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Lena Valenti
Amos e Masmorras - Parte VI
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LENA VALENTI
AMOS E MASMORRAS – PARTE VI
CAPÍTULO 1
Bayou Goula
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AMOS E MASMORRAS – PARTE VI
— Ouça, Connelly.
— Nick? Sabe de algo?
— Preciso de reforços em White Castle. Estou em frente à igreja
abandonada de Bayou Goula.
— Como? O que faz aí? Encontrou-a? Encontrou Sophie?
— Sophia tinha um localizador na aliança. Continua usando-a, embora
tenhamos nos separado. — acrescentou um pouco confuso. — O sinal sai do
interior do edifício.
— Acha que está lá dentro?
Nick fixou seus olhos dourados na porta da pequena capela.
— Ou ela está ou o anel. E as duas possibilidades são igualmente
estranhas.
— Agora mesmo vamos aí. Avisarei Magnus e…
— Não, Cleo. Não quero nem a imprensa nem a polícia aqui.
Os Ciceroni odiavam escândalos. Queriam conduzir aquele assunto com
discrição, como ele. Sophie era a mãe de sua filha, Cindy, e a mulher pela qual
esteve perdidamente apaixonado. Não permitiria que tivesse que suportar
escândalo algum, nem que o que lhe aconteceu fosse exposto pelos telejornais.
— Mas, Nick… a denúncia está na delegacia de polícia… e é sua
jurisdição.
— Não me importa. Preciso de você ou de Lion. Ligue para sua irmã e para
o russo. Venham até aqui. Não sei que merda há lá dentro. A única coisa que sei
é que Sophia esteve lá. E talvez continue estando, e não por vontade própria.
— Entendido, Nick. Não faça nada sem nós, tudo bem? Vamos para lá.
— Espero vocês.
Mas não tinha nenhuma intenção de esperar ninguém.
Sophie podia estar lá dentro, droga. Nick já presenciara cenas muito
violentas para que sua mente pensasse que não aconteceria nada de ruim e que
ela estaria bem.
Sua ex-mulher não combinava nem um pouco com esse lugar perdido da
mão de Deus.
Sem perder de vista a porta branca de Bayou Goula, imaginando que
qualquer desorientação poderia acabar sendo fatal, colocou a mão sob o assento
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AMOS E MASMORRAS – PARTE VI
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AMOS E MASMORRAS – PARTE VI
Sophie sentia uma dor surda no braço direito, assim como em parte do
ombro e das costas. Como se fosse uma lembrança formigante de uma
queimadura.
Mergulhada nas brumas de uma inconsciência parcial, tentava abrir os
olhos, mas as pálpebras pesavam muito.
Sentia a boca seca, tão, mas tão seca que tinha a sensação de que sua
língua era uma esponja usada. Diante dela, no que parecia um banco de
madeira escuro e velho como os muitos que havia, repousavam toalhinhas
brancas manchadas de sangue. De quem era esse sangue? Onde estava?
A única coisa que recordava era que logo ao sair do aeroporto da
Louisiana, sentiu uma agulhada no pescoço. Depois disso, a mais impenetrável
escuridão deixou lugar ao esquecimento.
Um som metálico, aborrecido e incessante, obstruiu seus ouvidos, como
se estivesse metido na sua cabeça e ricocheteasse de uma parede côncava e seca
a outra.
— Esse ruído… — murmurou com dificuldade, apoiando a cabeça de novo
sobre a superfície de madeira em que estava recostada e de barriga para baixo.
Chão. Chão de lâminas de madeira antiga, empoeirada e desgastada. — Faça
parar…
Mas o ruído não cessou.
Nem tampouco desapareceu a tontura e a lassidão de seu corpo. Nem
sequer tinha forças para mover os braços. Onde os tinha? Por que não os
sentia?
— Por favor… Há alguém aí? Me ajudem. — pediu quase sem forças —
Tenho uma filha…
Mas ninguém respondeu.
Não queria acreditar nisso. Não queria pensar de novo naquilo. Mas a
situação se parecia muito a quando a sequestraram nas Ilhas Virgens, quando
durante horas a prenderam contra sua vontade…
Seria tão desgraçada de viver o mesmo uma segunda vez?
E Nick? Ele se perguntaria onde estava quando já não soubesse nada
dela? Não, não é verdade? Porque já não a queria. Fazia duas semanas que não
ligava para ele. E ele tampouco entrou em contato com ela.
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Tinha explicado a ele o que acontecia com ela, o medo que sentia, a
sensação de que a estavam vigiando… mas ele riu dela. Não acreditou. Em meio
àquele limbo, tentou recordar a última vez que conversaram.
— Sim? — Nick sempre respondia igual. E isso porque sabia perfeitamente
quem estava do outro lado da linha.
— Olá, Nick.
— Ah, é você.
Um longo silêncio.
— Claro que sou eu. Sempre sou eu.
— Ah, sim? Não esteja tão segura, princesa.
Gostava de provocá-la e fazê-la acreditar que podia estar com outra
pessoa.
— Não estou.
— Como está minha filha?
— Dormiu faz um tempo. Não solta seu urso panda de pelúcia. Que você
deu de presente, lembra? Disse que o comprou no Japão. Mas suponho que era
mentira, porque nunca foi agente comercial, não foi? — disse, afetada.
— Agora não tenho tempo para falar, Sophia.
— Tem pesadelos? — perguntou de repente — Suponho que você não tem,
não é? Você estava acostumado a essas coisas… É agente do FBI.
— Princesa… ninguém está preparado para esse tipo de coisas, por mais
insígnias que tenha.
— Já não gosto de como me chama “princesa”, como se fosse algo
repulsivo e odioso para você.
— E o que esperava?
— Não sei… — respondeu ela, abatida. — Não sei, Nicholas. Pensei que
entrar no torneio ajudaria que voltasse a confiar em mim. Queria te demonstrar
que podia entrar em seu mundo e que queria…
— Ah, claro… Pode entrar em minha ficha de trabalho e eliminar a
denúncia de maus tratos? — espetou com aversão.
— Retirei-a, Nick. — respondeu ela, chorosa.
— E daí? Já não importa. A mancha está lá. Nunca se apagará.
— Nick, por favor, se tão somente me desse uma oportunidade de…
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Nick apertou os dentes com raiva. Estava claro que sofria estresse pós-
traumático.
— É normal, Sophia. Com o tempo esses sintomas passarão…
— Não, Nick! Não são sintomas. Não é minha imaginação. Falo sério.
Ele balançou a cabeça. Acontecia isso com muitas vítimas, principalmente
depois de experimentar algo realmente difícil de assimilar. Sentiam-se
inseguras, assediadas, perseguidas… entravam em uma pequena psicose.
— Me escute bem: a ansiedade passará. Vá ao médico da família e peça
uma receita de comprimidos.
— Odeio comprimidos. Eu… olha, ficaria melhor se viesse e ficasse aqui
conosco. Com você me sinto a salvo.
— Como diz? Agora se sente a salvo? De verdade?
— Não digo isso para te pressionar, nem é uma artimanha para que me
perdoe nem nada disso… mas estou muito assustada, Nick. Pode pegar um
avião e passar uns dias na Louisiana? Estou pedindo, por favor.
Sophia não tinha nem ideia de que ele estava lá para ajudar Leslie e
Markus. E melhor que não soubesse, senão ele não teria desculpa alguma para
se negar. Seus sogros ligaram para ele uma infinidade de vezes para desculpar-
se pela maneira de como o trataram depois da denúncia, mas ele nunca atendeu
seus telefonemas.
Não queria ter nada a ver com eles, com ninguém da família Ciceroni.
Embora não fosse culpado de nada, sentia vergonha de falar com eles de novo.
Depois de tudo o que aconteceu, não queria voltar a relacionar-se com eles nem
com ninguém que pudesse olhá-lo com compaixão ou arrependimento.
— Não posso, Sophia. Sinto muito. Estou de viagem. — mentiu. Nesse
preciso momento estava na Louisiana, em Tchoupitoulas Street, tentando
reconhecer um rosto mediante seu programa de identificação facial.
— Nick, suplico… Sabe que não te pediria nada se não fosse porque de
verdade acredito que algo não vai bem.
— Retornarei dentro de uma semana. — disse acelerando o processo de
identificação. — Passarei para vê-las então.
— Não pode vir antes?
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Três, dois, um… Nick tomou ar pelo nariz e abriu a porta da igreja com
um chute que quase a fez saltar pelos ares. Melhor entrar como um furacão que
arriscar-se a fazê-lo com cautela.
Com braços firmes e tensos, levantou a pistola e moveu a pontaria laser
pela nave central e pelo corredor de bancos até centrá-la no altar. Um som
parecido ao de um mosquito elétrico cessou de repente.
Nick entrecerrou os olhos e caminhou para a origem do som.
Em frente tinha o presbitério, o aparador, o púlpito branco e empoeirado,
a pia batismal e o santuário, escurecido e decomposto pelo passar do tempo.
Algo se movia atrás do altar e Nick estava decidido a averiguar o que era.
Com os dentes apertados e a mandíbula tensa, dirigiu o ponto de luz vermelho
para as cadeiras empoeiradas que formava a diocese. Havia uma bolsa de couro
preta aberta sobre a que estava no meio. Dela saía um cabo preto que
desaparecia atrás do altar.
— Estou avisando, filho da puta. Se a que estiver aí é minha esposa, vou
esquartejá-lo. — grunhiu Nick, fora de si. Que Sophie estivesse ali não seria um
bom sinal. — Saia e deixe o que estiver fazendo. Saia, maldito! — rugiu.
Então o altar caiu adiante. Um homem de cabelo negro e liso de olhos
negros puxados e uma máscara branca que cobria seu nariz e boca, apareceu
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agachado atrás dele e correu para o lado esquerdo para desaparecer pela porta
da sacristia.
Nick não pensou duas vezes e disparou. Não sabia se o tinha acertado,
mas foi atrás dele.
A igreja tinha uma saída nos fundos que levava até um campo mau
cuidado de arbustos e mato que rodeavam tumbas de pedra escurecidas e
cruzes, algumas torcidas e movidas pelos fortes temporais da Louisiana.
Esse indivíduo era rápido como uma gazela. Nick correu tanto que os
músculos das pernas ardiam, mas nem mesmo assim pôde alcançá-lo. Perdeu
sua pista rapidamente. Entretanto, ao abaixar o olhar, vislumbrou pequenos
círculos vermelhos: sangue.
Tinha-o acertado. Tinha que estar ferido gravemente.
Ouviu o som das rodas de um carro deslizar pelo pavimento: o captor de
Sophie escapou de suas mãos.
— Maldito canalha, bastardo… — murmurou observando o horizonte com
desespero.
Zangado consigo mesmo por ter bebido e estar mais lento, ligou para Cleo
imediatamente.
— Por onde vem?
— Nick! Estamos contornando a estrada do rio! Falta pouco para chegar!
— disse Cleo, angustiada.
— Tenham os olhos bem abertos. Um homem de cabelo comprido e negro,
olhos asiáticos, vestido com camiseta branca de manga curta acaba de fugir com
seu carro.
— Que carro?
— Não vi.
—De onde?
— Da porra da igreja, Cleo.
— Para onde ia?
— Não faço ideia. Não pude vê-lo. Custou-me seguir seu ritmo. Mas o
acertei. — Fixou a atenção no sangue do chão.
— Então a encontrou? — perguntou Lion Romano pelo bluetooth. —
Sophie está bem?
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CAPÍTULO 2
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cutânea. Esteve horas com ela até acabá-la. Um dia tatuando-a. Para que? O
que teria feito depois se ele não tivesse chegado a tempo?
Nick não queria nem pensar nisso, assim ligou a tela digital do carro,
teclou a opção de ligação por Bluetooth e procurou em sua agenda o telefone de
Carlo Ciceroni.
Cuidaria da filha dele, quisesse ou não. Esperava que colaborasse. Agora
não era um maldito agente comercial sem graça. Sua ex-família por parte de
casamento sabia que trabalhava no FBI. Embora o odiassem por isso, teriam
que obedecer suas ordens; a vida de sua única filha estava em jogo.
O alerta de chamada não durou nem dois toques.
— Nicholas? — A voz trêmula de Carlo irrompeu do outro lado da linha.
Escutar aquela fragilidade em um homem tão forte não lhe fez nada bem.
Seu ex-sogro estava apavorado, sintoma de que era humano e não um deus sem
misericórdia, como o fez acreditar.
— Senhor Ciceroni. — saudou-o.
— Sophia… desapareceu. Nós a esperávamos em Thibodaux às nove da
manhã. Não sabemos nada dela… fui à polícia e…
— Senhor Ciceroni. — Nick o interrompeu — Encontrei Sophie.
— Como diz?
— Tenho-a aqui comigo.
— O que? Pode falar?
— Não, agora não.
— Por Deus. — exclamou, misturando uma sensação de descanso e
alegria. — Me diga que está bem. Onde estava? O que aconteceu com ela?
— Agora não pode falar nada. Vou cuidar dela estes dias. — Sua voz não
permitia réplica de nenhum tipo, algo que Carlo pareceu captar, pois não pôs
objeção alguma.
— Entendo… — respondeu, submisso. — Sabia que não era normal que
ela não nos avisasse. Sophia é…
— Já sei como Sophia é, senhor Ciceroni. — “Se por acaso não lembra, foi
minha mulher durante sete anos e meio”. — Faz algumas horas que meus
companheiros me comunicaram seu desaparecimento.
— Ah, claro… fico feliz. Quem te avisou?
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catarata e dois ambientes. A casa tinha cento e setenta metros quadrados. Nick
sabia que era muito espaço, mas adorava dispor de quartos para hóspedes, no
caso de um dia receber surpresas inesperadas. Um escritório, uma academia
particular, uma biblioteca… Bom, bem observado, estava bem ocupada. Mas
vivia sozinho. Muitos metros somente para ele.
Estacionou o Evoque bem ao lado do SUV, que ainda conservava por
motivos sentimentais. Apoiou a cabeça no respaldo de couro do assento.
Guardou a pistola na cintura da calça e girou a cabeça para Sophie.
Devia acomodá-la, limpá-la e… protegê-la.
Isso era o mais importante.
Sophie foi vítima de um louco que fazia tatuagens japonesas e não um
qualquer. Estavam relacionados diretamente com a Yakuza, fato que piorava
tudo. Mas com quem?
Carregou-a, cuidando para que a manta térmica não deslizasse por
nenhum lado.
Não pesava muito. Tinha perdido alguns quilos. Já tinha notado quando a
viu nas Ilhas Virgens, mas aparentemente não tinha recuperado o peso nas
semanas seguintes.
Certamente era coisa dos nervosismo e da ansiedade. Não gostava que
estivesse passando mal.
E Cindy? Notaria o estresse pelo que sua mãe estava passando? Sophie
era carinhosa e atenta, e se entregava à pequena com afinco. O vínculo entre
mãe e filha era inquebrável e estreito. Seu amor era puro e incondicional. Mas
depois de tudo o que tinha passado… teria mudado algo entre elas?
Com esse pensamento, Nick introduziu o código de segurança. A porta
blindada se abriu e ambos entraram na moradia.
Sophie se encontraria desorientada quando abrisse os olhos sem o
sonífero correndo por seu sangue.
Que cara faria quando soubesse que vivia ali?
Não sabia o que aconteceria quando soubesse que duas semanas atrás,
quando ligou para ele, pediu que fosse passar uns dias com elas porque se
sentia insegura e ele rejeitou a proposta, na realidade acabava de comprar
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aquela casa na Louisiana, justo onde o estado o proibiu de entrar mediante uma
ordem de afastamento.
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O doutor Abster tinha o aspecto de um homem que não tinha trabalhado
com suas mãos em toda sua vida. No máximo teria carregado sua maleta preta
onde guardava todos os seus instrumentos para tratar seus pacientes.
Nick o estudava apoiado na porta do quarto de hóspedes sem perder nem
um só detalhe do que aquele jovem doutor com óculos retangulares e tão loiro e
pálido como um bebê fazia a Sophie.
Quando acabou seu exame, pigarreou incomodado e se levantou,
impressionado de ver Sophia Ciceroni em um estado tão vulnerável. Subindo os
óculos metálicos pela ponte do nariz, aproximou-se de Nick e disse:
— Quer que espere dom Carlo para que falemos sobre seu estado?
— Pode falar comigo. — Nick cruzou os braços, esperando as notícias.
— Está bem.
— Quero saber se a violentaram.
O doutor ergueu a cabeça com surpresa.
— Você é muito direto…
— É melhor eu saber do que o senhor Carlo.
Abster negou com a cabeça e levantou uma mão para tranquilizá-lo.
— Não. Não houve abuso sexual. Os testes dão negativo, embora se
desejar que façamos um exame exaustivo e Sophia decida fazer uma denúncia,
deveria-se levar ao laboratório de criminalística para que analisem mais a fundo
os resultados.
— Não precisa. Só quero que me assegure que não a forçaram.
— Não há restos de pelo púbico, nem sêmen, nem umidade, nem
avermelhamento… Nada que me indique que houve contato sexual.
Só então Nick relaxou os ombros e descruzou os braços. Costumava
cruzá-los como medida de proteção quando devia escutar algo que não desejava,
como se fosse um escudo onde ricocheteassem as palavras indesejadas.
Mas, graças a Deus, Sophie não tinha sofrido uma experiência desse tipo.
E menos mal, porque Nick não poderia viver com isso. Podia viver com essa
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tatuagem, mas não sabendo que alguém tinha abusado dela, e tudo por não ter
dado atenção a ela.
— Está sob o efeito de um potente sedativo. — continuou Abster. —
Quando despertar, pode lhe dar a metade de um comprimido de modafinila e a
outra metade oito horas depois. Isso fará com que desperte.
— Certo.
— Colhi sangue para comprovar que as agulhas com que fizeram esse
desenho — secou o suor da testa com um lenço branco que guardava no bolso
da frente de sua camisa azul clara — não a tenham contaminado com nenhuma
doença infecciosa, como a hepatite.
— Quero os resultados amanhã mesmo.
— E os terá. — assegurou fechando sua maleta diante de Nick. — Tenho
urgência em saber que Sophia esteja bem. Sou o clínico geral de sua família há
anos…
Nick piscou. Mais outro a quem Sophie tinha encantado e queria cuidar
da sua ex-mulher.
— Não se preocupe. Eu me assegurarei de que não lhe aconteça nada.
Cuidarei bem dela.
Abster assentiu e lançou um último olhar a Sophie como um cordeirinho
degolado.
— Há um creme muito especial para que cicatrize a tatuagem. Parece
muito limpo, mas é bom que umidifique constantemente com algo parecido à
vaselina, para que não se criem crostas. E deve lavar duas vezes ao dia com
água e sabão.
— Tudo bem.
— Outra coisa mais. A tatuagem é grande. Sophie continua dando de
mamar a Cindy. Não tem por que ser assim — especificou —, mas dizem que a
tinta pode passar ao sangue e isso seria ruim para a menina. Deverá tomar
cuidado na hora de amamentar sua filha. Talvez não deva fazê-lo até que
passem algumas semanas.
— Eu li que dependia se a tatuagem rodeava o peito. — esclareceu Nick.
Lera um manual de riscos e lendas urbanas para grávidas. O das tatuagens era
uma delas. — Esta rodeia o braço e parte do ombro… não é para tanto. Sophie
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precisa recuperar a normalidade, talvez não seja bom que a afaste do vínculo
com sua filha tão drasticamente, embora durante uns dias tenha que fazer isso
por outros motivos.
Abster deu de ombros.
— É meu trabalho informá-lo. Suponho que não haverá problema. Se
Cindy sofrer um pouco de diarreia, isso poderia ser uma explicação.
— Estaremos atentos. — disse — Doutor, já sabe que não deve abrir a
boca sobre nada do que viu, não é verdade?
— Sim, é óbvio. — Pigarreou, inseguro de novo. — É um segredo
profissional.
— Exato.
Nick se separou da porta para deixar Abster sair e acompanhá-lo até a
saída. Uma vez no jardim, o médico subiu na sua Mercedes cinza e disse ao
descer a janela:
— Eu a visitarei dentro de uma semana. Até então, espero que estejam
bem. Boa noite.
