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CDU: 364.2
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Créditos
GOVERNO FEDERAL
Ministério da Saúde
Secretaria de Atenção Primária em Saúde
Departamento de Ações Programáticas Estratégicas
Coordenação Geral de Ciclos de Vida
Coordenação de Saúde das Mulheres
5
Créditos
Equipe executiva
Dalvan Antonio de Campos
Gisélida Vieira
Patrícia Castro
Sheila Rubia Lindner
Consultoria técnica
Carmem Regina Delziovo
6
Créditos
AUTORIA DO MÓDULO
Sheila Rubia Lindner
Carmem Regina Delziovo
Carolina Carvalho Bolsoni
Caroline Schweitzer de Oliveira
Elza Berger Salema Coelho
Assessoria pedagógica
Márcia Regina Luz
Diagramação, Ajustes
e finalização
Adriano Schmidt Reibnitz
Esquemáticos
Naiane Cristina Salvi
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Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência
Olá. Convidamos você a iniciar seus estudos! a atenção integral às mulheres agredidas e
a coleta de informações sobre a prevalên-
Este módulo se propõe discutir a violência cia desta violência, os fatores de risco e as
que permeia a vida das mulheres, focando na- consequências para a saúde das mulheres, a
quela que está mais presente em suas vidas, fim de promover e fundamentar as políticas
a violência nas relações com seus parceiros públicas nesta área. O setor tem também o
íntimos, compreendida como uma violência compromisso de atuar na prevenção da vio-
de gênero. Esta diz respeito às relações de lência com a disseminação de informações
poder e à distinção entre as características e ações na área a partir do reconhecimento
atribuídas a homens e mulheres na sociedade desta como um problema de saúde pública
em que vivemos. (OMS,2013).
Assim, no contexto da Atenção Primária, apre- É importante ressaltar o desafio posto para
sentaremos aqui estratégias para a atenção às os profissionais nos serviços de saúde, de
mulheres em situação de violência de gênero. atenção às mulheres em situação de violên-
Para tanto, destacamos que o Brasil cons- cia como um cuidado na assistência coti-
truiu políticas públicas hoje vigentes para o diana, e, sobretudo, somar com outras atua-
enfrentamento à violência contra a mulher e a ções sociais em movimentos ético-políticos
garantia do atendimento integral e humaniza- contra a violência e a favor de seu controle e
do. Estas políticas reconhecem a violência de prevenção.
gênero, raça e etnia como violência estrutural
e histórica que expressa a opressão das mu- Neste sentido, abordamos pontos que con-
lheres, problema que precisa ser tratado como sideramos importantes para intrumentalizar
questão da segurança, justiça, educação, as- você nesta área. Na primeira unidade discu-
sistência social e saúde pública. tiremos sobre a violência contra as mulheres,
relembrando definições e contextualizando
Neste âmbito, o setor saúde tem papel funda- esta agressão com as prevalências e con-
mental. Entre as suas responsabilidades está sequências na saúde. A segunda unidade
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Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência
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Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência
Carga horária
30 horas.
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Sumário
Unidade 1 – UN1
Unidade 2 – UN2
Unidade 3 – UN3
Resumo do módulo 53
Referências 55
Sobre as autoras 60
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UN1
A violência contra as mulheres
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UN1 A violência contra as Atenção à saúde das mulheres em
mulheres situação de violência
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UN1 A violência contra as Atenção à saúde das mulheres em
mulheres situação de violência
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UN1 A violência contra as Atenção à saúde das mulheres em
mulheres situação de violência
Figura 3 – Prevalência de violência praticada por parceiro íntimo, por região da OMS, 2014. É importante salientar ainda que dependendo
da idade da mulher, pré-adolescentes ou ido-
sas, outros agressores aparecem, configuran-
do-se como violência intrafamiliar, entre eles
os irmãos, pais e os filhos.
Fonte: Estimativas globais e regionais da OMS sobre violência contra a mulher, 2013 Quanto aos tipos de violência contra as mu-
lheres, a Lei Maria da Penha, em seu artigo
no 7, classifica como em 5 tipos, acompanhe o
esquemático a seguir.
Nas Regiões Africana, do Mediterrâneo Oriental praticada por parceiro íntimo, seguindo-se a
e do Sudeste Asiático, aproximadamente 37% Região das Américas, com aproximadamente
das mulheres,que já tiveram um parceiro, re- 30% das mulheres relatando exposição a esse
lataram ter sofrido violência física e/ou sexual tipo de violência ao longo da vida (figura 3).
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UN1 A violência contra as Atenção à saúde das mulheres em
mulheres situação de violência
de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe Destacamos que na violência física por par-
1 Violência física cause prejuízo à saúde psicológica e à au- ceiro íntimo o grau de severidade do ato
todeterminação; cometido pode ser de “violência física mo-
2 Violência psicológica a violência sexual, entendida como qual- derada” até “violência física grave”. Alguns
quer conduta que a constranja a presen- estudos consideram como violência física
3 Violência sexual ciar, a manter ou a participar de relação se- moderada ou não grave o ato de receber ou
xual não desejada, mediante intimidação, dar um “tapa”, sem adicionar os demais atos
ameaça, coação ou uso da força; que a in- de violência física (DE MELO, 2010; BRUSCHI,
4 Violência moral duza a comercializar ou a utilizar, de qual- 2006). Outra classificação comumente utili-
quer modo, a sua sexualidade, que a impe- zada para a violência física moderada, além
5 Violência patrimonial ça de usar qualquer método contraceptivo de receber um “tapa”, abrange os atos de “ter
ou que a force ao matrimônio, à gravidez, algum objeto arremessado” e “ser empurra-
ao aborto ou à prostituição, mediante coa- do ou chacoalhado”. A violência física grave
a violência física, entendida como qual- ção, chantagem, suborno ou manipulação, é representada com atos como “chute, soco,
quer conduta que ofenda sua integridade ou que limite ou anule o exercício de seus espancamento, uso de arma”. Vale destacar
ou saúde corporal; direitos sexuais e reprodutivos; que o risco de suicídio para mulheres que so-
a violência psicológica, entendida como a violência patrimonial, entendida como freram violência física moderada é três vezes
qualquer conduta que lhe cause dano qualquer conduta que configure retenção, maior, e para as que sofreram violência física
emocional e diminuição da autoestima, subtração, destruição parcial ou total de grave é oito vezes maior quando em compa-
prejudique e perturbe o pleno desenvolvi- seus objetos, instrumentos de trabalho, ração com mulheres que não sofreram vio-
mento ou que vise degradar ou controlar documentos pessoais, bens, valores e di- lência física (FANSLOW, 2004).
