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5.

1 Carbono orgânico do solo

5.1.1 Teor de carbono do solo nos manejos e épocas, em cada profundidade

Houve interação entre manejo, época e profundidade do solo para os teores de


carbono orgânico (Tabela 4). Na época chuvosa/2015, não houve diferença entre os
manejos na profundidade de 0-10 cm. Na época da seca/2015, o carbono orgânico foi
maior no solo sob PDC e menor no PRT. Na época chuvosa/2016, o teor de carbono foi
maior no solo sob PDC e menor no PRA. Na época da seca/2016, o carbono no solo do
PDC foi maior que o do PDA e o PRT, apresentou o menor carbono orgânico.

Tabela 4. Teor de carbono orgânico do solo (COS g kg -1solo) em um Latossolo


Vermelho-Amarelo sob diferentes manejos, épocas e profundidades. Rolim de
Moura/RO

Época Época da Época Época da


MANEJOS chuvosa/2015 Seca/2015 chuvosa/2016 Seca/2016
COS (g kg-1solo)
0 - 10 cm
PDA 18,50 aAα 15,90 bBα 15,33 bBα 16,24 bBα
PDC 18,61 aAα 18,35 aAα 16,98 aBα 17,87 aABα
PRA 19,07 aAα 15,12 bCα 14,02 cCα 17,01 abBα
PRT 18,15 aAα 13,72 cCα 15,38 bBα 14,51 cBα
10 - 20 cm
PDA 15,71 bAβ 15,00 aABα 13,39 aBβ 14,46 aBβ
PDC 17,01 aAβ 13,96 aBβ 12,15 bCβ 14,29 aBβ
PRA 14,99 bAβ 12,46 bBβ 13,24 aBα 14,96 aAβ
PRT 14,91 bAβ 11,76 bCβ 13,22 abBβ 14,20 aABα
Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste t LSD a 5% de probabilidade. As letras
minúsculas comparam médias na coluna, as maiúsculas na linha e as letras gregas no mesmo manejo e na
mesma época e profundidades diferentes. PDA: plantio direto alternativo; PDC: plantio direto contínuo;
PRA: preparo alternativo, PRT: Preparo tradicional. CV: 16,07%, Média geral: 15,36.

