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ANO I - No 09

FOLHETIM
O JORNALZINHO DA GALERA DA FÍSICA
NOVEMBRO - 1999

Distribuição Gratuita - Folhetim na Internet: www.cen.g12.br/f2g/jornal

O PAU COMEU FEIO


NA SALA DE AULA
Um tremendo sururu agitou on- outro, retrucou: “O professor já ouvia o Quinteto Violado enquan-
tem o Recife, envolvendo dois alu- explicou, animal! Presta aten- to saboreava uma agulha frita, foi
nos e o professor de uma escola ção!”. “Vou dar um murro na sua chamado para resolver a penden-
ainda não contextualizada pelo cara”, respondeu o outro. Pertur- ga. “Gente, os nove filhos do Seu
PCN. Um dos alunos tascou a bado, o professor ironizou: “De Nilton passaram aqui agorinha
pergunta: “Professor, de onde vêm onde vêm os nove? Devem ter vin- mesmo, e acabaram de entrar no
aqueles nove newtons?”. O co- do da Holanda, com o Maurício bar da Otília!”, concluiu Pascal,
lega, que nunca foi com a cara do de Nassau!”. O bedel Pascal, que acabando com a briga - Página 3

Quark, alegria Flagrado com NÃO PERCA


da garotada o taco na mão NESTE FOLHETIM
Depois de anos pesquisando a for- As novas mudanças na educação Majela dá banho - Página 12
Carro zero para alunos - Página 12
ça de atração entre corpos que estão introduzindo nas salas de aula
Sonho Meu - Página 13
possuem massa, a professora Te- a última palavra em ensino: a meto- Extremamente Frágil - Página 15
resa criou e está lançando a nova dologia do taco. Idealizada para es- Fala, CAP! - Página 16
Aveia Quark, uma linha de farelo timular o interesse dos alunos pela
energético. A aveia Quark tem cor, Física, a metodologia recomenda o
sabor e efeitos espilbergueanos: up,
down, strange, charm, botton e top.
uso de um bastão comprido, com
uma ponta fina de um lado e uma
Feira de Ciências
www.cen.g12.br/f2g/feira
Quem tomou, pirou! - Página 7 ponta grossa do outro - Página 14

Encontrada a solução
para a seca do Nordeste
Em espetacular missão de resgate, a equipe do
Folhetim partiu para a Antártica com o objeti-
vo de rebocar o gigantesco iceberg B10A, des-
prendido das geleiras Thwaites. A idéia foi do
Luiz Alberto, numa tentativa de encontrar uma
solução para a seca do Nordeste. Quem está
entusiasmado com a missão é o Fonte Boa, que
não perde uma Antártica gelada. Na foto, a equi-
pe do Folhetim tenta descobrir como passar a
corda debaixo da pedra, sem rachar - Página 11
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Prezado A Prensa Hidráulica na Sala de Aula:


