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Bendita seja tua pureza,

Eternamente o seja,
Pois todo um Deus se recria
Em tão graciosa beleza.
A ti, celestial Princesa,
Virgem sagrada, Maria,
Te ofereço desde este dia
Alma, vida e coração
Olha-me com compaixão
Não me deixes, Mãe querida1.

1
À recitação desta jaculatória concede-se 200 dias de indulgência por vez (Papa Pio VII).
NOTA DO EDITOR

Caros irmãos,

Esse opúsculo está associado a uma profecia do Novo Testamento que só


terá sua plena realização quando chegar o fim dos tempos, qual seja de que todas as
gerações deveriam proclamar a Virgem Maria de bendita (Lc 1,48).

O aspecto que ora frisamos na bem-aventurança de Nossa Senhora consiste


na sua beleza, seja interior, seja exterior. Tudo que Ela recebeu, recebeu-o por
causa de Cristo. As maravilhas que o Senhor operou n’Ela, operou-as em razão da
maternidade divina. Devido à proximidade com esse insondável mistério de amor,
que a Virgem Maria tem uma “dignidade quase infinita” como ensina o Doutor
Angélico.

“De Maria nunquam satis”, repetem os santos mais devotos da Mãe de Deus.
A nossa editora deseja humildemente se unir a essa sinfonia de louvores e cânticos
à Mulher, “revestida de sol... e na cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 12,1).

Por meio da intercessão d’Ela junto a seu Filho, tal como sucedeu em Caná
(Jo 2,1-11), sejam derramadas copiosas bênçãos sobre o sr., a sra. e sua família. Não
podemos nos esquecer que, embora gloriosa no Céu, o maior título de Nossa
Senhora continua a ser o de Mãe de Jesus e nossa, pois Ela mesma fora deixada
como herança a todo discípulo (Jo 19,27; Ap 12,17). Bendito será quem a receber
em sua casa!

Devido ao isolamento e ao fechamento dos comércios, muitas pessoas já


estão sofrendo com a falta de alimentos. Na capela, onde frequentamos, nosso
pároco pediu ajuda a algumas famílias que têm passado necessidades.

Estendemos nossas mãos para que as ajudem, depositando qualquer


quantia na conta bancária da Associação Civil Santa Maria das Vitórias
(mantenedora da capela): Banco Itaú, Agência 0208, Conta Corr. nº. 55658-9,
CNPJ 07.347.303/0001-24.

EDITORA MAGNIFICAT,

17 de abril de 2020.
Beleza de Nossa Senhora

Para se ter pleno conhecimento de um composto qualquer, é necessário estudar bem suas
partes. Estudadas, pois, todas as coisas que se referem à alma, que é a parte principal do homem,
temos de passar à consideração das coisas que se referem ao corpo sacratíssimo de Maria, morada
luminosa do Espírito Santo.
O corpo de Maria foi um corpo: 1o. nobilíssimo por sua origem; 2o. perfeitíssimo em sua
compleição; e 3o. belíssimo em suas feições.

I. ORIGEM NOBILÍSSIMA

A nobreza da origem é definida por Boécio como “certo louvor derivado dos méritos dos
pais” (Lib.III, Consol. Phil., Pors. 5). Ora bem, em ninguém, como em Maria, este louvor
derivado dos méritos dos pais, ou seja, esta nobreza da origem, foi tão completa. A Virgem
Santíssima descendia, com efeito, da estirpe real de Davi e da estirpe sacerdotal de Arão: os dois
maiores títulos de nobreza que se podem exaltar na terra.
1. REBENTO DA ESTIRPE REAL DE DAVI. Que a Virgem Santíssima descendia da estirpe
real de Davi, é o que ressalta com toda evidência da Sagrada Escritura. Com efeito, Cristo,
conforme diz o Apóstolo, é da família de Davi segundo a carne: “secundum carnem”. Ora, a carne
de Cristo, dada sua concepção virginal, foi tomada da Virgem Santíssima somente. Segue-se, por
isso, que Esta devia ser, segundo a carne, da estirpe real de Davi. E isto, segundo Suárez, é de fé.
Justamente, pois a Igreja, na festa da Natividade de Maria, canta: “Nativitas gloriosæ Virginis
Mariæ, ortæ de tribu Iuda, clara ex stirpe David”.
2. REBENTO DA ESTIRPE SACERDOTAL DE ARÃO. Além de descender da estirpe real de
Davi, a Virgem Santíssima descendia da estirpe sacerdotal de Arão. Também isso se deduz
claramente da Sagrada Escritura. Com efeito, Maria é dita pela Sagrada Escritura parenta de
Isabel (Lc 1,36), a qual descendia da estirpe sacerdotal de Arão: “et uxor ejus (Zachariae) de
filiabus Aaron” (Lc 1,5). Este parentesco de Maria com Isabel não foi, porém, como observa
Santo Tomás (III P., q. 31, a. 2, and 2), por parte do pai, mas por parte da mãe.
Nas veias de Maria, portanto, corria o sangue de Reis e de Sacerdotes do povo eleito.
Justamente por isso, pode-se dizer, com o autor de um discurso atribuído a Santo Ildefonso:
“Quanto à origem da carne, ninguém mais nobre do que a Mãe de Deus” ( Serm. III in Assumpt.,
entre as Obras de Ildefonso, Madrid, 1782).

