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AULA 1: Introdução à Climatologia

Curso: Meio Ambiente


Disciplina: Climatologia
Conteudista: Carolina Dias de Oliveira
Tutora: Camila Emídio Ribeiro

1. Introdução à climatologia

Figura 1.1. “Para dar ordens à natureza é preciso saber obedecer-lhe” - Francis Bacon. Fonte:
http://greenpeace.blogtv.uol.com.br/img/Image/Greenpeace/2008/Marco/greenpeace.jpg

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O estudo do tempo e do clima é fundamental para a Geossistema: corresponde aos dados
ecológicos relativamente estáveis.
compreensão e manutenção do meio ambiente. Isso Ele resulta da combinação de fatores
geomorfológicos (natureza das
porque existe uma forte interação entre as quatro rochas e dos mantos superficiais,
valor de declive, dinâmica das
esferas do planeta - também chamadas de “domínios vertentes[...]), climáticos
globais” ou geoesferas – e que são responsáveis pelo (precipitações, temperaturas [...]),
hidrológicos (niveis freáticos,
equilíbrio do nosso sistema natural, formando um nascentes, pH da água, tempos de
ressecamento dos solos [...]),
imenso geossistema planetário. Deste modo, portanto, é o potencial ecologico do
geossistema. Fonte: BERTRAND,
podemos dividir estes domínios em: litosfera, 1971, citado por ROSS, Jurandyr,
2006, p.31
hidrosfera, atmosfera e biosfera. (ver figura 1.2
abaixo).

Figura 1.2. O tempo e o clima no contexto das ciências naturais. Fonte: AYOADE, 1996, p.1

A litosfera corresponde à camada rochosa do nosso planeta, incluindo o solo,


as rochas e todo o material tectônico existente da crosta ao núcleo. A
hidrosfera abrange toda a porção líquida da Terra, incluindo lagos, rios e
oceanos. Já a atmosfera – da qual trataremos com maior profundidade para o
estudo do clima – corresponde à porção gasosa deste sistema, incluindo as
nuvens, o ar que respiramos e todos os mecanismos associados ao clima, tais
como chuvas, geadas, tornados, etc. Por fim, da junção destes três domínios
globais anteriores temos a formação da biosfera, que como o próprio nome diz,
se relaciona à formação da vida na Terra, isto é, abrange a formação das

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plantas e dos animais, incluindo o próprio homem. Nas
Deslizamento de terra: é um
palavras de CONTI & FURLAN (In: ROSS, 2003, p.72), fenômeno geomorfológico que
provoca fortes movimentos de massa,
“a biosfera pode ser vista como a área da crosta tais como quedas de rochas, falência
de encostas em profundidade e fluxos
terrestre na qual as radiações cósmicas são superficiais de detritos e solos. A
transformadas em energia elétrica, química, mecânica, massa só se deslocará se tiver
fragmentada e muito instável, sendo
térmica, etc, todas elas consideradas eficazes para a que a água atua como agente
facilitador do processo. Os
vida”. movimentos de massa podem ser
classificados conforme a velocidade
com que ocorrem, conforme o plano
de deslizamento, deformação
Deste modo, se ocorrer algum desequilíbrio em uma resultante do processo e tipos de
destas esferas, a outra certamente poderá ser afetada e materiais envolvidos.

vice-versa, formando um ciclo de interações que podem


ser desastrosas para a natureza e até para o próprio
homem. Veja um exemplo: em janeiro deste ano, uma
quantidade excessiva de chuvas atingiu toda a porção
sudeste do país e que proporcionou um deslizamento
de terra sobre a região da Serra do Mar, em especial
nas áreas mais íngremes do litoral carioca como Angra
http://www.saiunojornal.com.br/wp-
dos Reis e Ilha Grande. Como conseqüência houve um content/uploads/2010/01/Fotos-
Imagens-frontal-Pousada-Sankay-
grave soterramento de pessoas em meio a escombros e deslizamento-Praia-do-Bananal-em-
casas destruídas, gerando mortes e grandes perdas Ilha-Grande-Angra-dos-Reis-RJ.jpg

materiais e econômicas para as pessoas e famílias atingidas.

Agora se observarmos o ocorrido sob uma visão geossistêmica, primeiro houve


um desequilíbrio na litosfera, a partir da ocupação desordenada de morros e
encostas, que por sua vez associou-se à um desequilíbrio na atmosfera e na
hidrosfera, a partir da ocorrência de chuvas mais intensas e fortes do que o
esperado sobre a região sudeste. E, na medida em que essa grande
quantidade de chuvas precipitou sobre áreas muito íngremes favoreceu o
escoamento pluvial e a formação do deslizamento de terra. Logo, para estudar
o clima, faz-se necessário compreender que vivemos em um ambiente
integrado e sistêmico, em que qualquer alteração na natureza pode acarretar
mudanças em outras esferas do planeta.

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1.1. Tempo e clima

Os termos tempo e clima não são sinônimos como o senso comum e o uso
cotidiano erroneamente associam. Segundo AYOADE (1996, p.2), por TEMPO
entende-se “o estado médio da atmosfera numa dada porção de tempo e em
determinado lugar”. Já o CLIMA, “é a síntese do tempo num dado lugar durante
um período de aproximadamente 30-35 anos”, e que, portanto, exige um maior
número de dados para ser classificado. Ou seja, o clima é algo dinâmico e
generalizado e seu estudo está fundamentado na observação prolongada dos
tipos de tempo, ao passo que o tempo refere-se à um estado mais
momentâneo destas condições da atmosfera, lidando com eventos mais
específicos e que variam com maior freqüência.

Para ilustrar melhor estes conceitos podemos fazer uma analogia a um álbum
de fotografias. As fotografias (figura 1.3) representam diferentes momentos
das condições atmosféricas, representando, portanto, as diferentes fases do
TEMPO, que pode ser alterado por diversas vezes dentro de um mesmo dia
(de manhã está com neblina, faz sol à tarde e chove à noite, por exemplo). Da
coleção destas “fotos” temos diversos registros das condições atmosféricas
durante um determinado período, formando um álbum (Figura 1.4.) que deve
ser de no mínimo 30 anos, e que conjuntamente indica e estabelece qual é o
tipo climático predominante para a região analisada, configurando assim o
CLIMA.

Figura 1.3. Fotografias. Fonte: Figura 1.4. Álbum de fotos


http://cybellef.tripod.com/Engler/al Fonte:
bum/images/album.jpg acessado http://digasim.files.wordpress.
em 07/01/2010. com/2007/10/9.jpg

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De modo aplicado, ao afirmar que um determinado país ou região é quente e
úmido, estamos nos referindo ao CLIMA, e quando mencionamos se está
chovendo ou nevando, se está frio ou quente naquele momento específico do
dia, fazemos referência ao TEMPO.

1.2. Climatologia X Meteorologia

Outro erro que ocorre no senso comum é a abordagem dos termos climatologia
e meteorologia como sinônimos. Apesar de terem o mesmo objeto de estudo,
as finalidades, metodologias e aplicações de cada uma são significativamente
distintas. Também segundo AYOADE (1996, p.2), a METEOROLOGIA define-
se como “a ciência da atmosfera e se relaciona ao estado físico, dinâmico e
químico da atmosfera e às interações entre eles e a superfície terrestre
subjacente”. Já a CLIMATOLOGIA geralmente é definida como “o estudo
cientifico do clima”, correspondendo à ciência que estuda os padrões de
comportamento da atmosfera por um determinado período de tempo. Em
termos práticos, pode-se afirmar que, enquanto o meteorologista preocupa-se
mais com as variações do tempo, o climatologista busca estudar o clima.
Todavia, é importante salientar que existe uma interação entre as duas
especialidades, de modo que o tempo e o clima, conjuntamente, podem ser
considerados como uma conseqüência e uma demonstração da ação dos
processos complexos da atmosfera, em interação com os oceanos e a camada
rochosa da Terra.

Saiba mais

Para saber mais sobre diferença entre os termos TEMPO e


CLIMA e as áreas de atuação da CLIMATOLOGIA e da
METEOROLOGIA consulte a apresentação em PowerPoint:
Introdução_climatologia.ppt

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1.3. Evolução da Climatologia

O estudo do tempo e a observação das variações da atmosfera despertam o


interesse e a curiosidade humana desde tempos bastante remotos. Isso porque
as condições atmosféricas influenciam o homem em inúmeras e diversas
atividades e hábitos cotidianos, desde o ar que ele respira, a obtenção do
alimento e da água necessários para a sua sobrevivência, até o modo como se
veste e constrói o seu abrigo. Da utilização do cata-vento até a aplicação de
satélites e das grandes estações meteorológicas típicas do mundo moderno um
longo caminho teve que ser percorrido.

Antigamente, os homens não possuíam um domínio muito amplo sobre os


mecanismos da atmosfera e em geral acreditavam que as variações
atmosféricas eram provocadas por deuses e
personagens mitológicos. As primeiras observações Barômetro de mercúrio: é um
instrumento utilizado para medir a
meteorológicas foram registradas pelos gregos, durante pressão atmosférica e foi inventado
por Evangelista Torricelli em 1643.
o século V antes de Cristo, a partir das obras de Seu funcionamento básico consiste
Hipócrates e Aristóteles. na abertura de um tubo de vidro
cheio de mercúrio, de modo que a
pressão atmosférica possa afetar o
peso da coluna de mercúrio no tubo.
Todavia, foi durante a revolução tecnológica Logo, quanto maior a pressão do ar,
mais extensa fica a coluna de
renascentista no século XVI que se notou um surto de mercúrio. Assim, a pressão pode ser
calculada, multiplicando-se o peso
desenvolvimento mais significativo sobre a ciência da da coluna de mercúrio pela
atmosfera, especialmente após as invenções de Galileu densidade do mercúrio e pela
aceleração da gravidade. Ao nível do
e de seu discípulo, Evangelista Torricelli, que mar, a pressão atmosférica
corresponde a 760 milímetros de
inventaram o termômetro (figuras 1.5 e 1.6) e os mercúrio (760 mmHg). (adaptado de
wikipedia, <www.wikipedia.org>,
princípios teóricos para a construção do barômetro de acessado em 07/01/2010).
mercúrio (figuras 1.7 e 1.8), respectivamente.

Telégrafo: O telégrafo é um sistema


Em 1832, a descoberta do telégrafo (figura 1.9) concebido para transmitir mensagens
de um ponto para outro em grandes
revolucionou a coleta de dados sobre o tempo, distâncias, utilizando códigos para a
rápida e confiável transmissão. As
permitindo pela primeira vez que uma grande mensagens eram transmitidas através
de um sistema composto por fios.
quantidade de dados pudesse ser coletada e Fonte:
transmitida de diversos pontos simultaneamente. Desde <http://www.suapesquisa.com/pesqui
sa/telegrafo.htm>, acessado em
07/01/2010.

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então, a instrumentação das observações do tempo e do clima continuam
evoluindo incessantemente, desempenhando um papel fundamental para o
desenvolvimento destas ciências. E tal evolução modificou até mesmo a
maneira de se estudar a atmosfera.

Figura 1.6. Termômetros de máxima e de mínima.


Fonte: Laboratório de Climatologia e Análise
Ambiental da Universidade Federal de Juiz de Fora
<www.ufjf.br/labcaa/equipamentos> acessado em
07/01/2010.

Figura 1.5. Termômetro de parede.


Fonte: acervo do Wikimedia Commons
ligado à Wikimedia Foundation,
acessado em 07/01/2010.

Figura. 1.8. Funcionamento básico do


Barômetro de mercúrio. Fonte: Google,
w3.ualg.pt/image001.gif acessado em
07/01/2010.
Figura 1.7. Barômetro de mercúrio. Fonte:
Laboratório de Climatologia e Análise
Ambiental da Universidade Federal de Juiz de
Fora <www.ufjf.br/labcaa/equipamentos>
acessado em 07/01/2010.

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Figura 1.9. Telégrafo. Fonte: http://4.bp.blogspot.com acessado em 07/01/2010

Na Climatologia tradicional, a base descritiva dos padrões temporais e


espaciais dos elementos do tempo se baseava essencialmente em um método
cartográfico, classificando os diferentes tipos de clima a partir da elaboração de
mapas de médias ou gráficos com variações diurnas e/ou sazonais dos
elementos climáticos, e em diferentes escalas, tais como temperatura,
precipitação, pressão, umidade, velocidade e direção dos ventos, quantidade
de nuvens, etc. Porém, essa abordagem essencialmente descritiva do estudo
do tempo e do clima, apresenta diversas limitações e deficiências.

Segundo ATKINSON (1972, citado por AYOADE, 1996, p.6), a primeira crítica
feita é que a climatologia tradicional é descritiva e não explicativa dos
processos climáticos que desencadeiam a sua distribuição no tempo e no
espaço. A segunda é que a abordagem tradicional passa a idéia de uma
atmosfera estática, desconsiderando as mudanças contínuas que se
desencadeiam na atmosfera, já que esta se caracteriza por ser dinâmica e em
constante turbulência. A terceira crítica refere-se à desconsideração sobre a
interação entre os elementos climáticos, visto que estes processos se
interagem e se afetam mutuamente, retornando e reagindo para provocar
mudanças e/ou modificações em suas causas, na busca incessante da
natureza por equilíbrio. A quarta crítica identificada por este autor baseia-se na
metodologia empregada para a classificação dos climas. Isso porque as linhas
demarcatórias traçadas nos mapas erroneamente passam a impressão da
existência de modificações abruptas nas condições atmosféricas analisadas, o
que não ocorre na realidade. O que existe é uma alteração gradativa das

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características de um tipo climático para outro. Além disso, as áreas
demarcadas geralmente são consideradas como entidades climáticas
separadas e explicadas especialmente a partir dos fenômenos de superfície. E,
desta forma, tal abordagem se torna errada na medida em que desconsidera a
dimensão vertical de análise sobre o clima, pois as características atmosféricas
de um local específico somente podem ser explicadas e analisadas a partir do
contexto de uma visão do todo atmosférico.

A climatologia moderna, sobretudo, busca eliminar tais deficiências associadas


à abordagem tradicional, incidindo na preocupação maior de tentar explicar os
fenômenos da atmosfera, além de descrevê-los. Nas palavras de AYOADE
(1996, p.7), “a atmosfera é dinâmica, não-estática, e fazem-se esforços para
compreender os processos e interações que ocorrem na atmosfera e na
interface atmosfera-superfície da Terra”. Assim, a necessidade de
aperfeiçoamento da análise dos dados climatológicos acompanha as
transformações e novas exigências das sociedades modernas, pois, ao
contrário de seus antepassados, o homem moderno não deseja viver à mercê
das variações do tempo e do clima. Mas, ser capaz de manejar ou até mesmo
planejar o controle das condições meteorológicas, podendo prevê-los, modificá-
los ou controlá-los quando possível. E, para tanto, é Radiossondas: Aparelho que
transmite automaticamente a um
essencial buscar entender e explicar os processos operador localizado em terra os
atmosféricos, que consiste justamente na base da dados recolhidos pelos elementos de
um equipamento meteorológico
meteorologia moderna, visto que para predizer ou transportado por um balão-sonda ao
longo de sua ascensão. Fonte:
prever o tempo temos que compreender as ações da <http://www.dicio.com.br/radiossond
a>, acessado em 07/01/2010.
atmosfera, especialmente aplicado nos campos da
agricultura, aviação, indústria e comércio, e também na
Cartas sinóticas: Cartas sinóticas
prevenção de grandes desastres como furacões, são mapas temáticos com
representações de frentes (quentes ou
tornados, e enchentes. frias), massas de ar, zonas de
convergência, vórtices ciclônicos,
entre outros fatores e elementos
climáticos. Nela são desenhadas
Atualmente é crescente o uso do radar, através das linhas que unem os pontos de igual
radiossondas (figura 1.10), do geoprocessamento pressão (as linhas isóbaras), além de
dados sobre a direção dos ventos,
para a confecção de mapas e cartas sinóticas (figura temperatura, e nuvens, de modo que
a carta sinótica permite uma síntese
1.11), e ainda dos satélites meteorológicos (figura das condições de tempo em uma
determinada área.

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1.12), que permitem uma cobertura objetiva e abrangente do globo.

Figura 1.10. Radiossonda Sippican Mark II.


Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Radiossonda
acessado em 07/01/2010.

Figura 1.11. Carta sinótica da


América do Sul.
Fonte:
www.cptec.inpe.br/noticias/faces/i
m-pressao.jsp acessado em
07/01/2010.

Figura 1.12. Satélite


meteorológico. Fonte:
http://www.klickeducacao.com.
br/Klick_Portal/Enciclopedia/im
ages/Sa/2816/1062.jpg
acessado em 07/01/2010.

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Tais tecnologias permitem a cobertura de dados de áreas remotas, inóspitas
e/ou desabitadas do planeta, em especial dos oceanos, desertos e áreas
polares, que geralmente são desprovidas de estações meteorológicas
convencionais. Todavia é importante salientar que tais dados devem ser
considerados como complementares às medidas de observação
convencionais, pois são obtidos por plataformas de sensoriamento remoto e
não estão em contato direto com a atmosfera. Além disso, os dados obtidos por
eles são muito numerosos e há problemas na seleção e redução dos dados,
conforme o processamento, análise e interpretação destes.

Para isso, o computador assume papel fundamental no processamento,


armazenamento e análise dos dados de satélite. Com esta tecnologia, é
possível hoje obter documentos climáticos importantes, tais como o
mapeamento de áreas com intensa nebulosidade; a medição do modelo de
radiação da parte mais alta da atmosfera terrestre ou das temperaturas de
radiação do topo das nuvens voltadas para o espaço; a classificação de climas
em novas bases através do saldo da radiação solar; as distribuições de
umidade e precipitação em áreas desprovidas de estações pluviométricas,
entre outros.

1.3.1. A Climatologia aplicada aos trópicos

Em especifico sobre as áreas tropicais, durante muito tempo a obtenção de


dados mais confiáveis e constantes sobre as condições atmosféricas das
baixas latitudes esbarrou na falta de recursos governamentais e especialmente
na deficiência de obtenção de aparelhos mais modernos e sofisticados para a
análise mais precisa da evolução climática desta região. E até mesmo as
próprias condições do clima tropical comprometiam a durabilidade e precisão
de alguns aparelhos e instrumentos meteorológicos, especialmente os mais
sofisticados e sensíveis.

Foi somente após a Segunda Guerra Mundial, para atender às necessidades


da aviação, que especialistas do mundo inteiro intensificaram seus estudos

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nesta faixa do planeta, a partir da instalação de muitas estações
meteorológicas no país, e que contribuíram para uma análise mais completa da
dinâmica atmosférica tropical. Reconhece-se atualmente o avanço neste setor,
em especial após o ano de 1960, quando os satélites passaram a monitorar
estas áreas.

1.3.2. A criação da Organização Meteorológica Mundial (OMM) e a


importância da integração dos dados climatológicos em escala planetária.

Para que haja o progresso e desenvolvimento dos conceitos e teorias


meteorológicas em escala mundial é essencial a existência de um livre e rápido
intercâmbio de informações meteorológicas entre as diversas nações do
mundo. Tal desenvolvimento só foi possível após a fundação da Organização
Meteorológica Internacional (OMI), em 1973. E que a partir do dia 23 de março
de 1950 passou a ser conhecida como Organização Meteorológica Mundial
(OMM), reconhecida pelo órgão das Nações Unidas (ONU), como responsável
pelo monitoramento e troca de informações climatológicas do globo. Os três
propósitos básicos desta organização consistiam em:
1. facilitar a cooperação de âmbito mundial no estabelecimento de redes
de estações meteorológicas;
2. promover o desenvolvimento de centros para serviços meteorológicos;
3. promover o rápido intercâmbio das informações meteorológicas e a
padronização e publicação das observações meteorológicas.

E, atualmente, o programa das atividades científicas e técnicas da OMM se


classifica em quatro categorias amplas, a saber:
1. a observação do Tempo Mundial (OTM);
2. o Programa de Pesquisa da OMM;
3. o Programa da OMM sobre a interação do homem em seu meio
ambiente;
4. o Programa de Cooperação Técnica da OMM.

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Assim nota-se a importância do papel desta organização para o
desenvolvimento da meteorologia e dos estudos do tempo, favorecendo a
integração dos dados para todas as nações, independente de sua situação de
dependência tecnológica ou financeira, buscando uma cooperação técnica
global.

1.4. As subdivisões da Climatologia

A climatologia é uma ciência dinâmica e que se aperfeiçoa constantemente,


especialmente em função das grandes inovações tecnológicas e que se
aplicam ao seu campo de estudo, como vimos anteriormente. Por ser uma
ciência que aborda os padrões de comportamento da atmosfera por longos
períodos de tempo, ela está mais preocupada com os resultados destes
processos para aplicações no tempo presente e futuro, do que meramente com
suas conseqüências instantâneas, que como vimos, é campo preferencial de
estudos do meteorologista.

Devido à abrangência do campo de estudos da climatologia, existem diversas


subdivisões de análise, seja em função dos temas enfatizados ou pela escala
dos fenômenos atmosféricos estudados. Por exemplo, existe a Climatologia
regional, a Climatologia sinótica, a Climatologia física, a Climatologia dinâmica,
a Climatologia aplicada e a Climatologia histórica. Além de outras subdivisões
mais específicas como a Climatologia agrícola, a Bioclimatologia, a
Climatologia das construções, a Climatologia urbana e a estatística, que se
enquadram na Climatologia aplicada, entre outras.

Diversas outras subdivisões, além das mencionadas, são reconhecidas na


literatura e dependem exclusivamente do campo e enfoque abordados.
Todavia, como o objetivo desta disciplina é contribuir para uma visão sistêmica
do meio ambiente e do clima, não aprofundaremos nessa temática.

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Saiba mais

Para maiores informações sobre as diversas


áreas de atuação e subdivisões da climatologia
visite o site www.cptec.org.br.

1.5. Escalas de tempo em Climatologia

Tendo em vista que ao campo de estudos da climatologia é bastante amplo,


variando desde sistemas locais - como as brisas e ventos locais – a até
complexos sistemas atuantes em escala global - a exemplo do Aquecimento
global e do El Niño – é necessário subdividir os vários fenômenos da atmosfera
conforme sua escala de abrangência, isto é, em micro, meso e macroescalas.
BARRET (1974, citado por AYOADE, 1996, p. 4), propõe que os diversos
fenômenos atmosféricos, conforme suas diferentes escalas de análise, podem
ser subdivididas da seguinte forma:

1. Macroclimatologia: relacionada com os aspectos dos climas de amplas


áreas da Terra e com movimentos atmosféricos em larga escala que afetam o
clima. Abrangem de 600 a 2.000 quilômetros na horizontal e até 10 quilômetros
na vertical.

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Figura 1.13. Cartas sinóticas e sistemas frontais. Fonte: GOES, METEOSAT/ CPTEC/ INPE, 2001

Figura 1.14. Sinóticos – Furacões. Fonte:


http://www.fotosearch.com.br/UNY125/u15 Figura 1. 15. Efeitos do El Niño e da
La Niña no clima. Fonte:
033776/ acessado em 08/01/2010.
http://weblogs.sun-
sentinel.com/news/weather/hurricane/blo
g/el-nino-la-nina.jpg acessado em
08/01/2010.

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2. Mesoclimatologia: enfatiza o estudo do clima em áreas relativamente
pequenas, entre 10 e 100 quilômetros na horizontal e até 10 quilômetros na
vertical (incluindo, por exemplo, o estudo do clima urbano e dos sistemas
climáticos locais graves como os tornados, furacões e temporais).

Figura 1.16. Formação de


Tornados em Tempestades
seve-ras.
Fonte: www.weatherpix.com/
Tornadoes.jpg acessado em
08/01/2010.

Temperatura do Ar
Médi…

30,0
(ºC)

20,0

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P 10 P 11 P 12 P 13 P 14 P 15 P 16

Umidade Relativa Média…

100,0
(%)

0,0

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P 10 P 11 P 12 P 13 P 14 P 15 P 16

Figura 1.17. Estudo de clima urbano. Fonte: Estudo de ilha de calor urbano em Belo Horizonte –
Geografia/UFMG, 2006.

3. Microclimatologia: realiza o estudo do clima próximo à superfície ou em


áreas muito restritas, com menos de 100 metros de extensão na horizontal e
inferior a 10 metros na vertical.

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Figura 1.18. Fluxos de energia dentro de Figura 1.19. Física de nuvens.


florestas. Fonte: http://www.bicodocorvo.com.br/wp-
Fonte: http://blog.ambientebrasil.com. content/gallery/fotos-de-nuvens/fotos-de-
br/wp-content/uploads/2009/08/floresta.jpg nuvens-5.jpg acessado em 08/01/2010.
acessado em 08/01/2010.

Agora que você compreendeu um pouco mais sobre as áreas de atuação da


Climatologia e da Meteorologia, bem como suas diferenças e conceitos,
abordaremos na aula seguinte os mecanismos do clima e seus principais
fatores e elementos de formação. Aproveite para aplicar seus conhecimentos
com as atividades propostas, e em seguida anote suas dúvidas. Bons estudos
e até a próxima aula!

@ Mídias Integradas

Para compreender um pouco mais sobre a


elaboração e interpretação de cartas sinóticas
visite o site MUNDOGEO disponível em
http://www.mundogeo.com

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Resumo: Nesta aula abordamos:
 visão integrada e sistêmica sobre o estudo do clima;
 os termos tempo e clima não são sinônimos;
 As áreas de atuação do Meteorologista e do Climatologista são
diferenciadas;
 Desde tempos remotos os estudos do tempo e das variações do clima
despertaram o interesse da humanidade e muitos avanços foram feitos
na área de processamento, análise e interpretação do clima,
proporcionando novos e cada vez mais avançados documentos e
ferramentas climáticas;
 A climatologia moderna busca superar as limitações da antiga
abordagem tradicional para tentar entender e explicar os eventos e
fenômenos climáticos do globo. E, para isso, o faz uso do computador e
de outros aparelhos mais modernos, como os satélites e radiossondas;
 O estudo sobre o clima tropical ocorreu de modo mais intenso após a 2ª
Guerra Mundial a partir de uma necessidade da aviação brasileira;
 A criação da Organização Meteorológica Mundial (OMM) contribuiu para
uma maior e melhor integração das bases de dados e informações
climáticas em escala planetária;
 A climatologia possui diversas subdivisões, dependendo da escala de
atuação dos fenômenos climáticos analisados ou mesmo de sua
especialização temática, a exemplo da Bioclimatologia e da Climatologia
urbana; sendo necessário subdividí-la em escalas, a saber:
macroescalas (El Niño e Efeito Estufa), mesoescalas (tornados, ciclones
e estudos sobre o clima urbano) e microescalas (estudo das nuvens e
fluxo de energia das florestas).

Informações Sobre a Próxima Aula


Na próxima aula aprofundaremos sobre os mecanismos do clima, quais são e
como funcionam os elementos e fatores climáticos; conhecer e compreender
quais são as principais características da atmosfera e suas diferentes
camadas; como se calcula o albedo planetário e os tipos de escalas de
temperatura; e ainda como funcionam os principais aparelhos de medição solar
e de variação termométrica e suas aplicações para a sociedade.

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Referências Bibliográficas

AYOADE, J. D. Introdução à Climatologia para os trópicos. Rio de Janeiro:


Bertrand Brasil, 1996. Capítulo 1, p.1-12.

CONTI, José Bueno & FURLAN, Sueli Angelo. “Geoecologia: o Clima, os Solos
e a Biota”. In: ROSS, J. L. S. Geografia do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2003,
p. 67-125.

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AULA 2: Mecanismos do clima – Parte 1

Curso: Meio Ambiente


Disciplina: Climatologia
Conteudista: Carolina Dias de Oliveira
Tutora: Camila Emídio Ribeiro

2. Mecanismos do clima

O clima é formado por uma junção de fatores e elementos que, simultaneamente atuam e
configuram as diferentes paisagens geográficas. Para tanto, primeiramente é necessário
diferenciar os termos FATOR e ELEMENTO climático. Por elemento climático entende-se
aquilo que compõe o clima, a exemplo da temperatura, da pressão e da umidade. Já os
fatores do clima configuram como aqueles que são capazes de alterar e modificar as
condições climáticas da área abrangida, apesar da atuação de determinado elemento. Por
exemplo, a maritimidade e a continentalidade são fatores climáticos na medida em que
interferem nas médias de temperatura e umidade das regiões em que atuam, mesmo que
estas estejam localizadas em faixas de latitude semelhantes. Outro exemplo de fator
climático é a altitude: quanto mais alto, menor é a temperatura. Sobre a Cordilheira dos
Andes há diversos países situados na faixa intertropical do planeta, todavia, a altitude acaba
por provocar médias de temperatura bem mais baixas do que o esperado para esta área.
Basta lembrar que há neve e até lagos congelados nas áreas mais elevadas de alguns países
andinos, a exemplo da Bolívia, Colômbia e Venezuela.

Como exemplos de fatores climáticos também podem citar as correntes marítimas, a


latitude, as massas de ar, o relevo, a cobertura vegetacional, e a ação antrópica associada à
urbanização e à modificação das paisagens naturais. Veremos sucintamente como cada uma
delas atua e modifica as relações climáticas em cada caso.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2


2

a) Latitude: O planeta Terra subdivide-se em faixas de latitude diferentes, conforme a


iluminação dos raios solares, a saber: zonas polares, zonas temperadas e ainda zonas
intertropicais (figura 2.1). Quanto mais nos aproximamos da linha do Equador (0º latitude),
maior será a média de temperatura verificada nessa parte do globo, sendo considerada,
portanto, como a zona mais quente. Isso ocorre porque é nessa faixa latitudinal que os raios
solares incidem com menor inclinação sobre a superfície terrestre, ou seja, formam ângulos
de 90º com a superfície, e assim permitem o máximo grau de aquecimento solar em uma
área menor. Por sua vez, quanto mais afastado estamos da linha equatorial, maior será a
inclinação dos raios solares, formando ângulos iguais ou até menores do que 45º, e,
portanto, aumentando a dispersão dos raios solares para áreas bem mais amplas, e assim,
diminuindo o potencial de aquecimento feito pelos raios solares, tornando-as regiões mais
frias.

Figura 2.1. Latitudes e zonas climáticas

Figura 2.1. Latitudes e zonas climáticas


Fonte: Adaptado de MATSUURA, O Atlas do Universo. São Paulo, Scipione, 1996.

Para compreender melhor este processo, faça uma analogia entre a Terra e o sol com uma
mesa e uma lanterna, respectivamente. Ao posicionar a lanterna em posição perpendicular à
mesa (formando um ângulo de 90º), nota-se uma iluminação mais intensa em um ponto

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central da mesa. Desta forma, há o maior aproveitamento dos raios solares por área,
semelhante ao que acontece na zona intertropical. Agora, ao inclinar a lanterna em relação
ao centro da mesa (formando ângulos menores do que 90º), nota-se uma faixa luminosa
bem mais extensa e dispersa sobre a área total da mesa. Quando isto ocorre, a capacidade
de absorção da energia luminosa diminui porque precisa aquecer uma área bem mais ampla,
diminuindo o aproveitamento dos raios solares. E é isso que ocorre nas regiões temperadas
e polares. A figura abaixo ilustra melhor estas situações:

Figura 2.2. Diferentes ângulos de incidência solar e a formação das faixas climáticas.
Fonte: http://fisica.ufpr.br/grimm/aposmeteo/cap2/cap2-1.html, acessado em 08/01/2010.

Pela figura anterior pode-se perceber que as variações na altura do Sol, formando diferentes
angulações entre a superfície terrestre e os raios solares, provocam variações na quantidade
de energia solar que atinge a Terra, configurando assim, as diferentes faixas climáticas. Na
situação (a), os raios solares incidem perpendicularmente à superfície terrestre, formando
ângulos de 90º, característico de áreas equatoriais e tropicais. Em (b), a incidência solar
atinge os 45º, típico de áreas temperadas e subtropicais, já em (c), a angulação dos raios de
sol é menor do que 45º, provocando a formação das faixas polares. Em resumo, é possível
afirmar que: quanto maior a altura, maior a energia recebida, como é descrito no esquema a
seguir.

Baixas latitudes (Equador e trópicos) – MAIOR temperatura


Altas latitudes (zonas temperadas e polares) – MENOR temperatura

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b) Altitude: Certamente você já deve ter percebido que faz mais frio quando se está no alto
de uma serra e também que o calor é mais intenso em mais planas e litorâneas. Isso
acontece porque a altitude se relaciona com a temperatura de modo inversamente
proporcional, ou seja, quanto maior é a altitude, menor será a temperatura e vice-versa. De
modo mais especifico, a temperatura do ar de um determinado local depende da absorção
dos raios solares pela superfície terrestre, já que é o sol a nossa principal fonte de calor e
energia e a atmosfera se aquece principalmente por irradiação. Assim, os raios solares
primeiramente aquecem a superfície terrestre para depois irradiar este calor para a
atmosfera. Como existe uma maior quantidade de umidade e gases atmosféricos próximos à
superfície, como veremos adiante, o calor absorvido é mais facilmente transportado para as
áreas de menor altitude. Da mesma forma, nas áreas mais elevadas, o ar Ar rarefeito: ar com pouca
quantidade de oxigênio.
se torna mais rarefeito, o que dificulta a transmissão de calor para estas
áreas. Em média, para cada 200 metros, há redução de 1ºC na temperatura. Em resumo
temos:
Quanto mais baixa altitude – MAIOR temperatura
Quanto mais alta altitude – MENOR temperatura

c) Massas de ar: As massas de ar correspondem a grandes porções da atmosfera que


adquirem características típicas do seu local de origem. Elas se formam no momento em
que o ar estacionado sobre amplas áreas de superfície - com características mais
homogêneas, a exemplo das florestas tropicais, desertos e zonas polares - faz com que uma
parte da atmosfera adquira suas características de temperatura, pressão e umidade. E assim
formam-se massas de ar frias e quentes, úmidas e secas, dependendo das características
locais de onde se formam, e que ao se deslocarem se interagem com as demais, trocando e
redistribuindo a sua energia inicial, na forma de calor e umidade.

Veja abaixo as principais massas de ar atuantes em nosso território:

- MASSA EQUATORIAL ATLÂNTICA (mEa): quente e úmida


- MASSA EQUATORIAL CONTINENTAL (mEc): quente e muito úmida
- MASSA TROPICAL ATLÂNTICA (mTa): quente e úmida

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2


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- MASSA TROPICAL CONTINENTAL (mTc): quente e seca


- MASSA POLAR ATLÂNTICA (mPa): fria e inicialmente seca

Figura 2.3. Tipos de massas de ar no Brasil no verão e no inverno


Fonte: MOREIRA &SENE, 2002, p. 482

Pela figura anterior nota-se que as massas tropicais e equatoriais geralmente possuem
temperaturas mais elevadas, se comparadas com as massas polares, tipicamente mais frias.
E aquelas originadas no oceano tendem a ser mais úmidas do que as geradas no continente,
tipicamente mais secas. Todavia, isso nem sempre é regra. O que importa de fato são as
características do local de formação destas massas de ar. Por exemplo, a massa Equatorial
continental (mEc), caracteriza-se por ser quente e úmida, apesar de ter se formado no
continente. Isso ocorre porque as elevadas temperaturas e a alta umidade amazônicas
favorecem uma forte evaporação local, favorecendo, portanto, o aumento da umidade.
Então nada mais lógico do que a massa Equatorial continental adquirir estas mesmas
características, ser quente e úmida. Da mesma forma, a massa Polar Atlântica (mPa) possui
água em abundância, porém esta se encontra sob o estado de gelo e neve, o que não lhe

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2


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confere maior umidade. E, assim, a mPa pode ser caracterizada como fria e inicialmente
seca.

É importante destacar também que a massa de ar vai perdendo suas características iniciais
na medida em que se desloca, até que em determinado instante sua temperatura e condições
depressão e umidade se assemelham às do local de atuação, perdendo sua capacidade de
alterar o clima. Imagine, por exemplo, que a massa Polar Atlântica perpassa a cidade de
Porto Alegre-RS com temperatura aproximada de 5ºC. Chega a Florianópolis-SC com 8ºC,
em Santos-SP com 16ºC e em Ilhéus-BA ela já atinge os 23ºC. Nota-se, assim, que durante
sua trajetória a massa de ar polar transferiu parte de sua energia, neste caso acentuando a
queda de temperatura, sobre as cidades da região tropical, amenizando e alterando as
condições de temperatura e umidade locais.

Em função de sua vasta extensão norte-sul, o Brasil possui uma grande diversidade
climática e que se reflete em uma grande biodiversidade vegetacional e de formação de
paisagens. Todavia, sobre a maior parte do território há o predomínio do clima tropical, em
geral úmido no verão e seco no inverno. Isso ocorre em função da atuação das massas de ar
em conjunto com a sua localização nesta faixa de latitude, como será aprofundado na Aula
3.

d) Maritimidade e Continentalidade: A água - na forma de oceanos, mares, rios e lagos -


e os continentes se aquecem ou se resfriam a partir da absorção do calor solar de modo
distinto. A água demora muito mais tempo para absorver e também para perder o calor
advindo do sol, ao passo que as porções continentais se aquecem e perdem este calor com
mais rapidez e facilidade. Isso se deve à diferença de calor especifico que cada um deles
possui. De modo que, em áreas próximas ao litoral, as médias de temperatura tendem a ser
mais elevadas e a oscilar menos (amplitude térmica) se
Calor específico: é a quantidade de
comparadas às áreas que se localizam no interior dos continentes. calor necessário para que um
corpo eleve em 1º C , 1 grama de
Logo, podemos afirmar que a água possui uma função de sua massa, de modo que quanto
maior o calor específico de um
regulador térmico do planeta, e a este fenômeno denominamos de corpo mais difícil será para ele
elevar a sua própria temperatura.
maritimidade e continentalidade. É por isso que no litoral baiano, Sua unidade de medida é cal/gºC.
por exemplo, as médias de temperatura anuais se mantém sempre

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2


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elevadas e apresentam amplitude térmica média pouco significativa, de aproximadamente


8ºC. Ao passo que em Cuiabá-MT, as médias anuais de temperatura oscilam muito,
chegando a 15 ou até 20ºC de amplitude térmica.

