Mags observou seu pai se agachar na frente dele. —


Sim? Tão rápido?
David concordou. Então ele inclinou a cabeça e olhou para seu novo
avô de perto. — Mamá se perdeu. Então ela me pegou e o papai nos
encontrou.

— Sim ele fez. E eu nunca poderei agradecê-lo o suficiente por isso.


— Seu pai disse, sua voz falhando.

Então, como se David só precisasse dizer as palavras em voz alta


para seus novos avós e verificá-los, ele acenou com a cabeça e se virou
para Dave.

Seu marido se abaixou e o pegou de volta.

— Algum dia terei braços como troncos de árvore, assim como


meu papai. — Declarou David alto o suficiente para que todos ao seu redor
ouvissem.

Todos riram, e Mags se inclinou para Dave, colocando o braço em


volta da cintura dele. Ela olhou para todas as pessoas sorrindo para ela e
relaxou. Ela tinha imaginado como seria a sensação tantas vezes, mas não
tinha ideia de como seria realmente incrível, no fundo da alma.

Ela finalmente estava em casa. E nada nunca se sentiu melhor.

***

Naquela noite, depois de ir para a casa de Gray e Allye para uma


festa de boas-vindas improvisada, e depois que David adormeceu no
caminho para o apartamento na nova cadeirinha que Meat comprou, e
depois que Raven e David inspecionaram seu apartamento de cima a
embaixo, e depois que todos eles se amontoaram na cama king-size no
quarto principal, Dave observou sua esposa e filho dormirem.
Pela primeira vez em dez anos, ele sentiu como se finalmente
pudesse respirar. Ele sabia onde sua esposa estava. Ela estava bem
aqui. Próximo a ele. Ela não foi uma vítima. De jeito nenhum. Ela era uma
sobrevivente. Ela passou por experiências que destruíram outras
pessoas. Ela tinha sido espancada e pisoteada na terra uma e outra
vez. Mas ela se levantou a cada vez, mais forte e mais determinada a
sobreviver a tudo e qualquer coisa que Del Rio e seus seguidores tivessem
jogado nela.

Não querendo deixá-los nem por um segundo, mas sabendo que ele
tinha mais uma coisa a fazer antes que ele pudesse finalmente se livrar da
raiva e do ódio que ele tinha em seu coração pelo homem que pegou o
que não lhe pertencia, o que ele não tinha o direito de tomar, Dave
silenciosamente saiu da cama, tomando cuidado para não empurrar nem
a esposa nem o filho.

Ele pegou um telefone via satélite não rastreável que recebera de um


de seus contatos no FBI e saiu de seu quarto. Ele foi até a varanda e abriu
a porta de vidro deslizante. Ele podia ver Pikes Peak de seu apartamento,
e geralmente a vista o acalmava. Ele não podia ver no céu noturno, mas
mesmo se pudesse, ele não teria prestado atenção esta noite.

Ele discou um número que havia memorizado há cerca de um ano e


segurou o telefone próximo ao ouvido.

— Reboque Silverstone. Como posso ajudá-lo?

— Este é Rex. Eu tenho um trabalho para você.

— Rex! Não temos notícias suas há algum tempo. Tudo está certo?

— Encontrei minha esposa. — Disse Dave ao homem do outro lado


da linha.
— Seriamente? Isso é foda demais! — O homem fez uma pausa e
perguntou: — Presumindo que esse trabalho tem a ver com isso?

— Você assumiria certo. O trabalho está no Peru. Lima, para ser


exato. Isso vai ser um problema? — Perguntou Dave.

— Você sabe que não é. Envie os detalhes. Vamos dar uma olhada
e ver o que podemos fazer.

— Aprecie isso. E... Eu preciso que você faça doer.

A voz do outro homem caiu. — Raven vai ficar bem?

— Eventualmente. Mas eu preciso que ele pague.

— Feito.

— Eu devo a você. — Dave disse ao homem do outro lado da linha.

— Não. Esta é por conta da casa. Retribuição por todas as vezes


que você ajudou aqueles que não conseguiam se ajudar.

— Obrigado.

— Se você estiver na área de Indianápolis... E precisa de um


reboque... Não nos importaria se você passasse na loja.

Dave deu uma risadinha. — Pode deixar. Obrigado.

— Feliz por você, Rex. Seriamente. Nós cuidaremos disso. Você


simplesmente vai viver sua vida de uma maneira que não tem conseguido
nos últimos dez anos. Tudo certo?

— Eu vou. Tchau.

— Tchau.
Dave desligou o telefone e suspirou. Ele nem mesmo sentiu uma
pitada de culpa. Na verdade, seus ombros pareciam dez vezes mais leves
depois de fazer a ligação. Ele voltou para seu apartamento e trancou a
porta de vidro deslizante atrás dele. Então ele entrou em seu quarto e
sorriu ao ver sua família ainda dormindo profundamente. Ele subiu sob o
lençol e se aninhou nas costas de sua esposa. Ela não se moveu, o que
mostrou exatamente como os últimos dias foram cansativos.

Ele fechou os olhos e caiu em um sono profundo. O tipo que ele não
teve por pelo menos três mil, seiscentos e cinquenta dias.
Dave estava no sofá assistindo ao noticiário da madrugada com
Raven. David estava dormindo em seu quarto. Ambos foram ao médico
para exames completos. Ambos tinham algumas deficiências de
vitaminas, e Raven teria que ver um médico regularmente por um tempo,
pelo menos, mas isso não era inesperado. Eles tinham visto um dentista e
um oftalmologista também, e Dave levou os dois ao shopping, quando
Raven estava pronta, para fazer algumas compras muito
necessárias. David ficou boquiaberto ao ver a variedade de lojas, e quase
chorou quando Dave comprou para ele uma sacola cheia de roupas novas,
algo que ele nunca tivera em toda a sua vida.

David também havia começado o jardim de infância e estava


adorando cada segundo. Dave estava tão orgulhoso do menino. David
tinha ficado nervoso e com medo no primeiro dia, sem saber se alguém
gostaria dele, mas desde então, ele foi extrovertido e popular com as
outras crianças. Na verdade, nos fins de semana, ele ficava triste quando
não conseguia ver seus amigos.

Eles tiveram uma longa conversa com q professorq, que concordou


que, intelectualmente, David estava muito à frente de seus colegas. Elq
sugeriu que testassem seu QI para que soubessem exatamente com o que
estariam trabalhando. Ela também se ofereceu para trabalhar junto com
David para ter certeza de que ele estava sendo desafiado. Todos
concordaram que seria melhor ficar onde estava e não ser empurrado para
um grau superior ainda. Ele precisava se conectar com crianças de sua
idade e aprender a ser social com outras pessoas.
Gabriella estava florescendo em seu novo país. Ela morou no
apartamento com eles por um tempo, e eles a mudaram para seu próprio
apartamento nas proximidades apenas algumas semanas atrás. Ela se
matriculou em um curso de inglês como segunda língua e estava
aprendendo incrivelmente rápido. Durante o dia, ela estava na aula ou
trabalhando com Harlow. As duas mulheres se deram bem imediatamente
e Gabriella estava se tornando uma excelente chef. À noite, ela geralmente
vinha visitar Raven e David.

E Raven tinha começado a acompanhar Dave ao Pit. No começo ela


estava extremamente nervosa, mesmo com a multidão subjugada que
apareceu durante o dia. Os homens ainda a deixavam nervosa, e cada vez
que Dave pensava no motivo, ele tinha que controlar sua raiva.

Estranhamente, no entanto, quando ela trabalhava com ele atrás do


bar, ela parecia estar bem. Eles perceberam que, uma vez que ele estava
com ela, e porque o bar estava entre ela e todos os outros, isso lhe deu
uma bolha de proteção que sua psique precisava.

Dave adorava tê-la por perto. Amava trabalhar lado a lado com
ela. Foi literalmente um sonho que se tornou realidade, para os
dois. Então, durante o dia, eles cuidavam do bar e, à tarde, pegavam David
juntos e passavam as noites rindo e reaprendendo como ser marido e
mulher, bem como uma família.

Todas as noites, os dois liam para David, depois o colocavam na


cama e se sentavam um ao lado do outro no sofá. Aquilo havia se tornado
sua nova tradição. Às vezes, eles assistiam à TV. Às vezes, eles
conversavam. Outras vezes, eles lêem livros. Mas não importa o que eles
fizeram, eles fizeram juntos, tocando. Eles se dariam as mãos, ou Raven
se encostaria nele, ou colocaria as pernas em seu colo enquanto usava o
braço do sofá como travesseiro.

Dave apreciava esses tempos. No passado, ele se sentou naquele


sofá e olhou para o nada, torturando-se ao se perguntar o que sua esposa
estava fazendo naquele segundo. Se perguntando se ele teria a chance de
dizer o quanto ela significava para ele.

Eles ainda moravam no apartamento de Dave, mas conversaram


com um corretor de imóveis e vasculharam as listagens para ver se
conseguiam encontrar uma casa em alguns hectares ou um terreno que
poderiam comprar para construir uma casa modesta, onde poderiam viver
o resto de suas vidas pacificamente.

Dave estava perdido em sua cabeça, pensando em uma das casas


que eles tinham visto online antes, quando Raven engasgou. Enrijecido,
ele ficou imediatamente em alerta.

Raven agarrou seu antebraço com força, mas seus olhos estavam
grudados na tela da televisão. Os olhos de Dave se voltaram para frente
para ver o que havia alarmado sua esposa. O âncora do noticiário estava
sentado atrás de uma mesa no set - e uma foto de ninguém menos que
Roberto Del Rio estava sobreposta em seu ombro esquerdo.

