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1 – Introdução …................................................................................................................. p. 02
O produtor ou produtora rural que faz a opção pela forma individual poderá comercializar
seus produtos legalmente como pessoa física (Cadastro de Pessoa Física – CPF) ou por meio
da pessoa jurídica (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica – CNPJ). Destaca-se que a Lei
Federal nº 11.326 de 24 de Julho de 2006, faz clara distinção entre a figura do agricultor
familiar (pessoa física); e do empreendedor familiar rural (pessoa jurídica).
• Pessoa física; ou
• Pessoa jurídica.
O negócio rural individual, pode ser formalizado por meio das seguintes pessoas jurídicas:
Como pessoa física, o produtor rural (contribuinte individual ou segurado especial) deve
requerer:
Para a emissão das notas fiscais de venda, o produtor rural pessoa física poderá:
Nas operações de venda do produtor rural pessoa física, o ICMS dependerá da operação
(varia de acordo com o produto, o destino da mercadoria, entre outros), mas a contribuição
previdenciária é obrigatória em todos os casos.
Dito isso, precisamos agora compreender o conceito legal de atividade rural. Segundo a
mesma legislação tributária,
I – a agricultura;
II – a pecuária;
Dois problemas decorrem disso: a) o problema sanitário: no geral, este tipo de agroindústria
apresenta processos e estruturas em desacordo com a legislação sanitária; b) como vimos, na
aula 1, a legislação do IPI não faz distinção entre os tipos de processos e estruturas. Neste
sentido, a Tabela do IPI – TIPI classifica a incidência do imposto pela natureza do produto,
desconsiderando o processo produtivo. Assim, a classificação do produto na TIPI não muda,
mesmo em se tratando de agroindústria “rudimentar”;
1 – o empregado;
2 – o empregado doméstico;
3 – o contribuinte individual;
4 – o trabalhador avulso; e
5 – o segurado especial.
Como produtor rural pessoa física, o agricultor familiar, em geral, pode se enquadrar em uma
de duas dessas categorias de segurados da previdência social: contribuinte individual ou
De acordo com a lei (BRASIL, 1991a; e 1991b), o segurado especial da previdência social é
a pessoa física, residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele,
podendo ser:
a) produtor rural;
b) pescador artesanal ou a este assemelhado; ou
c) cônjuge, companheiro ou filho, maior de 16 anos (ou equiparado), do segurado especial.
Obs.: É digno de nota, que o conceito se refere ao indivíduo, pessoa física, não à unidade
familiar, ou qualquer outra forma de grupo. Neste sentido, legalmente, a lei prevê que o
enquadramento (ou desenquadramento) de um indivíduo do grupo familiar não implica,
necessariamente, o enquadramento (ou desenquadramento) dos demais membros da família.
Na prática, porém, o desenquadramento de um dos membros da família (cônjuge, por
exemplo) pode comprometer o enquadramento do outro, caso haja deficiência de provas
materiais.
Enquadrado em uma dessas três categorias acima (a, b ou c), o segurado especial da
previdência social é ainda aquele que desenvolve atividades agropecuárias, de extrativismo
ou pesca, individualmente ou em regime de economia familiar, desde que atenda as seguintes
condições:
1) benefício de pensão por morte, auxílio-acidente ou auxílio-reclusão, cujo valor não supere
um salário-mínimo;
6) remuneração por mandato de dirigente de cooperativa rural, desde que esta seja constituída
exclusivamente por segurados especiais, e que sejam recolhidas as contribuições
previdenciárias devidas;
8) remuneração por atividade artística, desde que em valor mensal inferior ao salário-mínimo;
10) associação em cooperativa agropecuária ou de crédito rural (não estão incluídos aqui os
rendimentos recebidos a título de remuneração da mão de obra, como aqueles próprios do
modelo de cooperativas de produção). Obs.: ver diferença entre cooperativas de produção e de
produtores, na aula 3 (BRASIL, 1991a; e 1991b).
Existem dois tipos de produtor rural pessoa física: o empregador; e o que não possui
empregados.
A contribuição patronal do empregador rural pessoa física é de 1,5% sobre o valor bruto da
comercialização. Deste valor, 1,3% é devido à previdência; os outros 0,2% são destinados ao
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR.
