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Cristianismo: fácil ou difícil?

A ideia convencional que nós temos


antes de nos tornarmos cristãos é a
seguinte: tomamos o nosso ser comum,
com seus vários desejos e interesses,
como ponto de partida. Depois,
admitimos que algo mais — que
podemos chamar de “moralidade” ou
“comportamento digno”, ou “o bem da
sociedade” — tenha direitos sobre esse
ser, direitos estes que interferem nos
seus próprios desejos. O que queremos
dizer quando nos consideramos “bons” é
ceder a esses direitos. Mas há coisas que
o ser comum desejava fazer e que
acabam se revelando “erradas”; ora,
nesse caso, temos de abrir mão delas.
Outras coisas, que o nosso ser não deseja
fazer, acabam se revelando “a coisa
certa” a fazer — então, temos de fazê-las.
Mas estamos o tempo todo esperando
que, quando todas as demandas forem
alcançadas, o pobre ego natural ainda
tenha alguma chance e algum tempo
para dar continuidade à sua própria vida
e fazer o que bem entende. Na verdade,
somos bem parecidos com uma pessoa
honesta que paga seus impostos. Ela os
paga, tudo bem, mas na esperança de
que vá sobrar dinheiro suficiente para
viver, porque ainda estamos tomando
nosso ego natural como ponto de
partida. Enquanto estivermos pensando
dessa maneira, de duas uma: ou vamos
desistir de ser bons ou vamos nos tornar
extremamente infelizes. Pois não se
engane: se você está realmente tentando
satisfazer todas as demandas feitas pelo
ego natural, não sobrará muita coisa
para sua sobrevivência.
Quanto mais você obedece à sua
consciência, mais ela vai exigir de você.
Assim, seu ego natural, que estará
passando fome e sendo atrapalhado e
amedrontado o tempo todo, vai ficando
cada vez mais enfurecido. No final, ou
você vai desistir de tentar ser bom, ou
vai se tornar uma daquelas pessoas que,
como costumam dizer, “vivem para as
outras”, mas sempre de forma
contrariada, resmungona — sempre se
perguntando por que os outros não
reparam mais nisso e sempre assumindo
o papel de mártires. E uma vez que você
tenha ficado assim, tornar-se-á muito
mais insuportável para qualquer um que
tenha de conviver com você do que se
você tivesse permanecido totalmente
egoísta.
O estilo cristão é diferente: é mais difícil
e mais fácil. Cristo diz: “Dê-me tudo.
Não quero uma parcela do seu tempo,
uma parcela do seu dinheiro e uma
parcela do seu trabalho: eu quero você.
Não vim para atormentar seu ego
natural, mas para matá-lo. Nada de
meios-termos. Não quero podar um
ramo aqui e outro ali, quero derrubar a
árvore toda. Não quero meter a broca no
seu dente, nem o obturar ou fazer com
que ele pare de doer, quero arrancá-lo.
Renuncie todo o seu ego natural, todos
os desejos que você acha que são
inocentes, da mesma forma que me
entrega aqueles que você considera
maldosos — o aparato todo, pois vou
substituir por um novo ser. Na verdade,
vou lhe dar a mim mesmo, e minha
própria vontade deverá se tornar a sua”.
Isso é mais difícil e mais fácil do que
aquilo que todos nós estamos tentando
fazer.
Espero que você tenha notado que o
próprio Cristo às vezes descreve o estilo
de vida cristão como difícil demais e, às
vezes, como demasiadamente fácil. Ele
diz: “Tome sua cruz” — em outras
palavras, é como ser espancado até a
morte num campo de concentração. No
minuto seguinte, ele diz: “Pois o meu
jugo é suave e o meu fardo é leve”. Na
verdade, ele está se referindo às duas
coisas ao mesmo tempo, e podemos ver
muito bem por que ambas são
verdadeiras.
Estamos todos tentando fazer nossa
mente e nosso coração seguir os seus
próprios caminhos — centrados no
dinheiro, no prazer ou na ambição — e
esperando, ainda assim, nos comportar
de forma honesta, casta e humilde. Mas
isso é precisamente o que Cristo nos
alertou para não fazer. Cristo nunca
adota uma conversa fiada vaga ou
idealista. Quando ele disse: “Sede
perfeitos”, ele estava falando sério. Ele
quis dizer que devemos nos submeter ao
tratamento completo. É difícil, mas o
meio-termo a que todos aspiramos é
mais difícil — na verdade, é impossível.
Pode ser difícil para um ovo
transformar-se num pássaro: seria
engraçado de ver e ainda mais difícil
para ele aprender a voar enquanto ainda
estivermos dentro da casca do ovo.
Somos parecidos com esses ovos. E você
não pode seguir sendo apenas um ovo
comum, digno, indefinidamente. Ou
rompemos a casca ou goramos.

Lewis, C. S.. Cristianismo puro e simples


(Clássicos C. S. Lewis).

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DE DEUS!!!!!

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