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Catalogação elaborada na Fonte.

Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária responsável:

Rosiane Maria - CRB-14/1588

U588a Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da Saúde. Departamento de


Saúde Pública. Curso de Atenção Integral à Saúde das Mulheres – Modalidade a Distância.

Atenção à saúde das mulheres em situação de violência [Recurso eletrônico] /
Universidade Federal de Santa Catarina. Sheila Rubia Lindner... [et al.] (Organizadoras). –
2. ed. – Florianópolis: UFSC, 2019.
62 p. : il. color.
Modo de acesso: www.unasus.ufsc.br
Conteúdo do módulo: Unidade 1 – A violência contra as mulheres. – Unidade 2 – Situações
de violência e o papel do profissional na Atenção Primária. – Unidade 3 – Atenção às mulheres
em situação de violência no âmbito da Atenção Primária.
ISBN: 978-85-8267-154-2
1. Saúde das mulheres. 2. Violência contra a mulher. 3. Atenção primária em saúde.
I. UFSC. II. Lindner, Sheila Rubia. III. Delziovo, Carmem Regina. IV. Bolsoni, Carolina Carvalho.
V. Oliveira, Caroline Schweitzer de. VI. Coelho, Elza Berger Salema. VII. Título.

CDU: 364.2

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Créditos

GOVERNO FEDERAL
Ministério da Saúde
Secretaria de Atenção Primária em Saúde
Departamento de Ações Programáticas Estratégicas
Coordenação Geral de Ciclos de Vida
Coordenação de Saúde das Mulheres

Universidade Federal de Santa Catarina


Reitor: Ubaldo Cesar Balthazar
Vice-Reitora: Alacoque Lorenzini Erdmann
Pró-Reitora de Pós-Graduação: Cristiane Derani
Pró-Reitor de Pesquisa: Sebastião Roberto Soares
Pró-Reitor de Extensão: Rogério Cid Bastos

Centro de Ciências da Saúde


Diretor: Celso Spada
Vice-Diretor: Fabrício de Souza Neves

Departamento de Saúde Pública


Chefe do Departamento: Fabrício Augusto Menegon
Subchefe do Departamento: Lúcio José Botelho
Coordenadora do
Curso de Capacitação: Elza Berger Salema Coelho

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Créditos

EQUIPE TÉCNICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE


Coordenação-Geral de Saúde das Mulheres

Gestora geral do Projeto


Elza Berger Salema Coelho

Equipe de produção editorial


Carolina Carvalho Bolsoni
Deise Warmling
Elza Berger Salema Coelho

Equipe executiva
Dalvan Antonio de Campos
Gisélida Vieira
Patrícia Castro
Sheila Rubia Lindner

Consultoria técnica
Carmem Regina Delziovo

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Créditos

AUTORIA DO MÓDULO
Sheila Rubia Lindner
Carmem Regina Delziovo
Carolina Carvalho Bolsoni
Caroline Schweitzer de Oliveira
Elza Berger Salema Coelho

Assessoria pedagógica
Márcia Regina Luz

Identidade visual e Projeto gráfico


Pedro Paulo Delpino

Diagramação, Ajustes
e finalização
Adriano Schmidt Reibnitz

Esquemáticos
Naiane Cristina Salvi

Design instrucional, revisão de


língua portuguesa e ABNT
Eduard Marquardt

Fonte para imagens e esquemáticos


Fotolia

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Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência

Olá. Convidamos você a iniciar seus estudos! a atenção integral às mulheres agredidas e
a coleta de informações sobre a prevalên-
Este módulo se propõe discutir a violência cia desta violência, os fatores de risco e as
que permeia a vida das mulheres, focando na- consequências para a saúde das mulheres, a
quela que está mais presente em suas vidas, fim de promover e fundamentar as políticas
a violência nas relações com seus parceiros públicas nesta área. O setor tem também o
íntimos, compreendida como uma violência compromisso de atuar na prevenção da vio-
de gênero. Esta diz respeito às relações de lência com a disseminação de informações
poder e à distinção entre as características e ações na área a partir do reconhecimento
atribuídas a homens e mulheres na sociedade desta como um problema de saúde pública
em que vivemos. (OMS,2013).

Assim, no contexto da Atenção Primária, apre- É importante ressaltar o desafio posto para
sentaremos aqui estratégias para a atenção às os profissionais nos serviços de saúde, de
mulheres em situação de violência de gênero. atenção às mulheres em situação de violên-
Para tanto, destacamos que o Brasil cons- cia como um cuidado na assistência coti-
truiu políticas públicas hoje vigentes para o diana, e, sobretudo, somar com outras atua-
enfrentamento à violência contra a mulher e a ções sociais em movimentos ético-políticos
garantia do atendimento integral e humaniza- contra a violência e a favor de seu controle e
do. Estas políticas reconhecem a violência de prevenção.
gênero, raça e etnia como violência estrutural
e histórica que expressa a opressão das mu- Neste sentido, abordamos pontos que con-
lheres, problema que precisa ser tratado como sideramos importantes para intrumentalizar
questão da segurança, justiça, educação, as- você nesta área. Na primeira unidade discu-
sistência social e saúde pública. tiremos sobre a violência contra as mulheres,
relembrando definições e contextualizando
Neste âmbito, o setor saúde tem papel funda- esta agressão com as prevalências e con-
mental. Entre as suas responsabilidades está sequências na saúde. A segunda unidade

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Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência

apontará como você pode indentificar as mu-


lheres em situação de violência; na terceira
unidade, por fim, veremos as políticas públi-
cas que devem nortear a atuação nesta área,
as estratégias para atenção às mulheres em
situação de violência e o fortalecimento do
trabalho em rede.

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Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência

Este módulo trata da atenção às mulheres Objetivo geral do módulo


em situação de violência, instrumentalizando
para a identificação e o cuidado no contexto Ao final deste módulo você deverá ser ca-
da Atenção Primária. Descreve o panorama paz de reconhecer os tipos de violência, com
desta violência, aponta suas consequências e, ênfase na violência por parceiros íntimos,
por fim, elenca estratégias para o seu enfren- as consequências dessas violências con-
tamento e fortalecimento da rede de atenção. tra as mulheres e a partir das políticas pú-
blicas vigentes identificar estratégias para o
seu enfrentamento.

Carga horária

30 horas.

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Sumário

Unidade 1 – UN1

A violência contra as mulheres 15

1.1 Tipos de violência contra as mulheres 18


1.2 Contexto da violência contra as mulheres no Brasil 22
1.3 Consequências da violência na saúde das mulheres 23

Unidade 2 – UN2

Situações de violência e o papel do profissional na Atenção Primária 27

2.1 As mulheres em situação de violência: como compreender esta situação 29


2.2 Como reconhecer as mulheres que estão em situação de violência 33

Unidade 3 – UN3

Atenção às mulheres em situação de violência no âmbito da Atenção Primária 37

3.1 Estratégias de atenção às mulheres em situação de violência 43


3.2 Rede de atenção às mulheres em situação de violência 47

Resumo do módulo 53
Referências 55
Sobre as autoras 60

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UN1
A violência contra as mulheres

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UN1 A violência contra as Atenção à saúde das mulheres em
mulheres situação de violência

A violência contra a mulher foi definida pela mente de coabitação. Compreende as


ONU como todo ato baseado no gênero, que violências física, psicológica, sexual,
moral, patrimonial e o comportamento
cause morte, dano ou sofrimento físico, se-
controlador (BRASIL, 2006; KRUG et al.,
xual ou psicológico à mulher, tanto na esfera
2002).
pública quanto na privada (Convenção de Be-
lém do Pará – ONU). Esta violência faz parte
de um complexo fenômeno que afeta todas
as classes sociais, constituindo-se em uma Figura 1 – A violência contra a mulher atinge todas as
classes sociais
das principais formas de violação aos direitos
humanos, apesar das várias declarações, po-
líticas, diretrizes e compromissos assumidos
por muitos países em relação à garantia des-
tes. Está profundamente arraigada à cultura
na sociedade, nas estruturas institucionais e
sociais, nas quais as relações de poder exis-
tentes entre os gêneros são historicamente
desiguais. É importante considerar que a per-
petuação da violência contra a mulher está
relacionada ao aprendizado dos papéis do
homem e da mulher, e que estes são usados
como justificativas para determinados com-
portamentos violentos.

O termo violência por parceiros íntimos


refere-se a todo e qualquer comporta-
mento de violência presente tanto na
unidade doméstica como em qualquer
relação íntima de afeto, independente

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UN1 A violência contra as Atenção à saúde das mulheres em
mulheres situação de violência

Figura 2 – A lei Maria da Penha estabelece direitos funda-


No Brasil, as políticas públicas e as legisla- 1.1 Tipos de violência contra as
mentais às mulheres
ções reconhecem a violência contra a mu- mulheres
lher como uma violação grave de direitos que
compromete a saúde e a qualidade de vida, Entender quais tipos de violência as mulheres
assumindo este como um problema de saú- sofrem é o primeiro ponto que trazemos neste
de pública. Entre as legislações destacamos a módulo. Nosso objetivo é que você amplie sua
Lei no 11.340/2006, conhecida como Lei Maria capacidade de reconhecer as mulheres que
da Penha, a principal normativa brasileira para estão passando por este agravo na sua área
enfrentar a violência contra as mulheres, re- de atuação e assim portencialize ações de en-
conhecida pela Organização das Nações Uni- frentamento a este grave problema de saúde
das como uma das três melhores do mundo pública.
no enfrentamento à violência de gênero. Esta
lei estabelece que toda mulher – independen- Inicialmente é preciso destacar que a principal
temente de classe, raça, etnia, orientação se- violência sofrida pelas mulheres se dá no âm-
xual, renda, cultura, nível educacional, idade bito das relações com maridos, ex-maridos,
e religião – goza dos direitos fundamentais namorados e ex-namorados, configurando-se
inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asse- como violência entre parceiros íntimos. Consi-
guradas as oportunidades e facilidades para derado um fenômeno global, em nenhum país
viver sem violência, preservar sua saúde física ou cultura as mulheres estão livres deste tipo de
e mental e seu aperfeiçoamento moral, inte- violência. Ocorre em todas as classes sociais e
lectual e social (BRASIL, 2006). se fundamenta no sistema patriarcal e na domi-
nação sistêmica das mulheres pelos homens.
Para que você compreenda melhor esta vio-
lência, traremos a seguir informações que Estimativas globais sobre violência praticada
consideramos importantes quanto aos tipos por homens contra mulheres indicam que 30%
de violência, com a finalidade de potencializar DIA INTERNACIONAL PARA ELIMINAÇÃO DA das mulheres que tiveram um parceiro (cerca
a identificação e o cuidado às mulheres que VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER de uma em cada três) já sofreram violência fí-
vivenciam alguma destas agressões. sica e ou sexual em algum momento da vida.