suas ações, comportamentos, crenças e reitos ou recursos econômicos, incluindo
decisões, mediante ameaça, constrangi- os destinados a satisfazer suas necessi- Consideramos importante, ainda, ressaltar al-
mento, humilhação, manipulação, isola- dades; gumas formas de agressões que são conside-
mento, vigilância constante, perseguição a violência moral, entendida como qual- radas violência:
contumaz, insulto, chantagem, ridicula- quer conduta que configure calúnia, difa-
rização, exploração e limitação do direito mação ou injúria.
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UN1 A violência contra as Atenção à saúde das mulheres em
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UN1 A violência contra as Atenção à saúde das mulheres em
mulheres situação de violência
Lembramos que estas formas de violência não Estima-se que 2,1 milhões de mulheres são Os homens foram os agressores em 94,1%
se produzem isoladamente, mas fazem parte espancadas por ano, 175 mil por mês, 5,8 mil dos casos de estupro (IPEA, 2017).
de uma sequência crescente de episódios, por dia, 243 por hora, 4 por minuto e 1 cada 15
em que o homicídio é a manifestação mais segundos, sendo que 65% das mulheres são Outros dados relevantes sobre a violência
extrema. agredidas por seus companheiros (PESQUISA contra a mulher são oriundos da Central de
PERSEU ABRAMO, 2013). Atendimento à Mulher em Situação de Violên-
A seguir, apresentaremos as prevalências cia – Ligue 180.
destas violências contra as mulheres con- Com relação à violência sexual, foram regis-
forme informações disponíveis no Brasil. trados 61.032 estupros em 2017 (ANUÁRIO Figura 4 – Central de Atendimento à Mulher em Situação
Nosso objetivo é mostrar o quanto este DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2018). Ressalta- de Violência – Ligue 180
agravo à saúde ocorre e mobilizar você para -se que a violência sexual ocorre cerca de
identificar também no seu território mulhe- seis vezes mais entre as mulheres do que en-
res que estejam sofrendo esta violência. tre os homens (SHRAIBER, 2005). Apesar do
Assim, você, junto com as mulheres, sua alto número de casos registrados, é preciso
equipe e a comunidade, poderão desenvol- destacar que a maioria das mulheres que so-
ver ações contra a recorrência. frem violência sexual não registram denúncia
na polícia, o que torna difícil estimar a preva-
1.2 Contexto da violência contra as lência deste crime.
mulheres no Brasil
No setor saúde os dados apontam que 20.085
O Brasil é o quinto país do mundo com pessoas foram estupradas por ano no Brasil,
maior índice de homicídios de mulheres, segundo notificações do SINAN, em 2014. Es-
ficando atrás somente para El Salvador, ses registros mostram ainda que cerca de 70%
Colômbia, Guatemala (três países latino- das violências acometeram crianças e ado- Em 2018, este serviço recebeu 92.663 denún-
-americanos) e a Federação Russa. Es- lescentes. A proporção de casos contra ado- cias de violência contra as mulheres. Já nos
sas mortes representam 13 homicídios lescentes e adultos aumentou quando o estu- primeiros seis meses de 2019, o canal recebeu
femininos diários (MAPA DA VIOLÊNCIA, pro foi cometido por dois ou mais agressores. 46.510 denúncias, um aumento de 10,93% em
2015). relação ao mesmo período do ano anterior.
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mulheres situação de violência
Do total dos atendimentos, 12.878 foram de- Figura 5 – Ordenamento da UFs, segundo taxas de homicídio de mulheres (por 100 mil). Brasil (2017).
núncias de ameaças , cárcere privado (3.065),
feminicídio (63), tentativa de feminicídio
(2.075), homicídio (44), tentativa de homicí- 12,0
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UN1 A violência contra as Atenção à saúde das mulheres em
mulheres situação de violência
pesadelos, falta de concentração, irritabilidade, dade, síndrome do pânico, estresse pós-trau- tentativas de suicídio (KASHANI; ALLAN, 1998).
falta de apetite, e até o aparecimento de sérios mático, além de comportamentos autodestruti- Acompanhe no esquema abaixo estas manifes-
problemas mentais como a depressão, ansie- vos, como o uso de álcool e drogas, ou mesmo tações físicas e psicológicas.
