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Economia Brasileira

13/06/2016

Plano Cruzado (1986)

1985-89: “Nova República” – experiências malsucedidas de estabilização da inflação;

Campanha “Diretas Já” (1984) – democracia = solução para os problemas econômicos


(inflação/crescimento);

Tancredo Neves: eleições indiretas – coalizão partidária;

José Sarney: sem legitimidade nas urnas – buscou nas ruas com o Plano Cruzado;

Crescimento econômico 1984: 5,4% e 1985: 7,8% - melhoria nas contas externas e públicas,
mas inflação 1984: 229%;

Causa: economia indexada – como fazer?

Várias teses: “Pacto Social” (Unicamp); Choque Ortodoxo (FGV); “Choque Heterodoxo” (PUC-
Rio – Chico Lopes); Reforma Monetária (PUC-Rio, André Lara Resende/Pérsio Arida);

Estabilização de preços sem Demanda Agregada – congelamento de preços

Inflação inercial – decorrente de contratos com cláusulas de indexação, agravas por choques
de oferta e demanda.

Solução: conversão dos contratos da economia pelo seu valor médio (equilíbrio);

Plano Cruzado: 2º Ano Governo Sarney = Ministro Fazenda: Dílson Funaro;

Contexto internacional favorável: queda do preço do petróleo, desvalorização do dólar;

“Choque heterodoxo” (Chico Lopes): 28/02/1986 – 4 grupos de medidas:

1- Reforma monetária e congelamento: cruzado (Cr$ 1.000 – Cz$ 1,00)

Objetivos: imagem de uma moeda forte e permitir a intervenção nos contratos – preços
congelados e taxa de cambio fixa – Tabela da SUNAB;

2- Desindexação da economia: ORN – OTN (congelados por 1 anos). Proibida indexação


de contratos – denominados em moeda “velha”, mas desvalorizada diariamente em
relação ao cruzado – Tablita de Conversão – acabar com as expectativas de inflação
3- Índice de preços e caderneta de poupança: rendimentos trimestrais (IPCA – IPC);
4- Política salarial: em cruzados – média dos últimos 6 meses – congelados – dissídios
anuais – “gatilho salarial”

Redemocratização – Nova República. Diversas tentativas de estabilização econômica, mais


fracassos do que êxitos.

Governo figueiredo – dificuldade de continuar com o crescimento através do II PND, devido


alta dos juros estadunidenses, choques do Petróleo, aumento da dívida externa brasileira,
desequilíbrio nas contas internas e assim por diante. Ainda assim, algumas inversões estavam
sendo emergidas, tal como a consolidação de alguns investimentos da área de indústria de
base e isso teve pequenos reflexos positivos na economia em 1983/84 e em 1984 a safra
agrícola foi favorável o que ajudou a equilibrar em parte as contas.
Forte clamor popular pelo fim da era militar – Diretas Já. 1985, eleição direta de um
presidente civil. Geisel e Figueiredo eram militares mais flexíveis.

Rompimento da era militar até 1989 e as eleições efetivamente diretas é o período chamado
de Nova República, marcado mais pelos fracassos econômicos dos planos heterodoxos (saga
dos planos heterodoxos).

Clamor em que a democracia seria solução também para os problemas econômicos, como se
estes problemas fossem oriundos apenas do governo militar. Para resolver os problemas
econômicos (dívida externa, descontrole desta e inflação) deveria haver um governo
democrático pois esta adotaria medidas voltadas ao fim do conflito distributivo, visando uma
melhor distribuição de renda.

1984 – Emenda Dante de Oliveira para mudar o sistema eleitoral. O congresso não aprovou
por falta de quórum. Maioria dos deputados sequer participou das sessões. Então buscou-se
pelo menos tentar fazer eleições indiretas. Tancredo Neves surge como nome forte daí, forma
uma grande coalisão partidária para se eleger. Junta os partidos de esquerda e alguns
resquícios dos militares, no entanto Neves morre antes de assumir e o vice era Sarney, que
assume sem legitimidade nas urnas, afinal vinha das bases militares, mas tinha legitimidade
popular herdada de Neves.

Sarney – Plano Cruzado (1986).

1984/1985 – Altos crescimentos do PIB, aliado a isso melhora nas contas externas muito por
conta do aumento das exportações, especialmente da área agrícola e subsequente melhoria
nas contas públicas. Porém, um problema não estava sendo resolvido: a inflação persistia.
Altos índices de inflação.

Diagnostico da inflação – excesso de gastos, mas também colocava em que cheque os pacotes
do governo que tentava combate-la. Dava-se o remédio, mas este não fazia efeito. Chega-se a
conclusão de que o diagnostico está errado. Contradição.

Consenso: causa da inflação era a alta indexação da economia. Como fazer então para mudar?
Tirar a indexação e como fazer isso não havia consenso.

Inflação galopante impacta a iniciativa privada. Se a inflação estava em 224%, os preços


deveriam ser reajustados com base nesse valor. Inflação era causada por ela mesma, por isso é
que se denomina o efeito de inflação inercial. A inflação se auto alimenta.

Tem-se então 4 correntes de tentativa de tirar a indexação da economia.

Tese do Pacto Social (Unicamp): aliança entre governo, trabalhadores e empresas para poder
parar de aumentar os preços. Congelamento voluntário, feito de maneira harmônica. Assim
poderia reduzir-se o impacto da inflação e havia inclusive uma melhora distributiva.
Extremamente difícil de ser realizado: concentração de renda, dominação de setores por
monopólios e oligopólios, democracia incipiente. Plano heterodoxo, mas não de choque.

