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Utopia para realistas: Como construir um mundo melhor

Autor: Rutger Bregman


Editora: Sextante (2018)
N° de páginas: 256

O livro Utopia para realistas, de Rutger Bregman, nos trás um pouco de


esperança no meio de tanta turbulência e o livro é escrito de forma arrebatadora de
forma que destrói nossas crenças e desafia o senso comum.
O livro inicia com uma comparação chocante e otimista, dizendo que em 99%
da história, 99% da humanidade era pobre, faminta, suja, medrosa, estúpida, doente
e feia. Mas nos últimos 200 anos, bilhões de pessoas tornaram-se ricas, bem
nutridas, limpas, seguras, espertas, saudáveis e, ocasionalmente, bonitas. Depois
Rutger trata diversos parâmetros, como as doenças e a pobreza no mundo, que
mostram que ainda é necessário fazer mudanças e que nem todos alcançaram o
mesmo padrão de vida. Porém fica claro que se continuarmos nesse ritmo de
mudança, logo todos terão um padrão de vida confortável.
O autor também comenta que boa parte da população atualmente já vive na
utopia imaginada na idade média, na terra da cocanha, onde a comida estaria
disponível o tempo todo, o clima seria controlado e sempre agradável, o amor seria
livre, haveria salário sem trabalho e cirurgias plásticas estariam ao alcance de todos
para preservar a juventude. Mas essa realidade é alcançada com muitos efeitos
colaterais, como a poluição, obesidade, ansiedade, etc.
Apesar de todos esses avanços, Rutger com sua visão diferenciada
consegue enxergar o que poucos enxergam, e aponta um problema em tudo isso:
nos faltam utopias novas e motivadoras! Se já alcançamos a utopia anteriormente
pensada (a cocanha), qual a utopia que nossa geração deseja conquistar? O livro
mostra que estamos tentando corrigir sintomas de problemas como ansiedade e
obesidade sem tentar corrigir suas causas. Ele nos instiga a pensar que devemos
buscar uma nova utopia onde esse efeitos colaterais não sejam nosso cotidiano,
pois na nossa “utopia” atual, os índices de depressão não param de crescer
enquanto as mentes mais brilhantes do planeta estão pensando em como fazer as
pessoas clicarem em um anúncio. Essa realidade é no mínimo instigante.
Bregman diz que sem utopia, estamos perdidos e sem objetivos. Precisamos
de desafios e de mudança, precisamos de planos e objetivos.
Então o autor começa a tratar sobre possibilidades para essa nova utopia,
que na sua concepção pode ser nossa realidade. Ele trata inicialmente da renda
mínima universal, da qual eu já conhecia o conceito e sempre acreditei ser uma
medida importante para melhorias na condição de vida de uma geração onde a
automatização toma conta. Rutger apresenta então com evidências de que esse
pode ser um caminho para a transformação social e tecnológica pela qual o mundo
está passando, pois dar dinheiro diretamente para as pessoas que precisam, sem
exigir nada em troca, produz resultados muito melhores (e a um custo
significativamente mais baixo) do que bolar programas sociais sofisticados e cheios
de burocracia. Essa ideia quebra um pouco o senso comum de que os pobres são
malandros e se receberem dinheiro gratuitamente irão parar de trabalhar. Ele
reforça suas ideias com estudos, como um experimento em que um montante
relativamente modesto de dinheiro foi dado a moradores de rua sem contrapartida.
O resultado foi que todos eles conseguiram mudar de vida em vez de gastarem
dinheiro com drogas ou bebidas e passaram a ter uma vida digna. O livro traz então
diversas pesquisas sérias e evidências para embasar suas colocações.
O autor ainda comenta que nossa maior medida de crescimento atual de uma
nação é o PIB, e que esse indicador não avalia nossa qualidade de vida. Será que é
o PIB que deveria nos guiar? Uma frase de Rutger pode elucidar essa questão:
“Se você fosse o PIB, seu cidadão ideal seria um jogador compulsivo com
câncer que está passando por um divórcio complicado, do qual busca consolo
tomando várias pílulas de antidepressivo e comprando loucamente na Black Friday”
Outro ponto muito importante da obra é a redução da jornada de trabalho,
novamente com evidências Rutger conta que a revolução industrial eliminou
completamente o conceito de lazer da vida dos trabalhadores, que cumpriam uma
jornada média de 70 horas por semana, sem férias nem finais de semana. Porém
isso começou a mudar na década de 1920, Henry Ford resolveu apostar e
implementou a semana de cinco dias em suas fábricas o que ocasionou em um
aumento significativo na produtividade. Essa redução na carga horária estagnou e
nós nos últimos 70 anos presenciamos novamente o aumento da jornada de
trabalho, o que está ligado a males da sociedade atual como o estresse e a
ansiedade.
Bregman acredita que trabalhando menos e tendo as condições mínimas
para sobreviver, as pessoas produzirão mais arte, conhecimento e cultura, que, em
síntese, é o que nos diferencia das máquinas.
Para finalizar o livro, somos confrontados com evidências que apontam que
abrir as fronteiras entre as nações poderá trazer resultados econômicos e sociais
muito importantes. De acordo com Rutger, fronteiras abertas tornariam o mundo
inteiro duas vezes mais rico do que é hoje e diminuiria a desigualdade entre as
nações. Destaco uma frase que muito me fez pensar sobre estarmos vivendo uma
situação muito mais retrógrada que imaginávamos:
“Talvez dentro de um século olharemos para todas essas barreiras da mesma
forma que hoje pensamos sobre a escravidão e o apartheid. Mas uma coisa é certa:
se quisermos criar um mundo melhor, não há como ignorar a importância da
migração”
Acredito que o mais instigante desse livro não sejam as diversas crenças e
sensos comuns que ele contesta separadamente, apesar de essa mudança de
pensamento já valha a leitura por si só, mas sim o que esses conceitos de renda
básica universal, diminuição da jornada de trabalho e fronteiras abertas podem
significar de forma conjunta. Na utopia do amanhã está tudo interligado, por
exemplo: menos horas de trabalho em função da automatização de postos, exigem
a implementação de renda básica universal para que o poder de compra não
despenque.
Como diz Rutger, utopias são peças fundamentais na construção de novos
paradigmas, então precisamos pensar juntos qual o futuro que queremos. Pois
como é apresentado no livro, a sociedade é quem define o que tem valor real ou
não e a mudança de paradigma pode começar hoje!

Luiza Ternes Moresco


Dezembro de 2022

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