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DIÓGENES GOMES
CAPÍTULO 4
4. Introdução
4.1. Conceituação de transgressão disciplinar
4.2. Como identificar se uma punição é ilegal?
4.3. O que é o habeas corpus?
4.4. É possível impetrar habeas corpus contra punição disciplinar ilegal?
4.5. É necessário esgotar as vias administrativas para somente após impetrar habeas corpus?
4.6. Qual órgão do Poder Judiciário é competente para analisar o habeas corpus contra punição
disciplinar imposta aos militares das Forças Armadas?
4.7. Policiais e Bombeiros militares: competência da Justiça Militar Estadual para processar e
julgar o habeas corpus contra punição disciplinar
4.8. Quem pode impetrar (ajuizar) um habeas corpus? É obrigatória a contratação de um
Advogado? Há despesas com o Poder Judiciário?
4.9. Como elaborar uma petição de habeas corpus?
4.9.1. Espécies de habeas corpus: preventivo e liberatório
4.9.2. Quem é a autoridade coatora na habeas corpus?
4.9.3. Quais os documentos necessários para juntar à petição inicial do habeas corpus?
4.9.4. Como ajuizar o habeas corpus perante o Poder Judiciário?
4.9.5. Modelos simples de petições de habeas corpus
4.9.6. A liminar em sede de habeas corpus
4.10. Recursos em caso de indeferimento da petição inicial ou denegação da ordem de habeas
corpus?
4.11. A autoridade coatora está passível de ser processada criminalmente por algum crime,
caso a prisão disciplinar seja considerada ilegal pelo Poder Judiciário?
4.12. É possível obter indenização por danos morais devido à prisão disciplinar ilegal?
4.13. Relação dos endereços do Supremo Tribunal Federal e das principais Varas Federais
(Justiça Federal) para impetração do habeas corpus
4.14. Conclusão
Esta é uma cortesia do Dr. Diógenes Gomes a todos os militares deste País.
O site do autor é: www.diogenesadvogado.com
Visite o site de Pernambuco: www.militaresdepernambuco.com.br
Visite a Revista do Direito Militar: www.revistadodireitomilitar.com
O livro completo pode ser adquirido no seguinte site:
www.editoradfjuridica.com
4. INTRODUÇÃO
Durante os últimos anos de minha carreira militar, vários foram os habeas corpus ou writ104 por
mim impetrados contra punições disciplinares ilegais e arbitrárias, sendo que em muitos obtive
vitória. Ocorreu, entretanto, que um deles acabou por atingir um Coronel da Força Aérea Brasileira –
Comandante de uma Base Aérea – que foi processado pelo crime de abuso de autoridade por ter me
prendido ilegalmente com 06 (seis) dias de prisão disciplinar, e atualmente está cumprindo um
“acordo criminal” proposto pelo MPF (ver anexo 1).
No decorrer deste tópico citarei exemplos práticos, demonstrando, inclusive, matérias
jornalísticas, documentos oficiais e decisões judiciais, ressaltando que não pretendo ofender qualquer
militar das Forças Armadas ou mesmo a Instituição. Meu objetivo é unicamente dar esclarecimentos
aos militares, estudantes e Advogados, sobre o instituto do habeas corpus nas transgressões
disciplinares militares, e nada melhor do que estudar um assunto com exemplos práticos que
funcionaram comigo quando militar da Aeronáutica.
Alguns poderão, desde logo, ter feito o seguinte questionamento: mas isso não vai “me queimar”,
não vai atrapalhar minha carreira, não vou ser perseguido se impetrar um habeas corpus contra meu
superior hierárquico, etc., etc.??? É possível sim!!! Assim como será possível, também, que este
superior hierárquico tenha grandes “dores de cabeça”105 com um processo criminal por abuso de
autoridade: isso acaba com a carreira de qualquer Oficial, ainda mais quando desejam passar do
posto de Coronel.
Porém, existe um meio do militar ficar imune às perseguições, pelo menos na teoria: qualquer
pessoa pode impetrar habeas corpus em favor de um militar preso: esposa, filho, colega, primo ou
desconhecido (isso mesmo, até pessoas estranhas: não há necessidade de procuração para terceiros
impetrarem habeas corpus).
A prisão disciplinar ilegal, arbitrária ou abusiva pode gerar, pelo menos, 02 (duas)
conseqüências, que serão discorridas no decorrer deste tema: a) a autoridade militar que abusou de
sua autoridade, agindo ilegalmente, quando ordenou a prisão disciplinar do militar estará passível de
ser processada106 e julgada por crime de abuso de autoridade e b) o militar preso ilegalmente poderá
requerer indenização por danos morais na Justiça Federal.
Pretendo que, após a leitura deste capítulo, qualquer pessoa, civil ou militar, possa elaborar e
ajuizar uma ação de habeas corpus perante ao Poder Judiciário. E, como sempre, utilizarei a linguagem
mais simples possível e caso tenha que utilizar termos técnicos, farei esclarecimentos: este livro é
dirigido, especialmente para leigos (militares e civis) e não voltado para a seara acadêmica, logo a
linguagem tem que ser simples e será este meu objetivo. Também não discorrei sobre o histórico do
instituto do habeas corpus, como origem, desenvolvimento e teorias, por exemplos, pois este livro é,
conforme o título, um manual prático. Todavia, caso o leitor queira se aprofundar no tema, bastará
recorrer aos livros disponíveis em livrarias ou bibliotecas públicas.
E por último uma reflexão: já pararam para pensar porque a Aeronáutica, Exército e Marinha
não divulgam nos Boletins Oficiais a íntegra das decisões judiciais que favorecem os militares? Mas,
entretanto, já repararam que quando a decisão é desfavorável ao militar, divulgam a íntegra da mesma?
104
Writ é uma expressão inglesa utilizada no direito brasileiro, comumente, para identificar o mandado de segurança, o habeas
corpus e o habeas data.
105
É possível até mesmo a perda do posto.
106
Prevê o art. 41 do Estatuto dos Militares: “Art. 41. Cabe ao militar a responsabilidade integral pelas decisões que tomar, pelas
ordens que emitir e pelos atos que pratica.”.
Há militares que acreditam que somente o militar poderá cometer delitos penais militares, o
que não é verdade, pois há crimes militares que poderão ser cometidos por civis110.
As transgressões disciplinares estão previstas nos regulamentos militares111, sendo que a
conceituação mais recente é a fornecida pelo Regulamento do Exército que muito se aproxima das
garantias constitucionais de 1988. Ou seja, está em mais harmonia com a CF/88, já os regulamentos
da Marinha e Aeronáutica foram elaborados quando o País estava sob a Ditadura Militar.
Então vejamos o art. 14 do Decreto nº 4.346/02:
“Art. 14. Transgressão disciplinar é toda ação praticada pelo militar contrária aos
preceitos estatuídos no ordenamento jurídico pátrio ofensiva à ética, aos deveres
e às obrigações militares, mesmo na sua manifestação elementar e simples, ou,
ainda, que afete a honra pessoal, o pundonor militar e o decoro da classe.
§ 1º Quando a conduta praticada estiver tipificada em lei como crime ou
contravenção penal, não se caracterizará transgressão disciplinar.
...”
O § 1º faz uma importante ressalva, onde esclarece que se a transgressão estiver também
tipificada como crime ou contravenção penal, não estará caracterizado a falta disciplinar, mas sim o
crime ou a contravenção.
Vejamos um exemplo do próprio regulamento do Exército que no caso é o inciso 12 do anexo
I (Relação de Transgressões):
107
A transgressão disciplinar é um “delito” administrativo.
108
Crime Militar é o delito penal especial definido no Código Penal Militar de 1969. (Elaborado pelos Ministros da Aeronáutica,
Exército e Marinha em pleno auge máximo da Ditadura Militar, assim como seu Código de Processo Penal Militar, sendo um
Código muito “severo”).
109
LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar. Editora Brasília Jurídica, 2006. 3ª edição. pág. 56.
110
Não me aprofundarei nesta questão, talvez em outro livro, mas dou exemplos de 02 (dois) clientes civis que estão sendo
acusados por cometimento de crime militar e estão sendo defendidos por mim na 7ª Circunscrição da Justiça Militar (Recife/PE).
111
Marinha: Decreto nº 88.545/83 - Exército: Decreto nº 4.346/02 - Aeronáutica: Decreto nº 76.322/75.
Desta forma, se o militar, por exemplo, desrespeitar uma ordem judicial, praticará, em tese, o
delito penal previsto no art. 330 e não transgressão disciplinar.
Primeiramente, deve-se, desde já, deixar muito bem esclarecido que não é possível questionar
o mérito da punição112 disciplinar perante o Poder Judiciário. Ou seja, não é cabível questionar se a
punição foi justa ou injusta: isso não é possível, pois é matéria atinente somente à Administração
Castrense, é uma questão discricionária das Forças Armadas e das Forças Auxiliares (Polícia e
Bombeiros Militares).
Celso Antônio Bandeira de Mello113 assim conceitua o que seja um ato discricionário:
“Atos vinculados seriam aqueles em que, por existir prévia e objetiva tipificação
legal do único possível comportamento da Administração em face de situação
igualmente prevista em termos de objetividade absoluta, a Administração, ao
expedi-los, não interfere com apreciação subjetiva alguma.”
Mas, então, o que isso tudo quer dizer? Significa que o superior hierárquico detém poderes
discricionários para avaliar a transgressão disciplinar e poder decisório sobre a mesma. Entretanto,
àquele está obrigado a cumprir certas regras discriminadas nos regulamentos, na CF/88 e demais
112
O Advogado poderá ser contratado para acompanhar todo o processo administrativo disciplinar, acompanhando o depoimento
do militar, requerer diligências e cópias dos autos, arrolar testemunhas, elaborar a defesa técnica, recursos, etc.