— Boa noite. — Nick cravou seus olhos amarelos na placa do Mercedes.
Que merda Sophie fazia com os homens para ter a todos revoando a seu redor
como se ela fosse um pote de mel e eles fossem besouros? Por que acreditavam
que tinham algum direito sobre ela?
Seria melhor não pensar muito nisso, não queria ficar de mau humor.
A segunda campainha da madrugada anunciou a chegada de Carlo e
Maria Ciceroni, que carregavam Cindy nos braços placidamente adormecida.
Dalton saiu disparado para saudá-los, o enorme golden os cheirara e não se
esqueceu deles.
Quando Nick abriu a porta e os viu, o rancor o sacudiu por dentro. Eles o
culparam e feriram sem saber a verdade; foram cúmplices das decisões de sua
ex-mulher ao afastar sua filha dele. Desprezaram-no. Riscaram-no de suas
vidas. Uma vida em que nunca se encaixou, por melhor que os tivesse tratado.
Maria, uma mulher bela, cheia de caráter e firmeza, tinha Cindy nos
braços. E Nick não esperara vê-la. Fazia meses que não a via. E com algo tão
puro e inocente sobre ela mergulhado em um doce sono, não podia transmitir a
frieza e o desdém que tinha preparado como recebimento.
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Cindy tinha crescido. E estava tão bonita! Nick só podia pensar nisso.
Usava um vestidinho rosa e umas sapatilhas de bebê da mesma cor com os
cordões brancos. Engoliu em seco, com angústia.
O peito apertou e sentiu uma imensa vontade de chorar, que reprimiu
diante de seus avós. Fazia tanto tempo que não a via! Mais de meio ano! Muito
para um pai devoto como ele.
Mas entre tudo, privaram-no de tantas coisas…
— Nicholas, olá.
Maria parecia sinceramente feliz ao vê-lo. Prendia seu cabelo negro com
vários grampos e estava um pouco despenteado no alto da cabeça. Não estava
maquiada e tinha mais rugas das que recordava.
Os Ciceroni se vestiam com roupa ainda de verão e de campo, e jamais
tiveram um aspecto tão sinceramente humilde como nesse momento.
— Olá, senhora Ciceroni. — respondeu com a educação que jamais
esqueceu.
— Nicholas… — saudou Carlo — Olá, Dalton, amigo! — Acariciou as
orelhas do cão.
Quando o pai de Sophia falou, todo aquele halo intimidador de
antigamente brilhou por sua ausência. Já não havia nada a ocultar, ninguém a
quem impressionar. Nick já não sentia respeito por eles, já não corria o risco de
que não o aceitassem. De fato, já o repudiaram. Era um risco que já não podia
experimentar de novo. Tudo perdido. Nada a perder.
Já não tinha medo deles. Já não queria impressioná-los.
Eram seus ex-sogros, os pais de sua ex-mulher. Ponto final.
— Podemos entrar? — perguntou um Carlo com olheiras, com a barba por
fazer e grisalha aparecendo em sua mandíbula.
— É óbvio, senhor Ciceroni. Sophia está no segundo andar. O primeiro
quarto à direita.
— Nós o seguimos, Nicholas. Depois de você. — disse Carlo,
educadamente.
A situação era um pouco tensa. Não se viam fazia quase nove meses.
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que? Saiu nas melhores revista de gastronomia do país. — explicou com orgulho
— Minha Sophia é uma excelente empresária que adora a cozinha de sua terra
e…
— Preciso do endereço de Chalmette. — cortou Nick — Seja quem for que
fez isso com ela, sabia onde tinha que ir procurá-la. Quero pôr câmaras de
vigilância lá.
— Pois é…
Mas antes que Maria o dissesse, Carlo a deteve com precaução.
— É Sophia quem deve lhe dar o endereço.
Nick cravou seus olhos dourados nos mais velhos e amadurecidos de
Carlo. Sorriu para ele sem vontade.
— Acredite que não vou permitir que aconteça nada de mal com sua filha.
Eu a vigiarei. Não vou ser uma ameaça para ela. Só me encarregarei da sua
proteção. Nada mais. E assim que ela estiver fora de perigo, voltaremos a ser o
casal fracassado que fomos. Eu, um agente do FBI com fama de abusador; ela, a
filha de uma família italiana da aristocracia da Louisiana que sente um medo
atroz pelos homens com distintivo. Talvez nunca deveríamos ter ficado juntos. —
Fez uma careta com a boca. — Foi um engano.
— Não quis dizer isso. — replicou Carlo, assombrado pela beligerância do
tom de Nicholas.
— Foi à sua procura. — interveio Maria, secando as lágrimas. — Ela foi à
sua procura, Nicholas. Minha filha não nos desafia por capricho. Só faz isso
quando acredita que segue o que seu coração diz. Como já fez uma vez. Ela quis
te recuperar…
— Muito tarde, senhora Ciceroni. Depois de tudo… há coisas que não
podem voltar a ser o mesmo.
— Não vou me colocar entre vocês.
— Não. Já fizeram muito no passado.
— Só queríamos o melhor para ela.
— E eu não era. Condicionaram minha vida com Sophie.
— Você a condicionou com sua mentira. — soltou Carlo, apesar de que
agora Nick era um importante e respeitado agente do FBI, nada a ver com o
inofensivo e educado comerciante que acreditaram que era.
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Ele preferiu não responder. Não ia enredar-se em uma discussão com eles.
Todos estavam nervosos. A única coisa importante era proteger Sophie e fazer
com que se recuperasse o quanto antes possível.
Depois as águas voltariam para seu leito.
Maria engoliu em seco, compungida, dominada pela situação. Abaixou a
cabeça e acariciou um a um os dedos da mão de sua filha.
— É muito difícil perder um filho, Nicholas. — disse — Somente
procuramos que nunca acontecesse nada a Sophie. E nem isso conseguimos,
por mais que a tenhamos protegido… só quero o melhor para ela. — Duas
grossas lágrimas caíram de seus olhos diretamente ao chão coberto por um
tapete branco de pelo suave. — Você é pai, logo compreenderá.
— Não me deixaram ser pai. Separaram-me de minha filha. — acusou-os
de novo, sem deixar de olhá-los fixamente.
Maria fechou os olhos cheia de apreensão, parecia arrependida por como
tinha agido.
Nick teve piedade dela. Era uma mulher, uma mãe destroçada por ver sua
única filha em uma situação como essa. Devia ter mais tato.
Carlo suspirou olhando para o teto, emocionado e afetado pelo estado de
sua mulher.
— Minha filha vive agora em Corinne Drive. No número dois mil. —
informou.
Nick assentiu, agradecido.
— Vou pedir a meus amigos que deem uma olhada e varram a área.
Sophie ficará aqui enquanto isso até pegarmos o canalha que fez isso com ela.
Vocês deveriam retornar a Thibodaux…
— E Cindy? — perguntou Maria com a atenção fixa em sua neta.
Nick ansiava passar um tempo com sua filha, mas aquele não era o
melhor momento até que tudo se esclarecesse. Markus sofreu muito mesmo com
Milenka e a menina esteve em perigo duas vezes. Morreria só de imaginar ficar
Cindy em uma situação perigosa.
— Pensei nisso desde que o doutor se foi e… por enquanto, é melhor que a
levem com vocês. Disse-me que Sophie ainda lhe dá o peito. — Sentia vergonha
de falar disso com eles. — Você dispõe de…?
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CAPÍTULO 3
Fixava o olhar no berço vazio que tinha ao lado e não compreendia. Esse
berço não era dela. Nem esse quarto era nenhum de sua casa. Piscou lutando
para encontrar sentido ao que estava vendo.
As cortinas de cor malva das janelas ondeavam pela suave brisa matutina.
O sol refulgia sobre o chão de parqué e em parte do tapete branco que o cobria
como um emplastro.
Cheirava a campo lá fora.
O ombro esquerdo ardia. Desviou seus olhos sonolentos para o foco da
dor, e em vez de ver carne, descobriu a face de uma mulher japonesa sorridente
com corpo de serpente ou de dragão…
Sophie franziu o cenho. Uma tatuagem. Uma tatuagem…
— Não pode ser. — sussurrou começando a suar, inalando pelo nariz e
tirando o ar pela boca. — O que é isto? — tirou o plástico e tentou apagar a tinta
com a mão, mas doía, deixava-o sensível e não, não se ia.
O coração disparou. Estava a ponto de ter outro ataque de ansiedade, e
teve alguns desde que se divorciou de Nick. Levantou-se e tocou com os pés o
tapete que era relaxante ao toque. Tão macio… seja quem for que vivia ali tinha
dinheiro, pois toda a decoração era de grife e aquele quarto estava decorada com
um gosto elegante.
Que fazia ali? E esse berço de quem era? Que horas eram?
— Cindy? — perguntou com voz rouca.
Levantou-se com dificuldade. Custou a se erguer. Tinha que escapar.
Tinha que fugir. Sua filha precisava dela…
Seus pais estariam muito preocupados com ela.
Vestia uma camiseta masculina sem mangas tão grande que chegava até
debaixo da coxa, até quase os joelhos.
Voltou a olhar a tatuagem, observando-a entre o horror e a estupefação, e
então escutou o som das solas de umas botas subir as escadas.
Agarrou o diminuto abajur do criado mudo e o arrancou da tomada.
Virou-se de repente e correu descalça para procurar um bom refúgio. Alguém
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Nick abaixou o olhar para ela, que não queria olhá-lo nos olhos, que não
queria enfrentar ninguém… Só precisava de um refúgio onde descansar, um
refúgio onde pudesse recuperar suas forças.
E esse refúgio era ele. Não podia deixar de atender ao rogo de uma mulher
e menos ainda ao de sua ex-esposa, por mais que a odiasse, por muito rancor
que sentisse por ela, por mais indignado que estivesse… precisava que a
consolassem.
E Nick a abraçou, embora acreditasse que nele já não restava nem um
pingo de compaixão. Rodeou-a, cobrindo-a por completo, até que apenas se via o
tronco superior da jovem, sepultada sob seus músculos.
Sophie chorou. Estava muito assustada pelo que aconteceu com ela, ainda
desorientada. Mas se sentia mais segura porque era Nick, seu Nick, quem a
tinha entre seus braços.
Ele não tentou acalmá-la. Permitiu que chorasse, que se expressasse.
Toda a angústia, todo o aturdimento… Tudo isso tinha que sair.
Sem saber muito bem como, Nick acabou sentado sobre a cama com
Sophie sobre suas pernas como se fosse uma criança necessitada de amor.
Esfregava-lhe as costas e acariciava seu cabelo, evocando épocas melhores entre
eles. Maldita melancolia.
Dalton apoiou a cabeça entre suas pernas, olhando-a com adoração.
Estava feliz de vê-la de novo.
— Dalton, querido. — murmurou Sophie — Tinha muita vontade de vê-lo.
— reconheceu.
Nick não disse nada. Só se limitou a abraçá-la.
— Como me encontrou? — perguntou Sophie absorvendo as lágrimas,
mais tranquila. Começava a recordar vagamente o que aconteceu.
— Seu anel.
Sophie olhou o anular e franziu o cenho. O anel de sua avó brilhava e
reluzia como se permanecesse inalterado pelo tempo, algo que não acontecia
com sua relação com Nick.
— O que há com meu anel?
— Coloquei nele um rastreador se por acaso…
De repente ela levantou a cabeça, dando um leve golpe no queixo dele.
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— Tudo bem. Vou ver se Cleo e Lion me dão uma mão e me ajudam a
localizar esse maldito Jaguar…
Sophie assentiu sem saber o que mais dizer, um tanto insegura ante o
olhar de Nick.
— Encontra-se bem? — perguntou — Deve estar faminta. Trouxe seu café
da manhã… Menos mal que não pensei em entrar com ele; teria perdido tudo. —
Viu o abajur no chão e deu um meio sorriso.
— Estava assustada e perdida… Alguém avisou a meus pais? Eles estão
bem?
Nick assentiu, saiu do quarto e se agachou para recolher a bandeja com
comida.
— Passaram a noite aqui, com Cindy.
— Cindy… — Sophie cobriu a boca e voltou a se emocionar; tinha-a
apavorado a possibilidade de não voltar a ver sua filha. — Minha menina…
Onde está? Meus pais passaram a noite aqui? Onde pensam que estou? Por que
meus pais se foram?
— Partiram. É melhor que não fiquem aqui e compliquem a situação com
Cindy no meio. Só quero ter olhos para você.
Em outro tempo, em outro lugar, essa frase a teria deixado quente.
— Agora está na minha casa, em Tchoupitoulas Street. Justo ao lado do
Zoológico Audubon.
— O que? — Não podia acreditar que vivesse ali. — Desde quando?
Nick deu de ombros e apoiou a bandeja sobre a cama.
— Tem que relaxar e comer algo.
— Não, Nicholas, nem pensar. — Olhou-o de cima abaixo. — Desde
quando vive aqui? Já vivia aqui quando te liguei assustada?
— É possível.
Serviu-lhe o café da manhã com parcimônia. Verteu o suco de laranja no
copo de vidro e passou manteiga e creme de amendoim em uma torrada.
Recordava quanto gostava de creme de amendoim… Também gostava.
— Pedi que passasse uma temporada comigo e com Cindy… me disse que
não estava na Louisiana. — recriminou-o, tentando manter seu orgulho intacto.
Doía-lhe na alma que a tivesse ignorado daquele modo.
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— Não pensei que era sério. E não gostaria de ir à sua casa por nada. —
Sem olhá-la, colocou uma camada de geleia sobre a cobertura de manteiga e
acrescentou. — Além disso, já tem Rob. Se foi tão homem para te acompanhar
ao tribunal e protegê-la de mim, é igualmente homem para te fazer companhia e
vigiar suas costas, não acha, Sophia? — Sabia quanto odiava que a chamasse
assim.
— Fala muito de Rob …
— E a incomoda?
— A mim não. Mas a você, sim.
Nick deu um meio sorriso com frieza e sem nenhuma emoção em seus
olhos dourados.
— Pois claro que sim. Insultou-me. Um filho da puta que não me conhece
nem um pouco se atreveu a me chamar de abusador na minha cara. Não vou
perdoá-lo.
— E a mim? Vai perdoar a mim? — Não era justo colocá-lo entre a espada
e a parede. Acabava de salvar sua vida e ela já estava pressionando-o para
arrumar as coisas.
Nick relinchou como os cavalos e arqueou as sobrancelhas, olhando-a
como se estivesse de brincadeira.
— Estou vendo… parece um grande bloco de gelo, não é, Nick? —
Balançou a cabeça, perplexa diante de tanta indiferença. — Deve ter sido uma
tortura vir em minha busca e me encontrar. — aproximou-se da cama
caminhando como um zumbi, triste ao saber que ele a deixara de lado. E
observando bem, o que esperava? Tinha estragado sua vida.
— Coma e descanse, Sophia.
— Já estou bem. Só quero ver a Cindy. Quero ir. Passarei um tempo em
Thibodaux.
— Não compreende, porra.
— Preciso da minha roupa!
— Não vai embora daqui! — gritou — Pedi a seus pais que trouxessem
roupa. Surpreendentemente eles me ouviram.
— As coisas mudaram, Nicholas. Eles já sabem quem é. E o respeitam…
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— Porra nenhuma, Sophia. Mas não estou nem aí. A única coisa que
conta é que agora está sob minha proteção, coloque isso na cabeça.
— Você vai me proteger? Mas se me odeia. Se não pode nem me olhar. —
sentenciou com amargura.
— Levo meu trabalho muito a sério. Não vou misturar minhas emoções
nisto. Vai ver.
— Pois é fantástico. Já era hora de conhecer o Nicholas policial, não?
Passou muitos anos me enganando, relacionando-se emocionalmente comigo,
sendo um marido muito compreensivo, muito bom… — acrescentou sarcástica.
Mordeu uma torrada e se deixou cair no colchão com desinteresse. — Pelo
menos agora poderei vê-lo em ação.
— Sim. E vai ter que me obedecer, porque isto não aparenta ser nada
bom. Está em perigo.
— Estou em perigo porque um otário com presunções de artista japonês
me tatuou? Porque te asseguro que ainda não tenho nem ideia do que é o que
me aconteceu e por que me fez isso.
— A senhorita Ciceroni dizendo palavrão? — Fingiu assombro.
— Já disse que as coisas mudaram.
— Agora é uma barraqueira. Estou vendo. Agora que trabalha, tem sua
rede de comida italiana e quer ser uma mulher empresária e empreendedora,
fala como alguém do Bronx.
— E você é um arrogante rancoroso. — Levantou o queixo ofendida.
— Sim. Talvez. — ele admitiu, que parecia divertido com aquela discussão.
Sophie tinha passado por algo traumático. Mas ali estava, respondendo a ele
sem deixar que a pisasse. — Mas que entre nessa cabecinha de sangue azul que
o que leva no corpo não é somente um desenho japonês. — Corrigiu-a com
seriedade. — Preciso me assegurar do que significa. Não sei o que teria feito se
eu não chegasse a tempo, compreende? Isto é muito sério. Tenho que chamar
um companheiro especialista em marcas.
— Um especialista? Ele também vendia brinquedos? O que vendia? O Bob
Esponja?
Nick sabia que Sophie estaria soltando farpas constantemente. Aquilo não
seria nada fácil.
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— Uma vez que tome o café da manhã pode dar uma olhada na casa se
quiser. — respondeu ignorando seu último comentário e se levantou da cama. —
Vou entrar em contato com meu companheiro. Preciso de sua ajuda. De
passagem, falarei com Cleo para que procure colaboração e varram Nova
Orleans em busca de seu Jaguar. Também tenho que ligar para Leslie para ver
se alguém pode passar para ela os resultados dos testes de DNA. Enquanto
isso… — fez uma reverência principesca na porta do quarto —, está na sua
casa.
Sophie ficou quieta olhando a porta fechada e o café da manhã.
Que brincadeira era essa? Ia ficar com o Nick ali? Na qualidade de que?
De refém ou de protegida?
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CAPÍTULO 4
Nick não queria subir para vê-la mais. Estava desejando que o tempo
passasse, encontrar o mal e devolver Sophie à tranquilidade e segurança da vida
de Chalmette ou de Thibodaux, tanto faz, contanto que estivesse longe dele e de
suas mãos.
O que não podia entender era como teve a brilhante ideia de abrigá-la em
sua casa quando mal podia controlar o efeito que provocavam seus grandiosos
olhos castanhos nele, ou seu corpo, tão elegante e de formas tão sutis, que lhe
parecia tão provocador… Ela sempre despertava em seu corpo a necessidade de
possuí-la. Mas agora que se sabia amo e que de submisso tinha o que tinha de
moreno, essa necessidade, esse instinto selvagem, lutava por sair e explodir ante
ela, que o tinha acusado de uma coisa que não era, envergonhando-o e o
fazendo se sentir como um miserável.
Não obstante, ser amo não era ser abusador e não sabia se Sophie o tinha
compreendido ou não… E o que importava? Estavam divorciados, não? Ela não
o queria. Não iria querer essa parte dele.
Assim, decidiu concentrar-se em seu trabalho. Ouvia Sophie rondar pela
casa, ainda com a insignificante camiseta que vestiu nela e que caía nela como
um vestido folgado de verão. Dalton a seguia para todos os lugares.
Ouviu-a suspirar enquanto ia à cozinha e abria a geladeira. Seu aroma
chegava até Nick por mais longe que estivesse…
Estava ficando louco. Só estava atento a ela. Sentado em uma poltrona de
braços de cor verde escura em frente à mesa baixa da sala, tentava procurar em
seu MacBook Pro os significados das tatuagens e a que máfia pertenciam. Não
havia nenhuma como a de Sophie, não desse modo…
Mas não se concentraria se Sophie não parasse de fazer barulho ou se
rebolava diante dele, olhando com tanta fascinação a decoração de sua nova
casa. Para ignorá-la, ligou para Cleo Connelly. Esperava que tivesse recebido a
mensagem de texto e que pedisse ajuda a Magnus para fazer o rastreamento do
carro que tinha levantado as suspeitas de Sophie.
— Nick — saudou-o Cleo ao telefone.
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— Nala.