Em síntese, podemos concluir que as localidades que sofrem maior interferência da


continentalidade possuem uma amplitude térmica diária e sazonal bem mais elevadas do
que as áreas que sofrem a influência da maritimidade. E ainda que, ao observarmos o
planisfério, no hemisfério sul prevalece o efeito da maritimidade, visto que possui menor
quantidade de terras emersas se comparadas ao hemisfério norte, configurando a este
último, portanto, invernos bem mais rigorosos e verões mais quentes. Em resumo temos:

MARITIMIDADE – MENORES amplitudes térmicas


CONTINENTALIDADE – MAIORES amplitudes térmicas

e) Correntes marítimas: As correntes marítimas são extensas massas de água que se


movimentam pelos oceanos com características próprias de temperatura, salinidade e
densidade, conforme o seu local de origem, e que são capazes de alterar profundamente as
condições climáticas das regiões em que perpassam. Algumas delas são capazes de
interferir até mesmo no tipo de atividade econômica desenvolvida, como é o caso do Chile.

A formação das correntes marítimas resulta, dentre outros fatores, Efeito Coriolis: Desvio dos
ventos na faixa intertropical
pela influência dos ventos e ainda pela movimentação terrestre, em
resultante do movimento
seu sentido rotacional, fazendo com que as correntes migrem para rotacional terrestre. O efeito é
responsável pela estrutura
direções contrárias (Efeito Coriolis). Além disso, elas também circular de ciclones e
anticiclones, de modo que a
sofrem influência da densidade, que por sua vez é influenciada pela movimentação dos ventos nas
áreas anticiclonais do
temperatura. No Hemisfério Norte elas se movem no sentido horário, Hemisfério Norte se dá em
sentido anti-horário e no sentido
ao passo que no Hemisfério sul, elas se deslocam no sentido anti-
horário nas áreas de alta
horário. Elas podem se originar das áreas polares, formando as pressão do Hemisfério Sul. O
Efeito Coriolis também interfere
correntes frias, ou das regiões tropicais e equatoriais, configurando na dinâmica das correntes
oceânicas e redemoinhos.
as correntes quentes.

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Em síntese, as correntes marítimas frias, que são originadas nas áreas Ciclo convectivo: Movimento
de troca de energia dentro do
polares, possuem maior densidade e se direcionam para o Equador. sistema Terra-atmosfera,
especialmente atuante na
Na faixa equatorial, onde se formam as correntes marítimas quentes, variação da densidade a partir
as águas superficiais do oceano sofrem uma diminuição de densidade das mudanças de temperatura.
De modo que, as áreas mais
e se direcionam para os pólos, fechando o ciclo convectivo dos densas formadas nas áreas de
temperatura mais baixa
oceanos (ver figura 2.4. a seguir). tendem a se deslocar para as
áreas de menor densidade,
localizadas em áreas de maior
temperatura.

Figura 2.4. Tipos de correntes marítimas e áreas desérticas do globo


Fonte: http://www.brasilescola.com/geografia/correntes-maritimas.htm, acessado em 08/01/2010.

Assim, nota-se que as correntes quentes são capazes de amenizar os rigores climáticos de
onde perpassam, a exemplo da Corrente do Golfo sobre o leste europeu, e ainda aumentar a
umidade local através de chuvas intensas, como ocorre com a corrente quente do Brasil, a
Leste-australiana e a Corrente das Agulhas no sudeste africano. Já as correntes frias
contribuem para a formação de desertos frios, como é possível notar pelo mapa anterior, na
medida em que dificultam a evaporação das águas superficiais oceânicas e
conseqüentemente, inibem a formação de chuvas e umidade. São exemplos de correntes
marítimas frias a corrente de Humboldt ou do Peru, que atua sobre a costa oriental da
América do sul, a Corrente de Benguela, responsável pela formação do deserto de Calaari
na África meridional, e a Corrente sul-australiana, associada à formação do deserto Vitória.

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Como mencionado anteriormente, a passagem das correntes frias é fundamental para a


manutenção econômica de alguns países em que percorrem, como é o caso da atividade
pesqueira no Chile. Isso ocorre em função de um fenômeno conhecido como ressurgência.
À medida que a corrente fria de Humboldt percorre o litoral chileno, com maior densidade,
elas entram em contato com as águas mais profundas do oceano que
Plâncton: conjunto dos
possuem uma temperatura mais elevada, possuindo menor organismos que têm pouco poder
de locomoção e vivem livremente
densidade. Na busca por equilíbrio, as águas mais profundas e na coluna de água, chamados de
pelágicos, na maioria das vezes
menos densas “são empurradas” em direção às camadas mais
flutuantes sobre as correntes
superficiais, que são mais densas, forçando a troca entre elas. A maritimas. O plâncton encontra-
se na base da cadeia alimentar
partir deste “deslocamento de águas”, o plâncton que se dos ecossistemas aquáticos pois
serve de alimentação a
concentrava nas águas mais profundas do oceano se aglomera mais organismos maiores. (adaptado
de wikipedia, acessado em
próximo à superfície, atraindo os cardumes de peixe e facilitando, 11/01/2010.
assim, a pesca.

@ Mídias Integradas

Para saber mais sobre o Efeito Coriolis, assista ao vídeo:


Coriolis Effect on the Surface of the Earth, disponível em
http://www.youtube.com

f) Cobertura vegetacional: A vegetação age simultaneamente como agente modificador


das condições climáticas locais e ainda como um reflexo destas, dependendo somente da
escala de análise. Na medida em que a cobertura vegetal dificulta a penetração dos raios
solares diretamente sobre a superfície, e ainda favorecem a percolação da água pluvial no
solo, elas contribuem para um ambiente mais úmido e com temperaturas mais amenas. Ao
passo, que após a retirada desta vegetação, o clima tende a se caracterizar por uma baixa

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2


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umidade e possuir temperaturas elevadas, típicas de áreas desérticas. Todavia, se pensarmos


em uma escala global, um aumento ou diminuição significativa de temperatura (como
sugerem o aquecimento global e as glaciações), há o risco de Cerradização: expansão das
comprometer toda a manutenção dos ecossistemas ou mesmo características fitogeográficas
do bioma cerrado sobre outros
contribuir para a sua adaptação, com o já é possível observar através domínios vegetacionais, que
ocorre em especial em função
da expansão do domínio do cerrado na Amazônia, em um processo de uma grave alteração
climática e/ou antrópica.
conhecido como cerradização.

Geralmente, a cobertura vegetal encontra-se associada à altitude e à latitude, diminuindo


em porte e biodiversidade na medida em que se localiza mais próximo das áreas polares e
das áreas mais elevadas (ver figura 2.5. a seguir).

Figura 2.5. Relação vegetação-altitude-latitude


Fonte: desconhecida

g) Ação antrópica: O homem, apesar de sua breve estadia dentro da história geológica da
Terra, foi capaz de alterar o planeta em um ritmo jamais visto. Construções gigantescas,
urbanização desordenada e acelerada, canalização de córregos, pontes e toda a infra-
estrutura necessária para a instalação de grandiosos parques industriais são responsáveis
pela maior parte dos problemas ambientais estudados e ocorridos no planeta. A poluição, o
desmatamento, o consumo elevado e desenfreado dos recursos naturais e minerais, entre
outras ações, tem gerado sérias conseqüências para o meio ambiente, e conseqüentemente

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2


11

para o futuro da humanidade. Tais conseqüências e impactos, em especial os climáticos,


serão abordados com maior profundidade nos capítulos posteriores.

Saiba mais

Para saber mais sobre os fatores e elementos climáticos, bem


como obter imagens de satélites atualizadas diariamente ou
ainda montar gráficos de temperatura, precipitação e outras
variáveis para todas as capitais brasileiras, acesse:
<www.inmet.gov.br>

2.1 - A atmosfera terrestre

Para se compreender melhor o clima e suas alterações é essencial conhecer as


características e mecanismos principais que regem a camada gasosa do planeta. A
atmosfera terrestre é composta por uma mistura complexa de gases estáveis e que, além de
permitir a sobrevivência humana a partir da existência da camada de ozônio e do Efeito
Estufa, é também responsável pela formação dos principais eventos meteorológicos que
regem o planeta e o cotidiano das sociedades, tais como a chuva, a neve, a formação das
nuvens, o granizo, a neblina, os furacões, tornados, ciclones, entre outros. E é por isso que
tratarmos da composição da atmosfera e de suas características com maior detalhamento
neste capitulo.

2.1.1 - A composição físico-química da atmosfera

Como já mencionado anteriormente, a atmosfera é constituída por uma mistura de


diferentes gases, sendo que os mais importantes e abundantes são o nitrogênio e o oxigênio,
associados obviamente ao vapor d’água (ver tabela 2.1). Este último está presente em sua
camada mais inferior, a troposfera, e que pode variar em quantidade conforme a localização
no planeta, sendo maior nas áreas oceânicas e menor nas áreas mais desérticas e polares.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2


12
Tabela 2.1. Composição média da atmosfera seca abaixo de 25 quilômetros
(segundo BARRY & CHORLEY, 1976).

Gás Volume % (ar seco)


Nitrogênio (N2) 78,08
Oxigênio (O2) 20,94
Argônio (Ar) 0,93
Bióxido de carbono (CO2) 0,03 (variável)
Neônio (Ne) 0,0018
Helio (He) 0,0005
Ozônio (O3) 0,00006
Hidrogênio (H) 0,00005
Criptônio (Kr) Indícios
Xenônio (Xe) Indícios
Metano (Me) Indícios
Fonte: AYOADE, 1996, p.16.

A formação do ozônio ocorre nas camadas superiores da atmosfera, em especial na


estratosfera, entre 15 a 35 quilômetros acima da superfície terrestre. E é formado quando as
moléculas de oxigênio rompem seus átomos e se ligam individualmente a outras moléculas
de oxigênio, sob a influência da radiação ultravioleta. (AYOADE, 1996, p.15-16). Assim,
sua concentração é maior nos pólos e muito baixa na faixa equatorial, em função da menor
espessura das camadas atmosféricas sobre as áreas polares e em decorrência das
temperaturas mais baixas nesta parte do globo (Lei dos
gases de Boyle). Lei dos gases de Boyle: referente à
Equação ou lei dos gases perfeitos, em que
uma relação matemática permite
Enquanto uma mistura de gases a atmosfera também possui relacionar três variáveis de estado de uma
amostra gasosa: pressão, temperatura e
uma massa, de modo que os gases mais pesados e densos se volume e quantidade de gás da amostra.
Esta se traduz na seguinte equação: P*V =
concentram nas camadas inferiores da atmosfera e os mais n *R*T, sendo que: P é pressão (medida
em unidade de atmosfera ou atm), V indica
leves nas camadas superiores (ver gráfico 2.1 a seguir). Em o volume ocupado pelo gás (em decímetros
geral, sabe-se que aproximadamente 50% do total da massa cúbicos ou dm3), “n” representa o número
de moles e T a temperatura (medida em
atmosférica esta concentrada abaixo dos 5 quilômetros de graus Kelvin ou K). Em síntese, podemos
afirmar que quando um dado volume
altitude, e é por isso que na Climatologia o estudo sobre as gasoso entra em contato com um ambiente
de temperatura muito elevada, este gás
camadas mais inferiores da atmosfera é enfatizado, pois é tende a se expandir (maior movimentação
molecular), formando áreas de BAIXA
nelas que a maior parte dos eventos climáticos ocorre. PRESSÃO; e em contrapartida, em
ambientes mais frios, os gases tendem a
sofrer contração (menor movimentação
molecular, configurando áreas de ALTA
PRESSÂO. Dessa forma é possível
compreender a relação entre as faixas
climáticas e as variações de pressão no
globo.
Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2
13

Gráfico 2.1. Distribuição vertical da massa da atmosfera (conforme BARRY & CHORLEY, 1976).
Fonte: AYOADE, 1996, p.19

Ao nível do mar, a composição atmosférica predominante, como vimos na tabela 2.1, é de


nitrogênio (78%) e oxigênio (21%), sendo que o 1% restante compõe os demais gases
listados, incluindo o gás carbônico. À medida que nos direcionamos para as altitudes mais
elevadas, a atmosfera se torna mais rarefeita e sua composição pode ser alterada. Por
exemplo, se um ser humano estivesse a 80 quilômetros de altitude, este morreria por
asfixia, já que nesta altitude o oxigênio é praticamente inexistente.

2.1.2 - A estrutura vertical da atmosfera

A atmosfera possui diferentes camadas com características distintas e que regem alguns
fenômenos climáticos globais (ver figura 2.6). È essencial saber diferenciá-las e
caracterizá-las conforme sua importância para os estudos do tempo e do clima. Em síntese,
a atmosfera pode ser subdivida em:

a) Troposfera: corresponde à camada mais baixa da atmosfera e que está em contato com a
superfície terrestre. É também a camada onde se concentra a maior parte dos gases
atmosféricos, cerca de 75% deles, e onde há maior ocorrência dos principais fenômenos
meteorológicos (chuvas, ventos, nuvens, raios, trovões, furacões, etc). Sua altitude média é

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2


14

de 11 Km – acima dos quase 9Km correspondentes à maior cadeia de montanhas do


mundo: o Himalaia, mas pode atingir até 15 Km nas áreas equatoriais e somente 8 Km nos
pólos. Esta diferença se explica pela variação das radiações solares - que como já vimos,
interfere na temperatura global, formando as diferentes faixas climáticas – e ainda pelas
estações do ano e da situação meteorológica do local especifico. Em relação à temperatura,
verifica-se que há uma contínua diminuição desta com o aumento da altitude, ou seja,
quanto mais alto mais frio e vice-versa. Tal diminuição se dá em torno de 6,5º C por
quilômetro. Na parte superior da troposfera se localiza a tropopausa, que se caracteriza por
ser uma camada de transição entre as camadas atmosféricas em que há condições de
inversão de temperatura, e que
efetivamente limitam as trocas de
energia e outras atividades do
tempo atmosférico. A altitude da
tropopausa, todavia, é variável no
planeta, sendo mais elevada no
Equador (aproximadamente 16 Km
de altitude).

b) Estratosfera: é a camada
superior à troposfera, após a
tropopausa, atingindo o seu limite
a mais de 50 km de altitude. Nela,
verifica-se uma menor quantidade
de vapor d’água, aproximadamente
um décimo em relação à
troposfera, e é considerada
fundamental para a vida no planeta
em função da existência da camada
de ozônio. A temperatura, ao
contrário da troposfera, é
diretamente proporcional ao
Figura 2.6. Camadas da atmosfera
Fonte: http://mundoamorrer.com.sapo.pt/atmosfera.jpg,
acessado em 15/01/2010.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2


15

aumento da altitude, ou seja, quanto mais alto, mais quente. Isso


Reação exotérmica:
ocorre em função da liberação de energia necessária para a corresponde a uma reação
formação do ozônio, configurando uma reação exotérmica. O química cuja energia total dos
seus produtos é menor que a de
ozônio é produzido naturalmente na estratosfera pela ação seus reagentes, ou seja, ela
libera energia, em geral sob a
fotoquímica dos raios ultravioleta sobre as moléculas de oxigênio. forma de calor (Adaptado de
wikipedia, acessado em
Esses raios são suficientemente intensos para separar os dois átomos 11/01/2010).
que compõem a molécula de O2 produzindo assim o oxigênio
Catalisador: é uma substância
atômico. A produção de ozônio é realizada numa etapa que afeta a velocidade de uma
reação, sem alterar o resultado
imediatamente posterior, resultando da associação de um átomo de deste processo. O catalisador
pode diminuir a energia de
oxigênio e uma molécula de O2 na presença de um catalisador. ativação necessária para
desencadear a reação quimica,
(SILVA, CRUZ, PORTO, GODOY, FREITAS, ALVES & aumentando, portanto, a
DAMACENO, 2002). velocidade da reação.

Combinação alotrópica: rela-


Como abordado anteriormente, o ozônio é um gás que absorve os cionado à alotropia, que
corresponde a um fenômeno em
raios ultravioletas nocivos aos seres vivos e é fundamental para a que um mesmo elemento
químico forma duas ou mais
nossa sobrevivência no planeta, pois sem este bloqueio morreríamos substâncias simples diferentes.
O oxigênio (O2) e o ozônio (O3)
queimados pelos raios solares. Todavia, é a própria radiação são exemplos de combinações
ultravioleta a responsável pela formação da camada de ozônio alotrópicas.

presente na estratosfera, a partir da combinação alotrópica com o oxigênio (O3). Após


atingir os 80 Km de altitude, o ozônio desaparece porque também inexiste o oxigênio, e
assim a temperatura volta a declinar, podendo alcançar os -83º C. Na parte superior da
estratosfera se localiza a estratopausa, que também se configura como uma camada de
transição. Juntas, a troposfera e a estratosfera compõem a chamada “atmosfera inferior” e
que corresponde à fonte de estudos da Climatologia e da Meteorologia.

Saiba mais

Para saber mais sobre a formação do ozônio e os impactos


nocivos sobre o aumento do buraco desta camada para os
seres humanos, consulte http://wwwp.fc.unesp.br >

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2


16
Íons: conceito da química, em que
c) Mesosfera: situada na porção superior à estratosfera e à um íon corresponde a uma molécula
estratopausa, possui temperaturas inversamente proporcionais à ou átomo que ganhou ou perdeu
elétrons em um processo conhecido
altitude, de modo que a temperatura diminui até atingir como ionização.

aproximadamente os -90º C, sendo que a pressão atmosférica é Aurora Boreal: é um fenômeno


visual que ocorre nas regiões
muito baixa. polares do globo. Pode ser
visualizado a olho nu, durante a
noite ou no final de tarde, nas
d) Ionosfera ou Termosfera: é a quarta camada da atmosfera, regiões onde ocorrem. São
sendo caracterizada pela forte presença de íons, em forma de verdadeiros shows de luzes
coloridas e brilhantes, que ocorrem
raios-X e radiação ultravioleta, o que provoca a ionização ou em função do contato dos ventos
solares com o campo magnético do
carregamento elétrico e permite que as transmissões de rádio e planeta Terra. Ela pode aparecer
em diferentes formatos: como pontos
algumas ondas sonoras ocorram na superfície, pois é capaz de luminosos, faixas horizontais ou
circulares, porém sempre alinhadas
refletir ondas longas e médias. Também é nesta camada que é ao campo magnético terrestre. As
ocorre o fenômeno aurora boreal. Possui temperaturas cores podem variar entre o
vermelho, laranja, azul, verde e
baixíssimas e ar bastante rarefeito, visto que as densidades dos amarelo, ou mesmo aparecer
multicolorida, como se fosse um
gases também são muito baixas. “arco-íris noturno”. (Adaptado de
http://www.suapesquisa.com/geogra
fia/aurora_boreal.htm, acessado em
e) Exosfera ou espaço sideral: estende-se de uma altitude 11/01/2010).

entre 500 a 750 Km acima da superfície terrestre e vai além. Os átomos de oxigênio,
hidrogênio e hélio formam uma atmosfera muito tênue e as leis dos gases deixam de ter
validade, assim ela se torna menos densa até se confundir com o espaço exterior. Somente
as naves espaciais e
satélites já atingiram
esta camada
atmosférica. Juntas, a
mesosfera, a ionosfera
e a exosfera formam a
chamada “atmosfera
superior”, que se
comparada à inferior,
Figura 2.7. Aurora Boreal.
ainda se encontra Fonte: http://www.joaquimevonio.com/espaco/malubarni/
malubarni_clip_image001_0001.jpg, acessado em 11/01/2010.
relativamente
inexplorada.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2


17

2.1.3 - O balanço de energia na atmosfera terrestre

O balanço de radiação, segundo AYOADE (1996, p. 36), significa “a diferença entre a


quantidade de radiação que é absorvida e emitida por um dado corpo ou superfície”, é
consiste no método utilizado para calcular a quantidade de energia proveniente do Sol que
atinge a superfície de uma região. Deste modo, o balanço de radiação contabiliza a energia
que chega até a atmosfera, a energia que é absorvida por esta, a energia que é refletida para
o espaço e a energia absorvida pela superfície terrestre. Contudo deve-se ressaltar que nem
toda energia que chega ao topo da atmosfera atinge a superfície, sendo que 31% é refletida
para o espaço sem ser aproveitada, e as nuvens contribuem refletindo 23% da energia
incidente. Essa energia refletida representa o que chamamos de
albedo planetário. O restante da energia incidente é absorvida Albedo planetário: Relação entre a
quantidade de luz refletida em uma
pela atmosfera em sua maior parte pela superfície da terra. Em superfície e a quantidade incidente
sobre ela. Em geral o termo é
geral, o albedo terrestre é positivo durante o dia e negativo à noite, aplicado a corpos celestes dentro
do sistema Solar.
e também pode oscilar conforme as variações sazonais e
latitudinais.

Apesar de a atmosfera ser muito transparente e favorecer a radiação solar incidente, há uma
significativa variação na quantidade de radiação solar que é absorvida e/ou refletida, sendo
que somente 25% penetra diretamente na superfície da Terra sem sofrer nenhuma
interferência da atmosfera, chamada de insolação direta. Os 75% restantes, ou são refletidos
novamente para o espaço ou são absorvidos e espalhados até atingir a superfície da Terra,
podendo retornar para o espaço, como ode ser verificado pelas figuras 2.8 e 2.9 a seguir.
Todavia, o que determina se a radiação solar será absorvida, espalhada ou refletida de volta
depende em grande parte do comprimento de onda da energia que está sendo transportada,
bem como do tamanho e natureza do material que intervém. As figuras a seguir ilustram
esquematicamente como ocorre o balanço de radiação terrestre:

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18

Figura 2.8. Balanço da Radiação Terrestre.


Fonte: http://wwwp.fc.unesp.br/~lavarda/procie/dez14/angelina/index.htm, acessado em 07/01/2010.

Figura 2.9. Interação da Radiação Solar com a atmosfera Terrestre.


Fonte: http://www.aticaeducacional.com.br/images/secoes/atual_cie/img/radiacao.jpg, acessado em
08/01/2010.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2


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Embora a radiação solar incida em linha reta, os gases e aerossóis podem causar seu
espalhamento, dispersando-a em todas as direções. A reflexão, por exemplo, é um caso
particular de espalhamento. A insolação difusa é constituída de radiação solar que é
espalhada ou refletida de volta para a Terra. Esta insolação difusa é responsável pela
claridade do céu durante o dia e pela iluminação de áreas que não recebem iluminação
direta do sol. Grande parte da energia da radiação solar está contida no intervalo visível,
entre o vermelho e o violeta. A luz azul tem comprimento de onda menor que a luz
vermelha e, conseqüentemente, a luz azul é aproximadamente 5,5 vezes mais espalhada que
a vermelha. Além disso, ela é mais espalhada que o verde, amarelo e laranja, e é por este
motivo que o céu, longe do disco do sol, parece azul aos olhos humanos, visto que o olho
humano é mais sensível à luz azul do que à luz violeta.

A coloração avermelhada do céu ao nascer e pôr do Sol, pode ser explicada porque quando
o Sol se aproxima do horizonte a radiação solar percorre um caminho mais longo através
das moléculas de ar, e portanto mais e mais luz azul e com menor comprimento de onda é
espalhada para fora do feixe de luz, e assim, a radiação solar contém mais luz do extremo
vermelho do espectro visível. Tal fenômeno se torna ainda mais visível em dias com poeira
ou fumaça.

Já as nuvens possuem coloração branca em função de um espalhamento da radiação de


modo igual em todos os comprimentos de onda. E, como as partículas que compõem as
nuvens se constituem de pequenos cristais de gelo ou gotículas de água, a maior parte dos
aerossóis atmosféricos espalha a luz do Sol desta maneira. Por isso, as nuvens parecem
brancas e quando a atmosfera contém grande concentração de aerossóis o céu inteiro
aparece esbranquiçado. Por sua vez, o espalhamento de luz visível por gotas de nuvens,
gotas de chuva e partículas de gelo pertence a este regime e produz uma variedade de
fenômenos óticos como arco íris e as auréolas solares.

Como abordado anteriormente, aproximadamente 30% da energia solar é refletida de volta


para o espaço, incluindo a quantidade de luz solar que é retroespalhada. A reflexão ocorre

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2


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na interface entre dois meios diferentes, quando parte da Lei da reflexão: é o fenômeno em que
a luz volta a se propagar em direção
radiação que atinge esta interface é enviada de volta. Nesta ao seu meio de origem, após incidir
sobre um objeto ou superfície. As leis
interface o ângulo de incidência é igual ao ângulo de reflexão fundamentais da reflexão podem ser
listadas da seguinte forma: 1ª) O raio
de luz refletido e o raio de luz
(lei da reflexão) e a fração da radiação incidente que é refletida incidente, assim como a reta normal
à superfície, são coplanares, isto é,
por uma superfície é o seu albedo. pertencem ao mesmo plano. 2ª) O
ângulo de reflexão é sempre igual ao
ângulo de incidência. Deste modo,
Se um objeto ou superfície é um bom refletor das ondas, por sua para superfícies de naturezas
vez, serão fracos absorvedores destas, independente do diferentes, a quantidade de luz
incidida pelos raios solares pode
comprimento de onda. A neve fresca, por exemplo, é capaz de variar a quantidade de luz que é
refletida novamente para a
refletir quase a totalidade dos raios que incidem sobre ela, ao atmosfera.

passo que os espelhos d’água absorvem a maior parte, devolvendo uma pequena quantidade
desta radiação de volta para a atmosfera. As refletividades de algumas superfícies para o
intervalo de comprimentos de onda da radiação solar, dentro de um intervalo visível, são
listados na tabela 2.2. a seguir.
Tabela 2.2. Albedo para algumas superfícies no intervalo visível (%)
Solo descoberto 10-25
Areia, deserto 25-40
Grama 15-25
Floresta 10-20
Neve (limpa, seca) 75-95
Neve (molhada e/ou suja) 25-75
Superfície do mar (sol > 25° acima do horizonte) <10
Superfície do mar (pequena altura do sol) 10-70
Nuvens espessas 70-80
Nuvens finas 25-50
Fonte: http://fisica.ufpr.br/grimm/aposmeteo/cap2/cap2-6.html, acessado em 08/01/2010.

Portanto, o albedo planetário é de 30%, e varia no espaço e no tempo, dependendo da


natureza da superfície, como pode ser visto pela tabela anterior, e ainda pela altura do Sol.
O topo das nuvens, dentro da atmosfera, são os mais importantes refletores. O albedo dos
topos de nuvens depende de sua espessura, variando de menos de 40% para nuvens finas a
80% para nuvens espessas. Da mesma forma que refletem grande quantidade de energia
vinda do sol, as nuvens absorvem enormes porções da energia refletida pela superfície. Por

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isso são muito importantes, pois funcionam como barreira para a insolação emitida pela
terra impedindo que o planeta esfrie demasiadamente. Ou seja, as nuvens funcionam como
controladoras da temperatura da superfície do planeta e qualquer processo que altere a
quantidade média das nuvens afetará a nossa vida.

Outro elemento importante é o gás carbônico que juntamente com as nuvens controla a
temperatura da terra. Ele absorve a energia emitida pela superfície e juntamente com o
vapor d’água é um dos principais constituintes do chamado efeito estufa, fenômeno natural
sem o qual a vida do planeta não existiria como conhecemos. Assim, os gases se
configuram como bons absorvedores da radiação disponível e tem papel fundamental no
aquecimento da atmosfera.

Deve-se destacar ainda que as radiações eletromagnéticas são o veículo utilizado pelo sol
para transportar a energia para nosso planeta. O sol não envia apenas as duas radiações
mais úteis, a infravermelha e a visível, mas também uma mistura de radiações, algumas
delas nocivas à vida. A energia do sol é parcialmente absorvida e refletida pela atmosfera,
pois, se ela chegasse totalmente à superfície do planeta, não existiria vida na Terra.
(SILVA, CRUZ, PORTO, GODOY, FREITAS, ALVES & DAMACENO, 2002).

a) Instrumentos de medição da Radiação Solar:


Muitos instrumentos podem ser utilizados para medir os componentes do balanço de
radiação, mas em geral são muito caros. Há cinco tipos básicos de instrumentos para mediar
a radiação:
1. Pireliômetro: mede a intensidade solar, ou seja, a radiação solar de raios diretos, em
incidência normal. È bastante caro, mas é o que possui maior precisão e por isso são
utilizados como padrões de calibração;
2. Piranômetro: mede a radiação total, em ondas curtas, vindas do céu e incidente em uma
superfície horizontal do planeta;
3. Pirgeômetro: mede a radiação infra-vermelha.
4. Pirradiômetro: mede simultaneamente a radiação infravermelha e a radiação solar;
5. Radiômetro líquido: mede a radiação líquida ou o balanço de radiação.

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Figura 2.12. Pirgeômetro.


Fonte:
http://img.directindustry.es/imag
es_di/photo-g/pirgeometro-
394101.jpg, acessado em
08/01/2010.

Figura 2.10. Pireliômetro. Figura 2.11. Piranômetro.


Fonte: Fonte:
http://www.mast.br/images/n http://www.ufpel.tche.br/faem/fitotec
av_h03_txt311g8.jpg, nia/graduacao/agromet/images/pirano
acessado em 08/01/2010. metro.jpg, acessado em 08/01/2010.
Figura 2.14.
Radiômetro.
Fonte:
http://www.nei.com.
br/images/
lg/234993.jpg,
acessado em
08/01/2010.

Figura 2.13. Pirradiômetro.


Fonte: www.telecom.at/schenk/8111.html,
acessado em 08/01/2010.

Segundo AYOADE (1996, p.46-47), como estes instrumentos de medida de radiação são
muito sofisticados e possuem custo bastante elevado, em geral não são utilizados na maior
parte das áreas tropicais. Ao invés disso, a insolação é calculada utilizando-se o integrador
de radiação Gunn Belani ou o registrador de luz solar Campbell-Stokes, sendo que o
primeiro pode ser descrito como um tipo esférico de piranômetro, e o segundo constitui-se
de uma esfera de vidro que dirige os raios do sol para um cartão sensível graduado em
horas e preso a uma meia bola de metal, com a qual a esfera se mantém concêntrica. Este
instrumento geralmente é montado sob um pilar de concreto a 1,5 metros da superfície.
Assim, a luz solar queima uma trilha ao longo do cartão sensível, enquanto os períodos

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2


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nublados permanecem em branco. Logo, a duração total dos períodos de sol em um dia é
obtida medindo-se o comprimento total do traço marrom no cartão.

2.2 - A temperatura do ar

Assim como as chuvas e a precipitação, um importante Termodinâmica: é o ramo da física


que estuda as relações entre calor,
elemento climático é a temperatura. Segundo a temperatura, trabalho e energia.
Termodinâmica, a temperatura pode ser definida a partir do Abrange o comportamento geral dos
sistemas físicos em condições de
movimento interno das moléculas, de modo que quanto mais equilíbrio ou próximas dele. Qualquer
sistema físico, seja ele capaz ou não de
rápido estas moléculas se movimentam, maior será a trocar energia e matéria com o
ambiente, tenderá a atingir um estado
temperatura e vice-versa. De modo geral, notamos a de equilíbrio, que pode ser descrito
pela especificação de suas
temperatura em termos relativos, a partir do grau de calor que propriedades, como pressão,
um corpo possui. Logo, a temperatura é a condição que temperatura ou composição química.
Se as limitações externas são alteradas
determina o fluxo de calor que passa de um corpo para outro, (por exemplo, se o sistema passa a
poder se expandir), então essas
se deslocando em geral daquele que possui temperatura mais propriedades se modificam. Logo, a
termodinâmica tenta descrever
elevada para aquele que possui menor temperatura. A matematicamente essas mudanças e
prever as condições de equilíbrio do
temperatura dos corpos pode ser medida através dos sistema. (Fonte:
termômetros. http://www.coladaweb.com/fisica/term
ologia/termodinamica, acessado em
11/01/2010).
Por sua vez, a temperatura atmosférica é definida como o
“estado térmico do ar atmosférico”, ou seja, o estado frio ou quente da atmosfera. Embora a
Terra irradie energia própria advinda das radiações, a energia responsável pelo estado
térmico da atmosfera é proveniente plenamente do sol. Recebemos do Sol uma grande
quantidade de radiações através de ondas curtas, que são parcialmente absorvidas na
ionosfera, na camada de ozônio, pelo vapor d’água, etc. E como vimos na abordagem sobre
o albedo planetário, apenas 47% das radiações atingem a superfície terrestre. Estas, ao
atingirem a superfície terrestre são absorvidas e novamente refletidas para a atmosfera, na
forma de calor (ondas longas), aquecendo-as de baixo para cima. O calor proveniente da
superfície terrestre, encontrando o céu limpo, dissipa-se na atmosfera, mas quando encontra
camadas de nuvens, é, por estas, re-irradiado de volta para a Terra, provocando sensível
aquecimento do ar junto à superfície terrestre.

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24

Segundo AYOADE (1996, p.52), “a temperatura do ar varia de lugar e com o decorrer do


tempo em uma determinada localidade”. E a distribuição da temperatura em uma área,
geralmente é demarcada pelas linhas isotérmicas, ao passo que a variação de temperatura
em uma escala de tempo é representada através de gráficos. Dentre os fatores que
influenciam a distribuição da temperatura sobre a superfície terrestre podemos citar: a
quantidade de insolação recebida, a natureza da superfície, a distância do oceano
(maritimidade), as variações do relevo, a direção predominante dos ventos e a atuação das
correntes marítimas. Em função dos diversos fatores climáticos citados, a temperatura
atmosférica sofre variações diárias, mensais e anuais. Este assunto será abordado nos
subitens seguintes.

2.2.1 - As escalas termométricas

A temperatura corporal, como já dito anteriormente, é medida pelos termômetros. No


geral, a temperatura é medida em graus Celsius (ºC), mas pode também ser convertida para
graus Kelvin (K) ou Fahrenheit (° F).

a) Breve histórico sobre as medidas e instrumentos de temperatura:

Conforme BERTULANI, o primeiro termômetro surgiu na idade média, e era conhecido


por “termoscópio”. Eles consistiam em um bulbo contendo um longo tubo longo com um
extremo mergulhado em água colorida, e em geral, usava o vinho. Um pouco do ar no tubo
era expulso antes de colocar o líquido, permitindo que o líquido subisse no tubo. Quando o
ar restante no tubo e no bulbo era aquecido ou resfriado, o nível do líquido no tubo variava,
refletindo assim, uma mudança na temperatura do ar. E uma escala no tubo permitia que
uma medida quantitativa dessas flutuações fosse feita.

Em 1702, o astrônomo Ole Roemer de Copenhagen utilizou dois pontos fixos em sua
escala: gelo e água em ebulição. E em 1724, um consertador de instrumentos em Danzig e
Amsterdam, Gabriel Fahrenheit, usou o mercúrio como líquido de termômetro. Isso porque
a expansão térmica do mercúrio é maior e mais uniforme do que as substâncias
anteriormente utilizadas, além de não aderir ao vidro e permanecer sob o estado líquido em
um grande intervalo de temperaturas, além disso, sua aparência metálica facilitava a leitura.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2


25

Na escala usada por Fahrenheit, o ponto de ebulição e congelamento da água foram


definidos respectivamente como 212 e 32, de modo que o intervalo entre os dois pontos
pudesse ser representado pelo número 180. As temperaturas medidas nessa escala são
chamadas de graus Fahrenheit (° F).

Em 1745, o sueco Carolus Linnaeus de Upsala definiu a escala do centigrado, ou “passo de


cem”, ao descrever uma escala em que o ponto de congelamento da água era zero e o ponto
de ebulição 100. Já Anders Celsius usou a escala contrária, em que o zero representava o
ponto de ebulição da água e 100 o seu ponto de congelamento, mantendo os 100 graus de
diferença entre os dois pontos de definição.

Em 1948 o uso da escala de Centigrado foi trocado pelo uso de uma nova escala de graus
Celsius (° C). Esta é definida pelos pontos triplos da água, definido como 0.01° C, e ainda
pelo fato de que um grau Celsius equivale à mesma mudança de temperatura que um grau
numa escala de gás ideal. Na escala Celsius o ponto de ebulição da água nas condições
normais de pressão atmosférica é 99.975º C, em contraste com os 100 graus definidos pela
escala do Centigrado.

b) Cálculos e conversões entre as medidas de temperatura:

Para converter uma escala de graus Celsius para Fahrenheit, basta multiplicar por 1.8 e
somar 32, conforme a fórmula: ° F = 1.8° C + 32. E para converter uma escala de graus
Celsius para Kelvin, basta somar 273, como demonstrado na fórmula: K = ° C + 273.