113
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. Malheiros Editora: São Paulo, 2002. 14ª ed., pág. 380.
114
Os regulamentos das Forças Armadas e alguns das Forças Auxiliares poderão ser visualizados no meu site www.diogenesadvogado.com
(link “Manual Prático do Militar”).
“Art. 34. Nenhuma punição será imposta sem ser ouvido o transgressor e sem
estarem os fatos devidamente apurados.
...
5 - Os detidos para averiguações podem ser mantidos incomunicáveis
para interrogatório da autoridade (grifo meu) a cuja disposição se achem. A
cessação da incomunicabilidade depende da ultimação das averiguações
procedidas com a máxima urgência, não podendo, de qualquer forma, o período
de incomunicabilidade ser superior a quatro dias.”
Caso o Advogado seja proibido de comunicar-se com seu cliente militar ou impedido de
participar de audiência de interrogatório de algum processo administrativo disciplinar e o cliente vier
a ser punido ou estar na iminência de o ser; será possível ao Judiciário analisar o mérito da punição
ou de sua iminência através do habeas corpus liberatório117 ou preventivo.
115
Quando citar a palavra “norma” neste livro, estarei me referindo, genericamente, a qualquer portaria, decreto, lei ordinária, lei
complementar, CF/88, tratado internacional, etc.
116
E estará, também, cometendo o delito de abuso de autoridade contra o exercício profissional da Advocacia, nos termos do
art. 2º, letra “a” da Lei nº 4.898/65.
117
No decorrer deste capítulo há um tópico especial para definir as modalidades do writ.
b) SEGUNDO: verificar se a norma porque está sendo punido é legal, ou seja, se está em
consonância com norma legal superior. Exemplo: o RDAER é um decreto120, logo, se algum
dispositivo desta norma for contrário a CF/88 ou outra norma superior, a aplicação da punição
será ilegal. Certa vez fui punido por não ter esgotado previamente a esfera administrativa antes
de impetrar um habeas corpus, ou seja, fui acusado de ter descumprido o art. 51, § 3º, do
Estatuto dos Militares (Lei nº 6.880/80). Porém, esta norma militar não foi recepcionada pela
CF/88, logo, a punição imposta era ilegal (ver capítulo 5), onde, inclusive foi deferida liminar,
com expedição de alvará de soltura, sendo que a autoridade coatora (Coronel) foi processada
por crime de abuso de autoridade (ver anexo 8). O MPF também fez uma recomendação ao
Coronel, conforme se poderá averiguar na notícia (ver anexo 15) publicada no Jornal de Hoje
(Natal/RN).
Em relação à parte processual do processo administrativo, em regra, será ilegal qualquer ato
que descumpra o preceito constitucional à ampla defesa e ao contraditório no âmbito administrativo,
conforme disposição contida no inciso LV do art. 5º da CF/88:
118
É possível, também, impetrar habeas corpus em relação à execução da pena disciplinar, pois esta poderá estar sendo abusiva
e darei um exemplo ocorrido comigo na Base Aérea do Recife: em 2006 fui preso disciplinarmente por 6 (seis) dias no Hotel
de Trânsito dos SO e SGT e o Comandante da OM ordenou aos seus Oficiais que me acordassem de hora em hora durante toda
noite durante os 6 (seis) dias! Isso mesmo, tortura psicológica!!! Ocorreu, entretanto, que na mesma noite preparei (escondido)
um habeas corpus escrito à mão e consegui passar para um colega de farda dar entrada (dei-lhe as mesmas orientações que faço
neste capítulo) na Justiça Federal e que após entregasse uma cópia no Ministério Público Federal. Ocorreu, que no dia seguinte:
um Juiz Federal marcou uma audiência com o Comandante da OM (que faltou!) e comigo (imaginem como as autoridades
militares ficaram). À época houve grande resistência de me levarem para frente do Juiz Federal, sendo que até ordem de prisão
contra o Ex-Comandante da BARF havia sido expedida pelo Juiz Federal, não sendo cumprida porque a Aeronáutica me levou
para a Justiça Federal a tempo! Na audiência estava um Advogado da União e o Procurador da República (Ministério Público
Federal) que recebeu a cópia da petição de habeas corpus escrita à mão. Nesta audiência judicial, o Juiz me perguntou se era
verdade que eu estava sendo acordado de hora em hora, e quando confirmei este fato, foi concedida liminar a fim de que
parassem de me acordar de hora em hora. O que aconteceu com este Comandante da BARF? Teve e ainda está tendo muitas
dores de cabeça: foram abertos inquéritos policiais, representações por abuso de autoridade, tortura, e sabe-se lá o que mais.
Numa outra oportunidade, noutro livro, quem sabe, faça uma narrativa dos fatos que ocorreram na BARF e com este Coronel.
Leitores, percebam, então, o poder de um habeas corpus escrito à mão e sem livros por perto (foi um writ simples de 3 folhas)
119
Se quiser que alguma testemunha seja ouvida ou algum documento em posse da Administração Militar seja juntado aos
autos do processo disciplinar, faça tal pedido explicitamente quando da elaboração da defesa escrita.
120
O RDAER é um Decreto, todavia, a princípio, foi recepcionado como Lei pela CF/88.
Assim, tem-se que é possível verificar se uma punição administrativa disciplinar é ilegal,
quando estiver em desacordo, seja no aspecto material123 ou processual124, com alguma norma
jurídica (próprio regulamento, CF/88 e demais normas jurídicas, como lei, decretos, etc.).
Primeiramente, tem-se que o habeas corpus tem índole constitucional, então vejamos o
inciso LXVIII do art. 5º da Constituição Federal de 1988:
Já no art. 647 do CPP125 em vigor, que é de 1941, assim se refere ao habeas corpus:
“Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na
iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo
nos casos de punição disciplinar.”
O art. 648 do CPP explicita quando a coação do direito de ir e vir é considerada ilegal, porém
as hipóteses enunciadas no dispositivo não são exaustivas127, mas sim exemplificativas. Ou seja, é
121
Contraditório aqui, significa, resumidamente, no direito de se defender de uma acusação, antes de sofrer uma punição.
122
Já a ampla defesa, sinteticamente, é o direito a que se permita ao acusado utilizar todos os meios que dispuser com o fim
de provar sua inocência por meio de provas testemunhais, documentais, depoimento pessoal, etc. Por isso que, caso seja
indeferido o pedido do militar de apresentação (arrolamento) de testemunha para provar sua inocência, é motivo suficiente
de impetração de habeas corpus, pois tal ato além de ilegal é, sobretudo, inconstitucional.
123
Direito material é o direito objetivo que vem estabelecer a substância, a matéria da norma agendi, fonte geradora e
assegurada de todo direito. E assim se diz para contrapor-se ao direito formal (processual), que vem instituir o processo ou
forma de proteger tal direito objetivo (exemplo: o cidadão possui o direito de petição aos órgãos públicos). Já o direito
processual (formal) denomina-se como todo complexo de regras instituídas pelo poder público no sentido de determinar a
forma por que serão os direitos protegidos pelo Poder Judiciário.
124
A Lei nº 9.784/99 (Regula o processo administrativo no âmbito federal) tem aplicação, em determinadas situações
(subsidiariamente, por exemplo), nos processos administrativos disciplinares.
125
O CPPM dispõe sobre o remédio heróico a partir do art. 466.
126
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. Editora Atlas: São Paulo, 2002. 11ª edição. págs. 138 e 140.
127
Aqui, o termo “exaustiva” significa dizer que é possível que haja a configuração de uma prisão ilegal em hipótese não
definida nestes 7 (setes) incisos, ou seja, outras possibilidades.
Importante mencionar que não cabe a utilização do writ constitucional para questionar exclusão
das Forças Armadas, conforme entendimento recente128 do STF:
SÚMULA Nº 694
“Não cabe “habeas corpus” contra a imposição da pena de exclusão de militar
ou de perda de patente ou de função pública.”
Do exposto, tem-se que o habeas corpus é uma ação constitucional popular, chamado também
de writ que objetiva, precipuamente, resguardar o direito de liberdade de ir e vir de qualquer um do
povo.
Inicialmente, cumpre informar que, pelo menos na Aeronáutica, pois foi a Força Armada que
trabalhei por 18 (dezoito) anos, costuma-se ser divulgado, até oficialmente, que o habeas corpus é
incabível para discutir punições disciplinares, tendo como fundamento jurídico o art. 142, § 2º da
CF88 que faz a seguinte exceção na utilização do habeas corpus:
128
Digo recente, em virtude de que há decisão do STF conhecendo do HC para questionar exclusão das Forças Armadas:
“EMENTA: HABEAS CORPUS - ADEQUAÇÃO - PERDA DE GRADUAÇÃO. Decorrendo a exclusão - pena acessória
- do fato de a praça ser condenada a pena privativa de liberdade superior a dois anos - artigo 102 do Código Penal
Militar -, o habeas corpus é instrumento hábil a questioná-la (grifo meu). GRADUAÇÃO - PRAÇA - PERDA. Ante
o disposto no artigo 125, § 4º, da Constituição Federal, não subsiste, no que exigido procedimento específico, a pena acessória
prevista no artigo 102 do Código Penal Militar. Precedente: Recurso Extraordinário nº 121.533, relatado, perante o Pleno,
pelo Ministro Sepúlveda Pertence, com acórdão publicado no Diário da Justiça de 30 de novembro de 1990. (STF - HC 68656,
Relator (a): Min. FRANCISCO REZEK, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MARCO AURÉLIO, Segunda Turma, julgado em 16/06/
1992, DJ 04-05-2001 PP-00003 EMENT VOL-02029-02 PP-00370).” .
O art. 466 do CPPM, em seu parágrafo único, letra “a” e “b” já fazia ressalva quanto a utilização
do habeas corpus nas punições disciplinares, então vejamos:
“Art. 466. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder.
