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o santo Do mês
Reflexões
em torno da Festa
de Cristo Rei
(Festa móvel)
A
o considerarmos a celebração da realeza de sa noção de majestade. Tal recusa, porém, não torna essa
Cristo e, pois, da majestade do Filho de Deus, noção perempta, porque ela permanece invariável: se al-
creio ser conveniente voltarmos nossos olhos guém se afasta dela, não é o conceito que decai, e sim es-
para um aspecto pouco ressaltado quando se aborda es- se alguém. Mais ou menos como um navio que afunda e,
se tema. por isso, se distancia da luz do sol. Não é o astro que so-
çobra e desaparece, mas o navio. O sol continua a brilhar
Risco, dor e dever são no alto dos céus.
inerentes à majestade
A majestade autêntica provém da Fé
Majestade, do latim major stare, significa estar acima,
no píncaro. Devemos então começar por compreender As grandes verdades e normas, os grandes princípios e
que essa condição de supremacia envolve muita reflexão. planos, as grandes máximas e execuções são os aspectos
Não uma reflexão qualquer, mas inspirada, iluminada e por onde um homem, mesmo de condição comum, pode
elevada pela graça. Esse teor de pensamento patenteia, ter majestade. Portanto, essa majestade todo indivíduo
à pessoa que se encontra nessa posição suprema, o de- deve desejar, sem nenhum prejuízo para a modéstia e a
ver, o risco e a dor inerentes à sua condição. Porque pos- virtude da humildade que ele igualmente deve praticar.
suir majestade consiste também — e não na menor medi- Pois, entendamos, a majestade não é uma faceirice co-
da — em aceitar a dor, o risco, as obrigações com todos mo uma gravata ou um atavio que vestimos para mostrar
os seus ônus. aos outros: “Veja, chegou-me de Paris”. Não, a autênti-
Alguns espíritos contemporâneos, superficiais e aves- ca majestade não é enfeite, e nunca ensoberbece aquele
sos à reflexão, amigos das facilidades e inimigos da dor que a possui. Pelo contrário, o indivíduo que tem majes-
e do sofrimento, talvez se sintam contrariados com es- tade se sente sempre pequeno diante dela, compreende
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V. Toniolo
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G. Kralj
os pintores têm se empenhado em salientar um aspecto
verdadeiro da descida da cruz, isto é, o corpo santíssimo
de Jesus sujeito às leis da gravidade, sem vida, pendendo
para onde o inclinam. Retirado do madeiro, o depositam
no colo virginal de Maria Santíssima e o preparam para
ser deixado na sepultura. Igualmente se esforçam os ar-
tistas em retratar a dor da Mãe e a inanição do Filho.
Entretanto, se me fosse dado sugerir algo a um pintor
ou escultor, pediria que encontrasse um meio de apre-
sentar, na simplicidade e misérias extremas dessa Mãe e
desse Filho, a sublime majestade de ambos: a régia gran-
deza do cadáver divino, e como Maria se sentia dignifica-
da com aquele tesouro depositado no seu colo.
Incomparável majestade
da Ressurreição
Pensemos, em seguida, na Ressurreição e naquilo que
poderíamos chamar de “re-esplendor” da majestade de
Nosso Senhor Jesus Cristo. No interior do jazigo, escu-
ridão profunda. Mais majestoso do que todo o céu e do
que toda a terra, ali repousa o corpo exangue do Reden-
tor. Em determinado momento — imaginemos — a alma
santíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo a ele retorna e o
revivifica, vencendo a morte.
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O Santo do mês
Pentecostes e as catacumbas:
exemplos perfeitos de majestade
Poderíamos ainda evocar outras cenas que se segui-
ram à gloriosa Ressurreição do Rei Divino, as quais es-
pargem reflexos de sua infinita majestade.
Cenáculo. Nossa Senhora e os Apóstolos estão ali reu-
nidos, recolhidos em oração e recordações dos ensinamen-
tos do Mestre. Sentem que algo de extraordinário está por
acontecer. Seus corações se inflamam a cada nova oração,
a cada nova lembrança das palavras de Jesus. O ambien-
te se reveste de grandeza, e os discípulos se tomam de um
encantamento crescente pela pessoa de Maria Santíssima,
vendo n’Ela a imagem do Filho. Tudo reluz.
Subitamente, quando pensam que atingiram o auge de
suas cogitações, tudo ainda estava por vir: o Divino Espí-
rito Santo aparece em forma de línguas de fogo e deita so-
bre cada um deles a plenitude de seus dons. Majestade!
Muda a cena. Correm os séculos, e estamos nas cata-
cumbas de Roma. Labirintos escavados no subsolo da ve-
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Fotos: V. Toniolo
A divina majestade de Cristo
glorioso se manifestará
até o fim dos tempos,
refletida na grandiosa
história da Igreja
sobre a face da Terra
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