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UN1 A violência contra as Atenção à saúde das mulheres em
mulheres situação de violência

Figura 3 – Prevalência de violência praticada por parceiro íntimo, por região da OMS, 2014. É importante salientar ainda que dependendo
da idade da mulher, pré-adolescentes ou ido-
sas, outros agressores aparecem, configuran-
do-se como violência intrafamiliar, entre eles
os irmãos, pais e os filhos.

Violência intrafamiliar é toda ação ou


omissão que prejudique o bem-estar, a
integridade física e a psicológica, ou a
liberdade e o direito ao pleno desenvolvi-
mento de outro membro da família. Deri-
vado dos estudos de família, esse termo
é entendido de maneira mais ampla que a
doméstica e que a violência contra a mu-
lher, por considerar crianças, irmãos, ho-
mens e idosos. Esse tipo de violência é co-
metido, dentro ou fora de casa, por algum
membro da família, inclusive pessoas que
passam a assumir função parental, ain-
da que sem laços de consanguinidade, e
que apresentam relação de poder sobre a
outra pessoa (BRASIL, 2001).

Fonte: Estimativas globais e regionais da OMS sobre violência contra a mulher, 2013 Quanto aos tipos de violência contra as mu-
lheres, a Lei Maria da Penha, em seu artigo
no 7, classifica como em 5 tipos, acompanhe o
esquemático a seguir.
Nas Regiões Africana, do Mediterrâneo Oriental praticada por parceiro íntimo, seguindo-se a
e do Sudeste Asiático, aproximadamente 37% Região das Américas, com aproximadamente
das mulheres,que já tiveram um parceiro, re- 30% das mulheres relatando exposição a esse
lataram ter sofrido violência física e/ou sexual tipo de violência ao longo da vida (figura 3).

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UN1 A violência contra as Atenção à saúde das mulheres em
mulheres situação de violência

de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe Destacamos que na violência física por par-
1 Violência física cause prejuízo à saúde psicológica e à au- ceiro íntimo o grau de severidade do ato
todeterminação; cometido pode ser de “violência física mo-
2 Violência psicológica a violência sexual, entendida como qual- derada” até “violência física grave”. Alguns
quer conduta que a constranja a presen- estudos consideram como violência física
3 Violência sexual ciar, a manter ou a participar de relação se- moderada ou não grave o ato de receber ou
xual não desejada, mediante intimidação, dar um “tapa”, sem adicionar os demais atos
ameaça, coação ou uso da força; que a in- de violência física (DE MELO, 2010; BRUSCHI,
4 Violência moral duza a comercializar ou a utilizar, de qual- 2006). Outra classificação comumente utili-
quer modo, a sua sexualidade, que a impe- zada para a violência física moderada, além
5 Violência patrimonial ça de usar qualquer método contraceptivo de receber um “tapa”, abrange os atos de “ter
ou que a force ao matrimônio, à gravidez, algum objeto arremessado” e “ser empurra-
ao aborto ou à prostituição, mediante coa- do ou chacoalhado”. A violência física grave
a violência física, entendida como qual- ção, chantagem, suborno ou manipulação, é representada com atos como “chute, soco,
quer conduta que ofenda sua integridade ou que limite ou anule o exercício de seus espancamento, uso de arma”. Vale destacar
ou saúde corporal; direitos sexuais e reprodutivos; que o risco de suicídio para mulheres que so-
a violência psicológica, entendida como a violência patrimonial, entendida como freram violência física moderada é três vezes
qualquer conduta que lhe cause dano qualquer conduta que configure retenção, maior, e para as que sofreram violência física
emocional e diminuição da autoestima, subtração, destruição parcial ou total de grave é oito vezes maior quando em compa-
prejudique e perturbe o pleno desenvolvi- seus objetos, instrumentos de trabalho, ração com mulheres que não sofreram vio-
mento ou que vise degradar ou controlar documentos pessoais, bens, valores e di- lência física (FANSLOW, 2004).
suas ações, comportamentos, crenças e reitos ou recursos econômicos, incluindo
decisões, mediante ameaça, constrangi- os destinados a satisfazer suas necessi- Consideramos importante, ainda, ressaltar al-
mento, humilhação, manipulação, isola- dades; gumas formas de agressões que são conside-
mento, vigilância constante, perseguição a violência moral, entendida como qual- radas violência:
contumaz, insulto, chantagem, ridicula- quer conduta que configure calúnia, difa-
rização, exploração e limitação do direito mação ou injúria.

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UN1 A violência contra as Atenção à saúde das mulheres em
mulheres situação de violência

Veja em detalhe (BRASIL, 2015):  Forçar atos sexuais desconfortáveis: não é


só forçar o sexo que consta como violência
Formas de agressão consideradas violência sexual. Obrigar a mulher a fazer atos se-
xuais que causam desconforto ou repulsa,
como a realização de fetiches, também é
Humilhar, xingar Tirar a Fazer a mulher Controlar e violência.
Expor a
e diminuir liberdade achar que está oprimir a Impedir a mulher de prevenir a gravidez
vida íntima
a autoestima de crença ficando louca mulher
ou obrigá-la a abortar: o ato de impedir
uma mulher de usar métodos contra-
ceptivos, como a pílula do dia seguin-
Impedir a
te ou o anticoncepcional, é conside-
Atirar objetos, mulher de Controlar o
Forçar atos rado uma prática da violência sexual.
sacudir e prevenir dinheiro ou Quebrar objetos
sexuais
apertar os a gravidez ou reter da mulher Da mesma forma, obrigar uma mu-
desconfortáveis
braços obrigá-la a documentos
lher a abortar também é outra forma de
abortar
abuso.
Controlar o dinheiro ou reter documen-
tos: tentar controlar, guardar ou tirar
 Humilhar, xingar e diminuir a autoestima:  Controlar e oprimir a mulher: aqui o que o dinheiro de uma mulher contra a
agressões como humilhação, desvaloriza- conta é o comportamento obsessivo sobre sua vontade, assim como guardar do-
ção moral ou deboche público em relação a mulher, como querer controlar o que ela cumentos pessoais da mulher, isso é
a mulher constam como tipos de violência faz, não deixá-la sair, isolar sua família e considerado uma forma de violência
emocional. amigos ou procurar mensagens no celular patrimonial.
 Fazer a mulher achar que está ficando lou- ou e-mail.  Quebrar objetos da mulher: outra forma de
ca: há inclusive um nome para isso: o gas-  Expor a vida íntima: falar sobre a vida do violência ao patrimônio da mulher é causar
lighting. Uma forma de abuso mental que casal para outros é considerado uma for- danos de propósito a objetos dela, ou obje-
consiste em distorcer os fatos e omitir si- ma de violência moral, como, por exemplo, tos que ela goste.
tuações para deixar a vítima em dúvida so- vazar fotos íntimas nas redes sociais como
bre a sua memória e sanidade. forma de vingança.

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UN1 A violência contra as Atenção à saúde das mulheres em
mulheres situação de violência

Lembramos que estas formas de violência não Estima-se que 2,1 milhões de mulheres são Os homens foram os agressores em 94,1%
se produzem isoladamente, mas fazem parte espancadas por ano, 175 mil por mês, 5,8 mil dos casos de estupro (IPEA, 2017).
de uma sequência crescente de episódios, por dia, 243 por hora, 4 por minuto e 1 cada 15
em que o homicídio é a manifestação mais segundos, sendo que 65% das mulheres são Outros dados relevantes sobre a violência
extrema. agredidas por seus companheiros (PESQUISA contra a mulher são oriundos da Central de
PERSEU ABRAMO, 2013). Atendimento à Mulher em Situação de Violên-
A seguir, apresentaremos as prevalências cia – Ligue 180.
destas violências contra as mulheres con- Com relação à violência sexual, foram regis-
forme informações disponíveis no Brasil. trados 61.032 estupros em 2017 (ANUÁRIO Figura 4 – Central de Atendimento à Mulher em Situação
Nosso objetivo é mostrar o quanto este DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2018). Ressalta- de Violência – Ligue 180
agravo à saúde ocorre e mobilizar você para -se que a violência sexual ocorre cerca de
identificar também no seu território mulhe- seis vezes mais entre as mulheres do que en-
res que estejam sofrendo esta violência. tre os homens (SHRAIBER, 2005). Apesar do
Assim, você, junto com as mulheres, sua alto número de casos registrados, é preciso
equipe e a comunidade, poderão desenvol- destacar que a maioria das mulheres que so-
ver ações contra a recorrência. frem violência sexual não registram denúncia
na polícia, o que torna difícil estimar a preva-
1.2 Contexto da violência contra as lência deste crime.
mulheres no Brasil
No setor saúde os dados apontam que 20.085
O Brasil é o quinto país do mundo com pessoas foram estupradas por ano no Brasil,
maior índice de homicídios de mulheres, segundo notificações do SINAN, em 2014. Es-
ficando atrás somente para El Salvador, ses registros mostram ainda que cerca de 70%
Colômbia, Guatemala (três países latino- das violências acometeram crianças e ado- Em 2018, este serviço recebeu 92.663 denún-
-americanos) e a Federação Russa. Es- lescentes. A proporção de casos contra ado- cias de violência contra as mulheres. Já nos
sas mortes representam 13 homicídios lescentes e adultos aumentou quando o estu- primeiros seis meses de 2019, o canal recebeu
femininos diários (MAPA DA VIOLÊNCIA, pro foi cometido por dois ou mais agressores. 46.510 denúncias, um aumento de 10,93% em
2015). relação ao mesmo período do ano anterior.