Exceção
Parágrafo único. Excetuam-se, todavia, os casos em que a ameaça ou a coação
resultar:
a) de punição aplicada de acordo com os Regulamentos Disciplinares das
Forças Armadas;
b) de punição aplicada aos oficiais e praças das Polícias e dos Corpos de
Bombeiros, Militares, de acordo com os respectivos Regulamentos Disciplinares;
...”
Desta forma, tem-se que o militar punido disciplinarmente detém o direito constitucional a
impetrar habeas corpus quando a punição estiver eivada de ilegalidade. Entretanto, o writ não poderá
ser utilizado para se questionar o mérito da mesma, conforme entendimento do STF.
O STJ também possui jurisprudência consolidada sobre o tema desde 1997, então vejamos:
129
Tratava-se de habeas corpus impetrado em desfavor do Comandante do 7º Batalhão de Infantaria Blindado.
130
É possível utilizar o habeas corpus para trancar (arquivar) processo administrativo disciplinar ilegal. Assim como também
é possível obter um arquivamento de inquérito policial (até mesmo militar) mediante o writ. Não me aprofundarei neste tema,
pois foge do presente estudo e é mais complexo. E aproveito para aconselhar os militares a contratarem um Advogado
especializado no assunto, quando estiverem “respondendo” a sindicância, IPM ou submetidos ao Conselho de Disciplina.
Em regra, então, saber-se-á se é possível que o Poder Judiciário “aceite” um habeas corpus
em relação à punição disciplinar quando a resposta à seguinte indagação for negativa: “o objetivo da
habeas corpus é discutir se a punição foi justa ou injusta?”.
Do exposto, inegável que o militar pode utilizar o habeas corpus quando pretender discutir a
legalidade131 da punição disciplinar.
Este é um tema importante e interessante que, inclusive, foi objeto de impetração de habeas
corpus por mim quando militar, pois fui punido por ter impetrado um habeas corpus contra prisão
ilegal sem antes esgotar as vias administrativas.
O Estatuto dos Militares (norma inferior) foi elaborado antes da CF88 (norma superior) e na
vigência da Ditadura Militar. Logo é óbvio que àquele detém normas conflitantes com a nova Ordem
Democrática e em especial o § 3º do art. 51 que exige o esgotamento da esfera administrativa,
quando assim discorre:
“Art. 51. O militar que se julgar prejudicado ou ofendido por qualquer ato administrativo
ou disciplinar de superior hierárquico poderá recorrer ou interpor pedido de
reconsideração, queixa ou representação), segundo regulamentação específica de
cada Força Armada.
...
§ 3º O militar só poderá recorrer ao Judiciário após esgotados todos os recursos
administrativos e deverá participar esta iniciativa, antecipadamente, à autoridade
à qual estiver subordinado.”
O TRF4, desde 1998, pacificou que tal dispositivo não foi recepcionado132 pela CF88, então
vejamos as seguintes decisões:
131
A ilegalidade será verificada por como: erros formais do procedimento, incompetência da autoridade militar para
instaurar o processo disciplinar, irregularidades de prazos para a defesa, indeferimento abusivos de diligências requeridas
pela defesa, dentre outros.
132
Diz-se que não foi recepcionado, pois a CF/88 é posterior à Lei nº 6.880/80, logo não é correto dizer-se que o § 3º foi
revogado, sequer tacitamente. Assim, o termo técnico correto é dizer que o § 3º não foi recepcionado pela CF/88, pois àquela
é norma incompatível com o Texto Maior de 1988.
“EMENTA: ...
O disposto no § 3º do art. 51 da Lei nº 6.880/80, que exige cientificação prévia
ao superior hierárquico pelo subordinado de que ingressará em Juízo para a
defesa de seus direitos, não foi recepcionado pela Constituição Federal (art. 5º,
inc. XXXV)...” (TRF5 – RSE nº 737/RN – Terceira Turma – Rel. Des. Federal
Ridalvo Costa, j. 31.03.2005)
Após vários questionamentos perante o Poder Judiciário, devido à ilegalidade desta norma
administrativa militar, o Ministério da Defesa decidiu não mais exigir o prévio esgotamento da esfera
administrativa. A Assessoria Jurídica do Ministério da Defesa emitiu o Parecer nº 121/CONJUR-2005,
onde após aprovação pelo Vice-Presidente da República, à época Ministro da Defesa – José Alencar
– passou a ter força vinculativa nas Forças Armadas, então vejamos as letras “b” e “c” do item 28:
Logo, não há necessidade de esgotar a esfera administrativa133, para somente após, impetrar
habeas corpus contra prisão disciplinar ilegal.
Vários são os órgãos do Poder Judiciário, discriminados no caput do art. 92 da CF/88, então
vejamos:
A competência dos Tribunais e Juízes para processarem e julgarem demandas judiciais está
prevista nos arts. 102 a 126 da CF/88.
Vejamos os arts. 102, 109 e 124:
133
Da mesma forma, obviamente, não é necessário informar previamente à autoridade superior que será impetrado um
habeas corpus ou mesmo que ajuizará qualquer outro tipo de ação judicial para reivindicar quaisquer direitos.
Como se pode perceber na leitura das normas constitucionais acima transcritas, a CF/88
define qual órgão (art. 92) do Poder Judiciário é competente134 para processar e julgar o habeas
corpus.
Em resumo, de forma prática e objetiva, para se saber qual órgão do Judiciário é competente
para processar e julgar o habeas corpus, teremos que responder às seguintes perguntas: a) a
prisão é decorrente do cometimento de crime militar ou transgressão disciplinar militar? e b) quem
é a autoridade coatora135, ou seja, contra quem se impetrará o habeas corpus?
Se for crime militar caberá ao STM136, independentemente da prisão ter sido efetuada por um
militar, civil137 ou Juiz-Auditor. Entretanto, como este artigo não é voltado para a utilização do
habeas corpus na Justiça Militar, não tecerei maiores comentários.
Se for transgressão disciplinar caberá o processamento e julgamento pela Justiça Comum e
não pela Justiça Militar138, sendo que tal conclusão se dá por exclusão, pois o art. 109, inciso VII, da
CF/88 afirma que os Juízes Federais processarão e julgarão o writ quando a ilegalidade
134
Neste momento citei apenas os dispositivos dirigidos às Forças Armadas, posteriormente, discorrerei sobre a competência
do Judiciário para processamento e julgamento de habeas corpus em favor de Policiais e Bombeiros Militares.
135
A identificação da autoridade coatora será discorrida em tópico 4.9.2, pois é de suma importância para o processamento e
julgamento do habeas corpus.
136
Na Justiça Militar Federal, somente os Ministros do STM são competentes para processar e julgar habeas corpus contra
prisões ilegais, ou seja, nem o Juiz-Auditor, monocraticamente, e nem tampouco os Conselhos de Justiça das Circunscrições
Militares detêm tal competência. Assim, resumidamente, pode-se dizer que qualquer habeas corpus contra prisão ilegal (crime
militar) por ordem de um soldado, cabo, capitão, comandante de unidade militar, Juiz-Auditor ou Conselho de Justiça, como
exemplos, será processado e julgado pelo STM, de acordo com o art. 6º, inciso I, letra “c” da Lei nº 8.457/1992.
137
O civil pode prender um militar que estiver em flagrante delito.
138
Tramita no Congresso Nacional proposta de emenda constitucional a fim de alterar o art. 124. A nova redação seria;” À
justiça militar da União compete processar e julgar os crime militares definidos em lei bem como exercer o controle
jurisdicional sobre as punições disciplinares aplicadas aos membros das forças armadas.”
Ocorre, entretanto, que o STF, interpretador final da Constituição de nosso País, em decisão
datada de 03.04.2007, afirmou que cabe à Justiça Federal Comum e não à Justiça Militar processar
e julgar ações contra punições disciplinares, então vejamos:
139
Isso mesmo que você está pensando: é possível impetrar um writ no STF por leigo, sem necessidade de Advogado.
140
No anexo 2, constam os respectivos endereços das Seccionais (Varas Federais) da Justiça Federal dos Estados do País.
141
Quando o STM diz que o habeas corpus foi conhecido, significa dizer que se considerou, dentre outros, competente para
processar e julgar a writ.
Concluindo, tem-se que cabe à Justiça Federal Comum processar e julgar habeas corpus
contra punições disciplinares, embora o STM considere-se competente para solucionar tal lide. Se
um militar requerer que o STM julgue um habeas corpus, este será julgado, todavia, não é aconselhável,
pois na Justiça Federal, sem dúvidas será um civil formado em Direito e que passou por um concurso
muito disputado que irá julgar seu writ. Já no STM, dentre 15 (quinze) Ministros, somente os 05
(cinco) civis, necessariamente, são formados em Direito, os outros 10 (dez) não necessariamente
são Bacharéis em Direito, bastando que sejam do posto mais elevado da carreira de suas Armas
(sequer é necessário ter nível superior).
O art. 123 da CF/88 dispõe sobre o STM:
Desta forma, o policial militar ou bombeiro militar que estiver sendo punido disciplinarmente e
entender que a punição é ilegal, deverá, necessariamente, impetrar o writ junto à respectiva Auditoria
Militar (Justiça Estadual).
Este dispositivo constitucional informa que a impetração de habeas corpus é gratuita, todavia,
a gratuidade se refere ao pagamento de custas processuais143, que são as despesas ou encargos
decorrentes do ajuizamento, processamento e julgamento de uma ação judicial. Isso não quer dizer
que o Advogado, se for contratado, não cobrará por seus serviços (honorários advocatícios).
Há, inclusive, instituições que oferecem, gratuitamente para pessoas mais carentes, os serviços
do Advogado, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Defensoria Pública, Associações,
dentre outras.