— O homem conhecido como Del Rio foi encontrado morto hoje em


seu amplo complexo em Lima, Peru. Os detalhes são vagos, mas com
base nas fotos da cena do crime, uma fonte interna sugeriu homicídio,
devido à natureza macabra da cena. Del Rio há muito é suspeito de ser o
chefe de uma grande operação de tráfico sexual e, quando a polícia
invadiu o complexo, foram encontradas evidências de pornografia infantil,
junto com dezenas de mulheres jovens de toda a América Central e do Sul,
bem como de países ao redor o Globo. Fontes especulam que Del Rio
pode ter sido alvo de facções criminosas rivais.

Lima há muito luta contra a corrupção em suas agências policiais,


militares e governamentais, e junto com as mulheres e a pornografia,
armas, drogas e listas de nomes também foram encontradas dentro de
casa. As listas que seriam daqueles que Del Rio estava extorquindo, e
talvez outros a quem ele estava pagando para fechar os olhos à sua
operação. Nossa fonte diz que levará meses, senão anos, para resolver a
bagunça, e que centenas de pessoas provavelmente perderão seus
empregos como resultado da corrupção. Milhares de casos nos tribunais
peruanos também terão que ser reexaminados. Centenas de vítimas
inocentes podem ser libertadas das prisões peruanas, uma vez que a
extensão da corrupção seja descoberta.

— Especialistas alertam que nos próximos meses haverá uma luta


pelo poder em Lima entre aqueles que podem querer continuar de onde
Del Rio parou. Traremos mais informações à medida que vierem sobre
esta situação em constante atualização no Peru. Tom, como vai estar o
tempo amanhã?

Raven se afastou e se virou para olhar para Dave. — Oh meu


Deus... É verdade? Ele está realmente morto? Somos realmente livres?

Dave puxou a esposa para o seu lado, grato por ela não vacilar mais
quando ele se movia muito rápido ou quando a abraçava. — Se está no
noticiário, tem que ser verdade. — Disse ele.

— Eu não posso acreditar. Eu... Intelectualmente, eu sabia que


estava segura aqui. Quer dizer, ele está lá no Peru, e eu estou aqui, mas
uma parte de mim não conseguia relaxar. Ele me pegou quando eu estava
em Vegas. Eu não tinha certeza se ele estava tão chateado por termos
escapado que ele não mandaria alguém para agarrar a mim e David
novamente. Mas... Se for realmente verdade... Podemos realmente
relaxar! Você não acha que outra pessoa viria aqui para se vingar, acha?
— Ela perguntou, sua voz tremendo um pouco.

— De jeito nenhum, querida. Como disse a moça do noticiário, todo


mundo vai estar muito ocupado tentando cobrir suas bundas ou subir ao
topo da pilha para se preocupar com você. Ou eu. Ou David. — Ele beijou
sua testa. — E você está certa. Somos livres. Livres para viver nossas
vidas da maneira que deveríamos viver nos últimos dez anos. Ser
felizes. Para ver nosso filho crescer e prosperar. Para sair com nossos
amigos e rir das coisas mais idiotas.
Ele estava pronto para consolar Raven se ela chorasse, mas não
deveria ter ficado surpreso quando ela se sentou ao lado dele com um
sorriso radiante. Nenhuma lágrima à vista. — Eu sei que é errado
comemorar a morte de outro ser humano, mas eu não me importo. Ainda
temos sorvete ou David comeu tudo esta noite?

Dave sorriu de volta. — Posso ou não ter escondido um litro na parte


de trás do freezer para que ele não o encontrasse e implorasse para ter
'mais uma colher'.

Raven riu, o som era tão despreocupado. — Você conhece bem o


nosso filho.

O coração de Dave parecia que ia explodir. — Sim, eu conheço. —


Ele concordou. Então ele se levantou e puxou Raven para ficar de pé ao
lado dele. Ele passou o braço em volta da cintura dela e eles caminharam
juntos para a cozinha. Ele tirou um litro de pedaço duplo de chocolate com
caramelo, o favorito atual de sua esposa, enquanto ela pegava duas
colheres. Eles se dirigiram para a varanda e Dave a puxou para seu colo.

Os dois estavam perdidos em seus próprios pensamentos enquanto


se revezavam para mergulhar na vasilha de sorvete e olhar para as
estrelas.

— Obrigada por não desistir de tentar me encontrar. — Raven disse


depois de um longo momento.

—Obrigado você para não desistir. — Dave respondeu.

Mais tarde, depois que terminaram o sorvete, foram para o quarto


principal e, como faziam todas as noites nos últimos dois meses, se
prepararam para dormir e se aninharam sob as cobertas.

— Dave?

— Sim, querida?
— Não estou pronta agora, mas... Uma noite, vou querer que você
faça amor comigo.

Mais uma vez, Dave sentiu como se seu coração fosse explodir no
peito. Ele estava tão orgulhoso de sua esposa. Ela era a pessoa mais
corajosa e forte que ele já conheceu em sua vida.

Ele não queria menosprezar sua bravura, dizendo que não precisava
de sexo. Então ele simplesmente disse: — Tudo bem, amor.

Dave se sentou a uma mesa na sala dos fundos do The Pit e olhou
para os homens dos Mountain Mercenaries. Eles perguntaram se
poderiam se encontrar com ele, e é claro que ele concordou. Ele gostava
de sentar aqui com eles, em vez de falar com eles ao telefone
anonimamente, como ele tinha feito antes de descobrirem que ele era seu
manipulador, Rex.

Como o homem sensato que era, Gray pigarreou e foi direto ao


ponto. — Estamos discutindo isso há um tempo e gostaríamos de ver se
você consideraria que os Mountain Mercenaries só aceitassem casos
domésticos a partir de agora.

O pedido foi direto e não totalmente inesperado.

Dave conhecia sua equipe extremamente bem. Ele os observava e


liderava há anos. Ele sentiu uma mudança em suas prioridades,
começando quando Gray conheceu Allye. Ele não tinha ficado totalmente
satisfeito com a mudança, temendo que isso atrapalhasse uma missão de
resgate para sua esposa, se ele a encontrasse. Mas depois de ver por si
mesmo como as coisas podiam ser perigosas em missões no exterior, ele
mudou de ideia.

Não era como se ele não soubesse que seus homens enfrentavam
perigo em todas as missões, mas era mais do que balas e colocar suas
vidas em risco. Tratava-se de barreiras linguísticas, corrupção e até
mesmo a ameaça de ser jogado em alguma prisão estrangeira tenebrosa
com a chave jogada fora.

E todos eles tinham famílias com que se preocupar agora. Mulheres


e crianças que contavam com eles e que os amavam. Toda a equipe havia
decolado nos três meses desde que retornaram do Peru, e Dave viu a
diferença que isso fez em seus homens. Eles estavam mais
relaxados. Riam mais. Estavam menos estressados.

Black havia informado a todos que Harlow estava grávida, e Meat e


Arrow haviam se casado. Calinda e Darby estavam crescendo como ervas
daninhas, e pelo menos uma vez por dia, um ou mais do grupo parava no
Pit para dizer olá para Raven e conversar.

Olhando para seus homens, Dave disse: — Talvez seja hora de


aposentar os Mountain Mercenaries.

Como se planejado, todos os seis homens discordaram


enfaticamente.

— Não!

— Isso não foi o que eu quis dizer!

— Absolutamente não!

— Não podemos nos separar!

— Que porra é essa?


— Não é isso que queremos!

Todos eles riram de suas explosões simultâneas. Ro se inclinou para


frente e falou pelo grupo. — Não queremos parar de fazer o que estamos
fazendo. Ainda existem milhares de mulheres e crianças que precisam de
nossa ajuda. Só que as missões no exterior nos afastam de nossas famílias
por muito tempo. E elas são mais imprevisíveis. Não queremos desistir,
apenas mudar nosso foco. Mas se isso não funcionar para você, ainda não
desistimos. Vamos apenas pedir mais tempo entre as missões.

— Feito. — Disse Dave sem hesitação. — Vou me concentrar em


encontrar os desaparecidos nos Estados Unidos.

— Bem desse jeito? — Ball perguntou.

— Simples assim. — Dave confirmou.

— Mas e se encontrarmos informações sobre alguém como Morgan,


que foi levado para fora dos Estados Unidos e precisa de resgate? — Meat
perguntou.

— Então vou passar a informação para um de meus contatos. —


Disse Dave, recostando-se na cadeira e cruzando os braços.

— Uma de suas conexões. — Arrow ecoou.

— Sim. — Dave concordou.

— Quantas equipes você está executando? — Perguntou Black.

— Só esta. — Dave tranquilizou seus amigos. — Mas conheço


outros grupos semelhantes ao nosso por aí. Sem mencionar minhas
conexões com o FBI, CIA, chefes de polícia e chefes de várias
organizações da máfia que não lidam com tráfico humano.
Gray simplesmente balançou a cabeça. — Eu sabia que você estava
conectado, mas ainda não sabemos da metade, não é?

Dave nem sequer esboçou um sorriso. — Não.

— Muito justo. — Disse Gray. — Então, está resolvido, então.

— Sim.

— Foi muito mais fácil do que pensei que seria. — Admitiu Ball. —
Você normalmente é um filho da puta teimoso, Rex.

Com isso, Dave sorriu. — Obrigado.

— Não foi um elogio. — Murmurou Ball. Então ele puxou um


envelope do bolso e o jogou sobre a mesa na direção de Dave.

— O que é isso? — Perguntou Dave.

— Você é teimoso. — Disse Ball. — Mas nós somos mais. Você está
aceitando isso - e não aceitaremos um não como resposta.

Inclinando-se para a frente, Dave pegou o envelope e puxou os


papéis que estavam dentro. Demorou um minuto para o que ele estava
olhando ser registrado, mas quando o fez, sua cabeça se ergueu e ele
olhou para seu time em estado de choque.