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UN1 A violência contra as Atenção à saúde das mulheres em
mulheres situação de violência
A violência pode levar diretamente a traumatis- Além disso, a violência compromete a saú- A mulher pode apresentar distúrbios na ha-
mos sérios, incapacidades e óbitos, e indireta- de mental, ao interferir na crença que a bilidade de se comunicar com os outros, de
mente a uma variedade de problemas de saú- mulher possui sobre sua competência, reconhecer e comprometer-se, de forma re-
de, como mudanças fisiológicas induzidas pelo isto é, sobre a habilidade de utilizar ade- alista, com os desafios encontrados, além de
estresse, uso de substâncias ou falta de con- quadamente seus recursos para o cumpri- desenvolver sentimento de insegurança con-
trole sobre a fertilidade e autonomia pessoal, mento das tarefas relevantes em sua vida. cernente às decisões a serem tomadas.
como observado frequentemente em relacio-
namentos abusivos. As mulheres que sofreram
violência têm altas taxas de gravidez não dese-
jada, de abortos, desfechos neonatais e infantis
adversos, infecções sexualmente transmissí- Impactos da violência
veis, incluindo o HIV (CAMPBELL, 2002).
Um em cada cinco dias de falta ao trabalho no mundo é causado pela violência sofrida
pelas mulheres dentro de suas casas.
Mulheres que sofreram violência física ou
sexual, por exemplo, têm mais problemas de A cada 5 anos, a mulher que sofre violência perde 1 ano de vida saudável.
saúde do que as que não sofreram – em re-
lação ao funcionamento físico, ao bem-estar As mulheres com idade entre 15 e 44 anos perdem mais anos de vida saudável (“disa-
psicológico e à adoção de futuros compor- bility-adjusted life year” ou DALY) em função do estupro e da violência do que em ra-
zão de câncer de mama, câncer de colo de útero, problemas relacionados ao parto, doen-
tamentos de risco, inclusive fumar, inativida-
ças coronárias, AIDS, doenças respiratórias, acidentes de automóveis ou a guerra (World
de física e abuso de álcool e drogas. Essas
Development Report of the World Bank, 1993).
substâncias foram consideradas por muitas
pesquisas como um dos principais motivos O estupro e a violência são causas importantes de incapacidade e morte de mulheres em
para o desencadeamento da violência física
idade produtiva.
entre os parceiros (MCCAULEY et al., 1995;
Mulheres vítimas da violência podem sofrer com isolamento social, incapacidade para tra-
KRUG, 2002). Alguns estudiosos conside-
balhar, ficar sem remuneração ou com menor remuneração, incapacidade para a partici-
ram que pessoas em situação de violência pação em atividades na comunidade e terem sua capacidade de cuidar de si mesmas e de
fazem o uso dessas substâncias como me-
seus filhos diminuída.
canismos de fuga.
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UN2
Situações de violência e o papel do
profissional na Atenção Primária
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o papel do profissional na situação de violência
Atenção Primária
Esta unidade contextualiza o processo vi- que ocorrem com mulheres que denunciam
venciado pelas mulheres nas situações de as violências e depois retrocedem e retornam
violência, com o objetivo de instrumentalizar aos parceiros agressores.
você para a compreensão deste processo. Na
sequência, destacamos como reconhecer es- A violência por parceiro íntimo costuma acon-
tas situações e apresentamos considerações tecer com tempo e intensidade diferenciada
com relação ao seu papel como profissional nas diferentes relações. A psicóloga Lenore
da Atenção Primária no enfrentamento da vio- Walker (1979) descreveu o ciclo da violência,
lência relacionando com as políticas públicas apontando três fases nos relacionamentos
vigentes. violentos que iniciam pelo aumento da tensão:
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UN2 Situações de violência e Atenção à saúde das mulheres em
o papel do profissional na situação de violência
Atenção Primária
Vejamos em detalhe o que caracteriza cada que ocorre violência física, psicológica ou Esse ciclo na realidade é uma espiral ascen-
uma destas fases: patrimonial, geralmente de forma grave); o dente, cujas etapas vão se tornando mais
remorso (o agressor pode sentir remorso ou cruéis e ocorrem em um espaço de tempo
fase 1, onde ocorrem de forma frequente medo de que os outros saibam); as promes- cada vez menor. Este modelo de comporta-
pequenos incidentes, que a mulher atribui a sas (o agressor mostra-se arrependido, pede mento não representa uma exceção ou um
fatores externos e acredita ter controle so- perdão e faz promessas à mulher maltrata- comprometimento psicológico dos agresso-
bre o comportamento do agressor; da) e finaliza com a chamada lua de mel (o res, mas constitui o modus operandi dos ho-
fase 2, onde ocorrem incidentes violentos agressor comporta-se de modo carinhoso e mens sob o regime do patriarcado, ou o meio
de forma mais grave e agudos. É quando romântico e a mulher acredita que ele vai mu- de manter as mulheres sob controle e em po-
ocorre a descarga da tensão acumulada dar) (MENEGUEL, 2015). sições de subordinação, usando a cumplici-
na fase 1. A mulher nesta fase pode ter de- dade delas próprias para ficarem submissas,
pressão, ansiedade e queixas psicossomá- se sentirem culpadas, envergonhadas porque
ticas. Seus sentimentos são de terror, raiva, a relação não está dando certo e, portanto,
Divisão do ciclo de violência
ansiedade, sensação de que é inútil tentar merecedoras de punição (AZEVEDO, 1985;
escapar desta situação; BIGLIA, 2007; MENEGUEL, 2015).