Como o segurado especial da previdência social não possui empregado permanente, o mesmo
não contribui mensalmente, nos moldes do contribuinte individual. Como trabalhador rural,
sua contribuição será, unicamente, de 1,5% sobre o valor bruto da comercialização da sua
produção rural, seguindo a mesma lógica da contribuição patronal do empregador rural
pessoa física que, como dissemos, é destinada a financiar as despesas relativas à cobertura dos
benefícios do trabalhador rural. Essa forma de contribuição previdenciária – alíquota
incidente sobre o resultado da comercialização – e os benefícios dela decorrentes, são
garantidos aos segurados especiais pela Constituição da República Federativa do Brasil
(BRASIL, 1988).
A contribuição de 1,5%, devida pelo empregador rural pessoa física e pelo segurado especial,
deverá ser recolhida de acordo com as 06 (seis) seguintes hipóteses:
HIPÓTESE 2 – Quando a produção for vendida para pessoa física, não produtora rural, para
ser revendida, no varejo, a consumidor pessoa física:
Neste caso, igualmente, a pessoa física adquirente (revendedora) deverá fazer o recolhimento.
Obs.: nos casos descritos nas hipóteses 1 e 2, acima, a pessoa adquirente (física ou jurídica),
fica sub-rogada ao recolhimento da contribuição, sendo sua obrigação promover a retenção do
valor do tributo, isto é, descontá-lo no valor a ser pago ao produtor rural pessoa física para
posterior recolhimento aos cofres públicos.
Nos casos descritos nas hipóteses 3, 4, 5 e 6, acima, o próprio produtor rural pessoa física
(segurado especial ou não) deverá fazer o recolhimento, diretamente.
Dica: Como parte interessada, o SENAR de Santa Catarina elaborou uma pequena cartilha
com detalhes sobre a maneira correta de proceder o recolhimento da contribuição
Outra mudança recente na lei, a entrar em vigor a partir de 1º de janeiro de 2019, cria a
possibilidade do produtor rural pessoa física optar por fazer a sua contribuição patronal de
outra forma, se assim achar mais conveniente. Então, em vez de contribuir como devem fazer
os segurados especiais (alíquota de 1,5% sobre o valor bruto da comercialização), o produtor
rural pessoa física poderá escolher fazer a sua contribuição patronal da mesma forma que as
empresas. Isto é: uma alíquota de 20% sobre a folha de salários, ou seja: “sobre o total das
remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer título, durante o mês, aos segurados
empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços” (BRASIL, 1991a; 2018).
ATENÇÃO → Deve-se procurar o contador para orientações sobre a emissão das notas
fiscais, onde devem ser destacados os valores dos tributos, e a forma correta de recolhimento
dos mesmos.
Porém, o próprio dispositivo que cria a vedação legal de “outra fonte de rendimento” traz, em
seguida, uma lista de exceções, que nada mais são que, hipóteses de fontes de renda que são
permitidas ao segurado especial da previdência social, mesmo estas não sendo provenientes
do desenvolvimento de atividades próprias desta categoria de segurado.
É bastante razoável imaginar que, naquela ocasião, pareceu aos demandantes que a introdução
do dispositivo que reconhece ao segurado especial o direito de explorar atividades ligadas à
agroindústria artesanal havia resolvido definitivamente o problema. Porém, é precisamente na
definição do conceito de beneficiamento ou industrialização artesanal, estabelecido pela
legislação previdenciária, que entra a história da incidência do IPI. Nos termos da lei,
“considera-se processo de beneficiamento ou industrialização artesanal aquele realizado
diretamente pelo próprio produtor rural pessoa física, desde que não esteja sujeito à incidência
do Imposto Sobre Produtos Industrializados – IPI” (BRASIL, 2008).
Salvo as raras exceções, a solução pode ser encaminhar tais processos, que envolvam o
segurado especial da previdência social, segundo os termos introduzidos na legislação por
meio de dois dispositivos:
Como vimos, a primeira tentativa (de 2008), caminha para a complicada possibilidade de
conciliação do desenvolvimento de atividades não agrícolas com o conceito legal de
segurado especial, produtor rural pessoa física, e por isso foi tratada nesta aula. Como os
dispositivos legais que compõem aquilo que chamamos de segunda tentativa (BRASIL,
2013) apontam para a formalização da agroindústria na forma de pessoa jurídica, deixaremos
para abordar esse assunto na próxima aula, na seção que trata da participação do segurado
especial na pessoa jurídica. Antes, porém, temos que avançar um pouco mais em algumas
questões básicas relacionadas às pessoas jurídicas, que podem ser individuais ou coletivas.
