Você está na página 1de 4

ECO FIDELÍSSIMO DA IGREJA

Rainha dos Corações


O reinado de Jesus Cristo nas almas, afirma São Luís Maria Grignion de
Montfort, só será efetivo quando Nossa Senhora reinar de maneira
plena nos corações dos homens. Com palavras pervadidas de veneração,
Dr. Plinio nos mostrará as grandezas das virtudes da Santa Virgem Maria
e o altíssimo mérito que alcançou, dando-Lhe o direito, outorgado por seu
Divino Filho, de exercer esse maternal e compassivo império sobre a vonta-
de humana.

S upunham os antigos — como


ainda hoje o fazem certas pes-
soas sem instrução especial —
que o pensamento era elaborado pe-
que nos induzem, atraem, com su-
premo agrado, doçura e clareza para
o que Ela deseja de bom para nós.
Assim, é através da celestial influ-
“No meio de vós”, quer dizer, so-
bre os vossos corações.
“...o reino da Santíssima Virgem es-
tá principalmente no interior do ho-
los miolos, os quais seriam, portanto, ência dessas graças que Maria nos mem, isto é, em sua alma, e é princi-
a fábrica das idéias. Eles não toma- aparece como Rainha de todos os palmente nas almas que Ela é mais
vam em consideração o papel espi- corações. glorificada em seu Filho, do que em
ritual da alma, determinante na gê- Em seu Tratado da Verdadeira De- todas as criaturas visíveis, e podemos
nese dos raciocínios. Ademais, acha- voção à Santíssima Virgem, São Luís chamá-La com os santos a Rainha
vam que os atos de vontade se for- Grignion de Montfort escreve: dos corações” (nº 38).
mavam no coração, passando este a “Maria é a Rainha do Céu e da Ter-
ser o símbolo das volições da criatu- ra, pela graça, como Jesus é o Rei por Aos pés da Cruz, última
ra humana. natureza e conquista.” troca de olhares
Ou seja, Nosso Senhor é o Rei do
Soberana da vontade universo por natureza, pois, sendo Essas verdades se prestam a algu-
dos homens Homem-Deus, sua essência O cons- mas considerações.
titui Monarca de toda a criação. Já Imaginemos, por exemplo, uma
Com base nessa última concep- Nossa Senhora é Rainha, não por pessoa na ilha Fernando de Noro-
ção, surgiu o culto aos corações de natureza, mas pela graça recebida de nha. Esse território é uma espécie de
Jesus e de Maria, que é a devoção à Deus. Rei também é Jesus, por con- gigantesco navio parado, com suas
vontade santíssima de Nosso Senhor quista. Com sua Paixão e Morte re- âncoras agarradas ao fundo do ocea-
e de Nossa Senhora. dimiu o gênero humano e alcançou no. A partir dessa posição maravilho-
Por sua vez, a Mãe de Deus se tor- para Si a realeza sobre o Céu e a Ter- sa, o visitante contempla o mar, re-
na Rainha dos Corações ao ser vene- ra. galando-se com aquele esplendor e
rada como a soberana da vontade de Continua São Luís: se entusiasmando: “Como isto é be-
todos os homens. Tal domínio deve- “Ora, como o reino de Jesus Cris- lo!”
se entender, não como uma violação to compreende principalmente o cora- Se for piedoso e amar Nossa Se-
da liberdade das pessoas, mas pelo ção ou o interior do homem, confor- nhora, ele deve ter o hábito de re-
fato de Nossa Senhora nos obter e me a palavra: ‘O reino de Deus está portar à Santíssima Virgem tudo
distribuir uma abundância de graças no meio de vós’ (Lc 17, 21)...” quanto pensa, e dizer: “Como será o