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UN1 A violência contra as Atenção à saúde das mulheres em
mulheres situação de violência

Do total dos atendimentos, 12.878 foram de- Figura 5 – Ordenamento da UFs, segundo taxas de homicídio de mulheres (por 100 mil). Brasil (2017).
núncias de ameaças , cárcere privado (3.065),
feminicídio (63), tentativa de feminicídio
(2.075), homicídio (44), tentativa de homicí- 12,0

Taxas de homicídio (por 100 mil)


dio (308), trabalho escravo (6), tráfico de mu- 10,0
lheres (105), violência no esporte (7), violên- 8,0
cia contra diversidade religiosa (3), violência
6,0
doméstica e familiar (62.485), violência física
4,0
(3.263), moral (2.320), obstétrica (75), policial
(99), patrimonial (199), psicológica (3.209), 2,0

sexual (2.317) e virtual (64). Importante des- 0,0


RR RN AC CE GO PA ES RO AP SE AL PE BA AM MT RS TO BR RJ MS PB PR MG MA PI SC DF SP
tacar que o Ligue 180 é um serviço de utilida-
de pública, gratuito e confidencial (preserva
Fonte: Atlas da Violência, 2019.
o anonimato), oferecido pela Secretaria de
Políticas para as Mulheres da Presidência da
República, desde 2005. As taxas de homicídios de mulheres são maio- 1.3 Consequências da violência na
res em alguns estados do país, destacando-se saúde das mulheres
A taxa de homicídio de mulheres no Brasil Acre, com taxa de 8,3 para cada 100 mil mu-
teve um acréscimo de 20,7% na década de lheres, Rio Grande do Norte, também com taxa Cada tipo de violência gera prejuízos nas esfe-
2007 a 2017. Em 2003 foi de 3,9 homicídios de 8,3, Ceará, com taxa de 8,1, Goiás, com taxa ras do desenvolvimento físico, cognitivo, social,
por 100 mil mulheres, já em 2013 esse núme- de 7,6, Pará e Espírito Santo com taxas de 7,5. moral, emocional ou afetivo. As manifestações
ro passou para 4,7 por 100 mil mulheres. Em Acompanhe na figura 5. físicas da violência podem ser agudas, como in-
2015 ocorreram 4.936 mortes de mulheres no flamações, contusões, hematomas, ou crônicas,
Brasil, o que corresponde a uma taxa de 4,7 Todos esses dados demonstram que a violên- deixando sequelas para toda a vida, como as li-
mortes para cada 100 mil mulheres. Houve cia contra as mulheres está presente em nos- mitações no movimento motor, traumatismos, a
crescimento de 30,7% no número de homicí- sa sociedade. E esta violência acarreta graves instalação de deficiências físicas, entre outras.
dios de mulheres no Brasil entre 2007 a 2017. consequências para a saúde das mulheres. Os sintomas psicológicos frequentemente en-
Vamos conhecer quais são? contrados em vítimas de violência são: insônia,

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UN1 A violência contra as Atenção à saúde das mulheres em
mulheres situação de violência

pesadelos, falta de concentração, irritabilidade, dade, síndrome do pânico, estresse pós-trau- tentativas de suicídio (KASHANI; ALLAN, 1998).
falta de apetite, e até o aparecimento de sérios mático, além de comportamentos autodestruti- Acompanhe no esquema abaixo estas manifes-
problemas mentais como a depressão, ansie- vos, como o uso de álcool e drogas, ou mesmo tações físicas e psicológicas.

agudas, como inflamações,


contusões, hematomas

crônicas, deixando sequelas para toda a


vida, como as limitações no movimento motor, traumatismos,
Manifestações instalação de deficiências físicas etc.
físicas

Violência insônia, pesadelos, falta de concentração,


irritabilidade, falta de apetite
Sintomas
psicológicos
problemas mentais como a depressão, ansiedade,
síndrome do pânico, estresse pós-traumático

comportamentos autodestrutivos, como o uso de


álcool e drogas, ou mesmo tentativas de suicídio

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UN1 A violência contra as Atenção à saúde das mulheres em
mulheres situação de violência

A violência pode levar diretamente a traumatis- Além disso, a violência compromete a saú- A mulher pode apresentar distúrbios na ha-
mos sérios, incapacidades e óbitos, e indireta- de mental, ao interferir na crença que a bilidade de se comunicar com os outros, de
mente a uma variedade de problemas de saú- mulher possui sobre sua competência, reconhecer e comprometer-se, de forma re-
de, como mudanças fisiológicas induzidas pelo isto é, sobre a habilidade de utilizar ade- alista, com os desafios encontrados, além de
estresse, uso de substâncias ou falta de con- quadamente seus recursos para o cumpri- desenvolver sentimento de insegurança con-
trole sobre a fertilidade e autonomia pessoal, mento das tarefas relevantes em sua vida. cernente às decisões a serem tomadas.
como observado frequentemente em relacio-
namentos abusivos. As mulheres que sofreram
violência têm altas taxas de gravidez não dese-
jada, de abortos, desfechos neonatais e infantis
adversos, infecções sexualmente transmissí- Impactos da violência
veis, incluindo o HIV (CAMPBELL, 2002).
Um em cada cinco dias de falta ao trabalho no mundo é causado pela violência sofrida
 pelas mulheres dentro de suas casas.
Mulheres que sofreram violência física ou
sexual, por exemplo, têm mais problemas de  A cada 5 anos, a mulher que sofre violência perde 1 ano de vida saudável.
saúde do que as que não sofreram – em re-
lação ao funcionamento físico, ao bem-estar As mulheres com idade entre 15 e 44 anos perdem mais anos de vida saudável (“disa-
psicológico e à adoção de futuros compor- bility-adjusted life year” ou DALY) em função do estupro e da violência do que em ra-
 zão de câncer de mama, câncer de colo de útero, problemas relacionados ao parto, doen-
tamentos de risco, inclusive fumar, inativida-
ças coronárias, AIDS, doenças respiratórias, acidentes de automóveis ou a guerra (World
de física e abuso de álcool e drogas. Essas
Development Report of the World Bank, 1993).
substâncias foram consideradas por muitas
pesquisas como um dos principais motivos O estupro e a violência são causas importantes de incapacidade e morte de mulheres em
para o desencadeamento da violência física
 idade produtiva.
entre os parceiros (MCCAULEY et al., 1995;
Mulheres vítimas da violência podem sofrer com isolamento social, incapacidade para tra-
KRUG, 2002). Alguns estudiosos conside-
balhar, ficar sem remuneração ou com menor remuneração, incapacidade para a partici-
ram que pessoas em situação de violência  pação em atividades na comunidade e terem sua capacidade de cuidar de si mesmas e de
fazem o uso dessas substâncias como me-
seus filhos diminuída.
canismos de fuga.

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UN1 A violência contra as Atenção à saúde das mulheres em
mulheres situação de violência

A violência provoca impactos econômicos Uma intervenção resolutiva a essa problemá-


e sociais, segundo dados do Banco Mundial tica não pode prescindir de uma conduta clí-
(BM) e do Banco Interamericano de Desen- nica. No entanto, não é o suficiente; a atenção
volvimento (BIRD), em 2012. precisa ir além, buscando medidas que pro-
movam a conservação da saúde e a recupe-
Figura 6 – A violência tem efeitos diretos e ração da qualidade de vida. Isso porque ações
indiretos clínicas não são suficientes para responder às
variadas dimensões dos problemas e às ne-
cessidades em saúde das mulheres. Por isso
o entendimento de como esta violência é vi-
venciada pelas mulheres é importante para
que você possa reconhecer as necessidades
e implementar um plano de cuidados em con-
junto com a mulher e a rede de apoio.

Este é um assunto para a próxima unidade,


vamos lá?

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UN2
Situações de violência e o papel do
profissional na Atenção Primária

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UN2 Situações de violência e Atenção à saúde das mulheres em
o papel do profissional na situação de violência
Atenção Primária

Esta unidade contextualiza o processo vi- que ocorrem com mulheres que denunciam
venciado pelas mulheres nas situações de as violências e depois retrocedem e retornam
violência, com o objetivo de instrumentalizar aos parceiros agressores.
você para a compreensão deste processo. Na
sequência, destacamos como reconhecer es- A violência por parceiro íntimo costuma acon-
tas situações e apresentamos considerações tecer com tempo e intensidade diferenciada
com relação ao seu papel como profissional nas diferentes relações. A psicóloga Lenore
da Atenção Primária no enfrentamento da vio- Walker (1979) descreveu o ciclo da violência,
lência relacionando com as políticas públicas apontando três fases nos relacionamentos
vigentes. violentos que iniciam pelo aumento da tensão:

Quando nos referimos a enfrentamento


da violência, entenda-se ações de pro-
moção da não violência e de proteção
e atenção às pessoas em situação de
violência.

2.1 As mulheres em situação de


violência: como compreender
esta situação

É importante que você reconheça a dinâmica


das situações de violência para uma avalia-
ção da melhor forma e momento para intervir,
possibilitando assim uma abordagem mais
adequada. É importante compreender essa
dinâmica para poder ajudar a entender as ati-
tudes, por vezes incompreensíveis, como as

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UN2 Situações de violência e Atenção à saúde das mulheres em
o papel do profissional na situação de violência
Atenção Primária

Vejamos em detalhe o que caracteriza cada que ocorre violência física, psicológica ou Esse ciclo na realidade é uma espiral ascen-
uma destas fases: patrimonial, geralmente de forma grave); o dente, cujas etapas vão se tornando mais
remorso (o agressor pode sentir remorso ou cruéis e ocorrem em um espaço de tempo
 fase 1, onde ocorrem de forma frequente medo de que os outros saibam); as promes- cada vez menor. Este modelo de comporta-
pequenos incidentes, que a mulher atribui a sas (o agressor mostra-se arrependido, pede mento não representa uma exceção ou um
fatores externos e acredita ter controle so- perdão e faz promessas à mulher maltrata- comprometimento psicológico dos agresso-
bre o comportamento do agressor; da) e finaliza com a chamada lua de mel (o res, mas constitui o modus operandi dos ho-
 fase 2, onde ocorrem incidentes violentos agressor comporta-se de modo carinhoso e mens sob o regime do patriarcado, ou o meio
de forma mais grave e agudos. É quando romântico e a mulher acredita que ele vai mu- de manter as mulheres sob controle e em po-
ocorre a descarga da tensão acumulada dar) (MENEGUEL, 2015). sições de subordinação, usando a cumplici-
na fase 1. A mulher nesta fase pode ter de- dade delas próprias para ficarem submissas,
pressão, ansiedade e queixas psicossomá- se sentirem culpadas, envergonhadas porque
ticas. Seus sentimentos são de terror, raiva, a relação não está dando certo e, portanto,
Divisão do ciclo de violência
ansiedade, sensação de que é inútil tentar merecedoras de punição (AZEVEDO, 1985;
escapar desta situação; BIGLIA, 2007; MENEGUEL, 2015).
 fase 3, de apaziguamento e esperança de Aumento de tensão
mudança. O agressor tenta fazer as pazes. Uma crítica ao modelo do “ciclo da violên-
A mulher agredida tenta acreditar que não cia” baseia-se na compreensão da violência
Tensão
sofrerá mais violência. É o período de calma de gênero contra a mulher como um conti-
onde os parceiros tornam-se dependentes nuum, em que os eventos vão se tornando
um do outro. Explosão cada vez mais frequentes e graves. A ideia
do continuum desloca a explicação basea-
Outros autores dividem o ciclo da violên- da nos comportamentos individuais do casal
cia em um número maior de fases, iniciando
Promessas subjacente ao ciclo para focar a determina-
com um período de aumento de tensão (em ção social e patriarcal da violência contra a
que a ira do agressor começa a aumentar); Lua de mel mulher. Além do mais, como afirma Mont-
uma fase de tensão (em que ele está pres- serrat Sagot (2000), muitas mulheres per-
tes a explodir); um momento de explosão (em manecem nas relações, não por estarem ilu-