II. COMPLEIÇÃO PERFEITÍSSIMA

1. AS RAZÕES DESSA COMPLEIÇÃO PERFEITA. Na Virgem Santíssima, existiu sempre um


perfeito equilíbrio entre todos os elementos de seu Corpo. Isso deriva do destino que o mesmo
devia ter, da relação do corpo com a alma, e da semelhança com Cristo.
a) Finalidade do corpo de Maria. A perfeita compleição do corpo de Maria deduz-se, antes
de tudo, da finalidade nobilíssima a que o mesmo era destinado: subministrar a carne ao Verbo.
Se Deus, observa Tertuliano (De resurrect. carnis, c. VII), empregou tanto cuidado ao formar o
corpo de Adão pela razão de seu pensamento voar até Cristo, que devia nascer dele, quanto
maior cuidado não terá tido ao formar o corpo de Maria, da qual devia nascer, não de modo
remoto e mediato, mas de modo próximo e imediato, o Verbo Encarnado?
b) A relação proporcional entre a alma e o corpo. A perfeita compleição do corpo
virginal de Maria se deduz, em segundo lugar, da proporção que, sempre existe entre a alma e o
corpo, entre a matéria e a forma. A uma alma perfeitíssima, como foi a da Virgem-Mãe, devia
corresponder um corpo perfeitíssimo. Com efeito, o corpo é para a alma o que a matéria é para a
forma. Requer-se, pois, certa proporção entre os dois. Uma ótima compleição do corpo ajuda
imensamente as operações espirituais da alma, pois, como canta o divino Poeta, o homem “só
com os sentidos apreende – o que faz depois digno da inteligência” (Paraíso. 4,42-43).
c) A semelhança de Maria com Cristo. Essa compleição perfeita se deduz, por fim, da
semelhança que a Virgem Santíssima teve com Cristo, cujo corpo tinha uma compleição
perfeitíssima. Os filhos costumam, com efeito, parecer-se com os pais.
2. CONSEQUÊNCIA: IMUNIDADE A QUALQUER MOLÉSTIA. – Consequência imediata desse
perfeito equilíbrio entre os vários elementos do corpo virginal de Maria foi a imunidade a
qualquer moléstia, de modo que a Virgem Santíssima não esteve jamais sujeita a moléstia
nenhuma. Com efeito, as moléstias surgem de um mal congênito ou hereditário, por própria
culpa ou por ação de agentes externos. Ora, todas essas diferentes causas de doenças estiveram
sempre afastadas de Maria. Com efeito, n’Ela não havia nenhum mal congênito ou hereditário,
pois seu corpo, segundo a Tradição, foi gerado não sem milagre por pais estéreis e sabe-se que as
obras miraculosas são sempre mais perfeitas do que as naturais. Além disso, n’Ela não houve
jamais a mínima culpa pessoal. Por fim, n’Ela, pela força de resistência de seu corpo, por sua
exímia ciência e prudência, pela contínua assistência divina, os agentes externos, que constituem
um perigo para todos, foram sempre inócuos.
III. FEIÇÕES EXTERNAS BELÍSSIMAS