Como já observado, nesta aula trataremos mais especificamente do formato individual (ou
familiar).
Pelos mesmos motivos, deixaremos para tratar da questão da inscrição do segurado especial
como MEI Rural, na seção 3.3.1.2 desta aula.
b) a renda mensal obtida na atividade não exceda um salário-mínimo, nos casos em que haja
utilização de matéria-prima de outra origem.
Também para este caso, quando houver enquadramento, a solução pode ser a inscrição do
artesão, segurado especial da previdência social, na modalidade de Microempreendedor
Individual – MEI (ver seção 3.3.1.2).
Como pessoa jurídica, individualmente, o agricultor familiar poderá optar por criar uma
Microempresa – ME, devidamente registrada na Junta Comercial, nas modalidades de
Empresário Individual – EI, ou Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI.
A legislação considera microempresa aquela cuja receita bruta anual não ultrapassa R$
360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais), teto que, não por acaso, coincide com o critério de
enquadramento estabelecido para os empreendimentos familiares rurais, no âmbito da Política
Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais.
Havendo enquadramento, a ME pode optar pelo regime tributário Simples Nacional que, entre
outros benefícios, simplifica as obrigações fiscais e reúne vários tributos em uma única
alíquota, incidente sobre a receita bruta, podendo, em alguns casos, significar expressiva
redução da carga tributária (BRASIL, 2006a). O contador habilitado é o profissional
preparado para orientar o empresário (ou empresária), para que o mesmo tenha condições de
fazer a opção mais adequada aos seus negócios.
A título de informação, seguem quadros, onde constam as alíquotas incidentes sobre a receita
bruta, devidas pela ME, optante pelo Simples Nacional, relativas às duas primeiras faixas de
faturamento (até R$ 360.000,00), conforme os respectivos setores de atuação (BRASIL,
2006a).
Comércio:
Receita Bruta em 12 Meses (em R$) Alíquota Valor a Deduzir (em R$)
1a Faixa Até 180.000,00 4,00% -
2a Faixa De 180.000,01 a 360.000,00 7,30% 5.940,00
Os tributos reunidos na alíquota constante do quadro acima são: IRPJ, CSLL, Cofins,
PIS/PASEP, CPP, e ICMS.
Indústria:
Receita Bruta em 12 Meses (em R$) Alíquota Valor a Deduzir (em R$)
1a Faixa Até 180.000,00 4,50% -
2a Faixa De 180.000,01 a 360.000,00 7,80% 5.940,00
Obs. 1: o setor de serviços tem alíquotas diferenciadas, conforme o tipo de serviço prestado.
Seus percentuais podem variar entre 4,50% e 15,50%, para primeira faixa; e 9,00% e 18,00%,
para a segunda faixa. Os tributos reunidos nestas alíquotas são: IRPJ, CSLL, Cofins,
PIS/PASEP, CPP, e ISS.
Obs. 2: apesar de ser optante pelo Simples Nacional, o MEI não está sujeito a essas alíquotas.
Sua sistemática de recolhimento é outra, conforme trataremos a seguir.
IMPORTANTE → a ME, optante pelo Simples Nacional, não poderá se associar a outra
pessoa jurídica, exceto cooperativa de crédito ou outros tipos de consórcio, associação ou
sociedade, autorizados pela legislação (BRASIL, 2006a). Essa vedação pode inviabilizar a
participação legal de grande parte das agroindústrias familiares em cooperativas
agropecuárias. Esse é um grande problema para a formalização de muitos arranjos da
agricultura familiar, normalmente encontrados em Minas Gerais. Na próxima aula, trataremos
de grupos formais que podem ser alternativas para a formalização de alguns desses arranjos.
O simples fato de não estar devidamente registrado no CNPJ não garante ao produtor proteção
no que diz respeito às implicações legais da sua atividade, muito pelo contrário. Para fins da
legislação tributária, “as pessoas físicas que, em nome individual, explorem, habitual e
profissionalmente, qualquer atividade econômica de natureza civil ou comercial, com o fim
especulativo de lucro, mediante venda a terceiro de bens ou serviços” (BRASIL, 1999) são
caracterizadas como empresa individual, estando equiparadas à pessoa jurídica, ainda que não
se encontrem regularmente inscritas junto ao órgão do registro de comércio ou registro civil.