— Magnus e sua equipe estão procurando o Jaguar. E Leslie pediu uma
análise de sangue para ver se coincide com alguma das que tem nos bancos de
dados genéticos de identificação criminal. Como está Sophie?
— Bem. Dando voltas pela casa. — respondeu lacônico.
— E isso é tudo?
— Sim.
— Ah.
— Que mais quer que te diga?
Cleo tinha uma incrível capacidade para ler entrelinhas.
— Hã… Como está você?
— De foder. — respondeu com ironia.
— Nick, cuide dela. — ordenou.
— Faço isso, porra.
— Tem uma grande oportunidade para solucionar as coisas.
— Não há nada a solucionar. Faz meses que nosso relacionamento está
destruído.
— Não acredito… Mas se isso faz com que fique mais tranquilo…
— Sim. Faz. — jurou entredentes. — Quando conseguirá os resultados?
— Dê vinte e quatro horas… Quarenta e oito no máximo.
— Amanhã já posso tê-los?
— Com certeza que sim. O que vai fazer enquanto isso?
— Espero Karen para que me dê uma mão com a tatuagem. Ela conhece
muito bem as máfias japonesas. Eu só estive em uma… e me interessa sua
opinião sobre o desenho. Quero saber o que enfrento.
— Karen? Que Karen?
— A que tinha que ser minha companheira na missão.
— A que tinha que te acompanhar como domina, mas me fez o favor de
quebrar um braço para que eu fosse em seu lugar?
— Sim, essa mesma.
— Puf. Agradeça a ela por mim.
— Farei isso.
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Masmorras. Mas por que se importaria como se ela ia se sentir? “Ex” queria
dizer que era coisa do passado.
Talvez Cleo estivesse certa. Porque abriria a caixa de Pandora. Karen
chegaria de seu Texas natal à tarde e o ajudaria a resolver sua principal dúvida:
quem marcou Sophia e por que. Se decifrasse o simbolismo que se escondia por
trás daquela tatuagem já teria por onde começar a investigar.
— Quem é Karen? — perguntou Sophie plantada na frente dele com o
cabelo liso como no primeiro dia e os olhos castanhos transbordantes de
curiosidade e insegurança.
Cada passo que Sophie dava nessa casa era como uma punhalada
esmagadora em seu coração quebrado, um corte amargo que recordava o que
tinha feito a Nick.
Tinha decorado sua nova casa com os móveis que ela gostava, com as
cores que ela preferia, com todos os acessórios que desejava. Tudo… as
banheiras com hidromassagem, o ginásio, o jardim, cuja grama estava arada
para poder plantar novas árvores… tudo. O chão, o parqué, o tipo de janelas e
balcões… Tudo era do gosto de Sophie, uma casa como a que ela tinha esperado
ter junto com ele algum dia.
Mas esse dia não chegaria. Era como se Nick quisesse passar essa casa na
sua cara, esfregando sua estupidez, dizendo quão tola fora ao tratá-lo daquela
maneira e afastar o único homem que pensava nela como em seu verdadeiro lar.
Os sofás brancos, as chaise longue estofadas de arroxeado, a televisão
branca pendurada na parede, a lareira que ainda não foi acesa… O projeto e o
calor de um lar tradicional, tudo junto, como em uma boa mistura. A piscina de
fora era profunda o suficiente para que ela se afogasse.
E a cozinha era tão grande como um refeitório. Contava com todos os
utensílios, ilha, fornos, geladeiras, fogões, microondas e demais coisas que um
bom chef pudesse precisar. Era de madeira clara, de vidro azulado e aço
inoxidável, feita para ela.
Sob medida.
Limpou as lágrimas com as pontas dos dedos. Não queria fazer um drama
daquela situação. Mas fazia porque tinha as emoções completamente
disparadas.
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Até que escutou o nome de uma mulher nos lábios de Nick. Um nome que,
por como ele disse, sabia que pertencia a alguém que Nick gostava e respeitava.
O ciúme e o amor que ainda sentia por ele a arrastaram a lhe pedir
explicações imediatamente, justo quando Nick desligou e finalizou a conversa
com Cleo.
— Cleo manda lembranças pra você. Alegra-se de que esteja melhor. —
levantou-se do sofá para escapar dela e manter distância. Sophie lhe dava curto
circuito.
— Quem é Karen, Nicholas? — ela perguntou passando a mão pela
camiseta na altura do ventre, alisando uma ruga inexistente.
— Uma parceira.
— Que parceira?
— Uma parceira de missão.
Foi à cozinha, colocando espaço entre os dois. Os mamilos de Sophie
estavam marcados por baixo da camiseta, e bem sabia Deus que sua calcinha
não suporia obstáculo algum se quisesse atirá-la contra a parede. Arrependido
por pensar assim, tolo por acreditar que ela aceitaria algo como isso sem fazer
outra acusação a ele, abriu a porta da geladeira dupla e extraiu uma garrafa de
dois litros com suco de laranja e cenoura. Começou a beber como um mineiro
ucraniano.
Sophie apoiou um quadril na bancada da cozinha, observando o
comportamento e as reações de Nick.
— Alguma vez vai me explicar algo sobre suas missões? Sobre seu
trabalho disfarçado durante tanto tempo? — perguntou — Nada sobre seus
companheiros… E quanto a Clint? Mal sei algo sobre ele. Ele também me
enganou, o grande cretino. — protestou franzindo o cenho.
Nick abaixou a garrafa de seus lábios. Exalou, satisfeito.
— Assassinaram Clint durante a missão de Amos e Masmorras. Está
morto. — Já podia dizer isso em voz alta sem desmoronar.
O rosto dela se nublou de tristeza e preocupação.
— Morto? Oh, Deus… Nicholas… — Estendeu a mão para ele como se
quisesse consolá-lo.
Clint foi o melhor amigo de Nick e o perdeu em uma missão.
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que a mim mesma, e porque fui capaz de mudar por ele e me encontrar. Assim
— abriu o zíper da nécessaire — vou ser tão atrevida como me pediu para ser
longe da masmorra.
Thelma sempre tinha grandes lições para dar. Foi uma domina dura, mas
também uma amiga divertida, uma grande confidente e sua melhor assessora de
imagem. Tinha-a ensinado a tirar partido de si mesma.
E ia fazer isso.
Vestiu um jeans de cintura baixa muito justo, rasgado em partes
estratégicas e maquiavelicamente pensadas; e uma camiseta preta de alça com
as letras D&G na parte frontal, desenhadas com lantejoulas douradas. Sophie
não ia se esconder de nada nem de ninguém. Já não era a mesma, já não era a
menina rica e superprotegida dos Ciceroni. Agora era uma mulher trabalhadora,
uma mãe lutadora e sobrevivente cujas últimas experiências a fortaleceram e
tinham demonstrado que a vida era efêmera. E não a viveria com medo, apesar
de ter e muito. Porque viver com medo era viver como uma morta.
E continuava viva. E tinha que aproveitar.
Tinha noventa centímetros de peito, antes era oitenta. O leite os inchou. E
parecia uma roqueira do jet set.
Maquiou-se como Thelma a ensinou. Lembrou dela com um sorriso.
— Rosto natural, que ninguém nota que está maquiado. Vejamos, faça um
biquinho. — dizia enquanto ela mesma fazia o mesmo gesto. — Tem uma boca
muito sensual, Sophie. Tem que exibi-la. — Pintava seus lábios e depois lhe
dava um beijo na boca, nem úmido nem pervertido, mas sim bem na linha em
que se separa a amizade e o reconhecimento da beleza alheia. — Linda. Sim,
senhor. E estes olhos de cílios longos? Põe um pouco de rímel, Kohl preto e uma
sombra esfumada… e já terá a todos e a todas a seus pés.
E esse era seu estilo. Entre informal e elegante, mas com uma nota de
descaramento e provocação. Assegurou-se que seus armários não conservassem
nenhuma das peças conservadoras que costumava usar. Doou tudo. E mudou
profundamente.
A seus pais não foi difícil acertar com a roupa. Tudo o que havia nas
gavetas, cabides e sapateiras respondia a seus novos gostos.
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CAPÍTULO 5
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Nick não compreendia esse “mundo mulheres”, mas esperava que Karen
contasse para ele depois. Ela sempre falava sem disfarces. Certamente explicaria
o que queria dizer esses olhares.
— Nick me pediu que analisasse a obra de arte que tem aí. — observou
seu braço com atenção.
— Vamos para a sala, por favor. — pediu Nick — Ficará para jantar? —
perguntou solícito — Vou encomendar comida japonesa.
Sophie o olhou como se tivesse soltado um piada.
— Muito adequado. — respondeu Karen sem afastar os olhos da
tatuagem.
Uma vez na sala, ambas se sentaram juntas no sofá de couro de três
lugares e pequenos pufes da mesma cor a seu redor. Sophie deu as costas a
Karen, e assim ela pôde afastar seu cabelo e parte da camiseta e observar com
atenção o desenho.
Nick permanecia de pé a seu lado esperando o veredicto de Karen, que
murmurava palavras em voz baixa cheias de descrédito.
— Nick… — disse Karen com prudência —, sabe o quanto são importantes
as tatuagens na Yakuza, não é verdade? Você tem o tigre, que significa
majestosidade. A força e o poder da energia interna.
— Sim. — disse ele.
— O clã da família Sumi fez isso.
— Sim.
Karen estava bem informada sobre isso, já que meses depois que Nick e
Clint deixaram o Japão, ela mesma teve que se infiltrar em uma missão
relacionada com um assunto de prostituição ilegal com estrangeiras em Tóquio.
Não a assustavam essas missões, enfrentar àquela gente que pouco tinha de
humana. Tinha visto tanto horror e tanta maldade que nada mais a pegava de
surpresa. Ninguém jamais a enganaria.
— Sim. O clã Sumi me fez isso como privilégio por pertencer a sua família
postiça.
Sophie não entendia nada de nada. A tatuagem de Nick não foi por uma
aposta? Como não?! Devia imaginar! Entretanto, essa tal Karen sabia de tudo. E
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ela, que foi sua mulher, não sabia nada… Mas não. Nick a tinha enganado,
tantas mentiras… foi tudo uma farsa? Inclusive seu casamento?
Indignada, levantou-se do sofá e encarou os dois.
— Me contem agora mesmo o que está acontecendo. — pediu — Quem
diabos me tatuou e por que? Japoneses? Yakuza? O que está acontecendo?
Karen olhou para Nick, esperando que desse permissão para que contasse
tudo o que sabia. Nick cruzou os braços, firmando-se como um armário e depois
disse:
— O que acha, Karen? Conhece a tatuagem?
— Sim, conheço sim… e não dou crédito. Não quero me precipitar, mas…
Estive quatro meses no Japão infiltrada no clã Yama, que se encarrega da maior
rede de prostituição em seu país…
— O clã Sumi também…
— Mas os Sumi se envolvem em tudo. — corrigiu-o Karen arqueando as
sobrancelhas. — Com drogas, lavagem de dinheiro, putas… — Karen falava
como um homem. — Os Yama só têm negócios de prostituição. Mandaram-me
ali para investigar se traficavam com norte-americanas e quais eram suas
estratégias para captá-las. Trabalhei em colaboração com membros da Interpol.
— Deus. — disse Sophie segurando a ponte do nariz com o indicador e o
polegar. — Não entendo nada…
— Conseguimos saquear parte de sua estrutura, mas já sabe o que
acontece no Japão com a Yakuza, Nick…
— O Japão é a Yakuza. Eles controlam o país. — assegurou Nick.
— Sim, virtualmente. Como a Rússia está dominada pelas bratvas e as
ruas da América Latina por uma quantidade enorme de gangues… As máfias
são muito poderosas.
— Sim. E o que quer me dizer com isso de que esteve com os Yama?
— Os Yama estão se confrontando com grande parte dos membros das
outras yakuzas. Tornaram-se agressivos e desafiantes. Quando têm desavenças
com as demais máfias, nunca se esquecem disso. Têm sua própria maneira de
se vingar delas. Sabe o que fazem?
— Não. — disseram Sophie e Nick ao mesmo tempo.
Karen segurou Sophie pelo pulso e a aproximou dela.
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seria terapêutico. Podia pensar sobre o que aconteceu com ela durante o dia e
encontrar respostas de como resolver os problemas que tivesse.
E essa Sophie… tão diferente e ao mesmo tempo tão a mesma de sempre,
desorientava-o e confundia. Sentia a necessidade de cuidar dela e de mimá-la,
mas ao mesmo tempo, a imperiosa urgência de demonstrar a ela que era ele
quem mandava ali, que a partir desse momento devia obedecê-lo em tudo.
Tinham que enfrentar um grande perigo. Tanto sua vida quanto a de
Sophie corria perigo.
Já não havia tempo para mentiras, para nenhum dos dois. Ou se
apressavam e encontravam o tatuador ou um novo inferno se abriria diante
deles. Um inferno cheio de kanjis, tigres e leões que não estava disposto a
experimentar outra vez.
— O que vai fazer? — perguntou Karen.
— Cleo Connelly é muito amiga do chefe de polícia de Nova Orleans.
Fizeram um retrato falado e uma foto de busca e captura do sujeito que levou
Sophie. Enviaram-na a todos os locais da redondeza. Há vigilância em todas as
estradas.
— Um retrato falado de um sujeito que nem sequer viram o rosto? —
perguntou admirada.
— Cabelo preto e comprido, pálido, ferido e de olhos puxados.
— Japonês?
— Estou convencido. Sophie diz que ultimamente tinha visto algumas
vezes um Jaguar dourado, que sentia que a seguiam.
— Não é um carro muito discreto. — opinou Karen deixando-se cair no
sofá. Vestia jeans, botas de cano alto e uma camiseta branca. Cruzou uma
perna sobre a outra e balançou a cabeça. — E se procurarem nas bases de
dados do aeroporto da Louisiana?
— Não estamos seguros de que o sujeito tenha chegado até aqui de avião.
Não sabemos nada. É como procurar uma agulha em um palheiro. Ou temos a
sorte de encontrá-lo aqui ou será muito difícil encontrá-lo. — sentou-se a seu
lado de maneira amistosa e Karen pôs uma mão sobre o ombro dele. Nesse
momento, na cozinha aberta, Sophie partia a abobrinha e a berinjela, olhando-
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os com tanta força que parecia que ia quebrar a tábua de cortar. — Muito
obrigado por vir, Karen. — Olhou-a e sorriu agradecido.
— Prr, não me agradeça. — bufou — Isso é o mínimo que posso fazer por
você depois de deixá-lo sozinho no caso de Amos. Quebrar o braço depois de cair
das escadas não estava nos meus planos, acredite.
Nick se pôs a rir e deu de ombros.
— Bom, não foi tão mal.
— Eu sei. Agora são uns putos heróis… e ainda por cima depois saem nos
noticiários caçando Mago e Yuri no parque de diversões abandonado de Nova
Orleans. Sempre perco o melhor. — lamentou.
Nick voltou a rir. Sophie cortava a verdura cada vez com mais força.
Karen olhou dissimuladamente para trás e depois estudou de soslaio seu
ex-parceiro.
— Ouça… as coisas entre você e ela…?
— Não há nada. — sentenciou Nick.
— Que não há nada? — repetiu Karen contendo uma gargalhada. — Você
está mal, companheiro. Não há nada em meu estômago vazio. Mas entre vocês…
— Não siga por aí, K. Estou com ela para protegê-la. É a mãe da minha
filha. Não posso permitir que lhe aconteça nada…
Calou-se assim que Sophie pousou uma garrafa de vinho tinto com muita
força sobre a bancada. Serviu-se de uma taça até em cima e começou a beber
como se fosse água. Ele a olhou por cima do ombro e se encontrou com os olhos
castanhos dela cravados em seu cangote, perfilados por sua franja que era
insultantemente comprida. Bebia como uma esponja, mas com elegância, se é
que de verdade as esponjas gozaram daquele prazer alguma vez.
Sophie saboreava o vinho porque para ela era um prazer. Mas bebê-lo
como se tratasse de tequila esteve a ponto de fazer Nick sorrir.
Karen estalou os dentes e sacudiu a cabeça, sem se conformar.
— Meu amigo, não quero me meter, mas se olhares matassem, você
estaria debaixo da terra.
Nesse momento soou a campainha da porta. Nick se levantou com
normalidade para ver quem era.
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CAPÍTULO 6
Lion não sabia como reagir. Cleo avermelhou até a raiz de seu cabelo.
Karen pigarreou incomodada. E Nick… Nick apertou os dedos contra suas
palmas, esticando os punhos. Sophie tinha razão, mas estava equivocada em
uma coisa: Karen e ele jamais dormiram juntos. Praticaram juntos para as
domesticações. No princípio ele como amo, e depois como submisso.
Exercitavam o uso dos floggers, sua correta manipulação, o uso das cordas, das
algemas, das pinças… Precisavam conhecer aquelas ferramentas e,
principalmente, compreender o perfil psicológico de alguém acostumado a
mandar e de alguém que adorava se submeter.
Em Amos e Masmorras aprendeu muito. Mas nunca se tornou íntimo de
Karen até esse nível. Jamais.
— Meu trabalho exige uma série de sacrifícios. Me instruir e me colocar na
pele de um personagem… as domesticações eram parte do trabalho.
— Domesticações? Você fazia domesticações com ela? — Sophie se
levantou da mesa acusadoramente. Atirou o guardanapo com força sobre o
prato já vazio.
— As domesticações não têm por que ser… — tentou explicar Nick. Nem
sequer sabia por que tinha que lhe dar explicações. Já não eram um casal.
— Sei perfeitamente como é uma domesticação, Nicholas. — Apontou um
dedo para ele. — E não porque você me ensinou isso. Aprendi sozinha!
— Bem. Então saberá que muitas vezes… é somente trabalho. —
respondeu ele.
— Para Cleo e Lion também foi somente trabalho? Olhe para eles! Estão
apaixonados!
O casal se olhou com assombro e um pouco de vergonha, até que Lion
passou o braço por cima de Cleo e plantou um beijo em cheio na sua boca.
— Reconheça, ruiva. Está apaixonada por mim. — disse a ela em voz
baixa.
— Lion, não brinque… Isto é sério. Acredito que deveríamos ir. —
acrescentou incomodada ao ver Sophie tão à beira do choro.
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Nick levou seus dedos ao botão da frente do seu jeans e o abriu com
ímpeto. Depois desceu a calça de um puxão, deixando-a só com a calcinha preta
transparente.
— Devo estar louco por fazer isto de novo. — disse a si mesmo, centrando
toda sua atenção na silhueta de sua ex-esposa. — Mas se quer fugir enquanto
pode…
— Já disse que não vou fugir…
— Silêncio. — Seu olhar convertia em pedra ao mais valente. — Acaso
Thelma não te ensinou a obedecer?
Sophie ergueu o queixo. Seus olhos amendoados lançaram um brilho
doloroso.
— Sim, senhor. Foi uma domina maravilhosa. E não quero que fale dela.
Não é justo. Ela morreu e era minha amiga. Como você perdeu Clint.
— Clint não está aqui. E você vai ter que esquecer a Thelma, porque aqui
no meu quarto eu sou seu amo.
Sophie se calou ipso facto. Conhecia seu papel. A submissão. Ele desejava
que ela se comportasse de maneira desobediente para castigá-la. Porque Nick
estava furioso. Estava fazia quase dez meses. Talvez tomasse a revanche desse
modo. Uma das normas do jogo era que o amo nunca realizasse uma
domesticação zangado emocionalmente com a submissa. Nick seria capaz de
feri-la?
— Tem o olhar de uma gazelinha assustada. — Nick se agachou e
desabotoou os sapatos dela. Sophie tinha uns pés muito bonitos e sempre muito
cuidados. — O mesmo que me dirigiu depois do role play que arruinou nosso
casamento. — ergueu-se e descobriu que a altura dos sapatos era fictícia. Ela
continuava sendo muito pequena a seu lado. — Se quer fugir, Sophia, tem a
porta aberta. Mas se me afastar outra vez, não a protegerei. Não sei quem está
atrás de você ainda. Mas se decidir me denunciar de novo, esqueça de contar
comigo para averiguar isso. Pode me insultar uma vez, mas não duas.