Nobilíssimo por sua origem, perfeitíssimo em sua compleição, o corpo de Maria foi
também belíssimo em sua figura externa.
1. OS ANTETIPOS DA BELEZA DE MARIA – Conta Cícero que Zeuxis, célebre pintor grego,
devendo pintar para a cidade de Croto (hoje Crotone) o retrato de Helena, a rainha grega por cuja
beleza irrompeu uma guerra de dez anos e foi destruída a cidade de Tróia, tomou por modelo
cinco entre as jovens mais belas, para reunir essa múltipla beleza, a seguir, na única de sua obra-
prima.
Mas, que infinito número de jovens belas deveria oferecer suas belezas particulares a
quem ousasse retratar com o pincel as belezas de Maria!
Nas páginas de Velho Testamento, o Espírito Santo nos deixou o retrato das mulheres
mais célebres por sua beleza. Tais foram, entre outras, a casta Susana e a virgem Abisag, a
formosa Raquel e a gentil Rebeca; Sara, senhora e Ester, rainha; a guerreira Débora e a heroica
Judite. Mas, toda a beleza dessas mulheres reunidas, não é capaz de nos dar nem uma pálida ideia
da beleza de Maria. Eram como sombras, uma imagem da realidade. Pois, como afirma Gerson, o
divino Artista, que nos queria dar em Maria e, de fato, nos deu sua obra-prima, tanto na ordem
da natureza quanto na da graça, não somente reuniu em sua face tudo que de mais belo e mais
gracioso existiu ou existirá nas jovens mais belas, mas também o que de mais belo e gracioso
existe em todas as criaturas do universo (Serm. 5 super Magnif.). Por conseguinte, quem quiser ter
uma ideia da beleza de Maria deve fazer por Maria o que Zeuxis fez por Helena. Zeuxis sintetizou
em sua Helena a beleza de cinco jovens; nós devemos sintetizar em Maria a beleza de toda a
criação.
Digna de nota é a exaltação de Maria feita pelo Cântico dos Cânticos:
“Como és bela, amiga minha; com és bela!
Teus olhos são duas pombas,
Por detrás de teu véu.
Teus cabelos, como um rebanho de cabras,
Que desce dos montes de Galaad.
Teus dentes são um rebanho de ovelhas tosquiadas,
Que saem do banho;
São todas elas mães de gêmeos
E nenhum há privada destes.
Teus lábios são como um fio de púrpura
E tuas palavras são encantadoras!
Tua face é como os bagos de romã,
Por detrás de teus véus!
Como a torre de Davi é teu colo,
Esbelto como uma fortaleza;
Mil escudos pendem desta,
Armaduras todas dos valentes
(Ct 4,1-4)
Jorge de Nicomédia exclama, portanto, com razão: “Ó mais bela beleza entre todas as
belezas!” – “O pulcherrima pulchritudo omnium pulchritudinum!” (Orat. I in Praesent. Deip., PG.
100, 1416). É bem verdade, como afirma o Espírito Santo, os dotes do corpo são bem pouca
coisa em confronto com os dotes da alma; “Enganosa é a formosura e vã é a beleza; só a mulher
que teme ao Senhor será louvada” (Pr 31,30). Todavia, quando a beleza do corpo, como em Maria,
é um vivo reflexo da beleza da alma, quando a beleza física se acha unida à beleza moral, não se
pode negar que também ela seja um dom de Deus e, portanto, um atestado não desprezível da
benevolência divina.
2. AS RAZÕES DESSA BELEZA – Muitas são as razões que nos induzem a admitir uma beleza
verdadeiramente sobre-humana em Maria.
As principais são, porém, três.
a) Os filhos saem às mães. A primeira dessas razões é derivada dos elos íntimos que
existem entre Maria e Jesus, entre a Mãe e o Filho. Um provérbio antigo diz que os filhos saem às
mães, “filii matrizant”, quer dizer: retratam em suas feições externas os traços da mãe.
Qualquer que seja o valor muito relativo desse provérbio quando é aplicado aos filhos em
geral, ele tem e deve ter um valor absoluto quando se aplica a Jesus. Sabe-se, com efeito, que
Jesus, quanto à natureza humana, foi gerado milagrosamente por sua mãe, sem que tivesse
nenhum pai terreno. Jesus foi todo de Maria, exclusivamente de Maria. E isto nos parece uma
razão muito válida para se concluir que, segundo o curso das leis naturais (e ninguém pode
racionalmente supor houvesse exceção no caso presente), Jesus devia ser o retrato perfeito de sua