fase 3, de apaziguamento e esperança de Aumento de tensão
mudança. O agressor tenta fazer as pazes. Uma crítica ao modelo do “ciclo da violên-
A mulher agredida tenta acreditar que não cia” baseia-se na compreensão da violência
Tensão
sofrerá mais violência. É o período de calma de gênero contra a mulher como um conti-
onde os parceiros tornam-se dependentes nuum, em que os eventos vão se tornando
um do outro. Explosão cada vez mais frequentes e graves. A ideia
do continuum desloca a explicação basea-
Outros autores dividem o ciclo da violên- da nos comportamentos individuais do casal
cia em um número maior de fases, iniciando
Promessas subjacente ao ciclo para focar a determina-
com um período de aumento de tensão (em ção social e patriarcal da violência contra a
que a ira do agressor começa a aumentar); Lua de mel mulher. Além do mais, como afirma Mont-
uma fase de tensão (em que ele está pres- serrat Sagot (2000), muitas mulheres per-
tes a explodir); um momento de explosão (em manecem nas relações, não por estarem ilu-
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UN2 Situações de violência e Atenção à saúde das mulheres em
o papel do profissional na situação de violência
Atenção Primária
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UN2 Situações de violência e Atenção à saúde das mulheres em
o papel do profissional na situação de violência
Atenção Primária
Este é um movimento oscilatório, complexo, inviabilizam a saída das mulheres de uma re-
muitas vezes com (aparentes) estagnações ou lação violenta, entre elas: Importante! Você, como profissional
da saúde, tem um papel importante na
desvios – e, por vezes, com regressões. Tudo identificação de mulheres que estão
isso para poder ser uma mulher com direito Situações que inviabilizam a saída das em situação de violência e na cons-
à sua autodeterminação – vivendo (ou não) mulheres de uma relação violenta trução conjunta de estratégias para o
enfrentamento desta situação.
uma relação de intimidade – e poder usufruir
daquilo a que tinha direito como pessoa e que Baixa da autoestima
lhe foi roubado durante anos: poder viver em
liberdade, assumindo a condução da sua vida Estas reflexões são importantes para que
Crença de que a violência é temporária,
(LEITÃO, 2014). que seus parceiros possam mudar você se prepare para ampliar o acolhimento
às mulheres em situação de violência.
Conversar sobre como se dá a violência na Dúvidas se podem viver sozinhas
vida do casal também pode ajudar a desman-
char ilusões sobre o mito do amor romântico,
além de entender o processo de ideologização
Dificuldades econômicas
que faz as mulheres aceitarem relações abu-
sivas, dificultando o processo de romper com Crença de que o divórcio é como um
estigma
a violência.
O fato de que é difícil para uma mulher
Nas relações as mulheres sofrem diferentes com filhos encontrar trabalho
tipos de violência. Esta pode ser do tipo se-
Vergonha de ser vista como uma
xual, física ou psicológica, apresentando-se,
mulher espancada
na grande maioria das vezes, de modo com-
binado, com os tipos se superpondo entre si
Pena do marido
(SCHRAIBER et al., 2009).
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UN2 Situações de violência e Atenção à saúde das mulheres em
o papel do profissional na situação de violência
Atenção Primária
2.2 Como reconhecer as mulheres distúrbios e patologias, físicas e mentais, e Nem sempre a mulher consegue reconhecer a
que estão em situação de utilizam os serviços de saúde com maior fre- situação que está vivendo como uma violência.
violência quência do que aquelas sem esta experiência Assim, uma estratégia que pode ser adotada é
(SCHRAIBER et al., 2010). Por isso, você pre- o rastreio para violência como parte integrante
Como profissional da saúde na Atenção Primá- cisa estar atento às mulheres que procuram dos atendimentos na Atenção Primária.
ria, você é um potencial identificador de casos de a Unidade Básica de Saúde, relatando sofri-
violência e possui um relevante papel na atenção, mentos pouco específicos, doenças crônicas,
redução de danos e no acionamento da rede in- agravos à saúde reprodutiva e sexual ou trans- Figura 7 – Reconhecer as violências nos contextos intra-
familiares e entre parceiros íntimos é fundamental
tersetorial, tendo em vista as graves repercus- tornos mentais. Estas condições e situações
sões na saúde física e mental das mulheres. ocorrem em maior frequência nas mulheres
que estão vivenciando situação de violência
Reconhecer as violências nos contextos in- (D’OLIVEIRA; SCHRAIBER, 2014).
trafamiliares e entre parceiros íntimos e saber
como agir nestas situações é de fundamental As mulheres também podem procurar o ser-
importância, considerando a alta prevalência viço de saúde por problemas decorrentes di-
deste tipo de agravo à saúde das mulheres. retamente da violência física ou sexual como
Você pode realizar intervenções que ajudem traumas, fraturas, tentativas de suicídio, abor-
as mulheres em situação de violência a en- tamentos, entre outros. Você precisa atentar
contrar novos modos de viver e de ser, no sen- também para as mulheres que não buscam as
tido de reformular a sua autoidentidade e de ações de cuidado com a sua saúde, como a
reconstruir os seus projetos de vida sem vio- coleta de exame cérvico uterino, ou têm difi-
lência (LEITÃO, 2014). culdade no uso de métodos de planejamento
reprodutivo.