Para o carbono orgânico na profundidade de 10-20 cm (Tabela 4), na época


chuvosa/2015, o solo do manejo PDC teve o maior teor quando comparado aos demais
manejos, os quais não diferiram entre si. Na época da seca/2015, o solo sob PDA e sob
PDC não diferiram e foram superiores ao PRA e PRT, ambos sem diferença entre si. Na
época chuvosa/2016 os teores foram maiores no solo sob PDA e PRA e o menor no
PDC, sendo que o solo sob PRT não diferiu dos demais tratamentos. Na última época
avaliada (época da seca/2016) não houve diferença entre os tratamentos para o carbono
orgânico.
Dentre os manejos agrícolas do solo, o PDC foi um dos que mais acumulou
carbono orgânico, tanto na profundidade 0-10 como em 10-20 cm (Tabela 4). Esses
teores mais elevados de carbono orgânico sob sistema plantio direto são atribuídos ao
não revolvimento do solo, o que permite a manutenção dos restos de culturas
provenientes da safra e safrinha, que contribuem para o estoque de carbono do solo.
O carbono no solo varia de acordo com os usos e manejos a ele dispensados
(AUTRET et al., 2016). Em área de vegetação nativa o carbono orgânico do solo tende
a um ponto de equilíbrio e varia pouco no decorrer do tempo. Se essa vegetação nativa
for substituída por sistemas de produção agrícola utilizando manejos conservacionistas,
como o sistema plantio direto, sistemas agroflorestais e sistemas que integram lavoura-
pecuária-floresta, existe uma tendência que aconteça maior acúmulo de carbono, devido
ao maior aporte de fitomassa acumulada na superfície do solo e ao grande volume de
solo explorado por sistemas radiculares com diferentes arquiteturas (CIDIN et al.,
2016).
Incrementos dos estoques de carbono são reforçados pelos sistemas de manejo
com menor perturbação do solo e com alta capacidade de entrada de resíduos
(BATLLE-BAYER et al., 2010; CARVALHO et al., 2010; AUTRET et al., 2016). O
sistema plantio direto, que tem como premissa a ausência de revolvimento do solo e a
manutenção da palhada sobre o solo, se destaca no armazenamento de carbono no solo
quando comparado a outros sistemas de manejos agrícolas. No solo, o conteúdo de
carbono além de melhorar a qualidade por meio das interações existentes com os
atributos físicos, químicos e biológicos (BORDONAL et al., 2017), é de grande
importância no sequestro de CO2 atmosférico, contribuindo para mitigação dos efeitos
adversos da mudança da fronteira agrícola no bioma Amazônia (MAIA et al., 2013). 
Os solos sob os sistemas de manejo com revolvimento (PRA e PRT) foram os
que apresentaram menores teores de carbono orgânico (Tabela 4). Sistemas com
revolvimento do solo e com o uso intenso de máquinas agrícolas, além do
desflorestamento e da queima da fitomassa, comprometem as propriedades químicas,
físicas e biológicas do solo e contribuem para as mudanças climáticas (RANGEL,
SILVA, 2007).
O manejo PRT possibilitou menor acúmulo de carbono, pois os resíduos foram
incorporados e distribuídos no solo até a profundidade alcançada pelos discos. Isso
permitiu o aumento da aeração e da temperatura e facilitou a degradação e posterior
decomposição desse material. Além disso, o revolvimento do solo com o uso de arados
e grades, prática comum no preparo convencional, causa quebra dos agregados do solo,
causando exposição do material orgânico que estava protegido no interior desses
agregados, aos processos microbianos que podem desencadear perda acelerada de
carbono orgânico (SOUZA et al., 2014; BORDONAL et al., 2017). O efeito principal
de práticas agrícolas que não revolvam o solo está na sua capacidade de permitir um
aumento na formação e estabilização de formas de carbono em nível mais
recalcitrante dentro de microagregados (CORBEELS et al., 2016).
Tem-se observado maior acúmulo de carbono orgânico em solos sob sistema
plantio direto quando comparado ao preparo convencional e ao cultivo mínimo, em
experimentos de longa duração em regiões tropicais e subtropicais (SÁ et al., 2013).
Para Tivet et al. (2013), tanto em regiões tropicais como subtropicais, existe um elevado
potencial do sistema plantio direto na restauração do carbono orgânico do solo em áreas
onde a vegetação nativa foi substituída pela agricultura com o uso de preparo
convencional do solo. No entanto, reforçam que a magnitude dessa recuperação
depende diretamente da entrada de biomassa no sistema.
Babujia et al. (2010), ao avaliarem o carbono orgânico em experimento de
longa duração sob sistema plantio direto e preparo convencional, também encontraram
menores teores de carbono no solo sob preparo convencional, em relação ao sistema
plantio direto, apesar de não ter encontrado diferença entre os dois sistemas na
profundidade de solo de 0 até 20 cm.
Após dois anos de implantação do sistema plantio direto sob Latossolo
Vermelho-Amarelo em Minas Gerais, os solos sob esse sistema apresentaram maior
carbono na profundidade de 0-10 cm, especialmente quando cultivados com milho e
sorgo, em comparação com os solos sob preparo convencional (SALES et al., 2017).
Os sistemas conservacionistas por apresentarem melhores condições físicas ao
solo contribuem na proteção física da matéria orgânica e preservam-na dentro dos
agregados. O comportamento do acúmulo de carbono no solo de regiões tropicais como
a Amazônia ainda necessita de maiores investigações, sobretudo no que diz respeito a
estudos de longa duração. Como afirmam Maia et al. (2010) as respostas do carbono
orgânico do solo frente aos diferentes manejos e condições climáticas sofrem uma
grande variação, o que contribui para uma considerável incerteza indicando que não
existe uma clara compreensão do impacto dessa mudança de uso do solo.
Na comparação entre as épocas dentro do mesmo manejo e profundidade
(Tabela 4), na profundidade de 0-10 cm, o teor de carbono orgânico do solo no manejo
PDA foi maior na época chuvosa/2015 e não diferiu entre as demais épocas. O solo sob
PDC apresentou maiores teores nas duas épocas de 2015, em relação à época
chuvosa/2016. No PRA o maior teor de carbono foi na época chuvosa/2015, e os
menores teores foram encontrados na época da seca/2015 e na época chuvosa/2016. No
manejo PRT, a época chuvosa/2015 teve maior teor de carbono, ficando a época da
seca/2015 com o menor teor.
Na profundidade de 10-20 cm, no PDA o teor de carbono foi maior na época
chuvosa/2015, em relação as duas épocas de 2016 (Tabela 4). No PDC o teor foi maior
na época chuvosa/2015, e menor na época chuvosa/2016. Para o PRA, os maiores teores
foram na época chuvosa/2015 e seca/2016, e no PRT o teor de carbono foi maior na
época chuvosa/2015 quando comparado a seca/2015 e a chuvosa/2016.
De forma geral, o solo dos manejos PDA, PRA e PRT, na profundidade de 0-
10 cm, e o PDA e o PDC na profundidade de 10-20 cm, os teores de carbono orgânico
do solo foram maiores na primeira época, em relação aos teores das demais épocas
(Tabela 4). Para os manejos PDC em 0-10 cm e PRA e PRT de 10-20 cm, houve uma
recuperação nos teores de carbono na última época, quando comparada a primeira.
Era esperado um incremento no carbono orgânico do solo com o passar do
tempo para os manejos conservacionistas, devido a ausência de revolvimento do solo,
aporte constante de resíduos adicionados pelas culturas e maior quantidade de biomassa
vegetal, disponível para os microrganismos do solo transformarem em carbono
orgânico. Provavelmente, a quantidade de resíduos não foi suficiente para aumentar o
teor de carbono do solo e a alta temperatura e umidade propiciaram mineralização da
matéria orgânica existente na área.
Na última época avaliada, a adição de biomassa ao solo aliada ao não
revolvimento proporcionado pelo sistema plantio direto permitiu uma recuperação nos
teores de carbono do solo, indicando o início de uma nova fase de equilíbrio. Para os
manejos PRA e PRT devido à inversão das camadas de solo no preparo, a palhada que
estava na superfície foi, provavelmente, transferida para a camada subsuperficial e ao
sofrer ataque microbiano aumentou o teor de carbono na profundidade de 10-20 cm.
Ao comparar os teores de carbono orgânico entre as profundidades (Tabela 4)
dentro do mesmo manejo e época de avaliação, com exceção do PDA no período
seco/2015, do PRA na época chuvosa/2016 e do PRT na seca/2016 que não
apresentaram diferenças entre as profundidades, os demais tratamentos apresentaram
maiores teores de carbono orgânico na profundidade de 0-10 cm, ou seja, na camada
superficial do solo.
De maneira geral os processos bioquímicos que envolvem as transformações
matéria orgânica e, consequentemente, do carbono orgânico, como a decomposição dos
resíduos, imobilização e mineralização do carbono, bem como a ciclagem de nutrientes,
acontecem mais próximo à superfície do solo (MARINHO et al., 2017). Dessa maneira
é esperado que ocorra diminuição do carbono orgânico do solo com o aumento da
profundidade.
Maiores teores de carbono são esperados na camada superficial do solo devido
à presença de material em diferentes estádios de decomposição que se acumulam pela
adição dos resíduos das culturais após a colheita, principalmente quando são
empregados manejos mais conservacionistas (SOUZA et al., 2016). De acordo com
Carvalho et al. (2007) e Corbeels et al. (2016) o carbono orgânico é maior no sistema
plantio direto nas camadas superficiais do solo, diminuindo em profundidade, o que
reflete a maior deposição de resíduos culturais na superfície, bem como a distribuição
das raízes. Com o tempo de uso desse manejo é esperado também um aumento do
carbono nas camadas mais profundas do solo (PORTUGAL et al., 2008), devido às
condições favoráveis ao desenvolvimento do sistema radicular e do aumento da
atividade microbiana.
As diferenças entre as profundidades corroboram com estudos de Carvalho et
al. (2007) que encontraram maiores teores de carbono orgânico na camada superficial
do solo (0-10 cm) sob sistema plantio direto com diferentes anos de implantação, em
Latossolo Vermelho- Amarelo da região de Vilhena/RO. Souza et al. (2016) ao
compararem sistemas plantio direto com diferentes épocas de implantação, observaram
maior carbono orgânico em Plintossolo Háplico até a profundidade de 7,5 cm
diminuindo depois com o aumento da profundidade. Esse resultado não se deve apenas
a deposição de fitomassa, mas também pela manutenção da estrutura do solo sob
sistema plantio direto.
De acordo com Hickmann et al. (2012), o sistema plantio direto tem a
capacidade de restabelecer o equilíbrio natural do carbono do solo nos primeiros 10 cm,
com recuperação de 90,4% do carbono perdido pelo uso do preparo convencional do
solo, após a derrubada da floresta nativa, em Minas Gerais.
Comparando o solo do manejo PRT entre as profundidades (Tabela 4), com
exceção da época da seca/2016, os maiores teores de carbono foram encontrados na
profundidade de 0-10 cm. Esse comportamento não era esperado, pois com o
revolvimento do solo há inversão e homogeneização das camadas pelo uso dos
implementos agrícolas, consequentemente, os resíduos vão deixando mais uniforme o
perfil do solo. Nunes et al. (2011) e Sá et al. (2013) encontraram uma distribuição
homogênea do carbono orgânico na profundidade de 0-20 cm no preparo convencional
devido ao efeito de sucessivas arações e gradagens e uma estratificação entre as
profundidades com maior teor na camada superficial, para o sistema plantio direto, em
dois Latossolos Vermelhos, em Planaltina e Ponta Grossa.