Na escala Kelvin, 1 K (1 Kelvin) corresponde a 1º C (1 grau Celsius, Centígrado) e tem


como zero absoluto a temperatura correspondente a –273,15ºC ou –459,4ºF (Fahrenheit).
Sua vantagem é de não apresentar temperaturas negativas, facilitando as medições térmicas
em baixíssimas temperaturas.

Estas medidas são ainda hoje as mais utilizadas em escala planetária para se medir a
temperatura, inclusive a atmosférica. Na tabela 2.3 a seguir, é possível comparar as três as
escalas.

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26
Tabela 2.3. Comparação entre as escalas de medida de temperatura

ºC K ºF
Água em ebulição 100 373 212
Água congela 0 273 32
Zero absoluto -273 0 -459
Fonte: BERTULANI, C. A. disponível em http://www.if.ufrj.br/teaching/fis2/temperatura/temperatura.html,
acessado em 08/01/2010.

2.2.2. As variações espaciais, sazonais e diárias da temperatura

a) variação espacial: A latitude é a principal responsável pela variação da temperatura no


globo terrestre, na medida em que controla a quantidade de insolação que um determinado
lugar recebe. Como já vimos anteriormente, isso ocorre em função do ângulo de incidência
que os raios solares atingem a superfície terrestre (rever figura 2.2) e, portanto, ocorre a
formação das diferentes faixas climáticas. Além disso, a quantidade de nuvens e a elevada
emissão de aerossóis para a atmosfera também afetam o volume da energia solar que atinge
a superfície terrestre.

A natureza ou tipo de superfície, como já abordamos, determinam os valores do albedo e do


calor especifico. Se os valores de albedo forem elevados, menos radiação será absorvida
pela superfície para que esta possa elevar sua temperatura. Do mesmo modo, se o calor
especifico da superfície for elevado, maior quantidade de energia deverá ser absorvida pela
superfície para aumentar sua temperatura. O calor específico da água do mar, por exemplo,
é de 0,94 ao passo que o do granito é 0,2. Logo, a água tem mais dificuldade para absorver
o calor e elevar sua temperatura, demorando mais tempo para se aquecer e também para se
resfriar.

A influência da maritimidade e da continentalidade também interfere nas características


térmicas do globo. E como conseqüências destes fatores temos que a amplitude térmica
tende a ser maior nas localidades interiores do que nas localidades costeiras, e ainda que o
Hemisfério Norte, por causa de sua maior quantidade de áreas continentais emersas, possui
verões mais quentes e invernos mais rigorosos do que os do Hemisfério sul.

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27

O relevo e a altitude também possuem efeitos atenuadores sobre a temperatura, em especial


porque a temperatura do ar normalmente diminui com a altitude. Em áreas mais inclinadas
e íngremes, a inclinação dos raios solares age de modo análogo às áreas polares e
temperadas. Há localidades que, mesmo estando localizadas em uma mesma faixa
climática, se divergem significativamente em suas medias térmicas em função da altitude e
do tipo de relevo.

b) Variação sazonal: As variações sazonais da temperatura resultam predominantemente


das oscilações no volume de insolação recebida pelo globo, associadas ao movimento de
translação terrestre, e configurando as quatro estações do ano. As temperaturas são mais
levadas durante o verão, quando o volume de insolação atinge o seu ápice, e diminuem
durante o inverno. De modo geral, podemos afirmar que as variações sazonais de
temperatura aumentam com a latitude e com o grau de continentalidade.

Para melhor compreender este comportamento terrestre é necessário abordar os conceitos


de solstício e equinócio, ilustrados a seguir:

Figura 2.15. Terra e o movimento de translação.


Fonte: http://pre-vestibular.arteblog.com.br/21139/SOLSTICIO-E-EQUINOCIO,
acessado em 08/01/2010.

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28

As estações do ano existem devido à inclinação do eixo terrestre, de aproximadamente


23º27' em relação ao plano da órbita da Terra ao redor do Sol, e ainda ao movimento de
translação da Terra ao redor do Sol. Pela figura anterior é possível notar que ao percorrer
sua órbita ao redor do Sol a Terra é iluminada pelos raios solares de maneiras diferentes
conforme sua posição.

Os termos solstício e equinócio se referem exatamente à esta quantidade de energia solar


que atinge a superfície terrestre, segundo casa hemisfério. O solstício representa iluminação
desigual entre os hemisférios, ao passo que durante o equinócio, a iluminação dos raios
solares é equivalente em ambos os hemisférios.

O termo “equinócio” tem origem no latim aequinoctium e significa noite igual. Trata-se do
instante em que, ao meio dia, em uma localidade na linha do Equador, os raios solares têm
uma incidência perpendicular à sua tangente, encontrando-se paralelos ao plano do Equador
e perpendiculares ao eixo de rotação da Terra. É importante ressaltar que, é nesta condição,
o único momento em que o Sol pode ser visto nascendo no leste e se pondo a oeste. Já o
termo solstício, do latim solstitium significa “sol parado”, dando a idéia de uma situação
oposta, ou seja, noites e dias desiguais, visto que a maior inclinação dos raios solares sobre
a superfície terrestre, demarca raes de iluminação diferentes em cada hemisfério.

Por exemplo, nos dias 23 de setembro e 21 de março, ambos os hemisférios terrestres são
igualmente iluminados, porém nos dias 22 de dezembro e 22 de junho, os hemisférios sul e
norte diferem quanto à iluminação (ver figura 2.15). Na primeira situação, a Terra se
encontra em posições favorável para que ambos os hemisférios sejam igualmente
iluminados, marcando assim o início do outono e da primavera. Esta situação é típica do
EQUINÒCIO. Já na segunda situação, presente durante as estações de verão e inverno, a
inclinação do eixo terrestre, faz com que apenas uma parte do globo receba uma maior
quantidade de raios solares. Logo, durante o verão no hemisfério sul, este recebe maior
quantidade de luz solar do que o hemisfério norte, marcando assim o início do verão para o
hemisfério sul e conseqüentemente o início do inverno para o hemisfério norte,
configurando uma situação típica de SOLSTICIO.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2


29

A duração dos dias e das noites, portanto, será definida conforme a estação do ano e a
localização da área analisada dentro das faixas climáticas. No geral, as noites e os dias
tendem a possuir a mesma duração quanto mais próximos estiverem da linha do Equador,
ao passo que terão maior variabilidade de duração quanto mais próximo estiverem dos
pólos.

c) Variação diária: os mesmos processos que definem a sazonalidade dos valores de


temperatura também explicam as suas variações diárias. Todavia, ocorrem em maior
intensidade. A amplitude diurna da temperatura em geral diminui do Equador para os pólos
e ainda é menor sobre as áreas oceânicas do que sobre as continentais. Neste caso, a
cobertura das nuvens e a umidade no ar são fatores definidores para tais variações. As
nuvens reduzem a insolação durante o dia e aumentam a radiação que retorna da superfície
para a atmosfera durante a noite. E, como o vapor d’água também é responsável por boa
parte da condução de calor entre a superfície e a atmosfera, quanto maior a quantidade de
vapor d’água, maior será a radiação.

Outro fator essencial é a velocidade dos ventos e a capacidade de condução da superfície. A


temperatura tende a variar menos durante os dias com maior movimentação eólica, e maior
nos dias de calmaria. Isso ocorre em função da troca de calor realizada pelo ar e pelos
ventos, aumentando a sensação de conforto térmico nos dias de maior ventania.

No globo como um todo, a amplitude diurna da temperatura é maior nas latitudes mais altas
do que nas latitudes médias e baixas, e ainda é maior sobre as áreas continentais do que as
áreas oceânicas. È interessante destacar que, nas áreas desérticas e desprovidas de cobertura
vegetal, a amplitude térmica diária é bastante significativa, oscilando entre os 50ºC durante
o dia e até -10ºC durante a noite. Isso afeta a biodiversidade e a vida vegetal e animal,
limitando-os.

De modo ainda mais específico, é possível notar que a variação de temperatura é menor
durante o período da manhã e acentua-se ao longo da tarde, como resultado do aquecimento
solar. Assim, a variação da direção dos ventos, que depende desta variação térmica, age em
consonância com as variações diárias de temperatura, como será detalhado mais adiante.

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30

2.2.3. Medidas e indicadores de temperatura:

Para estudarmos o comportamento térmico nos diversos lugares, é essencial conhecer e


diferenciar cada uma das medidas e indicadores climáticos mais comuns. Geralmente para
analise das condições atmosféricas de uma determinada localidade, faz-se o uso das médias
térmicas, vistas com detalhamento a seguir:

 Temperatura máxima absoluta: é a maior temperatura atingida em uma


determinada região.
 Temperatura mínima absoluta: é a menor temperatura atingida em uma
determinada região.
 Médias térmicas: correspondem à média aritmética das temperaturas de um
determinado lugar e podem ser diárias, mensais ou anuais.
 Amplitude térmica: correspondem à diferença entre a máxima e a mínima de
temperatura de um determinado local. Também podem ser diárias, mensais ou
anuais. (T = Tmáxima – Tmínima)
 Isotermas ou linhas isotérmicas: são linhas que unem pontos da Terra com igual
valor de temperatura atmosférica.

Resumo: Nesta aula abordamos:

 Os termos fator e elemento climático possuem significados diferentes, sendo que o


primeiro representa os fatores responsáveis pela alteração das condições
atmosféricas - tais como a maritimidade e a continentalidade, a altitude e a latitude,
a vegetação e o homem; e o segundo, os elementos que compõe o clima, a exemplo
da temperatura, da pressão e da umidade;
 A definição do tempo e do clima depende da relação entre estes elementos e fatores
climáticos;
 As camadas da atmosfera terrestre possuem características e composições
diferenciadas, a saber: troposfera, estratosfera, mesosfera, ionosfera e exosfera.
Sendo que, para a o estudo do tempo e do clima, a troposfera é destacada, por ser
responsável pela formação dos principais eventos meteorológicos que regem o
planeta e o cotidiano das sociedades, tais como a chuva, a neve e o granizo.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2


31

 Na composição físico-química da atmosfera, há o predomínio do nitrogênio e do


oxigênio, e que, apesar de sua quantidade pouco significativa, o vapor d’água possui
diversas funções fundamentais para os mecanismos climáticos.
 A atmosfera, segundo a lei dos gases, varia conforme a temperatura, criando pontos
de alta e baixa pressão.
 O conceito de albedo planetário e os cálculos sobre o balanço de energia na
atmosfera terrestre, além dos principais instrumentos que medem a radiação solar.
 Quais são os mecanismos que regem a dinâmica de formação da temperatura do ar,
e quais são as escalas termométricas mais utilizadas para os cálculos climáticos,
além das conversões necessários entre as diferentes medidas de temperatura (graus
Celsius, Kelvin e Fahrenheit).
 Os mecanismos regentes das variações espaciais, sazonais e diárias da temperatura
- incluindo s conceitos de solstício e equinócio - seus principais instrumentos de
medida, a exemplo do termômetro, e quais são os principais indicadores da
temperatura do ar para o estudo do tempo e do clima.

Referências Bibliográficas

AYOADE, J. D. Introdução à Climatologia para os trópicos. Rio de Janeiro: Bertrand


Brasil, 1996. Capítulo 1, p.1-12.

BERTULANI, C. A. Temperatura - Projeto: Ensino de Física a distância. (sem data)


Disponível em: <http://www.if.ufrj.br/teaching/fis2/temperatura/temperatura.html>,
acessado em 08/01/2010.

SILVA, CRUZ, PORTO, GODOY, FREITAS, ALVES & DAMACENO. Pesquisa sobre
efeito estufa numa visão interdisciplinar: Física, Biologia e Química. 2002. Disponível
em: <wwwp.fc.unesp.br/~lavarda/procie/dez14/angelina/index.htm>, acessado em
07/01/2002.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 2


AULA 3: Mecanismos do clima – Parte 2

Curso: Meio Ambiente


Disciplina: Climatologia
Conteudista: Carolina Dias de Oliveira
Tutora: Camila Emídio Ribeiro

Os mecanismos do clima – Parte 2

Como discutido na aula anterior, para o estudo do clima é essencial compreender a


importância dos elementos de formação e como cada um deles atua na composição das
condições climáticas. A água - especialmente sob a forma de vapor e umidade - e a
pressão atmosférica são importantes elementos formadores do clima e, portanto serão
melhor aprofundados neste capítulo.

3.1. A água na atmosfera

A água, além de essencial para a manutenção e sobrevivência humana, possui um


importante papel no sistema Terra-atmosfera, em especial sob a forma de vapor d‟água.
Como abordado no início deste capítulo, apesar do vapor d‟água repesentar apenas 2%
do volume total da atmosfera, ele se constitui no elemento climático mais importante
para a determinação do tempo e do clima. Esta quantidade de vapor d‟água pode variar
conforme a localidade e o tempo, desde quase zero, como ocorre em áreas quentes e
secas, e até atingir o seu ponto máximo em áreas bastante úmidas como as floretas
tropicais e equatoriais. Para os metereologistas e climatologistas, estabelecer a
quantidade e a distribuição deste vapor d‟água no tempo e no espaço, é fundamental
para a análise das condições da atmosfera.

O vapor d‟água é originado a partir da evaporação e precipitação da água, quando esta


passa do estado líquido para o gasoso, sendo que a quantidade de vapor d‟água em um
determinado volume de ar representa a capacidade potencial da atmosfera para produzir
precipitação, seja em forma de chuva, granizo, neblina, neve, etc. Além disso, o vapor

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2
d‟água é capaz de absorver a radiação solar e terrestre,
Radiação: Processo de emissão
desempenhando o papel de regulador térmico deste sistema, e de energia eletromagnética
(calor, luz, raios gama, raios X)
também exerce um forte efeito sobre a temperatura do ar. Da e partículas subatômicas
(elétrons, nêutrons, partículas
mesma forma, o calor latente liberado quando o vapor d‟água alfa, etc.).
se condensa, sob a forma de liberação de energia, é essencial
para a circulação atmosférica e para a formação dos principais Calor latente: grandeza física
relacionada à quantidade de
eventos climáticos globais e/ou regionais. E ainda sua calor que um corpo precisa
receber ou perder para mudar de
quantidade no ar é fator determinante para as taxas de estado físico. Em caso de
substâncias com calor latente
evaporação e evapotranspiração, caracterizando a temperatura positivo, diz-se que o corpo está
que é sentida pela pele humana, isto é, a sensação de conforto recebendo calor e quando é
negativo, o corpo está perdendo
térmico. Por fim, ao contrário dos demais gases atmosféricos, o calor. Sua unidade de medida é a
cal/g, ou seja, caloria por grama.
vapor d‟água muda de estado físico dentro dos níveis de
temperatura encontrados sistema Terra-atmosfera (entre 0ºC e 100ºC), configurando o
chamado ciclo hidrológico, detalhado a a seguir.

3.1.1. O ciclo da água

O ciclo da água, ou o ciclo hidrológico, refere-se à Ciclo biogeoquímico: Corresponde


ao movimento ou o ciclo de um
mudança de estado pela qual a água sofre na passagem determinado elemento ou elementos
entre a hidrosfera, atmosfera e litosfera. De modo químicos através da atmosfera,
hidrosfera, litosfera e biosfera do
generalizado, a água circula em nosso planeta em um ciclo planeta. Sendo a Terra um sistema
dinâmico e em constante evolução, o
biogeoquímico que perpassa as seguintes etapas: movimento e a estocagem de seus
materiais afetam todos os processos
evaporação, condensação (formação das nuvens), físicos, químicos e biológicos.
Logo, os ciclos são processos
precipitação e infiltração (ver figura 3.1. a seguir). naturais que reciclam elementos em
diferentes formas químicas do meio
ambiente para os organismos, e,
depois, vice-versa. Água, carvão,
oxigênio, nitrogênio, fósforo e outros
elementos percorrem estes ciclos,
unindo os componentes vivos e não-
vivos da Terra. (adaptado de
http://www.coladaweb.com/biologia/
bioquimica/ciclos-biogeoquimicos,
acessado em 12/01/2010).

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3

Figura 3.1. O ciclo hidrológico


Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Ciclo_da_%C3%A1gua.jpg, acessado em 08/01/2010.

A evaporação ocorre nos oceanos e outros corpos hídricos, caracterizando a mudança da


do estado físico da água de líquido para o gasoso, retornando para a atmosfera. Também
são incluídas nesta fase a transpiração das plantas terrestres e dos animais para o ar,
processo conhecido como evapotranspiração. A precipitação ocorre a partir da
condensação e saturação do vapor d‟água que, pela ação gravitacional, recai sobre as
áreas continentais e marítimas. Após esta fase, há o escoamento desta água pluvial para
as áreas mais rebaixadas do globo, ou seja, os oceanos, rios e lagos, e que, durante este
processo, também podem acarretar a infiltração da água das chuvas no solo. Com a
infiltração e o escoamento, a água retorna para o seu ponto inicial, alimentando os
corpos hídricos terrestres e reiniciando o ciclo hidrológico. É importante destacar que
parte desta água é desviada para uso na agricultura e para o abastecimento de centros
populacionais.

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4

3.1.1. Umidade atmosférica

Como já abordamos, a umidade atmosferica é um dos elementos climáticos mais


importantes, pois é uma das características marcantes dos diferentes tipos de clima
existentes. Segundo AYOADE (1996, p.138-139), a umidade do ar é o termo usado para
descrever a quantidade de vapor d‟água contido na atmosfera e não abrange as outras
formas em que a água pode se apresentar no sistema, ou seja, sob a forma líquida ou
mesmo sólida (gelo). Em outras palavras, representa a presença de vapor de água na
atmosfera proveniente da evapotranspiração que se processa tanto nas superficies
líquidas como nos vegetais e animais, e na evaporação dos corpos hídricos pela ação da
energia solar. A intensidade da evaporação depende:

 Da intensidade das radiações solares;


 Da extensão da superficie evaporante;
 Da atuação dos ventos.

Por este motivo, a umidade atmosférica se concentra nas baixas camadas da atmosfera,
em especial na troposfera e, além de variar de um lugar para outro, varia também em um
mesmo lugar, em função das horas do dia ou das estações do ano. A umidade absoluta,
portanto, serve para avaliar o peso do vapor d‟água por metro cúbico de ar, medida em
gramas por metro cúbico. Em resumo: Umidade absoluta é a quantidade de vapor
d‟água existente na atmosfera em um dado momento.

Porém a atmosfera não pode continuar recebendo vapor Ponto de saturação: é a capacidade
máxima da atmosfera em conter vapor
d‟água indefinidamente. Há um limite além do qual a d’água.
atmosfera não pode aumentar a quantidade de vapor Ponto de orvalho: Em climatologia e
d‟água, e quando este limite é atingido, dizemos que o ar meteorologia, o termo refere-se à
temperatura a partir da qual o vapor
está saturado ou que a atmosfera atingiu o ponto de d'água contido na porção de ar de um
determinado local sofre condensação.
saturação ou ponto de orvalho. Se conhecemos a umidade Quando a temperatura do ar está
abaixo do ponto de orvalho,
absoluta e o ponto de saturação, então é possivel calcular a normalmente dá-se a formação de
névoa seca ou neblina. (Fonte:
umidade relativa do ar, como será explicado adiante. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ponto_de_
orvalho, acessado em 12/01/2010).
A forma de medida e os aparelhos utilizados para a os
cálculos de umidade do ar serão descritos a seguir.

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5

3.1.1 - Medidas da umidade do ar

Há diferentes maneiras de se medir a quantidade de umidade da atmosfera, sendo que os


índices mais utilizados são:

 Umidade absoluta: equivale ao volume total de água em um determinado


volume de ar. È expressa em gramas por metro cúbico (g/m³);
 Umidade especifica: corresponde à massa de vapor d‟água por quilograma de
ar.
 Índice de massa ou índice de umidade: é a massa de vapor d‟água por
quilograma de ar seco.
 Umidade relativa: equivale à razão entre o conteúdo real de umidade de uma
dada amostra de ar e a quantidade de umidade que o mesmo volume de ar
consegue conservar em uma mesma temperatura e pressão quando saturado. È
expressa geralmente em porcentagem (%). As isoígras são linhas que unem
pontos da Terra que apresentam valores semelhantes de umidade do ar.
 Temperatura do ponto de orvalho: é a temperatura em que ocorre a saturação
do ar se este se resfriar sob uma pressão constante, sem aumento ou diminuição
do vapor d‟água.
 Pressão vaporífica: corresponde à pressão exercida pelo vapor contido na
atmosfera em milibares.

A umidade absoluta é difícil de medir diretamente, mas pode ser obtida através da
umidade relativa, por meio de gráficos ou tabelas. A umidade relativa do ar é obtida a
partir da leitura dos termômetros de mercúrio, de bulbo seco e bulbo úmido, e também
indica o grau de saturação do ar, por isso é mais comumente utilizada. Seu valor pode
variar de acordo com as mudanças de temperatura, mesmo que não tenha ocorrido
aumento ou diminuição da umidade. Ou seja, a umidade relativa do ar é inversamente
proporcional à temperatura, sendo menor durante o início da tarde e se eleva durante a
noite.

É importante destacar que a umidade relativa do ar não indica a quantidade de umidade


atmosférica, mas informa quão próximo o ar está de se saturar. Por exemplo, se a
umidade absoluta e o ponto de saturação de uma dada atmosfera forem respectivamente
de 5g e 20g, a umidade relativa será de 25%. E se a umidade absoluta e o ponto de

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saturação forem, respectivamente, de 10g e 20g, a umidade relativa será de 50%.
Quando a umidade relativa atinge 100%, a atmosfera está saturada.

Na região tropical, a umidade oscila consideravelmente ao longo do dia e em especial


nas áreas litorâneas, ela pode atingir os 100% durante a noite, indicando a ocorrência de
chuva. As condições de umidade relativa do ar são importantes para a saúde e a
sensação de conforto ou desconforto térmico. Os seres humanos são mais sensíveis à
umidade do ar porque usam o suor para regular sua temperatura corpórea
(evapotranspiração). Nos dias quentes e úmidos, nosso organismo sente maior
necessidade de transpirar do que nos dias secos, já que o corpo humano troca calor com
o ar, e, mesmo que a temperatura corporal permaneça a mesma, temos uma maior
sensação de calor quando a umidade relativa é mais elevada. Nos dias secos, sobretudo,
os probelams respiratorios e os casos de irritação de pele são agravados. No gráfico 3.1.
a seguir, a relação entre umidade do ar e temperatura se associa às condições de saíde
das pessoas:

Grafico 3.1. Calor e umidade.


Fonte: MOREIRA E SENE, P.487.

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a) Principais instrumentos de medição da umidade do ar:

O principal instrumento utilizado para medir a umidade relativa do ar é o Higrômetro


(Figura 3.2), e o mais simples é o Psicrômetro (Figura 3.3), que consiste de dois
termômetros idênticos, o termômetro de bulbo úmido e o de bulbo seco, montados lado
a lado.

Para a leitura do psicrômetro, um tecido é molhado e exposto à uma contínua corrente


de ar. Deste modo, a temperatura do bulbo úmido diminui por causa do calor que é
retirado para evaporar a água. Logo, quanto mais seco está o ar, maior será o
resfriamento. Assim, quanto maior for a diferença entre as temperaturas dos
termômetros de bulbo úmido e de bulbo seco, menor será a umidade relativa e vice-
versa. Se o ar estiver saturado, não haverá evaporação e os dois termômetros terão
leituras idênticas. Em síntese, basta somente registrar os valores de temperatura do ar,
obtidos pelo bulbo seco, e calcular a diferença entre as temperaturas de bulbo seco e
bulbo úmido, conhecida como depressão psicrométrica. Por exemplo, se a temperatura
de bulbo seco é Ts = 20° C e se a de bulbo úmido é Tu = 15° C, a depressão
psicrométrica, calculada pela fórmula; Ts – Tu,, será de 5° C. A partir da verificação das
tabelas 3.1, 3.2 e 3.3 em anexo, obtém-se o valor da umidade relativa, equivalente a
58%.

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Tabela 3.1. Valores da umidade relativa do ar para psicrômetro sem aspiração, na escala de Dp
entre 0,0 a 3,4ºC, para pressão atmosférica de 750 mmHg. – Temperatura até 20ºC

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Tabela 3.2. Valores da umidade relativa do ar para psicrômetro sem aspiração, na escala de Dp
entre 3,4 a 6,8ºC, para pressão atmosférica de 750 mmHg. – Temperatura até 20ºC

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Tabela 3.3. Valores da umidade relativa do ar para psicrômetro sem aspiração, na escala de Dp
entre 6,8 a 10,0ºC, para pressão atmosférica de 750 mmHg. – Temperatura até 20ºC

Agora, apresentamos as tabelas para cálculo da umidade relativa do ar para valores de


temperatura acima de 20ºC. (ver tabelas 3.4, 3.5 e 3.6 a seguir).

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Tabela 3.4. Valores da umidade relativa do ar para psicrômetro sem aspiração, na escala de Dp
entre 0,0 a 3,4ºC, para pressão atmosférica de 750 mmHg – Temperatura acima de 20ºC

Tabela 3.5. Valores da umidade relativa do ar para psicrômetro sem aspiração, na escala de Dp
entre 3,4 a 6,8ºC, para pressão atmosférica de 750 mmHg – Temperatura acima de 20ºC

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Tabela 3.6. Valores da umidade relativa do ar para psicrômetro sem aspiração, na escala de Dp
entre 6,8 a 10,0ºC, para pressão atmosférica de 750 mmHg – Temperatura acima de 20ºC

Fonte tabelas: TUBELIS, A. & NASCIMENTO, F. J. L. Meteorologia descritiva – Fundamentos e


Aplicações Brasileiras (1992).

Outro instrumento comumente usado para medir umidade relativa é o higrômetro de


cabelo (Figura 3.4), cuja leitura pode ser feita diretamente, sem a necessidade de
tabelas. Quando o ar está úmido, o feixe de cabelos conectado ao medidor se estica, e se
o ar estiver seco o feixe de cabelos se encolhe.

O Higrógrafo (Figura 3.5) foi construído seguindo o funcionamento básico do


higrômetro de cabelo, ativando um traçador sobre um tambor controlado por relógio e
que produz um registro permanente das variações da umidade relativa com o tempo.
Infelizmente o higrômetro de cabelo é menos preciso que o psicrômetro e requer
constante calibração, respondendo mais lentamente às variações de umidade, em
especial nas baixas temperaturas. Já o higrômetro digital (Figura 3.6) contém um
condutor elétrico coberto por uma camada de algum produto químico absorvente, de
modo que a passagem de corrente varia conforme oscila os valores de umidade relativa.

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Figura 3.2. Higrômetro.


Fonte:www.receita.fazenda.gov.br/Mem
oria/acervo/objetos/imagens/higrometro.
jpg, acessado em 09/01/2010.

Figura 3.3. Psicrômetro. Figura 3.4. Higrômetro de


Fonte:http://fisica.ufpr.br/g cabelo Fonte:
rimm/aposmeteo/cap5/cap5 http://www.ufpel.tche.br/fae
-5.html, acessado em m/fitotecnia/graduacao/agro
08/01/2010. met/images/higrografo.jpg,
acessado em 08/01/2010.

Figura 3.6. Higrômetro


Figura 3.5. Higrógrafo Fonte: digital Fonte:
http://www.ufpel.tche.br/faem/fitotecni <http://www.nardinieletrica.
a/graduacao/agromet/images/higrograf com.br/detalhesProduto.php
o.jpg acessado em 08/01/2010. ?prodId=493>, acessado em
08/01/2010.

3.1.2 - Formas de condensação


Expansão adiabática: durante a
transformação adiabática, o gás não
A condensação caracteriza-se pela passagem da água sob troca calor com o meio externo, ou
porque está termicamente isolado ou
o estado de vapor para o estado líquido. Esta pode ocorrer porque o processo ocorre em uma
velocidade tão rápida que o calor
sob condições variáveis, dependendo do volume de ar, da trocado se torna desprezível. Na
expansão adiabática, o volume do gás
temperatura, pressão ou umidade. Ela acontece quando o aumenta, a pressão e a temperatura
ar se resfria até atingir o seu ponto de orvalho, quando o diminuem. Ao passo que na contração
adiabática, o volume diminui
volume do ar aumenta - sem que haja alteração de calor - inversamente aos valores de pressão e
temperatura, que aumentam.
resfriando-se por expansão adiabática, ou ainda quando (Adaptado de
<http://www.brasilescola.com/fisica/pr
ocorre uma variação conjunta entre a temperatura e o incipio-termodinamica.htm, acessado
em 12/01/2010>).
volume do ar, reduzindo a capacidade de retenção da
umidade.

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Na atmosfera, a condensação geralmente ocorre quando o ar se resfria além do seu
ponto de orvalho, e assim, a capacidade do ar em reter umidade em forma de vapor
diminui quando fica mais frio. O resfriamento do ar favorece a sua saturação e,
portanto, a condensação. Este resfriamento pode ocorrer se: (i) houver perda de calor no
contato com uma superfície fria (resfriamento por contato); (ii) misturando-se com uma
camada de ar mais fria; ou (iii) pelo resfriamento adiabático em função da elevação do
ar.

O resfriamento por contato provocará o orvalho, a névoa ou a geada quando o vapor


d‟água se condensar. Este, em geral, é formado sob o ar úmido e quente quando
perpassa alguma superfície fria, seja terrestre ou aquática. A névoa, o nevoeiro e as
geadas são formados a partir deste processo, como será mais bem detalhado adiante.

Por sua vez, o resfriamento adiabático ocorre quando há elevação da massa de ar. Um
dado volume de ar ascende e, se este for quente e leve, ou seja, mais leve do que o ar em
volta, ele é forçado a subir. Tal elevação pode ocorrer em função da existência de
barreiras orográficas, tais como cadeias de montanhas e serras, ou pelo efeito do ar mais
frio, que nas frentes desloca o ar quente para cima.

Segundo AYOADE (1996, p.147), quando um volume de ar se desloca verticalmente,


por qualquer motivo, ele pode se alterar. Como a pressão é menor nas camadas mais
elevadas, o volume do ar deslocado verticalmente aumenta, seguindo a expansão,
todavia sem haver nenhuma troca de calor com o ar circundante. Este processo envolve
trabalho e consumo de energia e, deste modo, o calor disponível por unidade de volume
de ar diminui, provocando uma queda na temperatura. E como tal variação térmica não
envolve perda ou ganho de energia para o ambiente, é chamada de adiabática.

A razão adiabática corresponde à proporção em que a temperatura diminui por volume


de ar em ascensão e expansão e até ocorrer a condensação, a temperatura diminuirá
aproximadamente 9,8ºC por quilômetro. As constantes quedas de temperatura
provocarão a condensação assim que a temperatura do ponto de orvalho do volume do
ar for atingida. O calor latente será liberado pela condensação e o ar passará a se resfriar
em um ritmo mais lento.

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Em resumo, para que haja condensação, é necessário que a atmosfera esteja saturada, e
que pequenas partículas – tais como poeira, sais, pólen, etc - se concentrem na baixa
atmosfera, formando os chamados núcleos de condensação. É nas superfícies desses
núcleos que o vapor d‟água se condensa. E a condensação, ocorrendo nas camadas
atmosféricas de elevada altitude, origina as nuvens. Ás vezes, contudo, ela acontece
junto à superfície terrestre, formando os diferentes fenômenos de condensação descritos
adiante, a exemplo do nevoeiro e da neve.

De modo esquemático podemos caracterizar as diferentes formas de condensação da


seguinte maneira:

 Orvalho: é a condensação do vapor d‟água sobre uma superfície mais fria. É


formado preferencialmente pela manhã, após uma noite sem nuvens e ventos,
quando a umidade do ar se condensa em gotas de água sobre os diversos tipos de
superfície.
 Nevoeiro: quando a condensação do vapor d‟água, em geral associados à poeira,
fumaça e outros particulados, diminui consideravelmente a visibilidade humana,
sendo menor do que 1 quilômetro. È formada pela combinação alta umidade e
baixa temperatura. Também é conhecido como smog (mistura de neblina e
fumaça).
 Névoa: semelhante ao nevoeiro e ocorre quando as nuvens se formam muito
próximas à superfície, preferencialmente durante os meses mais frios do ano.
Permite uma visibilidade maior do que o nevoeiro, sendo possível identificar
alguns elementos da paisagem. Regionalmente também são conhecidos como
neblina e cerração.
 Geada: ocorre quando a temperatura do ar em contato com o solo ou anteparos
encontra-se abaixo do ponto de congelamento (0o C) e provoca uma grande
deposição de cristais de gelo sobre a superfície. Em outras palavras é quando o
orvalho se congela sobre qualquer superfície, formando cristais de gelo.
 Neve: tipo de precipitação da água na forma sólida (cristais de gelo), em que o
ponto de congelamento da água ocorre nas nuvens e precipita. Sua formação
depende da temperatura e da quantidade de vapor d‟água disponíveis na nuvem
em que se formou.

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Todos estes fenômenos provocam transtornos para as pessoas, especialmente em
aeroportos, rodovias e ferrovias. E, portanto, estes locais se preocupam constantemente
com o monitoramento climático para prever quando e onde tais fenômenos poderão
ocorrer e evitar maiores problemas.

@ Mídias Integradas

Para saber mais sobre os diferentes tipos de condensação,


suas características e conseqüências para a sociedade, assista
aos vídeos da série “Explicando o tempo”, disponível em:
<http://www.climatempo.com.br/videos.php>

3.2. A pressão atmosférica

A atmosfera não é um meio homogêneo ou uniforme, pois Homogêneo: composto de partes ou


como vimos, ela é composta por diferentes elementos elementos que possuem a mesma
natureza. >
químicos e ainda possui constante movimento através dos
ventos. Na atmosfera, existem movimentos verticais, de subida e descida, e também
horizontais, como ocorre com os ventos alísios e brisas.

A pressão atmosférica corresponde à força que o ar exerce sobre a superfície terrestre,


pois assim como outras substâncias a atmosfera possui um peso. As linhas chamadas
isóbaras constituem os pontos sobre a superfície terrestre que possuem a mesma
pressão, e, nos mapas, indicam as áreas de baixa pressão e as de alta pressão. As áreas
de ALTA PRESSÃO se configuram como áreas dispersoras de ventos, chamadas de
anticiclonais. Ao passo que as áreas de BAIXA PRESSÃO, receptoras de ventos, são
classificadas como ciclonais. E em função desta diferença nos valores isobáricos, há a
formação dos ventos.

A pressão do ar também pode variar segundo a altitude e a temperatura. De modo que,


quanto maior a altitude, menor será a coluna de ar e menores serão os valores de pressão
e vice-versa. Como já abordado anteriormente, segundo a lei dos gases, quanto maior

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for a temperatura, haverá menor quantidade de moléculas e, portanto, menor será o peso
de cada metro cúbico de ar. Em contrapartida, quanto menor for a temperatura, pois o ar
quente é mais leve (menos denso), haverá maior quantidade de moléculas e também
maior pressão exercida pelo ar. E assim, como nas áreas de menor temperatura ou mais
frias a pressão é maior, o vento se desloca para as áreas de maior temperatura, de menor
pressão.

Figura 3.7. Relação pressão e temperatura


Fonte: MOREIRA & SENE. Geografia para o Ensino Médio, 2002. p.488

3.2.1 - Os instrumentos de medida da pressão

O principal instrumento de medida da pressão


atmosférica é o barômetro (Figura 3.8), inventado
em 1643 pelo físico e matemático italiano
Evangelista Torricelli. Há dois tipos de barômetro:
o de coluna de mercúrio e aneróide (metálico), e
sua principal unidade de medida é o hPa, apesar
de existir outras unidades de medida de pressão
como o bar. Ao nível do mar, a pressão
Figura 3.8. Barômetro. atmosférica normal equivale a 1 atm, equivalente
Fonte:ttp://www.buscanautica.com.br/bu
scanautica/wpcontent/uploads/2009/09/b a 760 mmHg (miligramas de mercúrio) ou 1013
arometro2.jpg, acessado em 12/01/2010.
mb (milibares). O mercúrio, assim como na leitura
do termômetro, é ideal para o barômetro líquido, pois sua maior densidade permite que

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se forme uma pequena coluna para medição da pressão atmosférica. Num barômetro de
água, por exemplo, seria necessária uma coluna de 10 metros para a medição da pressão
do ar. É importante destacar que o barômetro de mercúrio não mede a pressão exercida
pela atmosfera na superfície, mas a resposta a esta pressão.

Outro importante instrumento é o


barógrafo (Figura 3.9), que consiste
em um equipamento que registra
continuamente a pressão atmosférica
em milímetros de mercúrio (mm Hg)
ou em milibares (mb). De modo que
as variações da pressão atmosférica
são registradas sobre um tambor
Figura 3.9. Barógrafo. Fonte: rotativo coberto por um papel
http://www.esac.pt/estacao/instru12.jpg, acessado em
12/01/2010. especial, produzindo um barograma.

3.2.2. A distribuição vertical e espacial da pressão

Em escala vertical, a pressão atmosférica diminui com a altitude, pois como vimos, ela é
definida pela altura da coluna de ar sobre a superfície. De modo que, em áreas de serras
e fortes barreiras orográficas, a menor coluna de ar irá gerar um ponto de menor
pressão, e em áreas litorâneas, a pressão será maior em função do maior tamanho da
coluna de ar.

