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Crisma

Tema: Dogmas Marianos


O que é um dogma?

O Catecismo da Igreja Católica diz:

O Magistério da Igreja faz pleno uso da autoridade que recebeu de


Cristo quando define dogmas, isto é, quando propõe, dum modo que obriga o
povo cristão a uma adesão irrevogável de fé, verdades contidas na Revelação
divina ou quando propõe, de modo definitivo, verdades que tenham com elas
um nexo necessário.

Em resumo, um dogma é uma verdade de fé. É importante entendermos


que o Papa proclamar um dogma não faz com que, a partir daquele momento,
foi-se feita uma verdade. O que acontece é a confirmação de uma realidade
que sempre existiu. Um exemplo prático: imaginem que dentro de uma caixa há
um chocalho. No entanto, essa caixa está bem selada. Até o momento em que
não se é revelado o que está dentro da caixa, qualquer pessoa pode tentar
desvendar qual é o objeto: seja pelo peso, pelo barulho… Porém, a partir do
momento em que se é revelado que é um chocalho, não há mais motivos para
discussões. É assim com o dogma: aquela verdade sempre esteve ali, mas
uma vez elevada ao “nível” de dogma, se cessa qualquer debate sobre sua
procedência.

O que são dogmas marianos?

Portanto, quando acrescentamos a subcategoria “marianos”, estamos tratando


de verdades de fé que envolvem a pessoa da Virgem Santíssima. Afinal, Maria
não é uma mulher qualquer. É a escolhida por Deus para receber em seu seio
o Redentor da humanidade, Nosso Senhor Jesus Cristo. Ao pensarmos em
Maria, pensamos em Jesus. Então, de maneira quase medular, é deduzível
que ao redor de Nossa Senhora, tenham acontecimentos extraordinários
fundamentais para que a história da Salvação fosse plenamente realizada.
Durante a história da Igreja, esses acontecimentos foram sendo elevados ao
status de dogma. Hoje, são quatro:

1. A Maternidade Divina: Maria é Mãe de Deus


2. A Virgindade Perpétua: Maria é virgem desde antes,
durante e depois do parto de Nosso Senhor
3. A Imaculada Conceição: Maria foi preservada da mancha
do pecado original
4. A Assunção: Maria foi assunta em corpo e alma ao Céu

A maternidade divina

Pode parecer meio estranho essa afirmação que Maria é Mãe de Deus.
Deus pode ter mãe? Não seria equivocado afirmar que Deus, que é, foi de
alguma maneira “gerado” por uma mulher? Pois bem, esse tipo de
questionamento que gerou debates acalorados (e de certa forma se mantém
em boa parte das denominações protestantes). Tudo se resolve com uma
expressão: união hipostática. Maria gerou a natureza humana de Nosso
Senhor. No entanto, a natureza humana e a natureza divina estão unidas
inseparavelmente desde o primeiro instante de sua concepção. Por isso
podemos afirmar que Maria é Mãe de Deus. E isso foi bem definido no Concílio
de Éfeso, em 431.

Tamanha a importância desse dogma que o celebramos no dia primeiro


de janeiro, na solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus. Inclusive, é missa de
preceito, ou seja, obrigatória a todo fiel católico, salvo motivo grave.

Sempre Virgem Maria

A primeira coisa que nos diz este dogma, no qual se contém um dos
mais belos privilégios marianos, é a virginidade material, também
chamada virginitas corporis, de Nossa Senhora. Trata-se de um mistério
realizado por Deus no corpo de Maria, em virtude do qual ela foi e se manteve
sempre e perfeitamente virgem, antes, durante e depois do parto, sem que
jamais se lhe tenha rompido a membrana do hímen. Esta perfeitíssima
integridade física que Deus quis preservar milagrosamente no corpo de sua
Mãe foi e ainda é um sinal do mistério ainda maior que nela se realizou: a
Encarnação do Verbo divino.