5.1.2 Teor de carbono orgânico do solo em diferentes manejos agrícolas, sucessões


e épocas

Houve interação entre manejos do solo, sucessão de culturas e época de


avaliação para carbono orgânico do solo. Na avaliação dos manejos dentro de cada
sucessão (Tabela 5), para a primeira época avaliada (época chuvosa/2015), nas
combinações milho/caupi e milho/milho o carbono orgânico foi maior no solo sob
manejo PDC, sendo que os demais manejos não diferiram entre si. Na sucessão
soja/caupi o carbono foi menor no solo do manejo com revolvimento PRT, não havendo
diferença entre os demais. Na sucessão soja/milho o solo do manejo PDC apresentou
maior teor em relação ao PRA e PRT.
Na época da seca/2015, o solo do manejo PDA teve destaque entre os manejos
com maior teor de carbono, e os manejos com revolvimento do solo apresentaram os
menores teores. Nessa época o solo da sucessão milho/milho apresentou maior teor de
carbono orgânico no manejo PDC que diferiu dos demais e o PRT teve o menor teor. O
solo da sucessão soja/caupi teve maior teor de carbono orgânico no manejo PDC e os
menores nos manejos com revolvimento (PRA e PRT). Na sucessão soja/milho, os solos
dos tratamentos sem revolvimento apresentaram mais carbono e diferiram dos com
revolvimento (PRA e PRT).
Na terceira época amostrada, na sucessão milho/caupi o solo do PDC apresentou
maior teor de carbono orgânico em relação ao PDA e PRA. No milho/milho houve
diferença entre PRA e PRT, com mais carbono no PRA. Na sucessão soja/caupi houve
diferença entre o carbono do solo sob manejo PRT com o do PDA e do PRA, que
apresentou o menor teor. Na sucessão soja/milho o solo do PDA foi maior que o PRA e
o PRT, ambos sem diferença entre si.
Na época da seca/2016, para a sucessão milho/caupi os solos sob manejos
conservacionistas apresentaram mais carbono orgânico quando comparado ao PRT. Na
sucessão milho/milho o PDC apresentou maior teor de carbono orgânico que o PDA e
do PRT. Na sucessão soja/caupi o teor de carbono foi maior no solo do manejo PRA.
Na sucessão soja/milho o PRT que apresentou menor teor de carbono orgânico do solo.
O manejo conservacionista PDC, de maneira geral, propiciou os maiores teores
de carbono orgânico no solo, independentemente da época e da sucessão de culturas.
Esses resultados estão de acordo com Sá et al. (2001), ao afirmarem que em sistemas de
manejo como o plantio direto, a ausência de revolvimento, aliada à rotação de culturas e
a permanência dos resíduos das culturas sobre o solo, favorecem a agregação que por
sua vez protege a matéria orgânica da rápida mineralização. Sá et al. (2013)
encontraram maiores teores de carbono sob sistema plantio direto, onde havia
predomínio de gramíneas quando comparado ao preparo convencional, em Lucas do Rio
Verde/MT.

