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CIÊNCIAS SOCIAIS Período: 2021/2

Disciplina: Antropologia  Código: CSO - 04679


Discente: Eduardo José dos Santos
Síntese de Leitura do texto: Seminário 09
AS COTAS RACIAIS NA UNB: UM PARECER APRESENTADO
AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL CONTRA A ADPF 186,
Luiz Felipe de Alencastro

No livro POLÍTICAS DA RAÇA Experiências e legados da abolição e da pós-


emancipação no Brasil, o Professor Luiz Felipe de Alencastro relata inicialmente,
que o ano de 2010 foi marcante para os cidadãos brasileiros afrodescendentes, pois
definiu a população que se reconheceu como pretos e pardos, e que segundo o
recenseamento nacional da época, passaram a formar a maioria da população do
país.
Afirma também, que a partir dessa data, mais da metade dos brasileiros passou a
ser composta por negros, com base na conceituação consolidada através de
décadas de pesquisas e de análises metodológicas realizadas pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O autor explica sobre a petição inicial de Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF) apresentada pelo partido Democratas (DEM) ao Supremo
Tribunal Federal, visando declarar inconstitucional a instituição de cotas na
Universidade de Brasília (UnB), fala genericamente sobre “o racismo e a opção pela
escravidão negra” (2009, p).
Argumenta que do total de cerca de 11 milhões de africanos deportados e chegados
vivos nas Américas, 44% (perto de 5 milhões) vieram para o território brasileiro num
período de três séculos (1550-1856). Faz comparação com os Estados Unidos, que
praticou o tráfico negreiro por pouco mais de um século (entre 1675 e 1808). No final
das contas, o Brasil se apresenta como o agregado político americano que captou o
maior número de africanos e manteve por mais tempo a escravidão.
Durante esses três séculos, vieram para este lado do Atlântico milhões de africanos
que, em meio à miséria e ao sofrimento, tiveram coragem e esperança para
constituir as famílias e as culturas formadoras de uma parte essencial do povo
brasileiro.

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Explica que, para que não estourassem rebeliões de escravos e de gente
ilegalmente escravizada, para que a ilegalidade da posse de cada senhor, de cada
sequestrador, não se transformasse em insegurança coletiva dos proprietários, de
seus sócios e credores, abalando todo o país, era preciso que vigorasse um conluio
geral, um pacto implícito em favor da violação da lei.
Relata que entre as múltiplas contradições engendradas por tal situação, uma
relevava do Código Penal: como punir o escravo delinquente sem encarcerá-lo, sem
privar o senhor do usufruto do trabalho do cativo que cumpria pena prisão?
Refere que a exclusão política foi mais impactante na população negra, e que o
analfabetismo registrava, e continua registrando, taxas proporcionalmente bem mais
altas do que entre os brancos. Portanto, a questão das cotas nas universidades não
se trata de simples lógica indenizatória, destinada a quitar dívidas da história e a
garantir direitos usurpados de uma comunidade específica, como foi o caso, em boa
medida, nos memoráveis julgamentos do STF sobre a demarcação das terras
indígenas. O autor cita que o julgamento das cotas da UnB, trata-se, sobretudo, de
inscrever a discussão sobre a política afirmativa no aperfeiçoamento da democracia.
A segunda razão da inépcia reside no fato de que o movimento negro e a defesa dos
direitos dos ex-escravos e afrodescendentes têm, como vimos, raízes profundas na
história nacional.
Assim, ao contrário do que se tem dito e escrito, a discussão relançada nos anos
1970-1980 sobre as desigualdades raciais é muito mais o resultado da atualização
das estatísticas sociais brasileiras, num contexto de lutas democráticas contra a
ditadura, do que uma propalada “americanização” do debate sobre a discriminação
racial em nosso país.
Pouco a pouco, normas consensuais que impediam a plena cidadania e a realização
profissional das mulheres foram sendo reduzidas, segundo o preceito, aplicável
também na questão racial, de que se deve tratar de maneira desigual o problema
gerado por uma situação desigual.
Menciona que em 2008, nas faixas etárias de brancos maiores de 18 anos de idade,
havia 20,5% de estudantes universitários, enquanto os negros da mesma faixa etária
comportavam apenas 7,7% de estudantes universitários.

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Referências:
ALENCAST RO, L. F. de. “Proletários e escravos: imigrantes portugueses e cativos
africanos no Rio de Janeiro, 1850--1870”. Novos Estudos
Cebrap, São Paulo, n. 21, 1988, p. 30-56.
______. “A desmemória e o recalque do crime na política brasileira”. In: NOVAES, A.
O esquecimento da política. Rio de Janeiro: Agir, 2007,
p. 321-34.
BERQUÓ, E.; ALENCAST RO, L. F. de. “A emergência do voto negro”. Novos
Estudos Cebrap, São Paulo, n. 33, 1992, p. 77-88.
DEMOCRATAS. Petição inicial de Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF 186) apresentada pelo Partido
Democratas (DEM) ao Supremo Tribunal Federal, visando declarar inconstitucional a
instituição de cotas raciais na Universidade
de Brasília (UnB). Brasília, 20 de julho de 2009. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?
docTP=TP&docID=400108>.
ELT IS, D. Economic growth and the ending of the transatlantic slave trade. Oxford:
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MALHEIRO, A. P. (1867). Escravidão no Brasil – Ensaio histórico, jurídico, social.
Petrópolis: Vozes, 1976, v. 1.
MAMIGONIAN, B. G. Comunicação no seminário do Centre d’Études du Brésil et de
l’Atlantique Sud, Université de Paris IV Sorbonne, 21
nov. 2006.
NABUCO, J. (1883). O abolicionismo. Petrópolis: Vozes, 1977.
______. Um estadista do Império (1897-1899). 2 v. Rio de Janeiro: Topbooks, 1997.

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