Mas é obrigatória a participação do Advogado na confecção da petição144 com sua assinatura,
ou seja, para o ajuizamento da ação de habeas corpus? A resposta é negativa, embora, sem dúvidas,
ninguém melhor do que o Advogado para confeccionar a petição, já que detém os conhecimentos
técnicos jurídicos necessários para cessar ou impedir prisões ilegais.
O § 1º do art. 1º da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da Advocacia) prevê que não é privativo do
Advogado a impetração do writ constitucional, então vejamos:
Aproveito e transcrevo dispositivo da CF/88 que informa que o Advogado é imprescindível para
a concretização da Justiça:
142
O instituto do habeas data é muito interessante e de grande valia para reivindicar direitos perante o Judiciário (ver capítulo 8).
143
Por exemplo: quando se ajuíza uma ação por danos morais, paga-se custas processuais, a não ser que seja deferido o pedido
de gratuidade judicial, nos termos da Lei nº 1.060/50. Assim, no habeas corpus não se pagará absolutamente nada de custas
para o Poder Judiciário.
144
Petição, em síntese, é a formulação escrita de um ou vários pedidos dirigidos a um juiz. Todavia, há inclusive, em alguns
órgãos do Poder Judiciário, como no Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte, a possibilidade de impetrar um
habeas corpus via telefone. Seria uma “denúncia” sobre uma prisão ilegal, onde se pedirá (petição) ao Poder Judiciário que faça
cessar ou impedir uma prisão ilegal.
Logo, se não é obrigatória a impetração do habeas corpus por Advogado, concluiu-se, então,
que qualquer cidadão poderá confeccionar e assinar uma petição. O militar que estiver na iminência
de ser preso ou se estiver preso disciplinarmente será a única pessoa que poderá elaborar e ajuizar
o pedido de habeas corpus? A resposta é negativa, pois o paciente145 poderá ser o próprio impetrante146,
assim como qualquer outra pessoa, inclusive pessoa jurídica147, independentemente, ressalte-se,
em ambos os casos, de procuração148.
O STJ assim entende sobre a impetração do writ por pessoa jurídica:
O STF assim se pronunciou sobre a legitimidade ativa de qualquer pessoa para impetrar o writ:
O caput do art. 654 do CPP dispõe sobre a legitimidade para se impetrar o habeas corpus,
então vejamos:
145
No ordenamento jurídico brasileiro significa àquele que está sofrendo constrangimento ilegal ou na sua iminência.
Exemplo: será paciente o militar que estiver preso ou na iminência de ser preso.
146
Impetrante é o autor da petição do habeas corpus, àquele que assina a peça; e como dito, o impetrante poderá ser o próprio
paciente. Não há qualquer impedimento legal de que o paciente também assine a petição inicial juntamente com o impetrante.
147
Uma associação, sindicato, uma empresa, um partido político, dentre outras pessoas jurídicas, podem impetrar o writ em
favor de qualquer pessoa física. Aliás, o próprio Ministério Público pode impetrar o writ constitucional.
148
Procuração, no âmbito judicial, é utilizada, em regra, para que o autor de uma ação judicial confira ao Advogado poderes para
representá-lo judicialmente, já que somente o Advogado detém capacidade postulatória, salvo exceções previstas em lei. E,
genericamente, uma procuração se resume em que alguém confira poderes a outrem para agir em seu nome, nos termos da lei.
O art. 189 do Regimento Interno do STF define quem poderá impetrar o writ constitucional:
Mirabete149 discorre muito bem sobre o tema, logo cabível transcrever seus ensinamentos na
íntegra:
Resumindo com um exemplo prático: digamos que um militar será preso por cometimento de
transgressão disciplinar daqui a 3 (três) dias. Se a punição for ilegal, ele mesmo poderá confeccionar
e assinar a petição (paciente será o próprio impetrante). Porém, qualquer outra pessoa,
independentemente de parentesco151 ou qualquer outra coisa, poderá impetrar a habeas corpus em
favor do militar, mesmo sem a prévia autorização deste (paciente) e, sobretudo, sem necessidade152
de procuração. Isso quer dizer, na prática, o seguinte: um desconhecido pode requerer a um Juiz
Federal que liberte um militar que estiver sofrendo constrangimento ilegal no seu direito de ir e vir! E,
apenas a título de conhecimento, isso também poderá ser feito principalmente, quando se questionar
149
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado. Editora Atlas: São, Paulo, 2000. 7ª edição. pág. 1460.
150
A título de informação tem-se que no mandado de segurança o pedido de desistência não dependerá da concordância da
autoridade coatora, ou seja, independerá de manifestação da parte contrária para o magistrado deferir o pedido.
151
Ou seja, se um civil, por exemplo, for preso por suposto cometimento de homicídio, qualquer cidadão, sendo ou não
Advogado, poderá peticionar para o Poder Judiciário, a fim de que o paciente seja libertado.
152
O Advogado quando impetra habeas corpus em favor de um cliente não necessita de procuração para que a petição seja
conhecida (aceita), a fim de que, posteriormente, o writ seja julgado.
Muitas vezes, leigos, e até mesmo Advogados costumam identificar erroneamente a autoridade
coatora, pois dependendo da situação poderá haver dificuldades sobre quem de fato e de direito seja
a autoridade coatora na petição de habeas corpus.
Na petição de habeas corpus, a autoridade coatora é chamada de IMPETRADO, e nada mais
é do que a autoridade que está exercendo ilegalmente ou com abuso de poder a violência, a coação
ou ameaça da liberdade de ir e vir.
Alexandre de Moraes160 assim discorre sobre a legitimidade passiva no writ:
“O habeas corpus deverá ser impetrado contra o ato do coator, que poderá ser
tanto autoridade (delegado de polícia, promotor de justiça, juiz de direito, tribunal,
etc) como particular. No primeiro caso, nas hipóteses de ilegalidade e abuso de
poder, enquanto no segundo caso, somente nas hipóteses de ilegalidade. Por
óbvio, na maior parte das vezes, a ameaça ou coação à liberdade de locomoção
por parte de particular constituirá crime previsto na legislação penal, bastando
a intervenção policial para fazê-la cessar. Isso, porém, não impede a impetração
do habeas corpus, mesmo porque existirão casos em que será difícil ou
impossível a intervenção da polícia para fazer cessar a coação ilegal (internações
em hospitais, clínicas psiquiátricas).”
160
MORAES. Alexandre de. Direito Constitucional. Editora Atlas: São Paulo, 2002. 11ª edição. pág. 144.
161
Há regulamentos, como da Aeronáutica, prevendo que a primeira prisão de militar deverá ser decretada pelo Comandante da
Organização Militar.
162
Tal dificuldade poderá ser enfrentada pelo próprio Juiz Federal, pois oportuno ressaltar, que é possível que um Juiz Federal
em início de carreira não conheça adequadamente a utilização do writ nas punições administrativas disciplinares. E isso já
aconteceu comigo: em 2004, um Juiz Federal entendeu que não era cabível o writ para questionar punição disciplinar, embora
o STF já conheça do writ nas transgressões há muito tempo atrás.
Todavia, mesmo que a autoridade coatora seja indicada erroneamente, é possível que o habeas
corpus seja processado e julgado, caso seja possível ao Juiz, com base nos fatos e/ou documentos
juntados163 à inicial do writ, identificar a autoridade coatora, conforme a seguinte decisão do STM:
163
Junte a notificação da instauração do processo disciplinar ou mesmo cópia de todo o processo, caso já concluído e seja-lhe
entregue. Não se surpreendam se a autoridade militar de sua OM se negar a fornecer cópias do processo disciplinar (isso é ilegal,
ou melhor, inconstitucional). Porém, se isso ocorrer, deverá ser informado na petição do habeas corpus. E é adequado que faça
o pedido (parte s/nº, por exemplo) por escrito (em 2 vias) de cópias do processo disciplinar e peça para que uma cópia seja
assinada ou protocolada no quartel, conforme for o caso, e após junte tal cópia à inicial do writ e solicite ao juiz que intime a
autoridade coatora para que a mesma entregue as referidas cópias em juízo. Pois assim, o Juiz saberá que você requereu as cópias
do processo disciplinar e que a autoridade coatora, a princípio, negou-lhe um direito constitucional, e isso, certamente, irá
influenciar em seu favor perante o magistrado.
Assim, restou esclarecido quem poderá figurar como autoridade coatora no writ constitucional.
Primeiramente, importante frisar que a ação de habeas corpus exige prova pré-constituída164,
ou seja, é necessário que todas as provas sejam juntadas com a petição inicial. Não é possível, em
regra165, que sejam produzidas provas posteriormente (dilação probatória), embora, ressalte-se, seja
possível impetrar o writ sem qualquer documento. Entretanto, obviamente, irá ser prejudicial ao
paciente, pois o Juiz poderá não ter subsídios suficientes para concluir pela ilegalidade da prisão
disciplinar.
Assim o STF tem entendido sobre a prova pré-constituída:
164
Ou seja, não admite dilação probatória, isto é, que sejam realizadas provas após sua impetração, como, exemplo, a prova
testemunhal.
165
Digo em regra, porque poderá ocorrer, por exemplo, da autoridade coatora estar de posse de documentos necessários à prova
da prisão ilegal e ter se negado a fornecer ao militar, logo, será possível requerer tais documentos ao Juiz para serem juntados
posteriormente aos autos.
Sendo assim, o impetrante deverá juntar quaisquer documentos que possam demonstrar a
ilegalidade da prisão disciplinar, sendo que é conveniente que sejam juntados, pelo menos, os
seguintes: a) cópias166 da identidade e CPF167 do paciente e do impetrante; b) cópia dos autos168 do
processo administrativo disciplinar ou da notificação sobre a instauração do processo e c) cópia do
documento oficial (boletim interno, etc.) da respectiva Força Armada decretando a punição disciplinar.