Tabela 5. Teor de carbono orgânico do solo (COS g.kg -1solo) em Latossolo Vermelho-
Amarelo, sob diferentes sistemas de manejos, sucessões de culturas e épocas de
amostragem (média das profundidades). Rolim de Moura/RO

Milho/Caupi Milho/Milho Soja/Caupi Soja/Milho


MANEJOS
COS (g kg-1solo)
ÉPOCA CHUVOSA/2015
PDA 16,99 bAα 16,75 bAα 17,77 aAα 16,90 abAα
PDC 18,36 aAα 18,49 aAα 16,80 aBα 17,58 aABα
PRA 16,91 bAα 17,17 bAα 17,69 aAα 16,36 bBα
PRT 16,80 bABα 17,38 bAα 15,88 bBα 16,06 bα
ÉPOCA DA SECA/2015
PDA 16,33 aAα 14,95 bBβ 15,42 bABβ 15,116 aBβ
PDC 14,64 bBβ 17,14 aAβ 17,79 aAα 15,06 aBβ
PRA 13,38 cBγ 15,22 bAβ 13,69 cBβ 12,86 bBγ
PRT 13,17 cAγ 12,11 cBγ 12,73 cABβ 12,94 bABβ
ÉPOCA CHUVOSA/2016
PDA 13,71 bBβ 14,99 abAβ 13,81 bBγ 14,93 aAβ
PDC 14,89 aAβ 15,05 abAγ 14,08 abAγ 14,24 abAβ
PRA 13,81 bBγβ 15,66 aAβ 12,36 cCγ 12,69 bCγ
PRT 14,73 abAβ 14,11 bAβ 14,95 aAα 13,42 bBβ
ÉPCA DA SECA/2016
PDA 16,42 aAα 15,47 bABβ 14,69 cBβγ 14,81 aBβ
PDC 15,32 abBβ 18,09 aAαβ 15,99 bBβ 14,91 aBβ
PRA 15,23 bBβ 16,84 abAα 17,14 aAα 14,73 abBβ
PRT 13,85 cBβγ 14,62 bABβ 15,26 bcAα 13,69 bBβ
Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste t LSD a 5% de probabilidade. As letras
minúsculas comparam médias na coluna, as maiúsculas na linha e as letras gregas no mesmo manejo e
na mesma sucessão e épocas diferentes. PDA: plantio direto alternativo; PDC: plantio direto contínuo;
PRA: preparo alternativo, PRT: Preparo tradicional. CV: 16,07%, Média geral: 15,36.