— São 16 hectares de terra perto do Monumento. Você é


diretamente responsável por conhecermos nossas mulheres e por ajudar
centenas de outras pessoas. Este mundo seria um lugar pior sem você
nele. Sabemos que você está procurando um lugar para morar com sua
família e este terreno é perfeito. É isolado, mas não tão longe a ponto de
não haver telefone e serviço de internet ou uma infraestrutura de água,
eletricidade e fossa séptica. A vista do extremo norte da propriedade é
incomparável porque há um penhasco que dá para um vale de montanha
abaixo. Você pode construir uma casa tão grande ou tão pequena quanto
quiser. Mas o que você não pode fazer é recusar nosso presente.

Dave não sabia o que dizer. Ele não sentia que tinha feito nada de
especial. Afinal, ele formou os Mountain Mercenaries por motivos
extremamente egoístas. Ele estava procurando por sua esposa e
encontrou outras mulheres e crianças ao longo do caminho. Mas olhando
ao redor, para os homens em quem confiava sua vida - e mais importante,
a quem confiava à vida de sua esposa e filho - ele acenou com a cabeça e
disse simplesmente: — Obrigado.

Mags parou na falésia de sua propriedade e olhou para o marido. O


vento soprava suavemente e, no momento, não havia nada além do som
de pássaros cantando ao redor deles. Eles estavam sozinhos -
bem... Quase sozinhos - algo que não acontecia mais com frequência.

Dave ficou na frente dela, suas mãos segurando as dela enquanto


eles se encaravam.

Quando Dave pediu que ela se casasse de novo quando eles


estiveram no Peru, Mags disse que sim. Eles poderiam ter feito uma
grande cerimônia na frente de sua família e amigos, mas quando Dave
sugeriu isso, uma troca simples, mas significativa de novos votos com
apenas os dois, ela agarrou a chance.

Ambos estiveram no inferno. Um tipo diferente de inferno, mas


inferno, no entanto. E de alguma forma reafirmar seus votos com apenas
os dois parecia certo.
Toda a família e amigos estavam esperando por eles no The
Pit. Gabriella e Harlow haviam feito toda a comida e haveria mais de
cinquenta pessoas para ajudá-los a comemorar. Mas, por enquanto, eles
só tinham olhos um para o outro.

— Margaret Crawford Justice, você é o amor da minha vida. Você é


a razão do meu coração bater, e você me dá coragem para sair da cama
todos os dias e enfrentar o mundo. Estou maravilhado com você e mais
orgulhoso do que posso expressar em palavras de sua coragem e
força. Você é uma guerreira por completo. — Dave disse enquanto a
olhava nos olhos. O vento soprou seu cabelo em seu rosto, mas antes que
ela pudesse levantar a mão para afastá-lo, a mão de Dave estava lá. Mags
estremeceu quando as pontas dos dedos dele roçaram a pele sensível de
sua orelha. — A única coisa que me fez continuar quando você se foi, foi
a promessa de um dia ser capaz de olhar em seus lindos olhos azuis
novamente. Eu te dou meu voto solene aqui e agora que estarei sempre lá
para você. Eu nunca vou trapacear. Nunca levantarei minha mão para
você ou nosso filho. Vou me curvar para lhe dar o que você quer e
precisa. Eu vou te amar por todos os dias da minha vida e mesmo depois
disso. Você segura meu coração e minha alma em suas mãos, Raven, e
eu não gostaria de nenhuma outra maneira.

Mags se perdeu nos olhos castanhos e profundos de Dave enquanto


ele falava. Ela jurou que podia ver o amor brilhando neles. Era fantasioso e
bobo, mas ela nunca se esqueceu de como seus olhos eram
expressivos. Como diabos ela teve tanta sorte, ela não tinha ideia.

— A única coisa que me manteve indo era pensar em você. — Mags


disse enquanto começava seus votos. Ela não tinha planejado nada para
dizer, querendo que suas palavras viessem do coração e se encaixassem
no momento. — Eu queria desistir. Queria encontrar uma maneira de tirar
minha própria vida, mas não consegui. Eu sabia que você estava
procurando por mim. Sabia que você faria o que fosse preciso para me
encontrar... E você fez. Não tentei entrar em contato com você quando
tive a chance, não porque achei que você não me amasse, mas porque
achei que não era mais digna do seu amor. Mas demorou menos de duas
semanas depois que você me encontrou para mudar minha maneira de
pensar e me arrepender de não ter encontrado uma maneira de fazer você
saber que eu estava viva e para pedir que você viesse me buscar a David
e a mim. O amor cura todas as feridas e, embora nunca me esqueça do
que aconteceu comigo, seu amor tem me ajudado a viver um dia de cada
vez e a desfrutar e viver o momento todos os dias desde então. Amo você,
David Justice. Eu nunca vou te trair e vou ficar ao seu lado para apoiá-lo
todos os dias pelo resto de nossas vidas. Obrigado por me
encontrar. Obrigado por não desistir. Mas, acima de tudo, obrigado por
me amar.

Dave moveu a outra mão e segurou a cabeça dela, inclinando-se


lentamente para frente e roçando os lábios nos dela. Então ele fez isso de
novo e de novo... Até Mags ficar tão excitada e frustrada com o quão gentil
ele estava sendo, que ela enfiou a mão no cabelo na parte de trás de sua
cabeça e rosnou contra ele.

Sua súbita paixão a surpreendeu. Mags amava seu marido, mas ela
se preocupava que sua libido tivesse sido suprimida para
sempre. Descobrir que de repente ela queria Dave com uma necessidade
profunda foi surpreendente... E um grande alívio.

Ela sentiu os lábios dele se curvarem em um sorriso, mas ele não


aprofundou o beijo.

Ele tinha sido tão cuidadoso em não se empurrar para ela. Não
fazendo nada que pudesse trazer seus demônios à superfície. Então Raven
assumiu o controle, mostrando a ele o que ela queria. O que ela precisava.

Empurrando a língua em sua boca, ela deu-lhe o tipo de beijo que


não tinha há anos.
Ele gemeu, e ela sentiu sua ereção contra sua barriga. Mas, pela
primeira vez em muito tempo, Mags não ficou apavorada. Não estava com
medo da excitação de um homem.

Sentindo-se tonta por seu corpo estar reagindo da maneira que


sempre fazia perto de Dave antes de ser levada, ela se entregou a
ele. Marido dela.

Quanto tempo eles se beijaram no topo da ribanceira, Mags não


sabia. Mas um forte tiro pela culatra soou ao longe, e ela se afastou, rindo.

— Tanto para a nossa romântica cerimônia de renovação dos votos


— Dave disse com desgosto.

Mags passou os braços ao redor dele e deitou a cabeça em seu


peito. — Quanto mais rápido eles constroem nossa casa, mais rápido
podemos nos mudar. — Ela o lembrou.

A equipe de construção estava lá trabalhando na construção da


casa dos seus sonhos. Dave queria dar-lhes o dia de folga para que
tivessem a propriedade para si quando fizessem seus votos, mas Raven
discordou, dizendo que todo dia em que não estivessem trabalhando era
mais um dia em que não seriam capazes de se mudar. Ele concordou
relutantemente.

— Eu te amo, Dave. Você significa tudo para mim.

— As palavras parecem assim... Frágis... Em comparação com o


que sinto por você. — Dave disse.

Raven sorriu para ele - e enrubesceu de mortificação quando seu


estômago escolheu aquele momento para rosnar. Alto.

Foi a vez de Dave rir. — Parece que preciso alimentar minha garota.
— Disse ele. — Vamos. Tenho certeza de que David está deixando todo
mundo louco com sua impaciência para cavar aquele bolo.
Enquanto eles se afastavam do penhasco em direção ao carro de
Dave, Mags disse: — De quem é a culpa por ele ter uma queda por doces?

— Minha. — Dave admitiu imediatamente e sem vergonha.

Tudo que Mags pôde fazer foi balançar a cabeça. No fundo, ela não
se importava se Dave estragasse seu filho. Ele estava tentando compensar
seus primeiros quatro anos e meio de vida quando lhe negaram quase tudo
- comida, amor, amigos.

Dave segurou a porta aberta para ela e esperou até que ela se
acomodasse no banco do passageiro antes de dar a volta para o outro
lado. Antes de ligar o motor, ele se inclinou e colocou os dedos no queixo
de Raven. Ele virou a cabeça dela e a beijou suavemente. — Amo você,
Raven.

— Amo você também.

Enquanto eles dirigiam em direção ao The Pit e a grande festa que


os esperava, Mags se maravilhou mais uma vez sobre como ela tinha sorte
de ter este homem ao seu lado. Ele era paciente, amoroso e totalmente
dedicado a ela. Ele tinha seus defeitos, mas era difícil se preocupar muito
com eles quando ele era tão incrível em tantos aspectos.

Logo, ela reuniu coragem para provar fisicamente o quanto se


importava. Em um ponto, ela realmente não pensou que seria capaz de
compartilhar seu corpo com um homem novamente. Lentamente, mas
com segurança, Dave estava ressuscitando seu desejo, e ela mal podia
esperar pelo dia em que seria capaz de fazer amor com o marido... E
purgar o passado de uma vez por todas.
Dave não conseguia acreditar que a casa foi finalmente
construída. Eles finalmente foram transferidos.

Ele não se importava em morar em um apartamento por tantos anos,


não se importava muito com nada além de encontrar sua esposa. Mas
agora que ele tinha Raven de volta por um ano, e teve o privilégio de ver
seu filho desabrochar em uma criança bem ajustada e feliz, ele não poderia
imaginar viver em um espaço tão pequeno e apertado novamente.