Em escala espacial, a pressão se


orienta somente a partir das
variações de temperatura. De
modo que, nas áreas polares, a
baixa temperatura forma uma
área de alta pressão (anti-
ciclonal) e na faixa equatorial,
em função das elevadas
temperaturas, tem-se a formação
Figura 3.10. Relação entre pressão, temperatura e altitude.
Fonte: MOREIRA & SENE, 2002. P.488

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de áreas de baixa pressão (ciclonais). Como já vimos, este mecanismo obedece a lei dos
gases perfeitos de Boyle. O ar aquecido se eleva por estar menos denso, exercendo
menor pressão, pois as moléculas estão mais afastadas umas das outras. Em
contrapartida, o ar resfriado, com maior densidade, desce e exerce maior pressão sobre a
superfície, tendo em vista que há maior aproximação molecular entre os gases.

Figura 3.11. Distribuição da pressão no globo. Fonte:


http://www.minerva.uevora.pt/odimeteosol/aspectos_basicos_ficheiros/image006.jpg,
acessado em 15/01/2010.

Os principais fatores que determinam a distribuição da pressão no globo são a


continentalidade, que aquecem e resfriam mais rapidamente do que as massas
oceânicas; e ainda pela sazonalidade, já que as estações do ano definem o
comportamento da temperatura da superfície e do ar.

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20

Figuras 3.12 e 3.13. Variação da pressão atmosférica global no verão e no inverno, respectivamente,
mostrando a variação das isóbaras.
Fontes: http://www7.cptec.inpe.br/~rupload/figcartas/resumo_mensal/jan07/LC850_anomV_jan07.gif e
http://4.bp.blogspot.com/_I_bABiHcaBg/RpcJrjIggqI/AAAAAAAAB3g/49hKlJVWWw/s400/T126L28
%2BMAPA%2BDIA%2B23.gif, acessado em 15/01/2010.

3.2.3. Os gradientes barométricos e os ventos

A variação espacial da pressão atmosférica ocasiona a formação de gradientes


barométricos horizontais, criando assim a força de gradiente de pressão. Em resposta a
esta força, a atmosfera se movimenta e acelera a movimentação do ar, saindo dos
centros de alta pressão e indo em direção aos centros de baixa pressão – que como
vimos formam os ventos. Este possui direção, sentido e velocidade.

Por definição, vento é o ar em movimento, e, quanto maior for a diferença de pressão


entre as regiões, maior será a velocidade do vento, ocasionando sérios fenômenos
climáticos como vendavais ou furacões. Estes modificam a sua nomenclatura
dependendo da localidade em que ocorrem: furacão no Caribe, tornado nos Estados
Unidos e tufão na Ásia.

Com a movimentação dos ventos temos a formação dos ventos alísios e contra-alísios.
Os ventos alísios sopram dos trópicos para o Equador, ou seja, de uma área ciclonal
para uma anti-ciclonal, favorecendo a convergência de ventos (Zona de Convergência

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21
intertropical - ZCIT). Já os contra-alísios saem das áreas equatoriais e retornam para os
trópicos, conforme o seguinte processo: o ar quente das áreas equatoriais (mais leve e
úmido) sofre um movimento ascendente. Enquanto sobe, o ar resfria-se e aumenta sua
densidade, retornando aos trópicos (contra-alísios). Lembre-se que, mesmo para os
contra-alísios a lei da circulação atmosférica permanece válida. Em outras palavras, os
ventos contra-alísios, ao se resfriarem nas altas altitudes equatoriais, formaram uma área
de alta pressão (por causa da diminuição da temperatura), adquirindo valores de pressão
maiores do que os da área tropical. Assim, estes retornam para os trópicos porque há
uma diferença de pressão entre eles (se deslocando de uma área de alta para baixa
pressão novamente).

Figura 3.14. Zona de Convergência Intertropical – ZCIT


Fonte: http://www.master.iag.usp.br/ensino/Sinotica/AULA15/AULA15.HTML, acessado em
12/01/2010.

A partir da circulação dos ventos, ocorre o Efeito Coriolis, que provoca o desvio na
direção dos ventos e sendo responsável pelo movimento das correntes marítimas e do
sentido de formação de tornados e furacões, anti-horários ou horários, dependendo do
hemisfério e da estação do ano. Este desvio ocorre em virtude da rotação, em que os

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 3


22
ventos, a partir da área de dispersão, desviam-se para a direita no hemisfério norte e
para a esquerda no hemisfério Sul, conforme ilustra a figura a seguir:

Figura 3.15. Direção dos ventos no globo e o Efeito Coriolis


Fonte: http://www.colegioweb.com.br/geografia/pressao-atmosferica, acessado em 11/01/2010.

Dentro da Zona de Convergência Intertropical formam-se três cinturões de ventos que


são observados em cada hemisfério do planeta Terra. Há os ventos alísios de baixas
latitudes, os ventos oestes das médias latitudes e os ventos de lestes polares. Em
particular na faixa equatorial, o aquecimento devido à radiação solar é bastante
uniforme e intenso o que provoca baixas pressões à superfície, portanto os ventos alísios
de sudeste vindos do Hemisfério Sul (HS) e os ventos alísios de nordeste vindos do
Hemisfério Norte (HN) convergem em baixos níveis.

A ascensão desses ventos provoca um resfriamento em níveis mais altos, perdendo


umidade por condensação e precipitação, e ocorrendo em altitude um movimento em
sentido contrário: os contra-alísios. E que percorrem até a zona dos cinturões
anticiclônicos, onde ocorre um movimento subsidente aquecendo-se para formar
novamente os alísios. Esta célula que se forma é chamada de Hadley-Walker. A
circulação é dita de Hadley quando ocorre no sentido norte-sul e de Walker quando se
faz no sentido leste-oeste. Estes duas células ocorrem simultaneamente.

Na escala planetária, a ZCIT está localizada no ramo ascendente da célula de Hadley,


atuando no sentido de transferir calor e umidade dos níveis inferiores da atmosfera das
regiões tropicais para os níveis superiores da troposfera e para médias e altas latitudes.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 3


23
Entretanto, a ZCIT dinamicamente, em geral, compõe uma região de baixa pressão,
tendo convergência de escoamento em baixos níveis e divergência em altos níveis.
Sendo, portanto, a fonte principal de precipitação nos trópicos (chuvas fortes), e que é
responsável por condições de mau tempo sobre uma extensa área, além do
desenvolvimento vertical das nuvens que se estende até a alta troposfera das regiões
tropicais, sendo que a base das nuvens, inclusive, pode baixar até o solo.

A interação terra – mar é de grande importância para se entender o posicionamento da


ZCIT ao norte e ao sul do equador. Diversas variáveis físicas são utilizadas para
localizar as flutuações no posicionamento médio da ZCIT.

Dentro de um trabalho elaborado por Nobre e Uvo (1989), eles relatam a importância
de identificar o quanto tempo a ZCIT ficará posicionada mais ao sul de sua posição
normal. Segundo os autores, o principal sistema gerador de precipitação na região norte
do Nordeste (NNE) é a proximidade da ZCIT. Tal fato é observado quando se considera
que o pico de precipitação sobre o NNE (março e abril) ocorre exatamente na época em
que a ZCIT atinge suas posições mais ao sul. (Adaptado de
http://www.master.iag.usp.br/ensino/Sinotica/AULA15/AULA15.HTML, acessado em
12/01/2010).

3.2.4. Tipos de vento:

De acordo com suas características e áreas de atuação, os ventos são classificados como
planetários ou constantes, continentais ou periódicos e locais.

a) Ventos planetários ou constantes: são os que sopram durante o ano todo, afetando
extensas áreas de escala planetária. É o caso dos ventos alísios, dos ventos polares e do
jet-stream.

Os alísios são ventos constantes que sopram durante o ano todo dos trópicos para o
Equador, onde sofrem aquecimento, formando correntes convectivas. A zona de
convergência dos alísios, também chamada de ZCIT, como vimos na aula anterior,
interfere na dinâmica dos ventos planetários. E sofrem o desvio para oeste (Efeito
Coriolis), em decorrência do movimento rotacional, sendo chamados, portanto, de
ventos alísios de sudeste, no Hemisfério sul, e alísios de nordeste, no Hemisfério norte.
À medida que a corrente convectiva equatorial sobe, ela vai se esfriando e retorna aos

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 3


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trópicos para altitudes elevadas. Esses ventos, bastante secos, originam os ventos do
hemisfério boreal.

Os ventos polares são ventos frios que sopram dos pólos para as latitudes médias.

O jet-stream ou „corrente do jato‟ circula a aproximadamente 12.000 metros de altitude


entre as latitudes 40º e 60º, em ambos os hemisférios. E o seu sentido é de oeste para
leste. Sabe-se que ele se assemelha a um tubo, com velocidade de 240 quilômetros por
hora na parte central e 80 Km/h nas áreas periféricas. Trata-se de uma corrente bastante
perigosa para a aviação.

b) Ventos continentais ou periódicos: são aqueles que sopram periodicamente do


continente para o mar e vice-versa, formando o sistema de brisas e monções.

As monções são ventos periódicos que, durante o inverno asiático, sopram da Ásia para
o oceano índico, formando as monções de inverno. Caracterizam-se como ventos frios e
secos. Durante o verão asiático, sopram do oceano Ìndico para a Ásia, formando as
monções de verão. Estas propiciam abundantes chuvas sobre uma extensa área do sul e
sudeste asiáticos. Seu mecanismo de
formação depende diretamente dos
efeitos da continentalidade e
maritimidade que marcam esta região
da Ásia, pois a variação da
temperatura durante as estações de
verão e inverno formam áreas de alta
e baixa pressão sobre o oceano e o
continente, direcionando estes ventos
conforme esta variação barométrica.
Isto é, no verão, a maior incidência
dos raios solares sobre o continente
auxilia em seu aquecimento (maior
facilidade em elevar em 1ºC a sua
temperatura, logo, possuindo maior
Figura 3.16. Sistema de monções durante o inverno
e verão, respectivamente. calor especifico), e assim, forma-se
Fonte: http://www.infoescola.com/files/2009/08/full-1-
232db09adc.jpg, acessado em 15/01/2010 uma zona de baixa pressão no

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 3


25
continente. Ao passo que sobre as águas do Oceano Ìndico, ainda frias porque a água
possui baixo calor especifico e demora mais tempo para se aquecer, irá se formar uma
zona de alta pressão. Desta forma, seguindo a lei dos gases para a formação dos ventos,
estes irão sempre se direcionar das áreas de ALTA para BAIXA pressão, ou seja, do
oceano para o continente, neste caso, levando as chuvas de monção para o continente
sul asiático. E podemos dizer que as monções de verão são fundamentais para os povos
que vivem nessas áreas, pois são estas chuvas que favorecem o cultivo de arroz na
região, também chamada de rizicultura. Por sua vez, durante o inverno, a formação dos
centros de alta e baixa pressão se inverte por causa da temperatura – o continente já está
frio, formando um centro de alta pressão, e o oceano ainda está quente, pois demora
mais tempo para se resfriar, e forma um centro de baixa pressão. Assim, os ventos se
deslocarão do continente para o oceano, deixando o clima mais seco na Índia.

As brisas são ventos periódicos que sopram, durante o dia, do mar para o continente,
compondo as brisas marítimas e, durante a noite, do continente para o mar, formando as
brisas terrestres. O seu procedimento de formação é semelhante ao das monções, sendo
influenciadas pelos efeitos de continentalidade e maritimidade, alterando a pressão
conforme a variação da temperatura durante o dia e a noite. Ou seja, durante o dia, o
continente está mais quente e forma um centro de baixa pressão, ao passo que as águas
do oceano ainda estão frias (centro de alta pressão), assim as brisas marítimas se
formam e direcionam os ventos úmidos vindos do oceano para o continente. Já as brisas
continentais, se formam durante à noite, e direcionam os ventos secos do continente,
que já se resfriou, para o oceano, que ainda está quente e formou um centro de baixa
pressão (veja figuras abaixo). È importante lembrar que os ventos são denominados
conforme o seu local de origem e não de destino, por isso as brisas marítimas são ventos
que vêm do mar e vice-versa.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 3


26

Figuras 3.17 e 3.18. Sistema de brisas marítimas e terrestres.


Fonte: http://2.bp.blogspot.com/_DSSYrZgwrBA/SUKTWRI8q-
I/AAAAAAAAANU/bzKOF8L99YE/s320/Brisas+Mar%C3%ADtimas+-+M%C3%B3dulo7.jpg,
acessado em 15/01/2010.

c) Ventos ciclônicos: são ventos que sopram em torno de um centro de baixa pressão.
Sua velocidade pode atingir até 300 Km/h. Possui um diâmetro que varia entre 80 a 800
Km. Sua origem está ligada aos centros de baixa pressão existentes na zona de
convergência dos alísios de sudeste e nordeste. Estes ventos ocorrem no final do verão e
inicio do outono no Hemisfério norte, e as principais áreas de ocorrência são América
central, Estados Unidos e extremo oriente. Por vezes, esses ventos provocam sérios
danos em áreas de forte aglomeração populacional. Na parte central dos ciclones,
chamada de “olho do furacão”, há uma absoluta calmaria, e este pode variar de 20 a 30
Km de diâmetro. Os ciclones possuem diversas nomenclaturas: na América do norte são
chamadas de furacão, na Ásia por tufões. Quando o ciclone apresenta diâmetro bastante
reduzido, de alguns metros a um quilometro, passa a se denominar tornado, que apesar
do tamanho apresenta muito perigo.

d) Ventos locais: são restritos a pequenas áreas do globo por causa da formação de
áreas ciclonais e anticiclonais de menor escala. Como exemplo, pode-se destacar:

 O Mistral no mediterrâneo ocidental;


 O Borá, frio e violento, na Iugoslávia;
 O Foehn, na Suíça;
 O Simum, responsável pelas tempestades de areia no Saara. Na parte ocidental
deste deserto ele recebe a denominação de Harmatlan e, após atravessar o
Mediterrâneo, já modificado, ele sopra no sul da Itália com o nome de Siroco;

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 3


27

 O Pampeiro ou Minuano, na Argentina e no Rio Grande do Sul;


 O Noroeste, no planalto Meridional.

3.2.5. Modelos de circulação geral da atmosfera

O movimento de circulação geral da atmosfera é composto por componentes verticais e


horizontais e é controlado por diversos fatores, tais como o desequilíbrio na radiação no
planeta, a variação da umidade no globo, a inclinação do eixo terrestre, o movimento
rotacional da Terra e ainda a proporção de massa continental entre os dois hemisférios.
Cada um destes componentes será detalhado a seguir, mas como nosso conhecimento
dos ventos globais provém dos regimes observados de pressão e vento e de estudos
teóricos de movimento dos fluídos, primeiro é necessário recordar alguns conceitos da
física, tais como a dinâmica dos fluidos.

A Terra gira em torno de seu eixo e ainda em torno do sol (translação), e, ao mesmo
tempo em que realiza estes movimentos, a camada gasosa que envolve o nosso planeta
também segue estes movimentos, agindo como um fluido. Imagine a seguinte situação:
você está girando uma colher dentro de um copo com água. Quanto mais rápido você
movimentar a colher, mais rápido a água irá se movimentar para acompanhar o
movimento, pois neste caso a água age como um fluido. Agora transponha este
mecanismo para o sistema Terra-atmosfera: a Terra gira em sentido rotacional, fazendo
o papel da “colher” e a atmosfera acompanha este movimento, agindo como um fluido
e, portanto, fazendo o papel da “água no copo”. E assim, damos inicio ao
funcionamento do sistema de circulação geral da atmosfera.

Uma das primeiras contribuições ao modelo clássico de circulação geral é de George


Hadley, em 1735. Hadley estava ciente de que a energia solar impulsiona os ventos. Ele
propôs que o grande contraste de temperatura entre os pólos e o equador criava uma
circulação térmica semelhante ao mecanismo de formação das brisas marítimas, de
modo que o aquecimento desigual da Terra faz com que o ar se mova para buscar o seu
equilíbrio. Assim, Hadley sugeriu que o movimento do ar teria a forma de uma grande
célula de convecção em cada hemisfério sobre a Terra sem rotação. (Adaptado de
http://fisica.ufpr.br/grimm/aposmeteo/cap8/cap8-1.html, acessado em 15/01/2010).

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 3


28
Todavia, para melhor compreendê-lo é importante dividi-lo em movimentos horizontais
e verticais.

Movimento horizontal: Como vimos, a temperatura varia conforme a latitude e é o


fator que determina a pressão em escala global. Logo, temos que nos pólos há a
formação de um centro de ALTA pressão (mais frio), e no equador forma-se um centro
de BAIXA pressão, por causa das elevadas temperaturas. Portanto, se desconsiderarmos
o movimento de rotação da Terra, os ventos tenderiam a se deslocar dos pólos para o
equador.

Figura 3.19. Circulação global numa Terra sem rotação (Hadley)


Fonte: http://fisica.ufpr.br/grimm/aposmeteo/cap8/cap8-1.html, acessado em 15/01/2010.

Todavia, a Terra gira em torno de seu próprio eixo, e como conseqüência, acaba
formando mais dois centros de alta pressão sobre os trópicos (alta pressão dinâmica) e
ainda mais dois centros de baixa pressão sobre os círculos polares (baixa pressão
dinâmica). E quando se inclui o efeito da rotação da Terra, a força de Coriolis começa a
atuar e faz com que os ventos em superfície se desviem para sudoeste ou noroeste,
dependendo do hemisfério. De modo que os ventos de superfície soprariam contra a
rotação da Terra, que é de oeste para leste. Desta maneira, o padrão geral de circulação
dos ventos seguirá o que chamamos de cédula de Hadley (ver 3.20 figura abaixo), em
que os ventos alísios se formam, saindo dos trópicos para o equador – ou seja, de
centros de alta para baixa pressão – e que se convergem na chamada Zona de

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 3


29
Convergência Intertropical ou ZCIT. Esta área se caracteriza pela forte instabilidade na
zona equatorial, formando chuvas e ventanias.

Figura 3.20. Circulação global idealizada no modelo de circulação de três células


Fonte: http://fisica.ufpr.br/grimm/aposmeteo/cap8/cap8-1.html, acessado em 15/01/2010.

A partir do encontro dos ventos alísios na faixa equatorial, estes são forçados a subir, ou
seja, a realizar um movimento ascendente dos ventos para a alta atmosfera. Neste caso,
existe convergência dos ventos nos baixos níveis, associados a um centro de baixa
pressão em superfície. Em seguida os ventos se elevam, passando por um movimento
ascendente, e à medida em que ganham altitude começam a se resfriar (resfriamento da
coluna de ar) e assim, formam um centro de alta pressão nos altos níveis, e que por sua
vez será responsável pela divergência dos ventos para um outro centro de menor
pressão, que neste caso formam os contra-alísios (retorno do vento para os trópicos),
através de um movimento de subsidência, que está associado a um centro de alta
pressão em superfície e divergência dos ventos nos baixos níveis. E assim, fecha-se o
ciclo dos ventos alísios e contra-alísios.

Por fim, combinando os dois movimentos temos a circulação direta, em que o ar


aquecido nos centros de baixa pressão à superfície - induzido pela temperatura - ascende
e em seguida se diverge nos altos níveis em direção à região de baixa pressão (faixa

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 3


30
equatorial). Após, ele converge e sofre subsidência, divergindo no centro de alta pressão
induzido pelo resfriamento à superfície e assim fechando o mecanismo da Célula de
Hadley.

3.2.6. Aparelhos e instrumentos de medição dos ventos:

O anemômetro é um dos principais instrumentos de medição


da direção, sentido e intensidade dos ventos. Inspirados nos
cata-ventos, eles são calibrados de forma a que o total de
voltas dadas por suas pás correspondam a uma velocidade
específica, ou seja, se no túnel de vento em que são ajustados
a corrente de ar sopra a dez quilômetros por hora, e as pás do
instrumento giram cem vezes por minuto, ele é programado
para indicar 10 km/h sempre que o anemômetro atingir 100
rotações por minuto, e assim por diante.

Em geral há dois tipos de anemômetros, o de conchas e de

Figura 3.21. Anemômetro hélice. O anemômetro de conchas é do tipo rotativo mais


Fonte:
http://recantodasletras.uol.c
vulgar em que há três ou mais conchas de formato especial
om.br/artigos/943880, montadas simetricamente formando ângulos retos com um
acessado em 12/01/2010.
eixo vertical. A velocidade de rotação depende da velocidade
do vento, independentemente da direção de onde ele sopra. O conjunto das conchas faz
mover um mecanismo que conta as rotações e a velocidade do vento é calculada com o
auxílio de um dispositivo de contagem. Os anemômetros de hélice são também do tipo
rotativo. Um cata-vento mantém voltada para o vento uma hélice, cuja rotação é
transmitida a um indicador. (Fonte: Fernando Kitzinger Dannemann (abril de 2008),
Recanto das Letras, código: T943880, disponível em
http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/943880, acessado em 12/01/2010).

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 3


31

Saiba mais

Para saber mais sobre a dinâmica dos ventos e o


funcionamento da Célula de Hadley, consulte
<http://fisica.ufpr.br/grimm/aposmeteo>

Resumo: Nesta aula abordamos:

 O funcionamento do ciclo hidrológico e a importância da água para o sistema


Terra-atmosfera;
 A importância do vapor d‟água, formado através da evaporação e precipitação
da água, para o estudo do tempo e do clima;
 As principais medidas de umidade do ar, bem como os aparelhos e instrumentos
mais utilizados para sua medição, a exemplo do psicrômetro, hidrômetro e do
higrógrafo.
 As principais características dos diferentes tipos de condensação do ar, tais como
orvalho, névoa, neblina, neve, geada e nevoeiro, e como cada um deles se forma
e provoca algum impacto socioeconômico e as vezes até ambiental para a
sociedade, em especial sobre aeroportos e ferrovias.
 O conceito de pressão atmosférica, que corresponde à força que o ar exerce
sobre a superfície terrestre, sua distribuição vertical e espacial e como esta
interfere na formação e dinâmica dos ventos, a partir da formação de áreas de
alta e baixa pressão no globo.
 Os principais instrumentos de medida isobárica, a exemplo do barômetro e do
barógrafo;
 O funcionamento e a dinâmica dos ventos, em escala global e regional, a partir
das variações entre os gradientes de pressão e suas implicações para o estudo do
tempo e do clima, incluindo o conceito e as conseqüências do Efeito Coriolis
para que ocorra tal dinâmica.
 A formação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e suas variações
sazonais e espaciais no globo.
 Quais são os mecanismos do modelo de circulação geral da atmosfera,
subdividida em movimentos ascendentes e subsidentes, e ainda caracterizando
quais são os principais instrumentos de medição dos ventos.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 3


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Referências Bibliográficas

AYOADE, J. D. Introdução à Climatologia para os trópicos. Rio de Janeiro:


Bertrand Brasil, 1996.

FERNANDO KITZINGER DANNEMANN (2008). Anemômetro In: Recanto das


Letras. código: T943880, disponível em:
http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/943880, acessado em 12/01/2010.

NOBRE & UVO (1989). Zona de Convergência Intertropical. Disponível em:


<http://www.master.iag.usp.br/ensino/Sinotica/AULA15/AULA15.HTML>, acessado
em 12/01/2010.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 3


AULA 4 – Sistemas Produtores de Tempo e
Clima

Curso: Meio Ambiente


Disciplina: Climatologia
Conteudista: Carolina Dias de Oliveira
Tutora: Camila Emídio Ribeiro

4. Sistemas Produtores de Tempo e Clima

Os sistemas produtores de tempo são sistemas de circulação atmosféricos acompanhados


por padrões e tipos característicos do tempo. Eles provocam as variações diárias e semanais
nas condições temporais e podem também ser conhecidos como perturbações atmosféricas
ou meteorológicas, a exemplo dos ciclones tropicais, monções e anticiclones típicos das
zonas temperadas.

4.1. As massas de ar

Uma massa de ar define-se como “um grande corpo de ar horizontal e homogêneo


deslocando-se como uma entidade reconhecível e tendo origem tanto tropical quanto polar”
(AYOADE, 1996, p.99). Em outras palavras, correspondem a porções da atmosfera que
apresentam características particulares de temperatura, umidade e pressão. Há massas de ar
quentes ou frias, úmidas ou secas, dependendo somente das características de seu local de
origem, como vimos. À medida que ela se desloca, sofre mudanças e modificações térmicas
e de umidade em relação à sua área de origem. Em geral, o Áreas ciclonais: são áreas
receptoras de ventos, típicas de
deslocamento das massas de ar é provocado pelas diferenças pontos de alta pressão.
de temperatura e pressão entre as diversas áreas da superfície Áreas anticiclonais: são áreas
dispersoras de ventos, típicas de
terrestre, em especial das áreas ciclonais e anticiclonais.
pontos de baixa pressão.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 4


2
As massas de ar originam-se em áreas geralmente extensas e homogêneas onde existem
condições que favoreçam o desenvolvimento de vastos corpos de ar horizontais e
uniformes. E para que ela possa adquirir tais características de umidade e temperatura deve
haver uma estagnação da circulação do ar nestas áreas. As planícies árticas, os oceanos
subtropicais e tropicais, o deserto do Saara e os interiores continentais da Ásia, Europa e
America do Norte são exemplos de importantes fontes produtoras de massas de ar. Quanto
mais tempo uma massa de ar permanece em sua área de origem, antes de se deslocar, mais
afetada ela será pelas características térmicas e de umidade locais.

Essas características das massas de ar, aliadas ao seu caráter dinâmico, permitem-nos
compreender a sua importância na caracterização dos diferentes tipos climáticos existentes.
Na maior parte do Brasil durante o verão, por exemplo, o território encontra-se dominado
por massas de ar quentes e úmidas, resultando em temperaturas predominantemente
elevadas e chuvas. Já durante o inverno, com o fortalecimento da massa polar, o sul do país
sofre com a forte queda de temperatura, ocasionado inclusive neve e geadas.

As principais massas de ar, ligadas à circulação geral da atmosfera, são:

 Massas polares: muito extensas e caracterizam dois importantes centros de alta


pressão: um na região polar ártica e outro na região polar antártica, podendo ser
continentais ou oceânicas.
 Massas tropicais: ocupam latitudes próximas dos trópicos nos dois hemisférios
(latitude 30º), também podendo ser continentais, formando massas secas, ou
oceânicas, massas mais úmidas.
 Massas equatoriais: localizadas na zona equatorial, caracterizam-se por elevadas
temperaturas e baixas pressões.

A seguir, aprofundaremos no estudo da formação das frentes frias e quentes e depressões


frontais.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 4


3
4.1.1 - As frentes frias e frentes quentes

Nas latitudes médias do globo, a instabilidade climática que provoca chuvas e temporais se
deve em grande parte à ocorrência de depressões ou zonas de baixa pressão. Especialmente
durante o inverno, estas depressões surgem e trazem tempo frio, céu nublado ou encoberto,
ventos fortes, chuvas e até mesmo neve. Em geral elas são bastante extensas, podendo
atingir centenas de quilômetros, mas se movimentam rapidamente pelo território, durando
em média 24 horas e provocando uma seqüência de efeitos climáticos típicos.

Figura 4.1. Frente quente


Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Frente_quente.gif, acessado em 15/01/2010

As frentes quentes (figura 4.1), em geral, indicam a chegada de uma depressão. Neste
caso, o ar quente e úmido dos trópicos desliza sobre uma massa de ar fria (polar),
condensando-se gradativamente e formando uma espessa camada de nuvens acima dela. A
frente avança com firmeza sobre o território, com o ar aquecido (e também leve) movendo-
se sobre o ar frio (mais denso). No alto do céu, ou seja, na ponta principal da frente,
formam-se delicadas nuvens do tipo cirrus, o que prenuncia a chegada da depressão. Em
seguida, um véu de cirrus-estratos é visualizado no céu e em algumas horas a pressão do ar
começa a diminuir, fazendo com que o vento sopre com mais força. Quando a base da
frente se aproxima, as nuvens começam a engrossar, formando alto-estratos e até nimbus-
estratos cinzentos, indicando a probabilidade de chuva (figura 4.2). O céu, portanto, fica
mais escuro e a chuva, ou a neve, começa a cair. Esta chuva pode durar varias horas até que
o céu fique limpo novamente. Há então uma breve pausa até que ocorra a frente fria.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 4


4

Figura 4.2. Nuvens associadas à frente quente


Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/11/Nuvens_Fquente.jpg, acessado em 15/01/2010

Após a passagem da frente quente, as condições do tempo parecem mais amenas, e a


pressão atmosférica declina mais lentamente. O céu brilha um pouco enquanto espessas
nuvens do tipo nimbus-estratos se transformam em estrato-cúmulos. Em pouco tempo, o
céu irá se abrir completamente. Porém, este cenário dura pouco. Densas e gigantescas
nuvens do tipo cúmulos prenunciam a chegada de uma frente fria (figura 4.3), na qual a
massa polar avança rapidamente abaixo do ar tropical, úmido e quente. A frente fria declina
de modo muito mais abrupto do que a frente quente, e fortes correntes de ar ascendentes
podem ocasionar tempestades violentas. Enormes cúmulos-nimbos se formam por toda a
frente, trazendo chuva forte e até tempestades durante a sua passagem. Todavia, apesar de
mais intensas, tais tempestades são pouco duradouras e e podem terminar em até uma hora.
E à medida que a frente se afasta, o ar se torna mais frio e rapidamente as nuvens se
dispersam, restando apenas alguns cúmulos.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 4


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Figura 4.3. Nuvens associadas a frentes frias


Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Frente_fria, acessado em 15/01/2010

É importante destacar que muitas depressões atmosféricas se originam sobre o oceano, pois
em geral é aí que as massas tropicais, quentes e úmidas, entram em contato com as massas
frias e secas, oriundas dos pólos, em uma linha denominada “frente polar”. A depressão se
inicia quando o ar tropical se acumula na direção do pólo e, à medida que a massa de ar
tropical se eleva acima da massa polar, cria um centro de baixa pressão na crista da
saliência. O ar polar avança rapidamente para substituir o ar quente que ascende. Em
seguida, ventos começam a formar espirais em torno do ciclone (centro de baixa pressão),
enquanto as fendas frias se aquecem. A depressão se intensifica e a frente polar começa a
desenvolver uma nítida “torção”. Em uma de suas pontas, o ar quente continua a se
movimentar lentamente para a frente sobre o ar frio em uma inclinação gradual (a frente
quente). Na outra, porém, o ar frio avança sob o ar quente (a frente fria). Assim, a
depressão se aprofunda e é lentamente carregada para leste por ventos fortes na atmosfera
superior. (Adaptado de A Dorling Kindersley Book. Londres, 1997. Traduzido para a
língua portuguesa por Aventura Visual. Clima. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1997, p.32-
35)

Em síntese temos:

a) Depressões frontais: as depressões frontais ocorrem quando há um encontro de duas


massas de ar com características diferentes, ocasionando chuvas torrenciais e muito fortes.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 4


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b) Frentes: correspondem aos limites externos das massas de ar quando estão em
expansão. Se a massa de ar em expansão for originada em áreas de elevada temperatura,
forma-se uma frente quente, e ao contrário, se a massa for originada em áreas de
temperatura mais baixa, teremos a formação de uma frente fria.

4.1.2. Sistemas meteorológicos tropicais

Após a 2ª Guerra Mundial, e especialmente após a criação dos satélites meteorológicos em


1960, significativos avanços ocorreram no estudo sobre os sistemas meteorológicos ou
perturbações tropicais. Estes podem ser classificados em cinco categorias, conforme suas
escalas espaciais e temporais.

A primeira categoria, ou o menor sistema meteorológico, é o cúmulos individual que dura


somente algumas horas. As nuvens cúmulos são geralmente paralelas à direção do vento, e
não distribuídas ao acaso. Elas podem contribuir para o desenvolvimento de uma
perturbação maior, se a convecção for intensificada por correntes de ar ascendentes e
descendentes durante períodos com condições meteorológicas perturbadas.

A segunda categoria é o sistema em mesoescala, que está associado em particular aos


limites terra-mar, às ilhas oceânicas aquecidas, ou à Topografia: corresponde aos
desníveis do relevo, tais como
topografia. Este sistema de mesoescala possui tempo de planícies e áreas serranas e
duração e tamanho intermediários dentre as perturbações montanhosas.

meteorológicas existentes. Imagens satélites: são imagens


geradas por sistemas sensores
acoplados a satélites artificiais,
A terceira categoria refere-se ao agrupamento de nuvens, estes últimos correspondendo a
veículos espaciais colocados em
identificada a partir de imagens satélites. O agrupamento de órbita da Terra por meio de
foguetes. Como eles ficam em
nuvens é de escala sub-sinótica e pode persistir por até 3 dias. órbita a muitos quilômetros da
superfície, e por um longo período
de tempo, os satélites permitem a
obtenção de imagens de grandes
extensões da superfície terrestre de
forma repetitiva. Fonte:
http://www.epamig.br/geosolos/MN
_GEO/Satelite.pdf, acessado em
13/01/2010.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 4


7
A quarta categoria inclui as perturbações de ondas de
Sinótica: Para a meteorologia, este termo é
escalas sinóticas, a exemplo das ondas de leste das
utilizado em termos do contexto de dimensões
ilhas do Caribe, e os vórtices ciclônicos, tais como os horizontais e tempos de duração de fenômenos
atmosféricos como ciclones e anticiclones
furacões e depressões monçônicas. extratropicais, zonas frontais e jatos. A
padronização de horários para as observações
e junção das informações coletadas
A quinta e última categoria é a onda planetária, que inicialmente são feitas via telégrafo e
posteriormente há confecção de mapas
ocorrem na troposfera superior e nas estratosferas sinóticos ou cartas sinóticas. Fonte:
http://www.master.iag.usp.br/ensino/Sinotica/
equatoriais. Elas são bastante amplas e possuem um AULA01/AULA01.HTML, acessado em
13/01/2010.
comprimento da ordem de 10.000 a 40.000
quilômetros, contudo, as ondas não parecem Vórtices ciclônicos: são definidos como
sistemas fechados de baixa pressão, de escala
influenciar o tempo diretamente, apesar de serem sinótica, que se formam na alta troposfera e
comumente chamados de baixas frias, pois
capazes de interagir com sistemas da baixa troposfera. apresentam centro mais frio em relação ao
entorno. A partir de imagens de satélite
Mas é necessário destacar que, tais ondas planetárias meteorológico, os vórtices ciclônicos podem
causar, em determinadas situações, chuvas e
podem contribuir para outros fenômenos de escala
ventos fortes sobre as Regiões Sul e Sudeste do
planetária, tais como a expansão da camada de ozônio Brasil por um período de 1 ou 2 dias, a
exemplo das chuvas intensas ocorridas em São
(ver figura 4.4 abaixo). Paulo recentemente. Além de causar chuvas
fortes, os vórtices ciclônicos também estão
muitas vezes associados à ocorrência de
geadas, a exemplo das que ocorrem nas
regiões Sul e Sudeste do Brasil durante o
inverno. Normalmente eles se originam no
Oceano Pacífico e, ao cruzarem os Andes,
Onda planetária: são fenômenos muitas vezes provoca alterações no tempo
naturais, causados pela diferença nessas regiões, bem como no Uruguai e norte
de temperatura entre o Equador e da Argentina. Quando penetram no continente,
os pólos. Elas circulam pelo globo vindos do Oceano Pacífico, normalmente há
terrestre, modificando padrões instabilidade e chuva nos setores leste e
climáticos e a temperatura da nordeste do vórtice. Eles possuem uma vida
estratosfera, onde se localiza a média bastante variável, sendo que alguns
camada de ozônio. duram apenas algumas horas, e outros até
Nos anos em que as ondas são mais mais de duas semanas. Mas é necessário
freqüentes e fortes, elas aquecem a destacar que, apesar da grande influência
estratosfera. Quanto mais quente destes sobre o tempo do Brasil, diversas
estiver o ar sobre o vórtice polar, características sinóticas desses sistemas, tais
menos afetado é o ozônio. (Fonte: como variações sazonais e inter-anuais, os
Newman, Paul. ‘Temperatura alta processos físicos envolvidos, a manutenção,
na Antártida reduz buraco na entre outros, ainda não são bem conhecidos
camada de ozônio’ In: Folha pelos meteorologistas e climatólogos. (Fonte:
Online. Setembro de 2002, adaptado de
disponível em <http://climanalise.cptec.inpe.br/~rclimanl/bo
http://www1.folha.uol.com.br/folha letim/cliesp10a/vociclo.html, acessado em
/ciencia/ult306u7336.shtml, 14/01/2010.)>
acessado em 14/01/2010.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 4


8

Figura 4.4. Espectômetro capta separação do buraco na


camada de ozônio sobre a Antártida
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u7336.shtml, acessado em 14/01/2010.

Saiba mais

Saiba mais: Para saber mais sobre as ondas planetárias


e a sua influência sobre o amento da camada de ozônio,
consulte:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u7908
.shtml, acessado em 13/01/2010.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 4


9
Segundo AYOADE (1996, p.98), ciclone é o termo usado para
Áreas circundantes: áreas do
descrever a distribuição da pressão atmosférica na qual há uma entorno, vizinhas.
baixa pressão central em relação às áreas circundantes, e nas
áreas em que há uma lata pressão central em relação ao entorno
chamamos de anticiclone. A circulação em torno do centro de um ciclone ocorre no sentido
anti-horário no Hemisfério norte e no sentido horário no Hemisfério sul, acompanhado de
um tempo estável e calmo, como já vimos.

Há três tipos de ciclones:

 Ciclones extratropicais: típicos de áreas temperadas e subtropicais;


 Ciclones tropicais: encontrados com maior freqüência na zona intertropical sobre
áreas oceânicas e continentais;
 Tufões: também chamados de tromba d‟água e redemoinhos nas regiões desérticas.

