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O Mistério da Imaculada Conceição de Nossa Senhora

O pecado original, cometido por Adão e Eva, para nós vira um pecado de herança, que podemos dizer um
pecado de raça. Sendo da raça humana, cada um de nós herda de alguma maneira este pecado.

São Paulo nos ensina que a raça humana nasceu para formar um corpo único quando ele diz 1Cor 12,12:
assim como o corpo é um, e tem muitos membros, assim é também Cristo, porque em um espírito fomos
batizados todos nós, para sermos um só corpo.
Jesus Cristo é a cabeça sobrenatural deste corpo e Adão é a cabeça natural e moral.
Uma vez que a cabeça moral pecou, todos os membros participam deste pecado.

Quando Deus criou os nossos primeiros pais, ele estabeleceu Adão e Eva no estado de inocência, de justiça
original e de santidade. Eles tinham recebido de Deus três qualidades: naturais, sobrenaturais e
preternaturais.

Os dons naturais são as propriedades do corpo e da alma, que são exigidos pela natureza dos homens para
alcançar o seu fim natural.

Os dons sobrenaturais são a graça santificante que faz os homens filhos de Deus e predestinados à visão
beatífica.

Os dons preternaturais são a imunidade do sofrimento, imunidade da morte, imunidade da ignorância e


imunidade a concupiscência. Imunidade às feridas, vulnera.

catequista: Alexandre Pinho – 2º semestre de 2022


O Mistério da Imaculada Conceição de Nossa Senhora

Com a desobediência a Deus, Adão e Eva cometeram um pecado mortal e perderam a graça divina.

Perderam todos os dons sobrenaturais e preternaturais, conservando apenas os dons naturais, mas estes
últimos aqui ficaram muito enfraquecidos.

As paixões então desnorteiam o juízo das pessoas e enfraquecem a vontade delas.

Aí este pecado de raça se transmite a todos os que pertencem à raça humana. Com isso todos nós estaríamos
mortos em Adão e por lógica também estaria Maria Santíssima.

Maria, em virtude da sua descendência natural de Adão, estaria sujeita ao pecado, se ela não fosse como
pessoa preservada dele.

Como criatura, Maria devia herdar o pecado original. Mas como Mãe de Deus, Ela devia ser preservada.

Então como nós provamos isso?

Maria Santíssima entrou neste mundo pelas vias comuns da natureza. Ela foi o fruto bendito da união de
Santa Ana e de São Joaquim.

Nós distinguimos no ser humano uma dupla conceição: uma ativa, que é a procriação do corpo e uma passiva,
que é a união da alma ao corpo gerado.

A conceição ativa de Maria Santíssima não é nada diferente da conceição de outras crianças, assim como nós.
Mas, no caso da conceição passiva, aqui temos o que é completamente diferente.

A nossa alma, no momento de se unir ao corpo que ela deve vivificar é contaminada pelo pecado original.
Mas a alma de Maria Santíssima foi milagrosamente preservada desta mancha.

O pecado original sendo essencialmente a privação da graça santificante, que a alma devia ter, deve-se
concluir que a Imaculada Conceição consiste em que Maria Santíssima nunca conheceu, nem num único
instante, esta privação.
Mas que desde o momento que ela foi criada, a sua alma é unida ao corpo, preparado naturalmente para
receber esta alma, ela achou-se revestida da justiça e da santidade, por uma graça especial de Deus e uma
aplicação antecipada dos méritos do Salvador Jesus.

Então nós temos aqui que o corpo do Salvador foi formado no seio de uma Virgem, por uma operação pura
e divina do Espírito Santo, enquanto o corpo de Maria Santíssima teve a origem comum dos outros corpos
humanos.

A santidade original é em Jesus uma condição da sua natureza, um atributo essencial de sua pessoa.
Em Maria, a santidade original é um privilégio, uma graça gratuita, concedida por causa dos méritos do
Salvador.

Jesus Cristo estava infinitamente acima da corrupção comum. Maria Santíssima estava sujeita à corrupção,
mas foi preservada dela.

Esta é a gloriosa doutrina da Imaculada Conceição.

No caso da imaculada Conceição de Nossa Senhora era absolutamente necessário que Deus pai mudasse a
lei natural em favor de seu próprio filho. O Deus de toda pureza não podia entrar em contato com o pecado.
Se Jesus se contaminasse pelo pecado, não seria mais a pureza infinita e não o sendo mais, deixaria de ser
Deus, porque em Deus tudo é infinito.