A casa deles era uma colaboração das visões dele e de


Raven. Janelas de vidro alinhavam-se em um lado da casa, permitindo que
eles vissem a beleza do terreno a qualquer hora do dia ou da noite. Eles
construíram um deck extragrande e até construíram um pequeno gazebo
no penhasco.

Toda a tripulação dos Mountain Mercenaries e suas mulheres


contribuíram para ajudar a mover seus móveis, e eles fizeram um
churrasco improvisado depois, e Dave não conseguia se lembrar de uma
época em que ele estivesse tão feliz e contente.

David adormeceu quase no segundo em que sua cabeça bateu no


travesseiro. Ele estava animado por dormir em seu quarto, e embora Dave
soubesse que Raven estava um pouco triste por ele parecer estar se
tornando tão independente, ela estava satisfeita por ele não parecer nem
um pouco assustado por estar em um novo quarto em uma nova casa.

Raven havia subido cerca de dez minutos antes, enquanto Dave


terminava de colocar os últimos pratos sujos na máquina de lavar. Agora
ele subia as escadas em direção ao quarto deles, ansioso para abraçar
sua esposa e passar a primeira noite em sua nova casa com ela em seus
braços.
Ele abriu a porta para o lindo e enorme quarto principal que ele havia
projetado com sua esposa em mente - e congelou com a visão que o
cumprimentou.

Raven estava de pé ao lado da cama deles vestindo uma camisola


branca minúscula.

Quando ela o viu, ela sorriu. — Já era hora de você subir aqui. —
Ela provocou. — Achei que você nunca fosse terminar lá embaixo.

Dave não sabia o que dizer. Ele sempre achou sua esposa atraente,
mas o que ele mais amava nela era quem ela era como pessoa. Embora
ele não pudesse negar, vê-la parada ali em nada mais do que um pedaço
de renda o excitou.

— Raven? — Ele disse hesitantemente, não querendo interpretar


mal as intenções dela.

— Está na hora. Estou pronta. — Ela disse a ele.

Dave caminhou lentamente em direção a ela e parou a meio metro


de distância, dando-lhe espaço. — Pronta para que? — Ele perguntou,
querendo que ela dissesse exatamente quais eram suas expectativas.

— Pronta para fazer amor com meu marido. Pronta para deixar meu
passado para trás de uma vez por todas.

— Você tem certeza? — Dave sussurrou.

— Cem por cento. Não estou dizendo que será fácil ou que não terei
momentos ruins, mas não tenho dúvidas de que você será cuidadoso
comigo e não exigirá mais do que eu posso dar.

— Porra, não, eu não vou. — Dave murmurou. Então, ele lentamente


alcançou a bainha de sua camisa e a levantou sobre a cabeça. Ele amava
o olhar lascivo nos olhos de Raven. Ele tinha sonhado com este momento,
e era muito mais do que ele poderia ter imaginado. Ele tirou a calça e as
meias, deixando a cueca boxer por enquanto. Com o quão excitado ele
estava, eles não deixaram nada para a imaginação, mas Raven nem
mesmo hesitou. Ela fechou a distância entre eles e se grudou contra ele.

***

Mags estava nervosa, mas não sobre o que seu marido poderia
fazer. Ela não tinha certeza sobre suas próprias reações. Ela queria
isso. Precisava fazer amor com o marido. Mas mesmo estando cem por
cento dentro, ela não tinha certeza de como seu corpo poderia reagir
inconscientemente.

Quando ela colocou os braços em volta de Dave e sentiu sua ereção


contra sua barriga, ela não ficou nem um pouco enojada. Ela inalou
profundamente, e o cheiro de seu marido encheu suas narinas. Ele não
cheirava nada como os outros. Não sentia nada parecido com eles
também. Ele era grande. Rodeando-a e fazendo-a se sentir segura.

— Você tem certeza? — Dave sussurrou em seu ouvido.

Em resposta, Mags se afastou, deslizou as mãos sob a cueca boxer


e espalmou sua bunda. Os músculos se contraíram e ela sorriu enquanto
cravava as unhas de maneira divertida na pele sensível de seu traseiro. —
Tenho certeza. — Ela disse a ele, em seguida, moveu as mãos para os
quadris dele e lentamente baixou a cueca dele até que ele estava na frente
dela tão nu como no dia em que nasceu.

Ela deu um passo para trás, mantendo uma mão em seus bíceps
enquanto o examinava. Bom Deus, ele era lindo. Ele podia estar perto dos
quarenta, mas parecia melhor do que ela jamais se lembrava dele uma
década atrás. Suas coxas inchavam com músculos e, embora ele não
tivesse um estômago cheio, certamente não era gordo. Ele tinha um
punhado de pelos no peito que ela adorava passar os dedos quando
estavam juntos na cama.

Mas era seu pau que ela não conseguia tirar os olhos agora.

Ele era um homem grande, de todo. Isso não mudou na última


década. Fazia muito tempo desde que ela gostava de sexo, mas vê-lo
parado diante dela em toda sua glória nu a lembrava de como ele sempre
se certificou de que ela fosse a primeira. Quão gentil ele sempre foi. Como
ela adorou quando ela poderia fazê-lo perder o controle. Eles gostaram de
experimentar na cama e fizeram amor em quase todas as posições
concebíveis. Ela queria isso de volta. Precisava disso.

— Olhe para mim, querida. — Disse Dave.

Percebendo que ela estava olhando para seu pau, ela ergueu o
queixo e encontrou seu olhar.

Ele estava sorrindo para ela em entretenimento. — Por mais que eu


esteja feliz que você não esteja pirando em me ver nu, se vamos fazer isso,
vou precisar que você fale comigo. Preciso saber onde está sua cabeça a
cada passo do caminho. Se eu te tocar de uma maneira que você não
consegue controlar, você tem que me dizer. Não seja um mártir. Não
posso fazer isso se por um segundo achar que você está desconfortável,
mas não quer me dizer.

— Eu vou.

— Eu quero dizer isso, Raven. Já sei que você é uma maldita


guerreira. Você não precisa ser uma quando estiver na cama
comigo. Você não gosta de algo, me diga. Tudo certo?
E essa era a razão quatro mil e sessenta e sete por que ela estava
perdidamente apaixonada por seu marido. — Tudo certo.

— Bom. — Então Dave passou por ela e se deitou na cama. Ele


colocou as mãos atrás da cabeça, e Mags podia ver a luxúria em seus
olhos. Seu pau não estava completamente duro, mas era impressionante
mesmo a meio mastro.

Ela deu a volta até o final da cama, subiu no colchão e rastejou em


direção a ele de joelhos. Ela viu quando seu pau se contraiu e ela
sorriu. Ela não parou até que ela estava montada em seu estômago.

O vestido branco que ela vestiu foi um reforço de confiança. Ela


percorreu um longo caminho desde a mulher magra e desnutrida que era
um ano atrás. Ela engordou em todos os lugares certos e tinha curvas
novamente. Ela se sentia sexy.

Ela pegou uma das alças e puxou-a do ombro e do braço. Ela fez o
mesmo com a outra e deixou a camisola cair até a cintura.

As pupilas de Dave dilataram e ele lambeu os lábios.

Mags decidiu, enquanto esperava o marido subir, assumir o controle


de sua vida amorosa. Ela sabia que se deixasse Dave fazer o que queria,
ele demoraria e faria tudo ao seu alcance para fazer tudo por ela. Ele seria
gentil e, embora ela não se importasse com isso, não era o que ela queria
da primeira vez. Ela precisava pegar de volta tudo o que foi roubado dela,
e no topo da lista estava pedindo o que ela queria.

Não, exigindo.

Alcançando entre suas pernas, ela desabotoou o vestido e


amontoou o material ao redor de seu estômago. Ela rastejou para frente
de joelhos até que sua boceta estivesse sobre sua boca. — Faça-me
gozar. — Ela ordenou.
Sem um segundo de hesitação, Dave ergueu a cabeça e a lambeu
de cima a baixo.

Ambos gemeram.

Ele demorou a reaprendê-la. Lambendo suavemente e acariciando


suas dobras. De vez em quando, sua língua passava rapidamente sobre
seu clitóris.

Amando sua atenção, mas decidindo que ele estava demorando


muito, ela pegou as mãos dele, que ainda estavam sob sua cabeça, e as
trouxe para os lados. — Segure-me. — Disse ela.

Seus dedos cravaram na pele sensível de seus quadris, e ela


arqueou as costas, deixando-o segurar um pouco de seu peso. Mas ele
ainda não estava dando a ela o que ela queria. Ela olhou para baixo e viu
que os olhos dele estavam abertos e olhando para o rosto dela, como se
tentasse ler seu estado de espírito.

Ela sorriu.

— Lamba meu clitóris, Dave. Me faça vir. Por favor. Eu preciso


disso. Tem sido muito tempo.

Era tudo o que ele precisava ouvir. Seus dedos cavaram em sua
carne, e ele fechou os olhos enquanto concentrava toda sua atenção em
seu clitóris. Sua boca formou uma sucção, e sua língua sacudiu para ela
como se fosse um mini vibrador.

— Oh sim, é isso. Ali! Mais... Oh Deus, eu vou gozar!

Seu orgasmo aumentou forte e rápido, e Mags não estava preparada


para isso. Ela ondulou contra o rosto do marido, mas ele a segurou e nunca
perdeu o contato com o clitóris. Seu corpo inteiro tremeu quando o
orgasmo a oprimiu.
Foi tão bom.

Tão bom.

Foi libertador. Ela não se sentia assim há muito tempo.

Mags sentiu como se seus ossos fossem gelatina. Ela rolou de Dave
para o lado, mas fez questão de puxá-lo com ela quando ela caiu. Ele
cautelosamente se apoiou em um cotovelo próximo a ela e usou sua mão
livre para tirar o cabelo de seu rosto e os olhos.