Choque ortodoxo (FGV): grande problema é o excesso de demanda agregada, corte nos gastos
públicos, no consumo, choque de restrição monetária. “Cortar geral”. Aumentar as taxas de
juros até o topo, restringir consumo e aí assim a inflação cederia.
Choque heterodoxo: o problema no Brasil em 1985 não é o excesso de gasto do governo. Brasil
tem reservas internacionais, os gastos do governo não correspondem sequer a 3% do PIB.
Duas alas dentro dessa área, todos ligados a PUC-RJ.

Chico Lopes: utilizar a ideia que a Unicamp prega só que não de maneira voluntário, deveria
ser obrigatório/compulsório. Deveria haver congelamentos compulsórios até a inflação ceder e
depois começa a voltar ao normal.

A outra da PUC-RJ queria que houvesse o choque, mas não deveria ser congelamento tão
compulsórios. Era necessário um certo congelamento, mas também era preciso reformas na
área monetária. Deveria criar-se uma nova moeda, desindexada, sem vícios, livre da inflação.

Tanto para o Pacto Social quanto para os choques heterodoxos da PUC-RJ havia o consenso de
que a inflação era causada pela inércia. Necessário atacar a inflação inercial com outros
remédios, apenas as medidas restritivas não funcionavam.

Uma das primeiras medidas que Sarney adota ao assumir o governo, antes do Plano Cruzado,
foi romper com o arrocho salarial.

Solução para a inflação seria a conversão dos contratos da economia pelo seu valor médio. Em
síntese seria congelar os contratos pelo valor dos 6 últimos meses, a média dos últimos meses
e assim a inflação não seria realimentada.

Plano cruzado: segundo governo Sarney.

Planos da década de 1980 são heterodoxos. Isso acaba depois da década de 1980. O Plano
Real é um misto entre os dois.

Contexto internacional favorável em 1986: queda no preço do petróleo. Redução nos custos
de produção. Situação favorável para a inflação ceder. Desvalorização do dólar em relação as
moedas europeias e o iene, se o dólar está desvalorizado e o Brasil tem dívidas em dólar, as
dividas ficam mais baratas. O brasil tinha conseguido, em 1984, acumular reservas
internacionais.

Plano cruzado: estabilização da economia, com vistas ao combate da inflação. Inflação sobe de
maneira vertiginosa e desejava-se romper com esse problema. Havia perspectivas
internacionais favoráveis e a população convicta de que o plano daria certo.

4 medidas do Plano Cruzado:

1) Reforma monetária. Troca do cruzeiro para o cruzado. Mil cruzeiros equivaleriam a 1


cruzado. Todos os preços seriam divididos por mil para haver conversão. BC começa a
emitir moeda para substituir as moedas, mas isso não se faz do dia para a noite e
durante um tempo lidava-se com duas moedas. Objetivo era passar a imagem de uma
moeda forte sem indexação porque ela viria acompanhada do congelamento de
preços e o governo poderia intervir nos contratos, haveria uma revisão monetária dos
contratos e isso permitiria tirar-lhes a indexação através dos preços e tarifas
congeladas. Troca de moeda é muito mais simbólica do que real, se não vier
acompanhada de alguma reforma que lhe dê poder de compra. Cambio foi fixado
também. Não só os preços internos estavam congelados. Para manter o câmbio fixo o
Brasil tinha de pagar uma taxa, mas como o cenário internacional era favorável, o país
não gastava tantas reservas para manter essa situação, que durou pouco tempo.
Tabela de preços da SUNAB (fiscais do Sarney), impedia que os preços fossem
mudados, caso o decreto fosse desrespeitado haveria punições legais/jurídicas.
2) Desindexação da economia – extinção da ORTN (obrigações reajustáveis do tesouro
nacional). OTN – obrigações do tesouro nacional. Índice congelado por 1 ano. Quando
o contrato estivesse prestes a vencer, aí sim haveriam negociações para reajuste, mas
ele não seria reajustado ano a ano com base na inflação. Tendência de congelar preços
e salários era para que a inflação chegasse a zero, sabemos que nunca caiu. Cruzeiro
seria desvalorizado diariamente em relação ao cruzado. Contrato seria reajustado de
acordo com a desvalorização diária do cruzado em relação ao cruzeiro (0,45% ao dia).
3) Índice de preços e caderneta de poupança. Poupança seria reajustada
trimestralmente, para evitar especulações dentro desse ativo financeiro. Governo
muda o índice de preços, sai do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e passa
a ser o IPC (índice de preço ao consumidor).
4) Política salarial – salário determinado em cruzado. Média dos últimos 6 meses do
salário nominal. Congelamento nesse valor em 28/02. Plano heterodoxo que tinha
preocupações com o conflito distributivo, sabia-se que os salários estavam defasados e
corroídos pela inflação. Dissídios anuais (reajuste), antes de congelar o governo deu
um abono de 8% no salário mínimo, reajuste para os servidores públicos e
posteriormente congelou por 1 ano. Mecanismo – gatilho salarial – toda vez que a
inflação acumulada chegasse a 20%, o salário seria reajustado. Muita confiança de que
a inflação não aumentaria, risco tremendo de descontrole nas contas públicas.

Governo pensava de 2 formas: acreditava que a inflação não aumentaria e o gatilho salarial
seria também uma forma de evitar que a inflação aumentaria. Se houvesse um repasse por
parte dos empresários para o preço final, o gatilho dispararia e isso seria ruim para os
empresários que teriam de pagar mais salários. A população também não queria que o gatilho
fosse usado, porque isso é perca de poder aquisitivo.

Teto de 20% serve para a inflação, mas vale também para o gatilho. Se a inflação vai para 20%,
o aumento salarial seria apenas de 20%.

Deu certo em um primeiro momento, mas poucos meses.

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