É obrigação da respectiva Força Armada entregar cópias dos autos do processo disciplinar
ao militar punido, sendo que tal pedido deve ser formal169 (por escrito) e caso a Administração
Castrense se negue170 a fornecer os autos, deve-se informar tal fato ao Juiz na petição de habeas
corpus e juntar cópia do comprovante do seu pedido administrativo.
Entretanto, caso a autoridade militar se negue a fornecer cópia dos autos do processo disciplinar
ou quaisquer outros documentos de vital importância para se identificar a ameaça ou ilegalidade da
prisão, dou a dica para que, dentre os pedidos constantes na petição inicial (ver anexo 4), seja
acrescido o seguinte: “requer-se a intimação da autoridade coatora para, no prazo de 24 (vinte e
quatro) horas de sua intimação171 pessoal, juntar aos autos cópia do processo administrativo
disciplinar”.
Por analogia, podemos demonstrar tal possibilidade de requisição de documentos pelo Juiz
Federal, respectivamente, com a leitura do art. 191 do Regimento Interno do STF e do art. 140 do
Regimento Interno do TRF5, que tratam do habeas corpus de competência originária172, então vejamos:
166
Não é necessário autenticação das cópias dos documentos anexados à petição inicial.
167
Não há nenhuma lei obrigando a juntada de cópia de identidade ou CPF para impetrar habeas corpus ou ajuizar uma ação
cível, entretanto há órgãos do Poder Judiciário, como, por exemplo, as Varas Federais do RN que exigem, obrigatoriamente,
o CPF. Logo, é sensato, se possível, é claro, juntar, desde logo, tais documentos, a fim de não atrasar o processamento do writ.
168
O militar detém o direito a uma cópia dos autos do processo disciplinar, sendo que tal pedido deve ser feito por escrito ao
superior hierárquico, a fim de que, futuramente, possa se provar que foi solicitado.
169
Lembre-se: quando for protocolar na Organização Militar seu pedido de cópia dos autos, leve 02 (duas) cópias do pedido e
exija que o responsável pelo setor competente assine (ou protocole) o recebimento de uma cópia, a fim de que receba 1 (uma)
cópia que comprovará seu pedido administrativo.
170
O habeas data (Art. 5º, inciso LXXII, da CF/88 e Lei nº 9.507/97) é um dos instrumentos jurídicos adequados para obrigar
a Administração Castrense a entregar documentos de seu interesse (ver capítulo 8).
171
Na Justiça Federal Comum, os prazos processuais são contados a partir do momento em que o mandado judicial cumprido
pelo Oficial de Justiça é juntado aos autos do processo. Assim, caso não seja pedido e deferido o pedido para que a contagem
do prazo seja a partir da intimação pessoal da autoridade coatora, ocorrerá, sem dúvidas, maior demora na entrega da
documentação.
172
Competência originária, neste caso, em resumo, quer dizer que o habeas corpus será iniciado, impetrado, diretamente no
Tribunal Federal da 5ª Região.
Se a petição do habeas corpus estiver instruída, pelo menos, com os autos do processo
administrativo disciplinar, isso permitirá ao Juiz verificar se houve alguma ilegalidade na imposição
da punição disciplinar.
Primeiramente, importante informar que o habeas corpus poderá ser impetrado em qualquer
horário e em qualquer dia da semana, mesmo feriado, sábado ou domingo, pois há plantões judiciais
na Justiça Federal. O impetrante, ao chegar ao Fórum173 em dias e horários fora do expediente,
deverá informar ao segurança174 que quer impetrar um habeas corpus e que o Diretor plantonista
seja comunicado imediatamente.
Com a petição pronta e assinada mais os documentos, leve175 03 (três) cópias ao setor de
protocolo (distribuição) do Fórum Federal, onde será recebida pelo funcionário. O servidor irá protocolar
as petições, devolvendo-lhe uma cópia: simples!!! (lembre-se que não precisa pagar nada!).
Importantíssimo esclarecer o seguinte: os Comandantes das Forças Armadas detêm foro
privilegiado, logo a impetração do writ deverá ser necessariamente perante o STF situado176 em Brasília/
DF. As demais impetrações de writ contra atos ilegais de superiores hierárquicos deverão ser impetradas
no local177 em que os mesmos exerçam suas atividades militares. (se for de Manaus, deverá ser
impetrado, necessariamente, em Manaus, e assim por diante).
173
O ideal é ligar antes para a Justiça Federal ou STF para saber sobre os procedimentos para impetrar habeas corpus fora do
expediente.
174
Como dito, o Fórum federal fica fechado fora dos horários de expediente e o Juiz de plantão e sua equipe, em regra, não
ficam no Fórum, como é o caso do Rio Grande do Norte, por isso disse “segurança”, pois eles possuem os nomes da equipe do
plantão. Nos sites do Poder Judiciário costuma-se informar a tabela dos plantões. Em regra, os nomes dos servidores e juízes
de plantão ficam disponíveis no respectivo site da Justiça Federal. Ressalte-se que cada Estado poderá ter seu próprio
procedimento para a equipe de plantão. Apenas a título de curiosidade, no RN, ocorre que o segurança liga para o Diretor de
Secretaria do Juízo de Plantão e este recebe o writ, e após o encaminha para o Juiz Federal de plantão. Já em alguns fóruns
federais (seções ou subseções) há telefone especial para o plantão, como no Pará e no Mato Grosso do Sul, conforme se poderá
observar na relação de fóruns (ver anexo 2).
175
É possível enviar as petições via correio, sendo que no endereçamento deverá ser escrito, também, o seguinte: “SETOR DE
PROTOCOLO - PETIÇÃO DE HABEAS CORPUS”. Pode-se, também, enviar via fax, contanto que em seguida sejam
enviadas via correio ou protocoladas pessoalmente as petições e documentos originais, devendo, obrigatoriamente, chegar ao
Fórum no prazo de até 05 (cinco) dias contados do dia seguinte ao envio do FAX, conforme previsão contida na Lei nº 9.800/
99, sob pena de não conhecimento do writ. Por isso, é ideal mandar via SEDEX. Em fevereiro de 2009 fui contratado por um
militar da Base Aérea de Santa Cruz (Rio de Janeiro) para impetrar um habeas corpus contra o respectivo Comandante. Enviei
via FAX no sábado e os originais na segunda-feira, via SEDEX, tendo sido aceito o pedido via fac-símile e concedida liminar,
impedindo-se, assim, a prisão do paciente.
176
Os endereços e os telefones do STF e das principais Varas Federais (Justiça Federal) do País estão dispostos no anexo 2.
177
Ver o tópico 9.9 sobre o local da impetração de mandado de segurança.
Logo, como se observa, não há dificuldade alguma para a impetração do writ, sendo que o
acompanhamento185 do processo, seja na Justiça Federal ou no STF, poderá ser observado nos
sites da internet (ver anexo 5).
178
Autos, tecnicamente falando, são os documentos constantes do processo, ou seja, as folhas, fotos, dentre outros, que
compõem o caderno processual.
179
Lembre-se: se a autoridade coatora for um dos Comandantes das Forças Armadas, a impetração deverá ser protocolizada no
STF. Outra informação importante: não precisa ir até Brasília ou pedir a alguém de lá para protocolar pessoalmente o writ,
mande via FAX e após encaminhe os originais via correio, de preferência por SEDEX, a fim de cumprir a exigência prevista
na Lei nº 9.800/99.
180
Liminar é a antecipação da decisão final da sentença de habeas corpus, quando o Juiz Federal verificando que há ilegalidade
ou abuso de poder e perigo na demora do processamento e julgamento do writ (periculum in mora e fumus boni iuris), decide
emitir ordem liminar de habeas corpus, ordenando a soltura imediata do paciente. Ou então, quando o writ é preventivo,
ordena que a autoridade coatora fique impedida de prender o militar. Digamos que um militar seja preso por 10 (dez) dias: se o
Juiz não der a liminar, certamente, o militar cumprirá toda a punição antes de proferida a sentença final.
181
Em regra, pelo menos aqui no RN, os Juízes Federais pedem um prévio pronunciamento da autoridade coatora, por isso é
importante que o habeas corpus seja impetrado o mais rápido possível antes do dia de início do cumprimento da punição
disciplinar.
182
Os procedimentos perante o STF estão dispostos no seu Regimento Interno, que poderá ser baixado de meu site pessoal.
183
Parecer é o documento jurídico onde o Procurador da República (Ministério Público Federal) irá dar sua opinião jurídica sobre
o pedido de habeas corpus, pronunciando-se sobre a concessão ou denegação da ordem de habeas corpus. Tal parecer não
vincula o Juiz Federal a proferir decisão no writ de acordo com o entendimento do Ministério Público.
184
Este termo, em outras palavras, quer dizer o seguinte: não adianta mais julgar o writ, em virtude de que o paciente já cumpriu
toda a punição disciplinar, logo não há mais restrição ilegal de liberdade (ou seja, o Judiciário não vai se pronunciar, pelo menos
nos autos do habeas corpus, se a prisão disciplinar foi ou não ilegal). Porém, futuramente, o militar poderá requerer a anulação
da punição através de um mandado de segurança (o prazo para impetração é de até 120 dias a contar do ato ilegal) ou ação
ordinária.
185
Porém cabível esclarecer que os sites oficiais do Poder Judiciário, em regra, não servem como instrumentos de comunicações
oficiais dos despachos ou das decisões judiciais, pois na prática, funcionam como uma ajuda informal ao jurisdicionados.
Primeiramente, interessa saber que a petição do writ constitucional deverá conter, no mínimo,
os seguintes requisitos, conforme disposições contidas do art. 654 do CPP:
“Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seu
favor ou de outrem, bem como pelo Ministério Público.