— Faça amor comigo. — Mags implorou enquanto olhava para ele.

— Você tem certeza? Estou perfeitamente feliz em apenas ter você


em meus braços enquanto adormecemos. — Disse Dave.

— Tenho certeza. — Mags disse a ele. — Eu preciso de você agora


mais do que nunca.

— Você quer estar no topo?

Ela amava o quão sensível ele era, mas ela balançou a cabeça. —
Não. Eu quero você por cima.

— Isso não vai trazer de volta memórias ruins? — Perguntou Dave.

Mags balançou a cabeça novamente. — Não. Eu quero olhar para


você enquanto você me leva. Quero segurar seus braços e envolver
minhas pernas em volta da sua cintura. Eu sei quem está na minha cama,
Dave. — Ela se curvou. — E você nunca me machucaria. Você nunca faria
nada que eu não quisesse.

— Muito bem. — Ele disse enquanto se relaxava sobre ela e se


mantinha ali por um momento, como se lhe desse a chance de mudar de
ideia.
Mas Mags não sentiu nem um segundo de pânico. Esse era
Dave. Marido dela.

Ele usou uma mão para ajustar seu agora duro pênis em sua
abertura, e então ele parou mais uma vez. Ela sabia o quanto isso devia
ser difícil para ele, mas ele não deixou transparecer que estava sentindo
qualquer tipo de dor erótica.

Mags ergueu os quadris em direção a ele, sentindo a cabeça de seu


pau deslizar mais para dentro. As narinas de Dave dilataram-se, mas ele
se controlou e empurrou lentamente para dentro dela.

Foi um pouco doloroso, pois fazia muito tempo que ela não fazia
amor. Ambos soltaram a respiração que estavam prendendo quando seus
quadris encontraram os dela, e ele estava totalmente dentro.

— Porra, eu te amo. — Dave sussurrou.

— Eu também te amo — Mags disse a ele.

— Você está bem?— Ele perguntou.

Ela assentiu. — Eu esqueci como era a sensação. Como você


se sentia bem.

— Eu nunca esqueci, nem por um segundo. — Dave disse a ela


enquanto levantava os quadris, então gentilmente empurrou de volta para
dentro dela. Ele fez isso algumas vezes, certificando-se de que ela estava
realmente bem.

— Mais rápido. — Mags pediu.

Para crédito de Dave, ele não perguntou se ela tinha certeza, ele
simplesmente acelerou seus movimentos.

Ele ainda estava se segurando, porém, Mags poderia dizer.


Ela trouxe uma de suas mãos para baixo entre seus corpos e sacudiu
seu clitóris, fazendo seus quadris empurrarem contra ele.

Seu ritmo constante vacilou por um momento, e ela sorriu. Movendo


a mão mais para baixo, ela acariciou seu comprimento enquanto ele saía
de seu corpo, usando o dedo indicador para girar em torno de suas bolas
em cada movimento para baixo.

— Droga, querida. Se você continuar fazendo isso, eu não vou durar.

— Quem disse que você tinha que durar? — Ela perguntou.

— Eu quero fazer isso bom para você. — Disse ele entre os dentes
cerrados.

— Por favor. Isso é bom. E eu quero que seja bom para você. — Ela
rebateu.

— Nunca estive melhor. — Dave disse a ela quando se apoiou nas


mãos e parou de se conter.

Mags sacudiu seu clitóris enquanto a fodia, e apenas quando ela


estava à beira de um segundo clímax, Dave endureceu sobre ela e
empurrou o mais longe que podia. Seu corpo inteiro tremia, até mesmo
seus braços, enquanto ele se esvaziava dentro dela.

Mags estava um pouco desapontada por não ter chegado ao


orgasmo, mas ela deveria saber melhor do que pensar que eles tinham
terminado.

Mantendo-se dentro dela, Dave se ergueu mais alto e olhou para


ela. — Continue. — Ele ordenou. — Faça você mesmo gozar.

Ela não precisava que ele dissesse duas vezes. Ela olhou para ele
enquanto se masturbava. Parecia ainda mais íntimo com ele olhando em
seus olhos. Seus quadris se arquearam e ele escorregou para fora dela
com o movimento. Ela gemeu de decepção, mas não parou de se
tocar. Dave se mexeu até que estava apoiado em apenas uma mão e a
outra acariciou o lado dela, então ele suavemente colocou um dedo dentro
de sua bainha encharcada.

Ele ainda não tirou os olhos dela. — É isso, Raven. Foda meu dedo.

E ela fez. Seu dedo não era tão grosso ou tão longo quanto seu pau,
mas era incrível ter algo dentro dela enquanto ela se apertava e se abatia
sobre ele, e seu clímax avançava cada vez mais perto da superfície. Ele
não tentou assumir, não empurrou a mão dela para fora do caminho,
assumindo que conhecia seu corpo melhor do que ela.

Em segundos, ela ergueu os quadris e voou sobre a borda. Mags


fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás enquanto ela arqueava as
costas e gozava. Ela agarrou seus bíceps mais uma vez, firmando-se
enquanto o mundo girava do avesso.

O material do vestido afundou em sua cintura, mas ela nem mesmo


sentiu. O dedo de Dave escorregou para fora de seu corpo lentamente, e
ele se deitou de lado, levando-a com ele até que ela estava deitada ao lado
dele com a cabeça em seu ombro. Ela jogou uma perna sobre a dele, e ele
espalmou sua bunda enquanto a segurava contra ele.

Quando ela conseguiu respirar novamente, ela inclinou a cabeça


para trás e olhou para ele.

Ele estava olhando para ela com um olhar de amor tão intenso que
a teria assustado se ela não tivesse certeza de que tinha o mesmo olhar
em seu próprio rosto.

— Eu sinto que é meu aniversário, aniversário e Natal, tudo ao


mesmo tempo. — Ele sussurrou.

— Eu também.
Vários minutos se passaram quando os dois ficaram perdidos em
seus pensamentos. Então Dave disse: — Obrigado.

— Acho que essa é a minha fala. — Ela brincou.

— Não, eu falo sério. Obrigado por ser tão corajosa. Eu estava


preparado para passar o resto da minha vida sem fazer amor com você
novamente. Não sei como ou onde você encontrou força para fazer isso
depois do que passou, mas estou mais grato do que posso dizer que você
tem a força interior para superar. E eu não estou dizendo que eu sou grato
que você fez sexo comigo, eu estou dizendo que eu estou feliz
por você que você foi capaz de dizer 'Foda-se' para todos e cada um
desses idiotas que feriram você e não deixá-los te derrubar. Isso faz
sentido?

Sim. Toda palavra. E Mags também estava muito orgulhosa de si


mesma. — Sim — Ela sussurrou. — É verdade.

Então Dave beijou sua têmpora e saiu da cama. Ele ficou ao lado
dele e estendeu a mão. — Tomar banho comigo? Talvez sem nossas
roupas desta vez?

Ela sorriu com a referência dele àquela época em Lima, quando ele
se machucou e tinha um cheiro horrível depois de passar um tempo em
um dos muitos lixões pela cidade. Ela estendeu a mão, segurou a mão dele
e o deixou ajudá-la a sair da cama. Ela ficou parada quando ele empurrou
o vestido para baixo sobre seus quadris, e estremeceu quando seu hálito
quente flutuou sobre seu peito, fazendo seus mamilos endurecerem.

Dave fingiu não ter notado sua reação, mas é claro que
percebeu. Eles entraram no enorme banheiro principal em que ele gastou
muito mais dinheiro do que ela pensava ser razoável, embora ela estivesse
secretamente tão tonta quanto uma adolescente antes de seu primeiro
encontro sobre o que tinha acabado.
Quando ele se inclinou para ligar a água, Mags não pôde deixar de
cobiçar sua bunda. Ela era uma mulher de sorte.

— Isso é uma loucura absoluta. — Disse Allye Martin para o resto


das mulheres sentadas na varanda dos fundos de Dave e Raven.

— Mas não teríamos de outra maneira. — Disse Morgan com uma


risada.

As sete mulheres concordaram e sorriram enquanto observavam


todas as crianças e seus homens correndo pelo quintal. Eles tinham
acabado de terminar a caça ao tesouro que David havia organizado para
todos. Ele passou os últimos dois dias escrevendo as notas e escondendo-
as por toda a propriedade.

Mags não poderia estar mais orgulhosa de seu filho. Ele tinha quase
12 anos e adorava sair com Darby, Calinda e todos os filhos mais novos
de seus amigos. Todos eles se viam como primos e se viam o tempo todo.

Harlow tinha dois filhos, Chloe um, Everly tinha um par de gêmeos e
mais um, e Zara e Meat decidiram não ter filhos e, em vez disso, tinham
um zoológico de animais de estimação em casa.

Uma gargalhada ecoou no quintal enquanto os homens brincavam


de pega-pega com as crianças. David ficou de lado com o caçula de Everly
em seus braços.

Em alguns aspectos, o Peru parecia uma vida inteira de distância


para Mags e, em outros, parecia que era ontem. Mas as mulheres
sentadas ao seu redor agora tinham se mostrado sua graça
salvadora. Elas riram juntas e choraram. Cada uma delas passou por suas
próprias experiências traumáticas, e era ótimo ser capaz de torcer o nariz
para as pessoas que tentaram derrubá-las. Todas elas estavam vivendo
vidas incríveis, apesar do que havia sido feito com eles.

— David parece bem. — Zara observou. — Ele não vai ser muito
alto, vai? — Ela disse com uma risada.

Mags balançou a cabeça. — Infelizmente, não. Ele nunca terá


'braços tão grandes quanto troncos de árvore', como ele uma vez disse
que queria. — Todas elas riram.

— Mas ele ainda é um ótimo jogador de basquete. — Observou


Morgan.