Sabe-se que mulheres que vivem ou viveram
em situação de violência têm mais queixas,
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UN2 Situações de violência e Atenção à saúde das mulheres em
o papel do profissional na situação de violência
Atenção Primária
Alguns sinais durante os atendimentos po- poderá representar risco para a mulher, caso gravidez indesejada ou em menores de 14 anos
dem servir de alerta na identificação de pos- o(a) agressor(a) tenha conhecimento desta. entrada tardia no pré-natal
síveis situações de violências vivenciadas Garanta a confidencialidade, exceto nas situa- parceiro(a) demasiadamente atento(a), contro-
por mulheres (BRASIL, 2016). Veja o quadro ções previstas de perigo eminente ou elevado lador(a) e que reage se for separado da mulher
ao lado. (DGS; ASGVCV, 2014). infecção urinária de repetição (sem causa se-
cundária encontrada)
síndrome do intestino irritável
Importante! Não tenha medo de per-
guntar. Contrariamente à crença popu- Sinais de alerta em situações de violência complicações em gestações anteriores, aborto
lar, a maioria das mulheres nesta situa- de repetição
queixas vagas, inexplicáveis ou recorrentes
ção está disposta a revelar a violência transtorno do estresse pós-traumático
quando se pergunta de forma direta e distúrbios gastrointestinais
sem fazer juízos de valor. Na realida- história de tentativa de suicídio ou ideação
sofrimento psíquico suicida
de, muitas mulheres encontram-se
silenciosamente à espera que alguém queixa de dores pélvicas e abdominais crônicas lesões físicas que não se explicam como aciden-
as questione a respeito do assunto. Infecções Sexualmente Transmissíveis tes
Deve-se introduzir o tema da violên-
cia de forma cuidadosa, mas direta, prurido ou sangramento vaginal
expressando que não existe desculpa evacuação dolorosa ou dor ao urinar
ou justificativa para a violência e que a
pessoa tem o direito a viver sem medo problemas sexuais e perda de prazer na relação Destacamos, na página seguinte, exemplos
e livre deste mal. vaginismo (espasmos musculares nas paredes de perguntas que podem ser realizadas em
vaginais, durante relação sexual) caso de suspeita de situação de violência
presença de doenças pélvicas inflamatórias (DGS; ASGVCV, 2014).
Também é importante que você tenha atenção síndrome da imunodeficiência humana adquiri-
porque a revelação da situação da violência da (AIDS)
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UN2 Situações de violência e Atenção à saúde das mulheres em
o papel do profissional na situação de violência
Atenção Primária
?
conversar contigo. Vejo que … (relatar os fatos).
A que você atribui o seu mal-estar ou problema de saúde?
Observo que está um pouco nervosa. O que a preocupa?
?
Está vivendo alguma situação problemática que a faz sentir-se assim?
Pode falar sobre isto? Pensa estar relacionado?
Muitas pessoas têm problemas como os seus, tais como… (relatar os mais
significativos), habitualmente a causa é estarem vivendo algum tipo de mau
trato por parte de alguém. É este o seu caso?
?
Em caso de suspeita por antecedentes como dispareunia, dor pélvica, disfunção
sexual… questionar acerca das relações afetivas e sexuais, se são satisfatórias
ou não.
Esta lesão habitualmente ocorre quando se recebe um empurrão, golpe,
corte… foi isso que aconteceu?
?
Gostaria de saber a sua opinião sobre esses sintomas que relatou (ansiedade,
nervosismo, tristeza, apatia) … Desde quando é que se sente assim? A que acha
que se devem? Relaciona-os com alguma situação?"
?
preocupada? Tem algum problema com o/a seu/sua companheiro/a ou
alguém da família?
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UN3
Atenção às mulheres em situação
de violência no âmbito da
Atenção Primária
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UN3 Atenção às mulheres em Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência no situação de violência
âmbito da Atenção Primária
As mulheres em situação de violência têm di- orientador da atuação do setor saúde nas
reito à atenção nos serviços de saúde. Esta é ações relacionadas aos acidentes e violên-
uma ação ético-política que compõe o conjun- cias, e possui diretrizes que estão no âmbito
to de ações de enfrentamento à violência, jun- do território e da Atenção Primária:
tamente com a prevenção de situações desta
natureza e a responsabilização do agressor. Figura 8 – As mulheres em situação de violência têm di-
reito à atenção nos serviços de saúde
A prática profissional deve funcionar como
instrumento de proteção e promoção dos di-
reitos humanos das mulheres.
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UN3 Atenção às mulheres em Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência no situação de violência
âmbito da Atenção Primária
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UN3 Atenção às mulheres em Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência no situação de violência
âmbito da Atenção Primária
esta não pode ser tratada como um ato iso- tre as instituições, a polícia/delegacia foi a segura. Para que as mulheres reconheçam a
lado. É importante lembrar o fato de que ela mais procurada, seguida das organizações Unidade Básica de Saúde como um ponto de
se cronifica, sendo difícil enfrentá-la sem de proteção à mulher/abrigos (BRUSCHI, atenção na rede de atendimento à situação
uma rede de apoio. E esta rede de apoio pre- 2006). de violência é importante que os profissio-
cisa ser instituída com políticas públicas in- nais que nela atuam tenham uma cultura de
tersetoriais. Trata-se de trabalhar na direção Figura 9 – A violência não pode ser tratado com ato isola- respeito, propiciando tempo e condições para
do. É preciso articulação entre as redes de apoio
de atenuar os impactos da violência na vida realizar uma escuta com qualidade e estabe-
das mulheres e de suas famílias, reduzindo lecer um diálogo com as mulheres.
e até cessando os comportamentos violen-
tos, oportunizando novos posicionamentos
Importante! Muitas vezes é difícil para a
frente a situações disparadoras de atos de mulher falar sobre as violências viven-
violência. Este é o norte das ações de en- ciadas no seu cotidiano. Caso a mulher
frentamento à violência. não queira falar sobre o assunto, é im-
portante que você expresse sua dispo-
nibilidade em ouvi-la quando ela sentir
Lembre-se que as mulheres sentem dificul- necessidade.
