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MITOS DA DITADURA

“NAPOLITANO, Marcos. “O mito da ditabranda” In: 1964: História do Regime militar brasileiro.
São Paulo, Ed. Contexto, 2014, p.69-96”.
Tese central: A “memória liberal” em torno dos quatro primeiros anos do regime militar e da
figura de Humberto de Alencar Castelo Branco não correspondem a realidade.

CORDEIRO, Janaina Martins. “Anos de chumbo ou anos de ouro? A memória social sobre o
governo Médici”. In Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 22, nº 43, janeiro-junho de 2009, p.
85-104.
Tese central:1969-1974: “Não foram anos de ouro ou anos de chumbo. Foram muitas vezes, os
dois ao mesmo tempo”.
1964-1968
REPRESSÃO SELETIVA E CONSTRUÇAO DE UMA ORDEM INSTITUCIONAL
AUTORITÁRIA E CENTRALISTA

OBJETIVOS DO AUTORITARISMO IMPLANTANDO EM 1964:


• Destruir uma elite intelectual e reformista cada vez mais encastelada no estado
• Cortar os eventuais laços organizativos entre essa elite policial intelectual e os
movimentos sociais de base popular, como o operário e o camponês.
1964-1968
POR QUE “DITABRANDA” É MITO:

• Castelo Branco foi o verdadeiro construtor institucional do regime autoritário

• Atos Institucionais: O principal objetivo dos Atos era o reforço legal do Poder Executivo, e
particularmente, da Presidência da República, dentro do sistema político.
AI - 1
• Abril de 1964

• Definição de eleições indiretas para a presidência da República no dia 11 de abril,


estipulando que fosse terminado o mandato do presidente em 31 de janeiro de 1966.

• Preâmbulo: “a revolução, investida no exercício do Poder Constituinte, não procuraria


legitimar-se através do Congresso, mas, ao contrário, o Congresso é que receberia através
daquele ato sua legitimação”

• Estabelecimento de prerrogativas de cassar mandatos legislativos, suspender direitos


políticos pelo prazo de dez anos e deliberar sobre a demissão, a disponibilidade ou a
aposentadoria dos que tivessem ‘atentado’ contra a segurança do país.

• Redigido por Francisco Campos, autor da Constituição de 1937


AI - 2
• Julho de 1965

• Dissolução de todos os partidos políticos existentes desde 1945

• Ato Complementar nº 4 – 20/11/1965: estabeleceu a nova legislação partidária, fixando os


dois partidos políticos que poderiam existir: Aliança Renovadora Nacional (Arena) e
Movimento Democrático Brasileiro (MDB). A ARENA representava os militares; já o MDB era
um partido de oposição controlado pelo regime militar.

• Crimes contra a segurança nacional seriam julgados por tribunais militares.

Desilusão para os políticos conservadores que apoiaram o golpe


AI - 3
• 5 de fevereiro de 1966

• Estabelecia que governadores e vices seriam eleitos indiretamente por um colégio eleitoral,
formado pelos deputados estaduais. Também estabeleceu que os prefeitos das capitais
seriam indicados pelos governadores, com aprovação das assembleias legislativas (diante
das eleições estaduais de 1965, quando a oposição venceu as eleições em estados
populosos, como Minas Gerais e Guanabara.
AI - 4
• Dezembro de 1966

• Convocou ao Congresso Nacional o estabelecimento de uma nova


carta, que revogaria de forma definitiva a Constituição de 1946.
Constituição de 1967
• Ênfase à segurança nacional;

• Profundas alterações no processo de elaboração orçamentária, de


modo a assegurar a primazia da iniciativa de proposições sobre
matéria financeira ao Poder Executivo;

• Estabelecimento da forma indireta da eleição para presidente da


República
Constituição de 1967
• Competência do vice-presidente da República para presidir o
Congresso Nacional e exercer outras atribuições previstas em lei
complementar

• Ampliação dos poderes da Justiça Militar, estendendo o foro especial


a civis, nos casos expressos em lei e com recurso ordinário ao
Supremo Tribunal Federal

• Disposições sobre a família, a educação e a cultura conforme à


tradição cristã do povo brasileiro.
Síntese do Governo Castelo Branco
• Perseguição a oposição e a militares de outras alas

• Forte alinhamento com os EUA

• Nacionalismo apenas retórico

• Diretrizes econômicas:

• Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG)


❑ Controle da inflação e recuperação da capacidade de investimentos da União

❑ Fórmula recessiva: controle de gastos públicos e arroxo salarial

❑ Impasse: modernização do campo esbarrava na alta concentração de terras.


1964-1968

• Economia em crise: Parte da classe média se desilude com o governo

• Carlos Lacerda se une a Juscelino Kubitschek (senador por Goiás nas eleições
de 1962) e busca apoio de João Goulart (Frente Ampla)
1968: o ano que não acabou
• Ficou marcado na história mundial e na do Brasil como um momento de
grande contestação da política e dos costumes.