Introduziu os polegares pelas tiras da tanga e em vez de deslizá-la, como
fez com toda sua roupa, puxou o cordão fino e o rasgou para deixá-la
completamente nua. Podia escutar o coração frenético de Sophie de onde estava.
Medo ou excitação? Seja o que for, ela estava permitindo.
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CAPÍTULO 7
Aquilo era como uma perda de virgindade com toda pompa. Um casal
rompido teria relações completamente diferentes às que tiveram quando eram
felizes.
Sophie o amava muito. Nick, em troca, tinha suas desconfianças para com
ela. Não confiava nela.
Mas tanto um quanto o outro se desejavam com uma força distinta a que
sentiram quando se conheceram. Estavam mais amadurecidos. Mais fortes.
Sabiam o que queriam. Tinham uma filha em comum. E o tempo e a vida os
endureceram.
Talvez Sophie tivesse destruído o amor que Nick sentia por ela. Ou talvez
Nick tivesse decepcionado Sophia com suas mentiras.
Mas quem podia contra o poder das lembranças e da atração?
Nick a segurou pelo queixo e pouco a pouco introduziu um polegar em sua
boca.
— Vire-se, Sophia. — ordenou ele — Dirija-se à parede da frente para as
correntes.
Ela virou a cabeça. As correntes negras e metálicas, inquebráveis,
repousavam penduradas de sua amarração, descansando contra a parede.
Rindo dela. Tudo ali cheirava a novo e a limpo. Não o estreou ainda? Todas as
ferramentas eram virgens?
Caminhou até seu destino, descalça e vulnerável, sem nada que pudesse
cobri-la da inspeção daquele homem.
Nick a seguia colado a ela como um predador à sua nudez.
Quando chegou ele a pôs de frente à parede. E uma a uma, começou a
encadear seus membros.
As pernas bem abertas e os braços igual, por cima da cabeça.
Nick se recreou em como se curvavam as costas de Sophie, inclusive os
tons de sua tatuagem lhe pareceram bonitos. O cabelo liso e comprido chegava
até a metade da coluna… E seu traseiro alto, forte e arrebitado, atraiu-o como a
luz às traças.
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— Ah, não, não… — deu outro tapa na nádega dela. — Gozará quando eu
disser. Nunca antes. Se fizer isso eu a castigarei.
Sophie sabia reter seu orgasmo, mas aquilo era tão bom que não queria
atrasá-lo. Embora Nick pedisse e ela quisesse agradá-lo. Desejava lhe mostrar
sua verdade. Seu arrependimento. Sua aceitação. E seu amor. Um amor que
nunca desapareceu, que só se turvou por medos absurdos.
— Sim, senhor.
“Sim, senhor… Mas já estou a ponto”.
Nicholas se deteve, tomando ar e fechando os olhos a meio caminho entre
o agradecimento e a estupefação. Isso estava acontecendo de verdade?
Olhou a seu redor e à mulher submissa e acorrentada a quem possuía
como se fosse um sonho. Era Sophie. Sophie Ciceroni. Sua ex-mulher.
E estava ali se entregando a ele.
Alguém a estava perseguindo e a tinha marcado, e Nick estava disposto a
descobrir quem era e matá-lo. Matá-lo, nada de levá-lo perante a lei. Os vírus e
as pragas deviam ser aniquilados. Nick, pelo que viu com o FBI, só acreditava
em sua lei e na de seus amigos.
Entretanto, inclusive sendo consciente do perigo que a rodeava, estava
dominando Sophie em sua masmorra. Estava fazendo amor com ela como se
fosse uma terapia para quebrar o gelo e afastar os temores e a tensão.
A adrenalina acumulada desde o dia anterior tinha que sair por algum
lado.
— À merda. — disse Nick sacudindo a cabeça, decidido a procurar o
prazer no corpo de Sophie. Ele merecia. Merecia por tudo o que teve que
suportar. E ela também merecia para que visse o que tinha deixado escapar.
Nick a saqueou por dentro, roubou-a deixando-a completamente nua. A
posse foi tão dura e esteve tanto tempo nela que sabia que quando acabasse
estaria irritada.
Sophie gozou uma vez, gritando e chorando de prazer. Quando pensou
que a penetração cessaria e que ele sairia, Nick não retirou nem o vibrador nem
tampouco seu pênis, que continuava movendo-se inclemente, atormentando-a.
— Nick… por favor…
— Por favor o que?
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Não ia escutá-la. Não sabia o que aconteceria no futuro, mas sua alma só
descansaria se marcasse Sophie à sua maneira, se demonstrasse a ela que o
sexo com ele poderia ter sido todo um mundo cheio de possibilidades.
Um corpo de gladiador como o seu foi feito para lutar e para dar prazer,
desafiando a sua mulher, pondo-a em guarda e possuindo-a como um animal. E
sabia que fazendo assim desataria as paixões mais obscuras e secretas da
educada e reprimida Sophie, nunca do outro modo, no espaço seguro, entre a
linha do decoro e do baunilha. Não. Sophie não se detonava assim. Uma mulher
tão dada à proteção e ao controle só podia voar livre com alguém que a
desafiasse e empurrasse ao abismo.
E esse alguém era ele.
De novo a levava a esse abismo de cores e fogos de atifício, a esse lugar de
um prazer tão mágico e divino que não parecia nem terrestre.
O segundo orgasmo foi inclusive melhor e mais doloroso que o primeiro.
Sophie estava tão molhada e tão bem lubrificada, ainda estando inchada, que o
som do sexo era inclusive afrodisíaco para eles.
— Assim, princesa… — escapou dele.
Não queria falar com ela com tanto carinho. Mas tampouco se importou
em chamá-la desse modo quando Sophie estava tão entregue e exposta. Era
linda. Seu cabelo liso solto por suas costas, a tatuagem em seu ombro e seu
braço… suas nádegas vermelhas pelo spanking. Nick endureceu ainda mais,
dobrou os joelhos e aproveitou a posição para penetrá-la mais intensamente. E
no meio do terceiro e fulminante orgasmo de Sophie ele se deixou levar, gozando
em seu interior, querendo lhe dar mais que somente isso… mas sem se atrever.
Quando as lembranças espasmódicas do êxtase desapareceram, Nick
desmoronou sobre as costas de Sophie, desejando que ela segurasse a ambos. O
silêncio se fez pesado. As palavras que nenhum dos dois se atrevia a dizer
brilhavam por sua ausência. Embora, nesse momento, nem um nem outro fosse
capaz de somar dois mais dois.
Nick deteve o vibrador e o deixou cair ao chão com um golpe seco. Sophie
ainda palpitava ao seu redor, como ele. E mantinha os olhos fechados e o rosto
coberto por seu próprio cabelo.
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Levou a mão ao bolso da calça e tirou as chaves para abrir as algemas das
correntes.
Nick a liberou, mas não saiu de seu interior. Reacomodou-a sobre seu
peito e rodeou seu ventre plano com suas mãos.
— O que vai acontecer quando te soltar? — perguntou inseguro. Estava
preparado para outra nova grosseria, para novas acusações e novas denúncias.
Mas de nada serviriam, pois desta vez tudo estava gravado. — Faça o que fizer,
Sophia, não vai te servir de nada diante de um juiz.
— Droga, Nicholas… — murmurou lastimosa. — Eu te disse que não ia
fazer nada. Você não me dá medo. Não me assusta. Confio em você e…
— Bem, porque se me denunciasse de novo ficaria em evidência. Está
tudo gravado.
Sophie enrijeceu como pôde, pois ele ainda a mantinha presa em seu
interior, bem agarrada em seu pênis.
— Me solte. — disse ela indignada. — Não fala sério.
— Sim, falo. Olha ali e ali. — Apontou os cantos. — Há duas câmaras que
gravam tudo. Pode dar um tchau se quiser…
Nick deslizou para fora e saiu por completo, mas não a soltou, ainda a
rodeava com os braços.
— E o que fará com isso? Vai enviar a meus pais?
— Não sou tão mesquinho. Embora seria bom que entendessem como sua
filha é na realidade.
— Eles não precisam saber como sou para perceber que já não sou a
mesma. É imbecil, Nick.
— Sou precavido.
— Não. Está cego.
— Zanga-se porque quero me proteger?
— Zango-me porque não sei o que quer… Não sei o que precisa de mim. —
esfregou os pulsos. — Não sei o que fazer para te demonstrar que não sou a
mesma e que eu gostaria que me desse outra oportunidade.
Sophie se livrou de seu aperto e o encarou com lágrimas nos olhos.
Lágrimas desenfreadas pelos orgasmos e por sua falta de confiança. Olhou-o de
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cima abaixo. O que viu a ofendeu mais do que todo o resto. Piscou atônita e o
olhou como se fosse um estranho.
— Usou uma camisinha?
Nick levantou uma sobrancelha loira e deu de ombros.
— É óbvio.
— É óbvio? — repetiu ela, um pouco perdida. O que pensava que era isso?
Uma reconciliação. Caramba, estava muito longe de se redimir. Nick transou
com proteção como se fosse uma estranha.
— Não sei com quantos homens esteve, Sophia… Rob está sadio?
Sophie franziu os lábios estudando Nick como se fosse um ditador,
alguém cruel e desconhecido para ela.
— Gostaria de bater na sua cara agora mesmo. Você está bem da cabeça?
— grunhiu, aflita. — Quantas vezes tenho que dizer que não há nada entre eu e
Rob?
— Quantas sejam necessárias, Sophia. — respondeu sério. — Quantas
sejam necessárias. Esse sujeito sabe mais da minha filha do que eu. Não
acredito que esteja exagerando. Durante meses ele fez o meu papel. Talvez
também o tenha feito na sua cama.
— E talvez acabe te matando esse rancor que guarda em seu interior.
Acaba de fazer amor comigo acorrentada em sua masmorra… Que mais precisa
que eu faça?
— Estou morto há meses, linda. Terá que fazer mais para me devolver à
vida, não acha? O que lhe parecem dez meses de agonia?
Sophie procurou uma saída da masmorra. Não gostava de estar nua e
vulnerável diante desse Nick. Principalmente porque o que dizia lhe parecia
lógico. Mas ela nunca teve nada com Rob. Não gostava dele como homem. De
fato, o único homem que amava e que a deixava louca era o gladiador
inclemente, suado e meio excitado que tinha diante de si. E não podia domá-lo.
Nunca se poderia domar a um domador.
— Só houve um homem na minha vida. E esse é você. Pode dizer o
mesmo? — ela o provocou.
— Posso. — afirmou ele — Mas isso não muda nada.
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O que mudava ou não que nenhum dos dois tivesse tido outro parceiro
não sabiam.
Mas estavam juntos nisso.
Agora, a única coisa que importava era mantê-la a salvo. Embora para
Sophie a maior ameaça fosse Nick.
Depois de uma sessão tão intensa ele esperava cuidar de sua submissa,
não discutir com ela. Além disso, Sophie devia apreciar completamente. O
melhor era sempre as atenções, os cuidados e os carinhos depois de uma
domesticação. E ele era muito carinhoso.
— Vamos fazer uma trégua. Vamos dar um tempo, tudo bem? — Ofereceu
sua mão. O cabelo loiro e despenteado colava-se ao suor da testa. Olhou-a com
inconscientes olhos suplicantes, esperando que ela aceitasse ir com ele. —
Chega de conversa, Sophia. Vamos dormir. Amanhã nos espera um dia muito
longo.
Ela observou sua mão e negou com a cabeça.
— Minhas pernas tremem. Não sei nem como me mantenho de pé. Não
posso caminhar.
Em um suspiro, Nick a pegou nos braços e carregou para sair da
masmorra.
— Então eu a levo.
Tirou a camisinha com uma mão e a jogou no cesto de papéis metálico
que havia ao lado das escadas.
Sophie olhou sem que ele percebesse. O saco de lixo estava limpo, preto e
sem lixo.
— Nicholas…
— O que? — ele perguntou subindo as escadas de madeira.
— Não usou nenhum objeto da masmorra com ninguém.
Ele não a olhou. Abriu a porta e saíram ao corredor que dava para a sala,
para subir de novo as escadas que os levariam aos quartos.
— Não. — respondeu ele.
Não. Essa masmorra foi estreada por ela, pensou satisfeita.
E saber disso, estar tão segura disso, deu-lhe um novo raio de esperança.
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CAPÍTULO 8
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— Sim. — Sophie não queria olhá-lo, nem queria que ele se movesse.
Precisava senti-lo assim. Com ela. — O que foi? — Agarrou-o pelo braço e o
obrigou a rodeá-la de novo. — O que é Kotei?
— Significa “imperador”.
Nick fez gesto de se levantar. Tinha que falar urgentemente com Karen,
que teria acesso aos relatórios do FBI sobre o caso Amos e Masmorras, aos
nomes dos compradores, os IP’s… Precisavam identificar aquele sujeito e só o
fariam através dos contatos de Karen na Interpol. Quem era o Imperador?
— Nick, por favor, não vá. — ela suplicou envergonhada, sem olhá-lo.
Ele se deteve para observá-la com atenção. Sophie o surpreendeu. Era tão
valente e forte… depois do que sofreu nas Ilhas Virgens, qualquer um teria ido
viver com seus pais por medo de estar sozinha. Mas Sophie não. Ela voltou para
sua casa, para sua vida independente com sua filha, e seguiu adiante com seus
negócios. Como não? Não era uma mulher normal e comum. Era diferente.
Uma onda de honesta admiração percorreu o centro de seu peito.
— Antes, quando me deixou aqui e me massageou… dormi.
— Era essa a ideia.
— Sim, imagino… — disse pensando o contrário. — Mas… fazia tanto
tempo que não dormia assim…
Nick se reacomodou no travesseiro e começou a acariciar o cabelo dela
como sabia que gostava.
— Por que, Soph? — perguntou com um tom íntimo, de confidente. — Por
que não dormia bem? Tinha medo? Tinha pesadelos?
Ela limpou uma lágrima rebelde do canto de um olho.
— Não, não… Os pesadelos são o de menos. Parecem-me normais.
Claro que Sophie seria racional a respeito e consideraria o estresse como
algo que devia superar.
— Não posso dormir bem há dez meses… desde que o deixei. — concluiu
ela. — Me custa fechar os olhos e não te sentir. Sinto falta de que me acaricie o
cabelo, que me diga o quanto sou bonita… Sinto falta de quando me amava.
Cindy também sente sua falta… e eu tenho saudades dela. Quero vê-la! —
Começou a chorar de novo com tanto sentimento que ameaçava alagar o quarto.
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A manhã seguinte
Suas mãos e sua pele cheiravam a ela. Inclusive depois de ter tomado
banho. A essência das pessoas se podia gravar na pele quando se amava tanto
como Nick a amou.
Inclusive depois do divórcio continuava sentindo o cheiro dela nele. Em
sua roupa, nas poucas coisas que deixou na casa de Washington.
E agora estava em frente a seu computador, concentrando-se em protegê-
la em vez de possuí-la tal como tinha feito na noite anterior.
A dominação era viciante. E se Sophie apreciou tanto quanto ele, sem ter
em conta a tensão logo depois, certamente também recordaria todos os
orgasmos que a presenteou.
E iria querer mais. Porque se havia algo que não desaparecia jamais entre
um amo e sua submissa era a tensão sexual.
Quando seu telefone soou estava atento à tela do computador, tentando
procurar informação sobre os clãs japoneses a respeito de algum conflito atual
no Japão. Precisava compreender por que Sophie estava marcada por uma
gangue yakuza. Mas não encontrou nada.
Quem ligava era Leslie.
— Fale, Connelly.
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— Espero que esta tarde. — Nick fechou a tela do notebook. — Karen está
com isso. A que hora chegou o carro ao estacionamento?
— O chefe do estacionamento não pode nos dizer desde quando está aqui
porque não pode dar informação sem a permissão do dono. Agora vamos falar
com ele. Se o deixaram por aqui recentemente, saberemos que o sujeito está
ainda em Nova Orleans. E já saberemos por onde procurar. Com a foto que nos
forneceu Jimmy, temos mais possibilidades de encontrá-lo.
Nick se levantou da mesa do escritório com o telefone colado à orelha.
— Minha irmã e Lion vêm para cá. — informou pelo Bluetooth. — Dispõem
de informação sobre o material de tatuagem que esse indivíduo utilizou. Além
disso, Lion conhece o dono do estacionamento e será mais fácil que colabore
conosco se ele estiver aqui.
— Tudo bem. Avisarei Sophie para que se prepare. Agora mesmo nos
vemos lá.
— Bem. Até mais.
Nick desligou o telefone e o guardou no bolso de trás da sua calça.
— Filho da puta escorregadio. — sussurrou passando os dedos pelo
cabelo. — Vou pegá-lo, rato sarnento.
— Nick?
Ele levantou o olhar e o cravou na porta aberta do escritório.
Sophie estava lá, deliciosamente acordada com o rosto um pouco
ruborizado depois de uma boa ducha de água quente, já preparada para o novo
dia.
Usava calça curta de cor bege, sandálias de tiras negras de couro e uma
camiseta folgada e escura com flores violetas que deslizava para um lado e
mostrava, de novo e sem pudor, o ombro tatuado.
Parecia que Sophie gostava dela. Exibia-a como uma marca de
sobrevivência.
Nick desejou ir para ela e comer sua boca lentamente até exigir tudo o que
necessitava dela e mais. Mas tocá-la nesse momento, por mais vício e desejo que
a domesticação tivesse despertado, não era nem de longe uma boa ideia. Isso
não faria outra coisa que atrasá-los e, além disso, complicaria sua decisão de
deixar de lado as emoções.
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CAPÍTULO 9
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acredito… acredito que alguém que age assim tem em mente mil maneiras de me
machucar.
Nick sabia. É óbvio que sabia que esse sujeito sabia muitas coisas sobre
Sophie. O que não sabia era que se meteu com a mulher que não devia. Porque
nem todas contavam com a ajuda de um autêntico rastreador frio e metódico
como ele. Até agora não se deixou levar pela ira nem os nervos. Mas quando o
encontrasse… mataria-o.
— Sophia, entendo que se sinta insegura. — reconheceu — Mas quero que
algo fique claro. — Girou a cabeça para ela e a segurou pelo queixo, para
assegurar-se de que captava a mensagem. — Não está desprotegida. Estou
contigo. E meus amigos também. Nunca deixamos ninguém para trás.
Ela lambeu os lábios e assentiu com angústia. Sentia-se agradecida por
ter tanta gente tentando ajudá-la.
— É só que… sinto falta de Cindy. É duro estar longe dela… Quero
abraçá-la.
— Acredite em mim que a entendo. Mas são só uns dias. — Insinuou com
um pouco de aversão. — Uns dias sem vê-la não são nada. Aceite.
Ela afastou o queixo e abaixou a janela do carro, mas Nick negou com a
cabeça e a levantou de novo.
— Ninguém pode vê-la. Lembre-se. Ou prefere que ponha um pôster
luminoso que diga que Sophia Ciceroni está aqui? — repreendeu-a.
— Vai me deixar respirar em algum momento, Nicholas? Porque ou mata o
que me persegue ou acredite que este carro cheio de despeito acabará comigo. E
prefiro um tiro ou seja o que for que possa me fazer esse japonês, a esta morte
lenta a que me castiga com sua hostilidade disfarçada de fria educação. Não
suporto isso.
Nick levantou o canto de seu lábio e arqueou as sobrancelhas, que se
levantaram por cima da armação de seus óculos.
— Pois tem que fazê-lo, princesa. Porque este é meu trabalho e é a única
coisa que sei fazer bem. E asseguro que não quero que minha filha fique órfã de
mãe.
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tivesse me dito que ia entrar no FBI, não teria acontecido nada porque já tinha
me apaixonado por você perdidamente. Teria me importado da mesma forma se
fosse lixeiro, limpador de chaminés ou Superman, porque eu queria o homem
que era, não no que trabalhava. Nick… — segurou-o pelo queixo, rogando que a
compreendesse. — Nick… me escute, por favor…
— Não. Me escute você. Se não quer que a toque, não o farei. Mas há algo
que é inegociável. Ninguém vai cuidar de você. Só eu.
Estavam chegando ao estacionamento onde Leslie e Markus esperavam.
Acabavam de passar ao lado do Sylvain, um restaurante onde foram comer
juntos em alguns Mardi Grass; repetiram ano após ano, como uma tradição.