Colega , DE ONDE VÊM
Aproxima-se o fim do ano e
nosso objetivo inicial, de trans-
formar o Folhetim em um espaço
OS NOVE?
U
ma pesquisa que realiza- uma consciência crítica pelo papa-
aberto e útil para o cotidiano de
todos nós, professores de Física mos recentemente, em gueamento do mestre.
do ensino médio, parece estar vários livros textos de Fí- Para retratar este quadro, de
cada vez mais consolidado. sica do ensino médio, a respeito uma forma presumivelmente diver-
Essa “aventura”, ou se pre- das formas como são veiculados o tida, construímos aqui uma espé-
ferirem, “loucura” de dois auto- princípio de Pascal e o estudo da cie de caricatura de uma situação
res e mais um grupo de amigos, prensa hidráulica, levou-nos a con- real, na forma de uma conversa fic-
só foi possível por dois motivos. siderar os modos, por vezes pa- tícia, travada entre um professor de
Em primeiro lugar, pela empol- dronizados, como esses conteúdos Física hipotético, Simplicius, e seus
gação (e muito trabalho) de pes-
são rotineiramente lecionados nas dois alunos imaginários Expertus
soas como o Ovídio, a Sandra, o
Pamplona (que vocês “conhece- aulas de Física, apelando-se a-cri- e Perguntus. A forma, proposita-
ram” por entrevistas anteriores), ticamente para a simples memoriza- damente irônica da “conversa”
o Thiago e o Fernando, que ape- ção, sem significado, de conceitos está, evidentemente inspirada no
sar de “não serem da área” - ou e formulações. Assunto tido, geral- modo de argumentação de Galileu.
seja, não são como nós, Luiz, Mar- mente, como muito fácil, quando A propósito, é sempre bom lembrar
celo e Mauro, professores de Físi- visto apenas pelo lado aplicativo de que Galileu não foi apenas um gran-
ca - abraçaram o projeto com a problemas padronizados que pe- de cientista, mas igualmente um fino
maior dedicação, curtindo-o tan- dem simplesmente os cálculos de escritor, dotado de uma aguçada ca-
to, ou até mais, do que nós. valores de áreas e de forças, o es- racterística sarcástica nos seus escri-
Em segundo lugar, pelo retor-
no que muitos de vocês nos de- tudo da prensa hidráulica pode re- tos, podendo seus livros serem lidos
ram, seja através de colabora- velar aspectos inusitados, numa quer como obras de ciência, quer
ções, cartas, ou até mesmo pelo análise mais acurada. como exemplos de peças literári-
simples ato de se cadastrarem Considerações energéticas, en- as. Recentemente, seu estilo, em
para receber o jornalzinho. volvendo a prensa hidráulica, ra- forma de trilogia, foi adotado, por
Como imaginamos ao lançar ramente são desenvolvidas em sa- exemplo, por Capra em seu livro
o primeiro número, estamos che- las de aula. Ao invés disso, um tra- “O Ponto de Mutação”, cujo fil-
gando ao número 10, o último tamento matemático bem simples me, baseado no romance, foi diri-
previsto para este ano. O primeiro e acessível é normalmente dispen- gido pelo seu irmão. Enquanto
(março/99) com 8 páginas (lem-
bram?) e este já tem 20!!! sado ao assunto, que é apresenta- Galileu caricaturou os Aristotélicos
Apesar de todas as dificulda- do, deste modo, como um mero com o seu personagem Simplicius,
des (entre elas os eternos proble- exercício de aplicação do princí- a um leigo inteligente e culto, com
mas de tempo e dinheiro - pois pio de Pascal. Nenhuma dificulda- o nome de seu amigo Sagredo e a
até o momento estamos sem ne- de parece haver em tão elementar si mesmo com o nome de Salvatius,
nhum patrocínio), prevemos assunto, tal a pouca importância Capra adotou uma formulação
para o próximo ano: mais pique que é dada à sua complexidade. trilogística na qual uma física, um
e muitas novidades. Torçam Essa trivialização do conteúdo tem, político e um poeta debatiam so-
conosco e, se conhecerem algum certamente, conseqüências dano- bre ciência e sobre o futuro da hu-
maluco idealista (assim como
sas para a formação dos nossos manidade.
nós) e cheio da grana (o que não
é o nosso caso), não se acanhem, estudantes, que acostumam-se a A pretensão, aqui, é bem mais
nos apresentem! Pelo menos para aprender Física como se esta fos- humilde. Trata-se apenas de carica-
pagar o chope!!! se um cântico a ser repetido, subs- turar uma certa postura dogmática
AXÉ! tituindo a necessária formação de no ensino da Física para melhor
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criticá-la. O meu personagem Sim- Como vocês podem ver, a prensa Perguntus: Mas o que isso tem a
plicius não é o mesmo Simplicius hidráulica tem dois ramos cilíndricos ver com os 9?
de Galileu, aquele um Aristotélico com êmbolos de áreas bem diferen- Expertus: Professor, ele não en-
convicto, cheio de certezas. O meu tes entre si, A1 e A2. Dêem uma olha- tendeu mesmo.
Simplicius é tão somente um pro- da na figura do livro. Pois bem, devi- Perguntus: E tu que entendeu, diz
fessor de Física comum, atual, não do ao princípio de Pascal, visto na de onde vêm os nove!
um Aristotélico como o personagem aula anterior, a pressão exercida so- Expertus: O professor já expli-
galileano, mas como aquele, tam- bre o líquido se transmite por igual cou, animal. Presta atenção.
bém, com muitas certezas e poucas em todas as direções. Olhando para Simplicius: Calma pessoal. Eu vou
dúvidas. Como nos filmes america- a figura vocês podem ver que isso repetir tudo de novo. Preste aten-
nos, porém, cabe ressaltar, que qual- nos garante que: F1/A1 = F2/A2 . E ção. O princípio de Pascal não diz
quer semelhança com personagens sendo A2 = nA1, teremos: F1/A1 = que a pressão no líquido vai ser a
reais, é uma mera coincidência. F2/nA1. Logo: F2 = nF1. Se, por mesma dos dois lados? Lembra
O conteúdo dessa conversa re- exemplo, F1 fosse igual a 1 newton e daquele experimento que eu fiz o
trata as observações, de muitos a área A1 igual a 1m2, enquanto a área desenho na aula passada?
anos de ensino, da prática docente A2 fosse igual a 10m2, então a força Perguntus: Qual, professor?
de vários colegas. Neste sentido, F2 deveria ser igual a 10 newtons. Simplicius: Aquele que a gente ti-
os personagens são fictícios, mas Nós conseguimos, assim, multiplicar nha um vaso com vários furos ta-
o tipo de acontecimento retratado, o valor da força, daí a utilidade da pados com rolhas e então a gente
certamente, não é. prensa hidráulica. Ela é usada, por colocava líquido dentro, até à boca,
De Onde Vêm os Nove? exemplo, nos freios de automóvel e e empurrava a tampa. O que é que
A cena passa-se numa sala de aula nos lava-jatos dos postos de gasoli- acontecia?
comum onde o professor Simplicius na, para elevar os carros.
inicia a sua aula sobre a prensa hi- Perguntus: Professor, de onde
dráulica. Os alunos Expertus e Per- vêm os nove?
guntus escutam atentamente. Simplicius: Que nove?
Simplicius: O que vimos na aula Perguntus: Os nove, professor.
passada? Não era 1 e não passou para 10?
Expertus: O princípio de Pascal. Simplicius: Do que você está fa-
Simplicius: Muito bem! O que ele lando?
dizia? Perguntus: A força que aumen-
Expertus: Que um líquido com- tou, professor, de onde vem?
primido transmite a pressão exer- Simplicius: É uma conseqüência
cida sobre ele da mesma forma, por imediata, como vimos, do princí-
igual, em todas as direções. pio de Pascal. Você não entendeu
Simplicius: Muito bem! Hoje nós a explicação? Veja lá, você se lem-
vamos estudar um tópico bem sim- bra da aula passada, do princípio
ples, mas muito importante, do de Pascal? Acabamos de falar nele.
ponto de vista das suas aplicações: Perguntus: Hum!
a prensa hidráulica. Vejamos o se- Simplicius: Hum, o que? Lembra
guinte desenho, ele representa uma ou não lembra?
prensa hidráulica: Perguntus: Lembro!
Simplicius: Então, o que ele diz?
Perguntus: É aquele negócio da
pressão que ... Sei não, me lembro
não!
Expertus: Professor, eu sei. Dei-
xa eu dizer. É que a pressão se
transmite por igual nos líquidos.
Simplicius: Isso!
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Perguntus: O senhor falou que as sor. Não presta atenção no que o estudante. Sua tentativa de reduzir
rolhas pulavam todas ao mesmo senhor fala. a questão levantada a uma mera
tempo. Perguntus: Vou te dar um murro conseqüência do princípio de Pas-
Simplicius: Isso. Pois bem, a Fí- lá fora. cal, conduziu a aula a uma circulari-
sica é uma ciência experimental. Expertus: Vem, vem! dade. Suas frases sobre ser a Físi-
Como nós vimos, no desenho da- Simplicius: Epa!, lá fora vocês se ca uma ciência experimental, não
quele experimento, as rolhas pula- acertam, mas aqui eu quero calma. parecem passar de um jogo de
vam todas ao mesmo tempo. Isso Como é, você entendeu, agora? palavras. Seu tratamento do con-
é o princípio de Pascal. A prensa Perguntus: Não! teúdo é essencialmente livresco.
hidráulica é apenas uma aplicação Simplicius: Como não? Qual a Refere-se aos desenhos dos expe-
dele. OK? dúvida? Eu não acabei de explicar, rimentos, como se estivesse refe-
Expertus: Ele num tá entendendo de novo? rindo-se aos experimentos em si
não, professor. Deixa que eu ex- Perguntus: Professor, eu não en- mesmos. Por outro lado, sua ten-
plico a ele. tendo de onde vêm os nove. tativa final de escamotear a ques-
Simplicius: Não. Deixe que eu Simplicius: Mas você não falou tão, afirmando que os experimen-
mesmo explico. Veja, o princípio que estava certo? tos mostram que as coisas aconte-
de Pascal não diz que a pressão Perguntus: Professor, eu entendi cem desse modo, é uma mera ten-
vai ser a mesma dos dois lados da as contas, né? Mas, o que eu que- tativa de esconder o fato de não
prensa? Que a pressão feita na área ro saber é de onde vêm os nove. ter, ele mesmo, compreendido a
A1 vai ser transmitida por inteiro à Simplicius: Então você não com- profundidade e a seriedade da
área A2? preendeu o princípio de Pascal. questão. Essa postura empirista, do
Perguntus: Diz! Não tem nenhum nove. As pres- nosso professor hipotético, serve-
Simplicius: Então! sões são iguais e pronto. O aumen- lhe de refúgio nas horas mais difí-
Perguntus: Então, o que? to da força é uma conseqüência ceis, nas quais a sua fragilidade te-
Expertus: Professor, ele num tem matemática, elementar, do princí- órica é a sua principal companheira.
jeito mesmo. Deixe pra lá. Conti- pio de Pascal. O que mais você O comportamento igualmente
nue a matéria. O senhor tá perden- quer entender? Os experimentos caricaturado do outro aluno,
do tempo. mostram que é assim. A Física é Expertus, é um retrato do quanto
Perguntus: Cala a boca, chato. uma ciência experimental. É um se pode ser bem sucedido e ao
Deixa o professor explicar. problema muito simples. Não en- mesmo tempo mal formado dentro
Simplicius: Pois é, como a pres- tendeu as contas? dos padrões de um ensino tradici-
são é a mesma dos dois lados, pelo Perguntus: As contas eu entendi. onal que não incentiva o questiona-
princípio de Pascal, teremos que Eu não entendi é de onde vêm os mento, mas sim a repetição des-
F1/A1 = F2/A2 . Como F1 é igual a nove. provida da crítica. A adesão incon-
1 newton e A1 é igual a 1 m2, a Reflexões sobre a aula teste de Expertus às explicações
pressão do primeiro lado é 1N/m2, Certamente a estória apresen- dadas pelo professor Simplicius e
certo? tada acima é uma simples carica- a sua recusa em aceitar, de bom
Perguntus: Certo! tura do que acontece verdadeira- grado, o valor do questionamento
Simplicius: Então! Do outro lado mente em sala de aula, mas como mais radical de Perguntus, são li-
a pressão tem que ser 1 também. toda caricatura ela procura ressal- ções da mais pura subserviência à
Como ela é igual a F2/A2 e A2 é tar os traços a serem criticados. E palavra do mestre.
10m2, qual deve ser o valor de F2 o ponto central, é o pouco caso que Mas, afinal, o que poderia estar
para que dividido por 10 dê igual a é feito das considerações energé- por trás da questão levantada por
1? 10, certo? ticas envolvidas na concepção da Perguntus? Por que a sua estra-
Perguntus: Certo! prensa hidráulica. Retomemos, por nheza em relação à mudança no
Simplicius: Olhe aí, eu não disse exemplo, a dúvida do estudante valor da força? Por que a simples
que era fácil? Física é fácil, é só Perguntus: de onde vêm os nove? explicação matemática de Simpli-
prestar atenção e repetir como uma Na estória que apresentamos cius não o satisfez?
canção. As contas nesse caso são acima o professor Simplicius não Perguntus parece ter compre-
facílimas, não têm no que errar. parece ter entendido, ou mesmo le- endido, paradoxalmente, os passos
Expertus: Ele é voador, profes- vado muito a sério, a dúvida do seu matemáticos, sem dúvida muito
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simples, dados pelo professor, e mesmo êmbolo d1. No outro ramo sobre o trabalho realizado na pren-
mesmo assim, ter continuado com da prensa, uma área maior A2 re- sa hidráulica. Toda a exposição é
a sua dúvida. Na verdade, o tipo cebe uma força igualmente maior centrada nas relações entre as áre-
de dúvida por ele suscitada é mui- F2 às custas da realização do mes- as e na conseqüência, devido ao
to freqüente nas aulas de Física, mo trabalho: F1 x d1 = F2 x d2. princípio de Pascal, do aumento do
mas nem sempre devidamente va- Assim sendo, há uma compensação valor da força. Não é observado,
lorizado. do aumento do valor da força com por exemplo, que a obediência ao
O que parece conferir um senti- uma conseqüente e idêntica redu- princípio de Pascal dá-se a um cus-
do ao questionamento do nosso hi- ção no deslocamento do segundo to energético a ser pago: onde a for-
potético estudante é uma expecta- êmbolo. Desta forma, apesar de F2 ça é maior, o deslocamento do êm-
tiva da existência de uma certa “si- ser igual a nF1, a mesma relação exis- bolo é proporcionalmente menor.
metria” na situação em causa. A in- tente entre as áreas (A2 = nA1), o Por outro lado, a simplicidade
quietação parece provir de uma ex- deslocamento d2 será d1/n. da matemática que é utilizada nas
pectativa de que houvesse algo Esta questão está ilustrada nu- apresentações tradicionais da pren-
como uma “conservação da força”. ma animação da prensa hidráulica sa hidráulica é enganosa, não de-
Ainda que o nosso personagem que anexamos ao presente texto e vendo ser confundida com a sim-
Perguntus não tenha demonstrado está disponível no site deste Folhe- plicidade do conteúdo em si mes-
a possibilidade de explicitar sua tim na Internet. Ela não se preten- mo. É uma simplicidade que decor-
dúvida nesses termos, parece ter de solução para coisa nenhuma, re essencialmente de uma triviali-
sido a idéia de um princípio de con- mas é oferecida apenas como uma zação deste conteúdo.
servação, de fato não existente, simples ilustração a mais para sub- Não é de se estranhar, portan-
que estava por trás desse tipo de sidiar a insubstituível discussão a ser to, que muitos alunos não compre-
questionamento. desenvolvida pelos nossos colegas endam a natureza mais íntima do
Se por um lado, não existe real- professores de Física em suas sa- seu funcionamento, a forma apa-
mente uma conservação da força, las de aula. rentemente “mágica” de multiplicar
por outro lado, a forma como a No geral, há, efetivamente, uma o valor da força. A argumentação
força evolui espacialmente, ou seja, relação de simetria sendo obser- do nosso professor hipotético so-
o trabalho que realiza, define, efe- vada, relação esta diretamente li- bre o que mais haveria a compre-
tivamente, uma relação de simetria gada a um princípio de conserva- ender, uma vez tendo-se acom-
do tipo esperado. Ou seja, a ener- ção. A distinção entre força e ener- panhado o desenvolvimento mate-
gia mecânica posta em jogo de um gia, no entanto, não é algo trivial, mático, encerra uma questão de
lado da prensa hidráulica deve ser como possa, à primeira vista, pa- grande importância no ensino da Fí-
a mesma que é transferida para o recer. A tortuosa história da cons- sica. Ela lembra um acontecimento
outro ramo do instrumento. Isso, trução do conceito de energia mos- narrado por Heisenberg, um dos
baseado no pressuposto de que o tra que ainda nos trabalhos de maiores físicos de todos os tem-
líquido seja, de fato, incompres- Helmholtz, na metade do século pos, a respeito da sua dificuldade,
sível, para que não ocorra perda XIX, a idéia de energia, enquanto quando ainda estudante, de com-
de energia. Pascal tinha essa ques- uma grandeza física nova e de alto preender a teoria da relatividade.
tão do pressuposto da incompres- poder generalizador, aparecia ain- Numa conversa com o seu colega
sibilidade muito clara em sua men- da com o nome de “kraft”, que em Wolfgang Pauli, Heisenberg retra-
te, ao introduzir a idéia dos “des- alemão pode significar, igualmen- ta, de forma brilhante, a questão,
locamentos virtuais”, que seriam te, força (Harman, 1985, p. 41). aqui levantada, da aparência enga-
posteriormente reformulados na Uma parcela dos professores de nosa do raciocínio matemático em
Física como “trabalhos virtuais”. Física não chama a atenção destes relação ao conteúdo por ele repre-
A questão energética, posterior aspectos ligados à conservação da sentado.
a Pascal, mas no fundo, latente em energia quando discutindo conteú- “Wolfgang perguntou-me -
sua formulação do problema, pode dos de hidrostática. O testemunho creio ter sido à noite, numa hos-
ser colocada da seguinte forma. O maior da pouca importância dada pedaria de Grainau - se eu ha-
trabalho realizado sobre o êmbolo a este assunto pode ser encontra- via finalmente compreendido a
de área A1 é igual ao produto da do, por exemplo, na ausência de teoria da relatividade, de
força F1 pelo deslocamento deste referências claras às discussões Einstein, que desempenhava um
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papel tão importante no seminá- ao menos percebidas, mas que po- University Press, 1985
rio de Sommerfeld. Só pude di- dem ser problematizadas à luz de - Heisenberg, W. A Parte e o Todo.
zer que eu não sabia realmente o uma cuidadosa análise histórico- Rio de Janeiro: Contraponto, 1996
que significava ‘compreender’ conceitual. - Hewitt, P. Conceptual Physics.
em nossa ciência natural. O apa- Conclusão Boston: Scott, Foresman and
rato matemático da teoria da re- Incursões históricas sobre a for- Company, 1989
latividade não me causava ne- mulação original de Pascal e sobre
- Mach, E. The Science of Me-
nhuma dificuldade, mas isso não o problema da prensa hidráulica,
chanics. La Salle, Illinois: Open
significava, necessariamente, assim como sobre outros assuntos
Court Classics, 1989.
que eu houvesse ‘compreendido’ da Física, poderiam ser extrema-
porque um observador em mo- mente interessantes de serem dis- - Taylor, L. Physics: The Pioneer
vimento, ao usar a palavra ‘tem- ponibilizadas aos nossos professo- Science. New York: Dover, 1959.
po’, referia-se a algo diferente de res. Principalmente se aliadas a
um observador em repouso. considerações filosóficas, educaci-
Aquilo me intrigava e me pare- onais e experimentais. Elas pode-
cia incompreensível. riam revelar aos nossos mestres
- Mas, havendo compreendi- certos detalhes essenciais da for-
do o arcabouço matemático - mação dos conceitos envolvidos
contestou Wolfgang -, com cer- que, com certeza, poderiam ser de
teza você pode prever o que um grande valia na compreensão das
observador em repouso e um ob- dificuldades de construção daque-
servador em movimento têm que
observar ou medir. Temos boas
razões para supor que um expe-
rimento real confirme essas pre-
le conhecimento e das possíveis
origens das dúvidas dos seus
próprios alunos. O espaço dispo-
nível de um artigo, no entanto, não
“ O ensino de Física tem-se
realizado freqüentemente me-
diante a apresentação de con-
ceitos, leis e fórmulas, de for-
visões. O que mais você quer? comporta mais que uma provoca- ma desarticulada, distancia-
- Eis aí o meu problema - re- ção analítica, como a aqui ofereci- dos do mundo vivido pelos
truquei. - Não sei o que mais pode da. Um tratamento mais pormeno- alunos e professores e não só,
ser exigido. Sinto-me meio ludi- rizado da questão demandaria, cer- mas também por isso, vazios
briado pela lógica implícita no tamente, um texto muito mais lon- de significado. Privilegia a
arcabouço matemático. Talvez go, não condizente com o objetivo teoria e a abstração, desde o
você possa até dizer que aprendi aqui estabelecido. Infelizmente, primeiro momento, em detri-
a teoria com o cérebro, mas não uma literatura deste tipo não pare- mento de um desenvolvimen-
ainda com o coração” (Heisen- ce, ainda, ser do interesse da mai- to gradual da abstração que,
berg, 1996, pp. 41-42). oria dos editores, ao menos em lín- pelo menos, parta da prática
Esse sentimento de ter sido “tra- gua portuguesa. e de exemplos concretos. En-
ído” pelo raciocínio matemático, é fatiza a utilização de fórmu-
Alexandre Medeiros, PhD
algo que parece estar na base de las, em situações artificiais,
(med@hotlink.com.br) desvinculando a linguagem
boa parte das dificuldades manifes- Programa de Pós-Graduação em
tas por alguns estudantes de Físi- matemática que essas fórmu-
Educação nas Ciências - Departa- las representam de seu signi-
ca; justamente os mais questiona- mento de Física e Matemática - ficado físico efetivo. Insiste na
dores, mas não necessariamente os Universidade Federal Rural de solução de exercícios repetiti-
mais bem sucedidos nesse modelo Pernambuco vos, pretendendo que o apren-
formalista e repetitivo de educação. dizado ocorra pela automati-
A questão da prensa hidráulica, le- Referências Bibliográficas
zação ou memorização e não
vantada neste artigo, é apenas um - Dugas, R. A History of Me- “
pela construção do conheci-
exemplo, dentre tantos outros pos- chanics. New York: Dover, 1988. mento através das competên-
síveis, nos quais um aparato mate- - Harman, P. Energy, Forces and cias adquiridas.
mático extremamente simples, en- Matter: The Conceptual Deve-
cerra armadilhas conceituais nem lopment of Nineteenth-Century MEC, Parâmetros Curriculares
sempre seriamente confrontadas ou Physics. Cambridge: Cambridge Nacionais (Ensino Médio).
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SEGUNDA PARTE