Cristo, infinitamente puro, não seria mais puro, se Ele tomasse um corpo formado por uma carne e um sangue
manchados pelo pecado.

catequista: Alexandre Pinho – 2º semestre de 2022


O Mistério da Imaculada Conceição de Nossa Senhora

O filho recebe o seu corpo do corpo e do sangue da sua mãe. O filho é uma continuação dos seus pais.
O corpo de Jesus Cristo é um corpo formado pela carne e pelo sangue da Santíssima Virgem. Ele é o filho de
Maria. Diz São Lucas 1, 35: Aquele que nascerá de ti, será chamado o filho de Deus.
Uma vez que o corpo de Jesus é formado do sangue de Maria, e devendo este corpo ser de uma pureza
infinita – pois é o corpo de Deus – é absolutamente exigido que a carne e o sangue de Maria sejam também
de uma pureza absoluta. Em outras palavras, sem o pecado original.

Só existem duas maneiras de alcançar esta pureza: uma por meio da purificação e outra por meio da isenção
do pecado original.

Se Maria Santíssima tivesse sido apenas purificada do pecado, Ela teria sido escrava, pelo menos por alguns
instantes, do demônio.

Mais tarde, o demônio poderia lançar no rosto de Jesus Cristo este insulto (olha a figura do lado esquerdo):
“Tua mãe! Ela foi minha antes de ser tua! Eu a possuí maculada!”

Esta suposição, além de horrível, não faz sentido.


O Senhor estará então com Maria desde o princípio. E onde está o Senhor, não está o demônio. Maria é
cheia de graça. Se Ela fosse dominada pelo mal, mesmo que por um instante, Ela não estaria mais cheia de
graça. Portanto, faltaria a graça inicial.

Com isso a Mãe de Jesus não podia simplesmente ser purificada do pecado. Ela teria então que ser
preservada.

Portanto, estamos aqui de frente ao mistério da Imaculada Conceição, que não é outra coisa senão a
preservação do pecado original, pela previsão dos merecimentos futuros do nosso Salvador Jesus Cristo.

A Imaculada Conceição abrange dois pontos importantes que vale a pena reforçar aqui:
O primeiro é da Santíssima Virgem ter sido preservada da mancha do pecado original, desde o princípio da
sua conceição.
O segundo é que este privilégio não foi dado por direito, mas foi concedido pela previsão dos merecimentos
de Jesus.
Maria Santíssima foi resgatada por Jesus Cristo, assim como cada um de nós.

Nós temos duas maneiras de resgatar ou salvar uma pessoa: antes da queda ou através do levantamento,
ou seja, após a queda.
O primeiro resgate, ou seja, antes da queda foi dado a Maria Santíssima. Para todo o resto, ou seja, nós aqui,
o resgate que acontece é o segundo caso, depois da nossa queda.

Vamos então buscar a documentação bíblica para dar suporte a esta explicação.

Abrindo o livro do Gênesis, vamos encontrar as seguintes palavras que Deus dirigiu ao demônio, depois da
queda dos nossos primeiros pais. Gênesis 3, 15 : “Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e
a dela. Esta te ferirá a cabeça”.

Fazendo uma tradução literal: Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua semente e a semente dela: ela
te esmagará a cabeça.
Este texto aqui se refere à Santíssima Virgem, uma vez que é impossível restringir o significado dele somente
à pessoa de Eva.
Se fosse limitado a Eva apenas, o texto perde o significado.

catequista: Alexandre Pinho – 2º semestre de 2022


O Mistério da Imaculada Conceição de Nossa Senhora

A interpretação correta é que a mulher da passagem é a Virgem Santíssima, filha de Adão e Eva pela natureza,
filha e esposa de Deus, pela graça.

A sua posteridade, a sua semente, é o seu filho unigênito Jesus Cristo. Em Jesus a semente são os cristãos. A
serpente é o demônio e os filhos do demônio são os infiéis e os ímpios.
A Santíssima Virgem, por si, por Jesus e pela Igreja esmaga a cabeça da serpente. Maria esmaga a serpente
pela sua Imaculada Conceição, pela perfeição da sua Santidade, pelo seu triunfo sobre o pecado e sobre a
morte.

Esmaga a serpente por Jesus, que é o vencedor de Satanás e que vamos estudar mais para a frente, vencedor
do pecado e vencedor do mundo.

Maria esmaga a serpente pela Igreja, pelos membros fiéis da Igreja, pelos católicos fervorosos que procuram
viver para Deus. Ainda no antigo testamento, mais uma prova no livro do profeta Isaías, Isaías 7, 14.

O Senhor vos dará um sinal: “Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um filho, e chamarão o seu nome
Emanuel, isso é, Deus conosco”.

E temos outra passagem do profeta Jeremias, capítulo 31, versículo 22: “Deus criou uma novidade na terra;
uma mulher cercará um homem”.