Ambos recordaram aqueles tempos ao ver o local e o ódio deixou espaço à
melancolia.
Por que não podia ser tudo como antes?
Em Sophie, o vazio que sentiu ao recordar esses momentos felizes a
deixou tão tocada que se calou de repente.
Tinha vontade de conhecer Leslie, a irmã de Cleo. E a esse russo perigoso
do qual todos falavam.
E o russo era tal como recordava, e isso que só o tinha visto de soslaio no
cruzeiro onde a levaram à força junto com outras garotas.
Todos os homens do FBI eram assim, saídos de fábrica? Grandes,
corpulentos e… tão comestíveis?
Os olhos ametistas de Markus e seu moicano vermelho a intimidavam
muito. Vestia-se todo de preto e uma tatuagem que chegava ao pescoço emergia
dentre sua camisa estreita. Mas então, Leslie Connelly, uma morena de cabelo
comprido e liso e com os olhos prateados de bruxa, apoiou-se em seu ombro
para lhe dizer algo ao ouvido enquanto os via chegar e ele sorriu para ela,
olhando-a com uma adoração que roçava a sonho e a veneração.
Sophie queria revirar os olhos porque diante dela havia outro casal
apaixonado que tinha participado de Amos e Masmorras. Aparentemente os
únicos desgraçados, os piores indecisos das Ilhas Virgens foram eles dois.
Leslie e Cleo se pareciam, mas cada uma tinha sua personalidade. Leslie
inspirava mais respeito que Cleo, parecia mais séria, mas Sophie intuía que o
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senso de humor de Leslie era muito fino e que era muito mais direta que sua
irmã caçula.
— Como está, loira? — perguntou Markus a Nick carinhosamente. Tinham
uma relação de camaradagem bastante especial.
Sophie franziu o cenho.
— Bem, soviética bêbada. — ele respondeu apertando sua mão com
energia.
Markus sorriu e se fixou em Sophie.
Ela não soube nem o que lhe dizer, só queria ocultar-se atrás de Nick e
esconder-se desse homem que parecia um assassino da KGB. Em troca, Markus
disse algo que a desconcertou.
— Ainda não é das minhas.
— Como? — perguntou Sophie, perdida.
— Essa tatuagem que leva no ombro. — Assinalou-a sem interesse. Sophie
a olhou como se a tinta tivesse descolorido. — Não está mal. É bonita. Mas…
ainda resta muito para entrar na máfia russa. — Sorriu para ela e piscou um
olho.
Sophie bateu os cílios a ponto de tropeçar diante de tal amostra de
virilidade sensual.
— Está brincando? — perguntou Sophie, ainda um pouco desorientada.
Leslie se pôs a rir e assentiu com a cabeça.
— Desculpe-o. É russo. Tem um senso de humor um pouco estranho…
estou incentivando-o a se abrir e interagir. E suas tentativas são… já viu. —
disse Leslie divertida.
— Ah… pois achei graça. — Sophie recuperou as rédeas e aceitou a mão
que Leslie oferecia. — É a irmã de Cleo, não é? Leslie.
— Sim. Eu mesma. Prazer em conhecê-la formalmente, Sophie.
— Digo o mesmo.
— É esse o carro que a perseguia? — Leslie apontou o Jaguar dourado
estacionado no número 333.
Sophie olhou para ele e se aproximou lentamente. Não havia dúvida. Era o
mesmo veículo.
— Sim. É esse.
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Prince controlava bem seu entorno, por isso quereria saber por que
alguém com distintivo pedia para ver os vídeos de sua garagem e analisar o
interior de um carro abandonado. Insistiria em estar presente em todo aquele
procedimento.
E Lion não estava equivocado, do mesmo modo que sabia que Prince não
ficaria satisfeito ao vê-lo.
Aquele amo criatura muito alto olhou para ele com aborrecimento ao vê-lo
entrar no escritório.
Prince tinha o cabelo preto preso em um coque. Vestia uma camisa branca
com as mangas arregaçadas que deixavam à mostra a enorme chave tatuada
que descansava no interior de seu antebraço, e jeans azul escuro. Colocou os
óculos na gola da camisa e usava um Tagheuer em seu pulso que brilhava de
maneira insultante.
— Romano, o que faz aqui?
— Steelman. — saudou-o com seriedade, mostrando o distintivo. —
Precisamos de sua permissão para abrir um carro estacionado na vaga 333. E
analisar os vídeos das câmaras de segurança.
Prince ficou olhando o distintivo sem fazer um só gesto depreciativo.
— Por quê? — perguntou.
Lion olhou o subordinado de Prince, mas este não foi embora até que
Prince não o ordenou.
Uma vez sozinhos, os dois amos, frente a frente, puderam falar com mais
liberdade.
— Lembra-se do Tigrão? — perguntou Lion.
— Porra, claro que sim. Ganhou o torneio de Dragões e Masmorras DS. O
torneio foi todo um desatino. — murmurou em desacordo. — Quem ia imaginar
que aconteceria tudo o que aconteceu?
— Sim, bom… Sua mulher se meteu no torneio sem que ele soubesse. Foi
uma das submissas que os vilões da Old Guard sequestraram para vendê-la
logo no iate onde se celebrou a final…
— Sim, sim… — cortou-o levantando a mão para que poupasse essa parte.
— Estou a par de tudo.
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CAPÍTULO 10
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Leslie e Cleo se olharam sem saber muito bem onde se meter. Conheciam
os problemas daquele casal, e sua função era a de tirar a importância do
assunto para que Nick voltasse a sorrir e os olhos de Sophie brilhassem de novo.
— Bom, se te serve de consolo — argumentou Leslie —, Markus tinha sua
filha em segredo. Era um agente duplo, o que eu soube depois. Em uma missão
em Londres juntos, ele forçou seu desaparecimento… antes de fingir sua morte,
entregou-me um pacote que tive que ir pegar. Tratava-se de sua filha Milenka…
Veja só isso, deixou ela para mim, para que cuidasse dela. Obviamente — disse
abrindo o forno para ver se a lasanha de carne estava pronta —, Milenka e eu
nos apaixonamos imediatamente uma pela outra. — deu de ombros — Foi uma
flechada.
— Brinca. — espetou, Sophie.
— Não, claro que não. Apaixonei-me pela criança. Como por seu pai. Mas
a seu pai custou sangue, suor e lágrimas reconhecer isso, perceber que estava
louco por mim. — Quando comprovou que o queijo fundido ainda não estava
suficientemente dourado, voltou a fechar a porta. — Agora vivemos os três
juntos. E parece que estamos indo bem. Exceto por essa estranha mania que
tem de deixar por toda a casa os pacotes dessas benditas balas russas…
Sophie meneou a cabeça assombrada enquanto jogava todos os cubinhos
de verduras na frigideira com o refogado e o molho picante.
— Os três vivem aqui? Por isso há bolas de plástico das Bratz no jardim e
uma bicicleta rosa?
Cleo se pôs a rir e deixou Rambo no chão de parqué. O cachorro correu
para cheirar as pernas de Sophie.
— Claro. Não pensou que isso era meu, não? — disse Leslie apontando
para ela com a espátula da cozinha. — Cuidado com o cachorro, que tem mais
incontinência que um ônibus de aposentados. E se não, que Markus conte o que
ele fez assim que o viu…
— E onde está Milenka agora? — perguntou admirada.
— Está com seus avós. Minha mãe insiste em chamá-la de Milkybar e a
levam a todos os lados como se fosse um chaveiro. Adoram-na. O certo é que
agradeço muito tê-los perto porque Markus e eu também precisamos de nosso
tempo… Já sabe.
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enorme para amar e para perdoar, Sophie. Nick certamente é um pai maravi…
— deteve-se ao notar que o olhar prateado de sua irmã lhe ordenava que se
calasse.
Porque Sophie já não escutava. Sua mente vagava perdida, imaginando
seu muito bonito ex-marido desfrutando da doçura de uma menina que não era
a sua, e tudo porque ela o tinha proibido. Porque o proibiu tudo e muito mais.
Por mais que com o tempo tivesse tentado arrumar as coisas, parecia que já não
podia remendar o que foi rasgado.
— Denunciei meu marido por maus tratos. Estraguei sua vida. — Olhou-
as no rosto, encarando-as com valentia, assumindo sua parte de culpa com um
franzir de lábios que parecia anunciar o pranto. O arrependimento era muito
pesado para se liberar com uma confissão em voz alta. — Puseram contra ele
uma ordem de afastamento. E arrebatei a custódia de Cindy. Acham que há
redenção para mim? De verdade acham que Nick tem o coração tão grande para
esquecer? Porque, sinceramente — levou a mão ao coração —, eu acredito que
não.
Nesse instante, Nick entrou na cozinha com o celular na mão. No seu
rosto puderam ver uma repentina angústia.
Sophie mudou o semblante assim que o viu.
— O que aconteceu? — perguntou-lhe.
A situação já era por si só delicada, mas por seu gesto compreendeu que
tinha acontecido algo ainda mais grave.
Nick hesitou um momento, engasgando com suas palavras até que disse:
— Internaram Cindy.
***
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Maria ao telefone com atenção. Sua mãe, nervosa, estava contando o que
acontecia.
— Agora está estável. — disse — Eu te juro, querida que… não
imaginava…
— Calma, mamãe. Não podia saber.
Maria ficou calada, soluçando sem controle.
— Tiveram que pôr um tubo nela… um tubo pela boca para que pudesse
respirar! — gritou desesperada. — Pobrezinha, minha pequena!
— Mamãe, por favor, acalme-se… Agora vamos para lá. — Sophie tentava
manter uma voz serena que inspirasse confiança em sua mãe, mas a pobre não
escutava ninguém. — Chegaremos em meia hora. Me avise se houver mudanças.
Dirigiam-se ao hospital regional de Thibodaux. Ali tinham bons médicos
que os atenderiam e que se assegurariam que Cindy se recuperasse.
Nick estava suando. Permanecia impassível enquanto conduzia com frieza,
incapaz de falar com ela ou acalmá-la quando mais precisava dele.
— Nicholas — esfregou a testa, cansada de tantos problemas —, se
pararmos em frente a alguma farmácia preciso comprar uma bomba para tirar
leite. Já faz cinco dias que não dou de mamar a Cindy — explicou um pouco
envergonhada —, e meus seios doem muito… Como não posso tocar nenhum
cartão de crédito, precisarei que você compre.
Nick se ergueu e deu de ombros, sem saber muito bem o que responder,
nem com o humor apropriado para falar, nem de leite nem de nada.
— Sei que está zangado, mas…
— Uma intoxicação… — sussurrou, um pouco incrédulo. — Como é
possível que seus pais não soubessem que Cindy era alérgica a isso?
— Não podiam saber disso. — ela os defendeu. — Saíram para dar uma
volta com uns amigos e com a Cindy. E a manhã se estendeu. Chegou a hora de
comer, e minha mãe comprou uns potinhos de papa de frutas e cereais como os
que eu lhe dou às vezes… Aparentemente esa papa tinha um pouco de soja e foi
isso o que ocasionou a… anafilaxia. — Sua voz se quebrou.
Nick apertou o volante com força. Imaginava a sua pequena doente e
sufocando e sentia vontade até de vomitar.
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como se não quisesse deixá-la nunca mais ir. — Tinha tanta vontade de falar
contigo… Sinto tanto sobre Cindy. Já diminuiu a inflamação, graças aos anti-
histamínicos, e tiraram o tubo… dentro de pouco tempo despertará. Como
lamento!
— Vamos, mamãe. — Sophie tentou acalmá-la. — Não foi nada. Não a
culpo. O importante é que ela está bem.
Carlo também se uniu ao abraço, embora de vez em quando olhava para
Nick com uma expressão que ele não soube decifrar. Parecia uma desculpa.
Parecia envergonhado por algo.
Quando acabaram os abraços, Rob, que parecia ter se convertido no
melhor amigo da vida inteira de Sophie, pôs o braço por cima dela, retendo-a
para que não se afastasse.
Nick, quem jamais teve úlceras, sentiu uma acidez e um ardor na boca do
estômago. E era inevitável: Sophie era sua e odiava que um cara de bunda
magra como esse, com pinta de garoto de praia metido a empresário, vestido
com roupa cara, polo verde escura e calças plissadas se acreditasse não só
melhor que ele, mas o melhor homem para ela.
— Por que não sei nada de você desde que retornou de Chicago? — Rob a
aproximou de seu corpo de maneira carinhosa.
“Muito, canalha” pensou Nick, cruzando os braços sem afastar o olhar
deles.
— Você tampouco ligou. Além disso, estive muito ocupada. — respondeu.
Rob não podia saber o que tinha acontecido. Nem ele nem ninguém. Só os
amigos de Nick e seus pais.
Ele olhou por cima do ombro para Nick, como se fosse uma figura
estranha fora desse quadro Ciceroni.
— O que ele faz aqui? — perguntou Rob um pouco carrancudo. — Por que
voltou a falar com ele? E essa horrível tatuagem que usa?
— Rob — Carlo o repreendeu e balançou a cabeça —, agora não é o
momento.
— Como não? — repetiu Rob, completamente perdido. — Se precisava de
alguma coisa, Sophia, podia ter recorrido a mim. — Olhou-a decepcionado. —
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Não tem por que ver mais esse sujeito. Não a entendo. Ou por acaso esqueceu o
que…?
— Senhor Ciceroni — Nick, que precisava sair dali para não esmagar a
cara de Rob contra a parede, afastou-se da entrada e chamou o seu ex-sogro —,
disseram qual vai ser o quarto da minha filha?
Carlo assentiu e caminhou até Nick, decidido.
— Sim. Vamos, acompanho você.
Sophie estudou Nick por cima do ombro. Ao ver aquela expressão tão
pétrea e tensa, afastou o braço que a agarrava e se afastou de Rob sem
responder a sua aberta proposta.
— Sei me cuidar sozinha, Rob. Tenho minha própria vida. Não se meta.
Estava acostumado que Sophia o rejeitasse, mas aquele último exemplo
na frente de Carlo e Maria o envergonhou.
— E quanto a mim? — perguntou a ela. — Eu me preocupo com você. —
bateu no peito, agindo com exagero. — Não pode ser que se veja outra vez com
este orangotango que fez o que fez…
— Rob. — murmurou Nick com voz assassina, afastando-se com Carlo.
Melhor dizendo, Carlo o agarrou pelo braço e o arrastou para levá-lo com ele e
evitar um assassinato. — Acredito que não é bom que use Sophie dessa maneira
para tomar conta da Azucaroni. — Sabia. Rob era uma fraude. Soube desde o
primeiro momento. Essa simpatia de puxa-saco só podia significar uma coisa:
queria a empresa. — Se é isso o que quer, assegure-se de se meter na cama
adequada. E não é a de Sophia. É a de Carlo.
— Filho da puta. — grunhiu Rob, indo para ele.
As duas mulheres o detiveram.
Sophie ficou com a boca aberta ante as palavras de Nick. Sabia que Rob
jamais lhe caiu bem, e mais ainda depois da atitude superprotetora e um pouco
cínica que tomou quando pediu que a acompanhasse no dia do divórcio. Com o
tempo, ela mesma tinha começado a ver Rob de outra maneira. Nem sequer era
um bom amigo. Depois de sair da Azucaroni, ele não ligava pra ela para
perguntar como estava nem fazia favores com a Cindy, pois não tinha jeito com
crianças… Rob só falava com ela e fingia preocupar-se quando estavam na
frente dos seus, em suas visitas. Queria ganhar pontos como futuro genro, sem
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cair na conta de que era a ela a quem devia fazer apaixonar. E isso era
impossível porque Sophie se apaixonou uma vez por Nick. E continuava
apaixonada por ele, embora ele a odiasse.
— Rob — disse Maria tentando acalmá-lo —, acredito que deve ir. Nick é o
pai de Cindy e seus comentários não são apropriados.
— Mas todos enlouqueceram? Esse sujeito é um abusador. — assinalou,
aborrecido.
— Agradeço que tenha vindo se interessar por nós — continuou Maria —,
mas vamos ficar bem. Diga a seus pais que está tudo sob controle.
— Senhora Ciceroni — disse ruborizado, inclusive seus óculos tinham
torcido —, como podem permitir que Sophia se veja de novo com esse bastardo?
Ela ia saltar em sua defesa, mas assombrada comprovou que sua própria
mãe cravava Rob em seu lugar com um olhar feroz daqueles olhos escuros.
— Não permito que fale assim dele. Nicholas está cuidando de… —
obrigou-se a calar, pois ninguém devia saber o que estava acontecendo na
realidade. — As coisas nunca são o que parecem. Ele tem todo o meu respeito.
Por favor, agora vá. Agradeço seu interesse, Rob. — concluiu com educação.
Rob franzia o cenho, olhando de uma para outra.
— Basta de numerozinhos, Rob. Escute minha mãe. Adeus. — Sophie
rodeou Maria pelos ombros e seguiu seu pai que, acertadamente, levou Nick.
Um confronto a socos entre Nick e Rob era igual a um entre Hércules e
Harry Potter.
Não tinha comparação.
No elevador Nick tomava ar pelo nariz, tentando tranquilizar-se para não
descer de novo e amassar Rob, que era um bebezão provocador e puxa-saco.
— Nicholas, saimos com os pais de Rob para almoçar. Eles nos
convidaram faz um tempo e temos boa relação. Por isso ele soube do acontecido
e veio para cá. Nem eu nem minha mulher o chamamos. — esclareceu nervoso.
— Sabemos que Rob não ia dar nada certo aqui… mas não pudemos evitar.
Lamento.
— Perfeito, então. Almoço entre futuros sogros. — acrescentou sarcástico.
Separou-se de Carlo e arrumou a camiseta. — Fico feliz por vocês. Rob não lhes
dará problemas.
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CAPÍTULO 11
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— Eu não quero que faça nada com ele. — finalizou Maria — Só quero
justiça. A que Rick não teve. Eu… — Levantou o queixo segura de sua seguinte
sentença. — Eu só quero o que qualquer mãe quer cuja filha feriram: quero que
o pegue e que arranque sua pele em tiras.
— Mamãe!
***
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Sophie franziu o cenho e girou a cabeça para ele. Não imaginava que
tivesse que fazer algo para demonstrar o muito que devia a ele por tudo o que
fazia por ela. Mas seja lá o que for, o que quer que pedisse, faria.
— Claro, Nick.
— Perfeito.
Desviou-se da estrada e tomou um atalho de caminho de terra que o levou
a um beco sem saída, em meio de uma área de bosque.
— Nick? O que faz?
Deixou o carro estacionado sob uma árvore e tomou ar pelo nariz, olhando
à frente.
— Há algo que sempre quis fazer.
— O que?
— Seus seios doem?
Sophie assentiu sem mover um só músculo de seu corpo.
Nick desafivelou o cinto de segurança e desafivelou o dela. Tirou os óculos
de sol e os deixou sobre o painel do Evoque.
— Tenho em mente o que me disse sobre a bomba de leite. Não pude tirar
isso da cabeça desde que mencionou.
— Como? Pois então… vamos comprá-lo em alguma farmácia.
— Não.
Sophie engoliu em seco e repetiu:
— Não?
Nick negou com a cabeça e girou o corpo para ela, colocando um braço
por cima do encosto do assento.
— Desde que começou a dar o peito a Cindy sempre quis tirar de você.
Primeiro me enternecia vê-la alimentando a minha filha, mas depois ficava
excitado. Pensava que depois que desse a ela, eu também queria te sugar e
desfrutar de você. Ficava louco pensando no prazer que podia te dar, no sensível
que teria os mamilos e no frenética que ficaria se lambesse seu seio e o
esvaziasse para diminuir o inchaço e acalmar a dor.
— Nick… — sussurrou Sophie.
— Mas nunca fiz isso porque você estava um tanto arisca comigo e não
queria fazer sexo. Eu a compreendia. Li muito para entender o que acontecia
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com seu corpo e suas emoções, sabe? — Engoliu em seco, fixando seus olhos
aos dela sem piscar, hipnotizando-a. — E quando decidi tocá-la, aconteceu o
que aconteceu e perdi a oportunidade de fazer o que desejava com você e…
Nick ficou calado assim que viu que Sophie, com total decisão e sem
pigarrear, tirava a camiseta por cima da cabeça e ficava vestida somente com
aquele sutiã preto.