Partículas elementares e
forças da natureza
Apresentamos anteriormente as vitacional, a força eletromagnética é curto alcance, pois está restrita a di-
partículas elementares as quais de- de longo alcance, sendo responsá- mensões de 10-15m (dentro do núcleo).
nominamos de “tijolos da Natu- vel por manter os elétrons ligados aos O fato desta força só ocorrer en-
reza”. No entanto, nos fica a per- núcleos, formando os átomos. Essas tre hádrons é o que os diferencia dos
gunta: “Como essas partículas se forças são responsáveis pelas liga- léptons. Dentro do núcleo, a força
rearranjam de maneira a formar ções químicas e pelas propriedades forte é aproximadamente 137 vezes
os objetos que nos rodeiam”? físicas dos sólidos, líquidos e gases. maior que a força eletromagnética.
Como veremos nesta segunda par- A teoria que descreve o comporta- A teoria que hoje acreditamos des-
te, existem quatro forças funda- mento quântico das interações ele- crever a força forte é a Cromodinâ-
mentais na natureza, responsáveis tromagnéticas é a Eletrodinâmica mica Quântica. Entretanto, devido à
pelo Universo que temos ao nosso Quântica. Essa teoria é certamente complexidade desta teoria, ainda
redor. Vejamos a descrição de cada uma das teorias com maior sucesso não sabemos se várias característi-
uma dessas forças. na Física, cujas previsões teóricas cas da força forte são descritas pela
AS FORÇAS têm sido confirmadas experimental- teoria, apesar de existirem fortes evi-
FUNDAMENTAIS mente com grande precisão. dências de que ela descreve os fe-
A Força Forte nômenos dentro do núcleo.
A Força Gravitacional A força forte é responsável por A Força Fraca
Força de atração que existe en- manter a estabilidade dos prótons Ao contrário das três forças an-
tre todos os elementos da Nature- e nêutrons dentro do núcleo. Para teriores, pelo que se sabe até hoje, a
za. Estamos mais acostumados a vermos a necessidade de uma for- força fraca não é responsável por
associá-la à atração entre corpos ça diferente da força eletromagné- manter partículas ligadas. As forças
que possuem massa. Essa força é tica para manter os nucleons uni- fracas são responsáveis por decai-
responsável por nos manter sobre dos, basta lembrar que os prótons mentos, como, por exemplo, o de-
a Terra, assim como por manter a possuem carga elétrica positiva e caimento b de nêutrons livres. Mes-
trajetória dos corpos celestes e as os núcleos dos átomos, a partir do mo dentro do nucleon, a força fraca
estruturas de galáxias, conglomera- Hélio, possuem vários prótons lo- é da ordem de 10-5 vezes menor que
dos de galáxias, que há no Universo. calizados dentro de uma região cujo a força forte. A força fraca é de cur-
A força gravitacional é uma força raio é da ordem de 10-15m, o que to alcance. O seu raio de ação é da
atrativa de longo alcance. Isto quer ocasiona uma enorme repulsão en- ordem de 10-17m, que é menor que
dizer que, a qualquer distância entre tre essas partículas carregadas ele- o diâmetro nuclear (10-15m).
dois corpos, sempre há uma força tricamente. Para que o núcleo seja Tanto os léptons quanto os
de atração entre eles, embora, em estável, é necessário existir uma hádrons interagem através da for-
alguns casos, essa força seja despre- força maior que se contraponha a ça fraca. No caso dos neutrinos,
zível comparada a outras forças a que essa repulsão. Entretanto, essa no- que são partículas sem carga elé-
os corpos estão sujeitos. va força só deve ser importante den- trica, a única força através da qual
A Força Eletromagnética tro do núcleo, uma vez que sabemos eles interagem é a força fraca.
A força eletromagnética existe que prótons livres se repelem. Como esta interação é muito pe-
entre partículas que possuem car- Os nucleons são estados ligados quena, temos como conseqüência
ga elétrica. Ao contrário da força de partículas chamadas de quarks. que o estudo das características
gravitacional, a força eletromagné- Os quarks interagem entre si atra- dos neutrinos é muito difícil. Ape-
tica pode ser de atração ou de re- vés da força forte que mantém a es- sar de existirem várias experiênci-
pulsão. Como no caso da força gra- tabilidade do nucleon. Esta força é de as em andamento envolvendo os
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neutrinos, não sabemos se os As interações entre partículas tados da Mecânica Newtoniana no