— Bem, ele é um bom atirador, mas quando as outras crianças


ficarem mais altas do que ele, ele vai ter dificuldade em contorná-las. —
Disse Mags com um encolher de ombros.

— Ele é um bom garoto. — Disse Harlow calmamente.

Mags olhou para a outra mulher, tentando lê-la. — Sim é.

— Não, quero dizer, ele é um garoto muito bom. — Disse Harlow


novamente. — Outro dia, ele veio ajudar a mim e a Gabby com a comida
que preparávamos para o abrigo e não se queixou de ter que passar a
tarde inteira conosco. E quando chegamos ao abrigo, ele imediatamente
se aproximou e começou a brincar com as crianças. Só estou dizendo que
ele pode ter tido um começo difícil, mas você e Dave estão fazendo tudo
certo com ele. Você deveria estar extremamente orgulhosa dele.

O coração de Mags parecia que ia explodir em seu


peito. Ela estava orgulhosa de seu filho. — Obrigado. Tenho certeza de
que teremos alguns problemas quando ele entrar na adolescência, mas
ele não é apenas inteligente e atlético, mas também empático. Não tenho
certeza se isso vem de uma parte dele se lembrar de como as coisas
costumavam ser ou o quê, mas estou grata.

— Você contou a ele sobre Lima? — Chloe perguntou.

Mags balançou a cabeça. — Ainda não. Eu vou, quando ele estiver


pronto. Ele pediu para ver fotos dele quando bebê, e eu tive que dizer a ele
que não tinha nenhuma, não porque eu não me importava com ele o
suficiente para tirá-las, mas porque éramos tão pobres quando ele era um
bebê, que eu não tinha dinheiro para isso. Isso pareceu acalmá-lo por
enquanto, mas sei que ele continuará a ter dúvidas.

— Não tenho dúvidas de que você e Dave descobrirão como contar


a ele sobre seu passado de uma forma que ele entenda. — Disse Everly,
confiante.

— Espero que sim. — Disse Mags.

— Nossos homens precisavam disso. — Disse Harlow depois de um


minuto.

Mags assentiu. Eles precisavam. Todos eles voltaram de uma


missão alguns dias antes que tinha sido muito difícil. Eles invadiram uma
casa em Nova York que havia rumores de que várias mulheres e
adolescentes estavam sendo mantidos lá contra sua vontade. Os rumores
estavam certos. Eles resgataram oito mulheres, todas com idades entre
quatorze e dezenove. Quatro eram crianças desaparecidas nos Estados
Unidos e os outros quatro eram do Canadá, Itália e México. Todas eram
viciadas em metanfetamina e eram forçadas a se prostituir para obter as
drogas que seus corpos ansiavam.

Foi horrível, ainda mais porque metade das mulheres não queria ser
resgatada. Todas estavam sendo atendidas em várias instalações de
reabilitação e em processo de reencontro com suas famílias preocupadas
e muito agradecidas.
Os Mountain Mercenaries foram fundamentais para salvar a vida de
mais de duzentas mulheres e crianças nos últimos sete anos, desde que
se concentraram em missões no território continental dos Estados
Unidos. Eles até receberam elogios do presidente.

Mas se alguém visse algum dos homens na rua, não os veria como
os maiores salvadores que eram. Eles veriam homens dedicados a suas
esposas e famílias.

Calinda veio correndo para a varanda ofegante, dizendo: — Estou


com sede, mãe. Posso beber alguma coisa?

— Tão educada. — Morgan murmurou. Então, mais alto, ela disse à


filha: — Claro. Talvez este seja um bom momento para um lanche de
qualquer maneira.

Calinda virou-se para o quintal e, com toda a força de seus pulmões,


gritou: — Hora do biscoito!

Todos pararam de andar e correram em massa para a varanda.

Mags se levantou e riu, assim como as outras mulheres também.

Dave veio ao lado dela e passou um braço em volta de sua cintura,


inclinando-se para acariciar seu pescoço.

— Ai credo! Você está todo suado! — Ela reclamou, tentando


afastá-lo, mesmo enquanto ria.

— Isso significa apenas que terei que tomar banho mais tarde —
Dave sussurrou em seu ouvido. — E se eu deixar você fedorenta também,
você terá que se juntar a mim.

Mags revirou os olhos. Mas, secretamente, ela amava que seu


marido ainda estivesse tão afim dela agora quanto antes de ela ser
raptada.
Ele estendeu o braço para o filho, e o coração de Mags se contraiu
quando David se aconchegou ao lado do pai. Ela sabia que estava
chegando a hora em que ele não iria mais querer abraços deles, então ela
tentou valorizar cada um deles.

— Ei, Champ? — Disse Dave.

— Sim, pai? — David disse, virando-se para olhar para seu pai.

— Você fede.

David apenas riu. — Sim. Isso porque é um trabalho árduo


encurralar todas as crianças e rastejar na terra ajudando-as a procurar por
pistas na caça ao tesouro. Você prefere que eu esteja lendo ou resolvendo
problemas de matemática? Você está sempre me dizendo para sair e
encontrar algo para fazer.

Dave deu uma risadinha. — Verdade. Eu estava apenas apontando


isso porque sua mãe me disse que eu cheirava mal e eu não queria ficar
sozinho com meu cheiro.

— Idiota. — Disse David com um aceno de cabeça.

Mags sabia que ela estava sorrindo muito. Era verdade, seu filho
adorava aprender. Ele lia tudo e qualquer coisa em que conseguia colocar
as mãos e adorava quebra-cabeças lógicos e ver pessoas resolvendo
problemas de matemática no YouTube. Ele não era um grande observador
de TV, o que ela agradecia.

Eles entraram na casa e o nível de ruído lá dentro estava fora do


normal. Mas olhando para seus amigos incríveis, e ouvindo a felicidade e
camaradagem, ela não pôde deixar de se sentir contente.
Dave estava deitado no cobertor na falésia entre sua esposa e filho
enquanto todos olhavam para o céu estrelado. A cada mês ou mais eles
fariam isso. Venha para fora depois que escureceu e simplesmente
mergulhe na beleza do ar livre e aproveite a convivência.

David estava ficando mais velho e mais ocupado. Ele estava no time
de basquete. Embora ele não fosse titular e não tivesse muito tempo em
campo, ele jurou que ainda gostava. Ele não era muito alto, tinha apenas
cerca de 1.70, mas o treinador adorava tê-lo no time porque ele estava
com vinte e sete a zero quando se tratava de lances livres. Ele era um
excelente atirador e era o seu principal homem quando se tratava de
pênaltis.

Ele também fez parte da equipe de robótica e do clube de


debate. Ele era um daqueles raros garotos que eram amigos tanto do
público popular quanto dos nerds e geeks. David não se importava com
quanto dinheiro alguém tinha ou qual era sua situação na escola. Ele era
bom com todos e não discriminava ou falava pelas costas de ninguém. Ele
foi o primeiro a defender as meninas quando elas eram atormentadas ou
tratadas como lixo pelos outros.

Dave estava orgulhoso disso. Ele não se importava com a habilidade


atlética de seu filho, e realmente não se importava muito com suas notas,
a não ser que ele queria que ele pelo menos passasse nas aulas. Ele se
importava com o fato de David ser compassivo e aprender a tratar as
mulheres observando seu pai e seus ‘tios’.

David também estava começando a namorar, para desespero de


Raven. Ele sabia que ela queria que seu filho ficasse jovem para sempre,
mas era inevitável que seu filho fosse um bom namorador. As meninas de
sua escola sabiam que ele era um cara bom e que, se saíssem com ele,
seriam bem tratadas. Dave não podia pedir mais nada.
Com o quão ocupado David estava, e porque ele tinha apenas
alguns anos restantes no colégio, Dave sabia que seu tempo de sair,
acampar e fazer caminhadas, logo chegaria ao fim. Ficar deitado em sua
propriedade olhando para as estrelas se tornaria apenas mais uma boa
memória. Isso o entristeceu, mas Dave sabia que tudo fazia parte do
crescimento do filho.

— Lembro-me de ter feito isso com você no Peru. — Disse David de


repente, Dave saindo de seus pensamentos.

— Você faz? — Ele perguntou surpreso. — Você tinha apenas


quatro anos e meio.

— Eu sei. Mas eu me lembro. — David insistiu. — Estávamos nos


escondendo em um telhado dos bandidos que estavam nos
procurando. Deitamos um ao lado do outro, exatamente como estamos
fazendo agora, e olhamos para as estrelas. Eles não eram tão brilhantes
na cidade como são aqui, mas eu ainda estava pasmo ao vê-las. Você me
disse que não sabia nada sobre como as estrelas eram chamadas, mas
me disse que as estrelas salvaram sua vida.

Dave piscou surpreso. Ele havia esquecido o que havia falado


naquele telhado com David todos aqueles anos atrás. Mas assim que seu
filho mencionou isso, voltou para ele como se fosse ontem. — Sim. Eu
disse a você que, quando sua mãe estivesse perdida, eu olharia para as
estrelas e a imaginaria fazendo a mesma coisa onde quer que estivesse. E
o pensamento de que estávamos olhando para as mesmas estrelas me
confortou.

— E você viu uma estrela cadente. — Continuou David. — Você


disse que achava que era um sinal de que mamãe estava lá fora, olhando
para as mesmas estrelas naquele segundo.

Dave ouviu Raven respirar fundo e agarrou a mão dela, mas não tirou
os olhos da multidão de luzes brilhantes acima dele. — Está certo.
— Lembro que você disse que, quando chegássemos em casa, nós
três faríamos isso. O que estamos fazendo agora. Deitar no chão e olhar
para as estrelas. Juntos. Eu só... Só queria que você soubesse que me
lembrei dessa conversa e estou feliz por estar aqui neste segundo. Deitado
aqui com vocês e olhando para as estrelas juntos.