dade de procurar o serviço de saúde quando
estão sofrendo violência. Estudo realizado
no interior de São Paulo (MELO, 2010) mos- As mulheres que estão em situação de vio-
trou que as mulheres que necessitavam de lência buscam diversas formas de apoio e
cuidados de saúde, mas que não os rece- meios de transformar a situação. Já foi iden-
beram, alegaram algumas circunstâncias tificado que a falta de apoio, o sentimento
para não o fazer, como vergonha de expor o de vergonha e o desprestígio em relação ao
problema, medo de represália por parte do Assim, a equipe de saúde precisa estar atenta cumprimento de papel esperado pela mulher,
companheiro, medo de comprometer o com- e através da escuta e observação, reconhecer esposa e mãe bloqueiam internamente a de-
panheiro. Geralmente, a procura por ajuda como a mulher em situação de violência se cisão da denúncia. Por outro lado, a qualidade
ocorre em múltiplas fontes, porém as mais sente frente à situação, permitindo que ela ex- do cuidado recebido em instituições é muito
frequentes são pessoas da própria família presse estes sentimentos, oferecendo o apoio importante: o encorajamento, a informação
ou da família do companheiro e amigos. En- necessário e possível para que esta se sinta precisa e o não julgamento contribuem para
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UN3 Atenção às mulheres em Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência no situação de violência
âmbito da Atenção Primária
a continuidade da rota de saída da situação nitários de saúde. A informação que precisa tura ética dos profissionais de saúde. Não
de violência. O descaso, a burocracia e a difi- estar visível para a comunidade é de que a pressupõe local nem hora certa para aconte-
culdade de acesso são grandes inibidores de UBS entende que violência é um problema cer, nem um profissional específico para fazê-
denúncias por parte das mulheres (SAGOT, de saúde e que dispõe de informações im- -lo: faz parte de todos os encontros no serviço
2000). portantes para quem está vivenciando esta de saúde (BRASIL, PNH, 2004).
situação.
Figura 10 – Caso a mulher não queira falar sobre o assun- Humanizar é ofertar atendimento de qualida-
to, é importante que você expresse sua disponibilidade em
ouvi-la quando ela sentir necessidade Outra estratégia para que a temática da vio- de, articulando os avanços tecnológicos com
lência possa emergir a partir das mulheres da acolhimento, com melhoria dos ambientes de
comunidade é criar espaços, grupos de aten- cuidado e das condições de trabalho dos pro-
ção a dimensões psicossociais. Quando o fissionais.
tema surgir, poderá ser trabalhado a partir das
expectativas e conhecimentos das mulheres. Figura 11 – Humanizar é ofertar atendimento de qualidade
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situação de violência no situação de violência
âmbito da Atenção Primária
Acolher neste atendimento é uma postura éti- As mulheres precisam ser acolhidas e respei- Para a atenção às mulheres em situação de
ca que implica na escuta da usuária em suas tadas na decisão tomada. Lembre-se que a violência, alguns recursos devem estar dis-
queixas, no reconhecimento do seu protago- escolha é da mulher e precisa ser realizada a poníveis na Unidade Básica de Saúde. En-
nismo no processo de saúde e adoecimento, e partir da informação e das possibilidades que tre estes recursos estão os testes rápidos
na responsabilização pela resolução, com ati- ela tiver. Por isso, assegure-se de que a infor- de gravidez, de HIV, de sífilis e de Hepatites
vação de redes de compartilhamento de sabe- mação que você deu foi entendida pela mu- B e C.
res (BRASIL, 2006). lher, a fim de que ela faça a melhor escolha.
Importante! Acolher é um compromisso Quando você confirmar a situação de violência, observe estes pontos (DGS; ASGVCV, 2014)
de resposta às necessidades das cida-
Faça com que a mulher em situação de vilência não se sinta culpada da agressão que sofre.
dãs que procuram os serviços de saúde.
Ajude a refletir, a ordenar as ideias e a tomar decisões.
Alerte para os riscos e consequências que corre, mas aceitar a escolha da mulher.
Valide o relato, não colocando em dúvida nem emitindo juízos de valor.
3.1 Estratégias de atenção às
Aborde o medo associado à revelação/denúncia.
mulheres em situação de
Esclareça o direito à confidencialidade, excetuando as situações de perigo iminente.
violência
Esclareça sobre o tipo de informação que pode ser fornecida às autoridades (boletim de ocorrência/tipo de crime).
Lembre-se que trabalhar com mulheres em Acione a rede intersetorial para evitar a revitimização, para a avaliação aprofundada da situação pelo/a(s) profis-
sional(is) responsável(is) pela intervenção/acompanhamento (Serviço Social e Segurança).
situação de violência é empoderá-las, para
NÃO dê a sensação de que tudo vai se resolver facilmente.
que possam fazer escolhas a partir da re-
NÃO dê falsas esperanças.
alidade vivida. Assim, como profissional
NÃO critique a atitude ou ausência de resposta com frases como: “Porque é que se mantém nessa situação?
da saúde você precisa conhecer quais as
Se você quisesse mesmo parar com esta situação, já teria…”.
possibilidades de atenção às mulheres em
NÃO desvalorize a sensação de perigo que é expressa.
situação de violência existentes no seu ter-
NÃO recomende terapia de casal nem mediação familiar.
ritório e quais são alternativas para cada
NÃO prescreva fármacos que diminuam a capacidade de reação.
uma delas. Só assim poderá informar e
NÃO utilize uma atitude paternalista/maternalista.
ajudar cada mulher a escolher que decisão
NÃO imponha critérios ou decisões.
tomar.
