Neste documento, a autora discute como a memória feminina foi marginalizada na história tradicional, focada principalmente nos eventos públicos. Ela explica que as mulheres eram registradas principalmente quando causavam distúrbios e que sua memória estava ligada à oralidade e ao privado. Finalmente, a autora argumenta que as práticas sociais envolvidas na memória são produto das relações de gênero e, portanto, a memória é profundamente marcada pelo gênero.
Neste documento, a autora discute como a memória feminina foi marginalizada na história tradicional, focada principalmente nos eventos públicos. Ela explica que as mulheres eram registradas principalmente quando causavam distúrbios e que sua memória estava ligada à oralidade e ao privado. Finalmente, a autora argumenta que as práticas sociais envolvidas na memória são produto das relações de gênero e, portanto, a memória é profundamente marcada pelo gênero.
Neste documento, a autora discute como a memória feminina foi marginalizada na história tradicional, focada principalmente nos eventos públicos. Ela explica que as mulheres eram registradas principalmente quando causavam distúrbios e que sua memória estava ligada à oralidade e ao privado. Finalmente, a autora argumenta que as práticas sociais envolvidas na memória são produto das relações de gênero e, portanto, a memória é profundamente marcada pelo gênero.
No teatro da memória, as mulheres são sombras tênues. A narrativa histórica
tradicional reserva-lhes pouco espaço, justamente na medida em que privilegia a cena pública – a política, a guerra – onde elas pouco aparecem. (p. 9) No século XIX por exemplo, os escrituários da história – administradores, policiais, juízes ou padres, contadores da ordem pública – deixam bem poucos registros que digam respeito às mulheres, categoria indistinta, destinada ao silêncio (p. 9-10) Quanto as mulheres do povo, só se fala delas quando seus murmúrios inquietam no caso do pão caro, quando provocam algazarras contra os comerciantes ou contra os proprietários, quando ameaçam subverter com sua violência um cortejo de grevistas. (p. 10) Assim, os modos de registro das mulheres estão ligados à sua condição, ao seu lugar na família e na sociedade. O mesmo ocorre com seu modo de rememoração, da montagem propriamente dita do teatro da memória. (p.15) […] e pelo que resta de antigamente nas mulheres de hoje (o que não é pouco), é uma memória do privado, voltada para a família e o íntimo, os quais elas foram de alguma forma delegadas por convenção e posição […] (p. 15) A memória das mulheres é verbo. Ela está ligada à oralidade das sociedades tradicionais que lhes confiava a missão de narradoras da comunidade aldeã. […] (p.15) É por isso que o desenvolvimento recente da história dita “oral” é de certo modo uma revanche das mulheres. […] Dar a palavra aos deserdados, aos povos sem história, aplicar às populações urbanas contemporâneas os métodos empregados pelos etnólogos para os pseudo “primitivos”: estes foram no início os pressupostos dessa demarche. (p. 16) Enfim, o feminismo desenvolveu uma imensa interrogação sobre a vida das mulheres obscuras. Tornar visível, acumular dados, instituir lugares da memória (arquivos de mulheres, dicionários…) foi uma das preocupações de uma história das mulheres em plena expansão nos últimos quinze anos. E na falta de testemunhos escritos, buscou-se fazer surgir o testemunho oral. (p. 17) Essas experiências permitirão talvez um dia analisar mais precisamente o funcionamento da memória das mulheres. Existe, no fundo, uma especificidade? Não, sem dúvida, se se trata de ancorá-la numa inencontrável natureza e no biológico. Si, provavelmente, na medida em que as práticas sócio-culturais presentes na tripla operação que constitui a memória – acumulação primitiva, rememoração, ordenamento da narrativa – está imbricada nas relações masculinas/femininas reais e, como elas, é produto de uma história. Forma de relação com o tempo e com o espaço, a memória, como a existência da qual ela é o prolongamento,é profundamente sexuada. (p. 18)
Se não é a canção nacional, para lá caminha: a presentificação da nação na construção do samba e do fado como símbolos identitários no Brasil e em Portugal (1890-1942)