Ele cravou seu olhar dourado em seus seios. Justo quando Sophie ia
desabotoar seu sutiã pela frente, ele a deteve com uma mão.
Isso a fez sentir-se insegura e avermelhar.
— Não… quer?
— Tire a calça também. — ele ordenou.
Ela assentiu, levantou a cintura para desabotoar a calça curta e descê-la
por suas pernas torneadas. Usava a calcinha combinando, preta. Deixou a calça
amontoada sobre a camiseta e o olhou um pouco submissa. Nick a desejava
assim e ela adorava que lhe desse ordens. Estava esperando a seguinte,
impaciente e com o coração descontrolado.
Ele grunhiu, puxou-a pela cintura e a sentou de pernas abertas sobre sua
pélvis. Seus seios ficaram à altura de seu rosto e afundou seu rosto neles.
Sophie fechou os olhos e desfrutou desse momento de entrega sincera.
Sim, aparentemente Nick desejava isso de verdade. E isso era a única coisa boa
entre eles. Que o desejo não morria e que agora, com seus novos papéis, parecia
aumentar como nas labaredas da paixão mais visceral.
Let them cool, We both know They don’t wanna see us together Don’t
wanna lose, What I live for I’m willing to do whatever Cause I don’t wanna see
you cry Give it another try.
Ele levantou as mãos e as dirigiu ao fecho da frente, que abriu com um
leve jogo de dedos.
Seus seios, inchados e com dois tamanhos a mais que antigamente,
emergiram do nada como duas montanhas nevadas.
Nick não podia articular uma palavra. Não os tocou na noite anterior, não
podia fazê-lo ou do contrário perderia a atitude dominante que queria imprimir
à domesticação. Porque não havia nada mais belo que os seios de Sophie, que
alimentavam a sua filha, que resguardavam seu coração e que refletiam tanta
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— Ah, por favor. — suplicou ela entre tremores. A única boca que havia
sentido aí desde que deu a luz foi a de sua menina. Mas Nick tinha uma boca
completamente diferente: vinil, forte e sedutora.
— Quer que mame, Sophie? — Arqueou as sobrancelhas sem deixar de
lambê-la.
Ela só podia pensar que se o sexo era um modo de se religar, de voltar a
amar, de se aproximar, usaria-o e o utilizaria com empenho.
Assentiu com a cabeça.
Nick engoliu o mamilo e começou a absorver.
O leite de Sophie, quente e doce, emanou até sua garganta e ele começou
a engolir. Ela gemeu com força, cravando as unhas no couro do assento,
desfrutando do tato de seus dedos em seu sexo, em seu interior, e da suavidade
e da dureza de sua língua contra seu seio.
— Que deliciosa está, Sophie. — disse ele indo pelo mesmo mamilo,
vermelho, endurecido e um pouco marcado pelos dentes.
Ela não podia nem pensar. Os dedos obravam sua magia. Estava tão
inchada e escorregadia que ia manchar a calça de Nick. Mas então ele desceu o
zíper da calça e tirou sua ereção para que tomasse ar.
— Quer que seja melhor?
— Sim, sim… — respondeu ela.
— Então se quiser que seja melhor, quero que o introduza em você por
completo, Sophie.
Ela se deteve um momento e o olhou de frente. Seus cílios oscilaram,
desafiantes. Ergueu o queixo e abriu as pernas para introduzir sua mão entre
elas e agarrá-lo com segurança. Nick estava tão duro e quente que parecia
queimar.
— Vamos, me coloque. — animou ele, ereto como um mastro.
Quando Sophie sentiu o prepúcio estirando e alargando sua entrada,
agarrou-se com a mão livre ao cabelo de Nick como se ela fosse a dominante. Ele
nem se alterou, mas seu semblante mudou a um de puro prazer quando
experimentou a mão ardente que era o útero e a vagina estreita de Sophie.
— Ah. — queixou-se ela, permitindo que ele entrasse até bem fundo e que
continuasse.
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Ele engoliu em seco, aflito por sua sinceridade. Segurou-a pelo queixo e
passou o polegar por seu lábio inferior com infinita doçura.
— O que se diz, Sophie?
Uma pergunta que esperava uma resposta. Era uma reivindicação do que
ele era, daquilo no que se converteu por puro prazer, por sua própria vontade.
Nick era seu amo e senhor. Ela era dele.
— Obrigada, senhor. — respondeu Sophie com um brilho ainda mais
desafiante que antes nos olhos.
Deu-lhe um beijo fugaz na bochecha e deu partida no Evoque, de novo
para Tchoupitoulas.
Ali os esperavam novas e suculentas notícias.
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CAPÍTULO 12
Estavam indo de novo para a casa de Leslie e Markus, mas uma chamada
de Lion os desviou de seu caminho e os dirigiu à rua Decatur, perto do bairro
Francês. Romano assegurava que o proprietário do carro que tinha tirado o
japonês do estacionamento, cujo nome era Eita Makoto, vivia em cima de um
local que era uma espécie de centro de massagens de ambiente com final feliz. O
local se chamava Onegay. E Eita era o dono.
A fachada do local tinha motivos orientais, luz com lanterninhas
vermelhas e era revestido de madeira escura e vermelho escuro.
O entardecer caía sobre Nova Orleans e tingia o céu de nuvens carregadas
de tempestade que não pressagiavam nada bom.
Quando estacionaram, Lion tocou a janela de Sophie com a palma. Ela
deu um salto, assustada.
Pensavam que iam intervir nesse centro de massagens?
Começava a chover com força. Romano estava completamente ensopado.
Seus olhos azuis olhavam Nick de frente. Assinalou com o indicador a fachada
que ficava às suas costas.
— É aqui. O cara não está em casa. Tentaremos no local. Desça rápido do
carro e entre conosco.
— Nick — deteve-o Sophie pelo braço —, o que vai fazer?
— Você fica na parte de trás e não saia.
— Não, não… Não pode me deixar aqui.
Nick saiu do carro rapidamente e o fechou, deixando Sophie ali, que ainda
estava tirando o cinto de segurança.
Ao ouvir o som das travas e ao se ver presa, ela entrecerrou os olhos e
fulminou Nick com o olhar.
— Não pode me deixar à margem disto! — gritou batendo no vidro com os
punhos.
— Claro que posso. — respondeu do outro lado. — Cleo está te vigiando do
Wrangler prateado que há ali em frente. — disse apontando para ela.
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Nick sabia que seja quem for que estivesse no outro lado veria sua enorme
silhueta e saberia que Nami subia acompanhada, assim não hesitou. Empurrou
Nami ao interior da sala e esta caiu ao chão.
Na frente dele, um homem vestido de gueixa com um corpo afeminado,
pálido e nada musculoso, caminhava sobre as costas nua de Eito, que tinha o
rosto levantado e olhava para Nick completamente imóvel pelo medo.
A massagista desceu de cima de seu paciente com um salto ágil. Lion
apontou sua pistola para ele e recomendou que calasse e não se movesse.
Nick sorriu com frieza e agarrou Eito pela garganta. Levantou-o com uma
força bruta da maca coberta com um lençol branco, cheio de suor e essência de
óleo e canela. Todo um afrodisíaco.
Eito gostava dos homens.
Nick o intimidou com seu corpo, pois parecia ter o dobro do tamanho dele.
Falou em japonês.
— Onde está o sujeito que você levou do estacionamento ontem à tarde?
Onde?! — gritou colocando o canhão da pistola debaixo do queixo dele.
Eito suava profusamente. Tinha ficado pálido.
— Como vocês sabem? Como…?
— Não me irrite, Eito. Diga onde está o sujeito que levou. Está aqui?! —
Nick o sacudiu e esmagou sua cabeça contra a maca, depois apoiou o canhão da
pistola em sua têmpora.
— Não… Não… não está aqui.
— Como se chama?
— Não sei…
— Não sabe? — Nick deu um murro no seu rim. O homem gritou como
uma mulher, juntando as mãos como se rogasse que o deixasse em paz. — Um
sujeito que não conhece liga para você e passa para pegá-lo? Agora me
responda…
— Não o conheço. Ju… juro. — continuou ele — Eu… Minha família tem
uma dívida com um clã do Japão. Me… Eles nos ajudaram a montar este… este
negócio… Esse homem é desse clã.
— Que clã?
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AMOS E MASMORRAS – PARTE VI
— Yama. O clã Yama. Têm meu contato, se por acaso alguma vez
precisarem da minha ajuda… e ontem me ligou. Ele me ligou porque precisava
de mim… sou médico.
— Faz parte do clã Yamaguchi?
— Sim. Eu… o peguei e tratei. Tratei sua perna. Disse-me que esta noite
passariam para pegá-lo em algum lugar… Espera umas pessoas.
— Onde? Onde presume que vão pegá-lo?
— Não sei… Esta noite… ouvi algo de uma rota na rua Bourbon. Um
encontro especial no Cat´s Meow.
— Um encontro?
— Sim. Há uma festa estranha ali… não sei o que é. Mas escutei que ia
ali.
Nick apertou os dentes e retirou a trava da pistola.
— Se estiver mentindo…
— Juro que não! Não! Não minto! — Começou a chorar. — Por favor, não
me mate! Não me mate!
Nick o deixou cair ao chão como se fosse gelatina. Eito desmaiou com
lágrimas nos olhos.
— Lion… Conhece o Cat´s Meow? — perguntou a ele.
Lion olhou para Nick consternado com a sobrancelha partida arqueada e
uma expressão de surpresa em seus olhos.
— Porra. Sim.
— Este cara diz que nosso homem vai estar lá esta noite.
— E que merda ele fará lá?
Desta vez foi Nick quem devolveu seu olhar, preocupado.
— Por acaso sabe o que acontece ali esta noite?
— Diabos, BDSM falso. E você não sabe?
— Do que fala?
— Uma vez por mês os praticantes de BDSM de Nova Orleans se reúnen
no Cat´sMeow.
— Ali? Para jogar?
— Não. — Lion coçou o queixo com o canhão de sua pistola. — O jogo está
sempre ali entre nós. Trata-se do miado do gato, sabe o que é?
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AMOS E MASMORRAS – PARTE VI
— Não.
— Cantar e se divertir. É um karaoke.
Magnus e Tim se asseguraram de silenciar os membros que havia no
Onegay. Tinham que vigiá-lo durante vinte e quatro horas, e cortar a luz e a
energia para que dali não saísse informação alguma que pudesse alertar ao
tatuador sobre uma possível ação policial. Nem chamadas. Nem computadores.
Nem mensagens. Pegaram todos os celulares e os desligaram, e os deixaram
incomunicáveis e com vigilância.
Enquanto isso, Nick e Sophie chegaram à sua casa. Ela estava muito
irritada e ele tentava aguentar o aguaceiro.
— Sophie, esta noite também vai ficar aqui em vigilância… — Fechou a
porta atrás dele e olhou para ela, esperando que lançasse alguma coisa na sua
cabeça.
Ela se virou decidida a enfrentá-lo e a massacrá-lo a insultos.
— Não pode me deixar presa esperando sua volta! Não pode me prender
em seu maldito carro e pensar que vou me sentir lisonjeada por que se preocupa
comigo! Faz com que me sinta impotente!
— Pois mais impotente vai se sentir porque esta noite ficará aqui. Vou
atrás do desgraçado que te fez isso e acabar com isto de uma vez por todas. Não
vou colocá-la em perigo só porque você quer. Isto não é um jogo. Já se meteu no
meio do torneio de Dragões e Masmorras DS. — explicou com calma. Cruzou os
braços e se apoiou na porta.
— Não pode jogar isso na minha cara quando eu nem sequer sabia o que
acontecia ali! Fui até lá por você! Isto é diferente. — Empurrou-o com todas suas
forças e seu corpo enorme impactou de novo na porta. Depois levantou o
indicador e apontou para ele. — Não vou permitir que me deixe aqui presa
quando todos estão arriscando a pele para me proteger.
— Sim, vai fazer isso. — Nick se agachou rapidamente e a agarrou pelos
braços, carregando-a sobre um ombro.
— O que faz, Nick?! Desça-me! — Esperneou e golpeou com força a parte
baixa de suas costas, mas esse homem era duro como uma rocha.
— Vou prendê-la no quarto do pânico no andar de baixo. Eu te prendo,
soluciono a situação esta noite e depois a tiro.
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relacionada com yakuzas. Não podia compreender isso, por mais que se
esforçasse nisso. — Calma, princesa. — sussurrou carinhosamente. — Não vou
deixá-la sozinha.
Sophie sabia, mas isso não impedia que se sentisse frágil e insignificante;
uma vida a menos que um grupo de pessoas decidia pôr fim, sem importar se
tinha filha, marido ou família…
— Eu não fiz nada. A única loucura que cometi foi participar do maldito
torneio. E você, Nick? — Afundou o rosto, ensopando seu pescoço de lágrimas,
acalmando-se com seu contato. Como sempre.
Nick olhou para Karen, que piscava com seriedade esperando uma
resposta que limpasse aquelas interrogações.
— Quando estive no Japão, não deixei contas pendentes com ninguém. —
assegurou — Clint e eu completamos a missão e partimos.
Karen deu de ombros. Não entendia.
— Pôde entrar nos dados dos licitantes das submissas do torneio?
Nick negou.
— O programa ainda está decodificando os dados. Estou dentro dos
arquivos do FBI, mas vou com um camuflador. Isso faz com que abrir o material
cifrado seja um processo mais lento. Eu o tenho em funcionamento desde
ontem. Ainda falta vinte por cento.
— Talvez a chave que nos falta esteja nesses dados. Seja como for… com a
Yakuza só se pode negociar, Tigrão. E só se pode sobreviver a ela se tiver outro
clã te apoiando. Precisa de ajuda, Nick. Do contrário, jamais estarão a salvo. —
concluiu.
Nick sabia bem, conhecia as leis do Japão. De todas as máfias temíveis, a
japonesa era a mais cruel e persistente. Precisava de ajuda para negociar. E
para negociar, o principal era pegar Daisuki com vida. Esperava encontrá-lo
essa mesma noite no Cat´s Meow. Se interrogasse o irmão mais novo do
Imperador, talvez tivesse uma oportunidade de sair com vida de tudo aquilo.
Porque uma coisa estava clara, por mais diferenças que pudesse ter com
Sophie, se lhe acontecesse algo, ele iria com ela.
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CAPÍTULO 13
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missão tivesse conotações sexuais, todos sabíamos quem éramos e qual o nosso
papel. Não havia tempo para beijos quando tinham vidas em jogo. Nossos
parceiros perderam a vida, sabe? E acha que Nick esteve trocando beijos
comigo?
Sophie sentiu vergonha por ter perguntado uma coisa dessas. Mas o
ciúme e a insegurança a consumiam. Dominava-a o arrependimento e o medo
de que Nick não a acolhesse de novo em seu coração. Dominava-a o desespero
de ter se equivocado tanto.
Karen, que tinha um sexto sentido para ler o que as pessoas sentiam,
aproximou-se dela, compreensiva.
— Sophie, um dia estamos aqui e no outro não. Não perca a
oportunidade de dizer a Nick quanto o ama. Agora que ambos estão aqui, não
perca tempo em recriminações e medos. Porque de um momento para o outro
ele pode voltar a te corresponder. Ou de um momento para o outro ele pode
desaparecer para sempre. — Penteou sua franja com os dedos. — É uma mulher
incrivelmente forte e corajosa. E Nick sabe disso. Quanto mais vezes disser que
o ama, mais lembrará que ele também a ama. Certo?
Sophie assentiu e fungou.
— Não vá chorar ou sua maquiagem vai escorrer.
— Tem razão, sinto muito.
— Esta noite, não esqueça — colocou bem nela o colar de couro que
levava ao pescoço — que terá muitos pares de olhos em cima de você. Todos
estamos aqui por Nick, porque o amamos muito e sempre esteve lá para nos
ajudar. Foi muito duro para ele o que aconteceu com vocês, mas se esqueceu de
sua dor para dar uma mão aos outros.
— É um grande homem.
— É. Por isso não o desobedeça. Ele vai estar contigo em todos os
momentos e nós cobriremos todo o local. Escute-o, entendido?
— Sim, Karen. — Exalou mais relaxada e levantou o olhar para a agente.
— Obrigada.
Karen piscou um olho para ela.
— Não há de quê.
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Cat´s Meow
Bourbon Street
Negro e vermelho.
Ambiente um pouco gótico e secreto.
Homens e mulheres em couro e látex.
Palmadas, sons de chicotes que fluíam no ar, música que ressoava em
cada canto secreto do local.
Gemidos. Gargalhadas. Súplicas.
E miados de gatos e gatas.
O mundo do BDSM em estado puro se reunia uma vez poro mês no Cat´s
Meow. Para Nick, que jamais tinha assistido a uma dessas noitadas em Nova
Orleans, aquele ambiente o afligia.
Muitos pareciam se conhecer, outros só eram convidados, e os mais
curiosos pagaram para entrar e ver essa noite especial e comprovar o que se
fazia ali.
Em outro momento, em outra situação, Nick apreciaria ver as expressões
de Sophie e de jogar com ela em um quarto privado. Mas naquela noite, tanto
ele como seus companheiros, corretamente caracterizados com máscaras e
capuzes, estavam ali a trabalho. Porque queriam proteger Sophie de qualquer
perigo. E Nick, companheiro de seus parceiros, não sabia como agradecê-los.
— Loira — disse Markus através do comunicador — a saída do local está
coberta. Leslie e eu cuidamos dela.
Nick sorriu para si mesmo e respondeu olhando para Sophie, como se
falasse com ela.
— Perfeito, russa. E Romano?
— No jardim. — respondeu Lion — Habilitaram umas barracas privadas
com tecido preto. Nós nos encarregaremos de checar os grupos que passarem
por aqui.
E ali, entre homens que adoravam mandar e mulheres que adoravam
obedecer, estavam Nick e Sophie, não para dominar um ao outro, mas sim para
protegê-la e conseguir salvar sua pele diante de sua maior ameaça: a Yakuza.
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amos e submissos. Não se aceitam fotos, não permitiremos que ninguém toque o
que não deve tocar. Podem desfrutar da experiência de ver um modo de amar e
acariciar que nunca viram antes, porque não nos envergonhamos nem de
nossos corpos nem do que fazemos com eles, mas nem pensem que isto é uma
orgia ou um clube de prostituição. Aqui nos divertimos, respeitamo-nos. E se
alguém se exceder… — tirou um chicote que tinha pendurado na parte traseira
da calça —, eu o cortarei. — Sharon desceu do palco e moveu o chicote de cima
para baixo em ziguezague.
Os homens assobiaram, aplaudindo-a por seu discurso.
— Ei, Rainha! — gritou um homem enorme de cabelo comprido negro e
barba perfeitamente raspada. — E o que faço sem mão?
Ela o olhou por cima do ombro e sorriu, embora fosse mais alta que ele.
— Quem disse, Tom, que me referi à mão?
Todos riram ante sua geniosidade, também Nick e Sophie. Assim que se
deram conta de que ela se aproximava, instintivamente ele tomou a mão de
Sophie entre as suas. Conhecia as artimanhas e os jogos daquela deusa da
dominação e não deixaria que os pusesse em um compromisso.
Sharon, com seus andar de predadora, deteve-se ante eles e arqueou
uma de suas sobrancelhas loiras, tão altiva e inalcançável quanto ela.
— Não sei se devo me alegrar ou não de que Sophiestication e Tigrão
estejam aqui. — murmurou analisando-os de cima abaixo com o olhar.
— E por que não deveria se alegrar, Rainha? — perguntou Nick.
— Porque, se não me falha a vista, o Wrangler de Lion Romano está
estacionado na rua, e juraria que vi o russo e a irmã de Nala revoando pela
parte dos fundos deste local. E quando estão juntos sempre acontecem coisas
um tanto… alarmantes… e sempre me pegam no meio. — Pegou uma taça de
champanhe para tomar um gole.
Nick franziu o cenho. Sharon era tão observadora como vivos eram seus
olhos. Muito. Uma mulher qualquer não repararia nesse tipo de detalhes, mas
uma domina — e não uma qualquer, mas sim a mais popular de todas —
controlava inclusive as vezes que ele piscava.