neutrinos possuem massa ou não. Como descrever a interação en- limite de baixas velocidades. Temos
As experiências atuais só permitem tre as partículas, através dessas qua- portanto que compatibilizar a des-
colocar limites superiores para os tro forças da Natureza? Estamos crição das forças da Natureza com
valores das massas dos neutrinos: acostumados na Mecânica de a Teoria da Relatividade.
Newton com ações à distância on- A Teoria Quântica de Campos
m ν e c 2 ≤ 3 eV; m νµ c 2 ≤ 0 ,27 eV
de a troca de informação se dá ins- é a parte da Física Quântica que
tantaneamente. Para vermos o que descreve as interações entre as par-
e m ν τ c 2 ≤ 31eV tículas. Essas interações são medi-
a frase anterior significa, conside-
Apesar de à primeira vista pa- remos a força de atração entre a adas por campos e a cada campo
recer que a força fraca seja des- Terra e a Lua: associamos partículas que são as
prezível, ela é muito importante responsáveis pela troca de infor-
r M ⋅ML r
para a nossa vida na Terra, pois ela FL,T = G ⋅ T ⋅ r$ = − FT,L mações. As partículas (campos)
é responsável pelo início do ciclo r2 responsáveis pela interação se pro-
termonuclear no Sol que libera a sendo G a constante da gravitação, pagam com velocidade finita e
energia radiante que permite que MT e ML as massas da Terra e da transportam quantidades discretas
exista vida sobre a Terra. Lua respectivamente, r a distância de energia e momento. Como a
Para distâncias menores que entre os dois corpos e r$ o vetor interação entre as partículas que
-18
10 m, temos a unificação das for- unitário ao longo da reta que une existem na Natureza se dá por in-
ças fraca e eletromagnética, pas- os centros da Terra e da Lua, apon- termédio dessas partículas associ-
sando a existir uma única força cha- tado em direção à Lua. adas aos campos, a troca de infor-
mada de força eletro-fraca, não Quando a Lua modifica a sua mação entre elas deixa de ser ins-
sendo possível distinguir as forças posição, a Terra recebe instanta- tantânea. As partículas responsá-
fraca da eletromagnética. neamente essa informação: a força veis pelas quatro forças fundamen-
Na figura 1 há um estudo com- entre os dois corpos varia imedia- tais da Natureza são representadas
parativo das quatro forças funda- tamente, o que corresponde a di- diagramaticamente na figura 2.
mentais da Natureza e as distânci- q
zer que a Terra se apercebe da mu- q e- e-
as em que são importantes. dança de posição da Lua instanta- g γ
neamente. A velocidade com que a q e-
10
0 fo rç a fo rte q (a) e- (b )
fo rç a
informação da mudança de posição
-5
10 e letro m a g n étic a da Lua se propaga é infinita, pois ela νe p
leva tempo zero para se propagar W
- e- p
10
-1 0 G
-1 5 através de uma distância finita. νe p
10
No entanto, pela Teoria da Re- e- p
10
-2 0 (c) (d )
latividade sabemos que nenhuma
-2 5 fo rç a fra c a informação pode se propagar com
10 (a ) A inte raçã o en tre o s q u ark s q
10
-3 0 velocidade maior que a velocida- (q u e co n stitu em o s n u c le o n s) é
de da luz (c ~ 300.000 km/s). Por- fe ita atrav é s d o s g lú o ns g .
-3 5
10
tanto, esta maneira de descrever a
10
-4 0 (b ) A in tera ção en tre p artícu las
fo rç a força gravitacional está em conflito ca rre ga d as e le tric am en te, elétro n s
-4 5 g ra v ita c io n al
10 com a Teoria da Relatividade. En- p o r ex em p lo , é fe ita atrav é s d o
10
-5 0 quanto a Mecânica, descrita pelas fó to n γ (lu z ).
-5 5 três leis de Newton, apresenta óti-
10 (c ) A s in teraçõ es fra cas sã o
mos resultados para movimentos
10
-6 0 m ed iad as p e lo s bó so n s v e to riais
cujas velocidades características W ±, q u e p o ssu em ca rg a elétrica ,
-2 0 -1 5 -1 0 -5
10 10 10 10
D istân cia (c m ) são muito menores que a veloci- e Z o , q u e n ão po ssu i ca rg a elétrica .
D ia g ra m a d a s q u a tro fo rç as fu n d a m e n tais dade da luz, a Teoria da Relativi-
d a n atu rez a p a ra d istân c ia s d e a té 1 0 -2 0 cm . (d ) A s fo rças grav ita cio n ais d ev em
A s e sc a la s u sa d a s n o s eix o s h o riz o n ta l
dade explica os fenômenos cujas
ser m e d ia d as p e lo g ráv ito n G .
e v ertic a l sã o lo g a rítm ica s. velocidades são próximas à da luz,
fig ura 1 além de recuperar todos os resul- fig ura 2
NOVEMBRO DE 1999 FOLHE TIM 9

A força gravitacional é a força das Gostaríamos de lembrar que to- distintas entre si, e o fato de o fóton
grandes escalas (o cosmo). Na figu- das as partículas carregadas eletri- ter massa zero faz com que a força
ra 1, vimos que a força gravitacional, camente, quer sejam léptons, quer pela qual ele é responsável seja de
inclusive dentro do nucleon, é muito sejam hádrons, interagem eletro- longo alcance, podendo ser senti-
menor que as outras forças funda- magneticamente através da troca da a qualquer distância, enquanto
mentais, de forma que, de agora em de fótons. que a força fraca restringe a sua
diante, nos restringiremos a discutir A força fraca é sentida por to- ação a distâncias dentro do núcleo,
as outras três forças fundamentais: dos os tipos de partículas: léptons devido às partículas responsáveis
eletromagnética, fraca e forte. e hádrons. As partículas respon- por essa interação serem muito
O fóton (luz) é a partícula respon- sáveis pela força fraca são os cha- pesadas.
sável pelas forças eletromagnéticas. mados bósons vetoriais W ± e Z0. A força forte é mediada pelo
Quando duas partículas carregadas Os bósons vetoriais W ± e Z0 fo- glúon, que é um bóson que não tem
eletricamente interagem entre si, elas ram detectados no início da déca- massa. Apesar da partícula respon-
estão trocando fótons. Devemos res- da de 80 no CERN (Europa). Des- sável pela força forte ter massa
saltar que, apesar dos fótons serem de então as suas propriedades têm zero, a força forte tem alcance
os responsáveis pela interação entre finito, que se restringe ao tamanho
sido estudadas sistematicamente.
as partículas carregadas, o fóton não
O bóson Z0 tem carga elétrica nula, do núcleo. Isto ocorre devido à pe-
possui carga elétrica. O fato de a
enquanto que os W ± possuem car- culiaridades da Cromodinâmica
força eletromagnética ser de longo
ga elétrica ±1e. Quântica. Ao contrário da força
alcance nos permite garantir que a
O decaimento b do nêutron, que fraca, apenas os hádrons interagem
massa associada ao campo respon-
é mediado pelo bóson W-, passa via força forte.
sável por essa interação é zero.
Como o fóton é o campo responsá- a ser descrito pelo diagrama da fi- (Como dissemos anteriormente,
vel por esta interação, podemos afir- gura 4. todos os hádrons são estados li-
mar que a sua massa é zero, e, conse- p νe gados de partículas fundamentais
-
qüentemente, sua velocidade é igual W chamadas quarks. Os quarks são
à velocidade c da luz. A velocidade e- muito mais pesados que o elétron.
n Lembremos que uma característi-
do fóton é sempre igual a c, qual-
quer que seja o referencial a partir D iag ram a do de ca im en to β. O b ó so n ca interessante dos quarks é que
-
v eto ria l W d ec ai nu m elétron (e - ) e no eles possuem carga elétrica fracio-
do qual o observamos. an ti-n e utrino do elétron ( νe ), d e form a
Esta nova formulação das for- q u e os produ tos d o d ec aim en to do
nária, como foi mencionado na pri-
ças da Natureza preserva leis de n êu tron são: p ró ton (p ), elétron (e - ) e o meira parte deste artigo. Lá, tam-
conservação, tais como, por exem- an ti-n e utrino do elétron ( νe ). bém comentamos que, experimen-
plo, a conservação da carga elétri- talmente, até hoje nunca foi medi-
ca total em todo o espaço. No caso fig ura 4 da uma carga elétrica fracionária
eletromagnético temos os proces- em nenhum material. Isto equivale
sos descritos na figura 3. Voltamos a mencionar a unifica- a dizer que não existem quarks li-
ção das forças fraca e eletromag- vres. Os quarks aparecem na Na-
e+ γ
e- e+ e- nética para distâncias menores que tureza apenas na forma de estados
γ
γ 10-18m. As energias envolvidas ligados. Esses estados ligados têm
e+
e- nessa escala de tamanho são tão cargas elétricas expressas por múl-
(a) (b )
grandes que não faz diferença o tiplos inteiros da carga elétrica fun-
P roc essos e m q ue a carga elétric a fato do fóton não ter massa, en- damental do elétron).
tota l se co n serv a em tod os os in stan tes. quanto que a massa dos bósons Cada tipo (sabor) de quark (up,
(a) E spa lh am en to d o elétron (e - ) po r vetoriais W ± e Z0 é da ordem de down, strange, charm, botton, top)
su a an tipa rtícu la (e + , p ósitro n) p ela 105 me, onde me é a massa do elé- existe em três estados diferentes,
tro ca d e u m fó to n ( γ).
tron. Para distâncias menores que que chamamos de cor. Daí dizer-
(b ) C riaçã o d e u m p ar elé tro n -pó sitro n 10-18m não é possível distinguir as mos que os quarks têm carga de
a p artir d e um fóto n. P ara c riar o p ar,
a e ne rg ia m ín im a d o fó ton ( γ) é d e 1M e V.
partículas: W ± , Z0 e o fóton. En- cor. No caso de partículas carre-
tretanto, para distâncias maiores gadas eletricamente, temos dois ti-
fig u ra 3 que 10-18m, as forças voltam a ser pos de carga elétrica: carga elétri-
10 FOLHE TIM NOVEMBRO DE 1999

ca positiva e carga elétrica nega- essas partículas e suas interações. G. (1988), Quando a energia se
tiva. No caso das forças fortes, te- Para isso os grandes aceleradores transforma em matéria...Um re-
mos três cargas de cores distintas. de altas energias como o CERN, lance sobre o mundo das partí-
A presença da carga de cor faz com Fermi Lab., SLAC, continuam tra- culas, Publicação do CERN.
que exista a interação forte. A es- balhando. Um sem número de físi- [4] WEISSKOPF, V. F. (1981)
colha dos nomes das cores é arbi- cos teóricos trabalha no sentido de The Development of Field Theory
trária, e vamos aqui denominá-las ver quais são as previsões teóricas in the Last 50 years, Physics
de: verde, vermelho e azul. Os para compará-las com os resulta- Today, November, p. 69.
glúons, que são as partículas in- dos experimentais. Certamente esta [5] GLASHOW, S. L. (1975),
termediárias da interação, apare- é uma área da Física muito ativa e Quarks with Color and Flavor,
cem como a combinação dessas deverá continuar como tal, excitan- Scientific American , vol. 233, no.
três cores. Por isso os glúons exis- do a criatividade do pesquisador a 4 (October), p. 38.
tem em 8 tipos distintos, como mos- desenvolver novas formas de se [6] QUIGG, C. (1985), Elemen-
trado no exemplo da figura 5. obter energias mais altas, de ma- tary Particles and Forces, Scien-
neira a se poder penetrar cada vez tific American, April, p. 64.
u a zu l d v erd e u a zu l d v erd e mais nas partículas e verificar se [7] WICHMANN, E. H. (1971),
g objetos como o elétron e o quark Quantum Physics, Berkeley Phy-
=
são realmente pontuais ou possu- sics Course, vol. 4, MacGraw-Hill:
u v erd e u a zu l u v erd e d a zu l em alguma estrutura. Acima de New York.
tudo isso, está a busca do sonho [8] Particle Adventure - An Inter-
T ro c a d e c o res en tre o s q u ark s de Albert Einstein de que é possí- active Tour of the Inner Workings
vel unificar todas as forças da Na- of the Atom and the Tools of
fig u ra 5 tureza. Nesta unificação, que se Discovery. Home-page: http://
Podemos fazer a analogia entre espera ocorrer em distâncias da pdg.lbl.gov/cpep.html
glúon e fóton de muitas maneiras, ordem de 10-31m, as quatro forças [9] Review of Particle Properties,
pois ambos são bósons que não fundamentais seriam apenas dife- Home-page: http://pdg.lbl.gov/
possuem massa, responsáveis pela rentes manifestações de uma única
força. Mas isto é um outro aspec-
interação entre partículas. Entretan-
to da Teoria Quântica de Campos FOLHE TIM
to, uma característica os distingue:
o fóton não possui a carga elétrica e deixamos a sua discussão para Esta é uma publicação mensal da
uma próxima oportunidade. Galera Hipermídia
que é a carga responsável pela inte-
Maria Teresa Thomaz Jornalista Responsável:
ração por ele mediada, enquanto Sandra Filippo - DRT /BA-739
que o glúon possui a carga de cor, (Instituto de Física, Universidade Redação:
Federal Fluminense, RJ) Luiz Alberto Guimarães, Marcelo
que é a carga responsável pelas Fonte Boa, Mauro Santos Ferreira,
interações fortes. Aqui está toda a mtt@if.uff.br Sandra Filippo e Ovidio Brito
Bibliografia Desenvolvimento de software:
diferença que explica o fato de que, Thiago Guimarães
apesar do glúon não ter massa, a [1] MIGNACO, J.A. E SHHEL- Ilustração:
força forte que ele media é de cur- LARD, R.C. (1984) Quarks, Marcelo Pamplona
Léptons, Glúons, g, W, Z ...A Diagramação:
to alcance. Ovidio Brito
Palavra Finais Matéria Indivisível, Ciência Hoje, Apoio Operacional:
vol. 3, no14 (Setembro/Outubro), Fernando Guimarães
Muito já se sabe do mundo das Folhetim é distribuído gratuitamente. A
partículas elementares, que são os p. 42. autoria das colaborações é identificada
em cada artigo e as opiniões emitidas
tijolos da Natureza como Leucipo [2] Abrindo o Coração da Maté- são de responsabilidade dos seus auto-
res, não refletindo necessariamente a opi-
e Demócrito procuravam há mais ria, Ciência Ilustrada, Novembro/ nião da direção do jornal. Ao remeter
uma colaboração, seu autor concorda
de 2.400 anos atrás. Entretanto, Dezembro (1982) pág. 58. que seja publicada, sem nenhum ônus,
de qualquer espécie, para o Folhetim.
muito ainda há por aprender sobre [3] CARRERAS, R. e HENTSCH,
NOVEMBRO DE 1999 FOLHE TIM 11