Estes dois trechos provam diretamente a virgindade perpétua da Santíssima Virgem e indiretamente, por
aquilo que a gente já explicou, a necessidade da Conceição Imaculada. Novo Testamento, nos Evangelhos.
São Lucas, 1, 28 e 42.

O anjo, vindo anunciar à Santíssima Virgem que ela tinha sido escolhida entre todas as mulheres para ser a
Mãe do Filho de Deus, cumprimenta-a, em nome de Deus com a seguinte saudação: "Entrando, o anjo disse-
lhe: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo”.

"E exclamou em alta voz: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre."

Deus proclama a Virgem cheia de graça. Dizer que Maria Santíssima é cheia de graça é dizer que ela possui
todas as graças que pode conter uma criatura. Se Ela não fosse imaculada faltaria alguma coisa e assim não
seria cheia de graça.

Se Maria Santíssima tivesse o pecado original, Ela não estaria mais cheia, porque ela poderia ainda receber
uma graça (que seria a preservação do pecado) que ainda não teria recebido.

Com isso já é necessário admitir a Imaculada Conceição, como fazendo parte da sua plenitude.

Os teólogos citam um outro argumento, retirado do livro “Tractatus de beatissima virgine Maria, matre Dei”
– cardeal Alexis Henri Marie Lepicier: A graça estava na Santíssima Virgem, do mesmo modo que em Deus,
devido à união dela com a divindade na produção do corpo de Jesus Cristo, que é o corpo de uma pessoa
divina. Ora, esta graça tem por propriedade de nunca ter faltado a Deus. É necessário que Maria Santíssima
nunca tenha sido privada da graça, o que só pode ser admitindo a Imaculada Conceição.

O Senhor Deus é com Ela (O Senhor é convosco, contigo). Ora, onde está Deus, não pode estar o pecado. A
presença de Deus expulsa todo o pecado.

Já vimos que quando nascemos, Deus não está conosco, porque nascemos do pecado.

Deus estava com Maria, sempre, desde a sua entrada neste mundo porque ela era imaculada.

Maria Santíssima é bendita entre todas as mulheres. Por que bendita? Porque será Mãe de Deus. Isso é um
título, uma dignidade. A razão da benção deve brotar do fundo da criatura. E este fundo é a sua pureza
imaculada, que a separa de todas e a eleva acima de todas as mulheres.

catequista: Alexandre Pinho – 2º semestre de 2022


O Mistério da Imaculada Conceição de Nossa Senhora

Outro argumento teológico: O anjo saúda a Maria como sendo bendita entre ou acima de todas as mulheres.
Ora, e que Maria seria superior a todas as mulheres, senão pela Imaculada Conceição?

No Magnificat, Nossa Senhora, tomada do Espírito Santo, exclama: "porque realizou em mim maravilhas
aquele que é poderoso e cujo nome é Santo." Este trecho está em Lucas, 1, 49.
Esta grande coisa não é somente a maternidade divina, mas também a Conceição Imaculada, que é como a
base deste privilégio.

Deus deitou os olhos em sua humilde escrava. Se houvesse tido o pecado original, seria dito assim: Deus pôs
os olhos na iniquidade da sua escrava, como é típico ouvirmos isso dos santos.

São Cirilo, desde os primeiros séculos da Igreja já falava: Qual é o homem de bom senso, que pode acreditar
que o filho de Deus tenha construído para sim um templo, um trono animado, cedendo o primeiro direito
deste templo, e o seu primeiro uso ao demônio, o seu mortal inimigo? Uma tal ideia, pode ela penetrar em
um ser capaz de raciocínio?

Então, podemos provar como a Igreja proclama a Imaculada Conceição de Nossa Senhora.

Em resumo dizemos que Maria Santíssima é verdadeiramente Imaculada, isto é, preservada da mácula do
pecado original, através da aplicação antecipada dos merecimentos de Jesus Cristo.

A Igreja sempre acreditou nisso, citando São Cirilo, nos primeiros séculos de cristianismo.

Entretanto, devido à revolução protestante e os diversos ataques que surgiram a partir daí quanto a este
ensinamento, a Igreja precisou esclarecer este ensinamento de fé que já existia desde sempre e proclamou
oficialmente este dogma em 1854 pelo Papa Pio IX.

Então aprendemos dois processos interessantes dentro da nossa Igreja.

O que é a apologética, o processo de argumentação para provar um ensinamento de fé. E a proclamação de


um dogma de fé, que é esclarecido por meio de algum documento de Papa com provas de que a Igreja sempre
teve a fé e acreditou e professou, mas depois foi oficialmente documentado.

catequista: Alexandre Pinho – 2º semestre de 2022

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