§ 1º A petição de habeas corpus conterá:
a) o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer violência ou coação
e o de quem exercer a violência, coação ou ameaça;
b) a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de simples ameaça
de coação, as razões em que funda o seu temor;
c) a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando não souber ou
não puder escrever, e a designação das respectivas residências.
...”
O art. 190 do Regimento Interno do STF explicita quais os requisitos mínimos da petição
inicial do writ:
Há um detalhe muito relevante neste inciso II, quando prevê que “... e, quando possível, a prova
documental dos fatos alegados;”. Digo importante, porque embora não seja obrigatória a comprovação
por documentos do ato dito ilegal, ocorre que em sendo possível juntar documentos à petição inicial,
estes poderão comprovar, por si sós186, a prisão ilegal ou sua iminência. Além de que tais documentos
poderão contribuir, significativamente, para a concessão de liminar e para a sentença do writ, conforme
já comentado anteriormente.
Exporei 04 (quatro) modelos, bem simples de petições iniciais de habeas corpus, sendo as 02
(duas) primeiras impetradas perante a Justiça Federal de Primeira Instância (Juiz Federal), a terceira
perante o STM e a última perante o STF:
a) PETIÇÃO INICIAL DE HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO (Juiz Federal): (ver anexo 4 – modelo 1)
b) PETIÇÃO INICIAL DE HABEAS CORPUS PREVENTIVO (Juiz Federal): (ver anexo 4 – modelo 2)
c) PETIÇÃO INICIAL DE HABEAS CORPUS COM PEDIDO LIMINAR (STM): (ver anexo 4 – modelo 3)
Desta forma, percebe-se o quanto é fácil elaborar uma petição de habeas corpus.
186
A primeira atitude do Juiz Federal ao receber a petição inicial do writ será verificar se existe prova documental dos fatos
alegados. Verificando que existe prova suficiente e concluindo pela ilegalidade será possível que conceda a ordem liminarmente.
Todavia, caso não disponha de documentos suficientes, irá intimar (notificar) a autoridade coatora para que preste as
informações (defesa) e somente após irá decidir sobre pedido liminar, ou então, decidir o mérito definitivo do habeas corpus.
A CF/88 não previu a concessão de liminar187, assim como não há previsão nos Códigos
Processuais Penais e nem em leis esparsas, entretanto, tanto a doutrina quanto à jurisprudência de
nossos Tribunais são unânimes em possibilitar a concessão de liminar. Há regimentos internos de
Tribunais que prevêem a concessão de liminar pelo relator nos habeas corpus, assim como o
Regimento Interno do STJ prevê no § 1º do art. 83 a concessão de liminar em pedido de habeas
corpus, então vejamos:
O art. 140 do Regimento Interno do TRF5, que trata do habeas corpus de competência
originária190, assim prevê a concessão de liminar:
187
Liminar no writ é uma decisão anterior ao julgamento do mérito, visando, precipuamente, preservar o direito de ir e vir do
paciente até o julgamento do writ, seja preventivo ou liberatório.
188
Um detalhe muito importante: o fato de ser concedida a liminar, não quer dizer que o mérito do writ será pela concessão da
ordem, pois há casos em que após a prestação de informações da autoridade coatora, o Juiz Federal ou o Plenário do STF
(conforme a competência) entenda que a prisão foi legal. E neste caso, o Juiz Federal, por exemplo, irá expedir ordem
revogando o alvará de salvo-conduto ou alvará de soltura, possibilitando, assim, a prisão do “paciente”.
189
Não consta a palavra liminar, todavia, quando o texto diz “até decisão do feito”, conclui-se que se trata de liminar.
190
Competência originária, neste caso, em resumo, quer dizer que o habeas corpus será iniciado, impetrado, diretamente no
Tribunal Federal da 5ª Região.
Mas o que é a liminar191? Qual sua pertinência ou utilidade prática? Como obtê-la?
Alexandre de Moraes192, citando o mestre Mirabete, faz o seguinte comentário sobre o tema
que pode ser utilizado como resposta às indagações acima:
Com a transcrição doutrinária acima, surgem 02 (dois) novos termos técnicos estrangeiros:
periculum in mora e fumus boni iuris.
Como dito acima, o primeiro refere-se à probabilidade de dano irreparável, ou seja, o perigo da
demora da prestação jurisdicional. Esta demora poderá resultar em graves malefícios ao paciente,
caso se aguarde todos os procedimentos necessários ao processamento e julgamento do mérito do
writ. Ressalte-se que o simples fato de a pessoa ter restringido o seu direito de ir e vir ou na iminência
de sua restrição, por si só, configura o perigo da demora193 (periculum in mora) da prestação
jurisdicional194. Já o segundo refere-se a um indício de que há ilegalidade, o termo fumus boni iuris
significa “fumaça do bom direito”. Significa, em síntese, não ser necessário que o Juiz tenha absoluta
certeza de que haja ilegalidade na prisão ou na sua iminência, mas sim que haja probabilidade (suspeita)
de que a prisão ou ameaça possa ser ilegal.
Caso, por exemplo, o Juiz Federal convença-se da existência do perigo da demora (dano
irreparável) e probabilidade de que o direito (haja indicação de ilegalidade) do paciente seja relevante,
é possível que seja concedida a liminar.
Então, dou uma dica: sempre peça liminar no habeas corpus, seja ele preventivo ou repressivo,
embora não consiga identificar o periculum in mora e fumus boni iuris, posto que como já dito, o Juiz
Federal ao ler a petição irá verificar se existem ou não os requisitos mínimos necessários para a
concessão de liminar.
191
Em resumo: neste caso, liminar é uma antecipação da concessão da ordem de habeas corpus, antes de findado o regular
processo judicial, ou seja, antes de proferida a sentença definitiva de mérito, que considerará ou não a prisão ou a ameaça ilegal.
192
MORAES. Alexandre de. Direito Constitucional. Editora Atlas: São Paulo, 2002. 11ª edição. pág. 144/145.
193
Em regra, os magistrados federais e estaduais verificam em primeiro lugar se há perigo da demora, para somente após
verificar se existe a fumaça do bom direito. E quando não vislumbra o primeiro, costumam não analisar o segundo requisito
necessário para a concessão de liminar.
194
Prestação Jurisdicional, em resumo, significa ter um pedido (direito) analisado (sentenciado) pelo Poder Judiciário.
E, agora, poderá surgir uma pergunta? E se o pedido de habeas corpus preventivo ou liberatório
for indeferido pelo Juiz Federal ou STF? Caberá recurso desta decisão para instância superior? A
resposta é afirmativa! Será necessária a intervenção de Advogado nos recursos em habeas corpus?
A resposta é negativa, conforme entendimento pacificado do STF:
195
Denegação é o termo utilizado no dispositivo da sentença que julga improcedente o pedido de habeas corpus.
196
Os TRFs e os Juízes Federais não são obrigados a seguir o entendimento jurídico dos Ministros do STF, a não ser em casos
específicos, como por exemplos, súmulas vinculantes (matéria recentemente incorporada no direito brasileiro) e decisões em
Ações Diretas de Inconstitucionalidades. Assim, quando for interpor um recurso em qualquer TRF, é oportuno citar jurisprudência
do STF, que dispensa a intervenção de Advogado, para assim, quem sabe, o TRF siga o entendimento da Maior Corte de Justiça
de nosso País.
197
O MPF, obviamente, detém também capacidade postulatória para recorrer.
a) recurso contra indeferimento de pedido liminar (periculum in mora e fumus boni iuris) no
writ: não há recurso previsto em lei e a jurisprudência entende que é uma decisão
irrecorrível;
b) recurso contra decisão do Juiz Federal que indefere a petição (não conhece) do writ, ou
seja, sequer analisando o mérito: por inexistência de recurso próprio, tem-se aceitado
o recurso em sentido estrito para o TRF (art. 581, inciso X, do CPP). Entretanto, há
tribunais que não aceitam o recurso em sentido estrito, mas o recurso simples (inominado),
e há ainda decisões que entendem não haver recurso próprio, logo cabível a impetração de
novo habeas corpus, entretanto, neste figurará como autoridade coatora o magistrado que
indeferiu a inicial liminarmente, sem apreciação do mérito, então vejamos algumas dessas
decisões:
198
Há ainda a possibilidade de utilização do habeas corpus como substitutivo de recurso ordinário em habeas corpus junto ao
STF, STJ ou STF, que pode ser utilizado em casos excepcionais. Em regra é possível quando há flagrante ilegalidade ou abuso,
ou ainda, quando a instância anterior está “atrasando” sem razoabilidade o processamento do recurso interposto contra decisão
indeferitória do writ. Em 2007 tive a oportunidade de utilizar este tipo de writ substitutivo perante o STF, em virtude de um
habeas corpus originário impetrado junto ao STM, que permaneceu por 02 (dois) meses sem que o acórdão indeferitório do
writ fosse publicado (sem a publicação do acórdão, não há como interpor recurso para o STF, ou seja, ficou travado no STM).
Aleguei ao STF que o paciente não poderia ser prejudicado pela inércia (demora) do STM, tendo o STF aceitado meus
argumentos e julgado o writ substitutivo de recurso ordinário. Contudo, não me aprofundarei no tema, haja vista que tal
modalidade de utilização do writ é bem complexa para ser utilizada por um leigo.
Já o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3) entende que não cabe o recurso em
sentido estrito, então vejamos:
c) recurso contra decisão do Juiz Federal que denega (indefere) o pedido do writ (julga o
mérito): recurso em sentido estrito para o TRF (art. 581, inciso X, do CPP) no prazo de
05 (cinco) dias;
d) recurso contra decisão do STF que indefere a petição (não conhece) do writ, ou seja,
sequer analisando o mérito: o recurso previsto é o agravo regimental no prazo de 5
(cinco) dias, nos termos do art. 317 do Regimento Interno do STF.
e) recurso contra decisão do STF que denega (indefere) o pedido do writ (julga o mérito): não
há recurso.