DEU NO JORNAL - JB/23/10/99


A
ERT
AL
Megaiceberg está perto
das Malvinas
“O megaiceberg B10A, que se 110km x 50km. a) Determine o seu deslocamento
desprendeu das geleiras Thwaites a) Nestes quatro anos, qual o va- escalar.
na Antártica em 1992, deve se lor aproximado (em kg) da massa b) Determine o módulo do seu des-
aproximar das ilhas Malvinas no de gelo que derreteu? locamento vetorial.
próximo mês. A gigantesca mon- b) Considerando apenas a fusão c) Determine o valor de sua veloci-
tanha de gelo se ergue a 90 metros desse gelo, qual a quantidade de dade escalar média e o módulo de
acima da superfície do mar. sua velocidade vetorial média,
Sua superfície é de 77km por em km/dia, nos 7 anos de des-
38km e a velocidade de 12km locamento (de 1992 a 1999).
por dia. À medida que ingres- 4. Vamos imaginar que a velo-
sa em águas mais quentes, o cidade de 12km/dia de que fala
iceberg está derretendo, pois a notícia fosse a velocidade
em 1995 media 110km por média do iceberg desde que se
50km. Os cientistas dizem que soltou da geleira, em 1992.
a massa principal de gelo não Que distância ele teria percor-
ameaça pois sua trajetória é rido nesses sete anos? Esse
acompanhada por satélite e à valor é razoável, consideran-
sua volta foi declarada uma do a localização das Ilhas
zona de exclusão. O temor é Malvinas em relação ao conti-
quanto aos blocos que dele se nente Antártico?
soltam.” 5. Para responder a essa ques-
Aplique seus conhecimentos tão, considere os seguintes
1. Considerando que o ice- dados numéricos:
berg possui - e tenha mantido - massa atual do iceberg:
ao longo dos anos - uma for- 2,3 . 1015 kg
ma prismática de base retan- - velocidade atual:
gular, e os seguintes dados nu- 1,2 km/dia
méricos: Imagine agora que, para du-
- massa específica da água: calor, em joules, envolvida no pro- plicar a velocidade do bloco de
1,0 . 103 kg/m3; cesso? Considere que: gelo (em trajetória retilínea), fos-
- massa específica do gelo: LFUSÃO = 80 cal/g = 3,4 . 105 J/kg. sem utilizados mil rebocadores,
0,9 . 103 kg/m3 c) Considerando que o consumo cada um sendo capaz de exercer
a) Qual é atualmente o valor da sua energético diário de uma cidade de uma força de 1tf (ou seja, cerca de
altura submersa? E da sua altura to- porte médio é de 107 kWh, duran- 1,0 . 104 N). Quanto tempo esse
tal? te quanto tempo a cidade seria processo levaria? Que distância
b) Quanto vale o seu volume total, mantida com a energia calculada seria necessária?
em m3? E sua massa, em kg? em (b)? Obs.: Informações super recentes
c) Considerando que um edifício de 3. Para responder esta pergunta e sobre a Antártica podem ser obti-
apartamentos “grande” possui di- a próxima, consulte o mapa da fi- das no site:
mensões de 40m x 50m x 50m, gura. Considere que o iceberg te- http://www.svs.gsfc.nasa.gov/
quantos destes “caberiam” no nha partido da posição marcada imagewall/antarctica.html
iceberg? com um X no mapa, e está hoje Respostas
2. Considere que a altura atual do atingindo o ponto Y, próximo das 1. a) 810m; 900m.
iceberg seja hoje 60% do que era Ilhas Malvinas. Considere também b) 2,6 .1012 m3; 2,3 . 1015 kg
em 1995, quando possuía, segun- que sua trajetória tenha sido a li- c) 26 milhões de edifícios!!!
do o jornal, uma superfície de nha sinuosa representada no mapa. 2. a) 5,1 . 1015 kg
12 FOLHE TIM NOVEMBRO DE 1999

b) 1,7 . 1021 J
c) 1,3 . 105 anos!!! A simplicidade vem de Fortaleza
3. a) 3,6 . 103 km. Esta é a solução algébrica
Em nosso livro de Termologia
b) 3,1 . 103 km.
e Óptica, há um exercício suple- clássica. No entanto, recebemos
c) 1,4km/dia; 1,2km/dia
mentar (número 61 da unidade II), do professor Geraldo Majela, de
4. Aproximadamente 30 mil quilô-
metros. Esta distância corresponde do vestibular da Universidade Fe- Fortaleza, a sugestão de acres-
a 3/4 de uma volta completa em deral do Ceará, aqui reproduzido: centar no manual de resolução a
torno da Terra. É, portanto, muito Um objeto frontal O, de 10cm “solução inteligente”, ou seja,
maior do que o deslocamento do de altura, encontra-se a 50cm de aquela que “mata o problema em
iceberg, da Antártica até as Ilhas um espelho côncavo de distância uma linha”. Nesse caso, em um
Malvinas. Isto significa que os focal f = 10cm, formando uma ima- desenho, pois a solução alterna-
12km/dia ou se referem à veloci- gem I, conforme a figura. Se reti- tiva é gráfica. Vamos a ela.
dade atual do bloco de gelo, e não rarmos o espelho, a que distância Reproduzimos a seguir a figura
à sua velocidade média no percur- do objeto devemos colocar uma da questão, e nela adicionamos o
so, ou então, “esqueceram da vír- lente convergente, a fim de que esta raio que, saindo da extremidade do
gula”: o item (c) da questão anteri- produza uma imagem igual àquela objeto, passa pelo centro de cur-
or mostra que a velocidade média obtida com o espelho? vatura do espelho, reflete-se e re-
do iceberg é da ordem de 1,2km/ torna na mesma direção, passan-
dia. O
F do pela extremidade da imagem:
5. 38 dias; 68km.
Luiz Alberto e Marcelo I 50 cm
10 cm
f2g@cen.g12.br
C F
No gabarito comentado dos

TOME NOTA exercícios, apresentamos para 20 cm


ele a seguinte solução (que, ape-
sar de compactada, mesmo as- Ora, para substituir o espelho
PROFESSOR
PROFESSOR,, EST AMOS
ESTAMOS sim é bem extensa): por uma lente que forneça a mes-
DESAFIANDO SEUS Determinemos as características ma imagem, essa lente deverá ter
ALUNOS! da imagem formada pelo espelho. o seu centro óptico na mesma po-
O Folhetim propõe-se a colo- sição em que o espelho tem o seu
1 1 1 centro de curvatura (pois o centro
car em sua página na Internet A partir de f = p + p' , com
(com os devidos créditos) os tra- óptico é o ponto da lente para o
f = 10cm e p = 50cm, qual o raio que sai da extremidade
balhos de pesquisa feitos por seus
obtemos p' = 12,5cm. do objeto e atinge a extremidade
alunos sobre o seguinte tema:
y' p' da imagem não sofre desvio angu-
- O que é o efeito estufa? Qual a Já a partir de y = - p lar ao atravessá-la). Na figura a se-
sua relação com a emissão de guir, colocamos a lente nesta posi-
poluentes e a alta industrializa- obtemos y' = - 2,5cm.
ção e vemos, imediatamente, que ela
ção do mundo atual? Para obter, com a lente conver-
deve estar a 30 cm do objeto!!!.
- Qual a relação entre o efeito es- gente, a mesma imagem, a lente 5 0 cm
tufa e o deslocamento das mas- deve estar entre o objeto e a ima-
gem. Temos as seguintes informações:
sas de gelo para regiões mais
a) distância entre objeto e ima-
quentes? Quais as conseqüênci-
gem = 50 - 12,5 = 37,5cm Þ 3 0 cm 2 0 cm
as deste deslocamento?
p + p' = 37,5cm
O melhor trabalho - segundo É isso aí, galera. Encontrou
b) p = 4p' (pois a imagem é qua-
a avaliação da comissão edito- um erro, uma solução mais sim-
tro vezes menor que o objeto).
rial - será publicado na versão ples, é só mandar que a gente pu-
Portanto:
impressa, e o aluno responsável blica.
4p' + p' = 37,5 Þ p' = 7,5cm e
por ele receberá uma assinatura Luiz Alberto e Marcelo
p = 30cm. A lente deve então ser
anual gratuita do Folhetim! f2g@cen.g12.br
colocada a 30cm do objeto.
NOVEMBRO DE 1999 FOLHE TIM 13