Dave podia ouvir Raven fungando e apertou a mão dela. — Eu


também, Champ. Eu também. E lembre-se, não importa onde você vá em
sua vida, não importa onde você more ou o que esteja fazendo, quando
você olhar para as estrelas, sua mãe e eu estamos pensando em você e
estamos muito orgulhosos de você.

Ele sentiu o filho de quatorze anos roçar a mão na sua, e Dave


segurou-a com força.

Eles ficaram assim, os três de mãos dadas, e olharam para as


estrelas por um longo tempo. Gratos pelo que eles tinham e um pelo outro.

A vida nem sempre foi fácil. Na verdade, todos os três sabiam com
certeza que a vida poderia ser um filho da puta. Mas foram as pessoas
com as quais você se cercou que o tornaram melhor. E Dave sabia que
eles tinham as pessoas mais incríveis em suas vidas, e isso fazia toda a
diferença.

— De quem é a carta? — Dave perguntou quando Raven voltou para


a casa depois de receber a correspondência. Ela rasgou o envelope no
caminho de volta para casa e estava com a cabeça inclinada lendo
enquanto caminhava.
Ele sabia que poderia ser de qualquer número de pessoas. Daniela,
Teresa, Bonita, Carmen, Maria, ou mesmo o filho deles, que estava na
faculdade. Por algum motivo, todos eles adoravam escrever cartas reais
para frente e para trás, em vez de se comunicar por e-mails mais rápidos
e eficientes. Era uma peculiaridade estranha, mas ele não podia negar que
adorava ver o rosto de sua esposa se iluminar quando uma carta chegava
pelo correio para ela.

— Maria. — Raven disse, sem olhar para cima. — Ela teve seu
bebê. Ambos estão bem. Ela diz que quer vir visitar em alguns meses.

— Isso é ótimo, querida. Vai ser bom vê-la novamente. Quantos


filhos são para ela agora? — Perguntou Dave.

— Esse foi o seu quinto.

Dave assobiou baixo.

Isso chamou a atenção de Raven. Ela olhou para ele por um longo
momento, então caminhou até onde ele estava sentado no sofá. — Você
lamenta não termos mais filhos?

Dave imediatamente balançou a cabeça. — Não. Amo David de


todo o coração. Mas também sou egoísta e estou feliz por não ter que
compartilhar você com mais ninguém.

Ela revirou os olhos e balançou a cabeça para ele.

Dave a puxou para seu colo e apoiou o queixo em seu ombro


enquanto ela levantava a carta para continuar lendo. Ele não conseguia
entender uma palavra, já que estava escrito em espanhol, mas sabia que
estava cheio de boas notícias, já que sua esposa estava rindo baixinho
enquanto lia. Quando ela terminou, ela dobrou a carta e colocou-a de volta
no envelope. Ele sabia que ela responderia imediatamente naquela noite,
para não fazer Maria esperar sua resposta.
— O cara para quem estou pensando em vender o The Pit está vindo
para verificar o lugar mais tarde. Quer vir comigo para mostrar a ele?

— Claro. Tem certeza que deseja vender? — Raven perguntou,


girando em seus braços.

— Sim. Estou pronto para relaxar e não preciso mais me preocupar


em fazer pedidos de estoque e lidar com idiotas. Não estou ficando mais
jovem, sabe.

Raven zombou. — Mesmo com quase sessenta anos, você ainda


pode dominar qualquer pessoa. Especialmente idiotas bêbados que ficam
um pouco habilidosos e desrespeitosos.

Isso era verdade, mas agora que os Mountain Mercenaries se


aposentaram como uma equipe ativa, ele queria aproveitar seus anos de
crepúsculo com Raven. Ele esperava que eles ainda tivessem décadas
juntos, mas a última coisa que ele queria era se arrepender de ter passado
tanto tempo trabalhando se algo acontecesse com qualquer um deles. Os
dois sabiam como a vida poderia ser curta e ele não queria perder um
segundo disso.

Dinheiro não era problema. Entre seus investimentos e a venda de


The Pit, ele e Raven não teriam que se preocupar com dinheiro. Eles
poderiam simplesmente aproveitar a vida.

— Eu sei, mas estou pronto para não ter nada melhor para fazer do
que sentar em nossa varanda, bebericando café e curtindo sua
companhia.

Raven riu. — Como se isso fosse tudo que você fosse fazer depois
de vender o bar. Eu conheço você, Dave. Você encontrará algum projeto
ou outro para se envolver. Você tem que estar ocupado. Você tem que
ajudar os outros.
— Então encontraremos outros para ajudar juntos. — Disse ele
simplesmente.

Raven assentiu. Ela enrolou o braço em volta dos ombros dele e


descansou a testa contra o lado da cabeça dele. — Juntos. Eu gosto
disso.

— Sempre — Dave disse a ela. Ele olhou para o relógio. — Acho


que podemos ter tempo para isso... Banho, antes de termos que ir ao
encontro do comprador.

Raven balançou a cabeça e revirou os olhos. — Mas eu não estou


suja.

— Eu posso te sujar. — Dave disse a ela com uma cara séria.

— Você acha que pode me acompanhar, velho? — Raven perguntou


enquanto pulava de seu colo e se dirigia para as escadas.

Sorrindo, Dave deu-lhe uma vantagem antes de correr para alcançá-


la. Ele a ouviu rir da escada acima dele e, pela oitava milionésima vez
desde que a encontrou no Peru, fez uma oração silenciosa de gratidão por
ela estar aqui com ele, saudável e inteira, antes que ele subisse correndo
as escadas depois dela.

Dave sentiu as unhas de Raven cravarem em seu antebraço


enquanto eles se sentavam nas arquibancadas da Universidade de Denver
e observavam seu filho se levantar para fazer o discurso de formatura.
Todos vieram para a ocasião: Gray e Allye, Ro e Chloe, Arrow e
Morgan, Black e Harlow, Ball e Everly, e Meat e Zara. Gabriella também
estava lá com o marido e dois filhos pequenos.

Dave tentou dar uma chance a todos eles, dizendo que as


cerimônias de formatura não eram exatamente as coisas mais
empolgantes de se assistir e que eles os encontrariam de volta no Pit -
agora sob nova administração, mas ainda propriedade de Dave - mas eles
disseram que não perderiam a oportunidade de ouvir o discurso de David.

David era uma das pessoas mais inteligentes que Dave já conheceu,
e ele não achava isso só porque era seu filho. Hoje, ele estava
comemorando a obtenção de seu mestrado em finanças quantitativas
aplicadas. Ele já havia sido contratado por uma empresa de fundos mútuos
com sede em Denver como engenheiro financeiro. Ele teve mais de uma
dúzia de ofertas de emprego, mas escolheu um trabalho que era perto de
Colorado Springs e sua família. David sempre permaneceu perto de
Raven, e Dave adorava ver o vínculo deles continuar a crescer a cada dia
que passava.

— Ele parece tão bem. — Raven sussurrou. — Estou tão feliz por
ele.

Dave apertou a esposa com o braço que a envolveu e voltou sua


atenção para o filho na plataforma, diante da multidão.

— Boa tarde. Reitor, reitores, família e amigos e, claro, colegas


graduados. Obrigado por me dar a honra de falar com você na nossa
formatura hoje. Já passamos por muitas noites, litros de café e reuniões
estressantes com nossos orientadores de teses. Mas nós
conseguimos. Estamos aqui! E deixe-me dizer a você... É literalmente um
milagre estar na sua frente hoje. Tenho uma história para lhe contar, sobre
a qual nunca falei publicamente. É mais sobre minha mãe do que sobre
mim, no entanto. Nasci em Lima, no Peru, em um complexo fechado onde
minha mãe foi mantida em cativeiro. Ela foi sequestrada em Las Vegas e
forçada ao comércio de tráfico humano. Dia após dia, ela foi abusada, mas
quando descobriu que estava grávida de mim, ela implorou ao seu captor
que a deixasse ficar com seu bebê. Ele permitiu, mas quando chegou à
hora, ela foi trancada em um quarto sozinha para dar à luz. Em seguida,
ela foi jogada fora, separada de seu bebê e, sem dinheiro, foi forçada a
encontrar um lugar para morar e buscar qualquer alimento que pudesse
conseguir. Mas toda segunda, quarta e sexta-feira, ela caminhava
quilômetros para me ver. Veja, o homem que a aprisionou decidiu me
manter por seus próprios motivos depravados.

David fez uma pausa quando o público engasgou.