Independentemente da produção de fitomassa da sucessão a que estava


submetido, as áreas sob manejo PRT foram as que menos carbono do solo apresentaram
(com exceção na sucessão milho/caupi e soja/caupi, ambas na época chuvosa/2016),
seguida do solo sob PRA, demonstrando que, provavelmente, o manejo do solo
influenciou mais o teor de carbono do que o aporte de biomassa vegetal. No entanto, a
utilização de culturas com alta capacidade de produção de biomassa aérea e radicular
são de extrema importância para a agricultura que ainda utiliza preparo convencional do
solo, por promoverem aumentos nas entradas de carbono no solo (POLSOW et al.,
2016).
O aumento do carbono orgânico do solo em áreas com preparos
conservacionistas está associado a sistemas de cultivo intensivo, sendo as entradas de
carbono o principal fator responsável pelos incrementos no estoque de carbono
(MIRANDA et al., 2016). Seguindo essa tendência, Lemos et al. (2016) afirmaram que
o aporte de resíduos oriundos da parte aérea e das raízes, geralmente, são a principal
fonte de carbono nos solos, apontando como uma preocupação da pesquisa atual a
identificação de sistemas de uso e manejo do solo que promovam a manutenção e/ou o
aumento dos teores de carbono do solo.
Ao analisar os teores de carbono orgânico do solo no ano de 2015 e na época
chuvosa, no manejo PDA não houve diferença entre as sucessões (Tabela 5). No PDC,
os teores de carbono orgânico foram maiores no solo das sucessões milho/caupi e
milho/milho, em relação a sucessão a sucessão soja/caupi. No PRA a sucessão
soja/milho apresentou menor teor de carbono que as demais. E, no PRT, a sucessão
milho/milho foi maior que soja/caupi e soja/milho.
Na época da seca/2015 no manejo PDA, o teor de carbono foi maior no solo da
sucessão milho/caupi do que em milho/milho e soja/milho. O manejo PDC apresentou
maior teor de carbono orgânico nas sucessões milho/milho e soja/caupi. No manejo
PRA o carbono foi maior na sucessão milho/milho e, no PRT a sucessão milho/caupi
apresentou maior teor de carbono do que na sucessão milho/milho.
Na época chuvosa/2016, o solo das sucessões milho/milho e soja/milho no
manejo PDA, apresentaram maior teor de carbono orgânico que as demais sucessões.
No manejo PDC não houve diferença entre as sucessões. No PRA o maior teor foi
encontrado na sucessão milho/milho e os menores nas sucessões soja/caupi e
soja/milho. No PRT a sucessão soja/milho apresentou o menor teor de carbono orgânico
em relação as demais sucessões. Na época da seca/2016, o carbono no manejo PDA foi
maior na sucessão milho/caupi que nas sucessões soja/caupi e soja/milho. No PDC a
sucessão milho/milho apresentou o maior teor de carbono. No manejo PRA, a sucessão
milho/milho e soja/caupi apresentaram maiores teores de carbono orgânico. No PRT, o
maior teor de carbono foi na sucessão soja/caupi em relação as sucessões milho/caupi e
soja/milho.
A análise das médias de cada sucessão (Tabela 5) dentro do mesmo manejo
permite inferir, independentemente da época avaliada, que a sucessão milho/milho foi a
que apresentou mais vezes, maiores teores de carbono orgânico do solo. Provavelmente,
devido às maiores quantidades de resíduos quando comparada as demais sucessões. Os
sistemas de cultivo que proporcionam uma elevada entrada de biomassa vegetal
contribuem na manutenção de uma cobertura permanente do solo, tendo a capacidade de
chegar a condições semelhantes às dos ecossistemas não perturbados, como florestas,
savanas e campos naturais (SÁ et al., 2015). Estes sistemas de cultivo, segundo os
autores, suportam um fluxo contínuo de massa e energia, liberando compostos
orgânicos em grandes quantidades, o que contribui para acentuar a biodiversidade do
solo e aumentar a matéria orgânica.
A contribuição das culturas de cobertura e das rotações de culturas no aumento
do carbono do solo em ambientes tropicais e subtropicais ainda não está bem definida
(CAMPOS et al., 2011). Principalmente porque nas pesquisas sobre práticas em
agricultura de conservação tem sido enfatizado os manejos do solo e pouco tem se
discutido sobre os incrementos proporcionados pela rotação de culturas (POLSOW et
al., 2016). Em relação ao comportamento da combinação de plantas dentro do sistema
plantio direto, apesar das inúmeras pesquisas confirmando os benefícios do sistema
sobre o carbono orgânico do solo, ainda pouco se conhece sobre o efeito da sucessão
e/ou rotação das culturas utilizadas nesse tipo de manejo do solo (RAPHAEL et al.,
2016).
Já a sucessão soja/milho foi a que menos vezes se destacou no
armazenamento de carbono orgânico. O aumento do carbono e da matéria orgânica do
solo é estimulado pela entrada de nitrogênio no solo, desencadeando maior produção de
fitomassa e, consequentemente, maior quantidade de resíduos deixados no sistema
(RAPHAEL et al., 2016). Nessa sucessão, a soja foi substituída na safrinha pelo milho
em consórcio com a braquiária na safrinha e devido à resposta positiva do milho à
presença de nitrogênio fixado pela soja, e pela habilidade da braquiária em produzir
matéria seca, era esperado que essa sucessão promovesse ganhos maiores de carbono
orgânico no solo. O uso de gramíneas em sistema plantio direto aumenta a produção de
resíduos deixados no solo, devido ao sistema radicular ser mais denso,
consequentemente, aumenta os teores de carbono do solo, especialmente se leguminosas
forem incluídas na rotação (ALVAREZ et al., 2014).
A diversificação de culturas, umas das premissas da agricultura
conservacionista, proporciona aumento de transferência de carbono da atmosfera para o
solo. Essa contribuição aumenta se forem usadas leguminosas consorciadas com milho,
ou com o plantio de uma cultura adicional implantada no período em que o solo ficaria
em pousio (POLSOW et al., 2016).
O solo é um sistema aberto que concentra os resíduos orgânicos da flora e da
fauna, bem como os produtos de sua transformação. A entrada de carbono no solo
aumenta com a diversificação dos sistemas de cultivo, sendo que o tipo de vegetação e
as condições ambientais a que esse material é exposto é que determinam a quantidade e
qualidade dos resíduos (MELO et al., 2012).
Em pesquisas realizadas na região subtropical do país, a sucessão de culturas
usando soja/trigo forneceu baixas entradas de carbono. Quando foram usadas plantas de
cobertura ou culturas intercalares como as leguminosas tremoço e ervilhaca, além do
nabo forrageiro e da aveia preta, o aporte de carbono no solo foi maior (DIECKOW et
al., 2005; FRANCHINI et al., 2007). Apesar dos agricultores saberem da importância