Entre outras coisas, isso quer dizer que, mesmo não estando registrada como tal, a pessoa
Obs.: Por ter previsão legal, quando se tratar de atividade rural – basicamente, produção
primária, como vimos na seção 2 – o produtor rural pode optar por fazer ou não o registro no
CNPJ. Caso faça opção por registrar sua atividade na Junta Comercial, “ficará equiparado,
para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro” (BRASIL, 2002b).
Além de manter a escrituração completa das receitas e despesas da pessoa jurídica, em livros
revestidos das formalidades, de acordo com as determinações legais, e de orientar os
dirigentes do empreendimento com relação às suas obrigações (principais e acessórias), um
bom contador poderá contribuir ainda para o planejamento tributário da entidade,
desenvolvendo um trabalho com vistas à elisão fiscal. Isto é, o profissional de contabilidade
utiliza um conjunto técnicas e conhecimentos que o permitem orientar o empreendedor a fazer
as escolhas que melhor adaptam ao seu tipo de negócio, de modo que sua empresa possa,
legalmente, pagar menos impostos.
Dessa forma, a assessoria de um bom contador pode ser decisiva, não só para a segurança
fiscal, mas também para viabilidade do empreendimento (planejamento tributário). Suas
orientações devem ser seguidas, com base na responsabilidade técnica (RT) e no contrato
formal de prestação de serviços de contabilidade.
O EI é uma categoria de empresa, cujo titular é uma única pessoa física – equiparada à pessoa
jurídica –, obrigada ao registro no CNPJ. Neste caso, a pessoa física responde integralmente
pelas obrigações da empresa, sendo ilimitada a responsabilidade do titular pelas obrigações da
empresa – responsabilidade ilimitada (ver seção 4).
O MEI é uma modalidade de Empresário Individual – EI, cuja lei assegura tratamento
favorecido, diferenciado e simplificado, no âmbito do regime tributário Simples Nacional.
Nos termos da lei, “o instituto do MEI é uma política pública que tem por objetivo a
formalização de pequenos empreendimentos e a inclusão social e previdenciária” (BRASIL,
2006a). Assim, por suas características de política pública, para a inclusão social e
previdenciária, o MEI pode ser uma boa alternativa para formalizar alguns negócios rurais
não agrícolas, na forma de pessoa jurídica, especialmente certos empreendimentos ligados ao
artesanato, turismo rural e agroindústria. Como MEI, o empreendedor familiar rural também
passa a ter acesso facilitado à emissão de notas fiscais, mesmo para produtos e serviços
resultantes de atividades não agrícolas como estas, além de contar com carga tributária muito
Para enquadramento, porém, o empresário terá que observar, entre outras, as seguintes
condições (BRASIL, 2006a):
→ somente são admitidas as atividades econômicas definidas pelo Comitê Gestor do Simples
Nacional – CGSN. Para acesso à lista de atividades permitidas, clique aqui;
2) Reduzida carga tributária e pagamento de valores fixos mensais → O MEI tem os impostos
federais zerados e grande redução nos valores do INSS, ICMS e ISS. Assim, a carga tributária
se resume a um pagamento mensal dos seguintes tributos:
Esta simplificação das obrigações contábeis tem grande impacto na redução dos custos fiscais
do empreendimento.
5) Cobertura previdenciária → uma vez formalizado, o MEI passa a ter todos os benefícios
previdenciários;
Embora o texto da Lei Geral/2006, uma vez modificado pela Lei Complementar nº 155/2016,
tenha passado a tratar explicitamente do desenvolvimento de “atividades de industrialização,
comercialização e prestação de serviços no âmbito rural”, por parte do MEI, a introdução
desse dispositivo está muito mais ligada aos objetivos da reforma trabalhista – e, por
consequência, à prestação de serviços no âmbito rural –, do que aos princípios do
desenvolvimento agrário e as atividades agroindustriais ou comerciais a ele relacionadas.