10
Por sua celestial
influência na distribuição
das graças divinas, Maria
nos aparece como a
Rainha dos Corações

Nossa Senhora
do Brasil

T. Ring

11
ECO FIDELÍSSIMO DA IGREJA

Imaculado Coração de Maria, imen- extremo de Jesus, que a derradeira Pensemos, porém, cada um em
samente maior que todo esse pano- hora se aproximava. nossa própria mãe, diante dessa per-
rama, não pelo tamanho físico, mas Nosso Senhor então disse aquelas gunta: “A senhora quer entregar o
pelo valor, etc.”. E podem vir à sua palavras de despedida a Ela e a São seu filho, fulano de tal, pa-
mente outras cogitações muito boas João: “Filho, eis aí tua Mãe; Mãe, eis ra ser vilipendiado, perse-
sobre a extensão e a qualidade dos aí teu filho...” guido, desprezado e odia-
predicados de Nossa Senhora. do pelo povo, flagelado,
Para compreendermos como o Co-redentora do coroado de espinhos, e
mar é uma vil gota d’água em com- gênero humano em seguida arrastar uma
paração com a grandeza da alma de cruz até o Cal-
Maria, basta considerarmos a Mãe É oportuno recordar aqui o en- vário e aí ser
de Deus durante a Paixão. Seu sofri- sinamento da Tradição católica, se-
mento ao encontrar Nosso Senhor gundo o qual o Padre Eterno, ao dis-
Jesus Cristo carregando a Cruz é in- por que Cristo deveria morrer como
dizível! Ela viu o divino Filho injus- vítima de expiação pelos nossos pe-
tamente posto naquela situação, tra- cados, desejou para isso o consenti-
tado de modo brutal por uma alga- mento da Santíssima Virgem. Cla-
ravia de gente péssima, aproximou- ro está, absolutamente falando, não
se d’Ele e O abraçou. Esse gesto havia necessidade dessa anuência da
não significava apenas um consolo, parte de Nossa Senhora para que
mas também uma exaltação, como Deus Pai levasse a efeito seus de-
se Lhe dissesse: “Meu Filho, Eu vos sígnios sobre a Redenção dos ho-
louvo por estardes padecendo assim mens.
pela humanidade, para a glória de
Deus!”
Por quê? Porque é glorioso pa-
ra Deus ter o reino das almas, e Je-
sus o estava conquistando ao redimir
todas as almas criadas, vertendo por
elas seu sangue preciosíssimo.
Nossa Senhora consentiu nes-
se holocausto de Jesus, louvou-O e
subiram juntos ao Calvário. A meu
ver, a cena mais empolgante ali pas-
sada foi o último olhar de Nosso Se-
nhor, indiscutivelmente dirigido à
sua Mãe. E Ela O fitava nesse mo-
mento, pois tenho para mim que,
durante todo o tempo jun-
to à Cruz, Maria Santíssi-
ma não afastou seus olhos
dos de seu Filho. Nes-
sa suprema troca de
olhares, Maria per-
cebeu, notando
o sofrimento

Rainha do Céu e da Terra, o império


S. Hollmann

de Maria sobre os corações é


incomparavelmente mais precioso que
seu domínio sobre o resto do universo

12
morto de modo atroz?”. Supérfluo essa razão Ela sofreu espiritualmen- outrossim, digna de possuir o domí-
dizer que ela não quereria! Nenhu- te uma dor tão acerba que, de mo- nio de todos os corações.
ma mãe deseja semelhante sorte pa- do figurativo, compara-se à ferida
ra seu filho. causada por um gládio que traspas- “Sede Rainha de minha
Entretanto, a Santíssima sou seu Coração. A iconografia ca- alma, para eu ser
Virgem, ciente de que deve- tólica perpetuou a lembrança deste
ria oferecer Jesus em holo- padecimento da Virgem Santíssima, inteiramente vosso”
causto para a salvação dos através da imagem de Nossa Senho- Compreendamos bem quão au-
homens, não hesita um só ra das Dores, venerada em inúmeras gusto é esse império sobre a vontade
instante, e se inclina igrejas do mundo. dos homens. Imaginemos o indiví-
à superior von- Esse sacrifício participativo de duo mais inculto, mais tosco de sen-
tade divina. Por Maria na Paixão de Jesus, o consen- timentos e de disposições mais vis
timento d’Ela em que o Salvador fos- que possa haver. Nossa Senhora ser
se imolado de forma tão cruel e dila- a Rainha do coração dele representa
cerante pela remissão de nossos pe- uma grandeza incomparavelmente
cados, os méritos desse sofrimento maior do que imperar sobre os ma-
indizível da Virgem unidos aos méri- res, as constelações, os planetas e o
tos infinitos do martírio de Jesus, tu- universo inteiro criado! Tal é o valor
do isso granjeou-Lhe o título de Co- de uma alma, ainda que a do último
redentora do gênero humano. Jun- dos homens. Que dizer, então, do ser
to com Nosso Senhor, Ela abriu pa- Ela soberana de todas as almas?!
ra nós as portas do Céu e nos alcan- Reitero o que já tive oportunida-
çou a vida da graça. Tornou-se, de de afirmar: essa realeza de Ma-
ria é voltada de modo exclusivo para
nos fazer o bem, para nos atrair pa-
Coroação de
Nossa Senhora,
ra a prática da virtude, para nos con-
Catedral de duzir à santidade a que somos cha-
Reims (França) mados. É um poder que nos revela a
sua onipotência suplicante em nosso
favor, enchendo-nos de consolação e
confiança no seu infatigável auxílio.
Assim, imbuídos dessa verdade ad-
mirável, dirijamos a Nossa Senhora es-
te filial pedido: “Minha Mãe, Vós sois
Rainha de todas as almas, mesmo
das mais duras e empedernidas,
desejosas contudo de se abrirem
à vossa misericórdia. Peço-Vos,
pois, sede Rainha de minha al-
ma, quebrai nela os rochedos
de maldade, as resistências abje-
tas que de Vós me separam. Dis-
solvei, por um ato de vosso impé-
rio, as paixões desordena-
das, as volições péssimas,
os restos dos meus peca-
dos passados que tenham
permanecido no meu ínti-
mo. Limpai-me, ó minha
Mãe e Rainha, para que
eu seja inteiramente vosso.
Amém.” 

13

Você também pode gostar