Mãe. Isto posto, quem poderá negar que Jesus resplandecia de extraordinária beleza?
Infinitamente belo como Deus, Jesus também como Homem devia ser um prodígio de beleza,
tanto na alma quanto no corpo, pois tanto a alma quanto o corpo foram formados diretamente
por Deus e, portanto, reproduziam com toda exatidão o ideal divino. A Jesus, aplicam-se as
palavras: “speciosus forma præ filiis hominum” (Sl 44,3), o mais belo entre todos os filhos dos
homens. Como sua divindade é um esplendor de luz eterna, espelho sem mancha e imagem
perfeitíssima do Bem infinito, assim sua humanidade é um limpidíssimo espelho que reflete a
perfeição e a beleza do Verbo.
Se Jesus, portanto, foi belíssimo, o mais belo entre todos os homens, por que não se
admitir que outro tanto devia ser Maria? Por que negar ou pôr mesmo em dúvida na Mãe o que
afirmamos como certíssimo do Filho? Da extraordinária beleza de Jesus é lógico deduzir-se a
extraordinária beleza de Maria. Assim argumentaram os maiores teólogos. Escutemos, por
exemplo, Santo Antônio, Arcebispo de Florença: “Segundo Aristóteles, pela natureza é infundida
nas coisas uma força, pela qual cada uma gera outra semelhante a si. Quando, portanto, a
natureza opera em condições normais e não se acha impedida ou deturpada, o filho será
semelhante ao pai ou à mãe. E, no caso em que o filho nasça não de um pai, mas só da mãe, sob
a influência de Deus, então, necessariamente, o Filho deverá ser semelhante à mãe e vice-versa.
Ora, em nosso caso, o Filho é belíssimo, pois d’Ele se lê speciosus etc., o mais belo entre os filhos
dos homens, no qual almejam fixar seu olhas os anjos. Portanto, a Virgem Mãe de Deus foi
belíssima” (Somma, P. IV, t, 15).
Mais ou menos no mesmo sentido havia argumentado São João Damasceno.
b) A beleza da alma refletida no corpo. Outra prova da extraordinária beleza do corpo de
Maria, podemos, antes devemos, deduzir da extraordinária beleza moral, ou seja, da
extraordinária santidade de sua alma. É inegável, com efeito, que a beleza de alma se reflete
também no corpo. Um espírito cândido exige um olhar límpido e brando; um espírito aberto aos
sentimentos mais nobres exige uma compleição mais fina. Assim o afirmam, com Santo Tomás,
também os modernos frenologistas. Assim como o vício deforma o próprio corpo, a virtude lhe
dá certo lustre e esplendor. “O corpo humano”, escreve Santo Antônio, “supera em beleza e em
nobreza todos os corpos dos irracionais, pois está unido à alma racional; com o que se patenteia
que a nobreza do corpo aumenta e se intensifica em proporção com a maior nobreza da alma,
com a qual está unido e pela qual é informado. E é irracional, pois a matéria e a forma são
proporcionadas uma à outra. Do momento, portanto, que a alma da Virgem foi a mais nobre
depois da do Redentor, seu corpo também foi o mais nobre, depois do seu Filho”(Somma, c. X, t.
52).
Ricardo de São Vitor (In Cânt., CXXV, PL. 196, 483) exprimia o mesmo conceito,
dizendo: “Nenhuma dúvida de que o fogo do divino amor, em que Ela ardia, refletiu-se em todo
seu exterior, de sorte que, possuindo uma pureza angélica, também angélica tinha a face”.
“A beleza externa do corpo puríssimo de Maria, raciona Mons. Sinibaldi, é o reflexo da
beleza interna de sua alma. Mulher, Virgem, Mãe, Maria é bela pela perfeita simetria de seus
membros, porque é bela pela harmonia de suas faculdades internas; é bela pela justa proporção de
seus traços, porque é bela pelo conjunto e pelo esplendor de todas as virtudes; é bela por todos
os dons de uma natureza privilegiada, porque é bela pela plenitude de todas as graças com que
Deus a enriqueceu; é bela em seu rosto, onde a candura e a pureza da Virgem se mesclam à
majestade e à ternura da Mãe, porque é bela em seu Coração, que encerra todos os dons celestes.
Maria é toda bela em seu corpo virginal, porque é bela em sua alma imaculada” (II Cuore dela