— Nick queria que eu comparecesse esta noite ao Cat´s Meow. —
assegurou Sophie controlando sua voz perfeitamente.
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Sharon concentrou toda sua atenção nela até que reparou em sua
tatuagem com corpo de dragão e mulher.
— Não combina nada com você. Mas é muito sexy. — disse olhando ao
redor como se esperasse que a qualquer momento alguém aparecesse.
— Obrigada.
— De nada. — Exalou com elegância. — Bom, estou esperando que me
digam o que está acontecendo. Sei tudo sobre vocês. Estão divorciados e agora
os vejo juntos aqui… Sei que se encontraram no torneio, mas então você —
Sharon se aproximou dela e acariciou seu queixo com o chicote — era a
submissa da minha amiga Thelma. — Por um momento, aqueles olhos tão
claros escureceram com pesar. Mas logo reagiu. — E Nick fez um trio com vocês.
Naquele momento não sabia quem era ninguém de seu grupo. Agora já sei tudo
e o que vejo me deixa nervosa, porque suspeito que tanta gente com distintivo
não comparece a uma noite de BDSM só por acaso. E já aconteceram muitas
coisas em Nova Orleans para não me preocupar.
Nick levantou o canto do lábio e sorriu sem poder evitar.
— Domina não só de título, não é?
— Simplesmente não quero que a merda respingue na gente outra vez.
Meu mundo deve ser respeitado. Está cheio de pessoas boas. Não posso permitir
outro escândalo. Vamos lá, Tigrão, vamos deixar de tolices e me diga o que
fazem aqui.
Nick sopesou se devia lhe dizer a verdade. Sharon conhecia todo mundo,
era uma relações públicas muito competente. Cairia bem um par de olhos de
águia como os dessa mulher. Não lhe escapava um detalhe. Assim, para sua
consternação, acompanharam Sharon a um pequeno local privado onde Nick
pediu sua ajuda.
— Procuramos um japonês. — mostrou a imagem da foto que tinham de
busca e captura. — É um sujeito perigoso e temos que pegá-lo hoje mesmo. —
Não ia perder mais tempo.
— Um japonês? — Sharon sorriu incrédula ao olhar sua foto, estudando-
a e gravando-a em sua mente como faria o visor de uma câmara. — Sabe a
quantidade de grupos de chineses e japoneses que visitam os clubes, os locais,
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Ter que proteger a mulher que tinha virado sua cabeça não era do agrado
de ninguém. O medo que algo acontecesse com ela não o deixava em paz. E mais
agora, quando Sophie parecia compreendê-lo melhor do que nunca, agora que
estava se esforçando tanto para que a perdoasse.
Amava-o de verdade? Não se assustaria com ele nenhuma vez mais?
Antes teria apostado a vida pelo amor da Sophie. Mas um erro jogou tudo por
terra e isso o fez se sentir frágil e miserável.
E nunca mais queria voltar a sentir-se tão infeliz e tão pouco
correspondido.
— Dança comigo, Nick? — perguntou Sophie, olhando-o de soslaio. Seus
olhos amendoados cintilavam pelas luzes do pub. Mas aquele olhar dizia mais
do que parecia.
— Não podemos aqui. Aqui não. — disse como um tolo, engolindo em
seco, nervoso e assustado pelo amor que crescia em seu interior como se
ressuscitasse entre os mortos. Mas nunca tinha morrido. Quando as pessoas
amavam tanto como ele, nada podia morrer para sempre.
Sophie assentiu concordando, embora os quadris e os ombros se
movessem sozinhos.
— Não gosto de me esconder. — reconheceu Sophie com honestidade. —
Eu não gosto de pensar na ideia de que alguém pode me apagar do mapa a
qualquer momento e que vivo minhas últimas horas escondida de tudo,
assustada, sem um sorriso nos lábios. Lembra-se? — Olhou-o com uma risada
melancólica e emocionada. — Sempre dizíamos que morreríamos um ao lado do
outro, velhinhos. Sentados em uma varanda, agradecidos pela vida e por ter nos
encontrado. — calou-se um momento e afastou o olhar. — Sei que isso já não
vai acontecer… Não acredito que possa me aceitar de novo. Mas tampouco quero
viver como se estivesse morta. E passo muito tempo assim.
Nick a segurou pelo queixo e aproximou seu rosto do dela, olhando seus
lábios com desejo e ternura, sabendo que se a beijasse perderia o norte por
completo. Nesse beijo, sua decisão de continuar sendo duro e forte ficaria em
nada.
— Me escute bem. Não vai acontecer nada com você. Não permitirei.
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CAPÍTULO 14
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— Está muito louca. — colou-se a ela cintura com cintura, peito com
peito, tomando-a pelos quadris e lhe disse. — E eu adoro.
Sophie engoliu em seco e sorriu.
As pessoas ficaram surpresas ao ver como uma desconhecida era a que
provocava a Rainha para que fizesse algo, e que ela, depois de negar-se em um
primeiro momento, aceitava de bom grado.
A canção falava de duas mulheres que se amavam e de quão triste era
descobrir que um velho amor já não era correspondido.
E para o prazer de todos, Sharon e Sophie se converteram nessas duas
mulheres.
Poucas coisas como a música faziam com que Sophie se desinibisse
desse modo. Por isso, nesse palco moveu ombros, pernas e quadris como melhor
sabia, como se fosse a última vez.
Nada chamava mais atenção que duas mulheres belas e cúmplices
dançando juntas sem se importar com nada mais, embora no fundo de seus
corações, muitas coisas lhes tirassem o sonho e a paz.
«Te amo, te amo», she says to me I hear the pain in her voice Then we danced
underneath the candelabra, she takes the lead That’s when I saw it in her eyes, it’s over.
Then she said «te amo». Then she put her hand around my waist I told her
no, she cried «te amo». I told her I’m not gonna run away, but let me go.
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My soul is awry, without asking why I said, “te amo, wish somebody’d tell me
what she said» Don’t it mean «I love you”? Think it means “I love you”.
Nick não podia compreender por que se expor, por que se colocar ainda
mais em perigo.
Era sua insensatez? Não se dava conta do que estava fazendo? Por acaso
era seu medo?
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Sophie piscou contrita, mas não estava tão arrependida para não lhe
devolver o olhar.
Lion e Markus seguiram Nick ao Clube das Laffitte.
Cleo e Leslie olharam para Sophie e Sharon.
— Que diabos fez? — perguntaram as duas ao mesmo tempo.
Sharon bufou e moveu a mão como se ela não tivesse nada a ver com o
acontecido. Mas tinha e muito. Entretanto, era Sophie a responsável por tudo.
— Não foi nada.
Sophie se despediu de Sharon com seriedade, mas a outra segurou sua
mão e passou o polegar pelo dorso em um gesto surpreendentemente carinhoso.
— Ninguém tem que te dominar se não quiser. Ninguém deve te obrigar a
ser quem não é, Sophie. Ninguém deve te obrigar a amar como você não ama. É
livre para ser quem você quiser, não para ser o que os outros querem que seja.
Não esqueça.
Sophie sorriu entristecida.
— Eu já sei quem sou, Rainha. — respondeu sem hesitar. — O problema
é que entreguei o coração a alguém que já não me enxerga. Como você. —
Segurou seu pulso e roçou o cadeado em forma de coração com o indicador. —
Quem tem a chave deste coração? Um homem que te faz livre ou um carcereiro
que já não te deixa voar?
As palavras de Sophie deixaram Sharon, que sempre tinha resposta para
tudo, sem saber o que dizer.
E ao mesmo tempo a deixaram sozinha diante do homem pelo qual se
marcou, enquanto as Connelly se encarregavam de Sophie e a acompanhavam
ao Wrangler.
Uma vez dentro, sentada na parte de trás junto à Karen, Cleo olhou para
Sophie através do retrovisor com seus inteligentes e claros olhos verdes.
— Está bem? — perguntou — Nick já tem seu homem… Agora tenta
relaxar, Sophie. Já está fora de perigo.
Sophie duvidava. Angustiada como estava, apoiou a cabeça no respaldo
do assento, e com aborrecimento tomou ar pela boca.
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— Pode fingir tudo o que quiser. Pode se encontrar comigo e fazer como
se eu não existisse, pode mudar de calçada quando cruzar comigo, inclusive
pode fazer ouvidos surdos a meu nome, Sharon. Mas você e eu sabemos que o
que aconteceu em Temptations…
— Não fale disso, maldito! — Tentou mover-se contra ele, mas não pôde.
— Você sabe que quem a fodeu durante horas fui eu. Quem a dominou
fui eu. Quem te possuiu fui eu. E fiz sem camisinha. — recordou a ela — Não te
dá o que pensar? E se espera meu filho?
— Má sorte. — levantou o queixo com desdém — Minha amiga, a
Vermelha, já me acompanha… e está louco se pensa que seguiria adiante com
uma gravidez como essa. Jamais teria um filho com você. Agora, se me
desculpar... — Fez um gesto esperando que Prince a soltasse.
— Não dê uma de dura comigo, Sharon. Não finja. Nós nos conhecemos.
Não se importou em fingir no Temptations, não é? Não se importou em fingir
que não sabia quem era nem se importou em se entregar a mim… Seiscentos
mil dólares é muito dinheiro, não? Conheço muitas que fazem quase o mesmo,
mas cobram tarifas de cinquenta dólares.
Sharon estendeu uma mão inesperadamente e deu-lhe uma bofetada
descomunal que marcou o rosto dele e também a memória.
— É a última vez que me chama de puta. A última. — Apontou um dedo
para ele. Movida pela vergonha e a impotência que Prince lhe provocava,
começou a brigar com ele. — Não se atreva a jogar na minha cara o que faço,
quando você faz o mesmo! Você faz dominação e cobra por isso! Jogou no
torneio e se jogou ao que quis! E também o pagaram, cretino! Eu tive uma razão!
Qual é a sua? Cada vez que abre a boca, cospe uma nota das grandes, tem
dinheiro e vem de uma família rica. Mas igualmente cobra pelas domesticações.
Assim não me venha com joguinhos de dupla moral. Hipócrita!
— Para que quer esse dinheiro? — pressionou-a, ignorando seus
insultos. — Deve ser para algo importante, para ter aceitado transar comigo de
novo.
— Faça o favor de me deixar em paz! — sussurrou ela com a veia do
pescoço inchada e os dentes brancos apertados.
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— Não sei para que é, mas se quiser podemos repetir outra noite e te
darei mais seiscentos mil. Sem nada de beijos na boca, justo como você e Julia
Roberts em Uma Linda Mulher pedem. — Sorriu com maldade.
Sharon ficou olhando para Prince como se estivesse diante do próprio
diabo. Era tão lindo, tão bonito, tão perfeito, mas… tão cruel e estava tão cego
que nesse mesmo instante lhe deu pena. E sentiu pena por ela mesma também,
porque inclusive conhecendo todos os defeitos de Prince não podia deixar de
lado aqueles sentimentos tão contraditórios que tinha por ele, tão insuportável
como uma liga de metais.
Colocou a máscara de rainha do BDSM e sorriu, olhando-o como se toda
sua altura não tivesse importância alguma, porque para ela era um pigmeu.
— Seiscentos mil, diz? — Sharon se separou dele pondo em prática sua
atitude de “não chega nem à sola dos meus sapatos”. — Recorda que era uma
festa para arrecadar fundos? Coloquei um preço em mim, mas a verdade é que
nem você nem ninguém pode me pagar para que durma com ele. Considere-se
com sorte porque por um punhado de moedas pôde desfrutar de mim. Foi todo
um presente real, não acha? No final das contas, você é um príncipe e eu sou a
rainha.
Um músculo de impotência palpitou no queixo de Prince. Afundou a mão
no cabelo de Sharon e jogou sua cabeça para trás. Ele tentou beijá-la para
castigá-la, mas ela o afastou e retirou o rosto.
Nesse momento, duas mulheres entraram no banheiro. Sharon
aproveitou a distração para empurrar Prince com força, afastá-lo dela e abrir a
porta do lavabo.
Saiu de um salto, com rapidez e agilidade, ajeitando a roupa e colocando
o longo cabelo loiro por cima de um ombro.
Não olhou para trás.
Não pôde ver a cara de espanto e aborrecimento que Prince colocou
depois de escutar suas duras palavras.
Nem tampouco os olhos de um homem que desejava, como um
condenado, o próprio beijo da deusa Luxúria.
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CAPÍTULO 15
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provoca rejeição em mim, mas sim fez com que voltasse a me apaixonar por você
de um modo mais forte que da primeira vez!
— Mente. — sussurrou ele.
Como ia se apaixonar pelo que era e o que fazia? Essa noite se
converteria em um assassino por ela e mataria, venderia sua alma para que
deixassem em paz a mulher de sua vida. Deixaria para trás códigos morais e leis
para converter-se em um vingador, em um assassino. Eram os ossos do ofício,
mas ele já não estava a serviço do FBI… Era uma pessoa com contatos, meios e
armas para fazer de sua vontade a lei. E conseguiria. Por ela, era capaz de
deixar de ser humano, se assim conseguisse mantê-la a salvo.
— Não minto, estúpido ressentido! Estou assim porque nunca deixei de
te amar, embora não acredite nisso! — Agarrou-o pela camiseta e o aproximou
dela para beijá-lo, mas Nick não respondeu ao beijo, esquivo e mal-humorado
como estava. — Veio aqui só para brigar comigo?! — provocou-o — Hein, enorme
resmungão teimoso! Diz que esta noite vai arriscar tudo?! E aproveita o tempo
que resta para isto? Para me castigar? — Sophie tentou beijá-lo de novo, mas
Nick voltou a afastar o rosto. — Nick… — sussurrou — Nick… olhe para mim,
eu te imploro… — Voltou a beijá-lo até que pôde capturar seus duros lábios
para não soltá-los.
Uma dor surda aprisionou o peito de Nick, suas emoções, como um
cárcere que presa de seus incríveis sentimentos, explodiriam pela pressão como
uma bomba.
Sophie derramou duas enormes lágrimas.
— Nick… meu amor. — Encostou sua testa à dele. — Vai pensando no
que fiz de errado? Não quero que vá assim. Está me defendendo… está me
protegendo. Quero que vá sabendo que aceito cada uma de suas máscaras, cada
canto escuro de seu coração. É o homem da minha vida, e o que fizer estará
bem. Por mim estaria bem ficar aqui e esperar que arrebatem nossa vida
juntos… ou fugir e escapar da morte, mas fazê-lo um ao lado do outro… por que
não quero viver mais tempo afastada de você.
— Cale-se.
Ela negou com a cabeça.
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— Não quero me calar. Amo você Nick, e se vai lutar em meu nome,
quero que o faça sabendo que de nada servirá o que está nos acontecendo se
não retornar com vida para o meu lado.
— Maldita seja. — grunhiu ele, emocionado.
Sentia a adrenalina correr. Iria dentro de poucos instantes, tinha
esboçado um plano para afastá-los da Yakuza, mas não seria fácil. Ou
conseguia ou morreria tentando.
Markus, Karen e Lion o ajudariam: eram companheiros com todas as
letras, arriscariam tudo por ele.
Nick não podia acreditar como sua vida tinha mudado em tão pouco
tempo… Entretanto, o que não tinha mudado absolutamente, apesar do rancor,
era o amor e o sentimento tão grande que tinha por essa mulher que o
destroçou, mas que também o fez reviver.
— Imagine que é nossa última noite. — disse ela, iluminada pelo
resplendor da noite que entrava no quarto através dos vidros do balcão. —
Utiliza essa frustração e canaliza-a comigo… Sei que está zangado. — Acariciou
seu rosto. — Está bem… — tentou tranquilizá-lo — Estará bem o que decidir
fazer comigo.
As narinas de Nick estremeceram, como seus olhos, que pareciam mais
escuros. E então a impotência, a raiva e a decepção consigo mesmo por ter
levado as coisas tão longe, por acreditar que uma mentira era melhor que uma
verdade, explodiram em seu interior, enrolando-o e convertendo-o em uma
massa de paixão de alta voltagem.
Ela era a pessoa mais importante de sua vida. Era seu amor e sua
companheira. Nunca devia ter negado isso. Nunca devia ter ocultado o homem
que era.
Empurrou-o a necessidade louca por deixar livre a tensão que fervia nele
e que ameaçava matá-lo. Por isso, abraçou Sophie como se quisesse se fundir
com ela, levantou-a até colocá-la de pé na cama. As cartas espalharam por cima
e começou a tirar a roupa dela com pressa e mãos trêmulas.
— Nick?
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Mas ele já tinha decidido por ela, pelos dois. Essa noite ele seria o
responsável por arrumar suas vidas, e nesse momento também decidia e
dominava o corpo de sua mulher. Separou-se dela e tirou os dedos de sua
vagina. Desabotoou a calça e permitiu que sua ereção se liberasse. Estava
inchado e grande até dizer chega. Pensava possui-la e marcá-la para sempre.
Segurou-a pela cintura e a levantou agarrando-a nos braços, obrigando-a
a abrir-se e rodear seus quadris com as pernas. Tomou suas nádegas e começou
a jogar com o diminuto orifício traseiro de prazer, ao mesmo tempo em que sem
mediar palavra, penetrou-a pela frente com sua vara muito dura.
Sophie abriu os olhos de par em par pela sensação. Nick a estava
possuindo pela frente e cutucava seu ânus com o polegar.
Movia os quadris com mestria, roçando toda sua parte da frente e seu
clitóris ao mesmo tempo em que se introduzia até o fundo de seu corpo. Pouco a
pouco pressionava seu polegar para se meter também, como se a penetrasse por
dois lados de uma vez.
Nick tinha os lábios entreabertos, os dentes brancos desenhavam uma
linha perfeita e tensa; seus olhos transmitiam um prazer tempestuoso que
Sophie queria combater como fosse.
Nick não tinha que sofrer mais. Devia desfrutar dela e amá-la como ela o
amava.
— Me acolha. Abra-se mais. — ordenou Nick, entrando e esticando-a até
um limite doloroso. Os testículos golpeavam seu polegar, que não deixava de
mover-se e imitar os movimentos da posse. — Vou enchê-la. — grunhiu abrindo
a boca e levando um mamilo aos dentes. Mordeu-o duramente.
E Sophie gritou presa pelo prazer e pela luxúria, movendo-se sobre ele,
exigindo mais de sua entrega e entregando-se ao mesmo tempo.
Nick caminhou com ela até a parede mais próxima. Apoiou-a para
continuar sacudindo-a ao ritmo de uma britadeira, empurrando seu colo até o
ponto de entrar nela.
E nesse momento, o prazer percorreu suas nádegas e sua espinha
dorsal, e retornou a seu testículo… onde explodiu, enchendo-o de luz e de
liberação.
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AMOS E MASMORRAS – PARTE VI
Sophie gozou ao mesmo tempo quando sentiu que a preenchia com sua
semente. Gozou pelos dois lados de uma vez, pois o dedo continuava movendo-
se igual a seu pênis.
Nenhum dos dois disse nada, não lhes saíamm as palavras, colados pelo
suor e unidos por seus sexos.
Quando tudo acabou Nick saiu pouco a pouco de seu interior, deixou-a
no chão e a virou contra a parede.
Sophie se sustentou com as mãos, encostando o rosto no bonito papel de
parede que cobria o quarto. Olhou-o de maneira interrogativa.
— Se só resta este tempo — ofegou em sua orelha —, vou aproveitá-lo
bem. — Voltava a estar inchado. Tomou sua ereção e a guiou a seu ânus,
pressionando e obrigando-a a aceitá-lo. — Assim nunca me esquecerá…
Sophie sorriu com tristeza. Tomou a mão de Nick e a guiou a sua parte
da frente para que a acariciasse enquanto ele a possuía pelo outro lado.
— Tem que voltar. — disse ela — E se me deixou grávida de novo? —
provocou-o — A maneira como transou comigo estas últimas vezes sem
camisinha… Não pode me deixar sozinha. Nunca poderia me esquecer de você.
Amo você. Retorne para mim, Tigre.