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UN2 Situações de violência e Atenção à saúde das mulheres em
o papel do profissional na situação de violência
Atenção Primária

didas quanto à melhora do comportamento


Fases de transição da situação de violência
abusivo dos maridos e companheiros, mas
por perceberem que, em certas situações, é
mais perigoso sair do que ficar (MENEGUEL,
Entrada 1
2015). Manutenção 2

Outro modelo explicativo para o processo


vivido pelas mulheres em situação de vio-
(Re)equilíbrio 4
lência por parceiro íntimo é proposto por
Leitão (2014), que observa que a mulher
nesta situação passa por um processo de 3 Decisão de saída
quatro fases de transição sequenciais, mas
não estanques, nem lineares ou exclusivas:
entrada, manutenção, decisão de saída e Vejamos o que cada fase apresenta: liberdade. Este processo é atravessado por
(re)equilíbrio. querer (e poder) autodeterminar-se e sus-
 Entrada: o sonho vivido no processo de tentar-se em três pilares: querer ser livre;
enamoramento e a desilusão em que fica- encontrar um sentido para a vida; (re)cons-
ram aprisionadas. truir a sua identidade.
Transição é um processo de passagem
 Manutenção: o vazio e o abandono vividos
durante o qual as mulheres redefinem
o sentido do eu e passam a desenvolver no processo de auto-silenciamento e de Este processo é dividido em dois períodos
uma nova ação individual em respos- consentimento que as fez permanecerem distintos: o primeiro integra as  fases de en-
ta a eventos de vida de rompimento.
na relação. trada e manutenção da violência por parceiro
A transição requer da mulher capaci-
dades para incorporar novos  conheci-  Decisão de saída: o desejo de  libertação íntimo e o segundo inicia-se com a decisão
mentos, para alterar comportamentos que as fez enfrentar o problema e lutar de saída da relação e termina com o (re)equi-
e até para  mudar a definição do seu
pelo autorresgate. líbrio alcançado com a reconstrução da sua
self no contexto social (MELEIS, 2007;
VAN LOON; KRALIK, 2005 apud LEITÃO,  (Re)equilíbrio: o (re)encontro consigo mes- identidade. Assume-se como marco de rom-
2014). mas resultante de um processo muito di- pimento a tomada de decisão de abandonar
fícil de reconstrução de uma nova vida em a relação.

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UN2 Situações de violência e Atenção à saúde das mulheres em
o papel do profissional na situação de violência
Atenção Primária

Este é um movimento oscilatório, complexo, inviabilizam a saída das mulheres de uma re-
muitas vezes com (aparentes) estagnações ou lação violenta, entre elas: Importante! Você, como profissional
da saúde, tem um papel importante na
desvios – e, por vezes,  com regressões. Tudo identificação de mulheres que estão
isso para poder ser uma mulher com direito Situações que inviabilizam a saída das em situação de violência e na cons-
à sua autodeterminação – vivendo (ou não) mulheres de uma relação violenta trução conjunta de estratégias para o
enfrentamento desta situação.
uma relação de intimidade – e poder usufruir
daquilo a que tinha direito como pessoa e que Baixa da autoestima
lhe foi roubado durante anos: poder viver em
liberdade, assumindo a condução da sua vida Estas reflexões são importantes para que
Crença de que a violência é temporária,
(LEITÃO, 2014). que seus parceiros possam mudar você se prepare para ampliar o acolhimento
às mulheres em situação de violência.
Conversar sobre como se dá a violência na Dúvidas se podem viver sozinhas
vida do casal também pode ajudar a desman-
char ilusões sobre o mito do amor romântico,
além de entender o processo de ideologização
Dificuldades econômicas
que faz as mulheres aceitarem relações abu-
sivas, dificultando o processo de romper com Crença de que o divórcio é como um
estigma
a violência.
O fato de que é difícil para uma mulher
Nas relações as mulheres sofrem diferentes com filhos encontrar trabalho
tipos de violência. Esta pode ser do tipo se-
Vergonha de ser vista como uma
xual, física ou psicológica, apresentando-se,
mulher espancada
na grande maioria das vezes, de modo com-
binado, com os tipos se superpondo entre si
Pena do marido
(SCHRAIBER et al., 2009).

Ou pelo fato de amarem os seus


Destaca-se neste processo algumas condi-
companheiros
ções e crenças existentes na sociedade que

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o papel do profissional na situação de violência
Atenção Primária

2.2 Como reconhecer as mulheres distúrbios e patologias, físicas e mentais, e Nem sempre a mulher consegue reconhecer a
que estão em situação de utilizam os serviços de saúde com maior fre- situação que está vivendo como uma violência.
violência quência do que aquelas sem esta experiência Assim, uma estratégia que pode ser adotada é
(SCHRAIBER et al., 2010). Por isso, você pre- o rastreio para violência como parte integrante
Como profissional da saúde na Atenção Primá- cisa estar atento às mulheres que procuram dos atendimentos na Atenção Primária.
ria, você é um potencial identificador de casos de a Unidade Básica de Saúde, relatando sofri-
violência e possui um relevante papel na atenção, mentos pouco específicos, doenças crônicas,
redução de danos e no acionamento da rede in- agravos à saúde reprodutiva e sexual ou trans- Figura 7 – Reconhecer as violências nos contextos intra-
familiares e entre parceiros íntimos é fundamental
tersetorial, tendo em vista as graves repercus- tornos mentais. Estas condições e situações
sões na saúde física e mental das mulheres. ocorrem em maior frequência nas mulheres
que estão vivenciando situação de violência
Reconhecer as violências nos contextos in- (D’OLIVEIRA; SCHRAIBER, 2014).
trafamiliares e entre parceiros íntimos e saber
como agir nestas situações é de fundamental As mulheres também podem procurar o ser-
importância, considerando a alta prevalência viço de saúde por problemas decorrentes di-
deste tipo de agravo à saúde das mulheres. retamente da violência física ou sexual como
Você pode realizar intervenções que ajudem traumas, fraturas, tentativas de suicídio, abor-
as  mulheres em situação de violência a en- tamentos, entre outros. Você precisa atentar
contrar novos modos de viver e de ser, no sen- também para as mulheres que não buscam as
tido de reformular a sua autoidentidade e de ações de cuidado com a sua saúde, como a
reconstruir os seus projetos de vida sem vio- coleta de exame cérvico uterino, ou têm difi-
lência (LEITÃO, 2014). culdade no uso de métodos de planejamento
reprodutivo.
Sabe-se que mulheres que vivem ou viveram
em situação de violência têm mais queixas,

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UN2 Situações de violência e Atenção à saúde das mulheres em
o papel do profissional na situação de violência
Atenção Primária

Alguns sinais durante os atendimentos po- poderá representar risco para a mulher, caso  gravidez indesejada ou em menores de 14 anos
dem servir de alerta na identificação de pos- o(a) agressor(a) tenha conhecimento desta.  entrada tardia no pré-natal
síveis situações de violências vivenciadas Garanta a confidencialidade, exceto nas situa-  parceiro(a) demasiadamente atento(a), contro-
por mulheres (BRASIL, 2016). Veja o quadro ções previstas de perigo eminente ou elevado lador(a) e que reage se for separado da mulher
ao lado. (DGS; ASGVCV, 2014).  infecção urinária de repetição (sem causa se-
cundária encontrada)
 síndrome do intestino irritável
Importante! Não tenha medo de per-
guntar. Contrariamente à crença popu- Sinais de alerta em situações de violência  complicações em gestações anteriores, aborto
lar, a maioria das mulheres nesta situa- de repetição
 queixas vagas, inexplicáveis ou recorrentes
ção está disposta a revelar a violência  transtorno do estresse pós-traumático
quando se pergunta de forma direta e  distúrbios gastrointestinais
sem fazer juízos de valor. Na realida-  história de tentativa de suicídio ou ideação
 sofrimento psíquico suicida
de, muitas mulheres encontram-se
silenciosamente à espera que alguém  queixa de dores pélvicas e abdominais crônicas  lesões físicas que não se explicam como aciden-
as questione a respeito do assunto.  Infecções Sexualmente Transmissíveis tes
Deve-se introduzir o tema da violên-
cia de forma cuidadosa, mas direta,  prurido ou sangramento vaginal
expressando que não existe desculpa  evacuação dolorosa ou dor ao urinar
ou justificativa para a violência e que a
pessoa tem o direito a viver sem medo  problemas sexuais e perda de prazer na relação Destacamos, na página seguinte, exemplos
e livre deste mal.  vaginismo (espasmos musculares nas paredes de perguntas que podem ser realizadas em
vaginais, durante relação sexual) caso de suspeita de situação de violência
 presença de doenças pélvicas inflamatórias (DGS; ASGVCV, 2014).
Também é importante que você tenha atenção  síndrome da imunodeficiência humana adquiri-
porque a revelação da situação da violência da (AIDS)

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UN2 Situações de violência e Atenção à saúde das mulheres em
o papel do profissional na situação de violência
Atenção Primária

Na unidade a seguir, abordaremos a atenção


Perguntas realizadas na suspeita de violência
às mulheres em situação de violência no âm-
Perguntas com base em antecedentes e características pessoais: bito da Atenção Primária.
Estive avaliando a sua história e encontrei algumas coisas que gostaria de

?
conversar contigo. Vejo que … (relatar os fatos).
A que você atribui o seu mal-estar ou problema de saúde?
Observo que está um pouco nervosa. O que a preocupa?

?
Está vivendo alguma situação problemática que a faz sentir-se assim?
Pode falar sobre isto? Pensa estar relacionado?
Muitas pessoas têm problemas como os seus, tais como… (relatar os mais
significativos), habitualmente a causa é estarem vivendo algum tipo de mau
trato por parte de alguém. É este o seu caso?