4.2 - As precipitações

As precipitações atmosféricas correspondem às diferentes maneiras pela qual o vapor


d‟água, após condensar-se na atmosfera, chega à superfície terrestre. E segundo AYOADE
(1996, p.159) o termo é usado para “qualquer deposição em forma líquida ou sólida e
derivada da atmosfera”, e logo, podem representar as várias formas liquidas e congeladas
de água, como a chuva, neve, granizo, orvalho, geada e nevoeiro. Todavia, apenas a chuva
e a neve contribuem significativamente para os totais de precipitação. Elas ocorrem após a
saturação das nuvens, em que há transformação do estado físico da água. A seguir,
abordaremos detalhadamente os diversos tipos de precipitações atmosféricas.

4.2.1. Tipos de precipitação

a) Neve: é o resultado da cristalização do vapor d‟água no


interior ou pouco abaixo das nuvens. Os cristais de neve possuem Estrutura hexagonal: referente à
geometria compondo uma
formas bastante curiosas e variadas, apesar de sempre estrutura com seis lados.

apresentarem estrutura hexagonal. A precipitação da neve


ocorre em regiões onde a temperatura atmosférica é suficientemente baixa para evitar que

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10
os cristais entrem em fusão. O acúmulo da neve em regiões frias do globo, tais como as
polares e montanhosas, é responsável pela formação das geleiras.

b) Granizo: é composto por gelo. Sua formação deve-se às fortes correntes convectivas,
que realizam o transporte das gotas de água condensadas para as camadas mais elevadas e
mais frias, onde se dá o congelamento. A precipitação do granizo, vulgarmente chamada de
“chuva de pedra”, ocorre predominantemente durante o verão, em função das trovoadas ou
em momentos de tempestade. É uma forma muito violenta de precipitação e, por isso, capaz
de provocar sérios danos, principalmente para a agricultura.

c) Chuva: é a forma de precipitação mais comum e, sem dúvida, a mais benéfica e


importante para o homem e demais seres vivos. Ela resulta do contato de uma nuvem
saturada de vapor de água com uma camada de ar frio. Esse contato pode ocorrer de três
maneiras:

 pela ascensão vertical do ar contendo vapor d‟água, o Ascensão vertical do ar: quando
o ar se leva para as áreas mais
qual, ao entrar em contato com camadas de ar frio, sofre elevadas.
condensação e posterior precipitação. As chuvas
resultantes desse processo são chamadas convectivas, típicas de regiões equatoriais,
e ciclonais, típicas de áreas tropicais e temperadas (ver figura 4.5);
 pelo deslocamento horizontal das nuvens que, ao entrarem em contato com regiões
de elevadas altitudes, como as áreas montanhosas, sofrem esfriamento e
precipitação. As chuvas resultantes desse processo são as chuvas de relevo ou
orográficas e as chuvas litorâneas (ver figura 4.6);
 pelo encontro de duas massas de ar com características diferentes, ou seja, uma
quente e outra fria, provocando fortes chuvas, também conhecidas como chuvas
frontais (ver figura 4.7);.

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11

Figura 4.5. Chuva convectiva


Fonte: http://www.infoescola.com/meteorologia/tipos-de-chuvas/, acessado em 15/01/2010.

Figura 4.6. Chuva orográfica.


Fonte: http://www.infoescola.com/meteorologia/tipos-de-chuvas/, acessado em 15/01/2010.

Um exemplo de precipitação, sob a forma de chuva são as tempestades, que podem ocorrer
em todos os lugares do globo, mas são mais freqüentes nos trópicos. A sua intensidade na
faixa intertropical também é muito maior do que nas áreas polares e temperadas da Terra e
por isso são fundamentais para o estudo da Climatologia nos trópicos. Elas correspondem a
fenômenos meteorológicos altamente localizados e de curta duração, que normalmente dura
entre uma a duas horas. Elas se desenvolvem onde há massas de ar úmidas, quentes e

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 4


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instáveis em camadas verticais consideráveis, de aproximadamente 8.000 metros. A maior
parte delas possui origem convectiva e são resultantes de um forte aquecimento solar,
contudo, algumas podem ser ocasionadas por brisas marítimas e terrestres.

Os aguaceiros se caracterizam por serem esporádicos e de breve duração, porem bastante


intensos e em geral são acompanhados por forte ventania e naturalmente por raios e
trovoadas.

Figura 4.7. Chuva ciclônica ou frontal.


Fonte: http://www.infoescola.com/meteorologia/tipos-de-chuvas/, acessado em 15/01/2010.

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13
4.2.2. As medidas de precipitação

A forma mais comum de precipitação, a chuva, é provavelmente a mais fácil de medir.


Entretanto, dispositivos sofisticados são usados para medir pequenas quantidades de chuva
mais precisamente, assim como para reduzir perdas por evaporação. O pluviômetro
padrão (Figura 4.8) tem um diâmetro em torno de 20 cm no topo.

Seu mecanismo de coleta é relativamente simples: a água das chuvas é recolhida a partir de
um funil, que a conduz à uma pequena abertura em um tubo de medida cilíndrico com
somente um décimo da área do coletor. Conseqüentemente, a espessura da chuva
precipitada é aumentada em 10 vezes, o que permite medidas com precisão de até 0,025
centímetros, ao passo que a abertura estreita dificulta a evaporação. Se a quantidade de
chuva for inferior a 0,025 cm, ela pode ser considerada como um traço de precipitação.

O pluviógrafo (figura 4.9), em seus diversos tipos, também é um importante instrumento


de medida da precipitação, que além de registrar a quantidade de chuva, também mede seu
instante de ocorrência e intensidade, ou seja, a quantidade de chuva por unidade de tempo.

Figura 4.9.Pluviógrafo
Figura 4.8.Pluviômetro padrão Fonte:
Fonte: http://www.rumtor.com/Fotos%20para%20
http://fisica.ufpr.br/grimm/aposmeteo/cap6/ web/meteo/pluviografoweb.jpg, acessado
cap6-4.html, acessado em 13/01/2010. em 13/01/2010.

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14
Seu procedimento de coleta é simples, mas pode se diferenciar. Um deles compõe-se de
dois compartimentos, cada qual com capacidade de 0,025 cm de chuva, e que se situam na
base de um funil de 25 centímetros. Quando um destes compartimentos está cheio, a água
entorna e se esvazia. Neste intervalo o outro compartimento toma seu lugar na base do funil
e cada vez que um compartimento entorna, um circuito elétrico é fechado e a quantidade de
precipitação é automaticamente registrada num gráfico. Outra forma se dá a partir da
pesagem, em que a precipitação é recolhida em um cilindro localizado sobre uma balança.
À medida que o cilindro se enche, um registrador grava o peso da água acumulada, que está
calibrado em espessura de precipitação.

É importante salientar que a exposição correta do pluviômetro deve ser feita de modo
bastante cauteloso, pois para assegurar medidas representativas, ele deve estar protegido
contra ventos fortes e ainda de obstáculos que impeçam com que a chuva oblíqua possa cair
no pluviômetro. Em geral estes obstáculos devem se localizar à uma distância do
pluviômetro igual a quatro vezes a sua altura.

4.2.3. Variações espaciais, diurnas e sazonais da precipitação

A distribuição da precipitação sobre o globo é muito mais complexa do que a da insolação


ou da temperatura do ar, pois praticamente toda a precipitação é resultante do resfriamento
adiabático que se forma em função da ascensão das massas de ar, onde elas ocorrem com
maior freqüência. Estudar as variações sazonais das precipitações no globo é essencial para
o estudo do clima, pois em geral é a partir dela que a maior parte das classificações ou
subdivisões climáticas dos climas tropicais é feita. E ainda porque a estação chuvosa tem
forte ligação com as atividades agrícolas e ainda influencia o modo de vida das pessoas, ao
limitar as suas atividades ao ar livre. Destaca-se que as principais áreas de ocorrência das
precipitações são a zona de convergência intertropical (ZCIT) e as encostas de grandes
barreiras orográficas, como a Cordilheira dos Andes e o Himalaia, por exemplo. .

a) Variação espacial da precipitação: é abundante na zona equatorial e mais moderada


nas faixas temperadas e polares. As áreas litorâneas do oeste nos subtrópicos tende a ser
mais seca em relação às áreas orientais. E ainda as áreas próximas aos lagos e oceanos
tendem a possuir maior umidade e, portanto, recebem mais precipitação do que as áreas

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 4


15
interioranas dos continentes. Esta variação responde à diversos fatores, e por isso é mais
complexa, tais como a topografia, a influência da maritimidade, a direção e as
características das massas de ar predominantes, entre outros.

b) Variação sazonal da precipitação: na maior parte dos trópicos, a precipitação ocorre


durante o verão, durante quase a metade do ano, e a outra estação sendo tipicamente mais
seca, especialmente no inverno. Nota-se que a precipitação tende a ser mais marcada pelas
estações do ano na faixa intertropical, já que nas faixas temperadas e polares nem sempre
ocorre a chuva, mas sim neve e granizo. E ainda porque nos trópicos a influência da
maritimidade e da continentalidade se torna mais em evidência sobre os padrões de
precipitação.

c) Variação diária da precipitação: o regime diário das chuvas é fundamental para a


aviação e sobre o funcionamento de outros meios de comunicação e transporte, em especial
sobre as estradas e rodovias. Ela também limita a realização de diversas atividades ao ar
livre, tais como o uso da piscina ou mesmo de caminhadas e passeios em trilhas ecológicas.
Nos continentes, as chuvas tendem a ocorrer durante as horas mais quentes do dia, quando
o aquecimento solar é mais intenso e o índice de variação da temperatura é mias elevado,
deixando o ar mais leve. Assim, nas áreas continentais, as chuvas diárias são
predominantemente convectivas e ocorrem mais intensamente durante o final da manhã ou
da tarde. Já nas áreas litorâneas, ocorre maior precipitação durante a noite e primeiras horas
da manhã, quando o ar marítimo é mais instável. Todavia, deve-se destacar que a maioria
dos lugares sofre a influência de outros fatores climáticos, podendo ocasionar desvios deste
padrão.

4.2.4. Os tipos de nuvens

Através da observação das nuvens podemos observar, ou identificar, as condições


atmosféricas de determinado local, pois estas refletem em sua quantidade, forma e
estrutura. Como vimos, para que uma nuvem se forme é necessário que parte do vapor
d‟água contido na atmosfera se condense, formando pequenas gotículas de água, ou mesmo
se solidifique, formando minúsculos cristais de gelo. A esta formação, ou aglomerado de
cristais de gelo e gotículas damos o nome de nebulosidade.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 4


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Uma característica que diferencia os variados tipos de nuvens é a altura em que elas se
formam, ou onde se encontra sua base e seu topo. Mas, é importante lembrar, que esta
altura varia conforme a posição geográfica (latitudinal) da região considerada. Por
exemplo, na região tropical a altura mínima e máxima de uma nuvem costuma ser entre 2
km e 18 km de altura da superfície respectivamente, configurando o estágio baixo; ao passo
que nas regiões polares e temperadas as distâncias são, respectivamente, 2 km e 8 km, e 2
km e 13 km, e configuram o estágio alto. Destes, existem cinco denominações para os
diferentes tipos de nuvens que se encontram até 2 km da superfície, são elas:
 Cumulus: são nuvens isoladas que apresentam uma base sensivelmente horizontal,
tem contornos bem definidos, uma cor bem branca quando iluminada pelo sol,
provoca chuvas na forma de pancadas, constituídas principalmente por gotículas de
água, mas podem conter cristais de gelo no topo.
 Congestus: possui bordas protuberantes no topo e um considerável
desenvolvimento vertical, sua ocorrência indica profunda instabilidade e
favorecimento por escoamento ciclônico em altitude.
 Cumulonimbus: são nuvens com grande desenvolvimento vertical e que
apresentam a forma de uma montanha. Devido ao seu tamanho, sua forma só pode
ser vista de longe. No topo, geralmente apresenta a forma característica de uma
„bigorna‟. É uma nuvem mais escura formada por grandes gotas de água e granizo,
podendo conter cristais de gelo no topo. Está associada a tempestades fortes com
raios e trovões.
 Stratocumulus: correspondem a nuvens cinzentas ou esbranquiçadas, formadas por
gotículas de água e associadas a chuvas fracas.
 Stratus: nuvem cinzenta que provoca chuvisco. De cor cinza forte com base
uniforme, costuma encobrir o sol ou a lua.

A seguir, há mais três denominações para as nuvens situadas em estágio médio:


 Nimbostratus: nuvens de grande extensão e base difusa formadas por gotas de
chuva, cristais ou flocos de gelo com cor bastante escura.

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 Altostratus: assemelham-se a um lençol cinzento, às vezes azulado, sempre tem
umas partes finas que permitem ver o sol. É formada por gotas de chuvas e cristais
de gelo.
 Altocumulus: nuvem cinza (às vezes branca) que apresenta sombras próprias e tem
a forma de rolos ou lâminas fibrosas ou difusas. Raramente contém cristais de gelo
e por entre as nuvens deste tipo é possível enxergar pedaços do céu claro.

Por fim, há mais três denominações para as nuvens formadas em estágios altos:
 Cirrus: são nuvens com brilho sedoso, isoladas e formadas por cristais de gelo
parecendo convergir para o horizonte. Podem se formar da evolução da bigorna da
cumulonimbus.
 Cirrocumulus: correspondem a nuvens brancas compostas quase exclusivamente
por cristais de gelo agrupados em grânulos semi-transparentes.
 Cirrostratus: nuvens parecidas com um véu transparente que dão ao céu um
aspecto leitoso. Constituída por cristais de gelo.
(Fonte: adaptado de http://www.infoescola.com/meteorologia/tipos-de-nuvens/, acessado em 14/01/2010).

Saiba mais

Saiba mais: Para saber mais sobre os tipos de


nuvens, visite os sites <www.inmet.gov.br>,
<www.climatempo.com.br> e
<www.infoescola.com/meteorologia/tipos-de-
nuvens>.

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18

@ Mídias Integradas

Mídias Integradas: Para saber mais sobre os diferentes


tipos de nuvens e precipitações, suas características e
conseqüências para a sociedade, assista aos vídeos da
série “Explicando o tempo”, disponível em:
http://www.climatempo.com.br/videos.php .

Em seguida, as figuras 4.10 a 4.20 ilustram estes diversos tipos de nuvens.

Figura 4.10. Nuvem Cúmulos Figura 4.11. Nuvem cúmulo-nimbus

Figura 4.13. Nuvem Strato-cúmulos


Figura 4.12. Nuvem Congestus

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Figura 4.14. Nuvem Nimbo-Stratus


Figura 4.15. Nuvem Stratocúmulos

Figura 4.16. Nuvem Alto-cumulos Figura 4.17. Nuvem Alto-stratus

Figura 4.18. Nuvem Cirrus Figura 4.19. Nuvem Cirrocumulos

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Figura 4.20. Nuvem Cirrostratus

Fonte das imagens: http://www.infoescola.com/meteorologia/tipos-de-nuvens/, acessado em 14/01/2010.

Resumo:

Nesta aula abordamos:

 O que são os sistemas produtores de tempo, também conhecidos como perturbações


atmosféricas ou meteorológicas, e como estes provocam as variações diárias e
semanais nas condições temporais do planeta, a exemplo dos tufões, ciclones e
furacões;
 Como se formam as massas de ar, que correspondem à porções da atmosfera que
apresentam características particulares de temperatura, umidade e pressão, e como
estas podem se diferenciar conforme o seu local de origem, podendo ser quentes ou
frias, úmidas ou secas;
 O processo de formação das frentes frias, frentes quentes e depressões frontais, bem
como as cinco categorias dos sistemas meteorológicos tropicais;
 A existência de diversos tipos de precipitação além da chuva, tais como a neve, o
granizo, orvalho, geada e nevoeiro, e que cada uma delas exige determinadas
condições atmosféricas especificas para se formar;
 As diferentes medidas e instrumentos de coleta da precipitação, especialmente sob a
forma de chuva, tais como o pluviômetro e o pluviógrafo;
 Como ocorrem as variações espaciais, diurnas e sazonais da precipitação no globo
terrestre, associadas à análise e interpretação dos gráficos pluviométricos.
 E por fim, quais são as características e formas dos diversos tipos de nuvens.

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Referências Bibliográficas

AYOADE, J. D. Introdução à Climatologia para os trópicos. Rio de Janeiro:


Bertrand Brasil, 1996. p. 98-179. (capítulos 6, 7 e 8)

A Dorling Kindersley Book. "Wheater". Londres, 1997. In: Clima. Rio de Janeiro:
Editora Globo, 1997, p.32-35 (Traduzido para a língua portuguesa por Aventura Visual)

INFOESCOLA. Tipos de nuvens, disponível em:


<http://www.infoescola.com/meteorologia/tipos-de-nuvens>, acessado em 14/01/2010.

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AULA 5 – Tipos de climas no Brasil e no Mundo e
suas interferências

Curso: Meio Ambiente


Disciplina: Climatologia
Conteudista: Carolina Dias de Oliveira
Tutora: Camila Emídio Ribeiro

5. Os Tipos de climas no Brasil e no Mundo e suas interferências

A partir das diferentes combinações entre os fatores e elementos climáticos, temos a


configuração das diversas paisagens no globo, permitindo a classificação e diferenciação
dos tipos climáticos. Nesta aula abordaremos os principais tipos de clima no Brasil e no
mundo e ainda as interações que estes podem fazer contribuem para a elevada
biodiversidade paisagística do planeta.

5.1. Tipos de clima no mundo

No globo as diversas formações paisagísticas resultam da interação entre os diversos fatores


e elementos que compõem o clima, em especial a latitude e as faixas climáticas.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 5


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Figura 5.1. Os tipos de clima no mundo.


Fonte: http://www.colegioweb.com.br/geografia/as-paisagens-climaticas-da-terra, acessado em 14/01/2010.

Polar: Ocorre em latitudes extremas, próximo aos círculos polares Ártico e Antártico,
havendo grande variação da duração do dia e da noite. Caracteriza-se por baixas
temperaturas o ano todo, sendo que a temperatura máxima não ultrapassa os 10°C no verão.

Temperado: Apresenta as quatro estações bem definidas, havendo diferenças entre os


locais próximos e os que estão longe do mar, ou seja, dependem dos fatores de
maritimidade e continentalidade.

Mediterrâneo: Marcado por verões quentes e secos e invernos amenos e chuvosos. As


chuvas em geral ocorrem durante os meses de outono e no inverno.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 5


3
Tropical: A temperatura permanece elevada o ano inteiro e possui duas estações bem
demarcadas: verão chuvoso e inverno seco. Pode apresentar variações em função da
altitude, da maritimidade e da continentalidade.

Equatorial: tipo climático caracterizado por temperaturas elevadas e chuvas abundantes o


ano todo, com pequena amplitude térmica anual.

Subtropical: clima típico das médias latitudes, em que começam a se delinear as quatro
estações. As chuvas são bem distribuídas, e os verões são quentes e os invernos frios, com
significativa amplitude térmica anual.

Árido: caracterizado por extrema falta de umidade e elevadas amplitudes térmicas tanto
diárias quanto sazonais. As chuvas são inferiores a 250 mm ao ano.

Semi-árido: corresponde a um clima de transição, marcado por chuvas escassas e


irregulares. È encontrado tanto nas regiões tropicais quanto nas zonas temperadas, onde
apresentam invernos mais rigorosos.

5.2. Classificação climática

Como vimos anteriormente, o conhecimento do tempo e do clima são fundamentais para o


homem e para a realização de uma série de atividades que este realiza, tais como a
agricultura, o abastecimento de água, o sistema de transportes urbanos, entre outros. E para
isto, a Climatologia busca conceituar estas diferenças climáticas, baseando-se em
observações da evolução das condições atmosféricas durante vários anos, considerando os
seus elementos e fatores de formação.

Existem diversas formas de classificar o clima, em sua grande maioria utilizada por
climatólogos e meteorologistas, na tentativa de buscar uma classificação capaz de
caracterizar todos os tipos climáticos do globo. Como exemplo de modelos de classificação
climática podemos citar a elaborada por De Martonne, Penck, Strahler, Köeppen, Gaussen e
Bagnouls, Thornthwaite, etc. Todavia, iremos abordar somente duas destas, em função de
sua maior facilidade de utilização e emprego generalizado nos estudos do clima.

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4
5.2.1. Classificação de Köeppen:

A classificação de Wilhelm Köppen, estuda separadamente os elementos do clima e baseia-


se na relação entre a temperatura e as chuvas com a vegetação, utilizando as médias
mensais e anuais de temperatura e precipitação através de uma combinação de letras que
designam as características principais de cada tipo climático.

A primeira letra corresponde a uma das cinco iniciais do alfabeto e sempre aparece em
maiúscula, representando a característica geral do clima:

A: Climas megatérmicos (tropicais úmidos), apresentando médias superiores a 18ºC


durante todos os meses do ano.
B: Climas xerófitos (secos) apresentam déficit de pluviosidade, em que a evaporação é
superior aos níveis de precipitação.
C: Climas mesotérmicos úmidos (temperados): apresenta temperatura média do mês mais
frio inferior a 18ºC e acima de -3ºC.
D: Climas microtémicos úmidos (boreais) possuem média de temperatura do mês mais frio
inferior a -3ºC e o mês mais quente com média superior a 10ºC.
E: Climas hequistotérmicos (polares), apresentam médias térmicas durante todos os meses
do ano abaixo de 10ºC.

A segunda letra representa a época de ocorrência das chuvas, e aparece sempre em


minúscula – e, portanto abrange somente os climas A, C e D.
s (summer ou verão): clima com chuvas de outono-inverno e verões secos.
w (winter ou inverno): clima com chuvas de verão e invernos secos, com índices inferiores
a 60mm por mês.
f (feucht ou úmido): clima sempre úmido, sem estação seca, em que o mínimo de
precipitação supera os 60mm por mês.
m (monções): clima monçônico, com curta duração da estação seca, entre 1 a 3 meses do
ano, e chuvas inferiores a 60mm por mês.
w‟ : clima com chuvas de outono-inverno.

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5
Por fim, a terceira letra também aparece em minúscula e representa a característica térmica
do clima:
a: temperatura do mês mais quente acima de 22ºC.
b: temperatura do mês mais quente inferior a 22ºC e durante 4 meses, no mínimo, é
superior a 10ºC.
c: temperatura do mês mais frio superior a -38ºC e temperatura de 1 a 4 meses acima de
10ºC.
d: temperatura do mês mais frio inferior a -38ºC.
h: clima quente, com temperaturas médias anuais sempre superiores a 18ºC.
h‟: clima muito quente, temperaturas sempre acima de 18ºC.
k: clima frio, com média anual inferior a 18ºC e média do mês mais quente acima de 18ºC.
k‟: clima muito frio, com média anual inferior a 18ºC e média do mês mais quente inferior
a 18ºC.

Os climas áridos, do tipo B, são caracterizados pela temperatura e umidade, e a segunda


letra,em maiúscula indica:
S (steppe): estepe
W (wueste): deserto
Para os climas polares é considerada apenas a temperatura:
T: tundra
F (frost): gelo

Tal classificação foi adaptada para o Brasil pela geógrafa Lísia Maria Cavalcanti
Bernardes, e resultou na existência dos tipos de clima abordados anteriormente.

5.2.2. Classificação de Strahler:

A classificação climática de Strahler pertence a chamada Climatologia Dinâmica, e se


baseia na dinâmica geral da atmosfera, através das massas de ar. Assim, a classificação dos
climas brasileiros proposta por Arthur Strahler, por exemplo, baseia-se nas áreas da
superfície terrestre, dominadas ou controladas pelas massas de ar.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 5


6
De modo que, no Brasil, a localização da maior parte do país em zona intertropical e o
predomínio de baixas altitudes são responsáveis pelas variedades climáticas quentes
(médias superiores a 20ºC), controladas por algumas massas de ar e frente, como será
aprofundado a seguir.

5.2.3. Classificação Climática do Brasil:

A classificação climática brasileira baseia-se predominantemente pela dinâmica das massas


de ar. Como é possível observar pela figura 5.1. a seguir, todos os tipos climáticos
existentes em nosso país são controlados pela atuação de massas de ar quentes e úmidas,
em especial pela mEc e mTa, com exceção somente da região sul do país, onde a mPa é
mais atuante, provocando baixas temperaturas e elevada umidade,por se tratar de uma
massa de ar fria.

A seguir, os diversos tipos climáticos existentes e predominantes no território brasileiro


serão descritos e caracterizados.

5.2.4. Tipos de clima no Brasil

No Brasil, a variação das temperaturas indica a presença de dois amplos conjuntos


climáticos - os climas quentes ou tropicais e os climas mesotérmicos ou subtropicais. A
atuação das massas de ar e as precipitações permitem caracterizar os diversos tipos
climáticos em nosso território, bem como a atuação das correntes marinhas do Atlântico
ocidental, que exercem influência sobre a circulação atmosférica no Brasil.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 5


7
A figura 5.2. a seguir ilustra a forte diversidade climática de nosso país:

Figura 5.2. Tipos de clima brasileiros.


Fonte: http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/atlasescolar/mapas_pdf/brasil_clima.pdf, acessado em 15/01/2010.

a) Clima equatorial: exibe elevadas temperaturas e pequena amplitude térmica anual. As


médias anuais são sempre superiores a 24°C, e as médias do mês mais frio, sempre
superiores a 21°C. A diferença entre as médias do mês mais quente e as do mês mais frio
não ultrapassam 2°C ou 3°C, menores, portanto, que as amplitudes térmicas diárias.
Contudo, em virtude da alta umidade relativa do ar e da forte nebulosidade, não se
registram meses tórridos ou temperaturas diárias excessivamente elevadas. O que distingue
o clima equatorial é o volume das precipitações. Sob a atividade permanente da mEc
(massa equatorial continental), os totais de chuvas variam entre um mínimo de l.800mm e

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 5


8
máximos que se aproximam de 3.500mm, perto da fronteira com a Colômbia. Não há uma
estação seca configurada: em todo o domínio, praticamente não se registram meses com
precipitações inferiores a 60mm.

b) Clima tropical: também é quente, com médias anuais superiores a 21°C. Contudo exibe
maior variedade térmica que o equatorial: no interior do seu domínio, as áreas em maiores
latitudes e altitudes podem ter médias próximas a 18°C em julho. As amplitudes anuais são
menores que as diárias, mas superam as do clima equatorial, podendo chegar a 7°C. A
característica distintiva desse tipo climático é a alternância entre uma estação chuvosa de
verão e uma estiagem de inverno. Durante o verão austral, a ZCT (Zona Continental
Tropical) desloca-se para a Bolívia, e a mEc domina o Brasil central. Nessa época, as
precipitações são abundantes e resultam, principalmente, da convecção. No inverno, o
predomínio passa para a mTa (massa tropical atlântica). As altas pressões condicionam
tempo estável, céu claro e baixa umidade do ar. A invasão eventual da mPa é antecedida
por linhas de instabilidade que provocam tempestades tropicais. O climograma de Cuiabá
(MT) evidencia este tipo climático.

c) Clima semi-árido: distingue-se do tropical pela fraca atuação da mEc, o que condiciona
estiagens ainda mais prolongadas e totais pluviométricos menores. Na extensa mancha
semi-árida do Sertão nordestino, ocorre larga variação da estação seca, que dura entre seis e
onze meses. As chuvas concentram-se no verão e início do outono, quando podem ser
torrenciais e provocar inundações. Contudo a característica mais marcante desse tipo
climático não é a escassez das precipitações, mas a sua irregularidade. Quando as chuvas de
janeiro ou fevereiro não caem – ou são pouco intensas – instala-se um ano de seca.
Periodicamente, registram-se períodos de seca de alguns anos, nos quais as precipitações
ficam bastante abaixo do normal.

d) Clima tropical atlântico: abrange a fachada oriental nordestina, incluindo as planícies


litorâneas e as vertentes orientais dos planaltos, desde o Rio Grande do Norte
até quase o extremo sul da Bahia. A sua característica distintiva é o regime de
precipitações, que apresenta totais pluviométricos elevados, em torno de l.500mm, com
chuvas concentradas nos meses de outono e inverno. O climograma de Ilhéus (BA) é

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9
representativo desse regime: embora não exista estação verdadeiramente seca, as grandes
chuvas ocorrem entre abril e julho.

e) Clima tropical de altitude: apresenta regime de chuvas concentradas no verão. O seu


traço distintivo não se encontra nas precipitações, mas nas temperaturas. Nos planaltos e
nas serras da metade leste de São Paulo, do sul de Minas Gerais e de uma estreita faixa
ocidental do Rio de Janeiro, as médias anuais ficam entre 18°C e 21°C, e as médias de
julho, abaixo de 18°C. Na Serra da Mantiqueira, há uma mancha com médias de julho entre
12°C e 15°C. Nessa mancha, estão as cidades turísticas de Campos do Jordão (SP) e Monte
Verde (MG), à altitude de l.600 metros, que apresentam temperaturas ainda menores. O
climograma de Luziânia (GO) também é representativo deste tipo climático.

f) Clima subtropical: domina toda a Região Sul, além do extremo sul de São Paulo e do
Mato Grosso do Sul. Distingue-se de todos os demais climas brasileiros pelos padrões da
circulação atmosférica. A mEc exerce influência restrita, de tal forma que no verão atinge
apenas a latitude do norte do Paraná. Por outro lado, a mPa (massa polar atlântica) exerce
influência ampla, que é dominante durante o inverno. As temperaturas permitem distinguir
dois subtipos do clima subtropical. As áreas mais elevadas, na porção leste e no centro da
região, exibem médias anuais inferiores a 18°C, e médias de janeiro em tomo de 22°C ou
23°C. Esse é o clima subtropical com verões brandos. Já as áreas mais baixas, na parte
oeste da região e nas planícies litorâneas do Paraná e de Santa Catarina, exibem médias
anuais superiores a 18°C, e médias de janeiro próximas de 24°C. Na Campanha Gaúcha, o
mês mais quente tem médias superiores a 18°C. Esse é o clima subtropical com verões
quentes, bem representado pelo climograma de São Francisco de Paula (RS).

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10

Figura 5.3. Climogramas do Brasil


Fonte: MOREIRA, Igor. O espaço geográfico – Geografia geral e do Brasil. São Paulo: Àtica, 1998. p.431.

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11

Saiba mais

Saiba mais: Para saber mais sobre os diversos tipos


climáticos do Brasil e do mundo consulte o site do
IBGE, www.ibge.org.br

5.3. Relações entre os tipos climáticos e os fatores e elementos de formação do


clima

Dentre os diversos tipos de clima e relevo existente no Brasil, é possível notar que os
mesmos mantêm grandes relações, sejam elas de espaço, de vegetação, de solo entre outros.
Caracterizando vários ambientes ao longo de todo território Domínios morfoclimáticos:
Formado a partir da combinação,
nacional. Para entendê-los, é necessário distinguir um dos interação e interdependência entre
os diversos elementos da paisagem
outros, pois a sua compreensão deve ser feita isoladamente. (relevo, clima, vegetação,
hidrografia, solo, fauna, etc.),
Nesse sentido, o geógrafo brasileiro Aziz Ab‟Saber, faz uma individualizando uma determinada
classificação desses ambientes chamados de Domínios porção do território a partir de
características em comum. No
Morfoclimáticos. Este nome, morfoclimático, é devido às Brasil, é possível reconhecer seis
grandes paisagens naturais, a
características morfológicas e climáticas encontradas nos saber: o Domínio Amazônico, o
Domínio das Caatingas, Domínio
diferentes domínios, que são 6 (seis) ao todo e mais as faixas dos Cerrados, Domínio dos Mares
de Morros, Domínio das
de transição. Em cada um desses sistemas, são encontrados Araucárias e Domínio das
aspectos, histórias, culturas e economias divergentes, Pradarias. E entre os seis grandes
domínios acima relacionados,
desenvolvendo singulares condições, como de conservação do inserem-se diversas faixas de
transição, que apresentam
ambiente natural e processos erosivos provocados pela ação elementos típicos de dois ou mais
domínios, a exemplo do Pantanal,
antrópica. Agreste, Mata de Cocais, etc.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 5


12
Uma grande dificuldade quando se pretende dividir um território em paisagens naturais é
que os limites dos seus elementos em geral não se coincidem. Assim, em determinado
compartimento do relevo nem sempre o clima ou a vegetação são semelhantes em toda a
sua extensão, como por exemplo, o planalto. E determinado tipo de clima pode abranger
um planalto e uma planície, bem como vários tipos de vegetações.

Esse problema pode ser resolvido em áreas de transição, faixas de terra em que não há
homogeneidade dos elementos naturais, há a presença de elementos de conjuntos
diferentes, ou seja, há áreas em que ocorre certa semelhança, em toda a sua extensão, do
tipo de clima, relevo, hidrografia, vegetação e solo.

Outra dificuldade para dividir um território em paisagens naturais é o fato de não existir
nenhuma regra geral para isso. Não há nenhum elemento determinante a partir do qual se
defina todo o conjunto. Antigamente, costumava-se considerar o clima (ligado às latitudes)
como determinante, dividindo-se as paisagens naturais do globo em zonas tropicais,
temperadas, subtropical e etc. De vez em quando, outro elemento da paisagem natural,
principalmente a vegetação ou em alguns casos o relevo, é mais importante que o clima
para explicar o conjunto.

O clima não é mais estudado como dependente apenas da latitude, mas principalmente da
dinâmica atmosférica, da ação das massas de ar. Temos como exemplo a caatinga e o clima
semi-árido no sertão nordestino ou a cobertura florestal da porção litorânea do país, desde o
nordeste até o sul. Por causa disso, não se usa mais, mesmo para o Brasil, o termo „zona‟ e
sim „domínio morfoclimático‟, que significa “conjunto natural em que há interação entre os
elementos e o relevo, clima ou vegetação, que são determinantes”.

A seguir serão apresentados os diversos domínios morfoclimáticos do Brasil.

5.3.1. Domínios morfoclimáticos brasileiros:

Os domínios morfoclimáticos brasileiros são definidos a partir das características


climáticas, botânicas, pedológicas, hidrológicas e fitogeográficas; com esses aspectos é
possível delimitar seis regiões de domínio morfoclimático. Devido à extensão territorial do

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13
Brasil ser muito grande, vamos nos defrontar com domínios muito diferenciados uns dos
outros. Esta classificação feita, segundo o geógrafo Aziz Ab‟Sáber (1970), dividiu o Brasil
em seis domínios:

I – Domínio Amazônico – região norte do Brasil, com terras baixas e grande processo de
sedimentação; clima e floresta equatorial;
II – Domínio dos Cerrados – região central do Brasil, como diz o nome, vegetação tipo
cerrado e inúmeros chapadões;
III – Domínio dos Mares de Morros – região leste (litoral brasileiro), onde se encontra a
floresta Atlântica que possui clima diversificado; Formações cristalinas: áreas
com formação geológica antiga,
IV – Domínio das Caatingas – região nordestina do Brasil composta basicamente por
(polígono das secas), de formações cristalinas, área depressiva rochas magmáticas e/ou
metamórficas, e em geral se
intermontanhas e de clima semi-árido; destacam no relevo através de
serras e pontos de elevada
V – Domínio das Araucárias – região sul brasileira, área do altitude.
habitat do pinheiro brasileiro (araucária), região de planalto e de
Depressões intermontanhas:
clima subtropical; Áreas mais rebaixadas do que o
VI – Domínio das Pradarias – região do sudeste gaúcho, local de entorno envolta por cadeias de
montanhas ou grandes serras.
coxilhas subtropicais.

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14
A seguir ilustramos espacialmente a ocorrência destes domínios climáticos em nosso
território.

Figura 5.4. Domínios morfoclimáticos do Brasil.


Fonte: http://cta2009-2-dominios-morfoclimaticos.blogspot.com, acessado em 14/01/2010.

Como o aprofundamento sobre as características culturais, naturais, socioeconômicas e


ambientais de cada domínio morfoclimático extrapola o objetivo inicial da disciplina,
sugerimos que o aluno, caso se interesse pelo tem, pesquise e aprofunde sobre as
características de cada um deles.

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15
Resumo:

Nesta aula abordamos:

 Os diversos tipos climáticos atuantes no mundo e também em nosso território,


destacando a elevada importância da interação entre os diversos fatores e elementos
climáticos para a formação de cada um deles;
 A dinâmica das massas de ar é fundamental para caracterizar e definir os diversos
tipos de clima atuantes em nosso território;
 No clima equatorial, quente e úmido, predominam altas temperaturas e umidade
constante durante todo o ano, com pequena amplitude térmica, principalmente em
resposta à atuação da mEc;
 O clima tropical possui duas estações bem demarcadas, sendo os verões chuvosos e
o inverno seco, predominando em boa parte do território nacional, e que as chuvas
são ocasionadas predominantemente pelo encontro das massas mTa e mEc;
 O clima semi-árido se caracteriza por forte escassez hídrica e elevada amplitude
térmica, em que sua localização geográfica não é favorecida pelo encontro das
principais massas de ar atuantes no Brasil.
 Por fim, observou-se que o clima e a formação das diferentes paisagens possuem
uma estreita ligação, caracterizando vários ambientes ao longo de todo território
nacional, classificados por Aziz Ab‟ Saber como domínios morfoclimáticos.

