TRIBUNAL DO JURI: considerações sobre o novo procedimento
INTRODUÇÃO
A presente monografia tem como tema central algumas considerações
sobre Tribunal do Júri. O objetivo geral deste trabalho é o de analisar o Tribunal do Júri considerando seu novo procedimento a partir da reformulação com a Lei 11.689/08. A lei 11.689 que entrou em vigor em 09 de agosto de 2008, traz em seu bojo expressivas alterações no processo judicial dos crimes dolosos contra a vida, consumados ou tentados, cujo julgamento é realizado pelo conselho de sentença, constituído de Juízes leigos, escolhidos dentre os cidadãos comuns, pessoas do povo, para julgar os seus pares, sendo esta bela instituição chamada de Tribunal do Júri. Com o advento desta Lei os principais comandos normativos deste instituto foram mantidos, adicionando-se, porém, outros comandos, dentre os quais se destacam: legitimidade do assistente do Ministério Público (MP) para requerer o desaforamento, suspensão do julgamento pelo relator, distribuição imediata do pedido de desaforamento, desaforamento em virtude do excesso de serviço, incidente de aceleração do julgamento previsto no art. 428 em seu § 2º e a impossibilidade de desaforamento na pendência de recurso contra a decisão de pronúncia. Esses comandos permanecem, inclusive, no anteprojeto de reforma do CPP, nos arts. 329 e 330. Entre as principais alterações destacam-se: a revogação do protesto por novo júri; a previsão legal temporal para conclusão da instrução criminal de 90 (noventa) dias; extinção do libelo acusatório; alteração da ordem das perguntas, onde se estabeleceu uma ordem a ser seguida e a criação da nova audiência de instrução concentrada, Julga-se de importante relevância a abordagem sobre a Instituição do Tribunal do Júri após o novo procedimento instituído com a Lei 11.689 devido à crescente globalização que torna necessária uma maior compreensão da história e do estado atual da instituição no Brasil. 1 TRIBUNAL DO JÚRI
1.1. Características Gerais
Júri é o tribunal em que cidadãos, previamente alistados, sorteados e
afinal escolhidos, em sua consciência e sob juramento, decidem, de fato, sobre a culpabilidade ou não dos acusados, na generalidade das infrações penais. É a instituição popular a que se atribui o encargo de afirmar ou negar a existência do fato criminoso imputado a uma pessoa. Compõe-se, o tribunal, de um juiz de direito, que é o seu presidente, e de vinte e um jurados que se sortearão dentre os alistados, sete dos quais constituirão o Conselho de Sentença em cada sessão de julgamento. Se o cidadão recusar ao serviço do júri, invocando profissão de fé religiosa ou convicções político-filosóficas, perderá os direitos políticos. O exercício efetivo da função de jurado constituirá serviço público relevante, estabelecerá presunção de idoneidade moral e assegurará prisão especial, em caso de crime comum, até o julgamento definitivo, bem como preferência, em igualdade de condições, nas concorrências públicas. Formado o Conselho de Sentença, o tribunal do Júri é identificado como um colegiado compreendendo os jurados integrantes daquele Conselho e o Juiz Presidente, que figuram como sujeitos processuais principais da relação jurídico-processual que é em plenário desenvolvia. Dissolvido o Conselho de Sentença, reassume, isoladamente, o Juiz singular, a posição de sujeito processual.
TRIBUNAL DO JÚRI NO MUNDO.