A energia vibrante dos questiona- mento limitado de alguns fenôme-


mentos inquietantes da juventu- nos naturais levou a humanida-
de, os arroubos corajosos e o pal- de ao seu estágio atual de desen-
pitante coração sonhador são es- volvimento tecnológico. O prazer
trelas que enchem de esperança o da descoberta é um dos maiores
PALANQUIM
Com a palavra, o professor
firmamento de uma nação.
Não é belo o sorriso da desco-
estímulos à pesquisa científica. O
sorriso nas faces juvenis quando
berta? A alegria faceira de uma observam a beleza do nosso céu é
proposta criativa, onde está? Al- um exemplo de como se sentem
UM SONHO
guém a tem visto nas crianças? atraídos pelo estudo da ciência.
Olá!!! Quando criança dormia Nossos jovens têm transforma- Basta um pequeno incentivo e
sonhando com a figura mágica do do as suas inquietações perfuma- veremos o aroma colorido da fe-
cientista. Aquela pessoa que de das e belas em rebeldias insanas licidade e a coragem das almas
um monte de sucata construía má- e regadas a alucinógenos. Como valentes ocuparem o espaço e se
quinas maravilhosas, robôs ... Só podemos ver pessoas que viveram misturarem ao ar que respiramos.
precisava de uma caneta para de- tão pouco entregues a algozes per- Em um momento telúrico vemos
senvolver novas teorias, escrever versos e irracionais? Esses jovens que também é com os homens voar,
textos deliciosos ... têm sua energia criativa sugada brincar com o destino do caminho
Esses sonhos me levaram a es- por meliantes gananciosos. e com o vento que renova o ar.
tudar Física. Queria ser um ci- Somente festas regadas a dro- Vamos fazer com que brotem
entista (prefiro esse termo, pela gas são divertidas? Viagens vir- em nossa terra modernos museus
sua magia). A realidade do cur- tuais nas imagens de programas científicos interativos, planetári-
so porém era outra. Muitos ami- que valorizam corpos pneumáti- os, observatórios, núcleos popula-
gos desistiram. Muitos esquece- cos sensuais, o debate fútil e a dis- res de informática, bibliotecas ...
ram os seus sonhos. posição em sentir prazer com a Recursos não existem? Será?
Dedico este espaço e estas li- humilhação de semelhantes são A alma vibrará com a dança
nhas aos que não permitiram que momentos de diversão sadios? saudável incentivada por melodi-
aquela criança sonhadora desa- A escola, em seu papel de for- as saborosamente harmoniosas.
parecesse. mação do caráter e de estímulo à Será um momento de felicidade
Gostaria também que ajudas- pesquisa científica, não tem apre- coletiva a volta dos rebeldes com
se a criar uma atmosfera de ma- sentado elementos que toquem o causa em escolas sem celas.
gia e beleza, que resgatasse o pra- coração desses jovens, os resgate Um abraço aos jovens cientis-
zer da descoberta e a ousadia da dessa viagem em um reino de des- tas sonhadores.
aventura. Quem sabe ... poderia truição. Observando o céu e sonhando
fazer aparecer novamente a cri- Desde a antigüidade o ser hu- com um mundo melhor.
ança sonhadora que existe den- mano tem se maravilhado com a Céu limpo para todos.
tro de cada cientista ... natureza e procura compreender Marcelo de Oliveira Souza
************ suas manifestações. O entendi- mm@uenf.br
14 FOLHE TIM NOVEMBRO DE 1999

Gostaria de divulgar este mate- diríamos que você divulgasse

c@ r t @ s rial entre os alunos/professores


deste curso.
Atenciosamente,
esse endereço para seus colegas.
Um grande abraço,
Luiz e Marcelo
Henri Araújo Leboeuf ***
Usei com grande proveito a co- henri@mx.educativa.org.br Sou professor de Física do Colé-
leção durante a minha prática de Colégio Pio XII gio PIO XII - BH e juntamente
ensino no Colégio Pedro II. En- Belo Horizonte - MG com os demais professores do co-
contrando aqui a oportunidade Prezado Henri, légio, parabenizo vocês por este
de agradecer a cortesia, um mui- Você já está cadastrado e pas- jornal que torna-se um novo es-
to obrigado. sará a receber o Folhetim paço para a discussão, para a
Atualmente possuo uma turma a “mensalmente”, do número 8 troca de experiências e enfim
nível de supletivo que são ver- em diante. Quanto à divulgação para o enriquecimento do ensi-
dadeiros cobaias mas que estão do Folhetim entre seus alunos/ no de Física em nosso país.
adorando a forma “informal” professores, basta cadastrá-los Parabéns!!!
que estou mostrando a Física (por correio ou via internet) que Alexandre Alex Barbosa Xavier
para eles e o seu livro tem sido eles passarão a recebê-lo. lexlutor@gold.com.br
muito útil. Um grande abraço, Belo Horizonte - MG
Claudio Castelo Branco Viegas Luiz e Marcelo Prezado Lex Lutor,
claudioviegas@hotmail.com.br
*** Você já está cadastrado e pas-
aluno de Licenciatura - UFRJ
Profs. Luiz e Marcelo, sará a receber o Folhetim “men-
Prezado Claudio, Gostaria de parabenizá-los pelo salmente”, do número 8 em di-
Você já está cadastrado no Fo- Folhetim, gostei tanto que queria ante. Agradecemos seus co-
lhetim e o receberá via correio. saber se é possível receber os mentários e esperamos que este
Ficamos contentes em saber números passados e também fa- espaço torne-se cada vez me-
que você está utilizando a co- zer meu cadastro para recebê-lo lhor e mais amplo. Aguardamos
leção numa turma a nível de regularmente. contribuições de vocês de BH
supletivo. Gostaríamos de re- Agradeço antecipadamente e es- para os próximos números.
ceber, mais adiante, um relato pero poder, um dia, contribuir Um grande abraço,
dessa sua experiência. com algum artigo interessante. Luiz e Marcelo
Um abraço, Muito obrigado. ***
Luiz e Marcelo Leonardo Barrouin Melo Caros Marcelo e Luis Alberto,
PS: Quanto à cortesia: não há barrouin.bhz@zaz.com.br Olá!!! Parabéns pelo Folhetim!!!
porque agradecer, já que você Colégio Sagrado Coração de Maria Para mim, além da excelente
está fazendo um bom uso dela. Instituto Zilah Frota qualidade dos artigos, há mais
*** Belo Horizonte - MG um fator que me leva a lê-lo logo
Recebi, pela editora Harbra, os Prezado Leonardo, que recebo: a alegria de poder
exemplares 04, 05 e 06 do Fo- Você já está cadastrado e pas- rever alguns velhos (não sei se é
lhetim e achei a idéia muito sará a receber o Folhetim “men- o termo correto, mas :) ) amigos.
boa. Gostaria de receber tam- salmente”, do número 8 em di- Envio uma pequena colaboração
bém os outros números anteri- ante. Quanto aos números anexa.
ores que não recebi. Sou profes- atrasados, estaremos enviando- Felicidades. Um abraço,
sor também da disciplina “Me- os brevemente. Gostaríamos de Marcelo de Oliveira Souza
todologia de Ensino de Física” saber quais os números que mm@uenf.br
dos Programas Especiais de você não tem. Lembramos que Laboratório de Ciências Físicas
Formação de Professores no existe uma versão virtual em: Universidade Estadual do Norte
Utramig em Belo Horizonte. http://www.cen.g12.br/f2g e pe- Fluminense
NOVEMBRO DE 1999 FOLHE TIM 15

Grande Marcelinho Oliveira, o prêmio Nobel de Física pelo


É sempre bom “rever” os ami- conjunto de sua obra. Um cien-
gos, mesmo que virtualmente. tista que “também aprecia de-
É muito gratificante verificar senho, caiaque, caminhadas,
que o Folhetim está sendo útil e prancha a vela e leitura para
agradável e, em particular, re- crianças”. E que talvez por isso
ceber elogios por um trabalho por Luiz Alberto transforma em um delicioso li-
que realizamos com o maior pra- vro as palestras que proferiu aos
zer. Valeu pelo e-mail e pela con- Nesta época de contextua- estudantes sobre a matéria mole
tribuição (está saindo no Palan- lização e interdisciplinaridade, (das matérias plásticas às bolhas
quim deste número). Ficamos nada mais adequado do que in- de sabão) e suas idéias acerca da
aguardando a próxima, ok? dicar o livro Os Objetos Frá- educação, da ciência e da rela-
Estamos na área, se derrubar é geis, do professor Pierre-Giles ção de ambas com a sociedade.
de Gennes, tanto para os pro-
pênalti... Não perca o contato. OS OBJETOS FRÁGEIS -
fessores quanto para os alunos
Um grande abraço, PIERRE-GILLES DE GEN
do ensino médio. Ganhamos o
Marcelo e Luiz NES, Editora da Unicamp, São
livro, eu e Marcelo, do profes-
*** sor e amigo Geraldo Majela, de Paulo, 1997, 216 páginas.
Oi, pessoal do Folhetim, Fortaleza, e ficamos fascina-
Estou enviando este, porque fi- dos com ele.
quei bastante entusiasmado ao Só para dar um gostinho, dei-
ler um artigo chamado “Erasto xemos que fale o próprio autor:
Mpemba e a lei do resfriamento” “Este livro conta uma via-
e também por indicação do meu gem pelas escolas secundárias
professor de História da Física - da França e de além-mar ...
Sr. Doutor Alexandre Medeiros - Há muito tempo eu tinha
que é um grande admirador do vontade de falar com os estu-
trabalho de vocês. Gostaria de dantes secundários, mas isso
receber, se possível, os números era impossível...
passados e os que vierem a ser No entanto, quis a sorte
publicados. que o Comitê Nobel me atri-
Muito agradecido, buísse um prêmio. Assim, a
Edriano Alves Soares partir do fim de 1991, eu pas-
guingo@zipmail.com.br sei a ser convidado esponta-
neamente a visitar escolas,
Recife - PE
usualmente por iniciativa dos
Prezado Edriano, próprios alunos ... Se você tem alguma idéia, algo
Você já está cadastrado e pas- Então eu parti, ... para con- que deu certo em sala, que mo-
sará a receber o Folhetim “men- tar a vida dos meus pesquisa- tivou os alunos, mande para
salmente”, do número 8 em di- dores: que tipo de perguntas nós. Teremos o maior prazer em
ante ... eles se fazem, que estilo eles divulgar para os outros profes-
Lembramos que existe uma ver- têm em seu trabalho. Mostrar sores. Você pode enviar a cola-
são virtual em: http://www. seus sucessos, seus fracassos, boração, de preferência, em ar-
cen.g12.br/f2g e pediríamos que suas brigas, seus erros... quivo .doc, na fonte Times New
você divulgasse esse endereço Desde as primeiras escolas Roman, corpo 12. Endereços:
para seus colegas. eu experimentei uma sensa- Virtual: f2g@cen.g12.br
Um grande abraço, ção de felicidade total ...” Postal: Rua Macaé, 12
Marcelo e Luiz E por aí vai o relato desse pes- Pé Pequeno - Santa Rosa
quisador que, em 1991, recebeu Niterói - RJ - Cep: 24240-080
***
16 FOLHE TIM NOVEMBRO DE 1999