Referências bibliográficas:

AYOADE, J. D. Introdução à Climatologia para os trópicos. Rio de Janeiro: Bertrand


Brasil, 1996. p. 224-260 (Cap. 11)

MOREIRA, J. Carlos; SENE, Eustáquio. Geografia Geral e do Brasil: Espaço Geográfico


e Globalização. São Paulo: Scipione, 2004. p. 469 a 471.

Referências eletrônicas:

http://www.colegioweb.com.br/geografia/os-tipos-climaticos-brasileiro, acesso em
14/01/2010.

http://www.algosobre.com.br/geografia/dominios-morfloclimaticos-brasileiros-os-segundo-
aziz-ab-saber.html e http://www.alunosonline.com.br/geografia/dominios-morfoclimaticos/,
acessados em 14/01/2010.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 5


AULA 6 – Variabilidade - Mudanças Climáticas e
o Homem

Curso: Meio Ambiente


Disciplina: Climatologia
Conteudista: Carolina Dias de Oliveira
Tutora: Camila Emídio Ribeiro

6. As Mudanças Climáticas e o Homem


Desde tempos remotos a relação entre o clima e o homem permanece como fonte de
estudos e observações importantes, em especial para o segundo, visto que o clima
influencia os hábitos humanos de diversos modos. Todavia, a interferência e a
velocidade com que as ações humanas também interferem no clima, de maneira
simultânea, através da modificação das paisagens, se colocam em foco em especial
através das mudanças climáticas e de suas conseqüências para o meio ambiente e para o
próprio futuro do planeta.

Poluição, excesso de consumo e lixo, agrotóxicos e mudanças na configuração genética


de seres vivos e alimentos são exemplos de como o homem está agindo e transformando
radicalmente o que a “mãe natureza” nos oferece. E é por este motivo que o clima,
considerado o mais importante componente dos ambientes naturais, vem se
configurando no principal tema de debate e discussão da mídia e dos meios acadêmicos
nos dias atuais. Neste capitulo enfocaremos como em geral se dá esta relação paradoxal
entre o clima e o homem, quais são as conseqüências destas transformação para ambas,
e ainda como tais mudanças poderão interferir - ou já interferem - no padrão de vida da
humanidade e no futuro climático do planeta.

6.1 - O Clima e o Homem

Dos telejornais cotidianos aos artigos científicos, o clima e o tempo têm sido temas
constantes de notícias e estudos. E isso se deve à maior freqüência e intensidade com
que alguns eventos climáticos extremos estão ocorrendo na atualidade, e que por si,

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 6


2
geram o questionamento do que pode estar alterando tão rapidamente e intensamente o
comportamento atmosférico.

Apesar da recente evolução dos registros e instrumentos climáticos e metereológicos -


em especial sobre a região dos trópicos - os cientistas já desenvolveram diversos
modelos de interpretação do tempo e do clima capazes de descrever e projetar o
comportamento destes componentes atmosféricos para uma escala de curto e médio
prazo. Eles são capazes de especular sobre cenários futuros, caso a relação do homem
com a natureza permaneça com os mesmos padrões e, em especial, possibilitam que o
homem busque um maior controle sobre alguns destes eventos climáticos para o seu
próprio beneficio.

Mas é claro que, nem todos estes eventos o homem é capaz de controlar, pois a força da
natureza é surpreendente e implacável, a exemplo dos furacões, tsunamis e fortes
terremotos que atingem diversas partes do globo e causam centenas de danos materiais e
humanos em poucos segundos; ou ainda pela intensificação ou alteração do
comportamento padrão da atmosfera e da temperatura média global, como é
constantemente divulgado pela mídia e pelos cientistas, e que em parte, pode também
explicar os motivos da maior ocorrência destes fenômenos climáticos.

Esta discussão é importante e ao mesmo tempo controversa, pois ainda existem vários
pontos de discussão que não se convergem em uma leitura única sobre os
acontecimentos climáticos. Todavia, muitos cientistas já admitem que a atuação
antrópica é a principal responsável por grande parte destes fenômenos, em especial o
Aquecimento global, visto que já é constatada a capacidade que a ação humana possui
em interferir profundamente nos ciclos e equilíbrio da natureza.

6.1.1. O clima e a agricultura

A importância que o clima possui para as diversas atividades humanas e também


naturais é evidente, sobretudo para o desenvolvimento da agricultura. Mesmo com todo
o avanço tecnológico deste setor, o clima ainda é a variável mais importante na
produção agrícola, pois determina a adequação dos suprimentos alimentícios a partir dos
imprevistos climáticos ou ainda pelo controle exercido pelo clima sobre o tipo de
cultivo mais viável ou adaptado àquela condição climática. E Para entender a relação

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 6


3
entre clima e agricultura, é necessário retomar o conceito de
Ecossistema: é a unidade principal
ecossistema, que neste caso é criado pelo homem e que de estudo da ecologia e pode ser
definido como um sistema
depende do clima para funcionar.
composto pelos seres vivos (meio
biótico) e o local onde eles vivem
(meio abiótico, onde estão
Os principais elementos climáticos que afetam a produção
inseridos todos os componentes
agrícola são os mesmos que influenciam a vegetação natural, não vivos do ecossistema como os
minerais, as pedras, o clima, a
tais como a luz do sol, a temperatura e a umidade. Assim como própria luz solar, e etc.) e todas as
relações destes com o meio e entre
a pecuária também é influenciada pelas alterações do tempo e si. (Fonte:
http://www.infoescola.com/biologia
do clima, na medida em que determina o tipo e a produtividade /ecossistema/, acessado em
15/01/2010.).
dos rebanhos dentro de uma zona climática especifica. Além
disso, todos os cultivos apresentam limites climáticos para a Seleção natural: processo da
evolução proposto por Charles
produção econômica, sendo que estes podem ser ampliados até Darwin e aceito pela maioria na
comunidade científica como a
certo ponto, pela seleção natural ou por métodos melhor explicação para a
adaptação e especialização dos
diferenciados de cultivo e criação, a exemplo do cruzamento seres vivos como evidenciado pelo
registro fóssil. O conceito básico
entre espécies - na agropecuária - ou ainda o uso de estufas, na de seleção natural é que
produção de rosas por exemplo. características favoráveis que são
hereditárias tornam-se mais
comuns em gerações sucessivas de
Fica evidente que para o bom desenvolvimento da agricultura é uma população de organismos que
se reproduzem, e que
essencial observar e compreender as alterações do tempo e do características desfavoráveis que
são hereditárias tornam-se menos
clima, respeitando que cada planta e/ou cultivo possui comuns. A seleção natural age no
fenótipo, ou seja, nas
necessidades hídricas, minerais e pedológicas diferentes, e que características observáveis de um
organismo, de tal forma que
melhor se adaptam às diferentes condições de temperatura indivíduos com fenótipos favoráveis
entre as diversas partes do globo. têm mais chances de sobreviver e
reproduzir-se do que aqueles com
fenótipos menos favoráveis. Se
As plantas de lugares frios, por exemplo, não se desenvolvem esses fenótipos apresentam uma
base genética, então o genótipo
plenamente em lugares com elevada temperatura, e vice-versa. associado com o fenótipo favorável
terá sua freqüência aumentada na
Da mesma forma, as plantas mais adaptadas aos locais úmidos geração seguinte. Com o passar do
tempo, esse processo pode resultar
não conseguem se desenvolver em lugares áridos e secos, em adaptações que especializarão
organismos em nichos ecológicos
apesar de existirem determinadas plantas capazes de se adaptar particulares e pode eventualmente
a todos os tipos de ambiente, a exemplo da soja. E também há resultar na emergência de novas
espécies. Fonte: Adaptado de
aquelas com elevada capacidade de adaptação, que conseguem http://pt.wikipedia.org/wiki/Seleção
_natural, acessado em março de
se desenvolver em ambientes diferentes daqueles de onde se 2010.
originaram através do uso de técnicas agrícolas avançadas e
modernas.

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4
O arroz, por exemplo, é cultivado em grande parte sobre áreas alagadas e irrigadas,
porém já é possível realizar o cultivo de algumas variedades que podem ser plantadas
em áreas secas. Por isso, estudar o clima é de fundamental importância para o
desenvolvimento e produção da agricultura, como será aprofundado a seguir.

Figura 6.3. Arroz


Figura 6.1. Cereja
Figura 6.2. Caju

Fonte das figuras: http://www.colegioweb.com.br/geografia-infantil/o-clima-e-a-agricultura, acessado em


15/01/2010.

A agricultura, o aquecimento global e os danos que as mudanças climáticas são capazes


de causar na produção agrícola mundial preocupam cientistas e diferentes setores da
economia global, pois afetam diretamente na produção, abastecimento e na própria
sobrevivência de milhares de pessoas e cidades no mundo inteiro, pois não há quem
sobreviva sem alimento. E, como grande das pessoas no mundo hoje vive em grandes
cidades e metrópoles, a dependência da agricultura e das grandes centrais de
abastecimento se torna ainda mais crônica.

Se por um lado, a agricultura é uma das responsáveis pelo aumento de temperatura


global, a partir das emissões de particulados, gases e elementos nocivos ao homem e à
natureza - como o gás carbônico e o nitrogênio - e também pelo intenso desmatamento
para a conversão de terras para o cultivo – e que já representam entre 17% e 32% de
todas as emissões de gases do efeito estufa provocadas por atividades humanas, segundo
cálculos realizados pela Universidade de Aberdeen no Reino Unido para o relatório do
IPCC, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas - por outro, a agricultura
também pode ser alterada drasticamente em função do problema que ela mesma está
ajudando a criar.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 6


5
Segundo o IPCC, em 2005, o setor agrícola foi responsável Gás carbônico-equivalente:
símbolo CO2-eq, referente à
pela emissão de 5,1 a 6,6 gigatoneladas (bilhões de toneladas) unidade-padrão em que todos os
de gás carbônico-equivalente. Número que leva em tipos de gases-estufa têm sua
capacidade de contribuir para o
consideração apenas as emissões diretas do setor, aquecimento global convertida em
quantidades de CO2. Fonte:
principalmente provocadas pelo metano (CH4) e pelo óxido Agritempo, disponível em
http://www.agritempo.gov.br/clima
nitroso (N2O), provenientes dos campos alagados de plantio eagricultura/causa-e-efeito.html,
acessado em 15/01/2010.
de arroz, da digestão bovina ou ainda pelo uso intensivo de
fertilizantes e queima de biomassa. Todavia, o principal Biomassa: é a quantidade de
matéria orgânica produzida numa
problema está nas emissões de gás carbônico realizadas pelo determinada área de um terreno
para gerar energia, e é capaz de
uso da terra e pelo intenso desmatamento de florestas para gerar gases que são transformados.
Esta energia é resultado da
transformá-las em terras agrícolas. Isso porque, segundo o decomposição de materiais
orgânicos como, por exemplo,
ciclo do carbono, a queima das florestas libera no ar o esterco, madeira, resíduos
carbono que estava armazenado nos troncos, folhas, raízes e agrícolas, restos de alimentos entre
outros. (Adaptado de
solo. http://www.suapesquisa.com/pesqui
sa/biomassa.htm, acessado em
15/01/2010).

Deste modo, a quantidade de


emissões creditadas às
atividades agrícolas aumenta
significativamente para os 8,5
bilhões e 16,5 bilhões de
toneladas de gás carbônico-
equivalente. E infelizmente, é
justamente a derrubada de
florestas que coloca o Brasil na
posição de quarto maior
emissor de gás carbônico do
mundo (ou quinto, se a União
Européia for considerada como
um todo), como mostra a tabela
ao lado. De acordo com
inventário do governo federal
Tabela 6.1. Ranking dos países mais poluidores do mundo publicado em 2004, o Brasil
Fonte: Revista Veja, Edição 1961, 21 de junho de 2006,
disponível em Domínio público, acessado em abril de 2009. emitia em 1994 pouco mais de

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6
1 bilhão de toneladas de CO2, ou seja, aproximadamente 75% do que era resultante do
uso e da mudança no uso da terra, principalmente de desmatamentos, em todo o país.

Logo, a preocupação com a elevação da temperatura em função da intensa emissão e


concentração de gases de efeito estufa é latente na medida em que pode provocar sérios
impactos na agricultura de quase todo o planeta. Por sua vez, há que se considerar que o
aquecimento global pode até trazer alguma vantagem para o cultivo das regiões
subtropicais e temperadas, tornando-as menos geladas do que são atualmente. E, no
futuro, essas áreas poderão abrigar plantas que hoje não
Segurança alimentar: corresponde
resistem às temperaturas muito baixas. No entanto, os danos ao acesso regular e permanente de
alimentos de qualidade, em
previstos serão bem maiores e mais significativos do que as
quantidade suficiente, sem
vantagens pontuais. comprometer o acesso a outras
necessidades essenciais, tendo como
base práticas alimentares promotoras
Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para de saúde, que respeitem a diversidade
cultural e que sejam social,
Agricultura e Alimentos), a segurança alimentar pode ser econômica e ambientalmente
sustentáveis. (Fonte: Ministério do
prejudicada em três pontos: na disponibilidade dos Desenvolvimento Social e Combate à
Fome – MDS, disponível em
alimentos, no acesso e também na estabilidade do http://www.mds.gov.br/programas/seg
uranca-alimentar-e-nutricional-san,
suprimento, e assim, os alimentos tendem a se tornar cada acessado em 15/01/2010)..
vez mais escassos, mais caros e de pior qualidade.

Tabela 6.2. Números sobre o Aquecimento Global


Fonte: Domínio público, acessado em abril de 2009

O derretimento das geleiras do Himalaia, por exemplo, irá prejudicar o suprimento de


água para China e Índia, comprometendo sua agricultura e agravando a insegurança
alimentar nos dois países mais populosos do mundo. O mesmo deve ocorrer em países
africanos, que dependem da agricultura irrigada pelas chuvas. No continente africano, a

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 6


7
perda de produção agrícola pode chegar a 50% em 2020, segundo projeções do IPCC.
Os cientistas estimam ainda que os trópicos possam ter uma redução drástica no volume
de chuvas que, com o aquecimento, diminuirão a disponibilidade de terras
agriculturáveis, agravando ainda mais o problema de abastecimento. Até uma pequena
elevação na temperatura, entre 1°C a 2°C, a produtividade das culturas pode reduzir
muito, o que por sua vez, aumentaria o risco de fome, segundo o mesmo relatório do
IPCC.

Da mesma forma, o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2007/2008 desenvolvido


pelo PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - projetou um
cenário caótico em que mais 600 milhões de pessoas se enquadrariam no número já
elevado de subnutridos no planeta até 2080. E já nos dias
Aridificação: processo em que
atuais, algumas mudanças vêm sendo registradas em todo o algumas regiões do globo
mundo, tais como o maior número de quebras de safras e a diminuem seu poder de absorção e
armazenamento hídrico, se
morte de cabeças de gado como destacou o Relatório sobre o tornando ainda mais áridas e
secas.
Desenvolvimento Mundial de 2008, feito pelo Banco
Savanização: semelhante à
Mundial. O IPCC estima ainda uma expansão da aridificação Cerradização – já conceituado em
aula anterior.
do Semi-Árido e a savanização do leste da Amazônia, na
América Latina, como pode-se visualizar na figura 6.4 a seguir.

Figura 6.4. Mapa sobre a devastação da Amazônia


Fonte: http://plantandoconsciencia.wordpress.com/2009/06/, acessado em 15/01/2010.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 6


8
De acordo com informações divulgadas pelo site Agritempo, o IPCC prevê perda da
produtividade de várias culturas, o que deve trazer conseqüências preocupantes para a
segurança alimentar. E infelizmente, algumas dessas projeções já foram confirmadas
pelo estudo de outros órgãos competentes, como a Embrapa e a Unicamp, ou seja, a
maior parte das culturas brasileiras irá certamente sofrer com a elevação da temperatura:
haverá diminuição da área favorável aos cultivos de soja, café, milho, arroz, feijão e
algodão, o que pode ocasionar um prejuízo de R$ 7,4 bilhões já em 2020. As exceções
seriam a cana-de-açúcar, que ainda possui espaço para se expandir e até mesmo dobrar a
sua produção, e a mandioca, que, apesar de perder espaço de cultivo no Nordeste,
também pode ser plantada em outras regiões do país.

Portanto, as mudanças climáticas previstas para as próximas décadas como resultado do


aquecimento global são preocupantes, pois podem colocar em risco a produção agrícola
no Brasil e no mundo. Os resultados das diversas pesquisas e estudos apontam para uma
mudança drástica de hábitos, em especial as de consumo, e ainda que a geografia da
produção agrícola brasileira precisa - e deve - mudar nos próximos anos, para evitar
que danos maiores comprometam o desenvolvimento do país e que inúmeras pessoas
não consigam suprir uma de suas necessidades mais vitais: a alimentação.

6.1.2. Interações clima-homem e o impacto do clima sobre a sociedade

O aumento da população e o grande desenvolvimento tecnológico associado a um


sistema social voltado para a valorização do consumo - e que por sua vez, gera a
necessidade cada vez maior de matéria prima extraída da natureza e da utilização de
produtos descartáveis – associada a um modelo econômico baseado no lucro e na
exploração do homem e da natureza, podem ser considerados hoje como os principais
agentes das mudanças climáticas. Grande parte dos cientistas acredita que a ação
antrópica não conseguiu ainda atingir o planeta como um todo, e influencia o clima
apenas em escalas locais. Todavia, o que se torna cada vez mais evidente é que as
dimensões da interferência humana se tornam cada vez mais atuantes em escala global,
gerando catástrofes e fortes impactos na paisagem e no ciclo da natureza. E, portanto,
pode se configurar como o responsável pelo alteração do clima de todo o planeta.

Sabe-se que a pureza da água, o equilíbrio da entrada da radiação solar e dos elementos
atmosféricos formam a combinação ideal para a existência da vida na Terra, como

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 6


9
vimos nas primeiras aulas. Mas, o homem ao explorar a natureza e seus recursos de
modo não sustentável - considerando sustentabilidade a capacidade de reconstituição
e/ou reequilíbrio dos elementos e seres que ali existem e habitam - coloca em risco toda
a manutenção da vida no sistema planetário, incluindo o próprio homem.

A Terra é um sistema onde seus constituintes estão interligados e que buscam sempre
uma fórmula específica e única que para formar seus diversos ambientes, a exemplo da
formação dos diversos ecossistemas e biomas, como vimos na Aula 5.

A temperatura e seu comportamento ao longo do ano, a disponibilidade de umidade,


água e o padrão das chuvas, a localização geográfica e outros fatores são variáveis que
determinam o tipo de vida capaz de se adaptar a tais condições naturais. Se ocorrer um
desequilíbrio nestes ecossistemas, seja no padrão de chuvas ou no aumento da retenção
da radiação solar, e que alterem as condições atmosféricas existentes, os elementos que
ali se relacionam buscarão uma nova forma de equilíbrio. O que pode gerar o
desaparecimento de algumas espécies vegetais e/ou animais, ou ainda alterar a dinâmica
e de outros elementos não vivos como o ressecamento de um rio ou a intensificação do
desgaste dos solos. E assim, a estabilidade climática é responsável pelo equilíbrio e
manutenção da vida e dos ciclos geomorfológicos e hidrológicos do planeta.

Sabe-se também que os fenômenos climáticos condicionam diretamente a organização


das sociedades, às quais adaptam vestimentas, padrões de cultivo e até moradias
segundo o padrão climático existente, gerando características específicas para
determinada época do ano. Mas, o homem – apesar de se diferenciar dos outros animais
por sua racionalidade e possuir algum domínio sobre a natureza – também depende dos
elementos, nutrientes e recursos por ela oferecidos para a sua própria sobrevivência. De
modo que, um desequilíbrio nas relações naturais afeta a tudo e a todos, animais
racionais ou não.

Como vimos algumas catástrofes ocorridas com a humanidade relacionadas ao clima


são desencadeadas mais devido à forma de ocupação desordenada ou mal planejada do
espaço do que propriamente pela atuação da natureza, como é o caso de enchentes
(figuras 6.5 e 6.6) que ocupam quase que anualmente áreas próximas ao leito dos rios.
Tais problemas poderiam ser evitados com a conscientização da população e a proibição
de ocupação dessas áreas.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 6


10
Outro problema ocorre no planejamento de ocupação, principalmente de áreas urbanas,
que não têm levado em consideração para cálculo a mudança do padrão de escoamento
das chuvas que ocorre após o processo de alteração da superfície de uma área. Parte das
águas que antes infiltravam no solo encontram a área impermeabilizada por construções,
compactação do solo e/ou asfaltamento, logo se soma a água que escoa sobre a
superfície. Esse novo volume de água, maior que o padrão natural, aumenta a
velocidade da água e sua capacidade de erosão e destruição na superfície. A água chega
rapidamente ao leito do rio e ocupada a área de várzea, como essa muitas vezes está
sendo utilizada pelo homem e também foi alterada perdendo o contato com a sub-
superfície a tendência é a expansão da área inundada (de várzea) e conseqüentemente a
inundação de uma área que anteriormente não seria ocupada periodicamente pela água.
Em geral, quem sofre as maiores conseqüências é a população local residente que
muitas vezes não tem conhecimento e não foi instruída sobre os possíveis impactos de
ocuparem tal área. Não por um acaso, também são os menos favorecidos, pois os
terrenos próximos as áreas de várzeas são áreas invadidas e/ou ocupadas de forma ilegal
e desregulada ou têm um preço mais acessível por sua condição de risco.

Nos últimos anos o comportamento das enchentes não segue apenas a lógica da
ocupação de áreas de várzeas. O volume de chuvas está relativamente se concentrando
em curtos períodos, então ocorrem grandes tempestades onde o imenso volume de
chuva associado à ocupação e impermeabilização da superfície está gerando alagamento
de áreas muito mais extensas e mais altas que a própria várzea.

Figuras 6.5 e 6.6. Enchentes na Europa e em Blumenau (SC)


Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/1033_europaenchente/ e
http://guiaecologico.files.wordpress.com/2009/10/16_enchente.jpg, acessados em 15/01/2010.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 6


11
O homem como membro pertencente à natureza já começou a perceber as
conseqüências do seu uso indiscriminado dos recursos naturais. Além da projeção de
cientistas que alertam para a escassez de elementos vitais a nossa existência, doenças
como câncer de pele, irritação na derme devido à poluição atmosférica e doenças
respiratórias têm apresentado números crescentes, principalmente em áreas de
concentração populacional e grandes centros industriais. Tal desequilíbrio ocorre pela
em especial pela instalação de diversas indústrias, pelo uso intensivo de automóveis e
pelas atividades agrícolas que contribuem ainda mais para a liberação de gás carbônico
e gases nocivos à atmosfera. E se tornam responsáveis por diversas perturbações e
fenômenos do clima, a exemplo da alteração do tamanho da camada de ozônio,
conhecido como Efeito estufa, o Aquecimento Global, a inversão térmica, a chuva ácida
ou ainda a formação de ilhas de calor. Tais anomalias climáticas serão abordadas com
maior detalhe nas aulas seguintes.

Figura 6.7. Riqueza e Biodiversidade da Amazônia


Fonte: http://www.greenpeace.nl/photosvideos/photos/aerial-view-of-the-amazon-fore,
acessado em março de 2010.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 6


12

Saiba mais

Para saber mais sobre as conseqüências do


desmatamento sobre o clima, leia o texto
“Desmatamento zero com biodiversidade e respeito
às populações locais”, publicado em 04/12/2007 e
disponível em:
http://www.greenpeace.org/brasil/amazonia/noticias/d
esmatamento-zero-com-biodiver.

Resumo: Nesta aula abordamos,

 Como a interação clima-homem-agricultura ocorre no mundo, destacando a


importância dos estudos do clima para a manutenção da vida no planeta e
também para o próprio homem.
 Da mesma formam como o clima modifica e interfere nos hábitos humanos, de
maneira simultânea, a velocidade e a intensidade das ações antrópicas também é
capaz de modificar e interferir no clima, ocasionado diversas e significativas
mudanças climáticas no globo e trazendo conseqüências para o meio ambiente e
para o próprio futuro do planeta.
 A agricultura, em especifico, possui grande preocupação com as mudanças
climáticas globais, visto que pode haver um grave comprometimento na
produção e no abastecimento de alimentos em escala planetária, deixando os
alimentos mais escassos e mais caros, o que por si, agravaria o quadro de fome e
miséria de milhares de pessoas.
 Diversos estudos apontam para um cenário caótico de falta de alimentos, a
exemplo do Relatório desenvolvido pelo PNUD, pela EMBRAPA e também
pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, o IPCC, e sugerem que
mudanças nos hábitos de consumo e ainda no processo de produção agrícola são
inevitáveis e emergenciais em médio e curto prazo para se evitar, ou ao menos,
amenizar tal quadro.
 As mudanças climáticas podem comprometer a manutenção e a biodiversidade
de diversos ecossistemas importantes, tais como a Amazônia, que sofre com a
intensificação do desmatamento para o cultivo da soja e a criação de gado, e que
o Brasil ocupa a vergonhosa posição de 4º maior país poluidor do mundo, em
especial por causa dos desmatamentos.
 As alterações na paisagem, em especial nos grandes centros urbanos, também
são responsáveis pela ocorrência de diversas catástrofes e anomalias climáticas,
a exemplo das enchentes, da poluição e acúmulo de lixo, bem como a chuva
ácida, a ilha de calor e a inversão térmica. Além da aridificação ou
desertificação do Semi-Árido, a savanização da Amazônia e um quadro instável
de fenômenos climáticos tais como enchentes, furacões e secas.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 6


13
 Diante de todo este cenário, é essencial que o homem comece a perceber as
conseqüências do uso indiscriminado dos recursos naturais e mude hábitos e
posturas, alterando a sua forma de lidar com o meio ambiente.

Referências:

AGRITEMPO, disponível em http://www.agritempo.gov.br/climaeagricultura/causa-e-


efeito.html, acessado em 15/01/2010.

MARENGO, J. A. Mudanças climáticas globais e seus efeitos sobre a biodiversidade:


caracterização do clima atual e definição das alterações climáticas para o território
brasileiro ao longo do séc. XXI. Série Biodiversidade 26. Brasília, MMA, 2006.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 6


AULA 7 – Problemas ambientais urbanos

Curso: Meio Ambiente


Disciplina: Climatologia
Conteudista: Carolina Dias de Oliveira
Tutora: Camila Emídio Ribeiro

7. Problemas ambientais urbanos

Atualmente as cidades, em especial as grandes áreas


Urbanização: conceito geográfico que
urbanas, possuem condições atmosféricas alteradas em representa o desenvolvimento das
cidades, especificamente quando
função da forte urbanização e modificação das paisagens ocorre a construção de casas, prédios,
redes de esgoto, ruas, avenidas,
causada pelo homem. O fenômeno ilha de calor, por escolas, hospitais, rede elétrica,
exemplo, ocorre em função da presença e grande shoppings, etc sobre a localidade. A
partir do desenvolvimento urbano há
quantidade de materiais como asfalto e cimento. Estes um significativo crescimento
populacional, na medida em que
materiais retêm parte significativa da energia solar, muitas pessoas passam a buscar a
infra-estrutura das cidades. Este
fazendo com que o local possua uma temperatura média processo é um dos principais
responsáveis pelo êxodo rural, isto é,
mais alta do que as áreas rurais que a cercam. As grandes saída das pessoas do meio rural para
metrópoles chegam a registrar diferenças de tempe ratura as grandes cidades. O processo de
urbanização pode ter conseqüências
superiores a 10°C entre as áreas periféricas e sua área positivas e negativas para a
população, quando ela é planejada
central. nota-se benefícios para os habitantes,
porém, quando não há planejamento
urbano, os problemas sociais se
multiplicam nas cidades como, por
exemplo, aumento da criminalidade,
desemprego, poluição, destruição do
meio ambiente, favelização e
desenvolvimento de subhabitações.
Fonte: Adaptado de
http://www.suapesquisa.com/o_que_e/
urbanizacao.htm, acessado em março
de 2010.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 7


2
A poluição do ar também é um problema que atinge a
Smog: O termo surge de uma junção de
maioria das grandes cidades, sendo que algumas duas palavras da língua inglesa:
“smoke” e “fog”, que significam
geram tanta poluição que o ar acaba por se tornar respectivamente, fumaça e neblina. O
fenômeno ocorre principalmente nas
saturado de materiais poluentes, criando uma névoa grandes cidades, se caracterizando como
espessa, de cor acinzentada denominada ‘smog’. Tal uma mistura de gases, fumaça e vapores
de água, responsáveis pela formação de
poluição, gerada principalmente pelas indústrias e uma grande névoa ou massa de
acinzentada ar. Mais precisamente, o
veículos motorizados, constitui uma séria ameaça à smog é formado por óxidos de nitrogênio
(NOx), compostos voláteis orgânicos
saúde das pessoas, sendo responsável por inúmeros (VOC), dióxido de sulfureto, aerossóis
ácidos e gases. Os principais
problemas como alergias, responsáveis por sua formação são os
automóveis, indústrias e até mesmo as
casas, devido aos processos de
doenças respiratórias, cardiopatias, stress, entre combustão. No entanto, alguns gases que
outros. Os problemas decorrentes da má qualidade do fazem parte do smog também se formam
nas florestas. Fonte: Adaptado de
ar agravam-se principalmente durante os meses mais http://www.mundoeducacao.com.br/geog
rafia/smog.htm, acessado em março de
frios (inverno), devido à presença de um fenômeno 2010.

conhecido como inversão térmica e que dificulta a _________________________________


dispersão dos poluentes. Stress: corresponde à uma doença de
adaptação ao meio, em que o indivíduo,
em função das estimulações, excitações e
Esgotos e efluentes industriais também continuam a agressões externas, acaba produzindo
poluir muitos rios, lagos, aqüíferos e zonas costeiras, uma escalada progressiva na defesa de
seu organismo. No início é só um
provocando danos à fauna e flora local e aumento do alerta geral, estimulando o
sistema vegetativo e o cérebro para se
comprometendo a qualidade da água para defenderem. O stress pode ser até
benéfico no desempenho, pois estimula a
abastecimento das grandes cidades para uso doméstico atenção nas tarefas e a prontidão nas
contrações musculares. A situação de
e também agrícola. stress se inicia, por exemplo, quando as
pessoas são requisitadas além de seus
limites, gerando um esforço muito
O lixo é outro grande problema, pois várias cidades grande e que leva ao stress. Fatores bons
têm dificuldades em livrar-se adequadamente dos ou ruins podem ocasionar o stress, pois
essas mudanças tiram o indivíduo de seu
resíduos gerados, e que aumentam progressivamente ritmo natural, forçando-o a adaptar-se
às novas situações. Fonte: Adaptado de
como conseqüência do avanço do consumo não http://boasaude.uol.com.br/lib/ShowDoc.
cfm?LibDocID=5151&ReturnCatID=17
consciente. E esta enorme quantidade de lixo que vai 12, acessado em março de 2010
para os aterros sanitários acumula-se com rapidez,
enquanto os incineradores também geram poluição atmosférica.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 7


3
A seguir, abordaremos com mais detalhes os principais fenômenos climáticos
recorrentes em áreas urbanas, a saber: a chuva ácida, a ilha de calor e a inversão
térmica, conhecidos na climatologia como “Clima urbano”.

Figura 7.2. Poluição nos centros urbanos. Fonte:


Figura 7.1. Lixo nas cidades. Fonte: http://gerencia.ambientebrasil.com.br/midia/imagens/1318
http://gerencia.ambientebrasil.com.br/midia/imagens/ .jpg, acessado em 15/01/2010.
1318.jpg, acessado em 15/01/2010.

7.1. Chuva ácida

A Revolução Industrial do século XVIII trouxe vários Revolução Industrial: processo


histórico que se iniciou no século
avanços tecnológicos e mais rapidez na forma de produzir, XVIII, na Inglaterra, a partir da
mecanização dos sistemas de
mas por outro lado originou uma significativa alteração no produção. Ela substitui o modelo
artesanal praticado durante a Idade
meio ambiente. As fábricas com suas máquinas a vapor Média, e se caracteriza pela ascensão
queimavam toneladas de carvão mineral para gerar da burguesia industrial, que buscou
alternativas para melhorar a
energia. Neste contexto, começa a surgir a chuva ácida. produção de mercadorias. O grande
salto tecnológico nos transportes e
Porém, o termo apareceu somente em 1872, na Inglaterra. máquinas, em especial pelas
máquinas à vapor e os gigantes
O climatologista e químico Robert A. Smith foi o primeiro teares, revolucionou o modo de
produzir. Se por um lado a máquina
a pesquisar a chuva ácida na cidade industrial inglesa de substituiu o homem, gerando milhares
Manchester. de desempregados, por outro baixou o
preço de mercadorias e acelerou o
ritmo de produção. Esta fase também
Atualmente, a chuva ácida é um dos principais problemas é marcada pelo significativo
crescimento populacional, o que, por
ambientas nos países industrializados. Ela é formada a sua vez, trouxe maior demanda de
produtos e mercadorias. Fonte:
partir de uma grande concentração de poluentes q uímicos, Adaptado de
http://www.suapesquisa.com/industria
que são despejados na atmosfera diariamente. Estes l/, acessado em março de 2010.
poluentes são originados principalmente da queima de

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 7


4
combustíveis fosseis, a exemplo do carvão mineral e do petróleo, e podem formar
nuvens, neblinas e até mesmo neve. O esquema demonstrado pela figura 7.3 abaixo
mostra a formação geral deste fenômeno.

Figura 7.3. Elementos formadores da chuva ácida


Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/chuva-acida/imagens/chuva-acida5.jpg, acessado em
março de 2010.

É importante salientar que a chuva ácida, como o próprio pH: corresponde ao símbolo para a
nome já indica, possui um pH abaixo de 7, o que lhe grandeza físico-química potencial
hidrogeniônico. Essa grandeza indica
confere maior acidez em relação à água pura. Todavia, a acidez, neutralidade ou alcalinidade
de uma solução aquosa. De modo que
toda chuva é por natureza ácida, mas que pode se tornar refere-se a uma medida que indica se
uma solução líquida é ácida (pH < 7),
ainda maior quando combinada a outros elementos, tais neutra (pH = 7), ou básica/alcalina
(pH > 7). Fonte:
como o dióxido de carbono (CO 2 ), o óxido de nitrogênio http://pt.wikipedia.org/wiki/PH,
(NO) e o dióxido de enxofre (SO 2 ). Estes são resultantes acessado em março de 2010.

da queima de combustíveis fósseis (carvão, óleo d iesel, gasolina entre outros) e quando
caem em forma de chuva ou neve, estes ácidos provocam danos no solo, plantas,
animais marinhos e terrestres, etc.

Além destes danos, as obras consideradas como Patrimônio da Humanidade também são
alvo da degradação provocada por este fenômeno. E em muitas cidades, como Atenas e
Roma, as perdas podem ser consideradas irreparáveis. Estudos apontam que os

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 7


5
monumentos atenienses degradaram-se com muito mais velocidade nos últimos 40 anos
do que nos 2.000 anos anteriores.

Este tipo de chuva pode até mesmo provocar o descontrole de ecossistemas, ao


exterminar determinados tipos de animais e vegetais. Poluindo rios e fontes de água, a
chuva pode também prejudicar diretamente a saúde do ser humano, causando doenças
pulmonares, por exemplo. As figuras 7.4 a 7.7 a seguir ilustram alguns exemplos de
impactos provocados pela chuva ácida à natureza e ao patrimônio histórico e artístico
das cidades.

Fonte: Fonte:
http://1.bp.blogspot.com/_ejXJR3hba78/SBhzjbdpqrI/A http://2.bp.blogspot.com/_FM rR3h0LP_w/SZp8U
AAAAAAAABU/WShEfdYFKUI/s400/chuva_acida- tNzNSI/AAAAAAAAAAs/uSkPNJV-
monumento-corroido.gif, acessado em março de 2010. Gec/s320/chuva-acida33.jpg, acessado em março
de 2010.

Figuras 7.4 e 7.5. Impactos da chuva ácida sobre o patrimônio histórico da humanidade
em construções e monumentos artísticos

Figura 7.7. Lago contaminado por chuva ácida


Figura 7.6. Árvores degradadas pela chuva
ácida. Fonte: Fonte:
http://4.bp.blogspot.com/_sjX51bjYiM A/SAbS6i http://2.bp.blogspot.com/_4GM ufMp2J5U/SpM r3flzDPI/AAAAAA
qtsuI/AAAAAAAADE0/gUXoXrJM gg8/s400/Z. AAAIQ/2xa4cn6ArnM /s320/lago_chuva_acida.jpg, acessado em
jpg , acessado em março de 2010. março de 2010.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 7


6
Como já mencionado, o problema é mais acentuado nos países industrializados,
principalmente naqueles classificados como países em desenvolvimento, a exemplo do
Brasil, Rússia, China, México e Índia. O setor industrial destes países tem crescido
muito, porém de forma intensiva e desregulada, agredindo o meio ambiente, como pode
ser visualizado pela figura 7.8 a seguir.

Figura 7.8. Poluição do ar, queimadas e poluentes como agentes causadores da chuva ácida
Fonte: http://www.sefloral.com.br/ea010717.jp g, acessado em março de 2010.