O Tribunal do Júri é uma das instituições mais antigas do processo
judicial, porém até o dia de hoje discuti-se sua origem histórica. Para José Frederico Marques, o Júri teria nascido na Inglaterra depois que o Concílio de Latrão aboliu as ordálias e os juízos de deus. Já para Walter P. Acosta a origem do Júri nasceu desde às primeiras épocas da humanidade: “qualquer que fosse a dúvida levantada nas tribos errantes, sem leis positivas e autoridades permanentes, a decisão era proferida pelos pares dos contendores”. No mesmo sentido, Firmino Whitaker retrocede ao tempo das mais remotas tribos e diz: “O júri em sua simplicidade primitiva, remonta às primeiras épocas da humanidade.” Já Manoel da Costa Santos, refere que há indícios da existência do Júri na Lei de Moisés, e Rogério Lauria Tucci , dentre os autores contemporâneos, refere à existência de antecedentes da Instituição do Júri na lei Mosaica, nos Sikastas, na Heliéia ou no Areópago gregos, assim como nos primitivos germanos. Para ele a gênese do Tribunal do Júri encontra-se em Roma, já no período do sistema acusatório, reclamando certa estruturação no julgamento do indivíduo por seus pares, com observância de regras previamente estabelecidas. Continuando Tucci dizia que o exercício da justiça Atheniense já havia a escolha de cidadãos designados para julgar coletivamente os pares, sendo exigido, como requisitos, apenas idade de trinta anos, reputação ilibada e quitação plena do tesouro público. Discordando dessa origem, De Plácido e Silva, afirma que a origem da instituição do Júri é inglesa, uma vez que o vocábulo júri deriva do inglês jury, palavra de formação latina que vem de jurare que significa fazer juramento. Em outra linha, Rogério Lauria Tucci afirma que o embrião do tribunal popular, que recebeu a denominação corrente de tribunal do júri, se encontra em Roma, no segundo período evolutivo do processo penal, qual seja o do sistema acusatório, consubstanciado nas questiones perpetue. Rui Barbosa conclui: “de todas as instituições humanas, a do julgamento pelos pares, pelos iguais, parece a mais antiga”. O entendimento, quase que dominante em relação ao Tribunal do Júri é que: “O júri em sua simplicidade primitiva, remonta às primeiras épocas da humanidade. Qualquer que fosse a dúvida levantada nas tribos errantes, sem leis positivas e autoridades permanentes, a decisão era proferida pelos pares dos contendores”. TRIBUNAL DO JÚRI BRASILEIRO
No Brasil, o júri aparece pela primeira vez em 18 de junho de 1822,
instituído pelo Príncipe Regente Don Pedro para julgamento dos crimes de opinião ou de imprensa.
“pelo príncipe Regente Don Pedro um pouco antes da Proclamação
da Independência em 1822, composto por juízes de fato que se encarregavam de julgar exclusivamente os abusos quanto à liberdade de imprensa. A partir daí, evolui bastante e passou por diversas transformações legislativas, enfrentando até mesmo o desprezo protagonizado pela Carta de 1937”.
É de destacar-se, que a atual Constituição Federal, em um momento
ímpar de reabertura democrática no Brasil, fez garantir a inatacabilidade do Tribunal do Júri, fixando-o como direito fundamental, estampado no art. 5º, XXXVIII: Art. 5º, XXXVIII. É reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos
A primeira reunião teria acontecido em 25 de junho de 1825, para
julgamento do crime de injúrias impressas. Conforme Almeida Júnior, naquele momento, o Júri era composto por vinte e quatro cidadãos. Escolhidos entre os homens bons, honrados, inteligentes e patriotas, que funcionariam como juízes de fato, cabendo apelação da sentença nos casos e pelo modo que os Códigos determinarem. Próximo ao modelo francês foram os jurados incumbidos do julgamento de fato, conforme art. 152 da mesma Constituição: Os jurados pronunciam sobre o fato e os juízes aplicam a lei. Em 1937, com a Constituição do Estado Novo, o Júri deixou de ser referido, suscitando posicionamento em torno da idéia de extinção. Em 1938, perdeu a soberania, que foi reconquistada na Constituição de 1946 e mantida em 1967. Essa mesma soberania, no entanto, não foi referida na emenda de 1969, ressuscitado o debate em torno da permanência da instituição. Antes do início da elaboração do projeto de Código de Processo Penal, uma comissão elaborou um outro projeto sobre a reforma da instituição do júri, que se transformou no Decreto-Lei nº 167/ 38, de 5 de janeiro de 1938. Para José Henrique Pierangelli, esse decreto foi o primeiro diploma legislativo de processo penal elaborado para todo o Brasil após a unificação do direito processual. O referido Decreto restringiu a competência do Tribunal do Júri aos crimes de homicídio, infanticídio, induzimento ou ajuda ao suicídio, duelo com morte e latrocínio, sendo excluído o aborto. O mesmo Decreto, pela primeira vez, trouxe permissão de reforma das decisões do Júri pelos tribunais de apelação, quando manifestamente contrárias às provas dos autos. 