• O movimento estudantil celebrizou-se como protesto dos jovens contra a


política tradicional, mas principalmente como demanda por novas liberdades.
O radicalismo jovem pode ser bem expresso no lema "é proibido proibir". Esse
movimento, no Brasil, associou-se a um combate mais organizado contra o
regime
• A Igreja começava a ter uma ação mais expressiva na defesa dos direitos
humanos, e lideranças políticas cassadas continuavam a se associar visando a
um retorno à política nacional e ao combate à ditadura.

• Greve dos metalúrgicos em Osasco.


1968: o ano que não acabou
• RESISTÊNCIA ABORTADA PELO AI-5
Produziu um elenco de ações arbitrárias de efeitos duradouros. Definiu o momento mais duro do
regime, dando poder de exceção aos governantes para punir arbitrariamente os que fossem
inimigos do regime ou como tal considerados.
1967-1969: Artur Costa e Silva
• No dia 3 de outubro de 1966, com a abstenção de toda a
bancada do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que
se retirou do plenário, Artur da Costa e Silva e Pedro Aleixo
(civil, filiado a Arena, advogado e professor) foram eleitos
pelo Congresso Nacional.

• Anos iniciais marcados por conflitos com estudantes por


conta do projeto de transformação progressiva do ensino
público em pago, prenunciado pela introdução da taxa de
matrícula nas universidades, O clima de insatisfação tendeu
a se generalizar no segundo ano do governo de Costa e
Silva, quando os protestos públicos passaram a abranger
setores cada vez mais amplos da sociedade.
1967-1969: Artur Costa e Silva
• Os constantes ataques feitos pelo jornalista Carlos Lacerda contra a política salarial do governo, o
militarismo e o suposto envolvimento de militares em atos de corrupção fizeram com que, em abril
de 1968, o governo Costa e Silva proibisse as atividades da Frente Ampla.

• Em maio, motivado por violentos conflitos ocorridos em São Paulo, o governo proibiu
manifestações de rua.

• Em 13 de dezembro de 1968, baixou o AI-5, decretando, entre outras medidas:

• a suspensão do habeas-corpus
• a atribuição do presidente para:
• intervir nos estados e municípios;
• cassar mandatos;
• suspender direitos políticos por dez anos;

• Pelo Ato Complementar nº 38, foi decretado também o recesso do Congresso por tempo
indeterminado.
1969-1974: Emílio Garrastazu Médici
• Vice: Almirante Augusto Rademaker

• Anos de Ouro

• Crescimento econômico: Milagre

• o Brasil alcançou taxas médias de crescimento muito elevadas e sem precedentes.

• A inflação passou de 19,46% em 1968, para 15,6% em 1973

• Ênfase na propaganda ufanista, baseada no otimismo


nacional com a conquista do tricampeonato no futebol
e no desenvolvimento da integração nacional via
Telecomunicações e expansão da malha rodoviária.

• Legitimidade: apelo a simbologia nacional de


elementos ligados a pátria. Valorização do 7 de setembro.
1969-1974: Emílio Garrastazu Médici
• Anos de chumbo
• “Este é por excelência o tempo de torturas, dos alegados
desaparecimentos e das supostas mortes acidentais em
tentativas de fuga”. p. 89

• “Por algum tempo não foi tolerada sequer a oposição do


MDB; a imprensa foi posta sob censura; os sistemas de
segurança e informação foram aperfeiçoados e a tortura
foi tornada política de Estado”. p. 89
1969-1974: Emílio Garrastazu Médici

• “A simples oposição entre um Estado opressor e uma sociedade vitimizada


encobre uma série de atitudes que permitem entender as lógicas pelas quais o
regime se sustentou por 21 anos. Significa também perceber que entre a recusa
das práticas empregadas pelo Estado e a resistência, de outro lado, e a simpatia
e o apoio manifestado ao regime, de outro, existe também a indiferença e/ou os
que alegavam e alegam nada saber”.

• Consenso: não significa unanimidade


1969-1974: Emílio Garrastazu Médici
Memória
• Memória: processo complexo, subjetivo, que articula lembranças e
esquecimentos
• “Uma vez derrotada, a esquerda esforçou-se por vencer, na batalha das letras,
aquilo que perdeu na batalha das armas” (Martins Filho, 2002) p. 91
• Memória dos “Anos de Chumbo”
• “No afã de se construir o consenso em torno da democracia que se queria
erigir naquele momento, os opositores do regime foram relegados à categoria
de vitimas. Junto deles, toda a sociedade foi vitimizada, enquanto se
consolidava a memória de acordo com a qual esta sempre expressasse “seu
sentimento de oposição, pelos mais diversos canais, e com diferentes níveis
de força”, p. 94
1969-1974: Emílio Garrastazu Médici
Memória
• O processo de vitimização das esquerdas não levou ao julgamento dos
envolvidos nos crimes decorrentes da repressão do Estado e tampouco suscitou
um debate de proporções nacionais

• “É preciso buscar a dinâmica social, e observar a coletividade como portadora de


valores, de demandas e de uma cultura política próprias, e não como uma
entidade passiva diante de um Estado todo-poderoso”. P. 99

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