a) Antes do parto. — Assim sendo, que Maria tenha permanecido


virgem antes do parto significa que Cristo foi nela concebido sem intervenção
alguma de varão (ou seja, por meio de uma relação sexual normal), mas por
obra exclusiva do Espírito Santo, isto é, pelo poder de Deus, para quem
nenhuma coisa é impossível (cf. Lc 1, 37). Com efeito, a concepção virginal é
um meio claríssimo de pôr em evidencia a divindade daquele que é
concebido. Pois se Maria, enquanto Mãe, é prova de que Cristo
é homem igual a nós, enquanto é Mãe e Virgem ao mesmo tempo, é prova de
que Ele é Deus acima de nós.

b) Durante o parto. — Além disso, ensina a Igreja Católica que Maria


permaneceu virgem durante o parto, ao longo de todo o processo em que deu
Cristo à luz em Belém. Assim o declara o Magistério da Igreja, assim o
testemunham os Santos Padres e a Liturgia, assim o corrobora a razão
iluminada pela fé. De fato, que poderia haver de mais estranho e indigno da
bondade divina se Aquele que veio livrar a humanidade da corrupção do
pecado corrompesse, em seu parto singular, a integridade virginal da própria
Mãe? Aliás, que valor teria, como indício visível da divindade de Nosso
Senhor, a integridade corporal de Maria, se após o parto ela deixasse de ser
virgem?

c) Depois do parto. — Enfim, a Igreja nos manda crer que Maria


permaneceu virgem depois do parto, ou seja, que nunca teve relações
sexuais nem, portanto, outros filhos além de Jesus. Afirmar o contrário seria
não só desconhecer as Escrituras, que em lugar algum dão margem a uma
interpretação oposta ao dogma católico, mas ainda uma grande injúria a
Cristo, que, sendo o Unigênito do Pai, devia também ser o unigênito da Mãe;
ao Espírito Santo, que fez do útero da Virgem um sacrário intocável, ao qual
só Deus quis ter entrada; a Nossa Senhora, imputando-lhe a ousadia de não
se ter contentado com um filho tão bom como Cristo e a temeridade de
destruir a virgindade que milagrosamente lhe fora conservada; e, enfim, a S.
José, que teria cometido a terrível presunção de tocar naquela em que, por
revelação do Anjo, sabia ter-se encarnado o Filho do Altíssimo (cf. S. Tomás
de Aquino, STh III 28, 3 c.).

Além desta virgindade material ou física, crêem os cristãos que Nossa


Senhora foi também sempre virgem em seus afetos e desejos, com uma
virgindade chamada em teologia virginitas sensus. Por ser Imaculada, Maria
esteve livre das sequelas do pecado original, entre as quais se conta a
desordem da vontade e dos nossos apetites sensitivos. Isso significa que
Maria nunca experimentou um desejo, um pensamento sequer, ainda que
involuntário, que fosse menos honesto e digno de sua altíssima condição de
Mãe de Deus. Nela, tudo era perfeito, tudo redundava em amor a Deus,
porque nela não havia aquela inclinação para o mal que, segundo a nossa
tradição teológica, recebe o nome de fomes peccati.

Por fim, Maria possui também uma virgindade perpétua de espírito,


chamada virginitas mentis, que compreende, de um lado, a disposição
permanente de abster-se de todo e qualquer prazer venéreo, como forma de
consagrar-se mais perfeitamente a Deus (neste ponto, a sua virgindade
espiritual coincide com a das outras virgens consagradas que tanto honram a
Igreja com o seu exemplo angélico de entrega a Cristo); e, de outro, uma
completa pureza de alma, que fazia de seu Coração Imaculado uma fonte
única e irrepetível de amor a Deus, sem mescla alguma de imperfeições.
Nisto consiste a parte mais importante e mais essencial da virgindade de
Nossa Senhora, porque, sem ela, pouco ou nenhum valor teria, só por si, a
simples integridade física.