— Está certo. Meu futuro foi definido no dia em que nasci. Não havia
necessidade de me educar porque tudo que eu fazia era ganhar dinheiro
para um homem doente, perverso e mau. Mas... Obviamente isso não
aconteceu, porque estou na sua frente hoje. Minha mãe me ensinou
inglês. Ela me ensinou matemática e minhas cores. Ela me ensinou o
significado da decência humana. Quando eu tinha quatro anos e meio, e
horas longe de estar separado de minha mãe para sempre, meu pai
apareceu como o herói maior que a vida que eu sempre pensei que ele era
depois de ouvir histórias sobre ele por toda a minha vida. Eu não tinha nem
cinco anos, mas me lembro de estar deitado no telhado de um prédio em
Lima, enquanto os bandidos faziam o possível para nos encontrar, olhando
as estrelas com meu papá... E ser feliz. Eu era muito jovem para entender
o que quase tinha acontecido comigo, mas não muito jovem para saber
que o homem que me carregou para longe dos bandidos me manteria
seguro. Minha mãe e meu pai são meus heróis. Eles nunca riam de mim
quando eu queria ficar acordado até tarde assistindo a vídeos no YouTube
de pessoas resolvendo problemas de matemática. Eles me encorajaram a
ser uma boa pessoa e a guardar comentários maldosos e críticos para mim
mesmo. Qual é o meu ponto? Primeiro... Decência humana. Tê-lo. Cada
vez que ligo a TV, vejo histórias de pessoas sendo roubadas, baleadas e
feridas por outras pessoas. Então eu entro na minha conta de mídia social
e vejo pessoas atacando outras pessoas, reclamando de suas vidas e,
geralmente, sendo más ou miseráveis, simplesmente porque sentem que
é seu direito ser assim. Não há nada de errado em ter uma opinião, mas
nem sempre você precisa compartilhá-la. Da próxima vez que você passar
por alguém implorando na rua, pare e converse com ele. Se você vir
alguém usando o vale-refeição no supermercado, se tiver dinheiro, talvez
ofereça para pagar a refeição, dê um tempo. Não julgue os outros antes
de caminhar uma milha no lugar deles. E em segundo lugar, não acho que
alguém que pudesse ter visto o garoto que eu era no Peru pensaria que eu
estaria aqui na sua frente hoje. Mas todos têm potencial para ter sucesso
se apenas tiverem a chance. Não julgue alguém pelas roupas que veste,
pela cor da pele ou por quanto dinheiro tem.
E mamãe? Obrigado. Obrigado por não desistir. Por me amar o suficiente
para passar um dia. Então o próximo. Então o próximo. Obrigado por ver
o potencial em mim e por me amar, apesar das circunstâncias de como eu
vim a ser. Obrigado por trazer o Papá para a minha vida. Por me dar um
homem que posso admirar. Algum dia, espero ser metade do homem que
ele é. E obrigado por me mostrar como é um relacionamento amoroso e
saudável. É rir, chorar, brigar, mas no fim do dia, é aproveitar cada
momento da vida com alguém ao seu lado. Hoje, conquistamos nossos
diplomas, mas apenas segurar um pedaço de papel não nos torna mais
inteligentes ou melhores do que alguém que não teve os recursos e
oportunidades para fazer o mesmo. À medida que avançam em suas
vidas, lembrem-se de ser seres humanos decentes. Viva cada dia como
se fosse o último e aprecie as pessoas ao seu redor. Obrigado.

A multidão imediatamente irrompeu em aplausos estrondosos e


Dave ficou ao lado de sua esposa. Ele estava imensamente orgulhoso de
seu filho e sentiu os olhos um pouco marejados ao ouvir suas
palavras. Virando-se para Raven, ele viu as lágrimas escorrendo por seu
rosto.

Inclinando-se, ele disse em seu ouvido: — Você está bem?


Ainda chorando, ela olhou para ele e disse: — Estou mais do que
bem.

Dave usou o polegar para limpar a umidade de uma de suas


bochechas. — Tem certeza disso?

Ela sorriu. — Estas são lágrimas de alegria e orgulho. Eu te amo.

— Amo você também.

Eles se viraram e viram seu filho apertar as mãos de todas as


pessoas na plataforma. Então, ao voltar para seu assento, ele foi parado
por quase todos por quem passou com um soco de punho, um aperto de
mão ou um baque nas costas.

Dave sorriu com orgulho quando seu filho recostou-se em sua


cadeira. Ele era um jovem excepcional, e Dave tinha orgulho de chamá-lo
de filho. Ele simplesmente sabia que David faria uma diferença positiva no
mundo.

***

Naquela noite, depois de chegar em casa de um jantar de


comemoração, e depois de sentar no deck traseiro falando sobre a bela
cerimônia a que compareceram naquele dia e como estavam orgulhosos
de seu filho e de tudo que ele havia conquistado, Dave e Raven acabaram
entrando para o sofá.

Era uma vez, Mags poderia ter ficado envergonhada por David
contando sua história para um auditório cheio de pessoas, mas ela decidiu
há muito tempo que não tinha nada do que se envergonhar. Se sua história
pudesse ajudar até mesmo outra pessoa que poderia estar em uma
situação semelhante, valeria a pena.

Ela e Dave o sentaram quando ele estava no último ano do ensino


médio e contaram a ele toda a história de sua vida antes de ele completar
cinco anos. Como ele foi concebido, como eles não sabiam quem era seu
pai biológico, e o que ele viveu naquela pequena casa que pertencia a del
Rio. Eles até lhe contaram o que o homem malvado havia planejado para
ele, como Dave havia chegado a tempo de salvá-lo daquela vida e como
ele havia tirado os dois do Peru e de volta para Colorado Springs, onde
eles fez uma nova vida.

David não tinha falado muito. Tinha acabado de ouvir com


atenção. Mas quando toda a história foi revelada, ele pegou sua mãe nos
braços e disse que a amava e estava orgulhoso dela por tudo que ela
suportou. Ele agradeceu por cuidar tão bem dele e disse que no que dizia
respeito a ele, de agora e para sempre, Dave era seu pai, ele não tinha
nenhum desejo de pisar no Peru, e certamente não tinha intenção de
sempre querendo encontrar o estuprador que engravidou sua mãe. Foi
uma conversa difícil, mas David a encarou como o jovem maduro que era.

Mags não esperava que ele falasse sobre seu passado no discurso
de hoje, mas ela não poderia estar mais orgulhosa do homem
incrivelmente inteligente e compassivo que ele se tornou.

Sentindo-se satisfeita e suave, ela se aconchegou em Dave depois


que ele se sentou ao lado dela. Estar com o marido e ter seus braços em
volta dela era um dos lugares que ela se sentia mais segura.

Enquanto eles se sentavam lá, cada um perdido em seus


pensamentos sobre tudo o que tinha acontecido naquele dia, Mags não
conseguia parar de perguntar algo que ela tinha se perguntado
continuamente nos últimos vinte anos.

— Dave?
— Sim, querida?

— Você matou Del Rio... Não é?

Ele pareceu surpreso com a pergunta, mas assim que o choque


apareceu em seus olhos, ele enxugou o rosto de todas as emoções. — Por
que você perguntaria isso? Você sabe que não saí do seu lado depois que
voltamos para casa. Acho que foi cerca de três anos antes que eu fosse
capaz de passar uma noite longe de você e David.

— Eu sei que você não fez isso sozinho, mas você arranjou.
Isso... Certo? Está tudo bem. — Ela se apressou a dizer. — Não estou
chateada com isso. Eu só... Eu preciso saber.

Dave a puxou para mais perto e Mags foi de boa vontade. Ela
enrolou a mão em torno de sua barriga e descansou a cabeça em seu
ombro. Eles podem estar na casa dos sessenta anos, mas ela e o marido
ainda gostavam de agradar um ao outro na cama, e ela nunca se cansaria
de se aninhar com ele.

— Eu não o matei... Mas eu conheço a equipe de homens que


fez. Eu pedi um favor. Foi um desafio que eles aceitaram.

— Ele fez... Ele sofreu? — Mags prendeu a respiração enquanto


esperava sua resposta.

— Sim, Raven, ele fez. Não vou lhe contar os detalhes, porque você
viveu com merda suficiente na cabeça por causa daquele homem, mas
tenha certeza de que ele sabia exatamente quem enviou os homens que o
mataram, e por que ele morreu daquela maneira.

Mags soltou a respiração que estava prendendo. — Bom. Eu estou


bem. Eu te amo, Dave. — Ela sussurrou. — Não sei o que fiz para merecer
você, mas sei de uma coisa.

— O que é isso? — Ele perguntou.


— Eu passaria por tudo o que me aconteceu de novo se isso
significasse que eu acabaria aqui com você agora.

— Raven. — Dave sussurrou, mas ele não disse mais nada.

— Obrigado, Rex. Obrigado por garantir que ninguém mais sofresse


como eu. Voce é meu herói.

— Não. — Dave protestou. — Você é a minha heroina. Nunca


conheci uma mulher mais forte ou mais incrível em toda a minha vida.

Mags se inclinou e beijou a mandíbula de Dave, então descansou a


cabeça em seu ombro. Querendo aliviar o momento, e sentindo-se
acomodada por algum motivo, agora que sabia que Dave tinha uma
participação na matança de seu algoz, ela disse: — David fez bem hoje,
não foi?

— Inferno, sim, ele fez. — Disse Dave com um sorriso. — Você está
assistindo isso? Ele perguntou, apontando para a televisão com o queixo.

— Na verdade não, por quê?

— Eu pensei que poderíamos subir.

Mags sorriu. — Oh sim? Tem algo que você quer me mostrar?

— Oh sim. É algo que eu sei que você vai adorar também. — Dave
disse a ela, movendo a mão de sua barriga para baixo entre as pernas.

— Você é um velho sujo. — Brincou Mags quando o sentiu


endurecer sob sua palma.

— E você é uma velha suja. — Ele respondeu. — Minha velha suja.

Sorrindo muito, Mags se levantou e estendeu a mão. — Bem, então,


vamos apenas subir e ver em que problemas podemos entrar.
Enquanto subiam de mãos dadas às escadas para o quarto principal,
Mags manteve os olhos na bunda do marido e sorriu. Ela tinha passado
pelo inferno, não havia como negar, e ela escolheu não ser uma vítima,
mas uma sobrevivente. E as pessoas podem não acreditar nela, mas ela
foi mais feliz nos últimos vinte anos do que em toda a sua vida. E era tudo
por causa do homem alfa protetor segurando sua mão e praticamente
arrastando-a para a cama.

— Amo você, Dave.

Ele parou dentro do quarto e se virou. Ele passou os braços em volta


da cintura dela e puxou-a para perto, para que ficassem colados. — Eu
também te amo, Raven. Você nunca saberá quanto.

Ela sorriu porque ele a fez saber.

Sem outra palavra, Dave puxou-a para a cama e, quando seu marido
a deitou no colchão, Mags soube que ela era a mulher mais sortuda do
mundo.

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