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situação de violência no situação de violência
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Estes exames são importantes especialmente estar vivenciando alguma situação de violên- lecer a rede de apoio à mulher em situação
nas situações de violência sexual, mas tam- cia. Este pode ser o ponto de partida para o de violência está entre os pontos principais
bém podem servir como estratégia para a relato, que, a partir de uma escuta qualificada no atendimento dos profissionais da saúde
identificação de situações de violência quan- e informação, permitam elaborar em conjun- nesta situação.
do são disponibilizados para as mulheres sob to, profissional de saúde e mulher agredida,
livre demanda na UBS. Caso a UBS não tenha um plano de cuidados. Figura 13 – Informação é a chave para elaborar um plano
de cuidados
disponível testes rápidos, pode-se solicitar os
exames no laboratório de sua referência. Outra oferta importante que deve estar dis-
ponível em todas as Unidades Básicas de
Figura 12 – Testes rápidos para HIV, sífilis, Hepatites B e C Saúde é a anticoncepção de emergência. O
Ministério da Saúde disponibiliza por meio
dos estados e municípios a medicação le-
vonorgestrel, utilizada mundialmente para
prevenir a gravidez indesejada. O acesso a
esta medicação está prevista no protocolo de
atenção à violência sexual e é um direito das
mulheres.
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Lembre-se que a mulher em situação de vio- relacionais. Permite a visualização rápida e ligações da família com a comunidade. Am-
lência deve ter autonomia na decisão quanto abrangente da organização familiar e suas bos os instrumentos retratam graficamente
à mudança na sua vida em relação à violência principais características, constituindo um constituição e dinâmicas relacionais de um
sofrida. São várias fases no processo, e reco- mapa relacional onde são registrados da- grupo social, com foco na família. Enquanto
nhecer em que fase ela está proporciona uma dos relevantes ao caso. O ecomapa é útil no o genograma identifica as relações dentro do
atenção adequada as suas necessidades. mapeamento de redes de apoios sociais e sistema multigeracional familiar, o ecomapa
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âmbito da Atenção Primária
representa as interações da família com pes- tária para homens e mulheres é outro aspec- 2012). Esta normativa está voltada para a
soas, instituições ou grupos sociais em de- to importante na promoção da não violência. atenção às mulheres em situação de vio-
terminado momento. É importante você lembrar que as escolas lência sexual e estabelece que os serviços
trabalham com a organização do ano letivo devam organizar fluxos internos no setor da
Destaca-se que a equipe de saúde pode de forma antecipada. Procure conhecer quem saúde definindo responsabilidades de aco-
contribuir para o empoderamento da mulher atua neste setor e participe da discussão e lhimento e entrevista, registro da história,
fomentando também ações intersetoriais de do planejamento das ações de saúde na es- exame clínico e ginecológico, exames com-
geração de renda, oportunidades de forma- cola, assim o trabalho fará parte do calen- plementares e procedimentos necessários
ção escolar e profissional e espaços cole- dário escolar e poderá ser incrementado nas de acordo com o caso e acompanhamen-
tivos de discussão da condição da mulher disciplinas curriculares. to, incluindo o psicológico. Também é ne-
na sociedade. Com isso estará contribuindo cessário realizar a coleta de amostras para
para que as mulheres da comunidade pos- diagnóstico de infecções genitais e coleta
sam ter autonomia e oportunidade de mu- Em 2016 o Ministério da Saúde publicou de material para identificação do provável
o Protocolo da Atenção Básica: Saú-
dança de vida. de das Mulheres, que propõe um qua- agressor.
dro-síntese para atenção às mulheres
Outro aspecto a ser trabalhado pela equipe em situação de violência sexual e/ou Além disso, entre as ações que o setor da
doméstica/familiar no âmbito da Aten-
de saúde é a promoção da não violência. O ção Primária, detalhando o que fazer, saúde deve oportunizar para as mulheres
desenvolvimento de ações intersetoriais na como fazer e quem pode fazer. Aces- agredidas sexualmente incluem-se o acesso
comunidade de promoção de ambientes que se: <http://189.28.128.100/dab/docs/ à anticoncepção de emergência e a profila-
portaldab/publicacoes/protocolo_sau-
propiciem a convivência saudável, como por de_mulher.pdf>. xia de doenças sexualmente transmissíveis
exemplo a prática de esportes em áreas públi- não virais e virais. O serviço de saúde é res-
cas, pode oportunizar a redução dos índices ponsável ainda pelo encaminhamento dos
de violência. Entre as demais publicações que você pre- procedimentos de interrupção da gestação,
cisa conhecer para atender mulheres em conforme previsto no Brasil desde 1940 pelo
O trabalho integrado com a educação, pro- situação de violência está a Norma Téc- Decreto Lei no 2.848, artigos 28, Inciso II do
movendo a reflexão sobre concepções e ati- nica denominada Prevenção e tratamento Código Penal, que permite a interrupção le-
tudes que podem ser modificadas e assim dos agravos resultantes da violência sexu- gal da gestação quando a gravidez resulta de
promover uma sociedade mais justa e iguali- al contra mulheres e adolescentes (BRASIL, violência sexual.
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Figura 15 – A importância dos serviços que trabalham atendimento em rede de atenção com enca-
com homens autores de agressão Você pode acessar os serviços que se
minhamento das pessoas para o atendimento
cadastraram na atenção às pessoas em
conforme Norma Técnica Prevenção e Trata- situação de violência sexual. Disponível
mento dos Agravos resultantes da Violência em: <http://cnes2.datasus.gov.br/Mod_
Sexual contra Mulheres e Adolescentes e a Ind_Especialidades.asp?VEstado=&V-
Mun=00&VComp=00&VTerc=00&VSer-
Norma Técnica de Atenção Humanizada ao vico=165>. Selecione seu estado e as
Abortamento. classificações 001, 006 e 007.