?
Em caso de suspeita por antecedentes como dispareunia, dor pélvica, disfunção
sexual… questionar acerca das relações afetivas e sexuais, se são satisfatórias
ou não.
Esta lesão habitualmente ocorre quando se recebe um empurrão, golpe,
corte… foi isso que aconteceu?

? O/a seu/sua companheiro/a ou alguma outra pessoa é violenta com


você? Como? Desde quando?

Alguma vez a agrediram mais gravemente? (espancamentos, utilização


de armas, agressões sexuais)

Perguntas com base em sintomas psicológicos:

?
Gostaria de saber a sua opinião sobre esses sintomas que relatou (ansiedade,
nervosismo, tristeza, apatia) … Desde quando é que se sente assim? A que acha
que se devem? Relaciona-os com alguma situação?"

Aconteceu ultimamente alguma situação na sua vida que a possa deixar

?
preocupada? Tem algum problema com o/a seu/sua companheiro/a ou
alguém da família?

Parece que se encontra assustada? O que teme?

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UN3
Atenção às mulheres em situação
de violência no âmbito da
Atenção Primária

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UN3 Atenção às mulheres em Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência no situação de violência
âmbito da Atenção Primária

As mulheres em situação de violência têm di- orientador da atuação do setor saúde nas
reito à atenção nos serviços de saúde. Esta é ações relacionadas aos acidentes e violên-
uma ação ético-política que compõe o conjun- cias, e possui diretrizes que estão no âmbito
to de ações de enfrentamento à violência, jun- do território e da Atenção Primária:
tamente com a prevenção de situações desta
natureza e a responsabilização do agressor. Figura 8 – As mulheres em situação de violência têm di-
reito à atenção nos serviços de saúde
A prática profissional deve funcionar como
instrumento de proteção e promoção dos di-
reitos humanos das mulheres.

E quando indentificar as mulheres em situa-


ção de violência, qual o papel do serviço de
saúde definido nas políticas públicas?

Neste sentido, a Atenção Primária, como uma


das principais portas de entrada no sistema
de saúde, e principalmente a Estratégia Saúde
da Família, que trabalha com territorialização,
têm papel importante no acolhimento das mu- Se você ainda não teve acesso a esta
política, conheça-a agora, acessando:
lheres e na coordenação do atendimento em
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publi-
rede de atenção inter e intrasetorial. cacoes/acidentes.pdf>.

Estas ações vêm ao encontro da Política Na-


cional de Atenção Básica, da Política Nacio- Ampliando as ações propostas para atenção
nal de Atenção Integral à Saúde da Mulher e às pessoas em situação de violência, em 2004
da Política Nacional de Redução da Morbi- o Ministério da Saúde publicou a Portaria GM/
mortalidade por Acidentes e Violências. Esta MS no 936/2004, iniciando a estruturação da
última política continua sendo o instrumento Rede Nacional de Prevenção da Violência e

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UN3 Atenção às mulheres em Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência no situação de violência
âmbito da Atenção Primária

Promoção da Saúde com a implantação de nú- notificação de violência doméstica, sexu-


Importante! Está previsto nas Portarias
cleos. O objetivo desses Núcleos de Prevenção al e/ou outras violências, devendo ser rea- no 485 e 618/2014 que você e sua equi-
à Violência e Promoção da Saúde é discutir a lizada de forma contínua nas situações de pe acolham as pessoas em situação de
temática e fortalecer as ações de intervenção suspeita ou confirmação de violências en- violência sexual com referenciamento
para os serviços com maior comple-
locais, bem como melhorar a qualidade da in- volvendo crianças, adolescentes, mulheres xidade no atendimento quando neces-
formação dos acidentes de violência. Em se- e idosos. Essa notificação deve ser reali- sário, em especial quando a violência
guida, estabelece um marco importante para zada por você, profissional da saúde, me- ocorreu em até 72 horas, a fim de que
sejam administradas as medicações
dar visibilidade às violências contra as mulhe- diante o preenchimento de uma ficha de para redução dos danos deste agra-
res a partir dos serviços de saúde, a notificação notificação específica inserida no Sistema vo, dentre eles as infecções sexual-
compulsória de violência contra a mulher, con- de Informações de Agravo de Notificação mente transmissíveis (HIV e Hepatite
B, por exemplo) e também a gravidez
forme disposto na Portaria GM/2.406/2004. (SINAN). Esta é uma ação que dá visibilida- indesejada.
de às mulheres em situação de violências,
A notificação de violências foi ampliada em potencializando a construção de políticas
2009, quando passou a ser compulsória a públicas. Outro ponto importante a ser ressaltado na
atenção às mulheres em situação de violên-
cia, é que você não está sozinho. As políticas
Diretrizes da Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por públicas preveem a articulação intersetorial
Acidentes e Violências para o atendimento e o enfrentamento deste
agravo. O enfrentamento da violência só será
Promoção da adoção de possível com a articulação intersetorial que
comportamentos e de ambientes 01 Monitorização da ocorrência
envolve, entre outros, os setores da saúde,
seguros e saudáveis de acidentes e de violências
02 educação, justiça, segurança pública, assis-
tência social. O envolvimento da comunidade
com a promoção de ambientes sem violência
Estruturação e consolidação Assistência interdisciplinar
do atendimento voltado à
04 é outro ponto de destaque.
e intersetorial às vitimas de
recuperação e à reabilitação 03 acidentes e de violências No contexto das políticas públicas de en-
frentamento à violência, destacamos que

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UN3 Atenção às mulheres em Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência no situação de violência
âmbito da Atenção Primária

esta não pode ser tratada como um ato iso- tre as instituições, a polícia/delegacia foi a segura. Para que as mulheres reconheçam a
lado. É importante lembrar o fato de que ela mais procurada, seguida das organizações Unidade Básica de Saúde como um ponto de
se cronifica, sendo difícil enfrentá-la sem de proteção à mulher/abrigos (BRUSCHI, atenção na rede de atendimento à situação
uma rede de apoio. E esta rede de apoio pre- 2006). de violência é importante que os profissio-
cisa ser instituída com políticas públicas in- nais que nela atuam tenham uma cultura de
tersetoriais. Trata-se de trabalhar na direção Figura 9 – A violência não pode ser tratado com ato isola- respeito, propiciando tempo e condições para
do. É preciso articulação entre as redes de apoio
de atenuar os impactos da violência na vida realizar uma escuta com qualidade e estabe-
das mulheres e de suas famílias, reduzindo lecer um diálogo com as mulheres.
e até cessando os comportamentos violen-
tos, oportunizando novos posicionamentos
Importante! Muitas vezes é difícil para a
frente a situações disparadoras de atos de mulher falar sobre as violências viven-
violência. Este é o norte das ações de en- ciadas no seu cotidiano. Caso a mulher
frentamento à violência. não queira falar sobre o assunto, é im-
portante que você expresse sua dispo-
nibilidade em ouvi-la quando ela sentir
Lembre-se que as mulheres sentem dificul- necessidade.
dade de procurar o serviço de saúde quando
estão sofrendo violência. Estudo realizado
no interior de São Paulo (MELO, 2010) mos- As mulheres que estão em situação de vio-
trou que as mulheres que necessitavam de lência buscam diversas formas de apoio e
cuidados de saúde, mas que não os rece- meios de transformar a situação. Já foi iden-
beram, alegaram algumas circunstâncias tificado que a falta de apoio, o sentimento
para não o fazer, como vergonha de expor o de vergonha e o desprestígio em relação ao
problema, medo de represália por parte do Assim, a equipe de saúde precisa estar atenta cumprimento de papel esperado pela mulher,
companheiro, medo de comprometer o com- e através da escuta e observação, reconhecer esposa e mãe bloqueiam internamente a de-
panheiro. Geralmente, a procura por ajuda como a mulher em situação de violência se cisão da denúncia. Por outro lado, a qualidade
ocorre em múltiplas fontes, porém as mais sente frente à situação, permitindo que ela ex- do cuidado recebido em instituições é muito
frequentes são pessoas da própria família presse estes sentimentos, oferecendo o apoio importante: o encorajamento, a informação
ou da família do companheiro e amigos. En- necessário e possível para que esta se sinta precisa e o não julgamento contribuem para

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UN3 Atenção às mulheres em Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência no situação de violência
âmbito da Atenção Primária

a continuidade da rota de saída da situação nitários de saúde. A informação que precisa tura ética dos profissionais de saúde. Não
de violência. O descaso, a burocracia e a difi- estar visível para a comunidade é de que a pressupõe local nem hora certa para aconte-
culdade de acesso são grandes inibidores de UBS entende que violência é um problema cer, nem um profissional específico para fazê-
denúncias por parte das mulheres (SAGOT, de saúde e que dispõe de informações im- -lo: faz parte de todos os encontros no serviço
2000). portantes para quem está vivenciando esta de saúde (BRASIL, PNH, 2004).
situação.
Figura 10 – Caso a mulher não queira falar sobre o assun- Humanizar é ofertar atendimento de qualida-
to, é importante que você expresse sua disponibilidade em
ouvi-la quando ela sentir necessidade Outra estratégia para que a temática da vio- de, articulando os avanços tecnológicos com
lência possa emergir a partir das mulheres da acolhimento, com melhoria dos ambientes de
comunidade é criar espaços, grupos de aten- cuidado e das condições de trabalho dos pro-
ção a dimensões psicossociais. Quando o fissionais.
tema surgir, poderá ser trabalhado a partir das
expectativas e conhecimentos das mulheres. Figura 11 – Humanizar é ofertar atendimento de qualidade

Destaca-se que seu papel é oferecer as in-


formações e os recursos existentes para o
atendimento, valorizando o relato da mulher,
respeitando a sua privacidade, a confidencia-
lidade, e principalmente o seu tempo.

Importante! Lembre-se: situações de


É preciso mostrar que você está aberto e pre-
violência que para muitas pessoas se-
ocupado com a atenção às mulheres em si- riam inimagináveis, para outras sim-
tuação de violência, preparando a UBS para plesmente fazem parte do cotidiano.
que possa ajudar a informar as mulheres Nesse sentido, há pontos que merecem aten-
desta disposição, colocando cartazes, ban- ção redobrada pelos profissionais da saúde
ners, divulgando pelos meios de comunica- Neste contexto, o atendimento com acolhi- na atenção às mulheres em situação de vio-
ção e através das visitas de agentes comu- mento humanizado é uma diretriz e uma pos- lência. Confira no infográfico ao lado.