das plantas de cobertura, nem sempre é lucrativo para eles perderem uma safra de
culturas com retorno econômico, tendo como consequência a não adoção dessa prática
(BABUJIA et al., 2010).
Como a tendência da agricultura sustentável é produzir mais alimentos,
utilizando menores áreas e aproveitando de maneira mais eficiente os recursos naturais,
de forma a causar o mínimo de impacto sobre o ambiente, existe a necessidade imediata
de investir no cultivo da safrinha utilizando a combinação de culturas com pastagens ou
culturas de cobertura (DUVAL et al., 2016). Especial enfoque deve ser dado às
leguminosas que, ao proporcionarem aumentos de carbono e nitrogênio ao solo,
contribuem na redução dos custos com fertilizantes nitrogenados requeridos pelas
culturas (HICKMANN et al., 2016).
A safrinha ou segunda safra, na mesma temporada, proporcionou aumento na
quantidade de carbono orgânico nos solos do Cerrado, devido a maior quantidade de
resíduos de culturas e raízes deixados, contribuindo também para uma maior
estabilização desse carbono por meio do aumento da agregação do solo, além de
benefícios na ciclagem de nutrientes (CORBEELS et al., 2016).
A entrada de carbono no sistema deve ser de forma contínua, sendo
fundamental para aumentar ou manter o estoque de carbono no solo, sob determinado
sistema de cultivo, solo e clima (LUO et al., 2016). No entanto, as entradas de carbono
são muito sensíveis às mudanças nos manejos, como a retenção de resíduos e a
aplicação de fertilizantes, devido ao seu impacto direto sobre a produção de resíduos.
O acúmulo de matéria orgânica favorecido por manejos conservacionistas,
promovido pela ação dos microrganismos sobre os resíduos deixados no solo,
especialmente quando são utilizadas leguminosas e gramíneas tropicais desempenha,
um papel fundamental para a manutenção das funções do solo, entre elas a manutenção
da estrutura e ciclagem de nutrientes (CARVALHO et al., 2014).
A estratégia de restaurar as funções do solo deve se basear em práticas
agrícolas e ecológicas que adicionem carbono, tanto pela vegetação, parte aérea e raízes,
como pela entrada de resíduos orgânicos (MILNE et al., 2015). A influência das
espécies acontece devido a sua contribuição na qualidade da matéria orgânica pela sua
composição e características intrínsecas, pela arquitetura e quantidade de raízes e pela
influência na microbiota do solo, a qual é responsável pelas transformações e acúmulo
da matéria orgânica (TIVET et al., 2013).
A combinação de culturas com padrões diferenciados de enraizamento,
somados à mínima perturbação do solo no sistema plantio direto, trazem inúmeros
benefícios. Dentre eles estão a promoção de uma rede mais extensa de pequenos canais
proporcionados pelo crescimento das raízes e inúmeros macroporos, os quais auxiliam
na infiltração de água para profundidades maiores (HOBBS et al., 2008).
Um aspecto importante que deve ser levado em consideração na escolha das
espécies utilizadas na Região Amazônica, caracterizada pela alta umidade e
temperatura, é a rápida decomposição da palhada que dificulta a manutenção de uma
cobertura uniforme na superfície do solo. Sendo assim, a escolha de espécies com
capacidade de alto aporte de resíduos e mais resistentes à decomposição assume grande
importância.
As tentativas para aumentar as entradas de carbono devem incluir variedades
melhoradas com maior biomassa de raízes e mais profundas para propiciar incremento
de carbono em profundidade, combinações de plantas na rotação com alta capacidade de
produção de resíduos, maior retenção desses resíduos pela ausência de perturbação do
solo e o emprego, quando possível, de culturas de cobertura que possam fornecer
carbono ao longo do ano (PAUSTIAN et al., 2016).
No manejo PDA, o solo da sucessão milho/caupi apresentou menor teor de
carbono orgânico na época chuvosa/2016. Na sucessão milho/milho, soja/caupi e
soja/milho os teores de carbono orgânico foram maiores na época chuvosa/2015. No
manejo PDC, os teores de carbono orgânico do solo nas sucessões milho/caupi,
milho/milho e soja/milho foram maiores na época chuvosa/2015, ficando a sucessão
soja/caupi com maiores teores de carbono nas duas épocas de 2015. Para o PRA nas
sucessões milho/caupi e soja/milho os maiores teores foram na época chuvosa/2015,
sendo que para milho/milho e soja/caupi foram maiores nas épocas chuvosa/2015 e da
seca/2016. Para o manejo PRT, os solos das sucessões milho/caupi, milho/milho e
soja/milho apresentaram maiores teores de carbono na época chuvosa/2015. A sucessão
soja/caupi apresentou menor teor de carbono na época chuvosa/2015.
De maneira geral, em todas as sucessões houve uma redução do carbono
orgânico do solo, independentemente dos manejos utilizados, quando comparados a
primeira época de avaliação, época chuvosa/2015 (Tabela 5). Em algumas combinações
de manejos e sucessões, foi possível recuperar os teores de carbono na última avaliação,
na época da seca/2016, aproximando aos teores encontrados na época chuvosa/2015.
Dentre esses, temos o PDA na sucessão milho/caupi; o PRA na sucessão milho/milho e
o PRA e o PRT na sucessão soja/caupi. Dependendo do manejo utilizado, o teor de
carbono pode ser incrementado ao longo do tempo, justificando a importância de
experimentos de longa duração para o entendimento do fator tempo na melhoria da
qualidade do solo (SOUZA et al., 2014).
No sistema plantio direto são esperados incrementos nos teores de carbono
orgânico, dependendo do clima, tipo de solo e plantas cultivadas, 10 a 15 anos após a
conversão do preparo convencional do solo para o sistema plantio direto (ROSSET et
al., 2016).
Apesar da redução do carbono orgânico do solo, mesmo nas áreas sob sistema
plantio direto, para reverter o processo de oxidação da matéria orgânica do solo e
aumentar o carbono orgânico é necessário o emprego de técnicas conservacionistas,
como as do sistema plantio direto, para melhorar a qualidade química, física e biológica
do solo. Dentre os benefícios estão a proteção química dos compostos orgânicos, pelas
interações destes com os minerais do solo, dificultando a oxidação pela microbiota do
solo, e a proteção física contra a decomposição microbiana, favorecida pela oclusão do
carbono no interior dos agregados (VEZZANI, MIELNICZUK, 2011).
Além dos manejos conservacionistas é importante escolher adequadamente as
plantas que farão parte da sucessão e rotação de culturas, pois características como
capacidade de aporte de resíduos, duração do ciclo, arquitetura da parte aérea e
radicular, influenciam nos teores de carbono orgânico do solo (ZINN et al., 2005).