Imaculada Conceição

A Imaculada Conceição é a concepção de Maria. É um dogma que nos


revela que Maria foi preservada da mancha do pecado original no momento
de sua concepção, e permaneceu livre do pecado por toda a sua vida.

Era intrínseco ao plano salvífico de Deus que Maria fosse concebida


sem o pecado original. Porque Adão e Eva, quando se afastaram de Deus,
representavam toda a humanidade, todos os seres humanos afastaram-se de
seu Criador. O pecado original foi transmitido a todas as gerações, ao longo
de toda a história da humanidade, de modo que, quando somos concebidos,
já nascemos num estado natural de separação de Deus, que os teólogos
chamam de pecado original originado, e com uma inclinação para pecar, que
é a concupiscência.

O plano salvífico de Deus era que seu Filho unigênito, a segunda


Pessoa da Santíssima Trindade, assumisse a natureza humana, a fim de que
tanto Deus como o homem Jesus pudessem realizar a redenção da raça
humana. Mas havia um problema: Deus é sumamente santo. Portanto, Ele
está em completa e total oposição ao pecado, razão pela qual os pecadores
não podem estar em sua presença, sem antes serem purificados.

Como, então, Deus, o Filho, poderia se unir intimamente a uma


natureza humana decaída? É aqui que entra o plano de Deus para Maria.
Deus a escolheu para ser concebida sem pecado original, a fim de que
pudesse dar a Jesus uma natureza humana pura e sem pecado. Maria é o
vaso puro e inoxidável através do qual Jesus recebe uma natureza humana
imaculada e sem pecado, a fim de que possa entrar no mundo para completar
o plano salvífico do Pai.

Era necessário que Maria não tivesse uma natureza decaída, pois
qualquer participação no pecado original, ou mesmo no pecado pessoal,
destruiria sua inimizade com Satanás e o pecado. Por conseguinte, nesse
primeiro anúncio do plano salvífico de Deus, vemos sua intenção de manter
Maria totalmente livre do pecado, a fim de que Jesus pudesse assumir uma
natureza humana incorruptível.

Uma referência ainda mais explícita à Imaculada Conceição de Maria


está presente no Evangelho de Lucas, na Anunciação do anjo a Nossa
Senhora (cf. Lc 1, 26-38). Ao saudar Maria, o anjo Gabriel revela que ela é
imaculada. A tradução mais adequada da sua saudação é “Salve, tu que és
plena de graça” (Lc 1, 28). A palavra grega kekaritomene (κεχαριτωμένη) é
um particípio perfeito, que significa “foi preenchido”. Em razão disso,
afirmamos que Maria é aquela que “foi preenchida” com a graça de Deus,
aquela que a recebeu em toda sua plenitude, uma vez que a graça já lhe foi
concedida de forma plena no momento da sua concepção.

A Assunção de Nossa Senhora

O último dos dogmas marianos a ser proclamado. Foi em 1950, pelo


Papa Pio XII. A Assunção nos deixa uma reflexão belíssima de como é oposta
a passagem de Maria para a Vida Eterna. Afinal, a morte, para qualquer
pessoa, é acompanhada de três aflições (em maior ou menor grau, a depender
da progressão espiritual de cada um): 1) A incerteza da salvação 2) O apego
aos bens terrestres 3) O remorso dos pecados. Maria tinha certeza da
salvação, nunca cometeu nenhum pecado e era completamente desapegada
do mundo. Dessa maneira, sua passagem (há divergências se teria morrido ou
apenas dormido, visto que não havia pecado) foi gloriosa, elevada aos Céus
em corpo e alma pelo próprio Jesus, para ser coroada Rainha.

Estando em corpo e alma junto de Deus, entendemos a grandiosidade


de Maria frente a todos os outros santos. Sua união com a Santíssima
Trindade chega ao nível mais elevado possível. Portanto, pedir a intercessão
de Maria é confiar nessa união e entender que os pedidos que fazemos à Mãe
chegam com carinho e piedade ao Filho.

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