Madre d’Amore, cap. I).
c) Cristo, modelado sobre sua Mãe. Considere-se, por fim, com o grande Bossuet, a
intenção que teve Deus ao formar o corpo virginal de Maria. Ao formar esse corpo virginal, tinha
em mente Jesus: Deus formou o corpo de Maria em vista de Jesus. Portanto, Deus na sua
intenção, “modelou o corpo da Virgem sobre o corpo de Jesus”, justamente porque o corpo de
Jesus, divinamente belo, devia ser modelado sobre o corpo da Virgem.
A própria liturgia atesta que Deus formou de modo especial não somente a alma, mas
também o corpo da Virgem, a fim de que fosse uma digna morada do Verbo Encarnado: “ Deus,
qui gloriosae Virginis et Matris Mariae corpus et animam, ut dignum Filii tui habitáculum éffici
mereretur praeparasti”.
Também a Virgem, portanto, foi como o diria Dante Alighieri, uma coisa vinda:
“Do céu à terra para um milagre mostrar.
Cauda tanto prazer em quem a vê,
Infunde pelos olhos uma doçura no coração,
Que não pode entender quem não a sente...
E parece que de seus lábios se eleva
Um suspiro suave, cheio de amor,
Que vem dizer à alma: suspira!
Contemplando a Virgem, contempla-se o céu. E o coração sente-se levado a transbordar
o amor que o inunda, cantando com um poeta moderno:
“Quando me recordo de ti, bela Senhora minha,
Em volta o mundo perde suas cores;
Calam-se um instante o mar e a procela;
Esqueço um instante o triste lamaçal.
Tu me apareces como uma fúlgida estrela,
Que brilha sobre o mar no começo da aurora;
No alto, a ver-te, prendo-me a ti
E contigo fico um instante no Paraíso”.
Perguntaram a Santa Bernadette Soubirous, se a Virgem que lhe aparecera na gruta era
bela. ‘Era tão bela!’, respondeu “que, vista uma vez, a gente deseja morrer para vê-la de novo”.
Um dia, foi-lhe dado percorrer um álbum com imagens da Senhora, obras-primas da
pintura, para se ver o que diria. Depois de ter examinado quase tudo, disse revoltada: “Deviam
ter vergonha de pintar Nossa Senhora desse modo!”. A obra-prima de Deus é
incomparavelmente superior, em beleza, a qualquer obra-prima dos homens.
Podemos ter uma ideia da beleza de Maria ao contemplarmos a face da Virgem na
chamada “SS. Annunziata”, de Florença, face pintada, segundo a tradição, por mãos angélicas e,
portanto, podemos supô-lo licitamente, bastante semelhante à face mesma de Maria. É uma
maravilha! Costumava um grande príncipe dizer, depois de ter admirado aquele rosto sobre-
humano, que havia concebido um maior horror ao inferno, pois lá ficaria privado por toda a
eternidade de ver Maria Santíssima, da qual lhe bastara uma imagem para ter o coração tão
elevado (POIRÉ, De Triplici Corona Virg.). E o Padre Segnéri Júnior conta que um protestante se
converteu ao ver na Galeria de Parma uma bela imagem de Maria, porque lhe disseram que não a
iria ver no céu, se não deixasse de ser protestante na terra.
CONCLUSÃO: “A beleza”, diz Platão, “é um raio que, da face de Deus, como de um sol
belíssimo, desprende-se e se comunica à natureza criada, e que, depois de tê-la tornado bela e
graciosa com suas cores, volta à mesma fonte donde saíra. Esse raio, enquanto nasce de Deus, é
diz-se beleza; enquanto conquista os corações, é e diz-se amor; enquanto volta a seu autor, é e diz-
se deleite” (In Convivio). Se Platão, observa um pio autor, quando descreveu a beleza, tivesse tido
a felicidade de conhecer Maria, não teria podido falar melhor; a nenhuma outra beleza se adapta
tão bem essa definição, como à beleza de Maria. A beleza da Virgem é um raio, um reflexo da
divindade, que quis imprimir n’Ela mais do que em qualquer outra criatura, seus atributos
divinos. Essa beleza a tornou tão formosa, tão atraente, tão amável, que conquista o amor de
todos os corações. Mas este amor é tão santo que, quanto mais se inflama, tanto mais leva a unir
a Deus por um inefável deleite. Pois a beleza de Maria não é simplesmente o resultado do
trabalho que, naquele rosto e naquela pessoa, reuniu tudo que de mais fino e de mais gracioso