5.1.3 Teor de carbono orgânico do solo sob floresta e pastagem

Houve interação entre épocas de amostragem e profundidade para o carbono


orgânico do solo na comparação entre floresta e pastagem (Tabela 6). Para a floresta, na
profundidade de 0-10 cm, o maior teor de carbono foi encontrado na época
chuvosa/2015 e na seca/2016 e, na profundidade de 10-20 cm na época chuvosa/2016.
Comparando o carbono orgânico do solo sob floresta entre as profundidades, exceto na
época da seca/2016 onde não houve diferença, o carbono sempre foi maior na
profundidade de 0-10 cm.
Na pastagem, na profundidade de 0-10 cm, o carbono orgânico do solo foi
maior na época chuvosa/2015 e da seca/2016 (Tabela 6). Na profundidade de 10-20 cm,
o teor de carbono foi maior na época chuvosa/2015. Na época chuvosa/2015 e da
seca/2016 o teor de carbono foi maior na profundidade de 0-10 cm, na época
chuvosa/2015 foi em 10-20 cm e na época chuvosa/2016 não houve diferença entre as
profundidades.
Comparando o carbono orgânico na mesma profundidade e época, mas em usos
diferentes (Tabela 6), com exceção da época chuvosa/2015 onde não houve diferença,
os teores de carbono orgânico do solo sempre foram maiores no solo da floresta quando
comparados ao da pastagem. Apesar de não haver revolvimento em ambas as áreas,
eram esperados maiores teores de carbono orgânico do solo na área de floresta devido
ao maior aporte de resíduos vegetais depositado pela floresta, em relação a área de
pastagem.
Os maiores teores de carbono orgânico do solo tanto para floresta como
pastagem, nas duas profundidades, foram maiores na primeira época de avaliação,
diminuíram nas duas épocas seguintes e novamente aumentaram na última época. A
distribuição de carbono orgânico no perfil do solo é impulsionada pela quantidade de
material orgânico deixada na superfície do solo, que incorpora carbono principalmente
nos primeiros centímetros, além da distribuição das raízes da planta e dos organismos
do solo, que também têm maior concentração nas camadas superficiais (MARINHO et
al., 2017).
A conversão da floresta para pastagens do gênero braquiária promoveu
decréscimo no carbono do solo. De maneira geral, as reduções com essa mudança de
uso do solo variaram entre 14 e 27%. Esses teores ficaram próximos aos encontrados
por Henrique (2016) e Mikos (2017) em trabalhos desenvolvidos em solos sob
diferentes usos em Rondônia. Os autores afirmam que em solos sob cultivo, com
histórico de revolvimento e muitos anos de uso sem manejo adequado, apresentam
decréscimo no carbono orgânico do solo em comparação com os solos de mata.
Estoques de carbono orgânico são reforçados por sistemas de manejo do solo
que causem menos perturbação e envolvam entrada contínua de resíduos e, são
esgotados por sistemas onde o uso do solo é intensivo e sem manejo adequado (MAIA
et al., 2010). Nas áreas sob pastagem, apesar de não ocorrer mobilização do solo, devido
à falta de práticas de fertilização e correção e pela constante presença de animais em
pastejo, não há produção de quantidade satisfatória de biomassa vegetal que dê suporte
adequado a esse pastejo e tampouco acumule resíduos para ser convertido a carbono
orgânico do solo.
Do ponto de vista ambiental, as pastagens quando estão degradadas, pela falta
de manejo adequado, são consideradas fontes emissoras de gás carbônico. A mitigação
desse efeito deve ser realizada por meio da sua recuperação, pois pastagens bem
manejadas podem estocar carbono orgânico, evitando sua liberação para a atmosfera
(JAKELAITIS et al., 2008; SIQUEIRA NETO et al., 2009; GUARESCHI et al., 2012;
HENRIQUE, 2016; MIKOS, 2017).
Independentemente da época avaliada, os teores de carbono do solo foram
menores no solo sob pastagem em relação ao solo sob floresta (Tabela 6). A área de
pastagem teve sua implantação há mais de vinte anos e, apesar de estar sendo
constantemente utilizada para pastejo de bovinos, não recebeu práticas adequadas de
manejo que pudessem melhorar os atributos químicos e físicos do solo. A derrubada da
floresta para implantação de pastagem ou lavoura de soja no Sul da Amazônia, resultou
em mudanças nos atributos químicos e biológicos do solo (LAMMEL, et al., 2015).
Na conversão da vegetação nativa para pastagens, Carvalho et al. (2010)
confirmaram diferença no carbono orgânico armazenado no solo em pastagens
degradadas e não degradadas nos biomas Amazônia e Cerrado. Em pastagens não
degradadas e sem limitações de fertilidade do solo, os teores de carbono orgânico foram
iguais ou maiores, porém em pastagem cultivada em solo de baixa fertilidade e com
sinais de degradação, houve redução dos teores de carbono orgânico. Situações de baixa
fertilidade e manejo inadequado das pastagens resultam em baixa produção de biomassa
com consequente redução do aporte de resíduos vegetais no solo e, acarretam
diminuição dos teores de carbono orgânico.