199
São 05 (cinco) os Tribunais Regionais Federais.
200
Um detalhe importante: a jurisprudência é dinâmica, ou seja, o entendimento, às vezes, é modificado. Além de que, os
Tribunais são divididos em Turmas, ou seja, é possível e não raro que Turmas do próprio Tribunal possuam entendimentos
diferentes sobre os mesmos assuntos jurídicos.
201
A palavra liminar aqui utilizada não possui o mesmo significado que liminar (periculum + fumus) requerida no writ, pois
naquela significa a não aceitação pelo Relator da petição inicial do writ.
202
O agravo regimental (conhecido popularmente na seara jurídica como “agravinho”) não está previsto nas leis processuais
penais, pois na verdade, como o nome sugere, é um recurso previsto nos regimentos internos dos Tribunais. Ou seja, quem
vai analisar o recurso (agravo regimental) é o próprio Tribunal. Neste caso previsto no art. 148, o indeferimento liminar
ocorre por ato do Relator, assim, o agravo regimental é um meio para que a Turma (Colegiado de Desembargadores) analise
a petição inicial e caso mantenham o indeferimento, o writ não será conhecido, logo o mérito do writ não será julgado, e
assim, posteriormente, será arquivado.
Entretanto, tal entendimento não é seguido por alguns TRFs, então vejamos:
203
Nos Tribunais não há sentença (que é exclusiva do Juiz Singular), mas sim acórdão, que é a decisão do colegiado
(Desembargadores Federais, por exemplo). Quando o mérito de um recurso é julgado em favor do recorrente, diz-se que o
recurso foi provido (provimento) e sendo desfavorável ao recorrente, diz-se que o recurso foi improvido (improvimento ou
mesmo desprovimento).
204
Ver a CF/88, CPP e Regimentos Internos do STJ e do STF (ver no site www.diogenesadvogado.com – link “Manual Prático do Militar”)
205
Prequestionamento, em síntese, é a obrigatoriedade de que a matéria jurídica a ser analisada pelo STJ ou STF tenha sido
explicitamente analisada na instância anterior.
206
Repercussão geral, de índole constitucional, é matéria jurídica nova em nosso ordenamento jurídico (2004), exigida,
exclusivamente, para o recurso extraordinário no STF. O recurso extraordinário somente será analisado se a matéria objeto
do mesmo tiver repercussão geral, ou seja, resumindo, surtir efeitos sobre a coletividade, não sendo, em síntese, uma questão
de repercussão individual. Sendo que é obrigatória a fundamentação deste requisito pelo Advogado por meio de preliminar
(o Advogado vai ter que convencer o Ministro-Relator do STF de que há repercussão geral no Recurso Extraordinário), sob
pena de não conhecimento do recurso. O objetivo da inclusão deste requisito foi diminuir os processos no STF. O art. 322
do Regimento Interno do STF assim define a repercussão geral: “O Tribunal recusará recurso extraordinário cuja questão
constitucional não oferecer repercussão geral, nos termos deste capítulo. Parágrafo único. Para efeito da repercussão geral,
será considerada a existência, ou não, de questões que, relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico,
ultrapassem os interesses subjetivos das partes.”.
207
Em um dos muitos habeas corpus que impetrei quando militar da ativa, um deles chegou ao STF, pois a União Federal
(somente a União Federal poderá interpor recurso no writ e não a autoridade coatora, já que esta não é parte na relação
processual no writ) recorreu de todas as decisões em que eu era beneficiado com alvará de salvo conduto. No ano de 2008,
foi julgado pelo STF, que não conheceu do recurso extraordinário interposto pela União Federal, ou seja, o STF não aceitou
o recurso, mantendo-se, assim, a decisão de primeira instância (Juiz Federal) que me concedeu a ordem de habeas corpus.
A resposta a esta indagação pode ser respondida através do art. 653 do CPP, do art. 195 do
Regimento Interno do STF e do art. 205 do Regimento Interno do STJ, que assim prevêem,
respectivamente, o que poderá ocorrer quando a prisão for considerada ilegal, arbitrária ou abusiva208
nos autos do habeas corpus:
208
O artigo cita o Ministério Público, que é neste caso, o detentor exclusivo da ação penal. Entretanto, ressalte-se que o
próprio impetrante ou paciente, ou mesmo terceiros podem, mediante representação criminal dirigida ao Ministério
Público, solicitar que este efetue a denúncia por crime de abuso de autoridade para o início da ação penal (ver capítulo 5).
A competência para processar e julgar delitos de abuso de autoridade cometidos por militares
está consignado na Súmula nº 172 do STJ, então vejamos:
SÚMULA nº 172
“Compete à Justiça comum processar e julgar militar por crime de abuso de
autoridade, ainda que praticado em serviço.”
Logo, em sendo praticado o delito de abuso de autoridade por militar das Forças Armadas,
será competente a Justiça Federal Comum e não a Justiça Militar Federal para o processamento e
julgamento da Ação Penal Pública. Se for praticado por militares da Polícia Militar e Bombeiros será
competente a Justiça Estadual Comum e não a Justiça Militar Estadual.
Importante destacar fato ocorrido comigo quando era militar, onde um Coronel foi investigado
e processado perante a Justiça Federal Criminal, tendo, antes, sido investigado pelo Ministério
Público Federal após efetivação de representação criminal formulada por mim e tal episódio foi
divulgado por Jornal de grande circulação de Natal/RN (ver anexo 6). Consta na matéria jornalística
que a soltura foi mediante habeas corpus, onde o Juiz Federal Walter Nunes concluiu pela ilegalidade
da prisão (ver anexo 7).
Em consequência da concessão do habeas corpus por um Juiz Federal e da representação
criminal efetivada por mim perante o MPF, o Procurador da República Dr. Marcelo Alves Dias de
Souza apresentou denúncia contra o Coronel, sendo esta recebida pelo Juiz Federal Walter Nunes
e assim instaurada a competente Ação Penal Pública pelo cometimento do crime de abuso de
autoridade (ver anexo 8).
Tanto o MPF quanto o Judiciário Federal do Rio Grande do Norte entenderam que era possível
a transação penal209 para delitos de abuso de autoridade. Logo, a autoridade coatora militar foi
beneficiada, e obviamente, concordou com a proposta do MPF, a fim de que não fosse julgada e
condenada por penas privativas de liberdade ou restritivas de direitos.
Consta no anexo 1 a íntegra da proposta do Procurador da República ao Coronel, a fim de
que, sendo aceito, ocorresse a suspensão condicional do processo, nos termos da Lei dos Juizados
Especiais.
O Coronel participou da audiência criminal210, mesmo quando estava na reserva remunerada,
ou seja, não há como “fugir” da aplicação da lei penal, mesmo quando o militar não mais está na
ativa. Ressalte-se que o Coronel, em audiência criminal, aceitou todos os termos do acordo criminal
(ver anexo 9) e certamente, se tivesse permanecido na ativa, tomaria mais cuidado ao prender
outros militares.
209
Ver tópico 5.7.
210
A audiência ocorreu no Município onde o militar da reserva fixou residência, por meio de carta precatória, embora o
processo criminal tenha sido instaurado em Natal/RN. E claro que o acusado teve que contratar Advogado e cumprir todo o
acordo criminal firmado com o Ministério Público: viva a Democracia!
A prisão administrativa disciplinar ilegal é indenizável e cito sentença proferida pela Justiça
Federal, onde a União Federal foi condenada em primeira instância a indenizar-me em R$ 20.000,00212
(vinte mil reais) pela detenção disciplinar ilegal de 04 (quatro) (ver anexo 10).
Os TRFs têm ratificado a condenação da União Federal por danos morais213 em decorrência
de prisões disciplinares ilegais praticadas por seus militares, e aproveito para transcrever 02 (duas)
decisões importantes, então vejamos:
211
O que aconteceria se o Coronel não tivesse aceitado o acordo? Certamente seria condenado por crime de abuso de
autoridade!
212
Ainda está em grau de recurso, pois a União Federal, obviamente, recorreu desta decisão.
213
Ver tópico 12.4.
4.13. RELAÇÃO DOS ENDEREÇOS DO STF E DAS PRINCIPAIS VARAS FEDERAIS (JUSTIÇA
FEDERAL) PARA IMPETRAÇÃO DO HABEAS CORPUS
Várias são as Varas (Seções e Subseções) Federais (Justiça Federal de Primeira Instância)
instaladas no País, tanto nas Capitais quanto em alguns Municípios214, entretanto, relacionarei
apenas os fóruns federais das capitais (ver anexo 2).
Quando houver alguma dúvida se há Vara Federal no município de seu Estado, bastará telefonar
para a Vara da capital que lhe darão informações.
4.14. CONCLUSÃO
214
Rio Grande do Norte possui Varas Federais instaladas em Natal, Mossoró e Caicó. Já em São Paulo e Rio de Janeiro
possuem dezenas espalhadas pelos Estados.
FULANO DE TAL, brasileiro, separado judicialmente, empresário, CPF n° _________________, Identidade n° ______________,
residente e domiciliado na Rua __________________________________________________, Fortaleza/CE, CEP 49.000-000, vem à
presença de V. Exa., com apoio no art. 5°, LV e art. 102, inciso I, letra “d”, da CF/88 e nos termos dos arts. 647 e seg. do CPP, impetrar
em favor de CICRANO DE TAL, brasileiro, casado, militar, CPF n° _________________, Identidade n° ______________,
expedida pelo Comando da Aeronáutica, residente e domiciliado na Rua __________________________________________________,
Fortaleza/CE, CEP 49.000-000 , contra ato ilegal do COMANDANTE DA BASE AÉREA DE FORTALEZA - Coronel Aviador DECANO
DE TAL - que fica assim apontado como autoridade coatora, com exercício de suas funções na
Rua________________________________________, Fortaleza/CE, pelas razões de fato e de direito que passarei a expor:
1. DOS FATOS
O paciente é militar do Comando da Aeronáutica e está preso na Base Aérea do Recife desde o dia 28.02.2008, em virtude de prisão
administrativa disciplinar de 20 (vinte) dias, conforme demonstra Boletim Interno Reservado (ou processo administrativo disciplinar ou outro
documento).