sentido de reformulação. A sub- A educação tem que passar por

ENTRE reitoria de graduação está com um


fórum permanente nessa direção.
uma reengenharia dos seus proces-
sos. Hoje ela não atende às neces-
VISTA No momento ele foi interrompido
por um processo eleitoral em to-
sidades específicas de um instituto
básico, em particular a Física. A
das as unidades. O fórum visa a educação tem que dar ao aluno de
O papel da educação na repensar os cursos de licenciatura licenciatura conceitos metodoló-
formação do cidadão crítico de todos os institutos básicos. gicos. O aluno do Instituto de Físi-
e a contribuição do professor Temos representantes de várias ca já tem a visão de como dar uma
áreas acadêmicas verificando a for- aula dentro de um contexto cientí-
de Física nesse processo de
ma mais adequada de se ter um ci- fico.
conscientização; a responsa- dadão bem mais crítico, compro- O tipo de ensino do quadro ne-
bilidade dos cursos de licen- metido com a educação em todos gro e giz deve ficar em plano se-
ciatura na preparação dos os momentos. A educação é, para cundário. Temos que dar ao ensi-
futuros docentes; e o resgate mim, um processo de conscientiza- no da Física um trato mais científi-
do ensino e do professor da ção, de forma que o indivíduo inte- co, do ponto de vista da interação
rede pública. Tudo isso e mui- raja com a sociedade, reflita, e seja do conceito físico, do modelo, do
to mais foi o papo que rolou capaz de influenciar na realidade. aparato matemático, do fenômeno.
no Colégio de Aplicação da A forma de interação com a re- É uma coisa integrada. A prática
Universidade do Estado do alidade é o indivíduo poder dar no CAP é fazer com que o fenô-
Rio de Janeiro, o CAP/UERJ. conta do conhecimento do ponto meno físico possa ser contextuali-
Participaram da entrevista 3 de vista histórico. O CAP tem esse zado.
objetivo. Eu não tenho, nem posso Folhetim: Contextualizar é a
professores de Física: Cristina
ter a pretensão de achar que aqui palavra de ordem dos Parâme-
Ferreira, que, além de Co- é o supra-sumo! No entanto, te- tros Curriculares Nacionais
ordenadora do Estágio Su- mos a vigilância de buscar ser um (PCN), lançados pelo governo
pervisionado, milita nas salas campo de experimentação meto- como um grande desafio para a
de aula do CAP e do Instituto dológica para a UERJ. Não acre- melhoria do ensino público.
de Física da UERJ; José Ri- dito em trabalho isolado. O CAP Arruda: Exatamente. De alguma
cardo Arruda, chefe do De- é uma vanguarda porque conta forma estamos fazendo isso, inte-
partamento de Ensino Aplica- com a presença dos institutos bá- grando as propostas do PCN. To-
do e Termodinâmica do Insti- sicos da UERJ e da Faculdade de do conhecimento tem que gerar
tuto de Física da UERJ, onde Educação. uma habilidade/hábito. Os alunos
também dá aulas de Instru- Arruda: A Cristina colocou muito de instrumentação para o ensino de
mentação; e Marcos Torren- bem a questão da conscientização Física estão avaliando livros textos.
do indivíduo e sua interação com a Trabalhar a crítica para análise está
cilla, Coordenador de Física
realidade, pelo conhecimento. Na no PCN. A discussão é a habilida-
do CAP e professor de Termo-
disciplina de Instrumentação II, de a ser desenvolvida no profes-
logia e Mecânica. mudamos a forma de trabalhar fa- sor de Física como orientador e nos
Folhetim: Quando combinamos zendo com que a Física tenha uma alunos a partir do conhecimento.
a entrevista, a Cristina mostrou relevância social. Mostramos ao Cristina: Nós tínhamos algumas
interesse em falar sobre a pre- aluno a sua importância em formar regras implementadas na educação
ocupação do Colégio de Aplica- gerações. Na prática anterior tínha- por pessoas que ocupavam cargos
ção em formar cidadãos. De for- mos um curso calcado em cima de administrativos e não tinham uma
ma concreta, como isso é traba- um trabalho mais ou menos empí- visão de sala de aula. Com o PCN
lhado pela instituição? rico. Desenvolvemos metodologias a receita foi feita com perfeição. No
Cristina: O cidadão crítico só é e mudamos as formas de trabalhar âmbito das ciências da natureza - em
possível a partir de uma mudança o ensino. Dessa forma, nós, do Ins- especial a Física - a coordenação
de mentalidade nas licenciaturas. tituto de Física da UERJ, vamos coube ao professor Luiz Carlos de
Hoje, a UERJ se debruça nesse intervir diretamente no CAP. Menezes, extremamente experiente.
NOVEMBRO DE 1999 FOLHE TIM 17

Agora nós temos a cartilha, re- ocupação. sores da UERJ lotados no CAP.
chear o contexto depende da com- Marcos: São poucos os pesqui- O diferencial da instituição é a for-
petência do professor. A universi- sadores que conseguem falar para mação do corpo docente, todo ele
dade tem um papel muito impor- públicos distintos. Tem pesquisa- com mestrado. Nossa preocupa-
tante para a educação continuada, dor que só consegue falar para ção é avaliar, permanentemente, a
no sentido de trazer os professo- pesquisador da mesma área. O praxis pedagógica aqui desenvol-
res afastados, sem a visão globa- papel do professor que está na li- vida.
lizante do ensino. A universidade cenciatura é o de fazer essa tradu- Folhetim: Como funciona o es-
deve dar conta de um processo de ção para o aluno de graduação. tágio supervisionado do CAP/
ensino e aprendizado que respon- Arruda: O ensino da Física é ina- UERJ que a Cristina coordena?
da a situações vivenciais. Nós da dequado tanto no 2o quanto no 3o Cristina: Cabe ao estagiário mon-
academia, nesse momento do graus. O professor de Física do 3o tar um projeto que implique em ati-
PCN, temos que resgatar a quali- grau é um bacharel, um mestre ou vidades de observação e partici-
dade do ensino público, até por- um doutor. Essas pessoas foram pação no sentido de não dissociar
que somos de uma universidade formadas numa perspectiva de pes- a teoria da prática. O estágio tem
pública. quisa. Não foram dadas a eles fer- importância porque permite o con-
Arruda: Não adianta as regras do ramentas, instrumentos metodoló- tato direto com a realidade de 1o e
PCN serem bem feitas. É impor- gicos de como encaminhar a trans- 2o graus. Através dele se analisa e
tante saber implementá-las. Não missão do conhecimento. A CA- caracteriza a realidade escolar
adianta fazer um projeto pedagó- PES está com uma proposta de pesquisando e testando inovações
gico para uma escola se o profes- fazer com que o mestre, o doutor metodológicas. Assim é possível
sor não tem conhecimento de me- venham à sala de aula. integrar os conhecimentos teóricos
todologias. Então, coisas que ele Folhetim: Vocês têm um site na e práticos no desenvolvimento e
aplicava há 10 anos vão continuar Internet onde a gente lê: “O aprimoramento do futuro profissi-
sendo aplicadas. O papel da uni- CAP/UERJ é concebido no sen- onal de ensino.
versidade é fundamental para a tido de construir um modelo es- O estágio é aberto às licencia-
aplicação e a adequação do PCN. colar livre de preconceitos de turas e áreas de especialização
Folhetim: Vocês estão falando toda ordem...” Na prática, isso como Odontologia - o CAP tem
da importância do papel da uni- acontece de que forma? um projeto que atende a comuni-
versidade. Vamos falar do pa- Cristina: Na época em que eu fui dade - Administração, Nutrição,
pel, das responsabilidades, dos diretora do CAP/UERJ havia um Supervisão Escolar. Somos procu-
professores que atuam nas li- concurso para a 1a série do 1o grau. rados por instituições que não têm
cenciaturas preparando/orien- Os candidatos faziam um vestibuli- colégio de aplicação. No entanto,
tando os futuros profissionais do nho. Isso não combinava com a para o estágio, é necessário um
magistério do 2o grau. nossa proposta. Se nós queremos convênio firmado entre o CAP e a
Arruda: A questão passa pelo ter um diferencial em termos de instituição requerente.
conhecimento que o professor uni- ensino, não vai ser com alunos gê- Folhetim: Vocês têm algum cur-
versitário deve ter. As nossas refe- nios que vamos testar nossas so de atualização para profes-
rências são os nossos professores. metodologias. O compromisso por sores de Física?
A qualidade do nosso produto não mim assumido foi acabar com o Arruda: Vamos iniciar um de es-
atende bem às exigências atuais. concurso e o ingresso passou a ser pecialização a partir do próximo
Essa é uma visão crítica. O que é por sorteio. Hoje, nós temos o con- ano. A parte central dele será me-
que se espera? Que a própria uni- vívio de classes sociais distintas. todologia. Nós acreditamos que um
versidade e os professores criem Folhetim: Todo o corpo docen- dos problemas do ensino da Física
condições propícias para um tra- te do CAP é proveniente da no país diz respeito ao metodoló-
balho de atualização, encaminhan- UERJ? gico. Também vamos trabalhar com
do o ensino medológica e cientifi- Cristina: O CAP tem 42 anos de a Física Moderna pensando no pro-
camente para a adequação aos alu- existência e foi criado para ser fissional formado há mais de 10
nos do 2o grau. Na formação do campo de experimentação metodo- anos.
licenciando já deve haver essa pre- lógica. Nós somos todos profes- Folhetim: Existe outra opção de
18 FOLHE TIM NOVEMBRO DE 1999