20 As constituições de 1891, de 1946, de 1967, bem como a emenda 1, de 1969, colocam o Júri no rol dos Direitos e Garantias Individuais. Atualmente, Tribunal do Júri tem competência para os crimes dolosos contra a vida: homicídio, induzimento ao homicídio, a instigação ou auxílio a suicídio, o infanticídio e o aborto, nos termos do art. 74 e parágrafo 1º, do CPP, além dos demais crimes que com aqueles guardem conexão, conforme art. 78, I, do mesmo Código, tratando-se de competência definida em razão da matéria (ratione materiae), que, não sendo observada, acarreta a nulidade absoluta do julgamento. Observa-se, que o Tribunal do Júri sempre objetivou a ampla participação popular na administração da Justiça, a fim de deter a influência dos detentores do poder no que se refere ao poder punitivo, possível de ocorrer sobre o juiz integrante da estrutura do Estado, mas inacessível ao cidadão jurado, que o julgamento tende a ser racional e de acordo com as provas efetivamente existentes e apresentadas pelas partes, bem como nos fundamentos por elas expostos, quanto a melhor solução em prol dos interesses coletivos. Nesse sentido, o julgamento popular não deve se apegar com exagero a construção jurídica existente, mas sim auferir o juízo de reprovabilidade social com relação à determinada conduta. Assim a lei deve ser um limitador ao poder punitivo, jamais uma determinação taxativa de punição, na medida que o seu conteúdo também seja passível de manipulação por quem exerce o poder político. Abel Tesse El,sobre a matéria diz: “O exercício da Democracia é presente, de forma destacada, no Júri, lugar no qual o cidadão, representando a sociedade, diretamente afirma o seu posicionamento quanto a determinado fato submetido à sua análise, sem intermediários, na paz de sua consciência e na busca de auxiliar na construção de uma sociedade mais justa”.
Características marcantes do Tribunal do Júri Brasileiro
Aproximadamente em 1215, na Inglaterra, surge o júri contrapondo-se
ao arbítrio de julgamentos individuais. A idéia básica do júri é que o cidadão seja julgado por seus iguais, por homens que expressam o pensamento da comunidade e, assim, conheçam o réu. Mas prevalece o conceito segundo o qual um grupo de cidadãos honrados, na pluralidade de suas idéias, pode apreciar melhor um delito e sobre ele se pronunciar. Instituído em nosso país em 18 de junho de 1822, o júri aparece para crimes de imprensa. Na constituição imperial de 1824 o júri aparece com atribuições para julgar todas as causas. Mais tarde passou a apreciar apenas as causas criminais e assim veio evoluindo até os dias atuais. No Brasil, consiste como traço marcante do Tribunal do júri a divisão dos poderes, que são conferidos a um juiz togado, para lavrar a sentença, e aos jurados, com exclusividade o poder de julgar. Nesta divisão apresenta-se o fato específico que qualifica o júri. Consiste, então, em uma instituição destinada a tutelar o direito de liberdade. Muito bem explica o sentido do júri a expressão de soberania, uma vez que nenhum Órgão Jurisdicional pode sobrepor-se às decisões deste e muito menos podemos ter tal decisão dos jurados substituída por outra sentença sem esta base de soberania. Forte discussão nota-se em nossa doutrina uma vez que se apresenta como argumento de que se poderia ter outra sentença com base no artigo 593 do nosso código de processo penal que permite que a instância superior, com base em decisão contrária às provas dos autos, determine novo julgamento. Tendo em vista que as Constituições vêm mantendo este instituto no capítulo dos direitos e garantias fundamentais, e que se o réu for absolvido, esta mesma corrente doutrinária entende que deve ser revogado tal artigo uma vez que a acusação não poderá apelar que a decisão foi contrária as provas contidas nos autos. Conforme o parágrafo 3º deste artigo já citado, se anulado o julgamento por tal motivo e, posteriormente, em novo júri obter-se mesma decisão, impossível ter uma segunda apelação pelo fato de ser soberana a decisão do Tribunal leigo. Entretanto, o princípio da soberania ficará abalado, pois sendo soberana a decisão em segundo plano como não o foi em primeiro? Tem-se, então, uma verdadeira confusão. Surge a correção de iniqüidade onde dar-se-á ao Tribunal popular uma oportunidade para a correção que desprezando nada mais poderá ser feito sobre a édige da soberania. Enfim, diante de tais traços de nosso Tribunal, que para o presente trabalho representam apenas curiosidades no modelo brasileiro, a absolvição ou condenação representa sempre, acima de tudo, justiça! Sem grandes conjecturas, sete cidadãos, com os conhecimentos naturais que lhes foram dados, decidirão se tal cidadão merece uma nova chance, e ao decidirem, considerarão evidentemente se a sociedade poderia recebê-lo de volta, por ser produtivo e, principalmente, suscetível a erros, pela sua própria essência humana e não técnica.
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