Segundo dados do Fundo Mundial para a Natureza, cerca de 35% dos ecossistemas
europeus já estão seriamente alterados e cerca de 50% das florestas da Alemanha e da
Holanda estão destruídas pela acidez da chuva. Na costa do Atlântico Norte, a água do
mar está entre 10% e 30% mais ácida que nos últimos vinte anos. Nos EUA, onde as
usinas termoelétricas são responsáveis por quase 65% do dióxido de enxofre lançado na
atmosfera, o solo dos Montes Apalaches também está alterado: tem uma acidez dez
vezes maior que a das áreas vizinhas, de menor altitude, e cem vezes maior que a das
regiões onde não há esse tipo de poluição. No Brasil, em especial nas décadas de 1970 e
1980, a cidade de Cubatão localizada no litoral de São Paulo, a chuva ácida provocou

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 7


7
muitos danos ao meio ambiente e ao ser humano. Os ácidos Acefalia: A Acefalia é uma má
formação do feto, em que este não
poluentes jogados no ar pelas indústrias foram responsáveis possui, literalmente, cabeça. O
por muitos problemas de saúde na população da cidade, feto acéfalo tem corpo, mas carece
de cabeça e de coração. Fonte:
como mostra a figura 7.9 a seguir, sendo que foram http://doencasneurologicas.blogs.s
apo.pt/4044.html, acessado em
relatados até casos de acefalia (crianças que nasciam sem março de 2010.

cérebro) ou com outros defeitos físicos.

Além dos riscos à saúde humana, é


notório o impacto causado sobre os
ecossistemas e o meio ambiente, visto
que a chuva ácida também provocou
desmatamentos significativos na Mata
Atlântica da Serra do Mar. Estudos
feitos pelo Fundo Mundial para a
Natureza (WWF) mostraram que nos
Figura 7.9. Impactos da poluição do ar sobre a saúde países ricos o problema também
humana
Fonte:http://naturezahelp.files.wordpress.com/2009/04/n aparece. Na Europa, por exemplo,
offa2.jpg, acessado em março de 2010.
estima-se que 40% dos ecossistemas
estão sendo prejudicados pela chuva ácida e outras formas de poluição.

7.2. Ilha de Calor

Corresponde a um fenômeno
climático que ocorre
principalmente nas cidades com
elevado grau de urbanização,
como mostrado pela figura 7.10
abaixo. Nestas cidades, a
temperatura média costuma ser
maior do que as regiões rurais
próximas.
Figura 7.10. A ilha de calor e sua ocorrência nos centros
urbanos – São Paulo é um exemplo
Fonte: http://www.brasilescola.com/geografia/ilha-de-calor.htm,
acessado em março de 2010.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 7


8
Este fenômeno climático é muito comum em áreas e regiões metropolitanas, onde há
grande concentração de asfalto (ruas, avenidas) e concreto (prédios, casas e outras
construções), o quem favorece a concentração de mais calor e fazendo com que a
temperatura fique acima da média das demais áreas ao
redor. Neste caso, a umidade relativa do ar também Umidade relativa do ar: rever Aula 3
_______________________________
diminui nestas áreas. Outros fatores que contribuem para a
Desconforto térmico ou estresse
elevação da temperatura nas grandes cidades são: a pouca térmico: Ocorre quando há excesso
de calor, umidade, vento, ruído, etc,
quantidade de árvores e plantas em função da urbanização afetando a saúde e o bem-estar das
pessoas. Por exemplo, o calor em
da paisagem e o alto índice de poluição atmosférica, como
excesso pode afetar o desempenho das
conseqüência da maior concentração de automóveis e pessoas, causar inquietação e perda
de concentração. Por sua vez, o
indústrias nas regiões metropolitanas. excesso de umidade provoca
desconforto, sonolência e aumento do
suor. Tais sintomas ocorrem quando
Desta forma a temperatura pode oscilar entre 4ºC ou as trocas de calor entre o corpo e o
meio ambiente são prejudicadas.
mesmo 11ºC entre o centro da cidade e as áreas rurais Fonte: Adaptado de
http://www.macamp.com.br/variedade
adjacentes (ver figura 7.11), provocando aumento do s/contfortotermico.htm, acessado em
março de 2010.
desconforto té rmico para a população residente, além de
um aumento no consumo de energia em função do uso mais freqüente de aparelhos
refrigeradores, tais como freezers, geladeiras e ar condicionado.

Figura 7.11. Perfil de uma ilha de calor – 1=Área residencial suburbana, 2=Parque; 3=Área urbana
residencial; 4=Centro; 5=Comercial; 6=Área suburbana residencial; 7=Rural.
Fonte: EPA-US/M od. E.Zimbres, disponível em http://www.ecodebate.com.br/tag/clima/page/2/, acessado em
março de 2010.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 7


9
O fenômeno pode ser percebido tanto de dia quanto à noite, todavia o ápice ocorre ao
anoitecer de dias claros e sem brisas. Isto acontece porque a área rural se esfria mais
rapidamente à noite do que as áreas urbanas, onde muito calor é retido pelo asfalto,
calçadas e edifícios. Na cidade a radiação de ondas longas, isto
é, o calor sensível, dissipa com muito mais dificuldade do que Calor sensível: rever Aula 2

na zona rural. Isto se deve à geometria da cidade, que coloca obstáculos a esta
dissipação; ao efeito estufa causado pela névoa que se forma mais comumente sobre a
cidade e ainda pela re-emissão da energia térmica absorvida pelas partículas em
suspensão na atmosfera urbana. Todos estes fatores fazem com que a energia na forma
de calor fique mais tempo retida sobre a cidade, aumentando o contraste de temperatura
com as áreas rurais.

Evaporação e evapotranspiração:
Por outro lado, na zona rural a existência de vegetação sobre rever Aula 3
o solo permite que parte da umidade seja retirada pela
evaporação e evapotrans piração, consumindo, portanto, parte da energia solar
absorvida. Nos grandes centros urbanos, a quase total impermeabilização do solo e a
ausência de cobertura vegetal, diminuem a umidade do solo e impedem a evaporação,
aumentando assim a quantidade de calor disponível para o aquecimento do ambiente.

Além destes fatores, a topografia e a localização da cidade Topografia: sinônimo de variações


são elementos que podem favorecer a formação de ilha de de relevo.

calor, na medida em que locais ventilados dissipam a névoa que se forma sobre a cidade
e que é um dos fatores causadores do maior aquecimento urbano.

Um exemplo é a cidade de Santiago, capital do Chile, visto que o desenvolvimento


urbano nos últimos 30 anos levou à ocupação de áreas no sopé da Cordilheira dos
Andes, criando uma imensa ilha de calor sobre uma área que funcionava como fonte de
ar fresco e que limpava a atmosfera da capital à noite.

Atualmente, são exemplos de cidades que sofrem com as conseqüências e impactos da


ilha de calor: No Brasil, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte são as principais, e
em escala mundial se destacam Nova Iorque (EUA), a Cidade do México (México),
Pequim (China) e Nova Deli (Índia).

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 7


10
Outro aspecto relevante é que a formação e presença de ilhas de calor no mundo são
negativas para o meio ambiente global. Cientistas estão convencidos de que as
mudanças climáticas globais contribuem para o agravamento da formação das ilhas de
calor. A geógrafa Magda Lombardo, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), explica
que a situação tem variado segundo condições atmosféricas e de relevo de cada região.
Segundo matéria publicada pelo jornal O Globo, em 19/04/2009, a especialista afirma
que as cidades brasileiras estão ficando “mais doentes”, principalmente nas periferias e
as mudanças climáticas globais estão piorando o desconforto térmico nas ilhas de ca lor.

As ilhas de calor registram ainda redução da umidade relativa do ar, uma maior
concentração de chuvas e mudanças nos ventos. Cidades como São Paulo e Rio de
Janeiro, por exemplo, estão vulneráveis ao fenômeno, porém de modos diferentes. Em
São Paulo a situação é mais agravante, pois o ar se torna mais seco do que o carioca, que
recebe umidade das brisas marítimas. Mas em compensação, o relevo carioca cria
“panelas de pressão”, agravadas pela poluição e pelo desmatamento. De modo que, no
Rio de Janeiro, o “inferno climático” se situa na região atrás do Cristo Redentor - um
dos cartões postais da cidade - onde as temperaturas são até 7ºC superiores às medidas
na Avenida Atlântica. Em São Paulo, a temperatura pode variar entre 12ºC entre um
bairro e outro. As diferenças são tão significativas que, simultaneamente, o paulistano
pode encontrar 20ºC na Serra da Cantareira e 32ºC na Rua 25 de Março, na região
central da cidade, segundo as medições locais da pesquisadora.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 7


11

Figura 7.12. Densidade demográfica e Ilhas de Calor em S ão Paulo.


Fonte: http://blig.ig.com.br/geomarcelocoelho/files/2009/08/mapa-de-sao-paulo-ilhas-de-calor.jpg, acessado em março
de 2010.

E mesmo nas cidades consideradas modelos, como Curitiba, a situação se agrava nas
periferias. Nas palavras de Magda Lombardo, “É como se tivéssemos as cidades formais
e as informais para o clima. As ilhas de calor muitas vezes ficam sob o tapete,
escondidas nas periferias de cimento. São desertos artificiais onde os efeitos para a
saúde são mais severos. As pessoas vivem em casas menos confortáveis, mais sujeitas a
enchentes e deslizamentos”.

Na avaliação da pesquisadora, os efeitos das ilhas de calor têm sido ampliados pelas
mudanças climáticas globais. E, por sua vez, essas ilhas também influenciam o clima
global. Entre as medidas que podem ser realizadas para amenizar os efeitos deste
fenômeno climático típico das grandes áreas metropolitanas, pode-se listar: o plantio de
árvores próximo aos principais corredores e avenidas, entre outras áreas; a c riação de
parques e a preservação de áreas verdes; diminuição da poluição do ar, em especial
através do controle da emissão de gases poluentes pelos veículos e indústrias.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 7


12

Saiba mais
Para saber mais sobre os impactos e a intensificação do
fenômeno ilha de calor sobre as principais metrópoles
brasileiras e a sua relação com o aquecimento global,
consulte o artigo “O desconforto da vida nas ilhas de calor
das metrópoles”, disponível em
http://www.ecodebate.com.br/2009/04/22/o-desconforto-da-
vida-nas- ilhas-de-calor-das-metropoles/, acessado em março
de 2010.

7.3. Inversão térmica

A inversão térmica é um fenômeno natural do clima e que se torna mais visível após a
entrada de uma frente fria sobre o território, geralmente nos dias mais frios do outono ou
inverno. Para que ela aconteça, é preciso que ocorram alguns fatores específicos, como
uma baixa umidade relativa do ar, comum nos dias frios de inverno. O fenômeno pode
ocorrer em qualquer época do ano, mas fica mais intenso nas épocas de noites longas,
com baixas temperaturas e pouco vento. Todavia, suas conseqüências e impactos se
tornam agravantes quando o fenômeno ocorre em grandes áreas industriais e
metropolitanas, onde há grande concentração de poluentes e particulados. A inversão
térmica ocorre quando há uma mudança abrupta de temperatura devido à inversão
das camadas de ar frias e quentes.

Figura 7.13. Esquema ilustrativo sobre a ocorrência da Inversão térmica nas grandes metrópoles .
Fonte: http://www.areaseg.com/eco/inversao.gif, acessado em março de 2010.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 7


13
Assim, o ar frio, por ser mais denso, fica mais próximo da superfície, retendo os
poluentes, ao passo que o ar quente, por ser menos denso, se concentra em uma camada
acima do ar frio, impedindo que esses poluentes sejam dispersos. Esta retenção de
poluentes nas camadas mais próximas da superfície forma uma grande camada cinzenta
ou névoa que pode ser observada a olho nu - resultado da queima de combustíveis
fósseis derivados do petróleo (gasolina e diesel principalmente) pelos automóveis e
caminhões, como pode ser visualizado nas figuras 7.14 e 7.15 a seguir.

Fonte: Fonte:
http://www.mundoeducacao.com.br/geografia/in http://img.limao.com.br/fotos/A4/6A/A2/A46AA2D499954
versao-termica.htm, acessado em março de 2010. 6EC84FCCA4A9E4B80D7.jpg, acessados em março de
2010.

Figuras 7.14 e 7.15. A camada cinzenta provocada pela inversão térmica

Bronquite: inflamação dos brônquios,


Essa névoa é composta de gases tóxicos e poluentes, que são
em geral associada à alguma infecção
extremamente prejudiciais à saúde, podendo ocasionar respiratória. A respiração é
dificultada em função de um inchaço
bronquite, agravamento de doenças cardíacas, irritação nos dos brônquios em especial quando há
a produção de muco espesso
olhos, tonturas, náuseas, cansaço excessivo e dor de cabeça, (catarro). A doença provoca tosse
intensa e prolongada, e se acentua
atingindo principalmente crianças e idosos. Pessoas que especialmente após a exposição do
possuem doenças como bronquite e asma, por exemplo, são indivíduo ao ar frio e aos poluentes,
tais como a fumaça de cigarros e
as mais afetadas com esta situação. automóveis. A sua ocorrência,
portanto, é mais comum durante o
inverno. Fonte: Adaptado de
http://www.brasilescola.com/doencas/
Normalmente a inversão térmica possui curta duração, bronquite.htm, acessado em março de
2010.
desaparecendo ao longo do dia, contudo sob certas
condições meteorológicas, tais como elevada pressão sobre a área, o fenômeno pode se
estender por muitos dias.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 7


14
Soluções para estes problemas estão ligados diretamente à adoção de políticas
ambientais eficientes que visem diminuir o nível de poluição do ar nos grandes centros
urbanos. Além disso, a substituição de combustíveis fósseis por biocombustíveis,
energia elétrica, ou outras fontes energéticas mais limpas e renováveis, poderia reduzir
significativamente o problema. Campanhas públicas conscientizando as pessoas sobre a
necessidade de trocar o transporte individual (particular) pelo transporte público (ônibus
e metrô) e a fiscalização nas regiões onde ocorrem queimadas irregulares também
contribuiriam neste sentido.

Saiba mais

Para saber mais sobre as medidas e propostas voltadas


para solucionar e/ou amenizar os impactos do clima
urbano, assista ao vídeo da Campanha Tic Tac sobre
as cidades, disponível em
http://blog.transporteativo.org.br/2009/10/16/proposta
s-clima-urbano/, acessado em março de 2010.

Resumo: Nesta aula abordamos:

 Os problemas ambientais típicos das grandes cidades, a exemplo da chuva ácida,


ilha de calor e inversão térmica fazem parte do chamado “Clima urbano”, pois
ocorrem de modo predominante a partir das ações antrópicas, em especial a
urbanização e a modificação das paisagens naturais.

 A poluição do ar, que atinge a maior parte das grandes cidades e centros urbanos
e que tornam o ar bastante saturado de materiais particulados e poluentes; a
poluição de esgotos e efluentes industriais, responsáveis pela contaminação de
rios, lagos, aqüíferos e zona costeiras; além do lixo que se acumula
progressivamente em função de um consumo desenfreado e estimulado pelo
padrão capitalista são importantes exemplos de modificações antrópicas que
contribuem para a ocorrência e a intensificação destes distúrbios climáticos em
escala local.

 Atualmente, a chuva ácida é um dos principais problemas ambientas nos países


industrializados e é formada a partir de uma grande concentração de poluentes
químicos despejados na atmosfera diariamente. E, como conseqüência, provoca
o descontrole de ecossistemas, tais como a morte de peixes e a contaminação de
lagos e rios, e desmatamentos. Além disso também contribui para a danificação

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 7


15
de obras do Patrimônio Histórico e ainda sérios problemas de saúde para a
população atingida.

 A ilha de calor corresponde a um fenômeno climático em que a temperatura


média dos centros urbanos se torna mais elevada do que as regiões rurais
adjacentes, sendo bastante comum em áreas e regiões metropolitanas, onde há
grande concentração de asfalto e concreto e outras construções.

 A inversão térmica se configura como um fenômeno natural do clima, sendo


mais visível no inverno, em especial quando associado à baixa umidade relativa
do ar, baixas temperaturas e pouco vento. Seus impactos se tornam mais graves
nas grandes áreas industriais e metropolitanas, onde há grande concentração de
poluentes e particulados. Assim, há a formação de uma névoa ou camada
cinzenta composta de gases tóxicos e poluentes que são extremamente
prejudiciais à saúde, sendo responsável pela maior ocorrência de doenças
respiratórias especialmente em crianças e idosos.
 Cientistas afirmam que a formação destes fenômenos está relacionada às
mudanças climáticas globais e que contrib uem para o seu agravamento. E a
solução para estes problemas está diretamente vinculada à adoção de políticas
ambientais eficientes que visem diminuir o nível de poluição do ar nos grandes
centros urbanos, tais como: a substituição de combustíveis fósseis por fontes
energéticas mais limpas e renováveis; a conscientização das pessoas sobre o uso
de meios de transporte coletivos e menos poluentes; a fiscalização das regiões
onde ocorrem queimadas irregulares, além da necessidade de um maior incentivo
à preservação de áreas verdes e ao reflorestamento.

Referências:

http://www.suapesquisa.com/chuvaacida, acessado em janeiro de 2010.

http://www.suapesquisa.com/o_que_e/ilha_de_calor.htm, acessado em março de 2010.

http://www.brasilescola.com/geografia/ilha-de-calor.htm, acessado em março de 2010.

http://www.dicionario.pro.br/dicionario/index.php/Ilha_de_calor, acessado em março de


2010.

http://www.ecodebate.com.br/2009/04/22/o-desconforto-da-vida-nas-ilhas-de-calor-das-
metropoles, acessado em março de 2010.

http://www.suapesquisa.com/cienciastecnologia/inversao_termica.htm, acessado em
janeiro de 2010.

http://www.mundoeducacao.com.br/geografia/inversao-termica.htm, acessado em março


de 2010.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 7


AULA 8 – Variabilidade X Mudança Climática -
Problemas ambientais globais

Curso: Meio Ambiente


Disciplina: Climatologia
Conteudista: Carolina Dias de Oliveira
Tutora: Camila Emídio Ribeiro

8. Problemas ambientais globais

8.1. O clima mundial durante a história registrada e as causas das


Mudanças Climáticas

As mudanças climáticas são alterações que ocorrem no clima geral do planeta Terra.
Estas alterações são verificadas através de registros científicos nos valores médios ou
desvios da média de temperatura e outros elementos climáticos, apurados durante o
passar dos anos.

Como vimos anteriormente, as mudanças climáticas são produzidas em diferentes


escalas de tempo em um ou vários fatores meteorológicos como, por exemplo:
temperaturas máximas e mínimas, índices pluviométricos (chuvas), temperaturas dos
oceanos, nebulosidade, umidade relativa do ar, etc. E tais mudanças podem ser
provocadas por fenômenos naturais ou ainda por ações antrópicas, ou seja, dos seres
humanos. Neste último caso, estudos apontam que as mudanças climáticas se tornaram
mais significativas a partir da Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, quando
foi observado um forte aumento na poluição do ar.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


2

Figuras 8.1 e 8.2. Causas e conseqüências das mudanças climáticas globais – poluição do ar
e emissão de gases poluentes e derretimento das geleiras, respectivamente.
Fontes: http://clientes.netvisao.pt/alvorecer/Desktop-6.1.JPG e http://www.adur-
rj.org.br/5com/pop-up/apocalipse_ja1.jpg, acessados em março de 2010.

Atualmente as mudanças climáticas têm sido alvo de diversas discussões e pesquisas


científicas. Os climatologistas verificaram que, nas últimas décadas, ocorreu um
significativo aumento da temperatura mundial, fenômeno conhecido como
Aquecimento global. Este fenômeno, gerado por diversos fatores, mas em especial pelo
aumento da poluição do ar e da emissão de gases poluentes como o CO 2, contribui para
o derretimento de gelo das calotas polares e também para o aumento no nível de água
dos oceanos. Associado a este fenômeno, a desertificação e a aridificação de áreas
tropicais também têm aumentado nas últimas décadas em função das mudanças
climáticas.

A seguir, abordaremos com mais detalhes as principais anomalias climáticas da


atualidade: El niño e a La niña; a intensificação do Efeito estufa e o Aquecimento
Global.

8.2. El Niño e La Niña, Efeito Estufa, Aquecimento Global e suas relações


sócio-econômicas e ambientais

Na atualidade, os telejornais e diversos meios de comunicação divulgam com freqüência


as catástrofes geradas pelos principais eventos e anomalias climáticas que devastam o
planeta, em específico os efeitos do El Niño e da La Niña, a intensificação do Efeito
estufa e o Aquecimento Global. Por isso, iremos aprofundar a análise sobre as causas e
conseqüências destes fenômenos que tanto preocupam os ambientalistas e demais
setores da sociedade e que desafiam o futuro da humanidade.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


3
8.2.1. Diferenças, causas e conseqüências entre o El Niño e a La Niña

As anomalias do sistema climático, atualmente, são mundialmente conhecidas. Neste


caso, o El Niño e a La Niña representam uma alteração do sistema oceano-atmosfera
que ocorrem mais diretamente no Oceano Pacífico tropical, mas que geram
conseqüências no tempo e no clima em todo o planeta. Isso ocorre porque a interação
entre a superfície dos oceanos e a baixa atmosfera adjacente é responsável pelos
processos de troca de energia e umidade entre eles, determinando o comportamento do
clima e fazendo com que qualquer alteração neste sistema possa afetar o clima de modo
regional ou até mesmo global.

O El Niño representa o aquecimento anormal das águas superficiais e subsuperficiais do


Oceano Pacífico Equatorial. A denominação El Niño é derivada do espanhol, e refere-se
à presença de águas quentes que todos os anos aparecem na costa norte do Peru na
época de Natal. Os pescadores do Peru e do Equador chamaram esta presença de águas
mais quentes de “Corriente de El Niño” em referência ao Niño Jesus ou Menino Jesus.

Segundo a definição destes fenômenos específicos, considera-se não somente a presença


das águas quentes da Corrente El Niño, mas também as mudanças na atmosfera próxima
à superfície do oceano, com o enfraquecimento dos ventos alísios, que sopram de leste
para oeste, na região equatorial. Com esse aquecimento do oceano e com o
enfraquecimento dos ventos, começam a ser observadas mudanças da circulação da
atmosfera nos níveis baixos e altos, determinando mudanças nos padrões de transporte
de umidade. E, portanto, há modificações também nas variações na distribuição das
chuvas em regiões tropicais e de latitudes médias e altas. Em algumas regiões do globo
também são observados aumento ou queda de temperatura. A figura 8.3 abaixo mostra
a situação observada em dezembro de 1997, no pico do fenômeno El Niño que ocorreu
durante a transição de 1997 para 1998.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


4

Figura 8.3. El Nino e as variações da temperatura da superfície do mar


Fonte: http://enos.cptec.inpe.br, acessado em 15/01/2010.

A figura acima mostra a anomalia de temperatura da superfície do mar em dezembro de


1998. Os tons avermelhados indicam regiões com valores acima da média e os tons
azulados as regiões com valores abaixo da média climatológica. Pode-se notar que a
região do Pacífico Central e Oriental apresenta valores
El Niño Oscilação Sul (ENOS): é a
positivos, indicando a presença do El Niño. flutuação interanual da pressão
atmosférica ao nível do mar no Oceano
Atualmente, a denominação mais correta e técnica para se Pacífico, devida a variações na
circulação atmosférica. Aparentemente,
referir ao fenômeno El Niño é ENOS, ou seja, El Niño estas variações também se registram nos
Oscilação Sul, visto que nesta nossa abordagem as restantes oceanos, mas ficaram mais
conhecidas pelas anomalias conhecidas
características oceânicas-atmosféricas são consideradas e pelo nome “El Niño”, que foram
descobertas no Oceano Pacífico. Por essa
associadas ao aquecimento anormal do oceano Pacifico razão, as anomalias passaram a ser
estudadas em termos de prever a
tropical. ocorrência daquele evento e muitas vezes
usa-se a expressão OSEN (Oscilação Sul-
El Niño ou ENSO, da expressão em
inglês) como sinônimo do El Niño ou da
Oscilação Sul e aplica-se a anomalias do
clima e da circulação marinha em
qualquer oceano – os eventos OSEN do
Oceano Atlântico ocorrem 6-15 meses
depois de ocorrerem no Pacífico. Fonte:
Wikipédia, disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/El_Ni%C3
%B1o#OSEN_.28Oscila.C3.A7.C3.A3o_S
ul-El_Ni.C3.B1o.29>, acessado em junho
de 2010.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


5
Esta nova denominação representa de forma mais genérica um
fenômeno de interação atmosfera-oceano, associado a Temperatura da Superfície do Mar
(TSM): corresponde à medida da
alterações dos padrões normais da Temperatura da quantidade de calor produzido pela
agitação das partículas da água do
Superfície do Mar (TSM) mar. A elevação ou redução da
TSM em torno da média histórica
e dos ventos alísios na região do Pacífico Equatorial, entre a provoca uma série de eventos
atmosféricos capazes de alterar o
Costa Peruana e no Pacifico oeste próximo à Austrália. Além clima em todo o mundo. Fonte:
CEMBA - Centro Estadual de
de índices baseados nos valores da temperatura da superfície Meteorologia da Bahia, disponível
em
do mar no Oceano Pacifico equatorial, o fenômeno ENOS http://www.inga.ba.gov.br/cemba/m
pode ser também quantificado pelo Índice de Oscilação Sul odules/wordbook/entry.php?entryID
=346, acessado em junho de 2010
(IOS). ____________________________.

Índice de Oscilação Sul (IOS):


Ambos os eventos possuem uma tendência a se alternar a cada índice que representa a diferença
três a sete anos. Porém, de um evento ao seguinte o intervalo entre a pressão ao nível do mar
entre o Pacifico Central (Taiti) e o
pode mudar entre um ou até dez anos, sendo que as Pacifico do Oeste
(Darwin/Austrália) e está
intensidades também variam bastante de caso a caso. O El relacionado com as mudanças na
circulação atmosférica em seus
Niño mais intenso desde que passaram a se observar as níveis mais baixos, conseqüência do
aquecimento ou resfriamento das
variações da TSM ocorreu na passagem dos anos de 1982- águas superficiais na região. Assim,
1983 e 1997-1998. Cabe destacar que, algumas vezes, a valores negativos da IOS são
indicadores da ocorrência do El
sucessão dos eventos El Niño e La Niña foi intercalada por Niño ao passo que valores positivos
da IOS indicariam a ocorrência do
condições normais. fenômeno La Niña. Fonte:
Adaptado de CEMBA - Centro
Sem a presença do El Niño nas águas do Oceano Pacífico, a Estadual de Meteorologia da Bahia,
disponível em:
costa oeste da América do Sul é banhada por águas mais frias. http://www.inga.ba.gov.br/cemba/m
odules/wordbook/entry.php?entryID
E, por sua vez, as águas do Pacífico Oeste são mais quentes, =164, acessado em junho de 2010
____________________________.
favorecendo a evaporação. Com a evaporação, há a formação
de nuvens numa grande área. E, como já vimos, para que haja Célula de circulação de Walker:
Ver aula 3
a formação de nuvens o ar teve que subir. Com isso, o ar que
sobe no Pacífico Equatorial Central e Oeste, desce no Pacífico Leste (junto à costa oeste
da América do Sul), juntamente com os ventos alísios em baixos níveis da atmosfera (de
leste para oeste). E os ventos de oeste para leste em altos níveis da atmosfera, formando
o que os meteorologistas chamam de Célula de circulação de Walker, em homenagem
ao Sir Gilbert Walker.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


6
A figura 8.4 abaixo ilustra as condições normais da célula de circulação de Walker,
bem como o padrão de circulação em todo o Pacífico Equatorial em anos normais, ou
seja, sem a presença do fenômeno El Niño.

Figura 8.4. Circulação normal no Oceano Pacífico


Fonte: http://enos.cptec.inpe.br, acessado em 15/01/2010.

A circulação mostrada pela figura 8.4 acima indica que a célula de circulação realiza
movimentos ascendentes no Pacífico Central/Ocidental e movimentos descendentes no
oeste da América do Sul, com ventos de leste para oeste, próximos à superfície (observe
que os ventos alísios são representados na figura pelas setas brancas) e de oeste para
leste em altos níveis da troposfera. Esta é a chamada célula de Walker. No Oceano
Pacífico, pode-se ver a região com águas mais quentes representadas pelas cores
avermelhadas e mais frias pelas cores azuladas.

Pode-se ver também a inclinação da termoclima, que se Termoclina: é a variação brusca de


torna mais rasa junto à costa oeste da América do Sul e temperatura em uma determinada
profundidade do mar ou em ambientes
mais profunda no Pacífico Ocidental, conforme mostra a de água doce. Ela possui grande
importância na distribuição dos
figura anterior. Esta região separa as águas mais quentes organismos aquáticos funcionando como
uma barreira para estes, uma vez que as
(acima desta região) das águas mais frias (abaixo desta mudanças de temperatura da água
acarretam em alterações na densidade,
região). Assim, os ventos alísios "empurram" as águas viscosidade, pressão, solubilidade e
mais quentes para oeste, fazendo com que a termoclina oxigênio, e que por sua vez podem
influenciar na flutuabilidade, locomoção
fique mais rasa do lado leste, expondo as águas mais frias. e respiração dos organismos. Fonte:
Adaptado de Wikipédia, disponível em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Termoclina,
acessado em junho de 2010.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


7
Outro ponto importante é que os ventos alísios, junto à Ressurgência: Estas águas mais frias
têm mais oxigênio dissolvido e vêm
costa da América do Sul, favorecem um mecanismo
carregadas de nutrientes e micro-
chamado pelos oceanógrafos de ressurgência, que seria o organismos vindos de maiores
profundidades do mar, que vão servir
afloramento de águas mais profundas do oceano. Não é de alimento para os peixes daquela
região.
por acaso que a costa oeste da América do Sul é uma das
regiões com maior potencial pesqueiro do mundo. O que surge também é uma cadeia
alimentar, pois os pássaros que vivem naquela região se alimentam dos peixes, e que
por sua vez se alimentam dos microorganismos e nutrientes daquela região.

Durante a formação do El Niño nota-se um enfraquecimento dos ventos alísios, o que


contribui para o aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial. E
como o aquecimento gera evaporação com movimento ascendente, há também a
formação de nuvens, que neste caso ocorrerão principalmente no Pacífico Equatorial
Central e Oriental, como ilustra a Figura 8.5 a seguir.

Figura 8.5. Circulação sob a ocorrência do El Niño no Oceano Pacífico


Fonte: http://enos.cptec.inpe.br, acessado em 15/01/2010.

Pela figura 8.5 nota-se que os ventos em superfície, em alguns casos, chegam até a
mudar de sentido, ou seja, ficam de oeste para leste. Há um deslocamento da região com
maior formação de nuvens e a célula de Walker fica bipartida. No Oceano Pacífico
Equatorial pode ser observado águas quentes em praticamente toda a sua extensão. A
termoclina fica mais aprofundada junto à costa oeste da América do Sul principalmente
devido ao enfraquecimento dos ventos alísios.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


8
Por fim, na ocorrência do fenômeno La Niña há uma intensificação dos ventos alísios
que se deslocam ainda mais intensamente em direção à costa oeste da América do Sul,
favorecendo a ressurgência e a atividade pesqueira na região. Nota-se que, neste caso, a
La Niña representa um fenômeno oceânico-atmosférico com características opostas ao
EL Niño, ou seja, apresenta um esfriamento anormal nas águas superficiais do Oceano
Pacífico Tropical. O termo La Niña (que quer dizer "a menina", em espanhol), também
pode ser chamado de episódio frio. Desta forma, com a ocorrência do fenômeno La
Niña, a Circulação de Grande Escala é modificada, provocando mudanças no clima em
diferentes regiões do Planeta. A Figura 8.6 a seguir mostra uma esquematização desta
Circulação no sentido zonal (Célula de Walker) modificada em associação ao episódio
La Niña sobre o Oceano Pacífico. Com esta condição, observa-se um ramo ascendente
da Célula de Walker que favorece a formação de nuvens sobre o Pacífico oeste e a
Austrália. Nessas regiões as águas superficiais do Pacífico Equatorial são mais quentes
e a pressão atmosférica é mais baixa. Por outro lado, sobre a região do Pacífico leste,
próximo ao Peru e Equador, verifica-se a presença de águas mais frias e pressão
atmosférica mais elevada. Nessa região também se manifesta um ramo subsidente da
Célula de Walker, mas que desta vez inibe a formação de nuvens.

Figura 8.6. Ilustração esquemática da circulação atmosférica modificada pela ocorrência


da La Niña sobre o Oceano Pacífico
Fonte: www.cptec.inpe.br, disponivel em:
http://www.inga.ba.gov.br/cemba/modules/conteudo/index.php?content_id=76, acessado em
março de 2010.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


9
Logo, assim como o fenômeno El Niño, a La Niña também interfere na circulação geral
da atmosfera de grande escala e, conseqüentemente, provoca mudanças nas condições
climáticas de várias regiões continentais ao redor do planeta, em função da grande
quantidade de energia envolvida neste processo, como mostra a Figura 8.7 a seguir.

Figura 8.7. Impactos do La Niña em diferentes regiões do planeta.


Fonte: www.cptec.inpe.br, disponivel em
http://www.inga.ba.gov.br/cemba/modules/conteudo/index.php?content_id=76,
acessado em março de 2010.

Observa-se que uma das regiões com grande quantidade de chuva abrange desde o
nordeste do Oceano Índico (a oeste do Oceano Pacífico) passando pela Indonésia.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


10
Entretanto, na região do Pacífico Equatorial Central e Oriental, há redução no volume
de precipitação devido ao movimento descendente da célula de Walker, que inibe, e
muito, a formação de nuvens de chuva nessa região do Pacífico.

Em geral, os episódios La Niña também têm freqüência de ocorrência em torno de dois


a sete anos e seus episódios têm periodicidade de aproximadamente nove a doze meses.
Alguns poucos episódios persistem por mais de dois anos. Outro ponto interessante é
que os valores das anomalias da TSM, em anos de La Niña, têm desvios menores do
que em anos de El Niño, ou seja, enquanto observam-se anomalias de até 4ºC ou 5ºC
acima da média histórica em alguns anos de El Niño, em anos de La Niña as maiores
anomalias observadas não chegam a 4ºC abaixo dessa média histórica.

Saiba mais

Para saber mais sobre os impactos do El Niño e La


Niña, assista aos vídeos e animações disponíveis no
site do CPTEC/INPE:
http://videoseducacionais.cptec.inpe.br, acessados em
maio de 2010.

8.2.2. O Efeito Estufa e sua intensificação: causas e conseqüências

O efeito estufa é um dos fenômenos climáticos mais divulgados e mais temidos pela
sociedade desde quando os ambientalistas soaram o alarme de sua intensificação e suas
prováveis conseqüências para o planeta durante as conferências ambientais realizadas na
década de 1960. Todavia, é importante destacar que o efeito estufa em si é amplamente
benéfico para todos os seres vivos do planeta Terra, visto que sem ele a vida seria
praticamente inviável, oscilando entre temperaturas extremas de frio e calor. O principal
problema em relação a este fenômeno é a sua intensificação, com a qual as temperaturas
globais podem aumentar demasiadamente, prejudicando a natureza e comprometendo a
própria sobrevivência dos seres vivos no planeta.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


11
Segundo especialistas, a intensificação do efeito estufa tem colaborado para o aumento
da temperatura no globo terrestre nas últimas décadas. E pesquisas recentes indicaram
que o século XX foi o mais quente dos últimos 500 anos. Estes afirmam que, num futuro
próximo, o aumento da temperatura provocado pela intensificação do efeito estufa
poderá ocasionar o derretimento das calotas polares e o aumento do nível dos mares,
fazendo com que muitas cidades litorâneas literalmente “desapareçam do mapa”.

Neste caso, as queimadas e o desmatamento desenfreado são um dos principais


responsáveis pela intensificação deste fenômeno, visto que regulam a temperatura, os
ventos e o nível de chuvas em diversas regiões. E como as florestas estão diminuindo no
mundo inteiro, a temperatura terrestre tem aumentado na mesma proporção.

Outro fator que contribui para este fenômeno é o lançamento de gases poluentes para a
atmosfera, principalmente os que resultam da queima de combustíveis fósseis, tais como
o óleo diesel e a gasolina nos grandes centros urbanos. O dióxido de carbono (C02) e o
monóxido de carbono (CO) ficam concentrados em determinadas regiões da atmosfera
formando uma camada que bloqueia a dissipação do calor. Outros gases que também
contribuem para este processo são o gás metano (CH4), o óxido nitroso (N2O) e óxidos
de nitrogênio (NO). Esta camada de poluentes, tão visível nas grandes cidades, funciona
como um isolante térmico do planeta Terra, de modo que o calor fica retido nas camadas
mais baixas da atmosfera trazendo graves problemas para o planeta.

Pesquisadores do meio ambiente já estão prevendo os problemas futuros que poderão


atingir nosso planeta caso esta situação persista. Muitos ecossistemas poderão ser
atingidos e espécies vegetais e animais poderão ser extintos. Derretimento de geleiras e
alagamento de ilhas e regiões litorâneas, além de maior ocorrência e intensidade de
tufões, ciclones, furacões, maremotos e enchentes. Tais alterações climáticas também
podem influenciar negativamente sobre a produção agrícola de vários países, reduzindo
a quantidade de alimentos em nosso planeta, como já discutimos na Aula 6. Assim, a
elevação da temperatura nos mares poderia ocasionar o desvio de curso de correntes
marítimas, ocasionando a extinção de vários animais marinhos e diminuir a quantidade
de peixes nos mares.