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UN3 Atenção às mulheres em Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência no situação de violência
âmbito da Atenção Primária

Acolher neste atendimento é uma postura éti- As mulheres precisam ser acolhidas e respei- Para a atenção às mulheres em situação de
ca que implica na escuta da usuária em suas tadas na decisão tomada. Lembre-se que a violência, alguns recursos devem estar dis-
queixas, no reconhecimento do seu protago- escolha é da mulher e precisa ser realizada a poníveis na Unidade Básica de Saúde. En-
nismo no processo de saúde e adoecimento, e partir da informação e das possibilidades que tre estes recursos estão os testes rápidos
na responsabilização pela resolução, com ati- ela tiver. Por isso, assegure-se de que a infor- de gravidez, de HIV, de sífilis e de Hepatites
vação de redes de compartilhamento de sabe- mação que você deu foi entendida pela mu- B e C.
res (BRASIL, 2006). lher, a fim de que ela faça a melhor escolha.

Importante! Acolher é um compromisso  Quando você confirmar a situação de violência, observe estes pontos (DGS; ASGVCV, 2014) 
de resposta às necessidades das cida-
 Faça com que a mulher em situação de vilência não se sinta culpada da agressão que sofre.
dãs que procuram os serviços de saúde.
 Ajude a refletir, a ordenar as ideias e a tomar decisões.
 Alerte para os riscos e consequências que corre, mas aceitar a escolha da mulher.
 Valide o relato, não colocando em dúvida nem emitindo juízos de valor.
3.1 Estratégias de atenção às
 Aborde o medo associado à revelação/denúncia.
mulheres em situação de
 Esclareça o direito à confidencialidade, excetuando as situações de perigo iminente.
violência
 Esclareça sobre o tipo de informação que pode ser fornecida às autoridades (boletim de ocorrência/tipo de crime).

Lembre-se que trabalhar com mulheres em  Acione a rede intersetorial para evitar a revitimização, para a avaliação aprofundada da situação pelo/a(s) profis-
sional(is) responsável(is) pela intervenção/acompanhamento (Serviço Social e Segurança).
situação de violência é empoderá-las, para
 NÃO dê a sensação de que tudo vai se resolver facilmente.
que possam fazer escolhas a partir da re-
 NÃO dê falsas esperanças.
alidade vivida. Assim, como profissional
 NÃO critique a atitude ou ausência de resposta com frases como: “Porque é que se mantém nessa situação?
da saúde você precisa conhecer quais as
Se você quisesse mesmo parar com esta situação, já teria…”.
possibilidades de atenção às mulheres em
 NÃO desvalorize a sensação de perigo que é expressa.
situação de violência existentes no seu ter-
 NÃO recomende terapia de casal nem mediação familiar.
ritório e quais são alternativas para cada
 NÃO prescreva fármacos que diminuam a capacidade de reação.
uma delas. Só assim poderá informar e
 NÃO utilize uma atitude paternalista/maternalista.
ajudar cada mulher a escolher que decisão
 NÃO imponha critérios ou decisões.
tomar.

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UN3 Atenção às mulheres em Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência no situação de violência
âmbito da Atenção Primária

Estes exames são importantes especialmente estar vivenciando alguma situação de violên- lecer a rede de apoio à mulher em situação
nas situações de violência sexual, mas tam- cia. Este pode ser o ponto de partida para o de violência está entre os pontos principais
bém podem servir como estratégia para a relato, que, a partir de uma escuta qualificada no atendimento dos profissionais da saúde
identificação de situações de violência quan- e informação, permitam elaborar em conjun- nesta situação.
do são disponibilizados para as mulheres sob to, profissional de saúde e mulher agredida,
livre demanda na UBS. Caso a UBS não tenha um plano de cuidados. Figura 13 – Informação é a chave para elaborar um plano
de cuidados
disponível testes rápidos, pode-se solicitar os
exames no laboratório de sua referência. Outra oferta importante que deve estar dis-
ponível em todas as Unidades Básicas de
Figura 12 – Testes rápidos para HIV, sífilis, Hepatites B e C Saúde é a anticoncepção de emergência. O
Ministério da Saúde disponibiliza por meio
dos estados e municípios a medicação le-
vonorgestrel, utilizada mundialmente para
prevenir a gravidez indesejada. O acesso a
esta medicação está prevista no protocolo de
atenção à violência sexual e é um direito das
mulheres.

Como profissional da saúde, você precisa


incentivar iniciativas de busca de soluções
para os problemas, estabelecendo víncu-
A informação de que os testes rápidos estão los com as usuárias. A resiliência, definida
disponíveis e podem ser realizados em qual- como a capacidade de superar adversidades
Importante! Atender mulheres em situa-
quer horário durante o atendimento da UBS e lidar positivamente com situações difíceis, ção de violência implica atuar no senti-
deve ser de conhecimento da população. O é fortalecida por uma rede de relacionamen- do de fortalecer para evitar ou superar a
profissional de saúde que realizar o acolhi- tos que possibilita o suporte e a superação violência, empoderando-as para que te-
nham autonomia para mudar a situação
mento para a realização destes exames pode das situações difíceis fortalecendo as mu- de violência em que se encontram.
questionar sobre a possibilidade de a mulher lheres agredidas. Assim, identificar e forta-

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UN3 Atenção às mulheres em Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência no situação de violência
âmbito da Atenção Primária

Lembre-se que a mulher em situação de vio- relacionais. Permite a visualização rápida e ligações da família com a comunidade. Am-
lência deve ter autonomia na decisão quanto abrangente da organização familiar e suas bos os instrumentos retratam graficamente
à mudança na sua vida em relação à violência principais características, constituindo um constituição e dinâmicas relacionais de um
sofrida. São várias fases no processo, e reco- mapa relacional onde são registrados da- grupo social, com foco na família. Enquanto
nhecer em que fase ela está proporciona uma dos relevantes ao caso. O ecomapa é útil no o genograma identifica as relações dentro do
atenção adequada as suas necessidades. mapeamento de redes de apoios sociais e sistema multigeracional familiar, o ecomapa

Apontamos ao lado as fases do processo de Fases do processo de mudança da mulher


Intervenção profissional
mudança para a mulher em situação de vio- em situação de violência
lência e as possibilidades de intervenção do Relacionar a sintomatologia com a situação de vio-
Não há tomada de consciência da situação de vio-
profissional da saúde. 1 lência ou nega que exista.
lência. Oferecer informação para distinguir maus
tratos de uma relação de respeito mútuo.
Inicia a tomada de consciência da situação de vio- Facilitar a expressão de emoções, medos, expec-
O empoderamento da mulher, com esta as-
2 lência em que vive; contudo, não sente que possa tativas e dificuldades. Identificar apoios e pontos
sumindo a condução de sua existência, é fa- mudar ou que possa intervir para a mudança. fortes e analisar o ciclo da violência.
tor primordial para que a realidade de uma Começa a pensar que não pode continuar a viver Apoiar cada iniciativa de mudança e estabelecer
na situação presente, mas não sabe como mudar. em conjunto o plano mais adequado. Analisar as
existência submetida a violência seja modi- 3 Analisa prós e contras para a mudança que, con- dificuldades. Motivar para procurar ajuda especia-
ficada. Para isso, as ferramentas genograma tudo, não planeja ainda realizar. lizada ou outros apoios como grupos de suporte.
e ecomapa podem ser utilizadas por você, Inicia algumas mudanças e planeja a ruptura da
Valorizar os progressos e reforçar as decisões,
profissional da saúde, que a partir de uma situação, embora demonstre sentimentos ambi-
escuta atenta pode construir um projeto te-
4 valentes, como autoconfiança e insegurança ou
realizando um acompanhamento continuado em
coordenação com outros recursos.
medo de enfrentar o futuro.
rapêutico singular (PTS) em conjunto com a
O percurso de saída da situação de violência não Ajudar a compreender que os retrocessos e inse-
mulher agredida. O PTS é um instrumento de é linear; pode haver momentos de abandono e re- guranças são parte do processo. Analisar em con-
organização do cuidado em saúde, conside- 5 trocessos até conseguir consolidar e manter a sua junto os motivos e situações que conduziram ao
rando as singularidades e a complexidade da autodeterminação. retrocesso.
Potenciar a sua participação em atividades e redes
situação vivida.
Consolidado o processo de mudança, executa no- de suporte social, na criação de vínculos saudá-
6 vos projetos de vida. veis, no desenvolvimento da autoestima e da au-
O genograma tem por função organizar os toconfiança.
dados referentes à família e seus processos Adaptado de: RODRÍGUEZ; MOYA, 2012 apud DGS; ASGVCV, 2014.

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situação de violência no situação de violência
âmbito da Atenção Primária

representa as interações da família com pes- tária para homens e mulheres é outro aspec- 2012). Esta normativa está voltada para a
soas, instituições ou grupos sociais em de- to importante na promoção da não violência. atenção às mulheres em situação de vio-
terminado momento. É importante você lembrar que as escolas lência sexual e estabelece que os serviços
trabalham com a organização do ano letivo devam organizar fluxos internos no setor da
Destaca-se que a equipe de saúde pode de forma antecipada. Procure conhecer quem saúde definindo responsabilidades de aco-
contribuir para o empoderamento da mulher atua neste setor e participe da discussão e lhimento e entrevista, registro da história,
fomentando também ações intersetoriais de do planejamento das ações de saúde na es- exame clínico e ginecológico, exames com-
geração de renda, oportunidades de forma- cola, assim o trabalho fará parte do calen- plementares e procedimentos necessários
ção escolar e profissional e espaços cole- dário escolar e poderá ser incrementado nas de acordo com o caso e acompanhamen-
tivos de discussão da condição da mulher disciplinas curriculares. to, incluindo o psicológico. Também é ne-
na sociedade. Com isso estará contribuindo cessário realizar a coleta de amostras para
para que as mulheres da comunidade pos- diagnóstico de infecções genitais e coleta
sam ter autonomia e oportunidade de mu- Em 2016 o Ministério da Saúde publicou de material para identificação do provável
o Protocolo da Atenção Básica: Saú-
dança de vida. de das Mulheres, que propõe um qua- agressor.
dro-síntese para atenção às mulheres
Outro aspecto a ser trabalhado pela equipe em situação de violência sexual e/ou Além disso, entre as ações que o setor da
doméstica/familiar no âmbito da Aten-
de saúde é a promoção da não violência. O ção Primária, detalhando o que fazer, saúde deve oportunizar para as mulheres
desenvolvimento de ações intersetoriais na como fazer e quem pode fazer. Aces- agredidas sexualmente incluem-se o acesso
comunidade de promoção de ambientes que se: <http://189.28.128.100/dab/docs/ à anticoncepção de emergência e a profila-
portaldab/publicacoes/protocolo_sau-
propiciem a convivência saudável, como por de_mulher.pdf>. xia de doenças sexualmente transmissíveis
exemplo a prática de esportes em áreas públi- não virais e virais. O serviço de saúde é res-
cas, pode oportunizar a redução dos índices ponsável ainda pelo encaminhamento dos
de violência. Entre as demais publicações que você pre- procedimentos de interrupção da gestação,
cisa conhecer para atender mulheres em conforme previsto no Brasil desde 1940 pelo
O trabalho integrado com a educação, pro- situação de violência está a Norma Téc- Decreto Lei no 2.848, artigos 28, Inciso II do
movendo a reflexão sobre concepções e ati- nica denominada Prevenção e tratamento Código Penal, que permite a interrupção le-
tudes que podem ser modificadas e assim dos agravos resultantes da violência sexu- gal da gestação quando a gravidez resulta de
promover uma sociedade mais justa e iguali- al contra mulheres e adolescentes (BRASIL, violência sexual.