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Em 2015, outra legislação que destacamos é Lembre-se que o termo rede pressupõe uma
Ações importantes para Rede de Atenção
a que inclui o feminicídio no rol dos crimes articulação política entre pares, que, para se
hediondos. O principal ganho com a Lei do Realização de diagnóstico do território e estabelecer, exige: reconhecer (que o outro
Feminicídio (Lei no 13.104/2015) é justamen- dos serviços disponíveis na localidade ou existe e é importante); conhecer (o que o ou-
te tirar o problema da invisibilidade. Além da região. tro faz); colaborar (prestar ajuda quando ne-
punição mais grave para os que cometerem Reconhecimento e clara definição dos cessário); cooperar (compartilhar saberes,
o crime contra a vida, a tipificação é vista por papéis dos setores, serviços, instituições ações e poderes) e associar-se (comparti-
especialistas como uma oportunidade para e profissionais que atuam na rede. lhar objetivos e projetos).
dimensionar a violência contra as mulheres
Construção, articulação e pactuação de
no país quando ela chega ao desfecho ex- fluxos ou linhas de cuidado com claros Reconhecer
tremo do assassinato, permitindo, assim, o mecanismos de articulação.
aprimoramento das políticas públicas para
coibi-la e preveni-la. Pactuação e publicação de instrumen-
tos/mecanismos formais que assegurem
a manutenção da rede (Decretos, Porta- Colaborar Conhecer
No Brasil, a rede de atenção e proteção rias, Protocolos etc.).
ainda precisa ser mais estruturada. Nesse REDE
Sensibilização e capacitação perma-
sentido, lembramos que o setor saúde tem nente de profissionais para a atenção em
um grande potencial articulador da rede de rede.
atenção e proteção. Para isso, você, como Disponibilização de protocolos, guias, Associar-se Cooperar
profissional da saúde, pode realizar um cartilhas ou outros materiais para o
aprendizado e divulgação da rede para a
diagnóstico identificando quais os servi-
população.
ços dentro e fora do setor saúde desenvol- Nesse sentido, o segundo passo para arti-
vem ações voltadas à atenção e proteção cular uma rede de atenção e proteção é re-
das mulheres em situação de violência. A estruturação de uma rede de atenção às conhecer a função dos profissionais que
Este é primeiro passo para a estruturação pessoas em situação de violência passa por trabalham nas instituições que a compõem,
da rede de atenção e proteção as mulheres algumas ações importantes. Confira no es- ou seja, ter clara a definição de papéis dos
nesta condição. quemático. profissionais.
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A seguir, é preciso construir e articular fluxos Por fim, destaca-se que a sua intervenção em Na articulação interinstitucional é impor-
ou linhas de cuidado por meio de parcerias, rede de atenção junto às mulheres em situa- tante identificar os profissionais que vão
trocas de experiências e pactuar tais fluxos ção de violência desenvolve-se em três eta- constituindo-se como pessoas de referên-
de encaminhamento e de referências/contrar- pas: encaminhamento, articulação e segui- cia. Articular não consiste somente em in-
referências. Esta pactuação pode se dar em mento (DGS&ASGVCV, 2014). formar ou encaminhar, mas sim em definir
forma de leis, decretos ou via outros meios, procedimentos que assegurem que os enca-
principalmente para assegurar o comprome- O encaminhamento não pode ser um meca- minhamentos produzam os resultados es-
timento dosgestores, independentemente da nismo para passar o problema de um servi- perados. Para consolidar o trabalho em rede
mudança. Outra ação importante é criar pro- ço para outro, mas sim uma forma de com- interinstitucional é necessário criar espaços
tocolos, guias, cartilhas que facilitem o apren- plementar a intervenção com perspectiva de de comunicação, de forma a construir rela-
dizado e divulgação, para que a população outras áreas disciplinares ou setoriais. Ao ções de confiança profissional, baseadAs na
seja acolhida, capacitando ou sensibilizando fazer o encaminhamento, não se pode per- complementaridade.
de forma permanente e contínua todos os pro- der o contato com a mulher. Para que isso
fissionais para a atenção e proteção em rede. ocorra, é preciso informar adequadamente O seguimento, como parte integrante da in-
a mulher sobre os motivos do encaminha- tervenção, consiste no monitoramento do
mento, o que se procura, o que se pode obter, processo por meio das diferentes instân-
No Brasil, diversas experiências de re- definir o que fazer no seu seguimento, como cias, realizando-se em dois níveis: institu-
des de atenção e proteção estão organi-
e para quê manter o contato com o serviço cional, relacionado com o processo de in-
zadas. Conheça algumas delas:
inicial. Também é preciso informar quem vai tervenção da rede institucional, como um
Rede de Atenção as Pessoas em Situa-
ção de Violência Sexual de Florianópolis: receber o encaminhamento, para que esteja aspecto da articulação, e outro, relaciona-
<http://www.pmf.sc.gov.br/entidades/ sabendo do que se pretende, seja por forma do com o processo de apoio continuado à
saude/index.php?cms=raivs&menu=5>.
telefônica, escrita ou comunicação informal. mulher em situação de violência, tendo em
Linha de Cuidado para Atenção Inte- Destaca-se que as mulheres em situação de vista a potencialização das suas redes de
gral a Saúde da Pessoa em Situação de
violência muitas vezes não se encontram suporte.
violência de São Paulo: <https://www.
prefeitura.sp.gov.br/cidade/secreta- em condições de explicar a situação ou o
rias/upload/saude/baixacartilhaviolen- motivo do encaminhamento, podendo cola- É importante salientar que mesmo se a rede
cia(1).pdf>.
borar para intervenções confusas e menos não estiver totalmente estruturada é possível
adequadas. realizar acompanhamento e encaminhamen-
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situação de violência no situação de violência
âmbito da Atenção Primária
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Resumo do módulo
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