atualização sem ser um pós-gra- necessária a existência de força, questão é séria. O compromisso da
duação? com uma visão ainda aristotélica. universidade, através da educação
Arruda: Se o interessado não qui- Marcos: A gente brigou muito continuada, é resgatar o professor
ser sair com o título de especialista para mudar o livro de Física. Nós, da rede pública. A universidade
ele pode optar por duas discipli- aqui, lutamos para ser um campo tem o compromisso político com
nas: Instrumentação e Metodolo- de experimentação. O CAP é uma os cursos de licenciatura.
gia do Ensino de Física. Se dese- instituição com 42 anos. Dá um Folhetim: Como vocês reagiram
jar uma formação mais aprofunda- certo trabalho mudar alguma coi- ao aparecimento do Folhetim?
da, opta pelas 4 disciplinas. Dessa sa. A equipe de Física discutiu Cristina: É prazerosa a forma jo-
forma, podemos atender a vários muito a questão da adoção. cosa como é trabalhado o conhe-
interesses. A coleção dá a possibilidade de cimento. Isso traz uma leveza. A
A partir desse curso de especi- explorar o aluno com o conheci- entrevista é uma maneira de apro-
alização, estamos com a idéia de mento que ele está trazendo para a ximar os profissionais ligados à
implementar o ensino à distância. sala de aula. O livro coloca algu- educação. Isso fortalece a nossa
No ensino à distância, o aluno viven- mas perguntas e diz: tente respon- luta. Nós, que lutamos por uma
ciará dois momentos: o momento em der da maneira como você pensa. mudança de mentalidade, somos
que ele comparece à universidade e Isso é importante. O aluno se sen- muito solitários.
cumpre um determinado número de te valorizado e pensa: Pô, eu sei Folhetim: O que o Folhetim não
horas e, outro momento, em que ele alguma coisa, eu sei um pouco de perguntou, mas vocês gostari-
se comunica via Internet com os pro- Física. É claro que nisso tudo tem am falar?
fessores das disciplinas para a exe- o papel do professor em organizar Cristina: Eu quero lembrar uma
cução de trabalhos. as idéias do aluno. citação do Carlos Drummond de
A idéia é bastante interessante, Trabalhar com a coleção não é Andrade, referendando o tempo.
permitindo aos professores afasta- fácil. A começar pelo professor. É Ela foi lembrada por uma turma de
dos da academia e dos grandes mais fácil pegar a apostila do ves- formandos da qual fui paraninfa:
centros produtores de conheci- tibular e entupir o aluno com um “Quem teve a idéia de cortar o tem-
mento manterem-se atualizados. É montão de fórmulas. Mas isso im- po em fatias, ao qual deu o nome
uma grande contribuição para o possibilita o aluno de questionar. de ano, foi certamente um indiví-
ensino da Física. Folhetim: Por falar em vestibu- duo genial. Pois conseguiu, por
Folhetim: Como foi a opção do lar, o CAP/UERJ tem um ótimo decorrência, industrializar a espe-
CAP/UERJ pela coleção “Físi- índice de aprovação... rança”. Eu estou esperançosa numa
ca para o 2o Grau”? Cristina: O vestibular é uma neu- mudança de mentalidade do pro-
Cristina: Foi uma idéia feliz. O tra- rose. A neurose é reforçada pela fessor que está saindo das univer-
balho do Luiz e do Marcelo já vem ansiedade dos pais. O aprendiza- sidades; das instituições governa-
com uma carta de credenciamento, do e o domínio do conteúdo têm mentais; e dos jovens. As institui-
pois passa pela análise de uma uni- que perpassar o ingresso à univer- ções precisam descobrir a impor-
versidade como a UFF. A coleção sidade. O aluno deve aprender a tância da educação. Os jovens
traz uma visão diferenciada. O ves- ser um cidadão. Quando o aluno é acreditarem nas oportunidades
tibular está mudando de uma manei- ensinado a pensar, ele dá conta des- com o domínio do conhecimento.
ra bastante significativa, para melhor. sa passagem ritualesca para o 3o Arruda: É fundamental toda essa
As universidades estão cobrando o grau. O ingresso na universidade não discussão para mostrar a importân-
ensino aplicável ao cotidiano. é um bicho-de-sete-cabeças. cia da Física na formação do nos-
A proposta do Luiz e do Mar- Folhetim: Não é um bicho-de- so cidadão. Mostrar o aspecto da
celo vem exatamente na linha de sete-cabeças para os alunos que relevância social não só do ensino
trabalhar o conceito, o aspecto estudam no CAP/UERJ ou em da Física como, também, da ciên-
fenomenológico, e trazer idéias so- outros bons colégios. Fora disso, cia física. Devemos, desde cedo,
bre o surgimento da Física. Gosto a realidade do Brasil é outra. dar ao jovem cidadão o conheci-
muito do capítulo 9, A Evolução Cristina: E aí, como é que a gente mento do que é ciência e tecnolo-
das Idéias, no livro de Mecânica. faz? Eu me preocupo muito com gia. Mostrar às pessoas que estão
Você situa o aluno. Muitos ainda isso. O papel da universidade é jus- envolvidas na gestão da educação,
chegam ao 3o ano acreditando que tamente o de se preocupar com a particularmente do ensino de 1o e 2o
para a existência de velocidade é qualidade do ensino de 2o grau. A graus, que a Física tem o seu devido
NOVEMBRO DE 1999 FOLHE TIM 19

mérito e lugar na formação do aluno. UMA ATIVIDADE PARA A SALA DE AULA

Coloque seus alunos


A Física é uma ciência básica
para formar futuros inovadores
tecnológicos. A comunidade cien-

numa sinuca
tífica deve fazer com que a Física
seja uma coisa mais perto do dia-
a-dia. A nova visão dos livros tex-
tos, a nova visão dos parâmetros
curriculares, já apontam para con- Mesas de sinuca são excelentes locais para se divertir e even-
teúdo, conhecimento e habilidade. tualmente aplicar alguns conhecimentos de Física. Pode-se mes-
A Física é uma disciplina que está mo desenvolver um bom curso de Física apenas analisando os
interagindo em todas as esferas de fenômenos que ocorrem nesse espaço bidimensional.
conhecimento. Como um exemplo, vamos aplicar alguns princípios físicos
Marcos: Quando eu concluí o
mestrado, agradeci aos colegas importantes a uma jogada de sinuca, representada pela foto-
pelas discussões que tínhamos so- grafia estroboscópica reproduzida no final deste artigo (a foto
bre Física em todos os lugares, até original você encontra na página 75 do PSSC, parte 3, 4a edi-
na lanchonete. A minha geração ção, 1974).
tem essa visão nova, procurando A bola (1) foi impulsionada pelo sa interação?
romper com o passado. A confian- taco contra a bola (2), que estava 6. Em uma colisão bidimensional e
ça que eu tenho no futuro do ensino
inicialmente parada. Considerando perfeitamente elástica entre massas
da Física está na gente procurar ino-
var e fazer coisas diferentes. a escala da foto, o intervalo entre iguais (na qual não ocorram efeitos
Eu sinto que tem muita gente se posições sucessivas das bolas e que de rotação), estando uma delas ini-
mexendo. Veja o Folhetim, quan- a massa de ambas vale 250g, res- cialmente parada, as direções após
ta gente enviando cartas e colabo- ponda às seguintes questões: a colisão fazem entre si 90o (quan-
rações! Quem lucra com isso é o 1. Qual o módulo das velocidades to maior a perda de energia ocor-
aluno, que vai ser melhor formado. (em cm/s) da bola (1), antes e de- rida na colisão, menor será este
A melhor coisa que um professor pois da colisão? ângulo).
de Física pode ouvir é o aluno di-
zer que gostou da aula porque não 2. Qual a velocidade da bola (2) a) Demonstre esse resultado (dica:
foi uma coisa chata. após receber o impacto da bola (1)? escreva a expressão da conser-
3. Calcule as quantidades de mo- vação da energia e simplifique as
Seja assinante do vimento das duas bolas, antes e massas. O que aparece?)

FOLHETIM
depois da colisão. Escolha uma es- b) Verifique se na colisão repre-
cala conveniente e represente-as sentada pela fotografia houve ou
vetorialmente, todas a partir de um não perda de energia. Inicialmen-
Para receber GRÁTIS o Fo-
mesmo ponto. A quantidade de te, calcule as energias cinéticas
lhetim, envie este cupom pre-
enchido para a Rua Macaé, 12, movimento (total) é a mesma antes das bolas antes e depois da coli-
Pé Pequeno, Santa Rosa, e depois da colisão? Esse resulta- são e, a seguir, meça o ângulo
Niterói/RJ, Cep: 24240-080 do era esperado? Por que? entre elas após o choque.
Professor: 4. Determine o impulso (em mó- Para finalizar, um truque que
dulo, direção e sentido) exercido sempre faz muito sucesso numa
Endereço completo: pela bola (1) sobre a bola (2) du- mesa de sinuca, e pode render
rante a colisão. Idem para o im- uma boa aposta: coloque quatro
pulso exercido pela bola (2) sobre bolas alinhadas e bem próximas
a bola (1). de uma das caçapas centrais, e
Escola em que trabalha: 5. Considere a interação inicial, desafie o parceiro a que, com
entre o taco e a bola (1). Supondo uma só tacada, arremesse uma
Se preferir, passe um e-mail que o tempo de contato entre am- quinta bola contra elas, colocan-
com todos esses dados para bos foi de 0,01s, qual a intensida- do as quatro de uma só vez na
f2g@cen.g12.br
de da força (média) que atuou nes- caçapa (veja figura 1).
20 FOLHE TIM NOVEMBRO DE 1999

vio da ordem de 3%, perfeita-


mente aceitável). Esse resultado
era esperado, uma vez que, numa
colisão, a quantidade de movi-
mento total é conservada.
4. 5,6 . 10-2 N.s, na direção e sen-
tido no qual a bola 2 se move; o
mesmo valor, no sentido oposto.
5. 6,6N.
6. a) Fazendo o que a dica suge-
re, você obterá o teorema de Pitá-
figu ra 1 figu ra 2 goras, indicando que as veloci-
taco taco
dades após a colisão são os cate-
tos de um triângulo retângulo que
Por mais força que ele dê à ta- Respostas tem por hipotenusa a velocidade
cada, apenas uma bola será 1. 26,4cm/s e 11,3cm/s inicial de uma das bolas.
lançada na caçapa. Isso acontece 2. 22,4cm/s b) Antes da colisão:
por que irão ocorrer sucessivas 3. Em módulo, teremos: bola 1: 1,74 . 10-2 J
colisões elásticas entre massas bola 1: 6,6 . 10 -2 kg.m/s e bola 2: zero
iguais, nas quais ocorre troca de 2,8 . 10-2 kg.m/s total: 1,74 . 10-2 J
velocidades; assim, a primeira bola bola 2: zero e 5,6 . 10-2 kg.m/s Depois da colisão:

transfere sua velocidade à segun- p1f
bola 1: 0,32 . 10-2 J
da, esta à terceira e assim por di-
bola 2: 1,25 . 10-2 J
ante. →
pi total: 1,57 . 10-2 J
A solução para o problema está
mostrada na figura 2: basta colocar → houve, portanto, uma perda de
pf
um objeto não elástico (uma caixa 0,17 . 10-2 J (cerca de 10% do
de fósforos ou uma bolinha de pa- valor inicial). O ângulo entre as bo-
pel, por exemplo) antes da primeira → las, após a colisão, é de 86o.
p2f
bola do conjunto e dar a tacada. A Luiz Alberto
explicação? Fica por sua conta!! É a mesma (encontramos um des- f2g@cen.g12.br

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