→ somente são admitidas as atividades econômicas definidas pelo Comitê Gestor do Simples
Nacional – CGSN;
Entendemos que o correto, neste caso, seria que o membro da família, empreendedor rural,
inscrito como MEI, separasse formalmente o empreendimento agroindustrial, prestador de
serviços ou comercial, delimitando um espaço apropriado ao desenvolvimento da atividade,
de modo a separar o estabelecimento sob a gestão da pessoa jurídica do restante da
propriedade rural, a exemplo de uma pequena agroindústria ali destacada, como
estabelecimento autônomo ou independente, sob a gestão do MEI Rural. Assim, a
formalização dessa separação daria origem a dois estabelecimentos distintos, geograficamente
delimitados: 1) a propriedade rural, onde se desenvolvem as atividades rurais, sob a gestão de
Do ponto de vista prático, isso traz outro grande problema para o MEI, empreendedor
familiar rural. Como vimos, ao MEI somente são admitidas como atividades econômicas as
ocupações definidas pelo Comitê Gestor do Simples Nacional – CGSN. Ora, por uma questão
suficientemente óbvia, entre as ocupações definidas no âmbito do CGSN não constam aquelas
relacionadas à atividade rural, próprias do produtor rural pessoa física. Isto é, o
desenvolvimento dessas atividades não é permitido ao MEI. Se o MEI não pode desenvolver
atividades rurais em seu estabelecimento e o titular, pessoa física, não pode ter mais de um
estabelecimento, com raras exceções, a pessoa natural que se inscrever como MEI não poderá
produzir ou comercializar produtos agropecuários.
O limite de faturamento para fins de enquadramento como MEI deve considerar toda
a receita do segurado especial. Se o segurado especial se formaliza como MEI, essa
formalização deverá abranger toda a sua atividade rural e não apenas parte dela.
Sendo assim, o total das receitas do grupo familiar não poderá ultrapassar R$
81.000,00/ano.
Esses e outros problemas estão sendo discutidos no âmbito do Grupo de Trabalho Construção
Social dos Mercados – GTCSM, vinculado ao CEDRAF-MG. Com a ajuda da FETAEMG,
uma de nossas parceiras também nesse GT, levamos o assunto para ser discutido em Brasília,
contando com a mobilização e apoio da CONTAG. Nossa expectativa é que haja melhor
entendimento desses problemas, para que se possa regulamentar adequadamente o dispositivo
legal que criou o MEI Rural. Importante salientar, no entanto, que o tema é politicamente
muito sensível, especialmente no momento em que determinadas propostas de reforma da
previdência ameaçam seriamente os benefícios vinculados à categoria do segurado especial.
A criação do MEI Rural também trouxe um novo dispositivo que trata da formalização do
segurado especial como Microempreendedor Individual – MEI. Nos termos da lei, “o
empreendedor que exerça as atividades de industrialização, comercialização e prestação de
serviços no âmbito rural que efetuar seu registro como MEI não perderá a condição de
segurado especial da Previdência Social” [grifo nosso] (BRASIL, 2006a).
Embora o novo texto da lei, que se encontra em plena vigência, seja suficientemente claro e
não apresente nenhuma condição adicional, como pode ser percebido na citação acima, é
preciso levar em conta pelo menos duas questões: 1) as dificuldades associadas à criação do
MEI Rural, anteriormente tratadas (ver seção 3.3.1.1); 2) as dificuldades práticas relacionadas
à ausência, até o momento, de qualquer regulamentação, normativo interno ou orientação
formal, partindo do comando do INSS aos servidores responsáveis pelo atendimento direto ao
público. Diante dessa situação, na análise de cada caso, recomendam-se cuidados especiais e
abertura de diálogo com os atendimentos da Receita Federal e do INSS, além do apoio de um
bom contador.
A EIRELI também é uma categoria de empresa, cujo titular é uma única pessoa física. A
principal diferença em relação ao EI, porém, é a responsabilidade do titular, pessoa física,
pelas obrigações da pessoa jurídica. Ao contrário do EI, como o próprio nome já diz, o titular
de uma EIRELI tem responsabilidade limitada. Isto é, em condições de atuação dentro dos
limites da lei, a responsabilidade do titular da pessoa jurídica é restrita ao valor do capital por
ele integralizado (ver próxima seção). O valor a ser integralizado “não será inferior a 100
(cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País” (BRASIL, 2002b). Na prática, esse
valor corresponde ao capital mínimo, que deverá ser colocado em risco no negócio.
Legalmente, os titulares ou sócios de algumas pessoas jurídicas podem optar por responder ou
não, com o patrimônio pessoal, pelas obrigações da pessoa jurídica. Como vimos, a
responsabilidade do titular de uma empresa individual é definida na escolha do seu formato
jurídico – EI ou EIRELI. Já associações, cooperativas e algumas sociedades empresárias,
entre outras, podem fazer a opção – responsabilidade limitada ou ilimitada –, registrando-a
em seus atos constitutivos – estatuto ou contrato social, conforme o caso.