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UN3 Atenção às mulheres em Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência no situação de violência
âmbito da Atenção Primária

Figura 14 – Conheça em detalhe esta Norma Técnica con-


multidisciplinar, preenchimento da ficha de Internamente, no setor saúde a atenção as
tra violência sexual em mulheres e adolescentes
notificação/investigação e encaminhamen- mulheres em situação de violência deman-
to, quando necessário, para outros pontos de da a integração entre os serviços da Atenção
atenção. Primária, rede laboratorial para diagnóstico,
serviços de urgência e emergência, hospitais,
ambulatórios especializados para a atenção
Importante! A assistência à saúde da
mulher que sofre violência sexual é à saúde das mulheres e Centros de Atenção
prioritária e a recusa infundada ou in- Psicossocial (CAPS).
justificada de atendimento pode ser
caracterizada ética e legalmente como
omissão, não cabendo neste caso a Já intersetorialmente, faz-se necessária a
alegação de objeção de consciência, integração com os setores como a assistên-
como previsto nos casos da realiza- cia social, os sistemas de justiça, a seguran-
ção da interrupção legal da gestação
(BRASIL, 2011). ça pública, o Ministério Público, a Defensoria
Pública, as Varas da Infância e Juventude, o
Conselho Tutelar e os conselhos de direitos
Como você já percebeu, a atenção às mu- e a sociedade civil organizada existentes no
lheres em situação de violência deman- território.
da ações intersetorais. A seguir, faremos
algumas considerações quanto à rede de Para mudar a realidade de violência vivida
atenção. pelas mulheres é necessário mudar a re-
lação dos homens agressores. Por isso, é
3.2 Rede de atenção às mulheres importante conhecer os serviços que tra-
Fonte: Ministério da Saúde (2012). em situação de violência balham com homens autores de agressão.
Algumas experiências com grupos reflexivos
A UBS pode ser cadastrada no CNES como A atenção às mulheres em situação de violên- para homens autores de violência domés-
serviço de atenção ambulatorial a pesso- cia demanda uma rede interna no setor saúde tica têm sido desenvolvidas pela Justiça.
as em situação de violência sexual e ofere- (intrassetorial) e uma rede externa (interseto- O projeto da Secretaria de Justiça do Paraná
cer acolhimento, atendimento humanizado e rial), as quais se complementam. é um deles.

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situação de violência no situação de violência
âmbito da Atenção Primária

Figura 15 – A importância dos serviços que trabalham atendimento em rede de atenção com enca-
com homens autores de agressão Você pode acessar os serviços que se
minhamento das pessoas para o atendimento
cadastraram na atenção às pessoas em
conforme Norma Técnica Prevenção e Trata- situação de violência sexual. Disponível
mento dos Agravos resultantes da Violência em: <http://cnes2.datasus.gov.br/Mod_
Sexual contra Mulheres e Adolescentes e a Ind_Especialidades.asp?VEstado=&V-
Mun=00&VComp=00&VTerc=00&VSer-
Norma Técnica de Atenção Humanizada ao vico=165>. Selecione seu estado e as
Abortamento. classificações 001, 006 e 007.

Com relação à violência sexual, é importan-


te destacar que em 2013 foi aprovada a Lei No âmbito da intersetorialidade, destacamos
no 12.845, que tornou obrigatório o atendimen- uma importante legislação que modificou no
to a vítimas de violência sexual e o tratamento país no que se refere à punição dos agres-
no serviço público em hospitais. Além desta sores na violência doméstica, a Lei Maria
Na organização da rede de atenção às mulheres legislação, o Decreto no 7.958, de 13 de março da Penha (Lei no 11.340/2006). Esta lei foi
em situação de violência sexual, as Portarias no de 2013, e a Portaria Interministerial no 288, de um marco nacional na questão da violência
485 e 618/2014 são importantes, pois definem 25 de março de 2015, estabelecem a organi- contra a mulher e é a principal legislação
o funcionamento dos Serviços de Atenção às zação e integração do atendimento às vítimas brasileira para enfrentar a violência contra
Pessoas em Situação de Violência Sexual no de violência sexual pelos profissionais de se- as mulheres. É reconhecida pela ONU como
SUS e fazem referência ao cadastramento do gurança pública e pelos profissionais de saú- uma das três melhores legislações do mun-
Serviço no Sistema de Cadastro Nacional de de do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto à do no enfrentamento à violência de gênero.
Estabelecimentos de Saúde (CNES) como Ser- humanização do atendimento, ao registro de Dentro dessa conjuntura política, a nova lei
viço Especializado 165 e suas classificações. informações e coleta de vestígios de acordo pode ser considerada como um passo em
Os serviços de saúde podem realizar o ca- com a Norma Técnica de Atenção Humaniza- direção ao cumprimento das determinações
dastramento como Serviço Ambulatorial ou da às Pessoas em Situação de Violência Se- da Convenção de Belém do Pará e da Con-
de Referência para a Atenção Integral às Pes- xual, com registro de informações e coleta de venção para a eliminação de todas as for-
soas em Situação de Violência Sexual e ain- vestígios. Estas normativas o processo com mas de violência contra as mulheres (CE-
da como Referência para a Interrupção Legal a finalidade de identificação e punição dos DAW), além de regulamentar a Constituição
da Gravidez. Esta organização pressupõe o agressores. Federal.

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situação de violência no situação de violência
âmbito da Atenção Primária

O termo Rede de Atendimento designa um conjunto de


ações e serviços intersetoriais (com destaque dos se- ATENÇÃO PRIMÁRIA
tores de Assistência Social, da Justiça, da Segurança  Unidade Básica de Saúde
Pública e da Saúde), que “visam a ampliação e a me-  Estratégia Saúde da Família (ESF)
lhora da qualidade do atendimento, a identificação ao  Estratégia de Agentes Comunitários de Saúde (Eacs)
encaminhamento adequado das mulheres em situação  Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf)
de violência e integralidade e a humanização do aten-  Consultório na Rua (Mulher em situação de rua)
dimento”.

Os serviços da Rede de Saúde compõem a Rede de


Atendimento às Mulheres em Situação de Violência
e devem esgotar todos os recursos disponíveis para REDE INTERSETORIAL
oferecer a Atenção Integral à Mulheres em Situação de
 Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher
Violência desde o acolhimento com escuta qualifica-
 Casa da Mulher Brasileira
da até o monitoramento/seguimento das mulheres na
 Cras – Centro de Referência de Assistência Social
Rede de Atendimento, fortalecendo a integração entre
 Creas – Centro de Referência Especializado de Assistência Social
os seviços que compõem a rede.
 Casas de Acolhimento Provisório
 Casas-Abrigo
 Deam – Delegacias Especiais de Atendimento à Mulher
MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE  Delegacia de Polícia
 IML – Instituto Médico Legal
 Serviços de Atenção Especializada  Ouvidoria da Secretaria de Políticas para as Mulheres
 Hospitais  Disque 100 – Disque Denúncias Nacional de Violência Sexual
 Urgência e Emergência  Juizados Especializados de Violência Doméstica e Familiar
 Unidades de Pronto Atendimento (UPA-24h)  Promotoria Especializada do Ministério Público
 Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA/HIV/  Núcleo Especializado de Defensoria Pública
AIDS), Caps, Capsi, Caps-AD  ONG – Organizações não-governamentais
 Centros de Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Rua

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situação de violência no situação de violência
âmbito da Atenção Primária

Em 2015, outra legislação que destacamos é Lembre-se que o termo rede pressupõe uma
Ações importantes para Rede de Atenção
a que inclui o feminicídio no rol dos crimes articulação política entre pares, que, para se
hediondos. O principal ganho com a Lei do  Realização de diagnóstico do território e estabelecer, exige: reconhecer (que o outro
Feminicídio (Lei no 13.104/2015) é justamen- dos serviços disponíveis na localidade ou existe e é importante); conhecer (o que o ou-
te tirar o problema da invisibilidade. Além da região. tro faz); colaborar (prestar ajuda quando ne-
punição mais grave para os que cometerem  Reconhecimento e clara definição dos cessário); cooperar (compartilhar saberes,
o crime contra a vida, a tipificação é vista por papéis dos setores, serviços, instituições ações e poderes) e associar-se (comparti-
especialistas como uma oportunidade para e profissionais que atuam na rede. lhar objetivos e projetos).
dimensionar a violência contra as mulheres
 Construção, articulação e pactuação de
no país quando ela chega ao desfecho ex- fluxos ou linhas de cuidado com claros Reconhecer
tremo do assassinato, permitindo, assim, o mecanismos de articulação.
aprimoramento das políticas públicas para
coibi-la e preveni-la.  Pactuação e publicação de instrumen-
tos/mecanismos formais que assegurem
a manutenção da rede (Decretos, Porta- Colaborar Conhecer
No Brasil, a rede de atenção e proteção rias, Protocolos etc.).
ainda precisa ser mais estruturada. Nesse REDE
 Sensibilização e capacitação perma-
sentido, lembramos que o setor saúde tem nente de profissionais para a atenção em
um grande potencial articulador da rede de rede.
atenção e proteção. Para isso, você, como  Disponibilização de protocolos, guias, Associar-se Cooperar
profissional da saúde, pode realizar um cartilhas ou outros materiais para o
aprendizado e divulgação da rede para a
diagnóstico identificando quais os servi-
população.
ços dentro e fora do setor saúde desenvol- Nesse sentido, o segundo passo para arti-
vem ações voltadas à atenção e proteção cular uma rede de atenção e proteção é re-
das mulheres em situação de violência. A estruturação de uma rede de atenção às conhecer a função dos profissionais que
Este é primeiro passo para a estruturação pessoas em situação de violência passa por trabalham nas instituições que a compõem,
da rede de atenção e proteção as mulheres algumas ações importantes. Confira no es- ou seja, ter clara a definição de papéis dos
nesta condição. quemático. profissionais.