5.1.4 Teor de carbono orgânico do solo de floresta, pastagem e manejos agrícolas

A conversão da floresta para o sistema de produção agrícola provoca reduções


nos teores de carbono orgânico do solo em 61% das combinações entre manejo,
sucessão e época, na profundidade de 0-10 cm (Tabela 7). O percentual de redução do
carbono do solo variou de 7,5 a 28,31% e, de maneira geral, essa redução esteve
associada aos manejos que envolvem revolvimento do solo. Os aumentos nos teores de
carbono orgânico, nessa profundidade, aconteceram no solo sob manejo PDC, nas
sucessões milho/caupi (período chuvoso/2016), milho/milho e soja/caupi (período
seco/2015).
Na profundidade de 10-20 cm a redução do carbono do solo dos manejos em
relação ao da floresta foi menos evidente, em torno de 30% das combinações e com
reduções entre 12 e 30%. Houve decréscimo do carbono, novamente nos manejos com
revolvimento do solo. O único incremento foi no solo sob manejo PDA, na sucessão
milho/caupi no período seco/2015.
Cabe ressaltar que independentemente da época, sucessão e profundidade, os
solos dos manejos conservacionistas foram os que mais vezes apresentaram teores de
carbono orgânico do solo semelhantes aos encontrados na floresta. Em contrapartida, o
carbono do solo sob PRA e o PRT diferiram mais vezes da floresta por apresentar teores
mais baixos.
O sistema plantio direto é um manejo eficiente para recuperar os teores de
carbono dos solos para uma condição próxima aos solos sob floresta, contribuindo dessa
forma para que a agricultura seja praticada de maneira sustentável. Para que o sistema
plantio direto seja eficiente, deve-se considerar três premissas para sua adoção: ausência
revolvimento do solo, a sucessão ou rotação de culturas e a cobertura permanente do
solo.
A redução nos teores de carbono orgânico com a mudança de uso do solo nos
biomas Amazônia e Cerrado também foram encontradas por Maia et al. (2013),
Henrique (2016) e Mikos (2017). As reduções ocorreram à medida que áreas de floresta
e de cerradão foram convertidas para a agricultura, mesmo sob sistema plantio direto.
Na mesma pesquisa, a substituição de áreas sob vegetação de Cerrado para implantação
da agricultura utilizando o sistema plantio direto aumentou o carbono orgânico.
Na comparação de experimentos em três estados do Centro-Oeste e Norte do
Brasil, Carvalho et al. (2010) apontaram reduções no conteúdo de carbono orgânico do
solo na conversão de áreas sob floresta, cerradão e cerrado para a agricultura, sob
sistema plantio direto e utilizando uma combinação de leguminosas e gramíneas na
rotação.
A conversão das áreas de floresta para agricultura ou pastagem influencia o
equilíbrio de carbono no solo, levando geralmente a uma redução das suas reservas pelo
menor aporte de carbono ou pelo aumento das emissões de carbono para a atmosfera
(LEMOS et al., 2016). Isso pode se tornar problema dependendo das condições
ambientais, intensidade de cultivo e manejos adotados, bem como a natureza dos solos
(RESENDE et al., 2015).
Em Latossolo Vermelho-Amarelo, em Minas Gerais, áreas de floresta
convertidas para agricultura, em sistema plantio direto e preparo convencional, tiveram
redução dos teores de carbono orgânico do solo em ambos os sistemas (SALES et al.,
2017). Os autores atribuem esse decréscimo do carbono devido à alta temperatura do ar,
uso da irrigação e uso de fertilizantes que aceleraram a oxidação do carbono e ao
sistema plantio direto ter sido implantado há pouco tempo, apenas dois anos.
As mudanças de uso do solo utilizando operações de preparo que incluem o
revolvimento do solo resultam na redução da proteção física da matéria orgânica e no
aumento das condições favoráveis à oxidação desse material pela biomassa do solo
(SOUZA et al., 2014). Além disso, solos degradados pelo cultivo e com baixos teores
de carbono são muitas vezes deficientes em nitrogênio, limitando a recuperação dos
estoques de carbono no solo (PORTUGAL et al., 2008), principalmente em sistemas
com baixo aporte de biomassa.
Outro fator que deve ser considerado ao analisar os dados desse trabalho é o
tempo de adoção desse sistema, que é de oito anos. Como o local da pesquisa está
localizado na região Norte do Brasil, onde as condições climáticas ajudam a acelerar os
processos de decomposição da matéria orgânica do solo, maior tempo de manejo
adequado combinado com o emprego de culturas com alto aporte de biomassa são
necessários para que os teores de carbono estabilizem ou aumentem no solo. Pois
sistemas mais conservacionistas tendem com o tempo, a apresentar incremento na
quantidade e qualidade da matéria orgânica do solo (RANGEL, SILVA, 2007;
PORTUGAL et al., 2008).
Na comparação da pastagem com os manejos, houveram modificações no
carbono quando os sistemas agrícolas foram implantados em 63% e 28% das
combinações, respectivamente, nas profundidades de 0-10 e 10-20 cm (Tabela 7). Ou
seja, houve maior variação na camada superficial do solo quando a pastagem foi retirada
para implantação da agricultura.
Os manejos conservacionistas do solo (PDC e PDA), independentemente da
época, da sucessão e da profundidade, foram os que mais vezes diferiram da pastagem.
No entanto, essa diferença sempre apontou maiores teores de carbono orgânico do solo,
significando uma variação de aporte entre 10 e 48%, independentemente do manejo
conservacionista. Ao contrário, os manejos com revolvimento do solo (PRA e PRT)
apresentaram na profundidade de 10-20 cm situações com teores de carbono orgânico
semelhantes ou menores aos da pastagem (redução entre 11 e 19%), significando baixo
aporte de carbono no sistema, causado sobretudo pelo revolvimento.
A substituição de pastagens por agricultura utilizando o sistema plantio direto,
aumentou o estoque de carbono e a produtividade quando comparado ao uso de práticas
com revolvimento do solo, em 70% de 96 locais amostrados nos solos dos biomas
Amazônia e Cerrado (MAIA et al., 2013).
Dentre as sucessões, na profundidade de 0-10 cm, o solo da sucessão
milho/milho foi o que mais vezes mostrou incrementos de carbono em relação à
pastagem, principalmente quando associada aos manejos PDC e PRA. Na profundidade
de 10-20 cm, foram milho/milho e soja/caupi as sucessões que mais vezes
incrementaram o teor de carbono, principalmente quando associadas aos manejos PRA
(em milho/milho) e ao PRT (em soja/caupi).
Em sistemas de baixa mobilidade do solo, como no sistema plantio direto e em
pastagens, o uso de gramíneas com abundantes sistemas radiculares promove aumento
na taxa de conversão do carbono que está no tecido vegetal para aquele que compõe a
matéria orgânica do solo, visto que a taxa de decomposição do sistema radicular é maior
em relação aos resíduos deixados na superfície do solo (NUNES et al., 2011).
Carvalho et al. (2010) encontraram teores inferiores de carbono na conversão
do solo que estava há 6 anos sob Brachiaria brizantha para o plantio de soja/sorgo na
Amazônia. Os resultados diferiram de outros trabalhos feitos na região e também dos
encontrados nesta pesquisa. Essas diferenças entre os resultados podem ser atribuídas
aos sistemas de manejo e a combinação de culturas adotadas, bem como a
características próprias do solo como textura e composição mineralógica.
Apesar das pastagens serem utilizadas em regiões tropicais para manter os
estoques de carbono do solo, a sua eficácia nesse papel de formar complexos do
carbono na matriz mineral do solo, em áreas onde houve supressão da vegetação
natural, é gradualmente reduzida devido a quedas na sua produção ocasionadas pelo
manejo inadequado (MARQUES et al., 2015). O mesmo acontece na região onde
predomina a vegetação de Cerrado, onde pastagens bem manejadas podem manter ou
aumentar o carbono do solo, ainda que a maior parte dessas pastagens estejam em
estádio avançado de degradação, onde as entradas de carbono são baixas demais para
sustentar o armazenamento de carbono no solo (DAVIDSON et al., 2012).
De maneira geral, na comparação do solo da floresta com o dos manejos
agrícolas, houve um decréscimo nos teores de carbono orgânico em, aproximadamente,
61% dos casos, na profundidade de 0-10 cm, independentemente do manejo, da
sucessão ou época. Na profundidade de 10-20 cm esse decréscimo aconteceu em 30%
das situações. Ou seja, houve uma diminuição da qualidade do solo, quando se
implantou a agricultura e essa foi mais observada no solo dos manejos com
revolvimento, ou seja, PRA e PRT.
No caso da retirada da pastagem para implantação da agricultura houve um
aumento nos teores de carbono orgânico do solo (em 63% das situações), de forma
muito evidente em 0-10 cm. Em relação aos manejos, esse aumento do carbono do solo
foi mais expressivo nos manejos PDA e PDC, seguido de PRA e PRT, sendo esse
último o que menos colaborou para aumentar o carbono orgânico do solo. Já na
profundidade de 10-20 cm houve aumento (em 28% das situações) e também redução
dos teores de carbono orgânico do solo (em 19% das situações).
Dessa forma, pode-se inferir que em áreas de lavoura quando bem manejadas
pode haver aumento da qualidade do solo. Principalmente, quando comparada a
pastagens mal manejadas.

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