Pessoa jurídica é uma ficção jurídica instituída pela lei para suprir a inquietação
humana. Permite que os empresários enfrentem os desafios e a álea inerentes à
prática comercial. Para abrir um comércio ou uma indústria os sócios se expõem a
riscos de vários matizes, que podem redundar em dilapidação patrimonial.
Importante salientar que essa espécie de proteção legal do patrimônio particular do titular ou
sócio da pessoa jurídica de responsabilidade limitada é válida somente para as operações
realizadas dentro da legalidade. Ademais, existem outras condições que podem prejudicá-la
juridicamente. Trata-se da teoria da desconsideração da personalidade jurídica.
Será desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma
forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. Aqui o
avanço da lei é significativo, porque dispensa a prova da intenção do fornecedor em
fazer mau uso da pessoa jurídica. (ANDRIGHI, 2004 pp. 5-6)
No que diz respeito à participação da pessoa física ou jurídica nos programas PAA e PNAE, é
preciso observar, mais uma vez, a importante distinção estabelecida na Lei Federal nº
11.326/2006, entre as figuras do agricultor familiar (pessoa física) e empreendedor familiar
rural (pessoa jurídica). Estes conceitos legais são importantes porque permitem perfeita
A primeira coisa a se observar, neste caso, de acordo com a discussão acima, é a natureza do
negócio rural, do ponto de vista das suas obrigações fiscais. Como vimos, quando se tratar de
atividade rural, esta poderá ser desenvolvida pela pessoa física – CPF; O desenvolvimento de
outras atividades, exigirá a formalização da pessoa jurídica – CNPJ, sob pena de estar o
empreendedor incorrendo em fraude fiscal e sonegação de tributos, nos termos da lei.
Importante salientar que, deve haver coerência entre os diferentes processos. Assim, na
comercialização de produtos da atividade rural, desenvolvida pela pessoa física, o contrato
com a Entidade Executora – EEx deve ser firmado pela pessoa física – CPF, que, neste caso,
apresentará a DAP física. Por outro lado, na comercialização de produtos de outras atividades
(como a agroindústria, por exemplo), não enquadradas como atividade rural, o contrato com a
EEx deve ser firmado pela pessoa jurídica – CNPJ, que, neste caso, apresentará a DAP
jurídica.
Em resumo, temos:
→ DAP física; e
→ Nota fiscal de produtor rural Pessoa Física.
→ DAP jurídica; e
→ Nota fiscal da Pessoa Jurídica.
Obs.: poderá haver casos em que a Entidade Executora contratará simultaneamente a pessoa
física, para ofertar produtos in natura; e a pessoa jurídica, para ofertar produtos da
agroindústria, ainda que o titular da pessoa jurídica seja a mesma pessoa física já contratada.
Isso porque, uma mesma pessoa pode desenvolver atividades como pessoa física e outras
atividades como pessoa jurídica. Exemplo: uma senhora que fornece quitandas e hortaliças
para determinada escola. Para produzir e comercializar suas quitandas (agroindústria), ela
deverá formalizar seu negócio rural no CNPJ – uma microempresa, por exemplo; Esta mesma
senhora, no entanto, poderá continuar comercializando suas hortaliças (atividade rural) em
nome da pessoa física, por meio de sua inscrição estadual de produtora rural pessoa física.
6 – Considerações Finais
Neste segundo texto, trabalhamos aspectos ligados aos negócios rurais individuais (ou
familiares), procurando descrever as alternativas de formalização, abordando ainda algumas
importantes questões relacionadas a cada uma delas (produtor rural pessoa física, EI, MEI e
EIRELI), sobretudo, do ponto de vista da legislação tributária. Sobre as questões
previdenciárias, nos dedicamos mais na conceituação e discussão do conceito legal de
segurado especial da previdência social. Dedicamos também uma parte especial à
problemática do desenvolvimento de atividades agroindustriais por pessoas físicas e jurídicas,
bem como, algumas implicações destas atividades no enquadramento do segurado especial.
No próximo texto (aula 3), que trata da Formalização dos Negócios Rurais Coletivos,
abordaremos alguns assuntos mais diretamente ligados ao desenvolvimento de atividades
econômicas por parte das associações, o importante tema das cooperativas da agricultura
familiar, as sociedades empresárias, consórcios e condomínios rurais. Por questões um tanto
óbvias, somente após termos tratado dos formatos mais comuns de pessoas jurídicas – seja
7 – Referências Bibliográficas
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o resultado da atividade rural, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 13 abr. 1990. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8023.htm>. Acesso em: 09 jan. 2018.
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