A prisão é ilegal, haja vista que não foi oportunizado ao paciente o direito à ampla defesa, já que não lhe foi permitido arrolar
testemunhas de defesa, embora tenha requerido formalmente tal pedido.
Requer-se a concessão de liminar inaudita altera pars, pois presentes os requisitos autorizadores, ou seja, o periculum in mora e o
fumus boni iuris.
A autoridade coatora negou-se a fornecer cópias do processo disciplinar, logo, requer-se, também, liminarmente, seja a mesma
intimada para fornecer cópias no prazo de 24 (vinte e quatro) horas a contar de sua intimação pessoal, a fim de que reste comprovada
documentalmente a ilegalidade da prisão.
Destaque-se que não se pretenderá neste writ questionar o mérito da punição disciplinar, mas sim sua legalidade, o que é
perfeitamente possível, conforme entendimento do STF.
Ao final, requer-se a concessão da ordem de habeas corpus.
É o importante a relatar.
2. DA FUNDAMENTAÇÃO
Nobre Magistrado, a ilegalidade da prisão disciplinar está no fato de que não foi oportunizado ao paciente o direito à ampla
defesa no processo administrativo disciplinar; em virtude de que lhe foi negado a oportunidade de apresentar testemunhas de defesa,
mesmo após ter requerido tal direito formalmente junto à autoridade responsável pelo processo, conforme comprova documento ora
anexado.
O inciso LV do art. 5º da CF/88 prevê que: “LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral
são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;”.
Do exposto, inegável que foi desrespeitado o direito constitucional do paciente à ampla defesa no processo administrativo,
logo, a prisão disciplinar é ilegal, assim, cabível o pedido e a concessão da ordem de habeas corpus.
Excelência, a plausibilidade do direito invocado pode ser muito bem observada na fundamentação anterior; logo, numa
cognição sumária, é possível verificar que a prisão, a princípio, aparenta ser ilegal, desta forma, presente a fumaça do bom direito.
Presente, sem dúvidas, a aparência do direito alegado, logo, um dos requisitos autorizadores da concessão de liminar.
O perigo da demora na apreciação regular do mérito do writ está em que o paciente está preso, e tal fato, por si só, é suficiente
para a demonstração do risco irreparável da manutenção de sua prisão.
Ademais, caso ao final do processo, a prisão seja considerada legal, revogar-se-á o alvará de soltura, podendo, assim, o
paciente ser novamente custodiado pela autoridade coatora, sem prejuízo algum para a instituição militar.
4. DO PEDIDO
a) receba o presente habeas corpus, pois adequado, em virtude de que não se ataca questões meritórias da punição
disciplinar;
b) conceda liminarmente, inaudita altera pars, o writ, expedindo-se, assim, alvará de soltura;
c) a notificação da autoridade coatora para, querendo, prestar as informações de estilo;
d) a intimação da autoridade coatora para que forneça, no prazo de 24 (vinte e quatro horas) a contar de sua intimação
pessoal, cópias do respectivo processo disciplinar,
e) a intervenção do Ministério Público; e
f) ao final, ouvido o Ministério Público, a concessão definitiva da ordem, nos termos da fundamentação.
Termos em que
pede e espera deferimento.
_____________________________________________________
FULANO DE TAL
CPF ___________________________
1
Dependendo da Seccional (Fórum Federal) poderá haver vara especializada para processar e julgar
habeas corpus, então, sugiro tal cabeçalho na petição inicial. Por exemplo: no RN, é a 2ª Vara Federal competente para
questões criminais, inclusive para writ contra prisões disciplinares.
2
Atenção: excluindo os Comandantes das Forças Armadas, que detém foro privilegiado, e por isso, a impetração do
writdeverá ser, necessariamente, perante o STF, situado em Brasília/DF. As demais impetrações contra atos ilegais de
superiores hierárquicos deverão ser impetradas noEstado em que os mesmos exerça
m suas atividades militares.
3
Este termo é utilizado a fim de que o Relator defira a liminar, sem antes, requerer informações ou esclarecimentos prévios
da autoridade coatora.
FULANO DE TAL, brasileiro, separado judicialmente, empresário, CPF n° _________________, Identidade n° ______________,
residente e domiciliado na Rua __________________________________________________, Fortaleza/CE, CEP 49.000-000, vem à
presença de V. Exa., com apoio no art. 5°, LV e art. 102, inciso I, letra “d”, da CF/88 e nos termos dos arts. 647 e seg. do CPP, impetrar
em favor de CICRANO DE TAL, brasileiro, casado, militar, CPF n° _________________, Identidade n° ______________,
expedida pelo Comando da Aeronáutica, residente e domiciliado na Rua __________________________________________________,
Fortaleza/CE, CEP 49.000-000 , contra ameaça de cometimento de ato ilegal e arbitrário por parte do COMANDANTE DA BASE
AÉREA DE FORTALEZA - Coronel Aviador DECANO DE TAL - que fica assim apontado como autoridade coatora, com exercício de
suas funções na Rua________________________________________, Fortaleza/CE, pelas razões de fato e de direito que passarei a
expor:
1. DOS FATOS
O paciente é militar do Comando da Aeronáutica, respondendo a processo administrativo disciplinar por ter, supostamente, cometido
transgressão disciplinar, conforme demonstra notificação oficial para apresentação de defesa.
Ocorreu, Excelência, que não foi oportunizado ao paciente o direito à ampla defesa, já que não lhe foi permitido arrolar testemunhas
de defesa, embora tenha requerido formalmente tal pedido, conforme comprova documento anexado.
Em virtude do indeferimento do pedido de arrolamento de testemunhas, o processo administrativo está praticando terminado,
restando, apenas, a conclusão do mesmo pela autoridade coatora, que poderá punir o paciente com detenção ou prisão, nos termos do
Regulamento Disciplinar Militar.
Em virtude da iminência de uma possível prisão disciplinar, restou necessário a impetração do writ preventivo; sendo necessário,
principalmente, o pedido de concessão de liminar inaudita altera pars, a fim de que seja expedido imediatamente o alvará de salvo-conduto,
pois presentes os requisitos autorizadores, ou seja, o periculum in mora e o fumus boni iuris.
A autoridade coatora negou-se a fornecer cópias do processo disciplinar, logo, requer-se, também, liminarmente, seja a mesma
intimada para fornecer cópias no prazo de 24 (vinte e quatro) horas a contar de sua intimação pessoal, a fim de que reste comprovada
documentalmente a ilegalidade da prisão.
Destaque-se que não se pretenderá neste writ questionar o mérito da possível punição disciplinar, mas sim sua legalidade, o que é
perfeitamente possível, conforme entendimento do STF.
Ao final, requer-se a concessão da ordem de habeas corpus, ratificando-se, assim, o alvará de salvo-conduto.
É o importante a relatar.
2. DA FUNDAMENTAÇÃO
Excelência, a ameaça da provável ilegalidade da prisão disciplinar está no fato de que não foi oportunizado ao paciente o direito
à ampla defesa no processo administrativo disciplinar; em virtude de que lhe foi negado a oportunidade de apresentar testemunhas de
defesa, mesmo após ter requerido tal direito formalmente junto à autoridade responsável pelo processo, conforme comprova documento
ora anexado.
O inciso LV do art. 5º da CF/88 prevê que: “LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral
são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;”.
Do exposto, inegável que foi desrespeitado o direito constitucional do paciente à ampla defesa no processo administrativo,
logo, a ameaça de prisão disciplinar ilegal e arbitrária é iminente, assim, cabível o pedido e a concessão da ordem de habeas corpus
preventivo.
Excelência, a plausibilidade do direito invocado pode ser muito bem observada na fundamentação anterior; logo, numa
cognição sumária, é possível verificar que a possível e iminente prisão, a princípio, aparenta ser ilegal, desta forma, presente a fumaça
do bom direito.
Presente, sem dúvidas, a aparência do direito alegado, logo, um dos requisitos autorizadores da concessão de liminar.
O perigo da demora na apreciação regular do mérito do writ está em que o paciente poderá ser preso disciplinarmente a
qualquer momento, e tal fato, por si só, é suficiente para a demonstração do risco irreparável em caso de execução da medida
disciplinar prisional.
Ademais, caso ao final do processo, o processo disciplinar seja considerada legal, revogar-se-á o alvará de salvo-conduto,
podendo, assim, o paciente custodiado pela autoridade coatora, sem prejuízo algum para a instituição militar.
4. DO PEDIDO
a) receba o presente habeas corpus preventivo, pois adequado, em virtude de que não se ataca questões meritórias da
possível punição disciplinar;
b) conceda liminarmente, inaudita altera pars, o writ, expedindo-se, assim, alvará de salvo-conduto;
c) a notificação da autoridade coatora para, querendo, prestar as informações de estilo;
d) a intimação da autoridade coatora para que forneça, no prazo de 24 (vinte e quatro horas) a contar de sua intimação
pessoal, cópias do respectivo processo disciplinar,
e) a intervenção do Ministério Público; e
f) ao final, ouvido o Ministério Público, a concessão definitiva da ordem, nos termos da fundamentação.
Termos em que
pede e espera deferimento.
___________________________________________________
FULANO DE TAL
CPF ___________________________