anda espalhado pela criação; mas é, sobretudo o fruto da plenitude da graça santificante, pela qual
Maria é mais celeste do que terrena, mais divina do que humana. É, portanto, uma beleza, a de
Maria, que, ao conquistar os corações, reforma-os, transforma-os, inebria-os com fragrância de
lírio, eleva-os ao desejo dos bens celestes de Deus.
Portanto, nós, peregrinos na terra, ponhamos nossa alegria em contemplar muitas vezes
aquela suprema beleza, que faz as delícias dos afortunados habitantes do céu.
E, na doce esperança de subirmos também nós um dia a contemplá-la diretamente no
céu, a esta inefável beleza, consolemo-nos repetindo-lhe com a Igreja:
“Alegrai-vos, ó Virgem gloriosa,
Sobre todas graciosa,
De todas a mais formosa,
E por nós ora ao Senhor”.
Repitamos-lhe aquela insuperada e insuperável litania da beleza que lhe dirigiu um dia um
de seus amigos apaixonados cantores, Santo Afonso Maria de Ligório:
“Ó Rainha dos Anjos, como o céu vos fez bela, perfeita! Vós sois tão bela, tão cheia de
graça, que vossos atrativos divinos arrebatam todos os corações. Quando vos contemplamos,
tudo mais nos parece feio, disforme, toda beleza se eclipsa, toda graça empalidece, como
desaparecem as estrelas ao nascer do sol. Beleza da natureza, flor e pérola de todas as criaturas,
encanto, ornamento de toda a criação, imagem e espelho de Deus, vós tendes os lábios de Sara,
cujo sorriso alegra o céu e a terra; o doce e terno olhar da fecunda Lia, com o qual vós feris o
coração de Deus; o esplendor do rosto da bela Raquel, que eclipsa os raios do sol; as graças e os
encantos da discreta Abigail, com os quais aplacais a cólera de Deus, irado com os nossos
pecados; a vivacidade e a força da valorosa Judite, que vos fazem triunfar dos corações mais
obstinados. Augusta Soberana, do oceano imenso de vossa beleza derivam os raios de beleza e de
graça para todas as criaturas. É imitando o ouro de vossos cabelos, cujos cachos descem com
admirável descaso sobre vosso colo e vossas espáduas de marfim, que o mar aprendeu a irisar tão
esplendidamente suas vagas. A inalterável serenidade de vossa fronte, a calma e a paz que reinam
em vossa face, ensinaram às nossas fontes transparentes a permanecerem firmes e tranquilas em
seus profundos mananciais. Para fazer brilharem com mais luz suas linhas radiosas, para matizar
suas várias cores, para arquear-se com mais graça, o arco-íris se esforça por imitar a imagem
formosa de vossa pessoa. A brilhante estrela da manhã e a da tarde são centelhas de vossos olhos.
O lírio de prata e a rosa purpurina roubaram as cores de vossas faces. A púrpura e o coral
almejam ciumentos pelo encarnado de vossos lábios. O leite mais doce e o mel mais precioso
precedem de vossa boca. O jasmim odoroso e a rosa perfumada de Damasco tomaram seus
doces perfumes de vosso hálito. Em uma palavra, ó minha Rainha, toda beleza criada é uma
sombra e imagem de vossa beleza. O céu e a terra se põem a vossos pés; são tão pequenos e vós
sois tão grande, que os enriqueceis, tocando-os. A estrela de prata se estima feliz por servir-vos
de escabelo e a irradiação do sol se torna mais resplandecente quando vos envolve em seus raios,
como em um manto. Ó belo céu, céu puro e sereno, que haveis encerrado em vós a imensidade
d’Aquele que o universo adora sem poder contê-Lo! Ó belos olhos que conquistaram os
corações! Ó lábios purpurinos que escravizam as almas! Ó mãos cheias de flores e de graças! Ó
criatura sem defeito, que eu teria tomado como Deus, tal é em vós o ar da divindade, se a fé não
me ensinasse que não sois Deus! Ó Maria, bela sobre todas as criaturas, amável, depois de Jesus,
mais do que tudo que há de mais digno de amor; preciosa mais do que toda a criação; graciosa
mais do que a própria graça; lançai sobre mim um olhar de amor, um só olhar e isso me bastará!”.
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