Nick não lhe prometeu nada. Enquanto fazia amor com ela de uma
maneira em que nunca tinham feito, pensou nela grávida de novo. O rosto se
suavizou.
Ele não queria morrer. Queria viver junto a ela. Ambos arriscaram muito
para ser quem eram nesse momento. Tinham direito de desfrutar de suas vidas
e desse amor que parecia indelével, por muita dor que tivessem sofrido.
Sairia vencedor essa noite ou perderia tudo? Não sabia.
Mas até que não se fosse, encarregaria-se de deixar uma marca indelével
no corpo de Sophie. Não haveria lugar nem curva que ele não possuiria como o
que era: o amo e o escravo de sua mulher.
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AMOS E MASMORRAS – PARTE VI
CAPÍTULO 16
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AMOS E MASMORRAS – PARTE VI
Nick ligou o telefone uma vez que chegou ao cemitério. E enviou uma
mensagem em perfeito japonês aos amigos de Daisuki:
Encontrei a nee san. Por fim acabei com sua vida. Mas a polícia está atrás
de meus passos e tive que fugir de onde me encontrava. Me peguem no cemitério
Lafayette. Espero-os no obelisco, no outro lado do cemitério. Pertence aos
Osgood. É muito visível. Apressem-se, estou ferido.
Anexou umas fotos de Sophie… nua, com a garganta rasgada e com uma
poça de sangue rubi a seu redor.
Depois de ter feito amor e possui-la, Nick tinha injetado nela um sonífero
muito potente que surtiu efeito imediatamente.
Por isso tinha necessitado vê-la antes de ir ao cemitério. Precisava dessa
imagem, mas Sophie o atrasou além da conta com sua declaração de amor, e ele
não pôde se negar a prová-la uma vez mais antes de levar a cabo seu último
trabalho.
Tinha pouco tempo para maquiá-la e fazê-la passar por um cadáver para
que os Yama acreditassem que Daisuki tinha completado sua prova de honra.
Nick pediu ajuda às garotas para montar o cenário de um crime onde Sophie era
a vítima. Depois mandou as fotos como prova de que Daisuki tinha completado
sua missão para que ninguém se preocupasse se Sophie continuava ou não com
vida.
Para todos devia estar morta. Assassinada pelas mãos da Yakuza.
Mas Nick não pensava deixar as coisas assim. Necessitava que os
membros dos Yama aparecessem nesse cemitério para dar uma mensagem alta
e clara.
Junto a Nick, ocultos nos labirintos e curvas do cemitério, estavam o resto
de seus companheiros. Karen se encarregaria de avisar da chegada dos
membros do clã Yama; Lion agiria como franco atirador, igual a Markus.
Nick colocou Daisuki na base do obelisco da família Osgood. Deixou-o
sentado como se estivesse repousando no mármore, como se meditasse sobre a
vida e a morte, sobre os erros cometidos. E eram tantos que Nick não duvidava
de que passaria séculos no Purgatório.
Quando teve tudo preparado, ocultou-se em uma das tumbas que
rodeavam o obelisco. E esperou.
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AMOS E MASMORRAS – PARTE VI
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Entretanto, os Estados Unidos não tinha nem ideia de como proceder com
membros da Yakuza. Nick, que esteve em um de seus clãs, sabia perfeitamente
que nunca se devia deixar um yama ou a um sumi com vida, porque nesse caso,
sempre retornariam para vingar-se.
E o certo era que não pensava perdoar que tivessem tocado em Sophie.
Essa guerra acabaria à sua maneira.
Agachou atrás da tumba de pedra. Assim que os visse aparecer, daria a
ordem para que Karen e Nick disparassem contra eles. Se algum se livrasse, ele
se encarregaria de acabar o trabalho.
Longos minutos depois ouviu os passos ágeis e decididos dos quatro
Yama. Aproximavam-se do obelisco, onde Daisuki os esperava.
Eram altos e magros, muito pálidos, de olhos escuros muito puxados e
quase entrecerrados. Nick tinha se fartado de ver caras japonesas quando esteve
na missão junto a Clint. Vê-los de novo recordou a ele do seu amigo, que tanto
sofreu por culpa de Ryu Sumichaji, o filho favorito do líder do clã Sumi.
Agora tinha a oportunidade de se vingar de todos.
E não ia desperdiçá-la.
— Markus. Lion. — sussurrou.
— Aqui estamos.
— À minha ordem.
Os quatro membros do clã rodearam o obelisco chamando Daisuki.
A noite estava úmida, mas o suor pelo nervosismo impregnava sua pele e
sua camiseta. Nick sorriu ao ver as expressões daqueles sujeitos quando se
deram conta de que Daisuki jazia sem vida degolado, como se tivesse sido vítima
de um ajuste de contas.
Sim, manchou as mãos de sangue, mas aquelas pessoas não importavam
porque não eram humanas, eram assassinos, tinham tentado matar Sophie.
Depois das expressões de horror e estupefação, vieram as de alerta e
ficaram em guarda. Levaram as mãos às jaquetas e tiraram as pistolas.
— Agora. — ordenou Nick.
De suas posições, Lion e Markus dispararam nas quatro cabeças. Dois
caíram imediatamente.
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Era o símbolo do clã Sumi. O da tatuagem que levava Nick em sua nádega
e em sua coxa.
Pegou as litografias e as colou nos peitos dos cinco cadáveres.
— Lion — Nick tomou o telefone do Daisuki e o ofereceu —, me grave.
O loiro levou a mão ao bolso traseiro da calça e tirou duas tirinhas que
colou nos extremos dos olhos para elevá-los e puxá-los como os de um chinês.
Depois colocou um capuz negro que guardava no bolso dianteiro da mesma
calça. Çolocou-o pela cabeça e cobriu seu rosto completamente, exceto os olhos,
puxados como os de um autêntico japonês. Com as sombras e a pouca luz do
cemitério, seus olhos brilhantes e dourados pareceriam escuros.
Colocou-se diante dos cinco cadáveres e olhou diretamente à câmara.
— Silêncio, todos. — ordenou.
Karen e Markus se calaram imediatamente.
— Dê sua mensagem, Nick. Começo a gravar. — disse Lion.
Nick olhou diretamente à câmara como se falasse em frente a um televisor
e se dispôs a pronunciar seu discurso em japonês. Sabia o que isso provocaria,
as consequências que traria para os dois clãs líderes da Yakuza do Japão. Faria-
se passar por Ryo, o filho do líder dos Sumi. Enviando essa mensagem, o Kotei
dos Yama morreria de raiva e dor pela morte de seu irmão. Os Yama iriam atrás
dos Sumi até matar, sobretudo por Ryo, seu assassino. Ele seria o primeiro a
cair. E isso era o que Nick queria como vingança por tudo o que Clint tinha
sofrido.
Não havia nada melhor que o mal se matasse entre eles. Nick provocaria
uma guerra a que era alheio.
— Esta é uma mensagem para o clã Yamaguchi. — começou —
Especialmente para o Kotei. Sou Ryo Sumichaji, filho de Kai. Faz seis meses
matei seu pai no Japão. Não se tocam as nee san dos Sumi. Seu irmão matou a
mulher que meu pai comprou nas Ilhas Virgens. É justo que eu tenha matado
seu irmão agora. Ajustaremos contas em Tóquio.
Quando acabou a gravação, enviaram a mensagem imediatamente. Depois
tiraram a bateria do telefone, que jogaram em um container de um descampado,
justo onde levaram os cinco yakuzas que tentaram matar Sophie Ciceroni. Ali os
fundiram em ácido. Não deixaram pista. Jamais os encontrariam.
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CAPÍTULO 17
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Seu pai disse a ela que era decisão de Nick retornar e lhes dar a
oportunidade de amá-lo como a um filho. Trataram a ele mal, ela também. Que
direito tinha de exigir algo?
Nenhum. Nenhum direito.
A tempestade já não a assustava. Nick tirou seus medos e seus traumas a
base de noites de amor e paixão quando ainda estavam casados. Mas se a
abandonasse o medo retornaria.
Afundou seu rosto entre os joelhos e segurou a xícara de leite quente com
chá e canela entre as mãos, esperando receber um calor que não impregnava em
seus ossos. Chorava abatida, igual ao céu.
Nick não tinha prometido nada, mas juraria que na noite anterior, fundo
como estava em seu corpo, tinha-a perdoado. Tinha parecido que queria lhe
entregar de novo seu coração.
Mas não. Supôs que imaginou isso, que só foi sua vontade.
Levantou-se da chaise longue estampada decidida a se enfiar na cama
para limpar suas lágrimas no travesseiro.
Então ouviu o latido de um cachorro. E não de um qualquer. Era Dalton.
Sophie se deteve, impressionada por suas próprias alucinações.
Mas um ruído às suas costas a alertou e se virou.
Ali na frente dela viu Nick, vestido com jeans azul claro e uma polo preta
que delineava seu peito como nenhum outro. O cabelo molhado colava-se ao
crânio, estava completamente ensopado pela chuva.
Nick a olhou de cima abaixo. Inclusive quando ia dormir com uns
farrapos, com aquela camiseta comprida de flanela preta dois tamanhos maior,
Sophie era elegante e única. Tinha o cabelo liso perfeitamente penteado, a franja
cobria aqueles olhos lacrimejantes e infantis que oito anos atrás roubaram seu
coração assim que a viu, mas agora era mais mulher do que anos atrás e ainda
o deixava mais louco.
Porque sim. Estava louco por amá-la como a amava, apesar de tudo o que
passaram.
Sophie deixou sobre o criado mudo a xícara negra e o encarou trêmula de
novo. Esperando que fosse ele o primeiro a falar.
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Nick se aproximou, molhando o piso do quarto a cada passo que dava com
seus tênis Vans brancos.
— Vai pensar que sou tolo. — Engoliu em seco inseguro e caminhou com
lentidão para ela, procurando não assustá-la. — Mas tenho pânico com as
tempestades.
Sophie cobriu a boca com a mão em que usava a aliança de ouro de sua
avó e seus ombros estremeceram pelo pranto.
— Morro se estiver sozinho. — continuou ele com voz rouca — Você…
poderia passar o braço por cima de mim?
Sophie não podia acreditar. Nick estava repetindo as palavras que disse a
ele na primeira noite que passaram juntos. Piscou para limpar os olhos, mas
não foi capaz de dizer nada. Tinha a garganta obstruída com uma bola de
angústia, arrependimento e alegria.
— Eu… quis odiá-la, Soph. — murmurou Nick, que colocou uma mão sob
seu queixo para levantá-lo com cuidado. — Quis odiá-la com todas as minhas
forças. Mas… não soube. Não… não soube fazer. Como se pode odiar quando se
amou tanto? — perguntou de frente — Jamais tirei a aliança. Fundi-a. —
mostrou a orelha onde usava aquele brinco de serpente de ouro. — E a levei
sempre comigo, apesar de parecer um ordinário eternamente. — sorriu contrito.
— Nick… — sussurrou ela, perdidamente apaixonada.
— Sei que cometi erros. Lamento muito não ter dito o que era… Mas
estava tão apaixonado por você que tinha medo que me deixasse. — deu de
ombros pedindo que o desculpasse. — Depois conheci sua família e soube que
jamais poderia te contar isso. Mas meu amor por você era real, Soph. Sempre
foi. — Acariciou sua bochecha com o polegar. — Por isso, quando aconteceu o
que aconteceu… quando me denunciou… quebrou-me por dentro, destroçou-
me… — Nick se angustiou e se deteve porque mal podia falar. — E eu apenas
quis me afastar de você. Mas nem mesmo assim pude te tirar da minha cabeça.
— Juntou sua testa com a dela, abaixando a cabeça. — Foi a única mulher com
quem estive em todos estes anos. Não dormi com nenhuma outra, juro.
— Nick… nem eu. Não pude. Não poderia estar com mais ninguém. —
murmurou com o queixo tremendo. — Estou tão arrependida pelo que fiz.
Morria ao pensar que não poderia te recuperar ou que não poderia estar com
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AMOS E MASMORRAS – PARTE VI
Cindy por minha culpa. — Enquanto o olhava nos olhos, não podia deixar de
chorar. — Mas morria porque tinha afastado de mim o homem que amava. O
meu amigo, o meu companheiro… o amor da minha vida!
Nick a abraçou com todas as suas forças. Sophie se agarrou às suas
costas e a sua polo molhada como se fosse seu salva-vidas.
— Amo você, Nick. Amo muito… Por favor, volta para mim e te farei o
homem mais feliz do mundo. — murmurou contra seu peito sem deixar de
soluçar nem de chorar.
Nick sorriu enternecido, acariciou sua cabeça e a beijou no topo. Essa
mulher continuava cheirando tão bem… A ele. A ela. A sua filha. Aos três
juntos.
— Então o correto é que eu te peça que me permita voltar para seu lado,
Sophie. Permite-me isso?
— Sim, claro que sim…
— Temos muito que nos perdoar. E talvez — levou a mão ao bolso da calça
e tirou as duas alianças de caveira com as que se casaram em Las Vegas —
possamos começar esta noite. — ajoelhou-se na frente dela, que emocionada
não pensou que merecesse tanto e tão cedo, mas não ia dizer não, jamais. —
Sophie Ciceroni, empresária de sucesso, cozinheira maravilhosa e a melhor filha
e mãe do mundo, quer voltar a casar comigo e se converter em minha esposa?
— Por Deus...
— Eu… — olhou-a como se ela fosse um anjo da manhã e o banhasse de
luz. — Sou agente do FBI, Hacker, falo três idiomas, apropriei-me de um
dinheiro que não era meu, matei pessoas e sou um amo. Mas estou louco por
você e morro de vontade que Cindy saiba que sou seu pai, e que seus pais me
amem.
Sophie tomou o rosto dele entre as mãos, agachou-se, ajoelhou-se na
frente dele e o beijou nos lábios com toda sua alma e seu coração.
Foi um beijo de paixão e de alegria. Um beijo de promessas, um “eu te
amo” misturado com lágrimas e perdões.
Deu-lhe o melhor beijo de todos; aquele que dizia que o aceitava tal como
era.
E quando parou de beijá-lo, foi só para dizer:
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— Sim, quero. Quero estar contigo para sempre, Nick Summers, amo,
agente, assassino ou o que for… Tsuneni.
— Tsuneni. — repetiu Nick chorando com ela, abraçados e ajoelhados
sobre o piso.
Um provérbio japonês dizia: “Encontrar-se é o começo da separação”. Nick
e Sophie queriam demonstrar que depois dos erros e do perdão sempre havia
oportunidade para os inícios.
E que, no seu caso, a separação era o começo de se encontrar.
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EPÍLOGO
Sharon sabia que ele viria. Cedo ou tarde, durante a noite ele apareceria
porque não podia suportar não vê-la, como ela não poderia suportar jamais não
vê-lo.
Chorava por ele cada maldita noite. Enrolava-se entre os lençóis
imaginando que o tecido frio eram os braços duros como granito de seu
companheiro. Recordava seu contato, seu aroma, suas carícias... O modo como
falava com ela, às vezes que durante o dia a fazia sorrir...
Mas essa noite, como todas, ele viria por ela e monopolizaria suas
necessidades. Porque era incapaz de subsistir sem sua droga. A mesma droga
que ela necessitava para viver.
O corpo dele. O corpo dela.
Escutou seus passos batendo com segurança a escada de madeira que o
levaria a seu quarto. Sharon já o cheirava. Inspirava profundamente desejando
a violência, o sexo que criava um elo tão potente entre eles, uma simbiose tão
mística que às vezes parecia irreal.
Ela fechou os olhos e se ergueu na cama. Seu longo cabelo loiro caía por
cima de seus ombros e a camisola de seda transparente mostrava mais que
escondia.
— Aí está... — sussurrou ela.
A porta se abriu de um chute e as janelas de madeira branca golpearam a
parede, sacudidas pelo repentino vento de Nova Orleans, uma terra de furacões
e tornados.
E eles eram o mais potente de todos os furacões existentes e por existir.
Não destruiriam povos nem matariam pessoas. Mas o que juntos criavam era
apoteótico, um amor tão duro e violento que podia arrasar quartos de hotéis e
cidades inteiras, deixando a esteira da paixão e o sexo atrás deles.
E não seria a primeira vez.
Sharon lambeu os lábios com a ponta da língua e olhou para ele. Para
Prince, que sob a moldura da porta era a viva imagem do demônio disposto a
estragar a inocência de uma virgem.
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Mas tanto ele quanto ela sabiam que entre os dois não haveria nem
virgens, nem santas, nem demônios. Só a lascívia aberta e a honestidade de
duas pessoas que viveriam de corpo e alma um para o outro, dispostos a sugar
até a última gota de poder que albergavam.
Prince tinha o cabelo preto preso em um rabo de cavalo, embora lhe caísse
umas mechas por seu rosto arrebatador.
Agora vinham os segundos de suspense, e depois ele tirava a camiseta
negra e a atirava ao chão, mostrando seu torso descoberto só para ela, para seu
júbilo e seu deleite.
Sharon esperava com ânsia os movimentos seguintes. O Príncipe, sem
mais demora, tirava a calça e ficava completamente nu diante dela. Nunca sabia
como desapareciam suas botas e sua cueca, mas ficava sem elas em um abrir e
fechar de olhos.
E estava tão ereto... Sharon sentia como ela mesma palpitava entre as
pernas, preparando-se para sua invasão.
Prince se acariciou sem nenhum pudor diante dela. Pra cima e pra baixo,
sem titubear.
— Você me quer? — perguntou sem um pingo de vergonha. — Quer isto?
Sharon o olhou fixamente e não respondeu. Malditas perguntas. Para que
perguntava se já sabia qual era a resposta? Maldito controlador. Como adorava
estar no comando!
Mas ela também. Por essa razão nunca respondia.
Prince se aproximava dela sem mudar a expressão de seu rosto, com os
olhos tão negros como a noite e escurecidos como sua relação. Ajoelhou-se sobre
o colchão e sorriu sem vestígio de calor ou carinho.
— Abra as pernas, Sharon. Vou comê-la. — anunciou Prince.
— Sim, isso, come-a. — disse outra voz dentro do quarto.
Sharon deu um salto e olhou para Prince, que continuava sorrindo para
ela.
— O que? Você se incomoda que ele esteja conosco? — perguntou Prince
olhando-a de cima abaixo, avaliando-a como a uma prostituta.
Sharon negou, disposta a acabar com o jogo e a sair desse quarto.
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— Se fodeu com o Lion, foderá com meu irmão e comigo também! — gritou
com ela.
— Não! Prince! — protestou Sharon saltando por cima da cama, disposta a
alcançar a janela e fugir dali apesar da altura.
Dominic a seguia. O irmão de Prince, tão parecido com ele, tão alto,
moreno e bonito, tinha de belo tudo o que tinha de falso. Pôs-se a correr atrás
dela com um grunhido de hiena mesquinha.
— Não é verdade! — defendeu-se Sharon.
— Como que não? — agora Dom a agarrava pelo cabelo e a plantava
diante de Prince, colocando-a de joelhos perante ambos. — Diga a verdade a
meu irmão, vagabunda!
— Me diga a verdade, puta! — exigia Prince, atirando-a ao chão e
colocando-se em cima dela para submetê-la.
Mas então o rosto de Prince era uma horrível careta de desprezo e lascívia,
que se tornou gradualmente o rosto de Dominic. E ambos se converteram em
um.
E começava o terror, o medo, a tortura.
E a vergonha.
Sharon despertou de repente, suando como se acabasse de correr vinte
quilômetros, com as lágrimas derramando-se por suas bochechas úmidas e seus
olhos claros avermelhados pelo pânico e o pavor.
Sim. Sharon se encontrava com Prince a cada maldita noite desde que se
separaram. Era como se não pudesse viver sem sua lembrança.
Ele vinha a ela em sonhos. E suas sensações se deslizavam com loucura
como pelos trilhos de uma montanha russa.
Passava do desejo à ansiedade, do medo à aflição.
E não sabia como tratar seu terror que tão em claro a mantinha.
Os pesadelos se pronunciaram, tornando-se mais vívidos desde que
aceitou dormir com Prince no Temptations.
O maldito a deixou ardida e inflamada durante dias. E após isso, desse
contato tão intenso, havia tornado a abrir a caixa de Pandora.
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