Preocupados com estes problemas, organismos internacionais, organizações não


governamentais (ONGs) e governos de diversos países já estão tomando medidas para
reduzir a poluição ambiental e a emissão de gases para a atmosfera.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


12
O Protocolo de Kyoto, assinado em 1997, prevê a redução de gases poluentes para os
próximos anos, como será discutido em no tópico seguinte. Porém, países como os
Estados Unidos tem dificultado o avanço destes acordos, pois alegam que a redução da
emissão de gases poluentes poderia dificultar o avanço das indústrias no país.

Em dezembro de 2007, outro evento importante aconteceu na cidade de Bali: a


Conferência de Bali, que também será abordada no tópico seguinte. Neste evento,
representantes de centenas de países começaram a definir medidas para a redução da

emissão de gases poluentes e que deverão ser tomadas a partir de 2012 pelos países
participantes.

8.2.3. O Aquecimento Global e suas relações sócio-econômicas

Todos os dias são divulgados na televisão, nos jornais e revistas as catástrofes climáticas
e as mudanças que estão ocorrendo, rapidamente, no clima mundial. Nunca se viu
mudanças tão rápidas e com efeitos tão devastadores como ocorrido nos últimos anos.

A Europa tem sido castigada por ondas de calor de até 40ºC; ciclones atingem o Brasil
(principalmente na costa sul e sudeste do país); o número de desertos aumenta a cada
dia; fortes furacões causam mortes e destruição em várias regiões do planeta e as calotas
polares estão derretendo ainda mais rápido, o que pode ocasionar o avanço dos oceanos
sobre as cidades litorâneas. O que pode estar provocando tudo isso? Os cientistas são
unânimes em afirmar que o aquecimento global está relacionado a todos estes
acontecimentos.

Pesquisadores do clima mundial afirmam que este aquecimento global está ocorrendo
em função do aumento da emissão de gases poluentes, principalmente, derivados da
queima de combustíveis fósseis na atmosfera. Estes gases (ozônio, dióxido de carbono,
metano, óxido nitroso e monóxido de carbono) formam uma camada de poluentes de
difícil dispersão, provocando a intensificação do efeito estufa na atmosfera, e por isso
denominam estes acontecimentos como Aquecimento Global. Todavia cabe ressaltar
que, embora correlacionados, Efeito estufa e Aquecimento Global não são sinônimos.
Este último ocorre em decorrência da intensificação do primeiro, mas não se limita
somente a este, na medida em que se relaciona a outros fenômenos e anomalias
climáticas responsáveis pela alteração do clima em escala mundial, tais como o El Niño,
e a La Niña.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


13
Desta forma, o aquecimento global está associado às alterações climáticas
desencadeadas em ampla escala, e, para alguns cientistas e especialistas, ela ocorre a
partir da alteração das paisagens feitas em maior parte pelo homem sobre a natureza, em
especial após a Revolução Industrial e a urbanização das cidades, ocorridas a partir do
século XVII até os dias atuais. Assim, a grande quantidade de poluentes e particulados
emitidos diariamente para a atmosfera faz com que parte da radiação infravermelha
emitida pela Terra fique retida na baixa atmosfera, dificultando a dispersão do calor.

O desmatamento e a queimada de florestas e matas, como mencionado anteriormente,


também colaboram para este processo. Isso porque os raios do sol que atingem o solo
irradiam calor para a atmosfera. E como esta camada de poluentes dificulta a dispersão
do calor, o resultado é o aumento da temperatura global. Embora este fenômeno ocorra
de forma mais evidente nas grandes cidades, já se verifica suas conseqüências em nível
global.

Figura 8.4. Derretimento de gelo nas calotas polares: uma das conseqüências do
Aquecimento global. Fonte: http://www.suapesquisa.com/geografia/aquecimento_global.htm,
acessado em 15/01/2010.

Em síntese, podemos dizer que dentre as principais conseqüências do Aquecimento


Global sobre o planeta Terra temos:

 o aumento do nível dos oceanos, provocados a partir do aumento da temperatura


no mundo e que por sua vez contribui para o derretimento das calotas polares. E,
ao aumentar o nível da águas dos oceanos pode ocorrer, futuramente, a
submersão de muitas cidades litorâneas;

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


14
 o crescimento e surgimento de desertos, visto que o aumento da temperatura
provoca a morte de várias espécies animais e vegetais, e contribuem para o
desequilíbrio de vários ecossistemas. Somado ao desmatamento que vem
ocorrendo principalmente em florestas tropicais (como no Brasil e em vários
países africanos, por exemplo), a tendência é que aumente cada vez mais as
regiões desérticas do planeta;

 o aumento de furacões, tufões e ciclones, já que o aumento da temperatura faz


com que ocorra maior evaporação das águas dos oceanos, e desta forma
potencializam estes tipos de catástrofes climáticas;

 maior ocorrência de fortes ondas de calor, em especial sobre as regiões de


temperaturas amenas, como ocorre no verão europeu por exemplo, provocando a
morte de idosos e crianças.

A seguir aprofundaremos a discussão e análise sobre o impacto das mudanças climáticas


globais sobre o futuro da humanidade. Esta pode se direcionar para uma transformação
de hábitos mais sustentáveis ou para uma grave adaptação à escassez de recursos
essenciais para a vida de todos os seres, como a água e os alimentos, por exemplo.

@ Mídias Integradas

Para compreender um pouco mais sobre as conseqüências do


Aquecimento Global para o Brasil e para o mundo assista aos
documentários: “Uma verdade inconveniente – um aviso global”
(2006), dirigido por Davis Guggenheim e estrelado pelo ex-vice-
presidente dos EUA Al Gore. E ainda o documentário elaborado
pelo Grenpeace “Mudanças do clima, mudanças de vida” (2006),
dirigido por Todd Southgate e narração de Patrícia Palumbo,
disponível em http://www.greenpeace.org.br/clima/filme/home,
acessado em maio de 2010.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


15
8.3. O clima e o futuro da humanidade: transformação ou adaptação?

As mudanças climáticas globais, em especial a intensificação do efeito estufa e o


Aquecimento global, segundo alguns especialistas estão contribuindo para o
aquecimento do planeta e podem desencadear efeitos danosos ao meio ambiente e à
humanidade. Desta forma, uma importante discussão que está sendo feita na atualidade
envolve uma previsão sobre os cenários futuros do planeta e as possibilidades de
transformação de hábitos. Estes últimos amplamente defendidos e divulgados pelos
órgãos e atores ligados ao meio ambiente e à sustentabilidade. Ou ainda, em outro
cenário um pouco menos otimista, a humanidade teria que priorizar a adaptação às
novas condições do clima e de escassez de recursos. Já que o consumo não consciente e
desenfreado levaria fatalmente à diminuição ou até mesmo à extinção de espécies da

fauna e da flora e até mesmo de alguns recursos naturais importantes para a manutenção
da vida no planeta. E, ao abordar tal discussão o conceito de vulnerabilidade climática
e ambiental se coloca como crucial para compreender e apontar as possíveis deficiências
e limitações de recursos em cada região ou país, conforme as projeções climáticas feitas
pelos órgãos competentes.

Segundo FRANKE & HACKBART (2008), no Brasil as principais anomalias causadas


pelas mudanças no clima recairiam sobre as regiões menos providas de recursos
técnicos e financeiros. E entre estas temos: distribuição desigual e irregular do volume
anual de chuvas; aumento da vulnerabilidade às enchentes; aumento de extremos
climáticos e aridização; aumento do risco de fogo na Aridização: processo associado ao
Aquecimento global, no qual há uma
vegetação nativa, perda significativa de biodiversidade; tendência de extensão da deficiência
hídrica (estiagem) das regiões
alteração na produção de alimentos; impacto negativo na afetadas por praticamente todo o ano,
provisão de água para agricultura e geração de energia e tornando-as áridas. No Brasil, são
potenciais áreas de ocorrência deste
ampliação da extensão de epidemias como dengue e fenômeno, o Nordeste, o sul do Brasil
e a Amazônia. Fonte: Adaptado de
malária. ECOPRESS, disponível em
http://www.ecopress.org.br/noticias+
Assim, as populações mais pobres estariam mais com+baixa+repercussao/mma+apres
enta+estudos+sobre+mudancas+clim
vulneráveis a estes problemas climáticos, em especial às aticas+e+efeitos+sobre+a+biodiversi
dade, acessado em junho de 2010.
inundações, secas e à falta d’água. E no caso da América
Latina, a capacidade de adaptação da humanidade a estas
novas condições seria mais baixa em função da falta de recursos técnicos, do elevado
contingente de pessoas pobres e ainda do pouco desenvolvimento de alternativas que

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


16
possam suprir a ausência de determinados recursos. Tendo-se em vista que tais recursos
já se encontram escassos e inacessíveis para a maior parte deles, tais como a água e
alguns alimentos, o que os torna ainda mais vulneráveis.

Diante deste triste cenário, o estabelecimento de políticas públicas que promovam a


adaptação às vulnerabilidades ambientais e socioeconômicas negativas produzidas pelas
mudanças climáticas, em especial para estes países mais pobres, é crucial. No Brasil, tal
temática já passou a compor e a ganhar destaque como parte da agenda política dos
elaboradores e gestores públicos. De modo a tentar exercer maior pressão e
responsabilidade sobre as empresas privadas, e assim impor estratégias prioritárias para
a mitigação e redução dos impactos ambientais provocados por estas.

Neste contexto de elevada exploração e consumo dos recursos, característicos das


sociedades modernas e capitalistas, e da pouca ou incipiente transformação de hábitos
feita pelas empresas e até mesmo pela sociedade, infelizmente, para a maior parte dos
especialistas, a projeção defendida entre a transformação e a adaptação de hábitos recai
predominantemente para a segunda opção. Ou seja, a meta de agora em diante seria
buscar ações e soluções voltadas para a adaptação das populações e sociedades frente
aos efeitos de mudanças do clima, em geral considerando-se a ausência de determinados
recursos básicos, tais como a água potável, algumas espécies de peixes e diversos tipos
de alimentos, principalmente em caso de extremos climáticos.

E, em uma possibilidade mais otimista (porém remota), se houvesse um maior esforço


e direcionamento para a transformação de hábitos voltados para a sustentabilidade e
para a exploração equilibradas dos recursos disponíveis, há um consenso de que a luta
contra o aquecimento global somente seria vencida com a colaboração e maior empenho
de países como os EUA, China, Índia e Rússia. Visto que estes são considerados hoje os
maiores e principais emissores de gases poluentes e de gás carbônico para a atmosfera.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


17
Tal discurso, que defende a sustentabilidade e o uso
Relatório Stern: é um estudo
consciente dos recursos, já foi confirmado até mesmo por encomendado pelo governo Britânico
sobre os efeitos na economia mundial
diversos economistas e especialistas, visto que a das alterações climáticas nos
próximos 50 anos. Seu nome foi dado
sustentabilidade econômica deste tipo de exploração dos em homenagem ao seu coordenador,
Sir Nicholas Stern, economista
recursos naturais poderia prejudicar seriamente até mesmo a britânico do Banco Mundial. Este
economia destes países, como apontado no Relatório Stern. relatório, apresentado ao público no
dia 30 de Outubro de 2006, conclui
Este afirma que “ignorar a mudança climática levará, que com um investimento de apenas
1% do PIB Mundial se pode evitar a
inevitavelmente, a danos ao crescimento econômico”, perda de 20% do mesmo PIB num
prazo de simulação de 50 anos.
demonstrando a evidência de que um grande esforço deve Fonte: Adaptado de Wikipédia,
disponível em:
ser realizado para quantificar os custos econômicos da <http://pt.wikipedia.org/wiki/Relat%
mudança climática, em especial pelos países mais ricos e C3%B3rio_Stern>, acessado em
junho de 2010.
avançados. Ainda segundo este relatório, o custo final de
______________________________
uma mudança climática descontrolada poderia afetar em 5%
Agenda 21: Corresponde a um dos
a até 20% do PIB mundial a cada ano. principais resultados da conferência
Eco-92 ou Rio-92, ocorrida no Rio de
No próximo tópico abordaremos como as principais Janeiro, Brasil, em 1992. É um
documento que estabeleceu a
decisões e mudanças advindas dos principais eventos de importância de cada país a se
comprometer a refletir, global e
discussão climática ocorridos no planeta, a exemplo da localmente, sobre a forma pela qual
governos, empresas, organizações
ECO-92, o Protocolo de Kyoto e a COP-15, Conferência não-governamentais e todos os
realizada em Copenhague em 2009, têm repercutido na setores da sociedade poderiam
cooperar no estudo de soluções para
sociedade moderna atual, em especial após a criação da os problemas sócio-ambientais. Cada
país desenvolve a sua Agenda 21 e no
Agenda 21 e da ampliação da noção de sustentabilidade. E Brasil as discussões são coordenadas
pela Comissão de Políticas de
ainda apontar quais serão as diretrizes ambientais e Desenvolvimento Sustentável e da
Agenda 21 Nacional (CPDS). Ela se
climáticas para o século XXI ante ao contexto de elevado constitui num poderoso instrumento
consumo e degradação dos recursos naturais. de reconversão da sociedade
industrial rumo a um novo
paradigma, que exige a
reinterpretação do conceito de
progresso, contemplando maior
harmonia e equilíbrio holístico entre
o todo e as partes, promovendo a
qualidade, não apenas a quantidade
do crescimento. Fonte: Wikipedia,
disponível em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Agenda_2
1, acessado em maio de 2010.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


18

Saiba mais

Para saber mais sobre as modificações do clima e as


conseqüências do aquecimento global sobre o futuro do
planeta, leia o artigo “Mudanças climáticas globais:
passado, presente e futuro”. EEROLA, Toni Tapani
(2003), disponível em:
http://homologa.ambiente.sp.gov.br/proclima/artigos_dissert
acoes/artigos_portugues/mudancasclimaticasglobaispassadop
resenteefuturo.pdf

@ Mídias Integradas

Para maiores detalhes sobre as alterações climáticas e suas


conseqüências para o futuro da humanidade, visite o site do
CPTEC e assista à animação sobre Mudanças Ambientais
Globais, disponível em:
http://videoseducacionais.cptec.inpe.br/

8.4 Ações ambientais para um mundo mais sustentável: Conferência de


Estocolmo, Rio 92, Protocolo de Kyoto e Copenhague 2009 - do discurso às
ações

Durante a década de 1960, e em especial após o avanço da cartografia e do


sensoriamento remoto, diversos eventos e atores ligados ao meio ambiente surgem no
cenário mundial para tentar discutir e analisar os impactos provocados pelo homem à
natureza. Com o monitoramento integrado dos vários processos atmosféricos e
climáticos a partir do sensoriamento remoto da superfície terrestre, a humanidade pode
enfim ter uma visão mais integrada do planeta sob uma nova perspectiva global. Em
outras palavras, ela foi capaz de visualizar, diretamente de imagens obtidas do espaço,

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


19
os fortes impactos provocados pelo desmatamento, queimadas, poluição e outras
diversas ações provocadas por ela mesma sobre o planeta Terra.

Neste contexto, o modelo econômico capitalista baseado no “desenvolvimento” é


questionado, visto que o seu conceito – surgido no pós-guerra mundial – estava
fortemente associado à noção de crescimento econômico, demarcando o início da
chamada “era do desenvolvimento”. Tal qual proferido pelo Presidente norte-americano
Henri Truman, em 1947, o termo foi utilizado para acirrar a disputa entre o capitalismo
e o socialismo no início da Guerra Fria. Portanto, nota-se Agrobusiness: ou agronegócio, em
português, corresponde ao conjunto
que, desde o início, a noção de desenvolvimento vincula-se a de negócios relacionados à
agricultura e pecuária dentro do
um modelo baseado prioritariamente na otimização dos ponto de vista econômico e assim
inclui toda relação comercial e
setores econômicos, principalmente da indústria, em que a industrial envolvendo a cadeia
maior parte dos investimentos volta-se para as exportações, produtiva agrícola ou pecuária.
Fonte: Adaptado de wikipédia,
mecanização das práticas agrícolas, agrobusiness, disponível em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Agroneg
exploração predatória dos recursos naturais, entre outros, em %C3%B3cio, acesssado em junho de
2010.
detrimento da questão sócio-ambiental.

Em 1972 ocorre a Conferência de Estocolmo, promovida pela Organização das Nações


Unidas (ONU) e que reconhece a necessidade da conservação ambiental em equilíbrio
com o desenvolvimento industrial dos diversos países. Assim, um novo modelo de
desenvolvimento é criado, baseado na tríade “prudência ecológica, equidade social e
eficiência econômica”. Deste modo, novas reformulações do conceito de
desenvolvimento orientaram as diretrizes da ONU nos anos de 1980 e 1990,
essencialmente visando buscar estratégias de distribuição e
Desenvolvimento sustentável:
uma melhor repartição dos benefícios do crescimento da desenvolvimento capaz de suprir as
necessidades da geração atual, sem
economia global. E, na década seguinte, o Relatório comprometer a capacidade de atender
as necessidades das futuras gerações,
Brundtland, elaborado por uma comissão da ONU, foi a ou seja, é o desenvolvimento que não
responsável por introduzir o conceito de desenvolvimento esgota os recursos para o futuro. Essa
definição surgiu na Comissão
sustentável para as sociedades, preconizando a necessidade Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, criada pelas
de um desenvolvimento sócio-econômico com maior justiça Nações Unidas para discutir e propor
meios de harmonizar dois objetivos: o
social e em harmonia com os sistemas de suporte de vida no desenvolvimento econômico e a
conservação ambiental. Fonte:
planeta. Adaptada de WWF Brasil, disponível
em
Durante esta conferência também é elaborada a Agenda 21, <http://www.wwf.org.br/informacoes/
questoes_ambientais/desenvolvimento
que posteriormente se desdobraria em âmbitos globais, _sustentavel/>, acessada em junho de
2010.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


20
nacionais e locais, com o intuito principal de promover a melhoria da qualidade de vida
das populações. Esta foi elaborada visando atender as

necessidades básicas das sociedades sem que houvesse


comprometimento do suprimento de recursos naturais e da Compromisso intergeracional:
Compromisso firmado entre as
qualidade de vida das gerações futuras, compondo o gerações atuais em preservar o meio
ambiente e seus recursos,
chamado compromisso intergeracional. Este documento consumindo-os de nodo sustentável,
para que as gerações futuras também
reconhece a internacionalização dos problemas de possam usufruir destas com qualidade
crescimento demográfico e da pobreza e propõe que, para e igualdade.

solucioná-los, é necessário desenvolver programas


específicos locais e regionais associados a programas de meio ambiente e
desenvolvimento integrados. Contando com apoio nacional e internacional, e
organizado a partir de alianças e/ou parcerias realizadas entre o Estado, as empresas, as
ONGs e a própria sociedade civil (organizada ou não).

A própria ONU denomina a década de 1960 como a “Primeira Década das Nações
Unidas para o Desenvolvimento”, apostando na cooperação internacional para a
promoção de um crescimento econômico dos países subdesenvolvidos a partir da
transferência tecnológica e de vultosos empréstimos de fundos monetários para os
países periféricos. Contudo, apesar da ousadia do documento, os grandes problemas
levantados naquela ocasião ainda não foram solucionados e, como afirmam vários
autores, tais ações apenas contribuíram para aumentar as desigualdades e a dependência
econômica e tecnológica existente entre os países subdesenvolvidos em relação aos de
Primeiro mundo. A partir deste enfoque, fica fácil concordar com SACHS (1993) ao
afirmar que “a longa luta [contra os atuais padrões de consumo e desenvolvimento]
somente será vencida no dia em que for possível esquecer o adjetivo „sustentável‟ ou o
prefixo „eco‟ ao se falar em desenvolvimento.”

Exatamente trinta anos após a realização da Conferência de Estocolmo, a ECO-92 ou


Rio-92 - como também ficou conhecida a Conferência das Nações Unidas para o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD) - realizada em junho de 1992 na cidade do
Rio de Janeiro, teve como principal objetivo buscar meios de conciliar o
desenvolvimento sócio-econômico com a conservação e proteção dos ecossistemas da
Terra.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


21
Tal evento consagrou o conceito de desenvolvimento sustentável e contribuiu para
uma maior conscientização sobre os danos feitos ao meio ambiente, sendo que a maior
parte destes danos era de responsabilidade dos países desenvolvidos. Reconheceu-se, ao
mesmo tempo, a necessidade dos países em desenvolvimento receberem apoio
financeiro e tecnológico para avançarem na direção do desenvolvimento sustentável.
Naquele momento, a posição dos países em desenvolvimento tornou-se mais bem
estruturada e o ambiente político internacional favoreceu a aceitação pelos países
desenvolvidos de princípios como o das responsabilidades comuns, porém de modo
diferenciado para cada país. A mudança de percepção com relação à complexidade do
tema deu-se de forma muito clara nas negociações diplomáticas, apesar de seu impacto
ter sido menor do ponto de vista da opinião pública.

A principal diferença entre a Eco-92 e a Conferência de Estocolmo, pode ser traduzida


pela maior presença dos Chefes de Estado e representantes políticos dos países
participantes, o que indicava a importância atribuída à questão ambiental no início da
década de 1990.

Entre os principais documentos oficiais e proposições elaborados pela ECO-92 pode-se


citar: a Carta da Terra; as três convenções (Biodiversidade, Desertificação e Mudanças
Climáticas); uma declaração sobre os princípios das florestas; a Declaração do Rio
sobre Ambiente e Desenvolvimento; e a mais divulgada de todas: a Agenda 21, com o
qual cada país seria responsável por elaborar o seu próprio plano de preservação do
meio ambiente.

Cabe destacar que as ONGs que participaram da RIO-92 desempenharam um


importante papel de fiscalizadores da execução das definições feitas pelo evento no Rio
de Janeiro em 1992. E assim, passaram a pressionar os governos de todo o mundo a
cumprir as determinações da Agenda 21. De 23 a 27 de junho de 1997, em Nova Iorque
(chamada de "Rio+5"), foi realizada a 19ª Sessão Especial da Assembléia-Geral das

Nações Unidas, cujo objetivo era avaliar os cinco primeiros anos de implementação da
Agenda 21. O encontro identificou as principais dificuldades relacionadas à
implementação do documento, priorizou a ação para os anos seguintes e conferiu
impulso político às negociações ambientais em curso. Para os países em
desenvolvimento, contudo, o principal resultado da Sessão Especial foi a preservação

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


22
intacta do patrimônio conceitual originado na RIO-92. O documento final incorporou,
assim, uma "Declaração de Compromisso", na qual os chefes de delegação reiteravam
solenemente o compromisso de seus países com os princípios e programas contidos na
Declaração do Rio e na Agenda 21, bem como o propósito de dar seguimento a sua
implementação.

Por sua vez, o Protocolo de Kyoto, realizado em 1997 na cidade homônima do Japão,
estabeleceu metas para a redução da emissão de gases poluentes que intensificam o
"efeito estufa", com destaque para o CO2. Este protocolo é um acordo internacional que
visa a redução da emissão dos poluentes que aumentam o efeito estufa no planeta. Ele
entrou em vigor em fevereiro de 2005 e seu principal objetivo é contribuir para a
diminuição da temperatura global para os próximos anos. Neste evento, representantes
de centenas de países se reuniram para discutirem o futuro do nosso planeta e formas de
diminuir a poluição mundial, cujo documento resultante deste encontro é denominado
“Protocolo de Kyoto”. Tal documento estabeleceu que algumas propostas de redução da
poluição deveriam ser tomadas e além disso seria criada a Convenção de Mudança
Climática das Nações Unidas.

A maioria dos países participantes votou a favor do Protocolo de Kyoto, porém a sua
ratificação pelos países esbarrou na necessidade de mudanças na sua matriz energética.
Assim, os elevados custos recairiam principalmente sobre os países desenvolvidos, e em
especial sobre os Estados Unidos. O então presidente estaduniense, George W. Bush,
declarou em público que não achava correto submeter o avanço da economia norte-
americana aos sacrifícios necessários para a implementação das medidas propostas em
prol do meio ambiente. E por este motivo, os Estados Unidos – o principal emissor de
gases poluentes para a atmosfera – foi o único país que não ratificou o protocolo.

Em dezembro de 2007, a Conferência de Bali realizada na Indonésia, apresentou


alguns avanços sobre o evento no Japão. A Conferência da ONU sobre Mudança
Climática, após onze dias de debates e negociações, terminou com a concordância dos
Estados Unidos sobre a posição defendida pelos países mais pobres. E assim, ficou
estabelecido um cronograma de negociações e acordos para troca de informações sobre
as mudanças climáticas, entre os 190 países participantes. E, neste caso, as bases
definidas substituiriam as decisões tomadas no Protocolo de Kyoto, que vence em 2012.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


23
Nota-se então que ao contrário do que ocorreu na cidade japonesa, a Convenção das
Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, estabelecida a partir da Eco-92 e da
Agenda-21, foi ratificada pela maioria dos países. Isso porque esta última convenção
apresentou somente propostas para a restruturação das bases industriais e
socioeconômicas que deveriam ser adotadas pelos países para preservar o meio
ambiente, sem estabelecer prazos ou limites para a emissão de poluentes.

Em época mais recente, em dezembro de 2009 na Dinamarca, ocorreu a Conferência de


Copenhague, ou ainda o COP-15, que reuniu lideranças de todo o planeta. O objetivo
desse encontro era firmar acordos para frear o impacto das mudanças climáticas sobre
as sociedades, visto que esta já é considerada uma ameaça real e que já está em curso,
concebendo um novo tratado global sobre redução de emissões. A 15ª Conferência das
Nações Unidas sobre Mudança do Clima, como ficou denominada oficialmente, reuniu
os líderes de centenas de países do mundo, com o objetivo de tomarem medidas para
evitar as mudanças climáticas e o aquecimento global. Contudo, a conferência terminou
com um sentimento geral de fracasso, pois poucas medidas práticas foram tomadas. Isto
ocorreu, pois houve conflitos de interesses entre os países ricos, principalmente Estados
Unidos e União Européia, e os que estão em processo de desenvolvimento,
principalmente Brasil, Índia, China e África do Sul.

De última hora, um documento, sem valor jurídico, foi elaborado visando à redução de
gases do efeito estufa em até 80% até o ano de 2050. Houve também a intenção de
liberação de até 100 bilhões de dólares para serem investidos em meio ambiente, até o
ano de 2020. Os países também deverão fazer medições de gases do efeito estufa a cada
dois anos, emitindo relatórios para a comunidade internacional.

Desta forma, apesar de mais de 120 líderes e representantes mundiais terem


comparecido à Copenhague, a conclusão do evento, em especial para a opinião pública,
aponta para uma ineficiência em propor soluções concretas e eficientes para a
preservação ambiental, aumentando o desapontamento e a decepção sobre os seus
resultados.

Ficou claro que os chefes de Estado abandonaram a COP-15 sem declarações públicas e,
principalmente, sem cumprir seu mais essencial objetivo: evitar os efeitos perigosos das

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


24
mudanças climáticas. Um “acordo de Copenhague”, costurado por 30 dos quase
duzentos países que integram a Convenção do Clima, é incipiente e não representa uma
postura efetiva para controlar as alterações no planeta. Segundo diversos noticiários e
documentos, muitos países da América Latina, da África e de outros países classificados
como “em desenvolvimento” se recusaram a se associar ao texto, em uma clara
demonstração de repúdio. Visto que tal acordo determina que os esforços devem ser
feitos para manter o aumento da temperatura em menos de 2°C, e assim, a principal
atitude dos países ricos seria financianciar a ajudar aos países mais pobres a se
adaptarem ao aquecimento global.

O presidente americano Barack Obama afirmou logo depois de abandonar a conferência,


que o acordo de Copenhague representava a esperança de uma conclusão feliz de
negociações que estão apenas começando. Afinal, segundo ele, conseguir um acordo
com valor legal é “difícil” e toma tempo.

Saiba mais

Para obter mais detalhes sobre o desfecho do


Encontro em Copenhague (COP-15), realizado em
dezembro de 2009, leia o artigo publicado pelo
Greenpeace intitulado “Líderes do mundo fracassam
na COP15”, publicado em 19/12/2009 e disponivel em
http://www.greenpeace.org/brasil/greenpeace-brasil-
clima/noticias/l-deres-do-mundo-fracassam-na,
acessado em março de 2010.

Entretanto, simultaneamente ao fracasso do evento na Dinamarca, há que se destacar um


forte processo de articulação e mobilização social, ocorrido no Brasil e em todo o
planeta, através da internet e das redes virtuais, a exemplo da campanha TicTacTicTac,
que realizou uma contagem regressiva de 100 dias até o início da COP-15, envolvendo a
mobilização de milhares de pessoas para pressionar as lideranças governamentais a

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


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assumirem um acordo justo no encontro. Ao todo o movimento reuniu mais de 15
milhões de assinaturas e mobilizou cerca de cem mil pessoas na entrada do evento em
Copenhague.

Outro exemplo é a Campanha Global de Ações pelo Clima (GCCA), fruto de uma
aliança inédita entre ONGs, sindicatos, grupos e indivíduos com o objetivo de mobilizar
a sociedade civil e a opinião pública para que os governos tomem as decisões corretas
para combater as causas das mudanças climáticas. NASA: sigla equivalente a National
Aeronautics and Space
Tais atitudes são importantes na medida em que enfatizam a Administration, cuja tradução seria
Administração Nacional do Espaço e
necessidade de mudanças na relação homem-natureza. James da Aeronáutica ou Agência Espacial
Americana, e corresponde a uma
Hansen e sua equipe, vinculados à NASA, publicou uma
agência do Governo dos Estados
série de artigos que demonstram que precisamos diminuir a Unidos da América, criada em julho
de 1958, responsável pela pesquisa e
quantidade de carbono na atmosfera das atuais 387 partes por desenvolvimento de tecnologias e
programas de exploração espacial.
milhão para 350 ou menos. Isso se a sociedade global quiser Fonte: Wikipédia, disponível em <
http://pt.wikipedia.org/wiki/NASA>,
“manter um planeta semelhante àquele em que a nossa acessado em junho de 2010.
civilização se desenvolveu.”

Saiba mais

Para maiores detalhes sobre a campanha TicTacTicTac


e seus desdobramentos e mobilizações em prol do meio
ambiente e da justiça ambiental e social acesse o site
www.tictactictac.org.br.

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


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Resumo: Nesta aula abordamos que

- As mudanças climáticas são alterações que ocorrem no clima geral do planeta Terra e
podem ser provocadas por fenômenos naturais ou por ações antrópicas, e em geral são
verificadas através de registros científicos e outros elementos climáticos durante o
passar dos anos;

- Nas últimas décadas, o forte aumento da temperatura mundial é responsável pela


configuração do chamado Aquecimento global, gerado, em especial, pelo aumento da
poluição do ar e da emissão de gases poluentes como o CO2 e contribui para o
derretimento das calotas polares, para o aumento no nível de água dos oceanos, para a
desertificação e a aridificação de áreas tropicais;

- o El Niño e a La Niña representam uma alteração do sistema oceano-atmosfera que


ocorrem mais diretamente no Oceano Pacífico tropical, mas que geram conseqüências
no tempo e no clima em todo o planeta. O El Niño representa o aquecimento anormal
das águas superficiais e subsuperficiais do Oceano Pacífico Equatorial (atualmente mais
conhecido como ENOS) ao passo que durante a ocorrência da La Niña nota-se um
resfriamento anormal nas águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical, e que
favorece a ressurgência e a atividade pesqueira sobre a região;

- A intensificação do efeito estufa é um dos fenômenos climáticos mais divulgados e


temidos pela sociedade desde a realização das conferências sobre o meio ambiente,
realizadas a partir da década de 1960. Tal fenômeno é ocasionado principalmente pelo
lançamento de gases poluentes para a atmosfera, tais como o óleo diesel e a gasolina nos
grandes centros urbanos. E com o aumento demasiado das temperaturas globais,
poderão ocorrer sérios riscos ao homem e à natureza, comprometendo a sobrevivência
da maior parte dos seres vivos no planeta;

- Diante deste cenário, organismos internacionais, ONGs e governos de diversos países


já articulam medidas para reduzir a poluição ambiental e a emissão de gases para a
atmosfera, a exemplo da assinatura do Protocolo de Kyoto em 1997, que previa a
redução de gases poluentes para os próximos anos. Porém, países como os Estados
Unidos tem dificultado o avanço destes acordos ao alegarem que a redução da emissão
de gases poluentes pode dificultar o avanço industrial do país;

- Para os cientistas, o aquecimento global está associado às alterações climáticas


desencadeadas em ampla escala, e ocorre a partir da alteração das paisagens provocadas
pelo homem sobre a natureza, sobretudo após a Revolução Industrial e a urbanização
das cidades, ocorridas a partir do século XVII até os dias atuais.

- A previsão sobre os cenários futuros do planeta recaem para dois caminhos: a


transformação de hábitos ou a adaptação da humanidade às novas condições do clima e
de escassez de recursos, e infelizmente, a segunda opção é a mais próxima da realidade
atual diante do contexto de elevado consumo e desgaste dos recursos naturais;

- Estudos sobre os efeitos do Aquecimento Global apontam que as principais anomalias


causadas pelas mudanças no clima recairiam sobre as regiões menos providas de
recursos técnicos e financeiros, incluindo o Brasil, o que tornaria as populações mais

Climatologia – Carolina Dias de Oliveira – Aula 8


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pobres ainda mais vulneráveis aos efeitos climáticos, tais como inundações, secas, falta
d’água e alimentos;

- A partir de uma visão integrada dos vários processos atmosféricos e climáticos, em


especial após o desenvolvimento da cartografia e do sensoriamento remoto, a
humanidade passa a ver o planeta sob uma nova perspectiva global. E, na década de
1960, iniciam-se diversos eventos de âmbito mundial voltados para a defesa do meio
ambiente e que buscavam analisar e solucionar (ou amenizar) os impactos provocados
pelo homem à natureza;

- Em 1972 ocorre a Conferência de Estocolmo, promovida pela ONU, que reconhece a


necessidade da conservação ambiental em equilíbrio com o desenvolvimento industrial
dos diversos países e, com a elaboração do Relatório Brundtland, introduz o conceito de
desenvolvimento sustentável, Agenda 21 e o compromisso intergeracional;

- Trinta anos mais tarde, em 1992, foi realizada a ECO-92 ou Rio-92 e que teve como
principal objetivo buscar meios de conciliar o desenvolvimento sócio-econômico com a
conservação e proteção dos ecossistemas da Terra, contando com uma maior presença
dos Chefes de Estado e representantes políticos dos países participantes;

- Em 1997 é oficializado o Protocolo de Kyoto, compondo um acordo internacional cujo


principal objetivo era contribuir para a diminuição da temperatura global para os
próximos anos através do estabelecimento de metas para a redução da emissão de gases
poluentes para a atmosfera, todavia não foi colocado em prática como esperado, visto
que a sua ratificação pelos países esbarrou na necessidade de mudanças na sua matriz
energética;

- Em dezembro de 2007, a Conferência de Bali estabelece que as propostas para a


restruturação das bases industriais e socioeconômicas adotadas pelos países para
preservar o meio ambiente poderiam ser feitas sem o estabelecimento de prazos ou
limites para a emissão de poluentes, sustituindo as bases e decisões tomadas no
Protocolo de Kyoto;

- E em dezembro de 2009, a Conferência de Copenhague ou COP-15, realizada na


Dinamarca, reuniu lideranças de todo o planeta, cujo objetivo era firmar acordos para
frear o impacto das mudanças climáticas sobre as sociedades, concebendo um novo
tratado global sobre redução de emissões. Todavia, a conferência terminou com um
sentimento geral de fracasso, pois poucas medidas práticas foram tomadas.

- E, por fim, destaca-se que, mesmo com o fracasso da COP-15, um forte processo de
articulação e mobilização social, ocorrido em todo o planeta pela internet e redes
virtuais, se mostrou relevante para pressionar as lideranças governamentais a tomar
decisões corretas para combater as causas das mudanças climáticas, tais como a
campanha TicTacTicTac e a Campanha Global de Ações pelo Clima (GCCA), fruto
de uma aliança inédita entre ONGs, sindicatos, grupos e sociedade civil, enfatizando a
necessidade de alteração na relação homem-natureza.

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Referências Bibliográficas

CAMPANHA TICTACTICTAC, disponível em http://www.tictactictac.org.br,


acessado em março de 2010.

CHUVA ÁCIDA, disponível em <http://www.suapesquisa.com/chuvaacida>, acessado


em 15/01/2010.

CPTEC/INPE, disponível em <http://enos.cptec.inpe.br/saiba/Oque_el-nino.shtml> e


<http://www.inga.ba.gov.br/cemba/modules/conteudo/index.php?content_id=76>, aces-
sado em março de 2010.

EFEITO ESTUFA, disponível em <www.suapesquisa.com/efeitoestufa/>, acessado em


15/01/2010.

FRANKE & HACKBART. Mudanças Climáticas: Vulnerabilidades Socioeconômicas e


Ambientais e Políticas Públicas para a Adaptação no Brasil. In: IV Encontro Nacional
da Anppas, Brasília-DF: junho de 2008, 26p.

LAGO, André Aranha Corrêa do. Estocolmo, Rio, Joanesburgo - O Brasil e as três
conferências ambientais das Nações Unidas. Brasília-DF: IRBr/FUNAG, 2007, 1ª
edição, 276 páginas.

SACHS, Ignacy. Estratégias de Transição para o século XXI: desenvolvimento e


meio ambiente. Prefácio: M. F. Strong ; trad. Magda Lopes. São Paulo: Studio Nobel:
Fundação do desenvolvimento administrativo (FUNDAP), 1993.

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