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situação de violência no situação de violência
âmbito da Atenção Primária

A seguir, é preciso construir e articular fluxos Por fim, destaca-se que a sua intervenção em Na articulação interinstitucional é impor-
ou linhas de cuidado por meio de parcerias, rede de atenção junto às mulheres em situa- tante identificar os profissionais que vão
trocas de experiências e pactuar tais fluxos ção de violência desenvolve-se em três eta- constituindo-se como pessoas de referên-
de encaminhamento e de referências/contrar- pas: encaminhamento, articulação e segui- cia. Articular não consiste somente em in-
referências. Esta pactuação pode se dar em mento (DGS&ASGVCV, 2014). formar ou encaminhar, mas sim em definir
forma de leis, decretos ou via outros meios, procedimentos que assegurem que os enca-
principalmente para assegurar o comprome- O encaminhamento não pode ser um meca- minhamentos produzam os resultados es-
timento dosgestores, independentemente da nismo para passar o problema de um servi- perados. Para consolidar o trabalho em rede
mudança. Outra ação importante é criar pro- ço para outro, mas sim uma forma de com- interinstitucional é necessário criar espaços
tocolos, guias, cartilhas que facilitem o apren- plementar a intervenção com perspectiva de de comunicação, de forma a construir rela-
dizado e divulgação, para que a população outras áreas disciplinares ou setoriais. Ao ções de confiança profissional, baseadAs na
seja acolhida, capacitando ou sensibilizando fazer o encaminhamento, não se pode per- complementaridade.
de forma permanente e contínua todos os pro- der o contato com a mulher. Para que isso
fissionais para a atenção e proteção em rede. ocorra, é preciso informar adequadamente O seguimento, como parte integrante da in-
a mulher sobre os motivos do encaminha- tervenção, consiste no monitoramento do
mento, o que se procura, o que se pode obter, processo por meio das diferentes instân-
No Brasil, diversas experiências de re- definir o que fazer no seu seguimento, como cias, realizando-se em dois níveis: institu-
des de atenção e proteção estão organi-
e para quê manter o contato com o serviço cional, relacionado com o processo de in-
zadas. Conheça algumas delas:
inicial. Também é preciso informar quem vai tervenção da rede institucional, como um
Rede de Atenção as Pessoas em Situa-
ção de Violência Sexual de Florianópolis: receber o encaminhamento, para que esteja aspecto da articulação, e outro, relaciona-
<http://www.pmf.sc.gov.br/entidades/ sabendo do que se pretende, seja por forma do com o processo de apoio continuado à
saude/index.php?cms=raivs&menu=5>.
telefônica, escrita ou comunicação informal. mulher em situação de violência, tendo em
Linha de Cuidado para Atenção Inte- Destaca-se que as mulheres em situação de vista a potencialização das suas redes de
gral a Saúde da Pessoa em Situação de
violência muitas vezes não se encontram suporte.
violência de São Paulo: <https://www.
prefeitura.sp.gov.br/cidade/secreta- em condições de explicar a situação ou o
rias/upload/saude/baixacartilhaviolen- motivo do encaminhamento, podendo cola- É importante salientar que mesmo se a rede
cia(1).pdf>.
borar para intervenções confusas e menos não estiver totalmente estruturada é possível
adequadas. realizar acompanhamento e encaminhamen-

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UN3 Atenção às mulheres em Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência no situação de violência
âmbito da Atenção Primária

to das mulheres em situação de violência,


contanto que o profissional tenha conheci-
mento dos serviços existentes no território
(SCHRAIBER; D’OLIVEIRA, 2003).

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Resumo do módulo

Apresentamos neste módulo estratégias para


identificação e atenção às mulheres em situ-
ação de violência no âmbito da Atenção Pri-
mária. Iniciamos discorrendo sobre o contexto
que envolve as mulheres que sofrem violência
e quais tipos de violência ocorrem com maior
frequência, destacando a prevalência e as
consequências para a saúde das mulheres. Na
sequência, apontamos algumas estratégias
para identificação das mulheres que sofrem
esta agressão. Por fim, a unidade três apre-
sentou as políticas públicas que devem norte-
ar a atenção, apontando estratégias para que
você aplique em seu cotidiano de trabalho.

Esperamos ter contribuído para que você per-


ceba as oportunidades e articule a organiza-
ção da atenção às mulheres em situação de
violência em rede intra e intersetorial, em seu
território de atuação.

Este é um desafio! Esperamos ter sensibiliza-


do e mobilizado você para esta ação que fará
a diferença na vida das mulheres em situação
de violência, oportunizando escolhas sob uma
perspectiva de vida mais digna e com saúde.

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Sobre as autoras

Sheila Rubia Lindner do em Saúde Coletiva pela Universidade Federal


Possui graduação em enfermagem, mestrado em de Santa Catarina (2015). Atua com Politicas de
Saúde Pública (2005) e doutorado em Saúde Co- Atenção a Saúde em especial na área da Saúde da
letiva (2013) pela Universidade Federal de Santa Mulher e da Criança, Mortalidade Materna e Aten-
Catarina. É pesquisadora na temática de violên- ção as Mulheres em Situação de Violência Sexual.
cia e saúde; direitos humanos, seguridade social Tem experiência na área de Saúde Pública, com
e sistemas de justiça. É professora adjunta do ênfase em Gestão , atuando principalmente nos
Departamento de Saúde Pública, do Programa de seguintes temas: políticas de saúde, regulação,
Pós-Graduação em Saúde Coletiva e do Mestrado redes de atenção à saúde,atenção primária à saú-
Profissional em Saúde Mental e Atenção Psicos- de, saúde da mulher, da criança, vigilância do óbi-
social da Universidade Federal de Santa Catarina. to materno, infantil e fetal e violência.
Coordena o Observatório da Seguridade Social e Endereço para acessar o currículo na Plataforma
Sistemas de Justiça (OSJ/UFSC). É coordenadora Lattes: <http://lattes.cnpq.br/9192985272761930>
do Núcleo da Universidade Aberta do SUS (UNA-
-SUS) da UFSC. Coordena a cooperação institucio- Carolina Carvalho Bolsoni
nal entre a UFSC e as University of British Columbia Possui graduação em Enfermagem pela Univer-
(UBC) do Canadá e University of Melbourne (UNI- sidade Federal de Santa Catarina- UFSC (2009).
MELB) da Austrália. Lattes: Mestra (2012) e Doutora (2017) em Saúde Co-
<http://lattes.cnpq.br/3507140374697938>. letiva (UFSC). Especialista em Envelhecimen-
to e Saúde da Pessoa Idosa pela Universidade
Carmem Regina Delziovo Federal de São Carlos (2018). Pós-doutoranda
Possui graduação em Enfermagem e Obstetrícia no Programa de Pós Graduação em Saúde Co-
pela Universidade Regional do Noroeste do Estado letiva. Atualmente desenvolve atividades junto
do Rio Grande do Sul (1985), graduação em Licen- à Especialização em Atenção Básica em Saúde-
ciatura Em Enfermagem pela Universidade Regio- UNASUS/UFSC. Membro da Equipe de Produção
nal do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Editorial do Curso de Violência doméstica con-
(1985) e mestrado em Ciências da Saúde Humana tra as mulheres e Enfrentamento do sobrepeso
pela Universidade do Contestado (2003), doutora- e obesidade. Coordenadora técnica do Curso de

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Sobre as autoras

Atenção Integral à Saúde das Mulheres. Área de Pessoas em Situação de Violências. Desde 2008 é
pesquisa - Violência e Saúde; Saúde do Idoso. Servidora publica do município de Florianópolis.
Endereço do currículo na plataforma Lattes: <http:// Endereço do currículo na plataforma Lattes:
lattes.cnpq.br/6654871617906798> <http://lattes.cnpq.br/4627038463350744>

Caroline Schweitzer de Oliveira Elza Berger Salema Coelho


Possui graduação em Enfermagem pela Universi- Professora associada da Universidade Federal
dade Federal de Santa Catarina/UFSC (2003), Es- de Santa Catarina. Doutora em Filosofia da En-
pecialista em Educação Sexual pela Universidade fermagem pela Universidade Federal de Santa
do Estado de Santa Catarina (2005), Especialista Catarina (2000). Coordenadora do grupo de pes-
em Desenvolvimento Gerencial de Unidade Básica quisa Violência e Saúde, vinculado ao Programa
de Saúde do SUS (2008), Especialista em Saúde de Pós-Graduação em Saúde Coletiva – mes-
Pública pela Escola de Saúde Pública Professor trado e doutorado, onde ministra disciplinas e
Osvaldo de Oliveira Maciel (2010), Mestra em Saú- orienta trabalhos na área de Violência e Saúde.
de Coletiva pela UFSC (2014). Tem experiência na Desenvolve atividades de extensão na Universi-
Estratégia Saúde da Família (ESF), nos municípios dade Aberta do Sistema Único de Saúde (UNA-
de Lages/SC, Correia Pinto/SC e Antônio Carlos/ -SUS) e coordena cursos vinculados à área téc-
SC e foi coordenadora do Programa de Saúde da nica de Saúde das Mulheres e Pessoas privadas
Mulher e da Rede de Atenção às Vítimas de Vio- de liberdade do Ministério da Saúde.
lência Sexual (RAIVVS) em Florianópolis/SC. Tam- Endereço do currículo na plataforma Lattes:
bém atuou como docente para formação de Agen- <http://lattes.cnpq.br/3980247753451491>
tes Comunitárias(os) de Saúde e Técnicas(os) em
Enfermagem. Entre 2013 e 2017 atuou como as-
sessora técnica da Coordenação-Geral de Saúde
das Mulheres do Ministério da Saúde, com área de
atuação principalmente com a temática da violên-
cia, aborto previsto em lei, Direitos Sexuais e Re-
produtivos e estruturação de Redes de Atenção às

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